seis séculos de ritual maçônico

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“Seis Séculos de Ritual Maçônico” Por Henry Carr [i] Tradução José Filardo 1 Irmãos, muitos de vocês sabem que eu viajo grandes distâncias no decurso das minhas funções de conferencista e quanto mais eu viajo, mais atônito eu fico ao ver quantos Irmãos acreditam, muito sinceramente, que o nosso ritual maçônico veio direto do céu, diretamente nas mãos do rei Salomão. Todos eles estão bas- tante certos de que era em inglês, é claro, porque essa é a única língua que eles falam lá em cima. Eles estão igualmente certos de que tudo foi gravado em duas tábuas de pedra, de modo que, De- us perdoe, nenhuma única palavra seja jamais alterada; e a ma- ioria deles acredita que o rei Salomão, em sua própria loja, prat- icava o mesmo ritual que eles praticam nas deles. Mas, não foi nada disso, e esta noite tentarei esboçar para vocês a história do nosso ritual desde seus primórdios até o ponto em que foi praticamente padronizado em 1813; mas vocês devem se lem- brar, enquanto eu estou falando sobre ritual inglês também estou lhes dando a história de seu próprio ritual. Uma coisa será inco- mum sobre a palestra dessa noite. Hoje vocês não vão receber nenhum conto de fadas. Cada palavra que eu proferir será baseada em documentos que podem ser provados: e nas raras ocasiões em que, apesar de ter os documentos, ainda não conse- guimos a prova completa e perfeita, direi alto e em bom som “Nós achamos…” ou “Nós acreditamos…”. Então vocês saberão que es- tamos, por assim dizer, em terreno incerto, mas eu lhes darei o melhor que sabemos. E uma vez que uma conversa desse tipo deve ter um ponto de partida adequado, deixe-me começar por dizer que a Maçonaria não começou no Egito, ou na Palestina, ou na Grécia ou em Roma. 1 Nosso Ir:. José Filardo sempre nos brinda com maravilhosas traduções além de textos pessoais. Este ele publicou em https://bibliot3ca.wordpress.com/seisseculosderitualmaconico/

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Seis séculos de rituais maçonicos, ritos e historia

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“Seis Séculos de Ritual Maçônico” Por Henry Carr [i] Tradução José Filardo1 Irmãos, muitos de vocês sabem que eu viajo grandes distâncias no decurso das minhas funções de conferencista e quanto mais eu viajo, mais atônito eu fico ao ver quantos Irmãos acreditam, muito sinceramente, que o nosso ritual maçônico veio direto do céu, diretamente nas mãos do rei Salomão. Todos eles estão bas-tante certos de que era em inglês, é claro, porque essa é a única língua que eles falam lá em cima. Eles estão igualmente certos de que tudo foi gravado em duas tábuas de pedra, de modo que, De-us perdoe, nenhuma única palavra seja jamais alterada; e a ma-ioria deles acredita que o rei Salomão, em sua própria loja, prat-icava o mesmo ritual que eles praticam nas deles. Mas, não foi nada disso, e esta noite tentarei esboçar para vocês a história do nosso ritual desde seus primórdios até o ponto em que foi praticamente padronizado em 1813; mas vocês devem se lem-brar, enquanto eu estou falando sobre ritual inglês também estou lhes dando a história de seu próprio ritual. Uma coisa será inco-mum sobre a palestra dessa noite. Hoje vocês não vão receber nenhum conto de fadas. Cada palavra que eu proferir será baseada em documentos que podem ser provados: e nas raras ocasiões em que, apesar de ter os documentos, ainda não conse-guimos a prova completa e perfeita, direi alto e em bom som “Nós achamos…” ou “Nós acreditamos…”. Então vocês saberão que es-tamos, por assim dizer, em terreno incerto, mas eu lhes darei o melhor que sabemos. E uma vez que uma conversa desse tipo deve ter um ponto de partida adequado, deixe-me começar por dizer que a Maçonaria não começou no Egito, ou na Palestina, ou na Grécia ou em Roma.                                                                                                                1  Nosso  Ir:.  José  Filardo  sempre  nos  brinda  com  maravilhosas  traduções  além  de  textos  pessoais.  Este  ele  publicou  em    https://bibliot3ca.wordpress.com/seis-­‐seculos-­‐de-­‐ritual-­‐maconico/    

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INÍCIO DA ORGANIZAÇÃO MERCANTIL DOS PEDREIROS Tudo começou em Londres, Inglaterra, no ano de 1356, uma data muito importante, e ela começou como o resultado de uma boa e antiga grande briga acontecendo em Londres entre os canteiros, os homens que cortavam a pedra, e os pedreiros assentadores e alinhadores, os homens que realmente construíam as paredes. Os detalhes exatos da briga não são conhecidos, mas, como resultado desta briga, 12 mestres pedreiros qualificados, com alguns homens famosos entre eles, foram diante do prefeito e vereadores em Guildhall, em Londres, e, com a permissão oficial, elaboraram um simples código de regras da atividade. As palavras de abertura desse documento, que ainda sobrevive, dizem que esses homens tinham se reunido, porque sua atividade nunca havia sido regulamentada na forma como outras atividades tinham sido. Então, aqui, neste documento, temos uma garantia oficial de que esta foi a primeira tentativa de algum tipo de organ-ização da atividade para os pedreiros e, à medida que continua-mos a ler o documento, a primeira regra que eles elaboraram dá uma pista sobre a disputa de demarcação de que eu falava. Eles estabeleceram “Que cada homem do comércio pode trabalhar em qualquer trabalho relacionado com a atividade se ele estiver per-feitamente qualificado e formado na mesma”. Irmãos, esta era a sabedoria de Salomão! Se você soubesse o trabalho, você poderia fazer o trabalho, e ninguém poderia impedi-lo! Se nós pelo menos tivéssemos aquele senso muito comum hoje em dia na Inglaterra, quanto melhor nós seríamos. A organização que foi criada na época tornou-se, no prazo de 20 anos, a London Masons Company, a primeira guilda de pedreiros e um dos ancestrais diretos de nossa Maçonaria de hoje. Este foi o verdadeiro começo. Agora, a London Masons Companhia não era uma loja; era uma guilda profissional e eu deveria gastar muito tempo tentando explicar como as lojas começaram, um problema difícil porque não temos registros da fundação efetiva das lojas operativas iniciais. Resumidamente, as guildas eram organizações urbanas muito fa-vorecidas pelas cidades porque elas ajudavam na gestão dos as-

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suntos municipais. Em Londres, por exemplo, a partir de 1376 em diante, cada uma das atividades profissionais elegeu dois repre-sentantes, que se tornaram membros do Conselho Comum, todos juntos formando o governo da cidade. Mas a atividade de pedrei-ros não se prestava à organização da cidade. A maior parte do seu trabalho principal era fora das cidades – os castelos, as abadias, mosteiros, as obras de defesa, os trabalhos realmente grandes de construção eram sempre muito longe das cidades. E acreditamos que era nesses lugares, onde não havia nenhum outro tipo de or-ganização profissional, que os pedreiros, que estavam envolvidos nesses trabalhos por anos a fio, organizaram-se em lojas, imitan-do as guildas, de modo que eles tinham alguma forma de auto-governo no trabalho, enquanto estavam longe de todas as outras formas de controle da atividade. A primeira informação efetiva sobre lojas nos chegam de uma coleção de documentos que conhecemos como do ‘Antigas Obrigações’ ou as Constituições Manuscritas de maçonaria, uma coleção maravilhosa. Elas começam com Manuscrito Regius c1390; o próximo, o Manuscrito Cooke é datado de c1410 e temos 130 versões destes documentos direto até o século XVIII. A versão mais antiga, o Manuscrito Regius, está em verso rimado e difere, em vários aspectos dos outros textos, mas, em sua forma geral e conteúdo eles são todos muito parecidos. Eles começam com uma oração de abertura, Cristã e trinitária, e, em seguida, eles prosseguem com uma história do ofício, começando nos tempos bíblicos e em terras bíblicas, e traçam a origem do ofício e sua disseminação por toda a Europa, até que chegou à França e foi então levado através do canal e, finalmente, estabeleceu-se na Inglaterra. História incrivelmente ruim; qualquer professor de história cairia morto se fosse desafiado a prová-la; mas os pedrei-ros acreditaram. Esta foi a sua garantia de respeitabilidade como um antigo ofício. Em seguida, após a história, encontramos os regulamentos, as Obrigações efetivas, para mestres, companheiros e aprendizes, incluindo várias regras de caráter puramente moral, e isso é tudo. Ocasionalmente, o nome de um dos personagens muda, ou a for-mulação de um regulamento será um pouco alterada, mas todos

