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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE GEOGRAFIA
SIMONE SOARES DE ARAGÃO
VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO PAULO, EM CANDEIAS E SÃO FRANCISCO DO CONDE - BAHIA
Salvador 2017
SIMONE SOARES DE ARAGÃO
VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO PAULO, EM CANDEIAS E SÃO FRANCISCO DO CONDE - BAHIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Geografia da Universidade Federal da Bahia – UFBA, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Antonio Puentes Torres
Salvador 2017
SIMONE SOARES DE ARAGÃO
VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO PAULO, EM CANDEIAS E SÃO FRANCISCO DO CONDE-BAHIA
Trabalho de Conclusão de Curso avaliado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geografia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. ( Orientador) Antonio puentes torres ___________________________ Universidade Federal da Bahia – UFBA Profª Dra. Denise Silva Magalhães____________________________________ Universidade Federal da Bahia – UFBA Profª Msc. Fábia Antunes Zaloti________________________________________ Universidade Federal da Bahia – UFBA
Mas é preciso ter manha É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania De ter fé na vida
(Milton Nascimento)
AGRADECIMENTOS
Devo agradecimentos especiais a minha mãe Vanice, por todo carinho, afeto,
atenção, compreensão, por estar ao meu lado sempre.
Agradecimentos aos meus irmãos, Evandro, Edson, Eduardo, Robson e Ivan, por
terem, em várias situações, criado condições para que eu continuasse nessa
empreitada. Em especial a Edivandro, pela valiosa ajuda em todos os trabalhos de
campo feitos para essa pesquisa.
Agradeço a Vinicius Cardoso, meu companheiro, pelo carinho, paciência,
compreensão a mim dedicada e, pela contribuição nos campos.
Ao professor Puentes Torres, pela valiosa orientação e paciência.
Aos meus amigos da Geografia, Sival Ribeiro, Weldon Ribeiro e Rainer Ferreira,
pelo suporte dado em diversas fases dessa pesquisa e pela parceria durante todo o
curso.
Gostaria em particular, de reconhecer a valiosa contribuição de Giovani Damico,
pelo seu importante apoio no campo feito para a classificação dos solos da área de
estudo.
Ao amigo Jocevaldo Santiago, pelo carinho e atenção, pela sua importante ajuda no
processo de retificação das fotografias aéreas. Muito grata, também, aos moradores
do povoado de Rio do Cunha, especialmente àqueles que responderam aos
questionários.
A todos os Órgãos e Instituições que concederam materiais e informações
importantes para o desenvolvimento dessa pesquisa, principalmente a Companhia
de Desenvolvimento Urbano (CONDER) e o Instituto de Geografia e Estatística
(IBGE).
A todos os professores que contribuíram para que eu pudesse chegar até aqui.
RESUMO
Esta pesquisa tem como área de estudo a bacia hidrográfica do rio São Paulo,
situada a norte da A baía de Todos-os-Santos, compreendendo os municípios de
Candeias e São Francisco do Conde na Bahia. Ao longo dos anos, a bacia
hidrográfica do Rio São Paulo passou por consideráveis transformações de ordem
econômica e ambiental, como consequência do processo do crescimento
populacional e adequação ao sistema econômico. O presente estudo tem como
principal objetivo analisar a Vulnerabilidade Socioambiental dessa bacia,
entendendo as inter-relações existentes entre vulnerabilidade social e exposição aos
riscos naturais, tendo como elemento norteador a hipótese de que as problemáticas
existentes na área de estudo poderiam ser minimizadas, se o planejamento
concernente ao uso e a ocupação do solo fossem realizados com base em estudos
mais detalhados e integrados. Os métodos adotados por essa pesquisa para a
determinação da Vulnerabilidade Ambiental e para a obtenção do Índice de
Vulnerabilidade Social foram considerados satisfatórios, por mostrarem resultados
condizentes à área estudada e aos objetivos propostos. Demonstrando com isso,
que as áreas de Vulnerabilidade Muito Alta, ocorrem em 9% da área de estudo, em
sua maioria, correspondem aos locais onde convergem problemáticas de ambientes
naturalmente frágeis e comunidades socialmente desfavorecidas. As áreas de maior
destaque foram as de Vulnerabilidade Média e Alta, correspondendo
respectivamente a 39% e 37% da bacia. As áreas de menor densidade de domicílios
e cobertura de solo preservada, foram classificadas como de Vulnerabilidade Baixa,
representando 15% da área de estudo.
Palavras-chave: Vulnerabilidade Socioambiental, Impactos ambientais, bacia
hidrográfica do rio São Paulo.
ABSTRACT
This study has as its study area the São Paulo river basin, located north of the Baía
de Todos-os-Santos, comprising the municipalities of Candeias and São Francisco
do Conde in Bahia. Over the years, the São Paulo river basin has undergone
considerable economic and environmental transformations, as a consequence of the
process of population growth and adaptation to the economic system. The main
objective of this study is to analyze the Socio-Environmental Vulnerability of this
basin, including the interrelations between social vulnerability and exposure to
natural hazards, with the hypothesis that the problems in the study area could be
minimized, if the Land use and occupation were based on more detailed and
integrated studies. The methods adopted by this research to determine the
Environmental Vulnerability and to obtain the Social Synthesis Index were
considered satisfactory, since they showed results consistent with the studied area
and the proposed objectives. This demonstrates that areas of very high vulnerability
occur in 9% of the study area, mostly corresponding to the places where problems of
naturally fragile environments and socially disadvantaged communities converge.
The most important areas were Medium and High Vulnerability, corresponding
respectively to 39% and 37% of the basin. The areas of lower density of homes and
preserved soil cover were classified as Low Vulnerability, representing 15% of the
study area.
Key-words: Environmental Vulnerability, Environmental Impacts, São Paulo river
basin.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Procedimentos metodológicos de pesquisa.............................................. 15 Figura 2
Campo para aplicação dos questionários (a); campo para caracterização ambiental da área (b)........................................................ 19
Figura 3 Área escolhida para a aplicação dos questionários.................................. 20 Figura 4 Sobreposição da malha dos setores censitários a ortofoto....................... 23 Figura 5
Classificação dos setores censitários para a determinação da Vulnerabilidade Social na bacia hidrográfica do rio São Paulo................. 24
Figura 6 Localização da Bacia hidrográfica do rio São Paulo, 2017....................... 27 Figura 7 Geologia da bacia hidrográfica do rio São Paulo, 2017............................ 29 Figura 8 Classes de solos da bacia hidrográfica do rio São Paulo, 2017................ 30 Figura 9 Declividade da bacia hidrográfica do rio São Paulo, 2017....................... 31 Figura 10
Modelo Digital do Terreno da bacia hidrográfica do rio São Paulo, 2017........................................................................................................... 32
Figura 11 Perfil de Vertissolo em terrenos pertencente ao Grupo Ilha...................... 33 Figura 12
Pés de Pinus inclinados devido às características expansivas dos terrenos com predominância de Vertissolos do Grupo Ilhas..................... 34
Figura 13
Terreno com predominância de Argissolo, relacionado ao Grupo Barreiras.................................................................................................... 35
Figura 14
Perfil de Argissolo em áreas da Formação São Sebastião (a); Perfil de Argissolo em terrenos do Grupo Barreiras (b)........................................... 35
Figura 15 Gleissolo em áreas de vegetação de mangue.......................................... 36 Figura 16
Relevo da bacia hidrográfica do rio São Paulo: Terreno aplainado pertencente ao Grupo Ilha (a); morros baixos pertencente a Formação São Sebastião (b); Colinas dissecadas do Grupo Barreiras (c)............................................................................................................... 37
Figura 17 Área de pastagem na bacia hidrográfica do rio São Paulo....................... 39 Figura 18
Área ocupada por Pastagem no ano de 1976 (a), mesma área, no ano de 2010, com predomínio de mata secundária (b).................................... 39
Figura 19 Área desmatada no ano de 1976 (a); mesma área, no ano de 2010, com Mata Secundária (b)..........................................................................
40
Figura 20 Área com predomínio de Mata Secundária............................................... 40 Figura 21
Cobertura vegetal da bacia: perspectiva vertical das áreas de Reflorestamento por Pinus (a); Visão horizontal das áreas de reflorestamento (b)................................................................................ 41
Figura 22
Área com desenvolvimento de vegetação de mangue no ano de 1976 (a); Mesma área no ano de 2010, com a vegetação de mangue com sinais de expansão (b)........................................................................... 42
Figura 23
Perspectiva vertical de área agrícola (a); Área de cultivo de subsistência (b)...................................................................................... 43
Figura 24
Área de Solo Exposto no ano de 1976 (a); mesma área, com o processo de erosão intensificado, no ano de 2010 (b), Visão horizontal de uma área de solo exposto (c).......................................... 43
Figura 25
Indústrias localizadas na bacia hidrográfica do rio São Paulo e no seu entorno, 2017............................................................................................. 45
Figura 26
Cidade de Candeias no ano de 1976 (a); Cidade de Candeias no ano de 2010...................................................................................................... 46
Figura 27
Povoado do Rio do Cunha, no ano de 1976 (a); povoado do rio do Cunha, no ano de 2010 (b)........................................................................ 47
Figura 28
Uso e Cobertura da Terra da bacia hidrográfica do rio São Paulo, 1976........................................................................................................... 48
Figura 29
Uso e Cobertura da terra na bacia hidrográfica do Rio São Paulo, 2010........................................................................................................... 49
Figura 30
População residente nos municípios de Candeias e São Francisco do Conde no período de 1970 - 2010............................................................
50
Figura 31 Disposição do esgotamento sanitário........................................................
52
Figura 32
Problemas ambientais identificados na bacia do rio São Paulo................
53
Figura 33
Grau de Instrução dos entrevistados da pesquisa....................................
53
Figura 34
- Ocupação dos entrevistados da pesquisa.............................................. 54 Figura 35 Índice de Vulnerabilidade Social por setor censitário na bacia
hidrográfica do rio São Paulo, 2017.......................................................... 59
Figura 36 Esgoto lançado diretamente no manguezal do estuário da BHRS
(a,b)............................................................................................................ 59 Figura 37
Áreas de grande extensão de solo exposto na cidade de Candeias (a); área 1 da figura aproximada (b); área 2 da figura aproximada (c).........
