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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO HANDEBOL VOTO DIVERGENTE Natureza: PEDIDO DE REVISÃO N.o 001/2017 Requerente: MANOEL LUIZ OLIVEIRA Requerente: RICARDO LUIZ DE SOUZA Requerente: JEFFERSON AFONSO CESAR DA SILVA OLIVEIRA Requerido: FEDERAÇÃO DE HANDEBOL DO ESTADO DO CEARÁ Requerido: FABIANO LIMA CAVALCANTE Relator: DR. PAULO ROBERTO AGOSTINI FILHO Dispensado o relatório. 1. DA COMPETÊNCIA DO STJD PARA INSTAURAÇÃO DE PAINEL ARBITRAL O primeiro ponto que deve ser analisado e enfrentado por todos, a fim de que se estabeleça um precedente seguro para esta corte, é a questão da competência ou não deste Tribunal para julgar a matéria ventilada no processo arbitral. Cumpre esclarecer, de logo, que além de outras questões de mérito, o pano de fundo trazido pelos Autores do Pedido de Revisão é o fato de que o STJD, com base no parágrafo primeiro do artigo 59 do seu Estatuto, não seria competente para julgar a matéria pela ausência de natureza associativa da celeuma. Todavia, peço licença para discordar desta argumentação. Inicialmente cumpre esclarecer que a competência do STJD é absoluta para atuar como juízo arbitral. A Constituição Federal em seu artigo 217, I, reconhece a autonomia das entidades desportivas quanto a sua organização e funcionamento e, em razão do princípio constitucional da autonomia da vontade associativa (CF art. 5°, incisos XVII e XVIII), é possível e perfeitamente cabível a anuência dos associados sobre a modificação do Estatuto para atribuir ao STJD, como assim foi, a função de juízo arbitral.

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Page 1: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO HANDEBOL · PDF filesuperior tribunal de justiÇa do handebol voto divergente natureza: pedido de revisÃo n.o 001/2017 requerente: manoel luiz oliveira

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO HANDEBOLVOTO DIVERGENTE

Natureza: PEDIDO DE REVISÃO N.o 001/2017 Requerente: MANOEL LUIZ OLIVEIRA

Requerente: RICARDO LUIZ DE SOUZA Requerente: JEFFERSON AFONSO CESAR DA

SILVA OLIVEIRA Requerido: FEDERAÇÃO DE HANDEBOL DO ESTADO DO CEARÁ

Requerido: FABIANO LIMA CAVALCANTE Relator: DR. PAULO ROBERTO AGOSTINI

FILHO

Dispensado o relatório.

1. DA COMPETÊNCIA DO STJD PARA INSTAURAÇÃO DE PAINEL ARBITRAL

O primeiro ponto que deve ser analisado e enfrentado por todos, a fim de que se

estabeleça um precedente seguro para esta corte, é a questão da competência ou não deste

Tribunal para julgar a matéria ventilada no processo arbitral.

Cumpre esclarecer, de logo, que além de outras questões de mérito, o pano de

fundo trazido pelos Autores do Pedido de Revisão é o fato de que o STJD, com base no

parágrafo primeiro do artigo 59 do seu Estatuto, não seria competente para julgar a

matéria pela ausência de natureza associativa da celeuma.

Todavia, peço licença para discordar desta argumentação. Inicialmente cumpre

esclarecer que a competência do STJD é absoluta para atuar como juízo arbitral. A

Constituição Federal em seu artigo 217, I, reconhece a autonomia das entidades

desportivas quanto a sua organização e funcionamento e, em razão do princípio

constitucional da autonomia da vontade associativa (CF art. 5°, incisos XVII e XVIII), é

possível e perfeitamente cabível a anuência dos associados sobre a modificação do

Estatuto para atribuir ao STJD, como assim foi, a função de juízo arbitral.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO HANDEBOLAssim sendo, o Estatuto da CBHb, com o aval de todos os associados, inclusive

do Sr. Manoel Luiz, requerente do pedido de revisão, entendeu por inserir entre as

atribuições do STJD a competência para funcionar como [uízo Arbitral. Vejamos:

ESTATUTO

Art. 59. A organização da justiça, do processo, das infrações e respectivas penalidades, obedecerãoàs disposições contidas no Código Brasileiro de Justiça Desportiva e na forma da Lei, sendoexercida pelos seguintes órgãos:

I - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DESPORTIV A;

§1° Aos órgãos enumerados nos incisos I e II acima, unidades autônomas e independentes daCBHb, compete processo ar e julgar com exclusividade na modalidade de Handebol, as questões dedescumprimento de normas relativas à disciplina e à competições desportivas, sempre asseguradaampla defesa e contraditório, ressalvados os pressupostos processuais estabelecidos nos parágrafos1° e 2° do Art. 217 da Constituição Federal, sendo igualmente competência sua funcionar comoórgão arbitral e de mediação para resolver conflitos de ordem associativa no âmbito da CBHb,conforme previsto neste Estatuto.

