ser jovem É fator de risco para a violÊncia? · a todos aqueles que, direta ou indiretamente,...

60
1 1 11 Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Lato Sensu em Direitos Humanos e Proteção Trabalho de Conclusão de Curso SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? Brasília - DF 2010 Autor: Sueli Maria Gabriel Orientadora: Anelise Pereira Sihler

Upload: dangngoc

Post on 04-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

1

1

11

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Lato Sensu em Direitos Humanos e Proteção

Trabalho de Conclusão de Curso

SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA?

Brasília - DF

2010

Autor: Sueli Maria Gabriel

Orientadora: Anelise Pereira Sihler

Page 2: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

2

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA UCB VIRTUAL

CURSO DE DIREITOS HUMANOS E PROTEÇÃO SUELI MARIA GABRIEL

SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA?

BRASÍLIA – DF 2010

Page 3: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

3

SUELI MARIA GABRIEL

SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA?

Monografia apresentada ao curso de Direitos Humanos e Proteção na Universidade Católica de Brasília como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Direitos e Humanos e Proteção Orientadora: Anelise Pereira Sihler

BRASÍLIA – DF 2010

Page 4: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

4

FOLHA DE APROVAÇÃO

Monografia de autoria de SUELI MARIA GABRIEL, intitulada “SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA?”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Diretos Humanos e Proteção da Universidade Católica de Brasília, em 19/11/2010, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: Prof. Msc Anelise Pereira Sihler

Orientadora CURSO DE DIREITOS HUMANOS E PROTEÇÃO – UCB VIRTUAL

BRASÍLIA – DF 2010

Page 5: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

5

AGRADECIMENTOS

A minha mãe Maria Benedita, minha filha Fernanda Cristina, meu genro Uilson e

meus netos, Filippe Gabriel e Valentina

A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr

atrás dos meus ideais.

A todos os componentes da equipe do PPCAAM/SP, que me permitiram tomar

contato com o tema, o que despertou em mim além do interesse, o compromisso

social. Especialmente, a Andréia e Maura, que garantiram a tranqüilidade necessária

durante as pesquisas sobre o tema.

Agradeço também a tolerância da minha amiga Cacilda que durante meses permitiu

que eu me instalasse em sua residência nos finais de semana para elaborar meu

tcc.

A UCB – Universidade Católica de Brasília, a equipe de coordenação e apoio, em

especial à Professora Anelise, que me abriu as portas e o coração para que eu

desse mais este passo.

A Luciana por sua dedicação em auxiliar-me nas pesquisas pertinentes ao tema.

A mim mesma, pela iniciativa e dedicação.

Luz e Energia a todos vocês! Sueli Maria Gabriel

Page 6: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

6

DEDICATÓRIA

A minha Orientadora Professora Anelise Pereira Sihler, por sua generosidade, por

sua compreensão, carinho, tolerância e crença na certeza de que o trabalho seria

concluído.

Page 7: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

7

“Não, não tenho caminho novo, o que tenho novo é o jeito de caminhar”

Thiago de Mello

Page 8: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

8

RESUMO Referência: SUELI MARIA GABRIEL . Título: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA. Curso de Administração. Universidade Católica de Brasília, Brasília – DF, 2010. Os números oficiais nacionais existentes sobre violência, bem como pesquisas quantitativas e qualitativas pontuais, confirmam que são jovens as maiores vítimas da violência no Brasil. Isto se manifesta de maneira mais exacerbada no caso de homicídios, sendo que as taxas deste crime entre jovens do sexo masculino no Brasil se comparam às de regiões conflagradas. Este trabalho objetiva discorrer sobre a importância da interação do adolescente com seu contexto familiar, fundamentalmente em referência ao problema das toxicomanias e fatores de risco iminente de morte. O Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) tem como objetivo, a preservação de vida de crianças, adolescentes e jovens egressos do Sistema Sócio-Educativo ameaçado de morte (conforme estabelecido no artigo 2º, parágrafo único, da Lei nº 8.069/99) exposto à coação ou grave ameaça no Município de São Paulo. O caso fora acolhido no PPCAAM no ano de 2008, sendo incluso o adolescente Pedro e seus familiares, a genitora e um irmão mais novo. Um programa compreensivo e voltado à promoção da saúde precisa entender essa quase inevitabilidade com a qual convive o ser humano de buscar algum tipo de prazer em substâncias que produzem algum tipo de sensação. E entender também que a prevenção do abuso de drogas é sinônimo de vida saudável, empreendimento tão importante para os jovens que deve incluir a família, a escola, o grupo de pares, a comunidade e a mídia. É necessário promover um crescimento e desenvolvimento saudáveis, maior igualdade social e de oportunidades, atuar contra a pobreza e o racismo, voltar-se para o desenvolvimento do protagonismo juvenil são propostas que convergem para o cumprimento do ECA e a favor da democracia.

Palavras-chave: juventude, drogas, proteção pessoa humana, políticas públicas

Page 9: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

9

ABSTRACT Official figures on existing domestic violence and specific quantitative and qualitative research confirms that young people are the biggest victims of violence in Brazil. This manifests itself in a more exacerbated in the case of homicide, with rates of crime among young men in Brazil are comparable to those in conflict regions. This paper aims to discuss the importance of the interaction of adolescents with their family background, primarily in reference to the problem of addiction and risk factors for imminent death. The Program to Protect Children and Adolescents Threatened with Death (PPCA) is aimed at the preservation of life of children, adolescents and young graduates System Socio-Educational threatened with death (as defined in Article 2, paragraph, of Law No. 8.069/99) exposed to coercion or serious threat in São Paulo. The case was dismissed in PPCAAM in 2008, and included the teenage Peter and his family, the progenitor and a younger brother. And a comprehensive program aimed at health promotion must understand that almost inevitability with which the human lives to seek pleasure in some sort of substances that produce some kind of sensation. And also understand that the prevention of drug abuse is synonymous with healthy living, new development so important for young people should include family, school, peer group, community and media. It is necessary to promote a healthy growth and development, greater social equality and opportunity, to act against poverty and racism, turning to the development of youth participation are proposed that lead to the fulfillment of the ECA and for democracy. Keywords: youth, drugs, human protection, public policy

Page 10: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

10

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 14

1.1 Justificativa ............................................................................................. 15

1.2 Vitimização Juvenil ................................................................................. 15

1.3 Objetivos ................................................................................................. 17

1.3.1 Objetivo Geral ...................................................................................... 17

1.3.2 Objetivo Específico .............................................................................. 19

1.4 Metodologia e Métodos ........................................................................... 19

2 CENÁRIO DE RISCO PARA O JOVEM NA CIDADE DE SÃO PAULO ... 21

2.1 Risco e fatores de risco .......................................................................... 21

2.2 Proteção e fatores de proteção ............................................................... 27

2.3 Estratégias de prevenção ....................................................................... 33

3 O QUE É O PROGRAMA DE PROTEÇÃO À CRIANÇAS E

ADOLESCENTES AMEAÇADOS DE MORTE (PPCAAM) .........................

36

3.1 Objetivos do Programa de Proteção à Crianças e Adolescentes

Ameaçados de Morte (PPCAAM) .................................................................

36

3.2 Histórico do Programa de Proteção à Crianças e Adolescentes

Ameaçados de Morte (PPCAAM) .................................................................

36

3.3 Responsabilidades do Programa de Proteção à Crianças e

Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) ...........................................

36

3.4 Recursos Humanos envolvidos no Programa de Proteção à Crianças e

Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) ...........................................

38

3.5 Atuação do Programa de Proteção à Crianças e Adolescentes

Ameaçados de Morte (PPCAAM) .................................................................

39

3.6 Perfil dos casos atendidos ...................................................................... 40

3.7 Balanço dos usuários assistidos pelo Programa de Proteção à

Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) ........................

42

4 ESTUDO DE CASO: PEDRO (*) ............................................................... 44

4.1 Repercussões do caso na mídia.............................................................. 47

4.2 Resultados Esperados............................................................................ 47

5 CONCLUSÃO ............................................................................................ 51

Page 11: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

11

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 53

Anexos .......................................................................................................... 58

Page 12: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

12

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1 – Reportagem ................................................................................. 59

Anexo 2 – Reportagem ................................................................................. 61

Anexo 3 – Reportagem ................................................................................. 63

Page 13: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

13

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Homicídios não-jovens: período 1980-2007 ............................... 15

Gráfico 2 – Homicídios na população em geral: período 1997-2007 ............ 16

Gráfico 3 – Mortes por homicídios nas capitais: período 1997-2007 ............ 16

Gráfico 4 – Casos atendidos considerando o sexo ...................................... 40

Gráfico 5 – Casos atendidos considerando a etnia ...................................... 40

Gráfico 6 – Casos atendidos considerando a porta de entrada .................... 41

Gráfico 7 – Casos atendidos considerando a modalidade de proteção ....... 41

Gráfico 8 – Proteção: período – 2003 a 2010 ............................................... 42

Gráfico 9 – Proteção: Ano de 2009 ............................................................... 42

Gráfico 10 – Proteção: Ano de 2010 ............................................................. 43

Page 14: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

14

1 INTRODUÇÃO

Os números oficiais nacionais existentes sobre violência, bem como

pesquisas quantitativas e qualitativas pontuais, confirmam que são jovens as

maiores vítimas da violência no Brasil. Isto se manifesta de maneira mais

exacerbada no caso de homicídios, sendo que as taxas deste crime entre jovens do

sexo masculino no Brasil se comparam às de regiões conflagradas.

Os dados sobre agressores também confirmam a predominância dos

jovens em alguns crimes tipificados em nosso Código Penal, em especial homicídios

e lesões corporais. Cabe lembrar, entretanto, que os crimes que chegam a ser

registrados e tipificados correspondem somente a uma parcela, em muitos casos,

bem pequena da sociedade, do que de fato o que ocorre na sociedade.

O tema risco é eminentemente juvenil. Aos jovens costuma-se associar a

inconseqüência, a paixão pelas emoções fortes, os excessos impulsivos, a

vulnerabilidade psicoemocional ou a disposição ao individualismo narcísico que

ensejariam “comportamentos de risco”. Algo desta percepção certamente se deve ao

teor conservador, no sentido de preservador, da retórica da estabilidade e da

responsabilidade do mundo adulto. Outra parte, no entanto, está referida à própria

condição juvenil e a imprevisibilidade contida na passagem de uma experiência de

vida majoritariamente pautada pelas relações que se estabelecem no espaço

protegido e controlado da convivência familiar para às múltiplas vivências possíveis

no cenário mais amplo dos espaços públicos, nos quais tem lugar a efetiva

construção da autonomia.

É interessante observar que os próprios jovens percebem a convivência

com riscos como aspecto inerente a condição juvenil, tendo sido este o principal

aspecto negativo de ser jovem identificado pela pesquisa Perfil da Juventude

Brasileira – 2003. Mas o que seriam estes riscos? Segundo a opinião dos jovens, as

principais questões associadas a esta noção são as drogas, a violência e as más

companhias, sendo os riscos iminentes as possibilidades de dependência química,

de vitimização por agressões ou de envolvimento em situações perigosas por

influência do grupo de amigos.

