tese: quando os doutorandos visitam o ciberespaço: o uso de suportes digitais na produção...
DESCRIPTION
A presente tese tem como objetivo compreender, com maior profundidade, os processos emergentes na vida do acadêmico com a apropriação dos suportes digitais e seu formato específico de armazenamento, tratamento e acesso à informação. Essa apropriação ocorre especialmente a partir do início dos anos 90 em que se processa a expansão da computação pessoal e da rede internet em larga escala, em ritmo diferente em diversos países, com o aprofundamento da sociedade em rede nos anos 2000. Analisa-se o modo de agir dos intelectuais acadêmicos contemporâneos e suas práticas, em uma fase na qual a mídia tradicional analógica, representada pelos meios de comunicação impressos (livros e revistas científicas) é mesclada com a nova mídia digital, que redesenha os antigos formatos e propõe outros novos. Para isso foram selecionados dezesseis doutores ligados à área de Educação que se formaram entre os anos de 2005 e 2010, oito no Brasil (PUC-Rio) e oito na Itália (UCSC Milano), para compor um estudo de casos múltiplos (Yin, 2001) através de entrevistas semi-estruturadas. Pela exaustiva análise de conteúdo das transcrições (Bardin, 1977), emergiram sete grandes Eixos temáticos, a saber: (I) Trajetória de vida acadêmica e digital; (II) Usos da tecnologia; (III) Modo de leitura; (IV) Modo de escrita; (V) Uso de fontes; (VI) Modo de organização; (VII) Modo de comunicação. Entre os resultados encontrados, a atividade autoral do acadêmico usando tecnologias digitais possui inúmeros fatores de influência: o tema de pesquisa escolhido, os agentes de interesse inicial pelo uso das tecnologias, a predisposição em explorar novos recursos disponíveis, o tipo de empiria (presencial ou via internet) e o tipo de fontes necessárias para formar a base teórica. O modelo de análise aplicado a cada entrevista mostrou que esta multideterminação se traduz em inúmeras práticas individuais originais, como a busca circular contínua em diferentes suportes, a leitura de textos em tela, a escrita simultânea e em camadas, o uso das novas fontes empíricas e a re-análise de bases de dados disponíveis na internet. Embora o processo de digitalização de fontes e meios de buscá-las esteja em plena marcha através de buscadores generalistas e bases de dados universitárias, no quetange aos modos de leitura ainda persiste a conservação de hábitos ligados ao meio impresso e analógico e a subutilização dos potenciais oferecidos para a comunicação com outros pesquisadores, especialmente o receio de compartilhar projetos e resultados de pesquisa em meios informais e comunidades virtuais abertas. Visando traçar um conjunto de informações úteis que auxiliem nos futuros programas de formação do professor-pesquisador, esta tese pode servir para a construção de atividades e cursos que ajudem a desenvolver uma aprendizagem mais sólida no uso das mídias digitais nos cursos de doutoramento em Educação e nas ciências humanas em geral.Palavras-chaveProdução acadêmica; autoria acadêmica; suportes digitais.TRANSCRIPT
TesobtgraEduHum
Orienta
o aca
se apreseenção do
aduação eucação dmanas da
adora: Ma
Luiz Ale
QUANVIS
uso de suadêmica e
entada cograu de D
em Educado CentroPUC-Rio.
ria Appare
exandre d
DO OS DITAM O C
uportes digm um per
T
omo requDoutor peloação do o de Teo
ecida Camp
da Silva
DOUTORCIBERESgitais na píodo de tr
Tese de D
uisito parco Programa
Departamologia e
pos Mame
Rio dOutubro
Rosado
RANDOS SPAÇO: produção ransições
outorado
cial para a de Pós-
mento de Ciências
ede-Neves
Volume I
de Janeiro o de 2012
Coorde
TesobtgraEduHumExa
enadora Se
o aca
se apreseenção do
aduação eucação dmanas daaminadora
Profª
P
U
etorial do C
Luiz Ale
Q
uso de suadêmica e
entada cograu de D
em Educado Centroa PUC-Rioa abaixo as
fª. Maria A
Departam
Departam
PrDepartam
Profª. StellUnive
Profª.Universidad
ProfCentro de T
Rio de Ja
exandre d
Quando visitam
uportes digm um per
omo requDoutor peloação do o de Teoo. Aprovassinada.
Apparecida
mento de E
Profª. Romento de E
rofª. Zena mento de E
la Cecília rsidade Ca
. Edméa Ode Estadua
fª. Denise Teologia e
aneiro, 18
da Silva
os doutom o cibere
gitais na píodo de tr
uisito parco Programa
Departamologia e da pela C
a CamposOr
ducação –
osália Marducação –
Winona Educação –
Duarte Seatólica de P
Oliveira doal do Rio d
Berruezo e Ciências
de outubro
Rosado
orandos espaço: produção ransições
cial para a de Pós-
mento de Ciências
Comissão
s Mamede rientadora
– PUC-Rio
ria Duarte – PUC-Rio
Eisenberg – PUC-Rio
egenreich Petrópolis
os Santos de Janeiro
Portinari Humanas PUC-Rio
o de 2012
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, da autora e do orientador.
Luiz Alexandre da Silva Rosado Graduou-se em Comunicação Social pela UGF (Universidade Gama Filho) em 2004 e é Mestre em Educação pela UNESA (Universidade Estácio de Sá). É integrante desde 2008 do Diretório de Pesquisas Jovens em Rede, no Departamento de Educação da PUC-Rio. É professor do curso de pós-graduação em Educação com Aplicação da Informática na UERJ desde 2007.
Ficha Catalográfica CDD: 370
Rosado, Luiz Alexandre da Silva
Quando os doutorandos visitam o ciberespaço: o uso de suportes digitais na produção acadêmica em um período de transições / Luiz Alexandre da Silva Rosado ; orientadora: Maria Apparecida Campos Mamede-Neves. – 2012.
478 f. : il. (color.) ; 30 cm
Tese (doutorado)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Educação, 2012.
Inclui bibliografia
1. Educação – Teses. 2. Produção acadêmica. 3. Autoria acadêmica. 4. Suportes digitais. 5. Doutores em educação. I. Mamede-Neves, Maria Apparecida Campos. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Educação. III. Título.
A todos os estudiosos das transformações que a mídia e a sociedade vêm passando com a introdução do formato
digital e seus suportes ao longo das últimas três décadas, nos tornando cidadãos hiperconectados e
hipertextuais, seja lá que consequências isso tiver em nosso futuro.
Aos entrevistados que carinhosamente (ou nem tanto) cederam suas experiências para este estudo, permitindo
que fossem registradas suas falas e memórias.
Aos futuros leitores que farão este trabalho circular nas infovias, sejam as dos espaços digitais na internet, quanto a dos espaços físicos de nossas bibliotecas
tradicionais, se apropriando e gerando novas conexões ideativas, sempre mais amplas e profundas que aquelas
alcançadas por este trabalho hoje.
Agradecimentos
Aos meus pais, por apoiarem minha ida à Itália, em todos os sentidos possíveis (incluindo o financeiro), e principalmente depois que se tornou inevitável. Graças ao período na Itália que minha mãe teve que aprender a usar um teclado e um mouse e conhecer o que significava a palavras “Skype”, entrando definitivamente na Era digital ;))) Muito obrigado por tudo!
À Cristiane Taveira, por mais uma vez estar ao meu lado em outro empreendimento de pesquisa, ajudando na busca de fontes, deixando eu “roubar” alguns referenciais que descobriu para sua própria pesquisa, deixando ela roubar outros da minha, discutindo os dados após minhas longas transcrições de entrevistas e aturando as horas de divagações a respeito do mundo acadêmico e seus doutores. Também não posso deixar de agradecer a paciência das horas e horas dispendidas via Skype enquanto eu estava “em exílio” na Itália.
À minha orientadora, por confiar em meu trabalho desde a defesa de mestrado na UNESA e pelo convide para participar das pesquisas do JER, incluindo a escrita de artigos em publicações não antes almejadas, até a entrada no doutorado e o apoio recebido nos momentos mais críticos enquanto estava em um país desconhecido.
Ao meu orientador na Itália e coordenador do CREMIT, já quase naturalizado brasileiro depois de mais de 10 anos de relações internacionais intensas com nosso país, Pier Cesare Rivoltella, que com sua paciência, português fluente, cultura vasta e internacional a respeito de TICs e Educação, vontade de aprender com seus orientandos, bem mais do que somente ensinar, os oito e intensos meses de convivência e aprendizado obtidos em Milão.
Aos integrantes e aos hoje ex-integrantes do JER, oficiais e extra-oficiais, tratados aqui pelo primeiro nome somente devido à intimidade criada desde a primeira participação deste pesquisador em 2008: Marcela, Ana Val, Agenor, Stella, Flavia, Castanheira, Tatiane, Ana Lúcia e Gabriel. Obrigado pelas ricas trocas de materiais via lista de e-mails, pelo apoio no dia a dia com muitas dicas fornecidas e pelos inesquecíveis almoços de domingo com todo grupo sempre promovidos pela “Cida” e “Seu Mamede”!
Às integrantes do CREMIT (Francesca, Gloria, Elena, Alessandra, Simona, Chiara B., Letizia), pela rica troca vivencial obtida ao longo dos meses, a boa vontade em responder prontamente sempre que solicitadas, local que usei com toda liberdade e acolhimento como “base de operações” em longas transcrições de entrevistas, pesquisas pela internet e acompanhamento do cotidiano de trabalho de um centro de pesquisa tão diferente em sua estrutura daquela que encontramos comumente no Brasil.
Ao meu professor de italiano Antonio Bottino, pelo seu imenso esforço para que eu chegasse na Itália sabendo o mínimo de italiano, seu bom humor perante minha
impaciência diante de tantas palavras novas e conjugações verbais estranhas, me mostrando detalhes sobre a Itália que somente um italiano autêntico poderia explicar.
Aos meus colegas de convivência no apartamento que passei meus oito meses na Itália, Antonio Greco e Clemente Maesano, meus revisores nativos oficiais das transcrições que fazia, se oferecendo prontamente a me ajudar, a corrigir minhas falhas na escrita e interpretação de palavras e expressões diversas presentes no coloquialismo dos entrevistados. Graças ao gentil convite dos dois que pude conhecer o sul da Itália, região menos “desenvolvida”, porém muito mais acolhedora e orgulhosa de sua cultura.
Aos meus professores do curso de doutorado, especialmente...
José Maurício Arruti pelos inesquecíveis debates a respeito do estranhamento e da alteridade com suas longas leituras de autores clássicos da Antropologia. Foram esses autores e suas reflexões que me permitiram entender o que estava passando nos longos meses em Milão, meus estranhamentos e inadaptações, as rejeições por parte dos nativos e a sensação constante de ser apontado como um estrangeiro.
Ana Maria Nicolaci-da-Costa pelas broncas e dicas bem humoradas a partir da minha resistência em ouvir e entender o outro (“Não vá a campo querendo ouvir o que você já sabe!”), dicas estas que me ajudaram a montar todo escopo de roteiro e ida a campo para realização das entrevistas, entendendo a realidade de cada entrevistado e me adaptando de acordo com as falas inesperadas e o temperamento de cada doutor entrevistado.
Sonia Kramer por apresentar autores que debatem a sociedade contemporânea como Richard Sennett e outros que eu já conhecia como Zygmunt Bauman, dando um enfoque diferenciado e nos incitando sempre a debater, mas “de forma civilizada” ;)
Zena Eisenberg por ter ajudado no aprofundamento dos processos de ensino e aprendizagem, auxiliando no mergulho sobre autores tão marcantes como Piaget e Vygotsky, assim como nas suas abordagens teóricas e derivações práticas, autores esses que pude entender depois no contexto do campo das representações mentais, da dinâmica de formação do indivíduo em sociedade.
Ao superágil e sempre disposto Geneci e à colega Nancy, ajudando nas horas mais difíceis da burocracia institucional cotidiana!
Aos doutores em Educação, que além de suas pesquisas originais também deram seu contributo vivencial atendendo ao chamado deste pesquisador, já sabendo como é o mundo de nós doutorandos, farejadores de fontes e de sujeitos para nossas pesquisas!
À Itália, por ter me desafiado no âmbito das relações sociais (convivendo com italianos e falando a língua deles) e habilidades do lar (gerência de um espaço doméstico), oferecendo novos desafios a quem deve sobreviver por alguns meses, fisicamente distante, dos amigos e dos parentes, fazendo-me viver na pele o que é ser um estrangeiro em terra de nativos.
E finalmente às agências financiadoras CNPq e CAPES pelo apoio tanto no Brasil quanto na Itália, assim como todo esforço na PUC-Rio em manter a gratuidade de seus cursos de pós-graduação em Educação, permitindo o ingresso e a conclusão do mesmo.
Resumo
Rosado, Luiz Alexandre da Silva; Mamede, Maria Apparecida Campos. Quando os doutorandos visitam o ciberespaço: o uso de suportes digitais na produção acadêmica em um período de transições, Rio de Janeiro, 2012. 478p. Tese de Doutorado - Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. A presente tese tem como objetivo compreender, com maior profundidade,
os processos emergentes na vida do acadêmico com a apropriação dos suportes
digitais e seu formato específico de armazenamento, tratamento e acesso à
informação. Essa apropriação ocorre especialmente a partir do início dos anos 90
em que se processa a expansão da computação pessoal e da rede internet em larga
escala, em ritmo diferente em diversos países, com o aprofundamento da
sociedade em rede nos anos 2000. Analisa-se o modo de agir dos intelectuais
acadêmicos contemporâneos e suas práticas, em uma fase na qual a mídia
tradicional analógica, representada pelos meios de comunicação impressos (livros
e revistas científicas) é mesclada com a nova mídia digital, que redesenha os
antigos formatos e propõe outros novos. Para isso foram selecionados dezesseis
doutores ligados à área de Educação que se formaram entre os anos de 2005 e
2010, oito no Brasil (PUC-Rio) e oito na Itália (UCSC Milano), para compor um
estudo de casos múltiplos (Yin, 2001) através de entrevistas semi-estruturadas.
Pela exaustiva análise de conteúdo das transcrições (Bardin, 1977), emergiram
sete grandes Eixos temáticos, a saber: (I) Trajetória de vida acadêmica e digital;
(II) Usos da tecnologia; (III) Modo de leitura; (IV) Modo de escrita; (V) Uso de
fontes; (VI) Modo de organização; (VII) Modo de comunicação. Entre os
resultados encontrados, a atividade autoral do acadêmico usando tecnologias
digitais possui inúmeros fatores de influência: o tema de pesquisa escolhido, os
agentes de interesse inicial pelo uso das tecnologias, a predisposição em explorar
novos recursos disponíveis, o tipo de empiria (presencial ou via internet) e o tipo
de fontes necessárias para formar a base teórica. O modelo de análise aplicado a
cada entrevista mostrou que esta multideterminação se traduz em inúmeras
práticas individuais originais, como a busca circular contínua em diferentes
suportes, a leitura de textos em tela, a escrita simultânea e em camadas, o uso das
novas fontes empíricas e a re-análise de bases de dados disponíveis na internet.
Embora o processo de digitalização de fontes e meios de buscá-las esteja em plena
marcha através de buscadores generalistas e bases de dados universitárias, no que
tange aos modos de leitura ainda persiste a conservação de hábitos ligados ao
meio impresso e analógico e a subutilização dos potenciais oferecidos para a
comunicação com outros pesquisadores, especialmente o receio de compartilhar
projetos e resultados de pesquisa em meios informais e comunidades virtuais
abertas. Visando traçar um conjunto de informações úteis que auxiliem nos
futuros programas de formação do professor-pesquisador, esta tese pode servir
para a construção de atividades e cursos que ajudem a desenvolver uma
aprendizagem mais sólida no uso das mídias digitais nos cursos de doutoramento
em Educação e nas ciências humanas em geral.
Palavras-chave
Produção acadêmica; autoria acadêmica; suportes digitais.
Abstract
Rosado, Luiz Alexandre da Silva; Mamede, Maria Apparecida Campos (Advisor). When doctoral students visit cyberspace: the use of digital media in academic production in a period of transition, Rio de Janeiro, 2012. 478p. PhD Thesis - Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. This thesis aims to understand, in depth, the processes emerging in the
academic life with the appropriation of digital media and its specific format
storage, treatment and access to information. This appropriation is especially true
since the early 90s in which proceeds the expansion of personal computing and
internet network on a large scale in different countries, with the deepening of the
network society in the 2000s. It analyzes the mood of the contemporary
intellectual and academic practices in a phase in which the traditional analog
media, represented by print media (books and journals) is merged with the new
digital media, which redraws the old formats and proposes new ones. For this we
selected sixteen doctors related to the field of Education who graduated between
the years 2005 and 2010, eight in Brazil (PUC-Rio) and eight in Italy (UCSC
Milano), to compose a multiple case study (Yin, 2001) through semi-structured
interviews. Through exhaustive content analysis of the transcripts (Bardin, 1977),
emerged seven major thematic axes, namely: (I) Trajectory of digital and
academic life; (II) Uses of technology; (III) Reading mode, (IV) Writing mode;
(V) Use of sources; (VI) Mode of organization; (VII) Communication mode.
Among the findings, the author of scholarly activity using digital technologies has
numerous influencing factors: the research topic chosen, the agents of initial
interest in the use of technology, the willingness to explore new resources
available, the type of empiricism (in person or via internet) and type of resources
needed to form the theoretical basis. The analysis model applied to each interview
showed that this multiplicity is reflected in numerous unique individual practices,
such as continuous circular search in different media, reading texts on screen,
writing and simultaneous layers, the use of new empirical sources and re-analysis
of available databases on the Internet. Although the process of scanning sources
ways to pick them up is well underway through general search engines and
academic databases, with respect to ways of reading persists conservation habits
linked to print and analog and underutilization of potential available for
communication with other researchers, especially the fear of sharing projects and
research results in informal ways and open virtual communities. Seeking to draw
a set of useful information to assist in future training programs of teacher-
researcher, this thesis can serve to build activities and courses that will help
develop a stronger learning in the use of digital media in Education PhD courses
and in the humanities in general.
Keywords
Academic research; academic authoring; digital media.
Sumário
1 Considerações introdutórias 25
1.1 Procurando conexões no campo da autoria com suporte digital 26
1.2 Questões norteadoras de estudo 32
1.3 Estrutura da tese 34
I. A CULTURA ACADÊMICA E A CIBERCULTURA 38
2 Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 39
2.1 A cibercultura e o ciberespaço: nascimento, discurso e herança 45
2.1.1 Cultura hacker, copyleft e o ideal de acesso livre à informação 51
2.2 O suporte digital e as mudanças na leitura, na escrita e no acesso às informações 60
2.2.1 Do modelo emissão-canal-mensagem-recepção à co-criação em rede 63
2.2.2 A emergência dos leitores-navegadores-autores no ciberespaço 65
2.2.3 A arquitetura hipertextual em rede do ciberespaço: a co-autoria em potencial 69
2.2.4 A convergência dos formatos e a liberação da produção autoral: entre a liberdade e a qualidade 79
2.2.5 O hipertexto veloz, a explosão de informações e a tradição dos suportes analógicos 85
2.2.6 A tradição da autoria acadêmica e as brechas abertas pelos suportes digitais 92
2.2.7 Bases de dados online: plataformas de comunicação científica? 100
2.3 Mapeando as brechas: em que pontos o suporte digital pode mudar a autoria dos acadêmicos? 106
3 Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêmicos do computador e da internet 110
3.1 Anos 90: apropriação da internet em seus recursos básicos 112
3.1.1 Considerações sobre os estudos dos anos 90 121
3.2 Anos 2000-2005: caminhando para os padrões atuais de utilização 123
3.2.1 Considerações sobre os estudos entre os anos 2000 e 2005 136
3.3 Anos 2006-2010: as rotinas básicas de pesquisa permanecem 139
3.3.1 A internet e o computador entre os graduandos 148
3.4 O que os estudos anteriores apontam? Entre a conservação e o avanço no uso dos suportes digitais 153
II. PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DA PESQUISA 160
4 Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 161
4.1 As etapas do sistema educacional italiano e brasileiro 162
4.2 O curso de doutorado em dois países “em recuperação” 165
4.3 O processo institucional do ensino superior italiano e brasileiro 171
4.4 O acesso à mídia analógica e digital nos dois países 184
5 Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 188
5.1 Breve descrição dos locais de realização da pesquisa 192
5.1.1 Traçando pontos de convergência: o JER no Brasil e o CREMIT na Itália 193
5.1.2 Estrutura, história e aproximações entre a PUC-Rio e a UCSC 196
6 Metodologia 202
6.1 Tipo de pesquisa 202
6.1.1 Alguns apontamentos sobre limitações desta pesquisa 205
6.2 Atores da pesquisa 207
6.2.1 Critérios para escolha dos atores 209
6.2.2 Exclusões de entrevistas e algumas exceções 212
6.3 Instrumentos utilizados na coleta de dados 214
6.3.1 A entrevista 214
6.3.2 Diário de campo 216
6.4 Procedimentos para coleta de dados e preparação do material empírico 217
6.4.1 Entrevistas-piloto e entrevistas de ambientação 217
6.4.2 Estudo de casos múltiplos com entrevistas semi-dirigidas 217
6.4.3 Procedimentos quanto à transcrição das entrevistas e resumo dos pontos principais 220
6.5 Instrumentos e procedimentos para a análise de dados via criação de categorias temáticas 223
III. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS COLETADOS 230
7 Análise dos dados coletados: a autoria acadêmica em uma década de transição midiática vista através dos sete eixos temáticos tomados separadamente 231
7.1 Trajetória de vida acadêmica e digital: de onde vêm e o que faziam antes 234
7.2 Usos da tecnologia: quando e como os suportes digitais entraram na vida cotidiana 241
7.3 Modo de leitura: como os suportes digitais estão sendo apropriados na leitura 262
7.4 Modo de escrita: como os suportes digitais estão sendo apropriados na escrita. 285
7.5 Uso de fontes: os usos, os locais de acesso e os tipos de fontes. 314
7.6 Modo de organização: os suportes digitais na sistematização dos materiais coletados 353
7.7 Modo de comunicação: os suportes digitais no contato cotidiano com pesquisadores e outros sujeitos 370
8 Considerações conclusivas 390
8.1 As transições em múltiplos níveis: principais tendências e permanências detectadas a partir da análise crítica da empiria 390
8.2 Novos suportes, novos produtos? O que fazer quando se exige mais do mesmo? 409
9 Referências bibliográficas 416
10 Anexos 426
I. Roteiro de entrevista utilizado na Itália (versão 5 – bilíngue) 426
II. Carta aos doutores formados na UCSC entre 2005 e 2010 429
III. Roteiro de entrevista utilizado no Brasil (versão 5) 430
IV. Carta aos doutores formados na PUC-Rio entre 2005 e 2010 432
V. Descrição das 45 categorias-dimensões da atividade autoral 433
VI. Gráficos com as 45 categorias-dimensões da atividade autoral aplicadas a cada um dos 16 casos 451
VII. Dados detalhados que deram origems aos gráficos de cada um dos 16 casos 467
Lista de figuras
Figura 1 - Representação de parte da rede internet em 15 de janeiro de 2005, em que cada linha correponde a ligação de dois endereços da rede e as cores dividem os vários tipos de domínios (Fonte: The Opte Project, 2005). 71
Figura 2 - Topologias de redes de comunicação segundo Paul Baran (1964). 73
Figura 3 - Uma típica página de jornal já prepara o leitor para a hipertextualidade ao remeter a leitura para diversos pontos internamente e externamente (Fonte: Wikimedia Commons, 2011). 78
Figura 4 - Tela do site Scielo contendo os volumes e números da Revista Brasileira de Educação. 88
Figura 5 - Programa da plataforma móvel Android simulando estante e página de livro impresso sendo virada. 89
Figura 6 - Tela principal dos sistemas de busca de teses e dissertações da Unicamp e da USP contendo milhares de trabalhos acadêmicos para download. 101
Figura 7 - Pesquisa integrada de documentos da PUC-Rio em que dezenas de bases de dados são vasculhadas simultaneamente a partir de palavras-chave. 102
Figura 8 - Fatores que intervém nos estudos sobre acadêmicos e uso de TICs. 111
Figura 9 - Comparativo dos sistemas de ensino italiano e brasileiro em ordem crescente no tempo por faixas etárias e duração média dos cursos (Fonte: ilustração do próprio autor). 165
Figura 10 - Ferramentas digitais mobilizadas pelo autor durante a pesquisa da tese. 190
Figura 11 - Critérios de seleção dos sujeitos participantes da pesquisa 210
Figura 12 - Exemplo de uma ficha com o resumo dos pontos principais da entrevista. 222
Figura 13 - Exemplo de uma seção da ficha de análise de entrevista contendo 5 categorias temáticas no lado esquerdo e seus subitens. 228
Figura 14 - Resumo das etapas de pré-análise das entrevistas e análise de conteúdo. 229
Figura 15 - Formas de contato inicial com a internet presentes nos depoimentos. 239
Figura 16 - Computador Commodore 64, lançado em 1982, ligava-se diretamente em aparelhos de televisão (Fonte: fotografia de Bill Bertram, Wikimedia Commons). 243
Figura 17 - Computador TK 2000 Color, da empresa Microdigital, lançado em 1984, ligava-se diretamente em aparelhos de televisão (Fonte: Wikimedia Commons). 244
Figura 18 - Notas resgatadas do arquivo de David Foster Wallace, romancista norte-americano, a partir da leitura do livro Carrie de Stephen King (Fonte: http://io9.com/) 289
Lista de tabelas
Tabela 1 - Comparativo Brasil-Itália através de alguns indicadores de desenvolvimento. 162
Tabela 2 - Descrição dos itens da Variável 1. 235
Tabela 3 - Descrição dos itens da Variável 2. 235
Tabela 4 - Descrição dos itens da Variável 3. 236
Tabela 5 - Descrição dos itens da Variável 4. 236
Tabela 6 - Descrição dos itens da Variável 5. 238
Tabela 7 - Descrição dos itens da Variável 7. 242
Tabela 8 - Descrição dos itens da Variável 11. 245
Tabela 9 - Descrição dos itens da Variável 6. 247
Tabela 10 - Descrição dos itens da Variável 8. 249
Tabela 11 - Descrição dos itens da Variável 10. 250
Tabela 12 - Descrição dos itens da Variável 12. 253
Tabela 13 - Descrição dos itens da Variável 13. 255
Tabela 14 - Descrição dos itens da Variável 9. 259
Tabela 15 - Descrição dos itens da Variável 14. 263
Tabela 16 - Descrição dos itens da Variável 15. 268
Tabela 17 - Descrição dos itens da Variável 18. 270
Tabela 18 - Descrição dos itens da Variável 16. 272
Tabela 19 - Descrição dos itens da Variável 17. 274
Tabela 20 - Descrição dos itens da Variável 19. 278
Tabela 21 - Descrição dos itens da Variável 20. 286
Tabela 22 - Descrição dos itens da Variável 21. 292
Tabela 23 - Descrição dos itens da Variável 22. 295
Tabela 24 - Descrição dos itens da Variável 23. 298
Tabela 25 - Descrição dos itens da Variável 24. 299
Tabela 26 - Descrição dos itens da Variável 25. 303
Tabela 27 - Descrição dos itens da Variável 26. 306
Tabela 28 - Descrição dos itens da Variável 27. 308
Tabela 29 - Descrição dos itens da Variável 28. 314
Tabela 30 - Descrição dos itens da Variável 29. 322
Tabela 31 - Descrição dos itens da Variável 30. 327
Tabela 32 - Descrição dos itens da Variável 31. 327
Tabela 33 - Descrição dos itens da Variável 36. 330
Tabela 34 - Descrição dos itens da Variável 32. 336
Tabela 35 - Descrição dos itens da Variável 33. 337
Tabela 36 - Descrição dos itens da Variável 34. 339
Tabela 37 - Descrição dos itens da Variável 35. 340
Tabela 38 - Descrição dos itens da Variável 37. 346
Tabela 39 - Descrição dos itens da Variável 38. 353
Tabela 40 - Descrição dos itens da Variável 39. 357
Tabela 41 - Descrição dos itens da Variável 40. 360
Tabela 42 - Descrição dos itens da Variável 41. 365
Tabela 43 - Descrição dos itens da Variável 42. 370
Tabela 44 - Descrição dos itens da Variável 43. 378
Tabela 45 - Descrição dos itens da Variável 44. 381
Tabela 46 - Descrição dos itens da Variável 45. 386
Lista de gráficos
Gráfico 1 - Expansão do período de vigência da lei de direito autoral nos EUA ao longo dos séculos XVIII, XIX, XX e XXI (Bell, 2008). 55
Gráfico 2 - Modelos de rede variando de acordo com o tamanho da comunidade e a viabilidade da comunicação entre seus membros (Fonte: Shirky (2012) com modificações). 75
Gráfico 3 - Percentual de utilização da internet (1990-2010) nos países onde os estudos foram realizados (Fonte: Banco Mundial, Indicadores do Desenvolvimento Mundial. Google Public Data Explorer). 153
Gráfico 4 - Número de doutores formados na Itália (Fonte: Relatório L´Università in Cifre 2009-2010 (MIUR, 2011, p. 63)). 168
Gráfico 5 - Número de doutores formados no Brasil (Fonte: Relatório CGEE (2010) a partir dos dados da Coleta Capes (Capes, MEC) e MCT (2010)). 170
Gráfico 6 - Percentual de utilização da internet nos EUA, Itália e Brasil (Fonte: Banco Mundial, Indicadores do Desenvolvimento Mundial. Google Public Data Explorer). 187
Gráfico 7 - Variável “1. Relação com a Academia (Academicidade)”. 234
Gráfico 8 - Variável “2. Posição universitária (Autoridade)”. 235
Gráfico 9 - Variável “3. Momento (Temporalidade)”. 236
Gráfico 10 - Variável “4. Área de procedência (Anterioridade)”. 236
Gráfico 11 - Variável “5. Uso de TICs (Tecnicidade)”. 237
Gráfico 12 - Variável “7. Período inicial (Temporalidade)”. 241
Gráfico 13 - Variável “11. Objetivos de uso (Finalidade)”. 245
Gráfico 14 - Variável “6. Interesse inicial (Causalidade)”. 247
Gráfico 15 - Variável “8. Aprendizado inicial (Formalidade)”. 249
Gráfico 16 - Variável “10. Conhecimento (Familiaridade)”. 250
Gráfico 17 - Variável “12. Análise dos dados (Tecnicidade)”. 253
Gráfico 18 - Variável “13. Atividades (Atividade)”. 255
Gráfico 19 - Variável “9. Imersão (Profundidade)”. 259
Gráfico 20 - Variável “14. Suporte (Materialidade)”. 263
Gráfico 21 - Variável “15. Local das anotações (Localidade)”. 268
Gráfico 22 - Variável “18. Técnicas de destaque (Recordabilidade)”. 270
Gráfico 23 - Variável “16. Compartilhamento (Coletividade)”. 272
Gráfico 24 - Variável “17. Prestígio do autor (Autoridade)”. 273
Gráfico 25 - Variável “19. Técnicas de confiabilidade (Confiabilidade)”. 278
Gráfico 26 - Variável “20. Ordem (Simultaneidade)”. 286
Gráfico 27 - Variável “21. Ambiência (Localidade)”. 292
Gráfico 28 - Variável “22. Co-autoria (Coletividade)”. 295
Gráfico 29 - Variável “23. Temática (Tematicidade)”. 298
Gráfico 30 - Variável “24. Autoria própria (Originalidade)”. 299
Gráfico 31 - Variável “25. Instrumento (Instrumentalidade)”. 302
Gráfico 32 - Variável “26. Presença da internet (Conectividade)”. 305
Gráfico 33 - Variável “27. Técnicas (Tecnicidade)”. 307
Gráfico 34 - Variável “28. Busca no tempo (Acumulabilidade)”. 314
Gráfico 35 - Variável “Local de busca”. 321
Gráfico 36 - Variável “30. Abrangência (Proximidade)”. 326
Gráfico 37 - Variável “31. Objetivo (Finalidade)”. 327
Gráfico 38 - Variável “36. Produção da empiria (Verificabilidade)”. 330
Gráfico 39 - Variável “32. Tradição (Durabilidade)”. 336
Gráfico 40 - Variável “33. Origem no tempo (Antiguidade)”. 337
Gráfico 41 - Variável “34. Suporte (Materialidade)”. 339
Gráfico 42 - Variável “35. Posse dos materiais (Materialidade)”. 340
Gráfico 43 - Variável “37. Tipo utilizados”. 345
Gráfico 44 - Variável “38. Sistematização (Sistematicidade)”. 353
Gráfico 45 - Variável “39. Suporte (Materialidade)”. 357
Gráfico 46 - Variável “40. Classificação (Tematicidade)”. 360
Gráfico 47 - Variável “41. Local de armazenamento (Disponibilidade)”. 365
Gráfico 48 - Variável “42. Abrangência (Proximidade)”. 370
Gráfico 49 - Variável “43. Tradição (Durabilidade)”. 378
Gráfico 50 - Variável “44. Objetivo (Finalidade)”. 381
Gráfico 51 - Variável “45. Ideias novas (Originalidade)”. 386
Lista de quadros
Quadro 1 - Alternativas para a autoria e distribuição de obras intelectuais provenientes da cultura hacker gestada na cibercultura nascente. 59
Quadro 2 - Processos de leitura e escrita emergentes com a cibercultura e o ciberespaço (digitalização dos dados). 84
Quadro 3 - Desafios dos suportes digitais hipertextuais aos autores acadêmicos. 92
Quadro 4 - Tendências nos usos de TICs por acadêmicos nos anos 90. 122
Quadro 5 - Tendências nos usos de TICs por acadêmicos no início dos anos 2000. 139
Quadro 6 - Considerações gerais sobre os estudos anteriores 158
Quadro 7 - Principais assuntos presentes na revisão de estudos empíricos que influenciam nos usos da internet e do computador. 159
Quadro 8 - Semelhanças entre Brasil e Itália nos cursos de Ensino Superior. 171
Quadro 9 - Tendências da pós-graduação no Brasil e na Itália nos últimos 10 anos. 183
Quadro 10 - Aproximações entre as universidades PUC-Rio e UCSC de Milão. 200
Quadro 11 - Resumo das entrevistas realizadas e procedência dos sujeitos. 214
Quadro 12 - Escolhas metodológicas para as entrevistas 220
Quadro 13 - Síntese dos eixos temáticos surgidos a partir da leitura flutuante do material empírico. 223
Quadro 14 - Eixos temáticos com suas variáveis / categorias temáticas de análise correspondentes. 233
Quadro 15 - Considerações resumitivas sobre as trajetórias de vida acadêmica e digital relatas pelos doutorandos. 241
Quadro 16 - Condiderações resumitivas sobre os usos da tecnologia relatados pelos doutorandos. 262
Quadro 17 - Considerações resumitivas sobre os usos da tecnologia pelos doutorandos. 285
Quadro 18 - Considerações resumitivas sobre os modos de escrita relatados pelos doutorandos. 313
Quadro 19 - Condiderações resumitivas sobre os uso de fontes relatados pelos doutorandos. 352
Quadro 20 - Condiderações resumitivas sobre os modos de organização relatados pelos doutorandos. 369
Quadro 21 - Condiderações resumitivas sobre os modos de comunicação relatados pelos doutorandos. 389
Quadro 22 - Indícios de transição, encontrados nos depoimentos, que merecem destaque. 405
Quadro 23 - Síntese dos modelos tradicionais e emergentes detectados na pesquisa (binômios e trinômios). 408
Quadro 24 - Multideterminação dos usos: principais fatores encontrados na empiria. 409
Lista de abreviaturas
ANVUR – Agenzia di Valutazione del Sistema Universitario e della
Ricerca.
ARPA – Advanced Reserarch Projects Agency.
AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem.
BIT – BInary digiT.
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior.
CC – Computador Conectado.
CC – Creative Commons.
CFE – Conselho Federal de Educação.
CINECA – Consorzio interuniversitario per la gestione del centro di calcolo
elettronico dell’Italia Nord-orientale.
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
CREMIT – Centro di Ricerca sull´Eduzazione ai Media all´informazione e
ala Tecnologia.
ECTS – European Credits Trasfer Sistem.
ENQA – European Network for Quality Assurance.
EUA – Estados Unidos da América.
FDL – Free Documentation License.
FTP – File Tranfer Protocol.
GCC – Gestão do Conhecimento Científico.
GPL – General Public License.
GUI – Graphical User Interface.
HTTP – Hypertext Transfer Protocol.
IRC – Internet Relay Chat.
ISTAT – Istituto nazionale di statistica.
JER – Jovens em Rede.
LAN – Local Area Networks.
LDB – Lei de Diretrizes e Bases.
M.A. – Master of Arts.
MEC – Ministério da Educação.
MinC – Ministério da Cultura.
MIT – Massachusetts Institute of Technology.
MIUR – Ministero dell'Istruzione, dell'Università e della Ricerca.
OA – Open Access.
PDF – Portable Document Format.
PC – Personal Computer.
Ph.D. – Philosophiae Doctor / Philosophy Doctor.
PNPG – Plano Nacional de Pós-Graduação.
RI – Repositório Institucional.
TCP/IP – Transmission Control Protocol / Internet Protocol.
TIC ou NTIC – (Novas) Tecnologias da Informação e Comunicação.
UCSC – Universitá Cattolica del Sacro Cuore di Milano.
UE – União Europeia.
URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
VQR – Valutazione della Qualità della Ricerca.
WAN – Wide Area Networks.
1 Considerações introdutórias
Como se inicia o fazer de uma tese? Talvez ou quase sempre de algumas
das inquietações surgidas no campo da investigação, pensadas desde o início, a
partir de questionamentos que, muitas vezes, constituem exatamente o final de um
trabalho acadêmico.
É assim com muita gente; foi assim comigo. Foi interrogando sobre que
rumos o processo de autoria de caráter formal, institucionalizado através de curso
universitário de pós-graduação, estava tomando, em relação aos modos
emergentes de escrita e publicação autoral não formal observados na internet.
Essas particularidades que me incentivaram a realizar este estudo, já
estavam um tanto percebidas, quando realizei pesquisa anterior sobre o grupo de
autores extra-acadêmicos da Wikipédia (Rosado, 2008), minha dissertação de
mestrado. Na época, verifiquei que as fontes de origem acadêmica, ou seja, artigos
científicos, livros de autores universitários, exerciam papel fundamental em suas
construções textuais coletivas.
Por isso, como a cultura derivada do formato digital, a princípio, vem
atingindo com maior velocidade todas as classes de autores-produtores, sejam
institucionais como os não-institucionais, resolvi voltar a minha atenção para este
grupo tão especial que são os autores acadêmicos e toda tradição histórica que os
cerca (Verger, 1999; Le Goff, 2010).
Através de uma maior aproximação, em estudo qualitativo, procurei
entender com detalhes em que dimensões os suportes digitais vem sendo
apropriados (ou não) por eles, em sua rotina durante a escrita de suas teses
acadêmicas ao longo do doutoramento. Está posto, portanto, o ponto de partida de
minha tese.
Considerações introdutórias 26
1.1 Procurando conexões no campo da autoria com suporte digital
No meu trabalho sobre a Wikipedia, pude observar os movimentos de
autoria coletiva informal de textos, visto que ela se constitui e tem por objetivo a
compilação de verbetes sobre todos os assuntos através de contribuições feitas por
autores de diversas partes do mundo em processo coletivo e, a princípio,
cooperativo. É uma enciclopédia construída desde o seu início no espaço digital,
inaugurada em 2001 e que permanece na lista dos sites mais acessados do mundo
(Google, 2011), alcançando a 6ª posição em julho de 2011, se mantendo entre as
referências textuais mais acessadas na internet e sendo o projeto de autoria
coletiva mais conhecido e consultado.
Desde quando concluí esse estudo, tomei contato com diversos livros que
vem abordando os novos fenômenos de autoria. Uns, o fazem pelo lado otimista,
através da repercussão nas novas maneiras de se criar produtos via ações coletivas
na internet, por exemplo: Clay Shirky (2011; 2012) e Don Tapscott e Anthony D.
Williams (2007). Outros vão pelo lado pessimista, como Andrew Keen (2009)
com sua crítica aos amadores e ainda pelo lado neutro, mas conservador, como
Umberto Eco e Jean-Claude Carrière (2010) a respeito do valor do livro impresso
e Robert Darnton (2010) sobre as transformações e ameaças que o digital traz para
o acervo das bibliotecas físicas.
Todos, de alguma forma, têm em comum a surpresa frente aos fenômenos
de produção autoral coletiva e a digitalização de seus produtos surgidos na década
de 2000.
Do ponto de vista educacional, a Wikipédia se constituiu como um local
de aprendizado, por parte de seus colaboradores, de estratégias antes usadas entre
os muros universitários, em processos de pesquisa institucionalizados, estratégias
estas agora compartilhadas para resolver uma tarefa coletivamente organizada de
autoria: a escrita de verbetes enciclopédicos. Esta tradução de práticas de um
espaço a outro surgida em um ambiente online, de maneira coletivamente
organizada, é uma das manifestações do que se convencionou chamar Web 2.0,
em que ferramentas de construção coletiva permitem a criação de comunidades
Considerações introdutórias 27
voltadas a alimentar bases de dados em comum para determinados objetivos a
serem alcançados.
Em minha pesquisa, pude ainda notar que os autores, chamados entre eles
de wikipedistas, apesar de trabalharem com a construção de um texto aberto à
participação de todos que desejam editar e contribuir com novas informações
criaram sua própria maneira de gerir burocraticamente a escrita, através de um
espaço interno do site denominado portal comunitário. Nesse espaço as regras e
valores são discutidos, principalmente pelos participantes mais ativos da
comunidade de autores (por volta de 300 na época de realização do meu estudo).
Para um observador desatento aos detalhes do processo, o caso poderia ser
reduzido à pura anarquia autoral, tanto na pesquisa quanto na escrita,
especialmente se for visto por um observador não consciente do processo “por
dentro”, observando, nos registros deixados pelos wikipedistas, o desenrolar das
discussões feitas através do tempo.
Entre os três princípios fundamentais, não modificáveis e aplicáveis a
todas as Wikipédias existentes (mais de 200 em idiomas diferentes) geridas pela
Fundação Wikimedia, está o princípio da verificabilidade (Rosado, 2008, p. 184),
que indica a necessidade de apontar a fonte de origem de determinada informação
citada no verbete para que outros leitores possam acessá-la e verificar a
consistência dos dados1.
Foi marcante observar que, entre os critérios de seleção e uso de fontes
expressos pelos wikipedistas, estavam aquelas que seriam as mais certificadas, as
válidas e confiáveis no entender deles, por refletirem resultados de pesquisas e de
revisão pelos pares; ou seja, as de origem preferencialmente acadêmica ou que
tenham passado por processo semelhante ao acadêmico utilizado em revistas
científicas. No discurso observado nos manuais da Wikipédia, é comum apontar-
se os blogs e sites pessoais, por exemplo, como fontes pouco confiáveis, por
serem publicações feitas pelo próprio autor sem passar por critério algum de
revisão ou parecer científico.
Assim, perceber a academia, com seus princípios e métodos de validação,
ser tomada como referência me motivou a ir para o outro polo da autoria, o
acadêmico, e ver como as fontes e espaços digitais (computador e a internet),
1 Ver o seguinte endereço: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:Verificabilidade>.
Considerações introdutórias 28
sejam coletivas ou não coletivas, entram no processo de escrita do pesquisador e
autor acadêmico, aquele que gera boa parte das fontes certificadas para consulta
nesses espaços emergentes de autoria coletiva.
Dessa forma, tomei como uma das premissas de meu trabalho buscar as
estratégias e práticas emergentes de autoria no espaço acadêmico que pudessem
gerar alguns vislumbres da relação de dois polos tão distintos e até mesmo vistos
como contrários, antagônicos, um associado à produção confiável (espaço
universitário) e outro associado à produção inconsistente (espaço digital) de
textos.
Se observada a datação das primeiras universidades medievais na Itália
(Bolonha, ano 1088), França (Paris, ano 1090), Inglaterra (Oxford, ano 1096) e
posteriormente nos outros países europeus, a academia tem um peso de 900 anos
de história na produção cultural em instituições formais no Ocidente. Por outro
lado, a internet e os espaços de escrita individual (e-mail, blogs, websites
pessoais, repositórios de notícias, comunidades virtuais, listas de discussão, redes
sociais) ou coletiva (wikis, editores de texto online) são proporcionalmente muito
recentes, com cerca de 30 anos para os mais antigos e pouco mais de 10 anos para
os pertencentes à Web 2.0.
Esses espaços emergentes de escrita não contam com o peso
institucionalizado da universidade, conseguindo seus habitantes andarem de forma
mais livre de procedimentos padronizados, com projetos e propostas ainda
embrionários, embora já com alcance mundial pela própria característica da
internet que permite facilmente este alcance de conexão entre as pessoas. Embora
propício a rápidas inovações (veloz), o espaço digital é mais instável (maleável),
justamente pela liberdade e não consolidação de suas regras de trabalho, exigindo
enorme esforço para se estabelecer espaços de discussão mais ou menos
organizados, conforme pude constatar ao observar o portal comunitário da
Wikipédia.
Não é a toa que o perfil dos wikipedistas que constatei naquele trabalho
(Rosado, 2008, p. 155-171) era o jovem do sexo masculino e solteiro, com três
quartos situando-se na faixa dos 16 aos 40 anos de idade (nenhum se situando
acima dos 60 anos), pertencentes às classes média e alta, com grau de instrução
entre o ensino médio (23,8%) e a graduação (46,5%), e morador dos grandes
centros urbanos (Rio de Janeiro, São Paulo e Lisboa). Os mais jovens, ainda
Considerações introdutórias 29
independentes de família constituída (filhos), possuindo tempo disponível e com
grau suficiente de instrução, no contato com a dinâmica da vida urbana, dominam
a produção das informações e os movimentos pioneiros no ciberespaço, mesmo
sem o perfil acadêmico típico (pesquisadores pós-graduados), pelo menos nesse
caso que pude analisar.
Por todo o exposto, a primeira hipótese, de caráter mais geral, que levantei
na constituição do projeto de tese foi a de que, em decorrência de mudanças
profundas nos suportes de autoria, ocorrida principalmente nos últimos 30 anos
(1981-2011), poderiam ter se processado transformações no ato de pesquisa,
envolvendo a busca, seleção e uso de fontes acadêmicas e extra-acadêmicas em
textos científicos.
Fundamentava-me o fato de que as mudanças nos suportes são
representadas principalmente pela difusão da computação pessoal (o personal
computer ou IBM PC), acessível de forma crescente à grande massa de pessoas e
especialmente aos estudantes de mestrado e doutorado (a internet se expande no
ambiente universitário antes de entrar na sociedade de maneira aberta no início
dos anos 90), assim como o acesso a redes digitais mundiais de dados nos últimos
20 anos (web, internet, WWW).
É uma hipótese que aposta no processo de mudança quando um elemento
novo, no caso o suporte de configuração digital, entra em cena. Porém, como toda
hipótese formulada, ela exige ida a campo para verificação de sua validade e
especialmente dos detalhes de adoção e uso desses suportes. Não parto aqui de um
determinismo tecnológico, em que a tecnologia diz às pessoas o que devem fazer
com elas sem permitir atos criativos e inesperados, mas sim do que é feito no
cotidiano a partir da introdução desses novos suportes-objetos técnicos.
Posso afirmar, de modo geral, através dos estudos da cibercultura surgidos
nos anos 90 (Lévy, 1999; Lemos, 2007; Kerckhove, 2009), que estamos em plena
fase de transição midiática, passando de estruturas analógicas de difusão e
compartilhamento de saberes, representadas por livros em papel e revistas
científicas impressas, para novas formas de construção e compartilhamento
digitais, representados por bancos de dados online contendo materiais em diversos
formatos, adicionando novos elementos na ecologia das possiblidades e dos
objetos que dão suporte a dados e informações.
Considerações introdutórias 30
Mas o que a Academia, representada nesse caso por instituições
universitárias, teria a ver com tudo isso? Como estariam as suas práticas nesse
novo contexto, segundo a visão e o próprio relato dos pesquisadores? E no
ambiente da Educação, como esta construção autoral formalizada estaria se
configurando com a introdução dos suportes digitais na vida dos acadêmicos? E
na vida de doutorandos em programas de pós-graduação, que são, a princípio, os
autores de nível mais avançado na educação formal?
Foram questões dessa natureza que me vinham à mente, quando
testemunhava o processo em curso de formação de uma comunidade de autores
como a Wikipédia, que tanto incômodo trazia quando apresentava minha pesquisa
a acadêmicos, que não se continham em comentar sobre os “perigos” (ou mesmo
“malefícios”) das construções autorais coletivas no ciberespaço e sua falta de
certificação e credibilidade.
A importação de práticas acadêmicas por parte dos wikipedistas mostrava
que os entrelaçamentos de culturas a princípio tão diferentes, a cultura acadêmica
baseada na tradição institucional e a cultura ciberespacial (cibercultura) baseada
nas possibilidades dos novos meios digitais, não eram algo tão distante. Só
restaria então saber como isso ocorria e se ocorria de fato, perguntando
diretamente a quem estava nos últimos anos produzindo os textos na Academia,
sendo os doutores uma amostra ideal desse perfil procurado, pois estão no mais
alto grau concedido na academia (curso de doutorado) e têm, como função
principal a pesquisa e a produção de textos.
Mas não se pode esquecer que as permanências também precisam ser
estudadas, pois não se opõem, em um simples binômio novidade-tradição,
ocorrências como se fossem antagônicas, na qual uma deveria eliminar a
existência da outra. Quando abordo de modo mais específico os acadêmicos, e
complemento a cultura surgida no ambiente digital, na observação do cotidiano
das atividades de um programa de pesquisa de mestrado e doutorado, no qual eu
sou simultaneamente participante (no papel de estudante) e observador (no papel
de pesquisador), sou levado a crer na existência de uma cultura acadêmica
constituída pelos valores, hábitos e crenças compartilhadas no ambiente da
universidade em cursos de pós-graduação stricto sensu expressas nas falas e
posturas dos doutores.
Considerações introdutórias 31
Tinha a percepção de que a cultura acadêmica provavelmente possuía
variações de acordo com a carreira optada pelo doutor (cultura relativa à
profissão) e a universidade em que foi formado (cultura relativa às histórias e
inclinações ideológicas de seus administradores e professores), embora a
cooperação entre pesquisadores seja hoje mais intensa, ultrapassando a divulgação
mais tradicional em congressos e reuniões científicas, pela possibilidade do uso da
internet, de ferramentas oferecidas para comunicação no ciberespaço. Nesse caso,
esses fatores poderiam tornar essa cultura mais permeável e flexível, apesar da
força dos laços forjados em contatos presenciais e cotidianos dos pesquisadores
dentro de suas instituições.
Algumas dúvidas embrionárias então surgiram. A cultura acadêmica seria
uma cultura, de fato, em transformação? Ou, pelo menos, estaria sob forte
influência dos espaços emergentes na internet? Ou estaria sendo um universo mais
conservador em que prevalece o girar ao redor da credibilidade e validade de
fontes de dados, no qual as práticas remetem à tradição da consulta a fontes
devidamente produzidas por autores vinculados ao debate científico universitário?
O que sabemos é que a cultura acadêmica é permeada por hábitos ligados à
escrita em suportes analógicos, principalmente livros e revistas científicas
impressas, utilizados há pelo menos nove séculos, no caso dos livros, e três
séculos e meio, no caso das revistas científicas, para a troca de reflexões, teorias e
resultados científicos e o desenvolvimento de diversos campos da ciência.
Este conjunto de indagações e incertezas delineou o percurso
metodológico que escolhi para o estudo, em que procurei acessar na memória de
doutores o modo de elaboração de seus textos, o jogo das referenciações e formas
de certificação de credibilidade de fontes, os tipos de fontes consultadas, o modo
de organização desses dados e as estratégias de leitura de fontes e escrita dos
textos que tomam a forma final e são chamados de teses.
O que procurei fazer foi mergulhar nas descrições das práticas cotidianas
do pesquisador, no modo de fazer relatado pelos recém-formados doutores em
Educação, naquele momento ainda no papel de doutorandos. Arrisco dizer que
esta é uma pesquisa-puzzle, em que pequenas peças são deixadas ao longo das
falas dos entrevistados – nem sempre completas ou explícitas, se ligando com
outras peças deixadas por outros, sem que ao término consigamos montar o
quebra-cabeça definitivo, mas que tenhamos fragmentos de sua paisagem que nos
Considerações introdutórias 32
apontem tendências de como esta autoria formal, acadêmica e institucional,
caminha hoje frente ao turbilhão de recursos e possibilidades oferecidas ao
acadêmico pelo computador e pela internet.
1.2 Questões norteadoras de estudo
De maneira sintética, o problema de pesquisa que se impõe para esta tese é
compreender com maior profundidade as brechas em que o suporte digital e seu
formato específico de armazenamento, tratamento e acesso à informação traz na
vida do acadêmico do campo da educação, na fase em que os acadêmicos do curso
de doutorado estão construindo suas teses, em um momento que a cibercultura se
encontra bastante difundida na sociedade e fazendo parte do dia a dia dos cidadãos
“comuns”.
Do problema chego à questão central, ponto de partida de meu trabalho:
Como os ex-alunos de pós-graduação do curso de doutorado, ligados à
área de Educação, hoje doutores já formados, desenvolveram o processo de
pesquisa e autoria de sua tese acadêmica usando suportes digitais?
