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www.ts.ucr.ac.cr 1 O papel dos assistentes sociais e dos psicólogos na rede de multiplicadores para prevenção da drogadição e das DST/Aids – A experiência do Centro de Treinamento da Região Centro-Oeste-Brasil. Profa. Dra. Denise Bomtempo Birche de Carvalho – Depto de Serviço Social Profa. Dra. Maria Fátima Olivier Sudbrack – Depto de Psicologia Clínica Profa. Eliane Maria Fleury Seidl – Depto de Psicologia do Desenvolvimento Universidade de Brasília-Brasil Apresentação Este trabalho apresenta os resultados da Pesquisa de Avaliação do Centro de Treinamento da Região Centro-Oeste - Prodequi, com ênfase no processo de formação dos multiplicadores na execução de atividades preventivas da drogadição e DST/AIDS. No período de maio de maio/95 a junho/98 este Centro desenvolveu o Projeto Drogas e Aids da Coordenação Nacional DST/Aids, do Ministério da Saúde. Como resultado do referido convênio foram capacitados 168 multiplicadores com abrangência regional: estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Os 168 multiplicadores foram formados em seis cursos, 04 deles realizados no Distrito Federal, 01 em Mato Grosso e 01 em Mato Grosso do Sul. Os multiplicadores treinados elaboraram e apresentaram projetos de prevenção, com execução nas suas instituições de origem. A proposta técnica do Centro de Treinamento fundamenta-se na prática de construção de redes sociais como estratégia para o enfrentamento da exclusão social e situações de risco geradas pela drogadição e pela exposição às DST/AIDS. A prática de redes define-se enquanto um processo coletivo que possibilita a construção das relações sociais. Parte do pressuposto de que somente uma rede eficaz de promoção de saúde, de educação e de solidariedade poderá fazer face a essa problemática. A comunidade é concebida como um sistema complexo onde interrelaciom-se dinamicamente pessoas, papéis, organizações e fatos. O engajamento do profissional supera a dimensão formalizada institucionalmente. O multiplicador se envolve e participa da rede com sua subjetividade, suas crenças e valores pessoais, e sobretudo, seu desejo de

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O papel dos assistentes sociais e dos psicólogos na rede de multiplicadores para prevenção da drogadição e das DST/Aids – A experiência do Centro de Treinamento da Região Centro-Oeste-Brasil.

Profa. Dra. Denise Bomtempo Birche de Carvalho – Depto de Serviço Social

Profa. Dra. Maria Fátima Olivier Sudbrack – Depto de Psicologia Clínica

Profa. Eliane Maria Fleury Seidl – Depto de Psicologia do Desenvolvimento

Universidade de Brasília-Brasil

Apresentação

Este trabalho apresenta os resultados da Pesquisa de Avaliação do Centro de

Treinamento da Região Centro-Oeste - Prodequi, com ênfase no processo de

formação dos multiplicadores na execução de atividades preventivas da drogadição

e DST/AIDS.

No período de maio de maio/95 a junho/98 este Centro desenvolveu o Projeto

Drogas e Aids da Coordenação Nacional DST/Aids, do Ministério da Saúde. Como

resultado do referido convênio foram capacitados 168 multiplicadores com

abrangência regional: estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e

Distrito Federal. Os 168 multiplicadores foram formados em seis cursos, 04 deles

realizados no Distrito Federal, 01 em Mato Grosso e 01 em Mato Grosso do Sul. Os

multiplicadores treinados elaboraram e apresentaram projetos de prevenção, com

execução nas suas instituições de origem.

A proposta técnica do Centro de Treinamento fundamenta-se na prática de

construção de redes sociais como estratégia para o enfrentamento da exclusão

social e situações de risco geradas pela drogadição e pela exposição às DST/AIDS.

A prática de redes define-se enquanto um processo coletivo que possibilita a

construção das relações sociais. Parte do pressuposto de que somente uma rede

eficaz de promoção de saúde, de educação e de solidariedade poderá fazer face a

essa problemática. A comunidade é concebida como um sistema complexo onde

interrelaciom-se dinamicamente pessoas, papéis, organizações e fatos.

O engajamento do profissional supera a dimensão formalizada

institucionalmente. O multiplicador se envolve e participa da rede com sua

subjetividade, suas crenças e valores pessoais, e sobretudo, seu desejo de

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compartilhar a luta por uma causa comum, com seus pares profissionais e com a

comunidade.

Destacam-se como elementos que definem a natureza da proposta técnica, a

supervisão e monitoramento de projetos por assistentes sociais e psicólogos; a

construção de uma rede regional de multiplicadores e o processo avaliativo, objeto

desta pesquisa. Estes elementos estão incluídos nas categorias de análise. Os

objetivos da pesquisa foram: - descrever o perfil dos multiplicadores treinados,

considerando-se a situação sócio-demográfica, a área de atuação e a categoria

profissional. - avaliar a proposta metodológica construída pelo Prodequi. - identificar

a situação atual quanto à execução dos projetos elaborados caracterizando o

desempenho nas funções de multiplicador, bem como as dimensões associadas à

execução de projetos de intervenção pelos profissionais treinados e, levantar

demandas e expectativas dos multiplicadores visando subsidiar a continuidade de

sua formação.

