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I Encontro Nacional do Agronegócio Pimenta (Capsicum spp.)
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SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE MUDAS HORTÍCOLAS
EM AMBIENTE PROTEGIDO
Pedro A. J. Faria Jr.
Eng. Agrônomo
Cultivar – Soluções para Agricultura Ltda
www.acultivar.com.br
ÍNDICE
I. Introdução.........................................................................................................................1
II. A Estrutura Física ............................................................................................................2
III. Equipamentos.................................................................................................................5
IV. O Meio de Cultivo ...........................................................................................................9
V. Irrigação ........................................................................................................................10
VI. Fertirrigação .................................................................................................................13
VII. Controle de pragas e doenças ....................................................................................15
VIII. Aspectos Finais ..........................................................................................................15
I. Introdução
A produção empresarial de hortaliças é uma atividade que vem provando, a cada ano que
passa, a necessidade de se abandonar os velhos sistemas informais de produção e de
comercialização de verduras e legumes.
O crescente custo de produção, o controle do uso da água, a pressão cada vez maior de
pragas e doenças e as fortes oscilações de preço no mercado atacadista demandam
eficiência máxima em cada passo do processo produtivo. Qualquer deslize repercute
fortemente na lucratividade do produtor.
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A produção de mudas deve ser encarada como a etapa inicial do processo produtivo, e
atualmente é uma atividade de alta tecnologia; com o advento das sementes híbridas, de
valor elevado, o semeio direto de grandes quantidades de semente para posterior raleio
tornou-se economicamente inviável. Além disto, o transplante de mudas permitiu a
implantação de campos de produção com alta uniformidade, além de reduzir os riscos do
período inicial do desenvolvimento da cultura.
Pelo valor do investimento e pelo grau de especialização necessários, a produção de
mudas hortícolas deve ser encarada como atividade para profissionais. A produção de
mudas pelo próprio agricultor só se justifica em casos especiais, exigindo a contratação
de profissionais especializados e a adoção de práticas de segurança fitossanitária
bastante rígidas, para se evitar a contaminação das mudas com patógenos e insetos
provenientes da área de cultura.
II. A Estrutura Física
O planejamento da estrutura física de um viveiro de mudas leva em conta diversos fatores
geográficos e climáticos. A escolha do terreno deve permitir uma combinação ideal de
insolação, resguardo de ventos fortes, boa topografia, suprimento adequado de água e
facilidade de acesso. É evidente que nem sempre todos estes fatores podem ser
contemplados ao mesmo tempo, e aí entra a habilidade do projetista em prover soluções
técnicas combinando a capacidade de investimento do viveirista com a disponibilidade de
equipamento.
É importante lembrar que um viveiro de mudas não funciona apenas com a estufa de
produção; um conjunto de prédios e estruturas de apoio é necessário, e sua localização
dentro do terreno influi fortemente na eficiência dos serviços rotineiros. Tais são:
Rodolúvio – equipamento destinado à desinfecção de veículos que entram no viveiro e
que podem, potencialmente, trazer patógenos do campo; deve estar localizado na entrada
do viveiro e seu acionamento deve ser, sempre que possível, automático;
Escritório – deve estar localizado em um ponto tal que possa barrar todo e qualquer
veículo que chegue ao viveiro; centraliza todas as operações administrativas, mas deve
estar isolado do restante das estruturas de apoio, pois é o local de atendimento ao
público;
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Área de recepção de bandejas – local onde as bandejas que retornam do campo são
depositadas para triagem, lavagem e desinfecção; esta área deve contar com suprimento
farto de água limpa e facilidade de escoamento de água suja para reciclagem ou
descarte;
Centro de Operações – é a estrutura onde se estocam substrato, bandejas limpas e
onde se faz a semeadura das bandejas – manual ou mecanicamente; esta estrutura é
ainda dotada de uma câmara de germinação – local onde a temperatura e a umidade do
ar são controladas para permitir o aproveitamento máximo da germinação e do vigor das
sementes plantadas;
Casa de bombas – é o local onde estão instaladas as bombas e filtros de adução de
água do sistema de irrigação;
Reservatório de água – deve ser, de preferência, um tanque metálico, fechado,
totalmente escuro, onde será armazenada água suficiente para no mínimo dois dias de
irrigação do viveiro.
