soares - agência ecclesia€¦ · estados unidos da américa, tunísia e turquia. “são gestos...

42

Upload: others

Post on 18-Oct-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,
Page 2: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

04 - Editorial: Octávio Carmo06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Opinião D. António Francisco dos Santos22 - Semana de... Lígia Silveira24 - Dossier Silêncio, missão portuguesa noJapão de Martin Scorsese

26 - Entrevista Martin Scorsese - AmericaMagazine60 - Multimédia62 - Estante64 - Concílio Vaticano II66 - Agenda68 - Por estes dias70 - Programação Religiosa71 - Minuto Positivo72 - Liturgia74 - Fátima 201778 - Fundação AIS80 - LusoFonias

Foto de capa: DRFoto da contracapa: DR

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Padre Américo AguiarPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

2

Opinião

Adeus a DanielSerrão e MárioSoares[ver+]

Papa denuncialoucura da guerra[ver+]

Silêncio, umthriller teológico[ver+] D. António Francisco dos Santos |Octávio Carmo |Lígia Silveira|Manuel Barbosa | Paulo Aido | TonyNeves

3

Page 3: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

A fé como luta

Octávio Carmo Agência ECCLESIA

A história da Igreja Católica mostra-nos muitosgrandes santos que tiveram experiências dedúvida, de escuridão, aridez, quase revolta, nasua vida espiritual, perante o silêncio de Deus. Afé é uma luta e esses santos mostram-no. Não éum doce que se dá a crianças para as acalmarou um comprimido para anestesiar as dores daalma humana.Como luta, exige um compromisso interiorconstante, com consequências práticas no dia adia, porque não é um dado adquirido, pelocontrário. Recordo-me muitas vezes dapassagem do Evangelho em que Jesus fala doque seria possível fazer a quem tivesse a fé deum grão de mostarda. Algo tão mínimo.Habituamo-nos a pedir perdão pelos que nãocreem, mas esquecemo-nos de que, tantasvezes, estamos nesse grupo.O novo filme de Martin Scorsese, ‘Silêncio’, trazaos ecrãs de Cinema um retrato desta lutainterior, num contexto particularmente complexo,o da missionação do Japão no século XVII, com aconsequente perseguição feroz aos cristãos. Nalinha do romance homónimo de Shusaku Endo,somos confrontados com os limites da maldade,da ausência de reconhecimento pelo outro, daluta interior em matérias de fé, a dúvida, aapostasia, o martírio.É impossível ficar indiferente ao facto de muitasdestas cenas serem reproduzidas hoje, emcenários dominados, por exemplo, peloautoproclamado ‘Estado Islâmico’. Muitosmorreram por causa

4

da sua fé, outros hesitaram, algunsabdicaram por medo da morte.Não deveríamos perder tempo ajulgar os outros, mas, pelo contrário,o mais necessário é questionar anossa própria realidade: quantos denós tiveram, verdadeiramente, delutar para professar a sua fé, contratudo e contra todos? Uma fé vistameramente como herançasociocultural é pouco mais do quedecorativa, mas a capacidade de alevar até às últimas consequênciasespirituais e práticas – porque a féexige a concretização em

obras – é algo muito mais difícil deencontrar. Muitos vão chorar ao vero novo filme de Scorsese, por causados que morreram e dos que aindamorrem, perseguidos porprofessarem uma fé diferente.Outros questionarão a “apologia”(embora não seja esse o caso) daapostasia, outros ainda o“atrevimento” dos missionários queforam a outros países anunciar oseu Credo. Vale a pena falar detudo isto e, sobretudo, vale a penasair do adormecimento e aceitar oquestionamento.

5

Page 4: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

«A história recordará este olhar contínuo para o futuro»

6

- «Nas últimas semanas a discussãosobre o futebol em Portugal temestado centrada na velha questãodos árbitros e das arbitragens» -Nuno Santos; In: «Record», dia 12de janeiro de 2017 - «Sou um utilizador ávido dainternet e das plataformaseletrónicas, mas a agressividadecom que essas plataformas exigema minha atenção e que tome umadecisão, literalmente, apoquenta-me.» - Ricardo Cabral; In: «Público»,dia 12 de janeiro de 2017. - «Na hora da morte de MárioSoares é necessário lembrar umaideia atribuída a Einstein:Democracia quer dizer respeito portodos sem endeusar nenhum deles»- Jorge Teixeira da Cunha; In: «VozPortucalense», dia 11 de janeiro de2017. - «A esperança pode ter muitosrostos, mas há um denominadorcomum a todos eles: em primeirolugar, fazer tudo quanto depende denós e só depois esperar» - M.Ribeiro Fernandes; In: «Diário doMinho», dia 08 de janeiro de 2017.

7

Page 5: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Bispos lembram figuras de MárioSoarese Daniel Serrão

O Conselho Permanente daConferência Episcopal Portuguesa(CEP) fez “memória agradecida” davida do ex-presidente da RepúblicaMário Soares e do médico DanielSerrão, na primeira reunião de2017, realizada em Fátima.“Em relação à Igreja (Mário Soaresfez) a afirmação sempre da defesada liberdade religiosa num espíritode cooperação e de respeito”,afirmou o secretário da CEP.

O padre Manuel Barbosa, em nomedos bispos, realçou de Mário Soares“toda a sua vida, a defesa dademocracia, dos seus valores”. Aosjornalistas, relembrou a frase doantigo presidente da República: “Asreligiões são instrumentos de paz,de civilização e de diálogo entre ospovos.”O Conselho Permanente da CEPreconheceu ainda a “dedicação” deMário Soares enquanto presidente

8

da Comissão da LiberdadeReligiosa [criada pela Lei 16/2001] ea forma como nessas funçõesassumiu os princípios da Lei daLiberdade Religiosa: “Liberdade,igualdade, cooperação, respeito, eda tolerância entre todas asreligiões legalmente reconhecidasno nosso país”.Mário Soares, de 92 anos, morreuno sábado, dia 7 de janeiro, noHospital da Cruz Vermelha, emLisboa, onde estava internadodesde 13 de dezembro de 2016.Os bispos que constituem oConselho Permanente daConferência Episcopal Portuguesatambém fizeram “memória muitoagradecida” pela vida do médicoDaniel Serrão.O padre Manuel Barbosa destacouo “legado que deixa” o iniciador daBioética em Portugal, “o homem quefoi”, e a “fé muito comprometida ede profunda humanidade”.Sobre Daniel Serrão, foi citada anota do bispo do Porto (ver página20): “Um homem de grandescausas, um cristão de assumidasconvicções e um cidadão decorajoso compromisso humano,cultural e social, sempre pautadopelo serviço do bem comum”.

Daniel Serrão, membro honorário daAcademia Pontifícia para a Vida(Santa Sé), professor catedrático einvestigador, faleceu este domingo,dia 8, aos 88 anos de idade, vítimade problemas respiratórios.Em Fátima, os bispos portuguesesem memória “muito agradecida”sublinharam o legado do antigodirigente da Associação de MédicosCatólicos Portugueses, a defesaque Daniel Serrão “fez da vida”, darelação “muito profunda entre éticae medicina”.Daniel dos Santos Pinto Serrãonasceu em Vila Real, no dia 1 demarço de 1928 e licenciou-se emMedicina pela Faculdade deMedicina da Universidade do Porto,em 1951; Venceu o Prémio Nacionalde Saúde 2010, e assinou váriosartigos de opinião na AgênciaECCLESIA.

9

Page 6: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Conferência Episcopal opõe-se ainclusão do tema do aborto nosprogramas do segundo cicloO Conselho Permanente daConferência Episcopal Portuguesa(CEP) manifestou-se contra aintensão do Governo incluir o temado aborto nas aulas de EducaçãoSexual do 2º ciclo, o que “não”respeita o “direito dos pais àeducação dos filhos”.“A conferência segue compreocupação esta iniciativa doEstado e apoia naturalmenteaqueles que não aprovam ainclusão o tema do aborto nestafase, no tom que é dado”, disse osecretário e porta-voz da CEP.Na primeira reunião do ano doConselho Permanente, o padreManuel Barbosa adiantou que osprelados apoiam, por exemplo, apetição online ‘aborto como“educação sexual” em Portugal?diga não’ que é dirigida à Direção-geral de Educação.O sacerdote observa que aeducação sexual “deve serintegrante”, uma educação global,educação para “a personalidade nosentido integral e não apenasassumir isso como questões éticas,de saúde”. “A educação sexualcomo é assumida é quase umafocalização técnica, numa questãode saúde quando tem de serassumido de forma integral, no

crescimento da personalidade dapessoa. É nesse tom que devemoscolocar e não como está a serproposto pela Direção Geral daEducação”, sublinhou o secretárioda CEP.Segundo o padre Manuel Barbosa apetição online ‘aborto como“educação sexual” em Portugal?diga não’, que tem mais de nove milassinaturas, também “reafirma odireito dos pais à educação dosfilhos”.Os Ministérios da Educação e daSaúde pretendem que todo o ensinoobrigatório tenha acesso a umdocumento que ajude a orientar asaulas de Educação Sexual e propõeque os alunos do segundo ciclo doensino básico – 5.º e 6.º anos,saibam o que é uma interrupçãovoluntária da gravidez.

10

Presidente da República assiste aomusical sobre o Patriarcado deLisboaO musical ‘Partimos. Vamos.Somos’, que assinala os 300 anosdo Patriarcado de Lisboa, está deregresso ao teatro Tivoli BBVA parauma segunda temporada, atédomingo, numa resposta ao pedidodo público.“Esta reposição nasceu exatamenteporque esgotámos todos osespetáculos e tínhamos aindapedidos de pessoas que gostariamde ter visto e não conseguiram.Conseguimos reunir a equipa todapara estas datas”, adianta aencenadora Matilde Trocado.De acordo com a página da internetdo Patriarcado de Lisboa, MarceloRebelo de Sousa, presidente daRepública, vai assistir ao musicalesta sexta-feira, às 21h30.‘Partimos. Vamos. Somos’ apresentaa Lisboa cristã como cidade-missão’e, de acordo com a encenadora, ocontexto não é só histórico mas temum “lado mais contemporâneo”, comcinco personagens que apresentamcinco maneiras diferentes “de fazermissão hoje”.“Depois, temos toda a história quevai cruzando com a história destes

personagens. Os primeiros registossão do ano 303, dos primeiroscristãos em Lisboa”, acrescenta,assinalando que ligam acontemporaneidade com a históriade santos portugueses como SantoAntónio ou São João de Brito.“Partimos em missão, vamos emmissão, somos missão. Sente-se nanossa equipa, temos um sentidomissionário naquilo que estamos afazer”, frisou.O texto do musical é da autoria dopadre Hugo Gonçalves, prefeito doSeminário de São José de Caparide,e Matilde Trocado é encenadora detrabalhos como ‘Woytyla’, sobre oPapa São João Paulo II, ‘Godspell’ou ‘Calcutá’, dedicado a MadreTeresa.

11

Page 7: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

12

França/Acidente: Diocese de Lamego expressou «proximidade na dor»às famílias das vítimas

Debate sobre o tema do Congresso dos Jornalistas

13

Page 8: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Papa condena loucura homicida do fundamentalismo

O Papa condenou a “loucurahomicida” dos fundamentalistas,visível em recentes atentados, edisse aos membros do CorpoDiplomático acreditados na SantaSé que é necessário dialogar comas religiões. Perante representantesde mais de 180 nações eorganizações, Francisco desafiou asautoridades religiosas a manter-seunidas para afirmar que “nunca sepode matar em nome de Deus”.“Trata-se duma loucura

homicida que, na tentativa deafirmar uma vontade de predomínioe poder, abusa do nome de Deuspara semear morte”, denunciou.O Papa admitiu que, “infelizmente”,a experiência religiosa tem sidousada como pretexto de “marginalizações e violências”,referindo-se particularmente ao“terrorismo de matrizfundamentalista”.O discurso recordou as vítimas deatentados no Afeganistão,

14

Bangladesh, Bélgica, BurquinaFaso, Egito, França, Alemanha,Jordânia, Iraque, Nigéria, Paquistão,Estados Unidos da América, Tunísiae Turquia. “São gestos vis, queusam as crianças para matar, comona Nigéria; tomam de mira quemreza, como na catedral copta doCairo, quem viaja ou trabalha comoem Bruxelas, quem passeia pelasruas da cidade, como em Nice eBerlim, ou simplesmente quemfesteja a chegada do Ano Novo,como em Istambul”, lamentou.O Papa sustentou que o terrorismofundamentalista é fruto duma “gravemiséria espiritual”, que muitas vezesaparece associada também à“pobreza social”. “Isto só poderá serplenamente vencido apenas com acolaboração conjunta dos líderesreligiosos e dos líderes políticos”,assinalou.Francisco evocou a JornadaMundial de Oração pela Paz,realizada em Assis no último mês desetembro, durante a qual seencontraram os representantes dasdiferentes religiões para “dar voz emconjunto a quantos sofrem, aquantos se encontram sem voz esem escuta”.“Sabemos que não têm faltado

violências por motivação religiosa, acomeçar precisamente pela Europa,onde históricas divisões entre oscristãos já perduram há demasiadotempo”, acrescentou.A intervenção aludiu ainda àiniciativa do Conselho da Europasobre a dimensão religiosa dodiálogo intercultural, que em 2016se debruçou sobre o papel daeducação na prevenção daradicalização que conduz aoterrorismo e ao extremismo violento.“Trata-se duma oportunidade paraaprofundar a contribuição dofenómeno religioso e o papel daeducação para uma verdadeirapacificação do tecido social,necessária para a convivência numasociedade multicultural”, afirmouFrancisco.

