seminário turismo brasil - caderno especial o globo

8
Sexta -feira 30.5.2014 Às vésperas da abertura da Copa do Mundo, o brasileiro parece decidido a trocar o choro das imperfeições na organização para se entregar à festa da paixão pelo futebol. Afinal, os maiores craques do planeta estão quase prontos para en- trar em campo, os hotéis vão ter acomodações suficientes para todos, o gargalo nos aeroportos e nas telecomunicações já não assusta tanto, o governo modernizou e reforçou a segurança com centros de operações nas cidades-sede e 20 mil homens das forças armadas, os novos estádios se tornaram um espetáculo à parte e os convida- dos especiais, os torcedores estrangeiros, confir- maram presença. De quebra, o brasileiro tem de sobra um trunfo que os europeus perseguem ob- sessivamente quando sediam grandes eventos esportivos para aquecer o turismo: a receptivi- dade. ”Ainda há bilhetes disponíveis, mas acre- ditamos que serão esgotados os 3,1 milhões que foram colocados à venda”, disse o ministro do Tu- rismo, Vinicius Lages, que participou da abertura do seminário “Turismo Brasil – Balanço Pré-Co- pa do Mundo, os Grandes Eventos e as Perspecti- vas para o País”, organizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turis- mo (CNC), em parceria com O Globo, que reuniu autoridades e especialistas no Rio de Janeiro, na última segunda-feira. A previsão inicial de que o Mundial atrairia mais de 600 mil turistas estran- geiros, movimentaria outros três milhões de bra- sileiros e injetaria R$ 142 bilhões extras na eco- nomia, sem falar nas 73 mil horas em que o país estará em exposição para três bilhões de pesso- as, durante um mês inteiro, pode ser como um gol de placa, capaz de alçar o Brasil a um novo pata- mar na rota turística internacional. Na vitrine do mundo A BOLA ESTÁ EM CAMPO PARA QUE O PAÍS GANHE COMPETITIVIDADE E ALCANCE NOVO PATAMAR COMO DESTINO TURÍSTICO Chile 20.000 5% Argentina 30.000 8% EUA 81.340 22% Rio 34,7% S. Paulo 33,1% Salvador 5,3% Fortaleza 4,7% Brasília 4,5% Natal 3,2% Manaus 2,2% P. Alegre 2,1% Curitiba 1,2% Cuiabá 0,8% PREVISÃO DE VISITANTES ESTRANGEIROS PARA A COPA 2014 600 mil DISTRIBUIÇÃO POR CIDADE-SEDE BALANÇO PRÉ COPA-PRINCIPAIS EMISSORES R$ 62,7 bi FATURAMENTO 116 mil POSTOS DE TRABALHO + 8% CRESCIMENTO 10% + 6,6% INVESTIMENTOS 2014 CRESCIMENTO EM 2014 NÚMEROS DO SETOR DE TURISMO NO BRASIL EM 2013 COPA DO MUNDO DE 2014 O faturamento do setor de turismo cresceu 8,8%, em 2013, e deve crescer outros 6,6% em 2014. Os dados fazem parte da Pesquisa Anual Conjuntura Econômica do Turismo realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) para o Ministério do Turismo, divulgada este mês. A pesquisa ouviu 80 líderes das maiores empresas de turismo de nove segmentos de todos os estados brasileiros. Jesper Elgaard /iStock Designluiz/Ministério do Turismo do faturamento, em média Dos 600 mil visitantes estrangeiros esperados para a Copa do Mundo, 400 mil deverão passar pelo Rio de Janeiro. Expectativa é de que o Mundial injete R$ 1 bilhão na economia do município Fonte: Forward Keys e Pires e Associados (Posição a 20 dias da Copa) ESPECIAL SEMINÁRIO TURISMO BRASIL CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO Recife 4,3% B.Horizonte 4,1%

Upload: cnc

Post on 17-Mar-2016

219 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

O jornal O Globo publicou nesta sexta-feira, 30 de maio, um caderno especial sobre o seminário “Turismo Brasil – Balanço Pré-Copa do Mundo, os Grandes Eventos e as Perspectivas para o País”, realizado pela CNC na última segunda-feira, 26 de maio, em parceira com o jornal e a FNHRBS.

TRANSCRIPT

Page 1: Seminário Turismo Brasil - Caderno especial O Globo

Sexta -feira 30.5.2014

Às vésperas da abertura da Copa do Mundo, o brasileiro parece decidido a trocar o choro das imperfeições na organização para se entregar à festa da paixão pelo futebol. Afinal, os maiores craques do planeta estão quase prontos para en-trar em campo, os hotéis vão ter acomodações suficientes para todos, o gargalo nos aeroportos e nas telecomunicações já não assusta tanto, o governo modernizou e reforçou a segurança com centros de operações nas cidades-sede e 20 mil homens das forças armadas, os novos estádios se tornaram um espetáculo à parte e os convida-

dos especiais, os torcedores estrangeiros, confir-maram presença. De quebra, o brasileiro tem de sobra um trunfo que os europeus perseguem ob-sessivamente quando sediam grandes eventos esportivos para aquecer o turismo: a receptivi-dade. ”Ainda há bilhetes disponíveis, mas acre-ditamos que serão esgotados os 3,1 milhões que foram colocados à venda”, disse o ministro do Tu-rismo, Vinicius Lages, que participou da abertura do seminário “Turismo Brasil – Balanço Pré-Co-pa do Mundo, os Grandes Eventos e as Perspecti-vas para o País”, organizado pela Confederação

Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turis-mo (CNC), em parceria com O Globo, que reuniu autoridades e especialistas no Rio de Janeiro, na última segunda-feira. A previsão inicial de que o Mundial atrairia mais de 600 mil turistas estran-geiros, movimentaria outros três milhões de bra-sileiros e injetaria R$ 142 bilhões extras na eco-nomia, sem falar nas 73 mil horas em que o país estará em exposição para três bilhões de pesso-as, durante um mês inteiro, pode ser como um gol de placa, capaz de alçar o Brasil a um novo pata-mar na rota turística internacional.

Na vitrine do mundoA BOLA ESTÁ EM CAMPO PARA QUE O PAÍS GANHE COMPETITIVIDADE E ALCANCE NOVO PATAMAR COMO DESTINO TURÍSTICO

Chile

20.0005%

Argentina

30.000 8%

EUA

81.34022%

Rio

34,7%S. Paulo

33,1%Salvador

5,3%Fortaleza

4,7%Brasília

4,5%

Natal

3,2%Manaus

2,2%P. Alegre

2,1%Curitiba

1,2%Cuiabá

0,8%

PREVISÃO DE VISITANTES

ESTRANGEIROSPARA A

COPA 2014

600 mil

DISTRIBUIÇÃO POR CIDADE-SEDEBALANÇO PRÉ COPA-PRINCIPAIS EMISSORES

R$ 62,7 biFATURAMENTO

116 milPOSTOS DE TRABALHO

+ 8%CRESCIMENTO

10% + 6,6% INVESTIMENTOS 2014 CRESCIMENTO EM 2014

NÚMEROS DO SETOR DE TURISMO NO BRASIL EM 2013

COPA DO MUNDO DE 2014

O faturamento do setor de turismo cresceu 8,8%, em 2013, e deve crescer outros 6,6% em 2014. Os dados fazem parte da Pesquisa Anual Conjuntura Econômica do Turismo realizada pela

Fundação Getúlio Vargas (FGV) para o Ministério do Turismo, divulgada este mês. A pesquisa ouviu 80 líderes das maiores empresas de turismo de nove segmentos de todos os estados brasileiros.

Jesper Elgaard /iStock

Designluiz/Ministério do Turismo

do faturamento,em média

Dos 600 mil visitantes estrangeiros esperados para a Copa do Mundo, 400 mil deverão passar pelo Rio de Janeiro. Expectativa é de que o Mundial injete R$ 1 bilhão na economia do município

Fonte: Forward Keys e Pires e Associados(Posição a 20 dias da Copa)

ESPECIAL SEMINÁRIO TURISMO BRASIL CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO

Recife

4,3%

B.Horizonte

4,1%

Page 2: Seminário Turismo Brasil - Caderno especial O Globo

2

Produção: Link Comunicação Integrada / Coordenação e Edição: Cláudia Bensimon / Editor Assistente: Henrique Brandão / Desenho: João Carlos Guedes / Reportagem: Carmen Nery, Márcia Gomes, Paulo Vasconcellos / Imagens: Eduardo Uzal

Todas as informações contidas neste suplemento são de responsabilidade da Link Comunicação Integrada

Sexta-feira . 30 . 05 . 2014

EsPECIAl sEmInáRIo TuRIsmo BRAsIl ConfEDERAção nACIonAl Do ComéRCIo DE BEns, sERvIços E TuRIsmo

Em 2013 o país bateu o recorde de turistas, atraindo 6 milhões de visi-tantes. Quanto se espera em 2014?

