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1
Sumário
PRÉ-MODERNISMO ..................................................................................................... 3
EUCLIDES DA CUNHA............................................................................................. 4
GRAÇA ARANHA....................................................................................................... 6
LIMA BARRETO ......................................................................................................... 6
MONTEIRO LOBATO................................................................................................ 8
SIMÕES LOPES NETO ............................................................................................ 9
AUGUSTO DOS ANJOS......................................................................................... 10
VANGUARDAS EUROPEIAS .................................................................................... 21
EXPRESSIONISMO .................................................................................................... 21
CUBISMO...................................................................................................................... 21
FUTURISMO................................................................................................................. 22
DADAÍSMO ................................................................................................................... 23
SURREALISMO ........................................................................................................... 23
ANTECEDENTES DA SEMANA DE ARTE MODERNA ....................................... 24
A SEMANA DE ARTE MODERNA............................................................................ 25
O MODERNISMO BRASILEIRO ............................................................................... 28
PRIMEIRA FASE DO MODERNISMO (1922-1930)........................................... 29
MÁRIO DE ANDRADE (1893-1945).................................................................. 30
OSWALD DE ANDRADE (1890-1954).............................................................. 31
SEGUNDA FASE DO MODERNISMO ................................................................. 36
MANUEL BANDEIRA ........................................................................................... 37
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE ............................................................ 40
VINÍCIUS DE MORAES....................................................................................... 41
CECÍLIA MEIRELES ............................................................................................ 43
MARIO QUINTANA .............................................................................................. 44
2
PROSA – O ROMANCE DE 30 ................................................................................. 51
JOSÉ LINS DO REGO ............................................................................................ 51
GRACILIANO RAMOS ............................................................................................ 52
JORGE AMADO ....................................................................................................... 53
RACHEL DE QUEIROZ .......................................................................................... 53
ÉRICO VERÍSSIMO................................................................................................. 54
TERCEIRA FASE DO MODERNISMO................................................................. 59
A GERAÇÃO DE 45 ............................................................................................. 59
GUIMARÃES ROSA............................................................................................. 59
CLARICE LISPECTOR ........................................................................................ 60
JOÃO CABRAL DE MELO NETO ...................................................................... 61
CONCRETISMO .......................................................................................................... 65
NEOCONCRETISMO.................................................................................................. 66
A CANÇÃO POPULAR ............................................................................................... 69
TROPICALISMO .......................................................................................................... 71
III FESTIVAL DE MPB DA TV RECORD (1967)..................................................... 72
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PRÉ-MODERNISMO
O termo nasceu da designação de Alceu Amoroso Lima à época que
antecedeu o Modernismo. Fase nitidamente de transição, o Pré-Modernismo
sofre a influência da crise de valores ocasionada pela I Guerra Mundial.
Em termos gerais, o Pré-Modernismo constitui uma fase de sincretismo e
de transição.
Sincretismo: porque várias correntes literárias, aí se misturam, não
havendo um estilo predominante; prolongam-se ainda tendências românticas,
naturalistas, realistas, parnasianas, simbolistas e insinuam-se novas
tendências.
Transição: à entrada do novo século, processa-se um movimento de
superação do espírito conservador; há um sentido mais atento e crítico, voltado
para as novas situações históricas, políticas, econômicas e sociais da realidade
brasileira.
Os escritores voltam-se para a valorização das tradições do interior do
país e, no caso de Lima Barreto, para a análise da vida suburbana e de seus
tipos característicos. Os regionalistas fixam um mundo prestes a desaparecer.
Duas das principais características deste período são:
convivência com diversas tendências literárias;
interesse dos intelectuais pela realidade brasileira.
Raul de Leôni e Augusto dos Anjos são escritores que não se fi liam
diretamente a nenhum dos movimentos tradicionais. As personalidades mais
importantes, porém, entre os pré-modernistas são Lima Barreto, Euclides da
Cunha, Monteiro Lobato, Graça Aranha e Simões Lopes Neto.
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EUCLIDES DA CUNHA
Engenheiro, positivista como seu mestre Benjamin Constant,
antimonarquista e abolicionista, com uma visão progressiva da história, foi
repórter de O Estado de São Paulo, acompanhando a luta de Canudos em
1897. Suas reportagens foram reunidas em Canudos, Diário de uma
Expedição. Mais tarde, retomando estas reportagens, as transforma em A Luta
e forma com A Terra e O Homem seu livro Os Sertões (1902).
Em A Terra e O Homem, as duas principais partes de Os Sertões, há um
estudo científico do sertão e, sobretudo, no nordestino, o jagunço abandonado
e massacrado no conflito de Canudos. O beato Antônio Conselheiro sintetiza a
miséria do sertão baiano.
A linguagem, a par do cientificismo, caracteriza-se pela opulência, pelo
barroquismo, dramatizando com intensidade a miséria das populações
abandonadas no interior do país.
“A Terra”
A primeira parte da obra faz um minucioso
estudo das condições geofísicas do sertão da
região. Os conhecimentos que Euclides possuía
como engenheiro aliados ao interesse pelas ciências naturais permitiram a
elaboração de um pequeno ensaio sobre o ambiente, a geologia nordestina,
considerado, aliás, um dos primeiros estudos realizados seriamente entre nós
sobre a questão.
5
“O Homem”
Esta é a seção do livro mais
paradoxal e marcada por contradições.
Ao tentar o que seria um estudo das
bases antropológicas do homem
brasileiro, o autor, orientado pelas
teorias raciais do século XIX, acaba
compondo um quadro de fundo preconceituoso acerca do sertanejo.
“É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no
aspecto a fealdade típica dos fracos. (...) O sertanejo é, antes de tudo um forte.
A sua região é como ele – mestiça.”
“A Luta”
A última seção é
dedicada a mostrar as várias
expedições do exército contra
Canudos e a consequente
resistência sertaneja. É o
momento em que as ações
humanas ganham papel central, sendo quebrada a arbitrariedade dos
esquemas deterministas.
Desmanche de 5.200 casas, cuidadosamente contadas. Antes, no
amanhecer daquele dia, comissão escolhida descobrira o cadáver de Antônio
Conselheiro.
“Trouxeram depois para o litoral, onde deliravam multidões em festa,
aquele crânio. Que a ciência dissesse a última palavra. Ali estavam no relevo
de circunvoluções expressivas as linhas essenciais do crime e da loucura...”.
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GRAÇA ARANHA
Maranhense, formado em Direito, fez parte da aristocracia intelectual no
Rio de Janeiro. Membro fundador da Academia Brasileira de Letras, rompe
com ela ao aderir ao movimento modernista de 1922.
Graça Aranha, com “Canaã”, publicado em
1902, retrata a imigração alemã para o Brasil. Nesse
livro há o constante conflito entre dois imigrantes
Milkau e Lentz que moram em uma colônia alemã em
Porto Cachoeiro no Espírito Santo. Milkau defende a
integração social e racial do imigrante na realidade
brasileira, vendo o Brasil como terra prometida; a
bíblica Canaã. Contrário a suas ideia Lentz exalta a
luta pelo poder e defende o domínio dos mais fortes
sobre os mais fracos. Condena a miscigenação das raças e, adepto da teoria
da supremacia racial ariana, profetiza sua vitória e domínio sobre o brasileiro,
que ele considera um tipo inferior e fraco.
LIMA BARRETO
Boêmio, sempre vivendo à margem da classe dominante, entregou-se à
bebida e abandonou o curso politécnico, ingressando no funcionalismo. Sua
obra caracteriza-se pela análise da vida da classe média suburbana do Rio de
Janeiro, tendo no funcionário público seu protótipo social. Nos seus romances,
predomina a polêmica, a crítica, tendo em vista a tomada de uma consciência
dos problemas econômicos, políticos e sociais de seu tempo.
Lima Barreto faz uma crítica da sociedade urbana da época, com “Triste
Fim de Policarpo Quaresma“ e “Recordações do Escrivão Isaías Caminha“; e
“O Homem Que Sabia Javanês“.
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- Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909) – Romance de caráter
autobiográfico. Um mulato pobre vai do interior para o Rio de Janeiro buscando
ascensão social. Consegue emprego num jornal da época, onde é vítima de
preconceito racial.
- Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915) – Nacionalista e
visionário, o Major Quaresma é ridicularizado pelos colegas
do arsenal da Marinha por valorizar demasiadamente as
coisas do Brasil. Após ser considerado louco, vai para o
interior. Mais tarde envolve-se na Revolta da Armada e
acaba morrendo pela própria causa em que se engajara.
Trechos de “Triste fim de Policarpo Quaresma”
“Policarpo era patriota. Desde moço, aí pelos vinte anos, o amor da Pátria
tomou-o todo inteiro. Não fora o amor comum, palrador e vazio; fora um
sentimento sério, grave e absorvente. Nada de ambições políticas ou
administrativas; o que Quaresma pensou, ou melhor: o que o patriotismo o fez
pensar, foi num conhecimento inteiro do Brasil, levando-o a meditações sobre
os seus recursos, para depois então apontar os remédios, as medidas
progressivas, com pleno conhecimento de causa.
Não se sabia bem onde nascera, mas não fora decerto em São Paulo,
nem no Rio Grande do Sul, nem no Pará. Errava quem quisesse encontrar nele
qualquer regionalismo; Quaresma era antes de tudo brasileiro. Não tinha
predileção por esta ou aquela parte de seu país, tanto assim que aquilo que o
fazia vibrar de paixão não eram só os pampas do Sul com o seu gado, não era
o café de São Paulo, não eram o ouro e os diamantes de Minas, não era a
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beleza da Guanabara, não era a altura da Paulo Afonso, não era o estro de
Gonçalves Dias ou o ímpeto de Andrade Neves -– era tudo isso junto, fundido,
reunido, sob a bandeira estrelada do Cruzeiro.”
“Iria morrer, quem sabe se naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de
sua vida, Nada. Levara toda ela atrás de miragem de estudar a pátria, por amá-
la e querê-la muito, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade.
Gastara a sua mocidade nisso , a sua virilidade também, e, agora que estava
na velhice como ela o recompensava como ela o premiava, como ela o
condecorava? Matando-o. E o que não deixara de ver, de gozar, de fruir, na
sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara – todo esse lado de
existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira,
ele não provara, ele não experimentara.”
MONTEIRO LOBATO
Nasceu em Taubaté, interior de São Paulo. Fundou a primeira editora
brasileira - Monteiro Lobato & Cia - que se tornara a Companhia Editora
Nacional. Mais tarde funda também a Editora Brasiliense.
Monteiro Lobato, com
“Urupês“ e “Cidades Mortas“,
retrata o homem simples do
campo numa região de
decadência econômica. Ele foi
um dos primeiros autores de
literatura infantil, desse modo,
transmitindo ao público infantil
valores morais, conhecimentos
do Brasil, nossas tradições e
nossa língua. Destaca-se no gênero conto. Ficou famoso também por ter criado
o personagem Jeca Tatu. É um dos escritores brasileiros de maiores prestígio.
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SIMÕES LOPES NETO
Fixa os costumes da campanha
gaúcha de fins do séc. XIX e início do
séc. XX, em vias de extinção. Com
“Lendas do Sul“ e “Contos
Gauchescos“, precursores do
regionalismo, retrata a realidade do sul
brasileiro mostrando o dia-a-dia do
gaúcho da campanha, registrando
ainda sua fala característica.
Obras: “Lendas do Sul” “Casos do Romualdo” e “Contos Gauchescos” -
Dezenove histórias narradas pelo vaqueano Blau Nunes, protótipo do velho
gaúcho e que, nos contos, representa o autor.
Trechos de “Contos gauchescos”:
“Vancê, comprende? Do mesmo talho varou os dois corações, espetou-os no mesmo ferro, matou-os da mesma morte, fazendo os dois sangues, num de
cada peito, correrem juntos num só derrame... que foi lastrando pelo chão duro, de cupim socado, lastrando... até os dois corpos baterem na parede, sempre
abraçados, talvez mais abraçados, e depois tombarem por cima do balcão, onde estava encostado o tocador, que parou um rasgado bonito e ficou
olhando fixe para aquela parelha de dançarinos morrentes e farristas ainda!...”
