solange irene smolarek dias aline figueiredo … · produção acadêmica dos alunos do último ano...
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SOLANGE IRENE SMOLAREK DIAS
ALINE FIGUEIREDO DE ALBUQUERQUE
DENISE SCHULER
Organizadoras
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008
1ª Edição
Autores:
Janaína Bedin
Geolvana Walker Krohling
Carolline Vargas
Luiz Carlos Macoris
Rodrigo de Oliveira Moura
Isabel Cristina dos Santos Gomes Bianchessi
Lucélia Bublitz
Ana Carolina Dillenburg
Marcio Masakazu Yamamoto
Ney Nicolau Zillmer Neto
Smolarek Arquitetura Ltda
Cascavel – Pr
2008
Capa:
Arquiteta Denise Schuler
Prefácio:
Arquiteta Denise Schuler
Diagramação:
Arquiteta Aline Figueiredo de Albuquerque
D535p
Dias, Solange Irene Smolarek Planejamento urbano e regional: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008/ organiza- ção: Solange Irene Smolarek Dias, Aline Figueiredo de Albuquerque, Denise Schuler.- 1. ed. Cascavel: Smolarek Arquitetura, 2008. 157 p.: il. Coletânea de artigos científicos Vários autores
ISBN Nº: 978-85-60709-10-6 1. Planejamento urbano – Coletânea. 2. Planejamento regional – Coletânea. I. Albu- querque, Aline Figueiredo de. II. Schuler, Denise. III. Grupo de pesquisa “ Métodos e Técnicas do Planejamento Urbano e Regional” – Coordenadoria de Pesquisa e Exten- são da Faculdade Assis Gurgacz – COOPEX, Cascavel, PR. IV. Título. CDD 711.12 711.4
Bibliotecária - Hebe Negrão de Jimenez – CRB 101/9
Esse livro é resultado de pesquisas selecionadas, produzidas no Grupo de Pesquisa MÉTODOS E
TÉCNICAS DO PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL, registrado na Coordenadoria de Pesquisa e
Extensão da Faculdade Assis Gurgacz COOPEX – Cascavel – PR. Os textos são de responsabilidade
de seus autores.
EDITORA: SMOLAREK ARQUITETURA LTDA
CNPJ nº 02.247.647/0001-48
Cadastro Municipal nº 52.47000
CREA/PR nº 15015
Rua Dom Pedro II, nº 2199/62, Cascavel/PR/BR
CEP: 85.812-120
Prefixo Editorial Agência Brasileira ISBN : 60709
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008
APRESENTAÇÃO
Dando continuidade ao processo iniciado no ano de 2007, de valorização da
produção acadêmica dos alunos do último ano do curso de Arquitetura e Urbanismo
da Faculdade Assis Gurgacz, publica-se essa segunda coletânea de artigos científicos
relacionados ao tema de Planejamento Urbano e Regional.
Na seqüência de PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos
do CAUFAG em 2007.1, publicado em 2007, lança-se em 2008 PLANEJAMENTO
URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008, fruto do projeto de
pesquisa denominado MÉTODOS E TÉCNICAS DO PLANEJAMENTO URBANO E
REGIONAL, e que se insere na linha de pesquisa Planejamento Urbano e Regional.
O livro reúne sete artigos científicos e um trabalho acadêmico, desenvolvidos
por alunos convidados do último ano do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Faculdade Assis Gurgacz, especificamente da disciplina de Planejamento Urbano e
Regional IV, que tiveram a oportunidade de pesquisar e refletir sobre temas
correlatos aos assuntos da disciplina, sendo orientados pelas professoras
organizadoras dessa publicação.
A publicação dos produtos gerados objetiva, além de divulgar a produção do
Grupo de Pesquisa, agregar valor aos discentes e docentes do curso, disseminando
os conhecimentos gerados e contribuindo para as discussões atuais em torno de
temas consolidados e conflitantes que compõem os métodos e práticas do
planejamento urbano e regional.
A maturidade desses acadêmicos, refletida nos artigos que compõem essa
publicação, demonstra estarem preparados para trilhar os caminhos do processo de
planejamento, em busca de uma realidade mais justa e sustentável para nossas
cidades.
Denise Schuler
Arquiteta e Urbanista
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008
SUMÁRIO
TRÍPLICE FRONTEIRA E A REGIÃO OESTE DO PARANÁ ................................................... 3 Janaína Bedin ANÁLISE DO PROBLEMA DE MORADIA NA REGIÃO DE CASCAVEL ......................... 21 Geolvana Walker Krohling MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: UMA AVALIAÇÃO DOS SEUS ASPECTOS TERRITORIAIS ............................................................................................................................................ 42 Carolline Vargas, Luiz Carlos Macoris e Rodrigo de Oliveira Moura PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: A RELEVÂNCIA DA QUESTÃO AMBIENTAL NA BUSCA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .............................. 81 Isabel Cristina dos Santos Gomes Bianchessi ITAIPU: PLANEJAMENTO UMA QUESTÃO AMBIENTAL E SOCIAL. ........................... 92 Lucélia Bublitz ANÁLISE DAS TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS EM CARÊNCIA NAS PRINCIPAIS CIDADES DA MESORREGIÃO OESTE DO PARANÁ............................... 110 Ana Carolina Dillenburg DESENVOLVIMENTO REGIONAL NOS TRILHOS.................................................................. 130 Marcio Masakazu Yamamoto O PLANO COLÔMBIA E SUAS CONSEQUENCIAS NA REGIÃO ANDINA: UMA REFLEXÃO NA ESCALA REGIONAL............................................................................................... 142 Ney Nicolau Zillmer Neto
TRÍPLICE FRONTEIRA Janaína Bedin
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 3
TRÍPLICE FRONTEIRA E A REGIÃO OESTE DO PARANÁ
Janaína Bedin1
RESUMO
Este texto trás informações históricas da região Oeste do Paraná, descoberta pelos pioneiros do império, sua exploração, colonização, povoamento e potencialização das vocações até chegar-se a uma região moderna e próspera, com pólos industriais, de saúde, universitários e turísticos, enfim, uma região pronta para participar do século XXI com maioridade. Seu povoamento se efetivou em meados do século XX seguido de grande impulso agropecuário em função de suas terras abundantes e férteis, de sua localização estratégica que, somados a um povo, resultaram numa região moderna e próspera. A construção da Ponte da Amizade ligando o Brasil com o Paraguai, a construção da Usina Hidroelétrica de Itaipu e finalmente a Ponte Tancredo Neves, ligando o país à Argentina completando a conexão desse território com a região do Cone Sul integrando-o por completo com a América do Sul. A consagração da região tríplice fronteiriça se dá basicamente no eixo Cascavel-Foz do Iguaçu onde se efetivam os pólos que justificam a maioridade da região Oeste. Importante registrar-se que a grande peculiaridade é o contexto da tríplice fronteira, a inserção da Itaipu e a forma com que os municípios fronteiriços se relacionam pois, embora partes de uma quase metrópole, sujeita a três culturas, povos, legislações e valores distintos entre si. O resultado, um mosaico cultural e racial fez com que a “Metrópole Iguaçuense” se tornasse o terceiro pólo comercial do mundo sendo referência em seus aspectos e peculiaridades.
Palavras-chave: eixo Cascavel-Foz do Iguaçu; região Oeste; tríplice-fronteira.
INTRODUÇÃO
Pesquisas da UFPR2 registraram vestígios de presença humano, no Oeste do
Paraná há mais de 6.000 anos. A colonização da região iniciou-se no século XVI
quando exploradores espanhóis na tentativa de colonização do espaço buscaram
atingir os sertões da América do Sul.
Após o período histórico com todas as suas mudanças temos que, no Brasil
moderno, fundou-se uma Colônia Militar que mais tarde se chamou Vila Iguassu e
depois, já no século XX, desmembrou-se do município de Guarapuava recebendo a
nomeação atual de Foz do Iguaçu, em 1908.
1 Discente do 9º Período do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Assis Gurgacz (FAG). 2 Universidade Federal do Paraná.
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O segundo pólo, Cascavel, surgiu em meado do século passado. O
povoamento na região era escasso e espontâneo, mantendo-se no ritmo dos
viajantes e colonos que se aventuraram a um “eldorado” sem fronteiras. Com a
chegada da Rodovia Federal que cortou o Estado de leste a oeste e mais tarde com a
construção de Itaipu Binacional a região com suas terras férteis e abundantes se
consolidou tanto pelo comércio fronteiriço, pela oferta de emprego, como pela
grande produtividade de grãos, revelando-se como um grande celeiro agrícola
nacional.
A modernidade chegou com a energia abundante, a tecnologia agropecuária,
suas máquinas, o transporte conectando-o com o país e com todo o Cone Sul da
América Latina, e hoje compreende uma região desenvolvida e próspera.
O eixo Cascavel-Foz do Iguaçu é o epicentro dessa região que cresce e se
desenvolve revelando suas vocações. Universidades, hospitais, grandes cooperativas
que potencializam a produção local, são fatores que remetem a região para o futuro
de forma irreversível.
Uma peculiaridade é o caráter tríplice-fronteiriço de Foz do Iguaçu, Ciudad del
Este, Puerto Iguazu e outros municípios circunvizinhos que, somados, projetam uma
quase metrópole pois aproxima-se de 700.000 habitantes, trazendo por estas
características, um desafio administrativo de grande proporção.
Este trabalho pretende informar os leitores trazendo dados genéricos e em
ordem cronológica sobre a trajetória da colonização e desenvolvimento sócio-
econômico da região Oeste do Paraná, seus pólos, o eixo gerado pela BR 277, suas
vocações naturais e potencialidades, além da peculiaridade da tríplice fronteira e
seus reflexos para uma região.
Não se pretende criticar ou aprofundar discussões a respeito da forma com
que se desenvolveu a região. Buscou-se com ele trazer um relato, com caráter quase
histórico, que permite traçar-se a trajetória dessa porção de território desde suas
origens primitivas até o dia de hoje, contextualizando no resultado que obteve da
somatória de esforços empreendidos na construção sócio-econômica e cultural do
Oeste Paranaense.
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Pouco existe de trabalhos anteriores, além de Peris e Braga (2003), Moura e
Werneck (2001), Peris e Lugnani (2003) restando como maiores fontes de pesquisa
órgãos oficiais do Estado, como o IPARDES3.
Chegou-se a este tema, a princípio, pela característica palpável de se ter
muito próximo, uma grande cidade tracionada por rios, línguas e culturas distintas
entre si, sua influência na região e relação sócio-econômica e cultural com a mesma.
Empregou-se o método de pesquisa bibliográfica e eletrônica através de sites
da internet, obtendo-se ao final, um texto informativo resultado de um processo que
não deixou de ser analítico enquanto tentativa do processo sociológico da
colonização e desenvolvimento da região envolvida.
1. CIDADE E INDIVÍDUO
Baseando-se na história, é possível compreender a evolução do homem e das
atividades por este desempenhada na natureza, primeiramente considerando que ele
dependia inicialmente dos recursos naturais e que estariam disponíveis no ambiente.
Todas as atividades, objetos, dentre outros fatores relacionados a sobrevivência do
homem, estavam diretamente ligados à satisfação das necessidades básicas.
A alimentação, a continuidade da espécie e o abrigo, assim como outros
aspectos relacionados ao ambiente, trariam mais tarde a necessidade do homem em
adaptar-se ao meio, a natureza, ao mesmo tempo em que também seria
transformado. Este homem que possuía uma vida nômade, onde adaptar-se ao
ambiente era crucial, sente então a necessidade de se estabelecer em grupos. Frente
a esta mudança significativa à evolução, estão relacionadas conseqüências tanto
ambientais, como de desenvolvimento enquanto características humanas
(BENEVOLO, 2004).
O desenvolvimento psicossocial do homem, ao longo da historia, foi
condicionado à necessidade de criação de um ambiente, em que o “habitar”
possibilitasse uma melhor condição de vida. Para Benévolo (2004) a procura por um
refúgio para sua proteção e a necessidade de se estabelecer em grupo em
3 Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social.
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determinado sítio (espaço geográfico) atribui configurações, uso e significado ao
espaço, criando estruturas artificiais construídas inicialmente com materiais obtidos
na natureza. Essas estruturas evoluíram para novas formas, e sua função já não era
tão primitiva, pelo fato de serem habitáveis.
O ser humano, em seu crescimento intelectual, social e na busca pela
satisfação de necessidades cada vez mais aprimoradas, foi às causas da diversidade
que ficou entre as formas assumidas pelas suas edificações e que definiam novos
espaços. Assim como os materiais utilizados para tais edificações tornavam-se cada
vez mais sofisticados. A arquitetura não seria um elemento dinâmico se não tivesse
conjugada a inteligência do homem, que interage com o espaço criando-o através de
ordem, harmonia e beleza.
A arquitetura, ou a forma e estrutura construída pelo homem, são variáveis
culturais, sociais e ideológicas. Assim como assumem um caráter condicionado pelo
meio em que estão inseridas. A partir da necessidade do homem em criar o
ambiente em que habita, fala-se da criação da cidade em conseqüência da
arquitetura e suas formas.
Entendo a arquitetura em sentido positivo, como uma criação inseparável da vida civil e da sociedade em que se manifesta; ela é por natureza coletiva. Do mesmo modo que os primeiros homens construíram habitações e na sua primeira construção tendiam a realizar um ambiente mais favorável à sua vida, a construir um clima artificial, também construíram de acordo com uma intencionalidade estética. Iniciaram a arquitetura ao mesmo tempo em que os primeiros esboços das cidades; a arquitetura é, assim, inseparável da formação da civilização e é um fato permanente, universal e necessário. (ROSSI, 2001, p.16)
A cidade caracteriza-se por uma entidade arquitetônica, na medida em que é
um espaço social transformado e modificador, resultado das necessidades e objetivos
de determinados grupos e indivíduos. As cidades são portadoras de expressão
própria e são identificadas por um conjunto de fatores de natureza física e social.
Esse espaço físico – cidade – é também um espaço social transformado ao longo da
historia de determinada formação social.
Não é possível compreender uma cidade isolando-a do espaço, sociedade e
história. Se analisada ao longo de um período é um espaço suscetível a mudanças
provocadas por questões de ordem econômica e social, embora a cidade deva ser
compreendida como um espaço constituído por objetos que possuam determinada
vida útil. Desse modo, as cidades são ambientes com características distintas,
conforme a sua realidade. A sua complexidade manifesta-se na composição formal
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das partes que a compõem, resultando das condições do espaço que adquire uma
expressão formal e de ordem, através de um processo social.
2. ORIGEM E CRESCIMENTO DA REGIÃO OESTE DO PARANÁ E DA TRÍPLICE
FRONTEIRA
A história oficial da região Oeste começa a partir de 1542, ano do
descobrimento das Cataratas do Iguaçu. No entanto, pesquisas arqueológicas,
realizadas pela Universidade Federal do Paraná situaram em 6.000 a.C. vestígios da
mais remota presença humana na região.
A colonização só começou em fins do século XIX, depois de sucessivas
disputas entre espanhóis e portugueses pela posse do território. O aventureiro
espanhol Alvar Nuñez “Cabeza de Vaca” viajava com sua Expedição Colonizadora da
cidade de Santos para Assunção, no Paraguai, em 31 de janeiro de 1542, quando
descobriu as Cataratas do rio Iguaçu. A região atual de Foz do Iguaçu fora então
batizada de Cachoeira de Santa Maria (FOZ DO IGUAÇU, s.d.).
As primeiras ocupações da região Oeste datam de 1557 com a fundação da
Ciudad Del Guayrá, pelos conquistadores espanhóis, quando a região pertencia à
Espanha pelo Tratado de Tordesilhas. Em 1600, o governo espanhol de Assuncion
transformou a cidade em sede da Província Del Guayrá, que se estendia do Rio
Paranapanema ao Rio Iguaçu e do Rio Paraná ao Rio Tibagi (CASCAVEL, s.d.).
Em 1609 bandeiras conquistadoras e povoadoras garantiram o domínio da
região Oeste aos brasileiros. Em 1765 foi montado um estabelecimento militar na
fronteira com o Paraguai, região que atualmente pertence ao estado do Paraná.
Com o objetivo de doar lotes para a ocupação da região é fundada a Colônia Militar,
em 1897. Colônia que em pouco tempo foi emancipada e elevada a categoria de
município, em 1914, denominada Vila Iguassu. A denominação atual da cidade de
Foz do Iguaçu só ocorre em 1918.
Todo o processo de povoamento da região Oeste se iniciou vinculado à
economia da madeira e da erva-mate. O caminho aberto ligando o Sudoeste ao
Oeste do Paraná e as trilhas dos tropeiros deram origem à “Encruzilhada”, mais
tarde Aparecida dos Portos, tendo aí a origem de Cascavel.
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A existência de Foz do Iguaçu e dos inúmeros trabalhadores que para lá
migraram contribuiu para a fundação de Cascavel. Muitos moradores da região, com
diferentes necessidades, viabilizaram os negócios dos pousos que eram pontos de
alimentação e descanso dos tropeiros e seus animais. Num desses pousos à margem
do riacho, alguns tropeiros encontraram grande quantidade de ninhos de cascavéis.
Por esse motivo o riacho ficou conhecido como rio Cascavel e o pouso, um encontro
de picadas e trilhas percorridas pelos colonos e viajantes com destino a Foz do
Iguaçu, conhecido como Encruzilhada dos Gomes. Em 14 de novembro de 1951,
Cascavel desmembrou-se de Foz do Iguaçu, através da lei estadual nº 790/51
(CASCAVEL, s.d.).
Na segunda metade do século XX, foi possível perceber um aumento da
população na região, conseqüência principalmente da expansão e abertura da
fronteira agrícola do estado. Contexto de ocupação que também pode ser percebido
do outro lado da fronteira, onde somente após a Guerra do Paraguai (1864-1870), a
região começou a ser explorada por madeireiros e ervateiros, cujas atividades eram
em sua maioria conduzidas por empresas privadas (DGEEC4, 2002 apud LIMA, 2007,
p.5). Porém mesmo na metade do século XX, a região era escassamente povoada,
em conseqüência da grande baixa populacional da Guerra, ocupada por alguns
latifúndios exploradores de erva-mate (LIMA, 2007). A região Oeste do Paraná e a
Tríplice Fronteira, somente expandiu e o povoamento ganhou força após a década de
50, com as obras de infra-estrutura e construção da rodovia BR-277 e com o inicio
das obras da represa de Itaipu.
3. CARACTERÍSTICAS ECONÔMICAS E LOCAIS DOS PRINCIPAIS PÓLOS
Historicamente, a região Oeste constituiu a última fronteira de ocupação do
Estado, integrando-se à dinâmica estadual apenas a partir dos anos 70. Sua
localização distante da porção leste do território, por onde se iniciou o povoamento
do Paraná, e a quase total inexistência de infra-estrutura de comunicação
interligando-a ao restante do Estado, foram fatores decisivos que a mantiveram, por
tanto tempo, isolada e com baixas densidades populacionais.
4 Dirección General de Estadística, Encuestas y Censos
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A partir da década de 1940, algumas iniciativas governamentais foram
tomadas, como a criação do Território Federal do Iguaçu, em 1942, logo extinto, em
1946, e a subseqüente criação do Departamento Administrativo do Oeste, por parte
do governo estadual, geraram os primeiros impulsos de ocupação e de exploração
econômica da região (MAGALHÃES FILHO, 1999).
No entanto, foi apenas no final da década de 1950 que a integração e
dinamização do Oeste aconteceu, estimulada pela implantação de um sistema viário
que viabilizou e impulsionou a produção de excedentes para comercialização. A
atividade agrícola da região, fundada na boa qualidade dos solos e numa razoável
capacidade técnica dos produtores, ampliou-se rapidamente, propiciando
incrementos de renda e expansão dinâmica do comércio. Assim, não apenas as áreas
rurais experimentaram incrementos substantivos de população, ao longo desse
período, mas também inúmeros núcleos urbanos foram se formando para dar
suporte à agricultura em expansão (MAGALHÃES, 2003).
Para Peris e Lugnani (2003) a modernização tecnológica da agricultura
constituiu-se no fator que gerou grande influência na região Oeste do Paraná e, por
conseqüência, no eixo Cascavel–Foz do Iguaçu, além de ser o primeiro a ocorrer e a
impactar sobre a região. A modernização tecnológica da agricultura, no Brasil, foi a
responsável pela mecanização das terras, pela introdução de insumos modernos
(como adubação química, herbicidas, fungicidas e pesticidas), pelo uso de máquinas
e equipamentos (como tratores, arados, plantadeiras e colheitadeiras) e pela
utilização de crédito subsidiado pelo Governo Federal. Também ocasionou uma forte
concentração fundiária, migrações rurais, problemas ambientais e outras
transformações na realidade regional.
A modernização tecnológica da agricultura nacional se consolidou com o
binômio soja/trigo. Na região Oeste do Paraná, foi incorporada a cultura do milho,
que é um dos seus principais produtos agrícolas, promovendo um aumento
considerável na produção e na produtividade dessas culturas. Foi a responsável pela
redução do número de propriedades rurais, principalmente as pequenas, e pela
diminuição da população dos municípios da região, com exceção de Cascavel e Foz
do Iguaçu, que se transformaram nos dois maiores centros urbanos regionais (PERIS
E LUGNANI, 2003).
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 10
Sem dúvida o componente migratório, nesse cenário demográfico, possui
grande relevância. As transformações que modernizaram as atividades agrícolas, o
meio rural da região com saldos migratórios negativos bastante elevados nas últimas
décadas do século XX, dos mais expressivos do Estado, mantendo esse destaque
também nos anos 90. Ainda que os ganhos populacionais das áreas urbanas são
igualmente significativos na região.
Com relação à região Oeste IPARDES (2006a) define sua articulação à divisão
social do trabalho se dá a partir de um número menor de atividades ligadas,
fundamentalmente, à produção agroindustrial assim como aos serviços. Sua posição
fronteiriça cuja centralidade se manifesta fundamentalmente em Foz do Iguaçu,
assegura-lhe o desempenho de funções importantes nas relações internacionais,
comércio e turismo, elevando seu peso na geração de riquezas e estreitando vínculos
do Paraná com os países do Mercosul.
A região Oeste é destacada como Terceiro Espaço Relevante onde duas
aglomerações estão presentes nesse espaço, a polarizada por Cascavel, que reúne
mais cinco municípios e a de Foz do Iguaçu que se manifesta como uma
espacialidade internacional complexa, desenvolvendo estreitas relações com as
cidades vizinhas de Puerto Iguazu, na Argentina, e Ciudad del Este, no Paraguai5
(IPARDES, 2006a).
Em um contexto geral é percebida a predominância da agroindústria, dos
serviços de geração de energia elétrica e do comércio atacadista, este muito
provavelmente vinculado ao segmento agroindustrial. Verifica-se a concentração de
empresas voltadas notadamente à exploração dos recursos naturais existentes nesse
espaço. Observa-se que no total do VE6 do exterior para o Estado, somente Foz do
Iguaçu responde por 18,9% (IPARDES, 2006a).
Para Moura e Werneck (2001) a cidade de Cascavel pode ser considerada um
pólo regional, estrategicamente situado no acesso às fronteiras internacionais, sendo
um nó viário que comanda um subsistema urbano com vínculos muito estreitos ao
principal pólo do Estado, Curitiba. Destaca-se pelo desempenho de funções de alta e
média complexidade para o atendimento das demandas regionais. Sua localização
5 A aglomeração da tríplice fronteira reúne mais de 680 mil habitantes, em um total de seis municípios (Foz do Iguaçu, Ciudade del Este, Hernadarias, Miguá Guazu, Presidente Franco e Puerto Iguazu). 6 VE: Valor de entrada
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 11
geográfica e a extensão da área de influência de sua centralidade atribuem-lhe a
condição de articular em sua rede de centros, além de cidades da própria
mesorregião7 e de mesorregiões vizinhas, centros do Estado de Mato Grosso do Sul,
compartilhando sua influência com Dourados. Sendo que a partir de Foz do Iguaçu,
compõe ainda relações intensas com cidades fronteiriças do Paraguai e da Argentina.
Foz do Iguaçu polariza um fluxo de relações urbanas internacionais,
destacando-se pelo acúmulo das funções comerciais e de serviços, intensificadas
pela presença do comércio fronteiriço e de um dos mais importantes pólos turísticos
nacionais, as Cataratas do Iguaçu. Essas centralidades polarizam a dinâmica da
economia regional, constituindo dois eixos (PERIS, 2002; PERIS e BRAGA, 2003).
O eixo A estende-se ao longo da rodovia BR 467, entre as cidades de Cascavel
e Guaíra, passando por Toledo. O eixo B, também polarizado por Cascavel,
acompanha um trecho da BR 277, entre Cascavel e Foz do Iguaçu. Para o IPARDES
(2003) pode-se perceber na região Oeste que suas espacialidades concentradoras
apontam sinais de expansão no eixo da BR 277, com potencial de integração
geográfica e articulação funcional entre as aglomerações urbanas de Cascavel e de
Foz do Iguaçu, num conjunto de maior complexidade.
O contexto de infra-estrutura viária (BR-277, Ponte da Amizade e Ponte
Tancredo Neves) colocam a região Oeste do Paraná em uma condição privilegiada de
integração com o território sul-americano. O sistema de transporte é importante em
todo o contexto do Cone Sul8 sendo também essencial para a integração territorial
de toda a América do Sul. Foz do Iguaçu, na Tríplice Fronteira é um importante
centro de integração da política do Mercosul. A cidade é o principal ponto de conexão
da região de fronteira (Ciudade Del Este e Puerto Iguazu), com o Oeste do Paraná,
leste paraguaio e nordeste argentino.
4. EIXO CASCAVEL – FOZ DO IGUAÇU E A TRIPLÍCE FRONTEIRA
Para Santos e Silveira (2001) a conjunção da relevância econômica, da
densidade técnico-científica e do papel de lugar central na rede de cidades, apoiada
7 Segundo o Anuário Estatístico do Estado do Paraná – IPARDES (2006): mesorregião formada pelas microrregiões geográficas de Toledo, Cascavel e Foz do Iguaçu 8 Porção meridional da América do Sul
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 12
na presença de sistema rodoviário como suporte físico para as interconexões, definiu
o espaço de concentração e densificação.
Algumas das ligações rodoviárias atuais tiveram sua origem nas trilhas
deixadas pelos ervateiros – exploradores da erva-mate e da madeira existentes na
região – entre as décadas de 1870 e de 1940. A partir dos anos de 1940, com o
início da colonização do estado, elas se transformaram em ligações rodoviárias. Suas
pavimentações e as construções das pontes ligando Foz do Iguaçu ao Paraguai e à
Argentina, foram obras de infra-estrutura essenciais para o crescimento do Eixo
Cascavel–Foz do Iguaçu e da região.
Peris e Lugnani (2003) trazem que a pavimentação da BR-277 e a construção
da Ponte da Amizade foram conseqüências de um fator de crescimento externo,
conseqüência do fortalecimento das relações diplomáticas e comerciais do Brasil com
o Paraguai, outrora prejudicadas pelos episódios da Guerra do Paraguai.
A ligação com o Oceano Atlântico era uma aspiração do Paraguai desde o
século XVI. A relação entre o Brasil e o Paraguai, desde o fim dessa guerra até a
década de 1960, ressentia-se dos fatos ocorridos durante o conflito. Como resultado
e consolidação do fortalecimento das relações bilaterais entre Brasil e Paraguai, foi
inaugurada, em 27 de março de 1965, sobre o Rio Paraná, a Ponte da Amizade, com
uma extensão de 554 metros, ligando Foz do Iguaçu, no Brasil, a Ciudad del Este, no
Paraguai. A Ponte da Amizade foi o primeiro passo para a ligação do Paraguai com o
Oceano Atlântico, concretizada com a inauguração da pavimentação da BR-277, em
27 de março de 1969 (PERIS E LUGNANI, 2003).
A rodovia BR-277, liga Foz do Iguaçu ao Porto de Paranaguá. E constituía-se,
segundo Monteiro (2000), quando inaugurada, na principal, mais larga e extensa
ligação rodoviária que cortava o Estado do Paraná, numa extensão de
aproximadamente 772 km de Leste a Oeste. Essa estrada pavimentada permitiu a
ligação rodoviária de Assunção a Paranaguá.
Para os autores Peris e Lugnani (2003) esses acontecimentos tiveram alguns
desdobramentos: para o Paraguai, concretizaram o sonho da ligação rodoviária com
o Oceano Atlântico, o que facilitava o comércio com o exterior. Para o Brasil,
representaram o fortalecimento de relações comerciais e de interesses estratégicos e
econômicos com o Paraguai. Para a região Oeste do Paraná, significaram a
pavimentação de seu primeiro trecho rodoviário, ligando Cascavel a Foz do Iguaçu e
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ligando este, por via rodoviária, ao Paraguai. Dessa maneira criou-se um eixo entre
Assunção–Foz do Iguaçu–Curitiba–Paranaguá.
Para Peris e Lugnani (2003) o fortalecimento das relações comerciais do Brasil
com o Paraguai e a conseqüente construção da Ponte da Amizade e a pavimentação
da BR-277 foram fatores exógenos que exerceram forte influência sobre a dinâmica
econômica da região. A partir desses acontecimentos, Foz do Iguaçu e a Região de
Fronteira passaram a ser local de intensas intervenções por parte do Governo
Federal. A pavimentação da BR-277, entre Cascavel e Foz do Iguaçu, foi feita pelo
Governo Federal, em um curto espaço de tempo, representando um fator que
contribui para a expansão da região.
Nesse contexto histórico de fortalecimento das relações comerciais na Tríplice
Fronteira, a ligação entre a fronteira Brasil e Argentina era realizada por balsas, que
transportavam veículos e passageiros. Segundo Peris e Luganani (2003) essa era a
única forma direta de ligação entre Foz do Iguaçu e Puerto Iguazu. A ligação
rodoviária entre Foz do Iguaçu e Puerto Iguazu, ocorreu em 29 de novembro de
1985, sendo um marco na consolidação e no fortalecimento das relações
diplomáticas e comerciais entre os dois países. Fato que coincidiu com o início das
negociações para a criação do MERCOSUL9. Para os autores, as relações entre Brasil
e Argentina havia sido prejudicada pela política de seus governos militares e pela
aliança entre o Brasil e o Paraguai para a construção de Itaipu.
Essa ligação rodoviária entre Brasil e Argentina é definida por Peris e Lugnani
(2003) como um novo fator exógeno, constituído pelo fortalecimento das relações
comerciais do Brasil com a Argentina, por conta de novos tempos nas relações
internacionais, fruto da globalização, o que beneficiou o eixo Cascavel–Foz do Iguaçu
– e consequentemente a região Oeste e da Tríplice Fronteira.
Para os autores, a proposta de criação e o processo de negociação do
MERCOSUL são fortalecidos pela construção da Ponte da Amizade, em 1965, e pela
pavimentação da BR-277, concluída em 1969, fator que desencadeou o
fortalecimento das relações comerciais e diplomáticas com o Paraguai. Já com a
Argentina, o processo é favorecido pela construção da Ponte Tancredo Neves, em
9 MERCOSUL: Mercado Comum do Sul. Possuí como objetivo uma integração regional traçada pelo Tratado de Assunção, de 1991, constituindo um mercado comum entre a Republica Argentina, a Republica Federativa do Brasil, a Republica do Paraguai, a Republica Oriental do Uruguai e a República Bolivariana de Venezuela.
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 14
1985, e pela construção de uma aduana com uma das melhores infra-estruturas do
Sul do País.
5. ITAIPU UM CONTEXTO NA TRÍPLICE FRONTEIRA E NA REGIÃO OESTE DO
PARANÁ
A construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu impactou sobre toda a região Oeste do Paraná. Com relação ao Eixo Cascavel–Foz do Iguaçu, esses impactos foram positivos ao longo de todo o eixo. Promoveram o crescimento de Foz do Iguaçu, favoreceram Cascavel, na outra extremidade, por ser o maior centro de serviços da região, e dinamizaram o interior do eixo. Ao dinamizar Cascavel, também encadeamentos positivos em outras partes da região. (PERIS E LUGNANI, 2003, p. 91)
A construção da Usina de Itaipu foi resultado de uma série de fatores,
definidos segundo Peris e Lugnani (2003) por alguns contextos: primeiro, a visão
estratégica e de longo prazo dos governos militares do Brasil que incentivaram a
decisão do Governo Federal; segundo, a capacidade da diplomacia brasileira, que
negociou um acordo com o Paraguai e com a Argentina10. Terceiro fator, o potencial
hidrelétrico do Rio Paraná; quarto, a capacidade técnica brasileira na construção de
barragens e na montagem de unidades geradoras de energia em grande escala. E,
por último, a demanda de energia elétrica por parte da região industrializada11 do
Brasil.
Para Peris e Lugnani (2003), o início das obras da Usina Hidrelétrica de Itaipu,
pode-se perceber uma significativa alteração do comportamento do eixo Cascavel-
Foz do Iguaçu. A Universidade Federal do Paraná (1974, apud LIMA, 2007, pg. 6)
traz que, com o início das obras da represa o povoamento ganhou força, fazendo
com que em uma década a população da cidade de Foz do Iguaçu, passasse de
33.966 habitantes, em 1970, para 136.321 habitantes, em dez anos.
