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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
Unidade Didática
A Música e o Contexto Social
2008
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Dados de Identificação
Professor PDE: José Luiz Leite
Área PDE: Língua Portuguesa
Professor Orientador IES: Paulo Galembeck
IES vinculada: Universidade Estadual de Londrina
Escola de Implementação: Colégio Estadual Vicente Rijo
Público objeto de intervenção: 6ª série
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Sumário
1. Objetivos específicos e geral _________________________________________1
2. Metodologia ______________________________________________________1
3. Avaliação ou Acompanhamento_______________________________________1
4. Resultados Esperados _______________________________________________2
5. Recursos a serem utilizados __________________________________________2
6. Cronograma ______________________________________________________2
7. Análise dos Fragmentos Textuais____________________________________2
7.1 Gralha Azul (Nho Belarmino e Nhá Gabriela)____________________________2
7.2 Mocinhas da Cidade ( Nho Belarmino e nhá Gabriela) _____________________4
7.3 Boi de Carro (Tonico e Tinoco e Anacleto Rosas Junior) ___________________6
7.4 Não, não, não (Alberto Rodrigues, Pato Romero, Ivo Rodrigues Júnior) _______8
7.5 Revoluções por minutos ( Paulo Ricardo/Luiz Schiavon) ___________________10
7.6 Brasil (Cazuza) ____________________________________________________12
7.7 Comida ( Arnaldo Antunes/Sérgio Brito/Marcelo Fromer) __________________14
7.8 Monte Castelo (Renato Russo)________________________________________18
7.9 Pra não Dizer que não falei das Flores (Geraldo Vandré) ___________________20
7.10 Apesar de Você ( Chico Buarque) ____________________________________22
7.11 Cálice (Chico Buarque e Gilberto Gil)_________________________________24
7.12 Luíza ( Tom Jobim) _______________________________________________26
7.13 Aquarela ( Toquinho) ______________________________________________29
7.14 Aquarela do Brasil (Ary Barroso) ____________________________________31
7.15 Saudosa Maloca (Adoniran Barbosa)__________________________________35
7.16 Trem das Onze (Adoniran Barbosa)___________________________________37
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7.17 Diário de um Detento (Mano Brown) _________________________________39
7.18 Rap na Fita (Conexão do Morro) _____________________________________42
7.19 Noites Cariocas (Andinho e Malha Funk) ______________________________47
8 Referencial Teórico
Unidade Didática
Objetivos Geral e Específicos
Esta Unidade Didática tem como preocupação principal despertar o senso crítico do
educando por meio da leitura e compreensão das letras de música, levando-o a pensar a
respeito dos processos de transformação social, bem como refletir acerca da estrutura
lingüística superficial do texto.
O sentido dos textos musicais será construído, levando em conta o contexto sócio-
político-cultural. Neste percurso, serão mobilizados fatores de coerência do texto como
conhecimento de mundo, conhecimento partilhado, intertextualidade, polifonia discursiva e
operadores argumentativos. Também serão discutidas as diferenças culturais a partir dos usos
lingüísticos documentados nas letras de música. Outro fato a ser analisado é a representação
de mundo presente em cada um dos gêneros. Ainda deverão ser objetos de análise, aspectos
fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos, que serão enfocados numa perspectiva
funcional.
Metodologia
Foram selecionadas letras dos diversos gêneros musicais discutidos no projeto que
serão levados à sala de aula. O critério para a escolha dessas letras foi a textualidade e sua
importância como (re) construção de mundo.
O trabalho a ser realizado com os alunos consistirá na construção de sentido dos
textos, a partir das questões elaboradas, cuja orientação do professor como leitor privilegiado,
será indispensável, destacando e discutindo os aspectos textuais relevantes.
Esse trabalho tem como suporte teórico a Lingüística textual, porém, haverá
momentos que esta ciência não dará conta. Portanto, deverão se mobilizados ainda,
conhecimentos acerca da Semântica Argumentativa e da Análise do Discurso.
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O resultado do trabalho terá como meio de circulação um blog criado para as turmas.
Avaliação ou Acompanhamento
Os estudantes serão avaliados com base na sua participação nas discussões em classe,
participação concentrada e racional na pesquisa em pequenos grupos, atividades
de discussão, publicações no blog e nas respostas dadas às questões que acompanham cada
um dos textos.
Resultados Esperados
Espera-se, com esse trabalho, que o aluno desenvolva a sua capacidade de produção e
compreensão textual, passando a ter um olhar crítico acerca da cultura musical que o cerca.
Estendendo ainda esse conhecimento a outros produtos veiculados pela mídia e, que dessa,
forma possa selecionar aquilo que ouve, vê e lê, tornando-se um cidadão consciente, capaz de
interferir em seu meio.
Recursos a serem utilizados
Textos musicais digitados, laboratório de informática, tv multimídia, internet e toca-
cd.
Cronograma
A Unidade Didática será desenvolvida durante todo o ano letivo de 2009.
Análise dos Fragmentos textuais
Gralha Azul - Nho Belarmino e Nha Gabriela
Morena que bicho é aquele que cantou lá no sertão? Morena que bicho é aquele que cantou lá no sertão? É a bela gralha azul na hora de plantar o pinhão É a bela gralha azul na hora de plantar o pinhão Gaúcho que bicho é aquele que cantou lá na coxilha?
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Gaúcho que bicho é aquele que cantou lá na coxilha? É meu lindo quero-quero sentinela farroupilha É meu lindo quero-quero sentinela farroupilha Gralha azul do Paraná representa a plantação Gralha azul do Paraná representa a plantação Quero-quero dos meus pagos simboliza a tradição Quero-quero dos meus pagos simboliza a tradição (....)
Contexto Social
Com a bela gralha azul, tradição do Paraná. A gralha azul é a ave símbolo do Paraná.
Essa composição musical assinala a importância desse pássaro para o reflorestamento do
Pinhão, considerada a árvore símbolo do Estado. Além disso, o texto faz referências aspectos
geográficos do Rio Grande do Sul, como Coxilha (campinas com pequenas e contínuas
elevações arredondadas, típica da planície sul-rio-grandense), e aspectos culturais como
Farroupilha (Revolução gaúcha ocorrida entre 1835 e 1845 pela Independência do Estado
Gaúcho); Pagos (aldeia).
Construção do sentido do texto
O texto é rico em recorrências lexicais (reiteração de um mesmo item lexical) É
construído com o uso de aliterações, através da repetição “R” e “Q” e, prosopopéia, que é a
atribuição de uma característica humana ao “Quero-quero”.
A coesão textual se dá por meio de repetição de termos, além do hiperônimo e
homônimo, no caso, “bicho” e gralha azul.
Os fatores de coerência textual se dão por meio de conhecimento de mundo do leitor; é
um texto que parte da situação para o texto, com objetivo de retratar aspectos culturais
regionais.
Exploração lingüística
Formação de palavras por justaposição, além da origem das palavras, como “pagos”
que vem do latim: Pagu.
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1) Nesse texto ocorre uma intertextualidade, “Farroupilha”. Pesquise a respeito
desse termo e procure explicar a importância dele para a construção do
sentido do texto.
2) Nesse texto aparece um substantivo composto “Quero-quero” Faça uma
pesquisa em uma gramática e resuma as regras para o plural dos
substantivos compostos.
3) Produzir uma paródia, tendo como espaço de circulação o blog do Projeto.
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Interdisciplinaridade
Estabelece um diálogo com a fauna paranaense e com a constituição geográfica
e histórica do Rio Grande do Sul, cujos aspectos podem ser explorados tanto em
Geografia como em História.
Mocinhas da Cidade - Nho Belarmino e Nha Gabriela
As mocinhas da cidade são bonitas e dançam bem As mocinhas da cidade são bonitas e dançam bem Dancei uma vez com uma moreninha e já fiquei querendo bem Dancei uma vez com uma moreninha e já fiquei querendo bem (...) Fui na casa da morena pedir água prá beber Fui na casa da morena pedir água prá beber não é sede não é nada moreninha eu vim aqui para te ver não é sede não é nada moreninha eu vim aqui para te ver Embora teu pai não queira que eu me case com você Embora teu pai não queira que eu me case com você Mas depois de nós casados, moreninha ele vai me compreender. (...)
Contexto Social
Ao contrário do anterior, o texto não se projeta no eixo da história, pois apenas
retrata um momento de diversão, no qual uma pessoa que aparentemente mora na área
rural, encontra-se com uma da área urbana.
O que o autor do texto deixa claro por meio do verso “Embora teu pai não queira
que eu me case com você” é a dificuldade de aprovação do relacionamento, por parte do
pai da pretendente.
Construção do sentido do texto
A coesão textual se dá por meio de recorrências lexicais, por conectivos, como o
“e” que expressa idéia de adição e na última estrofe, há a ocorrência do operador
argumentativo “embora” expressando concessão e também do “mas” expressando uma
idéia de oposição. Esses elementos ajudam a construir a idéia de oposição.
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O paralelismo dos dois primeiros versos, da primeira estrofe, transmite uma
idéia panorâmica da situação. A partir do terceiro há uma particularização.
O verso “E sol já vai se pondo e as saudades vêm atrás” retoma a idéia de que é
durante a noite que todos os problemas vêm à tona. Durante o dia estamos entretidos
com vários afazeres e nos esquecemos deles. O sentimento que a pessoa com quem ele
dançou despertou nele, o deixa com saudade e enquanto, o eu-lírico não resolve isso ele
não vai ficar em paz.
Exploração lingüística
1) Que efeito de sentido o uso do gerúndio produz no texto?
