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SEGURANÇA DE DIGNITÁRIOS PROTEGENDO PESSOAS MUITO IMPORTANTES Por Vinícius Domingues Cavalcante, CPP

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  • SEGURANA DE DIGNITRIOS

    PROTEGENDO PESSOAS MUITO IMPORTANTES

    Por Vincius Domingues Cavalcante, CPP

  • - 2 -

    O presente trabalho dedicado aos meus dois grandes exemplos de profissionalismo e retido

    de carter que, infelizmente, no mais esto entre ns LUIZ SILVA CAVALCANTE, meu Pai, e

    CARLOS ALBERTO OLYNTHO BRAGA (Filhuca), Tio e amigo minhas fontes de inspirao na carreira da segurana.

    No poderia deixar de registrar os meus agradecimentos ao grande mestre

    CECIL DE MACEDO BORER (in memorian), e a WOLFGANG BOB MOCZYDLOWER,

    JOS AUGUSTO GOMES ALVES (in memorian), JEFT APOLO LAET MOUTINHO e

    REINALDO SIQUEIRA DE MAGALHES, que muito me ensinaram segurana de dignitrios, bem como

    aos docentes do Curso Superior de Gesto de Segurana, da Universidade Estcio de S no Rio de Janeiro.

    Agradeo tambm ao Coronel ROMEU ANTNIO FERREIRA, nosso grande decano na Inteligncia de Segurana Pblica,

    o qual, alm de prefaciar este trabalho,foi responsvel por sua organizao.

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    Mas, talvez, algum me objetar, pois se queres que esta cincia permanea escondida, por que, ento, quiseste revelar o sentido das cartas em questo?

    Eu responderei que porque quis beneficiar certos grupos de pessoas dos quais fao parte, a fim de defend-los de mltiplos perigos e a fim de coloc-los ao abrigo de certos acidentes fortuitos...

    Abade Tritme, em STEGANOGRAPHIE*

    Grande compilao de obras de saber oculto, escrita pelo Abade Jean de Heidenberg (1462 1516) sobo pseudnimo de Trithme, em meados de 1499, a qual teria sido perdida com os anos e publicada,apenas em parte, nos idos de 1610.

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    NDICE

    - PREFCIO

    - INTRODUO

    CAP I: FUNDAMENTOS DA SEGURANA DE DIGNITRIOS

    1. PRINCPIOS BSICOS2. NORMAS DIRETORAS

    CAP II: RECURSOS HUMANOS E MATERIAIS

    1. O AGENTE DE SEGURANA2. TREINAMENTO DOS AGENTES DE SEGURANA3. EQUIPAMENTOS DOS AGENTES DE SEGURANA4. VECULOS BLINDADOS

    4.1. A BLINDAGEM4.2. EMPREGO DOS VECULOS BLINDADOS

    CAP III: ATENTADOS

    1. OBJETIVOS DOS ATENTADOS2. PERPETRADORES DOS ATENTADOS3. MEIOS EMPREGADOS NOS ATENTADOS4. ASPECTOS VANTAJOSOS PARA OS AGRESSORES

    CAP IV: PROCEDIMENTOS DA SEGURANA DE DIGNITRIOS

    1. PLANEJAMENTO DA SEGURANA DE DIGNITRIOS2. PROCEDIMENTOS GERAIS PARA A SEGURANA DE DIGNITRIOS3. PROCEDIMENTOS NOS LOCAIS-BASE

    3.1. PROCEDIMENTOS NOS GABINETES E NOS RGOS PBLICOS 3.2. PROCEDIMENTOS NAS RESIDNCIAS 3.3. PROCEDIMENTOS NOS LOCAIS DE EVENTOS

    4. PROCEDIMENTOS NOS DESLOCAMENTOS4.1. PROCEDIMENTOS EM DESLOCAMENTOS 4.2. PROCEDIMENTOS EM VECULOS MOTORIZADOS 4.3. PROCEDIMENTOS EM DESFILES OU PARADAS 4.4. PROCEDIMENTOS A P

    4.4.1. ESCOLTA A P: NORMAS GERAIS 4.4.2. ESCOLTA A P : FORMAES

    4.5. PROCEDIMENTOS NOS EMBARQUES E NOS DESEMBARQUES 4.6. PROCEDIMENTOS EM AERONAVE 4.7. PROCEDIMENTOS EM EMBARCAES

    5. INSPEES (VARREDURAS)5.1. VARREDURAS CONTRA ESCUTAS 5.2. VARREDURAS CONTRA ARTEFATOS EXPLOSIVOS)

    5.2.1. ASPECTOS GERAIS 5.2.2. AS CARTAS-BOMBA 5.2.3. OS CARROS-BOMBA 5.2.4. A DETECO DE BOMBAS

    - ANEXOS A. ORGANOGRAMA DE UMA SEO DE SEGURANA DE DIGNITRIOS B. GLOSSRIOC. BIBLIOGRAFIAD. DADOS SOBRE O AUTOR

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    PREFCIO

    Conheci o Vincius no ano de 2005, quando frequentou, com aproveitamento "MB", o II Curso de Inteligncia de Segurana Pblica (II CISP), por mim organizado no mbito da Secretaria de Segurana Pblica do Rio de Janeiro.

    De l para c, houve alguns contatos espordicos, sempre sobre o assunto "Segurana". Neste livro, Vincius estabelece, na Segurana Pessoal, a perfeita distino entre as pessoas notrias (dignitrios), ora na vida pblica (autoridades), ora na vida privada (executivos, artistas etc).

    Faz a necessria crtica ao amadorismo vigente, responsvel pela improvisao da Segurana Pessoal, muitas vezes realizada com o simples recrutamento de policiais, militares e guardas municipais, apenas pela compleio fsica, habilidades de tiro e defesa pessoal, sem nenhum conhecimento especfico.

    O trabalho de Segurana Pessoal, para ser bem feito, requer profissionalismo, planejamento, especializao, dedicao, estudo e constante treinamento. Seus agentes, sempre voluntrios, devem dispor de uma srie de atributos e serem treinados em diversos procedimentos, dentre os quais o "pensar e agir" e o "sempre fitar os olhos das pessoas" foram devidamente ressaltados.

    Foram detalhados os meios com que uma eficaz Segurana Pessoal deve contar: recursos humanos confiveis e materiais adequados (armamentos, viaturas e equipamentos).

    Faz uma interessante anlise dos objetivos dos atentados e dos seus possveis perpetradores. Descreve os dispositivos e os procedimentos a serem adotados nos vrios casos de Segurana Pessoal: nos locais-base (permanentes e temporrios) e nos deslocamentos (embarques e desembarques, a p, veculos, desfiles, aeronaves e embarcaes).

    Detalha as caractersticas dos veculos blindados e discorre sobre os procedimentos e equipamentos necessrios para as inspees (varreduras) contra a interceptao das comunicaes ("grampos") e artefatos explosivos.

    Sugere um organograma de uma seo de Segurana Pessoal. Finalmente, apresenta um glossrio dos termos tcnicos citados e uma extensa

    bibliografia sobre o assunto No seu livro, Vincius, por diversas vezes, citou a Inteligncia, como a atividade que

    deve trabalhar lado-a-lado com a Segurana Pessoal, levantando dados sobre: as condies poltico-sociais do momento, os possveis executores de atentados, as reas a serem percorridas etc.

    Os criminosos tem a vantagem da surpresa, da iniciativa e da escolha do local do atentado. Desse modo, cabe Inteligncia trazer dados que possibilitem antever o perigo, prevenindo antes que o inesperado acontea.

    Agora, um pouco de doutrina no faz mal a ningum. A atividade de Inteligncia, a 2 profisso mais antiga do mundo, tem dois ramos: a

    Inteligncia - que atua na atividade-fim do rgo, e a Contra-Inteligncia (CI) - para a proteo. O ramo da CI tem dois segmentos: o das medidas ativas de Contrapropaganda,

    Contraespionagem, Contraterrorismo e Contrassabotagem, e o das medidas passivas, de Segurana Patrimonial, que abrange os bens tangveis e os intangveis.

    Para a proteo dos bens tangveis, o segmento da Segurana Patrimonial denomina-se de Segurana Orgnica e abrange medidas de segurana de: Pessoal, Documentao, Instalaes, Material, Comunicaes, Operaes e Informtica.

    Quanto aos bens intangveis (marca, reputao, imagem, smbolo, patente, propriedade intelectual), a Segurana Patrimonial, alm de atuar com parte das medidas ativas, deve utilizar, em alto grau, os princpios do controle, da compartimentao e do sigilo.

    Portanto, o ramo da atividade de Inteligncia que aborda os assuntos que interessam Segurana Pessoal abordada neste livro a CI.

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    Alguns dos verbos que conceituam as aes prprias da CI foram utilizados neste livro, tais como: proteger, prevenir, obstruir, impedir, inspecionar, detectar, identificar, levantar, neutralizar e desinformar.

    A atuao da CI, com controle, compartimentao e sigilo, proporciona, Segurana Pessoal, as melhores condies para realizar um trabalho preciso e seguro.

    Para mim, este livro foi uma grata surpresa! Reunindo muito do que existe sobre o assunto, fartamente ilustrado com fotos e

    croquis e com dezenas de exemplos de casos reais, o Vincius nos est brindando com um documento imprescindvel para todos aqueles que trabalham em Segurana e, particularmente, em Segurana Pessoal.

    Romeu Antonio Ferreira, Cel EB Ref

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    INTRODUO Enquanto o homem existir e, com ele, as estruturas de governo, a poltica e as autoridades, sempre

    haver necessidade de contar com seguranas. No Brasil, h muito vem sendo comum a ocorrncia de atentados de cunho poltico, como os assassinatos e desmoralizaes, assim como as aes de seqestro, particularmente contra artistas e empresrios. Onde quer que existam detentores de poder, fato que tambm devero existir elementos qualificados para atuar em sua proteo. A TV nos mostra inmeros polticos e celebridades que, temendo pela sua prpria integridade ou de seus familiares, requisitam ou contratam seus agentes de segurana na pressuposio, nem sempre muito abalizada, que estaro realmente protegidos.

    H tempos estudando a segurana de autoridades, atuando na proteo de executivos e na instruo de profissionais que realizam esta proteo, foi comum presenciar toda sorte de comportamentos dos "seguranas", os quais, muitas vezes, no tinham sequer conhecimento da exata extenso da tarefa que lhes era creditada. No sei se deveremos imputar aos agentes de segurana a culpa pelo desconhecimento de aspectos tcnicos, s vezes, elementares de seu trabalho, unicamente pelo fato de que, nos diversos cursos pelos quais passaram (quando de fato passaram por algum) eles jamais foram instrudos acerca de tais assuntos.

    Normalmente, a formao dos seguranas pessoais improvisada. Na esfera pblica, com vistas atuao junto s autoridades, selecionam-se policiais, militares e guardas municipais, por sua compleio fsica ou habilidades em tiro e defesa pessoal, mas, na maioria dos casos, sem lhes proporcionar o devido treinamento especfico, indispensvel para a bem desempenhar uma misso diferente daquela com que se deparam cotidianamente. Na esfera da segurana pessoal privada, as escolas de formao literalmente despejam no mercado agentes sem o necessrio preparo e os bons cursos os quais, mais completos, obrigatoriamente tem de custar caro sofrem uma concorrncia irresponsvel e extremamente desleal.

