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SOCIEDADE CIVIL E (RE)CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO: GESTÃO
DEMOCRÁTICA AMBIENTAL PARA REFLEXÃO NA ESFERA PÚBLICA
Erotides Kniphoff Tessmann∗
RESUMO
A urgência das questões ambientais na contemporaneidade motiva o presente estudo que tem por objetivo identificar a possibilidade de (re)construção do espaço público a partir de uma gestão ambiental democrática. Requer-se, assim, que esse novo espaço público proporcione espaços dialógicos e participativos entre os diversos atores sociais, no intuito de fazer com que todos se tornem ativos e responsáveis diante da necessidade de garantir a proteção do meio ambiente e a qualidade de vida desta e das futuras gerações.
PALAVRAS-CHAVE: ESPAÇO PÚBLICO, GESTÃO AMBIENTAL, DEMOCRACIA, DIREITO AMBIENTAL.
ABSTRACT
The urgency of the dynamics of environmental questions in the contemporanity motivates the present study that aims to identifying the possibility of (re)constructing the public space from a democratic environmental management. Therefore, it is required that this new public space promotes dialogic and participative spaces among the several social actors, with an intention to make everyone active and responsible due to the need to guarantee protection to the environment and life quality for this and for the future generations.
KEYWORDS: PUBLIC SPACE, ENVIRONMENTAL MANAGEMENT, DEMOCRACY, ENVIRONMENTAL LAW.
∗ Advogada. Mestranda em Direitos Sociais e Políticas Públicas do programa de Mestrado da UNISC. Coordenadora e Professora
do Curso de Direito do Centro de Ensino Superior Dom Alberto.
1
Sumário: 1. Apontamentos Iniciais; 2. Sociedade Civil: Ressurgimento contemporâneo do conceito 3. A dicotomia espaço público versus espaço privado; 4. Os impactos ambientais e a necessidade de uma gestão ambiental democrática; 5. A gestão democrática do meio ambiente: a (re) construção do espaço público como alternativa à crise ambiental; 6. Considerações Finais.
1. Apontamentos Iniciais
No presente trabalho, pretendemos abordar alguns temas relacionados à
Sociedade Civil, até chegarmos à Sociedade Civil organizada, identificando algumas
formas de participação nas decisões de assuntos de interesse individual/coletivo, em
especial no que tange ao meio ambiente.
Podemos afirmar inicialmente que "Sociedade civil organizada" é uma parte da
sociedade civil que se organiza, em torno de uma luta por maior inserção na atividade
política, legitimada, principalmente pela ocorrência de duas determinantes: 1) a
impossibilidade de resolução dos grandes problemas, que hoje assolam a humanidade,
através de ações apenas governamentais ou de mecanismos de mercado; 2) pela função
da atual situação de descrédito nos sistemas de representação política.
Neste diapasão, entendemos que tanto o espaço público como o privado, se
constituem de espaços não excludentes, mas integradores, constituindo-se assim, de
espaços tensionais de comunicação e mobilidade política, em direção ao entendimento.
Por outro lado, segundo teóricos do Estado, este, não pode ser simplesmente um
meio para atingir objetivos de um projeto político daqueles que detém o poder, pois este
pertence à sociedade civil.
Nesta direção refere LEAL:1
Bem ou mal entendemos que o Estado não mais pode ser concebido como uma entidade monolítica - ou neutral - a serviço de um projeto político invariável, mas deve ser visualizado como um sistema em permanente fluxo,
1 LEAL, Rogério. Estado, Administração Pública e Sociedade. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006.
2
internamente diferenciado, sobre o qual repercutem também, diferencialmente, demandas e contradições da sociedade civil e do mercado.
Segundo esta percepção, o Estado contemporâneo divide-se entre tarefas e
exigências que a primeira vista são inconciliáveis. Decorre daí a crise de legitimação,
pelo intervencionismo exacerbado do Estado, agravada pela ausência de uma
participação política democrática efetiva, como refere JACOB,2 “A crise de legitimação
surge, quando as demandas crescem mais rapidamente do que as recompensas ou
respostas”.
A partir destas abordagens, pretendemos demonstrar que a evolução crescente da
sociedade civil, que, através de seus mecanismos de organização, contribuiu, e vem
contribuindo ao longo da história para reduzir gradativamente esta crise de legitimação,
mediante uma redução crescente da intervenção Estatal e uma maior e mais efetiva
participação política democrática, buscando na linguagem comunicativa sua sustentação
e efetivação.
A sociedade contemporânea, nas últimas décadas, assistiu um estreitamento
das redes de comunicação em todo o planeta, decorrente da revolução tecnológica e do
processo de globalização. Após a perda da experiência coletiva do espaço público, à
medida que se instituiu a esfera política burguesa, as sociedades contemporâneas
perderam o sentido da privacidade e da publicidade, tornando-se cada vez mais difícil
separar estes espaços de forma estritamente delimitada. No que diz respeito
especificamente ao espaço público, esse tomou nova configuração no decorrer do
transcurso histórico, mas, na atualidade, impõe-se um resgate do sentido democrático
das decisões políticas que afetam a todos os cidadãos.
O início do século XXI coloca-nos diante de novas tensões. Um mal-estar
geral e uma corrosiva desesperança existencial espalham-se pelo mundo global, que está
a revelar os sinais de exaustão da natureza. Tal conjuntura impõe a necessidade de
repensar, discutir e renegociar as bases fundamentais da sociedade contemporânea
diante da emergência da crise ambiental. Neste aspecto, vale dizer que esta crise atinge
2 JACOB, Pedro. Movimentos Sociais e Políticas Públicas. São Paulo: Cortez, 1993.
3
a todos os seres humanos, sendo que todos devem participar das decisões que afetem
diretamente ou indiretamente as condições de vida sobre o planeta Terra.
Tem-se, dessa forma, que a questão ambiental exige uma gestão democrática.
O exercício da democracia, por seu turno, constitui-se na luta permanente dos sujeitos
contra a lógica dominante dos sistemas, mas, na sociedade contemporânea, o espaço de
liberdade do sujeito reduz-se progressivamente, correspondendo cada vez mais a um ato
de consumo. A internacionalização das mídias e o progressivo rompimento do
equilíbrio de fronteiras entre Estado, sociedade civil e indivíduo fizeram a prática dessa
liberdade dissociar-se cada vez mais da idéia de compromisso e responsabilidade dos
diversos atores sociais para com a sua sociedade.
A democracia passa, assim, a ser ameaçada pelo individualismo extremo, que
abandona a vida social aos aparelhos de gestão e aos mecanismos de mercado, e a
desagregação das sociedades política e civil. É preciso, nesse contexto, retomar a idéia
de um espaço público enquanto espaço dialógico e no qual todos possam de alguma
forma se sentir responsáveis pela tomada de decisões.