2) O uso do pronome pessoal do caso reto “você” está incoerente com o pronome
adjetivo “teu”.Qual pronome possessivo deveria ter sido usado para que o verso:
“Embora teu pai não queira que eu me case com você”, fique na norma culta?
3) “Embora” trata-se de um operador argumentativo que tem o valor semântico de
concessão. Pesquise, numa gramática, outros operadores argumentativos que
tenham o mesmo sentido. Em seguida, Reescreva o verso substituindo o
“embora” por outras expressões encontradas em sua pesquisa. !
4) No verso, “Fui na casa da morena pedir água pra beber” O uso da combinação
da preposição em + a “na” não corresponde à norma culta. Reescreva o verso
passando-o para a norma culta.
5) No verso: “Dancei uma vez com uma moreninha e já fiquei querendo bem”,
parece ser o caso de amor a primeira vista. Em sua vida, já aconteceu de ver uma
pessoa pela primeira vez em ficar gostando dela? Comente sua resposta, por
meio de um pequeno texto. Para isso utilize o roteiro abaixo;
• Quando aconteceu?
• Onde aconteceu?
• Como aconteceu?
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• O que foi que chamou a sua atenção nela ou nele?
6) Organizar a turma em círculo e discutir as relações amorosas entre pessoas com
níveis sócio-culturais diferentes. Em seguida produzir um texto a respeito do
assunto.
7) Após o debate, fazer uma síntese e postar no blog.
Boi de carro (Tonico e Tinoco e Anacleto Rosas Júnior)
Na manguera Da fazenda do Lajado Conheci um boi maiado Descaído como quê Tempo de moço Quando eu era candiero Boi Maiado era ligero Trabaiava com você. Boi de carro Hoje véio rejeitado Seu congote calejado Da canga que te prendeu Boi de carro Eu ainda sô teu cumpanheiro Eu to véio sem dinheiro Teu destino é iguá o meu Boi de carro Sem valia tá afrontado De puxá carro pesado Costume que os patrão fais Eu trabaiei Trinta ano e fui quebrado Do lugá foi despachado Diz que eu já não presto mais. Boi de carro Seu oiá triste parado Ruminando já cansado Cô desprezo do patrão Boi de carro Eu também to ruminando Essa mágoa vô levando Dos home sem coração. Vou andando pelo mundo /Esperando a minha veis. (...)
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Contexto Social
O texto tem como inspiração a região rural do Brasil e do trabalho forçado que
era realizado por animais e pessoas, já que a mecanização era inexistente. Mas também
na visão simples do homem do campo há forte presença do sistema capitalista, onde o
ser humano só tem valor enquanto pode vender sua força de trabalho, ou seja, enquanto
é útil. Trata-se de um tema bem atual nesse período de neoliberalismo.
Construção do sentido do texto
Quem fala no texto é um homem do campo, relembrando com lamentações de
um passado, onde ele era aceito porque era jovem e produtivo, da mesma forma se
reporta ao animal, inclusive se comparando ele: “Eu to véio sem dinheiro, teu destino é
igual ao meu” A coesão textual é construída com elementos de ativação e reativação,
além de recorrências lexicais, como Boi de carro que é repetido várias vezes.
Exploração lingüística
O texto faz uso da norma coloquial da língua, justamente para caracterizar o eu-
lírico, que é uma pessoa simples e sem conhecimento da norma culta, estabelece uma
polifonia com o sistema capitalista de exploração, no qual o patrão só visa ao lucro em
detrimento do elemento humano. É uma narrativa em que predomina o discurso indireto
livre.
1. Qual o motivo que levou o boi de carro ser rejeitado?
2. Qual a característica do narrador que o aproxima do boi de carro?
3. Transcreva do texto elementos que caracterizam o desprezo sofrido pelo
narrador e pelo boi de carro.
4. Você vê alguma semelhança entre o narrador, o boi de carro e os
trabalhadores de hoje?
5. Você acha que no Brasil, o idoso é respeitado? Por quê?
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6. Pesquise a respeito do estatuto do idoso e transcreva os direitos do idoso
descritos nesse documento.
7. O texto foi escrito na variante lingüística “caipira” Reescreva a segunda
estrofe usando a norma culta da língua.
8. O texto servirá como mote para o debate a respeito do trabalhador no
contexto capitalista em que o ser humano perde seu valor humano e é
tratado como “coisa” sendo descartado no momento em que perde sua
utilidade. Logo após o debate, será produzido um texto síntese a respeito
do mesmo que será publicado no Blog.
Interdisciplinaridade
Importante fazer, em história, um aprofundamento do estudo da teoria marxista
da mais valia.
Não, não, não. (Alberto Rodriguez, Pato Romero, Ivo Rodriguez Júnior) Hoje, é você quem manda E diz o que eu devo fazer Hoje, eu ando a passo curto Lutando pra sobreviver Tudo, tudo mudaria Tantas idéias pra crescer Se o mundo acordar E a gente se mexer Mas um novo tempo vem vindo Posso sentir vibrações Amanhã, eu quero ver o novo sol nascer. Pra iluminar você (...)
Contexto Social
O texto faz um alerta para a conscientização, um chamado para a luta. Uma letra escrita
na época da repressão política, visando despertar o senso crítico das pessoas. Parte da
situação para o texto, ou seja, a base para a sua construção é a realidade.
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Construção do sentido do texto
Já no título da música, ocorre uma recorrência lexical, possivelmente, com o objetivo de
dar ênfase à negação.
“ tudo, tudo” na segunda estrofe resume, resume o que havia sido afirmado na primeira.
Os tempos verbais também contribuem para a coerência do texto é o que acontece na
primeira estrofe, o presente do indicativo reflete a realidade vivida. No primeiro verso
da segunda estrofe, aparece o futuro do pretérito para expressar possibilidade, idéia de
mudança, que também aparece nos dois últimos versos dessa estrofe, por meio do futuro
do subjuntivo.
Na terceira estrofe há uma mudança de perspectiva, por meio do uso da conjunção
adversativa “mas”. Essa mudança também é identificada com o uso do advérbio: “hoje”
e “amanhã”.
Há um paralelismo nos dois primeiros versos da última estrofe, que trazem idéias
semelhantes: “cabeças fechadas”, “idéias furadas”
Do ponto de vista da coerência textual, o autor dialoga com a música “Apesar de Você”
do Chico Buarque. É por isso que é possível apontar quando foi construída a letra. Isso
demanda do leitor um conhecimento de mundo.
Neste texto, a vírgula é usada em duas situações: para separar o advérbio do resto da
frase, como no caso de “hoje” e “amanhã” e também para enumerar, no caso da
recorrência “tudo, tudo”. Além disso, há presença de aliteração com o uso repetido do
“T” na segunda estrofe, dando uma sonoridade mais explosiva, procurando marcar bem
essa mudança.
O arranjo dos tempos e modos verbais, dos advérbios, dos conectivos, das metáforas e
principalmente da aliteração traduz a intencionalidade do autor no esquema de
comunicação, que é o de causar impacto, de mexer com os ouvintes.
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Exploração Lingüística
1) O autor do texto dialoga com um interlocutor no texto, isso fica evidente em função do
uso do pronome pessoal “você”, cujo sujeito é autoritário. Cite um verso do texto que
nos faz chegar a essa conclusão.
2) Outro verso que nos chama a atenção na primeira estrofe é o último “Lutando pra
sobreviver”. Qual é a diferença entre viver e sobreviver?
3) De acordo com o texto para que haja transformações é necessário que as pessoas
façam o quê?
4) Metáfora é uma figura de estilo que consiste numa comparação entre dois elementos
por meio de seus significados. No terceiro verso da terceira estrofe, o enunciador usou
essa figura de linguagem para dizer que no futuro haverá mudanças nessa condição de
vida a qual ele está subjugado. Transcreva essa metáfora.
5) Observe o uso da vírgula nos versos a seguir: “Hoje, é você quem manda”, “Amanhã,
eu quero ver o novo sol nascer”, “Tudo, tudo mudaria” Pesquise em um dicionário a
classe das palavras “hoje”, “amanhã” e tudo. Em seguida, consulte uma gramática e
procure explicar o porquê do uso da vírgula nessas três situações.
6) Fazer uma pesquisa a respeito da época em que essa letra foi escrita, destacando os
fatos políticos que estavam acontecendo, procurando estabelecer uma relação entre
eles e o texto. Esse trabalho será publicado no blog. Usar o recurso comentário do blog
para postagens de opiniões dos alunos a respeito da temática discutida.
Revoluções por minutos (Paulo Ricardo / Luiz Schiavon) Sinais de vida no país vizinho Eu já não ando mais sozinho Toca o telefone, Chega um telegrama enfim Ouvimos qualquer coisa de Brasília Rumores falam em guerrilha Foto no jornal, Cadeia nacional Viola o canto ingênuo do caboclo Caiu o santo do pau oco Foge pro riacho,
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Foge que eu te acho sim Fulano se atirou da ponte aérea Não agüentou fila de espera Apertar os cintos, Preparar pra descolar (..)
Contexto Social. Embora Revoluções por Minutos tenha sido escrita na década de 80, ela traz uma
temática bem atual.
O texto trata da temática da globalização, pois sinaliza os meios de com comunicação
como elementos presente em nossa vida, que não nos deixa mais viver sozinhos.
Construção do Sentido do Texto
O fio condutor para se construir o sentido do texto são os meios de comunicação, os
quais estabelecem essa ligação com o mundo. O verso “eu já não ando mais sozinho” deixa
isso pressuposto. Antes, o eu-lírico andava sozinho, referindo-se, possivelmente, ao
isolamento em que as comunidades viviam, hoje, com todos recursos da tecnologia da
informação, isso não acontece mais.