A metodologia de coleta de dados foi construída pela equipe técnica do

Prodequi visando atingir os objetivos propostos na pesquisa de avaliação do Centro

de Treinamento. Esta procurou resgatar duas dimensões: a primeira buscou

identificar o perfil sócio-demográfico dos multiplicadores (sexo, idade, área de

atuação, formação e profissão) e a composição das equipes executoras dos

projetos. A segunda buscou captar as percepções dos multiplicadores sobre a

proposta metodológica construída pelo Prodequi, a situação atual quanto à

execução dos projetos elaborados e o levantamento de demandas e expectativas

dos multiplicadores visando subsidiar a continuidade da sua formação.

Para o tratamento e análise dos dados quantitativos foi utilizado o Statistical

Package for Social Sciences – SPSS (versão 5.0/Windows), ao passo que para a

análise das questões abertas foi utilizada a análise de conteúdo. Para tanto

estabeleceu-se um agrupamento das informações oriundas do banco de dados em

quatro conjuntos de resultados:

1 - Avaliação da proposta metodológica desenvolvida pelo Centro de Treinamento.

2- Monitoramento e supervisão dos projetos de prevenção

3 - Situação quanto à elaboração e execução dos projetos e dimensões associadas

ao desempenho do multiplicador.

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4- Demandas e expectativas dos multiplicadores para subsidiar a continuidade da

formação.

Constituíram a amostra desta pesquisa 128 multiplicadores, perfazendo 76%

dos profissionais capacitados nos 6 cursos nos 4 estados da região Centro-Oeste.

A amostra de multiplicadores segundo o estado da Região Centro-Oeste foi

composta de 60.2% de profissionais do Distrito Federal, 27.3% de Mato Grosso do

Sul, 3.9% do estado de Mato Grosso e 8.6% oriundos do estado de Goiás. Essa

distribuição, por estado, foi proporcional ao universo de multiplicadores treinados à

exceção do estado de Mato Grosso. O número reduzido de multiplicadores do

estado de Mato Grosso, na amostra, pode ser atribuído à dificuldade de mobilização

dos mesmos, que não responderam à demanda do Prodequi para participar da

pesquisa. Deve-se considerar, ainda, as limitações devidas à distância e os custos

financeiros com os deslocamentos para estratégias de mobilização mais efetivas.

O perfil sócio-demográfico da amostra (N=128) será apresentado a seguir.

Quanto ao sexo, 87% da amostra foi constituída de multiplicadores do sexo feminino.

Este dado pode ser atribuído ao grande percentual de profissionais treinados

oriundos de categorias em que há uma hegemonia de mulheres, como Psicologia e

Serviço Social. Com relação à faixa etária, verificou-se que a maioria dos

multiplicadores da amostra (76%) encontrava-se na faixa de 31 a 50 anos, sendo

que 16% situavam-se na faixa etária de 20 a 30 anos e apenas 8% encontravam-se

na faixa etária superior a 51 anos.

No que concerne à área de atuação, os dados demonstram o impacto da

área de saúde no conjunto dos multiplicadores que constituíram a amostra (41.4%),

seguida da área de justiça, segurança pública e sistema penitenciário (19.6%),

assistência social (12.5%), sendo que as demais áreas do setor público, também

relevantes, encontraram-se representadas perfazendo um percentual de 26,5%

(educação, comunidades terapêuticas, conselhos tutelares e de direitos e

organizações não-governamentais).

Quanto à distribuição da amostra, segundo a categoria profissional, constata-

se o predomínio de profissionais das áreas de Psicologia (36.7%) e Serviço Social

(24.2%), ligados às instituições governamentais, evidenciando uma motivação

significativa de profissionais de formação não médica pelo trabalho preventivo na

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área de drogadição e DST/Aids. As demais perfazem um total de 39.1% distribuídos

entre as seguintes profissões: médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem,

professores de I e II graus, pedagogos e educadores sociais.

1 - Avaliação da proposta metodológica dos treinamentos desenvolvidos pelo

Centro de Treinamento.