    No Brasil, diversos preconceitos ainda cercam e entravam as atividades da segurana. O nosso cidado comum raramente entende a necessidade de se criar normas para sua prpria proteo, no cr na importncia ou na utilidade dos gastos com os equipamentos e com o treinamento do pessoal empregado e, muitas vezes, s consegue enxergar um "imotivado" cerceamento das liberdades por conta das aes da segurana, as quais muito raramente so populares ou bem vistas.

    Segurana, na maioria das vezes, significa preveno`. No se consegue alcanar os objetivos da segurana contra a vontade ou sem a cooperao da pessoa protegida e se torna excepcionalmente difcil conscientizar quem quer que seja num meio onde o iderio corrente apregoa que "tais problemas jamais acontecero comigo", "isso coisa que no acontece no Brasil" ou que as verbas para viabilizao da segurana "seriam muito melhor empregadas em programas mais prioritrios".

    Quando se pensa em segurana pessoal, imaginamos, normalmente, em figuras corpulentas, "armadas at os dentes" e que por si s bastariam para garantir a tranquilidade daqueles que os pagam. Nada mais falso. Um primeiro conselho til que se poderia dar a algum que assume a segurana de uma terceira pessoa seria o de esclarecer o seu segurado dos riscos que pesam sobre ele e da necessidade de que, em face desses riscos, o VIP dever alterar suas rotinas em consonncia com as sugestes formuladas por sua segurana.Honestamente, deve-se deixar claro que a segurana no pode garanti-lo, a menos que ele se proponha a seguir certas determinaes e assuma, em funo do perigo que pesa sobre ele prprio, que dever levar uma vida marcada por certas "limitaes". O segurado seja ele um poltico, executivo ou artista famoso - dever sempre cooperar com os encarregados de sua proteo, pois de pouco adiantar a pretensa eficincia de um servio de segurana sem a cooperao do segurado.

    Se verdade que cada brasileiro potencialmente um tcnico de futebol, creio que se possa estender tais credenciais aos conhecimentos da rea de segurana: todo mundo ousa opinar sobre assuntos que pensa conhecer; formam-se esteretipos em suas mentes e depois raciocina-se de forma automtica, levando em considerao, claro, tudo aquilo que j fora estabelecido previamente como certo! Faltar sempre ao nosso "tcnico" de segurana a humildade de perceber que se trata de uma atividade complexa, que requer toda uma gama de conhecimentos e que tem uma cultura prpria, na qual o cidado comum, que imagina poder matar elefantes com espingardas ("escopetas") de calibre 12, dificilmente se aprofundar.

    Embora para muitos no o parea, atuar na segurana no tarefa para os menos capazes ou para aqueles que no encontraram outras opes no mercado de trabalho. O trabalho de segurana requer especializao, dedicao, estudo, treinamento e isso deve ser valorizado por aqueles que se utilizam dos servios de segurana.

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    Estranhamente, segurana, embora seja uma prioridade de todos, tem sua implementao entravada por uma metodologia de raciocnio tortuosa e contraditria. Pergunte a uma pessoa se ela tivesse de fazer uma cirurgia plstica (e pudesse pagar) a quem ela recorreria? Pergunte se ela necessitasse de um advogado para uma causa importante, quem ela chamaria? Pergunte se tivesse que fazer uma cirurgia delicada, cardaca ou neurolgica, a qual cirurgio recorreria? Invariavelmente, todos os que se dispusessem a responder a enquete citariam exemplos exponenciais de competncia em seus respectivos campos de atividade, todos profissionais de honorrios bem acima da mdia. Porm tal associao no automtica no que tange prestao de servios de segurana. Mesmo um bom nmero daqueles que gostariam de ter sua segurana entregue a profissionais excepcionalmente qualificados, como os que vem no cinema, ainda hesitariam em pagar por um servio de qualidade.

    Inconscientemente, objetivamos selecionar algum que atire e lute como o protagonista de "Mquina Mortfera", com as habilidades do McGhyver, que se porte com o profissionalismo de um Kevin Costner no "Guarda-Costas"...tudo isso com um mnimo de desembolso! A todos faculta iludir-se, mas fato que o "Bom e Barato" constitui-se numa soluo de compromisso muito difcil de ser alcanada quando se trata da atividade de segurana. Talvez, por achar em seu ntimo que a execuo das tarefas na rea de segurana se constitua ramo de quase nenhuma especializao, as pessoas continuam entregando a defesa de suas vidas a qualquer um que lhe parea profissional, que receba um parco salrio, insistindo em barganhar com a prpria segurana e escolhendo seus consultores, agentes ou vigilantes quase que determinantemente pelo critrio do menor preo!

    A atividade de proteo de autoridades e pessoas de notvel projeo algo de muito srio. Muitos, como j disse, pensam saber o que um segurana pessoal. O nosso leigo (ou o nosso "tcnico" de senso comum) cr no agente como uma enorme montanha de msculos trabalhados, bom em artes marciais, semialfabetizado e sempre pronto a grunhir "Sim, Senhor!", quando seu empregador estala os dedos - algo bem prximo do parrudo oriental do "Goldfinger".

    O verdadeiro agente de segurana assemelha-se tanto ao Sr. Oddjob quanto uma investigadora de polcia se assemelha Kate Mahooney. A realidade bem diversa daquela dos filmes de Bruce Willis. No mundo real, no se pode, ou no se deve, sair por a brandindo armas e distribuindo pancadas. Fora bruta, msculos de Mister Universo e postura de duro podem at conseguir um emprego de "leo-de-chcara" numa casa noturna da moda mas, certamente, no so os principais atributos que se busca num especialista em proteo de autoridades. Palets escuros, braos cruzados no peito, culos de sol espelhados e outras caractersticas de guarda-costas "hollywoodianos" tambm podem conferir ao profissional uma imagem ("high profile") que raramente desejvel.

    O objetivo deste trabalho esclarecer alguns aspectos da atividade de segurana pessoal, os quais nem sempre so de conhecimento dos ditos "profissionais" e na maioria das vezes so completamente ignorados pelas pessoas que usufruem dos servios de segurana. Sua leitura ser de proveito tanto dos seguranas quanto tambm dos prprios dignitrios. Este trabalho no tem a pretenso de abranger todos os aspectos do conhecimento que um bom agente deve possuir e no substitui os cursos, seminrios, manuais e outras leituras que devem ser buscados no esforo do constante aperfeioamento tcnico-profissional. Procuramos no ficar repetindo ou parafraseando o enunciado dos manuais governamentais, embora nos valhamos de pelo menos dois deles, para retirar ilustraes que julgamos oportunas.

    J vai longe o tempo em que ramos carentes em termos de literatura tcnica sobre segurana. Hoje, no Brasil, existe uma quantidade razovel de bons ttulos que versam sobre o tema SEGURANA PESSOAL e cada um deles merece uma leitura atenta. A experincia passada dos instrutores para seus instruendos tambm imprescindvel e acredito deva ser acrescida dos inestimveis exemplos retirados da crnica cotidiana.

    Pretendemos, com este trabalho, melhorar a qualificao dos agentes de segurana, valoriz-los profissionalmente, incentiv-los a estudar segurana, aprender sobre tcnicas, equipamentos, inteirarem-se das diversas formas de como atentados acontecem, a fim de realmente se qualificarem para prevenir as aes criminosas. Como um livreto consultivo, deve ser constantemente lido, relido, sublinhado, anotado, acrescido de recortes de jornais ou revistas que ilustrem ocorrncias de interesse ou que poderiam repetir-se contra as autoridades que estivermos protegendo. Um dos propsitos suscitar, aos nossos profissionais, a reflexo de que a tarefa de segurana pessoal muitssimo raramente vai requerer brutamontes ostensivamente armados, mas, sobretudo, carece de gente talentosa, tcnica, observadora e inteligente, capaz de raciocinar preventivamente, avaliar riscos de segurana e aplicar apenas a fora necessria quando a situao assim o exigir.

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    CAPTULO I FUNDAMENTOS DA SEGURANA DE DIGNITRIOS

    1. PRINCPIOS BSICOS

    A qualidade da proteo de autoridades vem procurando melhorar com o passar dos anos. Entretanto, o problema que, normalmente, s se aprende com os erros e existe uma tendncia natural para se desacreditar ou menosprezar aquilo que no se v, o que raramente acontece ou que s acontece "nos outros pases". So justamente essas falhas as maiores responsveis pelos xitos dos criminosos e terroristas quando no cometimento de atentados.

    Para que possamos bem desempenhar a misso de segurana de um dignitrio existem alguns princpios que devem ser seguidos.

    1.1. Para trabalhar bem em segurana pessoal, antes de mais nada, necessrio que o agente goste daquilo que faz, que reconhea a relevncia do seu trabalho e que, por isso, considere a validade de correr riscos por uma outra pessoa. Minha experincia pessoal me faz acreditar que, os melhores seguranas no trabalham apenas por dinheiro, mas sim por acreditarem na verdadeira necessidade de fazerem seu trabalho e gostarem disso.

    Houve uma poca, enquanto eu ainda engatinhava na atividade de segurana de dignitrios, que um velho Mestre costumava dizer: Neste ramo, ningum consegue render 110% se no estabelecer para com o protegido um forte lao de admirao. fcil compreender a verdade que tais palavras encerram, pois se o agente de segurana o principal responsvel pela completa integridade de uma pessoa, e se tal servio, ao menos teoricamente, tem prioridade sobre a vida do prprio agente, no se imagina que o segurana assuma para si a tarefa de correr mximos riscos por algum a quem ele intimamente no imagine valer pena.

    Embora se possa discorrer laudas sobre o que se entende por profissionalismo neste ramo de atividade e saiba que inmeros agentes morrem no desempenho cotidiano das misses de segurana pessoal, estou certo de que o empenho e o arrojo do homem na atividade de proteger uma autoridade est diretamente associado ao seu conceito sobre o dignitrio. Sendo a vida o nosso bem mais precioso, ningum me convenceu, at hoje, que um segurana por mais profissional que ele apregoe ser se dispor a troc-la pela de um segurado que ele considere no ser merecedor de tal sacrifcio.

    Em ltima instncia, em se tratando de uma atividade de extremo risco, o segurana sempre pode vir a perecer num atentado, porm aqueles relatos de reaes de agentes em que transparece um admirvel senso de dever, bravura e despojamento so de uma relao que, no meu entender, transcendem ao mero relacionamento profissional, onde os guardies se empenham por algum que, sabem, merece ser realmente protegido.

    1.2. Deve-se ter em mente que no se faz "meia segurana". Ela tem de ser a mais efetiva e completa possvel, pois, ao contrrio, se constituir num desperdcio intil de esforos.

    1.3. Deve-se dispor dos meios necessrios para desenvolver a operao de segurana. No se faz segurana sem efetivos, armamentos, viaturas e equipamentos adequados, pois estar-se-ia incorrendo numa "meia segurana".

    1.4. Segurana e Inteligncia caminham SEMPRE lado a lado! Em todo planejamento de uma segurana pessoal, sempre necessrio coletar informes e avaliar todos

    os dados disponveis sobre riscos (possibilidades de perigos, atentados, acidentes e contrariedades em geral), inimigos e adversrios do protegido, identificao (se possvel com fotografias) de grupos ou de pessoas, avaliao de recursos disposio dos adversrios que possam ser empregados em aes de atentado, histrico de aes anteriores perpetradas pelos referidos grupos ou indivduos, seus "modus operandi", denncias annimas, informes de procedncias mais diversas, informaes sigilosas etc.