Art. 5° (...)

§ 1° (....) cabe ao órgão dirimir quaisquer conflitos decorrentes:I - da interpretação e cumprimento deste estatuto;II - das relações de ordem associativa entre os membros dos Poderes da CBHb(...)§ 2° - As partes envolvidas com a modalidade em razão deste Estatuto renunciam expressamenteao direito de buscar a tutela do Poder Judiciário para dirimir os conflitos conforme estabelecidono parágrafo anterior sujeitando-se ao que vier a ser decidido pelo Órgão Arbitral eleito noparágrafo anterior."

Por outro lado, o Regimento Interno do STJD é enfático:

REGIMENTO INTERNO

Art. 5°. Ao STJD do Handebol compete:

I. Processar e julgar originariamente:(...)c) os membros de poderes e órgãos da entidade nacional de administração do desporto;

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO HANDEBOLA Lei 9.615/98 (Lei Geral sobre Desportos), que regula a prática desportiva no

Brasil e traz os princípios atinentes, inclusive, sobre a gestão do desporto, por sua vez,

pondera que o exercício da administração das entidades é atividade econômica e deve se

pautar nas seguintes diretrizes:

CAPÍTULO IDISPOSIÇÕES INICIAIS

CAPÍTULO IIDOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAISArt. 2°.O desporto, como direito individual, tem como base os princípios:(...) .XII - da eficiência, obtido por meio do estímulo à competência desportiva e administrativa.Parágrafo único. A exploração e a gestão do desporto profissional constituem exercíciode atividade econômica sujeitando-se, especificamente, à observância dos princípios:(Incluído pela Lei n? 10.672, de 2003)I - da transparência financeira e administrativa; (Incluído pela Lei n" 10.672, de 2003)11 - da moralidade na gestão desportiva; (Incluído pela Lei n" 10.672, de 2003)111 - da responsabilidade social de seus dirigentes; (Incluído pela Lei nO10.672, de 2003)

Posto isso, não tem como o STJD negar a sua competência arbitral, vez que a

gestão profissional do desporto dele faz parte. E no caso do procedimento arbitral

instaurado, a subsunção dos fatos à norma é cristalina. O pleito eleitoral visa eleger de

forma democrática os representantes do Handebol do Brasil, sendo que tanto o Estatuto da

CBHb, quanto a Lei 9615/98 (Lei Pelé), trazem requisitos de elegibilidade para tal a

candidatura, o que inclui o cumprimento sobremaneira de tais instrumentos.

O que se observa ao longo do processo arbitral é a acusação de gestão temerária

por parte do Sr. Manoel Luiz, causa de pedir do requerimento de instauração do processo

arbitral, a qual revestiu-se de legitimidade pelo fato de que trouxe para discussão o não

cumprimento da lei e do estatuto da confederação.

Não nos resta, neste momento, esmiuçar o que consta no referido processo, visto

que a sentença arbitral resume as acusações e os documentos que lastrearam o

procedimento, o que, numa visão mais acurada, sem,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO HANDEBOLverifica-se o contraditório e a ampla defesa que necessariamente levaram o julgador, no

seu livre convencimento, a entender pela gestão temerária. Implicando, essencialmente,

infração aos princípios constantes no parágrafo único do artigo 2° da Lei 9.615/98 acima

citado e, repita-se, ao Estatuto Confederativo.

