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Seminário " Desafios para Repensar o Trabalho "
Volumes
Sessões 22 a 25
22 Abertura
23 O trabalho não é mais aquele?
SEMINÁRIO" DESAFIOS PARA REPENSAR O TRABALHO"
24 O debate internacional sobre a definição de trabalho
25 O debate brasileiro atual
TRABALHO E CLASSES SOCIAIS V:.<f ··-2
Fernando Haddad, l1j ·;.\~ ;J ~-~
Creio que uma estratégia teórica razoável para enfrentar o problema da
conceituação da categoria trabalho e das transformações do processo de trabalho nas
sociedades contemporâneas seja passar em revista algumas das principais teses que, de um
século para cá (desde a publicação do Livro III de O Capital) esforçam-se por compreender
a estrutura de classes das sociedades contemporâneas: da sociologia alemã do começo do
século aos recentes estudos do marxismo analítico, passando pelo austro-marxismo, pelo
pensamento francês da década de 60, pelos trabalhos dos teóricos anglofünicos, pela
produção leste-européia, etc. Afinal, mal ou bem, todas essas teses sobre classes sociais,
defendidas com brilho pelos principais sociólogos do século, encontram seu fundamento
último no acompanhamento da evolução dos processos de trabalho, ou mais propriamente,
na forma como a sociedade se reproduz do ponto de vista material.
Contra isso, pode-se argumentar que o fato de que nenhuma dessas teses tomou-se
hegemônica a ponto de gozar do prestígio que a teoria de classes marxista conheceu, indica
que as visíveis deficiências desta última no que diz respeito à explicação da dinâmica do
capitalismo recente possam ser insuperáveis a partir de um ponto de vista centrado no
conceito de classe social. É bem verdade que os progressos no campo de estudo das classes j
não são, de maneira nenhuma, negligenciáveis. Conceitos como os de "nova classe média"
(Lederer), "setor terciário ou de serviços" (Clark), "sociedade pós-industrial" (Bell), etc. são
referências obrigatórias para o estudioso que ousar entrar para o debate, ainda que para
rejeitá-los. Mas, é igualmente certo que as divergências entre os teóricos são apreciáveis,
desencorajando aquele que pretenda apresentar uma nova alternativa para o problema.
Contudo, na ciência como na vida, os obstáculos são tão mais atraentes quanto maior a
dificuldade em transpô-lo~
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Preliminarmente, convém esclarecer que considero o assunto "classe social" um
objeto próprio da economia política (e secundariamente da sociologia ou da ciência política).
Diga-se, antes de mais nada, que esse era também o entendimento de Marx. Com efeito,
rigorosamente falando, o conceito de classe social em sentido pleno é definido, dentro do -----------. -·----·· . - ·- -· . .. ... - . ··-···- - . ----- -
discurso de Marx, pelas relações de distribuição que são expressão imediata das relações de -· - - ·-·-···--- .... - ····----· .
produção. Isto significa que quando Marx se refere às três grandes classes, a dos -·. ·---- ---·-·· --·-- -··· .. ..... - . - . .
trabalh~dores assalariados, a dos capitalistas e a dos proprietários fundiários, não está ele
querendo dizer que existam outras "pequenas camadas" dignas do nome "classe"., Embora I --Marx use esta denominação para se referir a outros grupos distintos dos "três grandes", tudo
leva a crer que, do ponto de vista da dinâmica do sistema, a ele só interessava estudar as
tendências relativas ao comportamento daqueles grupos imediatamente ligados ao processo
de reprodução material da sociedade. De resto, esta é a única posição compatível com um
materialismo histórico fundado no paradigma da produção. Esse é o motivo pelo qual Marx,
por exemplo, apesar de prever (como veremos) o aumento numérico relativo dos serviçais
domésticos ou dos funcionários de Estado, não lhes dedica atenção especial. Se a palavra
"grande" da expressão "grandes classes" dissesse respeito ao aspecto numérico da questão,
este grupo, decerto maior do que o grupo dos capitalistas ou proprietários fundiários,
mereceria uma maior consideração.
Dito isso, podemos iniciar nossa análise pela teoria marxista clássica das classes, sem
perder de vista, obviamente, a contribuição dos estudiosos que se debruçaram sobre o
assunto. Deixando de lado a caracterização e distinção da classe dos capitalistas e dos
proprietários fundiários, questões menos problemáticas, comecemos pelo que nos interessa
imediatamente: o conceito de "classe dos trabalhadores assalariados". No que segue - =·..::.:.=-:.-·":"" -~·:·· - ·; . --- ••... ~ ,. -
contaremos com o apoio dos estudos de Rui Fausto, particularmente o ensaio "Sobre as
Classes", publicado em "Marx: Lógica e Política", Tomo II. Rui Fausto propõe duas
questões sobre o tema, às quais acrescento uma terceira. A primeira questão remete ao
problema de saber até que limite um trabalhador qualificado pertence à classe dos
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trabalhadores assal~riados. A segunda questão consiste em saber se este conceito de
trabalhadores assalariados compreende tanto os trabalhadores improdutivos, interiores e
exteriores à produção, quanto os trabalhadores_ pro_dutivos1
A terceira questão consiste em . . -- ··-··. ----. ·- ...... -·-. -·. .
pesquisar até que ponto o proletário despossuído dos meios de produção, do ponto de vista
da sua atividade ou inatividade, ou seja, do seu emprego ou desemprego, mantém sua
condição de trabalhador. A partir das respostas a estas três perguntas coloca-se o problema,
que é o que particularmente nos interessa, sobre as tendências do sistema no que se refere à -·- --------
estrutura de classes.
Passemos à pnmeJTa questão, talvez a mais espinhosa e à qual daremos, por
enquanto, apenas uma resposta preliminar: a questão da qualificação. Até que ponto um
nível superior de salário ou algum tipo de poder numa organização capitalista são atributos
incompatíveis com a condição de membro da classe dos trabalhadores assalariados? Rui
Fausto, inspirado na lógica hegeliana, ensina que as situações possíveis podem ser
representadas por três níveis que correspondem à idemidade, à d!ferença e à comradição.
"No primeiro nível, ensina Rui, diríamos 'o trabalhador assalariado é o possuidor da força de
trabalho simples'; ou 'o trabalhador assalariado é pura e simplesmente subordinado à
autoridade do capitalista'; ou , o trabalhador assalariado recebe um salário que permite a
conservação do indivíduo que trabalha na sua condição normal de vida'. Nos três casos, o
predicado corresponde ao sujeito, temos juízo de inerência. Num segundo nível, continua
Rui, não é mais a identidade que é posta, mas a d~ferença. Diríamos: 'o trabalhador
assalariado é o trabalhador qualificado'; ou 'o trabalhador assalariado está submetido ao
capitalista, mas, por sua vez, submete em tal ou qual grau (intensivo ou extensivo) outros
trabalhadores assalariados'; ou 'o trabalhador assalariado recebe um salário (bem) superior
ao necessário à conservação e reprodução do indivíduo enquanto trabalhador assalariado'.
Nesse caso, o sujeito está pressuposto, só o predicado está posto. O juízo é de reflexão, mas
não há contradição, só diferença, contrariedade se se quiser entre sujeito e predicado. No
terceiro caso, conclui Rui, temos um enunciado que corresponde a um juízo do devir
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(embora não exprima um devir efetivo). Não só o sujeito é pressuposto e o predicado posto,
mas o segundo contradiz o primeiro: ·o trabalhador assalariado é o manager' ... ". Essa
passagem do ensaio de Rui Fausto ajuda a evitar muita confusão conceituai. Repare-se que,
num primeiro momento ela distingue trabalho simples de trabalho qualificado não gerencial.
Num segundo momento, entre trabalho (qualificado ou não) e gerência (management).
Subjacente ao problema da diferença (e não contradição) entre trabalho simples e
trabalho qualificado está a questão, que consumiu muito tinta, da redução, operada pela
teoria marxista do valor, deste àquele. Com efeito, Marx estabelece que o trabalho
qualificado não é senão uma potência do trabalho simples, acrescentando que, na grande
indústria capitalista mecanizada, ao contrário da manufatura, há uma tendência a reduzir e
igualar todos os tipos de trabalho a um mesmo nível. Esse raciocínio (que Marx compartilha
com Ure e Proudhon contra Smith e Babbage) dividiu os estudiosos. Por um lado, houve
quem (por exemplo, Ralf Dahrendort) questionasse a tendência à homogeneização da classe
trabalhadora, propondo, justamente, o movimento inverso: o de diferenciação progressiva e
conseqüente decomposição do trabalho. Por outro lado; houve quem (por exemplo, Harry
Braverman, baseado nos estudos empíricos de James Bright) defendesse a tendência
originalmente proposta por Marx.
Contudo, tenho para mim que o problema da redução do trabalho qualificado ao
trabalho simples não passa pela questão objetiva da tendência à desqualificação ou não da
força de trabalho (que não deixa de ser interessante), mas diz respeito, mais propriamente, à
questão do caráter da reprodutibilidade da força de trabalho, seja qual for a sua utilização. A
força de trabalho, qualificada ou não, reproduz-se, sob o capitalismo, de urna maneira
totalmente distinta do virtuose medieval. A pessoalidade cede lugar à impessoalidade. Essa
verdadeira anonimização do processo de reprodução da força de trabalho (independente da
qualificação) operada pelo capitalismo, expressa-se, com uma clareza absoluta, na placa de
"procura-se ... " exposta nas fachadas das empresas ou nos anúncios de jornal. Por raro que
seja o profissional procurado, o próprio mercado de trabalho, em condições normais, cuida
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de produzi-lo sem a interferência do capitalista que, em geral, só tratará de treiná-lo para
conformá-lo às peculiaridades da sua organização. Essa tendência de anonimização só se
modifica quando a Ciência passa à condição de fator de produção e fundamento da riqueza,
tema que abordaremos oportunamente; neste caso, como veremos, já se ultrapassa o debate
sobre qualificação do trabalho porque se ultrapassa, no fundo, o próprio conceito de ~
trabalho. Aqui, não se trata da mera negação da forma, mas da negação da própria essência
do modo capitalista. É esta negação da essência que, como se estudará, fundamenta todas as
negações da forma aparentemente adequada ao sistema ou, se se quiser, faz da forma negada
a forma adequada ao modo de produção capitalista.
Deixando de lado, por ora, esta problemática, passemos adiante. Quanto ao
problema da contradição (e não simples diferença) entre trabalho e gerência, as divergências
entre os teóricos não são menores. Essas divergências derivam do caráter contraditório do
trabalho diretivo do gerente. Por um lado, o gerente é um trabalhador assalariado. Enquanto
tal, sua remuneração deve ser o salário de mercado pago por um certo tipo de trabalho
qualificado. Mas, por outro lado, no que se refere às funções que o gerente desempenha,
tem-se que o seu trabalho é um tipo de trabalho ligado à exploração. Este trabalho de
comando, na medida em que resulta da forma específica da produção capitalista, produz
valor e, por conseguinte, mais-valia, mas, ao mesmo tempo, está ligado à função de
apropriar-se do trabalho alheio. Há contradição, portanto, tanto em relação ao trabalhador 1 / quando em relação ao capitalista. Os gerentes pertencem a uma categoria que está fora das
J ~~ª-~--~-st~ próx~m: d:C~~~~e dos proprietários do capital., ~ua existência,
contudo, pressupõe a separação entre propriedade e função do capital, o que de certa forma
neutraliza a classe dos capitalistas. Marx e os marxistas supuseram que esta condição
prenunciava um período de transição para fora da ordem capitalista. Outros teóricos
(Burnham, Dahrendorf, Galbraith, etc.) preferiram acreditar que a camada dos gerentes já
representava a classe dominante de uma ordem pós-capitalista. Não obstante, a separação de
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função e propriedade do capital revelou-se tão-somente a forma "mais adequada" que
potencializa o processo da sua reprodução ampliada.
Quanto à segunda questão, sobre a abrangência do conceito de trabalhadores
assalariados relativamente à produtividade ou improdutividade do trabalho executado, há,
primeiramente, que se fazer uma distinção entre trabalhadores improdutivos exteriores à
produção e trabalhadores improdutivos que se situam no interior do processo global de
produção. No primeiro caso, o trabalhador vende sua força de trabalho em troca de um
"salário", mas não a vende ao capital. Deste grupo fazem parte, basicamente, os assalariados
do Estado e os domésticos. O "salário" que estes trabalhadores recebem, na verdade, é o
resultado de uma redistribuição dos rendimentos percebidos pelas três grandes classes do
sistema, os proprietários da força de trabalho que a vendem ao capital, os proprietários do
capital e os proprietários da terra, cujos rendimentos são o salário, o lucro e a renda da
terra, respectivamente. Feita essa distinção, tomado o conceito de classe na acepção
proposta, segue-se que estes trabalhadores improdutivos exteriores à produção, embora
trabalhadores assalariados, não pertencem à classe dos trabalhadores assalariados.
No segundo caso, o dos trabalhadores improdutivos que se situam no interior do
processo de produção, isto é, assalariados que vendem sua força de trabalho ao capital, seja
capital comercial, capital "a juro" ou capital industrial (mas para executar tarefas comerciais
ou financeiras), passa-se algo diferente. Apesar de improdutivos, estes trabalhadores, pelo
fato de o serem no interior da esfera do processo global de produção, fazem parte da classe
dos trabalhadores assalariados. Seu rendimento deriva imediatamente das relações de
produção.
Em todos esses casos, os problemas teóricos a enfrentar são grandes. Os
trabalhadores improdutivos interiores ao processo de produção foram apelidados pela
literatura sociológica de "trabalhadores em escritório". Essa categoria compõe, agregada à
outras, o que alguns teóricos chamam de "nova classe média" (Lederer) ou "classe de
serviços" (Renner). O vertiginoso aumento numérico desta camada, absoluto e relativo,
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serviu de munição preciosa aos críticos da teoria marxista. A situação agravou-se, ademais,
porque os críticos não raramente somavam o número dos "trabalhadores em escritório" ao
número, também crescente, dos "funcionários públicos". Certamente, inspiraram-se em
· Weber para quem "constitue um erro supor que o trabalho intelectual da oficina se distinga,
no mínimo detalhe, daquele do despacho estatal. Antes, ambos são essencialmente
homogêneos. Do ponto de vista da sociologia, o Estado moderno é uma 'empresa' com o
mesmo título que uma fábrica". Contudo, se adotada a terminologia até aqui defendida, os
funcionários públicos sequer poderiam ser considerados membros da classe dos
trabalhadores assalariados ou de qualquer outra classe.
De fato, Marx jamais manifestou a crença de que poderia haver um aumento relativo
destes trabalhadores em escritório em relação ao conjunto dos assalariados, embora tivesse
previsto um aumento absoluto que pudesse até ensejar uma certa divisão de trabalho no
escritório. Essa previsível divisão do trabalho associada à esperada universalização do
ensino público que faria com que essa camada perdesse alguns de seus privilégios originais
(status, remuneração, poder) por conta do conseqüente aumento de oferta desse tipo de
trabalho, sugeria um quadro em que o problema não tinha relevância.
As coisas, porém, tiveram outra evolução. Ainda no século passado (1896), Charles
Booth criticava o conceito marxista de "força de trabalho média indiferenciada" na qual,
segundo ele, Marx baseava sua gigantesca falácia, justamente apelando para o exemplo dos
"trabalhadores em escritório". Contudo, os dados estatísticos indicam que, se Marx estava
errado em relação ao aspecto numérico do problema (houve, como salientou Weber, um
aumento relativo expressivo do número dos improdutivos interiores à produção), estava
parcialmente certo em relação ao problema do status (só uma parcela diminuta destes
trabalhadores goza, devido à intensa divisão do trabalho que o escritório moderno
experimentou, dos privilégios que essa camada detinha, no seu todo, originalmente).
No século XIX, a meia dúzia de "trabalhadores de escritório" que só as maiores
empresas possuíam, em termos de função, poder, remuneração e estabilidade, estavam muito
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mais próximos do empregador do que do trabalhador da fábrica. Em geral, esses
trabalhadores executavam funções típicas empresariais como contabilidade, compra de força
de trabalho, matéria-prima e bens de capital, venda do produto acabado, abertura de crédito
junto a instituições financeiras, aplicações financeiras, concessão de crédito a clientes, etc.
Cabe observar que nenhuma dessas funções, no jargão marxista, produz valor, distinguindo
se, portanto, do trabalho de gerência, estudado acima, enquanto trabalho de comando do
trabalho produtivo, embora a divisão do trabalho de escritório faça surgir a figura do
improdutivo gerente de escritório.
Toda via, todas essas funções improdutivas ganham importância considerável no
capitalismo contemporâneo. Um fato inquestionável é que, em 1970 nos EUA, mais de 30%
do total da força de trabalho empregada pelas indústria compunha-se de "empregados de
escritório". Se considerarmos que a indústria, naquele ano, empregava cerca de 25% do
total dos assalariados (incluindo os exteriores à produção), temos que mais de 8% da força
de trabalho total daquele país empregava-se nos escritórios das indústrias. Somando-se a
isso os cerca de 25% dos trabalhadores no comércio e nas finanças, chega-se à conclusão de
que cerca de 1/3 da força de trabalho total era composta de "empregados em escritório". Se
acrescentarmos a este número (como faz Renner, adotando uma conceituação de classe
imprecisa) o total de funcionários públicos (portanto, os trabalhadores improdutivos
exteriores à produção, com exceção dos domésticos), chegamos aos 50%. Um número
impressionante comparado ao número de operários: cerca de 35%.
Há, contudo, um outro lado da questão. Como observou Hans Speier já em 1934, "o
nível social do empregado assalariado [de escritório- FH] baixa com a extensão crescente do
grupo". Aqui também não poderia deixar de vigorar o "princípio de Babbage" que foi quem
primeiro percebeu o fato simples, mas que passou despercebido por Adam Smith, de que
dividir o trabalho não apenas aumenta sua produtividade (efeito destacado por Smith), mas
principalmente barateia suas partes individuais (fato tão ou mais importante que o primeiro
numa sociedade baseada na compra e venda da força de trabalho).
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Assim, a partir de 1917, com os trabalhos de Leffingwell e Galloway, os princípios
do sistema taylorista de gerência científica começam a ser aplicados na gerência de
escritório. O trabalho em escritório, inicialmente associado à idéia de trabalho mental,
contrapunha-se, até então, ao trabalho meramente manual. Mas logo se percebeu, sem
dúvida graças a Taylor, que o trabalho mental quase necessariamente assume forma num
produto externo, além de exigir uma série de operações manuais prévias. É pois possível e
desejável que se separe as funções de concepção e execução. Pode-se escrever uma carta ou
ditá-la a uma estenodatilógrafa. Pode-se, pessoalmente, entregar um memorando a um
colega de trabalho ou contar com uma equipe que funcione como correio interno. Pode-se
ter que arquivar documentos, apontar lápis, digitar os números de um telefone, comprar um
lanche ou servir-se café, etc. etc. etc. ou ter alguém que faça isso tudo, liberando alguém
qualificado para compor um grupo cada vez mais reduzido de pessoas que exercem as
funções de pensamento e planejamento. Se assim é, a aplicação dos princípios tayloristas ao
trabalho de escritório deveria provocar uma queda considerável dos ganhos médios dessa
camada de assalariados, o que as estatísticas confirmam ser o caso. Diante disso, Wright
Mills, por exemplo, muito à maneira das análises de James Bright sobre mecanização do
processo de produção, conclui, em seu White Collar ( 1951 ), que o efeito inicial de
especializar mais os indivíduos quando da introdução de uma nova divisão do trabalho em
escritório é posteriormente anulado pela fragmentação e mecanização de todas as tarefas
que, afinal, estreitam-se.
A partir dessas considerações, duas tendências teóricas verificaram-se. A primeira,
representada por Dahrendorf(1957) e Braverman (1974), buscou recolocar na ordem do dia
a visão dicotômica de sociedade de classes: este, através da defesa da teoria marxista
original, recuperando a oposição clássica entre capital e trabalho~ aquele, recusando esta
oposição em virtude da decomposição do capital (função vs. propriedade) e da
decomposição do trabalho (heterogeneidade da força de trabalho) e, na esteira dos trabalhos
de Djilas e Burnham, reformulando a teoria dicotômica de classes através dos conceitos de
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classe dirigente e classe dirigida (corte que, no seu entender, passa tanto pela fábrica quanto
pelo escritório, bem como por qualquer "associação imperativamente coordenada"
[Herrschaftsverband]- uma categoria weberiana).
A segunda tendência, mais interessante, mas ainda insatisfatória, representada, por
exemplo, por Giddens ( 1973) e pelo marxista analítico E. O. Wright ( 1984 ), buscou
recolocar mais uma vez, não sem trazer novos elementos para o debate, o conceito de
"classe média" (aparentemente comprometido no âmbito da oposição entre trabalho
produtivo na fábrica e trabalho improdutivo no escritório), para o âmbito da oposição entre
trabalho qualificado e trabalho não-qualificado. Giddens abandona a posição dicotômica
centrada na propriedade ou não dos meios de produção, introduzindo o conceito weberiano
de "habilidade vendável". Segundo Giddens, Marx fracassou em reconhecer o significado .
potencial das diferenciações de possibilidade de mercado, o que inclui habilidades
reconhecidas que podem ser vistas como "propriedades" que se trocam no mercado. A partir
daí, Giddens faz uma interessante distinção entre estruturação rnediata e estruturação
imediata de classes. "Pelo primeiro termo, diz Giddens, refiro-me a fatores que intervêm
entre a existência de certas possibilidades de mercado e a formação de classes corno
grupamentos sociais identificáveis". Giddens identifica três tipos de possibilidades de
mercado: a propriedade dos meios de produção, a posse de qualificações técnicas ou
educacionais e a posse de força de trabalho manual. Isso produz o fundamento para um
sistema de três classes: alta, média e baixa (ou classe trabalhadora). Mas, há ainda três
fontes de estruturação imediata de classes que se referem a fatores que condicionam ou
moldam a formação de classes. São eles: a divisão do trabalho, as relações de autoridade e a
influência de grupamentos distributivos. A primeira fonte de estruturação tende a produzir
uma separação entre as condições de trabalho de trabalhadores manuais e não-manuais. A
isso, sobrepõe-se o sistema de autoridade típico das empresas (segunda fonte de
estruturação). Urna terceira fonte refere-se ao padrão de consumo como uma influência
adicional na estruturação de classes (ainda que Giddens concord\om Marx sobre a idéia de
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que classe seja um fenômeno da produção e não de consumo). Quando as estruturações de
classes mediata e imediata se sobrepõem, como é o caso da sociedade capitalista, as classes
existem como formações distinguíveis. Essa análise, segundo Giddens, tem a vantagem
· adicional de explicar a situação intermediária de algumas camadas sociais, como o da
pequena burguesia: "se for o caso de que as chances de mobilidade da pequena para a
grande posse de propriedade ( ... ) sejam pequenas, é provável que se isole o pequeno
proprietário da filiação da classe mais alta como tal. Mas, o fato de desfrutar o controle
diretivo de uma empresa, por menor que seja, atua no sentido de diferençá-lo daqueles que
são parte de uma hierarquia de autoridade numa organização maior. Por outro lado, a renda
e outros beneficios econômicos da pequena burguesia talvez sejam semelhantes aos do
trabalhador while-collar e, portanto, podem pertencer a grupamentos distributivos
semelhantes".
Wright, por seu turno, abandona a posição dicotômica entre trabalho e capital da
seguinte maneira. A exemplo de outro marxista analítico, John Roemer, Wright baseia seu
conceito de exploração nas iniquidades de distribuição de ativos produtivos. Com uma
diferença: aos dois ativos considerados por Roemer, ativos fisicos (alienáveis) e ativos de
habilidades (inalienáveis), Wright acrescenta outros dois- ativos de força de trabalho a ativos
de organização. As iniquidades na distribuição de ativos fisicos (meios de produção)
caracterizam a sociedade capitalista. As iniquidades na distribuição de ativos de força de
trabalho caracterizam a sociedade feudal (um senhor dispõe de vários servos que, por sua
vez, dispõem, individualmente considerados, de menos do que uma unidade de força de
trabalho, no caso, parte da sua própria). As iniquidades em ativos de organização, baseadas
em diferentes posições dentro de uma hierarquia de autoridade, caracterizam o socialismo
burocrático-estatal. Por fim, as iniquidades na distribuição de ativos de habilidades (skills)
caracterizariam as sociedades socialistas futuras.
Como as sociedades, segundo Wright, dificilmente podem ser caracterizadas por um
único modo de produção, há posições que, no que diz respeito a uma dimensão de
t·
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exploração, são exploradoras e, no que diz respeito à outra, são exploradas. Neste contexto,
temos o caso dos profissionais altamente bem remunerados: "they are capitalistically
exploited because they lack assets in capital and yet are skill-exploiters". É esta condição
dúplice que faz deles uma classe média dentro do sistema.
O problema da posição de Giddens e Wright diz respeito ao conceito de habilidades
(skills) vendáveis. Wright tenta defini-lo: "' skill' in this context is not a trivial concept. The
mere possession of enhanced labouring capabilities acquired through training is not sufficient
to generate relations of exploitation, since the income of such trained labour may simply
reflect the costs of acquiring the training. ln such cases there is neither a transfer of surplus,
nor would the untrained be better off under the game-theoretic specification of explotation if
skills were redistributed. For a skill to be the basis of exploitation, therefore, it has to be in
some sense scarce relative to its demand, and there must be a mechanism through which
individual owners of scarce skills are able to translate that scarcity into higher incomes".
Ora, o que fica claro é que, estas habilidades não estão sujeitas às regras do mercado de
trabalho convencional. Nem mesmo estão sujeitas ao padrão de reprodutibilidade da força
de trabalho nos marcos do capitalismo clássico. Porém, ainda que a intenção de Giddens e
Wright seja, ao que parece, tentar estabelecer uma diferença importante entre estas
habilidades e o trabalho qualificado na forma tratada originalmente por Marx, eles não
enfrentam o desafio de frente.
Por ora, de tudo o que se falou, só podemos concluir, mantendo-nos fiéis ao
conceito de classe de Marx, que a classe dos trabalhadores assalariados compreende os
trabalhadores improdutivos, mas não todos os trabalhadores improdutivos: os improdutivos
exteriores à produção (funcionários públicos e domésticos) estão excluídos. Quanto a estes
últimos, há um comentário de Marx sobre o aumento relativo do seu número que merece
destaque. Marx esclarece: "se os trabalhadores produtivos são os que são pagos pelo capital
e trabalhadores improdutivos, os que são pagos pelo rendimento, é evidente que a classe
produtiva se relaciona com a improdutiva como o capital com o rendimento. Entretanto, o
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crescimento proporcional das duas classes não dependerá somente da relação existente entre
a massa de capitais e a massa de rendimentos. Ele dependerá da proporção em que o
rendimento (lucro) crescente se transforma em capital ou é gasto enquanto rendimento.
· Embora originalmente a burguesia fosse muito econômica, com a produtividade crescente
do capital, isto é, dos trabalhadores, ela imita o sistema de retainers dos feudais". Ao que
Marx acrescenta: "que bela organização que faz suar uma jovem operária durante 12 horas
numa fábrica, para que o dono da fábrica possa empregar, com uma parte do trabalho não
pago dela, para o seu serviço pessoal, a irmã dela como criada, seu irmão como va/et de
chambre e o seu primo como soldado ou policial".
Quanto à qualificação temos algo parecido. A classe dos trabalhadores assalariados
compreende os trabalhadores qualificados, mas não todos os trabalhadores qualificados: o
trabalho do manager é caracterizado como função de exploração; ele é "trabalhador", mas
trabalhador enquanto capitalista, o que, se não o torna um capitalista, o aproxima da classe
dos proprietários do capital. Haverá, contudo, no capitalismo avançado, alguma outra
categoria qualificada que não está compreendida no conceito de classe trabalhadora, embora
se venda ao capital?
O problema permanecerá, por enquanto, em aberto. Antes de enfrentá-lo
definitivamente, tomemos uma última questão sobre a abrangência da classe dos
trabalhadores assalariados, agora no que diz respeito ao emprego ou desemprego da força
de trabalho. Em primeiro lugar, é preciso notar que a acumulação de capital se caracteriza
por um processo de concentração e centralização. Como corolário, temos o crescimento de
um contingente da população, denominado exército industrial de reserva, cuja dimensão
depende das fases dos ciclos econômicos, mas que, tendencialmente, aumenta em termos
absolutos, mas também relativamente ao conjunto do proletariado. Com o aumento do
exército industrial de reserva, que a rigor, pertence à classe trabalhadora, uma vez que se
caracteriza pela expectativa de se ver reincorporado ao contingente dos trabalhadores em
atividade, aumenta também o contingente da população desclassificada, o
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lumpemproletariado, que se distingue do exército industrial de reserva porque, neste caso,
não há a possibilidade desse contingente ser reabsorvido pelo mercado de trabalho. Essa
condição coloca o lumpemproletariado fora do conceito de classe trabalhadora, entre outras
coisas porque, como Marx notou no Man(festo e no 18 Brumário, "sua condição de vida o
predispõe mais a vender-se à reação". A relação entre proletariado, exército industrial de
reserva e lumpemproletariado pode ser mais bem focalizada se nos utilizarmos das mesmas
categorias lógicas que aplicamos à questão do "nível de salário e poder" entre os
assalariados produtivos, quais sejam, identidade, diferença e contradição, e as aplicarmos à
questão do emprego (Rui Fausto não faz esse desenvolvimento). Percebe-se que no juízo "o
proletário é o lumpem" não só o predicado está posto e o sujeito pressuposto, como também
o predicado contradiz o sujeito. Não é o que acontece com o juízo "o proletário é o
desempregado", onde há diferença entre sujeito e predicado, uma vez que a condição de
proletário exige que este venda sua força de trabalho; mas não há contradição, em virtude da
expectativa de que isso ocorra na fase de expansão econômica. Já no juízo "o proletário é o
empregado" só há identidade. Aqui também, tem-se que a classe dos trabalhadores
assalariados compreende os despossuídos, mas não todos os despossuídos: o
lumpemproletariado está excluído.
Sobre este tema ainda, seria importante lembrar o conceito de "não-classe dos não
trabalhadores" proposta por Gorz em Adeus ao proletariado ( 1980). Sob essa denominação,
Gorz parece incluir o exército de reserva e o lumpemproletariado. Nos seus próprios
tennos: "essa não-classe engloba, na realidade, o conjunto dos indivíduos que se encontram
expulsos da produção pelo processo de abolição do trabalho, ou subempregados em suas
capacidades pela industrialização (ou seja, pela automatização e pela informatização) do
trabalho intelectual. Engloba, continua Gorz, o conjunto desses extra-numerários da
produção social que são os desempregados reais e virtuais, permanentes e temporários,
totais e parciais. É o produto da decomposição da antiga sociedade fundada no trabalho: na
dignidade, na valorização, na utilidade social, no desejo do trabalho. Estende-se a quase
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todas as camadas da sociedade, e abrange muitos além daqueles que os Panteras Negras, no
final da década de 1960, chamavam nos Estados Unidos, os lumpem [conceito usado por
eles num sentido já mais amplo que o marxista -FH] e, , com uma antevisão notável,
opunha-se à classe dos operários estáveis, sindicalizados, protegidos por um contrato de
trabalho e por uma convenção coletiva".
Esses trabalhadores acidentais que ocupam empregos precários para os quais podem
até mesmo ser superqualificados, estando condenados ao desemprego dos seus
conhecimentos muitas vezes aprendidos em escolas e faculdades, não se sentem pertencer à
classe dos operários ou à qualquer outra. Ao contrário destes, esses não-trabalhadores são
subjetivamente liberados: procuram conquistar sua autonomia para além do gerenciamento
dos aparelhos, subtraindo-se à lógica produtivista da sociedade capitalista. Num contexto
onde se produz para trabalhar ao invés de se trabalhar para produzir, o trabalho ele mesmo,
é atingido de não-sentido. Para Gorz, essa lógica levou a humanidade ao limiar da liberação,
mas que só será transposto pela decomposição da ética do trabalho, pela recusa da ética da
acumulação e pela dissolução das classes. Apenas a não-classe dos não-trabalhadores,
segundo Gorz, é capaz desse ato fundador.
É curiosíssimo notar que esta tese de Gorz visava, entre outras coisas, refutar um
outra tese defendida por ele próprio, em 1~·s1ra1égia Operária e Neocapilalismo ( 1964) e por
Serge Mallet, em La Nouvelle Classe Ouvriere (1963). Mallet, num instigante estudo sobre
a indústria automatizada, observou a existência de dois tipos de trabalhadores assalariados
dentro dessa organização. l) De um lado, dois grupos, "les surveillants, chargeurs,
opérateurs, affectés aux unités de production automatisées et les ouvriers d'entretien,
chargés de la réparation et de la surveillance des mécanismes de l'outillage". A automação
exige dos primeiros um conhecimento completo do setor do processo de produção no qual
estão inseridos, enquanto exige dos últimos uma visão global de todos os setores. Não
obstante essa diferença, dentro da nova unidade de produção automatizada, os trabalhadores
são integrados de uma forma inédita. Observa-se ainda, segundo Mallet, uma hierarquização
16
entre eles, só que desta vez no interior de um mesmo grupo social. Há uma homogeneização
do trabalho, mas nivelado por cima. A automação destrói a parcelização do trabalho e
constitui, ao nível da equipe, a visão do trabalho polivalente. 2) De outro lado, devotados à
pesquisa e ao estudo, à comercialização, etc. encontram-se os "techniciens des bureaux
d'études". Apesar da separação fisica destes trabalhadores dos operários da fábrica e apesar
do sentimento de superioridade que anima os primeiros, as condições de trabalho nas
unidades intelectuais de produção, com a mecanização do escritório, a rotinização das
tarefas e a submissão dos talentos à lógica da acumulação, assemelham-se às condições
experimentadas pelos operários. Ao que o Gorz de 1964 acrescenta: "técnicos, engenheiros,
estudantes, pesquisadores, descobrem que são assalariados como os outros ( ... ). Descobrem
que a pesquisa a longo prazo, o trabalho criador de soluções originais, a paixão pela
profissão, são incompatíveis com os critérios de lucratividade capitalista ( ... ). Descobrem-se
subordinados à lei do capital, não somente no trabalho, mas em todas as esferas da vida
( ... )". Sem dúvida Gorz tem em mente o fato, sublinhado por Weber, de que o capitalismo
operou "uma separação entre a massa dos pesquisadores ( ... ) e seus 'meios de produção',
análoga à que tem lugar na empresa capitalista entre os trabalhadores e os mesmos meios".
Além disso, voltando a Mallet, as diferenças que eventualmente persistem entre as duas
categorias, como remuneração diferenciada, não transformam os técnicos de escritório em
uma aristocracia do trabalho, mas em modelos para os demais trabalhadores. Estas
condições permitem a Mallet abrigar as duas categorias por ele observadas sob a mesma
rubrica de "nova classe operária".
O Gorz de 1980 rompe com esta doutrina. E com o seguinte argumento: "(Marx)
acreditava ter finalmente encontrado, no operário politécnico, a figura do proletário
reconciliado com o proletariado, do sujeito da história encarnado em um indivíduo de carne
e osso. Ora, Marx enganou-se. E, na sua esteira, enganaram-se todos os que [Gorz inclui a
si próprio numa nota de rodapé- FH] pensavam que o aperfeiçoamento das técnicas de
produção e sua automatização iriam suprimir o trabalho não-qualificado, deixando subsistir
J I
apenas trabalhadores técnicos de nível relativamente elevado, com uma visão global dos
processos técnicos e capazes de autogerir a produção. Sabe-se, conclui Gorz, que ocorreu
exatamente o contrário".
O pobre Marx, outrora criticado por ter previsto a desqualificação do trabalho com o
desenvolvimento da indústria, é agora acusado de ter previsto uma qualificação que nãc
aconteceu. Infelizmente, não ocorreu a Gorz (ou a Mallet) uma hipótese bastante verossíme
defendida, por exemplo, por Daniel Bel!: a de que houve uma cisão irrevogável no seio da
classe assalariada. Divirjo de Bel!, não obstante, no que concerne à natureza dessa cisão.
Para elucidar definitivamente esta questão da qualificação, tomarei os próprios textos de
Marx, analisados com brilho por Rui Fausto [em "A Pós-Grande Indústria nos Grundrisse (e
para além deles)", in Lua Nova, nov/89, no. 19], para oferecer uma alternativa.
Antes de mais nada, como está em jogo as próprias premissas ontológicas da teoria
marxista (como se verá), convém relembrar a apresentação clássica do movimento do
capital. Até um certo ponto da apresentação de Marx, capitalistas e trabalhadores
encontram-se livremente no mercado dispostos a trocar aquilo que cada um dispõe, o
primeiro, uma determinada quantidade de dinheiro, o segundo, a mercadoria força de
trabalho. E o fazem, respeitando estritamente o princípio geral da troca de equivalentes, pelo
qual as mercadorias se trocam pelo trabalho socialmente necessário à sua reprodução. No
entanto, quando se passa à análise do processo de acumulação, o movimento contínuo do
capital perde seu caráter aparentemente fortuito e a própria liberdade de contrato se reduz a
simples aparência. Perde-se, assim, a própria noção de troca de equivalentes e, o que assim
parecia, se revela apropriação sem equivalente do trabalho alheio. Pelo menos até a grande
indústria, o fundamento da riqueza continua sendo a massa de tempo de trabalho utilizado
na produção. Assim, Marx estabelece: "a troca do trabalho vivo contra trabalho objetivado,
isto é, a posição do trabalho social na forma da oposição entre capital e trabalho - é o último
desenvolvimento da relação valor, e da produção que repousa sobre o valor. Sua
18
pressuposição é e permanece - a massa de tempo de trabalho imediato, o quantum de
trabalho utilizado como fator decisivo da produção da riqueza".
Contudo, a continuação deste trecho dos Grundrisse é surpreendente. Marx
prossegue: "mas à medida em que a grande indústria se desenvolve, a criação da riqueza
efetiva se toma menos dependente do tempo de trabalho e do quantum de trabalho utilizado, /
do que da força dos agentes que são postos em movimento durante o tempo de trabalho,
poder que por sua vez- sua poderosa efetividade- não tem mais nenhuma relação com o
tempo de trabalho imediato que custa à sua produção, mas depende antes da situação geral
da ciência, do progresso da tecnologia, ou da utilização da ciência na produção". Em
seguida, Marx acrescenta: "a riqueza efetiva se manifesta ... numa desproporção monstruosa
entre o tempo de trabalho empregado e seu produto, assim como na desproporção
qualitativa entre o trabalho reduzido a uma pura abstração e o poder do processo de
produção que ele vigia". Finalmente, conclui: "o trabalho não aparece mais até o ponto de
estar incluído no processo de produção, mas o homem se relaciona antes como guardião e
regulador do próprio processo de produção".
Ora, se assim é, o desenvolvimento da superindústria" capitalista, definida como
aquela que incorpora a ciência como fator de produção (o que rigorosamente só acontece
décadas depois de Marx ter escritos essas linhas), representa a negação do trabalho no
interior do próprio sistema. É da ciência posta em movimento durante o tempo de produção,
e não mais do tempo de trabalho socialmente necessário na produção, que a criação da
riqueza efetiva depende cada vez mais. Essa negação progressiva do trabalho ainda no seio
do capitalismo traz muitas conseqüências. Em primeiro lugar, a distinção entre trabalhadores
produtivos, reduzidos a vigias, e trabalhadores improdutivos interiores à produção se torna
tênue, ou antes, o trabalho produtivo se aproxima morfologicamente do improdutivo, sem
com ele se confundir. Mas só o trabalho produtivo do vigia se aproxima do trabalho
°) prefiro o tenno "superindústria" à "pós-grande indústria" para evitar confusão com o termo "pósindustrial".
19
improdutivo. O "trabalho" portador do conhecimento científico, executado primordialmente
nos Departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento, não.
Marx não conheceu o exército de homens de ciência (cientistas, engenheiros e
técnicos) contratado pelo capital. Não podia, portanto, prever as conseqüências da
intemalização e mecanização do processo de inovação tecnológica promovido pela
superindústria (fato só descrito por Schumpeter em 1942). Entre outros desdobramentos, na
superindústria, o "trabalho" portador do conhecimento científico já não é mais trabalho
simples potenciado. Se na grande indústria a redução do trabalho qualificado à trabalho
simples já era complexa, ainda que se estabelecesse que a lei do valor antes exigia esta
redução do que a pressupunha, na superindústria, esta redução, dada a negação progressiva
do trabalho como fundamento da riqueza, está excluída. A rigor, na superindústria, o
"trabalho" portador do conhecimento científico não é sequer trabalho. É, preferencialmente,
atividade.
É como se a posição da ciência estabelecesse uma segunda "diferença" entre trabalho
simples e trabalho qualificado (que deixa de ser trabalho e passa a ser atividade),
detenninando uma contradição entre eles. Por certo, uma contradição diferente daquela que
existe entre o trabalho simples e o trabalho (na verdade, função e não trabalho) de gerência,
pois o último está ligado com a exploração, o que não é o caso de uma atividade inovadora.
Pode até continuar existindo, no interior da superindústria, o clássico trabalho qualificado
enquanto trabalho simples potenciado- como parece ser o caso do trabalho na organização
toyotista-, mas o que estamos discutindo nesse momento é a incorporação da atividade.
científica (que passa a fator de produção) para o interior do universo produtivo, atividade 1
que não se confunde com trabalho.
E os critérios para distinguir uma atividade inovadora de um trabalho qualificado são
os seguintes. 1) Em primeiro lugar, a atividade inovadora não tem relação com o tempo de
trabalho, embora exercida "durante" o tempo de trabalho. Em outras palavras, o agente
inovador, ao contrário do trabalhador qualificado, não tem jornada de trabalho. Ele pode até
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ser obrigado a "bater o ponto", para efeitos legais, mas, a rigor, não tem jornada fixa. Isto só
é possível porque os agentes envolvidos com o processo de inovação exercem atividades de
cunho teórico abstrato, dos técnicos até os cientistas, passando pelos engenheiros. Suas
atividades incomodam-lhes o sono, perturbam suas férias, etc., o que não significa
necessariamente que elas não lhes sejam prazerosas. Não se aplica aqui o velho chavão
"levar trabalho para casa", no sentido de levar material para manusear, sejam fichas, livros
contáveis, registros, cálculos, etc. Esses agentes inovadores não levam trabalho para casa. O
"trabalho", de certa maneira, os acompanha.§ o trabalhador simples, regra geral, vende ao
capital sua força tisica e o trabalhador qualificado, sua força mental, os agentes inovadores
vendem sua força anímica. 2) Em segundo lugar, o padrão de reprodutividade dessa forç·a
produtiva guarda mais relação com o antigo virtuose medieval do que com o trabalhador
moderno. O processo de reprodução já não é tão anônimo. A rigor, o tipo ideal de agente -------·-·- .. ·--·-··-
inovador é o pós-graduado que se submeteu à uma orientação pessoal de alguém que detém
uma parcela de conhecimento não totalmente socializado (saber de fronteira), seja por conta
do nível de profundidade, seja por conta do grau de especialização. Há, por certo, muitos
agentes inovadores auto-didatas ou que não contaram com um apoio pessoal à moda da
relação mestre-aprendiz medieval ou, ainda, que não contaram com nenhum apoio
institucional, estatal ou privado. Esses casos, não obstante. tendem a se tornar cada vez mais
raros. 3) Em terceiro lugar, o rendimento de um agente inovador, apesar da forma que
assume, não é, a rigor, salário. Esse rendimento, aliás, guarda algumas semelhanças com a
renda fundiária. Da mesma forma que a propriedade fundiária é o outro do capital (seu
pressuposto) e a renda fundiária é a contrapartida do monopólio da classe proprietária da
terra, a ciência é o outro do trabalho (posto pelo capital) e a "renda do saber" é a
contrapartida da posse (oligopolística) de conhecimento retativamente exclusível
(excludahle), para usar um jargão dos economistas (sobre isso, diremos um pouco mais,
abaixo). Tecnicamente, um bem exclusível é aquele que o proprietário pode evitar que
outros o usem. Um bem relativamente exclusível é um conceito análogo aplicável ao caso de
21
uma situação oligopolística. O que toma o saber de fronteira, incorporado na tecnologia de
ponta, um bem relativamente exclusível é o fato de que o acesso a ele e, portanto, sua oferta
são, por definição, limitados. Em outras palavras, está-se se defendendo a hipótese de que,
sob a superindústria capitalista, a fronteira do saber move-se numa velocidade superior
àquela do processo de socialização do saber. 4) Em quarto lugar, a atividade inovadora, ao
contrário do trabalho qualificado, não produz valor. Marx, corretamente, nas citações acima,
declara a ciência fundamento da riqueza, e não do valor, e identifica a posição do trabalho
social na forma da oposição entre capital e trabalho, e não qualquer outra oposição, como o
último desenvolvimento da relação valor. O fato de o capital intemalizar a ciência ao
processo produtivo, contratando agentes inovadores com esse objetivo, fato estranho ao
século XIX, não muda esse aspecto da questão. Sem dúvida, o resultado da atividade de
pesquisa e desenvolvimento se incorpora às mercadorias. Mas, ela não é uma atividade
produtiva, no sentido exato da palavra. Ela não produz mercadorias, embora funcione
como promotora do aperfeiçoamento do processo de produção de mercadorias (podemos
até utilizar aqui, num sentido muitíssimo menos amplo, o conceito de "meta-trabalho" ou
"trabalho reflexivo" de Claus Offe). Habermas, em Crise de Legitimação do Capitalismo
Tardio, se dá conta da complexidade do problema, sem, contudo, resolvê-lo: "o trabalho
reflexivo, diz ele, não é produtivo num sentido da produção direta da mais valia. Mas não é
também improdutivo; pois então não teria efeito líquido na produção de mais valia". '\
Quanto a mim, prefiro afirmar que, embora a intemalização da Ciência ao universo
produtivo não comprometa a teoria do valor trabalho, o mesmo não se pode dizer da teoria
dos preços, pelo menos dos preços daqueles novos produtos que o capitalismo despeja
diariamente no mercado. O processo de inovação tecnológica que, nos tempos de Marx,
podia ser visto como uma sucessão de pontos discretos relativamente visíveis, tomou-se,
com a internalização da ciência como fator de produção, um processo contínuo. Quando um
certo quantum de conhecimento relativamente exclusível incorpora-se numa nova
mercadoria, ela goza do mesmo grau de irreprodutibilidade daquela fator de produção que a
22
concebeu. Até que esse conhecimento ralativamente exclusível deixe de sê-lo, os preços das
novas mercadorias sofrem uma distorção na exata medida da excludibilidade do saber que
elas comportam. Dessa "distorção", que representa uma segunda negação da lei do valor,
apropriam-se os capitalistas proprietários dos "meios de produção da ciência" e os agentes
inovadores que os põem em marcha. E a forma da divisão entre eles atende mais à critérios
extra-econômicos que econômicos: expectacionais, idiossincráticos, pessoais etc. Isso vem
confirmar a tese de que "renda do saber" não é salário.
Por certo, a inovação tecnológica e o lucro extraordinário dela decorrente são velhos
conhecidos da teoria marxista. Entretanto, o novo na superindústria é que o lucro
extraordinário toma-se um "fluxo ordinário" e, isso, graças à ação de pessoas contratadas
diretamente pelo capital para essa função. Assim, o extraordinário torna-se "ordinário", mas
só como contrapartida de ser compartilhado: o capital paga o preço, certamente inferior ao
ganho, de não mais se apropriar dele exclusivamente; em compensação, sente o aconchego
da sua presença permanente.
Essas considerações deixam claras as divergências que mantenho com alguns dos
teóricos já mencionados. O conceito de "habilidade vendável", que Giddens empresta de
Weber, e o conceito de "skill", tal como usado por Wright, tornam-se mais rigorosos, diria
até compreensíveis, a partir do conceito de "conhecimento relativamente exclusível ", uma
variante do conceito utilizado pelos economistas·. Ao contrário desses teóricos, porém, não
vejo razão para definir a classe que detém esse conhecimento como uma classe média.~
totalidade dos agentes inovadores merece a denominação de classe por deter aquilo que ------- - ......... ·-·-··· ··- - •.. .. .. .. . .. .. . ----···· . .. /-··-·-----deixa de ser simples produto social para se tornar mais um fator de produção.} Como as
··-----·-·····--·--····· ·-···· - ............ ······-·- - ·'"
demais classes, ela são a expressão imediata de (novas) relações de produção (postas pelo
0
) Veja-se. por exemplo, o elegante modelo matemático neo-clássico, desenvolvido pelo economista neoschumpcteriano Paul Romer, em "Endogenous Technological Change"- in Joumal of Political Economy, 1990. vol. 98. S7 l.
23
capital). Mas essa classe é simplesmente outra classe e, à título nenhum, encontra-se no
meio de quaisquer outras duas.
Disso tudo decorre também minhas divergências com Mallet e o primeiro Gorz. Não
se pode classificar essa classe como uma das categorias que compõe uma suposta nova
classe trabalhadora. Para mim, essa classe é distinta da classe dos trabalhadores assalariados
pelo simples fato de não vender propriamente força de trabalho, como espero ter deixado
claro acima. A natureza do contrato que esta classe estabelece com a classe dos capitalistas
é de natureza distinta. Se, por um lado, a relação entre agentes inovadores envolve o
conceito de alienação (tanto quanto a relação entre capitalistas e trabalhadores), por outro, a
relação entre agentes inovadores e capitalistas não envolve a noção de exploração (tanto 1
quanto a relação entre capitalistas e proprietários fundiários).
