soulÉ- capitulo 9
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Antropologia do Desenvolvimento e Meio AmbienteCDS/ Universidade de BrasliaApresentao (2 semestre, 2013) do artigo The Social Siege of Nature(SOUL, 1995)Autor: Joo Rodrigues Quaresma
CONVENES MAIS IMPORTANTES DA MINHA TRADUOLiving nature= natureza (biodiversidade)
Wilderness= vida selvagem (sugesto do professor: serto).
Police= poltica pblicaBiological fitness = performancebiolgica (sugesto do professor: adaptabilidade)Enlightened self-interest= auto-interesse esclarecido
Minha apresentao sobre o ltimo captulo do livro organizado por Michael Soul e
Gary Lease, Reinventando a Natureza? Respostas Para a Desconstruo Ps-Moderna
(Reinventing Nature? Responses to Postmodern Deconstruction [1995]). Esse captulo 9, cuja
autoria do prprio Michael E. Soul, um balano do conjunto da obra. A ttulo informativo,
seu livro seria uma resposta obra do historiador William Cronon Terrenos Incomuns: Em
Direo Reinveno da Natureza (Uncommon grounds: toward reinventing nature [1995]).
Em relao ao carter dessa resposta importante sublinhar que Soul possui uma trajetria
veiculada no s cincias humanas, mas chamada Biologia da Conservao (Conservation
Biology), definida em seu artigoO que a Biologia da Conservao?(What is the Conservation
Biology? [1985]) como:
A biologia da Conservao, um novo estgio na aplicao da cincia para
os problemas de conservao, se direciona biologia das espcies,
comunidades, e ecossistemas que esto em perturbao, direta ou
indiretamente, pelas atividades humanas e outros agentes. Seu objetivo
providenciar princpios e ferramentas para a preservao da diversidade
biolgica [...] Embora orientada para crises, a biologia da conservao sepreocupa com a viabilidade a longo termo de sistemas inteiros1 (SOUL,
1985: 1).
O ttulo desse capitulo O Cerco Social da Natureza (The Social Siege of Nature) que
faz referncia ao fato que, segundo o autor, espcies autctones de plantas e animais esto
cercadas (ou sitiadas) de duas formas. A primeira delas o cerco mais facilmente visvel a
agresso fsica desferida pelo homem e suas mquinas. O segundo cerco dessa vez, velado
o ataque ideolgico, portanto, social, que seria a justificativa conceitual do ataque fsico. A
principal arma do assalto social o que ele chama de desconstruo, entendida como um
estilo ps-moderno [frisar as aspas] de anlise crtica, que originalmente fora aplicada atextos. Esse estilo de anlise teria se popularizado recentemente [metade da dcada de 1990]
entre crticos sociais, particularmente entre aqueles que se identificam com movimentos
emancipatrios e, assim, se interessam em questionar as premissas que sustentam a ordem
1 Conservation biology, a new stage in the application of science to conservation problems,
addresses the biology of species, communities, and ecosystems that are perturbed, either directly or
indirectly, by human activities or other agents. Its goal is to provide principles and tools for
preserving biological diversity [] Although crisis oriented, conservation biology is concerned with
the long-term viability of whole systems(SOUL, 1985: 1).
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estabelecida por acreditarem que dessa maneira aumentar-se-ia a chance de mudana, ou
seja, de maior justia social.
Soul declara que quando descobriu que crticos sociais estavam a desconstruir tanto a
natureza como a vida selvagem (wilderness), at mesmo questionamento se elas de fato
existiriam, ele se perguntou como e por que. Gradualmente, teria percebido que muito dessescrticos eram humanistas que sentem a necessidade de atacar e redefinir o conceito de
natureza (e a da proteo da natureza) como parte da luta de liberao das classes menos
favorecidas de homo sapiens. Um exemplo desse pensamento desconstrucionista seria o
seguinte argumento: se as pessoas sempre fizeram parte da natureza, irracional excluir
povos autctones de reservas naturais. Pequena observao, ele se refere ao seres humanos
enquanto homo sapienspara enfatizar que nossa espcie apenas uma entre milhes.
