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TERÇA-FEIRA | 30 OUT 2018 Um castelo a reboque do automóvel A fábrica da Autoeuropa garante o destino de Palmela como segundo concelho mais exportador do país. CÂMARA MUNICIPAL PALMELA NÃO É SÓ AUTOMÓVEL. TEM MUITO POR ONDE CRESCER AGROALIMENTAR O MILAGRE DO FRIO A PRODUZIR FRUTOS DE VERÃO negócios é Portugal Bruno Colaço pt.santanderadvance.com O Santander e o tecido empresarial de Palmela, mais fortes para o futuro. Mais fortes no apoio às empresas e negócios. Publicidade

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Page 1: TERÇA-FEIRA 30 OUT 2018 negócios é Portugal · coreana Hanon Systems. Fazem compressores de ar condicionado para carros eléctricos. Bruno Colaço A única fábrica da Hanon em

TERÇA-FEIRA | 30 OUT 2018

Um castelo areboque doautomóvel

A fábrica da Autoeuropa garante odestino de Palmela como segundoconcelho mais exportador do país.

CÂMARA MUNICIPALPALMELA NÃO É SÓ AUTOMÓVEL.TEM MUITO POR ONDE CRESCER

AGROALIMENTARO MILAGRE DO FRIO APRODUZIR FRUTOS DE VERÃO

negócios é PortugalBr

uno

Cola

ço

pt.santanderadvance.com

O Santander e o tecido empresarial de Palmela, mais fortes para o futuro.

Mais fortes no apoio às empresas e negócios.

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Fonte: Informa D&B, IEFP, INE, Pordata

991. A joint-ventureentre a Ford e aVolkswagen ditavauma mudança radicalnos destinos de Pal-

mela e na vida económica portu-guesa. “Vamos ter o maior projec-to industrial de sempre”, garantiaFaria de Oliveira, ministro do Co-mércio e do Turismo, naquele Ve-rão. Como estaria hoje o concelhosem a Autoeuropa, o gigante quenasceu de um dos maiores investi-mentos estrangeiros em solo por-tuguês e que estimulouacriação deum parque com 19 fábricas forne-cedoras?

Em2006 (jádepois dasaídada

Ford de Portugal), o concelho su-perava pela primeira vez os 2.000milhões de euros em exportações,mas a linha do comércio interna-cional não se desenhousempre emcrescendo. A maior quebra regis-tou-se entre 2008 e 2009 (de 2,1mil milhões para1,75 mil milhões),coincidindo com o ano fatídico emque a economia mundial começouatremer.Depoisdareduçãoem173milhões de euros entre 2015 e2016, no ano passado, as exporta-ções voltaram a recuperar para2,55 mil milhões.

Em2016–aindaaprodução donovoT-Rocnãohaviacriadooalvo-roço que tem resultado num longo

processodenegociaçõesentreaad-ministração e os trabalhadores – aVolkswagen Autoeuropa facturoumaisde1,5milmilhõesdeeuros,se-gundoosdadosqueaInformaD&Bforneceu ao Negócios. É ela que li-dera as contas e foi à sua volta quecresceramasmaioresexportadorasdo concelho e, à boleia, seis países

queneletêminvestido,posicionan-do-o como o segundo maiorexpor-tador nacional. A Alemanha(Volkswagen Autoeuropa e Conti-nental Teves), aDinamarca(Hem-pel), a Austrália (Amcor), a Coreiado Sul (Hanon Systems), a França(Faurecia) e aEspanha(SociedadeLuso Espanhola de Metais) são oscombustíveis que empurram oscontentores para fora do país.

Os dez maiores volumes de ne-gócios do concelho, porsuavez, su-peram um total de 2,7 milhões deeuros, contribuindo significativa-mente para o peso de 1,1% da acti-vidade económica de Palmela notecido empresarial português. �

RETRATO

RUTE BARBEDORÚBEN SARMENTOInfografia

No ano passado, Palmela viu mais de 2,5 mil milhões de euros saírem do país em bens.A Autoeuropa, claro, está no topo da lista do segundo maior exportador nacional.

Um castelo a reboqueda indústria automóvel

1NOTA: A elaboração do “ranking” resulta da metodologiade análise da Informa D&B. A informação financeira consi-derada é baseada no balanço e demonstração de resulta-dos individual e respectivos anexos financeiros publicadose existentes na base de dados Informa D&B. As empresasforam classificadas em 13 sectores de actividade, excluin-do-se o sector financeiro e a Administração Pública, assimcomo as entidades sem empregados e as empresas offsho-res. Foram excluídas as empresas que não publicaram oudisponibilizaram a informação necessária. São apenas con-sideradas as empresas que se encontram activas.

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á dois momentosmarcantes na vidaeconómica de Pal-mela. Um foi a cons-trução da Ponte 25deAbril(então,Pon-

teSalazar),inauguradaem1966;ou-tro foi, em 1991, a decisão da joint-venture entre aForde aVolkswagen(VW) de implantar uma fábrica noconcelho, sob o maior investimentoestrangeirodirectonopaís–de1.970milhões de euros. Graças à Autoeu-ropa,Portugalcontacommaisdemilmilhões de euros de facturação nascontasanuais.Afábricapesacercade1%doPIBeposicionaPalmelacomoo segundo maior exportador nacio-nal, alémde tertransformado todaamecânicaindustrialàsuavolta.