60
Figura 38
Ocupação em área de declividade alta na cidade de Candeias (a, b, c, d)................................................................................................................ 61
Figura 39
Construção em área de manguezal próxima à zona estuarina do rio São Paulo (a, b); disposição de lixo em áreas ocupadas por vegetação de mangue (c, d)............................................................................................. 62
Figura 40
Vulnerabilidade Ambiental da bacia hidrográfica do rio São Paulo, 2017.......................................................................................................... 63
Figura 41
Vulnerabilidade Socioambiental da Bacia hidrográfica do Rio São Paulo, 2017........................................................................................................... 67
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Coordenadas dos pontos de amostragem, classes de solos e unidades
geológicas................................................................................................ 17 Tabela 2 Classes de declividades propostas por Ross (1994)............................. 18 Tabela 3
Valores de Vulnerabilidade ambiental na bacia do rio São Paulo, em Candeias e são Francisco do Conde - Ba............................................... 25
Tabela 4 Uso e Cobertura da Terra na bacia hidrográfica rio São Paulo nos anos de 1976 e 2010............................................................................... 38
Tabela 5
População residente na bacia hidrográfica do rio São Paulo, 2010........ 51
Tabela 6 Indicadores de saneamento na bacia hidrográfica do rio São Paulo, 2010........................................................................................................ 51
LISTA DE QUADROS Quadro 1 Variáveis para construção do Índice de Vulnerabilidade Social............ 21 Quadro 2
Indústrias inseridas na bacia hidrográfica do rio São Paulo e no seu entorno................................................................................................... 44
Quadro 3
Tensores ambientais na bacia hidrográfica do rio São Paulo............... 57
Quadro 4
Classes de Vulnerabilidade Socioambiental da bacia hidrográfica do rio São Paulo......................................................................................... 66
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8
1.1 OBJETIVOS .......................................................................................................... 9
1.1.2 Geral .................................................................................................................. 9
1.1.3 Específicos ....................................................................................................... 9
2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 10
2.1 ANÁLISE INTEGRADA DA PAISAGEM .............................................................. 10
2.2 VULNERABILIDADE/ FRAGILIDADE AMBIENTAL ............................................ 11
2.3 VULNERABILIDADE SOCIAL ............................................................................. 12
2.4 A BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE PLANEJAMENTO AMBIENTAL .................................................................................................................................. 13
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 15
3.1 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................... 15
3.1.1 Delimitação da Bacia Hidrográfica ............................................................... 16
3.1.2 Classificação dos Tipos de Solos ................................................................. 16
3.1.3 Mapa de Declividade ...................................................................................... 18
3.1.4 Mapas de Uso e Cobertura da Terra ............................................................. 18
3.1.5 Trabalhos de Campo ...................................................................................... 19
3.1.6 Questionário de Percepção Ambiental ......................................................... 20
3.1.7 Determinação da Vulnerabilidade Social ..................................................... 20
3.1.8 Determinação da Vulnerabilidade Ambiental e Socioambiental ................ 24
4 CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA ÁREA DE ESTUDO ................................ 26
4.1 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO ............................................................ 26
4.2 ASPECTOS FÍSICOS.......................................................................................... 28
4.3 ANÁLISE TEMPORAL DO USO E COBERTURA DA TERRA ........................... 37
4.3.1 Pastagem ........................................................................................................ 38
4.3.2 Mata Secundária ............................................................................................. 39
4.3.3 Áreas de Reflorestamento ............................................................................ 40
4.3.4 Áreas de Manguezais ..................................................................................... 41
4.3.5 Áreas Agrícolas .............................................................................................. 42
4.3.6 Solo Exposto .................................................................................................. 43
4.3.7 Áreas Industriais ............................................................................................ 44
4.3.8 Áreas Urbanizadas ......................................................................................... 46
5 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DA BACIA ........................................ 50
6 VULNERABILIDADE AMBIENTAL ....................................................................... 57
6.1 IMPACTOS AMBIENTAIS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO PAULO .. 57
6.1.1 Contaminação da Água .................................................................................. 57
7 VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA BACIA ......................................... 64 8 CONSIDERAÇOES FINAIS .................................................................................. 68
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 70
APÊNDICE A - Delimitação da bacia hidrográfica do rio São Paulo. ........................ 75
APÊNDICE B - Tabulação das variáveis para obtenção do Índice de Vulnerabilidade Social. ....................................................................................................................... 76
APENDICE C – Questionário de Percepção Ambiental ............................................ 77
ANEXO A – Noticia sobre mortandade de peixes, no rio São Paulo no ano de 2009. .................................................................................................................................. 78
8
1 INTRODUÇÃO
A Baía de Todos-os-Santos (BTS) recebe a descarga de uma área de
drenagem correspondente a 61.110 km². Essas descargas são oriundas de três
bacias hidrográficas, associadas aos rios Paraguaçu, Jaguaripe e Subaé, além de
outras 91 pequenas bacias (LESSA et al., 2009). Entre estas, localizada a norte
dessa baía, encontra-se a Bacia do rio São Paulo (BHRS), com 35,9 km² de
extensão, cuja ocupação datada da época do Brasil Colônia é intensificada nos
últimos anos com diversas atividades industriais. A inserção de atividades
econômicas na bacia hidrográfica tais como, a agroindústria canavieira, as indústrias
petrolíferas e os núcleos urbanos sem infraestrutura sanitária adequada,
contribuíram para a supressão da cobertura vegetal e para o assoreamento do leito
de seu rio principal, comprometendo, dessa forma, a qualidade de suas águas.
A cultura da cana-de-açúcar, primeira monocultura de exportação do Brasil e,
as sucessivas instalações de engenhos, aceleraram o processo de desmatamento.
Dessa forma, Brito (2008) afirma que foi se configurando uma segmentação espacial
com base na especialização produtiva, organizada em torno da produção do açúcar,
envolvendo canaviais, engenhos, usinas, áreas de matas para extração da madeira,
para usar como combustível e áreas de cultivo de alimentos e de criação de animais.
A partir de 1950, essas extensas áreas de monocultura perdem espaço,
devido à conjuntura econômica do país, para as atividades petrolíferas. Essas
atividades avançaram sobre as terras da bacia sedimentar do Recôncavo, abrindo
novos campos de exploração de petróleo e gás nos municípios localizados a norte
da BTS, transformando definitivamente a identidade da região e impondo uma nova
organização econômica e social.
Segundo Veiga (2003), o pioneirismo vivido por essa região deixou um grande
passivo ambiental, sentido atualmente nos ecossistemas locais. Na época que se
instalou a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), por exemplo, o componente ambiental
ainda não era considerado como parte integrante da tomada de decisões pelas
empresas, tanto que ao se implantar a refinaria, não se considerou as peculiaridades
do meio ambiente local.
O rio São Paulo foi utilizado no passado como canal de navegação,
principalmente para o escoamento da produção da cana-de-açúcar da região, mas
em função da redução da sua calha pelo processo de assoreamento sofrido,
9
atualmente isso não é mais possível em grande parte do seu curso. Além disso,
diversas indústrias com elevado potencial poluidor estão situadas em sua bacia, e
representam sérios riscos de impactos ambientais ligados à poluição dos corpos
receptores, em função da descarga dos seus efluentes.
Não se tem registro da eficiência do tratamento dos efluentes que são
lançados por muitas dessas indústrias, embora sejam constantes as reclamações de
pescadores e marisqueiras locais. Uma das regiões mais sensíveis, afetadas por
estas descargas são os manguezais da zona estuarina, localizados no povoado do
Rio do Cunha, onde moradores relatam ser muito comum encontrar espécies de
animais cobertas com óleo ou até mortas. Dessa forma, os principais passivos
encontrados nessa bacia é a poluição provocada pelo vazamento de dutos de
transporte de produtos; lançamento de esgotos domésticos sem tratamento nos
corpos hídricos; disposição inadequada de resíduos sólidos e o adensamento de
residências nas áreas de mangue e de encostas.
1.1 OBJETIVOS
1.1. 1 Geral
Analisar a vulnerabilidade socioambiental da bacia hidrográfica do rio São Paulo,
compreendendo as inter-relações existentes entre vulnerabilidade social e exposição
aos riscos naturais.
1.1. 2 Específicos
i) Realizar a caracterização ambiental da bacia hidrográfica do rio São Paulo,
para melhor compreender a dinâmica ambiental local;
ii) Analisar o uso e ocupação do solo da bacia;
iii) Analisar as características socioeconômicas da bacia;
iv) Determinar a vulnerabilidade socioambiental da bacia.
10
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 ANÁLISE INTEGRADA DA PAISAGEM
Para esse estudo, adotou-se o conceito de paisagem fundamentado por Troll
(1997), que caracteriza a paisagem como um setor da superfície terrestre resultante
de relações externas e internas, onde todos os seus aspectos se encontram em uma
determinada relação funcional. O autor acrescenta que, da união dos diferentes
elementos da paisagem não surge somente uma configuração, mas um conjunto
harmonioso, formado por componentes que se ajudam mutuamente e que não
podem existir por si mesmos. Para Ab’Sáber (2003), as paisagens refletem também
transformações temporais e conservam testemunhos de tempos passados. A
paisagem é vista, portanto, como uma herança de processos fisiográficos e
biológicos. Para o autor, os povos não herdam apenas espaços territoriais, herdam,
também, paisagens e ecologias, pelas quais certamente são responsáveis.
Assim, ao fazer referência às questões concernentes ao estudo das
paisagens, Bertrand; Bertrand (2007) colocam que a paisagem não é a simples
adição de elementos geográficos disparatados. Antes, é o resultado da combinação
dinâmica de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, ao reagirem
dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único, em
perpétua evolução. Os autores explicam a importância de frisar bem que não se
trata somente da paisagem natural, mas da paisagem total, que integra todas as
implicações da ação antrópica. Assim, os estudos devem focalizar os sistemas em
sua totalidade, por meio de abordagens holísticas, considerando a estrutura, o
funcionamento interativo e a dinâmica evolutiva dos seus sistemas
(CHRISTOFOLLETTI, 1995).
Dentro dessa perspectiva, Ross (1994), coloca que os estudos integrados de
um determinado território implicam em um entendimento da dinâmica de
funcionamento do ambiente natural com ou sem intervenções das ações humanas.
Com isso, Ross (1995), deixa claro que a pesquisa ambiental na geografia tem como
finalidade entender as relações das sociedades humanas com a natureza dentro de
uma perspectiva absolutamente dinâmica nos aspectos culturais, sociais,
econômicos e naturais.
11
Dessa forma, Cunha; Guerra (2001) enfatizam a importância dos estudos de
caráter integrativos quando, colocam que o estudo da degradação ambiental não
deve ser realizado apenas sob o ponto de vista físico. Antes, para que o problema
possa ser entendido de uma forma global e integrada, devem-se levar em conta as
relações ambientais e a sociedade causadora dessa degradação. Os autores
supracitados ainda colocam que os desequilíbrios ambientais originam-se muitas
vezes da visão setorizada dentro de um conjunto de elementos que compõe a
paisagem. Assim, a bacia hidrográfica, como unidade integradora desses setores
(naturais e sociais), deve ser administrada com essa função, a fim de que os
impactos sejam minimizados.
2.2 VULNERABILIDADE/ FRAGILIDADE AMBIENTAL
Para Spörl (2007), o termo fragilidade ambiental está ligado à suscetibilidade
do sistema de sofrer intervenções, ou de ser alterado. Quando é quebrado o estado
de equilíbrio dinâmico o sistema pode entrar em colapso, passando para uma
situação de risco. Essa desestabilização pode ter como indutores, tanto processos
naturais quanto ações antrópicas. Nesse sentido, a autora destaca que a fragilidade
ambiental pode ser entendida como o grau de susceptibilidade a qualquer tipo de
dano. Ou seja, está relacionada aos ambientes em situação de risco, sendo as
erosões, os deslizamentos de encostas, o assoreamento dos cursos d’água e as
inundações, os fenômenos de risco que mais se destacam.
Dentro dessa perspectiva, Crepani et al. (2001), colocam que as unidades de
paisagem natural apresentam diferentes graus de absorção aos estímulos
exteriores, assim como seus componentes (formas de relevo, solos, vegetação etc.)
apresentam escalas diferentes para o reajustamento frente às modificações
provocadas externamente. Os autores esclarecem que,
A atuação do homem sobre o meio ambiente, sem o prévio
conhecimento do equilíbrio dinâmico existente entre os diversos
componentes que permitiram a “construção” das diferentes unidades
de paisagem natural pode levar a situações desastrosas do ponto de
vista ecológico e econômico. Portanto, antecedendo qualquer
ocupação, deve-se conhecer os componentes físicos - bióticos
(Geologia, Geomorfologia, Pedologia, Fitogeografia e Clima) que
12
interagindo levaram ao estabelecimento das unidades de paisagem
natural (CREPANI et al., 2001, p. 15).
Com isso, Ross (1995) coloca que a identificação dos ambientes naturais e
suas fragilidades potenciais emergentes permitem tomar diretrizes mais acertadas
no espaço físico-territorial. O mapeamento da fragilidade do ambiente constitui,
portanto, numa importante ferramenta que auxilia no ordenamento adequado do
meio, indicando as áreas mais favoráveis e menos favoráveis à sua ocupação
(KAWAKUBO et al., 2005).
2.3 VULNERABILIDADE SOCIAL
A maioria dos autores, em diferentes abordagens, toma a noção de
vulnerabilidade social como intrínseca à pobreza. Para Zanella et al. (2013), as
diversas formas de produção do espaço geográfico exercem forte pressão sobre o
espaço natural, sendo realizadas, na maioria das vezes, sem considerar as
vulnerabilidades dos grupos sociais e dos sistemas naturais. Marandola Jr; Hogan
(2005), afirmam que há um interesse por parte dos geógrafos em ocupar-se de
estudos sobre enchentes e deslizamentos, entre outras situações em que o
ambiente, conjugado a fatores socioeconômicos, expõe as populações a riscos,
sobretudo nas cidades.
Esse interesse pode estar associado, como salienta Alves (2006), a
capacidade de indivíduos e grupos sociais de se protegerem contra determinados
riscos ambientais e, está diretamente relacionada ao nível de renda e de informação.
Para o autor, há uma tendência de os grupos de baixa renda serem levados a residir
em áreas com más condições urbanísticas e sanitárias, em situações de risco e
degradação ambiental.
Desse modo, a vulnerabilidade social se encontra diretamente relacionada
com grupos socialmente vulneráveis, ou seja, indivíduos que, por determinadas
características ou contingências, são menos propensos a uma resposta positiva
mediante algum evento adverso. Nesses termos, Deschamps (2004), coloca que a
noção de risco torna-se fundamental para o desenvolvimento do estudo da
vulnerabilidade.