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seguem o mesmo padrão geral. Além dessas três seções principais, a oração, a história e as Obrigações, na maioria deles encontramos algumas palavras que indicam o início da cerimônia maçônica. Devo acrescentar que não podemos encontrar todas as informações em um único doc-umento; mas quando os estudamos como uma coleção, é possível reconstruir o esboço da cerimônia de admissão daqueles dias, a primeira cerimônia de admissão no ofício. Sabemos que a cerimônia, tal como era, começava com uma oração de abertura e, em seguida, havia uma “leitura” da história. (Muitos documentos posteriores se referem a esta “leitura”.) Naqueles dias, 99 pedreiros em 100 não sabiam ler, e acredita-mos, portanto, que eles selecionavam seções específicas da histó-ria que eles memorizavam e recitavam de memória. Ler todo o texto, mesmo que soubessem ler, teria levado tempo demais. As-sim, a segunda parte da cerimônia era a “leitura”. Então, encontramos uma instrução, que aparece regularmente em praticamente todos os documentos, geralmente em latim, e ela diz: “Então um dos anciãos segura um livro (às vezes “o livro”, por vezes, a “Bíblia”, e às vezes a “Bíblia Sagrada”) e ele ou eles que devem ser admitidos colocarão sua mão sobre ele, e as se-guintes Obrigações serão lidas.” Nessa posição os regulamentos eram lidos para o candidato e ele fazia o juramento, um simples juramento de fidelidade ao rei, ao mestre e ao ofício (maçonaria), de que ele obedeceria aos regulamentos e nunca levaria vergonha à maçonaria. Este foi uma derivação direta do juramento da guilda, que era, provavelmente, a única forma que eles conheci-am; sem frescuras, sem penalidades, um simples juramento de fi-delidade ao rei, ao empregador (o mestre) e à atividade. Deste ponto em diante, o juramento torna-se o coração e medula, o centro crucial de toda cerimônia maçônica. O manuscrito Regi-us, que é a primeira das versões a sobreviver, enfatiza isso e vale a pena citá-lo. Após a leitura das Obrigações no Manuscrito Regius, temos estas palavras: “E todos os pontos a partir daqui A todos eles, ele deve ser jurado, E todos jurarão o mesmo juramento Dos maçons, estejam eles dispostos, estejam eles relutantes.”

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Quer eles gostassem ou não, só havia uma chave que abriria a porta para a maçonaria e esta era o juramento do maçom. A im-portância que o Regius atribui a ele, encontramos repetida repetidamente, não com as mesmas palavras, mas a ênfase ainda está lá. O juramento ou obrigação é a chave para a cerimônia de admissão. Assim, descrevi a vocês a cerimônia mais primitiva e agora eu posso justificar o título do meu trabalho, Seis Séculos de Ritual Maçônico. Temos 1356 como a data do início da organização de atividade de maçonaria, e cerca de 1390 as primeiras evidências que indicam uma cerimônia de admissão. Dividam a diferença. Em algum lugar entre essas duas datas foi quando tudo começou. Isso é quase exatamente 600 anos de história provável e podemos provar cada estágio de nosso desenvolvimento a partir de então. A maçonaria, a arte da construção começou há muitos milhares de anos antes disso, mas, para os fins dos antecedentes da nossa própria Maçonaria, só podemos voltar à linha direta de história que pode ser provada, e que é 1356, quando ela realmente começou na Grã-Bretanha. E agora há outro ponto que precisa ser mencionado antes de eu ir mais longe. Tenho vindo falando de uma época em que havia apenas um grau. Os documentos não dizem que há apenas um grau, eles simplesmente indicar apenas uma cerimônia, nunca mais do que uma. Mas eu acredito que ela não pode ter sido para o aprendiz; ela deve ter sido para o companheiro, o homem que estava totalmente treinado. As Antigas Obrigações não dizem is-so, mas há ampla evidência externa da qual tiramos essa con-clusão. Temos muitas ações e decisões judiciais que mostram que nos anos 1400 um aprendiz era uma propriedade, um ativo, de seu mestre. Um aprendiz era uma peça de equipamento, que pertencia a seu mestre. Ele podia ser comprado e vendido quase da mesma maneira que o mestre compraria e venderia um cavalo ou uma vaca e, sob tais condições, é impossível que um aprendiz tivesse qualquer status na loja. Isso veio muito mais tarde. Então, se é que podemos voltar no tempo ao momento em que havia apenas um grau, ele deve ter sido para o pedreiro totalmente treinado, o companheiro.

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Quase 150 anos se passariam antes que as autoridades e o par-lamento começassem a perceber que talvez um aprendiz fosse realmente um ser humano também. No início dos anos 1500, te-mos na Inglaterra uma coleção inteira de estatutos de trabalho, leis trabalhistas começam a reconhecer o status dos aprendizes, e por volta dessa época começamos a encontrar evidências de mais um grau. De 1598 em diante, temos atas de duas Lojas escocesas que esta-vam praticando dois graus. Eu voltarei a isso mais tarde. Antes daquela data, não há nenhuma evidência sobre graus, exceto, talvez, em um documento inglês, o manuscrito Harleian nº 2054, datado de cerca de 1650, mas acredita-se ser uma cópia de um texto do final dos anos 1500, agora perdido. PRIMEIRO SINAL DE DOIS GRAUS O Manuscrito Harleian é uma versão perfeitamente normal das Antigas Obrigações, mas encadernado a uma nota com a mesma caligrafia contendo uma nova versão do juramento do maçom, de particular importância, pois mostra uma grande mudança em relação a todas as formas anteriores do juramento. Aqui está: Há palavras e sinais de um pedreiro livre a serem reveladas a você que você responderá: diante de Deus, no Grande & Terrível dia de Julgamento você mantém segredo e não revela o mesmo aos ouvidos de qualquer pessoa, a não ser aos Mestres e com-panheiros da referida Sociedade dos Maçons livres, assim Deus me ajude. Irmãos, eu sei que recitei rápido demais, mas agora eu vou ler no-vamente a primeira linha: Há várias palavras e sinais de um pedreiro livre a serem reveladas a você. . . . ” Várias palavras e sinais. . .” plural, mais de um grau. E aqui em um documento que deveria ter sido datado de 1550, temos o primeiro indício da expansão das cerimônias em mais de um grau. Poucos anos depois, temos atas efetivas que provam dois graus em prática. Mas notem, Irmãos, que as cerimônias também devem também ter assumido algo de sua forma moderna.

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Elas provavelmente começavam com uma oração, um recitativo de parte da “história”, a postura de mão-sobre-o-livro para a lei-tura das Obrigações, seguido de um compromisso e, em seguida, a incumbência com palavras e sinais secretos, o que quer que fossem. Nós não sabemos o que eles eram, mas sabemos que em ambos os graus, as cerimônias estavam começando a tomar a forma de nossas cerimônias modernas. Temos que esperar um bom tempo antes de encontrar os conteúdos, os detalhes reais dessas cerimônias, mas nós os encontramos no final dos anos 1600, e este é o meu próximo tema. Lembrem-se, Irmãos, ainda estamos com apenas dois graus e eu vou lidar agora com os doc-umentos que realmente descrevem essas duas cerimônias, como elas apareceram pela primeira vez em papel. PRIMEIRO RITUAL PARA DOIS GRAUS O primeiro indício que temos é um documento datado de 1696, lindamente escrito à mão, e conhecido como o Manuscrito Edin-burgh Register House, porque foi encontrado no Cartório de Reg-istro Público de Edinburgh. Eu lido primeiro com a parte do texto que descreve as cerimônias efetivas. Ele é intitulado ‘THE FORME OF GIVING THE MASON WORD’ (A forma de dar a pa-lavra do maçom), que é uma maneira de dizer que é a forma de iniciar um maçom. Ela começa com a cerimônia que transforma um aprendiz em um “Aprendiz Maçom (geralmente cerca de três anos após o início de seu emprego), seguido da cerimônia para a admissão do mestre maçom ou companheiro”, o título do segun-do grau. Os detalhes são fascinantes, mas eu só posso descrevê-los muito rapidamente, e onde sempre que puder, usarei as pa-lavras originais, de modo que vocês possam ter a sensação da coisa. Somos informados de que o candidato ‘era colocado de joelhos’ e “depois de um grande número de cerimônias para assustá-lo” (coisa áspera, judiação; aparentemente eles tentavam apavorá-lo) ‘depois de um grande número de cerimônias para assustá-lo’, ele tomava o livro e naquela posição ele fazia o juramento, e aqui está a versão mais antiga do juramento do maçom descrita como parte

