secretaria do estado de educaÇÃo coordenaÇÃo … · lição dada. aprender para nós é...
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22001100
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
SECRETARIA DO ESTADO DE EDUCAÇÃO
COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
ROSEANE APARECIDA SOUZA CASTRO
CADERNO DE APOIO PEDAGÓGICO
PONTA GROSSA
2010
Proposta de ação para professores de
diversas áreas de ensino, atendentes
de biblioteca, pedagogos em forma de
caderno pedagógico, apresentado à
Coordenação Estadual do Programa de
Desenvolvimento de Educação da
Secretaria do Estado do Paraná, como
requisito parcial à obtenção de título de
professor PDE. Este trabalho foi
orientado e supervisionado pela
professora e doutora:
Pascoalina B.O.Saleh.
Identificação do Professor:
Professor PDE: Roseane Aparecida Souza Castro
E-mail: [email protected]
NRE: Ponta Grossa
IES: Universidade Estadual de Ponta Grossa
Orientação: Prof. Dra. Pascoalina Bailon de Oliveira Saleh
Atuação: Colégio Estadual Professor Júlio Teodorico e Escola Estadual
Monteiro Lobato.
Identificação do Projeto:
Tema de Estudo: Ensino e aprendizagem de leitura
Título: O uso do jornal como incentivo na formação de sujeitos-leitores
Público alvo: Professores das diversas áreas de ensino, atendentes de
biblioteca, pedagogos e demais interessados
Local de implementação: Colégio Estadual Júlio Teodorico
“Homens e mulheres, somos os únicos seres que,
social e historicamente, nos tornamos capazes de
apreender. Por isso, somos os únicos em quem
aprender é uma aventura criadora, algo, por isso
mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a
lição dada. Aprender para nós é construir,
reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz
sem abertura ao risco e à aventura do espírito.”
Freire, 1997.
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Caros colegas:
O trabalho que agora é apresentado para a sua apreciação é fruto de muita
observação fora e dentro de sala de aula. Foram vários acertos, mas também, erros,
muita leitura, perdas de sono, desistências, reflexões...
Gostaria de escrever algo leve, sem muita escolha de palavras técnicas,
quase como uma conversa entre amigos de profissão.
Foram selecionados alguns apontamentos teóricos referentes à leitura que
julguei serem necessários e algumas atividades práticas, acessíveis, motivadoras.
Afinal, nossas maiores reclamações nos encontros pedagógicos recaem sobre a
falta de sugestões que poderiam ser postas em prática na sala de aula, falta de
encontros para troca de experiências, ausência de exposição de idéias que deram
certo em qualquer lugar no mundo (afinal, ensinar e aprender não têm fronteiras).
O que normalmente temos, durante esses encontros pedagógicos, nos
colégios de atuação, são levantamentos dos problemas que tão bem conhecemos e
anotações, anotações..., respostas a questionários, discussões sobre temas tão
repetitivos. Nossas sugestões e reclamações, sempre feitas como forma de
avaliação da semana pedagógica, não têm encontrado quem lhes dê atenção.
A nossa formação continuada não tem dado conta de satisfazer as
necessidades que são grandes e urgentes.
A experiência já nos mostrou que não existem receitas mágicas e prontas que
possam resolver por completo e satisfatoriamente a nossa árdua tarefa de educar,
mas estar insatisfeito e querer aprender para melhorar são qualidades
indispensáveis de um bom professor.
Espera-se que através das páginas que compõem esse material pedagógico,
possamos, sem grandes pretensões, alcançar o intento que é colaborar com o
trabalho em sala de aula, tornando as aulas mais humanas, mais motivadoras, mais
produtivas e mais apreciadas pelos alunos.
Boa leitura!
1. Para início de conversa
5
Este trabalho está destinado a professores das diversas áreas de ensino,
atendentes de biblioteca, pedagogos, enfim, àqueles que queiram participar da
construção coletiva do conhecimento em leitura.
Ele está constituído por assuntos relacionados ao tema principal que é a
formação de sujeitos-leitores intermediada pelo uso do jornal. Algumas páginas com
textos para leitura, outras, com assuntos abordados de forma teórico-metodológica,
com exemplos de atividades práticas que poderão ser adaptadas e complementadas
de acordo com a série, o nível e interesse da turma, e ainda, de acordo com a
necessidade e criatividade do professor.
Muitas atividades práticas citadas fazem parte de uma coletânea de anos de
sala de aula, cursos, oficinas, troca de experiências... Algumas já conhecidas, mas
se reaplicadas poderão trazer outros resultados.
Estarão expostas de forma simples e clara, a noção básica de gênero textual
notícias, charges, HQs e publicidade, estratégias de leitura (antes, durante e após).
A bibliografia utilizada e sugestões de leitura serão indicadas no final do
trabalho. O aprofundamento de cada subtema poderá ser realizado conforme o
interesse e necessidade de cada um.
O enfoque geral da abordagem situa-se na perspectiva sociointeracionista da
língua (o uso prático da língua pelos falantes em sociedade), alvo de estudos das
Diretrizes Curriculares Estaduais.
O objetivo geral desse trabalho é auxiliar, indiretamente, na formação do leitor
competente, instigando o participante das oficinas (mediador de leitura) a refletir
sobre a importância do seu trabalho no cotidiano escolar e perceber a importância
da leitura para a vida pessoal e social de qualquer indivíduo, transformando-a num
hábito para satisfação de necessidades.
Serão apresentadas estratégias de leitura que possibilitem a percepção das
peculiaridades de cada gênero, as várias e possíveis interpretações de um texto,
bem como, as possibilidades de leitura nas entrelinhas para perceber as tendências
dos veículos de comunicação. Espera-se com isso contribuir para o multiletramento
do participante quanto aos novos (alguns, não tão novos) conceitos linguísticos
circulantes.
2. Apresentação
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Os encontros serão em forma de oficinas, ofertadas no período noturno,
semanalmente, com duração de quatro horas cada, no Colégio Estadual Professor
Júlio Teodorico.
“Aprendi a escrever lendo, a falar, ouvindo. Naturalmente, quase sem querer.
Em meu tempo de criança, era aquela encantação. Lia-se continuadamente e
avidamente um mundaréu de histórias. Lia-se frase após frase do princípio ao fim.
Ora, as crianças de hoje não leem corretamente, apenas olham as figuras dessas
histórias em quadrinhos, cujo “texto” se limita a simples frases, guinchos, uivos, uma
subliteratura de homens das cavernas. Exagerei? Bem feito! Mas se essas coitadas
não adquiriram o hábito da leitura, como saberão um dia escrever?”
(Mário Quintana)
É público e notório que nossos alunos não gostam de ler, juntemos a isso a sua
dificuldade de interpretar e produzir até mesmo pequenos e simples textos e
enunciados nas várias disciplinas, a ortografia debilitada, o uso inadequado da
pontuação básica, a quase inexistência de acentuação, o uso indevido de letras
maiúsculas, o desconhecimento das regras de concordância verbal e nominal, a
grafia, muitas vezes, incompreensível, até mesmo a falta de organização e o uso
consciente do caderno, a falta de silêncio e a consequente ausência de
concentração: matérias- primas inexistentes nas salas de aula.
Agora, você vai me perguntar: O que esse aluno está aprendendo na escola?
Essa indagação nos tortura, nos tira o sono, principalmente a nós, professores de
língua portuguesa, sobre quem, normalmente, recaem as maiores cobranças de
pedagogos, direção, pais e alguns, mas não poucos, colegas de trabalho.
Outros companheiros de profissão mais conscientes, sabedores de que a língua
materna é instrumento de trabalho de todos, nos pedem ajuda. Reclamam porque
não tiveram em sua graduação disciplinas que os habilitassem na tarefa de ensinar
leitura e interpretação. Não estou exagerando, não é mesmo?
O que está acontecendo com nossos alunos? Estão desinteressados. Estão
atentos a tudo e a nada ao mesmo tempo. A maioria pouco se importa com o futuro.
Falar, ler e escrever... bem “é coisa para babacas”. As notas baixas não assustam
mais. A escola transformou-se em castigo, lugar onde estão apenas porque são
obrigados por alguém. A tarefa tem sido árdua. Parece que falamos às paredes. O
discurso não encontra respostas. Como diz Cury (2003, p.14) “... Eles perderam o
prazer de aprender. A escola deixou de ser uma aventura agradável.”
3. Preliminares
Meus alunos não gostam de ler ou não sabem ler?
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“Uma revelação chocante. Na Espanha, 80% dos professores estão
estressados. Na Inglaterra, o governo está tendo dificuldade de formar
professores, principalmente de ensino fundamental e médio, porque
poucos querem esta profissão. Nos demais países, a situação é igualmente
crítica.
De acordo com pesquisas do instituto Academia de Inteligência, no
Brasil, 92% dos professores estão com três ou mais sintomas de estresse e
41% com dez ou mais. É um número altíssimo, indicando que quase a
metade dos professores não deveria estar em sala de aula, mas internada
numa clínica antiestresse. (...)
Creio que a situação em qualquer nação desenvolvida é a mesma. Os
sintomas que mais se destacam são os ligados à síndrome do pensamento
acelerado (SPA)- que segundo o autor é a impossibilidade de “se desligar”.
O cérebro trabalha o tempo todo, tornando-se hiperativo, cansado,
irritado, incapaz de guardar muitos dados, e de raciocinar logicamente
(...).
Não apenas os salários e a dignidade dos professores precisam ser
resgatados, mas também a sua saúde. Professores e alunos estão
coletivamente com a síndrome SPA.(...)
Há uma esperança no caos. Precisamos construir a escola dos nossos
sonhos.”
Eu sei que nem todos são ou agem dessa maneira, mas esse segundo grupo é
minoria e não nos preocupa. Ele já possui interesses internalizados, caminha com as
próprias pernas, necessitando apenas da nossa condução, mediação. O grupo que
me motivou para o ingresso no PDE é o primeiro.
Tenho percebido, tristemente, muitos colegas, jovens professores, abandonando
a carreira enquanto há tempo. Desgostosos com o excesso de trabalho, o baixo
salário, o desrespeito dos alunos e o fraco desempenho desses que, imaturos, não
compreendem a importância do ler e escrever. Exigindo, assim, a atuação rápida e
eficiente de um professor bem formado pela sua instituição.
O MEC, através de algumas propagandas na mídia, procurou incentivar os
jovens para o magistério. Sem êxito. Os cursos de licenciatura continuam sendo os
menos procurados.
Caros colegas, vivemos em uma época difícil, mas não é apenas a realidade
brasileira que nos choca. Mesmo países ricos têm dificuldades para trabalhar com os
jovens na área da educação. Por isso, tomei a liberdade de apresentar um trecho do
livro Pais brilhantes, professores fascinantes do renomado escritor e psicólogo
Augusto Cury (2003, p.62),
Destruíram a qualidade de vida do professor
D
O barco ameaça ficar sem comando D
8
Exagerei na escolha do texto? Não. Com certeza, não! Todo o tempo em que
estive em sala de aula e em contato direto com alunos e colegas de profissão deu-
me a liberdade para escolher este trecho do livro, pois retrata fielmente o que nós,
professores e alunos, vivemos.
Tudo isso é, infelizmente, lugar-comum para nós, professores.
Escritores como Paulo Freire, Ezequiel Teodoro Silva, Augusto Cury, Celso
Antunes e outros tentam explicar essa crise na educação e sinalizam para o fato de
que o professor deva, antes de qualquer coisa, lembrar-se que é um ser humano
inacabado com direito a acertos e erros (não por muito tempo), e que se relaciona
com outros seres humanos também em formação, mas que nasceram em uma
época diferente e para os quais, nós, professores, não estamos preparados. Falta-
lhes maturidade para quase tudo e a nós, paciência, conhecimento, empatia,...
É muita informação para ser processada. O cérebro jovem está saturado,
confuso, estressado e ansioso, por isso busca saídas alternativas: desorganização,
desmotivação, banalização da vida, agressividade, insegurança, incapacidade para
apreender e aprender. E nós com isso? Tudo a ver.
Proponho a você, colega, uma nova tentativa: a educação da nossa
emoção e a de nossos alunos. E através do incentivo à leitura buscar a
formação de jovens mais preparados para a vida, para o mercado de trabalho,
capazes de dialogar com o outro e aceitar as opiniões discordantes,
mostrando-se maduro, crítico e atuante em sociedade.
Construir a escola dos sonhos, de acordo com o autor supracitado, não é
impossível. O livro traz dicas importantíssimas para quem quer alcançar um ensino
de qualidade, cultivando e preservando a emoção e expandindo a inteligência dos
jovens.
Atitude que deu certo:
Antes de entrarmos no tema, motivo do meu projeto, quero ainda comentar
brevemente uma reportagem que li no mês de março de 2006, na revista Seleções.
A Finlândia esteve no topo das avaliações do PISA (Programa Internacional de
Avaliação de Alunos). Tiveram desempenho bem acima da média em leitura e
interpretação textual, matemática e ciências. Esses dados intrigaram. Afinal das
Educando pelo amor à língua e à Pátria
As escolas finlandesas dão um exemplo que o Brasil deveria
seguir (pelo menos em alguns aspectos)
9
contas, o que possuem de diferente das outras nações que os tornam “superiores”
no quesito educação? Fomos à busca e aí está para sua análise.
Afinal, onde está o segredo? Pasmem! Amor pela pátria e respeito pela língua-
mãe.
Certamente, a diferença nos costumes e na forma de organizar as escolas foram
os pontos decisivos para a melhor colocação no ranking mundial.