Unidade geradora – o viveiro deve contar com uma unidade geradora de energia elétrica
de emergência, para que seu funcionamento não seja paralisado em caso de interrupção
no fornecimento de energia da rede pública; o cálculo da carga emergencial deve ser feito
por um engenheiro elétrico.
Quanto às estufas propriamente ditas, de uma maneira geral as estruturas metálicas
galvanizadas a fogo têm provado ser as que aliam maior durabilidade à maior segurança
contra a incidência de ventos fortes; diversos modelos estão disponíveis, mas infelizmente
não existe no Brasil, ao contrário do que ocorre na Europa e EUA, uma regulamentação
quanto à resistência mecânica destas estruturas. Este fato é bastante grave, já que
normalmente as mudas valem bem mais, por metro quadrado, do que a própria estrutura
que as protege. A comparação criteriosa das estruturas orçadas, assim como a consulta a
um agrônomo experiente no ramo, podem evitar surpresas desagradáveis no futuro.
Estruturas mais longas do que largas costumam permitir melhor ventilação cruzada, e
devem ser preferidas (Figura 1); a altura das colunas de pé-direito deve ser de no mínimo
quatro metros, e o teto, quando possível, deve ser provido de lanternim ou janelas zenitais
– aquelas que se abrem no teto; o objetivo destas estruturas é permitir a exaustão do ar
quente que se acumula nas camadas mais altas da estufa.
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A melhor orientação da cumeeira é Norte-Sul; no entanto, a cobertura da estufa com filme
difusor de luz pode, até certo ponto, corrigir um possível desvio de orientação da
estrutura; além disto, este tipo de filme dá muito melhor uniformidade nas mudas, em
função da melhor distribuição de luz para as plantas. De qualquer maneira, todo e
qualquer equipamento ou construção que possa sombrear o viveiro deve,
preferencialmente, estar localizado na face sul da estrutura.
Estufas com estruturas tradicionais (Figura 2) ainda são bastante usadas, e em alguns
casos com resultados bons do ponto de vista de qualidade de muda, porém com baixa
eficiência operacional e alto risco de doenças e distúrbios fisiológicos, principalmente
devido a altas temperaturas e excesso de umidade.
Figura 1 - Vista aérea – Viveiro de Mudas Brambilla / Morrinhos - GO .foto da época da implantação, com dois blocos de 4.968 m2.
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Figura 2 – Vista aérea – Viveiro de Mudas Brambilla / Piacatu – SP. Observar as diversas estufas em módulos independentes.
III. Equipamentos
Dentre os equipamentos utilizados pelos viveiros, destacam-se pelo valor investido as
bandejas de produção de mudas, as máquinas e acessórios usados para semeadura, as
câmaras de germinação e as máquinas para lavagem de bandejas.
As bandejas mais utilizadas ainda são as de poliestireno, mas as bandejas plásticas de
polietileno injetado vêm ganhando cada vez mais espaço no mercado. A introdução do
poliestireno para a fabricação de bandejas foi, no seu tempo, uma grande revolução
tecnológica; leve e de baixo custo, permitiu que a técnica de produção de mudas
avançasse tremendamente. No entanto, com o uso do poliestireno de densidade baixa –
uma demanda criada pela necessidade de reduzir o custo das bandejas - vieram os
problemas; sendo um material frágil, era de se esperar que as bandejas fossem utilizadas
poucas vezes e depois fossem descartadas. Mas as bandejas de poliestireno passaram a
ser usadas até quase o início da desintegração; atacadas pelas raízes das próprias
mudas e por outros agentes externos, suas paredes vão se tornando porosas, absorvem
água, nutrientes, defensivos, terra, etc. A lavagem com água a alta pressão passou a ser
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necessária, acelerando ainda mais a degradação do material. Além disto, a perda de
bandejas quebradas vem atingindo níveis de até 30% ao ano; em algumas regiões, como
nas áreas de produção de fumo, as bandejas quebradas abandonadas no campo
passaram a ser um problema de ordem ambiental. Como o poliestireno, até hoje, ainda
não pode ser reciclado, as bandejas quebradas acabam sendo queimadas, com graves
prejuízos ambientais.
