tecnologia inovacao aluno
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ProfessoraMiriam de Magdala Pinto
Tecnologia e InovaçãoTecnologia e Inovação
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PRESIDENTE DA REPÚBLICA
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MINISTRO DA EDUCAÇÃO
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SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
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COMISSÃO EDITORIAL DO PROJETO PILOTO UAB/MEC
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DESIGNER INSTRUCIONAL
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Fabiana Mendes de Carvalho
Patrícia Regina da Costa
PROJETO GRÁFICO
Annye Cristiny Tessaro
Mariana Lorenzetti
DIAGRAMAÇÃO
Annye Cristiny Tessaro
REVISÃO DE PORTUGUÊS
Sergio Meira
Patrícia Regina da Costa
ORGANIZAÇÃO DE CONTEÚDO
Miriam de Magdala Pinto
Sumário
Apresentação.........................................................................07
UNIDADE 1 – Uma viagem pela história para um encontrocom os conceitos de Tecnologia e Inovação
Do início até a povoação das Américas.....................................................11
A porta que liga a pré-história à história: a escrita............................15
Um salto para o futuro: da antiguidade à modernidade.....................18
Aprofundando o conceito de inovação tecnológica.....................22
A Primeira Revolução Industrial................................................24
A Segunda Revolução Industrial................................................27
Chega o Século XX......................................................................31
Ciência, Tecnologia & Inovação Tecnológica – C,T&I......................34
Meados do Século XX em diante................................................36
Resumo......................................................................................39
Atividades de aprendizagem.........................................................................40
UNIDADE 2 – Condicionantes do Processo de Inovação
Pesquisa, Desenvolvimento & Engenharia.................................................43
Inovação, adoção e difusão tecnológica: uma revisão ampliada...........47
Indicadores de inovação tecnológica................................................54
Influência do setor de atividades sobre o processo de inovação............56
Influência da localização geográfica sobre o processo de inovação.......64
Arranjos produtivos locais..................................................................72
Resumo...................................................................................74
Atividades de avaliação.........................................................................74
UNIDADE 3 – Gestão da inovação tecnológica
A evolução da gestão a partir do início do Século XX..............................77
Estratégias tecnológicas.........................................................82
Resumo...................................................................................101
Atividades de avaliação.......................................................................102
UNIDADE 4 – Tecnologia e Inovação: o que cada um nós tema ver com isso?
Tecnologias Convencionais e Tecnologias Sociais................................105
Resumo......................................................................................113
Inovação e desenvolvimento sustentável?............................113
Um novo entendimento das organizações contemporâneas...............120
E n c e r r a m e n t o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 2 3
Atividades de avaliação.........................................................................123
Referências.....................................................................................124
Minicurrículo.....................................................................................130
Apresentação
Prezado aluno,
Você está prestes a iniciar o estudo da disciplina “Tecnologia e
Inovação”. É absolutamente fascinante observar como o ser humano é
capaz de auxiliar na criação do mundo em que vivemos. Se você parar
um minuto para observar o ambiente onde está, verá que grande parte
dos materiais com os quais está em contato ou que está vendo foi cri-
ada e produzida pela humanidade a partir dos recursos naturais do
planeta. Verá também que a maior parte dos próprios objetos com os
quais convivemos, suas formas, suas funcionalidades, são criação nossa.
O processo constante de criação do novo e de transformação ou de
recombinação do que já existe, sejam os objetos em si ou a forma de fazê-
los, é o foco do que você estará estudando ao longo desta disciplina.
Você, caro aluno, faz parte de um processo de transformação
constante e para poder participar desse processo de forma consciente
e construtiva, influenciando-o e não apenas sofrendo suas
consequências é necessário entendê-lo melhor, refletir sobre ele, o que,
com muito prazer, convido-o a fazer durante o estudo de “Tecnologia
e Inovação”.
Na Unidade 1, desta disciplina, você será conduzido por uma
viagem que se inicia nos primórdios da humanidade e termina em nos-
sos dias para compreender o significado dos termos tecnologia e ino-
vação e suas interações com a ciência e o conhecimento científico. É
muito interessante observar como os próprios significados evoluem
com o tempo, com as necessidades da sociedade em que estão sendo
utilizados.
Na Unidade 2, você será levado a aprofundar seus conhecimen-
tos sobre o fenômeno da inovação por meio da discussão dos diversos
modelos que se propõem a explicá-lo, iniciando com o modelo linear
e chegando ao modelo sistêmico. Enquanto isso, seu entendimento
sobre inovação será refinado quando você entender as diferenças en-
tre inovação incremental e radical, inovações de produto, de processo
e inovações organizacionais e a inter-relação entre a adoção e a difu-
são de novas tecnologias.
A inovação, como qualquer fenômeno fascinante, possui carac-
terísticas gerais e características particulares. Na Unidade 3, as parti-
cularidades impostas ao processo de inovação pelo setor econômico e
o local geográfico/institucional em que ele ocorre serão discutidos.
Apesar das particularidades no processo de inovação, você, em segui-
da, verá que a inovação é fundamental no sistema econômico de pra-
ticamente todos os países no início deste Século XXI, o capitalismo.
Tal inovação é a base para a geração de riquezas, para o sucesso dos
empreendimentos. Sendo assim, o processo de inovação não é deixa-
do à mercê da sorte para que aconteça. Ele deve ser gerenciado, au-
mentando significativamente as chances de sucesso ao inovar. As prin-
cipais questões relacionadas com a gestão da inovação serão tratadas
ainda na Unidade 3.
Finalmente, na Unidade 4, você será convidado a fazer uma re-
flexão crítica sobre os processos de inovação na sua vida. Vivemos a
Era do Conhecimento, mas isso precisa significar conhecimento dis-
seminado para todos e valorizado por todos. Vivemos uma realidade
complexa demais em que a sustentabilidade da vida no planeta para as
futuras gerações não está garantida. Também não está condenada! São
as inovações que faremos, apoiaremos e induziremos que farão toda a
diferença!
Vamos ao trabalho?
Uma viagem pela históriapara um encontro com osconceitos de Tecnologia e
Inovação
Uma viagem pela históriapara um encontro com osconceitos de Tecnologia e
Inovação
UNIDADE
1
1 0
Curso de Graduação em Administração a Distância
Objetivo
Nesta Unidade, prezado aluno, você fará uma rápida viagem pela
história da humanidade, desde as suas origens até os nossos dias. Ao
longo desta viagem, verá como os conceitos de tecnologia e de
inovação evoluíram e como esses diversos conceitos são usados e
convivem até hoje. Ao longo do percurso, você deverá construir os
conceitos fundamentais desta disciplina que o ajudarão, de agora em
diante, a ver o mundo com nova perspectiva: a da mudançaa da mudançaa da mudançaa da mudançaa da mudança.
Então, vamos lá?
Módulo 8
1 1
Do início até a povoação das Américas
As duas próximas seções, desta Unidade, baseiam-se fundamen-
talmente em Diamond (2003). A humanidade começou sua saga pelo
Planeta Terra por volta de sete milhões a.C. no continente africano
quando a população de macacos africanos dividiu-se em vários gru-
pos. Um deles evoluiu para os atuais gorilas, outro deu origem aos
chipanzés e um terceiro resultou nos humanos. Esse primeiro grupo
de proto-humanos ficou conhecido como Australopithecus africanus.
Por volta de quatro milhões de anos atrás, os chamados Homo habilis
alcançaram a postura vertical. A mudança para a posição vertical do
corpo, com a liberação dos membros anteriores, gerou consequências
imprevistas e muito significativas no desenvolvimento desses
hominídeos. Talvez a mais importante delas tenha sido o fato de que,
com a adoção dessa nova posição corporal pelas fêmeas, os filhotes
passaram a nascer prematuros e, portanto, necessitavam de cuidados
por parte das mães por muito mais tempo. Essa fraqueza, para filhotes
e fêmeas, acabou convertendo-se em uma grande força para a nova
espécie que se desenvolvia: a necessidade de formação de grupos de
cooperação mais estáveis, que permaneciam juntos por mais tempo
formando laços afetivos e, também, de aprendizado*
Esse é um elemento básico de diferenciação dos humanos em
relação às demais espécies animais na Terra: a capacidade de desco-
brir coisas novas e transmitir essas descobertas a outros membros da
espécie, que podem aprender com a experiência dos outros; incorpo-
rar esses conhecimentos aos seus e fazer novas descobertas próprias.
Assim, a espécie humana passou a ser capaz de mudar a si mesma e o
mundo ao ser redor como nenhuma outra podia fazer.
O fato de formarem grupos mais duradouros, que precisavam
permanecer juntos por vários anos para garantir a sobrevivência dos
filhotes, gerou a necessidade de comunicação de modo a garantir uma
organização mínima dos grupos. Os membros anteriores (braços e
GLOSSÁRIO*Aprendizado – é oprocesso pelo qualnovos conhecimen-tos são adquiridos,novas competênciassão desenvolvidas e,com isso, mudançasno comportamentosão geradas. Fonte:< h t t p : / /pt.wikipedia.org./wiki/Aprendizado>.Acesso em: 20 jul.2009.
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Curso de Graduação em Administração a Distância
mãos), já liberados da função de locomoção, podiam ser usados para o
manuseio e transporte de coisas e, também, para a comunicação por
gestos. A evolução seguia em um caminho natural. Veja!
Reflexão: Dê uma paradinha por aqui e olhe ao seu redor.Há alguém no ambiente onde está? Se sim, pode ficar ondeestá, mas se estiver sozinho, vá até algum lugar onde hajaalguém. Você deverá comunicar-se com alguém sem a fala.Chamar sua atenção e expressar alguma ideia. Conseguiu?Para manter a comunicação, sem que ambos usem a fala, épreciso manter o contato visual todo o tempo e as mãosdesocupadas, certo? Se, no entanto, for possível usar sons,podemos nos comunicar enquanto fazemos outra coisa qual-quer. E parece ter sido assim que começou a desenvolver-se a comunicação pela fala, usando sons codificados.
Por volta de um milhão de anos atrás, o Homo erectus foi capaz
de sair da África e povoar o sul da Ásia. Por volta de 500 mil a.C., já
habitando a Europa e a Ásia, os humanos possuíam esqueletos maio-
res e crânios mais arredondados, bastante semelhantes aos nossos e
passando a ser conhecidos como Homo sapiens. Foram eles que con-
quistaram o uso do fogo!
A utilização do fogo provocou profundas alterações na vida do
homem. Os alimentos passaram a ser cozidos, tornando-se mais sabo-
rosos e de mais fácil digestão. A iluminação e o aquecimento dos lo-
cais frios e escuros fizeram com que se tornasse mais fácil a perma-
nência nas cavernas. A defesa face aos animais ferozes tornou-se mais
eficaz, pois esses animais temiam o fogo. E, também, a fabricação dos
instrumentos aperfeiçoou-se com o endurecimento, pelo fogo, das
pontas das lanças, tornando-as mais resistentes.
A utilização do fogo provocou, ainda, alterações demográficas
e sociais na vida das primeiras comunidades. A ingestão de alimentos
cozidos e com maior variedade proporcionou maior resistência a do-
enças e, consequentemente, contribuiu para o aumento populacional.
Além disso, o convívio em volta das fogueiras teria fortalecido o sen-
Módulo 8
1 3
O termo Tecnologia
tem sido amplamente
utilizado em inúmeros
contextos no nosso
dia-a-dia. Pense: o que
você entende por
tecnologia? Anote
suas ideias a respeito.
Ao final da Unidade,
você vai precisar das
anotações.
timento de união entre os elementos do grupo, contribuindo para o
desenvolvimento da própria linguagem.
Saiba mais... Vale a pena assistir ao filme A guerra do fogo (1981), dirigido
por Jean-Jacques Annaud, baseado na obra de J. H. Rosny e roteiro
de Gérard Brach.
As populações humanas do leste da África e do oeste da Eurásia
continuavam a diferenciar-se uma da outra e dos povos do leste da
Ásia. Os humanos da Europa e do oeste da Ásia, do período entre
130.000 e 40.000 anos a.C. ficaram conhecidos como homens de
Neanderthal. Eles foram os primeiros humanos a deixar provas de
que enterravam seus mortos e cuidavam de seus doentes. Não preser-
varam qualquer manifestação artística e, a julgar pelos ossos das espé-
cies animais que capturavam, suas habilidades para a caça eram limi-
tadas. Não conseguiam pescar ainda.
Então, há cerca de 50.000 anos, a história da espécie humana dá
um verdadeiro salto com os chamados homens de Cro-magnon. Em
seus sítios arqueológicos, há utensílios de pedra padronizados e tam-
bém moldados em ossos. Esses artefatos eram produzidos de formas
variadas e para várias funções como agulhas, furadores e fixadores.
Há utensílios constituídos de várias peças como arpões, lanças e fle-
chas. Esses utensílios fazem parte de uma tecnologia* de caça superi-
or. Os meios de matar a uma distância segura permitiram a caça de
animais perigosos, enquanto que a invenção da corda e das redes de
armadilhas permitiu adicionar peixes e pássaros à sua dieta. Sua
tecnologia desenvolvida para a sobrevivência em climas frios é facil-
mente identificada em restos de casas e roupas costuradas. Por outro
lado, resquícios de joias e de esqueletos cuidadosamente enterrados in-
dicam acontecimentos revolucionários em termos estéticos e culturais.
A conceituação anterior limita-se às ferramentas. Nesse contex-
to em que estamos discutindo o termo tecnologia, ele pode ser enten-
dido de forma mais ampla como a forma que determinado grupo
GLOSSÁRIO*Tecnologia – o ter-mo tecnologia deri-va do grego techne(artefato) e logos(pensamento, ra-zão), significando,portanto, o conheci-mento sistemáticotransformado oumanifestado em fer-ramentas. Fonte:Moreira e Queiroz(2007).
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Curso de Graduação em Administração a Distância
Para vivenciar um
pouco da arte dos Cro-
magnon visite: <http://
www.culture.gouv.fr/
culture/arcnat/lascaux/
en/>. Acesso em: 4 jul.
2009.
humano realiza as tarefas. Assim, as tecnologias de caça, daqueles
grupos, poderiam incluir horários, locais, tipos de animais preferenci-
almente caçados, armas utilizadas, distância, forma de abordagem (em
emboscada ou aberta) e número mínimo de pessoas envolvidas. Ob-
serve, portanto, que tecnologia está relacionada com conhecimento
transmitido entre gerações, acumulando-se e aperfeiçoando-se ao lon-
go do tempo.
Foram os homens de Cro-magnon os primeiros a contar com
uma caixa de voz perfeita, base anatômica para a linguagem moderna,
que é fundamento indispensável para a troca de experiências, para a
acumulação de conhecimentos e para o exercício da criatividade hu-
mana. Os homens de Cro-magnon desenvolveram-se simultaneamen-
te em várias localizações geográficas ou será que isso aconteceu em
um único ponto e, a partir daí, dominaram os demais hominídeos devi-
do à sua superioridade tecnológica?
A prova de uma origem localizada, seguida por seus contínuos
deslocamentos e sua substituição por outros humanos é mais forte na
Europa, para onde os Cro-magnons foram, há cerca de 40.000 anos,
com seus esqueletos modernos (incluindo caixa de voz), armas mais
poderosas e traços culturais avançados. Em poucos milhares de anos,
não havia mais homens de Neanderthal, que foram os únicos ocupan-
tes do continente europeu por centenas de milhares de anos. Podemos
sugerir, portanto, que os Cro-magnons usaram, de alguma forma, sua
superioridade tecnológica, assim como suas habilidades para a lingua-
gem e seu cérebro, para matar ou deslocar os homens de Neanderthal,
sem ter havido hibridização entre eles.
Reflexão: O que você entende por superioridadetecnológica neste contexto? A superioridade tecnológicafavorece o domínio de alguns povos por outros? Comoepisódios históricos importantes como a conquista do con-tinente americano pelos europeus, por exemplo, estão re-lacionados com a tecnologia?
Módulo 8
1 5
A figura a seguir ilustra como os humanos espalharam-se pelo
mundo neste período sobre o qual acabamos de conversar.
Figura 1: Como os humanos espalharam-se pelo mundo.Fonte: Diamond (2003, p. 37).
A porta que liga a pré-história à história:a escrita
As primeiras povoações humanas surgiram por volta de 11.000
a.C. no leste europeu, mas não podiam se fixar por longos períodos
devido à necessidade de conseguir alimentos. A solução para esse pro-
blema foi sendo desenvolvida a partir de 8.500 a.C., quando a huma-
nidade começou a cultivar plantas e a domesticar animais.
Quando determinado grupo humano conseguia cultivar plantas
e domesticar animais, a produção de comida seguia duas estratégias
alternativas que competiam entre si: ser agricultor ou ser caçador/
coletor. Os diversos grupos podiam adotam uma característica ou ou-
tra, ou mesmo ambas, mas o resultado predominante nos últimos 10.000
anos foi a mudança da caça/coleta para a produção de alimentos.
1 6
Curso de Graduação em Administração a Distância
Reflexão: Por quê? Você consegue identificar alguns fatoresque determinaram a vantagem competitiva da produção dealimentos? E em termos ambientais, você pode enumerar al-gumas alterações significativas provocadas pela agricultura?
Assim como a linguagem e o domínio do fogo, o desenvolvi-
mento da agricultura também trouxe mudanças para as sociedades da
época. O cultivo fez com que as frequentes e perigosas buscas por
alimentos fossem evitadas e, ao mesmo tempo, aumentou a oferta de
alimentos para as pessoas. Assim, a agricultura permitiu o surgimento
de grupos humanos com maior densidade populacional do que os que
podiam ser suportados pela caça e pela coleta. Dessa forma, os grupos
que se fixaram na terra tinham mais tempo para se dedicar a atividades
com objetivos diferentes da produção de alimentos. O resultado disso foi
o desenvolvimento de novas tecnologias e a acumulação de bens materi-
ais, promovendo o melhoramento do padrão de vida desses grupos.
Nesses grupos humanos numerosos, sustentados pela produção
de alimentos baseada no cultivo de plantas e domesticação de ani-
mais, surgiu a necessidade de registrar rebanhos, colheitas, trocas rea-
lizadas, enfim, de registrar os resultados alcançados em um período e
de guardá-los de um período para o outro.
Os primeiros registros escritos conhecidos datam de aproxima-
damente três mil a.C., em aldeias agrícolas da Mesopotâmia e do Egi-
to. Eram usados símbolos feitos em placas de argila para contabilizar
rebanhos e grãos.
Figura 2: Placa com inscrição cuneiforme da coleção da Biblioteca do
Congresso Norte-americano, com datação entre: 2041-2040 a.C.Fonte: <http://commons.wikimedia.org/wiki/
Image:Cuneiform_script2.jpg>. Acesso em: 1º mai. 2009.
Módulo 8
1 7
Para fazer os símbolos, foram desenvolvidos estiletes de caniço
para imprimir marcas nítidas nas placas. Para que as marcas na argila
pudessem ser compreendidas foi necessário adotar convenções: a es-
crita era disposta em linhas, as linhas eram lidas sempre no mesmo
sentido e de cima para baixo. Os primeiros símbolos eram figuras re-
presentativas de objetos (peixe ou pássaro, por exemplo) que signifi-
cavam numerais e objetos visíveis. Vieram, então, as combinações de
símbolos para produzir novos significados (cabeça + pão = comer). A
necessidade de representar nomes abstratos veio depois e, para soluci-
onar esse problema, foi introduzida a representação fonética.
Se pararmos para pensar um pouco, veremos que essa nova
tecnologia de comunicação, a escrita, não foi inventada por um indiví-
duo ou mesmo um grupo restrito de indivíduos. Ela foi o resultado
criativo de muitas pessoas que, durante centenas ou até milhares de
anos, foram aperfeiçoando lentamente as formas até então existentes
de escrita. Havia uma tecnologia de suporte (tábuas de argila), de fer-
ramentas para escrever (estiletes de caniço) e um conjunto de regras
bem definidas para guiar o processo de escrita e leitura, todos eles
sendo continuamente aperfeiçoados. Mas isso tudo não era suficiente
para garantir que a escrita se perpetuasse: havia condições sociais ne-
cessárias para seu avanço. Primeiramente, a sociedade em que a escri-
ta surgiu precisou enxergar alguma utilidade em seu uso e, em segun-
do lugar, essa sociedade deveria ser capaz de sustentar escribas espe-
cialistas para manter e aperfeiçoar a escrita.
Anote: É importante, caro aluno, que, a partir de agora,você tenha em mente a ideia de que o desenvolvimentotecnológico não é só a criação de novas técnicas, mas, tam-bém, um processo fortemente influenciado pelas socieda-des em que esse desenvolvimento ocorre.
A complexa escrita suméria era usada para fins de contabilidade
dos governantes, principalmente. O uso era restrito aos escribas pro-
fissionais do rei ou do templo. Os fins não-profissionais da escrita só
surgiram com a sua simplificação de forma significativa, basicamente
1 8
Curso de Graduação em Administração a Distância
o alfabeto. Depois de inventado pelos fenícios, o alfabeto permitiu a
difusão de forma muito mais rápida da escrita. Observe, portanto, que
o desenvolvimento de uma nova tecnologia é um processo coletivo,
envolve muitas pessoas, que podem estar separadas no espaço e no tem-
po, construindo conhecimentos a partir de conhecimentos anteriores.
Saiba mais... Para saber mais sobre a história da escrita, consulte: <http://
www.forum.ufrj.br/biblioteca/escrita.html>. Acesso em: 1º mai.
2009.
Um salto para o futuro:da antiguidade à modernidade
Você poderia responder a partir do que já viu nesta disciplina,
mas também por toda a sua experiência de vida, quem vem primeiro: a
necessidade ou a invenção?
O caminho da humanidade descrito até aqui para o desenvolvi-
mento de novas tecnologias parece sugerir que a necessidade é a mãe
da invenção. Será sempre assim? Todas as novas tecnologias são de-
senvolvidas a partir de necessidades percebidas?
Dando um salto no tempo e chegando aos tempos modernos,
podemos identificar uma infinidade de artefatos ou equipamentos que
representaram mudanças significativas nas formas de realizar determi-
nadas atividades, significando uma inovação tecnológica*.
Vamos listar alguns:
máquina a vapor;
motor por combustão interna;
energia elétrica;
telégrafo;
GLOSSÁRIO* I n o v a ç ã oTecnológica – usa-da neste contexto, aexpressão inovaçãotecnológica signifi-ca a ideia, práticaou artefato materialque foi inventadoou é visto comonovo. Fonte:Moreira e Queiroz(2007).
Módulo 8
1 9
fonógrafo;
válvula;
transistor;
rádio;
televisão;
chip e Internet;
automóvel;
trem;
navio; e
avião.
Vejamos com mais detalhes as histórias de duas dessas inova-
ções tecnológicas: a máquina a vapor, patenteada por James Watt em
1769, e a lâmpada incandescente, patenteada por Thomas Edison em 1879.
James Watt era mecânico. Em 1763, ele recebeu para consertar
uma máquina a vapor idealizada por Thomas Newcomen, a mais avan-
çada da época, patenteada em 1712. A máquina de Newcomen, por
sua vez, tinha como modelo a máquina que Thomas Savery patenteou
em 1698, que, por sua vez, foi baseada na máquina a vapor que o
francês Denis Papin idealizou em 1680, mas não construiu
(DIAMOND, 2003). Watt observou que a perda de grandes quantida-
des de calor era o defeito mais grave da máquina e idealizou, então, o
condensador, seu primeiro grande invento. Em 1769, ele obteve a pri-
meira patente do invento e de vários aperfeiçoamentos por ele conce-
bidos. Endividado, associou-se a John Roebuck, que o ajudou finan-
ceiramente. Um protótipo foi construído e sobre ele se realizou a cor-
reção de algumas falhas. Matthew Boulton, dono de uma firma de
engenharia, comprou a parte de Roebuck e deu início à construção
das máquinas projetadas por Watt. De amplo emprego na secagem de
minas, o engenho de Watt era destituído de qualquer aplicação mais
prática até que seu inventor idealizou a “gaveta”, movida pela própria
máquina e destinada a fazer o vapor atuar sobre as duas faces do êm-
bolo, ao mesmo tempo em que impelia o vapor para o condensador.
2 0
Curso de Graduação em Administração a Distância
Novos detalhes foram ainda aperfeiçoados até que o motor atingiu a
forma sob a qual se tornou universalmente empregado a partir de 1785
para movimentar locomotivas e navios, teares, bombas e gerar, pela pri-
meira vez na história da humanidade, trabalho a partir de energia térmica.
Saiba mais... Mais detalhes sobre James Watt e a máquina a vapor em: <http:/
/educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u502.jhtm>. Acesso em: 1º
mai. 2009.
Thomas Edison foi um inventor. Tendo inventado um teletipo
para registrar automaticamente numa fita de papel as cotações das ações
da bolsa, recebeu por ele 40 mil dólares e o dinheiro foi gasto em
equipamentos para a firma de engenharia elétrica que montara com
dois sócios. Trabalhou intensamente no aperfeiçoamento do telefone,
patenteado por Alexander Graham Bell. Ocorreu-lhe que, se o som
podia ser convertido em impulsos elétricos, podia ser gravado para ser
ouvido depois. Teve início sua busca, que resultou no fonógrafo que
ficou sem aplicação comercial por mais de uma década.
Enquanto isso, Edison interessava-se pela iluminação elétrica.
No final dos anos de 1870, o uso da eletricidade para iluminação não
era mais novidade. Já se conhecia a lâmpada de arco, mas a luz era
ofuscante, durava pouco e produzia tremendo calor. Na época, as ca-
sas eram iluminadas por velas, embora nas cidades os lampiões a gás
fossem amplamente usados nas ruas, teatros e grandes escritórios. Mas,
além de caro, o gás cheirava mal e não havia para ele um sistema geral
de distribuição. Edison pretendia conseguir uma luz suave como a do
gás, sem suas desvantagens. Seu desafio estava em achar um material
que ficasse incandescente quando a corrente elétrica passasse por ele
e em fazer com esse material um filamento. Como outros inventores,
Edison acreditava que esse filamento precisaria ficar isolado dentro de
um bulbo de vidro do qual o ar tivesse sido retirado, pois o oxigênio
facilita a combustão. Durante mais de um ano, ele e seus assistentes
testaram filamentos de todos os materiais possíveis e imagináveis, che-
Módulo 8
2 1
gando ao fio de algodão carbonizado. Acesa em 21 de outubro de
1879, a lâmpada brilhou 45 horas seguidas. A lâmpada incandescente
de Thomas Edison foi resultado do aperfeiçoamento de muitas outras
lâmpadas incandescentes patenteadas por outros inventores entre 1841
e 1878. À lâmpada seguiu-se o desafio de produzir e distribuir energia
elétrica, tendo conseguido seu feito em 1882 ao iluminar uma parte de
Nova York.
Saiba mais... Se você tiver interesse e quiser saber mais sobre Thomas A.
Edison, acesse: <http://super.abril.com.br/superarquivo/1988/
conteudo_111446.shtml>. Acesso em: 1º mai. 2009.
As histórias de Watt e Edison sugerem que a necessidade não é
essencialmente a mãe da inovação. A criatividade e a inventividade
humanas podem levar ao desenvolvimento de novos dispositivos que
não tenham uma aplicação imediata, que não tenham sido concebidos
para solucionar algum problema identificado. De posse do dispositi-
vo, são buscados usos ou aplicações para ele. Essa interação entre
necessidade e inventividade deve ocorrer nos dois sentidos,
complementando-se enquanto evolui nossa forma de viver.
