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7° Seminario Académico Internacional PROCOAS - AUGM

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Page 1: Tecnologia social e adequação sócio-técnica como instrumentos de sobrevivência para EES da cadeia de confecções em São Carlos

Universidade Federal de São Carlos – UFSCar

Incubadora Regional de Cooperativas Populares – INCOOP

Eixo temático 4: Grupos vulneráveis e Economia Social e Solidária:

aportes concretos da luta contra a exclusão social

Tecnologia Social e Adequação Sócio-Técnica como instrumentos de

sobrevivência para EES da cadeia de confecções em São Carlos

Equipe da Cadeia de Confecções1

Desde a década de 1980, quando o Brasil passou a sofrer com o desemprego e a

precarização do trabalho, a Economia Solidária (ES) tem se mostrado uma alternativa

de geração de trabalho e renda para trabalhadores desempregados. São atividades

produtivas organizadas a partir dos princípios da solidariedade, da cooperação e da

autogestão (Singer, 2002; SENAES, 2006).

Na cidade de São Carlos-SP, alguns destes empreendimentos têm sido incubados pela

Incubadora Regional de Cooperativas Populares (INCOOP), como os seguintes

Empreendimentos de Economia Solidária (EES) da cadeia de confecções:

1) Associação Maria Fuxico: localizado em uma área pobre da cidade, foi fundada em

2001 com 7 mulheres. Produz produtos a base de “fuxicos” e demais artesanatos,

como: enfeites, bolsas e sacolas duráveis, almofadas, colchas, chaveiros, porta-níqueis

e etc.

2) Cooperativa Coosturarte: fundada em 2001 com 20 mulheres. O grupo atuou por

muito tempo como facção, terceirizando parte do trabalho de uma empresa da cidade.

As dificuldades econômicas e políticas enfrentadas por esta empresa acarretaram

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fragilidades para o grupo, já que a maior parte de sua renda provinha desta relação.

Atualmente, o grupo busca se reerguer.

A comercialização é uma das principais dificuldades de ambos os EES, que têm

dificuldades de divulgar, expôr, apresentar e realizar as vendas. A alternativa

encontrada para solucionar este problema foi por meio da realização de um curso de

vendas. No entanto as ações de formação para as vendas que encontramos não tinham

como base os princípios da ES. É o exemplo do curso de vendas oferecido pelo

SEBRAE (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), elaborado para pequenas

empresas, com base numa lógica de competição.

Para este curso pudesse ser oferecidos para EES, precisava passar por um processo

de adequação, ao qual chamamos de Adequação Sócio-Técnica (AST) e, para tal,

recorremos aos estudos sobre Tecnologia Social (TS), que englobam as discussões

sobre AST.

O objetivo do trabalho é apresentar e discutir o processo de AST de um curso de

Vendas para a formação para comercialização dos dois empreendimentos em questão.

A TS é a mais adequada à realidade dos EES, por não se basear na geração de lucro,

mas considerar outras dimensões, como: humanas, sociais, ambientais, culturais. Ela

tem características que se aproximam dos EES, como o fato de ser: orientada para a

geração de trabalho e renda; desenvolvida para e com aqueles que a irão utilizar, o que

permite que as soluções tecnológicas sejam adequados as suas necessidades e

realidades; possível de ser reaplicável, por ser de baixo custo e utilizar o conhecimento

local (Dagnino, 2004; Rutkowski, 2005).

A TS se enquadra também na construção de um marco analítico-conceitual que faz uma

crítica ao sistema capitalista de produção – por entender que ele é causador de

exclusão social – e à Tecnologia Convencional (TC). Engloba o desenvolvimento de

máquinas e equipamentos (hardware), sistemas de informação (software) e tecnologia

de gestão (orgware) (Feernberg, 2008; Dagnino et. All, 2004).

A AST é a adequação da ciência e tecnologia vigente. Ela pode se dar a partir de sete

modalidades, propostas por Dagnino et. all (2004):

1) O simples uso da TC, modificando-a a repartição dos resultados do processo

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produtivo.

2) A apropriação da TC, mudando-se a propriedade dos meios de produção para

coletiva.

3) Revitalização ou repotenciamento das máquinas e equipamentos, a fim de

aumentar sua sua vida útil;

4) Ajuste do processo de trabalho adaptar a “organização do processo de trabalho à

forma de propriedade coletiva dos meios de produção (preexistentes ou convencionais),

o questionamento da divisão técnica do trabalho e a adoção progressiva do controle

operário (autogestão)”.

5) Alternativas tecnológicas a partir da percepção de que as modalidades anteriores

não são suficientes, propõe a busca de novas tecnologias existentes.

6) Incorporação de conhecimento científico-tecnológico existente, pressupõe o

esgotamento da busca por tecnologias alternativas, indicando a necessidade de

desenvolvimento de tecnologias para uma realidade diferente; resultam desta

modalidade “processos de inovação de tipo incremental, isolados ou em conjunto com

centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) ou universidades”.

7) Incorporação de conhecimento científico-tecnológico novo, com o esgotamento

da modalidade anterior, propõe “processos de inovação de tipo radical que tendem a

demandar o concurso de centros de P&D ou universidades e que implicam a exploração

da fronteira do conhecimento”.

Iniciamos o trabalho, realizando a AST de um curso de Vendas – que é uma tecnologia

de gestão (orgware). Este processo contou com seis etapas:

1) Levantamento de cursos e materiais sobre vendas em sites do SEBRAE. O material

encontrado havia sido desenvolvido para pequenas empresas (capitalistas) e não

poderia ser utilizado com EES, sem que antes passasse por um processo de

adequação que permitisse adequá-lo aos princípios da ES.