Nesse contexto de crescimento populacional, o sistema de infra-estrutura12
não era mais adequado e eficiente, sendo necessário investimento para toda a
região. Fator que desencadeou ao Governo Federal a realização de grandes
investimentos, onde foram realizadas obras em infra-estrutura, e a elaboração de
10 Nenhum acordo foi assinado com a Argentina antes do início da construção da Usina. As relações do Brasil com a Argentina mantiveram-se num estágio que permitiu o acordo com o Paraguai e o início das obras. 11 Compreende a Região Metropolitana de São Paulo. 12 Educação, habitação, saúde, energia, telecomunicações e transporte do contingente populacional.
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 15
um plano diretor, que deu a Foz do Iguaçu as feições atuais. No entanto, o
crescimento populacional foi muito mais intenso do que a quantidade de recursos
necessários, maior até do que a previsão dos técnicos, que estimavam uma
população total de 100 mil habitantes, em 1985 (UFPR, 1974, apud LIMA, 2007, pg.
6).
Esse crescimento populacional está intimamente ligado ao grande movimento
migratório promovido pela construção da Usina de Itaipu. Esse contingente
populacional atrai também capitais para a região, o que fez surgir novos
empreendimentos, desencadeando a geração de impostos, necessidade e demanda
de consumo.
Segundo Monteiro (2000), a construção de Itaipu foi o único grande
investimento do Governo Federal que não sofreu interrupção, independentemente da
conjuntura nacional ou internacional, durante sua execução. Sobre Foz do Iguaçu e o
eixo, os reflexos foram sentidos com muita intensidade, pois transformaram a
dinâmica econômica não só de Foz do Iguaçu como também de toda a sua extensão
e entorno.
Para Peris e Lugnani (2003) a partir de 1983, o ritmo da construção de Itaipu
diminui, pela aproximação de sua conclusão. Foz do Iguaçu havia se tornado um
centro urbano, com uma dinâmica que lhe permitia criar outras alternativas de
geração de renda. Uma das alternativas foi o surgimento do turismo de compras em
Ciudad del Este, que segundo os autores foi um fator preponderante que sucedeu a
construção da hidrelétrica como um dos acontecimentos dinamizadores da fronteira
e, por extensão, do eixo.
A construção de Itaipu gerou impactos no Brasil e no Paraguai. Com relação à
região Oeste do Paraná, influenciou diretamente em sua dinâmica, principalmente
porque ocorreu em um mesmo contexto nacional de modernização da agricultura.
Enquanto que as obras de construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu atraíam uma
grande demanda de mão-de-obra e população para Foz do Iguaçu, a modernização
tecnológica da agricultura liberava mão-de-obra. Grande parte dessa mão-de-obra
migrou para Cascavel e Foz do Iguaçu. Sendo assim Cascavel, como uma das
extremidades do eixo e como o grande centro de serviços da região, teve sua
dinâmica econômica favorecida pela construção da hidrelétrica, uma vez que esta
TRÍPLICE FRONTEIRA Janaína Bedin
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 16
dinamizou todo o eixo criando, maior demanda para Cascavel, e consequentemente
para toda a região.
6. REGIÃO DE FRONTEIRA
As cidades fronteiriças possuem aspectos atípicos das demais cidades. Foz do
Iguaçu mais ainda por ser uma região de Tríplice Fronteira – compartilhando suas
fronteiras com Ciudad del Este, no Paraguai e Puerto Iguazu, na Argentina.
Para Rolim (2004) a região transfronteiriça é constituída pelas áreas contíguas
a uma linha de fronteira entre dois ou mais estados. É diferente de regiões de
fronteira. Estas são as áreas vizinhas à linha de fronteira. A grande questão nessas
regiões está nas restrições à mobilidade dos fatores de produção e a conseqüente
dificuldade que isso impõe à concretização de um espaço econômico peculiar.
[...] falaremos de fronteira quando nos referirmos à linha limite de um estado, de regiões de fronteira quando nos referirmos às áreas junto a essa linha limite e de regiões transfronteiriças quando nos referirmos às áreas contíguas junto à linha de fronteira de dois ou mais estados por ela separados. (REIGADO, 2002, p. 571)
As aglomerações urbanas em fronteiras nacionais, como é o caso do Brasil,
Argentina e Paraguai, é uma das mais interessantes e peculiares do contexto
abordado. Nesses locais as diferenças são perceptíveis tendo em vista que existem
distintos espaços econômicos, o que em conseqüência resulta em barreiras para uma
integração. Da mesma forma as condições para o fluxo de pessoas e capitais
também se estabelecem com restrições. Neste contexto é possível perceber e
desenvolver uma cultura comum porém, é perceptível no caso da Tríplice Fronteira
as diferenças culturais entre os três países que constituem esse espaço de relevância
na América do Sul.
São vários os fatores que fazem de Foz do Iguaçu, um importante centro na
América do Sul. A posição geográfica – Tríplice Fronteira – a localização da Usina de
Itaipu, o dinâmico mercado de compras e ciclo econômico – contexto de compras no
Paraguai – a existência de diferentes mercados internacionais em um mesmo centro,
fazem de Foz do Iguaçu o maior centro urbano da Tríplice Fronteira, o que permite
compreender-se como um centro com dilemas territoriais e sociais (PRADO, 2003).
TRÍPLICE FRONTEIRA Janaína Bedin
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 17
O contexto urbano e geográfico de Foz do Iguaçu a tornam um importante
nódulo na rede territorial, tendo importantes elementos centrais de conexão e
circulação de integração territorial. Situada em um importante núcleo logístico do
MERCOSUL, Foz do Iguaçu tem um importante papel com caráter concentrador e de
dispersão de um conjunto de atividades. Economicamente, a região é quase
independente de seus respectivos países sede, mas mantém uma interdependência
muito forte. As moedas de cada país circulam livremente e são facilmente trocadas e
aceitas em qualquer ponto de venda, independentemente de fronteira.
Nessa região além do guarani (paraguaio), do real (brasileiro) e do peso
(argentino), o dólar (antiga moeda argentina) circula com desenvoltura na região
sendo à base de todos os cálculos cambiais e das cotações, oficiais ou não (PRADO,
2003). A região da tríplice fronteira sempre foi um caso à parte na economia
internacional, destacando-se como o terceiro centro mundial de comércio. Essa
região está inserida em um contexto de convivência entre povos diferentes, cada
qual com seus costumes e peculiaridades.
Segundo Prado (2003) a cidade de Foz do Iguaçu é uma cidade cosmopolita.
Nela vivem povos de 62 das 192 nacionalidades existentes no mundo. É possível
perceber uma miscelânea de culturas que circulam pela cidade: árabes, chineses,
indianos, bolivianos, marroquinos, armênios, angolanos, japoneses, coreanos e
tantos outros estrangeiros, que ao lado de brasileiros de todos os cantos do país
contribuem para fazer de Foz uma cidade de múltiplas personalidades.
Essa miscigenação constitui um mosaico racial, tendência registrada ainda no
período de colonização da região. Dos 324 habitantes, em 1889, 212 eram
paraguaios, 95 argentinos, nove brasileiros, cinco franceses, dois espanhóis e um
inglês. Os ciclos econômicos que ocorreram desde o início do século e a promessa de
prosperidade, foi atraindo cada vez mais brasileiros e estrangeiros para a região.
Hoje, as colônias árabe e chinesa são as mais significativas (PRADO, 2003).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A região Oeste da atualidade é o produto de fatores como, interesse político
com intenções reparadoras das seqüelas do pós-guerra do Paraguai, especialmente.
O governo brasileiro, por estratégias no setor energético aliada ao fator diplomático
TRÍPLICE FRONTEIRA Janaína Bedin
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 18
desenvolveu o projeto da Itaipu Binacional que por sua vez causou ligeiro melindre
nas relações com a Argentina superado, a posteriori, com a construção da Ponte da
Fraternidade (Ponte Tancredo Neves).
Resgatadas tais fragilidades colhem-se os frutos dos investimentos gerado por
estes empreendimentos. Foz do Iguaçu definiu um perfil comercial e turístico de
gigantes proporções, criou um eixo forte, polarizando com Cascavel e Toledo as
principais referências da região. Resultado da colonização espontânea, do solo fértil e
dos investimentos diplomáticos, restou uma região forte e com ingredientes para
fazer frente à globalização que se impõe. Bastaram algumas estratégias
desenvolvimentistas e a região mostrou sua garra sinalizando que precisa pouco
para cumprir sua vocação à grandeza.
Os resultados obtidos com a pesquisa, mostraram que com planejamento que
unifique os interesses coletivos, a região infalivelmente prosperará. Os dados
trazidos permitiram traçar-se seu perfil e caracterizá-la como forte e laboriosa.
Assim é um bom e vasto campo para novas investidas científicas, equacionar-se o
futuro, principalmente no que tange à sustentabilidade e preservação do meio
ambiente. Há que se considerar que a região estudada situa-se sobre parte do
Aqüífero Guarani logo, urge que tais preocupações tomem forma prática.
Ainda, há carência de estudos que objetivem buscar uma identidade para a
região das três fronteiras, dispensando tal atenção que o assunto merece. Tudo que
se fez é fragmento e limita-se à divisa política, trata de partes unilateralmente e
despreza o conflito urbano total formado pelos municípios de Foz do Iguaçu, no
Brasil, Puerto Iguazu, na Argentina, Ciudade del Este, Hernadarias, Miguá Guazu e
Presidente Franco, no Paraguai. Tratar desse espaço com uma visão de célula urbana
única é um desafio que se oferece.
TRÍPLICE FRONTEIRA Janaína Bedin
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 19
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PROBLEMA DA MORADIA Geolvana Walker Krohling
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008
ANÁLISE DO PROBLEMA DE MORADIA NA REGIÃO DE CASCAVEL
Geolvana Walker Krohling13
RESUMO
Será abordada, neste artigo, a questão do déficit habitacional da região de Cascavel, bem como, a inadequação dos domicílios. Para isso, será feita uma reflexão sobre o déficit habitacional, analisando-o sob dois pontos de vista: em escala nacional e regional. Inclue-se nessa análise um olhar sob as causas e circunstâncias que geraram e mantém o quadro deficitário nacional. Faremos, portanto um breve resgate do processo de urbanização do Brasil. Objetiva-se, assim, obter uma visão da atual conjuntura brasileira, compreendendo sua origem. Considerando que a análise terá uma escala macro e micro, espera-se, ainda, obter uma compreensão de como se originou o problema habitacional em Cascavel, os fatores implicados em seu surgimento e na configuração atual. Por meio da literatura especializada, objetiva-se alcançar uma melhor compreensão do tema e esboçar soluções no sentido de modificar esse cenário. A metodologia utilizada emprega a pesquisa bibliográfica na qual há a utilização de fontes secundárias e dados científicos já existentes. Para caracterizar a questão da moradia fez-se uso dos dados levantados pela Fundação João Pinheiro.
Palavras-chave: Moradia. Déficit Habitacional. Processo de Urbanização.
INTRODUÇÃO
Sabe-se que há no Brasil graves problemas relacionados à questão de
moradia, esses problemas tanto de falta como de inadequação das unidades, geram
um acentuado “déficit habitacional”. Constata-se que tais problemas possuem ampla
dimensão, tendo como causas fatores econômicos, sociais e, até mesmo culturais,
sendo comuns nas diversas cidades brasileiras.
A Fundação João Pinheiro (FJP), órgão pertencente ao Governo de Minas
Gerais, tem elaborado estudos desde 1995, caracterizando a situação habitacional no
país. O objetivo pela qual a Fundação foi criada é realizar projetos de pesquisa
aplicada, consultorias, desenvolvimento de recursos humanos e ações de apoio
técnico ao Sistema de Planejamento e demais sistemas operacionais de Minas, em
diversas áreas. É também o órgão responsável pelo Sistema Estadual de Estatística
do Estado de Minas Gerais, lançando e divulgando estatísticas básicas e indicadores
econômico-financeiros, demográficos e sociais. O levantamento desses dados visa
proporcionar maior conhecimento da realidade econômica e social do estado e suas
13 Acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo da FAG. Endereço eletrônico: [email protected]
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 22
regiões, favorecendo o planejamento nacional, regional e municipal, por meio de
projetos e estratégias de desenvolvimento setorial e regional, avaliação social de
políticas públicas, apoio institucional entre outros. (FJP, 2008).
Vimos antes que o termo “déficit habitacional” engloba diferentes realidades
ou necessidades por parte da população. Dessa maneira, com o objetivo de calcular
a necessidade habitacional a FJP desenvolveu uma metodologia que distingue déficit
habitacional do segmento que se denominou inadequação dos domicílios14. (FJP,
2008).
Considerando que o déficit habitacional é um fator de grande relevância na
constituição das cidades, os estudos que visam analisar localmente esse problema
tendem a propiciar uma visão micro, pontuada pela presença de características
regionais. Mas isso pode ser positivo, pois eles poderiam suscitar a busca de saídas
locais, condizentes com a realidade daquele espaço e daquela população. Objetiva-se
com o presente trabalho obter informações sobre o setor habitacional no Brasil e
verificar o déficit de alguns apontamentos em nível nacional e regional.
Pode-se verificar que os brasileiros sofrem por questões relacionadas à
moradia, no que tange, não apenas ao déficit habitacional, como também às
condições de habitação da população. Milhares de pessoas não têm onde morar, ou
vivem em condições inadequadas, com adensamento excessivo15, ou inadequação
fundiária16.
A situação atual da moradia é apontada por diversos autores como um dos
maiores problemas sociais brasileiros, alcançando um patamar de complexidade
jamais visto. Este quadro se alterna bastante conforme se observam diferentes
tamanhos de cidades, sendo maior o problema, em termos absolutos, nos grandes
centros metropolitanos. (ABIKO & ORNSSTEIN, 2002, p.19). É importante ressaltar
14 Conforme a FJP, são classificados como inadequados os domicílios com carência de infra-estrutura, com adensamento excessivo de moradores, com problemas de natureza fundiária, em alto grau de depreciação ou sem unidade sanitária domiciliar exclusiva. Foram avaliadas como moradias necessitadas de infra-estrutura aquelas que não dispunham de, ao menos, um dos seguintes serviços básicos: iluminação elétrica, rede geral de abastecimento de água com canalização interna, rede geral de esgotamento sanitário ou fossa séptica e coleta de lixo. (FJP, 2008). 15 O conceito de adensamento excessivo é caracterizado quando o domicílio apresenta um número médio de moradores superior a três por dormitório. (FJP, 2008, p. 58). 16 No que se refere à inadequação fundiária, segundo a FJP, considera-se os casos em que pelo menos um dos moradores da residência tem a propriedade da moradia, mas não possui total ou parcialmente, o terreno ou a fração ideal de terreno em que aquela se localiza. (FJP, 2008, p. 8).
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que, para se fazer uma análise comparativa, é preciso estabelecer uma relação entre
a soma do déficit e o total de domicílios do município.
O Governo há décadas busca soluções a fim de resolver essa situação, por
meio da criação de programas habitacionais de interesse social, na busca de suprir a
demanda, mas sem, contudo, preocupar-se com dimensões e locais adequados,
(ABIKO & ORNSSTEIN, 2002). No entanto, essa questão não se limita a um único
aspecto; ou apenas político, ou territorial, ou cultural, mas ela é bastante ampla.
Segundo os autores, a oferta de moradia no Brasil é restrita a poucos, sendo raras
as famílias em condições de adquirir a casa própria.
Esta conjuntura é perceptível, em maior ou menor amplitude, em todos os
estados brasileiros e nesse sentido, a região de Cascavel faz parte do mesmo
quadro. É possível observar, quer nas áreas centrais quer nas regiões periféricas,
famílias vivendo em situações precárias, sem condições adequadas de moradia.
Assim, após terem sido levantados dados sobre a situação nacional, faremos
uma análise referente à problemática habitacional da região de Cascavel, abordando
informações sobre o déficit atual na escala regional, bem como os principais números
que compõe esse déficit. Almeja-se também avaliar de que maneira este quadro se
constituiu em Cascavel e desenvolver uma reflexão sobre questões de adequação
dos domicílios.
A metodologia utilizada neste trabalho será feita por meio de pesquisa
bibliográfica, utilizando fontes secundárias e dados científicos já existentes. Será
feita uma análise sobre a origem do problema habitacional nas cidades de acordo
com Abiko & Ornstein, Bonduki e Maricato. Para contextualizar o problema
habitacional nacional atual serão utilizados os dados levantados pela FJP.
1. DÉFICIT HABITACIONAL EM ESCALA NACIONAL
Atualmente no Brasil milhares de pessoas vivem um drama relacionado à
moradia. Há muitas famílias que habitam domicílios improvisados17, em locais
17 O conceito de domicílios improvisados engloba todos os locais destinados a fins não-residenciais que sirvam de moradia, o que indica claramente a carência de novas unidades domiciliares. (FJP, 2005, p. 17).
PROBLEMA DA MORADIA Geolvana Walker Krohling
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 24
considerados impróprios e em discordância com a lei como, morros, reservas
ambientais e áreas invadidas. Tais ocupações ilegais agridem o direito do cidadão à
cidade, gerando problemas sociais e ambientais.
Segundo o Ministério das Cidades (2004), a falta de moradia é um dos
maiores problemas sociais existentes no Brasil. Mais de sete milhões de famílias não
possuem residência própria, enquanto que outros milhares de imóveis são
considerados inadequados, pois carecem de infra-estrutura básica: água, energia
elétrica, coleta de lixo, entre outros serviços.
Conforme a FJP (2007, p. 2), o déficit habitacional brasileiro foi estimado em
7.903 milhões de novas moradias em 2005, com incidência notadamente urbana,
correspondendo a 81,2% do montante brasileiro (6,414 milhões).
A região sudeste aparece em primeiro lugar, seguida pela região nordeste.
Nas regiões metropolitanas encontra-se mais da metade da demanda nacional, com
destaque para os grandes centros de São Paulo e Rio de Janeiro.
A distribuição da carência habitacional, conforme a FJP, demonstra o
predomínio da coabitação familiar18, que corresponde isoladamente a 56,8% da
estimativa brasileira, e por 9,3% do déficit metropolitano. Concomitantemente, a
isso, a precariedade física da habitação é responsável por 19,7% do déficit brasileiro
estimado em apenas 9% do déficit metropolitano. (FJP, 2007, p. 2).
Esses dados demonstram que diversas famílias brasileiras vivem
“amontoadas”, ou seja, há pessoas habitando um mesmo local além da capacidade
suportada por esse espaço. Ainda no que se refere à precariedade física, significa
que muitas destas moradias não têm condições de serem habitadas, quer sejam em
função da precariedade da edificação ou em virtude de não terem sido feitas obras
de reparo e manutenção necessárias. Essa conjuntura intensifica, cada vez mais, o
processo de favelização em que se encontram diversas cidades brasileiras.
Essa realidade, segundo o Ministério das Cidades (2004), relaciona-se com a
concentração de renda e desigualdades sociais existentes no país, o que culmina no
18 O conceito de coabitação familiar engloba a soma das famílias conviventes secundárias que vivem junto a outra família em um mesmo domicílio e das que vivem em cômodos cedidos ou alugados. (FJP, 2005, p. 17).
PROBLEMA DA MORADIA Geolvana Walker Krohling
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 25
surgimento de ocupações irregulares, aumentando ainda mais os problemas sociais e
ambientais do Brasil.
Mas percebe-se também um crescimento expressivo de moradias urbanas
vagas no país, com uma taxa de aumento de 55 % entre os anos de 1991 e 2000,
conforme dados do Ministério das Cidades (2004, p. 20). Esse cenário induz a um
questionamento: quais seriam as causas de tantos domicílios desocupados, sendo
que os dados apontam para uma grande carência habitacional no país?
Para o Ministério das Cidades (2005) a resposta é evidente; tal fato deve-se à
falta de ajuste dos imóveis, à demanda habitacional referente à adequação desses e
ao atendimento às classes sociais mais carentes, com baixo poder de compra, entre
as quais concentra-se a maior carência habitacional.
Mas, para o entendimento do problema atual relacionado ao setor
habitacional, é importante avaliar qual a sua origem, quais os fatores que
contribuíram para o seu surgimento, bem como para o agravamento deste quadro.
1.1 Origem do Problema da Habitação no Brasil
Antes de centrar-se no problema específico do déficit habitacional na região de
Cascavel, faz-se necessário esclarecer como esse quadro se originou no Brasil,
entendendo quais fatores estão relacionados à questão da moradia, bem como,
compreender os acontecimentos geradores deste quadro sistêmico. Serão
apresentados episódios ocorridos no início da configuração das cidades, apontando
como se deu o processo de urbanização no país.
A situação da moradia brasileira é vista atualmente como um dos maiores
desafios para que o país cumpra o seu papel e ofereça condições dignas de
habitabilidade aos cidadãos. Este cenário tem instigado profissionais de diversas
áreas a buscar recursos e soluções capazes de amenizar este quadro. Porém, as
causas apontadas para as péssimas condições de moradia existentes hoje no Brasil,
segundo os autores da área, são múltiplas demandando assim diferentes formas de
resolvê-las.
Dentre estas razões estão a modernização econômica, a desigualdade e a falta
de ética, reflexo do sistema político dominante no país, que produziram e ampliaram
PROBLEMA DA MORADIA Geolvana Walker Krohling
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 26
os impactos negativos no que se refere ao precário sistema habitacional, dando início
a um enorme e complicado processo de segregação, exclusão e marginalização da
população. (ABIKO & ORNSSTEIN, 2002).
Conforme Maricato, já no século XIX diversos acontecimentos relacionados à
questão fundiária, concentração de terras, poder político nas mãos de grande
proprietários, ocorreram antes mesmo da urbanização da sociedade. Porém, para
ela, o método de urbanização foi seguramente influenciada por fatores como a
banalização da mão-de-obra e a forma de atuação do poder político em relação ao
patrimônio individual. (MARICATO, 2001).
Para Maricato (2001), a crise brasileira inicia-se com o processo de
urbanização, quando o trabalhador sai do campo em direção à cidade em busca de
oportunidades no período denominado “Revolução Industrial Brasileira”. As cidades,
desprovidas de condições básicas para acolher tamanho contingente populacional,
incharam a ponto de se tornarem um verdadeiro caos. O rápido crescimento ocorrido
no Brasil a partir de então sempre foi acompanhado da exclusão de uma parte
significativa da população.
Segundo a autora, esse fato gerou uma grande mudança no cenário urbano,
mais precisamente no ambiente construído, pois era preciso assentar toda a
população que carecia de moradia, bem como de saúde, transporte, energia e todas
as demais necessidades básicas. Desta forma, com ou sem planejamento,
construíram-se condições de habitação nas cidades, ainda que as expectativas de
qualidade e acessibilidade não tenham ocorrido de maneira satisfatória, (MARICATO,
2001).
Uma data a ser considerada como ponto de partida para o processo de
urbanização foi o final do século XIX, em que houve o surgimento do operário livre, a
proclamação da República e a emergência da indústria, ainda que limitada, liga-se
inicialmente à cafeicultura e produtos básicos para o mercado interno. (MARICATO,
2001).
A situação precária em que vivia a maioria da população trouxe a necessidade
de reformas urbanas no final do século XIX. Diversas obras foram executadas para
melhoria do saneamento básico, pois era preciso eliminar as epidemias que
assolavam a população das cidades. Em paralelo a estas reformas, iniciou-se um
processo de melhoria da paisagem e legalização do mercado imobiliário de corte
PROBLEMA DA MORADIA Geolvana Walker Krohling
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 27
capitalista (MARICATO, 2001). A população que estava à margem desses benefícios
era obrigada a se deslocar para os morros e áreas periféricas da cidade. Ou seja,
paralelamente às obras de melhoria acontecia também a segregação territorial.
Até 1930, a economia era baseada no setor agrário, a partir de então, houve
uma série de alterações na sociedade brasileira e na estrutura de produção. Os
antigos senhores de escravos e barões do café foram substituídos, no cenário
político, pelos industriais, num processo que se pode denominar Revolução Burguesa
no Brasil. A partir desse período o Estado incrementou os investimentos em infra-
estrutura, visando ao desenvolvimento industrial e ao fortalecimento do mercado
interno e da cadeia produtiva, o que por sua vez culminaria na substituição das
importações (MARICATO, 2001).
Contudo, segundo a autora, a burguesia industrial assumiu o poder político,
sem que houvesse uma ruptura com os interesses hegemônicos já estabelecidos. A
justaposição notada entre ruptura e continuidade, que pode ser verificada nos
principais momentos de mudança na sociedade brasileira, marcou o processo de
urbanização com raízes na sociedade colonial. (MARICATO, 2001, p. 17).
Enquanto isso, a população operária das cidades vivia o caos que era fruto da
falta de estrutura e do inchaço populacional urbano. Naquele período, essa parcela
da população vivia amontoada em cortiços, sem ventilação, iluminação ou qualquer
outro conforto mínimo que ensejasse dignidade. A cidade insalubre adoeceu, com
graves problemas sociais e econômicos. Esse processo despertou o repúdio de vários
pensadores, os quais buscaram uma mudança no cenário urbano e o abandono da
noção de cidade tradicional. Nesse contexto surgiu a principal corrente do urbanismo
moderno, a corrente progressiva19. (DIAS, 2005).
Esta corrente tem como marco inicial o ano de 1901, quando o arquiteto Tony
Garnier ordena um plano da cidade industrial. Novos passos foram dados em 1928,
quando acontece um movimento internacional organizado por arquitetos
racionalistas, denominado (CIAM - Congresso Internacional de Arquitetura Moderna).
Desse congresso emana um documento magistral em 1933, denominado “Carta de
19 O Urbanismo Progressista se fundamentava num conceito abstrato do homem, como indivíduo mutável no tempo e no espaço, entendia que a ciência deve consentir a definição exata de um modelo urbano perfeito que coincida ao coletivo. A proposta urbana defende o homem-tipo, independente de lugar, tamanho de cidade, política, nível social e econômico. Com esse conceito surgem Chandigarh a partir dos ideais de Lê Corbusier e Brasília de Niemeyer. (DIAS, 2005, p. 12).
PROBLEMA DA MORADIA Geolvana Walker Krohling
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 28
Atenas”. Segundo Dias (2005, p. 12) esse foi o “verdadeiro catecismo do urbanismo
progressista”.
O Urbanismo Progressista pregava o “homem tipo”, universal, sem considerar
a individualidade. Ao contrário, acreditava-se que a construção padronizada para
todos os cidadãos, entre outros pontos, solucionaria as dificuldades da época.
Foi a partir de 1940, que teve início no Brasil, um intenso processo de
urbanização, o qual foi comum aos demais países da América Latina. Esse
crescimento urbano fez com que a população aumentasse de 18,8 milhões em 1940,
para 138 milhões em 2000.
Um dos fatores que interferiram de maneira decisiva na produção do ambiente
construído foi a nova fase industrial, a partir de 1950, quando a indústria passou a
produzir bens duráveis. Foi nessa época que órgãos internacionais passaram a
interferir mais diretamente nas decisões políticas tomadas no país, distorcendo as
necessidades sociais internas segundo padrões alheios à cultura brasileira, e, pior
ainda, ampliando a dependência no segmento internacional do trabalho. (MARICATO,
2001).
Com a criação do Banco Nacional de Habitação (BNH), associado ao Sistema
Financeiro da Habitação (SFH), em 1964, houve uma tentativa de prestar maior
atenção às cidades brasileiras, iniciando uma política voltada a alterar o modelo de
produção das cidades brasileiras. Nesse momento, o Brasil passou a investir na
habitação montantes jamais vislumbrados e isso promoveu transformações no perfil
das grandes cidades, principiando a construção de edifícios residenciais
verticalizados. Esse fato fez com que, na década de 40, o apartamento se tornasse a
forma mais importante de moradia da classe média. (MARICATO, 2001).
É nesse contexto que se solidifica o mercado imobiliário brasileiro e, segundo
palavras da autora, acontece a “explosão imobiliária”. Nota-se que a concepção do
SFH não conseguiu atingir seu objetivo inicial de promover o acesso ao espaço
urbano a todos os cidadãos, pois acabou estimulando as ações especulativas do
mercado de terras. Sobre esse fato, Maricato (2001, p. 21), afirma: “Para a maior
parte da população que buscava moradia nas cidades, o mercado não se abriu. O
acesso das classes médias e altas foi priorizado”.
PROBLEMA DA MORADIA Geolvana Walker Krohling
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 29
Complicando ainda mais esse quadro, os empreendimentos de agenciamento
público, chamados conjuntos habitacionais populares, foram, por assim dizer,
vergonhosos: construídos em locais inadequados, sem infra-estrutura, distantes dos
principais serviços, sem a mínima racionalidade. Tais inadequações acarretaram
imensos gastos ao poder público com a ampliação de infra-estrutura, gastos esses
obviamente repassados para a população. (MARICATO, 2001, apud Maricato, 1987).
O crescimento econômico dos anos 60 e 70 se estabilizou com o surgimento
de uma nova classe média urbana, mas sempre esteve paralelo às desigualdades
sociais. Contudo, o crescimento foi prejudicado pela recessão dos anos 80 e 90,
quando o crescimento demográfico ultrapassou o crescimento do PIB. Este fato
gerou grande impacto social e ambiental expandindo a esfera de disparidade social.
(Maricato, 2001).
Esse cenário fez surgir nos anos seguintes um aumento significativo da
concentração da pobreza urbana, um dos aspectos que leva Maricato a chamar essa
época como “décadas perdidas”:
Pela primeira vez em sua história, o Brasil tem multidões, que assume números inéditos, concentradas em vastas regiões – morros, alagados, várzeas ou mesmo planícies – marcadas pela pobreza homogênea. (Maricato 2001, p. 22).
Aliado a isso há outros problemas que resultam no agravamento da situação
caótica do país. Vê-se nas cidades enchentes, desmoronamentos, poluição geral do
solo, da água, do ar, desequilíbrio gerado em função do excesso de
impermeabilização do solo, desmatamentos, epidemias, amontoados habitacionais,
agressão. Este momento de caos urbano é citado pela autora como “tragédia urbana
brasileira”. (Maricato 2001, p. 22).
Esses acontecimentos nos dão a certeza de que o método de desenvolvimento
adotado no país sempre esteve atrelado à desigualdade social, privilegiando as
classes dominantes em detrimento dos grupos menos favorecidos. Nesse caminho de
modernização econômica, com o êxodo rural e os deslocamentos em massa de
trabalhadores que partiam atrás de trabalho e melhores oportunidades, a
urbanização não foi planejada, ou ocorreu baseada em modelos copiados, distantes
da realidade local.
A falta de estrutura das cidades para acolher a população e a má remuneração
do trabalhador fizeram gerar uma condição de construções informais. Ou seja, sem
PROBLEMA DA MORADIA Geolvana Walker Krohling
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 30
condição para adquirir a própria casa, esses trabalhadores são obrigados a
construírem-nas eles mesmos, o que torna a qualidade de habitabilidade
extremamente comprometida. Fica óbvio que, se esses trabalhadores não têm
condições de pagar pela moradia, jamais a teriam para adquirir uma parcela de solo
urbano em local próprio. Nisso pode-se perceber o porquê das invasões e
assentamentos ilegais.
De fato, segundo Maricato (2001), as raízes da tragédia urbana estão no
período posterior à privatização da terra, ocorrida em 1850, e na emergência do
trabalho livre. A autora denomina esse período como uma “gigantesca construção de
cidade”, edificada, de uma maneira geral, ilegalmente, sem a participação dos
governantes, sem recursos técnicos e financeiros significativos. (MARICATO, 2001, p.
37). As palavras de Maricato demonstram sua indignação quanto à forma de
urbanização das cidades e sua conseqüência:
O processo de urbanização se apresenta como uma máquina de produzir favelas e agredir o meio ambiente (...) O direito à invasão é até permitido, mas não o direito à cidade. A ausência de controle urbanístico (fiscalização das construções e do uso/ocupação do solo) ou flexibilização radical da regulação nas periferias convive com a relativa “flexibilidade”, dada pela pequena corrupção, na cidade ilegal. Legislação urbana detalhista e abundante, aplicação discriminatória da lei, gigantesca ilegalidade e predação ambiental constituem um círculo que se fecha em si mesmo. (Maricato 2001, p. 39).
Alia-se a essas palavras o que é dito por Bonduki (2004), que escreve que o
surgimento do problema da habitação popular do século XIX é concomitante aos
primeiros índices de segregação espacial. Ele afirma ainda que, a partir de 1880,
aparecem os primeiros sinais de isolamento, quando teve início a diversificação das
funções e o surgimento dos bairros residenciais para a elite e para os bairros
operários, expandindo o velho centro. (BONDUKI apud Matos, 2004).
Na visão de Dias et alli (2007), a cidade, a partir do momento em que
começou ser rapidamente urbanizada, deixou de ser um ponto de encontro,
tornando-se um local de trabalho. Atualmente, o estilo de vida frenético adotado na
maior parte das grandes e médias converte pessoas em indivíduos que trabalham
para consumir cada vez mais, mas o que no final gera isolamento e dificuldade na
constituição de laços de reconhecimento. Esses laços, que outrora uniam as pessoas,
atualmente se converteram no medo e na visão do outro como perigoso e que,
portanto, deve ser mantido longe. A existência dos muros altos, das grades, circuitos
de segurança personificam isso e mostram a solidão, o medo e o isolamento das
pessoas nas grandes cidades.
PROBLEMA DA MORADIA Geolvana Walker Krohling
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 31
Para Maricato (2001), a atual conjuntura brasileira demanda ações que
desafiam arquitetos e urbanistas. Em sua visão, uma das dificuldades, é que estes
profissionais não possuem conhecimento acumulado, tão pouco experiência para
lidar com tamanho desafio. Somente o conhecimento dessa realidade, fundamentado
em informações cientificas relativas ao ambiente construído é capaz de promover
ações coerentes e transformadoras para o planejamento urbano no Brasil.
