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Pênseis e estaiadas SOLUÇÕES INOVADORAS A principal característica das pontes pênseis é sua sustentação por meio de pen- durais apoiados em cabos de aço ou barras articuladas, estendidos em curva, apoiados sobre torres e ancoradas nas extremidades em rochas ou blocos maciços de concreto. Nessas pontes, é necessária a utilização de vigas de rigidez para evitar oscilações verti- cais do tabuleiro. Elas existem há mais de cem anos em diversos lugares do mundo, sendo as preferidas para vãos maiores que 600 metros. No entanto, também são construídas com vãos menores. A mais famosa é a Ponte Golden Gate, em São Francisco (EUA). As pontes estaiadas consistem em tabu- leiros com vãos sustentados por cabos retos inclinados apoiados ou fixados em torre posicionada entre vãos adjacentes. Elas são menos flexíveis do que as pênseis, não sendo necessárias as vigas de rigidez utilizadas nes- tas. O desenvolvimento das estaiadas ocorreu na Alemanha há aproximadamente 60 anos. No Brasil, as pontes pênseis foram cons- truídas a partir do século 19 e as estaiadas, a partir de 1998. A seguir estão relacionadas algumas delas. Pontes pênseis Ponte Pênsil Affonso Pen- na, sobre o rio Paranaíba na divisa de Goiás e Minas Gerais. Ponte Pênsil Afonso Pena, sobre o Rio Sapucaí, ligando a cidade de São Gonçalo do Sa- pucaí a Turvolândia em Minas Gerais. Ponte Pênsil de São Vi- cente. Inaugurada em 1914, tem tramo único de 180 m de vão e é suspensa por 16 cabos de aço. Desde 1936, periodicamente o IPT tem realizado atividades de manuten- ção nela. Localizada na orla marítima, está exposta a uma agressividade muito intensa de cloretos, ocasionando anomalias por corrosão nos elementos metálicos. Também ocorre deterioração dos elementos de madeira em decorrência do intenso tráfego de veículos e por apodrecimento. As intervenções são feitas a cada dez anos aproximadamente. A última ocorreu entre 1998 e 1999, estendendo-se até 2001 para complementação da pintura. Ponte Alves Lima. Localizada sobre o rio Paranapanema, entre os municípios de Ribeirão Claro no Paraná e Chavantes em São Paulo, tem seis tramos isostáticos, compostos por perfis metálicos e elementos de madeira, apoiados sobre pilares de concreto e um tra- mo pênsil de 80 m constituído por tabuleiro e treliças de rigidez de madeira, sustentado por pendurais metálicos suspensos por cabos de aço apoiados em torres de concreto e co- nectados às barras de aço ancoradas na rocha. Em 2006, a ponte foi interditada para reforma. O Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo incumbiu o IPT de levantar, por meio de inspeções, IVANISIO DE LIMA OLIVEIRA é tecnólogo e engenheiro civil, pesquisador do IPT e responsável pelas especificações e acompanhamento da recuperação de pontes e outras obras de concreto armado e de perfis metálicos Envie seus comentários, críticas, perguntas e sugestões de temas para esta coluna: [email protected] Estais inclinados da ponte da estação Santo Amaro Ponte da estação Santo Amaro do metrô, sobre o rio Pinheiros, em São Paulo

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pênseis e estaiadass O l u Ç Õ e s i n O v a d O r a s

A principal característica das pontes pênseis é sua sustentação por meio de pen-durais apoiados em cabos de aço ou barras articuladas, estendidos em curva, apoiados sobre torres e ancoradas nas extremidades em rochas ou blocos maciços de concreto. Nessas pontes, é necessária a utilização de vigas de rigidez para evitar oscilações verti-cais do tabuleiro. Elas existem há mais de cem anos em diversos lugares do mundo, sendo as preferidas para vãos maiores que 600 metros. No entanto, também são construídas com vãos menores. A mais famosa é a Ponte Golden Gate, em São Francisco (EUA).

As pontes estaiadas consistem em tabu-leiros com vãos sustentados por cabos retos inclinados apoiados ou fixados em torre posicionada entre vãos adjacentes. Elas são menos flexíveis do que as pênseis, não sendo necessárias as vigas de rigidez utilizadas nes-tas. O desenvolvimento das estaiadas ocorreu na Alemanha há aproximadamente 60 anos.

No Brasil, as pontes pênseis foram cons-truídas a partir do século 19 e as estaiadas, a partir de 1998. A seguir estão relacionadas algumas delas.