Devido a esse estranhamento em relao atitude desses crticos sociais, ele ento
resolve escrever o texto em questo que trata, num primeiro momento, do estatuto da
natureza luz tanto do pensamento biolgico contemporneo como das recentes mudanasbiofsicas globais. Num segundo momento, sua tentativa de esclarecer a estrutura e a
motivao desse ataque social e desconstruir algumas das falcias correntes que seriam
impeditivas da proteo do que sobrou da diversidade das espcies e da natureza selvagem.
Em suma, ele se prope a fazer uma desconstruo da desconstruo.
Nesse intento, ele apresenta como primeiro subttulo: Construes Coexistentes da
Natureza.
Ele declara que no existe uma nica percepo ocidental da natureza, as pessoas
podem possuir diversas impresses dependendo de sua cultura, de sua experincia, de seucontexto. Uma das razes dessa coexistncia a nossa ignorncia relativamente generalizada
sobre o mundo. Muitos ainda compartilham de um entendimento pr-Darwiniano da seleo
Natural; pr-Helnico no tocante lgica, pr-Bernoullian em relao estatstica et etc... A
maioria de ns tambm no estima a base gentica/ evolucionria do egosmo humano
enquanto seres aptos reproduo, assim como nas outras dez milhes de espcies, estamos
preocupados ao longo de nossas vidas como o nossaperformance biolgica(biological fitness),
o que se traduziria em atrao, riqueza e status. Ele ironiza, ento, sobre o fato de falarmos
tanto de ps-modernidade quando a maioria de ns continua pr-moderna e vtima fcil de
supersties e demagogia.
Portanto, no seria surpreendente que coexistam no chamado mundo moderno tantas
concepes de natureza. Inclusive percepes distintas podem coabitar a mente de um
mesmo indivduo. Ele apresenta nove possveis concepes, mas esclarece que outras podem
ser eventualmente acrescidas. Escolho na minha apresentao discorrer sobre as trs ltimas
por consider-las mais pertinentes do ponto de vista do argumento geral do autor.
(1) O Outro Selvagemou o Caos Divino: a natureza selvagem no diz respeito ao ser
humano exceto quando este percebido pelos outros animais enquanto predador ou
alimento. Para Soul, este a perspectiva da ecologia profunda (deep ecology).
(2)Gaia: viso de que a natureza homeosttica e alto-regulvel.
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(3) Biodiversidade: concepo de natureza adotada pelos bilogos ocidentais
contemporneos. a mais concreta dessas percepes, o que a faria a mais vulnervel.
Eu avano um pouco na discusso do autor, e sigo diretamente ao subttulo: A Guerra
Ideolgica Sobre a Natureza(The Ideological War on Nature).
Nesse item, o autor retoma o argumento inicial sobre o cerco cultural ou social de que
a natureza sofreriajustificativa para sua violncia fsicae esclarece que no se trata de uma
conspirao, mas de um programa levado independentemente por contestadores de
diferentes ideologias, por exemplo, conservadores do mercado livre capitalista, humanistas
engajados com a emancipao e empoderamento de certos grupos sociais e tnicos,
organizaes de direitos de animais... O ataque desses grupos seria velado porque nenhum
deles admite publicamente ser hostil em relao natureza ou vida selvagem. Cada um
desses grupos adere ao menos a um dos mitos ps-modernos que sero aqui descritos. Ps-
modernos no sentido de rejeitarem as crenas e tendncias tradicionais ao ocidente. O
primeiro deles o mito da Inferioridade Moral do Ocidente; o segundo o Construtivismo; e oterceiro a Dicotomia de uma Natureza Imaculada/ Profana.
O autor considera o mito da Inferioridade Moral do Ocidente como a doutrina cannica
dos ps-modernos adeptos do New Age. O argumento basilar dessa doutrina de que muitas
das atitudes tradicionais dos Ocidentais (ou dos Americanos) refletem insensibilidade ao meio
ambiente e so inferiores s praticas contidas no Oriente ou em grupos autctones. O autor
no quer apontar nesse quesito que o Ocidente seja virtuoso, o que ele indica que as
tradies ocidentais no so necessariamente piores do que outras tradies humanas. Um
aspecto importante de mito seria a crena (que ele caracteriza como proveniente do
multiculturalismo) de que os povos autctones, particularmente os nativos americanos,sempre agem de forma exemplar em relao natureza, guardando por ela uma grande
reverncia.