Talvez mais do que falar na juventude como fator de risco, faça sentido

pensar nos fatores de risco para os jovens hoje. Além do claro recorte de sexo, pois

Page 15: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

15

são os jovens do sexo masculino os que mais se vitimam e mais incorrem em

delitos, Soares (2004: p. 138) menciona outros fatores trabalhados por autores em

suas pesquisas.

Portanto diante das altas taxas de violência e violações de direitos

existentes na sociedade brasileira, é da maior importância que uma política nacional

com foco na prevenção da violência se consolide, incluindo ações locais para o

enfrentamento de fatores de risco e a potencialização de fatores de proteção,

principalmente em relação às crianças, aos adolescentes e suas famílias.

1.1 Justificativa

Para a pesquisa e o estudo de caso alguns aspectos foram relevantes:

O Brasil ocupa a 5ª posição no ranking de 91 países que registram as

maiores taxas de homicídios entre crianças e adolescentes;

A faixa etária com maior crescimento nos índices de violência letal é entre 14

e 16 anos, apresentando elevação de mais de 30% (1997-2007);

Entre os jovens do sexo masculino, o índice é de 93,9% (2007);

O índice de vitimização negra foi de 107,6% (2007);

1.2 Vitimização Juvenil

Após levantamento em pesquisa foi possível evidenciar os seguintes

dados quantitativos:

Em 1980 as taxas de homicídio entre não-jovens foram de 21,1 a cada 100

mil. Já em 2007, essa taxa cai para 19,8.

Page 16: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

16

19

19,5

20

20,5

21

21,5

1980 2007

Homicídios não-jovens

Gráfico 1 – Homicídios não-jovens: período 1980-2007

Entre os jovens de 15 a 24 anos de idade em 2007 chegou a

50,1 para cada 200 mil.

Isso revela, de forma inequívoca, a exclusiva participação juvenil no

drama do crescimento da violência letal do País. Pode-se afirmar, portanto, que a

história recente da violência homicida no Brasil é a história do desenvolvimento de

sua questão juvenil. Uma não terá solução sem a outra.

Entre 1997 e 2007, o número de homicídios na população em geral passou

de 40.507 para 47.707; em todo período, foram 512 mil vítimas de violência

letal.

36.000

38.000

40.000

42.000

44.000

46.000

48.000

1997 2007

Homicídios napopulação emgeral

Gráfico 2 – Homicídios na população em geral: período 1997-2007

Registra-se uma queda de 19,8% nas mortes por homicídio nas capitais e

25% nas regiões metropolitanas (1997-2007);

Page 17: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

17

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

1997 2007

Mortes porhomicídio nascapitais

Gráfico 3 – Mortes por homicídios nas capitais: período 1997-2007

Considerando 11 das 27 Unidades Federadas tiveram crescimento

negativo na década, com valores bem significativos para São Paulo, cujas taxas, na

década, regridem 69,4% (menos de um terço do que eram em 1997). Maceió, Recife

e Vitória lideram, em 2007, as capitais pelas suas taxas de homicídio. Salvador teve

crescimento de 45% entre 1997-2007.

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

Este trabalho objetiva discorrer sobre a importância da interação do

adolescente com seu contexto familiar, fundamentalmente em referência ao

problema das toxicomanias e fatores de risco iminente de morte.

No Brasil, notadamente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, o

golpe militar que submeteu o país durante cerca de 20 anos, contribuiu de forma

decisiva para este incentivo ao consumo de drogas, na medida em que incentivava a

um não questionamento da sociedade, ao reprimi-la até a morte, levando ao jovem

como proposta idealizada a aliança com o trabalho, o Brasil grande, do futebol, do

não pensar, do não questionar.

A década de 1990 foi decisiva para o desenvolvimento do narcotráfico.

Ele instalou-se definitivamente nas favelas e nos conjuntos habitacionais de classe

baixa.

Essa comercialização das drogas e o seu conseqüente uso foram, pouco

a pouco, tornando-se assunto diário e comum entre o chamado povão e que passou

Page 18: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

18

a ser tratado de forma corriqueira nas novelas e programas de televisão, filmes e

jornais.

O tráfico, também denominado nas favelas de movimento, assumiu

controle do local em virtude principalmente da incapacidade de o estado prestar

serviços básicos e ao incutir a noção de perigo permanente para justificar a ação

policial violenta. Este estado de coisas levou à criação de uma nova rede de

relações clientelistas. O frágil equilíbrio de forças entre líderes comunitários e os

chefes da droga foi pouco a pouco desaparecendo. Hoje, os chefes dos grupos do

narcotráfico dominam e comandam parcela considerável de comunidades.

A imagem dos traficantes sempre foi ambivalente. Se, por um lado, eles

ofereciam segurança, eliminando ou expulsando da comunidade os que roubassem

trabalhadores ou estuprassem mulheres, por outro geravam um clima de ameaças e

de terror.

Este clima era estabelecido em virtude da forma com que incentivavam os

jovens recrutados para o trabalho com o narcotráfico a cometerem crimes e se

tornarem violentos.

Estabeleceu-se um pacto perverso, pois em troca de proteção a

comunidade da favela oferece o silêncio sobre as atividades dos membros do tráfico.

Na maioria das favelas e conjuntos populares, delitos como roubo, estupro, etc.

Costumam ser debelados com ações violentas por parte dos chefes, que impõem

uma forma de justiça pessoal e draconiana. O poder que emana deste tipo de

postura absolutista, impondo código de conduta próprio.

“As exigências sociais que pesam sobre os ombros dos adolescentes são especialmente intensas: desempenhando em diversos campos, novos papéis, renúncias e frustrações constantes, trata-se de um ambiente hostil que oferece muito poucas possibilidades de realização. O confronto do ideal do eu com este contexto leva, em geral, a um choque em que o resultado principal é um intenso sentimento de impotência. O uso de droga, neste caso que pretendo discorrer tem um sentimento de capacitação, poder, que, no limite, equivale à vivência de onipotência, de coloração maníaca, já que procura magicamente anular a insuficiência, a incapacidade e a depressão” (GURFINKEL, 1993: p. 134).

Page 19: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

19

Para dar suporte ao caso que pretendo analisar, iremos examinar o

quanto o estudo da família moderna ganhou relevância no século XX,

particularmente no tocante à questão da juventude.

1.3.2 Objetivo Específico

O objetivo específico desta monografia é problematizar sobre o título

central: Ser jovem é fator de risco para a violência? Tomando-se o risco

estritamente como uma ameaça à integridade e ao desenvolvimento do individuo,

com repercussões diretas sobre si e sobre a sociedade.

Enfrentar essas questões e minimizar seus efeitos para os brasileiros

requer levar a sério as dificuldades e as demandas destes, e não adotar uma

perspectiva catastrófica sobre a condição juvenil.

Neste aspecto pretende-se levar a reflexão sobre o tema dos riscos

considerando-se as dificuldades e as estratégias de que os jovens lançam mão na

trajetória que lhes dará acesso ao mundo adulto, de modo que as ações que visam a

prevenção de danos façam algum sentido para os próprios jovens e sejam realmente

efetivas.

Como nos alerta Abramo, cabe lembrar, ainda a importância de inserir os

jovens nas discussões sobre sua situação, sua posição na sociedade, suas

vontades, seus interesses e, conseqüentemente, no desenho das políticas. As ações

que os tenham como foco serão mais eficientes se incorporarem suas visões de

mundo e perspectivas, de maneira democrática.

1.4. Metodologia e Métodos

Para que o objetivo da pesquisa seja alcançado, utilizaram-se três formas

de pesquisa – bibliográfica, documental, estudo de caso – conforme as informações

foram sendo estruturadas.

Enquanto pesquisa bibliográfica vale mencionar Severino (2002: p. 122)

onde é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas

anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses dentre outros.

Page 20: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

20

Segundo Gil (2007: p. 45) a pesquisa documental assemelha-se muito à

pesquisa bibliográfica. A diferença essencial entre ambas está na natureza das

fontes. A pesquisa documental utiliza-se de materiais que não recebem ainda um

tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os

objetos da pesquisa..

O estudo de caso, que pertence ao tema central da pesquisa, conforme

estabelece Severino (2002) deve ser significativo e bem representativo, de modo a

ser apto a fundamentar uma generalização para situações análogas, autorizando

inferências.

Neste sentido, além do levantamento do conteúdo, ocorrerá o

levantamento bibliográfico em revistas e livros que tratam do tema, bem como

dissertações e monografias sobre o tema, a partir de 2000.

Os descritores que servirão de base para a pesquisa são: violência,

fatores de risco para os jovens, violência x juventude.

Page 21: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

21

2 CENÁRIO DE RISCO PARA O JOVEM NA CIDADE DE SÃO PAULO

2.1 Risco e Fatores de Risco

Risco é uma conseqüência da livre e consciente decisão de se expor a

uma situação na qual se busca a realização de um bem ou de um desejo, em cujo

percurso se inclui a possibilidade de perda ou ferimento físico, material ou

psicológico. De acordo com Pieper e Pieper (1999) o ser humano que possui a

virtude cardeal da fortaleza, expõe-se ao perigo da morte por um bem.

Segundo McCrimmond e Werhrung (1986) existem três condições para a

definição de risco:

Possibilidade de haver perda;

Possibilidade de ganho;

Possibilidade de aumentar ou de diminuir a perda ou os danos.

Segundo grandes filósofos como Heidegger (1980), o risco é inerente à

vida, ao movimento e à possibilidade de escolha. Viver é correr risco e por isso a

incerteza é um componente essencial da existência e igualmente do conceito de

risco.

Giddens (1994) faz uma distinção interessante entre risco e perigo.

Comenta o autor que esses dois termos não são sinônimos embora seu significado

se aproxime. Perigo diz respeito a ameaças que rondam a busca dos resultados

desejados. Risco constitui uma estimativa acerca do perigo.

Na área de saúde, risco é um conceito que envolve conhecimento e

experiência acumulada sobre o perigo de alguém ou de a coletividade ser acometida

por doenças e agravos. Sendo um termo central da epidemiologia, diz respeito a

situações reais ou potenciais que produzem efeitos adversos e configuram algum

tipo de exposição. Definidos a partir de análises coletivas, os alertas trazidos à

população pela epidemiologia se aplicam a cuidados e evitação.

A expressão consagrada fatores de risco designa condições ou variáveis

associadas à possibilidade de ocorrência de resultados negativos para a saúde, o

Page 22: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

22

bem-estar e o desempenho social2. Alguns desses fatores se referem a

características dos indivíduos; outros, ao seu meio microssocial e outros, ainda, a

condições estruturais e socioculturais mais amplas3. Mas, geralmente, estão

combinados quando uma situação considerada social, intrapsíquica e

biologicamente perigosa se concretiza4. Como exemplo, podemos mencionar o uso

de drogas: ao fumar maconha, o adolescente pode aumentar a probabilidade de

desenvolver uma doença pulmonar, e também sofrer conseqüências psicossociais

ou sanções legais, conflitos com os pais, perda de interesse na escola ou culpa e

ansiedade.