    Um exemplo de aplicao da Inteligncia na proteo de autoridades sob ameaa foi a ao dos servios secretos franceses contra a O.A.S. (organizao clandestina da direita francesa, contrria independncia da Arglia) nos anos sessenta. Infiltrada de informantes, a organizao sempre teve dificuldades

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    em manter o sigilo dos seus planos de intentar contra a vida do Presidente De Gaulle, embora, ainda assim, tenha conseguido efetuar alguns ataques espetaculares, dos quais o presidente francs apenas escapou graas competncia e disciplina de sua segurana.

    Nos Estados Unidos, o Servio Secreto - que protege o Presidente da Repblica, sua famlia e os candidatos presidncia quando em campanha - recebe informaes de todos os outros rgos governamentais de Segurana e Inteligncia como o FBI, a NSA e a CIA. Qualquer indcio de que algum ou algum grupo poltico possa pretender atentar contra o presidente dos Estados Unidos merece investigao; um simples e-mail ameaador checado e sua autoria apurada.

    Aps o assassinato da Ministra de Relaes Exteriores da Sucia, Anna Lindh, em Setembro de 2003, verificou-se que ela vinha recebendo e-mails ameaadores, os quais no mereceram qualquer ateno.

    1.5. necessrio conseguir dados sobre as condies poltico-sociais do momento, bem como sobre quaisquer repercusses que podero ser desencadeadas pela presena do dignitrio no local onde a segurana dever atuar.

    Tal fato reveste-se de grande importncia, principalmente se considerarmos a possibilidade de manifestaes hostis como a chuva de pedras contra o falecido governador de So Paulo, Mrio Covas, quando entrava em um edifcio do governo, ou os ovos dos quais foi alvo o ento Ministro da Sade, Jos Serra.

    1.6. Nada se deve fazer de improviso. Devemos conhecer com exatido o programa proposto para o dignitrio. Em Janeiro de 1996, a segurana da Rainha Margareth, da Dinamarca, durante uma exibio do musical

    "O Fantasma da pera", em Londres, protagonizou cenas risveis e profundamente constrangedoras ao obrigar a soberana de 56 anos a deitar-se no cho quando da queda de um enorme lustre com mais de 1000 lmpadas, o qual despencou do teto at parar a cerca de 2 metros sobre as cabeas das pessoas na platia. Cumprindo com o que foram treinados para fazer, ainda retiraram a rainha do local, literalmente atropelando diversos outrosespectadores. Tratava-se, porm, de um dos espetaculares efeitos especiais da pea, dos quais os seguranas no tiveram prvio conhecimento.

    1.7. Os itinerrios e horrios da agenda devero ser estudados e, se possvel, modificados, levando em considerao as exigncias de segurana.

    1.8. Proceder, sempre que possvel, minucioso levantamento da rea, dos locais que sero frequentados e das pessoas que estaro presentes.

    1.9. Deve-se ter em mente que obrigao da segurana evitar situaes de perigo. Prevenir sempre melhor que reprimir.

    1.10. Deve-se dispor de dados relativos s caractersticas pessoais, personalidade e hbitos da autoridade a ser protegida, mas deve-se tambm considerar que a sua vontade pessoal no pode ser levada em considerao, se o seu atendimento implicar em risco para o esquema de segurana e consequentemente para a sua prpriaproteo.

    Sabe-se que, embora contrariando a tcnica correta, muitas vezes a vontade do protegido que prepondera e os seguranas acabam envolvidos em situaes que bem se parecem com a materializao de seus piores pesadelos.

    S para que se tenha uma idia da extenso de tais problemas: em Outubro de 1999, um engarrafamento em Londres fez com que o Primeiro-Ministro britnico, Tony Blair, sasse de seu veculo blindado e tomasse o metr, numa deciso que surpreendeu tanto os passageiros do trem quanto os seus prprios guarda-costas! Algum j imaginou o que aconteceria se ele sofresse um atentado durante esse deslocamento a p? Quem iria afirmar que no foi uma absurda falha da segurana?

    1.11. Deve ser evitado qualquer aparato blico ou desnecessria perturbao na vida da populao. Fechamento de ruas, mudanas de mo de trfego, cordes de isolamento etc s devero ser

    empregados se (ou quando) forem absolutamente necessrios. Muitas vezes, o sigilo e a discrio da segurana podem ser aliados mais vantajosos.

  • 2. NORMAS DIRETORAS

    2.1. Todo planejamento de uma segurana visa proporcionar, ao segurado, proteo contra um conjunto de ameaas previsveis. A segurana tem por obrigao antecipar-se s possveis fontes de hostilidade contra seu protegido. Em via de regra, s se pode fazer frente ao perigo ou adversidade previamente identificada.

    Vale lembrar que, por ocasio do assassinato do Primeiro Ministro de Israel, Yitzhak Rabin, no se imaginaria que um judeu pudesse intentar contra a autoridade daquela forma. Na poca, todas as precaues da segurana estavam voltadas contra a possibilidade de agressores rabes ou palestinos.

    Na rara imagem feita por um cinegrafista amador e comercializada por U$ 320.000,00, pode-se ver o claro do disparo feito pelo assassino de Rabin, Yigal Amir, queima roupa.

    Quando somos surpreendidos pelo inesperado (como uma ocorrncia que no imaginssemos que pudesse acontecer), h uma tendncia a improvisar solues, as quais nem sempre garantiro a incolumidade da autoridade posta sob nossa guarda. O ideal sempre ser o de no deixar acontecer... e, por isso, h que se antever as possibilidades de perigo!

    Ao contrrio de um cidado comum, o bom profissional de segurana no pode confundir a boa sorte com as boas tticas. Em se tratando da proteo de dignitrios, o fato de nenhuma adversidade ter ocorrido dever estar associado ao bom planejamento da segurana, sua execuo disciplinada e escrupulosa, ao emprego de armamento, equipamentos e recursos adequados, excelncia do treinamento dos agentes e no, apenas, ao fato de que atentados no so coisas que acontecem todos os dias!

    Planejadores e agentes de segurana devem despir-se de seus preconceitos. Preconceitos so idias que trazemos conosco como corretas, verdadeiras, e que acabam por induzir-nos ao erro em algum processo decisrio. No campo da segurana, poderamos citar diversos preconceitos em relao segurana, alguns deles a seguir listados:

    - "Isso jamais aconteceu aqui!" - "Isso coisa que no acontece no Brasil!" - "A esta hora e com este tempo horrvel, ningum seria maluco de vir importunar-nos!" - "Eu acho que ningum seria louco ou ousado o bastante para fazer isso!" - "Ah, pode ficar tranqilo; hoje at os criminosos esto ligados nesse jogo da deciso!" - "Aqui ns no precisamos nos preocupar pois no h nada para ser roubado ou furtado!" - "Ns nunca vamos ser alvo disso!" - "Aqui o bicho no pega, pois estamos colados com a polcia!" - "No se preocupe, pois a viatura policial faz ponto aqui na frente!" - "Aqui um local seguro, inacessvel e bem guardado; no precisamos temer!" - "Trata-se de uma pessoa da minha mais inteira confiana!"

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  • - "Ah, um senhor de idade; imagina se ele seria capaz disso!?" - "Ah, apenas uma criana (ou um velho ou uma mulher ou um mendigo) inofensiva!" - "Aquele senhor distinto vestido de branco, v-se que mdico!" - "S de olhar, v-se logo que o homem (ou a mulher) no est armado."

    Prejulgar com base em idias como as citadas, certamente concorrer para comprometer o xito do trabalho de uma equipe de segurana.

    2.2. Os seguranas "de verdade" so profissionais pagos para acreditar que a qualquer momento podero ser exigidos a ganhar o seu dinheiro da forma mais dura e arriscada possvel. So sabedores de que em todo planejamento de segurana existe uma possibilidade de falha impossvel de ser eliminada, e tal constatao apenas justifica todo um redobrar de cuidados, o qual nem sempre compreendido, tanto pelos protegidos como pelo pblico em geral. COMO ENCARREGADO DE ATUAR NUMA SEGURANA, HABITUE-SE A ESPERAR PELO INESPERADO E JAMAIS MENOSPREZE A INTELIGNCIA OU A CAPACIDADE DOS ADVERSRIOS!

    O lder palestino Yasser Arafat, durante seus dias de clandestinidade como inimigo de Israel, dormia cada noite em uma das 20 casas diferentes da OLP em Tnis. S o esmerado procedimento da sua segurana, auxiliado, pelo uso de dubls, salvou-o de morrer num ousado e bem planejado ataque areo israelense.

    2.3. Todas as fases do planejamento devem ser revisadas, modificadas e sempre discutidas, a fim de manter o esquema o mais perfeito que for possvel. A segurana deve conhecer os hbitos do segurado, mas tudo far para EVITAR ROTINAS. A previsibilidade de um dignitrio e sua segurana converte-se numa arma nas mos dos criminosos e terroristas.

    2.4. Todas as aes da segurana devem ser prvia e exaustivamente ensaiadas, a fim de que cada integrante da equipe cumpra o papel que lhe cabe no dispositivo, de maneira rpida e eficaz. a continuada repetio de determinados exerccios que vai permitir aos agentes de segurana uma reao sempre mais precisa e mais rpida, nas situaes emergenciais reais. Para ser boa, uma equipe de segurana pessoal precisa treinar.

    2.5. A segurana sempre dever atuar como equipe. Todos desempenham tarefas importantes. No existe espao para "estrelismos" e individualidades.

    2.6. A segurana tem por obrigao SER DISCRETA e deve estar PERMANENTEMENTE ATENTA E DESCONFIADA. Quanto mais discreto e ausente da mdia o grupamento de segurana puder se manter, melhor ser. Hora apropriada para os agentes relaxarem, s quando no estiverem de servio.

    2.7. A segurana deve ter bom senso e trabalhar preventivamente. Deve conhecer os hbitos do segurado, mas tudo far para EVITAR ROTINAS. A previsibilidade de um dignitrio e sua segurana se converte numa arma nas mos dos criminosos e terroristas. As aes da segurana sempre precedem o dignitrio, acompanham-no durante o seu dia e fazem-se necessrias mesmo depois de sua sada.

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    CAPTULO II RECURSOS HUMANOS E MATERIAIS

    1. O AGENTE DE SEGURANA

    "PROFISSIONALISMO" a palavra que descreve o que se requer de um homem (ou de uma mulher) que atue na proteo de dignitrios. Infelizmente a palavra "profissionalismo" pode assumir um cem nmero de significados, de acordo com a idia que o elemento faa do trabalho que lhe cabe desenvolver. O conceito de profissionalismo tende muito subjetividade e a vaidade humana acaba deixando-nos invariavelmente convencidos de que a maneira certa sempre aquela que ns procedemos.

    Todos concordam com a idia de que do agente a responsabilidade primordial pela proteo do segurado; mas a verdade que, mesmo tendo que contrariar alguns "egos", tal objetivo dever ser buscado inteligentemente, evitando as adversidades ou contornando toda sorte de perigos (ainda que apenas potenciais) que ameacem os que esto sob nossa guarda.