No âmbito desta pesquisa de avaliação, duas questões foram concebidas

para aquilatar a qualidade dos treinamentos realizados. A primeira foi idealizada

para avaliar o treinamento propriamente dito, e a segunda a formação recebida para

o desempenho das funções de multiplicador. Com relação ao treinamento, a

avaliação dos multiplicadores oscilou entre “bom e ótimo” perfazendo um total de

99.3% das respostas. Este dado confirma as avaliações realizadas ao término dos

cursos realizados. As avaliações dos seis cursos, realizadas através de surveys ad

hoc, verificaram a opinião dos treinandos sobre diferentes aspectos do treinamento:

crescimento pessoal e profissional para atuação como multiplicador, aspectos

teóricos e metodológicos dos cursos, procedimentos didáticos, atividades práticas e

vivências realizadas, entre outros. Percebe-se, assim, que a avaliação dos

multiplicadores sobre os treinamentos mostrou-se consistente, uma vez que, em

períodos de tempo diferentes, as avaliações positivas sobre os treinamentos

mantiveram-se estáveis.

Com relação à avaliação do treinamento referente à capacitação para o

desempenho das funções como multiplicador, observa-se que os sujeitos da

pesquisa consideraram que os conteúdos e práticas dos treinamentos recebidos

propiciaram possibilidades de melhor desempenho de recrutamento, seleção e

treinamento de monitores – tarefas que parecem menos complexas no trabalho do

multiplicador. As funções mais complexas – supervisão, abastecimento, avaliação e

relato – mesmo com tendência a uma avaliação positiva, sugerem a necessidade de

um maior aprofundamento nos próximos treinamentos a serem realizados.

2 - Monitoramento e supervisão de projetos

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A supervisão e o monitoramento de projetos pelo Centro de Treinamento

constitui-se na mediação entre o sujeito profissional, a população-alvo e a instituição

como locus da prática profissional. Na proposta técnica do Prodequi, a garantia de

continuidade do trabalho junto aos profissionais treinados, mediante um

acompanhamento sistemático, visando a elaboração e a implementação de projetos

de prevenção, é condição sine qua non para a eficácia do desempenho dos

multiplicadores. Acredita-se que é no seu cotidiano institucional que o multiplicador

poderá identificar suas necessidades, suas potencialidades e também seus próprios

limites, na relação entre o sujeito profissional, a população-alvo e a instituição na

qual está inserido.

A partir de sua inserção institucional e da sua experiência com as populações-

alvo, os multiplicadores foram orientados quanto à elaboração de um projeto de

prevenção a ser executado em sua instituição, sendo sistematicamente

acompanhados pelos consultores/supervisores do Prodequi. O monitoramento e a

supervisão de projetos ocorreram através de três diferentes tipos de atividades,

procurando-se atender à especificidade das demandas e necessidades do

multiplicador nas diferentes fases de seu projeto e de sua formação. A primeira

atividade consistiu de oficinas de elaboração de projetos, seguidas de

monitoramento e supervisão em equipe, por projetos específicos. Paralelamente,

foram promovidos seminários, oficinas e encontros de integração sobre temas mais

pontuais na área de drogadição e DST/Aids, para reciclagem, atualização e

aperfeiçoamento profissional.

Esta atividade de monitoramento pode ser situada teoricamente como uma

fase do processo de avaliação de programas e projetos, constituindo-se em uma

estratégia que “mediante um conjunto de atividades, permite registrar, compilar,

medir, processar e analisar uma série de informações que revelam o curso ou o

desenvolvimento de uma atividade programada”(Aguilar e Ander-Egg, 1994:20),

visando alcançar os objetivos e metas previstos no programa/projeto. A finalidade do

processo de monitoramento visa chegar à execução eficiente e efetiva de um

projeto, mediante um processo de retro-alimentação que permite modificar e

reorientar permanentemente os aspectos operati vos do projeto de acordo com os

objetivos considerados na proposta.

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Nesta perspectiva, no bojo das atividades do Centro de Treinamento,

concebe-se o monitoramento de projetos como um processo educativo e de

avaliação que se realiza diretamente no campo do agir e do fazer profissional,

visando o alcance das metas estabelecidas. Para viabilizar esta atividade, o

Prodequi disponibilizou um cronograma de trabalho que era informado aos

multiplicadores. Além desta disponibilização, os multiplicadores poderiam fazer

demandas espontâneas por supervisão, na medida de suas necessidades.

No que se refere à distribuição dos multiplicadores, segundo a utilização do

monitoramento disponibilizado pelo Prodequi, os dados evidenciam que 69.5%

destes o utilizaram, alternando-se entre “sempre e algumas vezes”. Vale ressaltar

que, apesar do monitoramento oferecido, 32.5% não fizeram uso dele, por

problemas diversos, tais como: imcompatibilidade de horários (21.7%), falta de

disponibilidade do multiplicador (13.3%), falhas na divulgação do cronograma de

supervisão (13.3), dificuldade de execução dos projetos (8.7%) Os demais fatores

mencionados perfazem um total de 43%: “não utilizou as supervisões, projeto em

análise e sem resposta de aprovação, faltou supervisor de referência, pouco tempo

para a supervisão, distância do local de monitoramento, monitoramento teórico e

pouco prático”.

