seminarid sobre a cratizacad do de 1974 pós 25 abril/1974_11_13_a...o trabalho de discussão pelas...

19
SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO TESE apresentada pelo DEPARTAMENTO PEDAGOGICO DA PR0-UNEP . COIMBRA 1974

Upload: others

Post on 20-Mar-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

SEMINARID SOBRE A

CRATIZACAD DO

TESE apresentada pelo DEPARTAMENTO PEDAGOGICO

DA PR0-UNEP .

COIMBRA

1974

Page 2: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino
Page 3: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

1. INTRODUÇÃO

A EXPLOSÃO ESCOLA R

NO

ENSit·JO SUPERIOR

O problema da explos~o escolar no ensino superior

encontra-se na ordem do dia.

Diversas tentativas têm sido feitas pelo MEC ·com vis­

ta à sua introdução. Para alé~ de outras intervenções, conta­

mos já com três programas te levisio nados; a imprensa tem for­

necido alguns dados sobre o problema, quer na perspectiva co~

cre ta de cartas escolas em dificuldades quer numa perspectiva

de abordagem mais gen érica e mesmo programática.

O trabalho de discussão pelas massas estudantis, con­

tudo, tem sido feito insuficientemante nõs escolas com maio­

res Índices excedentários . Aqu i enc ontramos desde já um estí­

mulo para que a presente Tese seja aprese ntada neste Seminário .

sobre a Democratização do Ens ino (ela deverá funcionar es-

sencialmente como uma achega à discusss~o do problema da ex­

plosão escolar entre as passas estudantis). Encontramos, por

outro lado, um segundo estímulo no facto de o tratamento ante

Page 4: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

2

rior do proble ma nao ter feito um enquadramento polÍtico cor­

recto, apresentando-se alguns dados pouco iniciados no senti­

do que acabámos de indicar. Se a isto juntarmos a insuficiên­

cia de coordenadas técnicas disponíveis ligada à carência de

bancos de dados e serviços eficazes de estatística, talvez po~

sarnas compreender melhor o porquê desta tese ...

Oeste modo, pensamos contri b uir para uma análise do

problema da explosão escolar no ensino superior (que, aliás,

talvez o po s sa transcender) adianta ndo os seguintes pontos fun

damentais:

2. Alguns dados numéricos (segundo um texto provenie~

te do MEC).

3. Aproximação ao problema da superpopulação e scolar

actual no ensino superior ; factores que o geraram.

4. Vias possíveis de r e solução do problema: seu enqu~

dramento no actual contexto po1Ítico-econ6micb do

País.

Page 5: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

2. ALGUNS DAD OS NUMERI COS

NÚme ro de horas de aulas (teóricas e práticas) por

docente e por semana em 3 Faculdades ent 1972/3.

Letras de Lisboa Direito de Lisboa Med. Lisb.

Catedráticos 6,94 4,9 1,95

Extraordinários 7,75 7 2,5

Auxiliares 7,6 9 11,5

Assistentes 11,9 5,8 11,3

Assistente s Eventuais 12 6,5 lO

Mo nitores 16 12

Os níveis de utilização dos edifÍcios. Dois exem­

plos.

Faculdade de Letras de Lisboa.

N. 9 de alunos em 1973/4 7 4 19

N . 9 de salas de aula . . • . . . . • . . .. . . . . . 14

Faculdade de Medicina de Lisboa. (Santa Maria)

Rela ç~ o alunos/ camas hospitalares ...... "'. 7,63

(anote-se que as normas internacionais neste domínio

aconselham uma relaç eo de 0 ,20).

Page 6: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

4

EST ABELECIME NTOS DE ENSI NO Taxa de cres­cimento (%) em relação ao ano anterior.

(Inscritos para a la matricu 1 a) .

