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O Serviço Social e a intervenção no processo educativo de Capacitação de Conselheiros (as)
de Saúde em Mato Grosso
Marilda C. E. Matsubara∗ Nina Rosa Ferreira Soares∗ ∗
O Serviço Social vem enfrentando, hoje, desafios significativos desencadeados pelo
processo de globalização que vem redimensionando, em âmbito mundial, as relações
econômicas, sociais, políticas e culturais, cuja visibilidade aparece em três grandes dimensões:
na esfera do Estado e das políticas públicas; no mundo do trabalho e da cultura.
O processo de gobalização, de acordo com IANNI (1992) envolve
relações, processos e estruturas de dominação política e apropriação
econômica de alcance global que vem operando desigual e contraditoriamente.
Nesse sentido, a sociedade global deve ser compreendida enquanto uma
totalidade histórico-social diversa, abrangente, complexa, heterogênea e
contraditória em escala desconhecida.
Ainda segundo IANNI, o mesmo processo de globalização em que é
desenvolvida a interdependência, a integração e a dinamização das
sociedades nacionais, produz desigualdades, tensões e antagonismos.
Assim, podemos dizer que as desigualdades sociais, econômicas,
políticas e culturais estão lançadas em escala mundial, porém podem ser
minimizadas à medida em que ampliem-se as formas de controle da sociedade
sobre o Estado. Se o processo de globalização, como analisa MATSUBARA (1997), não é algo que
inexoravelmente leva-nos ao caos e a falência absoluta do Estado e da sociedade civil, é
possível dizer que abre-se, nesse mesmo processo, a possibilidade de dar a ele um novo rumo
que se expressa, entre outras dimensões, pela constituição e a consolidação da esfera
pública.
A constituição da esfera pública no Brasil, entendida segundo RAICHELLIS (1997)
∗ Professora do Departamento de Serviço Social da UFMT. Mestra em Educação Pública. Assessora e Monitora do Projeto de Capacitação de Conselheiros. ∗∗ Assistente Social Sanitarista. Mestranda em Educação pela UFMT. Representante do Instituto de Saúde Coletiva/UFMT no Grupo de Condução do Projeto de Capacitação de Conselheiros e Monitora.
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como sendo “parte integrante do processo de democratização da vida social, pela via do
fortalecimento do Estado e da sociedade civil, de forma a inscrever o interesses das maiorias
nos processos de decisão política” vem se firmando como um novo espaço de participação e
possibilidade do exercício do controle da sociedade sobre as ações do Estado.
Segundo TELLES (1994),
“nesses tempos em que se redefinem as relações
Estado, economia e sociedade, em que a crença em
soluções redentoras não mais se sustenta, em que
exclusões velhas e novas, se processam numa
lógica que escapa às soluções conhecidas, o que
parece estar em jogo é a possibilidade de uma nova
contratualidade que construa uma medida de
eqüidade e as regras de civilidade nas relações
sociais”.
Ainda, conforme TELLES (1994), deve-se construir uma noção plural
de bem público, não como consenso que dilui históricas diferenças e
interesses em conflito, nos espaços públicos, mas que expresse “a
pluralidade das opiniões, onde os conflitos tomam visibilidade e as
diferenças se representam nas razões que constróem os critérios de
validade e legitimidade dos interesses e aspirações defendidos como
direitos“.
A perspectiva da ocupação dos espaços públicos de participação social,
tanto quanto as novas demandas trazidas hoje pela sociedade, pelo mercado
e mesmo pelo Estado, representam um grande desafio, também, para as
profissões, de um modo geral, e em particular para o Serviço Social. Esse
desafio consiste fundamentalmente em traduzir, no seu interior, a
complexidade dessas transformações de modo a instigar a busca da
construção de mediações que possam contribuir para a analise não só do
seus impactos no âmbito da profissão, como também para a antecipação das
respostas às demandas que delas advierem. Procuraremos neste trabalho fazer uma reflexão sobre a contribuição de Assistentes
Sociais no processo de qualificação da participação em espaços institucionalizados de gestão
pública, configurados, aqui, pelos Conselhos de Saúde.