(MARICATO, 2001).
A partir desse conhecimento, segundo Maricato (2001), será possível definir
ações de planejamento realmente transformadoras, abandonando os erros
cometidos, iniciando uma nova fase, na qual o destino da população passe a fazer
parte das tomadas de decisões.
É nesse sentido que se propõem este trabalho; iniciar uma tentativa de
conhecer a realidade habitacional da região de Cascavel, avaliando a real carência de
moradia e adequação dos domicílios.
2. ESCALA REGIONAL – CASCAVEL
Após uma delineação do quadro do déficit habitacional brasileiro, pode-se
perceber que no processo de ocupação das cidades houve um relacionamento entre
fatores de ordem econômica, social, política e cultural. É possível verificar esse
fenômeno em todo o histórico habitacional do país. Contudo, há sutis diferenças
entre locais diferentes e nessas divergências podemos inferir que os fatores citados
acima também diferem. Buscando verificar diferenças e semelhanças do município
com o perfil nacional, na seqüência, relatar-se-á, brevemente, o processo de
colonização da região de Cascavel, também será feita uma caracterização geral do
município e, posteriormente, abordar-se-á o problema especifico da habitação.
2.1 Histórico da Colonização
A região de Cascavel foi ocupada por volta de 1557, pelos espanhóis, que a
abandonaram completamente anos depois. Dias et alli (2005) observa que a
colonização da região foi impulsionada pela presença jesuítica. Mais tarde, o
interesse pela região foi focado na extração de erva-mate.
PROBLEMA DA MORADIA Geolvana Walker Krohling
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 32
Após a saída dos espanhóis, a região permaneceu quase 200 anos no
esquecimento, voltando a ser desbravada pelos tropeiros, por volta de 1730. Com a
fundação de Foz do Iguaçu houve um grande número de trabalhadores que
migraram para lá, o que contribuiu bastante para a fundação de Cascavel. Junto a
esse deslocamento de viajantes e tropeiros, houve a vinda de pessoas que abriram
negócios à beira da estrada e estabeleceram pontos de pouso, nos quais era possível
conseguir mantimentos e propiciar alimentação e descanso aos animais (CASCAVEL,
s.d.).
Outro fato que marcou a história da região, a Revolta Tenentista – movimento
que levou Getúlio Vargas ao poder. O governo de Getúlio gerou conflitos no país,
fazendo com que parte da população se deslocasse para o interior do Brasil em
busca de tranqüilidade e paz. É nesse contexto que se deu a colonização inicial, de
Cascavel. (DIAS et alli, 2005).
Na década de 50, teve início o ciclo madeireiro na região, que atraiu ainda
mais famílias, principalmente do sul do país. A explosão madeireira fez com que
Cascavel tivesse um crescimento próximo a 80% ao ano, a partir de 1950. A
população rural neste período compreendia 61,12% do total da população do
Município (CASCAVEL, s.d.). Posteriormente, iniciou-se o plantio de café, vindo a
tornar-se a principal cultura e trazendo para a cidade mais pessoas que chegavam
de diversas regiões brasileiras.
Em 1960 o povoado já era um ponto de referência regional pela extração de
madeira, disponível em abundância nas florestas e, também, pela localização
estratégica no contexto regional. Por essa razão, foi necessário adequar e ampliar a
estrutura viária e os acessos. Foi nessa conjuntura que houve a criação da Avenida
Brasil, um símbolo para as implantações de ações posteriores do planejamento
municipal, neste período profundamente ajustado ao urbanismo progressista. (DIAS
et alli, 2005).
Naquele momento, todo o Brasil seguia os conceitos do Urbanismo
Progressista, que tinha como enfoque obras físicas, dando início à elaboração de
planos diretores e leis municipais em muitos lugares do país. Isso também ocorreu
em Cascavel e em 1978 registra-se a formação da primeira equipe administrativa e a
elaboração do plano diretor. (DIAS et alli, 2005)
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 33
Com o fim do ciclo de extração da madeira, a região se consolidou na
agricultura, trazendo outras levas de migrantes. O perfil empreendedor dos
migrantes que vieram ao município de Cascavel propiciou pujança econômica. (DIAS
et alli, 2005).
2.2 Cascavel e região circunvizinha hoje
O crescimento acelerado, a localização estratégica, bem como o aspecto
arrojado dos colonizadores da região, foram responsáveis pelo grande
desenvolvimento conquistado. A região toda tem sua economia baseada na
agricultura e constitui-se por cidades de pequeno porte. Dessa maneira, Cascavel é
considerado um pólo regional, referência de serviços e comércio, onde parte da mão
de obra local não aproveitada na agroindústria é empregada. Isso explica a oscilação
neste trabalho, ao abordarmos o déficit habitacional, entre dados de Cascavel e
outras cidades.
FIGURA 01: Micro região de Cascavel
Fonte: IPARDES, 2002.
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 34
No mapa acima, pode-se perceber a localização geográfica estratégica da
região e a posição central do município de Cascavel em relação aos demais do
entorno. Lembramos ainda que boa parte dos municípios circunvizinhos pertencia
anteriormente ao território de Cascavel, o que confirma a influência desse município
sobre a microrregião.
Cascavel tem, conforme dados do IBGE (2000) uma população de 285. 784
habitantes, com um território de 2.100 km². A cidade também é portadora de um
bom índice de desenvolvimento humano (IDH), 0,8099, renda per capita de R$
347,01 e um PIB municipal de R$ 1.297.009,17. Segundo dados do IPARDES, as
atividades de Cascavel e região são ligadas essencialmente à agroindústria e
serviços, demonstrando tendência à diversificação. Somente no município de
Cascavel, mais de 12.000 famílias são cadastradas no Programa Bolsa Família, com
renda variável entre R$ 50,00 a 151,00.
2.3 Análise do Déficit Habitacional na Região de Cascavel
Para obter uma análise do déficit habitacional da região, serão utilizados
informações e dados levantados pela FJP. Buscando um entendimento melhor sobre
o que é déficit habitacional, adotaremos o conceito de déficit desenvolvido pela FJP.
De acordo com a FJP, entende-se por déficit habitacional os dados mais atuais da
necessidade de construção de novas moradias para a solução de problemas sociais e
específicos de habitação, detectados em um determinado momento. Esse conceito
está diretamente ligado às deficiências de estoque de moradias (FJP, 2005.).
Consideram-se habitações inadequadas àquelas quais não oferecem a seus
habitantes condições esperadas de habitabilidade, o que não implica, contudo, em
necessidade de construção de novas unidades.
Analisaremos, abaixo, as Tabelas 1, 2 e 3 que apresentam uma tabulação dos
resultados das pesquisas da FJP.
Tabela 1- Déficit Habitacional DÉFICIT HABITACIONAL BÁSICO (2) DOMICÍLIOS VAGOS
Absoluto % do total de domicílios
Absoluto
Total
Urbana
Rural
Total
Urbana
Rural
Total
Urbana
Rural
MICRORREGIÃO
CASCAVEL
7.441 5.629 1.812 6,96 6,44 9,31 9.689 7.336 2.353 Fonte: FJP, 2000
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 35
A partir da análise dos dados da FJP, é possível constatar que a região de
Cascavel, não se difere das demais regiões do país, uma vez que nela podem-se
encontrar diversos problemas relacionados à habitação. Percebe-se a carência de
unidades habitacionais, serviços públicos, adequação das moradias.
Os dados apontam para um déficit habitacional de 7.441 domicílios em toda
região (tabela 1). Destes 5.629 são na área urbana e 1.818 em zona rural. Do
número total de carência de moradias regional, nota-se que existem 1.332 famílias
que vivem de maneira improvisada, 4.214% moram com situação fundiária irregular,
4.487% com adensamento excessivo, 3.199% sem banheiro e 53, 686% carentes de
infra-estrutura (tabela 2).
Tabela 2 – Domicílios Improvisados DOMICÍLIOS IMPROVISADOS % EM REL. DOMICÍLIOS PARTIC.(1)
Rural
Rural
Total
Urbana
Total Extensão Urbana
Demais Áreas
Total
Urbana
Total Extensão Urbana
Demais Áreas
MICRORREGIÃO C
ASCAVEL
1.332 588 1.812 0 744 1,23 0,67 3,68 0 3,68 Fonte: FJP, 2000
Tabela 3 - Habitabilidade dos Domicílios
INADEQUAÇÃO ADENSAMENTO EXCESSIVO (1)
DOMICÍLIO SEM BANHEIRO (1)
CARÊNCIA DE INFRA-ESTRUTURA
(2)
Absoluto
% do total de
domicílios
Absoluto
% do total de
domicílios
Absoluto
% do total de
domicílios
Absoluto
% do total de
domicílios
MICRORREGIÃO C
ASCAVEL
4.214 4,82 4.487 5,13 3.199 3,66 53.686 61,39
Fonte: FJP, 2000
Distinguindo-se as habitações desprovidas de infra-estrutura, obteve-se um
total de 53.686 (Tabela 3). As dificuldades consideradas são falta de iluminação
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elétrica, problemas com abastecimento de água, esgoto sanitário e coleta de lixo. A
lacuna fundamental refere-se ao esgoto sanitário, correspondendo a 46.895 do total
e, posteriormente, o fornecimento de água com 2.584. Tem-se quase 3.000
habitações necessitadas de mais de um destes serviços.
Analisando, agora, o déficit habitacional particularmente em Cascavel, nota-se
que quase 60 % do déficit regional encontra-se no município. A cidade que polariza a
região, possui uma carência de 4.236 domicílios, sendo 3.626 urbanos e 610 rurais.
Em Cascavel, do total do déficit urbanos, 89,74% são coabitações familiares,
8,05% são improvisados e 2,21 % considerados rústicos. Ao analisar-se a
quantidade de domicílios vagos, percebe-se que existem 5.318 moradias
desocupadas na área urbana e 405 na zona rural.
Caracterizando os domicílios carentes de infra-estrutura encontrou-se um total
de 34.964. Os problemas avaliados são falta de iluminação elétrica, problemas com
abastecimento de água, esgoto sanitário e coleta de lixo. A principal deficiência
refere-se ao esgoto sanitário, correspondendo a 30.302 moradias que não são
beneficiadas com o serviço, em segundo lugar está o abastecimento de água com
2.546 residências. Nota-se ainda que mais de 2.000 moradias carecem de mais de
um destes serviços.
Buscando levantar o panorama do adensamento urbano excessivo encontra-se
um total de 3.031 domicílios que estão em condições de saturamento, e ainda 1.142
domicílios que não possuem banheiro.
Fazendo uma análise comparativa do déficit habitacional de Cascavel com os
dados do Paraná e com o panorama brasileiro, é possível perceber como este se
situa, comparado aos índices médios do Estado e da nação, como demonstra a
tabela 4.
Tabela 4
DÉFICIT HABITACIONAL DE CASCAVEL EM % DO TOTAL
DOS DOMICÍLIOS
DÉFICIT HABITACIONAL DO PARANÁ EM % DO TOTAL DOS
DOMICÍLIOS
DÉFICIT HABITACIONAL DO BRASIL EM % DO TOTAL DOS
DOMICÍLIOS
6,32
7,38
6,76 Fonte: Gerada pela autora a partir dos dados da FJP
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Tanto com relação ao estado do Paraná, como em relação ao Brasil, Cascavel
encontra-se em melhor posição. Considerando a situação de Cascavel comparada a
outros municípios da região sul, do mesmo porte, tomaram-se os números da cidade
de Chapecó, Santa Catarina. Esta cidade, como Cascavel, é considerada pólo de sua
região. O município catarinense apresentou um déficit de 7,84 do total dos
domicílios. Portanto, Cascavel tem uma posição favorável comparada a da cidade de
Chapecó.
Voltando ao déficit habitacional de Cascavel, apesar dos números mostrarem
tamanha carência, ao analisar-se a quantidade de domicílios vagos20 existentes,
percebe-se uma contradição. Para definir este conceito de moradia vaga, o IBGE
identifica o estoque de domicílios vagos como aqueles que se encontravam
desocupados na data de referência do censo demográfico.
As estatísticas demonstram que existem 9.689 moradias vagas na região de
Cascavel, onde 7.333 encontram-se na cidade e 2.353 na área rural. Comparando-se
esses números com os do déficit, 4.236 de domicílios nota-se que o número de
domicílios vagos supera o déficit.
Qual será a razão de haver tantos domicílios vagos ao mesmo tempo em que
milhares de famílias não possuem moradia adequada? Por que razões essa situação
ocorre? Foram abordadas anteriormente, diversas questões que neste momento
devem ser resgatadas. Vimos que no Brasil, o inicio da produção das cidades, a
urbanização urbana acelerada gerou conseqüências desastrosas no contexto urbano.
Neste processo de crescimento econômico, industrialização, sistema político
capitalista, êxodo rural, surgiu também a especulação imobiliária, a segregação
espacial, bairros periféricos elitizados e/ou carentes, ocasionando o abandono das
áreas centrais, ampliando os conflitos negativos do sistema habitacional.
Para Nigro (2008), o processo de favelização do país demonstra a perda da
governabilidade. Ele acredita que não adianta construir casas para a população se
não oferecer, antes de tudo, estrutura. Nigro afirma que um dos caminhos para a
solução da crise habitacional brasileira é por meio do Plano Diretor Municipal21. Com
20 Segundo a FJP, não existem informações sobre as características dos domicílios vagos, apenas números absolutos. Porém esse número pode ter proporções bem diferentes, pois muitos domicílios encontravam-se fechados no momento do censo, não sendo contabilizados como “vagos” e sim como “fechados” ou “de uso ocasional”. 21 O Plano Diretor é uma lei municipal que deve ser elaborada com a participação de toda a sociedade. Ele organiza o crescimento e o funcionamento do município. No Plano está o projeto de cidade que se
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a utilização dos princípios do Estatuto das Cidades22, implantando políticas públicas
geradoras de mudanças estruturais, seria o início de um processo de mudanças em
longo prazo.
Maricato (2002) confirma essa teoria, afirmando que o planejamento urbano
participativo é a solução para a crise urbana, apesar de haver muitos desafios para
sua implementação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na construção das cidades brasileiras, ao longo da história, a cidade se
transformou. De um local de encontro se tornou local de oportunidades. Essa
característica fez com que se priorizasse a construção voltada à indústria, ao lucro a
qualquer custo. De ambiente agradável, passou a ambiente doente, sujo, perigoso.
As cidades começam a se modificar, dando espaço para as ruas, avenidas, à
pavimentação, ao automóvel, nos conceitos do Urbanismo Progressista, que vem
para “salvar” as cidades de caos em que se encontravam. Desenvolvidas agora ao
homem “padrão”, devem ser setorizadas, racionais, limpas, de fácil locomoção. E o
ser humano? Sua cultura? Seus sonhos? Não há espaço para isso na cidade industrial
produtiva. Descaracterizado de suas raízes, sua individualidade, suas necessidades,
precisa agora trabalhar, cada dia mais para poder melhorar suas condições de vida,
habitabilidade, adquirir sua própria moradia, e tudo mais que a indústria produz e
“precisa” ser consumido. Em conseqüência desse processo, foram desencadeadas a
especulação imobiliária, periferização, exclusão social, abandono do velho centro,
poluição, desorganização, carência de moradias, desrespeito às necessidades
humanas.
Por outro lado, surge a chamada burguesia, o favorecimento das classes com
poder aquisitivo, até o momento que essa ganha o poder político. Desde então, os
almeja. Ele planeja o futuro da cidade decidido por todos. O Plano vale para todo o município, ou seja, para as áreas urbanas e também para as rurais. Deve dizer qual é o destino de cada parte do município, sem esquecer, é claro, que essas partes formam um todo. É o Plano Diretor que diz como o Estatuto da Cidade será aplicado em cada município. (http://www.planodiretorsjb.cefetcampos.br/oqeplanodiretor). 22 O Estatuto da Cidade foi aprovado em 2001. É uma lei inovadora que abre possibilidades para o desenvolvimento de uma política urbana com a aplicação de instrumentos de reforma urbana voltados a promover a inclusão social e territorial nas cidades brasileiras, considerando os aspectos urbanos e sociais e políticos de nossas cidades. (http://www.estatutodacidade.org.br/estatuto/).
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privilégios e decisões sempre vêm a favorecer interesses particulares e, claro, em
prejuízo ao coletivo.
Segue então o quadro de desigualdade social, e o processo de “crescimento”.
Subúrbios luxuosos e bairros periféricos, estradas lotadas e favelas amontoadas,
desenvolvimento tecnológico e destruição do meio ambiente. Esse cenário criado,
apesar da brutal diferença, caminhou junto, num processo conecto, da construção
das cidades.
Esse contexto histórico arrasta-se ao longo de décadas, e o que se vê é a
perpetuação dos problemas. Em todos os estados brasileiros esta situação está
presente, agravada em áreas metropolitanas, porém sem deixar de existir em
cidades de médio porte como Cascavel.
Comparada à condição estadual e nacional, Cascavel tem uma situação
aparentemente favorável. Todavia, é importante ressaltar que o crescimento urbano,
se não planejado, tente a gerar e agravar os problemas sociais tão comuns aos
grandes centros. Por isso, é essencial ao planejamento a existência de uma política
habitacional que previna o problema ao invés de remediá-lo.
Por essa razão, enquanto os números apontam para problemas sob controle
na região, é que é necessário lançar mão de um planejamento eficaz. O
planejamento urbano deve considerar esse quadro e propor ações capazes de
controlar o crescimento do problema da moradia com políticas urbanas, pois, como
foi visto anteriormente, os dados mostram que há domicílios vagos, o que
confirmaria que construir casas não é a solução para o déficit habitacional em
Cascavel.
Idéias que poderiam ser adotadas podem vir de várias fontes. O Estatuto da
Cidade, por exemplo, apresenta sugestões sobre a resolução de questões como
regularização fundiária em locais inadequados à ocupação humana (áreas de várzea,
encostas de morros sujeitas a desmoronamentos, área de preservação, entre
outros).
Em áreas centrais desocupadas e dotadas de infra-estrutura ociosa, é
possível, por meio dos instrumentos, prever-se sua ocupação ou construção usando
recursos como a lei de IPTU progressivo ou a desapropriação do imóvel em caso de
proprietários inobservarem a função social adequada de seu terreno.
PROBLEMA DA MORADIA Geolvana Walker Krohling
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 40
É notório que o Plano Diretor encontra inúmeras dificuldades para sua efetiva
implantação e posterior gestão. Existe um longo caminho a ser percorrido, até que
haja um amadurecimento por parte do poder publico, bem como da própria
população que precisa ser conscientizada da importância de sua participação nas
tomadas de decisões que regerão o futuro do município.
Somente desta forma, a cidade passará a cumprir sua função social, provendo
a todos os cidadãos o direito à cidade, otimizando áreas ociosas que só fazem onerar
o erário, e contribuindo para a solução da carência habitacional existente. Melhor
ainda, no caso de Cascavel, estaria prevenindo um problema antes de ter que
remediá-lo no futuro, processo mais oneroso e de difícil resolução para o município.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABICO, A. K; ORNESTEIN, S. W. Ocupação urbana e Avaliação pós Ocupação da H.I.S. São Paulo: FAUUSP, 2002.
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MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 42
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: uma avaliação dos seus aspectos territoriais
Carolline Vargas, Luiz Carlos Macoris e Rodrigo de Oliveira Moura23
INTRODUÇÃO
A microrregião de Cascavel caracteriza-se por origens essencialmente agrícola
com transição para a industrialização, decorrendo esta da necessidade de agregar
valores à sua produção para reter parte maior da riqueza produzida pela sua
população.
A fertilidade do solo e a tecnologia oferecida à agricultura mecanizada fizeram
da região uma das maiores produtoras de grãos do país e sua industrialização trouxe
enriquecimento e qualidade de vida.
A microrregião, parte da região oeste do Paraná é composta por dezoito
Municípios, tendo como pólo o Município de Cascavel, tanto pela sua centralidade
físico/geográfica como pelo pólo urbano com tendências a cidade universitária,
centro médico e núcleo industrializado principalmente na transformação de cereais e
aves.
Um outro fator que implica em crescimento para a cidade pólo foi sua
localização que é entroncamento natural das várias regiões do país afunilando-se na
rodovia federal BR 277 para acesso direto e único a Foz do Iguaçu e seus atrativos
de cidade fronteiriça, além do apelo turístico das cataratas do Iguaçu. Com exceção
da via aérea, todos os destinos do Brasil que buscam aquela cidade para turismo ou
comércio obrigatoriamente passam por Cascavel e pela BR 277 que corta vários
municípios desta microrregião.
Esse fluxo favoreceu o crescimento do pólo da microrregião pois, pessoas,
cargas, produção agrícola e industrial nacional e internacional sempre transitaram
por esse espaço. Além disso merece registro a forte migração norte/sul ocorrida nos
anos 70 quando da integração da Amazônia pois, foi grande a contribuição do sul na
23 Acadêmicos do 9º Período do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Assis Gurgacz (FAG).
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 43
abertura das fronteiras do Estado de Rondônia, praticamente toda ele transitada por
cascavel e região, fazendo do espaço que ora se estuda, uma forte célula de
crescimento e desenvolvimento sócio econômico e populacional.
Este trabalho têm o objetivo de analisar as características da microrregião,
seu pólo, municípios componentes, seus potenciais, vocações e dificuldades bem
como o resultado final na relação entre este grupo de municípios tais como:
interdependência, movimentos pendulares, relações sócio políticas e culturais, a
partir dos quesitos: acessibilidade, infra-estrutura, estrutura viária,
transportes, equipamentos públicos e serviços regionais (Territorial 2).
Os dados estatísticos serão considerados, analisados de forma que,
verificando-se a realidade sócio-econômica do espaço se possa propor à
problemática verificada, estratégias planejadas para buscar-se o desenvolvimento
equilibrado proporcionando-se a potencialização de suas qualidades e a busca de
solução ou equacionamento para suas deficiências e fragilidades.
Assim, estruturar-se-á a presente proposta em levantamentos das
características, potenciais e deficiências ou fragilidades da microrregião, suas
relações internas de forma a estabelecer-se sua situação atual para, partindo-se de
uma realidade adequadamente dimensionada buscar-se, para um futuro próximo em
plano detalhado estrategicamente, um processo de desenvolvimento potencializador
das qualidades e fortalecimento de suas vocações.
Com este perfil em mãos, planejar propostas de superação das dificuldades,
deficiências e fragilidades de forma que se possa visar um cenário futuro ideal bem
como, articular-se, enquanto região, para a gestão em busca de sua consecução.
1. DEFINIÇÃO DO CENÁRIO ATUAL – ASPECTO TERRITORIAL 2
1.1 Microrregião de Cascavel
Microrregião é um agrupamento de municípios limítrofes, integrados, com
objetivos comuns que, por afinidade organizam-se para buscar juntos a consecução
de seus interesses, todavia o termo é muito mais conhecido em função de seu uso
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 44
prático pelo IBGE, para fins estatísticos e com base em similaridades econômicas e
sociais, que dividem os estados em microrregiões.
A microrregião de Cascavel pertencente à mesorregião oeste paranaense e
sua população foi estimada em 2006 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), em 428.510 habitantes, que encontra-se distribuida em uma área
total de 8.516,073 km². O espaço que ora se estuda foi assim caracterizado pela
Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano (SEDU).
Esta microrregião é composta por dezoito municípios:
1. Anahy
2. Boa Vista da Aparecida
3. Braganey
4. Cafelândia
5. Campo Bonito
6. Capitão Leônidas Marques
7. Cascavel
8. Catanduvas
9. Corbélia
10. Diamante do Sul
11. Guaraniaçu
12. Ibema
13. Iguatu
14. Lindoeste
15. Nova Aurora
16. Santa Lúcia
17. Santa Tereza do Oeste
18. Três Barras do Paraná
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 45
1.1.1 Acessibilidade Viária
Os Principais acessos dos municípios que compõem a microrregião de
Cascavel são feitos pelas Rodovias Federais, Estaduais ou Terciárias. Sendo rodovias
muito utilizadas nos transportes de produtos e de ligação a outros estados. A BR 277
liga Curitiba a Foz do Iguaçu que tem fronteiras com dois países, Paraguai e
Argentina. A BR 467 faz ligação entre Mato Grosso e Cascavel, facilitando no
deslocamento dos produtos. Conta ainda com a PR 163 que é um dos principais eixos
de ligação do Sul do país ao restante dos estados Brasileiros. Outro acesso, mas com
menor utilização é feita pela Ferrovia (FERROESTE) e pelo Aeroporto.
O acesso aos municípios Guaraniaçu e Ibema é feito simplesmente pela BR
277. Os municípios de Lindoeste e Santa Lúcia têm acesso pelas BR 163. Os
municípios de Catanduvas, Campo Bonito e Braganey têm acesso pela PR 471. O
acesso aos municípios de Diamante do Sul, Iguatu e Anahy é realizado apenas pelas
rodovias terciárias. O município de Cafelândia e Nova Aurora têm acesso
principalmente pela PR 180. Os acessos ao município de Corbélia são pela BR 369 e
PR 180, Três Barras do Paraná pela PR 484 e 471, Santa Tereza pela BR 277 e 163.
O município de Cascavel tem acesso pela BR 277, 163, 467 e 369, e pela PR 163
(Figura 01).
Para melhorar a fluidez dos produtos transportados pelas rodovias, na
microrregião de Cascavel, está sendo estudada a viabilidade de um anel viário
(Figura 02), que ligará o município de Cascavel a municípios menores, fluindo melhor
os fluxos.
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 46
FIGURA 01: Mapa de acessibilidade viária
Fonte: autor
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 47
FIGURA 02: Mapa anel viário
Fonte: autor
1.1.2 Estrutura Viária e Transportes
A estrutura viária da microrregião é composta pelas Rodovias Federais BR
277, 467, 163, e 369; Rodovias Estaduais PR 180, 182, 484, 471, 488, 585 e as
Rodovias terciárias (Figura 03).
Há que se considerar que a microrregião de Cascavel está centralizada na rota
de passagem de grande parte dos produtos comercializados, inclusive
internacionalmente e de toda a produção agrícola e agroindustrial.
As rodovias federais, principalmente a BR 277 e a 467 apresentam uma boa
trafegabilidade, diferentemente do estado das rodovias estaduais e terciárias que
apresentam condições razoáveis.
Além de ter uma grande importância para com o estado do Paraná, a
estrutura viária da microrregião é um importante eixo de ligação do sul com os
demais estados do país.
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 48
A microrregião também conta com um trecho da estrada de ferro do Paraná –
Oeste S/A (FERROESTE) que liga a região Oeste (Cascavel) a Guarapuava, a ferrovia
possibilita mais uma alternativa de transporte de produtos, mais econômico com
menor desperdício, ao Porto de Paranaguá. Conta ainda com sistema aeroportuário
com o aeroporto de Cascavel.
FIGURA 03: Mapa rodoviário
Fonte: autor
1.1.3 Infra-Estrutura
1.1.3.1 Energia Elétrica
Segundo dados da Companhia Paranaense de Energia (COPEL) no ano de
2007, constata-se que Anahy, Iguatu, Diamante do sul são os municípios com menor
número de ligações de energia elétrica, atingindo um número máximo de 976
ligações. Os municípios Braganey, Campo Bonito, Ibema, Lindoeste e Santa Lúcia
possuem até 2.000 ligações. Santa Tereza do Oeste, Boa Vista da Aparecida e
Catanduvas possuem até 3.000 ligações. Capitão Leônidas Marques, Três Barras do
Paraná, Corbélia, Cafelândia, Nova Aurora e Guaraniaçu possuem os maiores
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 49
números de ligações atingindo até 6.000 ligações, estando somente atrás de
Cascavel com quase 98.000 ligações (Figura 04).
Através desses dados percebe-se que o principal fator determinante para os
índices de ligações, se tratando de fornecimento de energia elétrica é a concentração
de áreas urbanas, maior número de residências, comércios e indústrias, mostrando
que a dimensão do território é indiferente. Nos município com índices menores, o
número de ligações é praticamente o número de domicílios, tendo em vista que este
número possui uma pequena variação nos municípios com maior número de
comércios e de indústrias.
FIGURA 04: Mapa energia elétrica
Fonte: autor 1.1.3.2 Água Tratada
O abastecimento de água efetuado pela Companhia de Saneamento do Paraná
(SANEPAR), segundo dados levantados no ano de 2007, através dos cadernos
municipais disponíveis no site do Instituto Paranaense de Desenvolvimento
Econômico e Social (IPARDES), os municípios Anahy, Iguatu, Campo Bonito,
Diamante do Sul, Santa Lúcia, Lindoeste, possuem os menores números não
atingindo 1000 ligações de água tratada. Boa Vista da Aparecida, Três Barras do
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 50
Paraná, Catanduvas, Ibema e Braganey têm aproximadamente 2.000 ligações.
Guaraniaçu, Nova Aurora e Santa Tereza atingem o número máximo de 3.000
ligações. Atingindo no máximo 5.000 ligações os municípios Corbélia, Capitão
Leônidas Marques e Cafelândia. E por fim Cascavel atingindo 69.000 ligações (Figura
05).
Conclui-se que, nos municípios com maior concentração de população na área
rural o número de ligações de água tratada é reduzido, devido ao grande número de
perfuração de poços, nessas áreas as ligações de fornecimento de energia elétrica
são maiores.
Percebe-se também, uma grande disparidade entre as ligações de
fornecimento de energia elétrica e abastecimento de água no município de Cascavel,
onde se verifica uma diferença de 30.000 ligações. Além do menor número de
ligações de abastecimento de água tratada na área rural, como nos municípios
menores, nota-se a grande presença de condomínios verticais, onde são abastecidos
por poços artesianos ou possuem reservatório de água, diminuindo o número de
ligações por número de domicílios.
FIGURA 05: Mapa saneamento – abastecimento de água
Fonte: autor
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 51
1.1.3.3 Tratamento de Esgoto
O tratamento de esgoto ainda é uma realidade bem escassa na microrregião
de Cascavel, apenas 5 municípios possuem tratamento de esgoto, a abrangência do
sistema somente é superior a 50% em Cafelândia que atinge 63% das ligações, em
Cascavel a abrangência é de 45%. Corbélia e Guaraniaçu atingem uma margem de
43% das ligações e Três Barras do Paraná com apenas 6% das ligações existentes
no seu município. Os demais municípios pertencentes à microrregião de Cascavel,
não possuem sistemas de tratamento de esgoto (Figura 06).
FIGURA 06: Mapa saneamento – atendimento esgoto
Fonte: autor
1.1.3.4 Coleta de lixo
Todos os municípios que compõem a microrregião, contam com a coleta de
lixo. A seletividade ocorre tanto nos aterros sanitário como informalmente através
dos catadores (carrinheiros) que são presentes em todos os municípios, uma
realidade nacional. Conforme normatizações previstas pelo Instituto Ambiental do
Paraná (IAP), os municípios são responsáveis pela coleta e destinação final dos
resíduos que vão para os aterros sanitários. Estes por sua vez, possuem rigorosas
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 52
leis e normas tanto para execução, como funcionamento dos mesmos. Os municípios
da microrregião de Cascavel contam com sistema de aterro sanitário sendo que uns
tem maior grau de desenvolvimento enquanto outros se encontram em fase inicial.
Observa-se que nos municípios que estão em fase de implantações de aterro
sanitário há uma maior preocupação com sua vida útil, e mais do que isso,
apresentam grande preocupação com a preservação de nossos recursos naturais.
1.1.4 Equipamentos Públicos e Serviços Regionais
1.1.4.1 Educação
Em relação ao nível superior de ensino a microrregião que ora se estuda tem
um grande pólo regional de educação, que é Cascavel, esta vem se destacando cada
vez mais, privilegiando tanto os municípios pertencentes a sua microrregião, como
as regiões vizinhas. Concentrando um grande número de acadêmicos residentes
temporários e também os que freqüentam as aulas e retornam as suas cidades,
geralmente circunvizinhas, caracterizando um movimento pendular considerável.
No nível pré-escolar, ensino fundamental e médio o ensino público na
microrregião tem abrangência total, todos os municípios possuem pré-escola, ensino
fundamental e ensino médio. Somente os municípios Santa Lúcia e Diamante do Sul
não possuem creche, os demais todos possuem.
Alguns municípios contam além do ensino público com algumas entidades de
ensino particular. Entre eles, Capitão Leônidas Marques, Nova Aurora, Catanduvas,
Ibema, Corbélia, Cascavel e Cafelândia, sendo que na ultima há uma faculdade
particular (Figura 07).
Com exceção de Cascavel que oferece singelas opções de lazer e um teatro
em fase inicial de construção, há generalizada ausência de museus, áreas de lazer,
parques, etc.
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 53
FIGURA 07: Mapa educação
Fonte: autor
1.1.4.2 Saúde
Cascavel além de ser um pólo de Educação, é considerada referência na área
da saúde no Estado do Paraná. Contando com muitas unidades de saúde (postos),
hospitais e inúmeras clínicas. Onde a qualidade é de ponta, com profissionais de
muitas especialidades, utilizando de recursos modernos da medicina.
Basicamente todos os municípios da microrregião de Cascavel possuem
hospitais e unidades básicas ou postos de saúde (Figura 08). Somente Santa Tereza,
Boa Vista da aparecida, Campo Bonito, Diamante do Sul e Iguatu não possuem
hospitais próprios, que devido à facilidade de deslocamento, e as proximidades de
Cascavel, inviabilizam economicamente a existência de hospitais em municípios
pequenos.
