sei - juventude e mercado de trabalho
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7/26/2019 SEI - Juventude e Mercado de Trabalho
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JUVENTUDE: MERCADO DETRABALHO E POLTICAS PBLICAS
ISSN 0103 8117
BAHIAANLISE & DADOS
SALVADOR
v. 21 n. 1 JAN./MAR. 2011
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BAHIA ANLISE & DADOS
Bahia anl. dados Salvador v. 21 n. 1 p. 1-196 jan./mar. 2011Foto:Stockxchng/mblomqvist
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Secretaria do Planejamento (Seplan)Antnio Alberto Valena
Superintendncia de Estudos Econmi cose Sociais d a Bahia (SEI)
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Editoria de ArteElisabete Cristina Teixeira Barretto, Aline Santana, Mariana Gusmo
CapaJulio Vilela
Editorao
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Nando Cordeiro
Bahia Anlise & Dados, v. 1 (1991- ) Salvador: Superintendncia de Estudos Econmicos eSociais da Bahia, 2011.
v.21 n.1 TrimestralISSN 0103 8117
CDU 338 (813.8)
Impresso: EGBATiragem: 1.000 exemplares
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SUMRIO
Foto:Stockxchng/ValdasZajanckauskas
Apresentao 5
Os jovens de 15 a 19 anos e o dilema trabalho-estudo: algumas questes relevantes para
pensar as polticas pblicas no BrasilAngela Welters
7
Os jovens e o mercado de trabalho nasgrandes regies brasileiras: realidade,
diculdades e possibilidades no contextorecente
Carlos Eduardo Ribeiro SantosMagila Souza Santos
25
Insero dos jovens nos mercados de trabalhometropolitanos:Uma dcada de desigualdades
entre os grupos etriosThaiz Braga
43
Os jovens e seus desaos no mercado detrabalho
Leila Luiza Gonzaga
63
O trabalho de crianas e adolescentes nasruas: o caso de Minas Gerais
Frederico Poley Martins Ferreira
75
A experincia do Programa Primeiro Empregona Regio Metropolitana de Porto Alegre
Raul Lus Assumpo Bastos
87
Consrcio Nacional da Juventude e terceirosetor: analisando o formato de intermediao
de interesses e as possibilidades deconstruo de polticas pblicas para os jovens
Ana Claudia FarranhaSandson Barbosa Azevedo
105
Juventude e participao:o caso da aocomunitria do ProJovem
Cristiane Brito MachadoRobinson Moreira Tenrio
117
A poltica de cotas para estudantes negros nas
universidades brasileirasJos Carrera-FernandezLudymilla Barreto Carrera
135
Juventude, desigualdades e mercado detrabalho na Bahia
Flvia Santana RodriguesJair Batista da Silva
155
Sobre a situao juvenil na agricultura familiargacha
Nilson Weisheimer
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Foto:Agecom
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APRESENTAO
Este nmero da Bahia Anlise & Dadosbusca contribuir para a discussode uma questo crucial para a juventude brasileira, que a sua insero
no mercado de trabalho, considerada como um dos aspectos centrais
para a compreenso da prpria juventude como destacado fenmeno social
contemporneo. Trata-se, seguramente, de um tema especco que, ao lado de
outros, a exemplo da sade e da educao, frequentemente tem pautado as
aes governamentais e polticas pblicas voltadas para esse grupo etrio, ao
menos em tese.
A abordagem dessa temtica deve contemplar alguns pontos fundamentais.
Um deles diz respeito distncia que separa um leque relativamente amplo depotenciais vocaes dos jovens e sua insero concreta no mundo do trabalho,
geralmente mais modesta. Um outro se refere ao fato de que a necessidade
de garantir uma passagem bem-sucedida da escola ao mercado de trabalho,
sobretudo em contextos de desemprego estrutural, resulta muitas vezes
em trabalho de carter precoce, que antecede a sada da escola e implica
diculdades na continuidade dos estudos, revelando-se como verdadeiro bloqueio
a oportunidades futuras.
Nesta seleo de artigos aqui reunidos, os autores, em graus variados e cada
um de acordo com sua perspectiva disciplinar, conseguiram abarcar diferentes e
importantes aspectos que conguram tal questo. Com efeito, as contribuies
que se seguem comeam por avaliar de que modo posicionam-se os jovens no
mercado de trabalho, em diferentes espaos, bem como as tessituras com que se
deparam quanto a desaos e possibilidades de insero efetiva. Contextualizadas
as tramas, outras contribuies passam a destacar as estratgias de orientao
para a reproduo social, traadas no mbito das polticas pblicas nacionais e
subnacionais, tanto no que diz respeito formao do jovem quanto minimizao
do seu envolvimento em situaes consideradas como marcadas por risco social,
mais ou menos elevado.
Feitas as consideraes preliminares, e longe de pretender encerrar o debateem torno dos contedos propostos, a Superintendncia de Estudos Econmicos
e Sociais da Bahia torna pblico o seu reconhecimento a todos aqueles que
contriburam para o sucesso resultante desse esforo intelectual. A comear pelo
seu corpo tcnico, o qual se empenhou com esmero em todas as etapas de
elaborao desta edio da revista. Agradecimentos especiais so devidos aos
colaboradores, por seus relevantes trabalhos, bem como aos pesquisadores que,
gentilmente, aceitaram o convite para compor o conselho especial temtico da
presente publicao, o que muito honrou esta instituio.
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BAHIAANLISE & DADOS
Os jovens de 15 a 19 anose o dilema trabalho-estudo:algumas questes relevantespara pensar as polticaspblicas no BrasilAngela Welters*
Resumo
Este trabalho teve o propsito de investigar a situao dos lhos adolescentes de acor-do com sua insero produtiva e frequncia escolar. Constatou-se que se trata deum grupo bastante heterogneo, que apresenta situaes bem distintas em termos defrequncia escolar e insero econmica. Os resultados sugerem que o aumento dasdiculdades de participar da atividade econmica afetou principalmente os adolescen-tes de famlias que no tm alto nvel de renda. Esses resultados raticam tambm a
precria insero dos jovens no mercado de trabalho. Assim, o ideal consolidar oprocesso de adiamento de entrada dos jovens no mercado de trabalho e no restauraro mercado de trabalho para os jovens nesta faixa etria. Este fato importante nosomente sob a tica das condies de vida desta populao, mas, sobretudo, para umamelhor estruturao do mercado de trabalho.Palavras-chave: Adolescentes. Jovens. Mercado de trabalho. Educao. Emprego.
Abst rac t
This work was meant to investigate the situation of adolescents according to their pro-ductive integration and school attendance. It appeared that this is a very heterogeneousgroup, which has very different situations in terms of school attendance and economicintegration. The results suggest that the increase of the adolescents difculties to par-
ticipate in economic activity affected mainly those from families with low level of income.The results also conrm the poor integration of young people in the labor market. So,we believe that the ideal is to consolidate the process of postponing the entry of youngpeople in the labor market and not to restore the job market for this age group. This factis important, not only considering the life conditions of these populations, but above allfor a better structuring of the labor market.Keywords: Adolescents. Youth. Labor market. Education. Employment.
* Doutora em Desenvolvimento Eco-nmico pela Universidade Estadualde Campinas (Unicamp); professo-ra do Departamento de Economiada Universidade Federal do Paran(UFPR)[email protected]
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OS JOVENS DE 15 A 19 ANOS E O DILEMA TRABALHO-ESTUDO: ALGUMAS QUESTES RELEVANTESPARA PENSAR AS POLTICAS PBLICAS NO BRASIL
APRESENTAO
O presente artigo traz alguns resultados de pesqui-
sa recente (WELTERS, 2009) sobre a situao dos
jovens entre 15 e 19 anos na condio de lhos se-
gundo sua insero produtiva e frequncia escolar.
A hiptese a de que a condio socioeconmica
da famlia, o sexo do jovem, a sua estrutura familiar,
bem como a regio de moradia denem situaes
bastante distintas do ponto de vista da participao
na PEA e continuidade dos estudos.
A literatura sobre o tema mostra que a inser-
o dos jovens no mercado de trabalho cerca-
da de polmica, sobretudo, pela discusso acerca
de seus impactos sobre as condies de sade e
tambm no desempenho escolar. Portanto, no
existe um consenso a respeito da idade adequada
para entrada dos jovens no mercado de trabalho.
Contudo, enfatizada na literatura a importncia
da concepo de juventudes, no sentido de hete-
rogeneidade de caminhos de vida e diferenas na
condio juvenil de acordo com o contexto em que
o jovem est inserido.
De maneira geral, os estudos na rea sugerem
que a entrada dos jovens no mercado trabalho sejamotivada no somente pela necessidade de com-
plementar a renda familiar, mas pela satisfao de
suas necessidades de consumo, pela busca de
construo da sua prpria identidade e, sobretudo,
de autonomia. Desta forma, muitos argumentam
que o trabalho um elemento socializador e uma
maneira de afast-los da violncia e da marginali-
dade, em especial, para os jovens de famlias po-
bres (MADEIRA, 1986, 1993, 1998; SARTI, 2000;
LEITE, 2002; BORGES, 2006b). evidente tambm que a adolescncia uma fase
da vida que compreende um conjunto de mudanas
psicolgicas, intelectuais e tambm biolgicas. um
perodo de formao da personalidade e tambm de
muitos conitos e dvidas. s incertezas e s dvidas
inerentes a esta fase de vida soma-se uma nova pro-
blemtica relativa s mudanas na esfera familiar e
tambm na economia e no mercado de trabalho.