(“Jogo do Osso“)
“Tudinha já não chorava, não; entre o Nadico, morto, e a velha Fermina estrebuchando, a morocha mais linda que tenho visto, saltou em cima do Bonifácio, tirou-lhe da mão sem força o facão e vazou os olhos do negro,
retalhou-lhe a cara, de ponta e de corte… e por fim, espumando e rindo-se, desatinada bonita, sempre!
Ajoelhou-se ao lado do corpo e pegando o facão como quem finca uma estaca, tateou no negro sobre a bexiga, pra baixo um pouco vancê compreende?… e
uma, duas, dez, vinte, cinquenta vezes cravou o ferro afiado, como quem espicaça uma cruzeira numa toca… como quem quer estraçalhar uma causa
nojenta… como quem quer reduzir a miangos uma prenda que foi querida e na hora é odiada!…”
“Ah! mulheres!… Estancieiras ou peonas, é tudo a mesma cousa… tudo é bicho caborteiro…; a mais santinha tem mais malícia que um sorro velho!…”
(Negro Bonifácio)
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AUGUSTO DOS ANJOS
Augusto dos Anjos é um poeta peculiar. Publicou apenas
um livro: Eu (1912), que não encontra classificação em
movimento literário algum. Segundo alguns autores, ele trazia
elementos pré-modernos, embora no aspecto linguístico tenda
para o realismo-naturalismo.
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!”
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O morcego
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
“Vou mandar levantar outra parede...”
– Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!
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EXERCÍCIOS
1. Assinale com V (Verdadeiro) ou F (Falso) as afirmações abaixo sobre a
obra “Os Sertões“, de Euclides da Cunha.
( ) No texto de Euclides da Cunha, misturam-se o requinte da
linguagem, a intenção científica e o propósito jornalístico.
( ) A obra euclideana insere-se numa tradição da literatura brasileira
que tematiza o povoamento do sertão, iniciada ainda no Romantismo com
Bernardo Guimarães.
( ) Euclides da Cunha escreveu “Os Sertões“ com base nas
reportagens que realizou como correspondente do jornal O Estado de São
Paulo.
( ) Antônio Conselheiro é uma personagem fictícia criada pelo
imaginário do autor.
( ) O episódio de Canudos, retratado no texto de Euclides da Cunha,
faz parte dos movimentos de protestos surgidos logo após a proclamação da
Independência do Brasil.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para
baixo, é
A) V-F-V-F-F
B) V-V-V-F-F
C) F-F-V-V-F
D) F-V-F-F-V
E) V–V–F–F–F
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2. Leia as afirmações abaixo sobre “Os Sertões“, de Euclides da
Cunha.
I – O ano de 2002 assinala o centenário de publicação da obra maior de
Euclides da Cunha.
II – A descrição da natureza, em “A Terra”, primeira parte do livro, é feita
de forma dramática, sugerindo, pelo uso de figuras retóricas, a humanização
dos elementos da paisagem.
III – A Guerra de Canudos é mostrada, na obra, como um embate entre o
interior, sertanejo e ignorante, e o litoral, civilizado e progressista.
Quais estão corretas?
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas III.
D) Apenas II e III.
E) I, II e III.
3. Os sertões, de Euclides da Cunha, é uma obra que
A) narra um episódio de messianismo ocorrido em vilarejos do interior
de Pernambuco e do Sergipe no início do século XX.
B) narra a formação e a destruição de um povoado sertanejo liderado
por Antônio Conselheiro na segunda metade do século XIX.
C) denuncia a ocupação de um povoado sertanejo por forças armadas
de Pernambuco e do Sergipe aliadas a jagunços locais.
D) expõe a liderança carismática de Antônio Conselheiro em seu
esforço para converter sertanejos monarquistas em republicanos.
E) denuncia a campanha difamatória contra o exército brasileiro
promovida por jornais e políticos interessados em restaurar a monarquia.
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4. Assinale a alternativa INCORRETA sobre a obra de Monteiro
Lobato.
A) A obra de Lobato, um dos intelectuais mais importantes da sua
época, se insere no Regionalismo Pré-modernista.
B) O conto “Urupês”, que dá título ao primeiro livro do autor, nasceu de
um panfleto em que Lobato criou a figura típica do “Jeca Tatu”.
C) As denúncias de Lobato sobre as queimadas nos campos a sobre o
cabloco miserável, indiferente e preguiçoso ajudaram a projetá -lo como
ficcionista.
D) Além dos contos, crônicas e ensaios variados, a obra de Lobato
compreende vários textos de literatura infantil.
E) A prosa de Lobato é marcada pelo gosto documental naturalista e
pelo uso de uma linguagem ornamentada, como pode ser comprovado nas
obras “Fruto Proibido“, de 1895, “Sertão“, de 1896, e “Canaã“, de 1902.
5. Considere as seguintes afirmações sobre obras de Monteiro Lobato.
I. Em “Urupês“, “Cidades Mortas“ e “Negrinha“, ele produz uma
literatura comprometida predominantemente com os problemas
socioeconômicos do Brasil.
II. Em “Urupês“, ele atribui a culpa pelo atraso do Brasil ao caboclo, por
ele ser acomodado e inadaptável às mudanças necessárias ao
desenvolvimento.
III. O título “Cidades Mortas“ alude às cidadezinhas do interior de São
Paulo, que perderam a sua importância econômica face à Capital.
Quais estão corretas?
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas III.
D) Apenas I e II.
E) I, II e III.
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6. Em “Triste Fim de Policarpo Quaresma“, romance de Lima Barreto, o
personagem principal
A) é um funcionário público que, após se retirar para seu sítio, adota
hábitos dos índios e pratica rituais de origem africana.
B) é um jornalista que se dispõe a defender, de arma na mão, o
governo de Floriano Peixoto contra a revolta da Armada.
C) é um jornalista que, depois da crise que o levou a ser internado em
um manicômio, se apaixona por sua sobrinha, Olga.
D) é um funcionário público que, depois de ter cometido um desfalque
lesando o tesouro nacional, se retira para seu sítio.
E) é um funcionário público idealista que, embora tenha perdido seu
emprego, se dispõe a defender a Pátria e a República.
7. Considere as afirmações abaixo, a respeito de Lima Barreto.
I – Sua obra ficcional situa-se no Rio Janeiro, de cuja passagem urbana
e principalmente suburbana tirou vários tipos populares e de classe média,
dentre eles alguns que lhe inspiravam indisfarçável simpatia.
II – Ao avaliar a realidade brasileira a partir do Rio de Janeiro, revela -se
um romancista inserido em uma tradição que inclui Manuel Antônio de Almeida,
Aluísio Azevedo e Machado de Assis.
III – Demonstra preocupação crítica e certa capacidade satírica ao expor,
em romances e contos, valores e instituições nacionais no âmbito do
funcionalismo público, da política, da vida militar, da imprensa e mesmo da vida
rural.
Quais estão corretas?
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas I e II.
D) Apenas II e III.
E) I, II e III.
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8. Instrução: a questão abaixo refere-se ao texto abaixo.
“Versos Íntimos“ (Augustos dos Anjos)
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Considere as seguintes afirmações em relação ao poema de Augusto dos
Anjos.
I – O poema comenta sarcasticamente o fim da vida e contradiz os
ideais de solidariedade humana.
II – Os versos demonstram que os animais são os principais
responsáveis pela violência sobre a terra.
III – O poeta serviu-se da imagem do fósforo para transmitir ao leitor uma
mensagem de luz e de esperança.
Quais estão corretas?
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas I e II.
D) Apenas I e III.
E) I, II e III.
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9. Considere as afirmações abaixo, relativas a Augusto dos Anjos.
I – Augusto dos Anjos é autor de um único livro de poesias, que,
embora nem sempre bem compreendido, obteve inúmeras edições desde seu
lançamento.
II – Por privilegiar temas como o mal-estar e a dor moral que acometem
os seres humanos, Augustos dos Anjos pode ser considerado um poeta
romântico, tendo contribuído para consolidar na poesia brasileira a tendência
da fuga à realidade.
III – A poesia de Augusto dos Anjos aborda questões individuais e
coletivas e caracteriza-se pela atenção que dá à perspectiva filosófico-científica
de sua época.
Quais estão corretas?
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas III.
D) Apenas I e III.
E) I, II e III.
10. Leia o poema abaixo, intitulado “A Ideia“, de Augusto dos Anjos.
01. “De onde ela vem? De que matéria bruta
02. Vem essa luz que sobre as nebulosas
03. Cai de incógnitas criptas misteriosas
04. Como as estalactites duma gruta?!
05. Vem da psicogenética e alta luta
06. Do feixe de moléculas nervosas,
07. Que, em desintegrações maravilhosas,
08. Delibera, e depois, quer e executa!
09. Vem do encéfalo absconso que a constringe,
10. Chega em seguida às cordas da laringe,
11. Tísica, tênue, mínima, raquítica...
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12. Quebra a força centrípeta que a amarra,
13. Mas, de repente, e quase morta, esbarra
14. No mulambo da língua paralítica!”
Assinale a alternativa correta sobre esse poema.
A) A interrogação inicial expressa o apego do poeta aos temas
sentimentais do Romantismo no Brasil.
B) A linguagem, rica de imagens, utiliza um vocabulário científico para
abordar uma questão filosófica.
C) O emprego de palavras como “estalactites” (verso 04) e “moléculas”
(verso 06) mostra uma inadequação entre a linguagem científica e o conteúdo
do poema.
D) O poeta adota a forma do soneto, porém rompe com o temário
cientificista dominante no seu tempo.
E) No primeiro quarteto, as palavras “nebulosas” e “misteriosas”
constituem rimas pobres, retomadas no segundo quarteto pelas palavras
“nervosas” e “maravilhosas”.
11. Leia os seguintes fragmentos, o primeiro extraído do poema “Os
doentes”, de Augusto dos Anjos, e o segundo, da letra da canção “O pulso”,
dos Titãs.
1.
Mas, para além, entre oscilantes chamas,
Acordavam os bairros da luxúria...
As prostitutas, doentes de hematúria,
Se extenuavam nas camas.
Uma, ignóbil, derreada de cansaço,
Quase que escangalhada pelo vício,
Cheirava com prazer no sacrifício
A lepra má que lhe rola o braço!
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[...]
Entanto, virgem fostes, e, quando o éreis,
Não tínheis ainda essa erupção cutânea,
Nem tínheis, vítima última da insânia,
Duas mamárias glândulas estéreis!
[...]
Talvez tivésseis fome, e as mãos, embalde,
Estendestes ao mundo, até que, à-toa,
Fostes vender a virginal coroa
Ao primeiro bandido do arrabalde.
2.
[...]
Reumatismo raquitismo cistite disritmia
Hérnia pediculose tétano hipocrisia
Brucelose febre tifóide arteriosclerose miopia
Catapora culpa cárie câimbra lepra afasia
O pulso ainda pulsa
O corpo ainda é pouco
Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações, sobre
esses fragmentos.
( ) Ambos aproximam doenças do corpo, como a lepra, a problemas de
ordem moral e social, como a prostituição e a hipocrisia.
( ) A linguagem expositiva e expressiva dos versos de Augusto dos
Anjos contrasta com a sintaxe enumerativa e fragmentária da letra da canção
dos Titãs.
( ) O uso de nomes de doenças e de termos científicos mostra que,
para os autores, não há mais espaço para a afirmação da vida nem para a
poesia no mundo moderno.
( ) No poema de Augusto dos Anjos, a prostituta sofre não só pelas
doenças físicas, mas também pela indiferença da sociedade.
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A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para
baixo, é
A) F-F-V-F
B) V-V-F-V
C) V-V-V-F
D) F-F-F-V
E) V-F-V-V
12. Assinale a alternativa correta sobre Simões Lopes Neto.
A) Trata-se de autor pelotense que realizou obra de cunho regional sem
ter atingido o patamar de construção de uma linguagem literária.
