soulÉ- capitulo 9

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  • 7/22/2019 SOUL- Capitulo 9

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    Antropologia do Desenvolvimento e Meio AmbienteCDS/ Universidade de BrasliaApresentao (2 semestre, 2013) do artigo The Social Siege of Nature(SOUL, 1995)Autor: Joo Rodrigues Quaresma

    CONVENES MAIS IMPORTANTES DA MINHA TRADUOLiving nature= natureza (biodiversidade)

    Wilderness= vida selvagem (sugesto do professor: serto).

    Police= poltica pblicaBiological fitness = performancebiolgica (sugesto do professor: adaptabilidade)Enlightened self-interest= auto-interesse esclarecido

    Minha apresentao sobre o ltimo captulo do livro organizado por Michael Soul e

    Gary Lease, Reinventando a Natureza? Respostas Para a Desconstruo Ps-Moderna

    (Reinventing Nature? Responses to Postmodern Deconstruction [1995]). Esse captulo 9, cuja

    autoria do prprio Michael E. Soul, um balano do conjunto da obra. A ttulo informativo,

    seu livro seria uma resposta obra do historiador William Cronon Terrenos Incomuns: Em

    Direo Reinveno da Natureza (Uncommon grounds: toward reinventing nature [1995]).

    Em relao ao carter dessa resposta importante sublinhar que Soul possui uma trajetria

    veiculada no s cincias humanas, mas chamada Biologia da Conservao (Conservation

    Biology), definida em seu artigoO que a Biologia da Conservao?(What is the Conservation

    Biology? [1985]) como:

    A biologia da Conservao, um novo estgio na aplicao da cincia para

    os problemas de conservao, se direciona biologia das espcies,

    comunidades, e ecossistemas que esto em perturbao, direta ou

    indiretamente, pelas atividades humanas e outros agentes. Seu objetivo

    providenciar princpios e ferramentas para a preservao da diversidade

    biolgica [...] Embora orientada para crises, a biologia da conservao sepreocupa com a viabilidade a longo termo de sistemas inteiros1 (SOUL,

    1985: 1).

    O ttulo desse capitulo O Cerco Social da Natureza (The Social Siege of Nature) que

    faz referncia ao fato que, segundo o autor, espcies autctones de plantas e animais esto

    cercadas (ou sitiadas) de duas formas. A primeira delas o cerco mais facilmente visvel a

    agresso fsica desferida pelo homem e suas mquinas. O segundo cerco dessa vez, velado

    o ataque ideolgico, portanto, social, que seria a justificativa conceitual do ataque fsico. A

    principal arma do assalto social o que ele chama de desconstruo, entendida como um

    estilo ps-moderno [frisar as aspas] de anlise crtica, que originalmente fora aplicada atextos. Esse estilo de anlise teria se popularizado recentemente [metade da dcada de 1990]

    entre crticos sociais, particularmente entre aqueles que se identificam com movimentos

    emancipatrios e, assim, se interessam em questionar as premissas que sustentam a ordem

    1 Conservation biology, a new stage in the application of science to conservation problems,

    addresses the biology of species, communities, and ecosystems that are perturbed, either directly or

    indirectly, by human activities or other agents. Its goal is to provide principles and tools for

    preserving biological diversity [] Although crisis oriented, conservation biology is concerned with

    the long-term viability of whole systems(SOUL, 1985: 1).

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    Antropologia do Desenvolvimento e Meio AmbienteCDS/ Universidade de BrasliaApresentao (2 semestre, 2013) do artigo The Social Siege of Nature(SOUL, 1995)Autor: Joo Rodrigues Quaresma

    estabelecida por acreditarem que dessa maneira aumentar-se-ia a chance de mudana, ou

    seja, de maior justia social.

    Soul declara que quando descobriu que crticos sociais estavam a desconstruir tanto a

    natureza como a vida selvagem (wilderness), at mesmo questionamento se elas de fato

    existiriam, ele se perguntou como e por que. Gradualmente, teria percebido que muito dessescrticos eram humanistas que sentem a necessidade de atacar e redefinir o conceito de

    natureza (e a da proteo da natureza) como parte da luta de liberao das classes menos

    favorecidas de homo sapiens. Um exemplo desse pensamento desconstrucionista seria o

    seguinte argumento: se as pessoas sempre fizeram parte da natureza, irracional excluir

    povos autctones de reservas naturais. Pequena observao, ele se refere ao seres humanos

    enquanto homo sapienspara enfatizar que nossa espcie apenas uma entre milhes.

