teoria e história da preservação da a r q u i t e t u r a do e ... -...
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CESARE BRANDI
(1906 – 1988)
“A restauração constitui o
momento metodológico
de reconhecimento da
obra de arte em sua
consistência física e em
sua dupla polaridade
estética e histórica, com
vistas a sua transmissão ao
futuro”
CESARE BRANDI
“[...] o produto especial da atividade humana a que
se dá o nome de obra de arte, assim o é pelo fato de
um singular reconhecimento que vem à consciência:
reconhecimento duplamente singular, seja pelo fato
de dever ser efetuado toda vez por um indivíduo
singular, seja por não poder ser motivado de outra
forma a não ser pelo reconhecimento que o indivíduo
singular faz dele”.
Derivado de conceitos kantianos. Parte-se do pressuposto que o Belo não existe
no objeto, mas é uma inferência do sujeito que o observa e o analisa
simultaneamente com o entendimento e a imaginação. Por conta dessa
inferência singular, o Belo não pode ser mensurado absolutamente.
CESARE BRANDI
“Uma obra de arte, não importa quão antiga e clássica, é realmente, e
não apenas de modo potencial, uma obra de arte quando vive em
experiências individualizadas. Como um pedaço de pergaminho, de
mármore, de tela, ela permanece (sujeita, porém, às devastações do
tempo) idêntica a si mesma através dos anos. Mas como obra de arte, é
recriada todas as vezes que é experimentada esteticamente” – John
Dewey
Isso significa que, até que essa recriação ou
reconhecimento ocorra, a obra de arte é obra de arte
só potencialmente, ou existe apenas na medida em
que subsiste – como resulta também da passagem de
Dewey – como pedaço de pergaminho, de mármore,
de tela.
CESARE BRANDI
“Uma vez esclarecido esse ponto, não será fonte de
surpresa derivar disso o seguinte corolário: qualquer
comportamento em relação à obra de arte, nisso
compreendendo a intervenção do restauro, depende
de que ocorra o reconhecimento ou não da obra de
arte como obra de arte”.
O sujeito designado para a restauração não pode restaurar o objeto
considerando apenas uma das faculdades do espírito (mente). Há de se apreciar
sobremaneira a faculdade do entendimento, pois levará a conceitos mais
facilmente compartilhados. Contudo, a ponderação sobre o que a imaginação
percebe e que o entendimento não consegue alcançar, conduz à conclusão de
que qualquer interferência qualitativa na obra de arte afetará aquilo que se
ignora, mas que importa em alta conta para o resultado final.
CESARE BRANDI
“Como produto da atividade humana, a obra de arte
coloca, com efeito, uma dúplice instância: a instância
estética que corresponde ao fato basilar da artisticidade
pela qual a obra de arte é obra de arte; a instância
histórica que lhe compete como produto humano
realizado em um certo tempo e lugar e que em certo
tempo e lugar se encontra. [...] não é necessário
acrescentar a instância da utilidade, porque ela não
poderá ser levada em consideração de forma isolada
para a obra de arte, mas tão só com base na
consistência física e nas duas instâncias fundamentais”.
CESARE BRANDI
“a restauração constitui o momento metodológico do
reconhecimento da obra de arte, na sua consistência
física e na sua dúplice polaridade estética e histórica,
com vistas à sua transmissão para o futuro”.
CESARE BRANDI
“qualquer que seja a intervenção, será, outrossim, a
única legítima e imperativa em qualquer caso; a única
que deve explicitar-se com a mais vasta gama de
subsídios científicos; e a primeira, se não a única, que
a obra de arte, a bem dizer, consente e requer na sua
fixa e não repetível subsistência como imagem”.
1º axioma:
“restaura-se somente a matéria da obra de arte”.
CESARE BRANDI
“a obra de arte goza de uma dúplice historicidade, ou
seja, aquela que coincide com o ato de sua
formulação, o ato da criação, e se refere, portanto, a
um artista, a um tempo e a um lugar, e uma segunda
historicidade que provém do fato de insistir no
presente de uma consciência, e portanto, uma
historicidade que se refere ao tempo e ao lugar em
que está naquele momento”
CESARE BRANDI
“Se as condições da obra de arte forem tais a ponto
de exigirem sacrifício de uma parte da sua
consistência material, o sacrifício, ou, de qualquer
modo, a intervenção, deverá concluir-se segundo
aquilo que exige a instância estética. E será essa
instância a primeira em qualquer caso, porque a
singularidade da obra de arte em relação aos outros
produtos humanos não depende da sua consistência
material e tampouco da sua dúplice historicidade,
mas da sua artisticidade, donde se ela perder-se não
restará nada além de um resíduo.”
CESARE BRANDI
2º axioma:
“a restauração deve visar ao restabelecimento da
unidade potencial da obra de arte, desde que isso
seja possível sem cometer um falso artístico ou um
falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da
passagem da obra de arte no tempo.”
CESARE BRANDI
A unidade potencial é uma alusão à unidade original,
que nunca poderá ser recuperada de fato. Se isto for
possível (construir uma unidade potencial), deve-se
tomar o cuidado para que à distância em que
normalmente o objeto é contemplado, a intervenção
não seja percebida, restaurando aquela unidade
perdida, mas, a partir de um ponto de vista mais
aproximado, a intervenção seja reconhecida de
imediato, e sem a necessidade de instrumentos
especiais.
CESARE BRANDI
A matéria da obra de arte deve ser considerada em
duas características distintas:
- Estrutura
- Aspecto
O ASPECTO diz respeito ao teor artístico, irrepetível,
enquanto a ESTRUTURA é o suporte que permite à
imagem manifestar-se. Se o suporte se confunde com
o aspecto, NÃO DEVE ser alterado. Se o suporte é
invisível, toda intervenção necessária para conservá-lo
DEVE ser feita.
CESARE BRANDI
REMOÇÃO DE ADIÇÕES do ponto de vista histórico
- A adição é um ato legítimo documentado por sua
própria existência. A remoção é um ato que,
embora legítimo, não deixa traços de si na obra,
eliminando parte da história. Logo, a conservação é
ação regular enquanto a remoção deve ser
excepcional.
- Quando feita a remoção, deve-se tomar o cuidado
de deixar documentação física sem muito interferir
no ASPECTO da obra.
CESARE BRANDI
REMOÇÃO DE ADIÇÕES do ponto de vista estético
- Do ponto de vista da arte, o acréscimo reclama a
remoção.
- A prevalência do caráter artístico sobre o histórico
decresce no caso de a imagem socialmente
compartilhada da obra de arte ser aquela
deturpada do original.