B) Costuma ser incluído no período do Pré-Modernismo porque seus
textos misturam narrativa e poesia.
C) Publicou uma série de narrativas curtas em “Contos Gauchescos“,
obra em que o gaúcho é comparado a outros tipos regionais brasileiros.
D) Os seus relatos são focalizados por um narrador distanciado e
deixam transparecer a própria linguagem da natureza local.
E) As lendas e os contos que escreveu reelaboram ficcionalmente a
história e a linguagem oral da região.
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VANGUARDAS EUROPEIAS
As vanguardas europeias foram manifestações artístico-literárias que
passaram pelo Panorama da Literatura do Brasil e deixaram de certa forma,
sua contribuição, no que podemos dizer ruptura da estética até então reinante
no nosso país. De acordo com o que se vê por parte dos postulantes da
Literatura, foi na Semana da Arte Moderna que essas “estéticas literárias”
foram influenciando os pensamentos de a lguns literatos brasileiros pela
inovação que se pretendia.
Muitos jovens brasileiros viajavam para a Europa a fim de estudar,
quando retornavam, traziam consigo as ideias inovadoras que haviam
aprendido adaptando-as, assim, à nossa realidade.
EXPRESSIONISMO
Surgido em 1910, foi manifestação de povos
nórdicos, germânicos e eslavos. Essa tendência
expressou a angústia do período anterior à Primeira
Guerra Mundial, voltando-se para os produtos artísticos
dos primitivos e para as manifestações do mundo
interior, expressas no uso aleatório de cores intensas e
distorção das formas, como atesta o quadro “O grito“, do
norueguês Edvard Munch.
CUBISMO
Em 1907, Pablo Picasso pintou “Lês
demoiselles d’Avignon“ (“As senhoritas de Avignon“)
e inaugurou o Cubismo. Segundo essa tendência,
as figuras, reduzidas a formas geométricas
apresentam, ao mesmo tempo, o perfil e a frente,
mostrando mais de um ângulo de visão.
A literatura cubista, inaugurada por Apollinaire,
preocupou-se com a construção física do texto: valorizou o espaço da folha e a
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camada significante das palavras e negou a estrofe, a rima, o verso tradicional.
Esse seria o embrião da nossa poesia concreta da década de 50.
Pablo Picasso - Guernica
FUTURISMO
Essa estética celebrava os signos do
novo mundo – a velocidade, a máquina, a
eletricidade, a industrialização. Apregoando a
destruição do passado e dos meios
tradicionais de expressão literária, o Futurismo
(tendência que mais influenciou a primeira fase
do Modernismo) propunha:
• liberdade de expressão;
• destruição da sintaxe;
• abolição da pontuação;
• uso de símbolos matemáticos e musicais;
• desprezo ao adjetivo e ao advérbio.
23
DADAÍSMO
Este foi o mais radical e destruidor movimento da vanguarda europeia.
Fundado por Tristan Tzara, negava o presente, o passado, o futuro e defendia
a ideia de que qualquer combinação inusitada promove um efeito estético. O
Dadaísmo refletiu um sentimento de saturação cultural, de crise social e
política.
SURREALISMO
Inaugurado com a publicação do
Manifesto Surrealista, em 1924, este
foi o último movimento da vanguarda,
sofrendo influências das teorias de
Freud, o Surrealismo caracterizou-se
pela busca do homem primitivo através
da investigação do mundo do
inconsciente e dos sonhos. Na
literatura, o traço fundamental foi a escrita automática (o autor deixa-se levar
pelo impulso e registra, sem controle racional, tudo o que o inconsciente lhe
ditar, sem se preocupar com a lógica).
24
ANTECEDENTES DA SEMANA DE ARTE MODERNA
Alguns eventos que direta ou indiretamente motivaram a realização da
Semana de 1922, mudando as atitudes dos jovens artistas modernistas:
– 1912. Oswald de Andrade retorna da Europa, impregnado do Futurismo
de Marinetti, e afirmando que “estamos atrasados cinquenta anos em
cultura, chafurdados ainda em pleno Parnasianismo”.
– 1913. Lasar Segall, pintor lituano, realiza “a primeira exposição de pintura
não acadêmica em nosso país”, nas palavras de Mário de Andrade.
– 1914. Primeira exposição de pintura de Anita Malfatti, que retorna da
Europa trazendo influências pós-impressionistas.
– 1917. Mário de Andrade e Oswald de Andrade, os dois grandes líderes da
primeira geração do modernismo brasi leiro, se tornam amigos. Publicação
de “Há uma gota de sangue em cada poema“; livro de poemas de Mário
de Andrade, que utilizou o pseudônimo Mário Sobral para assinar essa
obra pacifista, protestando contra a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Publicação de “Moisés e Juca Mulato“, poemas regionalistas de Menotti
Del Pichia, que conseguem sucesso junto ao público. Publicação de “A
cinza das horas“, de Manuel Bandeira. O músico francês Darius Milhaud,
que vive no Rio de Janeiro e entusiasma-se com maxixe, samba e os
chorinhos de Ernesto Nazareth, encontra-se com Villa-Lobos. O então
jovem compositor, já impressionado com a descoberta de Stravinski, entra
em contato com a moderna música francesa. Segunda exposição de Anita
Malfatti, exibindo quadros expressionistas, criticados com dureza por
Monteiro Lobato, no artigo “Paranoia ou mistificação?”, publicado no jornal
O Estado de S. Paulo, Esse artigo é considerado o “estopim” de nosso
Modernismo, já que provocou a união dos jovens artistas, levando-os a
discutir a necessidade de divulgar coletivamente o movimento.
25
– 1919. Publicação de “Carnaval“, de Manuel Bandeira, já com versos
livres.
– 1921. Banquete no Palácio Trianon, em homenagem ao lançamento de
“As máscaras“, de Menotti Del Picchia, onde Oswald de Andrade faz um
discurso, afirmando a chegada da revolução modernista em nosso país.
Exposições de quadros de Vicente do Rego Monteiro, em Recife e no Rio
de Janeiro, explorando a temática indígena brasileira. Mostra de
desenhos e caricaturas de Di Cavalcanti, denominada “Fantoches da
Meia-noite”, na cidade de São Paulo. Oswald de Andrade, Menotti Del
Picchia, Cândido Mota Filho e Mário de Andrade divulgam o modernismo,
em revistas e jornais. Mário de Andrade escreve a série “Os mestres do
passado“, analisando esteticamente a poesia parnasiana que estava no
auge da reputação literária e mostrando a necessidade de superá-la,
porque a sua missão já foi cumprida. Oswald de Andrade publica um
artigo sobre os poemas de Mário de Andrade, intitulando-o “O meu poeta
futurista”. A partir de então, apesar da recusa de Mário de Andrade em
aceitar a designação, a palavra “futurismo” passa a ser utilizada
indiscriminadamente para toda e qualquer manifestação de
comportamento modernista, em tom na maioria das vezes, pejorativo.
A SEMANA DE ARTE MODERNA
O ano de 1922 foi escolhido pela nova geração de
intelectuais para a proclamação da nossa
independência cultural. Segundo Mário de Andrade, o
movimento renovador visava o seguinte: o movimento
modernista foi o prenunciador, o pregador e por muitas
partes o criador de um estado de espírito nacional.
A Semana, de certa maneira, nada mais foi do
que uma ebulição de novas ideias totalmente
libertadas; nacionalista em busca de uma identidade
própria e de uma maneira mais livre de expressão. Não
26
se tinha, porém, um programa definido: sentia-se muito mais um desejo de
experimentar diferentes caminhos do que de definir um único ideal moderno.
Data – 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922.
Local – Teatro Municipal de São Paulo.
Patrocinadores – alta burguesia paulista (família Prado, Penteado etc.)
Principais participantes:
- Escritores: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del
Picchia, Guilherme de Almeida, Plínio Salgado.
- Pintores: Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Lasar
Segal, Vicente do rego Monteiro.
- Escultura: Victor Becheret.
- Música: Villa Lobos
Realização: três apresentações tumultuadas devido ao impacto causado por
tudo o que foi apresentado.
Objetivos: rompimento com o passado, apresentação da nova arte.
Consequências:
- divulgação de novos padrões artísticos (o cotidiano, a simplicidade);
- debates em torno da arte moderna e novos valores brasileiros;
- repercussão em todo o território nacional, rompendo um pouco com o
provincianismo.
13 de fevereiro (segunda-feira) - Casa cheia, abertura oficial
do evento. Espalhadas pelo saguão do Teatro Municipal de São Paulo, várias
pinturas e esculturas provocam reações de espanto e repúdio por parte do
público. O espetáculo tem início com a confusa conferência de Graça Aranha,
intitulada “A emoção estética da Arte Moderna”. Tudo transcorreu com certa
calma neste dia.
15 de fevereiro (quarta-feira) - Guiomar Novais era para ser
a grande atração da noite. Contra a vontade dos demais artistas modernistas,
aproveitou um intervalo do espetáculo para tocar alguns clássicos
27
consagrados, iniciativa aplaudida pelo público. Mas a “atração” dessa noite foi
a palestra de Menotti del Picchia sobre a arte estética. Menotti apresenta os
novos escritores dos novos tempos e surgem vaias e barulhos diversos
(miados, latidos, grunhidos, relinchos…) que se alternam e confundem com
aplausos. Quando Ronald de Carvalho lê o poema intitulado “Os Sapos“ de
Manuel Bandeira, (poema criticando abertamente o Parnasianismo e seus
adeptos) o público faz coro atrapalhando a leitura do texto. A noite acaba em
algazarra. Ronald teve de declamar o poema, pois Bandeira estava impedido
de fazê-lo por causa de uma crise de tuberculose.
17 de fevereiro (sexta-feira) - O dia mais tranquilo da
semana. Apresentações musicais de Villa-Lobos, com participação de vários
músicos. O público, em número reduzido, portava-se com mais respeito, até
que Villa Lobos entra de casaca, mas com um pé calçado com um sapato e
outro com chinelo; o público interpreta a atitude como futurista e desrespeitosa
e vaia o artista impiedosamente. Mais tarde, o maestro explicaria que não se
tratava de modismo e, sim, de um calo inflamado.
Vale ressaltar, que a Semana em si não teve grande importância em sua
época, foi com o tempo que ganhou valor histórico ao projetar-se
ideologicamente ao longo do século. Devido à falta de um ideário comum a
todos os seus participantes, ela desdobrou-se em diversos movimentos
diferentes, todos eles declarando levar adiante a sua herança.
Ainda assim, nota-se até as últimas décadas do século XX a influência da
Semana de 22, principalmente no Tropicalismo e na geração da “Lira
Paulistana“ nos anos 70 (Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, entre outros). O
próprio nome “Lira Paulistana“ é tirado de uma obra de Mário de Andrade.
Mesmo a Bossa Nova deve muito à turma modernista, pela sua lição
peculiar de “antropofagia”, traduzindo a influência da música popular norte-
americana à linguagem brasileira do samba e do baião.
28
Entre os movimentos que surgiram na década de 1920, destacam-se:
– Movimento Pau-Brasil
– Movimento Verde-Amarelo e Grupo da Anta
– Movimento antropofágico
A principal forma de divulgação destas novas ideias se dava através das
revistas. Entre as que se destacam, encontram-se:
– Revista Klaxon
– Revista de Antropofagia
O MODERNISMO BRASILEIRO
O modernismo brasileiro foi um amplo movimento cultural que repercutiu
fortemente sobre a cena artística e a sociedade brasileira na primeira metade
do século XX, sobretudo no campo da literatura e das artes plásticas. O
movimento no Brasil foi desencadeado a partir da assimilação de tendências
culturais e artísticas lançadas pelas vanguardas europeias no período que
antecedeu a Primeira Guerra Mundial, como o Cubismo e o Futurismo. As
novas linguagens modernas colocadas pelos movimentos artísticos e literários
europeus foram aos poucos assimiladas pelo contexto artístico brasileiro, mas
colocando como enfoque elementos da cultura brasileira. Considera-se a
Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922, como ponto de
partida do modernismo no Brasil. Porém, nem todos os participantes desse
evento eram modernistas: Graça Aranha, um pré-modernista, por exemplo, foi
um dos oradores. Não sendo dominante desde o início, o modernismo, com o
tempo, suplantou os anteriores. Foi marcado, sobretudo, pela liberdade de
estilo e aproximação com a linguagem falada, sendo os da primeira fase mais
radicais em relação a esse marco. Didaticamente, divide-se o Modernismo em
três fases: a primeira fase, mais radical e fortemente oposta a tudo que foi
anterior, cheia de irreverência e escândalo ; uma segunda mais amena, que
formou grandes romancistas e poetas; e uma terceira, também chamada Pós-
Modernismo por vários autores, que se opunha de certo modo à primeira fase e
era por isso ridicularizada com o apelido de neoparnasianismo.