U.de Coimbra 112,5

U.de Lisboa 156,4

U.Técnica de Lisboa 200,6

U.do Porto 141,2

U. Nova de Lisboa 98,3

Escola Sup.de Belas Artes de Lis b oa 87,4

Escola Superior de Belas Art e s do Porto 100,8

Instituto Nacional de Educação Fi s ica 268,1

TOTAL GERAL .. .. .. • . . . .. . • .. .. . • .. .. 147,3

3. APRO XIMAÇ~O AO PRO BLEMA DA SU PERPOPULAÇAO ESCOLAR

ACT UA L NO ENSI NO SUPE RIOR ; FAC TORES QUE O GERA~AM

Os dados que envol vem a situação actual, mesmo

que pouco preci sos, são tão e v id e nte s macroscÓpicamente que

a sua referência aqui não deverá ser mai s que su mária.

Os factores de fundo que estão na base do proble ma e~

trancam de facto na herança que le gá mos d o fascismo ; há que

referir, co n tudo, que os aconteci mentos há seis meses ocor-

ridos em Portugal precipitaram factores imprevistos que agu­

dizaram quantitativamente o problema, sem no entanto lhe adi

cionarem al g o de qualitativamente novo.

Page 7: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

..

5

A agudização do aspecto quantitativo está bem patente

neste dedo emanado do MEC: sendo a previsão para 1979 (nos tra

balhos preparatórios do dito IV Plano de Fomento) de fre-

quência do Ensino Superior Universitário igual a 70 100, já

em 1974-75 o nível é de 54 771

Porque afirmamos nós que os Gltimos acontecimentos em

Portugal não introduziram dados qualitativamente novos no pr~

blema da superpopulação escolar?

Responder a esta questão é analisar sumariamente a p~

lÍtica fascista do ensino (e, em esp ec ial, o sector que nos in

teressa - o ensino superior)

O regime anterior, conhecedor da importância das Uni­

versidades (e do ensino em gerall quanto à prossecução dos seus

interesses de classe, utilizou-a largamnte como reprodutora

económico-ideolÓgica dos objectivos supremos do regímen.

Além de o amordaçar eternamente (policiando-o activa

mente), de o destruir por interven ção directa (muitas escolas

primárias foram fechadas depois de 1926, não se prepãrarampr~

fessores, etc.), de desligar o ensino de vida concreto do Po­

vo Português, o regímen fascista desenvulveu o instrumento

mais apurado de condução do ensino: a selecção económico-poli

tica de discentes e docentes, estratificando a população uni-

versitária dum modo aberrante que os seguintes numera s

lam -

reve-

Grupos Sacio-Profissionais

Total ••cr•o•••••·········

Grupo Superior .....•.......•. Grupo médio-alto ............ . Grupo médio-baixo ..•......... Grupo inferior ....•.......... Ignorado .................... .

Famílias da Me­tropole ( 1960 ).

100,0 3,5 6,9

37,2 62,1

Estudantes ( 1963/64).

100,0 42,3 41' 5 ll,l 4,2 0,6

Page 8: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

6

Como dizia um Ministro da 'Educação' fascista, e necessa

rio 'preservar da invasão das massas as Universidades e os es

tudos post-graduados'. Como veremos mais adiante, a selecção

de classe no ensino tornar-se-ia um dos elementos principais

da incapacidade de resposta do regímen fascista a certas ne­

cessidades de desenvolvimento t~cnico-econ6mico na d~cada de

60 e anos subsequentes.