    Uma questo diretamente responsvel pela degradao do grau de proteo que a segurana proporciona o desconhecimento dos aspectos tcnicos da atividade por parte dos dignitrios. No raramente o trabalho de segurana junto a uma autoridade envolve o recebimento de gratificaes por parte dos agentes encarregados de proteg-la. Isso faz com que tal servio seja encarado at como uma premiao e o profissional, que, vez por outra, se v ante o dilema de fazer aquilo para o qual foi tecnicamente treinado ou atender a solicitao de seu protegido, acaba optando pela manuteno do seu rendimento suplementar e correndo riscos que deveriam ser evitados. A autoridade pode substituir o homem de segurana por qualquer motivo e ele no vai querer contrari-la para preservar os seus proventos.

    O principal problema que, na prtica, muitos servios de segurana de dignitrios so diretamente condicionados pela vontade das autoridades seguradas, as quais no so capazes de avaliar corretamente os perigos a que esto sujeitas. Muitas vezes, o protegido apenas deseja contar com mais um assessor ou secretrio mais parrudo, que imponha respeito, mas que lhe seja completamente submisso. O segurana obrigatoriamente deve ser cauteloso, desconfiado e suas intervenes, por mais que eventualmente restrinjam a liberdade de seus segurados, objetivam sempre mant-los a salvo. Divergir do segurado, muitas vezes o que garante a incolumidade de ambos e isso deve ser sempre levado em conta.

    Em matria de segurana, no se pode substituir as boas tcnicas pela boa sorte. Se dermos sorte, podemos levar muito tempo at que surja uma nova ocorrncia de ataque. Porm, quando isso acontece, a segurana invariavelmente responsabilizada e sero considerados culpados os mesmos profissionais cujos alertas jamais foram ouvidos e cujas repetidas solicitaes cautelares tambm no foram atendidas, em razo da preponderncia da vontade e dos argumentos da autoridade protegida. O autor poderia narrar um bom nmero de situaes em que equipes de segurana tiveram de valer-se do jeitinho e agir completa revelia da vontade do protegido, a fim de conseguir executar suas misses, com mnimos riscos para si e para os dignitrios que estavam protegendo.

    A funo do segurana pessoal sempre foi tratada com glamour pelo cinema, porm, a realidade que se trata de um trabalho onde no existe aventura, assdio de mulheres bonitas etc. Na grande maioria das vezes, o desafio dos homens o de lutar contra seus sentidos, a fim de no deixarem-se vencer pelas preocupaes com os prprios problemas particulares ou pela monotonia das rotinas do dia-a-dia. Imagine que, como agente de segurana no combate todos os dias (e, se o fizesse, algo no seu conceito de "prevenir o perigo" certamente haveria de ser revisto), normal relaxar seu nvel de ateno, "baixando a guarda" em relao s ameaas que podem estar espreita, esperando apenas o melhor momento para se manifestarem.

    O agente de segurana no o "capanga" ou o 'pistoleiro" do segurado. No lhe cabe sair por a intimidando pessoas, sendo truculento, exibindo armas, dando tiros. Um agente de segurana deve ser habilidoso no trato com pessoas, prevenindo toda sorte de problemas. O emprego da fora pelo segurana deve ser visto como um recurso extremo, do qual o verdadeiro profissional apenas lanar mo quando todos os recursos de diplomacia e preveno vierem a falhar. O agente de segurana pessoal o "que evita problemas". que trabalha em prol do completo bem estar e integridade da pessoa segurada. Cabe a esse profissional prevenir e agir nas hipteses de atentados, bem como evitar acidentes de toda ordem, situaes embaraosas ou contrariedades. De nada adiantar uma equipe de segurana composta de ex-comandos, lutadores e

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    atiradores excepcionais, se o executivo, na iminncia de graves complicaes cardacas, no tiver quem seja capaz de ministrar-lhe um "Isordil" e conduzi-lo, o mais rapidamente possvel , para um hospital prximo.

    O melhor "segurana" prudente, estudou e conhece suas limitaes e (por isso) tem medo! Devemos desconfiar daqueles "excepcionalmente destemidos", que propagam aos quatro ventos os atributos de sua coragem, pois estes, na melhor das hipteses, so ousados e imprudentes demais para a atividade de segurana pessoal. "Disposio" (como se costuma dizer na gria) no sinnimo de competncia profissional e aquele segurana "grande, forte e bem armado" que imagina que o seu segurado esteja protegido apenas por estar em sua companhia, pode nem ter chance de descobrir a extenso de seu equvoco, dada a rapidez com que ser fisicamente eliminado pelos oponentes, quando de um atentado. Mesmo na segurana de autoridades (a qual essencialmente difere da segurana pessoal privada), o fato do agente de segurana ser "oriundo das Foras Armadas" ou ter sido policial tambm no o credencia automaticamente para o exerccio da atividade. Embora no mbito pblico o agente tenha mais liberdade e respaldo para ao (pois no mbito da iniciativa privada, o agente no pode permitir-se agir com a mesma incontestvel autoridade com que se protege uma autoridade pblica, nem sempre vai poder dispor de recursos de apoio, como policiamento ostensivo, grupamentos precursores, batedores, fechamento de ruas, comboios com vrios veculos, cobertura area, fuzis e submetralhadoras que a segurana pblica de dignitrios faculta algumas vezes.

    Uma experincia pregressa nas Foras Armadas ou foras policiais sempre ajuda e pode conferir ao segurana muito conhecimento tcnico e disciplina para o desempenho das diversas atribuies; mas o profissional jamais dever esquecer-se de que o enfoque de trabalho na atividade da segurana pessoal essencialmente diferente, e que o seu objetivo justamente o de "proteger seu segurado evitando os combates"!

    Um agente de segurana que abandona o seu protegido para correr atrs do pivete que lhe roubou o Rolex deveria esquecer de que um dia foi treinado para fazer isso como policial e lembrar de que agora deve fixar-se na figura de seu segurado. E se o punguista fosse apenas um engodo para afast-lo do seu objetivo?

    No se deve menosprezar o adversrio. Os criminosos brasileiros de hoje no demonstram o menor respeito pelos antecedentes curriculares dos encarregados da proteo executiva, uma vez que tambm se utilizam de equipamentos e tticas empregadas pelas unidades de elite das Foras Armadas.

    Embora tenhamos uma tendncia a achar que somos heris, no fundo de nossas conscincias sabemos que nem sempre estaremos convictos de correr riscos por uma terceira pessoa. Parafraseando o personagem de Sean Connery no filme "Os Intocveis", o agente de segurana tem o dever de voltar para casa, trazendo consigo seu segurado, igualmente vivo e inteiro.

    Em se tratando de uma profisso to perigosa, a melhor maneira de se alcanar tais objetivos trabalhando com preveno e astcia. Evitar o confronto - mesmo tendo que bater em retirada - pode at no ser uma "coisa de sujeito homem", mas exatamente o que se espera do segurana quando surge uma situao de perigo. A integridade fsica do protegido a preocupao fundamental do segurana e um idiota, metido a macho, que se lana em uma situao de combate que poderia ter sido evitada, a ltima pessoa que algum com um mnimo de reflexo gostaria de ter como protetor. "PREVIDNCIA", "FRIEZA", "CAPACIDADE DE JULGAMENTO", "HABILIDADE DE CONTORNAR PROBLEMAS" e o "BOM SENSO DE PERCEBER QUANDO UMA SITUAO DE PERIGO SE CONFIGURA" so atributos prprios do profissional de segurana pessoal.

    Se voc leitor gosta de brigar, resolve seus problemas com a mo na arma, adora confuses e geralmente prefere estar "onde o bicho est pegando", aliste-se na Legio Estrangeira, no U.S. Marine Corps ou arranje um emprego como dubl no cinema.

    A seguir, uma pequena relao de atributos os quais se espera encontrar num autntico profissional de segurana pessoal:

    1.1. O homem precisa ter um excepcional carter. As pessoas que empregam um segurana esto - quase literalmente - colocando suas vidas nas mos do agente ou guarda-costas. Logo, no se concebe empregar algum em que no se possa confiar plenamente, principalmente se considerarmos que aqueles que protegem podem vir a ser aliciados pelos inimigos do segurado.

    1.2. O homem de segurana no pode ter vcios em drogas, narcticos ou lcool. Quaisquer um deles iro desqualific-lo, pois a mente do homem de segurana deve estar sempre acurada, alerta e pronta para qualquer coisa.

    Um "copinho" ou latinha de cerveja ocasional no sero problemas, mas no se poder confiar nos reflexos de um "bom de copo", pois todo o servio poder ser comprometido. No se pode esperar que um

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    segurana dirija ou atire aps ter ingerido lcool, com a mesma percia que demonstra "de cara limpa". Embora muito boa gente diga que no se deixa afetar, est exaustivamente provado que a ingesto de bebida compromete reflexos essenciais para o guarda-costas. Quem quer que goste de beber, que o faa nas horas de folga!

    O uso de drogas ou narcticos dispensa comentrios, mas vale lembrar que os viciados normalmente "desenvolvem" ligaes com a criminalidade e que tais ligaes comprometem diretamente o "esquema de segurana" e a integridade da pessoa protegida.

    1.3. O profissional de proteo no pode apresentar registro de atividade criminosa ou condenao por prtica de delitos. A natureza do trabalho a ser desenvolvido necessita que a ficha do profissional seja limpa e que ele seja da completa confiana daqueles a quem est vendendo seus servios.

    1.4. Quem quer que se dedique s tarefas de segurana pessoal deve ser disciplinado, paciente, observador minucioso e dotado de boa memria. Tais caractersticas so importantssimas, no menos que o bom condicionamento fsico, boa viso e audio apurada. O agente no poder ser negligente, pois um nico erro lhe poder ser fatal. A impacincia leva a descuidos ou erros tolos, nenhum dos quais poder ser tolerado na profisso - extremamente crtica - de agente de segurana pessoal. O encarregado de proteger aquele a quem cabe perceber detalhes e caractersticas sutis de pessoas e cenrios, pois qualquer indcio de que as coisas no esto como deveriam acaba por disparar um "alarme subconsciente", mesmo quando no se est de servio. Devemos nos lembrar que as aes de criminosos profissionais costumam ser precedidas de uma vigilncia (nem sempre l muito discreta) sobre o alvo e a segurana que o cerca. Uma apurada contravigilncia - capacidade do agente de segurana de perceber "se" e "quando" estiver sendo observado - constituir-se- num fator importante para evitar ser vitimado por um atentado. Pessoas aparentemente inocentes, mendigos, ambulantes, carrinhos de beb, veculos, motociclistas, prestadores de servio (lixeiros, carteiros, reparadores de rede eltrica, gua ou gs), tudo ou todos que no devessem estar em determinado lugar podem ser um indcio de um atentado prestes a ocorrer.

    1.5. Qualquer pessoa que se empregue como segurana pessoal deve ser capaz de permanecer num pico de eficincia ao longo de um dia inteiro de atividades. Escalas de trabalho de "12 horas x nenhum descanso" ou "24 horas x um suspiro" freqentemente comprometem a resistncia fsica do agente que deve, de antemo, acostumar-se a uma rotina de trabalho "apertada" e nem sempre gratificante. A natural propenso do servio de segurana pessoal requer algum que seja capaz de viver no horrio de outra pessoa e nunca no seu prprio. Por outro lado, o agente de segurana deve acostumar-se a manter a ateno e no se deixar levar pelo tdio da rotina. Todos sabem que ataques, pancadaria, tiros e atentados de forma geral no acontecem todos os dias, e comum o relaxamento dos homens, ficando vulnerveis a um perigo que pode chegar sem aviso. Nesse ramo de atividade, o momento especial do criminoso onde toda sua ateno est voltada para o desencadeamento do ataque - deve corresponder ao momento habitual do encarregado de proteger! O agente de segurana deve estar permanentemente pronto para agir e deve sempre lembrar de que no pago para acreditar que o perigo no v acomet-lo naquele momento.