Por outro lado, observa-se que a reduo das
oportunidades para os jovens no mercado de traba-
lho, desde os anos 1990, ocorre simultaneamente
ao processo de desestruturao do mercado de tra-
balho brasileiro, cujas principais caractersticas so
o crescimento do desemprego, a diminuio dos
empregos assalariados no total da ocupao e o
incremento nas ocupaes precrias, sem carteira
assinada, por conta prpria e sem remunerao.
Deste modo, a dinmica econmica pouco favo-
rvel criao de novos empregos esteve relacio-
nada com o aumento da inatividade e do desempre-
go entre os jovens nos anos 1990. Nas mudanas
vericadas no mercado de trabalho, destacam-se o
fechamento de portas de entrada tradicionais para
os jovens e tambm uma maior seletividade no
recrutamento de mo de obra, notadamente, pela
maior exigncia de escolaridade.
Se o mercado de trabalho fecha suas portas
para os jovens, o sistema educacional absorve
um nmero crescente de crianas, adolescentes
e jovens. Os avanos do sistema educacional em
termos de ampliao do acesso escola so evi-
dentes, quando se compara o incio dos anos 1990
e 2006. Porm, ainda cerca de um em cada quatroadolescentes no frequenta a escola, segundo da-
dos da PNAD em 2006. Um fato ainda mais preo-
cupante que uma parcela no desprezvel (13,9%)
destes jovens que esto fora da escola sequer sabe
ler e escrever. Portanto, a melhoria nas condies
educacionais dos jovens desde os anos 1990 no
permite armar que se logrou solucionar o grande
problema da defasagem escolar. Assim sendo, o
afastamento dos adolescentes da escola constitui-
se numa situao muito preocupante, principalmen-te pelas suas implicaes nas condies de vida e
de futuro desta gerao.
Diferentemente do debate em torno da proprie-
dade do ingresso dos jovens no mercado de tra-
balho, de relativo consenso que os jovens nesta
faixa etria (15 a 19 anos) devem dedicar-se aos
estudos, preferencialmente, de forma exclusiva.
No obstante, muitos deles j esto voltados para
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ANGELA WELTERS
o mercado de trabalho, seja para contribuir com o
sustento da famlia, seja por motivaes pessoais.
Neste contexto, surge uma grande discusso sobre
a necessidade de melhorar as condies de inser-
o dos jovens no mercado de trabalho e comba-
ter o desemprego nesta faixa etria. Entretanto, as
desigualdades sociais e as diferenas na condio
juvenil denem cenrios distintos na vida dos ado-
lescentes brasileiros. A compreenso desta diversi-
dade uma das nalidades deste estudo. Portanto,
entender de que maneira os lhos adolescentes
se inserem no contexto escola-trabalho e tambm
de que forma estes jovens e suas famlias vm-se
adaptando s mudanas no cenrio econmico e
no mercado de trabalho nosso objetivo principal.
Desta maneira, este trabalho busca contribuir
para a atribuio de prioridades no que concerne
a esta populao de maneira especial, destacan-
do o papel das polticas pblicas, sobretudo no que
concerne melhoria nas suas condies de vida e
perspectivas de futuro.
SOBRE O CONCEITO DE JUVENTUDE
A noo de juventude faz referncia fase da vida
em que o indivduo transita entre a infncia e a ida-
de adulta. A magnitude dessa fase varia conforme
a sociedade e o tipo de cultura, mas tambm de
acordo com a classe social, o gnero e a etnia, por
exemplo. Tendo em vista esta diversidade de situ-
aes, a forma mais simples de denir este grupo
populacional parece ser o critrio etrio1. Alis, a
ambiguidade do termo juventude e as diferentes
abordagens do tema so aspectos ressaltados naliteratura (ABRAMO, 2005; CASTRO, 2002; SPO-
SITO, 2003; BORGES, 2007).
Nos diversos estudos sobre juventude, depara-
mo-nos, contudo, com variaes no que se refere
caracterizao etria deste grupo. Ademais, os
1 um critrio pragmtico, uma vez que permite uma anlise objetivano que concerne ao padro estabelecido nas estatsticas ociais.
termos adolescentes, jovens e juventude so
utilizados sem grande distino no apenas pelos
estudiosos do tema como tambm por governos ou
organismos internacionais.
Esta caracterizao mediante o critrio da ida-
de observada tambm na denio dada por
organismos internacionais como a UNESCO e as
Naes Unidas, segundo a qual a adolescncia
refere-se ao perodo compreendido entre os 15
e os 24 anos de idade. De maneira diferente, a
Organizao Pan-americana de Sade e diversos
autores subdividem esta categoria em duas faixas,
sendo adolescentes entre 15 e 19 anos e jovens
entre 20 e 24 anos. Variaes na delimitao das
faixas etrias so observadas tambm nos diver-
sos estudos sobre juventude. No Brasil, o Estatuto
da Criana e do Adolescente estabelece que todas
as pessoas entre 12 e 18 anos so adolescentes.
No obstante, o total da populao jovem no Brasil
, segundo denio da Secretaria Nacional da
Juventude, composto pelos indivduos entre 15 e
29 anos (VIEIRA, 2007, p. 8).
Neste trabalho, considera-se adolescentes to-
das as pessoas entre 15 e 19 anos, e as expresses
jovens, adolescentes e juventude sero utiliza-das ao longo do texto para denominar este grupo
etrio. Esta escolha referendada por diversos
estudos importantes, em especial pelos conceitua-
dos trabalhos de Felcia Madeira e Alcia Bercovich
(MADEIRA, 1986,1998; BERCOVICH; MADEIRA;
TORRES, 1998).
Cabe ressaltar que a juventude pode ser denida
tambm, em termos sociolgicos, como um perodo
de transio entre a infncia e a idade adulta, sendo,
portanto, caracterizado pelas seguintes etapas: a)sada da escola; b) entrada no mercado de traba-
lho; c) constituio da famlia e de um novo domiclio,
alm da chegada dos lhos2. Deste modo, seria a sa-
da de uma condio de dependncia para outra de
autonomia. Esta trajetria linear entre os eventos que
2 Sobre a construo do conceito de juventude nas Cincias Sociais,ver Pais (1990).
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compem esta passagem da juventude para a vida
adulta tem-se modicado, de modo que so mltiplas
as trajetrias possveis, tendo em vista principalmente
a heterogeneidade deste segmento populacional, de
acordo com sua condio socioeconmica (e de sua
famlia), gnero, raa, posio na famlia etc.3. Assim,
entre os mais pobres, pode-se ter uma antecipao
de responsabilidades pelo sustento do lar, exigindo
sua entrada precoce no mercado de trabalho, bem
como, entre os de renda mais elevada, podem-se
constatar situaes em que atingem a idade adulta
sem assumir os papis a ela inerentes, mantendo a
dependncia dos pais. Com efeito, complicado fa-
lar em juventude brasileira, uma vez que se trata de
uma categoria to heterognea quanto a populao
em geral, cujas diferenas de ordem socioeconmi-
ca, assim como familiares e demogrcas, revelam
circunstncias bastante particulares.
Seguramente, a posio que o jovem ocupa na
famlia determinante na sua condio de economi-
camente ativo ou inativo, bem como est associada a
um conjunto de caractersticas e expectativas distin-
tas em relao ao seu futuro. A opo utilizada nesse
trabalho foi focar a anlise nos lhos adolescentes
com idade entre 15 e 19 anos. Portanto, jovens queainda no completaram a transio para a vida adul-
ta, que normalmente considerada a partir da vida
produtiva e a constituio de um novo domiclio. No
Brasil, os adolescentes na condio de lhos repre-
sentam, em mdia, 80% dos jovens na faixa etria
entre 15 e 19 anos, ou mais de 13,5 milhes de in-
divduos em 2006, segundo dados da PNAD. Dessa
forma, tanto pela sua expressividade em relao ao
total do grupo, quanto pelas suas caractersticas do
ponto de vista da fase de vida, este ser o grupo po-pulacional utilizado como base nesse trabalho. Alm
desta delimitao etria do grupo, o trabalho preten-
de segment-lo conforme o sexo do jovem, renda fa-
miliar per capita, tipo de famlia em que est situado
e tambm segundo as grandes regies do pas.
3 Para a discusso acerca da diversidade das transies, ver: Abramo(2005); Camarano (2006); Vieira (2007).
A PARTICIPAO NA PEA E A FREQUNCIA
ESCOLAR
A relao entre os adolescentes e o mercado de
trabalho tem-se modicado desde o incio dos
anos 1990, notadamente, pela reduo na parti-
cipao na PEA e consequente aumento da ina-
tividade para os jovens nesta faixa etria, se se
compara 1992 e 2006.
A simultaneidade da queda na taxa de participa-
o do jovem ao aumento da taxa de desemprego,
que resulta em expressiva reduo da taxa de ocupa-
o, sinaliza o peso da deteriorao do mercado de
trabalho para os jovens. importante ressaltar que as
ltimas dcadas no Brasil foram caracterizadas pormudanas importantes no mercado de trabalho, com
incremento da precarizao e informalidade, num ce-
nrio de relativa estagnao econmica. Contudo, a
partir de 2002, observa-se uma importante melhora
nos indicadores relativos ao mercado de trabalho,
inclusive com crescimento do emprego formal, es-
pecialmente pelo contexto mais favorvel ao cresci-
mento econmico. Assim, as diculdades na insero
econmica destes jovens permanecem, a despeito da
melhora geral das condies do mercado de trabalho.Ademais, no curto prazo, as mudanas so menos
intensas neste cenrio, visto que a queda na participa-
o entre 2002 e 2006 bem menos relevante. Este
fato indica que, apesar da continuidade desta queda
comprovada at 20084, a insero econmica deve
4 De acordo com estudo de Baltar e outros (2010, p. 10-11), a queda naparticipao dos jovens na PEA persiste at 2008 (dados da PNAD).