Vamos manter a marca de 6 milhões pois, mesmo com a Copa, não deve haver grandes alterações. Até o momento, 365 mil turistas de 186 países compraram ingressos e, considerando-se os acom-panhantes, devemos atrair 600 mil visi-tantes. Os perfis são distintos. O maior contingente é de norte-americanos, que compraram ingressos para todos os jo-gos. No Brasil, 1,2 milhão de torcedores compraram ingressos. Ainda há bilhetes disponíveis, mas acreditamos que serão esgotados os 3,1 milhões que foram colo-cados à venda, dos quais 100 mil o gover-no reservou para os trabalhadores que construíram os estádios e para benefici-ários dos programas sociais.

Mesmo sendo um recorde para o Brasil, 6 milhões de visitantes é um número pequeno, se comparado aos de destinos como a França, que re-cebe 80 milhões de turistas, sendo 18 milhões só em Paris. O que precisa-mos fazer para atingir os números dos grandes receptores?

Há questões estruturais de competiti-vidade do destino Brasil. No início do mês, a presidente Dilma sancionou a regula-mentação que permite o visto eletrônico, o que pode ser um início para facilitar, ou mesmo dispensar a concessão de visto. Mas o Brasil é longe demais dos grandes centros emissores e precisamos melhorar a conectividade aérea e internacionalizar para valer a economia do turismo para nos tornarmos mais competitivos. Isso vale, inclusive, para os asiáticos que são os emissores que mais crescem no mun-do e são o objeto de desejo da Europa, que vem promovendo uma estratégia agressi-va para atraí-los, instalando até máqui-nas de meios de pagamento chinesas.

Especialistas apontam que todas as cidades que sediaram grandes eventos experimentaram um boom de turismo e depois sofreram uma ressaca. Mas, a partir de ações e po-líticas públicas, o turismo voltou a crescer. O que faremos após a Copa e as Olimpíadas?

Há pouco mais de dois meses no cargo, o minis-tro do Turismo, Vinicius Lages, faz um balanço positivo da atuação do ministério nos últimos 10 anos e anuncia a elaboração de novas polí-ticas públicas para o setor, por meio do Progra-

ma de Aceleração do Turismo, no qual a explo-ração do patrimônio natural brasileiro ganha novos estímulos, com a profissionalização dos parques naturais e incentivo à parceria com a iniciativa privada.

O Brasil é longe demais dos grandes

centros emissores e precisamos melhorar a conectividade aérea e internacionalizar para valer a economia do turismo para nos tornarmos mais competitivos

O MTur se transformou no

ministério da infraestrutura turística. Investimos R$ 8 bilhões em infraestrutura em mais de quatro mil municípios

Entrevista I Vinicius Lages I Ministro do Turismo

O turismo na pauta econômica do país

Os dez anos do primeiro ciclo de desen-volvimento do turismo - que vai de 2003, com a criação do MTur, até 2013 - tiveram resultados fantásticos em termos de po-lítica setorial. Saímos de 4 milhões para 6 milhões de visitantes, as receitas cam-biais saltaram de R$ 2,4 bilhões para R$ 7 bilhões. Passamos de 139 milhões para 215 milhões de viagens internas, sendo 113 milhões só de acessos aéreos, com um crescimento de mais de 50 milhões de passageiros entre 2005 e 2013. Os empre-gos gerados passaram de 1,7 milhão, em 2003, para 3 milhões no ano passado. O fi-nanciamento ao setor evoluiu de R$ 1 bi-lhão, há dez anos, para R$ 13,5 bilhões em 2013. Nesse primeiro ciclo, promove-mos segmentação e uma série de norma-tizações de atividades, como o turismo de aventura. O conjunto de investimentos em infraestrutura do PAC (Programa de Ace-leração do Crescimento) para a Copa do-taram as cidades de melhorias em mo-bilidade e equipamentos que impactam diretamente o turismo. Com a construção desses equipamentos, incluindo centros de convenções e estádios, as cidades es-tarão preparadas para a atração de no-vos eventos. Vale destacar que passa-mos da 19ª para a 7ª posição (2012) em atratividade de eventos. Estamos com uma programação de, praticamente, um evento por dia.

Mas o que o Brasil está fazendo para ingressar na rota do turismo internacional a partir dos grandes eventos? Quais são as próximas po-líticas públicas?

Estamos ouvindo as demandas das entidades do setor. Agora vamos estrutu-rar a política para os próximos dez anos,

para colocar o turismo na pauta econômi-ca do país, por meio de um Programa de Aceleração do Turismo. Em primeiro lu-gar, temos de focar no patrimônio natu-ral brasileiro. Trata-se de nosso principal atrativo, que deve ser tratado como um produto turístico. Em 2003, registramos 1 milhão de pessoas visitando os parques naturais, número que saltou para 6 mi-lhões em 2013. Vamos focar em parques estratégicos como o Parque Nacional da Tijuca, Fernando de Noronha e a Chapa-da dos Veadeiros, que é pouco visitada, mas tem um enorme potencial. Quere-mos profissionalizar os parques e licitar a exploração dos rios, promovendo con-cessões para que operadores explorem o turismo de aventura. Estamos trabalhan-do com o ministério do meio ambiente e o Sebrae para que 16 parques nacionais se-jam abertos à instalação de equipamen-tos, de modo a atrair mais gente.

O segundo segmento é o dos par-ques temáticos, que vêm dinamizando o turismo na America do Norte, Euro-pa e Ásia. Vamos abraçar as reivindi-cações do Sistema Integrado de Par-ques e Atrações Turísticas (Sindepat), que luta para que se reduzam as res-trições para importação de equipamen-tos. Queremos, inclusive, que os me-canismos de apoio à inovação do país possam beneficiar também o setor de turismo. As empresas poderão impor-tar equipamentos e componentes, agre-gando valor, como o Parque Snowland, de Gramado, que desenvolveu um equi-pamento para fazer neve.

O terceiro setor é o de cidades his-tóricas. Queremos identificar com o IPHAN as restrições do patrimônio que dificultam a adoção de ações para tor-

ná-lo vivo. O que fazemos, hoje, não cor-responde a 10% do potencial de explo-ração deste patrimônio cultural. Vamos conectá-lo à nova economia do conhe-cimento. O quarto setor é o das orlas. Hoje há uma grande dificuldade para a implantação de resorts pelo temor de que essas atividades possam destruir o patrimônio natural. Enquanto o mun-do está criando patrimônio natural por meios artificiais, nós temos um sem nú-mero de restrições para explorar o que já temos. Por fim, vamos criar uma po-lítica de desenvolvimento do setor de eventos e negócios. O Brasil vai sair da Copa com um conjunto de eventos im-portantes. É necessário ter oferta tu-rística. Já temos cidades com bons ho-téis, bares, restaurantes, mas ainda é insuficiente.

E em relação aos investimentos?Vale destacar que o MTur se trans-

formou no ministério da infraestrutu-ra turística. Investimos R$ 8 bilhões em infraestrutura em mais de 4 mil muni-cípios. Agora precisamos ampliar a co-nectividade aérea para nos tornarmos um hub regional, com voos Cuiabá-San-ta Cruz de La Sierra, Amazonas-Bolí-via. É o que fazem hoje países emer-gentes como Dubai, Abu-Dabi e Doha, por exemplo. Temos de ampliar a in-tegração regional porque os países da América Latina são nossos principais emissores. Recebemos 1,5 milhão de argentinos e 250 mil chilenos por ano.

Como fica o papel da Embratur ?A Embratur cumpriu seu papel, mas

hoje vivemos em um mundo competiti-vo que exige preço, estratégia logística, conectividade aérea e promoção ino-vadora. O modelo de promoção em fei-ras tem de ser repensado. Não adianta um estandezinho numa feira. O perfil do turismo mudou e temos de ir aon-de os grandes operadores globais de cruzeiros fazem negócios. A missão da Embratur é promover o Brasil lá fora, mas a empresa tem 400 funcionários no Brasil e 13 no exterior. Há algo erra-do. Nossa proposta é de um modelo in-tegrado com a Apex e o Itamaraty, que também promovem o país.