2) Foi feita uma primeira leitura do material, para verificar se ele servia para a ação de

formação para vendas. Ficou evidenciado que o material servia ao que necessitávamos.

3) Em seguida, foi feita uma releitura do material a fim de identificar termos, palavras,

frases e pensamentos que demonstrassem uma inclinação para a competição.

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4) Após estas três etapas, a equipe se reuniu e discutiu sobre o que havia sido

realizado até então, abordando os princípios da ES que, necessariamente, deveriam

fazer parte de um curso para EES.

5) Foram retirados termos, palavras, frases e pensamentos, típicos da empresa

capitalista, que foram substituídos por outros que carregassem valores da ES.

6) Nesta etapa foi feita a reelaboração do material ou sua adequação à ES: o novo

material resultante desta ação era adequado à realidade dos EES.

A AST do curso em questão contou com pelo menos cinco das sete modalidades

apresentadas (no limite, podemos encontrar todas as modalidades na ação).

De acordo com Neves (2009), a formação para a ES precisa ocorrer em duas frentes:

- Formação política, a partir da crítica à sociedade capitalista e seu modelo

excludente, com o objetivo de discutir e propor alternativas de inclusão social e a

transformação da sociedade (abordando aspectos históricos, ideológicos e conceituais,

tais como os princípios da ES e da TS).

- Formação técnica: diante da necessidade de sobrevivência dos trabalhadores da ES

é preciso pensar formas de inserção dos empreendimentos no mercado (capitalista).

Para tal são necessárias ações de formação/capacitação para os trabalhadores

aprenderem a agir no mercado. A formação técnica é mais imediata, como cursos e

oficinas para a formação do trabalhador para realizar ações do dia-a-dia, como a gestão

do empreendimento, comercialização, cálculos de custos e preços, controle de

produção, etc.

Embora apresentado separadamente, os dois aspectos da formação não se separam

nas ações concretas. Ou seja, não existe neutralidade na formação técnica e nas ações

de formação políticas, aspectos de formação técnica podem ser abordados.

Este trabalho foi um piloto, porém, diante das necessidade de realizar outros processos

de AST de outros cursos de formação, fizemos contato com representantes do

SEBRAE, a fim de propor uma parceria para que possamos dar continuidade neste

trabalho. O objetivo é que os materiais sejam disponibilizados para que possamos

realizar outros processos de AST.

Ainda no âmbito da TS, propomos também uma parceria entre a INCOOP, os EES da

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cadeia de confecções e o Laboratório de Solidariedade da Universidade Estadual

Paulista-UNESP (LabSol-Bauru), com o objetivo de desenvolver novos produtos, novos

modelos e desenhos para produtos, além de possibilitar o

melhoramento/aperfeiçoamento dos produtos produzidos pelos dois empreendimentos.

O objetivo é que, deste trabalho conjunto, possamos desenvolver uma TS.

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Referências bibliográficas

DAGNINO, R. A tecnologia social e seus desafios. In: Tecnologia social: uma estratégia

para o desenvolvimento. Fundação Banco do Brasil: Rio de Janeiro, 2004.

DAGNINO, R; BRANDÃO, F.C.; NOVAES, H.T. Sobre o marco analítico conceitual da

tecnologia social. In: Tecnologia social: uma estratégia para o desenvolvimento.

Fundação Banco do Brasil: Rio de Janeiro, 2004.

FEENBERG, A. Racionalização subversiva: tecnologia, poder e democracia, 2008.

Coletânea de Filosofia da Tecnologia, disponíveis no site: http://www-

rohan.sdsu.edu/faculty/feenberg/.

NEVES, E.F. A capacitação para a gestão de empreendimentos de economia solidária:

experiências e propostas. Dissertação de mestrado. DPCT/IG/UNICAMP, 2009.

RUTKOWSKI, J. E.; Rede de Tecnologias Sociais: pode a tecnologia proporcionar

desenvolvimento social? In: LIANZA, S.; ADDOR, F (org). Tecnologia e desenvolvimento

social e solidário. Porto Alegre/RS: Editora UFRGS, 2005.

SECRETARIA NACIONAL DE ECONOMIA SOLIDÁRIA (SENAES). Atlas da Economia

Solidária no Brasil 2005. MTE, SENAES, 2006.

SINGER, P. Introdução a Economia Solidária. São Paulo: Editora Fundação Perseu

Abramo, 2002.

1 A equipe da Cadeia de confecções da Incubadora de Cooperativas Regionais de São Carlos

Page 7: Tecnologia social e adequação sócio-técnica como instrumentos de sobrevivência para EES da cadeia de confecções em São Carlos

(INCOOP-UFSCar) é formada por:

Ednalva Felix das Neves: Economista, Mestre em Política Científica e Tecnológica, coordenadora

Executiva da Cadeia de Confecções. Email: [email protected].�

Mariana Simões Floria: Graduanda em Psicologia, bolsista CNPq. Email: [email protected].

Marlon Alexandre de Oliveira: Graduando em Psicologia, bolsista PET-Conexões em Economia

Solidária. Email: [email protected].

Natália Oiring. C. Cezar: Graduanda em Gerontologia, bolsista CNPq. Email:

[email protected]. Patrícia Siqueira Melo: Graduada em Pedagogia. É colaboradora voluntária da Cadeia de Confecções.

Email: [email protected].

Rafaela Reis Martins: Graduanda em Ciências Sociais, bolsista PET-Conexões em Economia Solidária.

Email: [email protected].

Talyssa Fiore: Graduanda em Ciências Sociais, bolsista voluntária. Email:

[email protected].

Tatiana Groupioni: Graduanda em Ciências Sociais, bolsista voluntária. Email:

[email protected].