tatiana frehner kavalco

108
TATIANA FREHNER KAVALCO A EFICÁCIA DE ORIENTAÇÕES DE POSICIONAMENTOS SENTADOS FUNCIONAIS APLICADAS NO DOMICÍLIO PARA FAMILIARES DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE PARALISIA CEREBRAL: Um Estudo de Caso Cascavel 2003

Upload: vuongkien

Post on 07-Jan-2017

224 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: tatiana frehner kavalco

TATIANA FREHNER KAVALCO

A EFICÁCIA DE ORIENTAÇÕES DE POSICIONAMENTOS SENTADOS FUNCIONAIS APLICADAS NO DOMICÍLIO

PARA FAMILIARES DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE PARALISIA CEREBRAL: Um Estudo de Caso

Cascavel 2003

Page 2: tatiana frehner kavalco

TATIANA FREHNER KAVALCO

A EFICÁCIA DE ORIENTAÇÕES DE POSICIONAMENTOS SENTADOS FUNCIONAIS APLICADAS NO DOMICÍLIO

PARA FAMILIARES DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE PARALISIA CEREBRAL: Um Estudo de Caso

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Campus Cascavel, para obtenção do Título de graduado em Fisioterapia. Orientador: Aneline Maria Ruedell

Cascavel 2002

Page 3: tatiana frehner kavalco

TATIANA FREHNER KAVALCO

A EFICÁCIA DE ORIENTAÇÕES DE POSICIONAMENTOS SENTADOS FUNCIONAIS APLICADAS NO DOMICÍLIO

PARA FAMILIARES DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE PARALISIA CEREBRAL: Um Estudo de Caso

BANCA EXAMINADORA

............................................................................................

Aneline Maria Ruedell – Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE

............................................................................................

Helenara Salvati B. Moreira – Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE

............................................................................................

Maria Goreti Bertoldo – Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE

Aprovada _______/______/______ em Cascavel.

Page 4: tatiana frehner kavalco

“O vento é sempre o mesmo, mas sua resposta

é diferente em cada folha. Somente a árvore

seca fica imóvel entre borboletas e pássaros.”

(Cecília Meireles)

Page 5: tatiana frehner kavalco

DEDICATÓRIA

A Deus que me auxiliou nesta jornada.

Aos meus pais Sydney Antonio Kavalco e

Magli Griseldes Frehner Kavalco que tanto me

apoiaram e incentivaram para a conclusão

deste estudo.

Page 6: tatiana frehner kavalco

AGRADECIMENTOS

A minha Professora Orientadora Aneline Maria Ruedell pela disposição e pelo tempo

despendido para a realização deste trabalho.

À criança I. R. M. e sua mãe C. R. M., pelo auxílio e cooperação durante a realização de todo

o estudo.

Às Professoras Helenara Salvati B. Moreira e Maria Goreti Bertoldo pela disposição na

participação da análise deste trabalho.

Aos meus irmãos pelo auxílio e pela compreensão da exigência do momento vivido.

Page 7: tatiana frehner kavalco

RESUMO

A eficácia de orientações de posicionamentos sentados funcionais aplicadas no domicílio para

infante e familiares de portador de Paralisia Cerebral, realizados com orientação terapêutica

valorizando a utilização de posicionamentos adequados, que facilitam para a criança e seus

familiares a execução das atividades diárias em que ela é dependente, resultando na evolução

comportamental e melhoria na qualidade de vida no ambiente familiar, obtidas através das

alterações introduzidas a partir de levantamento de comportamento e programação das

alterações ótimas, levadas a termo com a concordância dos envolvidos, obtendo a interação –

paciente, familiares, terapeuta. Realizaram-se alterações, de forma a confortabilizar o infante

e sua progenitora na realização de atividades de vida diárias (alimentação, comunicação e

carregar). O engajamento e motivação familiares obtidos após os primeiros resultados

positivos, foram a âncora do sucesso da abordagem proposta. O aumento de movimentos

agregados à criança induziu a uma maior vontade na procura e aplicação destes. A felicidade

demonstrada pela mãe e familiares com a evolução do paciente é gratificante e ao mesmo

tempo, combustível para todos na continuidade da pesquisa e do tratamento. Estabeleceu-se

como modus operandi o levantamento do comportamento funcional em determinados

posicionamentos familiares. Pesquisa sobre a forma adequada a cada grupo de

comportamento funcional identificado, programando a informação transferida aos familiares

com feedback através de reuniões familiares para remover as resistências em decorrência da

inabilidade inicial dos responsáveis.

Palavras Chaves: orientações de posicionamentos sentados funcionais, domicílio, paralisia

cerebral

Page 8: tatiana frehner kavalco

SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ............................................................. xii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .................................... xiii

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................... 01

1.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................. 02

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................... 02

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................... 04

2.1 PARALISIA CEREBRAL ........................................................................ 04

2.1.1 CONCEITO ................................................................................................. 04

2.1.2 ETIOLOGIA ................................................................................................ 05

2.1.2.1 FATORES PRÉ-NATAIS .............................................................................. 06

2.1.2.1.1 Drogas e infecções ...................................................................................... 06

2.1.2.1.2 Traumatismos............................................................................................... 07

2.1.2.1.3 Desordens circulatórias e fatores sangüíneos............................................. 07

2.1.2.1.4 Desordens metabólicas ................................................................................ 08

2.1.2.1.5 Irradiação .................................................................................................... 09

2.1.2.2 FATORES PARANATAIS ............................................................................. 09

2.1.2.2.1 Prematuridade e pós-maturidade ............................................................... 09

2.1.2.2.2 Cesáreas rápidas demais e os partos normais rápidos (parto “em

avalanche”) .................................................................................................

10

Page 9: tatiana frehner kavalco

2.1.2.2.3 Agentes mecânicos ...................................................................................... 10

2.1.2.2.4 Anóxia ou hipóxia ....................................................................................... 10

2.1.2.2.5 Corionites .................................................................................................... 11

2.1.2.3 FATORES PÓS-NATAIS .............................................................................. 11

2.1.2.3.1 Desordens circulatórias .............................................................................. 11

2.1.2.3.2 Infecções ...................................................................................................... 12

2.1.2.3.3 Desordens metabólicas ................................................................................ 12

2.1.2.3.4 Traumatismos .............................................................................................. 12

2.1.3 CLASSIFICAÇÕES DA PARALISIA CEREBRAL ................................. 13

2.1.3.1 CLASSIFICAÇÃO PELOS SINAIS CLÍNICOS ........................................... 13

2.1.3.1.1 Desabilidade funcional primária ................................................................ 13

2.1.3.1.2 Característica motora da alteração ............................................................ 15

2.1.3.1.3 Distribuição ................................................................................................. 16

2.1.4 QUADRO CLÍNICO DA PARALISIA CEREBRAL ................................ 17

2.1.4.1 ESPASTICIDADE ........................................................................................ 23

2.1.4.2 ATETOSE ..................................................................................................... 28

2.1.4.3 ATAXIA ........................................................................................................ 30

2.1.4.4 HIPOTONIA ................................................................................................ 32

2.2 DESENVOLVIMENTO MOTOR NORMAL DA POSIÇÃO

SENTADA ..................................................................................................

32

2.2.1 DECÚBITO DORSAL ................................................................................ 35

Page 10: tatiana frehner kavalco

2.2.2 DECÚBITO VENTRAL ............................................................................. 36

2.2.3 SENTADO ................................................................................................... 37

2.3 O DESENVOLVIMENTO MOTOR DA POSIÇÃO SENTADA NA

PARALISIA CEREBRAL ESPÁSTICA .................................................

40

2.4 POSTURA .................................................................................................. 43

2.5 MECANISMOS DE CONTROLE POSTURAL NORMAL ................. 44

2.5.1 PRÉ-REQUISITOS DOS MECANISMOS DE CONTROLE

POSTURAL NORMAL ...............................................................................

45

2.5.1.1 TÔNUS MUSCULAR ................................................................................... 45

2.5.1.2 INERVAÇÃO RECÍPROCA ......................................................................... 46

2.5.1.3 PADRÕES DE MOVIMENTOS ................................................................... 47

2.5.1.3.1 Feedback e feedforward .............................................................................. 48

2.5.2 EFETORES DOS MECANISMOS POSTURAIS ..................................... 49

2.5.2.1 REAÇÕES DE ENDIREITAMENTO ........................................................... 49

2.5.2.2 REAÇÕES DE EQUILÍBRIO ....................................................................... 51

2.5.2.3 REAÇÕES DE PROTEÇÃO ........................................................................ 55

2.6 MECANISMOS DE CONTROLE POSTURAL NA PARALISIA

CEREBRAL ESPÁSTICA ........................................................................

55

2.6.1 ALTERAÇÕES NOS PRÉ-REQUISITOS E EFETORES DOS

MECANISMOS DE CONTROLE POSTURAL ........................................

56

2.7 ORIENTAÇÕES DOMICILIARES ........................................................ 58

3. METODOLOGIA ................................................................................. 61

Page 11: tatiana frehner kavalco

4. ESTUDO DE CASO ............................................................................ 62

4.1 ANAMNESE ............................................................................................... 62

4.2 AVALIAÇÃO FÍSICA .............................................................................. 63

4.2.1 POSIÇÃO SUPINA ..................................................................................... 64

4.2.2 POSIÇÃO PRONA ...................................................................................... 65

4.2.3 POSIÇÃO SENTADA ................................................................................. 67

4.3 ANÁLISE DA FUNCIONALIDADE DE MOVIMENTOS

DURANTE AS AVD’s ...............................................................................

69

4.3.1 ALIMENTAÇÃO ........................................................................................ 69

4.3.2 COMUNICAÇÃO ....................................................................................... 74

4.3.3 CARREGAR ................................................................................................ 74

4.4 CADASTRAMENTO DOS MOBILIÁRIOS UTILIZADOS PELA

CRIANÇA NO POSICIONAMENTO SENTADO .................................

75

5. ORIENTAÇÕES DOMICILIARES PRESTADAS .................. 76

5.1 ALIMENTAÇÃO ....................................................................................... 78

5.2 COMUNICAÇÃO ...................................................................................... 80

5.3 CARREGAR .............................................................................................. 81

6. RESULTADOS ....................................................................................... 83

7. CONCLUSÕES ..................................................................................... 85

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................... 87

Page 12: tatiana frehner kavalco

ANEXO 01 – AVALIAÇÃO DE POSICIONAMENTOS DA

CRIANÇA E FUNCIONALIDADE DE SEUS

MOVIMENTOS ROTINEIROS ...............................

92

ANEXO 02 – CADASTRO DE MOBILIÁRIOS MAIS UTILIZADOS

PELA CRIANÇA NO POSICIONAMENTO

SENTADO ...........................................................................

97

Page 13: tatiana frehner kavalco

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 - Estágios no desenvolvimento da posição sentada .................................... 39

Figura 02 - Em supino a criança tende a fazer rotação interna de quadril, com

extensão de joelho e pé eqüino .................................................................

66

Figura 03 - Posicionamento em prono ........................................................................ 68

Figura 04 - Posicionamento em prono com apoio no rolo .......................................... 69

Figura 05 - Posicionamentos na cadeira adaptada ...................................................... 70

Figura 06 - A mãe inclina-se para impedir padrão de membros superiores da

criança durante a alimentação ..................................................................

72

Figura 07 - Sentado na cadeira adaptada para alimentação ........................................ 73

Figura 08 - A mãe utiliza-se da posição supina para a alimentação da criança,

aumentando padrões patológicos e complicações ....................................

73

Figura 09 - Movimentos de garra e pinça inadequados .............................................. 74

Figura 10 - Posicionamento na cadeira utilizado para ministrar líquido com a colher 75

Figura 11 - Posicionamento da mãe e da criança ao ministrar líquidos através do

uso do copo ...............................................................................................

75

Figura 12 - Posicionamento que a mãe utiliza para carregar a criança ....................... 77

Figura 13 - Criança posicionada de maneira mais adequada ...................................... 78

Figura 14 - Correta adequação do apoio podal da cadeira para manter os pés em

dorsiflexão ................................................................................................

79

Figura 15 - Posicionamento no colo da mãe para realizar a alimentação da maneira

mais adequada possível ............................................................................

80

Figura 16 - Corretos posicionamentos da colher e da criança na cadeira para

alimentá-la ................................................................................................

81

Figura 17 - Posicionamentos orientados para realizar o beber ................................... 82

Figura 18 - Posicionamentos da mãe na altura em que a criança se encontra facilita

a comunicação ..........................................................................................

83

Figura 19 - Posicionamento orientado para facilitar o carregar da criança ................ 84

Figura 20 - Evidente melhora do controle de cabeça em prono .................................. 85

Figura 21 - Controle de cabeça eficaz na posição sentada .......................................... 86

Page 14: tatiana frehner kavalco

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

SNC – Sistema Nervoso Central

PC – Paralisia Cerebral

DHRN – Doença Hemolítica do Recém-nascido

Rh – Fator Rhesus

MMII – Membros inferiores

MMSS – Membros superiores

RTCA – Reflexo tônico cervical assimétrico

RTCS – Reflexo tônico cervical simétrico

Fig. – Figura

p. – Página

v. – Volume

n. – Número

Page 15: tatiana frehner kavalco

1. INTRODUÇÃO

Este estudo aborda a importância e eficácia das orientações domiciliares para pacientes

portadores de Paralisia Cerebral, realizado com uma criança tetraplégica espástica com cinco

(5) anos de idade, do sexo masculino para a melhora de sua funcionalidade e postura global.

A Paralisia Cerebral é definida como “uma desordem do movimento e da postura

devida a um defeito ou lesão do cérebro imaturo”. A lesão cerebral não é progressiva e

provoca debilitação variável na coordenação da ação muscular com resultante incapacidade da

criança em manter posturas e realizar movimentos normais.

A criança com Paralisia Cerebral encontra-se na maior parte do tempo em sua

residência e na presença de seus familiares e, para que o tratamento fisioterapêutico obtenha

maiores resultados, tornam-se de suma importância as orientações referentes às posições

adotadas no seu manuseio diário, bem como a aceitação destas pelos familiares.

Orientações adequadas prestadas no domicílio todavia, só serão eficazes a partir do

momento em que os familiares correspondem ao trabalho realizado se este for efetuado de

forma a priorizar as atividades particulares da criança.

As orientações relativas às atividades de vida diárias serão apresentadas à progenitora,

de quem a criança é completamente dependente e o sucesso dos resultados desta abordagem

depende em parte da colaboração do paciente, da habilidade da mãe e principalmente da

interação entre o terapeuta e os familiares.

A princípio efetuar-se-á o levantamento do posicionamento da criança na cadeira

adaptada, no colo materno e no carregar. Em seguida realizar-se-á criterioso exame para

identificar as posições incorretas. No decorrer de cinco meses de acompanhamento quinzenal

verificar-se-á os níveis de evolução na inibição de padrões anormais de movimento e de

controle de cabeça, auxiliando sobremaneira o trabalho da mãe para fazer as AVD’s do filho.

A biomecânica e a fisiologia dos movimentos tornam-se dispensáveis nos portadores

de Paralisia Cerebral, tanto por dificuldades em manter uma postura mais correta, alterações

de tônus, de força muscular, de trofismo e de coordenação motora, quanto pela influência do

posicionamento inadequado durante grande período de seu dia, não contribuindo para o

progresso das atividades funcionais.

Um dos principais problemas identificados em pacientes portadores de Paralisia

Cerebral são as alterações relativas à dificuldade em manter uma postura adequada, causando

Page 16: tatiana frehner kavalco

um déficit funcional na realização de muitos movimentos e a manutenção de posições

inadequadas podem levar a deformidades estruturais no paciente.

Estas alterações podem ser progressivas mesmo durante o tratamento fisioterapêutico

se não houver um acompanhamento eficiente. Portanto, os posicionamentos incorretos

adotados pelos familiares que geralmente acontecem no domicílio, tendem a aumentar o

comprometimento funcional da criança portadora de Paralisia Cerebral.

Buscar-se-á portanto, visualizar e adotar o melhor procedimento técnico na eficácia da

funcionalidade dos movimentos realizados por este tipo de paciente, facilitando o manuseio

dos pais nas atividades de vida diárias do mesmo, a partir da melhora em sua acomodação e

posicionamento.

Poucos estudos têm referido sobre orientações domiciliares para crianças com

Paralisia Cerebral, no entanto os profissionais da área de saúde devem ser conscientizados da

importância de se conhecer a residência e as condições sócio-econômicas que a família dispõe

para a sua realização prática. Portanto, essa abordagem influi na evolução do

desenvolvimento psicomotor da criança, fazendo com que sua vida e de seus familiares

transcorra de forma mais facilitada e feliz.

1.1 OBJETIVO GERAL

Identificar, analisar e propor procedimentos através de um estudo de caso, referente a

orientação terapêutica aos familiares do valor da utilização de posicionamentos adequados em

uma criança com Paralisia Cerebral.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Identificar as compensações inadequadas mais evidenciadas no posicionamento

sentado, do paciente selecionado para o estudo, que influem na impossibilidade da

realização de movimentos básicos e possíveis;

b) Identificar e analisar a utilização dos mobiliários da casa da família em questão

que têm relação com o posicionamento sentado e que contribuem para o

desenvolvimento de atividades funcionais por parte da criança e para a realização

das atividades de que a criança é dependente dos pais;

Page 17: tatiana frehner kavalco

c) Analisar e elaborar quais as melhores adaptações na postura sentada, procurando

prevenir deformidades, para o caso clínico;

d) Verificar e orientar as melhores formas de carregar a criança, alimentá-la,

posicioná-la na cadeira e no colo da mãe;

e) Orientar para a melhor utilização dos mobiliários verificados no ambiente do lar e

usados no posicionamento diário;

f) Analisar a maneira como a mãe conduziu as alterações em relação aos

posicionamentos que lhe foram orientados, verificando se a mesma compreendeu

como devem ser efetuados e qual o nível de dificuldade para sua realização;

g) Analisar funcionalmente, através da avaliação dos posicionamentos orientados, os

resultados na realização das atividades de vida diárias do paciente, identificando a

compreensão por parte dos familiares sobre a importância de sua participação no

posicionamento correto desta criança.

Page 18: tatiana frehner kavalco

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 PARALISIA CEREBRAL

2.1.1 CONCEITO

Para Shepherd (1998), o termo Paralisia Cerebral (PC) designa um grupo de distúrbios

cerebrais estacionários, que ocorrem devido a alguma lesão ou a anomalias do

desenvolvimento ocorridas durante a vida fetal ou durante os primeiros anos de vida (por

volta de até 4 anos).

Pode-se também caracterizá-la como um comprometimento motor com uma desordem

do movimento e postura persistentes, mas variáveis, que prejudica a relação da criança com o

meio. Sendo não progressiva e provocando debilitação variável na coordenação da ação

muscular apresenta como resultante a incapacidade da criança em manter posturas e realizar

movimentos normais (ARAÚJO, 1999).

Para Berhman; Kliegman (1994), os sinais e sintomas dependem da área lesada do

cérebro e da extensão da lesão, expressando-se em padrões anormais de postura e de

movimentos, ou seja, é uma desordem da postura e do movimento, persistente, mas não

imutável, devido a uma disfunção do cérebro presente antes de estar completado o seu

crescimento e desenvolvimento.

Este grupo de distúrbios cerebrais pode apresentar fatores etiológicos conhecidos, mas

na maioria dos casos a etiologia é desconhecida e as anomalias neurofisiológicas responsáveis

pelos diversos distúrbios motores são quase todas desconhecidas (SHEPHERD, 1998).

Esta patologia pode possuir inúmeras etiologias, apesar disso os mecanismos

patológicos da lesão no sistema nervoso central (SNC) são sempre estacionários. Entretanto,

as manifestações clínicas parecem mudar à medida que a criança avança em idade. Essas

modificações parecem ser devidas aos processos de maturação e adaptação; portanto, é de se

esperar que elas sejam influenciadas pelas experiências do lactente (BERHMAN;

KLIEGMAN, 1994).

De acordo com Edwards (1999), após o nascimento, a estrutura corporal e o seu

sistema de controle se adaptam em conseqüência da lesão cerebral.

Page 19: tatiana frehner kavalco

É importante ressaltar que esta adaptação depende da quantidade e variedade dos

movimentos realizados pela criança. Logo, estes movimentos dependem do controle motor,

do cognitivo e do ambiente que cerca a criança (ARAÚJO, 1999).

2.1.2 ETIOLOGIA

A Paralisia Cerebral pode ocorrer devido a um erro hereditário de desenvolvimento; a

suscetibilidade hereditária diante de outros fatores de risco; aos fatores maternos; aos

problemas placentários; ou, então, pode resultar de malformações do cérebro, da

prematuridade ou da ação de fatores perinatais traumáticos que provocaram lesão do cérebro

infantil. Tem-se hoje que o baixo peso de nascimento e a anoxia grave durante o parto são

importantes fatores de risco (SHEPHERD, 1998).

Volpe em 1992 identificou que de 12 a 14% dos nascidos a termo com esta patologia,

apresentam-na no período entre a 28a semana e uma semana após o nascimento.

Em crianças prematuras a lesão cerebral ocorre usualmente no período pós-natal. Os

mecanismos patológicos incluem a necrose seletiva de neurônios e as lesões cerebrais de

origem hipóxico-isquêmicas focais e multifocais (PATO et al, 2001).

De acordo com Ekamn (2000), a idade de início da lesão interfere nas propriedades

etiológicas do distúrbio, que pode ser de origem congênita, ou seja, concomitando com

alterações pré-natais ou de origem adquirida, indicativo de comprometimentos paranatais ou

pós-natais.

Os distúrbios congênitos constituem a maioria das paralisias cerebrais, sendo as

atividades da mãe extremamente relevantes no quadro clínico da criança, pois uso inadequado

de substâncias pela mãe (como drogas ou medicamentos) tende a relatar um aumento na

gravidade do quadro clínico da criança (PATO et al, 2001).

Os distúrbios adquiridos geralmente aparecem subitamente, precedidos por um

episódio agudo de distúrbio motor e não são progressivos.

Subdividem-se da seguinte forma:

a) antes de um ano são tratados como se tivessem um distúrbio congênito;

b) entre 1 e 5 anos aparecem como tendo vantagem da experiência sensório-motora

prévia;

c) depois de 5 anos apresenta recuperação dificultada, apesar da experiência

sensório-motora prévia (KUDO, 1990).

Page 20: tatiana frehner kavalco

Segundo Shepherd (1998), a Paralisia Cerebral, a deficiência mental, as desordens

convulsivas, as síndromes hipercinéticas e vários comprometimentos sensoriais podem

resultar dos mesmos fatores:

a) pré-natais;

b) paranatais;

c) pós-natais.

2.1.2.1 FATORES PRÉ-NATAIS

Os fatores pré-natais (congênitos) fazem a sua agressão ao sistema nervoso central

desde a fecundação ao nascimento.

Aos fatores pré-natais relacionam-se:

a) Drogas e infecções;

b) Traumatismos;

c) Desordens circulatórias;

d) Desordens metabólicas;

e) Fatores sanguíneos;

f) Irradiação de raio X, etc (PATO et al, 2001).

2.1.2.1.1 Drogas e infecções

A Dependência por narcóticos, barbitúricos, anfetaminas, ácido lisérgico, assim como

uma provável medicação recebida pela mãe durante a gestação como éter em inalação,

anestésicos locais (xilocaína), hipnóticos (morfina), sedativos (fenobarbital, nembutal),

tranqüilizantes (reserpina), aspirina, vitamina K, sulfas podem desencadear anormalidades no

desenvolvimento da criança ainda em sua vida intra-uterina (SHEPHERD, 1998).

Hoje em dia ainda desconhece-se o fator lesivo da atuação das drogas, bem como das

infecções, neste desenvolvimento anormal (LEVITT, 2001).

