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www.ts.ucr.ac.cr 1 XVI CONGRESSO LATINO AMERICANO DE ESCOLAS DE SERVIÇO SOCIAL ‘’A GLOBALIZAÇÃO E SEU IMPACTO NO TRABALHO SOCIAL PARA O SÉCULO XXI” APRESENTAÇÃO DE TRABALHO NO EIXO TEMÁTICO: INTERVENÇÃO PROFISSIONAL. “ AS NECESSIDADES E AS DEMANDAS SOCIAIS A PARTIR DO ENFOQUE DA GLOBALIZAÇÃO E DO TRABALHO SOCIAL: REALIDADE OU INVENÇÃO? “ TÍTULO DO TRABALHO: Os desafios para o trabalhador social no contexto da globalização do capital e das reformas do Estado Nação. Autoria: Lúcia Cortes da Costa. Tipo de trabalho: Resultado preliminar de pesquisa realizada na pós-graduação – Doutoramento, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil. Palavras Chaves : Globalização, Reformas, Estado. Abstract: A tarefa do trabalhador social, no atendimento das demandas sociais, no contexto da globalização tem encontrado novos desafios colocados pelas propostas de reformas do Estado que buscam diminuir a ação dos governos na área social. A internacionalização do capital, a articulação entre o capital financeiro e o capital industrial, o livre fluxo dos investimentos, tem colocado novos desafios para os governos nacionais, especialmente para os países periféricos. A agenda política dos anos 90 é a Reforma do Estado, onde os temas colocados em discussão revelam uma pressão dos países centrais na abertura econômica, privatização e redução das dívidas públicas dos diferentes Estado Nacionais. A austeridade fiscal dos Estados Nacionais na América Latina, tem revelado um desafio para os setores sociais. A redução dos investimentos na área social, tem mantido sem solução os graves problemas das populações pobres, colocando limites profundos na ação profissional dos trabalhadores sociais. A ação social de caráter educativo e promocional é uma necessidade concreta na realidade dos países subdesenvolvidos, que deve estar articulada com medidas de caráter estrutural de redistribuição de rendas e combate a pobreza. O desafio para o trabalhador social é encontrar novos modelos de gerenciamento dos serviços sociais neste contexto de austeridade fiscal.

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XVI CONGRESSO LATINO AMERICANO DE ESCOLAS DE SERVIÇO SOCIAL

‘’A GLOBALIZAÇÃO E SEU IMPACTO NO TRABALHO SOCIAL PARA O SÉCULO XXI”

APRESENTAÇÃO DE TRABALHO NO EIXO TEMÁTICO: INTERVENÇÃO

PROFISSIONAL. “ AS NECESSIDADES E AS DEMANDAS SOCIAIS A PARTIR DO

ENFOQUE DA GLOBALIZAÇÃO E DO TRABALHO SOCIAL: REALIDADE OU

INVENÇÃO? “

TÍTULO DO TRABALHO: Os desafios para o trabalhador social no contexto da

globalização do capital e das reformas do Estado Nação.

Autoria: Lúcia Cortes da Costa.

Tipo de trabalho: Resultado preliminar de pesquisa realizada na pós-graduação –

Doutoramento, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil.

Palavras Chaves: Globalização, Reformas, Estado.

Abstract:

A tarefa do trabalhador social, no atendimento das demandas sociais, no contexto

da globalização tem encontrado novos desafios colocados pelas propostas de reformas

do Estado que buscam diminuir a ação dos governos na área social.

A internacionalização do capital, a articulação entre o capital financeiro e o capital

industrial, o livre fluxo dos investimentos, tem colocado novos desafios para os governos

nacionais, especialmente para os países periféricos.

A agenda política dos anos 90 é a Reforma do Estado, onde os temas colocados

em discussão revelam uma pressão dos países centrais na abertura econômica,

privatização e redução das dívidas públicas dos diferentes Estado Nacionais.

A austeridade fiscal dos Estados Nacionais na América Latina, tem revelado um

desafio para os setores sociais. A redução dos investimentos na área social, tem mantido

sem solução os graves problemas das populações pobres, colocando limites profundos na

ação profissional dos trabalhadores sociais. A ação social de caráter educativo e

promocional é uma necessidade concreta na realidade dos países subdesenvolvidos, que

deve estar articulada com medidas de caráter estrutural de redistribuição de rendas e

combate a pobreza. O desafio para o trabalhador social é encontrar novos modelos de

gerenciamento dos serviços sociais neste contexto de austeridade fiscal.

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PONENCIA:

“ Os desafios para o trabalhador social no contexto da globalização do

capital e das reformas do Estado Nação. “

Construímos nossa reflexão partindo da seguinte ordem: a consideração

sobre o conceito e as funções do Estado, a discussão sobre as redefinições do

Estado com o processo da globalização do capital para então debater sobre os

desafios do trabalhador social neste contexto de final de século.

1) Considerações sobre o Conceito e as Funções do Estado:

As mudanças dentro da sociedade capitalista estão redefinindo os papéis e

funções do Estado Nação. A conjuntura histórica das últimas décadas deste

século tem evidenciado uma perda significativa no poder de barganha das classes

trabalhadoras, que através de suas organizações sindicais, pressionavam o

Estado na aprovação de direitos trabalhistas e sociais. Este processo de

redefinição das relações de poder dentro da sociedade capitalista expressa-se na

agenda das reformas do Estado nos diferentes países e repõe a discussão do

contrato social.

O ponto central do presente processo histórico é a discussão da regulação

estatal, sua polêmica entre liberdade e igualdade, entre mercado e regulação

pública-estatal. O Estado, como instituição humana, é marcado pela historicidade.