15

Page 9: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Pelo fim da guerra na Síria e odesarmamento nuclearO Papa Francisco reforçou estasemana os seus apelos em favor dapopulação da Síria, pedindorespeito pelo cessar-fogo acordadoem finais de 2016 e pelo “direitohumanitário internacional”. “Odesejo comum é que a tréguarecentemente assinada possa serum sinal de esperança para todo opovo sírio, que dela tem profundanecessidade”, disse, no discursoanual perante os membros do corpodiplomático acreditado na Santa Sé.Novas conversações entre ogoverno e a oposição síria estãoprevistas para finais de janeiro, emAstana, Cazaquistão. “Apelo àcomunidade internacional para quese esforce com diligência por darvida a uma negociação séria, queponha termo definitivamente aoconflito, causador de um verdadeirodesastre humano”, declarou o Papa.A situação no terreno continuamarcada pela instabilidade, emparticular na região de Damasco,onde prosseguem combates entreforças governamentais e gruposrebeldes, em volta do controloestratégico do abastecimento deágua.

Francisco evocou a “tristeza e osofrimento” das crianças e jovenssírios, que sofrem as consequênciasde um “conflito atroz” que os privada “possibilidade de brincarlivremente” ou da “oportunidade deir à escola”. O Papa criticou depoiso “perverso comércio das armas”,alertando para as consequênciasdos testes realizados na penínsulacoreana, “que desestabilizam toda aregião” e põem questõespreocupantes a toda a comunidadeinternacional sobre “o risco dumanova corrida às armas nucleares”.O encontro decorreu na Sala Régiado Palácio Apostólico do Vaticano ecomeçou com uma saudação dodecano do corpo diplomático,Armindo Fernandes do EspíritoSanto Vieira, embaixador de Angola.

16

Refugiados cristãos no Iraquecom vida em suspensoA destruição e a falta deinfraestruturas da cidade iraquianade Qaraqosh, na fronteira dasterras do Curdistão, elimina apossibilidade de os cristãos, quefugiram em agosto de 2014,regressarem e reconstruirem assuas vidas.“Mesmo que na fuga as pessoastenham conseguido resguardaralgum património para reconstruiras casas – o que é muito difícilporque nas barreiras do Daesh àsaída, malas, joias, carros, tudo eraconfiscado – não há infraestruturas,eletricidade, água, escola, nada…”,relata à Agência ECCLESIA a irmãIrene Guia, escrava do SagradoCoração de Jesus, a viver desdesetembro de 2016 em Dohuk, naRegião Autónoma do CurdistãoIraquiano, onde é responsável pelosprojetos do Serviço Jesuíta aosRefugiados (JRS) no distrito.A cidade de Qaraqosh, localizadana fronteira das terras do Curdistãoe recentemente reconquistada aoEstado Islâmico, foi palco de umêxodo total de cristãos em agostode 2014 quando o Daesh exigia opagamento de “impostos altíssimos”,a “conversão ao Islão ou a morte”.De uma cidade onde 90% dapopulação era cristã hoje “não hánada”.

A religiosa, antiga comentadora daEcclesia, visitou recentemente estacidade e encontrou uma “cidadefantasma” cujos habitantes “sãoforças armadas de diferentesgrupos mas onde enão se veemcidadãos comuns”.“É uma cidade destruída.Encontramos tijolo, lixo de obraequivalente a uma demolição paravoltar a construir, mas que aqui éfruto de guerra. Imaginem chegar avossa casa e ver que ou não existe,porque está em cacos, é lixo deobra, ou então está vandalizada.Não há portas, janelas, não há umafechadura no lugar. Eu entrei ondequis”. Irene Guia dá conta de umacomissão que está a ser constituída“com cidadãos e organizações, ondecreio que a Igreja católica tambémvai intervir” para ajudar àreconstrução de Qaraqosh.

17

Page 10: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

18

Papa batizou 28 crianças na Capela Sistina

Cristãos unidos ao serviço dos pobres e em defesa da vida

19

Page 11: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Em homenagem e em gratidão aoProfessor Doutor Daniel Serrão

D. António Francisco dos Santos Bispo do Porto

Faleceu ontem, dia 8 de janeiro, o ProfessorDoutor Daniel dos Santos Pinto Serrão.Queremos dizer à Família, muito particularmentea sua Esposa, D. Maria do Rosário de CastroQuaresma Valladares Souto, aos seus Filhos eaos seus Netos a nossa gratidão por este grandeAmigo e Médico insigne, que agora vemos partirao encontro de Deus.O Professor Daniel Serrão foi um homem degrandes causas, um cristão de assumidasconvicções e um cidadão de corajosocompromisso humano, cultural e social, semprepautado pelo serviço do bem comum.O Prof. Doutor Daniel Serrão nasceu no dia 1 demarço de 1928, em Vila Real. Viveu em Aveiro,Viana do Castelo e Coimbra, cidades ondeestudou, nas várias etapas da vida académica,até se fixar no Porto, como médico e comoprofessor, assumindo um reconhecidocompromisso cívico, académico e cristão nasmais diversificadas vanguardas da missão.Associamo-nos, assim, como Igreja do Porto, àgratidão e à homenagem da Cidade, daUniversidade do Porto, do Centro de Bioética daUniversidade Católica e a tantas Instituições quecriou e serviu. Não esquecemos, entre tantosoutros méritos, que foi o iniciador da Bioética emPortugal e membro do Conselho Pontifício dasCiências da Vida, por indicação do Papa JoãoPaulo II. É, por isso, de ação de graças a Deus ede homenagem ao Professor Daniel Serrão estenosso gesto.

20

A herança que nos lega na suaFamília e no imperativo de tudofazermos ao serviço da vida e dadignidade da pessoa humana deveser um desígnio de missão e umpropósito de ação para todos nós.Há pessoas a quem devemos umaimensa gratidão: as que nos fazemnascer; as que nos ajudam a serfelizes; as que nos ensinam acrescer na alegria, na verdade e nafé..Essas pessoas, dotadas de umainteligência brilhante, de umcoração generoso, de uma vontadedeterminada e de uma féesclarecida ajudam-nos a encontrarcoragem nas horas de sofrimento, aescutar Deus em todos osacontecimentos e a trabalhar semdescanso e sem desânimo naconstrução de um mundo melhor.Todos, na vida, temos perto de nósexemplos desta grandeza, quejuntam à simplicidade de vida oheroísmo dos gestos corajosos, asabedoria das decisões lúcidas, agrandeza dos testemunhoshumildes. E o Professor DoutorDaniel Serrão é um dessesexemplos maiores.Num mundo marcado pelaansiedade diante do horizonte dofuturo e preocupado por tantasrazões, as válidas e asdesnecessárias, vale a pena saberque há gente de

inteligência lúcida, de coração largoe de generosidade ilimitada. Vale apena saber que há homens emulheres, médicos de vocação,profissionais competentes, cristãoscomprometidos, que vislumbramhorizontes de esperança e que dãouso ao ouvido do coração,constituindo um porto seguro deabrigo à vida humana.Vale a pena saber que há homens emulheres que não se cansamde “cuidar” da vida da pessoahumana, em todas as fases,sobretudo quando ela é doente,quando sofre, quando está frágil,quanto é indefesa. Vale a penasaber que há homens e mulheresque tudo fazem para que naHumanidade surjam oásis habitadospela esperança nos avanços daciência médica e pelo valor sagradoe intocável da vida humana.O Professor Doutor Daniel Serrãofoi testemunho exemplar e vozprofética em tantas frentes demissão a favor da vida e ao serviçoda fé.A Igreja do Porto tem o dever de lhedizer esta palavra de gratidão e delhe assegurar a certeza de quesaberemos continuar esteabençoado património que nos legaem herança e em compromisso demissão.

Porto, 9 de janeiro de 2016

21

Page 12: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

A herança que nos lega na sua Família e no imperativo de tudo fazermos ao serviço davida e da dignidade da pessoa humana deve ser um desígnio de missão e um propósitode ação para todos nós.Há pessoas a quem devemos uma imensa gratidão: as que nos fazem nascer; as quenos ajudam a ser felizes; as que nos ensinam a crescer na alegria, na verdade e na fé..Essas pessoas, dotadas de uma inteligência brilhante, de um coração generoso, de umavontade determinada e de uma fé esclarecida ajudam-nos a encontrar coragem nashoras de sofrimento, a escutar Deus em todos os acontecimentos e a trabalhar semdescanso e sem desânimo na construção de um mundo melhor.Todos, na vida, temos perto de nós exemplos desta grandeza, que juntam à simplicidadede vida o heroísmo dos gestos corajosos, a sabedoria das decisões lúcidas, a grandezados testemunhos humildes. E o Professor Doutor Daniel Serrão é um desses exemplosmaiores.Num mundo marcado pela ansiedade diante do horizonte do futuro e preocupado portantas razões, as válidas e as desnecessárias, vale a pena saber que há gente deinteligência lúcida, de coração largo e de generosidade ilimitada. Vale a pena saber quehá homens e mulheres, médicos de vocação, profissionais competentes, cristãoscomprometidos, que vislumbram horizontes de esperança e que dão uso ao ouvido docoração, constituindo um porto seguro de abrigo à vida humana.Vale a pena saber que há homens e mulheres que não se cansam de “cuidar” da vidada pessoa humana, em todas as fases, sobretudo quando ela é doente, quando sofre,quando está frágil, quanto é indefesa. Vale a pena saber que há homens e mulheresque tudo fazem para que na Humanidade surjam oásis habitados pela esperança nosavanços da ciência médica e pelo valor sagrado e intocável da vida humana. O Professor Doutor Daniel Serrão foi testemunho exemplar e voz profética em tantasfrentes de missão a favor da vida e ao serviço da fé. A Igreja do Porto tem o dever de lhe dizer esta palavra de gratidão e de lhe assegurar acerteza de que saberemos continuar este abençoado património que nos lega emherança e em compromisso de missão.

Porto, 9 de janeiro de 2016António, Bispo do Porto

«Yes, we can»

Lígia Silveira Agência ECCLESIA

As palavras “democracia” e liberdade” foramrepetidas sem fim desde que se soube da morte,há muito esperada, do antigo Presidente daRepública Portuguesa. Depois de diretos vaziosà porta do Hospital da Cruz Vermelha, assistimosà reflexão de inúmeras personalidades querelembraram o percurso de vida e as escolhasque Mário Soares fez para que eu pudesseescrever estas linhas. Não querendo serrepetitiva, junto-me ao coro de vozes paraagradecer a sua decisão de não virar costas aum país e lutar pela liberdade que hoje o meufilho tem por adquirida.Um dia de diferença marcou o funeral de Estadode Mário Soares e o último discurso de BarackObama, enquanto presidente dos EstadosUnidos da América. Retive este parágrafo: “Ademocracia está ameaçada sempre que atomarmos como garantida. Todos nós,independente do partido, deveríamos lançar-nosna tarefa de reconstruir as nossas instituiçõesdemocráticas. Numa altura em que o número devotantes na América (podemos pensar narealidade portuguesa, tendo em conta osnúmeros da abstenção em eleições recentes)está entre os mais baixos das democracias maisavançadas, votar deveria ser fácil e não maiscomplicado”.No dia seguinte, o presidente eleito que tomaposse a 20 de janeiro, assume a demissão dassuas empresas, deixa-as aos seus filhos e a umamigo e assume que nos próximos quatro anos,“para evitar conflitos de interesses”, não vai falarsobre negócios com os filhos. Acredite quemquiser.

22

Mas, ainda podemos dizer “Yes, wecan”.O Ano Internacional do TurismoSustentável para o Desenvolvimentolevou-me à Casa Velha, umaassociação em Ourém que querapostar nas relações de confiança eproximidade como base atéeconómica e de desenvolvimentolocal. Sem descartar uma herançaterritorial e cultural, os responsáveiscolocam-se à escuta dos tempospara encontrar respostas paranovos caminhos devem, assentenuma marca de ecologia eespiritualidade que não só, nãoexclui não crentes mas os convida aentrar.O Serviço Jesuíta aos Refugiadospresente em Dohuk, na Região

Autónoma do Curdistão Iraquiano,tem a sorte de poder contar com asmãos e o coração da Irmã IreneGuia, Escrava do Sagrado Coraçãode Jesus, que assume aresponsabilidade pessoal detestemunhar o que ali experimenta.Se em Portugal podemos fechar ojornal ou mudar de canal para nãover os rostos de quem não dá comoadquirido o dia de hoje, em terrasdo Curdistão o Dia Internacional doMigrante e do Refugiado não vai serassinalado de tão banal é arealidade.A liberdade e a democracia nãoestão garantidas. Mário Soaressabia-o, Barack Obama disse-o. Aassociação Casa Velha e a IrmãIrene Guia afirmam esses valores acada dia.