As infecções podem apresentar como agentes etiológicos qualquer individuo que tenha

capacidade de atravessar a barreira placentária e atingir o feto. As infeções mais estudadas são

as correlacionadas às viroses, como sarampo, parotidite, varicela, rubéola e citomegalovirose.

Page 21: tatiana frehner kavalco

Esta passagem pela barreira pode ocorrer durante a doença materna e comumente é

possível haver no feto uma leve meningoencefalite, que se cura quando a mãe se recupera,

mas às vezes permanece uma lesão residual que pode resultar em hidrocefalia (ROBBINS,

1969).

É comprovado que a rubéola, além do retardo mental, pode causar lesão cardíaca,

catarata, surdez ou microcefalia (PATO et al, 2001).

O risco de o feto ser acometido é de 50% se a gestante contrai a rubéola no primeiro

mês de gestação, 25% no segundo e 17% no terceiro mês (idem).

É importante relevar que a toxoplasmose, adquirida in utero, pode provocar

microcefalia ou hidrocefalia, coriorretinite e, às vezes, microftalmia (ROBBINS, 1969).

2.1.2.1.2 Traumatismos

Para Hebert et al (2003), a queda sobre o abdômen, especialmente durante o oitavo e

nono mês de gestação pode levar a uma contusão occipital no feto.

Exemplificando, um acidente de automóvel no final da gestação pode levar a trauma

direto sobre o abdômen e como a criança nesta faixa etária apresenta-se em um local com

grande pressão torna-se fácil uma contusão craniana.

Também uma tentativa de aborto, com objeto cortante, pode lesionar a caixa craniana

e consequentemente o encéfalo sem, entretanto, provocar o aborto. Isto acontece devido ao

fato das incisuras da calota ainda não estarem suturadas (PATO et al, 2001).

2.1.2.1.3 Desordens circulatórias e fatores sangüíneos

A deficiência de oxigênio, especialmente nas primeiras semanas da gravidez que

caracteriza-se por não haver vasos sangüíneos no embrião, pode vir a causar isquemia

cerebral e conseqüente lesão (BOBATH, 1989).

Também a hemorragia materna, principalmente nas tentativas de aborto (aborto

provocado), podem fazer com que não ocorra o aborto e o feto apresente-se sem aporte

Page 22: tatiana frehner kavalco

sangüíneo, levando a uma isquemia que pode causar uma lesão a nível neurológico e

conseqüente má formação da criança (PATO et al, 2001).

É comum ainda observar nas crianças pré-termo a presença de alterações causando

lesões por leucomalácia periventricular e avc isquêmico ou hemorrágico (idem).

A Eritroblastose Fetal ou Doença Hemolítica do Recém-nascido (DHRN), pode afetar

ambos os sexos e caracteriza-se pela destruição das hemácias fetais por anticorpos da mãe,

causando conseqüente anemia. Para contrapor esta anemia ocorre uma hiperplasia medular

intra-óssea e nas zonas hematopoiéticas do fígado e baço (BERHMAN, 1994).

A necessidade hemática induz o lançamento de hemácias imaturas na corrente

sangüínea, o que resulta em deficiência no transporte de oxigênio e conseqüente hipóxia

cerebral (ROBBINS, 1969).

Esta hemólise causada pelos anticorpos maternos é resultado de uma diferenciação no

Sistema Rh ou Fator Rhesus, onde a casuística apresenta uma mãe com fator Rh – , um pai

com fator Rh + e um filho com fator Rh + (idem).

Devido ao fato do sangue fetal apresentar contato com o sangue materno através de

pequenas hemorragias das vilosidades placentárias e também devido ao fator Rh da mãe e do

filho apresentarem-se completamente distintos, a mãe apresenta-se sensibilizada e passa a

produzir soro anti-Rh que permanece na sua circulação (BURNS; MACDONALD, 1999).

Como este soro forma-se lentamente, a criança nasce antes de uma possível letalidade.

Mas apresenta seqüelas, principalmente neurológicas, visíveis ao nascer (idem).

A incompatibilidade dos grupos sanguíneos da mãe e do pai, como, por exemplo, mãe

grupo B, pai grupo O, ambos Rh-positivos, e filho grupo O também pode levar a produção de

anti-O pela mãe, mas esta situação é rara (BERHMAN, 1994).

2.1.2.1.4 Desordens metabólicas

A deficiência de vitaminas, a deficiência dos oligoelementos (por exemplo: cobre), o

diabetes mellitus e a carência de proteínas podem colaborar para a etiologia da Paralisia

Cerebral como fatores de risco devido ao baixo débito energético enfatizado nestas

deficiências (LIANZA, 2001).

Page 23: tatiana frehner kavalco

Baixo débito energético este que pode vir a colaborar com uma lesão encefálica a

partir do momento em que há baixa demanda energética para o SNC em formação

(PIOVESANA et al, 2000).

2.1.2.1.5 Irradiação

Os raios-X podem causar alterações nos vasos sanguíneos e interferência no

parênquima cerebral, principalmente no segundo mês de gravidez. Mesmo as ondas de ultra-

som têm sido apontadas como causa de lesões cerebrais, podendo causar alterações também

nos vasos sangüíneos e parênquima cerebral ou ainda inibir o crescimento da calota craniana

causando microcefalia (PATO et al, 2001).

Ainda não é comprovada a participação do ultra-som em tais anormalidades

(LIANZA, 2001).

2.1.2.2 FATORES PARANATAIS

São os que ocorrem imediatamente antes ou após o nascimento. Os principais são:

a) prematuridade e pós-maturidade;

b) cesáreas rápidas demais e os partos rápidos - agentes mecânicos;

c) anóxia ou hipóxia;

d) corionites (BOBATH, 1989).

2.1.2.2.1 Prematuridade e pós-maturidade

A prematuridade, por si só, não seria a causa da lesão cerebral, mas é um fator

predisponente pela debilidade com que nasce a criança, mais sujeita à hemorragia craniana e à

compressão de certas áreas do crânio (THOMSON; SKINNER; PIERCY, 1994).

Estas características fisiopatológicas são mais evidentes em crianças com Paralisia

Cerebral de classificação diplégica, devido ao fato de causarem a compressão e

Page 24: tatiana frehner kavalco

consequentemente a lesão, na maioria dos casos, em áreas motoras mais correlacionadas com

os membros inferiores (RATLIFFE, 2000).

Na pós-maturidade, que se acompanha de disfunção placentária intensa (em que

diminui o fluxo sanguíneo ao feto), há produção de hipóxia intrauterina com expulsão de

mecônio (THOMSON; SKINNER; PIERCY, 1994).

A hipóxia e a ingestão do líquido com mecônio ocasionam problemas respiratórios, o

que explica a lesão cerebral posterior (SCHWARTZMAN, 1993).

2.1.2.2.2 Cesáreas rápidas demais e os partos normais rápidos (parto "em

avalanche")

A fisiopatologia nos dois casos é semelhante - a criança passa muito depressa da

pressão intra-uterina para a pressão atmosférica do ambiente, que é bem menor, sem a

necessária adaptação de, pelo menos, alguns minutos. Com isto se dá a ruptura dos vasos

subdurais e a hemorragia correspondente - quanto à cesárea, acresce o fato do motivo que

levou a praticá-la, entre os quais o sofrimento fetal (BERNE, 1996).

2.1.2.2.3 Agentes mecânicos (traumas)

São ocasionados por traumas, geralmente por objetos como o fórceps e o vacuum. O

fórceps é raro como agente traumático na atualidade, pois as lesões provinham da aplicação

do fórceps alto, que não se usa mais e o vacuum, tal como o fórceps baixo, pode ser nocivo

quando empregado em más condições ou em fetos que já estejam em sofrimento encefálico

(BERHMAN; KLIEGMAN, 1994).

2.1.2.2.4 Anóxia ou hipóxia

A importância da conseqüência da anóxia, além da diminuição da reserva de oxigênio,

é a produção de alterações metabólicas com acúmulo de metabólitos ácidos e instalação de

acidose (BERNE, 1996).

Page 25: tatiana frehner kavalco

O recém-nascido em asfixia está com hipóxia e acidose respiratória profunda, e após

algum tempo de asfixia ele entra também em acidose metabólica (idem).

Causas da anóxia:

a) Respiração retardada após a ligadura do cordão;

b) Placenta prévia, pela hemorragia que provoca;

c) Parto prolongado ou precipitado;

d) Indução do parto;

e) Congestão venosa;

f) Circular do cordão (BERHMAN; KLIEGMAN, 1994).

2.1.2.2.5 Corionites

Esta situação é definida como infecção das membranas coriônicas ainda na vida intra-

placentária, que no momento do parto podem vir a infectar a criança e, como esta apresenta

seu sistema imunológico em grande baixa, pode vir a inferir em uma lesão nervosa a nível

central (PATO et al, 2001).

2.1.2.3 FATORES PÓS-NATAIS

De acordo com Kudo (1990) os fatores pós-natais são os que ocorrem do nascimento

aos três anos de vida, mas atualmente há autores que consideram até os cinco anos como Pato

et al (2001) e Bobath (1989).

Estes fatores são:

a) desordens circulatórias;

b) infecções;

c) desordens metabólicas;

d) traumatismos (BOBATH, 1989).

Page 26: tatiana frehner kavalco

2.1.2.3.1 Desordens circulatórias

A coqueluche pode causar a ruptura de vasos sangüíneos enfraquecidos e

torná-los mais permeáveis devido a infecção e em casos mais agravados pode

haver convulsões e coma. As convulsões contínuas fazem com que o cérebro

não resista ao distúrbio circulatório angioespástico e sofra lesões múltiplas

(RATLIFFE, 2000).

Também a embolia cerebral pode resultar em alterações ao nível de isquemia cerebral

causando morte celular de uma área determinada pela ausência de irrigação sangüínea

(EDWARDS, 1999).

2.1.2.3.2 Infecções

Encefalite perivenosa e meningite – podem ocorrer na gripe, no sarampo, na rubéola,

na varicela. Produzem-se lesões difusas no cérebro. As vacinações, principalmente quando

tardias, têm sido referidas entre as causas da encefalite. O perigo das vacinações diminuiria

após os 17 anos, devido ao sistema imunológico estar melhor suplementado e as relações de

segurança sustentadas na total formação da barreira hematoencefálica (RATLIFFE, 2000).

Também se têm citado lesões cerebrais por penicilina e sulfas (PATO et al, 2001).

Os meningismos podem causar aderências nos espaços meníngeos com obstruções ao

fluxo do liquor, que é uma substância indispensável na manutenção das atividades do SNC,

trazendo como conseqüência lesões a nível de encéfalo (BERHMAN; KLIEGMAN, 1994).

2.1.2.3.3 Desordens metabólicas

Um exemplo deste tipo de fator é devido à distrofia por desnutrição do recém-nascido,

ofertando por conseqüência níveis muito baixos de nutrientes para a devida manutenção dos

sistemas diversos e principalmente do SNC, que acaba por apresentar áreas de hipóxia e

Page 27: tatiana frehner kavalco

demanda energética muito aquém dos níveis aceitáveis para que não haja lesão tecidual

(KUDO, 1990).

2.1.2.3.4 Traumatismos

Segundo Hebert et al (2003), acidentes de carro em que possa ocorrer hemorragia e

fraturas no crânio são causas crescentes na estatística de crianças com lesões a nível de

sistema nervoso central.

2.1.3 CLASSIFICAÇÕES DA PARALISIA CEREBRAL

Os distúrbios podem ser dispostos de três maneiras: através dos sinais clínicos, pelo

grau de severidade (grave, moderado e leve) e pela sua distribuição topográfica (diplegia,

hemiplegia ou tetraplegia) (BOBATH; BOBATH, 1989).

De acordo com o conceito Bobath (1997), pela distribuição clínica podem ser

evidenciadas as seguintes características: espasticidade, atetose (na qual pode-se distinguir

caráter de atetose pura, coreoatetose, atetose com espasticidade, atetose com espasmos

distônicos), ataxia (que pode apresentar distinção em ataxia com espasticidade ou ataxia com

atetose) e hipotonia (que pode apresentar-se como uma fase transitória).

2.1.3.1 CLASSIFICAÇÃO PELOS SINAIS CLÍNICOS

A disposição por sinais clínicos vêm evidenciar propriedades de fácil identificação na

avaliação do quadro de diminuição ou ausência de função de crianças com Paralisia Cerebral

(BOBATH, ----).

Estas qualidades aparentemente envolvem as características motoras anormais destas

crianças e suas principais evidências são a desabilidade funcional primária, a característica

motora da alteração e sua distribuição quanto aos seguimentos (KUDO, 1990).

Page 28: tatiana frehner kavalco

2.1.3.1.1 Desabilidade funcional primária

Esta evidência apresenta sinais que compõem-se de três dificuldades: a dificuldade de

produzir o movimento, a dificuldade no impedimento de movimentos involuntários e a

dificuldade de controlar o movimento (BOBATH, ----).

A dificuldade de produzir movimento é causada por hipertonia, hipotonia ou por uma

combinação de ambos (intermitente ou mista) (BRANDÃO et al, 1992).

A espasticidade possui três características: grau (severo, moderado ou leve),

distribuição (constante para áreas do corpo, como hemicorpo direito e variável para grupos

musculares, ou seja, diferentes músculos dentro do hemicorpo direito) e caráter (resposta ao

estiramento passivo), sendo que estas variam de acordo com o paciente (FERNANDES, 2002)

(GIANNI, 2000).

A hipotonia extrema pode persistir em todas as circunstâncias, ou seja, em todas as

situações vividas pela criança em uma fase recente da lesão, mas se à medida que a criança

amadurece a hipotonia dá lugar à espasticidade, quadro de atetose ou ataxia, é improvável que

uma lesão do SNC produza uma hipotonia constante em todas estas circunstâncias

(BOBATH, ----).

Entretanto há muitos quadros de transição onde a criança apresenta hipotonia de

tronco e espasticidade em membros (GIANNI, 2000).

Segundo Ekman (2000), a dificuldade no impedimento de movimentos involuntários

não permite fácil classificação por apresentar característica etiológica (o que causa da

movimentação involuntária), topográfica (local do corpo onde ocorre) e descritiva (como

ocorre), portanto resume-se, para uso no tratamento físico, a uma descrição dos problemas

funcionais, sendo quatro fatores relevantes: 1) tipo de movimento involuntário; 2) maneira

pela qual o movimento involuntário dificulta o movimento voluntário; 3) grau do tônus e 4) a

medida em que o estado emocional influencia o movimento.

A dificuldade de controlar o movimento abrange ampla variedade de distúrbios. Desde

a inaptidão para movimentos ditos simples e fáceis, até a descoordenação mais severa

(SILVA, ----).

Podem descrever desequilíbrio neste controle a diplegia atáxica, a ataxia com

hipertonia leve e a ataxia com alguns movimentos involuntários, sendo subdividida em 2

variedades de distúrbios:

Page 29: tatiana frehner kavalco

a) o tipo de movimento particularmente implicado: movimentos posturais grandes,

movimentos finos ou ambos;

b) dificuldades locomotoras adicionais: hipotônus, hipertônus e movimentos

involuntários (BOBATH, 1997).

É relevante identificar que a desabilidade funcional primária apresenta-se de diferentes

maneiras de acordo com a característica da Paralisia Cerebral em termos de espasticidade,

ataxia ou atetose (SOUZA; FERRARETTO, 1998).

A espasticidade impõe-se com propriedades de maior desabilidade na produção e

controle dos movimentos devido a alteração do tônus muscular que a criança dispõe (SOLER;

HOFFMAN, 2000).

É evidenciado que a partir do momento em que uma criança com espasticidade

comanda um movimento qualquer, a alteração de tônus e as anormalidades da inervação

recíproca fazem com que o movimento não seja produzido ou apresente grande resistência na

sua realização por concomitante contração de músculos agonistas e antagonistas (STOKES,

2000).

Este dispêndio de energia e anormal função motora causa estas características

anormais nas habilidades motoras primárias da criança, que podem apresentar correlação com

lesões de nível encefálico superior e de núcleos da base (BERNE, 1996).

Entretanto, na característica atáxica, evidencia-se maior dificuldade no controle dos

movimentos já produzidos, já que a criança com ataxia apresenta dismetria nos seus

movimentos por incapacidade hipotônica tornando manifesto cada fase do movimento

pretendido (GUYTON, 1984).

É sabido que a mimetização nesta ação não ocorre devido a movimentos involuntários,

mas sim por deficiência no controle do movimento, função esta anormal por provável lesão

em cerebelo (BERNE, 1996).

Na atetose haverá relação direta com a impossibilidade no impedimento de

movimentos involuntários, onde evidenciar-se-á deficiência na efetivação de qualquer

atividade devido ao fato de imprudentes movimentos aleatórios na realização das ações que

em uma criança com desenvolvimento neuromotor normal seriam de passível realização

(LEVITT, 2001).

Page 30: tatiana frehner kavalco

2.1.3.1.2 Característica motora da alteração

Pode ser ainda classificada como leve, moderada e grave dependendo do nível de

acometimento motor (FERNANDES, 2002).

De acordo com Bobath (1989), a Paralisia Cerebral é classificada como leve ao

apresentar-se com pouco comprometimento motor, ou seja, a realização das atividades de vida

diárias (AVD’s) não são fatalmente comprometidas, apenas há uma mínima dificuldade na

realização das mesmas devido ao fato de não estar em normais condições. Por exemplo, a

criança não refere grande problemática ao realizar atividades como comer, correr, brincar,

vestir-se, etc.

Entretanto, a alteração será considerada moderada ao identificar-se um grande

comprometimento motor, podendo o paciente beneficiar-se muito com um tratamento

fisioterapêutico. As funções só são passíveis de realização com grande esforço da criança para

conseguir realizá-las (FERNANDES, 2002).

Por exemplo, se a ação da função de alcançar um objeto é realizada por uma criança

com Paralisia Cerebral moderada, ela realizará o movimento, mas com grau de dificuldade

grande, longa duração e de maneira lenta, ou ainda com grande dismetria e utilizando

prováveis posturas que dificultam ainda mais o movimento. Somente após um período de

insistência ela conseguirá realizar a função desejada.

A classificação como grave é dada ao observar-se uma completa dependência na parte

motora da criança, sendo que neste caso esta pode beneficiar-se pouco com a fisioterapia, já

que seu comprometimento é de tão severo grau que inibe grande parte a eficácia do

tratamento, assim como impede também a funcionalidade de qualquer atividade motora a ser

realizada com tal grupo muscular (LEVITT, 2001).

Apesar de tal argumentação, acredito ser possível obterem-se resultados com a criança

de classificação grave não apenas em relação a uma evolução amplamente visível, mas

também na prevenção de inúmeras deformidades ortopédicas, complicações respiratórias,

circulatórias e cognitivas com o auxílio da fisioterapia.

A partir do momento em que se evidencia a alteração estrutural ao nível de

complicações motoras faz-se possível viabilizar uma classificação de acordo com a gravidade

do caso e esta classificação apresenta uma maneira de diferenciação característica através de

sua nomenclatura em plegias ou paresias (SCHWARTZMAN, 1993).

Page 31: tatiana frehner kavalco

Ao ser caracterizada como plegia, considera-se a perda completa dos movimentos. Nas

paresias já é considerado um grau de paralisia parcial dos movimentos (VOLPE, 1992).

2.1.3.1.3 Distribuição

A diplegia (paresia) é raramente encontrada na Paralisia Cerebral; todo o corpo é

afetado, mas as pernas são mais que os braços. Ocorre espasticidade simétrica, controle da

cabeça, fala pode ser afetada, pode haver estrabismo. Todos os diplégicos são espásticos e

normalmente têm deambulação cruzada (BOBATH, ----).

Na tetraplegia (paresia) todo o corpo é afetado. Nos espásticos e casos mistos os MMII

podem estar comprometidos ao mesmo nível que os MMSS, sendo geralmente um hemicorpo

mais atingido que o outro (SHEPHERD, 1998).

Pode haver assimetria na postura e movimento, controle da cabeça pode ser deficiente,

geralmente com comprometimento da fala e coordenação ocular (THOMSON; SKINNER;

PIERCY, 1994).

Pode-se ainda identificar na tetraplegia características atáxicas ou atetósicas. Mas é

evidente que uma criança tetraplégica espástica pode apresentar movimentos involuntários

distais ou a presença de tremor e dismetria, ou seja, componentes atetóides ou atáxicos,

respectivamente (BOBATH; BOBATH, 1989).

Quando ocorre a hemiplegia (paresia), somente um dos lados do corpo é

comprometido. Geralmente tem caráter espástico, mas existe a possibilidade de atetose distal

posteriormente (UMPHRED, 1994).

Em monoplégicos (paréticos) somente um membro é comprometido. Sendo raras,

atualmente não utiliza-se mais a classificação em monoplégicos e geralmente estes quadros

desencadeiam hemiplegias (BOBATH; BOBATH, 1989).

Ainda mais raras são as triplegias (paresias), que apresentam caráter espástico e

caracterizam-se pela predominância da anormalidade motora em três membros, geralmente

com alterações nos dois membros inferiores e em apenas um membro superior

(BRACCIALLI; BARAÚNA, 2002).

Alguns autores não aceitam a divisão de monoplégicos e triplégicos, como o conceito

Bobath, entretanto, outra gama de autores as consideram válidas como salienta Levitt (2001).

Estas classificações empregadas pelos fisioterapeutas dão uma informação útil sobre o

paciente, embora sejam mais diagnósticas que de tratamento.

Page 32: tatiana frehner kavalco

2.1.4 QUADRO CLÍNICO DA PARALISIA CEREBRAL

Através de uma visão puramente observadora é possível verificar que as devidas

características clínicas de uma criança com Paralisia Cerebral podem ser classificadas dentro

das especificações já mencionadas, mas é importante relevar que cada criança, mesmo sendo

classificada como portadora de Paralisia Cerebral, com uma dada característica topográfica e

de tônus, é um organismo em especial, com suas próprias propriedades e particularidades

(BOBATH, 1997).

Os mecanismos patológicos do sistema nervoso central (SNC) são sempre

estacionários, apesar das manifestações clínicas parecerem mudar à medida que a criança

avança em idade. Essas modificações são influenciadas pelas experiências do lactente; ou

seja, após o nascimento, a estrutura corporal e o sistema que controla a criança se adaptam em

conseqüência da lesão cerebral, de acordo com a quantidade e variedade dos movimentos

realizados por ela e pela neuroplasticidade (BRANDÃO et al, 1992).

As características desta patologia ficam mais facilmente identificadas a partir de uma

avaliação voltada para a análise da classificação da Paralisia Cerebral de acordo com o tônus

muscular (hipertonia, hipotonia ou intermitência), o tipo de inervação recíproca (trabalho dos

agonistas e antagonistas) e padrões posturais e de movimento (que formam a base das

atividades funcionais e são produzidas pelos mecanismos de feedback e feedforward descritos

posteriormente) (EDWARDS, 1999).

Apesar disso é relevante e necessário deter-se principalmente para a observação das

propriedades biomecânicas e estruturas particulares da criança, sempre visando a

funcionalidade da mesma.

Para Bobath (1989), esta patologia envolve anormalidades físicas, como: padrões de

desenvolvimento atrasados e alterados; retenção patológica ou desaparecimento tardio dos

reflexos primitivos e alterações na qualidade funcional da realização de suas atividades.

Podendo ainda existir em concomitância com outros distúrbios como alterações da

fala, visão, audição e percepção, retardo mental, alterações de comportamento e distúrbios

emocionais (MARQUES; OLIVEIRA, 1998).

Então, juntam-se a atenção pela deficiência física, os cuidados com a fala e linguagem,

a atividade da vida diária, os distúrbios psicológicos e emocionais e a deficiência mental, o

Page 33: tatiana frehner kavalco

que torna a Paralisia Cerebral uma afecção que necessita de assistência interdisciplinar

(KUDO, 1990).

Quando a criança com disfunção no SNC procura movimentar-se, os movimentos que

ela realiza traduzem tanto as suas deficiências no tocante ao controle motor como à cognição,

e revelam também a natureza das interações dinâmicas dentro do sistema osteomuscular

(ARAÚJO, 1999).