A primeira estrofe tem a preocupação de traçar um panorama dessa nova realidade
Na segunda estrofe, o autor conta com o conhecimento enciclopédico do leitor,
menciona a expressão “Santo do Pau Oco,” estabelecendo uma intertextualidade explícita
com um fato histórico, que virou dito popular. Essa expressão se reporta ao Brasil Colonial do
século XVIII, auge da mineração no país. Acredita-se que as imagens de santos esculpidas em
madeira oca eram recheadas de ouro e pedras preciosas para passar pelos postos de
fiscalização da Coroa Portuguesa. Assim, evitava-se o pagamento de impostos altíssimos.
Com isso o autor quis dizer que ninguém mais vai conseguir se esconder, será sempre
encontrado em qualquer parte que estiver.
Na última estrofe, o verso “Agora a China bebe coca-cola” mostra a perda da
identidade dos países, esse verso ainda estabelece uma oposição com “Aqui na esquina
cheiram cola.” Querendo mostrar que essa nova realidade, no caso a globalização não
produziu mudanças socais.
O último verso, por meio da expressão “bio degradante” revela que a vida perdeu seu
valor.
A coesão do texto se dá por elipses, só nos dois últimos versos da última estrofe que
aparece os dêiticos “aqui e agora”, sinalizando uma mudança de perspectiva.
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Contexto Social.
1. Explique o sentido de “Revoluções por minuto” exemplifique com expressões
retiradas do texto.
2. Pesquisar o significado de “santo do pau oco” e depois procure explicar o
sentido que essa expressão dá ao texto.
3. No verso: “foge que eu te acho sim”, mostra que hoje não temos para onde
fugir? Por quê?
4. Essa letra foi escrita na década de 80. Nessa época, o mundo ainda não
conhecia a internet. Você acha que com o advento dessa mídia ficamos ainda
mais vulneráveis? Por quê?
5. No verso: “Sinais de vida no país vizinho”. “No” é a contração da preposição
em + o artigo definido o. O fato de o autor ter usado esse recurso pressupõe
que ele ta falando de um país vizinho desconhecido ou conhecido do leitor?
Por quê?
6. No verso: “chega um telegrama enfim”. Nesse verso, o autor usou o artigo
indefinido um. Isso pressupõe que o leitor sabe qual é o telegrama.
7. Após o estudo do texto, pesquise notícias e reportagens que falem sobre o
processo de globalização que vem ocorrendo no mundo. Quais os pontos
positivos e os negativos e até que ponto isso afeta à vida dos brasileiros. O
resultado dessa síntese será publicado no blog da turma.
Interdisciplinaridade
Estabelecer interdisciplinaridade com geografia pra discutir os efeitos benéficos e
maléficos da globalização.
Brasil - Cazuza
Mostra tua cara Quero ver quem paga Pra gente ficar assim Brasil Qual é o teu negócio? O nome do teu sócio? Confia em mim Não me convidaram Pra essa festa pobre Que os homens armaram pra me convencer
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A pagar sem ver Toda essa droga Que já vem malhada antes de eu nascer Não me sortearam A garota do Fantástico Não me subornaram Será que é o meu fim? Ver TV a cores Na taba de um índio Programada pra só dizer "sim, sim" Brasil Mostra a tua cara Quero ver quem paga Pra gente ficar assim (...).
Contexto Social
Década de 80, o país estava saindo da Ditadura Militar. A corrupção nesse período
campeava em alta escala, pois não podia ser noticiada e com a abertura democrática ocorrida
nessa época, as denúncias começaram a aparecer. O Rock foi o grande porta-voz dessas
denúncias. Exemplo disso é a música de Cazuza.
Esse texto retrata a situação de corrupção e violência em que o país vivia. O curioso
é que uma letra da década de 80, infelizmente, parece ter sido escrita hoje.
Construção de sentido do texto
O eu-lírico desse texto pode ser um menor abandonado ou um pária dessa sociedade
injusta. Para conseguir o que quer usa a violência como sugere nos versos “meu cartão de
crédito/é uma navalha.” A expressão “festa pobre” sugere o desdém a esse estado de coisas. O
fato de ele ficar na porta reflete a sua exclusão social. A televisão colabora para que as
pessoas não se rebelem contra o que esta acontecendo, transformando-as em robôs.
Estabelece diálogo com situações da época, exigindo conhecimento de mundo do
ouvinte. Por exemplo: nessa década, o programa Fantástico da Rede Globo exibia um quadro
chamado Garota do Fantástico que consistia num desfile e na eleição de uma garota, o qual
projetava as eleitas para a fama.
Embora o autor teça uma série crítica ao país, na última estrofe, ele reafirma o seu
compromisso não traição, talvez a uma alusão aos responsáveis pelas condições sócio-
econômicas do país.
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A progressão do texto ocorre por meio de paralelismo: “Não me sortearam/não me
convidaram” e na última estrofe ocorre a reativação de Brasil por meio de “grande pátria”
A expressão fônica do texto é construída com o uso da segunda pessoa do singular.
Isso gera uma aliteração com o fonema “T”que ajuda na expressão sonora explosiva do texto,
dando uma idéia de indignação.
É forte também a presença da oralidade, principalmente por expressões como
“malhada” e “tv a cores”.
Exploração Lingüística do texto
1. A linguagem figurada é típica dos textos literários. O texto musical,
geralmente, tem essa característica. Faça uma pesquisa em uma gramática e
procure identificar, no verso: “Brasil mostra a tua cara” que figura de
linguagem ocorre. Além de explicar o sentido que ela expressa.
2. Manipular é convencer alguém a fazer algo. Na terceira estrofe, fica claro um
processo de manipulação. Em qual verso isso fica evidente?
3. O país é personificado. Quais são as características que denotam isso?
4. Na segunda estrofe do texto há a presença de um verso que mostra que o
enunciador é um sujeito excluído do processo. Transcreva-o.
5. No verso “Brasil mostra a tua cara” Reescreva o verso substituindo tua por sua,
faça a devida adaptação. O modo verbal usado foi o Imperativo. Faça uma
pesquisa, registrando em que outras situações da Língua escrita também se usa
esse modo verbal. Além disso, destaque se em todas essas situações de uso há
uma correspondência correta entre o pronome e a forma verbal.
1) Pesquise a época em que essa letra foi escrita. Destaque os fatos históricos e
veja se eles influenciaram na produção do texto. Além disso, faça a relação
com o período contemporâneo, houve mudança de postura política, econômica
e social? Esse trabalho deverá ser postado no blog da turma.
Comida (Arnaldo Antunes/Sérgio Brito/Marcelo Fromer)
Comida é pasto
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Você tem sede de quê? Você tem fome de quê? A gente não quer só comida, A gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só comida, A gente quer saída para qualquer parte, hum A gente não quer só comida, A gente quer bebida, diversão, balé A gente não quer só comida, A gente quer a vida como a vida quer Bebida é água Comida é pasto Você tem sede de quê? Você tem fome de quê? A gente não quer só comer, A gente quer comer e quer fazer amor A gente não quer só comer, A gente quer prazer pra aliviar a dor A gente não quer só dinheiro, A gente quer dinheiro e felicidade A gente não quer só dinheiro,’ A gente quer inteiro e não pela metade Bebida é água Comida é pasto Você tem sede de quê? Você tem fome de quê? gente não quer só comida, A gente quer comida, diversão e arte A gente não quer só comida, A gente quer saída para qualquer parte, hum A gente não quer só comida, A gente quer bebida, diversão, balé A gente não quer só comida, A gente quer a vida como a vida quer Bebida é água. Comida é pasto Você tem sede de que? Você tem fome de que? A gente não quer só comer, A gente quer comer e quer fazer amor A gente não quer só comer,
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A gente quer prazer pra aliviar a dor A gente não quer só dinheiro, A gente quer dinheiro e felicidade A gente não quer só dinheiro, A gente quer inteiro e não pela metade
(...)
Contexto Social
Num momento em que Betinho começava a campanha contra a fome no Brasil, os
Titãs fizeram a música comida. Essa letra traz uma crítica à campanha, pois o ser humano
precisa mais do que comida. Comida corresponde a só uma parte das necessidades do homem.
As pessoas precisam de comida, mas precisam de diversão de lazer etc..
Construção do sentido do texto
“Comida, comer, dinheiro e metade” não basta para saciar o ser humano. O que sacia o
ser humano é comida, diversão, arte e saída para qualquer parte, bebida, balé, a vida como a
vida quer, comer, fazer amor, prazer pra aliviar a dor, dinheiro e felicidade, inteiro. O texto
dividido em duas partes: Metade apresenta o que é necessário, mas não suficiente, para o ser
humano ter uma vida digna. Nos primeiros versos, há a presença das palavras água e pasto, as
necessidades que são satisfeitas com esses elementos são comuns tanto aos homens quanto
aos animais. Por outro lado, para que todas as necessidades humanas sejam satisfeitas é
necessário que haja comida, bebida, dinheiro, lazer, arte, prazer e felicidade.
Portanto, o texto tem como inspiração a realidade, apresentando críticas e dessa forma
gerar a conscientização das pessoas para o problema da distribuição de renda no Brasil.
Exploração lingüística
O texto é construído com o uso de paralelismo que estabelecem uma oposição entre si:
afirmação e negação que ajuda a dar a idéia de totalidade e de metade pretendida pelo autor.