A Política de Saúde definida pela Constituição Brasileira e suas leis
complementares se sustenta no Sistema Único de Saúde (SUS), que tem como
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diretrizes básicas a universalização do sistema; a descentralização das ações;
e a participação popular. Esta participação é expressa, principalmente, através
dos Conselhos e das Conferências de Saúde.
Os Conselhos de Saúde surgem, no cenário político sanitário brasileiro,
integrando a configuração institucional do Sistema Único de Saúde, cabendo-
lhes a missão de “garantir o cumprimento da participação da comunidade e
assegurar o controle social sobre as ações e serviços de saúde”. 1 São
instâncias colegiadas compostas, paritariamente, por representações
governamentais e não governamentais com objetivo de deliberar e fiscalizar as
políticas de saúde, inclusive em seus aspectos econômicos, em cada uma das
esferas de governo, de acordo com a Lei 8.142 de 1990 2.
Embora a participação popular esteja garantida em lei, os Conselhos, na
prática, vêm enfrentando dificuldades estruturais para se constituírem em
espaços privilegiados para o exercício da cidadania, sobretudo, porque a
Política de Saúde no Brasil também é permeada por contradições.
Se de um lado esta política, assume, de acordo com a Constituição
Brasileira, um caráter universal, centrado na inclusão, por outro, é determinada
por um sistema capitalista neoliberal, centrado na exclusão. Nesse sentido,
temos um sistema de saúde de conotação socializante sustentado por uma
lógica individualizante.
É nesse cenário que os Conselhos de Saúde vêm se institucionalizando
enquanto estratégia de controle e participação da população na gestão pública.
E, apesar de todas as limitações e contradições, diferentes práticas políticas
começam a ser engendradas a partir da participação de novos agentes
políticos – os movimentos sociais – na esfera pública. Para SADER (apud
CASTRO, 1998), é exatamente a inserção desses novos personagens, que vão
dar condições para o exercício da democracia.
Os Conselhos de Saúde, enquanto espaços de Controle Social no SUS -
aqui entendido, como controle da sociedade civil organizada sobre as ações do
1 CARVALHO, Antônio Ivo de. Conselhos de Saúde no Brasil: participação cidadã e controle do Estado sobre a sociedade. 2 Lei 8.142 de 28.12.90- dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área de saúde e dá outras providências.
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Estado3, apesar de definidos em lei, como já visto anteriormente, em si
mesmos não garantem esse controle. Essa garantia passa, sobretudo neste
momento histórico, pela rearticulação das forças organizadas da sociedade civil
para efetiva ocupação, com qualidade, desses espaços coletivos de
participação no sentido de que esta se traduza em melhoria das condições de
vida e saúde da população.
A partir desses marcos analíticos, é possível dizer que os impactos do
processo de globalização sobre o sistema de saúde brasileiro e,
consequentemente, sobre as suas formas institucionalizadas de controle
social, serão positivos ou não, no limite da participação e organização da
sociedade civil.
Assim, o exercício do Controle Social está condicionado, principalmente,
ao acesso à informação; à formação técnico-política; à representação
legitimamente respaldada pelas bases e a um processo técnico-político e
pedagógico. É a com esta compreensão, que o Projeto de Capacitação de Conselheiros de Saúde e
Sociedade Civil Organizada, em Mato Grosso, está sendo entendido como um espaço
profissional para o Serviço Social, de caráter educativo-político, que pode contribuir
significativamente com a formação de uma consciência crítica conseqüente, que se expresse
em ações redefinidas e renovadas de todos os atores envolvidos no processo - sociedade civil
e profissionais - numa perspectiva dialética de construção do conhecimento e de ação.
O Projeto de Capacitação de Conselheiros de Saúde, em Mato Grosso,
é resultado de um longo processo de análise e avaliação sobre a participação
da comunidade nos Conselhos.