Considerando a bibliografia pertinente ao tema, objetiva-se apresentar uma
reflexão acerca da possibilidade de (re)construção do espaço público a partir de uma
gestão ambiental democrática. Para tanto, realiza-se um retrospecto histórico da
dicotomia entre espaço público e espaço privado, seguido de uma breve análise dos
mecanismos democráticos previstos na legislação brasileira, em especial no que tange à
realização de audiências públicas, e, por fim, constrói-se a idéia de um novo espaço
público baseado na teoria do agir comunicativo da Jürgen Habermas.
2. Sociedade Civil: Ressurgimento contemporâneo do conceito
O renascimento contemporâneo do conceito de “Sociedade civil” tem sido
interpretado como sendo a expressão teórica da luta dos movimentos sociais contra o
autoritarismo dos regimes comunistas e das ditaduras militares em várias partes do
mundo, especialmente na Europa Oriental e na América Latina.
4
Nesta direção, tem-se que nas democracias liberais do ocidente, este conceito
tem sido considerado insuficiente, pois desprovido de potencial crítico para examinar as
disfunções e injustiças da sociedade, ou como pertencente às formas modernas iniciais
da filosofia política que se tornaram irrelevantes para as sociedades complexas do
mundo contemporâneo. Entretanto, o conceito de “sociedade civil” vem sendo cada vez
mais usado para indicar o território social ameaçado pelos mecanismos politico-
administrativos e econômicos, bem como para apontar o lugar fundamental para a
expansão potencial da democracia nos regimes democrático-liberais do ocidente.
A história da modernidade ocidental mostrou como as forças espontâneas da
economia de mercado capitalista, tanto quanto o poder administrativo do Estado
moderno, ameaçaram a solidariedade social, a justiça social e a autonomia dos cidadãos.
Segundo COHEN e ARATO3, somente um conceito de sociedade civil devidamente
diferenciado da economia – e, portanto, da "sociedade burguesa" - pode tornar-se o
centro de uma teoria social e política crítica nas sociedades, na qual a economia de
mercado vem desenvolvendo a sua própria lógica autônoma.
Em verdade, apenas uma reconstrução desta conceituação, tomando como base
um modelo tripartite, distinguindo sociedade civil tanto do Estado quanto da economia,
tem possibilidade de servir ao papel de oposição democrática desempenhado por este
conceito, nos regimes autoritários, bem como de renovar o seu potencial crítico nas
democracias liberais.
A sociedade civil, segundo essa concepção, é concebida como a esfera da
interação social entre a economia e o Estado, composta principalmente pela esfera
íntima (família), pela esfera associativa (associações), movimentos sociais e formas de
comunicação pública. A sociedade civil moderna, criada por intermédio de formas de
auto-constituição e auto-mobilização, se institucionaliza através de leis e direitos
subjetivos que estabilizam a diferenciação social. As dimensões de autonomia e
institucionalização podem existir separadamente, mas ambas seriam necessárias a longo
prazo para a reprodução da sociedade civil.
3 COHEN, J., ARATO, A. Civil Society in Political Theory. Mit. Press. Cambridge, 1992.
5
Vale lembrar que a sociedade civil não engloba toda a vida social fora do Estado
e da economia. De outro lado, é necessário distinguir a sociedade civil, tanto de uma
sociedade política de partidos, organizações políticas, parlamentos, quanto de uma
sociedade econômica composta de organizações de produção e distribuição, em geral
empresas, cooperativas, firmas etc. As sociedades política e econômica surgem da
sociedade civil, partilham com ela algumas formas de organização e comunicação, e se
institucionalizam através de direitos, em especial direitos políticos e de propriedade,
conjuntamente com o tecido de direitos que asseguram a sociedade civil moderna.
A partir daí, os atores da sociedade política e econômica estão diretamente
envolvidos com o poder do Estado e com a produção econômica que visa
exclusivamente o lucro, com a finalidade de controlar e gerir toda a economia. Aliado a
isto, estes atores não permitem subordinar seus critérios estratégico-instrumentais aos
padrões de integração normativa e comunicação aberta característicos da sociedade
civil. O papel político da sociedade civil não está diretamente relacionado à conquista e
controle do poder, mas à geração de influência na esfera pública cultural. Já o
desempenho mediador da sociedade política entre a sociedade civil e o Estado é
indispensável, assim como o fortalecimento da sociedade política na sociedade civil.
O mesmo pode ser dito no que tange à relação entre sociedade civil e sociedade
econômica, embora, historicamente, sob regime capitalista, esta última, tem sido mais
hermética à influência da sociedade civil que a sociedade política. Apesar disso, a
legalização dos sindicatos e o papel das negociações coletivas testemunham à forte
influência da sociedade civil sobre a econômica que desempenha, assim, um papel
mediador entre a sociedade civil e o sistema de mercado.
Seguindo este raciocínio, a sociedade civil representa apenas uma dimensão do
mundo sociológico de normas, práticas, papéis, relações, competências ou um ângulo
particular de olhar deste mundo sob o ponto de vista da construção de associações
conscientes, vida associativa, auto-organização e comunicação organizada. A sociedade
civil tem desta forma, um âmbito limitado, eis que é parte da categoria mais ampla do
"social" ou do "mundo da vida".4 Ela se refere às estruturas de socialização, associação
4 HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: estudos de teoria política. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
6
e formas organizadas de comunicação do mundo da vida, na medida em que elas estão
sendo institucionalizadas.
Por outro lado, nas democracias liberais, a sociedade civil não está, por
definição, em oposição à economia e ao Estado. As concepções de sociedade econômica
e política, expostas acima se referem às esferas de mera mediação, mediante as quais a
sociedade civil poderá exercer influência sobre os processos politico-administrativos e
econômicos. Uma relação antagonista da sociedade civil, ou de seus atores, com a
economia ou o Estado surge apenas quando fracassam essas mediações, ou quando as
instituições da sociedade econômica e política servem para isolar a tomada de decisões
da influência de iniciativas e organizações sociais, participação e formas diversas de
discussão pública.5
Nesta direção, a categoria de sociedade civil foi resgatada da tradição da teoria
política clássica, reformulada mediante uma concepção que apresenta os valores e
interesses da autonomia social, contrapondo tanto ao Estado moderno quanto à
economia capitalista. Além das antinomias de Estado e mercado, público e privado,
“gesellschaft” e “gemeinschaft”, ou seja, reforma e revolução, a noção de defesa e
democratização da sociedade civil parece ser o melhor caminho para caracterizar as
novas formas contemporâneas de auto-organização e auto-constituição.
Em meio a inúmeras ambiguidades de sentido, relacionadas ao emprego da
expressão sociedade civil, a concepção que adotamos assume uma defesa da sociedade
civil moderna capaz de preservar sua autonomia e formas de solidariedade, diante do
Estado e da economia.