Usa recorrências lexicais como no caso de “a gente” objetivando enfatizar que gente é
diferente de animal que precisa de mais coisas além da comida O advérbio “só” aparece em
várias partes do texto, para reforçar a idéia de parcialidade.
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Como já vimos há um diálogo com a Campanha da Solidariedade e com a política do
pão e circo, traços que se constituem em Polifonia.
A política do pão e circo remonta à Roma antiga, que com o crescimento urbano
vieram também os problemas sociais para Roma. A escravidão gerou muito desemprego na
zona rural, pois muitos camponeses perderam seus empregos. Esta massa de desempregados
migrou para as cidades romanas em busca de empregos e melhores condições de vida.
Receoso de que pudesse acontecer alguma revolta de desempregados, o imperador criou a
política do Pão e Circo. Esta consistia em oferecer aos romanos, alimentação e diversão:
quase todos os dias ocorriam lutas de gladiadores nos estádio (o mais famoso foi o Coliseu de
Roma), e eram distribuídos alimentos. Dessa forma, a população carente acabava esquecendo
os problemas da vida, diminuindo as chances de revolta.
Exploração Lingüística
1) Todos os verbos estão no presente do indicativo. Qual a importância disso para a
construção do sentido do texto?
2) No verso “comida é pasto”, o autor trabalhou com uma seleção lexical “pasto” Qual o
objetivo do autor ao usar esse substantivo?
3) Explique qual o efeito de sentido que o advérbio “só” no verso “A gente não quer só
comida” produz.
4) As interjeições são palavras invariáveis que exprimem estados de
espírito, servindo como auxiliador expressivo para o interlocutor. Ex. Ah! Viva!,
nossa! Ai! Etc. Destaque uma interjeição usada nesse texto. Será que a eliminarmos, o
sentido ficaria prejudicado?
5) Você acha que uma pessoa ganhando salário mínimo tem condições de ter uma
alimentação digna e lazer? Por quê?
6) Pesquise a respeito da campanha de solidariedade do Betinho e faça a relação com o
texto. Publique o resultado do seu trabalho no blog.
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Interdisciplinaridade
Estabelecer interdisciplinaridade com história numa discussão sobre a política de
distribuição de renda no país e também sobre as vantagens e desvantagens dos programas
sociais que visam distribuir renda.
Monte Castelo ( Renato Russo) Ainda que eu falasse a língua dos homens. E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria. É só o amor, é só o amor. Que conhece o que é verdade. O amor é bom, não quer o mal. Não sente inveja ou se envaidece. (...) É um não querer mais que bem querer. É solitário andar por entre a gente. É um não contentar-se de contente. É cuidar que se ganha em se perder. É um estar-se preso por vontade. É servir a quem vence o vencedor; É um ter com quem nos mata a lealdade. Tão contrario a si é o mesmo amor. Estou acordado e todos dormem todos dormem todos dormem. Agora vejo em parte, mas então veremos face a face. É só o amor, é só o amor. Que conhece o que é verdade. Ainda que eu falasse a língua dos homens. E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.
Contexto Social
O texto parte de uma realidade criada pelo autor para a realidade concreta. Assim
como fez os textos com os quais dialoga, tenta definir o que é o amor.
No verso “Agora vejo em parte, mas em breve veremos face a face”, parece querer
dizer que o amor estará completo quando houver a união de dois seres.
23
Construção do sentido do Texto
O mais nobre dos sentimentos humanos é o amor, A concessiva no primeiro verso
traduz isso. Todas as outras virtudes humanas são conseqüências do amor, conforme diz os
versos: “o amor é bom não quer o mal/não sente inveja e nem se envaidece.”
O paradoxo “o amor é fogo que arde sem se ver” reafirma a contradição que existe no
amor. Só que essa contradição não pára por aí, praticamente todos os versos fazem essa
afirmação, constituindo-se numa recorrência semântica Esses versos são intertextualidades
explícitas do poema de Camões escrito no século XV. Dialoga também com o texto bíblico
escrito pelo Apóstolo Paulo. Outra intertextualidade presente aparece logo no título, que é a
Batalha de Monte Castelo, ocorrida na Segunda Guerra Mundial. Portanto, o texto trabalha
com um jogo sintático. Inicia com uma concessiva, ressaltando a falta de integralidade da
pessoa sem o amor e ao longo do percurso tenta a definição por meio das coordenadas. Essas
estratégias configuram a intencionalidade comunicativa do autor.
Há recorrência lexical no verso “(...) todos dormem, todos dormem, todos dormem”,
parece que o autor quer dizer que só ele está acordado.
Também conta com o conhecimento enciclopédico do leitor para compreender o texto.
Exploração lingüística
1. Faça uma pesquisa sobre a Batalha de Monte Castelo, o soneto de Camões, Amor é
Fogo que Arde sem se Ver de Luís Vaz de Camões e O Amor é um Don supremo, cap.
13, de 1 Coríntios. (Bíblia.) e procure e destacar as diferenças e semelhanças entre os
textos quanto à finalidade de cada texto.
2. Qual o sentido da expressão “É solitário andar por entre as gentes”
3. “É servir a quem vence o vencedor” Quem é o vencedor?
4. Nos versos “Ainda que eu falasse a língua dos homens. E falasse a língua dos anjos,
sem amor eu nada seria.” Qual é o argumento mais forte?
5. O texto fala de dois tipos de amor, o amor Ágape e o amor Heros. Pesquise a respeito
e identifique os versos que falam do amor ágape e os que falam do amor heros.
24
6. Você concorda que o amor é contraditório? Justifique.
7. Usando a internet faça uma pesquisa a respeito do contexto histórico de cada um dos
textos, apontando os fatos que influenciaram a produção de cada um.
8. Em algumas situações as palavras mudam de classe gramatical, por exemplo, no
enunciado: Não sei o porquê de sua desistência. Nesse caso, porque, deixou de ser
conjunção e passou para a classe dos substantivos. Na quarta estrofe, há ocorrência
desse fenômeno. Destaque os vocábulos que sofreram mudança de classe gramatical,
especificando a classe a que eles, normalmente, pertencem e para qual classe
passaram.
9. Escolha dois textos que abordem o tema solidão e produza o seu a partir deles,
procure fazer citações dos textos escolhidos, para que o seu texto também apresente
intertextualidades. Essa produção dever ser publicada no blog da turma
Interdisciplinaridade
Uma discussão sobre solidariedade e respeito pode ser feita pela disciplina de Filosofia. Pra não dizer que não falei das flores (Geraldo Vandré) Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas nas ruas, campos, construções.
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
(...)
Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão
(...)
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
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Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição
Contexto Social
Esta canção foi um hino à juventude estudantil da década de 60. Nesse período, as
preocupações políticas faziam parte do cotidiano dessa geração. “Pra não dizer que falei de
flores” foi apresentada por Geraldo Vandré, em 1968, no III Festival Internacional da Canção,
e ovacionada por mais de 30 mil pessoas que estavam na platéia. No dia seguinte, o regime
militar solicitou a prisão do cantor.
Construção do sentido do texto
A primeira estrofe prega uma sociedade igualitária; na segunda, exorta a não
esperarmos que façam por nós, temos que ter atitudes e irmos à luta. De que adianta viver sem
razões? Passa-nos a idéia de que somos nós os responsáveis pelo nosso destino, agindo assim
teremos algo para dizer para as gerações futuras. Sugere, ainda, que a revolução seria a arma
mais eficaz para uma mudança. Essa idéia está posta no verso: “Ainda fazem da flor seu mais
forte refrão, ou seja, de forma pacífica não seria possível conquistar mudanças.”
Exploração lingüística
O texto apresenta vários verbos no gerúndio, talvez, para mostrar que a luta precisa ser
contínua? Não podemos viver na resignação Temos que cobrar do governo uma boa
educação, saúde etc. Temos que fazer valer nossos direitos à cidadania. Isso se conquista com
luta, se ficarmos de braços cruzados esperando que tudo caia do céu, jamais conseguiremos
ter a dignidade que merecemos. Prega a união das pessoas por meio do verso “somos todos
iguais, braços dados ou não” em qualquer lugar. Utiliza um paradoxo para mostrar a injustiças
sociais, como no verso “Pelos campos há fome em grandes plantações”
Utiliza metáforas como “flor,” simbolizando que o povo quer vencer pacificamente,
mas o autor parece não acreditar nessa possibilidade. Há também uma antítese nos versos (..)
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“antigas lições” As que são ensinadas nos quartéis e as novas lições como no verso
“aprendendo e ensinando uma nova lição” e dessa forma engrossando o cordão daqueles que
almejam mudanças.
A intenção comunicativa do autor é partir do contexto para o texto, expressando um
apelo através do verbo no modo imperativo “Vem, vamos embora, que esperar não é saber
(...)”
1. No primeiro verso da primeira estrofe: “Caminhando e cantando e seguindo a canção’.
Os verbos estão no gerúndio, sabemos que essa forma verbal dá a idéia de
continuidade na ação.” Por que você acha que o autor utilizou o gerúndio?
2. Explique o sentido que os versos “Vem, vamos embora, que esperar não é
saber../quem sabe faz a hora, não espera acontecer.”
3. Como pode haver fome em grandes plantações?
Interdisciplinaridade
Em História discutir com os alunos a respeito dos presos políticos e a luta dos
intelectuais da época para lutar contra a ditadura.
Apesar de você (Chico Buarque)
Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
Apesar de você
Amanhã há de ser
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Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
(...)
Contexto Social
A letra dessa música também foi escrita durante o período da repressão militar e
reflete o sentimento de luta dos jovens artistas da época. Portanto, também parte da
situacionalidade para o texto.