Este, por si só, já é expressão de um trabalho coletivo na medida em
que estiveram envolvidos, em todas as suas etapas, diferentes atores
representantes de instituições governamentais, não governamentais e
movimentos populares4 .
O Projeto de Capacitação, portanto, tem substancialmente uma
dimensão educativa e a perspectiva do CONTROLE SOCIAL é o seu grande
3 “O controle social é um processo no qual a população participa, através de representantes, na definição, execução e acompanhamento de políticas públicas, as políticas de governo”. (MS, 1994) 4 Instituições e Organizações envolvidas : Secretaria Estadual de Saúde/MT, Conselho Estadual de Saúde/MT, Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Mato Grosso, Conselho de Secretários Municipais de Saúde - COSEMS/MT, Fundação de Saúde de Cuiabá - FUSC, Movimento Popular de Saúde - MOPS, Grupo de Saúde Popular - GSP e Instituto
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eixo articulador. Assim, é preciso compreender de um lado, os princípios dos
quais se parte para exercer o controle social e o nível de organização da
sociedade e, de outro que os Conselhos são instâncias coletivas mas
contraditórias perpassadas por diferentes interesses. A participação, nesse espaço colegiado, se dá através da representação. Esta, em
última instância, está relacionada à ação através da qual os interesses dos representados são
expressos em organismos colegiados. Assim sendo, podemos dizer que, nos Conselhos, esses
representados, as condições de participação dos seus representantes bem como as
possibilidades de mobilização e organização das suas bases, apresentam diferentes matizes
que resultam da construção da trajetória de cada segmento que compõe esse espaço.
A representação nos Conselhos, espera-se, deve estar sustentada na
base dos seus respectivos segmentos. Todavia , sabemos que isso não se dá
assim, tão tranqüilamente. Este Projeto contribui com o resgate do sentido
maior da participação5 e, através dela, busca fortalecer a concepção e a prática
do controle social na área da saúde.
Os relatórios produzidos pelas Conferências de Saúde, pelas Plenárias e
por outros fóruns coletivos de discussão e deliberação sobre os princípios e
diretrizes do SUS, em Mato Grosso, no que se refere ao controle social, vêm
evidenciando que a sociedade conquistou espaços democráticos de
participação mas está encontrando dificuldades de diversas ordens, para a sua
concretização, dentre elas a qualificação técnica e política.
Assim, podemos dizer que o processo de constituição dos Conselhos
trouxe desafios a serem enfrentados tanto por profissionais ligados às
instituições de saúde quanto por movimentos populares, por organizações não
governamentais e instituições formadoras de recursos humanos.
No campo da saúde pública, o Movimento Sanitário já no final da década
de 70, por exemplo, indicava para a necessidade de uma articulação entre a
atuação profissional e as novas solicitações da sociedade. Isso, pode-se dizer
que foi um salto de qualidade na medida em que encaminha-se para a
ampliação da própria concepção de atuação profissional que aparece, então,
sintonizada com as novas demandas societárias dos anos em que se torna
Pastoral de Educação em Saúde Popular - IPESP 5 UGA (1991) indica algumas condições necessárias à participação: “1) garantia do acesso às informações necessárias para a gestão; 2) garantia de assento aos segmentos menos poderosos da sociedade na composição dos conselhos de direção; 3) a transparência dos processos de gestão e tomada de decisões”’.
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pauta de discussão nacional a redemocratização social e política brasileira. Esse novo cenário tem também rebatimentos diretos no Serviço Social, configurando-
se em um novo espaço para sua atuação onde, Assistentes Sociais aparecem como
articuladores, estabelecendo mediações possíveis entre o Estado e a Sociedade Civil.
Para BRAVO (1996),
“os assistentes sociais da área da saúde necessitam construir
alternativas profissionais que superem as atividades técnico-
burocráticas e focalizem a ação técnico - política, contribuindo
principalmente para viabilizar a participação popular, a
democratização das instituições, a elevação da consciência sanitária
e a ampliação dos direitos sociais.”