O pequeno lactente que apresenta deficiências em relação ao controle motor

movimenta-se da única maneira que lhe é possível, tendo em vista as suas deficiências

neurológicas e o ambiente no qual ele é criado; desenvolvendo, às vezes, maior atividade na

musculatura dorsal de tronco e membros. Esta atividade muscular pode ser devida aos

espasmos distônicos que acompanham a lesão cerebral (GAGLIARDO; GABBARD;

GONÇALVES, 2002).

Atividades reflexas oriundas de anormalidades na concepção dos graus de evolução do

organismo ou ainda presentes patologicamente por permanência de processos primários do

desenvolvimento causam estrema dificuldade na realização dos movimentos voluntários por

presença inesperada de suas reações (SHEPHERD, 1998).

Apesar de visualizarem-se todas estas projeções da patologia é interessante identificar

que em todos os casos de Paralisia Cerebral consideram-se três fatores básicos em uma

avaliação, que unidos, determinam o quadro individual. Estes fatores podem inferir de

maneiras distintas e são:

a) o tipo e a força do tônus muscular anormal;

b) o tipo do distúrbio da inervação recíproca;

c) a distribuição da topografia e o padrão predominante de posturas e de movimentos

(BOBATH, 1989).

Estas propriedades são descritas na sessão sobre mecanismos de controle postural.

Os distúrbios da motricidade e postura podem apresentar as seguintes características:

espasticidade, atetose, ataxia ou hipotonia, dependendo de cada quadro clínico (MANCINI,

2002).

A Paralisia Cerebral pode encontrar-se associada a perturbações sensoriais e mentais,

trazendo sérias repercussões sobre a qualidade de vida dos pacientes e preocupação para

profissionais da saúde e familiares (ARAÚJO, 1999).

Também é importante observar que as alterações básicas ocorrentes na Paralisia

Cerebral podem apresentar problemas associados, como: retardo mental, convulsões,

deficiência auditiva, deficiência visual, deficiências sensoriais, deficiência da fala, distúrbios

Page 34: tatiana frehner kavalco

oromotores, distúrbios do comportamento e distúrbios ortopédicos (BURNS; MACDONALD,

1999).

Todos estes fatores associados trazem como conseqüência uma maior dificuldade no

desenvolvimento global da criança além das deficiências já implícitas pela presença da

patologia (idem).

O retardo mental era associado a cerca de 75% dos casos de Paralisia Cerebral na

década de 50, hoje em dia tem-se uma média de cerca de 50% dos casos de Paralisia Cerebral

com associação deste problema (KUDO, 1990).

Os grupos de crianças com maior probabilidade de apresentar inteligência normal ou

acima do normal são as que têm hemiplegia espástica, ataxia ou Paralisia Cerebral atetóide. O

grupo com a maior probabilidade de apresentar retardo mental são as crianças com tetraplegia

espástica, rigidez e hipotonia ou atonia muscular (RATLIFFE, 2000).

Estas probabilidades são puramente observativas e não há uma explicação baseada em

estudo fisiológico para tal associação (idem).

A maior incidência de convulsões é verificada em grupos de crianças com retardo

mental e tetraplegia espástica. As crianças com Paralisia Cerebral adquirida também têm

maior probabilidade de terem convulsões (EDWARDS, 1999).

As deficiências auditivas são presentes em cerca de 10% das crianças com Paralisia

Cerebral, sendo que estes problemas podem apresentar-se desde graus muito leves até a perda

total da audição (RATLIFFE, 2000).

As crianças com Paralisia Cerebral atetóide têm maior probabilidade de surdez ou

deficiências auditivas em geral (idem).

De acordo com Bobath (----), foi comprovada a importância do balbuciar automático

do bebê no aumento da ligação entre a mãe e o filho. Este balbuciar automático durante os

três primeiros meses é sustentado pela resposta da mãe e posteriormente transformado em fala

significativa. Se o balbuciar for interrompido em torno dos três meses, deve-se suspeitar de

um possível comprometimento da audição desta criança. E é comum presenciar este quadro

em crianças com Paralisia Cerebral.

Cerca de 80% das crianças com Paralisia Cerebral apresentam problemas visuais.

Estes são distúrbios motores dos músculos oculares, como o estrabismo exotrópico (KUDO,

1990).

Os prematuros são propensos a fibroplastia retrocristaliniana, também denominada de

retinopatia da prematuridade, na qual ocorre o crescimento anormal dos vasos sangüíneos na

retina prematura, estimulado por excesso de oxigênio. Esta retinopatia pode evoluir para

Page 35: tatiana frehner kavalco

quadros de cegueira, mas esta patologia está diminuindo sua freqüência, pois os médicos estão

mais atentos quanto às necessidades respiratórias dos recém-nascidos prematuros, ofertando

doses menores de oxigênio (GAGLIARDO; GABBARD; GONÇALVES, 2002).

O nistagmo, onde o globo ocular apresenta movimentos rápidos e repetitivos para os

lados e a seguir lentamente retorna para a posição central normal, é comum em crianças com

Paralisia Cerebral, especialmente em atáxicas (PALHARES et al, 2000).

Outras alterações são cegueira cortical, devido à lesão do córtex visual, e hemianopsia

e visão em túnel que são distúrbios relacionados ao campo visual (idem).

Ainda como problema associado é visível que crianças com Paralisia Cerebral podem

sofrer lesões não apenas no córtex motor, mas também no córtex sensorial, que são

extremamente próximos (LEVITT, 2001).

De acordo com Brandão et al (1992), além de deficiências específicas como má

esterognose (identificação tátil) ou regulação de temperatura, as crianças com Paralisia

Cerebral podem ter má integração de seus sistemas sensoriais. Esta alteração pode vir a

acarretar alterações como hipersensibilidade ou hipossensibilidade aos estímulos sensoriais.

Pode ainda apresentar deficiências na organização dos movimentos, assim como da

fala e comportamentos, devido à má integração dos estímulos sensoriais, que não têm relação

com a lesão motora (ARAÚJO, 1999).

Na presença de associação de deficiências da fala quase 50% das crianças com

Paralisia Cerebral têm classificação, segundo Kudo (1990).

Estas deficiências têm relação com as alterações motoras que também podem atingir a

musculatura relacionada com a fala, devido a paralisia ou descoordenação desta. Podem surgir

problemas como a disartria que é um distúrbio que afeta a articulação e a produção vocal ou

apraxia da fala que é a dificuldade de origem central que afeta a execução e seqüencialização

dos movimentos musculares que são necessários para a realização da fala (BOBATH, ----).

Nos distúrbios oromotores, que associam-se em 39% a 56% das crianças com Paralisia

Cerebral, a criança tem dificuldade na coordenação da musculatura oral, ocasionando má

deglutição, sialorréia e briquismo. As conseqüências do controle oromotor falho pode incluir

infecção respiratória por aspiração de líquidos, cáries dentárias e desnutrição (AURÉLIO;

GENARO; MACEDO FILHO, 2001).

Pode-se também observar em crianças com Paralisia Cerebral alterações do

comportamento, que está relacionado com áreas não motoras de disfunção cerebral, causando

alterações de humor corriqueiras, frustração pela falta de controle motor ou dificuldades na

comunicação e baixa autoconfiança (ARAÚJO, 1999).

Page 36: tatiana frehner kavalco

As alterações ortopédicas podem advir por contraturas articulares, subluxações ou

luxações, principalmente de quadril, e deformidades como escoliose, pé eqüíno-varo ou

calcâneo-valgo e torção tibial. Estas deformidades são principalmente observadas em crianças

com tônus espástico (HEBERT, 2003).

A atividade reflexa anormal também influi no quadro clínico e pode estar relacionada

a diversas anomalias neurológicas, mas é bastante evidente na Paralisia Cerebral (OLIVEIRA,

2002).

Convém acentuar a existência da persistência de reflexos de acordo com a fase

cronológica da criança, apesar de dever-se ter uma visão global das fases de desenvolvimento

funcional em que esta criança se encontra e saber que os reflexos presentes podem não ser

coincidentes com certas habilidades já adquiridas pela mesma dentro deste desenvolvimento

funcional (MANCINI, 2002).

Esta atividade anormal pode dever-se à permanência de reflexos primitivos ou a

reações reflexas patológicas. Estes reflexos podem ainda apresentar conseqüências como

deformidades quando utilizados pela criança ou estimulados pelos familiares para realizar

atribuições mais complexas, como se movimentar por exemplo (idem).

Alguns exemplos de reflexos são:

a) opistótono ou espasmos extensores repetidos apenas nos membros inferiores,

tendem a causar uma postura de padrão extensor;

b) as reações tônicas cervicais assimétricas (RTCA) ou qualquer outra postura

assimétrica dos membros superiores criada pelo girar da cabeça, podem levar a

deformidades nestes membros superiores, a escoliose e/ou torcicolo. Posturas

extensoras estão associadas a reações tônicas cervicais assimétricas;

c) os reflexos tônicos cervicais simétricos (RTCS) podem ocorrer em casos severos.

A imobilidade e a falta de tratamento podem levar a deformidades dentro desses

padrões;

d) a reação positiva de apoio excessiva pode ser hiperestimulada, podendo aumentar

as deformidades dos membros inferiores, especialmente as posturas de pés eqüino-

varos e posicionamentos em extensão e adução de quadris;

e) o passo reflexo pode facilitar o aumento da hipertonia de flexores plantares,

adutores e extensores se utilizado freqüentemente;

f) na ação de suspensão ou de levantamento excessiva, onde a criança é elevada ou

suspensa pelas axilas e abaixada ao solo, ocorre uma flexão plantar excessiva. A

grande utilização desta manobra com a criança pode facilitar o eqüinismo do pé;

Page 37: tatiana frehner kavalco

g) uso em excesso de reações de flexão total podem causar deformidades em flexão,

como o reflexo de retirada;

h) o uso de reflexos de extensão global pode, ao contrário do item anterior, levar a

deformidades em extensão (LEVITT, 2001).

A presença de todos estes reflexos e reações em períodos anormais de surgimento e

permanência causam sérias barreiras para a funcionalidade dos movimentos da criança com

Paralisia Cerebral e transformam o quadro clínico deste paciente.

Convém, então, abordar as particularidades relacionadas a cada quadro clínico que

pode ser observado na Paralisia Cerebral.

2.1.4.1 ESPASTICIDADE

Para Gianny (2000), esta característica é definida como sendo uma alteração no tônus

muscular o que o caracteriza como anormal. Neste caso é uma característica clínica

evidenciada por uma hipertonia muscular (aumento do tônus muscular) de caráter não rígido

que altera dinâmica e estruturalmente a funcionalidade da criança.

Na hipertonia espástica o grau de resistência ao movimento passivo é completamente

dependente da velocidade com a qual o movimento é realizado, ou seja, a resistência é menor

quando o músculo é estirado lentamente do que quando estirado rapidamente (----, 1994).

Segundo Ekman (2000), a hipertonia resulta da alteração das propriedades da fibra

muscular secundária à atividade alterada do córtex ou tratos descendentes.

Já Bobath (----), diz que sua clínica apresenta características da lesão do primeiro

neurônio motor (hiper-reflexia, fraqueza muscular, padrões motores anormais, diminuição da

destreza) com provável lesão do sistema piramidal no córtex motor cerebral.

As características da espasticidade diferem de uma criança para outra de acordo com o

grau que ela pode apresentar, grau este que pode passar por grave, moderado e leve

(GIANNY, 2000).

As vias motoras descendentes ou motoneurônios superiores são os responsáveis pelo

aparecimento desta característica e através das ligações destes motoneurônios projetados a

partir de níveis supra-espinhais com os motoneurônios inferiores (alfa e gama) e com os

interneurônios do tronco encefálico e da medula espinhal é que se tem a formação do sistema

de controle do tônus muscular (GUYTON, 1984).

Page 38: tatiana frehner kavalco

De acordo com Ekman (2000), as propriedades destes motoneurônios dependem das

propriedades de coativação alfa-gama nos fusos musculares. Assim, geralmente funcionando

simultaneamente, os sistemas alfa e gama mantém o estiramento sobre a região central das

fibras intrafusais do fuso muscular, quando o músculo se contrai ativamente.

Quando sinais excitatórios convergindo sobre os motoneurônios inferiores forem

suficientes para promover a entrada em atividade dos motoneurônios alfa, os motoneurônios

gama para as fibras dos fusos no mesmo músculo também são ativadas, ocorrendo a

coativação alfa-gama. Isto ocorre pelo fato do tamanho do motoneurônio alfa ser maior que

do motoneurônio gama (idem).

Os estímulos de tensão aplicados nos tendões musculares são detectados pelos órgãos

tendinosos de Golgi que são estruturas encapsuladas, colocadas em série com grandes fibras

próximos à inserção muscular (GUYTON, 1984).

Estes sinais aferentes serão transmitidos aos níveis de controle superior através dos

motoneurônios aferentes e haverá a resposta aos estímulos prestados através das vias motoras

descendentes (motoneurônios superiores) (EKMAN, 2000).

Segundo Guyton (1984), os motoneurônios superiores podem ser classificados de

acordo com a região onde se projetam na medula em medial, lateral ou em todo o corno

ventral.

O sistema ativador medial controla os motoneurônios que inervam os músculos

posturais e das escápulas (EKMAN, 2000).

O sistema ativador lateral controla os motoneurônios inferiores que inervam os

músculos localizados distalmente, estes músculos são utilizados nos movimentos finos. As

vias ativadoras não específicas facilitam os arcos reflexos da medula (idem).

O comprometimento do seqüenciamento da ativação muscular também contribui para

os problemas do movimento em pessoas com lesões do motoneurônio superior (LIANZA,

2001).

O início da movimento fica retardado, a velocidade do desenvolvimento de força é

lentificada, a duração da contração muscular fica aumentada e a relação temporal (timing)

entre a ativação dos antagonistas e a dos agonistas fica comprometida (MANCINI, 2002).

Na Paralisia Cerebral espástica as influências supramedulares anormais, a falta da

seleção normal de neurônios e o conseqüente desenvolvimento muscular aberrante produzem

disfunções dos movimentos, onde os distúrbios motores incluem os reflexos tônicos de

estiramento anormais tanto no repouso como durante o movimento, irradiação reflexa

Page 39: tatiana frehner kavalco

(dispersão da atividade reflexa), perda de preparo postural antes do movimento e a co-

contração anormal dos músculos (EKMAN, 2000).

Como característica fisiológica também é importante lembrar que embora os reflexos

fásicos de estiramento possam estar hiperativos, os reflexos tônicos de estiramento

(normalmente mais potentes) estão diminuídos ou ausentes na espasticidade (GIANNI, 2000).

O quadro de hipertonia ou resistência anormalmente elevada ao estiramento passivo

tende a ocorrer nas seguintes ocasiões:

a) lesões crônicas de motoneurônios superiores;

b) alguns distúrbios dos gânglios da base (EKMAN, 2000).

A resistência à movimentação passiva e os padrões motores anormais podem não se

manifestar clinicamente no lactente de tenra idade (idem).

Verifica-se em alguns casos aumento do tônus muscular à medida que a criança se

desenvolve, porém alguns lactentes apresentam acentuada espasticidade a partir dos primeiros

meses de vida (BOBATH e BOBATH, 1989).

Este sinal clínico resulta da combinação de reflexo de distensão hiperativos (hiper-

reflexia), anormalidades na transmissão de impulsos de inervação recíproca, alterações na

estrutura e função dos músculos e da atividade muscular anormal provocada pelas mudanças

de posição da cabeça ou do corpo (BOBATH, 1997).

A agitação emocional também pode apresentar efeitos sobre o aumento da

hiperatividade muscular por meio de ação límbica sobre as áreas corticais motoras e por meio

das vias ativadoras inespecíficas sobre os motoneurônios inferiores. A dor também pode

aumentar a hiperatividade muscular, mas o mecanismo neural é desconhecido (EKMAN,

2000).

Na espasticidade podem haver alterações nos reflexos cutâneos que tornam-se

anormais e estes incluem o Sinal de Babinski que caracteriza-se pela extensão do grande

artelho acompanhada pela abertura em abano dos outros artelhos. Este sinal é provocado pelo

atrito firme da parte lateral da planta do pé e seguidamente transversalmente pela região

anterior (idem).

Embora este sinal apresente-se patognomônico para as lesões do trato córtico-espinhal

em pessoas com mais de seis meses de idade, seu mecanismo não é conhecido. Sua presença

após os seis meses de idade é indicação de lesão no sistema piramidal (BERNE; LEVY,

1996).

Page 40: tatiana frehner kavalco

Os padrões motores anormais manifestam-se através da flexão dos membros

superiores e extensão dos membros inferiores, sendo estes efeitos da lesão neurológica e

podem desenvolver-se contraturas e manifestarem-se deformidades ósseas (BOBATH, ----).

A criança pode manter os membros inferiores abduzidos e fletidos semelhantes as

crianças normais de 2 a 3 meses de idade, mas pouco a pouco a extensão e adução dos

membros inferiores se fortalece. Ela apresenta-se pouco capaz de realizar movimentos em

qualquer posicionamento tanto pela ineficiência do sistema de inervação recíproca, quanto

pela possibilidade de alterações estruturais já ocorridas em nível muscular pela adaptação ao

quadro neurológico (LEVITT, 2001).

O desenvolvimento da espasticidade conota efeitos não-neurais que são os efeitos dos

processos mecânicos de adaptação (plasticidade, viscosidade, elasticidade e alinhamento

biomecânico) e os neurais, os quais demonstram a capacidade do sistema nervoso central de

se reorganizar (reflexos proprioceptivos e cutâneos, feedback e feedforward). O aparecimento

progressivo da hipertonia muscular pode ser devido às mudanças nas propriedades estruturais

e funcionais dos músculos e de outros componentes de tecidos moles, assim como aos

processos de recuperação do sistema nervoso. A instalação precoce da espasticidade parece

ser sinal de disfunção cerebral grave e extensa, afetando o córtex cerebral e o mesencéfalo

(SILVA, ----).

Possivelmente devido também às alterações tônico-reflexas (reflexo tônico-labiríntico

e reflexos tônicos do pescoço), observa-se certa variação no grau de hipertonia quando se

transfere a criança do decúbito dorsal para o decúbito ventral (GIANNI, 2000).

Há estudos que evidenciam a espasticidade como resultado da combinação de reflexos

de distensão hiperativos (hiper-reflexia), alterações na estrutura e função dos músculos e da

atividade muscular anormal, provocada pelas mudanças de posicionamento da cabeça ou do

corpo (reflexos tônicos do pescoço e labirínticos) (SHEPHERD, 1998).

Neste tipo de paciente a co-contração não está controlada, o que impede os

movimentos e não permite as adaptações posturais. Portanto, ao tentar realizar um movimento

a criança o fará com grande esforço e este pode causar aumento do tônus, dificultando ainda

mais o movimento pela ação de inibição recíproca não estar normal (----, 1994).

Geralmente os padrões posturais típicos de espasticidade são presentes, entre eles tem-

se extensão de cabeça, retração de ombros e coluna, extensão ou flexão dos cotovelos, rotação

interna dos braços, flexão dos dedos, membros inferiores em extensão ou semi-flexão dos

joelhos, adução e rotação interna de quadris e flexão plantar dos pés (GIANNI, 2000).

Page 41: tatiana frehner kavalco

Pode também evidenciar um padrão menos comum de flexão de cabeça, protusão de

ombros, flexão dos membros superiores, membros inferiores em flexão, abdução e rotação

externa, com flexão dorsal dos pés (LEVITT, 2001).

Ainda é presente uma forma assimétrica de tronco geralmente evidenciada por flexão

lateral com rotação de vértebras (escoliose) e a criança tende a sentar-se sobre o sacro e leva o

corpo para a frente, flexionando a coluna (cifose) (BOBATH, 1989).

Na criança com um quadro de espasticidade a relação deste quadro com a atividade

reflexa pressupõe que alguns reflexos e reações podem ser presentes em períodos de atividade

anormal (GIANNI, 2000).

O RTCA (reflexo tônico cervical assimétrico) pode estar presente, fazendo com que a

criança não estenda seus braços para frente para pegar objetos, dificilmente mantém a cabeça

na linha média e pula a etapa de orientação na linha média e da simetria como emprego

bilateral das mãos, não levando as mãos à boca (estaciona na etapa do desenvolvimento motor

referente aos 4 meses de idade) (OLIVEIRA, 2002).

A reação de Moro em muitos casos persiste por longo tempo, o que irá interferir com o

equilíbrio e com a evolução de movimentos, intervindo na evolução da criança para a

realização da postura sentada (idem).

O reflexo de marcha e a reação positiva de suporte podem estar presentes, assim como

algumas reações de retificação (SHEPHERD, 1998).

Reações de equilíbrio são por muitas vezes incompletas, especialmente em pé e na

marcha e a reação de extensão protetora dos braços para frente, para os lados e para trás estão

incompletas ou ausentes (SCHWARTZMAN, 1993).

A espasticidade e padrões de postura podem levar a deformidades que podem resultar

em escoliose ou cifo-escoliose; deformidades em flexão coxofemoral e joelhos; deformidade

dos pés (eqüino-varo ou calcâneo-valgo); retração do tendão de Aquiles e luxação ou sub-

luxação coxofemoral (devido ao subdesenvolvimento das articulações do quadril em uma

criança que nunca ficou em pé ou andou e também devido à espasticidade adutora com

rotação interna dos membros inferiores e flexão de quadril) (HERBERT et al, 2003).

É relevante enfatizar que há fatores que tendem a estimular um aumento no grau de

espasticidade por determinados momentos, ou seja, podem inferir na exacerbação dos reflexos

tendinosos ou no próprio tônus muscular sem haver a interferência da hiper-reflexia

(ARAÚJO, 1999).

Os quesitos que aumentam a espasticidade estão relacionados a:

Page 42: tatiana frehner kavalco

a) reações associadas: que agem fazendo com que a criança apresente movimentos

involuntários associados a outros movimento. Por exemplo, ao tentar alcançar um

objeto com o membro superior direito a criança apresenta, involuntariamente, uma

movimentação com a mão esquerda dentro do padrão que ela possui. Este fator faz

com que haja maior dificuldade na realização da atividade e mesmo dificulta o

colocação e manutenção do posicionamento da mesma;

b) falta de movimento: este fator faz com que haja uma facilitação a deformidades na

criança que acabam por aumentar ainda mais o padrão espástico;

c) estimulação: através de sensibilidade, ou seja, estimulando a musculatura através

de estímulos táteis por exemplo;

d) repetição de movimentos dentro do padrão de espasticidade: principalmente com

movimentos de grande velocidade e muito repetidamente (BASS, 2002).

2.1.4.2 ATETOSE

A lesão do sistema extra-piramidal nos núcleos da base faz com que o portador

apresente movimentos involuntários das mãos e dos pés e movimentos de rotação do tronco e

do pescoço, contorção da face e da língua ou de outras partes do corpo. Há também

movimentos involuntários dos músculos da face e as dificuldades para falar tornam a

linguagem quase incompreensível pelos movimentos involuntários dos lábios e da língua

(GUYTON, 1984).

Esses movimentos dificultam muito o trabalho com as mãos e quase sempre impedem

que a pessoa ande. Também a mecânica respiratória torna-se deficiente e problemas com a

alimentação são comuns.

Todos estes movimentos contorcidos continuam em padrões rítmicos, lentos e

repetitivos de forma que os músculos contraídos demonstram alto grau de sinais excessivos

dos órgãos sensoriais. Também os movimentos voluntários tornam-se muito prejudicados ou

impossíveis (EKMAN, 2000).

Segundo Guyton (1984:563), “a lesão na atetose está geralmente na porção externa do

globo pálido ou na porção externa do corpo estriado (núcleos da base).” Portanto, ela

geralmente é atribuída à interrupção dos circuitos de retroalimentação entre os núcleos da

base, tálamo e córtex cerebral através de alguma lesão.