O Estado sofreu várias redefinições, conforme o avanço da sociedade moderna

capitalista.

Num breve resgate da discussão sobre o conceito e as funções de Estado,

vemos que para Thomas Hobbes (1642), o Estado tinha a função de manter a

ordem e a propriedade na sociedade. Hobbes colocava que se aos homens fosse

dada toda liberdade de ação, a própria sociedade estaria sob o risco da violência e

de guerras civis, pois para Hobbes, os indivíduos eram como lobos – disputando

entre si.

Com o nascimento da doutrina sobre o direito público e das obrigações e

funções do Estado, nasce também a polêmica sobre o Estado natural e o Estado

político. Nesta polêmica se constrói a idéia do Estado racional, cujas ações

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deveriam ter fundamentos na razão moderna, e, a idéia de contrato social –

tematizada por Locke e Rousseau, entre outros.

A discussão do Estado político e dos direitos naturais abre a questão da

legitimidade do Estado e a democracia moderna.

Locke (1632-1704) colocava como imperativo para a ordem social – a

proteção da propriedade individual, e como atribuição do Estado assegurar o

direito da propriedade privada, a liberdade econômica, a segurança pessoal e

liberdade política. Locke já teorizava sobre o cidadão, o sujeito portador de

direitos, mas não universalmente concebido. O Contrato Social cria o Estado, e os

indivíduos – aqueles considerados cidadãos, os proprietários, poderiam dissolver

o Estado caso este não cumprisse suas funções. A legitimidade do Estado estaria

no contrato que o fundava, porém as funções do Estado garantiriam na prática,

sua legitimidade. Era o Estado dos proprietários.

Com Rousseau (1712-1778) nasce uma polêmica contra a democracia

censitária, a busca da igualdade como fundamento da sociedade colocou em

questão o direito da propriedade individual. O Estado foi visto por Rousseau como

uma invenção do rico contra o pobre. Pois para ele, se não houvesse igualdade

não haveria liberdade, mesmo que pensasse em igualdade perante a lei como a

base de uma sociedade democrática onde o poder deveria emanar do povo.

Rousseau percebia que a igualdade tem, além dos aspectos jurídicos e legais, um

fundamento econômico e social. A legitimidade do Estado para Rousseau estaria

no contrato que o fundava, porém, colocava que era a ignorância do povo que

aceitava o Estado. Assim, propunha a educação pública como caminho para

construir uma sociedade democrática, onde o poder da maioria fosse respeitado.

Com Rousseau as funções do Estado passaram a ser debatidas sob nova

perspectiva – a da maioria e a da igualdade.

Em Hegel também temos uma discussão sobre o Estado e a sociedade

civil. Para Hegel o Estado era a razão objetivada na história – o ente que fundava

a sociedade civil. Sendo o Estado que fundava a sociedade, a constituição seria

outorgada pelo monarca. Hegel analisa o Estado a partir da figura de Napoleão e

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estabelece na sua filosofia do direito uma dialética entre Estado e sociedade civil,

entre as esferas da universalidade (Estado), a particularidade e as singularidades.

É em Marx(1843/1844) que a critica ao Estado liberal se coloca com toda

força alegando o seu caráter de classe. Marx analisa inicialmente a filosofia do

Direito de Hegel, afirmando contra Hegel, que não é o Estado que funda a

sociedade civil e sim esta é que cria o Estado e o legitima. A base da sociedade

está na sua organização de classe e nos interesses que se fazem representar no

Estado. A crítica de Marx ao Estado Liberal de seu tempo(1848) o colocava como

“ comitê da burguesia” .

Gramsci (1920) coloca que o Estado é o campo de embate entre as classes

fundamentais da sociedade capitalista (capital e o trabalho). Coloca que o Estado,

além da preservação da propriedade privada, busca da legitimidade pela

construção da hegemonia e do poder ideológico – que responderiam pelas

funções de coerção e consenso, e a manutenção da ordem capitalista com o uso

legal da força – a função de repressão.

Segundo as inferências teóricas de Gramsci, o Estado tem uma função

educativa, que na sociedade capitalista é colocada a serviço dos interesses gerais

do capital. A igualdade jurídica e política não podem completar a democracia sem

a igualdade social, assim o Estado capitalista vive num impasse do discurso da

cidadania e a prática da opressão.

No século XX a polêmica da cidadania evidencia o caráter formalista da

democracia liberal que não resolve o problema da igualdade social devido as

contradições das relações sociais de produção capitalista.

As funções do Estado passam a ser discutidas não apenas do ponto de

vista dos direitos políticos e civis, mas dos direitos sociais. As funções do Estado

se ampliam no século XX, não apenas devido a luta pela igualdade social, mas

essencialmente devido a complexidade da sociedade e o acirramento da

concorrência capitalista. Foram os impasses das crises deste sistema de produção

que levaram as grandes modificações nas funções do Estado. Pensemos o

século XX a partir das grandes crises sociais: a primeira guerra mundial (1914-18),

a crise da bolsa de valores de Nova Iorque (1929), a Segunda guerra

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mundial(1939-45), a reconstrução da Europa a partir de 1947, o combate ao

comunismo – guerra fria de 1950/80, a guerra nas estrelas, o fim do comunismo

no leste europeu (1989), a ampliação dos mercados e as crises financeiras dos

anos 90.

Se os séculos XVII e XVIII evidenciaram a ascensão dos direitos naturais e

a discussão do contrato social, o século XIX a ascensão da democracia liberal

censitária e a luta pelo voto universal, o século XX colocou a discussão do Estado

Democrático, da universalização dos direitos políticos, civis e sociais.