Ou seja ... o aparelho universitário 'não necessitava'

de se modernizar, alargando as suas estruturas materiais e hu

manas; a politica global do ensino ' necessitava' at~ de regr~

dir. criando as condições fáceis de acomodação cultural e ideo

16gica á penetração insidiosa dos Estado Novo. A Universida­

de 'necessitava' de produzir as suas guardas avánçadasde elas

se? de perpetuar as condições de exploração na produção, pela

utilização de tecnocratas obedientes emanados das Faculdades

de Ciências e Tecnologia, de sustentar ideologicamente o re­

gímen, pela ('compra' das Faculdades de Direito e Letras. Não

necessitava d e produzir muitos cães d e fila porque o País se

e n c o n t r a v a s u fi c i e n te me n t e p a t r u 1 h a d o , f'l ã o n e c e s s i t a v a d=e p r~

dupir investigadores porque, al~m do espirita crítico 'ser'

pernicioso, bastava a importação d a técnica estrangeira.Dura~

te a ~ltima Grande Guerra a burguesia portuguesa atravessouum

período de relativa ~alga relativamente ao imperialtsmo estra~

geiro. Alguns tempos depois a burguesia nacion a l tornou-se um

apêndice progressivamente mais unido do imperialismo estran-

geiro, sendo o espaço econ6mico português cada vez mais poli­

c i a d o p e 1 o s m o n o p ó 1 i o s . U ma c o n s e q u ê n c i a d o p ó s - g u e r r a é , pois •

uma dependênci a cada vez mais forte da técnica alheia, bem co

mo uma posição de marcada subalternidade do nosso magro quan­

titativo de técnicos, desviado além do mais (ou, em parte,co~

sequentemente) para cargos de caract~r administrativo.

Não se ponham obstáculos ã continuação como tal dos

Page 9: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

7

parcos e obsoletos estabelecimentos universitários. Não eram

necessarios nem mais professores nem melhores professores,nem

necessárias eram a sua melhor remuneração e condiçÕes de tra­

balho. Nunca foi ouvido o pedido de criação do Instituto de

Orientação PedagÓgica,

eminentes.

preconizado por tantas per sonali dades

A década de 60 jogou um papel decisivo, com o

e manutenção das guerras coloniais. As contradiç~es no

do Ensino, além de outras. atingiram progressivamente o

• r • ~nlClO

seio

a ug e,

para o que foi decisivo a forte

senvolvimento do M.A.

agitação estudantil e o de-

São grandes as dificuldades económicas e políticas,e~

tre outras, criadas pelas lutas de libertação.

Com vist a a proporcionar a a limentação de um ap~relho

bélico e destruidor nas ColÓnias em breve se arejou a neces-

sidade de 'renovação' das estruturas educativas, em especial

as Universidades e dentro destas as de preperação de quadros

técnicos. Necess idades que se avoluma m. ma s cuja a satisfação

é profundam en t e 1ncompatível com a natureza repressiva e de

classe do re g imen fascista .. ,

ContradiçÕes insol~veis Mo dernizar o aparelho uni

versitário signif icari a ter a possibilidade de usar apreciá­

veis potenciais de investimento, o que pressuporia a existên­

cia de razoáveis estruturas económicas ( fim a atingir ... ) e

também a eliminação des avultadissimas despesas de guerra.Aum

nível mais s ubjectivo. modernizar o ensin o significatia

bém atribuir condiçÕes ao desenvolvi me nto das actividades

tam r cr1

tica e amplamente participantes dos estudantes (e docentes) na

discussão de problemas não só estritamente cientifico-técnicos

cos, pedagógicos, de ensino em geral, da sua inserção futura

na sociedade por via profissional. como ainda problemas eco-

nómico-políticos, mais gerais da sociedade portuguesa. Servir

Page 10: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

8

t~cnicamente as actividades econ6micas significaria, mais ain

da, eliminar a selecção de clesseno Ensino Superior. condicio

nadara importante da quantidade e qualidade de quadros t~cni

cos (pela recusa da formação massiva de t~cnicos provenientes

das classes trabalhadoras).