29
Primeira fase do Modernismo (1922-1930)
Momento Demolidor - A Primeira Fase do Modernismo foi caracterizada
pela tentativa de definir e marcar posições, sendo ela rica em manifestos e
revistas de circulação efêmera. Foi o período mais radical do movimento
modernista, justamente em consequência da necessidade de romper com
todas as estruturas do passado. Daí o caráter anárquico dessa primeira fase e
seu forte sentido destruidor, assim definido por Mário de Andrade: “... se
alastrou pelo Brasil o espírito destruidor do movimento modernista”.
Havia a busca pelo moderno, original e polêmico, com o nacionalismo em
suas múltiplas facetas. A volta das origens, através da valorização do indígena
e a língua falada pelo povo também foram abordados. A palavra de ordem é o
rompimento com as ideias do passado. Era preciso estar de acordo com as
grandes renovações universais, sem copiá-las. Era preciso criar um estilo
autenticamente nosso, a partir da pesquisa de nossa realidade. Nesse período,
que vai da Semana da Arte até a publicação dos primeiros romances do ciclo
nordestino, predominam a poesia (poesia satírica e irreverente), os artigos de
jornal e os ensaios.
Características
- Liberdade de Criação:
- uso do verso livre;
- utilização do coloquialismo;
- desprezo à gramática tradicional.
-Nacionalismo: voltar-se criticamente para a realidade brasileira,
reinterpretando nossas raízes.
- Estilo conciso: estilo mais ágil e dinâmico
- Valorização do prosaico: universo cotidiano.
30
Principais autores da 1ª fase:
MÁRIO DE ANDRADE (1893-1945)
Mário Raul de Morais Andrade nasceu em
São Paulo, cidade que tão apaixonadamente
cantou em seus poemas. Foi um poeta,
romancista, musicólogo, historiador, crítico de
arte e fotógrafo brasileiro. Um dos fundadores do
Modernismo brasileiro, ele praticamente criou a
poesia moderna com a publicação de seu livro
“Pauliceia Desvairada“ em 1922.
De todos os escritores surgidos na primeira
fase, nenhum se compara a Mario de Andrade –
O Papa do Modernismo Brasileiro. Teve papel
decisivo na implantação do Modernismo no
Brasil, pois, como profundo conhecedor da cultura brasileira – o folclore, as
lendas, os ritmos, a dança, os costumes, as variações linguísticas – influenciou
fortemente na luta pela implantação de valores nacionais, cujos resultados
contribuíram para a produção de suas obras.
Obras principais: Poesia – “Pauliceia desvairada”
Prosa: “Amar, verbo intransitivo”
“Macunaíma”: o anti-herói brasileiro.
Trechos de Macunaíma
“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói da nossa gente.
Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o
silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia
Tapanhumas pariu uma criança feia. Macunaíma já na meninice fez coisas de
sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a
falar exclamava: – Ai! Que preguiça!...”
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“Então, abicaram a canoa e Macunaíma viu, numa pedra, a marca de um
pé gigante, o pé do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de
Jesus pra indiaiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco
louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria
capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.”
OSWALD DE ANDRADE (1890-1954)
Nasceu em São Paulo. De volta de uma viagem à Europa, em 1912, traz
na bagagem as ideias do manifesto Futurista, com o qual entrara em contato.
Fica conhecendo Mario de Andrade e, juntos, vão liderar a articulação da
Semana de Arte Moderna.
Oswald representa a principal
liderança de implantação e definição da
literatura modernista no Brasil. Foi o
mais irrequieto e revolucionário
representante da primeira fase.
Socialmente era a figura mais
simpática. Foi poeta, romancista,
teatrólogo e crítico.
Intensamente preocupado com seu país, acompanhando, entretanto, de
perto os mais importantes movimentos culturais europeus, Oswald revela em
sua obra um grande senso crítico face à realidade brasileira, bem como uma
adesão às técnicas revolucionárias em matéria de criação artística.
Obras principais:
Poesia: “Pau-Brasil“, “Cântico dos cânticos“, “O escaravelho
de Ouro”.
Prosa: “Memórias Sentimentais de João Miramar”: Romance
com 163 episódios numerados e intitulados, que constituem capítulos-
32
relâmpagos, onde João recorda suas viagens, seus casos amorosos e sua
falência econômica.
Teatro: “Serafim Ponte Grande”, “O rei da vela”.
Pronominais
Dê-me um cigarro Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Erro de Português Quando o português chegou Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio Que pena!
Fosse uma manhã de sol O índio teria despido
O português
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EXERCÍCIOS
1. Leia o trecho de Memórias Sentimentais de João Miramar, de
Oswald de Andrade.
“Mas na limpidez da manhã mendiga cornamusas vieram sob janelas de grandes sobrados. Milão estendia os Alpes imóveis no orvalho.”
No trecho acima, destacam-se alguns procedimentos formais. Assinale
com V (Verdadeiro) ou com F (Falso) as afirmações a a seguir.
( ) O trecho constitui uma amostra da tentativa do autor de eliminar as
diferenças entre prosa e poesia.
( ) A passagem revela facetas do experimentalismo típico do
modernismo brasileiro.
( ) A citação denota um forte teor nacionalista, avesso às influências
das vanguardas europeias.
( ) O texto apresenta neologismos que passaram a fazer parte da
linguagem poética do modernismo.
( ) O fragmento concretiza uma linguagem telegráfica vista como
expressão adequada da vida moderna.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para
baixo, é
A) V–F–V–V–F
B) F–V–F–V–F
C) V–F–F–F–V
D) F–V–V–F–V
E) V–V–F–F–V
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2. INSTRUÇÃO: Para responder à questão abaixo, ler o trecho
“Memórias sentimentais de João Miramar“, de Oswald de Andrade.
“A costa brasileira depois de um pulo de farol sumiu como um peixe. O
mar era um oleado azul. O sol afogado queimava arranha-céus de nuvens. Dois pontos sujaram o horizonte faiscando longínquos bons dias sem fio. Os olhos hipócritas dos viajantes andavam longe dos livros – agora polichinelos
sentados nas cadeiras vazias.”
A aproximação do texto literário à prosa cinematográfica, caracterizada
pela _________, permite afirmar que o fragmento acima, de autoria de Oswald
de Andrade, enquadra-se na estética _________.
A) simultaneidade de imagens – modernista
B) exaltação de objetos – romântica
C) presença da ironia – realista
D) idealização da paisagem – pós-moderna
E) exploração do local – simbolista
3. Com base na obra “Macunaíma“: o herói sem nenhum caráter, de
Mário de Andrade, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações a
seguir.
( ) Através do subtítulo, o autor restringe a caracterização do povo
brasileiro aos traços de malandro e aproveitador.
( ) “Carta pras icamiabas” (capítulo IX) pode ser interpretada como uma
paródia à “Carta de Pero Vaz de Caminha a El Rey“.
( ) O texto é construído a partir de lendas indígenas e do folclore
sertanejo e é narrado em linguagem oral de fácil compreensão, segundo o
modelo realista.
( ) O final da “rapsódia” guarda uma surpresa, ao revelar que é um
papagaio que conta a história de Macunaíma a um homem que, por sua vez, a
narra para todos.
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A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para
baixo, é
A) V– F– F – V
B) F – F – V – F
C) V – V – F – V
D) F – V – V – F
E) F – V – F – V
4. Sobre o Modernismo literário brasileiro, são feitas as seguintes
afirmações:
I. O gosto pelas experiências estéticas e a ruptura com a linguagem
tradicional, características do Movimento de 22, limitaram-se às obras de
poesia dos anos 20.
II. Juntamente com o projeto estético de renovação da linguagem, o
modernismo desenvolveu um projeto ideológico, com vistas ao conhecimento e
à interpretação da realidade nacional.
III. A variedade de correntes e de manifestações que eclodiram no seio
do Modernismo, sobretudo na sua fase inicial, pode ser comprovada em obras
tanto da literatura quanto de outras artes.
Quais estão corretas?
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas I e II.
D) Apenas II e III.
E) I, II e III.
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5. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo,
referentes ao Movimento Modernista dos anos 20.
( ) Klaxon (1922) é uma das mais importantes revistas do Movimento
Modernista no Brasil.
( ) O “Prefácio Interessantíssimo” é a abertura de Pauliceia Desvairada,
livro de poemas escrito por Menotti del Picchia.
( ) O “Manifesto Antropófago”, de Oswald de Andrade, compõe-se de
pequenos fragmentos, entre os quais não existe uma ordem sequencial e
lógica.
( ) A estética modernista caracteriza-se por um nacionalismo
exacerbado, recusando qualquer influência estrangeira.
( ) Um dos nomes importantes do Modernismo foi Villa-Lobos que,
ainda na primeira década do século XX, compôs músicas eruditas aproveitando
os ritmos brasileiros e os sons nativos.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para
baixo, é
A) V–V–F–F–V
B) V–F–V–F–V
C F–V–F–V–V
D) F–F–V–V–F
E) V–F–F–F–V
36
Segunda fase do Modernismo
Momento de Construção - Estendendo-se de 1930 a 1945, a segunda
fase foi rica na produção poética e, também, na prosa. O universo temático
amplia-se. A preocupação dos artistas passa a ser com o destino do Homem e
com o “estar-no-mundo”. Ao contrário da sua antecessora, foi uma fase
construtiva e é considerada como um dos períodos mais produtivos da
Literatura Brasileira. É preciso entender que os escritores dessa geração já
estavam sentindo-se mais livres para criar, pois não estavam mais
pressionados pela crítica literária da época.
Não sendo uma sucessão brusca, as poesias das gerações de 22 e 30
foram contemporâneas. A maioria dos poetas de 30 absorveram experiências
de 22, como a liberdade temática, o gosto da expressão atualizada ou
inventiva, o verso livre e o antiacademicismo. Portanto, ela não precisou ser tão
combativa quanto a de 22, devido ao encontro de uma linguagem poética
modernista já estruturada. Os poetas passaram, então, a aprimorá-la,
prosseguindo a tarefa de purificação de meios e formas, direcionando e
ampliando a temática da inquietação filosófica e religiosa.
Os poetas de destaque dessa fase são Vinícius de Moraes, Jorge de
Lima, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Mendes, Carlos Drummond de
Andrade.
A prosa, por sua vez, alargou a sua área de interesse ao incluir
preocupações novas de ordem política, social, econômica, humana e espiritual.
A piada foi sucedida pela gravidade de espírito, a seriedade da alma,
propósitos e meios. Essa geração foi grave, assumindo uma postura séria em
relação ao mundo, por cujas dores, considerava-se responsável. Também
caracterizou o romance dessa época, o encontro do autor com seu povo,
havendo uma busca do homem brasileiro em diversas regiões, o que tornou o
regionalismo importante.
“A Bagaceira“, de José Américo de Almeida, foi o primeiro romance
nordestino. Rachel de Queiroz, Jorge Amado, José Lins do Rego, Érico
Verissimo, Graciliano Ramos e outros escritores criaram um esti lo novo,
completamente moderno, totalmente liberto da linguagem tradicional, nos quais
puderam incorporar a real linguagem regional, as gírias locais. O humor quase
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piadístico de Drummond receberia influências de Mário e Oswald de Andrade.