Das tendências até aqui apresentadas, podemos inferir que o trabalho é negado em
pelo menos quatro níveis distintos: 1) o crescimento do lumpemproletariado representa a
negação do trabalho numa esfera que é exterior ao sistema; 2) o crescimento do número de
trabalhadores improdutivos exteriores à produção representa a negação do trabalho numa
esfera que embora exteric;>r ao sistema, pertence à exterioridade no sistema; 3) o crescimento
do número de trabalhadores improdutivos que se vendem ao capital representa uma negação
parcial do trabalho produtivo já no interior do sistema~ e 4) com a posição dos homens de
ciência como agentes da produção, o trabalho perde centralidade no interior da própria
produção.
Os sociólogos dividem-se em relação à atenção que dedicam a cada um desses
fenômenos. Há quem prefira privilegiar o primeiro fenômeno, como recentemente Gorz,
alargando o conceito de lumpem, por meio do conceito de "não-classe de não
trabalhadores". Outros preferem dedicar a este aspecto particular somente alguns
comentários sobre os programas de renda mínima garantida para os excluídos da sociedade
do trabalho. Alguns mesclam o segundo e o terceiro fenômenos para cunhar o conceito de
"classe de serviço" (Renner). Outros, o terceiro e o quarto, para cunhar o conceito de "nova
24
classe operária" (Mallet). Alguns chegam a mesclar os três últimos para caracterizar a
chamada sociedade pós-industrial (Bell, Touraine, Offe). Para mim, tratam-se de fenômenos
distintos e igualmente importantes, não obstante estarem os três primeiros fundamentados
· exclusivamente no último.
Para perceber melhor esse movimento, ve3amos, ainda no âmbito da discussão
concernente ao conceito de "classe em si", como as coisas se passam do ponto de vista
dinâmico. As tendências estudadas até aqui foram analisadas do ponto de vista de estática,
comparativamente à teoria marxista tradicional. Discutiu-se, particularmente, os aspectos
lógicos da questão. Contudo, não se descreveu o processo por meio do qual se chegou à
estrutura de classes contemporânea.
O primeiro ponto a abordar, num contexto dinâmico, diz respeito à questão
distributiva. Sabe-se que nos textos de Marx há uma diferença de abordagem dessa questão.
Em O Capital, Marx analisa o problema do ponto de vista da tendência objetiva do sistema,
estando as classes em inércia. Em Salário, Preço e Lucro, Marx estuda a distribuição, já
considerando os efeitos da luta de classes. É verdade que em O Capital há pelo menos uma
exceção a esta regra, concernente à determinação da jornada de trabalho. Neste caso, a luta
de classes é inserida no plano do discurso de O Capital. Mas isso é feito por uma razão
particular. "O capitalista, diz Marx, afirma o seu direito como comprador, quando procura
fazer a jornada de trabalho tão longa quanto possível, e quando possível, de uma jornada de
trabalho, duas. Por outro lado, a natureza específica da mercadoria vendida contém uma
limitação de seu consumo pelo comprador, e o trabalhador afirma seu direito como
vendedor, quando quer limitar a jornada de trabalho a uma grandeza normal determinada.
Assim, há uma antinomia, direito contra direito, ambos igualmente legitimados pelo
intercâmbio de mercadorias. Entre dois direitos iguais, conclui Marx, decide a violência".
Ora, aqui não há propriamente luta de classes, uma vez que é a própria lógica do
intercâmbio de mercadorias que coloca o trabalhador frente ao capitalista de igual para
igual. A "luta" aparece para resolver uma antinomia das leis do sistema.
25
Com o salário, ou seja, o preço da mercadoria força de trabalho, as coisas não se
passam assim. O preço da força de trabalho é determinada por uma lei geral: como qualquer
mercadoria, seu preço é determinado pelo tempo de trabalho necessário à sua reprodução. A
·Juta que almeja um aumento do preço da força de trabalho para além do estabelecido pela lei
geral não vem resolver uma antinomia do sistema, mas subverter essa lei geral. "Sem dúvida,
como ensina Fausto, essa lei introduz um 'elemento histórico e moral'. Mas, este é à sua
maneira também inerte, porque remete ao 'nível de civilização de um país' inclusive e
essencialmente aos 'hábitos e exigências vitais com que se formou a classe dos trabalhadores
livres"'.
Assim, o discurso de O Capital contempla, a partir do progresso técnico, dois
vetores (exclusive a luta de classes) na determinação do salário: por um lado, barateia as
mercadorias que garantem a reprodução da força de trabalho, o que aumentaria o poder de
compra do salário real; por outro lado, aumenta a oferta da mercadoria força de trabalho, o
que provocaria sua desvalorização. Respeitada a lei geral do sistema, entretanto, não há
dúvida de que a acumulação de riqueza, de um lado, implica acumulação de pobreza, de
outro. Mas isso, do ponto de vista da tendência objetiva. Quando Marx introduz, em
Salário, Preço e Lucro, o elemento "luta de classes" na discussão sobre salário, ele,
aparentemente, abre espaço para a possibilidade de que a luta entre trabalhadores e
capitalistas pudesse não ser inglória para os primeiros. Marx vislumbra, como caso limite, a
hipótese do trabalhador conseguir não só um aumento do salário real, mas também a
manutenção do valor da força de trabalho. Num contexto em que as mercadorias são
barateadas pelo progresso tecnológico, isto representaria um enriquecimento absoluto do
trabalhador. Esse caso limite proposto por Marx foi realmente o que aconteceu nos países
capitalistas avançados. E o que parece ter tomado o caso limite um caso padrão foi a
velocidade do progresso por meio da transformação da ciência em fator de produção. A
partir daí, a luta distributiva passou a ser muito mais custosa para o capital, e sua
contrapartida, a pacificação dos conflitos distributivos, tomou-se um bom negócio.
26
Com isso, muitas hipóteses inverossímeis nos tempos de Marx tornaram-se realidade.
Mesmo no começo do século, dificilmente poderia se imaginar uma sociedade de consumo
de massa nos moldes das atuais. Discutiam-se teses como as de crise por insuficiência de
consumo (Rosa) ou a de produção de máquinas por máquinas (Tugan). A revolução
keynesiana que concebeu a insuficiência de demanda por conta da volubilidade do
investimento (e não do consumo) só aparece em 1936 (data da publicação da Teoria Geral
de Keynes).
Sociedade de consumo, em geral, todas são. A expressão é aqui utilizada para
caracterizar uma situação inédita na história na qual o rendimento da classe dominada
compra cada vez mais valores de uso. Isso evidentemente não implica necessariamente
maior satisfação, já que nada se disse a respeito do que o salário não compra; isto quer
dizer: a satisfação só aumentaria indubitavelmente caso o nível de necessidades
permanecesse constante ou aumentasse menos do que o poder de compra do salário medido
em valores de uso, o que não parece ser o caso. Mas ainda assim, nada disso modifica a
novidade histórica dessa situação.
Na sociedade de consumo, o trabalhador, como em todas as sociedades, utilizará seu
rendimento para dispor daqueles bens, ditos de primeira necessidade, que garantem a
reprodução da sua capacidade de trabalho: habitação, vestuário, alimentação. Mas,
diferentemente das outras sociedades, o trabalhador dos países capitalistas avançados podem
vestir-se melhor, comer mais e melhor, morar melhor, comprar supérfluos, investir no seu
próprio lazer ou ainda poupar. As conseqüências óbvias desse aumento de disponibilidade
material das massas trabalhadoras só poderiam ser uma hipertrofia do setor comercial e
financeiro, uma hipertrofia do escritório da indústria e o fortalecimento igualmente
imprevisto da produção capitalista de mercadorias imateriais.
Uma sociedade de consumo de massa requer, em primeiro lugar, meios de
distribuição de massa. E dada as defasagens de racionalização do setor de distribuição em
relação ao setor de produção, o primeiro experimenta uma hipertrofia em relação ao último.
27
O progresso técnico na indústria e principalmente na agricultura propiciaram uma poupança
significativa do fator trabalho na produção da maioria dos bens materiais. A produção
agrícola por habitante aumentou significativamente ao mesmo tempo em que a parcela da
· população empregada no campo caiu drasticamente. Na indústria, embora a proporção dos
trabalhadores em relação ao total da força de trabalho tenha se mantido constante (cerca de
1/3), o aumento da produtividade do trabalho também foi estupendo. Do lado da
distribuição, entretanto, o progresso nesta área tem sido bem mais lento. Apesar de que até
alguns economistas schumpeterianos, numa crítica ao mestre, têm despertado a atenção para
o fenômeno da inovação nas áreas administrativas em geral, o fato inquestionável é que este
tipo de inovação acontece mais raramente e tem um menor alcance que o progresso técnico
na produção propriamente dita. Além disso, o setor comercial enfrenta um tipo de problema
menos frequente no âmbito da produção. O industrial, em condições normais, planeja o
volume a ser produzido num determinado período de tempo e distribui a produção por esse
período de uma forma regular, considerando, é claro, descanso remunerado, férias, adicional
por horas extras trabalhadas, etc. Dessa forma, o industrial procura dimensionar otimamente
a planta e, principalmente, o emprego, mesmo sabendo que as encomendas do setor de
distribuição, composto de uma rede de varejistas e atacadistas, podem flutuar ao longo do
tempo. Quando o industrial não pode impor ao setor distribuidor um regime qualquer de
cotas, obrigando os comerciantes a manterem o ritmo de compras, ele, preventivamente,
reserva um montante adequado de capital de giro, para quando as encomendas diminuem, e
conserva um volume razoável de estoques, para quando elas crescem. Já o comerciante, por
seu turno, não pode proceder exatamente da mesma maneira. Ele depende de uma variável
que ele não pode controlar: o comportamento do consumidor que é quem decide o
momento e o lugar da compra. Sendo assim, ainda que ele preveja os periodos de pico e de
baixa de vendas, ele é obrigado a manter, para prestar um bom serviço ao público, um
aparato de atendimento superdimensionado. Pelas razões apontadas, uma sociedade de
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consumo de massa não poderia deixar de observar um aumento importante do emprego no
setor comercial relativamente ao total dos assalariados.
No setor financeiro da economia, as coisas não se passam de forma muito diferente.
Quando se diz que, na sociedade de consumo, o trabalhador compra cada vez mais valores
de uso, diz-se implicitamente que o trabalhador tem uma capacidade cada vez maior de
poupança. O trabalhador, pode agora, ou seja, é-lhe facultado, poupar. O salário fixado no
nível de subsistência não permitiria essa possibilidade. E diante dessa faculdade, o setor
financeiro, cujo crescimento Marx havia previsto, conhece uma instituição com a qual Marx
não sonharia: o banco de varejo. Erige-se um sistema bancário de dimensões enormes,
lançando "produtos" os mais exóticos no mercado financeiro, com o fim de captar a eventual
poupança do trabalhador (e da pequena burguesia que não sai de cena). Os bancos ,. ! (J\ \.M
administram fundos de pensão, fundos de ações, fundos de renda fixa, intermedeiam o
lançamento de debêntures de sociedade anônimas, vendem apólices de seguros os mais
variados, criam sofisticados mecanismos de crédito ao consumidor, fundos de capitalização,
planos de previdência privada, além de um notável sistema de pagamento e recebimento de
contas, carnês, duplicatas, etc. O número de agências cresce e distribuem-se também pelos
bairros residenciais, incluindo os periféricos. Cresce também, como conseqüência óbvia, o
número de trabalhadores assalariados do setor financeiío relativamente ao número total de
trabalhadores assalariados.
Outro fenômeno a destacar é a hipertrofia do escritório da indústria. O brutal
desenvolvimento tecnológico ao mesmo tempo que elimina, cria novos postos de trabalho, o
que exige um departamento pessoal e de treinamento ágil. Novas matérias-primas são
continuamente lançadas no mercado, bem como mais modernos bens de capital, o que exige
um departamento de compras. O sistema bancário, como vimos, cresce. Com ele, fortalece-
se os mercados de ações, o de renda fixa, as movimentações interbancárias, o mercado
creditício, etc. exigindo da empresa produtiva um atento departamento financeiro que
otimize o retorno de seu por(folio de investimentos. Cresce o comércio, nacional e
29
internacional, muitas vezes confiado à pequena burguesia (em virtude dos baixos ganhos de
escala neste setor e em virtude do enorme sistema tributário e previdenciário estatal que
favorece a pequena empresa sonegadora): erije-se um poderoso departamento comercial
dentro das empresas produtivas. Evidentemente, parte dessas funções podem ser
terceirizadas, o que, em absoluto, muda a natureza do fenômeno.
Mas há ainda outro setor da economia que cresce com a sociedade de consumo de
massa: o setor de produção de mercadorias imateriais, muitas vezes erroneamente chamado
de setor de serviços· (em sentido estrito). Se aumenta o poder de compra de bens materiais
e o poder de poupança do trabalhador, é claro que aumenta o poder de compra de bens·
imateriais, abrindo-se assim mais um espaço para a exploração de tipo capitalista. Neste
caso em especial, vale a pena uma análise mais detida dos textos de Marx. Numa passagem
ilustrativa das possibilidades de produção imaterial, Marx declara: "uma cantora que canta
como um pássaro é um trabalhador improdutivo. Se ela vende seu canto é nessa medida
trabalhadora assalariada ou vendedora de mercadorias. Mas a mesma cantora, contratada
por um empresário que a faz cantar para ganhar dinheiro é um trabalhador produtivo, por
que produz diretamente capital". Dissecando os momentos constitutivos da passagem,
percebemos quatro possibilidades distintas. A primeira, de pouco interesse, trata da
produção não propriamente econômica: uma cantora que canta enquanto se banha, ou
• ) O setor de serviços, rigorosamente falando, não produz bens materiais ou imateriais. É o caso de serviços médicos, serviços de segurança, serviços de esteticismo etc., prestados por profissionais autônomos que. regra geral. detêm os meios necessários para oferecê-los. Essas atividades. desde sempre, puderam também ser exploradas de forma capitalista, "proletarizando" aquele profissional autônomo que. ainda nessa situação, continua um prestador de serviço. Contudo, um fato que merece destaque é a recente conversão de alguns desses serviços cm "mercadorias". Exemplificando: um spa. uma academia de ginástica, uma rede de hotéis etc. não mais oferecem serviços propriamente, mas vendem como mercadoria aquilo que por natureza jamais poderia ser concebido como tal: Saúde. Beleza, Bem-Estar ele. Essas empresas. com suas dezenas de "operários". funcionam quase que como "indústrias". nas quais o corpo é um dos insumos e esse insumo, depois de transformado por operações as mais variadas. um novo produto. Mas não só os "bens terrenos" podem ser. por assim dizer, "industrializados". "Bens soteriológicos", que sempre foram oferecidos pelos "serviços religiosos'', passam a ser "produzidos". Não estamos vendo surgir, ante nossos olhos. uma verdadeira "indústria da salvação·· que suplanta os "serviços de salvação" e compete com a "indústria do entretenimento"? Aqui, porém. é o espírito- que também passa pelas mais exóticas experimentações- um dos insumos do processo. e um novo destino, o produto prometido
30
enquanto cozinha, ou para os amigos, numa festa de aniversário etc., sem dúvida produz o
canto, mas numa forma não econômica. Numa segunda possibilidade, a cantora poderá
cobrar para cantar, caso em que vende seu canto con_io um produto imaterial diretamente
para o consumidor. Mas a cantora pode também (terceira possibilidade), ao invés de vender
o canto como produto imaterial, vender sua força de trabalho para alguém que a utiliza
improdutivamente como valor de uso, tornando-se, nesse caso, um assalariado improdutivo
(exterior à produção). Por fim, a cantora pode vender sua força de trabalho a alguém que
explorará seu talento com objetivo de lucro. Às três últimas possibilidades correspondem as
figuras do trabalhador autônomo, do empregado doméstico e do trabalhador produtivo de
mercadoria imaterial, respectivamente.
Dessas três possibilidades econômicas, interessa-nos, a princípio, a última. A
produção não material, explorada pelo capital, pode resultar em mercadorias que existem
separadamente do produtor, podendo inclusive circular entre o ato da produção e o ato do
consumo, como livros, quadros, CDs etc. (caso que oferece poucas dificuldades teóricas
porque se asssemelha ao caso clássico de produção material); ou pode resultar em
mercadorias cujo consumo se dá no ato da produção: quando o capitalista explora o
trabalho de atores teatrais, cantores, artistas de circo etc. No caso da produção capitalista
não material (deixe ou não um resultado material, como na produção literária) o trabalhador
contratado pelo capital é um trabalhador produtivo porque troca sua força de trabalho por
uma parte do capital variável, produzindo mais-valia para ele. O caráter material ou não do
produto é irrelevante para a caracterização do trabalho produtivo enquanto tal. Marx
inclusive critica Adam Smith por ter considerado a materialidade do produto uma segunda
determinação necessária do trabalho produtivo, atribuindo essa sua postura à uma
concepção fetichista própria ao modo capitalista de produção.
Contudo, o próprio Marx reconhece que, como a produção imaterial na maior parte
dos casos não produz um resultado material, ela teria pouca importância no modo capitalista
de produção. O produto imaterial, ainda que possua valor de uso e valor de troca, não
31
podendo servir de suporte para o último, revela-se inadequado ao sistema por ex1gtr
consumo simultâneo à produção. Com efeito, das três categorias mencionadas, a do
autônomo, do doméstico e do ~ssalariado produtor de mercadoria imaterial, a teoria
marxista só previu o aumento relativo da segunda (que de fato ocorreu). Quanto aos
primeiros, os autônomos, que caracterizam-se basicamente pela propriedade dos meios de
produção (o barbeiro proprietário do salão, a costureira proprietária da máquina de costura,
o médico proprietário da clínica, etc.), Marx previu sua diminuição por meio de um processo
de assalariamento (que também ocorreu) que operou de forma muito variada e muitas vezes
velada (caso dos planos de saúde que proletarizam os médicos sem lhes desincumbir do
encargo de manter seus consultórios; caso da costureira que é "presenteada", em sua casa,
com uma máquina nova em troca de uma remuneração por peça que lhe rende mais que um
salário, mas poupa o capitalista dos encargos trabalhistas, etc.)
Não obstante os acertos de Marx quanto aos autônomos e domésticos, a sociedade
de consumo, no que toca à produção capitalista de mercadorias imateriais, mudou um pouco
o rumo das coisas. O maior poder de compra do trabalhador, medido em valores de uso,
aumentou a demanda por esse tipo de mercadoria, dando ensejo à exploração de tipo
capitalista de uma "indústria" de lazer e entretenimento sem precedentes na História, o que
elevou muito o número de trabalhadores assalariados nessas atividades exploradas pelo
capital. Mas, esse resultado está longe de ser o mais importante. Mais do que sobre a teoria
de classes, a chamada "indústria cultural" teve um efeito perturbador sobre a teoria da
co11sciê11cia de classe, obrigando Adorno e Horkheimer, seguidos por Habermas, a
modificar a teoria de Lukács.
Além dessas alterações na composição interna da classe dos trabalhadores
assalariados (pois como vimos, essa classe é formada, não só pelos operários, mas
igualmente pelos trabalhadores empregados pelo capital comercial e financeiro ou pelo
capital industrial para a execução de tarefas comerciais ou financeiras, bem como os
trabalhadores empregados pelo capital para a produção de bens imateriais), temos uma
32
outra alteração importante concernente a uma das categorias que compõem a camada dos
trabalhadores assalariados exteriores à produção, qual seja, a dos funcionários públicos.
Com a sociedade de consumo nasce a figura do contribuinte. Tanto quanto a palavra
"consumo" ou "consumidor", a palavra "contribuinte" está sendo usada aqui numa acepção
particular. No capitalismo clássico, os impostos que recaíam sobre os salários o faziam de
uma forma sempre indireta. Geralmente, o Estado taxava os gêneros de primeira
necessidade, encarecendo-os. Imposto direto sobre o contra-cheque era coisa, salvo engano,
inexistente. Com o advento da sociedade de consumo, contudo, criaram-se as condições
políticas para que o imposto de renda afetasse uma parcela significativa da classe
trabalhadora. Quem pode se dar ao luxo de consumir supérfluos ou mesmo poupar, pode
igualmente pagar impostos. Nesse sentido, se, de uma lado, o trabalhador virou consumidor,
de outro, o cidadão virou contribuinte. A contrapartida disso foi que o Estado passou a
assumir uma série de tarefas que, ou não eram rentáveis para a iniciativa privada, ou não
deviam sê-lo, aos olhos da opinião pública. Além dos gastos de defesa externa (exército),
manutenção da ordem interna (polícia), administração da justiça, relações exteriores, e
outras funções clássicas, o Estado criou uma estrutura para prestar serviços públicos,
especialmente nas áreas de educação e saúde, áreas que consomem cerca de 50% do
orçamento público (federal, estadual e municipal) de um país como os Estados Unidos,
orçamento que consome cerca de 30% do PIB! Como conseqüência, verificou-se um
notável aumento do número de funcionários empregados pelo Estado, sendo que em 1970,
esse número já chegava a quase 1 /6 da força de trabalho total.
Todas essas mudanças de forma por que passou o capitalismo avançado assentam-se,
como já disse, numa mudança essencial: a internalização e rotinização do processo de
inovação tecnológica. A pacificação da questão distributiva, o crescimento do comércio e do
sistema financeiro, o aparecimento da "indústria" do lazer e do entretenimento, bem como o
advento e estabilização do Welfare State, explicam-se a partir daquele fenômeno, descrito
pela primeira vez por Schumpeter. Mas a operacionalização dessa mudança só foi possível
33
graças a drásticas medidas de cunho material. As empresas passaram a investir um volume
enorme de recursos em pesquisa e desenvolvimento. Os departamentos de P&D criados para
esse fim acolheram um contingente expressivo de cientistas, engenheiros e técnicos
incumbidos de transformar o outrora discreto processo de destruição criativa num processo
contínuo e rotineiro. "Em 1920, conta-nos Braverman, havia [nos Estados Unidos] talvez
300 desses laboratórios [de pesquisa] de empresa, e em 1940, mais de 2200. Daí por diante,
empresas com um ativo tangível acima de 100 milhões de dólares tinham um pessoal de
pesquisa de 170 em média, e as que possuíam ativo acima de um bilhão de dólares
empregavam em média 1.250 pesquisadores. Os laboratórios da Bell Telephone,
empregando acima de 5.000 era, longe, a maior organização de pesquisa do mundo". Hoje,
os Laboratórios Bell contam com cerca de 30.000 pesquisadores espalhados pelos 5
continentes.
Os dados de 1960 do recenseamento americano revelam que cerca de 3% da
população era composta por cientistas, engenheiros e técnicos, metade dos quais
empregados pela indústria manufatureira, sendo que desses, 30% estavam diretamente
envolvidos com atividades de pesquisa e desenvolvimento. Tomando-se a população
economicamente ativa, tem-se que mais de 1,5% da força de trabalho total era composta por
agentes inovadores contratados exclusivamente pelo capital, ou seja, excluindo-se o
"exército científico de reserva" empregado pelo Estado e pelas universidades (ver Daniel
Bell). Isso significa uma proporção de mais de 1 agente inovador para cada 25 operários ou
para cada 7 "trabalhadores em escritório" empregados pela indústria!
Portanto, da análise das classes que acabamos de empreender, penso ser possível
identificar quatro classes distintas na sociedade superindustrial: 1) a classe constituída pelos
proprietários do capital, pelos funcionários do capital (alta gerência) e pelos proprietários
fundiários~ 2) a classe dos agentes sociais inovadores, portadores do conhecimento
científico-tecnológico aplicado à produção. Aqui uma observação se faz necessária. Muito
freqüentemente~ essa classe está envolvida num processo de inovação tecnológica, em geral,
34
executado em departamentos específicos. Mas, com o crescimento do trabalho em
escritório, não raramente encontram-se, dentro das empresas, agentes inovadores atuando
na área de inovações administrativas (esse fenômeno recente foi observado até por
discípulos de Schumpeter, que o criticam nesse particular): esses elementos, evidentemente,
compõem a classe em questão. Além disso, temos o "exército científico de reserva",
composto por professores universitários, pesquisadores de instituições públicas e privadas, e
afins. Note-se que, diferentemente do caso dos trabalhadores assalariados, não há membros
da classe tecno-científica exteriores à produção. Do ponto de vista teórico, inclusive
econômico, · importa menos a natureza de seu rendimento do que a função social que
exercem. E só uma teoria ingênua poderia enfocar instituições como, por exemplo, a
Universidade do ponto de vista exclusivo da reprodução simbólica da sociedade; 3) a classe
dos trabalhadores assalariados interiores à produção. E aqui é mister distinguir produtivos e
improdutivos, qualificados, semi-qualificados e não-qualificados, empregados, sub
empregados e desempregados eventuais; e 4) os "desclassificados", ou seja, a "não-classe
dos não-trabalhadores" {num sentido mais restrito que o de Gorz) composta pelos elementos
heterônomos da sociedade. Aceito de Gorz, como se vê, a sugestão de tratar uma não-classe
como classe porque, com efeito, o não-rendimento dessa categoria é também uma
conseqüência imediata das relações de produção, tanto quanto o salário ou o lucro. Ao lado
dessas quatro grandes classes. parece-me importante considerar, para efeitos estatísticos,
três camadas sociais que, a rigor, não pertencem a qualquer das classes sociais mencionadas:
a dos domésticos (que vendem sua força de trabalho como valor de uso), a dos autônomos
(que vendem bens e serviços produzidos com meios próprios) e a dos funcionários públicos.
A CENTRALIDADE DO TRABALHO HOJ;,
Ricardo Antunesl
Este texto pretende. por um lado. desenvolver alguns
significados e dimensees das mudancas em curso no mundo
do trabalho. bem como algumas das conseguências
<teóricas e empíricas) que se desdobram a partir destas
transformações. tais como a pertinência e a validade.
no mundo contemporâneo. do uso da categoria trabalho.
I
O mundo do trabalho viveu. como resultado das
transformações e metamorfoses em curso nas últimas
décadas, particularmente nos países capitalistas
avançados, com repercussões
do terceiro mundo dotados
significativas nos países
de uma industrialização
intermediária, uma múltipla processualidade: de um lado
verificou-se uma desproletarização do trabalho
industrial. fabril, nos países de capitalismo avançado.
Em outras palavras, houve uma diminuição da classe
lprofessor Livre Docente do Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas da UNICAMP. Publicou recentemente os
livros ADEUS AO TRABALHO? Ensaio sobre as Metamorfoses e a
Centralidade do Mundo do Trabalho, (Ed. Cortez/Ed. Unicamp.
1995) e O NOVO SINDICALISMO NO BRASIL <Ed. Pontes. 1995)
operária industrial tradicional. Mas. paralelamente.
efetivou-se uma significativa subproletarizaçSo do
trabalho. decorrência das formas diversas de trabalho
parcial. precário, terceirizado, subcontratado,
vinculado à economia informal. ao setor de serviços.
etc. Verificou-se.
heterogeneização.
trabalho.
As evidências
portanto, uma
complexificação e
significativa
fragmentação do
empíricas. presentes em várias
pesquisas. não nos permitiram concordar com a tese da
supressão ou eliminação da classe trabalhadora sob o
capital ismo avançado, especialmente quando se consta ta
o alargamento das múltiplas formas precarizadas de
trabalho. Isso sem mencionar o fato de que parte
substancial da classe-que-vive-do-trabalho encontra-se
fortemente radicada nos países intermediários e
industrializados como Brasil. México, India. Rússia.
China, Coréia, entre tantos outros. onde esta classe
desempenha atividades centrais no processo produtivo.
Ao invés do adeus ao proletariado, temos um amplo
leque diferenciado de grupamentos e segmentos que
compõem a classe-que-vive-do-trabalho. (Ver Antunes:
1995)
A década de 80 presenciou, nos países de capitalismo
avançado, profundas transformações no mundo do
trabalho, nas suas formas de inserção na estrutura
produtiva, nas formas de representação sindical e
2
política. Foram tao intensas as modificações que se
pode mesmo afirmar que a classe-que-vive-do-trabalho
presenciou a mais aguda crise deste século, que atingiu
não só a sua materialidade, mas teve profundas
repercussões na sua subjetividade e, no íntimo inter
relacinamento destes níveis, afetou a sua forma de ser.
Década de grande sal to tecnológico, a automação e
as mutações organizacionais invadiram o universo
fabril, inserindo-se e desenvolvendo-se nas relações de
trabalho e de produção do capital. Vive-se. no mundo da
produção, um conjunto de experimentos. mais ou menos
intensos. mais ou menos consolidados, mais ou menos
presentes, mais
embrionários. O
ou menos tendenciais, mais ou menos
fordismo e o taylorismo .iá não são
únicos e mesclam-se com outros processos produtivos
( neo-fordismo e neo-taylorismo) , sendo que em alguns
casos até substituídos, como a experiência japonesa do
"toyotismo" nos permite constatar. Novos processos de
trabalho emergem, onde o cronometro e a produção em
série são substituídos pela flexibilização da
producão, por novos padrões de busca de produtividade,
por novas formas de adequação da produção à lógica do
mercado. Ensaiam-se modalidades de desconcentração
industrial, buscam-se novos padrões de gestão da força
de trabalho, dos quais os "processos de qualidade
total" são expressões visíveis não só no mundo
japonês, mas em vários países de capitalismo avanoado
3
e do terceiro mundo industrializado. O "toyotismo"
penetra.
partes,
mescla-se ou mesmo substitui. em várias
o padre.o taylorismo-fordismo. (Sobre esta
outros, Murray, 1983: Sabel e
1991; Annunziato, 1989; Harvey,
e 1992b; Gounet,1991 e 1992).
polêmica ver,
Piore. 1984;
1992: Coriat.
Presenciam-se
entre
Clarke,
1992a
formas transitórias de produção, cujos
desdobramentos são também agudos, no que diz respeito
aos direitos do trabalho. Estes são desregulamentados,
são flexibilizados. de modo a dotar o capital do
instrumental necessário para adequar-se -à sua nova
fase.
Estas transformações. presentes ou em curso. em
maior ou menos escala, dependendo de inúmeras condições
econômicas, sociais, políticas, culturais. étnicas etc.
dos diversos
fundo no
países onde
operariado
são vivenciadas. penetram
industrial tradicional,
acarretando metamorfoses no trabalho. A crise atinge
ainda fortemente o universo da consciência. da
subjetividade dos trabalhadores, das suas formas de
representacão. das quais os sindicatos são expressão. (
Ver Antunes; 1995 ) Quais foram as conseqüências mais
evidentes e que merecem maior reflexão? A classe que
vive do trabalho estaria desaparecendo? (Gorz, 1982 )
Começamos inicialmente afirmando que
presenciar uma múltipla processualidade: de
verificou-se uma desproletarizaca.o do
-4
se pode
um lado
trabalho
industrial. fabril. manual, especialmente < mas na0 só
) nos países de capitalismo avançado. Em outras
palavras, houve uma diminuicão da classe operária
industrial tradicional. Pode-se presenciar também um
significativo processo de subproletarizacão
intensificado. presente na expansão do trabalho
parcial, precário, temporário, gue marca a sociedade
dual no capitalismo avançado. Efetivou-se uma
expressiva "terceirização" do trabalho em diversos
setores produtivos, bem como uma enorme ampliação do
assalariamento no setor de serviços; verificou-se uma:
significativa
através da
feminino no
heterogeneizacão do trabalho, expressa
crescente incorporação do contingente
mundo operário. Em síntese: houve
desproletarização do trabalho manual. industrial e
fabril: heterogeneização. subproletarização e
precarização do trabalho. Diminuição do operariado
industrial tradicional e aumento da classe-gue-vive-do
trabalho.
_Vamos dar alguns exemplos destas tendências, deste
múltiplo processo presente no mundo do trabalho.
Comecemos pela questão da desproletarizacão do trabalho
manual, fabril, industrial. Tomemos o caso da Franca:
em 1962, o contingente operário era de 7. 488. 000. Em
1975, esse número chegou a 8.118.000 e em 1989 reduziu
se para 7 .121. 000. Enquanto em 1962 ele representava
5
39% da população ativa, em 1989 esse índice baixou para
29,6%.(Bihr, 1990; 1991, 87/108)
Pode-se dizer que "nos principais países
industrializados da Europa Ocidental, os efetivos de
trabalhadores ocupados na indústria representavam cerca
de 40% da populacao ativa no começo dos anos 40. Hoje,
sua proporção se si tua próxima dos 30%. Se prevê que
baixará a 20 ou 25% no começo do próximo século" .
(Gorz. 1990b e 1990) Estes dados evidenciam uma nítida
redução do proletariado fabril, industrial, manual.
nos países de capitalismo avançado, quer em decorrência
do quadro recessivo, quer especialmente em função da
automação, da robótica e dos múltiplos processos de
flexibilização. ( Desenvolvemos mais detalhadamente
estas tendências em Antunes; 1995)
Há, paralelamente à essa tendência. uma
significativa expansão. heterogeneizacão e
complexif icacão da classe-que- vive-do-trabalho, dada
pela subproletarizacão do trabalho, presente nas formas
de trabalho precário, pare ial etc. A título de
ilustração: tomando-se o período de 1982 a 88, enquanto
deu-se na França uma redução de 501. 000 empregos por
tempo completo , houve o aumento de 111.000 empregos em
tempo parcial. (Bihr,1990; 1991,88/89) Ou seja,
enquanto em vários países de capitalismo ocidental
avancado viram decrescer os empregos em tempo
completo, paralelamente assistiram a um aumento das
6
formas de subproletarizacao. através da expansão dos
trabalhadores parciais, precários, temporários.
Gorz acrescenta que aproximadamente 35% a 50% da
população ativa britânica. francesa. alemã e americana
encontra-se
precários,
desempregada ou
parciais, dando a
desenvolvendo trabalhos
dimensão
correntemente se chama de sociedade dual.
daquilo que
( Gorz. 1990a
e 1990)
Do incremento da força de trabalho que se sub
proletariza, um segmento expressivo é composto por
mulheres. Dos 111.000 empregos parciais gerados na
Franca entre 1982/88, 83% foram preenchidos pela força
de trabalho feminina. (Bihr, 1990; 1991, 89) Pode-se
dizer que o contingente feminino tem se expandido em
diversos países onde a força de trabalho feminina
representa, em média, cerca de 40% ou mais. do
conjunto da força de trabalho.
Do mesmo modo, tem-se um intenso processo de
assalariamento do setor de serviços, o que levou à
constatação de que nas "pesquisas sobre a estrutura e
as tendências de desenvolvimento das sociedades
ocidentais altamente industrializadas encontramos. de
modo cada vez mais freqüente, sua caracterização como
'sociedade de servicos 1
• Isso se refere ao crescimento
absoluto e relativo do 'setor terciário 1
, isto é, do
'setor de servicos 1
". (Offe, Berger; 1991, 11)
7
Há. entretanto. outras conseqüências importantes que
sao decorrentes da revolução tecnológica: paralelamente
à redução quantitativa do operariado tradicional. dá-se
uma alteração qualitativa na forma de ser do trabalho.
A redução da dimensão variável do capital, em
decorrência do crescimento da sua dimensão constante -
ou, em outras palavras, a substituição do trabalho vivo
pelo trabalho morto oferece, como tendência. a
possibilidade da conversão do trabalhador em supervisor
e regulador do processo de produção, conforme a
abstração marxiana presente nos GRUNDRISSE. (Marx.
1972) Porém uma leitura desta passagem permite
constatar que, para
desta tendência ser
Marx, havia
plenamente
a impossibilidade
efetivada sob o
capitalismo, dada a vigência da lei do valor. (Idem.
Marx, 1972; 227/9) Portanto, sob o impacto
tecnológico há uma possibilidade levantada por Marx.
no interior do processo de trabalho, que se configura
pela presença da dimensão mais qualificada em parcelas
do mundo do trabalho, pela intelectualização do
trabalho no processo de criação de
pelo conjunto do trabalho social
valores, realizado
combinado. O que
permitiu Marx dizer que com o desenvolvimento da
subsunçSo real do trabalho ao capital ou do modo de
produção especificamente capitalista, não é o operário
industrial, mas uma crescente capacidade de trabalho
socialmente combinada que se converte no agente real do
8
processo de trabalho total, e como as diversas
capacidades de trabalho gue cooperam e formam a máquina
produtiva total participam de maneira muito diferente
no processo imediato da formaçao de mercadorias. ou
melhor, dos produtos - este trabalha mais com as mãos,
aquele trabalha mais com a cabeça, um como diretor
(manager), engenheiro ( engineer), técnico etc, outro,
como capataz (overloocker), um outro como operário
manual direto, ou inclusive como simples ajudante - ,
temos gue mais e mais funções da capacidade de trabalho
se incluem no conceito imediato de trabalho produtivo,
e seus agentes no conceito de trabalhadores produtivos,
diretamente explorados pelo capital e subordinados em
geral a seu processo de valorização e produção. Se se
considera o trabalhadoz· coletivo,de gue a oficina
consiste. sua atividade combinada
materialmente (materialiter) e de maneira
se realiza
direta num
produto total que, ao mesmo tempo, é um volume total de
mercadorias; é absolutamente indiferente que a função
de tal ou qual trabalhador - simples elo desse trabalho
coletivo- esteja mais próxima ou mais distante do
trabalho manual direto." (Marx, 1978; 71/72)
Isso evidencia gue, mesmo na contemporaneidade, a
compreensao do desenvolvimento e da auto-reprodução do
modo de produção capitalista é completamente impossível
sem o conceito de capital social total ... Do mesmo modo
é completamente impossível compreender os múltiplos e
9
agudos problemas do trabalho, tanto nacionalmente
diferenciado como socialmente estratificado, sem que se
tenha sempre presente o necessário quadro analítico
apropriado: a saber, o irreconciliável antagonismo
entre capital social total e a totalidade do trabalho."
(Mészáros, 1989; 17) Claro que este antagonismo é
particularizado em funcao das circunstâncias sócio-
econômicas locais, da insere ão de cada país na
estrutura global da produção de capital e da maturidade
relativa do desenvolvimento sócio-histórico global.
( Idem, 1989; 17 )
Por tudo
capitalismo,
empírica e
constata que
isso, falar em supressão do trabalho sob o
parece carente de maior fundamentação,
analítica, evidencia maior quando se
2/3 da força de trabalho se encontra no
Terceiro Mundo industrializado e intermediário nele
incluído a China) e onde as tendências apontadas tem um
ritmo particularizado.
O que de fato parece ocorrer é uma mudança
quantitativa (redução do número de operários
tradicionais), uma alteração qualitativa que é
bipolar: (o trabalhador torna-se, em alguns ramos, mais
qualificado, supervisor e vigia do processo de
produção"). No outro extremo da bipolarização, tem-se a
constatação de que desqualificou-se intensamente em
vários ramos, diminuiu em outros, como no mineiro e
metalúrgico. Há, portanto, uma metamorfose no universo
10
do trabalho. que varia de ramo para ramo. de setor para
setor, etc, que configura um processo contraditório
que qualifica em alguns ramos e desqualifica em
outros.( Lojkine; 1990 e Freyssenet;1989) Portanto,
complexificou-se, heterogeneizou-se
ainda mais o mundo do trabalho.
e fragmentou-se
Pode-se constatar. portanto, de um lado um efetivo
processo de intelectualizacao do trabalho manual. De
outro, e em sentido inverso, uma desqualificação e
mesmo subproletarização, expressa no trabalho precário,
informal, temporário etc. Se é possível dizer gue a
primeira tendência seria mais coerente e compatível com
o avanço tecnológico, a segunda tem sido uma constante
no capitalismo dos nossos dias. dada a sua lógica
destrutiva, o gue mostra gue nem o operariado
desaparecerá tão rapidamente e. o que é fundamental,
não é possível visualizar, nem mesmo num universo mais
distante, a eliminação da classe-que-vive-do-trabalho.
II
Estas indicações feitas acima. de maneira sintética.
nos permitem, nesta segunda parte deste ensaio.
problematizar algumas teses presentes nos críticos da
"sociedade do trabalho", bem como oferecer um esboço
analítico para o entendimento desta problemática. De
qual crise da "sociedade do trabalho" se trata? Há
11
uniformidade. quando se trata de desenhar esta análise
crítica?
Ao contrário daqueles autores que defendem a perda
da centralidade da categoria trabalho na sociedade
contemporânea, as tendências em curso, quer em direcao
à uma maior intelectualização do trabalho fabril ou ao
incremento do trabalho qualificado, quer em direção à
desqualificação ÓU à sua subproletarização,
permitem concluir pela perda desta centralidade nq
universo de uma sociedade produtora de mercadorias.'
Ainda que presenciando uma redução quantitativa com
repercussões qualitativas ) no mundo produtivo, o
trabalho abstrato cumpre papel deci~ivo na criação de
valores de troca. A redução do tempo físico de
trabalho no processo produtivo. bem como a redução do
trabalho manual direto e a ampliação do trabalho mais .,;
intelectualizado, não negam a lei do valor, quando
se considera a totalidade do trabalho, a capacidade de
trabalho socialmente combinada, o trabalhador coletivo
como expressão de múltiplas atividades combinadas.
Quando se fala da crise da sociedade do trabalho, é
absolutamente necessário qualificar de que dimensão se
está tratàndo: se é uma crise da sociedade do trabalho
abstrato (como sugere Robert Kurz, 1992) ou se se trata
da crise do trabalho também em sua dimensao concreta,
enquanto elemento estruturante do intercâmbio social
12
entre os homens e a natureza ( como sugerem Offe, 1989;
Gorz, 1982 e 1990 e Habermas, 1987. entre tantos
outros). No primeiro caso, da crise da sociedade do
trabalho abstrato. há uma diferenciacao que nos parece
decisiva e que em geral tem sido negligenciada. A
questão essencial aqui é: a sociedade contemporânea é
ou não predominantemente movida pela lógica do capital,
pelo sistema produtor de mercadorias? Se a resposta for
afirmativa, a crise do trabalho abstrato somente
poderá ser entendida como a redução do trabalho vivo e
a ampliação do trabalho morto.
A variante crítica, que minimiza e em alguns
casos acaba concretamente por negar a prevalência e a
centralidade da lógica capitalista da sociedade
contemporânea defende. em grande parte de seus
formuladores, a recusa do papel central do trabalho.
tanto na sua dimensão abstrata, que cria valores de
troca - pois estes já não seriam mais decisivos hoje -
quanto na sua dimensão concreta, uma vez que esta não
teria maior relevância na estruturação de uma
sociabilidade emancipada e de uma vida cheia de
sentido. Quer pela sua qualificação como sociedade de
serviços,
vigência
pós-industrial e pós-capitalista,
de uma lógica institucional
quer pela
tripartite,
viven~iada pela ação pactuada entre o capital, os
trabalhadores e o estado, nossa sociedade
comtemporânea, menos mercantil, mais contratualista ou
13
até mais consensual. nao mais seria regida centralmente
pela lógica do capital. Habermas faz a síntese
mais articulada desta tese: "A utopia da sociedade do
trabalho perdeu sua força persuasiva ... Acima de tudo,
a utopia perdeu seu ponto de referência na realidade: a
força estruturadora e socializadora do trabalho
abstrato. Claus Offe compilou convincentes ~indicações
da força
trabalho.
ob,ietivamente
produção e
decrescente
lucro na
de fatores como
determinação da
constituição e do desenvolvimento da sociedade em
geral'". E. depois de referir-se favoravelmente à obra
de Gorz. acrescenta: "Coracão da utopia, a emancipacão
do trabalho heterônomo apresentou-se, porém. sob outra
forma no projeto sócio-estatal. As condições da vida
emancipada e digna do homem já não devem resultar
diretamente de uma reviravolta nas condicões de
trabalho, isto é, de uma transformação do trabalho
heterônomo em auto-atividade." Habermas. 1987:
106/7 ) Embora Habermas refira-se à dimensão abstrata
do trabalho,
interpretativa,
potencialidade
evidencia-se.
que o trabalho
estruturante nem
nesta vertente
não tem mais
no universo da
sociedade contemporânea, como trabalho abstrato, nem
como fundamento de uma "utopia da sociedade do
trabalho", como trabalho concreto, pois "os acentos
utópicos deslocaram-se do conceito de trabalho para o
conceito de comunicação." C Habermas, 1987; 114 )
14
Cremos que sem a precisa e decisíva incorporaçao
desta distinção entre trabalho concreto e abstrato.
guando se diz adeus ao trabalho, comete-se um forte
equívoco analítico, pois considera-se de maneira una um
fenômeno gue tem dupla dimensão.
Enquanto criador de valores de uso, coisas úteis,
forma de intercâmbio entre o ser social e a natureza,
não nos parece plausível conceber-se, no universo da
sociabilidade humana, a extinção do trabalho social.
Se é possível visualizar, para além do capital. a
eliminação da sociedade do trabalho abstrato ação
esta naturalmente articulada com o fim da sociedade
produtora de mercadorias é algo ontologicamente
distinto supor ou conceber o fim do trabalho como
atividade útil, como atividade vital. como elemento
fundante, protoforma da atividade humana. Em outras
palavras: uma coisa
capitalismo, também
trabalho estranhado;
é conceber, com a eliminação do
o fim do trabalho abstrato, do
outra, muito distinta. é conceber
a eliminação, no universo da sociabilidade humana. do
trabalho concreto, gue cria coisas socialmente úteis e
que, ao fazê-lo, (auto)transforma o seu próprio
criador. Uma vez gue se conceba o trabalho desprovido
desta sua dupla dimensão, resta identifica-lo como
sinônimo de trabalho abstrato, trabalho estranhado e
fetichizado. A conseqüência gue disto decorre é,
15
entao. na melhor das hipóteses. imaginar uma sociedade
do tempo livre, com algum sentido, mas gue conviva
com as formas existentes de trabalho estranhado e
fetichizado.
Nossa hipótese é a de que, apesar da
heterogeneização, complexificação e fragmentação da
classe trabalhadora, as possibilidades de uma efetiva
emancipação humana ainda podem encontrar concretude e
viabilidade social a partir das revoltas e rebeliões
que se originam centralmente no mundo do trabalho: um
processo de emancipação simultaneamente do trabalho •. no
trabalho e pelo trabalho. Esta não exclui nem suprime
outras formas importantes de rebeldia e contestação.
Mas, vivendo numa sociedade que produz mercadorias.
valores de troca. as revoltas do trabalho acabam tendo
estatuto de centralidade. Todo o amplo legue de
assalariados que compreendem o setor de serviços, mais
os trabalhadores "terceirizados", os trabalhadores do
mercado informal, os "trabalhadores domésticos". os
desempregados, os
aos trabalhadores
sub-empregados etc, podem somar-se
diretamente produtivos e por isso,
atuando enquanto classe, constituirem-se no segmento
social dotado de maior potencialidade anticapitalista.
Esta possibilidade depende, evidentemente, das
circunstâncias sócio-econômicas locais; da posição
relativa de cada país na estrutura global da produção
de capital; da maturidade relativa do desenvolvimento
16
sócio-histórico global." ( Mészáros, 1987; 51/52 ), bem
como da própria sub,ietividade dos seres sociais que
vivem do trabalho, de seus valores politicos,
ideológicos, culturais, etc.
Ao contrário, portanto, da afirmacao do fim do
trabalho ou da classe trabalhadora há um outro ponto
que nos parece mais pertinente, instigante e de enorme
importância: nos embates desencadeados pelos
trabalhadores e os segmentos socialmente excluídos. que
o mundo tem presenciado, é possível detectar maior
potencialidade e mesmo centralidade nos estratos mais
qualificados da classe trabalhadora, naqueles que
vivenciam uma situacão mais "estável" e que têm,
conseqüentemente, maior participação no processo de
de criacão
fértil
segmentos
valor?
da ação
sociais
Ou. pelo contrário, o pólo mais
encontra-se exatamente naqueles
mais excluídos. nos estratos mais
subproletarizados? Sabe-se que aqueles segmentos mais
qualificados,
desenvolveram
papel central
mais intelectualizados, que se
junto com o avance tecnológico, pelo
que exercem no processo de criação de
valores de troca, poderiam estar dotados, ao menos
objetivamente, de maior potencialidade anticapitalista.
Mallet, 1973; ) Mas, contraditoriamente, estes
setores mais qualificados são exatamente aqueles que
têm vivenciado, subjetivamente, maior envolvimento e
subordinação por parte do capital, da qual a
17
tentativa de manipulaçao elaborada pelo toyotismo é a
melhor expressão, ou têm sido responsáveis, muitas
vezes, por ações que se pautam
Em inspiração neocorporativa.
enorme leque de trabalhadores
por concepções de
contrapartida, o
precários, parciais,
temporários etc, que denominamos subproletariado,
juntamente com o enorme contingente de desempregados,
pelo seu maior distanciamento ( ou mesmo exclusão ) do
processo de criação de valores teria, no plano da
materialidade, um papel de menor relevo nas lutas
anticapitalistas. Porém, sua condição de despossuído e
excluído o coloca potencialmente como um sujeito
social capaz de assumir ações mais ousadas, uma vez
que estes segmentos sociais não têm mais nada a perder
no universo da sociabilidade do capital. (Gorz, 1982;
1990; 1990a). Sua subjetividade poderia ser, portanto,
mais propensa à rebeldia. As recentes greves e as
explosões sociais. presenciadas pelos países
capitalistas avançados, especialmente nesta primeira
metate da década de 90, como a explosão de Los Angeles.
as inúmeras greves ampliadas dos trabalhadores
europeus, entre tantas outras,
elementos destes dois pólos
constituem-se em importantes
confrontações.
muitas vezes mesclando
da "sociedade dual",
exemplos destas novas
O capitalismo, em qualquer das suas variantes
contemporâneas. da experiência sueca à japonesa, da
18
alema à norte-americana. para não falar do Terceiro
Mundo, apesar das sua
eliminar as múltiplas
diferenças,
formas e
não foi capaz
manifestações
de
do
estranhamento mas, em muitos casos. deu-se inclusive um
processo de intensificação e maior interiorização, na
medida em
explicitamente
benefício do
gue se minimizou a dimensão mais
despótica, intrínseca ao fordismo. em
"envolvimento manipulatório" da era do
toyotismo ou do modelo japonês. Se o estranhamento é
entendido como a existência de barreiras sociais que se
opõem ao desenvolvimento da individualidade em direção
à omnilateralidade humana. à individualidade
emancipada, o capitalismo dos nossos dias, ao mesmo
tempo em gue, com o avanço tecnológico, potencializou
as capacidades humanas, fez emergir crescentemente o
fenômeno social do estranhamento, na medida em gue
este desenvolvimento das
produziu necessariamente o
capacidades humanas
desenvolvimento de
não
uma
subjetividade cheia de sentido, mas, ao contrário.