Esse "terceiro caminho" pretende garantir a autonomia da economia e do Estado
moderno ao mesmo tempo em que protege a sociedade civil da inserção destrutiva
realizada por aquelas duas esferas. Ademais, não só protege como também garante a
diferenciação da sociedade civil, daquilo que Habermas chamou de "sistema" - o estado
5 Idem obra cit. nota 4.
7
e o mercado - bem como sua influência reflexiva sobre essas duas esferas através das
instituições da sociedade política e econômica.6
É importante ressaltar que as normas da sociedade civil - direitos individuais,
privacidade, associações voluntárias, legalidade formal, pluralidade, publicidade, livre
iniciativa - foram institucionalizadas de forma heterogênea e contraditória nas
sociedades ocidentais, contrapondo com a lógica econômica do lucro e a lógica política
do poder. Daí a importância dos movimentos sociais que surgiram para defender os
espaços de liberdade ameaçados pela lógica do "sistema".
Na verdade, a política da sociedade civil não se resume à contestação realizada,
entre outras coisas, pelos movimentos sociais, também fazem parte de sua política às
formas institucionais normais de participação - votar, militar em partidos políticos,
formar grupos de interesse ou lobbies.
Neste sentido, a dimensão utópica de uma política radical parece preferir o nível
da ação coletiva. Alias, a relação entre ação coletiva e sociedade civil é deveras
importante para a constituição desse novo paradigma, pois além destes modelos
funcionalistas e pluralistas, a sociedade civil deixa de ser vista apenas de forma passiva,
como um conjunto de instituições, para ser percebida ativamente, ou seja, o contexto e o
produto de atores coletivos que se auto-constituem.
Seguindo este raciocínio, refere LEAL:7
O Estado hodierno (e notadamente no Brasil), em tais condições, passa a ter uma revigorada função de ordenação do caos e da agudizante exclusão social cometida por aquele modelo de organização produtiva e social, agora potencializado pelos termos dos vínculos políticos delimitados pelas diretrizes constitucionais, tendo por tarefa e principal característica revitalizada, a administração dos conflitos perpassam a sociedade multicultural e tensa que o institui.
6 O projeto implícito nesta concepção de sociedade civil critica tanto o paternalismo estatal quanto esta outra forma de colonização
da sociedade baseada na economia de mercado sem regulação. Busca realizar o trabalho de uma política social mediante programas
autônomos e descentralizados baseados na sociedade civil em vez dos programas tradicionais do "welfare state", e o trabalho de uma
política econômica de regulação mediante formas não-burocráticas e menos intrusivas de legislação. Trata-se de combinar a
"continuação reflexiva do welfare state" (Habermas) na democracia liberal com a "continuação reflexiva da revolução democrática"
(Arato) nos regimes autoritários.
7 LEAL, obra cit. nota 3, p. 43
8
Por outro lado, Habermas sustenta que a deliberação pública, realizada fora do
âmbito estatal, constituiria a base de legitimação para a ação política. Este espaço, ao
menos em termos hipotéticos, permitiria à todos os potencialmente envolvidos, poder
opinar e interagir comunicativamente antes de que uma decisão seja adotada. Desta
forma, a livre circulação da informação e do alongamento das oportunidades educativas
erigir-se-iam em elementos nodais que explicariam a aparição desta esfera de
autonomia (...) que possibilitariam a emergência, expansão e transformação de uma
esfera pública que ele chama de burguesa, centrada, que sempre esteve, nas instituições
tradicionais de representação política forjadas no âmago da experiência estatal
moderna.8
3. A dicotomia espaço público versus espaço privado
A dicotomia entre espaço público e espaço privado encontra seu fundamento
no processo histórico, sendo que seus limites e suas interconexões variam no decorrer
do tempo, razão pela qual se faz necessário considerar o contexto no qual ela se inicia e
se transforma até a atualidade.
Nesse sentido, na obra “A condição humana”, ARENDT9, parte do conceito de
vita activa para explicar a distinção entre espaço público e espaço privado. A vita activa
está baseada sobre a constatação da transformação da natureza pelo homem para a
formação do mundo10. Em outros termos, a vida humana pode ser referida na medida
em que o homem se empenha ativamente em fazer algo. A idéia de vita activa, por seu
turno, é desdobrada conforme as atividades humanas na formação do mundo e na
transformação da natureza, podendo-se afirmar a existência de três esferas de vita
activa: o labor, o trabalho e a ação.
O labor, na Antiguidade, situa-se no âmbito exclusivamente do privado,
consistindo numa atividade de subsistência que tem por objetivo a manutenção das
condições vitais do homem. O labor é praticado com o intuito básico de saciar as
necessidades humanas. Assim sendo, não há liberdade no labor, pois o animal laborans
8 HABERMAS, Jurgen. Mudança Estrutural da Esfera Pública. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1988, p. 39.
9 ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo. 8.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.
10 Idem, p. 31.
9
está submetido constantemente às condições impostas pela necessidade. Já o trabalho
centra-se na produção de bens duráveis no tempo, que não são produzidos para o
consumo imediato e que visam alcançar a comunidade. Por fim, a ação é apresentada
como o efetivo espaço público, sendo praticada por homens livres e iguais. O espaço da
ação é o espaço da política, a qual se caracteriza pelo diálogo, ou seja, pelo poder da
palavra.
A partir de tais pressupostos, a autora salienta que todas as atividades humanas
são condicionadas pelo fato de que os homens vivem juntos, mas a ação é a única que
não pode ser imaginada fora da sociedade. Por conseguinte, “a ação é prerrogativa
exclusiva do homem; nem um animal nem um Deus é capaz de ação, e só a ação
depende inteiramente da constante presença de outros.”11
Tendo por embasamento os conceitos de ação, trabalho e labor destacados por
Arendt, verifica-se que, na Antiguidade, o espaço público e o espaço privado se
encontram delimitados. O primeiro tem seu espaço no plano da ação e o segundo no
plano do labor, sendo o trabalho o ponto intermediário entre os dois opostos. Porém, o
transcurso histórico revela que, aos poucos, a distinção entre tais espaços foi se
diferenciando e a sua linha divisória foi se tornando cada vez mais tênue.
Na Idade Média, essa distinção entre o privado e o público, embora ainda
existisse, foi perdendo importância e mudando inteiramente de localização. Nesse
sentido, Arendt12 explica que a tensão medieval existente entre a treva da vida diária e o
esplendor do que era sagrado corresponde em muitos aspectos à ascensão do privado ao
plano público da Antiguidade. Essa projeção do privado sobre o público, evidencia o
esvaziamento da esfera política, o que se constata, por exemplo, no conceito de bem
comum na Idade Média, o qual apenas reconhecia que os indivíduos privados tinham
interesses materiais e espirituais em comum, só podendo conservar sua privacidade e
cuidar dos seus próprios interesses quando um deles se encarregasse de zelar por esses
interesses comuns.13
11 Idem obra cit. nota 10, p. 31.
12 Idem, p. 43.
13 Idem, p. 44.
10
Na Modernidade, todavia, é que se nota efetivamente uma profunda mudança
na concepção acerca do espaço público e do espaço privado. Há a perda do sentido da
ação, que, cada vez mais, será confundida com trabalho. Sob a ótica de ARENDT,
exposta anteriormente, é possível afirmar o crescimento do espaço ocupado pelo homo
faber, ou seja, pelo trabalho, e a política, ao invés de ser o lugar dos iguais e do uso da
palavra, passa a ser concebida como domínio, ou seja, como relação de subordinação
sobre os homens.