Assim, existe uma tendência cada vez maior de se substituir o poliestireno pelo polietileno
injetado. Este foi o caminho percorrido nos países desenvolvidos, e no Brasil não deverá
ser diferente. As bandejas plásticas (Figura 3) nunca se tornam porosas, evitando
contaminações químicas e biológicas; como o material é resistente, as bandejas podem
ser lavadas com água a alta pressão e em menor volume, com muito maior eficiência.
Podem, inclusive, ser desinfetadas com água quente, e não com produtos químicos como
é feito atualmente. O sistema radicular se forma com muito maior vigor e sanidade, e o
lote de mudas é muito mais homogêneo (Figura 4). O índice de reposição de bandejas cai
para níveis próximos de 2% ao ano, ou menos, e o material é reciclável.
Figura 3 – Bandejas de polietileno injetado com 450 células de 11 ml (esquerda) e 288 células de 15 ml (direita) – Cortesia JKS Industrial
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Figura 4 – Sistema radicular de tomate em bandeja de 450 células de poliestireno (esquerda) e em bandeja de 450 células de plástico (direita) / Cortesia JKS Industrial
Os modernos viveiros de mudas têm procurado o maior índice possível de automação dos
serviços, sendo que a semeadura foi a primeira etapa a ser mecanizada na maioria deles,
principalmente nos de grande porte. Semeadoras a vácuo importadas, dos mais variados
rendimentos e modelos, passaram a realizar com rapidez e eficiência a etapa mais
delicada dentro do sistema de produção de mudas. O tamanho das sementes de
hortaliças, aliado ao seu alto custo, faziam da semeadura manual um grande problema.
Ainda hoje existem viveiros que fazem semeio manual, mas é cada vez mais difícil
encontrar mão-de-obra disponível para este tipo de serviço, nos níveis de desempenho
que o setor exige.
Além das semeadoras, também os equipamentos para lavagem de bandejas foram
desenvolvidos, muitos deles pelos próprios viveiristas. A lavagem de bandejas é um ponto
de estrangulamento em qualquer viveiro; é necessário que as bandejas estejam
absolutamente limpas para que se possa semear uma nova partida de mudas; como as
bandejas vem do campo, trazem junto com elas solo e partículas orgânicas que
representam um grande risco de contaminação de doenças. Sendo o poliestireno difícil de
limpar, são usadas grandes quantidades de água – sem reciclagem – e produtos químicos
para a desinfecção. As máquinas lavadoras fazem todo o trabalho com grande rapidez, e
serão realmente eficientes quando forem usadas bandejas plásticas.
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Figura 5 – Vista parcial de uma máquina automática para semeio de bandejas.
Finalmente, devemos mencionar as Câmaras de Germinação (Figura 6). Poucos viveiros
contam com esta estrutura, mas sua importância é muito grande pela segurança que
representa para o viveirista. Trata-se um ambiente normalmente escuro, onde a
temperatura e a umidade relativa do ar são mantidas sob controle, dentro de limites
estabelecidos de acordo com a espécie que se cultiva. O objetivo é proporcionar à
semente as melhores condições possíveis durante a chamada “fase escura” da
germinação, que vai do início da absorção de água pela semente até pouco antes da
emergência; a duração desta fase é variável de espécie para espécie, e às vezes até
entre variedades de uma mesma espécie, mas indistintamente é nesta fase que ocorrem
as maiores perdas de germinação. Mantendo as bandejas neste ambiente controlado
durante a fase escura da germinação, o viveirista garante a germinação máxima possível,
aliada à grande homogeneidade na emergência das plântulas. Quando o viveiro não
possui a Câmara de Germinação, as bandejas são colocadas para germinar diretamente
nas estufas, exigindo sombreamento com telas e um cuidado redobrado no manejo de
água até a completa emergência das plantas (Figura 7).
