semiótica da cultura
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Semiótica da Cultura
Escola de Tártu-Moscou
Os pesquisadores da ETM
• Entendem a cultura como linguagem.• Linguagem: elo entre os domínios diferentes
da vida no planeta.• Aplicaram-se em compreender toda e
qualquer linguagem – todas as formas de expressão.
Cultura
• Memória não genética: religião, arte, leis : isto forma um tecido, um continuum semiótico, sobre o qual se estrutura o mecanismo das relações cotidianas.
Assim, toda relação seria:
• Primordialmente, uma troca de linguagens.
Cultura
• Inteligência coletiva.• Um sistema de proibições e prescrições.• Programas de comportamento que permitem
converter acontecimentos em conhecimento.
Signos
• Ganham significados na medida em que se transformam em expressões simbólicas para seus grupos.
Cultura
• Sistema de armazenamento, processamento e transferência de inormação.
O sentido
• Não está armazenado nas consciências individuais, mas na relação, nos interstícios entre falante e ouvinte.
Tradução
• O sistema reconforma sua estrutura traduzindo signos.
• Essas novas configurações são absorvidas na memória do sistema.
Códigos
• Os códigos já absorvidos se recompõem para traduzir novos conteúdos, mas estes só surgem a partir dos antigos, da tradição, daqueles que a cultura reconhece.
Cultura
• É um sistema de signos.• É um grande texto.• Se auto-regula.• Se auto-descreve.
Semiosfera
• O cosmo sígnico de cada cultura.
Textos
• Se reproduzem por contaminações nas fronteiras esponjosas da semiosfera.
Encontros dialógicos
• Elementos de diferentes culturas.• Diferentes sistemas modelizantes.
Modelização
• Determinado modelo de mundo é produzido pela linguagem.
Língua
• Modelização primária.• Secundária: todos os sistemas semióticos
restantes.
Lotman
• 1922 / 1993
A arte como linguagem
• A arte é um dos meios de comunicação.• Realiza uma ligação entre um emissor e um
receptor (ambos podem estar em uma única pessoa).
Arte
• Linguagem realizada de forma peculiar.
Linguagem
• Todo sistema que serve à finalidade da comunicação entre dois ou mais indivíduos.
• Não se restringe à condição humana.
Linguagem
• A língua;• Os meta-sistemas criados para descrever as
línguas.• Teatro, cinema, pintura, música.
A arte como sistema
• Além de cada arte específica constituir um sistema próprio de linguagem, a arte, de um modo geral, ou seja, o seu conjunto, se constituiria em um sistema geral com um modo de organização específico classificável como linguagem.
Toda linguagem
• Utiliza signos.• Signo: é o vocabulário de cada linguagem (seu
alfabeto).• Possui regras definidas de combinação de
signos.• Apresenta determinada estrutura, à qual
corresponde uma hierarquia própria.
Arte
• Possui aspectos que a aparentam a qualquer linguagem, podendo ser enquadrada em uma teoria dos sistemas de signos;
• Possui aspectos particulares, o que a distingue de outros sistemas.
Linguagem
• Todo sistema de comunicação que utiliza signos ordenados de maneira particular.
A linguagem se distingue dos seguintes sistemas:
- Os que não servem como meio de comunicação: formas que não estão ligadas ao acúmulo e transmissão de informações (fenômenos naturais, como o crescimento de uma árvore).
- Os que servem como meio de comunicação, mas não utilizam signos (comunicação celular, transmissões informativas internas – fome, raiva, medo).
- Servem como meio de comunicação e utilizam signos total ou parcialmente não ordenados (paralinguagem).
Linguagem
• Línguas naturais (inglês, português, francês).• Línguas artificiais (ciência, sinais
convencionais).• Linguagens secundárias (o mito, a religião, a
arte etc).
Língua natural
• Um dos mais antigos e poderosos sistemas de comunicação. Exerce influência sobre a psique do homem e sobre a vida social.
• “Não sei se penso ou se sou pensado pelo meu pensamento” (E. Morin).
• “A consciência humana é lingüística” (Bakhtin).• A linguagem sempre se dá em um embate
social. Linguagem é negociação.
Na comunicação: teorias relacionadas à negociação da linguagem
• Agenda setting.• Espiral do silêncio.• Cargas ideológicas: palavras fortes, simpáticas,
antipáticas. • Palavras-tabu.
Sistemas secundários
• Se constroem baseados em modelos da língua natural.
A consciência do homem é linguística
• Por isso todos os sistemas sobrepostos à consciência, incluindo a arte, podem ser definidos como sistemas modelizantes secundários.