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de uma cerimônia completa. Pelo próprio deus e você responderá a deus quando você estiver nu diante dele, no grande dia, que você não revelará qualquer parte do que você ouvir ou ver, neste momento, seja por palavra, escrita, nem colocará por escrito em momento algum nem desen-hará com a ponta de uma espada, ou qualquer outro instrumento sobre a neve ou a areia, nem você falará sobre isso, a não ser com um maçom iniciado; assim deus lhe ajude. Irmãos, se vocês estiverem ouvindo muito cuidadosamente, acabaram de ouvir a versão mais antiga das palavras ‘compor, es-culpir, marca, gravar ou de outra forma delineá-los’. A primeira versão é a que acabo de ler, “não o escreverá nem o colocará por escrito, nem o desenhará com a ponta de uma espada ou qualquer outro instrumento sobre a neve ou a areia.” Observem, Irmãos, não havia nenhuma penalidade no compromisso, apenas uma obrigação clara de segredo. Depois de ter terminado a obrigação, o jovem era levado para fora da loja pelo último candidato anterior, a última pessoa que foi iniciada antes dele. Fora da porta da loja, ele era ensinado o sinal, posturas e palavras de entrada (não sabemos quais eram elas, até que ele voltasse). Ele voltava, tirava o chapéu e fazia ‘uma mesura ridícula’ e, em seguida, ele dava as palavras de entrada, que in-cluíam uma saudação ao mestre e aos irmãos. Ele terminava com as palavras “sob não menos dor do que cortar minha garganta” e há uma espécie de nota de rodapé que diz “pois que você deve fazer esse sinal quando diz isso”. Esta é a primeira aparição em qualquer documento do sinal de um aprendiz maçom. Agora, Irmãos, esqueçam tudo sobre suas lojas lindamente deco-radas; eu estou falando de maçonaria operativa, quando a loja era ou uma pequena sala na parte de trás de uma taverna, ou em ci-ma de uma taverna, ou então um galpão ligado a um grande tra-balho de construção; e se houvesse uma dúzia de pedreiros lá, teria sido um bom quórum. Então, depois que o garoto tinha feito o sinal, ele era levado até o Mestre para a “incumbência”. Aqui está o Mestre; aqui, ao lado, está o candidato; aqui está o ‘instru-tor’, e ele, o instrutor, sussurra a palavra no ouvido de seu vi-zinho, que sussurra a palavra para o homem seguinte e assim por

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diante, por toda a volta da loja, até que chegue ao Mestre; e o Mestre dá a palavra ao candidato. Neste caso, existe um tipo de nota de rodapé bíblica, que mostra, sem sombra de dúvida, que a palavra não era uma palavra, mas duas. B e J, dois nomes de pi-lar, para o aprendiz maçom. Isto é muito importante mais tarde, quando começamos a estudar a evolução de três graus. No siste-ma de dois graus havia dois pilares para o aprendiz maçom. Isso era realmente a totalidade do trabalho em loja, mas era se-guido por um conjunto de perguntas e respostas simples intit-ulado “ALGUMAS PERGUNTAS QUE MAÇONS COSTUMAM FAZER ÀQUELES QUE TÊM A PALAVRA, ANTES QUE ELES O RECONHEÇAM”. Ele incluía algumas perguntas para testar um estranho do lado de fora da loja, e este texto nos dá a primeira e mais antiga versão do catecismo maçônico. Aqui estão algumas das quinze perguntas. “Você é um pedreiro? Como posso saber? Onde você ingressou? O que faz uma loja verdadeira e perfeita? Onde era a primeira loja? Existem luzes em sua loja? Existem joias em sua loja?” Os primeiros começos fracos do simbolismo maçônico. É incrível o quão pouco havia no início. Lá, Irmãos, 15 perguntas e respostas, que deviam ser respondidas pelo candida-to; ele não tinha tido tempo para aprender as respostas. E essa era toda a cerimônia de aprendiz maçom. Agora lembrem-se, Irmãos, estamos falando de maçonaria opera-tiva, na época em que os maçons ganhavam a vida com martelo e cinzel. Nestas condições o segundo grau era tomado cerca de sete anos após a data da iniciação quando o candidato voltava a ser feito ‘mestre ou companheiro de ofício’. Dentro da loja esses dois graus eram iguais, ambos pedreiros totalmente treinados. Fora da loja, um era um empregador, o outro um empregado. Se ele era o filho de um Burguês livre da cidade, ele poderia levar sua liberdade para a loja e ser feito mestre imediatamente. Caso con-trário, ele tinha que pagar pelo privilégio, e, até então, o compan-heiro permanecia como empregado. Mas dentro da loja ambos tinham o mesmo segundo grau. Assim, após o fim de seu contrato de aprendizagem, e servindo mais um ano ou dois por “carne e honorário”, (ou seja, comida mais um salário), ele vinha em seguida, para o segundo grau. Ele

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era “colocar de joelhos e fazia o juramento de novo”. Era o mesmo juramento que ele tinha feito como aprendiz, omitindo apenas três palavras. Em seguida, ele era levado para fora da loja pelo mestre mais jovem, e lá lhe eram ensinados os sinais, postura e palavras de entrada (ainda não sabemos quais eram elas). Ele vol-tava e dava o que era chamado de “sinal de mestre”, mas este não é descrito, por isso não posso falar a vocês sobre ele. Em seguida, ele era levado para a incumbência. E agora, o mestre mais novo, o sujeito que o havia levado para fora, sussurrava a palavra ao seu vizinho, cada um, por sua vez a passava adiante a toda a loja, até chegar ao Mestre, e o Mestre, sobre os cinco pontos de compan-heirismo – segundo grau, Irmãos dava a palavra ao candidato. Os cinco pontos naqueles dias – pé com pé, joelho com joelho, coração contra coração, mão na mão, orelha contra orelha, que é como era em sua primeira aparição. Nenhuma legenda de Hiram e nenhuma frescura; apenas os cinco pontos e uma palavra. Mas neste documento, a palavra não é mencionada. Ela aparece pouco tempo depois e eu abordarei isso mais tarde. Havia apenas duas perguntas de teste para um grau de compan-heiro, e isso era tudo. Dois graus, muito bem descritos, não só neste documento, mas em dois outros textos irmãos, o Manuscri-to Chetwode Crawley, datado de cerca de 1700 e o Manuscrito Kevan, muito recentemente descoberto, datado de cerca de 1714. Três maravilhosos documentos, todos do sul da Escócia, todos contando exatamente a mesma história – materiais maravilhosos, se vocês se atreverem a confiar neles. Mas, lamento dizer-lhes, Irmãos, que nós, enquanto cientistas em maçonaria, não ousamos confiar neles, porque eles foram escritos em violação a um ju-ramento. Para colocar de forma mais simples, quanto mais eles nos contam, menos eles são confiáveis, a menos que, por algum acaso ou por algum milagre, possamos provar, como precisamos fazer, que esses documentos foram efetivamente usados em uma loja; caso contrário eles são inúteis. Neste caso, por um acaso muito feliz, temos a prova e ela é uma bela história. Isso é o que vocês terão agora. Lembrem-se, Irmãos, os nossos três documentos são de 1696 até 1714. Bem no meio desse período, no ano de 1702, um pequeno

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grupo de cavalheiros escoceses decidiu que queriam ter uma loja em seu próprio quintal, por assim dizer. Estes eram cavalheiros que viveram no sul da Escócia, próximo a Galashiels, cerca de 50 km a sudoeste de Edimburgo. Eles eram todos proprietários no-táveis nessa área – Sir John Pringle de Hoppringle, Sir James Pringle, seu irmão, Sir James Scott de Gala (Galashiels), seu cun-hado, mais cinco vizinhos se reuniram e decidiram formar sua própria Loja, na aldeia de Haughfoot perto de Galashiels. Eles es-colheram um homem que tinha uma caligrafia maravilhosa para ser o seu escrivão, e pediram-lhe que comprasse um livro de atas. Ele o fez. Um livrinho lindo com capa de couro (tamanho octavo), e ele pagou “catorze xelins” escoceses por ele. Eu não vou entrar em detalhes de moedas, mas hoje seria o equivalente a cerca de vinte e cinco centavos. Sendo um escocês, ele tomou nota muito cuidadosamente da quantidade e lançou em seu livro de atas, pa-ra ser reembolsado a partir do primeiro dinheiro devido à socie-dade. Então, em preparação para a primeira reunião da loja, ele começou com o que teria sido a página um com algumas notas, de que não sabemos os detalhes. Mas ele continuou e copiou um desses rituais escoceses inteiro, completo do começo ao fim. Quando ele terminou, ele tinha enchido dez páginas, e suas últi-mas vinte e nove palavras de ritual foram as primeiras cinco lin-has na parte superior da página onze. Agora, este era um escocês, e eu disse a vocês que ele tinha pagado “catorze xelins” por esse livro e a ideia de deixar três quartos de uma página vazia ofendia sua parcimônia escocesa nativa. Então, para evitar desperdiçá-la, abaixo das vinte e nove palavras, ele colocou um título ‘O Mesmo Dia’ e foi direto em frente com a ata da primeira reunião da Loja. Eu espero que vocês possam imaginar tudo isso, Irmãos, porque eu escrevi a história da ‘Loja de Haughfoot’, o a primeira Loja to-talmente não operativa na Escócia, trinta e quatro anos mais an-tiga que a Grande Loja da Escócia. As atas foram lindamente mantidas por sessenta e um anos e, eventualmente, em 1763, a Loja foi engolida por alguma das lojas vizinhas maiores. O livro de atas foi para a grande Loja de Selkirk e desceu de Selkirk a Londres para eu escrever a história. Nós não sabemos quando isso aconteceu, mas, em algum mo-

