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Page 1: Solange Lourenço Gomes

Assembleia Legislativa de São Paulo

Comissão da Verdade

do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”

Presidente: Adriano Diogo (PT)

Relator: André Soares (DEM)

Membros Titulares: Ed Thomas (PSB), Marco Zerbini (PSDB) e Ulysses

Tassinari (PV)

Suplentes: Estevam Galvão (DEM), João Paulo Rillo (PT), Mauro Bragato

(PSDB), Orlando Bolçone (PSB) e Regina Gonçalves (PV)

Assessoria Técnica da Comissão da Verdade: Ivan Seixas (Coordenador),

Amelinha Teles, Tatiana Merlino, Thais Barreto, Vivian Mendes, Renan

Quinalha e Ricardo Kobayaski

Page 2: Solange Lourenço Gomes

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Solange Lourenço Gomes(Suicidou-se em 1º de agosto de 1982)

Dados PessoaisNome: Solange Lourenço GomesData de nascimento: 13 de maio de 1947Local de nascimento: Campinas – SP – Brasil

Organização Política: Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8)

Page 3: Solange Lourenço Gomes

3 Dados biográficos

Nascida em 13 de maio de 1947, em Campinas (SP), filha de Alcides Lourenço

Gomes e Helena Martins de Camargo Lourenço Gomes. Suicidou-se em 1º de

agosto de 1982. Militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).

Estudou no Colégio Andrews e iniciou o curso de psicologia na UFRJ em 1966.

Participou de grupos de estudos marxistas na faculdade e militou no PCBR. Em

1968, vinculou-se à Dissidência da Guanabara e posteriormente se integrou ao

MR-8, passando a viver na clandestinidade por volta de setembro de 1969,

quando a casa em que morava com Daniel Aarão Reis filho foi identificada após o

sequestro do embaixador norte-americano.

Page 4: Solange Lourenço Gomes

4Dados sobre sua prisão

Em razão de perseguições políticas, deslocou-se para a Bahia no fim de 1970. Emfins de março de 1971, entregou-se à polícia na Bahia, fornecendo informaçõessobre o MR-8. Também foi interrogada no DOI-Codi/RJ. Sofreu abusos sexuais,entre outras torturas, quando esteve presa em dependências policiais do regimemilitar em Salvador (BA).

Em 7 de julho de 1972, o Conselho Permanente de Justiça, por unanimidade devotos, decidiu “julgá-la inimputável, na forma do art. 48 do Código de ProcessoPenal, e em conseqüência, ex-vi do disposto no art. 112, do mesmo código, dedeterminar, por medida de segurança, sua internação no Manicômio Judiciáriopelo prazo mínimo de 2 anos”.

Os órgãos de segurança divulgaram na época depoimento em que Solange diziaestar arrependida, renegando sua condição de militante política contra o regimemilitar. Saiu da prisão aniquilada psicologicamente e passou a necessitar detratamento psiquiátrico.

Foi libertada em 10 de setembro de 1973, cursou Medicina e casou-se, em 1980com Celso Pohlmann Livi.

Page 5: Solange Lourenço Gomes

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O depoimento do médico psiquiatra Alberto Quilelli Ambrósio, que a atendeu

desde outubro de 1974 até sua morte, é breve, porém incisivo:

Durante estes anos pude testemunhar seu enorme esforço para recuperar-se

do grave quadro psiquiátrico, psicótico, conseqüência de sua prisão em 1971.

As torturas físicas e mentais a que foi submetida enquanto presa fizeram-na

revelar nomes de companheiros de movimentos políticos, bem como um seu

“depoimento”, no qual se dizia arrependida e renegava sua militância, foi

amplamente divulgado em jornais, denegrindo [sic] sua moral enquanto

mulher. Estes fatos fizeram-na sentir-se sempre culpada pela desgraça e

morte de pessoas.

Ajudada por nossos esforços, de sua família e marido, Solange obteve muitas

e significativas melhoras, mas não conseguiu conviver com tantas marcas –

insuperáveis – e continuar viva.

Solange cometeu suicídio em 1º de agosto de 1982, no Rio de Janeiro.

Page 6: Solange Lourenço Gomes

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Na CEMDP, Belisário dos Santos Júnior disse, em seu relatório, que:

[…] não se pode furtar as informações da literatura especializada sobre o assunto,que dão plena conta de que a tortura e as demais sistemáticas e massivasviolações dos direitos humanos na época da ditadura militar, praticadas pelacooperação de organismos e servidores do Estado e da União, eram regra naprisão.

Em seu voto, citou o relatório A Tortura e o Estado Democrático de Direito, da ComissãoEspecial do Estado de São Paulo, que cuidou de indenizações de presos torturados, apósa observação de quase mil casos julgados, em que está registrado:

A Comissão, com base na experiência de seus membros, nos depoimentos colhidose atenta à história do período da ditadura militar, deliberou presumir torturasempre que a prisão (por razões políticas) houvesse ocorrido em dependências dapolícia política.

Entendeu-se assim porque era lícito supor que quem, nas condições acimadescritas, ali depôs ou foi submetido à tortura, como em inúmeros casos foidenunciado, ou sofreu psicologicamente com a mera possibilidade de ocorrência detratamento cruel e degradante.

Tudo como definido nas convenções da ONU e da OEA.

Page 7: Solange Lourenço Gomes

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Em relação aos efeitos da tortura, o relatório observa que:

[…] a experiência de convivência com pessoas torturadas no regime militar, na épocareferida na lei reparadora, leva à conclusão que esse tipo de trauma sempre provocatranstornos psicológicos de maior ou menor intensidade. A violência física e aviolência psicológica são irreparáveis. A tortura é uma marca que não sai. […]

Em Brasil Nunca Mais – um relato para a História, ao lado da documentação dasvárias formas de tortura, dos vícios dos processos judiciais nas auditorias militares,estão claramente elencadas as conseqüências dessa prática hedionda, as marcas quedeixa, os impactos sobre a personalidade. […] O Conselho Regional de Medicina e oIMESC, atendendo a pedido de parecer desta comissão, consideraram como axiomaque “todo indivíduo que tenha sofrido qualquer tipo de tortura, apresentará algumdano, posto que se tornou um torturado”.

Assim, o relator considerou “perfeitamente coerente e razoável entender verificada a claravinculação entre o evento morte por suicídio e a prisão anterior por motivos políticos, comos constrangimentos inerentes, entre eles as publicações do suposto arrependimento”.

Seu caso foi aprovado por unanimidade pela CEMDP em 22 de abril de 2004.

DOSSIÊ DITADURA: Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil 1964-1985. IEVE- Instituto de Estudos SobreViolência do Estado e Imprensa Oficial, São Paulo, 2009.