Quanto aos fatores mencionados pelos multiplicadores como positivos, que

favoreceram o aproveitamento da supervisão e do monitoramento de projetos

oferecidos pelo Prodequi, destacam-se as seguintes categorias de respostas dadas

pelos multiplicadores: “capacidade técnica dos supervisores (33.8%), disponibilidade

de tempo dos supervisores (17.6%), motivação dos supervisores para apoio e

suporte às atividades (15.5%), disponibilidade pessoal do supervisor (11.5%), apoio

técnico (10.8%), supervisão como forma de atualização (8.8%), comunicação sobre

eventos (1.3%) e flexibilidade (0.7%). Estes dados demonstram que os

multiplicadores avaliaram o monitoramento recebido de modo favorável,

considerando-o como estratégia de capacitação continuada relevante ao seu

processo de formação, com impacto positivo na execução dos projetos de prevenção

da drogadição e DST/Aids.

É importante mencionar que os resultados foram obtidos mediante perguntas

abertas, sendo que a freqüência dos fatores positivos foi bem superior à menção de

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fatores negativos, corroborando a avaliação dos multiplicadores em relação ao

monitoramento recebido pelo Prodequi como relevante, constituindo-se em

atividade de suporte técnico ao desempenho dos multiplicadores.

Outro item investigado no que tange ao monitoramento de projetos,

refere-se à qualidade desta atividade segundo a percepção daqueles que dela

fizerem uso, correspondendo a 79 sujeitos. Os dados demonstram uma avaliação

positiva entre as categorias “bom e ótimo” atingindo o percentual de 82.2%.

Registra-se que 49 multiplicadores não utilizaram a supervisão oferecida pelo

Prodequi e não se sentiram em condições de avaliá-la.

3 - Situação quanto à elaboração e execução dos projetos e dimensões

associadas ao desempenho do multiplicador.

Em todos os treinamentos realizados, o produto final era a elaboração de um

projeto de prevenção a ser executado pelos multiplicadores no âmbito de sua

instituição, junto a determinada população-alvo. Para tanto, o CT/Centro-

Oeste/Prodequi concebeu um roteiro de elaboração de projetos, com base no qual

os multiplicadores eram capacitados, mediante aulas teóricas e práticas

supervisionadas durante o curso. As duas dimensões que avaliaram a aplicação da

metodologia de elaboração de projetos pelos multiplicadores foram: a) elaboração

do projeto de acordo com o roteiro do CT, e b) apresentação do projeto aos

consultores do CT para monitoramento.

Um aspecto fundamental na proposta técnica do Prodequi foi o incentivo ao

agrupamento dos multiplicadores desde a elaboração até a execução dos projetos.

Este agrupamento de multiplicadores visava a formação de equipes e articulação em

redes, nos níveis multiprofissional, institucional e interinstitucional, partindo-se do

princípio de que esta articulação facilitaria, e mesmo viabilizaria, a execução dos

projetos.

A metodologia de capacitação do Prodequi atingiu o objetivo de agrupar os

multiplicadores para a execução dos projetos de prevenção, pois 46% dos

multiplicadores trabalharam em equipes com mais de três membros e 27% em

duplas. Os dados revelam ainda que, dentre os profissionais da amostra, 66%

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constituíram equipes multiprofissionais para a execução dos projetos. No entanto, a

articulação interinstitucional mostrou-se incipiente, uma vez que somente 16%

articularam-se com profissionais multiplicadores de outras instituições, aspecto que

representa um desafio para a equipe de supervisão e de monitoramento e,

sobretudo, para os próprios multiplicadores.

Outro indicador da aplicação da metodologia construída pelo Prodequi, no

que tange à multiplicação e educação entre os pares como estratégia de prevenção

da drogadição e das DST/Aids, refere-se ao nível de execução dos projetos

elaborados. Os resultados demonstram que cerca de 60% dos multiplicadores

executaram integral ou parcialmente seus projetos. No entanto, o fato de que

apenas 10,2% chegaram à fase final de execução e que 31,5% destes não

executaram seus projetos, sugere a necessidade de se investigar as causas

associadas a este desempenho, tanto daqueles que tiveram êxito quanto daqueles

que não conseguiram viabilizar as suas propostas.

Em relação aos multiplicadores que não executaram ou executaram

parcialmente os seus projetos, investigou-se as razões que ocasionaram este

desempenho. Constata-se que 45% atribuíram a razões de ordem institucional, 16%

a razões referentes à equipe do projeto e 12% a razões de ordem pessoal.

Dezenove por cento dos multiplicadores atribuíram a múltiplas razões de ordem

pessoal, de equipe e institucionais as dificuldades de execução de seus projetos.

Chama a atenção a relevância dos motivos de ordem institucional que constituíram-

se em barreiras à execução dos projetos.