Assim, pelas limitações que impõe aos indivíduos, a falta de recursos é
considerada um fator de desvantagem social. Para essa autora, as famílias ou
13
pessoas com pouco capital humano, com ativos produtivos escassos, com carências
no plano da informação e das habilidades sociais básicas, estão em condições de
vulnerabilidade diante de qualquer mudança ocorrida em seu entorno imediato. A
diminuição da vulnerabilidade é vista, nesse aspecto, como crucial no aumento da
sustentabilidade, acreditando-se que dotar as populações de capacidade de
resposta às situações adversas a que são expostas (riscos sociais ou ambientais)
resultará na melhoria de sua qualidade de vida e de sua inserção social
(MARANDOLA JR; HOGAN, 2005).
2.4 A BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE PLANEJAMENTO AMBIENTAL
Vista como a unidade mais importante para a gestão dos recursos hídricos, a
bacia hidrográfica é entendida por Botelho; Silva (2012), como célula básica de
análise ambiental, onde se é possível conhecer e avaliar os diversos componentes e
os processos de interações que nela ocorrem. Por conseguinte, tem-se assistido nas
ultimas décadas a uma crescente institucionalização da gestão dos recursos
hídricos, centradas em regiões constituídas por uma bacia ou um conjunto de bacias
hidrográficas (HIPOLITO; VAZ, 2011). A bacia hidrográfica possui, dessa forma, um
papel privilegiado em estudos hidrológicos e de gestão dos recursos hídricos.
Alves (2013) corrobora com essas afirmações, quando argumenta que a
caracterização das bacias hidrográficas constitui-se em ferramenta fundamental para
o gerenciamento dos recursos disponíveis, por permitir mensurar através de
diagnósticos, como se encontra a ambiência em determinadas localidades, através
das mais diversas variáveis que indicam as condições ecogeofisiográficas, sociais,
econômicas e culturais contribuindo para uma visão sistêmica e holística do meio.
Para o referido autor, a bacia hidrográfica vem se consolidando como uma
significativa unidade territorial e ambiental, capaz de favorecer a gestão integrada,
não apenas dos recursos hídricos, mas de todos os recursos naturais presentes
nessas áreas.
Para Zanella et al. (2013), a bacia hidrográfica é uma unidade de investigação
de comportamento sistêmico, no qual as variáveis naturais e humanas nela
presentes, estão sempre em interação. Sua importância como unidade de pesquisa
e planejamento justifica-se pela possibilidade de visualização concreta das inter-
relações entre os seus componentes.
14
Não obstante, no que diz respeito à caracterização dessa unidade,
Christofoletti (1980), define a bacia hidrográfica como uma área drenada por um
determinado rio ou por um sistema fluvial. Para Guerra; Cunha (1994), a bacia
hidrográfica pode ser entendida como uma superfície terrestre que drena água,
sedimentos e materiais dissolvidos para uma saída comum, num determinado ponto
de um canal fluvial. Esses últimos ampliam o conceito de bacia hidrográfica, por
incluir, em sua definição, aspectos ligados aos efeitos dos agentes erosivos.
Com isso, Cunha; Guerra (2001) afirmam que, devido a seu caráter
integrador, a bacia hidrográfica, pode ser considerada uma excelente unidade de
gestão, por facilitar o acompanhamento das mudanças introduzidas pelo homem e
as possíveis respostas da natureza, como erosão dos solos, movimentos de massas
e enchentes.
15
3 METODOLOGIA
3.1 MATERIAIS E MÉTODOS
O método científico é definido por Gil (2008), como um conjunto de
procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento.
Devido à natureza do estudo realizado, define-se o método de abordagem adotado
como hipotético-dedutivo. De acordo com esse autor, esse método visa construir e
testar uma possível resposta ou solução para um problema e para tentar explicar a
dificuldade expressa neles, são formuladas conjecturas ou hipóteses. A hipótese
que norteia a presente pesquisa, portanto, é a de que as problemáticas ambientais
existentes na área de estudo, devem-se a falta de planejamento, de estudos
detalhados e integrados, para o uso e a ocupação do seu solo. Para a realização
desse trabalho, cumpriram-se as etapas ilustradas no fluxograma (Figura 1).
Figura 1 - Procedimentos metodológicos de pesquisa
Elaboração: a autora (2017).
16
O levantamento bibliográfico inicial contribuiu para que se adotasse como
referêncial teórico-metodológico de pesquisa, os estudos de Ross (1994); Ross
(2000); Crepani et al. (2001) e Rosa; Costa (2009).
Para o mapeamento usado nesse estudo, foram utilizadas como base
cartográfica: Carta planialtimétrica, na escala de 1:10.000, organizada pela
Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER); ortofoto na
escala de 1:10.000, elaborada pela Superintendência de Estudos Econômicos e
Sociais da Bahia (SEI), do ano de 2010; Mapeamento geológico, elaborado pela
Petrobras, na escala de 1:150.000, do ano de 2004 e fotografias aéreas do ano de
1976 cedidas pela CONDER.
Para a caracterização socioeconômica, utilizou-se informações secundárias,
oriundas do Censo Demográfico 2010: Resultados do Universo por setor censitário -
IBGE e de informações fornecidas pela Superintendência de Estudos Econômicos e
Sociais da Bahia (SEI, 2013). O levantamento de dados primários se deu com a
aplicação dos questionários de Percepção Ambiental junto aos moradores da
localidade de Rio do Cunha, situada na zona estuarina da BHRS.
3.1.1 Delimitação da Bacia Hidrográfica
A delimitação manual da bacia hidrográfica do rio São Paulo, foi realizada no
software ArcGis 10.4 (licença Free Trial). Para este processo utilizou-se como
referência a sobreposição das curvas de nível com a rede de drenagem, extraídas
da carta planialtimétrica da CONDER, na escala de 1: 10.000. Considerando que os
limites entre as bacias hidrográficas encontram-se nas partes mais altas do relevo,
delimitou-se a bacia seguindo as curvas de nível de maior cota.
Nesse processo, procedeu-se também, ao ajuste das feições da rede de
drenagem. Este procedimento foi necessário porque ao sobrepor as curvas de nível
e a rede de drenagem a ortofoto, notou-se que a hidrografia, em alguns trechos, não
coincidia com a ortofoto. Para o ajuste, foi utilizado o software ArcGis 10.4.
3.1.2 Classificação dos Tipos de Solos
O mapa das classes de solo foi feito a partir do mapeamento geológico
elaborado pela Petrobras, na escala de 1: 150.000, do ano de 2004, e interpretação
da ortofoto da SEI do ano de 2010, na escala de 1:10.000.
17
Como os mapeamentos pedológicos encontrados para a área de estudo,
estavam em uma escala menor que a usada para essa pesquisa, houve a
necessidade de fazer um campo, tendo como referência o mapeamento geológico
elaborado pela Petrobras (2004).
No pré-campo fez-se um transecto ligando as unidades geológicas, da mais
recente a mais antiga e, nestas, determinaram-se os pontos para análise do perfil
pedológico. As coordenadas geográficas dos perfis analisados foram coletadas com
equipamento GPS.
Foram analisados perfis pedológicos nas áreas que correspondiam a
Formação Barreiras, ao Grupo Ilhas e a Formação São Sebastião. As áreas de
Gleissolos foram determinadas por meio da classificação visual, através da ortofoto.
Portanto, as unidades geológicas pertencente aos depósitos litorâneos, onde havia
predomínio de vegetação de mangue, foram consideradas áreas de abrangência de
Gleissolos.
Na metodologia proposta por Ross (1994), Ross (2000) e Crepani et al.
(2001), a principal característica considerada para estabelecer as classes de
vulnerabilidade dos solos é o seu grau de desenvolvimento ou maturidade. Assim,
uma unidade de paisagem natural é considerada vulnerável quando existe um
predomínio dos processos de morfogênese em detrimento aos processos de
formação e desenvolvimento do solo (pedogênese).
A vulnerabilidade dos solos encontrados na bacia hidrográfica foi classificada
como Média e Muito Forte. A classe de solo que representa vulnerabilidade média,
corresponde aos Argissolos (Tabela 1), são solos menos instáveis, quando
comparados aos Vertissolos e aos Gleissolos e mais consolidados. Já os solos
considerados de vulnerabilidade muito forte, de acordo com Crepani et al. (2001),
são os Vertissolos e Gleissolos. Por serem pouco profundos e de baixa
permeabilidade, esses solos são altamente susceptíveis aos processos de erosão.
Tabela 1 – Coordenadas dos pontos de amostragem, classes de solo e geologia
Ponto E
(m)
N
(m) Unidade Geológica
Classes de
Solos
1 549427 8599701 Grupo Ilhas Vertissolos
2 550215 8595579 Formação São Sebastião Argissolo
3 548714 8598810 Grupo Barreiras Argissolo
Fonte e elaboração: a autora (2017).
18
3.1.3 Mapa de Declividade
Com as curvas de nível extraídas da carta planialtimétrica na escala 1: 10.000
da CONDER, foi elaborado o Modelo Digital do Terreno (MDT) e, posteriormente, foi
gerado o mapa de declividade no qual foi processado com a ferramenta Spatial
analyst do software ArcGis 10.4. As classes de declividade foram hierarquizadas em
cinco categorias, proposta por Ross (1994). Essas classes são indicativas do vigor
dos processos erosivos, dos riscos de escorregamento, deslizamento e inundação
(ROSS, 1994).
A cada categoria foi atribuída um valor de vulnerabilidade, onde os valores
mais próximos de 1 estão associados a pequenos ângulos de inclinação das
encostas, favorecem os processos de pedogênese. Já os valores próximos a 5,
representam as áreas de maior declividade, favorecem os processos de
morfogênese (Tabela 2). Quanto maior a declividade mais intensos serão os
processos responsáveis pela erosão, prevalecendo dessa forma a morfogênese
(CREPANI et al., 2001).
Tabela 2 - Classes de declividades propostas por Ross (1994) Declividade (%) Valores de Vulnerabilidade Categorias
Até 6 1 Muito Fraca
De 7 a 12 2 Fraca
De 13 a 20 3 Média
De 21a 30 4 Forte
Acima de 30 5 Muito Forte
Fonte: Adaptado de Ross (1994). Elaboração: a autora (2017).
3.1.4 Mapas de Uso e Cobertura da Terra
Os mapas de uso e cobertura da terra foram elaborados a partir da ortofoto da
SEI do ano de 2010, na escala de 1:10.000 e fotografias aéreas disponibilizadas
pela CONDER do ano de 1976, tendo como referência o Manual Técnico de Uso da
Terra (IBGE, 2013). Nesta etapa, foram utilizados o software ArcGis 10.4 e o Corel
Draw.
Para o mapeamento de uso e cobertura da terra do ano de 2010, as classes
de uso e cobertura da terra foram obtidas por meio da interpretação da ortofoto.
Utilizando a técnica de foto-interpretação, foi feita a classificação manual e visual
19
das seguintes classes: Área Urbana, Área Industrial, Área Agrícola, Pastagem, Mata
Secundária, Manguezais, Reflorestamento de Pinus e, por fim, áreas Sem Cobertura
Vegetal - Solo Exposto.
Para a confecção do mapa de uso e cobertura da terra do ano de 1976, foi
montado um mosaico das 85 fotografias aéreas, no programa Corel Draw. Em
seguida foram georeferenciadas no ArcGIS 10.4. As classes de Uso e Cobertura,
obtidas por meio da foto-interpretação das fotografias aéreas, foram as mesmas
selecionadas no mapeamento feito para o ano de 2010. A escala final dos mapas de
Uso e Cobertura da Terra foi de 1: 70.000.
3.1.5 Trabalhos de Campo
Foram realizados dois trabalhos de campo na área de estudo, nos meses de
junho e setembro de 2016 (Figura 2). No primeiro campo, foram analisados os
aspectos socioeconômicos, onde foi possível aplicar os questionários de percepção
ambiental, junto aos moradores da localidade de Rio do Cunha, situada no estuário
do rio São Paulo e, feitos registros fotográficos das problemáticas ambientais dessa
área.
O segundo campo foi feito visitas a fim de analisar aspectos da vegetação,
geologia, geomorfologia e solos da área. Nessa etapa foi possível realizar os perfis
pedológicos e coletar os pontos das suas localizações por meio de um equipamento
de Sistema de Posicionamento Global (GPS).
Figura 2 – Campo para aplicação dos questionários (a); campo para caracterização ambiental da área (b)
Fonte: a autora (2017).