    Devido a esse estranhamento em relao atitude desses crticos sociais, ele ento

    resolve escrever o texto em questo que trata, num primeiro momento, do estatuto da

    natureza luz tanto do pensamento biolgico contemporneo como das recentes mudanasbiofsicas globais. Num segundo momento, sua tentativa de esclarecer a estrutura e a

    motivao desse ataque social e desconstruir algumas das falcias correntes que seriam

    impeditivas da proteo do que sobrou da diversidade das espcies e da natureza selvagem.

    Em suma, ele se prope a fazer uma desconstruo da desconstruo.

    Nesse intento, ele apresenta como primeiro subttulo: Construes Coexistentes da

    Natureza.

    Ele declara que no existe uma nica percepo ocidental da natureza, as pessoas

    podem possuir diversas impresses dependendo de sua cultura, de sua experincia, de seucontexto. Uma das razes dessa coexistncia a nossa ignorncia relativamente generalizada

    sobre o mundo. Muitos ainda compartilham de um entendimento pr-Darwiniano da seleo

    Natural; pr-Helnico no tocante lgica, pr-Bernoullian em relao estatstica et etc... A

    maioria de ns tambm no estima a base gentica/ evolucionria do egosmo humano

    enquanto seres aptos reproduo, assim como nas outras dez milhes de espcies, estamos

    preocupados ao longo de nossas vidas como o nossaperformance biolgica(biological fitness),

    o que se traduziria em atrao, riqueza e status. Ele ironiza, ento, sobre o fato de falarmos

    tanto de ps-modernidade quando a maioria de ns continua pr-moderna e vtima fcil de

    supersties e demagogia.

    Portanto, no seria surpreendente que coexistam no chamado mundo moderno tantas

    concepes de natureza. Inclusive percepes distintas podem coabitar a mente de um

    mesmo indivduo. Ele apresenta nove possveis concepes, mas esclarece que outras podem

    ser eventualmente acrescidas. Escolho na minha apresentao discorrer sobre as trs ltimas

    por consider-las mais pertinentes do ponto de vista do argumento geral do autor.

    (1) O Outro Selvagemou o Caos Divino: a natureza selvagem no diz respeito ao ser

    humano exceto quando este percebido pelos outros animais enquanto predador ou

    alimento. Para Soul, este a perspectiva da ecologia profunda (deep ecology).

    (2)Gaia: viso de que a natureza homeosttica e alto-regulvel.

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    Antropologia do Desenvolvimento e Meio AmbienteCDS/ Universidade de BrasliaApresentao (2 semestre, 2013) do artigo The Social Siege of Nature(SOUL, 1995)Autor: Joo Rodrigues Quaresma

    (3) Biodiversidade: concepo de natureza adotada pelos bilogos ocidentais

    contemporneos. a mais concreta dessas percepes, o que a faria a mais vulnervel.

    Eu avano um pouco na discusso do autor, e sigo diretamente ao subttulo: A Guerra

    Ideolgica Sobre a Natureza(The Ideological War on Nature).

    Nesse item, o autor retoma o argumento inicial sobre o cerco cultural ou social de que

    a natureza sofreriajustificativa para sua violncia fsicae esclarece que no se trata de uma

    conspirao, mas de um programa levado independentemente por contestadores de

    diferentes ideologias, por exemplo, conservadores do mercado livre capitalista, humanistas

    engajados com a emancipao e empoderamento de certos grupos sociais e tnicos,

    organizaes de direitos de animais... O ataque desses grupos seria velado porque nenhum

    deles admite publicamente ser hostil em relao natureza ou vida selvagem. Cada um

    desses grupos adere ao menos a um dos mitos ps-modernos que sero aqui descritos. Ps-

    modernos no sentido de rejeitarem as crenas e tendncias tradicionais ao ocidente. O

    primeiro deles o mito da Inferioridade Moral do Ocidente; o segundo o Construtivismo; e oterceiro a Dicotomia de uma Natureza Imaculada/ Profana.

    O autor considera o mito da Inferioridade Moral do Ocidente como a doutrina cannica

    dos ps-modernos adeptos do New Age. O argumento basilar dessa doutrina de que muitas

    das atitudes tradicionais dos Ocidentais (ou dos Americanos) refletem insensibilidade ao meio

    ambiente e so inferiores s praticas contidas no Oriente ou em grupos autctones. O autor

    no quer apontar nesse quesito que o Ocidente seja virtuoso, o que ele indica que as

    tradies ocidentais no so necessariamente piores do que outras tradies humanas. Um

    aspecto importante de mito seria a crena (que ele caracteriza como proveniente do

    multiculturalismo) de que os povos autctones, particularmente os nativos americanos,sempre agem de forma exemplar em relao natureza, guardando por ela uma grande

    reverncia.