Sobretudo quando se trabalha com adolescentes, o conceito de risco tal

como visto pela epidemiologia não é suficiente, uma vez que nessa ótica é

entendido, apenas, segundo suas conseqüências negativas. No exemplo dado

acima, está claro que um adolescente que usa maconha em princípio busca prazer e

não dor e sofrimento. Em geral está a cata de extroversão, prazer, novas sensações,

compartilhamento grupal, diferenciação, autonomia e independência em relação à

família, dentre outros efeitos. E nessa procura faz um cálculo do perigo a que se

expõe. Os profissionais que atuam na prevenção precisam saber desse outro lado

da questão, sob pena de não desenvolverem uma compreensão suficientemente

ampla e profunda do fenômeno do uso de drogas.

O lado negativo do desejo juvenil de obter prazer com o uso de drogas é

o risco que ele corre de se tornar dependente e comprometer a realização de tarefas

normais do desenvolvimento; o cumprimento dos papéis sociais esperados; a

aquisição de habilidades essenciais; a realização de um sentido de adequação e

competência e a preparação apropriada para a transição ao próximo estágio na

trajetória da vida: o adulto jovem. O termo comportamento de risco aqui, portanto, se

refere às ameaças ao desenvolvimento bem-sucedido do adolescente. Uma

preocupação básica da educação para a saúde seria, pois, discutir com os

adolescentes os riscos associados aos comportamentos nos quais se engajam mas

tendo o cuidado de não desconhecer o lado prazeroso desse engajamento.

A necessidade de se olhar os dois lados, o do desejo e o do dano, no

caso do uso de drogas, leva a considerar alguns aspectos citados a seguir:

2 NEWCOMB et al, 1986; JESSOR, 1991; JESSOR et al., 1995 3 JESSOR, 1991. 4 ZWEIG et al., 2002.

Page 23: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

23

a) Efeitos cumulativos: o que diz respeito aos efeitos cumulativos das

substâncias tóxicas e sua relação com a vulnerabilidade do indivíduo, sabe-

se, de um lado, que a probabilidade de desenvolvimento de determinado

distúrbio aumenta em função do número, da duração e da "toxicidade" dos

fatores de risco envolvidos5, por isso, quanto mais intenso o uso de drogas,

mais fatores de risco existirá6. Por outro lado, vários estudos mostram que o

perigo difere de acordo com os indivíduos e seu contexto.7 enfatizam que os

adolescentes em certo estágio e freqüência de consumo não

necessariamente irão usar drogas mais pesadas. Essa constatação vai contra

a idéia de que haveria certa seqüência na gravidade do risco, indo do

envolvimento sucessivo com substâncias mais leves para uma escalada rumo

às mais nocivas. Alguns estudos chegam a sugerir que cigarro e álcool

funcionariam como ponte (gateway) para um caminho progressivo de

envolvimento com drogas cada vez mais pesadas8 Essa teoria tem

conseqüência para a prática educativa que busca dissuadir os adolescentes

de usar substâncias mais leves, visando a prevenir o uso de outras9. No

entanto, na atualidade, mesmo os estudiosos que continuam a afirmar o risco

de exposição crescente, dizem que a relação é de probabilidade e não

causal10.

b) Família: este aspecto é importante a ser considerado, por ser o risco que

constitui a atitude positiva da família com relação ao uso de drogas,

reforçando a iniciação dos jovens 11. Hoje se sabe que as relações familiares

constituem um dos fatores mais relevantes a ser considerado, mas de forma

combinada com outros. Por exemplo, Schor (1996) aponta que não há uma

relação linear entre o abuso de álcool dos pais e de seus filhos. Sugere que

os padrões de comportamento dos pais e as interações familiares, e não só o

fato de eles beberem, são em boa parte responsáveis pelas atitudes dos

filhos. O alcoolismo tem uma influência destrutiva no funcionamento familiar e

essa disfunção desempenha um papel mediador na transmissão

5 COIE et al, 1993.

6 BRY et al, 1982; NEWCOMB et al, 1986.

7 Kandel et al (1978).

8 DE MICHELLI; FORMIGONI, 2002.

9 BOTVIN, 1986.

10 ELLICKRON; MORTON, 1999.

11 KANDEL et al, 1978.

Page 24: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

24

intergeracional de comportamentos. Mas, o que está em questão não é a

droga em si, e sim, a relação que o indivíduo estabelece com ela, que, por

sua vez, influencia e é influenciada fortemente pelo universo de interações.

Embora o consumo de drogas pelos pais esteja relacionado a maior risco de

os filhos se tornarem usuários, uma vez que o comportamento parental lhes

serve de modelo, é a atitude permissiva dos genitores o que mais pesa nessa

equação12. Estudos têm mostrado que os fatores parentais de risco para o

uso de drogas pelo adolescente incluem, de forma combinada:

Ausência de investimento nos vínculos que unem pais e filhos13;

Envolvimento materno insuficiente14;

Práticas disciplinares inconsistentes ou coercitivas15;

Excessiva permissividade, dificuldades de estabelecer limites aos

comportamentos infantis e juvenis e tendência à superproteção;

Educação autoritária associada a pouco zelo e pouca afetividade nas

relações16;

Monitoramento parental deficiente17;

Aprovação do uso de drogas pelos pais18;

Expectativas incertas com relação à idade apropriada do

comportamento infantil19;

Conflitos familiares sem desfecho de negociação20.

c) Envolvimento Grupal: o envolvimento grupal tem sido visto como um dos

maiores prenúncios do uso de substâncias21. No entanto, essa relação

interpares também precisa ser qualificada. Ela se configura como fator de

risco quando os amigos considerados modelo de comportamento22

12

HAWKINS et al, 1 992; BROWN et al, 1993. 13

HAWKINS et al, 1992; PATTON, 1995; KODJO; KLEIN, 2002. 14

TARTER et al, 2002. 15

FRIEDMAN,1 FRIEDMAN, 1989; BROOK et al, 1990; HAWKINS et al, 1992; PATTON, 1995989; BROOK et al, 1990; HAWKINS et al, 1992; PATTON, 1995. 16

TUTTLE et al, 2002; PATTON, 1995. 17

HAWKINS et al, 1992 18

FRIEDMAN, 1989; HAWKINS et al., 1992.

19 TARTER et al., 2002

20 HAWKINS et al., 1992; PATTON, 1995; KODJO; KLEIN, 2002.

21 KAND

21EL et al, 1978; BOTVIN, 1986; BROOK et al, 1990; HAWKINS et al, 1992; OETTING;

DONNERMEYER, 1998; FERGUSSON; HORWOOD, 1999; SWADI, 1999; HOFFMANN; CERBONE, 2002. 22 JESSOR et al, 1995;

22 HOFFMANN; CERBONE, 2002; SWADI, 1999.

Page 25: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

25

demonstram tolerância, aprovação23 ou consomem drogas24. Observam os

estudiosos que há uma sintonia, no caso dos pares: os adolescentes que

querem começar ou aumentar o uso de drogas procuram colegas com valores

e hábitos semelhantes25. Ou seja, mesmo no caso de amigos e colegas, a

questão não pode ser vista de forma simplista, pois o desenvolvimento de

afiliações a pares tolerantes e que aprovam as drogas representa o final de

um processo onde fatores individuais, familiares e sociais adversos se

combinam de forma a aumentar a probabilidade do uso abusivo26. O mito que

supervaloriza a influência dos pares durante a adolescência provavelmente

decorre, em algum nível, de certa desresponsabilização, sobretudo por parte

dos pais e dos educadores, de problemas freqüentes nas relações

intrafamiliares ou institucionais. É muito difícil, portanto, como já se referiu,

tomando por base outros fatores, separar e isolar os efeitos que o grupo de

pares tem sobre os adolescentes, embora se saiba que seu poder é

importante no caso do uso de drogas27.

d) Papel da Escola: muito se tem falado também no papel da escola seja como

agente transformador, seja como lócus propiciador do ambiente que exacerba

as condições para o uso de drogas. Ninguém desconhece que essa

instituição é hoje alvo do assédio de traficantes e repassadores de

substâncias proibidas, prevendo-se o aliciamento por pares. Pois a escola é o

espaço privilegiado dos encontros e interações entre jovens. No entanto,

mesmo no âmbito educacional, existem fatores específicos que predispõem

os adolescentes ao uso de drogas, como por exemplo, a falta de motivação

para os estudos, o absenteísmo e o mau desempenho escolar28, a

insuficiência no aproveitamento e a falta de compromisso com o sentido da

Educação, a intensa vontade de ser independente, combinada com o pouco

interesse de investir na realização pessoal29, a busca de novidade a qualquer

23

KODJO; KLEIN, 2002. 24

BEMAN, 1995. 25

TUTLE et al., 2002. 26

FERGUSSON; HOWOOD, 1999 27

SCHOR, 1996 . 28

KANDEL et al, 1978. 29

FRIEDMAN, 1989.

Page 26: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

26

preço e a baixa oposição a situações perigosas, a rebeldia constante

associada à dependência a recompensas30.

e) Comunidade de Convivência: a disponibilidade e a presença de drogas na

comunidade de convivência têm sido vistas como facilitadoras do uso de

drogas por adolescentes, uma vez que o excesso de oferta naturaliza o

acesso31. Quando a facilidade da oferta se junta à desorganização social e

aos outros elementos predisponentes no âmbito familiar e institucional,

produz-se uma sintonia de fatores32. A observação sobre esse elemento,

privilegiando-o e ao mesmo tempo associando-o aos outros é importante, pois

permite correlacionar fatos como gravidez precoce e evasão escolar33,

acidentes de carro, homicídios e suicídios34.

f) Mídia: outra tendência muito comum quando se fala de drogas é a

absolutização do papel da mídia como fator de risco. É certo que, sobretudo

no caso das drogas lícitas, os meios de comunicação geralmente mostram

imagens muito favoráveis. O uso do álcool e do tabaco costuma vir

associado, por meio da publicidade, a imagens de artistas, ao glamour da

sociabilidade e à sexualidade. Freqüentemente os anúncios glorificam as

substâncias, retratando-as como mediadoras de fama e sucesso35. Mas não

se pode, teoricamente, demonizar a mídia: de um lado ela reflete e refrata a

cultura vigente. E, de outro, seria um erro menosprezar a capacidade crítica

dos jovens e a sinergia de vários outros elementos com os meios de

comunicação. Nenhuma propaganda por si só atinge efeito demoníaco de

persuasão, quando fatores protetores atuam em direção contrária. O

desenvolvimento de um espírito crítico e reflexivo na família, na escola e com

os pares serve de base para uma atitude criteriosa do adolescente quanto às

mensagens relativas às drogas lícitas, veiculadas pelos meios de

comunicação.

Os diversos elementos tratados acima levam a concluir que não se pode

pensar os fatores de risco de forma isolada, independente e fragmentada.

30

SWADI, 1999. 31

JESSOR, 1991; PATTON, 1995; WALLACE JR, 1999. 32

KODJO; KLEIN, 2002. 33

HAWKINS et al, 1992. 34

KODJO; KLEIN, 2002. 35

PATTON, 1995; KODJO; KLEIN, 2002; MINAYO et al, 1999 ; NJAINE, 2004.