23

Page 13: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

O Semanário ECCLESIA apresenta hoje o filme "Silêncio", de MartinScorsese, baseado na adaptação do livro do japonês Shusaku Edo.A obra que conta a história de Cristóvão Ferreira, um jesuítaportuguês que teve uma missão importante no Japão, bem como deoutros jesuítas que foram à sua procura quando chegou à Europa anotícia sobre a sua eventual apostasia.

24

Para entender melhor tudo o que se passou, contextualizaçõeshistóricas sobre o Cristianismo no Japão e os seus mártires. Aspróximas páginas reproduzem ainda uma entrevista de Scorsese àrevista jesuíta ‘America’ e depoimentos de James Martin, sacerdoteque acompanhou a preparação e produção do filme.O enredo do filme parte da figura do jesuíta Cristóvão Ferreira (1580-1650), interpretada por Liam Neeson, e de outros dois missionáriosque a Companhia de Jesus envia à procura de Cristóvão Ferreira,nesta caso duas personagens fictícias, Sebastião Rodrigues eFrancisco Garupe, assumidas pelos atores Andrew Garfield e AdamDriver.Nas terras nipónicas sob o regime Xogunato Tokugawa, que baniu ocatolicismo e quase todo o contacto com o estrangeiro, os doisjovens religiosos testemunham a perseguição dos japonesescristãos pela mão do seu próprio governo, interrogando-se sobre osilêncio de Deus face ao sofrimento dos seus filhos.

25

Page 14: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

O fascínio da Missão e o Silêncio deDeus Durante muito tempo, viveu fascinado pelas histórias dosmissionários. Martin Scorsese dirige agora o filme ‘Silêncio’, queretrata a história de dois padres jesuítas portugueses perseguidosdurante a sua missão no Japão, no século XVII. Apresentamos emseguida a entrevista realizada por James Martin, padre jesuíta norte-americano, consultor de Martin Scorsese para este filme, e diretor da‘America Magazine’, uma conversa intimista sobre a fé e a vida.A tradução foi divulgada pela Companhia de Jesus em Portugal.

26

Pode contar-nos um pouco sobre asua educação religiosa?- Nos primeiros sete anos da minhavida morava numa boa casa defamília, em Corona, Queens.O meu irmão mais velho, os meuspais... Em Corona, o ambiente eramuito simpático, com árvores, comonas cidades pequenas. Dessaaltura, não me lembro de muitascoisas relacionadas com a religião.Por causa de alguns problemasfamiliares, voltámos para a RuaElizabeth, onde os meus paisnasceram.E no número 241 da Rua Elizabeth,que ainda existe, os meus avósviviam no 3º Frente. Atirado para ali,naquela altura, e eu tinha uma asmagrave, foi uma diferença da noitepara o dia. Houve algo em mim, algoidílico que se transformou. Expulsodo Paraíso, por assim dizer.Lançado para a diáspora.Basicamente, havia miúdosproblemáticos a correr pelas ruascom caixotes do lixo. Era uma zonaem franco desenvolvimento, mas decerto modo medieval. Haviamercearias, talhos, peixarias, todoesse tipo de coisas. Casasfunerárias e pastelarias, uma classetrabalhadora, mas tambémmalfeitores, um elemento criminal.Mas o mais importante era a antigacatedral de S. Patrício, que ficavana esquina. Saí da escola pública emandaram-me para a escola de S.

Patrício. Nessa altura, acho queestava no 2º ou 3º ano; de repente,vi-me no ambiente católico rígidodos meados do séc. XX em NovaIorque. Passava muito tempo a rezar naigreja?- Sim, na Igreja; ia à Missa... Sozinho?- Sozinho, ou... A minha família nãoera muito religiosa. Mas euencontrava ali conforto, porque asruas eram muito duras. Como tinhaa tal asma, disseram-me que eu nãopodia fazer nada. Se nos dizem issorepetidamente, e até temosdificuldade em respirar, acreditamosmesmo nisso. Mas os meus pais, nofinal dos anos 40, eram poucoinstruídos, pertenciam à classetrabalhadora e não sabiam o quefazer. Só sabiam que eu nãoconseguia respirar. Por isso, fuisendo mais ou menos protegido.Mas quando estamos nas ruas, nãoficamos realmente protegidos. Háuma... Não encontro a palavra, masna rua estamos sempre a serdesafiados, por miúdos mais fortes,por miúdos mais novos... Tentamosencontrar o sentido de tudo isto.Tentamos encontrar o sentido dadinâmica familiar; o que significa afamília, o que é uma família unida.Todo aquele lugar era como umorganismo vivo. E a Igreja era ocentro.

27

Page 15: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

A Igreja, para si, era como umrefúgio?- Sim, era mesmo um refúgio. Tirou-me deste... Como dizer? O mundode todos os dias. O mundo práticodos meus pais, das minhas tias, tiose avós, e das suas vidas, de certomodo. Porque havia algo tambémpara além disso. De certa forma, oque eu achava ter percebido naIgreja, ou o que tentava perceber,aplicava-se ao modo comovivíamos.Ainda assim, não me lembro de

nada em concreto, por outraspalavras, de o meu pai alguma vezser específico sobre a religião.Mas esforçavam-se por levar umavida boa, dia a dia, hora a hora, nassuas responsabilidades eobrigações. a decência era muitoimportante e num mundo que erabastante indecente. Essa religiosidade continuou naadolescência?- Sim, continuou. Fui acólito por

28

bastante tempo. E também estavano coro. Os padres e osmonsenhores que ali estavam,estavam para uma geração maisvelha de italianos, aqueles que malfalavam inglês e por aí fora. Elesnão se relacionavam muito com osmais jovens.Até que chegou um padre, era asua primeira paróquia, era o padreFrancis Principe, estávamos em1953. Eu tinha 11 anos. Ou 10 ou11 anos. Ele ficou lá cerca de seisanos.Foram anos muito formativos paramim. De certo modo, ele foi umverdadeiro mentor, cortou com umaespécie de mentalidade do VelhoMundo que tinha sido transplantadado Velho Mundo, da Sicília e deNápoles. Basicamente, foi ele quemapontou o caminho através daliteratura, do cinema, da música...Foi quem olhou para nós, a certaaltura, para mim e para os meusamigos, e que nos disse: "vocês nãotêm de viver assim". O que elequeria dizer é que parecia existir...um ciclo. Um ciclo em que aos 20 ou21 anos casávamos para sair decasa dos pais, depois tínhamosfilhos, que faziam a mesma coisa, econtinuava sempre assim.Podia haver qualquer coisa nestepaís que nos oferecesse outrasoportunidades, podíamos ter umavida diferente. Também abriuhorizontes.

Foi uma pessoa religiosa durante aUniversidade?- Durante muito tempo, vivifascinado pelas histórias dosmissionários. Quando tinha cerca de8 ou 9, 10 anos queria ser ummissionário Maryknoll. A sério? O que o atraía nosmissionários Maryknoll?- A coragem, os desafios, o poderajudar. Achei que era algoextraordinário. As Irmãs gostarammuito da ideia. Quando dei por mim,estava a falar com o padre Principee a dizer: "Eu quero ser assim".Acabei no Cathedral Prep., umaespécie de seminário preparatório,aqui em Nova Iorque. Eu devia teruns 14 ou 15 anos, é nessa idadeque tudo muda de direção.Caí na conta de que "muitos são oschamados, mas poucos osescolhidos". A vocação.Não te tornas, no dedicas a vida aJesus, sendo padre, a menos querealmente te sintas chamado. Poroutras palavras, não é ser como osoutros são. Tem de vir de dentro deti. É um chamamento muito sério, emuito sagrado. Por isso, fiqueidestroçado quando me expulsaramdo seminário. Mas parece que sempre seinteressou pelo trabalho missionário…- Sim!

29

Page 16: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Quando é que se cruzou com"Silêncio", o livro?- Estava a trabalhar no livro deKatsanzakis, "A Última Tentação deCristo", queria realizá-lo. Em 1988,quando finalmente ficou pronto,estava prestes a estrear, houve umenorme alvoroço e tivemos quemostrar o filme, quer dizer,mostrámos o filme como estava adiversos grupos religiosos, paramostrarmos de que se tratava, emvez de o discutirem sem o teremvisto.Uma das pessoas que lá estava erao Arcebispo Paul Moore, da IgrejaEpiscopal de Nova Iorque. Eletambém esteve num pequenoencontro, depois; um jantar quetivemos. Ele disse ter sentido que ofilme estava Cristologicamentecorreto. Contava muitas histórias;era um homem muito interessante.Depois disse-me: "vou enviar-lhe umlivro". Descreveu algumas históriasdo livro, descreveu os confrontos,as escolhas, entre aspas, o conceitode apostasia e de fé.Recebi o livro alguns dias maistarde, mas só o li um ano depois,em 1989. Tinha prometido a AkiraKurosawa, o grande realizadorjaponês, que entrava num filmedele, chamado "Sonhos". Queriaque eu fosse o Van Gogh.

Eu estava com 15 dias de atraso narodagem de "Tudo Bons Rapazes",o Estúdio estava furioso, o meucameraman foi gravar outro filme eteve de vir um substituto. Estávamosnum frenesim para acabar eKurosawa estava à minha espera noJapão...Ele tinha 82 anos de idade e já tinhagravado a maior parte do filme,faltava-lhe só gravar a minha cena.E continuava à espera...Deu-nos cabo dos nervos. Dois diasdepois de gravarmos o filme,voamos para Tóquio e daí paraOkaido, e, enquanto ali estava, li olivro. Na verdade, terminei-o no TGVde Tóquio para Quioto. Então leu o "Silêncio" enquantoestava no Japão?- Sim. E estávamos em 1989?- 1989. Agosto ou Setembro. Eupensei: "Bem, a dada altura, esteseria um filme incrível para se fazer".Primeiro, nem tanto. Não soubelogo, enquanto estava a ler o livro,como haveria de o realizar, de otornar real, de o encenar, porquenão conhecia o coração da história.Melhor dizendo, eu não sabia, se éque o compreendi, não sabia se erarealmente capaz de o interpretar.

30

Como é que descreveria o coraçãodo livro?- Acho que são as profundezas dafé. É onde cada um... É a luta pelaprópria essência da fé, arrancandotudo o que está à volta. Osinstrumentos que cada um escolhepara chegar à fé podem ser umagrande ajuda: a Igreja, a Igrejacomo instituição,

os sacramentos, tudo isto pode sermuito útil. Mas em última instância,tens de ser tu próprio. E tens de aencontrar. Tens de encontrar essafé, tens de encontrar a relação comJesus e creio que até contigomesmo! Porque, em última análise,é a ti que te enfrentas.

31

Page 17: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Mas o choque é que, semcontarmos o final, a personagemdescobre que o que está prestes afazer, ou o que ele faz, é a antítesedo que toda a cultura cristãeuropeia acredita que deve serfeito.- É verdade. E isso é que torna tãointeressante contar esta história. Como é que se pode defender isto? Ou como é que se promove umaopção concreta?A decisão dele. E a seguir, pões-tea ti

naquele lugar, pensas na fraquezado espírito humano, na fraqueza dahumanidade. Há outro aspeto do filme, que é ahistória dos cristãos japoneses. Ofilme não é, obviamente, apenassobre os Jesuítas... Como é queacha que os espetadores vãoreceber esta ideia de que aspessoas estão dispostas a suportartanto sofrimento pela sua fé? Achaque nos dias de

32

hoje, isso é algo que secompreende, ou que se valoriza?- Temos esse tipo de fé aqui naAmérica? A nossa cultura reflete-a?Não sei se o faz...A fé agora é a nossa tecnologia.Mas quando tirarem a tecnologia datomada, ainda deve sobrar algumacoisa! Vai haver uma perceção, ouum confronto, com o próprio "eu".Eu acho mesmo que aqueles quemorrem pelas suas convicções e poraquilo em que acreditam, é umadecisão tão extraordinária, que essaescolha é algo que tem de serrespeitado. Acho mesmo. Descreve o Catolicismo, ou oCristianismo, como uma espécie derefúgio para eles. Há pouco,descreveu o Cristianismo e oCatolicismo como um refúgio parasi, para sair da maldade das ruas.Vê algum paralelo entre o que oCristianismo ofereceu aosJaponeses e o que lhe ofereceu asi?- Acho que o posso encontrar, mas,de novo, tenho de respeitar acultura.Estive lá há algumas semanas e umdos atores comentou que não eramuito religioso. Ele disse: "Mas sintoque os meusantepassados estão a olhar pormim". Fiquei surpreendido!