No último PISA (resultado publicado em dezembro de 2010) a Finlândia ficou em
terceiro lugar, ficando atrás apenas de Xangai (China) e Hong Kong (Japão). Todos
A Finlândia, durante muito tempo, esteve sob o jugo sueco e russo. Os pais finlandeses,
temerosos que a língua e a cultura do povo ficasse relegada a segundo plano ou até mesmo
esquecida, começaram a alfabetizar seus filhos ainda bem pequenos, entre 2 e 6 anos, em
casa. Quando ingressavam na escola, já estavam muito bem alfabetizados na língua de
origem e conhecedores amorosos da sua história. A língua do dominador ficava em segundo
plano. Amor e respeito pela Pátria e pelo seu povo foram os pontos fortes da educação
finlandesa. Essa prática tornou-se comum até a independência desse país.
Jovens bem alfabetizados, seguros emocionalmente e preparados para a vida desde a
mais tenra idade deram origem às novas gerações igualmente preparadas.
A reportagem nos mostra outros detalhes que são decisivos nessa avaliação
internacional: O ensino nesse país é quase totalmente público e o salário do professor varia
entre 2 a 4 mil euros mensais.
As turmas do ensino fundamental inicial são formadas por 25, 28 alunos e são
acompanhadas por duas professoras permanentes.
São acostumadas ao uso de meias sem sapatos no interior da escola para evitarem o
barulho. O silêncio e a organização são constantes.
Não há paredes entre algumas turmas. Os alunos têm contato com outros de séries mais
avançadas.
Várias atividades são desenvolvidas ao mesmo tempo em sala de aula. Um quadro
informativo diário determina as atividades.
A burocracia quanto à avaliação é mínima. Os alunos são avaliados por objetivos e
podem avançar de série de acordo com o progresso individual.
As turmas são organizadas em grupos ou semicírculos e o intercâmbio de idéias é
permitido.
Os professores finlandeses estão entre os mais treinados do mundo.
Professores incompetentes podem ser demitidos, mas isso quase nunca acontece. Os
mestres têm autonomia para usar o método que desejarem, escolher o livro didático ou até
não usar nenhum.
Para eles provas demais fazem o professor ensinar pensando só nelas.
Cerca de dois terços dos estudantes ingressam no ensino superior. Porcentagem alta até
para os padrões internacionais.
Os professores falam muito pouco. Os alunos são ensinados a buscarem conhecimento.
Não consideram a aula de apoio um sinal de fracasso, mas oportunidade de melhora.
Alunos indisciplinados recebem expulsão temporária, coisa rara de acontecer.
Os alunos comparam suas notas apenas a seus resultados anteriores, não aos dos
colegas.
A professora Kirsti Santaholma finaliza a entrevista dizendo; ”Senão consigo ensinar um
aluno, deve haver algo errado comigo.” Precisa dizer algo a mais???
REVISTA SELEÇÕES, mar. 2006.
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os três com notas bem acima da média, deixando para trás países ricos como EUA,
Canadá, Reino Unido... E o Brasil? Continua com a vergonhosa 53° posição.
Pior do que se pensa
.
Alunos com baixa proficiência Alunos fora da escola ou com muito atraso*.
* POPULAÇÃO DE 15 ANOS NÃO MATRICULADA OU CURSANDO
PELO MENOS A 7° SÉRIE. FONTE: PISA 2009.
Quase 60% dos alunos brasileiros têm baixa proficiência- ou nem sequer fizeram a prova.
Quando se fala do mau desempenho brasileiro no Pisa, costuma-se mencionar a
quantidade de alunos nos níveis mais baixos de proficiência. Na prova de leitura, quase metade
tirou no máximo nota 2. É muita gente, mas a situação verdadeira é ainda pior: falta considerar
quem está fora da escola ou em situação de atraso escolar (pelos critérios da OCDE, alunos de 15
anos que nem mesmo chegaram à 7 série). No caso brasileiro, esse grupo corresponde a 19,4% da
população na faixa etária avaliada- índice alto em relação aos países líderes no ranking (veja os
gráficos acima). A soma do contingente fora da escola com o de baixa proficiência dá 59,4%. Ou
seja: seis em cada dez jovens de 15 anos ou não reúne condições para fazer a prova ou não é
capaz de compreender textos relativamente simples.
“A prova do Pisa é extensa e requer fôlego de leitura. Aí já aparecem as primeiras dificuldades
dos nossos estudantes, pois é preciso que eles sejam capazes de entender e não apenas
decodificar o que está escrito”, afirma Gisele Gama, consultora do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Nesse ponto, conta muito o contato com diversos
gêneros e seus portadores (jornais, revistas, enciclopédias, livros etc.), o que permite antecipações
sobre o que se pode encontrar. Saber isso agiliza a localização de dados e o entendimento global.
Trabalhar essas competências não é uma tarefa exclusiva do professor de Língua Portuguesa . “Ao
reproduzir a variedade de tipos de textos que existem na vida real (mapas, tabelas, listas de
instruções, etc.), o PISA apresenta elementos presentes em várias disciplinas. A leitura faz parte de
todas elas”, afirma Gisele.
FONTE: Revista Nova Escola, março de 2011
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Por que eu lhes trouxe essas informações? É clara e evidente a resposta: o
nosso país precisa mudar e muito o foco dado à educação. Enquanto apenas o
número de aprovados na escola interessar, não avançaremos.
A maioria de nossos alunos, infelizmente, não veem com bons olhos o país em
que vivem. A língua materna é considerada chata e a escola é uma obrigação que
demora a ser cumprida. São incapazes de respeitarem o Hino e a Bandeira
Nacional. Muitas escolas já desistiram da prática do hasteamento da bandeira e
canto do hino por não conseguirem disciplina [melhor dizendo: respeito] nesse
momento solene. Por quê?
Precisamos com urgência e antes de tudo, resgatar os nossos jovens, pois um
percentual assustador parece não ter ideais, certezas, sonhos. Vivem em um
“mundo paralelo”, um “mundo do tanto faz”. Agem inconscientemente como se não
tivessem por que existirem. O futuro parece distante demais e o passado, um
amontoado de velharias. Zombam do perigo e admiram os transgressores. Estão
incapacitados para compreender o que leem, o que os tornam desinformados e
desinteressados. São alvo fácil para as armadilhas do mundo.
Muitas mazelas contribuem para a presente e triste situação, mas as que nos
interessam são as que dificultam o nosso trabalho: salas repletas de jovens
marginalizados pela violência, pobreza, descrédito da sociedade, abandono familiar
e à margem de uma sociedade que deveria ser igualitária. É preciso recuperar o
lado bom de cada um. O lado capaz, criativo, solidário e humano: todos o têm.
Muitas vezes, no âmbito familiar, isso não acontece e cabe à escola a busca pelo
incentivo, o uso do novo olhar, da nova metodologia para descobrir a raiz desse
desinteresse e “incapacidade” para aprender.
Já dizia o escritor Bertolt Brecht. “A árvore que não produz frutos é extirpada.
Quem se lembrou de examinar o solo?”. Disponível em: http://www.uniblog.com.br/aprocuradapoesia/269061/analise-o-testemunho-dos-poetas-em-
tempos-sombrios-breve-leitura-da-poetica-de-brecht.html
Será que diante de tantos problemas não seria hora de corrigirmos a fertilidade
do solo ao invés de reclamarmos dos frutos minguados e murchos?
Quero, ainda, voltar a um problema já citado e que considero de igual gravidade
e que deve ser tratado também com seriedade e consideração: os professores das
diversas áreas de ensino reclamam que não tiveram na sua formação acadêmica
Porque nossos jovens não sabem o significado de tudo isso. Não
conhecem a história e a grandiosidade do seu país, a força do seu povo.
Somos brasileiros natos, falamos uma língua que possui um dos maiores
legados da literatura ocidental e aí reside a beleza de sermos brasileiros: já
fazemos uso dessa língua desde que pronunciamos as primeiras palavras.
A escola deveria apenas aprimorar esse uso.
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nenhuma disciplina específica voltada para o ensino e aprendizagem de leitura e
agora, estando frente às turmas, são cobrados para incentivá-los e ensiná-los a uma
leitura reflexiva, dinâmica, compartilhada, dialógica, interpretativa...
Silva (2005) retrata muito bem essa problemática:
Estamos longe de querer apontar culpados ou inocentes. O aluno não quer ler,
(melhor dizendo, ele, na maioria das vezes, não sabe ler) e os professores das
diversas áreas de ensino não sabem o que fazer para resolver esse dilema. O
problema existe e é isso que realmente nos interessa.
Muitos professores, atuantes em sala de aula, sobrecarregados pelo excesso de
aulas, estão cada vez mais afastados do conhecimento das várias concepções de
leitura. Fazem uso apenas da experiência pessoal (muitas vezes, deficitária),
deixando de lado as teorias que poderiam embasar e melhorar a sua prática.
Responda sem pensar muito: Quantas vezes você conversou atentamente
“banalidades” com o seu aluno com o intuito de conhecê-lo melhor? Perceber o seu
conhecimento de mundo, as fragilidades ou a riqueza da sua personalidade, a sua
estrutura familiar, seus sonhos e “delírios”, suas preferências, fobias, dificuldades de
comunicação oral e escrita, até mesmo necessidades de acompanhamento médico.
Não tem tempo para isso?! Engano seu!
Cordeiro ressalta que:
(...) torna-se necessário deixar clara a relevância social e afetiva a
cada novo gesto e olhar do professor sobre o seu campo de trabalho. E é a partir desse saber que
nós, professores, vamos com múltiplos olhares, ressignificando conceitos, reelaborando nossas
práticas de leitura e escrita. (CORDEIRO, 2004, P.95).
Para completar, um trecho do texto do professor João Malheiro (2009)
...o bom professor precisa ter uma característica peculiar, é preciso possuir motivação
educacional, chamada de transcendental. É uma força centrífuga que leva o professor para
fora de si e o ajuda a alcançar o que, em minha opinião, determina um bom professor: a
amizade com os alunos. Para formar bem a juventude, aliado ao profundo conhecimento da
disciplina, tem que existir uma autêntica e verdadeira amizade no relacionamento professor-
aluno. A amizade abre todas as portas, consegue todos os objetivos e faz alcançar metas
difíceis com mais facilidade e rapidez. Com a amizade, se conseguem verdadeiras maravilhas
educacionais, principalmente com os mais excluídos, através de uma confiança irresistível. (...)
o verdadeiro professor é aquele que sabe querer realmente a todos os seus alunos.
4. Conhecendo melhor meus alunos
“Não será por falta de conhecimento dos responsáveis pelo processo
[leitura] que o terreno produz pouco? Nas escolas, a falta de gosto pela
leitura não alcança exclusivamente os alunos. Os próprios professores,
com raras exceções, não trazem consigo o hábito de leitura (...).” SILVA.
2005, p. 20
13
O professor Malheiro ainda vai buscar nas palavras de Aristóteles a definição
para o bom professor:
“O amor de amizade é querer o bem do outro. É querer tornar feliz aquele a quem se
olha, a quem se ensina, a quem se escuta e não, pelo contrário, buscar a felicidade
própria através do outro”. Quando o aluno reconhece por trás das exigências
escolares, formas verdadeiras pelas quais o professor promove seu crescimento
intelectual e volitivo e o vê sofrer quando não consegue passar seu conhecimento de
forma harmônica, então ele aceita sua autoridade, porque percebe que o professor
quer o seu bem”. Disponível em: http://www.oartigo.com/index. php?/educacao/a-
vocacao-de-um-bom-professor.html
Professor, as atividades 1e 2 são realizadas há algum tempo. Sua autoria é
desconhecida. Certamente, foram repassadas em algumas oficinas e já
sofreram alterações. Caso alguém conheça a autoria, agradecerei a
informação.
A atividade a seguir é de fácil aplicação, envolverá a todos coletivamente e não
necessitará de atendimento individual, aliás, espera-se que você, professor, não se
envolva com as respostas. Deixe-os escrever de forma individual e livre. Essa
atividade não deve ser corrigida para não inibir as respostas. Peça-lhes sinceridade.
A) Nome: __________________________________
B) Apelido: __________________________________
C) Idade:________
D) Data de nascimento/aniversário:______ / _____ /__________
E) Série atual: _____________________
F) Disciplina preferida: __________________________
G) Nas horas livres, eu: ___________________________________________
H) Detesto quando me: ___________________________________________
I) Fico feliz se:__________________________________________________
J) Minha maior qualidade:________________ Meu defeito: ______________
K) Meu sonho: __________________________________________________
L) Gostaria que todos soubessem que: ______________________________
M) Na TV adoro:_________________________________________________
N) Tudo seria melhor se:__________________________________________
O) Sou capaz de chorar se:_________________________________________
P) O Brasil:_____________________________________________________
Q) Nosso colégio seria melhor se:___________________________________
R) Minha frase preferida: _________________________________________
S) Moro no bairro: ______________________Vila: _____________________
T) Espero que as aulas de ________________________________________
4.1 Atividade: Um pouco de nós
14
Depois de respondido, solicite que ilustrem o espaço livre do papel como
desejarem e usem as cores preferidas. Como sugestões podem desenhar o símbolo
do seu time, ou da sua banda preferida, escrever um trecho daquela música que não
lhes sai da cabeça... enfim, qualquer coisa que os identifique.
Ideia que deu certo: Esse material poderá compor um lindo painel em sala
de aula ao qual vocês, professor e alunos, poderão dar um título. Eu sugiro: UM
POUCO DE NÓS
Atenção: Inicialmente, alguns alunos se recusarão a entregar o material,
evitando a exposição de suas respostas. Outros pedirão um tempo maior para que
possam passar a limpo, caprichar na letra, fazer algumas colagens... Não insista!