Hoje,são29osespaçosdeactivi-dadeseconómicasidentificadospelaautarquialocalnoconcelho.SóoPar-que Industrial da Autoeuropa con-grega 19 fornecedores da Volkswa-gen.Fabricamtintas,tapetes,portas,pneus,chapasmetálicas,eixos,cabla-gens, bancos, tanques de combustí-vel,sistemasdeexaustão.

ComaproduçãodonovoSUVdaVW,oT-Roc,iniciadanoanopassa-do,aempresaanunciouqueiriapre-cisar de mais 2.000 trabalhadores.Hoje, são perto de 5.000 pessoas acircular nos refeitórios e autocarrosdaAutoeuropa,eaproximadamente3.000 nas fábricas de componentesàsuavolta,desdeaFaurecia,àVanproouàSchnellecke.

A revolução T-RocAVolkswagenrejeitouopedidodere-portagemdoNegóciosnafábricaicó-nicadaMargemSul,alegando“ques-tõesdeagenda”.Osúltimos15mesestêm sido conturbados na unidadeportuguesadaquelaquejáfoiamaior

marcaautomóveldomundo(noanopassado, foi ultrapassada pela Re-nault-Nissan), devido às mudançasno esquemaorganizativo – afábricapassoudecincoparaseisdiasdetra-balhosemanaiseestá,desdeAgosto,afuncionaremhoráriocontínuo,en-treoutrasalterações.Asnegociaçõesentre a comissão de trabalhadores ea administração prolongam-se, ha-vendojáumpré-acordoemrelaçãoaremuneração,compensaçãoefolgasquecarece,ainda,do“sim”dopessoal.Esseprincípiodeacordoémaispró-ximododesejodostrabalhadores, jáque determina o pagamento do do-mingo a 100% e aumentos salariaisde 2,9% em cada um dos próximosdoisanos.Mas,mesmoolhandoparalá das condições laborais, depois doT-Roc, a fábrica de Palmela nuncamais será a mesma. Ainda a quatro

meses do fecho de contas, aunidadefabril atingiu um recorde de produ-ção – de 139.667 veículos. E amarcajádisse prever mais do que duplicar,esteano,ovolumede2017.

Em 2016, quando a empresacompletou 25 anos em solo portu-guês,facturoumaisde1,5milmilhõesde euros, segundo dados daInformaD&B. Mil milhões foram exporta-ções,100%paraomercadocomuni-tário,comaAlemanhacomoumdosprincipais mercados. Mas o conjun-todasimportaçõestambémfoisigni-ficativo–pertode785milhõesdeeu-ros. Segundo a mesma fonte, nesseano,asvendascaíram(desde2015,oanododieselgate)14,5%eavariaçãodasexportaçõesfoide-26,95%,nummovimentocontrárioaoqueseespe-rapara2017-2018.

Mas a fábrica já chegou a apre-

sentarvolumesdenegóciosde2milmilhõesdeeuros,em2011e2012,se-gundoaprópriamarca.Em2011,fo-ram produzidos 133.100 veículos eatingiu-se o segundo maior volumede vendas (só 2001 foi superior) desempre,novalorde2.246milhõesdeeuros.Isto,depoisdosinvestimentosde 600 milhões de euros em2003 ede 541 milhões quatro anos depois.Em2012,foraminvestidosmais200milhões e o período entre 2014 e2019representaumanovafasedein-vestimento, de 677 milhões.

Agora, é a era SUV. A21 de No-vembro,aorganizaçãoanunciouor-gulhosamente: “Esta semana, pelaprimeiraveznahistóriadaVolkswa-gen Autoeuropa, serão produzidasmais de 800 unidades por dia, ummarco que simboliza a nova fase dedesenvolvimento daempresa.” �

INDÚSTRIA

Os bons anosímpares na vidada Autoeuropa

RUTE BARBEDO

HEm 1991 arranca;em 1997 tem umimpacto de 2,2% noPIB; em 2001 atingeo recorde de vendas;2011 é o segundomelhor ano; e em2017 “chega” oT-Roc. Eis o motorde muitos milhões.

O protótipo que prevê um arcondicionado “amigo doambiente” foi desenvolvidopela Alemanha, Coreia doSul e Portugal, mas vai sertestado e produzido em Pal-mela.

Quanto investe a empresaem inovação?Para se estar num mercado

extremamente competitivocomo é a indústria automóvelé da maior importância terprodutos inovadores. Um dosnossos ‘mindsets’ é produziralgo que possamos reciclar a100% e, efectivamente, o nos-so produto, em fim de vida, érecuperável em termos dosmateriais utilizados.

E o ar, em si? É diferente doar condicionado comum?Os compressores precisam

de utilizar gás refrigerante,mas a tecnologia [compressorde quarta geração] que vamoslançar no futuro é exactamen-te isso: amiga do ambiente.Não posso revelar qual é, por-que está em fase de protótipo,aqui em Palmela. Mas vamosser pioneiros no seu lança-mento deste produto, que jáexiste noutro tipo de apare-lhos, mas não na indústria au-tomóvel.