"pode desfigurar, aviltar etc, a personalidade
humana" ... Isto porque, ao mesmo tempo em que o
desenvolvimento tecnológico pode provocar "diretamente
um crescimento da capacidade humana", pode também
"neste processo, sacrificar os indivíduos ( e até mesmo
classes inteiras )." ( Lukács, 1981; 562 )
A presença de bolsões de pobreza no coracão do
"Primeiro Mundo", através da brutal exclusão social.
19
das explosivas taxas de desemprego estrutural. da
eliminacao de inúmeras profissões no interior do mundo
do trabalho em decorrência do incremento tecnológico
voltado exclusivamente para a criação de valores de
troca, são apenas alguns dos exemplos mais gritantes e
diretos das barreiras sociais que obstam. sob o
capitalismo, a busca de uma vida cheia de sentido e
emancipada, para o ser social que trabalha. Evidencia-
se, desse modo. que o estranhamento é um fenômeno
exclusivamente histórico-social, que em cada momento da
história se apresenta de formas sempre diversas, e que
por isso não pode ser jamais considerada como uma
condition humaine, como um traço natural do ser
social.( Lukács; 1981; 559)
Sabe-se que as
estranhamento atingiram,
diversas manifestações de
na contemporaneidade, além do
espaço da produção, ainda mais intensamente a esfera do
consumo, a esfera da vida fora do trabalho, fazendo do
tempo livre, em boa medida, um tempo também sujeito
aos valores do sistema produtor de mercadorias. O ser
social que trabalha
vi ver, mas deve
deve somente ter o necessário para
ser constante induzido a querer
viver para ter ou sonhar com novos produtos, operando
se uma enorme reducao das necessidades do ser social
que trabalha. ( Heller, 1978;64/65 )
Cremos - ao contrário daqueles que defendem a perda
de sentido e de significado do fenômeno social do
20
estranhamento (ou "alienaça0 ". como é costumeiramente
denominada) na sociedade contemporânea gue as
mudanças em curso no processo de trabalho. apesar de
algumas alterações experimentadas, não eliminaram os
condicionantes básicos deste fenômeno social. o gue
faz com que as ações desencadeadas no mundo do
trabalho, contra as diversas manifestações do
estranhamento e das fetichizações. tenham ainda enorme
relevância no universo da sociabilidade contemporânea.
Portanto. contrariamente às formulações que
preconizam o fim das lutas sociais entre as classes, é
possível reconhecer, na sociedade contemporânea, a
persistência dos antagonismos
total e a totalidade do
entre o capital social
trabalho. ainda que
particularizados pelos inúmeros elementos que
caracterizam a região. país, economia. sociedade. sua
inserção na estrutura produtiva
traces da cultura, gênero, etnia.
mundializado e globalizado do
global
etc.
etc, bem como
Dado o caráter
necessário apreender
singularidades presentes
classes sociais, tanto
também as
capital, torna-se
particularidades e
nos confrontos entre as
nos países avançados, quanto
naqueles que não estão diretamente no centro do sistema
e da qual fazem parte uma gama significativa de
países intermediários e industrializados, como o
Brasil. Mas isso nos alongaria em demasia e está além
dos limites deste texto.
21
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25
ESTATÍSTICAS DO TRABALHO Análise de algumas práticas internacionais 1
Marise P. Hoffmann2
Sandra Márcia Chagas Brandão3
Ao 'ongo dos últimos anos, os estudos sobre a dinâmica e a estrutura dos mercados de
trabalho nacionais têm convergido na identificação de dois movimentos que
configurariam o período atual como uma nova fase. O primeiro refere-se à mudança no
patamar da taxa de desemprego que, nos países desenvolvidos, duplicou entre meados
dos anos 60 e a primeira metade dos 90. Em simultâneo, ocorreu o ressurgimento e
contínua expansão de formas precárias de inserção na atividade produtiva, relativizando
o peso na estrutura ocupacional dos trabalhadores com contrato de trabalho padrão e
acesso aos benefícios do trabalho e tomando o contingente de ocupados mais
heterogêneo e diferenciado (Rodgers, 1989, Standing, 1991).
Neste novo quadro, têm crescido as discussões quanto à capacidade das estatísticas
existentes so:.:>re empr~go e desemprego fornecerem indicações adequadas sobre as
transformações em curso no mundo do trabalho. Quanto à taxa de desemprego, as
diferenças entre os números fornecidos pelas pesquisas domiciliares e pe.los registros
administrativos, a expansão do desemprego de longa duração e do fenômeno do
trabalhador desencorajado têm colocado em questão um indicador construído para
captar um problema que deveria ser residual e de curto prazo (Bartholomew et a/ii, 1995;
Comte, 1995). Frente à proliferação de trabalhos em tempo parcial, dos contratos
temporários, de trabalhos esporádicos e irregulares, esta taxa tem perdido a
potencialidade de fornecer uma medida sintética do quadro de subutilização de mão-de-
1 Texto preparado para o seminário "Desafios para Repensar o Trabalho·, Confest, Rio de Janeiro, maio de 1996. As autoras agradecem a colaboração de Maria Alice 8. Cutrim, isentando-a de qualquer responsabilidade pelas observações contidas no trabalho.
2 Socióloga. Consultora da Fundação Seade e do Dieese. Endereço para contato: Avenida Casper Ubero 464 - 9° andar - São Paulo - CEP 01033-000. Telefone: (011) 224.1600. Fax: (011) 229.5259. E-mail: [email protected]. br.
3 Economista. Analista da Fundação Seade. Endereço para contato: Avenida Casper Libero 464 - 8º andar -São Paulo - CF:P 01033-00v. Tel: (011) 224.1681. Fax: (011) 229.5259. E-mail: [email protected].
2
obra vigente (Marshall, 1989; Comte, 1995). Ademais, devido ao critério extremamente
flexível utilizado para identificação da população empregada, esta conteria situações
heterogêneas e crescentemente díspares, cujo elemento comum tem se tomado cada
vez mais difuso.
As alternativas a esta insuficiência têm sido buscadas na construção de indicadores mais
desagregados ou mais amplos para descrever cada um destes segmentos. A
flexibilização dos conceitos que sustentam a estrutura classificatória tem ocorrido de
forma marginal, basicamente para a elaboração de índices que combinem as duas
situações mais visíveis de subutilização do trabalho, o desemprego aberto e os trabalhos
em jornada parcial involuntária. ,
As pesquisas sobre emprego e desemprego têm buscado ampliar as informações
disponíveis para caracterização de cada um dos segmentos, mas poucas alterações têm
sido feitas nas variáveis classificatórias. Esta inércia dos procedimentos metodológicos
parece decorrer da rapidez com que o objeto destas pesquisas tem se transformado,
dificultando a formulação de novos conceitos e critérios para captar uma realidade ainda
muito fluida, constituindo, neste sentido, uma postura saudável de preservação de séries
de informações que permitam contrapor o passado ao momento atual e futuro.
Se as mudanças nos mercados de trabalho nos países desenvolvidos relativizaram a
potencialidade descritiva de seus sistemas de estatística, este já era um cenário há muito
vigente nos chamados países em desenvolvimento. Nos mercados de trabalho destes
países, combinam-se grande disponibilidade de mão-de-obra, capacidade limitada de os
setores produtivos modernos gerarem postos em número suficiente para atender a
demanda, agências públicas de alocação de mão-de-obra e sustentação de programas
de emprego com restrita possibilidade de atuação, frágeis mecanismos de seguridade
social e amplos segmentos ocupados em atividades por conta própria (Tokman, 1984;
Prealc, 1991 ). Trata-se de um quadro apenas parcialmente captado pelas estatísticas
usadas para comparações internacionais (ILO, 1982:15), deficiência que incentivou a
formulação de inúmeros indicadores alternativos, dentre os quais se destacam os de
subemprego e de setor informal (Souza, 1980).
O propósito deste ensaio é realizar uma breve discussão de algumas experiências e
práticas relativas à produção de informações sobre mercado de trabalho hoje existentes.
No primeiro item, são analisados os parâmetros estabelecidos pela Organização
Internacional do Trabalho para orientar a ação dos países nesta área, buscando
identificar sua estrutura básica e as exceções previstas. Esta análise estará assentada
3
na hipótese que, diante da necessidade de formular critérios que permitissem captar as
especificidades nacionais e que garantissem a comparabilidade internacional das
estatísticas, optou-se por procedimentos relativamente simples, que, embora de fácil
operacionalização, tendem a limitar sua capacidade descritiva, principalmente em
situações muito heterogenêas. No segundo item, são apresentadas as experiências de
alguns países, visando identificar o grau de assimilação das resoluções da OIT por suas
pesquisas e verificar a existência de procedimentos alternativos de construção de
conceitos e indicadores nacionais.
Embora não sejam a única fonte de informações sobre emprego e desemprego, as
pesquisas domiciliares cc>nstituem o objeto do estudo realizado. Esta opção decorre da
centralidade que este mecanismo de coleta de dados assume no sistema de estatística
para mercado de trabalho proposto pela OIT, devido ao fato de esta permitir investigar
um universo populacional, setorial e ocupacional mais amplo que as pesquisas por
estabelecimento e os registros administrativos, constituindo, por esta razão, junto com os
censos populacionais, a referência básica para classificação e caracterização da
população economicamente ativa de um país.
RECOMENDAÇÕES DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT)
A elaboração de recomendações para a coleta e sistematização de informações sobre
mercado de trabalho nos países membros é, desde a década de 20, uma das atividades
desenvolvidas pela OIT e tem sido pautada pelos propósitos de fornecer parâmetros
básicos para o desenvolvimento de sistemas nacionais de estatística sobre o tema e
viabilizar a comparação entre os dados produzidos em vários países. Como as estruturas
institucionais e produtivas nacionais são diferenciadas, a construção de padrões
estatístico.s deveria ''garantir a maior comparabilidade intemacional possível entre as
informações e, em simultâneo, a necessária flexibilidade para que os países
desenvolvam sistemas estatísticos compatíveis com seus objetivos específicos e suas
condições sociais e econômicas"(ILO, 1982:21, tradução nossa).
A necessidade de compatibilizar estes objetivos explica o fato de a atuação da OIT nesta
área ser guiada por recomendações, as quais, mesmo sendo elaboradas por consenso,
não são submetidas a ratificação por cada um dos países membros, como ocorre com as
Convenções (ILO, 1995a). Por esta razão, não impõem constrangimentos legais àqueles
4
que adotem procedimentos mais amplos que os por elas definidas ou mesmo que não as
cumpram.
Embora a ratificação das Convenções não seja feita por todos os países membros da
OIT e, mesmo quando ocorre, não implique imediato e irrestrito cumprimento de seu
conteúdo, sua lógica seria incompatível com a mencionada flexibilidade para a
construção de estatísticas nacionais de emprego. Assim, ao regular a matéria através de
recomendações, a OIT viabiliza, também sob o aspecto formal, a opção dos vários
países pela construção de métodos de aferição de seus mercados de trabalho distintos
dos estabelecidos pela Organização.
Breve histórico das recomendações da OIT
A construçãll de métC'dos descritivos do mercado de trabalho é influenciada pelas
circunstâncias sociais, econômicas e institucionais vigentes e pelos objetivos que
norteiam esta ação. Por isto, a elaboração de estatísticas sobre emprego tende a evoluir
no tempo, em simultâneo às transformações em seu objeto, nos propósitos que a
justificam e nos próprios procedimentos técnicos que a viabilizam. Em resposta a este
caráter histórico dos conceitos que embasam as estatísticas, as recomendações da OIT
foram alteradas várias vezes ao longo das últimas sete décadas.
A história da construção de parâmetros internacionais para as estatísticas de emprego
iniciou-se na segunda Conferência Internacional dos Estatísticos de Trabalho, em 1925,
quando a preocupação básica foi estabelecer medidas para o desemprego. O tema
voltaria à agenda na sexta Conferência, realizada em 1947, mas com a ênfase se
deslocando do "desemprego enquanto principal problema social para o emprego como
objetivo central do planejamento econômico" (ILO, 1982:02, tradução nossa). Nesta
conferência, foi introduzida a noção de força de trabalho, centrada na atividade produtiva
de cada indivíduo em um período determinado, que nortearia, com algumas alterações,
todas as recomendações subseqüentes sobre o tema.
Em 1954, a oitava Conferência voltou a tratar do tema, adotando recomendações
relativamente minuciosas sobre estatísticas destinadas à mensuração de força de
trabalho, emprego e desemprego, que permitiram a implementação das decisões
tomadas na sexta Conferência. As definições então elaboradas assentavam-se em três
pontos básicos, que delimitavam a estrutura classificatória em tomo da noção de força
de trabalho:
- qualquer pessoa acima de uma idade pré-estabelecida, para pertencer à força de
trabalho, deveria trabalhar, para obter salário ou lucro, ou ter disponibilidade para
trabalhar e estar procurando trabalho;
- estas atividades deveriam estar referidas a um período pré-definido, de curta
duração;
- a divisão da força de trabalho entre empregados e desempregados seria feita
conforme uma regra implícita que conferiria precedência ao emprego para
propósitos de mensuração.
5
Na décima-primeira Conferência, de 1966, frente às intensas discussões sobre
subutilização de mão-de-obra nos países em desenvolvimento, foi elaborada uma
recomendação, complementar à de 1954, relativa ao cálculo e análise do subemprego.
Além da iJentificação de dois tipos de subemprego, o visível e o invisível, a resolução
tomada nesta conferência definiu variáveis associadas à mensuração do problema -
jornada de trabalho, renda, qualificação e produtividade -, mas não construiu conceitos
que subsidiassem o estabelecimento de medidas estatísticas.
As recomendações atualmente vigentes foram elaboradas na décima-terceira
Conferência Internacional dos Estatísticos do Trabalho, realizada em 1982. O trabalho
então desenvolvido consolidou o aparato básico montado em 1954, preservando a
estrutura classificatória da força de trabalho, mas agregando a ele a recomendação
relativa a subemprego estabelecida em 1966, ainda que restringindo sua mensuração,
por problemas operacionais, ao visível. Ademais, a revisão das recomendações
promovida em 1982 pretendeu dar expressão às mudanças ocorridas no cenário
internacional desde 1954, cujos principais aspectos de interesse para a questão das
estatísticas de emprego seriam as alterações nas condições de emprego, a ampliação
da participação da mulher no mercado de trabalho, os avanços metodológicos e técnicos
na área de pesquisas e a crescente interdependência entre os países (ILO, 1982).
Definições básicas contidas na Resolução da 13 • Conferência
As recomendações elaboradas em 1982 preservaram os três aspectos básicos em tomo
dos quais foi construída a noção de força de trabalho - atividade produtiva4 , período de
4 O conceito de atividade produtiva adotado na 13ª Conferência baseia-se nos critérios do Sistema de Contas Nacionais (SCN) das Nações Unidas. Desta forma, as pessoas devem ser consideradas economicamente ativas se contribuírem ou estiverem dispostas acontribuir para a produção de bens e serviços segundo os conceitos do SCN, no qual atividade econômica inclui "produçSo para venda (produçao para mercado) e certos tipos de produçao para auto consumo
6
referência curto e precedência do emprego. Tomando este ponto de partida, foram
estabelecidas cinco definições básicas para classificação da condição de atividade dos
indivíduos, assentadas em duas variáveis chaves, o trabalho e a procura por trabalho
(ILO, 1983).
População economicamente ativa
Subconjunto da população que, no período de referência pré-definido, engloba todas as
pessoas acima de determinada idade que constituem a oferta de trabalho para a
produção de bens e serviços econômicos. Haveria duas medidas possíveis para este
segmento:
- quando o período de referênêia for longo, por exemplo os 12 meses precedentes à
pesquisa, corresponderia à população usualmente ativa. Nesta forma de medida,
estar-se-ia captando a condição de atividade principal destas pessoas, dimensionada
em número de dias ou semanas a ela dedicada;
- se o período de referência fosse curto, equivalendo à semana ou ao dia anterior à
pesquisa, estar-se-ia medindo a população ativa corrente ou a força de trabalho. Esta
medida incorporaria os contingentes de empregados e desempregados definidos
segundo as recomendações elaboradas.
Empregados
Pessoas acima da idade estabelecida que, no período de referência:
- trabalharam em emprego assalariado ou não trabalharam mas tinham emprego com
vínculo formal de trabalho. Este último deveria ser definido, respeitando a situação
específica de cada país, de acordo com os seguintes critérios: (i) continuidade de
recebimento de salário; (ii) garantia de reintegração ao trabalho ao término do
período de interrupção da atividade, e (iii) duração definida do período de ausência,
com recebimento de benefício sem obrigação de aceitar outro trabalho;
- exerceram trabalhos autônomos5 ou tinham um negócio do qual estiveram ausentes
no período de referência por qualquer razão específica.
(produção de subsistência}, incluindo produção e processamento de produtos primários para auto-consumo, auto-construção e outros tipos de produç§o de bens para uso próprio". (Dupré et a/li, 1987:1)().
5 Optou-se por esta tradução para o termo empleo independiente ou seff-employment, utilizado nos documentos relativos à 13ª Conferência, por considerá-lo o que melhor designa as formas de inserção agregadas nesta categoria, na qual se incluem os trabalhadores por conta-própria, empregadores, donos de negócio familiar, profissionais liberais, trabalhadores familiares, etc.
7
Desemprega<fos
Pessoas com idade superior à especificada que, durante o período de referência,
atendem simultaneamente aos seguintes critérios: (1) estão sem trabalho; (2) têm
disponibilidade para trabalhar; e (3) procuraram trabalho assalariado ou autônomo em
um período recente, sendo capazes de identificar procedimentos efetivos tomados neste
sentido.
Subempregados
Segundo recomendação da OIT, o subemprego é a situação em que "o emprego de uma
pessoa é inadequado em relação a determinadas normas ou a empregos alternativos,
tomando como parâmetro a qualificação deste indivíduo (em termos de treinamento ou
experiência de trabalho)" (ILO, 1983, parágrafo 14, tradução nossa). Em sua foma
visível, o subemprego incorporaria pessoas trabalhando involuntariamente jornada
inferior à determinada para a atividade em que estão envolvidas e que,
simultaneamente, estão procurando trabalho e disponíveis para trabalho adicional no
período de referência.
População lmdiva
Subconjunto da população que incorpora, independente da idade, todas as pessoas que
não são economicamente ativas, ou seja, que não estão empregadas ou
desempregadas. Apresentaria ainda as seguintes características distintivas:
- agrega também as pessoas que estão abaixo da idade considerada limite mínimo
para mensuração da população economicamente ativa;
- como esta última, pode ser subdividida em população inativa corrente e população
usualmente inativa, dependendo da extensão do período de referência adotado. As
pessoas que fazem parte da população inativa corrente devem ser classificadas
segundo razão de inatividade (frequentando escola, realizando trabalhos domésticos,
etc.), enquanto aquelas que compõem a população usualmente inativa serão
identificadas segundo categorias funcionais (estudantes, donas de casa, etc.).
Procedimentos operacionais contidos na Resolução da 13 ªConferência
Partindo destas definições gerais, foram definidos alguns procedimentos operacionais,
visando ~stabelecer critérios para a classificação da condição de atividade dos
indivíduos e, principalmente, padronizar o tratamento de alguns casos específicos.
8
Idade mínima para a população economicamente ativa
Não há, na recomendação de 1982, definição do limite etário mínimo a ser adotado na
classificação da população economicamente ativa. No entanto, a OIT sugere que,
independente do referencial etário adotado por cada país para divulgação de suas
estatísticas, sejam produzidas informações que permitam distinguir as pessoas de 15
anos e mais do restante da população pesquisada, limite a ser utilizado em comparações
internacionais (ILO, 1976:32).
Jornada mínima para empregado
Para operacionalizar o conceito de trabalho, sugere-se 1 hora como jornada mínima no
período de referência, independente de ser empregado assalariado ou autônomo.
O objetivo central deste critério seria garantir a incorporação, ao contingente de
empregados, de todas as formas de emprego que possam existir em um país, permitindo
que "haja correspondência entre o volume de produção e o de recursos humanos
utilizados para obtê-lo" (Ooss et alli, 1988: 199).
Período de referência
Há três variáveis que demandam a definição de referência temporal:
- para o exercício da atividade para classificação como empregado ou desempregado,
deve ser considerado o período básico de referência da pesquisa, que deve ser
curto, sugerido como correspondendo à uma semana ou a um dia;
- para a procura de trabalho do desempregado, é mencionado "um período recente
específico", "que não precisa ser o mesmo de referência para a pesquisa, de uma
semana ou um dia, podendo ser mais longo, tal como o mês ou as 4 semanas
anteriores à entrevista" (Hussmanns et a/li, 1990:99, tradução nossa)6;
- para a disponibilidade para trabalhar, é definido como igual ao de referência da
pesquisa, de uma semana ou um dia.
6 Segundo Hussmanns et e/li (1990:99), a extensão do periodo de procura para um momento posterior ao de referênr.ia da pesquisa justificar-se-ia pela tentativa de •captar as interrupções que freqtJentemente ocorrem após as tentativas iniciais de obter trabalho, durante as quais os desempregados podem nao tomar novas iniciativas para encontrar trabalho". Assim, •a duraçao adequada do perlodo de procura por trabalho deve ser especificada nos questiontJrios das pesquisas. Ela deve ser determinada tendo como referência as situações nacionais e considerando as interrupções no processo de manifestaçao das demandas por emprego assalariado ou autônomo.
9
Trabalhadores familiares não remunerados
Independente do núm~ro de horas trabalhadas no período de referência, devem ser
classificados como empregados, no segmento de trabalhadores autônomos. Ademais,
recomenda-se que "os países que, por razões específicas, prefiram adotar critério de
tempo mínimo de trabalho como condição para classificar os trabalhadores familiares
não remunerados como empregados, identifiquem como um segmento específico
aqueles que têm jornada menor que a definida como mínima" (ILO, 1983, parágrafo 9,
item 5, tradução nossa).
Aprendizes e estagiários
Devem ser agregados ao conjunto de empregados, desde que recebam salário
monetário ou em espécie pela atividade exercida.
Membros das forças annadas
Devem ser classificados como empregados assalariados, incluindo os membros
permanentes e os temporários (recrutas) das forças armadas.
População institucional
Correspondendo ao co"ljunto de pessoas recolhidas a instituições como hospitais, casas
de saúde, asilos e penitenciárias, deveria ser coberto pelas pesquisas (ILO, 1990).
Pessoas em programas de fonnação e requalificação profissional
Como os indivíduos participantes destes programas estão em situações limites entre
emprego, desemprego e inatividade e os parâmetros internacionais definidos em 1982
não fazem referência aos procedimentos classificatórios a serem adotados, foi acordado,
na 14ª Conferência Internacional dos Estatísticos de Trabalho, realizada em 1987, que
estas pessoas seriam classificadas como desempregadas se tivessem disponibilidade
para trabalhar e:
- "o programa não fosse fornecido por empregador nem estivesse associado à
atividade produtiva da empresa;
- inexistisse relação formal de trabalho;
- houvesse o objetivo de obter o emprego após o final do programa" (Hussmanns et
a/li, 1990: 105, tradução nossa).
Mensuração do subemprego
Sugere-se.. para tal, redlizar a somatória do tempo disponível para trabalho adicional de
cada pessoa classificada em subemprego visível. Este tempo disponível seria a
10
diferença entre as horas trabalhadas e a jornada definida como normal tendo em vista os
parâmetros nacionais específicos.
Possibilidades de flexibilização do critério de procura por trabalho
Estão previstas, na resolução de 1982, algumas situações em que, verificada a
inexistência de atividade produtiva no período de referência, poder-se-ia flexibilizar o
outro critério básico utilizado para classificar a condição de atividade dos indivíduos, a
procura por trabalho.
Pessoas que acertaram início de trabalho em período posterior ao de referência
Uma primeira situação refere-se às pessoas que acertaram o início de um emprego
assalariado ou atividade de prestação de serviços em data posterior à entrevista.
Independente de terem procurado trabalho, se estiverem, no período de referência da
pesquisa, sem trabalho e disponíveis para trabalhar, serão classificadas como
desempregadas. A flexibilização do critério de procura de trabalho justifica-se, nesta
situação, pelo fato de estas pessoas já terem encontrado o emprego ou atividade
demandada. Sua classificação como desempregadas é explicada pelo suposto caráter
de involuntariedade do lapso para o início da atividade produtiva, já que têm
disponibilidade para trabalhar, e pela possiblidade de esta relação de trabalho vir a não
se concretizar.
Pessoas com interrupção de trabalho por iniciativa do empregador
Os trabalhadores cuj~ emprego ou atividade tenham sido interrompidos pelo empregador
por um período de tempo determinado ou não, usualmente denominado como pessoas
em Jay-off, · seriam o segundo caso de alteração nos parâmetros classificatórios da
condição de atividade. Como estes trabalhadores teriam, dependendo da legislação que
regule esta forma de interrupção de trabalho em cada um dos países, direito ou
expectativa de retornarem a seus empregos prévios, recomenda-se que pessoas nesta
situação sejam classificados como:
1. empregados, se tiverem uma relação formal de trabalho;
2. desempregados, se estiverem procurando trabalho e disponíveis para trabalhar e
não possuírem relação formal de trabalho;
3. inativos, se não tiverem relação formal de trabalho e não procuraram nem estão
disponíveis para o trabalho.
11
No entanto, a resolução de 1982 possibilita que os países, "dependendo da situação e
das políticas nacionais, optem por flexibilizar o critério de procura de trabalho para
pessoas em lay-off sem relação de trabalho formal, mas disponíveis para trabalhar.
Nestes casos, se forem incluídas entre os desempregados, tais pessoas devem ser
identificadas como uma categoria distinta" (ILO, 1983, parágrafo 10, item 5, tradução
nossa).
Trabalhadores desencorajados pelas condições do mercado de trabalho
Reconhecendo a existência de diferenças quanto à forma de organização dos mercados
de trabalho e de circulação de informações relativas à oferta de postos, uma das críticas
feitas à definição padrão de desemprego era, no período prévio à 13 ª Conferência, a
possibilidade de o caráter restritivo do critério de procura por trabalho impedir a
adequada descrição das condições de emprego em alguns países. Por esta razão, foi
definido, em 1982, que tal critério poderia ser relativizado "em situações em que os
meios convencionais de procura de emprego forem insuficientes, o men;ado de trabalho
for desorganizado ou de tamanho limitado, a absorção de mão-de-obra for, no momento,
inadequada ou que predominem trabalhadores autônomos." (ILO, 1983, parágrafo 10,
item 2, tradução nossa).
Ao adotar este procedimento, poderiam ser identificados os trabalhadores
desencorajados, subconjunto da população que, embora sem trabalho e com
disponibilidade para trabalhar, não havia procurado trabalho por considerar que
inexistem postos para os quais possa se oferecer ou por razões pessoais. Haveria duas
possibilidades de classificação das pessoas nesta situação:
- se o período da pesquisa contiver uma ou mais situações previstas para a
flexibiliz~ção do critério de procura, poderiam ser agregados ao contingente de
desempregados, que seria, desta forma, dimensionado através de uma definição
ampliada (Hussmanns et a/li, 1990: 108);
- se for adotada a definição padrão de desemprego, os países "podem identificar as
pessoas não classificadas como desempregadas que estavam disponíveis para
trabalhar mas não haviam procurado trabalho durante o período de referência e
identificá-las como um segmento específico da população inativa" (ILO, 1983,
parágrafo 12, item 2, tradução nossa).
12
As noções implícitas nas definições e procedimentos operacionais e suas atuais
limitações
Nos anos imediatamente anteriores à 13 ª Conferência, foram realizados inúmeros fóruns
de debate e estudos sobre a necessidade de revisar as recomendações internacionais
relativas a estatísticas sobre mercado de trabalho. Discutia-se, então, desde os supostos
e critérios contidos na noção de força de trabalho, questões relacionadas a imprecisões
das normas vigentes, classificações utilizadas, até problemas de cobertura e natureza
das pesquisas existentes (ILO, 1982).
Passadas uma década e meia, a discussão em tomo dos critérios de classificação da
força de trabalho vem sendo retomada, no contexto das mudanças nos parâmetros de
funcionamento dos mercados de trabalho, cujas expressões sínteses são a proliferação
de relações de trabalho precárias e o ressurgimento de altas e persistentes taxas de
desemprego. Como a OIT reconhece, as "controvérsias surgem porque as medidas
estatísticas requerem critérios precisos, enquanto a situação real permanece complexa e
pouca clara" (ILO, 1995b:01, tradução nossa).
Analisando o conteúdo da resolução de 1982, parece possível identificar dois eixos
básicos da construção das estatísticas que, hoje, tendem a ser relativizados e/ou
questionados pela dinâmica dos mercados de trabalho nacionais.
O primeiro eixo está associado ao fato de as normas e, em especial, a noção de força de
trabalho terem sido formuladas a partir do quadro fornecido pelos mercados de trabalho
dos países industrializados. Nestes mercados, (i) a predominância de trabalho
assalariado com jornada completa, regido por contratos com duração indeterminada e
com cláusulas definidas em negociações coletivas e (ii) a existência de amplo e
adequado sistema de benefícios aos poucos excluídos do contingente de empregados
garantiam que a classificação da população em idade ativa em três segmentos distintos
e excludentes - empregados, desempregados e inativos - fornecesse uma descrição bastante próxima da realidade vigente.
Este referencial explica dois critérios centrais das normas vigentes. A definição da
jornada mínima de 1 hora na semana de referência para classificar um indivíduo como
empregado estaria justificada pelo tipo de relação de trabalho dominante nestes países,
que permitia supor que, dadas as regras de contratação, qualquer pessoa que tivesse
exercido uma atividade por este tempo mínimo, o teria feito também em todo o resto da
jornada de trabalho padrão. A utilização de um curto período de referência para definir a
13
condição de atividade de um indivíduo em idade ativa decorreria do suposto que, em
mercados de trabalho organizados, com oferta adequada de postos e ampla
disponibilidade de informações sobre os empregos disponíveis, não seria necessário um
tempo longo para que as pessoas, em caso de demissão, obtivessem outro trabalho ou
exercessem atividades de busca, definindo rapidamente sua nova condição frente à
atividade produtiva.
Tal referência justifica também a elaboração de conceitos específicos para captar a
realidade dos mercados de trabalho nos países em desenvolvimento, cujas
características tendiam a "tomar alguns dos conceitos presentes na noção de força de
trabalho utilizada nas recomendações internacionais difíceis de serem aplicados e pouco
significativos" (ILO, 1982:15, tradução nossa). A adoção da noção de subemprego na
resolução de 1966 e su~ ratificação na 13 ª Conferência buscava um mecanismo que
permitisse ampliar a capacidade descritiva das estatísticas produzidas nestes países,
através da definição de medidas para o problema de subutilização de mão-de-obra,
resguardando, ao mesmo tempo, o marco conceituai básico das normas internacionais.
A utilização do critério de horas trabalhadas para medir o subemprego permitiria conciliar
tal conceito com aqueles implícitos na noção de força de trabalho, pois não rompia com
a precedência do emprego no sistema classificatório, estabelecendo somente uma
categoria relativamente eqüidistante entre este conceito e o de desemprego. Esta
solução contém sérios limites, dois dos quais merecem menção. Por um lado, a definição
de uma jornada normal de trabalho é um critério aplicável basicamente aos empregados
assalariados, sendo pouco claro o procedimento a ser adotado para medir o subemprego
de categorias não-assalariadas que, em princípio, deveriam ser o objeto principal da
medição e análise do subemprego. Por outro, como destacado na resolução de 1982, a
jornada normal de trabalho de uma atividade deveria "ser definida considerando as
regras nacionais, expressas na legislação sobre o tema, nas práticas usuais ou em
normas convencionais" (ILO, 1983, parágrafo 18, item 2, tradução nossa), podendo
variar entre países e, por consequência, relativizando a possibilidade de construção de
indicadores internacionalmente comparáveis.
A pequena disseminação do uso da noção de subemprego nas pesquisas sobre
mercado de trabalho nos países subdesenvolvidos e a busca de critérios alternativos 1
como a noção de setor informal, para qualificar o problema de emprego neles vigente
demonstram as limitações descritivas impostas pelo fato de as normas terem sido
referenciadas na situação então vigente nos mercados de trabalho dos países
industrializados. Ademais, como esta última é resultado de um processo histórico, os
14
supostos que embasam os critérios de jornada mínima e período de referência foram, ao
longo dos últimos anos, seriamente fragilizados pelo crescimento do número de
trabalhadores com jornada parcial, daqueles contratados por tempo determinado, do
fenômeno do trabalho ocasional em atividades não sazonais, da parcela de
desempregados de longa duração no desemprego total, do contingente de trabalhadores
desencorajados e várias outras mudanças de idêntico teor nos mercados de trabalho dos
países desenvolvidos7• As fronteiras entre as condições de atividade, fortemente
explícitas no modelo anterior, tenderam a se tomar mais tênues e descrições de um
momento específico podem se mostrar parciais como quadro geral.
O segundo eixo é a centralidade da categoria emprego para a definição da condição de
atividade dos indivíduos. A ênfase está colocada na captação do trabalho como insumo
da produção e como fonte de geração de renda, cabendo ao sistema estatístico
dimensionar a oferta de força de trabalho, sua utilização, produtividade e remuneração.
Neste arcabouço, o desemprego e a inatividade surgem como a negação do trabalho,
não constituindo, no limite, categorias com definição autônoma. No caso específico do
desemprego, tratar-se-ia da situação em que uma pessoa se encontra "sem trabalho",
critério central na norma de classificação e único não plausível de flexibilização por ser
aquele que "garante que emprego e desemprego são mutuamente excludentes, com
precedência dada ao emprego. Uma pessoa é classificada como desempregada
somente se ficar determinado que ela não está empregada." (Hussmanns et a/li,
1990:98, tradução nossa).
O desemprego é, portanto, o complemento "negativo" do emprego, ou seja identifica a
força de trabalho não utilizada. A inatividade, por sua vez, é a condição da parcela da
população não empregada que, por não procurar trabalho ou não estar disponível para
trabalhar, ~stá excluída da força de trabalho. Os dois outros critérios para classificação
dos desempregados justificam-se, assim, como forma de distinguir, entre os sem
trabalho, o segmento a ser contabilizado como parte da população economicamente
ativa e aquele que será excluído dela, os inativos.
7 Na 14ª Conferência, o critério de 1 hora de trabalho voltou a ser discutido, devido ao surgimento de novas situações de emprego, tendo sido concluído que ele "nao deveria ser modificado, pois isto destruiria toda a estrutura básica da noção de força de trabalho implícita nas normas internacionais sobre emprego e desemprego e geraria discrepfmcias com o Sistema de Contas Nacionais das Nações Unidas e as normas relativas a outros sistemas estatísticos. Salientou-se, no entanto, que os dados sobre emprego deveriam ser classificados segundo horas de trabalho e que os países deveriam utilizar de forma mais intensa o conceito de subemprego visível, como já recomendado nas normas internacionais" (ILO, 1987:13, tradução nossa).
15
Mas se a condição de empregado é definida pelo exercício de uma atividade produtiva
por, no mínimo, 1 hora no período de referência, toda a estrutura classificatória da força
de trabalho está assentada neste critério. Ou seja, as estatísticas sobre mercado de
trabalho, tal como propostas em 1982, baseiam-se, no limite, na medição de uma única
variável - tempo trabalhado.
· A simplicidade deste mecanismo de classificação é o elemento básico para sua
disseminação, ao garantir uma aparente adequação das medidas propostas a qualquer
mercado de trabalho, independente de seu grau de organização. Em última instância, é
o fator sobre o qual repousa a possibilidade de comparação internacional de estatísticas
nacionais.
Esta mesma característica, no entanto, tende a torná-lo progressivamente limitado em
sua capacidade descritiva, visto que quanto maior for a heterogeneidade do mercado de
trabalho, mais tênues serão os limites entre as condições de atividade e menor a
possibilidade de identificar, com um único critério, segmentos excludentes na população
em idade ativa. Diante do rápido e intenso processo de precarização dos mercados de
trabalho nos países desenvolvidos e da permanência de significativa desarticulação e
exclusão no daqueles em desenvolvimento, este parece ser, crescentemente, o cenário
a ser enfrentado pelas estatísticas sobre mercado de trabalho.
PESQUISAS DOMICILIARES SOBRE MERCADO DE TRABALHO: ANALISE DA
EXPERIÊNCIA DE ALGUNS PAÍSES
As resoluções relativas a estatísticas do trabalho sempre foram apontadas, pela OIT,
como parâmetros a partir dos quais cada país deveria construir seu sistema de
informações sobre mercado de trabalho, preferencialmente baseado em pesquisa
domiciliar. Segundo esta entidade, o objetivo central de cada país deveria ser coletar e
organizar informações capazes de "responder a suas necessidades relativas à medição
do tempo de trabalho e dos recursos humanos disponíveis e não utilizados, à avaliação
macroeconômica e planejamento do desenvolvimento destes recursos e à avaliação das
relações entra empreg?, renda e outras características sócio-econômicas". (ILO, 1983,
parágrafo 1, tradução nossa}. Adicionalmente, sugere que os países, "ao planejar os
censos populacionais, as pesquisas domiciliares ou individuais ou outros meios para
obtenção de dados sobre a população economicamente ativa, deveriam buscar, na
16
medida do possível, incorporar as normas internacionais." (ILO, 1983, parágrafo 4,
tradução nossa).
Tomando como referência esta orientação da OIT, serão analisadas, neste item, as
experiências de alguns países, buscando identificar o grau de semelhança entre os
conceitos adotados por eles e os contidos na resolução de 1982, a utilização de critérios
alternativos e a existência de padrões de alteração em tais normas. Os casos discutidos
representam apenas uma pequena amostra dos procedimentos e iniciativas existentes
nesta área, pela restrição do universo geográfico de referência e por considerar apenas
as pesquisas domiciliares tratadas como oficiais por cada um dos países.
A seleção dos países obedeceu a alguns critérios, em especial buscou-se países que
apresentassem diferentes estágios de desenvolvimento sócio-econômico, padrão de
regulação do mercado de trabalho distinto e capacidade diferenciada de pesquisa na
área de produção de estatísticas. Considerados estes aspectos, foram selecionados 18
países: Alemanha, Austrália, Canadá, Chile, Costa Rica, Espanha, Estados Unidos,
França, Índia, Irlanda, Itália, Japão, México, Paraguai, Peru, Portugal, Reino Unidoª e
Suécia.
Caracterítiicas operac:ionais das pesquisas
Centrando a atenção nos procedimentos mais estritamente operacionais das pesquisas
domiciliares conduzidas pelos países selecionados (Quadro 1), observa-se que
predominam levantamentos com cobertura nacional, pois somente México, Paraguai
Peru se limitam a captar informações em suas principais áreas metropolitanas. Quanto à
temporalidade dos trabalhos de coleta de informações, apenas sete países realizam
pesquisas com periodicidade mensal. Destaca-se, nesta questão, a Índia, cuja pesquisa
é feita a cada cinco anos e, por esta razão, procura distinguir a situação corrente e usual
dos indivíduos, segundo os parâmetros contidos na resolução da Conferência de 1982.
Na maioria destes países, o universo populacional pesquisado não cobre, como
recomendado pela OIT, a população institucional. Quanto aos membros das forças
armadas, permanentes ou recrutas, seis países não os consideram para efeito de
classificação de condição de atividade, ainda que possam vir a incluí-los na estimativa de
população total empregada, como é o caso dos Estados Unidos.
8 A pesquisa feita no Reino Unido cobre os territórios da Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte, com procedimentos metodológicos comuns e mesma temporalidade.
17
A idade mínima da população economicamente ativa é uma das características em que
se observa maior diversidade. A maioria dos países selecionados adota idade igual ou
inferior à sugerida pela OIT para comparações internacionais (15 anos). Quatro países
(Espanha, Estados Unidos, Reino Unido e Suécia), no entanto, utilizam 16 anos como
recorte etário inferior para estimativa e caracterização de suas populações ativas,
embora sejam capazes de fornecer os dados segundo o padrão demandado pela OIT.
Novamente chama a atenção o parâmetro utilizado pela Índia, incluindo na população
ativa todas as pessoas acima de 5 anos, menor limite entre todos os países para os
quais a OIT divulga procedimentos sobre pesquisas domiciliares.
O período de referência da pesquisa é uma das poucas variáveis para a qual há um
claro padrão entre os países analisados. Exceto a Irlanda, cuja pesquisa trabalha com a
noção de condição usual do respondente, todos os demais adotam o período de uma
semana, que pode ser a anterior à entrevista ou uma específica de cada mês. Cabe
destacar que, em uma amostra de setenta países, procedimento semelhante é utilizado
por 68 deles (ILO, 1990).
Quanto ao período de referência para procura de trabalho, a maioria dos países
selecionados optou por um prazo mais longo que o de referência da pesquisa, em geral
correspondendo às quatro semanas ou ao mês anterior à entrevista. Chile e México
pesquisam a procura nos dois meses que antecedem a coleta das informações e, Costa
Rica, nas cin-;o semanas anteriores. Apenas cinco países (Índia, Japão, Paraguai, Peru
e Reino Unido) adotam idêntico período {a semana anterior) como referência para a
pesquisa e a procura por trabalho9. Em contraposição, poucos países estabelecem,
como referência para a disponibilidade para trabalhar, período distinto ao da pesquisa.
Critérios para classificação da condição de atividade
Para construir a noção de força de trabalho que embasa o aparato classificatório da OIT,
são combinados três critérios - atividade produtiva, período de referência curto e
precedência do emprego. Como visto, o segundo vem sendo seguido por praticamente
todos os países selecionados. O mesmo pode ser dito a respeito dos outros dois, visto
que, exceto a Irlanda, todos os países adotam, para distinguir os empregados, o critério
9 Em uma amostra de setenta países, apenas 30% adotam uma semana como período de referência para a procura de trabalho. Todos os demais utilizam prazos mais longos para investigar os procediment0s de busca de trabalho pelos respondentes. Ver ILO, 1990.
18
de jornada mínima de uma hora na semana ou de exercício de qualquer atividade
(Quadro 2).
Isto significa que existe, implícita no sistema de classificação destes países, a condição
de precedência do emprego. Por esta razão, todas as pesquisas analisadas contêm um
sistema de prioridades em que (i) trabalhar ou ter trabalho precedem a procura por
trabalho e (ii) atividades produtivas precedem atividades não-produtivas (como estudo,
trabalho doméstico, etc.). Ademais, em todas elas, o requisito básico para uma pessoa
ser classi:icada como desempregada é não ter trabalhado, ou seja, o único critério não
flexibilizado por todas elas é o da ausência de atividade produtiva no período de
referência 10 •
Os demais critérios apresentados no Quadro 2 referem-se a algumas das situações para
as quais, por serem casos limites, houve a preocupação, na Conferência de 1982, de
estabelecer parâmetros para seu tratamento. A comparação dos procedimentos
adotados por cada país permitiria, partindo da convergência mais geral em tomo da
noção de força de trabalho, avaliar a comparabilidade, interna a cada um dos grandes
segmentos da população ativa, das informações por eles produzidas.
Os trabalhadores familiares sem remuneração constituem uma categoria que mereceu,
na Conferência de 1982, menção explícita, visando alterar a prática até então vigente, de
adotar um corte de horas para sua classificação diverso do utilizado para os demais
empregados.Na maioria dos países analisados, a recomendação de exigir a mesma
jornada deste segmento (1 hora ou mais na semana) vem sendo seguida, exceto no
Chile, Estados Unidos e Peru, onde a jornada mínima deve ser de 15 horas semanais
para sua inciusão entrC; os empregados, e no Paraguai, onde exige-se o cumprimento de
um terço da jornada normal.
O único caso em que a compatibilização com os critérios internacionais é mais complexo
é o do Reino Unido, onde este segmento é classificado como inativo. Isto ocorre porque,
na pesquisa conduzida por este país, utiliza-se, como critério para identificação dos
empregados, além do exercício de algum trabalho no período de referência, o
10 Entre 1972 e 1982, o Inquérito Permanente de Emprego, realizado semestralmente em
Portugal, adotou um crit6rio diverso deste, classificando como desempregadas também as pessoas de 10 anos e mais que, na semana de referência, tinham trabalhado menos de 15 horas e procurado trabalho. Em 1983, esta pesquisa e critérios foram substituídos pelo atual Inquérito de Emprego, que segue as recomendações da 13ªConferência, com o objetivo de fornecer dados sobre o mercado de trabalho no padrão demandado pela Eurostat. Ver OIT, 1990 e Bean 1989. 1
19
recebimento de remuneração pela atividade executada. Ou seja, para ser empregado, é
preciso exercer trabalho remunerado.
o tratamento dado às pessoas com interrupção de trabalho por iniciativa das empresas
(lay-off) é bastante diferenciado. Metade dos países os classifica como empregados, dois
dos quais {Austrália e Portugal) se tiverem salário e outros dois (México e Paraguai) se o
retomo ao trabalho ocorrer em um mês a partir da entrevista. Exceto Japão e Espanha,
que não regulam a questão, nas pesquisas realizadas nos demais países pessoas nesta
situação são incluídas entre os desempregados.
Embora possa ter influência marginal sobre as estimativas dos contingentes empregado
e desempregado, esta diferença no tratamento das pessoas em lay-off pode adquirir
peso importante na definição da evolução destes indicadores no tempo. Países onde,
em momentos de contração econômica, o recurso a esta forma temporária de redução
do emprego assuma intensidade semelhante, mas a classificação das pessoas nesta
situação seja distinta, apresentarão comportamentos diferenciados em suas taxas de
desemprego, relativizando a possibilidade deste indicador fornecer descrição adequada
e comparável dos mercados de trabalho em questão.
Entre os países analisados, apenas oito mencionam explicitamente critérios para
classificação da parcela da população que, embora sem trabalho e disponível para
trabalhar, não procurou trabalho no período de referência para tal. No Peru e em
Portugal, pessoas nesta situação são classificadas como desempregadas, no primeiro
país equivalendo ao contingente em desemprego oculto e, no segundo, quando é
adotado conceito de desemprego mais amplo que o padrão internacional. Na França,
serão consideradas desempregadas se a interrupção da procura dever-se a problemas
de saúde e permanecerem registradas como desempregadas e, no Canadá, se
estiverem em /ay-off11• Na Costa Rica, Espanha e Estados Unidos, este segmento da
população é agregado ao contingente de inativos, nos dois primeiros países como
categoria distinta - trabalhadores desencorajados e membros potenciais da população
economicamente ativa, respectivamente - e, no último, como parcela passível de
11 Na pesquisa canadense estão contidas questões que permitem identificar a procura de trabalho
nos seis meses anteriores à entrevista por pessoas classificadas como inativas e checar sua disponibilidade para início imediato de um trabalho se fosse oferecido, tornando possível a identificação dos chamados trabalhadores desencorajados. Ver Sorrentino, 1993.
20
identificação 12 • na categoria "outros", da classificação dos inativos por razão de
inatividade.
A dassificação de pessoas participando de programas de emprego e de formação e
requalificação profissional segue, em praticamente todos os países, procedimento
semelhante, levando à sua agregação entre os empregados. Apenas o Reino Unido e na
Suécia, a inclusão desta parcela de trabalhadores no contingente empregado está
subordinada ao recebimento de salário. No Paraguai, no entanto, são incluídos entre os
desempregados.
Também no caso de pessoas que tenham acertado o início de um trabalho ou atividade
em período posterior ao de referência da pesquisa existe um padrão classificatório, pois
todos os países os agregam entre os desempregados, mesmo que não tenham
procurado trabalho. Alguns países, no entanto, estabelecem um prazo máximo para o
início desta atividade - como é o caso da Austrália, Canadá, México, Paraguai e Suécia -
ou questionam sobre. a disponibilidade de iniciar rapidamente um trabalho - como é feito
na Espanha.
A definição de subemprego baseia-se, nos nove países que adotam esta noção, na
combinação de jornada de trabalho inferior a um determinado parâmetro com o caráter
involuntário do cumprimento de jornada parcial, em geral demandando que a situação
deva-se a razões econômicas. Os cortes de hora estabelecidos variam bastante e, em
alguns casos, não são explicitados, estando relacionados a jornadas menores que a
normal no país. Apenas em três casos (Costa Rica, México e Peru) é utilizado também o
critério de renda para identificar os subempregados.
Trata-se, como já mencionado, de um conceito de difícil comparação entre países, ainda
que centrado basicamente na mesma variável - horas trabalhadas. Isto ocorre porque
uma mesma jornada semanal pode levar um indivíduo, em um determinado país, a ser
incluído no subemprego e, em outro, a ser excluído deste contingente, como é o caso,
por exemplo, dos subempregados visíveis na Costa Rica, que estariam foram deste
segmento em todos os demais países que o dimensionam. Esta dificuldade de
comparaç!o deve-se também ao fato de as "razões econômicas" aceitas para qualificar
12 Em vários trabalhos da equipe do Bureau of Labor Statistics, este segmento aparece como
categoria específica dentro da força de trabalho, agregada ao contingente em desemprego para compor um indicador mais amplo de subutilização de mão-de-obra. Ademais, no questionário da Current Population Survey, há uma série de questões elaboradas com o propósito explícito de identificar os chamados trabalhadores desencorajados. Ver Bureau of Labor Statistics - u.s. Departmente of Labor, 1994; Sorrentino, 1995.