A função regulatória do Estado assumiu maior destaque a partir da crise de

1929. Dado o impacto social da crise econômica, o governo americano realizou

uma atuação mais abrangente do Estado, buscando evitar que a fome e a miséria

deteriorasse definitivamente a sociedade. Iniciava-se a experiência histórica de um

modelo de Estado dirigista ou interventor. Franklin Roosevelt, buscando a

restauração econômica e social criou o New Deal em 1932.

Como se gestou a crise de 1929 e quais as novas funções que o Estado

passou a desempenhar? De maneira muito genérica podemos dizer que a crise

americana de 1929 foi resultado da sua própria prosperidade. No capitalismo

quando o crescimento econômico chega a patamares elevados sem a

correspondente elevação do consumo, ocorre crise de excesso de produção e

crise de especulações com as ações das empresas, vendidas nas bolsas de

valores.

Após a primeira guerra mundial a economia americana passou a ser a

grande potência econômica do mundo, mas ocorreu que cessados os conflitos, a

Inglaterra e França voltaram a produzir, derrubando as exportações americanas.

Este fator da queda das exportações estava aliado aos fatores do mercado interno

americano que não tinha potencialidade de absorver toda a produção, pois o

grande investimento sempre é precedido de uma acumulação, onde os salários

devem crescer sempre abaixo da produtividade das empresas, o que reduz a

demanda efetiva e leva a recessão.

Com as crises econômicas aparecem as crises sociais – dada em grande

parte pela elevação do desemprego. Este é o ciclo das crises capitalista:

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crescimento econômico, recessão e desemprego. Para desatar este ciclo de crise

o Estado passou a regular a economia.

Com esta importante experiência de planejamento da economia cresceu a

discussão sobre os modelos de Estado, levando a um impasse político e social

dentro do capitalismo. O Estado deveria ter funções mais amplas para evitar as

crises econômicas e sociais, o mercado deveria ser regulado. Assim, as medidas

de gastos públicos foram vistas como necessárias para evitar a queda do

consumo e a recessão.

Keynes(1936) propunha uma revolução no papel do Estado liberal. Para

Keynes a economia capitalista difere da economia de simples troca porque o

objetivo do capitalista é o lucro e não o consumo. A moeda no sistema capitalista

não é um meio de troca neutro, tem função de reserva de valor, o que gera a

preferência pela liquidez afetando o volume da demanda e gerando especulações.

Na polêmica com a teoria clássica, Keynes analisou o problema do desemprego,

que para ele era resultado da falta de investimentos, gerado pela falta de

demanda, ocasionando recessão. Keynes negou o princípio da teoria clássica de

que toda produção gera sua demanda e analisou o papel das expectativas dentro

do sistema produtivo, teorizando o papel ativo do Estado na regulação da

economia.

A partir das idéias de Keynes, a social-democracia européia passou a ver

nas suas proposições uma justificativa econômica para os gastos sociais e a

crescente inte rvenção do Estado no planejamento econômico.

Hayek, dentro das proposições do liberalismo clássico, nega a idéia de

regulação do Estado na economia, propondo o livre mercado como o caminho

mais eficiente para gerar riqueza. Para Hayek toda a intervenção do Estado na

regulação social seria desastrosa porque os indivíduos perderiam o incentivo para

desenvolverem suas potencialidades se o Estado assumisse um papel protetor.

A hegemonia das idéias Keynesianas durante o segundo pós-guerra serviu

para o crescimento dos partidos social-democratas e para a construção de um

modelo de regulação social e de um ideal de Estado de bem estar social. A partir

da década de 1970 perde força as idéias Keynesianas e se retomam as idéias

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inspiradas em Hayek sobre o livre mercado, levando a um sistemático ataque as

organizações das classes trabalhadoras e a reforma do Estado como tema central

para o crescimento econômico. Na ofensiva conservadora os déficits públicos,

gerados pelos gastos sociais, passaram a ser a causa principal do pequeno

crescimento econômico, assim, a receita passou a ser a austeridade fiscal.

As funções do Estado assumem a cada época histórica, características

específicas. Neste final de século estão sendo redesenhadas novamente as

funções e o conceito de Estado. A articulação entre o Estado e o capital é

orgânica e estrutural, porém, realizada através de um complexo sistema de

mediações, que buscam ao mesmo tempo legitimidade social e a acumulação

capitalista. São pólos contraditórios e em permanente tensão.

2) O processo da globalização e as redefinições nos papéis do Estado:

A complexidade da atual conjuntura histórica, evidenciada pelo processo

intenso de globalização dos mercados, coloca redefinições importantes no papel e

funções do Estado Nacional, especialmente nos países periféricos. A

compreensão dos processos de globalização da sociedade capitalista é uma

exigência para a compreensão das mudanças colocadas pelas reformas de

Estado em curso em todo mundo.

Como se intensifica a globalização capitalista neste final de século? A

conjuntura favorável à ampliação dos direitos sociais nos países centrais perdurou

até a década de 1970, quando a crise do petróleo deflagrou um complexo

processo de redefinições nas relações de poder internacional e de mudanças

tecnológicas. O boicote dos países árabes fez o mundo capitalista entrar em crise

(1974 e 1979). A conjuntura desta fase do capitalismo é muito complexa apenas

destacamos alguns pontos essenciais:

- crise do petróleo levou ao aumento no preço de toda produção industrial e ao

desequilíbrio financeiro dos países compradores de petróleo;

- crise política – a busca do controle do processo produtivo pelos sindicatos e

luta dos países periféricos para mudanças nas relações do mercado mundial,

buscando favorecer os países pobres;

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- criação de um mercado financeiro internacional devido o acúmulo de dólares

da elevação do preço do petróleo – financiamento de novo ciclo de

crescimento econômico na Europa, EUA, Japão e América Latina.

