sobre michel foley e a era da loucura

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Sobre Michel Foley e ERA DA LOUCURA 1/17 Sobre Michel Foley e ERA DA LOUCURA LIVRO: A ERA DA LOUCURA, de Michael Foley - por blog napauta http://napautato.blogspot.com.br/2012/06/livroeradaloucurademichaelfoley.html Livro> A Era da Loucura Autora> Michael Foley Editora> Alaúde 232 p. Opinião> Seria difícil, neste áureo século XXI, encontrar uma única pessoa que não esteja à busca daquele sentimento mais profundo, que traz satisfação e conforto, chamado felicidade. No entanto, com países colocando-a em sua constituição como um direito do cidadão – e que logo o Brasil deve fazer parte -, você não precisará procurar mais por essa, até então, abstrata condição; a Felicidade (isso mesmo, agora com letras maiúsculas), com forma e espaço a serem preenchidos, é exigível tal qual uma indenização por perdas e danos. E que seja paga com juros!

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O livro A Era da loucura de Michel Foley discute o pensamento humano atual, o egoísmo , as tristezas, a individualidade que prevalece nesta era.No texto há resenhas, análises e citações do livro, e uma pequena entrevista com o autor

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Sobre Michel Foley e ERA DA LOUCURA 1/17

Sobre Michel Foley e ERA DA LOUCURA

LIVRO: A ERA DA LOUCURA, de Michael Foley - por blog napauta

http://napauta­to.blogspot.com.br/2012/06/livro­erada­loucura­de­michael­foley.html

Livro> A Era da Loucura

Autora> Michael Foley

Editora> Alaúde

232 p.

Opinião> Seria difícil, neste áureo século XXI, encontrar uma única pessoa que não esteja

à busca daquele sentimento mais profundo, que traz satisfação e conforto, chamado

felicidade. No entanto, com países colocando-a em sua constituição como um direito do

cidadão – e que logo o Brasil deve fazer parte -, você não precisará procurar mais por essa,

até então, abstrata condição; a Felicidade (isso mesmo, agora com letras maiúsculas), com

forma e espaço a serem preenchidos, é exigível tal qual uma indenização por perdas e danos.

E que seja paga com juros!

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É essa transformação de paradigmas e prerrogativas, que o filósofo irlandêsMichael Foley

discute no livro “A Era da Loucura – Como o mundo moderno tornou a

felicidade uma meta (quase) impossível”. Não se engane com o título. Para aqueles

que adoram livros de autoajuda, o autor é um crítico ferrenho a este tipo de literatura, onde

há variáveis passos a serem seguidos para alcançar os mais absurdos objetivos. “A única

receita é que não há receita”, afirma ele.

Os que têm ojeriza à filosofia podem ter uma agradável surpresa. Com uma narrativa leve e

cômica, Foley acaba trazendo graça para o que seria trágico e, por muitas vezes, colocando

suas próprias ações em cheque. E buscar o entendimento através das suas próprias

experiências é o melhor meio, segundo o autor, de chegar a um equilíbrio racional do querer

e o poder.

Em cada capítulo, uma desconstrução. Foley fornece não só a lógica, mas diversas

informações esclarecedoras sobre temas como trabalho, amor e envelhecimento, que tornam

o senso comum um emaranhado ridículo de ideias manipuladas e manipuladoras. Em uma

entrevista à revista Galileu, Foley desmistifica, por exemplo, a questão da transcendência nas

religiões:

“Transcendência é uma perda de si mesmo, uma imersão de si em uma unidade maior

– e a sociedade moderna prefere tomar o atalho à transcendência por meio de álcool e

drogas. Quanto à espiritualidade, não-crentes não devem permitir que isto seja

reivindicado pela religião. Também pode ser uma espiritualidade ateia:

essencialmente, um sentimento de admirar o milagre da existência consciente na

galeria das maravilhas que é o universo.”

Para o autor, a fuga de responsabilidades está tornando a sociedade infantil e individualista.

Existe uma fuga progressiva das obrigações e uma busca por riqueza inesgotável, situação

inversa pelo qual nossos pais e avós passaram. “O novo infantilismo tem contribuído para

uma sensação cada vez maior de autovalorização e prerrogativa de direitos, e uma

sensação cada vez menor de autoconhecimento e obrigação.”