Afirma ento que a inteno daqueles que promovem esse tipo de mito a procura
honorvel de outros modelos de relao com a natureza. O efeito, entretanto, seria perigoso
porque estabelece que a causa da insensibilidade humana frente a natureza como restrita a
algumas culturas especficas. Segundo ele, quase todo mundo, independentemente de
etnicidade quer uma vida mais prspera e segura. O problema seria a ganncia (que ele
entende como imanente ao ser humano), quer seja ela chamada de fitness maximization ou
enlightened self-interest. Segue na argumentao de que a ganncia como concordariamas maiores tradies religiosas do mundo e a biologia evolucionista mais fundamental que
a cultura e as conseqncias desse fato seriam ento previsveis, especialmente onde h uma
abundancia de recursos tecnolgicos.
Em relao ao segundo mito, a desconstruo crtica da natureza ocorreria em dois
nveis. No nvel cognitivo/ cultural tanto a natureza quanto a possibilidade de descrev-la
questionada a partir da idia de que filtros culturais destorcem a realidade. Tudo o que
teramos seriam relatrios parciais construes. J no nvel fsico, os desconstrucionistas
afirmariam que a natureza no mais natural, afinal, ela seria um artefato humano na
medida em os povos nativos j a teriam alterado em suas manipulaes econmicasprimordiais.
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O autor, em seguida, informa que os vrios colaboradores desse livro associam dois
objetivos ao projeto desconstrucionista. Um deles poltico. No segundo captulo, as teorias
de Lyotard foram consideradas como o ponto nevrlgico dos intentos desconstrucionistas:
tudo so palavras (texto, narrao). Todas as teorias sociais so equivalentes, a vida uma
luta por autoridade verbal. Essa luta freqentemente vista como a form a contempornea
da luta de classe marxista do sculo XIX e XX. Os alvos usuais dessas crticas so valores e
programas caracterizados como ocidentais, capitalistas, patriarcais, cientficos...
O segundo objetivo o destronamento da objetividade (visto no captulo 4). O
objetivismo como o dualismo cria uma separao entre o observador da natureza e a
natureza em si. Fato esse que a base da cincia e o primeiro modo de discurso da era
moderna. Bilogos objetivistas, portanto, dizem que a natureza realest l fora , sendo
ento a cincia um caminho de gradualmente aumentar o nosso conhecimento sobre ela. Em
compensao, para os desconstrucionistasa natureza no realou se para insistir que exista
alguma coisa l fora, ns no poderamos conhec-la porque estamos encerrados em prises
concntricas da cultura e das sensaes. Na seqncia, o autor conclui que o objetivo desse
movimento seria desmitificar e destronar a dominncia hegemnica da cincia.
nesse sentido que historiadores e alguns desconstrucionistas esto declarando que a
natureza e a vida selvagem so ilusrias seriam apenas narrativas de bilogos. Um modo
mais moderado de desconstruo foi apresentado no captulo 4, cuja premissa de que
podemos compreender o mundo porque estamos conectados a ele. Essa perspectiva seria
atraente porque ela ressoa com o conhecimento mais tradicional, porm, ela embute alguns
perigos. O maior risco a falta de parmetros. Como evitar as armadilhas de astrlogos,
criacionistas, ou de outros charlates que dizem possuir uma intimidade especial com o
mundo? Dito de outra maneira, todos os pontos de vista devem ter acesso igual mdia?
Todos os posicionamentos devem ter o mesmo direito ao financiamento do governo? Soul
nesse ponto menciona o captulo 5 no tocante ao excessivo relativismo do historizao
contempornea. Ele cita: quando todas as normas so iguais, Da Vinci no melhor do que o
graffiti.