- Crise das dívidas – crise financeira dos Estados e queda do crescimento

econômico.

Para fugir da pressão dos sindicatos fortes dos países centrais e buscando

baratear os custos de produção, agora com maiores recursos tecnológicos, houve

então um processo mais intenso de internacionalização da produção. Esta

internacionalização da produção, ao transgredir as barreiras nacionais, é o cerne

do avanço da globalização.

“ Todos esses processos significaram retirada do Estado, via ruptura de

controles estatais que foram eliminados nos casos de retirada de controle

tarifários e barreiras ao comércio; a partir das desregulamentações, que

eliminaram normas governamentais; como auxilio das desintermediações

financeiras, que permitiram que os agentes econômicos participassem dos

mercados de títulos e moedas sem passar pelas normas que regulavam o

sistema financeiro; e através de perda de controle de determinados setores da

economia, no caso das privatizações. Em uma palavra, tais processos

significaram, na prática, a liberalização generalizada dos mercados, tendência

que vem se desenvolvendo desde o final dos anos setenta(MOLLO,1997,

p.69).”

Os espaços econômicos não coincidem com os espaços nacionais. As

soberanias políticas são suplantadas pela soberania econômica

internacionalizada. Neste amplo processo de redefinição da produção capitalista, o

Estado-Nação é progressivamente corroído pela internacionalização da economia,

que desloca a produção e a base de criação do valor para espaços supra-

nacionais, aliando-se a um sistema financeiro internacional que detém um fluxo de

capital volátil que não esta sob o comando de nenhum banco central, de nenhum

governo. Este capital, livre das amarras nacionais, busca taxas de lucros mais

atrativas e cria um tensionamento para a contabilidade nacional.

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A globalização é o processo de redefinição do padrão de acumulação

capitalista que, redefine as ações do Estado Nação e, cria um sistema complexo

de produção e circulação de mercadorias ao nível mundial. Entra em cena a

produção flexível como eixo desta nova fase da acumulação capitalista.

François Chesnais nos oferece uma interpretação do processo de

globalização articulando-o ao desenvolvimento de uma nova fase do processo de

acumulação, onde o capital financeiro adquire maior peso na definição dos locais

de investimento do capital produtivo. “ É na produção que se cria riqueza, a

partir da combinação social de formas de trabalho humano, de diferentes

qualificações. Mas é a esfera financeira que comanda, cada vez mais, a

repartição e a destinação social dessa riqueza.” O capital financeiro, segundo

Chesnais, esta articulado a um movimento de transferências efetivas de riqueza

da esfera pública, via o ”serviço da dívida pública e as políticas monetárias

associadas a este. Trata-se de 20% do orçamento dos principais países e de

vários pontos de seus PIBs, que são transferidos anualmente para a esfera

financeira. Parte disso assume então a forma de rendimentos financeiros,

dos quais vivem camadas rentistas. (1996,p.15)”

Assim, podemos ver que as dívidas externas que colocaram os países da

América Latina em crise fiscal são na verdade parte do processo endógeno da

ascensão do capital financeiro através da transferência de riqueza da esfera

produtiva de cada país para um setor comandado pelo capital financeiro

internacional. As conseqüências sociais deste processo de fortalecimento do

setor financeiro, feito as custas de fundos públicos canalizados através do serviço

das dívidas externas e internas, refletem-se na perda da capacidade de

investimentos sociais e em infra-estrutura por parte dos Estados. Outra

conseqüência perversa deste processo é a submissão dos Estados aos capitais

especulativos, o que gera um clima de insegurança no sistema produtivo e na

sociedade em geral.

O ataque especulativo sobre as moedas dos países emergentes vem sendo

um demonstrativo da forte insegurança deste modelo de acumulação baseado no

setor financeiro. A recente crise da Ásia, a atual crise na América Latina, coloca

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em evidência o poder fictício de algumas economias e a fragilidade do sistema

mundial de produção, a interligação de todas as economias devido a

internacionalização do capital financeiro e produtivo. A instabilidade econômica

tem repercussões na estabilidade política dos governos. A produção globalizada

acirrou a instabilidade social e o processo de exclusão social aliado a pobreza de

parte significativa da população do planeta.

A dinâmica interna do sistema capitalista, agora sob o comando do capital

financeiro, coloca uma aceleração no tempo de valorização do capital produtivo,

desencadeando uma luta mais intensa pelo aumento da produtividade do trabalho

e de uma concorrência ainda maior entre os diferentes setores produtivos. Cresce

assim a precarização das normas que regem o mercado de trabalho, aumentando

o grau de exploração da força de trabalho, tanto em termos absolutos como

relativos.

O Estado é chamado a atuar conforme este novo ritmo do capital, assim, as

leis trabalhistas, em todo mundo capitalista, passam a ser foco das atenções dos

governos pressionados pelo mercado, a fim de tornar a economia competitiva. A

palavra competitividade passou a ser o mito sagrado do capitalismo deste final de

século.

A aceleração do tempo na esfera da circulação do capital financeiro, o ritmo

intensivo da esfera produtiva e a mídia global do consumo redefinem o conceito de

tempo dentro da sociedade. A velocidade é a meta e a tecnologia é a forma pela

qual se revolucionam constantemente a sociedade capitalista.