Além de atender e suprir as necessidades de saúde da microrregião, Cascavel
da amparo as Regiões Oeste e Sudoeste (Parte).
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 54
FIGURA 08: Mapa de saúde
Fonte: autor
1.1.4.3 Comunicação
Também nas comunicações Cascavel é o grande pólo, é abundante em
número de emissoras de rádio, televisão e é servida por 12 agências dos correios.
Todos os demais municípios possuem agências dos correios, inclusive agências
comunitárias.
Dos municípios da microrregião 8 possuem emissoras de rádio (Cascavel,
Santa Tereza, Corbélia, Boa vista da Aparecida, Cafelândia, Nova Aurora, Capitão
Leônidas marques e Catanduvas), e todos os municípios são atendidos por telefonia
fixa e móvel.
Cascavel conta ainda com três repetidoras de televisão, a Rede Paranaense de
Comunicação (RPC), TV Tarobá e NAIPI, todas de abrangência regional.
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1.1.4.4 Agências bancárias
Mesmo sendo bem atendidos pelas redes bancárias nacionais e internacionais,
alguns municípios da microrregião não possuem agências de atendimento, casos de
Anahy, Iguatu, Braganey, Campo Bonito, Ibema e Diamante do Sul, que recorrem a
municípios vizinhos para suas necessidades bancárias (Figura 09).
No perfil de entidades financeiras a microrregião apresenta a seguinte grade:
• Com uma agência: Santa Tereza, Boa Vista da Aparecida e Três Barras
do Paraná.
• Com duas a quatro agências: Capitão Leônidas Marques, Catanduvas,
Nova Aurora, Guaraniaçu, Corbélia e Cafelândia.
O Município de Cascavel com característica também de pólo financeiro, possui
35 agências bancárias e de serviços financeiros em geral.
FIGURA 09: Mapa serviços – agências bancárias
Fonte: autor
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 56
1.2 Síntese Cenário Atual
Para o desenvolvimento do mapa síntese do cenário atual, utilizou-se de todo
o levantamento de dados realizado na primeira fase onde, através de uma planilha
organizada em Excel e a partir das questões infra-estrutura, acessibilidade e
serviços regionais, classificou-se os municípios como: suficientes, parcialmente
suficientes e insuficientes.
Para tal buscou-se demonstrar de forma objetiva que os municípios
classificados como suficientes: Cascavel, Corbélia e Cafelândia, atendem a demanda
dos aspectos mencionados anteriormente. O municípios de Cascavel é destaque pois,
em decorrência de sua situação geográfica desenvolveu vocação e tornou-se pólo
regional em vários seguimentos (médico, universitário, comercial e industrial)
atraindo assim usuários destas estruturas em busca de satisfazerem suas
necessidades.
Os municípios considerados parcialmente suficientes, Nova Aurora,
Guaraniaçu, Ibema, Catanduvas, Três Barras do Paraná e Capitão Leônidas Marques
necessitam de algumas melhorias nos serviços regionais, pois ainda são dependentes
do pólo para tais atividades.
As cidades tidas como insuficientes: Anahy, Iguatu, Braganey, Campo Bonito,
Diamante do Sul, Boa vista da Aparecida, Santa Lúcia, Lindoeste e Santa Tereza do
Oeste são dependentes, não só do pólo mas também das cidades vizinhas e são
deficitárias nos aspectos de infra-estrutura, serviços regionais e acessibilidade.
Os municípios da última classificação o são por completo e, logo, carecem de
planejamento em todos os quesitos de sua integração regional e urbana.
Equacionar as dificuldades de uns e a excelência de outros é o grande desafio
que se faz.
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MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
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2. AVALIAÇÃO DO CENÁRIO TENDENCIAL – ASPECTO TERRITORIAL 2
2.1 Evolução Expontânea da Microrregião pelas suas vocações
No aspecto territorial foram desenvolvidas projeções para dez anos no
desenvolvimento da microrregião de Cascavel, cujo foco principal foi o meio
ambiente, sua sustentabilidade e preservação.
2.1.1 Acessibilidade, Estrutura Viária e Transportes
As rodovias de principais acessos ao pólo da microrregião são consideradas de
bom estado. Seguindo uma projeção para dez anos com a manutenção dada na BR
277, que corta o espaço geográfico ligando Cascavel com a tríplice Fronteira (Foz do
Iguaçu, Puerto Iguaçu e Ciudad Del Este), principalmente por ser aquela pedagiada,
acredita-se que continue com boa trafegabilidade, devendo-se ainda creditar a
possibilidade de duplicação do trecho Medianeira a Cascavel.
O anel viário já proposto, se implantado possibilitará desenvolvimento para as
cidades limítrofes a Cascavel. A microrregião apesar de apresentar algumas
dificuldades no sistema e estrutura viária, comparada a outras pode ser considerada
com boa infra-estrutura e desenvolvimento.
2.1.2 Infra-Estrutura
Há tendência a expressiva demanda no consumo de energia elétrica e
comparativos feitos com dados de 2000/2007 (COPEL), mostram que em alguns
municípios chegou-se ao dobro de ligações neste período, tendo sido fator
preponderante para tais resultados o avanço tecnológico oferecido pela companhia
de energia elétrica com alto índice de barateamento dos serviços.
O mesmo acontece com o abastecimento de água efetuado pela companhia de
água e esgoto comparando dados de 2000/2007 (SANEPAR), onde percebe-se
grande aumento de ligações. Verificou-se tendência de aproximação do sistema de
água e esgoto para a zona rural como conseqüência do controle de perfuração de
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 59
poços artesianos, medida preventiva à contaminação dos lençóis freáticos e incentivo
à preservação do meio ambiente.
Com a crescente adoção do tratamento de esgoto e continuo incentivo a sua
implantação espera-se que para os próximos dez anos esse serviço atinja a maioria
dos municípios da microrregião. Há que se considerar que implantada a infra-
estrutura básica haverá tendência à ampliação tanto da captação de água quanto do
tratamento dos esgotos.
Conforme dados do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), os municípios são
responsáveis pela coleta e destinação final dos resíduos que vão para os aterros
sanitários. Se cumpridas as exigências do órgão acima citado, dentro do prazo
projetado, todos os municípios terão seus aterros sanitários em pleno
funcionamento, destinando grande parte de seu lixo para a reciclagem, que se faz
separar por catadores de papel e carrinheiros que visam com isto sustentar suas
famílias.
Com o considerável aumento do número de habitantes e a consciência da
necessidade de se respeitar o meio ambiente, bem como a exigência legal de
preservar os recursos naturais renováveis, a população tem se posicionado
positivamente e adotado boas soluções no tratamento e reciclagem de resíduos.
2.1.3 Equipamentos Públicos e Serviços Regionais
A educação na microrregião de Cascavel pode ser considerada de destaque
principalmente em relação ao nível superior de ensino, o número de Faculdades vem
crescendo a cada ano e Cascavel poderá chegar a ser um centro de referência no
ensino superior a nível estadual.
O crescimento da oferta de educação na microrregião é visível principalmente
na cidade pólo, o que eleva o nível de conhecimento da população contribuindo para
a melhora do Índice de Desenvolvimento Humano. Há que se considerar ainda que a
migração universitária contribui para o crescimento populacional de algumas cidades
provocando movimento pendular em outras.
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 60
O produto das universidades é uma maior oferta de profissionais qualificados
que acaba provocando uma migração destes para cidades menores melhorando sua
qualidade de vida.
Cascavel se destaca também na saúde, dando amparo a toda a microrregião,
bem como parte da região oeste. A tendência é de melhorias, principalmente pelos
acordos e convênios entre as faculdades e o surgimento de cursos na área médica
que oferecem atendimento clinico e de apoio não só aos seus moradores como
também aos demais municípios.
Os serviços, a informação e a comunicação tendem a crescer suprindo as
necessidades da microrregião. É visível o volume de investimentos nesta área que,
pelo empreendedorismo característico dos colonizadores da região, tendem a crescer
impulsionados especialmente pela iniciativa privada.
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3. FORMULAÇÃO DO CENÁRIO DESEJÁVEL – ASPECTO TERRITORIAL 2
3.1 Evolução Planejada para uma Microrregião Ideal
No aspecto territorial foram desenvolvidas intenções de desenvolvimento para
a microrregião de Cascavel, analisando benefícios ambientais, de desenvolvimento
sustentável e estratégico, valorização de todas as classes sociais, incentivando a
educação nos diferentes níveis de ensino, melhorando assim a qualidade de vida,
elevação dos índices sociais e intenções de planejamento com visão voltada não
somente ao município, mas ao desenvolvimento da microrregião.
3.1.1 Acessibilidade, Estrutura Viária e Transportes
A microrregião de Cascavel possui boa estrutura e acessibilidade,
principalmente nas rodovias federais, alguns trechos das rodovias estaduais são
precários, mas de um modo geral, apresenta boa trafegabilidade. Investimentos
nesses trechos e nas rodovias terciárias terão de ser feitos, melhorando assim os
acessos dos municípios menos privilegiados aos pontos de oferta de recursos.
O anel viário já proposto para a microrregião de Cascavel é o grande chavão
para o desenvolvimento da microrregião. Através dele ocorrerá uma descentralização
do pólo Cascavel para os municípios com menor desenvolvimento, incentivando o
desenvolvimento de cada município com suas próprias vocações, que são na sua
grande maioria essencialmente agrícola.
O desenvolvendo do anel viário e possíveis extensões propiciará o
desenvolvimento do comércio ampliando oferta de empregos e descentralizando o
desenvolvimento. Sua efetivação poderá atrair novos empreendimentos, pois haverá
facilidade de acesso de matérias primas e produtos acabados.
A microrregião de Cascavel incentivará indústrias que processem a matéria
prima local, destinando os produtos até a linha final de produção, agregando valor
aos produtos, principalmente os agropecuários. Desta maneira os municípios
aumentam sua arrecadação, podendo haver novos investimentos em distintas áreas,
focando sempre o desenvolvimento sustentável, o que melhorará as condições sócio-
econômicas, e favorecerá desde o produtor agrícola até o operário da indústria.
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 63
3.1.2 Infra-Estrutura
Considerando que o crescimento populacional na microrregião seja expressivo,
obviamente haverá um aumento de ligações para abastecimento de água potável e
energia elétrica. Para garantir o abastecimento adequado à demanda necessário será
que se aprimorem as redes elétricas e se ampliem os pontos de captação de água.
A captação de águas pluviais que diminuiria o uso de água potável
especialmente para a limpeza e jardinagem contribuirá para a preservação do meio
ambiente. Tal contribuição poderá avançar com incentivos ao uso de energias
alternativas, como a energia solar e o biogás, este especialmente nas zonas rurais.
O tratamento de esgoto na microrregião será uma exigência, nas áreas com
maior adensamento, nas áreas menos adensadas e na zona rural, onde não há
viabilidade de extensão da rede de tratamento de esgoto, propõem-se o uso de
fossas sépticas e sumidouros. Prevendo assim a diminuição de impactos ambientais
nos lençóis freáticos não se podendo desprezar a localização da região sobre o
aqüífero guarani.
Quanto à coleta e destinação final do lixo que é de competência municipal,
será exigida a conclusão total dos aterros sanitários, pois urge que cada município
tenha seu próprio aterro, para onde se destinará o lixo final após a seleção de
materiais recicláveis.
Para viabilizar a reciclagem dos resíduos da microrregião, sugere-se a
implantação de um sistema para reciclagem coletiva do lixo, que consistirá em
setorização por natureza do material. Assim se determinaria estrategicamente os
municípios de forma a possibilitar vários pontos de reciclagem oportunizando focos
distribuídos de oferta de emprego e geração de recursos, por exemplo: Corbélia
possuiria uma unidade de processamento do vidro, Santa Tereza de papel etc. Além
de todas as vantagens ambientais, proporcionará incentivos aos catadores de papel e
materiais recicláveis. Essa descentralização fará com que ocorra uma movimentação
da matéria selecionada, e se crie oportunidade de crescimento para os municípios
menores.
Além do exposto tais atividades evitarão acúmulo de lixo e outros resíduos em
lugares impróprios, o que contribuirá sobre maneira para a preservação do meio
ambiente.
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 64
3.1.3 Equipamentos Públicos e Serviços Regionais
Na microrregião estudada o ensino superior é referência pelo grande número
de faculdades localizadas na cidade Pólo.
A vocação para a educação, no caso de Cascavel, poderá oferecer benefícios
através de convênios com os municípios da microrregião, descentralizando campos
universitários, o que incentivará um maior número de formações acadêmica.
E necessário também investir na educação fundamental, pois ainda existem
municípios que não oferecem creches para suas crianças. Tais melhorias além de
refletir no desenvolvimento dos municípios, proporcionariam melhoria na qualidade
de vida pois possibilitariam que a dona de casa assistida pela creche contribua com a
renda familiar.
Os serviços de saúde na microrregião são considerados satisfatórios
principalmente na cidade de Cascavel, onde se encontra um grande número de
clínicas, hospitais e profissionais qualificados para atender a microrregião e ainda
alguns municípios da região do oeste paranaense.
A estrutura médica oferecida por Cascavel, se bem aproveitada pelos
municípios vizinhos diminuirá a necessidade de centros médicos pulverizados que
pelas suas características oneram fortemente seus orçamentos. Estratégias como por
exemplo serviços de locomoção por ambulâncias e convênios municipais com clinicas
e hospitais otimizaram tais resultados.
O setor de comunicação e informação da microrregião é impulsionado pelo
pólo Cascavel, que catalisa além dos meios difusores, formação acadêmica para sua
adequada potencialização.
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4. FORMULAÇÃO DO CENÁRIO DE DESENVOLVIMENTO ESTRATÉGICO
REGIONAL – ASPECTO TERRITORIAL 2
Diretrizes Ações e Instrumentos
Estruturação viária
• Execução do anel viário. � Instrumentos: Licitações, contratos e criação de consórcios intermunicipais. • Descentralização do pólo Cascavel. � Instrumentos: Plano de desenvolvimento da microrregião, com ênfase no anel viário. • Incentivo ao desenvolvimento de áreas comerciais em pontos estratégicos do anel viário. Instrumentos: Subsídios, ofertas de incentivo: isenção de alguns impostos e ou diminuição dos valores, etc.
Melhorias na acessibilidade
• Execução permanente de manutenção nas rodovias estaduais. � Instrumentos: Exigência de cumprimento dos contratos de concessão de rodovias. • Melhorias e manutenção regular nas rodovias terciárias, otimizando o acesso para os municípios. � Instrumentos: Contratos e licitações, fiscalizados por consórcios intermunicipais. • Seqüência na duplicação das rodovias federais. � Instrumentos: Exigência de cumprimento dos contratos de concessão de rodovias.
Planejamento regional de saúde
• Planejar o funcionamento mapeando as centrais de atendimento clínico e médico, inclusive as clínicas universitárias que prestam atendimento às pessoas carentes. � Instrumentos: Acordos entre os municípios da microrregião, hospitais e universidades. • Modernização dos postos de saúde existentes e adoção de sistema móvel de assistência em emergências com acesso a cidade pólo. � Instrumentos: Criar consórcios intermunicipais que visem recursos para modernização hospitalar; aquisição de veículos e ambulâncias adequados ao transporte de pacientes. • Atendimento médico especialista itinerante. Instrumentos: Conveniar profissionais médicos especialistas para atendimento itinerário de pacientes.
Diretrizes Ações e Instrumentos
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Planejamento regional de saúde
• Planejar o funcionamento mapeando as centrais de atendimento clínico e médico, inclusive as clínicas universitárias que prestam atendimento às pessoas carentes. � Instrumentos: Acordos entre os municípios da microrregião, hospitais e universidades. • Modernização dos postos de saúde existentes e adoção de sistema móvel de assistência em emergências com acesso a cidade pólo. � Instrumentos: Criar consórcios intermunicipais que visem recursos para modernização hospitalar; aquisição de veículos e ambulâncias adequados ao transporte de pacientes. • Atendimento médico especialista itinerante. � Instrumentos: Conveniar profissionais médicos especialistas para atendimento itinerário de pacientes.
Planejamento e incentivo a educação, focando o ensino superior
• Planejamento educacional coletivo: celebração de convênios intermunicipais que garantam a implantação de creches, extensão de colégios particulares para municípios deficitários e o acesso as universidades. � Instrumentos: Realização de convênios intermunicipais com universidades e escolas. • Programas de incentivo a educação de ensino superior à população pertencente à microrregião, convênios estabelecidos junto às faculdades de ensino particular. � Instrumentos: Convênios, acordos, por parte das prefeituras e das faculdades públicas, descentralizando, campos universitários.
Diretrizes Ações e Instrumentos
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Infra-estrutura e Meio Ambiente
• Modernização permanente da infra-estrutura básica, fornecimento de água tratada, energia elétrica, e saneamento, nos municípios de toda a microrregião. Garantia de atendimento de acordo com a demanda. � Instrumentos: Convênios e busca de recursos junto ao governo estadual e federal. • Desenvolver o programa de pontos de reciclagem do lixo, com as unidades estabelecidas estrategicamente. � Instrumentos: Acordo entre os municípios, licitações e contratos. • Tratamento de todo o esgoto na zona Urbana principalmente nas regiões adensadas. � Instrumentos: Realização da rede de esgoto. • Exigir o uso de fossas sépticas com sumidouros nas áreas onde não há viabilidade de extensão das redes de esgoto e nas áreas rurais. � Instrumentos: Promoção da consciência humana e preservação do meio ambiente. • Executar os aterros sanitários em todas as cidades da microrregião. � Instrumentos: Consórcios intermunicipais que visem à busca de recursos para sua realização. • Incentivar a captação de águas pluviais. � Instrumentos: Através de campanhas de educação ambiental e incentivos fiscais. • Incentivar o uso de fontes de energia alternativa (solar e biogás). � Instrumentos: Através de campanhas de educação ambiental, incentivos fiscais e instalação de biodigestores dentre outros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A microrregião de Cascavel é destaque no oeste do estado por vários aspectos
podendo se destacar, a fertilidade de seu solo que resulta em abundante produção
de grãos, o entroncamento rodoviário de todos os quadrantes do país com o pólo
turístico de Foz do Iguaçu, o centro médico de especialidades e, por último, a cidade
de Cascavel se consolidou como o maior pólo universitário do oeste e sudoeste
paranaense.
A sua localização estratégica garante ainda fácil acesso aos mercados dos
países da América Latina o que, somado com a grande oferta de serviços fazem-na
uma região rica e auto-suficiente.
O processo de industrialização é recente e decorreu da grande produção
agropecuária que buscou transformar seus produtos e agregar valores antes de
remetê-lo aos mercados consumidores. Este processo de industrialização gerou, por
sua vez, o desencadeamento da consciência da necessária preservação do meio
ambiente. Ao contrário de outras regiões que se industrializaram mais cedo, não
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 69
chegou a haver devastação de matas ciliares e das terras produtivas em escala
preocupante e hoje já existem ações de proteção à natureza.
Sob o aspecto econômico, a microrregião tem predominância agropecuária
com ligeira ênfase em avicultura gerando o comércio decorrente e indireto que a
complementa e torna auto-suficiente.
Alguns municípios menores e mais afastados, mesmo não sendo estas
distâncias significativas, acabam sofrendo um pouco pelo isolamento. Em face disto
uma das estratégias é a criação de um anel viário, que se buscaria através de
consórcios inter municipais, que faria uma integração maior entre os municípios
visinhos e o pólo da microrregião. Essa estratégia, se realizada, aperfeiçoaria a
mobilidade dentro do espaço geográfico pois que a mobilidade da microrregião no
contexto paranaense, brasileiro e dos países da America Latina é boa e tem
previsões de se ampliar com as duplicações de algumas rodovias que hão de vir
pelas concessionárias que as exploram comercialmente.
O planejamento ora apresentado definiu-se a partir de dados projetados para
um período de dez anos em duas situações: A primeira projeção da microrregião
considerou apenas suas vocações naturais e evolução espontânea. Na segunda
delineou-se um futuro próximo do ideal, com condições sócio-econômicas, infra-
estrutura de serviços, saúde, educação e acessibilidade, todos alinhavados de forma
que a integração entre os municípios componentes seja satisfatória.
A microrregião estudada têm um perfil definido e com certeza de consolidação
pois decorre basicamente de vocação produtiva e sua transformação. Os
seguimentos de educação, cultura e saúde decorrentes dela, de forma que se
complementam indexadamente. Em função disso traçou-se para o perfil desejado
para dez anos as seguintes estratégias:
1. Que os municípios tenham garantida acessibilidade entre si, tal como a
microrregião esta integrada ao todo.
2. Que se busque dotar todo o espaço de infra-estrutura que possibilite
qualidade de vida à população.
3. Que haja otimização dos recursos médico-hospitalares estendendo seus
benefícios de forma planejada a todos os municípios integrantes.
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 70
4. Que a educação se concretize de forma dinâmica e abrangente levando
educação fundamental a todos os espaços, garantindo a existência de creches que
possibilitem o ingresso da mãe de família no mercado de trabalho, bem como, o
acesso à universidade através de transporte planejado a todos.
Outra realidade é a centralidade de Cascavel, que lhe garante a função de
cidade pólo de forma que necessário se faz que todo o planejamento considere este
pólo e seu caráter centralizador.
Essas quatro visões englobam os interesses dos cidadãos, que, traduzidos em
medidas, ou seja, decisões e ações em processos do poder público e da sociedade
deverão contribuir para que se efetivem. Considerando tratar-se de uma
microrregião, sugere-se como uma forte aliada desses objetivos a celebração de
convênios e criação de consórcios intermunicipais que reforça o poder político e
cooperativo necessários à consecução dos objetivos.
As propostas contidas nas estratégias e ações refletem os cuidados que
espera-se a região em processo coletivo realize.
Tratam-se não de receita, mas de resultados de estudos que levaram em
conta um perfil muito real com dados coletados na fonte, ou seja: os dados
existentes dos dezoito municípios e as vontades do que se quer para os mesmos
num futuro próximo. E esse futuro reflete a vontade almejada pela população,
senhora de todos os recursos públicos que irão financiar o processo proposto. Sua
realização deve ser o objetivo maior.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMOP, Associação dos Municípios do Oeste do Paraná. Disponível em: <http://www.amop.org.br/> Acesso em: 26 abr. 2008.
COPEL, Companhia Paranaense de Energia. Disponível em: <http://www.copel.com/pagcopel.nsf/> Acesso em: 26 abr. 2008.
DEFINIÇÃO DE MICRORREGIÃO. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Microrregi%C3%A3o> Acesso em: 28 abr. 2008.
GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ. Disponível em: <http://www.parana.pr.gov.br/> Acesso em: 24 abr. 2008.
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 71
IAP, Instituto Ambiental do Paraná. Disponível em: <http://www.iap.pr.gov.br/> Acesso em: 26 abr. 2008.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/> Acesso em: 26 abr. 2008.
IPARDES, Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Disponível em: <http://www.ipardes.gov.br/> Acesso em: 26 abr. 2008.
IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/default.jsp> Acesso em: 26 abr. 2008.
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL. Disponível em: <http://www.glosk.com/BR/Cascavel/896966/pages/Microrregi%C3%A3o_de_Cascavel/35503_pt.htm> Acesso em: 24 abr. 2008.
PARANACIDADE. Disponível em: <http://www.paranacidade.org.br/modules/news/> Acesso em: 26 abr. 2008.
PERFIL DO MUNICÍPIO DE CASCAVEL. Disponível em: <http://www.glosk.com/BR/Aparecida/883295/pages/Cascavel_(Paran%C3%A1)/23821_pt.htm> Acesso em: 24 abr. 2008.
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PREFEITURA MUNICIPAL DE CAFELÂNDIA. Disponível em: <http://www.cafelandia.pr.gov.br/cafelandia/> Acesso em: 25 abr. 2008.
PREFEITURA MUNICIPAL DE CASCAVEL. Disponível em: <http://www.cascavel.pr.gov.br/> Acesso em: 25 abr. 2008.
PREFEITURA MUNICIPAL DE CORBÉLIA. Disponível em: <http://www.corbelia.pr.gov.br/Portal/> Acesso em: 25 abr. 2008.
PREFEITURA MUNICIPAL DE GUARANIAÇU. Disponível em: <http://www.guaraniacu.pr.gov.br/> Acesso em: 25 abr. 2008.
PREFEITURA MUNICIPAL DE IBEMA. Disponível em: <http://www.ibema.pr.gov.br/> Acesso em: 25 abr. 2008.
SANEPAR, Companhia de Saneamento do Paraná. Disponível em: <http://www.sanepar.com.br/> Acesso em: 26 abr. 2008.
SEDU, Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/sedu/index.html> Acesso em: 26 abr. 2008.
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 72
ANEXOS
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ANEXO 01
MAPA ACESSIBILIDADE VIÁRIA
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ANEXO 02
MAPA RODOVIÁRIO
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 75
ANEXO 03
MAPA ENERGIA ELÉTRICA
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 76
ANEXO 04
MAPA SANEAMENTO – ABASTECIMENTO ÁGUA
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 77
ANEXO 05
MAPA SANEAMENTO – ATENDIMENTO ESGOTO
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 78
ANEXO 06
MAPA EDUCAÇÃO
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 79
ANEXO 07
MAPA DE SAÚDE
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL: aspectos territoriais Carolline Vargas;Luiz Macoris; Rodrigo Moura
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 80
ANEXO 08
MAPA SERVIÇOS – AGÊNCIAS BANCÁRIAS
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: relevância da questão ambiental Isabel C. Bianchessi
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 81
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: a Relevância da Questão Ambiental na Busca do Desenvolvimento Sustentável
Isabel Cristina dos Santos Gomes Bianchessi 24
RESUMO
Hoje o mundo é urbano, cerca da metade de seus habitantes está vivendo exclusivamente em cidades, promovendo cenários de lutas de interesses urbanos que acontecem de forma dinâmica em diversas escalas. As conseqüências deste rápido processo de urbanização sem planejamento são notáveis: fragilidade ambiental, desigualdade social, uso irregular e inadequado do solo, congestionamentos, etc. Nesse sentido este artigo tem como objetivo contextualizar a atividade de planejamento sob a ótica urbano-regional, com ênfase no desenvolvimento sustentável. Conclui-se que o planejamento é essencial para qualquer atividade, no caso do planejamento urbano-regional, nos dias de hoje, torna-se indispensável incorporar o conceito de sustentabilidade na busca responsável do desenvolvimento urbano.
Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável. Meio Ambiente. Planejamento Urbano
e Regional.
INTRODUÇÃO
O desafio de viver em cidades continua. Qualquer que seja a sua escala, a
cidade é uma organização viva, dinâmica e com interesses conflitantes. No Brasil, ao
longo do século XX, cidades nasceram, cresceram e se desenvolveram em grande
numero. Foi neste século que o país mais se urbanizou. A evolução do crescimento
da população urbana, considerando-se este período, é notável. Em 2000, cerca de
137.755.550 brasileiros viviam em áreas urbanas, o que significa que cerca de 81%
da população brasileira morava em cidades (OLIVEIRA, 2001).
As conseqüências deste rápido processo de urbanização provocaram o
agravamento do quadro histórico de desigualdades, poluição ambiental,
congestionamento do tráfego, baixa qualidade dos serviços e dos espaços
construídos, crescimento do setor informal e das áreas ocupadas ilegalmente de
24Autora: acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Assis Gurgacz e pesquisadora do Projeto “Grupo de Pesquisa de Métodos e Técnicas do Planejamento Urbano e Regional”.
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: relevância da questão ambiental Isabel C. Bianchessi
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 82
forma precária, tornando mais evidente a marginalização e a violência urbanas que,
atualmente, são motivo de grande apreensão, tanto para moradores e usuários,
quanto para os governos das cidades (SILVA; ARAÚJO, 2003).
Neste contexto, emerge o planejamento como antídoto para o caos urbano, e
a idéia de planejamento sustentável, que tem como diferença básica em relação ao
planejamento tradicional a participação e a conscientização da população.
Este trabalho busca apresentar o processo de urbanização e de planejamento,
abordando a importância da gestão participativa e de uma atuação coerente entre os
governos em escala regional em busca do desenvolvimento sustentável.
Abordando a relevância da questão ambiental e as diversas discussões e
conferências que impulsionaram a valorização da expressão “meio ambiente” no
Brasil e no mundo, o desenvolvimento sustentável é apresentado como uma
alternativa na busca de modelos para enfrentar os desafios e problemas gerados
pela falta de planejamento e do uso inconseqüente dos recursos naturais, no período
de urbanização das cidades.
1. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL
Para Silva e Araújo (2003) o espaço urbano esta sempre em profunda
movimentação, nele os homens produzem, reproduzem e consomem. De algum
modo, essas ações influem e afetam o conjunto, pois todo comportamento individual
interfere no coletivo, embora nem sempre provoquem conflitos com outros
indivíduos ou desequilíbrio no conjunto.
Com o crescimento urbano no Séc. XIX as cidades passaram a exigir novos
meios de controle que garantissem uma gestão mais eficiente.
Da busca desses meios emergiu o planejamento, permitindo compreender os
diferentes fenômenos que favorecem a modificação da cidade ou fenômenos que
interferem em seu desenvolvimento, buscando a preparação para o futuro (SILVA;
ARAÚJO apud BAÚ, 2007).
Para Souza:
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: relevância da questão ambiental Isabel C. Bianchessi
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 83
[...] planejamento é a preparação para a gestão futura, buscando-se evitar ou minimizar problemas e ampliar margens de manobra; e a gestão é a efetivação, ao menos em parte (pois o imprevisível e o indeterminado estão sempre presentes, o que torna a capacidade de improvisação e a flexibilidade sempre imprescindíveis), das condições que o planejamento feito no passado ajudou a construir [...] (2002, p.42).
A constituição (BRASIL, 1988) outorgou em 1998 a distribuição de
competências entre os três níveis de governo: federal, estadual e municipal. Diante
da nova realidade, a responsabilidade do município frente às atividades que ocorrem
no espaço urbano tornou-se mais importante e complexa.
Diante de tal complexidade, as relações entre os diferentes níveis de governo
na busca de soluções para problemas como: controle da poluição ambiental,
abastecimento de água, disposição final de resíduos sólidos, sistema viário e
transportes, foram fortalecidas. Neste contexto, os governos têm o dever de
aperfeiçoar os instrumentos legais, especialmente no sentido de elaborar ou rever
sua legislação urbanística.
Como exemplo, podemos citar as exigências de proteção do meio ambiente,
que solicitam uma ação coordenada entre governos, que devem atuar guiados por
diretrizes compatibilizadas no âmbito regional.
2. A RELEVÂNCIA DA QUESTÃO AMBIENTAL
A expressão “meio ambiente”, pode ter sentido bastante amplo como universo
ou biosfera; ou relativamente restrito como: meio ambiente social, econômico ou
cultural (FILHO, 2002). A partir dos anos 60, essa expressão, passou a ser
amplamente divulgada no mundo, em decorrência da tomada de consciência face às
ameaças da moderna sociedade industrial contra os equilíbrios fundamentais do
planeta.
Impulsionada pelos inúmeros debates sobre a questão ambiental, na década
de 70, a segurança ecológica passou a ser a quarta principal preocupação das
Nações Unidas, que promoveu em 1972, a primeira conferencia a nível mundial.
Foi na conferência de Estocolmo, que houve de fato, a constatação de que o
modelo tradicional de crescimento econômico levaria ao esgotamento completo dos
recursos naturais, pondo em risco a vida no planeta.
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: relevância da questão ambiental Isabel C. Bianchessi
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 84
Anos mais tarde, em 1980, o Programa das Nações Unidas Para o Meio
Ambiente – PNUMA, publicou um documento reafirmando a visão crítica do modelo
de desenvolvimento adotado pelos países industrializados (GADOTTI, [S.d.]).
Em 1987, foi elaborado pela Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas o “Relatório Brundtrlan”, intitulado
“Nosso Futuro Comum”. Esse relatório apontou para a incompatibilidade entre o
desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes
(GADOTTI, [S.d]).
Segundo o relatório, o “desenvolvimento sustentável” ficou definido como:
“aquele que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.
Em 1992, foi realizada na cidade do Rio de Janeiro, a conferência mais
conhecida como RIO 92, que foi considerada o maior encontro de cúpulas dos
últimos tempos. Nesta conferencia foi gerada a Agenda 21, considerada seu produto
mais importante.
O documento contém um programa detalhado de ações em matéria de meio
ambiente e desenvolvimento, onde constam tratados em muitas áreas como:
atmosfera, energia, desertos, oceanos, água doce, tecnologia, comercio exterior,
pobreza e população. A agenda 21 não é apenas uma agenda ambiental, mas uma
agenda para o desenvolvimento sustentável, cujo objetivo real é a promoção de um
novo modelo de desenvolvimento. (IBAM, 2008).
É indispensável ressaltar a importância da questão ambiental no Brasil e no
Mundo, segundo Lima:
[...] os últimos anos têm testemunhado o caráter problemático que reveste a relação entre a sociedade e o meio ambiente. A questão ambiental, neste sentido, define, justamente, o conjunto de contradições resultantes das interações internas ao sistema social e deste com o meio envolvente [...] (1999).
São situações marcadas pelo conflito, esgotamento e destrutividade que se
expressam: na expansão urbana e demográfica; na tendência ao esgotamento de
recursos naturais e energéticos não-renováveis; no crescimento acentuado das
desigualdades sócio-econômicas intra e internacionais; na perda da biodiversidade e
na contaminação crescente dos ecossistemas terrestres, entre outros (LIMA, 1999).