Page 43: tatiana frehner kavalco

Os impulsos seguem algum trajeto, provavelmente por vias através dos núcleos da

base lesionados para o tálamo e o córtex motor o que determina uma sucessão de movimentos

anormais e incoordenados (idem).

As articulações apresentam freqüentemente hipermobilidade, podem ocorrer luxações

articulares, sobretudo quando o seu portador apresenta espasmos (HERBERT et al, 2003).

A incapacidade de manutenção em uma posição e de realizar movimentos articulares

fluentes dificulta sobremaneira o desenvolvimento dos ajustes posturais, bem como da

apreensão e da manipulação, dificultando severamente a realização independente das

atividades de vida diárias (LEVITT, 2001).

Os movimentos voluntários são possíveis, mas pode haver um atraso inicial antes que

comece o movimento. O movimento involuntário pode interromper o voluntário tornando-o

incoordenado (BOBATH; BOBATH, 1989).

A reação de extensão protetora dos membros superiores está ausente ou incompleta

(idem).

O posicionamento sentado influi no comportamento motor destas crianças, logo

quando sentado faz-se flexão de tronco. Os quadris precipitam anteriormente e ao elevar a

cabeça fazem extensão de tronco e precipitam-no posteriormente (BRACCIALLI;

BARAÚNA, 2002).

De acordo com Levitt (2001), somente conseguem juntar as mãos na linha média

flexionando a cabeça e a coluna anteriormente, o que é seguido pela flexão dos cotovelos,

adução dos braços e flexão dos dedos.

Para Braccialli; Baraúna (2002), quando sentados com apoio posterior e anterior, se

sentem seguros e usam as mãos, geralmente uma após a outra.

A maior dificuldade no posicionamento bípede é a capacidade para usarem as mãos

para tracionar-se. Em pé, realizam hiperextensão dos joelhos para obterem maior estabilidade,

pois basta uma mínima flexão dos quadris ou joelhos para que se colapsem em flexão

(SHEPHERD, 1998).

À medida que a criança cresce verifica-se que ela aprende a ser relativamente eficiente

na execução de atos almejados. Isto apenas ocorre com crianças que têm oportunidades de

adquirir atos motores funcionais através de certas estratégias de comportamento ao lidar com

o descontrole motor (ARAÚJO, 1999).

As deformidades passíveis de estarem presentes são menos freqüentes que no quadro

de uma criança espástica, mas podem estar presentes escoliose ou cifo-escoliose (geralmente

Page 44: tatiana frehner kavalco

com deformidades da parede torácica) e deformidades flexoras dos cotovelos e punhos

(HERBERT, 2003).

Há grandes dificuldades em resultados de controle de movimento e postura com estes

pacientes quando não há uma regularidade de estimulação, pois seu quadro clínico apresenta-

se muito instável e a qualquer espaço de tempo sem a estimulação necessária aumenta a

possibilidade de regressão do controle conquistado (BOBATH, 1989).

Faz-se imprescindível a utilização de estimulação pelos pais e que estes saibam

manusear de forma adequada e posicionar seus filhos da melhor maneira possível, para que o

controle motor seja estimulado continuamente (FINNIE, 2001).

Segundo Bobath (1997), a atetose pode ser classificada de acordo com suas

características mais evidenciadas clinicamente em:

a) Atetose com espasticidade: com flutuação entre tônus baixo e espasticidade,

permanecendo por mais tempo em espasticidade e com movimentos involuntários

distais;

b) Atetose com espasmos distônicos: com a presença de flutuação de tônus de

hipotonia para espasticidade, de uma forma extrema e rápida e com movimentos

involuntários distais;

c) Atetose pura: com flutuação de tônus entre hipotônico para grau de tônus próximo

do normal, mas com leve espasticidade e movimentos involuntários distais;

d) Coreoatetose: flutuação de tônus entre o hipotônico leve e a espasticidade leve,

mas com movimentos involuntários proximais.

2.1.4.3 ATAXIA

De acordo com Berhman e Kliegman (1994), os músculos do tronco ficam em

hipotonia, o que provoca uma quebra na seqüência do movimento, ou seja, as ações são feitas

de forma a perceber-se cada fase do movimento por falta de uma continuidade na realização

do mesmo. Possivelmente causados por lesão cerebelar e do tronco cerebral.

O portador dessa deficiência apresenta pouco equilíbrio corporal e seus movimentos

são sem ritmo, graduação e direção, e a fala é pastosa. É encontrada com maior freqüência na

hidrocefalia, no traumatismo craniano, na encefalite e na presença de tumores do cerebelo. Há

a presença de dificuldades no controle da velocidade, amplitude de movimento, direção e

força de seus movimentos (BOBATH; BOBATH, 1989).

Page 45: tatiana frehner kavalco

Tende à imprecisão e dificuldades quanto ao equilíbrio, locomoção mal coordenada,

base de sustentação larga, usando as mãos para se apoiar. A deficiência imposta no controle

motor manifesta-se, sobretudo, pela falta de freagem dos deslocamentos articulares fazendo

com que a criança apresente dificuldades no alcance dos alvos (dismetria), ultrapassando-os.

Evidenciando-se uma deficiência de coordenação e equilíbrio devido a hipotonia não permitir

a fixação das articulação, levando a uma má fixação da cabeça, do tronco, dos ombros e da

cintura escapular. Há escassos movimentos finos, podendo apresentar nistagmo (BOBATH,

1989).

A ataxia pode também ser classificada de acordo com características distintas que

podem estar presentes em:

a) Ataxia com espasticidade: tronco atáxico e espasticidade a nível distal;

b) Ataxia com atetose: tronco atáxico e atetose a nível distal (BOBATH, 1997).

É interessante notar que tanto a postura quanto o equilíbrio e os movimentos

voluntários são influenciados pela ação do cerebelo juntamente com os estímulos aferentes e

eferentes proporcionados pelos órgãos tendinosos de Golgi e pela ação do córtex motor e

tronco cerebral na estimulação eferente. As características da ataxia, portanto, tem extrema

relevância da ação cerebelar que, provavelmente, apresenta-se debilitada (GUYTON, 1984).

Na manutenção da postura e equilíbrio, que são deficitários no atáxico, o cerebelo é

utilizado como um controle de retroalimentação, proporcionando a correção quase que

instantânea dos sinais motores posturais que são necessários para a manutenção do equilíbrio

mesmo durante a movimentação extremamente rápida e com mudanças de direção (EKMAN,

2000).

No entanto, na realização de movimentos voluntários, que também são dificultados no

atáxico, o cerebelo atua de maneira a fazer um “controle de erros”, ou seja, o córtex motor

transmite sinais para a periferia, de forma a desencadear uma função motora, porém, ao

mesmo tempo, transmite a mesma informação ao cerebelo. Então este compara as intenções

do córtex motor com o desempenho da área referida e se houverem erros ele os identifica a

fim de que sejam providenciadas as devidas correções (GUYTON, 1984).

No caso de haver excesso de informações do córtex motor, como quando são

realizados movimentos muito rápidos para a periferia, o cerebelo tem a função de inibir o

córtex motor a fim de manter um tempo apropriado após o início da movimentação muscular

(BERNE, 1996).

De acordo com Guyton (1984:576):

Page 46: tatiana frehner kavalco

Uma das características mais importantes da função motora normal é a capacidade de a

pessoa progredir de um movimento para outro, em uma sucessão ordenada. Quando existe

uma disfunção do cerebelo, e foi perdida a capacidade subconsciente de prever, com

antecedência, a distância em que as diferentes partes do organismo se moverão em

determinado tempo, a pessoa torna-se incapaz, também, de controlar o início do próximo

movimento. Em conseqüência, o movimento seguinte pode iniciar-se muito precocemente ou

muito tardiamente. Por conseguinte, movimentos como aqueles necessários para escrever,

correr ou mesmo falar tornam-se, todos, totalmente incoordenados, desaparecendo por

completo a habilidade de evoluir para uma seqüência ordenada, de um movimento para o

outro.

Portanto, é importante observar que o cerebelo age evitando que ocorra dismetria e

ataxia e que uma lesão nesta região do SNC é indicativo deste quadro clínico.

Entretanto, também é relevante perceber que a ataxia pode também ocorrer por lesões

dos feixes espinocerebelares, porquanto que a retroalimentação exercida pelo cerebelo sobre

as partes do corpo em movimento é de vital importância no controle exato dos movimentos

musculares (BERNE, 1996).

2.1.4.4 HIPOTONIA

Pode ser expressada como uma alteração do tônus onde há diminuição do mesmo

ocorrendo assim a chamada flacidez muscular. Esta hipotonia é devida a causas neurológicas

que afetam os próprios músculos, suas conexões medulares ou o sistema nervoso central

(EKMAN, 2000).

A hipotonia ou resistência anormalmente baixa está relacionada com as seguintes

condições:

a) lesões dos motoneurônios inferiores (devido à interrupção dos axônios aferentes

e/ou eferentes);

b) distúrbios cerebelares (devido à redução da facilitação descendente para os

interneurônios e motoneurônios);

c) temporariamente após a lesão aguda do motoneurônio superior (idem).

Page 47: tatiana frehner kavalco

De acordo com BASS (2002), todas as patologias que apresentam característica de

diminuição do tônus muscular têm em comum o problema da imobilidade e incapacidade no

controle e realização de atribuições normais de crianças com a mesma faixa etária.

A característica comum desta lesão é a ausência de alguns ou mesmo de todos os

mecanismos posturais normais e, normalmente, podem criar deformidades devido ao fato de

ficarem por longos períodos no mesmo posicionamento durante todo o dia (idem).

Os músculos do pescoço, tronco, ombros e cintura pélvica não estão sendo ativados

por esses mecanismos posturais e parecem então estar fracos, caracterizando a hipotonia,

apesar de nem sempre este quadro de hipotonia estar relacionado com fraqueza muscular total

(BOBATH, ----).

Em certos casos pode-se notar a presença de movimento voluntário razoável ou até

mesmo bom, mas não é suficiente para que a criança estabeleça a funcionalidade adequada

(BOBATH, 1989).

2.2 DESENVOLVIMENTO MOTOR NORMAL DA POSIÇÃO SENTADA

O desenvolvimento motor normal segue uma linha de tempo médio na realização de

certas atividades conquistadas pela adaptabilidade no aprendizado e possível concepção de

novos movimentos estereotipados e reflexos. Assim também ocorre na posição sentada que

depende do aprendizado de cada fase para a concretização de um posicionamento totalmente

adequado e funcional, como descrito na Fig. 1 (ECKERT, 1993).

Para Shepherd (1998), o bebê normal modifica e adapta os padrões de movimentos

existentes, através do feedback sensorial, já que os movimentos do recém nascido em grande

parte são uma continuação dos movimentos realizados na vida intra-uterina. Portanto, o

aprendizado é baseado na experiência sensório-motora, através da formação do esquema

corporal, desenvolvimento perceptual e visão motora, ocorrendo influência deste também

sobre o desenvolvimento físico.

De acordo com Levitt (2001), para a aprendizagem da postura sentada, a criança

desenvolve, concomitantemente, os seguintes aspectos principais que influem diretamente

neste posicionamento:

a) controle postural da cabeça;

b) controle postural da cabeça e tronco;

Page 48: tatiana frehner kavalco

c) controle postural da cintura escapular, que auxilia em um melhor controle de

cabeça e tronco;

d) controle postural da cabeça sobre o tronco e do tronco sobre a pelve;

e) contrapeso na posição sentada;

f) reações de equilíbrio;

g) reações de proteção.

De acordo com Bobath (1997), para a criança adquirir a postura sentada ela não

necessita ter todos os quesitos acima, eles são desenvolvidos antes e durante a aquisição da

postura.

O controle postural da cabeça inicia seu desenvolvimento nas posições supino e prono

ao realizar movimentos de rotação, inclinação lateral e elevação nestas posturas. Este controle

da cabeça em uma criança normal desenvolve-se totalmente por volta dos 3 meses de idade, e

é ela que toma parte da função de orientar a criança quanto ao seu posicionamento já que

interfere diretamente na função do sistema vestíbulo-reticular (LEVITT, 2001).

Este endireitamento da cabeça ou elevação para a posição vertical também

desenvolve-se por volta dos 3 meses e evidencia a manutenção da cabeça da criança através

das propriedades de endireitamento corporal (OLIVEIRA, 2002).

O controle postural da cabeça e do tronco desenvolve-se entre os 3 e 6 meses de idade,

mas torna-se independente por volta dos 9 meses. Apresenta-se como a possibilidade de uma

criança conseguir controlar os movimentos de tronco e cabeça simultaneamente, mesmo que

não esteja envolvida com a elevação de cabeça e tronco (LEVITT, 2001).

Para que a criança consiga o endireitamento ou a elevação da cabeça e do tronco na

posição sentada, inicialmente passará pelas posturas inclinada ou arredondada para a frente,

para trás ou para os lados, até a posição sentada ereta. Este quesito desenvolve-se

normalmente entre 3 e 12 meses, dependendo das posições e apoio dado à criança

(BRACCIALLI; BARAÚNA, 2002).

Mancini (2002), afirma que o controle postural da cintura escapular é obtido

geralmente por volta dos 3 a 6 meses. Esta propriedade associa-se a um reforço do controle da

cabeça e também com o uso dos membros superiores para apoio na posição sentada. O uso

das mãos também ativa a estabilização da cintura escapular.

É através do controle da cabeça sobre o tronco e do tronco sobre a pelve que a criança

consegue a manutenção global do seu corpo no posicionamento requerido, no caso a posição

sentada (LEVITT, 2001).

Page 49: tatiana frehner kavalco

Logo, todas as propriedades acima referidas tornam-se inaptas a partir do momento em

que uma criança não consiga estabelecer uma adequada correlação de movimentos entre a

cabeça, tronco e pelve, pois ela tende a perder a funcionalidade do controle segmentado

estabelecido. Este aprendizado estabelece-se por volta dos 6 meses com ajuda, e

independentemente com a cabeça e tronco por volta dos 9 meses (BOBATH, 1997).

O contrapeso dos movimentos da cabeça, membros superiores, tronco e membros

inferiores na posição sentada é evidentemente importante na manutenção de um equilíbrio

global e para uma correta sustentação de peso com forças sendo distribuídas adequadamente

entre todos os segmentos corporais necessários, evitando-se assim uma acentuada sobrecarga

de alguns segmentos enquanto que todos deveriam ser solicitados (BRACCIALLI;

BARAÚNA, 2002).

Este controle postural desenvolve-se entre 6 e 12 meses e não pode ser separado da

função das mãos, já que elas estabelecem inicialmente um apoio importante para a realização

da posição sentada (BOBATH, 1997).

Quando a criança é inclinada para os lados, para frente ou para trás, os glúteos

inclinam-se fora da horizontal estabelecendo reações de inclinação com a criança conseguindo

manter seu endireitamento de segmentos corporais apesar da força atuante. Visualiza-se esse

mecanismo de controle postural por volta dos 9 a 12 meses de idade (LEVITT, 2001).

No caso de não haver equilíbrio e endireitamento serão acionadas as reações de

proteção e de apoio, estabelecidas com a prioridade de que estruturas mais importantes do

corpo não sejam afetadas em caso de uma queda. Normalmente desenvolvem-se as reações de

proteção e apoio anterior por volta dos 5 a 7 meses; para os lados por volta dos 9 meses e para

trás por volta dos 12 meses (BOBATH, 1997).

Todos estes pré-requisitos desenvolvendo-se associados e adequadamente, fazem com

que a criança consiga a maneira correta no posicionamento sentado dali por diante e de

maneira que ela passe por todos os estágios do desenvolvimento motor normal na posição

sentada (ECKERT, 1993).

Segundo Braccialli; Baraúna (2002), no desenvolvimento da postura sentada em

crianças normais existem várias particularidades de acordo com o período em que elas se

encontram no caminhar deste desenvolvimento. Por exemplo, as posições de prono e supino

que levam a um controle de cabeça e tronco.

É importante salientar as particularidades existentes em cada fase na posição de supino

(decúbito dorsal) e de prono (decúbito ventral). Isto será discutido de acordo com Bobath

(1997).

Page 50: tatiana frehner kavalco

2.2.1 DECÚBITO DORSAL

Em supino a criança controla a cabeça levando-a para os lados e elevando-a do chão.

A primeira reação que aparece é a reação cervical de retificação que se inicia quando o bebê

está no primeiro mês. Esta reação auxilia no rolar da criança para decúbito lateral, onde o

corpo acompanha o movimento da cabeça e deve ser utilizada pela mãe da criança para

ajeitar as vestimentas da mesma (BOBATH, 1997).

A partir do terceiro mês a cabeça passa a apresentar-se mais em linha média e os

ombros tendem a uma depressão normal onde a criança inicia movimentações com os

membros superiores anteriormente, mas sem evidenciar a extensão de cotovelos, trabalhando

com os músculos peitorais. Logo, inicia-se a reação óptica de retificação onde a criança

procura acompanhar os objetos com o olhar. Ainda neste momento a criança tende a realizar

flexão e extensão dos membros inferiores utilizando a musculatura abdominal. A reação

cervical de retificação permanece presente e o reflexo de Galant desaparece, dando maior

estabilidade para a criança (ECKERT, 1993).

No quarto mês de vida extra-uterina é notada maior simetria no posicionamento da

criança. Com movimentos de cabeça mais livres, a criança flete os joelhos e movimenta-os

para os lados, mas sem apresentar equilíbrio nestas ações e devido a isto a criança tende a cair

para os lados. Estes movimentos trabalham os músculos abdominais que são necessitados

posteriormente (BOBATH, ----).

Por volta do quinto mês a criança passa a segurar os pés com os joelhos fletidos e

estende os membros superiores, trabalhando também a musculatura abdominal e peitorais

respectivamente. A criança, a partir deste posicionamento, realiza movimentos latero-laterais

de balanceio o que a mobiliza a trabalhar a musculatura transversal de abdômen (OLIVEIRA,

2002).

Ao segurar os pés com as pernas em extensão e realizando antero e retroversão pélvica

no sexto mês de vida, a criança passa a desenvolver melhor controle pélvico. Nesta posição

ela realiza o balanceio, fortalecendo ainda mais os músculos abdominais. A criança eleva a

cabeça e estende os membros superiores, trabalhando mais os músculos peitorais. Nesta etapa

a cabeça encontra-se com os movimentos mais livres em função da reação óptica de

retificação (BOBATH, 1997).

Page 51: tatiana frehner kavalco

2.2.2 DECÚBITO VENTRAL

Durante o primeiro mês a utilização do posicionamento em prono pela criança

melhora a liberdade dos movimentos da cabeça, para que já no segundo mês ela comece a

apresentar maior extensão de membros inferiores (enfocando os quadris) e ombros com maior

possibilidade de abdução e apoio nos antebraços (BURNS; MACDONALD, 1999).

No terceiro mês o peso do corpo desloca-se, direcionando-se para o quadril, levando a

um aumento de extensão do quadril. Auxiliando dessa forma com um maior controle de

cintura escapular e levando a um melhor controle de cabeça. Associados a esta apresentação

estão o alinhamento dos ombros e cotovelos e melhor apoio nos antebraços, levando a um

maior domínio de cintura escapular por reação labiríntica de retificação que também está mais

presente nesta fase (LEVITT, 2001).

A partir do quarto mês o apoio nos antebraços evolui e a criança consegue um apoio

sobre os cotovelos e também passa a transferir o peso de um membro superior para o outro,

melhorando o equilíbrio e a liberdade em uma das mãos. Também neste mês a cintura

escapular mostra-se mais livre e dominada, em função da reação labiríntica de retificação e da

reação óptica de retificação estarem mais presentes. A criança apresenta-se com membros

inferiores em menor abdução - pois o peso é sustentado nos quadris - e maior extensão,

melhorando o controle de cabeça e facilitando seus movimentos de elevação do chão. Ainda

no quarto mês, evidencia-se a presença do início da extensão da cintura escapular (idem).

No quinto mês é notável um maior controle de cintura escapular por apoio com

membros superiores estendidos e dissociação d os mesmos. A criança passa a rolar de

decúbito ventral para decúbito dorsal e de decúbito dorsal para decúbito lateral, isto acontece

porque o equilíbrio é mais acentuado em decúbito ventral (ECKERT, 1993).

No sexto mês o apoio nas mãos com os cotovelos em extensão é presente e associa-se

com extensão de tronco e membros superiores, maior controle em decúbito lateral, a criança

rola de decúbito dorsal para decúbito ventral, passa a apoiar-se nas mãos com os cotovelos em

extensão. A integração da reação corporal de retificação com a reação de retificação cervical

conduz ao alinhamento da cabeça em relação ao corpo e o corpo em relação à cabeça

(BOBATH; BOBATH, 1989).

Com o início da condição de sentar, o mundo da criança com desenvolvimento motor

normal rapidamente aumenta. Uma vez que ela possui um crescente aumento em idade e

Page 52: tatiana frehner kavalco

muito mais energia é centrada em atividades motoras grossas, a criança precisa de um espaço

seguro para brincar (BRACCIALLI; BARAÚNA, 2002).

No período de 2 a 6 anos todos os padrões locomotores usuais estão adaptados e uma

variedade de coordenações da mão estão aprendidas. Os padrões posteriores são mais

dependentes de fatores tais como oportunidade do que os anteriores e laterais, e são mais

influenciados pela instrução e encorajamento do que pela necessidade (ECKERT, 1993).

2.2.3 SENTADO

Nas fases do terceiro ao sexto mês pode ser evidenciada a utilização deste

posicionamento, entretanto a criança apenas permanece nesta postura com apoio total, em

postura de flexão de tronco e membros inferiores, sem apresentar controle de cabeça ou

tronco inicialmente (LEVITT, 2001).

De acordo com Bobath (1997), no quinto mês é presente a disposição da criança na

posição sentada e nesta evidencia-se maior extensão de quadril, com extensão da coluna, bom

controle cefálico, flexão dos joelhos e apoio anterior.

Para Shepherd (1998), na posição sentada a criança passa a alcançar objetos a sua

frente, no sexto mês, já que se faz presente o início das reações de equilíbrio em tal postura.

Quando a criança constitui a condição de apresentar-se na postura sentada ela não tem

inicialmente o equilíbrio estático nesta postura, mas manifesta o domínios das posições prono

e supino e o devido equilíbrio nestes posicionamentos. Isto deve-se ao fato do

desenvolvimento motor normal ser um conjunto contínuo de posturas e realizações umas

dependentes das outras e do equilíbrio que é uma das propriedades necessárias para a

concretização do desenvolvimento em cada postura e ação (BOBATH, 1997).

No sétimo mês, como já referido, a criança passa a apresentar a capacidade de alterar

seu posicionamento de decúbito ventral para sentada e já na postura sentada ela apresenta uma

base de sustentação larga através de determinados posicionamentos de seus membros

inferiores e também é possível observar que ela começa a manusear objetos neste

posicionamento (LEVITT, 2001).

No oitavo mês a criança já consegue apresentar-se sentada de forma livre, com tal

liberdade para realizar todos os movimentos possíveis, já que suas reações de equilíbrio,

endireitamento e proteção anterior e lateral já se fazem presentes (OLIVEIRA, 2002).

Page 53: tatiana frehner kavalco

No nono e décimo mês a reação de proteção posterior é presente e a criança passa a ter

o domínio total da posição sentada, realizando todos os movimentos possível livremente, com

controle total sobre controles de cabeça, tronco e membros superiores, bem como dos

membros inferiores (OLIVEIRA, 2002).

Page 54: tatiana frehner kavalco

Figura 01: Estágios no desenvolvimento da posição sentada.

FONTE: LEVITT, Sophie, 2001.

Page 55: tatiana frehner kavalco

2.3 O DESENVOLVIMENTO MOTOR DA POSIÇÃO SENTADA NA PARALISIA

CEREBRAL ESPÁSTICA

Este estudo do desenvolvimento associado à patologia vem enfocar a característica

espástica pelo fato desta ser a classificação da criança analisada no estudo de caso.