A supressão das distâncias entre tempo e espaço criou o mundo

globalizado da informação contínua, dos mercados financeiros interligados ao

tempo todo. É o mundo on line que impera. Nesta paranóia globalizada a pressa é

o comando de todas as esferas sociais. Quem não está inserido na linha do

mercado fica marginalizado do mundo. O mercado é o mundo. É a força suprema

a qual todos os indivíduos, todos os governos devem se curvarem.

Nesta lógica o redesenho do Estado é apenas um elemento da adequação

ao mundo globalizado. É esta a lógica da reforma do próprio conceito de Estado

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Nação, já que, finalmente o capital pode admitir que sua lógica sempre foi

mundial.

A regionalização do mundo em grandes blocos comerciais é um processo

ainda em andamento, do qual temos tendências, mas não temos sua

concretização histórica. Há neste processo de globalização uma possibilidade

emancipatória, pois ao generalizar-se a lógica do capital, generaliza-se também

suas contradições. Pensemos que a tese de Marx sobre a união de todos os

trabalhadores do mundo pode ter agora, início do século XXI, uma base concreta

na história do capitalismo.

A organização de uma política supra nacional, a criação de um livre trânsito

de mercadorias e fatores, os problemas de ordem cultural e étnica, não serão

assimilados passivamente pelos cidadãos dos diferentes pa íses.

É preciso ter claro que o processo de multinacionalização da produção, que

redefiniu a divisão social do trabalho ao nível internacional, quebrou a estática das

vantagens comparativas, apesar de propor um padrão de industrialização para os

países periféricos não quebrou nem anulou a hegemonia econômica e política dos

centros capitalistas.

Ao invés de acabar com a contradição capital – trabalho, a globalização a

estendeu para todos os cantos do mundo. Que mundo estamos construindo? Esta

incógnita é o desafio para os setores de esquerda criarem, ao lado do processo de

globalização, um projeto humanitário que respeite as diferenças e lute contra as

desigualdades. Neste sentido ser de esquerda é ser contra a tese das

desigualdades naturais dos homens e da supremacia do mercado, como nos

coloca Emir Sader: “ Ser de esquerda no mundo de hoje significa participar da

reinvenção concreta de uma nova sociedade, baseada na justiça social e na

solidariedade, na realização prática dos direitos de cidadania sem qualquer tipo de

exclusão(1995,p.195).”

3) Os desafios do trabalhador social neste contexto de final do século:

Cresce no mundo a temática da reformas do Estado. Na década de 1980, a

Inglaterra, no governo Thatcher(1979), nos EUA, no governo Reagan (1980), na

Alemanhã ocidental com Khol (1982) e na Dinamarca com Schluter (1983).

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O que houve de comum nestes governos ditos de direita? A quebra dos

direitos sociais com o corte nos gastos públicos para a área social, o acirramento

de novo tipo de concorrência capitalista, a privatização de esferas antes estatais e

a pressão sobre os países periféricos para a abertura econômica.

E a periferia capitalista, como ficam os povos da América Latina, Extremo

Oriente, África e demais regiões ditas subdesenvolvidas? A receita que vem do

FMI e do Banco Mundial é muito clara: ajustes internos, austeridade nos gastos

públicos e abertura econômica. O que isso representa para estas sociedades? A

sua subordinação ainda mais forte ao grande capital. A guerra agora não é apenas

de armas, mas uma guerra surda travada no sistema financeiro mundial e nas

relações de troca internacionais. Os ajustes liberais são realizados com o sacrifício

da população trabalhadora, que são sentidos em duas ordens: - o corte dos gastos

e investimentos sociais que reduz o acesso da população a bens e serviços

essenciais (habitação, saúde, escola, crédito); - a precarização das normas do

mercado de trabalho, o desemprego e a insegurança dada nesta ordem

econômica.

Colocaremos nossa reflexão a partir da realidade social do Brasil, a proposta

da reforma do Estado e os dados sobre a situação de pobreza, desemprego e as

demandas e debates colocados ao Serviço Social na atual conjuntura.

3.1 – A REALIDADE SOCIAL BRASILEIRA NOS ANOS 90:

No caso brasileiro, após uma década de inflação alta e baixo crescimento

econômico, o governo conseguiu a estabilidade monetária(a partir de 1994), mas o

custo social desta medida vem sendo sentido no em toda sociedade. Para ilustrar

o caso do Brasil, país com 156.3000 habitantes1 o Banco Mundial coloca que, em

1989, 40,9% da população vivia em situação de pobreza, com renda per capta

mensal inferior a US$ 60. O Governo brasileiro coloca que 27% da população está

em situação de pobreza, ou seja 39 milhões de pessoas. O volume de pobres na

América Latina, segundo dados do Banco Mundial e da CEPAL, também tem

crescido nas últimas décadas.2

1 Dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – 1992. 2 Ver WORLD DEVELOPMENTE REPORT, 1997, publicações de Bernardo Kliksberg – coord. Do Instituto Interamericano para o Desenvolvimento Social / BID.

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No Brasil as características gerais da pobreza são: maior incidência na

zona rural, embora 75% da população seja urbana, 45,7% dos municípios são de

pequeno porte (até 10 mil habitantes); grandes diferenças regionais – o nordeste é

a região mais pobres, embora nas demais regiões também se registre número

considerável de pobres.

A mortalidade infantil, embora decrescente na última década, em 1990

ainda registrou os seguintes números por mil nascidos vivos: Região Norte: 53,2;

Nordeste: 88,2, Sudeste: 30,0; Sul:26,7; Centro -oeste: 33,0.

Quanto ao perfil epidemiológico, convivem doenças infecto-contagiosas,

colocadas como doenças da pobreza, e, doenças crônico-degenerativas

decorrentes do envelhecimento da população, já que a expectativa de vida em

1990 era de 65 anos.