20
3.1.6 Questionário de Percepção Ambiental
A fim de analisar os aspectos socioeconômicos e o nível de conhecimento em
relação às problemáticas ambientais, foram aplicados questionários de Percepção
Ambiental, cujo objetivo principal era a mensuração e avaliação do ambiente
estudado, através da percepção dos indivíduos que nele vive.
Devido ao tempo limitado para o desenvolvimento dessa pesquisa, optou-se
em aplicar os questionários apenas nos domicílios próximos as áreas de vegetação
de mangue. A localidade escolhida para aplicação do questionário foi o povoado do
Rio do Cunha (Figura 3), chegando ao total de 68 questionários. Os dados
coletados foram tabulados. Este procedimento permitiu a construção de gráficos
com os percentuais dos resultados de acordo com as categorias avaliadas.
Figura 3 - Localidade escolhida para aplicação dos questionários
Fonte: CONDER (2010).
3.1.7 Determinação da Vulnerabilidade Social
Para a determinação da Vulnerabilidade Social, adotou-se como referência a
metodologia de Rosa; Costa (2009), onde, buscando selecionar indicadores capazes
de expressar o grau de fragilidade socioeconômica, foram selecionadas algumas
21
variáveis da Base de Informações do Censo Demográfico 2010: Resultados do
universo por setor censitário do IBGE.
No que diz respeito à renda, foi utilizado a variável Homens responsáveis por
domicílios sem rendimento ou com rendimento mensal de até dois salários mínimos
e Mulheres responsáveis por domicílios particulares permanentes sem rendimento
ou com rendimento mensal de até dois salários mínimos.
Como indicado pela metodologia adotada, as variáveis e indicadores de
vulnerabilidade foram selecionados levando em conta a realidade da área de estudo.
Dessa forma, no que se refere aos indicadores relacionados à qualidade da
habitação não se utilizou as variáveis sugeridas na metodologia de Rosa; Costa
(2009). Optou-se por selecionar os indicadores considerados de maior
expressividade na bacia. Sendo assim, foram selecionadas as variáveis: Domicílios
particulares permanentes, com banheiro de uso exclusivo dos moradores ou
sanitário e esgotamento sanitário via rio, lago ou mar; Domicílios particulares
permanentes com lixo jogado em terreno baldio ou logradouro; Domicílios
particulares permanentes com banheiro de uso exclusivo dos moradores ou sanitário
e esgotamento sanitário via vala (Quadro 1).
Quadro 1 - Variáveis para construção do Índice de Vulnerabilidade Social
Fonte: Adaptado de Rosa e Costa (2009). Elaboração: a autora (2017).
Conforme a metodologia adotada, esses indicadores foram organizados em
uma tabela e tratados estatisticamente. Depois de calculado o percentual de cada
indicador, foi aplicado, para cada um, uma equação que o transformou em um índice
variando de 0 a 1, que expressa a razão entre o valor observado para o setor
censitário e a amplitude total do indicador analisado. Dada pela fórmula:
Renda Qualidade da Habitação
Mulheres responsáveis sem rendimento ou com rendimento mensal de até 2 salários mínimos Homens responsáveis por domicílios particulares permanentes sem rendimento e com rendimento nominal mensal de até 2 salários mínimos
Domicílios particulares permanentes, com banheiro de uso exclusivo dos moradores ou sanitário e esgotamento sanitário via rio, lago ou mar Domicílios particulares permanentes com lixo jogado em terreno baldio ou logradouro Domicílios particulares permanentes com banheiro de uso exclusivo dos moradores ou sanitário e esgotamento sanitário via vala
22
Foi considerado como a pior situação 100% e a melhor 0%. Por exemplo,
para o indicador Domicílios particulares permanentes, com banheiro de uso
exclusivo dos moradores com esgotamento sanitário via rio, lago ou mar, foi
considerado que a pior situação existente é a que todos os domicílios do setor
encontrem-se nestas condições, e a melhor situação seria o oposto, com todos os
domicílios ligado a rede geral de esgoto ou fossa séptica.
Em seguida, foram realizadas médias ponderadas para cada variável em
análise. Para as variáveis relacionadas à renda, considerou-se que, quando o chefe
de família era mulher recebia peso 2 e quando homem peso 1. Para qualidade da
habitação, a coleta de lixo recebeu peso 1 e o esgotamento sanitário 3. O peso
maior dado a variável esgotamento sanitário deve-se a sua expressividade na bacia
de estudo, sendo que na metodologia tomada como referência essa variável recebe
um peso menor. Por fim, ocorreu a integração destes indicadores obtendo-se o
Índice de Vulnerabilidade Social (APÊNDICE B).
O índice final varia de 0 a 1, indicando alta vulnerabilidade para os valores
próximos de 0 e vulnerabilidade baixa para os valores próximos de 1. Assim, foram
estabelecidas através da técnica estatística dos quartis, 4 classes do valor de
vulnerabilidade: alto, com índices variando de 0,57 a 0,81; médio, de 0,83 a 0,87;
baixo, de 0,88 a 0,92 e muito baixo, de 0,93 a 0,96. Com base nesse resultado foi
elaborado o Mapa de Vulnerabilidade Social.
Para espacializar o Índice de Vulnerabilidade Social, foi preciso utilizar a
malha dos setores censitários do Estado da Bahia, obtida no IBGE (2010). Esses
setores foram recortados de acordo com a área da bacia.
Esse recorte acabou gerando algumas distorções nas informações obtidas, já
que os setores que ficaram parcialmente inseridos incluíam dados de áreas que não
pertenciam à bacia. Com isso, foi preciso buscar métodos que pudessem
compatibilizar as informações do censo demográfico, por setor censitário, com as
obtidas por meio da fotointerpretação da área. A sobreposição da malha dos setores
censitários e a ortofoto possibilitou verificar, com mais precisão, a distribuição da
área urbanas dentro de cada setor (Figura 4).
23
Figura 4 - Sobreposição da malha dos setores censitários a ortofoto
Assim, para o setor que havia área urbana, era preciso que mais de 80% de
sua área estivesse inserida na bacia. O setor parcialmente inserido, com grande
24
parte de sua área urbana fora do limite da bacia, não foi considerado (Figura 5). Já o
setor, parcialmente inserido, cuja área localizada dentro do limite da bacia,
mostrava-se predominantemente rural, foi considerado e classificado como de baixa
vulnerabilidade social.
Figura 5 - Classificação dos setores censitários para a determinação da Vulnerabilidade Social na bacia hidrográfica do rio São Paulo
3.1.8 Determinação da Vulnerabilidade Ambiental e Socioambiental
Para a elaboração do mapa de Vulnerabilidade Ambiental, os mapas
temáticos, em formato shapefile, foram convertidos para o formato matricial com
auxilio da ferramenta Convert to Raster do ArcGIS 10.4. Com esse procedimento foi
possível classificar cada unidade, atribuindo valores indicativos do seu grau de
vulnerabilidade, utilizando a ferramenta Reclassify do ArcGIS.
Por meio da álgebra de mapas (soma), realizou-se a integração dos mapas
temáticos, atribuindo peso para as variáveis ambientais (Tabela 3). Essas variáveis
foram processadas através da ferramenta Raster Calculator do programa ArcGIS
25
10.4. O dado resultante foi dividido em 4 classes, utilizando a ferramenta Reclassify
que, correspondem a áreas de vulnerabilidade baixa, média, alta e muito alta.
Tabela 3 - Valores de Vulnerabilidade Ambiental na bacia do rio São Paulo, em Candeias e são Francisco do Conde-BA.
Fonte: adaptado de Zanella et al. (2013). Elaboração: a autora (2017).
Para a determinação da Vulnerabilidade Socioambiental, foram integradas as
variáveis ambientais e o Índice de Vulnerabilidade Social. Nessa etapa, foi feita a
integração dos mapas temáticos, em formato raster, utilizando a ferramenta Raster
Calculator no software ArcGIS. Assim como foi feito no mapa de Vulnerabilidade
Ambiental, os resultados obtidos, foram transformados em quatro classe de
vulnerabilidade, através da ferramenta Reclassify do ArcGIS.
Geologia
Unidade Valores de Vulnerabilidade
Grupo Ilhas 5
Grupo Barreiras 3
Grupo São Sebastião 3
Depósitos Litorâneos 5
Pedologia
Argissolos 3
Vertissolos 5
Gleissolos 5
Declividade
Até 6% 1
De 7 a 12% 2
De 13 a 20% 3
De 21 a 30% 4
Acima de 30% 5
Uso e cobertura da Terra
Área Urbana 4
Área Industrial 5
Área Agrícola 3
Pastagem 4
Mata Secundária 1
Manguezais 5
Reflorestamento - Plantação de Pinus 3
Sem cobertura Vegetal- Solo Exposto 5
26
4 CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA ÁREA DE ESTUDO
4.1 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO
A unidade de estudo corresponde a bacia hidrográfica do rio São Paulo,
localiza-se entre as coordenadas 12º 37’ 30” a 12º 43’ 59” de latitude Sul e 38º 30’
59” a 38º 35’ 44” de longitude Oeste. Com área total de 35,9 km², abrange os
municipios litorâneos de Candeias e São Francisco do Conde, ocupando 9,3% e
4,1% dos respectivos territórios. Limita-se a norte com a bacia do Rio Joanes, a sul
com a Baía de Todos-os-Santos, a leste com as bacias dos rios Bonessu, Petecada
e Jacarenga e, a oeste com as bacias dos rios Paramirim e Mataripe (BAHIA, 2007).
Com extensão total de 17 km, o rio São Paulo, apresenta 9 km do seu curso
médio margeados por manguezais. Sua nascente localiza-se no município de São
Francisco do Conde e deságua na Baía de Todos-os-Santos, no povoado do Rio do
Cunha, situado em Passé, distrito de Candeias (Figura 6).
Com 67,4% da área da bacia inserida em seu território, o município de
Candeias, pertecente a Região Metropolitana de Salvador, tem como acesso
principal a BR 324, distando 45 km da capital baiana. Além do Distrito Sede, esse
município é composto por mais seis Distritos: Caboto, Caroba, Madeira, Menino
Jesus, Passagem dos Teixeiras e Passé. A maioria desses distritos têm origem na
época que predominava o ciclo econômico da cana-de-açúcar. Os primeiros
lugarejos nasceram próximos ao rio São Paulo, impulsionados pela vitalidade da
lavoura açucareira e pelo grande número de engenhos (IBGE, 2010b).
Já o município de São Francisco do Conde, com 32,6% de área da bacia em
seu território, assim como Candeias, tem como acesso principal, a BR 324, estando
por sua vez a, 67 km da capital. Esse município tem três distritos: São Francisco do
Conde (Distrito Sede), Mataripe, onde está localizada a Refinaria Landulpho Alves, e
Monte Recôncavo (IBGE, 2010c).
28
4.2 ASPECTOS FÍSICOS
Para se conhecer uma unidade de paisagem natural é imprescindível que se
conheça os seus aspectos físicos. Para Crepani et al. (2001) a integração dessas
informações possibilitam um retrato fiel de cada unidade frente à sua ocupação, pelo
fato de cada um desses componentes apresentarem escalas diferentes para o seu
reajustamento diante das modificações provocadas externamente.
A área de estudo é caracterizada pelo ambiente geológico da bacia
sedimentar do Recôncavo, constituída por rochas predominantemente areno-
argilosas que são divididas em formações, com base na idade, natureza e ambiente
de sedimentação (CPRM, 2008). Trata-se de uma bacia preenchida por sedimentos
areno-argilosos, siltitos, folhelhos, calcosiltitos e dolomitos com presença de
hidrocarbonetos.
Os terrenos da bacia, de forma geral, apresentam uma baixa resistência aos
processos erosivos, em razão dessa característica areno-argilosa de grande parte
dos seus sedimentos e da elevada pluviosidade local. O clima, através de seus
componentes, direciona os processos intempéricos e desempenha importante papel
na formação do solo (PEREIRA; ALMEIDA, 1996). Esta importância é especialmente
marcante nas regiões tropicais onde, devido às mais altas temperaturas e umidade,
a degradação química é acelerada (PORTO, 1996).
O clima da área, segundo a classificação de Köppen, é enquadrado como do
tipo Af. Trata-se de uma área de clima úmido, sem estação seca, com média anual
de 1.800 mm de chuva (SEI, 1998). Com temperaturas médias elevadas, variando
de 24°C a 25°C, onde são registradas chuvas intensas, principalmente nos meses
de abril a junho.