Deixe-os a vontade! Conquiste a confiança deles! Logo estarão fazendo questão de
expor suas idéias para os colegas e você os conhecendo ainda mais.
Explique-lhes que essa atividade mostrará o seu eu verdadeiro, por isso as
respostas devem ser bem conscientes e únicas.
Meu nome é:
Se eu fosse uma palavra seria:
Um cheiro seria:
Um lugar seria:
Outra pessoa seria:
Uma lembrança:
Uma estação: * Refere-se às estações do ano.
Uma fruta seria:
Uma data seria:
Um gesto seria:
Um animal seria:
Uma cor seria:
Uma mudança no mundo seria:
4.2 Atividades – É hora do retrato chinês
15
Claro, professor, que as adaptações poderão ser feitas a seu
critério. Você poderá buscar outras brincadeiras e jogos educativos
que tentem “mostrar a personalidade” do seu aluno. Na internet
você achará explicações para algumas escolhas efetuadas, bem
como, o seu significado, como por exemplo, as cores:
As cores podem influenciar nossas emoções, nosso organismo e até nosso
humor. Há muitas décadas, estudiosos de todas as partes do mundo pesquisam
sobre a influência das cores na vida das pessoas. Assim, de modo geral:
- O vermelho representa o fogo e o sangue, transmite dinamismo e sensações de
violência e paixão.
Quando as pessoas usam muito a cor vermelha, isso significa que
elas têm a forma de agir impulsiva.
- O amarelo representa o ouro, cor vitalizante; simboliza também a
inteligência, o poder, a riqueza e age contra a tristeza.
As pessoas que gostam do amarelo geralmente dependem muito
da opinião dos outros e se decepcionam com bastante facilidade
- O verde representa a fé, a liberdade; traz tranqüilidade, calma,
repouso; lembra-nos o verde das matas, a natureza, o afeto.
O verde e a cor preferida em boa parte da América Latina, No
Brasil, devido ao clima tropical e suas exuberantes florestas, o verde é a cor
predileta.
De certa maneira, o verde significa a necessidade das pessoas de se
relacionar com o mundo e com os outros.
- O azul representa o céu, a imensidão, a calma, a tranqüilidade.
É uma das cores mais escolhidas universalmente. Geralmente,
revela sensibilidade e introversão.
- O alaranjado, uma cor estimulante, nos dá a idéia de aventura,
desejo de produzir muito e dominar. O laranja é a mistura do vermelho com
o amarelo.
- O violeta, uma cor que representa o misticismo, os devaneios,
lembra um pouco as tristezas.
É uma cor pouco escolhida pela nossa população.
- O maravilha, cor preferida pelas crianças de três a seis anos,
simboliza excitação e reações imprevisíveis, o que, de certa forma, é uma
característica infantil.
- O marrom é a cor das pessoas exageradas em suas crenças e
ideais.
- O branco representa a paz, a santidade. Não é propriamente uma
cor, é a reunião de todas as cores.
- O preto representa a prudência, a tristeza. Absorve a luz solar e é
ausência de cor. (CANTELE, p. 102)
16
ATENÇÃO: Explique aos alunos que essas informações são baseadas em
observações. Não possuem teor científico.
Problemas todos têm, alguns maiores outros menores. Faça de conta que você
se livrará do pior dos seus problemas. Pensando nele, complete a seguinte frase:
Não quero mais... (esse início de frase estará em uma folha de papel sulfite).
Professor, você pedirá a seus alunos que não se identifiquem, podendo até
mesmo disfarçar a letra se quiser. Peça-lhes que transformem esse papel em um
avião (dobradura).
Dependendo das possibilidades, você poderá levar alguns balões coloridos (um
para cada aluno). Então, farão um canudo com o seu papel e o colocarão dentro do
balão, que será em seguida inflado, amarrado e só então, todos juntos jogarão (o
avião ou o balão) pelo espaço da sala. Com certeza, haverá certa agitação nesse
momento. Não se estresse. Deixe-os à vontade para lançar o balão e pegar outro
que não seja da mesma cor que o seu. Estourarão os balões e retirarão de dentro o
papel que contém o problema de alguém.
Aconselhe-os a não debocharem dos problemas alheios, que levem a técnica a
sério. Deverão ser lembrados que o seu problema também está nas mãos de
alguém.
Antes de escreverem uma possível solução para o problema, leia para eles a
história das duas rãs.
Após a leitura, discuta com a turma a necessidade de estarmos conscientes
diante de um problema. A fé, o pensamento positivo, o humor e “a cuca fresca” são
requisitos muito importantes na busca de saídas para situações difíceis.
Agora, sim, cada aluno lerá silenciosamente o problema alheio e escreverá uma
possibilidade de solução para ele.
Quando todos terminarem, lerão o problema citado e em seguida a resposta
dada. Observação: Cuide para que nenhum aluno se esquive da leitura da solução
dada, lembre-o que alguém estará esperando por ela e será decepcionante não ter
recebido a importância merecida.
Diante dessas atividades e de outras que você talvez conheça e poderá também
aplicá-las, seu aluno poderá achar as aulas “moleza” e que está apenas brincando.
Ele não imagina o quanto de informações já lhe forneceu.
4.3 Atividade – Não quero mais!
17
Vamos à história das duas rãs! (Silva, 2001, p.29-30)
Duas rãs brincavam distraidamente e saltitavam dentro de um curral.
De repente, num desses saltos, caíram num latão cheio de leite.
As bordas do latão eram lisas e altas, não havia a menor
possibilidade de saírem dali.
Mergulhadas no líquido, não havia como impulsionar o corpo e
saltar para fora.
Ao perceber que sua amiga estava quase se afogando, a primeira rã
disse:
- Não esmoreça! Continue batendo os braços! Mantenha-se
flutuando!
- Não adianta! Respondeu a outra. Estou exausta! E de que adianta
manter-me flutuando se não existe nenhuma maneira de sair daqui?
- Não desista! Mantenha a calma e lute! Enquanto há vida, há
esperança! Continue batendo os braços com toda a força!
- Não vale à pena! Estou me cansando e não consigo ver como
poderemos nos salvar.
Dito isso, parou de se debater, afundou e morreu afogada.
- Não posso desistir! Disse a primeira. Deve haver uma saída. Vou
continuar me debatendo. Tenho que me manter viva.
Debateu-se a noite inteira.
E debateu-se tanto dentro do leite, que este acabou virando
manteiga.
Agora, sim, apoiada sobre uma base sólida, bastou descansar um
pouquinho, tomar impulso para fora do latão e recomeçar sua vida
sã e salva...
18
Ensinar a ler é tarefa do professor de português, mas é
também do professor de geografia, história, matemática...
Professores, este trabalho tem caráter interdisciplinar, por isso mesmo,
busca parcerias nas diversas áreas de ensino com o intuito de alcançar o seu
objetivo maior que é o incentivo à formação de sujeitos-leitores.
As DCEs (2008) sinalizam para a necessidade dessa cumplicidade entre as
disciplinas.
Segundo Neves e Souza
Para Lozza
Costuma-se atribuir essa tarefa ao professor de português, mas
qualquer professor, de qualquer disciplina, é pelo menos, também em
princípio, um leitor de Língua Portuguesa e,como tal, pode fazer uma
ponte entre o significado construído pelo aluno e o significado corrente
da expressão. E o princípio mais saudável para reger essa tarefa é a
sabedoria relativa de cada um. Vamos combinar que não é feio nem
constrangedor ignorar o significado de alguma palavra ou expressão,
nem mesmo para professores de português. Vamos combinar que é
muito mais útil para professores e alunos, que todos acabem achando
natural procurar resolver as próprias dúvidas em dicionários,
enciclopédias, manuais, guias ortográficos. Vamos combinar que feio e
inútil (e muito mais trabalhoso) é estigmatizar a ignorância alheia e
esconder a própria. (NEVES;SOUZA, 1998).
Trabalho coletivo não quer dizer necessariamente trabalho de todos,
com todos, durante todo o tempo. Também não é apenas convívio entre
iguais (se é que alguém é igual a alguém...). O desejável, é óbvio, não
é o estímulo a posturas sectárias que não ajudem a construir
possibilidades de trabalho conjunto e emperram o diálogo. E ainda, a
própria composição política da escola vai mostrando quem são os pares
que mais se identificam. E no próprio dia-a-dia, pela forma de trabalhar
de cada um, as afinidades vão se explicitando. (LOZZA, 2010, p21)
No ensino dos conteúdos escolares, as relações interdisciplinares
evidenciam, por um lado, as limitações e as insuficiências das
disciplinas em suas abordagens isoladas e individuais e, por outro, as
especificidades próprias de cada disciplina para a compreensão de um
objeto qualquer. Desse modo, explicita-se que as disciplinas escolares
não são herméticas, fechadas em si, mas, a partir de suas
especificidades, chamam umas às outras e, em conjunto, ampliam a
abordagem dos conteúdos de modo que se busque, cada vez mais, a
totalidade, numa prática pedagógica que leve em conta as dimensões
científica, filosófica e artística do conhecimento. (PARANÁ, 2008, p.27)
19
Para Neves e Souza, 2000,
De acordo com Solé, 1998,
Você deve estar se perguntando: O que tudo isso tem a ver com
o jornal?
E eu lhe explico: As atividades anteriormente descritas e outras que poderão ser
pesquisadas o ajudarão a conhecer melhor seus alunos quanto às suas
expectativas, maturação, raciocínio lógico, solidariedade, participação, tolerância,
agressividade, preconceito, timidez, desenvoltura (oral e escrita), auto-estima,
liderança, criatividade, ansiedade, consciência crítica,... Aspectos importantíssimos
que o ajudarão a nortear o seu planejamento de ação, independente da sua área de
ensino. Mas, nada disso será possível se você, professor, não tiver interesse,
sensibilidade para as palavras e pequenos gestos tão reveladores da personalidade
humana.
5.1 O Jornal no mundo
Antes que o jornal impresso existisse, o interesse pela notícia já era tão antigo quanto à linguagem escrita. Na antiga Roma, o governo do imperador César fundara o Acta Diurna, uma
(...) ensinar e escrever é tarefa de todas as áreas, um compromisso da
escola e não exclusivamente do professor de português. (...)
reclamamos da má qualidade da leitura e da escrita dos estudantes,
mas a quem compete a responsabilidade de reverter essa situação?
(...) Se nós, professores de todas as áreas, proporcionarmos a nossos
alunos oportunidades para que leiam e escrevam muito para dizer
coisas significativas para leitores a quem querem informar, convencer,
persuadir, comover, eles acabarão descobrindo que escrever não é
aquela trabalheira inútil de preencher 25 linhas, de copiar livro didático
e pedaços de enciclopédia. Nossos alunos descobrirão que são
capazes de escrever para dizer a sua palavra, para falar deles, de sua
gente, para contar a sua história, para falar de suas necessidades, de
seus anseios, de seus projetos e acabarão por descobrir que são
gente, que têm o que dizer, que têm história, que têm necessidades,
que têm direito a satisfazer suas necessidades, a fazer projetos, que
podem aspirar a uma vida melhor, enfim.
(NEVES; SOUZA, 2000, p.9 e 17).
(...) o ensino de leitura não é questão de um curso ou de um professor,
mas questão de escola, de projeto curricular e de todas as matérias
(existe alguma em que não seja preciso ler ?). (SOLÉ, 1998, p.19)
5. Eis o jornal finalmente!
5.
20
maneira oficial de noticiar os resultados das guerras, dos jogos, da igreja católica e das atividades políticas.
Anos depois na era feudal, os trovadores, que eram os poetas do mundo europeu, entre os séculos IX e XII aproximadamente, também exerciam o papel de noticiadores de tudo o que acontecia. A partir do Renascimento comercial e do surgimento de práticas econômicas mercantilistas, há uma expansão na formação de Nações Estados na Europa e de um intercâmbio econômico sedento por informação.
Em 1440, Gutenberg desenvolve a imprensa, o que permite produzir e reproduzir volumes e impressos. A partir do século XVII, surgem jornais semanários na Europa e com grande força na França Alemanha. Depois do Iluminismo e da Revolução francesa, surge uma nova visão intelectual de mundo e de formação de direitos do homem, que de alguma forma extrapola nos jornais. E após a Revolução Industrial são inventadas as impressoras a vapor, possibilitando uma impressão de periódicos em grande escala e em menor tempo. Aos poucos a publicidade foi entrando no veículo jornal, ajudando a baixar o preço final do exemplar e fortalecendo o jornal como um veículo profissional e comercial.
Em 1890 a invenção da máquina de quatro cores permitiu aos jornais norte-americanos publicar textos com mais qualidades e quadrinhos de humor. Em 1894, é publicada as historinhas do desenhista Richard Felton Outcault e seu personagem “Yellow Kid”(menino amarelo) que simbolizava a briga comercial travada pelos jornais norte-americanos, para dominar o mercado e ganhar mais lucro, lançando mão de notícias “acentuadas” e exageradas para chamar a atenção dos leitores,uma imprensa sensacionalista chamada de imprensa amarela nos EUA.
No Brasil, o termo não amarelou, sendo o amarelo uma cor considerada bonita e presente na bandeira nacional, a imprensa brasileira adaptou o termo para a cor “marrom”, cor de “sujeira”. Portanto toda notícia exagerada ou inventada desbota a cor da verdade dos fatos.