21
uma jom~Ja parcial como correspondendo a subemprego não apresentarem idêntico
conteúdo em todos os países.
Critérios e procedimentos alternativos
Ainda que praticamente todos os países analisados adotem os critérios de classificação
contidos na noção de força de trabalho, existem algumas experiências que divergem ou
ampliam os conceitos e procedimentos derivados deste método. Em geral, estas
alternativas de classificação ou caracterização têm buscado superar limitações
associadas às precedências contidas naquela noção, em alguns casos redimensionando
os segmentos da população ativa.
Desempregados registrados ou que recebem benefício x trabalho no periodo de referência
Seguindo a precedência dada ao emprego no sistema de classificação da força de
trabalho sugerido pela OIT, qualquer pessoa que, no período de referência da pesquisa,
exercesse algum trabalho ou atividade seria incorporada ao contingente de empregados,
mesmo se registrada como desempregada e recebendo seguro desemprego. Este
procedimento é seguido por praticamente todos os países analisados, independente do
caráter esporádico e irregular que tal atividade possa assumir.
Há, no entanto, dois países que rompem com o critério de precedência do emprego ao 1
classificar pessoas nesta situação. Na pesquisa realizada na lndia, mesmo que tenham
trabalhado na semana de referência, pessoas registradas como demandantes de
trabalho em agências de emprego devem ser classificadas como desempregadas. No
Peru, pessoas que trabalharam na semana de referência e estavam registradas como
estando à procura de trabalho ou recebendo seguro desemprego não devem ser
incluídas no contingente de empregadas.
Trata-se de casos limites, mas cujo tratamento foi feito dando precedência a outro
critério que não a atividade produtiva na semana de referência. Mesmo que explicados
por especificidades nacionais, constituem procedimento divergente da regra geral de
classificação, estabelecendo a convivência, dentro da mesma pesquisa, de padrões
distintos de classificação, e relativizando a possibilidade de comparação internacional.
O sistema de classifica~ão adotado na Irlanda
A pesquisa domiciliar sobre mercado de trabalho realizada anualmente na Irlanda
baseia-se na avaliação pessoal de cada respondente (de 15 anos e mais) sobre sua
situação usual em relação ao emprego, que recebe a denominação de Situação
22
Econômica Principal (Principal Economic Status - PES). Assim, as pessoas são
classificadas como:
- empregadas, quan~o indicam que sua situação usual frente ao emprego é estar
trabalhando;
- subempregadas, se estão procurando trabalho, apesar de possuírem um emprego,
e questionadas sobre o motivo da procura, afirmam estarem subempregadas no
trabalho atual;
- desempregadas, quando afirmam estar (i) desempregadas por terem perdido ou
abandonado o trabalho anterior, (ii) à procura do primeiro trabalho ou (iii) voltando a
procurar trabalho após ter interrompido a vida profissional (por 12 meses ou mais) por
problemas pessoais ou familiares.
Como a classificação depende da visão de cada respondente quanto a sua situação, há
vários casos em que a inserção pode ocorrer em segmentos distintos. Assim, pessoas
que tenham acertado o início de um trabalho ou atividade em período posterior à
entrevista podem se classificar como empregadas ou como desempregadas.
Por outro lado, como inexiste regra de precedência para classificação, as pessoas
tendem a se inserir em segmentos com os quais sentem sua situação mais identificada.
Por esta razão, pessoas· em lay-off ou que estejam recebendo seguro desemprego e
tenham trabalhado em simultâneo a esta situação tendem a se classificar como
desempregadas.
A pesquisa irlandesa contém, adicionalmente, questões referidas à semana anterior à
entrevista, permitindo, desta forma, identificar a atividade básica de cada respondente
neste período de referência. Embora não elimine o conteúdo subjetivo da classificação
da condição de atividade de cada indivíduo, a existência desta referência temporal
viabiliza a construção de indicadores aproximados aos padrões internacionais,
procedimento que é adotado por exemplo pela Eurostat, quando da compilação dos
dados relativos aos países membros da Comunidade Européia, dentre os quais a Irlanda
se inclui.
Os procedimentos adotados pelo Statistical Office of the European Community (Eurostat)
Desde· 1983, a Eurostat vem organizando e divulgando as informações coletadas em
pesquisas domiciliares sobre mercado dle trabalho nos países membros da Comunidade
Européia, tomando como parâmetro os critérios sugeridos na 13ª Conferência.
Realizada anualmente, "'ª primavera, a Community Labour Force Survey é aplicada por
23
cada país membro, em questionário específico, cuja elaboração procura, no entanto,
seguir as '."'3gras e conceitos formulados pela Eurostat.
Revisada em 1992, a Community LFS adota a noção de força de trabalho contida na
resolução da OIT, sendo guiada pelos seguintes parâmetros gerais:
- são pesquisados os domicílios privados, buscando classificar a população não-
institucional; - pessoas que trabalharam uma hora ou mais no período de referência, inclusive
trabalhadores familiares não remunerados, são classificadas como empregadas;
- o período de referência da pesquisa é a semana anterior à entrevista;
- a idade mínima para inclusão na população economicamente ativa é 15 anos;
- para ser classificada como desempregada, uma pessoa deve estar sem trabalho,
disponível para trabalhar e procurando trabalho;
- o período de referência para a procura corresponde às 4 semanas anteriores à
entrevista. Ademais, a pesquisa estabelece que deve existir a disponibilidade para
iniciar um trabalho ou atividade nas duas semanas subsequentes à pesquisa
(Eurostat, 1992:16).
Os indicadore3 alternativos de desemprego do Bureau of Labor Statistics (BLS)
Partindo da hipótese que propósitos analíticos distintos demandam medidas diferentes
do fenômeno do desemprego, o BLS vem calculando, desde 1976, medidas alternativas
de desemprego para os Estados Unidos (Shiskin, 1976; Sorrentino, 1993). Publicados
mensalmente, os sete indicadores alternativos de desemprego, conhecidos como U-1 a
U-7, vinham fornecendo, até 1994, uma escala crescente de taxas de desemprego13•
Devido ao redesenho do questionário da pesquisa e mudanças nas fomas de captação
de algumas variáveis (Cohany et a/li, 1994), esta série foi descontinuada e, em
substituição, foram propostos seis novos indicadores. Estes reproduzem, em parte, os
anteriores, mas foram também elaboradas novas medidas, buscando incluir mecanismos
para quantificar a subutilização de força de trabalho. Frente à esta ampliação do
propósito da escala, ela passaria a se chamar "medidas alternativas de desemprego e
outras formas de subutilização do trabalho" e conteria os seguintes indicadores:
13 Os indicadores alternativos de desemprego divulgados pelo BLS entre 1976 e 1993 eram os seguintes: U-1: taxa de desemprego de longo prazo; U-2: taxa de desemprego das pessoas demitidas; U-3: taxa de desemprego das pessoas adultas (25 anos e mais); U-4: taxa de desemprt:iJO para trabalhadores em jornada completa; U-5: taxa de desemprego convencional; U-6: taxa de desemprego convencional agregando pessoas procurando trabalho em tempo parcial por razões econômicas; e U-7: taxa U-6 adicionando trabalhadores desencorajados. As fórmulas de cálculo e justificativas podem ser encontradas em Shiskin, 1976; Sorrentino, 1993.
24
U-1 - taxa de desemprego de longo prazo: equivale à participação das pessoas
desempregadas há 15 semanas ou mais no total da força de trabalho civil. Sua
construção estaria justificada pela constatação que quanto mais longo for o
período de desemprego, maior será seu impacto sobre o indivíduo e família, pois
a redução de renda associada a curtos períodos de desemprego poderia ser
relativizada pelo acesso ao seguro desemprego ou uso de reservas monetárias;
U-2 - taxa de desemprego das pessoas demitidas e das que tiveram contrato
temporário concluído: corresponde ao percentual, em relação à força de trabalho
civil, dos demitidos ou daqueles cujos contratos de trabalho temporário
terminaram. Pretende centrar a atenção sobre os trabalhadores com experiência
anterior de trabalho, para os quais a perda do emprego resulta em redução
substantiva de renda;
U-3 - taxa de desemprego convencional: total de desempregados como percentual da
força de trabalho civil. Trata-se da medida oficial, calculada segundo parâmetros
semelhantes aos propostos pela OIT;
U-4 - te"'.a de desemprego convencional agregando trabalhadores desencorajados:
mede a participação, na força de trabalho, dos desempregados segundo a
definição convencional e de pessoas que, embora sem trabalho e dispostas a
trabalhar, não procuraram trabalho no período de referência por acreditar que
não conseguem encontrar, mas procuraram no ano anterior (encerrado no
momento da entrevista). Trata-se de um conceito ampliado de desemprego que
procura quantificar, além do desemprego tradicional, o desestimulo gerado pelas
condições do mercado de trabalho sobre determinados segmentos da população
ativa;
U-5 - taxa U-4 adicionando trabalhadores marginalmente ligados à força de trabalho:
fornece a participação deste segmento na força de trabalho civil acrescida dos
trabalhadores marginalmente ligados. Esta medida agrega aos desempregados
em conceito amplo todas as pessoas que querem e estão disponíveis para
trabalhar e procuraram trabalho recentemente, independente da razão de não tê
lo feito no período de referência, inclusão justificada por elas serem potenciais
ofertantes de trabalho;
U-6 - fé'-,i;a U-5 agre:iando, ao numerador, todas as pessoas trabalhando jornada
parcial por razões económicas. Trata-se da medida mais ampla, que dá a
"trabalhadores em subemprego visível e todas as pessoas 'marginalmente
ligadas' ao mercado de trabalho tratamento igual ao desemprego" (Bregger &
Haugen, 1995:24).
25
Este conjunto de indicadores está centrado na taxa de desemprego convencional, em
relação à qual as outras cinco são construídas subtraindo ou adicionando parcelas da
força de t'."abalho e dos desempregados. Sob este aspecto, poderia ser tratado como
uma ampliação dos marcos conceituais sugeridos pela OIT para classificação da força
de trabalho.
No entanto, ao pretender captar a subutilização da força de trabalho através de quatro
elementos distintos - desemprego, desestímulo do mercado de trabalho, ligação tênue
com mercado de trabalho e jornada parcial por razões econômicas-, tende a romper
com aqueles parâmetros. Isto ocorre porque as taxas U-5 e U-6 não estão baseadas
apenas nos critérios que embasam a construção da OIT, incorporando também uma
noção de uso do tempo disponível para trabalho. Assim, caso este exercício fosse
extendido para toda a população em idade ativa, ele produziria uma classificação distinta
da sugerida como parâmetro internacional.
As taxas complementares do Instituto Nacional de Estadística, Geografia e lnformâtica
A incapacidade de a taxa de desemprego aberto fornecer uma medida adequada do
problema de subutilização de força de trabalho no México levou o Instituto Nacional de
Estadística, órgão responsável pela pesquisa domiciliar sobre mercado de trabalho, a
elaborar tl>Cas compl~mentares de desemprego, subemprego e renda do trabalho.
Baseados na combinação de dados sobre procura de trabalho, horas trabalhadas e
rendimento, estes indicadores deveriam fornecer uma quantificação mais precisa dos
beneficiários potenciais das políticas de emprego implementadas pelo Governo.
Partindo da taxa de desemprego aberto oficial, foram construídos outros dez indicadores:
T-1 - taxa de desemprego aberto: trata-se do indicador convencional de desemprego,
calculado nos padrões sugeridos pela OIT, embora excluindo as pessoas que
iniciarão novo trabalho e aqueles em lay-off que retomarão atividades nas 4
semanas seguintes à entrevista;
T-2 - taxa alternativa de desemprego: corresponde à participação das pessoas em
desemprego aberto, daquelas que iniciarão suas atividades no mês seguinte e
das em desemprego oculto na força de trabalho acrescida daqueles em
desemprego oculto. Nesta última situação estariam as pessoas que (i)
interromperam a procura no último mês, embora tivessem procurado trabalho
nos dois meses anteriores, por acharem que não podem encontrar trabalho; e (ii)
não procuraram nos dois meses anteriores por acreditarem não haver trabalho
ou porque estavam esperando o fim de uma greve, um trabalho sazonal,
26
resposta à procura anterior ou ser chamado para um trabalho nos três meses
seguintes;
T-3 - taxa de efetiva pressão econômica: equivale ao percentual de desempregados
abertos e de empregados buscando o segundo posto na força de trabalho;
T-4 - taxa de efetiva pressão por preferência: dimensiona a participação de
desempregados abertos e de empregados em busca de um novo trabalho na
força de trabalho;
T-5 - taxa geral de pressão: indica a parcela de desempregados abertos e de
empregados buscando o segundo ou um novo posto de trabalho na força de
trabalho;
T-6 - taxa de desemprego mais pessoas trabalhando até 15 horas na semana: mede
a participação dos desempregados abertos e dos empregados com jornada
inferior a 15 horas, por qualquer razão, na força de trabalho;
T-7 - taxa de desemprego mais jornada parcial por razões econômicas: fornece o
percentual de pessoas em desemprego aberto e daquelas trabalhando menos
de 35 horas semanais por razões econômicas em relação à força trabalho;
T-8 - taxa de desemprego mais pessoas trabalhando menos de 35 horas: dimensiona
a participação, na força de trabalho, das pessoas em desemprego aberto e dos
empregados com jornadas inferiores a 35 horas semanais, voluntária ou
involuntariamente;
T-9 - taxa de desemprego mais renda insuficiente: fornece o percentual de pessoas
em desemprego aberto e daquelas trabalhando por menos que o salário mínimo,
em relação à força de trabalho;
T-10 - taxa de condições críticas de emprego: indica, em relação ao emprego total, a
parcela de pessoas trabalhando menos de 35 horas por razões econômicas,
trabalhando mais de 35 horas e ganhando menos que o salário mínimo e
trabalhando mais de 48 horas e recebendo entre um e dois salários mínimos;
T-11 - taxa geral de necessidades de emprego: corresponde à participação, na força
de trabalho acrescida pelos desempregados ocultos, das pessoas em
desemprego aberto ou oculto, esperando para iniciar novo trabalho, procurando
um segundo ou novo trabalho e daquelas trabalhando menos de 15 horas.
Apesar das limitações provocadas pelo uso da variável renda nas comparações inter
temporais, esta longa serie de indicadores é capaz de fornecer uma medida relativa
completa da subutilização de força de trabalho, resultando em aumento de até sete
vezes na taxa oficial de desemprego. Ao utilizar limites de jornada diversos para inclusão
27
no contingente em desemprego (ou subutilizado), flexibiliza os critérios de classificação
contidos na resolução da OIT, em especial por quebrar, em alguns dos indicadores, a
precedência do emprego.
A noção de setor informal
Desde o pioneiro estudo sobre o Kenya (ILO, 1972), a noção de setor informal vem
merecendo uma multiplicidade de estudos e interpretações (Ferreira, 1991). Resultado
da busca de medidas alternativas para o problema da geração de emprego em
estruturas produtivas heterogêneas e com grande disponibilidade de mão-de-obra, nas
quais o desemprego aberto é um indicador imperfeito do grau de utilização da força de
trabalho, esta noção mereceu, desde então, variadas tentativas de operacionalização.
Buscando homogeneizar os procedimentos a serem utilizados para dimensionar o setor
informal, a 15ª Conferência dos Estatísticos do Trabalho estabeleceu, em 1993,
detalhada resolução sobre o tema, visando "proporcionar diretrizes técnicas que sirvam
de referência para a elaboração de definições e classificações adequadas das atividades
do setor informal e o desenho de métodos de coleta de dados e de programas
apropriados" (ILO, 1993:58). As definições formuladas partem de um recorte da estrutura
produtiva para descrever o mercado de trabalho e avaliar a importância do segmento
pouco estru~urado na geração de emprego e renda e têm o propósito de permitir a
comparabilidade internacional das informações e evitar a associação entre setor informal
e ilegalidade, presente em vários estudos sobre o tema.
Na resolução de 1993, define-se setor informal como "o conjunto de unidades dedicadas
à produção de bens ou prestação de- serviços com a finalidade primordial de gerar
emprego e renda para as pessoas que trabalham nestas atividades" (ILO, 1993:59).
Estas unidades apresentariam as seguintes características:
- seriam tipicamente de pequena escala, com organização rudimentar e pouca
separação entre trabalho e capital como fatores de produção;
- a contratação de empregado, quando ocorre, baseia-se, em geral, em relações
familiares e/ou pessoais e informais;
- apresentariam características de empresas que não estão constituídas em
sociedade, tal como definido pelo sistema de contas nacionais das Nações Unidas,
ou seja, não constituiriam entidades jurídicas independentes. Nestas empresas, a
propriedade do capital não pertence a elas, mas a seus proprietários, e seu
funcionamento está sob responsabilidade de um ou mais membros da mesma família
residente no domicilie; ·
28
- suas atividades não se realizariam com a intenção deliberada de infringir as
disposições legais vigentes, diferenciando-se, portanto, das empresas da economia
subterrânea (exploração de atividades ilegais ou que não cumprem as normas
trabalhistas ou outras disposições previstas em lei).
Para operacionalizar esta definição, a OIT propõe que sejam coletadas informações
sobre empresas inform~is dos trabalhadores por conta-própria, por eles administradas,
individualmente ou com membros de suas famílias, podendo empregar trabalhadores
familiares ou empregados ocasionais. De acordo com as situações nacionais, essas
empresas podem ou não ser registradas.
Adicionalmente, poderiam ser também classificadas como unidades do setor infomal
empresas de empregadores informais administradas por ele ou em associação com
membros da família, empregando um ou mais trabalhadores em caráter permanente.
Essas empresas, segundo as circunstâncias nacionais, poderiam ser identificadas pela
restrição de seu tamanho, dado pelo número de empregados, e/ou pela ausência de
registo da empresa ou pela não formalização dos contratos de seus empregados.
Quando forem incluídas no segmento informal, tais empresas deveriam ser classificadas
separadamente.
A resolução propõe que, para atender necessidades analíticas a nível nacional,
poderiam ser elaboradas definições mais específicas do setor informal a partir dos dados
coletados. Para efeito de comparabilidade internacional, as estatísticas do setor informal
deveriam ser discriminadas segundo tipo de atividade econômica, local de trabalho
(domicílio do proprietário, outros locais fixos, sem lugar fixo), localização (urbana, rural),
número de pessoas ocupadas, propriedade (individual, familiar) e relação com outras
empresas (produtores independentes, subcontratados).
Sugere-se, na recomendação, que o levantamento das informações seja realizado pelo
menos anualmente, para acompanhar a evolução do emprego no setor informal. Quanto
ao tipo de pesquisa, poderiam ser realizadas as domiciliares, de estabelecimentos ou
mistas (domiciliares e estabelecimentos), dependendo do tipo de dado a ser coletado.
Para obtenção de informações sobre emprego, recomenda-se a utilização das pesquisas
domiciliares já realizadas por cada país sobre a população economicamente ativa, nas
quais deveriam ser introduzidas questões a serem aplicadas junto a todas as pessoas
ocupadas, com o objetivo de identificar a ocorrência de trabalho no setor informal,
mesmo como atividade secundária.
29
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A contraposição entre os critérios formulados pela OIT e as práticas nacionais mostra um
esforço dos países para ajustarem-se às normas internacionais, ainda que estas não
imponham constrangimentos legais para o seu cumprimento. Isto vem sendo feito, no
entanto, sem criar impedimentos metodológicos ou operacionais para a construção de
indicadores mais aderentes à sua realidade.
Essa flexibilidade a nível nacional tem contribuído para que os sistemas de estatísticas
sobre mercado de trabalho sejam capazes de expressar as características específicas de
cada país e suas mudanças ao longo do tempo, sem comprometer as séries históricas e,
em algumas circunstâncias, até mesmo contribuindo para a renovação dos padrões
estabelecidos para comparabilidade internacional. Este processo já foi observado, por
exemplo, no caso da adoção de período de procura por trabalho diverso daquele uilizado
como referência para a pesquisa, da identificação de trabalhadores desencorajados, da
elaboração das noções de subemprego e de setor informal, variáveis presentes em
pesquisas nacionais antes de serem incorporadas às resoluções da OIT.
No atual momento de grandes transformações econômicas e sociais, com reflexos no
mundo do trabalho, toma-se cada vez mais necessário criar possibilidades para que
emerjam dos países estatísticas que captem essas mudanças, não só específicas à
realidade iocal, como as que apontem para fenômenos com características mais gerais.
Neste contexto, o maior desafio é compatibilizar os interesses nacionais com a crescente
necessidade de geração de estatísticas comparáveis a nível regional e internacional.
Os requerimentos contidos nas normas formuladas pela OIT, por utilizarem critérios
extremamente simples e mínimos, permitem aos países avançar na construção de
indicadores e sistemas classificatórios próprios, mantendo a capacidade de fornecer
dados para as séries comparativas internacionais. Desta forma, mesmo que o propósito
básico das estatísticas coletadas sobre mercado de trabalho fosse apenas a
contraposição entre as situações vigentes em distintos países, hipótese que não
encontra respaldo nos documentos da OIT, a possibilidade e vantagem de construir
questionário e sistema classificatório mais amplos seriam enormes, em especial em se
tratando de situações em que o mercado de trabalho seja ou esteja se tomando
heterogêneo.
Neste sentido, parece se tomar cada vez mais necessano mensurar e analisar as
diferentes formas de inserção dos indivíduos no mundo do trabalho combinando as
30
várias dimensões relativas ao trabalho. Além de sua característica estritamente
produtiva, aspecto central nas normas hoje vigentes, caberia analisar outros aspectos,
como sua capacidade de geração de renda, de garantia de sobrevivência, de inclusão
social e mesmo sua complementaridade e/ou concorrência com outras atividades
socialmente prioritárias. Embora de difícil mensuração, a consideração simultânea destes
aspectos é hoje um desafio para analistas e produtores de estatísticas que pretendam
construir indicadores aapazes de captar de forma adequada as atuais características das
relações da população com o mercado de trabalho.
31
Quadro 1
Caracteristícas das Pesquisas Domiciliares
Pafses Nome da Cobertura Periodicidade População Idade Mlnima Perlodo de Referência Pesquisa Pesquisada População Ativa Emprego Procura de Disponibílidade
Trabalho para Trabalhar Alemanha Mikrozensus pais ~nual (em Abril ~odos residentas 15 anos última semana quatro semanas semana
sem feriado em anteriores Abril
Austrália labour Force Surve) pais mensal, desde população civil 15 anos semana anterior quatro semanas semana anterior 1978 à entrevista anteriores à à entrevista
entrevista Canadá _abour Force Surve) pais, exceto mensal, desde população civil 15 anos semana que quatro semanas semana de
Territórios do 1953 não-Institucional contém o dia 15 anteriores, a referência Yukon edo do mês Oltima sendo a Noroeste de referência
Chile Encuesta Nacional pais mensal, com população civil 15 anos semana anterior dois meses semana anterior dei Empleo continental dados em não-instituciona à entrevista anteriores à à entrevista
médias móveis entrevista trimestrais
Costa Rica Encuesta de pais anual (em população não- 12 anos semana anterior cinco semanas imediata Hogares de Julho) institucional à entrevista anteriores â
Propositos Multiples entrevista Modulo de Empleo
Espanha Encuesta de pais trimestral população não- 16 anos semana quatro semanas duas semanas Poblacion Activa institucional (segunda a anteriores à seguintes à
domingo) entrevista entrevista anterior à entrevista
Estados Unidos Current Population pais mensal população civil 16 anos semana quatro semanas semana de Survey não-institucional (domingo a anteriores à referência
sábado) que entrevista Inclui o dia 12
França Enquête sur l'emplo· França semestral população não- 15 anos semana mês anterior à 15 dias metropolitana institucional (segunda a entrevista posteriores à
domingo) entrevista anterior à entrevista
Fonte: OIT. Statistical Sources and Methods, 1990.
32
Quadro 1 Caracteristicas das Pesquisas Domiciliares
Pafses Nome da Cobertura Periodicidade População Idade Mfnima Período de Referência Pesquisa Pesquisada População Ativa Emprego Procura de Disponibilidade
Trabalho para Trabalhar
ln dia Employment and pais, exceto qOinqOenal população civil 5anos semana anterior semana anterior semana anterior Unemployment pequenas não-instituciona à entrevista ( 1) à entrevista à entrevista
Surveys, National áreas Sample Survev inacesslveis
Irlanda Labour Force Surve) pais anual população 15 anos não especificado não especificado não especificado (Abril/Maio) residente
Itália Rilevazione delle pars trimestral (Jan, população 14 anos primeira semana quatro semanas 15dias Forze di Lavoro Abr, Jul e Out) residente sem feriado do anteriores à posteriores 'a
mês da pesquisa entrevista entrevista
Japão Pesquisa de Força pais, exceto mensal população 15 anos últimos 7 dias de semana de imediata · üe Trabalho Território do residente mês, exceto em referência da
Noroeste dez. (20-26} pesquisa México Encuesta Nacional 12 áreas trimestral população não- 12 anos semana anterior dois meses semana
de Empleo Urbano, metropolitanas institucional à entrevista anteriores à Registro de Hogares e 4 cidades na entrevista
fronteira EUA Paraguai Encuesta de área anual população civil 12 anos semana anterior semana anterior semana
Hogares - Mano de metropolitana não-instituciona à entrevista à entrevista Obra de Assunção
Peru Encuesta de Niveles região anual população não- 14 anos semana (dom. a semana anterior semana de Empleo en Uma metropolitana (Junho/Julho) institucional sáb.) anterior à à entrevista
Metropolitana de Lima entrevista Portugal Inquérito ao Portugal, trimestral (Fev, população não- 12 anos semana anterior 30dias 15dias
Emprego Açores e Abr, Jut e Out) institucional à entrevista anteriores à posteriores à Madeira entrevista entrevista
Reino Unido ... abour Force Surve) pais anual população não- 16 anos semana que semana de não definido institucional acaba no referência
domingo antes da entrevista
Suécia Pesquisa de Força pais mensal habitantes de 1~ 16 anos semana, uma quatro semanas semana de Trabalho a64 anos das 2 iniciais do anteriores à
mês entrevista Fonte: OIT. Statistical Sources anel Methods, 1990. (1) A lndia utiliza três periodosde referência distintos. No quadro, foi adotado aquele que se refere à noção de população ativa corrente.
Quadro 2 Procedimentos para Classificação da Condição de Atividade
Pafses Jornada Forças Empregado Trabalhador Armadas
Familiar sem Remuneração
Alemanha mlnimo 1 hora mlnimo 1 hora empregados na semana na semana
Austrália mfnimo 1 hora mlnimo 1 hora excluídos da na semana na semana PEA
Canadá qualquer qualquer excluídos da trabalho trabalho PEA
Chile mlnimo 1 hora mlnimo 15 excluídos da na semana horas na PEA
semana Costa Rica mlnimo 1 hora mlnimo 1 hora (1)
na semana na semana
Espanha mfnimo 1 hora mlnimo 1 hora empregados na semana na semana
Estados Unidos qualquer mfnimo 15 empregados trabalho horas na
semana
França mlnimo 1 hora mínimo 1 hora empregados na semana na semana
Fonte: OIT. Statistical Sources and Methods, 1990. (1) A Costa Rica não possui Forças Armadas.
Trabalhadores Pessoas sem Participantes de em Lay-off Trabalho e sem Programas de
Procura Emprego e Treinamento
empregados n.d. empregados
com renda, n.d. n.d. empregados; sem renda,
desempregadm desempregado~ se estiverem em empregados
se tiverem lay-off, disponibilidade desempregadas para trabalhar
desempregados n.d. n.d.
desempregados inativos, empregados quando sem categoria
remuneração e trabalhadores com procura desencorajados
n.d. inativos, empregados identificados
como membros potenciais da
PEA desempregado! inativos, sendo empregados
identificáveis como
desencorajados empregados se registrados, empregados
desempregados
n.d. = não definido.
33
Pessoas com Trabalho a Subemprego Iniciar após Perlodo de Referência
desempregados n.d.
desempregados, jornada menor que 35 se iniciar em até horas semanais ou, por 4 semanas após razões econômicas,
a entrevista inferior ã integral desempregados, n.d. se iniciar em até 4 semanas após
a entrevista desempregados n.d.
desempregados visível: jornada menor 47 horas involuntária
invislvel: jornada meno1 47 horas involuntária e
salário menor que o mfnimo legal
desempregados jornada parcial se tiverem involuntária com
disponibilidade procura de trabalho ou para iniciar em 2 jornada « 40 horas por
semanas razões econômicas desempregados n.d.
desempregados n.d.
Quadro 2 :ão de Atividade Procedimentos para Classificacão da Condic
Palses Jornada Forças Empregado Trabalhador Armadas
Familiar sem Remuneração
lndia mfnimo 1 hora mfnimo 1 hora exclufdos da na semana na semana PEA
Irlanda auto- auto- empregados classificação classificação
Itália qualquer qualquer empregados trabalho trabalho
Japão mfnimo 1 hora mfnimo 1 hora empregados na semana na semana
México mlnimo 1 hora mfnimo 1 hora empregados na semana na semana
Paraguai qualquer mlnimo 1/3 da empregados trabalho jornada norma
Peru qualquer mfnimo 15 empregados trabalho horas na
semana
Portugal mínimo 1 hora mfnimo 1 hora empregados na semana na semana
Reino Unido qualquer inativos empregados trabalho
Suécia mfnimo 1 hora mfnimo 1 hora empregados na semana na semana
Fonte: OIT. Statistical Sources and Methods, 1990. (1) No Japão não existe a situação de lay-off.
Trabalhadores Pessoas sem Participantes de em Lay-off Trabalho e sem Programas de
Procura Emprego e Treinamento
desempregado~ n.d empregados
desempregado~ auto- empregados classificação
empregados n.d. empregados
(1) n.d. empregados
empregados se inativos n.d. forem retomar
em 1 mês empregados se n.d. desempregados forem retornar
em 1 mês desempregado~ desempregados empregados
se tiverem em desemprego procura oculto
empregados se desempregados empregados tiverem renda conceito amplo empregados n.d. desempregados
se têm procura e não têm salário empregados se
têm salário empregados n.d. empregados se
com salário
n.d. = não definido.
34
Pessoas com Trabalho a Subemprego Iniciar após Perlodo de Referência
desempregados n.d
desempregados auto-classificação de empre9ados com procura adicional
desempregados jornada < que normal por razões econômicas ou parcial involuntária
desempregados n.d.
empregados, se jornada ou renda « novo trabalho normal, subutilização d<:
iniciar em 1 mês qualificação empregados, se jornada inferior a 30 novo trabalho horas semanais
iniciar em 1 mês involuntária desempregados jornada < que 35 horas
involuntária ou jornada de 35 horas com renda
inferior ao mlnimo desempregados jornada inferior à
normal involuntária desempregadps n.d.
desempregados com jornada inferior ao se iniciar em 4 desejado por razões
semanas econômicas
35
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1 . .
METODOLOGIA E CONSTRUÇÃO DE INDICADORES DE DESEMPENHO DE UM MERCADO DE
TRABALHO HETEROGtNl:01
Oaudio SaJvadori Dedecca2
O objetivo deste ensaio é discutir a questão metodológica das pesquisas mensais e
domiciliares sobre emprego e desemprego em uma experiência de industrialização atrasada
como a conhecida pela sociedade brasileira. Esta proposição visa somente contribuir com os
esforços que as instituições nacionais - com seus respectivos corpos técnicos - têm envidado
no desenvolvimento dos dois principais levantamentos existentes: a Pesquisa Mensal de
Emprego, realizada pelo IBGE desde 1980, e a Pesquisa de Emprego e Desemprego,
1 ESle ensaio foi produzido a partir de uma solicitação feita conjuntamente pela Presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, pela Diretoria da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados, pela Diretoria Técnica do Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos e Sócio-Econômicos e pelo Presidente da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho, com o objetivo de estimular a discussão em tomo dos le\"antamentos mensais sobre emprego e desemprego reaJizados pelo IBGE e a Fundação SEADE-DIEESE, realizada no Encontro Nacional de Produtores e Usuários de Informações Sociais, Econômicas e Territoriais organizado pelo IBGE (27 a 31demaiode1996). A concreti1.ação da proposta somente foi possível graças ao apoio direto dado pela equipe de analistas da Pesquisa de Emprego e Desemprego PED-SEADE/DIEESE na Grande São Paulo, garantido pela direção da Fundação SEADE. Também foi fundamental o respaldo dado pela direção do Instituto Economia da UNICAMP. O autor gostaria de fazer alguns agradecimentos especiais. A Na.dia Dini - responsável estatística -, que elaborou, em um curto prazo de tempo, as informações necessárias ao estudo, e a Marise Hoffmann, que auxiliou decisivamente na elaboração dos cruzamentos metodológicos utilizados no processamento especial da base de informações da informações da PED e que respondeu às dúvidas colocadas sobre a construção, definição e operacionalização dos conceitos utilizados pela PED. A Paulo Baltar por suas sugestões e comentários rigorosos que não somente auxiliaram a desvendar algumas questões debatidas no ensaio, c;;,.")JllO permitiram desenhar novos pontos para trabalhos futuros. Apesar do apoio recebido, do passado do auh""t junto à PED como membro da equipe no período 1986-90 e dos laços de amizade carinhosamente mant:'ios ainda hoje, o ensaio é de inteira responsabilidade do autor, bem como é uma expressão independente de suas opiniões.
2 UNICAMP.
2
implementada originalmente na Região Metropolitana de São Paulo pela Fundação SEADE
e pelo DIEESE, em 1984.
Entendemos que o esforço específico de formulação de uma proposta de levantamento
sistemático cabe às instituições que podem sustentar direta e permanentemente atividades
deste tipo, pois qualquer tentativa nesta direção requer um conhecimento que extrapola a
construção metodológica (conceitos, questionários e amostra), na medida que envolve o
domínio de técnicas de implementação das atividades de coleta, consistência e análise
normalmente garantidas por um saber originado na herança e na tradição de planejamento e
gestão sistemáticas de pesquisas de campo. Neste sentido, consideramos ser possível fazer o
debate metodológico das pesquisas existentes na esperança de organiz.ar contribuições que,
na medida do possível, possam ser úteis às instituições responsáveis e, caso implementadas,
fornecer indicadores mais completos e complexos sobre o desempenho conjuntural dos
mercados regionais de trabalho - metropolitanos ou não - aos técnicos da administração
pública envolvidos na formulação de políticas de emprego, aos pesquisadores acadêmicos ou
não e, em especial, à sociedade.
Este posicionamento não representa uma omissão, como usuário, da responsabilidade no
desenvolvimento metodológico das pesquisas existentes. Apenas, entendemos que nós
usuários podemos ser somente interlocutores privilegiados dos corpos técnicos das
instituições envolvidas que, após anos de atividade, consolidaram uma experiência concreta
e indiscutivelmente relevante que foge do campo do conhecimento abstrato, no qual nós
dominantemente estamos inseridos. Não pretendemos com isto fazer uma separação entre o
conhecimento empírico e o abstrato/teórico, mas simplesmente apontar nossas limitações em
responder individualmente à complexidade de tarefas que marca a construção do
conhecimento no tema em análise e a impossibilidade de postergar um debate mais coletivo
e pluralista.
Este ensaio está organizado em quatro partes básicas. Na primeira, analisa-se a problemática
entre desenvolvimento econômico e mercado de trabalho, apontando para a especificidade
da experiência latino-americana, com o intuito de explicitar as particularidades dos mercados
de trabalho nacionais que devem ser consideradas em levantamentos ou discussões sobre
3
emprego e desemprego. Em seguida, discute-se a emergência explícita do desemprego em
uma conjuntura de crise que interrompe um longa trajetória de crescimento do nível de
emprego no Bràsil, apontando as preocupações que afloram frente a uma situação de falta
de dinamismo econômico e do mercado de trabalho. Estes dois itens alicerçam a discussão
que se segue, sobre as metodologias e indicadores produzidos pela PME e PED. Em um
primeiro momento, é feita uma rápida apresentação dos principais critérios adotados para a
mensuração do desemprego. E, posteriormente, é apresentado um exercício analítico
desenvolvido a partir da estimativa de indicadores, que incorpora tanto as resoluções da OIT
como o arcabouço conceitual da PME, realizada com a base de informações da PED para a
Região Metropolitana de São Paulo. Por fim, serão apresentadas algumas considerações
finais sobre as questões debatidas ao longo do ensaio.
1. Desenvolvimento e Mercado de Trabalho
A visão que se tomou dominante sobre desenvolvimento econômico e mercado de trabalho
na América Latina no pós-guerra propôs, em um primeiro momento, que a industrialização
regional se constituía em uma alavanca de modemiz.ação sócio-econômica, necessária à
sustentação de um processo de desenvolvimento que possibilitaria a superação das
condições de pobreza e miséria que caracterizavam a região e produziria uma sociedade
mais homogênea socialmente.
Os termos que caracterizaram esta argumentação tinham origem nos ensaios de C. CLARK.
(1971) e W. ROSTOW (1969), onde era defendida a necessidade de um crescimento
acelerado dos segmentos modernos da economia que criasse um movimento sistemático de
aumento da produtividade e de geração de um excedente social muito superior à
depreciação corrente do capital. Estes elementos amparariam uma transformação econômica
dirigida para uma organização produtiva mais eficiente, que garantiria a existência de
empregos mais qualificados e de renda mais elevada.
4
As trajetórias de industrialização efetivamente trilhadas pelas diversas economias da região,
fomentadas por projetos nacionais específicos e por um importante fluxo de capitais dos
países desenvolvidos para a América Latina nos anos 50 e 60, permitiram consolidar um
núcleo de atividades econômicas modernas, onde dominou a grande empresa capitalista
nacional e estrangeira, cujo peso na estrutura econômica manteve-se relativamente restrito,
independentemente do grau alcançado pela modemiz.ação. O elevado peso das formas de
ocupação vinculadas ao setor agricola tradicional e dos pequenos e médios negócios na
estrutura de emprego urbana sinalizou os limites do processo de transformação produtiva.
Assim, a nova estrutura econômica consolidou novos setores produtivos com níveis de
produtividade mais elevados e, algumas vezes, comparáveis aos padrões internacionais, ao
mesmo tempo que manteve intacta uma ampla gama de atividades caracterizadas pela baixa
eficiência.
No plano do mercado de trabalho, observou-se crescimento do assalariamento, sem que este
movimento tivesse resultado em uma tendência de homogeneização da estrutura
ocupacional, tanto do ponto de vista das formas de trabalho como do padrão de
remuneração. As dificuldades em conseguir uma inserção produtiva mais estável, com
melhores condições de trabalho, amparada pelo sistema de proteção social existente e
caracterizada por um nível de remuneração mais elevado continuaram presentes para a
maioria da força de trabalho, tanto no meio rural como no urbano.
Diversos autores reconheceram que o desenvolvimento industrial amplificou estas
dificuldades, pois sua capacidade de geração de postos de trabalho - mesmo que elevada -
contrastava com seu poder de desarticulação de formas tradicionais de produção - em
especial, agrícola - em um contexto de elevado crescimento demográfico, que produziu um
rápido processo migratório em direção às cidades. Deste modo, observou-se um aumento da
força de trabalho urbana desproporcional à capacidade de absorção dos segmentos
modernos, impondo que parcelas expressivas de população ativa se mantivessem em
ocupações de baixa produtividade, fora da relação de trabalho assalariado com proteção
social e negociação coletiva e excluídas dos novos padrões de consumo criados pela
indústria moderna. Esta particular forma de organização das estruturas econômicas e sociais
5
foi compreendida como um mecanismo de exclusão social de parte ponderável da população
dos beneficias da modernização econômica.
O debate sobre o desenvolvimento latino-americano do pós-guerra apontava a exclusão
como um impedimento para que massas de população pudessem ter no mercado de trabalho
uma referência central para sua inserção social. De fato, estes argumentos reportavam a uma
idéia consolidada nos anos 60, de que a modeníização teria sido restrita para construir uma
sociedade salarial que incorporasse em massa a disponibilidade de força de trabalho
existente em cada uma das economias nacionais. No debate regional, a força de trabalho
sobrante foi base para controvérsia sobre a marginalidade, centralizada nos ensaios de J.
NUN (1969), F. H. CARDOSO (1971) e A. QUIJANO (1978). A partir da metade dos anos
70, este debate voltou-se para o problema da informalidade, cujas idéias originais foram
formuladas pelo Programa Regional de Emprego para a América Latina e Caribe, PREALC
OIT (1981).
Um aspecto comum marcou ambas as discussões: o problema da absorção de força de
trabalho e da heterogeneidade do mercado de trabalho. Os diversos estudos realiz.ados sobre
o tema tomavam as experiências de industrialização nos países avançados, em especial em
certos de países da Europa Ocidental, como paradigmas de modernização com
homogeneização sócio-econômica, caracteriz.ada tanto por uma dominância das estruturas
ocupacionais pelo assalariamento, como por uma crescente regulação desta forma de relação
de trabalho pelo Estado e pelas negociações coletivas. Entendiam os autores que estas
experiências mostravam a capacidade de geração de postos de trabalhos pelo avanço da
estrutura industrial e, ao mesmo tempo, que o aprofundamento da organização democrática
alterava positivamente as normas e regras ordenadoras dos sistemas nacionais de relações
sociais, que em seu conjunto permitiam a institucionalização dos mercados de trabalho no
sentido de sua crescente homogeneização. Ainda para estes autores, este movimento
estendeu o padrão de consumo moderno a amplas massas de trabalhadores, criando um
circuito renda-consumo-investimento fundamental para a sustentação do crescimento de
longo prazo3.
3 Cf. os ensaios clássicos de A PINTO (1976) e P. VUSKOVIC BRAVO (1976).
6
Comparativamente, estes estudos, ao analisarem as experiências latino-americanas,
concluíam que não havia se estabelecido um círculo virtuoso como o observado para os
países avançados. Em primeiro lugar, porque a modernização limitada havia gerado um grau
de assalariamento baixo. Em seguida, porque a transformação econômica não havia sido
acompanhada de mudanças mais expressivas na organização social - ao contrário, os
períodos de autoritarismo serviram para conter alterações neste sentido - que reforçassem os
efeitos, mesmo limitados, do aumento do assalariamento sobre o mercado de trabalho. E,
finalmente, porque a conjugação dos fatores econômicos e políticos não produziu uma
organização do Estado e da sociedade que atacasse os problemas estruturais que
caracterizavam os países da região - o agrário, o regional, o urbano e o das políticas sociais.
Concluía-se, portanto, pela ausência de um movimento de transformação sócio-econômica
que rompesse os problemas de exclusão que impediam o estabelecimento de uma trajetória
de homogeneização social e, portanto, mantinham uma forte fragmentação do mercado de
trabalho. Assim, os autores descartavam a possibilidade de que o assalariamento com
proteção social - standard employment re/atio11ship - viesse a ser a marca da experiência de
. industrialização excludente.
A tentativa de dar conta da heterogeneidade das formas de relações de trabalho foi marcada
pela incorporação das hipóteses formuladas pela OIT no estudo clássico sobre o Quênia
(OIT, 1972) e, também, pela incorporação das idéias contidas nos estudos sobre a
segmentação da estrutura social americana publicados no início dos anos 70 (P.
DOERINGER & M. PIORE, 1971; D. GORDON, 1972).
A primeira referência abriu campo para pensar uma dualidade na organização do mercado de
trabalho, com um segmento formal estruturado a partir das formas de organização produtiva
claramente capitalistas - separação entre trabalho e gestão, existência de uma estratégia de
acumulação, estabelecimento de um organização empresarial - e um outro segmento
informal agregador de uma multiplicidade de formas de organização produtiva caraterizadas
por baixa estruturação do negócio (PREALC, 1981). Tomando em conta os resultados do
estudo sobre o Quênia, V. TOKMAN afirma que "o principal argumento sobre a origem
deste setor foi o excedente de mão-de-obra, em sua maioria formado por indivíduos que
7
imigravam das zonas rurais e que não podiam encontrar trabalho nos setores modemos.
Dada a necessidade de sobrevivência, estes indivíduos tinham que desempenhar algumas
atividades que lhes [Jermitissem obter um rendimento" (TOKMAN, 1987: 515, tradução
nossa). Esta formulação entendia, ainda, que o setor informal era caracterizado por barreiras
à entrada reduzidas e, por decorrência, que quanto maior o volume de pessoas inseridas
nestas atividades menor seria a renda auferida individualmente.
A segunda referência, aliada aos resultados de pesquisas de campo, permitiu algumas
requalificações e avanços da visão sobre o excedente de mão-de-obra e informalidade. Os
principais elementos desta contribuição foram: i. que não havia homogeneidade nas formas
de relações de trabalho do setor informal; ii. que certas atividades não eram caracterizadas
por barreiras à entrada, enquanto outras eram; iii. que as unidades produtivas objetivavam o
maior rendimento individual, em vez da acumulação de lucros. Estes elementos apareciam
explicitamente nas experiências de pesquisas desenvolvidas pelo PREALC na segunda
metade dos anos 70, e foram posteriormente mais bem articulados nos trabalhos de V.
TOKMAN (1978) e de P. R. SOUZA (1979; 1980).
Em ensaio realizado conjuntamente, os autores concluem que, "para que eristam mercados
de trabalho heterogêneos, é necessário que funcionem barreiras que obstaculizem o fluxo
de fatores entre os diversos estratos do mercado. Estas barreiras não podem estar
relacionadas apenas com os níveis de qualificações" (SOUZA e TOKMAN, 1979: 129).
Este argumento sinalizava para a presença de formas diferenciadas de inserção tanto entre
trabalhadores do setor formal e informal como entre trabalhadores de cada um dos setores.
A heterogeneidade se refletia em um caleidoscópio de situações ocupacionais, que se
distanciava fortemente da visão dual clássica sobre a organização dos mercados de trabalho,
onde a condição de atividade da população ativa poderia ser sintetizada pelas situações de
emprego e desemprego.
A reprodução deste caleidoscópio ocupacional estava e está relacionada aos problemas
estruturais de absorção de força de trabalho, historicamente conhecidos no desenvolvimento
econômico da América Latina. Contudo, é dever ressaltar que os movimentos de expansão e
retração econômica tenderam a alterar este caleidoscópio, na medida em que melhoraram ou
8
agravaram a situação global de emprego, afetando a possibilidade de trânsito (mobilidade)
dos indivíduos entre situações ocupacionais. Também, estes movimentos ampliaram ou
reduziram a perspectiva individual de uma saída da condição de desemprego permitida pelo
acesso a uma ocupação no segmento formal. Neste sentido, a dinâmica econômica tendeu a
modificar o caleidoscópio ocupacional, alternando no tempo as características de
precariedade e heterogeneidade do mercado de trabalho sem, no entanto, jamais superá-las 4
Como mostrou o estudo clássico de M. JAHODA et alii (1971) sobre o desemprego na
periferia de Viena (Marienthal) nos anos 30, a condição de desemprego aberto, em uma
região onde preponderava o assalariamento industrial, pôde ser mantida enquanto existiram
perspectivas de reemprego. A longa duração da crise, ao debelar as esperanças dos
desempregados, obrigou-os a abandonar a cultura do assalariamento e a buscar alternativas
de ocupação e renda, mesmo que na sua maioria fossem caraéterizadas por uma grande
precariedade da condição de atividade, redesenhando o mercado de trabalho local.
As implicações da heterogeneidade do mercado de trabalho sobre a condição de atividade
podem ser mais bem tratadas a partir do esquema formulado originalmente por C. OFFE
(1985) e, posteriormente, desenvolvido por M. PACI (1992) para pensar o problema social
na Itália de hoje. P ACI considera que o sistema de cidadania pode ser organizado em quatro
grandes estratos: i. produtivo-protegido, formado pelos setores produtivos centrais ou
oligopolisticos da sociedade; ii. reprodutivo-protegido, dominado pelas atividades do
Estado e do serviço público; iii. produtivo-não-protegido, caracterizado pelas atividades dos
pequenos negócios, base da economia informal; e iv. reprodutivo-não-protegido, constituído
pelas atividades de subsistência, ou, segundo as palavras do autor, marginal.
O longo período de crescimento do pós-guerra implicou uma crescente dominância dos dois
primeiros estratos, que influenciou positivamente as condições ocupacionais mais precárias.
O efeito positivo do crescimento não se deveu somente ao aumento expressivo, em termos
relativos e absolutos, do trabalho assalariado protegido, mas também ao desenvolvimento do
Estado de Bem-Estar Social, que, sustentado llla5 diversas políticas públicas e nas
4 Sobre esta questão, conferir o estudo de E. PUGLIESE (1993).
9
negociações coletivas, permitiu que parte ponderável dos trabalhadores desempregados pelo
núcleo formal não migrasse, nos momentos de queda conjuntural do nível de emprego, para
os segmentos não-protegidos, fazendo com que estes segmentos constituíssem espaços
econômicos destinados à população urbana de migração recente de baixa qualificação. A
crise e/ou a reestruturação produtiva e do próprio Estado de Bem-Estar romperam e
inverteram a tendência de crescente dominância dos estratos protegidos, ao mesmo tempo
que inviabiliz.aram o trânsito positivo entre estratos e, dada a longa duração do desemprego,
passaram a jogar antigos contingentes de ex-assalariados nos estratos não-protegidos
(DEDECCA, 1996).
Este esquema é útil para pensar a recente experiência latino-americana. Como sabemos, os
dois últimos estratos mantiveram-se sempre representativos no processo de desenvolvimento
do pós-guerra, sem jamais sinalizarem que cumpririam um função residual na dinâmica das
estruturas econômicas e na organização dos mercados de trabalho. Se, por um lado, uma
massa extensa de trabalhadores mantinha-se em situações precárias de atividade produtiva,
por outro, a debilidade do Estado de Bem-Estar alimentava um fluxo bidirecional constante
entre os segmentos protegidos e não-protegidos. A crise econômica e os programas de
liberalização econômica adotados pelos diversos países da região. a partir do final dos anos
70, ao comprometerem o limitado crescimento dos segmentos protegidos, impuseram um
forte fluxo destes para os estratos não-protegidos, que tenderam a uma rápida expansão,
fosse em razão da chegada dos ex-assalariados, fosse em virtude da continuidade do
processo de migração e crescimento urbano, que estruturalmente alimentou e alimenta um
incremento substantivo da força de trabalho disponível.