Vale lembrar que no século XVII surge a escola de pensamento do
contratualismo, cujos autores mostram-se preocupados com a emergência da
sociabilidade, ou seja, com as condições necessárias para a produção da sociedade. A
obra “Leviatã”14, de Thomas Hobbes, por exemplo, ocupa-se de uma investigação sobre
a gênese e as condições de sobrevivência humana através de um Estado, que na obra é
simbolizado pelo deus mortal Leviatã. Esse Estado é que propicia uma vida associativa
pacífica e ordenada aos homens. O estado hobbesiano é, nesse sentido, um artifício da
razão humana, autorizado pelo contrato social, o qual visa dar conta da deficiência
inerente ao estado de natureza.
A partir de então, a sociedade passa a constituir uma esfera pública
homogênea, formada por um conjunto de indivíduos representado pelo ente artificial do
Estado, o qual encarna o social e se opõe à um único elemento – o indivíduo. Assim, na
Modernidade a dicotomia entre o público e o privado passa a consistir no
reconhecimento de uma esfera pública centrada sobre o social, que é representada pelo
Estado, e de uma esfera privada, que é representada pelo indivíduo. Tal mudança
implica em significativa transformação da sociedade, principalmente no que diz respeito
ao reconhecimento do espaço público. É possível afirmar, então, que, no pensamento de
ARENDT, a história do mundo moderno corresponde à história da dissolução do espaço
público15. A respeito desse aspecto, TELLES explica que:
14 HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Tradução de João Paulo Monteiro e
Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril S.A. Cultural e Industrial, 1974. (Coleção Os Pensadores, v. XIV)
15 TELLES, Vera da Silva. Espaço Público e espaço privado na constituição do social: notas sobre o pensamento de Hannah
Arendt. Tempo Social, São Paulo, v. 2. n. 1, p. 23-28, 1990. p. 28.
11
Nesta formulação, ela está, claramente, tematizando a sociedade moderna – essa sociedade que foi capaz de engendrar o fenômeno totalitário -, construindo as figuras de uma sociedade despolitizada, marcada pela indiferença em relação às questões públicas, pelo individualismo e atomização, pela competição e por uma instrumentalização de tudo que diz respeito ao mundo, de tal forma que nele nada permanece como valor, como limite para uma ação que transforma tudo em meros fins para seus objetivos.16
A dissolução do espaço público corrobora a perda de um ‘mundo comum’ que
articula os homens numa trama visível feita por fatos e eventos tangíveis que se
materializa na comunicação intersubjetiva, por meio da qual, as opiniões se formam e
os julgamentos se constituem.17 A perda deste ‘mundo comum’, por seu turno, constrói
a figura de um sujeito que é desinteressado e desprovido de responsabilidade perante o
mundo. Assim, a dissolução do espaço público corresponde à perda de um espaço
reconhecido de ação e opinião.
No mundo contemporâneo, o advento da sociedade da informação e a
globalização implicaram em novas alterações nessa dicotomia, que ao invés de
representar lados antagônicos passa a representar um entrelaçamento no qual as duas
esferas tendem a se confundir de modo crescente. Desde o final do século passado a
humanidade vivencia um processo de modificação nas relações econômicas, sociais,
políticas e culturais, resultante da emergência de uma sociedade baseada sobre a
revolução tecnológica, assistindo-se, nas últimas décadas, um estreitamento das redes de
comunicação em todo o planeta. Nesse novo contexto, as noções de tempo e espaço já
não são os mesmos e a velocidade das transformações é muito rápida. Por outro lado, a
globalização cria novos sistemas, fortalece forças transnacionais e modifica as
instituições das sociedades.
As principais características da globalização centram-se na extraordinária
inovação tecnológica e na expansão mundial das grandes empresas.18 Esta última se
constrói mediante o desenvolvimento da economia capitalista e a extensão dos
mercados (especialmente o financeiro e o das multinacionais), o que se torna factível em
16 Idem, ibidem.
17 Idem p. 28-29.
18 CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo:
Editora Cultrix, 2002. p. 142.
12
virtude da recente revolução tecnológica, a qual permite a esses mercados
desterritorializar a produção e o consumo e anular as distâncias temporais/espaciais.
Todo esse processo é caracterizado pela presença de incertezas, contingências e riscos.
BAUMANN afirma que:
Esta nova e desconfortável percepção das ‘coisas fugindo ao controle’ é que foi articulada (com pouco benefício para a clareza intelectual) num conceito atualmente na moda: o de globalização. O significado mais profundo transmitido pela idéia da globalização é o do caráter indeterminado, indisciplinado e de autopropulsão dos assuntos mundiais; a ausência de um centro, de um painel de controle, de uma comissão diretora, de um gabinete administrativo.19
Antes da globalização, a ordem mundial consistia no total das ordens locais, as
quais eram eficientemente mantidas e policiadas por um e apenas um Estado
territorial.20 Atualmente, porém, as grandes corporações privadas e o capital financeiro
apresentam-se cada vez mais saudáveis, enquanto o Estado contemporâneo surge
debilitado. Efetivamente, a força das corporações e sua atuação geográfica mudaram de
modo considerável o enfoque do jogo econômico. Se no passado as grandes decisões
econômicas eram tomadas pelos governos, agora as maiores corporações mundiais
decidem basicamente o quê, como, quando e onde produzir os bens e serviços a serem
utilizados pelos seres humanos. Mas, as corporações vão além da função de direção
geral relativa à economia e ao âmbito financeiro, assumindo sistemas de ação
tecnopolítica.
A globalização, desse modo, vai levando a racionalidade do mercado a
expandir seu poder sobre âmbitos que necessariamente não são econômicos, espraiando-
se sobre questões políticas, tecnológicas e culturais que têm reflexos, inclusive, sobre o
modo como cada ser humano se comporta e vê o mundo ao seu redor. Surge, dessa
maneira, um mundo no qual se sobressai a exaltação desmesurada da individualidade,
pois o desempenho individual passa a constituir o único critério de sucesso, marcado
por um constante medo do encontro com o outro. Assim, o que caracteriza as cidades
contemporâneas é o evitamento e a separação dos indivíduos. Essa fragmentação do
espaço das cidades, por sua vez, é que corrobora o encolhimento e o desaparecimento 19 BAUMANN, Zygmunt. Globalização: as conseqüências humanas. Tradução de Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1999. p. 67.