Vinícius de Morais, Cecília Meireles, Jorge de Lima e Murilo Mendes
apresentaram certo espiritualismo que vinha do livro de Mário “Há uma Gota de
Sangue em Cada Poema“ (1917).
A consciência crítica estava presente, e mais do que tudo, os escritores
da segunda geração consolidaram em suas obras questões sociais bastante
graves: a desigualdade social, a vida cruel dos retirantes, os resquícios de
escravidão, o coronelismo apoiado na posse das terras – todos os problemas
sociopolíticos que se sobreporiam ao lado pitoresco das várias regiões
retratadas.
A poesia
MANUEL BANDEIRA
Sobre esse autor lemos o seguinte em Presença da
Literatura Brasileira: “A poesia de Manuel Bandeira
caracteriza-se pela amplitude de âmbito formal,
testemunhando uma variedade criadora que vem do
parnasianismo crepuscular até as experiências
concretistas, do soneto às formas mais audazes de
expressão. Doutro lado, conservou e adaptou ao espírito
moderno os ritmos e formas mais regulares, de tal
maneira que nenhum outro contemporâneo revela tão
acentuadamente a herança do mais puro lirismo
português.”
Obras: “Cinza das horas” (1917), “Carnaval” (1919), “Ritmo dissoluto”
(1924), “Libertinagem” (1930), “Estrela da manhã” (1936), “Lira dos
cinquent’anos” (1948), “Estrela da tarde” (1963)
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Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia
num barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Testamento
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai Foi-se-me um dia a saúde... Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Os sapos
Enfunando os papos, / Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos. / A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra, / Berra o sapo-boi: – “Meu pai foi à guerra!” / – “Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!”.
O sapo-tanoeiro, / Parnasiano aguado, Diz: – “Meu cancioneiro / É bem martelado.
Vede como primo / Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo / Os termos cognatos.
[...]
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada Aqui não sou feliz
Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive
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E como farei ginástica
Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo
Subirei no pau de sebo Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água. Pra me contar histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro De impedir a concepção
Tem telefone automático Tem alcaloide à vontade Tem prostitutas bonitas
Para gente namorar
E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der
Vontade de me matar Lá sou amigo do rei
Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Pneumatórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico:
– Diga trinta e três. – Trinta e três... trinta e três ... trinta e três...
– Respire.
............................. – O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito
infiltrado. – Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? – Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino
40
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
O consagrado poeta
brasileiro nasceu em Itabira,
Minas Gerais no ano de 1902.
Tornou-se, pelo conjunto de sua
obra, um dos principais
representantes da literatura
brasileira do século XX.
Seus poemas abordam assuntos do dia a dia, e contam com uma boa
dose de pessimismo e ironia diante da vida. Em suas obras, há ainda uma
permanente ligação com o meio e obras politizadas. Além das poesias,
escreveu diversas crônicas e contos.
Os principais temas retratados nas poesias de Drummond são: conflito
social, a família e os amigos, a existência humana, a visão sarcástica do
mundo e das pessoas e as lembranças da terra natal.
Entre suas obras poéticas mais importantes destacam-se: “Brejo das
Almas”, “Sentimento do Mundo”, “José”, “A rosa do povo”, “Lição de Coisas”,
“Viola de Bolso”, “Claro Enigma”, “Fazendeiro do Ar”, “A Vida Passada a Limpo”
e “Novos Poemas”.
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra.
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
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Que não tinha entrado na história.
Amar
Que pode uma criatura senão, senão entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar, amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia, o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
VINÍCIUS DE MORAES
Nasceu no Rio de Janeiro. Era formado em Direito e, entre outras
atividades, foi jornalista e crítico de cinema. Ficou conhecido, sobretudo como
poeta e compositor.
1ª fase: neossimbolista, linguagem
elevada. Fase marcada por forte
tendência místico-religiosa. Uso do
verso livre e linguagem abstrata.
2ª fase: poeta da modernidade
amorosa. Incorporação tardia das
conquistas e recursos do
Modernismo. Verso mais
espontâneo e coloquial.
Teatro: “Orfeu da Conceição” e “As Feras” – teatro dos oprimidos
Além de cronista, Vinícius também foi compositor da Bossa Nova, com
clássicos como “Garota de Ipanema” e “Chega de saudade”.
42
Soneto da Fidelidade
De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Soneto de separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Rosa de Hiroshima
Pensem nas crianças / Mudas telepáticas,
Pensem nas meninas / Cegas inexatas, Pensem nas mulheres / Rotas alteradas,
Pensem nas feridas / Como rosas cálidas.
Mas, oh, não se esqueçam / Da rosa, da rosa!
Da rosa de Hiroshima, / A rosa hereditária,
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A rosa radioativa / Estúpida e inválida,
A rosa com cirrose, / A anti-rosa atômica. Sem cor, sem perfume, / Sem rosa, sem nada.
CECÍLIA MEIRELES
Nasceu no Rio de Janeiro. Foi professora primária
e universitária, tendo lecionado na Universidade do Rio
de Janeiro. Principal poetisa do nosso Modernismo,
recebeu post-mortem, o prêmio Machado de Assis,
atribuído pela Academia Brasileira de Letras.
Na obra de Cecília Meireles predominam
momentos de intenso intimismo, apresentados em
linguagem elevada e abstrata e com imagens
recorrentes (mar, areia, lua).
Obras: “Viagem” (1939), “Vaga música” (1942), “Mar absoluto” (1945),
“Doze noturnos de Holanda” (1952), “O romanceiro da Inconfidência” (1953)
O Romanceiro da Inconfidência
– Quatro anos de pesquisa sobre os elementos históricos da
Inconfidência Mineira; registro de toda a civilização do ouro.
“Liberdade, esta palavra
Que o sonho humano alimenta Que não há ninguém que explique
E ninguém que não entenda.”
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim magro, assim triste,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas,
eu não tinha este coração que nem se mostra.
44
Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil.
Em que espelho ficou perdida a minha face?
Motivo
Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta. Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou se desfaço,
– Não sei, não sei. Não sei se fico ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo:
– mais nada.
MARIO QUINTANA
Nasceu em Alegrete e,
posteriormente, radicou-se
em Porto Alegre, onde se
dedicou ao jornalismo e à
tradução de escritores
famosos como Maupassant,
Proust, Virgínia Woolf, entre
outros.
Na moderna poesia brasileira, Mário Quintana é, sem dúvida, um dos
poetas mais originais. Além de poemas trágicos e extremamente expressivos,
Quintana tem um finíssimo senso de humor. Sua poesia se caracteriza por um
profundo humanismo, no conteúdo, e na forma por uma difícil simplicidade.
45
A cidade, na poesia de Mario Quintana, é um espaço amistoso onde o eu-
lírico vivencia experiências quotidianas marcadas pela singeleza, mesmo
quando melancólicas.
Obras: “Rua dos cataventos” (1940), “Canções” (1946), “Sapato florido”
(1948), “O aprendiz de feiticeiro” (1950), “Espelho mágico” (1951), “Poesias”
(1962), “Do caderno H” (1973), “Apontamentos de história sobrenatural” (1976),
“A vaca e o hipogrifo” (1977), “Esconderijos do tempo” (1980), “Baú de
espantos” (1986), “Velório sem defunto” (1990)
Poeta da simplicidade
“Horror
Com seus OO de espanto, seus RR guturais, seu hirto H, HORROR é uma palavras de cabelos em pé, assustada da própria significação.”
“Arte de fumar
Desconfia dos que não fumam: esses não têm vida interior, não têm sentimentos. O cigarro é uma maneira disfarçada de suspirar...”
“Cartaz para uma Feira do Livro
Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem.”
“Leituras
Não, não te recomendo a leitura de Joaquim Manuel de Macedo ou de José de
Alencar. Que ideia foi essa de teu professor? Para que havias tu de os ler, se a tua avozinha já os leu? E todas as lágrimas
que ela chorou, quando era moça como tu, pelos amores de Ceci e da Moreninha, ficaram fazendo parte do teu ser, para sempre.
Como vês, minha filha, a hereditariedade nos poupa muito trabalho.”
Poeminha do contra
Todos estes que aí estão Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
Recordo ainda
Recordo ainda... e nada mais me importa... Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança, Algum brinquedo novo à minha porta...
Mas veio um vento de Desesperança
46
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta Todos os meus brinquedos de criança...
Estrada afora após segui... Mas, aí, Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:
Eu quero os meus brinquedos novamente! Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...
47
EXERCÍCIOS
1. Leia o poema “Consoada“, de Manuel Bandeira.
1. “Quando a Indesejada das Gentes chegar 2. (Não sei se dura ou caroável),
3. Talvez eu tenha medo, 4. Talvez sorria, ou diga:
5. – Alô, iniludível!
6. O meu dia foi bom, pode a noite descer.
7. (A noite com seus sortilégios.) 8. Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
9. A mesa posta,
10. Com cada coisa em seu lugar.”
Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo.
( ) No poema, o sujeito lírico manifesta, em imagens, a inconformidade
com a morte.
( ) Os quatro primeiros versos expressam as incertezas do sujeito lírico
diante da aproximação da morte.
( ) No verso 06, o sujeito lírico declara-se preparado para morrer, já que
sua vida foi adequadamente cumprida.
( ) Os versos 08 e 09 ressaltam o cuidado que se deve ter com os bens
materiais a fim de ter uma morte tranquila.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para
baixo, é
A) V–F–V–F.
B) F–F–V–V.
C) F–V–F– F.
D) V– F– F– V.
E) F– V– V– F.
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2. Leia Poema tirado de uma notícia de jornal, de Manuel Bandeira.
João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia
num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Em relação ao poema, analise a veracidade (V) ou falsidade (F) das
proposições abaixo.
( ) Trata-se de um texto em que há uma aproximação entre prosa e
poesia, tornando a divisão entre os gêneros literários menos rígida.
( ) Utiliza uma linguagem rebuscada que o distancia de uma notícia de
jornal, contradizendo o título.
( ) De um modo lírico, narra um acontecimento trágico, comum em
notícias de jornal.
( ) O sobrenome do protagonista evidencia o viés irônico da poesia de
Manuel Bandeira.
Assinale a alternativa que preenche corretamente os parênteses, de cima
para baixo.
A) V-V-F-V
B) V-F-V-V
C) F-V-V-F
D) V-V-F-F
E) F-F-V-F
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3. O livro “A Rosa do Povo“, de Carlos Drummond de Andrade, reúne
poemas
A) que foram supostamente escritos por vários personagens criados
pelo poeta, cada um dotado de perfil psicológico específico.
B) em que a influência simbolista deflagra um conjunto de metáforas
abstratas com associações entre cores e sons.
C) que seguem formas fixas e clássicas, as quais permitem retomar a
tradição do louvor da amada intocável e pura.
D) que narram episódios ocorridos em Itabira no século XIX, utilizando
o linguajar de zonas rurais minerais.
E) em que ocorrem reflexões introspectivas e intimistas ao lado de
outros que apelam à solidariedade entre os homens.
4. Leia as estrofes abaixo, de Vinícius de Moraes, e a afirmação que as
segue.
1 “Uma lua no céu apareceu
2 cheia e branca; foi quando, emocionada
3 a mulher a meu lado estremeceu
4 e se entregou sem que eu dissesse nada.
5 Larguei-as pela jovem madrugada
6 ambas cheias e brancas e sem véu
7 perdida uma, a outra abandonada
8 uma nua na terra, outra no céu.”
Por meio de versos ______ em que é perceptível um lirismo ______,
típico de sua poesia, Vinícius de Moraes aproxima a mulher e a lua, fundindo-
as, em alguns momentos, como acontece no verso de número ______.
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas acima.
A) octossílabos – amoroso – 06
B) heptassílabos – social – 07
C) decassílabos – moralizante – 08
D) octossílabos – despojado – 07
E) decassílabos – sensual – 06
50
5. Em relação às alternativas abaixo, assinale aquela que NÃO
corresponde a uma caracterização da poesia de Cecília Meireles.
