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    MS 27596 MC / DF - DISTRITO FEDERALMEDIDA CAUTELAR NO MANDADO DE SEGURANARelator(a): Min. CEZAR PELUSOJulgamento: 29/09/2008PublicaoDJe-187 DIVULG 02/10/2008 PUBLIC 03/10/2008PartesIMPTE.(S): MARTE ENGENHARIA LTDAADV.(A/S): SELMA GIORGINI AMADEU E OUTRO(A/S)IMPDO.(A/S): TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO (PROCESSO N 00825620089)Deciso

    DECISO:1. Trata-se de mandado de segurana, com pedido de liminar, impetrado pela Marte Engenharia Ltda.,contra ato do Plenrio do Tribunal de Contas da Unio - TCU, substanciado no Acrdo n 1615/08, que determinou Furnas Centrais Eltricas S.A

    FURNAS que se abstenha de contratar a ora impetrante, vencedora do Prego Eletrnico PE. DAQ. G - 0413.2007.

    Alega a empresa que atua no ramo da engenharia consultiva e foi vencedora da citada licitao, em 22/04/2008.Relata que o TCU acolheu representao da Associao Brasileira de Consultores de Engenharia ABCE e, em

    02/06/2008 (fls. 529), determinou FURNAS, cautelarmente, que se abstivesse de celebrar o contrato. Tal deciso foi confirmada pelo acrdoimpugnado, em 13/08/2008 (fls.627/638), que assentou a inadequao da modalidade prego, para os serviosobjeto do certame e que so: serviosde engenharia do proprietrio para acompanhamento e fiscalizao da execuo das obras de construo doaproveitamento hidreltrico de Simplcio queda nica. Para a Corte de Contas, tais servios no podem ser tidospor comuns, de forma a atenderao disposto na Lei n 10.520/2002. Por essa especial razo, devem ser licitados por meio de concorrncia.

    Sustenta a impetrante, em sntese: (a) incompetncia do TCU para determinar FURNAS que se abstenha de acontratar; (b) ausncia de demonstrao inequvoca de que os servios objeto do prego no so comuns; (c)perfeita subsuno do caso lei deregncia (Lei n 10.520/2002), haja vista que os padres de desempenho e qualidade esto objetivamente descritosno edital, por meio de especificaes usuais no mercado; (d) no complexidade dos servios, que traduzem, istosim, atividades rotineiras

    deempresas de engenharia envolvidas com empreendimentos de gerao hidrulica; (e) oprejuzo que experimentarno prximo certame, marcado para o dia 08/10/2008, j que os demais partcipes conhecem os preos que ofertou.

    Requer, liminarmente, a suspenso do acrdo e, no mrito, sua cassao.

    2. No caso de liminar.

    Ningum duvida de que o Tribunal de Contas da Unio, embora no tenha poder para anular nem sustar contratosadministrativos, tem competncia, nos termos do art. 71, IX, da Constituio Federal, para determinar autoridadeadministrativa que promovaanulao de contrato (ou se abstenha de celebr-lo), e, se seja a hiptese, anule, tambm, licitao da qual se tenhaaquele originado (cf. MS n 23.550/DF, Rel. p/ o ac. Min. SEPLVEDA PERTENCE).

    o que convm ao caso.

    Neste juzo prvio e sumrio, no encontro, configurada, violao de direito lquido e certo..

    Os fundamentos do Acrdo n 1615/08 parecem robustos, sobretudo porque trata de contratao vultosa, cujovalor R$27 milhes de reais. Veja-se:

    (...) 6. O prego, institudo pela Lei n 10.520/2002, modalidade licitatria adequada aquisio de bens eservios comuns, definidos como aqueles cujos padres de desempenho e qualidade possam ser objetivamentedefinidos pelo edital, por meio deespecificaes usuais no mercado.