E autoconhecimento é uma das palavras chaves do livro. Um dos principais objetivos do

autor é tornar o leitor consciente do que ocorre a volta. “Se a ignorância é o problema, a

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solução deve ser o conhecimento. Portanto, percepção é redenção. Compreensão é

salvação”. E para não dizer que Foley não cedeu nenhuma receita para encontrar ou

perceber essa tal felicidade, ele dá um conselho peculiar: Meditação. “O objetivo da

meditação não é a quietude e a indiferença, mas a consciência, a prontidão, a clareza

de propósito.”

Receita simples de ouvir, mas difícil de colocar em prática. Mas o próprio Foley rebate com

maestria a nossa postergação de melhorarmos nosso ser é o pequeno universo que nos cerca;

“tudo o que é excelente é raro e difícil de alcançar”. É; ninguém disse que seria fácil.

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A era da loucura – Michael Foley - por blog grifando

https://grifando.wordpress.com/2012/02/06/a­era­da­loucura­michael­foley/

“ Marx também foi demasiado simplista ao presumir que o

condicionamento sempre nasce da direita. Em épocas recentes, ele

tem vindo com a mesma frequência da esquerda. Os anos 1970

foram uma década de liberação, de revolta contra a injustiça e de

exigência de reconhecimento de direitos. Mas, com o tempo, a

demanda por reconhecimentos específicos foi se transformando

numa exigência generalizada de atenção, e o ódio a determinadas

injustiças, num sentimento generalizado do descontentamento e

ressentimento. O resultado é uma cultura de reivindicação de

direitos, de busca de atenção e reclamações. A demanda por

atenção é cada vez mais forte e variada, consequência do vazio

interior que requer uma identidade conferida de fora: sou visto, logo

existo.”

“ A valorização do potencial é uma forma de cobiça que acredita que

sempre existe algo melhor logo ali. Mas o charme do potencial está

em valorizar o futuro as custas de desvalorizar o presente. Seja o

que for que esteja acontecendo, hoje já é ontém, e a única

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verdadeira excitação é a Próxima Novidade – o próximo amor,

emprego, projeto, férias, destino ou refeição. Por isso, a solução

mais atraente para os problemas é a fuga. Se há dificuldtades no

relacionamento ou no trabalho, a tentação é mudar. Isso exclui

qualquer possibilidade de desfrutar a sensação de enfrentar e

superar problemas e destrói a capacidade de transformar

adversidades em vantagens, aconteça o que acontecer.”

“Muitas dessas tendências contemporâneas estão

inter-relacionadas, A tendência à infantilidade é com certeza uma

reação à era da liberação. É um erro comum presumir que a

liberação é por si só suficiente para a realização, que tudo vai ficar

bem se conseguirmos escapar de um emprego que corrói a alma, de

um relacionamento opressivo, de uma cidade sombria. Mas

acontece que liberdade não gera automaticamente realização. Pelo

contrário, liberdade requer trabalho duro e incessante. As velhas

tradições podem ser opresivas, mas viver sem elas é incerto,

complicado, confuso e estressante. Ter que tomar uma decisão a

partir de análise de premissas é exaustivo. O potencial de infinitas

posibilidades se transforma na perpelexidade diante de infinitas

opções. E daí o retrocesso: um profundo desejo de agir por impulso

e não por deliberação, de seguir a emoção ao invés da razão, de

preferir o que é certo, simples, fácil e passivo. A árdua

responsabilidade de ser adulto gera uma profunda nostalgia do

prazer de desfrutar um amor incondicional, de comer, beber, usar

fraldas e dormir ouvindo uma canção de ninar.”

“ O entusiasmo sente-se mais à vontade na poesia e no jazz – e não

é coincidência que ambos tenham o ritmo como base. Mas o caráter

espontâneo, direto e breve dos bons poemas e dos solos de jazz os

faz parecer fáceis. Parece que qualquer pessoa poderia ter feito

aquilo. Assim, todo mundo tenta, e por isso 99 por cento da poesia

e do jazz são um lixo deprimente. Porque a excelência requer tempo

e energia.”