É por causa disso que vãoampliar as instalações?Apesar de estarmos a cons-

truirum edifício novo, estamosestáveis do ponto de vista devolume [de negócios]. Espera-mos é que as coisas se modifi-quem nos próximos anos.Tudo o que acontece na indús-tria automóvel é pensado alongo prazo. Portanto, pode-mos estar a falar de dois outrês anos até conseguirmoslançar um produto. �

“Vamos serpioneirosneste produto”

PERGUNTAS APAULO PEREIRADirector-geral

da Hanon Systems Portugal

inham-nos avisadoque iríamos encon-trarlimalhasdeme-tal e líquidos quími-cos,masafábricadaHanon Systems, noParqueIndustrialde

Carrascas, tem um ar asséptico egeométrico,comonumpasseioima-gináriopelaCoreiadoSul,ondeficaasededamarca.Aqui,nestemistodemetalomecânica com electrónica,produzem-se compressores de arcondicionadoparaveículoshíbridoseeléctricos.ÉaúnicafábricadaHa-nonafazê-lo emsolo europeu. En-treoscorredores,brancosesemchei-ro, háestações de trabalho translú-cidas, ecrãs, robôs e parafusadorasautomáticas,umgabinetemédico–igualmente branco – paraos traba-lhadores. Estão apreparar-se paraampliaraunidade, porque vemaí a

quartageraçãodecompressores,deondesairáumarcondicionado“ami-go do ambiente”, de tecnologiaporenquanto secreta, como refere o di-rector-geral,PauloPereira.

A Hanon Systems é uma dasmaiores empresas do concelho dePalmelae,emboratrabalheexclusi-vamente para o sector automóvel,não fornece avizinhaAutoeuropa.Em 2016, totalizaram negócios dequase 143 milhões de euros, segun-doosdadosdaInformaD&B.“100%éparaexportação”,afirmaPauloPe-reira, indicando a China – o maiorcomprador de carros eléctricos domundo –, aEuropa, as américas doNorteedoSulcomoosdestinos.

Em 2017, a frota eléctrica e hí-bridarepresentava1,4% do merca-do automóvel mundial. Mas estáacrescer.Nomêspassado,atingiu-seumnovomáximo:quatromilhõesde

veículosvendidos.Epoderáseresteofuturo,também,dafábricadePal-mela, que, nos últimos anos, temmantido volumes de negócio está-veiseatéesperaque2019seafigurecomoumano“decontenção”.

O número de trabalhadores so-freu, até, umaredução – eram 488em 2016 e passaram para 450 noanoseguinte.PauloPereiraexplica:“Tínhamos outrafábrica, em Alge-ruz,quejánãotinhavolumeefechou.Issoobrigouaumareestruturação.”

Cadeia mais completaDesde 1998, o ano em que a Ford(ainda em aliança com a Volkswa-gen)decidiuinvestirnestafábricadecomponentes,aconteceram“diver-sas transformações”, recordao em-presário, que acompanhou todo oprocesso.Masfoiem2010queaquise lançaramos primeiros compres-soresparaveículoseléctricosehíbri-dos,oqueaisolounopanoramadoscompressores.Era,então,a“geração1”. Recentemente, jádurante apro-duçãodaterceirageração,adicionouà metalomecânica a componenteelectrónica–“océrebrodocompres-sor” –, tornando acadeiade produ-ção mais completae o corpo de tra-balhadoresmaisespecializado.

Naáreadaprodução, o nível deautomação anda “próximo dos80%”, mas, “mesmo assim, serãosempreprecisaspessoas”,garanteoresponsável. Quanto mais não seja,sãoelasque,longedasmáquinas,vãocontinuaradesenvolvertecnologiasao somdos mercados. Emarticula-ção com os engenheiros daAlema-nhae daCoreiado Sul, ainvestiga-çãodePalmelaestácontinuamenteàprocurade“alteraçõesnosproces-sos e em detalhes do produto”. Foiassimquenasceuageração4.�

COMPONENTES

O ar (condicionado)do futuro soprade Carrascas

RUTE BARBEDO

THá 20 anos,começaram aabastecer a Ford,passaram pelaVisteon e, desde2015, integram a sul-coreana HanonSystems. Fazemcompressores de arcondicionado paracarros eléctricos.

Bruno Colaço

A única fábrica da Hanon em solo europeu a produzir compressores de ar condicionado para veículos híbridos e eléctricos.

Luís Viegas

A Autoeuropa é o motor do concelho de Palmela.

SEMPRE A VENDERValores em mil milhões de euros

As vendas da Autoeuropa desde opontapé de saída mais do que dupli-caram. De 1995 a2016 subiram 128%,superando nesse ano os 1,5 mil mi-lhões de euros. O pico foi, no entan-to, atingido em 2001 com um volumede negócios de 2.273 milhões de eu-ros. Aliás, durante este período hou-ve cinco anos em que o volume de ne-gócios superioros dois mil milhões deeuros.

Fonte: Autoeuropa

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or detrás de umaporta marcada pelapalavra “armazém”estátudo menos umarmazém. O grossoda produção da In-trosys – fundadaem

2002 para criar robôs móveis ter-restres mas que mais tarde acaboupor ceder aos ditames do mercadotornando-se fornecedorado sectorautomóvel – é, aliás, imaterial. Elesconstroemo “sistemanervoso” dosbraços armados que soldam peçasde carroçaria, encaixam tejadilhose capôs. Em cada movimento pre-ciso, a tecnologia ajuda a subtraircentésimos de segundo. Todos so-mados, resultam em grandes ga-nhosdeprodutividade,umadaspa-lavras preferidas dos alemães daVolkswagen, os seus principaisclientes.