O clima associado às características e a posição das encostas, a cobertura
vegetal e as ações do homem são os fatores externos que mais afetam o ambiente
no qual o solo está inserido (PALMIERI; LARACH, 1996). Assim, buscando
compreender a dinâmica ambiental da área de estudo, foram feitos mapas temáticos
com informações acerca da geologia (figura 7), do solo (Figura 8) e do relevo, com o
mapa de declividade (Figura 9) e o Modelo Digital do Terreno (Figura 10).
33
A Geologia da área está restrita a três tipos litológicos, onde se encontram os
sedimentos do Grupo Ilhas, do Grupo Barreiras e da Formação São Sebastião.
O Grupo Ilhas, predominante na Bacia, com uma área de 26,7 km² (74,3%),
datado do Cretáceo Inferior, é representado por tabuleiros semiplanos com altitudes
entre 25 a 120 m. Litologicamente compõem-se, fundamentalmente, de siltitos,
folhelhos, calcários impuros e arenitos quartzosos, o que faz dessa área uma
importante produtora de petróleo (BRASIL, 1981).
Nas áreas planas ou suave-onduladas do Grupo Ilhas, os Vertissolos é o tipo
de solo mais encontrado (Figura 11). Variam de pouco profundos a profundos,
embora ocorram também solos rasos. Em termos de drenagem, variam de
imperfeitamente a mal drenados, ocasionalmente moderadamente drenados. Quanto
à cor, podem ser escuros, acinzentados, amarelados ou avermelhados. Fisicamente,
quando úmidos, têm permeabilidade à água muito lenta (EMBRAPA, 2006).
Figura 11 - Perfil de Vertissolo em terrenos pertencente ao Grupo Ilha.
Fonte: a autora (2017).
Esses solos têm como característica marcante, o seu caráter expansivo, com
mudanças de volume com o aumento do teor de água e fendas profundas na época
seca. São de consistência muito plástica e muito pegajosa, devido à presença
comum de argilas expansíveis ou mistura destas com outros argilominerais. As
34
inclinações dos postes e dos pés de Pinus na área estudo são indicativas do caráter
expansivo desse tipo de solo (Figura 12).
Figura 12 - Pés de Pinus inclinados devido às características expansivas dos terrenos com predominância de Vertissolos do Grupo Ilhas
Fonte: a autora (2017).
O Grupo Barreiras representa uma área de 2,1 km² (5,8%) na bacia é
constituído basicamente por arenitos grosseiros e conglomerados intercalados por
lamitos (Figura 13). Os arenitos são mal selecionados, com grãos subangulares a
subarredondados, com cores que variam do vermelho ao amarelo e branco,
conforme a argila da matriz (NUNES; SILVA; VILAS BOAS, 2011).
Figura 13 - Terreno com predominância de Argissolo, relacionado ao Grupo Barreiras
Fonte: a autora (2017).
35
A formação São Sebastião, com menor expressividade, abrange 1,4 km²
(4,1%) da bacia, é constituída por sedimentos arenosos finos e grossos, intercalados
com siltitos e folhelhos. Geralmente seus afloramentos constituem serras
arredondadas ou morrotes ondulados e, mais raramente, serras escarpadas (CPRM,
2007). Na área de estudo, a formação apresenta-se em pontos de maior declividade
e altitude, se comparado às do Grupo Ilhas.
Por serem pouco coesas, as rochas que compõem o Grupo Barreiras e a
Formação São Sebastião são consideradas por Crepani et al. (2001) de alta
vulnerabilidade. A porosidade dessas rochas somada a fatores como o elevado
índice pluviométrico, contribuem para a grande oferta de água subterrânea da área.
Essas formações ocupam as áreas mais elevadas da bacia, os argissolos são os
solos de maior ocorrência dessas áreas (Figura 14).
Figura 14 - Perfil de Argissolo em áreas da Formação São Sebastião (a); Perfil de Argissolo em terrenos do Grupo Barreiras (b)
Fonte: a autora (2017).
.
Esses solos caracterizam os relevos mais dissecados, têm como
característica marcante, um evidente incremento no teor de argila do horizonte
superficial para o horizonte B, com ou sem decréscimo nos horizontes subjacentes.
A transição entre os horizontes A e Bt é usualmente clara, abrupta ou gradual
(EMBRAPA, 2006). As cores do horizonte Bt variam de acinzentadas a
36
avermelhadas e as do horizonte A, são sempre mais escurecidas. A profundidade
dos solos é variável, mas em geral são pouco profundos e profundos. Compostos
por argilas de atividade baixa, o que possibilita a formação maior de agregados
estáveis e de maior permeabilidade (BRASIL, 1981), fazendo os Argissolos menos
susceptíveis à erosão se comparado aos Vertissolos. Dessa forma as áreas de
abrangência dessa classe de solo, em termos de vulnerabilidade, são consideradas
por Crepani et al. (2001), intermediárias.
Os depósitos litorâneos e flúvio-marinho fazem parte de sedimentos recentes,
englobam areia e argila (BRASIL, 1981). Ocupam as zonas estuarinas, onde
recebem influência das marés, e desenvolvem manguezais (Figura 15).
Figura 15 - Gleissolo em áreas de vegetação de mangue
Fonte: a autora (2017).
Os Gleissolos constituem-se numa associação indiscriminada de solos
halomórficos com altos teores de sais diversos, compostos de enxofre e com
elevado teor de matéria orgânica. São desenvolvidos a partir de sedimentos
recentes, que ocorrem no litoral, normalmente junto à desembocadura de rios sob a
influência das marés e são cobertos por uma vegetação característica denominada
mangue. O aproveitamento agrícola é economicamente inviável devido às séries de
37
restrições que apresentam, tais como os encharcamentos que estão sujeitos,
decorrentes da drenagem deficiente dessa classe de solos (BRASIL, 1981). A baixa
permeabilidade à água e a alta plasticidade, caracterizam esses solos como de alta
vulnerabilidade, por serem extremamente suscetíveis à erosão.
No que diz respeito aos aspectos geomorfológicos, trata-se de colinas
rebaixadas e restos de tabuleiros com altitude em sua maioria, inferiores a 100m,
esculpidos nos arenitos, folhelhos, siltitos, calcários e conglomerados cretácicos do
grupo Ilhas e da Formação São Sebastião (BRASIL, 1981).
Pode-se analisar a bacia sob quatro agrupamentos das classes de
declividade. O primeiro refere-se às áreas mais aplainadas do relevo, com
declividade entre 0 a 12%, onde estão situadas as planícies fluviais, lacustres e
costeiras. O segundo grupo refere-se às áreas de sopés dos morros, no qual a
declividade varia entre 13 a 20%. Já o terceiro grupo, corresponde aos morros com
amplitude entre 20 a 60 m e relevos de colinas dissecadas podendo atingir 70 m, no
qual a declividade varia entre 21, 30% (Figura 16). O quarto grupo refere-se às
áreas elevadas e íngremes, de colinas dissecadas e relevo variando de 50 a 150m,
com declividade de superior a 30%, podendo chegar a 45% em algumas encostas. A
cidade de Candeias está situada em uma dessas áreas de alta declividade, onde
existem áreas que apesar da limitação promovida pelo relevo, ainda assim são
ocupadas por moradias, ocasionando por consequência, inúmeros deslizamentos na
cidade.
Figura 16 - Relevo da bacia hidrográfica do rio São Paulo: Terreno aplainado pertencente ao Grupo Ilha (a); morros baixos pertencente a Formação São Sebastião (b); Colinas dissecadas do Grupo Barreiras (c)
Fonte: a autora (2017).
4.3 ANÁLISE TEMPORAL DO USO E COBERTURA DA TERRA
38
Para Nascimento e Carvalho (2003), as formas de Uso e Cobertura da Terra
retratam, comumente, as políticas de organização e apropriação do espaço pelos
diversos setores sociais, sejam eles os tomadores de decisão política ou até mesmo
a comunidade civil. Isso deve-se ao fato, como afirmam Botelho; Silva (2012), da
qualidade ambiental ser reflexo da ação do homem sobre o espaço e seus
componentes em um dado momento, onde os níveis de qualidade encontrados,
variam no tempo/espaço e dependem das demandas e usos dos recursos naturais
por parte da sociedade que é marcada econômica e culturalmente de forma variada.
Com a análise do Uso e Cobertura da Terra dos anos de 1976 e 2010, tornou-
se possível verificar as transformações da paisagem da bacia, através da relação de
perda e ganho de áreas de uma classe para a outra no decorrer de 34 anos. Foram
mapeadas, 8 classes de Uso e Cobertura da Terra na área de estudo (Tabela 4).
Tabela 4 - Uso e Cobertura da Terra na bacia hidrográfica rio São Paulo nos anos de 1976 e 2010.
Usos
Área
1976 2010
Km² % Km² %
Área Urbana 1,2 3,3 2,2 6
Área Industrial 0,5 1,4 1,3 4
Áreas Agrícolas 7,3 20,3 5,73 16
Pastagem 14,2 39,6 6,79 19
Silvicultura ( Reflorestamento) 3 8,4 9 25
Mata Secundária 1,7 4,7 5,4 15
Manguezal 4,7 13,1 5 14
Sem Cobertura Vegetal - Solo Exposto 3,3 9,2 0,5 1
Total 35,9 100 35,9 100 Fonte: CONDER (1976; 2010). Elaboração: a autora (2017).
4.3.1 Pastagem
A supressão da vegetação primária da bacia deve-se principalmente a
produção canavieira, que até o século XIX destacava-se como principal economia
dos municípios de Candeias e São Francisco do Conde. O processo da
monocultura, juntamente com os constantes desmatamentos, em grande parte da
39
área de estudo, levou a supressão da vegetação de Mata Atlântica e, a um
crescimento expressivo, no ano de 1976, das áreas de Pastagem1 (Figura 17).
Figura 17 - Área de pastagem na bacia hidrográfica do rio São Paulo
Fonte: a autora (2017).
Verifica-se com a observação das fotografias aéreas do ano de 1976 e
ortofoto da área do ano de 2010 que, alguns pontos, antes ocupados por Pastagem,
encontram-se ocupados por Mata Secundária (Figura 18). O crescimento das áreas
de Reflorestamento culminou em um rebatimento considerável dessa classe
(52,2%).
Figura 18 Área ocupada por Pastagem no ano de 1976 (a), mesma área, no ano de 2010, com predomínio de Mata Secundária (b)
Fonte: CONDER (1976; 2010).
4.3.2 Mata Secundária
As áreas compostas por Mata Secundária passaram por um crescimento
expressivo, com um incremento de 217% no período analisado (Figura 19 e Figura
1 Área cultivada ou natural, predominantemente ocupada por vegetação de gramíneas, cuja altura pode variar de alguns decímetros a alguns metros. (IBGE, 2013).
40
20). Pode-se inferir que a expansão dessas áreas deve-se ao refreamento da
produção agrícola que ocorreu nas últimas décadas.
Figura 19 - Área desmatada no ano de 1976 (a); mesma área, no ano de 2010, com Mata Secundária (b)
Fonte: CONDER (1976; 2010).
Figura 20 - Área com predomínio de Mata Secundária
Fonte: a autora (2017).
4.3.3 Áreas de Reflorestamento
As áreas reflorestadas pela Petrobras com Pinus, em termos de vegetação
constituem a classe que mais se destaca no mapeamento feito e, têm como principal
função, evitar a ocupação das áreas próximas às indústrias e aos poços de petróleo,
totalizando 9 km², correspondendo a 25,1% da bacia em 2010 (Figura 21). Entre o
41
ano de 1976 e o de 2010 houve um crescimento de 300% dessas áreas. Esse
crescimento coincidiu com o decréscimo das áreas de Solo Exposto e de áreas
ocupadas por Pastagens. Apesar das vantagens em termos da proteção do solo, o
plantio dessa espécie exótica compromete a biodiversidade dessas áreas.
Figura 21 - Cobertura vegetal da bacia: perspectiva vertical das áreas de Reflorestamento por Pinus (a); Visão horizontal das áreas de reflorestamento (b)
Fonte: CONDER, 2010; Foto: a autora (2017).
Estudos como o de Ramos (2015), comprovam o quanto esse tipo de cultura
traz prejuízo à diversidade e a dinâmica dos ecossistemas, por afetar a manutenção
e a sobrevivência da vegetação nativa a médio e em longo prazo. Para a autora, os
planos de restauração de ambientes naturais devem envolver a remoção dessas
plantas exóticas invasoras.