Tabela 1Taxas de part icipao na PEA (1)para os jovensentre 15 e 19 anos, segundo sexoBrasil anos selecionados
Variveis1992 2002 2006
Taxa de parti cipao na PEA (%)
Jovens 15-19 59,7 50,1 49,9Fonte: Microdados PNAD 1992, 2002 e 2006. Elaborao prpria.Nota: (1) Para manter a comparabilidade em 2006 foram excludos os dados do Norte rural.
Foi utilizado o conceito amplo de PEA, ou seja, o exerccio da atividade econmi-ca em atividades remuneradas ou no remuneradas, bem como em atividades deproduo para o prprio consumo ou na construo para o prprio uso.
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ANGELA WELTERS
permanecer ainda muito signicativa, o que sugere
que as anlises realizadas neste trabalho para o ano
de 2006 permanecem vlidas.
No Brasil, apesar do declnio na taxa de partici-
pao dos jovens entre 15 e 19 anos na populao
economicamente ativa (PEA), ela ainda expressiva,
uma vez que, em mdia, a metade dos jovens nesta
faixa etria est na PEA, de acordo com os dados da
PNAD de 2006. A taxa de participao na PEA dos
jovens entre 15 e 19 anos no Brasil supera a de pa-
ses com nvel similar de desenvolvimento na Amrica
Latina5.. Em 20056, a taxa de atividade no Brasil era
de 52% no Chile, 12%; Argentina, 25%; Uruguai,
33%; e Mxico, 36% , entre as mais expressivas
da regio, assemelhando-se aos patamares obser-
vados em pases como Peru (51%) e Paraguai (50%).
importante destacar, entretanto, que a participao
no signica emprego, mas a disposio em t-lo,
visto que as taxas de desemprego entre os jovens
nesta faixa etria so bastante expressivas. Cabe re-
alar tambm que os padres de insero produtiva
dependem de uma srie de fatores relativos famlia
ou ao prprio individuo (cultura, valores, nvel socio-
econmico etc.), alm da legislao laboral e das
condies de estruturao do mercado de trabalhode cada pas7. A despeito dessas especicidades, o
Brasil se diferencia na regio em virtude do grande
nmero de jovens voltados para o mercado de tra-
balho nesta faixa de idade, o que expressa a pouca
estruturao desse mercado no pas.
Deve-se destacar, no entanto, que estas estats-
ticas consideram os jovens entre 15 e 19 anos de
forma indistinta, englobando aqueles que j constitu-
ram famlia, os quais se diferenciam bastante daque-
les que ainda se encontram na dependncia de seuspais. Certamente, a posio que o jovem ocupa na
5 A comparao entre os patamares de insero produtiva dos jovensna regio tem por objetivo apenas ilustrar a condio dos adolescen-tes no mercado de trabalho, sem, contudo, esboar explicaes so-bre esta diferenciao, o que deslocaria completamente o foco denosso trabalho.
6 Dados OIT (2007).7 Alm disso, a cobertura das estatsticas nacionais diferente, uma
vez que em alguns casos referem-se apenas rea urbana. DadosOIT (2007).
famlia determinante na sua condio de ativo ou
inativo e tambm das oportunidades educacionais.
Considerando que o ideal que estes jovens perma-
neam na escola, cabe vericar em que medida isto
uma realidade para estes indivduos de ambos os
sexos e nas diferentes regies brasileiras.
A situao para o total dos jovens nesta faixa et-
ria est distante do desejvel, pois em torno de 25%
no frequenta a escola. Entre os homens, o cenrio
ainda pior, visto que esse ndice chega a quase
30%, enquanto entre as mulheres essa proporo
de 20%. So muito pequenas as diferenas regionais
no que diz respeito frequncia escolar dos homens
adolescentes. J entre as mulheres, notam-se dife-
renas regionais mais importantes e, ao contrrio
do que se poderia esperar, a frequncia escolar das
adolescentes mulheres menor exatamente nas re-
gies mais desenvolvidas (Sudeste e Sul).
A situao mais distante do ideal a do jovem
que no estuda nem participa da PEA. Para o total de
adolescentes, a frequncia desta situao de 7%,
havendo pouca diferena por sexo, bem como entre
as diferentes regies. Como se observa, o fenmeno
no desprezvel e atinge um nmero considervel
de adolescentes (900 mil em 13,5 milhes no conjunto
do pas). Em geral, estes jovens so considerados umproblema social e, em alguns casos, policial. Esta si-
tuao encerra um conjunto de vulnerabilidades, uma
vez que a baixa escolaridade e o analfabetismo fazem
parte da vida dos jovens envolvidos com a violncia,
seja como vitima ou agressor.
Uma situao mais comum a dos adolescentes
que no estudam, mas participam da PEA. Entre os
jovens do sexo masculino, esse ndice ca entre 22%
Tabela 2Percentual de adolescentes (1)que estudam,segundo sexo e regies 2006
Regioe sexo
Norte Nordeste Sudeste SulCentro-Oeste
Total
Homem 70,2 71,4 70,2 69,5 72,0 70,6
Mulher 83,2 81,6 76,9 78,3 81,9 79,2
Total 75,6 75,8 73,4 73,6 76,4 74,5Fonte: Microdados da PNAD 2006. Elaborao prpria.Nota: (1) Apenas para jovens na condio de lhos.
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e 25%, enquanto para as mulheres, entre 8% e 16%.
So mais de 2,5 milhes de jovens que se dedicam
exclusivamente atividade econmica, seja por op-
o ou imposio econmica.
A parcela de jovens de ambos os sexos nesta
situao maior no Sul e Sudeste, enquanto que a
parcela daqueles fora da PEA e tambm da escola
um pouco maior nas regies Norte e Nordeste. Assim,
o maior nmero de adolescentes mulheres fora da es-
cola nas regies mais desenvolvidas est relacionado
com sua maior participao na atividade econmica.
Um fato ainda mais preocupante que uma par-
cela no desprezvel (13,9%) destes jovens que esto
fora da escola sequer sabe ler e escrever. A propor-
o de adolescentes nesta condio maior entre
aqueles fora da PEA e que pertencem a famlias comrenda per capita de at meio salrio mnimo, em es-
pecial do sexo masculino e moradores do Nordeste
e Norte do pas. Isso denota que este um problema
muito relacionado ao nvel socioeconmico da fam-
lia e que tende a perpetuar as condies de pobreza
e excluso atravs das geraes.
Conciliar trabalho e estudo uma realidade muito
comum entre os adolescentes brasileiros. Porm, en-
tre homens e mulheres, as taxas de participao so
maiores para os adolescentes que j no estudam.As diferenas regionais tambm so expressi-
vas. As participaes, tanto entre os que estudam
como entre os que j no esto na escola, so mais
elevadas nas regies mais desenvolvidas (Sudeste,
Sul e Centro-Oeste, comparativamente ao Norte e
Nordeste). A nica exceo a taxa de participao
relativamente alta no Nordeste para os adolescentes
homens que ainda frequentam a escola.
Partindo do pressuposto de que a situao ideal
para os adolescentes seja frequentar a escola e es-
tar fora da PEA, nota-se que as mulheres apresen-
tam uma condio mais favorvel que os homens.
A maior parte das mulheres adolescentes apenas
estuda, em especial no Norte e Nordeste, enquan-
to que a parcela de homens nesta situao bem
menor comparativamente s mulheres em todas as
regies do pas. So em mdia mais da metade das
mulheres e menos de 40% dos homens nesta faixa
etria que esto fora da PEA e estudam.
Este fato demonstra que os adolescentes apre-sentam pers diversos em termos de estudo e par-
ticipao na PEA de acordo com a regio do pas e,
sobretudo, o sexo. A maior permanncia das jovens
do sexo feminino na escola pode ser um reexo da
sua menor presena na PEA ou ainda de questes
culturais ou familiares que imponham em primeiro
lugar o trabalho para os lhos do sexo masculino.
possvel observar que, para o total dos ado-
lescentes, a maior parcela est na escola e fora da
PEA: em mdia, 44%. Em termos regionais, o Sul a regio com menor proporo de jovens fora da
PEA que esto na escola (38%), e, ao contrrio, na
Regio Norte, quase a metade dos adolescentes
(49%) est nesta situao. Igualmente, so nas regi-
es mais desenvolvidas do pas (Sudeste e Sul) que
se observam percentuais acima da mdia nacional
de jovens nesta faixa etria que somente esto na
PEA, ocupados ou procurando emprego.
Tabela 3Percentual de adolescentes (1) que participam daPEA e no estudam, segundo sexo e regies 2006
Regioe Sexo
Norte Nordeste Sudeste SulCentro-oeste
Total
Homem 22,6 21,6 24,6 24,6 22,5 23,4
Mulher 8,6 9,7 16,1 15,1 11,1 13,3
Total 16,8 16,4 20,5 20,3 17,5 18,8
Fonte: Microdados da PNAD 2006. Elaborao prpria.Nota: (1) Apenas para os lhos adolescentes.