Noanopassado,aempresanas-cidanaFaculdadedeCiênciaeTec-nologia da Universidade de Lisboafacturou 21 milhões de euros; em2016,eraaoitavamaiorexportado-ra de Palmela (segundo os dadosque a Informa D&B forneceu aoNegócios); acadamês pagamais deummilhão de euros emordenados;e tem uma subsidiária no México,uma start-up na China e outra naAlemanha. Começaram pela Ford,quando ainda não havia empresa eos irmãos-fundadores Nuno e LuísFlores colaboravam em regime“freelancer” com a unidade de Va-lência; em 2004, entraram no bar-co Volkswagen através da Autoeu-ropa; e entretanto já apanharam asondas da BMW, Audi e Mercedes.

“Robôs vivos”Embora hoje possa não parecer,nadanaIntrosysserelacionava,ini-

cialmente, com o mundo automó-vel.Aempresasurgiuinstigadapelouniverso dos robôs móveis. O pri-meiro, com quatro rodas que pare-cemtervindodeumabicicleta,estáno tal “armazém” da empresa. An-dré Silva, investigador, aproxima--se para explicar como é que o In-trobot–“totalmentedesenhadopornós” – “começou por fazer vigilân-cia de perímetros, com a ajuda detecnologialaser, câmaras estereos-cópicas e câmaras de visão noctur-na”, mas depressa evoluiu para ou-

tros territórios. Se hoje ele pode serosegurançapermanentedeumafá-brica, tambémpode serutlizado navertente militar ou florestal.

Nos primeiros tempos, a In-trosysinvestiusobretudoeminves-tigação para desenvolver um robôde desminagem, até perceberque olado humanitário não pagava ascontas. Mas foramas investigaçõesàvoltadoIntrobotque“permitiramganhar conhecimento para desen-volveroutrasinovações”,afirmaAn-dré Silva.

Entre as invenções daempresa,destaca-se,ainda,oAGV[Automa-ted Guided Vehicle], um robô de-senvolvido num consórcio de 17parceiros (liderado pela Introsys)comoobjectivodetornarmaiságeisos procedimentos da indústria 4.0.“Queremos chegar à linha [de pro-dução] e poderintroduzirumamo-dificaçãorapidamente”,explicaAn-dré. São todos “robôs vivos” à voltados quais os investigadores traba-lham continuamente à procura denovas soluções.

ROBÓTICA

A Volkswagennão chega paraos robôs de Palmela

RUTE BARBEDOBRUNO COLAÇOFotografia

PA Introsys começoua pensarna desminagemhumanitária e hojefornece o segundomaior produtorde automóveis domundo. O próximopasso é em direcçãoa outros sectores.

Maçãs e matadouros“Nós queríamos produzir robôsmóveis. Eles nuncaforamvendidosmas deixaram umaherançadentrodaorganização”, explicao director--geral, Nuno Flores. Hoje, a In-trosys investe 2,5 a 3% do volumede negócios em investigação e de-senvolvimento. É uma necessida-de. “Muitas vezes, as pessoas queestão exclusivamente focadas nastarefas do dia-a-dia não têm a pos-sibilidade de se reinventar, de rein-terpretararealidade ou de criarno-

vos mecanismos. Mas nós preten-demos, através das tecnologias quedesenvolvemos, atingir novos mer-cados”, analisa.

Apesar de manter o foco numadas maiores indústrias mundiais, aempresatemtestadoosseusconhe-cimentos noutros campos, tentan-doanteciparastendênciasdaindús-tria e a sua crescente dependênciadarobótica. Os robôs colaborativosestãonocentrodaestratégia.“Osde-safios do futuro prendem-se com acapacidade de os robôs manipula-

rem uma coisa tão complexa quan-toumtecido.Ou,porexemplo,ima-gine-se umrobô adesmancharumavitelanummatadouro.Eraumacoi-saimpensável hádez anos mas hojejá temos de equacionar, tanto por-que há cada vez menos pessoas aquerer trabalhar em matadouroscomo porque a tecnologia o permi-te. É na indústria de manufactura,que produz emtermos unitários, deum carro a uma caixa de fruta, emque nos vamos continuar a focar”,resume o director-geral. �

230TRABALHADORESA empresa tem230 trabalhadores,70 na unidadedo México.

35FACTURAÇÃOA Introsyscalcula facturar35 milhões de eurosem 2022.

3INVESTIMENTOInvestimento total naampliação das instala-ções de Palmela seráde 3 milhões de euros.

95%DE EXPORTAÇÕESA maioria das vendasé para a Alemanha.O principal clienteé a Volkswagen.

A Introsys vê nos robôs

colaborativos a próxima

grande ruptura. Garante

que investe 2,5% a 3%

do volume de negócios

em investigação

e desenvolvimento.

Começaram pelos sistemasFord, mas, com a saída damarca de origem americanade Palmela, rapidamente seadaptaram à Volkswagen,hoje o principal cliente. Foca-dos na inteligência artificial,querem diversificar o negó-cio com a ajuda de “cobôs”.

Por que dificuldades passa-ram nos primeiros anos?Não gosto muito de recordar

os primeiros anos. A empresanão era um prazer até 2008,2009. Mas acho que isto é ca-paz de ser comum a todas asstart-ups, que começam comuma grande paixão, mas de-pois o esforço é de tal formagrande e é tudo tão difícil…Mesmo as coisas que hoje pa-recem muito simples, na altu-ra eram grandes feitos, comocobrar facturas, conseguir cré-dito bancário ou arranjar cola-boradores. Não havia mecanis-mos para nada.