Quanto à execução dos projetos, investigou-se também as etapas realizadas,

conforme orientação do Ministério das Saúde, adotada pela equipe técnica do

Prodequi durante o treinamento e no processo de monitoramento e supervisão.

Observa-se que os multiplicadores tenderam a executar as etapas preliminares e

iniciais como sensibilização de chefias, sensibilização da população-alvo,

disponibilidade de recursos físicos e materiais. Verifica-se uma redução gradativa da

freqüência das etapas mais complexas como supervisionar monitores, avaliar e

elaborar relatório da intervenção. Considerando a inserção institucional dos

multiplicadores, a sensibilização de chefias foi uma etapa necessária que precedeu

as demais etapas dos projetos, o que explica a alta freqüência de multiplicadores

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que executaram esta etapa, mencionada inclusive por que tiveram essa iniciativa

mas não conseguiram implementar os seus projetos. Vale ressaltar que a dimensão

da educação entre os pares, aspecto fundamental da metodologia de formação do

Prodequi, está presente nas ações preventivas dos projetos executados ou em

execução. Assim, constata-se que um percentual importante de multiplicadores

atingiu algum tipo de contato com os monitores: recrutamento, seleção, formação e

supervisão. No entanto, evidencia-se ainda o desafio que representa este processo

no que tange à formação e supervisão de monitores, etapas que consolidam a

prática do trabalho preventivo.

A população-alvo dos projetos elaborados foi outra dimensão investigada. A

equipe técnica do Prodequi incentivou os multiplicadores a proporem projetos

ligados diretamente à clientelas das respectivas instituições nas quais estavam

inseridos. As populações objeto de intervenção das ações preventivas mencionadas

pelos sujeitos da amostra foram: adolescentes (22.9%), populações em situação de

reclusão (21.1%), profissionais diversos (15.6%), dependentes químicos (11.9%),

usuários de serviços de saúde (7.4%), crianças e adolescentes em situação de rua

(7.4%), policiais (4.6%), comunidade escolar (3.7%), comunidade (1.8%), grupos de

familiares (1.8%), portadores do HIV/Aids (0.9%), e profissionais do sexo (0.9%).

Estes dados demonstram uma diversificação das populações-alvo dos projetos de

intervenção elaborados pelos multiplicadores, destacando-se os adolescentes como

foco principal de atenção, seguidos das populações em situação de reclusão,

profissionais diversos (saúde, educação e assistência social) e dependentes

químicos. De modo geral, estas populações encontram-se em contextos de

situações de risco geradas, entre outros motivos, pela drogadição e pela exposição

às DST/Aids. Por outro lado, cabe ressaltar que algumas das populações-alvo

previstas de serem atingidas no projeto, como por exemplo os profissionais do sexo,

foram pouco expressivas, quantitativamente, no conjunto das populações-alvo.

Outro objetivo da pesquisa foi investigar as dimensões associadas ao

sucesso e ao fracasso na execução dos projetos, a partir do levantamento dos

fatores facilitadores e dificultadores, segundo a percepção dos multiplicadores. Este

levantamento visou identificar quais aspectos foram mais relevantes para a

implementação ou não dos projetos. Quanto aos aspectos facilitadores, os sujeitos

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da pesquisa priorizaram o interesse pessoal pela questão da prevenção da

drogadição e das DST/AIDS e a capacitação técnica como mais relevantes,

respectivamente, como mostra a Tabela 1. Vale ressaltar que o monitoramento

oferecido pelo Prodequi foi percebido como relevante para 32.6% dos sujeitos que

responderam ao questionário, dado que evidencia a importância dessa atividade no

bojo das ações do Centro de Treinamento.

Tabela 1 - Fatores priorizados pelos multiplicadores como facilitadores na

execução dos projetos

FATORES FACILITADORES N % Interesse pessoal relevante pela questão da prevenção das DST/AIDS e Drogas

56 62.9

Capacitação técnica 43 48.3 Monitoramento do projeto pelo supervisor do Prodequi 29 32.6 Apoio político institucional 23 25.9 Disponibilidade de tempo cedido pela instituição 19 21.4 Disponibilidade de tempo por interesse pessoal na execução do projeto

18 20.2

Apoio financeiro institucional 17 19.1

Analisando-se a Tabela 2 que diz respeito aos fatores mencionados pelos

multiplicadores como dificultadores da execução dos projetos, chama a atenção o

percentual elevado de sujeitos que apontaram dificuldades institucionais diversas,

tais como falta de apoio financeiro, técnico e político, destacando-se as dificuldades

institucionais em conciliar a prática profissional com o projeto de intervenção.

Destaca-se ainda, que 28.4% dos multiplicadores referiram como dificuldade a

mudança de cargo, função e instituição o que caracteriza uma rotatividade

institucional dos profissionais treinados, impossibilitando a continuidade da execução

dos projetos.