Tabela 4Taxa de participao na PEA dos adolescentes (1),segundo regio, sexo e frequncia escolar 2006
Regioe sexo
Norte Nordeste Sudeste SulCentro-Oeste
Total
Homem
Estuda 43,2 49,1 43,3 55,4 48,2 47,1
Noestuda 76,0 75,5 82,6 80,8 80,4 79,5
Mulher
Estuda 26,7 33,1 36,7 41,7 35,8 35,5
Noestuda 51,5 52,7 69,6 69,7 61,3 63,8
Fonte: Microdados da PNAD 2006. Elaborao prpria.Nota: (1) Apenas para os lhos adolescentes.
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Em resumo, constatou-se que ainda elevada,
principalmente entre os homens, a proporo dos
que esto fora da escola, e no desprezvel (nem
para os homens nem para as mulheres e em todas as
regies do pas) a frao dos adolescentes que j no
estudam e nem sequer participam da atividade eco-
nmica. mais expressiva, entretanto, principalmente
entre os homens, a frao de adolescentes que no
estudam, mas esto trabalhando ou procurando em-
prego. Entre os adolescentes, a taxa de participao
dos homens maior do que a das mulheres e, para
ambos os sexos, essa taxa mais elevada entre os
que j no estudam do que entre os que continuam
estudando. Ou seja, a probabilidade de o adolescente
trabalhar ou procurar emprego inuenciada pelo fato
de estar estudando ou no. Porm, tambm impor-tante a existncia de oportunidades para o adolescen-
te trabalhar, posto que as taxas de participao so
maiores nas regies mais desenvolvidas do pas. Isto
se verica para ambos os sexos entre os que j no
estudam e entre os que ainda continuam na escola.
Pode-se perguntar at que ponto a renda familiar
inuencia a condio de vida e as oportunidades dos
adolescentes brasileiros. Ou tambm se a estrutura fa-
miliar tem maior peso na hora de decidir se o jovem ir
estudar, trabalhar ou combinar as duas atividades.Sem dvida, so evidentes as diferenas entre
a situao dos jovens em famlias com renda aci-
ma de dois salrios mnimos em comparao com
os das duas faixas de menor renda. A parcela de
jovens que apenas estudam de 60% para as fa-
mlias de renda mais elevada e cerca de 40% para
as famlias das duas faixas de menor renda fami-
liar per capita (Tabela 6). Alm disso, o percentual
de jovens que conjugam trabalho e escola, bem
como daqueles que apenas esto voltados para
o mercado de trabalho e no mais frequentam a
escola, bem menor na faixa de renda familiar
acima de dois salrios mnimos.
Os jovens que sequer estudam ou trabalham tam-
bm tm o menor percentual nesta faixa de renda.
Portanto, a condio socioeconmica da famlia mo-
dica o leque de oportunidades dos adolescentes,
permitindo que se dediquem apenas aos estudos ou
que pelo menos permaneam na escola, mesmo que
j estejam no mercado de trabalho.
De outro lado, nas famlias mais pobres, bem
superior o percentual de jovens que abandonaram os
estudos e apenas trabalham, assim como dos que
precisam conciliar escola e trabalho. A dedicao
exclusiva aos estudos no predominante entre os
jovens mais pobres, perfazendo pouco mais de dois
em cada cinco adolescentes (Tabela 6).
Tabela 5Percentual de adolescentes (1)que estudam e noesto na PEA, segundo sexo e regies 2006
Regioe sexo
Norte Nordeste Sudeste SulCentro-Oeste
Total
Homem 39,9 36,3 39,8 31,0 37,3 37,3
Mulher 61,0 54,7 48,7 45,7 52,6 51,1
Total 48,7 44,3 44,1 37,8 44,0 43,6
Fonte: Microdados da PNAD 2006. Elaborao prpria.Nota: (1) Apenas para os lhos adolescentes.
Tabela 6Insero na PEA e frequncia escolar para osadolescentes (1), segundo sexo e renda familiarBrasil 2006
Renda familiarper capita
Estuda
e PEA
Sestuda
No
estudae PEA
No
estudae no PEA
Total
Homem
At 1/2 salriomnimo 34,0 34,8 23,2 8,0 100,0
Mais de 1/2 at 2salrios mnimos 34,0 34,7 26,1 5,2 100,0
Mais de 2 salriosmnimos 27,9 55,8 12,9 3,4 100,0
Mulher
At 1/2 salriomnimo 27,2 51,7 11,1 10,0 100,0
Mais de 1/2 at 2
salrios mnimos 29,8 46,9 16,5 6,8 100,0Mais de 2 salriosmnimos 24,4 64,4 7,4 3,8 100,0
Total
At 1/2 salriomnimo 31,0 42,3 17,8 8,9 100,0
Mais de 1/2 at 2salrios mnimos 32,1 40,2 21,8 5,9 100,0
Mais de 2 salriosmnimos 26,2 60,1 10,1 3,6 100,0
Fonte: Microdados da PNAD 2006. Elaborao prpria.Nota: (1) Apenas lhos adolescentes.
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Esta mesma inuncia da renda familiar ob -
servada para ambos os sexos. Contudo, a propor-
o de mulheres nesta faixa etria que somente
frequentam a escola maior do que entre os ho-
mens, independentemente da renda familiar per
capita. Entre elas, vericam-se tambm menores
percentuais de jovens que conciliam escola e ati-
vidade econmica.
Cabe destacar que os homens nesta faixa et-
ria tm uma insero econmica mais expressiva,
particularmente entre aqueles que no vo es-
cola, comparativamente s mulheres nas mesmas
faixas de renda.
J as diferenas entre os sexos para os adoles-
centes que esto na PEA e estudam so menos sig-
nicativas entre as faixas de renda. Em mdia, um
tero dos homens e pouco mais de um quarto das
mulheres conciliam trabalho e estudo. Alm disso,
conforme j observado, a proporo de mulheres
que no esto na PEA e no estudam ligeiramen-
te maior do que de homens em todas as faixas de
renda familiar per capita, ao contrrio dos homens
que, quando no estudam, esto mais voltados para
a atividade econmica.
A considerao da renda familiar permite mos-trar que o elevado ndice de adolescentes homens
que j no estudam ocorre somente nas duas faixas
inferiores de renda familiar (Tabela 6). No caso das
famlias com mais de dois salrios mnimos de ren-
da per capita, a proporo de adolescentes homens
que ainda estudam to elevada quanto a do total
de mulheres, chegando a superar a das mulheres
nas duas faixas de menor renda per capita.
Quanto participao na PEA dos adolescentes
de ambos os sexos, as maiores taxas se vericam
para os de famlias com renda per capita entre meio
at dois salrios mnimos, tanto para os que estudam
quanto para os que j no estudam (Tabela 7).
Para ambos os sexos, as taxas de participao
dos adolescentes de famlias com renda per capita
maior que dois salrios mnimos so menores que
as dos adolescentes de famlias com at meio sal-
rio mnimo somente entre os adolescentes que estu-
dam. Ao contrrio, as taxas de participao entre os
que no vo escola e pertencem a famlias com
renda per capita maior que dois salrios mnimos
superam as dos adolescentes que tm famlia com
renda per capita menor que meio salrio mnimo.
Este ltimo resultado sugere que os adolescentes
que j no estudam, de famlias muito pobres, tm
diculdades especcas para participar da atividade
econmica, seja devido ao tipo de famlia ao qual
pertencem, seja pelas suas caractersticas pesso-
ais que dicultam essa participao.
Assim, pode-se concluir que a renda familiar inui
na condio de vida e oportunidades dos adolescen-
tes brasileiros. Existe uma grande diferena na pro-
poro de adolescentes (homens ou mulheres) quefrequentam a escola entre as poucas famlias com
adolescentes que tm renda per capita acima de dois
salrios mnimos (14%) e as demais com renda inferior
a este nvel, no se distinguindo, maiormente a esse
respeito, as com renda muito baixa (menos de meio
salrio mnimo) e a maioria das famlias com adoles-
centes que tm renda per capita entre meio e dois
salrios mnimos (52%). A especicidade das famlias
Tabela 7Percentual de adolescentes (1)que estudam e taxas de participao na PEA, segundo sexo, situaoescolar e renda familiar Brasi l 2006
Renda familiar per capita
Homem Mulher Total
%estuda
Participao %estuda
Participao %estuda
Participao
Estuda No estuda Estuda No estuda Estuda No estuda
At 1/2 salrio mnimo 68,9 49,4 74,4 78,9 34,5 52,5 73,3 42,3 66,7
Mais de 1/2 at 2 salrios mnimos 68,7 49,5 83,3 76,7 38,9 70,9 72,3 44,4 78,6
Mais de 2 salrios mnimos 83,7 33,3 79,2 88,9 27,5 66,1 86,3 30,3 73,9
Fonte: Microdados da PNAD 2006. Elaborao prpria.Nota: (1) Apenas lhos adolescentes.
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com adolescentes de renda per capita mais baixa re-
side na menor participao na atividade econmica
dos adolescentes, principalmente daqueles que j no
frequentam a escola. Nessas famlias de menor renda
per capita, os adolescentes que j no vo escola
tm diculdades para se inserir na atividade econmi-
ca e, assim, contribuir para a renda familiar.
Ao se incorporarem as diferenas de tipo de fa-
mliana anlise, deve ser lembrado que estas variam
conforme a renda familiar per capita, destacando-se
o declnio de famlias de casal ou me com lhos me-
nores de 14 anos e o aumento das formadas por ca-
sal ou me sem lhos menores de 14 anos, medida
que se consideram famlias adolescentes de maior
renda per capita. Analisando-se separadamente ho-
mens e mulheres e se controlando o tipo de famlia,
rearma-se o j observado para o total das famlias
com lhos adolescentes: as poucas com renda per
capita superior a dois salrios mnimos tm maior
proporo de adolescentes que ainda vo escola
e no se nota que as famlias na faixa entre meio
at dois salrios mnimos per capita tenham maior
frao de adolescentes na escola do que as famlias
do estrato inferior de renda per capita. O aumento da
frequncia escolar entre os mais pobres e a menordiferena entre as duas primeiras faixas de renda fa-
miliar consideradas podem ser efeitos de programas
como o Bolsa Famlia.