Anote: Observe, caro aluno, a construção do conhecimentoa partir de conhecimentos anteriores. O esforço é coleti-vo. Essa é uma ideia fundamental para o entendimento dainovação tecnológica. O que Watt e Edison fizeram foiinaugurar o sucesso comercial da máquina a vapor e dalâmpada incandescente a partir dos grandes aperfeiçoamen-tos que eles introduziram.
Uma pergunta muito interessante de fazer, aqui, é a seguinte: Se
James Watt ou Thomas Edison não tivessem existido, a humanidade
teria ficado sem suas inovações? O fato de eles terem feito melhorias
2 2
Curso de Graduação em Administração a Distância
significativas em artefatos que já existiam de alguma forma e o fato de
que todos esses artefatos sofreram posteriores modificações, feitas por
outros, indicam que eles foram elos significativos numa cadeia de cons-
trução de conhecimento. Porém, sem eles, outros, muito provavelmente,
chegariam a esses avanços. A inovação tecnológica* é resultado de
um processo de construção coletiva de conhecimento intrinsecamente
vinculado à sociedade em que ela se dá. Essa sociedade possui conhe-
cimento para propor essas melhorias e também condições de valorizar
e usar essa nova tecnologia.
Portanto, há uma profunda relação entre inovação tecnológica e
sociedade, existindo geralmente uma interação contínua e dinâmica
entre elas: a inovação causa mudanças econômicas e sociais. A socie-
dade sofre modificações causadas pelas inovações, mas, também, pro-
move alterações nessas inovações, seja aperfeiçoando-as, difundindo-
as ou rechaçando-as.
Anote: Observe que inovação tecnológicaAnote: Observe que inovação tecnológicaAnote: Observe que inovação tecnológicaAnote: Observe que inovação tecnológicaAnote: Observe que inovação tecnológica pode serentendida de duas formas. Em primeiro lugar, como umprocessoprocessoprocessoprocessoprocesso de geração e disseminação, na malha econômicae social, de novas tecnologias, sejam elas efetivamente umnovo produto ou serviço ou uma nova forma de exercerdeterminada atividade, utilizando novos recursos ou os re-cursos existentes combinados de maneira nova. Em segun-do lugar, como o próprio resultado desse processo, ouseja, o produto ou artefato produto ou artefato produto ou artefato produto ou artefato produto ou artefato que dele resulta.
Aprofundando o conceito deinovação tecnológica
Vamos continuar com o exemplo da lâmpada incandescente de
Thomas Edison para enriquecer o conceito de inovação tecnológica.
A lâmpada que Edison utilizava um filamento de carvão muito fino
obtido através da carbonização de um fio de algodão, quando aqueci-
GLOSSÁRIO* I n o v a ç ã oTecnológica – nestecontexto, a expres-são "[...] é tomadacomo sendo um si-nônimo para a pro-dução, assimilação eexploração com su-cesso de novidadesnas esferas econô-micas e sociais".Fonte: EuropeanComission (1995,apud MOREIRA;QUEIROZ, 2007,p. 6).
Módulo 8
2 3
do pela passagem da corrente elétrica até próximo ao seu ponto de
fusão, passava a emitir luz. A haste era inserida em uma ampola de
vidro em que havia sido feito vácuo, de modo a reduzir ao máximo a
combustão do filamento. No entanto, a durabilidade desta lâmpada
era muito pequena, algo em torno de 40 a 50 horas.
Edison, então, começou a fazer experiências com outros materi-
ais que pudessem ser utilizados como filamentos. Experimentou pape-
lão carbonizado e, depois, bambu, também carbonizado, que perma-
neceu em uso por mais de dez anos. Sua durabilidade, no entanto, era
de poucos dias e a busca por outros materiais continuou. O bambu foi
substituído pela celulose e, depois, pelo atual tungstênio. Além da
mudança no filamento, o vácuo foi substituído por um gás inerte (uma
mistura de nitrogênio e argônio), que impede que o filamento se quei-
me mesmo em altíssimas temperaturas (o filamento de uma lâmpada
comum de tungstênio torna-se incandescente a temperaturas próximas
a 3.000º Celsius).
Saiba mais... O funcionamento da lâmpada incandescente é simplíssimo: a
corrente elétrica, que é produzida pelas centrais hidroelétricas etermoelétricas, chega, por meio da tomada de rosca, que serve parainserir a lâmpada no soquete, a duas pequenas antenas de metal, quesão escoradas por um suporte de vidro: as duas antenas transmitem,por suas vez, a corrente ao filamento, que se torna incandescente.
Figura 3: Lâmpada incandescente de Edison e lâmpada incandescente atual.Fonte: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/3a/
Gluehlampe_01_KMJ.jpg>. Acesso em: 6 mai. 2009.
2 4
Curso de Graduação em Administração a Distância
A diferença entre
inovação radical e
inovação incremental
é o grau de mudança
provocado.
Observe, portanto, toda a trajetória de desenvolvimento da lâm-
pada incandescente. Thomas Edison tinha conhecimento de outros tan-
tos artefatos que tinham a finalidade de produzir luz artificial, e o fazia
por segundos ou minutos. Sua contribuição, no entanto, foi muito sig-
nificativa: com o filamento de carvão num bulbo a vácuo ele conse-
guiu produzir luz a partir de energia elétrica, sem geração de fumaça,
odores ou calor significativo por mais de 40 horas. Esse salto no resul-
tado obtido até então pode ser chamado de uma inovação radical*.
Está claro que a lâmpada de Edison sofreu inúmeras melhorias
daquele primeiro modelo até a lâmpada incandescente de hoje: os
filamentos, o gás no interior e o soquete metálico são alguns exem-
plos. Essas melhorias são chamadas de inovações incrementais*. As
inovações incrementais pelas quais passa determinado produto ao lon-
go de seu ciclo de vida podem resultar em um produto significativa-
mente diferente do original.
Autoavaliação
Lembra-se dos aparelhos celulares que usávamos há dez anos? Eramaparelhos celulares, mas, significativamente, diferentes dos que usa-mos agora, certo? Em que diferem? Neste caso, você é capaz deidentificar a inovação radical e algumas inovações incrementais?
A Primeira Revolução Industrial
De acordo com Tigre (2006), há, aproximadamente, 250 anos, o
mundo da produção de bens era completamente diferente do que co-
nhecemos. Não havia comércio de serviços e a produção dos bens era,
basicamente, toda artesanal. O artesão era dono da matéria-prima, das
ferramentas e de todos os aparatos necessários para produzir seu pro-
duto, que também a ele pertencia. O artesão comprava o que necessi-
tava para produzir, vendia sua produção e se apropriava de todo o
ganho resultante do seu trabalho.
GLOSSÁRIO*Inovação radical –é a introdução deum novo produto,processo ou formade organização daprodução inteira-mente nova. Essetipo de inovaçãopode representaruma ruptura estrutu-ral com o padrãotecnológico anteri-or, originando novasindústrias, setoresou mercados. Fon-te: OECD/FINEP(1997).
GLOSSÁRIO* I n o v a ç ã oincremental – é aintrodução de qual-quer tipo demelhoria em umproduto, processoou organização daprodução sem alte-ração na estruturaindustrial. Fonte:O E C D / F I N E P(1997).
Módulo 8
2 5
Ainda segundo Tigre (2006), inovações tecnológicas radicais
para o setor de tecelagem (máquina de fiar em 1767; tear hidráulico
em 1769; máquina a vapor em 1776; tear mecânico em 1785 e desca-
roçador de algodão em 1792), seguidas de contínuas inovações
incrementais introduzidas anonimamente, foram acompanhadas por
modificações no seio da sociedade inglesa, produzindo o que conhe-
cemos como Primeira Revolução Industrial.
A sociedade inglesa da época vivia um momento de grande li-
berdade e estabilidade política. Os privilégios concedidos aos nobres
tinham sido reduzidos e a distribuição de renda havia melhorado, fa-
vorecendo a produção de bens mais padronizados. Esses fatores per-
mitiam que este período fosse bastante fértil para a inovação. Diante
disso, estabeleceram-se, ali, as primeiras relações capitalistas no cha-
mado sistema putting-out*, que se assemelhava às práticas de facção
de hoje em dia. O processo produtivo passava a ser coordenado e fi-
nanciado por um empresário que, mesmo sem ter a fábrica, adquiria as
matérias-primas, coordenava a produção e se apropriava do produto
acabado mediante pagamento pelo trabalho. Tinha início, então, a or-
ganização da produção, utilizando os princípios fabris da automação e
da divisão do trabalho ( TIGRE, 2006).
A habilidade e o esforço humano foram substituídos por máqui-
nas, basicamente teares. As fontes animadas de energia foram substi-
tuídas por fontes inanimadas (conversão de energia potencial química
em calor e deste em trabalho - máquina a vapor). E a substituição de
matérias-primas vegetais ou animais por minerais permitiu aumentos
na produtividade e na renda impressionantes. Esse aumento da produ-
tividade do trabalho, por sua vez, permitiu o rápido declínio dos pre-
ços e o crescimento da popularidade dos tecidos de algodão.
GLOSSÁRIO*Putting-out – Nosistema putting-out,os mercadores sub-metiam os campo-neses, para os quaisforneciam matérias-primas e instrumen-tos de trabalho, à en-trega regular de pro-dutos, ficando esteslivres das restriçõescoorporativas. Essesistema permitiu queos detentores de ca-pital subordinassemos produtores inde-pendentes a seus in-teresses, gerandoganhos de produti-vidade por meio dadivisão do trabalhoe da especializaçãodos produtores.Fonte: CamargoNeto (2005).
2 6
Curso de Graduação em Administração a Distância
As inovações ocorridas nestas etapas iniciais da Revolução In-
dustrial eram essencialmente práticas, desenvolvidas por mecânicos,
ferreiros e carpinteiros habilidosos que não tinham qualquer formação
científica. Os cientistas, ainda conhecidos como filósofos, entre os quais
podemos lembrar Galileu Galilei (1564-1642), Isaac Newton (1643-
1727) e Benjamin Franklin (1706-1790), não tinham qualquer preten-
são de desenvolver conhecimentos para aumentar a produção de bens
na sociedade. A ciência buscava explicar os fenômenos da natureza
que despertavam a curiosidade humana. As inovações dessa época
não eram frutos da ciência, mas das observações e experimentações
práticas. Portanto, não havia qualquer vínculo entre ciência e tecnologia
(TIGRE, 2006).
Saiba mais... Se você tiver curiosidade e quiser saber mais sobre os cientistas
da época, acesse: <http://www.prof2000.pt/users/ccfespan/clube/
cientistas.htm>. Acesso em: 6 mai. 2009.
Reflexão: Pare um pouco por aqui e pense: neste momen-to, o conceito de Tecnologia já deve estar bem claro paravocê. Mas o que entende por ciênciaciênciaciênciaciênciaciência? Quais são asinterações entre ciência e tecnologia que você percebe? Re-gistre isso. Ao final da Unidade voltaremos a esse ponto evocê poderá comparar seu conhecimento sobre o assunto.
Figura 4: Indústria têxtil na Inglaterra no Século XVIII.Fonte: <http://www.suapesquisa.com/industrial/>. Acesso em: 6 mai.
2009.
Módulo 8
2 7
A Segunda Revolução Industrial
Tigre (2006) relata que na segunda metade do Século XIX, o
processo de industrialização aprofundou-se na Europa e foi difundido
intensamente nos EUA. A máquina a vapor teve um papel-chave nes-
se processo. Graças ao desenvolvimento da metalurgia do aço, a má-
quina a vapor avançou tanto em relação à redução de seu peso e seu
volume quanto em relação às temperaturas a serem alcançadas nas
fornalhas, que eram cada vez mais altas. Essas melhorias permitiram
sua associação com o carro deslizante sobre trilhos, que, por sua vez,
veio a representar outra inovação radical: a locomotiva a vapor. A
máquina a vapor também começou a ser usada para impulsionar os
barcos, até então puxados por cavalos que andavam pelas margens
dos canais. Nascia, assim, a barcaça a vapor.
Tinha início uma revolução nos transportes ferroviários e maríti-
mos, o que, por sua vez, garantiria uma expansão impressionante de
mercados e novas fontes de matérias-primas e a expansão da indústria
manufatureira (TIGRE, 2006).
O estabelecimento das ferrovias, no entanto, exigiu uma série de
inovações complementares na indústria mecânica, no manejo de equi-
pamentos pesados, na pavimentação e construção das estradas, para
citar apenas algumas, que foram se desenvolvendo ao longo do tem-
po. Por outro lado, criou uma enorme demanda por ferro e aço, impul-
sionando a indústria mecânica e a metalurgia, que passaram a utilizar
definitivamente o carvão mineral (TIGRE, 2006).
Anote: É muito importante notar o caráter sistêmico e in-tegrado da inovação: um processo contínuo de sucessãode inovações tecnológicas e organizacionais radicais eincrementais em um contexto social e econômico favorável.
Nesta ocasião, mudanças institucionais nas áreas jurídica, finan-
ceira e política foram importantes para o avanço do crescimento in-
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Curso de Graduação em Administração a Distância
dustrial. Esse avanço, porém, não se deu na escala de produção. Falta-
vam recursos técnicos e financeiros para investimentos em equipamen-
tos e formas de organização que garantissem a produção em massa.
Além disso, havia restrições jurídicas ao crescimento das firmas, dado
que era atribuído aos proprietários total responsabilidade pelas dívi-
das da firma. Assim, a maioria delas era gerenciada pelos donos, fami-
liares ou pequeno grupo de sócios. Esse regime limitava o crescimen-
to da firma e evitava a concentração de mercado, ou seja, a formação
de oligopólios ou monopólios (TIGRE, 2006).
Detalhando o conceito de inovação
Caro aluno, no final do Século XIX e início do Século XX, ao
mesmo tempo em que as inovações baseadas em eletricidade cami-
nhavam a passos largos no seu desenvolvimento, a produção de auto-
móveis também deslanchava.
Quando você pensa em automóveis, na história deles, nos pio-
neiros, nas pessoas mais significativas no desenvolvimento desse in-
vento, de quem você se lembra? Nikolaus Otto? Gottlieb Daimler?
Rudolph Diesel ou de Henry Ford? Provavelmente, você se lembrará
primeiramente de Henry Ford. Mas qual foi o papel de Ford no desen-
volvimento do automóvel como uma das principais inovações
tecnológicas do Século XX?
Acesse o site: <http://www.discoverybrasil.com/velocidade/
timeline/timeline.shtml>, e acompanhe a interessantíssima história do
desenvolvimento do automóvel. Observe a sequência de inovações
tecnológicas: a propulsão de um veículo por uma máquina a vapor
(1801); o desenvolvimento do motor a combustão interna por Otto
(1876); o uso desse motor para propulsão dos automóveis por Gottlieb
Daimler e Karl Benz (1886), quando um automóvel alcança 16 Km/h;
o desenvolvimento do carburador por Mayback (1890), conseguindo
o recorde mundial de velocidade de 64,4 Km/h. Não deixe de consul-
tar, ainda, no mesmo site, a seção “Pioneiros do automóvel”.
Em 1903, Henry Ford entra em cena ao criar a Ford Motors
Company, empresa fabricante de automóveis, cujo principal objetivo
era popularizar seu produto. Sua ideia era produzir um grande número
Módulo 8
2 9
de veículos, com desenho simples e com baixo custo. Para atingir seu
objetivo, Ford desenvolveu:
a linha de produção em massa;
um sistema de remuneração diferenciado que incluía saláriosaltos (U$ 5,00/dia); e
um plano de participação nos lucros entre os trabalhadores.
Como resultado, em cinco anos, ele se transformou no maior
produtor de automóveis do mundo e vendeu mais de 15 milhões de
unidades do modelo Ford T.
Figura 5: Ford T.Fonte: <http://www.classiccar.com/wordpress/2008/this-day-in-
automotive-history/>. Acesso em: 7 mai. 2009.
Henry Ford promoveu uma inovação tecnológica radical no au-
tomóvel? Na melhor das hipóteses, algumas melhorias incrementais,
no entanto, revolucionou o setor de transporte de passageiros no iní-
cio do Século XX, criando uma nova indústria e seu mercado. Como
isso foi possível?
Sua grande contribuição foi na forma de produzir o automóvel –
a linha de montagem. Esse é um clássico exemplo de inovação no
processo de produção e não inovação no produto propriamente dito.
Porém, sua linha de produção tornava-o completamente dependente
dos funcionários. Com alto índice de absenteísmo, a fábrica não pode-
ria funcionar. Isso exigia mudanças organizacionais que foram pro-
3 0
Curso de Graduação em Administração a Distância
movidas no sistema de remuneração. Os altos salários e a participação
nos resultados eram completamente inéditos e levaram à formação de
filas imensas por ocasião das contratações na fábrica. Ford promovera
inovações organizacionais ou administrativas.
Conceitualmente, as mudanças implementadas por Henry Ford
estavam baseadas no trabalho de Frederick W. Taylor, um engenheiro
mecânico norte-americano que inicialmente era técnico em mecânica
e um operário. Taylor é considerado o “Pai da Administração Científi-
ca” por sugerir a utilização de métodos científicos cartesianos na ad-
ministração de empresas, cujo foco era a eficiência e a eficácia
operacional na administração industrial. Como você viu com mais
detalhes em Teoria Geral da Administração.
A classificação das inovações com base no foco é uma das mais
antigas e mais conhecidas e foi proposta por Knight (1967):
As inovações no produto ou no serviço dizem respeito àinovação que a organização faz naquilo que ela produz, ven-de ou fornece.
As inovações no processo de produção referem-se à formautilizada para produzir, vender ou fornecer seus produtos ouserviços. Tais inovações podem estar relacionadas com suaorganização, seu sistema de informações e a sua forma deatendimento, por exemplo.
As inovações organizacionais afetam as relações de autori-dade, sistemas de remuneração, sistemas de comunicação.
As inovações em pessoas referem-se a mudanças no com-portamento ou nas crenças das pessoas da organização pormeio de educação e treinamento.
Atualmente, apenas as três primeiras são mantidas, sendo a últi-
ma categoria englobada em inovações organizacionais.
Aqui é importante parar um momento para considerar que ino-
vação tecnológica e novas tecnologias não são expressões que se rela-
cionam apenas com tecnologias modernas ou chamadas de tecnologias
de ponta. Essas expressões são mais abrangentes do que e podem es-
tar relacionadas com sua forma de obter alimentos (instrumentos de
Módulo 8
3 1
caça, criação de rebanhos confinados, plantações com sementes gene-
ticamente modificadas, monitoramento por satélite dos campos de plan-
tio), sua forma de abrigar-se (casas de taipa, de madeira, de alvenaria,
construções verticais, arranha-céus), sua forma de locomover-se (car-
roças, automóveis, aviões e ônibus espaciais), sua forma de comuni-
car-se (fala, escrita, imprensa, rádio, televisão, Internet). Ou seja, as
inovações tecnológicas referem-se ao desenvolvimento, pelos seres
humanos, de novas formas de resolver seus problemas, de fazer as
coisas que julgam necessárias. Observe ainda que a expressão “alta
tecnologia” é usada, porém, para designar produtos e processos inten-
sivos em conhecimentos científicos.
Chega o Século XX
Segundo Tigre (2006), o início do Século XX foi marcado por
profundas modificações tecnológicas e organizacionais no sistema de
produção das economias ocidentais. As inovações tecnológicas no cam-
po da eletricidade e do motor a combustão interna foram intensas. Do
ponto de vista organizacional, o fordismo, acompanhado pela admi-
nistração científica do trabalho, modificou profundamente a forma de
produção industrial.
Figura 6: Linha de produção.Fonte: <http://linepaggy.blogspot.com/2008/03/fordismo-esse-um-
texto-sobre.html>. Acesso em: 7 mai. 2009.
3 2
Curso de Graduação em Administração a Distância
Como consequência, toda a economia foi revolucionada com o
surgimento de novas indústrias, desaparecimento de outras, surgimento
dos oligopólios, crescimento das empresas e do capitalismo gerencial
que surgiu como motor do crescimento econômico*. A eletricidade
para fins de iluminação, mas, principalmente, como fonte de energia
para o setor industrial, exerceu papel central na dinâmica de transfor-
mações desse período. Os trabalhos iniciais em eletricidade datam da
década de 1820, mas, já na década de 1930, ela era a principal fonte
de energia industrial, como é até hoje, com o desenvolvimento de um
sem número de inovações complementares e a construção de uma
infraestrutura adequada. Veja alguns detalhes desse processo.
Os trabalhos de André Marie Ampère (1775-1836) marcaram o
início do desenvolvimento humano no campo do eletromagnetismo.
Ampère, professor da Ecole Polytechnique de Paris, formulou uma lei
para circuito elétrico e magnético. Em 1826, publicou um Tratado so-
bre a Teoria Matemática dos Fenômenos Eletrodinâmicos, que foi fun-
damental para os trabalhos posteriores de Faraday e Maxwell. Em 1831,
Michel Faraday conseguiu induzir corrente elétrica variando um cam-
po magnético. Foi a demonstração do primeiro gerador (também co-
nhecido como dínamo), que transforma energia mecânica em energia
elétrica. São diversas as aplicações dos geradores em nosso mundo
moderno. Uma delas é sua utilização em usinas hidrelétricas. No en-
tanto, foi James Clerk Maxwell (1831-1879) quem formulou a lei da
indução eletromagnética em linguagem matemática, dando forma fi-
nal à teoria moderna do eletromagnetismo, que une a eletricidade, o
magnetismo e a ótica.
As aplicações do eletromagnetismo começaram a surgir a partir
da década de 1840 com a invenção do telégrafo elétrico. Na década de
1850, o motor elétrico e, em 1879, a lâmpada incandescente. Em 1895
foram desenvolvidos os primeiros sistemas práticos de distribuição de
energia, enquanto as cataratas do Niágara eram represadas para pro-
duzir energia elétrica. Na década de 1910, as principais cidades
europeias e norte-americanas estavam eletrificadas.
GLOSSÁRIO*Crescimento eco-nômico – caracteri-za-se por um au-mento quantitativona produção debens e serviços, ouseja, um crescimen-to das atividadeseconômicas exis-tentes. Já o desen-volvimento econô-mico é caracteriza-do por um aumento,não só quantitativo,mas, sobretudo,qualitativo, que re-sulta em um proces-so de transformaçãoda estrutura produ-tiva no sentido deincorporar novosprodutos e proces-sos e agregar valorà produção. Essesprocessos geramempregos mais qua-lificados, criam no-vas formas de orga-nização, também,atendem a novasnecessidades dosconsumidores e me-lhoram a própria for-ma de viver. Fonte:elaborado pela auto-ra.
Módulo 8
3 3
Saiba mais... Para saber mais sobre esses e outros cientistas e seus trabalhos
acesse: <http://pt.wikipedia.org/wiki/listadecientistas>. Acesso em: 7
mai. 2009.
Voltemos a um personagem conhecido que obteve relevante pa-
pel por aqui: Thomas Edison, seu interesse pelas aplicações dos co-
nhecimentos de Faraday o levou a construir por conta própria em 1876,
aos 29 anos, o primeiro laboratório não universitário de pesquisas in-
dustriais de que se tem notícia. Ali foram desenvolvidos o fonógrafo, a
lâmpada, a locomotiva elétrica e o projetor de cinema. Apenas dois
anos depois de patentear a lâmpada incandescente, Edison construiu a
primeira estação geradora de eletricidade produtora de corrente contí-
nua. Ficava em Nova York e era movida a carvão. A estação conse-
guiu acender 7.200 lâmpadas por vez e iluminar um bairro inteiro.
Fundou a Edison General Eletric em 1888, empresa que se transfor-
mou num dos maiores fabricantes multinacionais de lâmpadas e equi-
pamentos elétricos leves e pesados até os dias de hoje.
Outros inventores-empresários como Werner Siemens, Alexander
Graham Bell e George Westinghouse criaram, ao lado da GE, grandes
firmas inovadoras que oligopolizaram o novo setor produtor de equi-
pamentos de geração, transmissão e aplicação de energia. Esse avan-
ço da tecnologia com uso da eletricidade permitiu o desenvolvimento
de máquinas maiores e mais eficientes e de sistemas integrados de pro-
dução como as linhas de montagem.
Se, até então, o desenvolvimento de novas tecnologias tinha sido
possível apenas através de conhecimentos práticos, no setor elétrico,
há necessidade de fundamentação em conhecimentos científicos. Os
princípios do eletromagnetismo, sutil e invisível, para serem aplicados
com sucesso, precisavam ser elucidados pelos cientistas e aplicados a
partir do seu entendimento pelos inventores. Ciência e tecnologia, que
historicamente haviam seguido caminhos separados, começaram sua
interação para a produção de inovações tecnológicas. Portanto, con-
forme observa Tigre (2006), a ciência só passou a influenciar direta-
mente o progresso técnico quando a tecnologia industrial passou do
3 4
Curso de Graduação em Administração a Distância
mundo visível das polias e engrenagens para o campo invisível do
eletromagnetismo e das reações químicas.
Nas primeiras décadas do Século XX, os princípios da Adminis-
tração Científica do Trabalho, conhecidos como sistema taylorista-
fordista, deram origem ao sistema de produção em massa. Esse, por
sua vez, permitiu o crescimento acelerado da indústria automobilísti-
ca. Constituíram-se, então, os setores industriais que dominaram o
Século XX: elétrico, automobilístico, petrolífero e químico.
Ciência, Tecnologia & InovaçãoTecnológica – C,T&I
Foi nesse ambiente concorrencial do início do Século XX que
viveu o economista Joseph Alois Schumpeter (1883-1950). Suas ob-
servações sobre a realidade econômica da época o levaram a publicar
em 1934 uma "Teoria do Desenvolvimento Econômico" na qual ele
ressaltava, de forma explícita, a importância central da inovação na
competição entre firmas, na evolução das estruturas industriais e no
próprio desenvolvimento econômico.
Schumpeter (1982) atribuía às firmas o papel central como pro-
pulsoras do processo de inovação, devido à possibilidade de obtenção
de lucros extraordinários advindos da introdução de inovações no mer-
cado. Schumpeter (1982) definia inovação de maneira ampla, incluin-
do, além da introdução de novos produtos ou processos, as novas for-
mas de organização empresarial, a abertura de novos mercados e até
mesmo a utilização de novas fontes de matérias-primas
(SCHUMPETER, 1982).
Schumpeter (1982) distinguia claramente os processos de inven-
ção, inovação e difusão. Para ele, invenção estava associada à gera-
ção de novas ideias, ao progresso do conhecimento científico propria-
mente dito e sua aplicação na geração de novos equipamentos ou arte-
fatos ou mesmo novos processos, mas sempre em fase pré-comercial.
Módulo 8
3 5
Inovação referia-se à introdução comercial de uma invenção na esfe-
ra técnico-econômica. Para isso, deveria haver um agente com uma
expectativa de retorno econômico: o empresário inovador. A inovação
seria selecionada, favorável ou desfavoravelmente, pelo mercado. Na
primeira hipótese, a inovação passaria à fase de difusão. Na segunda
hipótese, a inovação seria descartada e o esforço empreendido até ali,
perdido. A difusão ocorreria a partir do momento em que os agentes
econômicos pudessem observar os resultados compensadores das mu-
danças implementadas e passassem eles mesmos a incorporarem a novi-
dade: de produto, processo, mercado, matéria-prima ou organização.