Eduardo Uzal

Page 3: Seminário Turismo Brasil - Caderno especial O Globo

O risco de os turistas desfalcarem a Copa do Mundo do Brasil é cada vez menor. Uma pesquisa da Forward Keys e da Pires & Associados revela que, a vinte dias do mundial, já tinham sido feitas mais de 370 mil reservas de voos para o Brasil no período de 6 de junho a 13 de julho deste ano. O estudo não inclui os voos charters, nem contabili-za quem chegará por via marítima ou

rodoviária, como os argentinos, que es-tão entre os maiores grupos de visitan-tes estrangeiros. Os primeiros são os americanos. Mais de 80 mil moradores dos Estados Unidos fizeram reserva de avião para a Copa do Mundo. A expec-tativa é que cada turista estrangeiro fi-que de 9 a 21 dias no país. A pesquisa também revela que os brasileiros resol-veram ficar por aqui para acompanhar ou participar da festa. A reserva de passagens aéreas internacionais no pe-ríodo do mundial caiu 34%, na compa-ração com 2013. O governo federal es-timava movimentação de 3,6 milhões de turistas em torno do mundial. Três mi-lhões de brasileiros viajariam para as

cidades-sede para acompanhar as par-tidas e 600 mil turistas estrangeiros vi-riam ao país.

“Temos ainda muito a fazer duran-te o evento. A expectativa dos estran-geiros sobre o Brasil é baixa, mas po-demos surpreender com a paixão do brasileiro pelo futebol. Não precisa-mos de marketing para mostrar que somos um povo efusivo”, disse Jeani-ne Pires, da Pires & Associados, uma das palestrantes do seminário promo-vido pela CNC.

Alexandre Sampaio, presidente do Conselho de Turismo da CNC e da Fede-ração Nacional de Hotéis e Restauran-tes, definiu a expectativa do setor com

a Copa: “O grande legado que podemos esperar é que os visitantes saiam da-qui com vontade de retornar”. Na Ale-manha, que sediou o Mundial de 2006, a competição serviu para difundir uma nova imagem dos alemães, tidos como frios e sem emoção. O retorno foi um aumento do fluxo turístico, que deixou o país em sétimo lugar no ranking mun-dial, com quase 24 milhões de visitan-tes por ano. A África do Sul, que gas-tou US$ 8 bilhões na Copa de 2010, não registrou o crescimento esperado do turismo no país, mas ganhou em mo-bilidade e lançou o Plano Nacional de Infraestrutura, com investimentos de US$ 83 bilhões.

Mais de 370 mil reservas em voos

O ministro do Turismo, Vinicius Lages e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão

Alexandre Sampaio, diretor da CNC: maior legado do Mundial é que visitantes saiam querendo retornarO encontro reuniu empresários, representantes do poder público e de entidades representativas do setor

Sexta-feira . 30 . 05 . 2014 3 EspEcial sEminário Turismo Brasil confEdEração nacional do comércio dE BEns, sErviços E Turismo

A bola está em campoA exeMplo do Agronegócio, o SeTor de TuriSMo SerÁ A noVA FronTeirA do creSciMenTo do pAÍS

Jamais o Brasil esteve tão exposto na vitrine do mundo. Na primeira vez que o país sediou um mundial de fute-bol, em 1950, a televisão ainda não ha-via chegado ao país e o evento não era televisionado na Europa e nos Esta-dos Unidos, onde já existiam mais de 5 milhões de aparelhos. Para se exibir aos olhos do planeta e estabelecer um novo marco na atração turística, o Bra-sil gastou R$ 25,8 bilhões, sendo R$ 8,1 bilhões em mobilidade urbana, R$ 8 bi-lhões nos estádios, R$ 6,3 bilhões em aeroportos, R$ 1,9 bilhão em seguran-ça, R$ 600 milhões em portos, R$ 400 milhões em telecomunicações e mais R$ 400 milhões com outras despesas.Nem todo o legado será entregue a tem-po, mas os investimentos ganham re-levância não só para a Copa do Mun-do, mas para atender ao crescimento do turismo como um todo. “O turismo será a nova fronteira do crescimen-to do país. Com instrumentos ade-quados, principalmente de regulação, poderá seguir a mesma trajetória do agronegócio. A Copa não é um ponto

de inflexão, mas parte de um caminho para que o Brasil ganhe competitivida-de e se torne a terceira economia tu-rística do mundo”, disse, no seminário promovido pela CNC, o ministro do Tu-rismo, Vinícius Lages. “A atividade tu-rística pode representar uma válvula de escape para economias de regiões deprimidas”, afirmou o presidente da Comissão de Desenvolvimento Regio-nal e Turismo do Senado, senador An-tônio Carlos Valadares (PSB/SE), ao lembrar que apenas os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo respondem por 45% do afluxo de turistas interna-cionais.

O secretário-geral da CNC, Eraldo Alves da Cruz, destacou, por sua vez, a importância das discussões empre-sariais para o desenvolvimento do se-tor. “Acreditamos nessa mola propulso-ra de empregos que é o empresariado do comércio de bens, serviços e turismo”, afirmou. Ele também lembrou a impor-tância do Conselho de Turismo e da Câ-mara Empresarial de Turismo, órgãos consultivos da Confederação. “Foi no

Conselho de Turismo da CNC que nas-ceram as principais entidades do Turis-mo nacional”, assinalou.

As metas de crescimento do turis-mo no Brasil, de acordo com especia-listas que participaram do seminário, ainda enfrentam gargalos. “Nunca me preocupei com o setor aéreo para os grandes eventos. O problema está na demanda interna. De 2004 a 2012, o mercado cresceu quatro vezes mais do que o PIB. Só 125 dos mais de cin-co mil municípios brasileiros têm ser-viços regulares de transporte aéreo. É preciso aumentar a capilaridade dos aeroportos, mas isso depende tanto de investimento em infraestrutura como em segurança. Não dá para ter um ae-roporto sem bombeiro na pista”, res-saltou o engenheiro aeronáutico Jor-ge Eduardo Leal, professor doutor da Escola Politécnica da Universida-de de São Paulo (USP), alertando que só 11% dos municípios brasileiros têm Corpo de Bombeiros.

Para a indústria de hotéis, o desafio passa pelo desempenho da economia,

para sustentar os níveis de ocupação: 122 hotéis foram inaugurados desde 2012, ou serão concluídos, até 2016, in-forma Diogo Canteras, sócio-diretor da HotelInvest. Os participantes do semi-nário apontaram a flexibilização das leis trabalhistas e a desoneração tribu-tária como medidas essenciais ao cres-cimento do setor. “A desoneração tri-butária é um fator de desenvolvimento extraordinário. Aqui reduzimos o ICMS para 2% e a arrecadação dobrou”, afir-mou o governador do Rio, Luiz Fernan-do Pezão, que detalhou, ainda, as ações do governo estadual para a Copa e as Olimpíadas. “Estamos preparados. Fo-ram feitas muitas melhorias para de-senvolver o turismo, como a criação de estradas-parque e renovação de mu-seus, como o Museu da Imagem e do Som (MIS)”, disse. Dos 600 mil estran-geiros esperados para a Copa, 400 mil devem passar pelo Rio. “O evento de-verá injetar R$ 1 bilhão no município”, destacou o secretário Municipal de Tu-rismo do Rio, Antônio Pedro Figueira de Mello, ao encerrar o encontro.

O Reino Unido não para de come-morar os Jogos Olímpicos de Lon-dres de 2012. O evento esportivo ser-viu para pôr a Grâ-Bretanha no pódio do turismo mundial. Trinta e três mi-lhões de turistas visitaram a Ingla-terra, Escócia e o País de Gales ano passado – quase 10% a mais do que os 30.798 milhões que estiveram por lá em 2011 e dos 31.084 milhões que apareceram no ano da competição. Os visitantes deixaram 21 bilhões de libras esterlinas para a economia britânica.

A expectativa é que o fluxo conti-nue crescendo e chegue a 40 milhões de turistas por ano, em 2020. Por trás de todos os esforços para garantir o sucesso dos Jogos Olímpicos prevale-ceu uma estratégia política de turismo: mudar a imagem excessivamente re-servada dos britânicos.

Foram sete anos de planejamento e marketing para que os ingleses apren-dessem a se tornar mais receptivos.