Disponível em: www.infoescola.com/comunicacao/historia-e-curiosidade-sobre-o-jornal/
A ANJ - Associação Nacional de Jornais - tem um ótimo documento sobre a
história do jornal no Brasil. Interessante notar o quanto a impressão da informação
era sujeita à censura nos diversos governos, desde os tempos do rei D. João III.
Apesar de São Paulo ter hoje uma imprensa forte, foi no Rio de Janeiro que os
primeiros jornais foram instalados, provavelmente pela força de ter-se tornado a
capital do Império do Brasil. (...)
Disponível em: www.brasilwiki.com.br/noticia.php?id_noticia=18592
5.2 O jornal no Brasil
5.
21
O uso do jornal em sala de aula proporcionará a leitura de linguagens verbais
e não-verbais, como fotos, propagandas, símbolos, gráficos, imagens digitais,
charges, entre outros, contemplando, assim, o multiletramento tão almejado nas
DCEs. A variedade presente nesse aporte textual, sem dúvidas, atenderá as
necessidades de um público que tem gostos, interesses e níveis de leitura diferentes
e que precisa ser conquistado para a leitura. De acordo com Silva, 2005.
Já dizia John Dewey, (2001 apud Projeto Vamos Ler, Jornal da Manhã) “o
professor que desperta o entusiasmo em seus alunos [entende-se também para a
leitura] conseguiu algo que nenhuma soma de métodos sistematizados, por mais
corretos que sejam, pode obter”. Psicologicamente, a aluno sente-se importante
usando um instrumento do mundo culto. Mesmo com crianças não alfabetizadas
podemos trabalhar a informação, através da leitura de imagens e da narração do
professor sobre fatos que possam interessá-las.
O mais importante, porém, é enxergar o jornal como um objeto de estudo que
está em constante transformação, acompanhando o modo de vida da sociedade. O
seu conteúdo permite que o professor não o trate como um amontoado de textos. É
possível desenvolver atividades de todas as áreas, deixando os alunos informados e
contextualizados com a realidade.
Muitos temas podem e devem ser abordados de forma interdisciplinar, tornando-
se, assim, mais ricos, mais envolventes, mais completos, mais informativos. Como
por exemplo, o tema PAZ:
Português: Poesias, raps, notícias, frases, charges, história em quadrinhos,...
Ciências: O combate ao uso de drogas, álcool, gravidez na adolescência,
Matemática: Construção de gráficos com dados recolhidos do jornal,..
História: A origem do rap, personalidades que lutaram pela paz mundial,...
Inglês: Tradução de músicas que tratem dessa temática, frases mensagens,...
Artes: Montagem de painéis com notícias positivas, dramatizações,...
Educação física: Gincana escolar envolvendo o conhecimento sobre jornal.
Cabe ao professor mais humildade pedagógica, [oferecer] mais liberdade
para os alunos se expressarem, mais escuta, mais partilha de
significados[...] mais ligação entre o que se lê e o que se vive. A leitura
deve ser libertária e transformadora. (SILVA, 2005, p24).
6. Justificando o trabalho com o jornal
5.
22
Podemos entender gêneros textuais como a diversidade de textos que
encontramos em uso na sociedade e que apresentam certas características
recorrentes que os diferenciam dos demais: bilhete, receita médica ou
culinária, lista de compras, boleto bancário, telegrama, manual de instruções,
comprovante de pagamento, nota fiscal, oração, música, horóscopo, piadas...
São, ainda, os textos materializados encontrados no nosso dia-a-dia.
Eles nos permitem ver a língua em uso concreto.
Eles apresentam características sócio comunicativas definidas de acordo
com o conteúdo, função, estrutura...
Eles vão do bilhete (forma primária) ao texto científico (forma secundária).
São enquadrados em uma adequação tipológica conhecidas por: narração,
argumentação, descrição, exposição e injunção.
Eles têm uma função específica para um público específico.
ASSIM FICA MAIS FÁCIL! Para facilitar a compreensão, Schneuwly e Dolz (2004,
p.121) agruparam os gêneros textuais de acordo com as capacidades atingidas.
7.1 Critérios para agrupamentos de gêneros
AGRUPAMENTOS CAPACIDADES DE
LINGUAGEM EXEMPLOS
NARRAR
Gêneros que representam a cultura literária ficcional –
requer a produção de ações por meio da criação de
intrigas no domínio do faz de conta
Conto de fadas, HQ, Fábula, Cantiga, Música, Romance,
Lenda, Narrativa de aventura, Ficção científica, Histórias
engraçadas, Novela, Telenovela, Peça teatral, Minissérie de TV,
Entrevista, Conto, Crônica Literária, Adivinha, Piada.
RELATAR
Gêneros que representam a documentação e a
memorização das ações humanas – requer aprendizagem da representação de
experiências vividas, situadas no tempo.
Notícia, Relatório, Diário, Autobiografia, Memória, Blog,
Crônica Social, Crônica Esportiva, Testemunho, Currículo Vitae, Diário de Viagem, Anedota ou
caso, Biografia de livro.
7. O que são gêneros textuais?
5.
23
ARGUMENTAR
Gêneros que representam discussão de problemas
sociais controversos – requer à aprendizagem da
sustentação, refutação e negociação de tomadas de
posição.
Anúncio, Anúncio publicitário, Debate, Resenha crítica, Artigo de
opinião, Carta de reclamação, Carta do Leitor, Carta aberta, Carta de Opinião, Discurso de defesa ou acusação, Editorial,
Texto de Opinião, Carta de Solicitação, Assembleia, Crítica de
cinema, Contra capa de livro.
EXPOR
Gêneros que representam a transmissão e a construção
de saberes – requer à aprendizagem da
apresentação de diferentes saberes.
Texto informativo, aula expositiva, Infográfico, Tomada de notas, Artigo científico, Relatório oral, Relatório oral de experiência,
Palestra, Seminário, Entrevista de Especialista, Resenha descritiva, Verbete, Registro de nascimento,
Monografia.
INSTRUÇÕES E PRESCRIÇÕES
Gêneros que representam instruções e prescrições – requer aprendizagem da
regulação mútua de comportamento por meio da
orientação (normativa, prescritiva ou descritiva) para
ação, injunção, levar um a fazer.
Receita culinária, Regras de jogos, Bula, Leis, Regulamento,
Instruções de montagem e uso, Comandos diversos e textos
prescritivos, Horóscopo, Abaixo assinado, Lista de compras.
De acordo com Koch:
7.2 Os gêneros textuais presentes no jornal
Ao nos confrontarmos com alguns tipos de situações em que
devemos fazer uso de um ou outro gênero textual, devemos ter a
competência de escolher qual usar. A escolha do gênero é uma
decisão estratégica, que envolve uma confrontação entre os valores
atribuídos pelo agente produtor aos parâmetros da situação (...)
(KOCH, 2009, p55).
Entrevista Gráfico
Legenda Receita
Manchete Tirinhas
Notícia Tabela
Reportagem Resenha
Anúncio classificado Editorial
Anúncio publicitário Crônica
Artigo de opinião Chamada
Carta do leitor Charge
Crítica (de arte)
24
Dada a importância do ato de LER E COMPREENDER para formar o aluno
crítico e atuante em sociedade, buscaremos no jornal o aporte ideal para “apostar
nossas cartas”.
A linguagem jornalística simples, mas adequada, objetiva, dinâmica, atual, nos
faz acreditar que ele é o ponto de partida para um bom trabalho com leitura. Os
textos curtos, rápidos, híbridos, fazem parte da modernidade. Dentro dele [jornal]
estamos expostos a textos diversos: histórias em quadrinhos, charges, notícias,
reportagens, crônicas, poesias, publicidade, humor, artigo de opinião... A lista é
numerosa.Segundo Koch e Elias:
Professor, essa leveza do texto jornalístico, essa possibilidade de
transmutação de gênero é atraente aos olhos do aluno que poderá transformar, por
exemplo, um texto informativo sobre o Aquífero Guarani, após leitura e
compreensão, em poesia. Uma notícia sobre gastos públicos, após leitura e
discussão, em júri simulado ou charge. Uma reportagem sobre o alto custo de vida,
após leitura e levantamento de gastos domésticos, em história em quadrinhos.
Poderá dramatizar uma piada publicada no jornal. Escrever uma carta dando a sua
opinião sobre uma decisão tomada pelo governo... As possibilidades de trabalho
com os gêneros textuais presentes no jornal são inúmeras e independem da sua
área de ensino.
Com um planejamento bem feito e sistematizado, individual ou coletivo, você
ampliará o horizonte de expectativas do seu aluno que sentirá maior segurança,
autonomia e criticidade quanto ao que ler, escrever e falar. Possibilitará, ainda, que
ele perceba que também poderá ser autor, ator, escritor, artista, cantor, professor,
advogado,... Enfim, o aluno se sentirá alguém importante, capaz de mudar a sua
trajetória. Professor, está aí a importância de criar uma maior intimidade com a
leitura do jornal para que possa conhecer os diferentes gêneros textuais circulantes
e usá-los com segurança, criatividade e autonomia em suas aulas.
As atividades com o jornal estão baseadas no livro de Isabel Solé, Regina
Maria Braga, Carmen Lozza, Maria Alice Faria, e participação no Projeto Vamos
Ler do Jornal da Manhã (2009). Todos melhor referenciados no final desse
trabalho.
Alguns estudiosos objetivaram o levantamento e classificação dos
gêneros textuais, mas desistiram de fazê-lo, em parte porque os gêneros
existem em grande quantidade, em parte porque as práticas
sociocomunicativas, são dinâmicas e sofrem variações na sua
constituição, que, em muitas ocasiões, resultam em outros gêneros,
novos gêneros (KOCH; ELIAS, 2009, p.101-102).
8. Como iniciar um trabalho com o jornal?
5.
25
Antes de iniciar o trabalho com o jornal, é importante que você ative os
conhecimentos prévios que a turma possui sobre esse material. É bem possível que
já tenha algum. Pergunte-lhes:
Para que servem os jornais?
Onde são comprados?
Quem já leu algum?
O que tem escrito dentro deles?
Como são organizados?
Por que boa parte deles é em branco e preto?
Quem sabe o nome de algum jornal de nossa cidade?
Por que algumas letras são tão pequenas e outras, enormes e coloridas?
IMPORTANTE: Professor, nesse momento procure deixar bem claro o que
farão com o jornal e por que esse material diferente estará presente em suas
aulas. São os seus objetivos.
Forme grupos, deixando em cada um alguns alunos que não o desconheçam
totalmente. Caso isso não seja possível, não há problema, em pouco tempo
estarão familiarizados com esse material.
Se alguns pedirem para abrir o jornal no chão devido ao grande tamanho das
páginas diante de braços pequenos, não se desespere, permita ou ofereça-se
para grampeá-las.
Faça-os perceber que cada página tem uma numeração e que ela obedece a
uma rigorosa sequência.
Deixe-os manusear o material com liberdade. Incentive-os a perceber o nome
do jornal, a textura, o cheiro, o número de páginas, o preço, o local de edição,
data, editor- chefe, as manchetes, as chamadas maiores e menores, as fotos,
as cores ... Conforme o jornal Diário dos Campos (2001),
Ler jornal é como fazer compras. A gente sai para comprar uma
coisa e acaba levando outras que nos atraíram. O professor pode
escolher uma notícia para discutir em determinada hora. No
entanto, o aluno irá deparar, no ato da procura, com outras
matérias que lhe chamarão a atenção. Deixe que ele “compre”
todas as informações que quiser, até chegar ao tema pré-escolhido.
(Claro que nem sempre poderá ser assim!), mas inicialmente,
professor, tenha paciência, não comprometa todo um trabalho
posterior, revertendo resultados. Assim correrá o risco de estar
fazendo o aluno se chatear com o jornal em vez de despertar-lhe o
prazer pela leitura e pela busca de informações. (PROJETO
CIDADÃO DO FUTURO, 2001).
8.1 Atividades de pré-leitura
5.
26
Deixe-os procurar por aquilo que lhes interesse, que leiam, que mostrem e
comentem com os colegas.
Leve alguns dicionários para sala para o caso de alguns alunos quererem
pesquisar palavras desconhecidas. (Sempre temos aqueles que adoram usar
o dicionário).
Passados os primeiros momentos, comece a atrair a atenção de todos para
as notícias que estão na primeira página. Explique-lhes que notícia é a
narração do fato de forma objetiva e imediata. As notícias aparecem em
diversas seções. Dependendo de onde o fato ocorre, poderão ser locais,
regionais, nacionais, internacionais. Conforme o assunto, poderão ser
notícias econômicas, políticas, científicas, policiais...
Comente a respeito dos títulos, normalmente escritos com poucas palavras e
que dão pistas sobre o tema das notícias. Lembre-os que são os títulos
(manchetes) que atraem o leitor.
Deixe-os escolherem, por votação, qual notícia gostariam de ler na íntegra e
localizem-na no jornal.
Busquem coletivamente por algumas pistas sobre o texto: foto, gráfico, olho*,
Explique-lhes o que é lide, qual a sua função. Aproveite para explicar para a
turma a pirâmide invertida:
ABERTURA OU LIDE
Quem? O quê? Quando? Onde?
CORPO OU DESENVOLVIMENTO
DO TEXTO
Com que
resultados?
Em que
contexto?
Como?
Por quê?
Fonte: (PINTO, Manuel. 1991, apud
FARIA, 2008, p.151)
Pirâmide Invertida
É utilizada para
demonstrar como
a informação deve
ser apresentada
em um texto.