A) Culto da beleza imaterial e valorização da transcendência.
B) Poesia universalista e de teor filosófico, em busca de um sentido da
vida.
C) Musicalidade bem construída, aliada a uma plasticidade das
imagens.
D) Ênfase do non-sense modernista e do poema-piada.
E) Ressonâncias da tradição clássica na construção métrica.
6. Considere as afirmações abaixo:
I – Mário Quintana usou desde o soneto até o poema em prosa para
encarar sua visão de mundo, irônica e melancólica, em que as possibilidades
formais aliam-se ao exame do dia a dia humilde e despretensioso do poeta e
de seus personagens.
II – Capaz de sonetos que honram a tradição camoniana, tais como o
“Soneto da separação” e o “Soneto da fidelidade”, Vinícius de Moraes
aproximou-se da bossa nova e da música popular brasileira e veio a se tornar
letrista de sambas e canções.
III – Em vários momentos da obra de Cecília Meireles a sensação de
vago e incorpóreo é associada à temática urbana revelada em cenas repletas
de humor e crítica ao provincianismo da elite paulista, tudo expresso em versos
cuja sonoridade explora as dissonâncias e a fala popular.
Quais estão corretas?
A) Apenas I.
B) Apenas III.
C) Apenas I e II.
D) Apenas II e III.
E) I, II e III.
51
PROSA – O ROMANCE DE 30
É a partir de 1930 que se vai organizar o moderno romance brasileiro, de
linha neorrealista, com histórias e personagens buscados na observação da
realidade e recriados pela fantasia dos autores.
O primeiro romance com tal perspectiva é “A Bagaceira” (1928) de José
Américo de Almeida, obra ainda fraca, mas pioneira, pois aborda problemas
sociais do Nordeste.
O romance de 30 é regionalista e possui uma perspectiva crítica social
com temática, em geral, agrária.
JOSÉ LINS DO REGO
Romances do ciclo da cana-de-
transição do engenho pra a usina.
Obras:
Do chamado ciclo da cana-de-açúcar: “Menino de engenho” (1932),
“Doidinho” (1933), “Banguê” (1934), “O moleque Ricardo” (1935), “Usina”
(1936) e “Fogo morto’’ (1943).
Do chamado ciclo do misticismo e do cangaço: “Pedra Bonita” (1938),
“Cangaceiros” (1953).
Fogo Morto – A primeira parte narra a vida de José
Amaro, homem amargurado e revoltado com a prepotência
dos grandes engenhos. Com inúmeros sofrimentos na vida,
acaba suicidando-se.
A segunda parte narra a vida do coronel Lula de
Holanda Chacon, dono do engenho de Santa Fé. Incapaz
de administrar o engenho, não admite sua decadência.
A terceira parte é sobre o Capitão Vitorino: ridicularizado nas duas
primeiras partes, assume a dimensão de um homem que luta pela liberdade,
transformando-se em herói quixotesco.
52
GRACILIANO RAMOS
Retrata o universo sertanejo nordestino, tanto na figura do fazendeiro
autoritário quanto no caboclo comum; o homem de inteligência limitada, vítima
das condições do meio natural e social, sem iniciativa, sem consciência de
classe, passivo ante os poderosos.
Obras: “Insônia”, “Angústia”, “São Bernardo”, “Vidas Secas”, “Memórias
do Cárcere”.
São Bernardo: Paulo Honório, bem-sucedido fazendeiro de Alagoas, atua
como personagem-narrador. A história nos é relatada num tempo posterior aos
fatos. Paulo relata seu processo de ascensão social que culmina na compra da
fazenda São Bernardo. Na busca por um herdeiro, casa-se com Madalena,
jovem e idealista professora. O ciúme doentio de Paulo Honório leva a jovem a
cometer suicídio, restando ao narrador apenas uma carta de despedida de sua
mulher. Pano de fundo: Revolução de 30.
Vidas Secas: Narrado em 3ª pessoa,
“Vidas Secas” é o romance no qual Graciliano
se volta aos problemas sociais do nordeste. A
saga da família de retirantes é relatada:
Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais novo, o
menino mais velho e a cadela Baleia
peregrinam pelo árido sertão buscando
sobrevivência.
Portinari
Trecho de Vida Secas
“A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pelo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras
supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos bicos dificultavam-lhe a comida e a bebida”. (...). Então Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a espingarda de pederneira, lixou-a, limpou-a com
saca-trapo e fez tenção de carregá-la bem para a cachorra não sofrer muito. Sinhá Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se cansavam de repetir a mesma pergunta: Vão
53
bulir com a Baleia? (...). Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos
os três, para bem dizer não se diferenciavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava cobrir o chiqueiro das cabras.”
JORGE AMADO
Retrata as lutas entre coronéis do cacau e exportadores, como em
“Terras do sem fim”.
1ª fase: “O país do carnaval”, (1931); “Cacau”,
(1933); “Suor”, (1934); “Jubiabá”, (1935); “Mar
morto”, (1936); “Capitães da areia”, (1937); “Terras
do Sem-Fim”, (1943); “São Jorge dos Ilhéus”,
(1944)
2ª fase: “Gabriela, cravo e canela”, (1958);
“Os pastores da noite”, (1964); “Dona Flor e seus
dois Maridos”, (1966); “Tenda dos milagres”,
(1969); “Teresa Batista cansada de guerra”, (1972);
“Tieta do Agreste”, (1977); “Tocaia grande”, (1984).
RACHEL DE QUEIROZ
O drama da seca no nordeste.
Linguagem enxuta e dinâmica.
Trecho de O quinze:
“O sol poente, chamejante, rubro, desaparecia rapidamente como um
afogado no horizonte próximo. Sombras cambaleantes se alongavam
na tira ruiva da estrada, que se vinha estirando sobre o alto pedregoso e ia sumir no casario dormente dum
arruado. Sombras vencidas pela miséria e pelo desespero que
arrastavam passos inconscientes, na derradeira embriaguez da fome.”
54
O capítulo selecionado de “O Quinze” aponta para a figura de Conceição,
moça de origem sertaneja, mas evoluída nos padrões culturais, que já não
aceita a condição submissa da mulher.
“Sentado na salinha da Rua S. Bernardo, o velho chapéu entre as pernas,
uma tira áspera de cabelos envesgando os olhos, Chico Bento conversava com Conceição e a avó sobre o futuro, o seu incerto futuro que a perversidade de
uma seca entregara aos azares da estrada e à promiscuidade miserável dum abarracamento de flagelados.”
ÉRICO VERÍSSIMO
1º ciclo: romances urbanos, em que retrata a
capital da província (Porto Alegre), a pequena cidade
do interior e suas personagens da pequena
burguesia e seus problemas morais e espirituais.
Obras: Romances: “Clarissa” (1933), “Caminhos
cruzados” (1935), “Música ao longe” (1936), “Um
lugar ao sol” (1936), “Olhai os lírios do campo”
(1938), “Saga” (1940), “O resto é silêncio” (1943)
2º ciclo: romance histórico.
Obras: “O Tempo e o Vento” (1ª parte) – “O Continente” (1949), (2ª parte)
“O Retrato” (1951) e (3ª parte) “O Arquipélago” (1961): obra cíclica sobre a
formação do Rio Grande do Sul.
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3º ciclo: grandes problemas que afligem a humanidade dos nossos dias -
discriminação racial, ditadura, perseguições políticas, autodeterminação, o
conflito capitalista, o comunismo.
Obras: “O senhor embaixador” (1965), “O prisioneiro” (1967), “Incidente
em Antares” (1971).
56
EXERCÍCIOS
1. “São Bernardo“, de Graciliano Ramos, tem por personagem
principal Paulo Honório, que
A) narra suas aventuras na jagunçagem e sua ascensão a feliz e
poderoso proprietário de latifúndio à beira do São Francisco.
B) expõe suas dúvidas sobre a fidelidade de sua mulher, com quem se
mudara para a cidade grande a fim de prosperar.
C) narra as agruras da vida de um proprietário de engenho de açúcar
decadente e abarrotado de dívidas e dúvidas.
D) expõe o quadro de disputas políticas em um pequeno município
alagoano às vésperas da proclamação da República.
E) narra sua ascensão, mediante violência e esperteza, de
despossuído rural a dono de uma fazenda grande e próspera.
2. Considere as afirmações seguintes sobre “Gabriela, Cravo e
Canela“, romance de Jorge Amado.
I. O romance, de 1958, inscreve o amor de Gabriela e Nacib no
contexto baiano relacionado à economia cacaueira.
II. O autor de “O País do Carnaval“, “Capitães de Areia” e “Tenda dos
Milagres“, em “Gabriela, cravo e canela“ realiza uma crônica de costumes da
cidade de Ilhéus, envolvida, na época, em transformações urbanísticas.
III. Gabriela, ao lado de Dona Flor e de Tereza Batista, celebrizou-se
como figura de mulher brasileira, exportando sua sensualidade para outros
continentes.
Quais estão corretas?
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas III.
D) Apenas I e II.
E) I, II e III.
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3. __________ , narra a violenta disputa entre dois coronéis rivais
pelas férteis terras do sul da Bahia, ambos movidos pela disposição de
enriquecer mediante o cultivo do cacau.
A alternativa que completa corretamente a lacuna da frase acima é
A) “Terras do Sem-Fim”, de Jorge Amado
B) “Fogo Morto”, de José Lins do Rego
C) “A Bagaceira”, de José Américo de Almeida
D) “São Bernardo”, de Graciliano Ramos
E) “O Quinze”, de Raquel de Queirós
4. “Irmão… é uma palavra boa e amiga. Se acostumaram a chamá-la
de irmã. Ela também os trata de mano, de irmão. Para os menores é como uma
mãezinha. Cuida deles. Para os mais velhos é como uma irmã que brinca
inocentemente com eles e com eles passa os perigos da vida aventurosa que
levam. Mas nenhum sabe que para Pedro Bala, ela é a noiva. Nem mesmo o
Professor sabe. E dentro do seu coração Professor também a chama de noiva.”
AMADO, Jorge. Capitães de Areia.
Considerando a obra e o autor do texto, assinale a alternativa incorreta.
A) O autor faz parte do romance regional de 30, quando se
aprofundaram as radicalizações políticas na realidade brasileira.
B) Jorge Amado representa a Bahia, “descobrindo” mazelas, violências
e identificando grupos marginalizados e revolucionários em “Capitães da
Areia”.
C) Dora, Pedro Bala e Professor são alguns dos personagens da
narrativa, que aborda a dramática vida dos camponeses das fazendas de
cacau no sul da Bahia.
D) O tom da narrativa aproxima-se do naturalismo, alternando trechos
de lirismo e crueza. O nível de linguagem é coloquial e popular.
E) “Capitães da Areia” pertence à primeira fase da produção de Jorge
Amado, quando era notório seu engajamento com a política de esquerda. Daí o
esquematismo psicológico: o mundo dividido em heróis (o povo) e bandidos (a
burguesia).
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5. O romance “Terras do Sem-Fim”, de Jorge Amado, narra
A) os conflitos sangrentos entre dois grupos de latifundiários cacaueiros
que disputam poder e terra no sul da Bahia.
B) a ascensão social e econômica de um ex-detento pobre que se toma
um próspero fazendeiro nordestino.
C) a paulatina politização de um trabalhador que, depois de conhecer a
marginalidade e a zona rural, se toma líder político.
D) os procedimentos conciliatórios entre o proletariado e a burguesia
comercial da cidade de Ilhéus no início do século XX.
E) as dificuldades encontradas por um bacharel urbano para
modernizar a produção em um decadente engenho de cana-de-açúcar.
6. Leia o texto abaixo, extraído do romance “O Quinze”, de Rachel de
Queiroz, e considere as afirmações que se seguem.