Neste contexto todas as refor mas seriam, pois, profu~

damente artificiais e superficiais. Com Veiga Simão recruta­

-se mais população estudantil dos estratos burgueses. contudo

as estruturas não se mostram receptivas ao aumento. ~ bom as­

sinalar neste momento que o problema d a super-população esco­

lar actual d e ve ter aqui uma origem obj e ctiva: aumentou a po­

pulação escolar mas as estruturas. por razões que bem conhec~

mos a que s e junta a inépcia, nao foram elásticas. Apenas al gu~s exemplos, tamb~m conhecidos: a massa dos professores con

tinuou sem uma preparação específica para o sector do ensino

a massa de bons estudantes aproveitaveis desde mlito cedo pa­

ra a investigação (ou a semi-investigação) e o ensino, frram

completamente desaproveitados; os investigadores. selecciona­

dos e preparados segundo moldes ilitistas, não podem satisfa­

zer às necessidades de desenvolvimento cientifico e tétnico;

as instalaçõ e s e scolare s manif8stam-se insuficientes quer em

número quer em quali dade, e a morosi d ade na sua construção a­

centuou o desprezo completo a que se votou o ensino.

Ap o ntámos anteriorment e o factor capital condicionan-

te da actual situação de em e rgência : a secundarização a que

foi votado o Ensino, principalmente devido á manutenção de

guerras coloniais altamente dispendiosas. Assim se agravou o

problema das instalações, do recrutamento d e docentes, do ree

quipamento d e edifÍcios. Convem voltar a salientar neste mo-

Page 11: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

f'

...

9

menta que o problema da superpopulação escolar nasce neste

contexto. Numa situação em que os ma is elementares direitos

se encontravam vedados ao Povo Português, falamos nos proble­

mas do ensino e nomeadamente os que s e referem ~ participação

neste dos filhos (e não só). qs classes trabalhadoras parece

um pouco ridÍculo ! Contudo, isto não faz mais do que s a lien

tar e mat e rializar a profunda cris e do capitalismo, então ex

pressa na forma de dominação fascista.

Ainda no mesmo âmbito, o seguinte dado objectivo, elu

cidativo da incapacidade de resposta a uma situação ano a ano

mais urgente: o Índice de investimento no desenvolvimento do

ensino é fraquíssimo, sendo não correntes apenas cerca de 15%

das despesas.

Outro factor, também pré-25 de Abril, que conduz a uma

concentração anormal de estudantes nas escolas, e o fraco ín-

dica de aproveitamento escolar: assim, me nos de 10 % de estu-

dantes, em relação ao ano de entrad a na Universidade,concluem

o seu curso normalmente.

Os factores malF actuais pod e m assim ser sintetizados

Deterioração das condiçÕes de admissão as Uni

versidades, pela atenuação das bitolas normais de se

l e cção.

Aumento apreciável de candidaturas ad-hoc, a­

traídas talvez pelas 'facilidad e s' que antevêem am re

lação ao ensino superior nos próximos anos lectivos.

-- Afluxo de contingentes especiais de alunos das

ColÓnias (principalmente militare s) e do estrangeiro

(margin a lizados polÍticos}.

Page 12: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

4. VIAS POSSIVEIS DE RESOLUÇÃO DO PROBLEMA:

SEU ENQUADRAMENTO NO ACTUAL CONTEXTO POLITICO-ECO~

-~ O M ICO DO PAIS.

A situação poderá considerar-se muito complexr.Em

lugar dos 12 mil alunos inscritos pela primeira vez em 1973-74

temos ago~a cerca de 29 mil alunos.