    1.6. O guarda-costas ideal, alm de ser conhecedor de tcnicas de combate desarmado, estar familiarizado com armamentos de porte e perito em tcnicas de tiro em condies de extremo "stress", estar atualizado quanto aos equipamentos de sensoreamento e alarme e circuito fechado de TV, tambm deve ter uma boa formao. Por "boa formao", no se entenda necessariamente escolaridade, pois h muita gente incompetente ou funcionalmente analfabeta ostentando diplomas de cursos superiores. A formao do nosso homem tanto pode ser resultado de sua experincia de vida, estudos por conta prpria como tambm de sua escolaridade formal. Formao e apresentao fazem-se necessrias porque o segurana profissional circula com frequncia em ambientes de bom nvel, comparece a festas e outros eventos com pessoas do mundo dos negcios, da poltica e das colunas sociais e no "pega bem" para tais grupos virem-se associados companhia de guarda-costas que lhes prejudiquem a imagem. Diversos artistas, executivos e pessoas de projeo tem agentes de segurana que acumulam tambm as funes de secretrio particular (ou que utilizam tal atividade como "cobertura" para a atividade principal que a de proteo pessoal) e tal situao no comporta profissionais sem um mnimo de apresentao e cultura. Boa parte das situaes que embaraam a pessoa protegida so resolvidas com diplomacia e ningum de bom senso emprega um segurana que no sabe conduzir-se e expressar-se.

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    1.7. O agente de segurana ou "guarda-costas" tem que penetrar, obrigatoriamente, na intimidade dos segurados e deve manter uma postura crtica, se auto-policiando de forma a no exceder s intromisses absolutamente necessrias. Da mesma forma, deve resistir ao mpeto de aparecer na mdia, posar para fotos expondo-se em demasia. O profissional de segurana tem por obrigao ser discreto e reservado. Detalhes sobre a vida pessoal dos segurados, sobre a casa dos V.I.P.s e o que a mesma contm, a identidade dos familiares, amigos e frequentadores da residncia, hbitos de lazer, problemas domsticos ou de trabalho constituem-se em assuntos que no deve ser comentados. Nunca demais lembrar de exemplos como o do seqestro do Embaixador dos Estados Unidos no Brasil, quando a inconfidncia de um integrante da segurana acabou munindo os sequestradores de informaes que facilitaram a ao de captura.

    A intimidade com os segurados tambm tem seu lado potencialmente negativo; por mais amigo que o segurana venha a se tornar, vale lembrar que ele no deve divertir-se ou beber com seu protegido, pois tais situaes de relaxamento e descontrao podem comprometer todo trabalho de proteo, colocando a vida de ambos em risco.

    1.8. O segurana pessoal por excelncia um planejador. Cabe a ele estudar a vida do protegido, levantar previamente toda sorte de perigos ou ameaas que pesem sobre aquele que estiver sob sua guarda e desenvolver procedimentos que impeam ou dificultem a materializao de tais adversidades. Planejar uma segurana pessoal vai requerer um estudo minucioso da atividade e dos ambientes do segurado, das pessoas que o cercam, de suas amizades, dos adversrios etc. Essas tarefas requerem um profissional meticuloso e acostumado a pensar. Qualquer um pode ser treinado para executar, porm a capacidade de planejar diferencia bons e maus seguranas Todo encarregado de segurana pessoal dever lembrar-se da velha mxima: "Onde quer que voc tenha de atuar, que a sua mente j tenha estado l antes!...". Todos os cenrios de atuao previsveis devem ser objeto de estudo e os membros da segurana devero estar conscientes de seus papis em face das contingncias previstas.

    Como chegar com o segurado na sua residncia? Como proceder para garanti-lo e aos seus enquanto na residncia? Como chegar e sair com o mesmo de seu local de trabalho? Como proteg-lo enquanto estiver no local de trabalho? Quais cuidados devem ser adotados nos deslocamentos? Como proceder no clube, restaurante ou casa de praia?

    Todos aqueles que integram a equipe de proteo devem saber previamente quais os procedimentos que devero seguir risca. No devemos esquecer que, onde quer que o segurado possa ser esperado, l o perigo poder estar espreita e os agentes tem por obrigao no se deixarem apanhar de surpresa.

    essencial que o agente estude o modus-operandi dos potenciais inimigos do seu segurado e seja capaz de antever-lhes os passos. Poder-se- argumentar em favor dos tipos "Rambo", mas no se pode esquecer que de pouco valero sua "disposio" fsica e o seu armamento se eles vierem a ser atacados por um inimigo inteligente e disposto a explorar a vantagem da surpresa.

    1.9. O agente de segurana deve trabalhar bem em equipe. Um nico segurana, para quem realmente necessita de proteo nunca ser o mais adequado. segurana pessoal, nos momentos de perigo, cabe salvaguardar o segurado, cobri-lo e retir-lo do local da ameaa o mais rapidamente possvel ("cobrir e evacuar"). Se apenas um homem designado para proteger, como ele poder identificar algum atacante, colocar o protegido em lugar seguro ou mesmo conduzi-lo para o interior de seu veculo, eventualmente proporcionardisparos de arma de fogo para cobrir a retirada e ainda entrar no veculo e dirigir - tudo ao mesmo tempo? O quantitativo mnimo desejvel de guarda-costas para os riscos de baixa intensidade de dois homens e, consequentemente, torna-se necessrio que os profissionais contratados sejam capazes de funcionar num time. O verdadeiro profissionalismo consistir em colocar a misso de proteger o dignitrio acima das diferenas pessoais, sabendo-se que o time deve funcionar bem para que todos consigam voltar para casa, vivos e inclumes. Mesmo levando em considerao que, algumas vezes, os membros deste time podem no ser as pessoas mais dceis e fceis de conviver, os agentes de segurana em servio devero colocar o "esprito de equipe" acima dos seus prprios "egos".

    1.10. Existe, atualmente, uma forte tendncia para avaliar-se o profissional de segurana pelo tipo ou calibre da(s) arma(s) que ele porta. Embora tal fator tenha importncia em situaes ou cenrios especficos, ele no determinante na profisso de segurana pessoal. As armas existem "para serem mantidas no coldre". O bom

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    agente um bom atirador, mas, conhecendo as implicaes do uso da arma, dificilmente a exibir e apenas far uso da mesma em ltimo caso. Se houver real necessidade de utilizar a arma, vai pesar muito sua percia como atirador e a sua capacidade sacar rapidamente e de efetuar disparos precisos contra seus alvos. Mao-Ts-Tung j dizia que as armas fazem menos diferena que a capacidade ou a competncia dos elementos que a utilizam e mesmo no querendo dizer com isso que se possa sair por a no Rio de Janeiro protegendo um empresrio com um velho revlver de calibre .22, o fato de portar uma moderna "Wondernine", uma UZI ou um AR-15 no faz de ningum um segurana pessoal eficiente.

    2. TREINAMENTO DOS AGENTES DE SEGURANA

    Embora seja muito comum encontrarmos pessoas no ramo da segurana que se imaginam extremamente profissionais, capazes, fortes e astutos, a experincia demonstra que, na maioria das vezes, tais elementos no possuem nenhuma das qualidades que apregoam.

    O bom segurana sabe que deve estar em constante aperfeioamento. Humildade uma caracterstica extremamente importante para algum que est em constante aprendizado, buscando o conhecimento de novas tcnicas, equipamentos, bem como se mantendo informado das tcnicas e tticas empregadas pelos elementos que podem, algum dia, atentar contra o seu protegido.

    Um agente de segurana nunca deve subestimar a capacidade de seus adversrios e por isso deve ter em mente que precisar treinar sempre, apurando seus reflexos, para estar em condies de fazer frente a uma confrontao que no tem dia e nem hora para acontecer.

    A excelncia no Tiro e nas tcnicas de combate desarmado s pode ser obtida com treinamento e reciclagens peridicas. Nesse ramo de atividade, de pouco importa o que o agente de segurana algum dia foi capaz de fazer (como aqueles que se dizem peritos atiradores dos tempos do servio militar obrigatrio), mas sim o que ele seria capaz de executar se a situao crtica real se manifestasse nesse exato momento. O fato do agente se gabar de ter sido capaz de, nos velhos tempos, arrancar o fundo de garrafas de vidro colocando precisamente o seu tiro pelo gargalo das mesmas, de nada valer se ele no puder hoje efetuar um saque rpido e apresentar uma razovel preciso de disparos contra alvos humanos, sobretudo levando em considerao que ter muitssimo menos tempo para isso do que quando atingia as peas de vidro, as quais jamais revidavam.

    Embora saibamos que o gasto com treinamento sempre se constitua num dreno nos recursos da instituio, trata-se de um investimento importante para garantir que a equipe de segurana esteja sempre pronta para levar a cabo o que dela se espera. fato que adversidades no acontecem todo dia, Assim sendo, protegidos e seguranas acabam por relaxar sua ateno e comprometer sua capacidade de reao. O treinamento desperta o interesse dos profissionais, mantm os homens mais alertas e com moral mais elevado.

    Toda sorte de problemas e grau de dificuldade com que um profissional de segurana puder deparar-se na vida real deve ser objeto de simulao e antecipada nos treinamentos. Exerccios de deslocamentos em formao, de embarque e desembarque em veculos, de cobrir e evacuar, interposio entre o agressor e o protegido, defesa de agresso com faca, desarme de arma de fogo a curta distncia, saque e tiro de pronta resposta, tiro barricado, engajamento de mltiplos alvos, tiro embarcado, abandono de veculo sob fogo...tudo deve ser preferencialmente passado aos agentes nos treinamentos. Vale ressaltar que, uma vez assimiladas, as tcnicas devero ser praticadas com a maior regularidade que os afazeres da equipe permitam.

    Tcnicas marciais de defesa como o KOMBATO representam o que este autor conhece de melhor para o treinamento de agentes de segurana, mas precisam ser praticadas com alguma regularidade. A legislao brasileira vigente estabelece a obrigatoriedade de reciclagens (adestramentos) anuais de tiro para agentes de segurana na esfera privada. No caso da segurana de autoridades, no h regulamentao a respeito. O fato que levar um ano entre um exerccio de tiro e outro no garante que os homens estejam prontos e capacitados para fazer frente s necessidades de uma confrontao real. Melhor ser se o homem de segurana puder exercitar-se trimestralmente, disparando ainda que apenas alguns tiros com munio viva, para manter seus reflexos. Embora as armas sejam uma espcie de ltimo recurso, o agente deve estar bem qualificado para port-las e delas fazer perfeito uso se a situao assim o exigir.

