simeone aula ufpr comunicação e mobilização social mar 2012

Márcio Simeone – [email protected]

Comunicação e Mobilização Social


Márcio Simeone HenriquesUniversidade Federal de Minas Gerais

Programa de Pós-Graduação de Comunicação

UFPRMarço de 2012





Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social

UFPRMarço de 2012



I Mobilização Social como processo comunicativo: fundamentos



Mobilizar (v.) - Movimentar(-se), mover(-se), pôr(-se) em ação; movimentar-se para

deflagrar uma ação

+Arregimentar, sensibilizar ou comover;

conclamar, chamar à ação (pessoas, grupos, instituições etc.)

(Dicionário Aulete)

Luta + arregimentação de recursos + convocação para ação

1) Sentidos aplicados à mobilização social



Amplitude dos processos de mobilização social

• movimentos em massa;• projetos de ação voluntária;• organizações não-governamentais e entidades do

chamado Terceiro Setor;• militância partidária;• organização popular e comunitária;• trabalho cooperativo;• fóruns de participação institucionalizada em temas

públicos, como conselhos, comitês etc.;• projetos de ação social, incluindo os de

responsabilidade social nos quais empresas buscam atuar junto aos públicos denominados “comunidades”.

(HENRIQUES, 2010)

AÇÃO COLETIVA EM DIVERSOS NÍVEIS DE FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO



A mobilização não significa levar multidões às ruas. A mobilização existe quando todo um conjunto de reeditores, em seu trabalho cotidiano, está tomando decisões, desenvolvendo discursos e atuando em função de um imaginário”

Amplitude dos processos de mobilização social

Bernardo Toro



2) A mobilização social no processo político

Foco no confronto social:• DISTÚRBIOS, SUBVERSÃO DA ORDEM

PÚBLICA“Multidão de descontentes”

(TILLY, 1978)

MOVIMENTOS – CICLOS - REVOLUÇÕES• Recrutamento de ativistas – escolha

racional (escolhas estratégicas dos atores em termos de oportunidades e restrições)

(TILLY; TARROW; McADAM, 2009)



A mobilização como um dos cinco componentes da ação coletiva:

• Interesse - ganhos e perdas resultantes da interação de grupos com outros grupos

• Organização - aspectos estruturais dos grupos que afetam diretamente sua capacidade de agir pelos seus interesses

• Mobilização – processo pelo qual um grupo adquire controle coletivo sobre os recursos necessários para a ação (força de trabalho, bens, armas, votos etc., que podem ser postos em ação por interesses compartilhados) – forma como os grupos adquirem recursos e os põem à disposição para a ação coletiva

• Oportunidade – relação entre o(s) grupo(s) e o ambiente. Mudanças no ambiente provêem chances para agir em prol de certos interesses

• Ação Coletiva – a ação em si mesma – pessoas agindo juntas por um interesse comum. Resulta da combinação dos outros componentes.

(TILLY, 1978)



A mobilização social como performance:

• Os movimentos sociais não são simples agregados de identidades e interesses; também combinam as reivindicações coletivas às autoridades com demonstrações de que a população é merecedora, unificada, numerosa e comprometida.

• Ações públicas –performances – que os movimentos apresentam,

• tanto para marcar suas demandas às autoridades como para criar e manter seus adeptos.

(TILLY; TARROW; McADAM, 2009:35)



Os movimentos sociais como conjunto de opiniões e como formas de manifestação

massiva:

• Fenômeno de opinião de massa lesada, mobilizada contra as autoridades:

Um movimento social é uma espécie de campanha, em vários aspectos paralelo a uma campanha eleitoral. Este tipo de campanha, no entanto, demanda a correção de um mal, na maioria das vezes um problema sofrido por uma população bem especificada. (...) Movimentos sociais envolvem reivindicações coletivas dirigidas às autoridades, por meio de repetidas demonstrações públicas de dignidade (legitimidade), coesão, volume (quantidade) e compromisso. Um movimento social consiste em um desafio contínuo aos que tomam decisão em nome da população que vive sob sua a jurisdição.

(TILLY, 1998: 467-469)



Os movimentos sociais como conjunto de opiniões e como formas de manifestação

massiva:

Estruturas de preferências compartilhadas direcionadas para a mudança social; conjunto de opiniões e crenças que representam as preferências de uma população para mudança de alguns elementos da estrutura social ou da distribuição de recompensas (ou ambos).

(McCARTHY; ZALD, 1977:153)



Estruturas e formas organizativas:

Movimentos - formas de opinião de massa

≠Organizações de protesto - formas de

organizações sociais

≠Eventos de protesto - formas de ação

(TARROW, 1983 apud MELUCCI, 1989)



Os movimentos contemporâneos como arranjos coletivos

policêntricos:• As mobilizações populares não mais se baseiam num

modelo de sociedade total ou na cristalização, em termos de equivalência de um único conflito que divida a totalidade do social em dois campos, mas numa pluralidade de exigências concretas, conduzindo a uma proliferação de espaços políticos (LACLAU, 1985:41)

• Os movimentos atuais não possuem mais a noção original de uma entidade homogênea que age contra o sistema político e governamental: a visão original que vê nos movimentos uma certa unidade exterior não é adequada para descrever a realidade dessas formas difusas e reticulares de ação coletiva, agora composta de fenômenos fragmentados e heterogêneos: “Os movimentos contemporâneos assumem a forma de redes de solidariedade. (...) São sistemas de ação, redes complexas entre diferentes níveis e significados da ação social” (MELUCCI, 1996:4).