Encarado o problema segundo uma perspectiva genérica,

ter-se-á contudo uma vis~o deturpada da situação real.Exis

te de facto uma flutuação importante de escola para escola.As

sim, a taxa de crescimento na Universidade de Coimbra do nú­

mero de alunos que se inscreveram para a primeira matrícula é

igual a 112,5 (esta Universidade e a 'mais beneficiada',~olo

cando-se aqui com especial relevo o problema da reabsorção de

massa estudanti de outras Faculdades do País); já na Univer-

sidade de Lisboa esse número dé de 156,4%, na Universidade Té

cnica de Lisboa é de 200,6% e na Universidade do Porto e de

141,2%

Se e stes dados, term6metros de um ensino recheado das

mais absolutas carências, fossem tão somente enquadrados no

desenvolvimento normal de uma sociedade capitalista, a respo~

ta seria desde já fácil de adiantar ..•

Analisemos, contudo, a actual situação um pouéo mais

pormenorizadamente. O actual poder polÍtico não coincide, pa~

cialmente, com o poder econ6mico existente em Portugal · nas

mãos dos grandes grupos monopolistas. A presença no Governo

Page 13: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

11

ProvisÓrio de forças representativas das massas trabalhadoras,

resultado de muma conquista fundamental do Povo Português, e

uma garantia, a par da aliança ínti ma entre as massas popula­

res e o M.F.A., do avanço do processo de democratização e sua

consol~dação. Aliás a desobstrução dos obstáculos impeditivos

de uma progressiva democratização da Sociedade Portuguesa e,

como bem consignado vem no Progr ama do M.F.A ., um dos seus

objectivos primordia is. Com isto não p r e tende mos afirmar que

não continuemos debaixo da alçada de um sistemabde r elaçõesde

produção capitalistas ou que estaremos em vi as de atingir a

forma mais perfeita da democracia. Esta só poderá ser consegu!

da atragés da conquista do aparelho estatal pel a s classes tra

balhadoras e consequente destruição do Estado burguês. Neste

momento, contudo, e no seguimento de uma transicção brusca,i~

pÕem-se (e em parte já foram obtidas) importantes conquistas

democrátic as, polÍticas e econ ó micas, estas de carácter mani­

festamente anti-monopolista. As Gltima s , além de lançarem as

bases de uma nova situação económica que começa por benefici­

ar as amplas massas populares, ganhá-las -ão para o actual cur

so da democratização, contrariando as consequências de um obs

curantismo perpetuado em décadas de exploração. Estas pala­

vras não pretendem, contudo , significar que significatvvos pa~

sos foram já dados numa polÍtica cl aramente anti-monopolista.

São bem elucidativas as Gltimas afirmações do M.F.A., através

do seu Gltimo Boletim Informativo.

Esta introdução é necessária para a correcta inser-

çao da actu al situação do ensino no panorama político mais

geral do País. Afigura -se-nos, assim. como justa a conclusão

de que é possível o avanço nas escolas com uma profunda Rafo~

ma Geral e Demo crática do Ensino,espol e tade pela eliminaçãoda

selecção sócio-económica de acesso aos estabelecimentos d e en

sino. Est a só será conseguida inteiramente no s quadros de uma

Page 14: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

12

Sociedade inteiramente diferente.

Somente que .•• esta velha aspiraç~o das massas estudan

tis nao ~ de aplicaç~o autom~tica:~ um processo, escusado se­

rá dizer essencialmente construtjvo. São grandes os condicio­

nalismos econ6micos herdados do regime fascista que obstam em

larga medida, al~m d e outros. à superação das dificuldadesmais

prementes que actualmente se colocam ao ensino. _U~m~_e_x~e_m~p~l_o __ é

materializado no problema da superpopulação es~olar. A date-

rioração d o Ensino surge na sua expr e ssão mais drástica nossa

guintes pontos fundamentais:

i - O pessoal docente ~ insuficiente. sobrecarregad o

e mal preparado cientificamente (encontrando-se to

dos estes aspectos interligados).

ii - A capacidade das instalações escolares é diminuta

e em grande parte obsoleta; a sua capacidade de

resposta á actual situação de super-lotaç~o. pela

construção acelerada, não é apesar de tudo

cientemente rápida .

sufi-

iii - Urge todo um vasto investimento no reapetrechame~

to sem o que todas as medidas poderão ficar grav~

mente comprometidas.