4.3.4 Áreas de Manguezais
A análise espaço temporal das áreas ocupadas por vegetação de mangue
evidenciam que, em termo de área, não houve grandes alterações. Mantendo-se
uma área em torno de 5 km² no período analisado. Verificou-se com as fotografias
aéreas que no ano de 1976 esses ambientes indicavam em alguns pontos,
principalmente nas áreas próximas a RLAM, um aspecto intenso de degradação, em
relação ao ano de 2010. Atualmente, nota-se que algumas dessas áreas foram
regeneradas. Essa recuperação pode está relacionada à redução de costumes,
como o de corte de mangue para o provimento de lenha e estacas para a construção
de cercas.
Apesar da recuperação dos pontos referidos (Figura 22), não se pode afirmar
que houve uma redução dos impactos nessas áreas. Além das complicações
42
resultantes da poluição por efluentes químicos, que vem trazendo sérios prejuízos à
vegetação de mangue, cresce consideravelmente o número de moradias na zona
estuarina.
Figura 22 - Área com desenvolvimento de vegetação de mangue no ano de 1976 (a); Mesma área no ano de 2010, com a vegetação de mangue com sinais de expansão (b)
Fonte: CONDER (1976; 2010).
4.3.5 Áreas Agrícolas
As áreas agrícolas, que correspondem a 16% da bacia em 2010, são
basicamente de culturas temporárias, como mandioca e banana, sendo a maioria
pequenos cultivos (Figura 23). As lavouras intensivas apresentam um percentual
menor de área cultivada, comparando com as pequenas produções de subsistência.
Verifica-se com a análise temporal que, o crescimento das indústrias e a
intensificação do processo de urbanização fizeram com que parte significativa das
propriedades rurais fossem abandonadas, levando por consequência, a um
decréscimo significativo dessas áreas (21,5%).
O estudo publicado pela Comissão Executiva do Plano de Lavoura Cacaueira
(CEPLAC), no ano de 1977, comprova que a vocação agrícola destas terras está
ligada a cultivos perenes, que não precisam de mecanização dos solos. Em razão
de seu caráter conservativo, a cacauicultura é vista por esse estudo como uma
alternativa às produções intensivas, por trazerem contribuições à recomposição da
biodiversidade florística e a proteção do solo.
43
Figura 23 - Perspectiva vertical de área agrícola (a); Área de cultivo de subsistência (b).
Fonte: CONDER, 2010; Foto: a autora (2017).
4.3.6 Solo Exposto
Houve uma redução significativa das áreas de Solo Exposto na bacia
hidrográfica, passando de 3,3 km² de área, no ano de 1976, para 0,5 km² no ano de
2010. Apesar da redução evidenciada, nota-se em alguns pontos que, os processos
erosivos foram intensificados (Figura 24).
Figura 24 - Área de Solo Exposto no ano de 1976 (a); mesma área, com o processo de erosão intensificado, no ano de 2010 (b); Visão horizontal de uma área de solo exposto (c)
Fonte: CONDER (1976; 2010); Foto: a autora (2017).
44
4.3.7 Áreas Industriais
De acordo com os estudos de Veiga (2003), o crescimento desmesurado das
atividades industriais e da ocupação urbana na região do entorno da BTS
contribuíram com o passar dos anos para o seu potencial poluidor, onde o acumulo
de matéria orgânica, compostos derivados de petróleo e de metais pesados vêm
comprometendo a qualidade de suas águas. Ao analisar os passivos ambientais
resultantes dessas indústrias, deve-se levar em conta não apenas a quantidade de
efluentes líquidos despejados, como também a quantidade de emissões
atmosféricas geradas e os produtos e os insumos utilizados (CRA, 2008).
As áreas industriais da bacia ocupam 1,3 Km² em 2010, o que corresponde a
3,6%. Essas indústrias atuam na produção e refino de petróleo, fabricação de
fertilizantes e produtos para nutrição animal, materiais plásticos, resinas e
elastômeros não vulcanizáveis (Quadro 2). As atividades industriais do entorno da
área de estudo também foram consideradas, por contribuírem de alguma forma para
alteração desta (Figura 25).
Os produtos químicos utilizados ou gerados por estas indústrias são bastante
diversos e incluem metais, ácidos minerais, sulfetos e sulfatos metálicos, óleos
vegetais, petróleo e derivados, soda, naftaleno, benzeno, fenol, polipropileno, cloro,
hexano, óxidos, celulose, sisal, brita, amônia, entre outros (HATJE et al., 2009). O
vazamento de óleo e o lançamento de efluentes, de acordo com esses autores,
podem ocasionar impactos bastante significativos na biota, especialmente nas áreas
de manguezais, resultando em implicações diretas nas comunidades ribeirinhas que
têm no extrativismo a principal fonte de proteína e renda.
Quadro 2 Indústrias inseridas na bacia hidrográfica do rio São Paulo e no seu entorno.
Fonte: CRA, 2008. Elaboração: a autora (2017).
Betumat Química Ltda Fabricação de materiais para pavimentação
Bunge Fertilizantes S/A Fabricação de fertilizantes químicos
DOW Brasil S/A Fabricação de produtos químicos
Proquigel Química S/A Fabricação de produtos químicos orgânicos.
Fertipar Fertilizantes do Nordeste Ltda Fabricação de fertilizantes químicos
Plumatex Colchões Industrial Ltda Fabricação de colchões
Unigel Plásticos S/A Fabricação de produtos químicos orgânicos
Petrobrás – RLAM Refino de petróleo
46
4.3.8 Áreas Urbanizadas
Nas últimas décadas, como já exposto, o crescimento das atividades
industriais contribuiu para um acelerado processo de urbanização nos municípios
onde a bacia está inserida. Ao se fazer uma análise temporal, entre o ano de 1976 e
o ano de 2010, pode-se perceber, naturalmente, uma considerável expansão e
densificação dessas áreas (Figura 26).
Atualmente, o crescimento urbano, no caso da cidade de Candeias, direciona-
se para as áreas localizadas nos limites da cidade, caracterizadas como zonas de
exclusão pelo PDDU do município. São áreas de relevo dissecado de alta
declividade que, em alguns pontos, a declividade ultrapassa 45%.
Figura 26 - Cidade de Candeias no ano de 1976 (a); Cidade de Candeias no ano de 2010.
Fonte: CONDER (1976; 2010).
47
No que se refere ao povoado do Rio do Cunha, situado na zona estuarina,
verifica-se que no período analisado houve um crescimento considerável do número
de residências. Assim como a cidade de Candeias, nota-se que o crescimento
urbano intensificou nas áreas de grande fragilidade ambiental, como nas áreas
ocupadas por mangue (Figura 27).
Figura 27 - Povoado do Rio do Cunha, no ano de 1976 (a); povoado do rio do Cunha, no ano de 2010 (b).
Fonte: CONDER (1976; 2010).
As transformações ocorridas nas três últimas décadas, na área de estudo,
podem ser observadas com o mapa de Uso e Cobertura da Terra do ano de 1976
(Figura 28) e por intermédio do mapa de Uso e Cobertura da Terra do ano de 2010
(Figura 29).
50
5 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DA BACIA
A caracterização socioeconômica da área foi feita a partir do setor censitário,
definido como “unidade territorial estabelecida para fins de controle cadastral,
formado por área contínua, situada em um único quadro urbano ou rural, com
dimensão e número de domicílios que permitam o levantamento por um
recenseador” (IBGE, 2010). No caso da bacia hidrográfica do rio São Paulo, existem
52 setores censitários inseridos parcial ou totalmente na bacia, sendo 06
pertencentes ao município de São Francisco do Conde e 47 pertencentes ao
município de Candeias. Dessa forma, para a construção do Índice de
Vulnerabilidade Social, foram coletados dados referentes à renda e qualidade de
habitação.
De acordo com os dados do IBGE, a população de Candeias cresceu de
34.195 em 1970 para 83.158 habitantes no ano de 2010. O incremento populacional
em quarenta anos foi de aproximadamente 143,2%. Com relação ao município de
São Francisco do Conde, a população variou de 20.738 habitantes no ano de 1970
para 33.183 no ano de 2010 (Figura 30).
Figura 30 - População residente nos municípios de Candeias e São Francisco do Conde no período de 1970 - 2010
Fonte: IBGE, 2010. Elaboração: a autora (2017).
Os dados relativos às características demográficas da bacia hidrográfica do
rio São Paulo, baseados no último censo de 2010, apontam para uma população de
aproximadamente 43.622 habitantes, sendo que 3.854 destes encontram-se na zona
51
rural e 39.798 habitantes na zona urbana, com densidade demográfica de 1,2 hab/
km². Verifica-se que 90, 5% dessa população é alfabetizada (Tabela 5).
Tabela 5 - População residente na bacia hidrográfica do rio São Paulo, 2010.
Município
Pop. (Hab.)
Zona urbana Zona rural Densidade
demográfica População
alfabetizada
Total Total % Total % (hab/km²) Total %
Candeias 83.158 75.994 91.3 7.164 8,6 321,87 69.017 83
São Francisco do Conde 33.183 27.391 82.5 5.792 17.4 126,24 26.707 80,5 BHRS
43.622 39.798 91.2 3.854 8.8 1,2 39.458 90,5
Fonte: IBGE (2010). Elaboração: a autora (2017).
Em termos de saneamento básico, o abastecimento de água via rede, dos
domicílios particulares permanentes, apresentaram taxas de atendimento de 93,5%
para Candeias, 92% para São Francisco do Conde e 98% para a BHRS. Nas áreas
rurais algumas residências utilizam outras fontes de abastecimento de água, sendo
a mais frequente o uso de poço ou nascente (Tabela 6).
As condições de esgotamento sanitário, segundo os dados do IBGE (2010),
são consideradas bastante inadequadas. No município de Candeias, 67% dos
domicílios recebem esse tipo de serviço. Já São Francisco do Conde tem apenas
53% dos seus domicílios ligados à rede geral.
Tabela 6 - Indicadores de saneamento na bacia hidrográfica do rio São Paulo, 2010.
Município Total de
domicílios
Esgotamento sanitário Abastecimento de água
Coleta de lixo
Rede Geral
Fossa Séptica
Fossa Rudimentar
Lançado Rio ou
Mar
Rede Geral
Poço ou nascente
Com coleta
Jogado em
terreno baldio
Candeias 24.921 15.818 2.316 3.355 369 23.306 562 21.849 1.636
São Francisco do Conde
9.436 4.541 1.158 1.454 774 8.718 295 8.756 164
BHRS 12.890 9.072 690 1.616 272 12.237 211 11.923 490
Fonte: IBGE, 2010. Elaboração: a autora (2017).
Na bacia hidrográfica do rio São Paulo, os 9.072 domicílios ligados à rede
geral de esgoto, estão todos localizados na cidade de Candeias. Nas áreas mais
52
afastadas da cidade, como a localidade do Rio do Cunha, o tipo mais comum de
escoadouro é a fossa artesanal ou rudimentar. Esse tipo de instalação consiste em
um buraco cavado na terra, onde são direcionados os dejetos, por não haver
nenhum tipo de tratamento, o esgoto em contato direto com o solo, acaba por
contaminar o lençol freático.
A coleta de lixo, alcança a 93% das residências e ocorre de 2 a 3 vezes por
semana. Porém, há ainda um número significativo de residências que não recebe
este serviço, onde ainda queimam o seu lixo ou destinam o lixo a terrenos baldios ou
logradouro.
Diante da degradação dos corpos hídricos, a necessidade de ampliação de
instalações sanitárias torna-se evidente, principalmente nas localidades próximas ao
estuário que, apresentam um número considerável de residências que lançam seus
esgotos direto no rio/mar. Na pesquisa aplicada, 58% dos entrevistados afirmaram
que os esgotos de seus domicílios são lançados direto no mar/rio, e 40% que
possuem fossas rudimentar. Apenas 2% dos entrevistados declaram que os esgotos
de seus domicílios são lançados em canais a céu aberto (Figura 31).
Figura 31 - Disposição do esgotamento sanitário
Fonte: a autora (2017).
Quando questionados sobre os problemas que estes acreditavam serem os
mais agravantes em termos ambientais, 40% destacaram os problemas
concernentes aos esgotos a céu aberto (Figura 32). Sendo que as problemáticas
causadas pelos efluentes industriais apontadas como a mais preocupante (46%).
Além disso, a pesca predatória, feita com bomba e rede de arrasto (5%) e a poluição
do ar (3%), foram apontadas por alguns entrevistados como o maior problema
percebido na área. Algumas marisqueiras, por exemplo, relataram que as vezes
53
precisam proteger o nariz com um pano, por causa do odor forte, nas áreas
próximas aos canos que são lançados os efluentes industriais.