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“Os casamentos fracassam porque o desprezo é um ácido tão

corrosivo que dissolve qualquer laço. Mas um parceiro

independente, por mais que seja difícil conviver com ele tem uma

possibilidade muito menos de inspirar desprezo. Portanto, um casal

terá maiores chances de crescer junto se cada um estimular o outro

a crescer independente – e o paradoxo é que, no amor maduro, o

distanciamento favorece o apego. Como disse Rilke: “ Uma pessoa

apaixonada tem que tentar se comportar como se tivesse que

realizar uma tarefa importante: tem que passar muito tempo só,

refletindo e pensando, recuperando seu auto-controle; tem que

trabalhar; tem que se tornar algo.” Trata-se de um conselho radical:

para ter sucesso como amante, passe mais tempo só.”

“ A depressão é muitas vezes o destino da personalidade moderna –

ambiciosa – faminta por atenção e ressentida, sempre convencida

de merecer mais, sempre perseguida pela possibilidade de estar

perdendo algo melhor, sempre sofrendo pela falta de

reconhecimento e sempre insatisfeita. É preciso reencontrar a

coragem e a humildade de Sísifo, que não exige recompensa, mas

sabe transformar qualquer atividade em sua própria recompensa.

Sísifo é feliz com o absurdo e a insignificância de seu ato de

empurrar constantemente uma rocha montanha acima.”

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www.docelimão.com.br

Conceição Trucom *

http://www.docelimao.com.br/site/meditacao­reflexao­e­respiracao/1245­o­absurdo­da­felicidade.html

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Me dei de presente de aniversário ler este fantástico livro Na era da Loucura do Michael

Foley (Alaúde), que devorei feliz cada uma de suas páginas e capítulos. Difícil escolher qual

mais me impressionou...

Foi tanta alegria e felicidade, que tenho a certeza que no dia em que fôr revisar e ampliar meu

livro Mente e Cérebro Poderosos (Pensamento­Cultrix), certamente este livro será citado,

referenciado e indicado. Na verdade, penso que os 2 se complementam, já que toda a

proposta dos exercícios e da alimentação apresentadas no meu livro, irão acelerar a

compreensão e valorização sobre as informações sobre como não se contaminar pela Era da

Loucura...

Decidi que nada melhor que as palavras do autor para instigar a sua leitura deste livro que,

além de muito bem traduzido, mostra que o autor é um estudioso voraz do assunto,

conferindo ao livro momentos de muito humor (principalmente de si mesmo), filosofia,

história, poesia, música, ciência; porém costurados de maneira fluida, brilhante...

Mas quem no mundo ocidental não ficaria enlouquecido com um coquetel tóxico de

insatisfação, desassossego, desejo e ressentimento? Quem não ansiou ser mais jovem, mais

rico, mais talentoso, mais respeitado, mais celebrado e, acima de tudo mais amado? Quem

não se sentiu merecedor de mais, e ressentido quando esse mais não chegou? É possível que

um africano faminto se sinta menos injustiçado que um ocidental de meia­idade que não tem

uma casa na praia ou de campo.

Naturalmente, muita gente tem consciência de que querer tudo é absurdo. E então vem a

pergunta. Como é que surgiu essa expectativa desmedida? Existe alternativa? Se existe,

como se pode alcançá­la? Será que as melhores cabeças do passado e do presente podem

oferecer algum conselho útil? Existe um consenso no que elas dizem? Se existe, qual é e

como se aplica à vida do século XXI? São questões como essas que este livro levanta ­ mas

não há respostas simples.

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Até mesmo definir um objetivo é difícil. A alternativa à loucura da insatisfação é a sanidade

do contentamento ­ a felicidade.

[...] Na prática, é tão difícil encontrar um testemunho útil de felicidade quanto uma teoria

convincente. Diferentemente de seu oposto, a depressão, a felicidade é avessa a definições. A

lembrança do sofrimento é um gênero estabelecido, mas não existe equivalente para a

felicidade (na verdade, uma infância feliz é uma condição paralisante para um escritor).

Parece que só as experiências dolorosas são fonte de inspiração.