“O sol poente, chamejante, rubro, desaparecia rapidamente como um afogado
no horizonte próximo. Sombras cambaleantes se alongavam na tira ruiva da estrada, que se vinha
estirando sobre o alto pedregoso e ia sumir no casario dormente dum arruado.
Sombras vencidas pela miséria e pelo desespero que arrastavam passos inconscientes, na derradeira embriaguez da fome.”
I – A descrição da paisagem estabelece uma comparação entre
paisagens brasileiras e seus aspectos econômicos.
II – As imagens da terra assolada pela seca constituem um retrato das
condições adversas a que estão sujeitos os habitantes daquela região.
III – A plasticidade, da cena, expressa nas imagens de “sombras
cambaleantes” e “sombras vencidas”, representa a luta do nordestino com a
natureza hostil.
Quais estão corretas?
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas I e III.
D) Apenas II e III.
E) I, II e III.
59
TERCEIRA FASE DO MODERNISMO
A GERAÇÃO DE 45
Momento de Renovação - Com a transformação do cenário sócio-político
do Brasil, a literatura também se transformou: o fim da Era Vargas, a ascensão
e queda do Populismo, a Ditadura Militar e o contexto da Guerra Fria foram,
portanto, de grande influência na Terceira Fase.
Na prosa, tanto no romance quanto no conto, houve a busca de uma
literatura intimista, de sondagem psicológica e introspectiva, tendo como
destaque Clarice Lispector. O regionalismo, ao mesmo tempo, ganha uma nova
dimensão com a recriação dos costumes e da fala sertaneja, com Guimarães
Rosa penetrando fundo na psicologia do jagunço do Brasil central. A pesquisa
da linguagem foi um traço característico dos autores citados, sendo eles
chamados de instrumentalistas.
A geração de 45 surge com poetas opositores das conquistas e inovações
modernistas de 22, o que faz com que, na concepção de muitos estudiosos
(como Tristão de Athayde e Ivan Junqueira), esta geração seja tratada como
pós-modernista. A nova proposta, inicialmente, é defendida pela revista Orfeu
em 1947. Negando a liberdade formal, as ironias, as sátiras e outras
características modernistas, os poetas de 45 buscaram uma poesia mais
“equilibrada e séria”. No início dos anos 40, surgem dois poetas singulares, não
filiados esteticamente a nenhuma tendência: João Cabral de Melo Neto e Lêdo
Ivo. Estes considerados por muitos os mais importantes representantes da
geração de 1945.
GUIMARÃES ROSA
- Criação de uma linguagem única, formada através de arcaísmos,
neologismos, regionalismos, estrangeirismos, inversões sintáticas, exploração
dos efeitos rítmicos e sonoros da língua.
- Transcendência do regionalismo. Guimarães Rosa não se detém ao
regionalismo circunscrito aos limites geográficos, humanos e culturais de
determinada região, e sim, um regionalismo que se abre à dimensão universal.
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Obras: “Sagarana” (1946 –
contos e novelas regionalistas),
“Corpo de Baile” (1956 – novelas –
atualmente publicado em três
partes: “Manuelzão e Miguilim”, “No
Urubuquaquá, no Pinhém” e “Noites
do sertão”), “Grande Sertão:
Veredas” (1956 – romance),
“Primeiras estórias” (1962 – contos),
“Tutameia: Terceiras estórias” (1967 – contos), “Estas estórias” (1969 – contos)
Trecho de “Grande Sertão: Veredas”
“Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja.
Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser – se viu -;
e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito como nasceu, arrebitado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa.
Cara de gente, cara de cão; determinaram – era o demo. Povo prascóvio. Mataram. Dono dele nem sei quem for. Vieram emprestar minhas armas, cedi. Não tenho abusões. O senhor ri certas risadas... Olhe: quando é tiro de
verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente – depois, então, se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o sertão.”
CLARICE LISPECTOR
– Temática: introspecção humana, exploração do
mundo interior das personagens.
– Linguagem: subverte a estrutura dos tradicionais
gêneros narrativos, quebra a sequência de começo,
meio e fim, assim como a ordem cronológica dos
fatos. Constantes imagens, metáforas, antíteses,
paradoxos.
Romances: Um de seus mais conhecidos é “A
hora da Estrela” (1977); “Perto do Coração
61
Selvagem” (1943), “O Lustre” (1946), “A Cidade Sitiada” (1949), “A Maçã no
Escuro” (1961), “A Paixão segundo G.H.” (1964), “Uma Aprendizagem ou Livro
dos Prazeres” (1969), “Água Viva” (1973), “Um Sopro de Vida – Pulsações”
(1978)
Contos: “Alguns contos” (1952), “Laços de família” (1960), “A legião
estrangeira” (1964), “Felicidade clandestina” (1971), “A imitação da rosa”
(1973), “A via crucis do corpo” (1974), “Onde estivestes de noite?” (1974), “A
bela e a fera” (1979).
JOÃO CABRAL DE MELO NETO
- Linguagem objetiva: com poucas palavras se fala muito;
- Ausência de sentimentalismo;
- Reflexão sobre arte poética.
Obras: “Pedra do sono” (1942), “O engenheiro” (1945), “Psicologia da
composição” (1947), “O cão sem plumas” (1950), “Morte e vida severina”
(1965), “A educação pela pedra” (1966), “Museu de tudo” (1975), “Auto do
frade” (1984), “Sevilha andando” (1990)
João Cabral apresenta uma preocupação com a estética, com a
arquitetura da poesia, construindo palavra sobre palavra, como o engenheiro
coloca pedra sobre pedra. É o “poeta engenheiro”, que constrói uma poesia
calculada, racional, num evidente combate ao sentimentalismo choroso.
62
Morte e Vida Severina
O meu nome é Severino
não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar Severino de Maria;
Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta. E se somos Severinos
iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina:
que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia
Mas, para que me conheçam melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir a história de minha vida, passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra. Esta cova em que estás
Com palmos medidos e a conta menor
que tiraste em vida !
E de bom tamanho
nem largo nem fundo e a parte que te cabe
nesse latifúndio...
Psicologia da composição
Não a forma encontrada
como uma concha, perdida nos frouxos areais
como cabelos; mas a forma atingida
63
como a ponta do novelo
que a atenção, lenta, desenrola,
O ferrageiro de Carmona
Um ferrageiro de Carmona
Que me informava de um balcão: “Aquilo? É de ferro fundido,
foi a forma que fez não a mão. Só trabalho em ferro forjado
que é quando se trabalha ferro;
então corpo a corpo com ele; domo-o, dobro-o, até onde quero.”
EXERCÍCIOS
1. Sobre Guimarães Rosa, considere as afirmações abaixo.
I – Situa sua obra na paisagem mineira, manifestando preocupações de
ordem metafísica e valendo-se de uma linguagem inventiva, rica em
neologismos, formas da oralidade e liberdades linguísticas.
II – O sertão, na obra do autor, pode ser visto como a metáfora do
mundo, pois nele têm lugar reflexões que, poeticamente, transcendem a
realidade regional e social.
III – É um regionalista que se atém à descrição da paisagem mineira e ao
falar mineiro, tendo a sua obra a mesma dimensão pitoresca daquelas
realizadas pelos regionalistas anteriores.
Quais estão corretas?
A) Apenas I.
B) Apenas I e II.
C) Apenas I e III.
D) Apenas III.
E) I, II e III.
64
2. Em relação aos contos de Clarice Lispector, analise os itens abaixo.
I – Denúncia da violência na cidade moderna, privi legiando a visão
externa aos acontecimentos e a sua avaliação.
II – Preocupação em revelar a realidade social, apontando maneiras de
sobrepor-se aos obstáculos que impedem a ascensão social.
III – Narrativa intimista, preocupada em revelar o interior das
personagens, que se encontram frequentemente em processo de
autoconhecimento.
Quais deles predominam nos contos da autora?
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas III.
D) Apenas I e III.
E) I, II e III.
3. Sobre “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto, é
correto afirmar que
A) narra as agruras por que passa uma família nordestina composta por
um vaqueiro despossuído, sua mulher e dois meninos, acompanhados por uma
cadela.
B) expõe as dificuldades por que passa o nordestino despossuído que
migra do árido sertão, passa pelo agreste e chega aos alagados de Recife.
C) expõe a miséria e a insalubridade da vida nos morros de Salvador
ao narrar a experiência de um sertanejo que se adapta com dificuldades ao
hostil ambiente urbano.
D) narra a experiência de um nordestino que, para sobreviver no sertão
dominado pelo coronelismo e pela arbitrariedade, se converte em romeiro e
pregador da palavra divina.
E) expõe os dilemas do nordestino pobre que, oprimido pelo chefe
político do povoado, oscila entre tornar-se cangaceiro ou migrar para a cidade
grande.
65
CONCRETISMO
Em 1956, a Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada na cidade de
São Paulo, lançou oficialmente o mais controverso movimento de poesia
vanguardista brasileira: o Concretismo.
– verbal (aspecto sintático e semântico)
– oral (aspecto sonoro)
– visual (aspecto gráfico)
Criada por Décio Pignatari (1927-), Haroldo de Campos (1929-2003) e
Augusto de Campos (1931-), a poesia concreta era um ataque à produção
poética da época, dominada pela geração de 1945.
Exemplo destas propostas pode ser encontrado no poema “Terra” de
Décio Pignatari:
ra terra ter rat erra ter
rate rra ter rater ra ter raterr a ter
raterra terr araterra ter
raraterra te rraraterra t erraraterra
terraraterra
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NEOCONCRETISMO
O Neoconcretismo foi um movimento artístico surgido no Rio de Janeiro,
em fins da década de 1950, como reação ao Concretismo ortodoxo.
Os neoconcretistas procuravam novos caminhos dizendo que a arte não é
um mero objeto: tem sensibilidade, expressividade, subjetividade, indo muito
além do mero geometrismo puro.
Eram contra as atitudes cientificistas e positivistas na arte. A recuperação
das possibilidades criadoras do artista (não mais considerado um inventor de
protótipos industriais) e a incorporação efetiva do observador (que ao tocar e
manipular as obras torna-se parte delas) apresentam-se como tentativas de
eliminar a tendência técnico-científica presente no Concretismo.
Manifesto neoconcreto
No dia 23 de março de 1959, o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil
(dirigido por Reynaldo Jardim, participante do movimento) publicou o
Manifesto Neoconcreto, assinado por Ferreira Gullar, Reynaldo Jardim,
Theon Spanudis, Amílcar de Castro, Franz Weissmann, Lígia Clark e Lígia
Pape.
As primeiras exposições de Arte Neoconcreta
No mesmo dia da publicação do Manifesto, ocorreu a 1ª Exposição de
Arte Neoconcreta, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com a
presença dos sete artistas assinantes do Manifesto. Duas outras exposições
nacionais de arte ocorreram nos anos seguintes: uma em 1960, no Ministério
da Educação do Rio de Janeiro, e outra em 1961, no Museu de Arte Moderna
de São Paulo.
67
EXERCÍCIOS
1. Considere as seguintes afirmações sobre o Concretismo.
I – Buscou na visualidade um dos suportes para atingir rupturas radicais
com a ordem discursiva da língua portuguesa.
II – Teve como integrantes fundamentais Haroldo de Campos, Augusto
de Campos e Décio Pignatari.
III – Foi um projeto de renovação formal e estética da poesia brasileira,
cuja importância fica restrita à década de 1950.
Quais estão corretas?
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas III.
D) Apenas I e II.
E) I, II e III.
2. Leia o poema de Haroldo de Campos.
“de sol a sol
soldado de sal a sal
salgado
de sova a sova sovado
de suco a suco sugado
de sono a sono
sonado
sangrado de sangue a sangue”
Considere as afirmações que seguem.
I – O poema explora as relações entre as palavras, rompendo com a
sintaxe e com a estrutura morfológica da frase.
II – Entre os recursos empregados, estão o paralelismo das imagens, a
repetição dos sons e a abolição dos verbos.
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III – A utilização das minúsculas reforça a valorização do verso
tradicional e colabora para a manutenção da forma sintética do poema.