Considera, ainda, que a articulação com a sociedade civil é um desafio para o Serviço
Social uma vez que, a prática profissional não vem acompanhando a renovação do debate
teórico-metodológico.
O Serviço Social construiu um discurso importante e significativo que
valoriza, sobremaneira, a ação profissional no processo de organização da
sociedade civil através dos movimentos sociais e populares, e junto a
Organizações Não governamentais. No entanto, é importante que essa
vinculação efetiva dos profissionais seja ampliada de forma a que tenha maior
visibilidade para a sociedade.
ESCOREL (1989) quando analisa a saúde como um campo privilegiado
de conflitos de interesses onde se enfrentam o direito em si e o exercício deste,
o faz na medida em que considera que “a saúde é um elemento potencial de
consenso, a forma de distribuição desse direito consensual é que é motivo de
dissenso.” Neste sentido, é fundamental que profissionais de Serviço Social
busquem responder às demandas colocadas pela sociedade do final do século
marcada por uma nova reordenação das relações sociais, econômicas e
políticas. Cada vez mais é significativa a participação da sociedade civil em
espaços institucionalizados de decisão como é o caso dos Conselhos de
Saúde, entre outros.
A possibilidade do Serviço Social antecipar as novas demandas, como
nos diz NETTO (1996), certamente indicará a atualidade da profissão que é
marcada, entre outros fatores, pela conexão que estabelecer com as mesmas.
É a busca desta conexão que motivou o nosso envolvimento com o
Projeto de Capacitação de Conselheiros e Sociedade Civil Organizada.
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CONSTRUINDO O PROJETO...
A construção de um projeto coletivo sustentado numa metodologia participativa, implica
sempre na discussão, análise e avaliação das propostas apresentadas pelos atores envolvidos
no processo em suas respectivas instâncias. Nesta direção o Projeto teve como marco a
realização, em meados de 1996, de uma OFICINA, com a participação de várias instituições;
movimentos sociais; e organizações não governamentais, visando a sua construção.
Concluída essa etapa os resultados foram apresentados na III
Conferência Estadual de Saúde de Mato Grosso, que além de valorizar a
iniciativa interinstitucional, recomendou a sua realização. A Secretaria de
Estado da Saúde de Mato Grosso toma, então, a decisão política de encampar
a proposta e financiar o Projeto ao que teve também a aprovação do Conselho
Estadual de Saúde. Isso foi fundamental, na medida em que houve o
reconhecimento da importância do desenvolvimento de um trabalho educativo-
político que, em última instância, é vital para a efetivação do Controle Social no
Estado.
O SIGNIFICADO DA CAPACITAÇÃO
A capacitação assume, aqui, como eixo central, a dimensão da construção coletiva,
necessitando do envolvimento direto de todos os atores comprometidos com o Projeto6. Neste
caso específico, os atores são MONITORES7 e conselheiros que, sabidamente têm diferentes
perspectivas, vivências e experiências. Essa diversidade é, basicamente, a matéria prima mais
significativa do processo já que o reconhecimento da diferença é o que nos possibilita perceber
a perspectiva do outro. Isso implica em esclarecer que, não se buscou, em nenhum momento,
a homogeneidade e o nivelamento de comportamentos, condutas, atitudes e conhecimentos .
Assim sendo, é possível dizer que há uma ampliação do sentido da
capacitação, se entendermos que esta não é forjada de fora para dentro, mas
construída de dentro para fora com o suporte das informações, discussões, e
outros recursos que fazem parte do processo educativo.
6 Assistentes Sociais, Enfermeiras, Médicas, Nutricionistas, Artistas populares, lideranças comunitárias, Pedagogos, Educadores populares, entre outros, fazem parte deste cenário. 7 O MONITOR é um participante do processo com um diferencial de conhecimento maior sobre as temáticas trabalhadas nas Oficinas. Desempenha, também, o papel de animador e apoiador de todo o trabalho. No caso específico do Projeto os monitores foram indicados pelas Instituições/Organizações ou Movimentos Sociais envolvidos no processo.