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mento durante esses sessenta e um anos, alguém, talvez um dos secretários posteriores da loja, deve ter aberto esse livro de atas e avistado as páginas de abertura e ele deve ter tido um ataque! Ritual em um livro de atas! Fora! E as primeiras dez páginas de-sapareceram; elas estão completamente perdidas. Aquele açougueiro teria tomado a página onze também, mas nem mesmo ele teve coragem de destruir a ata da primeira reunião desta maravilhosa loja. Assim, foi a ata da primeira reunião que salvou essas vinte e nove palavras do ouro na parte superior da página onze, e as vinte e nove palavras são praticamente idênticas às partes correspondentes do manuscrito Edinburgh Register House e seus dois textos irmãos. Essas palavras preciosas são uma gar-antia de que os outros documentos podem ser confiáveis, e isso nos dá um ponto de partida maravilhoso para o estudo do ritual. Não só temos os documentos que descrevem as cerimônias; te-mos também uma espécie de critério, pelo qual podemos julgar a qualidade de cada novo documento à medida que ele chega, e neste momento eles começam a chegar. Agora Irmãos, deixe-me avisá-lo que até agora estamos falando de documentos escoceses. O céu abençoe os escoceses! Eles cuidaram de cada pedaço de papel, e se não fosse por eles, não teríamos praticamente nenhuma história. O nosso material mais antigo e mais fino é quase todo escocês. Mas, quando os docu-mentos ingleses começam a aparecer, eles parecem se encaixar. Eles não só se harmonizam, muitas vezes eles preenchem lacunas nos textos escoceses. De agora em diante, citarei o país de origem daqueles documentos que não são ingleses. Nos próximos anos, encontraremos uma série de valiosos docu-mentos de rituais, incluindo algumas da maior importância. O primeiro deles é o Manuscrito Sloane, datado de cerca de 1700, um texto inglês, hoje na Biblioteca Britânica. Ele dá vários “toques” que não tinham aparecido em qualquer documento an-tes. Ele dá uma nova forma de juramento do Maçom, que contém as palavras “sem equívoco ou reserva mental”. Aquilo aparece pela primeira vez no Manuscrito Sloane, e Irmãos, a partir deste ponto em diante, cada detalhe ritual eu dou a vocês, será uma novidade. Não repetirei os detalhes individuais conforme eles

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reaparecem nos textos posteriores, nem posso dizer com precisão quando uma determinada prática, na verdade, começou. Vou simplesmente dizer que este ou aquele item aparece, pela primeira vez, dando-lhe o nome e data do documento pelo qual ele pode ser provado. Se estiver me acompanhando, você perceberá – e lhes peço que pensem nisso desta maneira – que vocês estão assistindo uma plantinha, uma muda de Maçonaria, e cada palavra que eu proferir será um novo rebento, uma nova folha, uma nova flor, um novo ramo. Vocês estarão assistindo o ritual crescer; e se vocês o virem dessa forma, Irmãos, eu sei que eu não estou perdendo meu tempo, porque essa é a única maneira de vê-lo. Agora, de volta ao Manuscrito Sloane que não tenta descrever a cerimônia inteira. Ele tem uma fantástica coleção de ‘toques (apertos de mão)’ e outros modos estranhos de reconhecimento. Tem um catecismo de cerca de vinte e duas perguntas e respostas, muitas delas semelhantes às dos textos escoceses, e há uma nota que parece confirmar dois pilares para o Aprendiz. Um parágrafo posterior fala de uma saudação (?) ao Mestre, uma curiosa postura de ‘abraço’, com ‘a garra de mestres por suas mãos direitas e parte superior dos dedos da mão esquerda baten-do fechados na omoplata um dos outro. . . ‘. Aqui, a palavra é da-da como Moha – Bon ‘, metade em uma orelha e metade na outra, para ser utilizada como uma palavra de telhamento. Essa foi sua primeira aparição em qualquer um dos nossos docu-mentos, e se você estivesse telhando alguém, você diria ‘Moha’ e o outro teria que dizer ‘Bon'; e se ele não disse “Bon” você não teria nenhum negócio com ele. Falarei sobre várias outras versões à medida que elas surgirem mais tarde, mas devo salientar que aqui é um documento inglês preenchendo lacunas nos três textos escoceses, e esse tipo de coisa acontece continuamente. Agora temos outro documento escocês, o Manuscrito Dumfries No. 4 datado de cerca de 1710. Ele contém uma massa de material novo, mas eu só posso mencionar alguns dos itens. Uma de suas perguntas é: “Como você foi trazido? Vergonhosamente, com uma corda em volta do pescoço”. Este é o primeiro cabo de reboque;

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e uma resposta mais tardia diz que a corda “é para me enforcar se eu trair a minha confiança”. Dumfries também menciona que o candidato recebe o ‘Real Segredo’ ajoelhado no “em meu joelho esquerdo”. Entre muitas Perguntas e Respostas interessantes, ele lista algu-mas das penalidades incomuns daqueles dias. “Meu coração re-tirado vivo, minha cabeça cortada, meu corpo enterrado dentro da enchente da maré”. “Dentro da enchente da maré” é a versão mais antiga do “comprimento do cabo desde a praia”. Irmãos, há muito mais, ainda, mesmo nesta fase inicial, mas eu tenho que ser breve e lhes dar todos os itens importantes à medida que avançamos para a próxima fase. Enquanto isso, esta era a situação na época em que a primeira Grande Loja foi fundada em 1717. Temos apenas dois graus na Inglaterra, um para o Aprendiz e o segundo para o “mestre ou companheiro de ofício”. O Dr. Anderson, que compilou o primeiro Livro Inglês das Constituições em 1723, na verdade, de-screveu o segundo grau inglês como “Mestres e Companheiros”. O termo escocês já tinha invadido a Inglaterra. A próxima grande etapa na história do ritual é a evolução do ter-ceiro grau. Na verdade, sabemos muito sobre o terceiro grau, mas existem algumas lacunas terríveis. Não sabemos quando ele começou ou por que ele começou, e não podemos ter certeza de quem o começou! À luz de uma vida de estudo, eu vou dizer a vocês o que sabemos, e tentaremos preencher as lacunas. Teria sido fácil, é claro, se se pudesse estender a mão em uma biblioteca muito boa e puxar um grande livro de atas e dizer: “Bem, aqui está o mais antigo terceiro grau que já aconteceu”; mas isso não funciona dessa maneira. Os livros de atas vieram muito mais tarde. INDÍCIOS DE TRÊS GRAUS Os primeiros indícios de terceiro grau aparecem em documentos como os que eu tenho falado – principalmente documentos que foram escritos como memorandos para os homens a quem pertenciam. Mas nós temos que utilizar exposições também, ex-