Após Jogos, londres subiuno pódio do turismo mundial

Após os Jogos de 2012, Grã-Bretanha teve seu melhor ano: recebeu 33 milhões de turistas

“As pesquisas apontam que ganhamos uma posição na avaliação que o mundo faz do Reino Unido e também uma po-sição por nossas belezas naturais, mas ganhamos três posições quando se tra-ta da receptividade”, diz Samuel Lloyd, diretor do VisitBritain, a agência na-cional britânica, que participou da co-ordenação do evento.

Os jogos foram uma oportunida-de para divulgar as atrações do Reino Unido e reverter a percepção sobre os pontos fracos de Inglaterra, Escócia e País de Gales.

O governo britânico criou a mar-ca “Great” para identificar todas as ações do primeiro evento da era das redes sociais. A campanha envolveu uma parceria com a BBC, a emisso-ra pública de rádio e televisão, para a distribuição de imagens e vídeos sobre o país e aplicativos específicos para celular. “Os Jogos Olímpicos fo-ram uma grande plataforma de comu-nicação”, afirmou Samuel Lloyd.

Fotos de Eduardo Uzal

Whitemay/iStock

Page 4: Seminário Turismo Brasil - Caderno especial O Globo

Opção estratégica e promissoraSetor de eventoS creSceu 5% em 2013, gerou 700 mil empregoS diretoS e indiretoS, e tem potencial de expanSão

A indústria de eventos, que registrou crescimento acima da média do aumen-to do PIB do Brasil na última década, de 5% contra 3,5% ao ano, depende de uma política de turismo para mudar de pata-mar. A falta de promoção do país no ex-terior, carência de mão-de-obra e o gar-galo em equipamentos de convenções estão entre os problemas apontados por especialistas para que feiras, ex-posições, congressos e seminários atin-jam todo o seu potencial. Trata-se de um segmento que atrai público qualificado, com alto poder aquisitivo, e contribui para outros setores da economia, como o agronegócio e a indústria de bens de capital. Os eventos já representam mais de 3% do PIB nacional, com faturamento anual de R$ 56 bilhões. Só no ano passa-do, geraram mais de 700 mil empregos diretos e indiretos.

“Estamos cheios de eventos. Não conseguimos nem respirar, mas o po-tencial é imenso e ainda pode ser muito melhor explorado. O governo não vê o

turismo como uma grande alavanca do crescimento sustentável, mas também há uma omissão do mercado”, diz Anita Pires, presidente da Associação Brasi-leira de Empresas de Eventos (Abeoc--Brasil) e vice-presidente do Conselho de Turismo da CNC. “O Brasil vive um pouco da sua própria solução econômi-ca. Os eventos se alimentam da econo-mia do país, mas têm também um lado social. Todo mundo quer fazer even-to no Rio por causa das belezas e da fama da cidade, mas há o gargalo do custo. Foz do Iguaçu também é um íco-ne do Brasil, mas há limitações de avia-ção”, afirma Armando Arruda Perei-ra Campos Mello, presidente da União Brasileira dos Promotores de Feiras (Ubrafe). “Uma das questões a ser tra-balhada: os estrangeiros querem saber se o país é seguro antes de viajar para cá”, diz Viviânne Martins, ex-presiden-te da Associação Latino Americana de Gestores de Eventos e Viagens Corpo-rativas (Alagev).

A lista de problemas diminuiu, mas ainda é suficiente para atrapalhar essa opção estratégica de turismo. As em-presas brasileiras, em sua maioria mi-cro e pequenas, não têm condições de captar um grande evento no exterior e dependem da ajuda do Ministério do Turismo e da Embratur. A capaci-tação de pessoal também é considera-da deficiente. O mercado se ressente, por exemplo, da falta de captadores de eventos internacionais. Os investimen-tos em infraestrutura, embora tenham melhorado a competitividade do país, ainda são considerados insuficientes para atender o turismo de lazer, de ne-gócios ou de aventura. Algumas cida-des-sede da Copa do Mundo, como Belo Horizonte, não têm centro de conven-ções. Em compensação, Fortaleza, ou-tra cidade-sede, ganhou um centro de convenções que possibilita a criação de um novo polo de turismo de negócios no Nordeste. Outra das conquistas do mundial de futebol é a modernização

dos aeroportos. Os investimentos para reforma e construção de hotéis tam-bém são considerados fundamentais.

“O crescimento econômico do país e os investimentos em cultura e educa-ção estão dando mais visibilidade ao país. A dificuldade em captar eventos na Europa e nos Estados Unidos dimi-nuiu porque a estrutura hoteleira é boa e os serviços são eficientes. Se não ti-ver qualidade na rede hoteleira e nos restaurantes o turista não volta”, afir-ma Anita Pires, da Abeoc-Brasil. “O Brasil é um país global, mas não há ci-dade global com um centro de conven-ções para plenárias de 20 mil pessoas. No Brasil, os espaços têm lugar para duas a três mil pessoas. Um bom equi-pamento é fundamental para aumentar o número de eventos. Para as feiras, nossos equipamentos estão cansados. O ideal seria que o país tivesse novos pavilhões de qualidade”, defende Ar-mando Arruda Pereira Campos Mello.

Os números só ressaltam a impor-tância do segmento de eventos para o Brasil. A indústria de feiras e exposi-ções e de viagens corporativas tem im-pacto em 72 segmentos da economia. Em dez anos, os congressos e conven-ções de negócios realizados no Bra-sil registraram um aumento de 408%. Dados da Internacional Congress and Convention Association (ICCA) apon-tam que, entre 2003 e 2013, o país sal-tou de 62 para 315 realizações. No mesmo período, o número de cidades que sediaram esse tipo de evento su-biu 145%, passando de 22 para 54. Os 315 eventos realizados no ano passa-do trouxeram ao país 126 mil turistas estrangeiros, que permaneceram, em média, 3,8 dias no país e movimenta-ram US$ 137 milhões. Hoje, o Brasil é o nono no ranking mundial de eventos da ICCA.

A classificação não inclui eventos esportivos e religiosos, o que deixou de fora a Copa das Confederações, re-alizada em junho de 2013 em seis dife-rentes cidades, e a Jornada Mundial da Juventude, que aconteceu em ju-lho, no Rio de Janeiro. A cidade brasi-

leira que mais recebeu eventos inter-nacionais foi o Rio de Janeiro, seguida de São Paulo. Por ocuparem grande parte e por um longo período de tem-po a infraestrutura hoteleira, os even-tos esportivos e religiosos dificultam a realização de eventos com público me-nor. Isso contribuiu para que, no ano passado, na comparação com 2012, houvesse queda de 12,5% no número de eventos realizados no Brasil. Em 2012, o país recebeu 360 eventos e fi-cou em 7º lugar no ranking do ICCA.

A Associação Brasileira de Empre-sas de Eventos (Abeoc) estima que 330 mil eventos sejam realizados anu-almente no Brasil com 80 milhões de participantes. Nos últimos dez anos, o setor registrou um crescimento de 51,2%. O crescimento, só no ano pas-sado, foi de 14% na comparação com 2012. O segmento é o segundo maior fator de atração de visitantes estran-geiros: 25,6% dos turistas internacio-nais vêm ao país atraídos por feiras, exposições, e seminários corporati-vos. Cada um gasta em média, por dia, US$ 127, quase duas vezes mais que o desembolso dos turistas de lazer.

‘laboratório’ para a copaBrasil já é nono no ranking mundialEm menos de um ano, apenas três

grandes eventos tiveram impacto de quase R$ 30 bilhões na economia bra-sileira. Este foi o saldo da Copa das Confederações, da Jornada Mundial da Juventude e do último Carnaval ca-rioca. Os reflexos mais perceptíveis se estendem às vendas do comércio, à geração de empregos e à qualificação de trabalhadores, mas também aju-dam em conquistas menos tangíveis, como a difusão da imagem do Brasil e dos brasileiros no exterior e a capaci-dade para atrair outras produções de grande porte.

Laboratório para o mundial des-te ano, a Copa das Confederações foi um dos 360 eventos internacionais – quase um por dia – realizados no Bra-sil em 2013. A competição atraiu para o país 25 mil turistas estrangeiros e provocou a circulação de 247 mil tu-ristas nacionais. Os dois grupos fize-ram girar quase meio bilhão de reais na economia. Além das cidades-sede, outros 137 municípios receberam visi-tantes. Levantamento realizado pela Fundação Instituto de Pesquisa Eco-nômica Fipe/USP revelou que apenas

a Copa das Confederações movimen-tou R$ 20,7 bilhões, agregou R$ 9,7 bilhões ao PIB brasileiro. Dados do Sebrae apontam que foram gerados R$ 100 milhões em novos negócios para as micro e pequenas empresas e R$ 2,7 milhões em vendas de artesa-nato para turistas.