Esta questão central se desdobra em outras que, uma vez formuladas,
permitem operatividade ao processo da investigação. São elas:
O que mais caracteriza o uso dos suportes digitais na elaboração das
teses acadêmicas de doutores formados na área de Educação, entre os
anos de 2005 e 2010, a partir do conjunto de casos coletados?
Dentro do conjunto de casos coletados, é possível a identificação de um
ou mais perfis de uso marcantes, ou seja, pontos que convergem as
experiências nos usos e práticas com suportes digitais relatadas por estes
doutores?
Há diferenças significativas na construção autoral e no uso dos suportes
digitais desses doutores (participantes da amostra de casos),
considerando os contextos culturais de diferentes continentes (América
do Sul – Brasil e Europeu – Itália)?
Considerações introdutórias 33
Tendo por base as perguntas de partida da investigação, propus o seguinte
objetivo:
Investigar as práticas emergentes envolvidas na pesquisa científica
acadêmica de doutores ligados à área de Educação, formados entre os
anos de 2005 e 2010, particularmente na PUC Rio e na UCSC2, usando
suportes digitais, no que tange ao processo autoral envolvendo a busca e
leitura de fontes, a leitura de documentos, a escrita da tese, a
organização dos materiais coletados e a comunicação com outros
pesquisadores e sujeitos.
Na consecução deste objetivo, procurei atingir a seguinte meta:
Elaborar um trabalho, a partir dos dados recolhidos do campo empírico,
no qual estivessem explicitadas práticas em curso pelo uso do
computador e da internet como fonte de pesquisa e construção autoral a
partir de entrevistas realizadas com doutores formados na área de
Educação, particularmente na PUC-Rio e UCSC, entre os anos 2005 e
2010.
As duas principais hipóteses com as quais dei início à execução deste estudo
foram:
A primeira se fundamentou no fato de que estamos em uma década de forte
expansão no uso de suportes digitais que alteram os modos estabelecidos de
pesquisa acadêmica através de séculos de uso dos suportes analógicos impressos.
Esta é a hipótese central, pois a variável nova que se procura entender são os
efeitos dos suportes digitais representados pelo computador e pela internet.
A segunda hipótese levantada e que permeou todo o estudo é que essas
alterações provocadas pela entrada dos suportes digitais abarcam o campo
acadêmico da busca e leitura de fontes, da escrita do texto, da organização dos
materiais coletados e da comunicação com outros pesquisadores e sujeitos
estudados.
Essas hipóteses lançaram boas perguntas para compor o roteiro de
entrevistas e ofereceram esquemas de análise interessantes para a estruturação do
2 Assumo ao longo do texto a sigla UCSC para Universitá Cattolica del Sacro Cuore di Milano,
ou simplesmente Universidade Católica de Milão. A pesquisa na Itália ficou concentrada neste campus, embora existam outros campi em outras cidades italianas como Brescia e Roma.
Considerações introdutórias 34
primeiro corpo de categorias temáticas e seleção dos trechos correspondentes dos
dados. Contudo, o melhor achado foi, realmente, a descoberta de tendências de
uso do computador e da internet, novos hábitos de pesquisa com suportes digitais,
estratégias particulares usadas por algum dos doutores, ou seja, o microuniverso
de suas práticas, o objeto cuidadosamente recolhido e enormemente valorizado
nesta tese.
1.3 Estrutura da tese
Para desenvolver as questões de estudo elencadas acima, necessitei me
apoiar em estudos que dão suporte teórico a temas como cibercultura (cultura das
redes informáticas), novas formas de autoria em formato digital, características da
hipertextualidade, comunicação científica e mesmo a cultura formada
historicamente pelos indivíduos letrados, que forjaram modelos institucionais de
pesquisa e ensino cujo modelo central, ora em análise, é a universidade.
Pela natureza deste trabalho, foram tópicos e temáticas desenvolvidos ao
longo do texto resultante dessa pesquisa, ajudando na análise e interpretação
posterior dos dados coletados. Para abordá-los em uma ordem lógica, indo do
aspecto teórico até o aspecto mais prático-empírico, além deste capítulo
introdutório, dividi a tese em três partes: I. A cultura acadêmica e a cibercultura
(capítulos 2 e 3), II. Planejamento e execução da pesquisa (capítulos 4, 5 e 6) e
III. Análise e discussão dos dados coletados (capítulos 7 e 8).
No capítulo 2, tive como objetivo tratar, em primeiro lugar, dos conceitos
envolvidos nas transformações midiáticas a partir da introdução dos suportes de
característica digital na sociedade contemporânea, além de pensar quais pontos
são realmente inovadores, o que de fato trazem de contribuição e de características
particulares diferenciadoras em relação aos anteriores. É uma abordagem que
contém binômios que revelam contrastes do tipo antes-depois, a exemplo do
suporte analógico-suporte digital, do meio de massa-meio personalizado, do
sujeito receptor-sujeito interagente, para que possamos ressaltar as novidades
específicas destes suportes digitais emergentes.
Foram comparados os suportes digitais com os meios de comunicação
analógicos e de transmissão em massa clássicos, apesar do computador e da rede
Considerações introdutórias 35
internet irem muito além de meros meios de comunicação, pois possuem uma
capacidade aglutinadora de reunirem funções em um único local. São postas,
nesse capítulo, questões sobre as possibilidades trazidas pelo que é considerado
novo, ou seja, os suportes de característica digital, que estão compondo uma
variável muito recente na ecologia dos objetos comunicacionais e informacionais
se compararmos com outros objetos consolidados, a exemplo da longa história do
livro e do jornal em suas versões manuscrita e impressa.
No capítulo 3, pude evidenciar, com a ajuda de estudos que se passaram
em diferentes ambientes acadêmicos pelo mundo, que a atividade dos
pesquisadores universitários possui variâncias e especificidades que levam a
apropriações particulares das TICs no cotidiano de suas atividades, ou seja, é uma
apropriação multideterminada, composta de fatores que vão além da
disponibilidade das tecnologias digitais, envolvendo escolhas pessoais, o ambiente
técnico da pesquisa, as alianças e interesses do campo de pesquisa.
Foram elencados estudos empíricos que surgiram ainda na primeira
metade dos anos 90, momento inicial de expansão da internet pelo mundo, e que
persistem até os dias de hoje, acompanhando a rápida evolução dos equipamentos
informáticos em duas décadas de transformações. O objetivo específico desse
capítulo foi, portanto, apresentar os dados surgidos na empiria de outros
pesquisadores em outros países como forma de contraponto para a interpretação
dos meus dados, detectando tendências e recorrências nos achados, tanto a
respeito dos indivíduos quanto a respeito das condições de entorno em que
viviam.
A segunda parte envolve três capítulos: 4º, 5º e 6º.
Os capítulos 4 e 5 tratam do contexto da pós-graduação italiana e brasileira
e das especificidades dos dois locais onde se passou a pesquisa que compôs o
quadro empírico desta tese. São vistas, de forma sumária, as etapas de ensino
existentes hoje em cada um dos países, assim como as suas políticas para os
cursos de pós-graduação, que tiveram forte expansão nos últimos 20 anos, embora
estejam ainda muito aquém de países mais desenvolvidos e que lideram a
produção da pesquisa no mundo.
Vemos, então, que tendências como a implantação de agências e políticas
de avaliação da pós-graduação, a transformação do mestrado em preparação
inicial do pesquisador, o aumento do número de publicações de menor qualidade e
Considerações introdutórias 36
a maior competição entre docentes são comuns aos dois países e refletem um
cenário mundial mais amplo de políticas do ensino superior.
No capítulo 5, são analisadas as estruturas de funcionamento tanto da
PUC-Rio quanto da UCSC procurando-se características comuns (particulares, de
origem católica, fundadas há menos de um século, com áreas diversificadas), pois
foram universidades que serviram de base para a coleta de dados desta tese.
Também é feito um breve histórico a respeito dos grupos de pesquisa JER e
CREMIT, grupos ligados à pesquisa sobre educação e uso de mídias e que
compuseram, com seus integrantes, metade do conjunto de casos analisados neste
estudo.
Para encerrar a segunda parte, no capítulo 6 é detalhado o desenho
metodológico da pesquisa, com base na modalidade de estudo de casos múltiplos
e no tratamento de dados através de técnicas de análise de conteúdo. Contempla,
assim, a fala dos que foram entrevistados, no total, dezesseis sujeitos, oito na
Itália e oito no Brasil, que se formaram no curso de doutorado ao longo da
segunda parte da década de 2000, ajudando a mapear o atual período de fortes
mudanças nos suportes midiáticos (analógico para o digital) e os modos como
estão sendo apropriados no ambiente acadêmico. O capítulo apresenta, ainda, com
base nos dados coletados um quadro com eixos e variáveis de análise aplicadas a
cada caso, compondo a base empírica utilizada na terceira parte.
No capítulo 7, o primeiro da terceira parte, com o objetivo de observar os
pontos de convergência entre os dezesseis casos analisados, reuniu em 45 gráficos
as variáveis de análise correspondentes, utilizadas para compor o perfil de cada
entrevistado. Surgiu, dessa forma, um gráfico para cada uma das variáveis, que
foram, por sua vez, agrupados em cada um dos sete eixos temáticos sedimentados
durante a análise de conteúdo das entrevistas.
Foi possível esboçar algumas inferências por esta aproximação numérica
com os dados. E, na medida em que o valor dos casos analisados só se completa a
partir das considerações feitas sobre os depoimentos dos participantes e
observações aprofundadas, esse cruzamento entre dados quantitativos e análise
qualitativa dos depoimentos é o cerne deste capítulo. Para facilitar a leitura , ao
final de cada eixo temático, sintetizei os pontos principais, em resumos dos
achados empíricos, escalas criadas e conceitos propostos.
Considerações introdutórias 37
O capítulo 8 traz as considerações finais, extraídas da articulação entre os
sete eixos temáticos, que compuseram a análise de dados, e a revisão de estudos
anteriores Nele estão expostas as principais tendências (e permanências)
encontradas no uso de suportes digitais pelos acadêmicos ao longo do processo de
escrita de suas teses, discussão que permitiu algumas considerações finais a
respeito do padrão ainda conservador encontrado nos modos de uso e apropriação
dos suportes digitais pelos acadêmicos.
As recomendações, sempre esperadas de uma tese, estão expostas neste
trabalho como final do capítulo 8, em torno da construção de um perfil autoral que
use novos suportes de característica digital, da exigência de formatos acadêmicos
diferentes dos usuais e da possibilidade imprescindível de mudança da burocracia
institucional universitária.
I. A CULTURA ACADÊMICA E A CIBERCULTURA
2 Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura
Basta que alguns grupos sociais disseminem um novo dispositivo de comunicação, e todo o equilíbrio das representações e das imagens será transformado, como vimos no caso da escrita, do alfabeto, da impressão, ou dos meios de comunicação e transporte modernos (Lévy, 1993, p. 16)
O capítulo atual tem como função preparar conceitualmente para o
entendimento do próximo, em que veremos de maneira bem clara, na revisão de
estudos empíricos, que a apropriação e uso por parte dos acadêmicos é composta
de fatores externos que vão além da disponibilidade das tecnologias digitais,
envolvendo escolhas pessoais, o ambiente técnico da pesquisa, as alianças e
interesses do campo de pesquisa, ou seja, essa multideterminação ligada à história
de vida do sujeito por si só evidencia a direção para um discurso de que nega o
puro determinismo tecnológico e uma suposta natureza boa ou má da técnica.
Detectar transformações não quer dizer detectar determinações.
Oferecemos, neste capítulo, uma síntese de conceitos-chaves que giram ao
redor do suporte digital e suas potencialidades (não são determinações), conceitos
esses surgidos a partir de reflexões sobre a sociedade e sobre a técnica, que unidos
trazem transformações sócio-técnicas, reafirmando a ideia de que objetos
produzidos pelos humanos em sociedade geram transformações na própria
sociedade, de modo circular, contínuo e – porque não? –, imprevisível, pois a
velocidade de criação de novos meios de tratar a informação e a comunicação
surgem a todo momento e alteram, em algumas situações, a própria lógica em que
foram construídos e ofertados. Foi assim com a oralidade, com a escrita, com a
imprensa, com a máquina a vapor, com as estradas de ferro, com o telégrafo,
telefone, televisão, rádio e agora com os computadores em seus múltiplos
formatos.
Pensar, portanto, os modos contemporâneos de apropriação e uso pelos
acadêmicos dos suportes de característica digital em seu processo de formação no
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 40
curso de doutorado, ou seja, os modos como buscam informações, escrevem suas
teses, realizam suas leituras, se comunicam com os pares, armazenam suas
informações, usando seus computadores e a rede internet, requer pensar
primeiramente quais pontos são realmente inovadores a partir do surgimento
destes novos suportes, o que de fato trazem de contribuição e de características
particulares diferenciadoras em relação aos anteriores.
Exige pensar em que pontos os suportes digitais merecem a alcunha de
transformadores, ou seja, o que ocorria antes e o que ocorreu (e ocorre) depois de
seu surgimento, mesmo que esse mapeamento seja datado e saibamos que
transformações na “ecologia dos suportes”3, com o surgimento de novos objetos,
ocorram a todo momento, assim como os usos possíveis não sejam sempre
realizados em todas as circunstâncias e por todos aqueles que fazem suas imersões
nos ambientes digitais.
Em verdade, Santaella (2010) aponta que as primeiras tecnologias digitais
faziam-nos entrar na era das tecnologias do acesso, ou seja, na convergência de
som, imagem, texto provenientes dos supotes anteriores e permitindo o acesso
interativo por parte de quem está imerso nesse novo espaço construído nas redes
informáticas, em contraponto às tecnololgias que limitavam as pessoas a receber
conteúdos já prontos e disponibilizados em massa. Esse movimento, embora com
menos de 30 anos de idade, já está cedendo espaço para a era das tecnologias da
conexão contínua, em que celulares com internet e os novos tablets inserem a
variável espaço geográfico no dia a dia dos internautas, libertando-os da
necessidade de ir até a rede, passando a ter a rede disponível o tempo todo junto a
si através desses objetos móveis.
Pensar em transformação exige também a reflexão sobre o que é
considerado “antigo” ou de “velha guarda”, ou seja, pensar sempre em
3 O exemplo mais recente de objeto-suporte surgido foram os computadores portáteis, sem teclado, com tela sensível ao toque, chamados de tablets. Poucos anos depois que os celulares sensíveis ao toque invadiram a realidade de milhões de pessoas e trouxeram a computação para o patamar da mobilidade, a simples mudança de tamanho da tela acrescentando mais algumas polegadas a esses equipamentos, passando a chama-los de tablets, foi suficiente para a criação de todo um novo mercado, com aplicações específicas com uma miríade de programas para acesso com a ponta dos dedos. Todo esse processo tem menos de 4 anos, ou seja, mal foi detectado nos 16 depoimentos coletados para compor a pesquisa desta tese, um fato que realmente surpreende e mostra a força da transformação dos suportes em curso.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 41
comparação ao que era (e ainda é) possível se fazer com meios ditos analógicos4,
a exemplo do papel impresso, incluindo os livros, os jornais, as revistas, as cartas,
assim como a transmissão eletrônica em massa de imagens e sons, com a TV, o
rádio e o cinema, via películas, fitas magnéticas e ondas hertzianas.
Isso porque estamos comparando os suportes digitais com os meios de
comunicação analógicos e de transmissão em massa clássicos, apesar do
computador e da rede internet irem muito além de meros meios de comunicação,
pois possuem uma capacidade aglutinadora de reunirem funções em um único
local (incluindo a comunicação), algo somente esboçado (e pouco viável) antes do
formato digital de tratamento da informação. Estamos pondo em questão as
possibilidades trazidas pelo que é considerado novo, ou seja, os suportes de
característica digital, que estão compondo uma variável muito recente na
ecologia dos objetos comunicacionais e informacionais se compararmos com
outros objetos consolidados, a exemplo da longa história do livro e do jornal em
suas versões manuscrita e impressa.
Esses novos suportes para a circulação da informação, esboçados nos anos
40 em ambiente exclusivamente militar no auge da Segunda Guerra Mundial e
consolidados ao longo dos anos 60 e 70 em laboratórios estadunidenses de alta
tecnologia nas mãos de acadêmicos do campo das ciências exatas, hoje
miniaturizados e presentes em nosso cotidiano, trazem de novidade o seu formato
de armazenamento e processamento totalmente diferente do anterior (formato
binário) e a forma como interligam as informações e seus meios de escoamento
(redes) com funções que assimilam as anteriores e acrescentam novas
possibilidades não existentes até então.
Materialmente, estamos falando dos computadores, mas também de algo
“imaterial”, a rede formada por estes suportes chamada internet e o formato que
4 Analógico aqui se refere a registros que não recebem uma codificação e posterior decodificação eletrônica, sendo representados através de meios materiais que procuram reproduzir com a máxima analogia o sinal original. Na eletrônica digital todos os sinais são reduzidos em bits, enquanto no registro analógico procura-se registrar o maior nível possível de variações originais do sinal, como os tons de cores através do registro químico de uma imagem em um filme ou todas as variações de ondas sonoras no registro magnético de uma música. A reprodução sucessiva de um registro através da analogia resulta na perda de qualidade em relação à fonte original, processo esse que não ocorre no formato digital eletrônico, a não ser que alguns de seus bits seja corrompido no processo de cópia. O transporte eletrônico em bits possibilita a cópia infinita e sempre igual da fonte original e, a princípio, quanto mais bits são utilizados, maior a precisão com que sons, imagens e vídeos são capturados.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 42
perpassa sua existência, as memórias compostas por bits5 e que fervilham com a
interação de bilhões de usuários6 que trocam mensagens, conectados em
ambientes digitais denominados uniformemente de ciberespaço. De um fenômeno
pertencente inicialmente à esfera técnica e burocrática de instâncias
governamentais passamos então para um fenômeno social abrangente, que permite
a criação de redes de pessoas através da infra-estrutura das redes de
computadores.
Muito mais do que suporte para informações chegarem de um produtor
para um receptor, a internet se transformou potencialmente em uma zona de
intermediação entre seus diferentes usuários, um local “imaterial” em que além de
ser leitor-espectador-usuário, qualquer um é potencialmente co-criador,
interagente, produtor e interventor caso tenha motivação, um ambiente que
possibilite tal ação e algum conhecimento técnico para exercer esse papel. Todo
um movimento para promover o acesso livre à informação e a criação de
comunidades de criadores de conteúdos surgiu a partir das facilidades trazidas
pelo suporte digital (Shirky, 2012).
É uma abordagem que contém binômios que revelam contrastes do tipo
antes-depois, a exemplo do suporte analógico-suporte digital, do meio de massa-
meio personalizado, do sujeito receptor-sujeito interagente, para que possamos
ressaltar as novidades específicas destes suportes digitais emergentes, mas que
não são necessariamente excludentes ou mesmo portadores intrínsecos de uma
nova modalidade de viver e de estar em comunidade, pois a cultura que emerge
com o uso desses suportes não é inerente a eles, como se fosse emanada de forma
autônoma e nós fôssemos somente seus receptores obedientes cumprindo uma
promessa previamente programada.
5 O bit vem da contração da expressão inglesa BInary digiT, sendo a menor unidade de informação a ser armazenada e emitida. O bit assume somente dois valores, um falso e um verdadeiro, chamado de maneira didática de zero (0) e um (1). Um conjunto de 8 bits convencionou-se chamar de byte, em que 256 combinações diferentes são possibilitadas (28), permitindo associá-los em códigos programados para exercerem determinadas funções, os programas de computador. 6 Embora mais a frente eu faça a distinção conceitual entre usuário e interagente proposta por Primo (2003), optei por me referir a quem acessa a internet e o computador como aquele que os utiliza e, portanto, é um usuário, podendo fazer ou não interações com outros usuários, dependendo do ambiente e das possibilidades permitidas por quem o tenha programado. Somente em casos onde o usuário interage explicitamente com outros optei por chama-los de interagentes, pois nem todo uso mobiliza uma interação plena entre pessoas, podendo ser um uso somente de respostas provenientes da máquina (interação reativa).
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 43
Pelo contrário, as transformações e inovações na cultura estão acontecendo
a partir desses novos suportes, com o uso cotidiano deles, na prática diária das
pessoas que os acessam, usam e readaptam conforme suas necessidades, uma
mútua e constante influência de humanos com objetos não-humanos (Latour,
2001), pessoas e coisas formando um coletivo que partilha significação e tem
como resultado a mútua transformação, de forma contínua, criando novas
possibilidades antes não pressentidas e ressignificando práticas estabelecidas e
estáveis até o momento.
É muito mais fácil hoje criarmos programas de computador (a parcela que
domina a técnica) e sites na internet (a parcela disposta a gerar novos ambientes),
assim como materializarmos as redes sociais através de grupos de interesse (a
parcela disposta a compartilhar), sendo o resultado disso uma rápida ascenção de
produtos criados pelos que acessam a rede, que emergem de maneira imprevista
(Shirky, 2012).
Se Bruno Latour (2000, 2001) constatou em seus estudos sobre a ciência e
os cientistas que uma pesquisa procura esconder as suas atividades instáveis, as
surpresas e erros cometidos, as intermináveis testagens e escolhas, em um produto
final com uma “caixa-preta”7 inacessível a quem o recebe (público-alvo final), a
cibercultura e o ciberespaço evidenciam a dificuldade de existirem produtos finais
quando os espaços abertos ao coletivo estão a todo momento sendo construídos e
todos podem, a princípio, observar fluxos e alterações em tempo real. As
comunidades formadas em redes online estão eternamente em versão beta,
fervilhando de interações, sem que alguém de fato consiga “fechar a caixa aberta”,
a não ser que o espaço seja desativado e apagado de seus servidores8 por aqueles
que possuem o poder para isso.
No ciberespaço a construção coletiva é muito mais evidente do que as
produções da ciência, produção essa oculta dos nossos olhos nos laboratórios de 7 Latour (2000, p. 14) afirma que “a expressão caixa-preta é usada em cibernética sempre que uma máquina ou um conjunto de comandos se revela complexo demais. Em seu lugar, é desenhada uma caixinha preta, a respeito da qual não é preciso saber nada, senão o que nela entra e o que dela sai.” 8 Um servidor, no jargão da informática, é todo computador (ou conjunto de computadores) que oferece de maneira dedicada algum serviço para a rede em que está conectado, a exemplo da armazenagem de websites, recebimento e gerenciamento de mensagens de correio eletrônico, gerenciamento de mensagens trocadas através de mensageiros instantâneos. Sem estes computadores, em geral ligados em redes de desempenho muito acima de um computador isolado utilizado em casa ou em escritório (computadores clientes), que permitem o funcionamento de serviços da internet que exigem alto grau de processamento (motores de busca) e de largura de banda (sites que exibem vídeo e som).
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 44
alta e baixa tecnologia, nas residências de pesquisadores que analisam seus dados
coletados e nas produções textuais acadêmicas em repositórios que podem ser
interpretados por poucos “iniciados”. No ciberespaço podemos observar parte
desse processo de construção coletiva em websites que reúnem milhões de
usuários-interagentes, embora tenha também seu grau de “caixas-pretas” através
de inúmeras interfaces construídas, sobrepostas e que nos separam da produção
das memórias eletrônicas, do fazer cotidiano dos softwares e do aparato industrial
por trás da fabricação dos microchips (Lévy, 1993, p. 176-184).
O acesso ao ciberespaço e a permissão de alteração via co-criação
funcionam através de camadas de dificuldade representadas pelo conhecimento
técnico (quem domina o saber para alterar) e pelo poder econômico (quem domina
o recurso para direcionar). Apesar disso, as camadas mais fáceis e abertas à
intervenção são bem mais abrangentes que as existentes até então nos suportes
analógicos dos meios de comunicação de massa, ou seja, os suportes digitais
abrem mais brechas à participação individual e coletiva e expõe mutuamente
mensagens e produções individuais para a análise e intervenção dos pares.
No âmbito acadêmico, a caixa preta pode ser vista quando se pensa nos
espaços ocultos existentes entre a produção autoral por parte de pesquisadores-
doutorandos no campo da Educação, quando entregam seus produtos finais
através de teses em formato de texto. Eles ocultam o que ocorreu entre o momento
de sua entrada no curso (matrícula) e a entrega da versão final do texto escrito
(defesa de tese). Nesse longo processo que os suportes digitais excerceram alguma
influência, pouco ou nada ficou visível, a não ser os discursos dos sujeitos
(entrevistas) que vivenciaram o processo e se dispuseram a doar seus depoimentos
para a realização da pesquisa desta tese.
Pela sua importância conceitual para o presente trabalho nos deteremos, de
modo mais específico, nos discursos sobre a nova cultura que emerge dos espaços
digitais criados na internet, a cibercultura e em seu formato de comunicação em
rede, o hipertexto, sob diferentes pontos de vista. Os dois conceitos, em comum,
nos oferecem uma lente mais precisa para entender os movimentos ocorridos e as
práticas relatadas pelos nossos entrevistados que compuseram os estudos de caso
dessa pesquisa, novos leitores-autores em potencial a partir do uso e constante
recriação desse novo espaço digital.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 45
2.1 A cibercultura e o ciberespaço: nascimento, discurso e herança
Podemos definir cibercultura como o campo de práticas, relações, valores,
narrativas e discursos surgidos a partir da difusão e do uso de tecnologias digitais
eletrônicas que formam em rede o ciberespaço, não sendo somente um fenômeno
técnico, embora seja fundado a partir dele. O ciberespaço é definido, a princípio,
como um novo espaço simbólico e cultural fora das normas do “mundo real”
físico e das suas organizações formais (Macek, 2005), que existe a partir da
interconexão de múltiplos terminais de computadores em rede.
A cibercultura, como a conhecemos hoje, nasce já nos anos 1960 quando
as redes informáticas começam a ser testadas nos laboratórios universitários do
MIT (Massachusetts Institute of Technology). A rigor, essas primeiras redes não
eram universais, eram chamadas de Local Area Networks (LANs), pois eram
limitadas a um local e a computadores próximos. Com a diminuição dos
computadores e dos custos para fazê-los surge a necessidade de transferir
informações (dados em bits) entre eles, incluindo computadores muito distantes.
Dessa forma surgem as Wide Area Networks (WANs).
O problema de compatibilidade entre as redes nascentes será resolvido
alguns anos mais tarde pela ARPA, a Advanced Reserarch Projects Agency, que
criará o conceito de internetwork ou simplesmente internet (Campos, 2003). A
vantagem da internet, comparada aos computadores isolados em redes
proprietárias, está no fato de diferentes tipos de computadores e com diferentes
tipos de sistemas os operando poderem trocar informações entre si de maneira
compatível9 por diferentes vias, como cabos, linhas telefônicas, frequência de
rádio e mesmo por satélites. Dessa forma as bases para a interconexão de milhões
de computadores estava formada e o ciberespaço poderia se concretizar e florescer
9 A base mais rudimentar da internet está em seus protocolos de comunicação que permitem mensagens serem traduzidas de uns para os outros. O mais conhecido e utilizado protocolo de transporte é o TCP/IP, o Transmission Control Protocol / Internet Protocol. Segundo Campos (2003, p. 17), “um protocolo é uma linguagem para a comunicação entre dois computadores distantes geograficamente, permitindo a troca de mensagens entre os dois computadores, para a transmissão de dados.” Basicamente o TCP/IP organiza a transmissão e a recepção dos pacotes de dados (bytes) que viajam por diferentes rotas na rede até chegarem aos seus destinos, atribuindo a cada um dos pacotes informações de endereço de origem e esperando a confirmação de recebimento por parte do computador que o solicita. Cada computador da rede recebe uma identificação IP, o que permite que os pacotes cheguem ao destino indicado.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 46
nas décadas seguintes, através da produção de programas e conteúdos para estes
programas por parte dos seus usuários, agindo ou não em rede.
No início dos anos 70 o hardware dos computadores muda a partir do
advento dos microchips, que possibilitam toda uma nova geração de
computadores em pequena escala. Os primeiros “computadores de garagem”, por
serem reduzidos em tamanho e transportáveis sem grande esforço, são construídos
na Califórnia, EUA (Campos, 2003, p. 13 a 24), aumentando exponencialmente o
interesse e a formação de diversos grupos ao redor da computação pessoal10.
Existe uma relação fundamental entre este campo e o surgimento material
das redes informáticas, ou seja, o suporte técnico digital é pré-requisito para que
as novas práticas dos grupos formados ao redor delas sejam estabelecidas.
Segundo Macek (2005), a concepção atual de cibercultura é derivada de
uma primeira fase que vai da virada dos anos 1950-60 até a metade da década de
1990 denominada de cibercultura nascente (early ciberculture). No começo desta
primeira fase, as práticas eram restritas a um pequeno grupo que acessava os
suportes informáticos para usos restritos (principalmente para o campo do
trabalho, estudo e da pesquisa acadêmica), podendo especular sobre sua natureza e
atribuir características supostamente inerentes a estes novos suportes.
O fato de estarem acessíveis a um grupo restrito se dava pelo ao alto custo
de manutenção desses equipamentos e o computador ainda precisava de sujeitos
altamente especializados para operar seus estranhos códigos de programação,
tornando inacessível a computação para sujeitos comuns que não fossem experts
no campo das ciências exatas. A camada de dificuldade ainda estava bem espessa
nesse momento.
Estes grupos perdem sua força discursiva quando as novas tecnologias de
informação e comunicação (NTICs) em formato digital são absorvidas pelos
setores político, econômico e midiático e se tornam parte da sociedade de maneira
generalizada, não mais podendo se definir em contraste com a maioria. Essa
popularização em parte vem pelo avanço da própria tecnologia informática em
10 O primeiro microprocessador (microchip) comercial foi lançado pela Intel em 1971, chamado de 4004, baseado na ideia de circuito integrado, sendo a terceira geração da computação baseada no padrão digital de tratamento de dados, sendo a primeira a baseada em válvulas e a segunda em transistores. Um microprocessador é um dispositivo maleável, que pode ser programado para atender a funções específicas, recebendo dados converdidos em sinais binários (zeros e uns), os processando via cálculos e devolvendo o resultado ao final da operação.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 47
que os computadores vão adquirindo para “dentro de si” as interfaces que antes
eram exteriores a eles, como os cabos, os cartões de perfuração e as válvulas
(Lévy, 1993, p. 101), até chegar ao ponto que a manipulação dos dados passa a ser
realizada de forma “limpa” em telas, através de programas que simulavam
graficamente os dados digitais e levam os componentes mais “brutos” para o
interior de carcaças de plástico, os tornando acessíveis e amigáveis aos não-
experts11.
É nos anos 80 que a cibercultura, como grupo particular de sujeitos ao
redor dos suportes digitais, tem o seu ápice, com livros de ficção científica que se
tornam best-sellers (Neuromancer, publicado em 1984 por William Gibson, é um
marco), com a popularização das revistas especializadas na cultura emergente do
uso das NTICs (Mondo 2000, fundada em 1989), com a divulgação de novos
equipamentos que alimentam a nascente indústria da microinformática
(popularização das marcas Apple, Microsoft e IBM) e também quando os hackers,
pessoas especializadas em códigos de programação informática começam a se
destacar e serem vistos inclusive como ameaça para a estabilidade de sistemas de
computação de grandes corporações (Macek, 2005).
Os hackers dos anos 80 não são mais os especialistas ocultos nos
corredores de institutos de pesquisa programando em enormes máquinas que
ocupavam salas inteiras, e já podem ser caracterizados como jovens comuns com
interesse intenso e especializado nos computadores pessoais (PC – personal
computers), a essa altura presentes em massa nos escritórios e casas de países
desenvolvidos da Europa ocidental e dos EUA12. Revistas como a Wired tornam
na virada dos anos 1980 para os anos 90 o estilo de vida hacker em produto pop
11 O fenômeno da mobilidade com tablets e celulares conectados em redes de dados de alta velocidade (3G) e que permitem aos seus usuários interagirem na rede internet em qualquer lugar que estejam, evidencia o alto grau de sofisticação e “escondimento” de interfaces computacionais, a ponto de bilhões de pessoas os utilizarem sem precisar entender nada sobre códigos de programação e os componentes de hardware envolvidos em sua fabricação, incluindo crianças. Mais uma vez percebemos o padrão “caixa-preta” de Bruno Latour (2000) se manifestando. 12 O poder computacional ao alcance de jovens comuns é retratado no filme de ficção WarGames, de 1983, em que o personagem principal é um adolescente que consegue ter acesso via computador pessoal ao sistema bélico dos EUA, ativando armamentos que poderiam causar uma nova guerra mundial. O exagero retratado no filme é oportuno e de certa forma retrata os grupos de jovens anônimos que na atualidade invadem sistemas de governos do mundo todo como sinal de protestos de ordem política, social e econômica. A guerra ao redor da propriedade intelectual com as redes Torrent em que filmes, seriados e programas de computador são compartilhados e copiados também evidencia o poder de jovens comuns em criar tecnologias a partir do formato digital.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 48
para consumo. No Brasil a tendência do jornalismo voltado a este novo mercado
veio através das revistas de popularização da informática representada pela PC
World, de matriz norte-americana surgida em 1983 e a InfoExame editada desde
1986 pela Editora Abril.
Para Macek (2005) o declínio da cibercultura nascente, formada por
subculturas mais ou menos coerentes e comunidades restritas de indivíduos com
interesses comuns em algum tópico relacionado à computação eletrônica,
acessando os suportes digitais e dividindo concepções a respeito dos mesmos, está
no fato dela deixar de ser marginal e passar a fazer parte do poder e das normas
comuns, se tornando a cibercultura contemporânea, fase esta que estamos
atualmente vivenciando.
O fato de hoje podermos usar computadores em casa sem necessitar de
conhecimento técnico avançado (diminuição da camada de dificuldade e aumento
do escondimento das interfaces) demostra que a rede foi apropriada e de certa
forma “mercantilizada” quando seus dispositivos passam a ser de uso comum
equivalente a um eletrodoméstico (computadores hoje são vendidos em redes de
lojas varejistas). O poder computacional se torna acessível a baixo custo para uma
parcela significativa da população que pode se conectar em rede e formar
comunidades baseadas em interesses.
Já a visão de Lemos (2007) vai à contramão do discurso do declínio
quando ele afirma que a cibercultura ganha impulso e desenvolve-se a partir dos
anos 1980 justamente quando o público não-acadêmico e não-militar se apropria
de técnicas de processamento de dados, antes localizadas exclusivamente em
grandes centros de pesquisa e em indústrias, e passa a utilizar programas e
equipamentos voltados ao uso doméstico, automatizando o tratamento de
informações através da linguagem digital, transformando os computadores em
ferramenta de convívio, comunicação e lazer. Para Lemos, portanto, a cibercultura
de fato toma corpo quando se integra no cotidiano da sociedade, quando a própria
sociedade como um todo se torna “cibercultural”, ou seja, a sua realização
máxima vem com sua popularização e normalização.
Por outro lado, buscando uma conciliação de visões sobre o fenômeno
cibercultural, podemos atribuir à popularização dos suportes digitais um impulso
para que as narrativas da cibercultura nascente se tornem parte do imaginário da
sociedade, indo ao encontro de Macek (2005). Lemos (2003, p. 12) define a
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 49
cibercultura como “a cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais”,
ou seja, vivemos imersos na cibercultura a partir do momento que estamos
imersos em seus objetos técnicos, “uma relação simbiótica entre a sociedade, a
cultura e as novas tecnologias”.
Para Macek (2005), a força dos discursos ciberculturais permaneceu e as
NTICs passaram a ser equipadas com um conjunto de significados próprios, a ter
uma identidade, que mescla e reflete elementos da ficção científica, do jornalismo
de popularização e nos escritos acadêmicos. Logo, o núcleo dos discursos sobre as
NTICs, gerado por estes grupos pioneiros de técnicos superespecializados, está no
suposto potencial transformador a partir do uso destas novas tecnologias,
atribuindo a elas características “naturais”, inerentes, seja em visões de cunho
otimista como em seu oposto pessimista.
O fato é que os discursos falam de um futuro que deve ser, um futuro
previamente anunciado por seus pensadores. Este futuro tecnológico pode, por um
lado, libertar o indivíduo e o fortalecer frente aos sistemas centralizados (e
hierárquicos) de poder, através do incentivo de habilidades comunicacionais,
cogniticas e criativas, visando maior autonomia; ou então realizar a operação
contrária, fortalecendo os mecanismos de controle e poder através de novas
ferramentas opressivas criadas pelas elites econômicas. Esse dualismo, com
otimistas (tecnofílicos) e pessimistas (tecnofóbicos), foi tratado por Breton (2000)
que procurou uma corrente mais neutra de análise para entender o processo em
que os discursos sobre a internet e os computadores nasceram e se moldaram.
Breton (2000) atribui à internet um objeto de novo culto em que
tecnologias surgidas nos anos 40 através da cibernética, que trata a comunicação
como transmissão da informação, são misturadas a elementos de misticismo
provenientes da contracultura dos anos 60 e 70 com seus apelos a uma
transcendência para um mundo imaterial e um mundo novo, harmônico, pacífico e
transparente. É a técnica emergente que se junta ao contexto social sessentista,
com visões anticapitalistas, coletivistas, contestadoras do poder e juvenis, que
alimenta as visões das décadas seguintes13.
13 O filme Piratas do Vale do Silício (Pirates of Silicon Valley), de 1999, conta de maneira romanceada a história de vida de Bill Gates e Steve Jobs entre os anos 70 e 80, momento em que surgem as empresas Microsoft e Apple, retratando um Bill Gates pragmático e focado simplesmente na produção de softwares para computadores pessoais e evidenciando que Jobs mantinha traços da contracultura contestadora, ao mesmo tempo mesclada com a agressividade de
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 50
Junto a isto, Breton (2000) também analisa a expansão liberal dos anos 80,
que se mescla à cibercultura ainda nascente e anuncia um mundo livre de
barreiras, mais harmônico e transparente a partir de uma cultura juvenil oposta a
um passado que deve ser superado por ser lento. A lentidão, vista como algo
negativo, é representada pelas leis restritivas, os Estados reguladores e os corpos
físicos que não podem dar conta da livre circulação de informações agora
almejada, uma circulação libertadora.
A ideia do ciberespaço e dos corpos simulados velozes, os novos espíritos
imateriais, se adapta então perfeitamente aos discursos liberais de rapidez e
acelaração dos fluxos (pessoas, capitais, objetos), uma libertação dos
restringimentos do mundo material e turbulento, em que os contatos físicos
presenciais são perigosos e pouco desejáveis. O ciberespaço então encarna o
desejo de um mundo mais pacífico e harmonioso a partir da conexão planetária de
seus habitantes, carregando junto a si todo um ideário de uma nova fase do
capitalismo, agora planetário.
Dessa forma, desejos utópicos são mesclados com uma ideologia
capitalista em estágio avançado, alimentando toda uma nova indústria ao redor da
produção dos computadores e seus derivados. Paradoxalmente, Breton (2000)
também alerta que o próprio ciberespaço é potencialmente perigoso, com seus
diversos bancos de dados que controlam os movimentos dos cidadãos e seus atos
de consumo, com o acesso digital desigual criando uma classe de analfabetos
digitais e o risco de um coletivo de ideias sem a presença física ou negociação
política efetiva. O ideário da máquina coletiva tomando a frente com suas
decisões a partir de programas superinteligentes é em sua visão é uma atitude anti-
humanista, que retira as pessoas e suas identidades da esfera pública presencial e
da regulação dos espaços.
Mesmo procurando a neutralidade, o discurso de Breton ainda reforça o
dualismo sobre as tecnologias digitais, evidenciando o “lado potencialmente bom”
e o “lado potencialmente ruim” das mesmas. Nos tópicos elencados a seguir
preferimos deixar este julgamento para o leitor, e então afirmar que uma visão
mercado para que sua empresa (Apple) ganhasse terreno sobre a IBM, que considerava representante de valores hierárquicos e uniformizadores, tendo então que ser superada pela informalidade e jovialidade presente em sua empresa (o principal contraste estético estava entre a calça jeans e camisetas da Apple com os ternos pretos uniformizados da IBM).
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 51
com viés otimista ou pessimista sempre colocará a tecnologia como portadora de
traços inerentes a ela e nós, humanos, somente como receptores-vítimas de suas
alegrias e desgraças. Então optamos pela alternativa de pensar suas
potencialidades, buscando saber que novas características podem surgir a partir de
seus usos cotidianos.
2.1.1 Cultura hacker, copyleft e o ideal de acesso livre à informação
Macek (2005) resume a partir de Steven Levy (1984) os principais pontos
que sustentaram a cultura hacker dos anos 60 e que ecoam até hoje no ideário
sobre os suportes digitais e suas supostas “missões”. Entre os pontos defendidos
por esse grupo inicial, ele cita: (a) o acesso aos computadores deve ser ilimitado e
para todos, (b) toda informação deve ser obrigatoriamente livre, (c) a autoridade
deve ser enfraquecida com vistas a uma maior descentralização, (d) os
computadores podem mudar a vida das pessoas, e para melhor, (e) os hackers
devem ser julgados pelo trabalho que fazem e não por graus e titulações e (f) as
pessoas podem criar arte e coisas belas nos computadores.
São pontos que claramente atacam a rigidez da cultura predominante
naquele período (e que continua existindo em diversos níveis), a exemplo das
inúmeras cadeias hierárquicas empresariais, governamentais, acadêmicas e
escolares (instituições de controle e manutenção do poder); assim como a
disponibilidade restrita dos suportes que permitiam o acesso e a produção de
informação (controle e poder através da exclusividade de acesso). Se a rede
ciberespacial nascente funcionava de maneira descentralizada e permitndo a
participação potencial de todos, porque não estender o padrão para toda a
sociedade, abolindo hierarquias e democratizando o acesso em massa à
informação?
Dessa forma, a ideologia presente a respeito do ciberespaço como “terra a
ser conquistada” e sem os restringimentos formais e normativos do “mundo real”
passa a transbordar para a sociedade como um todo, um projeto em que o sujeito
deve ser empoderado para conquistar sua liberdade frente aos aparatos restritivos
que a sociedade impõe (Macek, 2005): hierarquia, corporações, governo. Ter
acesso aos computadores e os utilizar de maneira livre, produzindo
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 52
colaborativamente e cooperativamente conteúdos abertos e compartilhando ideias
e obras que antes não tinham espaço de publicação é uma forma de driblar as
restrições impostas pelos suportes analógicos, que centralizam a produção e a voz
a poucos produtores-transmissores, característica marcante da indústria cultural
(Mantovani et al, 2006).
Essa liberdade trazida nos discursos nascentes da cibercultura, uma
concepção surgida com a cultura hacker e banhada na contracultura sessentista, é
a liberdade de se lidar com dados binários, de transformar o mundo em cadeias
binárias de informação para serem livremente manipuladas pelos humanos
(Lemos, 2003, p. 13). A relação humana com os suportes digitais se torna então
uma relação em que os restringimentos espaço-temporais do “mundo real”
desaparecem no ciberespaço, onde tudo passa a ser informação convenientemente
acessada via suportes digitais, sejam os computadores de mesa, os celulares ou os
atuais tablets.
Essa diminuição ou anulação radical dos restringimentos através dos
suportes digitais é o que Shirky (2012) chama atenção quando fala do processo de
redução abrupta dos custos transacionais, ou seja, os suportes digitais em rede
criam uma facilidade extrema de comunicação e coordenação entre os seus
usuários, algo não permitido até então ou, se permitido, tinha uma camada de
dificuldade muito elevada para que fosse posto em prática. Em termos simples,
ficou muito mais fácil criar grupos (redes sociais e comunidades de prática)
através de interesses e causas comuns e criar conteúdos de maneira coletiva, o que
não era permitido antes, sem os elevados custos gerenciais (pessoas e dinheiro)
para manutenção organizacional existentes nas empresas formais.
As organizações coletivas e informais surgidas na internet, sem (ainda) o
estatuto legal suportado pelo Estado, podem concorrer ou criar novos produtos
não possibilitados em seu surgimento até então pelas organizações formais e
estatais, incapazes de mobilizar pessoas em ideais de trabalho voluntário e não-
remunerado. Shirky (2012) evidencia que as organizações informais na internet
(grupos e redes suportadas por ferramentais digitais) quebram a lógica de
produção existente em organizações formais com seu modo aberto de produção,
podendo agregar muito mais pessoas motivadas em uma causa gerida
coletivamente, devido ao baixo custo para agregar e coordenar pessoas.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 53
Acreditamos poder resumir a ideologia nascida no ambiente hacker com a
palavra liberdade, tanto a liberdade de deslocamento e manipulação da
informação quanto a ubiquidade possibilitada pela extensão do corpo utilizando
computadores como próteses de atuação a distância.
De maneira prática, esse conjunto de ideias da cultura hacker pode ser
visto atualmente nos discursos de defesa do software livre14 e da informação livre,
como no caso do projeto coletivo da Wikipédia que se denomina como uma
enciclopédia livre, nos sistemas operacionais de código aberto como o
GNU/Linux15 distribuídos gratuitamente16 e também nas políticas de abertura dos
escritos acadêmicos a todos os interessados sem a cobrança de acesso via editoras
através do movimento open access17 e open archives, que só puderam existir
objetivamente após a criação das redes digitais e sua facilidade de formação de
grupos (menor cursto) a partir de metas e interesses comuns.
São movimentos baseados em uma nova estrutura em que o trabalho
material (manufatura) é substituído pelo trabalho imaterial, centrado na produção
da informação (softwares, vídeos, imagens, textos), um trabalho essencialmente
intelectual no qual o produto final é resultado da manipulação de bits e passa,
portanto, a ser realizado do começo ao fim em suportes digitais (Lima & Santini,
2008). O trabalho imaterial pode ou não ser coletivo, usar ou não a rede digital
para ser compartilhado, embora sejam estas condições necessárias para que se
14 O software livre, software aberto ou software open source é o programa de computador cujo código-fonte é disponibilizado para que outros programadores possam fazer uso, copiar, estudar e redistribuí-los com acréscimos. O software livre é oposto ao software de código fechado e restritivo, ou seja, código proprietário, mas não se opõe ao software comercializado, desde que o código-fonte esteja anexado e aberto a modificações. A liberdade que se defende é de acessar o que o outro escreveu nas linhas de código e poder alterá-las para versões mais completas e melhoradas. 15 O Linux nasce em 1991 através do programador Linus Torvalds que desenvolve um núcleo de sistema operacional (kernel) competível com o sistema Unix, chamando-o de Linux. O projeto GNU, comandado por Richard Stallman, junta-se a essa iniciativa, pois ainda não tinha concluído o núcleo que os faria de fato ter um sistema operacional totalmente de código aberto. A essa junção de projetos denominou-se GNU/Linux (Stallman, 2000). 16 Era comum no início dos projetos de código aberto a venda de fitas magnéticas, disquetes ou CD-ROMs para distribuir os programas, sendo que o próprio Stalman, ao abandonar o MIT para se dedicar ao projeto GNU, cobrava pelas fitas magnéticas que enviava aos interessados em programar ou utilizarem os sofwtares livres (Stallman, 2000). Atualmente inúmeras distribuições Linux são disponibilizadas gratuitamente através de sites na internet. Um exemplo é a distribuição Ubuntu, disponível em < http://www.ubuntu-br.org/>. 17 O open access (OA) é a forma de se referir ao acesso livre ao conhecimento, em que a produção científica deve estar disponível integralmente para uso e cópia, com texto integral de artigos, livros e outras formas de fontes de informação do meio acadêmico. A iniciativa pode tanto se originar no veículo de publicação, como em uma editora científica ou quando o próprio autor resolve disponibilizar abertamente suas produções (Targino, 2007).
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 54
instale um ambiente comunitário e chegue mais próximo ao que Lévy (1993)
chamou de inteligência coletiva.
O discurso ao redor do software livre e da informação livre é um discurso
subversivo, no sentido de se opor à lógica de produção e venda focada
exclusivamente no lucro, sob contratos restritivos que regem as relações
capitalistas de propriedade intelectual privada (copyright – All rights reserved), ou
seja, se nega a transformar a produção intelectual automaticamente em mercadoria
e se nega a ter somente uma parcela dos discursos recebendo o privilégio de
divulgação e disseminação.
É um discurso que vai contra a cultura predominante nas relações de troca
surgida quando os meios de comunicação de massa tinham o papel de filtrar quem
poderia produzir algo relevante e quando poderia ser exibido ao grande público.
Esse discurso procura promover produtos que são distribuídos por seus produtores
abertamente aos seus usuários finais (podendo ou não ter custo), pois podem ser
copiados livremente na internet ou em outros meios de base digital, estando
abertos, de acordo com a escolha do autor, para a intervenção autoral de quem os
usa (copyleft – Some rights reserved).
A “guerra ao copyright” não é de toda infundada quando percebemos que
as restrições de uso sofreram uma escalada em sua rigidez desde que o direito
autoral foi criado na Inglaterra em 1710 para proteger e regular o mercado editoral
de textos. Nesse primeiro momento, a proteção abrangia 14 anos, tornando a obra
de domínio público após esse período. Em 1831 o período já se extendia por 42
anos, em 1909 para 56 anos e atinge a partir de 1962 o período de 70 anos
contatos a partir da morte do autor. Os EUA lideram o processo, pois para
proteger sua indústria cultural forçam estas leis restritivas a se tornarem leis
internacionais, e assim a indústria como um todo procura reduzir o debate a uma
simpels oposição entre propriedade sujeita a direitos e a “pirataria” praticada pelo
cidadão comum nas redes digitais (Montavani et al, 2006, p. 262-263).
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 55
Gráfico 1 - Expansão do período de vigência da lei de direito autoral nos EUA ao longo dos séculos XVIII, XIX, XX e XXI (Bell, 2008).
O movimento da informação livre criou outras propostas de licenciamento
alternativas ao copyright, propondo licenças como a GPL (General Public
License) para softwares18, a FDL (Free Documentation License) para documentos
e páginas de internet e a CC (Creative Commons) para trabalhos intelectuais em
diversos formatos, através de licenciamentos progressivos em que o autor escolhe
quais direitos cede a quem acessa suas obras. O que elas tem em comum é a
separação do direito moral, do produtor ter sempre a autoria reconhecida, do
direito comercial, de optar por receber financeiramente ou não pela obra criada e
limitar ou não a sua modificação e redistribuição (Lima & Santini, 2008).
Esse modo emergente de produção e regulação atinge a indústria
estabelecida formada ao redor da venda de softwares de código fechado, portanto
restrito (com copyright), que perde parte de seus lucros potenciais para pessoas
que acessam e copiam softwares livres (código aberto) com funções similares de
18 Os softwares livres são acompanhados de licenças que especificam o que é possível fazer a partir deles, como, por exemplo, a Licença GPL (General Public License) criada por Richard Matthew Stallman, pesquisador do MIT, em 1985 (Lima & Santini, 2008) que prevê as 4 liberdades fundamentais para os criadores de softwares: executar, acessar o código-fonte, redistribuir e aperfeiçoar. A GPL é uma licença que não desaparece quando o software é modificado, pois ele só pode ser redistribuído se o autor das alterações mantiver a mesma forma de licença e as liberdades originais, impedindo que se torne proprietário. Stallman defende que todo código deve ser compartilhado e estar aberto para um trabalho cooperativo contínuo (Lima & Santini, 2008). O projeto mais conhecido sob a licença GPL é o sistema operacional Linux, nascido em 1990.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 56
maneira gratuita ou com taxas menores de distribuição, assim como músicas,
filmes e outras obras licenciadas fora do domínio do copyright. Por outro lado,
também atinge setores produtivos que passam a utilizar estes softwares abertos
para otimizar tarefas e reduzir custos de produção, especialmente em empresas de
pequeno porte ou escolas que não possuem orçamento para adquirir os sistemas
comerciais.
Quem produz um software livre, ou outro tipo de modalidade de obra
aberta, espera que os seus usuários aperfeiçoem sua produção e retorne ao
produtor original uma nova versão melhorada, na qual ele mesmo será novo
beneficiário; um processo colaborativo e solidário, oposto ao processo
competitivo e restritivo em que grupos e empresas competem entre si para
alcançar nichos de mercado e os dominar, mesmo que temporariamente.
A ideia de abrir conteúdos para serem acessados, e com isso receber novas
ideiais e produtos em troca, lembra a própria lógica acadêmica de produção das
revistas científicas, em que o resultado de pesquisa, ao ser disponibilizado a
outros pesquisadores, potencializa novos caminhos e novas pesquisas, não sendo
por acaso que a ideologia hacker tenha nascido a partir de acadêmicos nos centros
de pesquisa norte-americanos de tecnologia de ponta. A diferença é que essa
lógica comunitária pode ser facilmente extendida através da internet em redes que
permitem o encontro de pessoas com ideais e objetivos similares.
Segundo Lima & Santini (2008), o meio digital permite burlar dois tipos
de fatores típicos da produção seriada industrial dos bens materiais (trabalho
material): (a) o desgaste do bem com o passar do tempo e (b) a escassez de
disponibilidade de recursos materiais para sua reprodução. A princípio, um
software, ou outros tipos de produtos digitais (textos, imagens, vídeos), pode ser
copiado e refeito infinitas vezes por quem os possua em seu computador pessoal,
disponibilizando para outras pessoas através das redes de informação digital, sem
perder a qualidade original e por um custo próximo a zero. Manipular bits em
redes de trabsmissão de dados, através de um computador pessoal conectado, é
um processo bem mais fácil que manipular ou criar objetos físicos, daí a razão da
indústria como um todo não ter colapsado, embora alguns setores estejam em
crise frente aos produtos gerados por comunidades via internet, conforme os
protestos de Keen (2009) a respeito da indústria cultural.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 57
O fato é que o meio digital reduz drasticamente os custos de aquisição dos
meios de produção (hardware), os tornando populares em relação aos custosos
equipamentos antes necessários para se produzir e distribuir o mesmo tipo de
produto, assim como permite que o trabalhador intelectual use seu tempo livre,
fora do trabalho formal, na produção de outros bens imateriais sem uma
recompensa financeira direta, como no caso dos programadores de softwares
livres (interessados da liberdade de acesso), dos músicos e produtores de
audiovisual independentes (interessados em divulgar suas obras) e dos autores de
textos enciclopédicos da Wikipédia (interessdados no acesso livre à informação
do mundo). São formas de produção que antes de eliminar as anteriores, as
desafiam e desestabilizam em setores específicos da economia, como a indústria
cultural legitimada pelas leis de copyright e formada ao redor da produção e venda
de bens como músicas, filmes de cinema, programas de TV, livros de literatura e
outros bens artísticos e intelectuais.