Portanto, se já eram pequenas as esperanças de uma homogeneização do mercado de
trabalho das economias latino-americanas, que pudesse propiciar maior dominância das
situações de ocupação plena e protegida, em que o desemprego aberto se restringisse ao
fricciona!, a crise e os programas de ajuste econômicos adotados as têm progressiva e
definitivamente comprometido. Mais do que nunca, o espírito que caracterizava os trabalhos
sobre informalidade deve prevalecer nos estudos atuais. Aquela preocupação de conhecer a
10
diversidade de formas de relações de trabalho deve ser mantida, pois nossa heterogeneidade
estrutural e histórica passou a ganhar, agora, uma nova dinâmica e velocidade.
A impossibilidade de que a maioria mantenha autonomamente a situação de desemprego
aberto por um longo período faz com que as atividades informais não mais cumpram o papel
de absorvedoras do excedente de força de trabalho em relação aos segmentos modernos da
atividade econômica, mas, agora, o de incorporadoras de força de trabalho expulsa por estes
segmentos, incapacitadas de manter, a longo prazo, a situação de desemprego aberto. Como
bem afirma J. FREYSSINET (1992) sobre o caso europeu, em que existem programas
importantes de proteção ao desempregado nos espaços nacionais, "no plano estatístico, a
co"elação entre a taxa de desemprego global e a porcentagem de desempregados de longa
duração 110 conjunto dos desempregados é indiscutível, mesmo se a relação seja grosseira"
(p. 132). Isto é, o aumento do desemprego global é caracteriz.ado por uma perda de
importância relativa do desemprego aberto de curta duração, pois a saída de pessoas da
condição de desemprego decresce no tempo, enquanto o ingresso apresenta tendência de
crescimento. Caso esta situação esteja amparada por um sistema efetivo de proteção ao
desemprego, deve-se observar um aumento do desemprego aberto de longa duração. Em um
contexto de ausência ou presença limitada de um sistema de proteção, a situação de
desemprego de longa duração não deverá se manifestar exclusivamente por meio do
desemprego aberto, mas também mediante formas diversas de desemprego, marcadas
inclusive pela presença de renda monetária proveniente de uma atividade descontínua e
irregular, tanto necessária para a sobrevivência do desempregado, como· decisiva para a
manutenção da própria busca de trabalho.
Caso estas formas irregulares de trabalho sejam consideradas como ocupação, será
observado um aumento do setor informal com uma redução da importância relativa do
desemprego. Em termos analíticos, podemos esquematizar esta situação de maneira bastante
simples. Se a taxa de crescimento da população economicamente ativa é TA, se a taxa de
crescimento da ocupação no setor formal é TF e a do desemprego aberto é TD, observamos
que o aumento do setor informal correspondle a TI=TA-(TF-TD), sendo que a relação
TD/(TF-TD) deverá ser decrescente.
11
Assim, a estagnação do mercado de· trabalho se traduziria, principalmente, em
informalização, em vez de detenninar crescimento do desemprego. O aumento do trabalho
precário provocado pelo ingresso de ex-assalariados é um indicador da necessidade de
repensar a noção de informalidade, bem como suas próprias situações de trabalho.
A literatura sempre tendeu a tratar o setor informal como produto de um crescimento
econômico caracterizado por capacidade limitada em gerar postos de trabalho no setor
moderno em volume compatível com a disponibilidade de força de trabalho existente. Em
geral, entendia-se que a força de trabalho migrante de baixa qualificação, ao não possuir
capacidade de inserção nos setores modernos, recorria às ocupações informais,
principalmente ao serviço doméstico e aos serviços pessoais e domiciliares. O esgotamento
do crescimento na América Latina mostrou, nos anos 80, um aumento generalizado da
informalidade provocada pela estagnação do nível de emprego nos setores modernos, mas
também pelo ingresso de contingentes de ex-trabalhadores assalariados do núcleo protegido.
Se, anteriormente, diversos autores consideraram extremamente difícil definir com exatidão
a idéia de setor informal - como afirma M. C. CACCIAMALI (1983), citando uma frase
atribuída a Hans Singer: "O setor informal é como uma girafa, difícil de descrever mas
fácil de reconhecer" (p. 37)-, essa tarefa é ainda mais ingrata em face de uma conjuntura de
perda de dinamismo do mercado de trabalho que se associa a uma baixa capacidade de
geração de novos postos de trabalho pelo setor moderno, onde as situações ocupacionais
informais se expandem rapidamente.
Por outro lado, a mesma literatura dos anos 70 apontava o problema da heterogeneidade do
mercado de trabalho como resultado de um crescimento das atividades modernas inferior ao
incremento da disponibilidade de trabalho, enquanto nos anos 80-90 a heterogeneidade
passa a ser, também, um produto da expulsão de trabalhadores formais para a siruação de
informalidade, com uma passagem pela situação de desemprego aberto.
Retomando o esquema de M. PACI (1992), podemos dizer que os anos de expansão
acelerada de nossas economias permitiram um aumento relativo dos segmentos i e ii,
insuficiente para fazer das situações ocupacionais informais (iii e iv) um resíduo. A partir de
1980 a situação se inverte, com perda de importância absoluta e relativa dos segmentos i e ii
12
e aumento sistemático dos segmentos iii e iv. Alguns autores denominaram este processo
como "infonnalização" e outros, ''precarização" dos mercados de trabalho latino
americanos. Independentemente do termo adotado, parece ser inquestionável que uma
massa crescente de trabalhadores apresenta alta vulnerabilidade da sua condição de
atividade.
Um autor francês propôs que parte destas situações de precariedade representaria nada mais
que um halo da situação de desemprego aberto (CÉZARD, 1986). Como vimos apontando,
é largamente reconhecido que tanto as situações ocupacionais protegidas como as de
desemprego aberto têm perdido sistematicamente importância nos mercados de trabalho
nacionais. Para este autor, a OIT considera que os desempregados devem satisfazer
condições restritas: procurar efetivamente um emprego, estar disponíveis para se ocupar,
não exercer qualquer atividade profissional. A satisfação destas condições supõe uma
razoável probabilidade de reemprego e a existência de fundos financeiros - próprios ou de
terceiros- que lhes permitam dedicar todo o seu tempo disponível à procura de trabalho.
Em países onde existe um amplo sistema de seguro desemprego e um efetivo sistema de
intermediação -de mão-de-obra, é inquestionável a possibilidade de que o trabalhador
desempregado mantenha pressão permanente sobre o mercado de trabalho no sentido de
conseguir um novo emprego. Esta é uma condição que favorece uma melhor mensuração do
desemprego. Além disso, o maior grau de assalariamento nestes países toma também mais
visível o desemprego, por ser mais objetiva a procura de trabalho por estes indivíduos,
contrariamente ao observado para as pessoas que trabalham ou trabalhavam por conta
própria. Mesmo assim, autores reconhecem que a perda de dinamismo dos mercados de
trabalho nacionais tem produzido mudanças estruturais na condição de ocupação da
População Economicamente Ativa, com a emergência de situações de desemprego mais
complexas (cf. J. FREYSSINET, 1993). Segundo a Organização de Cooperação para o
Desenvolvimento Econômico - OCDE, em seu estudo recente sobre o emprego nos países
membros, "a medida clássica de desemprego não é provavelmente mais que um indicador
parcial da subutilização dos recursos em mão-de-obra" (OCDE, 1994: 43, tradução
nossa).
13
É inconteste que no cenário internacional tem se observado, tanto entre os gestores de
políticas públicas como entre os analistas acadêmicos ou não, uma crescente reserva quanto
à capacidade do indicador clássico de desemprego aberto em conseguir expressar
adequadamente o problema nos países desenvolvidos. Em situações econômicas marcadas
por um progressivo distanciamento do pleno emprego e por uma descrença cada vez maior
na noção de que o crescimento econômico poderá resolver os problemas existentes de
emprego, passa-se a reconhecer a complexidade das situações de desemprego e o irrealismo
de aceitar o desemprego aberto como uma medida representativa do problema.
Duas características cada vez mais marcantes do desemprego sinalinm a gravidade do
problema. A primeira delas é a elevação do fluxo de entrada na condição de desemprego em
contraste com a tendência de redução do fluxo de saída. Isto é, tem se verificado uma
elevação do volume de entrada desproporcional ao de saída do desemprego. A segunda
característica, relacionada à primeira, é que as transformações observadas no mercado de
trabalho, ao repor ou aprofundar sua heterogeneidade, tomam mais complexo o fenômeno
do desemprego e sua própria dinâmica. Mesmo que de maneira menos pronunciada, estas
características têm se inscrito na evolução dos mercados de trabalho americano e canadense
a partir dos anos 80, apesar de estes mercados mostrarem capacidade de manter
relativamente baixa a taxa de desemprego aberto em razão de maior absorção de força de
trabalho (CEPR, 1995).
Deve-se ressaltar que, em face da estruturalmente baixa taxa de crescimento da população
em idade ativa na maioria dos países avançados, o desemprego tem resultado da redução do
assalariamento provocada pelos programas de racionalização produtiva que se desenvolvem
em um mundo globalizado e cada vez mais financeirizado, onde as formas de assalariamento
protegidas determinaram a dinâmica dos mercados de trabalho nacionais (THUROW, 1996).
Conclui-se, portanto, que, mesmo na presença de sistemas de proteção ao desemprego e de
intermediação da mão de obra, o desemprego nos países avançados vem extrapolando a
situação de desemprego aberto, fazendo com que o renascimento de relações de trabalho
precárias nestas sociedades esteja articulado à manifestação mais complexa do desemprego,
como bem descreve a OCDE (1994~ 1995).
14
Como mostraram os trabalhos sobre o setor informal, a América Latina se manteve
sistematicamente distante do padrão de organização do mercado de trabalho dominante nos
países avançados. As experiências industrializantes permitiram consolidar certo grau de
assalariamento em algumas de nossas economias, sem que, no entanto, ele dominasse
completamente as estruturas ocupacionais.
Mesmos nas experiências onde o assalariamento protegido alcançou níveis mais elevados,
como observado no Brasil, ele sempre representou uma parcela relativamente limitada da
estrutura ocupacional. Segundo P. BALTAR (1996), estimativas feitas a partir dos Censos
Demográficos e da PNAD mostram que, "em 1979, havia 30,3 milhões de pessoas
ocupadas em atividades não-agrícolas no conjunto do país, isto é pouco mais de 213 da
ocupação total. Desse total de ocupados não-agrícolas, 76,2% tinham um emprego
assalariado. Os outros 23,8% eram trabalhadores por conta-própria, empregadores e sem
remuneração (. .. ). Essa proporção de auto-ocupados (. .. ) é relativamente elevada, pois nos
países desenvolvidos ela dificilmente supera a cifra de 10%" (p. 2). Em 1979, embora 77%
dos assalariados possuíssem vínculo fonnalizado de trabalho, somente 25% dos empregados
eram contratados por empresas de grande porte.
Estes dados sugerem, portanto, que ao fim de um importante período de forte crescimento e
de rápidas transformações da economia e sociedade brasileiras o assalariamento protegido e
o assalariamento em grandes empresas representaram, respectivamente, 590/o e 190/o do total
da população ocupada em atividades não-agrícolas. Parece dificil contestar que a crise dos
anos 80 e 90 tem representado o questionamento de uma organização sócio-econômica que
se manteve muito distante da sonhada sociedade salarial, que havia dominado nos países
avançados no pós-guerra. E é igualmente custoso refutar que a economia brasileira na sua
trajetória de desenvolvimento sustentou uma base ampla de situações ocupacionais
heterogêneas, seja nas atividades agrícolas seja nas atividades urbanas.
15
2. Crise e Desemprego em um Mercado de Trabalho Heterogêneo
É sobre um mercado de trabalho pouco estruturado que recaem os difíceis anos de crise e
estagnação. O fim da expansão acelerada do emprego industrial foi acompanhado da
emergência do desemprego. Este problema, ausente do debate sobre o emprego no Brasil e
na América Latina até os anos 70, ganha relevância na discussão dos anos 80. Não interessa
aqui discutir a questão do desemprego em si no Brasil. Nossa intenção é apontar que, a
partir do esgotamento da trajetória de crescimento acelerado, o problema do desemprego
torna-se um elemento central no debate sobre o desempenho econômico e a evolução do
mercado de trabalho.
Independentemente dos elementos que possam ter determinado a emergência do fenômeno,
ele se apresenta como um sintoma importante na análise do funcionamento dos mercados de
trabalho urbanos no Brasil e na América Latina. Seu aparecimento não esteve relacionado à
constatação da subutilização da capacidade produtiva da população, como em geral se
observa quando esta questão é tratada nos países avançados. Pois a noção de setor informal
já havia colocado a subutilização no centro do debate, na medida em que mostrava que o
excedente populacional, ao ser absorvido em atividades de baixa produtividade e
remuneração, refletia um uso parcial - e, portanto, desperdício - da capacidade de trabalho
existente nas economias latino-americanas (SOUZA; 1985; CACCIAMALI, 1983; ZAGO
DE AZEVEDO, 1985; DEDECCA, 1990).
O reconhecimento do problema do desemprego esteve associado à existência de uma parcela
de população cuja capacidade de trabalho se encontrava involuntariamente ociosa e que
mantinha uma pressão sistemática (procura) por um posto de trabalho com o objetivo de
obter uma inserção regular e contínua no mundo produtivo.
A colocação do problema do desemprego separadamente da questão da informalidade se
deveu à concepção de que a perda de dinamismo econômico, em uma sociedade que havia
alcançado elevado grau de monetização da economia e estabelecido um modo de vida
dominantemente urbano, impedia a acomodação de segmentos da PEA em atividades de
baixa remuneração e utilização da capacidade de trabalho. Como mostraram os ensaios
16
sobre o setor informal nos anos 70, este, conjuntamente com a construção civil, constituía a
porta de entrada para a força de trabalho migrante desprovida de uma tradição de
assalariamento e que no caso do setor informal funcionava como um espaço de adaptação
compatível com a flexibilidade no uso do tempo de trabalho, que caracterizava sua condição
de vida anterior nas pequenas cidades e/ou no meio rural (cf os ensaios reunidos em
PREALC, 1981, e em J. S. LEITE LOPES et alii, 1979~ e o estudo de L. A MACHADO
DA sn., V A, 1971 ). Nos anos de crescimento, a infomlalidade apresentava-se para muitos
como uma extensão de um certo modo de vida anterior, após um período de vivência no
meio urbano seguido da condição de assallariamento, possibilitada pela trajetória de
incremento sistemático do nível de emprego. Pode-se dizer, até, que o setor informal urbano
era uma expressão da pobreza dominante no meio rural.
A estagnação econômica ao não mais gerar novas oportunidades de trabalho começou a
criar uma subutilização própria de força de trabalho já inserida produtivamente no modo de
vida urbano, fazendo com que as pessoas nesta condição necessitassem manter uma busca
sistemática de uma ocupação plena, que permitisse recuperar uma situação de trabalho
semelhante à desfrutada anteriormente.
Neste sentido, o debate sobre o desemprego na América Latina e no Brasil não tem como
referência a totalidade da força de trabalho subutilizada, mas somente aquela parcela cuja
subutilização está associada a uma situação involuntária de desocupação e à procura
sistemática de um posto de trabalho. Podemos dizer, ainda, que as taxas de desemprego
mensuradas são indicadores conservadores do estado geral de subutilização de força de
trabalho estruturalmente presente em nossas economias. A discussão sobre o desemprego
torna-se, entretanto, muito mais complexa no Brasil e na América Latina em função da
ausência de sistemas de seguro-desemprego efetivos e de longa duração e de intermediação
de mão-de-obra.
É possível argumentar que, se a medida tradicional de desemprego (a taxa de desemprego
aberto convencional)5 tem perdido capacidade de mensuração do fenômeno nos países
s Será considerada c:omo desemprego aberto convencional uma situação individual caracterizada pela procura de trabalho, pela disponibilidade total de se empregar e pelo não-exercício de qualquer atividade
17
desenvolvidos, em nossos pàíses seu poder explicativo é historicamente reduzido, pois os
graus de homogeneidade e de estruturação dos mercados de trabalho foram
sistematicamente incipientes e as políticas públicas de proteção ao desemprego não
passaram de esboços primários. J. SABÓIA (1986) afirma: "Apesar do crescimento das
'taxas de desemprego em 1981 e 1983, tanto nas Regiões Metropolitanas quanto no
conjunto do país, a elevação foi relativamente modesta quando comparada com a
dimensão da crise econômica. Esses resultados não chegam a surpreender, na medida em
que a situação de desemprego aberto em um país como o Brasil é obrigatoriamente
transitória. A inexistência do segur~semprego no setor formal da economia obriga os
trabalhadores desempregados a procurarem algum tipo de ocupação no setor informal,
permanecendo por pouco tempo nas estatísticas de desemprego. Esses dados mostram
também a limitação das taxas de desemprego aberto, que não distinguem a situação de
uma pessoa empregada no setor formal daquela de um indivúJuo que exerça qualquer tipo
de atividade no setor informal da economia" (p. 86). Em suma, existe o reconhecimento de
que a condição de desemprego necessita ser financiada pelo desempregado a partir de
fundos próprios ou de terceiros, reduzindo, portanto, o poder explicativo do indicador
tradicional de desemprego. É a falta involuntária de trabalho, associada à procura, que deve
ser mensurada. Entretanto, todo um debate se instala, inicialmente, em tomo de dois temas:
o período de procura e a idade mínima ao se ingressar na PEA.
O debate em tomo do período de procura se deve a uma tradição estabelecida nos países
desenvolvidos durante os anos de quase pleno emprego6, quando a elevada possibilidade de
reemprego não justificava a situação de desemprego sem procura nos 7 dias anteriores à
pesquisa 7. Esta tradição tem sido progressivamente questionada, fazendo com que diversos
remunerada nos últimos sete dias. Este é o critério internacional reconhecido seja pela OIT, seja pela OCDE, BLS ou EUROSTAT, por exemplo.
6 O rompimento da situação de plena utilização da capacidade produtiva e da força de trabalho e as implicações para o debate do desemprego nos países avançados são ricamente explorados em D. GORDON (1987).
7 Esta concepção foi expressa, inclusive, nas resoluções da VIII Conferência Internacional de Estatísticos do Trabalho da Organiz:ação Internacional do Trabalho de 1954, que focaram o problema da falta de trabalho no desemprego aberto com procura e não-trabalho na semana de referência. Ela contaminou boa parte dos sistemas estatísticos e das análises nos países desenvohidos, quando o crescimento sustentado sugeria uma organização do mercado de trabalho dicotômica, onde o desemprego era fundamentalmente friccionai. É bastante comum encontrar nos estudos publicados nas revistas dos órgãos de estatísticas
levantamentos estatísticos passem a adotar o período de 30 dias como referência para a
procura de trabalho. Este procedimento tem justificativas diversas. Uma delas decorre da
fragilidade do mercado de trabalho, que sinaliza claramente ao desempregado que uma nova
procura feita a partir de uma mesma oferta de posto de trabalho pode contribuir para a perda
de qualificação do indivíduo no próprio mercado. Em uma situação em que os novos postos
de trabalho são ainda mais escassos, faz-se necessário aos desempregados administrar seu
grau de exposição aos ofertantes de trabalho. Uma outra justificativa está associada à
necessidade de ajuste do núcleo familiar em face da situação de desemprego de um de seus
membros, que pode impor a este a responsabilidade momentânea de tarefas familiares que
comprometem a procura em uma determinada semana. Também a duração prolongada da
situação de desemprego altera as expectativas do indivíduo, que, em debilitada condição
financeira, necessita maximizar a procura de trabalho. Em suma, a estagnação econômica e,
por decorrência, a do mercado de trabalho tomam a ]procura mais complexa, deslocando o
período de 7 dias como uma referência importante para a mensuração do desemprego
aberto.
O segundo tema refere-se à idade mínima para ingresso na condição de atividade. Nos países
desenvolvidos adota-se, normalmente, a idade de 14 a 18 anos. Este critério é justificado
pela obrigatoriedade e efetividade do ensino básico, que, na presença de uma política ativa
de rendas, impedia que crianças participassem dos mercados de trabalho nacionaís. A
garantia de uma ocupação e de um nível de renda familiar satisfatórios desestimulou as
tentativas de burla de um ordenamento social, tomando uma tradição que somente os jovens
com mais de 14-18 anos buscassem ingressar no mercado de trabalho. Esta situação não é
observada em nossos países, tanto no meio rural como no urbano. É largamente reconhecido
que os baixos níveis de renda da grande maioria das familias, na ausência de uma política
social mais efetiva, estimulam o ingresso precoce de seus membros na atividade produtiva.
europeus e americano referências a uma taxa de desemprego aberto/OIT, em referência às proposições produzidas pela Conferência dos anos 50. Entretanto, a perda de dinamismo econômico e seus efeitos sobre o emprego induziram um esforço de reflexão mais acurado sobre a D0\'3 configuração daqueles mercados de trabalho, inclusive expresso nas resoluções da XIII Conferência Internacional de 1982, onde se adota um critério mais abrangente para o período de procura, onde é ressaltada a necessidade de produção de estatísticas que respeitem as especificidades dos mercados de ttabalho nacionais e onde se aponta para a possibilidade de construção de outros indicadores de desemprego, como o caracterizado pela situação de desalento.
19
Para muitas familias, a vida produtiva precoce é, inclusive, um instrumento de proteção
contra o submundo do crime. Portanto, seja em raazão da limitada renda apropriada, seja
como medida de proteção social, observa-se a recorrência de jovens com menos de 14 anos
ao mercado de trabalho. Assim, o critério de idade mínima de 10 anos tende ser mais
realista, refletindo mais apropriadamente o mercado de trabalho para a população jovem8.
Os dois critérios anteriores requalificam a situação de desemprego. Em primeiro lugar,
porque se admite que a disponibilidade de força de trabalho é mais extensa, abarcando
segmentos que deveriam estar fora do mercado de trabalho. Em segundo lugar, porque é
reconhecida a debilidade da procura em 7 dias em uma conjuntura econômica que torna cada
vez mais distante e menos provável a situação de pleno emprego, que pudesse reduzir o
problema de emprego ao desemprego keynesiano (fricciona!).
É necessário, portanto, repensar o desemprego em uma economia onde a subutilização de
força de trabalho é enorme, pois demanda-se a definição de critérios mais precisos que
identifiquem as situações de desemprego involuntário com procura de trabalho, no sentido
de superar a limitação do indicador de desemprego aberto convencional, sem desembocar
em um outro indicador que identifique o desemprego com a subutilização global da força de
trabalho de um economia profundamente heterogênea. Neste sentido, rigor é sinônimo de
uma postura metodológica e analítica conservadora da subutilização de força de trabalho,
exigindo a adoção de critérios que, independentemente da conjuntura econômica,
possibilitem a mensuração da quantidade de força de trabalho que mantérÍl pressão constante
(procura) sobre o mercado de trabalho, bem como do fluxo de pessoas que perdem emprego
e ingressam na inatividade e daquelas que, em face da pouca probabilidade de obter um
novo emprego, se desencorajam e reduzem a intensidade da procura de trabalho.
8 A realidade do trabalho infantil no Brasil é reconhecida pelo próprio governo, que recentemente implantou um programa especifico, a partir do Ministério da Previdência Social, de provimento de renda às familias que aceitarem manter seus filhos com menos de 14 anos fora da vida produtiva e na escola. Também o debate sobre a renda mínima tem como um de seus focos garantir renda para que as familias não retirem precocemente seus filhos do sistema educacional.
20
3. Principais critérios para a mensuração do desemprego
É amplamente reconhecido que um tour de force conceituai e metodológico deve ser
empreendido no estudo da População em Idade Ativa (PIA) com o objetivo de bem
qualificar a População Economicamente Ativa (PEA) e, em específico, a População
Desempregada. Além do periodo de procura de 30 dias, dois outros critérios para aferição
deste desemprego são internacionalmente reconhecidos: a continuidade e a regularidade do
trabalho com manutenção da procura por um emprego (OCDE, 1995). Estes dois critérios
permitem averiguar a ocasionalidade e aleatoriedade da situação de trabalho. Isto é, em
decorrência de necessidades individuais ou familiares, o desempregado pode chegar a
realizar, simultaneamente à manutenção da procura, um trabalho ocasional caracterizado
pela descontinuidade, pela falta de regularidade e pela inexistência de previsibilidade quanto
à ocorrência da atividade no futuro próximo.
O empenho em construir novos indicadores - seja nos países desenvolvidos, seja nos paises
em desenvolvimento - decorre do reconhecimento das novas condições de funcionamento
dos mercados de trabalho urbanos, em que ressaltam não somente uma participação
progressivamente mais baixa do assalariamento protegido, mas uma probalidade
temporalmente decrescente de reemprego que tem se traduzido em um crescimento do
tempo médio de desemprego em todos os países. As novas condições de funcionamento dos
mercados de trabalho tomam, portanto, o desemprego um fenômeno mais complexo, que
foge cada vez mais dos critérios internacionais adotados tradicionalmente, formulados a
partir das diretrizes propostas pela Organização Internacional do Trabalho durante os anos
50-709• Estas novas condições dinâmicas do mercado de trabalho foram, inclusive,
analisadas na X Conferência Internacional de Estatístico do Trabalho da OIT, em 1984, e
em estudo realizado pelo seu Instituto Internacional de Estudos do Trabalho - IIES (G.
RODGERS, 1989), onde se afirma a impossibilidade de manter a visão sobre a organização
do mercado de trabalho construída nos anos de prosperidade e pleno emprego.
9 Cf. as resoluções da VIII Conferência Internacional dos Estatísticos do Trabalho da Organização Internacional do Trabalho, realizada em 1954.
21
A grande dificuldade posta neste debate corresponde à elaboração de critérios que permitam
evidenciar a heterogeneidade das condições de atividade da população em idade ativa e, ao
mesmo tempo, distinguir a subutilização de força de trabalho decorrente da falta de um
trabalho que ocupe regular e majoritariamente o tempo de trabalho disponível de um
indivíduo das demais situações ocupacionais em que se observa subutilização da força de
trabalho decorrente do baixo nível de produtividade e/ou atividade. Adotando termos de uso
mais generalizado, podemos dizer que a tarefa é diferenciar as situações de ocupação plena e
de ocupação informal - nas quais a regularidade e continuidade e a ausência de procura de
trabalho caracteriz.am a inserção produtiva - em relação às situações de desemprego.
Duas questões relativas a este ponto da discussão merecem ser ressaltadas. Em primeiro
lugar, é patente que a construção de indicadores mais complexos requer uma avaliação
metodológica criteriosa das situações ocupacionais, impondo a adoção de procedimentos
rigorosos na formulação dos critérios adotados, que não permitem deduzir ou desdobrar
diretamente a qualidade analítica dos recortes metodológicos elementares - por exemplo, do
período de 7 ou 30 dias de procura e da idade mínima para ingresso na PEA. Por outro lado,
a formulação de indicadores mais complexos que respondam a tal rigor analítico e
metodológico deve ser acompanhada de instrumentos de coleta mais minuciosos, cuja
exigência decorre, fundamentalmente, das condições de heterogeneidade das situações de
atividades prevalecentes nos mercados de trabalho nacionais.
A nosso ver, estes elementos teóricos sobre a construção de propostas metodológicas para a
elaboração de indicadores de desempenho do mercado de trabalho urbano qualificam a
afirmação de que a discussão entre as duas principais opções metodológicas existentes no
Brasil não pode e não deve se pautar por análises focadas nos instrumentos de coleta ou em
posições firmadas a partir de visões genéricas sobre possíveis diferenças de abrangência
conceituai decorrentes dos critérios metodológicos elementares
Esta posição crítica é ainda mais bem sustentada quando transitamos do debate teórico para
a análise empírica. Por sua Construção metodológica mais complexa e abrangente (R. P AES
DE BARROS et alii, 1996), a Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED
SEADE/DIEESE permite o cálculo da taxa de desemprego convencional segundo as
22
resoluções da OIT de I 954, normalmente produzida pela Pesquisa Mensal de Emprego -
PME-IBGE. A partir da população desempregada estimada pela PED-1984 (Área A do
Esquema I ), podemos chegar ao desemprego aberto segundo a resolução da OIT de 1954
(Área B), bem como aos segmentos de inativos (Área C) e de ocupados (Área D). que
formam a diferença entre as duas taxas.
ESQUEMA 1
DESEMPREGADOS PED A
OCUPADOS D
DESEMPREGADOS PED/1954 B
Como é amplamente conhecido, são bastante distintos os critérios que cada uma das
propostas metodológicas utiliza na construção de seus principais indicadores (ver Esquema
2). No caso da PME, os períodos de referência de 7 e 30 dias são adotados para a
mensuração do desemprego e a idade de I 5 anos corresponde ao corte inferior para a
definição da PIA. A procura de trabalho em 30 dias, quando não realiz.ada nos 7 dias
23
anteriores à entrevista. deve ter sido efetuada de maneira contínua. não podendo ter sofiido
uma interrupção durante duas semanas consecutivas10 ou ter sido acompanhada do exercício
de qualquer tipo de trabalho.
Para a PED, o desemprego aberto tem como critérios a procura em 30 dias, o não-trabalho
em 7 dias e o corte mínimo de idade da PIA em l O anos. Além disso, são quatro os
parâmetros básicos específicos que, combinados, permitem "classificar a PIA como
desempregada, ocupada e inativa (. .. ): i) procura efetiva de trabalho; ii) disponibilidade
para trabalhar com procura em 12 meses; iii) situação de trabalho; iv) tipo de trabalho
exercido" (SEADE-DIEESE, 1995, p. 18). A adoção destes parâmetros sustenta tanto o
indicador de desemprego aberto como os indicadores complementares de desemprego
oculto por trabalho precário e por desalento.
As diferenças metodológicas entre os levantamentos são significativas, não porque adotam
critérios distintos para a procura de trabalho e para a definição da PIA11, mas
fundamentalmente pela forma como cada pesquisa deduz as condições de atividade e
ocupação de cada entrevistado. A PME adota um procedimento pontual, com pouco
questionamento das condições de uma eventual ocupação e da procura e disponibilidade de
trabalho. De fato, volta-se fundamentalmente para a manifestação do desemprego em sua
forma imediata- o desempregado aberto em 7 dias (IBGE, 1983).
Já a PED faz uma investigação mais aprofundada da procura e da disponibilidade de
trabalho, bem como de um trabalho ocasional, em razão de acreditar que, em face da
heterogeneidade do mercado de trabalho e da ausência de mecanismos de proteção ao
desemprego e de intermediação de mão-de-obra efetivos, faz-se necessário ser muito
rigoroso na coleta de informações sobre a condição de atividade do entrevistado.
10 De fato, basta que a interrupção tenha ocorrido nas duas últimas semanas anteriormente à entrevista para que a pessoa seja classificada como inativa. Como a diferença entre os indicadores de desemprego para sete e trinta dias decorre de um conjunto de pessoas que não realizaram procura em sete dias, basta que não tenha havido a procura na segunda semana - isto é, entre oito e quinze dias - para que a condição de desemprego seja desqualificada, mesmo que a pessoa tenha buscado intensivamente um trabalho entre o décimo-sexto e o trigésimo dia.
11 Cabe ressaltar, inclusive, que o documento metodológico da PME afirma ser a idade mínima de 10 anos o critério para ingresso na PIA e na PEA (cf. mGE, 1983:14), apesar de os indicadores divulgadores adotarem o corte de 15 anos ou mais.
24
ESQUEMA.2
C'RITtRIOS ADOTADOS PARA A CLASSIFICAÇÃO DA CONDIÇÃO DE ATIVIDADE
SEGUNDO A PME A E PED
PESQUISA MENSAL DE EMPREGO PESQUISA DE EMPREGO E DESEMPREGO
DESEMPREGADO ABERTO - pessoas de 15 DESEMPREGO ABERTO - pessoas de 1 o anos ou mais que não tinham trabalho na anos ou mais que procuraram trabalho de semana de referência, mas que estavam maneira efetiva nos 30 dias anteriores ao da dispostas a trabalhar, tendo tomado alguma entrevista e não exerceram nenhum trabalho providência neste sentido. nos 7 últimos dias.
DESEMPREGO OCULTO PELO TRABALHO
PRECÁRIO - pessoas de 1 O anos ou mais que realiz.am de forma irregular algum trabalho remunerado ou pessoas que
.. realizam trabalho não-remunerado em ajuda a negócios de parentes e que procuraram mudar de trabalho nos 30 dias anteriores ao da entrevista ou que, não tendo procurado neste período, o fizeram até 12 meses atrás.
DESEMPREGO OCULTO PELO DESALENTO E
OUTROS - pessoas que não possuem - trabalho e nem procuraram nos últimos 30
dias, por desestímulos do mercado de trabalho ou por circunstâncias fortuitas, mas apresentaram procura efetiva de trabalho nos últimos 12 meses.
OCUPADOS - pessoas com 15 anos ou mais OCUPADOS - pessoas de 15 anos ou mais que trabalharam - com remuneração que (a) possuem trabalho remunerado monetária ou sem remuneração em ajuda a exercido regularmente; (b) possuem membro da familia - toda a semana de trabalho remunerado exercido de forma referência ou parte dela e aquelas que irregular, desde que não estejam tinham trabalho, mas não trabalharam por procurando trabalho diferente do atual; ( c) um motivo específico (férias, licença, falta possuem trabalho não-remunerado de ajuda involuntária ao trabalho, greve, doença, más em negócios de parentes, ou remunerado condições de tempo ou outro impedimento em espécie/beneficio, sem procura de temporário independente de sua vontade, trabalho; e (d) excluem-se as pessoas que tal como quebra de máquina, limitação de de forma bastante excepcional fizeram producão, etc.) alwm trabalho nos últimos 7 dias.
Fonte: IBGE, 1983~ A. TROYANO, 1985; SEADE/DIBESE, 1996.
25
4. Análise dos indicadores de desemprego segundo os critérios PED e PME,
elaborados a partir da base de informações da PED para a Grande Sio Paulo - 1995
Com o objetivo obter um quadro analítico mais completo dos indicadores produzidos por
ambas as pesquisas, elaboramos um exercício estatístico a partir da base de dados da
Pesquisa de Emprego e Desemprego na Grande São Paulo, para o período 1989-95. Este
exercício buscou reclassificar, sem ferir as propostas metodológicos de ambas as pesquisas,
a população em situação de desemprego aberto classificada pela PED segundo a resolução
da OIT-1954, como uma aproximação aos critérios adotados pela PME12. Este esforço
possibilitou a elaboração de um indicador de desemprego em 7 dias, que denominaremos
taxa de desemprego aberto PED/1954 - Área B do Esquema 1 -, em alusão às
recomendações da VIII Conferência dos Estatísticos do Trabalho da OIT de 1954; enquanto
a taxa de desemprego aberto em 30 dias normalmente produzida pela PED será chamada de
PED/1982, em referência à XII Conferência Internacional de Estatísticos do Trabalho13.
Além disso, utilizou-se a idade mínima de 15 anos para a definição da PIA.
12 Os critérios adotados para a construção do indicador de desemprego aberto em 7 dias estão apresentados no Anexo 1.
13 As resoluções da OIT referentes às estatísticas sobre a força de trabalho resultaram, principalmente, das atiYidades das VIIl e da XIII Conferência Internacional de Estatísticos do Trabalho. Na Conferência de 1954, era sugerido que os países-membros adotassem como critério para classificação do desemprego aberto as situações marcadas por procura de trabalho e não-trabalho na semana de referência adotada pelo leYantamento. Este critério se aproxima dos utilizados atualmente pela PME. Na Conferência de 1982, a OIT propõe que os países, a partir da capacidade das instituições locais de aproximarem seus levantamentos às proposições internacionais e respeitadas as especificidades que caracterizam os mercados de trabalho nacionais, devem procurar classificar a população correntemente ativa e considerar desempregadas aquelas pessoas que, durante o período de referência - não especificado pela resolução -, procuraram e não realizaram qualquer tt:abalho. A resolução permite, ainda, que situações de desemprego marcadas pelo desencorajamento e pelo trabalho ocasional devam ser consideradas na taxa de desemprego. Como é reconhecido amplamente, estas sugestões se inscrevem na proposta metodológica da PED.
Gráfico 1 - Taxas de Desemprego Aberto (7 dias)
7.00 ...-------------------------------,
6.00
5.00 ~7dias
4.00
3.00
2.00
-- ... ..· .. . ,, . •••
•
~7dias)/[Ft.Ej
1.00 ·--~··--~.. ~- ---.... _._____ ........ , _______ .__ .. 0.00 +.---..-......+....,_ ___ ......... ____ ,.,...... ......... _____ .....,. _____ ..,....._
m ~
~ e Ili ..,
~ e 1111 ..,
26
No Gráfico 1 apresenta-se a evolução das taxas anualizadas de desemprego aberto em 7 dias
da PED, da produzida pela PME e da relação entre ambas. Este exercício foi realizado
levando em conta a seguinte pergunta: se fossem adotados critérios semelhantes para a
definição do desemprego aberto em 7 dias, independentemente das diferenças de
questionários, de implementação dos campos das pesquisas e dos desenhos amostrais,
haveria alguma proximidade entre os indicadores?
O resultado descrito pelo Gráfico 1 mostra que as taxas anualizadas de desemprego aberto
PED-7 dias são muito próximas às produzidas pela PME. A proximidade entre as duas taxas
é ainda mais evidente quando levamos em conta a relação entre elas (Gráfico 1) e
constatamos que, no período de janeiro de 1989 a dezembro de 1995, a diferença média
entre as taxas foi de 5%. Confirma-se, portanto, que os indicadores convencionais de
27
desemprego de ambas as pesquisas apontam para valores e tendências semelhantes,
sinalizando o poder metodológico que cada uma delas possui na mensuração de um certo
fenômeno presente em um mercado de trabalho metropolitano
Contudo, a proximidade en~re taxas não se confirma quando o período de referência
adotado é de 30 dias. Apesar do comportamento semelhante, as diferenças são elevadas,
havendo uma discrepância média para o período em análise, de 54% (Gráfico 2). As opções
metodológicas e de operacionalização do conceito de procura de trabalho são o ponto
central para se entender a distância entre os dois indicadores, pois impedem uma
aproximação metodológica semelhante à realizada anteriormente para o período de
referência de 7 dias14•
Uma melhor compreensão das especificidades metodológicas pode ser obtida explorando-se
as características da PIA segundo os critérios correntemente adotados pela PED-30 dias e
pela PED-7 dias. De fato, este exercício permite construir estatisticamente os segmentos
contidos no Esquema 1, bem como alguns subsegmentos que os compõem.
O resultado deste exercício está apresentado, sinteticamente, na Tabela 1, onde as colunas
dão informações segundo os critérios PED-7 dias e as linhas, aquelas referentes aos critérios
PED-30 dias15. Como podemos notar, os dois critérios produziram indicadores que se
diferenciam em 2,3 pontos percentuais na taxa de participação, em 2,6 na taxa de ocupação
e, finalmente, em 2,2 na taxa de desemprego aberto, sendo que esta discrepância refere-se
ao conjunto de pessoas cuja condição de desemprego pode ou não ser considerada
dependendo do critério metodológico adotado. Como esta diferença tem como motivo
principal a ampliação do período de procura de 7 para 30 dias, cabe explorar melhor os
critérios para a qualificação da procura adotados pela P:ME e a PED.
14 Apesar da ausência de uma posição mais explicita por parte do IBGE, notamos, por meio do uso das estatísticas correntes publicadas pela instituição, ser a taxa de desemprego em sete dias o principal indicador de desemprego da PME. Todos os esforços são, em geral, realizados para detalhar o perfil do desemprego aberto na semana. Esta postura assumida na divulgação de seus indicadores parece ser o reconhecimento de uma opção metodológica que privilegia este indicador de desemprego, que foi expresso em um documento metodológico (IBGE, 1983). Esta obsen-ação não tem qualquer caráter critico, ao contrário. Pensamos ser totalmente consistentes a defesa e o uso da taxa de desemprego em sete dias como indicador das mudanças mais imediatas no nível de emprego e desemprego 15 Para facilitar e obter um visão mais abrangente dos níveis e mudanças nas taxas de participação e
atividade, utilizaremos a PIA como referência geral para cálculo dos indicadores.
Gráfico 2 - Taxas de DesempreG10 Aberto 30 Dias
10.00 ....------------------------------.
9.00
8.00
7.00
6.00
5.00
4.00
3.00
2.00
1.00
PB>30dias
. -. . . , ... • • . .. .. . ...
-.... ... 1 ••a•
• .· ···-·--·······--· .. •
(P8>30dias)l[PPJEJ
··-··--··...... . ----··-· __ ...... ~. ______ _,,,. .. _______ _
Sl i nos .,
~ e m .,
28
Segundo o manual do entrevistador da PME, "o tempo de procura representa o periodo
contínuo que a pessoa, sem exercer uma ocupação econômica, vem tomando providências
para conseguir trabalho e é contado até a data da última providência [sendo que deve ser
considerada como] interrupção do tempo de procura de trabalho, quando: a pessoa
durante semanas consecutivas tiver deixado de tomar providências; ou a pessoa tiver
trabalhado, mesmo que, simultaneamente, tenha procurado trabalho" (IBGE, 1991, grifos
nossos). Estes critérios desqualificam a condição de desemprego tanto das pessoas que
tenham exercido algum trabalho como daquelas que tenham a procura de emprego
29
concentrada exclusivamente nas três e quatro semanas anteriores à entrevista, dado que
estas pessoas possuem um período de não-procura de trabalho igual ou superior a duas
semanas consecutivas.
Para que estes critérios se.iam respeitados, deve-se incorporar, portanto, à taxa de
desemprego de 30 dias aquelas pessoas que tenham obrigatoriamente realiz.ado a procura na
segunda semana de referência da entrevista.
Na PED, os critérios adotados são distintos. Esta pesquisa pergunta, inicialmente, qual foi a
última vez que a pessoa procurou efetivamente trabalho, para posteriormente checar a
existência ou não de trabalho simultâneo à procura e o principal motivo que justificou a
procura (SEADE-DIEESE, 1987). Neste levantamento, existe uma preocupação em
verificar se houve um procura efetiva, se esta ocorreu dentro do mês de referência e se não
foi acompanhada de atividade remunerada. Nota-se, portanto, que a PED incorpora aqueles
que realizaram a procura exclusivamente nas terceira e quarta semanas .
De acordo com a Tabela 1, 2,4% dos inativos considerados pelo critério PME são
classificados como desempregados abertos pela PED por terem realiz.ado a procura de
trabalho nos últimos 30 dias, dos quais 62, 7% informaram que procuraram trabalho entre 8
e 15 dias. Se incorporarmos à taxa de desemprego PED-7 dias somente esta parcela de
inativos, a taxa de desemprego em 30 dias será de 4,6%. A comparação desta taxa com a
produzida pelo IBGE para o período de 30 dias - que em 1995 foi de 3,4% - mostra uma
discrepância de 36%, que indiscutivelmente continua sendo elevada.
Este último exercício evidencia uma clara persistência da discrepância entre indicadores.
Entretanto, explicita-se, por outro lado, que a taxa de desemprego aberto da PME em 30
dias deixa de incorporar aquelas pessoas que, apesar de terem procurado trabalho,
concentraram esta busca na segunda metade do mês.
Não é possível fazer um refinamento metodológico adicional no tratamento dos dados da
PED, no sentido de alcançar uma aproximação ainda maior aos critérios adotados pela
PME. Entretanto, algumas observações adicionais sobre o perfil das pessoas e
especificidades metodológicas que produzem a disparidade entre as taxas poderão ser úteis
para nossa discussão.
Tabela 1 Cistribuição da R:>pulação de 15 anos e mais segundo crlérios especficos para classificação
da condição de atividade
Grande São Paulo, 1995 em porcentagem
PED O'itério 7 dias
RA Nb.TIVO FEA OCUPAOO DESaA='RE GAOO
PED, Critério 30 dias
RA 100.0 34.2 65.8 62.2 3.6
1"'6.Th'O 31.9 30.7 12 -nativo Puro 30.7 30.3 0.4 -- Licença Saúde (INSS) 0.4 -Inativo com Trabalho Excepcional 1.2 0.5 0.7 -- Trabalho Excepcional na Semana 0.7 -- Outros 0.1 -
PEA 68.1 OCUPAOOS 59.6 0.1 59.4 -- Trabalho faniliar < 15 horas/semana 0.1
DESaflREGADO 8.6 3.3 1.7 3.6
Aberto (30 dias) 5.8 2.4 0.3 3.1 - hlivíduos com procura entre 8 e 30 dias 2.4 - Aviso A'évio 0.1 -- Conta-própria-sem trabalho na semana 0.1 Oculto pelo Trabalho A'ecário 2.2 0.3 1.4 0.5
- Trabalho entre 8-30 dias, com procura
a mais de 7 dias 0.3 - Trabalho na semana 1.3 -- Trabalho farriliar comj.t igual ou maior
a 15 horas/semana com procura 0.1 -Oculto pelo Desalento 0.6 0.6 - -- Sem trabalho com desalento da procura 0.6
30
De acordo com a Tabela 2, 83% das pessoas consideradas inativas, com procura de trabalho
entre 8 e 30 dias, possuíam experiência anterior de trabalho, sendo 80% como trabalhadores
empregados. A existência de trabalho anterior associada à elevada concentração da procura,
sem qualquer exercício de trabalho, sugere a presença ativa destas pessoas no mercado de
trabalho. Assim, parece dificil, em princípio, desqualificar a condição de desemprego destas
31
pessoas, principalmente quando se constata que 72% destas pessoas estavam na faixa de
idade considerada a mais produtiva- entre 18 e 54 anos.
Isto nos remete a uma segunda observação de cunho metodológico. Para a PME, a procura
de trabalho é avaliada principalmente pelo elemento de continuidade. Como vimos, este
procedimento desqualifica uma parte do desemprego aberto em 30 dias. Por outro lado, ela
faz uma investigação limitada da própria procura, diferenciando-a significativamente da
PED.
Infelizmente, esta diferença metodológica não pode ser tratada, exclusivamente, a partir da
discussão do desemprego aberto em 30 dias, pois o esforço da PED em obter um melhor
conhecimento da procura de trabalho encontra-se articulado a uma exploração da
disponibilidade para trabalhar e à realização de atividade remunerada ocasional. É preciso
incorporar, a partir deste momento, os indicadores complementares de desemprego
propostos pela PED - os de desemprego oculto por trabalho precário e por desalento.
As formas de desemprego oculto são indicadores complementares que permitem, ainda que
limitadamente, melhor qualificar a dinâmica do desemprego, pois, ao captarem aspectos
específicos que caracterizam o desemprego de mais longo prazo, indicam as razões que
levam os indivíduos a involuntariamente não mais sustentarem sua situação de desemprego
aberto.
Esta afirmação não tem caráter tautológico, pois o desemprego de longa duração, ao
corresponder a um sinalizador da falta de sintonia entre a dinâmica de participação
econômica da população e as oportunidades de trabalho que uma estrutura econômica
comporta em um determinado momento do tempo, modifica as expectativas individuais
sobre as perspectivas de reemprego e, em decorrência, tomam mais complexas a dinâmica
do próprio desemprego e suas formas de manifestação. A falta de sintonia é, inclusive,
parcialmente percebida pela elevação do tempo médio de desemprego aberto e pela
manifestação de outras formas de desemprego, pois uma faceta do problema se desenvolve
mediante o fluxo entre as situações de ocupação e inatividade - desemprego oculto
(DEDECC~ 1990). Isto é, quando as perspectivas de reemprego são reduzidas, as
estratégias individuais de sustentar a inserção no mercado de trabalho fazem que o
32
reconhecimento dos problemas de emprego escape completamente da configuração
dicotômica entre ocupação plena e desemprego aberto.
segundo os critérios PED-7dias e PED-30dias (1) Grande São Paulo 1995
Posição na Família Chefe Cônjuge Filhos Outros
Última Procura de Trabalho De 8a15 dias De 16 a 30 dias
Experiência Anterior de Trabalho Sem Experiência Com Experiência
Empregado Conta-própria Outros
Tempo de desemprego para os empregados na experiência anterior de trabalho (em meses)
Média Mediana . .
Fonte: SEP. Convemo SEADE-DIEESE.
Em oorcenta :iem 100
15.4 23.3 50.3
11
100 62.7
- 37.3
100 16.5 83.5 100
80.1 7.7
12.2
13 5
(1) Para o ano de 1995 os Desempregados em Situação de Desemprego Aberto, segundo PEO e Inativos segundo PE0-7dias correspondem a 2,40% da População com 15 anos '
A ma10r heterogeneidade do mercado de trabalho imposta por uma conjuntura de
crescimento lento do emprego protegido exige, portanto, a construção de indicadores
complementares de desemprego. No caso da PED, a qualidade deste indicadores
complementares só pode ser justificada se sua construção decorrer da adoção de critérios
claros e rigorosos, pois é este rigor que deve permitir o conhecimento de uma forma de
desemprego que se diferencia das situações de ocupação informal, ao ser expressão da não-
33
aceitação de oportunidades de trabalho irregular e descontínuo, em face da existência da
disponibilidade para mudança de ocupação e da recente tomada de iniciativa neste sentido.
Pode-se afirmar, ainda, que tal complexidade metodológica não representa uma visão que
tenda a privilegiar a situação de desemprego, pois ela decorre da necessidade de diferenciar
situações específicas de participação e atividade em um mercado crescentemente
heterogêneo, seja quando se analisa o desemprego aberto em 30 dias, seja quando se trata
das formas de desemprego oculto ou quando se investigam as situações de ocupação
regulares e contínuas marcadas por uma inserção precária.