20 Idem p. 70-71.
13
do espaço público, havendo pouca chance de que as normas sejam debatidas e de que os
valores sejam confrontados e negociados.
Por outro lado, o mundo contemporâneo foi transformado pela mídia em
espetáculo, sendo que a regulação social passa a caracterizar-se pela constante produção
de informação, mas não de significados comuns que possam ser compartilhados por
toda a sociedade. O desenvolvimento tecnológico e a obtenção crescente de informações
correspondem de modo contraditório, ao crescimento paralelo da impotência humana
para resolver politicamente os problemas coletivos da humanidade, tais como a
degradação do meio ambiente.
Todas essas transformações vivenciadas pelo mundo contemporâneo, entre as
quais se destacam a mudança do papel Estado e a ausência de espaços públicos para
discussão dos problemas locais, entre outros diversos fatores, fazem com que a
sociedade civil passe a atuar de forma diferenciada, ressaltando-se a importância
adquirida, nos últimos anos, pelo Terceiro Setor na discussão e na realização de
políticas públicas. A emergência e a crescente participação da sociedade civil em
atividades relacionadas ao Estado e, de outra parte, a intervenção do Estado em
atividades privadas, permite que, atualmente, afirme-se a realização de uma
publicização do privado e uma privatização do público. Por conseguinte, a forte
distinção entre público e privado está se tornando cada vez mais obscura, devendo-se
repensá-los dentro do contexto contemporâneo.
Nessa conjuntura, a urgência da questão ambiental constitui-se em
problemática que, para o seu enfrentamento, exige, principalmente, a (re)discussão do
espaço público como meio de se buscar a gestão democrática do meio ambiente.
4. Os impactos ambientais e a necessidade de uma gestão ambiental democrática
As implicações sócio-ambientais das transformações vividas pelo mundo
desde a Modernidade, com o fortalecimento de uma visão antropocêntrico-utilitarista da
natureza, até contemporaneidade, marcada pelo intenso movimento de capitais, são
complexas e graves. Pode-se afirmar que um dos efeitos mais dramáticos do processo
14
de globalização situa-se na problemática ambiental, uma vez que a maior parte dos
idealizadores da globalização ignorou o custo ambiental da expansão econômica.
A escala das atividades econômicas atualmente ultrapassa os limites da
capacidade de carga do ecossistema mundial, pois a integração econômica, permite a
cada país ampliar a escala da sua atividade econômica para além dos limites geográficos
das respectivas bases de recursos naturais. Constata-se, também que a produção está
mais acelerada em virtude das exigências do mercado, o que produz externalidades
negativas com maior velocidade e em escala global.21 Diante de tal conjuntura,
Azevedo afirma que “resulta evidente que o livre mercado não tem condições de
‘responder aos riscos globais que pesam sobre o meio ambiente”.22 No mesmo sentido
é o posicionamento de CAPRA:
A meta central da teoria e da prática econômicas atuais – a busca de um crescimento econômico contínuo e indiferenciado – é claramente insustentável, pois a expansão ilimitada num planeta finito só pode levar à catástrofe. Com efeito, nesta virada de século, já está mais do que evidente que nossas atividades econômicas estão prejudicando a biosfera e a vida humana de tal modo que, em pouco tempo, os danos poderão tornar-se irreversíveis. 23
Diversos estudos científicos têm corroborado a evidência de que a vida sobre o
planeta corre grave perigo. A título exemplificativo cita-se uma reportagem da Revista
Época, de 16 de outubro de 2006, na qual são apresentados dados sobre a crise
ambiental sem precedentes que assola a humanidade. Entre tais dados, a reportagem
refere dez graves ameaças ao meio ambiente, como, por exemplo, a questão do lixo, da
água e do desmatamento. 24
Contudo, as soluções para esses problemas convergem para ações integradas
entre todos os atores sociais. Já não basta a solução isolada de um Estado ou a adoção
de uma política repressora. Isso porque a atual crise ecológica decorre do próprio modo
21 STEIGLEDER, Annelise Monteiro. Responsabilidade Civil Ambiental: as dimensões do dano ambiental no Direito brasileiro.
Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2004. p. 74.
22 AZEVEDO, Plauto Faraco de. Ecocivilização: ambiente e direito no limiar da vida. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2005. p. 83.
23 CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. p. 157.
24 LEAL, Renata. 10 ameaças e uma esperança. Revista Época, São Paulo, n. 4
24 Idem obra cit. nota 24, p.44-45.
15
de vida contemporâneo, baseado sobre o consumo intenso, que, por sua vez, exige
grande utilização dos recursos naturais. E, em que pese a evidência da hecatombe
ecológica, o capitalismo global segue no seu ímpeto de desenvolver mercados e
consumidores, procurando, sempre que possível, eliminar legislações ambientais com a
desculpa do “livre comércio”, no intuito de que tais legislações não prejudiquem o
desenvolvimento econômico.
Assim, a nova economia provoca a destruição ambiental não só pelo aumento do impacto de suas operações sobre os ecossistemas do mundo, mas também pela eliminação das leis de proteção ao meio ambiente em países e mais países.25
BECK apresenta a crise ambiental contemporânea no contexto da ‘sociedade
de riscos”, 26 na qual os riscos civilizatórios são intensificados na medida em que se
dispersam e tomam dimensões globais. Esses riscos não são externos à sociedade, mas
decorrem de decisões tomadas no seu âmbito interno. Desse modo, todos são, de
alguma forma, responsáveis, mas, efetivamente, o que se verifica é que ninguém parece
ser responsabilizado especificamente pelos danos ambientais.
Isso ocorre porque a crise ambiental, para a sua solução, exige muito mais do
que leis e políticas bem intencionadas. Na sociedade contemporânea, o desejo pelo
desenvolvimento econômico acaba por ser antagônico ao interesse de preservação da
natureza. Alterar os fatores que corroboram a crise ambiental implica na realização de
mudanças radicais na estrutura da sociedade organizada. Dessa forma, a posição isolada
do Estado acerca dos problemas ambientais, por exemplo, é infrutífera, pois é
necessário que a sociedade esteja envolvida nessa transformação. A simples imposição
estatal de normas ou políticas ambientais severas pode resultar numa espécie de tirania
estatal, pois o quê a questão ambiental está a exigir é uma mudança na mentalidade dos
indivíduos.