Ao contrário do sistema tradicional de licenciamento, que restringe o
acesso para que a relação de troca capitalista se estabeleça e recompense
financeiramente a cadeia de produção de um bem imaterial (editores, revisores,
impressores), o princípio defendido para a informação livre é de que a liberdade e
o compartilhamento livres permitem o acesso a produções realizadas pela
coletividade que, por sua vez, incentivam a criatividade e a inovação dos que a
acessam. A recompensa financeira à cadeia de produção tem mais sentido quando
a produção de um bem imaterial requer um custo elevado que não pode ser
bancado por um grupo de pessoas “bem motivadas e intencionadas”, porém perde
o sentido quando os meios para que esta produção ocorra caem abruptamente e
permitem a concretização da produção.
Para aqueles que a defendem, a informação livre é uma forma de legitimar
o conhecimento comum, a cultura comum que é viva e vivida em comunidade,
não podendo ter barreiras em sua circulação, ou seja, ser privatizada (Lima &
Santini, 2008), sendo de certa maneira um retorno à cultura de grupo, só que
realizada agora com a mediação dos suportes digitais em escala potencialmente
global. Em suma, por um lado, via o copyright, a recompensa financeira
incentivaria a inovação constante pelos produtores que detém o poder de restringir
e ditar as regras de acesso, e por outro, via copyleft, o foco estaria no acesso aos
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 58
bens culturais imateriais de modo irrestrito para que novos bens fossem
produzidos.
É sensato então assumir que a cibercultura contemporânea traz toda uma
herança discursiva proveniente da fase em que estava restrita a pequenos grupos
de acadêmicos privilegiados, mesmo que esta herança não seja explícita, mas
implícita em ideologias como as que suportam a existência do software livre e do
open access. Esses grupos, na cibercultura nascente ao longo dos anos 60 e 70,
trocavam livremente entre si códigos de programação, em uma fase que a
indústria ainda não tinha se apoderado desse nicho e não havia um mercado
potencial de consumo para softwares.
A manutenção do modo de ser desse grupo é reafirmada pelo propositor da
GPL e do sistema operacional aberto GNU, Richard Stallman, ao dizer que sua
motivação para a liberação dos códigos vem a partir dos anos 80 com o
fechamento progressivo dos mesmos com objetivos comerciais (Stallman, 2000).
Para Stallman, os sistemas de código aberto são parte de uma luta pela
manutenção da liberdade de acesso à informação, algo que foi subtraído de sua
comunidade (acadêmica) pelas empresas nascentes nos anos 70 e 80.
Os acadêmicos contemporâneos formados no ambiente cibercultural
emergente acabam por entrar em contato com o discurso da informação livre,
especialmente no Brasil em que cada vez mais temos revistas científicas e textos
acadêmicos sendo disponibilizados em espaços gratuitos e com licenças de uso
abertas (Scielo, Banco de Teses e Dissertações da CAPES, Portal Domínio
Público, sites universitários). A lógica desse processo é a de que a informação
gerada pelos cientistas deve circular e se tornar acessível aos outros, sem
barreiras, de forma dinâmica, contínua e cumulativa, sendo visto como obstáculo
a esse processo a cobrança de acesso a bancos de dados de revistas científicas
realizada por editoras comerciais.
Lemos (2004) defende estes ideais quando chama a cultura gestada pelas
redes informáticas de “cultura copyleft”, em oposição às leis de direitos autorais, o
copyright, assumindo que “a cibercultura potencializa aquilo que é próprio de toda
dinâmica cultural, a saber o compartilhamento, a distribuição, a cooperação, a
apropriação dos bens simbólicos” (p. 2).
Logo, percebemos que os discursos da cibercultura nascente de defesa da
liberdade de acesso à informação e o compartilhamento ilimitado com todas as
Os ac
pesso
otimi
supo
Shirk
realiz
organ
const
objet
cultu
Quadda cu
Hd
lth
k
cadêmicos c
oas, não e
istas libertá
rtes digitai
ky (2012) v
zação socia
nizem info
truírem pro
tivo (ferram
ura hacker n
dro 1 - Alternultura hacker
Heranças da cultura hacker
contemporân
estão extint
árias e que
s. A manu
vem da pre
al prática,
ormalmente
odutos e co
mentas), pro
não poderia
nativas para r gestada na
Licença
Valorizacolaborati
Liberdade geração dembora
eos e o cont
tos, continu
e atribuem
tenção dess
esença em m
ou seja, p
em redes
ompartilhare
oporcionado
se manter a
a autoria e dcibercultura
s alternativacopyright
ação da prodva em comu
de acesso acde lucros privsejam admit
texto emerge
uam, pelo
certas car
se discurso
massa das f
permite qu
s sociais e
em saberes
o pelos com
atualmente v
distribuição d nascente.
as ao
dução nidade.
cima da vados, tidos.
ente da ciber
contrário,
racterísticas
o, em parte
ferramentas
ue objetivam
e comunida
s em comum
mputadores
viva.
de obras inte
Cr
Intelig
Uso iinfo
Distrib
rcultura
influencian
como ine
, conforme
s que permi
mente as p
ades de pr
m. Sem es
s e a rede
electuais prov
reative Comm
GPL e FDL
ência coletiv
ntenso das rrmação na in
Software liv
Open acces
buições comabertas
59
ndo visões
erentes aos
e constatou
item a sua
pessoas se
rática para
sse suporte
internet, a
venientes
mons
L
va prática
redes de nternet
vre
ss
m licenças
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 60
2.2 O suporte digital e as mudanças na leitura, na escrita e no acesso às informações
A nova dinâmica técnico-social da Cibercultura instaura uma estrutura midiática ímpar na história da humanidade onde, pela primeira vez, qualquer indivíduo pode, a priori, emitir e receber informação em tempo real, sob diversos formatos e modulações (escrita, imagética e sonora) para qualquer lugar do planeta (Lemos, 2003, p. 14). A eletricidade é também o meio que liga o mundo inteiro numa só rede. As trocas biotécnicas locais entre corpo, mente e máquina estão agora ligadas a uma ambiente global pelo processamento de dados e transmissões mundiais. O verdadeiro objeto de informatização é estender ao ambiente eletrônico o tipo de controle e verificação que as pessoas experimentam em si próprias (Kerckhove, 2009, p. 227).
Mesmo com as ponderações de Macek (2005) a respeito da ideologização
sobre os novos suportes digitais, especialmente as visões mais otimistas que
atribuem “missões” como se estas fossem intrínsecas aos novos suportes, vale a
pena mergulharmos em suas possibilidades concretas, vermos suas características
particulares, sem necessariamente atribuir a elas uma transformação automática de
práticas culturais ou uma obrigatoriedade única de apropriação por parte dos
coletivos humanos.
Começemos assumindo que cibercultura forma um campo aberto de
múltiplas possibilidades de apropriação por parte das pessoas que integram as
redes informáticas, um campo não completamente mapeado (talvez nunca seja)
porque está em curso, a partir de um conjunto de mudanças derivadas da simbiose
entre a sociedade, a cultura e os suportes de configuração digital como sintetiza
Lemos (2003).
Se derivarmos nossas conclusões da história humana registrada até o
momento presente, podemos afirmar que esse conjunto de mudanças nunca
chegará a um fim determinado (completamente acabado) e está funcionando de
base para a ocorrência de outras metamorfoses possíveis a partir da interação
humanos/não-humanos, das pessoas com os novos formatos e os novos suportes
que carregam a informação. A cibercultura é a nossa fronteira atual, mas não a
fronteira final, e o suporte digital um dos fatores que marcam a sociedade
contemporânea, especialmente pela facilidade de formação de redes de pessoas
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 61
interconectadas através desses suportes e todas as consequências que isso acarreta
na sociedade e gerenciamento da coletividade (Shirky, 2012).
Pensando na universidade como instituição integrante da sociedade
contemporânea, a cibercultura é também um campo de práticas emergentes que
atinge as novas gerações de pesquisadores-autores que fazem uso delas em seu dia
a dia acadêmico e em outros campos da vida (em casa, nas relações interpessoais
cotidianas, nos espaços de trabalho).
Não podemos compartimentalizar as experiências, pois formamos nossa
identidade com o ciberespaço através das relações que desenvolvemos nele e com
ele em todos os setores de nossas vidas, sendo que cada vez mais dependemos de
operações dentro destes ambientes, nas atividades mais banais do cotidiano
(pagamento de contas em bancos online, contatos em redes sociais de trabalho e
lazer, envio de fotografias digitais, comunicações pessoais por e-mails, compras
em lojas virtuais).
Atualmente, em sociedades nas quais a rede internet possui alto nível de
penetração, não se pode tratar mais o ciberespaço como um universo isolado com
sua cultura destacada do restante da sociedade, à parte do cotidiano do “mundo
físico”, pois os objetos eletrônicos vão aos poucos formando uma espécie de pele
ao redor do globo terrestre e com isso se tornam parte da cultura dos povos, das
ações de seus integrantes, mudando inclusive a percepção de si e do espaço ao
redor (Kerckhove, 2009).
O pesquisador acadêmico contemporâneo se vê, em maior ou menor grau
de acordo com a carga experiencial, junto aos suportes digitais, imerso e envolto
em uma miríade de objetos técnicos baseados em sistemas computacionais
(celulares, tablets, câmeras digitais, tocadores de músicas mp3) e novos espaços
criados por estes objetos (redes sociais, ambientes virtuais de aprendizagem,
grupos de discussão online). Viver em sociedade atualmente implica
obrigatoriamente deixar “rastros digitais” por onde se passa (recibos de cartão de
crédito, operações financeiras no caixa eletrônico, imagem capturada por circuito
fechado de câmeras), mesmo que seja de forma involuntária.
Esta carga experiencial vivenciada hoje, o pesquisador acadêmico formado
na cultura permeada pela mídia de massa clássica não poderia sequer vislumbrar.
O centro de sua atividade de pesquisa eram as bibliotecas com os suportes
impressos para consulta de informações, a escrita se dava com folhas de papel
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 62
usando lápis e caneta, ou então em máquinas de escrever para a redação final dos
textos cuidadosamente escritos e pensados previamente. As ferramentas da
internet que possibilitam a auto-publicação e a edição não-linear não passavam de
vislumbres dentro dos restritos círculos da cibercultura nascente nos anos 1960 e
70, quando as primeiras interfaces gráficas19 em monitores monocromáticos,
teclados portáteis, rudimentos do que chamaríamos de mouse e redes de
transmissão de dados começavam a ser gestadas20.
A hipótese fundamental levantada neste estudo é que a difusão dos
suportes digitais, com a criação do ciberespaço, e as práticas derivadas dessa
difusão, a cibercultura, afetam também o modelo acadêmico de autoria em algum
nível ou fase. Afetam tanto em sua construção textual, através de equipamentos
para editoração instantânea de documentos e processamento de dados (editores
eletrônicos), outrora com custos elevadíssimos e agora abruptamente reduzidos,
assim como no processo de acesso, consulta e seleção de fontes de informação
textuais, gráficas e áudio-visuais disponíveis on-line (base de dados públicas e
restritas), assim como na comunicação e acesso a pessoas que sejam interessantes
para a realização de pesquisas (sujeitos de uma empiria, pesquisadores com temas
afins). Se não fosse levantada essa hipótese, a própria pesquisa que constitui o
cerne deste trabalho não teria razão de ser.
Por processo autoral são entendidas aqui todas as etapas – se podemos
falar em etapas quando muitas das atividades do pesquisador ficam sobrepostas
em seu percurso –, que vão desde a concepção inicial da pesquisa, passando pela
busca de informações necessárias à sua realização, até a sua apresentação em um
produto final redigido. Logo, cabe entender em que pontos o processo autoral é
afetado, ao menos em que pontos eles são mais sensíveis e visíveis, para uma
19 As interfaces gráficas voltadas aos usuários finais, chamada em inglês de Graphical User Interface (GUI) foram de fundamental importância na popularização da informática a partir dos anos 80. Nela, os dados digitais armazenados em memórias e processados pelos microchips podem aparecer de forma agradável através de elementos como janelas, ícones e outros indicadores visuais, em contraste com a linha de comando em que complexas sequências de palavras e parâmetros devem ser aprendidas para o acesso às diversas funções do computador. A empresa Xerox foi responsável pela primeira interface gráfica aprimorada além do texto e pelo refinamento da proposta do mouse com a seta para indicar o comando através de cliques, através do computador chamado Xerox Alto. Mas a GUI foi de fato popularizada pela empresa Apple a partir da década de 80 com o Apple Macintosh. 20 Ver o documento de Paul Baran (1964) que já esboçava a arquitetura de redes a ser adotada pela internet e os vislumbres trazidos por Bush (2011) no ano de 1945 a respeito das formas de organização da informação baseadas na associação.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 63
possível identificação de dimensões e perfis de uso de acordo com a trajetória e as
consequentes relações desenvolvidas pelos sujeitos.
Vale dizer que não cabe mais questionar sobre se o processo autoral é
realmente afetado pelo advento dos suportes digitais, mas sim como ele está sendo
afetado por estes suportes. É por isso que apresento a seguir as principais
mudanças que o suporte digital trouxe para quem exerce o papel de pesquisador-
leitor-autor através da rede digital, mapeando de maneira geral mutações em
andamento na ordem de produção, disponibilização e acesso aos discursos no
ciberespaço.
2.2.1 Do modelo emissão-canal-mensagem-recepção à co-criação em rede
De maneira geral, a transição tecnológica – ou poderíamos falar de
hibridização e convergência de técnicas em um mesmo suporte? – das mídias de
massa analógicas clássicas (TV, Cinema e Rádio), voltadas à difusão e
reprodução de conteúdos a um público homogêneo de espectadores, para o
formato de comunicação digital através de CCs – computadores conectados
(Lemos, 2007) e PCs – personal computers, afeta também os modos de ser autor e
de produzir obras relevantes para o público e com o público, sejam pessoas
próximas da rede de convivência pessoal ou com pessoas desconhecidas e
geograficamente distantes.
Se antes o custo transacional para se realizar produções coletivas era
elevado, precisando encontrar as pessoas certas e coordená-las em sua
comunicação e objetivos através de processos hierárquicos bem definidos, ele cai
praticamente a zero com os suportes digitais, permitindo que grupos possam agora
se comunicar facilmente e se coordenar em obras coletivas sem a intermediação
ou formação de organizações formais. Conforme constatou Shirky (2012), os
computadores conectados fizeram cair drasticamente os custos de reunião e
coordenação de pessoas, permitindo o encontro de indivíduos com interesses afins
e desejosos de compartilhar experiências e tarefas que não poderiam realizar
sozinhos.
Dessa forma, o pioneiro esquema emissor-canal-mensagem-receptor
construído pelos teóricos da informação nos anos 1940 (Shannon, 1948; Logan,
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 64
2012), focado em meios de comunicação lineares, de mão-única, não se
compatibiliza mais com a dinamicidade e bidirecionalidade dos suportes digitais,
pois ambos os pólos, da emissão e da recepção, agora podem interagir e ficarem
indistintos em uma mútua influenciação, permitindo a co-criação de mensagens
em diferentes níveis, desde comentários a respeito de determinado conteúdo
emitido até a intervenção e participação direta e conjunta na construção de um
conteúdo em comum (Santaella, 2004; Silva, 2006).
Lévy (1993) questiona até mesmo a validade do modelo emissor-receptor
para as operações realizadas com a mídia de massa, pois a teoria da informação
somente atendia a um momento da comunicação e dos fluxos envolvidos nela,
uma fotografia de um processo muito mais complexo que envolvia a construção
de sentido durante um determinado contexto, sempre transitório, e que envolvia
elementos muito além da mensagem explícita e do canal por onde era trasmitida.
Dessa forma:
O diagrama dos fluxos de informação é apenas a imagem congelada de uma configuração de comunicação em determinado instante, sendo geralmente uma interpretação particular desta configuração, um “lance” no jogo da comunicação. Ora, a situação deriva perpetuamente sob o efeito das mudanças no ambiente e de um processo ininterrupto de interpretação coletiva das mudanças em questão. (Lévy, 1993, p. 22)
O computador conectado (CC) em redes de troca de informação, e cada
vez mais móvel (portátil) e ubíquo (presente em todos os espaços), transformou
em algum grau a atividade autoral em atividade coletiva, mesmo que não
percebamos o processo e já tenhamos naturalizado nossas participações em
fóruns, listas de discussão, blogs e redes sociais tal como foram naturalizadas as
conversas face a face realizadas em uma praça pública da cidade ou com um
grupo de amigos.
A autoria exercida pelo coletivo em espaços de interação mútua (Primo,
2000), em que mensagens são respondidas e tarefas são negociadas entre pessoas
de maneira contínua, faz emergir hoje o que Lévy (2003) havia previsto como
inteligência coletiva, ou seja, locais onde as pessoas podem pensar conjuntamente
e criar técnicas, sistemas de signos, outras formas de organização social através da
concentração de forças e do compartilhamento de experiências e ideias.
Solucionar problemas de maneira coletiva e compartilhada seria a essência desses
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 65
novos espaços de conexão, algo não muito distante dos ideais da ciência em que
os cientistas lutam para chegar a explicações precisas a partir de produções
disponibilizadas pelos pares ou mesmo diretamente, em conjunto, com outros
colegas que investigam a mesma temática.
O fato é que profissionalmente ou amadoristicamente acabamos por
escrever e publicar textos (com fotografias, vídeos e áudios) nos inúmeros
ambientes digitais que entramos e nos manifestamos, a não ser que
deliberadamente nos afastemos deles e fiquemos restritos ao uso de recursos
“mínimos de sobrevivência” e indispensáveis da rede. Sem o rigor do modo de
pensar a autoria proveniente da mídia impressa, podemos ressignificar a expressão
“texto” e assumirmos que textos publicados podem ser também fotografias e
vídeos, criações hipermidiáticas e hipertextuais como blogs e apresentações de
slides, ampliando a noção de textualidade tal qual foi proposto por Santaella
(2004).
2.2.2 A emergência dos leitores-navegadores-autores no ciberespaço
Para entender o processo específico dos autores acadêmicos é preciso ver
primeiro como os processos autoriais e também de leitura vem sendo realizados
no ciberespaço. Essa nova configuração da escrita, em formato digital, trouxe
novas formas de produção, nas quais o espectador-receptor de outrora torna-se
potencialmente um híbrido de leitor-navegador-autor no presente, a partir do
momento que a internet estimula a formação do que Landow (2006, p. 6) chamou
de leitores muito ativos.
O leitores muito ativos são verdadeiros “garimpeiros” que exploram e
utilizam textos diversos na composição de seus próprios, interagindo e
interferindo tanto na mídia de massa clássica, que aos poucos também vem sendo
convertida em bits para permitir sua manipulação e edição, como nas produções
nativas feitas para e no suporte digital. O caráter de atividade aqui evidenciado
está no pólo da criação e não simplesmente no pólo da atividade de leitura-
recepção, que embora produza opiniões, expectativas, críticas por parte do
receptor, veta a sua manifestação direta no próprio suporte, ou a limita a pequenos
espaços de manifestação como nas seções de cartas dos leitores.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 66
Santaella (2004), por sua vez, identifica o nascimento dos leitores
imersivos que exploram os espaços incorpóreos criados pelos suportes digitais de
maneira desembaraçada, pois são suportes que permitem a navegação através de
hiperlinks que carregam dentro de si toda forma de mídia anteriormente dispersa e
geograficamente localizada, visto que as diferentes modalidades de informação
agora são convertidas em “zeros e uns” da linguagem digital.
É outro modo bem diferente de leitura, que envolve a possibilidade de
participação e intervenção nos discursos presentes na rede internet, permitindo ao
sujeito ser um autor a partir do momento que os textos digitais se abrem para
alteração coletiva. Cabe evidenciar que nem todo texto digital é automaticamente
aberto à intervenção e participação nele, por isso usamos reiteradamente palavras
como “possibilidade” e “potencialidade”, tal o grau de multiplicidade de aberturas
e fechamentos encontrados no ciberespaço.
Esse novo modo de leitura se difere drasticamente daquele surgido a partir
dos suportes textuais fixos que formaram os leitores contemplativos, que liam de
forma concentrada os materiais impressos (livros, revistas, jornais) e pouco ou
nada se comunicavam com os outros leitores dentro do mesmo ambiente. A leitura
imersiva é uma forma de leitura que também se difere daquela dos leitores
moventes que se admiravam e tropeçavam nos signos físicos, materiais, mas não
podiam interferir, a exemplo dos anúncios publicitários, letreiros de lojas, filmes e
fotografias presentes nas ruas dos grandes centros urbanos nascentes.
Para o leitor imersivo, pleno de possibilidades de ação, a informação vem
até ele através dos cliques do mouse e do toque nas telas, em um universo de
signos sempre disponíveis em um único equipamento de acesso, em que o roteiro
linear guiado pelos suportes impressos cede lugar a um “roteiro multilinear,
multissequencial e labiríntico que ele próprio ajudou a construir ao integarir com
os nós” (Santaella, 2004, p. 33). A leitura é feita através da perambulação pelos
links disponíveis, em um caminho não finito, juntando-se fragmentos e os unindo
através de uma lógica associativa, formando um mapa cognitivo da navegação
feita (idem, p. 175).
O modo de realizar essa imersão é variável e não está ligado diretamente
ao sujeito, mas sim ao momento que ele está vivenciando no ciberespaço e os
territórios que está explorando. A princípio, Santaella (2004) os classificou de três
maneiras: como um errante, como um detetive e como um previdente.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 67
O leitor-navegador errante é um sujeito que explora os ambientes digitais
sem ter uma lógica clara, indo de forma aleatória dentro de um campo de
possibilidades e não teme o risco de errar, ainda estando em um estado em que
não domina o terreno e por isso navega sem um rumo certo. Já o leitor-navegador
detetive é mais disciplinado, já aplicando uma lógica do provável, aprendendo
com a experiência. Por fim, o leitor-navegador previdente já passou por um
processo de aprendizagem mais longo, está familiarizado com o ambiente que
acessa e nevaga seguindo uma lógica da previsibilidade, antecipando as
consequências de suas escolhas.
Os três níveis mapeados por Santaella (2004) mostram que a experiência
do internauta com o ambiente digital que acessa cresce com o passar do tempo, ele
se torna mais ordenado, e com isso aplica o que aprendeu em seu estilo de
navegação. Apesar da tríade novato-leigo-experto ser associada a estes estilos, a
autora adverte que o ideal é misturar de modo equilibrado os três, para que a
navegação não se torne uma rotina sem imaginação por lugares previsíveis e nem
somente um modo desordenado e sem rumo algum. A desorientação permitida no
ciberespaço, segundo a autora, é “provocativa para que o leitor não perca de vista
sua posição de explorador, cúmplice e co-criador.” (Santaella, 2004, p. 180).
Nenhum internauta, nem mesmo o previdente, abarcará com maestria todos os
ambientes do ciberespaço, simplesmente pela tarefa ser impossível e o ambiente
estar se reconfigurando a cada momento, a partir das intervenções dos outros
internautas.
Mas vale ressaltar que não queremos aqui construir um antagonismo
radical a partir de uma idéia de substituição de mídias e de hábitos de leitura e
navegação, ou seja, não queremos dizer que anteriormente o processo autoral
estava vetado totalmente aos leitores contemplativos de obras impressas e aos
leitores moventes espectadores de múltiplas mídias analógicas expostas nos
espaços em que circulavam. Nem muito menos podemos afirmar que a
hipertextualidade é uma característica exclusiva dos suportes digitais.
É importante observar a característica complementar dos suportes, ao
menos enquanto as modalidades coexistirem e não forem inviabilizadas
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 68
comercialmente21, em que a construção dos atos de leitura acontecem de maneira
sobreposta e mutuamente influentes, conforme constatado por Ribeiro (2006) em
sua pesquisa na qual afirma que, a rigor, todo processo de leitura é complexo,
não-linear e portanto, hipertextual, visto que:
Navegar por um texto não é algo restrito ao suporte digital, como a tela, por exemplo, mas refere-se ao percurso que o leitor pode fazer em determinado objeto de leitura (texto, gráfico, legenda, sumário, índice), de acordo com suas escolhas, a partir de opções de caminho. (p. 22)
O leitor formado na contemplação de um texto impresso, a exemplo de um
jornal impresso, desenvolve uma atividade interna (associação de ideias, opiniões
pessoais) e externa (gestos com as páginas e direcionamento do olhar) durante sua
leitura em que busca informações em uma rede de matérias e de índices, sendo
que aprende modos de ler e pode transferir esses modos de “navegação” no
impresso para a sua leitura de textos em formato digital, ainda que as
possibilidades de autoria (deixar marcas pessoais) estejam bem mais fortes nos
suportes digitais. Se o hipertexto precede a codificação digital tal como Ribeiro
(2006) tão enfaticamente alerta, a autoria tem um novo impulso através da
maleabilidade dos bits em rede, algo pouco comparável com o formato impresso e
analógico.
Cabe então evidenciar que a inserção destes sujeitos como produtores de
obras e conteúdos (serem autores de fato) era e ainda é muito mais difícil nos
suportes analógicos – lembremos dos custos transacionais apontados por Shirky
(2012) –, restrita a um pequeno universo de criadores autorizados pertencentes a
organizações formais (editoras, emissoras, gravadoras), sendo necessária a
mobilização de significativos montantes de recursos financeiros para a
21 Embora ainda exista a ideia de que um suporte não elimina o outro, temos o exemplo do formato digital MP3 que fez praticamente desaparecer os Compact disks (CDs), do mesmo modo que os CDs provocaram praticamente a extinção dos Long Plays (LPs) e trouxeram uma outra lógica no compartilhamento e distribuição de músicas, através da venda individualizada em lojas online. Autores a exemplo de Eco & Carrière (2010) afirmam veementemente que o formato livro não desaparecerá com o advento do hipertexto, pois “o livro venceu seus desafios e não vemos como, para o mesmo uso, poderíamos fazer algo melhor que o próprio livro. Talvez ele evolua em seus componentes, talvez as páginas não sejam mais de papel. Mas ele permanecerá o que é.” (p. 17). Tal certeza deveria ser revista, pois a história das mídias vem se mostrando surpreendente nos últimos 30 anos e pouco sujeita a previsões são categóricas, ora afirmando desaparecimentos tidos como certos e ora exaltando a imortalidade de suportes e formatos estabelecidos.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 69
distribuição de obras produzidas e equipes complexas de gerenciamento e suporte
ao processo de produção.
Tais equipes e orçamentos não desapareceram, as grandes obras
hollywoodianas como filmes e seriados continuam sendo produzidas e as novelas
de TV nacionais mantêm seus complexos de produção e audiência diária
significativa, mas, na ecologia das produções autorais, o ciberespaço acrescentou
possibilidades de produção, coordenação de pessoas e auto-publicação não
existentes até então.
Percebemos então que os tipos contemporâneos de leitura, e
consequentemente de leitores, não anulam a prática das modalidades anteriores e
herdam habilidades desenvolvidas com eles, pois ainda andamos pelas ruas dos
centros urbanos admirando os objetos midiáticos presentes nelas (cartazes,
letreiros, outdoors), não podendo interferir em sua produção e publicização, e
ainda lemos livros, revistas e jornais impressos em nossas casas sem poder alterá-
los diretamente.
Mas vamos atentar aqui para as especificidades dos suportes digitais,
especialmente o potencial liberado para a autoria, pois a ecologia de suportes
aponta para uma mútua influenciação meio digital-meio de massa, pelo menos na
forma como os tradicionais emissores já estabelecidos vem produzindo suas
mensagens22.
2.2.3 A arquitetura hipertextual em rede do ciberespaço: a co-autoria em potencial
A palavra hipertexto foi utilizada pela primeira vez por Theodor Nelson na
década de 1960. Ele via o surgimento e uma nova textualidade eletrônica a partir
da tecnologia informática, uma forma não sequencial e que permitia ao leitor uma
escolha entre caminhos possíveis (Mantovani et al, 2006). O hipertexto, com o
seu modo de distribuir as informações nas memórias dos computadores formando
uma rede de nós associativos, permitiu a criação das bases do modelo
22 Os meios de comunicação de massa cada vez mais têm sido influenciados pelas manifestações dos internautas, que criam e divulgam conteúdos entre si que por sua vez são exibidos ou comentados em canais de TV, rádios e jornais. Movimentos surgidos exclusivamente na rede internet estão “vazando” e produzindo conteúdos para a mídia tradicional.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 70
contemporâneo de produção e circulação da informação na internet, que Pierre
Lévy (1999, p. 63) denominou de modelo todos-todos.
No modelo todos-todos, a distribuição não é concentrada em um conjunto
de centros irradiadores como no modelo um-todos (canais de TV, estações de
rádio, redações de jornais impressos), mas cada ponto participante da rede (um
indivíduo, um website, um canal de vídeo) se torna um produtor irradiador em
potencial e as trocas entre os centros produtores se tornam prática comum entre
eles, caso a rede esteja programada para permitir essas trocas.
Um exemplo para se visualizar esse processo são os comentários de
leitores em postagens de blogs, as intervenções sucessivas e coletivas em textos
wiki (Primo & Recuero, 2003) e a troca de mensagens em listas de discussão e
fóruns. O mesmo padrão de intervenção coletiva ocorre hoje nas redes sociais no
qual são formadas redes de contato entre pessoas afins e ligadas por temáticas
comuns, e em alguns portais de matérias jornalísticas de empresas de
comunicação que permitem a participação dos leitores com suas opiniões,
enviadas aos autores e compartilhadas entre os leitores.
Além do tipo de comunicação, dentro das redes hipertextuais temos os nós,
que para Santaella (2004) são estruturas modulares, uma forma de dividir em
unidades pequenas os múltiplos formatos que a rede permite armazenar, como
textos, imagens, vídeos e sons, e o link é a forma de se unir esses nós criando
nexos de associação entre eles. Dessa forma, a rede internet é um grande
hipertexto em que os links são construídos, destruídos, refeitos, perdidos em
tempo real, uma rede de nós que mudam se reconfigurando a todo instante.
A imagem a seguir, representando a rede internet através de dados
coletados sobre seus nós (computadores representados por endereços IP),
demonstra de maneira gráfica um instante “fotográfico” desse emaranhado vivo,
nos transmitindo a ideia de uma rede “cerebral" rica e vasta em relações
associativas, nos lembrando neurônios conectados por dendritos.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 71
Figura 1 - Representação de parte da rede internet em 15 de janeiro de 2005, em que cada linha correponde a ligação de dois endereços da rede e as cores dividem os vários tipos de domínios (Fonte: The Opte Project, 2005).
O modelo todos-todos é um modelo de múltiplos pontos que
potencialmente podem acessar todos os demais, é uma rede em que um nó pode,
através do acesso a inúmeros outros nós intermediários, chegar no ponto desejado,
o que nos leva a pensar em uma organização que não possui necessariamente um
centro para onde todos os outros devem convergir como no modelo um-todos, mas
múltiplos agenciamentos com múltiplos centros em potencial, que podem mudar
de acordo com o fluxo dinâmico dos agentes presentes em determinado momento
na rede (Lévy, 1993, p. 26). A rede internet pode conter inúmeras outras subredes
com maior ou menor centralização.
Conforme aponta Shirky (2012) é bom enfatizar que o modelo todos-todos
não quer dizer que sempre todos vão se comunicar com todos que estão em uma
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 72
rede, pois nesse modelo o número de participantes da rede pode aingir cifras na
ordem dos milhares de integrantes. Em uma lista de discussão com 5 mil pessoas
inscritas, provavelmente não leremos as mensagens postadas por todos e nem
muito menos conversaremos com cada um dos participantes individualmente. O
mesmo em um blog que recebe a visita de milhares de pessoas não permitirá ao
autor ou conjunto de autores responsáveis conversarem com todos os que
visitarem o seu site.
A comunicação no modelo todos-todos é sempre potencial, sendo
plenamente funcional em grupos de pequena escala (algumas dezenas de pessoas),
chamados de mundos pequenos, e inviável em grupos de grande escala (alguns
milhares ou milhões de pessoas) em que o modelo um-todos pode voltar a
predominar (um autor de blog muito acessado), mesmo que a rede permita uma
comunicação direta com cada um dos seus membros. O limite deixa de ser
estrutural e a viabilidade da comunicação passa a ser de tempo disponível. Shirky
(2012) afirma que quanto mais fama o indivíduo tem em sua rede, menos
interação individual com os membros ele terá, por incapacidade cognitiva e de
tempo disponível.
O contraste um-todos e todos-todos já foi explicitado por Paul Baran23
(1964) conforme nos aponta Franco (2008) a respeito dos diferentes tipos de
topologias das redes de comunicação. Para Baran (1964) existem 3 tipos básicos
de redes: a rede centralizada ou em formato “estrela”, em que um nó centraliza a
maior parte ou todas as conexões possíveis; a rede descentralizada, que possui
vários centros e com isso grupos de conexões se aglutinam em nós e estes se
conectam entre si; e por fim a rede distribuída onde todos os nós possuem mais
ou menos a mesma quantidade de conexões e não há valoração hierárquica desses
nós (Recuero, 2009, p. 57). A imagem a seguir reproduz o esquema original
contido no documento publicado por Paul Baran.
23 O caso de Paul Baran, que redige um documento em nome da RAND Corporation para orientações a respeito da construção de redes digitais distribuídas e mantinha contrato de pesquisa com a Força Aérea dos EUA, evidencia os contrastes presentes nos anos 60 com a cibercultura nascente. Embora as redes digitais propostas tenham sido interpretadas como elemento de incentivo à não-hierarquização, portanto mais democráticas e menos autoritárias (centralizadas), elas nascem no contexto militar de defesa contra possíveis ataques de inimigos externos, no contexto da Guerra Fria, projeto este guiado dentro e um ambiente extremamente hierarquizado e com objetivos bélicos e de defesa.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 73
Figura 2 - Topologias de redes de comunicação segundo Paul Baran (1964).
A internet pode se configurar nesses três tipos de topologias conforme a
configuração das tecnologias digitais que a compõe permita. Dessa forma, a
princípio a configuração de rede descentralizada pode existir plenamente nela,
mas não pode existir através dos meios de comunicação de massa analógicos, que
permitem somente a distribuição centralizada da comunicação (somente um nó
central distribuidor). Estamos pensando aqui em modelos de comunicação
mediados por suportes analógicos (TV, rádio, cinema), embora os nós de uma
rede centralizada, a exemplo dos espectadores de TV e Cinema, possam em
pequenos grupos comunicar-se entre si, caso estejam simultaneamente em um
mesmo ambiente: a sala de estar de casa ou a sala de cinema do shopping center.
A rigor a internet pode conter nichos que possuem nós centralizadores e
outros nichos em que os nós estão plenamente conectados entre si e onde a
hierarquia é reduzida ou mesmo anulada. Um olhar atento para a imagem
produzida pelo The Opte Project (Figura 1) evidencia que alguns dos nós
mapeados naquele instante eram mais centralizadores do que outros, o que nos
leva a concluir que a internet é uma rede que pode abarcar, de fato, todos os três
modelos propostos por Baran (1964).
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 74
Conforme observa Shirky (2012, p. 76-77), cada vez mais aumenta a
indistinção entre mídia de transmissão (um-todos) e mídia de comunicação
(todos-todos) quando mesmo em redes que são distribuídas e permitem a
interação plena de todos com todos, deve-se observar o conteúdo da mensagem
postada, pois conteúdos distribuídos para todos podem ser na verdade mensagens
direcionadas a uma ou poucas pessoas conhecidas.
Um exemplo são as atualizações de status vistas em redes sociais por todos
que a acessam, mas que somente alguns conhecidos da pessoa que a postou
podem entender o seu significado, porque compartilham um contexto comum
entre eles. Essa “comunicação pessoal coletiva” é comumente interpretada como
lixo virtual por aqueles que esperam que toda comunicação na rede internet seja
direcionada para públicos gerais e, portanto, apresentem conteúdos úteis a todos
que acessam. Não é incomum encontrarmos acusações de que hoje “qualquer um”
pode criar seu próprio blog e que isso gera um excesso de informações inúteis na
internet, mas lembremos de que a maioria dos blogs é acessada por um pequeno
público pertencente ao universo de relações do blogueiro.
Na prática, conforme constata Shirky (2012, p. 79), “grande parte do que é
postado em qualquer dia é público, mas não se destina ao público”, sendo que
para ele a internet e seus autores apresentam um desequilíbrio de emissão-
recepção previsível, em que uma grande parte de seus integrantes escreve
mensagens para um pequeno público pertencente ao seu universo pessoal de
interesse (familiares, amigos, colegas de profissão), enquanto uma pequena parte
escreve para um grande público geral. Esse padrão pode se manifestar tanto na
relação emissão-recepção (padrão dos blogs) quanto na relação de produção
coletiva, no caso um conteúdo sendo produzido por um pequeno conjunto de
autores com mais intensidade e com um grande conjunto de autores intervindo
pouco (padrão das wikis24).
O gráfico a seguir, extraído da obra de Shirky (2012, p. 111) com pequena
modificação aplicada ao padrão dos blogs, sintetiza o padrão comumente
24 Na pesquisa que realizei (Rosado, 2008) pude constatar que somente uma pequena parte dos autores da Wikipédia, cerca de 300 na época em que o estudo foi feita, concentrava a maior parte das edições, sendo que milhares de autores tinham realizado, cada um, algumas dezenas de intervenções. O padrão da “cauda longa” estava explícito naquela comunidade de wikipedistas, assim como em outras como o site de compartilhamento de fotografia Flickr, narrado no estudo de Shirky (2012), no qual pequeno número de fotógrafos era responsável pela maior parte das postagens de fotografias em sua comunidade.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 75
encontrado em redes todos-todos a partir do critério/variável quantidade de
elementos que acessam e elementos que produzem os conteúdos, mostrando que a
cooperação par-a-par ou a comunicação todos-todos nem sempre é plenamente
viável em redes contendo milhares ou milhões de pessoas (apesar da
potencialidade presente em sua abertura) e muito mais fácil de coordenar em redes
abertas e menores.
Gráfico 2 - Modelos de rede variando de acordo com o tamanho da comunidade e a viabilidade da comunicação entre seus membros (Fonte: Shirky (2012) com modificações).
Essa capacidade potencial da rede de se modificar a cada instante através
da ação de seus componentes, essa maleabilidade das memórias digitais em serem
apagadas, reconfiguradas, regravadas com extrema facilidade, é que permite a
cada “antigo receptor” ser agora um agente coautor em potencial, a partir do
momento que realiza sua intervenção nos inúmeros ambientes presentes no
ciberespaço e altera de maneira ativa os bits gravados nestas memórias (Santaella,
2004), resultando em uma alta quantidade de mensagens produzidas em rede, boa
parte direcionada a pequenos públicos aos quais o autor pertence e exigindo filtros
por parte de quem as lê. Lévy (1993, p. 102) define essa maleabilidade do digital
dizendo:
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 76
O digital é uma matéria, se quisermos, mas uma matéria pronta a suportar todas as metamorfoses, todos os revestimentos, todas as deformações. É como se o fluido numérico fosse composto por uma infinidade de pequenas membranas vibrantes, cada bit sendo uma interface, capaz de mudar o estado de um circuito, de passar do sim ao não de acordo com as circunstâncias. O próprio átomo de interface já deve ter duas faces.
Para Alex Primo (2003), as discussões que ficam restritas simplesmente à
capacidade tecnológica da rede e suas características como meio de transmissão
de dados e informações (bidirecionalidade, multissequesncialidade,
maleabilidade), corre o risco de criar a ilusão de que todos que a acessam são co-
autores de seus conteúdos (determinismo tecnológico), algo que o ciberespaço
possui em potência, mas que nem sempre é realizado por aqueles que constroem
seus programas e ambientes na rede, cabendo uma análise mais minuciosa dos
tipos de hipertexto existentes, a partir do grau de centralização ou abertura ao
diálogo entre os que acessam estas diferentes redes.
Na abordagem de Primo (2003) sobre a arquiterura hipertextual do
ciberespaço, existem três tipos básicos de hipertextos a partir do critério da
relação entre os que acessam determinado ambiente online. Dessa forma ele cria
uma escala que vai de um modelo mais fechado, uma subrede no ciberespaço
centralizada em um autor único que intervém e modifica o espaço que criou
(hipertexto potencial), passando pela colagem de pedaços produzidos
individualmente e anexados ao ambiente (hipertexto colagem ou colaborativo) até
o arranjo que permite a intervenção livre e contínua dos que acessam o ambiente,
podendo intervir em seus conteúdos de maneira aberta, de forma cooperativa e
negociando as transformações através do diálogo (hipertexto cooperativo).
A divisão proposta então revela que muitos sites e ambientes da rede
internet podem se apresentar como interativos, mas na prática o que acontece é
uma navegação por caminhos construídos e imaginados previamente pelo autor,
um hipertexto potencial, uma rede centralizada. O ideal para uma realização plena
da interação (interação mediada por computador) é que o sujeito possua também
poderes para intervir e deixar suas marcas para que outros possam ver e a partir
delas agir também, para que uma comunidade seja construída a partir das relações
entre os que acessam o ambiente.
Para Primo (2003) o que interessa é como o sujeito pode interagir na rede
internet e não somente aquilo que a arquitetura hipertextual possui em potência,
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 77
evitando um tecnicismo que esconderia os sujeitos participantes da rede. Na obra
de Shirky (2012) todas as transformações detectadas com a formação de grupos e
comunidades de interesses, através da diminuição dos custos transacionais da rede
internet, passaram por sites em que o hipertexto é modificado por quem os acessa,
espaços que permitem, embora nem sempre se realizerm, criações cooperativas e
coletivas.
Primo (2003) critica o termo usuário, aquele que apensas usa o que já é
apresentado pronto por algum programador ou autor, termo importado da
indústria da informática, pois seria próximo à ideia de receptor do modelo
clássico da comunicação, não modificando a conotação impositiva e centralizada
dos meios analógicos. A partir dessa crítica ele intriduz o termo interagente,
reforçando que a rede internet deve ser um espaço que promova efetivamente a
troca e a participação dos que acessam seus espaços, portanto, uma co-autoria que
vá além de simplesmente percorrer caminhos pré-fabricados por uma
personalidade criadora central.
Outro ponto que foi levantado por Ribeiro (2006) é o de que a
hipertextualidade não é exclusiva dos suportes digitais, sendo que a estrutura de
links (algo que liga um ponto a outro) pode ser encontrada também em jornais e
revistas impressos, assim como em enciclopédias. A essa forma de organizar a
informação ela chamou de hipertexto impresso em contraste com o hipertexto
digital. Se no hipertexto digital a infinitude de links sugere uma navegação sem
fim pelo imediatismo do acesso, as leituras no impresso sempre remetem a outros
textos e podem resultar em leituras também infinitas.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 78
Figura 3 - Uma típica página de jornal já prepara o leitor para a hipertextualidade ao remeter a leitura para diversos pontos internamente e externamente (Fonte: Wikimedia Commons, 2011).
O que ocorre com o texto impresso é que existe uma linearidade típica
manisfestada nesse suporte, como no caso dos livros que desenvolvem seu
argumento com começo, meio e fim, algo distinto de uma enciclopédia que
subdivide em blocos textuais os assuntos e os interligam através de remissões. Um
hipertexto potencial (Primo, 2003) pode ser tão ou mais linear quanto um
hipertexto impresso (Ribeiro, 2006), com o seu autor dominando todo processo de
intervenção e disposição dos assuntos, embora a rede internet traga uma facilidade
muito maior de linkagem de textos, imagens, vídeos e sons que dificilmente
deixará um site totalmente isolado de outros.
De maneira concreta, um exemplo de construção aberta em que todos
podem participar, com níveis de repercussão significativos para aqueles que as
acessam e usam, vem dos projetos de autoria coletiva e compartilhada que se
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 79
tornam fonte de referências, nem sempre consensuais ou aceitas em sua validade e
precisão, como a polêmica enciclopédia Wikipédia (Rosado, 2008; Vieira, 2008;
Primo & Recuero, 2003), escrita em tempo real e com suas regras e acordos
negociados enquanto o projeto vai se desenrolando e os problemas vão surgindo.
Outro exemplo no campo da produção textual vem da possibilidade de
publicação dos escritos individuais potencialmente acessíveis a todo público
presente na internet que venha a solicitá-lo em suas buscas, como em blogs ou
websites pessoais, nos quais a produção escrita, a exemplo da acadêmica, pode ser
disponibilizada independentemente de veículos formais de publicação (revistas
científicas) e da finalização da pesquisa (preprints e prepapers). Um acadêmico
hoje pode publicizar seus escritos através de websites geridos individualmente ou
coletivamente com outros parceiros e utilizar tal espaço como balão de ensaio
junto a seu público leitor, ao modo de um preprint aberto à visita de todos25.
2.2.4 A convergência dos formatos e a liberação da produção autoral: entre a liberdade e a qualidade
Quanto à questão dos formatos publicados, a rede e sua ligação
potencialmente bidirecional (comunicação em dois sentidos, ida e volta), com sua
estrutura digital maleável e descentralizada no formato hipertextual, com
múltiplos nós ou links entre blocos de textos, imagens e sons (Lévy, 1993, p. 33;
Landow, 2006, p. 2-3), possibilitam outro tipo de construção da autoria, mais
fluida e menos ligada à materialidade do suporte que a transmite (Chartier, 2002).
A materialidade dos suportes que definia categorias de formatos mais
precisos, como o livro e o jornal para textos, o filme de 8, 16 ou 35 mm para
vídeos, o caderno para um diário pessoal, a folha de papel para a carta, agora
perde sua visibilidade facilmente identificável quando todas as formas de se criar
informação ficam unidas em uma tela luminosa de computador convertidas para
uma única linguagem universal: os bits. Basta que olhemos para um tablet e nos
25 Um exemplo de blog em que o autor acadêmico publica resumos a partir de pesquisas que está desenvolvendo e apresentações diversas em seminários é o Medialog, do professor da UCSC Pier Cesare Rivoltella, no endereço < http://piercesare.blogspot.com.br/>. Outro exemplo que será desenvolvido mais a frente é o site arXiv < http://arxiv.org/>, voltado para o campo das ciências exatas, em que os autores publicam seus artigos sem passar por revisão criteriosa dos pares.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 80
questionemos se ele é um e-book, um leitor de e-mails, um gerenciador de
fotografias ou tudo ao mesmo tempo.
Os programas de computador podem simular todos os formatos anteriores
de exibição da informação (incluindo a unidirecionalidade do modelo um-todos),
e podem criar outros novos formatos baseados na potencialidade co-criadora e
interativa da rede, dependendo da criatividade dos programadores, a exemplo dos
blogs, wikis e fóruns de discussão, impossíveis de existir através de um suporte
analógico, pois dependem de uma rede maleável de dados na qual possam ser
atualizados em tempo real os seus indexadores de informação. A esse respeito
Lévy (1993, p. 102) reitera sobre a convergência dos formatos em um único
suporte dizendo que:
A principal tendência neste domínio é a digitalização, que atinge todas as técnicas de comunicação e de processamento de informações. Ao progredir, a digitalização conecta no centro de um mesmo tecido eletrônico o cinema, a radiotelevisão, o jornalismo, a edição, a música, as telecomunicações e a informática. (...) Ora, a codificação digital relega a um segundo plano o tema do material. Ou melhor, os problemas de composição, de organização, de apresentação, de dispositivos de acesso tendem a libertar-se de suas aderências singulares aos antigos substratos.
Logo, a escrita hipertextual digital permite um acesso e uma construção
não-linear do texto, com a possibilidade de acréscimos sucessivos, em tempo real,
em oposição às edições estáticas e definitivas condicionadas pelo suporte
impresso, que fixava o discurso do autor em uma caixa fechada e o atualizava
lentamente em edições sucessivas.
Adiciona-se a este processo, a capacidade do autor ligar com facilidade
imagens, sons e vídeos através de edição hipertextual, o que enriquece sua autoria
e a transforma em autoria digital multimídia. O texto linear e estático do autor
único e isolado, fortemente preocupado com a coerência e do formato início-meio-
fim não cabe mais como única possibilidade nesse novo tipo de escritura, embora
a escrita hipertextual possa conter essa modalidade de produção caso o autor a
deseje: um hipertexto potencial centralizado e com edição predeterminada fechada
ao público (Primo, 2003).
Este novo tipo de autoria nos remete à capacidade associativa do próprio
pensamento humano, pois quando interpretamos um texto, quando ouvimos um
som e nos lembramos de determinado assunto ou lugar, estamos pondo em ação a
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 81
nossa própria rede hipertextual com nossos fragmentos de memória, sendo que
para Lévy (1993, p. 70-73) a nossa mente agora pode materializar essa rede de
nexos (nós) em computadores, e de modo mais complexo ainda quando estes
computadores se ligam em redes de elaboração hipertextual coletiva, os
computadores conectados.26
Fazendo um paralelo entre os tradicionais suportes materiais e os suportes
digitais emergentes, Chartier (2002, p. 109) afirma que:
A ordem dos discursos é assim estabelecida a partir da materialidade própria de seus suportes: a carta, o jornal, a revista, o livro, o arquivo etc. Isso não acontece mais no mundo digital. Onde todos os textos, sejam eles quais forem, são entregues à leitura num mesmo suporte (a tela do computador) e nas mesmas formas (geralmente as que são decididas pelo leitor). É assim criada uma continuidade que não mais distingue os diferentes gêneros ou repertórios textuais que se tornaram semelhantes em sua aparência e equivalentes em suas autoridades. Daí a inquietação de nosso tempo diante da extinção dos critérios antigos que permitiam distinguir, classificar e hierarquizar os discursos.
Logo, com a sofisticação dos programas e das tecnologias que compõe a
rede internet, abriu-se caminho para a construção de fontes de informação (novos
formatos) dirigidas diretamente por pessoas “comuns” na internet, não
oficialmente qualificadas ou institucionalizadas, liberadas agora de todo processo
formal de editoração e publicação criado após a difusão da imprensa, uma rede de
autores que estavam desautorizados a publicar suas obras devido aos filtros
existentes até então. Shirky (2012) denomina esse processo de amadorização em
massa, em que profissões ora firmamente estabelecidas e regulamentadas são
solapadas por pessoas não-certificadas, mas que produzem em grandes
quantidades obras expostas na rede internet com a mesma facilidade que os
profissionais (fotografias, vídeos, textos, músicas).
26 Vannevar Bush (2011) em seu texto “Como podemos pensar” datado de 1945 já previa que a lógica de indexação de textos deveria obedecer a uma lógica associativa equivalente ao modo como nossa mente funciona. Ele combatia os modos alfabéticos e numéricos de indexação que dificultvam as pessoas no resgate de determinado registro informacional. Ele apostava então que a seleção de informação por associação criaria trilhas de pensamento que poderiam ser compartilhadas e transferidas a quem se interessasse por elas, tendo como vantagem a permanência registrada dessa trilha, enquanto a mente humana falha ou perde elos de associação de acordo com a frequência de seu uso. Vannevar Bush pode ser considerado um pioneiro no conceito de hipertextualidade e seu artigo ficou conhecido pela proposta de um arquivo pessoal mecanizado que funcionaria com a lógica associativa, contendo livros, registros e comunicação pessoais, uma máquina apelidada por ele de Memex, pois ampliaria a memória de quem o utilizasse. A transformação em bits não era ainda cogitada por ele, sendo o processamento baseado em microfilmes.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 82
Tais processos formais presentes da indústria de obras analógicas,
incluindo a presença de editores e revisores profissionais e uma regulação
restritiva de acesso (copyright), justamente serviam para selecionar quem deveria
e quem não deveria ter seu discurso publicado, principalmente devido aos altos
custos financeiros e gerenciais envolvidos e a necessidade de se vender as obras
produzidas para garantir o retorno necessário e realimentar o processo industrial
de gráficas e editoras (Chartier, 2007).
Ao mesmo tempo em que a imprensa, o cinema, a TV e o rádio criaram
todo um conjunto de categorias profissionais para cuidar do processo de produção
e distribuição das obras, os suportes digitais estão redefinindo ou eliminando estas
profissiões quando permitem a qualquer pessoa praticar a mesma atividade antes
restrita a certas categorias profissionais (Shirky, 2012).
O que acontece hoje, com a consolidação e expansão dos espaços digitais
na internet, é a eliminação de maneira repentina das limitações anteriormente
existentes nos custos de publicação e coordenação de atividades, nos custos
materiais envolvidos na replicação analógica da informação, e com isso vive-se o
dilema da carência de outras formas de validação da produção emitida pelos
elementos dos coletivos antes represados. Estamos hoje numa Era de Fartura em
que a quantidade de mensagens produzidas e levadas a público aumentou
exponencialmente, permitindo tanto a produção de obras de grande valor para um
grande público interessado quanto obras menos sofisticadas, mas de grande valor
para pessoas próximas do círculo de amizades do autor.