No obstante, separando-se os adolescentes
segundo a participao na atividade econmica,
existe uma ntida relao entre o nvel de renda e
a proporo dos adolescentes que ainda frequen-
tam a escola apenas para os que no participam da
atividade econmica. J para os adolescentes que
participam da atividade econmica, essa relaoentre nvel de renda e presena na escola no
to ntida, pois os das famlias com renda acima de
meio at dois salrios mnimos no tm frequncia
escola maior do que os das famlias de at meio
salrio mnimo de renda per capita.
Deve-se destacar o fato de que, para todas as
faixas de renda per capita, a proporo de adoles-
centes na escola maior quando a famlia tem lhos
menores de 14 anos. Esta constatao contradiz, ao
menos em parte, a noo geral de que um nmero
elevado de pessoas em uma famlia e seu baixo n-
vel socioeconmico poderiam ser fatores impulsio-
nadores para o trabalho dos jovens e tambm para o
abandono da escola. Ao mesmo tempo, a presena
de lhos menores de 14 anos tambm indica tratar-
se de famlias mais jovens, cujos pais provavelmente
possuem maior escolaridade do que as famlias mais
antigas que s tm lhos maiores de 14 anos, tradu-
zindo a evoluo do sistema educacional no Brasil
ao longo do tempo.
Tabela 8Proporo de jovens (1)que estudam, segundotipo de famlia, sexo e faixa de renda familiar percapita Brasil 2006
Indicadorese faixasde renda
familiar percapita
Famlias com lhos adolescentes
Com lhos menores de
14 anosSem lhos maiores de
14 anos
Casal Me Pai Casal Me Pai
HomensAt 1/2 salrio mn imo per capit a
PEA 61,0 54,5 39,5 61,9 52,1 64,3
No PEA 82,7 79,8 87,5 82,1 76,4 78,1
Total 70,0 65,7 60,8 70,4 63,7 60,8
Mais de 1/2 at dois s alrios mnimos p er capita
PEA 60,6 51,3 63,6 56,0 53,4 47,6
No PEA 90,8 89,8 86,5 86,0 80,5 79,8
Total 73,3 65,2 74,6 67,6 64,2 60,3
Mais de dois salrios mnimos per capita
PEA 72,7 63,3 80,0 68,8 63,5 58,2
No PEA 96,3 97,7 100,0 93,2 94,1 92,9
Total 87,8 89,1 86,0 82,9 82,2 71,5
MulheresAt 1/2 sal rio mni mo per cap ita
PEA 73,6 74,6 36,0 66,6 68,8 40,9
No PEA 87,0 82,8 80,6 82,1 77,4 62,0
Total 81,8 79,5 55,4 76,3 74,0 55,4
Mais de 1/2 at dois salrios mnimos per capita
PEA 69,4 60,8 79,7 63,6 59,0 55,8
No PEA 91,7 89,3 89,5 86,9 83,1 57,3
Total 81,6 74,2 87,5 76,2 71,3 56,7
Mais de dois salrios mnimos per capita
PEA 79,6 72,9 26,4 78,4 73,1 60,4
No PEA 96,8 100,0 87,4 94,0 90,7 90,5
Total 93,1 91,8 62,2 88,9 82,7 80,7
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Em todos os tipos de famlia, as com renda per
capita acima de dois salrios mnimos tm maior
parcela de adolescentes na escola. A inuncia da
renda como fator determinante das decises de tra-
balhar e estudar aparece na relao evidente entre
frequncia do adolescente escola e nvel de renda
familiar que se observa apenas para os adolescen-
tes que ainda no participam da atividade econmi-
ca. J em todas as faixas de renda e tipo de famlia
(casal, somente a me ou somente o pai), as com
lhos menores de 14 anos tm maior frao de ado-
lescentes na escola. Finalmente, havendo ou no
lhos menores de 14 anos, a proporo de adoles-
centes na escola diminui quando se passa dos tipos
de famlia constitudos pelo casal para as que tm
somente a me ou o pai como pessoa de referncia.
Principalmente no caso das adolescentes mulheres,
a frequncia escola menor nos arranjos de pai
com lhos que nos demais tipos de famlia, inclusive
se comparado aos arranjos de me com lhos. Alis,
comparativamente, os jovens estudam mais nas fa-
mlias com chea da me do que apenas do pai em
todas as faixas de renda familiar. A ausncia da me
no domiclio talvez seja um fator que contribua des-
favoravelmente para a educao dos lhos. importante ressaltar que, para os jovens que
no completam pelo menos a educao bsica e
no tentam obter a educao secundria, reduzem-
se as chances de obter um emprego digno. Assim,
devero constituir as famlias pobres de amanh,
num ciclo de reproduo da desigualdade e da po-
breza8. Portanto, as diculdades econmicas, bem
como aspectos relativos estrutura familiar, condi-
cionam o destino destes adolescentes.
Contudo, o conjunto de famlias com adolescen-tes com renda per capita de at meio salrio mnimo
muito heterogneo, conformando um tero de to-
das as famlias com lhos adolescentes. E, como j
mencionado, principalmente para adolescentes que
8 Segundo Leite (2002, p. 184), na denio da OIT, o trabalho digno[...] aquele que ocorre em um marco de respeito aos direitos hu-manos fundamentais, de proteo social, de justa remunerao e decrescimento prossional do trabalhador, convergindo para um projetomais amplo de desenvolvimento sustentado.
no participam da PEA, a proporo de adolescen-
tes que esto na escola no menor para as famlias
com este nvel de renda do que a vericada entre os
adolescentes das famlias com renda per capita entre
meio e dois salrios mnimos. Uma grande diferena
pode ser observada quando se compara a proporo
de adolescentes que ainda vo escola entre os que
j participam da atividade econmica entre a minoria
das famlias com adolescentes com renda per capita
de mais de dois salrios mnimos e todas as demais
com renda per capita inferior a dois salrios mnimos.
A participao de adolescentes na atividade eco-
nmica no o ideal, principalmente quando ocorre
sem a frequncia escola, indicando que o adoles-
cente provavelmente no concluiu o ensino bsico e
no tem qualquer chance de vir a terminar o ensino
secundrio. Mas, mesmo quando ocorre simultane-
amente com a presena na escola, pode dicultar
sobremaneira a concluso do ensino secundrio.
Porm, esta uma situao ainda bastante comum
no que diz respeito a adolescentes homens, salvo
na pequena frao das famlias com renda per ca-
pita maior que dois salrios mnimos. Os maiores
percentuais esto notadamente nas famlias me-
nos tradicionais, compostas por apenas o pai ou ame com lhos, embora essa ocorrncia no seja
desprezvel tambm nas famlias ditas tradicionais,
compostas por um casal com lhos. Assim, em al-
guns arranjos, h um maior partilhamento no encar-
go de manter a famlia, o que conduz mobilizao
dos diversos componentes do ncleo familiar em
direo ao mercado de trabalho, em especial, em
perodos de diculdades econmicas.
A diferena de presena na escola dos ado-
lescentes muito grande entre os que ainda noparticipam da atividade econmica e os que j par-
ticipam. As adolescentes mulheres que j partici-
pam da atividade econmica tm maior percentual
na escola do que os homens na mesma condio
(Tabela 8). Percebe-se novamente alguma discre-
pncia em relao aos arranjos de pai com lhos.
Contudo, deve-se ressaltar que estes arranjos pos-
suem um peso muito reduzido em relao ao total
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de lhos adolescentes. No h tanta diferena por
sexo na frequncia escola dos adolescentes que
ainda no participam da atividade econmica. O
no comparecimento escola entre os adolescen-
tes homens que participam da PEA passa de 40%
nas famlias com menos de dois salrios mnimos
de renda per capita.
Estudos mais amplos sobre a famlia e a participa-
o na atividade econmica, que no se restringem
apenas aos adolescentes, mostram que a estrutura
familiar condiciona a mobilizao dos membros para o
mercado de trabalho, sobretudo no caso dos lhos, que
teriam maior insero produtiva nas famlias cheadas
apenas pela me. Contudo, destacam que no perodo
recente e com as diculdades na insero laboral dos
jovens observa-se uma crescente reduo do empre-
go dos lhos em todos os tipos de famlia, bem como
uma reduo da contribuio dos lhos para a renda
familiar, particularmente a partir da dcada de 1990.
Apesar desta queda, a participao dos lhos no ora-
mento familiar maior em famlias com chea feminina
sem cnjuge e para os jovens com idade acima dos 18
anos (MONTALI, 1998, 2006; BORGES, 2006b).
Neste estudo especco dos adolescentes, pos-
svel vericar que a proporo de jovens na escola sempre maior entre os que ainda no esto voltados
para o mercado de trabalho. Independentemente do
arranjo familiar e da renda familiar do adolescente,
observa-se, para ambos os sexos, que mais co-
mum permanecer na escola quando no esto na
PEA. Desta maneira, importante buscar alterna-
tivas que permitam aos jovens, principalmente os
homens, continuar na escola, mesmo que estejam
trabalhando. Contudo, esta meta no pode ser atin-
gida sem uma poltica de melhoria do ensino, quetorne o sistema mais eciente e atrativo aos jovens.