É outro modo de pensar. Mas temosde respeitar esse modo de pensar,temos de respeitar essa cultura.Como é que introduzimos oselementos da fé, da fé cristã, numacultura que é tão diferente? Por falar nisso, foi difícil retratar...Quero dizer, o livro fala-nos muito deoposição e tortura. Foi difícil, outeve receio de retratar a culturajaponesa como opressiva?- Bem... Eles estão numa ilha e háeste grande país chamado China. AChina sempre tentou conquistar oJapão. Havia o Kamikaze, o VentoDivino, que destruiu todos os barcosde Kublai Khan, quando elestentaram invadir. Quero dizer, este éum lugar sagrado, é tudo o que elestêm, e eles têm de proteger a suacultura. Têm de proteger o seumodo de viver e de pensar.Assim que começar a deteriorar-se,deixa de haver Japão, deixa dehaver cultura japonesa. Por isso,eles deixam-no muito claro. Matamas pessoas, de um modo bastantegráfico, como parte de umespetáculo público, por assim dizer.Mas o conceito último era levaraqueles que levaram a doutrina, anegar a doutrina. E isso ia resolvertudo o resto.

33

Page 18: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Estive lá há algumas semanas e um dos atores comentou que não era muitoreligioso. Ele disse: "Mas sinto que os meusantepassados estão a olhar por mim". Fiquei surpreendido!

Como é que se sente ao ter umlivro, que lhe diz tanto a nívelespiritual, teve a possibilidade de otrabalhar, e agora vê o resultado...Espiritualmente, como foi para siesse processo?- No fundo, o que acontece é que setorna como uma peregrinação emque vamos. É uma peregrinação.Ainda estamos a caminho.Nunca vai acabar. Achei que iria, poralgum tempo, mas uma vez ali,percebi que não. Mesmo durante aedição, nesta sala... Estáinacabado.Houve muitos sacrifícios, parafazermos o filme. Quer seja um bomfilme, ou não - não nos cabe a nósdecidir, a questão é: em certamedida, a espiritualidade ajudou-me. E é algo com que eu gostariaque os meus filhos se sentissemconfortáveis, no futuro. Quando lê o livro, há algumas cenasque certamente são muito tocantespara si e que seguramente oafetaram a um nível bastanteprofundo. Quando vê o seu filme,como reage a essas cenas? Damesma forma? De modo diferente?- Há algumas cenas no filme que meafetam. Não há dúvida nenhuma. A

dos mártires no oceano é uma cenamuito bonita e enquantoali estávamos, podíamos senti-la.Enquanto estávamos a filmá-la,podíamos senti-la. O que é que sentia?- Sentia a beleza e a espiritualidadedo que estávamos a tentar encenar.Basta ver pelos atores, Shin'yaTsukamoto, Yoshi Oida, querepresentava Jesus, Andrew eAdam. Dava a volta ao estômago,era triste e belo. Aquelas cavernaseram belas...Quando fomos ao local, só para veras cavernas, estava lá uma mulher ameditar. É um lugar especial e E porisso, passamos lá muito tempo, erareconfortante. O que acha que alguém sem fé vaitirar deste filme?- Temos noção de que muita gentevai ser crítica, especialmente quemnão tem fé. O problema são ascertezas, acho eu, principalmente nomundo moderno. Por causa datecnologia e, claro, achamossempre... Eu imagino que - nãointeressa em que momento histórico,mas principalmente desde aRevolução Industrial - devemos terpensado sempre que isto era

34

o melhor que alguma vezhaveríamos de fazer. Ou que isto éo melhor de todos os mundospossíveis. E somos tão avançados...Só que se calhar, não somos.Mas com a tecnologia, e com apossibilidade de explicar aespiritualidade através de reaçõesquímicas no cérebro, com tudo isto,acho que algumas pessoas vão ser

extremamente hostis ao filme.Ou, no mínimo, apontar os aspetosnegativos da missão, por assimdizer. Certo.- Já houve tantos filmes e tantoslivros sobre o assunto. Mas achoque isto vai além disso, isto vai àverdadeira essência do dom queeles nos trouxeram.

35

Page 19: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Então não é um retrato domissionário visto só a partir doexterior, mas é retratado mais dedentro para fora.- Isso. E penso que, quando meperguntam porque é que demoreitanto tempo a conseguir tentarpassá-lo ao ecrã, é essa a questão:de dentro para fora. Não foi ahistória, que é óbvia. Vai maisfundo.Ontem dizia a alguém...Perguntaram-me outra vez, sobre "AÚltima Tentação", e eu disse: "Sim,eu sei". Perguntaram-me se erauma derivação e eu respondi quenão."A Última Tentação" aconteceu...

Onde eu estava naquele momento,na minha própria busca. E issopartiu numa determinada direção,enquanto isto seguiu uma direçãodiferente. Isto foi mais fundo.O que percebi depois daquele filme,para mim, estou a falar disto a nívelpessoal, que tinha de ir mais fundoe que não ia ser fácil.Não estou a dizer que me torneimais profundo, mas que tinha detentar. Interessante. Entende aprofundidade como estar maisdespojado?- Sim, mas também no verdadeirosentido do que é a compaixão.

36

Porque no fim o que interessa é arelação dele com Jesus.- Sim. Como é que fazer este filmeinfluenciou a sua vida de fé, ou asua espiritualidade?- Acho que me obrigou a olhar deoutro… Olhar mais de perto é umafrase fácil, mas a contemplar e aaceitar. Cheguei a um certo pontoem que, sobretudo porque a minhavida pode estar para acabar,ficamos mais velhos. E tambémporque estou rodeado de pessoasque me são muito próximas.Estou a descobrir que, na verdade,foram elas que, sem intenção, emconjunto com esta história, meajudam a clarificar o que é a vida.De certo modo, é como um dom. Seestou à altura? Não sei.Honestamente, não creio, mas asolução é continuar a tentar. É sóisso. Mas...E eu pensei por muitos anos,noutros caminhos, outros modos depensar, outros sistemas políticos,economias, outros aspetos. Outrasreligiões! Mas as minhas raízesestão aqui e então tive esperançade encontrar um lugar ondepudesse explorar essas raízes eesses sentimentos. Quer dizer,essas raízes e esses...

Como hei de explicar? Essas raízese esses pensamentos,essas contradições, de um modointeligente, mas sempre dentro da fécristã. Muitos parabéns por este filme tãobonito.- Obrigado.

37

Page 20: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Silêncio, de Martin Scorsese,um thriller teológico

O filme ‘Silêncio’, do realizadornorte-americano Martin Scorsese,apresenta a experiência dramáticada missionação no Japão do séculoXVII, entre o martírio e a apostasiade leigos e padres, incluindojesuítas portugueses. A obra, comestreia marcada para 19 de janeiro,em Portugal, segue de perto oromance homónimo do católicojaponês Shusaku Endo, num “thrillerteológico” que aborda a relaçãoentre o Cristianismo e amentalidade

japonesa, como é explicado numaedição especial da revista ‘La CiviltàCattolica’, dos jesuítas italianos.O filme de Martin Scorsese evoca,sobretudo, a perseguição demilhares de cristãos no territórionipónico, com interpretações deLiam Neeson, Adam Driver, e AndrewGarfield.O realizador centra o seu trabalhono percurso de duas personagens,identificadas como jesuítasportugueses, Sebastião Rodrigues eFrancisco Garupe - particularmente

38

no primeiro -, que partem à procurade outro sacerdote da Companhiade Jesus, Cristóvão Ferreira (1580-1650), este uma figura histórica,que teria renunciado à fé cristãapós ser torturado.Em entrevista à ‘Civiltà Cattolica’,Scorsese disse que a diferençaentre os padres Ferreira eRodrigues é que o último “ouveJesus falar com ele”. “Não sabemos,historicamente, aquilo em que opadre Ferreira acreditava ou não,mas no romance de Endo pareceque ele perdeu mesmo a sua fé”,acrescentou.A apostasia concretizava-se pisandoa imagem do próprio Cristo,representado num ‘fumie’ - umretrato em bronze enquadradonuma pequena moldura de madeira.

O realizador consultou a equipa dosArquivos Jesuítas Romanos(Archivum Romanum Societatis Iesu– ARSI) e outros especialistasjesuítas, para preparar oargumento.O filme aborda questões como osilêncio de Deus diante dosofrimento dos crentes, o mistériosobre o rosto de Jesus ou anatureza da traição à fé cristã - aapostasia - em condições extremas.O jesuíta norte-americano JamesMartin serviu de consultor durantetodo o processo de conceção dofilme.O padre Hermínio Rico, tambémjesuíta, foi um dos primeiros a ver aobra e fala do “génio de Scorsese”que “acrescenta à história umagrande beleza e uma exigente, masequilibrada, carga emocional”.

O jesuíta norte-americano James Martin serviu de consultor durante todo o processo de

39

Page 21: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

O jesuíta norte-americano James Martin serviu de consultor durante todo o processo deconceção do filme.O padre Hermínio Rico, também jesuíta, foi um dos primeiros a ver a obra e fala do“génio de Scorsese” que “acrescenta à história uma grande beleza e uma exigente, masequilibrada, carga emocional”.

Evangelização e mártires do Japão

O Japão foi evangelizado pelojesuíta São Francisco Xavier, entre1549 e 1552, a pedido da CoroaPortuguesa, mas poucas décadasdepois comunidade católica viviauma dura perseguição: os primeirosmártires, encabeçados por SãoPaulo Miki

(crucificados em Nagasáqui em1597), entre os quais o portuguêsSão Gonçalo Garcia, foramcanonizados em 1862 por Pio IX.Outros 205 católicos forambeatificados em 1867, entre elesJoão Baptista Machado, Ambrósio

40

Fernandes, Francisco Pacheco,Diogo de Carvalho e Miguel deCarvalho (todos da Companhia deJesus), Vicente de Carvalho(religioso agostinho), e DomingosJorge (leigo, cuja esposa japonesae filho também foram martirizados).Os católicos que sobreviveram àperseguição tiveram de ocultar-sedurante 250 anos, até à chegada demissionários europeus no séculoXIX.João Paulo Oliveira e Costa explicano ‘Dicionário de História Religiosade Portugal’ que com o édito deexpulsão de 1614, a grande maioriados missionários regressou a Manilae a Macau. Ainda assim, ficaramalgumas dezenas no Japão, bemcomo os milhares de fiéis.

Em 1637 deu-se uma revolta decamponeses em Shimabara eAmakusa. Dada a forte presençacristã nestas regiões, o confrontoganhou uma dimensão religiosa; ocristianismo entrou, assim, na suavivência clandestina que perdurouaté à reabertura do Império aoOcidente, na segunda metade doséculo XIX. Os portugueses foramdefinitivamente expulsos do Japãoem 1639.O Papa Francisco tem repetidoelogios às comunidades nipónicas,que receberam e conservaram asua fé “mesmo no meio de séculosde perseguição”, falando num paísde “cristãos escondidos”.

41

Page 22: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

«Permanecer firme num ambientede extrema perseguição»O provincial da Companhia de Jesus(Jesuítas) em Portugal consideraque o filme ‘Silêncio’, de MartinScorsese, é uma oportunidade deconfrontar-se “várias dimensões secalhar diferentes”, a começar pelapágina histórica do “encontro difícilentre o cristianismo e o ocidente, eas tradições japonesas”.“Possivelmente associamos sempreou louvamos a dimensão do êxito damissionação mesmo quando foidifícil como o martírio mas aquitambém nos cabe revisitar esteavesso da dificuldade depermanecer firme num ambiente deextrema perseguição”, explicou opadre José Frazão.O sacerdote assinala que a partir dofilme ou do romance homónimo deShusaku Endo em que é baseadovê-se o que significa ser fiel “nãoapenas da fé pessoal” mas tambémda fé partilhada por outros cristãos.Para o provincial dos Jesuítas emPortugal o filme ‘Silêncio’ éoportunidade para “revisitar aquestão dramática da fé” e “quaseequivoca” de várias perspetivaspossíveis para enquadrar ou visitara adesão a Jesus Cristo “e da suavisibilidade pública e transmissão”.