Construção do sentido do texto
Apesar de você é uma metáfora, representa a ditadura militar, o autor ressalta o
autoritarismo por meio do verso “Falou, tá falado”, relata também a humilhação pela qual as
pessoas passam quando diz: “”A minha gente hoje anda/falando de lado/e olhando pro chão.”
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O autor conta com o conhecimento partilhado e conhecimento enciclopédico do leitor,
pois não deixa tudo explícito no texto. Recorre ainda a uma intertextualidade com uma
expressão popular “Inda pago pra ver”
Utiliza-se de trocadilhos para contribuir com a sonoridade como no caso de “vou
cobrar com juros, juro”.
Exploração lingüística
1. Na primeira estrofe da música ocorre uma antítese: pecado/perdão. Que sentido o
autor quis produzir com o uso dessa antítese?
2. Levando em conta a questão histórico-social, o quer dizer a expressão “Apesar de
você”?
3. Na expressão, “Nesse meu penar” um verbo foi substantivado. Você deverá construir
uma frase transformando esse substantivo, novamente, num verbo.
4. As palavras: “escuro,” “tristeza” “lágrima” “fineza” possuem sentido positivo ou
negativo? Justifique.
5. Procure fazer uma pesquisa sobre os fatos políticos da repressão militar no Brasil.
Quando ocorreu, por que ocorreu e quais as conseqüências para o país. Poste a
pesquisa no blog. Não se esqueça de colocar as referências das fontes de pesquisa.
Interdisciplinaridade
Em História é possível reviver o momento político de discutir a respeito da democracia e o do
livre arbítrio das pessoas.
Cálice (Chico Buarque e Gilberto Gil)
Pai, afasta de
mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
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Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Como é difícil acordar calado Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça
30
Contexto social
Essa música também foi escrita no período da Ditadura Militar e faz uma crítica
ao contexto sócio-político da época.
Construção do sentido do Texto
Já na primeira estrofe do texto, ocorre uma intertextualidade com a frase bíblica
que Jesus disse logo antes de ser crucificado.
Em torno da palavra “cálice” (cale-se) os autores denunciavam a falta de
liberdade de expressão e a opressão social, que não podiam ser mais toleradas “Como é
difícil acordar calado/se na calada da noite eu me dano/”.
O autor constrói uma ambigüidade fônica com o vocábulo “cálice”,
estabelecendo dois sentidos: Na ditadura militar, as pessoas não podiam expressar-se,
por isso cálice e, também, faz uma referência a cálice.
Na primeira estrofe acontecem recorrências lexicais, exaltando a insistência do
pedido. As ativações são feitas por meio de nominações. O trocadilho calado/calada
contribui para a sonoridade do texto.
Na última estrofe, no segundo verso, novamente os autores recorrem a uma
expressão bíblica, “consumado”, criando uma polifonia. É importante perceber que os
dois recursos pertencem a mesma passagem bíblica, mantendo, assim, a lógica
semântica do texto.poema ao
Luíza (Tom Jobim) Lua,
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
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Um trovador, cheio de estrelas.
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração
Vem cá, Luiza!
Me dá tua mão!
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza!
Dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol
Nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores (...)
Contexto Social
A temática do texto é o amor não correspondido. A canção revela que o amor do
eu lírico não é correspondido. Isso está expresso no verso: "Eu sei que embaixo desta
neve mora um coração". Revela, também, que um apaixonado submete-se às vontades
de sua amada: "o teu desejo é sempre o meu desejo." Parte da situação para o texto.
Construção do Sentido do Texto
Nesse texto há ocorrência do modo imperativo do verbo vir usado na segunda
pessoa do singular “Vem cá, Luísa...” Esse modo verbal expressa atitudes do sujeito
diante de determinadas situações. Portanto são escolhas que os sujeitos fazem, visando
atender seus objetivos de comunicação. No caso, o texto em pauta fala de um amor não
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correspondido do eu-lírico. O verso “Eu sou apenas um pobre amador” passa-nos a
idéia de que o culpado da situação é do eu-lírico, é ele que não saber amar.
Essa letra estabelece diálogo com o Trovadorismo, primeiro estilo literário da
língua portuguesa. Portanto, a construção do sentido pelo leitor será maior se ele tiver
esse conhecimento enciclopédico. É construído com metáforas como: “neve, “raios de
sol” etc... dando ao texto maior valor semântico.
Exploração Lingüística
1. Como a lua é descrita pelo eu-lírico do texto?
2. As expressões que o eu lírico usa para caracterizar a lua são chamadas de
metáforas. Pesquise uma gramática o conceito de metáfora e procure explicar as
comparações expostas no texto.
3. O eu lírico não tem o seu amor correspondido. Isso fica evidente por meio de
qual verso?
4. O eu lírico coloca-se numa posição de submissão em relação à amada. Quais os
versos que denotam isso?
5. Modo verbal é a atitude que o falante toma diante de uma situação comunicativa.
Quando usa o modo indicativo, ele está se posicionando com certeza na situação
comunicativa, quando usa o modo subjuntivo, está expressando dúvida, hipótese
e quando usa o Imperativo é para expressar ordem, pedido, conselho, desejo que
seu interlocutor faça algo. Releia o texto e verifique o modo verbal que foi
empregado. Exemplifique com passagens do texto.
6. O autor usou formas verbais que correspondem ao pronome de segunda pessoa
“tu”. Reescreva o texto flexionando os verbos de acordo com a forma
pronominal “você”. Agora, compare as duas estruturas. Qual delas possui uma
formalidade maior.
7. Esse texto estabelece um diálogo discursivo com as canções de amor do
Trovadorismo, estilo literário do século XII. Faça uma pesquisa acerca dessa
escola literária e identifique essas semelhanças discursivas. Poste sua pesquisa e
33
seu comentário no blog. Não se esqueça de pôr as referências das fontes de
pesquisa.
Interdisciplinaridade
É possível discutir, em Filosofia, as relações amorosas entre casais. Aquarela (Toquinho) Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo.
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva,
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva.
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel,
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu.
Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul,
Vou com ela, viajando, Havaí, Pequim ou Istambul.
Pinto um barco à vela branco, navegando, é tanto céu e mar num beijo azul.
Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená.
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar.
Basta imaginar e ele está partindo, sereno, indo,
E se a gente quiser, ele vai pousar.
Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida.
De uma América a outra consigo passar num segundo,
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo.
Um menino caminha e caminhando chega no muro
E ali logo em frente, a esperar pela gente, o futuro está.
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar,
Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar.
Sem pedir licença muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar.
(...)
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Contexto Social
Essa música tem um carisma impressionante, não nasceu influenciada por
nenhuma situação externa. Na verdade é versão de uma letra em italiano. Porém ela tem
um forte apelo ao imaginário das pessoas, pois a temática é justamente a imaginação, a
criatividade.
Construção do sentido do texto.
A coesão textual se dá por meio de conjunções aditivas, elipses e conjunções
adverbiais. Há ativações, reativações e de-ativações, que são novas referências surgidas
no texto. Embora o texto fale de imaginação, parece-nos que o autor usou essa metáfora
para falar do ciclo da vida. Uma dessas pistas é o uso da expressão, na última estrofe,
(que descolorirá).
Interdisciplinaridade
Podem ser trabalhadas as localizações geográficas, das cidades/estados que
aparecem na letra, e também se podem estudar as coordenadas geográficas..
Em matemática, seria importante trabalhar as noções básicas da Geometria:
utilização de instrumentos de medição: régua, esquadro e compasso. Conceitos
geométricos: Ponto, segmento, semi-reta e reta.
Exploração Lingüística
1. Qual a relação entre o título e o restante do texto?
2. Leia o verso: “Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo.” Assinale a
alternativa que melhor explica o uso da expressão “qualquer”
a) ( ) Uma folha sem importância.
b) ( ) A imaginação não requer nada muito sofisticado.
c) ( ) A folha não está sendo valorizada pelo autor do texto.
3. Ter liberdade é ser livre para fazer o que quisermos. Quais versos da segunda
estrofe do texto figurativizam o tema liberdade?
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4. Leia os seguintes versos: “ Num instante imagino uma linda gaivota a voar no
céu./Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul,” O gerúndio é uma
forma verbal que expressa uma ação contínua. A segunda forma verbal grifada,
“voando” Está no gerúndio, pois está indicando uma continuidade na ação. A
primeira forma verbal grifada está no infinitivo. Seria possível dizer que ela tem
esse mesmo aspecto de continuidade da ação?
5. Segundo o enunciador, o futuro é uma astronave que tentamos pilotar. Assinale
a alternativa correta quanto ao sentido presente nesse verso.
a) ( ) A condução do futuro depende de cada um.
b) ( ) Para conduzir bem o futuro é preciso ser piloto.
c) ( ) Nem sempre conseguimos ter domínio do nosso futuro.
6. Leia o verso:
Um menino caminha e caminhando chega no muro. O uso do conectivo “no”
não está de acordo com a norma padrão da língua. Consulte uma gramática para
ver a forma adequada, em seguida, reescreva a frase.