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 85
São todas realidades que comprometem a qualidade da vida humana, em
particular, e ameaçam a continuidade da vida global do planeta. De fato, a questão
ambiental revela o retrato de uma crise pluridimensional que aponta para a exaustão
de um determinado modelo de sociedade que produz, desproporcionalmente, mais
problemas que soluções (LIMA, 1999).
Por outro lado, a questão ambiental inova por alertar sobre a necessidade de
mudanças efetivas para garantir qualidade de vida a longo prazo (LIMA, 1999).
3. A BUSCA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O termo "desenvolvimento" teve seu uso generalizado notadamente após a
Segunda Guerra Mundial e pode ser entendido de duas maneiras: a) idéia de
desenvolvimento socioeconômico quantitativo25; b) idéia de desenvolvimento
sustentável26, largamente debatida em numerosas publicações que se seguiram ao
célebre Relatório Brundtland27. (FILHO, 2002)
Da busca por modelos e alternativas de desenvolvimento, capazes de
enfrentar os desafios e problemas sócio-econômicos e ambientais da atualidade,
emerge a noção de desenvolvimento sustentável, ancorada em uma perspectiva que
integra às dimensões: social, cultural, política, econômica e ambiental da sociedade.
(MORAIS; DANTAS, [S.d]).
Segundo Buarque (2002, pág. 17) o novo conceito de desenvolvimento
“demanda novas concepções e percepções, como torna viáveis novas propostas de
organização da economia e da sociedade que, no passado recente, não passavam de
utopia”.
O desenvolvimento sustentável fundamenta-se na responsabilidade ética do
homem perante o meio ambiente e preconiza o uso racional dos recursos naturais
25 Nesse sentido, uma sociedade é dita desenvolvida ao atingir níveis elevados em certo número de indicadores econômicos (produto interno bruto, produtividade, investimento, energia...) e sociais (emprego, salário, saúde, habitação...). Países que não atingem tais níveis são qualificados de subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, ou ainda, países emergentes. 26 Refere-se a um sistema de convicções, de comportamentos e de instituições que superam o conceito puramente quantitativo de desenvolvimento econômico 27 Relatório publicado em 1987 sob o título "Nosso Futuro Comum" pela Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento.
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: relevância da questão ambiental Isabel C. Bianchessi
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 86
pelas sociedades humanas, no sentido de não exigir da natureza mais do que ela
possa oferecer. São os limites e as formas da utilização desses recursos que dão
sentido ao desenvolvimento sustentável. (CAFFÉ, 2002)
A década de 1990, como foi visto anteriormente, evolui também para uma
compreensão global e integrada dos bens naturais como bens sociais, portanto,
passíveis de utilização pela humanidade.
As novas tecnologias minimizaram o uso dos recursos energéticos e naturais
na produção, incluindo possibilidades de reaproveitamento, reciclagem e
reprocessamento de materiais já utilizados, na mesma medida em que incorporam
informação e conhecimento agregando valor aos produtos e qualidade à formação
dos recursos humanos e a educação, voltados para a sustentabilidade (BUARQUE,
2002).
Emergindo como uma ferramenta importante para o planejamento regional a
tecnologia marca a transição entre o planejamento tecnicista e uma perspectiva de
planejamento em que a participação social é fundamental na busca da redução dos
impactos ambientais causados pelos processos econômicos (BUARQUE, 2002).
O planejamento como parte de um processo político de tomadas de decisões sobre o futuro e as ações constitui um espaço privilegiado de negociações entre os atores sociais, confrontando e articulando seus interesses e suas alternativas para a sociedade. No decorrer desse processo, quando se negociam as escolhas e as prioridades, os atores sociais podem se organizar e constituir alianças e acordos políticos. Tal abordagem parte do princípio de que o futuro é incerto e resulta da construção social decorrente das ações dos atores sociais organizados, que implementam medidas e se movem na criação das novas condições de estruturação da realidade. Planejar é também produzir e redefinir hegemonias que se manifestam em estratégias, prioridades e instrumentos de ação, especificamente em torno do objetivo do planejamento e das decisões (BUARQUE, 2002, pág. 73).
Uma das principais diretrizes do Estatuto do Ministério das Cidades, criado em
2003, é a garantia das cidades sustentáveis, ou seja, o direito de todos os habitantes
de nossas cidades à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-
estrutura urbana, ao transporte e serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, não só
para as gerações atuais como também para as futuras. (BRASIL, 2003)
A posição dos governos em relação ao agravamento da crise ambiental
mundial, depois do Rio 92, trouxe o fortalecimento da necessidade do planejamento
na busca da sustentabilidade ambiental.
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: relevância da questão ambiental Isabel C. Bianchessi
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 87
Em relação ao planejamento Urbano das cidades, especialmente na
elaboração dos seus Planos Diretores, a maioria dos municípios não apresentava
diretrizes compatíveis com a sustentabilidade ambiental.
Segundo Braga (2001, apud BERTOLUCCI, 2007), o Estatuto condiciona o
Plano diretor como orientador da definição das diferentes áreas do município onde
poderá incidir a utilização de instrumentos por ele criado para que possam fazer
cumprir a função sócio-ambiental da propriedade urbana e implantar uma política de
desenvolvimento e de expansão urbana. Institui diversos instrumentos de política
urbana, vinculando-os ao plano diretor, e também estabelece normas para sua
elaboração participativa, tratando da gestão democrática da cidade, e da
participação da população nas suas políticas.
Os compromissos pactuados na Agenda 21 otimizaram as expectativas da
sociedade, reconhecendo a importância e a necessidade da formulação de práticas
sustentáveis no Brasil.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM
(2007), o Plano Diretor é um dos instrumentos que reúne o maior numero de
diretrizes para o desenvolvimento do Município e as estratégias de ocupação do
território municipal, especialmente o urbano, com base na compreensão das funções
econômicas, das características ambientais, sociais e territoriais do município, assim
como de sua região de influência.
O Estatuto da Cidade (2001), reúne importantes instrumentos urbanísticos
para garantir efetividade ao Plano Diretor, visando colaborar com os Municípios na
elaboração, revisão e implementação dos mesmos, contemplando a introdução de
instrumentos de acordo com as necessidades e o contexto local, bem como a
integração das questões urbanas e ambientais, socioeconômicas e institucionais.
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: relevância da questão ambiental Isabel C. Bianchessi
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 88
4. A RELAÇÃO ENTRE PLANEJAMENTO REGIONAL E A SUSTENTABILIDADE
No Brasil, são exemplos de programas de desenvolvimento regional, a criação
da Comissão do Vale do São Francisco (CVSF)28 e da Cia. Hidroelétrica do São
Francisco (CHESF), na década de 1940, a posterior criação da SUDENE29 e da
SUDAM30 e os planos de desenvolvimento para o Nordeste e Norte (DINIZ, 2001).
No entanto, entende-se que a primeira interpretação teórica sobre as
desigualdades regionais no Brasil, e possivelmente na América Latina, foi elaborada
na década de 1950, através do famoso relatório do GTDN31, escrito por Celso
Furtado, em 1958 (DINIZ, 2001).
Incorporando novos métodos ao planejamento o conceito de desenvolvimento
sustentável ganhou força devido à notada insatisfação gerada pelos programas de
planejamento tradicional.
Do ponto de vista teórico o conceito de desenvolvimento sustentável segundo
Miranda, (1996, apud, SICSÚU; LIMA; SILVA, [S.d.]) agrega ao planejamento as
dimensões distributiva e preservacionista, destacando a solidariedade entre
gerações.
Nesse contexto, assume importância também a solidariedade interespacial,
argumentando-se que “a sustentabilidade de um espaço (nacional ou regional) não
poderia ser construída às custas da insustentabilidade dos outros ou jogando os
efeitos negativos para o resto do mundo“ (SICSÚU; LIMA; SILVA, [S.d.]).
28Instituída pela Lei nº 541 de 15 de Dezembro de 1948, a Comissão do Vale do São Francisco tinha por objetivo: organizar o plano geral de aproveitamento do Vale do São Francisco, que visava à regularização do curso de seus rios, melhor distribuição de suas águas, utilização de seu potencial hidro-elétrico, fomento da indústria e da agricultura, desenvolvimento da irrigação, modernização dos seus transportes, incremento da imigração e da colonização e assistência as exploração de suas riquezas. 29A Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE é uma autarquia especial, administrativa e financeiramente autônoma, integrante do Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal, criada pela Lei Complementar nº 125, de 03/01/2007, com sede na cidade de Recife, Estado de Pernambuco, e vinculada ao Ministério da Integração Nacional. Tem como missão "promover o desenvolvimento includente e sustentável de sua área de atuação e a integração competitiva da base produtiva regional na economia nacional e internacional". 30 A Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) é uma extinta autarquia do governo federal do Brasil, criada no governo de Castelo Branco em 1966, com a finalidade de promover o desenvolvimento da região amazônica, criando incentivos fiscais e financeiros especiais para atrair investidores privados, nacionais e internacionais. 31Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste - A proposta central apresentada pelo relatório do GTDN indicava que o Estado deveria ser o indutor do processo de industrialização da região como forma de superar o atraso econômico.
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: relevância da questão ambiental Isabel C. Bianchessi
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 89
Os novos métodos de planejamento que vêm sendo desenvolvidos, destacam-
se por incorporar ao longo do processo estratégias como a construção de alianças e
acordos políticos, a organização da sociedade e a discussão entre os atores sociais,
estimulada através de estratégias e ações.
O planejamento do desenvolvimento sustentável tem a região como espaço de
referencia e como foco de organização social, sendo essa a relação entre si e o meio
ambiente, são definidos como processo de desenvolvimento.
Fazer o planejamento sustentável é uma tarefa coletiva, multidisciplinar e
interativa, e nisto, consiste uma das diferenças básicas em relação ao planejamento
tradicional, que era focado exclusivamente na economia e suas “externalidades”.
(CAFFÉ, 2002).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em uma escala crescente, a intervenção humana esta alterando o clima e o
ambiente. Progressivamente os habitats modificados nos contextos, local, regional e
global estão influenciando as condições de vida da população atual e das gerações
futuras.
Os efeitos dessas intervenções, que incluem o uso intensivo e inapropriado da
superfície terrestre, crescimento populacional, urbanização e industrialização, têm
intensificado reações ambientais de conseqüências negativas.
O meio ambiente e o desenvolvimento não devem ser questões disjuntivas,
mas sim conjuntivas. O aproveitamento dos recursos do meio ambiente é premente
e vital, porém o desenvolvimento não se pode dar em detrimento do meio.
A sustentabilidade surge como um novo paradigma que estrutura e organiza
os processos de desenvolvimento de uma região, é uma tarefa árdua de médio e
longo prazos que exige mudanças radicais, dentre elas a compatibilização de fatores
como: a capacidade de sustentação dos empreendimentos econômicos, a
participação integral da sociedade, a conservação dos recursos naturais e a
estabilidade dos processos decisórios nas políticas de desenvolvimento.
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: relevância da questão ambiental Isabel C. Bianchessi
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 90
Espera-se que a busca pelo desenvolvimento sustentável, tanto na escala
municipal como na regional, comece a superar a posição elitista e tecnicista outrora
utilizada no planejamento urbano e torne-se um instrumento importante de gestão,
como resultado de um trabalho compartilhado entre a sociedade e o poder público,
criando oportunidade para que todos se comprometam e se sintam responsáveis pelo
desenvolvimento ambientalmente consciente de seus municípios.
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BERTOLUCCI, Liana Maria Mayer. O Desafio de tornar as cidades sustentáveis. In: DIAS, SOLANGE IRENE SMOLAREK (Org.). Planejamento Urbano e Regional: ensaios acadêmicos do CAUFAG em 2007.1. 1. ed. Cascavel: Smolarek Arquitetura, 2007. p. 148-157.
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TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 92
ITAIPU: Planejamento uma questão ambiental e social
Lucélia Bublitz 32
RESUMO
Situada numa zona de fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, a Represa de Itaipu criou grandes impactos originados pela sua execução, exemplos disso são o desaparecimento de Salto de Sete Quedas, e as desapropriações geradas pela sua construção. Para a Itaipu, responsabilidade social é qualidade de vida, desenvolvimento sustentável e inclusão social no Brasil e Paraguai. Fazendo parte do projeto sobre as águas do rio Paraná, manteve a idéia do Brasil forte. As águas e sua importância fazem parte da história do país, movimentam projetos de desenvolvimento. A Usina apresenta um desempenho vital no desenvolvimento da região, pois determina uma contribuição significativa de trabalho especializado e tecnologia que proporciona um elevado nível de dados que é irradiado na região. Responsável por uma quantia significativa do aumento econômico do país, a Itaipu Binacional assumiu um novo papel, além de gerar energia, direcionou-se à revalorização do capital humano e do capital social, aumentou a interação com a comunidade e começou investir na questão ambiental, na educação, na saúde e no turismo, atendendo as diretrizes do governo federal de promover a cidadania. Antes voltada somente à aplicação dos recursos hídricos do rio Paraná para a geração de energia, a Usina de Itaipu agora está atualmente incumbida de gerar energia elétrica de qualidade, com responsabilidade social e ambiental, incentivando o desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico. Segundo a Itaipu as ações socioambientais dividem-se em ações coletivas e são voltadas para uma comunidade específica; ações individuais são conduzidas para uma determinada propriedade; e ações oferecidas a municípios e comunidades para serem distribuídos de acordo com a realidade, o interesse e a disponibilidade locais.
Palavra-chave: Itaipu, desenvolvimento, sustentável.
INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo apresentar a questão do planejamento
ambiental e social sobre a Usina Hidrelétrica de Itaipu, sua influência na região na
área de atuação e a relação existente com as terras que foram atingidas pela sua
construção. Outro ponto importante são os projetos e as parcerias apresentadas
para a questão social, onde são várias as ações que transformam cada município e
região.
Na visão Lerípio (2001, p.2 apud BARROS, 2002), a relação meio ambiente e
desenvolvimento precisam deixar de ser conflitante para uma relação de parceria. ‘O
32 Acadêmica do Curso de extensão de Arquitetura e Urbanismo FAG.
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 93
ponto chave da questão passa a ser a necessidade de uma convivência pacífica entre
a boa qualidade do meio ambiente e o desenvolvimento econômico’.
O tema discorre sobre alguns projetos que foram adotados pela empresa com
objetivos de minimizar os problemas decorrentes da sua instalação, não só na
região, mas interligados com a Fronteira, Brasil, Paraguai e Argentina.
Segundo Lima Rippel L. C. V. e Rippel, R. (s.d), o Consumo de energia per
capita pode ser visto como um bom componente para mensurar o rigor dos
problemas, assim sendo as políticas energéticas deve ser avaliado num conjunto que
envolve tais problemas, decisões, com a intenção de que as escolhas seguidas sejam
as melhores para as populações e para o meio ambiente. Sendo que uma exagerada
degradação do meio ambiente compromete de forma direta ou mesmo indireta a
qualidade da vida das populações, o que estabelece visivelmente que se deve buscar
um ponto de equilíbrio nas decisões como forma de se garantir o próprio futuro da
humanidade.
Em determinadas situações a energia não é a única geradora da degradação
do meio ambiente, exemplo claro disso em alguns casos, com danos bem maiores é
o vazamento de petróleo com perdas irreparáveis. Então se percebe desta maneira
uma clara conexão energia e o meio ambiente, sendo objeto de diversos trabalhos e
estudos, e algumas vezes tornam-se possível estabelecer uma relação causa e efeito
entre o uso da energia e os danos ao meio ambiente.
Considerando que esses aspectos são importantes, o presente artigo constitui
de um conjunto de informações que visam contribuir para mais implantações como
estas feitas pela Itaipu, que possibilite ao público alvo, estudos e pesquisas, da
mesma maneira as instituições e governos possam promover e ampliar ações para a
questão do planejamento ambiental e social.
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 94
1. CONTEXTUALIZAÇÃO
Em 16 de outubro de 1979, quando as obras da barragem foram construídas e
as comportas do canal de desvio foram fechadas, a Usina de Itaipu começou a se
constituir. Nessa ocasião as águas elevaram-se a 100 metros e atingiram às
comportas do vertedouro no dia 27 de outubro às dez horas. Em 5 de maio de 1984,
entrou em operação a primeira unidade geradora de Itaipu, devido às chuvas
intensas e as inundações que ocorreram na época, foram instaladas as 18 unidades
geradoras ao ritmo de duas a três ao ano (ALVES; LIMA; PIACENTI; PIFFERS, 2003).
Elaborado no período desenvolvimentista do presidente Juscelino Kubitschek e
abortado no governo do presidente João Goulart pelas forças conservadoras que
mais tarde derrubá-lo-iam, o projeto de ‘construção da maior hidrelétrica do mundo’
coadunava-se aos planos do regime militar de viabilizar o ‘Brasil grande potência’,
ameaçado, naquele momento, pelo chamado ‘choque do petróleo’, resultante dos
conflitos árabes e israelenses.
Assim, em 1973, o presidente brasileiro Emílio Garrastazu Médici (um dos
mais autoritários mandatários do ciclo militar) o paraguaio Alfredo Stroessner (o
ditador que governaria o Paraguai por mais de 35 anos) assinaram, a toque de caixa,
o ‘Tratado de Criação de Itaipu’, visando levar a efeito o aproveitamento hidrelétrico
do Rio Paraná, através da criação da Itaipu Binacional. Pelo tratado, a localização da
barragem por questões geopolíticas, envolvendo as relações entre Brasil, Argentina e
Paraguai, ficaria em suspenso (GERMANI, 2003).
Para Itaipu Binacional, com responsabilidade de 95% da energia elétrica
consumida no Paraguai e ainda 24% de todo o processo do mercado brasileiro, seu
projeto de grande influência se estende de Foz do Iguaçu, no Brasil, e Ciudad del
Este, no Paraguai, ao sul, até Guaíra (Brasil) e Salto del Guairá (Paraguai), ao norte.
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 95
<http://blog.cybershark.net/aline/wp-content/itaipumapa.jpg>
Acesso em 03/maio/2008.
Legenda: Usina de Itaipu
1-Barragem;
2-Sistema de Turbinas;
3-Comportas (Fechadas);
4-Rio Paraná seguindo seu curso após passar por Itaipu;
5-Fronteira Simbólica Paraguai à esquerda/Brasil à direita.
A Usina Hidroelétrica de Itaipu, a maior em operação no mundo, é um
empreendimento binacional desenvolvido pelo Brasil e pelo Paraguai, no Rio Paraná.
A potência instalada da Usina é de 12.600 MW (megawatts), com 18 unidades
geradoras de 700 MW cada. Formado em 1982, com o fechamento das comportas do
canal de desvio da hidroelétrica de Itaipu, o lago tem área de 1.350 Km² e
profundidade média de 22 metros, podendo alcançar 170 metros nas proximidades
da barragem. O lago possui também 66 pequenas ilhas, das quais 44 estão na
margem brasileira e 22 na margem paraguaia (ITAIPU BINACIONAL, 2001 apud
ALVES; LIMA; PIACENTI; PIFFERS, 2003).
Segundo Souza (2005), em 22 de junho de 1966, através dos ministros das
Relações Exteriores do Brasil, Juracy Magalhães, e do Paraguai, Sapena Pastor,
iniciam-se as comercializações entre os dois países e a Usina de Itaipu é resultado de
intensas transações durante os anos 60.
Conforme a conferência proferida pelo General Costa Cavalcanti explicita o
papel atribuído à usina, que extrapola o econômico e se insere na outra perspectiva
de produzir novos espaços numa área geopolítica: Itaipu não é apenas uma
hidrelétrica, apesar de ser a maior do mundo. Esta obra proporciona, cria condições
para o desenvolvimento econômico e social de uma região e de dois países. E, mais
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 96
do que isto, o projeto, a obra de Itaipu é um grande projeto, é um grande
empreendimento, é uma grande obra de integração entre dois países, Brasil e
Paraguai (SOUZA, 2005).
Conforme Itaipu Binacional, deste modo consolidou-se a Ata do Iguaçu, uma
declaração conjunta que aprova a disposição para pesquisar a aplicação dos recursos
hidráulicos, no trecho do Rio Paraná de Salto de Sete Quedas até a foz do Rio
Iguaçu. Em 1970 iniciaram-se as obras, o consórcio foi formado pelas empresas
IECO (dos Estados Unidos da América) e ELC (da Itália), que venceu os concorrentes
internacionais para a realização dos estudos de viabilidade e para a elaboração do
projeto da obra.
Em fevereiro de 1971 e no dia 26 de abril de 1973 começaram os trabalhos,
Brasil e Paraguai assinaram o Tratado de Itaipu, instrumento legal para o
aproveitamento hidrelétrico do Rio Paraná pelos dois países. Então em 17 de maio de
1974 foi criada à entidade binacional Itaipu para gerenciar a construção da usina,
sendo que em janeiro do ano seguinte ocorreu o início efetivo das obras. Para
aproveitamento dos recursos hidráulicos no trecho do Rio Paraná desde as Sete
Quedas até a foz do Rio da Prata, foi feito em 19 de outubro de 1979 o Acordo
Tripartite entre Brasil, Paraguai e Argentina (SOUZA, 2005).
Conforme Betiol (1983 apud SOUZA, 2005), o Tratado de Itaipu é inovador e
especial: Primeiramente, ele é inovador no que diz respeito às relações bilaterais
entre o Brasil e o Paraguai, pois que, em nenhum momento da história dos dois
países, a cooperação econômica atingira tal nível. Em segundo lugar, ele é especial
porque estabelece as bases jurídicas para o aproveitamento internacional de
recursos energéticos de um rio fronteiriço, bem como cria um organismo
internacional incumbido da gestão desse aproveitamento.
Ao tratar da argumentação Samek (apud Itaipu Binacional), afirma que a idéia
é dividir o conhecimento técnico acumulado pela usina, estimulando o processo de
auto-sustentabilidade de países em desenvolvimento no setor energético pelo meio
da produção de energia com responsabilidade ambiental, econômica e social. ‘O
conhecimento não deve ficar guardado a sete chaves. Por isso, a Itaipu colocará à
disposição da humanidade as experiências obtidas principalmente no campo da
produção de energia e na preservação do meio ambiente’
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 97
2. EXPOSIÇÃO DA TEORIA
2.1. Municípios Lindeiros
Conforme Alves, Karpinski, Lima, Piacenti e Piffer (2002), para os
representantes das usinas o desenvolvimento econômico consiste no processo de
otimização do potencial competitivo, combinado com as vocações e peculiaridades
locais, planejados regionalmente, tendo como paradigma a sustentabilidade. Dessa
forma, de acordo com seus representantes, as usinas hidrelétricas têm papel
essencial no desenvolvimento da região, pois acarretam uma contribuição
significativa de trabalho especializado e tecnologia que mantêm um elevado nível de
conhecimento, o qual é irradiado para a região.
A mudança do meio ambiente é fator primordial de impacto social, pois
através do alagamento, propriedades, vilas e até cidades ficam submersas, levando
consigo parte da história, da cultura e do modo de viver das pessoas atingidas. A
economia da região é também alterada, visto que, com a construção da barragem, a
movimentação populacional se acelera e a injeção de recursos de compensação
(royalties) pode mudar a estrutura social e política dos municípios lindeiros.
Juntamente com os setores social e econômico, outro aspecto que influi no
desenvolvimento de uma região é a cultura de cada população. Essa cultura é
altamente afetada pelo alagamento e pelas migrações, que podem causar mudanças
nos hábitos e na convivência social (ALVES; KARPINSKI; LIMA; PIACENTI; PIFFER,
2002).
Os atingidos da região de Itaipu definiram o desenvolvimento regional com
ações integradas que favorecem todas as classes e permitem o bem estar da
população no tocante à saúde, educação, turismo, emprego e tecnologia. Pode-se
dizer que essas ações partem da característica marcante da região que é a
agricultura (ALVES; KARPINSKI; LIMA; PIACENTI; PIFFER, 2002).
Principal instrumento de desenvolvimento nesses municípios frágeis a
mudanças ambientais e econômicas acaba ocorrendo nessas áreas atingidas pela
Usina. É a ação das instituições, além do trabalho local realizado por elas a
conservação regional do desenvolvimento e sua conexão são feitos através das
associações e organismos que unem os municípios.
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 98
Em março de 1990 foi instituído O Conselho dos Municípios Lindeiros com a
intenção de colaborar para a promoção do desenvolvimento dos municípios
envolvidos pela Usina de Itaipu. Na região existem determinados organismos locais
que se ocupam do progresso dos municípios abordados pela Usina e determinaram o
desenvolvimento regional com ações integradas que favorecem todos os grupos e
consentem o acesso da população à saúde, educação, turismo, emprego e tecnologia
(ALVES; LIMA; PIACENTI; PIFFERS, 2003).
Na visão de Alves, Lima, Piancenti e Piffers (2003), as diretrizes do Conselho
dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu (CML), estão em: a) gerar estudos e
pesquisas para o planejamento integrado do desenvolvimento da região; b) aplicar o
planejamento local com as diretrizes do planejamento regional estadual e federal; c)
fornecer condições de implementação de continuidade adaptação constante do
trabalho intitulado de diretrizes de desenvolvimento regional dos municípios
limítrofes ao Lago de Itaipu; d) adaptar as realidades dinâmicas ao desenvolvimento
da região; e) compatibilizar os investimentos nas áreas industriais; f) comerciais e
de serviços; g) auxiliarem a definição, implantação e compatibilização da legislação
básica de uso e ocupação do solo urbano e rural dos municípios membros.
O Conselho dos Municípios Lindeiros tem sede própria no município de Santa
Helena, entretanto na sua administração, além de recursos advindos da Itaipu, conta
com a participação de pessoas da área política, comercial e industrial da região, e
também com recursos próprios repassados pelas Prefeituras Municipais num
montante de 0,3% do que recebem de royalties. Criando setores responsáveis pelas
áreas frágeis, sociais e econômicas, a então chamada Câmara Técnica, consiste em
que cada Câmara seja responsável por sua área na região do Lago de Itaipu e faz
referência às seis seguintes Câmaras Técnicas: Educação, Cultura e Esportes;
Indústria, Comércio e Turismo e Agricultura e Meio Ambiente (ALVES; LIMA;
PIACENTI; PIFFERS, 2003).
Sendo assim as políticas de desenvolvimento regional, precisarão atender em
primeiro lugar as características naturais da região, a população, o comércio, o
turismo e a agroindústria são fatores que poderão ajudar nessa potente base
econômica da região.
A Usina de Itaipu preocupa-se com a região dos atingidos, tem uma
importância neste contexto, promove ações de responsabilidade social, no seu início
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 99
já tinha a preocupação com o desenvolvimento sustentável da sociedade,
preservando recursos ambientais e culturais e diminuindo as desigualdades sociais.
2.2. Royalties
Segundo Alves, Karpinski, Lima, Piacenti e Piffer (2002), os royalties vêm ao
encontro da necessidade de investimentos sociais e produtivos de muitos municípios
cuja função importante na compensação financeira de alguns impactos, o pagamento
deles e a utilização dos recursos do lago são como responsáveis por um crescimento
econômico na região, que, aliado ao conhecimento, permite aos municípios um
desenvolvimento suprindo as necessidades sociais de cada cidade, bem como seus
projetos de infra-estrutura básica, que permitirão o bem estar populacional.
Os chamados royalties são pagos todos os meses desde que a Itaipu começou
a comercializar energia, em maio de 1985, conforme o Anexo C do Tratado de Itaipu,
assinado em 30 de agosto de 1973 (ITAIPU BINACIONAL).
Para LEIMANN, o atual prefeito dos municípios beneficiados tem obrigação de
verificar e avisar ao povo como foram aproveitados os recursos nas gestões
passadas. Sendo assim é preciso que observem a necessidade de elaboração de um
plano estratégico de longo prazo para atingir os resultados econômicos e sociais que
tragam progressos efetivos e consistentes para a população. Na Região Oeste do
Estado do Paraná, os municípios que perderam áreas de terra em função da
instalação do Lago de Itaipu, passaram, a partir de 1992, a receber royalties como
indenização por este alagamento.
Nos últimos dois anos, alguns municípios tem tido problemas orçamentários
por erros de previsão dos royalties a serem recebidos, principalmente em função da
valorização do real frente ao dólar, moeda utilizada pela Usina Hidrelétrica de Itaipu
para precificar a energia elétrica vendida e, por conseqüência, para calcular os
royalties a serem repassados a estes municípios.
O projeto de Itaipu insere-se na orientação política que havia decidido pelo
aproveitamento máximo dos recursos hídricos para a produção de energia. Constitui
uma ‘alavanca’ indispensável para promover o desenvolvimento e o progresso,
conforme palavras utilizadas pelos militares da época. Afinal, essas obras faraônicas
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 100
foram à menina dos olhos do regime autoritário brasileiro que se apresentava como
símbolo do Brasil Grande, como necessárias à ‘Segurança e Desenvolvimento do
país’ (GONÇALVES, 1990, p.32 apud SOUZA, 2005).
A construção da Usina de Itaipu deu uma contribuição enorme aos atingidos,
pois a infra-estrutura de suporte criada lhes permitiu o acesso à educação e aos
serviços de saúde, localizados nos centros urbanos ou nos distritos rurais (ALVES;
LIMA; KARPINSKI; PIACENTI; PIFFER, 2002).
Entrem Foz do Iguaçu e Guaíra, a represa abrange áreas de 16 municípios,
sendo 15 no Paraná e um no Mato Grosso. Como ressarcimento, a Itaipu paga
royalties a esses municípios proporcionalmente à área de terra que foi atingida. O
governo do Paraná também recebe o mesmo valor pago aos 15 municípios que têm
direito a royalties. No último dia 09 de maio de 2008, Itaipu efetuou mais um
repasse de royalties ao Tesouro Nacional, no valor de US$ 10,67 milhões. O Governo
do Paraná e os 15 municípios paranaenses que fazem divisas com o reservatório da
Itaipu receberam o equivalente a US$ 8,08 milhões (ITAIPU BINACIONAL).
Segundo a Itaipu Binacional, no Paraguai, os recursos dos royalties são
repassados integralmente ao Tesouro Nacional.
Itaipu (2006, apud OS ROYALTIES DE ITAIPU NOS MUNICÍPIOS LINDEIROS
AO LAGO E NO ESTADO DO PARANÁ), com relação ao processo de compensação
financeira, demonstra que: ‘Desde que Itaipu iniciou a produção comercial de
energia, em maio de 1985, passou a pagar royalties aos governos dos dois países,
conforme está previsto no Anexo C do Tratado de Itaipu, publicado no Diário Oficial
da União, no Brasil, em 30 de agosto de 1973. O pagamento de royalties ao Brasil e
ao Paraguai é uma compensação financeira pela utilização do potencial hidráulico do
Rio Paraná para a produção de energia elétrica. No Brasil, em 11 de janeiro de 1991,
entrou em vigor o Decreto nº 1, que discrimina a distribuição de royalties a Estados,
municípios e órgãos federais, beneficiando principalmente os municípios mais
afetados pelo alagamento de terras para a formação do reservatório. Com isso, os
maiores beneficiados foram o governo do Paraná e os 15 municípios paranaenses
limítrofes ao reservatório de Itaipu. Desde 1985 até hoje, Itaipu pagou ao Brasil
mais de US$ 2,88 bilhões em royalties’.
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 101
Na visão de LEIMANN, cerca de 75% dos royalties foram para o Paraná,
disseminados entre o governo do Estado e os municípios lindeiros, meio a meio. A
distribuição aos municípios paranaenses acumulada ao decorrer desses anos ficou:
a) Diamante D'Oeste, US$ 4,7 milhões; b) Entre Rios do Oeste, 25,5 milhões; c) Foz
do Iguaçu, US$ 170,8 milhões; d) Guaíra, US$ 43,1 milhões; e) Itaipulândia, US$
139,6 milhões; f) Medianeira, US$ 982,3 mil; g) Missal, US$ 33,9 milhões; h)
Marechal Cândido Rondon, US$ 54,3 milhões; i) Mercedes, US$ 15,0 milhões; j) Pato
Bragado, US$ 36,5 milhões; k) São José das Palmeiras, US$ 1,6 milhões; l) Santa
Terezinha de Itaipu, US$ 35,4 milhões; m) São Miguel do Iguaçu, US$ 89,4 milhões;
n) Santa Helena, US$ 223,2 milhões; o) Terra Roxa, US$ 1,3 milhão. O município
sul-mato-grossense de Mundo Novo ganhou, desde 1991, o total de US$ 12,3
milhões.
No último dia 09 de maio de 2008, a Usina de Itaipu realizou mais um repasse
de royalties ao Tesouro Nacional, no valor de US$ 10,67 milhões. O Governo do
Paraná e os 15 municípios paranaenses que fazem divisas com o reservatório da
Itaipu embolsaram o equivalente a US$ 8,08 milhões (ITAIPU BINACIONAL).
3. FATOS APRESENTADOS
3.1. Projeto Cultivando Água Boa
A Itaipu Binacional tem a preocupação com os aspectos ambientais e sociais,
desde modo envolvendo a água como alvo principal no procedimento de geração da
energia, ela vem construindo um novo modelo para se encaixar nos desafios que
compõem para a reestruturação das áreas ambientais.
Com diversos projetos e subprojetos voltados para as questões sócio-
ambientais, o projeto Cultivando Água Boa, intercala suas ações junto aos outros
para a ampliação econômica sustentável das comunidades ribeirinhas e da Bacia
Hidrográfica do Paraná, a preservação dessas áreas é fundamental para a
conservação do ecossistema nativo e para a qualidade da água dos rios e nascentes
(WAMMES; UHLEIN; CASTAGNARA; FEIDEN; PERINI; STERN; ZANELATO; VERONA;
ULIANA; ZONIN; SILVA, 2007).