O professor universitário João PauloOliveira e Costa assinala que a“história pode ser sempre umalição”, neste caso, no contexto daintolerância religiosa porque “desdeque o homem intuiu o divino” que existiram “fenómenos deintolerância seja pela imposição,seja pela rejeição”.“O caso japonês é muito particular, éo caso de um país que sendoconfrontado com outra religião arejeitou através do Estado. Não étotalmente comparável com assituações de perseguição religiosanos nossos dias, de qualquermaneira tudo o que é meditar sobrea intolerância e o diferente é bom”,desenvolveu o historiador.Os entrevistados falaram à AgênciaECCLESIA à margem da conferência‘Portugal e o Japão – história de umsucesso malsucedido’, esta quarta-feira, no Museu do Oriente emLisboa que contou ainda com aparticipação dos jornalistas ClaraFerreira Alves e Joaquim Franco.O filme ‘Silêncio’, sobre amissionação no Japão a partir daCompanhia de Jesus no Japão, parao padre José Frazão não permite teruma leitura

42

a “branco e preto, bem e mal”,afirmação da fé pelo martírio ounegação da fé pela apostasia, afinala “questão é mais complexa” e orealizador “consegue manter acomplexidade da fé” presente noromance.Para o provincial do Jesuítas emPortugal contrário ao contexto atualde aproximação à fé “muito light,muito a la carte” no filme percebe-seessa afirmação do que é que fazpermanecer firme na fé “numcontexto de grande perseguição,grande sofrimento”.Segundo o sacerdote, tanto o livro

como agora o filme “põem emreserva um juízo demasiado fácil”. Apersonagem principal renuncia à fé,“publicamente como Jesuíta, comopadre da Igreja Católica” maspercebe-se que “no intimo destepadre há um percurso de fé”.“Estamos longe de afirmar que asua apostasia pública seja renúnciaà fé no mais intimo do seu coração.Torna extremamente problemática aquestão mas também muitointeressante”, acrescentou o padreJosé Frazão sobre uma página queretrata o encontro do cristianismocom a cultura tradicional japonesa,do encontro entre

43

Page 23: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

o ocidente e o oriente.João Paulo Oliveira e Costa, que vaiver e analisar o ‘Silêncio’ com osalunos de mestrado e licenciatura,considera que as pessoas de boa-vontade podem “aproveitar” o filmepara “meditar sobre as dificuldadesda religião”.Segundo o historiador, os cristãosem particular e ocidentais em geral“não têm bem noção” que o “maior

choque” no Japão está relacionadocom uma das dimensões que“parece obvia” mas não é assimpara “todo o ser humano” porque asreligiões “não pedem dedicaçãoexclusiva”.“Nós adeptos fieis da religião dolivro – muçulmanos, cristãos, judeus– temos entendimento da religiãocomo algo exclusivista. No mundooriental as pessoas podem visitar,rezar

44

e respeitar diferentes religiõessimultaneamente”, observou.Para o docente meditar sobre essasdiferenças “é muito importante” e ofilme de Martin Scorsese “éoportunidade” para pensar sobre aforma como o ser humano serelaciona com o divino.“Um choque que vem até aosnossos dias, é que muçulmanos,cristãos, judeus podem achar quetêm a verdade absoluta atrás de si edo outro lado um mundo que achaque a verdade é sempre relativa”,acrescentou.Em 2016, o historiador esteve nopaís do sol nascente onde assistiu acerimónias dos atuais cristãosocultos,

que em séculos de separação decristianismo “derivaram numaespécie de animismo” e continuam aachar que “têm uma entidadeprópria”, qualquer coisa “com oSenhor da Cruz”.João Paulo Oliveira e Costa destacao "sinal da intensidade da religião” esublinha que a missionaçãojaponesa foi das “maisextraordinariamente bemconseguido”.“Se hoje não é cristão foi porque umprocesso religioso que estava emcurso e a ganhar velocidadegalopante foi interrompidobruscamente e artificialmente pelopoder político”, analisa, “comoacontece hoje” com a adesão naCoreia do Sul.

45

Page 24: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Cristovão Ferreira, o jesuíta por trásdo Silêncio

Se pudéssemos voltar à Europa doséculo XVII, as perguntas quesurgem com Silêncio, o novo filmede Martin Scorsese, não cairiamfora de contexto. Quem foi CristóvãoFerreira? O que fez? O que disse?Hoje, como antes, são poucas ascoisas que podemos afirmar comabsoluta certeza sobre este jesuítaportuguês, à volta do qual seconstruiu o livro "Silêncio", deShusaku Endo, e que dá agoraorigem ao filme do realizadoramericano. Ainda assim,conhecemos alguns aspetos quecertamente ajudarão a compreendermelhor a narrativa do filme.

Cristóvão Ferreira, conhecido noJapão por Sawano Ch?an, nasceuem Torres Vedras em 1580. Entrouna Companhia de Jesus aos 17anos e, logo em 1600, foi enviadopara trabalhar nas missões doOriente. Estudou Teologia emMacau e foi ordenado padre em1608.Partiu para o Japão no dia 16 demaio de 1609, embarcado no NossaSenhora da Graça. Esteve primeiroem Arima, onde se dedicou aestudar Japonês e a ensinar Latim.As primeiras manifestações daperseguição religiosa que marcouas décadas seguintes começaram asurgir logo depois.

46

Em 1612 o seminário foi fechado eos missionários forçados a sair dacidade. Depois de uma brevepassagem por Nagasáqui, Ferreirafoi enviado para Quioto. Acomunidade cristã era então muitonumerosa, contando com cerca detrinta mil fiéis, só naquela região.Não deixou de surpreender,portanto, que no início de 1614 seprocedesse ao registo e expulsãode todos os cristãos. O superior dacomunidade de Quioto decidiuregistar apenas alguns dos que aliviviam, devendo permanecer naclandestinidade os que fossemmenos conhecidos. Entre eles ficouCristóvão Ferreira, que viviaescondido, saindo apenas de noitepara visitar os cristãos daquelacidade e de algumas povoaçõesvizinhas.Em 1617, o padre Provincial,Mattheus de Couros, chamou-opara Nagasaki. Nesses anos em quefoi secretário do Provincial, tinha deestar em permanente contacto comtodos os outros Jesuítas. Era elequem distribuía os medicamentos eprovisões e quem administrava odinheiro, bem como as outras coisasnecessárias ao funcionamento dasdiversas comunidades (por exemplo,o vinho de Missa). Por esta razão,viajava frequentemente pelo Japão,

mesmo correndo o risco de serdescoberto e preso.Depois de uma breve passagem porOsaka, onde foi superior da missãono Japão Central, regressou aNagasáqui i. Com a morte do Padre.Mattheus de Couros, e uma vez queera o Jesuíta professo mais antigona Província, assumiu a suaadministração como locumtenens,ou seja, Provincial não nomeadopelo superior Geral dos Jesuítas.Um ano mais tarde, a 18 de Outubrode 1633, Cristóvão Ferreira foifinalmente preso, juntamente comoutros religiosos, tanto missionáriosestrangeiros, como japoneses. Foi-lhes aplicada a tortura da fossa,método exclusivamente destinadoaos cristãos para que negassem asua fé.Os holandeses do tempo (aliadoscomerciais do Império Nipónico e,por serem protestantes, antipáticosà pregação católica) relatam aprática como um dos suplícios maisinsuportáveis, entre os que eraminfligidos pelas autoridadesjaponesas. Consistia em penduraros prisioneiros de cabeça para baixodentro de uma fossa que era depoiscoberta com tábuas. Os cristãosficavam, assim, sem luz e sem água,fortemente

47

Page 25: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

amarrados, até abjurarem oumorrerem.Cristóvão Ferreira, apesar de toda asua atividade apostólicareconhecida e esforçada, cedeu aofim de algumas horas. Tinha 53anos de idade; 37 de Companhia deJesus. A notícia da sua apostasiachocou uma Europa que olhavapara o martírio como a mais gloriosamorte.Não parecia ser possível queCristóvão Ferreira renegasse a suafé em Jesus Cristo e váriosmissionários partiram

para o Japão para o encontrar econvencer a regressar à fé e aentregar a sua vida. Alguns foramtorturados e cederam à apostasia;alguns, porém, acabaram por dar alia sua vida. Desses, que morreramdepois de submetidos à tortura dafossa regista-se o nome de pelomenos três jesuítas: Kassui Pedro;Marcello Mastrilli e Rubino.Quanto a Cristóvão Ferreira, foiforçado a viver com a viúva de umprisioneiro executado, passando

48

o resto da sua vida no Japão eservindo de intérprete para asautoridades japonesas. Não épossível afirmar com total exatidãoas circunstâncias da sua morte.As únicas fontes que conhecemosdizem-nos que, ao chegar a umaidade mais avançada, searrependeu de ter renegado a fé.Tendo disto sabido, as autoridadesjaponesas de novo o terão prendidoe condenaram-no mais uma vez àfossa. Ali terá morrido a 4 ou 5 denovembro de 1650.Por seu turno, Sebastião Rodriguesé uma personagem criada pelo livro"Silêncio", de Shusaku Endo,baseada no Jesuíta italianoGiuseppe Chiara. Este Jesuítachegou a Oshima em Chikuzen a 27de junho de 1643

integrado num grupo de dezmissionários que procuravaCristóvão Ferreira. Juntamente comos seus companheiros foiimediatamente capturado.Posteriormente, no julgamento aque foram sujeitos, CristóvãoFerreira terá servido de intérprete.Todos estes missionários terãorenegado a fé sob o peso da torturada fossa e ter-se-ão retratado maistarde. Giuseppe Chiara morreu emEdo a 24 de agosto de 1685, tendodito anteriormente que permaneciacristão.

Síntese do texto de Hubert Cieslok"The case of Cristóvão Ferreira",Monumenta Niponica, Primavera,

1974 - 1-54

49

Page 26: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Atores praticaram durante meses osexercícios espirituais jesuítas

O padre jesuíta James Martin,consultor de Martin Scorsese para ofilme “Silence” (Silênciodestaca umprojeto que “interpelaprofundamente a fé e a vida” e quedesafiou os atores na sua“espiritualidade”.Numa entrevista difundida pelaCompanhia de Jesus em Portugal, opadre James Martin aponta trêsquestões fundamentais presentesna nova obra de Martin Scorsese.Em primeiro lugar “o que é queDeus pede” a cada pessoa e comolidar

quando esta pergunta parece terapenas como resposta “o silêncio”. A apostasia não é uma coisa boa”,mas aqui “aparece como expressãode compaixão”, diz o padre JamesMartin, lembrando que “osinquiridores japoneses diziam aosjesuítas que se não negassem a féeles fariam mal aos cristãos”.Sebastião Rodrigues, a personagemprincipal do filme, interpretada porAndrew Garfield, é a expressão maisvisível desta luta interior, deste

50

esforço em perceber o que Deuspede em determinada situação,neste caso na situação limite de“renunciar à fé”. “Rodrigues chega aum ponto em que a coisa certa afazer parece ir contra tudo aquiloque lhe foi ensinado, contra aquiloque a cultura cristã diria ser aatitude correta a tomar, e até osseus colegas jesuítas em Portugal”,refere o padre James Martin.Daí que o filme ‘Silence’ tambémcoloque questões essenciaisrelacionadas com a “fidelidade” e a“missão”. “Hoje em dia o trabalhomissionário é frequentementedenegrido e mesmo atacado. Maseu costumo perguntar às pessoas;deixariam tudo para trás paraviajarem para o outro lado domundo, para proclamarem com riscode vida o Evangelho a pessoas que,na vossa pátria, a maioria pensaque nem são dignas deevangelização? Para mim osmissionários continuam a sergrandes heróis”, sustenta o padreJames Martin.O sacerdote jesuíta ajudou orealizador Martins Scorsese e oargumentista Jay Cocks noaperfeiçoamento do guião original.“Basicamente o que queriam saberera o que é que um jesuíta pensaria

em determinada situação, o que éque faria, o que diria e mesmo comorezaria”, explica o membro daCompanhia de Jesus, que partilha odesafio que este projetorepresentou para os atores esobretudo para Andrew Garfield.Para ajudá-los a entender o seupapel, o sacerdote trabalhou comeles os chamados ‘ExercíciosEspirituais’, uma prática de oraçãocriada por Santo Inácio de Loiola, ofundador da Companhia de Jesus.“Percorremos todas as etapas dosexercícios, desde o início ao fim,durante vários meses, o quepermitiu ao Andrew entender o seupapel mas também foi umaexperiência muito pessoal para ele.Uma vez mergulhando nosexercícios deixa de ser apenas umprojeto a fazer mas também algoentre nós e Deus”, frisa o padreJames Martin.

51

Page 27: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Silence visto por um jesuítaportuguêsem RomaO padre jesuíta António Ary diz queo filme “Silence”, de MartinScorsese, sobre a Companhia deJesus no Japão, é uma obradesafiante porque envereda por umpercurso pouco habitual para quemreflete sobre a fé.Em entrevista à Agência ECCLESIA,o sacerdote atualmente a estudarDireito Canónico em Roma contacomo foi a experiência de assistir,

em primeira mão, à mais recenteobra do realizador norte-americano,em novembro de 2016. “É um filmeforte, que impressiona bastante pelahistória e pelas imagens”, realça opadre António Ary, que destacadepois o ângulo de abordagem que“faz pensar” porque está “maiscentrado nas fragilidades” da fé doque nas suas forças, que no limitelevam ao "martírio".