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Tabela 2 - Fatores mencionados pelos multiplicadores como dificultadores na

execução dos projetos

FATORES DIFICULTADORES N % Dificuldades institucionais para conciliar a prática profissional com o projeto de prevenção.

61 49.6

Falta de apoio financeiro institucional 51 41.5 Falta de apoio político institucional 47 38.2 Falta de apoio técnico institucional 40 32.8 Dificuldades pessoais em conciliar a prática profissional com o projeto de prevenção.

33 26.8

Mudança pessoal de cargo/função na instituição 19 15.4 Mudança de instituição de origem 16 13.0 Composição da equipe do projeto cujas inserções institucionais dos profissionais foram desfavoráveis.

15 12.2

Interesse relativo pela questão da prevenção das DST/AIDS e Drogas

14 11.4

Insegurança pessoal para desenvolvimento do projeto 12 9.8 Composição da equipe do projeto: as categorias profissionais envolvidas não facilitaram a execução

11 9.0

Indisponibilidade institucional de acesso ao monitoramento oferecido pelo Prodequi

11 8.9

Indisponibilidade pessoal de acesso ao monitoramento oferecido pelo Prodequi

10 8.1

Pouca capacitação técnica pessoal para execução do projeto 9 7.3 Falta de monitoramento pelo consultor do Prodequi 8 6.5 Monitoramento oferecido pelo Prodequi foi insuficiente. 8 6.5 Composição da equipe do projeto com interrelações pessoais desfavoráveis.

7 5.7

Outros

18 14.6

Outra dimensão investigada foi a realização de algum tipo de atividade

preventiva, independente do projeto de intervenção. Os dados evidenciam que foi

significativo o número de profissionais treinados que realizou algum tipo de atividade

preventiva e/ou educativa, em suas respectivas instituições, independente de seu

projeto de prevenção, atingindo 83% da amostra contra apenas 17% que informaram

não ter realizado nenhuma atividade desta ordem. A população-alvo das atividades

preventivas acima mencionadas são, praticamente, as mesmas mencionadas pelos

multiplicadores a partir do projeto elaborado segundo o roteiro concebido pelo

Prodequi.

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Verifica-se que do total de 121 respostas dos multiplicadores que realizaram

atividades preventivas que 25.7% mencionaram que realizaram palestras, 11.6%

oficinas, 9.1% orientações, 10.8% sensibilização e 9.9% realizaram algum tipo de

treinamento. Os demais realizaram as seguintes atividades: orientações, reuniões,

aconselhamentos, discussão/debate sobre tema relevante, acompanhamento

psicoterápico, atividade em grupo. vídeo, supervisão, teatro, dinâmicas diversas e

testagem anônima.

Outra variável analisada foi a auto-avaliação dos multiplicadores no que se

refere à sua participação, tanto na atividade de elaboração quanto na de execução

do projeto. Comparando-se estes dois momentos, observa-se que os multiplicadores

fizeram uma auto-avaliação mais favorável de sua participação no que tange à

elaboração do projeto, com 68,3% deles considerando que esta foi boa ou ótima e

19,5% avaliando-a como fraca ou regular. A percepção dos sujeitos referente à sua

participação na execução dos projetos é menos positiva, com 16,8% avaliando-a

como fraca, 17,6% como regular e 42% como boa ou ótima. Estes achados estão

coerentes com outros resultados já apresentados, que apontam uma melhor

performance dos multiplicadores na etapa de elaboração dos projetos em detrimento

da fase de execução, na qual fatores de ordem institucional e mesmo pessoal

interferiram no desempenho.

4 - Demandas e expectativas dos multiplicadores para subsidiar a continuidade

da formação.

Com base na concepção do Prodequi, que considera a formação do

multiplicador como um processo, investigou-se as demandas deste quanto à

continuidade da capacitação, através do levantamento de novas atividades a serem

realizadas, que poderiam ainda fornecer subsídios ao desempenho de seu papel de

multiplicador. A Tabela 3 apresenta as atividades priorizadas pela amostra por

ordem de freqüência.

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Tabela 3 – Distribuição das prioridades mencionadas pelos multiplicadores

para continuidade de sua capacitação

ATIVIDADES Freqüência % Oficinas para troca de experiência entre os multiplicadores 88 30.4 Seminários de aprofundamento teórico 71 24.6 Oficinas para aprendizagem de habilidades e técnicas específicas na prevenção da drogadição e DST/Aids

59 20.4

Práticas supervisionadas 48 16.7 Supervisão individual 23 7.9

Total 289 100.0

Os resultados indicam que os multiplicadores valorizaram atividades que

possibilitariam a troca de experiência entre eles, ou seja entre seus pares, bem

como aspectos de fundamentação teórica e desenvolvimento de técnicas

específicas, respectivamente. Estes dados demonstram que a demanda baseia-se

na articulação entre teoria e prática. A constatação de que apenas 7.9% apontaram

a supervisão individual como subsídio pode ser atribuída ao fato de que esta

atividade, tendo sido oferecida sistematicamente pelo Prodequi, parece não ter sido

devidamente valorizada pelos integrantes da amostra como acréscimo no seu

processo de formação. É possível, portanto, inferir que os multiplicadores

priorizaram outras atividades ainda não realizadas regularmente.