Segundo Bobath; Bobath (1989), na Paralisia Cerebral a lesão interfere na seqüência

do desenvolvimento. Os sintomas do retardo motor são seguidos, cedo ou tarde, pelo

aparecimento de padrões anormais de postura e movimento em associação com o tônus

postural anormal. Com o gradual aparecimento da atividade tônica reflexa, as atividades

extensora e flexora tornam-se mais fortes, nas posições supina e prona, respectivamente. O

lactente paralisado cerebral, de maneira geral, não desenvolve o tônus postural contra a

gravidade como acontece com a criança normal, porém desenvolve a atividade reflexa

postural anormal que, de fato, faz com que seu corpo siga a direção da gravidade.

Mesmo na vida intra-uterina o bebê não apenas coloca os dedos na boca, mas também

pressiona a parede uterina e outras partes de seu próprio corpo ao movimentar seus membros,

o que lhe proporciona um feedback tátil e proprioceptivo para a percepção corporal. Estes

movimentos também são visualizados na vida extra-uterina da criança (BOBATH, ----).

Para Mancini (2002), um bebê privado de mobilidade ou com dificuldade de se

movimentar e explorar seu corpo, ou que possa movimentar-se apenas de um modo

desordenado, apresenta muita dificuldade em desenvolver esta percepção corporal.

A evolução e a extensão com que este quadro se desenvolve depende do tipo e da

severidade do caso e do quanto o corpo está envolvido. Inicialmente, a menos que o caso seja

muito grave, a hipertonia extensora e flexora mostrar-se-á somente quando a criança é

manuseada (KUDO, 1990).

Se a atividade reflexa postural anormal é forte numa baixa idade, ou se, como

geralmente acontece, ela aumenta durante o primeiro ano, a criança não adquirirá muitas

habilidades da criança normal (BRACCIALLI; BARAÚNA, 2002).

A atividade tônica reflexa anormal interfere no desenvolvimento da reação corporal de

retificação. Como conseqüência tem-se insuficiente rotação no eixo do corpo e incapacidade

de levantar a cabeça e estender a coluna, impede de rolar da posição supina para a posição

prona (idem).

O reflexo de Moro, assim como outros reflexos primitivos, pode permanecer ativo por

algum tempo além do prazo que deveria ter desaparecido, interferindo no desenvolvimento da

Page 56: tatiana frehner kavalco

reação de extensão protetora dos braços atrapalhando a aquisição da postura sentada e

manutenção do equilíbrio na mesma situação (BOBATH; BOBATH, 1989).

Com o tempo este quadro primário sofrerá alterações secundárias. O resultado é o

mascaramento do quadro primário e uma maior complexidade e individualidade dos padrões

anormais de acordo com o grau de comprometimento (SILVA, ----).

Na Paralisia Cerebral a lesão interfere na seqüência do desenvolvimento. Os sintomas

do retardo motor são seguidos, cedo ou tarde, pelo aparecimento de padrões anormais de

postura e movimento em associação com o tônus postural anormal (SOUZA; FERRARETTO,

1998).

Com o gradual aparecimento da atividade tônica reflexa, as atividades extensora e

flexora tornam-se mais fortes, nas posições supina e prona, respectivamente. O lactente

paralisado cerebral, de maneira geral, não desenvolve o tônus postural contra a gravidade

como acontece com a criança normal, porém desenvolve a atividade reflexa postural anormal

que, de fato, faz com que seu corpo siga a direção da gravidade (----, 1994).

Um bom desenvolvimento depende da boa funcionalidade dos movimentos realizados

pela criança, enquanto que esta funcionalidade é extremamente dependente dos padrões

posturais adotados, da sua estimulação e dos posicionamentos adequados ou inadequados a

que ela é submetida. Portanto, faz-se necessário compreender a instrumentária fisiológica

utilizada para a manutenção de um posicionamento adequado e as devidas formas de realizar-

se este posicionamento e torná-lo o mais funcional possível (BOBATH, ----).

Sabe-se que para que a criança adquira uma postura sentada adequada ela precisa de

um bom controle de cabeça, controle de tronco e além disso reação de proteção anterior. Estes

são fatores essenciais na verificação da postura sentada de uma criança com Paralisia

Cerebral, já que na grande maioria dos casos elas encontram-se com deficiência em todos

estes quesitos (BOBATH, 1989).

As posturas anormais na posição sentada em todos os níveis de desenvolvimento

podem ser devidas a:

a) ausência dos mecanismos posturais e presença das posturas anormais

compensatórias para a obtenção de equilíbrio;

b) presença de espasticidade;

c) tentativas de uma criança mais velha de controlar movimentos involuntários

desagregadores;

Page 57: tatiana frehner kavalco

d) uso de cadeiras, mesas, carrinhos de bebê, cadeiras de rodas, de tamanho e tipo

incorretos, e posicionamento contínuo da criança em apenas uma ou mais posições

sentadas inadequadas;

e) posicionamento prolongado em sentado (acima de duas horas) na mesma cadeira,

mesmo se as posições são corrigidas;

f) inadequada inervação recíproca (BRACCIALLI; BARAÚNA, 2002).

A ausência de estabilização postural que é presente em crianças com Paralisia Cerebral

podem ser causado quando uma criança que cai para trás ou se inclina para trás conforme

escorrega do assento de sua cadeira. A estabilização do posicionamento normal tende a

realizar a manutenção dos quadris em ângulo reto com o tronco, pois a pelve e o tronco estão

estáveis. Inicialmente no desenvolvimento o tronco apresenta um aumento do arco cifótico,

com a pelve em inclinação para trás; subseqüentemente o tronco tende a ficar reto com a

pelve inclinada para a frente. É uma forma da criança com Paralisia Cerebral apresentar-se,

mas há outras posturas, que serão mencionadas (BOBATH, 1989).

O retardo no processo de estabilização postural é compensado por diversas posturas

anormais. Essas posturas tornam-se propícias para auxiliar o surgimento de deformidades.

Devido a este fato é imprescindível que todas as pessoas circundantes estejam atentas com

relação às atividades e posicionamentos que a criança apresenta durante todo o dia. As

posturas anormais que as crianças com Paralisia Cerebral utilizam podem ser:

a) flexão da cabeça e tronco sobre os quadris semi-estendidos, num posicionamento

sentado no sacro. Os membros superiores podem apresentar elevação dos ombros

e flexão dos braços conforme a criança evita cair agarrando-se a um apoio. Os

punhos podem apresentar-se como apoio, com ombros em grande rotação interna e

com cotovelos estendidos. A criança pode manter esta posição em flexão sem o

apoio das mãos, mas compensa hiperestendendo o pescoço para evitar uma queda

para frente e para olhar para cima.

b) ao inclinar-se posteriormente contra a cadeira, seus membros superiores podem ser

mantidos em abdução (para cima ao lado do corpo), com os ombros elevados,

protraídos ou retraídos. Pode apresentar também elevação dos membros superiores

anteriormente a 45 – 90o, com extensão de cotovelos e elevação dos ombros, numa

tentativa de contrabalançar a inclinação posterior ou espasmo extensor. Os pés

podem entrar em flexão plantar buscando o chão para apoio, ou, se o chão está

próximo, os artelhos fletem e os pés podem pressionar em valgo para apoio.

Page 58: tatiana frehner kavalco

c) sentada em uma cama, no chão, ou cadeira bastante alta, pode aduzir e rodar

internamente os quadris semi-estendidos, com flexão ou extensão dos joelhos. Ela

pode fletir vigorosamente seus joelhos por sobre a borda da cadeira, torcendo os

membros inferiores em torno das pernas dianteiras da cadeira, para evitar a queda.

d) é comum o posicionamento “sentado em W” em crianças com Paralisia Cerebral

(principalmente diplégicos): sentada no chão com as nádegas entre os pés e as

pernas em rotação interna e flexão. Esse é o modo a criança tenta estabilizar sua

pelve e desenvolver um controle de cabeça e tronco e função da mão. Embora essa

postura seja observada em crianças sem deficiência motora, estas não a mantêm

por períodos tão freqüentes e prolongados como as crianças com Paralisia

Cerebral. Portanto, podem ocorrer deformidades dos quadris, joelhos e pés. A

posição sentada do alfaiate e a posição sentada com as pernas estendidas (long

sitting), com as pernas estendidas à frente da criança, também revelam acentuação

no arqueamento do tronco e dificuldade no uso das mãos e no alcance. É

conveniente salientar que a posição com as pernas estendidas pode ser utilizada

durante a terapia, pois auxilia no alongamento da musculatura posterior de

membros inferiores, além de ser útil no fortalecimento de abdominais e controle

de tronco. Ao contrário da posição sentada em W, que deve ser evitada.

e) algumas crianças estabilizam melhor um lado dos quadris ou tronco, e preferem

sentar-se de lado sobre uma das nádegas. Isto é mais característico de crianças

com hemiplegia (LEVITT, 2001).

2.4 POSTURA

A postura ereta do homem é hoje definida como sendo uma constante luta contra a

gravidade. Apesar desta aceitação, torna-se mais reconhecido que a postura ereta é

potencializada como a habilidade do organismo para adaptar-se à superfície de suporte sob o

aspecto da simetria e igualdade de sustentação do peso corpóreo em superfícies de contato

distintas, selecionando e adotando o alinhamento dos segmentos do corpo, adequando-os para

um eficiente desempenho da atividade visada; ainda, equilibrando e estabilizando a atitude do

corpo selecionada de acordo com a superfície de contato, bem como, ajustando e sustentando

as mudanças de posicionamento a fim de liberar de sustentação de peso as partes do corpo

Page 59: tatiana frehner kavalco

necessárias na realização do movimento e garantindo um suporte sobre o qual os músculos

possam agir (STOKES, 2000).

Portanto, uma postura eficaz é aquela que permite e facilita a realização de uma

atividade já escolhida com o máximo de eficiência levando em consideração os aspectos de

custo de energia e desempenho adequados sem causar dano estruturas do sistema corporal

(MOFFAT; VICKERY, 2002).

Há, entretanto, controvérsias com relação às estratégias utilizadas na conservação de

energia e manutenção de uma postura estável e equilibrada pelo uso perspicaz do esqueleto e

dos tecidos moles em correlação com as chamadas posturas “corretas” tanto sentado quanto

em pé que são passíveis de sustentação por pequenos períodos de tempo devido ao alto

consumo de energia. Possivelmente as posturas de uso perspicaz do esqueleto e tecidos moles

danificam o sistema corpóreo, contudo o dano pode ser evitado com desconforto por

sobrepeso e estresse nos tecidos o que força uma mudança postural e conseqüente aumento de

sobrecarga na musculatura primariamente não utilizada denominada alternativa (SHEPHERD,

1998).

Logo, o desempenho eficaz depende essencialmente de uma correta utilização ativa do

gasto energético do corpo em diferentes posicionamentos, onde alguns deles condizem com

um maior e outros com menor gasto de energia (idem).

2.5 MECANISMOS DE CONTROLE POSTURAL NORMAL

São todos os mecanismos que o organismo utiliza para a possibilidade do

posicionamento e da manutenção deste posicionamento por determinado tempo. Este

mecanismo apresenta seus reais efetores que são as reações de endireitamento, equilíbrio e

proteção, e seus pré-requisitos para que possa haver uma adequada realização destas reações,

que são o tônus muscular, a inervação recíproca e os padrões de movimento (BOBATH, ----).

Page 60: tatiana frehner kavalco

2.5.1 PRÉ-REQUISITOS DOS MECANISMOS DE CONTROLE POSTURAL

NORMAL

2.5.1.1 TÔNUS MUSCULAR

O tônus muscular é qualificado como a quantidade de tensão do músculo em repouso.

Clinicamente esta característica muscular é avaliada de maneira a realizar-se a movimentação

passiva que o músculo testado realiza. Em caso de uma musculatura íntegra, na verificação do

tônus muscular percebe-se uma leve resistência durante o teste. Entretanto, se há alteração de

tônus, este teste induz a percepção de aumento ou diminuição desta resistência que deveria

estar presente (SHEPHERD, 1998).

Em repouso normal é notado que as características visco-elásticas intrínsecas do

músculo que são responsáveis pela tensão nele apresentada, sendo descartados os reflexos de

estiramento muscular de tal função (BERNE, 1996).

Há presença de uma resistência no tônus normal devida à necessidade do organismo

na manutenção de posicionamentos diversos. A posição ereta relaxada por exemplo, onde

deve-se haver uma resistência muscular para manter a carga sobre o esqueleto. Logo os

músculos, por suas propriedades visco-elásticas, apresentam-se moderadamente ativos ou

ficam ativos intermitentemente, quando a oscilação do corpo excede os limites toleráveis para

tal posicionamento (LIANZA, 2001).

O feedback sensorial tem a capacidade de aprender novas tarefas e isso depende da

capacidade de adaptação plástica do SNC e da habilidade cognitiva e perceptual do indivíduo

em utilizar a informação em um contento apropriado. Por isso, o feedback apresenta

influência sobre o tônus muscular (SOUZA; FERRARETTO, 1998).

Em toda a capacidade de posicionamentos e movimentações passivas normais, em um

sistema neurologicamente intacto, podem ser notadas duas formas de respostas para tais

movimentações. Uma provê resistência forte e breve ao movimento, gerada através de

circuitos medulares que são ativados pelos aferentes do fuso muscular e do órgão tendinoso

de Golgi. A outra resposta é tônica, provê menor resistência, sendo ajustada por comandos

motores descendentes. Assim, as propriedades visco-elásticas intrínsecas dos músculos, os

comandos motores descendentes e os proprioceptores musculares (fusos musculares e órgãos

tendinosos de Golgi) atuam conjuntamente no controle do tônus muscular (EKMAN, 2000).

Page 61: tatiana frehner kavalco

Apresentando estas características, o controle do tônus é totalmente dependente de

uma estrutura intacta do sistema motor e nervoso do organismo (idem).

As classificações de hipertonia e hipotonia se devem ao caráter clínico da pessoa, mas

deve-se levar em consideração a importância de se saber a proveniência da lesão, já que é

comprovado que determinadas áreas lesionadas designam uma hipotonia ou hipertonia como

qualificação do quadro clínico (UMPHRED, 1994).

2.5.1.2 INERVAÇÃO RECÍPROCA

A excitação de um grupo de músculos quase sempre está associada à inibição de outro

grupo. Ou seja, quando um músculo é excitado, ele simultaneamente inibe os músculos

antagonistas, este fenômeno é denominado inibição recíproca e o mecanismo neuronal que

causa essa relação recíproca é chamado de inervação recíproca (BOBATH, ----).

A estimulação da área próxima à linha média da formação reticular faz com que os

músculos flexores no mesmo lado do corpo se contraiam e os extensores se relaxem. A

estimulação das porções laterais da formação reticular tende a causar efeitos opostos,

excitando os músculos extensores e inibindo os flexores. E, ao mesmo tempo em que ocorre

contração em um lado do corpo, os mesmos músculos no lado oposto tendem a relaxar,

enquanto seus antagonistas se contraem. Portanto, o fenômeno da inibição recíproca está

fortemente definido na formação reticular, como o é na medula espinhal, tanto para o controle

recíproco dos pares de músculos antagonistas quanto também para o controle dos músculos

entre os dois lados do corpo (GUYTON, 1984).

A ação recíproca dos agonistas, antagonistas e sinergistas permite a boa coordenação

de padrões de postura e de movimentos (BOBATH, ----).

De acordo com Bobath (1997), a co-contração (inervação recíproca dupla) está

geralmente presente proximalmente para dar estabilidade. A inervação recíproca simples,

ocorre distalmente para permitir movimentos e ajustes posturais.

Assim, todos os graus de inervação recíproca são requisitados para um suave e

eficiente controle postural e desempenho da atividade funcional (EKMAN, 2000).

Porquanto que fornece pré-requisitos para a atividade automática e voluntária, como:

a) a fixação sinérgica proximal para permitir mobilidade distal;

b) adaptação/ajuste automático de músculos para mudanças posturais;

Page 62: tatiana frehner kavalco

c) controle graduado de agonista e antagonista, ou seja, co-contração normal para

ritmo, graduação e direção de movimentos (EDWARDS, 1999).

A inibição recíproca reduz a atividade do antagonista quando o agonista está ativo,

permitindo que o agonista atue sem oposição. Quando os agonistas são recrutados

voluntariamente, os interneurônios mediadores da inibição recíproca impedem a atividade

indesejada nos antagonistas. Assim, a inibição separa os músculos em agonistas e

antagonistas. Para um controle motor eficiente, os colaterais das vias discendentes ativam os

interneurônios mediadores da inibição recíproca, ao mesmo tempo que excitam

motoneurônios inferiores selecionados (GUYTON, 1984).

De acordo com Ekman (2000), a entrada para os interneurônios participantes da

inibição recíproca é também proporcionada pelos aferentes Ia, cutâneos e articulares, em

outros interneurônios e pelos tratos córtico-espinhal, rubro-espinhal e vestíbulo-espinhal. A

inibição recíproca ocorre com entradas aferentes, além de durante os movimentos voluntários.

Por exemplo, durante reflexo de estiramento do quadríceps, os interneurônios da inibição

recíproca inibem os músculos do jarrete. Ocasionalmente, a inibição recíproca é suprimida

para permitir a co-contração dos antagonistas. Isso ocorre em pessoas com sistemas nervosos

intactos, quando elas estão ansiosas, antecipam perturbações imprevisíveis dos movimentos

ou quando estão aprendendo novos movimentos.

2.5.1.3 PADRÕES DE MOVIMENTOS

São as habilidades funcionais, como sentar, levantar e andar. Os padrões básicos de

movimento estão presentes para permitir o ajuste, a adaptação e uma variedade de

possibilidades para lidar com as diferentes influências do ambiente (BOBATH, 1997).

Os padrões básicos são moldados pelo sistema nervoso central e produzidos pelos

mecanismos de feedback e feedforward. O feedback ajusta o movimento contínuo e pelo

feedforward, o movimento é refinado, para na próxima vez que for realizado, ou seja, para

situações conhecidas, como explanado posteriormente (SOUZA; FERRARETO, 1998).

Portanto, estes padrões de movimento são mecanismos que efetuam a função de

regulação para a base da funcionalidade das posturas e atividades ou movimentos produzidos

pelo organismo, tendo seus sistemas de controle uma grande importância na realização bem

sucedida de toda e qualquer atividade de vida diária. Seus mecanismos de maior relevância

neste sistema de funções são o feedback e o feedforward (EDWARDS, 1999).

Page 63: tatiana frehner kavalco

2.5.1.3.1 Feedback e feedforward

De acordo com HORAK (apud SOUZA; FERRARETO, 1998): Os processos neurais

estão organizados em torno de objetivos funcionais e comportamentais e não em torno de

padrões sensório-motores pré-determinados. Logo, pode-se definir que o controle e

organização dos centros nervosos estão distribuídos por atividades e funções específicas.

Estas atividades específicas apresentam contribuição de sistemas de regulação para seu

sucesso e através destes mecanismos é que é possível interagir o sistema motor e sensório

fazendo-os atuar como um só.

Dentro desta interação é que se fazem presentes os componentes músculo-

esqueléticos, mecanismos de adaptação, de antecipação, de retroalimentação, de sinergismo

neuro-muscular, de representação interna e sistema sensorial, controlando o desenvolvimento

postural, estabilidade e equilíbrio, mobilidade e orientação espacial, temporal e de esquema

corporal (idem).

Os dispositivos mais evidenciados para a regulação destas organizadas situações são o

mecanismo de retroalimentação sensorial ou feedback e o mecanismo de antecipação ou

feedforward (EDWARDS, 1999).

Segundo Souza e Ferrareto (1998), o mecanismo de feedback ou retroalimentação

sensorial é caracterizado pela informação sensorial que o organismo apresenta durante a

execução dos movimentos. Ou seja, a estimulação sensorial através de uma retroalimentação

dos reflexos faz com que o estímulo seja continuamente alimentado facilitando a reação

motora, influindo necessariamente na aquisição e manutenção da postura e dos movimentos.

Logicamente este mecanismo não atua isoladamente neste controle postural e de

movimento, é sabido hoje que outros sistemas como o visual, vestibular, somatossensorial

(cinestésico, tátil e proprioceptivo) também atuam nesta aquisição motora. É importante

salientar que o feedback interno é mais relevante neste estudo, já que esta retroalimentação

sensorial interna é necessária na aquisição de habilidades primárias (GUYTON, 1984).

Souza; Ferrareto (1998) afirmam que, entretanto, um outro mecanismo com efetiva

participação no controle da postura e dos movimentos é o de antecipação ou feedforward, que

caracteriza-se pela capacidade de adaptar e utilizar experiências de movimentos e de posturas

anteriormente vividas para situações ainda não experimentadas.

Page 64: tatiana frehner kavalco

Para Edwards (1999), este mecanismo só é passível de uso através de habilidades já

aprendidas anteriormente, ou seja, com a prática do movimento ou postura. O aprendizado

motor é um conjunto de processos associados com prática ou experiência, levando a

mudanças relativamente permanentes na capacidade para o desempenho qualificado. O único

modo em que o aprendizado motor pode ser clinicamente observado é numa mudança na

capacidade funcional do paciente.

O feedforward é extremamente importante na aprendizagem e posterior utilização de

posicionamentos adequados para a criança portadora de Paralisia Cerebral e é por este fator de

regulação que faz-se necessário que os pais e terapeuta preparem a criança para a utilização

dos corretos posicionamentos e movimentos exigidos antes da realização de cada ato motor o

mais rápido possível (BOBATH, ----).

A integração sensório-motora dos dois sistemas (feedback e feedforward) contínua é

essencial na experiência de aprendizado e sua utilização para qualquer indivíduo, pois ao

permitir ao paciente mover-se de maneira normal, os programas efetivos podem ser retomados

adequadamente (EDWARDS, 1999).

2.5.2 EFETORES DOS MECANISMOS POSTURAIS

2.5.2.1 REAÇÕES DE ENDIREITAMENTO

As reações de retificação ou endireitamento são reações que atuam no deslocamento

do centro de gravidade do corpo para fora da sua base de apoio ou suporte. Também referem-

se à ligação da cabeça, tronco e membros entre si e com o ambiente (EDWARDS, 1999).

As reações de endireitamento são divididas em:

a) reação labiríntica de retificação: ao suspender a criança em supino, ela mantém e

inclina a cabeça contra a gravidade. Aparece entre 3 e 4 meses e não desaparece;

b) reação cervical de retificação: ao colocar-se a criança em decúbito dorsal e realizar

a rotação de sua cabeça para um lado, o corpo acompanha em bloco.;

c) reação de retificação do corpo agindo sobre o corpo;

d) reação de retificação do corpo agindo sobre a cabeça;

e) reação óptica de retificação: o controle de cabeça dependendo do objetivo visual

da criança (OLIVEIRA, 2002).

Page 65: tatiana frehner kavalco

Estas são respostas automáticas, mas ativas, que mantêm a posição normal da cabeça

no espaço (face vertical, boca horizontal), mas também o alinhamento normal da cabeça e

pescoço em relação ao tronco e do tronco em relação com os membros. Esta propriedade faz-

se importante por restaurar o alinhamento normal possibilitando ao homem a característica de

rotação no eixo do corpo, entre os ombros e a pélvis. Esta característica rotatória é presente

em todos os movimentos e é importante salientar que as superfícies articulares estão

orientadas obliquamente, portanto, dependendo também do eixo de rotação (BOBATH, ----).

Nas reações de retificação a criança responde às modificações extrínsecas da posição

dos seus segmentos corporais mediante o deslocamento e alinhamento imposto aos outros

segmentos e é provável que a visão desempenhe importante papel nesta resposta por ser ponto

fundamental no alinhamento da cabeça, através da reação óptica de retificação (SHEPHERD,

1998).