Os movimentos contemporâneos como arranjos coletivos

policêntricos:

Movimentos sociais são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de: conflitos, litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum. Esta identidade decorre da força do princípio de solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo.

(GOHN, 1995)



Mudanças na cultura política e emergência de novos sujeitos sociais

coletivos:

• Amplia-se o leque do exercício da cidadania, com a incorporação de novos contingentes até então excluídos da participação e da vida política;

• Movimentos cidadãos pluralísticos e policêntricos emergem no cenário urbano e ampliam a sua representatividade social, ao mobilizar maiores parcelas da população;

• A pluralidade de formas associativas tem produzido novas alianças;

• As propostas transformadoras dos movimentos passaram a combinar uma complexa gama de atividades;

• Uma atuação fragmentada dos diversos movimentos tem sido substituída por uma ação em redes de solidariedade.

(HENRIQUES, 2007)



Formas de colaboração social:

Mudanças nas formas de organização e de ação: A mobilização e a luta em rede não recorrem estritamente à disciplina, mas aos valores de abertura, criatividade, comunicação e cooperação auto-organizada, o que pressupõe “construção de novos circuitos de comunicação, novas formas de colaboração social e novos modos de interação”

(HARDT; NEGRI, 2005:118)



3) Os circuitos de comunicação para a mobilização social

Um processo de mobilização social requer o compartilhamento de visões, informações e discursos, o que envolve ações de comunicação em sentido amplo (TORO; WERNECK, 2004) e “é por intermédio do discurso que se veiculam os projetos políticos e as visões de futuro capazes de amalgamar uma pluralidade de indivíduos numa vontade coletiva” (MIGUEL, 2000:65).

• na manutenção de estruturas mobilizadoras horizontais – criação das condições de ação em rede e de coesão entre os atores mobilizados

• no processo de visibilidade da causa, do movimento e seu posicionamento público

VINCULAÇÃO

COLETIVIZAÇÃO



4) Mobilização como problema de relações públicas

Formação e movimentação dos públicos (como agrupamentos dinâmicos):

• Tematização de questões na esfera pública

• Inserção e posicionamento nas controvérsias

• Esforço estratégico para ampliação dos próprios públicos por um processo de geração e manutenção de vínculos



Difusa Organizada

Nível de (auto)organização e institucionalização

Dinâmica de (auto)organização dos públicos:



II Mobilização Social no processo de coletivização



A coletivização é o sentimento e a certeza de que aquilo que eu faço, no meu campo de atuação, está sendo feito por outros, da minha mesma categoria, com os mesmos propósitos e sentidos. É ela que dá estabilidade a um processo de mobilização social. Uma das formas de se alcançar a coletivização é através da circulação de informações, da divulgação do que está acontecendo nas diversas frentes.

TORO; WERNECK, 2004

•Construir imaginários•Identificar e instrumentalizar reeditores•Gerar processos de coletivização, dentro de seus reeditores

TORO, 1996

O processo de coletivização



2) O processo de coletivização

• Construção de causas sociais: passagem do plano individual ao plano coletivo de problematização

• Posicionamento na esfera pública

HENRIQUES , 2010


Comunicação e Mobilização SocialCondições de Coletivização

Problematização individual

Problematização coletiva

Problematização pública

Compartilhamento (comunhão)

Formação do ente coletivo básico (grupalização)

Publicidade

Afirmação pública

Condições de visibilidade

Manifesto

Enunciado

Condições de coesão

Bandeira

Qual a natureza comunicativa da problematização?

A partir de que elementos se problematiza?

Por que meios se dá o compartilhamento no nível da formação grupal?

Como se dá neste nível a formação de um interesse e de uma vontade comuns?

Este processo é exclusivamente racional?

Quais são os elementos que institucionalizam este ente coletivo (agrupamento x grupo)?

Quais são as estratégias de afirmação?

Quais são os dilemas da difusão?

Como a visibilidade afeta as condições de coesão do grupo?

Como se dá a construção simbólica da causa sob a condição de publicidade?

Que tipos de vinculação podem ocorrer dos púbicos com a causa?

O que garante essa vinculação?

Sob que condições se dá a convocação neste nível?








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Manifesto


Bandeira















Ato de enunciação

Pressupõe uma virtual interação para a

proposição do problema

Enunciado








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Manifesto


Bandeira















Realidade percebida

Imediata

ou

Mediada

Enunciado

Mídia

Processos de midiatização








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Manifesto


Bandeira















Realidade percebida

Imediata

ou

Mediada

Enunciado

Mídia


O DEBATE EDITADO

As notícias são construídas pelos agentes da mídia que aplicam quadros interpretativos (frames), colocando a informação em histórias coerentes.