Em seguida, ele aponta que esse relativismo multicultural pode tambm ser usado
para defender a opresso e a crueldade. Fundamentalistas tnicos, por exemplo, poderiam
justificar a opresso s mulheres como prticas validas dentro de seus contextos culturais. E
alm, os seres humanos no seriam os nicos a sofrer desse relativismo. Espcies inteiras
estariam sendo levadas extino devido relutncia de ativistas agiram com o receio de
serem chamados de racistas (por exemplo, na luta contra o uso de ossos de tigres na medicina
chinesa). Assim como somos obrigados a criticar prticas que vitimizam contingentes
populacionais minoritrias de Homo Sapiens (como na cultura da Ku Klux Klan), ns devemos
tambm lutar contra o antropocentrismo que extermina os outros seres.
Ento, ele retoma a questo, porque os crticos sociais estariam negando a existncia
ou a significao da natureza? Ele relata que no captulo dois sugerido que os
desconstrucionistas sofrem de uma privao sensorial, de uma alucinao solipsistade que o
mundo ilusrio. No captulo quatro, por sua vez, o programa forte que rejeitado por
seu extremo construtivismo atravs da afirmaoj evocada aquide que o mundo l fora
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existe porque sentido pelos nossos rgos. Soul acaba ento por nos interrogar: devemos
deixar de acreditar em DNA, clulas troncos, pedras lunares...?
Ele conclui que o niilismo e o relativismo da desconstruoradical frente cincia e
materialidade da natureza mesmo que popular em alguns centros acadmicos
pretensiosa e imatura, alm do mais, perigosa porque minimiza os esforos de salvar a vidaselvagem e a biodiversidade. Entretanto, ele termina com a ressalva de que a insistncia ps-
moderna em estar atento aos fatores contingenciais da produo cientfica pode, sim, ser
construtiva.
O ltimo mito, ento, da Virgindade Perdida ou Natureza Imaculada. Soul afirma
que durante todo o livro, vrios autores rejeitam o seguinte silogismo: Se Natureza Verdadeira
= Vida Selvagem = Terreno Imaculado, no existindo mais lugares virgens, vida selvagem ,
portanto, algo ilusrio. Seu argumento de que a metfora da virgindade inapropriada
porque, assim como gravidez, ela no pode ser dividida em nveis [fazer o comentrio: no d
pra dizer, por exemplo, estou ligeiramente grvida]. Ou seja, a perda de virgindade de umadeterminada regio uma simplificao perigosa.
Soul cita o exemplo da mobilizao poltica do Movimento para o Uso Inteligente
(Wise Use Movement) que chega a afirmar que como o ocidente j no mais imaculado
ento no deveria existir barreiras para o aproveitamento mximo de reas pblicas, incluindo
o desmatamento de parques naturais. Outro exemplo ao do grupo PETA Pessoas pelo
Tratamento tico de Animais (People for the Ethical Treatment of Animals) em 1993. Esse
grupou contestou a ao de extermnio de porcos no Hawaii que estavam se re-procriando
sem controle e ameaando espcies endmicas. O argumento do PETA era de que como o
Hawaii j no mais uma natureza virgem, tendo sido colonizado por vrios outras espciesexternas, as espcies nativas equivaleriam s endmicas. Nesse ponto, o autor lana o alerta
de que caso os gestores de polticas pblicas se contaminem por esses mitos ps-modernos
pela idia de que de qualquer forma a natureza no natural , corre-se o risco de que eles
se tornem ainda mais favorveis s prticas destrutivas da biodiversidade.
Como concluso final, Michael Soul retoma o motivao que est na base de seu
livro, a saber, o combate onda de relativismo antropocntrico, que est varrendo as cincias
humanas e sociais podendo assim influenciar as polticas pblicas, o que poderia produzir
resultados catastrficos para os fragmentos restantes da vida selvagem e da biodiversidade
reminiscente. Considera ainda que as polticas pblicas devam ser elaboradas aliando cincia,economia, antropologia, sociologia e conhecimento local, se ele ainda existir. Por fim, pondera
que cada vez mais essas polticas so feitas por citadinos, ou seja, pessoas que no possuem
experincia fora da cidadedeixando a entender que isso tambm deve ser repensado.