Hoje é fácil encontrar cola-boradores?É difícil. Por isso, vamos im-

plementar um ‘hub’ de inova-ção digital [umainfra-estruturarepresentativa das tecnologiasde inovação digital da penínsu-la de Setúbal e do Alentejo].Acreditamos que assim sere-mos muito mais reconhecidosjunto dos nossos públicos-alvo,nomeadamente ao nível das en-genharias e cursos técnicos.Também vai permitirpromoveras tecnologias da indústria 4.0junto dos parceiros e oferecerserviços diferenciados de for-mação. A nossa Training Aca-demyvai passaraestarintegra-da no ‘hub’, com formações decariz técnico e tecnológico, emparcerias com a academia.

Estão a ampliar as instala-

ções quase para o dobro. Oque vai mudar em termosde produção?Vamos começar a produzir

soluções chave-na-mão para aaplicação de robôs colaborati-vos em ambiente industrial.

Ou seja…?São robôs que podem traba-

lhar ao lado de seres humanossem haver necessidade deequipamentos de segurançaadicionais. Se lhes tocar, elesafastam-se. E podem ajudar aexecutar manobras. O robôpode auxiliar a transportarumacoisamuito pesada, acom-panhando movimentos. Os ro-bôs colaborativos – ‘cobôs’ –são uma nova tendência da ro-bótica e provavelmente a pró-xima ruptura tecnológica a im-plementar na nossa indústria.Temos um robô capaz de me-ter fruta numa caixa, separan-do a fruta boa da restante, atra-vés da análise de um sistemade visão artificial. Algo impen-sável há cinco ou seis anos.

Isso quer dizer que vão en-trar noutras áreas?Sim. Já começámos a fazer

coisas muito pequenas emáreasmuito diferentes, masain-da não gostava de revelar. �

“Os robôscolaborativos serãoa próxima ruptura”

PERGUNTASA NUNO FLORESDirector-geral da Introsys

Vamosimplementarum ‘hub’ deinovação digitalem Palmela.NUNO FLORESDirector-geralda Introsys

Da mesma formaque não sabemoscomo entrámosna trajectóriado crescimento,tambémnão sabemoscomo é queisto se pára.

Criar umaempresana China é umaexperiência.Se aqui se fazuma empresana hora,lá faz-senum ano.NUNO FLORESDirector-geralda Introsys

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o início eram setequintas. E nem ha-viaverbo. Começa-ram nas framboe-sas, cada um por si,masrapidamentese

cruzaramnaquiloquesãoasalegriase dificuldades davidade agricultor.“Ouvimosmuitasdaquelashistóriasde pessoas que deixaram o empre-goparasededicaremàagriculturaetudopareciaummarderosas.”Nãoera. “Háumaparte muito duranis-to”,reconheceInêsSardinha,daSe-ven Berries, um agrupamento decincoprodutoresquecolhemfrutosdeseisquintas(numtotalde7,7hec-tares), sobretudo framboesas, mastambémalgunsmirtilos.Juntaram--se para ganhar escala e entrar narotadasexportações.Hoje,vendem

quase90%daproduçãoparaIngla-terra,FrançaeAlemanha,tantopelaapetência destes mercados pelosfrutos vermelhos como porque sãogeografiasquepermitemotranspor-teterrestre.

Quem olha para uma planta-ção de 1,2 hectares num dia quen-te de Outono do Poceirão, emPal-mela, talvez se deixe romantizar,mas de bucólico o trabalho da Se-venBerries tempouco. Encontrarrecursos humanos para os dias decolheita e fazer face à média de250 mil euros investidos em cadaquinta (numa soma de recursos àbanca, a fundos do ProDer – Pro-gramade Desenvolvimento Rurale a capital próprio) têm sido tare-fascomplexasparaestesempreen-dedoresque,namaioria,vieramde

áreas distantes daagricultura. Poroutrolado,ocampoexigeumapre-sençaimprevista.“Todososdiasháajustes,sejaanível de rega,pragas,etc.”, diz Miguel, da Cand&berry.

Framboesas de JaneiroDesanimador? Nem por isso, atéporque a curva de resultados vaiemcrescendo.Embreve,aempre-sa prevê chegar às 150 toneladasde produção e a um horizonte deummilhãodeeurosdefacturação.Valoresapenaspossíveisporqueseagregaram e porque conseguiramaumentar a produtividade dasframboeseiras.

NaWildbessy,porexemplo,asplantas, cultivadas em substracto,crescem em vasos negros dentrode estufas brancas. O facto de nãoestarem directamente no solo“tem a vantagem da mobilidade”,já que, em alturas estratégicas, asplantas são transportadas paraar-cas a temperaturas entre os 2 e3°C. “É um período de dormên-cia”. Depois regressam prontas a“produzirmais cedo”. É destafor-maque conseguem comercializarframboesas durante quase todo oano (comaexcepção de Fevereiroe o início de Março), o que permi-te “ter mais poder negocial”.

Entre os 1,2 hectares, há ainda200 metros quadrados reservadosatestes.“São[cinco]variedadesno-vasquetestamosemcampo,empar-ceriacomumaempresaitaliana.As-sim estamos na linha da frente”,acreditam. Podem descobrir novossabores,variedadescujadurabilida-de sejamaior (parajá, com aEnro-sadira,aduraçãomédiaéde12dias)eplantasemqueacolheitasejamaisfácil,umpontoafavorparaumaac-tividade100%manual. �

AGROALIMENTAR

O milagre do frioa multiplicarfrutos de Verão

RUTE BARBEDO

NJuntaram-separa ganhar escala ecompetir no mercadointernacional.Distribuirframboesasnos meses em quea oferta é escassarepresenta o olhopara o negócioda Seven Berries.