    A execuo de uma boa segurana pessoal envolve PENSAR e AGIR, em idnticas propores. Normalmente, comum que os homens se exercitem nas rotinas de combate, mas que levem muito

    tempo entre as igualmente importantes instrues de carter mais terico ou analtico. Alm de todas as prticas instrucionais anteriormente mencionadas, de cunho altamente estimulantes e operativas, um treinamento muito

  • importante, e que s muito raramente se desenvolve com equipes de seguranas brasileiras, o de anlise da linguagem no verbal e deteco de comportamento potencialmente adverso. Palestras nesse sentido, seguidas de exerccios, podem auxiliar na identificao de pessoas prestes a cometer um atentado. Embora a ltima palavra quanto execuo do trabalho de uma equipe de segurana seja sempre dos chefes responsveis, o homem de segurana deve ser acostumado a pensar, analisar fatos, perceber indcios, os quais podem fazer a real diferena entre a vida e a morte. Reunir os integrantes da equipe em horrios livres e familiariz-los com a crnica de atentados no pas (e tambm no exterior) pode ajud-los a se manterem mais alertas. Deve-se considerar os agentes como sensores, cujas informaes, num fluxo contnuo, auxiliaro na manuteno da adequao dos planejamentos; quanto mais capacitados para deteco de riscos eles estiverem, melhor ser.

    3. EQUIPAMENTOS DOS AGENTES DE SEGURANA

    No existe uma "regra" no que se refere aos equipamentos e recursos postos disposio de uma equipe de segurana. Assim como dissemos que as dificuldades do dia-a-dia de uma segurana devem ser antevistas no treinamento, cada situao demandar a necessidade de materiais ou equipamentos cuja obteno e utilizao dependero diretamente dos recursos financeiros disponibilizados bem como da inventiva dos membros da equipe de segurana. Alm de veculos compatveis com as necessidades do segurado e de sua escolta (uma vez de que de nada adianta manter o segurado num Audi, escoltado por agentes num carro popular de 1000 cilindradas), meios de comunicaes seguras, coletes prova de balas, boas armas e munies de elevado desempenho devem fazer parte da dotao da equipe de segurana. Se investirmos no equipamento e na instrumentalizao dos agentes, melhores condies eles tero de desincumbir-se da misso de proteger, mesmo em face das situaes mais difceis.

    No Brasil, h uma severa restrio para os calibres que podem ser legalmente portados na segurana privada. Protegendo empresrios, artistas e executivos no meio privado, a segurana tem de se contentar com armas de calibre e rendimento inferior quelas que normalmente so portadas pelos criminosos. Ainda que no seja muito confortvel portar semiautomticas com calibre .380 ACP, ante perspectiva da confrontao contra bandidos armados de fuzis FAL, AK-47, AR-15, submetralhadoras e pistolas .45"ACP, .40" S&W e 9mm Parabellum, resta aos agentes de segurana, observando os estritos limites da Lei, manter nveis de ateno e proficincia que lhes permitam efetuar disparos certeiros e neutralizadores antes de seus adversrios conseguirem faz-lo, tentando assim compensar essa situao desigual.

    Na segurana de autoridades, a limitao de armas e calibres praticamente inexiste, ficando tal escolha apenas limitada por questes de carter logstico (no dispomos dela no setor de armamento), oramentrio (esse modelo seria timo, porm no temos verba pra compr-lo) ou poltico (no pega bem que a segurana seja vista por a portando isso). Normalmente, os agentes podero optar por pistolas de calibres 9mm x19, .45ACP ou .40S&W, submetralhadoras, espingardas de calibre 12 e fuzis como o Colt M-4, o AK-47 ou o Para-FAL. Atualmente, ser difcil encontrar revlveres numa segurana de dignitrio, salvo quando empregados como segunda arma (back-up guns) ou quando a situao exigir um porte especialmente dissimulado, que requeira uma arma de bom stopping-power e de pequenas dimenses.

    As munies das armas devem ser adequadas ao que delas se espera. Num deslocamento a p ou num local de evento, onde o risco de um ataque pressupe a necessidade de atingir alvos humanos em distncias curtas, seria recomendvel o emprego de munies de ponta oca (hollow-point como a Silvertip, Starfire, Hydra-Shok ou Supreme STX), frangveis (como a Glaser ou a MagSafe) ou outra altamente impactante (como a francesa THV). Numa posio de segurana fixa, como uma guarita ou prtico de entrada ou em qualquer lugar onde se possa precisar disparar contra alvos protegidos por anteparos (como pessoas no interior de um veculo, atrs de portas ou pra-brisas) ser desejvel o emprego de munies de perfil mais perfurante (mesmo as KTW e Arcane), notadamente ogivais-jaquetadas de alta velocidade.

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    esquerda o projtil Silvertip , ao centro a munio Hydra-Shok com seu caracterstico pino central e direita a Supreme STX da Winchester, descendente da famosa munio Black Talon.

  • As munies Glaser e MagSafe (esq.)so uma tima opo contra alvos humanos no protegidos A munio THV(dir.) francesa tambm tem efeito devastador anti-pessoal.

    Munies perfurantes como a Arcane (francesa, esq.) e a KTW (americana, dir.) tem uso excepcionalmente restrito contra alvos protegidos por coletes, anteparos ou em veculos.

    No nosso objetivo discorrer acerca da melhor arma de porte, se revlver ou pistola, ou qual tipo de pistola o mais adequado para uma equipe de segurana. Acreditamos que a melhor arma pistola, revlver, submetralhadora ou fuzil - seja aquela com que o agente de segurana esteja efetivamente familiarizado, que consiga portar preferencialmente de forma dissimulada, num calibre que tenha um razovel stopping-power e da qual saiba fazer perfeito uso quando for necessrio.

    Nos deslocamentos corriqueiros, os agentes portaro suas pistolas em coldres, discretamente, sob o palet. Nos deslocamentos a p, submetralhadoras pequenas (como a HK MP-5K, a Mini-Uzi, a Pistol Uzi, a Scorpion ou a Steyr TMP) so portadas em coldres, sob o palet, ou transportadas em valises especiais, algumas das quais permitem dispar-las de dentro das prprias pastas. Numa formao de agentes em deslocamento, normalmente a submetralhadora portada pelo ltimo homem (ou pelos ltimos, de acordo com o quantitativo de agentes), o qual, em caso de ataque, tem por funo executar o fogo para cobrir a retirada do protegido e dos demais companheiros.

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    Submetralhadoras UZI.

  • Submetralhadora HK MP-5 pode ser portada sob a roupa ou em maletas especiais.

    Submetralhadora INGRAM em maleta especial.

    Modernas espingardas automticas de calibre 12 tambm so altamente efetivas contra pessoas e veculos no blindados, disparando munies mltiplas ou balotes.

    Modernas espingardas de calibre 12 automticas

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  • Fuzis com luneta, para tiro de preciso, podem ser transportados nos veculos, bem como lanadores de granadas como o M-203 ou M-79. Lanadores de granadas acoplados aos fuzis podem ser de utilidade para neutralizar aes de bloqueio com munies explosivas, bem como para lanar granadas de gs, fumaa ou explosivas de efeito moral.

    O emprego disseminado e ostensivo de fuzis e submetralhadoras por uma equipe de segurana deve ser entendido como uma conduta de combate, normalmente empregada na segurana de dignitrios em locais perigosos, principalmente nas regies em guerra, como Iraque, Afeganisto, Colmbia ou reas da frica.

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  • Bastes de tipo telescpico, "soco-ingls", armas atordoantes de eletro-choque (no letal, de altssima voltagem, porm com amperagem muito baixa), granadas atordoantes e aerosis de pimenta tambm so recursos teis para uma equipe de segurana, embora estes ltimos, no Brasil, tambm no estejam disponveis para emprego civil.

    Basto telescpico.

    Armas de choque e espargidores de gs irritante constituem-se numa til opo quanto a armas no letais.

    Os veculos da segurana devero ser mantidos em excelentes condies mecnicas e devem estar munidos de pneus estepes suplementares (no caso dois, principalmente para o caso de viagens), estojos de primeiros socorros (com analgsicos, remdios para enjos, diarria, moderadores de presso etc), caixa com ferramentas, lanternas, mapas rodovirios, mudas de roupa para os agentes e tudo mais que puderem achar necessrio, como binculos, mquina fotogrfica, detector de metais, detector de escutas, munio de reserva para as armas, "speed loaders" para os revlveres e carregadores sobressalentes para as pistolas etc.

    Computadores portteis e Palm Tops so excelentes ferramentas de trabalho, podendo guardar informaes teis ao planejamento das misses, permitir o contato on-line com bancos de dados indispensveis aos levantamentos e investigaes da segurana, comunicaes ou consultas via Internet etc.

    A imagem, a reputao e a privacidade dos segurados tambm so objetos de proteo por parte das equipes de segurana. Hoje em dia, a vigilncia de detetives particulares, chantagistas, reprteres investigativos e escutas clandestinas ("grampos") transformaram-se em verdadeira febre e a proteo do segurado contra a bisbilhotice e as intromisses indesejadas sua privacidade tambm se tornam extremamente essenciais, havendo necessidade de que a segurana esteja dotada de meios para prover a "varredura eletrnica" dos ambientes do protegido, de seus telefones, detectar cmeras escondidas etc.

    4. VECULOS BLINDADOS

    4.1. A BLINDAGEM

    A blindagem de veculos automotivos civis foi desenvolvida como recurso de proteo para projteis disparados contra a rea externa do veculo. No caso da proteo de veculos empregados por alguns chefes de estado, pode abranger tambm resistncia contra disparos de fuzis e metralhadoras pesadas (calibre .50), foguetes antitanque e exploses advindas do solo (minas terrestres). A especificao dos materiais empregados numa blindagem e sua espessura so funo do nvel de proteo escolhido. Que tipo de armas e recursos detm aqueles contra os quais o proprietrio do veculo quer proteger-se? Qual o calibre de tais armas?

    A qualidade dos materiais empregados fator importante para a obteno da resistncia requerida, diretamente relacionada segurana da blindagem. De um modo geral, no Brasil, as blindagens de veculos civis garantem apenas proteo contra tiros de pistolas e submetralhadoras.

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  • Esquema clssico de blindagem de veculo de passageiros.

    A superfcie a ser blindada classificada em duas partes: opaca e transparente. Na regio opaca, a proteo construda com chapas de ao ou com mantas de um material sinttico

    chamado aramida (genericamente chamado de Kevlar), que absorve a energia do impacto.

    Uma amostra da capacidade de reteno de tiros de um laminado de aramida e sua instalao em painis no interior dos os veculos.

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  • Na regio transparente, o vidro deve permitir a segurana contra o projtil, enquanto preserva o necessrio grau de transparncia, para no afetar as condies de dirigibilidade e conforto ao dirigir. Devido baixa resistncia intrnseca dos vidros, a soluo consiste em construir placas com camadas intercaladas de vidro e policarbonato, formando assim "sanduches" que so capazes de resistir aos projteis.

    No processo de blindagem, trocam-se todos os vidros originais por vidros laminados, fabricados especialmente para resistir a impactos balsticos. O nvel de conteno balstica admissvel depende do projeto do vidro blindado em questo. preciso levar em considerao qual a quantidade de energia que ele dever suportar, bem como o tipo e a frequncia do projtil que ser o vetor dessa energia. Praticamente no h limite para o nvel de conteno balstica de um vidro blindado, considerando-se apenas que quanto mais resistente tender sempre a tornar-se mais espesso. O pra-brisa de um automvel de passeio deve poder conter projteis de armas de mo at fuzis de alto calibre; dependendo da tecnologia e do projeto do vidro. Assim como o peso, a espessura do vidro balstico varia de acordo com o nvel de resistncia balstica e da tecnologia empregada na fabricao do mesmo. Atualmente, os vidros de maior nvel tecnolgico apresentam espessuras que variam entre 15 e 25mm, podendo chegar a 50mm no caso das mais sofisticadas "limousines" governamentais.