Já a Jornada Mundial da Juventude 2013 atraiu 2 milhões de turistas para o Rio de Janeiro e injetou R$ 1,2 bi-lhão na economia da cidade, de 23 a 28 de julho. O comércio sentiu os im-pactos positivos nas vendas. A esti-mativa da CNC era de que o ramo de hiper e supermercados ficaria com 40% dos negócios, seguido pelos seg-mentos de combustíveis e lubrifican-tes, com 11,4%, e de vestuário e calça-dos, com 10,5%. No acumulado do ano, até abril, as vendas do varejo no esta-do cresceram 4,3% e os preços médios variaram 8,9%, acima da média da re-gião Sudeste (+7,6%) e da média na-cional (+7,8%). O Carnaval deste ano pode ter superado R$ 6 bilhões de fa-turamento. Estudo da CNC apontava a geração de 10,1 mil empregos tempo-rários, até fevereiro.

crescimento ao ano*

5%turistas estrangeiros

25 mil

novos negócios para micro e pequenas empresas

R$ 100 mi

faturamento anual

R$ 56 bi

empregos diretos e indiretos em 2013

700 mil

movimentou

R$ 20,7 bi

agregou ao pib

R$ 9,7 bicrescimento do pib*

3%

brasil no ranking mundial

9º lugar

turistas nacionais

247 mil

gRandes eventos no

BRasil

copa das

confedeRações

2013

gRandes eventos no

BRasil

Fonte: Internacional Congress and Convention Association (ICCA)/2013 Fonte: Fundação Instituto de Pesquisa Econômica Fipe/USP e Sebrae

vendas de artesanato

2,7 mi

4 Sexta-feira . 30 . 05 . 2014

especial semináRio tuRismo BRasil confedeRação nacional do coméRcio de Bens, seRviços e tuRismo

Cezar Loureiro/Agencia O Globo

a copa das confederações, em 2013, atraiu 25 mil turistas estrangeiros e 247 mil brasileiros. foi um laboratório para a copa do mundo, assim como a Jornada mundial da Juventude

* Em uma década

Page 5: Seminário Turismo Brasil - Caderno especial O Globo

5 Sexta-feira . 30 . 05 . 2014 5 EspEcial sEminário Turismo Brasil confEdEração nacional do comércio dE BEns, sErviços E Turismo

rio de janeiro

2 bi (até 2016)

Salvador

93,53 mi

curitiba

239,14 mi

Fortaleza

311,32 mi

ManauS

444,46 mi

reciFe

-

GuarulhoS

r$ 2,9 bi

viracopoS

r$ 2,5 bi

cuiabá

98,68 mi

porto aleGre

246,30 mi

aEroporTos concEdidos

r$ 6,5 bilhões

em recursos destinados à melhoria

de 13 terminais de passageiros, com aumento de 81% na capacidade de

recepção

em investimentos. a receita de

arrecadação obtida com as concessões

será aplicada em 270 aeroportos regionais

belo horizonte

260,04 mi

A expansão do turismo, em geral, depende da melhoria da infraestrutu-ra. Segundo o ministério do Turismo, a realização da Copa do Mundo pro-moveu a antecipação de investimentos, como no caso dos aeroportos, que re-ceberão R$ 10,8 bilhões em infraestru-tura, sendo R$ 4,3 bilhões da Infraero para melhoria de 13 novos terminais de passageiros – que aumentarão em 81% a capacidade de recepção – e R$ 6,5 bilhões nos aeroportos concedidos – Brasília, Guarulhos e Viracopos. Os aeroportos concedidos geraram, ain-da, arrecadação de R$ 20 bilhões com as concessões, recursos que possibili-

tarão a melhoria de 270 aeroportos re-gionais.

O governo também acredita que não haverá problema de mobilidade nas ci-dades-sede na Copa. Julio Eduardo dos Santos, secretário nacional dos Trans-portes e da Mobilidade Urbana do Mi-nistério das Cidades, observa que, no Rio, por exemplo, será inaugurada, em 1º de junho, o BRT Transcarioca, que ligará a Barra da Tijuca ao Aeroporto Internacional Tom Jobim. Há, ainda, a integração com a estação do metrô de São Cristovão, em frente ao Maracanã. “Quem sair do Santos Dumont pode se conectar com outra estação que leva à

de São Cristóvão. Já estudamos como as pessoas vão se deslocar nos dias de jogos de Copa. Os planos operacionais testados para o transporte público fo-ram um sucesso”, afirma.

Nos portos, o valor dos investimen-tos chega a R$ 587 milhões, com a re-forma/construção de terminais de pas-sageiros em portos turísticos, como Fortaleza, Natal, Recife e Salvador. As obras fazem parte da matriz do Progra-ma de Aceleração do Crescimento para a Copa 2014 (PAC/COPA). Setores de aviação e cruzeiro marítimos dizem, no entanto, que há muitos desafios a ven-cer. Ricardo Amaral, presidente da Clia

Abremar (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos) afirma, com base em estudo encomendado à FGV, que houve uma redução de 22 navios, com impacto na economia de R$ 1,4 bilhão em 2010/2011, para 11 navios, com im-pacto de R$ 1,150 bilhão em 2013/2014. “O cruzeiro tem uma característica de mobilidade, o setor vai para o destino que oferece as melhores condições. “Ci-dades como Ilhabela e Búzios recebem até 3 mil turistas de um navio, mas não têm infraestrutura em terra”, assinala. Ele diz que, por causa dos altos custos com impostos e taxas, o Brasil tem per-dido espaço no mercado mundial.

Investimento cresceu, mas ainda há desafios a vencer

Impostos nas alturastributos sobre o combustível aéreo são apontados como principal entrave à competitividade do setor

Embora reconheça a importância de propostas como a recuperação dos aero-portos regionais e a concessão dos aero-portos à iniciativa privada, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abe-ar), defende que há uma série de gargalos que precisam ser eliminados pelo governo para o desenvolvimento da aviação nacio-nal. Entre elas está a redução do preço do querosene de aviação e a desoneração tri-butária, sobretudo do ICMS, que varia en-tre 12% e 25% sobre o preço do combustí-vel e é cobrado apenas no Brasil, tirando a competitividade das companhias aére-as nacionais. Isso faz com que uma passa-gem para Buenos Aires custe menos que outra para o Nordeste.

“Esta política tributária exporta turis-tas e divisas. O preço das passagens se-gue regras internacionais, queremos que o componente dos custos também reflita o que é praticado internacionalmente. O querosene de aviação representa 42% dos custos do setor no Brasil. No mundo, cor-

responde a 33%, o que significa que aqui é 20% mais caro”, diz Eduardo Sanovicz, presidente da Abear. “E ainda há um adi-cional de 1,5% para atualização da frota da marinha, sendo que o querosene não vem mais de navio”, reclama.

Ele conta que o Distrito Federal acei-tou baixar o ICMS de 25% para 12% e con-seguiu recuperar a perda tributária em nove meses, com 120 novos voos. Já o Ce-ará aceitou reduzir o ICMS das compa-nhias que oferecessem um voo internacio-nal, o que foi aceito pela TAM (Miami), Gol (Buenos Aires) e Avianca (Bogotá). “Isso mostra que reduzir impostos e apostar no crescimento do tráfego é positivo para o setor”, observa.

Sanovicz destaca que o país triplicou o número de passageiros nos últimos dez anos, após a desregulamentação promo-vida em 2002, quando o preço das passa-gens aéreas deixou de ser definido pelo Departamento de Aviação Civil (DAC). Isso promoveu a competição entre as em-

presas e fez com que a tarifa média caísse de R$ 515, em 2002, para R$ 290, no ano passado. Naquela época, não havia pas-sagens abaixo de R$ 100 e apenas 23% eram abaixo de R$ 300. No ano passado, 13% dos assentos foram vendidos abaixo de R$ 100 e os bilhetes abaixo de R$ 300 representam 65% dos assentos.