Calcula -se que existem 20,2 milhões de analfabetos com dez ou mais anos

de idade e, 16,9% das crianças entre 10 e 14 anos já trabalham. A concentração

de renda, em 1990 - dados do IBGE, os 10% mais ricos ficavam com 48,1% da

renda total, os 1% mais ricos com 13,9% do total das rendas, os 10% mais pobres

com apenas 0,8% da renda total e os 50% mais pobres com apenas 12,1 da renda

total.

O próprio governo colocou na Reunião de Copenhague, em 1995, que o

desafio do país é encontrar um modelo de crescimento econômico que permita a

conciliação do imperativo de modernização da economia com a redução das

disparidades regionais e sociais. Esperar que o mercado resolva o problema do

desenvolvimento social num país com enormes diferenças sociais e regionais é

negar o papel central do Estado enquanto promotor de políticas sociais. Neste

sentido se coloca a necessidade de repensar a ação do Estado como elemento de

regulação social e redistribuição de rendas. Poís, o próprio conceito de nação só

pode ser mantido quando há uma perspectiva de integração social, política e

econômica. Assim, num país com graves desigualdades sociais e regionais, o

Estado ainda deve ser o agente articulador de um projeto de desenvolvimento

econômico-social.

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O governo Fernando Henrique Cardoso coloca que a reforma do Estado

deve ser pensada a partir da mudança de suas funções, ele deixa de ser

responsável pela execução do desenvolvimento econômico e social para ser o

regulador do processo de desenvolvimento. O tom privatizante fica expresso

quando o governo coloca que reformar o Estado significa transferir para o setor

privado as atividades que podem ser controladas pelo mercado. Na área social o

governo delega para a sociedade civil e mercado as ações de educação, cultura,

saúde, tecnologia, pesquisa científica, entendendo que o Estado tem a tarefa de

subsidiar estes setores. O discurso da reforma do Estado esta impregnado pela

veiculação dos valores de eficiência e modernidade, embora isso não tenha

efetividade na alteração do quadro social do país, durante o governo FHC.

Na análise sobre os gastos sociais do Brasil, o Banco Mundial em 1988,

declarou que a população mais pobre é a que menos recebe benefícios diretos e

que o atendimento à pobreza tem um caráter emergencial e descontínuo.

A Constituição Federal Brasileira de 1988 criou uma série de direitos

sociais. Com a crise financeira do Estado, embora tenhamos conseguidos os

direitos constitucionais, a grande tarefa do atual governo é propor a reforma do

Estado e o corte dos gastos sociais. A reforma administrativa, já aprovada pelo

Congresso, muda as regras do funcionalismo público, cujo centro é a quebra da

estabilidade e da isonomia salarial dos funcionários públicos, além de possibilitar

ao Estado estabelecer contratos de gestão com o setor privado para a oferta de

serviços sociais. Está em andamento um processo de redução do Estado na área

social. A proposta de publicização é a transferência dos serviços sociais públicos

para a esfera privada, feito a partir de um contrato de gestão, onde o Estado

repassa verba do orçamento para uma instituição pública-não-estatal. O Estado

subsidia os serviços mas não é o responsável pela sua operacionalização. Todo o

discurso do governo coloca que o programa de publicização busca dar mais

autonomia a agilidade para os serviços públicos, e que não é uma privatização já

que as organizações sociais prestadoras dos serviços não podem ser lucrativas.

Porém, para a população usuária será uma mudança privatizante pois os

prestadores de serviços poderão cobrar por eles e, ainda receberão subsídios do

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poder público e receberão em cessão precária os bens e patrimônio público. Os

funcionários públi cos ficarão à disposição das organizações sociais e passarão a

fazer parte do setor privado. O único vínculo dessas Organizações Sociais com o

Estado será o Contrato de Gestão, porém não há como estabelecer que os

recursos para a área social serão mantidos em caráter permanente.

O número de funcionários públicos no Brasil não é grande se comparado a

outros países3. Há no Brasil um funcionário público para cada 157 habitantes. Nos

Estados Unidos, a relação é de 01 funcionário para 86 habitantes. Na França, há

um funcionário para cada 22 habitantes.

A atuação do governo Fernando Henrique Cardoso na área social tem sido

realizada através do Comunidade Solidária, um programa com claro tom

filantrópico, coordenado pela Primeira Dama – Rute Cardoso, que atua com um

Conselho de Notáveis, segundo os critérios da Presidência da República e, não

tem dotação orçamentária própria, mas faz articulações com os Ministérios criando

um sistema de prioridades sociais, definindo regiões onde se deve investir. Este

programa é contrário as normas Constitucionais que criou a Lei Orgânica da

Assistência Social – com um Conselho representativo da sociedade civil e com

fundo para investimento social.

A proposta de reforma da previdência social coloca mudanças sobre o

tempo de trabalho e idade mínima para aposentar, criando maior espaço para a

previdência privada e procurando criar um sistema de capitalização onde se

passaria a ter um total de 20 bilhões anuais como recursos para financiar o capital

industrial e o mercado de capitais.

A estabilidade econômica tem sido mantida através da centralização de

recursos na União, negando o princípio de descentralização/municipalização dado

na Constituição Federal. O governo diminuiu o repasse de verbas para os Estados

e Municípios, embora tenha repassado a responsabilidade pelos serviços sociais

na área da educação e saúde.