Talvez o estado de felicidade surja da recusa de analisar a situação, porque qualquer

tentativa de definição a mataria. Talvez nem seja possível ser feliz conscientemente. Talvez

esse estado só seja percebido retrospectivamente, depois que o perdemos. Jean­Jacques

Rousseau foi o primeiro a elaborar essa ideia: "A vida feliz da idade de ouro foi sempre uma

condição estranha à raça humana, seja por não tê­la reconhecido quando poderia tê­la

desfrutado, seja por tê­la perdido quando poderia conhecê­la". Em outras palavras, se você a

tem, não pode ter consciência dela; e, se você está consciente dela, não pode tê­la.

[...] Quando examinada com mais atenção, a condição de felicidade se revela não um ponto,

mas uma faixa, na qual o contentamento é o ponto mais baixo e a exaltação, o mais alto.

Outra hipótese é de que a felicidade não seja um estado, mas um processo, um desafio

contínuo (palavras minhas)... Ou talvez ela seja ao mesmo tempo um estado e um processo. O

termo grego "eudaimonia" capta algo das duas interpretações e a traduz grosso modo como

"florescimento". Essa é uma ideia interessante: ser feliz é florescer.

Mais uma vez, presume­se que só uma versão de felicidade é alcançada por uns poucos

afortunados. Mas, dada nossa bizarra singularidade, é improvável que duas pessoas felizes

estejam experimentando exatamente o mesmo fenômeno. E provável que existam tantas

formas de felicidade quantas de depressão.

Como alcançar esse estado indefinível? A Declaração de Independência dos Estados Unidos

tem uma expressão famosa: "a busca da felicidade". Mas muitos acreditam que a felicidade

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não pode ser buscada, porque é uma consequência acidental de algo que se faz ­ uma ideia

manifestada pela primeira vez por John Stuarr Mill no século XIX: "Só são felizes [...]

aqueles que têm a mente voltada para outro objetivo que não sua própria felicidade.

[...]E existe ainda a ideia de que a busca da felicidade é a principal causa de infelicidade, de

que essa busca é intrinsecamente autodestrutiva. Immanuel Kant traduziu isso da seguinte

forma:"Descobrimos que, quanto mais uma razão esclarecida se dedica ao objetivo de

desfrutar a vida e a felicidade, mais o homem se afasta do verdadeiro contentamento".

[...] O psicólogo americano Mihaly Csikszentmihalyi usa a palavra "fluir" para descrever o

estado mental profundamente satisfatório alcançado mediante uma imensa e prolongada

concentração em atividades difíceis, que exijam um alto nível de habilidade. A experiência é

semelhante num grande número de atividades aparentemente desconexas, entre elas o

esporte competitivo, o alpinismo, o trabalho profissional, a execução de um instrumento

musical, a criatividade artística, a dança, as artes marciais e o sexo.

Como em outros métodos de transcendência*, essa satisfação tem que ser conquistada. A

habilidade precisa primeiro ser adquirida, lentamente e mediante frustrações. Não há

gratificação imediata. De fato, não poderia haver. O aprendiz pode não ter aptidão ou

disciplina, mas, quando a habilidade se torna automática, o milagre pode ocorrer: uma

absorção tão completa que exclui o ser, o tempo e o lugar. Horas ou até mesmo dias podem

passar despercebidos. O self se dissolve e desaparece. E algo estranho ocorre. A atividade

parece tornar­se não apenas fácil, mas autônoma ­ assumir o controle, ser dona de si. Então

o instrumento toca sozinho, a espada se empunha, o poema se escreve, o bailarino não

dança, mas permite que a música tome conta de seu corpo, e os amantes não fazem amor,

mas se entregam ao vertiginoso movimento da Terra.

Existem muitos paradoxos nisso. Um intenso esforço é necessário para produzir a sensação

de falta de esforço; intensa consciência para chegar à inconsciência; total controle para

experimentar a total falta de controle. E só aqueles que estiverem em plena posse do self

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poderão se entregar plenamente. Na verdade, quanto mais forte a sensação do self, maior o

arrebatamento por escapar à sua tirania.

Bem, são 232 páginas saborosas, motivadoras e que podem nos proporcionar felicidade, fé,

esperança: no simples, no silêncio, na desaceleração. Parece árduo ler tantas páginas? Mas a

diversão acontece durante e principalmente após. Um livro pessoal, que deverá ser marcado,

copiado, relido e principalmente: posto em prática!