Eles não apenas procuram e encontram acontecimentos, como também são bombardeados por informações divulgadas pelas próprias instituições estabelecidas ou movimentos sociais que esperam que seus enquadramentos sejam considerados na cobertura da mídia.

Story-making

Frame contests

RYAN, 1991

Produtor Editor Reeditor

TORO; WERNECK, 2004



Enunciado

Condições de Coletivização






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Manifesto


Bandeira















Mídias sociais

Relações intersubjetivas

Conversações

Interações diretas, face a face ou por meios técnicos

Circulação de informações

Troca de opiniões e razões: intercâmbio discursivo:

reformatação do problema no nível coletivo (processo

deliberativo) ?








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Manifesto


Bandeira















Realidade percebida

Imediata

ou

Mediada

Enunciado

Mídia


A CONVERSAÇÃO

Penetração nas redes de sociabilidade cotidiana

Circuitos de conversação

GAMSON, 2011

As pessoas comuns negociam sentido sobre as mensagens dos media em relação a temas de interesse público – apropriação do conteúdo midiático pelos cidadãos se dá pelas diferentes redes de conversação informal – interações e diálogos cotidianos. Essa conversação forma enquadramentos de ação coletiva (formas de consciência política que conduzem ao ativismo)

CONVERSAÇÃO – “pequena fonte invisível que escoa em todo o tempo e em todo lugar com um fluxo desigual”.

TARDE, 1901

“As pessoas, ao conversar e trocar pontos de vista umas com as outras, podem melhorar formas de pensar e de interpretar questões políticas que afetam diretamente suas vidas, e, ainda, aperfeiçoar os modos de formular verbalmente questões tidas como relevantes. Esse é o primeiro passo para a tematização e a negociação pública de interesses”.

MAIA; MARQUES, 2008



Enunciado







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Manifesto


Bandeira















Construção de sentido

Formulação de apelos

A quem o problema afeta direta ou indiretamente e por quais razões

Embate de interesses no nível intersubjetivo

Vontade – orientada aos objetivos de ação que emergem da

problematização

Condições:

Concretude

Caráter público (do que convém a todos)

Viabilidade

Sentido amplo

Quem tem interesse? Quem representa os

interesses?

Vontade de quê? Qual a motivação?



Enunciado







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Manifesto


Bandeira















Sentimentos

Conhecimentos Responsabilidades

Valores

Necessidades

Dilemas moraisImaginário convocante

ImplicaçãoRazão instrumental

Tensão permanente entre as dimensões

ética, técnica e estética



Enunciado







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Identificação

Afirmação simbólica da constituição grupal em função de um projeto


Para o grupo


BandeiraPara além do grupo

Manifesto


Identidade de projeto



Enunciado







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Manifesto


Bandeira















Estratégias para entrada nos espaços de visibilidade

Demonstração de coesão (afirmação do coletivo)

Construção argumentativa da causa (afirmação da causa como legítima)

Ativismo (afirmação dos atores e do modus operandi)

Espetáculo

Festa

Mídia

Visibilidade mediada

Argumentação



Enunciado







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Manifesto


Bandeira















Visibilidade como recurso escasso

Gramática especializada da mídia

Os riscos da hipervisibilidade

Falta de coesão do coletivo que afirma e sustenta a causa

Dilemas éticos e morais na apresentação pública da

causa



Enunciado







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Manifesto


Bandeira















Aceitabilidade: reações dos públicos podem causar obstáculos à ação coletiva, marginalização;

Reproblematização: reações dos públicos podem trazer elementos novos ou não cogitados para a formulação do

problema

Liderança: membros do coletivo podem se destacar como liderança publicamente reconhecida;

Prioridade e unidade das ações: as ações estratégicas de visibilidade podem se sobrepor a outras ações importantes

do coletivo

A coesão do grupo mobilizado é sempre

instável

? Quanto maior a

visibilidade, maior risco à coesão



Enunciado







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Manifesto


Bandeira















Fatores de identificação

Construção da “bandeira”: a bandeira é a causa

Estratégias de promoção simbólica sempre estão

presentes

Inserção num repertório cultural específico



Enunciado







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Manifesto


Bandeira















Beneficiados

Legitimadores

Geradores

Opositores

Mapa dos públicos

- Da causa

- Do projeto



Enunciado







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Manifesto
















Nível de coesão e de corresponsabilidade dos

geradores

Estratégias de coletivização

Estratégias de identificação simbólica

Unidade e coerência das ações

Bandeira

Permanência da causa na agenda pública

Estratégias dos opositores

Visibilidade dos resultados da mobilização



Enunciado







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Manifesto


Bandeira















ConcretudeCaráter público

ViabilidadeSentido amplo

Mídia

Redes de sociabilidade

+





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