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Figura 6 – Câmara de germinação / Cortesia Viveiro de Mudas Brambilla – GO.
IV. O Meio de Cultivo
São dos mais diversos tipos os substratos utilizados para a formação de mudas; nem
sempre, porém, as matérias primas utilizadas são adequadas à sua fabricação;
novamente devido à pressão por redução de custos, muitos fabricantes formulam
substratos a partir de resíduos não apropriados, porém oferecidos por preço baixo.
Para a moderna produção de mudas, o substrato ideal é aquele que combina baixo peso
específico, alta porosidade, baixa reatividade e alta capacidade de retenção de água na
sua fração sólida. A base química que representa a reserva nutricional do substrato deve
ser adicionada pelo formulador de acordo com o nível de manejo usado pelo viveirista. A
casca de pinus compostada e a fibra de coco são os dois melhores materiais atualmente
disponíveis no mercado nacional para a fabricação de substrato. O uso de turfa e
compostos derivados de resíduos animais é contra-indicado pela sua baixa
macroporosidade – que é a quantidade de poros grandes – e pela alta reatividade – a
capacidade de reter nutrientes. Este tipo de material só deveria ser utilizado na produção
de mudas no sistema orgânico, que ainda está sendo desenvolvido e utiliza premissas
totalmente diferentes.
Na produção empresarial de mudas, o viveirista utiliza o substrato como meio de cultivo
hidropônico, ou seja, o substrato é apenas o meio físico para sustentação das mudas na
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bandeja; neste caso, o uso de material de baixa reatividade é fundamental para o domínio
do manejo nutricional das plantas.
Figura 7 – Germinação direta na estufa / Cortesia Viveiro de Mudas Brambilla – SP.
V. Irrigação
Este é um tema controverso. Os melhores equipamentos para viveiros são as modernas
barras móveis de irrigação, em substituição aos tradicionais chuveiros ou sistemas fixos
de microaspersão. Esta polêmica tem origem na justificativa errônea dada pelos
defensores de cada um dos sistemas: uniformidade! Na verdade, qualquer sistema de
irrigação bem projetado permite boa uniformidade de aplicação. Até mesmo o chuveiro
manual permite boa uniformidade se o usuário for cuidadoso e o viveiro for pequeno. O
problema não está na uniformidade, e sim na precisão. O truque está em jogar a
quantidade certa de água, nutrientes ou defensivos no exato local onde eles devem ser
jogados – e aí a barra móvel de irrigação até agora não tem concorrentes no segmento
dos viveiros de hortaliças (Figura 8).
Mas o que é uma barra móvel? É um equipamento com tração própria, para aplicação de
água, solução nutritiva e defensivos químicos, que corre em um trilho suspenso na
estrutura da estufa ou em um corredor no solo, em velocidade variável de acordo com a
necessidade do usuário, cobrindo apenas o segmento do viveiro que necessita de
tratamento (Figuras 9 e 10).
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A cada ajuste de velocidade de deslocamento equivale uma lâmina de água aplicada, e
este ajuste é infinito entre os valores mínimo e máximo; para tanto, a barra móvel é
equipada com motor elétrico e inversor de freqüência, que permite ajuste progressivo da
rotação do motor.
Figura 8 – Acima, aplicação precisa de água e nutrientes com uma Barra Móvel de Irrigação, nas Estufas da Mata – Ribeirão Preto SP; abaixo, estufa do Viveiro de Mudas Brambilla, em Piacatu – SP, ainda equipado com irrigação por microaspersão.