Figura 32 - Problemas ambientais identificados na bacia do rio São Paulo
Fonte: Dados da Pesquisa, 2017.
Quanto ao grau de instrução da população, segundo os dados do IBGE
(2010), para os municípios analisados, pode-se observar que os números dos dois
municípios não diferem muito. No município de Candeias, 95,78% das crianças de 5
a 6 anos estão cursando o ensino fundamental e a proporção de jovens, entre 15 a
17 anos com o ensino fundamental completo era de 44,1%. Enquanto o percentual
de jovens entre 18 a 20 anos com o ensino médio completo era de 34,22%.
Na localidade do Rio do Cunha, dos 68 participantes da pesquisa, 12%
possuem ensino médio completo, 29% ensino fundamental completo, 35%
fundamental incompleto e 24% ensino médio incompleto (Figura 33).
Figura 33 - Grau de Instrução dos entrevistados da pesquisa
Fonte: a autora (2017).
54
No município de São Francisco do Conde 99,25% das crianças de 5 a 6 anos,
são matriculadas no ensino fundamental e 41,67% dos jovens entre 15 a 17 anos já
concluíram o ensino fundamental. A proporção de jovens entre 18 a 20 anos com
ensino médio completo é de 32,02%.
No que se refere à renda, o município de Candeias e São Francisco do Conde
possuem uma renda per capita média de R$ 462,57 e R$ 433,23, respectivamente.
Apesar do município de São Francisco do Conde apresentar um crescimento, nas
últimas duas décadas, de sua renda per capita com 185,67%, superior a do
município de Candeias com 111,64%, a proporção de pessoas pobres, com renda
familiar inferior a R$ 140,00 é maior que a deste município (18,84%), enquanto em
Candeias a proporção é de 17,44% (IBGE, 2010).
Na área de estudo, de acordo com os dados por setor censitário do IBGE do
ano de 2010, o percentual de pessoas responsáveis sem rendimento é de 19,5%.
Na pesquisa, 70% declararam receber até um salário mínimo, 25% menos de um
salário e apenas 4% alegaram ter renda familiar acima de dois salários mínimos.
Dos entrevistados, 50% trabalhavam como pescadores, 25% como marisqueiras,
17% trabalhavam no comércio local, 5% declararam serem donas de casa e 3%
eram estudantes (Figura 34).
Figura 34 - Ocupação dos entrevistados da pesquisa
Fonte: a autora (2017).
As figuras 33 e 34 sintetizam os resultados do perfil sócio-econômico dos
moradores. Como pode ser observado, 35% dos chefes de família entrevistados não
chegaram a concluir o ensino fundamental e apenas 12% concluíram o ensino
médio. Dessa forma, o baixo nível de escolaridade tem uma relação direta com a
renda, visto que a maior parte dos chefes de família são pescadores ou marisqueiras
55
e têm como única renda fixa mensal, benefícios sociais como Bolsa Família e/ou o
auxilio defeso que é disponibilizado para os cadastrados na Colônia de Pescadores.
Quanto à estrutura domiciliar, notou-se durante o campo que a grande maioria
das residências é de alvenaria com reboco e tem ligação à rede geral de água. Entre
todos os entrevistados, apenas 1% declararam morar de aluguel, a maioria das
residências são próprias, unifamiliar, com quatro a cinco membros. Tratando-se da
infraestrutura das moradias, verifica-se que a grande problemática, consiste na
ausência de rede geral em todas as residências e a ocupação em áreas de
manguezais, as ruas estão surgindo em direção ao manguezal, ocasionando, em
alguns pontos, seu aterramento.
Ao serem questionados por construírem em áreas de manguezais e em
terrenos de marinha2, a maioria dos moradores mostrou-se ciente de estar em uma
Área de Proteção Permanente. O principal atrativo dessas áreas é seu baixo valor
imobiliário. As condições de vulnerabilidade social refletem a falta de equipamentos
básicos de saneamento que, leva a maioria dos ocupantes da zona estuarina usar
os córregos próximos às suas residências para lançarem seus efluentes, alguns têm
que enfrentar, nos períodos mais chuvosos, água contaminada por esgoto dentro de
suas casas, devido aos constantes alagamentos.
Comparativamente, percebe-se que alguns setores apresentam melhores
condições, em termos de infraestrutura urbana, enquanto outros as condições são
precárias. Os setores localizados nos limites da cidade de Candeias (área sujeita a
deslizamentos) e os localizados na zona estuarina (ambiente comprometido, devido
ao lançamento de efluentes domésticos e industriais) foram os que apresentaram os
maiores Índices de Vulnerabilidade Social (Figura 35).
2 São terrenos de marinha, 33 (trinta e três) metros, medidos horizontalmente, para a parte da terra, da posição da linha do preamar-médio de 1831. (DECRETO-LEI Nº 9.760, DE 5 DE SETEMBRO DE 1946).
56 Figura 35 - Índice de Vulnerabilidade Social por setor censitário na bacia hidrográfica do rio São Paulo, 2017
57
6 VULNERABILIDADE AMBIENTAL
6.1 IMPACTOS AMBIENTAIS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO PAULO
Ao tratar dos impactos ambientais, Ross (1996) coloca que o homem, como
ser social, interfere criando novas situações ao construir e ordenar os espaços
físicos. Essas modificações no ambiente natural alteram o equilíbrio de uma
natureza que não é estática, mas que apresenta quase sempre um dinamismo
harmonioso em evolução estável e contínua, quando não afetada pelo homem.
Deste modo, os principais tensores de origem antrópica na bacia (Quadro 3), estão
basicamente relacionados à ocupação do solo e à produção industrial. Essas
alterações ambientais foram observadas por meio do levantamento bibliográfico em
pesquisas científicas de cunho ambiental que tratavam da área estudada, bem como
observações durante a atividade de campo e através de entrevistas com os
moradores.
Quadro 3 - Tensores ambientais na bacia hidrográfica do rio São Paulo
Tensores Ambientais Localidades
Supressão da vegetação de mangue
Estuário do rio São Paulo
Exploração de arenoso de forma ilegal Na cidade de Candeias/No
distrito de Passé
Poluição atmosférica Em toda bacia
Supressão de vegetação nativa por monoculturas,
sobretudo por extensos bambuzais, Pinus e eucaliptos
Em toda a bacia
Alteração na qualidade da água por contaminação com
coliformes e contaminação por resíduos químicos
Em toda a bacia, principalmente
no estuário.
Ocupações irregulares em Áreas de Proteção Ambiental
Estuário do Rio São
Paulo/Cidade de Candeias.
Fonte: Ramos Junior (2012); Dados da Pesquisa (2017). Elaboração: a autora (2017).
6.1.1 Contaminação da Água
Um dos grandes passivos ambientais nessa área é a presença de metais
pesados nos corpos hídricos, principalmente na zona estuarina. Estudos como os de
58
Milazzo (2011) e Ramos Jr. (2012), evidenciam como a qualidade dessas águas
vem sendo comprometida devido a concentração desses metais.
De acordo com Milazzo (2011), alguns pontos do rio São Paulo se encontram
com valores máximos em relação à concentração de metais estabelecidos pelos
órgãos oficiais. Segundo esse autor, os valores encontrados para metais como
cobre, zinco e manganês, estão acima do limite máximo tolerável3 pelo Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).
O estudo feito por Ramos Jr. (2012) mostra valores considerados
preocupantes, principalmente no que diz respeito à concentração de alumínio em
alguns trechos do rio. Esse autor afirma que, na área de influência do rio São Paulo,
existe uma série de indústrias químicas, petroquímicas e siderúrgicas que podem
ser citadas como uma possível fonte de contaminação (ANEXO A).
Ao tratar do grau de contaminação por hidrocarbonetos, Celino; Queiroz
(2006), afirmam que as zonas de manguezais, na área de influência do complexo
petrolífero instalado, têm registrado a presença de petróleo e derivados nos seus
sedimentos superficiais, mesmo em áreas consideradas remotas.
Além dos problemas associados à contaminação por atividades industriais, é
também o excesso de nutrientes provenientes principalmente da deficiência do
sistema de saneamento básico, um dos grandes problemas da área de estudo. A
concentração de Coliformes Termotolerantes4 foi considerado o parâmetro mais
representativo na determinação dos Índices de Qualidade de Água (IQA), no estudo
de Ramos Jr. (2012). Os pontos próximos à cidade de Candeias e os próximos à
desembocadura do rio São Paulo, apresentaram os maiores valores de
concentração desses Coliformes.
Das 68 casas visitadas durante a aplicação do questionário, 58% lançam seus
esgotos em pequenos córregos ou diretamente no mar e, 2% dos esgotos são a céu
aberto. Dessa forma, os problemas ligados ao saneamento inadequado são
apontados pelos moradores como o segundo maior problema ambiental da
3 Com relação à concentração de cobre na forma dissolvida, a resolução CONAMA 357 estabelece como
valores máximos toleráveis para águas salinas a concentração de 0,005 mg/L. Os valores máximos estabelecidos para a concentração de zinco na fração total é de 0,09 mg/L. Já os valores máximos estabelecidos para a concentração de manganês é de 0,1 mg/L (MILAZZO, 2011). 4 Coliformes termotolerantes são bactérias Gram-negativas, em forma de bacilos, oxidase negativas, caracterizadas pela atividade da enzima ß-galactosidase. Esses microrganismos podem crescer em meios contendo agentes tenso-ativos e fermentar a lactose nas temperaturas de 45°C (CONAMA, 2005).
59
localidade que a pesquisa foi aplicada. Os altos valores apresentados no estuário,
no que diz respeito à concentração de coliformes, devem-se a falta de infra-estrutura
de saneamento básico. Os esgotos são lançados sem tratamento diretamente nas
áreas de manguezais, rios e córregos (Figura 36).
Figura 36 - Esgoto lançado diretamente no manguezal do estuário da BHRS (a, b).
Fonte: a autora (2017).
Esses resultados reforçam a necessidade da implementação de uma política
de monitoramento das regiões costeiras e estuarinas, com vistas a estabelecer
métodos que possibilitem melhor compreensão dos padrões de dispersão dos
poluentes (VEIGA, 2003). Além disso, deve-se buscar o tratamento adequado do
esgoto dessas localidades, exigindo o cumprimento dos parâmetros ambientais para
seu lançamento nos córregos e no mar.
A concentração de efluentes industriais e domésticos na zona estuarina da
bacia torna-se preocupante devido à lenta renovação de suas águas. Ao avaliar o
tempo de residência de substâncias passivas e conservativas no interior da BTS,
substâncias que apresentam tempo de vida superior ao da escala da maré ou de
decaimento muito lento, como os metais pesados, Lessa (2009) e Xavier (2002),
colocam que os maiores tempo de residência concentram-se no entorno da porção
norte da BTS, destacando, dessa forma, o estuário do rio São Paulo como uma das
áreas extremamente propicias ao acúmulo de contaminantes e detritos, por estar
localizada, segundo os autores supracitados, em áreas de fundo de baía que,
geralmente, apresentam correntes fracas.
6.1.2 Ocupações irregulares em Áreas de Proteção Permanente (APPs)
60
A falta de ordenamento do uso do solo vem contribuindo para o crescimento
de moradias em áreas de risco a escorregamento. Localizadas na cidade de
Candeias, as áreas de maior risco em termos de ocupação urbana, possuem
declividades superiores a 20%. Mesmo com essas características naturais que
indicam restrições à ocupação, essas áreas possuem diversas construções de
alvenaria precária que lançam seus efluentes domésticos diretamente nos taludes
(Figura 37 e Figura 38).
Esse cenário crítico se repete em grande parte das Zonas de Exclusão5
estabelecidas pelo município, ou seja, em áreas consideradas como de alta
suscetibilidade a processos de escorregamento. Além do decreto municipal, ao
construírem nessas zonas desconsideram, também, a Lei n° 12.651, de 25 de maio
de 2012 (Novo Código Florestal), que não recomenda a construção de imóveis em
Áreas de Proteção Permanente6.
Figura 37 - Áreas de grande extensão de solo exposto na cidade de Candeias (a); área 1 da figura aproximada (b); área 2 da figura aproximada (c).
Fonte: CONDER (2010).
Segundo a defesa civil do município, foram registradas em 2015, no período
chuvoso, 904 ocorrências nessas áreas. Constam nesses registros: 127
5 São declaradas Zonas de Exclusão as áreas consideradas de alto risco, não sendo permitida nenhuma espécie de edificação sem a prévia aprovação e licença da Administração Pública (CANDEIAS, LEI MUNICIPAL Nº 622 / 2005). 6 São consideradas Área de Preservação Permanente: as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior declive (BRASIL, LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012.