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posições impressas para o lucro, ou ofensa, e nós temos algumas indicações úteis do terceiro grau muito antes de ele realmente aparecesse na prática. E assim, começamos com um dos melhores, um adorável pequeno texto, uma única folha de papel conhecida como o Manuscrito Trinity College, Dublin, datado de 1711, encontrado entre os papéis de um médico irlandês famoso e cientista, Sir Thomas Molyneux. Este documento tem como cabeçalho uma espécie de Triplo Tau, e debaixo dele as palavras “Sob nada menos que uma penalidade”. Isto é seguido por um conjunto de onze P&R e sabemos imediatamente que algo está er-rado! Já temos três conjuntos perfeitos de quinze perguntas, então onze perguntas deve ser ou má memória ou cópia ruim – algo está errado! As perguntas são perfeitamente normais, apenas não há o suficiente delas. Em seguida, após as onze perguntas se-ria de se esperar que o escritor desse uma descrição de toda ou parte da cerimônia, mas, em vez disso, ele dá uma espécie de catálogo de palavras e sinais da Maçonaria. Ele dá este sinal (AM demonstrado) para o AM com a palavra B. Ele dá “toques & sinais” como o sinal para o “companheiro”, com a palavra ‘J ………’. O “sinal de Mestre é a espinha” e para ele (ou seja, o MM) o escritor dá pior descrição do mundo dos cinco pon-tos de perfeição. (Parece claro que nem o autor desta peça nem o escritor do Manuscrito Sloane, jamais ouvira falar dos Pontos de Companheirismo, ou sabia como descrevê-los.) Aqui, como eu demonstro, estão as palavras exatas, nem mais nem menos: “Aperte o Mestre pela espinha, coloque o seu joelho entre os dele, e diga Matchpin.” Isso, Irmãos, é a nossa segunda versão da palavra do terceiro grau. Começamos com ‘Mahabyn’, e agora ‘Matchpin’, horrivel-mente degradada. Deixe-me dizer agora, alto e claro, ninguém sabe qual era a palavra correta. Era provavelmente hebraico orig-inalmente, mas todas as primeiras versões estão degradadas. Deveríamos trabalhar para trás, traduzindo do Inglês, mas não podemos ter certeza de que nossas palavras inglesas estão corre-tas. Então, aqui no Manuscrito Trinity College, Dublin, temos, pela primeira vez, um documento que tem segredos separados para três graus distintos; o aprendiz, o companheiro e o mestre.

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Não é prova de três graus na prática, mas mostra que alguém es-tava brincando com essa ideia em 1711. A próxima peça de prova sobre esse tema vem da primeira ex-posição impressa, impressa e publicada para entretenimento ou por despeito em um jornal de Londres, The Flying Post. O texto é conhecido como um “Telhamento de Maçom”. Por esta época, 1723, o catecismo era muito mais longo e o texto continha várias peças de rima, todas interessantes, mas apenas uma de particular importância para o meu propósito presente e aqui está ela: “Um Maçom iniciado eu fui, Boaz e Jaquim eu vi; Um compan-heiro que eu fui jurado mais raro, e conheço a Pedra Bruta, Polida e o Esquadro: Eu sei a parte do Mestre muito bem, tão honesta Mohabin você dirá”. Observem, Irmãos, ainda existem dois pilares para a AM, e mais uma vez alguém está dividindo os segredos maçônicos em três partes para três categorias diferentes de Maçons. A ideia de três graus está no ar. Nós ainda estamos procurando atas, mas elas não chegaram ainda. Em seguida, temos outro documento de val-or inestimável, datado de 1726, o Manuscrito Graham, um texto fascinante que começa com um catecismo de cerca de trinta perguntas e respostas, seguido por uma coleção de lendas, princi-palmente sobre personagens bíblicos, cada história com uma es-pécie de distorção Maçônica no seu relato. Uma lenda conta como três filhos foram ao túmulo do pai deles. Tentar, se pudessem, encontrar alguma coisa sobre ele para levá-los até o segredo de virtude que este famoso pregador tinha. Eles abriram a sepultura nada encontrando, exceto o corpo morto quase totalmente con-sumido. Agarrando um dele, ele se soltou de junta a junta até o pulso até o cotovelo, assim eles ergueram o corpo morto e o sus-tentaram colocando pé com pé, joelho com joelho, peito com peito, rosto com rosto e a mão nas costas e pediram socorro, ó pai… então alguém disse aqui há ainda medula nesse osso, e o se-gundo disse, apenas osso seco e o terceiro disse que cheirava mal, assim eles concordaram em dar-lhe um nome que é conhecido da Maçonaria até hoje… Esta é a primeira história de uma elevação em um contexto maçônico, aparentemente, um fragmento da lenda de Hiram, mas

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o velho cavalheiro na sepultura era o Pai Noé, e não Hiram Abif. Outra lenda se refere a “Bazalliel”, o artesão maravilhoso que construiu o Templo móvel e a Arca da Aliança para os israelitas durante a sua peregrinação pelo deserto. A história diz que perto da morte, Bazalliel pediu que uma lápide fosse erguida sobre seu túmulo, com uma inscrição “de acordo com seu desserviço” e que foi feito da seguinte forma: “Aqui jaz a flor de maçonaria superior de muitos outros compan-heiros a um rei e dois príncipes um irmão. Aqui jaz o coração que todos os segredos conseguia esconder. Aqui jaz a língua que jamais revelou.” As duas últimas linhas não poderiam ter sido mais aptas se elas tivessem sido escritas especialmente para Hiram Abif; elas são praticamente um resumo da lenda de Hiram. No catecismo, uma resposta fala daqueles que. . . obtiveram uma Voz tripla através de iniciação, elevação e exaltação e conformado por 3 lojas diferentes… “Iniciado, elevado e exaltado” é bastante claro. “Três lojas diferentes” significa os três graus separados, três cerimônias sep-aradas. Não há dúvida de que tudo isso é uma referência a três graus em prática. Mas ainda queremos atas e nós não as temos. E eu sinto muito dizer-lhes, que as primeiras atas em que temos registro de um terceiro grau, por mais fascinantes e interessantes que elas sejam, referem-se a uma cerimônia que nunca aconteceu em uma loja; ela ocorreu no interior de uma Sociedade Musical de Londres. É uma linda história e é isso que você vai receber ag-ora. Em dezembro de 1724, houve uma pequena reunião agradável de loja na Taverna Queen’s Head, em Hollis Street, no Strand, cerca de trezentos metros do nosso atual Freemason’s Hall, a sede da Maçonaria na Inglaterra. Pessoas agradáveis; o melhor da socie-dade musical, arquitetônica e cultural de Londres eram membros desta loja. Na noite especial em que eu estou interessado, Sua Graça, o duque de Richmond era o Mestre da Loja. Devo acres-centar que a Sua Graça, o Duque de Richmond também era o Grão-Mestre da época, e você pode chamá-lo de ‘pessoa agradável’. É verdade que ele era descendente de um bastardo re-

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al, mas hoje em dia até mesmo os bastardos reais são contados como pessoas agradáveis. Um par de meses depois, sete dos membros dessa loja e um irmão que eles tinham tomado em-prestado de outra loja decidiram que queriam fundar uma socie-dade musical e arquitetural. Eles deram a ela um título Latino de um quilômetro de compri-mento – Philo Musicae ET Architecturae Societas Apollini – que traduzindo, “A Sociedade Apolínea Para os Amantes da Música e Arquitetura” e elaboraram um livro de regras incrivelmente boni-to. Cada palavra dele escrita à mão. Parece que o impressor mais magnífico o tinha impresso e decorado. Agora, essas pessoas estavam muito interessadas em sua Ma-çonaria e para sua sociedade musical, eles elaboraram um código incomum de regras. Por exemplo, uma regra era que cada um dos fundadores deveria ter seu próprio brasão de armas estampados em cores nas páginas de abertura do livro de atas. Quantas lojas vocês conhecem, em que cada fundador tem o seu próprio brasão de armas? Isso lhes dá uma ideia do tipo de garotos que eles eram. Eles amavam a sua Maçonaria e eles fizeram outra regra, de que qualquer um poderia vir às suas palestras arquiteturais ou às suas noites musicais – os melhores condutores eram membros da sociedade – qualquer pessoa poderia vir, mas se ele não era um Maçom, ele tinha que ser iniciado Maçom antes que eles o deixassem entrar; e porque eles estavam tão interessados sobre o status Maçônico de seus membros, eles mantiveram notas bi-ográficas maçônicas de cada membro quando ele ingressou. É a partir dessas notas que podemos ver o que realmente aconteceu. Eu poderia falar sobre eles a noite toda, mas para os nos-sos propósitos atuais, precisamos somente seguir a carreira de um dos seus membros, Charles Cotton. Nos registros da Sociedade Musical lemos que em 22 de dezem-bro de 1724 “Charles Cotton Esq.”. foi iniciado um Maçom pelo dito Grão-Mestre [isto é, a Sua Graça, o Duque de Richmond] na Loja na Queen’s Head. Não poderia ser mais regular do que isso. Em seguida, em 18 de fevereiro de 1725 “… antes que fundássemos Esta Sociedade uma Loja foi realizada… a fim de iniciar Charles Cotton Esq.”. . . e porque foi no dia em que a so-