Observe que Schumpeter (1982) já percebia o processo de ino-
vação associado ao avanço do conhecimento científico. A interação
entre ciência, tecnologia e inovação já se revelava. Vamos, então,
aprofundar-nos um pouco nesses conceitos.
Paul Davies (2009) esclarece: a ciência tem de envolver mais do
que a mera catalogação de fatos e do que a descoberta, através da
tentativa e erro, de maneiras de proceder que funcionam. O que é
crucial na verdadeira ciência é o fato de envolver a descoberta de prin-
cípios que subjazem e conectam os fenômenos naturais. [...] a verda-
deira ciência consiste em saber por que razão as coisas funcionam.
Observe que a utilização do conhecimento científico, do enten-
dimento das leis que regem os diversos fenômenos, permite um au-
mento da produtividade na geração de novas tecnologias, quando com-
parada ao método da tentativa e erro. Ademais, permite o avanço
tecnológico para além do óbvio. As transmissões de sons, imagens e
dados via ondas eletromagnéticas, o uso da energia nuclear, a produ-
ção de insulina humana por bactérias geneticamente modificadas, nada
disso seria possível sem uma compreensão teórica profunda dos di-
versos fenômenos subjacentes a essas tecnologias.
Dasgupta e David (1994) concluem: ciência é uma esfera de ati-
vidades cuja organização conduz ao rápido crescimento do conheci-
mento, enquanto as atividades relacionadas com a tecnologia buscam
alcançar o rápido crescimento dos benefícios materiais a partir do novo
conhecimento.
3 6
Curso de Graduação em Administração a Distância
Reflexão:
1. Como se relaciona o conceito de tecnologia, apresenta-do no início da Unidade, com aquele apresentado porDasgupta e David (1994) anteriormente? São incoeren-tes? São complementares? Explique.
2. Como se relacionam o conceito de inovação apresenta-do no início da Unidade com aquele proposto porSchumpeter (1982)? São incoerentes? São complementa-res? Explique.
Chamamos sua atenção para o fato de que, a partir das primeiras
décadas do Século XX, as mudanças nos modos de produção,
tecnológicas ou organizacionais passaram a ter uma influência tão sig-
nificativa sobre a economia e a sociedade que, de modo geral, torna-
ram-se objeto de estudo e investigação. Os conceitos de ciência,
tecnologia e inovação foram explicitados e interligados. São duas as
constatações sobre ciência, tecnologia e inovação que devem ser res-
saltadas aqui.
Em primeiro lugar, o conhecimento científico adquiriu um
papel fundamental no processo de desenvolvimento de novas
tecnologias: a ciência, então, constituiu-se como base para as no-
vas tecnologias. Em segundo lugar, o processo de inovação
tecnológica, resultado do avanço do conhecimento científico-
tecnológico, inseriu-se no sistema socioeconômico e passou a ser
justificado pelo seu valor econômico. Desde então, a importância da
articulação entre as esferas científica e tecnológica de maneira a im-
pulsionar o processo de inovação passou a ser reconhecida.
Meados do Século XX em diante
Terminada a Segunda Guerra Mundial, as economias norte-ame-
ricana e a britânica estavam totalmente estruturadas sobre os pilares
da produção em massa. A industrialização baseada na eletricidade e
Módulo 8
3 7
no petróleo era uma realidade completamente difundida nesses países.
Os países da Europa Continental, em processo de industrialização, ti-
nham que ser reconstruídos.
O Japão, então uma pequena economia, iniciou um processo de
reconstrução estrategicamente voltado para a industrialização, não co-
piando o modelo norte-americano e inglês, mas procurando desenvol-
ver o seu próprio modelo, o que levou ao desenvolvimento do
toyotismo.
Saiba mais... Para saber mais sobre toyotismo, acesse: <http://
www.espacoacademico.com.br/047/47cfutata.htm>. Acesso em:
7 mai. 2009.
A partir da década de 1970 já era possível observar uma altera-
ção no paradigma taylorista-fordista de crescimento que vinha sendo
difundido de forma bem-sucedida desde o início do século nas econo-
mias capitalistas. Alguns fatos foram relevantes nesta mudança. Em
primeiro lugar, a primeira crise dos preços do petróleo em 1973 reve-
lou que o modelo de crescimento baseado no consumo crescente de
materiais e energia baratos não era sustentável. Em segundo, houve o
esgotamento do modelo fordista de produção baseado na padroniza-
ção e na divisão do trabalho excessivo. A oferta mundial de produtos
industrializados igualava-se e ultrapassava a demanda mundial pelos
mesmos. Já não era mais suficiente produzir mais do mesmo. Era ne-
cessário aumentar qualidade, reduzir desperdícios, descobrir e produ-
zir o que o cliente queria comprar. O Japão liderou uma onda de ino-
vações organizacionais neste sentido, destacando-se a Gestão pela
Qualidade Total* e a produção a partir dos princípios do Just-in-time*.
No entanto, foi a onda de inovações tecnológicas iniciada a par-
tir do transistor, na década de 1940, seguida pela introdução do circui-
to integrado, na década de 1970, e pela Internet, na década de 1990, o
principal fator de mudanças sociais e econômicas do final do Século
XX e início do Século XXI.
GLOSSÁRIO*Gestão pela Quali-dade Total – é umaestratégia de admi-nistração que buscacriar a consciênciada qualidade em to-dos os processosorganizacionais ,desde os níveis in-ternos das organiza-ções até seus forne-cedores, distribui-dores e outros par-ceiros de negócios.Fonte: Cheng ePodolsky (1996).
*Just-in-time – Just-in-time é um siste-ma de produção quedetermina que nadadeve ser produzido,transportado oucomprado antes dahora certa. Os pro-dutos ou as matéri-as-primas chegamao local de utiliza-ção apenas no mo-mento em que sãonecessários, ou seja,os produtos são fa-bricados ou entre-gues a tempo de se-rem vendidos oumontados. Dessaforma, se reduzemos estoques e seuscustos relacionados.O conceito de just-in-time está relacio-nado ao de produ-ção por demanda.Fonte: Cheng ePodolsky (1996).
3 8
Curso de Graduação em Administração a Distância
De acordo com Tigre (2006), as chamadas Tecnologias da In-
formação e Comunicação conhecidas como TICs, abriram
[...] oportunidades para inovações secundárias que vêm revo-
lucionando a indústria e a organização do sistema produtivo
global. (...) A possibilidade de integrar cadeias globais de
suprimentos, aproximar fornecedores e usuários e acessar in-
formações em tempo real em multimídia, onde quer que elas
se encontrem armazenadas, alimenta o desenvolvimento de
uma nova infra-estrutura, de novos modelos de negócios e
viabiliza inovações organizacionais que seriam impensáveis
sem a informação e comunicação digitais. (...) As TIC têm um
papel central nesse processo, pois constituem não apenas uma
nova indústria, mas o núcleo dinâmico de uma revoluçãotecnológica (p. 54-55, grifo nosso).
Sobre a relevância do impacto das TICs* sobre a vida humana
no mundo contemporâneo, há um entendimento de que elas represen-
tam a quarta revolução na comunicação e na cognição humanas, ten-
do impacto tão significativo na alteração das tecnologias que usamos
em nossas vidas quanto às três revoluções anteriores: fala, escrita e
impressão. Warschauer (2006) explica a razão das TICs nuclearem
uma revolução tecnológica: durante toda a história da humanidade, a
fala era o elemento que permitia a interação, estando sempre
contextualizada. Os textos escritos, por sua vez, tornaram-se instru-
mentos para interpretação e reflexão, podendo ser acessados e anali-
sados por diversas pessoas, em tempos diferentes. Assim, a interação
era permitida pela fala enquanto a reflexão e interpretação, pela escri-
ta. A comunicação mediada por computadores usando as TIC supera
esta separação e
[...] pela primeira vez na história da humanidade, as pessoas
podem interagir rapidamente e à distância utilizando-se da
escrita. Isso lhes possibilita trocar idéias (sic) prontamente,
enquanto mantém um registro das suas próprias comunica-
ções e uma reflexão sobre elas (WARSCHAUER, 2006, p. 47).
GLOSSÁRIO*Tecnologias daInformação e Comu-nicação – TICs – sãoo conjunto de recur-sos tecnológicos ecomputacionais utili-zados para geração euso da informação.São, também, o con-junto de recursos nãohumanos dedicadosao armazenamento,processamento e co-municação da infor-mação, bem como omodo como esses re-cursos estão organi-zados em um sistemacapaz de executarum conjunto de tare-fas. Essa sigla abran-ge todas as atividadesdesenvolvidas na so-ciedade pelos recur-sos da informática. Éa difusão social da in-formação em largaescala de transmissão,a partir destes siste-mas tecnológicos in-teligentes. Fonte:Takahashi (2000)
Módulo 8
3 9
Reflexão: As TICs permitiram o desenvolvimento de umanova tecnologia de ensino, a EAD. Reflita sobre os impac-tos desta nova tecnologia para a sua vida, da sua família, dasua cidade, do nosso país.
A rápida difusão das TICs fez com as empresas desse setor as-
sumissem a liderança da economia mundial a partir de meados da dé-
cada de 1990. Surgem, então, empresas como Microsoft, Intel, Cisco
Systems, Google, AOL, para citar algumas. Esse cenário retrata o va-
lor do conhecimento nos novos negócios da economia mundial.
Saiba mais... Se quiser saber mais sobre a História da Ciência e da
Tecnologia leia:1. DIAMOND, J. Armas, Germes e Aço: os destinos das socieda-des humanas. São Paulo: Editora Record, 2003.2. LANDES, D. Prometeu Desacorrentado. Rio de Janeiro:
Editora Elsevier, 2005.
RESUMO
Tecnologia significa “a forma utilizada para realizar as
tarefas”. O termo pode ser usado de forma genérica como na
expressão “a tecnologia para produção de alimentos está sendo
continuamente melhorada” ou de forma específica como na
expressão “com a nova tecnologia de branqueamento sem clo-
ro”, por exemplo. Já o termo Inovação pode ser entendido de
duas formas. Em primeiro lugar, como um processo de geração
e disseminação, na malha econômica e social, de novas
tecnologias, sejam elas efetivamente um novo produto ou ser-
4 0
Curso de Graduação em Administração a Distância
viço ou uma nova forma de se exercer determinada atividade
utilizando novos recursos ou os recursos existentes combina-
dos de maneira nova. E, em segundo lugar, como o próprio
resultado desse processo, ou seja, o produto ou artefato que
dele resulta. Uma observação importante é quanto ao caráter
sistêmico e integrado da inovação: as mudanças que observa-
mos não se devem à inovação isolada, mas sim uma sucessão
de inovações tecnológicas e organizacionais radicais e
incrementais em um contexto social e econômico favorável.
Atividades de aprendizagem
Caro aluno, com as informações dadas até aqui, você é capaz deresponder algumas perguntas:
1. O que você, agora, entende por Tecnologia? E por ciência?Anote as suas respostas. Agora, retome as suas anotaçõesfeitas durante a leitura desta Unidade sobre Tecnologia eCiência e compare o seu entendimento sobre esses termos.Você percebe que aprendeu?
2. Toda inovação é tecnológica?
3. Você poderia dar exemplos de inovações de produto e deprocesso? Discuta a relevância dessa classificação.
4. As inovações provêm da busca de soluções para problemasexistentes ou as pessoas inventam e desenvolvem coisaspara as quais há necessidade de buscar utilidade?
5. A necessidade percebida ou criada é suficiente para termosuma inovação?
Módulo 8
4 1
Condicionantes doProcesso de Inovação
Condicionantes doProcesso de Inovação
UNIDADE
2
4 2
Curso de Graduação em Administração a Distância
Objetivo
A proposta para você nesta Unidade é a de detalhamento e de
aprofundamento dos conhecimentos adquiridos até aqui. Sendo assim, o
conceito de inovação será revisto sob uma nova perspectiva que valoriza
o processo de difusão tecnológica. Além disso, há fatores condicionantes
importantes do processo de inovação tecnológica que serão vistos nesta
Unidade como o setor de atividade econômica e a localização
geográfica. Vamos lá?
Módulo 8
4 3
Pesquisa, Desenvolvimento& Engenharia
Como visto na Unidade anterior, a articulação entre as esferas
científica e tecnológica como forma de impulsionar o processo de ino-
vação é de fundamental importância. E no intuito de embasar com
conhecimentos os esforços político-financeiros de incentivo à inova-
ção tecnológica, vêm sendo propostos modelos que procuram descre-
ver os processos de interação entre Ciência e Tecnologia como gera-
dores de inovações tecnológicas.
O primeiro e mais simples foi o Modelo Linear de Inovação
ou science push. Segundo este modelo, o processo de inovação
tecnológica é iniciado pela pesquisa básica, passando pela pesquisa
aplicada, desenvolvimento, engenharia até chegar à comercialização
pioneira.
Figura 7: Modelo linear de inovação tecnológica ou science push.Fonte: elaborada pela autora.
Vamos detalhar um pouco mais os conceitos utilizados neste mo-
delo tendo como referência Cassiolato et alii (1996).
As atividades de pesquisa básica visam uma ampliação do co-
nhecimento genérico ou um melhor entendimento acerca de um tema
investigado sem quaisquer considerações sobre as possíveis aplica-
ções dos avanços perseguidos. No caso da eletricidade, os esforços de
Ampère, Faraday e Maxwell, vistos na Unidade 1, são exemplos de
pesquisa básica.
As atividades de pesquisa aplicada visam o aprofundamento
do conhecimento necessário para atingir um objetivo específico, reco-
4 4
Curso de Graduação em Administração a Distância
nhecido a priori. Os resultados nesta etapa são mais concretos, sendo
possível identificar mais facilmente o grau de sucesso do esforço realizado.
As atividades de desenvolvimento consistem no uso sistemáti-
co dos conhecimentos gerados a partir das atividades de pesquisa para
viabilizar a produção de nova tecnologia, seja de produto ou proces-
so. Estão incluídos aqui o design do produto, construção de protótipos
ou plantas-piloto e aperfeiçoamento dos processos.
As atividades de engenharia consistem em aplicar todo o co-
nhecimento estabelecido até então para desenvolver soluções econô-
micas para os problemas técnicos. Além do projeto da solução, cabe
ao engenheiro sua execução. É nesta etapa que efetivamente a realida-
de social e econômica é transformada. No exemplo da eletricidade, os
esforços de Thomas Edison e todo o grupo por ele formado, traba-
lhando em Menlo Park, correspondem às atividades de pesquisa apli-
cada, desenvolvimento e engenharia. Desta classificação advém a ex-
pressão comumente usada Pesquisa e Desenvolvimento ou P&D.
De acordo com este modelo, para incentivar a inovação
tecnológica (e seus benefícios econômicos) deveríamos investir
pesadamente em ciência básica. Este investimento geraria um estoque
de conhecimentos que ficaria disponível para ser utilizado pelas em-
presas para o desenvolvimento de novos produtos e processos, geran-
do riqueza e desenvolvimento econômico e social.
O modelo linear estabeleceu as bases da política de ciência e
tecnologia nos EUA na primeira metade do Século XX, tendo exerci-
do sua influência sobre a definição de políticas similares em vários
países do mundo, incluindo o Brasil.
O Modelo Linear, porém, apresenta restrições. Em primeiro lu-
gar, o modelo pressupõe uma divisão do trabalho entre as esferas cien-
tífica e empresarial (as atividades de pesquisa básica e aplicada per-
tenceriam ao reino da ciência e as atividades de desenvolvimento e
engenharia ao domínio da tecnologia, conforme classificação propos-
ta por Dasgupta e David, vista na Unidade 1). Em segundo lugar, su-
põe que a transferência de conhecimentos gerados na esfera científica
para a esfera empresarial é um processo “natural”. E, em terceiro, não
reconhece a diversidade entre os diferentes campos de conhecimento
Módulo 8
4 5
Demanda de merca-
do: como você deve
se lembrar do curso de
Economia, demanda
de mercado é a quanti-
dade de bens ou
serviços que os consu-
midores estão dispos-
tos a adquirir em um
determinado período
de tempo e a um
determinado nível de
preço.
em termos de geração de resultados com potencial econômico. A rela-
ção entre ciência e tecnologia apresenta um caráter interativo que tam-
bém inclui os contextos: econômico, político e tecnológico de cada
país ou região. Dessa forma, os avanços da ciência não são autôno-
mos, pois são diretamente influenciados por políticas públicas e pelas
trajetórias tecnológicas*.
A principal evidência em favor do Modelo Linear é que a ciên-
cia básica tem, efetivamente, criado oportunidades significativas para
algumas aplicações tecnológicas lucrativas. Porém, apesar de explicar
o processo de inovação que levou ao laser e à bomba atômica, o mo-
delo linear não explica completamente inovações que tenham sido mo-
tivadas pela percepção de necessidades não atendidas como o desen-
volvimento de motores elétricos e aparelhos eletrodomésticos ou
corantes, antibióticos e explosivos.
Foi proposto, então, o Modelo Linear Reverso ou demand pull,
que considera que as inovações surgem a partir de necessidades
identificadas no mercado ou por problemas operacionais identificados
pelas empresas.
Figura 8: Modelo linear reverso ou demand pull.Fonte: elaborada pela autora.
O Modelo Linear Reverso coloca toda a ênfase do processo de
inovação sobre a demanda identificada no mercado. Desse modo, o
conhecimento científico fica subordinado a solucionar problemas sur-
gidos na busca do atendimento das demandas de mercado. Claramen-
te, não é isso que se observa na prática como você já pôde observar de
tudo o que foi tratado até aqui. Como visto na unidade anterior, as
experiências de Maxwell e Thomas Edison, por exemplo, mostraram
que a necessidade não é, necessariamente, a mãe da invenção, ou seja,
nem sempre ela é determinada pelas condições de demanda.
GLOSSÁRIO* T r a j e t ó r i a stecnológicas – refe-rem-se às opçõestécnicas adotadas aolongo do tempo. Nocaso do automóvel,por exemplo, oscombustíveis fós-seis foram selecio-nados como fonteenergética. A pri-meira crise do pe-tróleo na década de1970 e a questão doaquecimento globaltêm levado à buscapor combustíveis al-ternativos como ál-cool e carros elétri-cos. Fonte: elabora-do pela autora.
4 6
Curso de Graduação em Administração a Distância
Claramente, os dois modelos são parciais. Explicam parte do
processo de inovação, mas não a sua totalidade. Seu caráter linear
parece insuficiente para explicar efetivamente o processo de inova-
ção. Além disso, as categorias tradicionais de pesquisa básica, pesqui-
sa aplicada e desenvolvimento não representam com fidelidade a rea-
lidade das atividades científicas e tecnológicas, havendo sobreposições
entre elas. Assim, a pesquisa estratégica estaria atuando na fronteira
científica inspirada por fatores correlacionados, tanto a utilizações
potenciais como à compreensão dos fenômenos fundamentais.
A necessidade de modelos que explicassem melhor a interação
entre Ciência, Tecnologia e Inovação conduziu aos trabalhos de Kline
(1978) e Kline e Rosenberg (1986) que propuseram o Modelo de Li-
gações em Cadeia ou chain linked model, que enfatiza a permanente
retroalimentação entre as diversas etapas do processo.
De acordo com este modelo, o processo de inovação pressupõe
a existência de múltiplas sequências de interação entre as suas diver-
sas etapas e a existência de muitas formas de ampliação do estoque de
conhecimentos, e não apenas avanços no campo científico.
Na Figura 9 está representado o Modelo de Ligações em Ca-
deia. Nesse modelo, a cadeia central de inovação é estruturada por
múltiplos elos internos de realimentação do processo. Além disso, toda
a cadeia central de inovação interage com as atividades de pesquisa,
fontes de novos conhecimentos para o processo de inovação.
Figura 9: O Modelo de Ligações em Cadeia.Fonte: adaptada de Kline e Rosemberg (1986, p. 290).
Módulo 8
4 7
O reconhecimento da complexidade do fenômeno da inovação
tem sido crescente. Atualmente, sabemos que todas as diversas
interações necessárias para que o processo de inovação aconteça de-
pendem não somente das organizações centrais deste processo (as
empresas e as organizações geradoras de novos conhecimentos como
universidades e institutos de pesquisa), mas de toda a rede de insti-
tuições dos setores público e privado cujas atividades e interações
iniciam, importam, modificam e difundem novas tecnologias. Essa
rede de instituições será descrita posteriormente como sendo um Sis-
tema de Inovação.
Inovação, adoção e difusão tecnológica:uma revisão ampliada
Como você já percebeu, caro aluno, desde o Século XX, inovar
não significa apenas criar algo tecnologicamente novo. Inovar signifi-
ca dar uma destinação econômica para uma nova ideia. Nos dias de
hoje, é totalmente reconhecida a importância central da inovação no
desenvolvimento econômico das sociedades. Como você viu nas dis-
ciplinas de Economia, novos produtos criam novos mercados consu-
midores e novos processos de produção podem significar menores
custos de produção e, portanto, menores preços e aumento de vendas.
Novos mecanismos de venda, por exemplo, usando a Internet, tam-
bém podem significar alcançar novos mercados consumidores, permi-
tindo aumentos de escala de produção e redução de custos. Essas são ape-
nas algumas situações para mostrar a relevância central atribuída à inova-
ção tecnológica nas sociedades capitalistas contemporâneas. Essa
centralidade foi primeiramente exposta por Schumpeter, J., quando ele afir-
mou que a inovação era o motor do capitalismo (SCHUMPETER, 1943).
Cabe, agora, nos aprofundarmos um pouco mais no conceito de
inovação tecnológica, assim como em suas classificações, para defi-
nirmos um padrão para as análises desse processo e para posterior in-
4 8
Curso de Graduação em Administração a Distância
terpretação dos indicadores de inovação. Para isso, utilizaremos a prin-
cipal referência conceitual e metodológica para estudar o processo de
inovação nos dias de hoje, que é o Manual de Oslo (<http://
www.finep.gov.br/imprensa/sala_imprensa/manual_de_oslo.pdf>).
Esse documento foi desenvolvido pela Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico – OCDE e permite a comparação de
estatísticas internacionais sobre inovação.
Vamos retomar alguns conceitos vistos na Unidade 1: as inova-
ções são classificadas de acordo com o foco, podendo referir-se a pro-
dutos, processos ou estruturas organizacionais, assim como são classi-
ficadas de acordo com o nível de mudanças provocadas, ou seja, se
são inovações radicais ou incrementais lembram-se? Vamos recordar
esses conceitos, aprofundando-os.
Tigre (2006) ressalta que, de acordo com o Manual de Oslo, as
inovações de produto referem-se à introdução de produtos
tecnologicamente novos cujas características fundamentais diferem sig-
nificativamente de todos os produtos previamente produzidos. Isso in-
clui, também, os aperfeiçoamentos tecnológicos de produtos previa-
mente existentes cujos desempenhos tenham sido substancialmente apri-
morados por meio de novas matérias-primas ou componentes de mai-
or rendimento.
Já as inovações de processo referem-se a formas de operação
tecnologicamente novas ou substancialmente aprimoradas, que são ob-
tidas pela introdução de novas tecnologias de produção, assim como
de métodos novos ou substancialmente aprimorados de manuseio e
entrega de produtos. As inovações de processo alteram significativa-
mente o nível de qualidade dos produtos ou dos custos de produção e
entrega.
As inovações organizacionais, por sua vez, referem-se a mu-
danças que ocorrem na estrutura gerencial da empresa, na forma de
articulação entre suas diferentes áreas, na especialização dos trabalha-
dores, no relacionamento com fornecedores e clientes e nas múltiplas
técnicas de organização dos processos de negócios.
As inovações radicais representam o desenvolvimento e a in-
trodução de novos produtos, processos ou formas de organização que
Módulo 8
4 9
são totalmente novos, para os quais não há precedentes. Esse tipo de
inovação rompe com os padrões tecnológicos anteriores, dando ori-
gem a novos mercados, setores ou indústrias. As inovações
incrementais, por outro lado, conforme observa Tigre (2006), abran-
gem melhorias feitas no design ou na qualidade dos produtos, aperfei-
çoamentos em layout e processos, novos arranjos logísticos e
organizacionais e novas práticas de suprimentos e vendas, que você
verá detalhadamente na disciplina de Operações Logísticas. As ino-
vações incrementais ocorrem de forma contínua em qualquer indús-
tria. Elas não derivam necessariamente de atividades de Pesquisa e
Desenvolvimento, sendo mais comumente resultantes do processo de
aprendizado interno e da capacitação acumulada.
Autoavaliação
A essa altura dos nossos estudos, você já deve ser capaz de diferen-ciar inovação de produto, de processo e organizacional. Caracteri-ze cada uma dessas categorias de inovação e dê pelo menos umexemplo de cada.
Observe que interessante! McGrew (1998 apud HALL, 2005)
narra que, em 1953, uma jovem macaca do sul do Japão lavou uma
batata empoeirada em um córrego de águas limpas antes de comê-la.
Essa melhoria óbvia no preparo do alimento foi rapidamente seguida
pelos demais macacos do grupo de modo que, em menos de dez anos,
essa era a norma em seu grupo e, por volta de 1983, o método estava
completamente difundido entre todos os grupos da localidade. Obser-
ve que a jovem macaca que introduziu a novidade no grupo foi a ino-
vadora pioneira. Porém, caso os demais macacos do grupo não tives-
sem tido a capacidade de observar o novo método, perceber suas van-
tagens e imitá-la, a novidade teria morrido com ela. A inovação con-
sumou-se devido à difusão da ideia. Os estudiosos da inovação afir-
mam, sem medo de errar, que sem a difusão, a inovação teria pouco,
se algum, impacto social ou econômico.
5 0
Curso de Graduação em Administração a Distância
Assim, a introdução pioneira de um novo produto, processo ou
forma organizacional na sociedade é apenas uma parte do processo de
inovação. A partir desta introdução pioneira, indivíduos ou firmas de-
cidem adotar a nova tecnologia em um processo chamado de adoção.
A disseminação desta nova tecnologia pela sociedade é chamada de
difusão. Vejamos isso com mais detalhes.
O processo de adoção
Segundo Rogers (1995), alguns atributos técnicos influenciam
os potenciais adotantes de uma inovação.
Em primeiro lugar, os potenciais adotantes observam a vanta-
gem relativa da inovação, ou seja, procuram saber se essa inovação
oferece significativa vantagem, em termos de qualidade ou custos, por
exemplo, em relação àquilo que ela substitui. Observam a complexida-
de da inovação, buscando inovações que podem ser entendidas e adotadas
sem grandes dificuldades. Os potencias adotantes analisam a compati-
bilidade da inovação com suas necessidades, com seus modos de fazer
as coisas e com as normas sociais vigentes. Além disso, observam, tam-
bém, os aspectos relacionados com a testabilidade da inovação, ou seja,
a possibilidade de testá-la ou experimentá-la antes de adotá-la. E, por
fim, leva-se em consideração a observabilidade da inovação, ou seja, o
quão visível é a mensuração dos resultados da inovação.
Simplificando, o potencial adotante faz uma análise custo-bene-
fício da mudança para a nova tecnologia e, se o resultado parecer
compensador, ele adota a nova tecnologia. Claro está que os fatores
que comporão os itens custos e benefícios são variáveis para cada po-
tencial adotante em cada nova situação. Os atributos apontados por
Rogers, claramente, influenciam nesta análise custo-benefício por que
se relacionam com a facilidade de fazer a análise custo-benefício.