Desta forma, a escola ter condies de reter os jo-
vens e propiciar uma formao adequada, inclusive
no mbito prossional
Conclui-se, portanto, que as oportunidades edu-
cacionais destes jovens parecem estar muito relacio-
nadas com a renda familiar e a menor presena na
atividade econmica, porm tambm com o tipo de
famlia, em especial quando da presena de irmos
menores de 14 anos no domiclio. Contudo, cabe
destacar ainda a menor parcela de estudantes em
arranjos constitudos de pai com lhos, o que indica,
novamente, um papel negativo da ausncia da me
no domiclio. Alis, diversos trabalhos sugerem que
a escolaridade materna tambm aumenta de forma
signicativa a probabilidade dos jovens se dedica-
rem somente aos estudos (COURSEIUL; FOGUEL;
SANTOS, 2001; LEME; WAJNMAN, 2000).
Alm disso, a renda familiar inuencia de ma-
neira importante a mdia de anos de estudo obser-
vada nesta faixa etria. Apesar da constatao de
uma signicativa defasagem escolar, notadamente
nas famlias mais pobres e para o sexo masculino
com maior intensidade, percebe-se que a renda da
famlia contribui positivamente para o aumento dos
anos de estudo para ambos os sexos. Com efei-
to, nota-se claramente que os homens em famlias
com renda de at meio salrio mnimo per capita
tm proporcionalmente menor escolaridade que as
mulheres. As diferenas entre os sexos tornam-se
muito menos expressivas nas famlias de maior ren-
da, o que denota que as oportunidades educacio-
nais dos jovens do sexo masculino so muito condi-cionadas pela situao econmica da famlia, uma
vez que eles esto muito mais presentes na PEA do
que as adolescentes nas mesmas condies.
Antes de prosseguir, vale a pena comentar que o
observado para a totalidade das famlias se verica
basicamente nos principais tipos de famlia, ou seja,
as diferenas no que diz respeito participao na
atividade econmica tambm se mostram mais sig-
nicativas entre os jovens das poucas famlias com
renda per capita maior que dois salrios mnimos e osadolescentes das demais famlias. As taxas de parti-
cipao mais elevadas vericam-se entre os adoles-
centes em famlias com renda per capita entre meio e
dois salrios mnimos, seja entre os que continuam es-
tudando, seja entre os que no esto mais na escola.
Comparando a participao dos adolescentes de
famlias com renda per capita maior que dois salrios
mnimos com as famlias com at meio salrio mnimo,
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OS JOVENS DE 15 A 19 ANOS E O DILEMA TRABALHO-ESTUDO: ALGUMAS QUESTES RELEVANTESPARA PENSAR AS POLTICAS PBLICAS NO BRASIL
vericou-se que ela menor para os adolescentes
das famlias de renda mais elevada somente para os
que continuam estudando. De outro lado, esta partici-
pao menor para os adolescentes de famlias com
renda per capita de at meio salrio mnimo no caso
dos adolescentes que j no vo mais escola. Isto
se verica tanto para homens como para mulheres e
levou concluso de que os adolescentes de famlias
com renda per capita mais baixa e que j no frequen-
tam a escola pertencem a tipos de famlia ou tm ca-
ractersticas pessoais particularmente desfavorveis
para a participao na atividade econmica.
importante ressaltar que o perl das famlias
dos adolescentes com renda per capita muito bai-
xa (at meio salrio mnimo) bastante diferente do
perl das famlias dos adolescentes com renda per
capita maior que dois salrios mnimos. Entre as fa-
mlias com adolescentes de renda per capita muito
baixa, destacam-se casais e mes com lhos me-
nores de 14 anos, enquanto entre as famlias com
adolescentes com renda per capita maior que dois
salrios mnimos a presena destes dois tipos de fa-
mlia muito menor, destacando-se, ao contrrio, a
alta participao dos casais sem lhos menores de
14 anos. A Tabela 8 mostra, entretanto, que, para
os tipos de famlia com maior representatividade nas
duas faixas de renda per capita destacadas (at meio
e mais de dois salrios mnimos), verica-se o cons-
tatado para a totalidade das famlias. Este fato indica
que a menor participao dos adolescentes que no
mais frequentam a escola das famlias de renda per
capita mais baixa tem mais a ver com caractersticas
pessoais desses adolescentes do que com a confor-
mao do tipo de famlia da qual fazem parte.
Os resultados da anlise da frequncia escolar
e participao na atividade econmica dos adoles-
centes, com dados da PNAD 2006, expressam amaneira como os adolescentes e suas famlias vm
se adaptando s mudanas que tm ocorrido no
sistema educacional, na economia e no mercado
de trabalho do pas. Convm recordar que o adoles-
cente de 15 a 19 anos, em 2006, tinha 7 anos e co-
meou a estudar entre 1994 e 1999, momento em
que o pas lograva universalizar o acesso escola
fundamental e tentava impedir que os estudantes
repetissem recorrentemente as primeiras sries,
tendendo a abandonar a escola antes da adoles-cncia, com poucos anos de estudo concludos.
Essas aes no sistema educacional foram
acompanhadas de aumento do nmero de jovens
que conseguiram terminar o primeiro grau e avan-
ar para o segundo. Em simultneo, ao longo da
dcada de 1990, a abertura econmica e a ins-
tabilidade nanceira internacional provocaram mu-
danas no mercado de trabalho que dicultaram
Tabela 9Taxas de participao dos adolescentes (1),
segundo ti po de famlia, sexo e faixa de rendafamiliar per capita Brasil 2006
Indicadorese faixas de
renda familiarper capita
Famlias com lhos adolescentes
Com lhos menores de
14 anosS com lhos maiores
de 14 anos
Casal Me Pai Casal Me Pai
HomensAt 1/2 salrio mn imo per capit a
No estuda 76,0 74,1 85,9 74,6 68,9 57,0
Estuda 51,0 46,3 36,1 51,0 42,7 40,0
Total 58,5 55,8 55,6 58,0 52,2 44,8
Mais de 1/2 at dois salrios mnimos per capita
No estuda 85,4 89,4 74,7 83,3 78,4 79,9
Estuda 47,7 50,2 44,6 50,8 50,1 47,8
Total 57,8 63,9 52,2 61,4 60,2 60,6
Mais de dois salrios mnimos per capita
No estuda 80,9 84,3 100,0 77,1 79,8 90,5
Estuda 30,0 17,8 64,9 35,2 30,0 50,2
Total 36,2 25,0 69,8 42,4 38,9 61,7
MulheresAt 1/2 salri o mn imo per capi ta
No estuda 55,7 49,4 51,0 53,1 46,8 41,1
Estuda 34,5 37,3 12,4 33,0 36,2 22,9
Total 38,3 39,7 24,0 37,7 38,9 31,0
Mais de 1/2 at dois salrios mnimos per capita
No estuda 75,3 80,5 32,6 70,3 69,9 41,4
Estuda 38,5 43,5 18,3 38,3 40,5 40,0
Total 45,3 53,0 20,1 45,9 49,0 40,6
Mais de dois salrios mnimos per capita
No estuda 64,1 100,0 80,5 63,9 70,3 67
Estuda 18,7 23,9 17,5 28,9 39,8 24,5
Total 21,8 30,1 41,3 32,8 45,1 32,7
Fonte: Microdados da PNAD 2006. Elaborao prpria.Nota: (1) Apenas lhos adolescentes.
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ANGELA WELTERS
enormemente a continuidade de um fenmeno que
caracterizava o pas: a participao muito elevada
dos adolescentes do sexo masculino na atividade
econmica. A reduo da gerao de oportunida-
des de emprego foi acompa-
nhada de maior seletividade,
da parte dos patres, no re-
crutamento da fora de tra-
balho, notando-se elevao
das exigncias de escolari-
dade, o que, conforme o tipo
de ocupao e o emprega-
dor, signicou passar a exigir
diplomas de primeiro ou at de segundo grau. Os
dados apresentados mostraram a diversidade de
situaes na adaptao dos adolescentes e suas
famlias s mudanas na escola e no mercado
de trabalho, em um processo que ainda est em
curso. A anlise utilizou dados sobre participao
na atividade econmica e frequncia escolar dos
adolescentes, classicados por nvel de renda per
capita das famlias e tipo de arranjo familiar.
Como indicativo da condio socioecon-
mica da populao, a renda familiar per capita
mostrou-se varivel muito relevante tanto para aparticipao na atividade econmica dos adoles-
centes quanto para a sua presena na escola.
Contudo, esta relao entre as variveis no
perfeita, pois se observa clara distino apenas
entre, de um lado, os adolescentes das poucas
famlias com renda per capita maior que dois sa-
lrios mnimos e, de outro, os de todas as ou-
tras famlias. Evidenciou-se, outrossim, que as
famlias com renda per capita entre meio at dois
salrios mnimos (metade das famlias com ado-lescentes) no apresentam, em mdia, uma situ-
ao melhor do que a das famlias com renda de
at meio salrio mnimo per capita (um tero das
famlias com adolescentes), tanto em termos de
participao na atividade econmica quanto em
frequncia escolar dos adolescentes.
Chama a ateno, porm, que, em todas as fai-
xas de renda per capita, so grandes as diferenas
na frequncia escolar entre os adolescentes que
fazem ou no parte da PEA e as diferenas de par-
ticipao na atividade econmica entre os adoles-
centes que continuam estudando ou j deixaram
a escola. As correlaes
entre, de um lado, participa-
o ou frequncia escolar
e, de outro, nvel de renda
familiar, so perfeitas quan-
do se consideram, respec-
tivamente, os adolescentes
que j no vo escola e os
que ainda no participam da
PEA. a combinao da frequncia escolar com a
participao na atividade econmica que perturba
a correlao com a renda.