Outra leitura destes dados conduz à inferência de que os multiplicadores

mostram-se ainda voltados para sua própria capacitação, em detrimento da

execução de projetos propriamente dita. Nota-se que as demandas priorizadas

apontam uma necessidade de contextos de trocas coletivas, reforçando o objetivo

do trabalho em redes sociais.

3 – Considerações finais

A partir dos objetivos específicos estabelecidos e após apresentação dos

resultados da pesquisa, esboça-se a seguir, a síntese dos achados mais

significativos.

3.1 – Quanto ao perfil dos multiplicadores:

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O perfil dos multiplicadores revelou que o CT/Centro-Oeste/Prodequi atingiu a

clientela-alvo definida no Projeto, com a priorização de profissionais de nível superior

de instituições governamentais, de diferentes categorias profissionais. Observa-se

um predomínio de psicólogos e de assistentes sociais, evidenciando uma motivação

destes profissionais pelo trabalho preventivo na área da drogadição e das DST/Aids.

Quanto à área de atuação, os multiplicadores capacitados, em sua maioria, estão

inseridos nas grandes áreas do setor público, com predomínio da área de saúde,

tendo sido alcançados os objetivos específicos do recrutamento e da seleção do

Prodequi. Cabe destacar que a área concernente à justiça/segurança pública e

sistema penitenciário também se destaca, atingindo-se, também, uma população

exposta a risco priorizada nas políticas oficiais do Ministério da Saúde. Cabe

destacar a abrangência regional atingida pelo Prodequi com a capacitação de

significativo número de multiplicadores no quatro estados.

3.2 – Quanto a proposta metodológica do Prodequi:

Quanto aos treinamentos oferecidos pelo CT, a avaliação revela-se consistente do

ponto de vista de seu significado positivo na formação dos multiplicadores. Com

relação à avaliação do treinamento referente à capacitação para o desempenho das

funções como multiplicador, cabe destacar que os multiplicadores consideraram que

os conteúdos e práticas dos treinamentos recebidos propiciaram possibilidades de

melhor desempenho das funções de recrutamento, seleção e treinamento de

monitores. As funções de supervisão, abastecimento, avaliação e relato – mesmo

com tendência a uma avaliação positiva - sugerem a necessidade de um maior

aprofundamento nos próximos treinamentos a serem realizados. No processo de

formação de multiplicadores constata-se que o treinamento além dos conteúdos

oferecidos devem contemplar, igualmente, o treinamento de habilidades específicas

diretamente ligadas à formação dos monitores. Esta dimensão do treinamento dos

multiplicadores refere-se ao processo de capacitação continuada, que extrapola a

carga dos cursos. Sugere-se, portanto, como um terceiro aspecto do processo de

formação do multiplicador a inclusão do conteúdo referentes ao domínio das

habilidades específicas da própria função. Uma dimensão relevante do processo de

formação dos multiplicadores, na metodologia construída pelo CT/Centro-

Oeste/Prodequi, refere-se, pois, ao monitoramento e supervisão oferecidos após os

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cursos. Neste sentido, foi disponibilizado o acompanhamento sistemático no bojo da

prática profissional, junto às instituições de origem, visando a implementação dos

projetos de prevenção. Os resultados mostraram que esta dimensão é valorizada

pelos multiplicadores, tendo sido priorizada como fator facilitador da execução do

projeto, apontado por 32,6% da amostra da pesquisa, colocando-se como terceiro

fator determinante na execução dos projetos. O impacto do monitoramento e

supervisão dos projetos foi revelado, ainda, através da associação significativa entre

utilização do monitoramento e melhor desempenho na execução dos projetos. Resta

como desafio o aperfeiçoamento da metodologia de supervisão, mostrando-se

relevante identificar e construir estratégias que permitam conhecer as reais

necessidades dos multiplicadores, respondendo às especificidades da demanda em

cada momento do processo de formação a fim de manter a motivação de execução

dos projetos no decorrer do cotidiano profissional. Ficou confirmada na presente

avaliação que 54.3% dos multiplicadores que não executaram seus projetos não

fizerem uso do monitoramento. Por outro lado, dos multiplicadores que se utilizaram

do monitoramento do Prodequi, 81,1% tiveram algum nível de execução enquanto

que, apenas, 18,9% não executaram seus projetos.