Reflexão: Faça um exercício pessoal e tente verificar o seuperfil de potencial adotante, de acordo com as cinco cate-gorias propostas por Rogers para alguns novos produtos:
televisão de plasma ou LCD;
Módulo 8
5 1
pen drive; e
centrífuga de frutas para sucos.
Você observou outros fatores que parecem influenciar suadecisão de adotar ou não uma dessas novas tecnologias?Anote-os.
Observe que alguns ou vários dos fatores que você listou como
influenciadores de sua decisão para adoção de uma nova tecnologia
não estão incluídos nas cinco categorias apresentadas acima. Isto por-
que naquela lista estão fatores técnicos, relacionados com a tecnologia
em si. No entanto, fatores econômicos e institucionais também são
relevantes.
Reflexão: Vamos voltar ao exemplo do telefone celularque vimos na Unidade 1. Vimos que na última década, elesofreu inovações incrementais que o transformaram signi-ficativamente. Agora, vamos olhar esta nova tecnologia decomunicação sob outra perspectiva. Você tem ideia dequantas pessoas no mundo possuíam aparelhos celularesem 1998? E quantos possuem em 2008? Você tem ideiade quantas empresas forneciam serviço de telefonia móvelhá dez anos e quantas oferecem esse serviço hoje em diano Brasil? Você pode explicar a relação entre invenção,inovação, adoção e difusão usando o exemplo do telefonecelular?
O processo de difusão
Os processos de inovação e difusão não podem ser totalmente
separados, uma vez que, em muitos casos, a difusão contribui para o
processo de geração de inovações. A difusão de um produto ou pro-
cesso no mercado revela problemas que podem ser corrigidos em no-
vas versões. Assim, os feedbacks* alimentam e direcionam a trajetória
da inovação, revelando as diferentes necessidades dos usuários por
soluções técnicas. Dessa maneira, a difusão torna-se parte intrínseca
da inovação.
GLOSSÁRIO*Feedback – é a res-posta que se obtéma partir de uma ação,sendo um processoimportante de forne-cimento de dados einformações que per-mitem avaliações emelhoras de desem-penho. Fonte: ela-borado pela autora.
5 2
Curso de Graduação em Administração a Distância
O processo de difusão tecnológica pode ser analisado a partir de
três dimensões: trajetória tecnológica, velocidade de difusão e fatores
institucionais.
Trajetória tecnológica: a trajetória assumida por uma deter-minada tecnologia refere-se às opções técnicas adotadas aolongo do tempo. Essa trajetória inclui, por exemplo, decisõessobre materiais utilizados, processos de fabricação,tecnologias complementares, áreas de aplicação e outras de-cisões essenciais para viabilizar uma nova tecnologia eadaptá-la às necessidades da demanda.
Velocidade de difusão: a velocidade de difusão de umatecnologia é medida pela evolução do número total deadotantes ao longo do tempo dentro do universo potencial deusuários. A velocidade de difusão depende, como vimos an-teriormente, de alguns atributos técnicos elencados porRogers (1995). O ritmo de difusão tecnológica pode ser pre-visto a partir de modelos analíticos que procuram descrevero padrão evolutivo das tecnologias. Normalmente, o resulta-do é uma curva em formato de S.
Figura 10: Curva S representando o acúmulo de adoções ou o processo
de difusão de uma tecnologia.Fonte: adaptada de Rogers (1995).
Módulo 8
5 3
A partir desse modelo de difusão da curva S, associa-se o con-
ceito de ciclo de vida da tecnologia composto de quatro fases distin-
tas. A primeira é a fase de introdução, em que apenas um pequeno
número de pessoas ou firmas adota a nova tecnologia. Nessa fase há
muitas incertezas quanto aos resultados dessa adoção. À medida que
os adotantes pioneiros têm sucesso e ocorrem melhorias sucessivas na
tecnologia, ocorre uma aceleração do processo de adoção e a curva de
difusão entra na chamada fase de crescimento. As inovações suce-
dem-se e, na fase de maturação, as vendas começam a estabilizar-se.
Na fase de declínio, alguns usuários já passam a adotar tecnologias
que substituem a fase anterior.
A difusão de uma tecnologia não segue necessariamente a pa-
drão S. Algumas passam diretamente do crescimento ao declínio, pu-
lando a fase de maturidade.
Saiba mais...
O ciclo de vida do fax
A tecnologia do fax constitui um bom exemplo das dife-
rentes fases do ciclo de vida das inovações. O sistema foi intro-
duzido nos anos 80, causando grande impacto nas telecomuni-
cações, na medida em que possibilitava a transmissão de textos
e imagens por via telefônica com grandes vantagens em rela-
ção à tecnologia telex, utilizada até então para a transmissão
de textos. O sucesso foi imediato, permitindo um crescimento
das vendas até a primeira metade da década de 1990, quando o
fax entrou em seu período de maturação. A partir de então, o
advento da Internet e a rápida difusão do uso do e-mail torna-
ram o produto obsoleto, levando-o à fase de declínio. O fax não
deixou de existir, mas hoje seu uso se limita ao nicho de merca-
do de transmissão de documentos não digitalizados que preci-
sem exibir assinaturas e carimbos (TIGRE, 2006).
5 4
Curso de Graduação em Administração a Distância
Fatores institucionais: De acordo com Tigre (2006), os fa-tores institucionais que condicionam o processo de difusãotecnológica incluem a disponibilidade de financiamentos eincentivos fiscais à inovação, a existência de um sistema depropriedade intelectual e de capital humano e instituições deapoio, para citar alguns exemplos. Os fatores institucionaisque condicionam a difusão de novas tecnologias tambémpodem incluir a estratificação social, a cultura, a religião, omarco regulatório e o regime jurídico do setor ou país comoum todo.
Indicadores de inovação tecnológica
Com esse novo entendimento que você possui agora de adoção
e difusão de novas tecnologias, podemos discutir alguns indicadores
de inovação tecnológica.
O Manual de Oslo foi o documento-base para a Pesquisa Indus-
trial sobre Inovação Tecnológica, mais conhecida como PINTEC
(<http://www.pintec.ibge.gov.br>), realizada pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística – IBGE, no Brasil.
De acordo com a PINTEC, uma inovação tecnológica é defini-
da pela introdução, no mercado ou na empresa, de um produto (bem
ou serviço) tecnologicamente novo ou substancialmente aprimorado.
Assim, a inovação tecnológica refere-se a produto e/ou processo novo
(ou substancialmente aprimorado) para a empresa, não sendo, neces-
sariamente, novo para o mercado de atuação. Esta inovação pode ter
sido desenvolvida pela empresa ou ter sido adquirida de outra empre-
sa/instituição que a desenvolveu. A inovação pode resultar de pesqui-
sas e desenvolvimentos tecnológicos realizados no interior das empre-
sas (P&D), de novas combinações de tecnologias existentes, da aplica-
ção de tecnologias existentes em novos usos ou da utilização de novos
conhecimentos adquiridos pela empresa. As inovações de produto e pro-
cesso são diferenciadas de acordo com o seu grau de novidade:
Módulo 8
5 5
inovação para a empresa, mas já existente no mercado/setor;
inovação para a empresa e para o mercado/setor; e
inovação para o mundo.
Reflexão: O que você observa de diferente neste conceitode inovação tecnológica apresentado pela PINTEC dos quejá havia visto anteriormente? Algo em particular chamousua atenção? O quê?
Repare que nesta perspectiva da PINTEC, o grau de novidade é
variado. Nos exemplos que havíamos visto na unidade anterior, o grau
de novidade era máximo, ou seja, tratava-se de inovações para o mun-
do (máquina a vapor, motor a combustão interna, lâmpada
incandescente, linha de produção, por exemplo). A PINTEC, porém
considera outros dois graus de novidade: a inovação para o mercado
ou setor e a inovação apenas para a empresa, que sequer foi desenvol-
vida por ela mesma.
Assim, quando a PINTEC considera uma inovação para a em-
presa, mas que já existe no mercado, está levando em conta aquelas
empresas que estão difundindo uma nova tecnologia. Ao considerar
uma inovação para a empresa e para o mercado, a pesquisa está inclu-
indo aqueles que são pioneiros na difusão de uma nova tecnologia. E,
finalmente, ao considerar uma inovação para o mundo, está tratando
da introdução pioneira na nova tecnologia. Isso significa que a PINTEC
utiliza um conceito de inovação que inclui os processos de adoção/difu-
são das novas tecnologias como parte do processo de inovação.
No caso de entidades em processo de catching up*, sejam elas
países, regiões ou firmas, a difusão pode ser a parte mais importante
do processo de inovação e, portanto, deve ser valorizada por si mesma.
Portanto, a PINTEC teve a preocupação de incorporar as pecu-
liaridades do processo inovador das empresas brasileiras ao adotar o
conceito abrangente de inovação utilizado pelo Manual de Oslo. Tal
conceito é adequado para entender os esforços tecnológicos das em-
presas industriais brasileiras, que, em sua maioria, são de pequeno porte
GLOSSÁRIO*Catching up – é aredução do hiatotecnológico pormeio da rápida in-corporação detecnologias já exis-tentes.
*Leapfrogging –queima de etapas noprocesso decatching up graçasao aproveitamentode janelas de opor-tunidades abertaspor inovação radi-cal. Fonte: Tigre(206, p. 147).
5 6
Curso de Graduação em Administração a Distância
e não realizam atividades formas de P&D. De forma geral, são esfor-
ços para utilizar inovações já introduzidas por outras empresas.
Resumindo
A inovação tecnológica, de acordo com o principal instrumento
usado no Brasil para medi-la, a Pesquisa Industrial sobre Inovação
Tecnológica – PINTEC realizada pelo IBGE é definida pela introdu-
ção, no mercado ou na empresa, de um produto (bem ou serviço)
tecnologicamente novo ou substancialmente aprimorado. Isso signifi-
ca que se considera que uma determinada empresa inovou, num deter-
minado período de tempo, desde que ela tenha introduzido processo
ou produto novo ou melhorado. O grau de novidade pode ser elevado
(novidade para o mundo), medianamente elevado (novidade para a
indústria, o mercado, ou a região geográfica em que ela atua, por exem-
plo) ou baixo (novidade para a própria empresa).
Assim sendo, essa definição de inovação tecnológica engloba o
que anteriormente havia sido separado em inovação, adoção e difusão
de novas tecnologias.
Ambas as definições são usadas comumente. É importante ob-
servar o contexto e o objetivo em o termo está sendo empregado para
saber a que se refere exatamente.
Influência do setor de atividadessobre o processo de inovação
Quando você pensa em um ônibus espacial (<http://
www.geocities.com/ResearchTriangle/Lab/6116/shuttle.html>); em um
arranha-céu com 1.000 metros de altura, como o Sky City, projeto
arquitetônico japonês (<http://arquitectura.pt/forum/f54/sky-city-1000-
a-4929.html>); em um sapato super confortável com a tecnologia
softgel; ou um novo modelo de roupa na vitrine, você percebe clara-
mente que a quantidade de conhecimentos sofisticados necessários para
Módulo 8
5 7
a produção de cada um deles é diferente, certo? Mas como tratar essas
diferenças de conteúdo de conhecimento quando se trata de compre-
ender, promover e gerenciar a inovação tecnológica?
Grupos de intensidade tecnológica
Uma possibilidade de análise é usando o conceito de intensida-
de tecnológica. Grosso modo, podemos dizer que são mais intensivos
em tecnologia aqueles setores que contêm maior conteúdo de conhe-
cimentos sofisticados incorporados. No entanto, não seria possível
medir diretamente a intensidade tecnológica dos setores industriais e,
por isso, a OCDE utiliza dois indicadores como medidas aproximadas
da intensidade tecnológica:
os gastos em P&D divididos pelo valor da transformaçãoindustrial* do setor; e
os gastos em P&D somados àqueles feitos em tecnologia in-corporada em bens intermediários* e bens de investimen-to* divididos pelo valor da transformação industrial.
Dizendo de outra forma, são medidos os esforços internos e ex-
ternos em P&D de cada setor.
Furtado e Carvalho (2005) apresentam uma tabela em que rela-
cionam, para o caso do Brasil, usando dados de 2000, cada setor in-
dustrial com o valor da transformação industrial do setor – VTI, os
dispêndios feitos em P&D internamente, ou seja, pelo próprio setor, e
aqueles feitos externamente ao setor, ou seja, incorporados em bens
intermediários ou de investimento. Ainda, na mesma tabela, são rela-
cionados os indicadores que mostram sua intensidade tecnológica:
gastos internos em P&D/VTI e gastos totais em P&D/VTI. Observe a
Tabela 1.
GLOSSÁRIO*Valor da transfor-mação industrial –valor da diferençaentre o valor brutoda produção indus-trial e os custos dasoperações industri-ais. Fonte: IBGE(2005).
*Bens intermediári-os – são bens em-pregados na produ-ção de outros bens.Os bens intermedi-ários também po-dem ser definidoscomo os insumosque uma empresacompra de outrapara a elaboraçãodos seus produtos.Fonte: Sandroni(2003, p. 63).
*Bens de investi-mento – são os bensque servem para aprodução do outrosbens, tais como má-quinas, equipamen-tos, material detransporte e constru-ção. Fonte: Sandroni(2003, p, 63).
5 8
Curso de Graduação em Administração a Distância
Tabela 1: Esforços de P&D da Indústria de Transformação, segundo setores (em milhares de reais)
Brasil – 2000.
Fonte: Furtado e Carvalho (2005, p. 72).
Setores
Total manufaturado
Alim., Beb. e Fumo
Têxt., Conf. e Calçados
Mad. e Papel e Celulose
Papel e Celulose
Refino e Outros
Refino
Química Total
Prod. Químicos
Prod. Farmacêuticos
Borracha e Plástico
Min. Não-Metálicos
Metalurgia Básica
Produtos de Metal
Máquinas e Equip.
Informática
Máq. e Material Elétrico
Eletrôn. e Telecom.
Instrumentação
Mat. Transporte
Automob.
Out. Mat. Transporte
Móveis e Diversos
Valor da
Transformação
Industrial (VTI)
249,217
35,807
16,914
13,738
10,872
35,664
33,797
30,733
23,322
7,401
8,721
9,297
16,248
7,939
13,475
2,967
6,183
8,265
2,128
23,269
19,322
3,947
5,497
P&D
Interno
3,712
227
101
85
73
446
444
527
414
112
91
51
144
60
341
109
260
387
70
732
472
260
41
P&D
Externo
624
31
9
10
7
52
53
127
38
89
27
12
10
13
20
18
38
154
3
79
76
2
5
P&D
Total
4,336
258
110
95
80
498
497
654
452
201
118
63
154
73
361
127
298
541
73
811
548
262
46
%
Dispêndio
Externo
14,3
12,0
8,2
10,5
8,8
10,4
10,7
19,4
8,4
44,3
22,9
19,0
6,5
17,8
5,5
14,2
12,8
28,5
4,1
9,7
13,9
0,8
10,9
P&D
Interno/
VTI
1,48
0,63
0,60
0,62
0,67
1,25
1,31
1,71
1,78
1,51
1,04
0,55
0,89
0,76
2,53
3,67
4,21
4,68
3,29
3,15
2,44
6,59
0,75
P&D
Total/
VTI
1,74
0,72
0,65
0,69
0,74
1,40
1,47
2,13
1,94
2,,72
1,35
0,68
0,95
0,92
2,68
4,28
4,82
6,55
3,43
3,49
2,84
6,64
0,84
intensidadeDispêndio
Módulo 8
5 9
Reflexão: Observe cuidadosamente a tabela anterior. Hámuita diferença entre os diversos setores quanto a:
P&D interno?
P&D total?
E quanto à intensidade tecnológica dos diversos setores(observe a coluna P&D total/VTI)? É muito variada?
Quais são os setores com maior intensidadetecnológica?
Quais são os setores com menor intensidadetecnológica?
Agora que você já tirou suas conclusões, veja como a OCDE
classifica os setores de acordo com a sua intensidade tecnológica.
alta intensidade tecnológica: setores aeroespacial; farmacêu-tico; de informática; eletrônica e telecomunicações; instru-mentos;
média-alta intensidade tecnológica: setores de material elé-trico; veículos automotores; química, excluído o setor farma-cêutico; ferroviário e de equipamentos de transporte; máqui-nas e equipamentos;
média-baixa intensidade tecnológica: setores de construçãonaval; borracha e produtos plásticos; coque, produtos refina-dos de petróleo e de combustíveis nucleares; outros produtosnão metálicos; metalurgia básica e produtos metálicos; e
baixa intensidade tecnológica: setores de reciclagem, madei-ra, papel e celulose; editorial e gráfica; alimentos, bebidas efumo; têxtil e de confecção, couro e calçados.
Reflexão: Esta classificação está de acordo com o que vocêesperava a partir dos dados da Tabela 1? Discuta as discre-pâncias.
6 0
Curso de Graduação em Administração a Distância
A classificação por intensidade tecnológica é interessante para
identificar algumas diferenças estruturais entre o padrão de esforços
para inovação tecnológica de países desenvolvidos e o padrão daque-
les em desenvolvimento. Nas nações desenvolvidas, a intensidade
tecnológica descreve, em geral, a velocidade de deslocamento da fron-
teira tecnológica internacional. Nos países em desenvolvimento, essa
intensidade descreve os esforços relativos realizados no processo de
acompanhar a fronteira tecnológica por meio, principalmente, da difu-
são das novas tecnologias (FURTADO; CARVALHO, 2005).
A Tabela 2 mostra a estrutura dos dispêndios da indústria
manufatureira para o Brasil e alguns países selecionados.
Itália
2001
53,73
38,81
4,85
2,61
Noruega
1998
43,75
29,04
16,73
10,29
Espanha
2000
43,41
33,92
10,93
11,74
Brasil
2000
25,31
40,11
20,97
12,28
Alemanha
2000
34,06
58,05
5,59
2,3
França
1999
54,38
32,32
9,22
4,08
Coréia
2000
60,93
28,08
6,93
4,18
Japão
2000
44,32
41,68
8,63
5,37
EUA
2000
61,63
28,97
4,78
4,47
Canadá
2001
80,03
9,84
4,99
5,29
Intensidade
Tecnológica
Alta
Média-Alta
Média-Baixa
Baixa
Tabela 2: Estrutura do Dispêndio Interno da Indústria Manufatureira Brasileira, segundo Grupos de
Intensidade Tecnológica na Classificação da OCDE. Brasil e Países Selecionados – 1998-2001.
Fonte: Furtado e Carvalho (2005); Dados OCDE (2000) e MCT (2004).
Reflexão: Quais são as principais conclusões que você podetirar a partir da Tabela 2?
A comparação dos dados de intensidade tecnológica e a estrutu-
ra do dispêndio do Brasil com um grupo de países da OCDE revelam
sensíveis diferenças estruturais nos padrões setoriais de esforço
tecnológico. Os países em desenvolvimento, como o Brasil, realizam
menos esforços tecnológicos que os países desenvolvidos. As diferen-
ças são mais acentuadas nos setores de alta intensidade tecnológica do
que nos de média e baixa intensidade tecnológica usando a classifica-
ção da OCDE.
Módulo 8
6 1
A classificação a partir dos grupos de intensidade tecnológica é
uma das maneiras de percebermos como são importantes as diferenças
setoriais quando estamos tratando de inovação tecnológica, porém, não
é a única forma de vermos a questão.
Padrões setoriais de inovação tecnológica
Outra possibilidade de estrutura para melhor compreensão dos
efeitos setoriais sobre o fenômeno da inovação é a utilização de uma
taxonomia (classificação) que agrupe os diversos setores em categori-
as de acordo com um conjunto de características comuns. Dentro de
cada categoria haverá certa homogeneidade que permite uma avalia-
ção mais precisa da inovação para os setores daquela categoria bem
como a formulação de instrumentos de incentivo à inovação que se-
jam mais adequados para os diversos setores.
Uma taxonomia de ampla utilização na literatura mundial foi pro-
posta por Pavitt (1984), posteriormente aperfeiçoada por Tidd, Bessant
e Pavitt (1997), em que são identificados cinco padrões setoriais de
inovação. Na Tabela 3, os dados da PINTEC foram agrupados de acor-
do com a taxonomia proposta por aqueles autores.
Os setores dominados por fornecedores são compostos, predo-
minantemente, por empresas de pequeno porte de indústrias tradicio-
nais como a de produtos têxteis, a de vestuário, a editorial e gráfica, a
de produtos de couros e a de produtos de madeira. Esses são setores
em que as principais inovações são geradas fora da indústria, sobretu-
do nos seus fornecedores de máquinas e equipamentos e de insumos,
em geral.
Um segundo tipo de padrão de inovação é constituído por seto-
res intensivos em escala, nos quais é necessário o domínio de um con-
junto de conhecimentos relativamente amplo, abrangendo a tecnologia
de processo e a tecnologia de produtos. As inovações são tanto de
processos, objetivando a redução de custos de produção, quanto de
produtos, principalmente nos segmentos em que a diferenciação e a
produção de produtos especiais são aspectos relevantes na concorrên-
cia. Os setores intensivos em escala são formados, grosso modo, por
grandes empresas e englobam as indústrias de alimentos, de bens du-
6 2
Curso de Graduação em Administração a Distância
ráveis como veículos e eletrodomésticos, de materiais eletrônicos, de
mineração e metalurgia. Nesses setores, os esforços inovadores não
são muito intensos.
Um terceiro grupo de setores é constituído pelos fornecedores
especializados, que correspondem a setores da indústria de máquinas,
equipamentos, ferramentas e de instrumentação bem como de softwares
especializados. Essas empresas, em geral pequenas, têm conhecimen-
tos especializados e atendem a necessidades particulares. As inova-
ções dos fornecedores especializados relacionam-se principalmente à
introdução de novos produtos que são utilizados por outros setores
como insumos e equipamentos.
Tabela 3: Importância das Atividades de P&D para as Empresas que Inovaram –
2005.
Fonte: adaptada de IBGE (2005).
Setores de Atividades
Dominados por Fornecedores
Produtos têxteis
Artigos do vestuário e acessórios
Artefatos de couro e calçados
Produtos de madeira
Edição, impressão e reprodução
Fabricação de móveis e indústrias diversas
Telecomunicações
Intensivos em Escala
Produtos alimentícios e bebidas
Produtos do fumo
Metalurgia básica
Indústrias extrativas
Veículos automotores, reboques e carrocerias
Equipamentos de transporte
Taxa de
Inovação
(%)
33,9
33,3
28,0
32,7
28,3
36,5
32,5
45,9
30,6
32,5
25,2
46,0
23,1
37,0
34,8
Gasto
(%)
1,5
0,4
0,5
1,2
0,2
0,2
1,7
6,2
1,5
0,5
1,7
1,0
1,7
3,5
4,1
P&D Externo
Empresa
(%)
2,3
1,4
0,7
2,3
1,0
1,5
1,9
7,6
13,0
7,5
51,2
9,8
4,1
10,0
18,5
Importância
Gasto
(%)
10,5
7,4
13,0
12,0
7,1
2,8
15,9
15,4
16,0
7,4
17,1
8,9
11,4
28,3
52,9
P&D Interno
Empresa
(%)
15,4
20,4
3,6
10,2
4,9
9,8
13,8
45,1
23,1
18,6
47,6
23,3
5,4
33,8
42,0
Módulo 8
6 3
Setores de Atividades
Produtos de minerais não-metálicos
Produtos de metal
Reciclagem
Fornecedores Especializados
Máquinas e equipamentos
Máquinas e equipamentos de informática
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos
Baseados em Ciência
Material eletrônico e de comunicações
Equipamentos médicos e de automação
Fabricação de celulose e produtos de papel
Refino de petróleo, combustíveis e álcool
Produtos químicos
Artigos de borracha e plástico
Pesquisa e desenvolvimento
Intensivos em Informação
Informática e serviços relacionados
Total
Taxa de
Inovação
(%)
23,4
31,1
22,6
51,4
39,3
69,2
45,7
55,5
56,9
68,0
31,7
50,1
50,0
34,0
97,6
57,6
57,6
33,4
Gasto
(%)
0,8
0,4
0,0
3,8
0,8
8,8
1,6
3,7
9,5
1,5
0,6
7,6
4,3
1,3
1,2
2,4
2,4
2,9
P&D Externo
Empresa
(%)
10,0
6,1
0,0
25,1
8,3
59,9
7,1
13,6
14,5
7,3
5,4
28,3
6,8
8,3
24,4
4,4
4,4
6,0
Importância
Gasto
(%)
11,0
7,1
0,0
29,8
13,3
38,5
37,5
36,0
21,1
42,8
7,8
53,8
21,9
13,0
91,6
39,3
39,3
25,2
P&D Interno
Empresa
(%)
16,6
20,8
0,0
51,4
42,9
51,8
59,6
53,5
58,9
65,4
18,2
42,8
69,7
19,8
100,0
55,5
55,5
28,1
Tabela 3: Importância das Atividades de P&D para as Empresas que Inovaram –
2005.
Fonte: adaptada de IBGE (2005).
O quarto grupo corresponde aos setores baseados em ciência,
cujo desenvolvimento tecnológico é de fronteira, utilizando-se tam-
bém os conhecimentos científicos que se encontram na fronteira das
ciências básicas. Os setores baseados em ciência são aqueles de mate-
riais eletrônicos e de comunicação, de equipamentos médicos e de
automação, refino de petróleo, produtos químicos, fabricação de celu-
lose e papel. Geralmente são grandes empresas, com escala de
6 4
Curso de Graduação em Administração a Distância
faturamento, que investem elevados volumes de recursos em pesquisa
e desenvolvimento.
E, por fim, no último grupo estão os setores intensivos em infor-
mação, que correspondem ao setor de informática e serviços relacio-
nados.
Depois dessa classificação, você, caro aluno, já deve ter perce-
bido que essa tipologia permite algumas conclusões importantes para
interpretação das diferenças setoriais.
Em primeiro lugar, essa tipologia mostra que os setores de ativi-
dades impõem determinados comportamentos às empresas. Além dis-
so, como dito anteriormente, aponta para grandes assimetrias entre os
setores. Por fim, indica que para além das diferenças setoriais existe,
também, uma certa hierarquia entre os setores, uma vez que alguns
deles são responsáveis pela geração e transmissão de conhecimentos
técnicos, por um lado, e outros são receptores deste progresso técnico,
por outro.
Anote: Observe que a inovação tecnológica é sensível aoambiente empresarial no qual ela se dá e, portanto, conside-rar o setor econômico em que o processo de inovação estáinserido é indispensável para a sua correta avaliação e gestão.
Influência da localização geográficasobre o processo de inovação
Vamos fazer um exercício: imagine uma pessoa, muito criativa,
dinâmica e ousada nascida em um pequeno distrito rural do interior do
país. Essa pessoa tem muitas ideias de meios para melhorar a irrigação
das plantações, de aproveitar a energia solar para “tocar” a proprieda-
de, de reaproveitar uma série de resíduos ali gerados para a produção.
Você acha que ela tem mais chances de conseguir tornar realidade
todas as suas ideias permanecendo ali ou mudando-se para uma cida-
Módulo 8
6 5
de maior, onde haja uma escola técnica agrícola, estudando e conhe-
cendo pessoas com quem possa discutir suas ideias e captando “adep-
tos” para ajudá-lo a conseguir dinheiro para construir os protótipos e
testá-los?