Page 27: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

27

Determinado fator de risco raramente é específico de um distúrbio único, porque

seus contextos formadores tendem a espalhar os efeitos dele derivados sobre uma

série de funções adaptadoras ao longo do desenvolvimento. E a exposição ao perigo

que potencializa os riscos ocorre de diversas formas e em vários contextos, como

por exemplo: exacerbando fatores individuais, educação infantil insatisfatória,

fracassos escolares, relações sociais problemáticas entre os pares ou com

desorganização da comunidade36. Mesmo a mais elevada carga genética é menos

provável de se constituir em alto fator de risco numa sociedade na qual a exposição

ao álcool seja severamente restrita37. A postura uni causal, tão freqüente, é

responsável por práticas, orientações e criação de instituições inócuas ou nocivas,

às quais falta uma lógica compreensiva e sistêmica.

Ressaltando a necessidade metodológica de levar em conta a

complexidade das formas de adesão ao uso abusivo de drogas na adolescência é

relevante pensar que há uma estrutura e uma organização dos diferentes fatores,

formando uma síndrome do comportamento de risco, o que remete às premissas do

paradigma sistêmico: os comportamentos de risco co-variam e estão inter-

relacionados. Nessa perspectiva, os esforços preventivos devem visar a modificar as

circunstâncias que sustentam tais síndromes: o estilo de vida que sintetiza um

padrão organizado de comportamentos inter-relacionados, dentro de uma ecologia

social38 e em relações complexas com distúrbios clínicos.

2.2 Proteção e fatores de proteção

Proteger é uma noção que faz parte do contexto das relações primárias e

do universo semântico das políticas sociais. Significa, sobretudo, oferecer condições

de crescimento e de desenvolvimento, de amparo e de fortalecimento da pessoa em

formação. No caso brasileiro, a doutrina da proteção integral se encontra no Estatuto

Brasileiro da Criança e do Adolescente (ECA), que a resume definindo esse grupo

social como:

Cidadão;

36

NEWCOMB et al, 1986; COIE et al, 1993; HAWKINS et al, 1992; PATTON, 1995. 37

Swadi (1999). 38

JESSOR, 1991.

Page 28: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

28

Sujeito de Direitos;

Capaz de Protagonismo;

Merecedor de Prioridade de Atenção;

Cuidados.

Dentro dessa premissa de proteção, uma das tarefas de quem atua na

atenção aos adolescentes que usam drogas é determinar que fatores podem ser

evidenciados pela técnica e pela experiência como relevantes para promover seu

crescimento saudável e evitar que corram riscos de dependências e de acirramento

de problemas sociais39

. Cabe ressaltar que os fatores de risco e de proteção devem

ser tratados como variáveis independentes, pois podem afetar o comportamento

sem que haja, necessariamente, uma complementaridade entre eles40.

O desenvolvimento dos estudos sobre fatores protetores, tende,

atualmente, a enfatizar o processo de formação da resiliência, num progressivo

abandono das abordagens centradas nos fatores de risco. Busca-se dar ênfase aos

elementos positivos que levam um indivíduo a superar as adversidades. Esse novo

paradigma é certamente otimista, principalmente porque leva a acreditar que é

possível, por meio de ações e programas, promover o bem-estar do adolescente,

atuando no fortalecimento e no desenvolvimento de habilidades pessoais e sociais41.

Embora as definições de resiliência sejam ainda bastante variadas, toda a

discussão a respeito desse conceito está relacionada aos fatores ou processos

intrapsíquicos e sociais que possibilitem o desenvolvimento de uma vida sadia,

apesar de experiências de vida traumáticas. A compreensão do conceito envolve o

entendimento da interação entre a adversidade e fatores de proteção internos e

externos ao sujeito, assim como do desenvolvimento de competências que permitam

a uma pessoa obter sucesso diante da adversidade42.

Diante de eventos traumáticos, os elementos de proteção assumem papel

facilitador no caminho da construção da resiliência. Os estudiosos têm identificado

três categorias de fatores de proteção em crianças e adolescentes resilientes

:

39

HAWKINS et al, 1992; COIE et al, 1993; JESSOR et al, 1995; PETTIT et al, 1997. 40

JESSOR et al, 1995. 41

MUNIST et al, 1998; BLOOM, 1996; ASSIS, 1999; ASSIS; CONSTANTINO, 2001. 42

RUTTER, 1987; ASSIS, 1999.

Page 29: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

29

a) Individuais: temperamento que favoreça o enfrentamento do problema, auto-

imagem positiva e a capacidade de criar e desenvolver estratégias ativas na

forma de lidar com problemas. Esses atributos denotam auto-eficácia,

autoconfiança, habilidades sociais e interpessoais, sentimentos de empatia,

controle emocional, humor e relacionamento com os pares. Os estudos

mostram que existem especificidades de gênero, de idade e de raça nas

formas de demonstração da resiliência;

b) Familiares: que se traduzem em suporte, segurança, bom relacionamento e

harmonia com pais e no ambiente de relações primárias;

c) Extrafamiliares ou Ambientais: quando se referem ao suporte de pessoas

significativas e experiências escolares positivas43.

A forma como o indivíduo lida com as adversidades, em psicologia, é

chamada coping, termo que agrega o conjunto de estratégias utilizadas pelas

pessoas diante de circunstâncias adversas ou estressantes. O coping positivo é

construído ao longo do tempo e do processo de crescimento e desenvolvimento

individual. Tal como a resiliência, as estratégias de coping dependem de atributos

individuais, familiares e ambientais para se consolidarem no indivíduo. Uma vez

estabelecidas, as estratégias funcionam como importante fator de proteção ao risco,

proporcionando resiliência, caso sejam predominantemente ativas no sentido da

resolução dos problemas44

. Ao contrário, quando o indivíduo vai consolidando

estratégias de fuga e evitação dos problemas, elas se tornam fatores prejudiciais ao

seu desenvolvimento saudável. Ambos dizem respeito a como os fatores familiares,

micro e macrossociais e estruturais atingem o indivíduo e o tornam em mais

suscetível às influências adversa, ou mais resistente a seus influxos. No caso do uso

de drogas, essa perspectiva de resiliência deve ser adotada para buscar formas de

reduzir a vulnerabilidade do indivíduo45.

Identificação de estudos que46 abordam mecanismos através dos quais os

fatores de proteção reduziram o risco do uso de drogas pelo adolescente: O primeiro

é um mecanismo risco/proteção por meio do qual a exposição aos fatores de risco é

43

EMERY; FOREHAND, 1996; WERNER, 1996; ASSIS, 1999; ASSIS; Constantino, 2001. 44

GARMEZY; RUTTER, 1988. 45

HAWKINS et al, 1992; SWADI, 1999. 46

Brook e et al (1990).

Page 30: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

30

moderada pela presença de fatores de proteção. Em estudo empírico, os autores

mostram que o risco colocado por amigos que usavam drogas foi moderado pela

forte inter-relação entre os pais e os adolescentes e pelo comportamento

convencional e formal dos pais. O outro é um mecanismo de proteção segundo o

qual um fator potencializa outro, tornando o seu efeito mais forte. Por exemplo, os

autores observaram que o vínculo entre o adolescente e seu pai intensificou os

efeitos protetores, tais como o comportamento formal do adolescente, as

características maternas positivas e a harmonia marital, atuando positivamente na

prevenção ao uso de droga.

Fatores de proteção são identificados nos seis domínios da vida já

tratados, quando se discutiu a questão dos riscos: Individual (atitudes e

predisposições); Meio Familiar (relações familiares e atitudes parentais); Escola

(clima seguro ou inseguro); Amigos (envolvimento ou não com drogas); Sociedade

(tendências econômicas, falta de emprego); Comunidade (organização ou

desorganização47.

Olhando os aspectos da individualidade, é preciso ressaltar que os

adolescentes não são um recipiente passivo ou objeto controlado por influências

familiares ou sociais e nem por determinações externas. São participantes ativos do

processo de formação de vínculos e de transmissão de normas. Suas características

físicas, emocionais e sociais interagem na dinâmica de socialização48, permitindo a

metabolização subjetiva dos fatores externos. Por exemplo: em geral as crianças

com nove ou dez anos valorizam a companhia dos amigos, as atividades de grupo, o

sucesso na escola, a boa relação com os pais. Porém, cada menino ou menina

avalia de forma diferente a rejeição dos amigos ou sua exclusão de um grupo. Para

uma criança, a experiência da rejeição pode ter efeitos deletérios imediatos na

cognição social, na auto-imagem e na auto-estima. Para outra, a mesma experiência

pode ter efeitos saudáveis no ajustamento de longo prazo, motivando-a a se

posicionar de forma a ser aceita no futuro49.

Os adolescentes que têm objetivos definidos e investem no futuro

apresentam probabilidade menor de usar drogas, porque o uso interfere com os

47

ZWEIG et al, 2002. 48

OETTING et al, 1998. 49

PARKER; ASHER, 1987; TARTER et al, 2002.

Page 31: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

31

seus planos50. Igualmente, a elevada auto-estima, os sentimentos de valor, orgulho,

habilidade, respeito e satisfação com a vida podem servir de proteção aos jovens

contra a dependência de drogas quando combinada com outros fatores protetores

do seu contexto de vida51. Sendo assim, conclui-se que crianças e adolescentes

que vivem em ambientes familiares ou em comunidades onde há uso abusivo de

drogas e conseguem não se deixar influenciar por esse contexto apresentam

características individuais protetoras conjugadas ao convívio com outros adultos

cuidadores escolhidos por eles, fora do ambiente familiar. Os programas de

prevenção devem levar em conta a importância das atividades de mentores e de

outros programas de desenvolvimento da juventude52.

O âmbito familiar tem um efeito potencialmente forte e durável para o

ajustamento infantil. O vínculo e a interação familiar saudável servem de base para o

desenvolvimento pleno das potencialidades das crianças e dos adolescentes.

Inúmeros estudos mostram que os padrões de relação familiar, a atitude e o

comportamento dos pais e irmãos são modelos importantes para os adolescentes,

inclusive no caso do uso de drogas53. Tec (1974) descobriu que uma interação

familiar gratificante é um forte fator protetor, mesmo no caso dos pais adictos,

quando esses são capazes de prover um contexto amoroso, afetuosos e de cuidado.

No âmbito da família, estudos evidenciam como fatores que protegem o

adolescente do uso de drogas: a relevância dos vínculos familiares fortes54, o apoio

da família ao processo de aquisição da autonomia pelo adolescente55

, o

monitoramento parental aos diversos processos de crescimento e

desenvolvimento56, o estabelecimento de normas claras para os comportamentos

sociais, incluindo-se o uso de drogas57.

Raramente os estudos sobre drogas dão realce às amizades entre os

jovens como protetoras, uma vez que, em geral, todas as intervenções focalizam a

superação das influências negativas das amizades e não o estabelecimento ou

50

KODJO; KLEIN, 2002. 51

HOFFMANN; CERBONE, 2002. 52

KODJO; KLEIN, 2002. 53

KANDEL et al, 1978; BROOK et al, 1990; HAWKINS et al, 1992; PATTON, 1995; SCHOR, 1996; KODJO; KLEIN, 2002. 54

KANDEL et al, 1978; SWADI, 1999; WERNER et al, 1999; HOFFMANN; CERBONE, 2002; SCHENKER; MINAYO, 2003. 55

TUTTLE et al, 2002. 56

STEINBERG et al., 1994; CHILCOAT;ANTHONY, 1996; SWADI, 1999; PATTON, 1995; WERNER et al, 1999; BROOK et al, 1990. 57

OETTING; DONNERMEYER, 1998.