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  • Atente para a espessura da porta blindada da limousine Cadilac DST usada pelo Presidente dos Estados Unidos.

    Toda a blindagem propriamente dita, compreendida como os vidros blindados, painis balsticos de Kevlar e chapeamentos de ao (utilizados nos reforos e acabamentos), no tm prazo de validade, podendo durar mais que o tempo de vida til do veculo.

    Carros blindados no so diferentes de carros normais, no que diz respeito sua durabilidade. Entretanto, como "carregam peso extra" (as blindagens mais modernas mais bsicas acrescentam normalmente 150 kg ao veculo, o que equivale ao peso de dois adultos), deve-se levar em conta sua capacidade de carga total para no sobrecarregar o veculo. O peso acrescido ao veculo pela blindagem depende de dois fatores:

    - do nvel de proteo da blindagem: quanto maior o nvel de proteo, maior quantidade de material deve ser utilizado no processo de blindagem, e conseqentemente, maior o peso acrescido ao carro;

    - da tecnologia dos materiais utilizados. Deve-se tomar cuidado para no comparar blindagens feitas com tecnologias diferentes, como veremos

    a seguir. Quanto maior a tecnologia utilizada na blindagem, menor o peso que ela apresentar. Como a tecnologia usada nos materiais de blindagem vem da indstria aeronutica e o fator peso em avies crucial para o desempenho destes, as blindagens automotivas acabaram se beneficiando desses desenvolvimentos. Blindagens de ltima tecnologia, para o nvel IIIA da norma NIJ (resistente a projteis de 44 Magnum), devem acrescer cerca de 77 kg de vidro e 30 kg de painis de Kevlar (aramida fabricada pela DuPont), totalizando cerca de 107 kg de materiais nobres. Blindagens de baixa tecnologia, feitas com vidros de 21 mm e painis de ao, devem acrescer cerca de 120 kg de vidro e 147 kg de ao (peso total de 267 kg), ou seja, 140 kg a mais do que no carro descrito anteriormente.

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    O peso da blindagem obrigatoriamente impor restries quanto mobilidade, degradando aspectos de desempenho como a acelerao instantnea, velocidade mxima etc. Caso o perfil de uso do veculo no inclua sua utilizao com plena carga (cinco passageiros + bagagem), o impacto sobre a suspenso e outros sistemas normalmente no ser muito significativo. Se o veculo for constantemente utilizado com plena carga, deve ser prevista a adaptao e reforo da sua suspenso durante o processo de blindagem. No recomendvel blindar automveis com menos de 90 HP, principalmente carros com motor 1.0. Os carros blindados utilizam a capacidade de carga til especificada pelo fabricante para "carregar" a blindagem, como se fosse uma carga ou uma pessoa gorda. Por isso, recomendvel que os carros blindados tenham folga de potncia, o que geralmente se processa nos motores acima de 1.600 cilindradas.

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    O Departamento de Justia dos EUA desenvolveu a Norma NIJ 0108.01, que estabelece os diferentes nveis de blindagem. A cada nvel est vinculada uma quantidade de energia associada ao impacto, que depende da massa, velocidade e calibre (forma) do projtil. So seis os nveis. Por exemplo, a blindagem Nvel II resiste ao calibre 357 Magnum, enquanto a blindagem Nvel III resiste ao calibre 44 Magnum.

    NNvveell ddee BBlliinnddaaggeemm

    TTiippoo ddee MMuunniioo

    EEnneerrggiiaa CCiinnttiiccaa MMddiiaa ddoo PPrroojjttiill

    ((JJoouulleess)) GGrraauu

    ddee RReessttrriioo

    II ..2222 LLRRHHVV

    CChhuummbboo 113333 ((cceennttoo ee ttrriinnttaa ee ttrrss))

    ..3388 SSppeecciiaall RRNN CChhuummbboo

    334422 ((ttrreezzeennttooss ee qquuaarreennttaa ee ddooiiss))

    IIII--AA 99mmmm FFMMJJ

    ((aarrmmaass ccuurrttaass)) 444411 ((qquuaattrroocceennttooss ee qquuaarreennttaa

    ee uumm)) ..335577 MMaaggnnuumm

    JJSSPP 774400 ((sseetteecceennttooss ee QQuuaarreennttaa)) Uso civil

    permitido pela legislao

    brasileira

    IIII 99mmmm MMJJ ((aarrmmaass ccuurrttaass))

    551133 ((QQuuiinnhheennttooss ee ttrreezzee))

    ..335577 MMaaggnnuumm JJSSPP

    ((ccaarraabbiinnaass))

    992211 ((nnoovveecceennttooss ee vviinnttee ee uumm))

    IIIIII--AA 99mmmm FFMMJJ

    ((mmeettrraallhhaaddoorraass)) 772266 ((sseetteecceennttooss ee vviinnttee ee sseeiiss))

    ..4444 MMaaggnnuumm SSWWCC

    CChhuummbboo

    11441111 ((uumm mmiill qquuaattrroocceennttooss ee oonnzzee))

    IIIIII 77,,6622 FFMMJJ ((..330088 WWiinncchheesstteerr))

    33440066 ((ttrrss mmiill qquuaattrroocceennttooss ee sseeiiss))

    Uso restrito

    IIVV ..3300--0066 ((AAPP)) PPeerrffuurraannttee

    44008800 ((qquuaattrroo mmiill ee ooiitteennttaa)) Uso restrito

    Uma vez definido o nvel da blindagem que um veculo ir receber necessrio desmontar algumas de suas partes para a instalao dos materiais de proteo. O nvel de blindagem (II,III,...) vai determinar as caractersticas dos vidros, mantas e chapas de ao. Em seguida os materiais de blindagem so preparados (cortados segundo as dimenses requeridas) para adaptao em cada tipo de veculo. importante que a adaptao recubra toda a superfcie do veculo, com especial ateno s junes dos painis blindados, s quinas, extremidade dos vidros na juno com as portas/carroaria, assegurando que no haja um calcanhar de Aquiles por onde possa haver penetrao de um projtil. Deve ser definido se os vidros sero fixos ou mveis; os vidros mveis requerem adaptao do mecanismo elevador e exigem cuidados na sua utilizao pelo usurio.

    Uma vez concluda a instalao dos materiais, o veculo recebe novamente seu revestimento interior e o acabamento para preservar sua aparncia original.

    4.2. EMPREGO DOS VECULOS BLINDADOS

    4.2.1. Veculos blindados no so invulnerveis. Assim como os veculos blindados militares podem ser incapacitados pelo emprego dos recursos adequados (minas explosivas, msseis guiados ou foguetes antitanque disparados por soldados a p), um carro de passeio blindado pode ser subjugado pela imobilizao, sendo forado a parar numa situao em que os criminosos possam atingi-lo repetidas vezes at provocar o colapso da blindagem, na maioria das vezes disparando contra seus vidros. necessrio no se deixar apanhar numa emboscada.

  • 4.2.2. A grande vantagem do carro blindado consiste em conferir aos seus ocupantes uma maior chance de sobrevivncia nos momentos iniciais de um ataque, proporcionando um mnimo de tempo para que o motorista do veculo possa reagir, saindo do local da confrontao o mais rapidamente possvel.

    4.2.3. Num atentado como um assalto num sinal de trnsito, os vidros blindados normalmente resistiro a dois ou trs impactos prximos uns dos outros, desde que o atirador no consiga colocar seus tiros num mesmo ponto. Isso pressupe que o motorista no dever ficar esperando parado pelos tiros adversrios. A regra vale para todos os veculos blindados ou no: se o carro for alvejado por tiros no pare! Leve-o, o mais rpido que puder, at o local mais seguro que conseguir alcanar.

    A vantagem que os veculos blindados sempre sero mais resistentes s colises, costumam ter pneus especiais, capazes de rodar mesmo vazios por breves perodos.

    Pneus especiais permitem rodar diversos quilmetros mesmo que completamente vazios. Contam com um calo interno que suporta o peso do carro, resiste ao colapso da borracha e permite que se possa conduzir o veculo at um lugar seguro.

    4.2.4. Veculos blindados, sendo mais pesados e menos geis que os congneres sem proteo, no podem ser conduzidos da mesma forma que os veculos mais leves. A grande maioria dos proprietrios de veculos blindados dirige seu carro acreditando numa falsa iluso de invulnerabilidade. Uma lio indispensvel ao motorista a de que ele deve estar sempre atento ante necessidade de executar manobras evasivas e/ou defensivas que vo requerer muito mais percia do condutor. necessrio conhecimento e treinamento para a execuo dessas manobras e um bom curso de direo - onde o agente de segurana/motorista vivencie e aprenda tcnicas de controle do volante, controle de frenagem e manobras evasivas e ofensivas. Tais aes so importantes ferramentas para que se possa extrair os melhores resultados do grande investimento em segurana que adquirir um carro blindado por dezenas de milhares de reais.

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    4.2.5. Existe um significativo histrico de veculos blindados roubados devido desateno de seus motoristas. Lembre-se de que, parado, embarcando ou desembarcando do carro, voc estar vulnervel abordagem por criminosos e por isso deve procurar faz-lo em locais seguros.

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    CAPTULO III ATENTADOS

    1. OBJETIVOS DOS ATENTADOS

    1) Desmoralizao, prejudicando a prpria imagem do segurado, a imagem do grupo ou do governo querepresenta. 2) Roubo3) Furto4) Sequestro, com a finalidade de conseguir vantagem poltica ou buscando lucro financeiro.5) Extermnio6) Poltico

    importante que os agentes de segurana tenham em mente que no esto junto ao dignitrio segurado apenas para proteg-lo de tortas na cara, chuva de ovos podres, tiros, bombas, facadas e pancadas.

    A segurana deve prevenir as aes de espionagem que devassem a vida do dignitrio, suas atividades de cunho profissional e todos os segredos que valham pena preservar. Com a espionagem, se colhe informaes importantes para campanhas de desmoralizao, aes de chantagem ou mesmo para o planejamento de aes de sequestro ou eliminao fsica do dignitrio.

    Para salvaguardar a privacidade do protegido contra a espionagem, devemos nos acostumar discrio e ao sigilo, desenvolver processos de contravigilncia e observar os princpios da compartimentao e do sigilo das informaes. As chaves so o controle e o autopoliciamento, negando ao adversrio o acesso aos segredos do dignitrio bem como do esquema de segurana que o cerca.

    Medidas especiais de segurana devem ser tomadas para proteger as conversaes, documentos, arquivos ou quaisquer dados do protegido sob os quais se pretenda manter sigilo. Depois de uma reunio, rascunhos, bilhetes e mesmo papis brancos sulcados devem ser recolhidos e destrudos. Hoje comum a comunicao de que residncias e gabinetes foram arrombados sem de que nada haja aparentemente sido subtrado de seu interior. Mesmo sendo usual que um dignitrio retire documentos de seu gabinete, para um trabalho noturno ou num final de semana, sua segurana deve estar atenta para que tais informaes no sejam acessadas indevidamente.

    Sob o ponto de vista do espio, ser sempre mais fcil acessar os segredos quando fora do seu local de guarda habitual e a prpria apropriao de tal material poder ser mascarada, deixando sempre uma aura de dvida quanto s reais causas do extravio. Computadores portteis tipo Notebook ou Palm Top, pastas com documentos reservados podem ser facilmente extraviadas, roubadas ou furtadas gerando embaraos para os dignitrios e considerveis prejuzos para suas instituies. Em se tratando de computadores, o furto dos prprios equipamentos ou de seus componentes essenciais de memria deve ser tambm uma preocupao constante da segurana.