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 102
Segundo Daga, Campos, Navarini, Feiden e Matsuo (s.d), o trabalho será
desenvolvido como parte integrante do projeto geral pertencente ao convênio entre
as duas instituições Itaipu e Unioeste (Campus de Marechal Cândido Rondon), o
projeto “Cultivando Água Boa” tem o objetivo de atentar a população para o
problema decorrente da escassez de água potável, tanto pelo aumento do consumo
pela população e ao mesmo tempo formar uma rede de conscientização sobre seu
uso racional. Entretanto o que preocupa a Itaipu, é a contaminação das águas no
reservatório, com diversos poluidores orgânicos e inorgânicos, com elevado potencial
de corrosão de estruturas de concreto, assim como partes metálicas dos
equipamentos de geração. Os proprietários necessitam fazer as devidas adequações
dos passivos ambientais, para que, no futuro, as gerações não sofram com falta
d’água.
Para o Brasil, trata-se de matéria cuja importância extrapola o aspecto técnico
da utilização da água para fins de geração de energia, irrigação agrícola, ou
conservação do meio ambiente. O fato de as linhas de fronteira ser em grande
expansão recursos hídricos no âmbito da política externa. No Brasil, o
compartilhamento de um imenso potencial hídrico tanto na fronteira norte quando na
sul serviu de base para o estabelecimento de uma teia de instrumentos jurídicos
para estimular a cooperação com vistas ao ótimo aproveitamento dos grandes
recursos naturais existentes e assegurar, mediante o uso racional, sua preservação
para as gerações futuras. (RPBI, Revista Brasileira de Política Internacional, p.180
apud ÁGUA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS).
Conforme Dal Santo, Júnior e Loch (2004), os fenômenos como a
sedimentação e o aumento dos nutrientes que causam proliferação de organismo na
água, prejudicam a propriedade das águas da represa em seus múltiplos usos.
Entretanto, os monitoramentos feitos pela companhia mostram que esses impactos
não são provocados pelas atividades da Itaipu, e sim pelas atividades implantadas
nas bacias hidrográficas que apóiam à represa. Perante este panorama, a Diretoria
de Coordenação da Itaipu adotou um modelo de gestão para combater os problemas
diagnosticados.
As grandes hidrelétricas constituem – por sua dimensão, natureza, modo de
implantação, objetivos – um caso típico de Grande Projeto de Investimento (GPI).
Sua multiplicação, a partir dos anos 60 e 70, consolidam uma política nacional de
exploração energética de recursos hídricos marcada por duas características
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 103
principais: absoluto predomínio do Estado como agente empreendedor e afirmação
das unidades de grande porte como sustentáculo essencial do planejamento e
expansão do sistema de geração de eletricidade (VAINER, 1992, p.51 apud SOUZA,
2005).
Para Souza (2005), marcando um período do capitalismo brasileiro e mundial,
a construção da Usina de Itaipu é um componente de grande importância de análise.
As políticas de desenvolvimento direcionam o parque industrial brasileiro para um
modelo semelhante ao dos países industrializados.
O impacto dos reservatórios e até mesmo da sua construção pode se estender
além das regiões em que estão situados. Assim, o planejamento microrregional pode
se tornar um instrumento de melhoria da distribuição espacial do desenvolvimento
acarretado pela construção das hidrelétricas e da própria produção de energia. Dessa
forma, para as regiões atingidas por essas obras, o desenvolvimento regional
consiste em uma ‘atividade de planejamento com caráter de maior amplitude
geográfica, maior número de agentes intervenientes, com gerência externa ao setor
elétrico e com suporte de origem diversa a esse setor’ (MÜLLER, 1995, p.305 apud
ALVES; KARPINSKI; LIMA; PIACENTI; PIFFER, 2002).
Sendo assim, a Usina de Itaipu engajada nestes grandes projetos produtores
de energia, colaborou na sustentação de uma tática de área nacional, mantendo sua
preocupação com a água da represa, com o ambiente fluvial das bacias hidrográficas
que vão para o reservatório.
3.2. Corredor de Biodibersidade
Na visão de Millarch (1990), desde sua concepção, Itaipu tem um plano de
conservação ambiental, sendo que só nos últimos 5 anos que essas atividades foram
incrementadas, a margem brasileira do lago está sendo reflorestadas tanto para
protegê-lo, suas águas e seus peixes, da ação dos agrotóxicos das lavouras vizinhas,
como para proteger as lavouras da ação dos ventos e neblina do lago. Trata-se de
reflorestamento com mudas nativas e frutíferas, visando recriar o ambiente natural
para a fauna. São 20 milhões de mudas, das quais 16 milhões já foram plantadas.
Há três anos foi instalado o primeiro Ecomuseu da América Latina, destinado a
difundir, com a participação da comunidade, condutas ambientalistas e reviver a
cultura regional.
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 104
A Itaipu desenvolveu também o processo envolvendo a recuperação das
matas ciliares e o saneamento ambiental das propriedades ao redor, os trabalhos
iniciaram-se com a construção de cercas de divisa e a recuperação florestal, com o
plantio de mudas nativas da região, ações de planejamento na questão ambiental.
Para Lerípio (2001, p.2 apud BARROS, 2002), a relação meio ambiente e
desenvolvimento devem deixar de ser conflitante para tornar-se uma relação de
parceria. ‘O ponto chave da questão passa a ser a necessidade de uma convivência
pacífica entre a boa qualidade do meio ambiente e o desenvolvimento econômico’.
• Corredor da Biodiversidade - <http: www.itaipu.gov.br> na Natureza
O projeto do Corredor de Biodiversidade que a Usina traz procura conectar
áreas naturais governamentais e privadas que ficaram isoladas com o aniquilamento
das florestas originais na região da fronteira comum ao Brasil, Paraguai e Argentina.
Com início em 2003 o projeto vai consentir a dispersão dos genes de flora e fauna,
sendo que a primeira para a implantação desse corredor foi reconstituir a união
verde entre a faixa de proteção do reservatório da Usina e o Parque Nacional de
Iguaçu, e também nos municípios de Santa Terezinha de Itaipu e São Miguel do
Iguaçu (ITAIPU BINACIONAL).
Segundo Boff (1999, p.134 apud BARROS, 2002), ‘Para cuidar do planeta
precisamos passar por uma alfabetização ecológica e rever nossos hábitos de
consumo’.
Conforme Barros (2002), a questão ambiental está se tornando cada vez mais
crítico para toda planeta, o futuro depende da relação entre ambiente e humanidade
e o que se faz com recursos naturais. Entretanto à medida que a humanidade
aumenta sua capacidade de intervir na natureza, surgem cada vez mais conflitos. O
exemplo de sociedade formado com a industrialização crescente está causando
conseqüências indesejáveis, os novos desafios da sustentabilidade às questões do
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 105
meio ambiente, a troca de experiências entre os profissionais e as parcerias são
ferramentas enriquecedoras e ganham papel importante na compreensão da
cooperação entre instituições e grupos de pesquisas, tornando viável a visualização
dos problemas ambientais.
3.3 Projetos e Parcerias
Para FAE BUSINESS (2004), a Usina de Itaipu entre outros compromissos
consta com a contribuição para o resgate da cidadania no Brasil e no Paraguai,
dispondo de um Comitê Gestor de Responsabilidade Social e Ambiental com suas
ações vinculadas a um Planejamento Estratégico.
Estas ações integradas com as políticas púbicas colaboram para uma
concretização na região da Tríplice Fronteira, Brasil/Paraguai/Argentina, intervenções
realizadas pela Itaipu Binacional no campo social: a) O Programa Família Brasileira
Fortalecida, desenvolvido em conjunto com o UNICEF, gera prevenção nas áreas de
saúde, nutrição e determinado cuidado com as crianças de zero a seis anos no
ambiente doméstico; b) O Programa Saúde na Fronteira, no qual a Itaipu fundou e
coordena um Grupo de Trabalho com a participação de autoridades sanitárias
brasileiras e paraguaias, encaminha as ações da empresa no sentido de sustentar a
implantação e fortalecimento das políticas públicas nacionais para o setor; c) A
Organização Internacional do Trabalho – OIT – e cerca de 40 entidades não-
governamentais e instituições públicas do Brasil, Paraguai e Argentina colaboram em
outra parceria para o combate à exploração sexual de crianças e adolescentes e à
violência doméstica; d) A empresa criou ainda o Parque Tecnológico Itaipu, um
espaço para o avanço tecnológico e social voltado para o Mercosul, e concede bolsa-
escola a 300 famílias carentes da Vila C de Foz do Iguaçu, antigo local de moradia de
barrageiros contratados para a construção da usina. Hoje, a Vila C, com seus 15 mil
moradores, é protagonista do Programa Energia Solidária, uma parceria com a
comunidade na identificação de problemas e busca de soluções junto às instâncias
decisórias; e) A Itaipu mantém o Hospital Ministro Costa Cavalcanti, que atende a
comunidade pelo SUS e promove a organização em rede de entidades da sociedade
civil, com a criação conjunta da Rede de Instituições Solidárias (FAE BUSINESS,
2004).
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 106
Assim a qualidade de vida depende da qualidade do meio ambiente,
implicando na conservação do potencial produtivo dos ecossistemas, na valorização e
preservação dos recursos naturais, na sustentabilidade ecológica do habitat e na
importância da autonomia dos cidadãos lindeiros quanto à melhor redistribuição e
usufruto da riqueza social (ROESLER, 2004).
Conforme Itaipu Binacional, ainda investe em projetos da agricultura orgânica,
plantio de plantas medicinais, na diminuição dos impactos da interferência do
homem no ecossistema, na promoção da sustentabilidade das comunidades
necessitadas, na preservação da água, nos pequenos agricultores, pescadores e nos
agentes ambientais. Dessa maneira a empresa participa e investe na qualidade de
vida, na questão ambiental e social.
Além disso, contribui ainda com o projeto Apoio Integral a campesinos e
indígenas desenvolvendo um plano de apoio integral a famílias campesinas e
indígenas de baixa renda do Paraguai, com a finalidade de melhorar a produtividade
agropecuária, estimular a diversificação da produção e garantir a alimentação destas
populações.
4. SÍNTESE DOS FATOS
Os royalties é uma compensação financeira pelas terras alagadas na
construção da Usina, do mesmo modo que trouxe para as regiões atingidas uma
nova dinâmica de desenvolvimento regional, é um importante elemento relevante
para a economia dos municípios lindeiros.
Na visão de Alves, Lima, Karpinski, Piacenti e Piffer (2002), a utilização do
Lago de Itaipu tem atividades viradas para a área de recreação e lazer, aparecendo
como uma das principais atividades dos municípios lindeiros. Tanto que Santa
Helena, Foz do Iguaçu, Santa Teresinha de Itaipu e, mais recentemente, Marechal
Cândido Rondon (Porto Mendes) e Entre Rios do Oeste entraram na rota do turismo
regional.
Sendo a água como elemento principal, foi implantado um dos maiores
programas de preservação e recuperação ambiental relacionado à conservação de
recursos hídricos, o Projeto Cultivando Água Boa com parceira com a Unioeste.
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 107
Na questão ambiental este artigo apresentou que a Itaipu Binacional
apresenta a preocupação com as regiões atingidas pela construção da barragem,
existe a recuperação das matas ciliares, de tal modo com que tornou a implantação
do projeto Corredor da Biodiversidade em reconstituir uma faixa de proteção da
Usina e o Parque Nacional do Iguaçu.
Assim sendo, a criação de um programa de desenvolvimento sustentável e de
um observatório regional desse desenvolvimento são metas que necessitam ser
incluídas nos projetos e programas de ampliação da produção energética não só no
Paraná, mas no Brasil também. Esse programa acaba determinando diretrizes e
metas para a conservação dos recursos naturais, sua preservação e a melhora da
qualidade de vida dos habitantes locais (ALVES; LIMA; KARPINSKI; PIACENTI;
PIFFER, 2002).
Ainda existe uma série de ações com parcerias realizadas pela Itaipu na
questão social ao mesmo tempo, e estas ações integradas com as políticas púbicas
colaboram para uma concretização na região da Tríplice Fronteira,
Brasil/Paraguai/Argentina.
Entretanto para que isso ocorra, é indispensável à integração regional dentro
dos aspectos que norteiam cada região, o que equivale a unificar o setor econômico
viável às características socioculturais, bem como as tecnologias e peculiaridades
que envolvam o trabalho e a preservação do meio ambiente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo foram apresentadas sobre as questões ambientais, sociais e
regionais que existem a respeito da influência da Usina de Itaipu. A busca da energia
em suas mais diversas formas é um fator indiscutível, o crescimento e
desenvolvimento resultantes deste processo podem ser prejudiciais ao meio
ambiente, tendo efeitos sobre a população, sobre a estrutura de produção
agropecuária e, conseqüentemente, sobre as atividades produtivas locais.
Sendo assim a Usina com sua grandiosidade mostrou que é possível tornar
melhorar a qualidade de vida dos moradores da região da sua área de atuação.
Tanto no Brasil como no Paraguai as iniciativas socioambientais estão presentes em
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 108
todas as regiões do país, não somente na zona de sua influência. Ambos os governos
fizeram um acordo reconhecendo que a responsabilidade social e o cuidado com o
meio ambiente são atividades constantes da empresa.
Tendo como objetivo de mostrar que se buscou um ponto de equilíbrio nas
decisões de forma a minimizar os problemas ambientais e sociais, um exemplo disso
mostrado foi o projeto Cultivando Água Boa, parceria da UNIOESTE com a Usina de
Itaipu entre outros grandes projetos.
No entanto além dessas ações devem ser discutidas outras delas com
empresários, agricultores e cidadãos, conforme as características de cada município,
para fortalecer a economia local e melhorar a qualidade de vida das populações nas
regiões atingidas. Procurar um equilíbrio torna-se indispensável, visando minimizar
ao máximo possíveis problemas ambientais.
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TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 110
ANÁLISE DAS TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS EM CARÊNCIA NAS PRINCIPAIS CIDADES DA MESORREGIÃO
OESTE DO PARANÁ Ana Carolina Dillenburg33
RESUMO
Esta pesquisa tem por objetivo desenvolver análises comparativas entre a oferta e a
demanda de parques urbanos existentes na mesorregião geográfica do oeste do Paraná,
sobretudo nas cidades de Cascavel, Foz do Iguaçu e Toledo. Para isso, inicialmente, o
termo parque foi contextualizado, definido e classificado. Posteriormente foi descrita a
metodologia utilizada para a análise e realizada uma abordagem sobre a população (a
idade e o local de residência) e os parques urbanos (se existem e os equipamentos
disponíveis em cada um) de cada uma das cidades. Como finalização do trabalho foi feita
a análise de oferta e demanda, apontando a tipologia de parques urbanos e
equipamentos em carência nas cidades estudadas e conseqüentemente na mesorregião
oeste.
Palavras-chave: Parques urbanos. Região Oeste do Paraná. Tipologia de parques.
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem a finalidade de investigar a oferta de parques urbanos na
região oeste do Estado do Paraná e avaliar se atendem à demanda da população.
Para isso foram selecionadas as três principais cidades da região a fim de
servirem de amostra para a investigação. São elas: Cascavel, Foz do Iguaçu e
Toledo. A investigação abrange a área total dos parques apresentados, quais
equipamentos estão disponíveis para os usuários e qual a idade do público que eles
atendem. Para definir essa idade foi necessário criar uma classificação de interesses
para cada faixa etária trabalhada.
O objetivo dessa investigação é criar uma referência que indique quais as
tipologias de parques e equipamentos em carência na região e com isso embasar
futuros projetos.
33 Graduanda do curso de Arquitetura e Urbanismo; Disciplina de Planejamento Urbano IV; FAG; [email protected]
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 111
Para isso, inicialmente foram definidos conceitos para alguns termos citado
por autores consultados e referenciados nesse trabalho, apresentados no item 2.
O item 3 é uma breve introdução sobre Parques Urbanos. Como surgiu, qual
era sua função no meio urbano e qual é sua função nos dias de hoje; definições de
seus conceitos por vários autores; e finalmente como é classificado por alguns deles.
O item 4 apresenta a metodologia desenvolvida para analisar a oferta e
demanda em cada uma das cidades e posteriormente em toda a região; a
classificação de interesses de acordo com a faixa etária; e a classificação de parques
utilizada para identificá-los.
No item 5 é feita uma breve introdução sobre cada cidade, são expostas as
características de sua população, e apresentados os equipamentos e os parques
existentes, classificados dentro da metodologia criada.
Após a apresentação dos fatos, o item 6 apresenta a análise desenvolvida
sobre a relação oferta/demanda, concluindo quais as tipologias de parques urbanos
estão em carência na região.
Para finalizar, foram feitas considerações sobre o resultado encontrado na
análise e sobre o desenvolvimento desse trabalho.
1. ESPAÇO LIVRE, ESPAÇO ABERTO E ÁREA VERDE: BREVE CONCEITUAÇÃO
Antes de entrar na discussão do que vem a ser um parque e suas
classificações, é adequado estabelecer conceitos de outros termos também utilizados
em literatura recomendada. Possuem abrangência mais ampla, e alguns autores
definem parque como sendo uma área verde ou espaço livre. Além desses termos, a
definição de espaço aberto também foi exposta pela sua similaridade com os outros
dois termos.
Espaço livre foi definido por LIMA et all (apud GUZZO) como um conceito que
se contrapõe ao espaço construído em áreas urbanas.
Já espaço aberto foi considerada uma tradução errônea do termo inglês “open
space”, sendo adequado o uso do termo anterior.
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 112
LIMA et all (apud GUZZO) considera área verde o local onde existe
predominância de vegetação arbórea, que engloba praças, jardins públicos e parques
urbanos. A arborização de vias não é considerada, a não ser que exista uma área
permeável, como canteiros centrais de avenidas ou rotatórias por exemplo.
TROPPMAIR e GALINA (2003) definem área verde como “espaços abertos com
cobertura vegetal e uso diferenciado, integrado ao tecido urbano, aos quais a
população tem acesso”.
Uma terceira visão da expressão é de MILANO (apud SAKAMOTO; HARDT;
REZENDE, 2006) que define área verde como “áreas livres na cidade com
características predominantemente naturais, independente do porte da vegetação”.
Independente das diversas formas de definir os termos, eles representam
espaços que não são construídos dentro do meio urbano, como os parques, e alguns
autores referenciados os citam, sendo necessário um esclarecimento do assunto.
2. PARQUES URBANOS
2.1 Origem e Usos
O parque surge na Inglaterra no séc. XVIII como novo fato urbano. De acordo
com Scalise (2002) o parque dessa época tinha como objetivo prover equipamentos
de lazer e relaxamento, além de criar espaços amenizadores na estrutura urbana em
crescimento acelerado, isso devido ao novo estilo de vida pós Revolução Industrial.
No séc. XIX os parques eram idealizados em bairros burgueses e para exibição
social, “com extensos gramados, lagos e grandes massas de vegetação”
(BARCELLOS, 2000).
A partir do séc. XX assumem diversos objetivos e funções. Na perspectiva de
Scalise (2002), a cada década houve mudanças nas tendências e funções do parque
urbano.
Atualmente “o parque urbano surge com novos contornos culturais e
estéticos, desenhando o perfil, entorno e identidades, devendo ser encarados nos
seus diferentes tempos, funções e usos” (SCALISE, 2002).
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Barcelos (2000) cita duas vertentes principais nos parques atuais: a primeira
com uso de estratégias de conservação dos recursos naturais e a segunda como
“elementos de dinamização da economia urbana”, ligadas ao lazer e ao turismo.
Da mesma maneira que os usos assumem diversas formas, as definições são
também variadas, e muitas vezes apontam a tendência projetual do autor.
2.2 Definição
A definição de parque, além de apontar a tendência projetual do autor, como
citado no item anterior, pode variar de acordo com a área de atuação do profissional.
Um arquiteto define parque diferentemente de um biólogo ou ambientalista. Nesse
trabalho levaremos em consideração definições relacionadas a arquitetos e
estudiosos da área, como Rosa Kliass, Bartaline e Olmstead, criador do Central Park,
todos citados por Scalise.
Rosa Kliass define:
Os parques urbanos são os espaços públicos com dimensões significativas e predominância de elementos naturais, principalmente cobertura vegetal, destinados a recreação (apud SCALISE, 2002).
Bartalini cita trabalhos desenvolvidos no Canadá que define parque como:
... um grande espaço aberto público, que ocupa uma área de pelo menos um quarteirão urbano, normalmente vários, localizado em torno de acidentes naturais, [...], fazendo divisa com diversos bairros (apud SCALISE, 2002).
Olmstead, criador do Central Park de Nova Iorque, define parque como:
... lugares com amplitude e espaços suficientes e com todas as qualidades necessárias que justifiquem a aplicação a eles daquilo que pode ser encontrado na palavra cenário ou na palavra paisagem, no seu sentido mais antigo e radical” (apud SCALISE, 2002).
Para Scalise, a dificuldade de existir uma definição global da palavra, se deve
pela existência de diferentes dimensões, formas de tratamento ou linguagens
arquitetônicas antagônicas, funções que não possuem um padrão e equipamentos
que podem ser os mais variados.
Para Guzzo, algumas das funções que os parques assumem são a ecológica, a
social, a estética, a educativa e a psicológica.
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Em seu texto, Scalise encerra a introdução com uma consideração geral do
que considera ser parque:
Os parques são equipamentos públicos urbanos difundidos a partir das experiências inglesas, francesas e americanas e surgiram de ações concretas, em situações geográfica e historicamente específicas. A provisão de parques públicos é função do município, e ocorre a partir da necessidade de existência de tais equipamentos, de sua presença nos planos e da tendência contemporânea das reivindicações por parques e áreas verdes (2002).
Para o desenvolvimento desse trabalho, consideramos parque os espaços
públicos de uso comum e com equipamentos disponíveis para a população.
2.3 Classificação
Antes de classificar um parque é importante saber diferenciá-lo de uma praça.
De acordo com Lira (2001, p.69) as dimensões físicas, a abrangência espacial e
especialização funcional são as principais diferenças entre um e outro, sendo a praça
menor e com mais área impermeabilizada.
Vários autores definem critérios de classificação.
Barcellos (2000) divide em duas categorias antagônicas: parques como
estratégias de conservação ambiental e parques como elementos de dinamização
econômica. Em seu texto, “Os novos Papéis do Parque Público: o caso dos parques
de Curitiba e do projeto orla de Brasília”, o autor cita os parques de Curitiba como
exemplos da primeira estratégia e o Projeto Orla de Brasília como exemplo da
segunda.
Guzzo, por sua vez, divide os parques em quatro categorias e ainda apresenta
uma sugestão de índices urbanísticos (área mínima, distância máxima das
residências, e o ideal de metragem quadrada por habitante) para cada tipologia
(tabela 1): (i) Parques de vizinhança, projetados para servir a uma unidade de
vizinhança ou de habitação; (ii) Parques de Bairro, maior que o anterior e possuindo
uma gama maior de equipamentos de lazer; (iii) Parques Distritais, de grandes
dimensões com áreas de bosques contendo elementos naturais de importância; e,
(iv) Parques Metropolitanos ou Regionais, semelhantes aos parques distritais, mas
com intuito de atender a toda uma região.
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TABELA 1 - Sugestão de Índices Urbanísticos para Espaços Livres
CATEGORIA m2/hab ÁREA MÍNIMA
(ha) DISTÂNCIA
RESIDÊNCIA (m) PROPRIEDADE
Parque Vizinhança 0,75 0,05 500 Público ou Particular
Parque Bairro 6 10 1000 (10 minutos)
Público
Parque Distrital ou Setorial
6/7 100 1200 (30 minutos)
Público
Parque Regional ---- 200 (área com
água) Qualquer parte
da cidade Público
Fonte: texto GUZZO
Lira (2001, p.67) classifica primeiramente os jardins em públicos (parques e
praças), privados (uso familiar ou de uma comunidade) e coletivos (igrejas,
condomínios, clubes, escolas, cemitérios, etc.). Já os parques, o autor classifica
segundo sua finalidade: (i) Parques de preservação, para as unidades de
conservação aprovadas em Lei Federal; (ii) Parques especiais, como jardins
botânicos, zoológicos, etc.; (iii) Parques de recreação, com o objetivo de atender a
população urbana; (iv) Parques de vizinhança que são pequenas áreas voltadas a
recreação infantil; (v) Parques de Bairro que são áreas medias com aparelhos de
recreação para diversas faixas etárias e com atendimento diário; e, (vi) Parques
setoriais ou metropolitanos, grandes áreas, com predomínio de vegetação com fins
recreativos para todas as faixas etárias e uso predominante nos fins de semana.
Há semelhanças nas classificações de Lira e Guzzo, mas Lira enfatiza o uso
dado ao parque, enquanto Guzzo restringe sua classificação por tamanho e
quantidade de equipamentos.
3. METODOLOGIA DE ANÁLISE
Para atingir o objetivo do trabalho (estipular as tipologias de parques e
equipamentos em carência na região) primeiramente é necessário conhecer a
demanda e a oferta, sendo a demanda a população das cidades selecionadas para
estudo e a oferta os parques disponíveis em cada uma delas.
Para haver um critério de comparação da demanda foram estipuladas faixas
etárias da população e as atividades de interesse de cada uma delas (ver tabela 2).
A importância dessa classificação para o trabalho é justificada por Guzzo, que afirma
que no planejamento de espaços livres devem ser consideradas as faixas etárias
predominantes e existentes na região.
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TABELA 2 – Classificação de Tipologia de Equipamentos por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA DENOMINAÇÃO EQUIPAMENTOS E INTERESSES 1) 0 – 9 Crianças Play Ground
2) 10 – 19 Adolescentes Esportes tradicionais (futebol, vôlei) e
radicais (rapel, skate, trilhas)
3) 20 – 29 Adultos Jovens Esportes tradicionais e radicais e exercícios
voltados à saúde e estética
4) 30 – 49 Adultos Esportes tradicionais e radicais e exercícios
voltados à saúde e estética
5) 50 – 69 Adultos Esportes tradicionais e exercícios voltados à
saúde e estética
6) 70 ou + Melhor Idade Rodas de chimarrão, jogos de mesa,
exercícios voltados à saúde, acompanhamento médico
Fonte: desenvolvido pela autora
Para o estudo foi considerado usuário de parque a população urbana, pois é a
parcela da população que sofre com a falta de espaço no meio urbano.
Para classificar a oferta, primeiramente selecionamos os parques que se
enquadram na definição estipulada no item 3: espaços públicos de uso comum e com
equipamentos disponíveis para a população.
O ideal seria considerar também a área total do espaço, as condições de uso
do local, se há o predomínio de vegetação e se está estabelecido em área urbana ou
não. Para isso seria necessária uma pesquisa de campo e contato direto com os
órgãos responsáveis pelos espaços34.
Definidos os espaços considerados parques em cada uma das cidades, sua
classificação ajudará na análise e na compreensão desse trabalho. O método
utilizado foi baseado no apresentado por Guzzo, considerando as áreas apresentadas
por ele como mínimas, apenas um referencial.
Caso as informações coletadas não apresentem a área do local, o critério
utilizado será a quantidade dos equipamentos existente. Se nenhuma dessas
informações for conhecida, será desconsiderada da análise posterior.
A metodologia para análise e classificação da população, das faixas etárias,
dos equipamentos e dos parques foi criada pela autora por não conhecer
metodologia semelhante e com a intenção direcioná-lo para uma área de interesse
pessoal.
34 As informações a respeito dos parques das cidades de Foz do Iguaçu e Toledo foram obtidas através de conversas por telefone e envio de questionários por e-mail.
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4. CIDADES
Para representar a Mesorregião Geográfica Oeste do Paraná (IBGE),
subdivisão dos estados brasileiros constituído pelo IBGE para fins de estatísticas e
coleta de dados (WIKIPEDIA), foram selecionadas três cidades: Cascavel, Foz do
Iguaçu e Toledo.
A escolha dessas cidades teve como critério sua importância regional, que é
demonstrada pelo próprio IBGE ao nomear as três Microrregiões existentes na
Mesorregião Oeste, com o nome dos municípios escolhidos.
4.1 Cascavel
A cidade de Cascavel está situada em um ponto estratégico em relação ao
Mercosul (CASCAVEL, 2003/04) e em relação as principais cidades do Estado e
rodovias do país. Sua localização gera crescimento econômico e tornou a cidade uma
das principais da região oeste.
Possui uma importância ambiental devido à quantidade de recursos hídricos
existente em seu perímetro urbano. São mais de 1200 nascentes35 e está situada no
encontro de três bacias hidrográficas: a bacia do Rio Piquiri, a bacia do Rio Paraná e
a bacia do Rio Iguaçu.
4.1.1 Descrição da População de Cascavel
De acordo com IBGE (Censo 2000), a população de Cascavel é de 245369
habitantes, distribuídos em uma área total de 2.112,85 km². Desses, 93,20% vivem
em áreas urbanas, ou seja, 228 673 habitantes.
De acordo com a tabela 3, que apresenta a quantidade de população em cada
faixa etária, há um equilíbrio na quantidade de população nas 3 primeiras categorias
(de 0-9, 10-19 e 20-29). A faixa etária dos 30 a 49 anos apresenta a maior
população urbana entre todas as outras. E, naturalmente, acima dos 50 anos a
35 Informação gentilmente cedida Edson da Ecoeducar.
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população sofre uma redução significativa, apesar de ser a população com mais
tempo livre, por serem, em sua maioria, aposentados.
TABELA 3 - IDADE DA POPULAÇÃO DE CASCAVEL (Valores em % do total da população)
IDADE TOTAL (hab)
% AREA
URBANA (hab)
% AREA RURAL
(hab) %
0 - 9 48 686 19,85 45 251 18,45 3 435 1,40 10 - 19 49 958 20,35 46 499 18,95 3 459 1,40 20 - 29 44 607 18,20 41 952 17,10 2 655 1,10 30 - 49 70 063 28,55 65 438 26,65 4 625 1,90 50 - 69 26 144 10,65 24 019 9,80 2 125 0,85 70 ou + 5 911 2,40 5 514 2,25 397 0,15 TOTAL 245 369 100 228 673 93,20 16 696 6,8
Fonte: IBGE (censo 2000)
4.1.2 Parques Urbanos de Cascavel
Cascavel possui cinco parques decretados36. São eles: Parque Ambiental de
Cascavel; Parque Tarquínio Joslin dos Santos; Parque Vitória; Parque Ecológico Paulo
Gorski; e Parque Danilo Jose Galafassi.
O Parque Ambiental de Cascavel foi criado em 1998. Possui área de 152 ha e
diversos equipamentos, desde estrutura básica (bebedouro, banheiro, bancos) a
equipamentos de uso da população (equipamentos para exercício físico, trilhas de
passeio e cachoeira). De acordo com a classificação adotada é considerado um
parque distrital ou setorial, pois possui cachoeira (elemento natural de importância)
e uma grande área, principalmente ao comparar com os demais.
O Parque Tarquínio Joslin dos Santos foi criado em 1992. Possui área de 7,76
ha e está situado no bairro Parque São Paulo. Possui infra-estrutura básica
(banheiros, bebedouros e bancos) e para uso da população possui churrasqueiras,
lago e trilhas. Foi revitalizado recentemente, atendendo a população com maior
qualidade. Seus equipamentos atraem varias faixas etárias, pois são usados por
famílias inteiras. Devido a sua área, foi enquadrado como Parque de Bairro.
36 Informações retiradas do Perfil do Município, desenvolvido pela Secretaria de Planejamento do Município (CASCAVEL)
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O Parque Vitória está localizado no Country, possui uma área de 13,99 ha e
foi criado em 1992. Não possui equipamento de lazer e infra-estrutura básica para o
recebimento de visitantes. A intenção da prefeitura é transformar em um parque
semelhante ao Tarquínio. Atualmente possui parte ocupada pelo Centro de
Processamento e Transferência de Materiais Recicláveis – CPTMR. Por não possuir
equipamentos e acesso à população, não fará parte da análise posterior.
O Parque Ecológico Paulo Gorski foi criado em 1984 e está localizado na
Região do Lago. Possui uma área de 111,26 ha, sendo 55,35 ha de mata nativa e 41
ha de lâmina d’agua (a vazão do lago é responsável por 70% da contribuição para
captação de água). Sua estrutura física é ampla e pode receber diversos eventos.
Faz parte de sua estrutura: Mirante, lanchonete, estacionamento, o Teatro Barracão
com capacidade para 367 pessoas, Igreja do Lago, pedalinhos, brinquedos, bancos e
3800m de ciclovia com iluminação. Alguns eventos, como a Pesca ao Lambari, Festa
da Rainha dos Navegantes, Educação Ambiental e Esportes Náuticos, acontecem
regularmente na região. Possui monitoria constante de zeladores e vigias. Seus
variados equipamentos atraem população de todas as faixas etárias, devido à
possibilidade da prática de esportes, cuidados com a saúde, eventos culturais,
espaço de contemplação, etc. Sua classificação é de Parque Setorial, pois possui
elementos naturais de importância municipal.
O Parque Danilo José Galafassi faz parte do Parque Ecológico Paulo Gorski e é
o local onde está situado o Zoológico Municipal, fundado em 1978. Sua área é de
7,26 ha. Possui playground, sanitários, sorveteria e área para piquenique. Devido a
sua função de zoológico, o parque atrai principalmente o público infantil devido sua
curiosidade sobre animais. De acordo com a metodologia, foi classificado como
Parque Setorial, por ser o único no município e em boa parte da região com essa
finalidade de zoológico, apesar de seu tamanho reduzido.