Page 32: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

32

manutenção de influências positivas dos amigos58. No entanto, sabe-se que grupos

de amigos com objetivos e expectativas de realização na vida e movimentos que

levam ao protagonismo juvenil e à solidariedade têm papel fundamental numa etapa

existencial em que as influências dos pares são cruciais.

A escola é um poderoso agente de socialização da criança e do

adolescente, ressaltando-se certa mística e identidade do tipo de educandário com o

comportamento daqueles que o freqüentam59. Por juntar em seu interior a

comunidade de pares e por ter fortes instrumentos de promoção da autoestima e do

autodesenvolvimento em suas mãos, o ambiente escolar pode ser um fator

fundamental na potencialização de resiliência dos adolescentes.

No que concerne aos fatores estressantes da vida, como morte, doenças

ou acidentes entre membros da família e amigos; mudanças de escola ou de

residência; separação, divórcio ou novos casamentos dos pais; problemas

financeiros na família60, muitos estudos mostram que eles podem influenciar o uso

abusivo de drogas quando associados a outros fatores predisponentes, incluindo-se

disposições individuais. No entanto, conforme as circunstâncias individuais e

ambientais, eles permitem elaboração e crescimento interior dos jovens,

constituindo-se em elementos de fortalecimento e de amadurecimento.

Os adolescentes são consumidores ávidos da mídia escrita e audiovisual.

As mensagens recebidas desses meios geralmente influenciam sua tomada de

decisão a respeito de vários assuntos em sua vida. Entretanto, a reflexão crítica

deles entre pares e com pais e educadores moderam o risco potencial da exposição

e potencializam a comunicação e o amadurecimento em relação aos vários

problemas, inclusive sobre o uso de substâncias ilícitas.

Por tudo o que foi dito até então, é preciso refletir sobre a inocuidade, do

ponto de vista protetor, do slogan que se repete por toda parte "diga não às drogas".

A falta de adesão dos jovens torna evidente a falha em reconhecer a inadequação

das propostas moralistas e autoritárias que não se fundam na visão complexa dos

fatores de risco e de proteção analisados. É preciso não esquecer que as drogas

cumprem funções importantes para os adolescentes, tanto do ponto de vista pessoal

quanto social. Pesquisas mostram que os comportamentos de enfretamento de risco

58 TUTTLE et al, 2002. 59 KANDEL et al, 1978. 60 HOFFMANN; CERBONE, 2002.

Page 33: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

33

são funcionais, intencionais, instrumentais e dirigidos para o desenvolvimento

normal do adolescente. Fumar, beber, dirigir perigosamente ou exercer atividade

sexual precocemente podem ser atitudes tomadas pelo jovem visando a ser aceito e

respeitado pelos pares; conseguir autonomia em relação aos pais; repudiar normas

e valores da autoridade convencional; lidar com ansiedade, frustração e antecipação

do fracasso; afirmação rumo à maturidade e à transição da infância para um status

mais adulto. Não há nada de perverso, irracional ou psicopatológico nesses

objetivos: eles são característicos do desenvolvimento psicossocial. A campanha

"diga não às drogas", por não oferecer alternativas à promoção de comportamentos

saudáveis, revela-se moralmente cínica (SHEDLER; BLOCK, 1990; JESSOR, 1991)

e teoricamente contraditória, na medida em que omite as normas sociais que

favorecem o uso de drogas (BEMAN, 1995).

2.3 Estratégias de prevenção

O adolescente que faz uso de drogas responde bem às intervenções

contextualizadas. Os contextos dominantes para ele são seus pares e a escola e,

numa proporção menor, o entorno da comunidade. Para crianças menores, o

contexto principal é a família, que continua igualmente importante na adolescência61.

O uso ocasional de droga por adolescentes pode ser entendido como

manifestação de uma experimentação apropriada para sua etapa de

desenvolvimento e busca de direção para a vida. Ao diferençar entre adolescentes

que se abstém que experimentam e que abusam de drogas, conclui-se que, dada a

quase onipresença e certa aceitação da maconha na cultura dos pares, não é

surpreendente que, com 18 anos, indivíduos psicologicamente saudáveis, sociáveis

e curiosos se sintam tentados a experimentar o produto62

, Não se espera que

adolescentes saudáveis abusem da droga, porque apresentam baixa necessidade

de utilizá-la para aplacar a angústia emocional ou como meio de compensar a falta

de relações importantes. Os autores comparam o sentido do uso da maconha entre

adolescentes de hoje com o significado social e psicológico que a bebida alcoólica

61

SCHOR, 1996. 62

Estudo de Shedler e Block (1990).

Page 34: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

34

teve para gerações anteriores63. Levando em conta essa reflexão, os esforços

preventivos precisam ser muito mais abrangentes e voltados para os precursores

dos riscos e da resiliência64.

Estudos indicam que as condições de formação de uma personalidade

resiliente são: colocar expectativas claras relativas ao comportamento, monitorar e

supervisionar as crianças, reforçar com consistência atividades que favoreçam a

socialização, criar oportunidades para o envolvimento familiar, promover o

desenvolvimento das habilidades acadêmicas e sociais dos jovens65.

No entanto, as habilidades para a formação de crianças e jovens

freqüentemente deveriam fazer parte de um processo de formação de pais e

educadores. A aquisição e o uso dessas habilidades na administração da família ou

dos contextos educativos reduzem problemas de comportamento das crianças nos

primeiros anos, promove o bom desempenho escolar e as fortalece para lidarem

com condições adversas66.

Pela força da escola e da família nessa etapa da vida, para os pré-

adolescentes e adolescentes é fundamental que pais e educadores estejam atentos

a alguns parâmetros relacionais:

uma comunicação livre e fluente com os pais ou com adultos que lhes servem

de modelo fortalece emocionalmente o jovem e evita o engajamento em

comportamentos de risco67

;

os elogios dos pais às conquistas dos filhos e dos educadores a seus

estudantes são o alimento da auto-estima;

a colocação de expectativas claras por parte dos pais e professores, aliada a

uma educação com autoridade, que envolve afeto, controle e trato

democrático, favorece o desenvolvimento psicológico saudável e o sucesso

escolar do adolescente68;

o monitoramento das atividades dos jovens, seja por pais ou educadores,

mostra que eles estão investindo na segurança dos jovens;

63

SHEDLER; BLOCK, 1990. 64

COIE et al, 1993. 65

HAWKINS et al, 1992. 66

HAWKINS et al, 1992. 67

FRIEDMAN, 1989; KODJO; KLEIN, 2002; TUTTLE, 2002. 68

STEINBERG et al, 1989; 1992.

Page 35: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

35

o compartilhamento de valores, atitudes e crenças sobre as drogas (caso em

pauta aqui) é fundamental para o amadurecimento das decisões e da

responsabilização;

conhecer os amigos e os pais dos amigos dos filhos é crucial, uma vez que a

pressão dos pares é uma das principais influências para o uso de drogas;

exigências e expectativas quanto ao desempenho na escola funcionam como

um tipo de monitoramento e de proteção, na medida em que se juntam ao

encorajamento de atividades em que o jovem possa ter sucesso;

o incentivo ao engajamento nas atividades da escola, da comunidade e de

movimentos sociais ou de solidariedade é um potente fator protetor.

Os69 quatro elementos do vínculo social que se mostram inversamente

correlacionados com o uso de drogas são: vínculo forte com os pais, compromisso

com a escola, envolvimento regular com atividades da igreja ou de outros

movimentos e crença nas expectativas gerais, normas e valores da sociedade.

Metodologicamente, essas intervenções requerem intercomunicação com

a criança, os pais, a família e a comunidade. Já que a influência dos pais diminui à

medida que as crianças crescem, o dito popular quanto mais cedo melhor deve guiar

os programas de intervenção. A ênfase no estilo de vida nunca deve ser traduzida

como se esse estilo fosse de responsabilidade exclusiva do indivíduo: tal abordagem

tenderia a culpar a vítima70. O risco precisa ser entendido, como já foi dito, de forma

a incluir a complexidade dos fatores e, portanto, a redução do risco requer tanto

mudanças subjetivas quanto sociais.

Pode-se esperar um maior sucesso dos programas de prevenção que

explicitamente maximizam o ajuste adaptativo entre indivíduos e contextos. Para tal,

é necessário ter sensibilidade para compreender e valorizar a história pessoal, o

estágio de vida do indivíduo, as normas culturais, as crenças e práticas no que

concerne ao uso de drogas71, bem como os contextos sociais e da comunidade onde

esse uso ocorre ou é proscrito72.

69

Hawkins et al (1992). 70

JESSOR, 1991. 71

TEC, 1974; JOHNSON et al., 1984; COIE et al., 1993. 72

WALLACE JR, 1999.

Page 36: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

36

3. O QUE É O PROGRAMA DE PROTEÇÃO À CRIANÇAS E ADOLESCENTES

AMEAÇADOS DE MORTE (PPCAAM)?

O Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de

Morte (PPCAAM) é um dos Programas da Subsecretaria Nacional de Promoção dos

Direitos da Criança e do Adolescente, pertencente a Secretaria Especial de Direitos

Humanos, da Presidência da República

3.1 Objetivos do Programa de Proteção à Crianças e Adolescentes Ameaçados de

Morte (PPCAAM)

O Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de

Morte (PPCAAM) tem como objetivo, a preservação de vida de crianças,

adolescentes e jovens egressos do Sistema Sócio-Educativo ameaçado de morte

(conforme estabelecido no artigo 2º, parágrafo único, da Lei nº 8.069/99) exposto à

coação ou grave ameaça no Município de São Paulo.

O Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de

Morte (PPCAAM) procura garantir a doutrina de proteção integral, através de uma

medida protetiva especial, visando à preservação dos vínculos familiares e

comunitários e a inserção social segura.

O PPCAAM/SP atende ainda casos oriundos de outros estados que

possuem o programa através do sistema de permuta.

Cabe ressaltar que quase a totalidade dos assistidos pelo programa é

oriunda das camadas menos favorecidas sócio-economicamente da população,

marcadas por um contexto de violação de seus direitos fundamentais.

O programa tem como princípios básicos o “trabalho em rede”, o “respeito

às características do ameaçado” e sua condição peculiar em desenvolvimento, a

gestão e sua continuidade. Além disso, através da prática cotidiana buscar

sensibilizar os órgãos que compõe o Sistema de Garantias de Direitos no sentido do

enfrentamento deste contexto marcado pelo alto índice de homicídios de crianças e

adolescentes.

É necessário fomentar e trazer à tona a discussão qualificada a respeito

da temática homicídios de crianças e adolescentes a partir da experiência no

Page 37: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

37

atendimento ao público assistido pelo programa e a partir dos dados

colhidos/obtidos com a pratica para se produzir conhecimento a respeito desta

realidade e buscar alternativas de prevenção e enfrentamento.