É quase certo que você tenha respondido a segunda opção e isto
porque é senso comum que o ambiente importa. O ambiente nos influ-
encia ao mesmo tempo em que é modificado por nós. Ninguém duvi-
da disso porque é uma verdade que se impõe.
Quando estamos tratando de entender fenômenos sócio-técnico-
econômicos, como é o caso da inovação, não podemos deixar de ter
em conta que o ambiente importa. Dependendo do lugar, os resultados
serão diferentes.
No final da década de 1980, início da década de 1990, surgiu a
compreensão de que a questão das relações entre as instituições de
pesquisa e desenvolvimento e o setor produtivo não pode ser entendi-
da sem considerarem-se os contextos econômico, histórico e
institucional que condicionam estas relações.
Para dar conta deste entendimento, Freeman (1987), Lundvall
(1992) e Nelson (1993) propuseram o conceito de Sistemas Nacio-
nais de Inovação* enquanto investigavam países como um todo. A
abrangência nacional é, porém, uma possibilidade de associação ao
conceito de Sistema de Inovação que, no entanto, também pode ter
um caráter regional, local ou até mesmo setorial.
Neste conceito, considera-se que o processo de inovação não é
derivado apenas da operação das forças de mercado. Apesar das fir-
mas ocuparem posição de destaque no modelo, dado que é o lócus,
por excelência, da inovação; o arranjo institucional inclui organiza-
ções públicas e privadas, com e sem fins lucrativos e as interações que
se estabelecem entre todas as organizações.
Para melhor entendimento da complexidade da visão do fenô-
meno da inovação a partir de sistemas de inovação, considere que
[...] um sistema é mais do que a soma de suas partes; é um
todo indivisível no sentido que algumas de suas proprieda-
des essenciais são perdidas ao separá-lo. As partes de um sis-
tema podem elas mesmas ser sistemas e cada sistema pode ser
GLOSSÁRIO*Sistemas Nacio-nais de Inovação –pode ser definidocomo uma rede deinstituições públicase privadas queinteragem para pro-mover o desenvol-vimento científico etecnológico de umpaís. Inclui universi-dades, escolas téc-nicas, institutos depesquisa, agênciasgovernamentais defomento, empresasde consultoria, em-presas industriais,associações empre-sariais e agênciasreguladoras, em umesforço de geração,importação, modifi-cação, adaptação edifusão de inova-ções. Fonte: Nelson(1993).
6 6
Curso de Graduação em Administração a Distância
parte de um sistema ainda maior (ACKOFF, 1973, p. 152, tra-
dução própria).
Consequentemente, a interdependência é elemento chave nos sis-
temas a ponto de considerar-se que é a relação de interdependência
que define o que é parte do sistema e não uma lista de itens.
A melhor imagem para mostrar este modelo é a de uma rede de
relacionamentos com múltiplos elos, de duplo sentido, entre as diver-
sas organizações de um Sistema de Inovação. Os demais sistemas
interagem com o Sistema de Inovação, complementando-o e
viabilizando-o.
Figura 11: Modelo sistêmico para a inovação.Fonte: elaborada pela autora.
De acordo com Rothwell (1993 apud CASSIOLATO et alii,
1996) este modelo é caracterizado pelo forte desenvolvimento em pa-
ralelo, pelas fortes articulações verticais com os principais clientes e
com os fornecedores primários e articulações horizontais de diversos
tipos: joint-ventures, grupos de pesquisa cooperativa, alianças em
marketing com foco crescente em qualidade e outros fatores não rela-
cionados a preço. Há tendência de formação de complexas redes
tecnológicas que integram múltiplos agentes. Nestas redes, é comum
o estabelecimento de uma certa divisão do trabalho em função das
competências dos agentes, no entanto, a atribuição de responsabilida-
Módulo 8
6 7
des quanto às diferentes etapas do processo de P,D&E tende a ser tê-
nue, variando consideravelmente em cada caso.
Nessa lógica sistêmica, as ações para incentivo à inovação não
estão limitadas a uma ou outra organização, mas devem ser calcadas
fortemente no incentivo à interação e à cooperação entre elas. O in-
vestimento não deve ser centrado em uma ou outra organização, deven-
do ocorrer em vários pontos da rede, mas principalmente deve estar as-
sociado à formação de elos e adensamento da rede para a inovação.
Agora, vamos aprofundar a discussão sobre a influência da na-
cionalidade sobre o processo de inovação.
O conceito de Sistema de Inovação foi desenvolvido para bus-
car explicações para a diferença de competitividade das empresas ja-
ponesas e norte-americanas, principalmente. Sendo assim, o conceito
nasceu com o caráter de nacionalidade, tendo sido originalmente pro-
posto como Sistema Nacional de Inovação.
Mas em um tempo no qual uma das palavras de ordem é
globalização, o que existe dentro das fronteiras nacionais que faz a
diferença em termos de inovação?
Respondendo em poucas palavras: as suas instituições*. Den-
tro das fronteiras nacionais, são uniformes as garantias à propriedade,
os impostos, a moeda, as taxas de juros e as taxas de câmbio, o sistema
penal, o sistema educacional e em muitos países, a língua ou as lín-
guas oficiais, enfim, todo um conjunto de instituições que dão o mes-
mo “pano de fundo” para a inovação. Sendo assim, ainda que a
globalização de mercados e finanças seja uma realidade, a nacionali-
dade ainda é um forte condicionante econômico.
Detalhando mais o conceito de Sistema Nacional de Inovação,
Albuquerque (1996) propõe uma tipologia desses sistemas na qual três
categorias de sistemas de inovação são identificadas:
A primeira categoria envolve os sistemas de inovação quecapacitam os países a se manterem na liderança do processotecnológico internacional. São sistemas maduros, capazes demanter o país na fronteira tecnológica, já que possuem a ca-pacidade de geração de tecnologia e de participação na lide-rança da produção científica mundial. Estão neste grupo os
GLOSSÁRIO*Instituições – sãoorganizações oumecanismos sociaisque controlam o fun-cionamento da soci-edade e dos indiví-duos. São produtosdo interesse socialque refletem as ex-periências quantita-tivas e qualitativasdos processossocioeconômicos.Organizadas sob aforma de regras enormas, as institui-ções visam à orde-nação das interaçõesentre os indivíduos eentre estes e suas res-pectivas formasorganizacionais .Fonte: Fonte: < http://pt.wikipedia.org/w i k i / I n s t i t u i %C3%A7%C3%A3o>.Acesso em: 19 jan.2009.
6 8
Curso de Graduação em Administração a Distância
sistemas de inovação dos Estados Unidos, do Japão, da Ale-manha, da França, da Itália e da Inglaterra.
A segunda categoria engloba sistemas de inovação cujo ob-jetivo central é a difusão de inovações. Aqui se encontram ossistemas de inovação de países como Holanda, Suíça, Coreiado Sul e Taiwan.
Na terceira categoria, encontram-se os sistemas de inovaçãoincompletos, ou seja, sistemas que possuem umainfraestrutura de ciência e tecnologia insuficiente para man-ter o país na fronteira tecnológica. Além disso, devido à suabaixa articulação com o setor produtivo, estas infraestruturasde C&T têm dado pequena contribuição ao desenvolvimentoeconômico de seus países. São exemplos dessa categoria ossistemas de inovação de países como Brasil, Argentina eMéxico. Nesses países “[...] podemos dizer que não foi ultra-passado um patamar mínimo que caracteriza a presença deum sistema de inovação”, tendo sido chamados de Sistemasde Inovação embrionários.
Para avaliar o desempenho, em termos de inovação tecnológica,
dos diferentes sistemas de inovação, podemos usar vários indicado-
res. Para fins de efeitos de comparação mundial, os indicadores e a
forma de coleta de dados em cada país são padronizados pelo que está
prescrito no Manual de Oslo. Vejamos um exemplo na Tabela 4.
Tabela 4: Composição das exportações por intensidade tecnológica
(2005).
Brasil
(%)
12,8
20,7
9,8
9,5
40,4
6,9
100,0
Europa
(%)
30,6
32,2
6,9
10,8
8,1
11,4
100,0
Japão
(%)
31,6
45,5
9,6
3,5
2,8
7,0
100,0
EUA
(%)
37,6
29,4
4,2
6,7
11,8
10,4
100,0
Classificação dos produtos
Alta intensidade tecnológica
Média intensidade tecnológica
Baixa intensidade tecnológica
Intensivos em trabalho e recursos naturais
Primários (commodities)
Não classificados
Total
Fonte: adaptada de IBGE (2005).
Módulo 8
6 9
Reflexão: A partir da análise da Tabela 4, o que você podeafirmar sobre a estrutura industrial e as políticas tecnológicasdesses países? Esse resultado já era esperado? Por quê?
Da mesma forma que podemos analisar indicadores dos diferen-
tes sistemas nacionais de inovação, também podemos fazê-lo em rela-
ção aos sistemas regionais, como forma de continuarmos pensando a
respeito da influência da localização geográfica sobre o fenômeno da
inovação. Se pararmos para observar a realidade brasileira, veremos
que há diferenças muito significativas entre as regiões e entre os esta-
dos brasileiros. Vejamos mais alguns indicadores na Tabela 5.
Outro indicador interessante de ser analisado é a concessão de
patentes. Novamente, assim como a Tabela 5, na Tabela 6 é possível
notar grandes diferenças entre as regiões e os estados.
2000
26.288
137.030
864.581
244.807
37.196
1.309.904
2001
26.263
206.228
990.476
273.148
32.053
1.528.168
2002
26.699
217.119
937.264
309.111
11.809
1.502.001
2003
35.144
266.307
989.508
294.529
21.811
1.607.300
1999
6.643
97.663
832.332
158.102
30.413
1.125.153
1998
8.810
125.383
704.650
208.211
34.042
1.081.096
1997
7.389
110.542
685.786
207.445
34.991
1.046.153
Regiões
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
BRASIL
Tabela 5: Dispêndios dos governos estaduais em ciência e tecnologia –
1997-2003 (R$ 1.000,00).
Nota: Não inclui estimativa de gastos com a pós-graduação.
Fonte: Balanços gerais dos Estados, Secretarias Estaduais de Ciênciae Tecnologia ou instituições afins. Elaboração: Coordenação Geral
de Indicadores.
7 0
Curso de Graduação em Administração a Distância
Unidades da Fedaração
Acre
Amapá
Amazonas
Pará
Rondônia
Roraima
Tocantins
Alagoas
Bahia
Ceará
Maranhão
Paraíba
Pernambuco
Piauí
Rio Grande do Norte
Sergipe
Distrito Federal
Goiás
Mato Grosso
Mato Grosso do Sul
Espírito Santo
Minas Gerais
Rio de Janeiro
São Paulo
Paraná
Rio Grande do Sul
Santa Catarina
Brasil
DI
1
30
-
2
-
-
2
-
11
88
-
-
20
-
5
7
11
15
-
1
13
222
116
1.733
401
562
230
3.470
Concedidas
MU
-
-
-
-
-
-
-
-
3
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
3
PI
-
-
-
-
2
-
-
1
-
1
-
-
8
-
-
-
7
4
-
-
3
59
69
264
34
58
36
546
DI
1
37
3
13
-
2
3
5
39
50
5
13
41
2
15
10
83
62
12
17
45
346
367
1.745
319
335
250
3.820
Pedidas
MU
1
5
-
15
-
2
2
6
35
24
7
18
22
4
8
7
29
60
9
14
37
241
203
1.549
374
380
302
3.354
PI
1
19
-
2
-
-
3
-
30
106
2
3
15
-
5
9
19
16
1
2
16
289
145
1.836
395
536
244
3.694
Tabela 6: Pedidos e concessão de patentes depositados no INPI, por
estado e segundo tipos – 2004.
Nota: PI – Privilégio de Invenção; MU – Modelo de Utilidade;DI – Desenho Industrial. Inclui apenas pedido de residentes no país.
Fonte: Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).Elaboração: MCT. Coordenação Geral de Indicadores.
Módulo 8
7 1
Porém, é importante ressaltar que os motivos pelos quais há gran-
des diferenças entre as regiões não necessariamente são os mesmos
motivos que explicam as diferenças entre países.
Reflexão: Você pode imaginar a razão?
Saiba mais... Se estiver interessado em aprofundar seus conhecimentos sobre
os conceitos e modelos de inovação tecnológica:OECD. Oslo Manual. Paris: Eurostat, 1997. Disponível em: <http://www2.finep.gov.br/premio/sites/all/themes/premio_finep/doc/Manual_Oslo.pdf>. Acesso em: 8 mai. 2009.LONGO, W. P. Conceitos básicos sobre ciência, tecnologia einovação. 2. ed. Revisada. Editora Finep, 2004.
Se o seu interesse for compreender melhor os Sistemas deInovação, consulte o site da REDESIST em:<www.redesist.ie.ufrj.br>, e o livro Conhecimento, Sistemas deInovação e Desenvolvimento, de Lastres, H., Cassiolato, J. eArroio, A. Coleção Economia e Sociedade. Editora UFRJ/Contraponto, 2005.
Como visto, os marcos regulatórios existentes, assim como as
instituições, são fundamentais para o funcionamento dos sistemas de
inovação. No intuito de se criar um arcabouço legal que propiciasse
um ambiente mais favorável às atividades inovativas, foi sancionada
no Brasil, em dezembro de 2004, a Lei de Inovação (Lei n° 10.973).
A Lei de Inovação combina suas ações com as diretrizes da atual Po-
lítica Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior, que são a de
aumentar a eficiência e a competitividade do setor produtivo. A apro-
vação dessa lei oferece às universidades, centros de pesquisas e em-
presas as regras para regular sua interação.
A Lei de Inovação tem três eixos principais: a criação de uma
ambiente favorável às parcerias entre universidade, institutos
tecnológicos e empresas; a participação de institutos de ciência e
7 2
Curso de Graduação em Administração a Distância
tecnologia no processo de geração e difusão de inovação; e geração
de estímulos às inovações nas empresas.
Dos vários mecanismos criados pela lei, há o instrumento da
subvenção econômica, que é o aporte de recursos públicos a fundo
perdido (não-reembolsáveis) no desenvolvimento de inovações, que
beneficiará diretamente as empresas, especialmente as micro e peque-
nas. Além da modalidade de subvenção, a lei estimula a incubação de
empresas em instituições públicas, permitindo o compartilhamento de
infraestrutura, equipamentos e recursos humanos para o desenvolvi-
mento tecnológico e geração de inovações. Também é importante ob-
servar que a lei estabelece regras claras para participações dos pesqui-
sadores de instituições públicas nos processos de inovação desenvol-
vidos em empresas.
Saiba mais... Para saber mais sobre o assunto abordado nesta Unidade,
acesse: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/
Lei/L10.973.htm>. Acesso em: 8 mai. 2009.
Arranjos produtivos locais
Em anos recentes, tornou-se bastante conhecido na literatura o
sucesso das experiências de crescimento industrial baseado em peque-
nos empreendimentos ocorridas na década de 1970 nas regiões centro
e nordeste da Itália, conhecida como Terceira Itália. O dinamismo eco-
nômico dessas regiões chamou a atenção de pesquisadores e
formuladores de políticas de desenvolvimento regional, que atribuí-
ram inúmeras nomenclaturas para representar esse fenômeno.
Ao procurar estudar fenômeno semelhante em países em desen-
volvimento, estudiosos ligados principalmente à área econômica ob-
servaram que nesses países, em geral, as aglomerações produtivas ca-
Módulo 8
7 3
reciam de uma organização que permitisse tratá-las como “sistemas” e
propuseram, então, o termo Arranjos Produtivos Locais – APL*
O conceito de APL apresenta algumas peculiaridades, que, se-
gundo Cassiolato, Lastres e Szafiro (2000), contribuem para melhor
caracterizar este conceito. Essas peculiaridades são: a dimensão
territorial; o conhecimento tácito; a diversidade das atividades e dos
atores; as inovações e aprendizados interativos; e a governança.
A dimensão territorial é o âmbito específico de análise e de ação
política. É o espaço onde os processos produtivos, inovativos e coo-
perativos têm lugar. Esses espaços podem ser o município ou áreas de
um município; conjunto de municípios; microrregião; conjunto de
microrregiões, entre outros. A ideia é que essa proximidade ou con-
centração geográfica leva ao compartilhamento de visões e valores
econômicos, bem como de diversidade e de vantagens competitivas
em relação a outras regiões. Em situações como esta, o conhecimento
tácito é compartilhado e socializado por empresas, instituições e indi-
víduos, uma vez que essa forma de conhecimento decorre da proximi-
dade territorial e/ou de identidades cultural, social e empresarial.
A diversidade das atividades e dos atores envolve a participação
e a interação não apenas de empresas, mas, também, de diversas ou-
tras instituições públicas e privadas voltadas para a formação e
capacitação de recursos humanos, pesquisa e desenvolvimento de en-
genharia, programas de promoção e financiamento. Aí se incluem,
portanto, universidades, instituições de pesquisa, empresas de
consultoria e de assistência técnica, organizações públicas e privadas.
As inovações e aprendizados são as fontes principais para a
transmissão de conhecimentos e ampliação da capacidade para inovar
das firmas e instituições. A capacidade para inovar dentro desses aglo-
merados permite a introdução de mudanças técnicas, de maior dina-
mismo e maiores vantagens competitivas para as empresas.
E, por fim, a governança refere-se às diferentes formas de coor-
denação entre os agentes e atividades, que envolvem um longo cami-
nho que vai da produção à distribuição de bens e serviços, assim como
o processo de geração, disseminação e uso de conhecimentos e de
inovações.
GLOSSÁRIO*Arranjos Produti-vos Locais (APL) –De acordo com aREDESIST, é defi-nido como a aglo-meração de um nú-mero significativo deempresas que atuamem torno de uma ati-vidade produtivaprincipal, bem comode empresas correla-tas e complementa-res como fornecedo-ras de insumos eequipamentos, pres-tadoras de consulto-ria e serviços, co-mercializadoras, cli-entes, entre outros,em um mesmo espa-ço geográfico (ummunicípio, conjuntode municípios ou re-gião), com identida-de cultural local evínculo, mesmo queincipiente, de articu-lação, interação, co-operação e aprendi-zagem entre si e comoutros atores locais einstituições públicasou privadas de trei-namento, promoçãoe consultoria, esco-las técnicas e univer-sidades, instituiçõesde pesquisa, desen-volvimento e enge-nharia, entidades declasse e instituiçõesde apoio empresari-al e de financiamen-to. Fonte: Albagli eBrito (2002).
7 4
Curso de Graduação em Administração a Distância
RESUMO
Inovação tecnológica é um fenômeno complexo condici-
onado por diversos fatores: o ambiente em que se dá (sistema
nacional/regional de inovação); o setor da economia do agente
inovador, o mercado para o qual a inovação se destina; para
citar alguns. No entanto, sabemos, com certeza, que inovação é
um fenômeno coletivo e que, portanto, para estimulá-la é ne-
cessário um investimento amplo na formação de um ambiente
propício à inovação. Esse ambiente inclui desenvolvimento de
talentos, de valorização do aprendizado, de tolerância ao erro,
de aceitação do risco, de financiamentos específicos, de
interação, de uma cultura que valorize a criação do novo.
Atividades de avaliação
Prezado aluno, agora procure responder às seguintes questões:
1. Como a utilização de cada um dos modelos explicativospara o fenômeno da inovação tecnológica (linear, linearreverso, chain linked e sistêmico) pode influenciar políti-cas públicas voltadas para incentivar a inovação?
2. Você poderia citar alguns dos fatores que podem fazer comque uma nova tecnologia não necessariamente substituacompletamente a tecnologia anterior à qual ela veio substi-tuir? Como a curva S apresentada na Figura 10 seria modi-ficada nesse caso?
3. Recentemente vivenciamos a polêmica questão da introdu-ção de alimentos transgênicos em nossa dieta. Como o qua-dro político, social e regulatório tem influenciado na difu-são desta nova tecnologia?
Módulo 8
7 5
Gestão da inovaçãotecnológica
Gestão da inovaçãotecnológica
UNIDADE
3
7 6
Curso de Graduação em Administração a Distância
Objetivo
Nesta Unidade, caro aluno, o foco está na gestão do processo de inovação
tecnológica no nível da organização. Agora que você compreende os
fundamentos do complexo processo de inovação tecnológica e reconhece
a importância da inovação na sociedade contemporânea, particularmente
nas empresas, como fazer para gerenciar esse processo nas organizações de
modo a não contar apenas com o acaso para ser bem-sucedido inovando?
De que recursos você pode lançar mão? Onde encontrá-los?
Como utilizá-los? Vamos lá?
Módulo 8
7 7
A evolução da gestão apartir do início do Século XX
Para fazermos um estudo bem interessante de estratégias com-
petitivas e estratégias tecnológicas, convido você, caro aluno, a per-
corrermos novamente os caminhos da história, agora, com a atenção
voltada para a gerência empresarial. Vamos começar no início do Sé-
culo XX quando as firmas atingem um nível de complexidade que
exige a especialização em gestão de negócios.
Como você deve se lembrar, a separação entre o capital e o tra-
balho já vinha desde a Primeira Revolução Industrial, mas no início
do Século XX processava-se a separação entre o capitalista (que pen-
sava o que seria feito), o gerente (que pensava como seria feito) e o
operário (quem fazia).
O capitalista era o proprietário da empresa, dispondo, portanto,
do privilégio de impor-lhe os resultados a serem atingidos, seja em
termos financeiros, seja em termos de quantidades produzidas e
comercializadas, seja em termos de alcance de mercados. Além disso,
ele tinha a prerrogativa de comercializar livremente a própria empre-
sa, como objeto de sua posse.
O grande problema gerencial daquela época era conseguir pro-
duzir, dado que a demanda era maior que a oferta para praticamente
todos os produtos industrializados. O problema gerencial básico era a
operação eficiente da empresa para atingir os objetivos estabelecidos
pelo seu proprietário. Ao gerente cabia a tarefa de realizar estudos de
tempos e movimentos e promover a separação do trabalho em partes
cada vez mais simples gerando produções cada vez maiores, mais ho-
mogêneas e mais previsíveis.
Na década de 1920, duas inovações organizacionais contribuí-
ram para romper os limites de crescimento da firma: teve início o pro-
cesso de integração vertical das firmas em unidades distintas e surgi-
7 8
Curso de Graduação em Administração a Distância
A Análise SWOT é
uma ferramenta utili-
zada para fazer análi-
ses de cenários (ou
análise de ambiente)
para posicionar ou
verificar a posição
estratégica da empresa
no ambiente em
questão. O termo
SWOT é uma sigla em
inglês, que significa
Forças (Strengths),
Fraquezas
(Weaknesses), Oportu-
nidades
(Opportunities) e
Ameaças (Threats).
ram as firmas multidivisionais, em que as diferentes áreas da empresa
podiam ser separadas em unidades de negócios.
A complexidade gerencial deu um salto. As decisões gerenciais
que antes diziam respeito praticamente à produção passaram a incluir
alocação de recursos entre unidades de negócios distintas, acompa-
nhamento dos resultados de todas elas, coordenação de níveis hierár-
quicos crescentes, aumentos de escala e de escopo, aumento da con-
corrência, principalmente devido à redução da folga de demanda que
antes existia. A perspectiva da gestão estratégica, então, passou a ser a
da integração funcional.
Mas foi a partir da década de 1960 que a gestão estratégica en-
trou definitivamente no mundo dos negócios e no mundo da acade-
mia. Foi nesse momento que a gestão estratégica passou a ser conside-
rada não apenas coordenação ou integração de funções, mas passou a
englobar a seleção conjunta de produtos e mercados, onde competir e
as diretrizes de como competir. Entrava em cena a “missão” da firma e
sua estratégia deveria ser construída sobre “competências distintivas”
que levassem em consideração as suas forças e fraquezas, bem como
as oportunidades e ameaças provenientes do ambiente concorrencial.
A análise SWOT, que você já estudou na disciplina de Planejamento
(até hoje amplamente utilizada em atividades de planejamento estraté-
gico) foi desenvolvida em meados da década de 1970, mas há dúvidas
sobre quem exatamente a propôs.
Saiba mais... No site <www.dominiopublico.gov.br>, você pode encontrar
artigos e dissertações de mestrado do seu interesse fazendo buscasutilizando as palavras “estratégia” ou “inovação” no campo “título”.Uma dissertação bem condizente com esse tema você pode baixarno endereço <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=102675>. Acesso
em: 8 mai. 2009.
Módulo 8
7 9
O processo de formulação de estratégias neste período foi mar-
cado pela análise e formalização. Os planos estratégicos eram docu-
mentos gerados em processos estruturados de reuniões dos principais
decisores da empresa e profundamente baseados na lógica racional. O
plano estratégico constituía o principal instrumento utilizado pela ge-
rência para conduzir a organização aos fins nele explicitados. Como
os planos estratégicos tinham horizontes de tempo longos, cinco, dez
ou mais anos, devido à sua própria dinâmica de elaboração envolven-
do longos períodos de reuniões com sócios-proprietários ou conse-
lheiros-diretores para traçar o futuro da empresa, eles somente tinham
aplicação em um ambiente estável ou com poucas variações. Ademais,
para serem bem-sucedidos, os planos necessitavam contar com uma
ampla divulgação na organização e um trabalho contínuo de alinha-
mento entre os objetivos contidos no plano e os objetivos das pessoas
que o executariam.
No último quarto do Século XX, como discutimos anteriormen-
te, o mundo empresarial e o modo de produção capitalista de maneira
geral passaram por profundas mudanças desencadeadas por três acon-
tecimentos:
o sucessivo aumento dos preços do petróleo a partir de 1973,que indicava que o modelo de crescimento baseado no con-sumo crescente de materiais e energia não era sustentável;
o esgotamento do modelo fordista, baseado na padronizaçãoe divisão do trabalho; e
o desenvolvimento e difusão das TICs, que permitem inte-grar cadeias globais de suprimentos, acessar informações emtempo real, alimentar modelos de novos negócios.
A estratégia empresarial formal gerada a partir de processos de
planejamento mostrou-se completamente insuficiente como auxílio aos
gestores no ambiente instável dos anos 70 e gerou uma grande deman-
da por parte dos executivos das empresas por auxílio para a execução
de suas tarefas.
As firmas de consultoria especializadas em estratégia floresce-
ram. Estabeleceram-se sociedades profissionais, aumentou significati-
8 0
Curso de Graduação em Administração a Distância
vamente o material publicado sobre gestão estratégica de negócios. A
ideia era buscar métodos que permitissem adaptação às mudanças e
tirar vantagem do inesperado. A complexidade das empresas, vistas
então como um portfólio de negócios, gerou uma demanda particular
por ferramentas estratégicas. A pesquisa operacional, a cenarização e
o planejamento adaptativo, para citar apenas alguns, entraram em cena.
Nos anos 1980, a economia norte-americana e a europeia foram
surpreendidas pela competição vinda do Japão. A eficiência dos negó-
cios japoneses e a capacidade de atender às necessidades dos clientes
com preços aceitáveis fizeram a diferença. O estudo dos processos
japoneses (como Gestão pela Qualidade Total, Just-in-time e Progra-
mas 5S, por exemplo) para incorporação dos seus princípios na econo-
mia ocidental foi intensivo, porém com resultados tímidos. Por outro
lado, estabeleceu-se um processo de busca por teorias que ajudassem a
prever o mundo dos negócios de modo a facilitar a gestão estratégica.