Estarei postando ao longo de agosto, algumas partes deste livro, como por exemplo o tema do

capítulo 10, sobre as Dinâmicas do Cérebro humano, que como uma semente (aliás

fisiologicamente o cérebro lembra uma noz), contém toda a matéria­prima para a Cultura da

Vida ­ que nos leva à transcendência ­ ou Cultura da Morte, que nos leva à perda da

transcendência...

E o capítulo 12, absolutamente risível (bem humorada), porque um retrato perfeito da

realidade, que fala das coisasabsurdas do amor nos relacionamentos de parceiros... Perfeito

quanto explana, cientificamente, da diferença que existe entre paixão (amor romântico) e

amor (afeto), pois envolvem circuitos e neurotransmissores cerebrais totalmente diferentes...

(*) Como as práticas meditativas, que inicialmente exigem absoluto esforço, mas uma vez alcançada surge um sentimento de superação, validação e sutilização. Leia também: Somos como as sementes Leia: Na era da Loucura ­ Michael Foley (Alaúde).

­­­­­­ * Conceição Trucom é química, cientista, palestrante e escritora sobre temas voltados para alimentação natural, bem­estar e qualidade de vida. Reprodução permitida desde que mantida a integridade das informações e citadas a autora e a fonte: www.docelimao.com.br A Era da Loucura: a felicidade como meta quase

impossível http://ulbra­to.br/encena/2014/10/01/A­Era­da­Loucura­a­felicidade­como­meta­quase­impossivel

Por Douglas Erson

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Sobre Michel Foley e ERA DA LOUCURA 10/17

É licenciado em Letras (UFT), graduando em Educação Física (CEULP/ULBRA), instrutor de Yoga e Tai Chi Chuan, e colaborador do jornal O GIRASSOL.

“É preciso reencontrar a coragem e a humildade de

Sísifo, que não exige recompensa, mas sabe transformar

qualquer atividade em sua própria recompensa.”

Michael Foley

Seria difícil, neste áureo século XXI, encontrar uma única pessoa que não esteja à busca

daquele sentimento mais profundo, que traz satisfação e conforto, chamado felicidade. No

entanto, com países colocando­a em sua constituição como um direito do cidadão – e que logo

o Brasil deve fazer parte ­, você não precisará procurar mais por essa, até então, abstrata

condição; a FELICIDADE (isso mesmo, agora com letras maiúsculas), com forma e espaço a

serem preenchidos, é exigível tal qual uma indenização por perdas e danos. E que seja paga

com juros!

É essa transformação de paradigmas e prerrogativas, que o filósofo irlandês Michael Foley

discute no livro “A Era da Loucura – Como o mundo moderno tornou a felicidade uma meta

(quase) impossível”. Não se engane com o título. Para aqueles que adoram livros de autoajuda,

o autor é um crítico ferrenho a este tipo de literatura, onde há variáveis passos a serem

seguidos para alcançar os mais absurdos objetivos. “A única receita é que não há receita”,

afirma ele.

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Sobre Michel Foley e ERA DA LOUCURA 11/17

Os que têm ojeriza à filosofia podem ter uma agradável surpresa. Com uma narrativa leve e

cômica, Foley acaba trazendo graça para o que seria trágico e, por muitas vezes, coloca as

próprias ações cotidianas em cheque. Buscar o entendimento através das próprias experiências

é o melhor meio, segundo o autor, de chegar a um equilíbrio racional do querer e do poder.

Em cada capítulo, uma desconstrução. Foley fornece não só a lógica, mas diversas informações

esclarecedoras sobre temas como trabalho, amor e envelhecimento, que tornam o senso

comum um emaranhado ridículo de ideias manipuladas e manipuladoras. Em uma entrevista à

revista Galileu, Foley desmistifica, por exemplo, a questão da transcendência nas religiões:

“Transcendência é uma perda de si mesmo, uma imersão de si em uma unidade maior –

e a sociedade moderna prefere tomar o atalho à transcendência por meio de álcool e

drogas. Quanto à espiritualidade, não­crentes não devem permitir que isto seja

reivindicado pela religião. Também pode ser uma espiritualidade ateia: essencialmente,

um sentimento de admirar o milagre da existência consciente na galeria das maravilhas

que é o universo.”

Para o autor, a fuga de responsabilidades está tornando a sociedade infantil e individualista.