Essa interlocução que tem por princípio fundamental a defesa dos Direitos

Humanos tem envolvido o Poder Judiciário, os Conselhos Tutelares, Promotorias de

Justiça e órgãos dos Poderes Executivos e Legislativos. Tal discussão se dá de

forma protagonista/ inovadora tendo em vista que vivenciamos um contexto em que

nunca as taxas de homicídios de crianças e adolescentes foram tão expressivas e

as formas de prevenção tão inócuas.

3.2. Histórico do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de

Morte (PPCAAM)

O Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de

Morte (PPCAAM) criado em 2003 e instituído oficialmente por meio do Decreto nº

6.231 de 11 de outubro de 2007. Constitui-se em uma das estratégias do Governo

Federal de enfrentamento à letalidade de crianças e adolescentes ameaçados de

morte em território nacional.

A execução do Programa se dá diretamente pela Subsecretaria Nacional

de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente em parceria com Secretarias

de Estado e ONGs.

A partir do Guia de Procedimentos e Fluxo Metodológico prioriza-se o

atendimento direto ao ameaçado e prevenção em seus três níveis: primária,

secundária e terciária (articulação/sensibilização, pesquisa e responsabilização).

Como exemplo, neste Guia de Procedimentos temos o Programa de Redução da

Violência Letal e Redes de Valorização da Vida, denominado Observatório de

Favelas, apoiado pela Unicef.

O acompanhamento e monitoramento dos casos do PPCAAM são

realizados por uma equipe técnica interdisciplinar das áreas de Direito, Serviço

Social e Psicologia. Cabe mencionar que tal monitoramento é feito através com a

colaboração/parceria do Poder Judiciário, Ministério Público, Conselhos Tutelares e

demais membros do Sistema de Garantias de Direitos.

Page 38: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

38

3.3 Responsabilidades do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes

Ameaçadas de Morte (PPCAAM)

O Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçadas de

Morte (PPCAAM) possuem algumas responsabilidades, tais como:

Verificar se a situação é pertinente à proteção PPCAAM;

Identificar o local de proteção adequado;

Realizar permuta quando necessário;

Realizar o acompanhamento técnico e avaliar a execução do PIA;

Acompanhar junto à rede sobre os impasses e os facilitadores no trabalho da

proteção;

Inserir os envolvidos nos equipamentos públicos da rede de atenção de

cuidado e de proteção num contexto integral;

Auxiliar financeiramente, caso haja necessidade, o ameaçado e sua família;

Acompanhar o caso no período pós-desligamento;

3.4 Recursos Humanos envolvidos no Programa de Proteção a Crianças e

Adolescentes Ameaçadas de Morte (PPCAAM)

Para que o Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados

de Morte (PPCAAM) possa desenvolver e acompanhar suas atividades são

necessários:

Um Coordenador Executivo;

Um Coordenador Técnico do PPCAAM

Um Assistente Técnico Administrativo

Dois Psicólogos;

Dois Assistentes Sociais;

Seis Educadores;

Quatro motoristas

Page 39: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

39

No total a execução do Programa possui 17 (dezessete) pessoas

diretamente envolvidas no seu desenvolvimento e acompanhamento.

3.5 Atuação do Programa de Proteção à Crianças e Adolescentes Ameaçadas de

Morte (PPCAAM)

Existe dentro do PPCAAM um roteiro comumente seguido para que as

crianças e adolescentes ameaçadas de morte possam ser atendidos juntamente

com seus funcionários:

a) As crianças e adolescentes sobre risco de ameaça de morte são

encaminhados para atendimento no Programa através das portas de entrada

(Varas da Infância e Juventude, Conselhos Tutelares, Ministério Público) com

o Relatório Social, preferencialmente direcionado a Secretaria Municipal de

Direitos Humanos, repassando-os ao Programa.

b) Posteriormente é agendado atendimento do jovem e sua família pelas

equipes técnicas do PPCAAM.

c) Diagnosticada a necessidade de inserção ou não, elabora-se relatório

descritivo do caso, apresentando-o ao Juiz Administrador do Programa.

d) Retirada da criança ou o adolescente do local onde existe a ameaça de

morte, preferencialmente com seus familiares.

e) Inserção em local seguro na perspectiva de proteção integral (Sistema de

Garantia de Direitos).

f) A inclusão como última alternativa de proteção a crianças e adolescentes que

estejam com o direito de vida ameaçado.

g) Todas as alternativas de proteção convencionais devem ser esgotadas.

A meta principal do Programa é o atendimento efetivo e ágil e inserção

em rede social e comunitária pelo menor tempo possível.

Page 40: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

40

3.6 Perfil dos Casos Atendidos

Dentro do Programa de Proteção à Crianças e Adolescentes Ameaçadas

de Morte (PPCAAM) encontramos como perfil de casos atendidos:

Sexo Masculino: 76%

Sexo Feminino: 24%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Masculino Feminino

Casos Atendidos

Gráfico 4 – Casos Atendidos: considerando o Sexo

Raça Negra: 75%

Outras etnias: 25%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Raça Negra Outras Etnias

Etnias

Gráfico 5 – Casos Atendidos: considerando a Etnia

Idade: 15 – 17 anos (58%)

Escolaridade: Ensino Fundamental Incompleto (95%)

Residentes na capital (63%)

Principal referência familiar: mãe (75%)

Renda familiar: até 1 salário mínimo (56%)

Page 41: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

41

Porta de Entrada

Ministério Público (40%)

Judiciário (30%)

Conselho Tutelar (30%)

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

Ministério

Público

Judiciário Conselho

Tutelar

Porta de Entrada

Gráfico 6 – Casos Atendidos: considerando a porta de entrada

Protegido na modalidade:

o Grupo familiar (42%)

o Institucional (de forma individual) (34%)

o Outras modalidades (24%)

0%

10%

20%

30%

40%

50%

Grupo

Familiar

Outras

Modalidades

Protegido na Modalidade

Gráfico 7 – Casos Atendidos: considerando a modalidade de proteção

Permanência por cerca de seis meses (53%)

Desligado por inserção social e cessação da ameaça (50%)

Ameaçado devido a envolvimento com o tráfico de drogas (60%)

Page 42: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

42

3.7. Balanço dos Usuários Assistidos pelo Programa de Proteção à Crianças e

Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM)

Segundo levantamento, o Programa de Proteção à Crianças e

Adolescentes Ameaçadas de Morte (PPCAAM) tiveram como balanço de usuários

assistidos os dados abaixo discriminados:

De 2003 a 2010 – Proteção

- 1.592 crianças e adolescentes - 2.920 familiares Total: 4.512 pessoas (incluídos)

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

Proteção

Crianças eAdolescentes

Familiares

Total

Gráfico 8 – Proteção: período – 2003 a 2010

Ano: 2009 – Proteção

- 538 crianças e adolescentes - 845 familiares - Total: 1.383 pessoas

Page 43: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

43

0

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

Proteção - 2009

Crianças eAdolescentes

Familiares

Total

Gráfico 9 – Proteção: Ano de 2009

Ano: 2010 – Proteção - 246 crianças e adolescentes - 395 familiares - Total: 641 pessoas

0

100

200

300

400

500

600

700

Proteção - 2010

Crianças eAdolescentes

Familiares

Total

Gráfico 10 – Proteção: Ano de 2010

Page 44: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

44

4 ESTUDO DE CASO: PEDRO (*)

O caso fora acolhido no PPCAAM no ano de 2008, sendo incluso o

adolescente Pedro e seus familiares, a genitora e um irmão mais novo.

A atuação no programa teve seu inicio em um hospital do municÍpio de

São Paulo, em que o adolescente fora encaminhado após ter sido vítima de tentativa

de homicídio, atingido por projéteis de arma de fogo a queima roupa.

Para melhor compreensão do quadro exposto acima, descreverei seu

histórico para entendermos os acontecimentos que antecedem a chegada do

adolescente em uma (UTI) unidade de terapia intensiva.

Pedro, adolescente, oriundo de família de baixa renda, morador de um

conjunto habitacional de um bairro considerado de alta vulnerabilidade social,

cresceu como todo jovem de sua faixa etária sonhando em “ter” e “ser” valorizado

pela comunidade e também pelas adolescentes que disputavam entre si a emoção

de estar com alguém que lhe inspirasse relação de status.

Nesta ânsia de busca pelo poder o jovem envolveu-se com uma

adolescente afetivamente, sendo este o inicio deste enredo de ameaça iminente de

morte.

A jovem com quem Pedro iniciou um relacionamento era enteada de um

suposto professor de capoeira, que desconte com o envolvimento dos jovens, levou

o caso para os irmãos de uma determinada facção criminoso PCC, a fim de intimidá-

lo a desistir do namoro com a sua protegida.

Vale ressaltar que Pedro freqüentava as aulas de capoeira e, mantinha

bom relacionamento com a família da jovem, até tomarem ciência do envolvimento

afetivo dos jovens.

O jovem Pedro conhecia os irmãos da facção criminosa que atuava

naquela comunidade e também fazia uso de substâncias psicoativas que eram

comercializadas no local.

A trama contra o jovem tivera seu ponto culminante, após decisão

deliberada pelos irmãos do PCC, para que o próprio professor executasse o jovem

que já possuía comprometimento com o crime organizado na região.

Page 45: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

45

O professor seguindo as ordens que receberá, convidou o jovem para um

determinado evento, contando com presença da namorada; um amigo do

adolescente e o motorista.

Durante o percurso o professor, segundo relato do adolescente mostrara-

se muito nervoso, mas seguiu em frente com o contrato que fizera com os irmãos,

desferindo tiros a queima roupa contra o adolescente, porém arrependeu-se e

encaminhou Pedro para um hospital.

Neste período de internação o adolescente recebeu visita de uma pessoa

considerada idônea na comunidade, onde o jovem relatou o que ocorrera, gerando

comoção e revolta, chegando a pedir justiça para os irmãos do PCC dada a violência

ocorrida.

Embora o hospital fosse de grande porte, a segurança é privada, não

estando preparada para atender este tipo de demanda que envolve escolta imediata.

O PPCAAM em sua atuação reuniu-se com o serviço social e diretoria do

hospital, solicitando restringir o acesso de pessoas não autorizadas, sigilo e

vigilância intensiva.

Mesmo com as orientações e devidas providências, o hospital fora

invadido por pessoas desconhecidas para efetivar a execução do adolescente, tendo

que ser retirado e encaminhado para local seguro mesmo com estado de saúde

inspirando cuidados.

Em represália ao não cumprimento da ordem que recebera o professor

passou a vítima de sua própria trama, ou seja, fora pego pelos irmãos do PCC, que

o torturaram e tentaram assassiná-lo sem sucesso, sendo este encaminhado para o

hospital, onde novamente ocorreu invasão de pessoas desconhecidas que o

executaram dentro da instituição hospitalar.

Diante da repercussão do caso, temendo-se represálias, a família do

adolescente, foi encaminhada para local seguro, fora do município de São Paulo.

Após convalescença do adolescente, ainda temendo represálias, foi

encaminhado pelo PPCAAM em regime de permuta para outro estado.

Em local seguro o jovem por estar distante de suas referências afetivas,

passou a agredir fisicamente e verbalmente assistidos e profissionais da instituição

em que fora acolhido.