O pensamento econômico aproximou-se da gestão estratégica e
a contribuição mais influente deste movimento foi o trabalho de Michael
Porter – Estratégia Competitiva (PORTER, 1980).
Para Michael Porter, a estratégia competitiva era uma questão de
posicionamento. Basicamente, o processo de definir a estratégia con-
siste em analisar a indústria em que a empresa está inserida, ou na qual
quer entrar, em termos de sua lucratividade e identificar quais são as
principais forças que atuam sobre as empresas que com ela se relacio-
nam: fornecedores, compradores, substitutos, novos entrantes e os pa-
res. De posse dessa análise, a formulação estratégica seria uma ques-
tão de posicionamento como líder de custos* ou diferenciador*.
Um segundo conceito de estratégia baseou-se principalmente na
teoria dos jogos. De acordo com esta concepção, um movimento es-
tratégico de uma empresa visava influenciar o comportamento dos
demais agentes do mercado e será tanto mais bem-sucedido quanto
mais influenciá-lo.
Uma terceira abordagem de estratégias competitivas associava a
diferença de resultados das empresas aos seus recursos e ficou conhe-
cida como Abordagem Baseada em Recursos (WERNERFELT, 1984).
De acordo com esta corrente, a estratégia da empresa deve basear-se
GLOSSÁRIO*Líder de custos –significa que umaempresa, normal-mente por ganhosde escala, tem comoprincipal vantagemem relação aos con-correntes os baixospreços de seus pro-dutos. Apesar disso,um líder de custodeve ser capaz demanter alguma pari-dade em termos dediferenciação emrelação aos seusconcorrentes, apesarde possuir a lideran-ça em termos decustos. Fonte:Porter (1980).
*Diferenciador –por outro lado, pro-cura ser original emsua indústria. Po-rém, o diferenciadortambém não podeignorar sua posiçãocomo custo. Em to-das as áreas que nãoafetam sua diferen-ciação, essa empre-sa deve ser capazde manter algumaparidade em termosde custos em rela-ção aos seus con-correntes, emborasua liderança seja dediferenciação. Fon-te: Porter (1980).
Módulo 8
8 1
na exploração dos seus recursos específicos e escassos, ou seja, na
exploração de recursos que não podem ser facilmente criados ou trans-
feridos como, por exemplo, ativos de conhecimento, tecnologias pro-
prietárias, fontes privilegiadas das matérias-primas ou mercados.
Outra tradição desenvolveu-se a partir de finais da década de
1980 na Universidade de Chicago, fortemente construída sobre a Abor-
dagem Baseada em Recursos. Para esta corrente de pensamento, es-
tratégia baseia-se no conceito de Capacitação Dinâmica (TEECE;
PISANO; SHUEN, 1997). Sua principal diferença em relação à Abor-
dagem Baseada em Recursos é que afirma haver necessidade contínua
de desenvolver novas competências não sendo suficiente ter recursos
difíceis de imitar. O processo de capacitação ocorre por meio do apren-
dizado individual, mas, principalmente, organizacional da empresa. O
processo de aprendizado, porém, é condicionado pelas trajetórias se-
guidas pela empresa e pelos seus ativos complementares*.
De acordo com Tigre (2006)
[...] o aprendizado é essencialmente local e a experiência pas-
sada da firma no uso da tecnologia é considerada uma condi-
ção necessária para seu desenvolvimento no presente e no
futuro próximo. Os ativos complementares [...] são importan-
tes para permitir que uma firma desenvolva certos tipos de
capacitação tecnológica. Quanto maior a especificidade do
ativo, mais a empresa terá de investir internamente para
desenvolvê-lo, pois dificilmente se defrontará com a alterna-
tiva de obtê-lo no mercado. Os modelos de gestão das empre-
sas, ou seja, a forma como a empresa conduz o próprio pro-
cesso de formação de estratégias é, em si, um ativo intangível
e específico (p. 167).
Os dois primeiros enfoques, baseados na análise das Forças Com-
petitivas e na Teoria dos Jogos, enfatizam as variáveis externas à em-
presa (competidores, fornecedores, concorrentes) enquanto as duas úl-
timas (Abordagem Baseada em Recursos e de Capacitação Dinâmica)
enfatizam as variáveis internas à empresa. Sendo assim, essas diferen-
tes abordagens são mais complementares do que excludentes e o pro-
cesso de formação de estratégias em cada organização deve articular
os dois enfoques.
GLOSSÁRIO*Ativos comple-mentares – sãoinfraestruturas oucapacidades neces-sárias para suportara comercializaçãobem-sucedida deuma inovaçãotecnológica, alémdos ativos funda-mentalmente associ-ados com aquela ino-vação. Fonte: elabo-rado pela autora.
8 2
Curso de Graduação em Administração a Distância
Reflexão: Qual dessas abordagens estratégicas é mais favo-rável à inovação? Por quê?
Estratégias tecnológicas
A compreensão de que o elemento tecnológico pode representar
uma importante fonte de vantagens competitivas para a empresa faz
com que a estratégia tecnológica seja um importante elemento no con-
texto de formulação e implementação da estratégia corporativa.
De acordo com Cassiolato et alii (1996),
[...] o conceito de estratégia tecnológica está associado a ações
que procuram impulsionar o crescimento da firma atuando
sobre o vasto conjunto de tecnologias e sub-tecnologias (sic)
com as quais ela está envolvida, de maneira a incorporar as
mudanças que se reflitam no aumento da competitividade
empresarial (p. 22).
Autoavaliação
Você é capaz de enumerar as principais abordagens estratégicasapresentadas e citar suas principais características. Se apresentardificuldades para isso, retorne à leitura da Evolução da Gestão apartir do início do Século XX, no começo desta Unidade antes deprosseguir.
Tecnologias básicas, críticas e emergentes
Coombs e Richards (1991 apud CASSIOLATO et alii 1996)
propuseram uma classificação das tecnologias em três tipos. Essa clas-
sificação permite aos responsáveis pela formulação de estratégias
corporativas e tecnológicas identificarem, em seus negócios específicos,
quais são as tecnologias de cada tipo e a elas relacionarem ações diferen-
ciadas em função da sua participação na competitividade do negócio.
Módulo 8
8 3
Vejamos alguns exemplos dessas tecnologias em uma planta de
celulose:
Tecnologias necessárias ou básicas: preparação da maté-ria-prima (cavacos de madeira) para o processo, transforma-ção da madeira em polpa de celulose no digestor, secagem,estocagem, análises de composição, expedição, por exemplo.
Tecnologias críticas: branqueamento da polpa de papel semuso de cloro ou compostos clorados, reaproveitamento depercentual acima de 90% da água utilizada no processo, porexemplo.
Tipo de tecnologia
Necessária ou básica
Crítica
Estratégica ou emergente
Principais características
Envolvem informações relativamente acessíveis à firma,
imprescindíveis à operacionalização dos processos produtivos
com níveis de eficiência satisfatórios e à geração de produtos
que atendam a requisitos mínimos de qualidade, conformidade e
nível tecnológico. Estas tecnologias posicionam a firma no nível
mínimo de eficiência imposto pela concorrência de mercado.
São as tecnologias que diferenciam a firma. Podem ser
desenvolvidas internamente por atividades de P&D, de projeto,
de engenharia ou de gestão operacional. Baseiam-se na
exploração de recursos específicos da firma que lhe conferem
vantagens em relação aos concorrentes efetivos e potenciais. As
interações com universidades, institutos de pesquisa ou
fornecedores podem ser um meio eficaz de acesso a competênci-
as complementares que reforçam a competitividade da firma.
São as tecnologias com potencial para mudar a base da
concorrência. Assumem particular relevância em ambientes
sujeitos a intensas transformações tecnológicas. Costumam estar
associadas a diversas fontes de incerteza uma vez que seus
atributos técnicos e econômicos não podem ser definidos ex-
ante com maior clareza. Neste caso, a aquisição de informações
pode envolver elevados custos e, por isto, é comum que ela seja
viabilizada por meio de articulações da firma com outros
agentes, dentre os quais se destacam universidades e institutos
de pesquisa.
Quadro 1: Tipos de tecnologia e suas principais características.Fonte: adaptado de Coombs e Richards (1991 apud CASSIOLATO et
alii 1996, p. 22).
8 4
Curso de Graduação em Administração a Distância
Tecnologias estratégicas: melhoramento biogenético das es-pécies de eucalipto plantadas para crescimento mais rápido,maior resistência às pragas incluindo a saúva, fibras mais lon-gas que resultam em polpa de celulose mais valorizada nomercado.
A tipologia de Freeman
Outra forma de tratar-se a questão das estratégias tecnológicas
foi proposta por Freeman (1982).
Essa perspectiva relaciona a estratégia tecnológica ao ritmo de
incorporação de inovações tecnológicas pelos agentes. A tipologia pro-
posta por Freeman (1982) diferencia seis tipos de estratégias
tecnológicas que são apresentadas em ordem decrescente de intensi-
dade do esforço tecnológico e crescente de aversão ao risco.
Estratégia ofensiva: parte da suposição de que existem van-tagens significativas em ser o primeiro a introduzir novastecnologias no mercado;
Estratégia defensiva: pressupõe que é interessante acompa-nhar de perto os inovadores mais agressivos sem, no entanto,ser o pioneiro;
Estratégia imitativa: concentra-se no esforço de administrara sua defasagem em relação aos mais inovadores;
Estratégia dependente: é adotada por agentes que se encon-tram subordinados a relações de subcontratação que deter-minam seu ritmo quanto à inovação;
Estratégia tradicional: caracteriza-se pela ausência de inova-ções tecnológicas expressivas; e
Estratégia oportunista: procura nichos de mercado que nãointeressam aos inovadores líderes. Geralmente está associa-da com produção em pequena escala.
Chris Freeman caracteriza as seis estratégias tecnológicas em dez
orientações do esforço para a inovação utilizando uma escala em cin-
co níveis como mostrado na Tabela 7.
Módulo 8
8 5
Reflexão: No seu ponto de vista, as pontuações apresenta-das na Tabela 7 são coerentes com a tipologia de Freeman?Procure justificá-las.
Algumas considerações finais sobre as estratégias tecnológicas.
Em geral, a escolha (deliberada ou não) de uma estratégia tecnológica
é influenciada por três fatores-chave:
As competências tecnológicas previamente acumuladas;
Os estímulos provenientes do ambiente competitivo; e
O acesso a competências complementares disponíveis no am-biente técnico-científico.
Estratégia
tradicional
1
1
1
1
5
1
1
3
3
2
Estratégia
oportunista
1
1
1
1
1
1
1
5
1
5
Estratégia
dependente
1
1
2
3
5
1
1
3
3
2
Estratégia
imitativa
1
2
3
4
5
2
2
5
3
3
Estratégia
Defensiva
2
3
5
5
4
3
4
5
4
4
Estratégia
Ofensiva
4
5
5
5
4
5
5
4
5
5
Orientações
Pesquisa básica
Pesquisa aplicada
Desenvolvimento
Projeto
Controle da produção
Serviços técnicos
Patentes
Informação científico-
tecnológica
Formação e aprendizado
Prospecção tecnológica*
GLOSSÁRIO* P r o s p e c ç ã otecnológica – podeser definida comoum meio sistemáticode mapear desenvol-vimentos científicose tecnológicos futu-ros capazes de influ-enciar de forma sig-nificativa uma indús-tria, a economia ou asociedade como umtodo. Os exercíciosde prospecção sãoconstruídos a partirda premissa de quesão vários os futurospossíveis. Fonte:Kupfer e Tigre(2004).
Tabela 7: Caracterização das estratégias tecnológicas propostas por Freeman.
Observação: atribuição de grau de importância de cada fator em ordem crescente (1. sem contribuição;2. pouco importante; 3. importante; 4. muito importante; e 5. essencial).
Fonte: Freeman (1982 apud CASSIOLATO et alii, 1996, p. 24).
8 6
Curso de Graduação em Administração a Distância
A acumulação de competências é indispensável dada a natureza
path dependent* do esforço tecnológico. Dificilmente os agentes dão
saltos de conhecimento a partir de distâncias muito grandes. O conhe-
cimento prévio é necessário para que o empreendimento inovativo seja
considerado viável e seja efetivamente realizado com sucesso.
No que se refere ao ambiente competitivo, quanto mais intensa a
concorrência externa, mais as empresas podem estar sendo obrigadas
a envolverem-se em up-gradings* tecnológicos, sob pena de serem
excluídas do mercado.
Finalmente, a facilidade de acesso a competências complemen-
tares pode ser decisiva quando as articulações com outras organiza-
ções do ambiente técnico-científico facilitar, ou mesmo promover, as
competências para a inovação das firmas.
Reflexão: Você poderia pensar em como devem ser as es-tratégias tecnológicas de firmas diversificadas como aJohnson&Johnson.
De fato, nenhuma firma deve esperar trabalhar na fronteira
tecnológica de todas as tecnologias de suas operações, e as escolhas
nesse campo serão ditadas pela estratégia empresarial. Efetivamente,
as empresas traçarão estratégias tecnológicas apenas para aquelas
tecnologias que considerarem de impacto relevante sobre sua vanta-
gem competitiva.
Anote: Observe que as estratégias tecnológicas deverãoser sempre definidas à luz da estratégia organizacional enão ao contrário.
Operacionalização das estratégias tecnológicas
De forma a operacionalizar suas estratégias tecnológicas, os agen-
tes podem trabalhar em frentes variadas de ações que devem, obvia-
mente, compatibilizar-se entre si. Fontes de tecnologias internas e ex-
GLOSSÁRIO*Path Dependency– significa depen-dência da trajetóriapassada. Segundoeste conceito, a fir-ma não se desenvol-ve aleatoriamente,pois a direção deseu crescimento e asoportunidades en-frentadas para a en-trada em novos ra-mos de atividadedepende de compe-tências acumuladase de decisões técni-cas e estratégicastomadas no passa-do. Fonte: Tigre(2006, p. 96).
*Up-grading – sig-nifica melhorar eusualmente aplica-se á tecnologia, ge-ralmente no sentidode substituiçãocompleta ou parcialde componentes.Fonte: Tigre (2006,p. 96).
Módulo 8
8 7
ternas são utilizadas neste esforço. Quadro 2 relaciona as fontes de
tecnologias mais utilizadas pelas empresas.
A empresa pode envolver-se com o desenvolvimento interno
de tecnologias. Nesse caso, ela terá em seus quadros, pessoal especifi-
camente alocado para atividades de P&D, para gerenciamento de pro-
jetos e para proteção da propriedade intelectual das novas tecnologias
desenvolvidas. Esta é uma forma de desenvolvimento tecnológico tí-
pica dos setores baseados em ciência e dos fornecedores especializados.
As empresas, geralmente, concentram seus esforços nos proces-
sos mais próximos às atividades comerciais de modo que o Estado,
por meio de universidades e institutos de pesquisa governamentais,
exerce um papel fundamental na expansão do conhecimento e da base
científica. No entanto, para que haja efetiva transferência de conheci-
mento para as firmas, é necessário que elas tenham capacidade para
absorver tal conhecimento.
A engenharia reversa é utilizada principalmente nos setores in-
dustriais de montagem de produtos. Ela consiste em usar a criatividade
para, a partir de uma solução pronta, retirar todos os possíveis concei-
tos novos ali empregados. É o processo de análise de uma tecnologia
Quadro 2: Fontes de tecnologias mais utilizadas pelas empresas.Fonte: Tigre (2006).
Fontes de tecnologia
Desenvolvimento tecnológico
próprio
Contratos de transferência de
tecnologia
Tecnologia incorporada
Conhecimento codificado
Conhecimento tácito
Aprendizado cumulativo
Exemplos
P&D, engenharia reversa e experimentação.
Licenças e patentes, contratos com universidades e
centros de pesquisa
Máquinas , equipamentos e software embutido.
Livros, manuais, revistas técnicas, internet, feiras e
exposições, softwares, cursos e programas educacionais.
Consultoria, contratação de RH experiente, informações
de clientes, estágios e treinamentos práticos.
Processo de aprender fazendo, usando, interagindo, etc.,
devidamente documentado e difundido pela empresa.
8 8
Curso de Graduação em Administração a Distância
e de seus detalhes de funcionamento, geralmente com a intenção de
construir algo novo que seja capaz de fazer a mesma coisa, sem real-
mente copiar alguma coisa do original. Resumidamente, a engenharia
reversa consiste em, por exemplo, desmontar uma máquina para des-
cobrir como ela funciona.
Outras fontes internas de tecnologia além do esforço em P&D
são os programas de qualidade e o treinamento de recursos hu-
manos que são fontes significativas de melhorias incrementais.
De acordo com Tigre (2006), o processo de transferência de
tecnologia envolve diferentes formas de transmissão de conhecimen-
tos que incluem contratos de assistência técnica, obtenção de licenças
de fabricação de produtos já comercializados por outras empresas, li-
cenças para utilização de marcas registradas e a aquisição de serviços
técnicos e de engenharia.
O mercado de tecnologia apresenta várias limitações, principal-
mente relacionadas à incerteza associada ao bem/serviço transacionado,
de tal forma que ele funciona melhor em tecnologias especializadas
cujo ciclo de vida já atingiu estágios maduros como a compra de pro-
jetos de plantas petroquímicas ou siderúrgicas. Neste caso, a transfe-
rência de tecnologia inclui projeto, montagem e entrega da planta fun-
cionando em regime turn-key*. Também no caso de licenças de fa-
bricação, elas são mais facilmente obtidas nas fases mais maduras do
produto.
Naqueles casos em que a diferenciação é chave para a
competitividade, o acesso à tecnologia via mercado é mais difícil, pois
geralmente a inovação é guardada como segredo industrial que não
fica disponível para venda.
É preciso ressaltar, ainda, que a compra de uma tecnologia mais
avançada pode significar um grande salto tecnológico para a empresa
adotante. Porém, se não for feito um esforço próprio para adaptar e
melhorar a tecnologia adquirida, em pouco tempo a empresa estará
com uma tecnologia defasada, sem conseguir acompanhar o progres-
so do setor.
A implantação das estratégias tecnológicas deve considerar, tam-
bém, as possibilidades de aquisição de determinadas tecnologias. De
GLOSSÁRIO*Regime turn-key –é um tipo de opera-ção no qual a empre-sa contratada ficaobrigada a entregara obra em condiçõesde pleno funciona-mento bastando “gi-rar a chave” para fun-cionar. Fonte: elabo-rado pela autora.
Módulo 8
8 9
acordo com Cassiolato et alii (1996) a aquisição de novas tecnologias
pode representar o principal meio de acesso da firma a conhecimentos
cuja geração interna seria inviável.
A compra de novas máquinas e equipamentos ou a expansão
das plantas industriais com novas tecnologias como pacotes
tecnológicos é a principal fonte de tecnologia em setores dominados
por fornecedores e intensivos em escala.
O sucesso da transferência de tecnologia depende em parte
da qualidade do suporte técnico e da documentação ofereci-
da pelo fornecedor do equipamento. No entanto, o processo
de aprendizado sobre a operação e a manutenção depende
diretamente dos esforços dos usuários em desenvolver
capacitação tecnológica própria (TIGRE, 2006, p. 103).
A codificação de conhecimentos transformando-o em informa-
ção na forma de manuais, livros, revistas, softwares, fórmulas e docu-
mentos facilita a sua transferência e, portanto, sua comercialização é
similar a de mercadorias. Por outro lado, seu valor só poderá ser apro-
priado por aqueles que detêm capacitação necessária para compreen-
der o conhecimento transmitido e aplicá-lo de forma produtiva. Essa
facilidade de transferência reduz seu caráter diferenciador para quem
o adquire. Já o conhecimento tácito, devido à dificuldade de transfe-
rência, permite a diferenciação da capacitação entre empresas, consti-
tuindo-se num ativo de maior valor, podendo, inclusive, ser conside-
rado como a base da competitividade de uma empresa. A forma mais
comum de aquisição de conhecimento tácito é pela experiência pró-
pria e/ou contratação de profissionais experientes.
O processo de aprendizado contínuo e cumulativo, seja fazendo
uma determinada tarefa, seja usando equipamentos ou softwares, por
exemplo, seja buscando informações novas em atividades de pesqui-
sa, seja interagindo com o meio externo como clientes e fornecedores,
seja por meio da imitação ou da contratação de profissionais experien-
tes é, ao fim e ao cabo, o processo dinâmico de conquista de novas
competências capazes de sustentar ao longo do tempo, as vantagens
competitivas de um empreendimento.
9 0
Curso de Graduação em Administração a Distância
Cooperação para a inovação
Definida a estratégia tecnológica, a organização deverá
operacionalizá-la. Como você viu quando estudou a tipologia das es-
tratégias tecnológicas proposta por Freeman (1982), há diversas for-
mas de fazer isso, incluindo combinações delas. No entanto, mesmo
os agentes que fazem esforços tecnológicos in house não se limitam a
esta modalidade por diversas razões. A primeira delas é que a diversi-
dade e complexidade das tecnologias, principalmente nos setores de
alta e média-alta intensidade tecnológica, atualmente são muito gran-
des para que sejam dominadas por apenas um agente. A segunda ra-
zão é que dificilmente uma única organização dispõe de todos os re-
cursos de capital e humanos necessários para desenvolver novas
tecnologias. Há necessidade de compartilhamento de esforços e coo-
peração entre diversos agentes para seu desenvolvimento. Além disso,
a própria fronteira tecnológica é mutável, dado que são diversos os
agentes empenhando-se em seu desenvolvimento simultaneamente.
Mesmo no caso de aquisições de novas tecnologias, como o ob-
jetivo da transação não é a obtenção de um fator de produção a ser
consumido ao longo do processo produtivo, mas, pelo contrário, o
objetivo é o acesso a conhecimentos que sejam efetivamente incorpo-
rados ao processo produtivo da empresa, ela não deve se restringir a
uma transação econômica isolada no tempo. A própria aquisição de
tecnologias deve envolver algum tipo de relação de cooperação entre
os agentes focalizando um horizonte de tempo que permita o desen-
volvimento de competências tecnológicas dos agentes participantes.
Portanto, as estratégias tecnológicas passam, necessariamente, por
relações de cooperação. A imagem do inventor sozinho, tendo ideias bri-
lhantes que ele mesmo era capaz de desenvolver e implantar na prática está
muito distante da realidade do progresso tecnológico contemporâneo.
Assim, é necessária a busca de envolvimento dos agentes em
arranjos cooperativos que incluem firmas, institutos de pesquisa pú-
blicos e privados e universidades. A participação nesses arranjos coo-
perativos permite a diminuição dos riscos dos investimentos e redução
dos custos devido ao compartilhamento de recursos. Além disso, é nes-
se ambiente cooperativo que há uma rica troca de conhecimentos que
faz germinar as novas ideias. O isolamento de um agente, não partici-
Módulo 8
9 1
pando desses arranjos cooperativos, pode significar estar fora da fron-
teira tecnológica em alguns casos. Vejamos a seguir mais detalhes sobre
a cooperação entre empresas e entre elas e a comunidade acadêmica.
A cooperação interempresarial
De acordo com Tidd, Bessant e Pavitt (1997), as firmas colabo-
ram entre si principalmente para:
Reduzir custos do desenvolvimento de novas tecnologias ouacessar mercados;
Reduzir riscos do desenvolvimento de novas tecnologias;
Alcançar economias de escala na produção;
Reduzir o tempo entre o desenvolvimento e a comercializaçãode novos produtos; e
Promover aprendizado compartilhado.
Há diversas formas de colaboração e nenhuma delas é ótima em
todos os sentidos. Em geral, características do mercado e da própria
tecnologia limitam as opções enquanto considerações estratégicas e a
cultura da organização determinam o que é possível e desejável em
cada circunstância. No Quadro 3 são apresentadas as principais for-
mas de colaboração interempresarial.
Tipo de
colaboração
Subcontratação/
relações com
fornecedores
Licenciamento
Consórcio
Aliança
estratégica
Joint-venture
Redes
Duração
típica
Curto prazo
Prazo fixo
Médio prazo
Flexível
Longo prazo
Longo prazo
Vantagens
Redução de riscos e custos,
redução de tempo de tempo
de entrada no mercado
Aquisição de tecnologia
Compartilhamento de
expertise, padronização e de
custos
Baixo compromisso, usada
para acesso a mercados
Know-how complementar;
gerencia dedicada
Dinâmicas, grande potencial
para aprendizado
Desvantagens
(custos de transação)
Custos de busca, incertezas
quanto ao desempenho e
qualidade do produto
Custos e restrições contratuais
Vazamento de informação/
conhecimento; diferenciação
subsequente
Lock-in (aprisionamento)
potencial; vazamento de informa-
ção/conhecimento
Divergências culturais; mudanças
estratégicas
Ineficiências por inércia
Quadro 3: Formas de colaboração interempresarial.Fonte: Tidd, Bessant e Pavitt (2007, p. 292).
9 2
Curso de Graduação em Administração a Distância
As relações com fornecedores ou subcontratação de atividades
não essenciais das firmas tornaram-se populares a partir da década de
1990. Raramente estas relações envolvem atividades relacionadas com
inovação como projeto ou engenharia, com exceção do modelo japo-
nês em que os fornecedores contribuem significativamente para o de-
senvolvimento de novos produtos e processos dos seus clientes. Em
alguns poucos setores, particularmente máquinas-ferramentas e equi-
pamentos científicos, existe tradição de colaboração entre fabricantes
e usuários líderes de seus produtos. Nas economias centrais, já estão
bem estruturados os negócios que tem a inovação como objeto central
da relação: o projeto industrial é o serviço mais oferecido, mas tam-
bém existe a oferta de serviços completos incluindo P&D, pesquisa de
mercado, projeto, desenvolvimento de produto e desenvolvimento de
processo de produção (TIDD et alii, 1997).
O licenciamento de tecnologias dá à firma a oportunidade de
explorar a propriedade intelectual de outra firma, normalmente medi-
ante pagamento de uma taxa e royalties baseados nas vendas. Tipica-
mente, uma licença tecnológica especifica as aplicações e os merca-
dos nos quais a tecnologia pode ser usada e geralmente exige que o
comprador dê acesso ao vendedor de todas as melhorias subsequentes
feitas na tecnologia. O licenciamento de uma tecnologia tem como
principais vantagens sobre o desenvolvimento interno os custos e ris-
cos mais baixos e a entrada mais rápida no mercado. Como desvanta-
gens estão as cláusulas restritivas impostas pelo licenciador, perda de
controle de variáveis operacionais como preço e qualidade do produto.
Os consórcios de pesquisa consistem em um número de orga-
nizações (que podem incluir universidades e institutos de pesquisa pú-
blicos) que trabalham juntas em um projeto bem específico. A ideia do
consórcio é dividir custos e riscos, compartilhar expertise e equipa-
mentos escassos, realizar pesquisa pré-competitiva e definir padrões.
Os consórcios podem ser centralizados, usando uma única instalação
física, ou totalmente descentralizados, usando as instalações de todos
os membros. Podem ser realizados por firmas competidoras ou não-
competidoras entre si. Geralmente, participam de consórcios de pes-
quisa, empresas com grande capacidade de pesquisa, com estratégias
tecnológicas ofensivas, líderes em seus setores.
Módulo 8
9 3
Alianças estratégicas podem ser formais ou informais e geral-
mente são constituídas a partir de um acordo entre duas ou mais firmas
para co-desenvolverem uma nova tecnologia ou um novo produto. As
alianças estratégicas envolvem projetos próximos da fase de
comercialização com cronogramas e metas claramente estabelecidas.