TransporTe e DesenvolvImenTo - “Ago-ra temos condições de dobrar a deman-da caso sejam eliminadas barreiras que emperram o desenvolvimento do setor”, diz Sanovicz. Para isso, será necessário avançar na infraestrutura aeroportuá-ria, o que, na sua opinião, já começou a ocorrer com as concessões dos aeropor-tos de Guarulhos, Brasília, São Gonçalo do Amarante, Galeão e Viracopos. “Mas seria positivo se fossem concedidos tam-bém os aeroportos Santos Dumont, Con-gonhas, Salvador, Recife e Porto Alegre e que o governo pusesse no ar o Programa de Aviação Regional.

Jorge Eduardo Leal de Medeiros, professor doutor da Escola Politécni-ca da Universidade de São Paulo (Po-li-USP) e especialista no setor, ressal-tou, durante apresentação no seminário promovido pela CNC, que há uma rela-ção direta entre transporte aéreo e de-senvolvimento econômico. De 2004 a 2012, enquanto o Produto Interno Bruto crescia a uma média de 4% ao ano, a de-manda do transporte aéreo cresceu três vezes mais, atingindo, em média, 14%.

“Hoje temos 100 milhões de viagens, o que dá 0,5 viagem per capita. Vamos chegar a 200 milhões de viagens em 2020, mas poderemos avançar para 400 milhões, em 2030, com duas viagens per capita. Mas, para isso, é preciso aumen-tar a capilaridade e a qualidade dos ser-viços. A tarifa média caiu nos últimos dez anos e hoje temos um mercado ma-duro em termos tarifários, mas compa-nhias aéreas já chegaram ao seu limi-te”, diz Leal.

iStock

braSília

1,2 bi

Márcia Foletto / Agência O Globo

ao contrário das competidoras estrangeiras, as empresas aéreas brasileiras arcam com impostos sobre o querosene da aviação. alguns estados já promoveram uma redução de alíquotas

Page 6: Seminário Turismo Brasil - Caderno especial O Globo

6 Sexta-feira . 30 . 05 . 2014

EspEcial sEminário Turismo Brasil confEdEração nacional do comércio dE BEns, sErviços E Turismo

Os ministérios do Turismo e do Meio Ambiente querem fomentar a atividade empresarial nos parques nacionais. Se-gundo Vinicius Lages, ministro do Tu-rismo, a ideia é abrir os parques à ex-ploração da iniciativa privada como forma de torná-los mais sustentáveis. O Instituto Chico Mendes de Conserva-ção da Biodiversidade (ICMBio) – autar-quia ligada ao ministério do Meio Am-biente responsável pela administração dos parques nacionais – começou a mo-delar os primeiros projetos de parceira público-privada com a elaboração de um edital de concessão dos parques nacio-nais de Ubajara e Jericoacoara, no Ce-ará, e Serra das Confusões e Sete Cida-des, no Piauí.

Da parte do MTur, já há um plano de recuperação dos parques nacionais. De acordo com Vicente Neto, presidente da Embratur, inicialmente estão sendo investidos R$ 10,4 milhões para a res-

tauração de 16 parques nacionais. “Os recursos serão utilizado na compra de novos equipamentos e recuperação dos existentes. No Parque dos Lençóis, va-mos instalar uma pista de pouso para aviões de pequeno porte em Barreiri-nhas”, diz Neto.

O setor privado tem, porém, propos-tas mais ambiciosas que abrangem não apenas os parques nacionais, mas tam-bém todas as unidades de conservação. A ideia é a formação de Parcerias Públi-co Privadas (PPPs) visando ao aumen-to de visitantes e verbas para a conser-vação. Esta é a bandeira do Instituto Semeia, instituição sem fins lucrativos criada pelo fundador da Natura, Pedro Passos, que defende a articulação en-tre o setor público e privado para o de-senvolvimento e aplicação de modelos de gestão inovadores e sustentáveis em áreas protegidas.

Segundo Ana Luisa Da Riva, diretora

do Semeia, existem no país 1.824 unida-des de conservação – federais, estaduais e municipais. Os parques e as florestas respondem por 55% do total de hecta-res protegidos. “Não acreditamos que o governo seja capaz de manter esses es-paços sozinho, pois não tem recursos e a pressão sobre essas terras, num país agrícola como o Brasil, será cada vez maior”, afirma. Segundo dados do insti-tuto, os parques naturais somam 346 mil km² – uma área equivalente ao territó-rio da Alemanha. Hoje, porém, 80% de-les não geram receita financeira alguma.

A proposta é dividir funções entre o setor público e o privado. “O gover-no definiria o que pode ser feito, inclu-sive impondo obrigações de conserva-ção, cabendo ao parceiro privado operar e explorar comercialmente a área do parque, Atualmente, o percentual que é aberto à visitação não chega a 3%”, diz.

Como contribuição ao debate, o Se-

meia está trazendo ao país operadores americanos de grandes parques nacio-nais como a Xanterra, que administra o Gran Canyon, e a Delaware, que admi-nistra o Yosemite, na Califórnia.

Edilaine de Abreu, gerente de comu-nicação do Semeia, informou durante apresentação no seminário promovido pela CNC que, em 45 dias, o governo de Minas Gerais deverá lançar o primeiro edital para uma PPP de gestão de uma área de conservação.

Um bom exemplo dos resultados que podem ser obtidos por meio da parceria com o setor privado é o Parque Nacional do Iguaçu. Criado em 1939, é adminis-trado pelo Instituto Chico Mendes mas, desde 2000, a unidade conta com o apoio na visitação turística da Concessionária Cataratas do Iguaçu S.A.. Em 2013, re-cebeu 1,5 milhão de visitantes. De janei-ro a abril deste ano, 555.152 turistas vi-sitaram o parque.

Em busca de magia e diversãoUma vez concluídos os investimentos

previstos e realizadas a Copa e as Olim-píadas, a continuidade dos fatores positi-vos dependerá dos esforços do governo e dos demais agentes. Entre as novas opor-tunidades em análise pelo ministério do Turismo e as principais entidades do se-tor está o estímulo à criação de parques temáticos e a profissionalização dos par-ques ambientais, que têm um amplo po-tencial de demanda ainda inexplorado.

Em relação aos parques temáticos, o ministro do Turismo, Vinicius Lages, anunciou que estuda com os ministérios da área econômica uma forma de reduzir os custos da importação de equipamentos e incluir o setor nos mecanismos de incen-tivo à inovação.

“O setor de parques temáticos é o que mais gera fluxo de turistas no mundo. Tra-ta-se de uma atividade que não é usufruí-da individualmente e sim em grupos e fa-mílias. Atinge a todas as idades e não tem barreira física, nem cultural ou religiosa. Como atividade econômica, exige muito

investimento e tecnologia, mas gera gran-de retorno. Os parques da Disney, cria-dos na Califórnia, em 1955, e na Flórida, em 1971, dobram de tamanho a cada sete anos”, diz Alain Baldacci, ex-presiden-te da IAAPA (International Association of Amusement Parks and Attractins) e atu-al presidente do parque Wet´n Wild e do Sindepat (Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas).

Juntas, as unidades Disney espalha-das pelo mundo recebem 130 milhões de visitantes, somando-se os parques nos EUA, França, Hong Kong e Tóquio. Em 2016, será inaugurada a unidade de Xan-gai e, em 2019, a de Pequim, já que a Dis-ney mirou no continente asiático. Bal-dacci lamenta que o Brasil tenha sido relegado nesse processo, embora seja de brasileiros o maior contingente de visi-tantes nos parques da Disney. “É curioso que um país no qual o povo adora as atra-ções dos parques temáticos não desenvol-va a atividade. Quando a Disney foi para a Europa, houve uma briga entre a França

e a Espanha e o governo francês investiu US$ 3 bilhões em infraestrutura para ven-cer a disputa. Hoje a Disney de Paris rece-be mais visitantes que a soma dos visitan-tes da Torre Eiffel e do Museu do Louvre”, diz Baldacci.

Em 2012, o Sindepat encaminhou uma proposta ao governo para fomentar a ati-vidade de parques temáticos. Na propos-ta, os empresários defendem a redução das restrições para importação de equi-pamentos, uma vez que a atividade é in-tensiva em tecnologia. “Uma montanha russa nos EUA custa US$ 10 milhões. Para um parque brasileiro importar, ela sai por US$ 25 milhões”, compara.

Outra reivindicação é a flexibilização da contratação da mão de obra, já que a atividade é sazonal. Ele observa que, no verão, os parques abrem todos os dias da semana. No inverno, porém, funcionam apenas de sexta a domingo, mas é pre-ciso pagar pelos sete dias da semana e a legislação trabalhista obriga a dar um domingo de folga por mês. O Parque Beto

Carrero emprega mais de mil funcioná-rios, quantas indústrias geram tantos empregos?”, argumenta.