Trata-se de fortalecer o papel da cidadania no sentido de dotá-la do caráter
solidário e participativo em relação à proteção de um bem de interesse difuso – o meio
ambiente. Nessa perspectiva, exige-se a solidariedade e a participação responsável dos
25 Idem p. 159.
26 BECK, Ulrich. La sociedad del riesgo: hacia uma nueva modernidad. Barcelona: Paidós, 1998. p. 25.
16
sujeitos políticos na proteção do meio ambiente, a qual deve ser realizada tanto de modo
individual, como coletivo, por meio da atuação das Organizações Não-Governamentais
(ONGs). Essa participação corresponde à um processo gradual que exige a abertura de
novos espaços nos quais a sociedade possa se manifestar e externar suas dúvidas, seus
anseios e suas opiniões.
A legislação ambiental brasileira, de um modo geral, caracteriza-se por
apresentar normas de caráter protetivo e quantitativo, ou seja, determina o quanto é
possível poluir o ambiente. Nessa conjuntura, o reconhecimento de uma gestão
democrática do meio ambiente é tímido e as normas protetivas do ambiente apresentam
poucos mecanismos de participação popular, os quais ainda estão a exigir maior atenção
e cuidado por parte da população e do Poder Público para que efetivamente possam se
mostrar eficazes.
A Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispôs sobre a Política Nacional
do Meio Ambiente, trouxe os princípios e as diretrizes norteadoras da proteção
ambiental no Brasil. Entre os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, a
referida lei menciona o licenciamento ambiental (art. 9º, IV) e a garantia da prestação de
informações relativas o meio ambiente (art. 9º, XI). A mesma lei ainda reconhece o
princípio da publicidade ao dispor, no parágrafo primeiro do artigo 9º, a obrigatoriedade
de publicar no jornal oficial do Estado, bem como em um periódico regional ou local de
grande circulação, os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão.
Não há nesse primeiro marco legal, previsão expressa de participação da comunidade
nas questões ambientais.
Posteriormente, o advento da Constituição Federal de 1988, que recepcionou o
conteúdo da Lei º 6.938/81 fortaleceu a abertura de canais para a participação efetiva da
sociedade na preservação ambiental, seja individual ou coletivamente, ao estabelecer o
dever da coletividade de defender o meio ambiente (artigo 225, "caput", CF/88), bem
como ao reconhecer o direito fundamental de todos os cidadãos brasileiros à proteção
ambiental.
Desse modo, a legislação brasileira passou a se desenvolver baseada sobre o
pressuposto da necessidade de garantir a preservação ambiental e a participação da
17
sociedade nesse processo, a partir de instrumentos com caráter democrático. Entre os
principais instrumentos utilizados na tutela do meio ambiente situa-se a participação da
população interessada na Audiência Pública do Estudo Prévio de Impacto Ambiental,
conforme prevê o artigo 225, inciso IV, da Constituição Federal de 1988 e a Resolução
CONAMA nº 9, de 3 de dezembro de 1987, bem como a atuação de membros da
comunidade em Conselhos ou Órgãos de defesa do meio ambiente.
No âmbito da presente pesquisa, salienta-se a importância da realização da
audiência pública prevista nos casos em que se constatar a necessidade de realização do
Estudo Prévio de Impacto Ambiental. Como já relatado anteriormente, o licenciamento
ambiental foi previsto como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente na Lei
nº 6.938/81, mas a tarefa de conceituá-lo e determinar as suas fases, bem como de
especificar quais atividades deveriam se sujeitar ao procedimento, foi postergada, sendo
concluída somente em 1997, com a Resolução CONAMA 237. Tal norma cuidou de
estabelecer quais atividades devem submeter-se ao processo de licenciamento, além de
especificar alguns requisitos necessários para a obtenção das licenças e as competências
dos órgãos expedidores. A Resolução 237 do CONAMA, no artigo 3º, determina que:
Art. 3º A licença ambiental para empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, garantida a realização da audiências públicas, quando couber, de acordo com a regulamentação.27 [grifo nosso]
Segundo o art. 1º da Resolução CONAMA 09/87, que, anteriormente à
Resolução CONAMA 237/97, já dispunha sobre as audiências públicas, elas têm “a
finalidade de expor aos interessados o conteúdo do produto em análise e do seu referido
RIMA, dirimindo as dúvidas e recolhendo dos presentes as críticas e sugestões a
respeito”. 28 Desse modo, a audiência pública é um instrumento formal de participação
pública no processo de avaliação de impacto ambiental, correspondendo ao momento do
27 BRASIL. Resolução n. 237, de 19 de dezembro de dezembro de 1997, do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. In:
MEDAUAR, Odete (org.). Constituição federal, coletânea de legislação de direito ambiental. 2.ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2003. p. 542.
28 BRASIL. Resolução n. 09, de 03 de dezembro de dezembro de 1987, do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. In:
MEDAUAR, Odete (org.). Constituição federal, coletânea de legislação de direito ambiental. 2.ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2003. p. 540.
18
processo de licenciamento em que o empreendedor compromete-se, perante a sociedade,
com a execução das ações previstas nos programas apresentados nos estudos
ambientais.
Não obstante, é preciso salientar que o Poder Público não está obrigado a
realizar audiência pública, sendo esta uma faculdade do órgão ambiental, conforme se
infere do disposto no art. 2º da Resolução CONAMA 09/87:
Art. 2º - Sempre que julgar necessário, ou quando for solicitado por entidade civil, pelo Ministério Público, ou por 50 (cinqüenta) ou mais cidadãos, o Órgão de Meio Ambiente promoverá a realização de audiência pública. 29
Portanto, as audiências públicas não são obrigatórias, como etapa do
licenciamento ambiental, mas poderão ter a sua convocação solicitada ao órgão
ambiental por entidade legalmente constituída, governamental ou não, por cinqüenta
pessoas ou pelo Ministério Público Federal ou Estadual, quando sua realização se torna
obrigatória. Quanto a esse aspecto, destaca-se o artigo 85 do Código Estadual de Meio
Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul, o qual preceitua que uma vez solicitada a
convocação da Audiência Pública pelos legitimados, a sua realização torna-se
obrigatória para o órgão ambiental e a não observância desta providência eivará de
nulidade o licenciamento ambiental.
A audiência pública, conforme prevista na legislação brasileira, não tem
caráter decisório, já que não há votação quanto ao mérito do empreendimento,
restringindo-se à finalidade de escuta pública e ao momento de controle da
discricionariedade do poder público. 30 As atas das audiências públicas, assim como os
documentos escritos e assinados que forem entregues ao presidente dos trabalhos da
audiência, servirão de base, juntamente com o RIMA, para a análise e parecer final do
órgão licenciador quanto à aprovação ou não do projeto. MACHADO afirma, porém,
que: “a audiência pública – devidamente retratada na ata e seus anexos – não poderá
29 Idem
30 MARCHESAN, Ana Maria Moreira; STEIGLEDER, Annelise Monteiro; CAPELLI, Sílvia. Direito Ambiental. Porto Alegre:
Verbo Jurídico, 2006. p. 82.