Neste contexto, o inciso I do artigo 5° do Estatuto da CBHb, aprovado pela

Assembleia Geral, é absolutamente objetivo ao dar competência para o STJD, através do

painel de arbitragem para" dirimir quaisquer conflitos decorrentes: I - da interpretação e

cumprimento deste estatuto;"

Independente ao nome a que se deu ao pedido de abertura do juízo arbitral,

repita-se, o pano de fundo consistiu na análise de gestão temerária por parte do Sr. Manoel

Luiz frente a CBHb, análise que necessariamente implicaria na apreciação legal da sua

condição de elegibilidade, o que, de fato, veio a ocorrer. Ora, o processo arbitral é

caracterizado por certa flexibilidade no que toca a construção do objeto litigioso que, via

de regra, vai se construindo até se findar com o termo de arbitragem que acaba por se

tornar o parâmetro para a higidez da sentença arbitral.

Por outro lado, a atuação da Comissão Eleitoral não afasta a competência

arbitral do STJD, uma vez que tal Comissão tem a atribuição de conduzir o pleito eleitoral,

em todos os aspectos, mas que, especificamente no tocante à avaliação de denúncias de

irregularidades, a referida Comissão se declarou incompetente para julgar o mérito das

denúncias e avaliar se houve ou não descumprimento do estatuto, o que só reforçou,

naquela ocasião, a competência do Painel Arbitral do STJD para dirimir questões atinentes

ao cumprimento ou descumprimento da Lei e Estatuto. Vejamos:

(2) Acerca do pedido de impugnação de candidatura formuladopela Chapa MOVIMENTO PARTICIPA HANDEBOL, decidiram osmembros, por unanimidade, pela REJEIÇÃO do pedido, sob osfundamentos adiante resumidos: a impugnação se baseia em dois

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO HANDEBOLaspectos, ausência de prestação de contas e gestão temerária dosatuais dirigentes, candidatos à reeleição, infringindo, dessamaneira, os dispositivos legais e regimentais citados na inicial. Paraos membros do Conselho Eleitoral, contudo, as duas circuntâncias,em que pese a seriedade e potencial gravidade das acusações, nãorestaram formalmente demonstradas e capazes de motivar a graveconsequência pretendida pela Chapa impugnante. Seria necessário,na verdade, a submissão dos fatos denunciados às instânciaspróprias de julgamento (administrativa ej ou judicial), sob o mantodo devido processo legal e contraditório, para que, diante de umaconstatação definitiva de descumprimento das normas pertinentes,incluindo o Estatuto da Confederação, pudessem surtir os efeitospretendidos em relação aos atuais gestores, entre eles a condição deinegibilidade para cargos diretivos. (...). Não caberia a estaComissão a análise dos documentos contábeis ou qualquer juízo devalor quanto ao desempenho administrativo de qualquer doscandidatos frente a instituições públicas ou privadas, mas tãosomente a verificação das condições de elegibilidade impostas pelalei e pelo Estatuto. Dessa maneira, inexistindo ordemadministrativa ou judicial emanada pelos órgãos competentes(Assembleia ou Judiciário), .atestando de forma definitiva as sériasacusações lançadas na impugnação, deverá prevalecer o princípioconstitucional da presunção de inocência."

Por estes motivos, resta evidente a competência absoluta do STJD para funcionar

como juízo arbitral e, no que tange a matéria, ser de sua competência decidir sobre

questões atinentes ao descumprimento do Estatuto e da Lei pelos seus dirigentes.

2. DA IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO DE REVISÃO

Enfrentada a possibilidade do STJD ter instaurado para o caso o impugnado

painel arbitral, cumpre-nos esclarecer, agora, sobre a possibilidade jurídica do pedido de

Revisão de Sentença Arbitral.

Não restam dúvidas que o Código Desportivo possui em seu corpo regulamentar

a figura do Pedido de Revisão, esculpido em seu artigo 112. In verbis:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO HANDEBOL

CÓDIGO DESPORTIVOSecao IX

Da Revisão

Art. 112. A revisão dos processos findos será admitida:I - quando a decisão houver resultado de manifesto erro de fato ou de falsa prova;II - quando a decisão tiver sido proferida contra literal disposição de lei ou contra aevidencia da prova;III - quando, apos a decisão, se descobrirem provas da inocência do punido ou deatenuantes relevantes. (NR).

Entretanto, a Lei de Introdução ao Código Civil desponta que a lei especial deve

prevalecer sobre a lei geral, sendo, inclusive, entendimento sumulado do STJ:

Inteligência da Súmula 199 do STJ. 4. "A teor do disposto no art. 2°, § 2°, da Lei de

Introdução ao Código Civil, prevalece a lei especial sobre a geral, ainda que

posteriormente editada, caso não haja revogação expressa de uma ou outra.