Quais estão corretas?
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas III.
D) Apenas I e II.
E) I, II e III.
3. Leia o poema abaixo, de Décio Pignatari, e considere as afirmações
que seguem.
beba coca cola babe cola beba coca
babe cola caco caco
cola cloaca.
I – Trata-se de um exemplo de poesia concreta, vanguarda do século
XX que alterou radicalmente os recursos materiais da construção poética,
valendo-se, inclusive, de técnicas da publicidade.
II – No poema, o uso do imperativo e o jogo lúdico das aliterações
contribuem para denunciar a forma persuasiva e sedutora da mensagem
publicitária que induz ao consumo.
III– O último verso é a síntese da intenção satírica do poema, que
desqualifica o produto anunciado e, por extensão, a sociedade de consumo
que ele representa.
Quais estão corretas?
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas III.
D) Apenas II e III.
E) I, II e III
69
4. Sobre o Concretismo, é correto afirmar que:
A) caracterizou-se pelo uso abundante do soneto e de outras formas
fixas de inspiração clássica.
B) foi responsável pela afirmação de uma poesia essencialmente
musical e preocupada com a questão da nacionalidade.
C) produziu uma poesia cuja preocupação central foi a exploração do
mágico e do sobrenatural.
D) contribuiu para a afirmação de uma poesia marcada pelo extremo
sentimentalismo.
E) ao promover a desintegração do verso e da palavra, contribuiu para
a renovação da poesia brasileira.
A CANÇÃO POPULAR
Bossa Nova
Derivada do samba e
com forte influência do jazz, a
Bossa Nova é um movimento
da música popular brasileira
do final dos anos 50, lançado
por João Gilberto, Tom Jobim,
Vinícius de Moraes e jovens
cantores e/ou compositores de
classe média da zona sul
carioca.
De início, o termo era apenas relativo a um novo modo de cantar e tocar
samba naquela época, ou seja, a uma reformulação estética dentro do
moderno samba carioca urbano. Com o passar dos anos, a Bossa Nova
tornou-se um dos movimentos mais influentes da história da música popular
brasileira, conhecido em todo o mundo. Um grande exemplo disso é a música
70
“Garota de Ipanema” composta em 1962 por Vinícius de Moraes e Antônio
Carlos Jobim.
Garota de Ipanema
Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina Que vem e que passa
No doce balanço, a caminho do mar
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar
Ah, porque estou tão sozinho
Ah, porque tudo é tão triste Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha Que também passa sozinha
Ah, se ela soubesse Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça E fica mais lindo
Por causa do amor
Chega de saudade
Vai minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser Diz-lhe numa prece
Que ela regresse Porque eu não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela não há paz Não há beleza
É só tristeza e a melancolia Que não sai de mim, não sai de mim, não sai
Mas se ela voltar, se ela voltar Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar Do que os beijinhos que eu darei
Na sua boca
Dentro dos meus braços
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Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim
Não há paz
Não há beleza É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai
Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim Que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim
Não quero mais esse negócio de você longe de mim Vamos deixar desse negócio de você viver sem mim
TROPICALISMO
A ditadura militar no Brasil foi um governo iniciado em abril de 1964, após
um golpe articulado pelas Forças Armadas, em 31 de março do mesmo ano,
contra o governo do presidente João Goulart.
Nos anos 60, cultura e política se confundem.
– MÚSICA: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os
Mutantes e Tom Zé
– ARTES PLÁSTICAS: Hélio Oiticica
– CINEMA: Cinema Novo, de Gláuber Rocha
– TEATRO: José Celso Martines Corrêa
O Tropicalismo foi um movimento que não pretendeu elaborar um novo
estilo musical, mas instaurar uma nova atitude. Trata-se de uma tomada de
oposição de alguns artistas renovadores na área de várias atividades, como o
teatro, o cinema, as artes plásticas e, sobretudo, a música popular.
72
III FESTIVAL DE MPB DA TV RECORD (1967)
1º Lugar: Ponteio (Edu Lobo e Capinam) – Intérpretes: Edu Lobo, Marília
Medalha e Quarteto Novo;
2º Lugar: Domingo no Parque (Gilberto Gil) – Intérpretes: Gilberto Gil e
Os Mutantes;
3º Lugar: Roda Viva (Chico Buarque) – Intérpretes: Chico Buarque e
MPB-4.
4º Lugar: Alegria, alegria (Caetano Veloso) – Intérpretes: Caetano
Veloso e Beat Boys.
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5º Lugar: Maria, Carnaval e Cinza (Luís Carlos Paraná) – Intérprete:
Roberto Carlos.
Alegria, alegria (Caetano Veloso)
Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro Eu vou...
O sol se reparte em crimes Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas Eu vou...
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras Bomba e Brigitte Bardot...
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia Eu vou...
Por entre fotos e nomes Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos Eu vou
Por que não, por que não...
Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola Sem lenço e sem documento,
Eu vou...
Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento E uma canção me consola
Eu vou... Por entre fotos e nomes Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone No coração do Brasil...
Ela nem sabe até pensei Em cantar na televisão
O sol é tão bonito Eu vou...
74
Sem lenço, sem documento Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor Eu vou...
Por que não, por que não... (4x)
Domingo no parque (Gilberto Gil)
O rei da brincadeira / Ê, José! / O rei da confusão / Ê, João!
Um trabalhava na feira / Ê, José! / Outro na construção / Ê, João!...
A semana passada / No fim da semana / João resolveu não brigar / No domingo de tarde / Saiu apressado / E não foi pra Ribeira jogar capoeira! / Não
foi pra lá / Pra Ribeira, foi namorar...
O José como sempre / No fim da semana / Guardou a barraca e sumiu / Foi
fazer no domingo / Um passeio no parque / Lá perto da Boca do Rio...
Foi no parque / Que ele avistou Juliana / Foi que ele viu / Foi que ele viu
Juliana na roda com João / Uma rosa e um sorvete na mão / Juliana seu sonho, uma ilusão / Juliana e o amigo João...
O espinho da rosa feriu Zé / (Feriu Zé!) (Feriu Zé!) / E o sorvete gelou seu coração / O sorvete e a rosa / Ô, José! / A rosa e o sorvete / Ô, José! / Foi
dançando no peito / Ô, José! / Do José brincalhão / Ô, José!...
O sorvete e a rosa / Ô, José! / A rosa e o sorvete / Ô, José! Oi girando na mente / Ô, José! / Do José brincalhão / Ô, José!...
Juliana girando / Oi girando! / Oi, na roda gigante / Oi, girando! / Oi, na roda gigante / Oi, girando! / O amigo João (João)...
O sorvete é morango / É vermelho! / Oi, girando e a rosa / É vermelha! / Oi girando, girando / É vermelha! / Oi, girando, girando...
Olha a faca! (Olha a faca!) / Olha o sangue na mão / Ê, José! / Juliana no chão / Ê, José! / Outro corpo caído / Ê, José! / Seu amigo João / Ê, José!...
Amanhã não tem feira / Ê, José! / Não tem mais construção / Ê, João! / Não
tem mais brincadeira / Ê, José! / Não tem mais confusão / Ê, João!... / Êh! Êh!
Êh Êh
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EXERCÍCIOS
1. Leia o texto abaixo.
______ é o movimento musical iniciado no fim da década de 1960 que,
influenciado, entre outros, pelo ______ de ______, apresentou uma síntese
propositadamente caótica de valores e tendências estéticas e proporcionou
uma discussão de questões referentes à identidade nacional.
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas desse texto.
A) Tropicalismo – Modernismo – Carlos Drummond de Andrade e
Manuel Bandeira
B) Concretismo – Tropicalismo – Haroldo de Campos e Augusto de
Campos
C) Tropicalismo – Concretismo – Haroldo de Campos e Augusto de
Campos
D) Tropicalismo – Concretismo – Carlos Drummond de Andrade e
Manuel Bandeira
E) Concretismo – Modernismo – Carlos Drummond de Andrade e
Manuel Bandeira
2. Leia o excerto de “Pela Internet”, canção de Gilberto Gil.
01. “Criar meu website
02. Fazer minha homepage
03. Com quantos gigabytes 04. Se faz uma jangada
05. Um barco que veleje 06. Um barco que veleje nesse infomar
07. Que aproveite a vazante da infomaré
08. Que leve meu e-mail até Calcutá [...]”
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do
comentário que segue, sobre a canção de Gilberto Gil.
Gilberto Gil explora, em seus versos, o novo sentido de ______
introduzido pela tecnologia da Internet; além disso, utiliza ______
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popularizados pela Informática e cria ______, como nos versos
______, que poetizam os procedimentos da nova ciência.
A) globalização – vocábulos – neologismos – 01 e 02
B) virtualidade – nomes – imagens metafóricas – 01 e 08
C) navegação – estrangeirismos – imagens metafóricas – 06 e 07
D) globalização – galicismos – símbolos – 03 e 04
E) navegação – orientalismos – topônimos – 06 e 07
3. Leia os versos abaixo, da canção “Pra Dizer Adeus”, de Tony
Bellotto e Paulo Miklos, da banda Os Titãs.
“Você apareceu do nada E você mexeu demais comigo
Não quero ser mais um amigo Você nunca me viu sozinho
E você nunca me ouviu chorar
Não dá para imaginar quando É cedo ou tarde demais,
Pra dizer adeus, pra dizer jamais”
Em relação ao excerto acima, são feitas as seguintes afirmações.
I – A canção apresenta características típicas da poesia
contemporânea, como versos livres, e não uti liza procedimentos tradicionais
como rimas, paralelismos e repetições anafóricas.
II – Nesses versos, que se dirigem a um alguém (você), que pode ser
homem ou mulher, o poeta não define, com clareza, o tipo de sentimento que
nutre por essa pessoa.
III – Com exceção dos três últimos versos, que se encadeiam, os demais
constituem unidades de sentido autônomas e descontínuas.
Quais estão corretas?
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas I e II.
D) Apenas II e III.
E) I, II e III.
77
4. Leia os dois fragmentos abaixo:
I – 1 Todo dia ela faz tudo sempre igual
2 Me acorda às seis horas da manhã 3 Me sorri um sorriso pontual
4 E me beija com a boca de hortelã 5 Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
6 E essas coisas que diz toda mulher
7 Diz que está me esperando pro jantar 8 E me beija com a boca de café
[...] (Chico Buarque de Holanda)
II –
1 quando eu chego em casa nada me consola 2 você está sempre aflita
3 com lágrimas nos olhos de cortar cebola 4 você está tão bonita 5 você traz a coca-cola
6 eu tomo 7 você bota a mesa
8 eu como eu como eu como eu como eu como 9 você
10 não tá entendendo nada do que eu digo
11 eu quero é ir-me embora 12 eu quero é dar o fora
[...] (Caetano Veloso) Considere as seguintes afirmações sobre os fragmentos acima.
I – As duas canções apresentam, em comum, a tematização do
cotidiano e dos atos automatizados da existência banal.
II – Nos versos selecionados, há uma preocupação com os
procedimentos poéticos, como rimas, repetições e paralelismos.
III – O verbo “como” (v. 8) e o pronome “você” (v. 9), da canção de
Caetano, permitem uma dupla leitura, respectivamente, quanto ao significado e
à função sintática.
Quais estão corretas?
A) Apenas I
B) Apenas II.
C) Apenas I e II.
D) Apenas II e III.
E) I, II e III.
78
Gabarito
Pré-Modernismo
1.B 2.E 3.B 4.E 5.E 6.E 7.E
8.A 9.D 10.B 11.B 12.E
Vanguardas Europeias
1.E 2.A 3.E 4.D 5.B
Segunda Fase do Modernismo
1.E 2.B 3.E 4.E 5.C 6.C
Prosa - O Romance de 30
1.E 2.E 3.A 4.C 5.A 6.D
Terceira Fase do Modernismo (1945-1980) – A Geração de 45
1.B 2.C 3.B
Concretismo
1.D 2.D 3.E 4.E
A Canção Popular
1.C 2.A 3.D 4.E