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    7. Para Maral Justen Filho, o bem ou servio comum quando a Administrao no formula exignciasespecficas para uma contratao determinada, mas se vale dos bens ou servios tal como disponveis no mercado(Prego: Comentrios legislao doPrego Comum e Eletrnico 4 Ed., So Paulo: Renovar, 2005, p. 26). Aduz ainda o doutrinador: bem ou serviocomum aquele que se apresenta sob identidade e caractersticas padronizadas e que se encontra disponvel aqualquer tempo, num mercadoprprio. Bem por isso, a regra que obras e servios de engenharia no se enquadrem no mbito de bens eservios comuns. (Ob. Cit., p. 30).8. J Benedicto de Tolosa Filho esclarece que a licitao na modalidade prego destina-se aquisio de bens eservios comuns, estes definidos como de padro e tendo a caracterstica de desempenho e qualidade que possamser estabelecidos de formaobjetiva, ou seja, sem alternativas tcnicas de desempenho dependentes de tecnologia sofisticada. (Prego: Umanova modalidade de licitao. Rio de Janeiro. Forense, 2003. p.9). Nesse mesmo sentido manifestou-se Ardio Silva:Trata-se, portanto, debens e servios geralmente oferecidos por diversos fornecedores e facilmente comparveis entre si, de modo apermitir a deciso de compra com base no menor preo. (Desvendando o Prego Eletrnico. Rio de janeiro: Revan,2002. p.34).9. Observe-se que a definio legal atribuda aos bens e servios comuns imprecisa, provocando, em muitoscasos, dvidas quanto ao enquadramento de determinados bens ou servios. Para apurar o conceito de serviocomum, colimado pela Lei n10.520/02, deve-se analisar a estrutura e finalidade do prego vis--vis aos preceitos da licitao na forma definidana Lei n 8.666/93. (...)13. Por outro lado, o prego, procedimento simplificado, foi criado para imprimir celeridade no processo de aquisioe ampliar a competio entre os interessados no contrato, gerando forte estmulo reduo de preos sem,entretanto, constituirinstrumentos para que sejam descartadas propostas inexeqveis. (...)14. No prego so mitigados os requisitos de participao, fato justificvel em razo da aptido desse instrumentolicitatrio para aquisio, unicamente, de bens e servios comuns. Dessa forma, a lei resguardou a aplicao doprego aos bens eservioscomuns, pois o risco de inadimplemento do contratado reduzido. (...)16. Por essa razo, em situaes em que sejam necessrias medidas mais cautelosas para segurana do contrato,em razo dos riscos decorrentes da inadimplncia da contratada ou da incerteza sobre a caracterizao do objeto,deve o gestor preterir oprego em favor de outras modalidades licitatrias cercadas de maior rigor formal. (...)18. No se nega que, com o advento do decreto 5.450/2005, restou, em tese, possibilitada a contratao de serviosde engenharia por meio de preges. Contudo, no foi afastada a exigncia de que sejam esses serviosenquadrveis como comuns. At,

    porque, tal exigncia decorre expressamente do art. 1

    da Lei n

    10.520/02.19. Da identificao dos servios objeto do prego por meio do Termo de Referncia anexo ao edital (...) verificohaver atividades, a seguir transcritas, que permitem a concluso de que no se trata de servios comuns: (...)

    b) elaborar processos licitatrios para contratao de obras e servios sob a responsabilidade do Departamento deConstruo e Gerao Trmica;c) supervisionar a execuo de todas as etapas das obras, assegurando que as contratadas de FURNAS estejamatendendo integralmente ao projeto, s especificaes tcnicas, ao programa de qualidade e aos requisitoscontratuais; (...)f) avaliar e opinar sobre adequaes de projeto, visando a otimizao das atividades, mantendo FURNAS sempreinformada sobre tais questes; (...)i) execuo do controle tecnolgico de concreto e execuo de ensaios laboratoriais de concreto e geotecnia; (...)l) elaborao de relatrios tcnicos, abrangendo as atividades e dados relativos ao controle da qualidade dosmateriais de construo da obra, incluindo anlise estatstica dos resultados dos ensaios realizados na obra, osquais sero incorporados aorelatrio mensal de gesto de qualidade da obra e ao data-book;

    m) analisar e elaborar alternativas tcnicas e ou econmicas para obras e servios; (...)o) analisar e emitir parecer sobre relatrios tcnicos recebidos.20. V-se, pois, que no se trata de servios padronizveis ou de prateleira, mas sim sujeitos a intensa atividadeintelectual, com razovel grau de subjetivismo, e que precisam atender demandas especficas e complexas daAdministrao, afastando-sedo conceito de especificaes usuais do mercado.21. Destaque-se, por fim, que o fato de estarem os servios vinculados a diversas normas tcnicas no suficientepara caracteriz-los como comuns, pois mesmo os servios de engenharia evidentemente complexos, como projetosde alta tecnologia (v.g.

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    desenvolvimento de semicondutores), esto sujeitos a diferentes normas tcnicas. Nesses casos as normasestabelecem padres mnimos a serem seguidos, mas de forma alguma modulam os servios em sua totalidade, deforma a ser possvel consider-lospadronizados ou usuais de mercado.

    A s controvrsia doutrinria acerca do que sejam servios comuns, para efeito de escolha legtima damodalidade prego, j aparenta, alis, inadequao no uso deste remdio processual, eis que mandado desegurana via sumria que no comportainvestigao ftica, como sugere exigir o caso.

    Nem custa advertir, finalmente, que melhor sorte no parece ficar impetrante, no que respeita a prejuzo que apublicidade do preo que ofertou poderia trazer-lhe, pela razo breve de que tambm j conheceu o oferecido dasdemais partcipes, que,como ela, podem habilitar-se na concorrncia prxima.

    3. Do exposto, indefiro a liminar.Solicitem-se informaes. Em seguida, colha-se o parecer da PGR. Publique-se.Braslia, 29 de setembro de 2008

    Ministro CEZAR PELUSORelator

    LegislaoLEG-FED CF ANO-1988

    ART-00071 INC-00009CF-1988 CONSTITUIO FEDERAL

    LEG-FED LEI-008666 ANO-1993LLC-1993 LEI DE LICITAES

    LEG-FED LEI-010520 ANO-2002ART-00001LEI ORDINRIA

    LEG-FED DEC-005450 ANO-2005DECRETO

    ObservaoLegislao feita por:(FRL).fim do documento