O fato é que os coletivos estão produzindo e replicando os conteúdos
gerados através das redes digitais que permitem tal manifestação (hipertextos
colaborativos e cooperativos), e a indústria criada ao redor dos meios de
distribuição analógicos, como as indústrias fonográfica e cinematográfica, está em
crise face ao modelo de comunicação digital emergente, que avança com
velocidade, desintegrando categorias profissionais até pouco tempo admiradas e
de grande prestígio (Shirky, 2012).
Este movimento de proliferação de discursos até então represados,
chamado por Lemos (2003) de liberação do pólo de emissão, a partir de uma
conexão quase generalizada à internet e entre aqueles que a acessam (modelo
todos-todos), gerou insegurança maior quanto à validade de fontes consultadas,
uma questão importante, porém polêmica e que promove discussões apaixonadas.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 83
Não surpreende que tenha gerado discursos radicais, com forte carga
retórica e conservadora, através de posturas “apocalípticas” como as de Keen
(2009), ao afirmar que a Web 2.027 gerou um culto às produções feitas por pessoas
amadoras e, portanto, desqualificadas, em sites como YouTube, Myspace, e os
inúmeros Blogs e Wikis, enfraquecendo a indústria formada ao redor dos direitos
autorais juridicamente regulamentados (copyright), em especial as editoras de
livros e as gravadoras de música. A amadorização em massa assusta aqueles que
estavam acostumados com os filtros de conteúdos gerenciados pelas organizações
formais, mas ao mesmo tempo pode apresentar obras que poderiam nunca chegar
ao público se não fossem disponibilizadas na rede internet.
Esta fase de transição pode afetar justamente a cultura acadêmica marcada
pela referenciação a livros e artigos científicos e gerar conseqüente subestimação
ou mesmo negação de outras fontes e formas de produção de conhecimento não-
acadêmicas (Targino, 2000, p. 12) ou extra-acadêmicas. O pesquisador acadêmico
é posto diante de um dilema no acesso às fontes, pois outras formas de produção e
distribuição extra-acadêmicas e extraoficiais juntam-se às formas tradicionais
reproduzidas no ciberespaço, muitas vezes não se distinguindo claramente as
fontes “certificadas” provenientes dos centros de pesquisa.
Se nos anos 40, Vannevar Bush (2011) estava preocupado com o aumento
no número de publicações e buscava uma forma de guarda-las e ao mesmo tempo
torna-las facilmente acessíveis e indexadas através de ligações associativas, –
objetivo esse alcançado décadas mais tarde pelas redes informáticas e seus
motores de busca super-rápidos –, nos anos 2000 o problema se volta para a
qualidade e quantidade das fontes produzidas, necessitando de outras formas de
validação além do formato material em que ela se apresenta ou da simples seleção
de seus produtores pelos que detém o poder de publicação.
27 O conceito de Web 2.0 foi discutido por O´Reilly em seu pioneiro artigo no ano de 2005. A internet como centro para o oferecimento de serviços on-line, acessíveis em qualquer plataforma ou computador, sem necessidade de instalação local, assim como a produção de conteúdos pelos próprios usuários (incluindo remixagem de programas), com ou sem parceria de outros, caracterizam esta nova fase da internet, em que pequenos e grandes produtores de mídia convivem simultaneamente (nem sempre harmonicamente), disponibilizando fotos, vídeos, áudios, seja respeitando ou não os direitos autorais e as respectivas leis de proteção de propriedade intelectual de cada país (copyright). Empresas que priorizaram a formação de bases de dados para hospedar conteúdos de autores pequenos e anônimos, incentivando sua participação, obtiveram grandes resultados financeiros e de repercussão entre internautas nesta primeira década do século XXI.
Os ac
analó
que p
desaf
que n
Com
muita
aprov
reput
gradu
fonte
fizera
texto
uma
de au
Quadcibere
H
cadêmicos c
A queda
ógicos e a l
podem ago
fios inédito
não está suj
mo distinguir
as? A mult
veitados po
tação por vo
Dessa fo
uação e con
es digitais,
am uso e p
os acadêmic
cultura for
utoridade do
dro 2 - Proceespaço (digit
Hipertextu
Descentraliz
•Nós modulare
• Links em rede
Multisseque
•Múltiplos cam
•Caminho sem
•Não‐linearida
Bidireciona
•Liberação do
•Modelo todo
•Do usuário‐einteragente
contemporân
a da distinç
liberação po
ra se tornar
os e ainda e
eita a nenhu
r o discurso
tidão é capa
or todos (s
otação)?
orma, se in
nstrução de
cada vez
participaram
cos, haja vis
rtemente ma
os discursos
essos de leittalização dos
ualidade
zação
es
e
encialidade
minhos possíveis
m pré‐definição
ade
lidade
pólo de emissão
os‐todos
spectador ao
eos e o cont
ção dos dis
otencialmen
r também a
em busca de
um tipo de
o voltado a
az de produ
social book
ndaga como
e suas teses
mais diver
m desta pro
sta que são
arcada pela
s.
ura e escritas dados).
texto emerge
scursos pela
nte universa
autores, pro
e soluções.
limitador e
poucas pes
uzir filtros
kmarking, t
o os pesqu
e dissertaç
rsificados e
odução no m
participante
a valorizaçã
a emergentes
Co‐autgenera
Inteligência
•Autoria come
•Autoria colet
•Desafio ao co
Escrita hipe
•Autoria mult
•Novas "textu
•Memórias massociáveis
•Hipertexto ccolaborativo
Novos espapublicação
•Blogs
•Wikis
•Redes sociais
ente da ciber
a sua mater
al de todos
oporcionada
É possível
alcança pro
ssoas do dis
conjuntame
extos da W
uisadores, e
ções, lidaram
e amplos, e
momento d
es e ao mes
ão da obra i
s com a cibe
toria lizada
a coletiva
entada
tiva
opyright
ertextual
timídia
ualidades"
maleáveis e
ooperativo e o
aços de auto‐
s
rcultura
rialidade em
os leitores-
a pela intern
filtrar uma
oporções gi
scurso prod
ente e que
Wikipédia,
em process
m com doc
e como se
de construçã
smo tempo
impressa co
rcultura e o
84
m suportes
-receptores
net, trouxe
a produção
igantescas?
duzido para
podem ser
índices de
so de pós-
cumentos e
inseriram,
ão de seus
agentes de
omo objeto
Leitura im
Hipermídia
•Convergênci(texto, imag
• Indistinção dsuporte mat
•Navegação einstantâneo requeridos
Novos tipo
•Leitor muito
• Leitor imersi
• Leitor errantprevidente
mersiva
a
ia de formatos em e som)
dos formatos pelos terial
e acesso aos conteúdos
s de Leitores
ativo
ivo e hipertextual
te, detetive e
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 85
2.2.5 O hipertexto veloz, a explosão de informações e a tradição dos suportes analógicos
A revolução do texto eletrônico é, de fato, ao mesmo tempo, uma revolução da técnica de produção dos textos, uma revolução do suporte do escrito e uma revolução das práticas de leitura (Chartier, 2002, p. 113).
Em parte, as possibilidades de mudança na autoria acadêmica com a internet
perpassam a própria lógica da rede hipertextual, aberta a intervenções em sua
estrutura com acréscimos por parte de seus usuários (liberação do pólo da
emissão), permitindo processos de auto-publicação e de indexação automática de
textos com buscas quase instantâneas, uma hipervelocidade.
O que Chartier (2002) e Shirky (2012) nos evidenciam é que o formato
digital altera toda cadeia de produção, gerenciamento e circulação da informação
criada pelos autores, em qualquer formato que tenha sido produzida (texto, áudio,
vídeo), pois o instrumento onde ela é editada e finalizada é também local onde ela
será guardada e transmitida.
O formato digital e o texto eletrônico trazem mais uma vez o sonho do
acesso a toda produção acadêmica e cultural do mundo, pois “tal como a
biblioteca de Alexandria, ele promete a universal disponibilidade de todos os
textos já escritos, de todos os livros já publicados” (Chartier, 2002, p. 114), isso se
nos limitarmos a ver a rede internet como um grande depósito de dados e
informações produzidas até hoje, uma megabase de dados ou um mega-armazém
digital.
O contraste se torna claro quando pensamos que uma fase de levantamento
de dados e buscas de pesquisas semelhantes, quando contávamos apenas com os
suportes impressos, poderia levar meses com solicitações a inúmeras bibliotecas e
acervos, até se completar o envio de fotocópias de artigos, teses e dissertações via
correio, com alto custo (principalmente de tempo e depois financeiro) para o
pesquisador.
Isso porque estamos aqui restringindo os dados a documentos da
comunicação científica formal, mas lembremos de que a fase de coleta de dados
também demantava tempo caso fosse realizada com questionários via correio e
entrevistas com pessoas distantes geograficamente, processo agora facilitado pela
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 86
participação de sujeitos através da própria rede, sem deslocamento físico do
pesquisador (Nicolaci-da-Costa, Romão-Dias & Di Luccio, 2009).
O fato de se oferecer informações no formato digital e de se recuperar
outras de modo quase instantâneo, através de bases de dados de conteúdo
científico, parece-nos fundamentais para a aceleração de descobertas científicas,
quando pesquisas localizadas em diferentes partes do planeta podem ser acessadas
em conjunto pelo pesquisador através de seu computador pessoal
(internacionalização das buscas), sem necessidade de deslocamento físico ou
mesmo de espera para o recebimento dos materiais solicitados.
Comparando a leitura do texto impresso, que permite um processo interno,
mas não visível, de interconexões e associações de idéias (memória associativa do
leitor, busca de outros livros, consultas a outros textos), Lemos (2007, p. 123)
percebe que existe uma especificidade no hipertexto digital relativa à velocidade
de resposta, e chega à conclusão que a “diferença situa-se no fato de que, no
ciberespaço, a conexão é em tempo real, imediata, live”. É exatamente a mesma
constatação que Lévy (1993, p. 37) tece ao indagar:
O que, então, torna o hipertexto específico quanto a isto? A velocidade, como sempre. A reação ao clique sobre um botão (lugar da tela de onde é possível chamar um outro nó) leva menos de um segundo. A quase instantaneidade da passagem de um nó a outro permite generalizar e utilizar em toda sua extensão o princípio da não-linearidade. Isto se torna a norma, um novo sistema de escrita, uma metamorfose da leitura, batizada de navegação. A pequena característica de interface “velocidade” desvia todo o agenciamento intertextual e documentário para outro domínio de uso, com seus problemas e limites. Por exemplo, nos perdemos muito mais facilmente em um hipertexto do que em uma enciclopédia.
A navegação nada mais é então que o percurso veloz realizado pelo leitor
durante a clicagem realizada nos múltiplos nós disponíveis pela rede (a leitura
imersiva e muito ativa), algo que antes seria realizado de forma muito mais lenta
quando os “links” que achávamos em um texto impresso estavam distantes
fisicamente de nós, presentes em bibliotecas e outros locais de armazenamento
dos suportes impressos, cabendo realizar uma leitura contemplativa, focada em
um único texto e objeto por vez, ou então com poucos “saltos” entre um texto e
outro. Seguindo a temática da velocidade e nos fazendo pensar a respeito da
explosão de informações científicas, Targino (2000, p. 7) nos informa que:
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 87
A partir dos anos 50, o avanço tecnológico favorece a ampliação do número de pessoas envolvidas na produção e no processamento de dados, além de permitir a redução de custos da produção. Assim, na atualidade, a quantidade de informação disponível, em termos genéricos, duplica a cada oito anos, e há indícios de que, em breve, dobrará a cada quatro anos. Só nas últimas três décadas, produziu-se um volume de informações novas maior do que nos cinco mil anos anteriores. Cerca de mil livros são editados no mundo a cada dia. (...) No ritmo atual dos avanços tecnológicos, o indivíduo atravessará quatro ou cinco revoluções tecnológicas, o que agrava a chance de defasagem e torna o processo de educação continuada inevitável.
Tais características levam a uma sensação de instabilidade da informação
acessada, que pode mudar e ser ampliada a todo instante de modo veloz, e não
podem ser vistas somente como positivas e benéficas para o campo científico,
visto que põe em jogo referenciais relacionados ao tempo e ao espaço necessários
ao processo científico, ao menos do modo que a ciência é vista até o presente
momento.
Cabe enfatizar que a própria quantidade de dados gerados, mesmo com o
refinamento de buscas através de palavras-chave em buscadres on-line, pode gerar
uma quantidade de fontes impossível de se analisar por parte do pesquisador, por
mais cuidadoso e atento que seja, pois existe a limitação do tempo disponível para
leitura e compreensão dos conteúdos.
O êxito do processo de comunicação científica pressupõe um crescimento e
refinamento contínuo de informações que são dependentes de referenciais
temporais (faz-se pesquisa a partir de dados anteriores de outros pesquisadores) e
espaciais (é preciso dizer qual fonte se consultou), conforme nos aponta Oliveira
& Noronha (2005) e os modelos de ciclo de gestão do conhecimento científico
(GCC) descrito por Leite & Costa (2006).
Para isso, as revistas impressas e os livros em papel exercem sua função
plenamente, datando e fixando a escrita no tempo e espaço, e mesmo limitando a
quantidade de informações a serem compartilhadas com os pares. O suporte
impresso e suas limitações, como a fixação em edições bem definidas no tempo e
espaço, determinaram, em certa medida, o próprio modo de se fazer ciência,
divulgar os dados e fazer uso dos mesmos.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 88
Figura 4 - Tela do site Scielo contendo os volumes e números da Revista Brasileira de Educação.
Não é por acaso que o modelo número-volume-ano-local condicionado pelo
formato impresso das revistas científicas é atualmente copiado por publicações
exclusivamente on-line, que a rigor não precisariam de tais indexadores, mas que
os utilizam a fim de separar textos espacial e temporalmente, facilitando sua
referenciação em outros textos acadêmicos28.
Saber a data de realização e publicação de um estudo científico é, talvez,
algo essencial em um campo onde informações podem ser atualizadas a todo
momento e comparadas com os estudos passados. A lógica científica é diferente,
por exemplo, da forma de proceder de um grupo de fiéis em relação a um texto
religioso em que a data de sua publicação, ou mesmo a identidade do autor, pode
ser ignorada (muitos vindos de uma época em que a oralidade primária
predominava), pois o que está em jogo ali é a sua tradição e fidelidade a uma ideia
28 Exemplo neste caso é a RENOTE (Revista Novas Tecnologias na Educação), publicada exclusivamente on-line pelo Centro Interdisciplinar de Novas Tecnologias na Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a cada final de semestre, estando atualmente no volume 7, número 2. Apesar de manter um formato tradicional da revista impressa, a RENOTE também possui um índice de autores e um índice de títulos onde reúne toda produção de todos os volumes publicados.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 89
original e não o seu uso como referência para a elaboração sucessiva de novas
ideias.
Figura 5 - Programa da plataforma móvel Android simulando estante e página de livro impresso sendo virada.
Seguindo o mesmo raciocínio, temos os e-books que continuam
reproduzindo estruturas do suporte impresso, tais como capítulos sequenciais,
páginas com o mesmo formato e tamanho, notas de rodapé, em muitos casos com
ausência de recursos multimídia (áudio e vídeo), procurando manter a identidade
com elementos que o leitor se acostumou a encontrar em impressos (texto e
imagem), tornando a leitura digital um pouco menos “traumática” em sua
transição. Um leitor de e-book em um tablet, por exemplo, procura até mesmo
simular a virada das páginas através do toque dos dedos em suas bordas.
Os dois casos corroboram o pensamento de Chartier (2002, p. 112) ao
afirmar que “a longa história da leitura mostra com firmeza que as mutações na
ordem das práticas são geralmente mais lentas do que as revoluções das técnicas e
sempre em defasagem em relação a elas”. Outros caminhos na produção textual e
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 90
em seus modos de entrelaçamento e referências devem surgir à medida que a
internet for incorporada no dia a dia de todos, incluindo os modos de produção e
divulgação de textos acadêmicos, fortemente ancorados no modelo de publicação
impressa.
Para Moreira (2005), a auto-publicação e a acessibilidade de documentos
antes restritos às bibliotecas, como teses e dissertações agora on-line, levam a uma
indistinção cada vez maior entre literatura branca (publicada) e cinzenta (restrita e
não publicada), aumentando o volume de informações disponíveis para o
pesquisador e trazendo a tona um antigo medo dos leitores, agora também
navegadores: se perder no emaranhado da teia hipertextual com seus bilhões de
hiperlinks e textos produzidos pela coletividade, disponíveis de maneira
horizontal em páginas igualmente acessíveis em um mesmo suporte.
Podemos cogitar, por hipótese, que mais do que um apego à tradição das
revistas científicas e dos livros impressos, a manutenção da identidade dos
elementos de ambos seja justamente uma maneira de destacar os produtos de uma
comunidade que se tornou com o passar dos séculos institucionalmente coesa – os
pesquisadores acadêmicos divididos em seus respectivos subcampos de
conhecimento – dos produtos de outros tipos de comunidades em ascenção hoje
no ciberespaço, voltadas para diversos fins.
Para Meadows (1999), entre os elementos que formam o feitio da revista
científica, a partir de sua unidade básica, o artigo científico, estão: o título do do
artigo, o nome ou nomes dos autores, a data de recebimento e aprovação , o
resumo, o corpo do texto, as notas ou referências bibliográficas. Se para nós hoje
estes elementos são óbvios, eles são resultados de necessidades detectadas no
longo processo de organização da comunicação formal científica construído desde
os primeiros periódicos surgidos na França (Journal des Sçavans) e Inglaterra
(Philosophical Transactions) no século XVI.
Embora o acesso a informações cresça, para Targino (2000) é importante
que este manancial ajude a produzir compreensão do que se está pesquisando e,
conseqüentemente, gere conhecimento. Para a autora, existe uma hierarquia na
produção científica, que começa pelos dados, que ao serem reunidos e imbuídos
de significado se tornam informação, se tornando conhecimento quando
incorporados ao repertório cognitivo do ser humano.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 91
Acumular dados e informações em estoque não implica produzir
conhecimento significativo para resolução de problemas, embora seja parte
essencial do processo, com a revisão periódica do que se compreende até o
momento a respeito de um fato ou fenômeno, visto que a ciência é uma atividade
em que a mutação dos saberes é fundamental (Targino, 2007). Nessa acepção da
pesquisa acadêmica, um bom pesquisador, portanto, é aquele que efetua a
“alquimia” da transformação de dados e informações em conhecimento útil à
coletividade que faz parte.
Dessa forma se tornam claros os problemas trazidos pelo ciberespaço e
pelos dados hipertextuais dentro do processo cíclico de pesquisa na ciência. O
primeiro se refere aos mecanismos construídos para discernir entre uma
publicação científica e não científica, pois estão menos visíveis e mais fluidos no
ciberespaço com a junção de todos os formatos em um único local, indistintos
pela sua materialidade e liberados para que todos sejam autores publicados. Em
síntese: os antigos filtros exercidos pelos suportes impressos (custos materiais)
estão agora mais fragilizados devido à imensa facilidade de se publicar uma obra
na rede internet.
O segundo é relativo à quantidade de informação liberada, mesmo pelos
órgãos oficiais e pelas universidades, sendo tão grande e consequentemente difícil
de ser assimilada e tratada pelos seres humanos em um tempo razoável, pelo
simples fato de que nosso equipamento cognitivo e memória continuarem sendo
os mesmos e podendo processar a mesma quantidade de informação de 50 anos
atrás.
Targino (2007) então chama a atenção para o papel exercido por pessoas
auxiliares no momento da seleção das fontes de informações: os bibliotecários.
Em nossa revisão de estudos empíricos (próximo Capítulo) ficarão também
visíveis outros tipos de pessoas consultadas pelos acadêmicos: colegas de grupos
de pesquisa, orientadores, professores. Cresce então em importância as fontes
humanas, que apresentam uma inteligência mais sofisticada na avaliação da
informação que as fontes computacionais.
Os ac
Quad
2.2.6A tradigit
apres
dentr
pode
na or
de no
aprox
aque
artigo
sécul
Mod
toda
In
Ad
cadêmicos c
dro 3 - Desa
6 adição da tais
O autor énuma obmodificaçde escritevolução,foco de emesma mfragmento
Na virada
sentar seu n
ro do conh
eria delimita
rganização
omes própr
ximação do
le momento
os e jornais
Foucault
los de cultu
derna (séc. X
Europa, e
ndistinçãopelo crimateria
Aumento eda produç
contemporân
afios dos sup
autoria ac
é aquilo que bra como ações diversasta, pelo que, maturação expressão, q
maneira, e coos, etc. (Fou
a dos anos
novo projet
hecido Coll
ar e definir
dos discurs
rios (Platão,
os textos, er
o de se escr
s em papel.
(2006) est
ura impressa
XV e XVI)
ainda naqu
o das fontetério da alidade
exponencição autora
eos e o cont
portes digitais
cadêmica
permite expas suas trans (...) O autoe todas as ou da influê
que, sob formm o mesmo cault, 2006,
s 60 para
o de pesqui
lège de Fr
o escopo da
os, na class
, Aristótele
ra um modo
rever: a escr
ava ampara
a, que flore
) com a exp
uele momen
•Dificuldautora
•Confuspublica
•Comunsuporte
es
•Autoria50 e se
•Carêncacadêm
•Explosã
al al
texto emerge
s hipertextua
a e as brec
plicar tanto ansformações
or é igualmendiferenças sência. (...) Emas mais ouvalor, nas op. 53-54)
os anos 7
uisa para a S
rance, estav
a autoria. P
sificação e a
s, Shakespe
o de pensar
rita e public
ado por um
esceu na vir
pansão das
nto difícil d
dade de localil extra‐acadêm
são entre Fontadas (todas sã
nicação formae.
a acadêmica ce mantém até
cia de métodomicas.
ão da autoria
ente da ciber
ais aos autore
chas abert
a presença des, as suas nte o princípisão reduzida
Em suma, o u menos acaobras, nos ras
70, Michel
Sociedade F
va preocup
ensar a funç
agrupament
eare) e crité
sobre a úni
cação impre
m processo
ada da Idad
tipografias
de ser pensa
ização no espmica.
tes cinzas e brão publicadas)
al e informal s
cresce a passoos dias atuais
os de validação
"amadora", s
rcultura
es acadêmic
tas pelos s
e certos acondeformaçõe
io de uma ceas pelos priautor é uma
abadas, se mscunhos, nas
Foucault (
Francesa de
pado com a
ção da noçã
o dos mesm
érios de del
ica forma p
essa através
o firmado a
de Média pa
e prensas a
ado de outr
aço‐tempo da
rancas, public).
endo realizad
os largos a pars.
o de fontes nã
em avaliação
92
cos.
suportes
ntecimentos es, as suas erta unidade rincípios de a espécie de manifesta da s cartas, nos
(2006), ao
e Filosofia,
aquilo que
ão de autor
mos através
limitação e
possível até
s de livros,
através de
ara a Idade
alemãs em
ra forma, a
a produção
cadas e não
da no mesmo
rtir dos anos
ão
por pares.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 93
não ser pelos vislumbres dos primeiros informatas que faziam nascer a cultura
hacker naquela mesma década. Dessa forma, a comparação e junção de textos
visando a atribuição de um nome que exercesse a função autor e denominasse
esse conjunto de obra era o modo de pensar sobre a produção de discursos antes
do surgimento da rede eletrônica e a instabilidade gerada com o advento da
autoria liberada às coletividades.
Já o ataque ao autor era para Barthes (2004), em texto publicado em 1968
com o provocativo título “A morte do autor”, um ataque à ordem estabelecida
desde o fim de Idade Média quando através do empirismo inglês e do
racionalismo francês cresce o prestígio do indivíduo. É através dessa valorização
do sujeito que se busca juntar em pedaços a biografia do autor, seus gostos e a sua
história pessoal e com isso dar sentido à produção da sua obra, como mera
confidência pessoal.
Essa “tirania” do autor para Barthes (2004) não cabe quando se concebe o
texto como um espaço de dimensões múltiplas, em que convergem e se casam
escritas variadas. O autor se torna então um misturador de escritas anteriores a si e
por isso torna-se inútil a sua decifração como se fosse originária de um sujeito
único ou mesmo como se o sentido estivesse fechado em si mesmo. Nesse ponto
assemelha-se à Bourdieu (1996) quando disserta sobre a ilusão da biografia
contínua, coerente e independente de uma rede social de relações e mútuas
influenciações. Ou seja, cai-se nesse discurso o primado do sujeito autor que
controla totalmente os efeitos de sua escrita.
O foco de Barthes então volta-se a quem lê e atribui sentido a um texto, ao
leitor que reúne em si todas as referências que a escrita tem por base. Fazendo-se
livremente uma analogia, o que interessa é como o texto é entendido através do
“hipertexto mental” que o leitor carrega em sua memória e não a decifração de um
sentido único que supostamente o autor queria atribuir ao texto.
Logo, o foco é mudado do autor para o leitor, aquele que realmente constrói
uma unidade no texto que acessa. Barthes (2004) então ironiza o processo de
busca de um autor pelos críticos literários ao dizer que um leitor não tem história,
não tem biografia, não tem uma psicologia, é somente um alguém que pratica o
ato da leitura, figura essa que a crítica literária nunca se preocupou em descrever.
Na cultura contemporânea, com as redes digitais, o ato de escrita-leitura se tornou
importante, visto que os rastros dessa leitura agora podem se tornar visíveis nos
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 94
ambientes do ciberespaço, ao menos nas redes que permitem a autoria do “leitor”,
que comenta, interfere e se autoriza a participar de obras e debates coletivos
abertos, nos hipertextos cooperativos e colaborativos (Primo, 2003).
Voltemos então nossa atenção para o modelo de autor acadêmico. Para o
acadêmico, de modo geral, construir um texto, ser autor, é utilizar de maneira
prática fontes de dados e informação, selecionando-as e organizando-as de acordo
com o objetivo proposto na pesquisa, assim como situar-se no campo representado
pelas produções dos demais pesquisadores (intertextualidade) através da citação e
da referência a teses, dissertações, artigos, relatórios, censos, documentos
históricos, registros governamentais entre outras fontes, objetivando publicar os
resultados em um relatório final. Esse é o ciclo da informação científica, uma
eterna circulação de resultados, um “fluxo informacional intenso que configura o
processo de comunicação científica, processo este, que propicia a soma dos
esforços individuais dos membros da comunidade científica, por meio da troca de
informações” (Targino, 2007, p. 97). Temos aí a síntese da atividade acadêmica.
A rigor, um autor acadêmico jamais escreve um texto sozinho, no sentido de
que não pode prescindir da consulta a fontes que representam os registros dos
pesquisadores que o antecederam (intertextualidade), mas pode operar as
associações de ideias em seu texto sem o auxílio efetivo de outros autores durante
essa operação, sem trabalhar diretamente com outros sujeitos que pratiquem a
fase final da escrita junto a ele, exercendo dessa forma uma autoria individual, em
contraste com a autoria coletiva permitida pelos espaços digitais.
Ser acadêmico é ser, antes de tudo, um letrado, alguém que domina o
idioma nativo, e eventualmente idiomas estrangeiros, e manipula a linguagem
escrita através de códigos alfabéticos em algum suporte que os fixe. Assim como
a pesquisa e os métodos empregados para se chegar aos dados almejados, a escrita
é parte fundamental, inseparável, da vida do acadêmico, pois é a partir dela que o
trabalho cria vida própria e pode ser apropriado pelos demais em uma cadeia de
constantes referenciações. O lema “Publique ou pereça” é a extrema evidência do
quanto o acadêmico é direcionado para a atividade de registro, composição e
publicação.
Dessa forma, é fundamental a consulta às fontes produzidas pelos que
percorreram caminhos em pesquisas anteriores (localização no tempo e espaço),
sendo que a ciência só pode se consolidar a partir do momento em que teve a
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 95
possibilidade de se fixar em suportes que pudessem ser consultados por outros
leitores-pesquisadores e acima de tudo pudessem facilmente ter suas cópias
enviadas aos interessados. Sem fontes fixadas em suportes não existe ciência.
A autoria acadêmica, ao menos no campo das ciências humanas (ao qual
pertence a área de Educação), é um modo de autoria que depende
fundamentalmente da linguagem escrita, dos registros deixados por outros autores
em algum momento do tempo passado, as fontes, processo esse que situa o autor
como co-partícipe de uma construção coletiva sempre em andamento, sempre
situada historicamente e cumulativa a medida que os rastros deixados possam ser
armazenados e acessados por gerações futuras. A escrita não pode ser comparada
à oralidade primária (Lévy, 1993) das primeiras organizações sociais, pois a fala
depende muito mais da memória, da associação de ideias da rede menemônica de
quem a emite, da fugacidade de um discurso que se modifica de acordo com as
circunstâncias, com o auditório que o ouve e do modo como o mesmo reage.
Nas três fases das tecnologias da inteligência enumeradas por Lévy (1993),
a oralidade, a escrita e o digital, o ato de escrever é o intermediário, representa o
momento em que as sociedades orais começam a fixar seus discursos na forma de
signos em tabuletas, pedras e pergaminhos de papiro, em que os Estados começam
a exercer seu controle sobre os cidadãos através de registros e cobrança de taxas.
A escrita representa o momento em que a dupla emissor-receptor geograficamente
se separa, em que o suporte fixador da linguagem, e portanto da mensagem, cria
um fosso temporal e espacial entre aquele que redige e aquele que a recebe e
procura de alguma maneira interpretá-la.
O texto acadêmico na forma como o conhecemos hoje possui já alguns
séculos de história e é, portanto, herdeiro da escrita fixada em suportes impressos
e ainda opera na lógica de uma emissão para um conjunto de receptores-
interpretadores, em geral os próprios pares de determinada área científica que os
acessam e os interpretam. O “jogo” científico se torna então uma série de
sucessivos atos gerados a partir de dúvidas e questões, geração de dados e
informações para que ao final seja realizada uma operação de redução em relação
à complexidade original do mundo (Latour, 2001, p. 88), em que as conclusões do
cientista podem se tornar depois ampliadas para serem aplicadas em situações
similares. É a fixação dessas conclusões em textos escritos, diagramas, esquemas,
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 96
gráficos que permitem tais processos, facilitando o acesso a outros pesquisadores
de todo um percurso de pesquisa, agora condensado em uma publicação.
Mas a escrita também possui suas fases internas, e são essas fases que Lévy
(1993) distingue quando fala dos manuscritos, das obras copiadas a mão de
geração em geração, e também dos impressos, em que as cópias passam a ser
feitas em formas e caracteres pré-fabricados. A impressão permite maior precisão
dos dados, um registro que pode ser copiado sem o risco de perda de dados ou
alteração dos mesmos, em que ciências como a astronomia, anatomia, geografia e
cosmologia podem finalmente reproduzir seus esquemas, mapas e tabelas
numéricas sem o risco de adulteração.
A difusão dos métodos de impressão garante fidelidade e oferece suporte
para a revolução renascentista, e esta fidelidade permite que a ciência acumule
informações, o que, nas palavras de Lévy, causa uma “explosão do saber” a partir
do século XV (1993, p. 98). Com a imprensa nasce a ideia de edições sucessivas
aperfeiçoadas e de progresso rumo a um futuro mais aperfeiçoado e preciso, uma
ideia de evolução ao longo de uma linha temporal (história). Um modo de
enxergar o mundo e agir sobre ele é inaugurado, tal como Santaella (2004)
detectou através do surgimento dos leitores imersivos quando percebeu que outro
estilo cognitivo estava nascendo com os suportes digitais.
Apesar de operar na lógica da emissão-recepção, a escrita acadêmica não
deixa de ser também uma escrita hipertextual, não no sentido informático dos
suportes de característica digital, mas do ponto de vista da criação de nós entre
fragmentos textuais que são traçados pelo autor, quando reúne em seu texto
referências a outros textos para compor seus próprios argumentos a respeito de um
determinado tema em foco, processo muito bem detectado por Barthes (2004) ao
declarar metaforicamente a morte do autor como sujeito isolado em sua produção.
Os produtos da escrita acadêmica, em geral, não são hipertextuais no
sentido informático da hipermídia que apresenta de maneira explícita as ligações
entre os nós, mas são lineares, com começo, meio e fim muito bem definidos, tal
como nos livros impressos, mesmo que sejam atualmente publicados digitalmente
como arquivos PDFs29 em bases de dados acadêmicas. A explicitação da
29 Um PDF (Portable Document Format) é um formato de arquivo desenvolvido pela empresa Adobe Systems e lançado em 1993, como proposta de exibição de documentos de modo universal sem dependência de sistema operacional, pois é um padrão aberto para ser adaptado por
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 97
intertextualidade, da ligação de um texto com outro, está na convenção firmada
para que todo autor acadêmico indique as fontes consultadas e as liste em notas de
rodapé ou ao final do livro/artigo como lista de referências consultadas, tal como
nos afirma de modo metafórico Meadows (1999, p. 13): “as referências
funcionam como um vínculo entre trabalhos novos e antigos: representam a
argamassa que une os tijolos novos aos anteriores à medida que o edifício sobe.”
Com base nos escritos de Popper (1972), Targino (2000) afirma que em
ciência não existe um processo de acumulação contínua de resultados positivos,
mas uma desconstrução permanente de hipóteses e teorias, ora corroborando
resultados e ora refutando-os, após análise criteriosa pela comunidade científica
formada por pesquisadores que compartilham um histórico de estudos sobre a
temática em questão. A ciência é mutável e provisória, com aproximações da
verdade, porém situada historicamente e sujeita a redefinições contínuas, inclusive
em sua interação com a sociedade e o surgimento de novas problemáticas e
necessidades. A ciência é, a rigor, um campo de permatente reunião de fracassos
para que poucos trabalhos se tornem sucessos e continuem válidos para as
gerações seguintes de pesquisadores.
De maneira resumida, a atividade do acadêmico é organizar a informação,
aqui entendida como dados brutos ou que já sofreram algum tratamento, e
produzir um conhecimento organizado, que permita compreender determinado
fenômeno social ou natural de maneira mais precisa, ou seja, responder questões
propostas. Segundo Targino (2000, p. 9), “dentre o manancial de informações às
quais se tem acesso, só o que se consegue reter, apreender e compreender é
conhecimento”.
Em termos gerais, para os cientistas que utilizam os suportes digitais em
suas investigações (há aqueles que ainda não têm contato direto com o meio
digital, somente através de seus assistentes-intermediários), a autoria científica, ou
acadêmica, vem sofrendo transformações em seus fluxos comunicacionais,
principalmente pela introdução da internet, hoje utilizada em larga escala e
imprescindível em atividades de comunicação científica. Mais do que transformar
padrões anteriores, os supoprtes digitais instauram outra lógica de produção e
programadores a qualquer sistema. As plataformas que hospedam artigos científicos, teses e dissertações usam amplamente este formato para evitar edição por parte de quem os lê e acessa e para manter a fidelidade de formatação do documento original.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 98
recepção dos escritos, diferente daquela surgida na fixação e reprodução dos
discursos proveniente da revolução da prensa tipográfica, pois é maleável, mais
instável e potencialmente coletiva. Resta saber em que grau esses usos vem se
desenvolvendo atualmente e se estão se apropriando plenamente das
potencialidades trazidas pelos suportes digitais.
Atividades como trocas de e-mail e participação em listas de discussão
substituem as comunicações por carta manuscrita característica dos antigos
colégios invisíveis de pesquisadores. As consultas de revistas científicas são feitas
agora por buscadores on-line e sistemas de publicação integrados30, substituindo o
monopólio de distribuição de artigos científicos em editoras pelo modelo dos open
archives31, herdeiros da cultura hacker conforme vimos no início desse capítulo
(Sena, 2000; Moreira, 2005; Targino, 2007). A publicação de textos acadêmicos
em revistas totalmente on-line vai se tornando rotina pouco a pouco entre os
professores e os alunos de cursos de pós-graduação stricto sensu.
A comunicação serve potencialmente então para diferentes fins: para unir
esforços entre pesquisadores de carreiras e orientações teóricas semelhantes;
somar idéias a respeito de determinado assunto; travar disputas a partir de pontos
de vistas divergentes; divulgar dados de pesquisas concluídas ou em andamento,
com o foco na atualização contínua a respeito dos progressos científicos
alcançados pelos pares; e na própria inserção e visibilidade do cientista no debate
acadêmico (Targino, 2000). Ou seja, comunicar com os pares é atividade
fundamental para que exista e se mantenha uma comunidade de pessoas
interessadas em compartilhar desafios e utilizar métodos de trabalho semelhantes.
Oliveira & Noronha (2005) enfatizam que a comunicação via internet
facilita o trabalho cooperativo entre os pesquisadores, pois disponibiliza em meio
30 Um exemplo difundido amplamente no meio acadêmico brasileiro é o Scielo (Scientific Electronic Library Online) contando em fevereiro de 2012 com 938 periódicos científicos que reuniam 370.121 artigos. Foi a primeira iniciativa na América Latina de disponibilizar acesso aberto ao conteúdo integral de periódicos científicos, proposta pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) em parceria com o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme) (Targino, 2007). Disponível em < http://www.scielo.org/php/index.php>. 31 A respeito das lógicas aberta e fechada de distribuição de artigos acadêmicos, Chartier (2002, p. 27) afirma que “A batalha encetada entre pesquisadores – que cobram o acesso livre e gratuito aos artigos e às revistas científicas, que impõem altos preços de assinatura, até dez mil ou doze mil dólares ao ano, e que multiplicam os dispositivos capazes de impedir a redistribuição eletrônica dos artigos – ilustra hoje a tensão entre as duas lógicas que atravessam o mundo da textualidade digital.”
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 99
único uma interface para contato e produção, juntando pesquisadores de diversas
instituições, suplantando limitações geográficas e unindo via interesses comuns de
pesquisa. Todos esses processos, é importante afirmar, são potenciais, não
existindo com a intensidade desejada por estes autores em todas as áreas de
conhecimento e com todos os pesquisadores.
Em termos de produção acadêmica formal (publicada e estruturada), a
internet possibilitou a realização mais fácil de autorias coletivas entre
pesquisadores (mestres e doutores) na produção de comunicações científicas
diversas, como artigos e livros, embora nem sempre esta potencialidade seja
utilizada pelos acadêmicos ou outros tipos de produção textual sejam testados. Ao
mesmo tempo a rede digital trouxe um sem-número de opções para formação de
colégios invisíveis da ciência com trocas informais intensas entre pesquisadores,
incluindo dados de pesquisas em andamento.
Apesar de tais distinções entre o formal e o informal, determinadas
inicialmente pelo formato do suporte material da comunicação, concordamos com
Targino (2000, p. 21-24) quando considera que com o advento da internet, a
fronteira entre comunicação científica formal (normalmente associada ao papel e
aos textos estruturados) e informal (normalmente associada à oralidade das
reuniões em grupo e a textos pouco estruturados) está sofrendo mudanças,
tornando-se o que denominou comunicação eletrônica. Essa modalidade é
caracterizada pela diluição de fronteiras e serve para as duas modalidades de
comunicação simultaneamente, hibridizando-as através de formatos que servem
para os dois fins ou disponibilizando seus conteúdos em um único ambiente
(Moreira, 2005).
Mesmo com as modificações permitidas pelos suportes digitais nos setores
de comunicação científica, de busca e seleção de fontes acadêmicas e de autoria a
múltiplas mãos (em alguns tipos de produções textuais), a
estrutura/esquema/modelo geral de autoria acadêmica continua preservada, sendo
verificadas algumas brechas potenciais nesse processo. Uma dessas brechas em
que o formato digital vem penetrando, embora mantendo boa parte das
características do impresso, são as bases de dados digitais contendo as produções
científicas acessíveis online, que veremos com mais profundidade a seguir.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 100
2.2.7 Bases de dados online: plataformas de comunicação científica?
Os suportes digitais e sua forma de armazenar informações em bits
maleáveis e conectados através de elos associativos (nós em rede), permitiram o
surgimento de bases de dados digitais nas quais convergem as produções
científicas dos autores acadêmicos e também informações que servem de base às
suas pesquisas como documentos de suporte. São artigos, teses, dissertações,
livros, censos, relatórios, registros multimídia entre outros tipos de documentos
agora reunidos em um único lugar, ou então em plataformas de pesquisa integrada
que agregam em uma só ferramenta de busca várias outras bases associadas32.
Essas bases de dados nada mais são do que aglutinadores de documentos
publicados no meio acadêmico e em instituições de pesquisa públicas e privadas
(indústrias, laboratórios, hospitais, entre outros); arquivos para download
geralmente fechados para edição por parte de quem os lê (PDFs). Esses espaços
são hoje fundamentais na fase de busca e seleção de dados e informações
necessários para o embasamento de uma pesquisa em determinado campo de
conhecimento. Nessas bases de dados o pesquisador começa sua tarefa e, caso a
conclua, ele mesmo passa a fazer parte como autor de nova publicação.
Entre todas as fases33 convencionais de uma pesquisa – coleta de dados
empíricos, comunicação com outros pesquisadores, escrita do relatório, leitura de
documentos, organização pessoal dos arquivos – as bases de dados online
representam uma das mudanças mais marcantes e visíveis, pois deslocam o sujeito
dos acervos que contém artefatos físicos (bibliotecas e centros de documentação)
e trazem para o computador pessoal, através da internet, um acervo gigantesco de
dados e informações. Através de tais bases o pesquisador pode organizar no
próprio computador suas fontes e juntá-las a documentos em formatos diversos
(gravações em áudio e vídeo, documentos históricos digitalizados, mapas,
anotações de campo, entre outros formatos e gêneros).
32 Um exemplo é a Pesquisa Integrada da PUC-Rio. A lista de bases de dados assinadas pela universidade pode ser acessada em < http://remoto.dbd.puc-rio.br/bases_dados/bases_dados.php>. 33 Destaco que estas fases não são lineares, ou seja, são sobrepostas e eventualmente ao longo do tempo uma se destaca mais que as outras, sem haver necessariamente uma ordem temporal obrigatória. Um indivíduo pode começar sua escrita teórica desde o começo de sua tese quando possui maior precisão dos objetivos que quer alcançar e realizar a coleta de dados antes de ter sua base teórica pesquisada e consolidada, assim como pode estar realizando leituras novas quando está alcançando o fim da escrita da tese.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 101
Figura 6 - Tela principal dos sistemas de busca de teses e dissertações da Unicamp e da USP contendo milhares de trabalhos acadêmicos para download.
Dessa forma, as informações podem ser selecionadas e filtradas pelo
pesquisador, diminuindo o tempo entre o surgimento da necessidade
informacional (questões e dúvidas) e o alcance efetivo da fonte, embora, por outro
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 102
lado, aumente exponencialmente o leque de opções de pesquisa e possa causar
uma sensação de excesso de informações disponíveis, um efeito paradoxal na
relação velocidade de busca-aumento dos resultados. Além disso, conforme a
internacionalização das bases acessadas, pesquisas realizadas em outros países
podem rapidamente ser recuperadas e integrarem o acervo de referências do
pesquisador. Fatores então ligados à velocidade de acesso e abrangência das
fontes obtidas são claramente a favor do uso de bases de dados online.
Figura 7 - Pesquisa integrada de documentos da PUC-Rio em que dezenas de bases de dados são vasculhadas simultaneamente a partir de palavras-chave.
São nesses espaços, bases de dados digitais online, que se manisfestam as
características emergentes dos suportes digitais (convergência de formatos,
velocidade quase instantânea de acesso e hipertextualidade), mas também se
preservam, na maioria dos casos, os elementos da escrita linear e analógica
tradicional dos livros e revistas impressas, aplicando pouco do potencial interativo
e de comunicação bidirecional que a internet e sua arquitetura permite. Tal
processo fica evidente na lentidão de resposta entre os autores acadêmicos
(encontrados através de suas produções textuais) que pode demorar meses ou
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 103
mesmo anos através da inserção de nova publicação assinada pelo autor em um de
seus veículos, em geral revistas científicas ou bases de teses e dissertações.
De acordo com a classificação de Primo (2003) essas bases de dados, como
não aceitam em sua maioria que os usuários deixem marcas próprias sem
intermediários (se tornem de fato interagentes), são hipertextos potenciais,
apresentam um conjunto de alternativas para quem as acessa busque o que precise,
mas não permitem a interação direta com os outros que a acessam. Embora
apresente vantagens muito claras, as bases de dados online são vistas como
repositórios de dados nos quais instituições depositam conteúdos, principalmente
na forma de textos prontos para impressão ou leitura em tela, a exemplo do banco
de teses e dissertações da Unicamp34 e USP35, do banco de artigos científicos
Scielo e inúmeros outros.
A interação que elas permitem, então, é uma interação reativa36 e não uma
interação de mútua influência (Primo, 2000, 2003), pois mesmo que sejam
acessadas por milhões de pessoas, sempre permanecem no mesmo estado e
oferecem sempre as mesmas respostas para as mesmas perguntas (buscas)
efetuadas, a não ser que aqueles que as controlam e filtram conteúdos (editores) as
atualizem. Grosso modo, as bases de dados simulam uma gigantesca biblioteca
contendo milhões de estantes com livros e revistas, primando pela organização
cronológica em volumes seriados. Não é por acaso que são chamados também de
RI – Repositórios Institucionais (Leite & Costa, 2006), locais onde se depositam
documentos, apesar do potencial de interação permitido no ciberespaço.
Iniciativas para promover a comunicação e compartilhamento de fontes
entre pesquisadores, ao modo de uma biblioteca de sites favoritos etiquetados com
palavras-chave e comentados (social bookmarking), já foram descritas, a exemplo
do site Connotea37 (Pavan et al., 2007) desenvolvido pelo Nature Group
Publishing, porém sem repercussão nas bases de dados mais utilizadas até o
momento em universidades, que não adotam sistemas de comunicação internos
34 Disponível em: < http://www.prpg.unicamp.br/teses_defesa.phtml>. 35 Disponível em: < http://www.teses.usp.br/>. 36 Para Primo (2003, p. 5), “entender-se-á que a interação varia qualitativamente de acordo com a relação mantida entre os envolvidos, variando progressivamente da interação mais reativa (programada e determinística) à de maior envolvimento e reciprocidade, a interação mútua”. A plena realização da interação mútua está na co-criação do hipertexto cooperativo e não somente na navegação por caminhos previamente construídos pelo autor do hipertexto potencial. 37 Disponível em: < http://www.connotea.org/>.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 104
para quem as acessa, eliminando o potencial coletivo de gerenciamento de grupos
que a rede internet permite (Shirky, 2012).
Apesar disso, sites como o Connotea são propostas válidas e que permitem
uma conversa direta entre interagentes a respeito de um artigo científico e através
da formação de comunidades de interesses, embora seja realizada em espaço
paralelo ao site original onde está hospedada a fonte. A formação de comunidades
de interesses específica para pesquisadores e acadêmicos é o ponto forte desse
espaço e materializa na internet as redes de troca características dos antigos
colégios invisíveis da ciência (Moreira, 2005). Porém Pavan et al. (2007, p. 89)
destacam que boa parte delas são comunidades fechadas, seguindo a lógica atual
da ciência focada no ineditismo e originalidade das produções e descobertas, ou
seja, no autor individual em detrimento das produções assinadas coletivamente.
Do ponto de vista de quem publica textos científicos na forma de artigos,
existem também alternativas emergentes que fazem frente ao modelo de
publicação baseado na lógica da revista científica impressa revisada pelos pares.
Embora seja um hipertexto potencial, sem espaços de interação entre os que o
acessam, o site arXiv38, fundado por físicos em 1991, direcionado para a área de
ciências exatas (Sena, 2000), é um bom exemplo de atendimento baseado na
demanda dos autores e que privilegia a rapidez da publicação em detrimento do
controle centralizado por editores. A principal característica do site é não passar
pelo longo processo de revisão pelos pares, ou seja, são preprints que podem,
inclusive, serem atualizados pelos autores que fizeram a publicação no site.
Conforme vimos no começo desse capítulo, a ideologia da informação livre
nascida nos anos 60 através da cultura hacker resultou nos projetos voltados à
liberdade da informação (Macek, 2005), tanto aquela ligada aos programas de
computador via software livre com seus cógidos abertos e licenças que desafiam o
direito autoral estabelecido (copyright) quanto a informação científica, a exemplo
do open access e open archives.
Dessa forma, hoje existem dois tipos básicos de bases de dados online, as de
acesso livre e as de acesso restrito. Essas últimas tem seu acesso vinculado a
venda de pacotes e assinaturas a bibliotecas universitárias ou clientes
governamentais, como no caso do Portal de Periódicos da CAPES. Já as de
38 Disponível em < http://arxiv.org/> e gerido pela Universidade de Cornell.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 105
acesso livre podem ser pagas ou não pelos próprios autores que as publicam,
desde que estejam online disponíveis para todos que quiserem consultar,
independente de assinaturas e pacotes, visando a circulação de informações e
dados entre os cientistas e a população em geral (Targino, 2007), como no caso do
Scielo.
O que caracteriza estas bases de dados, portanto, é a manutenção do formato
tradicional das revistas científicas impressas, com edições periódicas de artigos
divididas em volumes e edições numeradas (ver Figura 4), mantendo a tradição e
evitando o uso pleno das potencialidades dos suportes digitais. Mesmo que o
formato digital permita novos arranjos de publicação, – como o lançamento de
textos de acordo com a liberação pelos pares (cada texto estando em uma data
diferente de lançamento), a associação de imagem e som (conteúdo multimídia) e
a disponibilização de artigos em quantidade variada de acordo com o volume de
recebimento dos autores, – o esquema clássico que simula as revistas impressas
limitando o tempo (periodicidade) e espaço (quantidade de texto) se mantém com
toda sua força.
Outro ponto que carece de atenção nas bases de dados online é a opção pela
manutenção da lógica da disponibilização e download de arquivos. A
bidirecionalidade e comunicação coletiva permitida por estruturas mais abertas
(hipertexto cooperativo e colaborativo), como os blogs e wikis, com a permissão
de comentários e mesmo sugestões aos autores não parece estar próxima de ser
adotada por estas bases, fechadas a funções de interação e avaliação comunitária.
Elas são, de fato, depósitos de arquivos, em geral no formato PDF de
armazenamento, o que não permite aos autores o recebimento de comentários e
sugestões pelo público leitor. Tal como nas revistas científicas impressas, o
retorno é somente permitido em novas publicações, ou seja, em novos artigos; ou
então via canais informais e não públicos, como o e-mail pessoal do autor e canais
públicos como os sites de social bookmarks, a exemplo do Connotea.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 106
2.3 Mapeando as brechas: em que pontos o suporte digital pode mudar a autoria dos acadêmicos?
No ponto que chegamos neste capítulo, podemos ser mais ousados e
provocadores a ponto de propor a seguinte questão:
Como um mundo permeado pelos suportes digitais, que está formando
outros leitores e autores, outras formas de armazenar, compartilhar e debater
informações em rede, produz em seus cursos de pós-graduação um acadêmico
que repete os mesmos passos que seus pares faziam há mais de cem anos e que,
na prática, poderia prescindir completamente das tecnologias da inteligência
hoje disponíveis, visto que a tarefa exigida, produzir uma tese essencialmente
textual, é exatamente a mesma?
A resposta sociológica para esta pergunta foge do escopo desta tese, porém
podemos propor a detecção de algumas brechas que estão sendo abertas, apesar da
exigência desse mesmo produto final (tese escrita) e de seu depósito em bases de
dados online (upload de PDFs). Uma brecha é uma abertura, uma fenda que se
abre em uma muralha, em uma estrutura que era sólida e que passa a apresentar
pontos de passagem, ajudando a modificar o seu interior e transformar de dentro
para fora.
Esta metáfora cabe bem para este estudo, pois estamos falando de um muro
formado pelos suportes analógicos, especialmente os impressos, que se manteve
forte na proteção dos modos de autoria, através da construção de aparatos como a
noção de obra, autor e direitos de distribuição e cópia ao longo de séculos de
história acumulada e fixada nas instituições acadêmicas de pesquisa. Aos poucos
esta muralha começa a apresentar rupturas com o avanço e adoção dos suportes de
característica digital.
Entre as brechas que foram detectadas até agora e que compuseram este
capítulo e as polêmicas (situações-limite) que geram com suas aberturas, podemos
listar as seguintes:
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 107
1. Brechas na leitura
A leitura se tornou mais veloz com o acesso quase instantâneo a fontes de
informação, seja através de buscas na internet ou através de links diretos deixados
ao longo do texto lido, não se comparando à contemplação dos textos impressos e
ao ritmo mais lento para se passar de um “nó” a outro da rede intertextual (notas
bibliográficas, referências, índices). Ler se tornou um ato de leitura/navegação39 e
imersão, em que se percorrem caminhos através de uma rede de associações
presentes num único suporte físico (a tela do computador), permitindo ou não a
intervenção e co-criação da mensagem lida, um ato de participação em potencial.
2. Brechas na escrita / autoria
Escrever deixou de ser um ato essencialmente solitário, podendo no
ciberespaço se tornar também coletivo, através de comunidades de pessoas
interconectadas e geograficamente distantes que criam conjuntamente obras que
estão em constante mutação. Escrever, ser autor, se torna um ato muito mais
complexo quando as respostas para as intervenções feitas chegam quase em tempo
real, estreitando os laços temporais entre o ato de leitura e de escrita e aumentando
a exigência de negociação de conflitos. A polêmica da escrita coletiva está no ato
de abrir ou não abrir mão do nome de autor e da noção de obra como criação
individual, visando um texto coletivo de maior qualidade e editado continuamente
pelos leitores.