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Figura 9 – Barra Móvel de Irrigação suspensa / Viveiro de Mudas Brambilla – GO. Cada equipamento irriga um vão de 103 metros de comprimento e largura de 8 metros.
Figura 10 – Barra Móvel de Irrigação de solo / Estufas da Mata – Ribeirão Preto SP. O equipamento irriga dois vãos de 8 metros de largura por 45 metros de comprimento.
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VI. Fertirrigação
Fertirrigação é a técnica de injetar fertilizantes na água de irrigação; o objetivo é fornecer
à planta todos os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento já na forma solúvel,
permitindo sua rápida absorção. O aprimoramento desta técnica tem sido constante, e
atualmente já é possível mudar a composição da solução nutritiva ao longo do período de
formação das mudas, controlando com precisão o balanço vegetação / enraizamento /
endurecimento / tamanho das plantas.
Para que se tenha um controle perfeito do desenvolvimento das plantas, é necessário que
o viveirista desenvolva uma fórmula equilibrada de solução nutritiva de acordo com o tipo
de substrato utilizado. A maneira de adicionar os fertilizantes à água também muda de
viveiro para viveiro.
O método mais comum é a mistura direta de fertilizantes no tanque principal de água, de
onde a mesma é bombeada para as estufas – já então transformada em solução nutritiva;
é um método barato, pois não demanda nenhum outro equipamento, mas tem seus
inconvenientes. Em primeiro lugar, a adição de fertilizantes ao tanque é de freqüência
quase diária, ou sempre que a água acabar; neste caso, não se pode fazer a recarga
automática de água no tanque, pois se assim for feito a concentração de nutrientes na
água cai gradativamente até chegar a zero. Da mesma forma, se for necessário
recarregar o tanque antes que a água se acabe, será necessário estimar o volume a ser
adicionado para que se adicione também a quantidade correta de sais fertilizantes; alguns
produtores criam um tanque anexo somente para mistura, e então bombeiam a solução
nutritiva pronta para o tanque principal. O outro inconveniente deste sistema é que não é
possível mudar a formulação antes que a solução nutritiva se acabe; também não é
possível utilizar formulações diferentes de acordo com o estágio de crescimento ou a
espécie.
A evolução deste sistema veio com a utilização das bombas dosadoras. Neste caso,
prepara-se uma série de caldas concentradas de fertilizantes, tantas quantas forem
necessárias; estas caldas serão injetadas, em conjunto ou isoladamente, na linha de água
de irrigação, antes ou depois do bombeamento, através das bombas dosadoras. As
dosadoras injetam uma quantidade pré-estabelecida de calda concentrada em um volume
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conhecido de água pura, criando então uma solução nutritiva que será usada na irrigação
das plantas. As melhores dosadoras para uso em viveiros são as dosadoras proporcionais
volumétricas, que compensam automaticamente o volume de calda concentrada injetada
se houver alteração no volume de água bombeado, mantendo constante a concentração
de nutrientes na solução nutritiva (Figura 11).
Sistemas ainda mais sofisticados utilizam sensores de condutividade elétrica e pH
acoplados a injetoras elétricas e computadores, fazendo correção instantânea de desvios
na concentração de nutrientes. O custo destes equipamentos é bastante elevado, e só se
viabiliza em segmentos que trabalham com plantas de ciclo longo e alto valor agregado, o
que não é o caso da produção de mudas hortícolas.
Para encerrar este assunto, é preciso lembrar que o preparo de caldas concentradas
requer conhecimentos de físico-química e de fisiologia de plantas; se algum erro for
cometido no preparo da calda concentrada, podem ocorrer reações entre determinados
sais, resultando em produtos insolúveis que não podem ser aproveitados pelas plantas.