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DESENVOLVENDO O PROJETO...
A estratégia metodológica adotada em todo o processo, da construção à
operacionalização, foi a OFICINA tendo em vista que
“ [...] se constitui em espaço para reflexão e discussão
das vivências, permitindo a identificação de temas
fundamentais para melhor compreender o problema em
pauta (...) A realização de uma oficina de trabalho
pressupõe uma seqüência de encontros com uma
temática geral delimitada anteriormente, nos quais se
percorre a seguinte trajetória: aquecimento, uso de
estratégias facilitadoras da expressão, problematização
das questões, processo de troca dos conhecimentos,
análise e articulação com o geral8,
traduzindo-se, assim, em um produto final que demonstra os interesses
do coletivo.
O desenvolvimento das Oficinas esteve sob a responsabilidade de
MONITORES, e o seu conteúdo sustentado no princípio da problematização,
uma vez que, segundo BORDENAVE (1983), “o importante não são os
conhecimentos ou idéias nem os comportamentos corretos e fáceis que se
espera, mas sim o aumento da capacidade do participante para detectar
problemas reais e buscar soluções originais e criativas”. Apresenta, ainda,
os seguintes aspectos importantes: reconhece e potencializa os saberes, os
valores e as vivências; envolve os participantes nas ações; desenvolve um
processo educativo/formativo construído com base na motivação para a busca
do conhecimento; democratiza e socializa as informações; valoriza o processo
de construção do trabalho e não só o seu produto e co-responsabiliza os
resultados alcançados.
O Projeto constitui-se de duas etapas partindo do conteúdo discutido
coletivamente. A primeira referente à construção dos conceitos de democracia,
cidadania, participação, representação, Estado, direitos sociais, saúde e a
8 CHIESA, A. M. e WESTPHAL, M. E. A sistematização de oficinas educativas problematizadoras no contexto dos serviços públicos de saúde. Revista Saúde em Debate nº 46.
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discussão da dimensão técnico-operacional e política do Sistema Único de
Saúde (SUS). A segunda, que ainda está em desenvolvimento, aborda
questões mais específicas da operacionalização da Política de Saúde
relacionados ao Financiamento, Orçamento e Plano de Saúde. Os temas são
abordados, pedagogicamente, em Cartilhas e estão sustentados nas
demandas identificadas nas Oficinas.
Compõe, ainda, o suporte pedagógico, Boletins Informativos que têm
como objetivo dar visibilidade ao Projeto identificando os seus propósitos e
metas e também socializar as informações e as ações desenvolvidas. A
produção de vídeos e a criação de peças teatrais constituem-se, também, em
instrumentos educativos que vem sendo utilizados no Projeto e encontram-se
à disposição da sociedade em geral. Quanto ao recurso utilizado do teatro
pode-se dizer que tem estimulado, tanto as discussões dos conteúdos das
Oficinas, como a representação das questões e problemas do cotidiano e,
ainda, tem suscitado alternativas de enfrentamento dos mesmos, ainda que
não fosse possível utilizá-lo em todas as localidades, tendo se restringido à
região metropolitana de Cuiabá9.
A estratégia utilizada, para viabilização do Projeto, parte da articulação
com as Diretorias das Regionais de Saúde10. Estas contribuem
significativamente no processo de sensibilização dos gestores e comunidade
para participação das Oficinas.
DIMENSÕES ANALÍTICAS FUNDAMENTAIS
Mato Grosso possui 127municípios dos quais 111 se fizeram representar
nas 36 Oficinas realizadas. Estas envolveram 532 Conselheiros, 74 munícipes
oriundos de diferentes organizações da sociedade civil e 26 monitores.