3. Brechas na busca da informação
Se a informação estava presa em suportes materiais que ocupavam espaços
significativos e demoravam a ser resgatados em bibliotecas, centros culturais,
acervos de museus, arquivos de jornais e revistas, agora podem ser buscados em
bases de dados online interconectadas, pouco importando em qual parte do planeta
estão localizados, desde que possam ser compartilhados através da conversão em
bits. A polêmica surge a partir do momento em que os donos das bases decidem
fechar o acesso a pessoas e instituições registradas mediante pagamento de taxas
ou abrirem para que todos possam consultar as obras, impasse crucial nas
39 A tese de Marcela Afonso Fernandez (2009) detalha casos empíricos em que se constatou dois tipos básicos de leitura/navegação entre jovens universitários: percursos de ida e volta, com um site de busca sendo utilizado como ancoragem para as navegações, e percursos de aba em aba em que salta por diferentes sites atendendo objetivos específicos ou simultâneos não relecionados, sendo mais liberto e ao mesmo tempo mais dispersivo. São modos de lidar com os espaços online que evidenciam a ligação direta entre as associações intrapsíquicas e a imediaticidade do clique do mouse na tela do computador.
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 108
discussões sobre o open access e as novas licenças de publicação (copyleft e
creative commons).
4. Brechas no modo de se comunicar com os pares
O e-mail, as listas de discussão, os fóruns, a videoconferência tornou o ato
de comunicação mais barato e mais veloz. Dessa forma, se comunicar com um
autor individual ou com uma comunidade de autores se tornou muito mais fluido e
ajuda a revigorar a proposta da comunicação informal nos colégios invisíveis da
ciência. A polêmica surge quando não se distingue mais o que são comunicações
informais, abertas e menos compromissadas, e as comunicações formais, resultado
de maior apuro e refinamento, devido à perda da materialidade associada aos
diferentes tipos de discursos quando todos podem ser publicados. Outro ponto são
as formas de se validar a informação ou não pelo lento processo de revisão pelos
pares, valorizando-se mais a velocidade ou a qualidade do que é publicado.
5. Brechas nos modos de armazenar as informações
Se o ambiente digital é maleável e permite múltiplos formatos coexistirem,
temos agora em um só lugar, codificados através de bits, toda uma série de
formatos antes distintos por sua materialidade. São textos, fotografias, vídeos,
músicas, reunidos em computadores que os codificam, decodificam e permitem a
mixagem através de uma escrita multimídia e hipertextual. Com o aumento da
velocidade (banda) e capacidade de armazenamento na internet o criou-se o
conceito de nuvem, ou seja, a armazenagem remota de dados, acessíveis em
qualquer computador da internet. A polêmica surge quando o armazenamento se
torna tão extenso que passa a sensação de que nunca se conseguirá assistir, ouvir e
ler toda a massa de informações encontradas, o que não deixa de ser verdade,
exigindo novos modos de seleção e retenção da informação.
6. Brechas no modo de fazer a empiria
Se antes a única possibilidade de chegar nos sujeitos era a sua abordagem
física, presencial, direta, através de entrevistas, questionários, observação de
campo ou participativa, com a rede digital amplia-se a velocidade e a abrangência
da abordagem, tornando viável o contato a distância com retornos muito mais
imediatos. Além disso, cada vez mais os indivíduos e as comunidades no
ciberespaço deixam marcas, rastros através de conversas em fóruns, listas de
discussão e produção de vídeos, sons, textos e imagens, facilitando o
levantamento de documentos espontaneamente gerados. É possível atualmente se
Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 109
coordenar pesquisas sem sair da frente de uma tela de computador conectado em
rede.
Após revisarmos conceitos e suas consequências na forma de “rupturas” na
“base da muralha” formada pela tradição acumulada pelos suportes impressos,
vamos no próximo capítulo mapear em detalhes como foram detectadas essas
brechas em outros estudos realizados em diversas partes do mundo nos últimos 20
anos, privilegiando os trabalhos que se basearam em dados empíricos, sejam
questionários em larga escala ou entrevistas com grupos restritos.
O objetivo é reunir estudos que abriram, em algum grau, a “caixa-preta” dos
pesquisadores acadêmicos e como estavam utilizando o computador e a internet
em suas atividades de pesquisa.
3 Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêmicos do computador e da internet
Para que pudesse ter mais elementos para a interpretação dos dados deste
estudo, realizei um levantamento dos assuntos importantes surgidos na empiria de
outros pesquisadores em outros países, detectando tendências e recorrências nos
achados, tanto a respeito dos indivíduos quanto a respeito das condições de
entorno em que viviam. Assim sendo, analisei as pesquisas acadêmicas sobre o
uso dos suportes digitais no meio universitário, com maior enfoque para os
acadêmicos, tanto professores como os pesquisadores, provenientes de cursos de
pós-graduação. Nessa empreitada, elenquei estudos que surgem ainda na primeira
metade dos anos 90, momento inicial de expansão da internet pelo mundo, e
persistem até os dias de hoje, acompanhando a rápida evolução dos equipamentos
informáticos em duas décadas de transformações.
Vale aqui destacar três fatores que são decisivos para se analisar estudos
que abrangem duas décadas. O primeiro deles é que o grau de adoção e difusão da
internet e do computador dependem do nível econômico e das políticas de
investimento do país onde o estudo foi realizado. Junto a este fator está o ano de
coleta de dados que é determinante também a respeito dos tipos de aplicações e da
capacidade dos computadores disponíveis naquele momento (antes de depois da
Web 2.0, antes e depois da adoção em massa dos navegadores de internet com a
WWW, antes e depois da expansão dos bancos de dados de artigos acadêmicos).
O último fator é o público e o grau de recursos disponíveis na universidade onde o
estudo foi realizado, indo desde universidade situada em país periférico e com
baixo orçamento até as ricas universidades americanas, pioneiras na adoção de
tecnologias digitais.
Algun
Figur
o dos
tecno
de in
dispo
acadê
“vaza
foram
e ace
2000
realid
anos
indis
e me
as di
ns estudos e
ra 8 - Fator
Resolvi di
s anos 90; o
O primeir
ologias eletr
nstabilidade
onibilidade
êmicos. É b
am” para o
m difundido
esso (subdes
Já o segun
0, um pouco
dade dos su
2000 que
spensáveis d
elhor compr
ficuldades t
Á
empíricos sob
res que interv
ividir essa r
o do período
ro período
rônicas dig
com o lanç
de equipam
bom notar
os seguintes
os se localiz
senvolvime
ndo e tercei
o mais num
ujeitos que
e o compu
do cotidiano
reendidas n
técnicas das
Redisp
nunive
Áreas a que os acadêmicos pertencem
bre os usos p
vém nos est
revisão de e
o 2000 a 200
marca o in
itais de ace
çamento de
mentos e n
que as cara
s quando a
za em paíse
nto).
iro períodos
merosos que
fizeram pa
utador e a
o do pesqui
no ambiente
s primeiras
Fatointe
nos e
desnto
cursos poníveis na(s) ersidade(s
)
por acadêm.
udos sobre a
estudos emp
05 e o de 20
nício da in
esso pessoal
novos recu
no conhecim
acterísticas
a região em
es com atras
s referem-se
e os da déca
arte da emp
a internet
sador e se t
e acadêmico
interfaces u
ores quervémestudo
Nível de senvolvimeo global do País
D
do comp. e
acadêmicos
píricos em tr
006 a 2010.
nternet públ
l às univers
ursos e aind
mento / form
desse prim
m que o com
so na instal
e aos estudo
ada anterior
piria desta t
se tornam
tornam tecn
o, diminuin
utilizadas no
ue os
Popúbinves
em
Data em que o estudo foi realizado
da internet
e uso de TIC
rês tempos (
lica e a ch
sidades; é u
da focado no
mação disp
meiro períod
mputador e
ação de inf
os realizado
r e mais pr
tese. São a
partes pra
nologias mai
do consider
os anos 90.
líticas licas de timento
m TICs
111
Cs.
(períodos):
hegada das
um período
os usos, na
ponível aos
do também
a internet
fraestrutura
os nos anos
róximos da
a partir dos
raticamente
ais maduras
ravelmente
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 112
3.1 Anos 90: apropriação da internet em seus recursos básicos
Os estudos sobre a academia e o modo como seus pesquisadores estavam
se apropriando da rede mundial de computadores, rede eletrônica ou
simplesmente internet40 começam já na primeira metade da década de 90 com o
artigo pioneiro de Walsh & Bayma (1996), sociólogos interessados no campo da
Comunicação Mediada por Computador (CMC).
Neste trabalho, realizado nos Estados Unidos da América, os autores
estavam preocupados com a inter-relação dos artefatos tecnológicos com os
arranjos sociais em que os diferentes grupos de pesquisadores estavam vinculados
em seus campos de pesquisa, visando traçar comparativos entre os diferentes
nichos e como tais arranjos mudavam de grupo para grupo. Para isso Walsh &
Bayma entrevistaram 67 cientistas entre os meses de janeiro de 1991 e outubro de
1992, provenientes de uma universidade estatal e uma universidade privada, nas
seguintes áreas: matemática, física, química e biologia experimental. Não houve
interesse no campo das ciências humanas, talvez por não existir naquele período
muitos usuários ativos.
Mesmo tendo se passado 20 anos da época de coleta de dados, o estudo
levantou questões bem atuais sobre os fatores envolvidos na vida de um cientista
que interferem nos usos que são feitos do computador e da internet pelos mesmos.
Os autores argumentam que a tecnologia informática é bem maleável, portanto
seria razoável se esperar que os fatores sociais sejam atuantes na maneira como a
tecnologia computacional é incorporada no trabalho desses cientistas, a exemplo
de posições de status em um grupo ou rotinas estabelecidas previamente e que
podem ser ameaçadas pela nova tecnologia. Segundo os autores, se as tecnologias
fossem totalmente autônomas a sua adoção seria realizada da mesma maneira
pelos diferentes grupos e locais, o que na prática não foi constatado no estudo.
O primeiro fator que vale a pena ser comentado aqui é a comunicação
entre os cientistas, que pode ser mais informal com mensagens trocadas sem
compromissos e com linguagem e formato mais livres; ou direcionada a acessos
40 A quantidade de nomes equivalentes varia nos artigos, mas querem dizer a mesma coisa: a rede mundial de dados que conecta computadores pelo mundo e que usam interfaces diversas, se destacando os navegadores de internet que ao longo dos anos 2000 vão se tornando a plataforma onde as aplicações de internet são acessadas.
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 113
formais, como no caso da publicação de artigos científicos em revistas. Os autores
constaram que o tamanho do campo de pesquisa pode influenciar na aproximação
ou indiferença entre os cientistas, alguns se conhecendo pelo nome devido ao
pouco número de autores presentes em publicações, algo que se torna mais difuso
em campo de pesquisa com milhares de pesquisadores-autores.
Outro ponto levantado é a barreira representada pelo mercado, pela
lógica do capital representada pela disputa financeira no registro de descobertas.
A lógica de mercado acaba por inibir os pesquisadores de distribuir
informalmente mensagens que podem ser vitais para sua sobrevivência financeira
e mesmo das indústrias aos quais estejam vinculados. Vale a pena lembrar que o
estudo tratava de campos ligados à produção tecnológica, mas nada impede dos
mesmos receios existirem no campo de humanas com a escrita de trabalhos
originais, levando alguns pesquisadores e preservarem suas descobertas e as
vincularem somente em canais formais de comunicação (congressos, revistas
científicas, livros)41.
Um outro fator levantado por Walsh & Bayma (1996) seria o grau de
interdependência entre os pesquisadores, pois certos campos de pesquisa exigem
a formação de equipes de investigação e estas equipes podem estar espalhadas por
diversas partes do mundo, exigindo meios de comunicação para trocas entre seus
membros, de preferência rápidos e baratos. Cabem aqui as trocas via e-mail e
listas de discussão, que permanecem como recursos válidos até a presenta data.
Essa interdependência também tem ligação com a distribuição de dados
entre os pesquisadores que se comunicam com maior intensidade quando os dados
que necessitam não estão presentes no próprio ambiente de trabalho. Se os dados
necessários estão presentes em bancos de dados formais, como repositórios de
artigos e bases de dados informatizadas de um centro de pesquisa, a comunicação
pessoal com outros pesquisadores tende a cair. Aqui caberia o fator velocidade de
publicação, mais crítico no campo das ciências exatas e biológicas do que no
41 No Brasil existe o hábito de disponibilizar a tese ou dissertação em bancos de dados online de universidades ou em repositórios governamentais como o site Domínio Público < http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaPeriodicoForm.jsp>. Porém na Itália pude observar que a obra acadêmica era preservada para publicação em formato de livro, partindo esse desejo de muitos doutores formados que não disponibilizavam os arquivos para o público, opção esta oferecida pela própria biblioteca. Logo, a lógica de mercado para os trabalhos científicos não era exclusiva das ciências exatas e tecnológicas, se estendendo para a área de humanas, de acordo com a tradição acadêmica do país.
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 114
campo das ciências humanas, o que pode gerar os canais paralelos de publicação
de rascunhos, os pre-prints, para que colegas de profissão acessem em rede
descobertas que demorariam meses para serem publicadas nos canais formais. Foi
constatado também que grupos pequenos e menos interdependentes, usavam com
mais intensidade outros meios de comunicação, como telefone, conversas
pessoais, fax e correios.
Interessante notar que no estudo de Walsh & Bayma (1996) há também o
fator desconhecimento da tecnologia, algo que persiste até hoje, com todo avanço
nos usos que tivemos, pois muitos recursos continuam a surgir e nem todos os
cientistas estão dispostos a acompanhar tais atualizações. Naquela época os
cientistas acusavam a internet e o computador de não permitir, por exemplo, o
envio de textos formatados, algo que já era possível. Por outro lado havia de fato
limitações tecnológicas para a atividade acadêmica de envio de gráficos e
fotografias, algo hoje em dia já superado pelo aumento da largura de banda. Dessa
forma, se observa que ainda havia uso intenso de aparelhos de fax no lugar do
envio de e-mails.
Por fim, os pesquisadores viram que nem sempre se aplicava a regra de
que o uso intenso de computador e de internet no campo científico se reflete no
uso intenso para atividades de comunicação. Eles constataram que no caso dos
matemáticos o uso intenso do papel e caneta para formulação de seus estudos
formava um contraste com a intensa troca de mensagens online que realizavam.
Dessa forma, Walsh & Bayma (1996) concluíram que o uso das novas
tecnologias era multideterminado e que se adaptavam ao modo de trabalho
previamente existente entre os cientistas, como por exemplo, a estrutura
organizacional geral e o ambiente de pesquisa específico dos mesmos (o contexto
local), assim como as mudanças institucionais decorrentes tendiam a forçar o
grupo de cientistas a adotar em sua totalidade as tecnologias quando estas se
encaixavam bem no perfil estrutural do campo de pesquisa. Com esta constatação
os autores recomendaram que as políticas de acesso a cientistas levem em conta o
campo de estudo ao qual pertencem, pois certas formas de conexão via internet
são mais adaptáveis a certos campos de pesquisa, enquanto em outros podem se
tornar nocivas ou pouco relevantes e consequentemente menos adotadas.
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 115
Alguns anos depois, em maio de 1995, Lazinger, Ba-Ilan & Peritz (1997)
realizam uma pesquisa sobre usos da internet por acadêmicos da Universidade
Hebraica de Jerusalém, evidenciando que eram ainda poucos os estudos do gênero
e em geral bem limitados quanto ao escopo de realização, tratando de segmentos
bem específicos da universidade ou somente de usuários, não abrangendo os não
usuários (algo que nos dias de hoje não teria muito sentido, pois a atividade
acadêmica atualmente não se pode realizar, em sua totalidade, sem internet e
computador).
Na pesquisa os autores estavam interessados no comportamento de busca
de informação e nos usos propriamente ditos do computador e da internet, assim
como no modo como aprendiam a utilizá-la (modo formal ou autodidata),
procurando encontrar diferenças entre as disciplinas universitárias. Participaram
do estudo 462 acadêmicos (nas categorias professor, professor associado e
professor sênior) que responderam a um questionário enviado por correio
contendo 26 questões, a maioria de múltipla escolha. A participação entre ciências
humanas/sociais (Humsoc) e exatas/agricultura (Sciagr) foi equilibrada, não
apresentando um padrão definido entre os cursos. O único padrão de retorno foi
que os grupos com maior taxa de participação eram os que apresentaram maior
taxa de uso do computador e internet, tendendo aqueles que não usam não
perceberem utilidade em retornar o questionário.
No total dos respondentes 80,3% usavam a internet e 87,7% usavam
computador, sendo que o grupo de humanas/sociais (Humsoc) apresentava
percentual mais baixo com 70,4% de uso da internet em comparação com os
90,4% do grupo exatas/agricultura (Sciagr). Uma explicação possível para esta
diferença poderia ser o fato de que as instalações dos cursos de humanas e
ciências sociais não terem sido ainda, naquele momento, contempladas com
equipamentos informáticos suficientes e acesso amplo à internet (carência de
infraestrutura). Entre as faixas etárias, os professores sênior tinham taxas de uso
abaixo dos mais jovens, sendo essa diferença muito mais acentuada entre os
professores do grupo Humsoc, sendo importante lembrar que a internet e o
computador ainda eram tecnologias muito recentes, mesmo nas universidades.
Quanto aos recursos utilizados o que predomina é o e-mail, na quase
totalidade dos respondentes, usado principalmente para fins de pesquisa, embora
59% já o tivessem usando para contatos sociais. Curioso notar que alguns se
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 116
qualificaram como usuários de internet somente por terem uma conta cadastrada,
mas não a acessavam efetivamente. Um número expressivo de 25% dos usuários
de e-mail usavam a internet somente para este propósito, e outros usavam para
baixar arquivos, fazer buscas e participar de listas de discussão e newsgroups. Na
época do estudo o pico de mensagens de e-mail por semana era de cerca de 20,
com 28% dos respondentes recebendo mais de 20 mensagens no período, um
padrão bem abaixo dos atuais volumes de trocas de mensagens.
O percentual de usuários que aprende sozinho a usar a internet é alto, 90%
para o grupo Sciagr e 81% para o grupo Humsoc. Nesta época boa parte tinha
interesse em aprender mais sobre os navegadores de internet e as interfaces
gráficas, tecnologias recentes e, portanto, que chamavam a atenção frente aos
terminais operados com comandos de texto. Quanto ao contato com outros
colegas para fazer pesquisa cerca da metade dos entrevistados usava a internet
(57%) e 83% afirmaram que a cooperação com os colegas havia aumentado. Os
hábitos de contato estavam mudando também, com 53% usando menos o telefone,
mas essa mudança era mais lenta no grupo Humsoc. Já o acesso a bancos de dados
online crescia, substituindo serviços bibliotecários, para 46% deles, ajudando em
uma atualização mais rápida das pesquisas (43%), embora um pequeno número
tenha afirmado que a internet estava substituindo suas buscas em materiais
impressos.
Ainda no ano de 1995, Bane & Milheim (1995) publicam um estudo sobre
o uso que os acadêmicos estavam fazendo da internet, sem informar exatamente o
período de coleta de dados. O estudo foi feito através de questionário dividido em
14 áreas específicas, com questões sobre competência no uso do computador,
frequência de uso de e-mail, acesso a sites Telnet42, conexão aos recursos da
internet, aos serviços de FTP43 e aos softwares gráficos, assim como perguntas
sobre a importância do uso da internet para os respondentes. Foi enviado por e-
42 Telnet é um protocolo antigo, desenvolvido a partir de 1969, para ligar computadores em rede, ao modo do popular HTTP hoje utilizado na maioria das conexões feitas em navegadores de internet. O Telnet é um protocolo inseguro, pois transmite texto puro, sem criptografia, entrando por isso em decadência e abandono. 43 O FTP (File Transfer Protocol) é um protocolo para se transferir arquivos na internet, bastante utilizado nos anos 90 através de comandos textuais redigidos por quem acessava suas bases de arquivos. Atualmente existem inúmeros programas que escondem as linhas de comando através de interfaces gráficas.
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 117
mail a 231 listas de discussão de acadêmicos obtida na Kent State University, de
Ohio, nos Estados Unidos da América. Das 231 listas, 88 não estavam disponíveis
aos pesquisadores. Com os questionários respondidos via e-mail os pesquisadores
obtiveram um total de 1536 respostas.
Não houve intenção no estudo de distinguir acadêmicos de diferentes
campos de pesquisa, e sim os seus hábitos de uso de modo geral, especialmente as
frequências de acesso a recursos online. Embora o estudo tenha sido realizado nos
EUA e os participantes predominantes serem americanos (64%) e ingleses (12%),
países como Brasil, Austrália, Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Israel,
Itália, Japão, Suíça, África do Sul, Nova Zelândia e Alemanha também
participaram enviando respostas, mas em número bem menor.
O perfil encontrado foi de veteranos no uso do computador, em média 12,8
anos e já familiarizados com e-mail, média de 5,7 anos de uso e internet, com
média de 3,4 anos de uso. São respondentes que pertenciam à elite mundial de
internautas, que naquele período ainda eram aproximadamente 4,5 milhões em
todo planeta. Quanto à área de atuação em geral, 87% eram do setor acadêmico
educacional, enquanto 7,5% trabalhavam no setor comercial e 2,6% no setor
governamental.
Novamente constatou-se quem o e-mail era o recurso mais utilizado, com
88% dos respondentes declarando acesso mais de uma vez por semana. Como as
listas de discussão eram via e-mail não surpreende que 73% as acessavam várias
vezes por semana também. Com menos acesso estavam as revistas científicas, em
que 57,5% acessavam uma vez ao mês ou menos e 20% várias vezes ao mês,
semelhante aos bancos de dados especializados, com 58,9% de acesso uma vez ou
menos ao mês e 24,7% várias vezes ao mês. Estes números indicam que o hábito
de acessar documentos científicos eletrônicos ainda estava no início de sua
expansão.
Na época os navegadores de internet (protocolo HTTP) ainda não eram
populares e o serviço que predominava no acesso dos acadêmicos era o Gopher44.
O Gopher era utilizado mais de uma vez por semana por 30% dos respondentes.
44 O Gopher era um protocolo criado em 1991 para acesso de modo hierárquico a documentos através de menus de texto, no qual programas como Archie, Veronica e WAIS eram utilizados para acesso a essa base, tal como utilizamos hoje o Google Chrome, o Firefox e o Internet Explorer para as páginas da World Wide Web via protocolo HTTP.
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 118
Serviços de FTP e alguns dos mais conhecidos sites de internet eram usados uma
ou menos vezes ao mês em média por 90% dos respondentes.
Os maiores problemas relatados no artigo eram sobre a dificuldade técnica
para se navegar na internet, com suas interfaces operadas de modo obscuro para
um usuário iniciante, assim como o acentuado tráfego de dados em certos sites
que os deixavam lentos. São problemas que hoje as modernas interfaces gráficas
resolveram em parte, assim como o aumento da largura de banda que permite hoje
o acesso a vídeos e acervos multimídia online.
Outro obstáculo, derivado de um período onde a internet ainda era
concentrada nos EUA, era a dificuldade de se achar os colegas na internet,
problema este hoje praticamente inexistente, visto que catálogos mundiais de
pessoas, as redes sociais, permitem a comunicação imediata com conhecidos em
todas as partes do mundo. Os autores relataram também que os acadêmicos
sentiam falta de um sistema de busca de recursos que fosse mais centralizado,
papel esse exercido hoje por motores de busca mundiais como o Google, Altavista
e Yahoo.
Outro estudo passado nos anos 90 que reportaremos aqui vem da África,
realizado na Universidade de Botswana por Fidzani (1998), interessado no
comportamento emergente de busca de informação e necessidades de informação,
a partir da introdução de novas tecnologias informáticas, com foco principalmente
na relação dos pós-graduandos (mestrandos) com as bibliotecas e os recursos por
ela oferecidos.
Os dados do estudo são referentes à coleta realizada entre janeiro e
fevereiro de 1997, a partir de um questionário distribuído para 223 pós-
graduandos, dos quais 144 retornaram, abrangendo as áreas de Educação,
Humanidades, Ciências exatas e Ciências sociais. A Universidade de Botswana
era um ambiente privilegiado no acesso aos recursos eletrônicos naquele país, um
“oásis no deserto” visto que em 1998 o acesso da população à internet, segundo os
dados do Banco Mundial45, era de apenas 0,6% (em 2010 chegou ao baixo índice
de 6%).
45 Todos os dados de taxas de acesso à internet podem ser consultados no site Google Public Data, disponível em < http://www.google.com/publicdata/directory>, que usa as informações geradas pelo Banco Mundial.
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 119
Recursos como CD-ROMs e o OPAC (Online Public Access Catalogue)
tinham acabado de ser introduzidos pela biblioteca da universidade e a
preocupação central dos bibliotecários era que o treinamento inicial com os
estudantes que chegavam à universidade era insuficiente para que aprendessem
habilidades de longo prazo na busca de informação. Estavam preocupados com a
formação deles para que soubessem localizar, avaliar e utilizar a informação que
necessitassem ao longo de seus cursos. Os dados da pesquisa de Fidzani (1998)
serviam para dar suporte à organização de um curso que atendesse as necessidades
dos alunos da universidade.
Na revisão de literatura do autor, ele constatou que são inúmeros os fatores
envolvidos na obtenção da informação, listando três principais: (1) a atualidade da
informação apresentada, (2) a consciência da pessoa sobre os recursos para obter
informação e, por último, (3) a habilidade no uso de ferramentas de acesso a esta
informação. Muitos dos estudos revisados apontavam para a ausência de suporte
aos estudantes, mesmo os de pós-graduação, no uso dos recursos disponibilizados
pelas bibliotecas e que os professores partem da ideia de que seus alunos já sabem
como fazer a busca dos dados.
Vejamos então alguns dados obtidos no estudo de Fidzani (1998) quanto
aos pós-graduandos respondentes do questionário. Começando pelos recursos
mais utilizados durante os trabalhos feitos para o curso de mestrado, eles
relataram acessar com mais frequência os livros da biblioteca (60%), seguido
pelos livros didáticos (52%) e pelas revistas científicas (43%). Relataram também
o uso de apostilas (handouts) (38%), anotações de aula (35%) e dissertações
(12,5%). Quanto os recursos utilizados para pesquisa estavam em primeiro lugar
as revistas científicas (56%), os livros da biblioteca (53%), os livros didáticos
(26%) e com menos frequência as dissertações (20,1%), as apostilas (13,9%) e as
anotações de aula (13,2%).
Quanto aos locais utilizados para se achar tais recursos, somando as
porcentagens de respostas para “muitas vezes” e “às vezes”, se destacaram o
OPAC (busca em catálogo online), com uso frequente por 48% dos respondentes
e a busca de títulos de revistas científicas na própria biblioteca, também com 48%
de uso frequente. A busca nas estantes da biblioteca e nas fichas de catálogo da
biblioteca tiveram 40% e 41% de frequência de uso respectivamente. Como
interessam aqui os recursos digitais, cabe destacar que um pouco menos que o
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 120
OPAC, os CD-ROMs eram usados com frequência por 30% dos mestrandos e
nunca por 26%.
Diante dos resultados, Fidzani (1998) afirma que os mestrandos
precisavam aprender mais sobre as ferramentas de busca como o OPAC, os CD-
ROMs e mesmo as fichas de catálogo da biblioteca, assim como dependerem
menos de notas de aula e apostilas como fontes de pesquisa. Ele atribui a falta de
atenção dos estudantes a fontes essenciais em uma pesquisa, como as dissertações
acadêmicas, a uma deficiência no suporte e na formação que os estudantes de
mestrado recebem, incluindo aquela feita nas bibliotecas, que supõe um saber que
os mestrandos não tinham.
Fechando a década, em 2000 foi realizado por Chang & Perng (2001) um
estudo semelhante ao de Fidzani (1998), desta vez na Universidade Tatung, em
Taiwan, com questionários respondidos por 416 estudantes de pós-graduação (362
de mestrado e 54 de doutorado) de nove departamentos (de um total de 550 pós-
graduandos). Depois da aplicação do questionário, 25 entrevistas foram
conduzidas para maior aprofundamento. O objetivo era conhecer as necessidades
de informação e hábitos de busca e saber os efeitos que as novas tecnologias
estavam trazendo no comportamento desses pós-graduandos.
Cabe como dado contextual que a universidade é de caráter privado e
estava recebendo forte concorrência dos altos investimentos públicos em novas
universidades por parte do governo, que atraía para si pesquisadores do setor
privado. Ela tinha 2506 estudantes no ano 2000, tendo a particularidade de
integrar o setor de pesquisa ao atendimento de necessidades do setor da indústria.
Ao contrário da baixa penetração da internet em Botswana, Taiwanm, a partir de
dados do Banco Mundial, tinha a taxa de 43% no ano 2000, já superior naquele
momento à atual taxa alcançada no Brasil, devido especialmente à ampla política
de acesso mantida pelo governo.
Entre os meios mais utilizados por eles estavam as revistas científicas,
tanto eletrônicas como impressas (85,9%) e as monografias / dissertações.
Também entre os resultados obtidos, está o baixo uso dos bancos de dados
eletrônicos, considerado intenso por apenas 20% dos pós-graduandos. Entre as
razões do baixo uso de bancos de dados eletrônicos estava a noção de que não
eram rápidos e facilmente acessíveis, incluindo a questão da língua, pois a maioria
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 121
estava disponível somente em inglês, assim como o próprio desconhecimento de
sua existência.
Entre as fontes de informação mais utilizadas pelos respondentes, em
ordem de importância, estavam: as citações e referências bibliográficas em
artigos; os materiais de coleções pessoais; a internet em geral; o OPAC; e por fim
as conversas com amigos de classe e professores. Os catálogos da biblioteca, os
índices de livros e os bancos de dados eletrônicos foram pouco citados (todos
esses itens foram apresentados listados no questionário). O uso de newsgroups já
vinha baixando nesse momento e a WWW já detinha 66% da fatia de utilização
entre os pós-graduandos.
Dessa forma, na Universidade de Tatung se percebeu que apesar o alto
nível de acesso à internet pelos pós-graduandos (93,5%), o uso de bancos de
dados eletrônicos ainda era baixo e metade dos respondentes admitiam que os
meios tradicionais eram ainda os mais importantes em suas pesquisas. Aprender
sobre esses novos meios talvez fosse a barreira mais forte, visto que muitos
priorizavam a facilidade de acesso e uso dos dados. Apesar disso, o estudo
constatou que as fichas de catálogo estavam migrando rapidamente para o sistema
de busca eletrônico da biblioteca e caindo rapidamente em desuso.
3.1.1 Considerações sobre os estudos dos anos 90
O que os estudos dos anos 90 mostram é uma preocupação inicial com a
utilização ainda recente do computador e da internet no universo acadêmico e, em
termos gerais, procurando diferenças entre departamentos e cursos quanto ao
perfil de uso e acesso. São estudos ainda não focados nos processos de autoria,
visto que a incorporação da internet e computador na escrita ainda estavam no
começo e suscitava questões como, por exemplo, o aprendizado técnico dos
recursos e mesmo a necessidade de se informar sobre a existência dos mesmos
através de cursos e treinamentos.
As diferenças entre o grupo de humanas e ciências sociais e o grupo de
ciências exatas mostrava um avanço maior de utilização no segundo grupo,
embora pudesse ser em decorrência da presença de equipamentos inicialmente nos
departamentos mais ligados à área tecnológica e mesmo devido à pouca exigência
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 122
que os acadêmicos de humanas tinham quanto a materiais digitais para comporem
suas pesquisas, com o essencial estando em formato impresso.
Quanto aos usos nota-se que ainda estavam focados na comunicação
eletrônica via e-mail, o recurso mais usado e difundido entre os acadêmicos, que
ia aos poucos mudando a forma de comunicação entre eles, substituindo em parte
o uso, por exemplo, do telefone, do fax e dos correios.
Também já crescia o acesso a serviços de busca de referências online,
serviço antes feito por intermédio das bibliotecas e agora de maneira mais
autônoma conforme as bases de dados de artigos e materiais acadêmicos iam se
tornando amigáveis e abrangentes o suficiente para que o pesquisador não
precisasse ir presencialmente até o bibliotecário requisitar uma busca em seu tema
de pesquisa. Apesar disso, a ida à biblioteca e o acesso aos impressos
predominavam nos hábitos acadêmicos, até mesmo pela disponibilidade dos
materiais que ainda não se encontravam facilmente digitalizados nesses bancos de
dados.
Quadro 4 - Tendências nos usos de TICs por acadêmicos nos anos 90.
Tendências dos anos 90
Uso de recursos anteriores aos navegadores de internet
Lentidão de acesso e interface obscura como problemas.
Predomínio do e‐mail e listas de discussão
Substituição dos meios de comunicação tradicionais pelos digitais
Ciências humanas com uso mais baixo do computador e da internet que as ciências exatas
Serviços online começando a substituir o acesso presencial na biblioteca
Preocupação em informar sobre o acesso aos novos recursos e criar estrutura de suporte.
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 123
3.2 Anos 2000-2005: caminhando para os padrões atuais de utilização
O primeiro estudo dos anos 2000 foi realizado por Seyal, Rahman &
Rahim (2002) e vem da Ásia, de um pequeno país chamado Brunei, um sultanato
com cerca de 300 mil habitantes e que apresentava na época uma política de
investimentos em tecnologia da informação, visando o mercado externo, visto que
sua população e território eram muito reduzidos.
Em 2002, segundo dados do Banco Mundial, Brunei apresentava uma taxa
de penetração da internet em 15,6% e em 2009 chegou a 81,4%. Apesar da
infraestrutura impecável e de alto padrão, de modo semelhante ao estudo de
Chang & Perng (2001), os autores identificaram uma subutilização da internet
pelos acadêmicos de escolas técnicas e profissionais em Brunei, atribuindo a
fatores culturais e sistemas de crença.
Com este problema em mente os autores resolveram investigar nos
acadêmicos quais determinantes estariam por trás da adoção da internet, a partir
de um modelo composto de cinco fatores a serem testados: (1) facilidade de uso
percebida (o grau em que a pessoa acredita que usando um determinado sistema
estaria livre de esforço), (2) utilidade percebida (grau em que a pessoa acredita
que usando um determinado sistema poderia aumentar a performance em um
trabalho), (3) exposição ao computador (horas de uso), (4) posse do computador
(utilização em casa, por exemplo) e (5) características das tarefas.
Foram distribuídos questionários que continham quatro seções para medir
estes cinco fatores, a maioria das questões utilizando uma escala de Likert de
cinco níveis. Dos 340 acadêmicos das quatro escolas técnicas e profissionais de
Brunei, retornaram respondidos 166 questionários. O perfil dos respondentes era
de maioria masculina (69%) e grande parte abaixo dos 40 anos de idade (70%),
pertencentes a área de ciências exatas (computação em 24%, engenharia em 37%
e ciências em 10%) e com uso prolongado do computador (entre 1 e 5 anos em
32%, entre 5 e 10 anos em 30% e mais de 10 anos em 28%), correspondente ao
perfil das escolas técnicas e profissionalizantes selecionadas.
Entre os resultados encontrados, na escala que vai até cinco pontos, entre
os usos mais relatados pelos acadêmicos está a obtenção de informações para se
manterem atualizados sobre os novos desenvolvimentos (3,41), a busca de
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 124
materiais de pesquisa (3,21), a busca de materiais para aulas (2,87), os usos
recreativos (2,73) e o aumento dos conhecimentos gerais (2,56). Os resultados
mostram um uso mais voltado a tarefas acadêmicas. A maioria, 51%, considerou a
internet muito importante e indispensável em seus trabalhos profissionais.
Após testes estatísticos os pesquisadores perceberam que os fatores posse
do computador e características das tarefas não eram fundamentais no uso da
internet para este conjunto de acadêmicos. Entre as descobertas feitas estava o
contraste de que enquanto 89% dos respondentes possuíam computador próprio,
cerca de 40% usavam somente processadores de texto e aplicativo de planilha
eletrônica. Um dado importante foi também a baixa variedade de tarefas exercidas
com o uso do computador e internet, pois dos sete itens perguntados (envio de e-
mails, download de materiais, visita a websites, ida a banco de dados, ligações
com voz sobre IP, criação de site para ensino e criação de site pessoal) somente
dois foram relatados pelos acadêmicos, indicando uma subutilização da internet.
Logo, o uso da internet tinha relação direta com a experiência de uso do
computador, a utilidade percebida e a facilidade de uso percebida. O caminho
então para a adoção da nova tecnologia passava primeiro pela avaliação da função
que a tecnologia exercia (utilidade) e de modo secundário pela facilidade de uso
que esta tecnologia tinha.
Seguindo nossa linha do tempo, Uddin (2003) conduziu um estudo com
acadêmicos da Universidade Rajshahi, em Bangladesh, que tem 25 mil alunos e
800 professores, sendo a segunda maior das onze universidades públicas do país.
Bangladesh é um país asiático de 140 milhões de habitantes no qual somente 200
mil acessavam a internet no início da década de 2000 (0,2%), devido a problemas
de infraestrutura e alto custo por parte dos provedores de acesso. Em 2009 a
situação não havia se modificado muito, com o acesso chegando a somente 0,42%
da população, segundo dados do Banco Mundial.
O objetivo do estudo era a identificação das necessidades de informação e
atividades de comunicação dos acadêmicos (professores), público privilegiado no
acesso à internet naquele país. As instalações de acesso à internet na universidade
eram recentes (janeiro de 2001), sendo que desde 1997 os serviços de e-mail eram
oferecidos aos acadêmicos em modo off-line. A coleta de dados foi realizada entre
janeiro e fevereiro de 2002, um ano após a entrada efetiva da internet na
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 125
universidade, com 218 professores respondendo a um questionário impresso
elaborado pelo autor.
O perfil dos respondentes era de maioria do sexo masculino (90,3%) e
jovem (entre 25 e 32 anos eram 33,5% e entre 33 e 40 anos eram 25,2%). O
conhecimento sobre computador ainda era básico, com 30,3% se limitando
somente usar processadores de texto e 34% limitando seus usos locais a
processado de texto e planilha eletrônica. Um percentual de 8,7% deles indicava
nunca ter entrado em contato com um computador e 12% nunca teve contato com
a internet. O acesso à internet era basicamente institucional, pois somente 8,2%
acessavam em casa.
Entre os recursos mais utilizados na internet vinha em primeiro lugar o e-
mail (88%), seguido pela navegação na WWW (71%) e o download de arquivos e
revistas científicas (56%). O uso de newsgroups (18%), listas de discussão (8%),
multimídia (6%), chat (16%) e voz sobre IP (10%) eram um indicativo de que
aplicações que exigiam mais tempo (participação em listas e chats) ou mais
largura de banda (vídeo e áudio) eram evitadas, pela própria infraestrutura
limitada do local. Em uma escala de 1 a 6, o uso de newsgroup (1,9) e recreação
(1,82) foram citados como os menos frequentes no uso da internet, talvez porque
o local de acesso em sua maioria era feito em ambientes formais de trabalho.
Entre as atividades de busca de informação constantes no questionário as
que mais se destacaram entre os acadêmicos foram as de busca de informação
sobre outras instituições de pesquisa (74,3%), a busca de informações sobre
publicações (68,8%). Uma diferença geracional significativa estava na tendência
dos professores mais novos em procurar mais informações sobre locais para novos
estudos, como mestrado e doutorado, chegando a 80% enquanto os professores
mais antigos não usavam tanto para esta finalidade (21%). Na média os serviços
da biblioteca eram acessados por 29,3% dos respondentes, se destacando entre os
professores mais antigos um percentual de 48,4%, embora fossem limitados ao
OPAC e catálogos off-line disponíveis em CD-ROMs. O percentual mais baixo de
uso foi para a busca de locais de trabalho (18,3%), talvez pelo fato de sites
oferecendo esse tipo de serviço não existirem ou serem limitados na época em que
o estudo foi realizado.
Quanto ao uso da internet para comunicação, os professores mais jovens
ou iniciantes na carreira tenderam a predominar no total dos que contatavam
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 126
especialistas no tema (53,4%) e dos que se comunicavam com instituições de
pesquisa no exterior (70,6%). A comunicação com colegas no exterior era
equilibrada e bem alta, usada por 63,5% dos respondentes. Em Bangladesh o
acesso à internet mesmo pelos estudantes universitários era baixo, logo, apenas
4,6% dos professores usavam a internet para esta finalidade. A comunicação face-
a-face ainda era preferida por mais da metade dos respondentes, sendo que na
média somente 48,3% enviavam mensagens de e-mail aos colegas locais na
universidade.
De modo geral, o estudo de Uddin (2003) demonstra que limitações
técnicas, junto à baixa experiência dos acadêmicos com a internet, inibem certos
tipos de utilização como entretenimento e comunicação pessoal, assim como
acesso a funções que exijam maior largura de banda, como multimídia e
downloads. Para 82,7% dos respondentes o principal problema estava na baixa
velocidade da internet e para 67,3% o problema também era a insuficiência de
instalações para acesso aos computadores e à internet. Por outro lado o estudo
revelou que os usos variam em boa parte pelo momento em que o acadêmico está
em sua carreira, algo não levado em conta em outros estudos relatados até o
momento, não perceptível quando o recorte está vinculado ao nível de ensino
(graduação, mestrado e doutorado).
Avançando um pouco mais temos o estudo de Junni (2007), realizado na
Universidade de Helsinki e na Universidade Sueca de Economia e Administração
de Negócios, ambas na Finlândia, sobre o efeito da internet na busca de
informação de estudantes de mestrado para suas dissertações. A Finlândia atingia
em 2003, segundo dados do Banco Mundial, uma taxa de 69,2% de penetração da
internet.
A pesquisadora analisou 219 listas de referências bibliográficas nos anos
de 1985 (71 listas), 1993 (75 listas) e 2003 (73 listas) com o objetivo de medir a
influência da internet na escolha das fontes de informação, incluindo a quantidade
de referências e a idade de publicação das mesmas46. Na segunda fase do estudo
46 Cabe esclarecer que no estudo a pesquisadora não fez a distinção entre suportes e sim entre os tipos de fontes de referência (artigos científicos, publicações de eventos, teses e dissertações, artigos jornalísticos, entre outros), justamente porque ao citar uma referência obtida na internet, nem sempre é obrigatório indicar o endereço eletrônico, quando é possível encontra-la em formato impresso (parte dos artigos científicos sai nos dois formatos).
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 127
entrevistou, por telefone e e-mail, 48 mestres que concluíram seus cursos no ano
de 2003, abrangendo os cursos de Economia (15 entrevistados), Psicologia (17
entrevistados) e Matemática (16 entrevistados), 46% homens e 54% mulheres. As
entrevistas incluíram também dados quantitativos, obtidos em escala Likert de 5
níveis, 1 para nunca e 5 para muitas vezes.
Na primeira fase, os resultados apontaram que entre 1985, 1993 e 2003 o
número médio de referências aumentou no período 1993-2003, saltando de 25
para 27 e depois para 45 em Economia e de 54 para 53 e depois para 79 em
Psicologia. A área de Matemática não apresentou variação significante, indo 13
em 1985 para 10 em 1993 e 16 em 2003. Percebemos que a estrutura e os
objetivos do curso de Matemática são mais fortes que as escolhas dos indivíduos
quanto ao uso maior ou menor de fontes. Essa diferenciação quanto ao uso de
fontes se refletiu em todo resto do estudo, na maioria das vezes ficando bem
distante dos resultados de Psicologia e Economia que tiveram maior similaridade.
Um outro fato interessante no estudo foi que o aumento do número de fontes não
refletiu no número médio de páginas, que teve até queda significativa entre 1985 e
1993.
Quanto à idade média das fontes houve uma queda, porém o curso de
Economia apresentou estabilidade ficando em 7,5 anos em 1985, 7 em 1993 e 7,9
em 2003. O curso que teve maior queda foi o de Matemática, passando de 17,2
anos em 1985 para 18,6 em 1993 e 12 em 2003. O curso de Psicologia teve leve
queda, passando de 11,2 anos em 1985 para 12,8 em 1993 e 9,8 em 2003. De
maneira geral a internet parece ter influenciado essas quedas, mas também
evidencia que a literatura de base, mais antiga, continua sendo importante na
escrita das dissertações de mestrado, indo ao encontro de outros estudos que
apontam equilíbrio entre as consultas na internet e as consultas a materiais
impressos nas bibliotecas.
Já quanto aos tipos de fontes a internet parece ter influenciado
decisivamente, especialmente no uso de artigos científicos, que passou de uma
média 23,2% em 1985 para 27,9% em 1993 e 37,3% em 2003. Esse incremento
tem relação direta com o aumento do acesso às bases de dados online contendo
literalmente milhares artigos, o que permite maior internacionalização das
dissertações com estudos de diversos países além do de origem. A literatura cinza,
embora mais disponível na internet do que nunca, não teve aumento de
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 128
participação, sendo que os mestrandos afirmaram que embora as encontrem em
buscas gerais na internet, eles não as citam por não inspirarem confiança e
qualidade.
As diferenças entre os campos de estudo foi bem marcante, sendo que 55%
das referências em Psicologia eram artigos científicos, caindo para 21% em
Economia e somente 13% em Matemática, campo este que utilizava em sua maior
parte (79%) livros do próprio curso, compêndios e anotações tomadas em aula.
Isso demonstra mais uma vez que a estrutura e objetivos de cada área definem as
proporções dos materiais utilizados, a exemplo da Economia que acessa mais
notícias de jornais e informações empresariais para compor seus casos, embora a
internet de maneira geral influencie todas elas, em maior ou menor intensidade.
Indo para a segunda fase do estudo, as entrevistas, quanto aos métodos de
busca de informação, o mais utilizado foi seguir as referências presentes em outras
publicações, chamado de citation chaining ou citation chasing, com a média de
3.8. É um método relatado por quem inicia a pesquisa e não conhece muito bem o
campo de pesquisa. O segundo método de busca foi acessar a biblioteca, com
média de 3.7 pontos, mantendo-se popular mesmo com a ascensão dos meios
eletrônicos de acesso. Os bancos de dados online, sejam de livre acesso ou os
pagos pela biblioteca da universidade, apareceram em terceiro lugar com a média
de 3.5 pontos, praticamente empatado em importância com a biblioteca física,
evidenciando o equilíbrio entre os vários meios de obtenção de informação.
As buscas não orientadas a um assunto apareceram com 3.3 pontos de
média, fossem elas presenciais ou no banco de dados das obras cadastradas da
biblioteca, indicando que a busca por novidades de modo não específico ainda
tem sua validade para se inteirar de assuntos recentemente debatidos. O
recebimento de materiais através de pessoas, colegas e professores, teve o índice
de 2.8 e a busca por ferramentas generalistas, clicando em links obtidos nas
pesquisas, esteve em sexto lugar com média 2.7, indicando que não agrada aos
estudantes de mestrado a grande quantidade de dados obtidos e o tempo
necessário para ver os links um a um. Os sites buscadores também tiveram média
semelhante, somente 2.6, coerente com a categoria anterior e indicando que o
excesso de dados retornado leva os estudantes e usar os serviços oferecidos pelas
bases de dados especializadas. Os métodos menos utilizados foram as dicas
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 129
recebidas de amigos, professores e especialistas (2.6) e os serviços de alerta de
novas publicações (1.1).
Quanto ao uso da internet para obter informações, a média de referências
obtidas nela foi de 32% do total citado na dissertação, a partir da estimativa dada
pelos entrevistados e não aquela contada nas próprias dissertações. Esse resultado
é coerente quando vemos que em primeiro lugar, com média 4, os mestrandos
obtinham suas fontes por empréstimos com a biblioteca da universidade ou
mesmo copiando partes dos materiais, índice equilibrado entre as diferentes áreas
entrevistadas. Já os bancos de dados online, com download de textos, tiveram nota
média bem mais baixa, em 2.7, sendo surpreendente a diferença entre as áreas de
economia (3.3), psicologia (3.6) e matemática (1.3), pois se esperava que uma
ciência exata fosse protagonista nesse tipo de fonte.
Com menor significância vieram as páginas de editores (1.7) e de autores
(1.4) mostrando que a biblioteca gera maior confiança sobre a relevância e
validade dos materiais obtidos. Com média 1.4 o empréstimo bibliotecário
também evidenciou a falta de paciência dos mestrandos em esperar o material que
precisam, assim como não se mostraram muito confiantes em entrar em contato
diretamente com autores para solicitar cópias impressas (1.3) ou cópias
eletrônicas (1.1), alegando que não gostariam de aborrecê-los. O fato de já
encontrarem os materiais nos bancos de dados online pode ter contribuído para
este baixo contato direto com autores.
A formação formal dos mestrandos foi detectada como deficitária para a
busca de informação. Cerca de 48% receberam treinamento, mas para 39% não foi
suficiente o tempo do curso, e faltava conectar com algum seminário ou curso que
falasse de metodologia. Muitos não sabiam, por exemplo, que poderiam acessar
bases de dados em casa, outros não sabiam usar palavras-chave em buscas que
retornassem eficientes e alguns se achavam incapazes de lidar com o excesso de
informações obtidas em suas buscas.
De modo geral, o estudo apontou que o uso de bases de dados online foi
umas das principais mudanças que a internet vem causando no acesso dos
mestrandos à informação, aumentando o percentual de presença dos artigos
científicos. Apesar disso, o uso de recursos tradicionais convive e ocupa lugar de
destaque nas buscas, não tendo sido necessariamente substituído. No geral, houve
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 130
um aumento do número médio de fontes, mantendo as tradicionais e fazendo a
média de idade das mesmas diminuir.
O quarto estudo selecionado foi realizado por Barret (2005) na University
of Western Ontario, no Canadá, a respeito dos hábitos de busca de informação de
pós-graduandos em ciências humanas. Foi um estudo qualitativo de caráter
exploratório com dez entrevistas abertas, três com participantes do curso de
mestrado e sete de doutorado, alguns no início do curso, outros no meio e outros
já formados. As entrevistas foram realizadas em junho e julho de 2004. A
importância deste trabalho está em separar o grupo de humanas dos outros pós-
graduandos e evidenciar algumas de suas singularidades. Como o estudo relata
hábitos através de depoimentos e não de estatísticas, cito aqui os assuntos que são
mais relevantes a respeito dos suportes utilizados no dia a dia dos pesquisadores.
Quanto aos usos de TICs, os participantes apresentaram um perfil
multivariado de acesso aos meios de informação, incluindo bancos de dados de
revistas eletrônicas, CD-ROMs, buscadores via internet e sites, utilizados muitas
vezes como ponto de partida para encontrar fontes impressas em bibliotecas e
livrarias. Evidenciou-se pelos depoimentos que as TICs se tornaram muito mais
presentes e comuns no dia a dia de pesquisa dos pós-graduandos em ciências
humanas e que inclusive se tornaram elas mesmas tema de pesquisa para alguns
deles.
O rastreamento de fontes pelas citações e referências de artigos e livros
(citation chasing) foi frequentemente citado como técnica para se lidar com o
excesso de fontes disponíveis, ao modo de um trabalho de detetive para se
conhecer mais profundamente a literatura do campo de estudo escolhido. Outro
método de busca comum seria o rastreamento físico de fontes através da visita às
estantes de livros da biblioteca, pois o título de um trabalho nem sempre evidencia
o seu conteúdo.
Essa forma de busca, ou “saber como fazer as coisas” foi a principal
diferença detectada pelos entrevistados em relação aos estudantes de graduação,
um senso de responsabilidade por estar fazendo um trabalho mais profissional.
Quanto aos seus orientadores e professores, os pós-graduandos disseram que eles
possuem maior experiência e entendimento do campo de estudo e com isso são
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 131
mais eficientes e gastam menos tempo nos estágios iniciais de pesquisa. São
diferenças relacionadas ao momento de carreira do pesquisador acadêmico.
Os entrevistados enfatizaram a necessidade de se trabalhar com fontes
primárias em ciências humanas, a exemplo de arquivos institucionais e coleções,
entrevistas, manuscritos originais e livros mais raros, tendo necessidade inclusive
de viajar em busca de tais materiais. Não seriam fontes facilmente encontradas em
buscas online.
Os colegas e os orientadores foram citados como influentes na descoberta
de fontes eletrônicas. Eles reconhecem a rapidez dos meios eletrônicos em relação
aos catálogos impressos, mas reclamam do gap entre as gerações mais novas,
incluindo professores mais novos, com as gerações mais velhas quanto ao acesso
aos meios eletrônicos, identificando que a geração atual irá suplantar o antigo
medo em relação às tecnologias digitais na área de ciências humanas.
Quanto ao contato com outras pessoas, eles admitiram que o caráter da
pesquisa em humanas é mais solitário e com raras colaborações, somente em
projetos que as exigem. O contato mais citado foi com os orientadores e depois
com especialistas no tema, com conselhos sobre a temática e dicas de fontes. Os
bibliotecários foram citados para ajudar quando materiais são difíceis de serem
encontrados.
Outro estudo destacado deste período vem de George et al. (2006), feito
com entrevistas semi-estruturadas em larga escala com 100 pós-graduandos, de
mestrado (36%) e doutorado (64%), representando todos os departamentos e
disciplinas da Carnegie Mellon University, na Pensilvânia, Estados Unidos da
América. As entrevistas foram feitas entre março e junho de 2004 e abarcaram as
disciplinas de Arte e Arquitetura, Política e Negócios, Ciência da Computação,
Engenharia, Humanidades e Ciências exatas.
O objetivo proposto foi investigar o comportamento de busca de
informação durante a condução da pesquisa, a partir de fatores como influência de
pessoas, da internet e da biblioteca na vida acadêmica dos entrevistados. Com
entrevistas curtas e devidamente categorizadas o estudo pode traduzir então em
números o perfil de respostas dos entrevistados e também detalhar os usos mais
comuns da internet naquele momento.