A estabilidade monetária tem agravado a situação do desemprego, pois

para atrair capital externo, tem que manter juros altos, o que eleva a dívida

3 Dados divulgados pela imprensa nacional – revista VEJA de 05.02.97 pg.39.

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pública, cria obstáculos ao crescimento econômico. O processo de privatização

tem servido para atrair capital externo, beneficiando o grande capital que tem

investido na compra de setores rentáveis. Os recursos obtidos com as

privatizações não foram canalizados para promover investimentos sociais e sim,

para pagar juros da dívida externa, voltando dessa forma para o setor financeiro

internacional e empobrecendo ainda mais o país. O governo coloca que o setor

informal cresceu no país devido o aumento dos encargos trabalhistas criados pela

Constituição de 1988, e como medida para beneficiar o crescimento econômico

propõe a desregulamentação do mercado de trabalho.

Pelas declarações do governo, a Constituição de 1988 seria um dos fatores

determinantes da falta de capacidade da economia gerar novos empregos, já que

o custo dos encargos sociais foi elevado. Neste raciocínio, que vale para alguns

setores das pequenas e micro-empresas, corroboraríamos para o

desmantelamento do mercado de trabalho, das normas e regulamentações que

limitam a exploração da força de trabalho. O mercado de trabalho nunca foi

homogêneo na sociedade capitalista. As diferenças entre os trabalhadores das

grandes empresas e os trabalhadores do setor competitivo sempre foram

colocadas pelo discurso de direita como pontos de coorporativismo dos setores

organizados das classes trabalhadoras. A lógica de destruição dos direitos

trabalhistas sempre buscou nas diferenças entre os setores do mercado de

trabalho colocar a oposição do trabalhador com sua própria classe, acusando de

privilegiados aqueles que são cobertos pelos direitos trabalhistas.

No Brasil, nas últimas década, mudou a composição setorial do emprego,

crescendo o emprego no setor terciário. A área de serviços exige maior

qualificação da mão de obra, o domínio de novas tecnologias, língua estrangeira e

nível cultural geral mais elevado. Na capacidade de geração de empregos os

setores mais afetados foram: financeiro e o industrial. Os dados da Confederação

Nacional da Industria revela que apenas 40% da força de trabalho industrial possui

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o curso primário completo, 30% são analfabetos e 30% possui alguma instrução,

mas não é capaz de interpretar manuais de trabalho.4

Outro ponto da força de trabalho no Brasil é a diferença de gênero, a

remuneração da força de trabalho feminina é inferior a masculina, sendo que no

nordeste 72,5% das mulheres ganham até 2 salários mínimos (130,00 reais) e na

região sudeste 59% das mulheres ocupadas ganham até 2 salários mínimos.

O processo de privatização também tem favorecido a diminuição de postos

de trabalho. O governo acredita que os 600.000 postos de trabalho eliminados nos

últimos anos do setor público voltarão a crescer no setor privado. Os dados

comprovam que o Plano de Estabilidade Monetária tem sido ineficiente para

ampliar o mercado de trabalho no Brasil, ao contrário, tem aumentado o

desemprego, embora o fluxo de capital externo tenha aumentado nos últimos

anos5. Assim, temos duas hipótese para explicar essa conjuntura: a primeira é que

os capitais externos viriam para o Brasil como investimento de curto prazo, com

caráter de especulação, sendo pouco efetivo na geração de empregos. A

segunda, seria devido as transformações do mundo do trabalho, levando ao

desemprego tecnológico – essa hipótese pode ser comprovada no setor

financeiro, onde, apesar de diminuição dos postos de trabalho se elevou a

participação deste setor na renda nacional, com superávits positivos para o setor

bancário.

As hipótese acima citadas não são excludentes, embora o peso da

especulação financeira seja evidenciada pela alta das taxas de juros e a

dificuldade em reduzir os déficits fiscal do governo. Nas área de modernização

tecnológicas, houve redução de postos de trabalho, combinado com a abertura

comercial, aumentando as importações, facilitadas pelo câmbio valorizado, que

penaliza os setores produtivos do país e dificulta as exportações. Essa política

econômica dificulta o crescimento econômico e a geração de empregos nos país,

4 Dados apresentados pelo governo brasileiro na Cúpula Mundial para o desenvolvimento Social – Copenhague, 1995. 5 Dados da revista América Economia, out/97, colocam que o fluxo líquido de capital externo privado para o Brasil em US$ milhões foram: 2,5 em 1991, 9,1 em 1992, 9,9 em 1993, 9,1 em 1994, 31,8 em 1995 e 35,4 em 1996.

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penalizando as classes trabalhadoras e o setor das pequenas e médias empresas,

expostas a uma concorrência muito intensiva com os produtos importados.

Embora o processo de estabilidade monetária tenha sido um fator positivo

para o país, ainda não se mostrou suficiente para alterar o quadro social e

combater a pobreza.

3.2 – OS DESAFIOS PARA O TRABALHADOR SOCIAL:

E dentro desta conjuntura histórica, como fica o trabalhador social? O

Serviço Social na América Latina encontra-se frente a um duplo desafio:

- o primeiro deles é: Como articular bases de organização popular para a defesa

dos direitos sociais? A dificuldade de ampliar as políticas públicas neste

contexto de cortes de recursos e queda dos investimentos na área social. A

reforma do Estado colocada nos países periféricos tem evidenciado que os

cortes de gastos sociais, tem aumentado as dificuldades na implementação de

políticas públicas voltadas para a redução da pobreza.