Muitos adolescentes homens combinam estudo
e escola, certamente em muitos casos para contri-
buir para a renda familiar. No h diferenas a esse
respeito entre a taxa de participao dos que j
estudam e da frequncia escolar dos que j partici-
pam na atividade econmica, entre as famlias com
renda per capita de at meio salrio mnimo e acima
de meio at dois salrios mnimos. As diferenas
entre essas duas faixas de renda so expressivasquanto participao dos adolescentes homens
que no estudam e quanto frequncia escolar dos
que no esto na PEA. Ou seja, os adolescentes
homens de famlias com renda per capita de meio
a dois salrios mnimos e que ainda no esto na
PEA tm maior presena escolar que a dos adoles-
centes homens que no esto na PEA de famlias
com renda de at meio salrio mnimo. J os ado-
lescentes homens que no estudam das famlias de
renda per capita de meio a dois salrios mnimostm maior participao do que a dos adolescentes
homens que no estudam de famlias com renda
per capita menor que meio salrio mnimo.
Em sntese, os adolescentes das famlias de
mais baixo nvel de renda tm encontrado mais di-
culdades de se adaptar s mudanas que esto
acontecendo no sistema educacional e no mercado
de trabalho. Este grupo, entretanto, muito grande
Os adolescentes das famlias demais baixo nvel de renda tmencontrado mais diculdades
de se adaptar s mudanas queesto acontecendo no sistema
educacional e no mercadode trabalho
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e heterogneo, sendo importante ampliar a anlise
para alm do estudo da frequncia escola e da
participao na atividade econmica, examinando o
tipo de ocupao dos adolescentes de famlias com
diferentes nveis de renda.
Apesar da constatao de um relativo adiamen-
to da entrada no mercado de trabalho, quando se
compara 2006 ao incio da dcada de 1990, a pre-
sena dos adolescentes no mercado de trabalho
ainda relevante, em especial, para o sexo mascu-
lino, notadamente, para os jovens que no estudam
e vivem nas regies mais desenvolvidas do pas.
Por outro lado, certamente as caractersticas da in-
sero produtiva destes jovens devem ser tambm
bastante diferenciadas no apenas segundo as fai-
xas de renda familiar como tambm de acordo com
as regies do pas em que vivem.
BREVES COMENTRIOS SOBRE AS
CARACTERSTICAS DA INSERO NO
MERCADO DE TRABALHO
Seguramente, as caractersticas da insero no mer-
cado de trabalho variam conforme as condies espe-ccas de cada jovem trabalhador (WELTERS, 2009).
Com efeito, verica-se que a renda familiar ainda tem
papel determinante para a entrada precoce no merca-
do de trabalho por parte dos adolescentes de ambos
os sexos. As diculdades de sobrevivncia da famlia
e as prprias caractersticas familiares impulsionam o
jovem a buscar formas de contribuir para o oramento
domstico. Parte importante das famlias de adoles-
centes com renda familiar per capita de at meio sal-
rio mnimo situa-se nas regies menos desenvolvidasdo pas, bem como apresenta maior nmero mdio
de componentes e, principalmente, maior presena de
crianas no domiclio. Ademais, a chea da me ca-
racteriza cerca de um quarto do total destas famlias.
Assim, observa-se que mais de 50% dos jovens
em famlias com menor renda per capita comearam
a trabalhar com at 14 anos de idade. Destes, entre
15% e 20%, aproximadamente, com at 9 anos de
idade. A entrada na PEA com to pouca idade diminui
muito com o avano da renda familiar, de modo que
mais da metade dos jovens ingressa na atividade eco-
nmica entre os 15 e os 17 anos de idade na faixa de
renda familiar per capita maior que dois salrios m-
nimos. No obstante, importante salientar que, em
mdia, mais da metade dos homens e cerca de duas
em cada cinco mulheres nesta faixa etria iniciaram
sua vida economicamente ativa com at 14 anos de
idade. Essa uma faixa de idade em que o trabalho
proibido por lei e uma fase de vida em que deveriam
estar preferencialmente dedicados aos estudos. Sem
dvida, esta insero na atividade econmica com to
pouca idade pode contribuir para que abandonem a
escola ou que tenham um aproveitamento escolar
abaixo do desejvel, especialmente pelas eventuais
diculdades em conciliar as duas atividades. Segundo
Silva e Kassouf (2002), a mdia de anos de estudo va-
ria inversamente com idade em que o jovem comeou
a trabalhar. Este fato gera um crculo vicioso, uma vez
que o jovem com baixa escolaridade ca limitado a
postos de trabalho de baixa remunerao.
Numa anlise de gnero, possvel observar que,
em famlias de igual condio econmica, as mulheres
iniciam sua vida produtiva mais tarde que os homens.Contudo, mantm-se o padro observado para os ho-
mens de ingresso na PEA com menor idade entre as
jovens de famlias de menor poder aquisitivo. Da pers-
pectiva regional, as diferenas na idade de ingresso no
mercado de trabalho reetem tambm as diferenas
de nvel socioeconmico da famlia dos adolescentes.
Assim, o Nordeste concentra as famlias mais pobres
e tambm mais de 7 em cada 10 adolescentes em fa-
mlias de baixa renda que comearam a trabalhar com
at 9 anos de idade. Deste modo, o trabalho precocepara os jovens de ambos os sexos est relacionado
com a renda familiar per capita e muito mais intenso
nas regies menos desenvolvidas do pas, em especial
no Nordeste. importante mencionar que, dentro de
cada regio do pas, permanece a tendncia de entra-
da precoce entre os mais pobres, tanto entre homens
quanto entre as mulheres, muito embora o percentual
masculino seja sempre superior ao feminino.
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ANGELA WELTERS
Conclui-se, portanto, que o ingresso precoce dos
adolescentes no mercado de trabalho fortemente
condicionado pelo nvel socioeconmico da famlia
em todas as regies do pas, bem como mais co-
mum entre os homens nesta
faixa etria.
Ainda no que se refere
insero na PEA, as di-
ferenas entre os tipos de
ocupao e tambm a quali-
dade dos postos de trabalho
do ponto de vista da formalidade de vnculos so
inegveis quando se compara a situao dos ado-
lescentes segundo faixas de renda familiar e regi-
es. Nas regies menos desenvolvidas e entre os
adolescentes mais pobres, o trabalho sem carteira,
no remunerado ou para autoconsumo, bem como
as atividades ligadas agricultura e aos servios
domsticos, corresponde quase totalidade das
ocupaes.
Ao contrrio, para os adolescentes em fam-
lias de maior poder aquisitivo, as caractersticas
das ocupaes so tambm muito distintas, com
aumento de atividades ligadas aos servios admi-
nistrativos, como tcnicos de nvel mdio e ven-dedores e prestadores de servios do comrcio.
Sendo assim, mais de 60% das ocupaes destes
adolescentes esto em segmentos como a inds-
tria de transformao, o comrcio e reparao e
outras atividades de servios (nas quais se desta-
cam os servios de apoio atividade econmica,
inclusive nanceiros).
Igualmente, para os adolescentes de famlias
com renda maior que dois salrios mnimos per
capita, so mais comuns os postos de trabalhocom carteira assinada (em torno de 40%, enquanto
para os mais pobres no atinge 5%). Mesmo as-
sim, constata-se que o Nordeste e o Norte do pas
apresentam percentuais de empregos com carteira
assinada bem abaixo da mdia nacional, inclusive
entre os jovens de famlias de maior poder aquisi-
tivo, o que sugere que, alm da renda familiar, as
oportunidades destes jovens so inuenciadas pelo
contexto regional do qual fazem parte, com eviden-
te desvantagem para aqueles situados nas regies
menos desenvolvidas do pas.
Conclui-se, assim, que a renda familiar tambm
dene situaes bastante
distintas do ponto de vista
ocupacional, com clara dis-
paridade entre as ocupaes
dos jovens de famlias mais
pobres em comparao com
os que se situam em arranjos
familiares de maior poder aquisitivo. Este fato pode
ser reexo das diferenas no prprio perl educacio-
nal destes adolescentes, uma vez que, com maior
mdia de anos de estudo, os jovens de famlias que
dispem de maior renda per capita podem disputar
melhores vagas no mercado de trabalho.
Constata-se, ademais, que, apesar da signicativa
inuncia da renda familiar no perl setorial do em-
prego dos adolescentes, as oportunidades de trabalho
variam conforme as regies, conferindo algumas dis-
paridades de situaes, principalmente entre os polos
mais e menos desenvolvidos do pas.
Outrossim, verica-se que o trabalho dos adoles-
centes mais pobres tem, muitas vezes, a caracters-tica de complementar a atividade dos pais, parentes
ou conhecidos, o que se d de forma intermitente ou
transitria, sem vnculos formais ou rendimentos xos,
particularmente na agricultura familiar ou no comrcio.
Em geral, as menores jornadas de trabalho esto em
atividades sem remunerao, na produo para au-
toconsumo ou por conta prpria, principalmente nas
atividades agrcolas no Norte e Nordeste.
Por outro lado, verica-se que parte expressiva dos
adolescentes ocupados trabalha mais de 40 horas nasemana. So, por exemplo, mais de 50% das mulhe-
res e cerca de 60% dos ocupados do sexo masculino
que pertencem a famlias com renda acima de meio
salrio mnimo per capita. Assim, de forma geral, estes
adolescentes esto engajados numa rotina de trabalho
que pode penalizar a sua frequncia escolar.