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 132
A primeira constatação dos pesquisadores foi que os estudantes de pós-
graduação formam suas redes de contato com aqueles que estão mais próximos,
como orientador, professores, colegas de pesquisa e mesmo os responsáveis pela
biblioteca, para obtenção de recomendações (65% para professores e 34% para
colegas de curso) ou obtenção de materiais (58% para professores e 30% para
colegas). Cerca de 40% dos entrevistados afirmaram pedir auxílio ao pessoal
especializado na biblioteca que os ajudam a focar melhor a pesquisa e as palavras-
chave utilizadas, assim como indicar novas fontes de informação.
São poucos os que relataram contatos fora da universidade (12%),
proporção essa que avança entre os que estão fazendo o curso de doutorado. O
contato é uma forma de cortar caminho e obter fontes para seus assuntos de
interesse, tais como livros, artigos, websites, nomes de pessoas que são centrais no
campo de pesquisa e dados que sejam cruciais. Só 4% não relataram esse tipo de
contato com professores e 27% não relataram contato com colegas. Entre as
formas de contato temos a conversa face-a-face, e-mails, seminários de pesquisa,
grupo de pesquisa ou congressos. É comum os grupos de pesquisa desenvolveram
bases de dados com materiais a disposição de seus integrantes e desenvolverem
debates internos e trocas de experiências.
Quanto à internet, todos relataram utilizá-la, tanto em serviços de intranet
da biblioteca quanto no uso pessoal da rede. Para 77% a internet se tornou um
método primário e essencial para realizar os primeiros passos da pesquisa (saber
por onde começar) ou aprofundamentos após conversas com o orientador. A
internet, para 48% dos entrevistados, serve para ganhar tempo nas buscas, para se
pesquisar em grandes massas de dados de forma cômoda, baixando-se e
imprimindo-se os materiais. Entre os que usam a internet fora da biblioteca 73%
faziam suas buscas via Google e 48% através de citações e referência no próprio
material (citation chaining). Nas buscas via Google, 50% buscavam artigos
científicos para manterem-se atualizados e 68% websites em geral, como sites
pessoais, do governo, acadêmicos, de notícias e de empresas. Apesar disso, 16%
reclamaram da variedade de informações obtidas nas buscas, com muitos sites não
confiáveis e sem revisão dos pares.
Uma parte relevante do estudo foi sobre técnicas utilizadas na busca de
informação. Aqueles que não conheciam ou sabiam pouco sobre seu campo de
pesquisa tendiam a fazer buscas gerais (principalmente no Google) para sentir
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 133
melhor o campo, o que gerava maior dispêndio de tempo e quantidade de fontes
irrelevantes acessadas, passando depois para o estágio de pesquisa onde as fontes
são mais conhecidas e os resultados mais relevantes. É no estágio de busca
avançada que ocorrem as buscas via citações e referências (citation chaining) a
partir de uma ou mais publicações relevantes (um livro ou um artigo),
percebendo-se a cadeia de citações e onde aparecem os autores com mais
frequência. Com a internet essa busca encadeada se torna facilitada, permitindo
acesso quase instantâneo aos materiais.
Quanto ao papel desempenhado pela biblioteca universitária, 55% dos pós-
graduandos responderam ser importante, sendo mais expressivo na área de artes
(75%) e humanidades (60%) e tendo o menor índice entre aqueles da área de
ciência da computação (21%). O uso de bancos de dados e acesso às revistas
científicas também foi bem alto, 78% e 61% respectivamente, pois são
considerados mais precisos que a internet em geral. A migração do formato
impresso para os documentos digitalizados já é bem evidente, se destacando entre
aqueles que justamente dão o suporte a essa migração, os pós-graduandos em
ciência da computação que lideram em velocidade tal acesso. O grupo de ciências
humanas também teve índices bem altos no uso de todos os serviços online
oferecidos pela biblioteca, com 95% para bancos de dados e 74% para revistas
eletrônicas online.
Apesar desse alto uso, 82% dos entrevistados relataram continuar indo na
biblioteca física, 83% buscando livros e 58% buscando revistas científicas
impressas. Não houve muita diferença entre as disciplinas, se destacando as
humanas pelo alto índice de acesso a revistas científicas impressas, em 80%,
talvez por estes materiais ainda não estarem digitalizados e por terem vida útil
maior do que em outros campos do saber. Outra questão relatada foi a dos livros
impressos serem mais cômodos para leitura que os e-books e da biblioteca
apresentar materiais que só existem em formatos como microfilme e gravações de
áudio, não encontradas ainda em formato digital. Também foi relatada a
necessidade de ir à biblioteca para se aproveitar a infraestrutura para trabalho,
impressão de materiais e mesmo entretenimento. A área de humanas, frente à
média de 58%, teve 75% de uso do serviço de empréstimos entre bibliotecas,
indicando um não contentamento com o acervo local oferecido.
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 134
Embora o acesso seja alto dos serviços online, a dificuldade técnica de
acesso às plataformas foi citada por 42% dos entrevistados, incluindo problemas
com interface dos sites, confusão para se achar bancos de dados relevantes, buscas
internas não adequadas, falta de materiais mais antigos e configuração de acesso
remoto.
Já no Brasil destacamos o estudo de Pinheiro (2003) cujo interesse foram
as práticas de comunicação e informação de comunidades científicas brasileiras na
internet. Para tal intento, foram respondidos 1307 questionários de um total de
7805 pesquisadores do CNPq contatados pela pesquisadora. Pela pesquisa ter sido
realizada entre 1998 e 2002 e sem especificação de data do envio do questionário,
optou-se então por coloca-la no fim desta seção de revisão, considerando-se a
coleta de dados e seu tratamento já na década de 2000.
O perfil dos respondentes foi de pesquisadores experientes, com mais da
metade na faixa dos 41 e 50 anos de idade e depois entre os 51 e 60 anos. Os
cientistas jovens, entre 20 e 30 anos tiveram participação pouco significativa. A
maior parte, 73,3% iniciou o uso das redes eletrônicas (incluindo as redes pré-
internet) entre os anos 1990 e 1999 e um expressivo número (16,1%) entre 1980 e
1989, acompanhando desde o início da antiga RNP (Rede Nacional de Pesquisas)
lançada em 1989, algo que não surpreende, pois é no segmento da pesquisa
universitária que a internet começou a ser implantada. A pesquisa também
demonstrou a incorporação da internet no dia a dia dos pesquisadores brasileiros,
com 87,2% a utilizando diariamente.
O Brasil já mostrava um desenvolvimento considerável quanto ao acesso
dos pesquisadores à internet no início dos anos 2000. Cerca 31,8% tinha acesso
somente no local de trabalho e 62,4% apresentava acesso simultâneo em casa e no
trabalho. As dificuldades maiores naquele momento eram derivadas da conexão à
rede, sendo para 66,7% um problema muito relevante ou relevante, e sem segundo
lugar a falta de suporte técnico com o índice de 49%. Já a barreira linguística era
um problema irrelevante para 67,3% seguida pela falta de treinamento vista como
irrelevante ou pouco relevante para 73,1%. Os resultados então mostram que antes
de serem pessoais (conhecimento) os problemas eram, naquele momento, mais de
infraestrutura e manutenção dos equipamentos, em uma época que predominava
ainda o acesso discado, via linha telefônica, à internet.
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 135
Foi interessante notar que as atividades de comunicação dentro do âmbito
científico já dominavam a vida dos pesquisadores no Brasil, tanto no âmbito
formal quanto informal. A comunicação com os pares era uma rotina para 96,4%
dos respondentes e com pesquisadores de outras áreas alcançava 73,5%,
ampliando as possibilidades de laços de escrita numa rede maior que a própria
base física de pesquisa (empresa, universidade, indústria).
Fazia parte da rotina a submissão de trabalhos a congressos (92,5%) e a
periódicos (83,4%) e a comunicação com fins didáticos (89,1%) indicando que o
acesso à internet por parte dos alunos universitários já era bem significativo. A
circulação de trabalhos antes da publicação (pre-prints) atingia 75,4% dos
pesquisadores. Dessa forma, apesar dos obstáculos, a internet entrava como fator
indispensável na rotina de compartilhar e submeter publicações aos pares, até
mesmo porque a comunicação via internet é extremamente necessária em países
fora do eixo Europa-EUA e com grande extensão geográfica como o Brasil, além
de apresentar a vantagem de cortar custos com correios para envio de materiais e
telefone para debates sobre os trabalhos científicos.
Quanto ao uso das TICs em termos de serviços de comunicação
oferecidos, os que receberam maior percentual de avaliação como muito relevante
e relevante foram o e-mail (98,1% de 1140 respostas) e as listas de discussão
(42,4% de 941 respostas), meios assíncronos e que exigem pouco uso de dados da
rede. Os serviços que envolviam comunicação direta, em tempo real ou que
exigiam maior largura de banda, foram avaliados como pouco relevantes e
irrelevantes por grande parte dos respondentes, tendo os seguintes índices de
rejeição: salas de chat (92,3% de 808 respostas), teleconferência (79,7% de 793
respostas), IRC47 (90,8% de 586 respostas) e newsgroup (79,2% de 776
respostas). A participação direta, com recebimento e transmissão de informações
em listas de discussão e chats foi considerada pequena, 21.5% dos respondentes.
Apesar da baixa diversidade de recursos utilizados no início da década
para comunicação interpessoal, a internet era a primeira fonte de informação para
61,5% dos respondentes para uma busca inicial de um tema, seguida pela
47 O IRC, sigla para Internet Relay Chat, é um protocolo de comunicação via internet, ao modo do conhecido HTTP, só que utilizado para salas de bate papo, conversas privadas e troca de arquivos. Foi criado na Finlândia em 1988 e amplamente utilizado nos anos 90 através de programas que serviam para acessar os servidores que faziam uso do protocolo. O manejo das salas, como criação e convite de pessoas, era feito principalmente através de comandos em formato de texto.
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 136
biblioteca com 22,7%. A maioria também disse privilegiar os recursos eletrônicos
(quase 800 respondentes) em comparação aos que usam somente o impresso
(cerca de 250 respondentes) e os dois simultaneamente (cerca de 200
respondentes). As diferentes modalidades de acesso a documentos eletrônicos
estavam equilibradas em termos de relevância, somando-se as categorias muito
relevante e relevante: bibliografias (89,1% de 980 respostas), bases de dados
(85,9% de 965 respostas), sites de eventos (83,7% de 989 respostas), bibliotecas
virtuais (81,9% de 977 respostas). A pesquisadora enfatizou que as respostas
podem se misturar, visto que na rede os diferentes recursos se mesclam, como
certas bibliotecas virtuais que também possuem bases de dados e catálogos de
bibliografias.
Logo, esta pesquisa evidenciou um amadurecimento progressivo da
comunidade científica brasileira no uso de recursos eletrônicos já bem
incorporados no cotidiano dos pesquisadores, embora estejamos falando da
primeira parte da década de 2000, em que o predomínio dos usos estava em listas
de discussão e e-mails, com o acesso a sites de eventos, revistas científicas online
e bases de dados online ainda em plena expansão.
3.2.1 Considerações sobre os estudos entre os anos 2000 e 2005
O início dos anos 2000 ainda mostra que embora a internet estivesse
avançando a passos largos, a variedade de usos por parte dos acadêmicos ainda
estava sendo baixa, muitas vezes se limitando a tarefas como envio de e-mails,
participação em listas de discussão, uso de processadores de texto e planilhas
eletrônicas. Os serviços ligados a protocolos como FTP, IRC, Gopher diminuíam
e davam espaço ao uso predominante da internet através do protocolo HTTP, com
suas páginas reunindo serviços antes espalhados em outras aplicações. Dessa
forma, o problema de reunir as buscas em um só lugar, evidenciado nas pesquisas
dos anos 90, era resolvido pelas buscas em motores de larga escala de penetração,
como o Google, o Altavista e o Yahoo.
Limitações técnicas e de acesso eram frequentes, pois em países que não
faziam parte do eixo dos países desenvolvidos ainda faziam-se investimentos
iniciais para o acesso, com os acadêmicos apresentando consequentemente menor
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 137
experiência de uso e menor diversidade de aplicações acessadas, até mesmo pela
falta de conhecimento das mesmas. O Brasil encontrava-se no meio termo, com
alto índice de uso diário, mas com pouca diversificação, especialmente em
aplicações síncronas (chats) e de alto consumo de largura de banda
(teleconferências e aplicações multimídia em geral).
O momento da carreira, a geração a qual pertence, a área de estudo do
acadêmico, a infraestrutura oferecida na universidade, o momento em que o
acadêmico está em sua formação (graduação, mestrado e doutorado) são fatores
estudados e que influenciam o acesso e uso da internet, pelas próprias
necessidades e demandas que cada um desses fatores condiciona. Logo, estudar o
computador e a internet isoladamente não é eficaz para se entender sua adoção
pelo acadêmico e localizar o sujeito em seu contexto pessoal, profissional e social
se torna fundamental em qualquer pesquisa.
Um fato interessante nos estudos de Junni (2007), Barret (2005) e George
et al. (2006) foi a constatação de que os acadêmicos de ciências humanas estão já
nesse período familiarizados com a internet e o computador, não sendo mais os
usos como fonte de busca de informação uma especialidade das ciências exatas.
Porém, a especificidade da área de humanas, com pesquisas que necessitam
muitas vezes de materiais que só se encontram impressos ou em ambientes
afastados da universidade acabam por limitar certas pesquisas usando a internet
como fonte, pela falta de digitalização desses materiais. Talvez com o tempo a
digitalização dos materiais mais antigos aumente e essa especificidade não fique
mais tão evidente.
Os estudos de Junni (2007) também mostraram que antes de substituir a
busca de materiais físicos, as busca em bases de dados na internet se tornaram
complementares e mais intensas quando se referem a materiais mais recentes e em
revistas científicas, diminuindo a média de idade das referências bibliográficas. É
uma época em que tablets para leitura de livros ainda não existiam, sendo a leitura
em tela do computador algo desconfortável. Logo, o equilíbrio entre o acesso ao
impresso e ao online é a tônica dos hábitos de pesquisa dos acadêmicos.
Quanto aos modos de busca, a técnica do encadeamento de citações
(citation chasing) como atalho frente a pesquisas que resultariam em muitas
referências e poderiam gerar confusão e perda de tempo é algo que foi
potencializado pela internet, pela facilidade de buscar e acessar documentos
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 138
rapidamente no próprio computador e também pelo próprio aumento exponencial
do número de materiais disponíveis.
Tal fato não impediu o relato de ajuda humana, como professores,
orientador, bibliotecários, colegas de classe e grupo de pesquisa, em geral as
pessoas mais próximas dos pós-graduandos. Assim, a internet entra como
complemento na delimitação do campo de pesquisa, não tomando lugar de
documentos impressos que também sejam centrais, como livros de referência. O
que percebemos então é uma forte inter-relação entre os meios humanos, físicos
(materiais) e eletrônicos, um levando ao outro de forma circular durante o período
de busca e uso de referências. Talvez a tendência, com o passar do tempo, seja o
domínio dos meios eletrônicos com o aumento e abrangência dos acervos e sua
disponibilidade em computadores móveis de fácil leitura.
O estudo de George et al. (2006) evidenciou que independente da área de
atuação, o contato com pesquisadores externos pelos pós-graduandos ainda era
baixo, aumentando somente com o avanço no curso de doutorado, não sendo um
problema somente da área de humanas em que pesquisas em geral são solitárias.
Já no Brasil, Pinheiro (2003) evidenciou que para os pesquisadores mais
experientes, já tendo passado pelos cursos de pós-graduação, a troca com os pares
era essencial e foi relatada por boa parte dos entrevistados, o que evidencia que o
momento da carreira e a experiência acumulada condiciona comportamentos de
busca da informação e comunicação entre os pares.
Embora já mais consolidada em acesso, as TICs ainda geravam problemas
para serem acessadas plenamente nas universidades, mostrando a necessidade de
cursos mais eficazes para a formação do pós-graduando em assuntos como busca
da informação e seleção de materiais. Já nos pesquisadores experientes (com
maior tempo de acesso e contato com computador e internet), em locais com
menor investimento em TICs, o problema era mais relacionado à falta de
infraestrutura e suporte técnico, pois quanto ao acesso aos recursos de pesquisa
esses já estavam incorporados no dia a dia dos mesmos.
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 139
Quadro 5 - Tendências nos usos de TICs por acadêmicos no início dos anos 2000.
3.3 Anos 2006-2010: as rotinas básicas de pesquisa permanecem
Ainda nos estudos sobre busca de informação e comunicação entre
acadêmicos, Lopes & Silva (2007) realizaram, no Brasil, uma pesquisa com 324
docentes e pesquisadores de pós-graduação da Universidade Federal de Santa
Catarina, envolvendo 50 cursos de mestrado e 34 cursos de doutorado, nas áreas
de Ciências Exatas e da Terra, Ciências Humanas e Sociais e Ciências da Vida. A
novidade no estudo foi o trabalho com o conceito de desintermediação,
“considerada como a ausência de intermediários entre os recursos de informação e
os pesquisadores” (p. 21), sendo o acesso via internet a recursos informacionais
em formato eletrônico o principal responsável por este processo.
O perfil dos pesquisadores era de maioria masculina (66,7%), com 50% na
faixa acima de 40 anos de idade e 89,5% trabalhando vinculados em tempo
integral (dedicação exclusiva) à UFSC, sendo todos doutores formados na década
de 90. O estudo foi realizado através de um questionário contendo 20 questões
Tendências no início dos anos 2000
Acesso via navegadores de internet se consolida
Buscadores genaralistas, como o Google, crescem e se tornam complementares
Ainda existe o predomínio do e‐mail e listas de discussão
Apesar do crescente acesso, os acadêmicos se concentram em recursos básicos
Ciências humanas se igualando aos usos das exatas
Serviços online se consolidam frente ao acesso presencial na biblioteca, mas em equilíbrio.
A infraestrutura ainda é preocupação, especialmente a largura de banda e equipamentos em países não desenvolvidos.
A formação para uso dos recursos através da instituição ainda permanece deficitária e recebe crítica dos pós‐graduandos
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 140
(abertas e fechadas) para coleta de dados, que foi enviado por e-mail ou entregue
de forma impressa.
A primeira opção no percurso de busca da informação foi a internet,
seguida pela biblioteca particular e depois pelas bibliotecas centrais e setoriais da
universidade. A proximidade física e a disponibilidade foram apontadas como
fatores determinantes para a escolha das duas primeiras opções. A falta de
recursos destinados ao sistema de bibliotecas e a obsolescência do acervo foram
apontados como problemas, levando 22,2% dos respondentes a um uso esporádico
da mesma.
Apesar de tais problemas, os pesquisadores relataram recorrer à biblioteca
para busca de periódicos científicos seguido pela busca de livros e uso das bases
de dados. Há um uso simultâneo dos formatos impresso e digital na busca de
informação. Para 51,5% o formato eletrônico era o preferido, seguido por 44,1%
que preferiam o impresso e somente 4,4% preferiam ambos. Isso mostra uma forte
polarização entre os meios e uma transição lenta para o formato eletrônico. A
acessibilidade, seguida pela praticidade e agilidade, fatores de ordem pessoal,
foram decisivos nessa escolha por formatos.
Na busca da informação os colegas e membros do grupo de pesquisa foram
indicados como primeira opção de mediadores, seguidos por colegas de outras
universidades, evidenciando a importância das fontes humanas, em especial
aquelas que estão mais próximas. Os bibliotecários tiveram índice baixo de
solicitação (o maior foi entre os pesquisadores de ciências humanas e sociais),
mostrando o ocultamento dessa categoria como mediadores diretos e que
proporcionaram, com o passar do tempo, uma maior autonomia para os
pesquisadores via uso de recursos eletrônicos em bancos de dados online. Isso se
reflete quando foram perguntados sobre recursos informacionais indispensáveis e
apontaram as bases de dados com texto completo e os portais de pesquisa online.
Mantendo a tendência dos anos 90, o e-mail foi o recurso mais utilizado
pelos pesquisadores, seguido pela consulta a revistas eletrônicas e bases de dados
online. Já as listas de discussão e demais recursos tiveram índice baixo, mostrando
ainda a pouca diversificação no uso da internet pelos acadêmicos. Quanto à
finalidade para 65,4% dos respondentes a internet serve principalmente para
comunicação e 22,2% para levantamento bibliográfico, coerente com os recursos
mais utilizados pelos mesmos. Surpreende o baixo índice de respostas para a
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 141
circulação de pre-prints e para o envio de trabalhos a periódicos e eventos
científicos, levando a crer que a internet é altamente associada à comunicação
informal pelos pesquisadores da UFSC.
Com o avanço do acesso à internet não surpreende o acesso diário por
81,8% dos respondentes. Somente 0,9% declararam não usar internet. Nos
serviços de bases de dados online, o maior acesso foi ao Portal Capes, que na
UFSC reúne diversos bancos de dados como Web of Science, Institute for
Scientific Information, Elsevier/Science Direct, Medline e Scielo.
Seguindo resultados de estudos anteriores já referenciados neste capítulo, a
infraestrutura foi apontada por 33,3% como fator que dificulta o acesso à internet,
seguido pelo suporte técnico para 21,3%. Fatores que dependem do empenho
pessoal (dificuldade devido à língua e falta de habilidade de uso) foram
insignificantes. Já quanto à relação de uso da internet como opção preferida para
busca de informações não houve correlação significativa para faixa etária, regime
de trabalho e área de atuação, contrariando pesquisas feitas anteriormente que
mostravam gaps geracionais e também diferenças entre áreas de atuação. Isso
demonstra que a penetração da internet nas buscas está rapidamente se difundindo
e se normalizando como suporte padrão independente de idade e área de pesquisa.
Também não houve diferença entre as áreas de atuação quanto ao acesso
aos bancos de dados online oferecidos pelo sistema de bibliotecas da UFSC,
mostrando mais uma vez que a equalização do acesso entre as áreas está atingindo
um alto grau de amadurecimento. Por outro lado, o estudo ainda detectou que a
área de ciências humanas de sociais sofria mais com as barreiras de acesso de
infraestrutura, faltando equipamentos e suporte técnico a estes pesquisadores, algo
que não era relacionado com o perfil, mas com as condições de entorno.
Como reflexão geral dos autores, seguindo as tendências dos estudos
anteriores, foi recomendado aos bibliotecários divulgarem com maior precisão
seus serviços e ajudar no treinamento de seus usuários pesquisadores, formando-
os para que sejam competentes em lidar, avaliar e detectar necessidades de
informação. O investimento em interfaces mais amigáveis para os serviços
oferecidos também foi recomendado, visto que nem todos são experts no uso da
informática e do computador. O papel, portanto, da biblioteca, se torna oculto na
seleção e disseminação da informação para quem usa seus serviços, cada vez mais
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 142
presentes em formato eletrônico, embora não dispense a manutenção do acervo
impresso, gerando o que os autores chamam de biblioteca híbrida.
O estudo de Aqil & Ahmad (2011), embora mais simples quanto a
formulações teóricas sobre os resultados obtidos, pode nos trazer algumas ideias
sobre a adoção da internet entre acadêmicos e pós-graduandos na Universidade
Aligarh Muslim (AMU), na Índia. A universidade foi fundada em 1920 e conta
com 250 cursos, sendo caracterizada como laica e aberta e todos os tipos de
estudantes. É preciso lembrar que na Índia em 2010, segundo dados do Banco
Mundial, a internet atingiu a taxa de penetração de apenas 7,9%, mostrando que o
país ainda possui forte desigualdade de acesso e infraestrutura precária.
O estudo dos autores, ambos bibliotecários, foi identificar as preferências
no uso da internet, especialmente os tipos de serviços usados e as fontes de
informação acessadas, questionando o grau de dependência e satisfação com estes
serviços. Foram distribuídos questionários ao público-alvo da pesquisa e
retornaram 91 respondentes.
Os locais de maior acesso são aqueles presentes na própria universidade,
sendo em primeiro lugar a biblioteca universitária com 43,7%, depois o próprio
Departamento (33,7%), o laboratório de informática (12,6%) e por último o cyber
café (9,9%). Nota-se, pelo menos entre os locais declarados, que o acesso em
meios individuais ainda não é padrão entre os acadêmicos e pós-graduandos
respondentes.
Entre as finalidades de uso, o estudo mostrou que em primeiro lugar está a
pesquisa (51,2%), seguida pelas atividades de comunicação (19,5%), se manter
atualizado (16,4%) e desenvolvimento profissional (12,8%). Sobre o acesso para
pesquisa, cinco bases de dados foram relatadas como as principais acessadas,
estando em primeiro lugar a J-Gateway (45%) e a Science Direct (20%).
Importante notar que o estudo não evidenciou usos relacionados ao
entretenimento e lazer pessoal, mas como o questionário não constava no artigo,
não foi possível saber se fazia parte das opções de resposta.
Quanto perguntados sobre a fonte de informação que mais os satisfazia,
para 46% era a internet, seguida pelos periódicos e revistas científicas (32,9%).
Bem distante apareciam os jornais (13,1%) e os colegas e amigos (3,3%). Para
30,8% dos respondentes a internet preenche de 50 a 100% de suas necessidades de
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 143
informação quando comparada aos meios impressos e para 48,4% os meios
digitais preenchem de 26 a 50%. A internet também foi bem avaliada quanto ao
seu uso para objetivos acadêmicos, pois para 39,6% o uso era alto e para 52,7%
era médio. A satisfação com os meios eletrônicos, quando comparados aos
impressos, era muito alta para 15,4%, alta para 45% e média para 39,6% dos
respondentes.
Quanto aos obstáculos para utilização da internet se destacaram: a
velocidade lenta (47,7%) e a falta de computadores disponíveis (18,5%). Mais
uma vez este estudo apontou que as carências eram estruturais e não de falta de
domínio ou conhecimento de como utilizar as TICs na universidade, ao contrário
dos estudos com graduandos que mostram muitas vezes a necessidade de
formação e maior conhecimento sobre os recursos disponíveis online.
O que se conclui com este estudo é que apesar da Índia ainda possuir
problemas estruturais, o uso da internet passou a ser a principal forma dos
acadêmicos e pós-graduandos obterem informações científicas, especialmente
pelo acesso a periódicos eletrônicos, sendo necessária a resolução de barreiras
referentes à qualidade do serviço prestado, como compra de equipamentos novos
e aumento da velocidade de acesso. No geral o que se percebe é que os meios
impressos estão cedendo seu lugar aos meios eletrônicos, porém os tipos de
materiais acessados continuam sendo as tradicionais revistas científicas (os outros
formatos não foram detalhados no artigo dos autores).
É justamente o detalhamento do uso de revistas científicas eletrônicas que
o estudo realizado por Khan & Ahmad (2009) na mesma Universidade Aligarh
Muslim (AMU) e na vizinha Universidade Hindu Banaras (BHU) se aprofundou,
a partir da constatação do aumento dos mesmos e a substituição gradual das
revistas em formato impresso ao longo da década. Nele os autores objetivaram
entender o uso de revistas científicas eletrônicas pelos acadêmicos pesquisadores,
que responderam a um questionário entre os meses de outubro e novembro de
2007, 246 sujeitos na AMU e 232 na BHU.
Um percentual bem alto de acadêmicos estava consciente da existência dos
periódicos eletrônicos, 89,8% na AMU e 94% na BHU, sendo os locais mais
utilizados para acesso a biblioteca central da universidade, depois o laboratório
central de informática, os computadores do próprio departamento e por último o
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 144
cibercafé. Mais uma vez não foi relatado acesso em casa, talvez pela inexistência
do recurso de acesso remoto.
Entre os propósitos de uso estava o estudo para desenvolver trabalhos de
pesquisa (90%), a atualização de conhecimentos (84,4%), a escrita de artigos
(74,9%) e por último o desenvolvimento da própria carreira (48,9%). Foi
interessante notar o alto nível de frequência de consulta aos periódicos
eletrônicos, que para 51,8% dos respondentes era acessado diariamente e 2 a 3
vezes por semana para 23,5%. Isso mostra a integração e o acesso à internet
fazendo parte do cotidiano de pesquisa da grande maioria dos cientistas.
Para se informar sobre a existência das revistas eletrônicas, a maioria disse
que foi através dos periódicos impressos (84,3%) e pelos colegas próximos
(73,4%), o que surpreende, pois a internet só aparece em terceiro lugar com o
índice de 60%. Dessa forma percebe-se que a ida do pesquisador à biblioteca traz
novas informações, assim como a conversa com os colegas de trabalho e pesquisa,
para acessar posteriormente na internet as novas revistas eletrônicas sugeridas e
encontradas. Esse dado mostra uma complementariedade, ainda existente, entre os
meios impressos que levam aos digitais, talvez pela grande quantidade de
materiais ainda não digitalizados ou simplesmente pelo hábito dos acadêmicos de
ir ao encontro de fontes impressas.
Embora o uso dos periódicos eletrônicos seja alto entre os respondentes, o
grau de satisfação não foi absoluto. Somando-se as respostas de altamente
satisfeito (19%) com satisfeito (42,5%) chega-se a um total de 61,5%. As razões
para a insatisfação não foram mapeadas no estudo. Apesar disso, quando
perguntados sobre a utilidade dos materiais eletrônicos em seus trabalhos de
pesquisa, as respostas para muito útil (50,8%) e útil (31,6%) somaram 82,4%,
indicando que a aplicação dos periódicos eletrônicos é alta entre os pesquisadores
investigados. Para se chegar aos artigos e aos periódicos os motores de busca
Google (92,7%), Yahoo (74,5%) e Altavista (42,8%) eram os mais utilizados,
muitas vezes de maneira simultânea, provavelmente para se reverificar resultados
ou pelas funcionalidades específicas de cada buscador.
E para finalizar, o estudo confirmou a baixa qualidade da infraestrutura nas
duas universidades indianas. Entre os principais obstáculos relatados pelos
respondentes para acessar os periódicos eletrônicos estava o número limitado de
computadores (87,3%) e a baixa velocidade da conexão para downloads (92,2%).
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 145
Por outro lado, a economia de tempo (67,6%) e a facilidade de uso (52,6%) e de
localizar os materiais (33%) foram apontadas como motivos para a escolha dos
periódicos eletrônicos, o que compensaria as dificuldades apontadas. No estudo
também foi constatado que os acadêmicos sentem ainda a falta de conhecimento
técnico mais apurado (64%) e de treinamento no uso dos periódicos (79%), o que
exigiria da universidade a realização de cursos para formação mais aprofundada
para o uso de suas bases de dados.
O estudo então aponta que embora as dificuldades técnicas ainda sejam
grandes em países menos desenvolvidos como a Índia, com baixo acesso à
internet e conexões mais precárias, a utilidade e facilidade do acesso eletrônico às
bases de dados mantém os pesquisadores cada vez mais “dependentes” dos meios
eletrônicos. Como em alguns dos estudos analisados até o momento, é preciso
desenvolver uma formação mais adequada aos acadêmicos para esse uso, visto
que com o avanço desta modalidade de acesso a tendência é que o uso de
periódicos impressos seja realizado muito mais para levantamentos de dados
históricos de uma disciplina do que para atualização da produção mais recente.
Partimos então para o estudo a seguir, que confirma essa tendência quanto aos
formatos tradicionais em novos meios, evidenciando que a “forma padrão” do
trabalho acadêmico se mantém, apesar do surgimento de novos tipos de fontes
online.
Trabalhando também com pós-graduandos, mas acompanhando o período
inicial de seus cursos de doutorado na Universidade de Hong Kong, Kai-Wah Chu
& Law (2007) realizaram um estudo com 12 sujeitos, 3 homens e 3 mulheres na
área de Educação e 3 homens e 3 mulheres na área de Engenharia, visando
comparar efeitos de cada área nas escolhas de fontes de informação.
O objetivo foi realizar um acompanhamento longitudinal para perceber a
importância e o entendimento sobre diferentes tipos de fontes de pesquisa ao
longo do tempo, indo da fase em que o pós-graduando é um novato até o
momento em que amadurece e se torna especialista em busca de informações.
Foram utilizados diferentes meios de coleta de dados, como entrevistas,
questionários e observação direta ao longo de 1 ano, com seis encontros, um a
cada 2 meses.
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 146
Em três momentos da pesquisa os pós-graduandos preencheram um
questionário com 26 tipos de fontes de informação, atribuindo notas de 1 a 5 de
acordo com a importância de cada um. Os 15 primeiros colocados foram: as
revistas científicas (4.7), os artigos de revisão de literatura (4.6), o orientador
acadêmico (4.5), os livros (4.3), as bibliografias (4.1), o autor do estudo (3.9), os
especialistas externos (3.9), as publicações de eventos (3.8), conferências
assistidas (3.8), teses (3.7), guias de escrita de tese (3.5), empréstimos
bibliotecários (3.4), outras bibliotecas locais (3.2) e bibliotecários de referência
(3.1).
O que se percebe é um predomínio de fontes formais e tradicionais usadas
na pesquisa, todas nas primeiras colocações, sendo que os artigos científicos estão
em primeiro lugar, seguindo a tendência do aumento da disponibilidade dos
mesmos pelos meios digitais. As fontes-pessoas, como orientadores e
especialistas, continuam em alta, confirmando o que estudos anteriores apontaram
como espécies de atalho para encontrar fontes mais precisas, assim como a
consulta a bibliografias e revisões de literatura como técnica de citation chaining.
A biblioteca está em posição intermediária acompanhada pelos eventos
científicos.
Na segunda metade, os meios menos utilizados são: os relatórios técnicos
(2.6), os grupos de discussão online (2.5), as publicações governamentais (2.4), os
livros de estudo durante o doutorado (2.3), as fontes estatísticas (2.3), os
documentos de padronização (2.3), as revistas (2.3), os jornais (2.1), as revistas
técnicas (2.1), as enciclopédias (2.1) e as patentes (1.8). Dessa forma, embora em
menor intensidade, esses meios ainda são bem equilibrados entre si e mostram
uma diversidade alta de tipos de fontes, incluindo as fontes não tradicionais, como
fontes jornalísticas e os grupos online para debate e discussão de assuntos. De
modo geral, o universo de pós-graduandos se mostrou tradicional com pequenos
focos de inovação trazidos pelo acesso a bancos de dados digitais, mas sem os
novos recursos informacionais gerados na Web 2.0.
As fontes foram agrupadas por Kai-Wah Chu & Law (2007) em 6
categorias distintas, sendo que as mais destacadas foram: Fontes orientadas à
pesquisa, Comunidade de pesquisadores e Suporte bibliográfico. As Fontes
profissionais, os Livros de ajuda acadêmica e as Fontes midiáticas e estatísticas
vieram na segunda metade, como menos utilizados. Logo, fontes tradicionais
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 147
como artigos científicos, teses e livros, assim como as fontes-pessoas como os
colegas de pesquisa, especialistas, bibliotecários, conferencistas e orientador estão
no topo das opções dos pós-graduandos. As outras são consultadas em menor
intensidade provavelmente para necessidades pontuais para composição do
estudo.
Ao longo do tempo, com o passar dos encontros realizados com os pós-
graduandos, categorias como Fontes midiáticas e estatísticas e Fontes
profissionais apresentaram queda de importância ao passo que Suporte
bibliográfico e Fontes orientadas à pesquisa aumentaram em importância. Entre
as causas para esta variação nas fontes consultadas os autores do estudo citam a
(1) falta de conhecimento, no início, de quais fontes seriam as mais relevantes, (2)
a habilidade em buscar as informações necessárias e (3) as mudanças nas
necessidades de estudo com o passar do tempo.
Muitas fontes não eram conhecidas em seu potencial no início do curso de
doutorado, por falta de conhecimento, e outras perderam importância, como os
artigos com revisão de literatura, as revistas técnicas e os livros de introdução ao
tema, após o doutorando ter se situado bem no campo de estudo e ter começado a
ir em artigos mais específicos. Dessa forma, o movimento de progresso do
doutorando vai do conhecimento geral do assunto escolhido, traduzido nos tipos e
qualidade de fontes que consulta, até o grau de especialista, objetivo este último
que se traduz na tese apresentada.
A busca por informações mais atuais possíveis se torna então muito
importante para o doutorando, se traduzindo na busca de artigos de revistas e de
eventos científicos como prioridade número um, seguida pelos outros tipos de
fontes, a exemplo dos livros e teses que possuem informações de embasamento,
mais sólidas que fontes midiáticas (jornais e revistas), porém um pouco menos
atualizadas que os artigos.
O estudo constatou também diferenças entre a área de engenharia e de
educação, especialmente quanto às necessidades de informação na área de estudo
escolhida que condicionam as fontes, a exemplo do maior uso de relatórios
técnicos e patentes entre os doutorandos de engenharia, visto que suas descobertas
refletem no campo profissional de maneira muito mais rápida. A autonomia do
doutorando em escolher seu tema também foi decisiva, sendo maior na área de
educação, que possui maior número de pesquisas independentes, do que na de
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 148
engenharia, onde os assuntos estão intimamente ligados à pesquisa do orientador e
ao orçamento recebido.
Um exemplo da relação tema-fonte de informação é a natureza mais
internacionalizada dos estudos de engenharia, que procuram consensos
tecnológicos globais ou soluções técnicas que precisam ser buscadas e
compartilhadas, o que leva os doutorandos a usarem mais os grupos de discussão
online, com avaliação média de 3.4 pontos, do que os de educação, com avaliação
média de 1.6 pontos. Outro exemplo é que no campo da educação estar a par das
notícias na mídia (jornais e revistas) é importante na compreensão de tendências
da sociedade, tendo alcançado média de 2.6 pontos, algo não muito relevante para
os pós-graduandos em engenharia que avaliaram com 1.6 pontos a importância
desses meios.
Dessa forma a pesquisa de Kai-Wah Chu & Law (2007) teve como mérito
a sua metodologia, pois ao contrário de todos os estudos relatados até aqui, os
autores optaram por não fazer somente uma “fotografia” de um momento
determinado dos pós-graduandos e nem misturar os sujeitos de diferentes períodos
de realização de suas pesquisas de tese. A visão longitudinal permitiu perceber as
mudanças de valorização de determinados tipos de fontes para outros tipos de
acordo com o andamento da pesquisa, evidenciando um movimento mais
dinâmico dos pesquisadores em um fluxo em que fatores como a necessidade de
informação, a área de atuação e estágio de maturidade da pesquisa vão
determinando os tipos mais acessados. A exemplo de outros estudos analisados
aqui, os autores recomendam uma personalização da formação dos doutorandos,
com ênfase nos tipos de fontes mais utilizados em cada área de pesquisa.
3.3.1 A internet e o computador entre os graduandos
Embora o foco nesta tese sejam os pós-graduandos, o estudo de Pimentel,
Carniello & Santos (2009) com estudantes de graduação nos oferece uma visão
bem atual sobre a formação universitária recebida para o uso de fontes acadêmicas
e não acadêmicas, visto que a coleta de dados ocorreu em fevereiro de 2009,
período em que, supõe-se, a internet e o computador já estão consolidados no
cotidiano dos universitários. Participaram do estudo 590 estudantes de uma
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 149
universidade em Taubaté, no Vale do Paraíba em São Paulo. Eles responderam a
um questionário que posteriormente deu origem a uma análise quantitativa dos
dados.
Quando solicitados a responder sobre o uso da internet como fontes de
consulta para estudo e pesquisa, 99% apontaram a utilização, sendo que para 90%
a consulta era realizada sempre e para 10% ocorria ocasionalmente, indicando alto
nível de utilização e frequência. Cerca de 28% consultavam sempre e 56%
ocasionalmente os livros próprios, um percentual alto, mas que não superava a
consulta à biblioteca universitária, visitada sempre por 41% e ocasionalmente por
49%.
Cerca de 33% nunca consultaram revistas científicas para seus estudos e
pesquisas e somente 16% as consultavam sempre, o que mostra a falta de
conhecimento dos estudantes sobre este meio de divulgação acadêmica. Quando
aos jornais e revistas jornalísticas impressas os percentuais foram muito parecidos
com o de consulta às revistas científicas, evidenciando que antes da falta de
conhecimento sobre a existência das mesmas, outros fatores estavam envolvidos,
como a agilidade de consulta às fontes digitais em comparação com o trabalho de
folhear as publicações na biblioteca. Dessa forma, a internet se destacou como
meio mais acessado pelos estudantes na busca da informação, seguido pela
biblioteca e pela consulta a livros próprios.
Quanto aos tipos de textos usados no estudo e pesquisa em primeiro lugar
vinham os capítulos de livros (421 respostas), algo coerente com as fotocópias tão
comuns entre os estudantes, e em segundo lugar surpreendia a categoria artigos
científicos (323 respostas), seguida pelos artigos jornalísticos em revistas (319
respostas). As notícias jornalísticas na internet, em portais online, somavam 297
respostas e os verbetes em enciclopédias online tinha 226 respostas. Dessa forma,
percebe-se um equilíbrio entre as modalidades de textos consultados, porém não
se sabe até que ponto os estudantes sabiam de fato distinguir artigos de revistas
científicas dos artigos de periódicos jornalísticos.
Para encontrar essas fontes, 386 estudantes afirmaram utilizar o motor de
busca Google, seguido em menor proporção por outros motores como Yahoo e
Cadê. Apenas 46 relataram utilizar a busca pelo Scielo, o que evidencia que o alto
uso de artigos científicos afirmado por eles talvez não seja compatível com o
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 150
conceito de revista científica utilizado pelos pesquisadores profissionais e mais
atrelado às revistas jornalísticas de divulgação científica.
Por outro lado, um número alto de respondentes afirmou conhecer o Portal
de Periódicos da CAPES (127 respostas), mas não se traduzia em visitas e
consultas práticas aos artigos das bases de dados presentes no site. O site do
Google para consulta de artigos científicos, o Google Acadêmico, era conhecido
por 238 estudantes, o que se configura um possível atalho fora das bases de dados
assinadas pela biblioteca, visto que somente 126 estudantes relataram conhecer o
Scielo. Outros sites bem conhecidos dos estudantes eram o Universia Brasil (242
respostas) e o IBGE (393 respostas), mas são secundários para realização de
pesquisas acadêmicas.
Os usos da internet eram multifacetados para os universitários, sendo que a
atividade de lazer era praticada sempre por 74% deles e nunca por apenas 2%. O
uso para o trabalho era sempre para 58% e ocasionalmente para 27%. Já para o
estudo 74% a usavam sempre e somente 3% nunca. Dessa forma, ao contrário das
atividades relatadas pelos acadêmicos profissionais, o uso da internet pelos
estudantes brasileiros se configurava mais equilibrado, ou menos focado,
dependendo da interpretação.
O que se percebe nesse estudo é que o momento em que os estudantes
estão e as atividades solicitadas aos mesmos não exige o rigor e a atualização que
os pesquisadores de pós-graduação vivenciam em seu cotidiano, levando os
estudantes a trabalhar mais com as fontes tradicionalmente visíveis, como os
livros, ou as mais facilmente disponíveis como os websites da internet. Apesar
disso, seguindo a linha de outras pesquisas que detectaram esse problema, o
estudo recomenda dar-se maior atenção na formação do graduando para que se
alcance maior refinamento de informações, com estratégias que abarquem
diferentes tipos de fonte, com maior peso às que possuem caráter científico com
avaliação e controle de qualidade pelos pares.
Do mesmo modo que a pesquisa de Pimentel, Carniello & Santos (2009),
Selwyn (2008) nos oferece mais pistas sobre o universo dos graduandos e o uso da
internet com seu estudo feito na Inglaterra com 1222 estudantes de várias
universidades, durante o ano acadêmico de 2006/2007. O foco dele foram fatores
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 151
sociais como gênero, etnia, passado educacional e experiência com a tecnologia,
sendo distribuído um questionário de autopreenchimento.
É importante observar que a ordem cronológica dos estudos foi invertida
para que sejam feitos os comparativos com o caso brasileiro, pois os dois focam
os suportes digitais como novos meios para o acesso de informações acadêmicas e
cabe aqui apontar semelhanças e diferenças nas pesquisas.
A ideia do autor foi entender o uso real das tecnologias pelos estudantes e
não o que eles deveriam estar fazendo, partindo de uma visão de que o jovem não
é “naturalmente” guiado para o uso de TICs e nem de que o não-uso seria somente
consequência de alguma causa psicológica como ausência de motivação,
conhecimento da técnica ou de habilidade com a mesma. Ele observa que a maior
parte dos estudos se refere a um jovem que estaria inerentemente inclinado a fazer
buscas de informação via internet, abordando, portanto, a infraestrutura
universitária, os investimentos feitos para facilitar o acesso do universitário à
internet e dos programas de formação e avaliação crítica de fontes de informação.
O perfil dos respondentes era composto 57% por mulheres, 89% por
“brancos ingleses” e 99% pertencentes à própria Inglaterra, com média de idade
de 19 anos. As ciências sociais tiverem 30% de respondentes, as humanidades
tiveram 20%, administração 11%, ciências médicas 10%, direito 9%, ciências
naturais 8%, artes 5% e exatas e engenharia somavam 8%. Dessa forma a
amostragem era bem equilibrada e representava o estudante médio inglês.
Vejamos então os usos da internet pelos estudantes a partir da pergunta
sobre frequência de uso nos últimos 12 meses. Começando pelo recurso mais
utilizado temos o e-mail, 80% usavam o tempo todo e 17% algumas vezes. Para
comunicação os newsgroups, as salas de chat e os mensageiros instantâneos eram
utilizados o tempo todo por 64% e algumas vezes por 22%. As redes sociais e
autopublicações (blogs) vinham em terceiro lugar, sendo utilizadas, o tempo todo,
por 55% e às vezes por 23%. A busca por informações para estudos universitários
e tarefas vinha em terceiro lugar, sendo usada o tempo todo por 50% e as vezes
por 40%. Dessa forma o uso para atividades requeridas nos cursos era bem alto e
estava próximo à frequência de uso para atividades tipicamente de lazer social
(chats, redes sociais) e de comunicação (blogs, e-mails).
Uma série de outras atividades vinha depois com taxas menores de uso,
como a navegação a esmo na internet, a leitura de notícias, o uso de bancos
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 152
online, a compra de produtos, a busca de informações de lazer, os jogos
eletrônicos e downloads de programas e multimídia. Em último lugar estava a
participação em cursos online (EAD), com 4% participando o tempo todo, 11% as
vezes, 26% quase nunca e 59% nunca tendo participado. No caso inglês, a
disponibilidade de recursos complementares de educação online não era
suficientemente atrativa para os graduandos participantes do estudo.
O estudo também revelou que entre os graduandos que procuravam por
informações para seus estudos universitários e tarefas requisitadas em seus cursos,
os que tinham maior frequência de acesso eram os que possuíam equipamento
privado de acesso (frequência de consulta em 52%), em casa, por exemplo; para
os cerca de 10% dos respondentes só tinham acesso à internet no laboratório da
universidade e na biblioteca, a frequência de consulta era de 27%. Essas
diferenças se revelaram também entre os gêneros, sendo que as mulheres
acessavam mais frequentemente a internet para fins de estudo e tarefas dos cursos
(56%) do que os homens (46%).
Entre as áreas de saber, as menores taxas de acesso para esta finalidade
estavam entre os estudantes de humanidades (37%), artes e design (25%) e os de
arquitetura (37%). As ciências médicas apresentaram o índice mais alto, 59%,
seguido pelas ciências sociais (58%), mas a média entre os graduandos de outras
áreas se manteve próxima aos 50%. Idade, etnia e passado educacional não
tiveram influência nas atividades de busca de informações para estudos e tarefas
universitárias.
Dessa forma, enquanto os estudos com pós-graduandos tende a mostrar um
uso mais equilibrado entre os cursos universitários na busca e uso da informação
disponível na internet, principalmente após sua difusão e estabilização nos anos
2000, o estudo de Selwyn (2008) aponta que entre os graduandos a diferença para
finalidades acadêmicas continua existindo, ao menos entre os estudantes ingleses.
Uma hipótese para esta permanência é que a atividade de busca de
informação certificada em bases de dados online não se constitui um requisito
básico para cursos de graduação, sendo que materiais como livros, apostilas
distribuídas por professores e mesmo anotações feitas em aula são provavelmente
suficientes para a realização de tarefas acadêmicas requisitadas em áreas como
humanidades, artes e design e arquitetura.
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 153
Tal fato já não ocorre em cursos de pós-graduação, onde a obtenção de
fontes seguras e que representem o debate acadêmico, ao modo das revistas
científicas online, faz parte das tarefas requeridas aos pós-graduandos. O
momento em que o estudante se encontra (início de carreira) e a cultura própria ao
curso escolhido (materiais requeridos para realização das tarefas) seriam então
fatores decisivos para a escolha dos modos de busca de informação.
Gráfico 3 - Percentual de utilização da internet (1990-2010) nos países onde os estudos foram realizados (Fonte: Banco Mundial, Indicadores do Desenvolvimento Mundial. Google Public Data Explorer).
3.4 O que os estudos anteriores apontam? Entre a conservação e o avanço no uso dos suportes digitais
Uma reflexão sobre os estudos feitos até a presente data é que o modelo
geral de atuação do acadêmico, com a busca de fontes em revistas científicas,
livros, teses, eventos e materiais complementares não parece ter sido alterado de
maneira profunda pelo aparecimento da internet. As fontes cinza, como
documentos trocados pelos pesquisadores com resultados ainda precoces e não
publicados em meios oficiais, e os sites da internet, em que textos são publicados
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 154
pelos próprios donos ou grupo de visitantes, pouco foram citados ou relatados nas
pesquisas.
Dessa forma, os estudos revelaram que a produção coletiva da Web 2.0
não tem chegado aos índices de referências citadas pelos pós-graduandos, que
preferem a segurança do material tradicional, buscando-os em repositórios
certificados pelos pares tanto na internet como nas bibliotecas universitárias.
Do mesmo modo, conforme já havia concluído em pesquisa anterior
(Rosado, 2008), o acadêmico formal, com titulação de mestre ou doutor, também
não se torna um agente produtor direto de textos característicos da fase atual da
cibercultura, negociados de forma coletiva e abertos a todo tipo de editores,
mesmo que entre os graduandos tais fontes contemporâneas sejam acessadas e
utilizadas como referências, a exemplo da Wikipédia e dos blogs de maneira
geral. Talvez isso ocorra porque ao entrar no ambiente acadêmico da pós-
graduação esse mesmo graduando que antes acessava tais fontes “aprenda” que
elas não são confiáveis ou são somente pontos de partida para fontes certificadas e
com isso devem ser evitadas nas publicações científicas.
Logo, percebe-se que esse modus operandi do pesquisador parece ter se
mantido estável nestes últimos 20 anos, com a diferença fundamental de estar
sendo acelerado no caso da fase onde ocorre a pesquisa de dados, em que ocorre a
busca de informações em um campo delimitado de conhecimento, incluindo o
contato com outros acadêmicos via e-mails e outros recursos de comunicação
como em listas de discussão.
Essa aceleração se traduz também em quantidade de materiais utilizados e
referenciados nos estudos, especialmente os artigos científicos, mais fáceis de
serem encontrados e utilizados e com alto nível de credibilidade entre os
acadêmicos. A técnica de encadeamento de citações, que eu chamo de busca
circular em contraponto com a busca linear, foi acelerada de modo extremo pelos
suportes digitais, pois permite acesso imediato, incluindo o download dos
mesmos, através da checagem dos itens de referência bibliográfica.
Quanto aos meios digitais, o que ocorreu na prática foi uma diversificação
dos modos de acesso à informação produzida pelos cientistas, que servem então
para se chegar aonde antes o formato impresso predominava via biblioteca
universitária e livrarias. O que não ocorreu efetivamente foi a diversificação do
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 155
formato de tais fontes, mantendo ainda a estrutura artigos-revistas periódicas-
volumes anuais assim como a tríade dissertações-teses-livros.
Dessa forma explica-se o alto sucesso dos bancos de dados online, que
facilitam em velocidade, facilidade e comodidade a busca da informação pelos
acadêmicos. Curiosamente a busca guiada pelos orientadores e por colegas do
meio acadêmico (grupos de pesquisa, outros pós-graduandos), o “banco de dados
humano”, é citada como boa fonte de informação, visto que ajudam a selecionar
as fontes certas em meio a tantas referências disponíveis, especialmente pelo
aumento do número delas em formato digital. A tríade fonte humana-fonte
impressa-fonte digital parece então ser a tendência no uso para os próximos anos
por parte da comunidade de pesquisadores acadêmicos, pelo menos enquanto a
migração para o formato digital não tiver atingido um ponto em que somente os
materiais mais raros e muito antigos estarão preservados nas bibliotecas.
O mesmo aconteceu no campo da comunicação interpessoal e grupal, pois
o e-mail como novo recurso substitui as mensagens enviadas por correio físico
que serviam para manter o debate de materiais escritos em fase de elaboração, ou
seja, o colégio invisível dos pesquisadores. Este movimento, ao menos em seu
começo e agora parecendo estar em declínio incluiu também as listas de
discussão, especialmente para os pesquisadores que procuravam debates mais
globais em um campo de conhecimento, fora dos muros universitários locais, uma
forma mais ágil de manter trocas acadêmicas. Aceleram-se as atividades que antes
eram feitas por outras vias, embora a sua essência, como a busca de novidades,
trocas de materiais e dicas sobre o campo de estudo, continue a mesma.