De acordo com Edwards (1999), estas reações são necessárias no alinhamento corporal

e na adequada apropriação do corpo para a realização de uma determinada tarefa ou para a

colocação e manutenção de um postura. Logo, as reações de endireitamento são observadas

em praticamente todas as seqüências de movimento, tais como rolar, sentar a partir da posição

deitada e girar na posição em pé.

O alinhamento entre tronco e membros é observado no comportamento humano

quando estabelece-se a reação de colocação do membro superior e da mão, ou seja, quando a

criança coloca a palma da mão para procurar apoio. Este alinhamento também é uma reação

de endireitamento onde os membros e o tronco respondem apropriadamente para manter um

posicionamento após o apoio e mesmo para alterar tal postura após este apoio (BOBATH, --).

É conveniente esclarecer que durante grandes períodos de movimentos e posturas

geralmente é aparente a presença de assimetria corporal, mas apesar disto as reações de

endireitamento são presentes (BASS, 2002).

A reação cervical de retificação e manutenção da posição normal da cabeça no espaço

estabelece ao homem importante característica para seu desenvolvimento físico.

Aproximadamente a partir dos seis meses a criança apresente um bom controle de cabeça e

mantém sua posição de face vertical e boca horizontal. Este posicionamento é automático para

qualquer situação a partir do momento em que é adquirido, mas é evidente que é realizado de

maneira ativa, ou seja, é uma reação de comportamento aprendido pelo organismo que

caracteriza-se por auxílio do feedback e feedforward do organismo (----, 1994).

Page 66: tatiana frehner kavalco

2.5.2.2 REAÇÕES DE EQUILÍBRIO

As reações de equilíbrio mantêm e recuperam o balance corpóreo (que é formado pelas

reações de equilíbrio, endireitamento e proteção) durante a realização das atividades diárias e

podem resultar somente em mudanças de tônus muscular, mas no caso de grandes

deslocamentos são vistos como movimentos opostos para retornar o centro de gravidade e

alinhamento para o posicionamento inicial (BOBATH, 1997).

Este mecanismo controlador desenvolve-se após o aprendizado da postura em que se

requer este equilíbrio. Por exemplo, a criança adquire a postura sentada, mas ainda não possui

o equilíbrio em tal posicionamento, apenas após algum tempo de treinamento de seu

equilíbrio que ela vem a conquistá-lo. Isto ocorre nas diversas posturas que aprendem-se e

adotam-se durante o desenvolvimento motor normal (BOBATH; BOBATH, 1989).

É importante enfatizar que apenas após a conquista de um posicionamento mais

primitivo é que se faz possível a conquista de um outro posicionamento menos primitivo e o

equilíbrio acompanha este desenvolvimento. Ou seja, para que uma criança consiga o

equilíbrio na postura sentada ela precisa conquistar tal postura e para que ela consiga

apresentar-se em tal postura, mesmo antes de conquistar o equilíbrio sentada, ela necessita

previamente ter conquistado um bom equilíbrio nas posturas em prono e supino por exemplo

(ECKERT, 1993).

Edwards (1999) diz que o equilíbrio é um dos principais mecanismos que o organismo

humano utiliza para a manutenção postural em diferentes posicionamentos e é baseado em

ajustes posturais. É evidentemente estabelecido pelo controle contra a ação da gravidade e

esta atividade é possibilitada pela ação da formação reticular e principalmente dos núcleos

vestibulares, bem como dos mecanismos proprioceptores e da percepção consciente do

equilíbrio, além de ser ajustado pela ação do cerebelo.

Os mecanismos de estabelecimento do equilíbrio obtidos pelas funções dos núcleos

vestibulares (localizados proximamente à junção do bulbo com a ponte) ocorrem em íntima

associação com a formação reticular e estes são intrinsecamente excitáveis, mas esta

excitabilidade é em geral controlada por impulsos inibitórios oriundos principalmente dos

núcleos da base e também do córtex cerebral. Também o cerebelo atua na apropriada

manutenção do equilíbrio (GUYTON, 1984).

Page 67: tatiana frehner kavalco

A ação inibitória dos núcleos da base tem também importante função no controle do

tônus normal, sendo que quando se caracteriza lesão ou perda completa da ação dos núcleos

da base e do córtex (inibidores das funções vestibulares e da formação reticular) a resposta

hipertônica é identificada. A hipertonia por sua vez caracteriza uma ação muscular global de

caráter espástico causando uma desordem de movimento, sendo esta a característica escolhida

para este estudo dentro do quadro clínico da criança com Paralisia Cerebral (EKMAN, 2000).

Por outro lado, ao apresentar-se um quadro de hipotonia, determinada por uma

flacidez globalizada, presume-se a ocorrência de uma lesão em um nível prontamente abaixo

dos núcleos vestibulares, sendo que a perda dos impulsos motores normalmente transmitidos

da formação reticular e pelos núcleos vestibulares para a medula espinhal é evidenciada pela

ausência de excitabilidade muscular. Este quadro de hipotonia é caracterizado por extrema

deficiência no equilíbrio (idem).

O equilíbrio é basicamente controlado pela ação sensorial do aparelho vestibular, que

é composto por um labirinto ósseo, contendo um labirinto membranoso, que constitui a parte

funcional do aparelho (BOBATH, ----).

Segundo Guyton (1984), o labirinto membranoso é constituído principalmente pelo

ducto coclear, três canais semicirculares, utrículo e sáculo. O ducto coclear não apresenta

função na manutenção do equilíbrio, entretanto o utrículo e o sáculo (que são duas grandes

câmaras dentro do labirinto membranoso) e os canais semicirculares desempenham a

importante função de órgão sensorial para o controle do equilíbrio humano.

Localizada na parede tanto do sáculo quanto do utrículo há uma pequena área com

pouco mais de 2 mm de diâmetro denominada mácula. Cada mácula é uma área sensorial para

detecção da orientação da cabeça em relação à direção da força gravitacional ou outras forças

aceleratórias. Cada mácula está envolta por uma camada gelatinosa na qual estão embebidos

vários pequenos cristais de carbonato de cálcio chamados de otocônios. Também na mácula

existem milhares de células ciliadas que projetam os cílios para dentro da camada gelatinosa e

são estas células ciliadas que fazem sinapse com os axônios sensoriais do nervo vestibular,

enviando determinadas informações sobre a condição do equilíbrio corporal e têm como

resposta a ação dos núcleos vestibulares (idem).

Mesmo em repouso têm-se as ações presentes destas células ciliadas no envio das

informações necessárias para a manutenção do equilíbrio para os núcleos vestibulares. O

simples fato de uma inclinação de um cílio para um lado determina aumento acentuado dos

impulsos originados nos nervos vestibulares ligados a esta célula, prontamente a inclinação

dos outros cílios para o lado oposto diminui e muitas vezes abole os impulsos originados.

Page 68: tatiana frehner kavalco

Logo, quando se faz alterar a orientação da cabeça no espaço encurvam-se os cílios

transmitindo impulsos apropriados ao encéfalo para controlar o equilíbrio (BERNE, 1996).

O fato de ocorrer um padrão diferente de excitação na mácula para cada posição da

cabeça que determina a informação enviada ao encéfalo sobre a orientação da mesma. Esta

orientação, por sua vez, determina o equilíbrio necessário para todo o corpo, a partir do

momento em que o estímulo sensório faz com que os sistemas motores vestibular, cerebelar e

reticular excitem reflexamente os músculos apropriados para manter o equilíbrio adequado

(GUYTON, 1984).

O aparelho vestibular detecta a orientação e movimento apenas da cabeça. Portanto, é

essencial que os centros nervosos também recebam informações apropriadas em relação à

orientação da cabeça com respeito ao corpo, como também a orientação das diferentes partes

do corpo entre si. Esta informação é transmitida dos proprioceptores do pescoço e do corpo

diretamente aos núcleos vestibular e reticular do tronco cerebral e também indiretamente

através do cerebelo (BERNE, 1996).

De acordo com Guyton (1984), o cerebelo funciona no controle motor apenas em

associação com atividades motoras iniciadas em outro ponto do sistema nervoso. No

desempenho do cerebelo no controle dos movimentos posturais e de equilíbrio as atividades

da medula espinhal e a porção inferior do tronco cerebral estão intimamente associadas.

O equilíbrio é muito mais perturbado durante o desempenho dos movimentos rápidos

que durante a parada. Isso sugere que o cerebelo é importante especialmente no controle do

equilíbrio entre as contrações dos músculos agonistas e antagonistas, durante as rápidas

alterações de postura corporal, ditadas pelos aparelhos vestibulares (BASS, 2002).

Devido ao fato das transmissões dos estímulos de posicionamentos adotados pelo

corpo ao cérebro serem especialmente lentas em relação ao funcionamento do sistema

espinocerebelar para tal função durante a realização de movimentos rápidos, o cerebelo é

utilizado para reconhecer com precedência a rapidez e a direção em que determinada parte do

corpo está se movimentando e, em seguida, prever, a partir da informação recebida, onde as

partes do corpo devem estar em cada ocasião (GUYTON, 1984).

É através de abundantes vias sensoriais partindo das áreas somática do corpo,

especialmente dos músculos, articulações e superfícies cutâneas, que o circuito neuronal do

cerebelo é formado e posteriormente é conectado ao tronco cerebral (BERNE, 1996).

O equilíbrio também depende da ação proprioceptiva dos receptores especiais

existentes nos músculos e tendões para sua manutenção, os fusos musculares e órgãos

tendinosos de Golgi. Os fusos musculares estão ligados às fibras musculares intrafusais

Page 69: tatiana frehner kavalco

(unidades não contráteis) e detectam alterações no comprimento das fibras musculares e a

velocidade dessa mudança no comprimento. Os órgãos tendinosos de Golgi, por sua vez,

apresentam-se dentro dos tendões musculares e imediatamente adiante de suas inserções nas

fibras musculares e detectam a tensão aplicada ao tendão muscular durante a contração ou o

estiramento do músculo (BASS, 2002).

A ação destes receptores é que transmitirá as informações necessárias para a medula, o

cerebelo e até mesmo para o córtex cerebral ajudando todas essas porções do sistema nervoso

a realizarem as suas funções para controlar a contração muscular e consequentemente a

manutenção do equilíbrio (GUYTON, 1984).

A mais importante informação proprioceptiva necessária para a manutenção do

equilíbrio é aquela oriunda dos receptores articulares do pescoço, e que indicam ao sistema

nervoso a orientação da cabeça em relação ao corpo (BASS, 2002).

A informação proprioceptiva de outras partes do corpo além do pescoço também é

necessária para a manutenção do equilíbrio porque ajustes apropriados no equilíbrio devem

ser feitos sempre que o corpo é angulado ao nível do tórax ou abdome, ou em qualquer outro

local. É provável que todas estas informações sejam somadas algebricamente no cerebelo,

núcleo vestibular e na substância reticular do tronco cerebral, determinando ajustes adequados

nos músculos posturais (idem).

Também são importantes na manutenção do equilíbrio os vários tipos de sensações

exteroceptivas. Estas sensações podem ser explicadas pelas sensações da distribuição do peso

corporal sobre cada um dos pés ou a mudança de inclinação corporal enquanto a pessoa está

correndo, por exemplo (BERNE, 1996).

Acredita-se que um centro cortical para a percepção consciente do estado de equilíbrio

esteja localizado nas porções mais baixas do lobo parietal, oposta à área cortical primária para

a audição. É provável que as sensações do aparelho vestibular, dos proprioceptores cervicais e

da maioria dos outros proprioceptores inicialmente se integrem nos centros do equilíbrio do

tronco encefálico antes de serem transmitidas ao córtex cerebral, mas é sabido que o centro da

percepção consciente do estado de equilíbrio também influi em muito na manutenção deste

equilíbrio (EKMAN, 2000).

De acordo com Guyton (1984), os impulsos das áreas cerebelares costumam também

ser integrados no sentido subconsciente do equilíbrio pelos núcleos vestibulares e reticulares,

mesmo antes que a informação sobre o equilíbrio seja enviada ao córtex cerebral.

Page 70: tatiana frehner kavalco

2.5.2.3 REAÇÕES DE PROTEÇÃO

De acordo com Edwards (1999), essas reações são ativadas quando o centro de

gravidade é deslocado para fora da base de suporte e as reações de retificação e equilíbrio são

incapazes de recuperar a estabilidade. Essas reações de proteção incluem caminhar na direção

do deslocamento e a reação de pára-quedas, de colocar as mãos para proteger o rosto quando

cair.

As reações de proteção servem como suporte para impedir ou diminuir a incidência de

quedas e de choques mecânicos que a criança venha a sofrer quando o centro de gravidade é

muito deslocado para que as reações de endireitamento e equilíbrio atuem de maneira

adequada e também quando a velocidade de deslocamento é demasiadamente alta para que as

reações de equilíbrio surjam (BOBATH, ----).

É notório que no desenvolvimento motor normal estas reações apresentem-se

adaptadas às atividades da criança e ocorrem de maneira a se sobrepor, mas didaticamente é

notado que na postura sentada a reação de proteção anterior é evidenciada primeiramente,

logo após visualiza-se a reação de proteção lateral e por último a reação de proteção posterior.

Assim também ocorre com as reações de proteção na postura em pé (EDWARDS, 1999).

2.6 MECANISMO DE CONTROLE POSTURAL NA PARALISIA CEREBRAL

ESPÁSTICA

A paralisia como forma de encefalopatia crônica não evolutiva na qual predominam os

distúrbios da motricidade, pode apresentar as seguintes características: espasticidade, atetose,

ataxia ou forma mista, de acordo com cada quadro clínico. Mas neste trabalho a ênfase é dada

na Paralisia Cerebral com espasticidade (BOBATH, 1989).

Todas estas características são dependentes dos sistemas de controle dos mecanismos

posturais que são as reações de equilíbrio, as reações de endireitamento e as reações de

proteção. Logo, estes mecanismos de controle são fatalmente dependentes da funcionalidade

de certos dispositivos reguladores que são o tônus muscular, os padrões de movimento e a

atividade de inervação recíproca (BOBATH, ----).

Page 71: tatiana frehner kavalco

As lesões cerebrais de caráter persistente e não progressivo tendem a acarretar

alterações diversas nos mecanismos básicos de controle da postura, influenciando desde os

pré-requisitos destes mecanismos até mesmo seus efetores globais. Onde verificam-se

alterações de tônus muscular, na percepção e padrões de movimentos, na inervação recíproca,

nas reações de endireitamento, nas reações de equilíbrio e nas reações de proteção da criança

(GIANNI, 2000).

2.6.1 ALTERAÇÕES NOS PRÉ-REQUISITOS E EFETORES DOS

MECANISMOS DE CONTROLE POSTURAL

Geralmente os pré-requisitos necessários para um bom controle postural apresentam-

se de maneira alterada, em igualdade com as características que controlam os mecanismos

posturais. Estas caracterizam as necessidades mais primordiais para uma boa manutenção

postural. Por este fato são comuns prioridades nos tratamentos motores das crianças com

Paralisia Cerebral (SCHWARTZMAN, 1993).

Como o tônus muscular faz parte dos pré-requisitos para um mecanismo de controle

postural normal, a criança com Paralisia Cerebral terá dificuldades neste ponto (SHEPHERD,

1998).

O espástico pode ter um aumento do padrão de espasticidade quando ocorre uma

mudança de posição ou de alinhamento de partes do corpo. A criança não permanece

adequadamente em uma superfície de apoio e os movimentos são lentos e com falta de

variedade (GIANNI, 2000).

O caráter hipotônico faz com que a criança apresente pouca ou nenhuma resistência ao

movimento. A criança fica totalmente apoiada na superfície de apoio e apresenta dificuldade

em manter uma posição antigravitacional (EKMAN, 2000).

Com relação à inervação recíproca, observa-se também alterações no quadro de

Paralisia Cerebral. As crianças com espasticidade, possuem grande estabilidade, ou seja,

apresentam grandes fixações que acabam por ocasionar importantes dificuldades e

diminuições dos movimentos (BOBATH, 1997).

A criança com Paralisia Cerebral espástica pode ter um tronco hipotônico, mas com

fixação inadequada de cintura pélvica e escapular (BOBATH, ----).

Os ajustes posturais normais dependem da sensação de movimento e de posturas

normais, o que não ocorre com a criança com Paralisia Cerebral, se não houver uma

Page 72: tatiana frehner kavalco

intervenção terapêutica que leva a sensações de movimentos e posturas mais próximas do

normal (BOBATH, 1997).

Quando a criança vai tendo uma maior confiança nas mudanças posturais e de

movimento de acordo com as experiências e maturação das mesmas, ela vai criando maior

confiança. Esta é uma dificuldade da criança com Paralisia Cerebral, que quando portadora de

espasticidade apresenta uma variedade limitada de padrões de movimento

(SCHWARTZMAN, 1993).

Em crianças com Paralisia Cerebral normalmente há presença de deficiências a nível

de reações de endireitamento e estas são comumente associadas a dificuldades de equilíbrio e

proteção. A assimetria imposta pelo movimento anormal e por esta falha nas reações de

endireitamento originam deficiências no realinhamento dos segmentos do corpo na conclusão

dos movimentos e posicionamentos fazendo com que estes estejam prejudicados (BOBATH,

1989).

As reações de endireitamento normais levam ao controle de cabeça e de tronco, para

alinhamento, rotação sobre o eixo do corpo além de ajuste e orientação posturais, tendo como

base a visão. Assim pode-se entender a dificuldade das crianças em relação as reações de

endireitamento, pela alteração de tônus, inervação recíproca e de padrões de movimento, pois

ela não terá a vivência necessária de um desenvolvimento motor normal, que traz a evolução

das reações de endireitamento (BOBATH, 1997).

As reações de equilíbrio são adquiridas no desenvolvimento motor normal somente

após a criança adquirir a postura na qual ela irá desenvolver este equilíbrio. Como a aquisição

das posturas na criança com Paralisia Cerebral apresenta-se dificultada, também a aquisição

do equilíbrio é dificultada (BOBATH, 1997).

Se a criança não tem reações de retificação adequadas, também não apresentará

reações de equilíbrio convenientes (EDWARDS, 1999).

Como mudanças do centro de gravidade podem levar a simples alteração de tônus

muscular em uma criança normal, haverá esta dificuldade também em crianças com

espasticidade, além da associação de movimentos contrários a grandes deslocamentos

(BOBATH; BOBATH, 1989).

Na maioria das crianças com Paralisia Cerebral, as reações de proteção são não

confiáveis e insuficientes. As crianças com caráter espástico podem ter algumas reações de

endireitamento e equilíbrio, mas terão dificuldades em utilizar os membros superiores para

executar tais reações (BOBATH, 1997).

Page 73: tatiana frehner kavalco

Como as reações de proteção levam a ligação das reações de equilíbrio e

endireitamento e estes estão deficientes na Paralisia Cerebral espástica, haverá uma alteração

importante no balance (LEVITT, 2001).

É importante salientar que o tratamento fisioterapêutico pode melhorar e ajustar o

balance (reações de endireitamento, equilíbrio e proteção), efetuando assim uma melhora nos

padrões posturais e consequentemente funcionais da criança (KUDO, 1990).

2.7 ORIENTAÇÕES DOMICILIARES

Ao se realizar um tratamento fisioterapêutico de uma criança com Paralisia Cerebral o

manuseio torna-se peça fundamental dentro de toda a gama de soluções necessárias para a

larga série de problemas que o paciente apresenta. É a partir do momento em que se identifica

que o maior período de permanência do paciente é em sua residência que se observa o quanto

é importante o cooperativismo dos pais no auxílio do manuseio dando à criança maiores

oportunidades para o desenvolvimento de suas atividades e capacidades independentemente

de suas limitações (LEVITT, 2001).

A faixa etária de zero a cinco anos de idade é concernente com o período em que a

criança é manuseada e ensinada principalmente pelos seus pais. Portanto, uma limitação nos

conhecimentos e orientações desprovendo os pais de um manuseio e posicionamento

benéficos à criança com Paralisia Cerebral acarreta maiores dificuldades na evolução positiva

do tratamento e pode até mesmo implicar em complicações posteriores do quadro clínico do

paciente, principalmente envolvendo posicionamentos inadequados para o comportamento

funcional da criança (FINNIE, 2001).

A variabilidade de alterações possíveis nos quadros de Paralisia Cerebral leva a crer

que para cada paciente existe uma série de observações particulares, que justificam a

importância em orientar os pais para uma análise mais crítica do quadro clínico de seu filho.

A partir do momento em que estes agrupam maiores conhecimentos sobre seus filhos torna-se

mais fácil orientar conhecimentos de manuseio adequados e aplicar estes conhecimentos em

casa (idem).

As habilidades manuais dos pais também denotam uma variabilidade de situações, já

que cada pessoa pode apresentar maior ou menor facilidade de manuseio. Há de se levar em

conta este fato sempre que se realizar uma orientação, buscando adaptar à pessoa a melhor

Page 74: tatiana frehner kavalco

maneira desta realizar o manuseio e aprimorar posicionamentos além dos já adaptados e

aplicados pelo responsável até o presente momento (LEVITT, 2001).

Para Finnie (2001), é de suma importância também a aceitabilidade e o

relacionamento entre os pais e o orientador, sendo este ponto mais evidenciado no primeiro

encontro entre pais e terapeuta. Nesta situação é preciso que os pais revelem quais os

principais problemas encontrados no cotidiano da criança e é necessário que o terapeuta teste

as habilidades e instabilidades do paciente isoladamente seja qual for a independência que

tenha alcançado. Só então deve-se planejar o tratamento e o atendimento caseiro para o futuro

imediato.

Cabe ainda ao terapeuta explanar aos pais como é a realização de cada manuseio passo

a passo, quais os objetivos e estágios a seguir do tratamento, ensinando como os pais podem

auxiliar na evolução estágio por estágio do paciente em concomitância com o tratamento

fisioterapêutico (LEVITT, 2001).

Marques; Oliveira (1998) salientam que é importante sempre acrescer aos pais quanto

a necessidade de relacionar as orientações ao dia-a-dia da criança, já que este trabalho vem

propor justamente a necessidade de um acompanhamento diário e por isso a importância do

responsável que se apresenta no maior período de convivência com a criança compreender

que sua função no tratamento não é como uma sessão de meia hora diária e sim um

acompanhamento integral.

De acordo com Levitt (2001:49):

as mães ficam tanto física quanto emocionalmente exaustas com os cuidados com suas

crianças portadoras de deficiência, o resto da família e possivelmente seu trabalho

profissional. Por conta disso, muitos terapeutas também dividem seus programas com pais e

outros adultos da família da criança. Eles não apenas são uma equipe pronta, como sua

participação os ajuda a sentirem-se úteis para a criança com incapacidade. 1

O terapeuta deve ser observativo e tentar aprender quais são as esperanças e

expectativas da criança e seus pais e o que eles já sabem e podem fazer. Isto facilita a busca

na perícia técnica dos elementos para um programa mais relevante (idem).

O respeito e confiança dados àquilo que os pais e a criança já compreendem e

conseguem fazer desenvolvem sua segurança. Relações mais positivas se desenvolvem entre

os pais, a criança e o terapeuta com este aumento de segurança em si mesmo e há mais

motivação conforme eles respondem positivamente ao terapeuta que leva em consideração

seus desejos e idéias para resolver alguns de seus problemas (FINNIE, 2001).

Page 75: tatiana frehner kavalco

Há de levar-se em conta que a criança com Paralisia Cerebral não é somente limitada

nos movimentos que são estereotipados, mas é também limitada em suas reações e respostas

ao serem movidas. Logo o trabalho, principalmente com criança com Paralisia Cerebral de

característica espástica, evidencia um grau de dependência em diversas atividades além de

dificuldades extras na tentativa de mover e ajustar a criança a algumas mudanças nos

movimentos, de acordo com o grau de acometimento. A criança espástica pode apresentar-se

em maior grau de padrão patológico se não for manuseada de forma adequada (idem).