As joint-ventures são empreendimentos específicos. Há basica-
mente dois tipos de joint-ventures: uma nova empresa formada por
duas ou mais empresas que definem a propriedade da joint-venture
com base na fração de ações controlada por cada uma das empresas
formadoras ou uma forma mais simples de colaboração em base
contratual. A grande diferença da joint-venture para as demais formas
de colaboração é a formação de uma entidade legal independente que
possui sua própria gestão.
Uma rede para inovação pode ser pensada como consistindo
em um número de posições ou nós, ocupados por indivíduos, firmas,
unidades de negócios, universidades, órgãos de governo, consumido-
res, ONGs, e os elos ou interações entre esses nós. Os Sistemas Naci-
onais de inovação discutidos na unidade anterior são um exemplo de
rede para inovação em um alto nível de agregação. As redes podem
ser globais, nacionais, regionais, locais, setoriais, organizacionais ou
individuais. As redes para a inovação são uma consequência da com-
plexidade do fenômeno e de sua natureza não-linear. Como
consequência da inovação em rede, é muito difícil ou mesmo impossí-
vel prever a inovação resultante das interações na rede.
De acordo com Tigre (2006), as redes de empresas são geral-
mente classificadas em hierarquizadas e não-hierarquizadas.
As redes hierarquizadas são coordenadas por uma empresa
âncora à qual estão ligados fornecedores de diferentes níveis, articula-
dos em uma cadeia de valor. A empresa líder pode ser a empresa pro-
dutora líder que atrai fornecedores especializados (empresas automo-
bilísticas ou de aeronaves). Por outro lado, a empresa líder pode ser
uma empresa compradora como uma grande varejista, grande ataca-
dista ou ainda a empresa proprietária de marca famosa, como a empre-
sa MATTEL, possuidora, entre outras, das marcas Fisher-price, Barbie
e Hotwheels.
9 4
Curso de Graduação em Administração a Distância
As redes não-hierarquizadas são formadas por empresas de
pequeno e médio porte, articuladas em projetos específicos que po-
dem estar voltados para a área comercial, operacional, tecnológica ou
político-institucional. No caso de redes voltadas para a área tecnológica,
os projetos geralmente referem-se ao desenvolvimento de infraestrutura
tecnológica compartilhada para a realização de testes, ensaios,
certificações, capacitação de recursos humanos, licenciamento cruza-
do de marcas e patentes, estabelecimento de padrões e rotas
tecnológicas comuns.
No caso das redes de cooperação brasileiras, um estudo
abrangente realizado por Hastenreiter Filho (2005) mostrou que o prin-
cipal objetivo dos participantes é reduzir custos, seja por meio de com-
pras conjuntas de insumos ou por meio de trocas esporádicas de expe-
riências visando melhorias de processos produtivos.
Finalmente, temos que considerar que a colaboração
interempresarial não está isenta de riscos, sendo os principais deles o
vazamento de informações e conhecimentos, a perda de controle ou
da propriedade sobre a joint venture, por exemplo, e o mais comum: o
desenvolvimento de objetivos ou metas divergentes gerando conflitos.
Saiba mais... Aqui estão duas sugestões de leitura complementar sobre redes:
<www.redesist.ie.ufrj.br>;BRITTO, J. Cooperação interindustrial e redes de empresas. In:KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia Industrial: funda-mentos teóricos e práticas no Brasil. Rio de Janeiro: Campus-
Elsevier, 2002.
Diante das intensas mudanças que têm atingido todos os setores
da economia, a coopetição também tem se configurado em uma estra-
tégia possível para as empresas. A coopetição (competição + coopera-
ção) é uma relação de cooperação entre empresas concorrentes em
busca de um objetivo comum. Dessa forma, as empresas vão cooperar
com concorrentes naquilo que é vantajoso para ambas, beneficiando-
Módulo 8
9 5
se das características e capacidades distintivas de cada uma. Assim,
alguns concorrentes passam a ser vistos como potenciais parceiros de
negócios.
As vantagens da coopetição, segundo Dagnino e Padula (2002),
derivam do aproveitamento de sinergias em partes específicas do pro-
cesso produtivo como:
Aumento da capacidade de produção;
Redução de investimentos;
Maior flexibilidade;
Maior velocidade na geração de inovações tecnológicas; e
Acesso mais fácil a novos mercados.
Por outro lado, as desvantagens estão relacionadas a:
Dificuldades em definir claramente os direitos e obrigaçõesde cada parceiro; e
Risco de exposição de know-how.
A cooperação universidade-empresa
Uma das formas de cooperação mais utilizadas no Brasil para
fins de inovação tecnológica é aquela entre empresas e as universida-
des. As políticas públicas baseadas no modelo linear fizeram com que,
no Brasil, as universidades e institutos de pesquisa públicos concen-
trassem os investimentos em P&D.
Como, hoje em dia, é reconhecido o fato de que a posição com-
petitiva das empresas e, consequentemente, das nações, está direta-
mente relacionada com a inovação e que esta depende da geração e
aplicação de novos conhecimentos aos processos produtivos, tem ha-
vido uma crescente pressão para o fortalecimento da interação entre
universidades e empresas cuja motivação central é financeira.
A cooperação universidade-empresa, no entanto, é um fenôme-
no complexo que envolve a aproximação de dois “mundos” que ope-
ram com lógicas essencialmente distintas derivadas da diferença de
9 6
Curso de Graduação em Administração a Distância
As universidades são organizações sem fins lucrativos que têm
como missão formar recursos humanos e realizar pesquisas de caráter
prioritariamente exploratório, com liberdade total para a escolha de
temas, que complementam o ensino e aumentam o nível geral de co-
nhecimentos. Buscam a alta qualidade das pesquisas realizadas e am-
pla divulgação dos resultados.
As empresas visam o lucro, selecionam com critério os projetos
nos quais se engajarão segundo seu potencial comercial, risco e retor-
no econômico-financeiro. As informações relevantes são cuidadosa-
mente protegidas.
No entanto, como as empresas podem beneficiar-se da coopera-
ção com universidades?
Se o resultado da cooperação for um produto comercial, ob-têm um retorno tangível de seu investimento.
Mantêm-se a par de avanços científicos em suas áreas de atu-ação.
Conseguem acesso à mão de obra altamente qualificada, ins-talações e equipamentos modernos. No entanto, é preciso ob-servar que as relações com universidades não substituem oinvestimento interno em P&D, já que se as empresas não ti-
Universidade
Fim: formação de RH (pesquisa é meio)
Ênfase em pesquisa básica
Longo prazo
Liberdade para escolha de temas
Motivação intelectual
Divulgação ampla dos resultados
Processo decisório lento, colegiado,
estrutura complexa, equipes
departamentalizadas.
Empresa
Fim: Geração de inovações
Ênfase em pesquisa aplicada e desenvolvimento
Curto prazo
Mercado aponta rumos
Estudos de viabilidade, riscos e potencialidades
Sigilo/patentes
Equipes multidisciplinares, decisões rápidas,
estrutura mais hierarquizada.
Quadro 4: Principais barreiras à cooperação Universidade – Empresa.Fonte: adaptado de Stal e Souza Neto (1998)
suas missões e de seus métodos de trabalho como está resumido no
Quadro 4.
Módulo 8
9 7
verem tal atividade não serão capazes de identificar e explo-rar de maneira eficaz oportunidades de aplicação tecnológicaa partir dos conhecimentos adquiridos em parceria com asuniversidades.
Reduzem riscos e custos da pesquisa.
Treinam funcionários.
Melhoram sua imagem e prestígio junto à sociedade.
E as universidades? Como podem beneficiar-se de uma interação
bem-sucedida com as empresas?
Se houver um produto comercial, tornam acessíveis à socie-dade os resultados de suas pesquisas.
Encontram novas fontes de recursos para suas pesquisas.
Encontram novos temas de pesquisa originados a partir deproblemas da indústria.
Aproximam as atividades de ensino e pesquisa de problemasreais com a revisão do conteúdo e a oferta de disciplinas.
Demonstram sua utilidade socioeconômica, especialmentepara órgãos financiadores públicos.
Nas universidades públicas, principalmente, no entanto, os pro-
fessores-pesquisadores vivem dilemas nesta interação com as empre-
sas como, por exemplo:
Devo manter a independência dos meus temas de pesquisaem relação aos interesses econômicos do mercado ou estoudesenvolvendo uma atividade socialmente descomprometidaao manter-me alijado dos problemas das atividades econômi-cas do meio onde vivo?
Como grande parte dos recursos que utilizo para minhas pes-quisas é público, é correto focalizar meus esforços para asnecessidades de uma empresa específica?
É ético montar uma agenda de pesquisas voltada para o de-senvolvimento de uma empresa ou setor visando a obtençãode financiamentos adicionais, inclusive complementação sa-larial na forma de bolsas?
9 8
Curso de Graduação em Administração a Distância
Haverá uma redução nos esforços para aumento do conheci-mento da humanidade (pesquisa básica) caso se consolide aprática de interação universidade-empresa?
Todas essas questões precisam de ampla reflexão de cada um de
nós para que possamos avançar nas possibilidades de interação uni-
versidade-empresa com benefícios para a sociedade em que vivemos.
Atualmente, as principais formas de cooperação entre universi-
dades e empresas são.
Relações pessoais informais (a universidade não é envolvida):
Consultoria individual (paga ou gratuita);
Workshops informais ou reuniões para troca de infor-mações; e
Spin-offs acadêmicos (empresas geradas a partir de re-sultados de pesquisa).
Relações pessoais formais (convênios entre a universidade ea empresa):
Bolsas de estudo e apoio à pós-graduação;
Estágios de alunos e cursos ‘sanduíche’;
Períodos sabáticos para professores; e
Intercâmbio de pessoal.
Envolvimento de uma instituição de intermediação:
Escritórios de ligação (na universidade);
Associações industriais;
Institutos de pesquisa aplicada;
Escritórios de assistência geral; e
Consultoria institucional (companhias/fundações univer-sitárias).
Convênios formais com objetivos definidos:
Pesquisa contratada;
Serviços contratados;
Treinamento de funcionários das empresas;
Módulo 8
9 9
Treinamento on-the-job para estudantes; e
Projetos de pesquisa cooperativa ou programas de pes-quisa conjunta.
Convênios formais sem objetivo definido:
Convênios ‘guarda-chuva’;
Patrocínio industrial de P&D em departamentos da uni-versidade; e
Doações e auxílios para pesquisa genéricos ou para de-partamentos específicos.
Criação de estruturas especiais:
Incubadoras de empresas;
Parques tecnológicos; e
Consórcios de pesquisa (centros de pesquisa cooperativa).
Para finalizar, lembre-se de que as possibilidades de interação
entre empresas, ou entre empresas e outras organizações como uni-
versidades ou centros de pesquisa, em redes ou como relações isola-
das, serão sempre condicionadas:
pela estratégia geral e pela estratégia tecnológica da empresa;
pelo setor econômico em que ela está inserida (alta/média oubaixa tecnologia; dominada pelos fornecedores ou baseadaem ciência, por exemplo, terão possibilidades de interaçãomuito diferentes);
pelas condições ambientais (sistemas nacional, regional esetorial de inovação, por exemplo, e as próprias instituiçõeslocais incluindo leis e regulamentos e a cultura para a inova-ção); e
pela capacidade dos agentes envolvidos de desenvolvereminternamente novos conhecimentos e pela sua capacidade deinteração.
100
Curso de Graduação em Administração a Distância
Reflexão: Você pode fazer um exercício de completar estalista de condicionantes das possibilidades de interaçãointerorganizacional para a inovação a partir da sua experi-ência de vida, de sua realidade local.
Ao final desta Unidade, caro aluno, você já sabe que para a ino-
vação ser bem-sucedida ela deve estar alicerçada em uma estratégia
de negócios que a reconheça como elemento essencial de
competitividade presente e futura da organização. Essa estratégia de
negócios será a base da construção da estratégia tecnológica da organi-
zação. A estratégia tecnológica, por sua vez, deve especificar as
tecnologias em que a organização quer, ou pretende ser líder mundial
ou local, aquelas em que ela pretende ser seguidora e aquelas em que
ela apenas tem que se manter ao passo com o desenvolvimento do setor.
A partir dessas definições, a organização traçará suas ações quan-
to ao desenvolvimento interno das tecnologias (ou parte delas); sozi-
nha ou conjuntamente com outras empresas ou outras organizações
como universidades e instituições de pesquisa. Ela deverá traçar seu
plano de aquisições de tecnologias já que muitas delas estarão dispo-
níveis no mercado bem como traçar seu plano de capacitação de pes-
soal e desenvolvimento de recursos humanos. Esta é uma parte essen-
cial do desenvolvimento da competitividade a partir do foco em ino-
vação. Sem conhecimentos, não há inovação. Não basta o conheci-
mento isolado de uma ou outra pessoa. Para o processo de inovação
ser bem-sucedido é absolutamente necessário o conhecimento de múl-
tiplos atores, com diferentes pontos de vista e especialidades, levando
a uma fertilização cruzada de ideias e ao novo. Nesse sentido, torna-se
também parte integrante do desenvolvimento tecnológico, o desenvol-
vimento das competências e habilidades que permitam o trabalho em
equipe como a comunicação eficaz, a tolerância e o respeito mútuo.
Módulo 8
101
RESUMO
O gerenciamento das organizações contemporâneas é uma
atividade complexa que utiliza inúmeras ferramentas. Uma fer-
ramenta considerada de extrema relevância é a gestão estratégi-
ca da organização. Existem várias correntes de estudo sobre o
assunto, cada uma delas propondo que a estratégia seja tratada
de forma diferente. Duas das mais relevantes são: posicionamento
estratégico e desenvolvimento das capacitações dinâmicas. In-
dependentemente da forma escolhida por cada organização para
traçar sua estratégia, ela deverá indicar os fins para os quais a
organização existe, como ela deverá se posicionar no ambiente
em que está inserida, onde pretende chegar em determinado
horizonte de tempo, como pretende chegar lá e os valores que a
sustentam. A estratégia tecnológica é um componente essencial
da estratégia organizacional e a ela deve estar submetida. Ou
seja, a organização deverá definir sua posição como líder ou
seguidora em um determinado tipo de tecnologia ou conheci-
mento em função do que definiu em sua estratégia
organizacional. A partir desta definição do que fazer em termos
tecnológicos (por exemplo, ser ofensivo em rastreamento de
carga no caso de um operador logístico), a organização deverá
definir a operacionalização para concretizar a estratégia
(organizacional/ tecnológica) definida. Para isso ela deverá ava-
liar as diversas fontes de tecnologia disponíveis e executar as
opções escolhidas entre desenvolvimento interno, aquisição na
forma de máquinas e equipamentos ou treinamentos,
licenciamento ou combinações delas considerando as diversas
possibilidades de formas de cooperação para a inovação.
102
Curso de Graduação em Administração a Distância
Saiba mais... Finalizando esta unidade, sugiro caro aluno, que aprofunde
seus conhecimentos sobre as ferramentas para a gestão da inovaçãotecnológica a partir do manual para a Gestión de la Tecnología y laInnovación: Temaguide, disponibilizado pela Fundación para LaInnovación Tecnológica – COTEC no site: <http://www.cotec.es/index.jsp?seccion=36>. Acesso em: 8 mai. 2009. Trata-se de ummanual que inclui teoria, ferramentas e casos práticos e está publica-
do em inglês e espanhol.
Atividades de avaliação
Caro aluno, diante das questões apresentadas você poderá realizarum trabalho de investigação, por meio de entrevistas com atoresenvolvidos no processo de inovação tecnológica, para entendermelhor como se dá a gestão da inovação tecnológica nas organiza-ções da sua região. Cada trabalho pode focalizar um elemento dife-rente: empresa, universidade ou centro de pesquisa instalado na re-gião, órgão de fomento ou de financiamento de atividades de C&T,Núcleo de Inovação Tecnológica, escritório de patentes, ou outro.
No trabalho você deverá procurar saber, por exemplo, da organiza-ção entrevistada:
1. O que entende por inovação tecnológica?
2. Se participa de processos de inovação tecnológica ouorganizacional, com que frequência?
3. Se o processo é gerenciado e como, quais as ferramentaspara gestão da inovação tecnológica são utilizadas?
Módulo 8
103
Tecnologia e Inovação: oque cada um nós tem a ver
com isso?
Tecnologia e Inovação: oque cada um nós tem a ver
com isso?
UNIDADE
4
104
Curso de Graduação em Administração a Distância
Objetivo
Caro aluno, até aqui você já se familiarizou com os conceitos de
tecnologia e inovação e, mais do que isso, percebeu a complexidade
desses processos e sua dependência de muitos fatores. Também deve ter
compreendido a importância da tecnologia e da inovação para o
crescimento econômico das empresas, regiões e nações e, finalmente,
foi introduzido aos princípios da gestão da inovação tecnológica. Nesta
Unidade, você está sendo convidado a olhar para o fenômeno da
inovação tecnológica e suas implicações sociais e ambientais. Será que
perceberá o mundo de uma forma diferente?
Descobrirá coisas novas? Vamos lá?
Módulo 8
105
A Era do Conheci-
mento se caracteriza
pela a maior velocida-
de, confiabilidade e
baixo custo de trans-
missão,
armazenamento e
processamento de
enormes quantidades
de conhecimentos
codificados e de
outros tipos de infor-
mação, a partir do
desenvolvimento das
tecnologias da infor-
mação e comunicação
(TICs). Além disso, há
um consequente
aumento da parcela de
conhecimentos codifi-
cados e informações
incorporadas em
produtos e processos e
no valor dos bens e
serviços.
Tecnologias Convencionais eTecnologias Sociais
A economia mundial, cada vez mais, depende da produção, dis-
tribuição e uso do conhecimento. Esta é uma observação tão geral que
o período iniciado na década de 1980 com a decolagem da revolução
das Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs já vem sendo
chamado por inúmeros autores de Era do Conhecimento (LASTRES,
1999; FREEMAN, 2002), para citar alguns exemplos.
Atualmente, é estimado que mais de 50% do Produto Interno
Bruto – PIB da maioria dos países esteja baseado na produção das
indústrias intensivas em conhecimentos, também denominadas indús-
trias de alta intensidade tecnológica, como foi visto na Unidade 2, e
na produção de serviços intensivos em conhecimento, como educa-
ção, informação e comunicação (RUTKOWSKI, 2005).
Vamos ter uma ideia mais concreta de quanto o conhecimento
vale?
US$ 80 por tonelada de minério de ferro US$ 500 por tonelada de aço
US$ 6.000 por tonelada de carro US$ 520.000 por tonelada de avião
Fonte: <http://blogdofavre.ig.com.br/wp-content/uploads/2008/11/minerio_de_ferro.jpg>; <http://www.simulab.uel.br/spek/metalurgia/fig/bobinas05.jpg>; <http://www.zap.com.br/carros/dicas-materias-
veiculos/testes-e-avaliacoes/default.aspx?mat=9296>; <http://www.embraercommercialjets.com.br/english/content/ejets/
emb_190.asp>. Acesso em: 8 mai. 2009.
106
Curso de Graduação em Administração a Distância
Lembra-se que na Unidade 2, você viu que a indústria de mine-
ração é de baixa intensidade tecnológica, as siderúrgicas são de mé-
dia-baixa, as empresas automobilísticas de carros convencionais são
de média-alta e as empresas de aeronaves são de alta intensidade
tecnológica? Na comparação feita acima da variação do valor dos bens,
observa-se que quanto mais conhecimento está incorporado a eles, mai-
or seu valor. Fica bem claro que não são os recursos naturais as princi-
pais fontes de riqueza no mundo contemporâneo e sim os recursos
tecnológicos, os recursos de conhecimento!
Uma economia intensamente baseada na inovação tecnológica
reduz os ciclos de vida de produtos acelerando sua obsolescência*,
aumenta a diversidade de produtos disponíveis e exige níveis de renda
crescentes para seu usufruto. Uma consulta à PNAD* nos revela al-
guns fatos interessantes.
A Tabela 8 relaciona dados de renda e escolaridade no Brasil.
Ao relacionar esses dados de escolaridade e renda, como mostrado na
tabela, observamos que os níveis mais altos de renda estão associados
aos níveis mais altos de conhecimento.
GLOSSÁRIO*Obsolescência – éo envelhecimentoou desuso de umbem de capital –máquinas, instala-ções ou equipamen-tos – ou de um bemde consumo durá-vel – televisão, ge-ladeira ou automó-vel, por exemplo –em consequência dodesgaste físico ou dosurgimento de mo-delos tecnologica-mente superiores.Fonte: Sandroni(2003)
*Pesquisa Nacionalpor Amostra de Do-micilio - PNAD – éfeita pelo IBGE einvestiga diversascaracterísticas soci-oeconômicas da so-ciedade como po-pulação, educação,trabalho, rendimen-to, habitação, previ-dência social, mi-gração, fecundida-de, saúde, nutrição,etc. Outros temaspodem ser incluídosde acordo com asnecessidades de in-formação para o Bra-sil. Fonte: IBGE,PNAD, 2007.
Tabela 8: Rendimento Mensal e Escolaridade no Brasil – 2007 (em % da população).
Fonte: IBGE, PNAD (2007).
11 a 14
anos
3,0
14,9
39,1
17,8
13,7
8,8
2,2
0,4
100,0
15 anos
ou mais
0,3
2,5
11,2
13,9
20,5
28,8
16,0
6,7
100,0
Rendimento Mensal
Até 1/2 salário mínimo
Mais de 1/2 a 1 salário mínimo
Mais de 1 a 2 salários mínimos
Mais de 2 a 3 salários mínimos
Mais de 3 a 5 salários mínimos
Mais de 5 a 10 salários mínimos
Mais de 10 a 20 salários mínimos
Mais de 20 salários mínimos
Total
8 a 10
anos
9,1
24,6
40,8
13,3
7,4
3,7
0,8
0,2
100,0
4 a 7
anos
13,2
27,6
38,4
11,7
5,6
2,7
0,7
0,2
100,0
1 a 3
anos
20,2
34,2
32,5
7,8
3,1
1,6
0,4
0,1
100,0
Sem instrução e
menos de 1 ano
26,3
37,8
27,4
4,9
2,2
1,0
0,2
0,1
100,0
Módulo 8
107
Reflexão: Você poderia concluir, a partir das informaçõesanteriores, que a exclusão socioeconômica é, em grande par-te, uma consequência da exclusão educacional? Discuta.
Rutkowski (2005) faz a seguinte afirmação:
A dinâmica econômica (contemporânea) baseia-se em inten-
so processo de inovação tecnológica, o qual reduz cada vez
mais os ciclos de vida e aumenta a diversidade dos produtos
e, ao mesmo tempo, reduz as oportunidades de inserção de
grupos sociais, cujas características socioeconômicas e cul-
turais não correspondam às condições sociais exigidas por
esses novos padrões de produção e de consumo. Tal comple-
xidade tecnológica transforma, assim, a tecnologia em vetor
de exclusão social (p. 190).
Mas será que a inovação tecnológica tem necessariamente que
ser um vetor de exclusão social? Não poderia, pelo contrário, ser um
fator de inclusão, promovendo o desenvolvimento?
Reflexão: Observe a sua realidade local. Certamente de-tectará contrastes significativos de acesso a bens e serviçospara populações de classes de renda diferentes. Algunsserviços essenciais como saneamento básico ainda não es-tão disponíveis para uma boa parte da população brasilei-ra, particularmente a que vive nos morros e encostas nasgrandes cidades. Este é um problema genuinamente nossoque não existe nos países da América do Norte ou daEuropa. Podemos desenvolver novas tecnologias para so-lucionar este problema? Como?
108
Curso de Graduação em Administração a Distância
Figura 12: Favela brasileira.Fonte: <http://acordabrasil.files.wordpress.com/2007/08/
favela1.jpg>. Acesso em: 8 mai. 2009.
Faça uma pesquisa na Internet buscando identificar tecnologias
nacionais que estão sendo desenvolvidas para solucionar problemas
nacionais. Alguns sites interessantes para esta pesquisa (Fundação Ban-
co do Brasil, Programa Habitare, Núcleo de Solidariedade Técnica –
Soltec da UFRJ; buscar outros). Troque experiências sobre o que en-
controu.
Diversas experiências no Brasil e em outros locais vêm demons-
trando que a inovação tecnológica pode, sim, ser um fator de
alavancagem do desenvolvimento local apoiado em sustentabilidade e
inclusão social. Nestas experiências as novas tecnologias têm como
função principal suprir as necessidades da população e estão preocu-
padas com a dimensão humana do desenvolvimento e com os interes-
ses coletivos: são as chamadas Tecnologias Sociais.
Rutkowski (2005) relaciona várias definições para o termo
Tecnologias Sociais:
Um conjunto de técnicas e procedimentos, associados às for-
mas de organização coletiva, que representa soluções para
inclusão social e melhoria da qualidade de vida.
Uma tecnologia de produto ou processo que, de maneira sim-
ples e de fácil aplicação e reaplicação, com baixo custo e uso
intensivo de mão-de-obra, tem impacto positivo na capaci-
dade de resolução de problemas sociais.
Módulo 8
109
Saiba mais sobre esse
Instituto em:
<www.its.gov.br>.
Acesso em: 8 mai.
2009.
Uma tecnologia que depende tanto de conhecimentos gera-
dos e difundidos na comunidade, os chamados conhecimen-
tos populares, como daqueles conhecimentos técnico-cientí-
ficos, desenvolvidos no ambiente acadêmico (p. 191).
O Instituto de Tecnologias Sociais – ITS as define como:
[...] um conjunto de técnicas, metodologias transformadoras,
desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população
e apropriadas por ela, que representam soluções para inclu-
são social e melhoria das condições de vida (ITS, 2004, p.130
apud RUTKOWSKI, 2005).
O grande diferencial das Tecnologias Sociais em relação às
Tecnologias Convencionais é o referencial analítico sobre o qual elas
são construídas. Como vimos nas três Unidades anteriores, as
Tecnologias Convencionais são desenvolvidas a partir de uma motiva-
ção para a diferenciação das empresas no sistema capitalista. Essa di-
ferenciação, seja de produtos ou processos, lhes confere vantagens
competitivas e lhes permite auferir lucros extraordinários, pelo menos
por um período de tempo, até que os seus concorrentes passem a imi-
tar-lhe, erodindo sua vantagem competitiva. Justamente por isso, é fun-
damental que o processo de inovação tecnológica seja permanente. A
premiação para a inovação bem-sucedida é, em geral, suficientemente
compensadora, justificando os investimentos já feitos bem com os
subsequentes. A inovação é, assim, financiada pelo capital com vistas à
sua maior acumulação. Uma das consequências desta motivação é que
as novas tecnologias são desenvolvidas visando sempre às parcelas mais
ricas da população, aquelas que são essencialmente consumidoras.
Autoavaliação
Quais são as principais diferenças entre Tecnologias Convencio-nais e Tecnologias Sociais? Dê alguns exemplos a partir da suaobservação real.
É fácil constatar isso: observe a quantidade de novas tecnologias
que são constantemente anunciadas pelo setor de cosméticos enquan-
110
Curso de Graduação em Administração a Distância
to doenças tropicais que apenas atingem comunidades pobres como
malária ou leishmaniose continuam sem tratamentos adequados.