Em contraste com as facilidades trazidas pela mídia eletrônica, ainda são
significativas na vida do acadêmico, embora em menor escala, as dificuldades de
ordem técnica e de infraestrutura, pois o formato eletrônico depende de todo um
conjunto de equipamentos de alta tecnologia e custosos, necessitando não somente
de aquisição, mas de manutenção e atualização constante. Essa dificuldade foi
mais acentuada nos estudos que envolviam países pobres e com baixa penetração
da internet, apresentando padrões de uso e dificuldades relatadas mais de 10 anos
antes em países ricos.
Dessa forma, percebe-se que existe um tempo local em comparação a um
tempo global, ou seja, é importante se verificar as condições locais de
infraestrutura, as adaptações alcançadas e a cultura acadêmica vigente, e não
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 156
somente os grandes movimentos de transformações globais, muitas vezes
centrados em fenômenos registrados em países ricos e com farta disponibilidade
de recursos tecnológicos avançados. A cibercultura chega, primeiro, a países com
infraestrutura.
A falta de formação do acadêmico para busca da informação também foi
citada em muitos dos estudos, o que leva a crer que cursos promovidos para este
fim devem existir o tempo todo, face às mudanças constantes nos softwares e
interfaces de pesquisa. Junto com as facilidades, os bancos de dados online trazem
o ônus da atualização contínua de hardware e software.
Os grupos mais jovens e, portanto, novatos em pesquisa, como graduandos
e mestrandos, sofrem mais com a falta de informação sobre as fontes online, o
que, através da prática da pesquisa ao longo do tempo, tende a ser menor entre os
doutorandos em estágio avançado, doutores formados e professores. O que se nota
é que a atividade científica possui seus macetes e para isso não basta estar em
contato com a internet, ser “nativo” em seu uso, mas saber onde a informação
pode ser buscada e qual tipo (formato) é mais valorizado nas atividades
desenvolvidas dentro do grupo acadêmico. Seria este somente um problema dos
bibliotecários, como muitos estudos apontaram a necessidade de se realizar
formação dentro das bibliotecas? Ou também dos professores dos cursos de pós-
graduação (e mesmo graduação) que pressupõem um conhecimento dos
estudantes sobre fontes de informação quando estes na verdade não os possuem?
Quanto à área específica de educação, o conjunto dos estudos mostrou que
de fato as áreas do saber se diferenciam quanto aos usos por fatores tais como
características de seus objetos de estudo, ambientes de trabalho e objetivos de
pesquisa. Porém as diferenças quanto ao acesso às TICs, evidentes nos anos 90
quando tendia mais aos acadêmicos de áreas tecnológicas e exatas, vem
rapidamente diminuindo e tendendo a se equalizar, à medida que a experiência de
uso e a disponibilidade de equipamentos aumentam.
O pós-graduando em educação, de maneira geral, tende a ter pesquisas
mais solitárias, sem os grandes financiamentos externos de empresas, portanto não
vinculadas a interesses imediatos de mercado e com menor participação em listas
de discussão e outros meios de debate globais. Quanto aos materiais utilizados, é
comum as pesquisas em humanas dependerem de materiais mais antigos, ainda
em formato impresso e com pouca probabilidade de serem digitalizados, a
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 157
exemplo de manuscritos, obras raras, documentos de registro, coleções, cartas
antigas, matérias jornalísticas e artigos científicos pioneiros, entre outros tipos.
Apesar disso, o acesso a bases de dados mundiais com artigos, teses e dissertações
favorece os estudos com referências bibliográficas mais amplas. Não podemos
também esquecer os movimentos subterrâneos de digitalização entre os próprios
pesquisadores que disponibilizam documentos para acesso e download, mesmo
que violando direitos autorais.
Por tudo isso, conclui-se que a atividade de busca de informação e uso dos
materiais eletrônicos não está condicionada simplesmente em função da chegada e
implementação das novas tecnologias de informação de comunicação no meio
universitário. A mudança deve ser acompanhada por uma lente que leve em
consideração os múltiplos fatores, como a idade do sujeito, o momento da
carreira, o momento dentro do curso que está fazendo, a área de atuação
escolhida, o tema de pesquisa que está envolvido, os interesses de mercado no
objeto de pesquisa escolhido, as relações que desenvolve dentro e fora da
universidade que pode isolar ou levar a grupos de trabalho amplos, as condições
estruturais de sua universidade e residência e também as condições econômicas e
políticas do país em que reside.
Algun
Quad
ajuda
uma
conju
acadê
pesqu
um f
capít
A
M
ns estudos e
dro 6 - Cons
Percebe-
ando o pesq
árvore de
unto de fat
êmicos. Ta
uisas com a
fator que foi
tulo de anál
Modelo
Estrutura
Segurança
Aceleraçã
Diversificaç
Ritmos d
Formação
As Ciências especif
ultidetermi
empíricos sob
siderações ge
-se então q
quisador e p
assuntos, aj
tores e env
ambém pod
a configuraç
i lembrado
ise dos dado
tradicional
as mantidas
a das fontes
o setorizada
ção do aces
diferentes
o deficitária
Humanas teficidades
inação dos u
bre os usos p
erais sobre o
que a tecn
pós-graduan
juda a escla
volvidos no
de ser obse
ção dos mo
durante a re
os obtidos.
•
•
•
•
•
•s
•a
•
•so
•
•a
•
•
•
em
•usos
por acadêm.
os estudos a
nologia entr
ndo em sua
arecer melh
os usos do
ervado ness
omentos de
ealização de
•O esquema gsofrido altercomputador
•artigos‐revis
•dissertações
•fonte human
•A autoria coentrando na
•Valorização
•A pesquisa das fases maisbancos de da
•O meio digitacesso às fon
•As fontes hu
•A infra‐estrucontinua sen
•É necessáriauso de tecno
•Pesquisas m
•Menor inter
•Fontes raras
•Necessidadedo pesquisad
do comp. e
anteriores
ra como p
a atividade.
hor esta mu
computado
sa árvore a
escrita e le
esta tese e s
geral de pesqações profundr.
stas periódicas
s‐teses‐livros
na‐fonte impr
letiva da fase s citações .
dos repositór
de dados e a cs aceleradas cados.
al trouxe umantes.
umanas contin
utura e sua mando problema
a formação cologias em con
ais solitárias.
esse do merca
s, antigas e do
e de olhar toddor e a institu
da internet
parte desse
O esquem
ultidetermin
r e da inte
a despreocu
itura dos ac
será melhor
uisa do acadêdas com a inte
s‐volumes anu
essa‐fonte dig
atual da inter
ios certificado
omunicação ccom a chegada
a diversificaçã
nuam sendo u
anutenção panos países m
continuada donstante modif
ado.
cumentos não
os os fatores eição de perte
158
conjunto,
ma a seguir,
nação, esse
ernet pelos
upação nas
cadêmicos,
r tratado no
êmico não parernet e o
uais
gital
rnet não vem
os tradicionais
com os pares fa da internet
ão dos modos
utilizadas.
ra o acesso à mais pobres.
os acadêmicosficação.
o digitalizado
envolvidos naença.
rece ter
s.
foram e seus
de
internet
s para o
s
a vida
Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 159
1. Uso do computador e internet a. Facilidade de uso b. Utilidade da tecnologia
2. Momento na carreira a. Carreira consolidada b. Carreira iniciante
i. Necessidade de novos cursos ii. Busca de contato com
especialistas iii. Busca de contato com instituições
3. Momento dentro do curso a. Especializado
i. Busca por fontes mais especializadas
b. Iniciante i. Necessidade de fontes mais
generalistas 4. Busca de informação
a. Técnicas de busca i. Acesso direto às estantes da
biblioteca ii. Citation chasing / chaining iii. Dica de fonte inicial importante iv. Busca geral sem foco
b. Recursos utilizados i. Bancos de dados online
1. Fechados (OPAC; Proquest; Medline) e Abertos (Google; Open access; open archives)
2. Catálogo bibliotecário online
3. Dificuldades técnicas de acesso
4. Desintermediação da informação
ii. Contato com pessoas próximas 1. Orientador 2. Professores 3. Colegas
a. Grupo de pesquisa
iii. Biblioteca física particular iv. Biblioteca física universitária
1. Livros / Teses e dissertações
2. Revistas impressas 3. Catálogos impressos 4. Multimídia 5. CD-ROMs
v. Apostilas e anotações de aula vi. Literatura cinza vii. Eventos, seminários e congressos viii. Outros tipos de documentos
físicos 1. Manuscritos originais 2. Obras raras 3. Documentos oficiais 4. Coleções
5. Formação do pós-graduando a. Pela biblioteca b. Pelos professores c. A política de formação institucional
6. Coleta de dados a. Quantitativa
i. Questionários b. Qualitativa
i. Entrevistas ii. Observação
c. Abrangência do público i. Universidade local ii. Várias universidades do país iii. Amostra internacional
d. Período i. Longitudinal ii. Fotografia do momento
e. Tipos de público i. Graduandos ii. Mestrandos iii. Doutorandos iv. Professores
7. Fatores sociais / ambientais a. Escolha pessoal
i. Área de pesquisa 1. Tecnológica 2. Humanas e sociais 3. Diferenças entre áreas
ii. Interdependência 1. Coletiva em equipes 2. Solitária
iii. Necessidade da informação 1. Rápida ou Lenta 2. Atual ou Antiga
b. Derivados da escolha realizada i. Interesses de Mercado
1. Pesquisas financiadas 2. Segredos de pesquisa
ii. Estrutura organizacional 1. Ambiente de pesquisa 2. Investimentos em TICs
iii. Tamanho do grupo 1. Poucos pesquisadores 2. Muitos pesquisadores
c. Derivados do contexto Econômico e Político i. País com forte investimento em
TICs ii. País com baixo investimento em
TICs 8. Comunicação científica
a. Formal i. Artigos científicos ii. Congressos e seminários iii. Grupo de pesquisa.
b. Informal i. E-mails ii. Listas de discussão iii. Newsgroups iv. Pre-prints v. Telefone e fax vi. Correios vii. Conversas com colegas e
professores 9. E a escrita? 10. E a leitura?
Quadro 7 - Principais assuntos presentes na revisão de estudos empíricos que influenciam nos usos da internet e do computador.
II. PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DA PESQUISA
4 Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países
Tentar compreender uma vida como uma série única e por si suficiente de acontecimentos sucessivos, sem outro vínculo que não a associação a um "sujeito" cuja constância certamente não é senão aquela de um nome próprio, é quase tão absurdo quanto tentar explicar a razão de um trajeto no metrô sem levar em conta a estrutura da rede, isto é, a matriz das relações objetivas entre as diferentes estações (BOURDIEU, 1996, p. 189-190).
Para compor este capítulo, recolhi alguns dados estatísticos sobre o
sistema de ensino italiano e brasileiro, de modo comparativo e aproximativo, e o
uso de mídias, pois esse é foco principal que propus neste estudo e caberia ao
leitor possuir uma visão “mais objetiva”, traduzida em números, do estado atual
do campo. Considero que o olhar geral é benéfico antes de entrarmos no olhar
mais específico que a modalidade de pesquisa qualitativa nos permite.
Em termos gerais, percebemos nos dados atuais expostos na tabela a seguir
que o Brasil se encontra em estágio de amadurecimento, tanto na média de idade
de sua população quanto em índices como renda e alfabetização, que ainda estão
distantes do ideal. Por outro lado, a Itália é um país maduro, com população mais
velha, com menores taxas de natalidade e alto índice de alfabetização e renda. Há
índices que se aproximam, como por exemplo, a divisão de setores de atividades e
a taxa de ocupação urbana, o que, porém, não evidenciam as desigualdades de
distribuição de renda bem mais acentuadas no caso brasileiro.
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 162
Aspectos gerais 48 Brasil Itália
IDH49 - Índice de
Desenvolvimento Humano (2011)
0,718 (84º.) 0,874 (24º.)
População (2011) 203.429.773 hab. (5º.) 61.016.804 hab. (23º.)
Média de idade. 29,3 anos. 43,5 anos.
Área total 8,514,877 km² 301,340 km²
Produto Interno Bruto (2010) US$ 2,172 trilhões (9º.) US$ 1,774 trilhões (11º.).
Renda per capita (2010) US$ 10,800 (102º.). US$ 30,500 (43º.)
Setores de atividades (2010) Agricultura: 5,8%.
Indústria: 26,8%.
Serviços: 67,4%.
Agricultura: 1,9%.
Indústria: 25,3%.
Serviços: 72,8%.
Taxa de urbanização (2010) 87%. 68%.
Expectativa de vida (2011) 72,53 anos. 81,77 anos.
Despesas com educação (2007) 5,08 % do PIB. 4,3% do PIB.
Taxa de alfabetização 88,6 % (2004) 98,4% (2001)
Expectativa de vida escolar50
(2008)
13,8 anos. 16,3 anos.
Linhas telefônicas fixas (2010) 62.000.00051 21.600.000
Linhas telefônicas móveis (2010) 202.944.000 82.000.000
Usuários de internet (2009) 75.982.000 29.235.000
Tabela 1 - Comparativo Brasil-Itália através de alguns indicadores de desenvolvimento.
4.1 As etapas do sistema educacional italiano e brasileiro
Para entendermos a Educação na Itália e no Brasil, comecemos com uma
descrição geral das etapas do ensino e seus equivalentes nos dois países.
O sistema italiano de ensino é composto inicialmente pela Pré-escola
(scuola dell'infanzia) com duração de 3 anos; no Brasil o ensino até os 6 anos de
48 Todos os dados foram obtidos do CIA The World Factbook nos endereços <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/br.html > e < https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/it.html>. Os que não foram são indicados em nota separada. 49 Obtido no site nas Nações Unidas no endereço < http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2011_EN_Table1.pdf>. 50 Idem. 51 Obtido do site da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) em <http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalNivelDois.do?acao=&codItemCanal=1634&codigoVisao=12&nomeVisao=Anatel%20Dados&nomeCanal=Relat%F3rios%20Consolidados&nomeItemCanal=N%FAmeros%20do%20Setor>
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 163
idade é chamado de educação infantil, não sendo uma etapa obrigatória, mas
recomendada.
Depois o sistema italiano prevê a escola primária (scuola primaria), com 5
anos de duração, em que a criança de 5 ou 6 anos de idade inicia seus estudos até
os 10 anos aproximadamente. Entre os 10 e 11 anos de idade inicia-se na Itália a
escola secundária (istruzione secondaria) que se subdivide em 3 anos de escola
secundária de primeiro grau (scuola secondaria di I grado) e 5 anos de estudo em
uma das três modalidades possíveis: o liceu (licei), o instituto técnico (istituti
tecnici) e o instituto profissional (istituti professionali), terminando o aluno seus
estudos por volta dos 17 ou 18 anos de idade.
No Brasil, entre os 6 e 14 anos de idade temos o ensino fundamental,
composto de 9 séries escolares divididas em ensino fundamental I (1º ao 5º ano) e
ensino fundamental II (6º ao 9º ano). Após esta etapa temos no Brasil o ensino
médio, composto de 3 anos, com finalização prevista para os 17 ou 18 anos de
idade.
Nos anos seguintes, está prevista na Itália a entrada na universidade
(istruzione superiore) composta então por 3 anos, em média, de graduação
(laurea), mais 2 anos de mestrado (laurea magistrale) e os 3 anos, em média, de
doutorado (dottorato di ricerca). No Brasil temos a educação superior que inclui o
curso de graduação com média de 4 anos, o mestrado com 2 anos e o curso de
doutorado com 4 anos.
Não podemos esquecer que a pós-graduação também possui sua
subdivisão. A lógica para a existência dos cursos de pós-graduação, segundo a
proposta oferecida pelo Parecer 977 do Conselho Federal de Educação (Brasil,
2005) está em primeiro lugar no aprofundamento como especialista em
determinado segmento ou como pesquisador familiarizado com os procedimentos
para se alcançar novos saberes no campo escolhido. A pós-graduação existe
porque não haveria como abarcar todas as possibilidades de aprofundamento e
pesquisa em um único curso de graduação, até mesmo porque nem todos os
alunos de graduação possuem tempo, recursos e interesse em chegar a níveis tão
altos de especialização, contentando-se com a formação profissional e cultural
oferecida na primeira etapa universitária.
Segundo a definição oferecida por Saviani (2000), a modalidade lato
sensu assume a função de prolongar a graduação com o objetivo de aperfeiçoar
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 164
(aprimorar) e especializar (aprofundar) conhecimentos que não foram tratados
durante a formação básica do aluno, tendo como objetivo fundamental o ensino a
partir dos resultados mais recentes alcançados e publicados pelos pesquisadores
em um campo definido de saber. Pertence a essa modalidade os cursos de
especialização, sendo na Itália denominados de master universitário, com duração
média de 1 ano, mas podendo chegar a 2 anos em alguns casos.
A modalidade stricto sensu seria a pós-graduação propriamente dita em
que o objetivo principal está na formação do pesquisador acadêmico para
promover o avanço do conhecimento no campo em que resolveu se dedicar, algo
que está fora do escopo de uma graduação. Logo, o mestrado, segundo Saviani
(2000), deve ter o papel de iniciar a formação do pesquisador, rumo a sua
autonomia intelectual e domínio teórico-prático das etapas de uma pesquisa, e no
doutorado, já familiarizado com esses procedimentos, ocorreria a consolidação do
processo.
A escrita de um trabalho final (dissertação ou tese) materializa esse
percurso quando o aluno realiza um projeto próprio de investigação. Saviani
(2000, p. 15) define dissertação como “um trabalho relativamente simples,
expresso num texto logicamente articulado, ou, como se diz em linguagem
corrente, que tem começo, meio e fim, dando conta de um determinado tema.” A
tese teria o sentido de tomar posição, pois em uma defesa de tese o que se faz é a
“defesa uma posição diante de determinado problema”.
De maneira geral, os sistemas de ensino brasileiro e italiano são parecidos,
compostos por etapas bem definidas e sendo necessário o cumprimento gradual de
cada uma delas para se alcançar os cursos de alta especialização que compõe a
pós-graduação (lato sensu e stricto sensu). No Brasil a educação superior é de
competência do Governo Federal, já os estados devem atuar no ensino
fundamental e médio, e os municípios no ensino fundamental e educação infantil.
O Governo Federal deve prestar assistência técnica e financeira aos estados e
municípios.
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 165
Figura 9 - Comparativo dos sistemas de ensino italiano e brasileiro em ordem crescente no tempo por faixas etárias e duração média dos cursos (Fonte: ilustração do próprio autor).
4.2 O curso de doutorado em dois países “em recuperação”
O curso de doutorado italiano, assim como o brasileiro, possui um
processo de seleção anual, chamado de bando di dottorato, gerido autonomamente
por cada universidade para a entrada em seus ciclos, concurso este que pode ou
não resultar em bolsa de auxílio para o candidato admitido52. A conclusão do
52 É fixada atualmente em 1040 euros. A uma taxa de cãmbio aproximada de 2,5 reais para 1 euro, temos o valor da bolsa em 2600 reais. No Brasil a bolsa de doutorado fixada pelo CAPES está em
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 166
curso é ligada à elaboração da tese de doutorado, denominada na Itália de tesi di
dottorato.
O sistema educacional superior italiano se comparado ao restante da
Europa está relativamente em atraso no percentual de investimentos e resultados
obtidos. Segundo Gemma (2006, p. 13-22) usando dados da pesquisa do Istituto
nazionale di statistica (ISTAT) 2003, a Itália investe pouco em pesquisa e
desenvolvimento, com queda contínua de investimentos até aquela data, que
chegaram a 1,07% do PIB quando a média de investimentos na União Europeia
era de 2% e na Alemanha chegava a 2,49%; em termos reais a Itália investia 216
Euros por pessoa frente a uma média de 444 Euros na UE.
Em 2008 (ISTAT, 2011), os dados não se mostravam muito animadores
embora tenham ligeiramente melhorado, estando a Itália (em relação a toda UE)
em um precário 17º lugar em investimentos em pesquisa e desenvolvimento, com
1,23% do PIB, quando a média europeia girava em 2% e a meta fixada para 2020
pela UE era de 3%. Para se ter uma ideia da distância, os dois primeiros colocados
em investimentos apresentavam as seguintes taxas: Finlândia 3,7% e Suécia 3,6%.
Segundo o relatório ISTAT 2011 (p. 230), usando dados de 2009, a Itália
estava à frente apenas da Eslováquia, República Checa e Romênia em percentual
de pessoas possuidoras de um título universitário na faixa dos 30 a 34 anos de
idade, cerca de 19% (homens 15% e mulheres 23%), enquanto a média da UE
estava em 32,2% e países do norte (Irlanda, Dinamarca, Luxemburgo e Finlândia)
alcançavam taxas de 45%. A mesma taxa, só que relativa a 2007, para pessoas
portadoras de título universitário apontava o Brasil na faixa dos 10%, metade do
total italiano em termos proporcionais (OCDE, 2009, p. 39).
Dentro da Itália os valores percentuais de possuidores de diploma
universitário são mais altos na parte Centro e Norte, mais rica e desenvolvida, e
são mais baixos na parte Sul, sendo que a região da Lombardia, onde se localiza a
UCSC de Milão, ocupava o sexto lugar com uma taxa de 23% (ISTAT, 2011, p.
248), ainda assim bem abaixo da média europeia.
Vale destacar, segundo o ISTAT 2011, que o número de jovens que
completam o Ensino Médio na Itália (scuola superiore) e chegam à universidade
vem caindo, passando de 74,5% em 2003 para 66% em 2009, talvez em
1800 reais. Ver o seguinte site para valores atualizados de bolsa de estudos: <http://www.capes.gov.br/bolsas/valores-das-bolsas> .
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 167
decorrência da própria crise que o país vem passando. Em 2009 estavam cursando
o ensino superior um total de 1.780.653 estudantes, sendo 310.600 matriculados
naquele ano e 107.148 docentes ativos em 89 atenei (universidades) (p. 362).
No Brasil, para fins comparativos usando dados do INEP (2010) do Censo
da Educação Superior de 2009, foram registradas 2314 instituições de ensino
superior (IES) em 2009 sendo destas 245 instituições públicas e 2069 privadas.
Desse total, 186 são universidades, 127 são centros universitários e 1966 são
faculdades (p. 10-11). Para se ter uma ideia da rápida evolução numérica, em
2003 o Brasil apresentava 207 instituições públicas e 1652 privadas, sendo 163
universidades, 81 centros universitários e 1403 faculdades (INEP, 2003, p. 6). O
governo não parou de abrir instituições públicas ao longo da primeira década,
porém a grande concentração de estudantes de graduação no ensino privado se
manteve, que reprersentava, em 2003, 88,9% das instituições e em 2009, 89,4%.
Estavam matriculados em 2009 um total de 5.954.021 estudantes em todas
essas instituições, sendo desse total 1.819.728 ingressaram naquele ano (p. 31) e
959.197 concluíram seus cursos, indicando um aumento gradual ano após ano dos
matriculados. Este total de alunos matriculados no sistema de ensino superior
representava 2,92% da população brasileira, enquanto na Itália o índice chegava a
2,91% da população total.
Os dados do INEP (2010) indicavam ainda que o curso de Pedagogia era o
terceiro curso com maior número de matrículas, 573.898, atrás de Administração
e Direito (p. 16). O número de funções docentes (não de professores, pois estes
podem ocupar mais de uma função) era de 340.817, sendo destas 122.977 no setor
público, com perfil bem jovem: 44 anos em média no setor público e 34 no setor
privado, evidenciando um grande número de contratação de docentes nos últimos
anos, compatível com os elevados aumentos na taxa de formação de doutores
verificados nos últimos 15 anos.
Já os dados da pesquisa da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico53 (OCDE) Education at a Glance relativos a 2006
(OCDE-EAG, 2009, p. 211 e 218) mostravam que a taxa italiana de investimentos
na educação superior (pós-Ensino Médio) se manteve muito próxima à taxa de
53 O Brasil, por fazer parte da OCDE é incluído no relatório anual da organização, quando os dados fornecidos são suficientes para comparação. Em muitos casos o Brasil não forneceu dados em contraste com a maioria dos países da União Europeia.
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 168
2003, em 0,9% do PIB, comparada a uma taxa de 0,8% no Brasil. Os dois países
também tiveram taxas próximas no investimento pré-Universitário (ensino
Fundamental, Médio e outros tipos de educação não-universitária), sendo o Brasil
com 3,8% do PIB, um pouco acima da Itália com 3,5%.
Gemma (2006) ainda constatou que o número de pesquisadores também é
baixo na Itália, destacando que no ano de 2003 o total apresentado era de 66.110,
sendo que em países de população numericamente próxima como a França e
Inglaterra o total chegava a três vezes mais, 177.323 e 157.662. A Alemanha é a
nação com maior número de pesquisadores da UE, registrando em 2003 o número
de 264.384. Porém, a partir dos dados fornecidos pelo MIUR (2011, p. 63)
notamos que a Itália vem mantendo o seu aumento no número de doutores
formados anualmente, chegando a 12.219 no ano escolar de 2008/2009.
Gráfico 4 - Número de doutores formados na Itália (Fonte: Relatório L´Università in Cifre 2009-2010 (MIUR, 2011, p. 63)).
Já no Brasil, utilizando-se dados do ano de 2008, temos um total
aproximado de 132.000 doutores (CGEE, 2010, p. 19), mas se regredirmos até
2003, chegamos a um número de 85.000 doutores, um pouco acima do total de
formados na Itália no mesmo período. Apesar deste quadro nada favorável ao
Brasil, vemos que a tendência há duas décadas é de crescimento constante no
número de doutores formados, sendo que em 1987 o Brasil formava o equivalente
a 3,1% do total de doutores formados nos EUA (país com a maior taxa de
doutores por 1000 habitantes), e em 2008 chega-se ao patamar de 21,9% do total
de doutores americanos formados no mesmo ano (CGEE, 2010, p. 22).
6353,0
8466,0
9604,010188,0 10508,0
12219,0
,0
2000,0
4000,0
6000,0
8000,0
10000,0
12000,0
14000,0
2003/2004 2004/2005 2005/2006 2006/2007 2007/2008 2008/2009
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 169
O enorme crescimento registrado no período, com 278% de aumento no
número de doutores formados entre 1996 e 2008, refletiu nesse primeiro momento
a forte demanda universitária por docentes com alto nível de formação para a pós-
graduação e o sistema universitário em geral, que chega a ocupar 76,77% dos
formados e empregados nesse período (p. 37).
Esse processo vem apresentando sinais de término de ciclo com a perda de
capacidade de absorção de formados na região sudeste, atualmente na fase de
desconcentração dos empregos que deslocam os doutores formados para outras
regiões do país fora do eixo Rio-Minas-São Paulo e também para outros setores
da economia que vem absorvendo a taxas maiores que o setor educacional
(CGEE, 2010, p. 40), como a administração pública (11,06%), a saúde (3%), a
ciência de tecnologia (3,78%) e a indústria (1,39%).
Dessa forma, vemos que o setor de formação de doutores no Brasil está em
fase de amadurecimento e diversificação, inclusive quanto à proporção de gêneros
que em 2008 registrou a taxa de 51,5% de mulheres tituladas doutoras, um avanço
em comparação à taxa de 1996 que era de 44,2% (CGEE, 2010, p. 43); se
compararmos com a taxa italiana, o Brasil atingiu o mesmo índice no ano de 2004
com 50,6% aqui e 50,9% lá, índice equivalente ao das economias mais avançadas
do mundo (p. 45). Quantos às áreas de formação, a área de humanas, que inclui os
cursos em Educação, em 2008 representava 17,4% do total de doutores formados
entre 1996 e 2008 (p. 31), crescendo mais que as ciências exatas e da terra, as
ciências biológicas e engenharias no mesmo período.
Ainda segundo os dados do relatório do CGEE (2010, p. 34-36), vale
também enfatizar que apesar do forte crescimento no período 1996-2008 (396%),
as universidades particulares ainda apresentam taxa pequena no total de doutores
formados, somente 9,5%, no qual se inclui a PUC-Rio, local em que se realizou
parte do estudo que compõe esta tese. As universidades estaduais intitularem
39,7% dos doutores e as federais 50,8%. Esse fenômeno se explica devido à forte
concentração de faculdades particulares sem estrutura adequada para iniciar
cursos de mestrado e doutorado (certificação CAPES), concentrando a titulação
em cursos de graduação, sem produzir pesquisa. Do total de doutores formados
nesse período, 77,7% pertenciam à programas de pós-graduação da região sudeste,
evidenciando forte concentração do setor de ciência e tecnologia nesta parte do
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 170
país, embora proporcionalmente esteja em declínio gradual e abrindo espaço para
forte crescimento das outras regiões do país.
Gráfico 5 - Número de doutores formados no Brasil (Fonte: Relatório CGEE (2010) a partir dos dados da Coleta Capes (Capes, MEC) e MCT (2010)).
A partir de dados de 1999 elencados por Gemma (2006), a Itália apresenta
uma das mais baixas taxas de pesquisadores por 1000 habitantes da UE, com 2,8,
muito abaixo dos 5,4 da Inglaterra, 6,1 da França e 6,4 da Alemanha. Segundo os
dados do CGEE (2010), referentes ao ano de 2008 o Brasil apresentava taxa ainda
mais baixa, ou seja, 1,4 doutores para cada 1000 habitantes54. O relatório (p. 19)
recomenda enfaticamente que “caso o Brasil queira contar em seu esforço de
desenvolvimento com doutores em proporções similares às de países
desenvolvidos, ainda será necessário multiplicar por 4, 5 ou mais vezes a
participação de doutores em sua população.”.
Diante do também desfavorável quadro italiano, a recomendação de
Gemma (2006) então é para que a Itália dobre seu investimento em pesquisa e
desenvolvimento, com o risco de perder competitividade frente aos seus vizinhos
europeus, recomendação esta que não vem sendo cumprida ao analisarmos os
54 O relatório do CGEE (2010) aponta que a estimativa de 132.000 doutores formados no Brasil é baseada em uma média aproximada de doutores de 22,64% do total de portadores de títulos de mestre e doutor referentes ao período de 1987 a 2008. A faixa etária selecionada para aplicar a proporção é a dos 25 aos 64 anos de idade, semelhante ao conceito de forza di lavoro adotado no livro da pesquisadora italiana.
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 171
dados mais atuais. Também é destacado pela autora (p. 16-18) o grave êxodo de
pesquisadores (fuga de cérebros), pois apesar dos centros de excelência italianos
produzirem pesquisadores de alto nível de qualidade, os postos de trabalho são
escassos e precários e a tendência é a migração para países europeus mais
desenvolvidos e para os EUA, resultando em um círculo vicioso de diminuição da
capacidade de competição e desenvolvimento italiana. Dificuldades do sistema de
ensino também são citadas como empecilho para a permanência de pesquisadores.
Quadro 8 - Semelhanças entre Brasil e Itália nos cursos de Ensino Superior.
4.3 O processo institucional do ensino superior italiano e brasileiro
Em termos institucionais, o atual Ministério da Educação (MEC)
brasileiro nasceu em 1930 no governo de Getúlio Vargas, unido à área da saúde
quando se chamava Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública, pois
até aquele momento o assunto era tratado pelo Departamento Nacional do Ensino
ligado ao Ministério da Justiça. O ministério, durante a longa gestão de Gustavo
Capanema (1900-1985) entre 1934 e 1945, foi renomeado em 1937 para
Ministério da Educação e Saúde, dupla função que persiste até 1953 quando se
cria o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação e Cultura (MEC). Outro
desmembramento ocorre em 1985, ano que marca o fim da ditadura militar,
quando se cria o Ministério da Cultura (MinC) separado do agora Ministério da
Educação, embora sua sigla permaneça com o “C” de cultura até os dias atuais.
Vale lembrar que antes de surgir um ministério específico para a área de
Educação em 1930, nos anos 20 o Brasil já tinha três universidades criadas a
Semelhanças entre Brasil e Itália nos cursos do Ensino Superior
Baixo investimento total em relação ao PIB.
Baixa taxa de doutores por 1000 habitantes.
Diferenças acentuadas entre as regiões do país.
Problema da "fuga de cérebros" para países com melhor infraestrutura e incentivos.
Mesma proporção de alunos no ensino superior em relação ao total de habitantes.
Aumento constante do número de doutores nos últimos 15 anos.
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 172
partir das antigas escolas profissionais: a UFPR, criada em 1912, a PUC-RS, que
surge em 1924 e a UFMG de 1927. Foram resultado de mais de um século de
maturação, desde que a vinda de D. João VI em 1808 permitiu a criação de cursos
de ensino superior em áreas como Medicina, Engenharia, Direito, Agricultura,
Farmácia, Agronomia e Veterinária, aos poucos agregadas em universidades.
Até os anos 50, o Brasil foi aumentando de forma lenta seu aparato
institucional, realizando acordos com os EUA para intercâmbio de estudantes,
pesquisadores e professores (Santos, 2003), tendo uma expansão mais forte ao
longo dos anos 6055 a partir da ideologia desenvolvimentista e, a princípio,
nacionalista adotada pelo governo, dando impulso principalmente através da
criação de universidades federais e comunitárias (Steiner, 2005).
Já o “correspondente” italiano ao MEC é denominado atualmente através
da sigla MIUR (Ministero dell'Istruzione, dell'Università e della Ricerca),
fazendo o caminho contrário do brasileiro, sendo instituído na atual configuração
em 1999 como resultado da união dos antigos Ministero della Pubblica Istruzione
(MPI), surgido em 1861 com o Ministero dell'Università e della Ricerca
Scientifica e Tecnologica (MURST), surgido em 1989. Um novo desdobramento
ocorre em 2006, mas logo em seguida o novo governo de Berlusconi retoma a
estrutura unificada do MIUR, não tendo mais sido modificada (Ano-base: 2012).
A sede do MIUR fica em Roma, no Palazzo del Ministero e tal como o MEC é
atualmente responsável por todos os níveis de ensino.
Embora a estrutura burucrática do Estado italiano moderno voltada às
universidades, seja mais recente, datando do século XIX, a fundação de
universidades naquele país remonta ao período em que as cidades renascem
econômica e politicamente no século XII. É nesse período que os intelectuais da
Igreja Católica resgatam via contato com o mundo árabe as obras intelectuais da
antiguidade, principalmente a filosofia aristotélica. De lições inicialmente 55 É de 1965 o Parecer 977/65 (Brasil, 2005) do Conselho Federal de Educação (CFE) que sugeriu ao ministro da Educação os contornos do modelo que atualmente são utilizados nos cursos de pós-graduação, esclarecendo a noção ainda vaga naquele período e presente na Lei de Diretrizes e Bases (art. 69) de 1961 sobre as categorias dos diferentes níveis de cursos universitários. O parecer se baseia no modelo norte-americano, considerado pela Comissão de Educação Superior o mais bem sucedido até aquele momento, que divide a pós-graduação nos níveis de mestrado e doutorado, com período inicial de cursos, seminários e atividades frequentados por graduados de áreas afins, visando a especialização em uma ramo do saber e a posterior elaboração de uma dissertação ou tese. Este parecer também sugere a criação de critérios para a avaliação dos novos cursos e a aprovação dos mesmos para que tenham seus diplomas validados pelo Ministério da Educação.
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 173
organizadas de maneira informal, em Bolonha se forma o primeiro núcleo
acadêmico a se oficializar em 1088, a Alma Mater Studiorum, atual Universidade
de Bolonha. Outros núcelos surgem em seguida por toda Itália, a partir do
incentivo dos governos locais e do próprio clero católico, se espalhando
rapidamente para outros países europeus56.
A relação atual do MIUR com os programas de doutorado nas
universidades italianas é, de modo geral, mais frágil em termos de controle, não se
podendo fazer paralelos com a forte organização centralizada exercida no Brasil
pela agência CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior) na gerência e avaliação dos programas de pós-graduação, desde o ano
de 1976, quando o Sistema de Avaliação da Pós-graduação foi implantado no
Brasil (Moreira, 2009) durante o I PNPG (Plano Nacional de Pós-Graduação) que
cobria o período 1975 a 1979.
O modo brasileiro de administração e avaliação dos programas de pós-
graduação é uma clara herança do modo de governar e gerir a máquina pública no
período militar (1964-1985), que seguiu a tendência já iniciada nos anos 50 a
partir do modelo norte americano de fortalecer o papel do Estado no pós-guerra,
centralizando investimentos, incluindo a concessão de bolsas de estudo para
formação no exterior, e criando ou organizando nesse período agências de
controle e avaliação. Tais medidas fortaleceram o sistema de pesquisa, via atuação
das universidades, a partir da idéia de autonomia e desenvolvimento científico
nacional (Moreira & Velho, 2008).
Nesse primeiro momento era preciso preencher a carência de recursos
humanos qualificados para alcançar os objetivos grandiosos traçados pelo
nacionalismo desenvolvimentaista dos anos 70, que envolvia a construção de
hidrelétricas, usinas nucleares, rodovias, ferrovias e o fortalecimento da indústria
bélica e aeronáutica, espacial e de telecomunicações (Kuenzer & Moraes, 2005).
A interpretação sobre o início da pós-graduação brasileira via aproximação
com modelos externos já consolidados, principalmente o norte-americano57, mas
também o europeu, oferece margem a outras interpretações que a do simples
56 Foi dedicado, mais frente, um capítulo voltado a este tema, com a história dos intelectuais e das universidades. 57 O Parecer 977/65 (Brasil, 2005) informa que a primeira pós-graduação norte-americana nasce no ano de 1876 na Universidade John Hopkins, criada com esta finalidade a partir da ideia de creative scholarship, ou seja, local para a elaboração de novos conhecimentos via pesquisa.
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 174
desenvolvimentismo do período militar, como a oferecida por Santos (2003) que a
denomina de “parceria subordinada”, por haver limitações por parte do país
central para que o país periférico não ofereça ameaças com a concorrência
científica e tecnológica, sendo mais uma compradora de know-how estrangeiro do
que produtora de soluções originais.
Santos (2003) enfatiza que até hoje o modelo de pós-graduação valoriza
através de sua avaliação a publicação em periódicos internacionais, importanto
teóricos e teorias, condicionando os pesquisadores para as temáticas e soluções de
problemas em voga no cenário internacional, mas que pouco contribuem para o
contexto brasileiro; problema este que atinge de modo mais sensível a área de
ciências humanas, muito mais dependente de assuntos que envolvem a cultura e o
contexto local. Nesse ponto de vista, a inspiração em modelos consolidados em
outros países é vista mais como imitação e reprodução de um modo de fazer
ciência, repetindo padrões sem buscar uma real autonomia. Ele destaca, por
exemplo, que embora o Brasil tenha adotado a estrutura norte-americana de pós-
graduação, não adotou o modo de pesquisa voltado a soluções e à utilidade prática
do conhecimento, revelando nos mestrados uma postura academicista exigente e
característica dos europeus, pouco voltada à vida profissional.
No campo da Educação, esse processo de busca da qualificação da mão de
obra nacional se refletiu na queda da importância das antigas instituições que
faziam pesquisa em educação desvinculadas das universidades e na ascenção dos
programas de mestrado e doutorado vinculados aos departamentos de pesquisa
universitários (Bittar, 2009), especialmente com o envio de professores
universitários para realizar seus cursos de pós-graduação no exterior, o que visava
a melhoria do corpo docente nacional e dos cursos de graduação onde lecionavam.
A preocupação nesse primeiro momento era que as universidades
deixassem de ser somente formadoras-reprodutoras com cursos de graduação e se
tornassem centros de criação de novos conhecimentos via estruturas de pós-
graduação, sendo necessário para isso o aumento da qualificação dos docentes,
visto que muitos atuavam de forma improvisada, segundo a visão dos pareceristas
do Conselho Federal de Educação (Brasil, 2005).
A fase atual do sistema brasileiro de pós-graduação, iniciada nos anos 90,
pode ser caracterizada como aquela em que a avaliação se torna mais estruturada,
permanente e periódica, e a centralidade dos objetivos sai da qualificação docente
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 175
para a qualificação da pesquisa, prioridade esta surgida a partir da publicação do
IV PNPG (2005-2010), confirmando a liderança do Estado como condutor das
metas neste setor (Kuenzer & Moraes, 2005).
Acostumado com esta herança derivada de nossas políticas públicas
centralizadoras e condutoras dos objetivos para o setor universitário e de pesquisa,
enquanto estive na Itália foi bem difícil entender esse contexto, e sempre estar
questionando “onde está a CAPES da Itália?” ou “onde está o Qualis das revistas
italianas?”.
A resposta é que não adianta procurar uma equivalência direta de sistemas,
visto que não existe uma equivalência histórica de regimes políticos e metas
institucionais. Cabe, porém, entender a existência de tendências gerais que os
governos nacionais procuram acompanhar a partir da observação da atuação dos
países centrais e mais bem sucedidos. No caso italiano o processo de avaliação do
sistema universitário só será pensado de fato com a concretização do acordo
europeu para a construção do Espaço Europeu do Ensino Superior, no fim dos
anos 90, visando que todos os países membros tivessem seus sistemas de
avaliação compreensíveis e comparáveis em nível internacional (Balisicata, 2010).
Conforme nos informa Basilicata (2010), nos anos 80 poucos países
tinham agências de avaliação na Europa, sendo que em 2003 quase todos já
apresentavam políticas e sistemas próprios para este fim, mas com metodologias
ainda bem diferentes. O esforço europeu de criação de padrões de avaliação vem
sendo feito através da ENQA (European Network for Quality Assurance) que
reúne 36 organizações e 30 membros de governos do continente.
Pelo menos até o momento em que estive na Itália (outubro de 2010 a
maio de 2011), não existia uma atuação tão forte e estruturada do governo italiano
na definição e no monitoramento dos cursos de doutorado (da pós-graduação em
geral), dos periódicos científicos e da atuação dos acadêmicos como se realiza no
Brasil com a CAPES há pelo menos 40 anos e mais intensamento nos últimos 15
anos. O que se percebia é que o caminho estava em construção naquele momento
na Itália, pois o hábito que tinha de acessar os periódicos brasileiros na internet e
saber sobre a sua última avaliação oficial (Qualis) não poderia se repetir na Itália,
pois nem o acesso às revistas científicas italianas em uma lista unificada era
possível obter.
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 176
O que existia de concreto era um curto histórico nacional de avaliações,
cerca de uma década, mas não comparável às avaliações periódicas de revistas
científicas como a existente no Qualis e o monitoramento dos discentes e docentes
como o existente na plataforma Lattes, facilmente acessíveis a quem tenha
interesse em consultar essas bases de dados. Mesmo sem toda essa centralização
na publicização e acesso a perfis individuais de pesquisadores, a qualidade geral
dos dados estatísticos divulgados sobre a educação superior italiana era bem
abrangente e constante através dos inúmeros relatórios anuais publicados pelo
MIUR através do CNVSU (Comitato Nazionale per la Valutazione del Sistema
Universitário).
A primeira grande avaliação nacional da atividade de pesquisa italiana foi
conduzida pelo CIVR (Comitato di Indirizzo per la Valutazione della Ricerca),
para o triênio 2001-2003, em que participaram 77 universidades estatais, 12
instituições públicas de pesquisa e 13 instituições privadas, envolvendo cerca de
64 mil pesquisadores italianos e 17 mil produtos de pesquisa avaliados (artigos,
capítulos de livros, entre outros). Nela, os pesquisadores tiveram que submeter
publicações previamente selecionadas por eles, entre aquelas consideradas
melhores, para serem avaliados de modo qualitativo ao menos por 2 pares, a partir
de critérios como relevância da pesquisa, originalidade, nível de
internacionalização, somando-se os índices de impacto da publicação (impact
factor) e o índice de citações (quotation index) do autor (Kostoris, 2008). Junto a
outros critérios institucionais definidos pelo CIVR formou-se um ranking das
instituições italianas, o primeiro gerado no país, mas não dos pesquisadores
individualmente.
Mas vale dizer que seguindo a tendência internacional de criação de
aparatos de avaliação e controle, recentemente, em 2010, instituiu-se as regras de
funcionamento da Agenzia di Valutazione del Sistema Universitario e della
Ricerca (ANVUR – Agência de Avaliação do Sistema Universitário e de
Pesquisa), já prevista em lei desde 2006 (Italia, 2010; 2006). A agência, segundo a
lei inicial de 2006, não tinha necessariamente fins de avaliação da qualidade
educacional, mas sim o claro objetivo econômico-financeiro de medir a eficiência
dos programas de financiamento e incentivos estatais às atividades de pesquisa e
inovação, visando a racionalização da aplicação dos recursos públicos. A ANVUR
deve com o tempo unir as atividades de avaliação realizadas atualmente pelo
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 177
CNVSU e pelo CIVR, conforme indicação presente no último relatório editado
(MIUR CNVSU, 2011).
Dessa forma, a ANVUR deve substituir os comitês anteriores e nos
próximos anos deve servir ao MIUR como forma de conferir a aplicação dos
recursos públicos a entidades públicas e privadas que os recebem, e seus relatórios
serão a forma do ministério direcionar seus recursos para universidades e
instituições de pesquisa, bem similar ao que ocorre hoje com as avaliações trienais
da CAPES no Brasil.
No caso italiano a avaliação é chamada atualmente de Valutazione della
Qualità della Ricerca (VQR – Avaliação da Qualidade da Pesquisa) e abrange o
período de 2004 a 2010, procurando continuar o trabalho iniciado no triênio 2001-
2003 pelo CIVR quando foi chamada de VTR (Valutazione Triennale della
Ricerca), em que os pesquisadores participantes devem inserir seus dados de
produção em um site específico para esta finalidade58. Existe a previsão de
recebimento de cerca de 200 mil produtos de pesquisa, ou seja, artigos, capítulos
de livro e textos em geral selecionados pelo pesquisador, entre 3 e 6 produtos
considerados melhores, dentro do período avaliado (ANVUR, 2012).
Fiorella Kostoris (2008) destaca que a falta de continuidade da avaliação
no triênio seguinte, atribuindo a entraves burocráticos dentro do até então MUR
(Ministero dell'Università e della Ricerca) não permitiu que fosse feito qualquer
comparativo de evolução e melhoramento (ou piora) das instituições e o próprio
objetivo de distribuir os recursos a partir do mérito de cada instituição ainda não
tinha se realizado.
Cabe enfatizar que não julgo aqui se o quadro italiano hoje existente é
melhor ou pior do que o brasileiro e se alcança resultados mais ou menos eficazes
por não avaliar nacionalmente seus meios de divulgação científica (Qualis) e seus
agentes de produção acadêmica (Lattes) como o Brasil vem fazendo de maneira
regular. Até mesmo porque os modelos baseados em avaliação e construção de
rankings, em ascensão desde os anos 90 através de notas atribuídas a programas
58 Todos os documentos referentes a este processo de avaliação estão presentes no site da ANVUR, no endereço < http://www.anvur.org/?q=schema-dm-vqr-definitivo>. O site de inserção dos dados é gerenciado pelo CINECA, um consórcio universitário criado em 1969 com dezenas de universidades e instituições de pesquisa italianas, com o objetivo de ter um espaço para processamento de dados em grande quantidade. Serve tanto a entes acadêmicos como a empresas e administração pública. Site disponível em < http://www.cineca.it>.
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 178
de pós-graduação, instituições de ensino e revistas científicas, vem sofrendo fortes
críticas na década de 2000, justamente por reproduzirem ou criarem novas formas
de poder, traduzidos em mais recursos e pontuações para alguns beneficiários, e
consequente exclusão dos que possuem menor tradição acadêmica ou recursos
para se manter no topo.
Tais modelos avaliativos são associados a uma cultura da
performatividade, que antes de ser neutra em sua forma de avaliar, é feita por
pessoas que estão permanentemente disputando poder e posição com seus pares,
provocando reajustes e direcionando ações dentro da comunidade acadêmica, que
termina por se adequar aos critérios classificatórios estabelecidos pelos
avaliadores (Silva, 2009; Moreira, 2009).
Bittar (2009) situa o momento brasileiro (do ano de 1985 até a presente
data) como resultado da ascensão do modo neoliberal de avaliar e gerir a ciência
após forte crítica a narrativas que procuravam explicações universalizantes e que
não deram conta de modificar e explicar “o real”, tal como o marxismo que se viu
enfraquecido naquele momento após a queda da antiga URSS e o esfacelamento
dos países socialistas do leste europeu. Bittar (2009) então evidencia, dentro de
uma revisão histórica do campo educacional brasileiro, que o enfoque nos últimos
20 anos esteve no aumento da oferta de cursos, a exigência do aumento da
produção acadêmica e o aligeiramento59 dos cursos, deixando o mestrado como
mero agente inicial de introdução do aluno à pesquisa, um complemento para a
realização posterior do doutorado60.
59 Embora o tempo para cumprimento dos cursos de pós-graduação tenha diminuído, Kuenzer & Moraes (2005, p. 1345) destacam que os programas iniciais tinham seus currículos muito extensos, contendo temáticas diversas e voltadas aos próprios estudos dos docentes, um currículo pouco articulado com o desenvolvimento da dissertação e tese dos alunos e que demandava um período muito maior de articulação teórica, muitas vezes iniciada somente após o aluno cumprir todos os créditos necessários. Nessa primeira fase as dissertações tinham porte equivalente às atuais teses de doutorado. 60 Curiosamente, a discussão levantada no Parecer 977/65 (Brasil, 2005) revela que a pós-graduação norte-americana, embora emitisse o título de mestre (M.A. – Master of Arts), derivado da tradição inglesa que mantinha o conceito medieval das disciplinas literárias e científicas básicas (trivium ao quadrivium), não oferecia o mesmo status que o título de doutor (Ph.D. – Philosophiae Doctor – para os cursos em Ciências Humanas), este sim válido para a docência no ensino superior. O título de mestre até o final do século XIX era emitido ao final da graduação nos EUA, só exigindo posteriormente, após sua reformulação, o cumprimento de exames e matérias a serem cursadas, se tornando um título associado à competência profissional de quem o obtia (maior remuneração e docência no ensino médio), e não de competência para pesquisa acadêmica. O atual aligeiramento dos cursos e a diminuição da importância do título de mestre no Brasil seguem exatamente as tendências apontadas pelos pareceristas já no ano de 1965, indicando que o valor do mestrado naquela época já era discutido nos EUA, incluindo a necessidade ou não de obtê-lo para
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 179
Steiner (2005) confirma a tendência do aumento da oferta de cursos,
evidenciando que se fortalece nos anos 90, a partir dos ideais renovados do
liberalismo econômico e como forma de expandir o ensino sem participação direta
do Estado, o setor das universidades particulares, especialmente aquelas que
oferecem somente a graduação, cabendo às universidades públicas a concentração
dos programas de mestrado e doutorado. Para se ter uma ideia, em 2003, das 117
universidades e instituições de pesquisa que ofereciam mestrado e doutorado,
somente 15 eram particulares em um universo de 1075 estabelecimentos, ou seja,
1,4%.
Essa reorganização dos cursos de pós-graduação teve por consequência a
diminuição da qualidade teórica das produções que não alcançam o estágio
adequado de maturação antes de serem publicadas em eventos e revistas. Esse
modo de pensar não é exclusivo dos brasileiros e acompanha movimentos
internacionais, evidenciado nos números crescentes de formandos italianos nos
cursos de pós-graduação e no encurtamento europeu dos cursos de graduação e
pós-graduação através das diretrizes do Processo de Bolonha, iniciado ainda na
década de 1990 e assinado pelos ministros que compõe a União Européia.
Dessa forma, é marca do período atual a superprodução de artigos e livros,
com o aumento das coautorias sem mérito adequado, com banalização do formato
de coletâneas e mistura indistinta de produções docentes e discentes, publicações
essas interessadas em criar pontuações e participações em revistas e eventos, “um
verdadeiro surto produtivista em que o que conta é publicar, não importa qual
versão requentada de um produto, ou várias versões maquiadas de um produto
novo” (Kuenzer & Moraes, 2005, p. 1348).
Surgem também modificações nos hábitos dos acadêmicos que podem
justamente causar o efeito inverso almejado pelos avaliadores, pois ao invés de
um aumento da qualidade da produção, as pontuações passam a valer mais que a
qualidade das ideias publicadas, visando o alcance de promoções institucionais
(cargos), financiamentos através de editais públicos e outros benefícios disputados
entre os pesquisadores (Silva, 2009).
poder cursar o doutorado. A flexibilidade norte-americana com seu próprio modelo não foi seguida no Brasil, que o adotou, ao menos em sua estrutura formal. A própria inexistência de programas de doutorado colocou uma carga de exigência muito maior nos cursos de mestrado, sofrendo atualmente seus reajustes.
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 180
Logo, o sistema de avaliação é um faca de dois gumes quanto aos
resultados obtidos, pois nos oferece precisão numérica e “domínio” sobre a
produção, uma “exacerbação quantitativista” segundo Kuenzer e Moraes (2005),
mas às custas de uma imprecisão quanto à qualidade do objeto avaliado e
aumentando de forma crescente as disputas por poder e concorrência entre os
acadêmicos.
O impasse se mantém, pois ainda não foi encontrado um modo de avaliar
qualitativamente os programas de pós-graduação no Brasil, o que exigiria a leitura
e grandes volumes de materiais, como teses, dissertações, livros e outros tipos de
produção, além de medir o impacto social e econômico de tais produções. Não é a
toa que no caso italiano a primeira avaliação no triênio 2001-2003 se resumiu a
poucos artigos selecionados pelos próprios pesquisadores, sofrendo críticas
justamente por não ter incluído os trabalhos “medianos”, sendo argumentado por
Kostoris (2008) que naquele momento o que se procurava era o mapeamento dos
locais de excelência, além de racionalizar o uso do tempo e os cursos para mover
tal aparato avaliador. De modo geral se percebe que para uma avaliação
qualitativa parte dos escritos deverão ser deixados de lado visando a valorização
dos melhores produtos61, mesmo que sejam reduzidos.