Existe uma evasão progressiva das obrigações e uma busca por riqueza inesgotável, situação

inversa pelo qual nossos pais e avós passaram. “O novo infantilismo tem contribuído para uma

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sensação cada vez maior de autovalorização e prerrogativa de direitos, e uma sensação cada

vez menor de autoconhecimento e obrigação.”

E autoconhecimento é uma das palavras chaves do livro. Um dos principais objetivos do autor é

tornar o leitor consciente do que ocorre à volta. “Se a ignorância é o problema, a solução deve

ser o conhecimento. Portanto, percepção é redenção. Compreensão é salvação”. E para não

dizer que Foley não cedeu nenhuma receita para encontrar ou perceber essa tal felicidade, ele

dá um conselho peculiar: Meditação. “O objetivo da meditação não é a quietude e a indiferença,

mas a consciência, a prontidão, a clareza de propósito.”

Receita simples de ouvir, mas difícil de colocar em prática. Mas o próprio Foley rebate com

maestria a nossa postergação de melhorarmos nosso ser e o pequeno universo que nos cerca;

assim, “tudo o que é excelente é raro e difícil de alcançar”. É... ninguém disse que seria fácil.

FICHA TÉCNICA DO LIVRO

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A ERA DA LOUCURA ­ COMO O MUNDO MODERNO TORNOU

A FELICIDADE UMA META (QUASE)IMPOSSÍVEL

Título original: The age of absurdity – Why modern life makes it hard to be happy

Autor: Michael Foley

Tradução: Eliana Rocha

Editora: Alaúde

Ano: 2011

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Michael Foley e o absurdo da condição humana

http://portalcienciaevida.uol.com.br/esfi/Edicoes/69/artigo256537­3.asp

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Sobre Michel Foley e ERA DA LOUCURA 14/17

Michael Foley, de origem irlandesa, é professor de Tecnologia da Informação em Londres e autor de quatro romances. Publicou também quatro coletâneas de poesias, além de traduzir poemas franceses. A Era da Loucura, lançado no Brasil pela Editora Alaúde no ano passado (2011), é seu primeiro título de não ficção. Em curta entrevista à Filosofia Ciência & Vida ele comenta pontos altos da publicação.

­­­ Gostaríamos que você explicasse o significado do título de seu livro A Era da Loucura, ou, em uma tradução mais literal do original em inglês The Age of Absurdity, A Era do Absurdo. O título tem dois significados: o absurdo do comportamento contemporâneo e, ainda, a filosófica tradição do absurdo no século XX, tal como fora desenvolvida por pensadores como Albert Camus. Como ele, acredito que a condição humana é fundamentalmente absurda, porque estamos programados para buscar significados para nossa existência e ter consciência de que não há nenhum. Mas podemos saborear este absurdo em vez de nos tornarmos assustados ou deprimidos por ele. Podemos perceber que ambas as formas de absurdo, o comportamental e o filosófico, são, na verdade, hilários. No livro, você afirma que a sociedade se tornou infantil, menos consciente de si e de suas obrigações, mais orientada por méritos individuais. Poderia nos dar um exemplo desse típico comportamento moderno? Um dos sintomas de infantilidade é a rejeição da dificuldade. Um dos melhores exemplos disto é que, no Reino Unido (e, possivelmente, em outros países bem desenvolvidos) as vendas de laranjas estão caindo porque ninguém pode se incomodar em descascá­las. Como isso afeta o ideal de felicidade e os valores tradicionais? As sociedades tradicionais tinham obrigações demais e não tinham direitos suficientes. A sociedade moderna tem muito direito e obrigação insuficiente. É preciso haver equilíbrio entre os dois – mas esse equilíbrio é difícil de atingir.