Outra queixa é a falta de linhas de financiamento, já que as do mercado exigem garantias reais de até 130%. O setor gostaria de poder contar com ga-rantia evolutiva, que vai sendo forma-da à medida que o empreendimento vai sendo construído. Além disso, as taxas do ECAD levam em conta a capacidade do parque e não o movimento real. Bal-dacci diz que este conjunto de limitado-res fez com que muitos parques fechas-sem, no fim dos anos 90, especialmente após a alta do dólar. “Os que passaram pela fase ruim hoje são modelo para o mundo, como o Beach Park de Fortale-za, que encontrou viabilidade no mode-lo imobiliário associando-se a condomí-nios e hotéis. O Beto Carrero também é modelo. Esses dois exemplos mostram que, se a atividade fosse estimulada, da-ria uma resposta gigantesca ao turismo do país”, conclui.

Potencial pouco exploradoGoverno tem plano para recuperação de parques nacionais e ambientais para atrair visitantes

O Parque Nacional do Iguaçu, criado em 1939, é um dos poucos em operação no País e um dos mais visitados: recebeu 1,5 milhões de turistas em 2013

Na disputa pela Eurodisney, a França levou a melhor. O parque recebe hoje mais visitantes que a Torre Eiffel e o museu do Louvre juntos. As unidades Disney atraem 130 milhões de turistas por ano

Cataratas do Iguaçu S.A.

EdStock/iStock

Page 7: Seminário Turismo Brasil - Caderno especial O Globo

7 Sexta-feira . 30 . 05 . 2014 7 EspEcial sEminário Turismo Brasil confEdEração nacional do comércio dE BEns, sErviços E Turismo

A garantia do sono tranquiloRede hoteleiRa do país investe em modeRnização e capacitação de pessoal, dá salto qualitativo e amplia ofeRtas

Investimentos na ampliação e mo-dernização da rede hoteleira e na ca-pacitação de pessoal jogaram para escanteio o temor de um gargalo na hospedagem dos turistas que vêm para a Copa do Mundo. Às vésperas da aber-tura da competição, ainda havia vagas nas 12 cidades-sede, embora algumas já exibissem taxas de ocupação de su-perior a 90%. Nos últimos quatro anos, quase 1 milhão de alunos se formaram ou iniciaram os estudos nos cursos do Senac para as áreas de turismo, hos-pitalidade e lazer, saúde, gestão de ne-gócios, produção de alimentos e idio-mas. A qualificação profissional era outro desafio para atender as expec-tativas criadas pelo evento. De acor-do com o estudo Impacto Socioeconô-mico da Copa, elaborado em 2010 pela

O desafio da indústria de hotéis é com o pós-Copa. O último Placar da Hotelaria, ela-borado pela HotelInvest, indica que a cons-trução de novos hotéis ou a ampliação da oferta de quartos em algumas cidades vai superar a demanda do mercado. São Paulo, que tinha 35.869 quartos em 2011 e registra-va taxa de ocupação de 68%, abriu apenas mais 463 novas unidades e deverá registrar taxa de ocupação de 70%, a partir de 2015. O Rio de Janeiro, que tinha 78% de taxa de ocu-pação com 18.957 unidades, deverá ficar com pouco mais 70%, com o acréscimo de 5.686 novos quartos. Mas Belo Horizonte, que tinha 6.377 quartos, há três anos, e registrava 69% de taxa de ocupação, ganhou mais 6.544 uni-dades e deverá experimentar uma redução da taxa para 34%.

“Não construímos o turismo como produ-to para ser explorado no futuro. A gente não tem políticas, nem planejamento. Isso faz com que o turismo de lazer seja relegado a segun-do plano e a preocupação se volte ao turismo de negócios, que depende do desempenho da economia. Não precisava ter construído ho-tel para a Copa. Precisava melhorar o que ha-via e, isso, o BNDES fez, dando financiamento para a reforma e modernização de hotéis”, diz Diogo Canteras, da HotelInvest.

Depois que o setor privado investiu em no-vos hotéis, a expectativa dos empresários é que os governos reduzam o ICMS dos combustíveis aéreos, para ampliar voos e alterem a legisla-ção trabalhista. A falta de flexibilização dos contratos temporários de trabalho é considera-da um entrave para tornar a indústria hotelei-ra, que demanda mão-de-obra intensiva, mais competitiva em preço. “Somos a 6ª economia do mundo, com a 33ª diária mais cara do mun-do mas, em compensação, temos a maior carga tributária, que chega a 38%. O turista brasilei-ro gasta US$ 24 bilhões por ano viajando para fora do país, mas o Brasil só atrai US$ 6 bilhões com a vinda de turistas estrangeiros”, diz Enri-co Fermi Torquato, da ABIH-Nacional.

A realização da Copa do Mundo provocou um movimento inédito de qualificação profissional no Brasil. O Senac, sozinho, capacitou 900 mil alunos nos últimos quatro anos, principalmen-te agentes de informações turísticas, recepcio-nistas e organizadores de eventos, cozinheiros, camareiras, auxiliares administrativos e guias turísticos. A pesquisa Senac na Copa 2014 iden-tificou as necessidades de qualificação profissio-nal no mercado por meio de entrevistas com os responsáveis por 716 estabelecimentos distribuí-dos pelos setores de hospedagem e alimentação, em parceria com a Federação Nacional de Hotéis e Restaurantes, e definiu as diretrizes do Progra-ma de Educação Profissional Senac em Campo, lançado em 2011.

Por meio do Pronatec Copa, o Senac promoveu ações para a qualificação de jovens e adultos, com mais de 18 anos, nos segmentos de Turismo, Hos-pedagem, Gastronomia, Eventos e Lazer, impacta-dos pela Copa em 120 destinos turísticos no país. Agente de informações turísticas e recepcionista de eventos foram os cursos mais procurados ano passado, mas muitos profissionais também bus-caram na instituição conhecimento para agregar valor ao seu negócio e atender melhor os turistas. Em Recife, motoristas de táxi frequentaram aulas para aprender inglês, por exemplo.

A qualificação profissional e a demanda por mão de obra elevaram a renda do trabalhador em turismo. Nos últimos seis anos, houve aumen-to real de 17,7% nos salários. Em 2007, 41,6% dos trabalhadores formais do setor tinham, pelo me-nos, o nível médio completo. Seis anos depois, a participação de trabalhadores com o mesmo ní-vel de qualificação saltou para 56,1%. Só nos me-ses de junho e julho, durante a competição, a pre-visão de uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apontava para a criação de 47,9 mil postos de trabalho em serviços de hospedagem, alimenta-ção, culturais e recreativos, além de transporte e agências de viagens. Em 2013, já como reflexo do mundial de agora, o setor gerou 30 mil empregos – um aumento de 3,8%.

O ministério do Turismo anunciou o projeto de criar a Conta Satélite do Tu-rismo do País, para onde seriam con-tabilizadas todas as receitas direta ou indiretamente ligadas ao setor. Isso vai exigir uma articulação do ministé-rio com o Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE), responsá-vel pela pesquisa do Sistema de Contas Nacionais, segundo explica Wilson Ra-bahy, professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universida-de de São Paulo (ECA-USP) e coorde-nador da área de turismo da Funda-ção Instituto de Pesquisas Econômicas

consultoria Ernst & Young em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, a rea-lização do mundial poderia injetar R$ 142 bilhões extras na economia, além de gerar 3,6 milhões de empregos por ano e R$ 63,48 bilhões de renda para a população.

“A hotelaria brasileira está tranqui-la desde 2007, quando 840 hotéis fe-charam contrato com a FIFA já com tarifa em reais definidas e índices de reajustes também”, diz Enrico Fer-mi Torquato, presidente da Associa-ção Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-Nacional). “Os hotéis vão lotar nas cidades da Copa, mas o restante fica em módulo de espera. Já se per-cebe a retração que deve durar até vinte dias depois da competi-ção. Megaevento não é fácil”,

afirma Viviânne Martins, ex-presiden-te da Associação Latino Americana de Gestores de Eventos e Viagens Cor-porativas (Alagev). “A Copa não será nenhum hexacampeonato para todo o setor hoteleiro”, diz.