    Afirma ento que a inteno daqueles que promovem esse tipo de mito a procura

    honorvel de outros modelos de relao com a natureza. O efeito, entretanto, seria perigoso

    porque estabelece que a causa da insensibilidade humana frente a natureza como restrita a

    algumas culturas especficas. Segundo ele, quase todo mundo, independentemente de

    etnicidade quer uma vida mais prspera e segura. O problema seria a ganncia (que ele

    entende como imanente ao ser humano), quer seja ela chamada de fitness maximization ou

    enlightened self-interest. Segue na argumentao de que a ganncia como concordariamas maiores tradies religiosas do mundo e a biologia evolucionista mais fundamental que

    a cultura e as conseqncias desse fato seriam ento previsveis, especialmente onde h uma

    abundancia de recursos tecnolgicos.

    Em relao ao segundo mito, a desconstruo crtica da natureza ocorreria em dois

    nveis. No nvel cognitivo/ cultural tanto a natureza quanto a possibilidade de descrev-la

    questionada a partir da idia de que filtros culturais destorcem a realidade. Tudo o que

    teramos seriam relatrios parciais construes. J no nvel fsico, os desconstrucionistas

    afirmariam que a natureza no mais natural, afinal, ela seria um artefato humano na

    medida em os povos nativos j a teriam alterado em suas manipulaes econmicasprimordiais.

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    Antropologia do Desenvolvimento e Meio AmbienteCDS/ Universidade de BrasliaApresentao (2 semestre, 2013) do artigo The Social Siege of Nature(SOUL, 1995)Autor: Joo Rodrigues Quaresma

    O autor, em seguida, informa que os vrios colaboradores desse livro associam dois

    objetivos ao projeto desconstrucionista. Um deles poltico. No segundo captulo, as teorias

    de Lyotard foram consideradas como o ponto nevrlgico dos intentos desconstrucionistas:

    tudo so palavras (texto, narrao). Todas as teorias sociais so equivalentes, a vida uma

    luta por autoridade verbal. Essa luta freqentemente vista como a form a contempornea

    da luta de classe marxista do sculo XIX e XX. Os alvos usuais dessas crticas so valores e

    programas caracterizados como ocidentais, capitalistas, patriarcais, cientficos...

    O segundo objetivo o destronamento da objetividade (visto no captulo 4). O

    objetivismo como o dualismo cria uma separao entre o observador da natureza e a

    natureza em si. Fato esse que a base da cincia e o primeiro modo de discurso da era

    moderna. Bilogos objetivistas, portanto, dizem que a natureza realest l fora , sendo

    ento a cincia um caminho de gradualmente aumentar o nosso conhecimento sobre ela. Em

    compensao, para os desconstrucionistasa natureza no realou se para insistir que exista

    alguma coisa l fora, ns no poderamos conhec-la porque estamos encerrados em prises

    concntricas da cultura e das sensaes. Na seqncia, o autor conclui que o objetivo desse

    movimento seria desmitificar e destronar a dominncia hegemnica da cincia.

    nesse sentido que historiadores e alguns desconstrucionistas esto declarando que a

    natureza e a vida selvagem so ilusrias seriam apenas narrativas de bilogos. Um modo

    mais moderado de desconstruo foi apresentado no captulo 4, cuja premissa de que

    podemos compreender o mundo porque estamos conectados a ele. Essa perspectiva seria

    atraente porque ela ressoa com o conhecimento mais tradicional, porm, ela embute alguns

    perigos. O maior risco a falta de parmetros. Como evitar as armadilhas de astrlogos,

    criacionistas, ou de outros charlates que dizem possuir uma intimidade especial com o

    mundo? Dito de outra maneira, todos os pontos de vista devem ter acesso igual mdia?

    Todos os posicionamentos devem ter o mesmo direito ao financiamento do governo? Soul

    nesse ponto menciona o captulo 5 no tocante ao excessivo relativismo do historizao

    contempornea. Ele cita: quando todas as normas so iguais, Da Vinci no melhor do que o

    graffiti.