Outro obstáculo a uma transposiç~o automática daque-

le importante objectivo do campo da aspiraç~o para o campo da

prática é que a eliminação da actual estratificação sócio-e-

conómica nas Universidades Portuguesas não se processa em dois

dias.

Page 15: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

13

Concluímos pela inevitabilidade de soluções de condi­

cionamento de acesso ao ensino superior. Isto do ponto de vis

ta de impossibilidade de soluções t~cnicas eficazes a curto

prazo que r eso lvam o 'problema quantitativo' mas evitem a de­

terioração qualitativa profunda do ensino, já de si tão ultra

jado. Defend emo s o ponto de vista que tal agravamento da qua

lidade do ensino não benefic i aria em nada os actuais esforços

no caminho da democratização (da vida universitária e do País

em geral), contribuindo pelo contrário para uma situação de

profundo imp a ss e na capacidade da resposta futura dos sistema

educativo. Defendemos paralelamente e insistentemente, os se

guintes pontos fundamentais:

i - a consideração do problema nestes termos exi­

ge que este se ataque a fundo com todos os

meios di s poníveis , Oe facto, consideramos ser o

direito ao ensino um direito inadiável das am

plas massas de jovens, devendo criar-se desde

já condições para o seu ingresso a curto pra­

zo na vida das escolas. Adiante apontaremosal

gumas sugestões.

ii - ç sector do ens ino, co mo tantos outros em Por

tugal deverá exigir e din3mizar a adopção de

medidas de carácter anti-monopolista progres­

sivame nte mais profundas, da qyal as massases

tudantis deverão c onstituir ac~rrimas defenso

ras. A afirmaçôo desta reivindicação na pr~

tica deve r á passar pela mobilização organiza­

da em torno de objectiv o s concretos e imedi a ­

tos nas suas escolas, como adiante se sugeri-

ra.

Page 16: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

14

Alguns exemplos ilustrar~o se~uidamente como o enqua­

dramento polÍtico de certos dados poderá comprometer uma apr~

sentação aparentemente elucidativa (citamos a este respei tod~

dos provenientes de um texto do MEC)

Por um lado, dizer-se que ~ fraco o investimento no

desenvolvimento do CEnsino Superior ~ esta r a jogar psicolog!

camente com uma situação que remonta o fascismo e cuja reso-

lução ~ urgente a todo o transe. Como vimos, a superação do

problema passa por uma estrat~gia anti-monopolista que urged!

namizar.

A falta de produtividade nos estud ant es no Ensino Su­

perior (e não só ... )~e um dado qu e , como~ Óbvio também nao

poderá aparecer em abstracto. A composiçao de classe no seio

do~ estudante s , não acelerando a inserç ão pr ofission al, na o

deverão contudo enca rar-se a margem da exist~ncia de condi-

ções objectivamente más do trabalho estuda ntil, a todos os ni

veis. ~ também certo que o Ensino Superior tem ficado muitoca

r o a noss a população activa. Segundo o MEC, o preço de cada

aluno ficou, em m~d ia, em 22 413$00. Mas relacionar este dado

com a falta de produtividade do trabalho escolar (o Índi ce de

aproveita me nto o de aproximadamente 6% ), extraindo daÍ ilaç6e~

~ manifestamente incorrecto ! Qual o benef Ício real que o alu

no obteve daquele financiamento ?

Há ainda a necessidade de nao confundir os dados exce

dentários com um certo 'excesso' de quadros. Admitimos que,a­

pesar de não dispormos de informações precisas, assim aconte-

ce de facto, em certas faculdades, como por exemplo a de Di-

reito e Farmácia. Deveremos contudo chamar a atenção para a e

xistência de sectores potenciais de Ensino ainda inexplorados

e outros, embora tradicionais, com largo ce.mpo de desenvolvi­

mento em perspectiva devido aos novos horizontes sócio-polít!