19
ser posta de lado pelo órgão licenciador, como o mesmo deverá pesar os argumentos
nela expendidos, como a documentação juntada”. 31
Em que pese a ausência de um reconhecimento maior à importância da
participação da população por meio das audiências públicas, uma vez que não existem
mecanismos ou instrumentos que possam torna-la mais combativa e atuante, é preciso
que sua realização seja desenvolvida de modo a permitir que os interessados tenham
acesso às informações, bem como efetiva participação no procedimento. Conforme
GAVIÃO FILHO:
De nada adiantaria a realização de uma audiência pública formalmente perfeita se, sob o enfoque substancial, por exemplo, não se permitir acesso a todas as informações; não se dispuserem aos interessados todos os documentos; não se divulgar adequadamente a data e local de sua realização; não se designar a audiência pública em prazo razoável; não se permitir manifestação, oral ou por escrito, dos interessados ou não se permitir a juntada de documentos. 32
É preciso considerar que é direito da sociedade participar na formulação e
execução das políticas ambientais, bem como ter acesso a todas as informações
necessárias para que possa se posicionar em relação às questões do meio ambiente. A
temática ambiental implica no reconhecimento de que a sociedade já não pode mais ser
considerada uma simples receptora dos atos e políticas públicas. Ademais, dada a
complexidade da questão ambiental e a natureza difusa dos bens ambientais, não pode a
administração pública pretender tutelá-la sem a gestão participativa da sociedade, o que,
todavia, ocorre de modo freqüente, principalmente quando se trata ajustar interesses
econômicos contrários à preservação do meio ambiente.
Constata-se, assim, que embora a legislação brasileira propicie a participação
da população na gestão ambiental, por meio, por exemplo, da realização de audiências
públicas quando um determinado empreendimento importar em significativo impacto
ambiental, a sua eficácia ainda se mostra de reduzido alcance. Importa, por conseguinte,
buscar estabelecer um espaço no qual a gestão das questões ambientais possa
efetivamente partir de uma participação democrática.
31 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 13.ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda., 2005. p. 254.
32 GAVIÃO FILHO, Anízio Pires. Direito Fundamental ao ambiente. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 106.
20
5. A gestão democrática do meio ambiente: a (re)construção do espaço público
como alternativa à crise ambiental
Considerando que proteção do ambiente está a exigir uma gestão democrática,
na qual todos os atores envolvidos – Poder Público, sociedade civil, cidadãos, empresas,
etc. - devem participar da tomada das decisões que impliquem em impactos
significativos ao meio ambiente, importando em riscos para a atual e as futuras
gerações, é necessário que a esfera pública seja repensada no sentido de instaurar-se
espaços dialógicos de participação popular. Isso significa afirmar a necessidade de um
espaço público orientado pela renovação da idéia democrática, a qual, diante da
emergência da crise ambiental, impõe o advento de uma cultura democrática instaurada
a partir do reconhecimento do outro.33
Busca-se uma esfera pública na qual seja possível estabelecer a livre interação
e a relação entre todos os atores sociais por meio de um encontro em que todos possam
expressar suas opiniões e construir um espaço dialógico, cujo objetivo deve centrar-se
no debate profícuo e consciente acerca das problemáticas ambientais. Esse espaço não
está mais baseado sobre o distanciamento entre o Estado e os cidadãos, mas na interação
direta entre todos os atores sociais, afirmando-se um novo caminho para a análise
democrática.
Essa nova cultura democrática pode ser construída a partir da concepção
habermasiana acerca do espaço público. Para HABERMAS,
A esfera pública não pode ser entendida como uma instituição, nem como uma organização, pois, ela não constitui uma estrutura normativa capaz de diferenciar entre competências e papéis, nem regula o modo de pertença a uma organização, etc. Tampouco ela constitui um sistema, pois, mesmo que seja possível delinear seus limites internos, exteriormente ela se caracteriza através de horizontes abertos, permeáveis e deslocáveis.34
Segundo o autor, a esfera pública é uma rede adequada para a comunicação de
conteúdos, tomada de posição e opiniões, sendo que, por meio dela, os fluxos
comunicacionais são filtrados e sintetizados, condensando-se em opiniões públicas
33 TOURAINE, Alain. O que é a democracia? Tradução de Guilherme João de Freitas. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 208.
34 HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre facticidade e validade. V. II. Tradução de Flávio Beno Siebeneichler. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. p. 92.
21
relacionadas a temas específicos. 35 Em outros termos, a esfera pública se reproduz
através do agir comunicativo.
O agir comunicativo constitui-se naquele em que um indivíduo, em sua ação,
procura convencer outra pessoa de suas pretensões, o que só pode ser realizado
mediante a fala. 36 “Trata-se, portanto, de um tipo de ação orientada ao entendimento
ou, em outros termos, à produção de consenso, o que pressupõe, ao contrário da ação
estratégica, transparência no comportamento do agente”. 37 [grifo do autor].
Observa-se, nesse sentido, a necessidade de busca pelo consenso, pois os atores
sociais já não podem mais resolver isoladamente os seus problemas e os seus anseios,
mas, ao contrário, necessitam do outro. E a relação que se dá entre os sujeitos é
possibilitada pela comunicação, a qual permite aos atores negociar interpretações
comuns da sua situação e sintonizar os seus respectivos planos de ação. Não se trata,
dessa maneira, de um conceito simplificado de consenso, mas sim da percepção das
singularidades dentro do conflito e da ambivalência presentes na esfera pública. Para
que o espaço público tenha de fato condições de produzir consensos abrangentes,
inclusivos, todos os mais variados argumentos devem ter sido postos em discussão, para
que possa prevalecer o melhor.
A lógica da racionalidade comunicativa proposta por HABERMAS leva à
conclusão de que o local no qual deverão se operar as relações comunicionais
corresponde a um espaço de conflito e, paradoxalmente, de tomada de decisões, no qual
se dá a interface entre o espaço público e o espaço privado. Esse novo espaço permite a
organização da solidariedade e da identidade no interior do mundo da vida. No
pensamento habermasiano, a esfera pública pode ser entendida:
[...] enquanto ponto de encontro e local de disputa entre os princípios divergentes de organização da sociabilidade. Os movimentos sociais constituiriam os atores que reagem à reificação e burocratização dos domínios de ação estruturados comunicativamente. Eles defendem a
35 Idem, ibidem.
36 GALUPPO, Marcelo Campos. Igualdade e diferença: Estado Democrático de Direito a partir do pensamento de Habermas.
Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. p. 125.