Pontes pênseisPonte Pênsil Affonso Pen-

na, sobre o rio Paranaíba na divisa de Goiás e Minas Gerais.

Ponte Pênsil Afonso Pena, sobre o Rio Sapucaí, ligando a cidade de São Gonçalo do Sa-pucaí a Turvolândia em Minas Gerais.

Ponte Pênsil de São Vi-cente. Inaugurada em 1914, tem

tramo único de 180 m de vão e é suspensa por 16 cabos de aço. Desde 1936, periodicamente o IPT tem realizado atividades de manuten-ção nela. Localizada na orla marítima, está exposta a uma agressividade muito intensa de cloretos, ocasionando anomalias por corrosão nos elementos metálicos. Também ocorre deterioração dos elementos de madeira em decorrência do intenso tráfego de veículos e por apodrecimento. As intervenções são feitas a cada dez anos aproximadamente. A última ocorreu entre 1998 e 1999, estendendo-se até 2001 para complementação da pintura.

Ponte Alves Lima. Localizada sobre o rio Paranapanema, entre os municípios de Ribeirão Claro no Paraná e Chavantes em São Paulo, tem seis tramos isostáticos, compostos por perfis metálicos e elementos de madeira, apoiados sobre pilares de concreto e um tra-mo pênsil de 80 m constituído por tabuleiro e treliças de rigidez de madeira, sustentado por pendurais metálicos suspensos por cabos de aço apoiados em torres de concreto e co-nectados às barras de aço ancoradas na rocha.

Em 2006, a ponte foi interditada para reforma. O Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo incumbiu o IPT de levantar, por meio de inspeções,

ivaniSio De liMa oliveira é tecnólogo e engenheiro civil, pesquisador do iPt e responsável pelas especificações e acompanhamento da recuperação de pontes e outras obras de concreto armado e de perfis metálicos

envie seus comentários, críticas, perguntas e sugestões de temas para esta coluna:[email protected]

Estais inclinados da ponte da estação

Santo Amaro

Ponte da estação Santo Amaro do metrô, sobre o rio Pinheiros, em São Paulo

Ponte Alves de Lima, sobre o rio

Paranapanema: tramo pênsil após a retirada

das treliças de rigidez e do tablado (esq.), e após

a conclusão da reforma

as condições em que se encontrava a ponte, elaborar as especificações e acompanhar a reforma executada entre janeiro de 2009 e agosto de 2011.

Ponte Hercílio Luz. Localizada em Santa Catarina, foi construída para ligar o continente a Florianópolis. Com 819 metros, é uma das maiores pontes pênseis do mundo e a maior do Brasil. A construção foi iniciada em 14 de novembro de 1922, sendo inaugurada em 13 de maio de 1926. Após inspeção, reali-zada por técnicos do IPT, em que se constatou a existência de graves anomalias causadas por corrosão no sistema de sustentação, que comprometiam a segurança estrutural, a ponte foi interditada em 1982. Está exposta a uma agressividade muito intensa de clore-tos, ocasionando anomalias por corrosão nos elementos metálicos. Atualmente, encontra-se em reforma.

Pontes estaiadasAtualmente, já existem diversas pontes

estaiadas no Brasil. Em 1998 foi construída a primeira delas, sobre o rio Pinheiros na cidade de São Paulo, servindo de estação de metrô da linha 5.

Em 10 de maio de 2008, após três anos de construção, foi inaugurada a Ponte Estaiada Octavio Frias de Oliveira, localizada também

Interditada desde 1982, a ponte Hercílio Luz, em Florianópolis,

está sendo reformada; abaixo barra metálica

do sistema de suspensão, afetada

pela corrosão

sobre o Rio Pinheiros em São Paulo.

Inspeções periódicasNas pontes pênseis, algumas com idade

de 100 anos aproximadamente, são necessá-rias inspeções periódicas para verificação de anomalias. As mais comuns são causadas por corrosão dos ele-mentos metálicos que podem comprometer a segurança estrutu-ral, como aconteceu com a Ponte Hercílio Luz.

Para evitar pro-blemas desse tipo, é recomendável a rea-lização de inspeções periódicas visando a conservação da obra, observando-se tanto as anomalias cau-sadas por corrosão como aquelas ocasio-nadas por impactos de veículos e trânsito com carga excessiva.

Nas pontes es-taiadas, além dos cui-dados adotados nas pênseis, deve ser feita monitoração cons-tante dos estais para verificar ocorrências de perda de tensiona-mento e necessidade de reapertos.

Ponte Afonso Pena sobre o rio Sapucai, em Minas Gerais