Aquarela do Brasil (Ary Barroso) Brasil
Meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
Ó Brasil, samba que dá
Bandoleiro que faz gingar
Ó Brasil do meu amor
Terra de nosso Senhor
Ah! Abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do serrado
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Bota o recongo no congado
Brasil, pra mim
Brasil, pra mim
Isso aqui ô ô
É um pouquinho de Brasil iá iá
Esse Brasil que canta
E é feliz
Feliz, feliz
É também um pouco de uma raça
Que não tem medo de fumaça ai, ai
E não se entrega, não
E olha o jeito das cadeiras
Que ela sabe dar
Olha só o remelexo
Que ela sabe dar
E olha o jeito das cadeiras
Que ela sabe dar
Olha só o remelexo
Que ela sabe dar
Morena boa
Que me faz penar
Bota a sandália de prata
E vem pro samba sambar
Morena boa
Que me faz penar
Bota a sandália de prata
E vem pro samba
Bota a sandália de prata
E vem pro samba
Bota a sandália de prata
E vem pro samba (...)
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Contexto Social
O samba “Aquarela do Brasil” foi composto em 1939. Ela foi feita sob
encomenda do governo getulista. Alguns trechos da música foram censurados e
retirados do texto original, o que legitima que ela não foi criada com o intuito de ser um
produto político.
O próprio conceito de samba-exaltação foi construído a posteriori, e “Aquarela
do Brasil” foi mais um exemplo que serviu aos objetivos do Estado Novo na tentativa
de criação de uma identidade nacional, do que uma idealização proposital. A obra é,
portanto, utilizada com fins políticos sem que comprovadamente tenha sido escrita para
tal.
O seu tom exacerbado e grandiloqüente aproxima-a de um relato épico,
característica de uma história de grandes feitos e heróis, e, no caso, das belezas naturais.
Essas características vieram de encontro à política governamental da época, porém seria
errôneo afirmar que Ari Barroso idealizou criar um samba de exaltação à pátria em
nome do governo.
O estilo monumental de “Aquarela do Brasil” não se restringe a oralidade, mas
amplia-se na linguagem musical, tal como ao longo de todo arranjo. A melodia forte
acompanha a grandiosidade da letra crescendo até o seu final apoteótico.
A canção “Aquarela do Brasil” acabou por estimular o aparecimento de um novo
tipo de samba: o “samba de exaltação”, que segue a fórmula exacerbada de elogio à
pátria. O Estado passa a incentivar a proliferação do gênero.
Construção do sentido do texto
A progressão do texto ocorre por recorrências lexicais e retomadas por meio de
sinônimos e também de pronomes e também ocorre uma sumarização no primeiro verso
da última estrofe “tudo já fiz.”apresenta aliterações “Brasil, Brasil, brasileiro” Possui
polifonias ( as várias vozes que permeiam o discurso) como em “Terra de nosso senhor.
“É comum ouvir as pessoas repetindo que Deus é brasileiro.”
No verso “Esse Brasil que canta”, há uma pressuposição que haja outro Brasil que
não canta, deixando transparecer que o autor está falando só de uma parte do Brasil, só
aquela que é feliz.
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Nos versos: “No coração da baiana tem/sedução, canjerê/ilusão, candomblé pra
você.” Descreve a mulher como aquela que engana. Mas ao mesmo tempo a trata com
carinho, conforme os diminutivos: “baianinha”, “inteirinha”
A canção também procura retratar aspectos da cultura brasileira que constroem a
identidade nacional, exemplos: “mãe preta”, “congo”, “congado” “vatapá”, “caruru”,
“mugunzá” “ioio” etc.
Exploração Lingüística
1. O autor recorre à prosopopéia para demonstrar com mais intensidade a sua
afeição pelo Brasil. Pesquise o conceito dessa figura de linguagem e depois
transcreva dois exemplos de prosopopéia do texto.
2. Esse samba é ufanista, pois retrata um país idealizado. Transcreva as expressões
do texto que comprovam isso.
3. “É também um pouco de uma raça/Que não tem medo de fumaça ai, ai” O que
você entende por uma raça que não tem medo de fumaça.
4. Leia o verso “ Vou cantar-te nos meus versos,” O pronome pessoal do caso
oblíquo destacado refere-se a qual outro termo anteriormente citado no texto?
5. Leia os versos abaixo:
6. Esse Brasil que canta/E é feliz. Identifique qual das alternativas abaixo substitui
a conjunção “E” sem alterar o sentido.
a) ( ) Portanto
b) ( ) mas
c) ( ) Porque
7. O Romantismo é um estilo literário que tem como características principais, o
subjetivismo e a idealização. Pesquise a respeito desse estilo literário e teça um
comentário, apontando as semelhanças entre a letra de Aquarela do Brasil e essa
escola literária.
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Saudosa maloca (Adoniran Barbosa) Se o sinhö não tá lembrado Dá licença de contar Aqui onde agora está Este ardifício arto Era uma casa velha Um palacete assobradado Foi aí, seu moço, que eu, Mato Grosso e o Joca Construímo nossa maloca Mas, um dia, nóis nem pode se alembrá Veio os home com as ferramenta O dono mandou derrubá Peguemo todas nossas coisa E fumo pro meio da rua Apreciá a demolição Que tristeza que nóis sentia Cada taubua que caia Doia o coração Mato Grosso quis gritá Mas em cima eu falei Os home tá com a razão Nóis arranja outro lugar Só se conformemo Quando o Joca falou "Deus dá o frio conforme o cobertô" (...)
Contexto Social
Saudosa Maloca foi inspirada na própria imaginação de Adoniran, mas ele de fato conheceu
o Mato Grosso, um pobre marginal que morava no velho edifício do Hotel Odeon, fechado há
alguns anos para ser demolido. Ele dizia que muitas vezes passou por ali pelo velho edifício, pois
levava seu cachorro Peteleco pra passear. Acabou conhecendo Mato Grosso, que lhe contou a
iminência da demolição o que tocou fundo em Adoniran, penalizado com a sorte do infeliz
maloqueiro. Mas segundo ele só conheceu Mato Grosso, o Joca foi imaginação, servia para rimar
com maloca.
Construção do sentido do texto
O texto é escrito na variante lingüística popular urbana com um sotaque italianado,
estropiando com graça e leveza.
40
A progressão do texto acontece com o uso de sinônimos e conjunções. O texto é uma
narrativa. Isso fica claro a partir do verso “Mas, um dia, nóis nem pode se alembrá.”. Possui
intertextualidades explícitas como no verso “Deus dá o frio conforme o coberto.”
Parte da realidade para o texto e não deixa de ter um caráter de denúncia da situação social
dos sem-tetos.
Exploração lingüística
1. Embora o texto possua rimas, sua estrutura é de uma narrativa. Quais são as marcas
lingüísticas que assinalam essa afirmação?
2. “Casa velha”, “palacete assobradado” referem-se a qual outro termo presente no texto?
3. O enunciador usou o artigo indefinido “uma casa velha”, “um palacete assobradado”. Por
que ele usou essa estratégia lingüística? Procure pesquisar em uma gramática o emprego do
artigo definido e do indefinido.
4. Reescreva o trecho da letra usando a norma culta da língua.
5. Explique o sentido do provérbio “Deus dá o frio conforme o cobertô”. E por que ele foi
usado no texto?
6. Você acha que pensar assim nos causa resignação e por quê?
7. O que você pensa das invasões que acontece em construções abandonadas?
8. Que atitude o governo deveria tomar para evitar esse tipo de problema?
9. Reescreva o texto na Norma Padrão da Língua e publique-o no Blog da turma.
41
Interdisciplinaridade
Em história pode ser discutido o problema dos movimentos do sem-terras e também dos
sem-tetos. Causas e conseqüências.
Trem das onze ( Adoniran Barbosa)
Não posso ficar nem mais um minuto com você
Sinto muito, amor, mas não pode ser
Moro em Jaçanã
Se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas
Só amanhã de manhã
Não posso ficar nem mais um minuto com você
Sinto muito amor, mas não pode ser
Moro em Jaçanã
Se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas
Só amanhã de manhã
Além disso, mulher, tem outra coisa
Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar
Sou filho único, tenho minha casa prá olhar
Não posso ficar, não posso ficar...
Não posso ficar nem mais um minuto com você
Sinto muito amor, mas não pode ser
Moro em Jaçanã
Se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas
Só amanhã de manhã
(...)
42
Contexto Social
O personagem do texto é um tipo suburbano que não pode perder o último trem para o
longínquo subúrbio porque era o único filho e sua mão não dormiria, a não ser depois de sua
chegada em casa..
Construção do Sentido do Texto
A progressão do texto ocorre com o auxílio de elipses e conjunções adverbiais condicionais,
adversativas etc. Ele mantém um ritmo único, e é uma narrativa meio estanque, ou seja, na verdade
rela apenas um momento de uma situação, dando a impressão de começar pelo meio. Essa idéia
transparece no primeiro verso: “Não posso ficar nem mais um minuto com você.”No último verso
“Não posso ficar, não posso ficar.” Há uma recorrência lexical que dá ênfase a decisão do
personagem.
Exploração lingüística
1. Releia os versos “Se eu perder esse trem/Que sai agora às onze horas...” O fato de ele ter
usado o pronome demonstrativo esse, reforça a idéia de que ele está atrasado? Explique sua
opinião? E por que ele usou “esse” em vez de aquele?
2. No verso “Que sai agora às onze horas” o pronome relativo “que” repete uma outra palavra
já dita no texto. Qual?
3. Quais são os argumentos que o narrador usa para justificar a sua pressa em retornar para a
casa?
4. A locução conjuntiva “Além disso” tem um valor de adição, porém, na língua temos outras
locuções e conjunções que têm o mesmo valor semântico. Reescreva essa frase fazendo uso
de outra conjunção com o mesmo valor semântico.
5. Leia o verso: “Se eu perder esse trem”. Reescreva esse verso substituindo o “se” por “caso”
faça as devidas adaptações.