37 Idem
22
restauração das formas de solidariedade postas em risco pela racionalização sistêmica. 38
VIEIRA destaca que, no modelo habermasiano, a esfera pública atua como
“instância mediadora entre os impulsos comunicativos gerados na sociedade civil (no
‘mundo da vida’) e as instâncias que articulam, institucionalmente, as decisões
políticas (parlamento, conselhos)”. 39
Nessa perspectiva, o conteúdo normativo a ser considerado no meio social,
não surge de um pretenso "substrato ético" de uma dada comunidade, nem de "direitos
humanos universais", mas da estrutura das ações comunicativas. Valoriza-se a
institucionalização de procedimentos e condições comunicativas aptas a reconhecer a
soberania popular procedimentalizada e um sistema político ligado às redes periféricas
da esfera política. Assim, a legitimidade do direito apóia-se num arranjo comunicativo
enquanto participantes de discursos racionais, nos quais os parceiros do direito devem
poder examinar se uma norma controvertida encontra ou poderia encontrar o
assentimento de todos os possíveis atingidos.
No que tange à questão ambiental, esta vem a configurar possíveis espaços na
estrutura comunicacional do sistema jurídico, os quais irão efetivar a relação deste com
o sistema social. Não se pode conceber um planejamento ambiental isolado da gestão
democrática e dos seus respectivos processos decisórios, uma vez que se trata de uma
crise que está a afetar as condições de vida de todos, indistintamente. Sendo assim, o
ponto de convergência para os conflitos, reflexões e discussões ambientais centra-se na
prática do agir comunicativo, o que, em outros termos, significa democratizar os
processos decisórios ambientais.
Isso importa no reconhecimento de que a simples realização formal de uma
audiência pública ou a simples apresentação de relatórios de impacto ambiental sem a
sua discussão e sem a devida consideração dos atingidos não alcança a perfectibilização
de uma gestão ambiental democrática. Sob a ótica ora apresentada, as informações
38 AVRITZER, Leonardo. Além da dicotomia Estado/Mercado: Habermas, Cohen e Arato. Novos Estudos CEBRAP, nº 36, p. 213-
222, julho 1993. p. 217.
39 VIEIRA, Liszt. Os argonautas da cidadania: a sociedade civil na globalização. Rio de Janeiro; São Paulo: Editora Record,
2001. p. 87.
23
relativas aos problemas ambientais não devem ser apenas compartilhadas entre os
cidadãos, mas internalizadas pelos mesmos por meio da ação comunicativa, o que os
permite produzir uma relação direta com as demandas, anseios e pleitos dos diferentes
grupos sociais.
Por isso, as audiências públicas, no que diz respeito ao meio ambiente, mais do
que se prestarem a fornecer informações, esclarecimentos, dados e documentos sobre a
matéria que será objeto de exposição para a comunidade interessada e atingida por um
determinado impacto ambiental, devem permitir o agir comunicativo. Em outros termos,
os cidadãos devem poder manifestar suas opiniões, apresentar propostas, soluções e
alternativas, no intuito de permitir que a administração pública e os entes privados
interessados na questão conheçam as perspectivas e visões das pessoas diretamente
atingidas pelo empreendimento discutido na audiência pública.
O direito, nessa conjuntura, pode ter um papel importante se for capaz de
avançar na sua concepção democrática e deixar de apresentar um caráter meramente
regulatório e quantitativo no que tange ao meio ambiente. Mais do que audiências
públicas e conselhos populares, é preciso reconhecer e fortalecer outros instrumentos de
participação democrática, mediante os quais a população deve ser verdadeiramente
informada e convocada a debater. De outra parte, o princípio democrático prescreve que
só podem pretender validade legítima as leis que puderem contar com o consentimento
de todos os cidadãos perante um processo discursivo de legislação.
Por fim, buscar a gestão democrática das questões ambientais na atual
sociedade do risco implica numa tomada de atitude responsável de todos os atores
sociais perante a vida, pois, de agora em diante, todos serão responsáveis pelas decisões
que dizem respeito às condições de vida sobre o planeta. Trata-se de instaurar uma rede
solidária que considere de maneira séria e consciente os riscos ambientais, o que, com
efeito, resulta num comprometimento da sociedade para com o meio ambiente. Afinal, a
proteção do ecossistema e da possibilidade de vida das gerações futuras converge,
necessariamente, para mudanças radicais nas estruturas da sociedade organizada. E isso
só pode se dar por meio de uma cidadania participativa, que compreenda a ação
conjunta do Estado e da sociedade na proteção ambiental.
24
6. Considerações Finais
A dicotomia entre espaço público e espaço privado se transformou no
transcurso histórico, sendo que, na contemporaneidade, verifica-se um estreitamento do
seu significado. Na atualidade, público e privado tendem a se confundir de modo
crescente ao mesmo tempo em que os significados e anseios comuns compartilhados
pelos membros da sociedade são cada vez mais esquecidos.
Nesse contexto, a necessária discussão em torno da problemática ecológica
está a exigir a retomada dos espaços nos quais esses significados comuns possam ser
analisados e discutidos. Portanto, trata-se de (re)construir um espaço público enquanto
local no qual seja possível estabelecer relações comunicacionais entre os diversos atores
sociais, viabilizando-se os canais de discussão e de tomada de decisões.
Ressalta-se que, ao mesmo tempo em que esta nova esfera pública deverá
corresponder a um local de conflitos, também deverá se constituir num ponto de
encontro organizado entre os atores sociais, no qual se dará o debate e torno das
diferentes opções e a avaliação dos prós e dos contras de cada decisão.
No que tange especificamente à questão ambiental, a (re)construção desse
espaço é fundamental, uma vez que os problemas ecológicos dizem respeito às
condições de vida de toda a comunidade e, por isso, a sua solução exige a realização de
ações integradas entre os sujeitos sociais, os quais devem se sentir responsáveis pelas
suas decisões. Com efeito, a solução isolada sobre essas questões já não é mais eficaz,
pois o quê a crise ecológica está a exigir é uma mudança do próprio modo de vida da
sociedade contemporânea, a qual deve estar ciente acerca das conseqüências de suas
decisões. Tem-se, nesse sentido, que a (re)construção de um espaço público baseado
sobre as relações comunicacionais entre os diversos atores sociais mostra-se como uma
opção necessária para a realização na gestão ambiental democrática.
Nessa perspectiva, ao mesmo tempo em que se constata a abertura do direito
ambiental brasileiro ao reconhecimento de instrumentos democráticos, como, por
exemplo, quando exige a realização de audiências públicas nos casos em que há
significativo impacto ambiental, também se constata o seu reduzido poder decisório e o
25
escasso conhecimento da população a seu respeito. Portanto, tais instrumentos ainda
merecem uma maior atenção tanto por parte do Estado, como da própria sociedade, sob
o entendimento de que o planejamento ambiental não pode ser feito de forma isolada de
uma gestão democrática.
Diante de tal conjuntura, o Direito também deverá tornar-se capaz de orientar a
formação de um espaço público dialógico, fortalecendo seus instrumentos democráticos.
Para isso, deverá reconhecer a importância da participação da sociedade nos processos
decisórios e incentivar a instauração de uma cultura democrática baseada sobre o
reconhecimento do outro.
7. Referências:
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