A chegar aoprimeiro milhão

A ESTRATÉGIA“Só não temos fruto no mês de Fe-vereiro e na primeira quinzena deMarço. Durante o resto do anoproduzimos”, contam os empre-sários. Para isso, estudam as fór-mulas mais eficazes de poda esubmetem as plantas a tempera-turas baixas (entre 2 e 3° C), numaespécie de processo de “hiberna-ção” que depois as torna maisprodutivas. No final, conseguemter um melhor poder negocialcom os mercados externos, porapresentarem produto em épocasde pouca oferta. Ao mesmo tem-po, conseguem distribuira neces-sidade de mão-de-obra pelo tem-po, estando menos expostos àpressão de encontrar recursoshumanos para um dos sectorescom maiorescassez em Portugal.

PRINCIPAISCONCORRENTESEmbora as maiores concentra-ções de produções de frutos ver-melhos do país estejam no Algar-ve e no litoral alentejano, não sãoos nacionais os principais concor-rentes da Seven Berries. Ao ex-portarem 90% dos frutos, os pro-dutores de Palmelacompetem es-sencialmente com o Sul de Espa-nha e Marrocos.

PERSPECTIVASDE CRESCIMENTOActualmente, a produção deframboesas acontece numa su-perfície total de 7,7 hectares, masé possível duplicar a área produ-tiva. O volume de facturação pre-visto para este ano é de 850 mileuros e a empresa não deverá de-morar a chegar ao primeiro mi-lhão, segundo as previsões.

Palmela tem muitas horas de solcomo substracto produtivo. Mas,sem a ciência, a Seven Berriesnão poderia pensar em atingir afasquia de um milhão de euros.

TOME NOTA

Bruno Colaço

Soraia Pereira e Inês Sardinha cuidam das framboesas da Seven Berries.

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oana estava grávida deoito semanas e um dia.Manuel, o pai, estavadesempregado com acabeça cheia de ideias.Era preciso criar algu-

ma coisa e, fosse o que fosse, iriachamar-se Oito.Um. Hoje, que amarcaestácriadaecontinuaaser-vir de inspiração, Manuel Sousareconhece que o nome não é o for-tedonegócio,sobretudonacomu-nicaçãocomoestrangeiro,ondeosditongos são “non” gratos. Mas alinha de vestuário desportivo daClothing Concept, que aposta(quase) tudo no comércio online,está a crescer.

“Não é fácil vender conforto; épreciso experimentar”, enquadraManuelSousa,responsáveldaem-presa,noarmazémdaZonaIndus-trial das Carrascas. Além disso, oconfortotemváriasdimensões.NocasodaOito.Um,asroupas,assume,não descaem e não há transparên-ciasindesejadas,comunsnovestuá-rio de baixa qualidade durante apráticadeexercíciofísico.EisondeManuel Sousa, formado em elec-trotécnica e telecomunicações, eJoana Vitorino, “personal trainer”num ginásio, viram que poderiamganharvantagem.Doisanosemeiodepois do lançamento da marca,“35% dos clientes compram maisdo que uma vez”, o que prova que,depois de testada a reputação dostecidos e peças de fitness, mais demeiocaminhoestátraçado,acredi-tao empresário.

Fitness? BrasilAescolhadeste segmento despor-tivotevediferentesrazões.Umafoio “boom do fitness em Portugal”,outra o facto de Manuel e Joana

estaremligados ao circuito dos gi-násios e terem começado a rece-ber pedidos de diferentes direc-çõesnumafaseaindaembrionáriadaempresa. “Conhecemos, àvon-tade, mais de 100 ginásios de Nor-teaSuldopaís”,contextualizaMa-nuel Sousa. O passo seguinte foiprocurar quem os pudesse forne-cer na medida exacta da sua ima-ginação. Encontraram uma fábri-ca no Brasil, “um país muito bemconotado relativamente à roupadesportiva”, e testaram algumaspeças junto do público-alvo. Poroutro lado, era necessário traba-

lhar com um fornecedor capaz deresponder a pequenas encomen-das. Como diz o empresário, “hámuitas marcas a trabalhar comgrandestecidos,masnormalmen-te em grande escala”.

Motivados pelos ginásios queconheciam,começarampelomer-cado físico, mas rapidamente sedesviaram para o mundo online,por acreditarem que gerava maispossibilidades e por analisaremum mercado ainda verde em Por-tugal a esse nível. Hoje, é esta aprincipal via de vendas da empre-sa, que tem registado uma médiade 350 encomendas mensais eprevê atingir 500 a curto prazo.

A Clothing Concept fechou oano passado com uma facturaçãode 320 mil euros e, para já, o prin-cipal objectivo é equilibraras con-tas, eliminando as dívidas à famí-liae àbanca, contraídas parafazerarrancar o sonho de um negóciopróprio, sob um investimento ini-cial de 200 mil euros. �

VESTUÁRIO

A empresa temregistadouma média de350 encomendasmensais, a maioriavia online.

Fitnessbrasileiroem corpoportuguês

RUTE BARBEDO

JQueriam criarvestuário técnicopara idosos,acabaram porapostar tudono fitness. Criadaem 2015, a Oito.Umencomenda roupaao Brasil e vende95% em Portugal.