Segundo Levitt (2001), evidencia-se então o quanto é importante que os pais também

tenham esta noção de dependência, mas que tentem estimular seus filhos a realizarem

determinadas funções que eles mesmos são capazes de perceber que eles são capazes de fazer.

Também é importante, através do contato estabelecido com o terapeuta, que os pais obtenham

o conhecimento dos melhores posicionamentos para que eles mesmos consigam efetuar de

maneira mais funcional as atividades de que seus filhos são dependentes.

O direcionamento das orientações deve ser feito de modo a atingir as maiores

dificuldades dos pais e da criança no contingente funcionalidade. Portanto, cada criança

apresenta suas particularidades quanto às orientações a serem prestadas (idem).

De acordo com Finnie (2001), o conhecimento do local de habitação e situação sócio-

econômica da família em questão deve ser levado em consideração para se realizarem

orientações domiciliares, já que todos os utilitários e acessos da criança e dos pais são

importantes na estimulação, posicionamento e funcionalidade das atividades realizadas

diariamente.

É importante também estabelecer o nível de conhecimento dos pais previamente sobre

as orientações a serem prestadas, para que se possa instigar nestes familiares a vontade de

aprender a posicionar de melhor maneira seu filho e, ao mesmo tempo, identificar quais são as

principais falhas nos posicionamentos utilizados anteriormente (OLIVEIRA; CORDANI,

2002).

Page 76: tatiana frehner kavalco

3. METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão de literatura sobre a Paralisia Cerebral (PC), enfocando

principalmente a característica espástica. Abordaram-se ainda os temas sobre

Desenvolvimento Motor Normal e Desenvolvimento Motor Anormal decorrente da patologia

estudada, ambos até a posição sentada. Foram estudados ainda a Postura, os Mecanismos de

Controle Postural e por fim as maneiras a realizar o mais adequadamente possível as

Orientações Domiciliares.

Através de visitas domiciliares foram executadas a avaliação física e dos

posicionamentos comumente adotados, bem como a avaliação funcional da criança (pela

avaliação no -Anexo 01), as orientações prestadas à mãe e a reavaliação da criança após a

utilização dos conhecimentos orientados para a mãe, avaliando os resultados alcançados.

O registro dos dados foi realizado através de fotografias feitas a partir dos

posicionamentos utilizados para a criança pela mãe anteriormente às orientações, bem como

após as mesmas para evidenciar o manuseio da mãe. Também foram feitas fotografias após o

período de utilização das posições orientadas.

O cadastro dos mobiliários da residência da criança em questão foi realizado e

analisado a partir de uma visita domiciliar e observação de posicionamentos (Anexo 02).

A partir dos dados utilizados chegou-se às conclusões deste trabalho.

Page 77: tatiana frehner kavalco

alguns tipos de alimentos sólidos (como carnes), retira o alimento do talher com os dentes

tendo dificuldades para fechar os lábios e sua mastigação e deglutição são lentas.

Quanto ao posicionamento do alimentador, este posiciona-se ao lado da criança, sendo

que a colher é posicionada perpendicularmente a face da criança. O movimento realizado é de

cima para baixo, sendo que uma das orientações foi justamente para que a mãe busque não

tentar realizar tal movimento como será abordado na sessão das orientações prestadas.

Quanto ao posicionamento da criança, esta é colocada de maneira a ficar sentada na

cadeira adaptada, no colo da mãe ou no sofá.

Observa-se que quando colocada no colo da mãe, a criança apresenta flexão de

membros inferiores, inclinação do tronco posteriormente, extensão da cabeça e membros

superiores em padrão flexor apoiados anteriormente sobre o corpo. Este posicionamento dos

membros superiores sobre o corpo da criança deve-se ao fato de que a mãe impede a abdução

dos ombros, compensando com seu próprio posicionamento (inclinando-se), como demonstra

a Fig. 06.

Figura 06: A mãe inclina-se para impedir padrão de membros superiores da criança durante a alimentação. Ela compensa sua postura para auxiliar o posicionamento de sua mão que mantém a abdução de membros superiores. Ainda é observado que os membros superiores da criança permanecem em padrão flexor e que a cabeça da criança apresenta indubitável extensão.

FONTE: do autor.

Ao realizar a alimentação na cadeira adaptada, a mãe posiciona-se ao lado da criança e

não procura apoiar a cabeça da criança para facilitar a alimentação. Neste posicionamento

nota-se o aumento do padrão de membro superior ao colocá-lo sobre o apoio lateral da

cadeira, como demonstrado na Fig. 07.

Page 78: tatiana frehner kavalco

Figura 07: Sentado na cadeira adaptada para alimentação. Posicionamento do membro superior inadequado, estimulando a elevação dos ombros e uma maior fixação da cintura escapular.

FONTE: do autor.

Quando posicionado em supino no sofá, a criança permanece com grande flexão de

membros inferiores e superiores, exacerbado com abdução de ombros. É visível que apresenta

maior dificuldade para deglutir e seu posicionamento facilita a ocorrência de complicações

como aspiração do conteúdo alimentar. (Fig. 08)

Figura 08: A mãe utiliza-se da posição supina para a alimentação da criança, aumentando padrões patológicos e complicações.

FONTE: do autor.

Page 79: tatiana frehner kavalco

Na tentativa de alcance de objetos, como um brinquedo, a criança apresenta grande

aumento o tônus muscular devido ao descontrole da inervação recíproca, o que dificulta ainda

mais a realização e a independência destes atos.

Portanto, ao tentar associar movimentos de alcance, pinça e garra o infante I. R. M.

tem também sua espasticidade aumentada. Seu cotovelo não é passível de extensão total e

seus dedos fletem-se impedindo tais movimentos, exemplificado na Fig. 09.

Figura 09: Movimentos de garra e pinça inadequados. Ao tentar alcançar objetos no posicionamento sentado, a criança apresentou aumento da espasticidade e, por este motivo, não conseguiu estender completamente o cotovelo e ainda fletiu os dedos ao realizar os movimentos de garra ou pinça.

FONTE: do autor.

Para ministrar líquidos a mãe normalmente posiciona a criança sentada na cadeira

adaptada ou sobre seu colo. Comumente utiliza-se da colher para esta atividade, portanto

nesta situação a criança apresenta-se como no posicionamento para consistência pastosa ou

sólida (Fig. 10)

Page 80: tatiana frehner kavalco

Figura 10: Posicionamento na cadeira utilizado para ministrar líquido com a colher. A criança apresenta estimulado seu padrão patológico de membro superior com o posicionamento do mesmo sobre o apoio da cadeira. Não há apoio para controle ou auxílio para percepção de linha média da cabeça.

FONTE: do autor.

Quando a mãe utiliza-se do copo para ministrar os líquidos na cadeira adaptada, esta é

inclinada posteriormente e a mãe não posiciona-se no nível da criança, apenas inclina

anteriormente seu corpo. Também apoia com sua mão a cabeça da criança que permanece

retilínea com auxílio dos apoios da cadeira. (Fig. 11)

Os membros inferiores tendem à rotação externa e os pés não permanecem apoiados

na cadeira. Também os membros superiores acentuam seu padrão flexor, evidenciado na Fig.

11.

Figura 11: posicionamento da mãe e da criança ao ministrar líquidos através do uso do copo.

FONTE: do autor

Page 81: tatiana frehner kavalco

4.3.2 COMUNICAÇÃO

A criança responde a estímulos sonoros, muitas vezes através de gestos com os

membros superiores ou expressões faciais, como sorrir ou através do olhar. Também utiliza-se

de sons como o balbuciar, apesar de não ser capaz de verbalizar, falar frases ou cantar.

A mãe utiliza-se de posicionamento em pé para comunicar-se com a criança quando

esta se encontra na cadeira adaptada. Nota-se que a criança despende grande esforço para

compreender a origem do estímulo sonoro e não visualiza os movimentos realizados pela mãe

para falar.

4.3.3 Carregar

Ao carregar a criança a mãe mantém suas pernas em extensão, com apoio apenas em

glúteos, sem apoio de tronco, com padrão flexor dos membros superiores, limitando o campo

visual da criança mantendo sua cabeça apoiada sobre o ombro da mãe. (Fig. 12)

Ainda, a mãe refere que há momentos em que ocorrem choques mecânicos entre a

cabeça da criança e seu rosto devido ao posicionamento adotado.

Este posicionamento facilita os padrões patológicos da criança e não estabiliza o

tronco possibilitando oscilações e maior instabilidade do mesmo, bem como, diminui a

segurança da criança ao ser carregada. (Fig. 12)

Os membros inferiores têm aumento de seu tônus levando a posicionamentos como o

cruzar das pernas em extensão, o que influencia negativamente um posterior posicionamento

sentado da criança. (Fig. 12)

Page 82: tatiana frehner kavalco

Figura 12: Posicionamento que a mãe utiliza para carregar a criança.

FONTE: do autor.

4.4 CADASTRAMENTO DOS MOBILIÁRIOS UTILIZADOS PELA CRIANÇA NO

POSICIONAMENTO SENTADO

Os mobiliários mais utilizados pela criança ou pela mãe na realização das atividade de

que a criança é dependente são: cadeira adaptada e sofá.

Foi orientado, como será descrito posteriormente nas orientação domiciliares

prestadas, que a criança utilize todas as adaptações possíveis da cadeira, como inclinação e

manutenção do apoio podal em nível adequado.

No sofá, as orientações enfocaram mais o posicionamento do filho em relação à mãe,

devido ao fato de que esta utiliza seu colo para a maioria das funções em tal mobiliário.

A criança não permaneceu sentada no sofá isoladamente ou com apoio de almofadas,

devido a este fato foi delegado que posteriormente esta seria uma orientação útil na

continuação do acompanhamento prestado, mas que no momento o número de informações

para a mãe já era demasiadamente grande para se englobar outro posicionamento.

Os mobiliários foram cadastrados no Anexo 02.

Page 83: tatiana frehner kavalco

5. ORIENTAÇÕES DOMICILIARES PRESTADAS

As orientações prestadas no dia 06 de Novembro de 2002 basearam-se na avaliação

realizada no dia 24 de Outubro de 2002. No dia 21 de Fevereiro de 2003 foi realizada a

reavaliação e a última visita à residência de I. R. M., onde a mãe demonstrou a maneira como

estava aplicando as orientações prestadas. Ela foi muito colaborativa em todas as visitas e a

criança apresentou-se um pouco irritada na visita em que foram realizadas as orientações.

Não foi prestado número excessivo de orientações devido ao fato de que a mãe

necessita de um dado período para conseguir aprender e memorizar as orientações realizadas.

Ao total foram sete orientações de posicionamentos sentados mais adequados para a

realização de todas as atividades funcionais escolhidas pela prioridade da mãe e da criança.

A orientação foi realizada inicialmente quanto ao posicionamento na cadeira adaptada,

sem visar uma função, para que a mãe, ao colocar seu filho na cadeira para qualquer

atividade, consiga adaptá-lo da maneira mais adequada, evitando o padrão patológico dos

membros superiores e melhorando o apoio plantar no apoio podal da cadeira. (Fig. 13)

Figura 13: Criança posicionada de maneira mais adequada. Evitando a abdução dos membros superiores sobre os apoios da cadeira e melhorando o apoio plantar.

FONTE: do autor.

Page 84: tatiana frehner kavalco

Foram realizadas orientações para melhor posicionar a cabeça da criança, evitando a

rotação da mesma, mas ao mesmo tempo incentivando que a criança consiga observar todo o

ambiente circundante com a cabeça em um posicionamento vertical e livre, apesar da

utilização do apoio que a cadeira oferta.

A cadeira apresenta uma adaptação para que os membros inferiores não permaneçam

aduzidos. Entretanto, a mãe o posicionava de maneira que a criança ficava com seus membros

inferiores em leve rotação externa, o que aumentava as chances de um posicionamento eqüino

nos pés. Portanto foi orientado um posicionamento de maior abdução para que os membros

inferiores permanecessem em posição neutra, facilitando o apoio plantar com dorsiflexão

adequada nos dois pés.

Foi analisado que o apoio podal neste posicionamento estava em nível abaixo do

adequado. Isto facilitava a flexão plantar e consequentemente o pé com deformidade eqüina.

Então este foi regulado de maneira a permanecer em uma altura adequada para tal

posicionamento, como demonstra a Fig. 14.

Figura 14: Correta adequação do apoio podal da cadeira para manter os pés em dorsiflexão.

FONTE: do autor.

Foram realizadas as orientações enfocadas nos aspectos do posicionamento sentado na

cadeira adaptada e no colo da mãe, envolvendo a funcionalidade na alimentação, na

comunicação e no carregar.

Page 85: tatiana frehner kavalco

5.1 ALIMENTAÇÃO

Quando posicionado no colo da mãe como verifica-se na avaliação, foi observado que

esta não mantinha a cabeça de I. R. M. perpendicular com o corpo, mas que havia certa

extensão da mesma. Logo, foi orientado para que com apoio abaixo de seu braço a mãe

conseguisse efetuar um apoio de cabeça para a criança e ao mesmo tempo desse um estímulo

com sua mão para estabelecer um controle oral, mantendo sua cabeça em posição neutra

durante a retirada do alimento da colher.

Para Walt (1994), este controle oral é necessário para que a mãe favoreça à criança

uma simetria orofaríngea e visual, favorecendo a preensão oral da criança, já que a mesma

retira o alimento da colher com os dentes.

De acordo com Aurélio; Genaro; Macedo Filho (2001), a criança, em momentos de

deglutição, deve apresentar maior liberdade de movimentos da cabeça para que se sinta

estimulada a observar o circundante. Portanto, foi orientado que a mãe apenas retire o

estímulo da sua mão, mantendo o apoio para a cabeça, facilitando esta liberdade e melhorando

a percepção postural da criança com relação a sua cabeça. (Fig. 15)

A mãe não conseguiu posicionar a colher de maneira correta, demonstrando que

necessita treinar mais estes posicionamento e função.

Figura 15: Posicionamento no colo da mãe para realizar a alimentação da maneira mais adequada possível.

FONTE: do autor.

Page 86: tatiana frehner kavalco

Os membros inferiores foram posicionados de maneira a ficarem em flexão, inibindo o

padrão extensor da criança.

Na Fig. 15 é possível notar que a criança estabeleceu seu padrão de membros

superiores, o que é justificável pelo fato dela estar um pouco irritada e chorosa no momento, o

que estimulou este posicionamento dos membros superiores. Entretanto, ao adaptá-la nesta

posição e posicionar seus membros superiores sobre o corpo foi visível que ela é capaz da

manutenção de tal posicionamento, se não houver nenhum estímulo externo, como o sonoro.

A pessoa que alimenta a criança deve manter seu cotovelo elevado e se posicionar

lateralmente à mesma, evitando sentar atrás da criança.

Ao ser posicionada na cadeira adaptada, a criança manteve o posicionamento. Foi

utilizada leve inclinação desta cadeira, o que facilitou o controle de cabeça. Nesta posição, foi

orientado para que a mãe não realizasse o movimento de cima para baixo com a colher,

devido ao fato de que este deve ser realizado de levemente abaixo para perpendicular à face,

pressionando a colher na língua e retirando a colher da boca sem empurrar para cima,

facilitando a retirada do alimento da colher pela criança e estimulando sua atividade

oromotora. (Fig. 16)

Apesar de não ser visível na Fig. 16, a mãe foi orientada a manter um estímulo para

percepção de posicionamento da cabeça e controle oral da criança durante a realização desta

função.

Figura 16: Corretos posicionamentos da colher e da criança na cadeira para alimentá-la. Nota-se leve inclinação da cadeira.

FONTE: do autor.

Page 87: tatiana frehner kavalco

Para ser ministrado conteúdo líquido a mãe também utilizava, geralmente, a colher.

Foi orientado para que ela utilizasse o copo, oferecendo mais estímulos sensitivos para a

criança, facilitando o ato de beber da mesma e incentivando a evolução da função.

Page 88: tatiana frehner kavalco

Da mesma maneira que para a alimentação com a colher, a mãe foi posicionada com a

criança em seu colo, como verifica-se na Fig. 17 A). Sem a extensão da cabeça a criança teve

melhora na sua função oromotora.

Quando posicionada na cadeira, a mãe foi orientada a utilizar o controle oromotor,

facilitando a função da criança durante a transferência do líquido do copo para a cavidade

oral. (Fig. 17 B))

A)

B)

Figura 17: Posicionamentos orientados para realizar o beber. A) posicionamento no colo da mãe. B) posicionamento na cadeira adaptada.

FONTE: do autor.

5.2 COMUNICAÇÃO

Nesta função foi realizada a orientação de que a mãe deve procurar se comunicar com

a criança de maneira a permanecer em altura nivelada com a altura em que se encontra a

Page 89: tatiana frehner kavalco

criança. Isto facilita o controle de cabeça da mesma, também melhorando a comunicação

entre as pessoas e a criança. (Fig. 18)

Figura 18: O posicionamentos da mãe na altura em que a criança se encontra facilita a comunicação.

FONTE: do autor.

5.3 CARREGAR

Esta é uma das principais funções realizadas na posição sentada. Para melhor adequar

o posicionamento no colo da mãe e facilitar a função do carregar, a criança foi posicionada de

maneira a ficar lateralmente ao corpo da mãe impedindo abdução exagerada dos membros

inferiores. A criança permaneceu na posição a apoiar seus membros superiores sobre os

ombros da mãe, mantendo liberdade de movimentação da cabeça. Seus membros inferiores

foram colocados em abdução e flexão de quadris e joelhos para inibir o padrão extensor

patológico e possíveis cruzamentos dos membros inferiores. (Fig. 19)

É necessário evidenciar que a mãe deve manter com seu membro superior livre o

apoio costal para a criança, evitando possíveis oscilações no posicionamento do tronco, como

mostra a Fig. 19.

Page 90: tatiana frehner kavalco

Figura 19: Posicionamento orientado para facilitar o carregar da criança. Nota-se que a criança não manteve seu membro superior esquerdo sobre o ombro da mãe. Esta dificuldade foi evidente mesmo ao posicioná-lo mais acima na tentativa de deslocar um pouco de seu peso para membros superiores. Dessa maneira a criança tem condições de observar o ambiente.

FONTE: do autor.

6. RESULTADOS

Na reavaliação visualizou-se uma melhora significativa no controle de cabeça da

criança, evidenciada tanto no posicionamento em prono (Fig. 20 A) e B)), quanto em supino e

sentado (Fig. 21).

Não foi possível demonstrar através de fotografia a melhora do controle de cabeça em

supino pelo pesquisador, em função de que a foto registra momento estático, mas este

controle está melhorado segundo informações da mãe.

Page 91: tatiana frehner kavalco

A)

B)

Figura 20: Evidente melhora do controle de cabeça em prono.

FONTE: do autor.

Ficou evidente também uma leve diminuição da fixação escapular da criança, com

decorrente facilitação na utilização dos membros superiores.

No posicionamento sentado o infante I. R. M necessita ainda de apoio devido ao baixo

controle de tronco, mas foi presenciado o momento em que a criança foi capaz de manter um

controle de cabeça eficaz em tal posicionamento. (Fig. 21)

Page 92: tatiana frehner kavalco

Figura 21: Controle de cabeça eficaz na posição sentada. Apesar da necessidade de apoio distal para controle de tronco.

FONTE: do autor.

Outro resultado observado foi que a criança apresentou melhora em seus padrões de

movimento e não é necessária grande persistência da estimulação para que ela esboce alguma

reação quando esta é posicionada de maneira a inibir seus padrões anormais. Anteriormente

estas reações eram evidenciadas apenas após grande período de estimulação.

Ainda a mãe referiu que alguns dos posicionamentos foram bem aceitos tanto pela

criança como pela própria mãe, como o posicionamento adequado na cadeira adaptada para a

alimentação e comunicação. Também o posicionamento – carregar a criança – facilitou sua

função, diminuindo um pouco da carga sobre seus membros superiores e manteve a criança

com maior segurança, ou seja, o infante passou a oscilar menos ao ser carregado.

Entretanto, o posicionamento para a alimentação da criança no sofá, com apoio do

membro superior da mãe e tentativa de estabelecer um controle oral com a mão foi

classificado pela mãe como de grande dificuldade para ela manusear a criança e esta

orientação deverá ser melhor adaptada à criança na continuidade do acompanhamento

familiar.

Page 93: tatiana frehner kavalco

7. CONCLUSÕES

Esse trabalho objetivou demonstrar a eficácia de adequadas orientações terapêuticas

domiciliares a um portador de Paralisia Cerebral na posição sentada, caracterizado como um

estudo da extensão do tratamento fisioterapêutico.

O estudo de caso abordou algumas orientações realizadas no período de Outubro de

2002 a Fevereiro de 2003, e os resultados apresentados. Entretanto, é necessário que haja uma

continuidade do trabalho com o paciente e que se façam adaptações contínuas nos

posicionamentos da criança, à medida em que evolui, devido ao fato de que esta encontra-se

em fase de crescimento e algumas posições tornam-se inadequadas com o decorrer do tempo.

Na avaliação do referido paciente foram detectadas posições desaconselhadas

terapeuticamente que dificultavam a sua funcionalidade, como também o desempenho da mãe

durante as atividades diárias de alimentação, comunicação e do carregar.

Para realizar essas orientações, observaram-se atentamente os mobiliários utilizados

pelo paciente quando sentado, tomando-se o devido cuidado de evitar a utilização de

posicionamentos que estimulassem padrões patológicos e que, ao mesmo tempo, facilitassem

o manuseio dos familiares.

Para o caso estudado as melhores adaptações da postura sentada foram: um melhor

apoio dos pés e posicionamento dos membros superiores na cadeira adaptada; apoio costal;

manutenção de posição neutra da cabeça; tríplice flexão de membros inferiores no colo da

mãe; abdução com flexão de membros inferiores; estabilidade com apoio costal e liberdade

para movimentos de cabeça na posição de carregar. Estes posicionamentos auxiliaram

também na prevenção de deformidades ortopédicas e complicações respiratórias para I. R. M.

A partir das análises da avaliação da criança, constatou-se que as melhores posições e

com efeitos funcionais mais confortáveis para o paciente e familiares, foram aquelas que

facilitaram: a tríplice flexão de membros inferiores; o apoio para controle de tronco e a

inibição do padrão flexor de membros superiores.

A cadeira adaptada e o sofá são os mobiliários destacados no posicionamento sentado

de I. R. M. no domicílio familiar. O primeiro foi utilizado de maneira a adequar melhor o

posicionamento da criança, evidencia-se principalmente o apoio adequado dos pés e a inibição

do padrão de flexão com abdução dos membros superiores. O segundo foi mais utilizado para

posicionar a criança no colo da mãe na realização da alimentação, ajustando com apoios a

estabilidade de tronco e cabeça da criança.

Page 94: tatiana frehner kavalco

Os resultados obtidos foram: melhora efetiva no controle de cabeça da criança nas

posições supina, prono e sentada; melhora do tempo de resposta da criança a estímulos para a

realização de movimentos voluntários e a facilitação do manuseio da criança por parte da

mãe.

A mãe ratificou que as atividades terapêuticas orientadas facilitaram e auxiliaram o dia

a dia familiar. Entretanto, o posicionamento – sentada em seu colo com apoio no membro

superior da mãe que executava o controle oral – foi classificado por ela como de difícil

utilização, devido ao tamanho da criança.

Técnicas corretas resultam em posicionamentos adequados, facilitando e estimulando

a criança para a execução de atividades dependentes e independentes, contudo é

imprescindível que os profissionais que atendem pacientes infantis com alterações a nível

neurológico, estejam certos do melhor posicionamento a ser aplicado para a efetivação das

atividades diárias destas crianças, facilitando desta forma, tanto a sua funcionalidade quanto a

sua manutenção postural, tendo o devido cuidado de alertar os pais e auxiliar de maneira

satisfatória na superação das dificuldades identificadas.