O outro ponto de apoio para o desenvolvimento das Tecnologias
Convencionais é a aceitação de que o conhecimento científico é com-
pletamente neutro, ou seja, livre de valores. Esta neutralidade científi-
ca é expandida para a tecnologia de modo que é possível considerar
que exista a solução tecnicamente correta e que tal solução seja uni-
versal (assim como os princípios científicos são universais). Sendo
assim, parece razoável pensar que se uma dada solução técnica para
um problema já foi encontrada, aos demais cabe adotá-la, no máximo
adequando-a para as especificidades do ambiente na qual ela será
implementada. Buscar outra solução tecnológica para o mesmo pro-
blema seria como “reinventar a roda” e, portanto, um esforço sem sen-
tido. Isso restringe, claramente, o potencial inovador dos países e so-
ciedades mais pobres. Essa restrição é muito sutil: “não precisamos
desenvolver outra solução para este problema, basta copiar o que já
foi feito lá fora porque funciona” e a inovação restringe-se, então, à
difusão das tecnologias desenvolvidas por outros com pagamento por
esse conhecimento e aprofundamento da dependência dos mais po-
bres aos mais ricos.
Além disso, considerar que a tecnologia é neutra induz a acredi-
tar que possa haver uma solução puramente técnica para um proble-
ma. Sob este ponto de vista, cabe aos engenheiros e tecnólogos cuidar
da parte técnica das inovações tecnológicas, separando-a das condi-
ções sociais e ambientais em que tal desenvolvimento está inserido.
Uma consequência do uso deste referencial é uma atitude acrítica por
parte dos envolvidos com o processo de inovação tecnológica no que
diz respeito à sua adequação à sua própria realidade. As tecnologias
desenvolvidas externamente, por terem funcionado no seu local de
origem, mesmo que em um contexto socioambiental completamente
diferente, são consideradas apropriadas, afinal, já funcionaram com
bons resultados lá. Na cadeia de consequências, temos a utilização de
tecnologias inapropriadas, caras e com efeitos “colaterais” indesejados.
Módulo 8
111
Anote: Não existem soluções puramente técnicas. Não existeaaaaa solução tecnológica que seja única. Dependendo da sele-ção dos condicionantes que seja feita para determinada aná-lise, as soluções tecnicamente corretas serão distintas.
Vejamos um exemplo bem interessante: a produção de tijolos de
solo-cimento. Essa produção, uma mistura de solo, cimento e água em
proporções adequadas, prensada e molhada durante um período de
cura, tem se mostrado uma alternativa bastante viável para a constru-
ção em alvenaria de moradias populares. São duas as principais vanta-
gens do uso desse tipo de tijolo: é ambientalmente mais vantajoso,
dado que dispensa o processo de queima e, portanto, não emite gases
de efeito estufa e, também, pode ser fabricado em pequenos empreen-
dimentos de economia solidária nas proximidades dos locais onde se-
rão construídas as moradias.
Um empreendimento de economia solidária para a produção de
tijolos de solo-cimento na cidade de Vitória, no Espírito Santo, empre-
ga sete pessoas na produção dos tijolos. A demanda pelos tijolos é
significativamente maior que a capacidade de produção do empreen-
dimento, que recusa pedidos com frequência. A capacidade de produ-
ção da fábrica, com os equipamentos já instalados (peneira, betoneira,
prensa, pallets para cura), é de 1.500 tijolos/dia, com sete trabalhado-
res, com produção ininterrupta em jornadas de oito horas, com parada
de duas horas para almoço. No entanto, uma observação sistemática da
produção da fábrica revela que esta produção nunca é atingida. Os mo-
tivos mais frequentes são: ausência de pessoas; quebra ou descalibração
das máquinas; e falta de sincronização das etapas do processo, fazendo
com que ocorram muitas paradas no fluxo de produção.
Uma análise desta situação visando apenas a lucratividade do
negócio indica que a melhor solução é investimento nos ativos de ca-
pital físico (máquinas, equipamentos e softwares) para aumentar a
automatização dos processos de modo que um menor número de pes-
soas produza mais e de forma mais regular, permitindo aceitar pedidos
maiores, inclusive.
112
Curso de Graduação em Administração a Distância
No entanto, se, ao invés da lucratividade apenas, também for
considerada a importância da ocupação das sete pessoas envolvidas
no empreendimento e a renda gerada e distribuída entre elas, a solu-
ção tenderá para o investimento nos ativos humanos. Visará à
conscientização dos trabalhadores sobre a importância da produção
de forma homogênea e contínua e o desenvolvimento de “tecnologias”
que lhes permitam produzir mais, de forma mais regular, usando de
modo intensivo a mão de obra, em atividades ergonomicamente mais
adequadas, em um ambiente mais agradável.
No exemplo anterior, a busca de solução para o problema da
baixa produção e baixa produtividade na fábrica de tijolos pode pas-
sar pela incorporação de Tecnologias Convencionais (automação) ou
pela incorporação de Tecnologias Sociais (mão de obra mais qualifi-
cada, tecnologias mais simples). No primeiro caso, haverá difusão de
tecnologias já existentes, mais intensivas em conhecimento, mais ca-
ras. No segundo caso, haverá necessidade de desenvolvimento de no-
vas tecnologias ou difusão de tecnologias já existentes, menos intensi-
vas em conhecimento, mais baratas, mais ajustadas a um contexto so-
cial mais amplo.
Módulo 8
113
RESUMO
A partir desse exemplo, podemos concluir que o desen-
volvimento das Tecnologias Sociais tem como sua principal
motivação a busca de soluções para os problemas encontrados
dentro da realidade socioeconômica e ambiental em que eles se
encontram. Isso significa dizer que as novas tecnologias serão
desenvolvidas em um ambiente de tal modo que seja reconheci-
do explicitamente que não existe “a melhor solução técnica” de
modo isolado do contexto social e ambiental em que a solução
será aplicada. A valorização das Tecnologias Sociais pode ser
uma grande oportunidade para um país como o Brasil tornar-se
inovador sem ser seguidor, inovador buscando soluções própri-
as para os seus desafios.
Inovação e desenvolvimento sustentável?
Neste item de encerramento da disciplina, vamos dedicar-nos
um pouco a discutir o desenvolvimento econômico alicerçado sobre o
processo de inovação tecnológica ininterrupto e cada vez mais acele-
rado (como já foi visto) e suas implicações ambientais. Uma observa-
ção aqui: apesar do entendimento comum de que as questões ambientais
referem-se ao meio físico que nos cerca, os seres humanos, sim, fazem
parte do nosso meio ambiente e, portanto, não existe uma clara sepa-
ração entre questões ambientais e sociais. É praticamente impossível
ter um problema ambiental que não tenha implicações sociais e vice-
versa. Assim, neste texto, onde estiver escrito ambiental, pode enten-
der-se como socioambiental.
Todos os que acompanham os discursos dos dirigentes políti-
cos, sejam da nossa região, país ou de outros países, sabem que unani-
114
Curso de Graduação em Administração a Distância
Veja os gráficos sobre
consumo e produção
de energia no mundo
em: <http://
www.geohive.com/
charts/>. Acesso em: 8
mai. 2009.
memente a proposição é a do crescimento econômico ou do desenvol-
vimento econômico, que é consequência das atividades humanas de
transformação dos recursos disponíveis em bens e/ou serviços que aten-
dam às necessidades humanas.
Até muito pouco tempo atrás, mais precisamente final do Século
XX, as consequências indesejáveis para o meio ambiente das ativida-
des de transformação humanas eram desprezadas. Dados sobre mu-
danças climáticas apresentados por instituições de credibilidade inter-
nacional a partir dos anos 1980 (ver em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/
Mudan%C3%A7a_do_clima> e <http://www.ipcc.ch/>, por exemplo.
Acesso em: 8 mai. 2009.) levaram a humanidade a questionar os ru-
mos que deveriam ser dados às suas atividades transformadoras de
modo a não comprometer as possibilidades de usufruto do planeta pelas
próximas gerações, surgindo, então, a expressão desenvolvimento
sustentável*.
A ideia trazida pelo conceito de desenvolvimento sustentável não
é a de que não se vá mais transformar os recursos naturais, mas que
isso deve ser feito de modo que o planeta seja capaz de oferecer recur-
sos para serem transformados pelas gerações futuras.
Um dos grandes problemas relacionados com o desenvolvimen-
to contínuo é a demanda por energia. Desde a Primeira Revolução
Industrial, os combustíveis fósseis (naquela época especificamente o
carvão vegetal e mineral), abundantes e baratos, foram uma das prin-
cipais fontes de energia para a humanidade. Durante o Século XX, o
petróleo e seus derivados assumiram um papel preponderante como
fonte energética mundial.
O monóxido e o dióxido de carbono e outros gases de efeito
estufa são o elo entre as atividades humanas contemporâneas e o aque-
cimento global. A diminuição das reservas mundiais desses combustí-
veis, associada à pressão social global pela redução do seu uso devido
aos impactos ambientais causados, tem levado a uma intensificação
das atividades de inovação para a geração de energia a partir de fontes
renováveis e, especialmente, fontes "mais limpas", ou seja, não gera-
doras de gases de efeito estufa.
GLOSSÁRIO*Desenvolvimentosustentável – é odesenvolvimentocapaz de suprir asnecessidades da ge-ração atual semcomprometer a ca-pacidade de atenderàs necessidades dasgerações futuras. Éo desenvolvimentoque não esgota osrecursos para o fu-turo. Uma busca noGoogle por "desen-volvimento susten-tável" o levará a umgrande número desites que você devevisitar. Uma suges-tão é <http://educar.sc.usp.br/bi-o l o g i a / t e x t o s /m_a_txt2.html>.Acesso em: 20 jul.2009.
Módulo 8
115
Apesar do muito que se tem dito sobre a necessidade das econo-
mias se desenvolverem sustentavelmente, pouco tem sido proposto ain-
da sobre como fazer isto.
Uma definição operacional, ou seja, que pode ser colocada para
funcionar, de desenvolvimento sustentável ainda está sendo construída.
Capra (2005) faz algumas proposições neste sentido que serão apre-
sentadas a seguir.
A ideia básica é que não há necessidade de inventar comunida-
des humanas sustentáveis a partir do zero. Elas podem ser moldadas
segundo os ecossistemas naturais, que são comunidades sustentáveis
de vegetais, animais e microorganismos. Uma comunidade humana
sustentável tem que funcionar de tal forma que seu modo de vida,
negócios, economia, estruturas físicas e tecnologias não prejudiquem
a capacidade natural da natureza de sustentar a vida. A sustentabilidade
implica em interação contínua dos seres humanos com outros sistemas
vivos em um processo dinâmico de coevolução.
O mesmo autor aponta, ainda, que a construção de comunidades
humanas sustentáveis possa basear-se nos seis princípios básicos da
ecologia que dizem respeito diretamente à sustentação da vida: redes,
ciclos, energia solar, alianças (parcerias), diversidade e equilíbrio di-
nâmico (ver quadro na página seguinte).
Agrupamento ecológico de indústrias
Os agrupamentos ecológicos de indústrias baseiam-se nos prin-
cípios de redes e ciclos. Nos sistemas naturais, a matéria circula conti-
nuamente: os resíduos de uns são alimentos para outros, de modo que
o saldo total dos resíduos gerados é zero. Nas cadeias produtivas in-
dustriais, a matéria-prima extraída da natureza é transformada, geran-
do produtos úteis e subprodutos inúteis que se acumulam (seja na terra,
na água ou na camada de ozônio, aumentando o efeito estufa). Além
disso, os produtos úteis, após sua utilização, são descartados, gerando
mais acúmulo de resíduos. Os processos industriais são lineares.
116
Curso de Graduação em Administração a Distância
PRINCÍPIOS DA ECOLOGIA
Redes: Em todas as escalas da natureza encontramos sis-
temas vivos alojados dentro de outros sistemas vivos - redes den-
tro de redes. Os limites entre esses sistemas não são limites de
separação, mas limites de identidade. Todos os sistemas vivos
comunicam-se uns com os outros e partilham seus recursos,
transpondo seus limites.
Ciclos: Todos os organismos vivos, para permanecer vi-
vos, têm de alimentar-se de fluxos contínuos de matéria e de
energia tiradas do ambiente em que vivem; e todos os organis-
mos vivos produzem resíduos continuamente. Entretanto, um
ecossistema, considerado em seu todo, não gera resíduo nenhum,
pois os resíduos de uma espécie são os alimentos de outra. As-
sim, a matéria circula continuamente dentro da teia da vida.
Energia solar: É a energia solar, transformada em ener-
gia química pela fotossíntese das plantas verdes, que move to-
dos os ciclos ecológicos.
Alianças (parcerias): As trocas de energia e de recursos
materiais num ecossistema são sustentadas por uma coopera-
ção generalizada. A vida não tomou conta do planeta pela vio-
lência, mas pela cooperação, pela formação de parcerias e pela
organização em redes.
Diversidade: Os ecossistemas alcançam a estabilidade e
a capacidade de recuperar-se dos desequilíbrios por meio da
riqueza e da complexidade de suas teias ecológicas. Quanto
maior a biodiversidade de um ecossistema, maior a sua resis-
tência e capacidade de recuperação.
Equilíbrio dinâmico: Um ecossistema é uma rede flexí-
vel, em permanente flutuação. Sua flexibilidade é uma conseqü-
ência (sic) dos múltiplos elos e anéis de realimentação que man-
tém o sistema num estado de equilíbrio dinâmico. Nenhuma
variável chega sozinha a um valor máximo, todas as variáveis
flutuam em torno de um valor ótimo.
Fonte: Capra (2005, p. 239).
Módulo 8
117
A ideia dos agrupamentos ecológicos de indústrias foi proposta
por uma ONG chamada “Zero Emissions Research and Initiatives” –
ZERI, que é uma rede internacional de estudiosos, empresários, mem-
bros de governos e educadores. A ideia de emissão zero significa não
geração de resíduos.
O princípio da emissão zero é construir comunidades humanas
baseadas no uso da energia solar, que não consumiria nenhum bem
material sem depois reciclá-lo. Atualmente, existem aproximadamente
50 projetos ZERI pelo mundo nos cinco continentes. Para maiores
detalhes veja em <www.zeri.org>.
Um projeto ZERI bem-sucedido: Las Gaviotas, Colômbia
O leste colombiano era um local completamente devasta-
do, sem vegetação, fauna ou comunidades humanas. O projeto
Las Gaviotas partiu da visão de Paolo Lugari: se uma comuni-
dade sustentável pudesse ser criada em um meio ambiente com-
pletamente devastado como os “llanos” em termos físicos, so-
ciais e políticos, isso poderia ser feito em qualquer outro lugar
do planeta.
Assim, em 1992, juntamente com o Protocolo de Kyoto e o
governo japonês, o Centro de Pesquisas Ambientais de Las
Gaviotas começou a concretizar o conceito de “depósitos de
carbono” para seqüestrar (sic) dióxido de carbono – CO2 e es-
tabilizar o clima. A partir dos recursos do projeto de fontes
renováveis de energia, complementado por recursos do gover-
no japonês, Las Gaviotas plantou 8.000 HA de uma espécie de
pinheiros – o pinheiro caribenho. Encontrar uma espécie que
se desenvolvesse em solo tão ácido (pH 4) e temperaturas tão
altas parecia impossível, mas graças à associação inovadora
do plantio com um fungo (mycorrhizal fungi), o reflorestamento
foi bem-sucedido. Mais do que bem-sucedida, a iniciativa para
iniciar atividades econômicas e validar a proposta do seqüestro
(sic) de carbono iniciou-se uma cadeia de efeitos positivos que
surpreendeu até mesmo os iniciadores do programa...
118
Curso de Graduação em Administração a Distância
Hoje, mais de uma década após seu início, o refloresta-
mento resultou em um aumento de precipitações (aproximada-
mente 110.000 m³ por dia), convertendo Las Gaviotas em for-
necedor de água potável cristalina de qualidade superior. Com
o custo da água potável excedendo o custo do petróleo, Las
Gaviotas demonstrou que o reflorestamento nos permite fazer
frente a um dos maiores desafios que o mundo está enfrentan-
do: acesso a água potável!
O plantio de pinheiros caribenhos deu outro impulso eco-
nômico. De 7 a 14 gramas de terebintina (uma resina usada
para a produção de tintas e papel brilhante de alta qualidade)
são produzida por dia por árvore. A coleta e processamento da
resina geraram atividade industrial e a geração de valor agre-
gado na região.
A plantação de pinheiros foi complementada com o de-
senvolvimento de 300 HA de palmeiras. Essa floresta adicional
fornece um suprimento permanente de óleo vegetal que é facil-
mente convertido em biodiesel. Esta fonte local de energia elimina
a importação de diesel para movimentar caminhões e tratores. A
primeira planta de biodiesel, com capacidade para 1 milhão de
galões por dia, já está operando em Bogotá, capital do país.
Las Gaviotas é agora uma comunidade auto-sustentável
de aproximadamente 200 trabalhadores, independente de doa-
ções. Tornou-se um centro de criatividade, onde as inovações
são impulsionadas pela meticulosa observação dos fenômenos
naturais e na auto-confiança na busca por soluções locais para
os problemas locais.
Os 8.000 HA iniciais em Las Gaviotas demonstraram que
os recursos gerados pelo fornecimento de sistemas de energia
renováveis e os fundos adicionais devidos ao Protocolo de Kyoto
podem tornar-se os catalisadores para o desenvolvimento que
vai muito além da expectativa de criar-se um depósito de car-
bono para estabilizar as mudanças climáticas. Este exemplo
indica a necessidade de uma mudança de foco único com fonte
única de financiamento para programas integrados que visam
Módulo 8
119
múltiplos focos simultaneamente e que tem várias oportunida-
des de financiamento. Esta abordagem integrada fala por si
mesma por ser alto-sustentável e auto-financiável graças à ge-
ração de vários produtos.
O próximo passo é expandir o programa dos 8.000 HA
iniciais para o reflorestamento de 6,3 milhões de HA nas savanas
que circundam Las Gaviotas, durante um período de 25 anos.
(...) A iniciativa irá custar 6 bilhões de dólares.
Mas de onde sairá o dinheiro para tal desafio? Além do
suporte do Protocolo de Kyoto, ele virá de uma engenharia fi-
nanceira criativa conduzida por um portfólio de fluxo de valor
agregado criado pela agenda sistêmica e integrada! O poder eco-
nômico da água potável, colheitas hidropônicas e biodiesel. (...)
Ademais, os coordenadores do projeto colombiano irão
associar-se aos bancos credores da dívida governamental co-
lombiana. Os bancos substituirão o débito da Colômbia com
uma corporação que pagará pelos direitos de emissão de CO2.
Por exemplo, 1 bilhão de dólares da dívida colombiana será
substituída pela garantia de corporações multinacionais com-
prometidas a comprar produtos da floresta pelos próximos 25
anos e a pagar pelos direitos de emissão de carbono. Isso é
chamado de troca de garantias.
Parte do dinheiro necessário para iniciar o desenvolvimento
na Colombia poderia ser pago pelo governo colombiano em
pesos, enquanto reduz sua dívida em dólares. Todos ganham.
Entretanto, uma ampla assistência é necessária para iniciar
projetos múltiplos como esse.
O projeto de reflorestamento de Las Gaviotas não trata
apenas de plantar árvores para a estabilização do clima; trata,
primariamente, de catalisar o desenvolvimento que pavimenta-
rá as vias para a criação de um futuro sustentável para nossas
crianças, onde a sociedade é capaz de fornecer as necessidades
básicas de todos em termos de água, comida, saúde, habitação,
energia, empregos e educação com recursos locais.
Fonte: <http://www.zeri.org/case_studies_reforestation.htm>. Acesso em: 10 out. /
2008. Traduzido e adaptado pela autora.
120
Curso de Graduação em Administração a Distância
Las Gaviotas é um exemplo de agrupamento ecológico de ativi-
dades que, valendo-se de inovações tecnológicas, organizacionais e
financeiras ajuda a reduzir o aquecimento global, gera novas fontes de
energia, cria emprego para a população local, gera novas fontes de
renda e contribui para o bem-estar geral da população da região.
Muitas curiosidades devem ter surgido da leitura da experiência
de Las Gaviotas. Proponho que você agora investigue um pouco mais
sobre alguns temas abordados no texto que são fundamentais para o
entendimento do mundo em que vivemos.
No Brasil já existem iniciativas bem-sucedidas de desenvolvi-
mento sustentável, baseadas em inovações, geralmente de baixa in-
tensidade tecnológica.
Saiba mais... Você pode fazer uma busca de projetos dessa natureza, come-
çando por sites como do Instituto de Desenvolvimento Sustentável eEnergias Renováveis – IDER <http://www.ider.org.br/>; FundaçãoBanco do Brasil <http://www.tecnologiasocial.org.br/bts/>; Núcleode Solidariedade Técnica – SOLTEC da UFRJ <http://
www.ct.ufrj.br/soltec/?secao=projetos&sub=papesca>, por exemplo.
Um novo entendimento dasorganizações contemporâneas
Estamos finalizando a disciplina Inovação e Tecnologia. Duran-
te o curso, os conceitos de tecnologia e inovação foram estudados e
você percebeu a complexidade desses processos, sua dependência de
muitos fatores, e sua importância para o crescimento e o desenvolvi-
mento econômico contemporâneo. Em seguida, na Unidade 3, você
foi introduzido aos princípios da gestão da inovação tecnológica. Fi-
nalmente, nesta Unidade você foi levado a relacionar as questões
socioambientais do nosso tempo com a problemática da inovação.
Módulo 8
121
A grande diferença das soluções tecnológicas apresentadas na
anteriormente e as inovações tecnológicas convencionais é a metáfora
que usamos para entendimento do que sejam as organizações humanas.
Segundo Morgan (apud CAPRA, 2005), a teoria e a prática da
administração são moldadas por processos metafóricos que influenci-
am o que fazemos. Ele identificou as principais metáforas usadas para
descrever as organizações: máquina (voltada para o controle e a efici-
ência); organismo (desenvolvimento, adaptação); cérebro (aprendiza-
gem organizacional); cultura (valores e crenças) e sistema de governo
(conflitos de interesses e poder).
A metáfora da organização como sistema mecânico têm suas
raízes no Século XVII quando Newton e Descartes articularam as ba-
ses do paradigma mecanicista. A percepção do universo como sistema
mecânico composto de peças elementares moldou e continua moldan-
do continuamente nossa percepção da natureza, do organismo huma-
no, da sociedade e da empresa. O taylorismo-fordismo do começo do
Século XX é completamente mecanicista.
Peter Senge, teórico da administração, caracteriza a empresa no
paradigma mecanicista como “uma máquina para ganhar dinheiro”. E
explica assim: uma máquina é projetada em vista de um objetivo espe-
cífico e é propriedade de alguém que tem liberdade para vendê-la. A
visão mecanicista das organizações é exatamente assim. Está implícita
a ideia de que a empresa é criada e possuída por pessoas que estão
fora do sistema. Sua estrutura e seus objetivos são determinados de
fora e impostos à organização.
Ainda de acordo com Peter senge, quando concebemos a orga-
nização como ser vivo, porém, a questão da propriedade torna-se pro-
blemática. No mundo inteiro, a maior parte dos povos considera imo-
ral a ideia de um ser humano ser propriedade do outro. Se as organiza-
ções fossem mesmo comunidades vivas, o ato de comprá-las e vendê-
las seria equivalente à escravidão e o hábito de sujeitar a vida de seus
membros a objetivos pré-determinados seria visto como uma
desumanização.
A máquina tem que ser controlada por seus operadores e obede-
cer aos comandos deles. A finalidade da teoria da administração é a de
122
Curso de Graduação em Administração a Distância
provocar operações eficientes por meio de controle exercido de cima
para baixo.
Capra (2005) lembra que os seres vivos agem com autonomia,
não podem ser controlados como máquinas. A maioria das pessoas
não gosta de ser tratada como engrenagem de uma máquina. Os siste-
mas sociais vivos são redes autogeradoras de comunicações. Isso sig-
nifica que uma organização humana só será um sistema vivo se for
organizada em redes e tiver uma característica especial: serem
autogeradoras. Cada comunicação gera pensamentos e um significa-
do, os quais dão origem a novas comunicações. Assim, a rede inteira
gera a si mesma, produzindo um contexto comum de significados, um
corpo comum de conhecimentos, regras de conduta, um limite e uma
identidade coletiva para os seus membros. O termo “comunidade de
prática” é usado para identificar essas redes sociais autogeradoras.
À medida que as pessoas dedicam-se a um empreendimento con-
junto, acabam por desenvolver uma prática comum, ou seja, maneiras
determinadas de fazer as coisas e de relacionar-se entre si, que permi-
tem que atinjam o seu objetivo comum. Com o tempo, a prática resul-
tante torna-se um elo que liga de maneira evidente as pessoas envolvi-
das. A vida de uma organização - seu potencial criativo, sua capacida-
de de aprendizado, sua capacidade para a inovação – reside nas comu-
nidades de prática. Parece, portanto, que o meio mais eficaz para man-
ter uma empresa viva e vibrante é apoiar suas comunidades de prática.
As organizações humanas sempre contêm estruturas projetadas
que são as estruturas formais da organização e estruturas emergentes,
criadas pelas redes informais. Os administradores hábeis compreen-
dem a interdependência entre elas. Quanto mais vivas forem essas es-
truturas informais, mais chances de termos uma organização criativa,
que aprende, que inova. Quanto mais os administradores conseguirem
utilizar a metáfora de organismo para compreender as organizações nas
quais atuam, mais nos aproximaremos do desenvolvimento sustentável.
Módulo 8
123
Encerramento
Vivemos uma realidade por demais complexa em que a
sustentabilidade da vida no planeta não está garantida. Também não
está condenada! São as inovações que faremos, que apoiaremos, que
induziremos que farão toda a diferença! Foi um grande prazer ter com-
partilhado estes conhecimentos com você! Continue se esforçando no
caminho do conhecimento, ele sempre vale a pena.
Atividades de avaliação
Espero que ao final desta Unidade você esteja motivado a envol-ver-se com a inovação tecnológica de maneira bastante positiva econsciente. Afinal, todos nós somos capazes de impactar o mundoem que vivemos. O quanto e como, depende de cada um. As pro-posições seguintes são para incentivá-lo no caminho da busca pornovos conhecimentos.
1. Investigue mais sobre alguns dos temas sugeridos abaixo e redijaum texto dissertativo relacionando inovação tecnológica e desen-volvimento sustentável.
Ciclo do Carbono;
Mercado de Créditos de Carbono; e
Fontes renováveis de energia.
Energia solar;
Energia eólica;
Biocombustíveis; e
Hidrogênio.
Produção Mais Limpa; e
Tecnologias de Informação e Comunicação.
124
Curso de Graduação em Administração a Distância
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Curso de Graduação em Administração a Distância
Miriam de Magdala Pinto
Graduada em Química pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro, em 1990; mestre em
Ciências pela mesma instituição, em 1993; con-
cluiu o doutorado em Engenharia de Produção
pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, em 1999. Atualmente é professora da
Universidade Federal do Espírito Santo, coordenadora do curso de
graduação em Engenharia de Produção e professora do Programa de
Mestrado em Economia da mesma universidade. Atua na área de En-
genharia de Produção, com ênfase em Tecnologia e Inovação. É pes-
quisadora vinculada à RedeSist - Rede de Pesquisa em Arranjos e Sis-
temas Produtivos e Inovativos Locais.