Entre os adolescentes, o emprego sem car-
teira tem um peso muito signicativo, alis,
O trabalho dos adolescentesmais pobres tem, muitas vezes, acaracterstica de complementar
a atividade dos pais, parentes ouconhecidos
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independentemente do tamanho da jornada de
trabalho, do ramo de atividade e do tipo de ocu-
pao. A precariedade do emprego dos adoles-
centes reete-se tambm nos baixos rendimentos
mdios dos ocupados nesta faixa etria. O rendi-
mento mdio entre os homens um pouco supe-
rior ao das mulheres nesta faixa etria. Contudo,
em mdia, a renda do trabalho entre os adolescen-
tes de aproximadamente um salrio mnimo. Ao
mesmo tempo, so as regies Nordeste e Norte
do pas que apresentam as piores mdias de re-
munerao para os jovens adolescentes, abaixo
de um salrio mnimo.
Ademais, as atividades que detm peso muito
signicativo na ocupao dos adolescentes, como
o caso dos servios domsticos e da agricultu-
ra, apresentam as piores remuneraes mdias.
Evidentemente, o tipo de ocupao altera este
quadro de rendimentos, particularmente para os
jovens em ocupaes de nvel mdio, nos servios
administrativos ou como prossionais das cincias
e artes. Mesmo assim, as maiores rendas mdias
do trabalho no ultrapassam um salrio mnimo e
meio. Sem sombra de dvida, os empregos com
carteira assinada so aqueles que conferem as me-lhores remuneraes mdias. Entretanto, conforme
enfatizado anteriormente, o trabalho sem carteira
assinada que detm parte considervel das ocupa-
es dos adolescentes.
Com efeito, grande parte dos ocupados nesta
faixa etria trabalha mais de 40 horas na semana
e recebe um salrio que , em mdia, bastante
baixo, em torno de um salrio mnimo. Parcela sig-
nicativa destes jovens est em postos de trabalho
de baixa qualidade, sem proteo legal ou aindaem atividades no remuneradas, sendo que a con-
dio dos adolescentes ocupados ainda mais
frgil e incerta no Norte e, sobretudo, no Nordeste
do Brasil. Portanto, pode-se imaginar que apenas
um cenrio de profunda desigualdade e carn-
cia de oportunidades pode elucidar o fato de que
tantos jovens ingressam to cedo no mercado de
trabalho, em geral de forma to precria. Porm,
compreender esta situao passa, sobretudo, por
aspectos familiares e culturais, que ainda tm o
trabalho do jovem e do lho como parte integrante
do modo de viver em famlia. Portanto, o trabalho
visto como uma forma de retribuio, como um
compromisso moral para com os pais e, ademais,
um instrumento de socializao do jovem, o qual
tem sido demonstrado relevante, particularmente,
para as camadas populares.
Por outro lado, considerando que ainda gran-
de a defasagem escolar nesta faixa etria, o afas-
tamento destes adolescentes da escola congura
uma situao distante do desejvel e que ter gra-
ves implicaes sobre o futuro destes jovens. Com
efeito, necessrio que haja um grande esforo
por meio de polticas pblicas de modo a permitir
que todos os adolescentes ao menos concluam o
ensino bsico e, se possvel, o ensino mdio. Esta
medida seria um investimento com alto retorno so-
cial do ponto de vista da possibilidade de ruptura
do circulo vicioso da pobreza, sempre que o de-
sempenho da economia garanta gerao sucien-
te de oportunidades de emprego que permitam um
desenvolvimento prossional e remunerao apro-
priada para uma populao crescentemente edu-cada. Outrossim, a manuteno dos adolescentes
na escola e a consequente reduo das presses
sobre o mercado de trabalho de um contingente
de populao muito jovem subescolarizada contri-
buem para uma melhor estruturao do mercado
de trabalho e para reduzir a taxa de desemprego
da populao adulta.
CONCLUSO
Conclui-se, assim, que as desigualdades sociais
e as diferenas na condio juvenil denem cen-
rios distintos na vida dos adolescentes brasileiros.
Certamente, tarefa essencial ao formulador de
polticas pblicas que tenha como objetivo melho-
rar as condies de vida e garantir um futuro digno
aos adolescentes apreender esta grande diversi-
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ANGELA WELTERS
dade de situaes familiares, socioeconmicas,
regionais e tambm ocupacionais destes jovens.
Portanto, falar hoje do trabalho dos adolescentes
requer considerar todos estes aspectos, o que
no possibilita a mera considerao negativa do
trabalho, mas exige um exame profundo de suas
caractersticas. Este trabalho tentou contribuir
para a atribuio de prioridades no que concerne
a esta populao, de maneira especial, indicando
o papel das polticas pblicas para o futuro desta
gerao de brasileiros.
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WELTERS, Angela. Os lhos adolescentes e o mercado detrabalho:uma anlise do perl scio-econmico, familiar ede gnero dos jovens entre 15 e 19 anos no Brasil em 2006.Tese (Doutorado em Desenvolvimento Econmico) - Unicamp,Campinas, 2009.
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Os jovens e o mercado detrabalho nas grandes regiesbrasileiras: realidade,dificuldades e possibilidadesno contexto recenteCarlos Eduardo Ribeiro Santos*
Magila Souza Santos**
Resumo
Este trabalho consiste em uma explorao dos dados disponibilizados pela PNAD2008, enfatizando os aspectos relacionados aos jovens e sua insero no mercadode trabalho e realando as caractersticas da populao jovem, sua participao erelevncia nesse mercado. Essa primeira explorao conduziu a duas concluses: i)a acentuada participao dos jovens no mercado de trabalho informal reete a inca-pacidade do sistema educacional na sua formao; ii) as reexes e provocaes do
trabalho requerem o estabelecimento de polticas pblicas de emprego mais efetivas emais relacionadas realidade da juventude.Palavras-chave: Jovens. Mercado de trabalho. Polticas pblicas de emprego.
Abst rac t
This study comprises an exploration of data available in the PNAD 2008, emphasizingaspects related to youth and insertion in the labor market, highlighting the character-istics of the youth population, their participation and with relevance to this market. Therst investigation led us to two conclusions i) the accentuated participation of young
people in the job market reects the inability of educational system in their formation ii)
the studys reections and challenges require the establishment of public employment
policies more effective and closer to the reality of youth.Keywords: Youngs. Job market. Job public policies.
* Mestre em Cultura, Memria e De-senvolvimento Regional com pes-quisa na rea de Polticas Pblicasde Desenvolvimento Regional pelaUniversidade do Estado da Bahia(Uneb); professor da UniversidadeEstadual do Sudoeste da Bahia(UESB) e da Faculdade IntegradaEuclides Fernandes (FIEF).
[email protected]** Mestranda em Economia pela Fa-
culdade de Cincias Econmicasda Universidade Federal da Bahia(FCE-UFBA); bolsista da Coorde-nao de Aperfeioamento de Pes-soal de Nvel Superior (Capes)[email protected]
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OS JOVENS E O MERCADO DE TRABALHO NAS GRANDES REGIES BRASILEIRAS:REALIDADE, DIFICULDADES E POSSIBILIDADES NO CONTEXTO RECENTE
INTRODUO
Estudar a temtica mercado de trabalho requer, ini-
cialmente, a busca do signicado de tal campo, de
como se d sua formao e quais fatores interferem
em seu funcionamento. Do ponto de vista da teoria
econmica, as escolas neoclssica e keynesiana
supem o mercado de trabalho com base em teo-
rias opostas no que tange aos componentes end-
genos e exgenos sua funcionalidade, tal como o
sistema de autorregulao, a ao intervencionista
do Estado e, tambm, a existncia de fenmenos
como o desemprego.
Assim como existe todo um contedo terico
para tratar deste tema, h, do ponto de vista emp-
rico, um conjunto de formulaes e conceitos que
aportam outras vises sobre o funcionamento do
mercado de trabalho, como a existncia de um mer-
cado formal e outro informal de atuao do traba-
lhador. So mercados distintos, porm interligados,
que denotam falhas na composio do processo
produtivo. E na existncia destas falhas surgem
terminologias que visam delinear o funcionamento
do campo laboral e seus reexos na sociedade (o
desemprego, o subemprego, entre outros).Do ponto de vista histrico-evolutivo, o proces-
so desencadeado a partir dos anos 1930 marca o
grande impulso do mercado de trabalho brasileiro.
O crescimento econmico at os anos 1970 propor-
cionou uma evoluo positiva do processo trabalhis-
ta no pas, inuenciada pelo setor industrial. J nos
anos 1980, com a crise e a desacelerao econ-
mica, o mercado laboral passa por transformaes
e marcado por um processo de deteriorao, com
elevao de taxas de desemprego, associado a umaumento da informalidade e da precariedade.
Na perspectiva de elevados nveis de produtivi-
dade, presses foram feitas ao mercado. Destaque
desse processo o aumento da produtividade mar-
ginal do trabalho, em contraposio diminuio
da oferta de empregos e ampliao do nvel de
escolaridade exigido, alm de outros atributos,
como ser participativo e polivalente, para se estar
qualitativamente apto a qualquer atividade desig-
nada frente s mudanas na base tecnolgica do
sistema produtivo.
Assim, dentre as opes de literatura disponvel
sobre o mercado de trabalho, vale ressaltar as for-
mas diferenciadas como essas transformaes afe-
tam os diferentes segmentos da sociedade. Em ge-
ral, so os jovens os mais afetados, seja no elevado
nd