27
Pergunte-lhes se guiados pelo título da notícia são capazes de determinar o
seu tema, se já ouviram algo a respeito daquele assunto, o que sabem sobre
ele... Anote todas as informações dadas pela turma no quadro de forma
organizada, mesmo aquelas que não estão corretas, afinal são apenas
hipóteses.
Mostre-lhes, ainda, como o autor (jornalista) estruturou o seu texto:
Parágrafos curtos ou longos, o espaço ocupado. O tamanho e a localização
na página demonstram a importância da notícia no jornal.
Segundo Braga (2009) esta é a fase de reconhecimento do código, da projeção
dos conhecimentos do leitor sobre o texto, da verificação de hipóteses, da
construção de sentidos.
ATENÇÃO, PROFESSOR!
Essa atividade, de acordo com Braga( 2009), deverá se processar aos poucos.
A leitura não deverá ser feita de uma só vez, indiscriminadamente, mas de modo
seletivo.
A informação de Frank Smith (apud Braga, 2009, p.17) é esclarecedora:
Deixe-os ter o primeiro contato com texto. Peça-lhes para não pararem a
leitura caso encontrem palavras desconhecidas. Poderão grifá-las para
posterior consulta ou poderão descobrir seus significados na continuidade da
leitura (inferência lexical). Kleiman (2010) conta que Rubem Braga retrata
muito bem a postura de aceitação do desconhecido, quando irrelevante, na
crônica Nascer no Cairo e ser fêmea de cupim que defende a convivência
tranquila com as palavras cujo significado desconhecemos. (Acesse para ler a
crônica, vale a pena!).
Disponível em: www.releituras.com/rubembraga_cairo.asp
O cérebro não tem tempo para atentar para todas as informações
impressas, e pode ser facilmente inundado pela informação visual.
Nem a memória é capaz de lidar com todas as informações que
poderiam estar disponíveis em uma página. O segredo para uma
leitura eficiente é fazer uma amostragem do texto (em partes). O
cérebro deve ser parcimonioso, fazendo um uso máximo daquilo que já
sabe e analisando o mínimo de informação visual necessária para a
verificação ou modificação do que já pode ser previsto quanto ao
texto.(...) A seletividade para a coleta e análise de amostragens de
informação visual disponível no texto vem com a experiência de leitura.
(...) O cérebro é capaz de direcionar corretamente os olhos, na leitura
e em outros aspectos da visão, desde que compreenda o que deve
procurar.”
8.2 Atividades de leitura ou leitura-descoberta
5.
28
Nem todo significado, de acordo com a autora, é necessário para
entendermos um texto
Esse contexto nos ajuda a definir a nova palavra. Mas atenção!!! Nem todas
as novas palavras podem ser compreendidas por inferência, se o
“estranhamento da danada” persistir, é melhor consultar um dicionário.
Professor, nesse momento não os deixe sozinhos! Interfira aos poucos,
pergunte-lhes o que entenderam até aquele momento. Solicite que algum aluno
resuma o que já foi lido e pergunte se a turma concorda com o resumo, se alguém
gostaria de acrescentar algo importante que fora deixado de lado pelo colega.
Dependendo da extensão do texto, você poderá solicitar novas paradas para
fazer comentários partilhados.
Chame a atenção dos alunos quanto ao uso das aspas (“ “) no texto. Elas
sinalizam a fala real do entrevistado, tirando assim a responsabilidade do
jornal ou revista quanto às declarações feitas por ele, dando mais objetividade
ao texto.
Lembre-se de perguntar se o texto está correspondendo às expectativas
iniciais ou não. Caso tenha mudado, o que mudou. Confronte as informações
atuais dadas pela turma com o que você havia anotado no quadro como
hipóteses na fase de pré-leitura.
Bordini e Aguiar, 1993, dão a isso o nome de
horizonte de expectativas, que nada mais é do que
verificar se aquilo que prevíamos está acontecendo ou
se nossas expectativas foram rompidas porque o texto
tomou novos rumos. Com esse rompimento acabamos
por ampliar nossos horizontes com o acréscimo das
novas informações. Segundo os autores o método
recepcional não é empregado pelas escolas brasileiras
porque não há preocupação com o leitor e sua opinião.
“(...) aprendemos palavras constantemente, aos poucos,
sem grandes dificuldades porque quando ouvimos uma
palavra nova, ela está quase sempre rodeada de outras que
já conhecemos. Essas outras formam o contexto”.
(KLEIMAN, 2010, p. 79).
29
Sugestão de trabalho: Procure na Internet o texto “O retorno do Patinho
Feio” com ele, você poderá trabalhar os conceitos sobre a estética da
recepção e horizonte de expectativas na prática. Como?
(Re) apresentando para os alunos a história do Patinho Feio, ouvindo suas
opiniões sobre o acontecido. Depois, trazendo para a classe a continuidade
desse texto, mas apresentando-o em partes, instigando-os a falar sobre o que
esperam acontecer. Cada parte do texto é uma surpresa.
Segundo Braga (2009, p.29), é no momento da pós-leitura que o aluno-leitor
poderá utilizar criticamente o sentido construído, refletir sobre as informações
recebidas e, assim, construir conhecimento, [rompendo e alargando o seu horizonte
de expectativas]. A pós-leitura é outra importante etapa da leitura, pois consiste na
fase de ampliação, confirmação ou transformação da visão de mundo do leitor, na
fase do confronto do sentido construído com o seu próprio sistema de valores.
Verifiquem, coletivamente, se a notícia publicada e lida pela turma tem
respostas para as perguntas: Quem? O quê? Quando? Onde? Como?...
Se cada aluno tiver em mãos um exemplar do jornal ou mesmo recorte ou
xerox da notícia que está sendo analisada, será interessante que pintem de
cores diferentes as respostas que encontrarem para as perguntas básicas:
Quem, o que, quando, onde, por que... Isso facilitará a visualização da
estrutura textual e a relação entre suas partes para formar um sentido global.
Baseados na estrutura esquemática do texto, peça-lhes que escrevam,
sucintamente, o resumo do texto. Depois, localizem, coletivamente, o tema-
assunto (que poderá estar implícito) ou explícito no próprio título.
Kleiman ( 2010) afirma que quanto mais diversificada a experiência de leitura
dos alunos, quanto mais familiaridade eles tiverem com textos narrativos,
expositivos, descritivos, mais conhecida será a estrutura desse texto, e mais
fácil a percepção das relações entre a informação veiculada no texto e a sua
estrutura.
Professor, solicite que assistam as notícias no jornal da TV e tragam
comentários para a sala de aula. Você poderá pedir que o assunto noticiado e
comentado tenha algo a ver com a sua disciplina. Entregue um pequeno exercício
para ser resolvido.
8.3 ATIVIDADES DE PÓS-LEITURA
5.
30
Manchete: é o título principal, de maior destaque, no alto da primeira página do
jornal ou na capa da revista, alusivo à mais importante dentre as notícias contidas na
edição. Cada edição de um jornal só possui uma manchete, que é o título mais
destacado, sendo por isso redundante dizer “manchete da primeira página” e errado
dizer ”manchete da página 5”. Nas páginas internas, o título mais destacado dentro
de uma seção ou caderno recebe o nome de abertura ou abre no jargão jornalístico.
(Wikipédia, acesso 24/07/11)
Peça-lhes que escrevam algumas manchetes que gostariam de ver noticiado
(poderá ser individualmente ou em grupos).
Abaixo,alguns exemplos:
A) Data:___/____/________ B) Jornal___________________________
C) Disciplina de interesse_____________________________________
Resumo da notícia, procurando respostas para as perguntas.
D) Quem?__________________________________________________
E) Onde? __________________________________________________
F) O quê? __________________________________________________
G) Por quê?_________________________________________________
H) Quando?_________________________________________________
I) Escreva o resumo com suas palavras:_________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
8.4 É hora da manchete
5.
FINALMENTE, DESCOBRE-SE A CURA PARA O CÂNCER!
BRASIL, A MELHOR PARTICIPAÇÃO EM OLIMPÍADAS DE TODOS OS
TEMPOS!
31
Lembre-se, professor, sempre que for possível, exponha as produções de
seus alunos, sem distinção. Os resultados ficarão cada vez melhores, pois estarão
sempre lendo as produções dos colegas e preocupando-se em mostrar o seu
melhor.
Em outra ocasião, sorteie as manchetes expostas entre pequenos grupos de
alunos e peça-lhes para produzirem as notícias. As produções poderão ser
lidas para a turma ou expostas em um painel para leitura durante os
intervalos. Poderão eleger a notícia melhor elaborada.
Mesmo que suas turmas sejam de alunos de séries mais avançadas, não pule
etapas. Série mais avançada, sabemos bem disso, nem sempre quer dizer
maturidade, interesse próprio, autonomia. Aumente a dificuldade das
perguntas, pois quem pode lhe garantir que seu aluno de oitava série ou
ensino médio já teve em mãos um jornal para leitura e análise?
Se forem mais maduros, experientes e possuírem uma leitura autônoma, você
poderá, depois das atividades de pré-leitura, leitura e pós-leitura de notícias
que interessaram a sua disciplina, partir para atividades mais elaboradas e
que demandem mais tempo para a realização. Veja os exemplos a seguir:
Produzido pelos alunos que deverão ler o jornal local nos dias que antecedem
a produção. Escolherão as notícias que poderão interessar e acrescentarão aquelas
que aconteceram no bairro, mas que não foram noticiadas pela mídia. Deverão estar
atentos à criação do título, do lide e do desenvolvimento do texto que deverá
responder às perguntas básicas: Quem? O quê? Onde? Quando? Por quê? Marque
a data para as apresentações. Deixe a criatividade “correr solta”.
Outra atividade bastante motivadora que poderá ser realizada separando a
turma em grupos e entregando a cada um (grupo) uma notícia polêmica que deverá
passar pelas etapas da pré-leitura, leitura e pós-leitura coletivamente.
Quer um exemplo? Que tal a notícia sobre os médicos que não cumpriam
o plantão e ainda recebiam por ele? Depois da leitura das notícias que ensejaram o
AUMENTO DO SALÁRIO MÍNIMO SURPREENDE TRABALHADORES
8.5 O jornal falado com notícias locais
5.
8.6 O júri simulado
5.
32
debate, deixe-os escolher as vítimas, os réus, o juiz, os advogados, as
testemunhas...
Outra notícia polêmica poderia ser sobre o abandono do patrimônio público
local, o que forneceria ótimas atividades envolvendo geografia, arte, história,
português, matemática...
Observe professor, quantas notícias motivadoras, polêmicas poderão ser
usadas para leitura e análise em sua disciplina. Você poderá trabalhar os conteúdos
de forma integrada, compartilhada, diferententemente da forma tradicional de ensino
que poucos resultados tem trazido. Acostume-se a ler jornal, a pesquisar notícias ou
outros gêneros textuais que trazidos para a sala de aula enriquecerão o ensino.
Ganharão todos com esse acréscimo.
Durante a exposição oral dos trabalhos em grupo, esteja atento para
comentar a diferença entre fato, notícia e opinião. (No final desse
trabalho, você encontrará um glossário com essas e outras palavras).
Professor de matemática, o jornal mural poderá ser confeccionado apenas
com notícias que sejam inerentes a sua disciplina, por exemplo: o aumento da tarifa
de ônibus, o custo de vida do brasileiro, o resultado da última Olimpíada de
Matemática. Lembre-se sempre de usar as estratégias de pré-leitura, leitura-
descoberta e pós-leitura já comentadas nesse trabalho. Inclua também dicas de
sites, vídeos de ajuda e notícias que falem sobre a necessidade do uso consciente
da Internet, gráficos diversos que ilustrem e explicitem as notícias lidas pela turma,
enfim, a criatividade não precisa de limites.
As sugestões a seguir foram publicadas pelo Jornal da Manhã, dentro
do seu Projeto Cultural Vamos Ler, 2009.
Professores de geografia e história, selecionem com as turmas notícias
nacionais e internacionais relacionadas com as suas disciplinas para leitura e
análise. Não se esqueçam das estratégias de leitura! Monitorem a confecção de um
jornal falado e mural com opiniões dos alunos sobre acontecimentos, destacando os
problemas socioeconômicos e ambientais da cidade; analisem coletivamente as
consequências que um acontecimento pode acarretar para os países implicados e
para o resto do mundo; elaborem a linha do tempo, classificando os aspectos mais
significativos apresentados pelo jornal...
Artes: Existem possibilidades incríveis de trabalho. Professor, os alunos
poderão criar histórias em quadrinhos e charges baseadas em notícias lidas pela
turma; criar ilustrações para notícias e outros textos jornalísticos; incentivar a
participação de alunos em eventos artísticos que estejam acontecendo na cidade;
escolher filmes e peças teatrais para serem assistidos pela classe e debatidos em
sala de aula; organizar um concurso de charges...
33
Educação Física: Professores, que tal pesquisar, ler e listar as principais
modalidades esportivas da cidade? Seria interessante, também, discutir a
importância dos exercícios físicos; ler e debater sobre matérias que falem de drogas,
fumo, anabolizantes e alcoolismo; montar um painel com notícias, reportagens e
curiosidades sobre os esportes...
Ciências: Professor, oriente a turma a pesquisar nos jornais notícias sobre
epidemias, descobertas médicas, a causa de certas doenças, cuidados básicos de
higiene e saneamento, ecologia, catástrofes naturais... e, em equipes, confeccionar
cartazes que ficarão expostos pela escola como forma de alerta. Ajude-os a
selecionar as matérias jornalísticas e ler de acordo com as estratégias de leitura
citadas nesse trabalho.