    Em seguida, ele aponta que esse relativismo multicultural pode tambm ser usado

    para defender a opresso e a crueldade. Fundamentalistas tnicos, por exemplo, poderiam

    justificar a opresso s mulheres como prticas validas dentro de seus contextos culturais. E

    alm, os seres humanos no seriam os nicos a sofrer desse relativismo. Espcies inteiras

    estariam sendo levadas extino devido relutncia de ativistas agiram com o receio de

    serem chamados de racistas (por exemplo, na luta contra o uso de ossos de tigres na medicina

    chinesa). Assim como somos obrigados a criticar prticas que vitimizam contingentes

    populacionais minoritrias de Homo Sapiens (como na cultura da Ku Klux Klan), ns devemos

    tambm lutar contra o antropocentrismo que extermina os outros seres.

    Ento, ele retoma a questo, porque os crticos sociais estariam negando a existncia

    ou a significao da natureza? Ele relata que no captulo dois sugerido que os

    desconstrucionistas sofrem de uma privao sensorial, de uma alucinao solipsistade que o

    mundo ilusrio. No captulo quatro, por sua vez, o programa forte que rejeitado por

    seu extremo construtivismo atravs da afirmaoj evocada aquide que o mundo l fora

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    Antropologia do Desenvolvimento e Meio AmbienteCDS/ Universidade de BrasliaApresentao (2 semestre, 2013) do artigo The Social Siege of Nature(SOUL, 1995)Autor: Joo Rodrigues Quaresma

    existe porque sentido pelos nossos rgos. Soul acaba ento por nos interrogar: devemos

    deixar de acreditar em DNA, clulas troncos, pedras lunares...?

    Ele conclui que o niilismo e o relativismo da desconstruoradical frente cincia e

    materialidade da natureza mesmo que popular em alguns centros acadmicos

    pretensiosa e imatura, alm do mais, perigosa porque minimiza os esforos de salvar a vidaselvagem e a biodiversidade. Entretanto, ele termina com a ressalva de que a insistncia ps-

    moderna em estar atento aos fatores contingenciais da produo cientfica pode, sim, ser

    construtiva.

    O ltimo mito, ento, da Virgindade Perdida ou Natureza Imaculada. Soul afirma

    que durante todo o livro, vrios autores rejeitam o seguinte silogismo: Se Natureza Verdadeira

    = Vida Selvagem = Terreno Imaculado, no existindo mais lugares virgens, vida selvagem ,

    portanto, algo ilusrio. Seu argumento de que a metfora da virgindade inapropriada

    porque, assim como gravidez, ela no pode ser dividida em nveis [fazer o comentrio: no d

    pra dizer, por exemplo, estou ligeiramente grvida]. Ou seja, a perda de virgindade de umadeterminada regio uma simplificao perigosa.

    Soul cita o exemplo da mobilizao poltica do Movimento para o Uso Inteligente

    (Wise Use Movement) que chega a afirmar que como o ocidente j no mais imaculado

    ento no deveria existir barreiras para o aproveitamento mximo de reas pblicas, incluindo

    o desmatamento de parques naturais. Outro exemplo ao do grupo PETA Pessoas pelo

    Tratamento tico de Animais (People for the Ethical Treatment of Animals) em 1993. Esse

    grupou contestou a ao de extermnio de porcos no Hawaii que estavam se re-procriando

    sem controle e ameaando espcies endmicas. O argumento do PETA era de que como o

    Hawaii j no mais uma natureza virgem, tendo sido colonizado por vrios outras espciesexternas, as espcies nativas equivaleriam s endmicas. Nesse ponto, o autor lana o alerta

    de que caso os gestores de polticas pblicas se contaminem por esses mitos ps-modernos

    pela idia de que de qualquer forma a natureza no natural , corre-se o risco de que eles

    se tornem ainda mais favorveis s prticas destrutivas da biodiversidade.

    Como concluso final, Michael Soul retoma o motivao que est na base de seu

    livro, a saber, o combate onda de relativismo antropocntrico, que est varrendo as cincias

    humanas e sociais podendo assim influenciar as polticas pblicas, o que poderia produzir

    resultados catastrficos para os fragmentos restantes da vida selvagem e da biodiversidade

    reminiscente. Considera ainda que as polticas pblicas devam ser elaboradas aliando cincia,economia, antropologia, sociologia e conhecimento local, se ele ainda existir. Por fim, pondera

    que cada vez mais essas polticas so feitas por citadinos, ou seja, pessoas que no possuem

    experincia fora da cidadedeixando a entender que isso tambm deve ser repensado.