    2. PERPETRADORES DOS ATENTADOS

    2.1. rgos da Mdia Muitas vezes, a mdia, em campanha de desmoralizao, excede-se tentando obter uma notcia

    sensacionalista de forma ousada e contra as normas de privacidade. Em Dezembro de 2002, descobriu-se que o jornal britnico "News of World" tramara obter uma mecha de

    cabelo ruivo do prncipe Harry. Pagando para que uma bela mulher seduzisse o rapaz e retirasse uma mecha de seus cabelos, o jornal pretendia encaminhar o material para um exame de DNA e provar que o prncipe seria filho, no do Prncipe Charles, mas do ex-Capito James Hewitt, com quem a princesa Diana teria tido um relacionamento extra-conjugal.

    O ex-Primeiro Ministro John Major viu sua campanha pelos valores da famlia ruir quando os tablides revelaram que, em seu governo, vrios Deputados do Partido Conservador tinham amantes.

  • 2.2. Organizaes No Governamentais (ONG) As ONG, entidades legalmente estabelecidas, contam com uma grande disponibilidade de recursos

    financeiros, alm de uma agressiva militncia de mbito nacional e, mesmo, transnacional. O fato de que, normalmente, deveriam ater-se a protestos pacficos, no as inibem de intentar aes de ocupao de gabinetes e de prdios pblicos, alm de realizar aes mais violentas, como sabotagens, tomadas de refm ou desmoralizao contra os dignitrios que contrariem seus objetivos.

    Ressalte-se que grupos de proposta dita pacfica como a Animal Liberation Front, do Reino Unido, tambm podem descambar para o radicalismo e iniciar campanhas ativas de terrorismo, como, no caso em questo, atravs do envio de bombas postais.

    2.3. Desafetos pessoais Um ex-correligionrio ou um ex-amigo pode tentar aproximar-se do segurado a fim de agredi-lo verbal ou

    fisicamente, valendo-se das mos nuas, de armas brancas, armas de fogo ou qualquer recurso que a sua qualificao pessoal ou profissional permita empenhar contra nosso protegido.

    Para uma equipe de segurana enfrentar o atentado com sucesso, dever buscar conhecimento prvio da existncia do referido desafeto, identificar-lhe as feies e, salvo em casos especialssimos (como, por exemplo, se o antagonista for um exmio atirador, perito qumico, microbiologista ou um especialista em explosivos), apenas lhe caber impedir que o referido cidado possa ter acesso ao dignitrio.

    Conhecer um desafeto antigo e declarado facilita o trabalho da segurana, porm, prevenir a ao de um nico homem pode no se constituir em algo to fcil quanto se pode crer primeira vista. Diferentemente de compls, dos quais vrias pessoas tomam parte (consequentemente aumentando o risco de "vazamento" de uma informao que permita segurana precaver-se), a ao de um nico elemento determinado pode ser de difcil de deteco.

    A tentativa de assassinato do presidente Ronald Reagan e a morte do Primeiro-Ministro Rabin comprovam isso.

    Em Dezembro de 1993, o ento presidente da Alemanha Ocidental, Richard Von Weizsaecker, ao caminhar para a entrada de um teatro em Hamburgo, foi atingido por um violento soco desferido por um senhor de cerca de 50 anos. O homem, de aparncia insuspeita, saiu repentinamente do meio de uma pequena multido que aguardava a chegada do presidente. Tratou-se de um enorme cochilo da segurana, pois o referido elemento, mesmo antes da agresso, j estava na rea do evento distribuindo panfletos que acusavam o dignitrio de ser simpatizante nazista.

    Em Janeiro de 2003, durante o desfile em carro aberto na posse do presidente Lula em Braslia, a segurana presidencial vivenciou momentos difceis quando um professor lanou-se sobre o carro do dignitrio, abraando-o de forma acalorada. A imagem marcante foi mostrada por todos os rgos da mdia e d arrepios imaginar o que teria ocorrido se, aquele homem annimo e decidido, que to rpida e inesperadamente saiu do meio da multido e pulou no pescoo do presidente, acreditasse que tinha um encontro com o destino e pretendesse matar Luiz Incio Lula da Silva.

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  • 2.4. Criminosos comuns Embora se possa estranhar a incluso desse grupo adverso como ameaa contra esquemas de

    segurana bem estruturados, pode-se citar exemplos de bandidos desavisados que, vislumbrando seus alvos em atrativos veculos de luxo, com relgios e jias caras, tentam empreender o roubo, muitas vezes sem aperceber-se da existncia de uma escolta. Diversas autoridades, notadamente em horrios de folga ou em seus deslocamentos, foram alvo de roubos, furtos e at latrocnios. Tais ocorrncias - que bem poderiam ser

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  • dissuadidas pela efetiva presena ostensiva dos agentes de segurana - acabam por desmoralizar, tanto a autoridade, quanto aqueles que se dedicavam a proteg-la.

    Tambm h muito so notrias algumas ocorrncias no Brasil, nas quais, motoristas e agentes de segurana relaxados em face dos riscos cotidianos, esperando por seus protegidos no interior de seus veculos, foram surpreendidos por criminosos comuns, que sequer sabiam quem estavam abordando, perdendo suas armas de forma extremamente humilhante ou mesmo morrendo sem esboar reao.

    2.5. Crime Organizado (CO) Na realidade, o CO constitudo por organizaes criminosas, que dispem de recursos financeiros de

    grande monta, permitindo custear atentados elaborados e dispendiosos. Os modus-operandi variam desde as aes perpetradas por numerosos grupos armados (no estilo bonde, como so chamados os comboios do trfico carioca), s aes com atiradores de longo alcance da Mfia e as bombas dos cartis colombianos.

    Vale lembrar a ao contra o juiz Giovanne Falcone na Siclia, Itlia, em 1992, quando a Mfia identificou diversas rotas empregadas nos deslocamentos do magistrado, minou (com cerca de uma tonelada de explosivos) uma extenso de 50m de estrada, e detonou a carga com extrema preciso, no momento em que o comboio da autoridade passava pelo local a 100Km/h. Ressalte-se que, por extremo zelo da segurana, os deslocamentos do Juiz eram cercados de grande sigilo e somente um nmero muito restrito de pessoas sabia exatamente quando e por quais meios a autoridade iria viajar. A exploso foi to violenta que vitimou o juiz, sua esposa e os seguranas os quais empregavam normalmente veculos blindados.

    Viso panormica da rea do atentado contra o Juiz Giovanne Falcone.

    No Brasil, em Novembro de 1996 e Agosto de 1997, foi noticiado pela imprensa a descoberta de cartas e outros indcios de que a criminalidade organizada (no caso, sequestradores e traficantes de txicos do Rio de Janeiro) planejaria atentar contra deputados, juzes e procuradores de justia. So muitos os exemplos de crimes de morte perpetrados contra autoridades pblicas no Brasil e no se pode descartar que tais aes partam de segmentos do crime organizado. A disponibilidade de recursos financeiros desses criminosos enorme e em

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  • 2002, as escutas telefnicas da polcia num presdio de segurana mxima apontavam que o narcotraficante brasileiro Fernando Beira-Mar estaria negociando a compra de um mssil anti-areo Stinger. Embora os analistas concordem que a aquisio e o emprego de um mssil fugiriam ao perfil das aes do trfico, as apreenses de armas demonstram que a combinao de recursos (como os lanadores de foguetes antitanque, minas terrestres, lanadores de granadas e metralhadoras pesadas) e a consultoria pela qual podem pagar, lhes facultam atingir quaisquer autoridades, se assim o desejarem.

    Uma amostra dos armamentos apreendidos com a criminalidade no Brasil demonstram que a criminalidade dispe, se desejar, dos meios necessrios execuo de atentados muitssimo violentos e altamente letais.

    Considerando que a criminalidade est cada vez mais ousada e capaz de realizar aes de cunho tipicamente terrorista, como as que praticamente pararam So Paulo e diversas outras cidades do Estado em Maio de 2006, no se pode negligenciar a hiptese de um atentado de sequestro ou mesmo de assassinato.

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  • 2.6, Assassinos Profissionais Profissionais do extermnio, normalmente agem de forma seletiva, focando apenas seus alvos

    especficos. Estudam pormenorizadamente seus alvos, anotam seus hbitos e rotinas, a segurana que os cerca, planejam suas aes de forma a poderem efetuar o atentado com xito sem se exporem possibilidade de captura. Variando em direta relao com a importncia de seus alvos (e tambm da segurana que os protege) podem empregar meios tecnologicamente caros e sofisticados como armas longas com lunetas, miras infravermelhas, lanadores de foguetes, venenos, substncias radioativas, artefatos explosivos disfarados etc.

    Um assassino com arma longa at pode no se parecer com o personagem do Dia do Chacal mas pode ser igualmente temvel, sobretudo se bem camuflado

    2.7. Psicopatas Embora as aes desses grupos variem desde a simples agresso fsica de mos nuas s facadas e

    tiros queima roupa, o principal risco repousa na absoluta imprevisibilidade de suas aes. No se pode estimar quem poder atentar, onde agir, quando e por quais meios, gerando uma indefinio extremamente perigosa para a segurana.

    Apesar de que alguns desequilibrados mentais possam ser facilmente identificveis (e por conseguinte previsveis, como o inofensivo Beijoqueiro, que se notabilizou por oscular personalidades como o cantor Frank Sinatra, o Papa Joo Paulo II e inmeras outras celebridades) outros, dos quais ningum desconfiaria, a priori, j provaram ser capazes de disparar contra presidentes ou celebridades.

    Em 2002, um jovem de 25 anos, politicamente radical e visivelmente desequilibrado, sem muito planejamento, disparou com seu rifle calibre .22 contra o Presidente da Frana, Jacques Chirac, desfilando em carro aberto no feriado nacional do 14 de Julho. No acertou e foi dominado por populares antes mesmo da chegada do policiamento ostensivo disposto no local.

    Menos de trs meses depois, um muulmano francs, que j esteve sob tratamento psiquitrico, esfaqueou no abdome o prefeito de Paris, o qual sempre dispensou segurana pessoal. Preso, o autor do atentado alegou detestar polticos e especialmente dos homossexuais.

    Ficou famoso o caso do professor americano Theodore Kaczynski, mais conhecido como Unabomber, um professor universitrio desequilibrado mental que vivia isolado numa casa nas montanhas, que enviou bombas para dezenas de vtimas, at ser capturado pelo FBI, em 1996.

    No Brasil, ficaram famosos os casos como o do motorista Joo Antnio Gomes, o qual, bbado, em Maio de 1989, furtou um nibus na Rodoviria de Braslia e adentrou com o mesmo no Palcio do Planalto, subindo a rampa e estacionando o veculo dentro do saguo, a apenas cinco metros do elevador privativo do Presidente da Repblica; e em Agosto do mesmo ano, um vendedor desempregado, que quase atingiu o Presidente Sarney com tinta. Na ocasio, diz-se que a substncia vermelha seria sangue do prprio autor do atentado, contaminado com o vrus HIV.

    Em Junho de 1993, em Braslia, a deciso do presidente Itamar Franco de manter os seus seguranas afastados, provocou um grande constrangimento, quando, ao assistir uma missa na Catedral de Braslia, um homem, aparentando distrbios mentais, beijou a mo do