52

“Não é de todo um filme épico ouapologético e daí o seu interesse.Nós ouvimos muito, e lemos,rezamos a história dos santos, dosmártires, e pouco temos contactocom o outro lado, com quem sofreua perseguição e acabou por negar afé”, realça o padre António Ary.Questionado sobre se esta obrapoderá de alguma forma influenciara imagem que se tem da Companhiade Jesus, o sacerdote diz que nãodevem existir quaisquer complexosnesse campo. “Nós nãopretendemos como jesuítas ter tidoapenas heróis e santos, somospessoas normais com as nossasfragilidades”, salienta o jovem queentrou na Companhia de Jesus em2005 e foi ordenado sacerdote em2016.O padre António Ary viu o filme nacompanhia de cerca de 400 colegasda congregação, na sequência daida do realizador Martin Scorsese aRoma para a apresentação doprojeto, viagem que incluiu umaaudiência com o Papa Francisco,também ele jesuíta.Para o sacerdote português,nascido em França, trata-se de umaobra que “põe em imagens coisasmuito concretas”, não só o quesignifica

“renunciar à fé”, todo o dramapessoal e espiritual que istoencerra, mas “sobretudo o desejomissionário” que sempre caraterizoua Companhia de Jesus.A aposta da congregação em“acompanhar comunidades que jáexistiam mas que estavam sobreperseguição”. “E ilustra bem o que éo desejo da Companhia de levar onome de Jesus e sobretudo ajudaroutros a viver e conhecer a sua fé”,completa o padre António Ary.Numa altura em que estão emmarcha processos de canonizaçãopara diversos jesuítas portuguesesque foram martirizados no Japão, osacerdote acredita que esta películapoderá ajudar a despertar acuriosidade do público em geral àvolta da congregação, a conhecermelhor a sua história e carisma.Quanto aos cristãos, o jesuítaportuguês radicado em Romaadmite que o filme “Silence” possalevar as pessoas a questionaremmais a sua fé, o modo como a viveme testemunham. Isto porque retratauma forma de assumir a fé bem maisradical do que por exemplocarateriza o mundo “ocidental”,conclui.

53

Page 28: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Programa cultural evoca experiênciaportuguesa no Japão Com a chegada do filme ‘Silêncio’ a Portugal, o Museu do Oriente, o Museude São Roque e a FNAC serão palco de um vasto programa cultural,desenvolvido em cooperação com a Companhia de Jesus que trará, para aopinião pública, o debate e a reflexão sobre o papel dos jesuítas emPortugal e no mundo, a perseguição religiosa, as relações entre Portugal e oJapão, a arte e a religião. Museu de São Roque - Lisboa- Exposição “Japão: a última cartade um mártir”De 19 de janeiro a 19 de fevereiroEsta exposição fala do tema domartírio e tem como mote otestemunho de Miguel Carvalho, ojesuíta português que já foibeatificado e que é contemporâneodos portugueses retratados no filmede Scorsese. Na véspera de sermartirizado a 25 de agosto de 1624,Miguel Carvalho, despede-se doseu irmão Simão de Carvalho,através de uma carta. Estedocumento foi conservado atravésde gerações e será pela primeiravez apresentado ao público peloMuseu de São Roque.Entrada: 2,5 € (gratuita aodomingo). Mais informações nowebsite do Museu de São Roque.

- Percurso pedestre -Silêncio: pelos caminhosde Cristóvão Ferreira, emLisboa22 janeiro, às 10h00 – ponto deencontro Portaria do Hospital deSão José (antigo Colégio de SantoAntão-o-Novo).O itinerário pelos lugares daCompanhia de Jesus em Lisboaleva-nos a conhecer a importânciaque esta congregação religiosa,fundada em 1540 por Inácio deLoiola, teve na sociedade e culturaportuguesa. Do antigo noviciado daCotovia, passando pela CasaProfessa de São Roque, à aula daesfera em Santo Antão-o-Novo,terminando na Ribeira de Lisboa,este percurso permite ir ao encontrode memórias e lugares

54

passados que ainda hoje moldam opresente. Foram também estesalguns dos passos de CristóvãoFerreira (personagem do filme) emLisboa.Iniciativa promovida pelo Museu SãoRoque e apoiada pela revista TimeOut Lisboa. - Visita temática guiadaao Museu e Igreja de SãoRoque sobre os mártiresdo Japão6 de fevereiro, às 15h00No dia em que se recorda algunsdos mártires do Japão, o Museu deSão Roque organiza uma visita àspeças da sua coleção quetestemunham

a presença cristã no Japão e aexperiência do martírio. FNACUm Urban Sketcher jesuítaportuguês e uma Urban Sketcherjaponesa juntaram-se para ilustrar,nos seus blocos de papel, o trailerdo filme Silêncio. O resultado destetrabalho conjunto do Padre NunoBranco, SJ com a artista japonesaKumi Matsukawa será exposto nasFNAC Chiado e Santa Catarina.Lisboa - FNAC Chiado – 17 dejaneiroPorto - FNAC Santa Catarina – 25de janeiroEntrada gratuita.

55

Page 29: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

- TertúliaFé: Silêncios e Limites27 de janeiro, 18h00, Auditório B -Reitoria da Universidade Nova deLisboa (polo de Campolide)Encontro de reflexão e debatesobre

os limites existenciais e espirituaisda fé. Aberto a todos, masespecialmente dirigido aos maisjovens.Com Carla Rocha; HenriqueRaposo; Jacinto Lucas Pires; P.Pedro Rocha Mendes, sj.

56

Museu do OrienteA mais recente obra do realizadornorte-americano Martin Scorseseinspira um programa de iniciativasgratuitas no Museu do Oriente, de11 a 28 de Janeiro, centradas nocontexto histórico e religioso dorelacionamento entre Portugal e oJapão.O programa inicia-se com aconferência “Portugal e o Japão:história de um sucesso malsucedido”, no dia 11 de Janeiro, às18h00, que conta com aparticipação do Padre José Frazão(Provincial dos Jesuítas), dohistoriador João Paulo Oliveira eCosta e de Clara Ferreira Alves(jornalista), com moderação

de Joaquim Franco (jornalista).Em três visitas guiadas à exposição“Presença Portuguesa na Ásia” - a14, 21 e 28 de Janeiro, às 16h00 -,peças selecionadas servem deponto de partida para explorardiferentes perspetivas da história dorelacionamento Portugal-Japão e oseu legado. A primeira, orientadapelo Padre António Júlio Trigueiros,é subordinada ao tema “Xavier – ocomeço da missão no Japão”,seguindo-se “Presenças jesuítas nacoleção do Museu do Oriente” (porJoana Belard da Fonseca, do Museudo Oriente) e “O Cristianismo noOriente” (pelo historiador JoãoPaulo Costa).

57

Page 30: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

ChinmokuÉ aos escritor japonês ShusakuEndo que devemos a obra Silêncio(Chinmoku), que decorre na era dos‘Kakase Kirishitan’ (cristãosescondidos). Publicado em 1966, olivro é visto como uma referêncialiterária do século XX, tendo sidotraduzido em diversas línguas,incluindo o português.O mais importante romance deShusaku Endo cruza o país do SolNascente com o Rio Tejo, de ondepartem missionários jesuítas como opadre Sebastião Rodrigues, umapersonagem central do livro, que em1640 embarca rumo ao Japãodeterminado a ajudar os cristãosjaponeses, brutalmente oprimidos, ea descobrir a verdade sobre o queaconteceu ao seu antigo mentor -Cristóvão Ferreira.Shusaku Endo (1923-1996)escreveu a partir da perspetiva dejaponês e católico. Nascido emTóquio, Endo foi batizado aos 11anos; formou-se em LiteraturaFrancesa, pela Universidade deKeio, e estudou durante algumtempo em Lyon como bolseiro doGoverno japonês.Começou a escrever romances em1958, sendo visível a suapreocupação com temas cristãos,incluindo “A vida

de Jesus”. A comparação comescritores do Ocidente acabou porser inevitável, em particular comGraham Greene. A maior parte daspersonagens de Endo têm de lidarcom complexos dilemas morais, comescolhas que levam a resultadostrágicos, por vezes.Na sua novela ‘Silêncio’, Endocoloca

58

dois jovens portugueses, SebastiãoRodrigues e Francisco Garupe apartir de Macau rumo ao Japão,colocando-se em perigo pessoalpara descobrir a verdade sobre asnotícias que davam conta dadefeção do padre Ferreira. Aliencontram comunidades cristãs querezam e praticam a sua fé de formavelada, receando pela sua vida.Garry Wills, vencedor do PrémioPulitzer e historiador, sublinhavaque Endo explora o paradoxo depadres que renunciam à fé, “nãopor fraqueza, mas por amor, parapoupar aos cristãos conversos daperseguição que tinha sido lançadacontra eles”.Para outros, no entanto, há na obrade Endo uma imagem injusta dosseus

antepassados cristãos, que viverama fé com heroísmo. Muito citada é aideia defendida pelo professorYanaibara, da UniversidadeProtestante de Doshisha: “Osmártires ouviram a voz de Cristo,mas para Ferreira e Rodrigues essavoz não se fizera ouvir. Nãosignificará isto que esses padres jánão tinham fé desde o princípio?”.No filme, tal como no livro,confrontamo-nos com uma narrativaque apresenta a dura relação entreculturas muito distantes, bem comoo conflito ético pessoal destesmissionários, que foi usado contra oCristianismo por parte dasautoridades do Japão.

59

Page 31: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Plataforma de Apoio aos Refugiadosonline

http://www.refugiados.pt/ No próximo dia 15 a igreja assinalao Dia Mundial do Migrante eRefugiado. Este ano, sob o lema"Migrantes de menor idade,vulneráveis e sem voz", o PapaFrancisco na sua mensagem paraesta ocasião sente “o dever dechamar a atenção para a realidadedos migrantes de menor idade,especialmente os deixadossozinhos”. Pede ainda a “todos paracuidarem das crianças que são trêsvezes mais vulneráveis – porque demenor idade, porque estrangeiras eporque indefesas – quando, porvários motivos, são forçadas a viverlonge da sua terra natal eseparadas do carinho familiar.”Assim, esta semana, a minhaproposta passa, mais uma vez, pelasugestão de visita atenta e cuidadaao sítio da PAR - Plataforma deApoio aos Refugiados.Ao digitarmos o endereçowww.refugiados.pt encontramos umespaço digital muito bem produzido,quer ao nível gráfico bem como aonível dos conteúdos apresentados.Na página inicial dispomos dosprincipais destaques, de algunsvídeos com testemunhos de váriaspersonalidades que apoiam esteprojeto e ainda ligações para asprincipais redes

sociais (twitter, facebook einstagram).Ao clicarmos em “sobre”, podemosficar a saber quem são os membrosfundadores, os membros aderentes,quais as entidades que apoiam esteprojeto e ainda submeter umformulário de inscrição de novosmembros. É ainda possível perceberque resumidamente se pode afirmarque a “missão das organizações dasociedade civil reunidas nestaplataforma assumem a promoção deuma cultura de acolhimento, deapoio aos refugiados, quer nasociedade portuguesa, quer nospaíses de origem e de trânsito”.Caso ainda não tenha percebidoexatamente qual o verdadeiroproblema desta crise que assola aSíria e restantes países islâmicosbasta que aceda a “crise derefugiados”. Aí rapidamenteencontrará um conjunto de vídeoscom testemunhos e infográficosexplicativos que irão ajudar imensonesta compreensão e/ouaprofundamento.Em “como ajudar” descobre queexistem formas bastante concretasde colaborar efetivamente com esteprojeto. Seja através da PAR –Famílias, onde o que se pretende éque exista um “acolhimento eintegração de crianças refugiadas esuas famílias

60

em Portugal, em contextocomunitário, disperso pelo país”. Oupelo PAR – Linha da frente, queatualmente se encontra ativa emduas frentes. Esta ação passa pelapromoção de uma “campanha derecolha de fundos, com o apoio dosmédia, para o trabalho da Cáritas edo JRS, no Líbano e na Grécia(Grécia e ilha de Lesbos), no apoioa refugiados e deslocados internos”.E temos ainda uma forma decolaborar com a UNICEF, enviandoum donativo

para esta organização mundial queo reencaminhará para apoiar ascrianças Sírias.Muito haveria para dizer sobre todaesta extraordinária plataforma.Penso que o melhor será mesmoaderir quanto antes e divulgar pelomaior número de pessoas, porque“vemos, ouvimos e lemos” eportanto “não podemos ignorar”.