61
desabamentos de moradias; 73 riscos de desabamento; 3600 de desalojados; 800
desabrigados e 2 feridos. Tais problemáticas devem-se ao fato, de que nas áreas
urbanas, as medidas curativas ainda sobrepõem às preventivas (BOTELHO; SILVA,
2012).
Figura 38 - Ocupação em área de declividade alta na cidade de Candeias (a, b, c, d)
Fonte: a autora (2017).
No que se refere às áreas de mangue, apesar de constar como diretriz no
Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal de Candeias a contenção da expansão
urbana e realocação das moradias sobre esse ambiente, na prática, pouco se tem
feito para a salvaguarda dessas áreas. Nas atividades de campo na localidade do
Rio do Cunha, foram observadas cerca de 140 moradias em áreas de manguezal
(Figura 39).
Outra questão preocupante é a grande quantidade de lixo encontrado nesses
ambientes. Na aplicação do questionário de percepção ambiental, todos os
entrevistados responderam que há uma regularidade na coleta, com recolhimento
três vezes por semana. Ainda assim, é grande o número de resíduos encontrados
em áreas de manguezais.
62
Figura 39 – Construção em área de manguezal próxima à zona estuarina do rio São Paulo (a, b); disposição de lixo em áreas ocupadas por vegetação de mangue (c, d)
Fonte: a autora (2017).
Tais condições evidenciam a ausência de fiscalização por parte do município
nessas áreas de Preservação Permanente e, a falta de conscientização dos
moradores uma vez que, o lixo encontrado no manguezal, mesmo havendo uma
coleta regular, é claramente de origem doméstica, sendo os pontos mais próximos
das casas muito mais poluídos do que os mais afastados. Os valores de
Vulnerabilidade Ambiental na bacia hidrográfica do rio São Paulo podem ser
observados na figura 40.
64
7 VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA BACIA
A partir da caracterização socioambiental, considerando as classes dos solos,
a declividade do terreno, o Uso e Cobertura da Terra e com base nos Índices de
Vulnerabilidade Social, obtidos a partir dos dados por setor censitário do IBGE,
foram estabelecidos os graus de Vulnerabilidade Socioambiental da área de estudo
(Figura 41).
Vulnerabilidade Baixa: Ocorre, em sua maioria, a montante do rio São Paulo,
são áreas de baixa densidade de domicílios, com predomínio de vegetação de mata
secundária. Corresponde às áreas de relevo plano a suave ondulado do Grupo Ilhas
que, apesar de serem constituídas por vertissolos, solos expansivos de alta
vulnerabilidade, são menos suscetíveis a erosão devido a baixa declividade.
Ocupam uma área total de 5,3 km², representando 15% da bacia.
Vulnerabilidade Média: Ocorre nos três tipos litológicos encontrados na bacia,
sendo sua maior parte no relevo ligeiramente movimentado dos terrenos do Grupo
Ilhas, e nas áreas de declividade média do Grupo São Sebastião e Barreiras. Essas
áreas têm seu uso, em grande parte, voltado para pequenas cultivos de subsistência
e Silvicultura. Os setores localizados nessas áreas possuem acesso maior aos
serviços urbanos básicos, com grande percentual de residências com ligações
sanitárias via rede geral ou a fossas sépticas, forma mais adequada de saneamento,
se comparada às fossas artesanais e as ligações lançadas diretamente no mar ou
nos rios. Com área total de 14,1 km², representam 39% da bacia.
Vulnerabilidade Alta e Muito Alta: correspondem respectivamente a 37% e 9%
da bacia. Trata-se de áreas, como as localizadas na cidade de Candeias, onde as
limitações naturais existentes, devido a alta declividade e o solo arenoso, são
potencializadas com as interferências antrópicas, como o lançamento de esgotos
diretamente no taludes.
Alguns pontos localizados na zona estuarina apresentaram também valores
muito alto de vulnerabilidade. Isso se dá pelo grande numero de residências nas
áreas com vegetação de mangue. Essas áreas são naturalmente vulneráveis, devido
à alta sensibilidade desse ecossistema a fatores externos. Nessas áreas a
população em sua maioria, possui um baixo nível de escolaridade e uma renda
inferior a um salário mínimo, o que as torna por consequência, dependente desse
65
ambiente para obterem seu sustento. As principais problemáticas dessas áreas,
estão relacionadas as condições inadequadas em relação a saneamento básico,
especialmente, o expressivo número de residências que lançam efluentes
domésticos sem nenhum tipo de tratamento no mar ou córregos próximos às
residências. Essas ocorrem em 9% da bacia, ocupando uma área total de 3,1 km²
(Quadro 4).
66 Quadro 4 - Classes de Vulnerabilidade Socioambiental da bacia hidrográfica do rio São Paulo.
Valor de
Vulnerabilidade
Categorias
Área
Uso e Cobertura da Terra
Declividade
Geologia
Pedologia
Índice de
Vulnerabilidade Social
Km²
%
Baixo
• Mata secundária
< 12
-
-
0,93 a 0,96
5,3
15
Médio
• Área agrícola
• Reflorestamento (Plantação de Pinus)
13 a 20
Barreiras São Sebastião
Argissolos
0,88 a 0,92
14,1
39
Alto
• Área Urbana.
• Pastagem
21 a 30
-
-
0,83 a 87
13,4
37
Muito alto
• Sem cobertura Vegetal – Solo Exposto
• Área de Vegetação de Mangue
• Área Industrial
Acima de 30
Grupo Ilhas
Vertissolos Gleissolos
0,57 a 0,81
3,1
9
Fonte: Dados da pesquisa (2017). Elaboração: a autora (2017).
68
8 CONSIDERAÇOES FINAIS
Com a determinação da Vulnerabilidade Socioambiental da bacia hidrográfica
do rio São Paulo, verificou-se que as áreas de vulnerabilidade média, foram as mais
representativa na área de estudo, totalizando 14,1 km² (39%). Comparativamente,
esses setores possuem moradias com melhores infraestrutura urbana, com grande
parte dos domicílios ligados à rede geral de esgoto ou à fossa séptica. Essas áreas,
correspondem aos terrenos com declividade média, com predomínio de áreas
Reflorestadas por Pinus e Agrícolas.
As áreas com menores valores de vulnerabilidade, foram localizadas nos
setores com pouca densidade de domicílios, onde, apesar dos terrenos constituírem-
se predominantemente por vertissolos, a estabilidade é garantida pela cobertura
vegetal de Mata Secundária. Ocupam uma área total de 5,3 km² (15%).
O oposto é observado nas áreas de relevo muito dissecado na cidade de
Candeias e nas áreas ocupadas por vegetação de mangue na zona estuarina. As
condições de fragilidade desses ambientes são intensamente agravadas em razão
da concentração de moradias sem infraestrutura urbana adequada. A variável
determinante, que difere as áreas de alta vulnerabilidade das de vulnerabilidade
muito alta, em grande parte da área de estudo, foram a condições socioeconômicas
dos setores. As áreas de vulnerabilidade alta compreende cerca de 37% ( 13,4 km²)
da área de estudo, enquanto as de vulnerabilidade muito alta representam 9% (3,1
km²).
Com a análise espaço-temporal, percebe-se que no processo de ocupação do
solo, a alta fragilidade ambiental de grande parte da bacia hidrográfica, não foi
considerada. A implantação de indústrias em áreas de recarga de aquífero e em
manguezais, bem como o adensamento de moradias em zonas de alta declividade e
solo arenoso, denunciam a ineficiência na gestão desses ambientes.
As condições socioeconômicas dos que vivem em áreas de maior
vulnerabilidade ambiental, evidenciam a segregação socioespacial existente na área
de estudo. Os que habitam nesses locais, têm acesso deficiente aos serviços
urbanos essenciais, principalmente no que diz respeito aos serviços de saneamento
básico.
Assim, o adensamento de moradias em Áreas de Proteção Permanente
(APPs), um dos pontos mais críticos analisados nessa pesquisa, comprovam a
69
ineficiência por parte dos gestores públicos no cumprimento da legislação em vigor.
Dessa forma, torna-se imprescindível que a Lei Municipal, que estabelece a
proteção de áreas de sensibilidade ambiental, seja executada de maneira a efetivar
as políticas de contenção da expansão urbana em áreas de riscos a deslizamentos e
de relocação das moradias sobre o manguezal.
A avaliação da percepção ambiental permitiu identificar o nível de
conhecimento e conscientização dos problemas ambientais da população que reside
próximo à zona estuarina. Verifica-se que, existe uma carência muito grande de
projetos de sensibilização ambiental. Problemáticas como a concentração de lixo
nos manguezais, poderiam ser minimizadas com a tomada de consciência frente ao
meio ambiente, por parte dessa comunidade.
Os métodos adotados para esse estudo, as ferramentas de
geoprocessamento e, sobretudo, o trabalho de campo, foram de extrema
importância à classificação da Vulnerabilidade Socioambiental da bacia hidrográfica
do rio São Paulo. O mapeamento das classes de declividade do terreno, assim como
das classes de solo e a espacialização dos usos, mostraram-se fundamentais para a
identificação das problemáticas ambientais dessa área.
70
REFERÊNCIAS
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76 APÊNDICE B - Tabulação das variáveis para obtenção do Índice de Vulnerabilidade Social.
Fonte: A autora, 2017.
77
APENDICE C – Questionário de Percepção Ambiental
LOCALIDADE/ MUNICIPIO
N° do questionário:
IDENTIFICAÇÃO
1. Ocupação:
______________________________________________________
Sexo: 1. ( ) Masculino
2. ( ) Feminino
2. A Moradia é: a. ( ) própria b. ( ) alugada c. ( ) cedida
3. Tempo aproximado de residência no domicilio _________
4. Tempo de residência na localidade ________
5. Renda aproximada da família:
( ) 1 a 2 salários ( ) 2 a 4 salários ( ) 4 a 8 salários ( ) 8 ou mais salários
6. Numero de residentes no domicilio________
DADOS DE MORADIA
1. Características físicas
7. ( ) Alvenaria com reboco
8. ( ) Alvenaria sem reboco
9. ( ) Madeira
10. ( ) Taipa
( ) Outros
11. Abastecimento de água - modo de fornecimento:
1. ( ) Ligado à rede
2. ( ) Poço artesiano
3. ( ) Cisterna
4. ( ) Cedida
5. ( ) Nascente
6. ( ) Gato
7. ( ) outros
8. DISPOSIÇÃO ESGOTO SANITÁRIO
1. ( ) Ligado à rede e funcionando
2. ( ) Ligado à rede sem funcionar
3. ( ) Jogado diretamente no mar/rio
4. ( ) Fossa artesanal
5. ( ) Canal fechado
6. ( ) Canal a céu aberto
7. ( ) a céu aberto na rua
10. Características da rua
1. Asfalto
2. Paralelepipedos
3. Terra batida
4. Outros_________________
_
11. Qual o maior problema
ambiental de onde você
mora?
1. ( ) Disposição de lixo em
área inadequada
2. ( ) Esgoto a céu aberto
3. ( ) Poluição da água
4. ( ) Poluição do ar
5. ( ) Pesca predatória
6. ( ) Produtos químicos das
industrias
7. ( ) Outro
12. Qual o nível de importância de se
preservar o manguezal ?
1. ( ) Muito alta
2. ( ) Alta
3. ( )Média
4. ( )baixa
13. ABASTECIMENTO DE ÁGUA – REGULARIDADE
1. ( ) Diária, o dia todo 2. ( )Diária uma vez por dia
3. ( ) de 02 a 03 vezes por semana 4. ( )Uma vez por semana
5. ( ) uma vez a cada 15 dias 6. ( ) Uma vez por mês
14. LIXO – FREQUÊNCIA DA COLETA
1. Não há coleta
2. Todos os dias
3. 4 a 6 vezes por semana
4. 2 a 3 vezes por semana
5. 1 vez por semana 1 a vez a cada 15 dias
6. 1 vez por mês
15. Você sabe o que é uma bacia hidrográfica e em qual você se
encontra?
( ) sim ( ) não
16. Você sabe qual é o nome do rio que passa mais próximo a sua casa?
( ) sim ( ) não Se sim citar:__________________________
17. O rio próximo à sua casa serve para alguma
coisa?
Sim ( ) Não ( )
18. Qual a sua opinião sobre a qualidade deste rio?
( ) não sabe ( ) ótima ( ) boa ( ) regular ( ) ruim ( ) péssima
Elaboração: A autora, 2017.