setor incompreendido

2
12 TI INSIDE |NOVEMBRO DE 2008 > gestão uma concorrência. Por exemplo, no caso de telefonia, o parceiro ideal deveria ter alguns satélites móveis disponíveis e temporários para nos atender quando necessário”, afirma. Pioneiras Ambas as empresas podem ser consideradas cases importantes na adoção de novas soluções em TIC em seu segmento. “Para nós uma grande obra é, por exemplo, uma hidroelétrica. Nesse tipo de empreendimento há uma mobilização de pessoas muito grande, normalmente em lugares ermos. Por isso montamos uma infra-estrutura de TI como se fosse um escritório em uma cidade grande”, explica Maurílio Figueiredo. O executivo também esclarece que normalmente essas obras são ligadas à sede da empresa, em São Paulo, através de um link de dados dedicado, que faz a comunicação com os aplicativos de gestão e comunicação da Camargo Corrêa. Em relação à telefonia, a empresa já usa Voz sobre IP há quase sete anos. Apesar de preferir não divulgar o fornecedor, Figueiredo conta que a empresa usa um hardware de terceiros que foi adquirido e instalado internamente. “Atualmente estamos iniciando um processo com uma empresa do mercado para usar VoIP em Angola, na África, para atender a um segmento de nossas necessidades”, diz. A tecnologia da informação e da comunicação (TIC) já se embrenhou em praticamente todos os setores da economia. No entanto, existem algumas fronteiras que demoraram mais a ser desbravadas, e que apenas num passado recente começaram a ter suas necessidades específicas supridas. No Brasil, o setor de construção civil, principalmente o que envolve grandes obras, é um exemplo disso. O grande motivo, ao que parece, é uma falta de entendimento entre os fornecedores e as empresas que atuam no segmento. Se por um lado fabricantes e integradores pensam que os players ainda têm uma visão um pouco antiquada em relação à adoção de novas tecnologias, os responsáveis pelas áreas de TI das empresas de construção civil queixam-se da falta de entendimento dos fornecedores em relação às peculiaridades de seus negócios. “Estou neste segmento há 12 anos e não conheço nenhuma empresa que tenha conhecimento do setor. É um ramo muito específico, diferente de fábricas, por exemplo, que têm um grande período de fixação no mesmo local. Nosso custo de investimento é muito elevado comparado ao retorno e às vezes as empresas fornecedoras não conseguem captar bem isso”, comenta Maurílio Figueiredo, coordenador da área de sistemas de gestão da Camargo Corrêa Engenharia e Construção. A mesma opinião é compartilhada por João Cumerlato, diretor de tecnologia e infra-estrutura da Odebrecht. “Alguns fornecedores demoram a entender que uma construção é diferente de uma indústria, que está sempre no mesmo lugar. Uma obra tem início, meio e fim”. O executivo se queixa também da demora na mobilização de soluções. “Tem uma série de coisas que precisam ser mobilizadas rápido quando vencemos FOTO: DIVULGAÇÃO “Existe uma quantidade enorme de projetos de infra-estrutura e construção industrial previstos para o Brasil nos próximos anos. A pergunta que surge é: quais são as soluções de TI adequadas para suportar a implantação de projetos dessa natureza?” RODRIGO PARREIRA, DA PROMON LOGICALIS O segmento de Construção Civil é visto pelos fornecedores de TI como difícil na adoção de novas tecnologias. Do outro lado, players do segmento se queixam da falta de soluções que atendam às necessidades de seus negócios CAROLINA CHEMIN Setor incompreendido

Upload: promonlogicalis

Post on 07-Mar-2016

214 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

O segmento de construção civil é visto pelos fornecedores de TIC como difícil na adoção de novas tecnologias. Do outro lado, players do segmento se queixam da falta de soluções que atendam às necessidades de seus negócios.

TRANSCRIPT

Page 1: Setor incompreendido

1 2 T I I n s I d e | n o v e m b r o d e 2 0 0 8

>gestão

uma concorrência. Por exemplo, no caso de telefonia, o parceiro ideal deveria ter alguns satélites móveis disponíveis e temporários para nos atender quando necessário”, afirma.

PioneirasAmbas as empresas podem ser

consideradas cases importantes na adoção de novas soluções em TIC em seu segmento. “Para nós uma grande obra é, por exemplo, uma hidroelétrica. Nesse tipo de empreendimento há uma mobilização de pessoas muito grande, normalmente em lugares ermos. Por isso montamos uma infra-estrutura de TI como se fosse um escritório em uma cidade grande”, explica Maurílio Figueiredo. O executivo também esclarece que normalmente essas obras são ligadas à sede da empresa, em São Paulo, através de um link de dados dedicado, que faz a comunicação com os aplicativos de gestão e comunicação da Camargo Corrêa.