Professor, a notícia selecionada poderá ser trabalhada nas áreas de
geografia, história do município, português, ciências, matemática,... Vamos a ela!
Riqueza ambiental é alvo de disputa jurídica
De um lado está o MP que determina a demolição dos imóveis situados a menos
de 100 metros da represa. De outro, os proprietários que alegam já ter direitos
adquiridos da área.
O ”caso Alagados” se arrasta há 11 anos na justiça e ainda segue sem previsão
de desfecho. De um lado o Ministério Público que determina a demolição dos
imóveis situados a menos de 100 metros da represa. De outro, os proprietários que
alegam já ter direitos adquiridos da área. A incógnita tramita desde 2000 na 1 Vara
Cível da comarca de Ponta Grossa.
O MP se baseia em uma lei municipal de 1982, que determina a não construção
de imóveis a uma distância mínima de 100 metros da margem e alega também que
as moradias provocam degradação ao meio ambiente, já que estariam em Área de
Preservação Ambiental permanente. Ao todo são 35 ações movidas contra os
proprietários de 34 residências e também do Iate Clube de Ponta Grossa.
De acordo com o MP, são 140 bens localizados no Alagados, sendo que 90%
estariam irregulares. A Promotoria deverá entrar com ação contra os demais imóveis
somente após o término do julgamento destas primeiras ações. A notícia na íntegra
está disponível em:
http://jmnews.com.br/noticias/ponta%20grossa/1,11320,31,07,riqueza-
ambiental-e-alvo-de-disputa-juridica.shtml
Análise prática da notícia
34
Entregue o texto na íntegra para que o aluno perceba como está estruturado.
Se possível, no suporte em que foi veiculado. Anote, professor, no quadro o nome
do jornal, do jornalista, a data de publicação, o caderno em que se encontra o texto
e o espaço ocupado pela notícia na página.
Peça-lhes que atentem apenas para o título. E comentem sobre o que acham
que é o assunto da notícia. O que é riqueza ambiental? Você conhece alguma?
Professor, anote de forma organizada as hipóteses dos alunos, mesmo que
elas não correspondam ao que você espera.
Chame a atenção deles para o subtítulo, a foto, o comentário sobre a foto...
Lembre-se, professor, que seus alunos estão ainda na fase da pré-leitura
como já vimos nesse trabalho.
Lembre-os que o primeiro parágrafo do texto lhes dá um panorama da notícia.
Alguém sem tempo para ler, ficará parcialmente informado.
Professor, no corpo desse texto estão presentes alguns dados que podem
não ser do conhecimento do seu aluno como: MP Ministério Público, Vara Cível da
Comarca de Ponta Grossa, Área de Preservação Ambiental Permanente,
Construção da barragem do Alagados em 1940 e Código Florestal de 1965. Você
poderá anotar esses dados no quadro e pedir que grifem no texto durante a primeira
leitura.
Você deverá conversar com a turma sobre esses dados, dando-lhes as
informações básicas necessárias para a compreensão, antes de uma segunda
leitura. A inferência textual, nesse caso, não ajudará.
É hora da leitura descoberta! Vamos sem pressa e atropelos! Você, professor,
(ou um aluno) poderá ler para a turma que o acompanhará no texto. Faça paradas
com comentários partilhados.
Terminada a leitura, peça para que um aluno faça o resumo da notícia lida.
Solicite complementação caso haja necessidade. É o pós-leitura.
Verifiquem as hipóteses anotadas no quadro. As que não corresponderam às
expectativas devem ser apagadas.
Que tal preencher com os alunos uma pirâmide invertida com os dados
recolhidos durante a leitura do texto?
35
Esse gênero textual é chamado notícia. Você sabe o que caracteriza esse
tipo de texto? R: Texto escrito em 3ª pessoa, com estilo formal. É um
informativo que procura responder as possíveis perguntas curiosas do leitor.
Percebemos a presença de um jornalista que escreveu a notícia e de outras
pessoas interessadas no fato. Chame a atenção para o uso das aspas. Quem são
elas? Por que demonstram interesse por esse assunto?
O jornalista, embora discreto, não disfarçou a sua opinião sobre esse assunto.
Copie do texto uma passagem que torne essa declaração verdadeira. Exp. O caso
Alagados se arrasta...( linha 1), A incógnita tramita...(linha 4)
E você, o que pensa a respeito das construções em área de preservação
ambiental?
Você já ouviu ou leu sobre algum dano causado pela invasão urbana ao meio
ambiente e ao próprio homem? Comente. Professor, leve para a classe alguns
vídeos que mostrem os desmoronamentos no Rio de Janeiro, Belo Horizonte,
Santa Catarina... São tristes, concordo, mas essa garotada precisa ser
acordada para os aspectos da preservação ambiental e os problemas sociais
que enfrentamos.
Se você optar pelo trabalho com notícias, sempre que possível, leve outros
jornais que tratem do mesmo assunto para que haja comparação no trato dado à
notícia veiculada. É importante que eles percebam os (des)interesses, a neutralidade
do jornal ou sua força de atuação. Ajude-os a perceber as entrelinhas. Se você
também tem dificuldades nesse aspecto, procure assistir alguns jornais em canais
diferentes, durante a semana, que tratem dos mesmos assuntos. Em pouco tempo, a
diferença de abordagem ficará clara para você.
Você poderá dar o encaminhamento de acordo com a sua área de atuação,
tornando esse texto mais compreensível e rico para os seus alunos.
Professor, você já experimentou contar para suas turmas a história de origem
do rap? Disponível em: www.pt.Wikipédia.org/wiki/Rap
Muitas pessoas olham o rap e os rappers com preconceito. Mas a história é bem
bacana e valerá a pena trazê-la para dentro da sala de aula, valorizando a cultura
etnicorracial.
Outras propostas de atividades com a notícia lida
36
Que tal depois de ler e comentar a notícia no passo-a-passo, pedir para que os
alunos, em grupos, transformem-na em um rap? O júri simulado envolvendo esse
assunto também dará margem para bons debates. Por que não uma história em
quadrinhos, uma charge ou campanha publicitária em prol da preservação
ambiental?
Como você pode observar, professor, “as ideias fermentam o tempo todo”. Não
há desculpas para “ficar nas mesmices”, desestimulando os alunos com leituras
descontextualizadas, obrigatórias e sem outro fim que não seja a avaliação.
ATENÇÃO, PROFESSOR, SE VOCÊ OPTOU PELO TRABALHO COM O
JORNAL, ALGUNS CUIDADOS SE FAZEM NECESSÁRIOS, de acordo com
Lozza (2010).
Esqueça-se da ideia de que tudo que é noticiado no jornal é verdadeiro e que
existe apenas uma versão para um fato ocorrido. O jornal não é um produto
acabado, completo. Faz-se necessária muita leitura, comparação com outros
jornais para levantamento de dados, análise crítica. O poema de Drummond
“A verdade” retrata muito bem esse mito.
A verdade
A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta...
(...)
Disponível em: http://pensador.uol.com.br/frase/MzIwNTQ4/
O jornal não é imparcial. Dificilmente alguém escreve algo sem se deixar
influenciar pela sua vivência, sua história, sua necessidade de vender... O
contexto do autor e a filosofia do jornal têm forte influência sobre aquilo que se
escreve.
Cuidados com o uso do jornal
37
Não formaremos o aluno cidadão apenas trabalhando com a leitura e análise
de textos jornalísticos. A formação da cidadania depende de um trabalho
contínuo de todos e ultrapassa os muros da escola. Essa formação deverá
ocorrer durante toda a vida do sujeito.
O leitor lerá a interpretação que o jornal faz dos fatos. Cabe a ele, dependendo
da sua maturidade-leitora, decidir sobre dar ou não crédito ao fato noticiado.
O aluno que habituar-se à leitura leve e dinâmica dos jornais jamais gostará de
literatura, pois esta apresenta uma linguagem mais elaborada (conotativa) e
exige maior concentração, imaginação... Engano! Para desmistificar essa ideia
acho bem próprias as palavras de Chartier, para quem o caminho da leitura é
estreito, mas fundamental, que deve conduzir as próprias práticas, desde
leituras “indignas”, “selvagens”, até uma relação mais enriquecedora com obras
profundas e densas. (CHARTIER, 2000, p.14).
Professor, procure realizar, sempre que for possível, a atividade que planejou
com o jornal antes de levá-la para classe. Isso economizará tempo, evitará o
desperdício de material, e, ainda, você poderá sentir as dificuldades e
facilidades da atividade. De acordo com Faria (1996), nós, professores não
somos jornalistas. Em nossos cursos de formação profissional não fomos
preparados para levar essas atividades para sala de aula. É, portanto, normal
que nos exercitemos nessas tarefas, antes de propô-las para a classe.
A urgência, segundo Lozza ( 2010), é uma característica intrínseca do jornal. O
que o faz apresentar os fatos de forma superficial, sem o necessário
aprofundamento. Torna-se necessário a leitura de informações
complementares publicadas em outros jornais do mesmo dia ou não ou mesmo
de outras fontes.
A leitura de jornal é um possível instrumento de abertura para outras leituras.
Ao ler o jornal, cada um pode ser levado a ler mais, ler mais livros e ler a vida,
ler e reler, sempre. Ou não.
Muitas vezes, o texto jornalístico apequena os fatos, reduzindo-os, provocando
a sensação de desinformação. Muitas vezes, sob a aparente necessidade
técnica de se mostrar objetivo para o seu leitor, o jornal fragmenta, simplifica o
assunto sobre o qual fala, dificultando a percepção das contradições e do
caráter histórico, inerentes aos fatos que transforma em notícia.
38
Ei, espere aí, charge,
caricatura e cartum
não são a mesma
coisa?
De acordo com o Jornal da Manhã, Projeto Vamos ler, 2009, “a imagem é
uma linguagem universal, compreendida por qualquer sociedade. Daí o seu
poder de comunicação.(...). Ao ler uma imagem, estamos desenvolvendo o
senso estético, crítico e criativo que é peculiar a cada indivíduo.”
A leitura compreensiva de uma imagem (efeito produzido) depende da
recepção do leitor (sua história, seu conhecimento de mundo, suas
experiências, suas expectativas). Por isso, não espere que seus alunos
interpretem uma imagem da mesma forma que você, professor ou outros
colegas da classe.
Quantas vezes nos decepcionamos por não encontrarmos na turma a
resposta que esperávamos diante de um grave problema social, uma obra de
arte, um texto magnífico, um fenômeno natural...? Tudo isso está relacionado
às experiências e interesses primários de cada um. Isso não se realiza por
outrem, depende de sintonia, fruição compreensiva e prazerosa de cada um.
É o que chamamos de estética da recepção (Hans Robert e Wolfgang
Iser).
Lembre-se: Um leitor poderá adotar diversos critérios quanto a forma de ler o
seu jornal: somente determinados cadernos de interesse próprio, só as
manchetes, somente a primeira página, saltar cadernos,... mas, com certeza
não abandonará o jornal sem antes ler as tirinhas e a charge do dia. O poder
da imagem é incrível.
Encontramos nos jornais como exemplos de imagens: o gráfico, a foto, as
HQs, a propaganda, a charge, a caricatura, o cartum,...
9. Imagem
5.
39
De acordo com o cartunista Danilo kossoski (2009), jornalista do Jornal da
Manhã e criador do personagem Catraca, um garçom estrangeiro em Ponta
Grossa, existe uma tênue diferença:
É basicamente um desenho satírico que retrata uma situação
real e específica, normalmente orientada por uma notícia de jornal,
fatos atuais, e, não raro relacionada à política. Por isso as mais
antigas podem não fazer sentido para o leitor não familiarizado com
o contexto ao qual elas se referem.
Charge: Palavra de origem francesa que significa carga,
exagero. Os personagens, neste gênero textual, podem ser
apresentados com certo exagero físico. Ela foi criada no princípio do
século XIX por pessoas contrárias ao governo que queriam protestar
de forma inusitada. Os “rebeldes”, como eram conhecidos, foram
perseguidos, mas ganharam a popularidade, o que causou a
permanência do uso das charges até os dias de hoje.
É o desenho de uma pessoa real e conhecida publicamente com distorções
especiais em sua fisionomia, mas permitindo que ela seja reconhecida.
É um desenho que não precisa ter relação com fatos reais ou atuais. Sua
leitura costuma fazer sentido em diferentes lugares e épocas. Se tiver mais de dois
quadros passa a ser chamada de tirinha.
Segundo o jornalista e chargista Danilo Kossoski (2009, p.5, oficina II) “essa
separação básica é consensual entre os que se propõem a desenhar. A charge pode
trazer em seu desenho uma caricatura. Um cartum pode fazer referência a fato atual
ou regional, o que o coloca mais perto de charge”.
DICA: Professor, mantenha-se atento aos noticiários. Leia ou assista a pelo
menos um jornal ou telejornal. Isso o ajudará a ficar “antenado” e possibilitado de
entender charges, cartuns e tirinhas.
9.1 Charge
9.2 Caricatura
9.3 Cartum ou cartoon
40
Este gênero textual é, sem sombra de dúvidas, o mais apreciado pelos alunos
e até mesmo pelo leitor mais experiente que, após a leitura de outros
cadernos, usam as tirinhas como relax. As HQs apresentam uma narrativa
(verbal ou não-verbal) completa. Embora pareçam sempre humorísticas,
guardam, muitas vezes, um fundo satírico, dramático, crítico,...
Fique atento quanto ao número de personagens criados, não há limites, mas
o bom senso impera. Quadrinhos tumultuados por imagens não causam boa
impressão e dificultam o entendimento.