Para fins desse estudo serão considerados quatro parques de Cascavel, sendo
três deles enquadrados na classificação como Parques Setoriais e um como Parque
de Bairro.
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4.2 Foz do Iguaçu
Foz do Iguaçu é a principal fronteira do Brasil com o Paraguai e devido a isso
atrai população do país todo. Além disso, é onde se situa a Cataratas do Iguaçu,
atraindo turistas do mundo inteiro.
É claramente um local que atrai pessoas diferentes e em grande quantidade.
Isso acarreta problemas urbanísticos, que é enfatizado pelo fato da conurbação com
as cidades vizinhas da Argentina e do Paraguai.
4.2.1 Descrição da População de Foz do Iguaçu
De acordo com o IBGE, em 2000 a população de Foz do Iguaçu era de 256524
habitantes, distribuídos em uma área total de 589 km². Desses, 165,50 km² são de
área urbana, 161,20 km² são de área rural, 155,70 km² de área do lago de Itaipu e
106,60 km² de área do Parque Nacional do Iguaçu. Menos de 1% dessa população
vive nas áreas rurais, ou seja, apenas 2019 pessoas.
No geral, a população de Foz do Iguaçu é mais jovem que a população de
Cascavel, sendo que quase 90% da população urbana possui menos de 50 anos.
A população de crianças e adolescentes é quase a mesma, sendo,
respectivamente, 21,75% e 20,95%. Há uma pequena queda na população de
adultos jovens, e a população adulta de 30 a 49 anos é a de maior quantidade.
Diferente de Cascavel, essa faixa etária não é muito mais numerosa que as crianças
e adolescentes.
Outra diferença significativa é a quantidade de idosos. São apenas 4225
pessoas com 70 anos ou mais, apenas 1,64% da população (ver tabela 4).
TABELA 4 - IDADE DA POPULAÇÃO DE FOZ DO IGUAÇU (Valores em % do total da população)
IDADE TOTAL (hab)
% AREA
URBANA (hab)
% AREA RURAL
(hab) %
0 - 9 56 616 21,90 56 185 21,75 431 0,15 10 - 19 54 656 21,15 54 206 20,95 450 0,20 20 - 29 49 173 19,00 48 812 18,85 361 0,15 30 - 49 71 323 27,60 70 813 27,40 510 0,20 50 - 69 22 508 8,70 22 283 8,60 225 0,10 70 ou + 4 267 1,65 4 225 1,64 42 0,01 TOTAL 258 543 100 256 524 99,19 2 019 0,81
Fonte: IBGE (censo 2000)
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4.2.2 Parques Urbanos de Foz do Iguaçu
A cidade de Foz é conhecida mundialmente por abrigar uma das mais
espetaculares quedas d’agua do mundo, a Cataratas do Iguaçu, que está situado no
Parque Nacional do Iguaçu. Na cidade existem vários parques aquáticos, o Parque
das Aves, entre outros. Esses parques são particulares, tem um custo de entrada e
são voltados ao turismo, não atendendo a população local. Então, para o presente
trabalho serão considerados apenas os parques públicos abertos à população.
Os parques existentes na cidade são: o Parque Ambiental da Vila “A”; o
Parque do Monjolo; o Parque Ambiental Omar de Oliveira; e o Zoológico Bosque
Guarani e o Parque Nacional do Iguaçu37.
O Parque Ambiental da Vila “A” não possui equipamentos. Isso se opõe ao uso
da população, que necessita pelo menos de infra-estrutura básica de banheiros. Não
conhecemos seu tamanho e data de criação. Como no caso do Parque Vitória, em
Cascavel, esse parque não será considerado na análise por não possuir
equipamentos e não sabermos sua área.
O Parque do Monjolo possui 1 ha. Os equipamentos que possui são
playground, pista de patins e pergolados. De acordo com a metodologia de
classificação, foi enquadrado como Parque de Vizinhança, por sua área reduzida.
O Parque Ambiental Omar de Oliveira, de acordo com o entrevistado, está
depredado. Não souberam passar as informações de criação, área e equipamentos.
Pelo fato de estar depredado, encontra-se fora de uso. Por não apresentar as
informações mínimas para a classificação, será desconsiderado da análise.
O Zoológico Bosque Guarani foi inaugurado em 1996 e possui 4 ha de área.
Possui playground e um mini-anfiteatro para atividades de educação ambiental. Sua
classificação, da mesma maneira que em Cascavel, foi definida como Parque
Setorial, por ser o único no município e em boa parte da região com essa finalidade
de zoológico, apesar de seu tamanho reduzido.
37 Informação gentilmente cedida via telefone pelos funcionários da Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura de Foz do Iguaçu. As informações estão incompletas por falta de informação e tempo para uma pesquisa mais aprofundada.
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O Parque Nacional do Iguaçu foi criado pelo Decreto Federal nº 1.035 em
1939 e tombado em 1986 pela UNESCO como Patrimônio Natural da Humanidade.
Possui área total de 10660 ha. Entre seus atrativos estão38: Mirante, Praça Santos
Dumont, Espaço Tarobá/ Elevadores Panorâmicos, Luau das Cataratas, Trilha do
Poço Preto, Trilha da Bananeira, Passeio do Porto Canoas, Floating, Linha Martins,
Passeio do Macuco, Rafting, Iguassu Explorer, Pesca Esportiva, Arvorismo, Rapel,
Rafting, Escalada em Rocha. Por ser um parque com taxa para entrada, e um local
que não é freqüentado diariamente pelos moradores da cidade, todos os atrativos e
equipamentos serão considerados como um equipamento único, o equipamento de
turismo. Devido a sua importância nacional e sua extensa área, entra na
classificação como Parque Regional.
Para a análise posterior serão analisados três parques da cidade, sendo um
Parque Regional, um Parque Setorial e um Parque de Vizinhança.
4.3 Toledo
É a menor das cidades estudadas, tanto em área urbana, (Toledo possui
63,41 km², Cascavel 80,87 km² e Foz do Iguaçu 165,50 km²) quanto em população
(Toledo 98200 hab, Cascavel 245369 hab e Foz do Iguaçu 258543 hab).
Sua relevância cultural é regional, pois possui um Teatro Municipal,
equipamento ainda em fase de construção em Cascavel. Sua representatividade
econômica também é relevante devido à presença da Sadia na cidade.
4.3.1 Descrição da População de Toledo
Como dito anteriormente, em 2000, a população de Toledo, de acordo com o
IBGE, chegou a 98200 habitantes, distribuídos em uma área total de 1197 km². No
perímetro urbano, com uma área de 63,41 km², são 85920 habitantes.
Das três cidades, é também a com maior porcentual de população residente
na área rural. São 12,55%, enquanto em Cascavel são 6,8% e Foz do Iguaçu 0,81%.
38 Essa listagem de atrativos foi retirada do Inventario Turístico da cidade (FOZ DO IGUAÇU).
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De acordo com a tabela 5, sua população possui o menor percentual nas
faixas etárias de 0 a 9 anos, de 10 a 19 anos e de 20 a 29 anos, predominando a
faixa etária de 30 a 49 anos. Sua relação percentual de população urbana é muito
semelhante a Cascavel, mantendo quase os mesmos índices para as faixas etárias
acima de 30 anos.
Entre as cidades é a que possui o maior percentual de pessoas acima de 50
anos.
TABELA 5 - IDADE DA POPULAÇÃO DE TOLEDO (Valores em % do total da população)
IDADE TOTAL (hab)
% AREA
URBANA (hab)
% AREA RURAL
(hab) %
0 - 9 18 215 18,55 16 065 16,35 2 150 2,20 10 - 19 19 280 19,65 17 057 17,35 2 223 2,30 20 - 29 17 374 17,70 15 532 15,80 1 842 1,90 30 - 49 28 715 29,25 25 015 25,50 3 700 3,75 50 - 69 11 617 11,80 9 731 9,90 1 886 1,90 70 ou + 2 999 3,05 2 520 2,55 479 0,50 TOTAL 98 200 100 85 920 87,45 12 280 12,55
Fonte: IBGE (censo 2000)
4.3.2 Parques Urbanos de Toledo
De acordo com as informações passadas por e-mail pelas funcionárias da
Prefeitura Municipal de Toledo39, os parques existentes na cidade são o Parque
Ecológico Diva Paim Barth, o Parque dos Pioneiros, o Parque Sônia Alves, o Parque
João Paulo II e o Parque Ambiental Frei Euzébio.
O Parque Ecológico Diva Paim Barth possui uma área de 20,66 ha, incluindo
um lago com 5,74 ha e uma área verde, denominada Horto Florestal, com 9,8 ha.
Sua data de criação não foi informada. Possui diversos equipamentos de uso público,
sendo duas quadras poliesportivas, sanitários, bancos, parque infantil, academia de
ginástica ao ar livre, pedalinhos, uma pista de caminhada e uma ciclovia (ambos com
1200m). Possui também equipamentos culturais como uma edificação voltada para
atividades educacionais, o Aquário Municipal Dr. Rômolo Martinelli, um centro de
educação ambiental, uma trilha interpretativa com 1.000 m, ao longo da qual podem
ser observadas espécies da flora e fauna local em liberdade e o zoológico temático
39 As informações vieram da Secretaria de Meio Ambiente e da Secretaria de Planejamento.
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 124
Parque das Aves. Dentro da metodologia descrita, foi classificado como Parque
Setorial, pois é o maior da cidade e se localiza na área central, de fácil acesso a
qualquer habitante.
O Parque dos Pioneiros possui área de 1,65 ha, sendo 356 m² de área
construída. Possui um lago, trilhas de caminhada, mobiliário urbano, lanchonete, e
está iniciando a obra do Parque das Águas em área anexa, onde terá piscinas e rio
com correnteza artificial. Apesar de ter uma área pequena e considerando a obra em
fase de execução, o classificamos Parque de Bairro, pela diversidade de
equipamentos.
O Parque Sônia Alves possui 1,12 ha de área e é chamado também de Parque
linear do Arroio Toledo. Os equipamentos disponíveis na área são: trilha para
caminhada, bancos, academia de ginástica ao ar livre, estão executando um parque
infantil e um centro comunitário. Estão recuperando uma área de preservação
ambiental no local e em fase de aprovação a execução de uma creche. De acordo
com sua área e equipamentos disponíveis, foi considerado um Parque de Vizinhança.
O Parque João Paulo II é onde se localiza o ponto de captação de água pela
Sanepar. Não informaram a data de criação do parque ou sua área. Possui
equipamentos como parque infantil, bancos, banheiros e dois campos de futebol.
Baseado nos equipamentos disponíveis foi considerado Parque de Vizinhança.
O Parque Ambiental Frei Euzébio ou Parque linear da Sanga Pinheirinho,
possui uma área total de 2,50 ha. Os equipamentos disponíveis são mobiliário
urbano, Lago de preservação das nascentes, mirante, equipamentos de ginástica e
alongamento, trilhas para caminhada e totens educativos. Dentro da classificação
exposta foi considerado Parque de Bairro, devido à quantidade de equipamentos
existentes.
A cidade de Toledo possui cinco parques aptos a análise posterior, sendo dois
Parques de Bairro, dois Parques de Vizinhança e um Parque Setorial.
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 125
5. ANÁLISE DAS TIPOLOGIAS EM CARÊNCIA NA REGIÃO OESTE DO PARANÁ
Para facilitar a comparação e a análise foram desenvolvidas 3 tabelas
comparativas: uma que expõe a relação de metragem quadrada de parque por
habitante (tabela 6), outra que estipula o percentual de equipamentos que atendem
uma demanda específica (tabela 7), e outra que relaciona a quantidade de
equipamentos por metragem quadrada de parque (tabela 8).
O objetivo da tabela 6 é apresentar uma situação numérica das áreas verdes.
Ao ler o texto é possível perceber que Foz do Iguaçu possui poucos espaços
destinados a parques, e, apesar de as áreas estarem descritas no texto, dificilmente
se percebe que a área total desses poucos espaços supera a área urbana de
Cascavel ou de Toledo.
TABELA 6 – RELAÇÃO M² DE PARQUE POR HABITANTE
CIDADES ÁREA TOTAL DOS PARQUES (M²)
POPULAÇÃO URBANA RELAÇÃO - m² de parque por hab.
CASCAVEL 2710000 228 673 11,85 m²/hab FOZ DO IGUAÇU 106650000 256 524 415,75 m²/hab
TOLEDO 259300 85 920 3,01 m²/hab* MESORREGIÃO 109619300 571117 191,93 m²/hab
Fonte: produzida pela autora * Esse índice desconsidera a área de um parque por falta de informações.
O objetivo da tabela 7 é apresentar a quantidade total de equipamentos
existentes nos parques das cidades e, de acordo com a classificação de
equipamentos por idade, descrito na tabela 2, estipular quantos deles são de
interesse de cada faixa etária. O cálculo de porcentagem foi feito para comparar com
o valor percentual da população urbana expostas nas tabelas 3, 4 e 5.
TABELA 7 - PERCENTUAL DE EQUIPAMENTOS QUE ATENDEM DEMANDA ESPECÍFICA
Faixa Etária
CASCAVEL Equip. (16) / %
FOZ IGUAÇU Equip. (6) / %
TOLEDO Equip. (23)/ %
MESORREGIÃO Equip. (45)/ %
1 10 62,50 6 100 13 56,50 29 64,40 2 6 37,50 2 33,30 8 34,70 16 35,50 3 7 43,75 2 33,30 11 47,80 20 44,40 4 12 75,00 4 66,60 19 82,60 35 77,70 5 9 56,25 2 33,30 14 60,85 25 55,50 6 7 43,75 1 16,00 9 39,10 17 37,70
Fonte: produzida pela autora
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 126
O objetivo da tabela 8 é expor qual o espaço existente para cada
equipamento. Toledo é a cidade com menor área total de parques, mas possui maior
número de equipamentos, atendendo de forma mais completa a população.
TABELA 8 – RELAÇÃO HECTARES DE PARQUE POR EQUIPAMENTO
CIDADES ÁREA TOTAL DOS
PARQUES (ha) TOTAL DE
EQUIPAMENTOS RELAÇÃO - ha de parque por equip.
CASCAVEL 271 16 16,93 ha/equip FOZ DO IGUAÇU 10665 6 1777,50 ha/equip
TOLEDO 25,93 23 1,12 ha/equip MESORREGIÃO 10961,93 45 243,59 ha/equip
Fonte: produzida pela autora
De acordo com as tabelas apresentadas, apresentamos abaixo as conclusões
referentes à cidade de Cascavel:
• Apresenta uma área de parques suficiente para atender sua população;
• Há pouca variedade de equipamentos;
• Sobram atividades para faixa etária 1 e faltam atividades para a faixa etária
2;
• Em comparação com Toledo, as áreas de parque são subutilizadas;
• Possui, junto com Toledo, a vantagem da proximidade do Parque Nacional do
Iguaçu.
As conclusões referentes à cidade de Toledo:
• É uma cidade com diversos pequenos parques, mas com áreas muito bem
aproveitadas;
• Possui boa variedade de equipamentos;
• Esses equipamentos atendem toda a população de maneira adequada,
podendo melhorar na faixa etária 2;
Conclusões relativas a Foz do Iguaçu:
• Para uso da população local existem apenas dois espaços;
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 127
• Os equipamentos são poucos e sua variedade mínima;
• Os equipamentos existentes atendem as faixas etárias, mas precisariam ser
ampliados;
• A área de parques por habitante é 415,75 m²/hab, devido à existência do
Parque Nacional do Iguaçu (caso contrário esse número cairia para 0,20 m²/hab);
• O Parque torna a cidade um pólo turístico e percebe-se que os investimentos
para a população local são mínimos, visto que comparado com Toledo, possui índices
baixos de equipamentos por habitante e por m²;
• Da mesma forma, o Parque se torna uma opção de lazer para a população,
mas o acesso é pago, não sendo acessível a todos os níveis sociais e muito menos
uma opção para todos os fins de semana.
Resumindo, a análise apresentou que Cascavel possui uma quantidade de
área disponível de parque suficiente, sendo necessária manutenção constante das
áreas e maior quantidade de equipamentos. Toledo, com menos área disponível,
possui uma quantidade e diversidade de equipamentos suficiente, mas é necessário
que sua área seja ampliada sempre que possível.
Foz do Iguaçu, diferentemente de Cascavel e Toledo, apresenta pouca área de
parques com acesso sem custo para a população e poucos equipamentos disponíveis,
o que indica uma situação delicada para a população da cidade. É importante que os
gestores tenham maior preocupação com o lazer diário da população e invistam em
áreas verdes dentro do meio urbano.
De modo geral a região está bem servida de opções de lazer em áreas
urbanas. Seria importante realizar outro estudo para analisar outros espaços e
equipamentos de lazer na cidade, como as praças, por exemplo, e ter uma idéia mais
real da situação.
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 128
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho apresentado foi desenvolvido em três etapas: a pesquisa
bibliográfica, a busca de informações e a análise.
Na pesquisa bibliográfica foram apresentados conceitos de termos como
espaço livre, espaço aberto e áreas verdes, os quais, em suas definições, englobam
o termo parque urbano, além de praça, jardim, etc. Sobre parques urbanos, foi
falado sobre sua origem, usos, funções, definições e classificações, de uma forma
mais ampla por ser o foco do trabalho.
Após a pesquisa desenvolvida, os dados para a posterior análise foram
investigados, entre eles a população e os parques existentes em cada uma das
cidades. A população, informação obtida através do IBGE, foi dividida por faixa
etária, separando a que vive em área urbana da que vive na área rural. As
informações dos parques foram conseguidas através de telefone, e-mail e pelo site
das prefeituras.
Houve muita dificuldade na coleta desse material nos Municípios estudados,
devido à fragmentação da informação pelos diversos departamentos e setores das
Prefeituras Municipais. Com exceção de Cascavel, os demais Municípios não
possuíam documentos – específicos – relativos aos locais de estudo e não dispunham
de informações sistematizadas sobre os seus parques como, por exemplo, área (m²),
nome do parque, número e tipo dos equipamentos existentes. Foram necessárias
várias ligações e emails para que pudéssemos obter o mínimo de dados necessários
à análise apresentada neste trabalho.
Devido ao tempo exímio de pesquisa40, os locais citados não foram visitados.
Essa limitação não permitiu levar em consideração a situação atual em que os
parques e os equipamentos se encontram (se estão deteriorados, abandonados ou
em boas condições de uso) e também não há como garantir que estejam dentro do
perímetro urbano.
A análise da oferta de parques e equipamentos em relação à demanda de
população por faixa etária foi realizada dentro dessas limitações. No entanto,
acreditamos que a metodologia desenvolvida e os resultados alcançados com este
40 Este trabalho foi realizado no período de, aproximadamente, um mês, no âmbito da Disciplina de Planejamento Urbano e Regional do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Assis Gugacz.
TIPOLOGIAS DE PARQUES URBANOS na mesorregião oeste do Paraná Ana Carolina Dillenburg
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 129
estudo se constituem em um material importante para formulação de Políticas
Públicas Municipais e Regionais, pois apontam para a necessidade em se pensar os
espaços públicos de lazer das cidades de maneira atrelada às reais demandas da
população usuária. Com isso, os resultados podem ser levados em consideração
apenas como base científica e não como uma verdade absoluta.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CASCAVEL. Planejamento. Perfil do Município. Disponível em <www.cascavel.pr.gov.br> Acesso em: 10 mai.2008.
FAG. Manual para elaboração e Apresentação de Trabalhos Acadêmicos. 2006. Disponível em <www.fag.edu.br> Acesso em: 25 mai.2008.
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LIRA, J.A. Paisagismo – Princípios Básicos. Viçosa: Aprenda Fácil, 2001.
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SCALISE, W. Parques Urbanos – Evolução, Projeto, Funções e Usos. Revista Assentamentos Humanos, Marília, v4, n.1, 2002.
TROPPMAIR, H.; GALINA, M.H. Áreas verdes. Território & Cidadania. Rio Claro, n.2, dez.2003.
DESENVOLVIMENTO REGIONAL NOS TRILHOS Marcio Masakazu Yamamoto
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 130
DESENVOLVIMENTO REGIONAL NOS TRILHOS41
Marcio Masakazu Yamamoto 42
RESUMO
Objetiva-se este artigo apresentar o tema Desenvolvimento Regional nos Trilhos,
abordando questões relacionadas ao transporte ferroviário, desde a sua invenção, as
influências causadas por esse meio de transporte e os resultados positivos gerados no
desenvolvimento econômico mundial. Esta pesquisa faz ainda, de forma sintética, um
resgate da história das ferrovias e o seu papel para o desenvolvimento do Brasil. Busca
ainda relatar casos de países que utilizaram as ferrovias como instrumento de
desenvolvimento regional. Por fim, baseado nos fatos, busca-se fazer um paralelo com o
que ocorreu no Brasil nas últimas décadas no transporte ferroviário, onde hoje a
economia é movimentada essencialmente por rodovias e levantar questionamentos e
pontos de vista com relação a essa posição política brasileira.
Palavras-chave: Transporte ferroviário, desenvolvimento econômico,
desenvolvimento regional.
INTRODUÇÃO
A Revolução Industrial43 foi sem dúvida, o marco para o desenvolvimento
econômico mundial e foi responsável por grandes mudanças no modo de pensar e
nas transformações físicas do planeta. A invenção das máquinas de produção em
escala industrial, a capacidade dos novos meio de transportes em alcançar todos os
continentes, transferindo produtos e conhecimentos com mais agilidade foi o
princípio da globalização, hoje muito difundido. Esse processo de industrialização,
iniciado na Inglaterra, através da invenção das máquinas e dos meios de transporte
41 Artigo apresentado como requisito para avaliação bimestral da disciplina de Planejamento Urbano IV, do curso de Arquitetura e Urbanismo. 42 Acadêmico do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Assis Gurgacz. 43 Processo histórico que se iniciou na Inglaterra por volta de l760, alterando a estrutura econômica mundial, transformando a sociedade agrária em industrial, com a invenção de novas máquinas, novos meios de produção, desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação (Almanaque Abril 2003).
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 131
mais ágeis, espalhou o desenvolvimento por todo o país, razões pelas qual a Grã-
Bretanha se tornou a primeira nação a industrializar-se (GLANCEY, 2001).
O acelerado crescimento da população urbana, em busca de trabalho nas
indústrias e um planejamento das cidades sempre em busca de resolver problemas
existentes e não como medida preventiva, trouxe, entre outras dificuldades, o
problema da mobilidade nas grandes cidades. Segundo Vasconcellos (2001), “dois
objetivos tem sido intensamente citados na literatura tradicional: fluidez e segurança
na circulação”. Ainda para Vasconcellos (2001), para um entendimento mais
aprofundado sobre a circulação urbana é preciso considerar outros objetivos que
refletem outras condições de tráfego. São elas a acessibilidade, o nível de serviço,
custo do transporte e o resultado ambiental. Considera-se o transporte essencial
para o planejamento ordenado de uma região, seja em pequena escala ou mesmo
para um país. Exemplo disso foi o benefício que a Revolução Industrial trouxe para o
planeta. Ainda de acordo com Vasconcellos (2000), “o transporte é um serviço vital
para qualquer cidade. Ele assegura o direito à comunicação, integra o espaço e as
atividades e é essencial para a economia”.
Em praticamente todos os países desenvolvidos e em alguns países
emergentes as políticas de investimentos em infra-estrutura de transporte de
alcance territorial é prioridade. Nos países desenvolvidos esse processo se iniciou há
mais de 100 anos, principalmente direcionados aos transportes marítimo e
ferroviário. No Brasil também não foi diferente. Apesar de hoje possui uma malha
ferroviária sucateada, com investimentos estagnados há mais de cinqüenta anos, o
transporte ferroviário, tanto de passageiros como o da produção agrícola teve papel
fundamental na história do desenvolvimento do país a partir do início do século XX.
Dentro desse contexto, este artigo tem como objetivo sintetizar a importância
do transporte ferroviário como instrumento para planejamento em busca do
desenvolvimento regional, demonstrado através das experiências de outros países e
os benefícios que esse meio de transporte pode oferecer. Busca também estudar o
caso do Brasil, que teve a ferrovia como protagonista no processo de crescimento da
economia a partir do final do século XIX e mostrar a situação atual fazendo um
paralelo com o sistema de outros países. Por fim, este trabalho tem o objetivo de
demonstrar que o Brasil teve grandes prejuízos e sofreu atrasos irrecuperáveis ao
desenvolvimento regional em todos os aspectos, depois que a política de
investimentos em infra-estrutura de transportes foram direcionados totalmente ao
DESENVOLVIMENTO REGIONAL NOS TRILHOS Marcio Masakazu Yamamoto
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 132
transporte rodoviário que persiste até hoje e, que por conta disso, deveria ser
exemplo de eficiência.
1. BREVE HISTÓRIA DO TRANSPORTE FERROVIÁRIO
Diversos países utilizavam as ferrovias desde o início do século XVI para o
transporte de carvão e minério de ferro. Essas ferrovias inicialmente eram
construídas sobre trilhos de madeira e eram movidas à força humana ou a cavalos.
Posteriormente, com a invenção da máquina a vapor, o transporte ferroviário
motorizado, teve sua viagem inaugural por volta de 1825, com um trecho de 25
quilômetros entre as cidades de Stokton e Darlington, interior da Inglaterra.
Iniciavam-se as grandes conquistas das ferrovias ao interior dos diversos países,
uma vez que o transporte marítimo se limitava à exploração apenas da costa
litorânea. Inicia-se então um importante passo, revolucionando os meios de
transporte e a própria estrutura socioeconômica, a nível mundial (WKP [s.d.]).
A invenção da máquina a vapor foi sem dúvida o elemento mais importante da
Revolução Industrial, que permitiu um deslocamento mais rápido de matérias primas
para as fábricas e levando os produtos acabados aos consumidores a regiões
distantes e aos países onde eram mais necessários. Foi importantíssima a sua
contribuição nas Primeira e Segunda Guerras Mundiais, levando rapidamente homens
e armas onde estes mais falta faziam. Foram os trens, a quem os índios chamaram
cavalo de ferro que ajudaram os colonos ingleses a desbravar o oeste americano e a
construir o que hoje é considerado a maior potência econômica mundial. As ferrovias
também foram responsáveis por integrarem populações, regiões, países e
continentes que até então estavam completamente isolados ou onde se demorariam
semanas ou meses para fazer contatos entre si (CRO, GIESBRECHT); na agricultura,
produtos que corriam o risco de ficar nas regiões onde eram produzidos, puderam
começar a ser despachados para grandes distâncias, diminuindo consideravelmente
o risco da depreciação e perda do produto, incentivando desta forma, o aumento da
produção (WKP [s.d.]).
Enfim, o trem, seja ela movida pela força humana ou animal e posteriormente
movido pela máquina a vapor teve enorme importância para a história da
humanidade nos últimos duzentos anos.
DESENVOLVIMENTO REGIONAL NOS TRILHOS Marcio Masakazu Yamamoto
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 133
1.1. Ferrovias no Brasil
Tão logo as informações sobre o novo meio de transporte motorizado e seus
benefícios aportou no Brasil, rapidamente houve interesse por parte do governo
imperial a implantação aqui no Brasil. Os primeiros 14,6 quilômetros foram
inaugurados em 1854, a Estrada de Ferro Mauá, num percurso que ligava a Baia de
Guanabara a Petrópolis, no Rio de Janeiro. Irineu Evangelista de Souza, o Barão de
Mauá (depois visconde), foi o responsável pela construção desta ferrovia através da
concessão dada pelo imperador D. Pedro II. “Quando da Proclamação da República,
em 1889, já existiam no Brasil cerca de dez mil quilômetros de ferrovias, mas foi no
início do século XX que se deu um grande passo no desenvolvimento ferroviário,
tendo sido construídos entre 1911 e 1916 mais cinco mil quilômetros de estradas de
ferro” (DNIT [s.d.]). Outra ferrovia importante foi a Central do Brasil, um marco
importante na história ferroviária do Brasil. Foi uma das principais ferrovias do
Brasil, ligando as então Províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Em 9
de fevereiro de 1855, o Governo Imperial firmou contrato com o engenheiro inglês
Edward Price para a construção da primeira seção de uma estrada de ferro que
visava promover, a partir do Município da Corte (a então cidade do Rio de Janeiro),
uma completa integração do território brasileiro sobre trilhos. Esta interligação tinha
um enorme movimento de pessoas e cargas, e foi importantíssima no escoamento da
produção das jazidas de minério de ferro de Minas Gerais (DNIT [s.d.]).
Desde então, o transporte ferroviário de passageiros e de cargas evoluiu
continuamente, até confrontar-se com a competição do transporte rodoviário, a
partir da década de 1950 e, mais recentemente, com o transporte aéreo. O resultado
foi um declínio do sistema ferroviário. Este reflexo causou, principalmente no
transporte de passageiros, a extinção na maioria dos trechos intermunicipais. Hoje
se tem grandes extensões de ferrovias inutilizadas e equipamentos sucateados.
Estações ferroviárias para passageiros, somente em zonas urbanas, resumidos entre
São Paulo e Rio de Janeiro e sem condições de se fazer comparações com o
transporte de países desenvolvidos.
1.2 Ferrovias X Café
Primeiramente é importante destacar que o transporte terrestre de
mercadorias se processava no lombo de burros, também de grande relevância para o
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 134
desenvolvimento do interior do Brasil, responsáveis pelo surgimento de muitos
vilarejos na época.
O Brasil, como sendo o maior produtor e exportador de café a partir de
meados do século XIX e início do século XX e sua economia estava totalmente
dependente do produto, as ferrovias foram imprescindíveis para o crescimento do
País. As ferrovias margeavam as grandes fazendas de café, ao mesmo tempo em
que em torno das pequenas estações ferroviárias iam se desenvolvendo as cidades.
Tome-se o caso do Estado de São Paulo, que, com a chegada do trem, impulsionou
ainda mais a cultura cafeeira para o interior. As ferrovias Rio de Janeiro-São Paulo,
Santos-Jundiaí e Sorocabana dinamizaram o escoamento da produção para o porto
de Santos e fizeram de Campinas e Ribeirão Preto importantes entroncamentos do
comércio cafeeiro (BICCA, 2007) .
O café também atraiu muitos imigrantes europeus e asiáticos que,
posteriormente, através das linhas férreas, foram colonizando o interior do Brasil,
desbravando novas terras, fundando cidades, levando consigo novos conhecimentos,
culturas diferentes e novos meios de produção. Segundo Takeuchi (2007), na
primeira fase da imigração japonesa para o Brasil (1908-1914), os japoneses
contratados para o cultivo do café, foram distribuídos ao longo das linhas férreas
Mogiana, Paulista, Sorocabana, Araraquarense, Douradense, Noroeste e Ramal
Férreo Campineiro, que serviam os municípios de Ribeirão Preto, São Manuel,
Sertãozinho, São Simão, Batatais e Bauru.
Após a crise de 192944 e com a falência da economia agrícola brasileira, a
grande estrutura ferroviária foi de igual importância para o início da industrialização
no Brasil, como foi o caso da Inglaterra da Revolução Industrial.
Portanto, se na época, a tecnologia ofereceu apenas esse meio mais moderno
de transporte, não se pode negar que o trem exerceu um papel fundamental na
economia e desenvolvimento regional do Brasil, muito contrário do que se vê hoje no
transporte ferroviário brasileiro. Em quase todos os países desenvolvidos, o trem é
protagonista para que os meios econômicos se mantenham em crescimento, tanto
para dar condições adequadas de mobilidade aos usuários, principalmente nas
metrópoles, como para a circulação de bens. Obviamente que está se colocando aqui
44 Crise na Bolsa de Valores de Nova York que teve como conseqüência uma depressão mundial.
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 135
sistemas modernos, fruto de investimentos contínuos por parte do Estado que tem
consciência da importância e da necessidade desse meio de transporte.
2. FERROVIAS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Com a atual tecnologia das ferrovias, este meio de transporte também
contribui para o desenvolvimento sustentável. O menor consumo de espaço e
energia, menores emissões de gases, diminuição no custo do transporte de
mercadorias. Da mesma forma, pode oferecer hoje uma qualidade de transporte de
passageiros equivalente ao transporte aéreo, além de resolver o problema de
congestionamentos e a poluição provocada pelo trânsito rodoviário.
2.1. Estudo de Casos
Se o trem foi o responsável pelo desenvolvimento de muitos países no início
do século passado, ainda continua inserido na pauta de políticas de desenvolvimento
e mantém-se em discussão uma reorganização continuada no sistema de transportes
de países desenvolvidos.
Para a China, pelas suas dimensões continentais, as ferrovias tiveram sempre
papel fundamental no sistema de transporte. Possui o maior sistema eletro-
ferroviário do mundo, depois da Rússia e da Alemanha e ainda vem aumentando
num ritmo frenético a construção de mais ferrovias e modernizando suas linhas, em
especial na região centro-ocidental, onde a demanda é maior. As grandes cidades
chinesas, com seus congestionamentos e poluição não vêem outra solução senão
investir no desenvolvimento do transporte ferroviário, já que é o meio mais
econômico de movimentar grande número de pessoas. Por exemplo, a modernização
e os novos sistemas de transporte ferroviário de uso maciço em Hong Kong buscam
uma conexão rápida entre o aeroporto e os núcleos de negócios e distritos
financeiros. Uma segunda linha liga proporciona uma ligação aos novos distritos
urbanos que estão em processo de adensamento frenético, em razão da construção
do novo aeroporto (COLLIS, 2003).