Fernando Cassola Marques

61

Page 32: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Da Paróquia à Unidade Pastoral

D. Francisco Senra Coelho vaiapresentar a obra «Da Paróquia àUnidade Pastoral - um caminhopossível», da autoria do diáconoVítor Sá, no próximo dia 27, emBalasar (Braga).Neste livro “ousa-se (re) pensar a

paróquia” e propor um “novo modeloorganizativo e pastoral a partirdo pensamento do CasianoFloristán, o autor defende aconstituição das unidades pastoraiscomo um caminho necessário àedificação de paróquias onde nãofaltem o sentido de missão

62

e sentimento de pertença”, lê-se nanota enviada à Agência ECCLESIA.De forma “séria e concisa”, o autoraprofunda os conceitos de“Paróquia”,“Conselho Pastoral” e “UnidadePastoral”, refere.A obra que vai ser apresentada,pelas

21h00, no auditório do Centro deEspiritualidade Salesiano, éo resultado do estudo que o atualdiácono ao serviço na Paróquia deBalasar realizou para obtenção dograu de mestre na área de Teologia,pela Universidade Católica deBraga.

Editora Pauluslança obras e promove conferênciasA editora Paulus promove, dia 14 deste mês, na Igreja de São José dasTaipas, no Porto, uma conferência sobre «Eutanásia o que está em causa?»proferida por Luís Paulino Pereira. Esta iniciativa que decorre naquela igrejada cidade portuense decorre às 21h30 e o conferencista é o autor doprefácio do livro «Contra a Eutanásia».No Centro Católico de Cultura, em Vila Real, dia 20 deste mês, às 21h15, vaiser apresentado por D. Amândio Tomás a obra «Quero acordar a Aurora»,de D. Manuel Linda, bispo das Forças Armadas e de Segurança.Com apresentação de D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, vai ser lançada,dia 28 deste mês, pelas 12h00, a obra «Cuidados Paliativos. Diagnóstico eintervenção espiritual» na Casa de Saúde São João de Deus, em Barcelos,revela um comunicado enviado à Agência ECCLESIA.

63

Page 33: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

II Concílio do Vaticano: MárioSoares admirava Paulo VI e SãoPaulo

Apesar de se confessar agnóstico, Mário Soaresadmirava o Papa Paulo VI porque “deu força aoConcílio” e acreditava “no amor ao estilo de S. Paulo”.Estas declarações do antigo Presidente da República,que faleceu a 07 de janeiro de 2017, foram feitas àAgência ECCLESIA em abril de 2009, no Hospital deSão João, no Porto. O antigo presidente da Comissão da LiberdadeReligiosa centrava a sua esperança «na condiçãohumana» porque “nunca” foi “tocado pela graça dafé» e explicou que “aqueles que têm a graça da fé têmum privilégio sobre os outros porque acreditam naoutra vida. Isto dá força às pessoas”.Mário Soares seguiu com atenção o II Concílio doVaticano até porque fez parte da revista «Tempo e oModo». A amizade com António Alçada Baptista,Gonçalo Ribeiro Telles, Sophia de Mello Breyner eFrancisco Sousa Tavares marcou a relação de MárioSoares com o Centro Nacional de Cultura. Logo apartir de 1958, ano de início da aventura da Moraes,houve “a tomada de consciência da importância paraa causa democrática dos católicos inconformistas”, lê-se no site do Centro Nacional de Cultura.A candidatura de Humberto Delgado e a atitude críticado Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes,abriram novas perspetivas, para além da oposiçãotradicional. Mário Soares considerou desde cedo quehavia de reforçar uma frente que lançasse as basesde um regime democrático aberto e pluralista, queprevenisse os erros da Primeira República.

64

Em 1963 a revista «O Tempo e oModo» nasce de um compromissocultural e político, que envolve ogrupo de Alçada Baptista e JoãoBénard da Costa, Mário Soares,Francisco Salgado Zenha e ajuventude representada por JorgeSampaio. É um entendimentopremonitório que se revelará, nodomínio cultural, não semvicissitudes, como fundamental naconstrução da democracia. E sabe-se hoje que muitos milicianos ejovens militares, que criariam oMovimento das Forças Armadas,eram assinantes ou leitores de «OTempo e o Modo» e seguiam asatividades do Centro

Nacional de Cultura, a começar pelomais influente ideólogo doMovimento, Ernesto Melo Antunes.Considerado um dos pais dademocracia portuguesa, MárioSoares dizia com frequência quenunca foi tocado pela fé. Todavia,acompanhava a vida da Igreja.Tinha tertúlias com alguns membrosdo clero português – monsenhorVítor Feytor Pinto, frei BentoDomingues, D. Januário TorgalFerreira e padre Vítor Melícias – eeram frequentes os elogios quefazia ao Papa Francisco. Penso queapreciava a Igreja do «Pacto dasCatacumbas».

65

Page 34: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

janeiro 201714 de janeiro. Lisboa - Lumiar (MonjasDominicanas) - Conferência «Oquotidiano como lugar teológico»por frei Mateus Peres integrada nociclo «Viver uma mística de olhosabertos». . Aveiro - Seminário de Santa JoanaPrincesa - Jornadas de formaçãolitúrgica . Israel e Palestina - Bisposeuropeus e norte-americanos encontram-se commigrantes e refugiados na TerraSanta (termina a 19 de janeiro) . Lamego - Conselho PastoralDiocesano . Fátima - Conselho Nacional daPastoral do Ensino Superior com apresença de D. Joaquim Mendes,bispo auxiliar de Lisboa . Lisboa - Externato Marista, 09h30 -O núcleo de Lisboa do Movimento«Fraternitas» promove, noExternato Marista de Lisboa, umencontro ecuménico. A atividade,começa às 09:30 e encerra às17:30, tem quatro sessõestemáticas: «À procura da unidade»;«Perspetivas, passos

ecuménicos»; «Dinamismo evivência ecuménica» e «Oraçãoecuménica». . Fátima - Domus Carmeli, 09h30 - Omovimento «Encontro Matrimonial»realiza, em Fátima, uma atividadesobre a exortação do PapaFrancisco «Alegria do Amor» paracelebrar os 35 anos de presença emPortugal. O encontro decorre naDomus Carmeli e vão ser refletidosvários temas sobre o documento doPapa argentino: “Casal no contextoatual”; “Valores do matrimónio” e“Inserção da família na sociedade”. . Guarda - Museu de Arte Sacra daGuarda, 10h00 - Ação de formaçãosobre «Como preservar esalvaguardar o património culturalda Igreja» promovidapelo Departamento do PatrimónioCultural da Diocese da Guarda. . Évora – Sé, 18h00 - Concerto deAno Novo na Sé de Évorapromovido pelo cabido da catedral ea editora «Althum» . Leiria - Cruz d´Areia, 21h00 - Airmã Maria Amélia Costa e o grupo«Mendigo de Deus» realizam umconcerto orante «Rumo a Assis».Este

66

espetáculo serve para angariarfundos para uma peregrinação àlocalidade italiana de Assis, terra deSão Francisco, o santo dos pobres. . Porto - Igreja de São José dasTaipas, 21h30 - Conferência sobre«Eutanásia o que está em causa?»por Luís Paulino Pereira. 15 de janeiro. Lisboa - Encontro de formação daJuventude Operária Católica . Roma - O porta-voz do Vaticanoanunciou que o Papa vai retomar a15 de janeiro as visitas a paróquiasde Roma, neste caso a Santa Mariaa Setteville, na periferia leste dacidade. . Leiria - Bidoeira de Baixo - Envioda jovem Sandrina para a missãoem Timor e inauguração deexposição missionária na Igrejada Bidoeira de Baixo (Diocese deLeiria-Fátima). . Braga - Peneda-Gerês, 08h30 - APastoral Universitária de Bragapromove uma caminhada ao ParqueNacional da Peneda-Gerês. Opercurso desta caminhada dosuniversitários “é o Trilho dosCurrais, localizado no Lugar doVidoeiro (Gerês); um trajeto queatravessa três currais: o Curral da

Espinheira, o Curral da Carvalhadas Éguas e o Curral da Lomba doVidoeiro”. . Aveiro - Seminário de Aveiro,15h00 - Ação de formação paraagentes da Pastoral da Saúdeorientada pelo diácono José CarlosCosta. . Lisboa - Igreja de Santos-o-Velho,16h00 - Concerto de Ano Novo naIgreja de Santos-o-Velho (Diocesede Lisboa). . Lisboa - Centro Cultural de Belém(Pequeno Auditório), 17h00 - Conversa sobre «Literatura ePensamento (Quase) Toda umaVida» entre frei Bento Domingues eAnabela Mota Ribeiro. 16 de janeiro. Porto - São Pedro de Vilar doParaíso - Ciclo de conferências«Mulher, Mãe, Maria - Pensar a Vidacom o Coração» promovidopela Paróquia de São Pedro de Vilardo Paraíso (Gaia). (termina dia 05de fevereiro de 2017) . Lamego - Jornadas de formaçãopermanente do clero (termina a 17de janeiro) . Algarve – Portimão - Clero do Suldo país reflete sobre «os novosareópagos» (até 19 de janeiro)

67

Page 35: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Leiria, 13 a 15 de janeiro17.º Encontro de Animadores Sociopastorais dasMigrações, com o tema ‘Refugiados: Euros oupessoas?’, começa hoje às 21h00, no CentroDiocesano de Leiria. O Semanário Ecclesia anterior, onr.º 195, foi dedicada a este tema. Évora, 14 de janeiroConcerto de Ano Novo promovido pelo cabido dacatedral e a editora «Althum» a partir das 18h00, naSé de Évora. Braga, 15 janeiroA Pastoral Universitária da Arquidiocese de Bragapromove uma caminhada ao Parque Nacional daPeneda-Gerês. A partida para o Trilho dos Currais,localizado no Lugar do Vidoeiro (Gerês), é às 08h30. Neste domingo (15), a Igreja Católica celebra o 103.ºDia Mundial do Migrante e do Refugiado. ‘Migrantes demenor idade, vulneráveis e sem voz’, é o tema damensagem do Papa Francisco. Vila Nova de Gaia, 16 de janeiro a 5 de fevereiroA Paróquia de São Pedro de Vilar do Paraíso, em VilaNova de Gaia, na Diocese do Porto, começa o ciclo deconferências ‘Mulher, Mãe, Maria - Pensar a Vida como Coração’, sempre às 21h30. 18 a 25 de janeiroNo hemisfério norte celebra-se a Semana de Oraçãopela Unidade dos Cristãos de 2017 com o tema‘Reconciliação, é o amor de Cristo que nos impele’.

68

69

Page 36: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h30Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa

Domingo:10h00 - Porta Aberta;11h00 - Eucaristia;23h30 - Entrevista deAura Miguel Segunda-feira:12h00 - Informaçãoreligiosa Diariamente18h30 - Terço

RTP2, 13h00Domingo, 15 de janeiro,13h30 - Dia do migrante erefugiado. Segunda-feira, dia 16, 15h00 - Entrevista. Entrevista ao padreAdelino Ascenso, missionáriono Japão, sobre o romance"Silêncio" Terça-feira, dia 17, 15h00 - Informação e entrevista João Luís Fontes sobre oOitavário de Oração pela Unidade dos Cristãos. Quarta-feira, dia 18, 15h00 - Informação e entrevistaa Inês Espada Vieira, sobre o Clube de Leitura daparóquia de São Tomás de Aquino Quinta-feira, dia 19, 15h00 - Informação e entrevistaao padre José Maria Brito sobre o filme "Silêncio" Sexta-feira, dia 20, 15h00 - Análise à liturgia dedomingo com o padre Armindo Vaz e Nélio Pita. Antena 1Domingo, dia 15 - 06h00 - Turismo Sustentável parao Desenvolvimento na Casa Velha, em Ourém Segunda a sexta-feira, dias 16 a 20 de janeiro- 22h45 - Oitavário de Oração pela Unidade dosCristãos - MArcelo visitou Igreja Presbiteriana; 20 anosde Fé dos Homens, com o cónego António Rego; oPapa Francisco na Suécia; Capela da Sra. da Alegria,com o padre Manuel Rocha; o oitavário com João LuisFontes

70

71

Page 37: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Ano A – 2.º Domingo do TempoComum Santos efelizes emDeus

A liturgia deste segundo domingo do tempo comum,logo a seguir ao tempo de Natal, coloca-nos a questãoda vocação. Convida-nos a situá-la no contexto doprojeto de vida plena que Deus oferece aos homens eao mundo, elegendo pessoas para seremtestemunhas desse projeto.A primeira leitura de Isaías insere-nos no dinamismodessa personagem misteriosa, o Servo de Deus, aquem Deus elegeu desde o seio materno. «O Senhorfalou-me, formou-me desde o seio materno, fez de mimseu servo, fez de mim a luz das nações, para levarDeus a todos».Não podemos ficar indiferentes a estas afirmações deapelo tão terno de Deus a cada um de nós. Um apeloà ternura, ou à revolução da ternura como diz o PapaFrancisco, como marca das nossas vidas.A segunda leitura da Primeira Carta aos Coríntiosapresenta-nos Paulo, chamado a recordar aoscristãos de Corinto e a todos nós que somos«chamados à santidade», chamados por Deus a viverrealmente comprometidos com os valores do Reino,escolhidos como apóstolos.Aí está mais uma provocação à nossa consciência debatizados, para praticarmos a santidade que nostransforma em discípulos missionários enviados porCristo a tantas situações da vida, particularmente nasperiferias existenciais.O Evangelho apresenta-nos Jesus, «o Cordeiro deDeus que tira o pecado do mundo». Ele é o Deus queveio ao nosso encontro, investido de uma missão peloPai; e essa missão consiste em libertar os homens dopecado que oprime e não deixa ter acesso à vidaplena.A atitude para renovar a vocação só pode ser amesma que é rezada no Salmo: «Ecce venio, euvenho, Senhor, para fazer a vossa vontade. Aquiestou».