As primeiras análises, tomando como referência tanto os relatórios
recebidos das 09 Regionais de Saúde quanto os relatos verbais dos
Monitores, indicam para repercussões positivas do trabalho desenvolvido, de
9 Cuiabá é a capital do Estado de Mato Grosso. A região metropolitana referida inclui o município de Várzea Grande. 10A Secretaria Estadual de Saúde, administrativamente, mantém nove Diretorias Regionais de Saúde que são responsáveis pela programação, assessoria técnica, supervisão, controle e
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uma forma geral. A importância fundamental, avaliada como significativa, foi a
possibilidade concreta do envolvimento da sociedade civil organizada na
construção e operacionalização do Projeto.
Outro fator relevante foi a articulação entre as Regionais de Saúde e
dessas com as comunidades locais, além da interrelação interinstitucional e
interdisciplinar que é uma experiência singular. O sentido da
interdisciplinaridade é valorizado por FRIGOTTO (1992) quando diz que “o
caráter necessário do trabalho interdisciplinar na produção e na socialização
do conhecimento no campo das ciências sociais e no campo educativo que se
desenvolve no seu bojo, não decorre de uma arbitrariedade racional e
abstrata. Decorre da própria forma do homem produzir-se enquanto ser social
e enquanto sujeito e objeto do conhecimento social.”
Nesse sentido, o Projeto de Capacitação de Conselheiros é expressão
do esforço empreendido no sentido da construção de uma alternativa possível
de fortalecimento do Controle Social em Mato Grosso tendo como ponto
básico de referência a organização da sociedade e o entendimento do
Conselho enquanto um espaço contraditório onde diferentes interesses e
concepções de mundo, de homem e de sociedade se apresentam.
Dessa forma é importante ressaltar a noção de que o processo encontra-
se em construção e assim sendo é necessário que os atores estejam
motivados e abertos para rever conceitos e posições o que fundamenta a
concepção ampliada do processo educativo.
As avaliações positivas por parte dos Conselheiros tem validado o
percurso e a metodologia adotadas no processo de desenvolvimento do
projeto. Todavia estamos diante de desafios de toda natureza e estes dizem
respeito tanto à participação efetiva da sociedade nos espaços coletivos de
deliberação, quanto à representação e ao “potencial transformador” dos
Conselhos e mesmo dos Movimentos Sociais e Organizações Não
Governamentais.
Se por um lado é importante democratizar o poder de decisão no âmbito
do Estado, por outro, é importante que as organizações da sociedade civil
delimitem suas formas de atuação, redesenhando estratégias e proposições
na busca de políticas públicas que expressem as reais necessidades da avaliação das ações de saúde nas micro-regiões.
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sociedade.
O Serviço Social, tanto quanto as outras profissões, também expressa
as contradições e possibilidades postas pela sociedade. Assim sendo,
espera-se que a clareza quanto a definição estratégico-política da profissão,
centrada numa direção crítico-analítica possa servir como referência para, não
só interpretar as novas demandas colocadas, mas sobretudo, antecipar-se à
elas e firmar-se enquanto uma profissão investigativa e propositiva.
BIBLIOGRAFIA BORDENAVE, Juan E. Dias. “La Transferencia de Tecnologia Apropriada
ao Pequeno Produtor”. In Revista Interamericana de Educação de Adultos. Vol. 3 nº 1-3 -PRDE - OEA, 1983.
BRAVO, Maria Inês Souza. Serviço Social e Reforma Sanitária: Lutas Sociais e Práticas Profissionais. Rio de Janeiro: Cortez/UFRJ, 1996. CARVALHO, Antônio Ivo de. Conselhos de Saúde no Brasil: participação cidadã e controle social. Rio de Janeiro: FASE/IBAM, 1995. CASTRO, Ieda Maria Nobre de. Conselhos de Gestão Pública: Saberes que
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TELLES, Vera da Silva. Sociedade Civil e construção de espaços públicos. In.
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UGA, Maria Alícia de. “Descentralização e democracia: O outro lado da
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