43
6. Por que a mãe dele não dorme enquanto ele não chegar?
7. Você acha que ser filho único constitui-se num problema ou não? Explique sua resposta.
8. Pesquise sobre o bairro Jaçanã. Onde fica; quem são as pessoas que moram lá; como é a
vida desses moradores e onde trabalham.
9. Você preferiria morar numa cidade grande? Por quê?
Interdisciplinaridade
Em Sociologia, dá para analisar a respeito do sistema de transporte das grandes cidades.
Dário de Um detento ( mano Brown)
São Paulo, dia 1º de outubro de 1992, 8h da manhã.
Aqui estou, mais um dia.
Sob o olhar sanguinário do vigia.
Você não sabe como é caminhar com a cabeça na mira de
uma HK.
Metralhadora alemã ou de Israel.
Estraçalha ladrão que nem papel.
Na muralha, em pé, mais um cidadão José.
Servindo o Estado, um PM bom.
Passa fome, metido a Charles Bronson.
Ele sabe o que eu desejo.
Sabe o que eu penso.
O dia tá chuvoso. O clima tá tenso.
Vários tentaram fugir, eu também quero.
Mas de um a cem, a minha chance é zero.
Será que Deus ouviu minha oração?
Será que o juiz aceitou apelação?
Mando um recado lá pro meu irmão:
Se tiver usando droga, tá ruim na minha mão.
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Ele ainda tá com aquela mina.
Pode crer, o moleque é gente fina.
Tirei um dia a menos ou um dia a mais, sei lá...
Tanto faz, os dias são iguais.
Acendo um cigarro, vejo o dia passar.
Mato o tempo pra ele não me matar...
Contexto Social
Diário de um detento é uma melodia de grande alcance entre os jovens, talvez porque
denuncie a falência do sistema carcerário brasileiro. A letra relata uma das maiores tragédias
acontecidas no Brasil, na década de 90: o massacre no complexo penitenciário do Carandiru, na
cidade de São Paulo, em 03 de outubro de 1992.
Construção do Sentido do Texto
A letra é construída com imagens sobrepostas de violência, a letra do rap constitui uma nova
modalidade narrativa, foge aos padrões normais da música, ditados pela indústria cultural e pela
sociedade de consumo, e apresenta um estilo inovador. A música é o recorte de um momento real
que desnuda de forma brutal, uma realidade pouco discutida, dita, escrita, talvez por não ser
conhecida ou sequer pensada por muitos de nós. Com um texto contínuo, chama a atenção para dia
e hora do acontecimento e denuncia a vulnerabilidade do homem enquanto ser humano diante do
sistema. Desse modo, faz com que o ouvinte/leitor se veja naquele momento e visualize as cenas do
massacre. A narrativa encaminha-se de forma a produzir um efeito catártico no leitor, ativando seu
imaginário. Essa reflexão sobre o imaginário, nos tempos atuais, não pode ser realizada sem se
descrever o lugar de onde se fala, e sem deixar de inscrevê-lo naquilo que se fala. O relato do rap,
por se tratar de uma narrativa contemporânea explora o imaginário e a memória do ouvinte/leitor. A
linguagem cinematográfica e televisiva, que salta aos olhos pela riqueza de onomatopéias, é
constantemente associada às cenas e às personagens presentes no momento do massacre. Ocorre a
comparação das cenas aterradoras do momento do acontecido, com o que possivelmente só poderia
ocorrer no "inferno". De forma irônica e nas entrelinhas, percebemos a denúncia de que muitos dos
que morreram no massacre eram réus primários, ou tinham penas menores. Enfim, tratava-se de
indivíduos possivelmente recuperáveis. O termo “robocop do governo” é atribuído à pessoa de
Fleury, então representante do sistema na ocasião. Também Charles Bronson, protagonista de
alguns filmes violentos mais consumidos nos anos 90, ou a chocante imagem de um preso caído de
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bruços sobre a Bíblia aberta no salmo 23 e a lembrança de Adolf Hitler, remetem-nos a memórias
mais antigas e atuais facilmente identificáveis. Tudo isto revela a verdadeira "cidade babélica"
existente naquele lugar. A linguagem usada no complexo é dialetal, contendo palavrões e gírias,
produzindo um código cifrado e específico para aquele ambiente. As ações no complexo do
Carandiru são delimitadas em tempo e espaço pela própria condição de encarceramento. O tempo
da rebelião é de três dias, sendo que no terceiro acontece o massacre. Este é o tempo narrado pela
música. O limite da ação, no rap, pode estar ligado ao fato de que, na cadeia, há toda uma estrutura,
um código estabelecido pelos detentos, que delimita o espaço das ações. Neste espaço, as pessoas
vivem como se o fenômeno da globalização, o “atordoador” do homem, não se fizesse presente.
Todas as ações transcorrem em um espaço determinado e labiríntico, que é o complexo e seus
entornos. Essa delimitação também se dá no código lingüístico que, de certa forma, é criado naquele
e para aquele ambiente.
Portanto, o autor conta com o conhecimento de mundo do ouvinte/leitor quando dialoga com
personagens do cinema.
Exploração Lingüística
1. Por que no primeiro verso do texto aparece o local, data e hora?
2. O verso “na muralha, em pé, mais um cidadão José.” Por que o enunciador usa a expressão
“José” Pesquise a respeito disso.
3. Quem foi Charles Bronson e por que o autor fez essa intertextualidade? Pesquise.
4. Qual o sentido do verso “Mato o tempo pra ele não me matar”?
5. O que você faz para passar o tempo?
6. “Ele sabe o que eu desejo. Sabe o que eu penso.” O que o personagem do texto deseja?
7. O texto possui vários termos que não estão na Norma Padrão. Transcreva-os e passe-os para
a Norma Padrão.
8. O narrador do texto está falando do Carandiru, uma penitenciária que havia na cidade de São
Paulo. Pesquise em jornais, revistas e na internet, e busque saber se o problema se estende as
outras prisões do Brasil.
9. Também pesquise a respeito do sistema prisional de outros países procurando fazer uma
comparação com o brasileiro.
10. Em sua opinião, o que deve ser feito para humanizar o sistema prisional brasileiro?
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11. Agora, faça uma paródia do texto estudado. Ela deverá ser publicada em nosso espaço
virtual.
Interdisciplinaridade
É possível estabelecer um diálogo com história e sociologia, no sentido de apresentar e
discutir esse fato histórico, causas e conseqüências, além de estender essa discussão para os dias
atuais.
Rap Na Fita (Conexão do Morro)
Puxa fundo vai morrer
Num segundo quer o quê?
Eu não quero ver o mal
De um irmão que não sabia o que era crack
Superior, super Billy
Isso te destrói por dentro
Me corrói quando vejo você
Querendo ser super herói
Não gosto da parada, ligo os camaradas
Isso traz desgraça
Escapam não escapam, às vezes, escapam
Estão na madrugada dando várias mancadas
Que loucura!
Quem vive sabe dizer
Quem morre sabe porque.
Na balada ao amanhecer
Criptonita prevalece na dupla sobrevivente.
Embalada com medo do sol.
Billy enrolado parece um anzol.
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Com sua energia atraente Billy sente
Sua língua ficando dura de repente
Ao ataque, ao ataque
Overdose ao ataque
Pega uma colher
Põe de baixo da língua senão ele não escapa
Ele não escapa
Grande Madureira incentivando vários moleques
Puta mano errado, quase vai o primeiro pivete
O primeiro pega, ficou relax
O segundo rá já mais se esquece
Mais um
Nascido e criado na zona sul
Rejeitado na favela já foi mais um
Na periferia só mais um
Rapaz comum
Billy, Billy, Billy, Billy, pá
Billy, Billy, Billy, Billy, vou já.
Ao passar do tempo Billy se recupera
Tira a colher debaixo da língua
Vai buscar uma pedra pra você, Billy, no rolê.
É normal sair na captura de um real.
Sem dinheiro no bolso tem maluco que passa mal
Cinco da matina seu pai tem que trampar.
Vira a esquina encontra o Billy perto do bar do Lagoa.
Onde duas semanas atrás mataram um coroa.
“Billy, Billy! Que cê faz essa hora no bote?"
"Aí, pai saí com umas mina, tô chegando agora.”
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Simplesmente, Billy mente.
Ele tava no barraco, à noite inteira
Se acabando no cachimbo com o Madureira.
Billy no pião se encontra com o Cipó
Cipó com uma na mão chama pro mocó
Um, dois, três, Billy não pensa duas vezes
O cachimbo já tá pronto foi Cipó que fez
Billy bate na porta do céu, escuta réu
A sua mãe, a dor bate no peito.
Não tem jeito pra seus amigos entro no crime
Perdeu o respeito, seu João revela com Dona Maria
Presente o fim de um sonho de ver o Billy
Formado em advocacia.
(...)
Construção do sentido do texto
O texto possibilita uma análise profunda da questão social das comunidades da favela.
Retrata o uso de drogas e as conseqüências que isso pode trazer. Faz um alerta às famílias,
solicitando a elas que cuidem de seus filhos antes que eles entrem nesse mundo.
Na primeira estrofe do texto, por meio do verso “De um irmão que não sabia o que era
crack,” mostra-nos que quem começa a fazer uso de drogas não sabe o que é isso, talvez por isso
comece.
Quando menciona a expressão “super herói” reporta-se ao fato de que as pessoas quando
fazem uso de substâncias tóxicas, sentem-se super heróis, deixando sua condição de pessoas
comuns. Porém, vivem sempre em situação de risco.