As informações sobre as características do desemprego oculto por trabalho precário
mostram que, em 1995, 75% destes desempregados haviam realizado a procura de trabalho
nos últimos 30 dias, sendo que a média de horas semanais realizadas no trabalho ocasional
era de uma hora. Por outro lado, as pessoas que se encontravam nesta situação e que haviam
tido um experiência anterior de trabalho possuíam um tempo de desemprego médio e
mediano de 17 e 1 O meses, enquanto para o desemprego aberto estes eram de 13 e 5,
respectivamente. A baixa jornada de trabalho, aliada à procura recente de trabalho em um
contexto de longa duração do desemprego, impede que se refute facilmente a hipótese de
que o desemprego oculto por trabalho precário se inscreve na lógica de sobrevivência e
permanência no mercado de trabalho construída autonomamente pelo desempregado.
Toma-se ainda mais dificil considerar que este trabalho ocasional possa sustentar, de
maneira minimamente criteriosa, a existência de uma ocupação.
Um posição cautelosa também deve ser adotada quanto ao desemprego oculto por
desalento. O seu nível relativamente baixo não justifica a sua descaracterização, pois a
necessidade do desempregado de se manter no mercado de trabalho impede o abandono
total da procura ou a sua manifestação aleatória no tempo, dificultando a manifestação mais
intensa da situação de desalento. As caraterísticas desta forma de desemprego, que em 1995
representou 0,6% da PIA ou 0,9% da PEA, mostram que 59% das pessoas nesta situação
haviam realizado a última procura entre um e dois meses, 18% entre 2 e 3 meses e 16%
entre 3 e 6 meses, sendo que apenas 7% haviam buscado trabalho pela última vez há mais de
6 meses. De outro lado, apontam que 84% tinham experiência anterior de trabalho, com
34
80% destas com experiência de trabalho assalariado. Nota-se claramente que, apesar de o
critério de desalento estar amparado na procura em 12 meses, ocorre uma elevada
concentração da procura nos meses mais próximos à entrevista, que decresce rapidamente
com o prolongamento do tempo de desemprego.
Pensamos que seria importante investigar as razões que levam ao abandono rápido da
procura de trabalho, pois este movimento sinaliza uma capacidade limitada de resistência
individual de se manter presente no mercado de trabalho em conjunturas desfavoráveis.
Tanto a discrepância entre os indicadores de desemprego aberto em 30 dias como os
indicadores complementares de desemprego só se sustentam analítica e metodologicamente
no consenso existente sobre a precariedade estrutural do mercado de trabalho brasileiro, que
precede o movimento de ajuste do nível de emprego protegido dos anos 90. Esta
precariedade, que se exacerba em uma conjuntura de contração rápida do nível de ocupação
protegida, exige que se mantenha uma .atividade sistemática de aperfeiçoamento dos critérios
adotados na elaboração de indicadores de desemprego e informalidade e na
operacionalização dos conceitos, que, por decorrência, requer maior conhecimento da
dinâmica da procura de trabalho, da disponibilidade e das condições para trabalhar e do
sentido do trabalho ocasional no funcionamento do mercado de trabalho.
Se, portanto, a procura de trabalho constitui um critério importante e que se encontra bem
desenvolvido na PED16, não parece fácil descaracterizar a condição de desemprego de todas
ou de parte daquelas pessoas com procura entre 8 e 30 dias, que elevam significativamente
sua taxa de desemprego aberto em 30 dias, em comparação à de 7 dias, a qual se aproxima a
metodologia da PME, e nem daquelas pessoas em situação de desemprego oculto por
trabalho precário ou desalento.
Ao contrário, em face da inexistência de sistemas mais amplos e efetivos de seguro
desemprego e de intermediação de mão-de-obra em uma situação de baixa probabilidade de
reemprego, que obriga os desempregados a traçar autonomamente sua estratégia e
financiamento de busca de uma nova ocupação, é analiticamente inquestionável a
importância de uma maior exploração da procura de trabalho.
16 Cf. PAES DE BARROS et alii, 1996.
35
Embora este procedimento gere uma taxa de desemprego mais elevada, reflita outros
aspectos do problema de emprego e seja mais abrangente, não representa um relaxamento
do rigor conceituai, seja porque qualifica a procura, seja porque a captação da procura
encontra-se associada ao conhecimento da disponibilidade ou não para trabalhar, à
existência ou não de algum trabalho e às características do trabalho que possa ter sido
exercido. Neste sentido, ao conhecer melhor a procura, a PED checa adequadamente a
dispomõilidade, bem como a existência de um trabalho, o que permite, analiticamente, uma
qualificação mais precisa das situações de desemprego.
Se do ponto de vista metodológico a postura cautelosa adotada pela PED deve ser louvada,
cabe também reconhecer que do ponto de vista analítico os procedimentos adotados são
totalmente consistentes. Em face do peso limitado do segmento organizado - que se traduz
em um mercado de trabalho caracterizado por um caleidoscópio de situações ocupacionais,
resultante de um desenvolvimento econômico heterogêneo que foi acentuado pelo longo
período de estagnação econômica e do emprego-, é indubitável a necessidade de assumir
uma posição muito cuidadosa no processo de classificação das situações ocupacionais
informal e de desemprego. Portanto, metodologicamente, não somente se impõe um
desenho mais complexo do instrumento de coleta, como este necessariamente deve
privilegiar um conhecimento mais abrangente da precariedade do mercado de trabalho.
A opção por instrumentos de coleta simplificados pode ser justificada em situações em que o
grau de estruturação do mercado de trabalho é muito elevado e quando a economia se
aproxima do pleno emprego. Nesta situação, o desemprego é fundamentalmente fticcional e
pode ser rapidamente caracterizado. Entretanto, os levantamentos estatísticos no Brasil e na
América Latina - e mais recentemente nos países avançados - não tratam de uma
configuração de mercado de trabalho deste tipo. Pode-se dizer, até, que um levantamento
conjuntural orientado por esta ótica capta um dos pólos de uma escala contínua de situações
de subutilização de força de trabalho. A elevada heterogeneidade do mercado de trabalho
sempre impõe a adoção de um postura conservadora na construção de indicadores de
desemprego para que não se incorra no risco de aceitar toda subutilização involuntária de
força de trabalho como desemprego.
36
Esta postura conservadora relaciona-se à adoção, obrigatória, de um conjunto de critérios
mais complexos para a construção das condições de participação e de atividade. Não
somente da condição de atividade caracterizada pelo emprego protegido, mas das demais
formas de atividade que se manifestam de maneira pouco homogênea no mercado de
trabalho. Ser criterioso, portanto, é ter o conhecimento das situações dle desemprego
involuntário com efetiva procura de trabalho dentro das condições conjunturais de um
mercado de trabalho que leve em conta suas características estruturais e a ausência de
mecanismo institucionais de proteção ao desemprego e de intermediação de mão-de-obra.
Este rigor metodológico encontra-se garantido em ambos os levantamentos, se devidamente
respeitados os propósitos que fundamentam a construção de cada um deles. A PME, ao
buscar captar a manifestação mais explicita e imediata do desemprego, mensura uma faceta
importante do fenômeno. Isto é, aquela fração de desempregados que consegue manter a
exclusividade de seu tempo produtivo para a procura de trabalho, que se expressa
claramente na taxa de desemprego em 7 dias. Infelizmente, esta capacidade metodológica
não se mantém quando se estende o período de procura para 30 dias, seja em razão das
conseqüências-que o critério de continuidade impõe à qualificação da procura de trabalho,
seja em função da exploração limitada do exercício da própria procura.
As diferenças entre as taxas de desemprego aberto em 30 dias apresentadas pelas pesquisas
devem ser imputadas ao grau de refinamento na construção metodológica e na
operacionalização dos conceitos, que indubitavelmente se apresenta de maneira mais
aprofundado na PED, na qual a adoção dos quatro parâmetros básicos viabiliz.arn um
conhecimento mais detalhado das condições de participação e de atividade, correspondendo,
inquestionavelmente, à adoção de única e rigorosa postura estatística, metodológica e
analítica. É preciso reconhecer, ainda, que este rigor é refletido na construção dos dois
outros indicadores complementares de desemprego presentes somente na PED: o
desemprego oculto pelo trabalho precário e o desemprego oculto pelo desalento.
Como assinalou CEZARD (1986), analisando o caso francês, cada vez mais o desemprego
ganha um configuração complexa, impondo que o desemprego aberto expresse apenas uma
forma de manifestação do fenômeno. Este autor ressaltou que as demais formas de
37
desemprego constituem um halo em tomo do desemprego aberto, como um sintoma das
dificuldades presentes nos mercados de trabalho nacionais. Tanto este autor como a OCDE
(1994) tratam este halo como sintoma de precarização de mercados de trabalhos que no
passado recente haviam alcançado o pleno emprego. No caso da América Latina, este halo
possui uma dimensão muito maior, na medida em que expressa tanto o desemprego oculto
como as formas estáveis e contínuas de trabalho informal de um mercado que sempre se
manteve distante da situação de plena utiliz.ação da mão-de-obra.
5. Considerações Finais
Como afirmado no início deste ensaio, as notas aqui elaboradas têm o objetivo de aproveitar
uma posição privilegiada que alguns de nós usuários temos para debater os levantamentos
sobre a situação de emprego e de desemprego junto aos corpos técnicos das instituições
responsáveis. Neste sentido, elas são uma reflexão construída a partir da experiência técnica
e acadênúca de pesquisa sobre o tema, que pretende contribuir para melhorar o
entendimento de um mercado de trabalho caracterizado por uma configuração complexa.
Embora tenhamos focado nossa preocupação sobre a mensuração do desemprego, a
existência de levantamentos estatísticos complexos e rigorosos, de origem domiciliar, é
extremamente importante para os estudos sobre as mudanças nos perfis ocupacionais, tanto
no segmento formal como no informal. As mudanças produtivas provocadas pelos processos
de racionalização da grande empresa (terceirização, downsizing, contrato por tempo
determinado ou através de empreiteiras de mão-de-obra etc.) requerem um maior
investimento nas pesquisas domiciliares, pois são nestas que se poderá captar boa parte das
mudanças ocupacionais provocadas pelo ajustamento do setor moderno organizado.
Apesar do vigor discursivo que possa ter marcado estas notas, nossa preocupação não foi -
e jamais será - propor uma discussão que procure validar taxas ou indicadores de
desemprego que cada uma das pesquisas enfocadas elabora. Nosso comprometimento é com
38
a necessidade de um conhecimento aprofundado da extensa heterogeneidade de situações de
atividade presentes em nosso mercado de trabalho, que conforme uma base fundamental de
dados e análise necessária à discussão de políticas de emprego e renda, que possam apontar
para um mercado de trabalho mais favorável à maioria dos trabalhadores brasileiros.
Em face da elevada complexidade de nossos mercados de trabalho, acreditamos que não
devemos deduzir nossas visões de análises abrangentes, pois corremos grande risco não
somente de obter um diagnóstico distorcido como também de subsidiar de maneira
equivocada as políticas de emprego e rendas, dilapidando, por decorrência, os poucos
recursos que o setor público possui para atacar os problemas de desemprego e de
precariedade ocupacional presentes no país.
Neste sentido, devemos organizar levantamentos estatísticos que permitam comparação
internacional, isto é, capazes de produzir indicadores de desemprego nos termos propostos
pela Organização Internacional do Trabalho, sem no entanto nos eximirmos da construção
de outros indicadores que gerem um conhecimento mais aprofundado e rigoroso das
condições de funcionamento de nossos mercados de trabalho.
Como visto anteriormente, ambas as pesquisas focadas, quando adotado o critério proposto
pela OIT de procura e não-trabalho na semana, produzem taxas de desemprego aberto que
pouco se diferenciam entre si, apesar das diferenças de questionários existentes entre elas.
Esta situação não se reproduz quando se estende o prazo de procura para 30 dias,
mantendo-se inalterado o periodo de não trabalho em 7 dias, em razão da adoção de uma
construção metodológica mais pontual pela PME, que contrasta com o procedimento
adotado pela PED. Por outro lado, o maior detalhe metodológico desta pesquisa permite
gerar indicadores complementares que fornecem informações importantes e adicionais sobre
a complexidade do desemprego e, em decorrência, da dinâmica do mercado de trabalho.
Podemos dizer ser inquestionável que a produção de indicadores de desemprego a partir do
entrelaçamento de parâmetros básicos mais requintados não compromete a produção das
estatísticas convencionais, além de permitir a produção de estatísticas que espelhem mais
fielmente a heterogeneidade presente em nosso mercado de trabalho. É óbvio que a
construção dos diversos indicadores não é passível de consenso. Entretanto, é fundamental
39
salientar que uma metodologia como a desenhada pela PED tem a capacidade de alimentar
as diversas posições analíticas que possam estar presentes hoje no debate sobre o problema
de emprego no Brasil, devendo-se ressaltar que este reconhecimento não desqualifica a
importância e o rigor metodológico da PME, se respeitados os seus objetivos.
Esta capacidade da metodologia PED de garantir maior flexibilidade sem comprometimento
do rigor. na construção de indicadores lhe capacita a produzir tanto aqueles de caráter mais
convencional, como aqueles mais sofisticados. Este poder metodológico pode gerar
indicadores sintéticos segundo a demanda da OIT e, ao mesmo tempo, elaborar indicadores
múltiplos de desemprego compatíveis, por exemplo, com os 7 propostos pelo Bureau of
Labour Statistics desde 1962 (SORRENTINO, 1993), ou os recentemente divulgados pela
OCDE (I 995).
Entretanto, a relevância da existência de um levantamento mais complexo das condições de
funcionamento do mercado de trabalho nacional não deve ser pautada pelo privilégio de
poder fazer a comparação internacional, como bem afirma a XIII Conferência de Estatísticos
do Trabalho da OIT, mas fundamentalmente pela necessidade de conhecimento adequado do
mercado de trabalho, que os governos em seus diversos níveis ou os institutos de pesquisa
requerem para poder pensar alternativas de políticas de emprego e renda no Brasil.
Deve-se afirmar, ainda, que uma crítica superficial aos indicadores de desemprego existentes
hoje pode ser tomada como uma atitude que deprecia o debate sobre a urgência de armar
políticas de emprego e renda no país, uma vez que a viabilidade destas dependerá da
disponibilidade de estatísticas de qualidade sobre a configuração de nosso mercado de
trabalho, mesmo que elas possam apresentar divergências metodológicas e de resultados
expressivas.
Campinas, maio de 1996
40
ANEXot ESTIMATIVA DA TAXA DE DESEMPREGO EM 7 DIAS COM O BANCO DE DADOS DA PED,
CONSIDERANDO OS CRITtRIOS ADOTADOS PELA PME
L Taxa de desemprego aberto na semana para a população de 15 anos e mais
Tua de Desemprego Aberto= Desocupados na semana de referência Desocupados na semana de referência+ Ocupados neste período {PEA)
J. Desocupados na semana
Indivíduos sem nenhum trabalho na semana de referência e com procura efetiva de
trabalho/emprego ou para abrir um negócio, neste período.
2. Ocupados na semana
Indivíduos que exerceram na semana de referência qualquer trabalho remunerado de
forma monetária e/ou em espécie ou beneficio, regular ou esporádico, inclusive a
procura de clientes por parte do trabalhador autônomo~ ou que exerceram trabalho não
remunerado, em pelo menos 15 horas na semana de ajuda à parentes ou à instituições
beneficentes, ou estágios sem remuneração~ ou que não trabalharam na semana de
referência mas tinham trabalho regular (trabalham normalmente pelo menos 1 vez por
semana). Nesta situação são incluídas as pessoas em férias, licenças, paralisações,
greves, doença, falta voluntáia ao traballho, etc, e o conta-própria que trabalha
regularmente e que não trabalhou na semana de referência por falta de serviço ou cliente.
J. Cálculo da taxa:
• Ocupados
a) Indivíduos que realizaram qualquer trabalho remunerado nos últimos 7 dias ou não trabalharam porque houve uma interrupção temporária, estava de férias ou viajando, licença-saúde até 15 dias, ou porque não é nesses dias que realiza este trabalho~ ou que
41
realizaram neste período trabalhos não remunerados por 15 horas ou mais em ajuda de negócios de parentes.
b) Indivíduos que procuraram trabalho nos últimos 7 dias e que trabalharam neste período em cumprimento de aviso prévio.
c) Indivíduos que trabalharam nos últimos 7 dias em trabalhos remunerados com frequência irregular e que procuraram mudar de trabalho neste período.
d) Indivíduos que não trabalharam nos últimos 7 dias e que procuraram cliente neste período.
e) Indivíduos que não trabalharam nos últimos 7 dias porque o serviço acabou há menos de 30 dias, porém normalmente têm frequüência regular de trabalho.
f) Indivíduos que não trabalharam nos últimos 7 dias porque encontram-se em licençasaúde há mais de 15 dias.
g) Indivíduos que declararam estar sem trabalho nos últimos 7 dias, mas trabalharam, pelo menos 1 hora em trabalhos remunerados ou 15 horas ou mais em trabalho de ajuda a negócio familiar, na semana anterior a da entrevista.
• Desempregados (em 7 dias)
a) indivíduos que tomaram providências para conseguir um emprego/trabalho nos últimos 7 dias e que não trabalharam neste período porque perderam ou deixaram o emprego/trabalho ou é a primeira vez que procuram.
b) Indivíduos que tomaram providências para conseguir um emprego assalariado nos últimos 7 dias e que não trabalharam neste período porque o serviço que realizava acabou e tinha frequência irregular.
e) Indivíduos que tomaram providências para conseguir um emprego assalariado nos últimos 7 dias e que não trabalharam neste período porque o serviço acabou há mais de 30 dias, embora o realizasse com freqüência regular.
D. Limites do procedimento de adoção dos critérios adotados na PME para cálculo da taxa de desemprego na bàse de dados da PED
J. Períodos de Referência
semana de referência: foram considerados os últimos 7 dias e não a semana de domingo
a sábado anterior à semana da entrevista. Entretanto, os indivíduos sem trabalho nos 7
dias mas com horas trabalhadas na semana anterior a da entrevista (captação de jornada
de trabalho da PED), que coincide com a semana de referência da PME, foram
classificados como ocupados.
42
2. Definição de Ocupação Econômica sem Remuneração
Não foi possível incluir nessa categoria as pessoas que exercem atividades de ajuda a
instituições beneficentes ou de cooperativismo ou de aprendizlestagiário sem
remuneração monetária, uma vez que essas situações não são identificadas no
questionário da PED.
J. Definição da situação "Tinha Trabalho mas não Trabalhou" do trabalhador lllltônomo
Para a PME o conta-própria que não trabalhou na semana de referência por falta de
serviço ou cliente, mas exerce regularmente seu trabalho, ou seja. pelo menos uma vez
por semana, mediante pagamento, é classificado na situação "tinha trabalho mas não
trabalhou". Foi adotado como critério de aproximação dessa situação, o exercício de
trabalho com freqüência regular pelo conta-própria, desde que realizado nos últimos 30
dias.
43
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Versão Muito Preliminar
Em Busca de um Núcleo Comum para as
Pesquisas Domiciliares sobre Emprego e Desemprego no Brasil
Ricardo Barros DIPES/IPEA
Luiz Eduardo l.ruz Bolsista PNPE na DIPES/IPEA
Rosane Mendonça Bolsista PNPE na DIPES/IPEA
Marcelo Neri UFF e Bolsista PNPE na DIPES/IPEA
Renata Pacheco Bolsista PNPE na DIPES/IPEA
Abril de 1996.
1. Introdução
1.1. Motivação e Objetivo
O objetivo deste estudo é definir um modelo para o núcleo das pesquisas
domiciliares brasileiras que tenham como principal meta levantar informações sobre a
natureza e a evolução do emprego, desemprego e subemprego. É importante assinalar que
não se trata de um estudo sobre o desenho de uma pesquisa domiciliar mensal ideal. Ao
contrário, trata-se de um estudo sobre como melhor redesenhar o núcleo central das
pesquisas já existentes com o objetivo de racionalizar a utilização de recursos e elevar o
grau de comparabilidade. Mais especificamente, busca-se uma proposta de redesenho para
o núcleo dos questionários da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) e da Pesquisa
Mensal de Emprego (PME) que, por um lado, evite qye estas duas pesquisas precisem ser
coletadas simultaneamente no mesmo local e que, por outro lado, permita melhorar a
comparabilidade entre PED e P.ME, a comparabilidade entre estas pesquisas e as pesquisas
nacionais como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e os Censos
Demográficos e a comparabilidade entre estas pesquisas e as estatísticas internacionais.
Dada a natureza pragmática deste estudo, a análise aqui contida deve ser vista como
uma tentativa de adaptar as normas internacionais à realidade brasileira, levando
definitivamente em consideração em que medida estas normas têm sido efetivamente
respeitadas na maioria dos demais países. As críticas e propostas de mudanças às normas
internacionais serão mantidas ao mínimo. Uma análise crítica dos conceitos de emprego,
desemprego e subemprego estão definitivamente além dos objetivos deste estudo.
1.2. Duas Questões Prioritárias
Antes de passarmos à discussão específica a que este trabalho se destina, é
importante localizar :.i prioridade das preocupações deste estudo dentro do conjunto de
prioridades de um sistema de estatísticas sobre trabalho no Brasil. A questão da eficiência e
comparabilidade das pesquisas mensais sobre emprego no Brasil é secundária com relação a
pelo menos dois temas.
Em primeiro lugar, deve-se ter em mente que, embora seja extremamente desejável,
de nada vai adiantar um aumento na eficiência se o volume total de recursos destinados às
estatísticas do trabalho não voltar aos seus níveis históricos. O Brasil sustentou, no que se
refere à coleta e à análise de pesquisas domiciliares sobre emprego e renda, durante as
décadas de 70 e 80. uma posição de absoluta vanguarda na América Latina e, em conjunto
com Índia e Malásia, no mundo em desenvolvimento, chegou ao final de 1995 e.orno sendo
um dos raros países latino-americanos sem nenhuma pesquisa domiciliar de emprego
disponível em nível nacional. As informações da amostra do Censo Demográfico de 1991
assim como as das PNADs de 1992 e 1993 permanecem não disponíveis. Além disso, a
PNAD de 1994 não foi levada a campo interrompendo uma seqüência de quase 20 anos de
pesquisas anuais. Embora se possa argumentar que parte desta dramática queda de
produção possa ser explicada por algum crescimento na ineficiência, é evidente que a
principal causa é a queda no volume de recursos. Este é hoje o principal problema para a
manutenção de um sistema de informações sobre trabalho no Brasil que um dia atingiu
qualidade internacional.
Em segundo lugar, tem-se que reconhecer, como o faz a OIT (1990, p.S), que a
base de sustentação de todo sistema de informações sobre trabalho, tanto em países
desenvolvidos como em desenvolvimento, são pesquisas domiciliares em nível nacional
coletadas com periodicidade pelo menos anual. Em outras palavras, qualquer que seja o
desenho '1 que se chegue para o sistema de estatísticas do trabalho rio Brasil, a sua âncora
será sempre a PNAD. A essencialidade de uma pesquisa domiciliar nacional anual advém de
pelo menos três características únicas destas pesquisas: a) o fato de ser a única forma de
cobrir todJ.s as áreas do país, todos os ramos de atividade, os setores formal, informal,
conta-própria e trabalhadores familiares; b) a capacidade desta pesquisa de cobrir diversos
temas simultaneamente, como educação, renda, trabalho, habitação, demografia, saúde,
entre outros, permitindo assim que a inter-relação entre as condições do mercado de
trabalho e estes temas possa ser investigada; c) por tomar a família com a unidade de
análise, permite que tanto o processo decisório relativo à oferta de trabalho possa ser
melhor investigado como também que as conseqüências do desemprego possam ser
investigadas, incluindo uma investigação da natureza dos mecanismos compensatórios que
as famílias lançam mão.
Portanto, mais importante que o futuro das pesquisas mensais é o futuro da PNAD,
uma vez que sem a PNAD as pesquisas mensais, devido a sua natureza geograficamente
restrita, terão utilidade crescentemente limitada. O fato de que em 1996 no Brasil não
existem estimativas de como evoluiu o emprego e o desemprego no país ao longo ce toda a
2
primeira metade da década de 90 é um absurdo que preocupa mais do que o fato de a taxa
de desemprego da PED ser mais elevada do que a da PME.
Segue comó um corolário que qualquer alteração que se proponha para as pesquisas
mensais não pode jamais levar a reduções na compatibilidade destas pesquisas com a
PNAD. As propostas devem levar a maior afinidade destas pesquisas com a PNAD ou
requerer que mudanças similares venham a ser aplicadas à PNAD.
1.3. Organização do Estudo
Este estudo está dividido em quatro partes. Na próxima seção discutimos quais os
temas investigados na PED e na PME e quais deveriam formar o núcleo comum de uma
pesquisa mensal ou trimestral de emprego no Brasil. Nas Seções 3 e 4 investigamos como
estas variáveis deveriam ser questionadas. Na Seção 3 .tratamos da importante questão do
fluxo do questionário que representa talvez o verdadeiro grande desafio para compor um
núcleo comum para a PED e a PME. Na Seção 4 tratamos da especificação dos quesitos
relativos à renda e à jornada de trabalho em ambas as pesquisas. Finalmente, na Seção 5
tratamos de aspectos ligados ao desenho amostral.
2. Os Temas
Uma rápida comparação dos questionários da PME e da PED revela que a última é
uma pesquisa nitidamente mais abrangente que a primeira. Essencialmente, todos os temas
abordados pela PME o são na PED. Este fato é corroborado quando se compara algumas
estatísticas básicas dos dois questionários. O questionário da PED consta de 51 quesitos
enquanto o da PME possui apenas 28. Uma pessoa ocupada na PED pode vir a ter que
responder até 26 quesitos, ao passo que a mesma pessoa se entrevistada pela PME teria que
responder apenas 12 quesitos. Uma pessoa desempregada na PED pode vir a ter que
responder a até 22 quesitos ao passo que na PME ela responderia no máximo a 17 quesitos.
Estas estatísticas básicas revelam também que as diferenças se devem mais a um maior
número de quesitos respondidos pelos ocupados do que pelos desempregados - uma
indicação de que uma análise detalhada destes questionários demonstra ser absolutamente
verdadeira. Uma similaridade importante entre as duas pesquisas é o fato de ambas
aplicarem a bateria de quesitos sobre a situação ocupacional ao mesmo universo: pessoas
com 1 O ou mais anos.
3
Dada a clara superioridade temática da PED, prosseguiremos em três passos. Em
primeiro lugar, faremos uma descrição dos temas cobertos pela PED que servirá como
nosso ponto de partida. Em segundo lugar, descreveremos quais destes temas não são
cobertos na Pl\ffi. Finalmente, procuraremos avaliar quais temas deveriam fazer parte do
núcleo mínimo de uma pesquisa mensal de emprego no Brasil.
2.1. Temas da PED
O primeiro e talvez principal tema da PED é a identificação da condição de
atividade dos entrevistados. Isto é, determinar se cada pessoa entrevistada estava ocupada,
desempregada ou inativa. Para as pessoas ocupadas, a PED investiga uma série de seis
temas. Em primeiro lugar, a pesquisa tem quesitos dedicados a avaliar a busca de trabalho
por pessoas ocupadas. Estes quesitos procuram avaliar à intensidade, a forma e a motivação
da busca, em particular, tentando separar se a busca era motivada por um desejo de mudar
de emprego ou se a motivação era buscar trabalho adicional.
Em segundo lugar, a pesquisa possui algumas características da regularidade do
trabalho e do desejo dos trabalhadores em trabalhar um número maior de horas do que vêm
efetivamente trabalhando. Os quesitos nesta temática em conjunto com o da temática
anterior permitem uma excelente avaliação das condições de subemprego da população
ocupada.
Em terceiro lugar, a pesquisa inve.stiga a existência de múltiplos empregos e a
remuneração bruta e líquida para os empregados e a retirada mensal para os demais.
Em quarto lugar, a pesquisa investiga a inserção do trabalhador examinando a sua
ocupação, posição na ocupação, tamanho e ramo de atividade da empresa em que trabalha,
e se a empresa é pública e privada.
Em quinto lugar, investiga-se a duração do vínculo empregatício.
Finalmente, em sexto lugar, a pesquisa investiga a natureza de alguns aspectos. do
processo de produção e contratação, na medida em que examina o local onde se dá o
trabalho, a quem pertencem os instrumentos de trabalho e em que extensão existe
subcontratação no sentido de que a empresa que paga é diferente da empresa em que
trabalhador trabalha.
Para as pessoas desempregadas três temas são investigados. Em primeiro lugar,
investiga-se (como para as pessoas ocupadas) a intensidade, a forma e a motivação da
4
busca. Em particular, procura-se investigar o fenômeno do trabalhador desencorajado com
base na análise da in~errupção da busca devido a poucas expectativas de obter emprego.
Em segundo lugar, investiga-se a natureza do último emprego com quesitos sobre a
ocupação, posição na ocupação, ramo de atividade, duração e motivos para saída do último
emprego.
Finalmente, a pesquisa investiga a natureza do trabalho que aqueles hoje
desempregados eventualmente tiveram ao longo do último mês. Neste caso, pesquisa-se
ocupação, posição na ocupação e ramo de atividade. Para os inativos, investiga-se a razão
da inatividade e os recebimentos de pensões, aposentadorias e seguro-desemprego.
2.2. Temas da PME
Um resumo dos principais temas cobertos pela PED e pela Pl\ffi é apresentado no
Quadro 1. Este quadro revela que dos 11 temas cobertos pela PED apenas cinco são de
alguma forma também cobertos pela PME, sem que isso queira dizer que os temas cobertos
pela Pl\ffi o sejam com a mesma profundidade que o são na PED. Existe apenas um quesito
na PME que não consta na PED que é digno de nota: é o último quesito da PME, que
pergunta se o trabalhador ao sair do emprego teve ou não acesso ao seu fundo de garantia.
Quanto aos temas não cobertos pela PME, vê-se que os mais relevantes são
exatamente aqueles relativos às pessoas ocupadas. As informações da PED e PME sobre os
desempregados são relativamente similares. As implicações das omissões temátio1.s para os
ocupados são bastante importantes e claras. Por um lado, a inexistência na PME de
informações sobre a busca de emprego por trabalhadores ocupados e do grau de
irregularidade das suas atividades toma extremamente dificil desenvolver qualquer medida
de subemprego. A inexistência de informações sobre o processo de produção e contratação
toma impossível investigar importantes questões como a aceleração do processo de
tercia1 ização da economia.
É importante ressaltar que a superioridade temática da PED não se deve apenas a
sua maior abrangência temática mas também a maior profundidade com que cada tema: é
investigado. Dois exemplos merecem ser mencionados. Em primeiro lugar, deve-se
observar que a inserção do trabalhador é significativamente melhor desenvolvida na PED.
Tem-se noção do tamanho do estabelecimento em que o trabalhador trabalha e, mais
importante, a noção de posição na ocupação encontra-se muito melhor desenvolvida nesta
5
pesquisa. De fato, enquanto na PME não é possível nem mesmo isolar os funcionários
públicos dos demais empregados sem carteira, com a PED existem cerca de 20 formas
distintas de relações contratuais de trabalho que podem ser nitidamente diferenciadas.
Em segundo lugar, e talvez de maior importância, é a maior profundidade na PED
dos quesitos sobre busca de trabalho para desempregados. A maior profundidade destes
quesitos permite, entre outras coisas, captar interrupções no processo de busca e, portanto,
avaliar a extensão do fenômeno do trabalhador desencorajado.
2.3. Alguns Temas para o Núcleo Mínimo
Em primeiro lugar, parece evidente que a temática da PME e, portanto, seu
questionário deva ser expandido para permitir uma avaliação sistemática do subemprego e
do fenômeno do trabalhador desencorajado.
É surpreendente que, apesar de grande parte das importantes questões sobre
emprego, desemprego e subemprego ser de natureza dinâmica, muito pouca atenção à
dinâmica do mercado de trabalho está presente no questionário de ambas as pesquisas.
Assim, parece inevitável que uma das recomendações seja a inclusão de um maior número
de perguntas retrospectivas para os trabalhadores empregados (já que para os
desempregados ambos os questionários têm uma extensiva bateria de quesitos), em
particular questões sobre o último emprego. Questões sobre quando e por que ocorreu a
transição e qual o efeito da transição sobre seus rendimentos, ocupação e setor de
atividade.
3. O Fluxo
Na seção anterior procuramos demonstrar que de um ponto de vista puramente
temático a PME está contida na PED e, portanto, a implementação de um núcleo comum
para as duas pesquisas não impõe grandes dificuldades, uma vez definidos os temas que
comporão este núcleo. A expectativa é que a recomendação seja a incorporação de um ou
outro tema à PME, de tal forma que seja possível obter medidas de subemprego com base
nesta pesquisa.
Quanto à natureza do fluxo do questionário, a situação é bastante distinta, uma vez
que as duas pesquisas diferem frontalmente neste aspecto. De fato, parece impossível
desenhar um núcleo comum, que necessariamente requer um fluxo inicial comum como
6
procuraremos demonstrar, sem que ao menos um dos questionários seja estruturalmente
modificado. Assim, devido às diferenças radicais nos fluxos dos questionários, qualquer
tentativa de homogeneização irá impor sérias limitações à comparabilidade, pré e pós
redesenho do questionário, nas estatísticas geradas por, pelo menos, uma das pesquisas.
Quais as diferenças nos fluxos dos dois questionários? Pode-se dizer que existem
duas diferenças básicas. Em primeiro lugar, existe uma diferença na seqüência dos quesitos
sobre ter trabalho e estar procurando trabalho. Em segundo lugar, existe uma profunda
diferença quanto à complexidade do fluxo dos questionários. Abordaremos estas duas
questões seqüencialmente nas duas seções seguintes.
3.1. Diferenças na Seqüência
A diferença na seqüência dos questionários da PME e PED pode ser bem ilustrada
com base na primeira pergunta de cada questionário. A PME pergunta em primeiro lugar se
a pessoa trabalhou na última semana. A PED pergunta se a pessoa procurou trabalho nos
últimos 30 dias.
Em termos gerais a diferença é que na PME questiona-se primeiro sobre se uma
pessoa tinha trabalho· para depois questionar se ela procurou trabalho. Na PED a ordem é
precisamente a inversa. Questiona-se primeiro se a pessoa procurou trabalho para então vir
a questionar se ela tinha trabalho. Por exemplo, enquanto na PME o primeiro quesito é
sobre se a pessoa tinha trabalho, na PED este vai estar entre o terceiro e o sétimo quesito a
ser respondido. De fato, vai ser o terceiro se a pessoa não realizou nenhuma busca nos
últimos 12 meses e o sétimo se a pessoa não realizou nenhuma busca no último mês mas o
fez no último ano. Para clarificar a diferença imaginemos um caso extremo de uma pessoa
que, apesar de ter um emprego estável, durante os períodos em que a intensidade do seu
trabalho diminui ela decide dedicar algum tempo à procura de um emprego com um salário
maior. F.sta pessoa, ao ser entrevistada pela PME, diria como resposta ao primeiro quesito
que trabalhou na última semana. Vejamos, no entanto, o seu fluxo ao longo do questionário
daPED.
1. O senhor procurou trabalho nos últimos 30 dias? Resposta: Não
2. E nos últimos 12 meses? Resposta: Sim
3. E hoje, o senhor ainda necessita arrumar trabalho? Resposta: Sim
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4. Então por que não procurou trabalho nos últimos 30 dias? Resposta: Estava muito
ocupado, não tive tempo.
5. Durante quanto tempo o senhor está procurando trabalho? Resposta: três anos.
6. Quando foi a última vez que o senhor procurou efetivamente trabalho? Resposta: Há
cerca de 9 meses.
7. O senhor trabalhou nos últimos sete dias? Resposta: Sim
Note-se que somente após a sétima pergunta é que o entrevistador descobre que
esta pessoa está ocupada. De fato, analisando o questionário da PED tem-se a impressão de
que um nome mais apropriado para a pesquisa seria Pesquisa de Desemprego Emprego
(PDE), devido à seqüência do questionário e à ênfase sobre a procura por trabalho.
Dadas as diferenças observadas na seqüência dos questionários, resta saber se esta
tem qualquer influência e, em caso afirmativo, qual a mais recomendável. Procuramos
responder a estas perguntas nas seções subsequentes.
3.1.1. O Impacto de Diferentes Seqüências
Em princípio, se os entrevistados respondem de forma logicamente precisa ao
questionário e se a sua lógica não é influenciada pela seqüência das perguntas a que são
submetidos, então as estimativas da proporção de pessoas ocupadas ou desocupadas
cieveriam ser idênticas, independentemente da seqüência dos quesitos. Neste caso, não
haveria razão para padronizar a seqüência dos questionários.
Entretanto, tanto a experiência internacional com pesquisas domiciliares como nossa
experiência em comparar estimativas da PED com as da P.ME revelam que a seqüência das
perguntas pode ter importantes impactos sobre as respostas. Por exemplo, o Gráfico 1
apresenta a evolução da taxa de desemprego aberto estimada com base na PED e na P.ME
referente à busca por trabalho no último mês, por pessoas com 1 O anos e mais 1. Este
gráfico revela que a taxa de desemprego estimada pela PED tende a ser mais elevada,
corroborando a hipótese de que a seqüência do questionário de fato importa2.
1 Nos~s estimativas para a taxa de desemprego com a PME diferem das publicadas. A razão é que a série publicada pelo IBGE refere-se a população de 15 anos e mais, ao passo que nossas estimativas referem-se a população de 1 O anos e mais. Esta reestimação foi necessária para tornar a série comparável com a série da PED. 2 Como não tivemos acesso às informações individuais da PED, procuramos adaptar a definição de desemprego e da população alvo com a PME de forma a chegar o mais próximo possível ao que julgamos
8
3.1.2. A Experiência Internacional
Como sempre, existem duas formas de avaliar qual o procedimento mais
recomendável. Um forma seria analisar a lógica e as vantagens e desvantagens de cada
procedimento. Uma segunda forma seria tomar o que a maioria dos outros países faz como
o recomendável. Esta segunda abordagem, apesar de mais simples, é reconhecidamente
também mais limitada, pois pode ocorrer que a maioria destes países esteja simplesmente
errada. De qualquer forma, esta abordagem é sempre um importante ponto de partida e,
portanto, será explorada nesta seção.
Procuraremos diferenciar dois aspectos da experiência internacional. Por um lado,
analisaremos quais as recomendações da Organização Internacional do Trabalho (OIT) a . este respeito. Por outro, investigaremos em que medida as normas internacionais têm sido
efetivamente cumpridas pelos órgãos de estatística dos diversos países.
A norma internacional é bastante clara ver OIT (1988, 1990-a, 1990-b ). Ela
estabelece uma clara regra de prioridade tanto para a definição como para a seqüência do
questionário. Segundo esta regra, emprego tem prioridade sobre desemprego e este tem
prioridade sobre inatividade. Um recente manual de pesquisas domiciliares da OIT
estabelece:
"The labour force framework uses a set of priority rufes for classifying the
working age population into the three basic categories of the framework:
precedence is given to employment over unemployment and to
unemployment over economically inactivity. Thus a person who is both
working and seeking is classified as employed, while a student who is
attending schoo/ and also seeking work is c/assified as unemployed One
corollary of the priority rufes is that employment always takes precedence
over other activities, regardless of the amount of time devoted to it during
the reference period; a person working even only one hour during the
reference period will be classified as employed on the basis of the /abour
ser a definição utilizada pela PED. Um estudo bem mais detalhado e preciso requereria acesso às informações individuais da PED. Segue que p:1rte das diferenças observadas no Gráfico 1 pode se dever ainda a diferenças de definição, que poderiam ser eliminadas simplesmente alterando-se como a taxa é calculada com base no questionário atual da PED. Em outras palavras, as diferenças no Gráfico 1 provavelmente superestimam as diferenças devido exclusivamente à sequência do questionário.
9
force jramework, though he or she may at the same time be seeking
additional work or going or schoo/" [OIT (1990 p.38-39)].
As implicações desta regra de prioridade sobre o fluxo do questionário é clara; antes
de qualquer quesito sobre procura de trabalho deve ser questionada a necessidade de se
averiguar se a pessoa trabalhou em algum momento na semana anterior. Em outras
palavras, a recomendação internacional está de acordo com o fluxo do questionário da
PME e, por conseguinte, em frontal desacordo com o fluxo do questionário da PED.
Para ilustrar este fato, os Quadros 2 a 5 apresentam quatro propostas da OIT
(1990-a; p.257-260) para o fluxo dos questionários. Pode-se notar que em todos os casos o
primeiro quesito é, como na PME, sobre se a pessoa trabalhou na última semana. Nestes
exemplos, para uma pessoa desempregada, o quesito sobre procura de trabalho é o quinto a
ser perguntado no primeiro exemplo, o terceiro no segundo exemplo, o sexto no terceiro
exemplo e o quarto no último exemplo. Assim, estes exemplos ratificam que a seqüência
dos quesitos recomendada pela OIT está em perfeita sintonia com a utilizada pela PME
mas em nítido confronto com a utilizada pela PED.
Resta, no entanto, saber em que medida esta norma da OIT tem sido de fato
utilizada internacionalmente. Com este objetivo fizemos uma investigação do questionário
em utilização tanto nos países desenvolvidos como em desenvolvimento. Esta busca nos
levou a identificar o questionário utilizado em 20 países: Send.J três desenvolvidos (Estados
Unidos, Canadá, e Irlanda), 13 latino-americanos, dois africanos (Ruanda e Zimbábue) e
dois asiáticos (Paquistão e Sri Lanka).
Cópfas destes questionários encontram-se disponíveis mediante requisição. No
Quadro 6, no entanto, fazemos um sumário destes questionários, apresentando dois
parâmetros: a) quantos quesitos têm que ser respondidos por uma pessoa ocupada antes
que lhe seja perguntado se trabalhou recentemente; e b) quantos quesitos têm que ser
respondidos por uma pessoa desempregada antes que lhe seja perguntado se procurou
trabalho recentemente.
O Quadro 6 revela de forma bastante clara que a seqüência do questionário da PED
está em desacordo não apenas com as normas e sugestões da OIT, mas também com o que
tem sido adotado internacionalmente. O fluxo da PME por outro lado está de acordo com
as normas da OIT e com a prática internacional.
10
Como uma nota final vale dizer que parece dificil racionalizar a seqüência de
quesitos adotada no questionário da PED se a regra de prioridades defendida pela OIT
fosse aceita e, portanto, se os conceitos de emprego, desemprego e subemprego nela
implícitos fossem aceitos. Em outras palavras, a natureza do fluxo do questionário deve ser
uma função de como se decide conceituar emprego, desemprego e subemprego. Portanto,
pode vir a ser impossível discutir qual deva ser o fluxo do questionário ou mesmo seu
conteúdo sem antes definir com precisão os conceitos de emprego, desemprego e
subemprego que a pesquisa procura quantificar. Em suma, pode ser impossível desenhar o
núcleo de uma pesquisa de emprego sem antes definir com precisão, por exemplo, o
conceito de desemprego.
3.2. Diferenças na Complexidade
Uma outra diferença fundamental entre a PED e a PME é o grau de complexidade
do fluxo dos questionários. O grau de complexidade é muito maior na PED que na PME. A
complexidade do questionário da PED pode ser rapidamente reconhecida olhando-se para a
sua margem direita, onde, mais de 30 notas do tipo passe para o quesito n indicam como
prosseguir com o inquérito. Na PME apenas seis observações deste tipo ocorrem em t0do o
questionário. Uma forma alternativa de avaliar a complexidade do fluxo na PED é verificar
quantos caminhos distintos ao longo do questionário poderia uma pessoa que responde um
dado quesito ter percorrido. Por exemplo, na PME as pessoas empregadas que respondem
o quesito de rendimento podem ter percorrido apenas dois possíveis caminhos ao longo do
questionário de acordo com a sua posição na ocupação. Na PED, por outro lado, as
pessoas ocupadas ao responderem o quesito de rendimento podem ter seguido mais de 200
caminhos distintos antes de atingir este quesito! Esta variedade de caminhos depende
fundamentalmente: a) de se a pessoa, apesar de ocupada, procurou trabalho e como esta
busca se deu; e b) da posição na ocupação da pessoa. Em suma, não há dúvida de que o
fluxo na PED é mais complexo que o da PME. Esta maior complexidade é, porém, uma
conseqüência inevitável de um questionário mais abrangente e profundo.
Quais são, no entanto, os potenciais problemas de um fluxo mais complexo? Dois
parecem evidentes. Em primeiro lugar, o programa de crítica aos dados levantados deve se
tomar incrivelmente mais comp!exo para poder identificar todos os possíveis erros no
preenchimento dos questionários. Em outras palavras, a fase de critica, que tem sido
11
responsável por grande parte do atraso tanto do Censo Demográfico como das PNADs de
1992 e 1993, seria particularmente alongada por um fluxo mais complexo.
Em ·segundo lugar, o processo de expansão da amostra e a análise estatística das
relações entre variáveis deveriam ficar bem mais complexos, uma vez que, como diferentes
quesitos referem-se a diferentes universos, na amostra existem diferentes taxas de não
resposta. Em princípio, deveriam haver fatores de expansão diferenciados por grupos de
quesitos, o que toma o processo de expansão da amostra mais complexo.
4. Outros Quesitos
Além da avaliação do nível de emprego, desemprego e do trabalho precário, as
pesquisas de emprego e desemprego permitem a mensuração dos rendimentos e da
extensão das jornadas de trabalho. Esta seção explora ~ conceito de renda e de horas
trabalhadas presentes na PNAD, P.ME, PED e em pesquisas domiciliares de outros países
latino-americanos. O objetivo é compreender a definição destas variáveis em cada uma
destas pesquisas e avaliar o grau de comparabilidade destes quesitos entre: a) a PED e a
PME; b) entre estas duas pesquisas e uma pesquisa domiciliar de âmbito nacional como a
PNAD; e c) entre as pesquisas domiciliares sobre mercado de trabalho brasileiras e a de
outros países da América Latina.
4.1. Rendimentos do Trabalho
4.1.1. PNAD versus PME
O questionário da PNAD, a partir de 1981, considera como rendimento a
remuneração bruta mensal normalmente recebida do trabalho principal, bem como a dos
outros trabalhos das pessoas ocupadas e pesquisa ainda a renda normalmente recebida
através de outras fontes (aposentadoria, aluguel, juros etc.). O termo normalmente do
conceito deve-se à não-consideração de toda renda que não seja parte da remuneração
usual do entrevistado, como a advinda do recebimento, por exemplo, do 132 salário, da
participação nos lucros da empresa em que ele trabalha e das horas extras. O que se espera
desta definíção é obter uma avaliação do nível de renda que não seja afetada por fatores
circunstanciais. Por exemplo, no caso dos empregados estaríamos razoavelmente próximos
da evolução dos salários contratuais.
12
O quesito renda é definido de forma diferente na PME (1982-1996). Esta considera
o rendimento do trabalho principal e dos outros trabalhos que foram efetivamente recebidos
no mês anterior no trabalho que o entrevistado possuía na semana de referência. Desta
forma, a parcela referente ao 13º salário e mesmo a parcela referente à participação nos
lucros pagas pelas empresas aos empregados e horas extras são computadas se tiverem sido
efetivamente recebidas no mês em questão. Como este quesito associa o trabalho de hoje
com a renda no passado, trabalhadores que mudaram de emprego entre estes dois períodos
poderiam reportar renda zero, simplesmente porque no mês anterior trabalhavam em um
emprego diferente daquele da semana de referência, embora possam ter tido rendimento no
período em questão. O mesmo ocorre com os trabalhadores que estavam desempregados
no mês passado mas já empregados naquela semana. Além disso, aqueles entrevistados que
trocaram de trabalho no mês anterior, tendo assim trabàlhado apenas parte deste no novo
emprego, declarariam uma renda referente a apenas parte do mês.
Embora o problema referente à mudança de emprego entre o mês anterior e a
semana de referência possa ser identificado, em virtude do surgimento de ·rendas nulas do
trabalho, a questão .relativa à declaração do rendimento relacionado à parte do mês gera um
viés de subestimação da renda percebida. Em momentos de grande fluxo de trabalhadores
entre setores da economia, a pesquisa tenderia a apresentar um nível de renda baixo
simplesmente por não conseguir captar a parcela relativa aos empregos antes da mudança.
Este problema poderia ser resolvido com a inclusão de uma pergunta sobre se o tn .. balhador
mudou de emprego no mês anterior.
Na comparação entre os conceitos de rendimento presentes na PNAD e na PME, a
PME realizada no período 1980 82 desempenha um papel fundamental. Em primeiro lugar,
porque neste período a pesquisa dispunha dos dois quesitos de rendimento, qual seja, o de
renda normalmente percebida e o de efetivamente recebida. Além disso, a pesquisa
dispunha de uma questão sobre se o trabalhador mudou ou saiu do emprego no mês
anterior, permitindo desta forma construir um filtro para os trabalhadores que transitaram
de emprego, minimizando assim o problema exposto no parágrafo anterior. Os dados da
PME deste período permitem, portanto, a comparação dos resultados obtidos a partir dos
dois conceitos de renda.