Page 46: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

46

Na ocasião as equipes envolvidas com a permuta, após avaliação

criteriosa, retornou com o jovem para o município de São Paulo, encaminhando-o

para um abrigo próximo a região de moradia de membros da família.

Neste período a genitora e o irmão mais novo, já estavam acolhidos na

residência de uma tia materna, com facilidade de acesso para visitar Pedro em local

neutro, previamente agendado e monitorado pelo Programa.

A genitora, portadora de distúrbio bipolar, tendo que ser assistida desde

sua higiene pessoal até a ingestão de medicação, fora vítima do cunhado que

passou a assediá-la sexualmente, além de oferecer-lhe drogas.

Em decorrência deste fato o filho mais novo passou a apresentar

comportamento agressivo e o jovem Pedro, passou a agredir fisicamente assistidos

e profissionais da instituição.

O PPCAAM de posse destas informações retirou imediatamente mãe e

filho deste convívio, culminando no retorno da genitora para residência da avó

materna e seu filho mais novo para abrigamento, junto a seu irmão.

Ainda dentro das pertinências das intervenções o PPCAAM se reuniu com

Centro de Referência e Assistência Social (CRAS) para melhor possibilidade de

assistir a genitora, porém o que podia ser disponibilizado já estava sendo executado

pela saúde mental, além de ser assistida pelo Programa de Saúde da Família (PSF)

com consultas psiquiátricas, entre outros profissionais envolvidos.

A avó materna, juntamente com sua irmã que reside em outro Município

da Cidade de São Paulo, juntamente com o Programa pensou em estratégias que

favorecessem a genitora em sua rotina diária, porém a mesma agia de acordo com

seu estado emocional, passando a permanecer a maior parte do tempo na rua em

busca de “namoro”, expressão usada por ela.

Como o caso é considerado tratamento ambulatorial, não seria possível

intervenção mais contundente.

Após diversas tentativas de fuga do abrigo para uso indevido de drogas, o

adolescente Pedro passou a ser assistido por psicólogo e psiquiatra, especialidades

que se recusava terminantemente a aceitar.

Dada a complexidade do caso e também o histórico de saúde mental da

genitora, as intervenções do Programa continuam presentes e estão focadas em

Page 47: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

47

trabalhar a autonomia e independência do adolescente que hoje está mais centrado

e pensa em se estruturar para residir futuramente com sua mãe e seu irmão.

Encerro este caso ressaltando o amor, carinho e o respeito de Pedro e de

seu irmão por conhecer a condição de saúde mental de sua mãe e querem estar

próximos para evitar que ela se exponha a situação de risco e futuramente possam

vir a ter a condição de vida em família.

4.1. Repercussão do caso na mídia

Chamou-me atenção o estudo de caso do adolescente Pedro por ter sido

sua referência no PPCAAM

4.2 Resultados Esperados

O adolescente que faz uso de drogas responde bem às intervenções

contextualizadas. Os contextos dominantes para ele são seus pares e a escola e,

numa proporção menor, o entorno da comunidade. Para crianças menores, o

contexto principal é a família, que continua igualmente importante na adolescência73.

O uso ocasional de droga por adolescentes pode ser entendido como

manifestação de uma experimentação apropriada para sua etapa de

desenvolvimento e busca de direção para a vida74. Ao diferenciar entre adolescentes

que se abstém, que experimentam e que abusam de drogas, conclui que, dada a

quase onipresença e uma certa aceitação da maconha na cultura dos pares, não é

surpreendente que, com 18 anos, indivíduos psicologicamente saudáveis, sociáveis

e curiosos se sintam tentados a experimentar o produto. Não se espera que

adolescentes saudáveis abusem da droga, porque apresentam baixa necessidade

de utilizá-la para aplacar a angústia emocional ou como meio de compensar a falta

de relações importantes. Os autores comparam o sentido do uso da maconha entre

adolescentes de hoje com o significado social e psicológico que a bebida alcoólica

teve para gerações anteriores75. Levando em conta essa reflexão, os esforços

73

SCHOR, 1996. 74

Estudo de Shedler e Block (1990). 75

SHEDLER; BLOCK, 1990.

Page 48: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

48

preventivos precisam ser muito mais abrangentes e voltados para os precursores

dos riscos e da resiliência76.

Estudos indicam que as condições de formação de uma personalidade

resiliente são:

Colocar expectativas claras relativas ao comportamento;

Monitorar e supervisionar as crianças;

Reforçar com consistência atividades que favoreçam a socialização;

Criar oportunidades para o envolvimento familiar;

Promover o desenvolvimento das habilidades acadêmicas e sociais dos

jovens77.

No entanto, as habilidades para a formação de crianças e jovens

freqüentemente deveriam fazer parte de um processo de formação de pais e

educadores. A aquisição e o uso dessas habilidades na administração da família ou

dos contextos educativos reduzem problemas de comportamento das crianças nos

primeiros anos, promove o bom desempenho escolar e as fortalece para lidarem

com condições adversas78.

Pela força da escola e da família nessa etapa da vida, para os pré-

adolescentes e adolescentes é fundamental que pais e educadores estejam atentos

a alguns parâmetros relacionais:

Uma comunicação livre e fluente com os pais ou com adultos que lhes servem

de modelo fortalece emocionalmente o jovem;

Evita o engajamento em comportamentos de risco79;

Elogios dos pais às conquistas dos filhos e dos educadores aos seus

estudantes é o alimento da auto-estima;

A colocação de expectativas claras por parte dos pais e professores, aliada a

uma educação com autoridade, que envolve afeto, controle e trato

76

COIE et al, 1993. 77

HAWKINS et al, 1992. 78

HAWKINS et al., 1992 79

FRIEDMAN, 1989; KODJO; KLEIN, 2002; TUTTLE, 2002.

Page 49: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

49

democrático, favorece o desenvolvimento psicológico saudável e o sucesso

escolar do adolescente80;

O monitoramento das atividades dos jovens, seja por pais ou educadores,

mostra que eles estão investindo na segurança dos jovens;

O compartilhamento de valores, atitudes e crenças sobre as drogas (caso em

pauta aqui) é fundamental para o amadurecimento das decisões e da

responsabilização;

Conhecer os amigos e os pais dos amigos dos filhos é crucial, uma vez que a

pressão dos pares é uma das principais influências para o uso de drogas;

Exigências e expectativas quanto ao desempenho na escola funcionam como

um tipo de monitoramento e de proteção, na medida em que se juntam ao

encorajamento de atividades em que o jovem possa ter sucesso;

O incentivo ao engajamento nas atividades da escola, da comunidade e de

movimentos sociais ou de solidariedade é um potente fator protetor.

Para81, Quatro elementos do vínculo social que se mostram inversamente

correlacionados com o uso de drogas:

Vínculo forte com os pais;

Compromisso com a escola;

Envolvimento regular com atividades da igreja ou de outros movimentos;

Crença nas expectativas gerais, normas e valores da sociedade.

Metodologicamente, essas intervenções requerem intercomunicação com

a criança, os pais, a família e a comunidade. Já que a influência dos pais diminui à

medida que as crianças crescem, o dito popular quanto mais cedo melhor deve guiar

os programas de intervenção. A ênfase no estilo de vida nunca deve ser traduzida

como se esse estilo fosse de responsabilidade exclusiva do indivíduo: tal abordagem

tenderia a culpar a vítima82. O risco precisa ser entendido, como já foi dito, de forma

80

STEINBERG, 1989; 1992. 81

Hawkins et al (1992). 82

JESSOR, 1991.

Page 50: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

50

a incluir a complexidade dos fatores e, portanto, a redução do risco requer tanto

mudanças subjetivas quanto sociais.

Pode-se esperar um maior sucesso dos programas de prevenção que

explicitamente maximizam o ajuste adaptativo entre indivíduos e contextos. Para tal,

é necessário ter sensibilidade para compreender e valorizar a história pessoal, o

estágio de vida do indivíduo, as normas culturais, as crenças e práticas no que

concerne ao uso de drogas83, bem como os contextos sociais e da comunidade onde

esse uso ocorre ou é proscrito84.

83

TEC, 1974; JOHNSON et al, 1984; COIE et al., 1993. 84

WALLACE JR, 1999.

Page 51: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

51

5 CONCLUSÃO

O uso de drogas é uma questão complexa que perpassa inúmeros

subsistemas da vida individual e social. Quanto mais distante a complexidade esta

dos laços de afeto e respeito, firmes exigências morais, uso do raciocínio e razão

além de responsabilidades entre pais/responsáveis e seu respectivo adolescente,

maiores serão as chances de perda do jovem para a criminalidade oriunda da

utilização das substâncias tóxicas. As representações sociais podem e devem

interferir sempre que possível de forma coerente, persistente, com regras

disciplinares e motivadoras para adolescente diante de sua incapacidade

involuntária para aderir às normas e códigos de conduta impostos pela sociedade

nos níveis familiares, escolares e comunitários de um modo geral. Então é

necessário compreender os códigos do contexto e a rede de signifiados que

envolvem a sociedade que levam à adesão ou à condenação, dependem do

contexto sociocultural. Os constrangimentos impostos numa determinada cultura são

diversos em outras.

Então, é necessário compreender os códigos do contexto e a rede de

significados que envolvem a sociedade em geral. Ao mesmo tempo é preciso

ensinar aos adolescentes que, por mais difícil e inconveniente que seja seguir as

regras sociais e morais, não se pode ignorá-las. Se o adolescente não adquirir

respeito pela manutenção da confiança, da ajuda mutua e de justiça dos grupos

específicos dentro de determinado tempo histórico a adolescência poderá ser fator

de risco para a violência. Muitos estudos têm mostrado como a atribuição de valor

positivo ou proscritivo depende de mudanças ou estágios de consciência de uma

pessoa apontados por julgamento morais.

Esta monografia inicialmente privilegiou o papel da família na prevenção e

na promoção da resiliência, porque ela é a célula mater responsável pela

socialização dos indivíduos. O jovem considerado muitas vezes anti-soial recebe

muitas mensagens adversas, críticas e exclusão dos demais membros da família,

sendo de se esperar que há certo tempo, seja desenvolvida a imagem negativa de si

mesmo e dos outros. E por outro lado da policia e da sociedade em si.

Mas como se viu neste texto, a problemática não se reduz ao contexto

familiar. O jovem inserido em numa rede de relações, vive um contexto sociocultural

Page 52: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

52

e histórico, que apresenta situações conflitivas que envolvem figuras de autoridades

que de certa forma podem contribuir para a delinqüência juvenil além da violência.

Mas a família tem um papel crucial enquanto cuidadora, afetiva, amorosa e

comunicativa, podendo promover condições e possibilidades saudáveis de seus

jovens.

Por isso, os programas preventivos para o uso de drogas precisam prever

aplicações práticas de orientação familiar, bem como ter novo olhar para os fatores

de risco iminentemente juvenil, pois que aos jovens associa-se: a inconseqüência,

os excessos impulsivos, a paixão pelas fortes emoções, vulnerabilidade, fatores

estes de risco. A violência ocasiona uma sobremortalidade nos adolescentes e

jovens adultos do sexo masculino na faixa etária entre 15 a 29 anos, considerada

alto risco. (CASTRO, AQUINO, ANDRADE, 2009).