“Normalmente o cartunista é um crítico, nem sempre da política, mas de uma
cultura, um modo de pensar, falar, agir. Cada um tem um objetivo distinto e só o
leitor atento percebe os significados de um detalhe, a escolha das palavras...,”
declara Kossoski, 2009.
Professor, como você deve ter percebido, o trabalho com charges e tirinhas é
riquíssimo. Elas poderão ser trabalhadas tanto pelo seu conteúdo (significação)
como pelo seu aspecto formal e criatividade. Sem falar na possibilidade de
trabalho interdisciplinar.
Que tal conhecermos um personagem ponta-grossense?
Catraca é o personagem criado pelo jornalista Danilo Kossoski há quatro anos.
Hoje, já conta com 200 tiras em grande estilo que são publicadas em cada edição
dominical do Jornal da Manhã. Segundo Mário Martins, editor-chefe do JM,
“Catraca encontra identificação junto aos leitores e tem a virtude de nos fazer rir e
refletir.” O personagem é um garçom que vive situações bizarras no cotidiano.
Suas histórias envolvem lugares, acontecimentos ou personagens baseados na
realidade de Ponta Grossa e região. “Algumas delas registram fatos que foram
notícia nos jornais (...). É como se colocássemos um marcador de páginas em
alguns desses fatos para relembrá-los sob o ponto de vista do bom humor, mesmo
em situações ruins. O objetivo, muitas vezes, é fazer com que as pessoas pensem
sobre o que veem todos os dias, mas de tanto verem já não ligam. Então quando a
situação é vista numa tirinha, adquire outra significação. É como se aquilo não
fosse algo visto em sua cidade, mas sim em outra bem distante. Daí um dos
motivos pelo qual as tirinhas do Catraca seguem sempre com o mesmo título ”As
aventuras de um garçom estrangeiro em Ponta grossa”. Ele vê tudo com os olhos
de estrangeiro. O olhar que falta à maioria das pessoas .Ele funciona, então, como
um tradutor do cotidiano, que deixa a interpretação para os outros”,comenta Danilo.
9.4 As histórias em quadrinhos
41
Não há necessidade de material sofisticado para sua produção. Muitas vezes o
desenho é feito em preto e branco (charge). Lápis pretos e coloridos, borracha e
papel sulfite são o suficiente para as histórias em quadrinhos. Não há necessidade
de cursos especiais de desenho. A criatividade e o senso de organização são os
pontos básicos para a produção desses gêneros textuais.
Mas atenção!!! A imagem requer um aluno bem informado quanto a notícia
ou outro gênero textual que lhe deu origem. Um aluno capaz de ler o dito e o não-
dito, para perceber a crítica que pode estar explícita ou implícita. Portanto, colega,
se suas turmas são compostas por leitores imaturos, ajude-os escolhendo as
charges e HQs de fácil leitura e identificação com a notícia. Que tal uma leitura e
interpretação compartilhadas de fotos, charges ou tirinhas? Analisem juntos quais
são os elementos linguísticos responsáveis pelo efeito de humor e/ou crítica.
A charge, principalmente, por fazer uma crítica política acaba tornando-se
agente de formação da opinião pública. A imagem é a sua força de
argumentação
Muitos significados importantes do texto verbal e/ou não-verbal não estão
presentes de forma explícita. É importante que o aluno seja levado a perceber
os pressupostos.
Disponível em: www.odanilo.com.br
9.5 Como produzir charges e histórias em quadrinhos?
É importante que você saiba, professor!
PRESSUPOSTOS? Sim, é isso mesmo! Para, Platão (2000, p.241) “São ideias não expressas de
maneira explícita, mas que o leitor pode perceber a partir de certas palavras, expressões ou
termos contidos na frase.” Daí a importância do leitor compartilhar algumas informações com
o autor que o auxiliarão na percepção das ideias implícitas. Torna-se difícil atribuir sentido ao
texto (charge, tirinha ou mesmo piada) se o leitor não conhece o contexto de produção, a
história de concepção dos personagens.
42
Você poderá colecionar algumas charges e histórias em quadrinhos e depois,
pedir aos alunos que criem, em duplas, as notícias que poderiam ter dado
origem àquelas imagens.
Artes ou língua portuguesa: Que tal ler e explorar com a turma
(coletivamente) uma notícia ou reportagem e depois promover um concurso
de charges ou histórias em quadrinhos. Ela poderá ser feita individualmente
ou em duplas. A escolha poderá envolver todos os alunos e funcionários da
escola.
De acordo com projeto Cultural Vamos Ler do Jornal da Manhã, as imagens
publicitárias têm o objetivo de vender um produto e/ou passar uma ideologia.
Nelas estão contidas um forte apelo consumista, que tenta convencer a todo
custo o quanto é importante realizar o desejo de ter, possuir. ”Ter mais,
nunca é demais!” frase de efeito usada em uma campanha publicitária de
calçados, veiculada, recentemente, pela TV Globo.
As campanhas são direcionadas a diferentes públicos: jovens, idosos,
crianças, mulheres, homens de negócio... Para isso, usa uma linguagem
própria, facilmente entendida pelo grupo alvo de suas intenções.
O termo publicidade é usado pela mídia para venda de produtos ou serviços
e propaganda é usada tanto para propagação de ideias como no sentido de
publicidade. Portanto o termo propaganda é mais abrangente.
Atualmente, as imagens publicitárias estão voltadas para os temas que
envolvam saúde, qualidade de vida e preservação ambiental, que são
tendências da sociedade moderna. Esperam com isso atingir o público mais
sensível que, certamente, trocaria o produto que faz uso há anos por outro
que revele consciência ecológica ou social.
O texto publicitário tem o objetivo de provocar reações emocionais no
receptor, para isso utiliza recursos para convencer ou modificar
comportamentos, excitar o apetite por diversos produtos.
O Jornal da Manhã tem sempre um espaço reservado para publicar trabalhos
escolares dessa natureza.
9.6 Imagens publicitárias: FIQUE POR DENTRO!
43
A linguagem da propaganda é especial: os verbos têm o poder de conduzir a
vontade do receptor. São os imperativos agindo de forma direta, quase
autoritária. “Use Omo! Compre Havaianas! Beba Kaiser!
Segundo Koch (1987, p.159), toda estratégia publicitária é de natureza
persuasiva em maior ou menor grau e a argumentação é uma atividade
estruturante do discurso, pois é ela que marca as possibilidades de sua
construção e lhe assegura continuidade.
Para Fiorin (1988), ideologia é uma visão de mundo e existem tantas visões
de mundo quantas forem as classes sociais, porém a ideologia dominante
mostrada nas propagandas é a da classe dominante.
Professor, se você almeja um trabalho de leitura comprometido com a
formação social transformadora de seus alunos, deverá encontrar
recursos que o conduzam a aprendizagem de leitura do mundo verbal e
não-verbal.
Mostrar a eles que mesmo nas propagandas aparentemente ingênuas, há a
forte intenção de manipulação.
Leve-os a verificar as especificidades na construção desse tipo de gênero
textual: frases curtas e incompletas deixando a imaginação do leitor completá-
las como quiser.
Faça-os perceber que as propagandas criam, muitas vezes, inimigos que não
tínhamos, mas que em pouco tempo estão convivendo conosco. Por exemplo:
Dias antes achávamos que nosso cabelo era bonito e brilhante, logo
começamos a perceber que ele jamais será belo se não usarmos o xampu X,
o condicionador Y, a máscara Z, o creme leve-in (dia) e o creme noturno H.
Como se não bastasse a linguagem, as propagandas usam personalidades
respeitadas e queridas pelo público para venderem suas imagens na tentativa
de convencer o consumidor. Quem não se lembra de um produto hidratante
sendo mostrado por uma apresentadora de programas infantis? O referido
produto é de produção brasileira e bastante popular por ser barato. A
apresentadora jamais usou o produto que tenta vender, pois em entrevista a
uma revista conhecida confessou que só usa produtos importados e de ótima
qualidade no corpo.
O real significado dos verbos nas propagandas assume novas dimensões:
difundiu (contou e despertou a atenção); persuadiu (despertou o desejo de
comprar); motivou (levou a comprar).
44
A linguagem publicitária faz uso de desvios gramaticais para chamar a
atenção: palavras estrangeiras, gírias, forma coloquial, variação linguística.
Quanto mais violar a norma culta mais atenção o texto receberá. Para
perceber essa jogada estratégica, o aluno deverá conhecer a norma padrão.
Abordaremos alguns aspectos do texto publicitário que merecem destaque,
sem pretender esgotar as possibilidades. Tudo aquilo que é demoradamente
trabalhado acaba desgastando o aluno e levando-o à desmotivação. A ausência de
uma análise mais elaborada e profunda também se justifica pelo fato de não termos
formação publicitária, o que poderia causar análises errôneas.
Selecione o texto publicitário a ser analisado conforme o nível de leitura das
turmas: (linguagem escrita, em jornais impressos ou verbal, na televisão)
Verifique quais conteúdos da sua programação você poderá trabalhar usando
esse gênero textual.
Comunique à turma os objetivos que você deseja alcançar com esse trabalho.
Fazendo isso, o aluno saberá quais caminhos serão percorridos, por que e
onde pretendem chegar (aprender).
Leve-os a perceber a importância do conhecimento desse tipo de linguagem
persuasiva, cheia de artimanhas prontas para enredá-lo, ajudando-o a
defender-se ou a usufruir.
PORTUGUÊS: (Sonde, antes, o conhecimento prévio da turma). Análise do
título, do subtítulo e estrutura textual quanto à formação. Tempos verbais,
pontuação lógica e expressiva, emprego de figuras de linguagem, linguagem
formal ou informal, tem gírias (qual a intenção?),tem empréstimos linguísticos,
joga com as palavras, faz uso de argumentos objetivos (demonstração clara
do produto) e argumentos subjetivos (preocupou-se com o seu público alvo)...
ARTES: Análise das cores; o espaço ocupado; o tamanho das letras; a
ausência de palavras e o uso apenas de imagens; o uso da musicalidade; o
Proposta de atividade
45
vestuário usado pelos personagens criados; o ambiente que compõe o
quadro;
HISTORIA: A ideologia expressa; o contexto;
GEOGRAFIA: O espaço utilizado (cidade, campo, real, virtual,...)
CIÊNCIA: O fenômeno: doação de órgãos, alcoolismo, drogas, alimentação,...
MATEMÁTICA: A problematização; o cálculo; a solução...
O uso do empréstimo linguístico (estrangeirismo)...
Professor, o uso do texto publicitário na escola dará margem a muitas
atividades individuais ou coletivas.
Produto: Café Pilão “O café forte do Brasil”
Ano de produção: 2011
Produtora: Lux Filmes
Personagens: Mãe e filha (ainda criança, aparentemente quatro anos)
Local: a cozinha da família
Tempo: madrugada
(...) o desfecho da propaganda merece ser visitado.
Disponível em: www.youtube.com/watch?v=w_i8VdHh_w8
O café Pilão sempre protagonizou momentos de cumplicidade familiar e é ai
que reside a sua força de persuasão. Procure por outras propagandas desse
produto no mesmo site e você comprovará isso.
Vamos à análise
A mãe está passando café quando a filha vem do quarto reclamando:
-Acordou, meu amor? - Que foi?
-Tá cheio de monstro embaixo da minha cama!
-Monstro? Você ainda acredita nisso, bobinha? Você já está bem
crescidinha para essas coisas, filha. Acho que vou até por um pouquinho
de café no seu leite.
46
Peça para que os alunos transcrevam o diálogo para o caderno.
Para responder por escrito ou apenas oralmente, individual ou coletivamente.
Em qual momento acontece a apresentação do produto?
Por que os personagens escolhidos são mãe e filha?
Por que o ambiente é a cozinha?
Por que sentimos o texto (verbal) tão próximo de nós?
Quanto à linguagem, o que podemos perceber? Por que foi escolhida essa
modalidade?
Onde reside o humor do texto?
Que aspecto da modernidade percebemos no texto?
Que aspecto da tradição familiar está presente no texto?
Que mudança percebemos no personagem infantil antes e depois de beber o
café?
Qual é a mensagem implícita nessa campanha publicitária?
Observe mais uma vez essa frase: “Você já está bem crescidinha para essas
coisas, filha, acho que vou até por um pouco de café no seu leite.” Por que a
mãe relaciona o uso do café ao fato de já estar crescidinha? Qual é a
intenção dela?
Por que essa campanha publicitária acabou sendo um sucesso, com
inúmeros pedidos para que ela seja mais veiculada na TV?
Professores, essa propaganda fez uso de imagens e texto verbal, mas a mesma
análise poderá ser feita com propagandas escritas, publicadas em jornais ou
revistas. Escolha uma com a qual você possa explorar aspectos relevantes quanto a
sua disciplina, não se esquecendo de chamar a atenção do aluno para alguns
aspectos importantes, veja:
Observar atentamente todas as imagens da propaganda: cores,
caracterização dos personagens e do ambiente, organização espacial,
tamanho das letras... Estimule o seu aluno a observar particularidades. Para
47
Kehrwald, (apud Neves, 1998, p.26) “O estímulo à leitura das imagens
acorda um olhar desatento”.
Diga-lhe que toda propaganda é um gênero textual, mesmo que não tenha
palavras. Elas, nesse caso, serão produzidas na mente do leitor.
Leiam a propaganda, comentem. Professor, lembre-se que a interpretação
que seu aluno fizer poderá ser diferente da esperada por você. É o que
alguns estudiosos chamam de ESTÉTICA DA RECEPÇÃO. Já falamos sobre
isso em páginas anteriores, mas vale a pena repetir.