72

Acolher a Palavra que hoje nos éservida é tomar consciência davocação a que somos chamados edas suas implicações. Não se tratade uma questão que apenas atingee empenha algumas pessoasespeciais, tomadas à parte nacomunidade eclesial, como osbispos e os padres, os frades e asfreiras; trata-se de um desafio queDeus faz a cada um dos seus filhos,que a todos implica e compromete.Na origem da vocação está Deus: éEle que elege, que chama e queconfia a cada um uma missão. Avocação

implica essencialmente uma relaçãode comunhão, de intimidade, deproximidade da pessoa com Deus.Mas não se esgota nessaaproximação. É sempre em ordem atestemunharmos Deus, mesmoquando se trata de uma vocaçãocontemplativa.Neste dia e durante a próximasemana, pensemos e rezemos anossa vocação. E rezemos pelafidelidade à resposta que demos aDeus desde o nosso batismo. Sóassim seremos santos e felizes emDeus.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

73

Page 38: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Papa vem a Fátima como peregrinona esperança e na paz

O Papa Francisco vem como“peregrino na esperança e na paz”ao Santuário de Fátima, nos dias 12e 13 de maio, no âmbito doCentenário das Aparições, afirmou osecretário e porta-voz daConferência Episcopal Portuguesa.“[O Papa] Vem como peregrino naesperança e na paz, como nóstambém somos convidados a sê-lo,em oração, nesta atitude de apeloque a mensagem [de Fátima] tem àconversão, ao nosso compromissosocial”, disse o padreManuel Barbosa.

Em declarações aos jornalistas apósa reunião do Conselho Permanente,o secretário e porta-voz daConferência Episcopal Portuguesa,adiantou que a Santa Sé vaidivulgar o programa oficial da visitado pontífice argentino a Fátima que“está naturalmente a ser elaborado”quando “achar oportuno”.A primeira reunião do ano doConselho Permanente, daConferência Episcopal Portuguesa(CEP), também refletiu sobre esseaspeto programático e o sacerdotereferiu que equipas da CEP, doSantuário

74

de Fátima e da Santa Sé estão apreparar essa visita do Papa.O porta-voz da ConferênciaEpiscopal Portuguesa fez ainda oconvite a que maior número“possível de pessoas” participemnesse acontecimento e estejampresentes no santuário mariano nosdias 12 e 13 de maio.A viagem do Papa Francisco aFátima foi confirmada numa nota daSanta Sé enviada à AgênciaECCLESIA pela NunciaturaApostólica (representaçãodiplomática da Santa Sé) emPortugal, no dia 16 de dezembro.No dia anterior, a 15 de dezembro,

o Conselho de Ministros aprovou“um conjunto de medidasexcecionais e transitórias quepermitirão à administração central eao Município de Ourém proceder àcontratação de bens e serviços noâmbito da visita do Papa a Fátima”.O pontífice argentino vai ser oquarto Papa a visitar Portugal,depois de Paulo VI (13 de maio de1967), João Paulo II (12-15 de maiode 1982; 10-13 de maio de 1991;12-13 de maio de 2000) e Bento XVI(11-14 de maio de 2010).

75

Page 39: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Alexandros Tombazis

O arquiteto greco-ortodoxoAlexandros Tombazis é o homempor trás da Basílica da SantíssimaTrindade, consagrada naperegrinação internacional do 13 deoutubro de 2007. Um espaço abertoque comporta 8500 pessoassentadas em volta do altar, semquaisquer colunas que suportem opeso da estrutura no interior daigreja.Em declarações à AgênciaECCLESIA, Alexandros Tombazisdestacava então o facto de se tercriado um local "sereno, calmo,onde nos podemos concentrar eabstrair", construção que projetouda forma "mais simples possível", demodo a poder falar a todos.Para este efeito, contribui em largamedida o tratamento de umelemento essencial, a luz. "Há doistipos de luz, a natural neutra, comjanelas por cima do edifício, viradaspara norte, que

podem iluminar ou obscurecer maiso ambiente, e no acesso central aluz direta, muito mais amarela eacentuada", explica.A arquitetura é complementadapelas obras de arte presentes naigreja, em especial o painel de ourodo esloveno padre Ivan Rupnik quese encontra por detrás do altar,como contribuição para uma igrejasimples e inspiradora.A basílica tem forma circular, com125 metros de diâmetro, e ésustentada por um grande pilar quesuporta toda a cobertura e evitacolunas no interior do templo. Oprojeto de Alexandros N. Tombaziscombina a luz e a tecnologia,procurando respeitar a atmosfera deFátima. Com um volume de quase130 000 metros cúbicos e umaaltura média de 15 metros, tem umanave central de aproximadamente8500 lugares sentados, configuradapara duas capacidades diferentes:um

76

primeiro espaço para 3175 pessoas,separado por um biombo, pode sercompletamente aberto em caso denecessidade. No altar estácolocado, sobre uma caixa de prata,o fragmento marmóreo retirado dotúmulo de S. Pedro no Vaticano eoferecido pelo Papa João Paulo II.Ao centro do Altar, está suspensoum grande crucifixo de bronzeesculpido pela irlandesa CatherineGreen, de 7,5 metros de altura, comcaracterísticas iconográficaspróximas da arte bizantina. Nopresbitério está ainda uma imagemda Nossa Senhora de Fátimaesculpida em mármore branco deCarrara, com três metros de

altura da autoria do italianoBenedetto Pietrogrande.O edifício tem 13 portas: 12 lateraisdedicadas aos Apóstolos, embronze, e o pórtico central, de 64metros quadrados, consagrado aCristo, com simbologia teológicatrinitária. A porta central é ladeadapor dez painéis superiores debronze – Mistérios do Rosário – daautoria do artista plástico portuguêsPedro Calapez.Em 2016, Alexandros Tombazisvoltaria a deixar a sua marca noSantuário de Fátima, ao projetar,com a arquiteta Paula Santos, onovo presbitério do recinto deoração.

77

Page 40: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Nigéria: O regresso a casa após 30 meses de cativeiro

Lágrimas felizesDurante 30 meses, Asabe viveunum sufoco permanente àsmãos dos terroristas do BokoHaram depois de ter sidosequestrada em Chibok, em Abrilde 2014. A sua história e a dasoutras 276 raparigas raptadascomo ela de uma escola cristãcorreu mundo. Ela foi libertadamas, infelizmente, para muitosoutros nigerianos, a vidacontinua uma verdadeira prisão. Na vila de Chibok não é possívelesquecer o dia 14 de Abril de 2014quando um grupo de terroristas doBoko Haram assaltou a escola cristãe sequestrou 276 raparigas. Foicomo que o fim do mundo. Derepente, de um dia para o outro,estavam ali, nas mãos de homensarmados, no meio da floresta, longeda família. Sozinhas. Asabe Goniera uma delas. Com o passar dotempo, Asabe foi perdendo aesperança de que alguma vez iriaregressar a casa. Quando soube,em Outubro, que ia ser libertada,graças a negociações da CruzVermelha, nem queria acreditar queo pesadelo estava a chegar ao fim.Mas não era um sonho. Oreencontro com a família foiemotivo. Regressar a casa foi amelhor prenda que alguma vez

poderia imaginar. Estar ali, com ospais, os amigos, voltar à igreja, foium verdadeiro milagre. Asabe nuncamais vai conseguir, porém, esqueceras amigas que foram forçadas acasar com os homens do BokoHaram. Algumas até engravidaram.Ela só ia pensando no dia em queseria a sua vez. Todas foramobrigadas a decorar o Corão, todasforam obrigadas a dizer querenunciavam a Jesus, todas foramviolentadas física ou mentalmente.Todas foram escravizadas. A históriadestas raparigas é apenas umexemplo da tragédia maior por quetêm passado os cristãos da Nigéria.Desde 2009, quando começaram osataques do Boko Haram pelo menos20 mil pessoas foram mortas equase três milhões foram forçados afugir das suas casas no que éconsiderada como uma das maiorescrises humanitárias dos temposmodernos. Ódio religiosoInfelizmente, para muitos nigerianos,para muitos cristãos, a vida continuauma verdadeira prisão. E uma dasmaiores tragédias é que quaseninguém fala disso. Segundo D.Joseph Bagobiri, da diocese deKafanchan,

78

além do terrorismo do Boko Haramas populações têm sido tambémvítimas da violência dos Fulani, umgrupo de pastores nómadas, quasedesconhecido no Ocidente, mas quetêm levado o horror a vilas ealdeias, destruindo tudo à suapassagem. “Só desde Setembro –diz este prelado à Fundação AIS –53 aldeias foram queimadas, 808pessoas assassinadas, 1422 casase 16 igrejas destruídas.”Asabe foi agora libertada do jugo doBoko Haram. Ela foi libertada e as

suas lágrimas foram, por isso, defelicidade. Mas quantas pessoashaverá ainda na Nigéria que vivemsubjugadas pelo medo, apenas porserem cristãs e de quem ninguémfala? Para muitos nigerianos, paramuitos cristãos, a vida neste país éuma prisão. Eles precisam da nossaajuda, das nossas orações. Elesprecisam de saber que não estãosós. Que podem contar connosco.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

79

Page 41: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

Turismo sustentável

Tony Neves Espiritano

2017 está virado para um turismo que sejaecológico. Durante muito tempo, turismo rimoucom gente rica e só quem tinha muitas posses sedava ao luxo de ter férias e sair da sua casa.Também o turismo foi marcado, séculos a fio, porconstruções em montanhas e praias que nãorespeitavam em nada a natureza. Com aevolução da sensibilidade e espírito ecológicos,apareceram leis sucessivas a contrariar tudoquanto mostrasse desrespeito pela mãenatureza.Hoje, o turismo está democratizado e são cadavez mais as pessoas que podem aproveitar o seutempo de férias para partir rumo a terrasdesconhecidas para aumentar conhecimentos eexperimentar a riqueza da diversidade que marcao mundo em que vivemos.Mas há sempre exageros na forma como nosrelacionamos com a natureza e há muito quecrescer para que a ecologia seja integral. Umturismo sustentável implica respeito pelaspessoas e pela natureza. Não faz sentido invadiruma ilha cheia de biodiversidade, atafulha-la deconstruções que abalam o seu ecossistema ecriar paraísos perdidos, altamente promovidospelo marketing turístico que faz rodar milhões.Há também linhas turísticas, muito publicitadas,que provocam a exploração sexual (até demenores), que constituem um atentado ádignidade e aos direitos humanos. Costuma-sedefender com a evocação da liberdade daescolha assente no ‘só vai quem quer’ e ‘só sevende quem quer ganhar dinheiro fácil!’. Ora,todos sabemos

80

que não é assim que acontece eque é muito fácil explorar os pobres.Este Ano Internacional do TurismoSustentável aponta em duasdirecções que estão longe de seropostas. Por um lado, há que criarcondições para que todas aspessoas, por esse mundo além,tenham a oportunidade de alargarhorizontes, conhecendo outrasterras e outros povos, desfrutandoda riqueza da diversidade dasculturas e das belezas da naturezaque merecem ser vistas. Por outrolado, há que evitar atentados contraa dignidade das pessoas e contra anatureza.Para que o turismo seja deexcelência e ajude a respeitarpessoas e natureza há que construirsociedades desenvolvidas em queos trabalhadores tenham acesso aum salário digno que lhes permitafazer face a todas as despesas doquotidiano e ainda sobre dinheiropara férias fora de portas. Também

se torna fundamental melhorar oquadro legal no que diz respeito aconstruções de estruturas turísticaspara que a natureza nunca sejaviolentada, mas respeitada parabem de todos, a começar pelospróprios turistas.Sendo um negócio de milhões, oturismo tende sempre a seraproveitado por redes de quem,sem escrúpulos, quer apenas lucroe sucesso, por qualquer preço.Mesmo que esse preço seja adignidade humana calcada ou anatureza poluída e esmagada.É tão bom partir, fazer a experiênciado plural, cheirar e sentir outrasterras e outros climas, encontraroutros povos e culturas, deslumbrar-se com as belezas que a naturezanos oferece. Os legisladores eoperadores turísticos tenham o bomsenso e a lucidez de nos mostraremum mundo belo, sustentável eecológico. Para bem de todos.

81

Page 42: Soares - Agência ECCLESIA€¦ · Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza,

82