3.3 – Quanto a execução dos projetos:

Considerando-se que a proposta metodológica do Prodequi no processo de

formação de multiplicadores foi construída com base na prática de redes sociais, um

dos resultados relevantes refere-se aos agrupamentos multiprofissionais e

interinstitucionais na efetividade da execução dos projetos. Verifica-se que a maioria

dos profissionais capacitados (66%) encontrava-se agrupada em equipes

multiprofissionais. Quanto à articulação interinstitucional, trata-se de meta que ainda

coloca-se como um desafio, sendo atingida por apenas 16% dos multiplicadores.

Cabe considerar as barreiras que parecem, ainda, caracterizar as instituições,

sobretudo aquelas de natureza pública, que funcionam predominantemente no

paradigma da especialização, dificultador do estabelecimento de interfaces e

parcerias. Consoante com as estratégias de formação de equipes para elaboração e

execução dos projetos implementados pelo Prodequi, desde o primeiro momento da

capacitação, constatou-se que a maioria (73%) trabalhou ou está trabalhando em

agrupamentos de dois ou mais integrantes. Este dado possibilita inferir sobre o

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impacto positivo deste agrupamento, na medida em que os multiplicadores que

estavam em duplas ou equipes com mais de três profissionais mostraram melhor

desempenho, enquanto aqueles que trabalharam individualmente tenderam a não

executar seus projetos. Na análise dos fatores dificultadores referentes à execução

dos projetos, os resultados indicaram um percentual elevado de multiplicadores que

mencionaram dificuldades institucionais diversas tais como falta de apoio financeiro,

técnico e político, destacando-se as dificuldades institucionais em conciliar a prática

profissional com o projeto de prevenção. A avaliação do impacto das cinco

dificuldades, apontadas em maior freqüência, sobre a situação de execução dos

projetos mostrou que apenas a dificuldade pessoal em conciliar a prática profissional

com o projeto preventivo diferenciou os multiplicadores que executaram, daqueles

que não executaram seus projetos. Aqueles que não mencionaram essa dificuldade

tenderam a executar seus projetos parcial ou integralmente. Quanto aos fatores

facilitadores na execução dos projetos, os sujeitos priorizaram aqueles de ordem

pessoal, aparecendo em primeiro lugar o interesse pessoal relevante pela questão

da prevenção da drogadição e das DST/AIDS (62.9%) e em segundo lugar a

capacitação técnica (48.3%). Neste sentido, vale destacar a influência de

determinados fatores na execução dos projetos: adesão ao

monitoramento/supervisão; o agrupamento dos multiplicadores em equipes;

legitimidade do projeto de prevenção da drogadição e das DST/Aids no âmbito

institucional. Conclui-se portanto, que estes elementos são fundamentais no

processo de formação do multiplicador. Com relação às etapas específicas dos

projetos realizados, verificou-se que os multiplicadores tenderam a executar as

etapas preliminares e iniciais, como sensibilização das chefias, sensibilização da

população-alvo e disponibilidade de recursos materiais e físicos, verificando-se uma

redução gradativa da freqüência das etapas mais complexas, como supervisionar

monitores, avaliar e elaborar relatório da intervenção realizada. Evidencia-se uma

diversificação nas populações-alvo dos projetos dos multiplicadores, destacando-se

adolescentes, populações em reclusão social, profissionais diversos e dependentes

químicos. De modo geral estas populações encontram-se em contextos de exclusão

social e situações de risco, geradas pela drogadição e pela exposição às DST/Aids.

Por outro lado constatou-se a ausência de populações-alvo específicas previstas no

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projeto original e que não foram trabalhadas. Este aspecto refere-se, mais

diretamente, a profissionais do sexo e homossexuais, os quais não constituem, por

sua vez, clientela de programas específicos das instituições priorizadas. A dimensão

da educação entre os pares - aspecto fundamental desta metodologia - está

presente nas ações preventivas dos projetos executados ou em execução. Constata-

se que um percentual importante de multiplicadores atingiu o contato com os

monitores selecionados entre a população-alvo. No entanto, percebe-se o desafio

que representa efetivar este processo, no que tange à formação e supervisão destes

monitores, sendo estas as etapas menos executadas. O confronto entre fatores

pessoais versus fatores institucionais, enquanto facilitadores e/ou dificultadores

conduzem às seguintes reflexões: Até que ponto as instituições se constituem, de

fato, como entraves inviabilizando ou dificultando a execução efetiva dos projetos?

Como entender os entraves mencionados pelos multiplicadores na execução dos

seus projetos de prevenção, no contexto da realidade das instituições públicas cujas

funções deveriam ser preventivas por excelência? Em que medida os multiplicadores

não se percebendo como sujeitos profissionais capazes que interferir e modificar a

dinâmica institucional tenderiam a supervalorizar as dificuldades institucionais? Que

possíveis estratégias metodológicas de capacitação no bojo da prática profissional

viabilizariam a mediação necessária entre o sujeito profissional, a instituição e o

público-alvo objeto da intervenção?

4 – Bibliografia

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