A clareza e a simplicidade estrutural fazem parte do texto publicitário.
Quando clareza e simplicidade não estão presentes em uma propaganda, ela
pode ter sido mal produzida ou estar destinada a um público específico.
IDEIA: que tal pesquisar com a turma algumas propagandas dentro desse
perfil?
A história de vida de cada um, as vivências,
experiências sentidas, sempre estarão
interferindo no modo desse aluno responder às
situações em que é posto. Por isso mesmo,
procurou-se deixar bem claro, no início desse
trabalho, a necessidade de conhecer melhor,
dentro das limitações, o aluno. Certamente as
decepções serão menores e estaremos aptos,
melhor dizendo, motivados para ajudá-los a
amadurecer. Pode apostar nisso!
Mas atenção! De acordo com as DCEs (2008) não é
qualquer leitura/interpretação que é possível para um texto.
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Produzida para um público específico:________________________________
Mal produzida:_______________________por quê?____________________
Bem produzida:______________________por quê?____________________
Importante mostrar em qual suporte (revista, panfleto, rádio, TV, jornal,...) ela
foi publicada e data.
Atualmente, as campanhas publicitárias têm usado muita imagem. Algumas
usam apenas imagens, deixando ao leitor-espectador o direito de interpretá-
las como quiser, embora essas mesmas imagens delimitem as possibilidades.
Muitas vezes, o humor presente em uma propaganda ou em outro gênero é
conseguido através da quebra da expectativa, que consiste na ruptura da
sequência lógica do texto. Muitos textos brincam com as expectativas do
leitor-espectador causando assim o efeito humorístico e/ou satírico.
É um ótimo momento para você avaliar a capacidade de aprendizagem,
liderança, organização e oralidade dos grupos. Elabore, posteriormente,
outras atividades que privilegiem essas áreas.
Divida a turma em pequenos grupos (3 ou 4 alunos).
Conte a eles que deverão criar um produto novo, lançamento... Não poderá
ser nada parecido ao que já temos por aí. (Inicialmente será apenas o
esboço).
Marque uma data e peça para que, nesse dia, tragam embalagens usadas,
papel colorido, restos de tecido, plástico, tinta guache, tesoura, cola,...
Deverão confeccionar o novo produto apenas com o material reunido pela
equipe. (O professor de artes poderá colaborar).
Agora é a vez da campanha publicitária para divulgação e venda. Lembre-os
da linguagem curta e simples, mas ardilosa e convincente. O uso do
imperativo: COMPRE! LEVE! CONHEÇA! EXPERIMENTE! ECONOMIZE! ...
A presença dos argumentos objetivos (descrição do produto) e subjetivos
(preocupação com o enredamento do público alvo).
Professor, é hora de a turma pôr a mão na massa!
49
Marque a data para o lançamento (apresentação) da campanha. Todos os
alunos do grupo deverão estar envolvidos com o trabalho.
A campanha de maior criatividade e poder de convencimento, de acordo com
o professor e a turma, poderá ser premiada, assim como acontece na mídia
realmente.
Aproveite para mostrar e comentar com eles um vídeo sobre as melhores
campanhas publicitárias brasileiras.
Disponível em:
http://www.youtube.com/results?search_query=campanhas+publicit%C3%A1ri
as+brasileiras+premiadas&aq=f
Professor, essa lista de palavras foi montada baseada nas informações de
Faria, 2009 e outras pesquisas. Esperamos poder ajudá-lo!
Agência de notícias: são empresas que cobrem fatos e distribuem informação
jornalística para todos os meios de comunicação. Podem ser locais, nacionais ou
internacionais. Mantêm uma rede de correspondentes e informantes e já selecionam
as notícias a serem transmitidas.
Caderno: são as partes separadas de um exemplar do jornal. O caderno reúne
assuntos da mesma natureza e apresentam seções ou colunas fixas.
Caixa ou Box: Matéria jornalística enquadrada por cores contrastantes, que
destacam o assunto ou trazem informações adicionais à matéria veiculada.
Chamada: texto que resume a notícia. Pode ser uma foto com texto-legenda ou
um título.
Coluna: Seção assinada de um jornal ou revista e colocada sempre na mesma
página. Seu estilo é mais livre e individual. As colunas têm um título fixo ou rubrica.
Créditos: Indicação do nome do autor da matéria, do fotógrafo, do chargista ou
ilustradores ou da agência de notícias. Nesse caso ela vem indicada por siglas: Por
exemplo: AE, Agência Estado.
Fato: Acontecimento que tem a sua veracidade ( verdade ) reconhecida.
Infografia: Conjunto de informações (textos, desenhos,gráficos) posto de forma
esquemática para situar rapidamente o leitor sobre determinado assunto.
10. Glossário
50
Legenda: pequeno texto com informações e/ou comentários sobre a foto ou
matéria da foto. Ela ajuda o leitor a entender a foto como nome das pessoas, local,
data... A legenda poderá ser também de estilo livre, comentando a foto como uma
pequena crônica
Lide: é a abertura do texto. Há dois tipos básicos de lide. No lide noticioso
constam as perguntas básicas que devem ser respondidas sobre o fato (quem, que,
quando, onde, como e por que). Ele orienta o próprio texto, pois os parágrafos
seguintes funcionam como desdobramentos das informações contidas no início. Há
outros tipos de lide como os provocadores. Neste caso, o importante é incitar a ler o
texto.
Manchete: Título da principal notícia em um jornal. Localiza-se na primeira
página.
Matéria: Tudo o que é publicado sobre um assunto ou que integra os dados,
informações sobre ele.
Notícia: Relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante.
Olho: Tem a mesma função do subtítulo, mas se distribui entre 3e 5 linhas.É
também um intertítulo, pequeno trecho destacado da matéria, em corpo maior, para
o arejamento e divisão de textos longos.
Opinião: Modo de ver, sentir a respeito de um assunto.
Relógio: Indica a hora de encerramento da edição no dia anterior. Justificando-
se assim por não ter abordado fatos ocorridos depois do fechamento da edição.
Rubrica: Título dado a uma matéria. Pode ser o nome de um assunto pontual ou
constante ou de determinada seção ou coluna.
Seção- no jornal é uma subdivisão de um caderno. É um espaço no jornal onde
são reunidos assuntos específicos como economia, política, metereologia...
Sucursal- Equipe de jornalistas formando a redação de um jornal em outra
cidade. Selecionam e elaboram matérias e as enviam para a Sede do jornal. O jornal
a Folha de São Paulo tem duas sucursais: no Rio e em Brasília.
Tablóide- Jornal de tamanho pequeno (29 X 39 cm), correspondendo mais ou
menos à metade do jornal tradicional ( 38 X 58 cm ).
Versão- É o tratamento dado ao fato pelo jornal ou pelo jornalista ou colaborador
do periódico. Entram a seleção dos fatos, a explicação e a interpretação.
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De acordo com Lozza, 2010,
Professor, o que lhe foi apresentado não são receitas mágicas,
não são promessas infalíveis de formação do aluno-leitor crítico e
atuante nem respostas prontas (que bom seria se as tivéssemos!),
mas são reflexões e alternativas pedagógicas com limitações,
cujas discussões só irão enriquecê-las. Certamente, em mãos
interessadas, criativas,... contribuirão de alguma forma. Esse é o
objetivo e esperamos alcançá-lo.
Caminhamos em busca de probabilidades, mas nada é
garantia. Tanto um aluno pode passar a gostar de ler porque
foi proibido de ler determinado livro na infância como porque
foi estimulado a ler pela família. Tanto se pode passar a gostar
de ler porque se iniciou a leitura por meio do jornal sobre
futebol, novela ou horóscopo (assuntos tidos, muitas vezes,
como pouco nobres...) como porque viu o pai às voltas com a
editoria de economia (ah, que assunto nobre!). Ou por muitos
outros motivos. A leitura de jornal é um possível instrumento
de abertura para outras leituras. Ao ler o jornal, cada um pode
ser levado a ler mais, ler mais livros e ler a vida, ler e reler,
sempre. Ou não. (LOZZA, 2010, p.29).
11. Considerações Finais
52
BRAGA, Maria Regina; SILVESTRE, Maria de Fátima Barros. Construindo o leitor
competente. São Paulo: Global, 2009.
CANTELE, Bruna. Coleção Arte, etc. e tal... . São Paulo: IBEP, 1992.
CHARTIER, Roger. Educação e história rompendo fronteiras. In revista
pedagógica. São Paulo: Dimensão, 2000.
CORDEIRO, Verbena Maria Rocha. Itinerários de leitura no espaço escolar. In:
Revista da FAEEBA. Departamento de Educação. V.1, 2004.
CURY, Augusto. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro:
Sextante, 2003.
FARIA, Maria Alice. Como usar o jornal em sala de aula. São Paulo: Contexto,
2009.
FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. São Paulo: Ática, 1998.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
JORNAL DA MANHÃ. Projeto Vamos Ler. Oficina l “Por que e como utilizar o jornal
em sala de aula”. Oficina ll “Leitura de imagens e linguagem audiovisual”. Oficina lll
“A cultura, o cinema e o jornal na sala de aula”. Ponta Grossa, 2009.
JORNAL DIÁRIO DA MANHÃ. Projeto cidadão do futuro. Ponta Grossa, 2001.
KLEIMAN, Ângela. Oficina de Leitura- teoria e prática. São Paulo: Pontes, 2010.
KAERCHER, Nestor André. Desafios e utopias no ensino de geografia. 2.ed.
Santa Cruz do Sul: Ed. da Unisc, 1998.
KOCH, Ingedore V. Argumentação e Linguagem. 2.ed. São Paulo:
Cortez,1987.(Koch,1987,p.159)
KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do
texto. São Paulo: Contexto, 2009.
LOZZA, Carmem. Escritos sobre jornal e educação – olhares de longe e de
perto. São Paulo: Global, 2009.
NEVES, Iara Conceição Bitencourt. et.al. (Org.). Ler e escrever – compromisso de
todas as áreas. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 2000.
12. Referências Bibliográficas
53
PARANÁ. SEED. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para os anos
finais do Ensino Fundamental e Médio. Curitiba: SEED, 2008.
PLATÃO, Francisco. Para entender o texto. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000.
REVISTA NOVA ESCOLA. 15 mitos da Educação. v.1, n.240. p.76-80, mar. 2011.
REVISTA SELEÇÕES. Nota 10! v.1, n.770. p. 49-55, mar. 2006.
SILVA, Ezequiel Teodoro. A produção da leitura na escola: pesquisa x
propostas. 2. ed. São Paulo: Ática, 2002.
______________. De olhos abertos. São Paulo: Ática, 2005.
______________. O professor e o combate à alienação imposta. São Paulo:
Cortez, 2002.
SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola.
Campinas: Mercado das Letras, 2004.
SILVA, Maria Salete; WILMA, Cristina Faria Rugerri. Para que minha família se
transforme. São Paulo: Verus, 2001.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998.
A história do jornal do Brasil. Disponível em: <
http://www.brasilwiki.com.br/noticia. php?id_noticia=18592>. Acesso em 02 jul.
2011.
A vocação de um bom professor. Disponível em: <
http://www.oartigo.com/index. php?/educacao/a-vocacao-de-um-bom-
professor.html >. Acesso em 10 jul. 2011.
Adriani Lutti - comercial Café Pilão "Bobinha". Disponível em: <
http://www.youtube.com/watch?v=w_i8VdHh_w8>. Acesso em: 02 jul. 2011.
A procura da poesia. Disponível em:
<http://www.uniblog.com.br/aprocuradapoesia/269061/analise-o-testemunho-
dos-poetas-em-tempos-sombrios-breve-leitura-da-poetica-de-brecht.html>.
Acesso em 20 jun. 2011.
12.1 Referências virtuais
54
Campanhas publicitárias brasileiras premiadas. Disponível em:
http://www.youtube.com/results?search_query=campanhas+publicit%C3%A1ri
as+brasileiras+premiadas&aq=f. Acesso em: 03 jul. 2011.
Carlos Drummond de Andrade: Verdade A porta da verdade estava aberta... . Disponível em: < http://pensador.uol.com.br/frase/MzIwNTQ4/>. Acesso em 20 jun. 2011.
História e curiosidade sobre o jornal. Disponível em: <
http://www.infoescola.com/comunicacao/historia-e-curiosidade-sobre-o-
jornal/>. Acesso em 25 jun. 2011.
Nascer no Cairo, ser fêmea de cupim. Disponível em: <
www.releituras.com/rubembraga_cairo.asp>. Acesso em 20 jun. 2011.
Rap. Disponível em: < www.pt.Wikipédia.org/wiki/Rap>. Acesso em 20 jun.
2011.
Riqueza ambiental é alvo de disputa jurídica. Disponível em: <
http://jmnews.com.br/noticias/ponta%20grossa/1,11320,31,07,riqueza-
ambiental-e-alvo-de-disputa-juridica.shtml>. Acesso em 05 jul. 2011.
Tiras do Danilo. Disponível em:
<http://www.odanilo.com.br/?idfe=210&idfo=252>. Acesso em: 05 jul. 2011.
* Texto jornalístico da Folha de São Paulo “Finlândia na favela”, 2011. Disponível
em: http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/educacao-na-
midia/15994/finlandia-na-favela.
*Texto de Luis Carlos Menezes “Quem na escola tem de saber tudo”- Revista
Nova Escola, março de 2011.
12.2 Leituras complementares