Os Gráficos 2.1 a4.2 apresentam as distribuições acumuladas da renda utilizando os
dois conceitos de rendimento para ')S meses de dezembro de 1980 e fevereiro de 1981 na
13
região metropolitana de São Paulo para três universos de trabalhadores todos com idade
de 15 a 65 anos: o conjunto total dos trabalhadores, os continuamente empregados (ou seja
que reportaram não ter mudado de emprego no mês anterior) e os empregados que
transitaram entre postos de trabalho. O rendimento considerado é o do trabalho principal e
os gráficos apresentados levam em consideração a diferença de timing nas duas medidas já
que o dado de renda efetiva para este mês só pode ser obtido com a pesquisa de fevereiro
enquanto a informação sobre a renda normalmente recebida diz respeito ao mês da
pesqmsa. Desta forma, o gráfico para o mês de janeiro mostra a renda nominal
normalmente recebida deste mês e a renda efetiva obtida com a pesquisa de fevereiro. O
Apêndice apresenta as distribuições acumuladas para os três universos de trabalhadores
para todos os meses de dezembro de 1980 a novembro de 1981.
A análise dos Gráficos 2.1 a 4.2 permite avàliar a importância das diferenças
conceituais. O fato mais marcante desta análise é a diferença entre as duas distribuições
observadas em dezembro de 1980, em função do pagamento do décimo terceiro salário.
Este fato é confirmado pela evolução da razão entre as médias de rendimento segundo
cada conceito de renda entre janeiro de 1980 e abril de 1982, presente no Gráfico 5. Por
outro lado, como os Gráficos 2.2 e 3.2 demonstram, a comparação das distribuições dos
dois conceitos para o grupo dos indivíduos em idade ativa e para o grupo dos assalariados
continuamente empregados mostra uma grande similaridade durante o mês de janeiro (em
especial para o último grupo )3. A única diferença entre os dois conceitos que vale a pena
ser mencionada seria o maior número de zeros observados no conceito de renda efetiva
para o grupo de indivíduos em idade ativa. A partição dos empregados entre grupos que
sofreram e grupos que não sofreram transições no mercado de trabalho revela uma grande
similaridade dos dois conceitos de renda para o grupo dos assalariados continuamente
empregados. Complementarmente, os Gráficos 4.1 e 4.2 revelam um alto número de
respostas nulas (cerca de 85%) observadas no universo de trabalhadores que entraram no
emprego durante o mês anterior à pesquisa. Este resultado confirma a idéia apresentada
anteriormente de que o conceito efetivo de renda da P:ME induz a pessoas ocupadas que
sofreram transições no mercado de trabalho a reportar renda efetiva nula ..
3 Os gráficos referentes aos outros meses do ano comprovam esta scmclnança cm todos os meses, exceto
dezembro. ·
14
4.1.2. PED versus PME
O quesito renda na PED é definido como todo o rendimento referente ao trabalho
principal e aos outros trabalhos realizados, à pensão/aposentadoria ou ao seguro
desemprego referentes ao mês anterior ao da pesquisa. A PED investiga a remuneração
efetiva que o entrevistado recebeu pelo trabalho realizado no mês de referência ou que fez
jus no mês passado. Desta forma, o conceito de rendimento principal do trabalho se
aproxima da definição de rendimento efetivamente recebido da PME, inclusive por associar
o trabalho na atividade exercida numa semana do mês 1 com a renda no mês 1-14. Logo, o
quesito estaria sujeito à mesma crítica feita sobre o conceito utilizado pela PME (1982-
1996) no que diz respeito aos rendimentos dos trabalhadores que transitam de emprego. A
PED, no entanto, possui uma questão sobre há quanto tempo o trabalhador está neste
emprego, o que permitiria construir um filtro, nos moldes do utilizado anteriormente com
as informações da PME ( 1980-1982), para eliminar o problema associado à diferença entre
a ocupação no mês anterior e a ocupação nos últimos sete dias antes da entrevista.
A comparação do rendimento principal do trabalho entre as duas pesquisas precisa
ser corrigida por diferenças de defasagens, pois na PME o rendimento é tratado como um
regime de caixa enquanto na PED o regime é de competência5 O Gráfico 6 mostra a
evolução da razão dos rendimentos médios nominais dos ocupados no trabalho principal
avaliados nas duas pesquisas no período 1986-1995 para a região metropolitana de São
Paulo, tegundo as duas pesquisas já corrigidas para diferenças <ie defasagens. Pode-se
constatar a partir dele que até o começo da década de 90 o rendimento avaliado pela PME
era em geral maior do que o da PED. Esta tendência se reverte nos anos 90 com a PED
apresentando constantemente valores maiores para o rendimento do que a P.ME. A média
da razão para o período considerado, apesar das diferenças conceituais existentes, é 0,98,
ou seja, na média as duas rendas praticamente têm o mesmo valor. Além disso, o gráfico
mostra o efeito do décimo terceiro salário sobre a relação das rendas, computado na PME e
não considerado pela PED, reduzindo a razão entre rendimentos nos meses de dezembro.
4 A rigor a PED se refere ao emprego dos últimos sete dias enquanto a PME se refere à semana anterior a
da entrevista. 5
A diferença conceituai é maior quando se analisa os rendimentos dos outros trabalhos. Ter trabalho adicional para a i:>ED quer dizer que o indivíduo realizou nos últimos 30 dias anteriores ao dia da pesquisa outros trabalhos além do principal. Logo, o quesito pergunta quanto o indivíduo g<' nhou pelo total dos trabalhos secundários ruilizados no mês passado referente aos trabalhos adicionais que possuía nos últimos 30 dias.
15
4.2. A Jornada de Trabalho
4.2.1. PNAD versus PME
A PNAD, como no caso do rendimento, investiga quantas horas o entrevistado
trabalhava normalmente por semana nos trabalhos principais e nos outros trabalhos que ele
tinha na semana de referência. Evitando os fatores conjunturais, a pesquisa mostraria a
evolução normal da jornada de trabalho na economia. A PME ( 1982-1996), por sua vez,
pergunta o número de horas efetivamente trabalhadas na semana de referência no trabalho
principal e também nos outros trabalhos para as pessoas que tinham mais de um trabalho
nesta semana. A diferença entre os dois conceitos constituiria numa estimativa do número
de horas extras trabalhadas.
Utilizando novamente os dados da PME (19~0-1982), os Gráficos 7: 1 e 7.2
ilustram as distribuições acumuladas para os dois conceitos de horas trabalhadas para os
trabalhadores em idade ativa no período de dezembro de 1980 a janeiro de 1981 na região
metropolitana de São Paulo. Um fato que merece ser mencionado é o maior número de
zeros no conceito de horas efetivas do que no de horas normalmente trabalhadas. Esta
diferença mantém-se para todo o ano considerado6. Além disso, em virtude da maior
concentração de pessoas com menor número de horas trabalhadas no conceito de horas
efetivas e da semelhança das duas distribuições para valores maiores no número de horas, a
média das horas no conceito normal é maior do que a média no conceito de horas efetivas.
O Gráfico 8 mostra a evolução das horas médias nos dois conceitos no período de janeiro
1980 a abril de 1982 e comprova este fato para outros meses. Ao longo deste período, as
horas normais estiveram, na maioria das vezes, acima das horas efetivas, o que demonstra
que as horas extras não foram a prática comum. Na verdade, em virtude da recessão deste
período, a regra parece ter sido de redução da jornada de trabalho, tomando as horas
contratuais maiores que as efotivamente trabalhadas.
4.2.2. PED versus PME
A PED investiga quantas horas o entrevistado efetivamente trabalhou na semana
anterior à da pesquisa no trabalho principal e nos outros trabalhos. Além disso, a PED
avalia quantas horas semanais o entrevistado teria ci.isponibilidade efetiva de trabalhar além
6 Os gráficos referentes aos outros meses do ano mantém o mesmo padrão durante todos os meses de 1981.
16
das horas normalmente trabalhadas. Embora este último quesito faça uso do conceito de
horas normalmente trabalhadas, aproximando a pesquisa do conceito utilizado pela PNAD,
as horas realmente trabalhadas são investigadas como na PME (1982-1996). Ao contrário
do quesito de rendimento, em que apesar da semelhança no conceito utilizado permanecem
diferenças entre os quesitos, a pergunta sobre horas na PED praticamente reproduz a
questão da PME e por esta razão, para universos de trabalhadores semelhantes, os
resultados obtidos com as duas pesquisas deveriam estar bastante próximos.
O Gráfico 9 compara as duas séries de horas trabalhadas obtidas pela PED e pela
PME no período 1986 95. A fim de tomar possível a comparação das duas séries, foi
necessário avaliar as horas trabalhadas na PME com base no universo utilizado pela PED.
Desta forma, este gráfico apresenta a evolução das duas séries de horas para os ocupados
no trabalho principal com horas positivas e para a região metropolitana de São Paulo. Pela
análise do Gráfico 9, pode-se notar, por exemplo, o efeito para as duas séries de horas da
redução da jornada máxima de trabalho a partir de novembro de 1988, quando a jornada
legal foi reduzida de 48 para 44 horas. Após esta data as duas séries apresentam tendência a
·queda e, posteriormente, conhecem um novo patamar, abaixo do máximo legal. O Gráfico 9
revela ainda que as horas semanais segundo o conceito da PED são maiores para todo o
período do que as da PME. Por causa da semelhança nos conceitos de horas trabalhadas
p1ra as duas pesquisas, as diferenças só podem ser atribuídas às da na conceituação de
ocupação. Como a regularidade em que o trabalhador exercia a sua atividade ajuda a
classificar o trabalhador em ocupado na PED, os trabalhadores que exerceram de forma
muito excepcional algum trabalho na semana passada acabam não sendo classificados como
ocupados. Estes trabalhadores, por sua vez, possuem poucas horas de trabalho na semana.
Como estes são excluídos da PED mas incluídos na PME, as horas desta última pesquisa
devem ser menores.
4.3. Breve Comparação Internacional
Os Quadros 7 e 8 apresentam, respectivamente, os conceitos de renda do trabalho e
de horas trabalhadas segundo pesquisas domiciliares sobre emprego e desemprego
realizadas em um grupo seleto de países latino-americanos. Observamos que, enquanto a
prática de se coletar informações sobre ambos os conceitos efetivo e normal é a mais
comum no caso das horas trabalhadas, a coleta exclusiva do conceito efetiYo seria a prática
17
dominante no que se refere à renda do trabalho. Entretanto, deve-se ressaltar que o
subproduto mais nobre extraído da comparação entre horas efetivas e horas normalmente
trabalhadas seria captar a difusão da prática de horas extras na economia, sem dúvida um
fenômeno internacional. No caso brasileiro, a coleta de ambos os conceitos de rendimento
numa única pesquisa pode ser útil para se captar o pagamento do 13º salário, o que é um
fenômeno tipicamente brasileiro. Outra vantagem seria aumentar a comparabilidade da PED
e da PME com pesquisas domiciliares de outros países e com a PNAD.
5. O Desenho Amostral
Em termos de desenho amostral existem duas importantes diferenças que
procuraremos ressaltar. Em primeiro lugar, tem-se uma diferença entre a PED e a PME no
tamanho da amostra. Para entender o impacto da dife;ença no tamanho da amostra na
periodicidade da pesquisa, deve-se ter em mente que tanto a PME como a PED são em
certo sentido pesquisas semanais, uma vez que para essencialmente todas as semanas do
ano existe um estrato da amostra que tem aquela semana como a semana de referência.
Assim, se a amostra fosse suficientemente grande, poderíamos ter estimativas semanais
tanto da PED como da PME. A PME por ter uma amostra maior apresenta-se como uma
pesquisa mensal ao passo que a PED com uma amostra menor apresenta-se como uma
pesquisa trimestral. Qual o tamanho de amostra ideal e, portanto, se devemos imaginar uma
pesquisa mensal ou trimestral vai depender evidentemente da disponibilidade de recursos
disponíveis e de como crescem os custos com o tamanho da amostra.
Talvez mais importante que as diferenças no tamanho da amostra sejam as
diferenças na estrutura da amostra. A PME ao contrário da PED trabalha com painéis
amostrais rotativos. Assim, um domicílio ao entrar na amostra é entrevistado quatro meses
consecutivos, dai ele sai da amostra por oito meses, para voltar, exatamente um ano após a
primeira entrevista, para ser entrevistado de novo durante quatro meses consecutivos. Em
suma, cada domicílio na amostra é entrevistado quatro pares de vezes, com as entrevistas
em cada par distanciando-se exatamente um ano uma da outra.
Conforme diversos estudos recentes têm demonstrado (bibliografia}, a natureza
longitudinal destas informações permite a análise de uma variedade de fenômenos que seria
simplesmente impossível de ser analisada serr. este tipo de informação. Assim, Sedlacek,
Barros e Varandas (1989) investigam a mobilidaJe de trabalhadores entre postos de
18
trabalho com e sem carteira; Barros, Mendonça e Neri (1993) investigam a duração das
ocorrências da pobreza; enquanto Barros, Neri e Jovita (1995) investigam o cumprimento
e eficácia da política salarial. Nenhuma destas questões seria possível de ser investigada se
não fosse a natureza rotativa do sistema amostral da PME.
Este sistema amostral é, na verdade, comum em pesquisas mensais similares
realizadas em outras parte como é o caso do Current Population Survey (CPS) nos
Estados Unidos. Dada a sua importância à análise de diversos aspectos dinâmicos do
mercado de trabalho brasileiro, este sistema amostral deveria ser encorajado, desenvolvido
e aprimorado.
6. Considerações Finais Preliminares . Neste trabalho buscamos sintetizar um núcleo básico comum para as pesquisas
domiciliares sobre emprego no Brasil que pudesse se possível ser obtido, redesenhando a
PME e/ou a PED. Uma hipótese básica que perpassa todo o trabalho é a de que seria
possível resumir este núcleo básico sem que fosse necessário engajar na difícil discussão do
que exatamente entendemos por emprego, desemprego e subemprego.
Neste estudo alguns passos foram dados na direção da síntese deste núcleo. Em
primeiro lugar, o trabalho propõe uma divisão das questões a serem tratadas em quatro
áreas: a) lista mínima de temas a ser coberta pelo núdeo básico; b) definição do fluxo dos
quesitos básicos; c) descrição detalhada dos quesitos no núcleo básico; d) escolha das
recomendações para o plano amostral.
Em segundo lugar, o trabalho demonstra a superioridade temática da PED em
relação à PME e também ressalta que de um ponto de vista puramente temático não seria
difícil desenvolver um núcleo comum para as duas pesquisas.
Em terceiro lugar, o trabalho mostra a drástica diferença entre as duas pesquisas
quanto à natureza do fluxo do questionário. O trabalho enfatiza a importância de padronizar
a seqüência com que os temas são investigados. Além disso fica demonstrado que, se por
um lado, a P:ME segue um fluxo típico do que é internacionalmente recomendado e
praticado, por outro, a PED segue um fluxo essencialmente inverso. O trabalho se mostra
bastante pessimista quanto a uma solução simples para a uniformização do fluxo, pois
suspeita que um consenso sobre esta questão requer inevitavelmente discutir a questão
conceituai básica do que se entende por emprego, desemprego e subemprego. Em suma, a
19
conclusão é de que a tão desejável separação entre o desenho do questionário e uma precisa
definição conceitual do que se quer medir - nossa hipótese básica - é provavelmente
impossível.
Finalmente, o estudo ressalta as vantagens do sistema amostral da PME que permite
que informações longitudinais sobre um mesmo trabalhador sejam obtidas e com isso que
importantes aspectos dinâmicos do mercado de trabalho possam ser investigados.
Referências:
BARROS, Ricardo Paes de, MENDONÇA, Rosane e NERI, Marcelo, "Duration of Spells of Poverty", in MENDONÇA, Rosane e URANI, André ( eds.) Estudos Sociais do Trabalho, Vol. 2, IPEA, Rio de Janeiro, 1996 ( no prelo).
BARROS, Ricardo Paes de, JOVITA, Marcelo e NERI, Marcelo, "De Volta para o Futuro da Política Salarial", Perspectiva 1996, IPEA, Rio de Janeiro, 1996 (no prelo).
Fundação SEADE/DIEESE. "Pesguisa de Emprego e Desemprego" (PED) -Manual do Entrevistador, SEADE/DIEESE, São Paulo, 1991.
Fundação SEADE/DIEESE. "Pesquisa de Emprego e Desemprego" (PED) -Relatório Metodológico, São Paulo, 1995.
IBGE. "Manual do Entrevistador", Pesquisa Mensal de Emprego 1982, (PME -3.01), Rio de Janeiro, 1982
IBGE. "Metodologia da Pesquisa Mensal de Emprego 1980", Série Relatórios Metodológicos, vol. 2, Rio de Janeiro, 1983.
OIT. "Current international recommendations on labor statistics", 1988 Edition, !LO, Geneva, 1988.
OIT. "Surveys of economically active population. employment. unemployment, and underemployment: an !LO manual on concepts and methods'', !LO, Geneva, 1990a.
OIT. "Economically active population, employment, unemployment. and hours of :work (household surveys)", Vol. 3, in Statistical Sources and Methods, ILO,Geneva,1990b. ...,,_
SEDLACEK, Guilherme L., BARROS, Ricardo Paes de, VARANDAS, Simone, "Segmentação e Mobilidade no Mercado de Trabalho Brasileiro", Texto de Discussão Interna n2 173, IPEA, Rio de Janeiro, 1989.
21
Desempregados
Inativos
Quadro 1 Temas e número dos respectivos quesitos na PME e PED
~
2,7,9,11 10,12 3-6 8 1
15-20 21-28
12, 14-16,21,49 18,29,24,48
41-42 43,44
25-30,36,37,38 40
31-35,39 12, 14-16,21,49
50-55 58-62
47,56,63
Quadro 2
Flow chart 10. Nallonal labour force s11rvey questlonnalre: Exemplo 1
1. Acllvlly durlng prevlous week -~ L----·· Work fur pay/prolll -------- --·---------------·---i::____j
,.~hd 1111 a1 laa1l one hour d111lng pravlou1 -•• ~ L· YUI . :____j
l --·.-n-,-~,·~--,:-~-ll·-y-a_b_s_e_n_l_lio_1_n_w_o_1_k ______________ l~
I • w•L~•-••d '~ ------- --------
5. Tolal hom1 wo1latl laach day oi waa•I li. lnd11111y oi 111l11111y ac1M1y 1. E1nplnyme111 11a1111
. Employee
t= . º"'ª'
·-1
~~:~:... l ~-........ ,.,_, ~ ..... '"": .. : =1 .,__l___________ -~
10. Whe1her loohd foi e lnb dmlnu 1uevlnt11 wau• • Yeu • No
_1==-E~•ll•• w .............. , ................. -·
13. Duralion of lub se111ch --~ END 12. Slests lahn 10 llnd Jolr ~ 14. Whe1her 1ough1 full llme ur 11a1& lime wo1k
--... END
Quadro3
Flow cluttl t1. Nntionnl labour forco survey quostlonnalre: Exnrnplo 2
ECONOMIC ACTIVITY
1. -,.-w.1;.1.;;-;-,.,-.;d-ln-r ·;;.;y~,;·1i;;,n.·;,-;-;~·1~1ii;ãni1; i119I Wetllt 1
, ~1!!1 -- ---------------------·No
F.MPLUYED
No i::::-;.;,~j~~;...;.,;·;.; __ ío_b_-_º_-;-_w_o_•_lt_e_"_'_'_w_o __ n_k ____________ _
o:u 'º' L .. -n~~~;.;;;º-;-~;;i~~·i~; ;.;;-;;.-..~~i-~ .. ~~------"-------i "" "' !lr.h,,ol·, ""'" .. " l ''º"'""01
• r.mrlloyP.cl 1 0 1 Nntlonnl Sl!•vlce: 1 "" ro11nn111!ntly 111/dlsnhll!d
- J ---ENIJ ECONOMICAllY
INAC11VE 1 s:-wi1;.j,;,°;"ev~;.;;d 1 boi~• 1 V•• No
Õ ··p.,~-;.h;,; tdnc; ~ ... ;,;,.;,j-;_ni•ir~Ô 7. f.4osl lf!C'llll flf'<:lll>nllon 8. nonsons lo1 loavl11y l_o_s_1:..Jo_1_, ___ _,
r~wi;;ii.~; .. ; .. l;;L;;-.;;;.;;;.;,~;;;;;;.oi;-j Lny 111111 wo1 lng concllllnn'I nul•ldn hom11 ~
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10. Whnthn• 1nrfn1!I full Umn nr 11111 I llmn wm lt
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25 Umntln11 !llnrn lnr1Hn1J f1u ..,,,.. 'º· lytlll oi lnb/wm• lnn•rd ln1 IHI wf'o•
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____ [____ No . - -· F.NO
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END
Quadro 4
Flow chart 12. Natlonal labour force survev quesllonnalre: Example 3
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um
AJoOWh:_~::•'U no~o ollo" ~p::-•:::lioo llome d"O~O Oohm
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-i~º-'---- Ho
6. Whelhor lho wu1k 11 fur family farm/llveslo_c_k _______ J ,S.-W-,;,;.:~-, -ha-.Ji.~r~;;Alvestock • No V111 on whlch wmh
---f . Vos •
....---t._____ -4--- 1-No
1. Whothor has moro lhan 01111 loh 8. Occ11po1lo11 ln 111lma1y lob llonoost h111111 nl wor•I 9. Duratlon 1l11ca dono thls work
10. Whether recolved lormal lralnlng lor thls work =iYes No
0111 atlon nf 11 alnlno Maln 111hlocl oi lralnlng
tlame. ed1hess. natura. slro hm1J1loyrnanll anti l\llHI nf locallon lhom11/0111sldo. llaed/1101 fl•orll oi wmk Status 111 e11111loymo111 Sumaune
e Isa rultl º'"ª' _ w/o "ª~-----! un~~-~~-~-·-·----
15. Whr.thor rocolverl food moais. rloth. lno. ale • frum empluyer tl111 lnu pasl 1110111h
..-----i-------16 Grosa lncurne frnouol frnm work lasl weolk
_____ J_. . j llours wnrhrl each day durlnu 11asl wook - '·-"'JS--· ToOollom"' ''" wnk ~ • _______ !_:_ ___ .~---------------
21. Whr.lhar prololS lo work mmo hours: i Ves . No - .. ENI>
22. No. nf addillonal hours r•rolorrod 23. Reasons for nol wnrklno lcmonr
• No Olhor Nol evnll. j work ! reasnns ~ lnr wurk
t rnn 24. Ourellon 1h1_ce wenllno to wnrk r-·--·-----
END
U9. Whothor also luuklno for olhar wurk
1. Vo11 ! No
END
20. Stops tnkon 111 llruJ wur k ,___l_
IEND
·---------·----------26. Who1l1111 wanloll to work
lo. ai wouk: ! Ves ~ No
END
26. Wholher loukod for work Iasa woek , Vos No ,___1=
27. S1011s
'ª"º" 10 lonk lur work 111!11 week
28. Why nol7 I Nol avallable t forwork
END
• Nnwork ~ avelloble
END
• Othur raosuns
,9. 011111111111 slnr.u uveilehle and wa111l11u lo work =-··-_-·-__ i-~
30. Whelhor ovo1 workoll bolore
1. Navor
1. ~::•,:ly
1. :::
lnrrnl llvo· stock
Etll> ENO
31. E11111l11yn111111 s101us ln lasl worW!ob 32. oc·c111101tlon 33. lolnl duratlon of lhat lype
nlwork 34. Wholhnr rocolvad formal
1relnl11g i Yua No
35. lypo nf lralnlno l 30. Nom11. 111111110, slre lem11loymanll
anil locnllun ui nslahllsh111en1
~ END
Quadros
Flow charl 13. Nnllonal lnbour ro;co survoy quesllonnolre: Exemple .t
Part A: Persons aclually worklng durlng survay week
1----lli END
B. Ty11e oi wor•
rnr wngn or 111l11ry
• ror
l>nyrm1nl n klnd
, Wllhoul 11ny ln fnmlly b11tlnl!S!I
• Un111ld
worker
------l voltmlery
fop•rlC,OU
11. Nnmn nnd eddrl'~' oi b11slne1!1/r.m1>loynr 12. lntlu•hy 11 1111 llnys cm whlçh wnrlr!d durln1111D!lt ·wr.11•: rbl whollror too• Umn oll: rei whr.lhttr undnrlnnk overtlme work U. folitl hn111s wmkt!rl:
.r· 1;.-~:_ : ___ r .. ~~· ... f:::~:··-L ..... t'. usuollr worb leu lhpn 35 houfl
.. ve;·-- ··-- _J.~---IG. R11ntcOll't lnr wc11•lng IMt
lhllll 35hntlll11181 Wl!l!k
'1. Whr.lher wn11ltl 1u11fe1 11 lob wllh :15 nr more ho1111 wurk
-~END
i Yttt . No, Oon't k1iow --·•------ ~ ENO
IR. Whnlhl'r lnu•nd lor fttll·lhne ltrh rlmlng 1>11s1 four wenh i Ye!I . . No -------1------·--~ ENI>
_!!:.-~.f!!Clll~p~!'!!!!.clu!!!_•g J!!~º!!'.!'..Ç~~·::-=======-=-:J--------~ ENI>
Part B: Persons wilh lob but not at work
20. Whelher had joblbusiness or farm from whlch away durlng paal -k
. No --- ---· To Pari C. 042 due lo holiday, 1lckne11 or olher roason1
ives
21. Whelher had more 1han one job durlng pasl week YH No
22. Klnd oi work ln each job 24. Klnd oi work dona 23. Job dona for moll hour1
~~~-t-~~~~~~~~~~~~-~--~~~~~~~~~~--, 25. 27.
Placa of work laddressl; 26. lnduslry Slatus in ernploymenl
. For wage For paymenl or salary ln kind
. Own . Qwn . Wllhoul Unpaid huslness businosa pay ln 1 vohan1ary wllh employees wilhoul famlly worker ---------t emrl::ºi=-vee::;•=--i...;;wu."rk.;._ __ _ .. '
1.--2 ... 8.-W-1-ie-lh_e_r_l_lm-ile-d--~-.1.__, To Pen C, 042
llabilily compeny ._ __ -'_ .... ves No
•• 1 29. Reeson for belng aw•y lrom work lell reasonsl l
• •• 1
30. Reason for belng 1emporerily away from work . lllness/ . S1ood • lnsufflclenl
lnjury down work
•• 31. °"'helher on
wo·"-ers· componsallon • Yes No .
32. Whether wmba rttttUn· lng ,., work • Yes
'
. No. Oon"I know
t Pari e. 042
.. 33. Reason1 • Bad . Olhar
weather/ break· ..!!~-'.
L Whe1hor P•::Jd laalweek
_:tas ,_:i_N_º _____ _,
'. 35: Durallon
away from work wl1hou1 pay: 1/2/3 weekl
• AH olhar roasons Ueeve, flexl· limo. personal. holidays. bad wealher, break· down. elc.I
4•weoh1 - - -• '. Pari C. 042
íii. Durallon away lrom work: r - . e 4 weekl . 4t weekl J
137. Whe1hor pald for 11ny pari
of 1111 4 weok1 L---·I· Yes • No - • Pari C, --1- 042 '. '. ..
38. ''
Slliko, • Spoclal lock ·OUI reasons
••
lbegarl/ lost job, works e 1 hourl
Parte. 042
lfours per woek !!!!!!!!Y workod: 35• -· END 1·34 . Nona . ---------------· Pari C. 042
t Whelher prefers job wlth more ho1111 per week:
... Yes • No, Don'l llnow • ----------• END 39.
Whe1her looked for full-llrne work dutlng past 4 week1: V ;.. END t as No . --------------...
Specific acllons laken for lhls durlng pesl 4 weeks • END
40.
41.
,.
Flow chart 13 (concl.J
Part C: looklng for work and whether ln the labour force
•2. Whether looked for full-tlme work durlng past ' week1 . Yes • No .____,_e_ 43. Whelher loolted for patl·tlme wo1k
• Ye1 • No ---1----1 .. • END
44. Spr.clllc ac:lion!I lnken lo louk for work d111lng 110&1 4 wnoks 45. Wholher could havP. started lob lf found durlng lhe p811 weelt
. Yes. Oon'I know :.· ..;N..:.º:....----------------~
re:-Wiry 1101 [__ .lllnn"l!I
.1 º' '"'"'
• Wnnllnqln slarl a lob
. ~ -
All olhnr reason!I l!ichoollng, 1 1 ! f>orsonal/lam ly, ele.
END
1111P.!IS urnllnnofd 49. When e1t11oct!I lo starl worlt
• < 'weeks h woolts < 4 weeks • ' • weeks +
. t 49. Whe1her could l111ve 111111ed work ln!I wt1ek
ENO • Yet
! gim loullng for work
lost worltod lull llrno for 2 weeh or niore s11go . 2• yo11rs Nnver for
-i= i 2• weeks
l
50. Dolo when he 51. Omation slnce
f''m 52. Typr. nl work cfnno
lon oi employor/onlerprlso 53. A1hlres!l/local 54. lndu!ltry
loym1ml 55. S1111us ln r.mp . Own,w ilh
=-r- . Ow11, wllhnut For wngn/ rnymont r-·H ~.hP.rllmll
mpo"y . No
··---·-. t __ 57. 0Pn!lons for
!110llf'h1g lhnl wmk Cnll rr.nsnnsl
ees snl11ry lnklnd
edli11bilily J . Vos cc ______ , '. 8. Ren!lnns fm IP.nvlng lnh
• ltnllclny, !ll!n!ln1111I or ! lem1>mnry lob
É;-~ .. ;~~;; ... :.~1 •elmn lo slmlles
-=i ____ ed pnrl llmn slnc:n ldnln ln 0511 fnr 2 wenks or rno11t
t-·-
60. Whelher wmk . l Yes • No
61. Dur nlion CllmP. .1 slncr. lnsl wurked pnit timo fur 2 + weeks ···------------i
END
.
. No
Nr.ver worked Iliª"
• Un1>11ld • Unpnhf fnmlly vohmlnry work work
• Allothnr 1 IODSOlll
' • ENO
~END
_.END
. .. END
.
1
Quadro 6 Sequência dos Quesitos em um Grupo Selecionado de Pesquisas Domiciliares
núméro de <füésitos aritenores a Pais Nome da Pesquisa Trabalhou Recentemente? Buscou Trabalho Recentemente?
Pessoas Ocuoadas Pessoas Oesemoreaadas rasu Pesquisa Nacional por Amostra de oomicllios
Brasil Pesquisa Mensal de Emprego 2 Brasil Pesauisa de Emoreao e Desemoreao nenhum Guatemala Encuesta.Nacional de Empleo nenhum 6 Honduras Encuesta Permanente de Hogares de Propositos Multiples nenhum 3 EI Salvador Encuesta de Hogares de Propositos Multiples nenhum 3 Costa Rica Encuesta de Hogares de Propositos Multiples nenhum 3 Panama Encuesta de Hogare::; nenhum 4 Venezuela Encuesta de Hogares nenhum 2 Colômbia Encuesta Nacional de Hogares nenhum nenhum Equador Encuesta Periódica sobre Empleo, Desempleo y Subempleo nenhum 3 Chile Ocupacion y Desocupacion en el Gran Santiago nenhum 1 Uruauav Encuesta Continua de Hoaares nenhum 4 Paquistão Labour Force Survey nenhum 4-5 Sri Lanka Labour Force and Socio-Economic Survey nenhum >10 Rwanda Enquête Nationale sur l'Emploi nenhum 1 Zimbabwe Labour Force Survey nenhum
. 2
Canadá Labour Force Survey nenhum 4-8 Estados Unidos Current Pooulation Suive nenhum 2 Fonte: Questionário das respectivas pesquisas
Pais Guatemala Honduras El Salvador Costa Rica Panamá Chile Colômbia Uruguai
País Guatemala Honduras El Salvador Costa Rica Panamá Chile Colômbia Uruguai Venezuela
Quadro 7 Conceitos de Rendimentos Utilizados em Grupo Selecionado
de Pesquisas Domiciliares Latino-Americanas
Nor11c da Pesquisa Encuesta 1'-acional de Empleo Encuesta P.Hogares de Propósitos Multip. Encuesta de Hogares de Propósitos Multip. Encuesta de Hogares de Propósitos Multip. Encuesta de Hogares de Propósitos Multip. Ocupacion y Desocupacion en el Gran Santiag Encuesta Nacional de Hogares Encuesta Contínua de Hogares
Quadro 8
Conceitos de Rendimentos Uuhzados Efetivo mas com detalhes para diversas fontes Efetivo e Conta-própria Média 6 meses Normal Efetivo Efetivo Efetivo Efetivo e Normal Efetivo e Normal.
Conceitos de Horas Utilizadas em Grupo Selecionado de Pesquisas Domiciliares Latino-Americanas
Nome da Pesquisa Encuesta Nacional de Empleo Encuesta P.Hogares de Propósitos Multip. Encuesta de Hogar~s de Propósitos Multip. Encuesta de Rogares de Propósitos Multip. Encuesta de Hogares de Propósitos Multip. Ocupacion y Desocupacion en el Gran Santiag Encuesta Nacional de Hogares Encuesta Contínua 'te Hogares Encuesta de Hogares
Conceitos de Rendimentos Utilizados Efetiva e Normais Efetiva e Normais Efetivo e Confirma se equivalem às No:..mais Normais Efetivas Efetivas Efetiva e Normais Efetiva e Normais Efetiva e Normais
%
Gráfico 1: Taxa de Desemprego Aberto São Paulo - 10 anos ou mais (1994)
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1 3 Jan Feb Mar Apr May Jun Jul Aug Sep Oct Nov De e
1-u PME =-=--PED 1
Funçlo Distribuição Cumulativa -Horas Trabalhada• Semanais - 1981 - Slo Paulo Renda do Trabalho Efetivamente Recebida X Renda do Trabalho Normalmente Recebida
GnHico 2 - Universo Individuo• em Idade Ativa 1 1980 12 2 1981 1
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Griflco 3 • Universo Continuamente Empregado sem Idade Ativa 1 1980 12 2 1911 1
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- ~ : S : A ~ ~ 1 1 O ~ ; 1 1 1 a ~ i • 1 a 5 1 1 1 •••• .:~--- --:-1- 1
Griflco 4 • Universo Empregados que Transitaram entre Postos de Trabalho • em Idade Ativa 1 1980 12 2 1981 1
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40000 : 30000 • 20000 • 10000 • - ••• - .....
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Gráfico 5 - Razão Renda Efetiva/Normal (PME) Gráfico 6 - Razão Renda PED/PME
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Gráfico 7 Função Distribuição Cumulativa. Horas Efetivamente X Normalmente Trabalhadas -1981 - São Paulo
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GrAfico 8 - Horas Efetivas X Nonnais
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GrAfico 9 - Horas Trabalhadas • PED/PME
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1111111111111111111111111111 ' PMI • .. ••·PIO 1
:-: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
AS ESTATÍSTICAS DO TRABALHO
E AS PESQUISAS DO IBGE
DEZEMBRO - 1995
SUMÁfilO
Introdução . . . ... . .. .. . . .. . .. . . ...... .. . ..... .... .. .. ..... .. ... . ......... .. ..... ... ......... ....... ... .. .. .. .... ... ... . .... .. ... 1
Parte 1 - Censo Demográfico .. .. . . ... .. .. .. . .. .. . .. .. ... ... ... .. . ... . . ........ ........ .. .. .. .. .. .. .. . .... .... .. .. . 2
Parte 2 - Censo Agropecuário . .. .. ... .. .. . . .. . . . .. . .. ... .. .. .. ..... ... .. . ..... .. . ... .. ... . .. .. .. ... ... ... ..... .. .. 7
Parte 3 - Pesquisa Cadastro . ... ... . . . . .. .. . . .. .. . .. . . . . . . .. . . . . . . . .. .. .. . . . . .. .. . .. ... ... .. . . . . . .. ... .. . .. .. .. .... 11
Parte 4 - Pesquisa Anual da Indústria ... . . .. . . . .. .. . . . . . . . . . .. . . . . . .... .. . . . .. . . . . .. . . .. . .. . . . .. . . . . . ....... 13
Parte 5 -Pesquisa Anual do Comércio ... ... .. . . . ..... .. .. .. . .. ..... ........ ... ... ... .. .. . . . .. . . . . .. ..... ... 16
Parte 6 - Pesquisa Indústrial Mensal .. .. .. .. ... ...... .. .. .. ..... .. ... . ..... .. ... . . . ..... .. . .. ...... .. . . .... .. . 19
Parte 7 - Pesquisa Mensal de Emprego ..................................................................... 28
Parte 8 - Pesquisa Suplementar das PNADs de 1989 e 1990 ................................... 33
Parte 9 - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios........................................... 37
Parte 10 - Pesquisa Economia Informal Urbana ......................................................... 50
AS ESTATÍSTICAS DO TRABALHO E AS PESQUISAS DO IBGE
Departamento de Emprego e Rendimento<I)
Introdução
Este texto descreve os principais aspectos dos levantamentos relacionados ao
tema trabalho, contidos nas pesquisas do IBGE. É composto de dez partes, abordando cada
uma das seguintes pesquisas:
• Censo Demográfico
• Censo Agropecuário
• Pesquisa Cadastro
• Pesquisa Anual da fudústria
• Pesquisa Anual do Comércio
• Pesquisa fudústrial Mensal
• Pesquisa Mensal de Emprego
• Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - Suplemento de 1989 e 1990
• Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - 1992 em diante
• Pesquisa Economia fuformal Urbana
( 1) Este texto atualiza as informações do documento "Estatísticas do Trabalho", elaborado por ocasião da CONFEST de 1989 pelos departamentos responsáveis pelas pesquisas descritas. Foi organizado em 1989 e nesta atualização por Maria Martha Malard Mayer, chefe do Departamento de Emprego e Rendimento do IBGE.
PARTE 1 - CENSO DEMOGRÁFICO - CD - 1991
1 - Aspectos Gerais
A metodologia de amostragem iniciada com o CD-60, quando foram
adotados 2 (dois) questionários: um, a ser respondido por todos os informantes, e outro, a
ser respondido por apenas alguns, correspondendo a uma amostra de 25% dos domicílios
recenseados e contendo caracteristicas mais detalhadas além das de ordem geral, também se
aplicou ao CD-91. A investigação do tema trabalho constou apenas do questionário da
amostra.
A fração de amostragem foi definida em função do tamanho dos municípios
da seguinte forma:
•para municípios até 15 000 habitantes, a amostra foi de 20%;
•para os demais municípios, a amostra será de 10%;
Em ·termos de municípios e população, essa decisão tem a seguinte
representação:
População W de Municípios N-1- de Habitantes
até 15.000 Hab. 2 591 19.950.357
acima de 15.000 Hab. 1900 126.875.118
Fonte: Censo Demográfico 1991.
2
II - Conceitos e def"mição relativos ao levantamento sobre a mão-de-obra
As características da mão-de-obra pesquisadas pelo CD são as de condição
de atividade, ocupação, setor de atividade, posição na ocupação, horas trabalhadas e
rendimentos.
As definições são as seguintes:
• condição de atividade - a população de 1 O anos ou mais pode ser classificada
em economicamente ativa e não economicamente ativa.
"A população economicamente ativa" é composta pelas pessoas que, durante
os 12 meses anteriores à data do Censo ou parte deles, exerceram trabalho
remunerado em dinheiro e/ou produtos ou mercadorias, inclusive as
licenciadas, com remuneração, por doença, com bolsas de estudo, etc., e as
sem remuneração que trabalharam habitualmente 15 horas ou mais por
semana numa atividade econômica. Incluíam-se as pessoas de 1 O anos e mais
que não trabalharam nos li2 meses anteriores à data do Censo, mas que nos
últimos dois meses tomaram alguma providência para encontrar trabalho.
Como ''população não economicamente ativa" foram consideradas as pessoas
que durante os 12 meses anteriores à data do Censo somente tiveram uma ou
mais das seguintes situações: exerciam afazeres domésticos no próprio lar;
estudavam; viviam de rendimentos de aposentadoria ou de aplicação de
capital; estavam detidas cwnprindo sentença; doentes ou inválidos sem serem
licenciados do trabalho; não desejavam trabalhar ou, desejando, deixaram de
procurar trabalho porque não encontravam.
Para o CD-91, a variável Trabalho foi também investigada segundo
seu caráter habitual ou eventual, o que permite avaliar o volume de mão
de-obra estável e o flutuante.
• ocupação - "como ocupação habitual foi compreendido o emprego, cargo,
profissão, etc. exercido durante a maior parte dos 12 meses anteriores à data do
Censo ou, excepcionalmente, a ocupação exercida na data do Censo, quando
adotada com ânimo definitivo, incluindo-se neste caso a mudança de designação
devido à promoção ou mudança de carreira. O registro corresponde à ocupação
principal, considerada como tal aquela em que a pessoa se ocupava maior
número de horas semanais ou a que proporcionava maior rendimento."
• setor de atividade - construído "através dos grupamentos de ramos de
atividade, constituídos em função da :finalidade ou ramo de negócio da
organização, empresa ou entidade a que as pessoas ocupadas prestaram serviços,
ou de acordo com a natureza da atividade exercida, para os que trabalharam por
conta-própria."
~ posição na ocupação - segundo sua relação de trabalho, as pessoas foram
classificadas da seguinte forma:
Trabalhador agrícola volante
Parceiro ou meeiro;
•empregado
• conta-própria
Trabalhador doméstico:
•empregado
•conta-própria
Empregado do setor privado
Empregado do setor público:
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• servidor público
• de empresa estatal
Empregador
Conta-própria
Sem remuneração
O CD-91 tratou o trabalhador doméstico como uma categoria (empregado ou
por conta-própria) e destacou o empregado segundo seu respectivo empregador (público ou
privado).
O CD-91 também investigou a situação trabalhista, o tamanho do
estabelecimento pela ótica do emprego, e o local de trabalho.
•Situação trabalhista - o aspecto legal do trabalhador em fimção de ter
documentação formal, a carteira de trabalho, ficou, no CD-91, em quesito à
parte que tem a vantagem de ser aplicado a todas as categorias pertinentes.
• Número de pessoas que trabalham - para os empregados e não empregados,
foi solicitado dimensionar quantas pessoas trabalhavam em seus respectivos
locais de trabalho.
•Local de trabalho - a caracterização do local de trabalho visa estabelecer se a
atividade se processa em empresas (agrícola ou não agrícola), em casa de
clientes ou patrões, no próprio domicílio do entrevistado, ou via pública.
• Horas trabalhadas - para as pessoas que exerciam uma ocupação habitual no
ano anterior à data do Censo, foram investigadas as horas habitualmente
trabalhadas por semana na ocupação habitual. Se, também, tinha ocupações
adicionais, foram investigadas as horas trabalhadas por semana nas ocupações
adicionais.
5
• Rendimento - no questionário básico, investigou-se o rendimento mensal bruto
do chefe do domicílio. Quanto ao questionário da amostra, os componentes da
renda pessoal pesquisados foram a remuneração direta do trabalho, as
transferências e o rendimento do capital, conforme o esquema a seguir:
Remuneração do trabalho
• rendimento bruto da ocupação principal
• rendimento bruto de outras ocupações
Transferência
•rendimento mensal proveniente de aposentadoria e/ou pensão
Outros (rendimento de capital e outras transferências)
• média mensal de outros rendimentos (aluguéis, doações, emprego
de capital, etc.)
Conforme se observa, a mensuração do rendimento refere-se exclusivamente
aos salários diretos, não se computando os salários indiretos recebidos pelas famílias sob a
forma de auxílios moradia, transporte, refeição, entre outros.
• Contribuição de Previdência - as pessoas foram consideradas quanto à
contribuição para o Instituto de Previdência.
6
PARTE 2 - CENSO AGROPECUÁRIO - 1995
As informações levantadas no Censo Agropecuário sobre pessoal ocupado
visam subsidiar os estudos sobre a mão-de-obra envolvida em atividades agropecuárias.
O Censo Experimental realizado em 1995 teve as seguintes características:
1 - Conceitos e definições relativas ao pessoan ocupado e remunerações
•Critérios para contagem do pessoal ocupado em 31/12/94:
Foram consideradas todas as pessoas remuneradas ou não, que em 31/12/94,
se encontravam ligadas às atividades do estabelecimento.
Não foram consideradas como pessoal ocupado as pessoas que se
encontravam no estabelecimento em 31/12/94, desempenhando trabalhos por conta de
empreiteiros e os residentes que não participavam das atividades agropecuárias do
estabelecimento.
• Categorias do pessoal ocupado - segundo o sexo e classe de idade (de 14 anos e
mais e menos de 14 anos)
1. Responsável e membros não remunerados da família
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1.1. Responsável pela direção dos trabalhos no estabelecimento, produtor ou
pessoa contratada para administrar o mesmo (administrador), recebendo
quantia fixa ou cota-parte da produção.
1.2. Membros da família do responsável que ajudavam na execução dos trabalhos,
sem receber qualquer tipo de remuneração pelos serviços prestados.
As pessoas da família do responsável que tenham recebido remuneração
pelos serviços prestados, foram registradas como empregados (permanentes ou
temporários) ou parceiros, de acordo com o tipo de remuneração paga (salário fixo
ou cota-parte da produção, respectivamente).
2. Empregados Permanentes
2.1. Pessoas contratadas ou empregadas para execução de tarefas de longa duração
ou permanentes mediante recebimento de salários (em dinheiro ou produtos);
2.2. Pessoas consideradas pelo responsável como empregados permanentes;
2.3. Pessoas da família do responsável que executavam tarefas permanentes ou de
longa duração, mediante recebimento de salários em dinheiro ou sua
equivalência em produtos;
2.4. Pessoas da família dos empregados permanentes que efetivamente os
auxiliavam na execução de suas respectivas tarefas.
Não foram considerados os empregados contratados para executar a função
de administrador.
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3. Empregados Temporários
3 .1. Pessoas contratadas pelo produtor para execução de tarefas temporárias ou
eventuais, mediante recebimento de salários ou sua equivalência em produtos;
3.2. Pessoas da família do responsável que executam tarefas temporárias, mediante
recebimento de salários em dinheiro ou sua equivalência em produtos;
3 .3. Pessoas da família dos empregados temporários que efetivamente, os
auxiliavam na execução de suas respectivas tarefas.
Não foram consideradas as pessoas que se encontravam no estabelecimento
em 31/12/94, desempenhando trabalhos por conta de empreiteiros com os quais o
produtor tenha contratado a execução de serviços.
4. Empregados Parceiros
4 .1. Pessoas empregadas no estabelecimento diretamente subordinadas ao
responsável (produtor ou administrador) que executavam tarefas mediante
recebimento de uma cota-parte da produção obtida.
4.2. Pessoas da família dos parceiros que, efetivamente os auxiliassem na execução
de suas tarefas.
Não foram considerados os parceiros contratados para exercer a função de
administrador.
5. Outra Condição.
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Foram registradas as pessoas que embora trabalhando no estabelecimento, não se
enquadraram nas categorias anteriores.
6. Total do pessoal ocupado que residia no estabelecimento.
7. Utilização de pessoal temporário no ano de 1994.
Foi pesquisado o número máximo de empregados contratados mês a mês,
diretamente pelo produtor para tarefas de longa duração.
Não foram incluídos os trabalhadores contratados diretamente pelos empreiteiros.
8. Despesas com salários.
8.1. Em dinheiro: foi pesquisado o valor da despesa efetuada com o pagamento da mão
de-obra assalariada (permanente ou temporária) incluindo a remuneração paga ao
administrador.
8.2. Em produtos: foi pesquisado o valor dos produtos entregues aos empregados, sendo
calculado com base no preço que se obteria com a venda dos mesmos. Não foi
considerada a despesa efetuada com o pagamento de serviços realizados por conta
de empreiteiros e o valor da quarta-parte entregue a parceiros empregados.
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PARTE 3 - PESQUISA CADASTRO
1 - Aspectos Gerais
A Pesquisa Cadastro tem por objetivo alimentar o Cadastro Estatístico
Unificado em implantação no IBGE, com informações relativas à classificação das
empresas e unidades locais na nova Classificação Nacional de Atividades Econômicas
(CNAE-95) e ao porte dessas empresas e unidades.
A Pesquisa Cadastro/95 fará o levantamento em cerca de 400 mil empresas e
de aproximadamente 650 mil endereços de atuação respectivos, um universo estimado de 3
milhões de empresas, com representatividade para cada Unidade da Federação e para as
distintas unidades econômicas.
Serão pesquisadas todas as empresas e unidades com 20 pessoas ocupadas ou
mais para comércio e serviços e 30 para as demais atividades. As empresas com pessoal
ocupado inferior a estes números são pesquisadas por amostra. Na cobertura censitária
estarão representadas cerca de 70% das pessoas ocupadas nas atividades econômicas do
País.
11
II - Conceitos e Definições relativos ao pessoal ocupado.
São investigadas as seguintes variáveis econômicas relativas a unidade local:
1 - PESSOAS OCUPADAS - informação do número de pessoas
efetivamente ocupadas em 31112/94 com vínculo empregatício, bem
como os proprietários e sócios com atividade na unidade local. fuclui-se
as pessoas afastadas em gozo de férias, licenças, seguros por acidentes,
etc., mesmo que esses afastamentos tenham sido superiores a 30(trinta)
dias. não são incluídos os membros da família sem remuneração.
2 - SALÁRIOS, RETIRADAS E OUTRAS REMUNERAÇÕES
informação do total das importâncias pagas no ano de 1994 a título de
salários fixos, pró-labore, retiradas, honorários, comissões, ajuda de
custo, 13º salário, abono financeiro de 113 das férias, participação nos
lucros, etc., referente a trabalhadores com vínculo empregatício,
proprietário ou sócios. Não são deduzidas as parcelas correspondentes às
cota de Previdência e Assistência Social (IAP AS/INSS) ou de
consignação de interesse dos empregados (aluguel de casa, contas de
cooperativas, etc.). Não são incluídas diárias pagas a empregados em
viagem e participações ou comissões pagas a autônomos.
3- RECEITA BRUTA DE VENDAS DE BENS E SERVIÇOS -
informação da receita bruta em Reais proveniente da venda de produtos
de fabricação própria, da revenda de mercadorias, de obras e
incorporação de imóveis, e de prestação de serviços em geral. Não são
deduzidos os impostos incidentes sobre essa receita (ICMS, IPI,
COFINS, PIS sobre faturamento, etc.), as vendas canceladas,
abatimentos e descontos incondicionais.