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A França possuía dentro do planejamento estratégico de 2003, 50 projetos
prioritários. Dentre estes 35 estavam vinculados ao sistema de transportes, sendo
16 voltados para o sistema ferroviário. Hoje a França é a terceira maior indústria
ferroviária do mundo.
Os Estados Unidos, já no século XIX, visando incrementar e homogeneizar o
seu continente investiu na construção de eficientes meios de transporte, inicialmente
canais, depois ferrovias e rodovias.
Mais recentemente, Portugal decidiu construir uma rede ferroviária de alta
velocidade, como uma decisão estratégica de maior importância para o país, baseado
no compromisso de desenvolvimento econômico, coesão territorial e social e na
sustentabilidade ambiental.
O Japão, pelas suas características geográficas e sua alta densidade
populacional, é grande dependente das estradas de ferro. A sua prioridade é o
transporte de passageiros. Praticamente todo o território é coberto por vias férreas.
Ela representa em torno de 40% do transporte total de passageiros. É um dos
sistemas mais modernos, seguros e pontuais do mundo.
O caso do Brasil, onde é visível a situação e impossível de se fazer
comparações com os países citados acima, caminha timidamente para viabilizar esse
meio de transporte, que, num país com suas dimensões, trariam somente benefícios.
O Brasil, que, por herança da história, ainda possui grandes trechos de ferrovias e,
segundo estudos do BNDES45, com a tecnologia atual disponível e o potencial
benéfico, é importante o estímulo e incentivos financeiros para pesquisas em
projetos de transporte ferroviário no Brasil. Os benefícios, segundo o BNDES,
poderão servir como instrumento para políticas de desenvolvimento regional,
redução considerável nos custos do transporte, diminuição do tempo de viagens,
redução nos níveis de poluição, o uso mais racional do espaço urbano e o
desenvolvimento da indústria nacional.
Em 1996/97 o BNDES contratou a pesquisa “Avaliação Técnico-Econômica de
Sistemas Ferroviários de Passageiros de Interesse Regional” ao Núcleo de
Planejamento Estratégico de Transportes – PLANET – do Programa de Engenharia de
45 Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 137
Transportes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com vistas a identificar,
classificar e hierarquizar trechos ferroviários com potencial técnico-econômico para a
implementação de projetos dessa modalidade (BNDES [s.d.]).
Portanto, essas iniciativas de estudos de viabilidade de aproveitamento da
malha existente pode ser o ponto de partida para a criação de novos trechos
incrementaria, além dos benefícios citados, eixos de desenvolvimento, atingindo
regiões pouco favorecidos, desequilibrados social e economicamente.
2.2. Ferroeste - Paraná
A Ferroeste46 foi construída entre 1991 a 1994, pelo governo do Paraná, em
parceria com o Exército Brasileiro. A linha tem 248 quilômetros que ligam Cascavel a
Guarapuava e segue em direção ao Porto de Paranaguá, no litoral do Paraná (ACIC,
2008).
Segundo matéria publicada na revista da Associação Comercial e Industrial de
Cascavel,
não é de hoje que lideranças dos mais diversos setores econômicos do Paraná e do Mato Grosso do Sul perceberam que uma simples extensão ferroviária poderia ser o caminho mais curto para a consolidação econômica dos dois estados. A idéia de ramais a Guairá e a Foz do Iguaçu, que aproximariam ainda mais Brasil, Argentina e Paraguai, é tão antiga quanto a própria obra. A concessão de um novo trecho entre Cascavel e Dourados, vencida em 1988, só agora começa a sair do papel (ACIC março/2008, p. 15).
O Mato Grosso do Sul, estado que desponta como um dos maiores produtores
de grãos do País precisa de uma alternativa de transporte eficiente, barata e
confiável para fazer com que parte de suas riquezas chegue ao exterior. O alvo
essencial para isso é o Porto de Paranaguá (ACIC, 2008).
46 Estrada de Ferro Paraná Oeste S.A. Estatal criada em 1988 pelo governo do Paraná.
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 138
Ainda segundo a matéria da revista, “a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma
Houssef, determinou a técnicos do BNDES, a elaboração de estudos técnicos para
inclui o ramal ferroviário no PAC47”.
Os projetos para a execução das obras entre Cascavel e Guaíra, na divisa com
o Mato Grosso, já estão prontos. Posteriormente o Corredor Oeste, como é
denominado esse trecho, deve seguir até o Mato Grosso, passando por Maracajú,
Dourados e Mundo Novo. “O projeto busca, essencialmente, favorecer o
desenvolvimento do transporte ferroviário entre os três estados” (Paraná, Mato
Grosso do Sul e Santa Catarina), informa o presidente da Ferroeste, Samuel Gomes
(ACIC,2008).
Dentre os benefícios, haverá a redução nos custos de produção, aumento da
renda dos produtores rurais, a possibilidade de maior captação e transporte de
cargas no Paraná com destino ao Porto de Paranaguá. Outro setor beneficiado será o
setor avícola, se a ferrovia for estendida ao sudoeste de Santa Catarina, ajudando a
alimentar a cadeia produtiva do frango. Atualmente mais de cinco milhões de
toneladas de insumos são transportados por rodovias naquela região (ACIC, 2008).
O presidente da Ferroeste ainda enfatiza que nenhum país consegue se desenvolver
ao transportar todas as suas riquezas por caminhão.
Portanto, não somente para o Paraná, mas a luta para a retomada dos
investimentos em transporte ferroviário também são objetivos dos Estados de Santa
Catarina e Mato Grosso do Sul, por entenderem que o processo de desenvolvimento
de toda essa região somente se consolidará com o uso do trem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acerca do que foi abordado até o momento, mesmo de forma sintética, sobre
os acontecimentos em torno da invenção do trem, é fato que, depois do transporte
marítimo, responsável pelas grandes aglomerações em toda a costa marítima do
planeta e pelas grandes expedições que descobriram e colonizaram a costa litorânea
47 Plano de Aceleração do Crescimento, política do Governo Federal em investimentos em obras de infra-estrutura e logística em todo o Brasil até o ano de 2010.
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 139
dos novos continentes, o trem veio a acelerar o processo de exploração e
desenvolvimento do interior de praticamente todos os países.
Buscou-se neste artigo um resgate histórico dos ocorridos dentro do Brasil
com a chegada do trem e tem como objetivo servir como instrumento de informação
para reflexão e formação de questionamentos sobre este meio de transporte dentro
do país atualmente, inserido na história do Brasil de forma positiva, colaborando no
processo de desenvolvimento econômico e social do Brasil.
Para se poder chegar a uma reflexão, é imprescindível esse paralelo com os
sistemas de alguns países e suas políticas de investimentos contínuos e levantar
questionamentos quanto às razões para o declínio das ferrovias no Brasil, uma vez
que lá fora a tecnologia das ferrovias traz grandes benefícios, a começar pelo
desenvolvimento regional, como instrumento de planejamento regional e integração
social, locomoção adequada e de qualidade aos usuários, economia de energia e
recursos naturais, diminuição da poluição principalmente nas zonas urbanas com a
redução de veículos automotores em circulação, redução do custo do transporte e,
mais importante ainda, a segurança dos usuários.
Aqui no Brasil, o transporte rodoviário, pelas suas atuais condições de infra-
estrutura, a vasta extensão da malha e os investimentos feitos pelos governos no
que se refere à sua manutenção, é conhecido popularmente como “custo Brasil”.
Resumindo, esse “custo Brasil” significa o oposto de todos os benefícios que o trem
poderia oferecer. Foi a partir da década de 1950 que o governo brasileiro priorizou
os investimentos em transporte rodoviário, fato principal que gerou o declínio do
transporte ferroviário. É evidente que foi certeiro a implantação da indústria
automobilística, mas imaginar à época que o trem seria coisa do passado, o Brasil
realmente seguiu a direção oposta na busca pelo progresso. E, apesar disso, o
sistema rodoviário por aqui também não é modelo de eficiência para ninguém.
Hoje é visível a necessidade por transporte de qualidade no Brasil,
principalmente de passageiros. A “bolha” de crescimento que o país está vivendo no
momento, principalmente no setor da indústria automobilística, é fruto da
precariedade do transporte coletivo, onde a indústria automobilística tirando proveito
da situação estimula o consumidor e vendem milhares de novos automóveis que são
injetados diariamente nas ruas já imobilizadas. Se por um lado, há um resultado
DESENVOLVIMENTO REGIONAL NOS TRILHOS Marcio Masakazu Yamamoto
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 140
econômico satisfatório, essa situação estará neutralizando esse crescimento, em face
da grande dependência pelo transporte rodoviário.
Para exemplificar, Vasconcellos (2001) mostra a cidade de São Paulo, onde já
não há mais horário de pico em algumas regiões mais adensadas. Com o propósito
de desafogar o trânsito, houve investimentos maciços em novas obras, mas uma
clara política a favor do transporte individual e do “desenvolvimento” utilizado como
palanque político. O resultado foi o progressivo prejuízo ao transporte coletivo, pelo
uso abusivo das vias pelos automóveis, aumentando os custos e diminuindo ainda
mais a eficiência e a atratividade do transporte coletivo rodoviário.
Se há cem anos atrás, todo o desenvolvimento era planejado em função da
malha ferroviária existente, onde o crescimento corria paralelo aos trilhos, hoje, com
as rodovias gerando altos custos e transformando as cidades sem condições de
mobilidade, tem-se cada vez mais a necessidade de retomar a implantação de um
sistema de transporte ferroviário moderno e eficiente. Com o aproveitamento da
estrutura existente e a criação de novos corredores em direção às regiões
deprimidas economicamente e não servidas por infra-estrutura, vêm de encontro à
atual política de crescimento econômico desenvolvida pelos Governos Estaduais e
Governo Federal, que, de maneira geral, tem objetivos de tentar diminuir as
diferenças e buscar uma maior homogeneização econômica e social em todo o
território nacional.
Concluindo, portanto, este artigo crítico, concordar-se á de que há 50 anos
atrás tais medidas foram acertadas, mas, renunciar o trem até hoje é
incompreensível. Incompreensível também é como um país com essa dimensão
territorial, com os benefícios comprovados e a tecnologia disponível, somente ainda
se estudam a viabilidade de investimentos para esse setor.
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PLANO COLÔMBIA: uma reflexão na escala regional Ney Nicolau Zilmer Neto
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 142
O PLANO COLÔMBIA E SUAS CONSEQUENCIAS NA REGIÃO ANDINA: UMA REFLEXÃO NA ESCALA REGIONAL
Ney Nicolau Zillmer Neto48
RESUMO
A Colômbia é um pais que apresenta hoje vários problemas relacionados a guerrilha e ao narcotráfico. Fruto de um guerra civil na década de 60, a guerrilha é fruto de ideais marxistas defendidos por camponeses que tentam até hoje implementar suas idéias no país. O narcotráfico é conseqüência de uma política rural pouco desenvolvida, onde a coca aparenta ser a única opção rentável. O narcotráfico colombiano encontra nos EUA seu principal mercado consumidor, o que acaba por fazer o governo americano intervir diretamente na produção da droga. Na década de 90 a crise colombiana parece estar fora de controle, o então presidente Andrés Pastrana resolve procurar a ajuda americana para o financiamento de um plano que tinha como objetivos as negociações de paz com a guerrilha e a substituição das lavouras de coca por outras culturas, surge a idéia do Plano Colômbia. O plano é um pouco alterado pelas autoridades americanas, que direcionaram a maioria dos recursos para a questão militar. A idéia inicial de negociação de paz com a guerrilha não obteve o mesmo êxito que a da erradicação das plantações de coca. Assumindo a presidência Álvaro Uribe em 2002, muda-se a estratégia de combate a guerrilha, que passa a ser encarada como um grupo terrorista a ser eliminado. O êxito quanto a erradicação das plantações de coca fez com que o narcotráfico buscasse soluções além da fronteira, causando um problema de escala regional.
Palavras-chave: narcotráfico, guerrilha e Plano Colômbia.
INTRODUÇÃO
O trabalho se propõe em analisar os métodos de planejamento e
desenvolvimento regional para áreas onde ocorram conflitos sociais e territoriais.
Essas áreas estão espalhadas pelo mundo todo, e se apresentam como conflitos
armados, ideológicos, territoriais entre outros. Esses fatores fazem com que os casos
recebam atenção especial na hora de se elaborar planos de desenvolvimento, já que
necessariamente devem estar ligados as possíveis soluções do conflito.
Para tal foi selecionado o caso especifico da Colômbia, pais sul-americano e
fronteiriço ao Brasil, que possui sua historia marcada por uma série de conflitos
internos, envolvendo a guerrilha e o narcotráfico.
48 Graduando do curso de Arquitetura e Urbanismo; Disciplina de Planejamento Urbano IV; FAG; [email protected]
PLANO COLÔMBIA: uma reflexão na escala regional Ney Nicolau Zilmer Neto
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 143
As proporções adquiridas pelo conflito colombiano extravasam suas fronteiras,
e apresenta riscos para países vizinhos, como Equador, Peru, Venezuela, Bolívia e
Brasil. Esse fator aumenta ainda mais a complexidade do caso, que passa a afetar
toda a região andina e amazônica.
O país buscou em 1998 uma solução para os conflitos junto aos Estados
Unidos da America, dando origem ao chamado Plano Colômbia. O Plano teve uma
duração de cinco anos, mas teve que ser revisto durante sua implementação pelo
transbordamento do conflito.
A análise consistiu em abordar o Plano Colômbia e a Iniciativa Regional Andina
como um plano de combate ao narcotráfico e de desenvolvimento para a essa
região. Primeiro buscou-se conceituar o planejamento regional e as zonas de
conflito, em segundo apresentar os fatos e contextualizar historicamente o conflito,
apresentando em seguida a proposta conjunta da Colômbia e dos Estados Unidos.
Por fim revelou-se as conseqüências do plano na escala regional.
1. PLANEJAMENTO REGIONAL EM ÁREAS DE CONFLITO
Entende-se por planejamento regional, um tipo de estudo para a realização de
um projeto desenvolvimentista para determinada região. De acordo com UEMS
(2003), “região é o espaço onde se imbricam dialeticamente uma forma especial de
luta de classes, onde o econômico, e o político se fusionam e assumem uma forma
especial de aparecer no produto social e nos pressupostos da reposição”. A região é
definida por qualquer área geográfica que forme uma unidade distinta em virtude de
determinadas características.
Quando em algumas regiões, onde existe a necessidade de escolha entre
situações que são incompatíveis, surge o conflito. O conflito nada mais é do que um
desequilíbrio de forças do sistema social que deveria estar em repouso ou
equilibrado. Isso faz com o conflito deva ser encarado como um desafio a atividade
criadora, já que cada situação exige uma solução que concilie as duas partes
(WIKIPÉDIA 2008).
PLANO COLÔMBIA: uma reflexão na escala regional Ney Nicolau Zilmer Neto
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 144
O grande desafio do planejamento regional em áreas de conflito está
justamente nesse ponto, tentar conciliar as duas partes e ainda elaborar uma
proposta de desenvolvimento para suprir o desgaste resultante desse desequilíbrio.
O caso específico colombiano apresenta dois conflitos em uma mesma área, a
guerrilha e o narcotráfico. Segundo DELMAS (1975) “guerrilha é uma táctica
adaptada às possibilidades psicológicas, geográficas e políticas, a uma relação de
forças”, sendo esta geralmente ligada a uma causa subversiva, e que na visão
MIRANDA, é todo o “ataque por forma insidiosa ou violenta, à ordem política e social
estabelecida, tendo em vista substituí-la, a médio ou longo prazo, por outra.”
Já o narcotráfico pode ser definido como o tráfico ilegal de substancias
ilícitas, entorpecentes. Essas substâncias são produzidas geralmente em países
subdesenvolvidos, como o caso na Colômbia, e tem como principal consumidor os
países ocidentais.(WIKIPÉDIA 2008)
2. HISTÓRIA E CONTEXTO DO CONFLITO
A Colômbia é um país marcado por fortes conflitos sociais e territoriais. Esses
conflitos possuem origem política, e foram protagonizados inicialmente por três
partidos; o liberal, o conservador e o socialista. A disputa partidária iniciou-se no ano
de 1948 e não se restringiu apenas ás urnas, dando origem a uma guerra civil que
perdurou 16 anos. De acordo com Leech (2002 apud RIPPEL 2006), a guerra civil
colombiana foi marcada por uma serie de assassinatos e ondas de crimes, somando
um total de 200 mil mortos.
Na década de 60 com o fim da guerra civil, surgem grupos de camponeses
influenciados por ideais marxistas provindos da revolução cubana. Esses grupos
foram perseguidos pelo governo e forçados a ocupar as áreas montanhosas da
cordilheira, onde fundaram organizações guerrilheiras como as FARC (Forças
Armadas Revolucionarias da Colômbia) e a ELN (Exercito de Libertação Nacional). O
governo respondeu com uma lei liberando a criação de milícias paramilitares para
combatê-las, que mais tarde iriam se unificar, dando origem a AUC (Autodefesas
Unidas da Colômbia).
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 145
O problema do narcotráfico surge na década de 70, e é fruto de uma política
rural precária e pouco desenvolvida. Esse problema deu origem a um ambiente
propicio para organizações criminosas desenvolverem atividades ilícitas como a
produção e exportação de drogas. Essas organizações originaram os chamados
cartéis, e tinham nos Estados Unidos seu principal consumidor.
Coincidentemente as áreas de produção da droga eram as mesmas áreas
ocupadas pela guerrilha, as regiões montanhosas. Nessas regiões mais altas a planta
produz maior quantidade do alcalóide responsável pela cocaína, tornando a produção
nas regiões de baixas altitudes inviável. Na visão de Rippel (2005) Esse
sombreamento de guerrilha e narcotráfico produziu uma relação simbiótica entre os
grupos, onde a guerrilha extorquia dinheiro dos traficantes em troca lhes dava
neutralidade e proteção. Essa associação fortaleceu principalmente a guerrilha, que
passou a representar um sério problema para o governo Colombiano.
No inicio da década de 80 o governo norte americano decide intensificar sua
política de combate as drogas e o então presidente Ronald Reagan define a questão
como um “problema de segurança nacional”. A partir dai inicia-se uma ação de
combate direto na fonte de produção, como cita Villa & Ostos (2005), seria um
ataque in lócus a oferta da droga. Isso implicou em ações militares em países como
Colômbia, Peru, Bolívia e Panamá. No final dos anos 80, assume a presidência
George Bush que aumenta o combate na região com uma nova proposta, a chamada
iniciativa andina.
Em 1989 é criada a iniciativa andina, que incluía além da Colômbia, o Peru e a
Bolívia. Seus objetivos principais eram o fortalecimento do governo desses países, o
fortalecimento operacional de unidades militares responsáveis pelo combate aos
ilícitos, o assessoramento militar e policial direto no território, e por ultimo a
assistência comercial no intuito de minimizar as conseqüências decorrentes do
abatimento das drogas na economia.
A assistência comercial era baseada em reformas econômicas neoliberais e na
abertura da economia para o exterior. Essa política afetou gravemente a economia
colombiana, que não conseguindo competir com os produtos importados acabou por
tornar a balança comercial deficitária. Segundo Leech (2002 apud RIPPEL 2006) Os
principais produtos prejudicados foram os produtos agrícolas, como o café e o
tabaco. Essa desvalorização do produto nacional fez com que alguns produtores
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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL: ensaios acadêmicos do CAUFAG 2008 146
começassem a cultivar coca e heroína, agravando ainda mais o problema do
narcotráfico.
No ano de 1998, na gestão do Presidente Andrés Pastrana, a Colômbia entrou
na pior recessão econômica dos seus últimos 50 anos. O país estava com uma taxa
de desemprego que equivalia 20% da população. Esses problemas somados ainda a
guerrilha e ao narcotráfico fizeram com que o presidente apresentasse um plano na
intenção de resolver os conflitos armados e o problema das drogas de uma só vez.
A iniciativa do presidente necessitava de verbas. Pastrana resolveu então
recorrer a Washington. Aprovado em 1999, o auxilio recebeu o nome de “Plano
Colômbia”.
3. O PLANO COLOMBIA
O Plano Colômbia nasceu com o nome de “diplomacia pela paz”. Pode ser
entendido como um plano de desenvolvimento e de combate ao narcotráfico. A idéia
inicial de Pastrana dava prioridade para o estabelecimento da paz por meio de
negociações com a guerrilha e a substituição das plantações de coca e papoula por
culturas alternativas.
Na visão de Rippel (2006), esse ambiente gerado teria como conseqüência
uma melhoria nas condições de vida da população rural. Outro esforço para se
estabelecer a paz foi a criação de áreas desmilitarizadas, que mais tarde passaram a
ser assumidas pelas FARC.
Inicialmente destinava-se a ser um “plano para a paz, prosperidade e
fortalecimento do Estado”, prevendo cerca de 76% dos recursos externos para
investimentos sociais e apenas o restante destinado ao combate ao narcotráfico.
Vale lembrar que as intervenções americanas nos países andinos vêm sendo
realizadas desde a gestão do presidente Reagan, e que o plano Colômbia seria uma
ação mais direta e eficaz, já que segundo Bonilla (2004 apud VILLA & OSTOS, 2005),
a “aproximação realista acompanha a prática das estratégias antidrogas do
Departamento de Estado era focada na interdição e no controle”.
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Ocorreram ainda duas outras intervenções anti-narcoticos na America latina,
uma na Bolívia e outra na America Central. A primeira destinava-se a substituição da
cultura de coca por culturas alternativas na região de Chapare na Bolívia, mas
fracassou devido á falta de mercado para seus produtos. A segunda fazia parte do
Plano Nacional de Desenvolvimento do México, mas passou por abarcar também toda
a região central da America latina, a ação consistia no investimento de subsídios
para conter a imigração ilegal no território norte-americano.
O projeto do plano Colômbia chegou ao congresso americano ainda em 1998 e
depois de um longo impasse entre os democratas e republicanos foi aprovado em
1999. De acordo com Tokatlián (2001 apud VILLA & OSTOS, 2005), a iniciativa do
presidente teve um custo total de U$7,4 bilhões, sendo que U$4 bilhões saíram dos
cofres públicos colombianos, U$1,5 bilhões da ajuda americana e o restante de
empréstimos internacionais.
Conforme MONTEIRO (2007), a contribuição americana foi coordenada por
cinco objetivos; ofensivas no sul do país nas plantações de coca, ações mais
agressivas na região andina para combater o tráfico de drogas, melhoramento da
capacidade de atuação da policia da Colômbia, um programa de desenvolvimento
alternativo e um aumento da capacidade gerencial do governo colombiano.
Em suma, o plano previa ainda cinco eixos de atuação; Recuperação
Econômica, Desenvolvimento Social, Seguridade e Justiça, Narcotráfico, Processo de
Paz. Alguns aspectos apresentaram resultados, como no caso da erradicação das
plantações de coca, mas no caso da paz, ao invés de se encaminhar para as
negociações, o plano preconizava um efetivo militar maior em relação a guerrilha,
agravando ainda mais o conflito.
Enfim as relações bilaterais entre Colômbia e Estados Unidos aumentaram
muito depois do plano, principalmente quanto aos recursos americanos investidos na
Colômbia. Essas relações antes esfriadas por denuncias de corrupção e ligação com o
narcotráfico dos governos anteriores passam a se fortalecer com a iniciativa de
Pastrana. A tabela demonstra o interesse americano na Colômbia depois do Plano,
que começa a receber recursos no ano de 2000.
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GRÁFICO 1: Evolução das Áreas Cultivadas com coca no Peru, Colômbia e Bolivia, no Período de 1989 a 2002
Fonte: Autor
Em dois anos o plano foi revisto. Isso se deu principalmente pela eleição de
George W. Bush e pelos atentados de 11 de setembro. Nessa nova fase, o plano
adquire caráter regional, e passa a ser chamado como Iniciativa Regional Andina.
4. A INICIATIVA REGIONAL ANDINA
A iniciativa regional andina foi criada no ano de 2001, e é basicamente uma
continuação do Plano Colômbia. A principal diferença é a maneira como os Estados
Unidos passaram a encarar o conflito. Segundo Monteiro (2007) Essa mudança de
política se vincula principalmente ao transbordamento do problema do narcotráfico e
a política de defesa americana adotada depois Dos atentados de 11 de setembro.
Em dois anos de experiência, o Plano Colômbia apresentou grande êxito na
erradicação das plantações de coca nas áreas em que foi aplicado. Essa erradicação
foi fruto das iniciativas militares e de um processo de pulverização aérea de áreas
cultivadas. Na visão de Rippel (2006), com a decadência da produção nessas áreas,
o cultivo avançou para outros lugares mais remotos dentro do território colombiano e
também além das fronteiras, aumentando ainda mais a complexidade do problema,
essa expansão recebeu o nome de “efeito balão”.
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A partir daí o governo norte-americano passa a rever a escala do conflito e
decide aumentar o raio de abrangência do plano, que adquiriu caráter regional. A
iniciativa passou a englobar além da Colômbia, o Peru, o Equador, a Bolívia e a
Venezuela. Nesse âmbito dos US$ 626 bilhões propostos para a segunda parte do
plano, apenas 50% destinavam-se a Colômbia, o restante era repartido com os
outros países.
Além disso, outra novidade que a iniciativa traz é a anulação de qualquer
diferença de combate a grupos guerrilheiros, paramilitares ou narcotraficantes.
Conforme o International Crisis Group (apud VILLA & OSTOS 2005), “O congresso
(EUA) aprovou e a administração solicitou que se apagasse a linha que separava os
programas antiterrorismo e antidrogas, permitindo que toda ajuda relativa a
segurança fosse direcionada também ao combate as guerrilhas e aos paramilitares.”
A partir daí o combate ao narcotráfico e a guerrilha que antes era encarado de
maneira distinta, passam e representar um único alvo.
Essas políticas, antidrogas e antiterrorismo foram intensificadas pelos EUA
logo após os atentados de 11 de setembro. Depois do ocorrido a política de defesa
americana no mundo muda, inclusive no caso da guerrilha que passa a ser encarado
como grupo terrorista. Essa posição, somado ao rótulo da guerrilha estar ligada ao
narcotráfico, fez surgir o termo narcoterrorismo.
A relação bilateral entre Colômbia e EUA, fez com que o país se tornasse um
dos maiores aliados americanos na guerra contra o terrorismo. Em 2002 assume a
presidência Álvaro Uribe. Acredita-se que seu grande trunfo nas eleições foi ter sido
o principal opositor das fracassadas políticas de negociação com as FARC pelo
presidente antecessor. (WIKKIPÉDIA 2008)
A politica de Uribe para acabar com o conflito consistia no combate e no
exterminio da guerrilha, o que acabou de vez com as esperanças de uma solução
pacifica. Segundo CAYCEDO (2003), Essa ação ficou conhecida como operação
Decaptação. Outros objetivos que nada tem a ver com a ação anti-narcoticos
buscavam o enfraquecimento das milicias urbanas e das inteligencias técnicas para a
prevenção de atentados terroristas.
Os atentados considerados terroristas começaram a ser realizados em 2003
pelas FARC. Foram baseados em ações urbanas e no sequestro de várias entidades
politicas colombianas e agentes norte-americanos. Os sequestros passaram a ser
PLANO COLÔMBIA: uma reflexão na escala regional Ney Nicolau Zilmer Neto
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também um meio de sustento da guerrilha, que extorquia dinheiro em troca dos
refens. Esses metodos fizeram com que no mesmo ano ainda o presidente assinasse
uma Lei Anti-terrorista, retirando uma série de direitos civis dos integrantes da
guerrilha e fazendo com que as forças militares adquirissem faculdades de policia
juridica.
Outro ponto de defesa foi segundo Monteiro (2008), a criaçao da Politica de
Defesa de Seguridade Democratica (PDSD), uma nova proposta, que além de possuir
todas as preocupações governamentais anteriores, englobava também a questão
terrorista. Seu principal objetivo era fazer com que a população fosse protegida pelo
Estado, mas essa deveria também participar ativamente nas estratégias de controle
e combate do Estado. Assim sendo era atribuida á população a proteção e a co-
responsabilidade nas tarefas do Estado, o que caracterizaria a proposta de segurança
como democratica.
O plano e a iniciativa foram dados por encerrados depois de cinco anos de
vigencia. Apesar da visão norte-americana de que as ações foram bem sucedidas na
questão do narco-trafico e da erradicação das plantações de coca, como aponta
Ricardo Vargas (apud MONTEIRO 2008), que baseou-se nos dados do Departamento
de Estado dos EUA, onde as areas ilegais de fato diminuiram nos anos de 2002 e
2003.
Contudo apesar do sucesso onde as ações foram realizadas, ocorreu a
dispersão dos cultivos para areas mais remotas do territorio, um desgaste das
aeronaves pulverizadoras, o desenvolvimento de especies mais resistentes e um
maior adensamento nas areas cultivadas fez com que a produção voltasse a subir a
partir de 2003. Enfim somado ainda ao aumento da produção nos países vizinhos
como no Peru e na Bolivia, a iniciativa americana parece não ter sido totalmente
eficaz no combate ao narcotrafico.
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GRAFICO 2: EVOLUÇÃO DAS AREAS CULTIVADAS COM COCA NO PERU, COLÔMBIA E BOLIVIA, NO PERÍODO DE 1989 A 2002.
Fonte: UNODC, Global Trends 2003
5. TENSÕES POLITICAS NA REGIAO GERADAS PELO PLANO
As intervenções americanas provocaram uma série de instabilidades na regial
andina. Começando pelo fato ja relatado acima do transbordamento do conflito para
além da fronteira colombiana, sendo seguido por questões como o desequilibrio
militar e as diferentes visões dos outros estados sobre a guerrilha, o narcotrafico e
as forças paramilitares.
A questão militar é vista com desconfiança pelos vizinhos, temendo uma
possivel intenção de liderança regional por parte dos EUA. Para eles, isso se
manifesta claramente no Plano Colombia.
Essa tensão provocada pelo Plano Colombia afetou as relaçoes bilaterais entre
a Colombia e seus vizinhos. Primeiro que o alto investimento bélico feito pelo estado
norte-americano, acabou por provocar um desequilibrio militar na região. Como
observa Socorro Ramirez (apud VILLA & OSTOS 2005)“A presença de atores
armados induz uma progressiva “geopolitização” e “securitização” de diversos temas
nacionais e regioanis” Segundo as consequencias da violencia do conflito na fronteira
geraram uma série de problemas para os países vizinhos como a imigração ilegal e o
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contrabando de armas. E por ultimo as diferentes correntes ideologicas geraram
varias discordancias sobre a natureza do conflito.
Apesar de haver um consenso entre os governos sobre assuntos como direitos
humanos, contrabando de armas e corrupção, o problema esta justamente no
desacordo quanto a natureza do problema. Enquanto para a Colombia o problema
principal está no combate ao narcotrafico, os outros países estão interessados em
neutralizar os grupos insurgentes na fronteira. Vale dizer que existem ainda
governos como o do Equador e da Venezuela que discordam do rótulo narco-
terrorista aplicado aos grupos guerrilheiros.
Além disso os governos andinos passaram a perceber certa ambiguidade na
politica de “segurança democratica” de Uribe, que parecia favorecer com alguns
direitos os grupos paramilitares em relação aos guerrilheiros. Isso se mostra nas
possibilidades de reintegração á vida civil e politica ofertada aos ex-integrantes das
milicias.
Como aponta Villas e Ostos (2008), outra hipotese em relação a associação
entre governo e paramilitares, seria a utilização desses grupos para consolidar areas
antes ocupadas pela guerrilha. O fato é que essas relações entre governo e
paramilitares existem desde 1980, mas de uma forma não oficial, possuindo
inclusive politicos comprometidos com a defesa de suas causas.
As relações historicas bilaterais entre Colombia e Brasil são bastante frigidas,
chegando a representar quase uma indiferença reciproca. Segundo Rippel (2006) Em
relação ao conflito, os países divergem em dois pontos: no Plano Colombia e nos
processos de negociação de paz.
Para o Brasil o Plano Colombia representa um instrumento de militarização
norte-americana nas regiões andina e amazonica através da Colombia. Por fim a
questão das negociações de paz na visão brasileira deveria ser resolvida de forma
negociada, com mediações internacionais, não fazendo o uso da força e observando
os principios de não intervenção, além disso o Brasil não reconhece as FARC e outros
grupos guerrilheiros como terroristas.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Depois de ser refeito pelos americanos, o planos passou a apresentar um
carater estritamente militar, abandonando os objetivos principais, que seriam a
substituição da cultura da coca por outras alternativas de cultivo, o que
consequentemente traria também desenvolvimento a região rural. Isso não ocorreu,
e deixou claro que se trata de um plano com uma proposta fragil para essa questão.
Percebe-se que há uma intensão clara de apenas combater o narcotrafico e a
guerrilha, mas esquece-se do impacto que isso poderá causar na economia
colombiana se não houver uma contra-proposta desenvolvimentista. Só para se ter
uma idéia do problema, hoje cerca de 10% da economia colombiana gira em torno
das drogas.
Além do conflito ter se expandido para além das fronteiras e o plano tentar
conte-lo, a tensão ideologica resultante dificilmente possibilitará a elaboração de um
plano de desenvolvimento regional concreto. Essa tensão se agrava ainda mais pela
desconfiança quanto as reais intenções americanas no conflito, já que a mairia dos
governos vizinhos possuem cunho de esquerda e condenan a intervenção americana
na américa do sul.
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