A idéia, quase uma ideologia subentendida no slogan "diga não às

drogas", é um americanismo que não condiz com a proposta de redução de danos e

de promoção da resiliência. Experimentar drogas lícitas ou ilícitas e usá-las

socialmente são atitudes que fazem parte de culturas milenares e é um fato na

atualidade.

Um programa compreensivo e voltado à promoção da saúde precisa

entender essa quase inevitabilidade com a qual convive o ser humano de buscar

algum tipo de prazer em substâncias que produzem algum tipo de sensação de

prazer ainda que momentâneo. E entender também que a prevenção do abuso de

drogas é sinônimo de vida saudável, empreendimento tão importante para os jovens

que deve incluir a família, a escola, o grupo de pares, a comunidade e a mídia com

medidas preventivas que vislumbrem minimizar seu uso.

Tal abordagem requer uma difícil, mas factível articulação dos serviços

social, educacional, saúde e segurança, numa visão multidisciplinar e, como

responsabilidade, também, da sociedade. O "combate às drogas", termo militarista

proveniente da ideologia americana e, na maioria das vezes, único e obsessivo foco

da ação, não deve prevalecer. Promover um crescimento e desenvolvimento

saudáveis, maior igualdade social e de oportunidades, atuar contra a pobreza, o

racismo, a baixa estima, voltar-se para o desenvolvimento do protagonismo juvenil

são propostas que convergem para o cumprimento do ECA e a favor da democracia,

Page 53: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

53

promovendo a inserção social do jovem nos âmbitos de circulação e atuação dos

adultos com solidez validada, das normas e valores sociais com os quais passara a

lidar frequentemente.

Page 54: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

54

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Assis SG. Traçando caminhos em uma sociedade violenta. Fiocruz, Rio de Janeiro. 1999. Assis SG, Constantino P. Filhas do mundo: infração juvenil feminina no Rio de Janeiro. Fiocruz, Rio de Janeiro. 2001. Hebert, Martin. Convivendo com adolescentes, tradução de José Eduardo Ribeiro Moretzsohn – 2 ed.- Rio de Janeiro: Bertrand Brasil 2002. Juventude e políticas sociais no Brasil/organizadores Jorge Abrahão de Castro, Luseni Maria C. de Aquino, Carla Coelho de Andrade - Brasilia:Ipea, 2009. Minayo et al. Fala galera: juventude, violência e cidadania no Rio de Janeiro. Editora Garamond, Rio de Janeiro. 1999. Njaine K. Violência na mídia sob a ótica dos adolescentes. Tese de doutorado defendida na Escola Nacional de Saúde Pública, Fiocruz, Rio de Janeiro. 2004. Schenker M, Minayo MCS. A implicação da família no uso abusivo de drogas: uma revisão crítica. Ciência & Saúde Coletiva. 2003. 8(1):299-306. Tarter RE, Sambrano S, Dunn MG. Predictor variables by developmental stages: a center for substance abuse prevention multisite study. Psychology of Addictive Behaviors. 2002. 16(4S):S3-S10. Tec N. Parent-child drug abuse: generational continuity or adolescent deviancy. Adolescence. 1974. 9:351-364. Velho G. Nobres e anjos: um estudo de tóxicos e hierarquias. Editora FGV, Rio de Janeiro. 1998. Schenker M, Minayo MCS. Centro Latino-Americano de Estudos da Violência e Saúde. Núcleo de Estudos e Pesquisa em Atenção ao Uso de Drogas. UERJ. Pós Graduação em Saúde da Criança e da Mulher do Instituto Fernandes Figueira, Fiocruz. Rio de Janeiro.

Page 55: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

55

ANEXOS

Page 56: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

56

ANEXO – 1

REPORTAGEM

Professor de capoeira morto em UTI foi condenado por “tribunal clandestino”

Plantão/publicada em 23/06/2008

SPTV, O Globo Online

SÂO PAULO – A polícia esclareceu o assassinato de um paciente do Hospital Cidade Tiradentes, na zona leste da capital, no começo de junho. Um professor de capoeira foi baleado e esfaqueado dentro da UTI do hospital. A decisão de matar pó professor Ludimar Aparecido de Andrade, de 29 anos, foi tomada em um “tribunal clandestino”, formado por criminosos afirma a polícia. Andrade foi morto na madrugada do dia e de junho. Dois dias antes, havia sido encontrado pela polícia baleado com seis tiros, dentro do porta-malas de um Monza, inconsciente.

De acordo com as investigações, Andrade foi executado por vingança. Ele teria, ao lado de outras duas pessoas, agredido e baleado um adolescente de 14 anos no dia 14 de maio, acusado de ter tentado violentar uma menina. Para vingar o garoto, Luiz de França Silva Neto, conhecido como Celebridade; José Carlos Arlindo Junior e Rafael Aparecido dos Santos teriam condenado o professor à morte.

- Teria sido uma vingança. A enteada do professor de capoeira teria dito que esse adolescente teria tentado manter relação sexual com ela de forma forçada – diz o delegado Marcos Carneiro Lima.

Andrade, a companheira dele, Rosana Soragge, e o pai-de-santo Francisco Teves Neto teriam então participado da tentativa de homicídio contra o adolescente. O adolescente sobreviveu e Andrade começou a ser perseguido por criminosos do bairro que conheciam o rapaz. No fim de maio, professor encontrado ferido, seis tiros, no porta-malas do carro. Dois dias depois cinco homens invadiram o hospital. Eles renderam os vigilantes e trancaram os funcionários na farmácia do hospital. Um enfermeiro foi obrigado a levar os homens até a UTI. O capoeirista foi morto e os homens fugiram.

Moradores de Cidade Tiradentes contaram à polícia que Andrade foi condenado à morte por um tribunal clandestino, depois de ser dominado na porta do prédio em que moravam. De acordo com a investigação, Silva Neto, que é chefe de quadrilha, se passou por juiz. Segundo a polícia, trinta pessoas presenciaram o julgamento. A sentença saiu deppois de uma hora. Arlindo Junior, de 31 anos, e Santos, de 19 anos, também participaram do julgamento. A justiça decretou a prisão dos três, que estão foragidos.

-É uma coisa absurda, que o estado de direito e uma sociedade civilizada não podem aceitar em hipótese alguma – diz o delegado.

Page 57: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

57

Soragge e Teves Neto foram presos e denunciados à Justiça pela tentativa de homicídio contra o adolescente. A polícia ainda tenta identificar os outros homens que invadiram o hospital e executaram o professor de capoeira.

(fonte:HTTP//g1.com/sptv)

Page 58: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

58

ANEXO - 2

REPORTAGEM

04/06/2008 - 08h40

Familiares de professor morto em hospital de SP pedem proteção

Publicidade do agora

Familiares do professor de capoeira Ludmar Aparecido de Andrade, 29 anos, morto a tiros e facadas na madrugada de anteontem na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Municipal de Cidade Tiradentes (zona leste de São Paulo), entraram no serviço de proteção da Polícia Civil, segundo apurou a reportagem. Ontem, a polícia procurava suspeitos do crime.

Segundo a polícia, membros da família estão com medo devido ao grau de violência do crime. A SSP (Secretaria de Estado da Segurança Pública) não confirmou a informação. Andrade havia sofrido uma tentativa de homicídio na madrugada do último sábado, quando foi encontrado ferido com seis tiros e as mãos e os pés amarrados dentro do porta-malas de seu Monza.

O capoeirista foi socorrido ao hospital de Cidade Tiradentes, onde havia sido operado e estava internado em estado grave desde sábado. Por volta das 3h de anteontem, porém, seis homens armados e encapuzados renderam funcionários do hospital e três deles entraram no prédio. Os bandidos seguiram para o leito em que Andrade se recuperava e o mataram com pelo menos oito tiros e vários golpes de faca, de acordo com a polícia. As câmeras de vigilância do hospital registraram parte da ação, que durou cerca de 15 minutos.

O motivo do assassinato ainda é desconhecido. Ontem, a polícia procurava suspeitos, mas até o fechamento desta edição, às 23h30, ninguém havia sido detido.

O Agora apurou que uma das hipóteses investigadas, conforme relato de familiares da vítima, é de que o assassinato teria sido motivado por vingança, pois o professor teria agredido e atirado no rosto de um aluno de 15 anos que teria assediado sua enteada de 11 anos.

Devido às características do crime, a polícia verifica também se o homicídio pode ter sido executado por membros da facção criminoso PCC (Primeiro Comando da Capital), que tem forte atuação em Cidade Tiradentes, segundo informou a polícia. As impressões digitais deixadas na faca e na pistola 380 encontradas no local do crime ainda não foram identificadas.

Ao menos dez pessoas, entre familiares da vítima e funcionários do hospital, foram ouvidas pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que investiga o caso.

Page 59: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

59

Tumulto no velório

Houve confusão durante o velório de Andrade em Piracicaba (160 km de São Paulo). A reportagem apurou que membros da família da vítima tentaram agredir a mulher do capoeirista porque acreditavam que ela pudesse ser culpada pela morte.

Por telefone, uma cunhada de Andrade disse que não comentaria o assunto. Ele era casado havia cinco anos, tinha uma filha de cinco anos e três enteados. O corpo será enterrado hoje, às 10h, no Cemitério da Saudade, em Piracicaba.

Page 60: SER JOVEM É FATOR DE RISCO PARA A VIOLÊNCIA? · A todos aqueles que, direta ou indiretamente, acreditam e me incentivam a correr atrás dos meus ideais. A todos os componentes da

60

ANEXO – 3

REPORTAGEM Acusado de matar professor capoeira é preso Um foragido da justiça foi preso em flagrante, portando documentos falsos, por volta das 16 horas de sexta-feira (04). Após um minucioso trabalho de investigação, a Polícia Civil surpreendeu o acusado no cruzamento das avenidas Governador Carvalho Pinto com São Miguel, no bairro da Penha, na zona leste da capital. Ele era procurado pelo homicídio de um professor de capoeira, dentro do Hospital municipal Cidade Tiradentes. O acusado possui tatuagens de palhaços nos dois braços, cujo significado é matador de policial. Com um mandado de prisão preventiva, expedido pelo 1º Tribunal do Júri em 14 de julho do ano de 2008, policiais civis realizaram um detalhado trabalho de investigação e, após diversas campanas pela região, conseguiram localizar o foragido da justiça, J.C.A.J., de 32 anos. Segundo o chefe dos investigadores do 19º DP Distrito Policial (Vila Maria), Marcelo Rocha , o foragido é de alta periculosidade. “Ele tem diversas passagens pela policia por roubo e, além disso, é suspeito de ser integrante de uma facção criminosa”, afirma. J. foi preso em flagrante e encaminhado para o 19º DP. Ele responderá por uso de documento falso e pelo homicídio do professor de capoeira, de 29 anos, morto a tiros na UTI do Hospital Municipal de Cidade Tiradentes, no dia 2 de junho de 2008. O foragido foi transferido ao Centro de Detenção Provisória (CDP) Independência, onde permanece preso, à disposição da Justiça. (Fonte: HTTP://www.ssp.sp.gov.br)