Experimentarsem medo

INVESTIR EM TEMPOA Oito.Um tem canalizado os fun-dos sobretudo para o stock, re-cursos humanos e marketing. Masmuito do investimento tem sidona aprendizagem. O tempo de in-vestigação, análise de marcas emercados, e as tentativas e errosque esta pequena empresa expe-rimenta pesam nas contas.

DO GINÁSIOAO VESTUÁRIOPrimeiro, o casal pensou em abrirum ginásio, depois em criar“umamarca de vestuário para pessoasmais velhas, em que tivessemmais facilidade em vestir e des-pir”, conta o fundador. Mas a di-ficuldade de financiarainvestiga-ção na área e a procura do mer-cado ditaram outro caminho.

PASODOBLE:UM PARA A FRENTE,OUTRO PARA TRÁSEmbora o mercado online nãoseja delimitado por fronteiras fí-sicas, a empresa tem encontradooutras barreiras. Numa tentativade entrada em Espanha, no anopassado, o público-alvo terá per-cebido “nitidamente” que o pro-duto não era nacional e surgiramentraves culturais. A Oito.Um viu--se obrigada a recuar.

BRASILNÃOÉPELOPREÇO“Há muitas pessoas que pensamque sai mais barato encomendardo Brasil, mas a verdade é que so-fremos umataxação bastante ele-vada na alfândega. Portanto,compramos ao mesmo preço doque se fosse em Portugal, só quea qualidade é outra”, resume Ma-nuel Sousa.

A estratégia da Oito.Um é tentare, se for preciso, errar. Só assim –e sem capital para outra estraté-gia – se conhece o mercado comas próprias mãos.

TOME NOTA

A Clothing Concept escolheu Oito.Um como sua marca.

Bruno Colaço

Page 7: TERÇA-FEIRA 30 OUT 2018 negócios é Portugal · coreana Hanon Systems. Fazem compressores de ar condicionado para carros eléctricos. Bruno Colaço A única fábrica da Hanon em

CULTURAO BANDO À SOLTANasceu no ano da liberdade, 1974, assumindo-se, assim, como umadas cooperativas culturais mais antigas do país. Com espectáculosassíduosnumacasadecampoem ValedosBarris, Palmela, oTeatrooBandotem-sepautadopeladescentralização, desdequecomeçoupelo teatro de rua e pela animação para públicos infantis, escolas eassociações culturais até abordagens mais experimentais, semprecom especial atenção à cenografia. Nestes 44 anos, apresentaramao público mais de 100 criações (maioritariamente de autores por-tugueses) através de perto de 5.000 espectáculos. No entanto, foiumadas companhias de teatro que recebeu cortes no financiamen-to da Direcção-Geral das Artes.

GASTRONOMIAO COELHO E A CARAMELACoelhoselvagem,feijãoencarnado,vinho,alhoefolhasdelourofor-mam a base de um dos pratos mais representativos de Palmela. Apopularidade do prato fez com que, em Outubro, ele passasse a sero centro dos Fins-de-SemanaGastronómicos do concelho. Não mui-to longe no palato, há também a Sopa Caramela, cuja onomástica,diga-se,nãoépropriamentesimpática.Conta-seque,tendoem con-taodespovoamentodestapartedaPenínsuladeSetúbal atéàcons-trução da primeira ponte sobre o Tejo, grande parte dos trabalhossazonaiseram asseguradosporhabitantesdaBeiraLitoral,queeramlocalmente conhecidos como “caramelos”. Terão sido eles, nessetempo, a implantar na região a reconfortante sopa de feijão, bata-ta, couve, carne e enchidos de porco. Desde 2016, Pinhal Novo re-cria, no mês de Maio, o Mercado Caramelo, em honra da dita sopa.

O teatro quealimenta e a comidaque é cultura

EX-LIBRIS

Carregada de património edificado, a começar pelo icónico cas-telo, Palmela guarda também um longo historial no teatro e a he-rança gastronómica de um tecido marcadamente rural.

há investimentos interessantíssi-mos de uma nova geração de em-preendedores, formados noutrasáreas, que vêm para o mundo ruralinvestir na maçã riscadinha ou nosfrutos silvestres… O eixo Poceirão-Marateca, além de permitir ter aliuma grande plataforma logística,com possibilidades de ligação aoPorto de Sines, a Setúbal, a um fu-turo aeroporto em Alcochete/Be-navente, ao Alentejo e a Badajoz,tem um potencial agrícola que nãoestádevidamenteexplorado.Pode-

riaabastecerLisboa, como o Oeste.

O que têm feito para incenti-var negócios agrícolas?Discriminação positiva nas ta-

xas [urbanísticas] no âmbito da re-gularização das actividades econó-micas,[emqueosempresários]pa-gamsó 50%; e tambémoutras faci-lidades em taxas administrativas.Naindústria,fizemosomesmoparaas zonas ou parques industriais de-vidamente estruturados. Estamoscáparaagilizarprocedimentosefoi

também isso que levou dois ou trêsgrupos,comoaVisteonouaHanon,quetinhaminvestimentosprevistospara outros países, a escolher Por-tugal.Naturalmente,houveinfluên-cia do Estado central, mas o poderlocal fez o seu papel.