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ciedade foi fundada, não podemos ter certeza se Cotton foi eleva-do na Loja ou na Sociedade Musical. Três meses depois, em 12 de maio de 1725 o “Irmão Charles Cotton Esq. e o Ir .’. Papillion Ball foram regularmente exaltados a Mestres”. Agora temos a data da iniciação de Cotton, sua elevação e sua ex-altação; não há dúvida de que ele recebeu três graus. Mas, Mes-tres regularmente exaltados – Não! Não poderia ter sido mais ir-regular! Esta era uma Sociedade Musical – não uma loja! Mas eu lhes disse que eles eram pessoas agradáveis, e eles tinham alguns visitantes ilustres. Em primeiro lugar, o Grande Primeiro Vigilan-te veio vê-los. Em seguida, o Grande Segundo Vigilante. E então, eles receberam uma carta desagradável do Grande Secretário e, em 1727, a sociedade desapareceu. Nada resta agora, exceto o seu livro de atas na Biblioteca Britânica. Se você alguma vez for a Londres e visitar o Freemason’s Hall, você verá um fac-símile maravilhoso daquele livro. Vale a pena uma viagem a Londres apenas para vê-lo. E este é o registro dos primeiros terceiros graus. Eu gostaria que pudéssemos produzir uma novidade mais respeitável, mas esta foi a primeira. Devo dizer-lhes, Irmãos, que Gould, o grande historiador maçô-nico acreditou, toda a sua vida, que este era o mais antigo terceiro grau de que havia qualquer registro. Mas, pouco antes de morrer, ele escreveu um artigo brilhante nas Transações da Quatuor Cor-onati Lodge, e ele mudou de ideia. Ele disse: “Não, as atas estão abertas à interpretação ampla, e não devemos aceitar isso como um registro de terceiro grau.” Francamente, eu não acredito que ele provou seu caso, e sobre este ponto me atrevo a discutir com Gould. Observem-me cuidadosamente, Irmãos, porque eu posso ser atingido por um raio neste momento. Ninguém discute com Gould! Mas eu discuto isso porque no prazo de dez meses a partir desta data, temos provas irrefutáveis de terceiro grau na prática. Como vocês poderiam esperar, benditos sejam, elas vêm da Escócia. A Loja Dumbarton Kilwinning, agora no. 18 no registo da Grande Loja da Escócia foi fundada em janeiro de 1726. Na reunião de fundação havia o Mestre, com sete mestres maçons, seis compan-heiros e três aprendizes; alguns deles eram maçons operativos,

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alguns não operativos. Dois meses depois, em março de 1726, nós temos esta ata: Gabriel Porterfield que apareceu na reunião de janeiro como um Companheiro foi admitido por unanimidade e exaltado como Mestre da Fraternidade e renovou seu juramento e pagou suas taxas de admissão. Agora, observem Irmãos, aqui estava um escocês, que começou em janeiro como Companheiro, um companheiro fundador de uma nova Loja. Então, ele veio em março, e renovou seu ju-ramento, o que significa que ele passou por outra cerimônia; e ele deu sua taxa de admissão, o que significa que ele pagou por ela. Irmãos, se um escocês pagou por isso você apostar sua vida que ele conseguiu! Não há dúvida sobre isso. E há o mais antigo regis-tro 100 por cento dourado de um terceiro grau. Dois anos depois, em dezembro de 1728, outra nova Loja, Greenock Kilwinning, em sua primeira reunião, prescrevia taxas separadas para a iniciação, elevação e exaltação. A MAÇONARIA DISSECADA DE PRICHARD A partir de então, temos ampla evidência dos três graus em práti-ca e, em seguida, em 1730, temos a mais antiga exposição im-pressa que alegava descrever todos os três graus, a Maçonaria Dissecada, publicada por Samuel Prichard em outubro de 1730. Foi o trabalho ritual mais valioso que tinha aparecido até aquele momento, todo sob a forma de perguntas e respostas (exceto por uma breve introdução) e teve enorme influência na estabilização do nosso ritual inglês. Seu ‘Grau de Aprendiz Maçom’ – a esta altura com noventa e du-as perguntas – dava duas palavras pilar para o AM, e o primeiro deles era ‘soletrada’. Prichard conseguiu espremer muito trabalho prático em suas perguntas e respostas do AM. Aqui está uma pergunta para o candidato: “Como ele fez de você um Maçom?” Ouçamos a sua resposta: “Com o meu joelho nu dobrado e o corpo dentro do esquadro, o compasso estendido contra meu seio esquerdo nu, minha mão direita nua sobre a Santa Bíblia: ali eu tomei a Obrigação (ou Ju-

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ramento) de um Maçom.” Todas essas informações em uma resposta! E a pergunta seguinte era: ‘Você pode repetir essa obrigação? Com a resposta: “Farei meu esforço.”, e Prichard seguia isso com uma obrigação magnífi-ca que continha três conjuntos de sanções (corte na garganta, coração arrancado, o corpo cortado e cinzas queimadas e espal-hadas). Isto é como elas apareceram em 1730. Documentos de 1760 as mostram separadas, e os desenvolvimentos posteriores não nos interessam aqui. O “Grau de Companheiro” de Prichard era muito curto, apenas 33 perguntas e respostas. Eu dei J sozinho ao Companheiro (não soletrei), mas agora o segundo grau tinha um monte de novo ma-terial relativo aos pilares, à câmara do meio, à escada em espiral, e um longo recitativo sobre a letra G, que começava com o signifi-cado “Geometria” e acabava denotando “O Grande Arquiteto e Inventor do Universo”. O “Grau de Mestre ou Parte do Mestre” de Prichard era composto de trinta perguntas com algumas respostas muito longas, que continham a versão mais antiga da lenda de Hiram, literalmente, toda a história, como ela era contada naquela época. Ela incluía o assassinato por “três Rufiões”, os investigadores, “Quinze Aman-tes Irmãos” que concordaram entre si “que se não encontrassem a Palavra nele ou sobre ele, a primeira palavra deveria ser a Palavra do Mestre”. Mais tarde, a descoberta “o Deslizamento”, a elevação com os cinco pontos de perfeição, e outra nova versão da palavra* de MM, o que se diz significar “O Construtor está morto”. Não há nenhuma razão para acreditar que Prichard inventasse a lenda de Hiram. Ao lermos sua história em conjunto com aquelas coletadas por Thomas Graham em 1726 (citado acima), não pode haver dúvida de que a versão de Prichard surgiu de vários fluxos de lenda, provavelmente um resultado inicial da influência especulativa naqueles dias. Mas o terceiro grau não era uma nova invenção. Ele surgira de uma divisão do primeiro grau original em duas partes, de modo que o segundo grau original com seus Pontos de Perfeição e uma palavra moveu-se para cima, para o terceiro lugar, ambos os se-gundo e terceiro adquirindo materiais adicionais durante o

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período de mudança. Isso ocorreu em algum momento entre 1711 e 1725, mas se ele começou na Inglaterra, Escócia, ou Irlanda é um mistério; nós simplesmente não sabemos. De volta agora a Samuel Prichard e sua Maçonaria Dissecada. O livro criou uma sensação; ele vendeu três edições e uma edição pirata em 11 dias. Ele varreu todas as outras exposições fora do mercado. Pelos próximos 30 anos, Prichard estava sendo reim-presso continuamente e nada mais poderia ter uma chance; não havia nada apto a chegar perto dele. Perdemos alguma coisa com isso, porque não temos registros de quaisquer desenvolvimentos de rituais na Inglaterra durante os próximos 30 anos – uma grande lacuna de 30 anos. Apenas um novo item apareceu em to-do esse tempo, o “Obrigação para o Iniciado”, uma miniatura da nossa versão moderna, em belo inglês do século XVIII. Ele foi publicado em 1735, mas não sabemos quem o escreveu. Para no-vas informações sobre o crescimento do ritual, temos que atrav-essar o Canal, para a França. MAIS PROVAS DA FRANÇA Os ingleses plantaram a Maçonaria na França em 1725, e ela tor-nou-se um passatempo elegante para a nobreza e a aristocracia. O Duque Fulano de Tal realizaria uma loja em sua casa, onde ele era o Mestre para sempre, e a qualquer momento, ele convidava al-guns amigos de sua roda, eles abririam uma loja e ele iniciaria mais alguns Maçons. Foi assim que começou, e levou cerca de dez ou doze anos antes que a Maçonaria começasse a se infiltrar para baixo, através dos níveis mais baixos. A essa altura, as lojas esta-vam começando a se reunir em restaurantes e tavernas, mas por volta de 1736, as coisas foram se tornando difíceis na França e temia-se que as lojas estivessem sendo usadas para tramas e con-spirações contra o governo. Em Paris, em particular, precauções foram tomadas. Um edital foi emitido por René Herault, Chefe geral da Polícia, que os tab-erneiros e restauradores não deviam a dar guarida a lojas maçô-nicas, sob pena de ser fechado por seis meses e uma multa de 3.000 libras. Temos dois registros, ambos em 1736-1737, de res-