Pois bem! Como sabemos, o Código Desportivo Brasileiro tem como espelho a Lei

Pelé, diploma ao qual deve todo respeito, mas a sua origem é plasmada em instrumento

normativo que. sequer tem força de Decreto, apesar de reconhecidamente prever os

procedimentos dos órgãos judicantes administrativos.

o fato é que ao se afirmar que o STJD é competente para atuar como Juízo

Arbitral, condição sine qua non é a sua submissão a Lei de Arbitragem, ou seja, Lei

9.307/1996, face sua especialidade.

Dito isto, é imperioso o fato de que inexiste na Lei de Arbitragem a

previsibilidade de pedido de revisão de sentença arbitral, justamente pelo fato de que a

jurisdição arbitr'al encerra-se com a prolação da sentença arbitral. Na verdade, de acordo

com o artigo 29 da Lei 9.307/96, a arbitragem é sacrame tada quando do envio da

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO HANDEBOLsentença arbitral às partes, por via postal ou por outro meio qualquer de comunicação, o

que foi o caso dos autos. Vejamos:

Art. 29. Proferida a sentença arbitral, dá-se por finda a arbitragem, devendo o árbitro, ou o

presidente do tribunal arbitral, enviar cópia da decisão às partes, por via postal ou por

outro meio qualquer de comunicação, mediante comprovação de recebimento, ou, ainda,

entregando-a diretamente às partes, mediante recibo.

Ato contínuo, a única oportunidade de recurso administrativo conferida pela Lei

de Arbitragem é a disposta no seu artigo 30, o qual é taxativo:

Art. 30. No prazo de 5 (cinco) dias, a contar do recebimento da notificação ou da ciência

pessoal da sentença arbitral, salvo se outro prazo for acordado entre as partes, a parte

interessada, mediante comunicação à outra parte, poderá solicitar ao árbitro ou ao tribunal

arbitral que:

I - corrija qualquer erro material da sentença arbitral;

II - esclareça alguma obscuridade, dúvida ou contradição da sentença arbitral, ou se

pronuncie sobre ponto omitido a respeito do qual devia manifestar-se a decisão.

Após isso, compete unicamente ao interessado, de acordo com o artigo 33, buscar

a nulidade da sentença na esfera Judicial, vejamos:

Art. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário competente a

declaração de nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos nesta Lei.

E os casos de nulidade estão elencados no artigo 32 da Lei de Arbitragem.

Inclusive, é de bom alvitre ressaltar que o artigo 33 dispõe sobre prazo peremptório para

ingressar em juízo, ou seja, a parte deverá ingressar com demanda para a declaração de

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO HANDEBOLnulidade da sentença arbitral no prazo de até 90 (noventa) dias após o recebimento da

notificação da respectiva sentença.

Afora isso, a Lei Arbitral prevê, ainda, que a parte que pretender arguir questões

relativas a nulidade, invalidade ou ineficácia da convenção de arbitragem deverá fazê-Io

na primeira oportunidade que tiver de se manifestar, após a instituição da arbitragem.

Este é a regra do artigo 20:

Art. 20. A parte que pretender argüir questões relativas à competência, suspeição ou

impedimento do árbitro ou dos árbitros, bem como nulidade, invalidade ou ineficácia da

convenção de arbitragem, deverá fazê-lo na primeira oportunidade que tiver de se

manifestar, após a instituição da arbitragem.

Neste ponto, até visualizo que foi levantado pela parte requerente possível

nulidade da convenção de arbitragem, senão por um motivo, por mais de um. Todavia, o

fato de não ter sido acolhido pelo STJD em sentença arbitral não o autoriza a fazer um

pedido de revisão, pois, o próprio parágrafo segundo do referido artigo 20, dispõe:

§ 2° Não sendo acolhida a argüição, terá normal prosseguimento a arbitragem, sem

prejuízo de vir a ser examinada a decisão pelo órgão do Poder Judiciário competente,

quando da eventual propositura da demanda de que trata o art. 33 desta Lei.