cos que se abrem ~ soicedade portuguesa. Cabem nestas co nside

Page 17: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

15

raç~ e s as n o vas vi a s a explorar para a Medicina no nosso P a fs,

as quais a c o ncr e tizar am- s e tornaram obso le to o 'prob l ema' da

superpopul aç~o es colar nas Faculda de s em oue a quel a ~ e nsinada

Out ro exemplo consistiria Rã cri a ç ão de cursos de Ciências Hu ­

manas, os quais, pela sus in ex ist ê nci e e flagrante necessidade

absorve r ão cert a mente u ma r a z o áv e l massa escol ar tradicional-

mente q e stin a d a a F ac uldades de Le tras e Dir eito ..

Conforme a fir mámos atrás, passeremos a a p o ntar a lgum as

medidas que visem a sup e raç ão do pr ob l ema da explosão escolar.

Cabem de ntro das med id as d e ãmb it o mais geral (já to m~

das, em vi as d e se realiz a rem, ou a espe ra de r ea lização) :

i - a criação de nov os c e ntros de eEns ino Superio~

Entram já em funci o n amen t o no pr6ximo ano lec ­

t i vo:U.Nova Lisboa , U .d e Av e iro. Inst.Univ. de ~vo r a,

Ins t.P o lit 9 da Covilh~, Inst. Pc lit 9 de Vila Real, F a c

d e Meq icin a de S anta na.

ii - criação de cursos o riginais em Portugal. Como

exemplos o s cu rs os de Ciênci as Humana s, Ciê nc ias da E ­

duca ção e d e Jorn a lismo.

iii - prepar a ça o em mass a de pessoa l docente de bom

nível, n o me a dam e nte at r a v ~s de u m amp lo sist ema de bo l

s as d e e studo no estrangeiro e co m especial destaque e

apoio ao s sectores de maior carência e n eces si dade.

iV - ap roveita mento em ma ss a dos es tudant e s de me­

l hor nfvel p a ra t a ref as de e nsino e investi gação,nome~

d amen t a atra v ~s d e um a amp l a cobe rtur a por professo r es

-c oo rd enadores e particip aç~o massiva em cursos e ou-

Page 18: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

16

tras actividades no estrangeiro.

v - actualização do aparelho técnico-científico e

humano.

vi -utilização da massa e studantil em amplas tar~

f as de participação nos trabal ho s de rsconstruçeo do

País, nomeadamente de Alfabetização e Higienização,Dl

namização SÓcio-Cultural, Electrificação de Zonas Ru

rai s, Construção de Escola s, etc ..

Dentro das medidaa de âmbito mais restrito poderemos

indicar como prioritárias:

i - criação de novos cursos, apoiados nas estrutu

ras já existentes. Alguns exemplos do que se

pensa ou poderá fazer neste dom ínio: Curso de Mediei-

n3 Social : no Instituto de Higiene e Medicina

cal, em Lis b oa; cursos paramédicos; Ciências

e Políticas, no ISCSP.

Tropi­

Sociais

ii - remodelação e amoliação das instalaç~es, atra

vês de esquemas de construção acelerada.

iii - criação de cursos nocturnos, abrangendo esse~

cialmente os estudantes-trabalhadores. Cabem neste po~

to algumas experiências já encetadas ou em vias dee~

cetar em Lisboa, bem como as exigências formuladas na~

se sentido por estudantes- tr abalha dores em Coimbra.

iv - admissão em c on curs o, como já tem sido levado

a cab o em numerosas escolas, de professores e monito-

res, ao cuidado dos Órgãos locais de gestão e em cons

Page 19: SEMINARID SOBRE A CRATIZACAD DO de 1974 pós 25 Abril/1974_11_13_A...O trabalho de discussão pelas massas estudantis, ... centuou o desprezo completo a que se votou o ensino

17

tanta compromisso com a manutenção da um nivel minimo

de qualidade.

O DEPARTAMENTO PEOAGOGICO DA Pró-U NEP