Denuncia os traficantes, que incentivam os meninos a usarem droga, conforme relatam os
versos: “Grande Madureira incentivando vários moleques”
“Puta mano errado, quase vai o primeiro pivete”
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Alguns não entram nessa, conforme afirma no verso: “O primeiro pega, ficou relax”. Mas,
em algumas situações, isso é o começo como em “O segundo rá já mais se esquece”.
Mantendo uma coerência lexical, o texto menciona outro termo que faz parte do universo
dos super heróis: “Criptonita prevalece na dupla sobrevivente, pois no filme do super homem a
criptonita é uma pedra, sendo o único elemento que pode destruir o herói.” Nesse caso ela ainda
permanece no corpo deles, e a exemplo do cinema, está destruindo esse super herói.
No verso “É normal sair na captura de um real.” O enunciador refere-se ao roubo que Billy
comete para poder sustentar seu vício, é interessante observar o efeito de sentido que o termo
“normal” sugere ao texto, ou seja, nesse contexto social esse ato não causa estranhamento.
A situação descrita no texto é causada pelo abandono da família isso é denunciado por meio
dos versos: “Billy, Billy! Que cê faz essa hora no bote?"
"Aí, pai, saí com umas mina, tô chegando agora.”
Simplesmente, Billy mente.”
Como a ausência do filho não foi notada durante a noite pelo pai? Onde está a preocupação
em saber com quem e por onde anda o filho. Aproveitando esse fato, Billy mente e facilmente
engana o pai. O autor está falando de um processo pelo qual Billy passa e que não é percebido pela
família.
Quando ela toma consciência dos acontecimentos já é tarde demais, conforme relatam os
versos a seguir: “João revela com Dona Maria.”
Presente o fim de um sonho de ver o Billy
“Formado em advocacia.” Os sonhos idealizados caem todos por terra.
Exploração Lingüística
1. Qual o sentido a expressão “Puxa fundo” possui no texto?
2. Por que o autor usa a expressão Superior, super Billy?
3. No verso: “Quem morre sabe porque.” Essa expressão mostra que a pessoa que morreu sabe
o motivo que a levou à morte? E por que mesmo assim o indivíduo caminha pra esse fim?
4. Quem o Madureira representa em nossa sociedade?
5. O eu significa a gíria “Ligo os camarada?”
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6. Leia os versos abaixo:
“ Mais um Nascido e criado na zona sul Rejeitado na favela já foi mais um Na periferia só mais um Rapaz comum.”
7. Agora, responda a vida das pessoas na Favela, dentro desse contexto tem algum valor?
Quais são as passagens que justificam sua resposta?
8. Destaque as gírias presentes no texto. Pesquise a respeito do significado delas, escrevendo os seus respectivos significados.
9. Há uma ambigüidade fônica nos versos: “Simplesmente, Billy mente.” Essa ambigüidade
reflete a ideia de que é difícil ou fácil enganar o pai de Billy?
10. Leia o verso“Billy bate na porta do céu, escuta réu” Assinale a alternativa que melhor
explica o verso acima.
a) ( ) o comportamento de Billy está correto.
b) ( ) Quando Billy morrer não será condenado pelos seus atos cometidos na terra.
c) ( ) Quando Billy morrer, será condenado pelos seus atos cometidos na terra.
d) ( ) Os viciados não têm culpa de seus atos.
11. Parece que a escolha dos nomes: Billy, Madureira, Cipó, João e Dona Maria tem uma
relação semântica com as respectivas ações desses personagens. Pesquise a respeito e faça
uma coluna relacionando os nomes e as ações e explique os possíveis sentidos que podem
ser depreendidos.
Quais versos descrevem os sintomas da overdose?
12. Em sua opinião, esse rap faz uma apologia (defesa) às drogas? Responda sim ou não,
justificando com passagens retiradas do texto.
13. “Criptonita prevalece na dupla sobrevivente” Porque o autor usou o adjetivo sobrevivente
nesse verso? Qual seria o efeito de sentido se esse adjetivo fosse omitido?
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Malha Funk - Noite Carioca (Andinho Malha Funk) Hoje à noite eu vi na tv Que amanhã vai dar praia Prepare a cerva, eu não quero saber. Eu vou cair na gandaia (Refrão) 2x Rio 40° O clima é total É verão chapa quente
Deitada na areia
Aquela sereia do olhar saliente. (...)
Contexto social
É um ritmo moderno com uma batida forte, cujas letras não dizem muito.Os temas
abordados são diretamente ligados ao universo das vivências juvenis, sendo comum abordarem as
relações afetivas, a descrição de bailes e sua animação ou temas jocosos de situações ocorridas na
cidade, além da exaltação das diferentes galeras. Outras características presentes em várias letras
são a exaltação da paz e a crítica às brigas, numa resposta possível às situações de violência que
ocorriam em alguns bailes. Eles expressam ainda aspectos da vivência juvenil, não deixando de ser
uma forma de refletirem sobre si mesmos e resgatarem o prazer e o humor que são tão negados em
um cotidiano permeado pela lógica instrumental dominante, o que é coerente com o sentido que
atribuem a si mesmos como MCs (mestres de cerimônia) serem os mensageiros da alegria,
promovendo a agitação da galera.
Para a análise das letras do Funk, acredito ser importante conhecer um pouco da variedade
lingüística presente nas letras. Portanto, abaixo segue algumas das expressões que aparecem nesses
textos:
Abalar: Causar boa impressão.
Beca: roupa.
Bolado: surpreso, espantado, perplexo.
Bonde: fileira, grupo de amigos da mesma comunidade.
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Cachorra: vadia.
Chapa quente: lugar que o clima é agitado.
Pela-saco: pessoa importuna, que chateia os outros.
Presepeiro:pessoa que faz uma promessa e procede com safadeza.
Tchutchuca: Garota bonita
Preparadas: mulher fácil e experiente.
Etc...
Exploração Lingüística
1. Leia os versos: “Hoje à noite eu vi na tv /que amanhã vai dar praia.” Assinale a alternativa
correta quanto ao sentido dos versos acima:
a) ( ) O único meio de informação do narrador é a tv.
b) ( ) Amanhã será um dia ensolarado.
c) ( ) o narrador é um sujeito boa-vida.
2. De acordo com o texto quais são os elementos que fazem parte da preocupação do narrador?
3. Destaque as gírias do texto e pesquise os seus significados.
4. O autor usou a metáfora sereia para se referir a mulher deitada na areia. Pesquise acerca
desse mito e diga que sentido que o enunciador quis expressar.
5. Você considera essa letra alienada (alheia aos acontecimentos sociais) ou não? Justifique sua
resposta.
6. O que você pensa da arte como mera ferramenta de entretenimento.
7. Pesquise, na Internet, com a ajuda do professor outras letras de Funk. Leia-as. Procurando
compreender o sentido de cada uma delas. Em seguida, publique seu comentário no blog.
Interdisciplinaridade
Discutir em Artes a cultura popular
53
Referencial Teórico:
BENTES, Anna Chistina. Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo Cortez, 2005. GOMES, Bruno Adoniran. Um sambista diferente. 2 ed. Rio de Janeiro: Funarte ,1997. MARCUSCHI , Liz Antonio. Produção Textual, Análise de Gêneros e Compreensão. São Paulo: Parábola, 2008. MEDINA , Carlos Alberto. Musica popular e comunicação: um ensaio sociológico. Petrópolis: Vozes, 1973. PLATÃO & FIORIN : Para entender o texto.. São Paulo: Ática. 1993. SANT’ANNA , Afonso.Romano. Música Popular e Moderna Poesia Brasileira. Petrópolis,Vozes, 1986. TINHORÃO , José Ramos: Música popular: um tema em debate..São Paulo. editora 34, 1997. KOCH , Ingedore Grunfield Villaça, Desvendando os segredos do texto. São Paulo.:Cortez, 2003. ___________ . Ingedore Grunfield Villaça, O Texto e a construção dos sentidos. São Paulo:: Contexto, 2003. ___________ . Ingedore Vilaça e Vanda Maria Elias, Ler e compreender: os sentidos do texto, 2.ed, São Paulo: Contexto, 2007. Proposta Curricular do Mato Grosso do Sul, 2006. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Medo. Ministério da Educação: Secretaria de Educação Média e Tecnológica, Brasília. 1999. Jornal Gazeta do Povo de Curitiba, Caderno G. Andrezza Capanema. Outrora brega, agora cult. 2004. Jornal Gazeta do Povo de Curitiba, Caderno G. Denize Savi. Recordando as músicas caipiras. 2002. Jornal Folha de São Paulo, Folha 2. Paloma Váron. Viaje pelos sons do mundo. 2001. Jornal Folha de Londrina, Folha 2 . Paulo Wolfgang. Como vai a música brasileira. 2004. LEITE , José Luiz, OAC – Discurso Enquanto Prática Social. Disponível em www.diaadiaeducacao.pr.gov.br. Acesso 31/07.2008. 29 Ana Siqueira. O “sertão” fica em Nashville. Disponível em www.ufmg.br/boletim acesso 3107/2008 Vanda C.P. Donadio. Origem da música caipira. Disponível em www.violatropeira.com.br acesso 31/07/2008 Nasce Aquarela do Brasil. Disponível em www.revelacaoonline.uniube.br/gente03/ary3.html acesso 31/07/2008
54
Caipira, a verdadeira música de raiz. Disponível em www.musicacountry.com/caipi3.htm Acesso em 31/07/2008 História do Rock. Disponível em www.suapesquisa.com/rock.. Acesso em 31/07/2008. http://vagalume.uol.com.br/ - Acesso em 31/07/2008