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PARTE 4 - PESQUISA INDUSTRIAL ANUAL - PIA
1 - Aspectos Gerais
O objetivo principal da Pesquisa Industrial Anual é avaliar, através de
levantamento sistemático e periódico, o desempenho do setor industrial, substituindo os
resultados das pesquisas conjunturais (que indicam tendências e ritmos de crescimento) por
resultados absolutos alcançados pela indústria. Através das PIA' s podem ser obtidos fatores
de correção que retificam os resultados mensais dos indicadores, bem como são
determinados parâmetros para avaliação e atualização das amostras das pesquisas mensais e
aponta possíveis mudanças de preços relativos que implicam na reavaliação do sistema de
ponderação dos índices.
Além disso, as PIA' s permitem os principais agregados macroeconômicos
para construção dos quadros anuais da Contabilidade Nacional.
É uma pesquisa por amostra probabilística, construída a partir do cadastro
gerado pelo Censo Industrial de 1995.
13
II - Conceitos e definições relativos ao pessoal ocupado e remunerações.
Variáveis Pesquisadas com relação ao fator trabalho:
• Pessoal ocupado, por categoria, no último dia do ano;
• salários pagos.
1. Pessoal Ocupado
A Pesquisa fudustrial Anual investiga o número de pessoas ocupadas no
último dia do ano com ou sem vínculo empregatício de acordo com as seguintes categorias
funcionais:
• Presidente, diretores, proprietários ou sócios com atividade no estabelecimento;
• pessoal não ligado à produção;
• pessoal ligado à produção e
• membro da família do proprietário ou sócio sem remuneração, com atividade no
estabelecimento.
Nenhwna pessoa é registrada mais de wna vez, mesmo que ocupe funções
em outras unidades da mesma empresa em que trabalha. Caso isto aconteça a pessoa é
14
registrada onde ela presta maior colaboração e na categoria correspondente a sua principal
ocupação. O pessoal ocupado abrange:
• Pessoal em regime de tempo integral;
•pessoas em regime de tempo parcial, isto é, menos de 40 (quarenta) horas
semanais;
• as pessoas em gozo de férias, licenças, seguros por acidentes, etc., desde que estes
afastamentos não sejam por prazo superior a 30 (trinta) dias e
• os "Membros da família de proprietários ou sócios" com atividade no
estabelecimento, sem vínculo empregatício e sem remuneração.
Em determinados ramos de atividade, por força de sazonalidade de matéria
prima, os estabelecimentos operam somente em alguns meses do ano e a utilização do
pessoal não se faz necessária durante certos períodos. Nestes casos, somente é investigado o
pessoal que realmente tem vínculo empregatício com o estabelecimento.
2. Salário, Retiradas e Outras Remunerações
A Pesquisa Industrial Anual investiga, segundo as categorias funcionais
especificadas, o total das importâncias pagas no exercício a título de:
• Salários fixos;
• retiradas;
• honorários;
• gratificações;
• participação nos lucros;
• comissões sobre vendas;
•ajudas de custo e
• 13° (décimo terceiro) salário e a remuneração de 10 (dez) dias de férias pagas em
dobro (abono de férias - 1/3 do período).
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O informante não deve reduzir das parcelas correspondentes citadas acima as
cotas de Previdência e Assistência Social ou de consignações de interesse dos empregados
(aluguel de casa, contas de cooperativas, etc.), como também não deve incluir nessa
definição as diárias pagas a empregados em viagem, nem os pagamentos a trabalhadores em
domicílio.
PARTE 5 - PESQIDSA ANUAL DO COMÉRCIO - PAC
1 - Aspectos Gerais
O objetivo principal da PAC é a obtenção de estimativas do conjunto de
informações das empresas comerciais, por Unidades da Federação e segundo os itens da
classificação de atividades, que permitam o acompanhamento do desempenho da atividade
comercial.
O universo da pesquisa é identificado pela própria definição de atividade:
comprar e revender (sem transformação) bens novos e usados, resíduos industriais e sucatas
de quaisquer materiais.
O âmbito de investigação da PAC é o das empresas comerciais juridicamente
constituídas, isto é, registradas no CGC. Entende-se por empresa comercial aquela cuja
predominância da Receita Bruta provenha da atividade comercial. Tal definição inclui seus
16
estabelecimentos não comerciais e exclui as unidades de empresas onde não predomina a
atividade comercial. Não se incluem na atividade os vendedores ambulantes, os
intermediários do comércio, e outros serviços auxiliares de comércio, cujas funções
resumem-se em colocar em contato comprador e vendedor ou agir por conta de terceiros
em operações de comercialização; bares, botequins, cafés e restaurantes; e as unidades de
aluguel, arrendamento ou "leasing" de máquinas e equipamentos.
A PAC utiliza a empresa como Unidade de Investigação, sendo que a
Unidade Informante pode ser a sede ou qualquer outra unidade apta a prestar as
informações à empresa.
A Pesquisa é realizada por amostra, cujo plano amostral leva em conta a
obtenção de resultados para cada atividade da classificação comercial em cada Unidade da
Federação.
Devido a aspectos operacionais e de disponibilidade de informações
diferenciadas de acordo com o porte das empresas, optou-se pela elaboração de dois tipos
diferentes de questionário, um completo, para as maiores empresas, e um outro,
simplificado, para as empresas menores.
II - Conceitos e definições relativas ao pessoal ocupado e remuneração
São investigadas as seguintes variáveis:
1 - PESSOAS OCUPADAS - informação do número de pessoas efetivamente
ocupadas, em 30106194 e 31/12/94, independente de terem ou não vínculo
empregatício, desde que sejam remuneradas diretamente pela empresa.
Inclui-se as pessoas afastadas em gozo de férias, licenças, seguros por
acidente, etc., desde que estes afastamentos não tenham sido superiores a
30 dias.
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Considera-se como:
- Pessoal da área administrativa: aqueles alocados às áreas administrativas e
auxiliares das atividades desenvolvidas pela empresa:
- Pessoal ligado à atividade comercial: aqueles alocados às operações de
revenda e distribuição de mercadorias, tais como: vendedores, balconistas,
caixas, empacotadoras, encarregados de compras, gerentes, chefes,
supervisores de venda, carregadores, etc.
- Pessoal ligado indiretamente a outras atividades econômicas da empresa:
aqueles alocados nas atividades industriais, serviços e outras atividades
distintas do comércio desenvolvidas pelas empresas mistas.
2 - SALÁRIOS, RETIRADAS E OUTRAS REMUNERAÇÕES NO ANO:
informação do total das importâncias pagas a título de salários fixos,
pró-labore, retiradas, honorários, comissões, ajuda de custo, 13º salário,
abono financeiro de 1/3 das ferias, etc. Não são deduzidas as parcelas
correspondentes às cotas de Previdência e Assistência Social (INSS) ou de
consignação de interesse dos empregados (aluguel de casa, contas de
cooperativa, etc.). Não são incluídas diárias pagas a empregados em
viagem e participações ou comissões pagas a profissionais autônomos.
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PARTE 6 - PESQUISA INDUSTRIAL MENSAL - DADOS GERAIS - PIM - DG
1 - Aspectos Gerais
A Pesquisa Industrial Mensal - Dados Gerais produz informações de curto
prazo sobre a evolução do emprego, dos salários e do valor da produção na indústria
brasileira a nível Nacional e Regional
Variáveis Pesquisadas
• Pessoal Ocupado na Produção;
• Admissões na Produção;
• Desligamentos na Produção;
• Números de Horas Pagas na Produção;
• Valor dos Salários Contratuais;
• Valor das Horas Extras Pagas e
• Valor da Folha de Pagamento.
As variáveis quantitativas cumprem o papel de fornecer informações sobre o
comportamento do emprego industrial.
A variável ''Pessoal Ocupado na Produção" - POP, que mede a quantidade
total de pessoas em atividades na produção no mês de referência e a complementação dessa
informação com os fluxos de "admissões e desligamentos na produção", efetivados nesse
mês, são fundamentais para o entendimento do fenômeno da rotatividade da mão-de-obra e
conseqüentemente fornecem subsídios às análises sobre :flutuação do nível de emprego na
indústria.
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As variáveis quantitativas cumprem o papel de fornecer informações sobre o
comportamento do emprego industrial.
A variável "Pessoal Ocupado na Produção" - POP, que mede a quantidade
total de pessoas em atividades na produção no mês de referência e a complementação dessa
informação com os fluxos de "admissões e desligamentos na produção", efetivados nesse
mês, são fundamentais para o entendimento do fenômeno da rotatividade da mão-de-obra e
conseqüentemente fornecem subsídios às análises sobre flutuação do nível de emprego na
indústria.
A incorporação da variável ''Número de Horas Pagas na Produção", introduz
o conceito de intensidade de trabalho, mostrando a variação da jornada de trabalho,
ampliando assim o poder analítico das variações sobre o nível de emprego.
As variáveis monetárias investigam as informações referentes ao custo de
mão-de-obra e ao valor da produção.
A variável "Valor dos Salários Contratuais" em separado do "Valor da Folha
de Pagamento", cumpre o papel de melhor medir o nível salarial médio da indústria, trata-se
da remuneração básica do trabalho, fixado em contrato de trabalho ou registrado em carteira
profissional, sendo menos sujeito à flutuações decorrentes de pagamentos eventuais e
constitui-se em um indicador mais preciso das tendências dos movimentos da remuneração
do trabalho na indústria.
A variável "Valor das Horas Extras Pagas" também em separado do "Valor
da Folha de Pagamento", amplia as possibilidades de análise das variações da remuneração
do trabalho na indústria, dado que, em épocas de aumento do ritmo de atividade
econômicas, a inclusão dos pagamentos de horas extras trabalhadas na folha de pagamento
tende a superestimar o crescimento da remuneração do trabalho; já que ela corresponde, de
fato, um aumento do trabalho realizado mas não um aumento efetivo do salário contratual.
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A variável "Valor da Folha de Pagamento" visa medir o nível de
remuneração da mão-de-obra na indústria agregando os valores dos salários contratuais com
abonos, comissões, salários-família, horas extras, etc., e subtraindo parte do salário
contratual devido a faltas, greves, etc.
O "Valor da Produção" é a expressão monetária da soma de todos os bens
produzidos (destinados à venda, transferência, estoque, distribuição gratuida e ativo
imobilizado) e serviços prestados pelo estabelecimento) e serviços prestados pelo
estabelecimento, a outros estabelecimentos da mesma empresa ou a outras empresas,
durante o mês.
A valorização desta produção é a preço de venda (para os produtos e serviços
vendidos) e a preço de custo (para os produtos e serviços transferidos, estocados,
distribuídos gratuitamente e incorporados ao ativo imobilizado) excluindo os impostos e
taxas que incidem sobre a produção, como IPI, ICM, IUCL, etc, e fretes pagos a terceiros
para a entrega das mercadorias.
Sua utilização, permite em conjunto com os outros indicadores da produção
fisica, a obtenção de índices de preços industriais, funcionando também como um indicador
da variação do nível de produção principalmente, para os gêneros não acompanhados pela
pesquisa de produção fisica (Madeira, Mobiliário, Couros e Peles, Editorial e Gráfica e
Diversos). Outrossim, subsidia a análise das demais informações da pesquisa de dados
gerais atuando como instrumento de critica.
Pela técnica de amostragem probabilística foi selecionada uma amostra
estratificada por Valor da Produção e Pessoal Ocupado de 6.151 (seis mil, cento e cinqüenta
e um) estabelecimentos, com base no Censo Industrial de 1980.
Por essa técnica alguns estabelecimentos da amostra, além de representarem
a si mesmo, estão representando outros estabelecimentos, levando a obtenção de resultados
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representativos do universo dos estabelecimentos industriais. Pôr isto é fundamental que as
informações coletadas em cada estabelecimento selecionados sejam referentes a ele mesmo,
assim como que a perda de informação de um estabelecimento, pôr qualquer motivo, tenha
como contrapartida, uma substituição imediata por outro estabelecimento com
características semelhantes. Para tal, já existe uma lista de estabelecimentos pré
selecionados em condições de entrarem na pesquisa em substituição automática aos que
"morrerem" no mês de referência da coleta.
II - Conceitos e definições relativos ao pessoal ocupado e remunerações
As variáveis de emprego, salários e encargos são investigadas conforme os seguintes conceitos:
1 - Pessoal Ocupado na Produção
A Pesquisa Industrial Mensal - Dados Gerais investiga mensalmente o total
de pessoas ocupadas somente na produção (horistas e mensalistas) do estabelecimento, no
último dia do mês de referência da pesquisa.
Como pessoas ocupadas na produção, entende-se aquelas que exerçam
atividades técnico-produtivas, diretamente ligadas ao processo produtivo, com ou sem
vínculo empregatício ou contrato de trabalho temporário na empresa, mesmo naqueles
ramos de atividades em que as unidades só operam em alguns meses do ano. São
considerados como Pessoal Ocupado na Produção:
•Gerente, Chefes e Supervisores da Produção;
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•Técnicos de Nível Superior (Engenheiros, Químicos, Farmacêuticos, etc.);
• Mestres e Contramestre;
• Operários e Aprendizes;
• Encarregados de Oficina e
• Outros diretamente ligados ao processo produtivo do estabelecimento,
inclusive aqueles com tarefas de manutenção, controle de qualidade e
serviços industriais de apoio.
O Pessoal Ocupado na Produção abrange:
• pessoal em regime de tempo integral;
• pessoas em regime de tempo parcial, isto é, menos de 40 (quarenta) horas semanais;
• as pessoas transferidas de outros estabelecimentos da empresa no mês de referência da pesquisa e
• as pessoas em gozo de férias ou afastadas do serviço ativo pôr prazo não superior a 30 (trinta) dias.
Não são consideradas como pessoas ocupadas na produção:
• os proprietários, sócios e diretores, mesmo que a predominância de sua ocupação seja diretamente ligada ao processo produtivo;
• os membros da família de sócios ou proprietários com atividade na unidade, sem vínculo empregatício e sem remuneração;
• os trabalhadores e prestadores de serviço autônomo em domicílio remunerados por tarefas, por trabalhos parciais ou de acabamento em materiais fornecidos pelo estabelecimento;
•as pessoas afastadas do serviço ativo por mais de 30 (trinta) dias e
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• as pessoas ocupadas que não exerçam atividades técnico-produtivas tais
como: ligadas às tarefas administrativas, área de venda, administração
central, etc.
Observação: As pessoas enquadradas na definição de POP só podem ser registradas uma
vez, mesmo que ocupem função em outras unidades da empresa. Neste
caso, devem ser enquadradas na unidade onde prestaram maior colaboração
durante o mês de referência da pesquisa.
A PIM-DG investiga também o número de admissões e desligamentos
ocorridos durante o mês de referência da pesquisa.
Como admissões entende-se o total de pessoas ocupadas na produção
admitidas segundo à definição de POP citada anteriormente. Não são consideradas como
admissões as transferências de empregados em caráter eventual ou permanente, de outro
estabelecimento da mesma empresa, embora as pessoas transferidas sejam incluídas na
variável POP.
Como desligamento entende-se o total de pessoas ocupadas na produção do
estabelecimento que foram desligadas da empresa pela rescisão do sem vínculo
empregatício ou extinção do contrato de trabalho durante o mês de referência da pesquisa
(demissão por decisão do empregador, demissão por justa causa, demissão por solicitação
do emprego, ou pôr acordo, aposentadoria, morte, etc.). Não são consideradas como
desligamentos as transferências de empregados, em caráter eventual ou permanente, para
outro estabelecimento da empresa, e as pessoas afastadas da produção por tempo superior a
30 (trinta) dias que ainda mantém vínculo empregatício.
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NOTA: As informações referentes ao fluxo de demissões e desligamento no mês de
referência da pesquisa completam os dados levantados sobre o POP e são
fundamentais à compreensão dos fenômenos da rotatividade de mão-de-obra.
2 - Salário Contratuais
A Pesquisa Industrial Mensal - Dados Gerais investiga o valor das despesas
realizadas no mês com o pagamento de salários contratuais ao pessoal ocupado na produção
(horistas e mensalistas).
Como salário contratual, entende-se o salário normal ou fixo, isto é, a
remuneração básica registrada na Carteira Profissional (última em vigor no mês de
referência da pesquisa). São considerados também, as remunerações relativas ao pessoal
ocupado na produção, que constam nos contratos temporários de trabalho.
Observação: O Valor investigado para a variável valor dos Salários Contratuais é o
montante bruto, ou seja, não devem ser deduzidas as cotas de previdências
ou assistência social a cargo do empregado, o imposto de renda ou qualquer
tipo de descontos sob responsabilidade do empregado. Não devem serem
incluídos, em qualquer situação, os pagamentos efetivados aos proprietários,
sócios, membros da família, presidentes e diretores (ocupações não
consideradas como ligadas diretamente ao processo produtivo), nem os
pagamentos efetuados a trabalhadores em domicílios.
3 - Número de Horas Pagas na Produção
A Pesquisa Industrial Mensal - Dados Gerais investiga o número global de
horas pagas pelo estabelecimento, durante o mês de referência da pesquisa, ao conjunto de
pessoas ocupadas na produção, mesmo que estejam em férias ou afastadas do serviço ativo
por prazo não superior a 30 (trinta) dias.
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As Horas Pagas na Produção correspondem à soma das seguintes parcelas:
• Jornada Mensal de Trabalho fixada no Contrato fudividual de Trabalho,
por força de Lei (CLT), Convenção/Acordo Coletivo de Trabalho, ou por
decisão judicial. Isto equivale ao produto do POP pela jornada normal
diária de trabalho, vezes o número de dias do mês;
•Número de Horas Pagas aos trabalhadores horistas no mês de referência e
• Número de Horas Extras Pagas correspondentes ao total das horas
suplementares de trabalho, realizadas pelo POP após a jornada diária
contratual de trabalho, quer em caráter eventual ou permanente.
As Horas Pagas na Produção incorporam, portanto, as horas pagas mas não
trabalhadas, tais como as referentes às seguintes situações:
• Descanso semanal remunerados
• faltas justificadas (abonadas pelo empregador ou previstas em lei,
convenção ou acordo);
• os 15 (quinze) primeiros dias nos casos de afastamento por acidente de
trabalho ou licença médica;
• as outras horas não trabalhadas, desde que remuneradas pela empresa
(ausências coletivas do trabalho que não impliquem desconto das horas de
paralisação) e
• as horas não trabalhadas devido a fatores ambientais adversos.
26
As Horas Pagas na Produção excluem as horas perdidas de trabalho por
faltas não justificadas (individuais ou coletivas) que não foram remuneradas pela empresa.
ID - Resultados disponíveis
São gerados a partir dessa pesquisa, vários indicadores, tendo por base o
Indicador de Base Fixa (IBF) e algumas relações, divulgados até três meses após o mês de
referência.
Indicadores: base fixa, mensal, mês/mês, acumulado, acumulado 12 (doze) meses.
Principais Relações:
• taxa de pagamento por trabalhador;
• salário contratual por trabalhador;
• número de horas pagas por trabalhador;
• participação da folha de pagamento no valor da produção e
• participação do valor das horas extras na folha de pagamento.
Todos os indicadores e as relações são disponíveis para a indústria geral e
todos os seus gêneros industriais, a nível de Brasil. São divulgadas também informações
referentes aos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, além das regiões Sul e
Nordeste.
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PARTE 7 - PESQUISA MENSAL DE EMPREGO - PME
1 - Aspectos gerais
1. A PME é uma pesquisa domiciliar, por amostra, de periodicidade mensal sobre
mão-de-obra e rendimentos do traba1ho.
2. A pesquisa foi implantada pelo IBGE em 1980 nas regiões metropolitanas do Rio
de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife e Salvador.
3. O levantamento das informações e a apuração, até a fase de consistência dos
dados, é feita pelas Unidades Regionais do IBGE, sendo a produção de agregados
e a análise dos resultados realizados de forma centralizada na sede do IBGE no Rio
de Janeiro.
Il - Aspectos Metodológicos
1. O Desenho da Amostra
A amostra da PME é probabilística com seleção em dois estágios. No
primeiro, selecionam-se setores censitários com probabilidade proporcional ao
tamanho (número de unidades domiciliares no setor no censo de 1991. No segundo,
selecionam-se as unidades domiciliares.
Atualmente, o tamanho da amostra das seis regiões é de cerca de 38.000
domicílios.
2. Períodos de Referência
a) Semana de entrevista - é a semana completa, de domingo a sábado, que o
entrevistador tem para fazer a entrevista;
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b) Semana de Referência - é a semana completa, de domingo a sábado, que
precede a semana de referência;
c) Mês de Referência - é o mês que precede o que corresponde as semana de referência.
3. Conceitos Principais
a) Trabalho - Considera-se como trabalho o exercício de:
• ocupação econômica remunerada em dinheiro, produtos ou somente em
benefícios (morada, alimentação, vestuário, etc.)
• ocupação econômica sem remuneração, exercida normalmente pelo menos
durante 15 horas por semana, ajudando a membro da wri.dade domiciliar em
sua atividade econômica, ou em ajuda a instituição religiosas, beneficentes
ou de cooperativismo, ou ainda, como aprendiz ou estagiário.
b) Pessoas Ocupadas - Consideram-se como ocupadas na semana de referência
as pessoas que, nesse período ou em parte dele, trabalharam, ou tinham
trabalho, mas não trabalharam, como, por exemplo, pessoas em férias.
c) Pessoas Desocupadas - Considleram-se como pessoas desocupadas aquelas
que não tinham trabalho na semana de referência, mas estavam dispostas a
trabalhar e que, para isto, tomaram alguma providência efetiva para conseguir
trabalho (na semana de referência ou no período de referência de 30 (trinta)
dias, conforme periodo considerado).
d) Pessoas Economicamente Ativas - PEA - Consideram-se como
economicamente ativas as pessoas ocupadas e desocupadas.
29
e) Pessoas Não-economicamente Ativas - Consideram-se como não
economicamente ativas as pessoas que não são classificadas como ocupadas
ou desocupadas.
4. Posição na Ocupação
Classificam-se as pessoas, quanto à posição na ocupação, em 4 (quatro)
categorias: empregador, não-remunerado. Os empregados são classificados em
empregados com carteira assinada e empregados sem carteira assinada.
a) Empregados - Consideram-se como empregados as pessoas que trabaJham
para empregador, geralmente cumprindo uma jornada de trabalho e recebendo
em contrapartida uma remuneração em dinheiro, produtos ou somente
beneficios (moradia, alimentação, vestuário, etc.). Incluem-se entre os
empregados as pessoas que prestam serviço militar obrigatório e os clérigos.
b) Conta-próprias - Consideram-se como conta-próprias as pessoas que
exploram uma atividade econômica ou exercem uma profissão ou oficio, não
tendo empregados.
c) Empregadores - Consideram-se como empregadores as pessoas que
exploram uma atividade econômica ou exercem uma profissão ou oficio, com
auxílio de um ou mais empregados.
d) Não Remunerados - Consideram-se como não remunerados as pessoas que
exercem ocupação econômica, sem remuneração, pelo menos 15 horas por
semana, ajudando a membro da unidade domiciliar em sua atividade
econômica, ou em ajuda a instituição religiosa, beneficente ou de
cooperativismo, ou, ainda, como aprendiz ou estagiário.
30
5. Rendimentos
São levantados os rendimentos brutos efetivamente recebidos do traba1ho principal
de outros trabaJhos no mês de referência.
m - Os Indicadores
Até 1981 eram calculados mensalmente 14 indicadores, sendo que apenas a
Taxa de Desemprego Aberto era divulgada para o público. Com a reformulação de 1982,
73 indicadores foram incluídos no elenco anterior. Em 1985 o IBGE ampliou a divulgação
dos dados da PME, sendo hoje publicados 71 indicadores dos 192 calculados.
IV - Precisão das Estimativas
Os resuhados da PME, como os de todas as pesquisas por amostra, estão
sujeitos a erros de amostragem
Os erros amostrais associados às estimativas dos indicadores da PME são
avaliados por meio do cálculo dos coeficientes de variação. Desta forma, é conhecida a
precisão de cada estimativa divulgada. Embora não publicados, os relatórios de precisão das
estimativas estão disponíveis para consuha dos especialistas.
V - Divulgação dos Resultados
Os resuhados da PME são ditvulgados para a imprensa 25 dias após o
término da coleta de dados. O mês da coleta abrange três semanas do mês de pesquisa e
uma semana do mês seguinte. Desta forma, os resultados da pesquisa de um mês são
divulgados aproximadamente 35 dias após o término do mês. Por exemplo, resultados da
31
pesquisa de ju1ho são divulgados nos primeiros dias do mês de setembro. Os dados
referentes a rendimento apresentam um mês de defasagem em relação aos demais
indicadores, por tratar-se da remuneração efetivamente recebida no mês de referência.
32
PARTE 8 - PESQUISA SUPLEMENTAR DAS PNADs DE 1989 e 1990
1 - Aspectos Gerais
A pesquisa suplementar das PNADs de 1989 e 1990 contemplou o tema
trabaJho, ampliando e aprofundando a investigação sobre este assunto feita na pesquisa
básica.
A investigação conjunta das pesquisas básica e suplementar posSioilitou uma
melhor compreensão do mercado de trabaJho, o que subsidia os estudos empreendidos por
órgãos envolvidos com o planejamento e a análise da situação sócio-econômica do país.
Ademais, este levantamento forneceu indicativos para as reformulações da PNAD para a
década de 90.
A pesquisa suplementar foi investigada em todas as unidades domiciliares da
amostra selecionada para pesquisa básica, portanto, com abrangência nacional, excluindo,
apenas, a área rural da Região Norte.
A pesquisa suplementar utilizou os mesmos conceitos empregados para a
pesquisa básica por ser de fato uma continuação da investigação de mão-de-obra efetuada
anualmente.
Il - Tópicos Abrangidos
A pesquisa suplementar abrangeu os seguintes tópicos:
• aspectos adicionais do trabaJho único ou principal;
• características do trabalho secundário;
• a procura de outro trabalho pela pessoa ocuJPada;
33
• o interesse em deixar o traba1ho que exercia para ingressar em um emprego sem carteira e a motivação para não deixá-lo;
• características do último traba1ho remunerado que a pessoa em idade ativa deixou há menos de 5 ano; e
• a origem da pessoa em idade ativa.
a) Aspectos adicionais do traba1ho único ou principal
O segmento dos empregados sem carteira de trabalho assinada é
extremamente heterogêneo, abrangendo desde o :funcionário público civil e militar, que
usufrui de estabilidade no traba1ho e direito a aposentadoria, até a pessoa com um contrato
puramente verbal, que não lhe dá qualquer garantia de traba1ho e de previdência.
A investigação permitiu distinguir os empregados regidos pelos Estatutos dos
Funcionários Públicos Civis e Militares dos demais empregados sem carteira de traba1ho
assinada.
Os empreendimentos que ocupam um número reduzido de pessoas são os
que mais facilmente escapam aos cóntroles fiscais, o que propicia que neles se estabeleçam,
com maior :freqüência, relações informais de traba1ho. Nos empreendimentos de pequeno
porte encontram-se desde pequenas empresas adequadamente organizadas até negócios ou
atividades desenvolvidas de forma totalmente improvisada e informal O traba1ho não
remunerado, que se destaca nas atividades do setor primário deve ter, também, maior
relevância nos pequenos empreendimentos familiares.
A pesquisa captou as pessoas ocupadas em empreendimentos de pequeno
porte (com até 10 pessoas ocupadas). Foi, também, obtido o número de traba1hadores não
remunerados ocupados pelos empregadores e trabalhadores por conta-própria.
34
O tempo de permanência no empreendimento é uma informação necessária
para o estudo da rotatividade da mão-de-obra, que apresentam nítidas distinções em função
das diferentes caracteristicas de trabalho e do porte do empreendimento.
O levantamento forneceu o tempo de trabalho no empreendimento que a
pessoa estava ocupada.
b) Caracteristicas do trabalho secundário.
As caracteristicas do trabalho secundário associadas as do principal permitem
conhecer as interligações e as distinções entre eles.
A investigação abrangeu as principais características do trabalho secundário.
c) A procura de outro trabalho pela pessoa ocupada.
Para se mensurar a pressão total por trabalho no mercado é necessário que
se conheça também a procura de trabalho efetuada pelas pessoas ocupadas. O tipo de
trabalho procurado pelas pessoas ocupadas pode indicar o interesse em retomar a uma
condição anterior ou em obter um trabalho adicional.
A investigação permitiu responder a estas questões para as pessoas ocupadas
a procura de outro trabalho.
d) O interesse em deixar o trabalho que exercia para ingressar em um emprego com carteira
de trabalho assinada e a motivação em não fazê-lo.
As pessoas ocupadas que não usufruem das garantias de trabalho asseguradas
pela CLT pelos Estatutos dos Funcionários Públicos podem ainda assim, não ter qualquer
interesse em ingressar em um emprego com carteira assinada. Os motivos são variados e o
seu conhecimento pode levar a uma melhor compreensão do mercado de trabalho.
35
A pesquisa permitiu captar os principais motivos que levam as pessoas a não
ter interesse, em mudar para um emprego com carteira de trabalho assinada.
e) Características do último trabalho remunerado que a pessoa em idade ativa deixou há
menos de 5 anos
As características do trabalho remunerado anterior é essencial para mensurar
a mobilidade entre os diferentes tipos de trabalho e de condição de atividade.
A investigação das características deste trabalho anterior abrangeu as pessoas
ocupadas, desocupadas e inativas.
f) A origem da pessoa em idade ativa.
O movimento migratório implica em um deslocamento de força de trabalho
potencial e, dependendo da sua intensidade, pode ocasionar efeitos visíveis no mercado de
trabalho. Especialmente o migrante recente pode ocorrer no mercado de trabalho em
condições menos favoráveis com o restante da população.
O levantamento forneceu a origem das pessoas em idade ativa e o tempo de
residência no município, o que permitiu conhecer se a situação de trabalho do migrante
recente é nitidamente diferenciada daquela dos demais componentes da população em idade
ativa.
36
PARTE 9 - PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS - PNAD
1 - Aspectos Gerais
O sistema de pesquisas domiciliares, implantado progressivamente no Brasil a
partir de 1967, com a criação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD,
tem como finalidade a produção de informações básicas para o estudo do desenvolvimento
sócio-econômico do País.
Trata-se de um sistema de pesquisas por amostra de domicílios que, por ter
propósitos múltiplos, investiga diversas características sócio-econômicas, umas de caráter
permanente nas pesquisas, como as características gerais da população, educação, trabaJho,
rendimento e habitação, e outras com periodicidade variável, como as características sobre
migração, fecundidade, nupcialidade, saúde, nutrição e outros temas que são incluídos no
sistema de acordo com as necessidades de informação para o País.
A pesquisa básica da PNAD de 1992, além de aspectos gerais da população,
educação, trabaJho, rendimento e habitação, agregou os temas: migração, fecundidade e
nupcialidade. A extensão e profundidade da pesquisa básica determinou que não houvesse
levantamento suplementar em 1992. Ademais, para captar determinados grupos de pessoas
envolvidas em atividade econômica que, anteriormente, não eram incluídas na população
ocupada, a partir da PNAD de 1992, o conceito de trabaJho tomou-se mais abrangente. O
instrumento de coleta das informações da pesquisa foi estruturado de forma que possfüilita,
através da realocação das parcelas correspondentes à ampliação do conceito de trabaJho,
gerar resultados comparáveis com os obtidos nos levantamentos da PNAD anteriores ao de
1992.
37
D - Aspectos Metodológicos
1 - O desenho da Amostra
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, é realizada através
de uma amostra probabilística de domicílios obtida em três estágios de seleção: unidades
primárias - municípios; unidades secundárias - setores censitários; e unidades terciárias -
unidades domiciliares (domicílios particulares e unidades de habitação em domicílios
coletivos).
No primeiro estágio, as unidades (municípios) foram classificadas em duas
categorias: auto-representativas (probabilidade 1 de pertencer a amostra) e não auto
representativas. Os municípios pertencentes à segunda categoria passaram por um processo
de estratificação e, em cada estrato, foram selecionados sem reposição e com probabilidade
proporcional à população residente obtida no Censo Demográfico de 1991.
No segundo estágio, as unidades (setores censitários) foram selecionadas, em
cada município da amostra, também com probabilidade proporcional e sem reposição, sendo
utilizado o número de unidades domiciliares existentes por ocasião do Censo Demográfico
de 1991 como medida de tamanho.
No último estágio foram selecionados, com eqüiprobabilidade, em cada setor
censitário da amostra, os domicílios particulares e as unidades de habitação em domicílios
coletivos para investigação das características dos moradores e da habitação.
38
2 - Período de Referência
Data de referência -último dia da semana de referência
Semana de referência - última semana completa do mês de setembro
Mês de referência - mês de setembro
Período de referência de 365 dias- 365 dias anteriores ao último dia da semana
de referência
Período de referência de 12 meses - outubro do ano anterior a setembro do ano
da pesquisa.
3 - Principais Conceitos e Definições Relativos ao Tema Trabalho.
Trabalho
Considerou-se como trabalho em atividade econômica o exercício de:
a) Ocupação remunerada em dinheiro, produtos, mercadorias ou beneficios
(moradia, alimentação, roupas, etc.) na produção de bens e serviços;
b) Ocupação remunerada em dinheiro ou beneficios (moradia, alimentação, roupas,
etc.) no serviço doméstico;
e) Ocupação sem remuneração na produção de bens e serviços, desenvolvida durante
pelo menos uma hora na semana:
- em ajuda a membro da unidade domiciliar que tivesse trabalho como: empregado
na produção de bens primários (que compreende as atividades de agricultura,
39
silvicultura, pecuária, extração vegetal ou mineral, caça, pesca e piscicultura),
conta própria ou empregador;
- em ajuda a instituição religiosa, beneficente ou de cooperativismo; ou
- como aprendiz ou estagiário.
d) Ocupação desenvolvida, durante pelo menos uma hora na semana:
- na produção de bens, do ramo que compreende as atividades da agricultura,
silvicultura, pecuária, extração vegetal, pesca e piscicultura, destinados à própria
alimentação de pelo menos um membro da unidade domiciliar; ou
- na construção de edificações, estradas privativas, poços e outras benfeitorias
(exceto as obras destinadas unicamente à reforma) para o próprio uso de pelo
menos um membro da unidade domiciliar.
Portanto, no conceito de traba1ho caracterizam-se as condições de:
- Traba1ho remunerado (itens a e b );
- Trabalho não remunerado (item c );
- Traba1ho na produção para o próprio consumo ou na construção para o próprio
uso (item d).
Procura de Trabalho
Definiu-se como procura de traba1ho a tomada de alguma providência efetiva
para conseguir traba1ho, ou seja, o contato estabelecido com empregadores; a prestação de
40
concurso; a inscrição em concurso; a consulta a agência de emprego, sindicato ou órgão
similar; a resposta a anúncio de emprego; a solicitação de trabalho a parente, amigo, colega
ou através de anúncio; a tomada de medida para iniciar negócio; etc.
Condição de Ocupação
As pessoas foram classificadas, quanto à condição de ocupação no período
de referência especificado (semana de referência ou período de referência de 365 dias), em
ocupadas e desocupadas.
Pessoas Ocupadas
Foram classificadas como ocupadas no período de referência especificado
(semana de referência ou período de referência de 365 dias) as pessoas que tinham trabalho
durante todo ou parte desse período. Incluíram-se, ainda, como ocupadas as pessoas que
não exerceram o trabalho remunerado que tinham no período especificado por motivo de
férias, licença, greve, etc.
Pessoas Desocupadas
Foram classificadas como desocupadas as pessoas sem trabalho que tomaram
alguma providência efetiva de procura trabalho no período de referência especificado
(semana de referência ou período de referência de 365 dias).
41
Condição de Atividade
As pessoas foram classificadas, quanto à condição de atividade no período de
referência especificado (semana de referência ou período de referência de 365 dias), em
economicamente ativas e não economicamente ativas.
Pessoas Economicamente Ativas
As pessoas economicamente ativas no período de referência especificado
(semana de referência ou período de referência de 365 dias) compuseram-se das pessoas
ocupadas e desocupadas nesse período.
Pessoas não Economicamente Ativas
Foram definidas como não economicamente ativas no período de referência
especificado (semana de referência ou período de referência de 365 dias) as pessoas que não
foram classificadas como ocupadas nem desocupadas nesse período.
Empreendimento
Definiu-se como empreendimento a empresa, a instituição, a entidade, a
firma, o negócio, etc., ou, ainda, o traba1ho sem estabelecimento, desenvolvido
individualmente ou com ajuda de outras pessoas (empregados, sócios ou traba1hadores não
remunerados).
42
Número de Trabalhos
Pesquisou-se o número de trabalhos, ou seja, em quantos empreendimentos a
pessoa teve trabalho no período de referência especificado (semana de referência ou período
de referência de 365 dias).
O trabalho na produção para o próprio consumo ou na construção para o
próprio uso somente foi contado para a pessoa que não houvesse tido qualquer outro
trabalho remunerado ou sem remuneração no período de referência especificado (semana de
referência ou período de referência de 365 dias).
Trabalho Principal da Semana de Referência
Considerou-se como principal da semana de referência o único trabalho que a
pessoa teve nesse período.
Para a pessoa que teve mais de um trabalho, ou seja, para a pessoa ocupada
em mais de um empreendimento na semana de referência, adotaram-se os seguintes critérios,
obedecendo a ordem enumerada, para definir o principal desse período:
1 º) O trabalho da semana de referência no qual teve maior tempo de permanência no
período de referência de 365 dias foi considerado como principal;
2º) Em caso de igualdade no tempo de permanência no período de referência de 365
dias, considerou-se como principal o trabalho remunerado da semana de
referência ao qual a pessoa normalmente dedicava maior número de horas
semanais. Este mesmo critério foi adotado para definir o trabalho principal da
pessoa que, na semana de referência, teve somente trabalhos não remunerados e
que apresentaram o mesmo tempo de permanência no período de referência de
365 dias; e
43
32) Em caso de igualdade, também, no número de horas trabalhadas, considerou-se
como principal o trabalho da semana de referência que normalmente
proporcionava maior rendimento.
Trabalho Secundário da Semana de Referência
Foram investigadas as seguintes características relacionadas ao trabalho
secundário da semana de referência: ocupação, atividade, posição na ocupação, categoria e
setor (público ou privado) do emprego, contnouição para instituto de previdência, horas
trabalhadas e rendimento.
Para definir o trabalho secundário da pessoa que trabalhava em três ou mais
empreendimentos na semana de referência, excluiu-se o trabalho principal e, aplicaram-se
aos demais os mesmos critérios, obedecendo a ordem enumerada, que foram utilizados para
selecionar o principal desse período.
Para os trabalhos da semana de referência que não foram definidos como
principal nem secundário, pesquisou-se: contnouição para instituto de previdência, horas
trabalhadas e rendimento.
Trabalho Principal do Período de Referência de 365 dias
Considerou-se como principal do período de referência de 365 dias o único
trabalho que a pessoa teve nesse período.
Para a pessoa que teve mais de um trabalho, ou seja, para a pessoa ocupada
em mais de um empreendimento no período de referência de 365 dias, adotaram-se os
seguintes critérios, obedecendo a ordem enumerada, para definir o principal desse período:
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1 Q) O trabalho no qual teve maior tempo de permanência no período de referência de
365 dias foi considerado como principal;
2Q) Em caso de igualdade no tempo de permanência no período de referência de 365
dias, considerou-se como principal o definido como tal para a semana de
referência. No caso da pessoa sem trabalho na semana de referência e que teve
igualdade no tempo de permanência, considerou-se como principal o trabalho
remunerado do período de referência de 365 dias ao qual a pessoa normalmente
dedicava maior número de horas semanais. Este mesmo critério foi adotado para
definir o trabalho principal da pessoa sem trabalho na semana de referência e que
teve somente trabalhos não remunerados e que apresentaram o mesmo tempo de
permanência no período de referência de 365 dias; e
3Q) Para a pessoa sem trabalho na semana de referência, em caso de igualdade,
também, no número de horas trabaJhadas, considerou-se como principal o último
trabalho do qual a pessoa saiu no período de referência de 365 dias.
Ocupação
Definiu-se ocupação como sendo o cargo, função, profissão ou oficio
exercido pela pessoa.
As ocupações foram consideradas específicas quando típicas, única e
exclusivamente, de cada um dos grupos constituídos e não passíveis de outras classificações.
A composição dos grupos de ocupação apresentados nas tabelas encontra-se
no Anexo 1.
45
Atividade
A classificação da atividade do empreendimento foi obtida através da
:finalidade ou do ramo de negócio da organização, empresa ou entidade para a qual a pessoa
trabalhava. Para os trabalhadores por conta própria a classificação foi feita de acordo com a
ocupação exercida.
A composição dos ramos de atividade apresentados nas tabelas encontra-se
no Anexo II.
Posição na Ocupação
Foram definidas oito categorias de posição na ocupação:
Empregado - Pessoa que trabalhava para um empregador (pessoa tisica ou
jurídica), geralmente obrigando-se ao cumprimento de uma jornada de trabalho e recebendo
em contrapartida uma remuneração em dinheiro, mercadorias, produtos ou beneficios
(moradia, comida, roupas, etc.). Nesta categoria incluiu-se a pessoa que prestava o serviço
militar obrigatório e, também, o sacerdote, ministro de igreja, pastor, rabino, :frade, :freira e
outros clérigos;
Trabalhador doméstico - Pessoa que trabalhava prestando serviço
doméstico remunerado em dinheiro ou beneficios, em uma ou mais unidades domiciliares;
Conta própria - Pessoa que trabalhava explorando o seu próprio
empreendimento, sozinha ou com sócio, sem ter empregado e contando, ou não, com a
ajuda de trabalhador não remunerado;
Empregador - Pessoa que trabalhava explorando o seu próprio
empreendimento, com pelo menos um empregado;
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Trabalhador não remulllerado membro da unidade domiciliar - Pessoa
que trabalhava sem remuneração, durante pelo menos uma hora na semana, em ajuda a
membro da unidade domiciliar que era: empregado na produção de bens primários ( que
compreende as atividades da agricultura, silvicultura, pecuária, extração vegetal ou mineral,
caça, pesca e piscicultura), conta própria ou empregador;
Outro trabalhador não l!"emulllerado - Pessoa que trabalhava sem
remuneração, durante pelo menos uma hora na semana, como aprendiz ou estagiário ou em
ajuda a instituição religiosa, beneficente ou de cooperativismo;
Trabalhador na prodlllção para o próprio consumo - Pessoa que
trabalhava, durante pelo menos uma hora na semana, na produção de bens do ramo que
compreende as atividades da agricuhura, silvicultura, pecuária, extração vegetal, pesca e
piscicultura, para a própria alimentação de pelo menos um membro da unidade domiciliar;
Trabalhador na construção para o próprio uso - Pessoa que trabalhava,
durante pelo menos uma hora na semana, na construção de edificações, estradas privativas,
poços e outras benfeitorias (exceto as obras destinadas unicamente à reforma) para o
próprio uso de pelo menos um membro da unidade domiciliar.
Para efeito de divulgação, em todas as tabelas que apresentam a classificação
por posição na ocupação, as categorias trabalhador não remunerado membro da
unidade domiciliar e outro trabalhador não remunerado foram reunidas em uma única,
que recebeu a denominação de não remlllnerado.
Categoria do Emprego
Os empregados, quanto a categoria do emprego, foram classificados em: com
carteira de trabalho assinada, militares e funcionários públicos estatutários, e outros.
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A categoria dos militares e funcionários públicos estatutários foi constituída
pelos militares do Exército, Marinha de Guerra e Aeronáutica, inclusive as pessoas que
estavam prestando o serviço militar obrigatório, e pelos empregados regidos pelo Estatuto
dos Funcionários Públicos (federais, estaduais e municipais ou de autarquias).
Os trabalhadores domésticos, quanto a categoria do emprego, foram
classificados em: com carteira de trabalho assinada e sem carteira de trabalho assinada.
Setor do Emprego
Para as pessoas que eram empregadas (exceto para os empregados,
permanentes e temporários, em empreendimento do ramo que compreende a agricultura,
silvicultura, pecuária, extração vegetal, pesca e piscicultura e para os empregados
temporários nos serviços auxiliares deste ramo) foi investigado se o empreendimento para o
qual trabalhavam era do setor público (abrangendo a administração, direta e indireta, do
governo federal, estadual e municipal) ou privado.
Número de Pessoas Ocupadas no Trabalho
Para as pessoas que, no trabalho principal da semana de referência, eram
empregadas no setor privado (exceto os empregados, permanentes e temporários, em
empreendimento do ramo que compreende a agricultura, silvicultura, pecuária, extração
vegetal, pesca e piscicultura e os empregados temporários nos serviços auxiliares deste
ramo) investigou-se o número de pessoas ocupadas, no mês de referência, no
empreendimento.
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Horas Habitualmente Trabalhadas por Semana
Pesquisou-se o número de horas habitualmente traba1hadas por semana no
traba1ho principal, no secundário e nos demais traba1hos que a pessoa tinha na semana de
referência.
Tempo de Permanência no Trabalho
Investigou-se o tempo decorrido desde o ingresso no traba1ho principal da
semana de referência até a data de referência.
Rendimento Mensal de Trabalho
Considerou-se como rendimento mensal de trabalho:
a) Para os empregados- A remuneração bruta mensal a que normalmente teriam
direito ou, quando o rendimento era variável, a remuneração média mensal,
referente ao mês de setembro de 1992; e
b) Para os empregadores e conta própria - A retirada mensal ou, quando o
rendimento era variável, a retirada média mensal, referente ao mês de setembro de
1992.
Pesquisou-se o valor do rendimento em dinheiro e em produtos ou
mercadorias, provenientes do traba1ho principal, do traba1ho secundário e dos demais
traba1hos que a pessoa tinha na semana de referência, não sendo pesquisado o valor da
produção para consumo próprio.
As pessoas que recebiam apenas alimentação, roupas, medicamentos, etc.
(beneficios), à guisa de rendimento de traba1ho, foram incluídas no grupo "sem rendimento".
49
PARTE 10 - ECONOMIA INFORMAL URBANA
1 - Aspectos Gerais
A Pesquisa de Economia Informal Urbana foi planejada com a finalidade de
produzir informações para o estudo e planejamento do desenvolvimento sócio-econômico
do país.
Seus principais objetivos são:
- identificar as atividades econômicas desenvolvidas em unidades
produtivas, que deixam de ser captadas ou o são apenas
parcialmente pelas fontes estatísticas disponíveis;
- dimensionar o peso real destas atividades em termos da geração de
oportunidades de trabalho e rendimento;
- ampliar a base de informações necessárias para o Sistema
Consolidado das Contas Nacionais; e
- subsidiar os estudos sobre condições de trabalho e remuneração, em
particular, aqueles relacionados às situações de pobreza urbana no
país.
A pesquisa sobre Economia Informal Urbana é uma pesquisa por amostragem
de domicílios situados em áreas urbanas, onde se busca identificar os trabalhadores por
conta própria e empregadores com até 5 empregados em pelo menos uma situação de
trabalho. Estes indivíduos, proprietários de unidade econômicas pertencentes ao âmbito de
economia informal, deverão prestar informações detalhadas sobre as caracteristicas de
organização e funcionamento de seus empreendimentos.
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As entrevistas são realizadas nos domicílios sendo que considera-se de
fundamental importância que o informante, para características das unidades produtivas, seja
seu proprietário. Procura-se combinar, no corpo do questionário, perguntas referentes não
apenas ao indivíduo, mas também à firma ou ao negócio que opera, reconhecendo a
existência, na prática, de empresas individuais e fami1iares e rompendo, com isso, a rigidez,
por que artificial, de barreiras entre pesquisas domiciliares e pesquisas de estabelecimento.
II - Aspectos Metodológicos
1 - Desenho da Amostra
A pesquisa da Economia Informal Urbana é realizada utilizando uma amostra
probabilística de domicílios, selecionados em dois estágios. No primeiro, são selecionados as
unidades primárias - os setores urbanos e, então, as unidades secundárias - os domicílios
particulares e unidades de habitação em domicílios coletivos.
O primeiro passo do processo de seleção da amostra consistiu na
estratificação dos setores urbanos em três grupos: alta, média e baixa renda. Dentro de cada
estrato, os setores foram selecionados com probabilidade proporcional ao total de unidades
domiciliares ocupadas na época do Censo Demográfico de 1991.
Nos setores selecionados foi realizada a operação de listagem que visava
identificar as unidades domiciliares que faziam parte do universo da pesquisa, isto é, aquelas
que tinham moradores ocupados como conta própria ou empregadores com até 5
empregados. Além disso, os domicílios de interesse da pesquisa foram classificados segundo
o grupo ou estrato de atividade a que pertenciam.
2 - Período de Referência
• Mês de Referência
• Período de Referência de 3 meses
• Período de Referência de 12 meses
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• Período de Referência de 5 anos
3 - Principais Conceitos e Definições
Para a finalidade da pesqwsa, considera-se como trabalho em atividade
econômica o exercício de:
a) ocupação remunerada em dinheiro, produtos, mercadorias ou benefícios
(moradia, alimentação, roupas, etc.) na produção de bens ou serviços;
b) ocupação remunerada em dinheiro ou benefícios (moradia, alimentação,
roupas, etc.) no serviço doméstico;
c) ocupação sem remuneração na produção de bens e serviços, desenvolvida
durante pelo menos uma hora na semana.
No conceito de trabalho caracterizam-se as condições de:
• trabalho remunerado (a e b ); e
• trabalho sem remuneração ( c ).
Os conceitos de ocupação e posição na ocupação são iguais ao da Pesquisa
Mensal de Emprego e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio.
52