É evidente que quando o fisioterapeuta é acessível e demonstra seu interesse em

proporcionar conforto e evolução nas funções diárias da criança, ocorre uma maior interação e

aceitação pelos familiares com conseqüente motivação no sentido de colaborar na realização

prática das orientações recebidas.

A partir da aplicação de um questionário de avaliação do conhecimento dos pais,

notou-se que a mãe possuía algumas noções falhas em relação aos posicionamentos adotados

com seu filho, evidenciando a importância da realização de orientações domiciliares.

Torna-se necessário que os familiares lembrem-se das orientações ensinadas, ou

mesmo, busquem aprender novos posicionamentos corretos para utilizar com a criança

portadora de Paralisia Cerebral, evitando a permanência desta por muito tempo em uma

mesma posição.

Os procedimentos acima relatados e utilizados pelo fisioterapeuta a nível domiciliar

facilitaram o aprendizado da mãe e permitiram a evolução comportamental na relação mãe-

filho a partir das técnicas terapêuticas transferidas e adaptadas ao ambiente do paciente

estudado.

Pode-se suplementar que um trabalho realizado em equipe multiprofissional

(fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e psicólogo, por exemplo) condiz com

uma maior complementação de avaliações e conhecimentos para o paciente e seus familiares,

o que pode auxiliar na realização de tais orientações domiciliares.

Page 95: tatiana frehner kavalco

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ARAÚJO, Rita de C. T. A formação conceitual na paralisia cerebral: busca de uma

explicação segundo a concepção epistemológica de Jean Piaget. Cadernos da F. F. C.,

Marília, v. 8, n. 1, 1999.

2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Informação e documentação:

trabalhos acadêmicos – apresentação. Rio de Janeiro: jul. 2001.

3. AURÉLIO, Sandra R.; GENARO, Kátia F.; MACEDO FILHO, Evaldo D. Análise

comparativa dos padrões de deglutição de crianças com paralisia cerebral e crianças

normais. In: ENCONTRO BRASILEIRO DE DISFAGIA, 3, 2001, Curitiba.

Trabalho apresentado como tema livre, nov. 2001.

4. BASS, Bianca L. A relação entre a informação proprioceptiva e a manutenção da

postura. Disponível em: http://www.interfisio.com.br/index.asp?fid=6&ac=1&id=3.

Acesso em: 15 de Novembro de 2002.

5. BERHMAN, Richard E.; KLIEGMAN, Robert M. Tratado de Pediatria. 14 ed. Rio de

Janeiro: Guanabara Koogan, v. 1, 1994.

6. BERNE, Robert M.; LEVY, Matthew. Fisiologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1996.

7. BOBATH, Berta. JORGE, Eliane de (trad.); GUSMAN, Sônia (rev.). Curso

neuroevolutivo Bobath. 1997. 196 p. Apostila.

8. BOBATH, B.; BOBATH, K. Desenvolvimento motor nos diferentes tipos de paralisia

cerebral. São Paulo: Manole, 1989.

9. BOBATH, Karel. A deficiência motora em pacientes com paralisia cerebral. São Paulo:

Manole, 1989.

10. BOBATH, Karel. Uma base neurofisiológica para o tratamento da paralisia cerebral.

2 ed. São Paulo: Manole, ----.

Page 96: tatiana frehner kavalco

11. BRACCIALLI, Lígia M. P.; BARAÚNA, Mário A. Contribuição da fisioterapia no sentar

da criança com paralisia cerebral: um estudo de caso. Revista Temas sobre o

Desenvolvimento, São Paulo, v. 11, n. 62, p. 56-57, maio/jun. 2002.

12. BRANDÃO, Juércio S.; SHCOLNIK, D.; SILVA, S. de S. e; SOUZA, T. R. M.;

STEINBERG, V. Bases do tratamento por estimulação precoce da paralisia

cerebral – ou dismotria cerebral ontogenética. São Paulo: Memnon, 1992.

13. BURNS, Y. R.; MACDONALD, J. Fisioterapia e Crescimento na Infância. 1 ed., São

Paulo: Santos, 1999.

14. CRUZ, ANA M. da C.; PEROTA, M. L. L. R.; MENDES, M. T. R. Elaboração de

referências: NBR 6023/2000. Rio de Janeiro: Interciência, 2000.

15. ECKERT, Helen M. Desenvolvimento Motor. 3. ed. São Paulo: Manole, 1993.

16. EDWARDS, Susan. SILVA, Maria da G. F (trad.). Fisioterapia neurológica: uma

abordagem centrada na resolução de problemas. Porto Alegre: A. Médicas, 1999.

17. EKMAN, Laurie L. ESBÉRARD, C. A (trad.). Neurociência: fundamentos para a

reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara, 2000.

18. FERNANDES, Patrícia V. Escala de nível de paralisia cerebral. Disponível em:

<http://www.interfisio.com.br/index.asp?fid=16&ac=6&id=2>. Acesso em: 13 out.

2002.

19. FINNIE, Nancie A. O manuseio em casa da criança com paralisia cerebral. 3 ed. São

Paulo: Manole, 2001.

20. GAGLIARDO, Heloísa G. R. G.; GABBARD, Carl; GONÇALVES, Vanda M. G.

Coordenação visuomotora em lactentes de baixo peso ao nascimento: revisão da

literatura. Revista Temas sobre Desenvolvimento, v. 11, n. 62, p. 51-55, 2002.

21. GIANNI, Maria A. Tratamento da espasticidade. Revista Reabilitar, São Paulo, n. 7,

p. 33-39, 2000.

Page 97: tatiana frehner kavalco

22. GUYTON, A. C. Tratado de Fisiologia Médica. 2 ed. Rio de Janeiro: Interamericana,

1984.

23. HEBERT, Sizínio; XAVIER, Renato; PARDINI JUNIOR, A. G.; BARROS FILHO, T. E.

P de. Ortopedia e traumatologia – princípios e prática. 3 ed. São Paulo: Artmed,

2003, 820 p.

24. KUDO, A. M. et al. Fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional em pediatria.

São Paulo: Sarvier, 1990.

25. LEVITT, Sophie. O tratamento da paralisia cerebral e do retardo motor. 3 ed. São

Paulo: Manole, 2001.

26. LIANZA, S. Medicina de reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara, 2001.

27. MANCINI, Marisa C. et al. Comparação do desempenho de atividades funcionais em

crianças com desenvolvimento normal e crianças com paralisia cerebral. Belo

Horizonte: Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 60, n. 2B, p. 446-452, jun. 2002. ISSN

0004-282X.

28. MARQUES, L., OLIVEIRA, L. Integração de Paralisados Cerebrais: um estudo de caso,

Temas sobre Desenvolvimento. n. 40, 1998.

29. MOFFAT, Marilyn; VICKERY, Steve; SETTINERI, W. (trad.) Manual de manutenção

e reeducação postural – da American Physical Therapy Association. Porto Alegre:

Artmed, 2002, 125 p.

30. OLIVEIRA, Débora. Desenvolvimento motor normal parte I: reflexos arcaicos.

Disponível em: <http://www.interfisio.com.br/index.asp?fid=79&ac=6&id=2>.

Acesso em: 15 de Novembro de 2002.

31. OLIVEIRA, Débora. Desenvolvimento Motor Normal - Parte II : reações e

manifestações da criança. Disponível em:

Page 98: tatiana frehner kavalco

<http://www.interfisio.com.br/index.asp?fid=86&ac=6&id=2>. Acesso em: 15 de

Novembro de 2002.

32. OLIVEIRA, Maria C. de; CORDANI, Lisbeth K. Correlação entre habilidades funcionais

referidas pelo cuidador e nível de assistência fornecida a crianças com paralisia

cerebral. Revista Temas sobre o Desenvolvimento, v. 10, n. 60, p. 15-20, 2002.

33. PALHARES, Marina S.; MARQUES, Valéria de C.; STOLFA, Graziela C.; NUNES,

Inácia M. P. Uma proposta de intervenção para a criança com visão subnormal. Revista

Temas sobre o Desenvolvimento, v. 9, n. 53, p. 95-104, 2000.

34. PATO, T. R.; PATO, T. R.; SOUZA, D. R. de; LEITE, H. P. Epidemiologia da paralisia

cerebral. Revista Acta Fisiátrica, v. 8, n. 1, p. 18-23, 2001.

35. PIOVESANA, Ana M. S. G.; RIBEIRO, M. V. L. de M.; ZANARDI, V. de A.;

GONÇALVES, V. M. G. Hemiparetic cerebral palsy: etiological risk factors and

neuroimaging. Departament of Neurology FCM-UNICAMP – P. O., Campinas,

sept. 2000.

36. RATLIFFE, K. T. Fisioterapia na Clínica Pediátrica – Guia para a equipe de

Fisioterapeutas. 1 ed., São Paulo: Ed. Santos, 2000.

37. ----. REORGANIZAÇÃO neurofuncional. Revista Temas sobre o Desenvolvimento, v.

3, n. 17, p.13-21, mar/abril, 1994.

38. ROBBINS, Stanley. Patologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1969.

39. SCHWARTZMAN, J. S. Paralisia cerebral, Temas sobre Desenvolvimento. v. 3, n. 13,

1993.

40. SHEPHERD, Roberta B. Fisioterapia em Pediatria. 3 ed. Santos: Santos, 1998.

41. SILVA, Renata K. A neuroplasticidade no desenvolvimento de crianças com paralisia

cerebral. Revista Temas sobre o Desenvolvimento, p. 62-69, ----.

Page 99: tatiana frehner kavalco

42. SOLER, A. P. C.; HOFFMAN, A. N. L. Espasticidade na Paralisia Cerebral: Fisioterapia

e Toxina Botulínica. Revista Reabilitar, São Paulo, n. 8, p. 46-49, 2000.

43. SOUZA, A. M. C. de; FERRARETTO, I. Paralisia Cerebral: aspectos práticos. São

Paulo: Ed. Memnon, 1998.

44. STOKES, Maria. Neurologia para Fisioterapeutas. São Paulo: Editora Premier,

2000.

45. TABAQUIM, Maria de L. M.; LAMÔNICA, Dionísia A. C. Análise perceptual de mães

de filhos com paralisia cerebral sobre a atividade de banho. Revista Temas sobre o

Desenvolvimento, v. 11, n. 61, p. 5-9, 2002.

46. THOMSON, A.; SKINNER, A.; PIERCY, J. Fisioterapia de Tidy. 12 ed., São Paulo: Ed.

Santos, 1994.

47. UMPHRED, Darcy A. Fisioterapia Neurológica. 2. ed. São Paulo: Manole, 1994.

48. VOLPE, J.J. Value of MR in definition of the neuropathology of cerebral palsy in vivo.

Journal Neuroradiol, Philadelphia, n. 13; 1992. Suplemento.

49. WALT, Rina Van Der. CARELLI, Cláudia (trad.). Desenvolvimento motor oral

anormal na paralisia cerebral e tratamento. Rio de Janeiro: 1994. 13 p. Apostila.

Page 100: tatiana frehner kavalco

ANEXO 01 - AVALIAÇÃO DE POSICIONAMENTOS DA CRIANÇA E

FUNCIONALIDADE DE SEUS MOVIMENTOS ROTINEIROS

DATA DA AVALIAÇÃO: 24/10/2002

2 DADOS PESSOAIS Nome: I. R. M. Sexo: Masculino

Data de Nascimento: 02/01/1998 Naturalidade: Três Barras

Idade Cronológica: 5 anos Idade de Desenvolvimento Motor:

Nome do Pai: I. P. M.

Idade: 33 anos Profissão: Auxiliar de Serviços

Nome da Mãe: C. R. M.

Idade: 33 anos Profissão: Do Lar

3

4 ANAMNESE

HISTÓRIA PATOLÓGICA: SEGUNDO INFORMAÇÕES DA MÃE, A

LESÃO CEREBRAL SUCEDEU-SE POR OCORRER GRANDE

DEMORA PARA INICIAR-SE A REALIZAÇÃO DO PARTO. A EQUIPE

MÉDICA TENTOU REALIZAR PARTO NORMAL INDUZIDO, MAS

NÃO FOI EFICAZ. O ATRASO NA REALIZAÇÃO DO PARTO DEVEU-

SE A NÃO EXISTÊNCIA DE CONTRAÇÕES UTERINAS E

DILATAÇÃO DO CANAL VAGINAL INSUFICIENTE E EM

CONSEQÜÊNCIA A ESTE FATO FOI REALIZADO PARTO PELA

CIRURGIA OBSTÉTRICA CESARIANA. A CRIANÇA APRESENTOU

SINAIS CLÍNICOS DE HIPÓXIA (COMO CIANOSE EM

EXTREMIDADES E QUEDA DE TEMPERATURA) E ALTERAÇÃO DA

COLORAÇÃO DE SUA PELE (APRESENTOU-SE PÁLIDA). A

CRIANÇA PERMANECEU NO BERÇÁRIO PARA RETOMAR UM

QUADRO NORMAL. ( ) convulsão ( ) infecções ( ) patologias associadas: Não apresentou

Estado geral de saúde: BEG

Humor habitual: Bom

Linguagem: (X) balbucia ( ) fala frases ( ) verbaliza ( ) canta

Page 101: tatiana frehner kavalco

Fez cirurgias: alongamento de inversores e eversores de tornozelo direito e retração dos

testículos.

Tratamentos anteriores: 5 anos de atendimento na APAE – Cascavel.

EXAME FÍSICO Tônus muscular: hipertônico Trofismo muscular: normal (X) presença de clônus

Reflexos e reações: ( ) Moro

( ) Reação de proteção: ( ) Anterior ( ) Lateral ( ) Posterior

( ) RTCA

( X ) RTCS

( ) Retificação cervical

( ) Reflexos de apoio do RN

( ) Noções de lateralidade

( ) Reações de proteção:

( X ) Babinsk:

Desenvolvimento Psicomotor Pregresso:

(X) rolou ( ) sentou ( ) arrastou ( ) engatinhou

Obs.: Apenas rola de decúbito lateral para decúbito ventral.

ANÁLISE DO POSICIONAMENTO TOMADO DIARIAMENTE

DEITADO EM SUPINO:

Posicionamento da cabeça: perpendicular em relação ao tronco, mas com certa rotação

Posicionamento do tronco: leve rotação de tronco para a direita.

Padrão de MMSS: abdução ombros com rotação externa, flexão de cotovelos, extensão

punhos e flexão dos dedos, com primeiro dedo em oposição.

PADRÃO DE MMII: EXTENSÃO DE JOELHOS, PLANTIFLEXÃO DE

TORNOZELOS, QUADRIS EM POSICIONAMENTO NEUTRO. Mãos: padrão flexor

Pés: eqüino-varos

Reflexos identificados: Babinsk positivo e RTCS.

Page 102: tatiana frehner kavalco

DEITADO EM PRONO:

Posicionamento da cabeça: rotação para proteção do rosto

Posicionamento do tronco: retilíneo (posicionado pela mãe a criança permaneceu nesta

posição.

Padrão de MMSS: abdução com rotação externa de ombros, flexão de cotovelos, extensão de

punhos e flexão dos dedos, com primeiro dedo em oposição.

Padrão de MMII: rotação externa de quadris, leve flexão de joelhos e pés com flexão plantar,

eversão e abdução de tornozelos.

Mãos: padrão flexor

Pés: flexão plantar, abdução e eversão.

( ) Apóia-se sobre os antebraços ( ) Apóia-se sobre as mãos ( ) controle cabeça no apoio

Não.

OBS.: NO ROLO A CRIANÇA MANIFESTA APOIO SOBRE OS

ANTEBRAÇOS. Reflexos identificados: sem reações ou reflexos identificados.

SENTADO: ( ) consegue sozinho (X) não consegue sem a cadeira adaptada.

Posicionamento da cabeça: a cadeira adaptada apresenta apoio para estabelecer um auxílio no

controle de cabeça do infante, mas é visível que a criança apresenta-se com sua cabeça por

grande período em rotação e leve inclinação.

Posicionamento do tronco: permanece verticalmente com apoio do encosto da cadeira.

Posicionamento dos MMSS: sobre os apoios laterais da cadeira, em abdução de ombros e

flexão de cotovelos.

1. Mãos: padrão flexor

2. Cotovelos: fletidos a mais de 90o

3. Ombros: abduzidos à aproximadamente 90o

Posicionamento de MMII: tríplice flexão

1. Pés/tornozelos: Direito: eversão, abdução e flexão plantar. Esquerdo: 90o dorsiflexão,

alinhado com a perna.

Page 103: tatiana frehner kavalco

2. Joelhos: Direito: semi-fletido (menos de 90o de flexão). Esquerdo: 90o de flexão.

3. Quadris: Direito: rotação externa, flexão e leve abdução. Esquerdo: flexão e alinhado com o

tronco.

( ) Apresenta controle de cabeça ( ) Apresenta controle de tronco ( ) Equilíbrio presente

(X) Com encosto ( ) Sem encosto (X) Com apoio lateral ( ) Sem apoio lateral

( ) Reações de endireitamento ( ) Reações de proteção

EM GATO: ( ) consegue (X) não consegue

AJOELHADO: ( ) consegue (X) não consegue

SEMI-AJOELHADO: ( ) consegue (X) não consegue

EM PÉ: ( ) consegue (X) não consegue

ANÁLISE DA FUNCIONALIDADE DE MOVIMENTOS DURANTE AS AVD’s

AOS MOVIMENTOS

Deitado passa de supino para prono: não

Deitado passa de prono para supino: não

Rola: sim, apenas de decúbito lateral para decúbito ventral

Senta: apenas com a cadeira adaptada

Passa de prono para gato: não

Engatinha: não

Passa de gato para ajoelhado: não

Passa de ajoelhado para semi-ajoelhado: não

Passa de semi-ajoelhado para em pé: não

Anda: não

Corre: não

Sobe escada: não

Desce escada: não

Como a criança tende a se movimentar: permanece a maior parte do dia sentado na cadeira

adaptada, realizando movimentos com bradicinesia e alguns movimentos involuntários com

os membros superiores e cabeça.

Cai muito ou esbarra em objetos: não deambula

Page 104: tatiana frehner kavalco

Como ele sobe e desce escadas: não

Anda com ou sem apoio: não

Consegue parar e andar de repente: não

Apresenta acessório que auxilie a andar: não

Tem velocípede, bicicleta, carrinho de pedal ou semelhante: não

Ajustes feitos pela mãe nos acessórios acima: criança não utiliza-se de outros acessórios além

da cadeira adaptada.

A criança consegue entrar e sair livremente de brinquedos e/ou outros objetos: não

Interesses por atividades fora de casa: passear de ônibus (SIC)

ALIMENTAÇÃO

Come com a família: ( ) sim (X) não

Pode alimentar-se sozinho ( ) * Necessita de auxílio para alimentar-se (X)

-----------

Se ele necessita de auxílio:

Sialorréico: ( ) sim (X) não [Quando come ( ); quando suga ( ); quando fala ( )]

Obs.: apresenta sialorréia apenas quando sua cabeça pende anteriormente.

Apresenta dificuldades ao alimentar-se: (X) sim ( ) não

[empurra língua para fora ( ); engasga ( ); suga continuamente ( ); não mastiga com os

lábios unidos (X); morde assim que algo é colocado na boca ( ); morde pedaço do alimento (

); mastiga com dificuldade (X)]

Quanto ao posicionamento do alimentador: (X) posiciona-se em altura no nível da criança.

( ) posiciona-se em nível diferente da

criança.

Quanto ao movimento da colher: (X) posiciona a colher de cima para baixo.

( ) posiciona a colher de baixo para cima.

( ) posiciona a colher em nível com a criança.

Sensibilidade ao colocar a colher na boca: presente

Necessita de cadeira especial: (X) sim ( ) não

Retira alimento do talher: ( ) com lábios (X) com os dentes

Dificuldades ao fechar os lábios: (X) sim ( ) não

Dificuldades para mastigar: (X) sim ( ) não

Alimentos de difícil mastigação e deglutição pela criança: carnes

Page 105: tatiana frehner kavalco

FALA

Responde a estímulos sonoros: (X) sim ( ) não

Balbucia: (X) sim ( ) não

Verbaliza: ( ) sim (X) não

Fala frases: ( ) sim (X) não

Canta: ( ) sim (X) não

Como a mãe fala com ela / posicionamento: criança na cadeira e a mãe em pé, com diferença

de altura em relação ao nível da criança.

Como você se comporta se não entende o que a criança quer dizer: não faz nada

Como a criança se faz entender: (X) por expressões faciais

(X) por gestos

(X) por sons

CARREGAR

Como o carrega: geralmente com membros superiores apoiados na mãe (como se fosse

abraçá-la), cabeça em rotação e inclinação lateral sobre o ombro da mãe, tronco retilíneo,

membros inferiores em padrão extensor com plantiflexão de tornozelo, quadris em posição

neutra, com apoios da mãe abaixo da região glútea.

Responsável apresenta dificuldade: ( ) ao apanhá-la (X) quando está carregando:

criança, por ter alguns movimentos involuntários devido à instabilidade, impacta

constantemente sua cabeça no queixo da mãe.

A criança estende os braços para o responsável quando vai apanhá-la: ( ) sim (X) não: a

criança retrai os braço para o responsável.

Page 106: tatiana frehner kavalco

ANEXO 02 - Cadastro de mobiliários MAIS UTILIZADOS PELA CRIANÇA no

posisionamento sentado

Data: 15 de Outubro de 2002.

UTILITÁRIO QUANTIDADE MODO DE UTILIZAÇÃO/POSICIONAMENTO

CADEIRA

ADAPTADA

UMA Este mobiliário é utilizado durante a

maior parte do dia pela criança, sendo que o

posicionamento na cadeira apresenta alguns itens

inadequados para a boa funcionalidade dos

movimentos da criança e prevenção de

deformidades, de acordo com o quadro clínico da

mesma. Seu posicionamento na cadeira evidencia

os seguintes aspectos:

a) a cadeira adaptada apresenta apoio para estabelecer um auxílio no controle de cabeça do infante, mas é visível que a criança apresenta-se com sua cabeça por grande período em rotação;

b) seus membros superiores posicionam-se sobre os apoios laterais da cadeira, em padrão de abdução de ombros, flexão de cotovelo e de mão.

c) seu tronco permanece apoiado posteriormente pelo encosto da cadeira e a criança não senta sobre o sacro nesta posição pela cadeira apresentar o devido alinhamento e comprimento do acento em relação ao estereótipo da criança.

d) os membros inferiores permanecem em flexão de quadris, joelhos e tornozelos. É observada leve rotação externa de quadris. Não há possibilidade de adução destes membros pelo fato da cadeira apresentar uma adaptação central entre os joelhos para impedir tal posição. O membro inferior direito tende a permanecer fora do apoio podal da cadeira devido à rotação do quadril e de seu joelho não admitir uma flexão à nível de 90o para que o pé seja apoiado. Estes padrões ocorrem devido à espasticidade da criança. Por este fato foi observada uma

Page 107: tatiana frehner kavalco

deformidade em eversão do pé direito que se mantém nesta posição por grande período de tempo. (Fig. 01 A))

SOFÁ DOIS Estes mobiliários são mais utilizados para

apoio da mãe ao manter a criança em seu colo.

Um apresenta dois assentos e o outro três

assentos, sendo que a mãe utiliza mais o sofá

com dois assentos.

A mãe posiciona-se sentada no sofá, geralmente com seu membro inferior esquerdo em flexão e abdução sobre o sofá para apoio do infante e o membro inferior direito em 90o de flexão de quadril e joelho.

A criança é posicionada com a região glútea entre os membros inferiores da mãe, com semi-flexão de quadris, joelhos e tornozelos. Seu tronco permanece em contato com os membros superior e inferior esquerdos da mãe e sua cabeça é apoiada pelo membro superior esquerdo da mãe.

Os membros superiores da criança ficam apoiados sobre seu corpo. (Fig. 01 B))

A)

B)

Figura 01: Posicionamentos na cadeira adaptada (A) e no sofá (B).

Page 108: tatiana frehner kavalco