Em relação à telefonia, a empresa já usa Voz sobre IP há quase sete anos. Apesar de preferir não divulgar o fornecedor, Figueiredo conta que a empresa usa um hardware de terceiros que foi adquirido e instalado internamente. “Atualmente estamos iniciando um processo com uma empresa do mercado para usar VoIP em Angola, na África, para atender a um segmento de nossas necessidades”, diz.

A tecnologia da informação e da comunicação (TIC) já se embrenhou em praticamente todos os setores da economia. No entanto, existem algumas fronteiras

que demoraram mais a ser desbravadas, e que apenas num passado recente começaram a ter suas necessidades específicas supridas. No Brasil, o setor de construção civil, principalmente o que envolve grandes obras, é um exemplo disso. O grande motivo, ao que parece, é uma falta de entendimento entre os fornecedores e as empresas que atuam no segmento. Se por um lado fabricantes e integradores pensam que os players ainda têm uma visão um pouco antiquada em relação à adoção de novas tecnologias, os responsáveis pelas áreas de TI das empresas de construção civil queixam-se da falta de entendimento dos fornecedores em relação às peculiaridades de seus negócios.

“Estou neste segmento há 12 anos e não conheço nenhuma empresa que tenha conhecimento do setor. É um ramo muito específico, diferente de fábricas, por exemplo, que têm um grande período de fixação no mesmo local. Nosso custo de investimento é muito elevado comparado ao retorno e às vezes as empresas fornecedoras não conseguem captar bem isso”, comenta Maurílio Figueiredo, coordenador da área de

sistemas de gestão da Camargo Corrêa Engenharia e Construção.

A mesma opinião é compartilhada por João Cumerlato, diretor de tecnologia e infra-estrutura da Odebrecht. “Alguns fornecedores demoram a entender que uma construção é diferente de uma indústria, que está sempre no mesmo lugar. Uma obra tem início, meio e fim”. O executivo se queixa também da demora na mobilização de soluções. “Tem uma série de coisas que precisam ser mobilizadas rápido quando vencemos

FOTO

: dIV

Ulg

ãO“existe uma

quantidade enorme de projetos de

infra-estrutura e construção

industrial previstos para o brasil nos próximos anos. A

pergunta que surge é: quais são as soluções de TI

adequadas para suportar a

implantação de projetos dessa

natureza?” RodRigo PaRReiRa,

da PRomon LogicaLis

o segmento de Construção Civil é visto pelos fornecedores de TI como difícil na adoção de novas tecnologias. do outro lado, players do segmento se queixam da falta de soluções que atendam às necessidades de seus negócios

caRoLina chemin

setor incompreendido

re07609j
Retângulo
re07609j
Retângulo
Page 2: Setor incompreendido

n o v e m b r o d e 2 0 0 8 | T I I n s I d e 1 3

Recentemente a empresa também deu início ao uso da telefonia sobre IP. “Começamos para reduzir o custo de implantação de infra-estrutura e para flexibilizar a mobilidade de nossos profissionais. Já estamos usando essa tecnologia em duas obras de grande porte: uma refinaria, com 300 usuários, e uma hidroelétrica, com 600”, afirma.

Alô com imagemA videoconferência também não é

novidade: já é usada há cerca de oito anos nas principais obras da Camargo Corrêa. Há também o uso do vídeo em streaming, em tempo real - uma TV pela Intranet da empresa onde são veiculados treinamentos, apresentações e comunicados. A companhia usa ainda Wi-Fi para atender ao âmbito interno das obras. “Mas para interligar grandes pontos usamos muita radiofreqüência, principalmente em locais onde o celular não funciona”, comenta Figueiredo

Para manter toda essa tecnologia funcionando nas obras, a Camargo Corrêa costuma alocar equipes de suporte, que podem chegar a até sete pessoas. Questionado sobre o impacto de falhas nestes sistemas, o executivo explica que o SlA (service level agreement) é diferente. “Ao contrário de uma fábrica, uma construção não depende dos sistemas para funcionar. É lógico que não posso ficar dois ou três dias sem comunicação em uma localidade, mas o SlA é mais baixo”.

Já na Odebrecht, João Cumerlato explica que a comunicação das obras com o mundo exterior varia dependendo do que estiver disponível em cada localidade, indo de satélites a rádio. “Em cima disso passa o canal de telefonia e o link que roda nossos sistemas do data center brasileiro”, explica. A companhia também é uma referência na adoção de telefonia IP. Utiliza o sistema desde 2002 e reúne mais de “cinco mil telefones IP espalhados por nossas obras”. Usuária do sistema de telefonia IP da Cisco desde o ano passado, a Odebrecht tem a solução como padrão em qualquer de suas obras.