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taurantes bem conhecidos que foram fechados pela Polícia por esse motivo. Não deu certo, e a razão era muito simples. A Ma-çonaria tinha começado em casas particulares. No momento em que os funcionários começaram a pressionar as reuniões em ta-vernas e restaurantes, ela voltou para casas particulares; ela passou à clandestinidade por assim dizer, e a Polícia ficou inerme. Eventualmente, Herault decidiu que ele poderia fazer muito mais danos à Maçonaria se pudesse torná-la alvo de chacota. Se ele pudesse fazê-la parecer ridícula, ele tinha certeza de que poderia colocá-la fora de ação para sempre, e ele decidiu tentar. Ele en-trou em contato com uma de suas amigas, uma certa Madame Carton. Agora, Irmãos, eu sei que o que eu vou dizer a vocês soa como o nosso English News of the World (Noticias Populares), mas o que eu estou lhes dando está gravado história, e é história muito importante para isso. Então, ele entrou em contato com Madame Carton, que é sempre descrita como uma dançarina na Ópera de Paris. O fato simples é que ela seguia uma profissão muito antiga. A melhor descrição que dá uma ideia de seu status e suas qualidades, é que ela dormia nas melhores camas da Europa. Ela tinha uma clientela muito especial. Agora ela não era jovem; ela tinha 55 anos de idade na época e tinha uma filha que também estava na mesma linha interessante de negócio. E eu tenho que ser muito cuidadoso com o que eu digo, pois se acreditava que um de nossos próprios Grãos Mestres estava enredado com uma delas ou com ambas. Tudo isso estava nos jornais da época. De qualquer forma, Herault entrou em contato com Madame Car-ton e pediu-lhe para obter uma cópia do ritual maçônico de um de seus clientes. Ele tinha a intenção de publicá-lo, e expondo os maçons ao ridículo, ele ia colocá-los fora do negócio. Bem! Ela o fez, e ele o fez. Em outras palavras, ela conseguiu sua cópia do ritual e passou-a a ele. Ela foi publicada pela primeira vez na França em 1737, sob o título “Reption d’un Frey-Maçon”. Dentro de um mês, ela foi traduzida em três jornais de Londres, mas não conseguiu diminuir o zelo francês pela Maçonaria e não teve qualquer efeito na Inglaterra. Eu resumo brevemente. O texto, em forma de narrativa, descrevia apenas uma única cerimônia de dois pilares, lidando principalmente com o trabalho

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em loja e apenas fragmentos do ritual. O Candidato era privado de metais, joelho direito nu, sapato esquerdo usado “como um chinelo” e trancado em um quarto sozinho na escuridão total, pa-ra colocá-lo no estado de espírito certo para a cerimônia. Seus olhos estavam vendados e seu padrinho batia três vezes na porta da Loja. Depois de várias perguntas, ele era apresentado e ad-mitido sob os cuidados de um Guarda (Vigilante). Ainda com os olhos vendados, ele era levado três vezes em volta do desenho do pavimento no centro da Loja, e havia “brilhos de resina”. Era cos-tume nas lojas francesas naqueles dias ter uma panela de brasas vivas dentro da porta da loja e no momento em que o candidato era trazido, eles polvilhavam resina em pó sobre as brasas, para fazer um enorme clarão, que assustaria o candidato, mesmo que ele estivesse com os olhos vendados. (Em muitos casos eles não os vendavam até que chegasse à Obrigação.) Então, no meio de um círculo de espadas, temos a postura para a Obrigação dos três lotes de penalidades, e detalhes dos Aventais e Luvas. Isto é se-guido pelos sinais, toques e palavras relativas a dois pilares. A cerimônia continha várias características desconhecidas na práti-ca inglesa, e algumas partes da história parecem ter sido contadas na sequência errada, de modo que, ao lê-lo, de repente percebe-mos que o cavalheiro que estava ditando teve sua mente mais ligada a assuntos muito mais mundanos. Então, Irmãos, esta foi a primeira exposição da França, não muito boa, mas foi o primeiro de um fluxo realmente maravilhoso de documentos. Como antes, discutirei apenas os mais importantes. Meu próximo é Le Secret des Francs-Maçons (O Segredo dos Ma-çons), 1742, publicado pelo Abbè Perau, que era Prior na Sor-bonne, a Universidade de Paris. Um belo primeiro grau, tudo em forma de narrativa, e cada palavra a favor da Maçonaria. Suas pa-lavras para o AM e CM estavam na ordem inversa (e isso se tor-nou uma prática comum na Europa), mas ele disse praticamente nada sobre o segundo grau. Ele descreveu o beber e brindar maçônico em grande extensão, com uma descrição maravilhosa do ‘Fogo Maçônico’. Ele mencionou que o grau de Mestre era “um grande lamento cerimonial sobre a morte de Hiram”, mas ele na-da sabia sobre o terceiro grau, e disse que os Mestres Maçons

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apenas têm um novo sinal e isso foi tudo. Nosso próximo trabalho é Le Catéchisme des Francs-Maçons (O Catecismo da Maçonaria), publicado em 1744 por Louis Travenol, um jornalista francês famoso. Ele dedica seu livro “Ao Belo Sexo”, que ele adora, dizendo que ele está deliberadamente publicando essa exposição em benefício delas, porque os Maçons as ex-cluíram, e seu tom é ligeiramente antimaçônico. Ele continua com uma nota “Ao Leitor”, criticando vários itens na obra de Perau, mas concordando que Le Secret está, de maneira geral, correto. Por essa razão (e Perau era irremediavelmente ig-norante do terceiro grau), ele limita sua exposição ao nível de MM. Mas isso é seguido por um catecismo que é um composto para todos os três graus, sem divisões, embora seja fácil ver quais perguntas pertencem ao Mestre Maçom. Le Catéchisme também contém duas excelentes gravuras dos Painéis de Loja ou Desenho do Pavimento, um chamado “Plano da Lodge para o Aprendiz-Companheiro” combinado, e outro pa-ra “A Loja de Mestre”. Travenol começa seu terceiro grau com ‘A História de Adoniram, Arquiteto do Templo de Salomão’. Os textos em francês cos-tumam dizer Adoniram em vez de Hiram, e a história é uma versão esplêndida da Lenda de Hiram. Na melhor das versões em francês, a palavra do Mestre (Jeová) não foi perdida; os nove Mestres que foram enviados por Salomão para procurá-lo, decidi-ram adotar uma palavra substituta por medo de que os três assas-sinos tivessem obrigado Adoniran a divulgá-la. Isto é seguido por um capítulo à parte que descreve o leiaute de uma Loja de Mestre, incluindo o “Desenho do Pavimento”, e a mais antiga cerimônia de abertura de uma Loja de Mestres. Aquele contém um curioso “sinal de Mestre” que começa com uma mão ao lado da fronte e termina com o polegar na boca do estômago. E agora, Irmãos, temos uma descrição magnífica do desenho do pavimento do terceiro grau, toda a cerimônia, tão bem descrita e em tais detalhes, que qualquer Preceptor poderia reconstruí-la do começo ao fim – e cada palavra de todo este capítulo é material novo que nunca tinha aparecido antes. É claro que há muitos itens que diferem das práticas que