A morosidade dos processosde licenciamento não podeafastar investidores?Éverdade.Muitosempresários

queixam-se e têm razões para isso.Aquiloqueseapregoahojedelicen-ciamentoszeroedesmaterializaçãoe desburocratização geralmente épropaganda. E digo isto com muitamágoa. Às vezes é fácil legislar, masdepois há plataformas que não in-teragem umas com as outras e pro-cedimentos que não batemcerto. Ébastante desgastante.

Quanto ao turismo, vão nascermais hotéis em Palmela?Estamos em contacto com gru-

pos hoteleiros que operam em todoo mundo e temos procurado traba-lhar com médias empresas. O aloja-mentolocaléimportante,masaqua-lificaçãodaofertatambémtemdeserum factor distintivo. O municípioestá a preparar um conjunto de in-centivos que resulta numa reduçãonaordemdos75%emdiversastaxaspara unidades hoteleiras que criemumnúmeromínimodecamas.Pou-cas pessoas sabem que o golfe atraiao concelho milhares de turistas,como é o caso do golfe do Montado[MontadoHotel&GolfResort],queestáapensaremampliar. Depois háo PalmelaVillage, que tem asuaca-pacidadeporaproveitar;etemosou-tro projecto a arrancar, mas aindanão vale a pena falar nisso. Mas sãoprojectos estratégicos paranós. �

ommuitasvozesva-ticinando asaídadaVolkswagen Au-toeuropa de Portu-gal pelas dificulda-desnasnegociações

com os trabalhadores da fábrica, opresidente da Câmara de Palmelasempre foi emitindo sinais de con-fiança. “A uma dada altura pareciaestar um bocadinho sozinho”, diz.

As longas negociações na Au-toeuropa não o têm feito pen-sarque o concelho está dema-siado dependente da fábricada Volkswagen?Palmelaéumterritóriodeopor-

tunidadesparainvestimentosdena-turezamuitodiversificada.Oquete-mos procurado fazer é estimar, in-centivar e criar sinergias em tornodo parque industrial automóvel,mastambémdeoutraslinhasdetra-balho. Nós falamos da Autoeuropamas tambémtemos de falardaVis-teon,daFaureciaoudaHanonSys-tems, que está a fazer uma amplia-ção num investimento de 50 mi-lhões de euros. Mas temos outrocluster, que é o da vinha e do vinho.São agentes que estão cá sempre,nos momentos menos bons e nosmelhores, e com uma qualificaçãoqueotornamdeterminante.Porou-trolado,estamosnumafasedefixa-çãodelogísticaedeserviços,etam-bémdeatracçãodestart-ups.Enãoé por ser moda, é mesmo uma ne-cessidade. Depois há o turismo denatureza, o património, o territó-rio… Há quem esteja a apostar noalojamento local, que é umaloucu-ra. Num ano e meio, passámos deumadúziae meia[de alojamentos]para 139 [na semana de 15 de Ou-tubro]. Os números do turismo são

interessantes mas poderiam sermuito mais, porque o alojamentoestá esgotado em muitas épocas.Precisamos de mais investimento.

Mas as maiores empresas es-tão ligadas ao ramo automó-vel e quase metade do volumede negócios do concelho vemda Autoeuropa.É insofismável que há aqui uma

grande dependênciae se aconteces-sealgonãoeraapenasoconcelhodePalmelaquesairiaempobrecido.Mas

tambémencontramos,porexemplo,a Ermelinda Freitas [vinicultura]com um volume de exportação e denegóciosmuitoimportante.

Alguma vez temeu a saída daAutoeuropa de Palmela?Não. Todas as minhas declara-

ções sempre foram no sentido deumaenorme confiançananegocia-ção,compreendendoqueassistera-zãoaostrabalhadoresnumconjun-todematériasequeháquestõeses-tratégicasenecessidadesdeprodu-

ção da empresa. Penso que o diálo-gotemdadofrutos,masaumadadaaltura parecia estar um bocadinhosozinho nesta confiança. Já houveaíosvelhosdoRestelotodosadizerque aquilo ia fechar, mas a produ-ção não tem parado.

Falou também no sectoragroalimentar. Que dimensãoele toma no concelho?No meu entender, não se pode

cingir aos vinhos e estáaindasuba-proveitado. Em todas as freguesias

ÁLVARO BALSEIRO AMARO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE PALMELA

“Palmela poderiaabastecer Lisboa”

C

Penso que o diálogo[na Autoeuropa]tem dado frutos,mas a dada alturaparecia estar umbocadinho sozinhonesta confiança.

POLÍTICA

RUTE BARBEDO

Apesar do pesoesmagador daindústria automóvel,Álvaro BalseiroAmaro rejeita adependência totaldo sector. Há muitopara crescer noutrasáreas, comoa agroalimentar,defende.

Bruno Colaço

O presidentecantautor

PERFIL

Aos 57 anos, Álvaro Balseiro Ama-ro (CDU) cumpre o segundo man-dato como presidente da Câmarade Palmela. Licenciado em Lín-guas e Literaturas Modernas ecom o mestrado em Relações In-terculturais, na área de Ciênciasda Educação, foi promotor edito-rial na Porto Editora, teve umapequena empresa – a AbecedárioPapelarias – e foi professor na Es-cola Secundária 3.º CEB de PinhalNovo, freguesia onde foi presi-dente da junta entre 1997 e 2009.Em paralelo, é músico e composi-tor. Com o nome artístico Amaro,o presidente já pisou vários pal-cos. No ano passado, apresentouo mais recente álbum, “AmaroMáscaras”.

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