As normas de observância obrigatória da Lei Arbitral principiam a higidez da

sentença arbitral a fim de lhe emprestar segurança jurídica. Não é que da sentença arbitral

não se possa recorrer, até porque é possível se socorrer aos braços da Justiça.

o fato aqui posto é que, ao contrário do ventilado na Legislação Arbitral, o

Pedido de Revisão ora proposto busca simplesmente rever o decidido mediante

procedimento legal e constante no Estatuto da Confederação. ,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO HANDEBOLjurídica do Pedido de Revisão com base no Código Desportivo é afrontar a legislação

arbitral e adotar como precedente o SnD como órgão hierárquico do painel arbitral. Tem-

se que entender que o STJD aceitou a abertura do Painel Arbitral e, de acordo com o que

disciplina o Estatuto, artigo 5° e seus parágrafos, formou o painel composto de três

membros auditores deste Tribunal.

Aceitar o pedido de revisão para que o colegiado desta Corte decida pela revisão

ou não da sentença arbitral é incongruente e assimétrico, visto que o colegiado estará por

revisar decisão de painel arbitral composto por apenas três membros, ou seja, se pondo

como, repita-se, órgão hierárquico de julgamento. Com toda licença, esta função não é

deste Tribunal, mas de competência exclusiva do Judiciário,conforme rezam os artigos

supracitados. Analisar o mérito do pedido de revisão é atravessar um precedente inseguro

também por coincidir com fato político da modificação integral dos membros desta corte.

Por fim e não menos importante, vale ressaltar que o procedimento

administrativo utiliza-se, por meio de analogia, os ditames e procedimentos do judiciário,

entre eles as condições de ação, existência de necessidade, utilidade e da legitimidade ad

causum. No caso em questão, a análise do mérito do Recurso do Pedido de Revisão não

apresenta utilidade e qualquer decisão proferida por esta Corte não terá efeitos práticos,

visto que corre no Judiciário Sergipano Ação proposta pelo Sr. Manoel Luis contra este

Tribunal e a própria Confederação da qual ocu-pa o cargo de presidente, processo n.

201711000403, em trâmite na 10a Vara Cível da Comarca de Aracajú, com objeto similar,

para não dizer idêntico, ao deste Pedido de Revisão.

Nobres colegas, mesmo supondo a remota possibilidade de ingresso com o

Pedido de Revisão, é entendimento assente nos "Tribunais [údiciais Superiores que a

propositura de ação judicial importa em renúncia ao direito de recorrer na esfera

administrativa. Precedentes: (TRF-3 - AMS: 00142963120064036100 SP, Relator:

DESEMBARGADORA FEDERAL DIVA MALERBL Data de J gamento: 20/04/2017,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO HANDEBOLSEXTA TURMA, Data de Publicação: e-DJF3 Judicial 1 DATA:08/05/2017) - (STF - ARE:

745398 MG, Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 29/04/2014, Segunda

Turma, Data de Publicação: DJe-090 DIVULG 12':'05-2014PUBLIC 13-05-2014) - (TRF-3 -

AMS: 00142963120064036100 SP, Relator: DESEMBARGADORA FEDERAL DIVA

MALERBI, Data de Julgamento: 20/04/2017, SEXTA TURMA, Data de Publicação: e-DJF3

Judicial 1 DATA:08/05/2017)

Inclusive, o Conselho Nacional de Justiça já teve oportunidade de se pronunciar

no seguinte sentido: "O Conselho Nacional de Justiça tampouco conhece de matéria

previamente judicializada, a bem prestigiar o Princípio da Segurança Jurídica, evitar a

interferência na atividade jurisdicional do Estado e afastar o risco de decisões

conflitantes entre as esferas administrativas e judiciais. Precedentes do CNJ. 3) Recurso

Administrativo conhecido, mas improvida a pretensão Recursal. (CNJ - PP 0007056-

65.2010.2.00.0000 - ReI. Cons. Walter Nunes da Silva Júnior - 12P Sessão - j. 01/03/2011 -

DJ - e n? 41/2011 em 03/03/2011 p.59)

Em suma, não há possibilidade jurídica para o presente Tribunal conhecer o

pedido de revisão por absoluto impedimento legal e higidez da sentença arbitral, visto

que, se assim o fizer desacreditará o órgão e os seus componentes perante toda a

comunidade, emprestando insegurança jurídica em momento de extrema instabilidade

econômica, política e, principalmente, do Judiciário Brasileiro ... ,

3. DECISÃO

Nestes termos, reafirmo a competência do STJD para instaurar painel arbitral,

e, ao contrário do requerido, julgo pela impossibj id e jurídica do pedido de revisão,

consequentemente, pela sua extinção sem o j érito.

FelipeAUDIT