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conhecemos, mas agora você pode ver porque eu estou animado com esses documentos franceses. Eles dão detalhes maravilhosos, numa época em que não temos o material correspondente na In-glaterra. Mas antes que eu saia de Le Catechisme, devo dizer al-gumas palavras sobre a sua figura do Painel de Loja ou Desenho do Pavimento do terceiro grau que ele contém, como seu tema central, um desenho de um esquife, cercado por gotas de lágri-mas, as lágrimas que nossos irmãos antigos derramam com a morte de nosso Mestre Adoniram. Sobre o esquife está um ramo de acácia e a palavra “JEHOVA”, “ancien mot du Maitre”, (antiga palavra de um Mestre), mas no grau francês ela não foi perdida. Ela era o Nome Inefável, que nunca devia ser pronunciado, e aqui, pela primeira vez, a palavra Jeová está no caixão. O diagrama, em pontos, mostra como três passos em zig-zag sobre o caixão devem ser dados pelo candidato ao avançar do Ocidente para o Oriente, e muitos outros detalhes interessantes, numerosos demais para mencionar. O catecismo, que é o último item principal do livro, está baseado (como todos os primeiros catecismos franceses) diretamente so-bre a Maçonaria Dissecada, de Prichard, mas ele contém uma série de expansões e explicações simbólicas, resultado da influên-cia especulativa. E assim chegamos à última das exposições francesas que eu quero abordar hoje, L’Ordre des Francs-Maçons Trahi (A Ordem dos Maçons Traída) publicada em 1745 por um escritor anônimo, um ladrão! Não havia nenhuma lei de direitos autorais naqueles dias e este homem conhecia uma coisa boa quando ele a via. Ele levou o melhor material que pode encontrar, colecionado em um livro, e acrescentou algumas notas de sua autoria. Então, ele roubou o livro de Perau, 102 páginas, inteirinho, e o imprimiu como seu próprio primeiro grau. Ele disse muito pouco sobre o segundo grau (o segundo grau sempre foi um pouco órfão). Ele roubou o adorável terceiro grau de Travenol, e acrescentou algumas notas, incluindo algumas linhas dizendo que antes da admissão do can-didato, o MM mais recente na Loja deita-se no caixão, com o rosto coberto com um pano manchado de sangue, de modo que o candidato o verá levantado pelo Mestre, antes que ele avance para

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a sua própria parte na cerimônia. De seu próprio material, não há muito; capítulos sobre a Cifra Maçônica, sobre os Sinais, Toques e Palavras, e sobre costumes maçônicos. Ele também incluía dois desenhos melhorados do Pavimento e duas gravuras excelentes ilustrando os primeiro e o terceiro graus em progresso. Seu catecismo seguia a versão de Travenol de muito perto, mas ele acrescentou quatro perguntas e respostas (aparentemente uma contribuição menor), mas elas são de grande importância em nosso estudo do ritual: P. – Quando um Maçom encontra-se em perigo, o que ele deve dizer e fazer para chamar os irmãos em seu auxílio? R. – Ele deve colocar suas mãos postas sobre a testa, os dedos en-trelaçados, e dizer: “A mim os filhos da viúva”. Irmãos, eu não sei se “dedos entrelaçados” eram utilizados nos EUA ou no Canadá; só vou dizer que eles eram bem conhecidos em várias jurisdições europeias, e “Filhos da Viúva” aparece na maioria das versões da lenda de Hiram. Mais três novas perguntas são: 1 Qual é a Palavra de um Aprendiz? Resp: T 2 A de um companheiro? Resp: S 3 E a de um Mestre? Resp: G Esta foi a primeira aparição de senhas impressas, mas o autor acrescentou uma nota explicativa: Estas três senhas são pouco utilizadas, exceto na França e em Frankfurt am Main. Elas têm a natureza de palavras de passe, in-troduzido como uma salvaguarda mais segura (quando se lida) com irmãos que não as conhecem. As senhas nunca tinham sido ouvidas antes desta data, 1745, e elas aparecem pela primeira vez, na França. Vocês devem ter no-tado, Irmãos, que algumas delas parecem estar na ordem errada, e, por causa da lacuna de 30 anos, não sabemos se elas estavam sendo usadas na Inglaterra naquele momento ou se eram uma in-venção francesa . Neste enigma temos uma curiosa peça de evi-dência indireta, e devo divagar por um momento. No ano de 1730, a Grande Loja da Inglaterra foi grandemente perturbada pelas exposições que estavam sendo publicadas, espe-cialmente a Maçonaria Dissecada de Prichard, que foi oficialmen-

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te condenada na Grande Loja. Mais tarde, como medida de pre-caução, certas palavras nos dois primeiros graus foram trocadas, um movimento que deu motivo, no devido tempo ao surgimento de uma Grande Loja rival. Le Secret, 1742, Le Catéchisme, 1744 e o Trahi, 1745, todos dão essas palavras na nova ordem, e em 1745, quando as Senhas fizeram sua primeira aparição na França, elas também aparecem em ordem inversa. Sabendo quão regularmen-te a França adoptou – e melhorou – práticas rituais inglesas, parece haver uma forte probabilidade de que as Senhas já es-tivessem em uso na Inglaterra (talvez na ordem inversa), mas não há um único documento inglês para apoiar essa teoria. Então, Irmãos, até 1745 a maior parte dos principais elementos nos graus da Maçonaria já existiam, e quando o novo fluxo de rit-uais ingleses começou a aparecer na década de 1760, o melhor daquele material tinha sido incorporado em nossa prática inglesa. Mas ainda estava muito crua e uma grande quantidade de poli-mento precisava ser feita. O polimento começou em 1769 por três escritores – Wellins Cal-cutt e William Hutchinson, em 1769, e William Preston, em 1772, mas Preston superou os outros. Ele foi o grande expositor da Ma-çonaria e seu simbolismo, um professor nato, constantemente escrevendo e melhorando seu trabalho. Por volta de 1800, o ritual e as Palestras (que eram os catecismos originais, agora se ex-pandiram e explicavam em belos detalhes) estavam todos em seu melhor resplendor. E então, com um descuido típico inglês, nós estragamos tudo. Vocês sabem, Irmãos, que a partir de 1751 até 1813, tivemos duas Grandes Lojas rivais na Inglaterra (a original, fundada em 1717, e a Grande Loja rival, conhecida como os “Antients”, fundada em 1751) e eles se odiavam com zelo verdadeiramente maçônico. Suas diferenças eram principalmente em questões menores de ritual e em seus pontos de vista sobre a Instalação e o Arco Real. A amargura continuou até 1809, quando os primeiros passos foram dados no sentido de uma reconciliação e uma união muito dese-jada das rivais. Em 1809, a Grande Loja original, os ‘Modernos’, ordenou as re-visões necessárias, e a Loja de Promulgação foi formada para

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aprovar o ritual e trazê-lo a uma forma que pudesse ser consid-erada satisfatória para ambos os lados. Isso tinha que ser feito, ou ainda teríamos duas Grandes Lojas até nossos dias! Eles fizeram um excelente trabalho, e muitas mudanças foram feitas em as-suntos de rituais e procedimentos; mas uma grande quantidade de material foi descartada, e que poderia ser justo dizer que eles jogaram fora o bebê com a água do banho. A Colmeia, a Am-pulheta, o Alfanje, o Pote de Incenso, etc. que estavam em nossos Painéis de Loja no início do século XIX desapareceram. Nós te-mos que ser gratos de fato pelo material esplêndido que eles deix-aram para trás. UMA NOTA PARA IRMÃOS NO EUA Devo acrescentar aqui uma nota para Irmãos nos EUA. Vocês perceberão que até as alterações que acabo de descrever, eu ven-ho falando sobre o seu ritual, bem como o nosso na Inglaterra. Depois da Guerra da Independência, os Estados rapidamente começaram a criar as suas próprias Grandes Lojas, mas o seu rit-ual, principalmente de origem inglesa – seja Antients ou Moder-nos – ainda era basicamente inglês. Suas grandes mudanças começaram em e por volta de 1796, quando Thomas Smith Webb, de Albany, NY, uniu-se a um maçom inglês, John Hanmer, que era bem versado no sistema de palestras de Preston. Em 1797, Webb publicou seu Monitor do Maçom ou Ilustrações da Maçonaria, em grande parte baseados nas Ilustrações de Pres-ton. O Monitor de Webb, adaptado do nosso ritual quando, como eu disse, ele estava em seu melhor brilho, tornou-se tão popular que as Grandes Lojas americanas, principalmente nos estados do leste naquela época, fizeram tudo que puderam para preservá-lo em sua forma original; eventualmente, com a nomeação de Grand Conferencistas, cujo dever era (e é) garantir que as formas adota-das oficialmente permaneçam inalteradas. Eu não posso entrar em detalhes agora, mas a partir dos Rituais e Monitores que estudei e as Cerimônias e Demonstrações que vi, não há dúvida de que o seu ritual é muito mais completo que o nosso, dando ao candidato muito mais explicação, interpretação e

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simbolismo, do que normalmente é dado na Inglaterra. Com efeito, devido às mudanças que fizemos no nosso trabalho entre 1809 e 1813, é justo dizer que em muitos aspectos, o seu rit-ual é mais antigo que o nosso e melhor do que o nosso. Finis —————————— [i] Henry Carr foi Past Master e Secretário por muito tempo da Quatuor Coronati Lodge No. 2076, CE, que é conhecida como a “Primeira Loja de Pesquisas Maçônicas.”.