- o segundo: a discussão interna da profissão – a formação profissional. A base

teórico-metodológica de interpretação da realidade social num contexto mais

amplo e complexo dado pela globalização, o repensar de seus aportes técnicos

instrumentais, o fazer do serviço social num mundo mais competitivo e com

novas exigências e meios de trabalho. A própria operacionalização da rede de

serviços sociais, públicos e privados, dentro de patamares de qualidade e

eficiência, a exigência de criatividade na proposição de políticas e programas

sociais . Os aportes teóricos para o serviço social compreender e atuar na

realidade social, mantendo os avanços que a reconceituação colocou nos anos

70/80 e ampliando o debate para a conjuntura atual. O desafio de repensar

qual o projeto político – profissional do Serviço Social para o século XXI.. A

esfera do mundo do trabalho do assistente social também mudou e exige

novas práticas de intervenção num contexto de queda de recursos para a área

social.

Com referência ao primeiro desafio, a luta pelas políticas públicas de

assistência social, no caso brasileiro, tem sido levada adiante na década de 1990,

com a pressão que as entidades representativas da profissão fazem junto ao

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governo, primeiro na implantação da Lei Orgânica da Assistência Social (1993) e

agora na busca de manter os recursos para a assistência social. A busca de fazer

da assistência social uma política pública efetiva, voltada para a redução da

pobreza, desvinculada do uso político-eleitoreiro da assistência.

O Estado brasileiro historicamente subordinou a política social aos ditames

da política econômica, mantendo uma estrutura social desigual, onde o

atendimento das questões sociais sempre foi residual e fragmentado.

Desta forma criar uma cultura de direitos sociais, de inclusão social é um

desafio para os trabalhadores sociais, o que pressupõe a criação de uma base de

recursos estáveis para o financiamento da área social. Sem uma reforma

tributária, o Brasil não encontrará solução para o problema fiscal. Sem um projeto

de desenvolvimento econômico-social não há como criar bases de criação de

empregos. A proposta de privatização, abertura econômica e redução do Estado

não tem evidenciado ser fator positivo na criação de empregos e diminuição das

desigualdades sociais. Os países latinoamericanos devem buscar autonomia na

elaboração de seus projetos de desenvolvimento econômico social. A simples

atração de capital externo, feito à base de juros altos, tem sido perversa para a

população trabalhadora e criado um clima de instabilidade social.

Certamente o Estado forte de que uma sociedade democrática necessita,

dentro duma perspectiva progressista, está relacionado com o grau de intervenção

que este Estado possa ter na regulação das desigualdades sociais. Os dados

sobre a qualidade de vida de um país são os melhores indicadores de seu

desenvolvimento e modernidade. O acesso aos serviços públicos interfere na

qualidade de vida da população. Desta forma, urge criar no Brasil, uma cultura

voltada para a eficiência e qualidade dos serviços públicos. Elevar a qualidade dos

serviços públicos significa atender as demandas colocadas pela sociedade ao

Estado. Podemos discutir se o Estado é o melhor executor dos serviços sociais ou

não, o que não podemos abrir mão é do caráter de obrigatoriedade da ação

pública estatal frente as necessidades e os direitos sociais da população.

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Um Estado eficiente, ágil e dinâmico, tem que estar livre das corrupções e

abusos do poder público. Assim, um aspecto central na reforma do Estado é criar

os mecanismos de controle social.

A elevação da eficiência do setor público passa por uma alteração dos níveis

de sobrevivência da população trabalhadora do país, e isso não ocorre sem um

processo interno de redistribuição de rendas. O mercado de trabalho no Brasil,

acusado de excesso de regulamentações, á na verdade um mercado de trabalho

extremamente desregulamentado se formos cobrar a eficiência da fiscalização dos

abusos do trabalho infantil, o trabalho em condições insalubres e a falta de registro

em carterira da previdência social, dentro do grande território nacional. Sem

fiscalização e sem acabar com a impunidade o país não poderá melhorar seu

quadro social e o cumprimento das leis trabalhistas.

Se a estabilidade econômica é um ganho do governo atual, precisamos

avançar na diminuição das desigualdades sociais, este é o grande desafio para o

Brasil e para toda a América Latina.

Quanto ao segundo desafio – a formação profissional, no Brasil a ABESS –

Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social, aprovou em 1996 novas

diretrizes para o currículo do curso de serviço social, as quais ainda estão

tramitando pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC. A proposta da ABESS é

colocar a questão social como eixo do currículo, apreendida em seu processo

histórico, através de uma perspectiva teórico-metodológica crítica.

A formação profissional deve criar capacidades teórico-metodológicas e

ético-políticas. O fazer do trabalhador social também está sendo redefinido pela

própria complexidade social. Os desafios na implementação de programas sociais

eficientes, utilizando-se de novos aportes tecnológicos, pressupõe que a formação

profissional seja dinâmica.

O mercado de trabalho tem criado uma nova realidade para o trabalhador

social. A exigência de novas habilidades, de visão estratégica e capacidade de

criar sinergias dentro da atuação profissional. Ao mesmo tempo que se contrapõe

a insegurança no mundo do trabalho se cria cada vez mais o trabalhador liberal,

um prestador de serviços. Na área privada, a exigência de padrões de qualidade

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tem sido colocada ao trabalhador social em duas óticas: a qualidade de seu

trabalho – eficiência e eficácia de suas ações; e a qualidade de vida dos usuários

de sua ação profissional. Trabalhar com a instabilidade social criada pela paranóia

do mundo globalizado, pressupõe resgatar o indivíduo em suas diferentes

relações sociais. Os impactos deste conturbado período histórico na vida das

pessoas, na organização das famílias e na sociedade como um todo tem feito

aumentar a violência, solidão e a angústia. Criar espaços para encontros

humanos, para humanizar as relações sociais é um desafio deste tempo onde o

que impera é a lógica fria do mercado. Assim, o trabalhador social é requerido

como um interprete atuante neste mundo de relações sociais tensionadas pela

instabilidade globalizada.

Bibliografias:

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