Complexidade
• A complexidade da estrutura é proporcional à complexidade da informação transmitida.
• A complexidade do caráter da informação conduz inevitavelmente à complexidade do sistema semiótico utilizado para sua transmissão.
Complexidade
• Num sistema semiótico corretamente construído, não deve existir nenhuma complexidade supérflua ou injustificada.
• Tendência à simplificação: os sistemas tendem à economia.
• Na linguagem: Vossa mercê / vosmecê / cê
Complexidade
• Os sistemas simples substituem os sistemas complexos, desde que ofereçam o mesmo volume de informação.
Poético
• Estrutura altamente complexa.• Mais complicado que a língua natural, quando
na literatura.• Permite um volume enorme de informações.AmorHumor (Oswald de Andrade)• Paulo Prado: minutos de poesia em
comprimidos
Complexidade poética
• Uma determinada informação não pode existir nem ser transmitida fora de uma dada estrutura.
Traduzir
• É trair.• É impossível.• Só é possível transcriar, recriar.
Pensamento artístico
• Se realiza através de um encadeamento – uma estrutura – e não subsiste fora dele.
O texto artístico
• É um sentido construído complexamente. Todos os seus elementos são elementos de sentido.
• No texto artístico elementos não significativos ganham significado – o branco da página, por exemplo.
NatalMinha sogra ficou avó. (Oswald de Andrade)
Domínio da linguagem
• Dois códigos: um que cifra e outro que decifra.• Reconhecimento de elementos invariantes.
Toda linguagem é:
• Um sistema comunicativo;• Um sistema modelizante.
Linguagem
• Determinado sistema abstrato, comum ao emissor e ao receptor, que torna possível o próprio ato de comunicação.
• Onde se lê abstrato, com Peirce leia-se simbólico.
Mensagem
• Informação que surge em um texto.
Obra de arte
• Linguagem;• Mensagem.
Linguagem de um texto artístico
• Determinado modelo artístico de mundo.• Cria o modelo artístico de um fenômeno
concreto qualquer.
Assim
• O estudo da linguagem artística das obras de arte nos fornece não apenas certa norma individual de relação estética, mas também reproduz um modelo de mundo em seus traços mais gerais.
A linguagem
• Modeliza não só uma determinada estrutura do mundo, mas também o ponto de vista do observador.
Os signos arte
• Não possuem um caráter convencional, mas um caráter icônico, figurativo.
Os signos icônicos
• São construídos segundo um princípio de ligação condicionada entre a expressão e o conteúdo.
Na arte
• O signo modeliza o seu próprio conteúdo.• Há uma semantização de elementos não
semânticos.• O texto é um signo integral.
Exemplos
• A pontuação em José Saramago.• O violão e a voz gutural de João Bosco
(influências de Clementina de Jesus).• As repetições encantatórias em G. Rosa.• A parataxe em Oswald de Andrade.• O surreal / inusitado nos comerciais do Axe.
Inovação
• Toda obra inovadora é construída sobre um material tradicional.
• Se um texto não evoca uma construção tradicional, sua inovação deixa de ser percebida.
• Exemplos: a Monalisa de Bigodes, de Duchamp
• O santeiro do Mangue, de Oswald de Andrade
Arte
• Meio mais econômico e compacto para conservar e transmitir uma informação.
O texto artístico
• Fornece aos diferentes leitores uma informação diferente – a cada um na medida da sua compreensão - , e ainda proporciona ao leitor uma linguagem a partir da qual é possível assimilar uma porção sucessiva de conhecimento no decorrer de uma nova leitura.
• Por isso o risco de se utilizar a poesia como informação.
Pluralidade de interpretações
• Propriedade orgânica da arte.
Receptor
• Deve não só decifrar a comunicação com ajuda de determinado código, mas também estabelecer em que linguagem o texto foi codificado.
Sem domínio comum de linguagem entre emissor e receptor:
• O receptor aplica ao texto sua própria linguagem artística. O texto é submetido a uma recodificação.
• O receptor procura assimilar o texto segundo cânones por ele conhecidos, pelo método de ensaio e erro.
• O receptor entra em conflito com a linguagem do emissor (e pode ser vencido).
• O emissor impõe sua linguagem ao leitor, que a assimila e faz dela seu próprio meio de modelização da vida.
Na prática
• No processo de assimilação a linguagem do emissor se submete a uma mestiçagem, se deforma, no contato com o arsenal da consciência do leitor.
Na passagem do emissor para o receptor
• Elementos casuais podem vir a ganhar significação.
Partes do código que não se cruzam
• Zona que se deforma, sofre mestiçagem, se transforma.