O sucesso foi tão grande que atualmente a empresa se encontra em fase de testes do Unified Personal Communicator da Cisco, sistema de comunicações unificadas que permite acesso fácil a voz, vídeo, instant messaging/chat, web confere e voicemail através do notebook/desktop. “Somos uma organização de pessoas que necessitam se comunicar com rapidez e

eficiência. Por isto, estamos olhando tecnologias de convergência para aumentar os benefícios do uso da rede IP. Estamos testando o consumo de banda dos links e o impacto que esta tecnologia causará em nossa rede. A idéia é tornar disponível no segundo semestre de 2009”, revela Cumerlato.

VideomonitoramentoA Odebrecht também faz uso de

câmeras IP em algumas obras para que os clientes acompanhem a evolução. É o caso da PRA-1, plataforma de bombeamento de petróleo da Petrobrás que contou com monitoramento em tempo real.

Em termos de sistemas, a Odebrecht trabalha com um sofisticado software de colaboração da CTSpace para a parte de projetos. A solução permite que engenheiros localizados em países diferentes trabalhem uma planta simultaneamente e em tempo real. Já o sistema corporativo, que havia sido desenvolvido internamente, agora está sendo substituído pelo Oracle para o backoffice, processo que deve ser concluído em abril do ano que vem.

“Com a entrada do Oracle passamos a terceirizar muita coisa. Nosso data center fica no Rio de Janeiro. Nosso fornecedor faz as atualizações, mas daí em diante é tudo com a gente. Recentemente lançamos uma RFP (request for proposal) para que ele assuma tudo, desde a administração dos servidores até o monitoramento da nossa rede, que conta com quase 200 links mundo afora”, revela João Cumerlato.

Assim como Figueiredo, o diretor da Odebrecht também acredita em um SlA mais baixo para as soluções de

tecnologia da informação presentes em uma obra. “Uma falha pode impactar no processo de compras, mas não é o caos, a obra não para”.

Solução sob medidaApesar da alegada “falta de

compreensão” em relação ao mercado, diversas empresas já se mobilizam para suprir as necessidades do setor. É o caso da Promon logicalis, que em parceria com a Cisco desenvolveu o que foi provisoriamente chamado Kit Obra. “Existe uma quantidade enorme de projetos de infra-estrutura e construção industrial previstos para o Brasil nos próximos anos. A pergunta que surge é: quais são as soluções de TI adequadas para suportar a implantação de projetos dessa natureza?”, questiona Rodrigo Parreira, diretor-executivo da Promon logicalis.

Em função disso, a integradora buscou os conhecimentos de sua empresa-mãe, a Promon Engenharia, para chegar a um modelo de solução que fizesse sentido para o setor. O pacote oferecido é composto por duas camadas, uma de serviços básicos (servidores, conectividade, estações de trabalho, lAN) e uma série de elementos adicionais, como comunicações unificadas, vigilância IP, Wi-Fi e RFId. “O interessante é que a infra-estrutura básica é 100% IP, desenhada para sustentar todas as aplicações que o cliente queira”, revela o executivo.

Para garantir toda a integridade do sistema, a Promon logicalis montou sua oferta como um serviço gerenciado, fazendo o outsourcing da TI no canteiro. “Nós desenhamos toda a solução, estabelecemos o contrato com nível de serviço, implementamos e operamos”, diz Parreira.

A integradora vem trabalhando com o conceito há seis meses e já está com o primeiro case – uma obra de mais de um bilhão de dólares – em fase de implantação. “Há muitas empresas interessadas não só no Brasil, mas em outros países da América latina também”, conta o diretor.

A Cisco, cuja iniciativa de “construção conectada” teve início há cerca de um ano, também tem boas perspectivas em relação ao setor. “É um processo de venda complexo, mas está indo bem. A visão dos responsáveis pela TI neste mundo é difícil, por isso precisamos mudar a cabeça desse segmento e a forma como eles trabalham. Eles precisam ver claramente o valor capturado”, comenta Rodrigo Uchoa, responsável pela área de Novos Negócios da Cisco do Brasil.

“A visão dos responsáveis pela TI neste mundo é difícil, por isso precisamos mudar a cabeça desse segmento e a forma como eles trabalham”RodRigo Uchoa, da cisco do BRasiL

re07609j
Retângulo
re07609j
Retângulo