Além disto, os elementos interagem dentro da planta; o excesso de potássio, por
exemplo, impede a absorção adequada de cálcio, e a falta deste último acarreta
problemas de resistência a doenças. Portanto, é necessária a consulta a um engenheiro
agrônomo experiente no assunto para o preparo adequado de caldas concentradas.
Figura 11 – Barra Móvel de Irrigação de solo / Estufas da Mata – Ribeirão Preto SP; Observar as dosadoras Dosmatic integradas na Barra Móvel. Ao lado, detalhe de uma Dosmatic A40, com capacidade de 9.000 litros por hora de passagem de água limpa.
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VII. Controle de pragas e doenças
Nos sistemas mais modernos de produção de mudas, a pulverização de defensivos é feita
através das barras móveis de irrigação; a barra, neste caso, possui dois sistemas
independentes, um para irrigação e outro para pulverização. Dosadoras acopladas às
barras injetam o defensivo no sistema, e a aplicação é feita sem o contato direto do
aplicador. O sistema permite grande segurança para o trabalhador, cobertura perfeita da
área total do viveiro e margem de erro mínima.
Além da aplicação rotineira de defensivos em caráter preventivo, é feita também a
prevenção no controle de entrada de pessoas e veículos na área do viveiro, através do
uso de rodolúvios e pedilúvios com soluções desinfetantes a base de amônia quaternária,
produto rotineiramente utilizado na desinfecção de salas de ordenha.
Algumas técnicas preventivas contra fungos de solo têm sido usadas com sucesso; é o
caso da inoculação do substrato com o fungo benéfico Trichoderma sp. Este
microorganismo impede o desenvolvimento de outros fungos patogênicos, entre os quais
a temida Rizoctonia e diversos outros fungos causadores de tombamento. O uso do
Trichoderma é hoje obrigatório nos viveiros de mudas de fumo no sul do Brasil.
A aplicação combinada de Trichoderma inoculado no viveiro, aliada ao uso, no campo, de
um condicionador de solo rico em material celulósico estabilizado, propiciou a redução de
incidência de Fusarium em tomateiro em duas áreas de plantio reconhecidamente
infestadas na região de Cravinhos, SP. Embora o resultado não seja um experimento
científico, as observações de campo levam a crer que o tratamento é eficaz.
VIII. Aspectos Finais
Existe atualmente um arsenal tecnológico bastante diversificado a serviço do viveirista,
que, quando bem utilizado, resulta em mudas de alta qualidade. Algumas destas técnicas,
no entanto, embora já consagradas fora do Brasil, ainda encontram oposição dos nossos
produtores. Podemos citar como exemplo o adensamento da população de plantas dentro
dos viveiros, através do uso de bandejas com 450 células, que já provou não interferir na
qualidade das mudas – se assim fosse as produtividades de tomate para indústria não
estariam aumentando a cada ano. Esta talvez seja próxima barreira de resistência a ser
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quebrada, já que muitos produtores ainda acreditam que o volume de substrato no torrão
determina a capacidade de pegamento da muda e o potencial produtivo da planta.
Este, salvo raras exceções, é um conceito equivocado; o que importa, na verdade, não é
o volume de torrão, e sim um balanço adequado entre volume de raízes e área foliar
fotossinteticamente ativa. Uma muda bem balanceada, com muitas raízes ativas em um
torrão de 11 ml de capacidade pega tão bem ou melhor do que uma muda grande em um
torrão de 27 ml.
O segredo é uma muda pequena, de tecidos duros e grande quantidade de raízes ativas;
para fazer uma muda assim, o viveirista precisa de conhecimento e equipamentos
adequados, além de constante aperfeiçoamento.
Realmente, a evolução foi muito grande nos últimos 10 anos. O mercado de mudas
cresceu, a técnica melhorou e os resultados são cada vez melhores, tanto no viveiro
como no campo.
Que continue assim.
Figura 12 –Estufas da Mata – Ribeirão Preto SP.