“O Rio de Janeiro vai estar mui-to bem. Recife, Natal e Fortaleza tam-bém terão uma boa ocupação. Outras cidades vão ter taxas razoáveis, mas algumas vão amargar decepções”, diz Diogo Canteras, sócio-diretor da Ho-telInvest. “Os níveis de comerciali-zação de diárias de hotel da Copa do Mundo do Brasil são muito bons e es-tão no mesmo patamar da Copa da Ale-manha, em 2006”, diz Enrique Byrom,

presidente da Match Events Servi-ces AG, que presta serviço de aco-

modação à FIFA desde a Copa

da Itália, em 1990, e de tecnologia de informação, desde o mundial de 1998, na França.

Garantido o desempenho operacio-nal e a qualidade do atendimento, o setor se preocupa agora com o resul-tado financeiro. Os hotéis mais bem po-sicionados do mercado de São Paulo, que tem a maior estrutura hoteleira do país, com mais de 40 mil quartos e so-fre com a retração já esperada do tu-rismo de negócios, fecharam contratos para eventos paralelos à Copa do Mun-do e também devem registrar resulta-dos positivos.

“Algumas cidades estão muito bem, como o Rio. Outras ainda têm ofer-ta considerável, como Curitiba. For-taleza e Manaus também estão muito bem”, disse o presidente da FOHB, Ro-berto Rotter.

de 100 mil unidades/ano; 120 milhões de peças de cama mesa e banho com re-novação anual de 10 milhões de unida-des; 462 mil unidades de frigobar, com reposição de 61.354 mil unidades/ano; 427,7 mil aparelhos de ar condicionado, com renovação anual de 62.823 unida-des; 72.682 fornos de microondas, com mais 12.227 unidades/ano; 412.267 TVs a cabo, com acréscimo anual de 78.398, além de 200 mil veículos em um total de 70 itens pesquisados. Apontou, ain-da, que, em termos de geração de valor adicionado, seu desempenho equivale a quase R$ 4,5 bilhões (valores de 2002).

desafio é manter omovimento pós-copa

o real impacto da atividade na economia

cresce a qualificação profissional

(Fipe), que organiza pesquisas para o Mtur. “Hoje, a construção de um hotel, por exemplo, é computada no Sistema de Contas Nacionais como receitas da construção civil, quando, no nosso en-tendimento, deveria ser computada no setor de turismo. A construção de um aeroporto é contabilizada como for-mação bruta de capital, mas pelo me-nos uma parcela deveria ser creditada ao turismo. É importante que o IBGE participe, pois a ideia é de que a conta satélite consolide tudo o que é devido ao turismo”, diz Rabahy.

A Fipe realizou, em 2006, em parce-ria com o Sebrae, o único levantamen-to disponível que aponta uma parcela do impacto do setor em outros setores. Segundo o ministro do turismo, Vini-cius Lages, o estudo deverá ser refei-to e divulgado em setembro deste ano. O estudo “Meios de Hospedagem – Es-trutura de Consumo e Impacto na Eco-nomia” ouviu 2,5 mil meios de hospeda-gem das regiões metropolitanas de 13

capitais. A pesquisa mostrou, na ocasião, que o setor ti-

nha um estoque de 615 mil TVs com renovação

Rio de JaneiRo

98%

cuiabá

65%

manaus

65%

beloHoRizonte

62%

Recife

90%

bRasília

70%

PoRto alegRe

80%

são Paulo

65%

natal

70%

foRtaleza

75%

salvadoR

68%

cuRitiba

60%

Taxa de ocupação nas cidades-sede

Fonte: Federação Nacional de Hotéis e Restaurantes

impacto da atividade hoteleira

na economia

Fonte: Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe)

Page 8: Seminário Turismo Brasil - Caderno especial O Globo

8 Sexta-feira . 30 . 05 . 2014

EspEcial sEminário Turismo Brasil confEdEração nacional do comércio dE BEns, sErviços E Turismo

Realizar megaeventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos é uma oportunidade única para que os países aumentem sua visibilidade internacio-nal e incrementem o número de turistas. Entre as estratégias para aproveitar a chance para alavancar o turismo nacio-nal estão as linhas de financiamento pú-blico ao setor.

Desde a criação do ministério do turis-mo, em 2003, o montante financiado sal-tou de R$ 1 bilhão para R$ 13,5 bilhões, em 2013. As linhas oferecidas beneficia-ram empresas aéreas, hotéis, parques, transportadoras, agências de turismo, bares e restaurantes. Os empréstimos foram concedidos pelo Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal (CEF), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômi-co e Social (BNDES), Banco do Nordeste (BNB) e Banco da Amazônia (Basa), com linhas subsidiadas.

As linhas mais atrativas são as ofere-cidas pelos bancos que operam com re-cursos de fundos constitucionais. Um exemplo é o Banco do Nordeste, que criou o Programa de Apoio ao Turismo operan-do linhas que têm como fonte de recur-sos o Fundo Constitucional de Financia-mento do Nordeste (FNE). “Pelo menos 70% das ampliações e melhorias das em-presas de turismo do Nordeste foram fei-tas com recursos do FNE. Dos R$ 30 bi-lhões de nosso orçamento em 2014, cerca de 10% serão direcionados ao setor de tu-rismo”, diz Nelson Antônio de Souza, pre-sidente do banco.

O Banco da Amazônia focou na elabo-ração e na execução de um Plano de In-

Opções do financiamento públicoto a hotéis BNDES ProCopa Turismo só consegui aprovar R$ 1 bilhão em opera-ções até o seu encerramento. Lançado em 2010, o programa recebeu propos-tas até junho de 2013 e contratou as úl-timas operações em janeiro de 2014. Se-gundo Maurício Neves, superintendente da área industrial (inclui comércio, servi-ços e turismo), foram aprovados 17 pro-jetos, que somam um investimento total de R$ 2 bilhões (incluindo a contraparti-da do empreendedor). “Mesmo com o en-cerramento do programa, o financiamen-to ao setor permanece, e a carteira de demanda de R$ 1 bilhão ainda em análi-se migrou para o Finem, linha regular do banco para operações acima de R$ 20 mi-lhões”, assinala Neves.

O FOHB (Fórum de Operadores Ho-teleiros do Brasil), associação que reú-ne as 26 principais redes hoteleiras atu-antes no Brasil, com cerca de 600 hotéis em operação e 97 mil unidades habita-cionais, considera que os recursos são insuficientes. A principal queixa do se-tor é a exigência de garantia real de 130%, transformada depois para garan-tia evolutiva mas, mesmo assim, a linha não agradou a todo o setor. Alexandre Sampaio de Abreu, presidente da Fede-ração Nacional de Hotéis e Restauran-tes, diz que apresentou ao BNDES uma alternativa à garantia real. “Propuse-mos a garantira evolutiva, que foi ado-tada há dois anos. Outra saída seria a criação de um fundo garantidor, com uma dotação orçamentária do Mtur e um percentual adicional nas operações de financiamento”, propõe.

r$ 13,5 bi

r$ 3 bi

minisTério do Turismo Em 10 anos

BndEs: 17 projETos financiados

r$2 bi

Banco do nordEsTE, Em 2014

PARA TORNAR cRédiTO MAiS AcESSÍVEl, EMPRESÁRiOS PROPÕEM MudAR AS GARANTiAS ATuAiS

centivo ao Turismo na Amazônia, ali-nhado com o Plano Nacional de Turismo. Segundo Wilson Evaristo, diretor comer-cial e de distribuição, a região possui um grande potencial para o desenvolvimen-to do setor, mas precisa transformá-lo em produtos turísticos de boa qualidade e competitivos.

O mercado reconhece que as condi-ções são extremamente vantajosas, es-pecialmente as linhas operadas com re-cursos dos fundos constitucionais. Mas reclama da burocracia e do rigor das exi-gências. Luciano Carneiro, proprietário

do Hotel Rio Vermelho, de 70 apartamen-tos, em Goiânia, tentou um financiamento de R$ 1,5 milhão de recursos do FCO jun-to ao BB, mas desistiu quando soube que tinha de oferecer garantia de 130% do va-lor do empréstimo e apresentar um proje-to de financiamento. “Quem faz o projeto são empresas que pedem 5% do valor fi-nanciado, o que não faz sentido, já que a taxa de juros é de 8% ao ano. Acabei re-alizando a ampliação com recursos pró-prios de uma herança”, diz Carneiro.

Mesmo com uma demanda de R$ 2 bilhões, o programa de financiamen-

MBortolino/iStock