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Você descreve, em seu livro, o “absurdo de trabalho”, no qual a menor liberdade no ambiente corporativo é compensada pelo paternalismo dos empresários: um local de trabalho com ricos intercâmbios sociais, ambientes autossuficientes, com lojas, cafés, etc. Com base nisso, e no fato de que, em todo o livro, a impressão é de que a revolução necessária é individual e íntima, eu gostaria que você comentasse sobre o papel das instituições na mudança de paradigmas e valores que permeiam, sobretudo, a nossa busca por felicidade. Concordo que a revolução individual é provavelmente a única forma de avançar. Forçar instituições à mudança é provavelmente inútil. Mas se um número suficiente de indivíduos mudar, instituições e governos os seguirão. No entanto, trabalhar por uma vida, como a maioria de nós tem de fazer, provavelmente será sempre complicado. Empregadores nos pagam para fazer o que querem, não o que queremos, e temos cada vez mais engenhosas e sutis formas de convencer­nos a querer o que eles querem. Temos de estar conscientes destas manobras. Você escreveu sobre a atrofia da experiência e como isso afeta nossas vidas, como desde então a tecnologia e a vida em um “nível meta” fomentam a ilusão. Você não acha que ela destrói a noção de responsabilidade? Que também é algo inevitável na vida virtual, cheia de esperança, gerando ansiedade (algo que Schopenhauer já havia percebido)? A maioria dos pensadores, dos filósofos estoicos até Marcel Proust (inclusive Schopenhauer, é claro), tem entendido que temos uma tendência inevitável para viver na expectativa e que isso torna difícil apreciar o presente. Mas compreender a tendência torna possível resistir a tudo isso. Que caminhos você imagina para uma sociedade menos ansiosa e mais resiliente? Na realidade, você acredita na resiliência como uma coisa positiva hoje em dia? (Especialmente nos relacionamentos, ou no “absurdo do amor”...) Eu acredito que a ansiedade é uma consequência inevitável da riqueza. Quanto mais confortáveis nos tornamos, mais medo temos de perder esse conforto. O mundo desenvolvido não tem sido mais saudável e seguro e nunca se sentiu menos saudável e menos seguro. E quanto mais a gente se acostuma ao conforto, menos resilientes nós nos tornamos. Tal como acontece com o problema da expectativa, a única maneira de resistir a estes eventos é compreendê­los. Uma das minhas frases favoritas é de Buda: “O entendimento é transformação”.

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Nas relações, tolerância e esforço são tão cruciais como resiliência. Não há a tal coisa da “pessoa certa” e nem um estado definitivo e passivo de “apaixonamento”. Ninguém é fácil de se conviver. Todo relacionamento exige trabalho constante. Como a sociedade moderna lida com a espiritualidade e com as experiências de transcendência? Transcendência é uma perda de si mesmo, uma imersão de si em uma unidade maior – e a sociedade moderna prefere tomar o atalho à transcendência por meio de álcool e drogas. Quanto à espiritualidade, não­crentes não devem permitir que isto seja reivindicado pela religião. Também pode ser uma espiritualidade ateia: essencialmente, um sentimento de admirar o milagre da existência consciente na galeria das maravilhas que é o universo. Parece que cada nova teoria ou descoberta científica nos traz a sensação de que apenas uma medida justa de todas as coisas, um comportamento moderado, pode trazer um pouco de bem­estar... O que você acha sobre a nossa incapacidade ou impossibilidade de encontrar esse equilíbrio? O problema é que o equilíbrio é difícil de conseguir, em primeiro lugar, e nunca é permanente, porque tudo está mudando constantemente ­ o indivíduo, suas circunstâncias e as da sociedade em que ele opera. Assim, o esforço, a aprendizagem e a adaptação são infinitos. Não há uma realização definitiva. O que você poderia extrair de Kafka e Sartre – suas referências – para “descrever” ou “para nos fazer refletir sobre” a atual “Era do Absurdo”? Eu gosto da insistência de Sartre sobre a importância da responsabilidade pessoal: “o homem é totalmente responsável por sua natureza e suas escolhas.” Infelizmente, esta não é uma ideia moderna. O mundo moderno encontra na responsabilidade muita exigência e prefere acreditar em várias formas de determinismo ­ genética, neurológica e evolutiva. O que eu amo em Kafka é a sua variação moderna sobre as sagas ancestrais, comuns a todas as culturas. Nas sagas de Kafka (por exemplo, o romance O castelo e a parábola Diante da Lei), nunca o herói localiza o objeto de sua missão, mas é obrigado a continuar buscando mesmo assim. Esta é uma maneira maravilhosamente engraçada de ilustrar o absurdo da condição humana. Poucas pessoas parecem entender que Kafka é engraçado…

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