Apesar do monitoramento italiano por parte do MIUR ser nesse momento
mais frágil e menos articulado que o brasileiro, existem outras diretrizes
reguladoras, como o Decreto ministeriale número 224 de 30 de abril de 199962,
que regularizou o modo como seriam avaliados e estruturados os doutorados,
chamados na Itália de dottorrato di ricerca. Tais diretrizes servem para que as
universidades produzam seus relatórios justificando o cumprimento de parâmetros
de avaliação estipulados (número mínimo de professores, publicações nos últimos
5 anos, orçamento disponível para cada curso, participação de professores
externos ao programa), mas sem que estas avaliações sejam produzidas
diretamente pelo MIUR em detalhes como aqueles que encontramos nos
61 Kostoris (2008) cita como exemplo o caso inglês, em que a avaliação denominada de RAE (Research Assessment Exercise) seleciona 4 papers por pesquisador em um período de 7 anos de produções. 62 Os regulamentos podem ser baixados e lidos através do site < http://attiministeriali.miur.it/>, sendo os documentos disponibilizados desde o ano de 1996.
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 181
documentos de avaliação padronizados da CAPES63. A própria criação da
ANVUR parece indicar que este órgão gerenciará diretamente os núcleos internos
de avaliação das universidades e instituições de pesquisa64, conforme o texto que
a instituiu (Italia, 2006, art. 138).
Voltando-se um pouco para a História, o curso de doutorado é bem jovem
na Itália, tendo sido instituído através do Decreto do Presidente da República nº
382 de 31 de julho de 1980 nos artigos 68-74 e 75-80, sendo efetivamente
implementado para o ano escolar de 1983/1984 no que foi convencionado chamar
de I Ciclo (Gemma, 2006), sendo um ciclo para cada ano decorrido, atualmente
estando no XXVII Ciclo (2011/2012).
No Brasil, o processo foi um pouco mais precoce, com os primeiros
programas de doutorado em Educação surgindo em 1976 na PUC-Rio e na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Saviani, 2000), impulsionados pelos
investimentos estatais do período militar conforme afirmamos. Em outras áreas os
programas começaram mais precocemente, a partir dos anos 60, conforme nos
informa Santos (2003, p. 628) sobre os cursos em Ciências Físicas, Biológicas e
Engenharia que firmaram convênios com instituições internacionais. Um exemplo
deste período incial é o doutorado no Instituto de Matemática Pura e Aplicada que
oferecia o curso em 1962, mas com diplomação dada pelo UFRJ, possibilidade
essa somente alcançada de forma autônoma pela instituição em 1971.
Os últimos dados disponibilizados pelo MIUR mostravam que 13.802
novos doutorandos foram admitidos no XXIII Ciclo, número esse relativamente
estável desde o XX Ciclo que apresentou 13.289 doutorandos iniciando seus
cursos (MIUR, 2011). Um grande crescimento ocorreu entre o XIV Ciclo, com
4.865 doutorandos novos, e o XIX Ciclo, com 12.519 (MIUR, 2005).
63 Os critérios de avaliação da CAPES, para cada área / curso podem ser encontrados no endereço < http://www.capes.gov.br/avaliacao/criterios-de-avaliacao>. A descrição dos critérios de avaliação vigentes em 2010 da área de Educação para os periódicos e livros acadêmicos (Qualis) e a ficha de avaliação dos cursos de pós-graduação em Educação pode ser encontrada no endereço < http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/EDUCA_19jun10.pdf>. O sistema é baseado em escalas que vão de A1 a A2, B1 a B5 e C para periódicos e L4 a L1 para livros e em pontuações para os programas de Pós-graduação. As pontuações no caso dos programas de pós-graduação levam para a avaliação final de 7 níveis, onde 7 é a nota máxima que pode ser alcançada. As avaliações são trienais. 64 As informações fornecidas pelos Núcleos de Avaliação das universidades referentes ao ano de 2011 podem ser acessados no CINECA através do endereço <https://nuclei.cineca.it/cgi-bin/2011/sommario.pl>. Os dados dos anos anteriores (2000-2010) estão dispostos com links através da ANVUR no endereço <http://www.anvur.org/?q=content/rilevazioni-annuali#>.
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 182
Quanto à estrutura atual, os doutorados italianos possuem duração de três
anos, com direito a solicitação de prolongamento pelo aluno, e no caso da UCSC,
está agrupado por cursos, a princípio, afins, nas denominadas Escolas de
Doutorado (Scuola di Dottorato), processo esse inexistente no Brasil. Estas três
determinações: tempo mais curto de duração, Escola de Doutorado e
fragmentação da gestão pública (maior independência dos agentes locais nas
instituições de pesquisa) são muito importantes para se compreender o contexto
onde esta pesquisa foi desenvolvida e os relatos obtidos nas entrevistas realizadas.
Sobre a atual duração dos cursos de doutorado, cabe enfatizar que o ano de
1999 marca o início efetivo das reformas no ensino superior europeu e sua
integração continental, denominado de Processo de Bolonha, relativo à cidade que
reuniu na época 29 ministros de diversos Estados europeus culminando na
assinatura da Declaração de Bolonha65 em 19 de junho daquele ano. O processo
de Bolonha faz parte de um conjunto maior de processos de integração entre os
Estados europeus, iniciado em 1958 com os seis países da Comunidade
Econômica Europeia e aprofundado no Tratado de Maastricht, em 1992, com
doze países compondo o que se denominou União Europeia, tendo tanto em um
quanto em outro o princípio da circulação de pessoas em um espaço sem
fronteiras (Azevedo, 2007).
O objetivo do Processo de Bolonha foi criar um movimento de reforma e
integração do ensino superior na Europa visando “harmonizar os sistemas
universitários europeus, de modo a equiparar os graus, diplomas, títulos
universitários, currículos acadêmicos, e adotar programas de formação contínua
reconhecíveis por todos os Estados membros da União Europeia” (Azevedo, 2007,
p. 134). Na declaração é enfatizada a necessidade de criação do Espaço Europeu
do Ensino Superior, visando claramente o aumento da competitividade da Europa
em relação a outros países e a atração de estudantes estrangeiros para as
universidades da UE.
A preocupação central é com a circulação dos estudantes pela Europa,
objetivando a emissão de maneira mais uniforme dos graus acadêmicos,
permitindo equivalência nos cursos e acesso a créditos universitários oferecidos
65 O texto completo da Declaração de Bolonha pode ser acessado no seguinte endereço: < http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2006/08/11/435613/ratado-bolonha-integra.html>.
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 183
em qualquer país da União Europeia, tendo sido formalizado em 2001 o ECTS
(European Credits Trasfer Sistem), já presente anteriormente no chamado
programa Erasmus-Socrates. Cursos de doutorado na Itália, que antes poderia se
prolongar por 5 ou 10 anos e cursos de graduação em que o estudante prolongava
a obtenção de créditos por períodos extensos, hoje estão sendo uniformizados para
atender a fórmula 3/5/8, ou seja, três anos para a graduação (licenciatura), dois
anos para o mestrado e três anos para o doutorado (3+2+3).
O mestrado (laurea magistrale), de 2 anos de duração, tem seguido a
mesma tendência detectada no Brasil, pois tem se integrado à formação dos
alunos de graduação (laurea triennale - bacharelado) que desejam ser iniciados
em pesquisa, uma extensão da graduação que foi encurtada para três anos no
Processo de Bolonha. Antes do ano de 1999 o curso de graduação em Pedagogia
(Scienze della formazione) tinha duração de 4 anos, e hoje é denominado pelos
universitários de vecchio ordenamento (antiga graduação). No sistema antigo, o
aluno não precisava passar pela laurea magistrale (equivalente ao curso de
mestrado no Brasil), acessando diretamente o curso de doutorado. Alguns sujeitos
que entrevistei na Itália fizeram esse percurso antigo, pois sua graduação era dos
anos 1990, antes do processo de reforma.
Quadro 9 - Tendências da pós-graduação no Brasil e na Itália nos últimos 10 anos.
Tendência da pós‐graduação nos últimos 10 anos
Aligeiramento dos cursos de pós‐graduação.
Mestrado como preparação inicial para pesquisa, com 2 anos de duração.
Agências de avaliação direcionando os esforços acadêmicos.
Diminuição da qualidade das produções acadêmicas.
Publicações em grande quantidade, repetidas e aumento das co‐autorias.
Competição docente por financiamentos públicos a partir de pontuações e avaliações
Itália no estágio inicial da ANVUR e CAPES consolidada no Brasil
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 184
4.4 O acesso à mídia analógica e digital nos dois países
Após analisarmos as condições históricas e educacionais vejamos com
maiores detalhes o campo da infraestrutura midiática. De modo geral, a Itália tem
um perfil de país avançado quanto ao uso de mídia de massa analógica e digital
(rádio e TV), mas no caso da internet, tal como os indicadores do ensino superior,
ainda está bem distante do ideal para um país desenvolvido economicamente.
Segundo o relatório do CENSIS66 (2009), a taxa de penetração da internet
chegou a 47% no ano de 2009, um avanço em relação ao ano de 2001 quando
estava em 20,1%, mas foi lento em relação a 2007 (45,3%) em consequência da
grave crise econômica iniciada no período a partir da crise norte-americana. O
relatório aponta que as gerações mais recentes, os jovens, e os mais bem
instruídos dominam o acesso à rede mundial com respectivamente 80,7% e 67,2%
do total de entrevistados nesses dois segmentos.
Segundo a pesquisa TIC Domicílios e TIC Empresas 2010 do CGI BR
(Comitê Gestor da Internet no Brasil) (2011), no Brasil a taxa média em 2010 de
acesso urbano ao computador em domicílios chegou a 39%, com diferenças
regionais e entre classes sociais significativas, em especial a região Nordeste com
somente 19% e a região Sudeste a mais desenvolvida com 47% de acesso.
A taxa em 2010 de acesso à internet em domicílios no Brasil chegou a
31%, um avanço se comparada a 2005 quando estava em 13%, embora a
distribuição entre classes sociais tenha diferenças alarmantes: apenas 3% para as
classes D e E, 24% para a classe C, 65% para a classe B e 90% para a classe A. As
diferenças também são evidenciadas quando se comparam as diferentes regiões
brasileiras, com Nordeste e Norte tendo taxas de 15% e 17% e Sudeste e Sul com
taxas de 39% e 32%.
Em números absolutos, somando áreas urbanas e rurais, o Brasil teve 41%
de sua população com acesso à internet em 2010, um avanço em relação aos 24%
registrados em áreas urbanas em 2005 e os 45% registrados em 2010, sendo que
as diferenças regionais se mantêm e o Nordeste e Norte registram taxas de 28% e
66 O CENSIS é o Centro Studi Investimenti Sociali (Centro de Estudos e Investimentos Sociais), equivalente ao IBGE no Brasil. Este instituto de pesquisa foi fundado em 1964 e gera relatórios anuais que incluem a evolução no uso de mídias. O mais atual que foi possível obter é relativo aos dados do ano de 2009.
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 185
34%, evidenciando que meios alternativos de acesso fora de casa ainda, como as
lanhouses, são presentes nessas regiões, embora a pesquisa tenha apontado que
estão em queda a partir do ano de 2007 em contraste com o aumento do acesso em
domicílio (CGI BR, 2011, p. 138, 155 e 159).
O uso do computador e da internet no Brasil segue o padrão da Itália e
também é maior entre os mais jovens e bem instruídos, com 83% de acesso ao
computador, alguma vez na vida, dos que estão na faixa dos 10 aos 24 anos. Algo
semelhante ao que ocorre com o acesso à internet, em 75% para a faixa dos 10 aos
24 anos, caindo progressivamente para 62% (25 aos 34 anos), 41% (35 aos 44
anos), 23% (45 aos 59 anos) e apenas 6% entre os que tem acima de 60 anos. A
internet foi acessada alguma vez na vida por apenas 52% dos que tem ensino
fundamental e 88% pelos que tem formação no ensino superior e 90% aos que
pertencem à classe A e apenas 16% aos que estão nas classes D e E (p. 413 e 416).
Quanto ao tipo de conexão nos domicílios, o relatório do CGI BR (2011)
evidenciou um decrescimento das conexões discadas, que foram de 31% em 2008
para apenas 13% em 2010. A banda larga fixa alcançou taxas de 68% para zonas
urbanas e 64% para zonas rurais, evidenciando um equilíbrio na distribuição.
Entre as regiões do Brasil a maior discrepância ocorreu entre o Norte, com 53% e
o Sul com a taxa de 78% de acesso via banda larga. Já a banda larga móvel, como
o 3G em celulares e modens para computadores saltou de 1% para 10% nas zonas
urbanas e de 8% para 13% nas zonas rurais (p. 149). Para os que não possuem
conexão de internet em casa a causa mais apontada foi o ainda elevado custo da
conexão para 49% dos respondentes, seguido por 23% que alegaram falta de
disponibilidade na região onde moravam (principalmente nas áreas rurais) e 16%
que não tinham interesse em acessar a rede (p. 152).
Já a TV na Itália tem a taxa mais alta de uso entre todos os meios
analisados pelo CENSIS (2009), chegando em 97,8% da população, seguida pelo
celular, com 85% e o rádio com 81,2%. Destacou-se no período o aumento da TV
por assinatura, que atinge 35,4% da população e da TV Digital Terrestre que
chegou a 28%, sendo que a última é um movimento natural de transição de
padrões semelhante ao que passa o Brasil.
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 186
O acesso à internet via celular é algo mais comum na Itália, onde os planos
de acesso tem baixo custo em relação às taxas cobradas no Brasil67; apesar disso o
relatório do CENSIS (2009) apontou que o uso de funções mais custosas, como o
acesso à web via smartphones e de videochamadas caiu fortemente entre 2007 e
2009, com o uso das funções de base saltando de 48,3% para 70%, outra vez
devido à grave crise econômica europeia iniciada nesse período.
O ano de 2007 na Itália, portanto, foi marcado pela queda no uso de meios
de comunicação pagos, incluindo os jornais impressos e a revistas mensais; a
leitura de livros permaneceu relativamente estável na casa dos 56,5%, sendo
maior a taxa entre os jovens com 75,4%. Quanto aos comportamentos na internet
o CENSIS (2009) detectou uma diminuição do acesso aos periódicos online que
cederam espaço para as redes sociais e blogs.
Segundo o CGI BR (2011, p. 173-176), o acesso à telefonia celular no
Brasil vem crescendo e alcançando taxas muito superiores à telefonia fixa. Em
2010 a taxa de penetração dos celulares em domicílios chegava a 84%, bem acima
dos 38% da telefonia fixa, que inclusive registrou queda em relação a 2009,
quanto estava em 40%. Nesse item as classes A, B e C apresentam taxas de uso
muito próximas, 96%, 91% e 82% respectivamente. Somente 6% dos possuidores
de celular no Brasil acessam a internet, com a grande maioria, 92%, acessando via
planos pré-pagos, evidenciando mais uma vez os altos custos da telefonia
brasileira.
Abaixo, através da ferramenta Google Public Data Explorer, usando dados
do Banco Mundial, construiu-se um gráfico comparativo do desenvolvimento do
acesso à internet entre EUA, pioneiro e criador da rede mundial, Itália e Brasil,
desde o ano 1990 até o ano de 2009. Enquanto os EUA estão alcançando uma
curva de estabilidade na casa dos 80% de acesso, o Brasil vem em uma escala
ascendente ainda próximo dos 40% e não muito distante da Itália que chega hoje
próxima aos 50% de acesso.
67 Um das empresas mais fortes na Itália para acesso à internet e uso de pacotes de voz por celular é a Wind < http://www.wind.it>. Um plano mensal de 150 minutos de chamadas de voz, 150 mensagens (SMS) e acesso sem limite à internet custa 17 Euros, ou 42,50 Reais a uma taxa média de conversão de 1 Real = 2,5 Euros. Um plano semelhante na TIM Brasil (voz e acesso à internet) custa, em média, 100 Reais, levando-se em conta o mais básico de 100 minutos com acesso ilimitado à internet (TIM Liberty).
Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 187
É bom notar a curva acentuada (salto) obtido na Itália entre 1998 e 2001,
corresponde exatamente ao período de início do acesso privado à internet relatado
nas entrevistas feitas na Itália, como será visto no capítulo de análise dos dados.
No Brasil este salto ocorre de forma mais gradual a partir do ano de 2001.
Gráfico 6 - Percentual de utilização da internet nos EUA, Itália e Brasil (Fonte: Banco Mundial, Indicadores do Desenvolvimento Mundial. Google Public Data Explorer).
Encerrando este sobrevoo sobre o sistema de ensino e sobre a mídia na Itália
e Brasil vamos a seguir focar na especificidade dos locais em que foi concentrada
a busca de sujeitos que compuseram este estudo tanto na PUC-Rio quanto na
UCSC Milão.
5 Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos
Produzir uma história de vida, tratar a vida como uma história, isto é, como o relato coerente de uma seqüencia de acontecimentos com significado e direção, talvez seja conformar-se com uma ilusão retórica, uma representação comum da existência que toda urna tradição literária não deixou e não deixa de reforçar (Bourdieu, 1996, p. 185).
Uma primeira observação que faço, dentro dos contrastes que
inevitavelmente tive que elencar, é sobre o próprio processo de pesquisa e seu
entrelaçamento com minha vida de pesquisador. A todo o momento que analisei
os outros sujeitos, fazendo perguntas estruturadas sobre seus processos de
pesquisa, em um roteiro previamente estruturado, não pude deixar de me ver
representado ali em suas experiências.
Analisar o modo como o outro sujeito pesquisa, ao mesmo tempo em que
se passa por experiências tão próximas às que ele relata, é como ver o final do
filme estando ainda no meio dele, sendo, de certo modo, uma forma de
autocobrança por resultados ajustados e uma autorreflexão sobre os passos e
decisões tomadas até o momento. Ver a forma como o outro realizava sua
narrativa, dava sentido ao conjunto de experiências vividas, me fazia refletir sobre
meu próprio trajeto e comparar a coerência do entrevistado com as inconsistências
de meu trajeto.
Não se pode exigir dos outros pesquisadores uma coerência absoluta em
suas pesquisas68, pois ela de fato não existe, mesmo que eles a queiram
demonstrar em seus discursos públicos. Bourdieu (1996), ao falar da ilusão
biográfica, analisa o processo de construção de autobiografias e nos aponta a
falha que existe na busca de uma trajetória lógica da vida tal qual aquelas
encontradas em romances, de uma ordem sucessiva de acontecimentos como se
68 Entendo aqui coerência como uma representação mental na qual a pesquisa deve ter encaixes perfeitos em sua execução, seguindo de maneira linear uma série de etapas consecutivas previstas em manuais, sem imprevistos, como se o objeto de estudo e o campo de pesquisa fossem totalmente controláveis e conhecidos desde o começo.
Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 189
fossem previamente organizados em um objetivo maior, com começo, meio e fim,
desenvolvendo-se a partir de uma razão de ser original. Basta perceber que a
nossa própria pesquisa apresenta muitos detalhes, reviravoltas, surpresas,
empecilhos e ajustes burocráticos nem sempre levados em conta no momento do
planejamento e na comportada escrita de um projeto de pesquisa.
Dessa forma, toda estruturação desta tese em capítulos e subtópicos pode
ocultar o cotidiano dinâmico do pesquisador num mundo digital complexo e
instável, portanto, é sempre bom alertar para o engano com as aparências de
simplicidade e coerência, pois meus próprios fragmentos de pesquisa foram
reunidos e selecionados aqui do modo mais disfarçadamente (i)lógico que
consegui, dezenas de vezes revistos e reeditados para facilitarem a leitura. Se
fôssemos criar uma analogia de ordem informática aos casos que coletei na
pesquisa através de entrevistas, seriam como fotografias em baixa resolução, em
relação com a exuberância de detalhes vivos que somente o sujeito que as viveu
pode possuir com alto nível de clareza.
Confesso que ao fazer cada uma das entrevistas e transcrevê-las, os modos
de se portar, as ferramentas utilizadas, as estratégias de leitura e escrita, os
conteúdos experienciais relatados por estes pesquisadores, eram absorvidos e
testados por mim em minha própria pesquisa. Tal processo me fez recordar certo
personagem de seriado de televisão que, ao tocar em seus colegas, absorvia por
mimetismo suas características mais preciosas e marcantes. Não era esse o
objetivo da pesquisa, porém foi um resultado secundário muito enriquecedor,
quase automático quando me deparava com as transcrições e releituras dos
depoimentos. Graças aos relatos, conheci e utilizei outras ferramentas disponíveis
na internet que me foram muito úteis.
Outra curiosidade, além dos mimetismos desenvolvidos, foi o aumento da
percepção de atitudes pessoais nos usos das mídias digitais enquanto fazia a
pesquisa. Observar a disposição dos materiais em minha própria mesa de estudo,
comparando a quantidade de livros comprados em livrarias e artigos que tinha
obtido na internet e impresso, assim como os tipos de fontes que mobilizava em
minhas buscas por materiais na internet, o modo como armazenava meus arquivos
no computador e as técnicas que utilizava durante minha escrita em arquivos
digitais, todos esses itens refletiam hábitos e posturas encontrados nos outros
pesquisadores. As categorias que formaram a primeirra classificação que eu usei
Os co
para
de es
de m
const
pesqu
o me
análi
julga
minh
Figur
rumo
pela
revel
ocult
realiz
omponentes
analisar os
scrita da tes
A figura
maneira algu
tatação que
uisa de dou
eu próprio t
ise dos rela
amento sobr
has próprias
ra 10 - Ferra
De tudo
os posterior
versão fina
lados, mas c
tas em um p
Todos e
zado. Em o
Ea
da pesquisa
s outros era
e! Eram, ne
a a seguir re
uma uma fo
e o proces
utorado, com
trajeto. Des
atos coletad
re em que
s práticas.
amentas digit
isso, emerg
res da pesqu
al apresentad
como os co
processo de
eles foram
outras teses
Jornais erevistas online
asyStanza
Wikipédia
Situnive
a II: o eu e os
m as que fi
esse caso, ta
epresenta um
orma de exib
so investig
m sujeitos e
sa forma, fo
dos em um
pontos esta
tais mobiliza
giram três m
uisa. Estes d
da ao modo
onsidero par
pesquisa, o
reajustes q
eles não te
Ferramentasdurante
Rosetta Sto
e
tes das ersidades
s outros mais
ficavam evid
ambém cate
m resumo d
bição pesso
gado de us
externos, era
foi exigido u
ma série de
avam mais
adas pelo aut
mudanças m
detalhes po
o de etapas
rte das trans
optei também
que mudara
eriam impor
s digitais mobilizae a escrita da tese
Flickr
Tradukne
s próximos
dentes em m
egorias de a
dessa auto-o
oal de habili
so de mídia
a também o
um esforço
entrevistas
próximos
tor durante a
metodológic
deriam ser
superadas,
sformações
m por os “re
m o desen
rtância, poi
adas e
Youtube
Fac
Goe
E‐mail, Ske MSN
kka
meu próprio
auto-observa
observação,
idades, mas
as digitais
processo q
redobrado
s não se to
ou mais af
a pesquisa da
cas determi
esquecidos,
nunca prec
que depois
evelar” aqu
ho de todo
s um texto
cebook
oogle Maps e Google Imagens
kype N
190
o processo
ação.
não sendo
s a simples
durante a
que marcou
para que a
ornasse um
fastados de
a tese.
inantes nos
, ocultados
cisando ser
s se tornam
ui.
o o estudo
final deve
Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 191
estar “limpo”, sem “ruídos”, mas aqui eles exemplificam aquilo que procurei
encontrar nos discursos dos sujeitos entrevistados.
O primeiro reajuste surgiu a partir dos resultados encontrados em quatro
entrevistas conduzidas no Brasil antes de minha incursão à Itália. Estas entrevistas
foram inicialmente consideradas piloto, mas depois foram incorporadas ao estudo
pela variedade e profundidade dos relatos obtidos, orientação esta dada por Pier
Cesare Rivoltella, durante reunião no CREMIT, ao analisar o resumo das
entrevistas quando as apresentei a ele, após realizada a primeira fase de
transcrições. Foi com essa mudança, que ficou decidido que metade dos
entrevistados em cada país pertenceriam aos grupos de pesquisa JER e CREMIT.
A segunda mudança metodológica foi derivada da constatação que a fase
de transição tecnológica mais importante e impactante dos suportes digitais vem
depois do ano de 2005, com o desenvolvimento da Web 2.0 (O´Reilly, 2005) e
suas ferramentas on-line de disposição dos dados. Eu pensava, no início, em
pesquisar doutores entre 1998 e 2009, acompanhando uma transição longa, mas
que em si se mostrou improdutiva, pois na prática o formato digital entrava no
cotidiano do doutorando a partir dos anos 2000-2001, com estes se formando em
2004-2005.
Lembro que a internet veio a se consolidar como fonte de pesquisa e de
interação de dados em rede depois de 2005, quando a Web assume espaço maior
na gestão dos dados e na escrita dos doutores (nem todos, conforme pude
constatar em algumas entrevistas), superando a noção de computador como
simples “máquina de escrever” de última geração, típica das limitações
tecnológicas dos anos 90, apesar das exceções. Dessa forma, a preferência para o
ano de conclusão de curso dos doutores passou a girar entre 2005 e 2010, até
mesmo pela possibilidade de abrangência dos casos, que deveria ser limitada pelo
caráter solitário da pesquisa.
A terceira mudança que operei foi quanto ao campo de abrangência da
pesquisa. Se inicialmente eu tinha pensado em abarcar as ciências humanas como
um todo, esta tarefa seria para um grupo amplo de pesquisadores e não somente
para um doutorando. Entrevistar e transcrever entrevistas em profundidade foi um
processo que percebi ser muito longo, não só com o trabalho braçal (2 semanas
em média por transcrição e 1 semana de revisão), mas de trabalho interpretativo.
Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 192
Assim sendo, reduzi de forma prudente a pesquisa ao campo da Educação o que
resultou na limitação do campo de sujeitos potenciais.
Com estas considerações feitas, serão detalhadas a seguir as duas
universidades onde se realizou a pesquisa e depois a metodologia adotada em
todas as etapas desenvolvidas para a coleta e o tratamento do campo empírico
escolhido.
5.1 Breve descrição dos locais de realização da pesquisa
Números podem não nos dizer muita coisa a respeito do cotidiano dos
pesquisadores e seus comportamentos individuais, mas podem nos oferecer uma
ideia da dimensão do campo onde estão inseridos. Foi pensando nisso que acessei
o Censo de 2010 feito pelo CNPq, uma fotografia obtida a cada 2 anos por esta
agência de fomento de pesquisa a partir de sua base de dados online, o Diretório
dos Grupos de pesquisa69. Infelizmente a Itália não nos oferece um cadastro
centralizado de seus grupos de pesquisa.
Tínhamos, portanto, em 2010, 27.523 grupos de pesquisa cadastrados no
Brasil, sendo 46,8% deles concentrados na região Sudeste e 12% somente no Rio
de Janeiro. A área de Educação era a predominante deste total, representando
8,1% de todos os grupos de pesquisa no Brasil (2.236), seguida pela Medicina
(1437), Agronomia (1040), Química (1036), direito (776) e Ciência da
Computação (776). A PUC-Rio tinha exatamente 200 grupos de pesquisa que
representavam 0,7% do total ou 964 pesquisadores, sendo destes 810 doutores.
Estes dados nos fazem refletir sobre o universo imenso de “trabalhadores do
conhecimento” presentes hoje nas nossas universidades, mais precisamente em
452 instituições brasileiras participantes deste Censo 2010. Com estes números
em mente proponho agora o detalhamento de duas dessas “estrelas dentro da
imensidão da Galáxia”, ou seja, me concentrarei em 1 destes grupos aqui no
Brasil e outro pertencente à UCSC na Itália.
69 Disponível em: < http://dgp.cnpq.br/censos/>.
Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 193
5.1.1 Traçando pontos de convergência: o JER no Brasil e o CREMIT na Itália 70
Penso que é importante, nesse momento da tese, desenvolver um pouco
mais as conexões com os dois grupos de pesquisa que participaram de modo
fundamental na estruturação empírica deste estudo, pois ajudaram a localizar
candidatos para realização de entrevistas a partir de suas redes de
relacionamentos. O objetivo aqui é familiarizar o leitor com estes dois ambientes
e a conexão dos mesmos com meus objetivos de pesquisa.
Comecemos então pelo JER. O Diretório de Pesquisa Jovens em Rede
(JER), vinculado ao Departamento de Educação da PUC-Rio e coordenado pela
professora doutora Maria Apparecida Mamede-Neves, desenvolve há mais de 10
anos pesquisas voltadas para o jovem e o uso de mídias (jornal, TV, internet),
tendo sido fundado em 1998.
Tanto em sua pesquisa realizada entre 2005 e 2008, sobre representação e
significação da Internet pelo olhar de jovens universitários, quanto na pesquisa de
2008 a 2011, sobre representação e significação da Internet por professores de
Ensino Médio, o grupo Jovens em Rede (JER) vem se interessando na
problemática dos usos da mídia, em especial a mídia de configuração digital,
sendo que, na primeira o foco esteve nos jovens recém-formados no ensino médio
e iniciantes em curso universitário e na segunda pesquisa, concluída recentemente,
o foco esteve nos professores destes mesmos alunos, selecionados em amostra
intencional a partir das escolas com maiores índices de aprovação no vestibular na
PUC-Rio.
Já o centro de pesquisa parceiro na Itália, o Centro di Ricerca
Sull’Educazione ai Media all’Informazione e alla Tecnologia (CREMIT), foi
fundado novembro de 2006 a partir de um trabalho que já vinha sendo
desenvolvidos desde 1998 com uma equipe de trabalho participante do Corso di
Perfezionamento in Media Education.
70 Síntese feita a partir do projeto integrado de pesquisa enviado ao CNPq pelo Diretório de Pesquisa Jovens em Rede a respeito da pesquisa Mestres na Web: representação e significação da Internet por professores de Ensino Médio (2008-2011), no qual o histórico da pesquisa e suas relações inter-institucionais são detalhadas. Também foram consultados os sites dos grupos de pesquisa em < http://jovensemrede.wordpress.com/> e < http://www.cremit.it>.
Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 194
No CREMIT, são desenvolvidos por seus colaboradores projetos
contratados e pagos por escolas, universidades e governo, na área de educação e
mídia (ou mídia-educação, expressão mais utilizada por seus pesquisadores) e
tecnologia da educação (ensino a distância, tecnologia na didática, projetos e
avaliação online, tutoria online), não havendo períodos fixos de realização para
estes projetos e se desenvolvendo vários destes projetos de modo simultâneo. O
CREMIT se localiza em Milão, na Região da Lombardia, no norte da Itália.
O público-alvo do CREMIT são principalmente os professores de escolas,
alunos e famílias de alunos. É um centro de pesquisa que deve se sustentar
financeiramente, ou seja, a renda gerada deve manter o centro de pesquisa, sua
estrutura e funcionários, assim como pagar à própria universidade pelo espaço que
utiliza. Tal modus operandi se distingue dos Diretórios de Pesquisa que pertencem
e são mantidos pelos Departamentos de Educação nas universidades no Brasil e
recebem bolsas a partir de projetos enviados e aprovados por agências de
fomento, como a FAPERJ (no caso do Rio de Janeiro), o CNPq e CAPES (no
Brasil todo).
Tal como no Brasil, participam do CREMIT doutores, mestres, estudantes
de pós-graduação e estudantes de graduação, com a diferença que somente alguns
recebem bolsas de estudo financiadas pela universidade, sendo que outros
recebem bolsas de estudo financiadas pelos projetos no qual o CREMIT oferece
seus serviços. Todos os projetos e seus participantes foram selecionados por Pier
Cesare Rivoltella através de suas atividades como dirigente do centro de pesquisa
e também como professor e orientador de estudantes na UCSC.
A parceria com o Cremit iniciou-se a partir dos resultados da pesquisa
Ragazzi del Web a respeito da internet e tendo como sujeitos pesquisados pré-
adolescentes, beneficiando-se de um convênio já existente entre a PUC-Rio, no
Brasil, e a UCSC, na Itália, em que dados da pesquisa Jovens em Rede –
representação e significação da Internet pelo olhar de jovens universitários
puderam ser confrontados com os resultados da pesquisa Screen Generation
realizada pelo professor doutor Pier Cesare Rivoltella, como a parte italiana do
projeto europeu Mediappro (Mamede-Neves, 2008).
De minha parte, na pesquisa que realizei durante o curso de Mestrado em
Educação, estive imerso em temáticas contemporâneas que envolviam a autoria
coletiva de textos e formas de cooperação e construção autoral na cibercultura,
Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 195
através do estudo de caso sobre o site Wikipédia (Rosado, 2008). A construção
autoral desta enciclopédia on-line esteve marcada pela grande quantidade de
jovens de ensino médio e universitários como autores da mesma. Essa relação de
proximidade (internet e jovens) levou-me ao encontro do JER, cuja coordenadora
participou de minha banca de mestrado e atualmente orienta-me nesta fase de
doutoramento.
Conforme citado, o foco atual do JER encontra-se nos mestres, no caso, são
docentes do segmento de ensino médio que utilizam (ou se recusam a utilizar) a
internet em seu cotidiano docente. O diretório JER tem, assim, a possibilidade de
estar analisando a díade aluno-professor, com relação à inclusão destes na cultura
midiática digital.
Partindo de um ângulo diferente desta relação, o foco proposto nesta tese é
pesquisar outro período de formação acadêmica, em nível de pós-graduação
stricto sensu, no qual se formam futuros professores universitários qualificados,
que provêm de uma imersão em cultura acadêmica fortemente marcada, em sua
história, pela materialidade do meio impresso representado em livros e revistas
científicas. Serão estes doutores que receberão os jovens egressos de cursos de
ensino médio na universidade, já imersos e atuantes na cultura digital. Dessa
forma a tríade crescente jovem aluno-professor do ensino médio-doutores
professores de graduação poderá ser confrontada pelo JER, embora este não seja
o objetivo principal desta tese e não tenhamos conduzido esta análise aqui neste
texto de modo específico.
Com esta visão maior de integração em mente, pude então realizar alguns
questionamentos, tais como: Haverá então mudanças em curso na cultura
acadêmica universitária, especificamente na área de Educação, que apontem para
um uso intenso de mídias digitais, em uma atividade que exige amplo esforço de
pesquisa, seleção e acesso a fontes, como a elaboração de uma tese? Houve
mudanças significativas na relação entre o doutor em formação e a internet ao
longo de seu curso nestes últimos 10 anos?
Sabemos, por exemplo, que o grupo de jovens que foram pesquisados entre
2005 e 2008 pelo JER considerou a internet com elemento fundamental e fonte
fidedigna de informações para a aprendizagem nas disciplinas do seu futuro curso
universitário, em quase pé de igualdade com livros, e muito além do que as mídias
impressas ou televisivas possam contribuir (Mamede-Neves, 2008). Como ainda
Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 196
estavam recém-saídos do ensino médio, era certo que este jovem não passara
ainda pela provável influência de seus futuros professores e da cultura acadêmica
universitária, que introduz novos elementos ao cotidiano destes, a exemplo da
consulta a fontes acadêmicas formais na composição de trabalhos universitários.
Da mesma forma que o jovem elegeu a internet como espaço privilegiado de
construção de seu conhecimento, questiono se o recém-doutor, mergulhado em
uma cultura cada vez mais influenciada pela mídia digital, está caminhando na
mesma direção e de que forma está aplicando em sua construção autoral a mídia
digital.
Entendemos aqui a diversidade de papéis que recém-doutores vestem
durante sua formação, ora alunos em seus cursos de doutorado e sujeitos a uma
cultura acadêmica institucional específica, ora professores universitários que
recebem alunos recém-formados do ensino médio para os cursos de graduação que
fazem parte como docentes (pelo menos uma parte deles que decide se dedicar a
esta carreira). São exatamente essas relações que este estudo levará em
consideração ao analisar o contexto cultural e social de produção autoral destes
recém-doutores, porém sem esquecer o direcionamento do nosso olhar
prioritariamente para a autoria deste doutor e os usos da mídia digital ao longo
deste processo.
5.1.2 Estrutura, história e aproximações entre a PUC-Rio e a UCSC
Além dos grupos de pesquisa, é importante também conhecer um pouco da
história e estrutura dos locais onde se realizou a busca dos doutores para compor
este estudo, universidades que abrigam os grupos de pesquisa e os cursos de
doutorado onde se formaram a maioria dos entrevistados e onde se passou parte
de suas atividades de busca de fontes, relação com professores e colegas e a
construção da autoria de suas teses.
A PUC-Rio71, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
caracteriza-se como instituição de ensino, pesquisa e extensão de caráter privado,
porém sem fins lucrativos, com orientação no “respeito aos valores humanos e na
71 Síntese feita a partir de sua História, Missão e Marco Referencial presentes no site < http://www.puc-rio.br/sobrepuc/historia/index.html>.
Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 197
ética cristã”, entendido como “primado da pessoa sobre as coisas, do espírito
sobre a matéria, da ética sobre a técnica” de acordo com seu Marco Referencial.
Ela se posiciona como universidade confessional (ligada á fé cristã difundida pela
Igreja Católica) e comunitária, prestadora de serviço de interesse público.
A PUC-Rio tem em sua direção os jesuítas pertencentes à ordem religiosa
Companhia de Jesus, aprovada em sua criação em 1540 a partir da congregação
religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade de Paris.
A Companhia de Jesus é fortemente ligada à fundação de instituições de ensino
desde seu começo (escolas, liceus, seminários), sendo muitos jesuítas também
educadores. Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil em 1549, em grupo de seis,
liderados pelo português Manuel da Nóbrega (1517-1570), fundando em 1554 um
colégio para educação de indígenas, onde se desenvolveu ao redor o que é hoje a
cidade de São Paulo. Importante notar-se que o primeiro superior geral dos
jesuítas e propositor da ordem foi o espanhol Inácio de Loyola (1491-1556).
A PUC-Rio desenvolve, segundo seu plano político-pedagógico, uma “visão
cristã de mundo”, mas afirma-se também em seu pluralismo cultural, diálogo e a
busca da excelência acadêmica. Atua tanto no ensino como na extensão e na
pesquisa, com ampla variedade de cursos. Em sua estrutura de pós-graduação
predominam as ciências humanas e sociais, equilibradas com as carreiras de
ciências exatas.
O título de Universidade é adquirido em 1946, após a junção da instituição
católica “Escola de Serviço social” com as “Faculdades Católicas”, que tinham
formado sua primeira turma de Filosofia em 1943. Vem a se tornar “Pontifícia”
em 1947, por decreto da Santa Sé. Em 1948 surge a Escola Politécnica da PUC
(EPPUC), inaugurando a área de cursos de Engenharia. Seu estabelecimento no
bairro carioca da Gávea se dá na década de 1950, com a inauguração do campus
em 1955. Na mesma década surgem os cursos nas áreas de Administração,
Jornalismo, Psicologia e Sociologia. Cursos nas áreas médicas, como Medicina e
Odontologia também surgem, porém apenas em nível de pós-graduação.
Os anos 1960 marcam o avanço de cursos de pós-graduação stricto sensu,
primeiro com o curso de Mestrado em Engenharia Mecânica e, no ano seguinte, o
de Engenharia Elétrica na área de Telecomunicações. Importante notar que em seu
pioneirismo, o Departamento de Educação tem o primeiro curso de mestrado
certificado pela CAPES no ano de 1966 e a primeira mestra em Educação no
Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 198
Brasil formada no início da década de 70. Este esforço por parte da PUC-Rio já
havia se iniciado alguns anos antes com o envio e preparação no exterior dos
futuros docentes e pesquisadores contratados para o curso de Pedagogia (Fávero,
2005, p. 38-40).
Em termos administrativos, a PUC-Rio é composta de 4 vice-reitorias, a
saber: Acadêmica, Comunitária, Administrativa e de Desenvolvimento. Também
é composta de 4 centros que aglutinam os cursos da instituição, a saber: CTCH -
Centro de Teologia e Ciências Humanas, CTC - Centro Técnico Científico, CCS -
Centro de Ciências Sociais e CCBM - Centro de Ciências Biológicas e de
Medicina.
Todos os departamentos da Universidade, totalizando 23, mais os 8
institutos, 3 núcleos e 2 centros estão localizados no mesmo campus da Gávea e
incluem os cursos de Administração, Arquitetura e Urbanismo, Ciências
biológicas, Comunicação Social, Design, Direito, Economia, Engenharias (Civil,
Elétrica, Mecânica, Industrial, de Materiais, Mecânica, de Produção), Filosofia,
Física, Geografia, História, Informática, Letras, Matemática, Pedagogia,
Psicologia, Química, Relações Internacionais, Serviço Social, Sistemas de
informação, Sociologia e Teologia. Com exceção de Arquitetura e Urbanismo e
Ciências biológicas, todos os cursos tem seus equivalentes de mestrado e/ou
doutorado, com duração média de 2 anos e 4 anos respectivamente.
Em termos numéricos, o site da PUC-Rio informa que “atualmente a
Universidade possui 113 salas, 2 auditórios com sistema informatizado de
apresentações e diversos laboratórios muito bem equipados que acomodam,
aproximadamente, 10.400 alunos de graduação, 1.500 em cursos de mestrado e
doutorado, além de mais de 4.000 matrículas por ano em pós-graduação lato
sensu. Distribuído em 23 departamentos, seu quadro de funcionários conta com
mais de 1.000 professores, 20 auxiliares de Ensino e Pesquisa e mais de 800 entre
pessoal administrativo, técnico e operacional.” Em termos de acesso à internet a
PUC-Rio conta com pontos de conexão Wi-Fi (sem fio) e rede de laboratórios de
informática disponíveis para seus alunos de graduação e de pós-graduação.
Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 199
A Universitá Cattolica del Sacro Cuore72, por sua vez, foi fundada em 1921
em Milão, na Itália, por Agostino Gemelli com um grupo de intelectuais católicos
(Ludovico Necchi, Francesco Olgiati, Armida Barelli e Ernesto Lombardo) na
presença do arcebispo de Milão, o cardeal Achille Ratti, o futuro Papa Pio XI,
tendo o reconhecimento legal por parte do Estado em 1924 como universidade
livre. Os dois primeiros cursos foram de Ciências Sociais e Filosofia. Na mesma
década, nasce a faculdade de Ciências Políticas, Economia e Comércio. Em 1936
é criado o Instituto Superior de Ensino, atual curso de Ciências da Educação e em
1947 a de Economia.
Em 1928, o Padre Agostino Gemelli comprou o antigo mosteiro cisterciense
de Santo Ambrósio, que se tornou a sede da Universidade Católica em 30 de
outubro de 1932. Na década de 50 e 60, ocorre a expansão a criação de outros
campi e cursos superiores além de Milão. É a maior Universidade não-estatal da
Europa, em torno de 42 mil estudantes e 1400 professores em seus campi. Possui
atualmente cinco campi localizados em Milão, Brescia, Piacenza-Cremona, Roma
e Campobasso. Semelhante à PUC-Rio, a UCSC também apóia o diálogo com
todas as culturas, ressaltando em seu site a “amizade entre razão e fé”.
Em sua estrutura administrativa, o reitor é eleito pelo Conselho de
Administração para um mandato de 4 anos, renováveis por até duas vezes. O
Conselho é formato por professores com pelo menos 5 anos de atividade de
ensino na instituição. Na sede de Milão a UCSC conta com 18 departamentos
ativos, 10 institutos e mais de 30 centros de pesquisa, incluindo o CREMIT. Com
a sua especificidade, são os locais designados para a realização e promoção de
pesquisa, sejam institucionais ou encomendadas por terceiros. Possui mais de 500
convenções e acordos com universidades em todo mundo, o que inclui a PUC-
Rio, recebendo em 2009 cerca de 2100 estudantes não-italianos.
Entre os departamentos do campus de Milão estão os de Filosofia,
Pedagogia, Economia e Gestão de Negócios, Psicologia, Ciências da
Comunicação, Ciências Políticas, Sociologia, História Moderna e Contemporânea
e Estudos Medievais e do Renascimento humanista. A sede de Milão é marcada
72 Síntese feita a partir das seções Ateneo, Tutti i corsi e Ricerca Scientifica presentes no site <http://www.unicattolica.it/>. A seção referente ao campus Milano, no endereço <http://milano.unicatt.it/>, serviu-nos para detalhamento das especificidades do local onde foi realizada a pesquisa. O site <http://www.unicattolica.it/2168.html> contém informações específicas sobre as principais escolas e programas de doutorado, de todos os campi da UCSC.
Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 200
fortemente pelos estudos em ciências sociais e humanas, com programas de
doutorado vinculados à maioria destes departamentos. História, Psicologia,
Pedagogia, Administração, Direito, Economia, Sociologia, Comunicação,
Linguística e Literatura incluem-se entre os programas de doutoramento. Cursos
de mestrado têm em média 2 anos e os de doutorado 3 anos, podendo ser
estendidos pelo aluno mediante requisição.
As características de aproximação cultural entre as universidades PUC-Rio e
UCSC que justificam a escolha delas como locais de pesquisa convergentes e
complementares se constituem do seguinte modo:
Quadro 10 - Aproximações entre as universidades PUC-Rio e UCSC de Milão.
Todas estas convergências ajudaram na coleta mais aproximada e uniforme
de dados assim como seu tratamento, além de possuírem, ambas, grupos de
pesquisas ligados à Educação e o uso de mídias digitais, enriquecendo o
intercâmbio acadêmico já em curso entre o JER e o CREMIT e oferecendo
possibilidades de estudos e levantamentos de dados originais, visto que a Europa e
em particular a Itália é berço de uma cultura latina letrada e universitária que
Aproximações entre a PUC‐Rio e a UCSC Milano
Universidades católicas
São universidades de origem e administração ligada à Igreja Católica desde sua fundação.
Criação recente São constituídas e têm seus períodos de expansão iniciados na primeira metade do século XX.
Estrutura de excelência
Mantém compromisso com ensino de excelência e boa estrutura de atendimento a seus estudantes.
Do setor privado São universidades não‐estatais.
Áreas diversificadas
Valorizam a presença de diversas áreas de conhecimento no mesmo campus.
Programas de doutorado
Possuem programas consolidados de doutorado na área de ciências humanas e sociais.
Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 201
influenciou as demais universidades no mundo, tópico este desenvolvido adiante
com maior detalhamento.
6 Metodologia
6.1 Tipo de pesquisa
O desenho metodológico adotado nesta investigação se constituiu num
estudo de casos múltiplos, nos termos propostos por Yin (2001), culminando na
análise de conteúdo via categorias temáticas segundo a orientação de Bardin
(1977), objetivando uma coleta e uma posterior análise dos dados empíricos que
chegasse, da melhor maneira possível, a algumas respostas às questões propostas
inicialmente.
Para a consecução dos objetivos da pesquisa, nos inspiramos nos processos
usados em pesquisas de trajetória de vida através de entrevistas em profundidade,
sendo que todas as entrevistas, em conjunto, ofereceram suporte a um estudo de
casos múltiplos representados pela unidade básica do processo de construção
autoral da tese dos sujeitos-doutores.
Inúmeras razões podem levar à escolha da modalidade estudo de caso em
uma pesquisa, mas a primeira delas a ser analisada é o tipo de questão proposta, e
consequentemente que objetivo se deseja alcançar com o estudo. Comparando
modalidades como experimento, levantamento de dados, análise de arquivos,
pesquisa histórica e estudo de caso, Yin (2001, p. 24-25) utiliza o artifício de
interrogar a modalidade da questão feita pelo pesquisador.
No caso do presente trabalho, entre as possibilidades como, porque, quem,
o que, onde, quanto, a que pareceu melhor se encaixar foi a como, isto porque
procuramos indagar como se realizava um processo, ou seja, de que maneira se
desenvolveu uma determinada atividade ao longo do tempo, com o objetivo de
entender e descrever as características e as tendências dessa atividade. Para este
fim, indagar diferentes sujeitos a respeito de sua atividade de autoria acadêmica,
que se desenvolveu ao longo de alguns anos de suas vidas, através do estudo de
caso de cada um deles, foi uma alternativa adequada ao tipo de questão proposta.
Metodologia 203
A modalidade de investigação escolhida requer a definição de sua unidade
básica de análise. Por isso foi definido o processo de construção autoral de uma
tese acadêmica como unidade básica de estudo, não sendo analisado, embora
possa ser em outras situações de estudo, nem um evento e nem uma instituição
específica, constituindo-se o número de estudos de caso de acordo com o número
de sujeitos participantes nesta fase do estudo (para cada sujeito uma tese e um
processo de construção autoral correspondente). Como limitador dessa escolha,
podemos adicionar que os processos estudados foram aqueles em que o sujeito fez
uso de recursos digitais (computador e internet) para sua pesquisa e construção
autoral, critério este fundamental na escolha dos sujeitos participantes.
O número de casos não foi um número fixo, a priori, pois o trabalho de ida
a campo indicou maior ou menor necessidade de procurar sujeitos, à medida que
respostas para as questões de estudo foram sendo alcançadas e novas
circunstâncias encontradas mudaram o próprio desenho da pesquisa.
Não constou, desde o início da pesquisa, o objetivo de coletar uma
amostragem significativa do universo total de sujeitos. Pelas características da
pesquisa, optamos pela procura de sujeitos que pudessem gerar contrastes de
experiências e diversidade de situações ao serem comparados entre si em seus
depoimentos, interessando mais do que simplesmente a constatação estatística de
comportamentos previamente supostos.
Logo, procuramos seguir as recomendações oferecidas por Alves-Mazzotti
(2006), que a partir de Robert Yin (1984) afirma:
Tal como os experimentos, os estudos de caso, portanto, não representam “amostra” cujos resultados seriam generalizáveis para uma população (generalização estatística), o pesquisador não procura casos representativos de uma população para a qual pretende generalizar os resultados, mas a partir de um conjunto particular de resultados, ele pode gerar proposições teóricas que seriam aplicáveis a outros contextos. A isto Yin (1984, p.39) denomina “generalização analítica”.
Segundo Yin (2001, p. 58), “na generalização analítica, o pesquisador está
tentando generalizar um conjunto particular de resultados a alguma teoria mais
abrangente”. Dessa forma, os resultados encontrados poderão ser testados em
outros casos, replicados em outras situações em que o objeto de pesquisa seja o
mesmo, confirmando ou não a teorização gerada inicialmente. A generalização
Metodologia 204
analítica funciona através da lógica da replicação, e nos estudos de casos
múltiplos essa replicação pode ser testada no conjunto de casos obtido.
Convém também especificar que o estudo de casos múltiplos se contrapõe
ao estudo de caso único. No estudo de caso único, de acordo com Yin (2001, p.
61-63), contamos com três situações principais para seu uso: ser decisivo para a
testagem de uma teoria; ser raro ou extremo e, portanto, não facilmente
localizável; ser revelador a respeito de um fenômeno previamente inacessível à
investigação científica. Não pensamos que este estudo se localize em nenhuma
destas situações listadas, pois a elaboração de uma tese com o uso do computador
e da internet por doutorandos vem se tornando cada vez mais uma obrigatoriedade
no meio universitário nesta fase de transição dos suportes de leitura e de escrita,
especialmente a partir dos anos 2000, conforme foi indicado na revisão de estudos
empíricos no Capítulo 3.
O que se percebe é que essa modalidade processual de pesquisa ajudou a
entender, pouco a pouco e de maneira comparativa e cumulativa, o fenômeno
mais amplo do uso de tecnologias digitais na construção autoral de doutores em
suas teses e na própria dinâmica específica de trabalho na academia, sendo mais
importante do que a escolha de algum caso específico e seu aprofundamento
ultradetalhado, o que pode limitar as descobertas às idiossincrasias de um único
sujeito. Foi pensando nessa modalidade de estudos de caso que na fase de análise
foi produzida uma ficha resumitiva de cada caso, o que Yin (2001, p. 73) chama
de relatório de caso individual, assim como um gráfico na forma de mapa mental
evidenciando as especificidades de cada um deles (ver Anexo VI), para
comparação de tendências e possibilidades de elaboração de perfis.
Optamos por este desenho metodológico por dois motivos. O primeiro é
que após a construção autoral e sua defesa frente à banca, o sujeito já distante do
“calor dos acontecimentos” que caracterizam a tensão de sua fase final de
doutoramento, provavelmente tem maior distanciamento ao fazer a recapitulação e
análise dos acontecimentos vividos por ele durante a elaboração do texto
acadêmico, tendo inclusive a visão completa do processo. O segundo motivo é
que o desenvolvimento da coleta dos depoimentos, mesmo que focados apenas no
processo acadêmico, demandou encontros presenciais para entrevistas em
profundidade, incompatível com um período de vida em que a dedicação e os
Metodologia 205
esforços de atenção estão todos direcionados para a feitura do texto da tese (fase
final da pesquisa), uma questão de respeito ao momento vivido pelo sujeito.
Quanto à significância dos casos propostos para a análise, podemos dizer
que ela é contextual e de ordem tecnológica, ligada principalmente à
contemporaneidade do caso e não a acontecimentos distantes como em uma
pesquisa histórica, visto que o período proposto é o de realização da construção
autoral da tese na primeira década deste século (2000-2010), marcada por uma
expansão vertiginosa de técnicas e tecnologias em suportes digitais que, por
hipótese, estão afetando, de alguma maneira, o processo de desenvolvimento da
pesquisa acadêmica. Tal expansão gera, a princípio, repercussões na autoria
acadêmica estudadas muitas vezes de maneira geral (Oliveira & Noronha, 2005),
sem o devido aprofundamento em casos particulares em que os meios digitais se
mesclam com a utilização de meios convencionais de armazenagem e transporte
do saber científico, gerando novas formas de acesso, de busca, de leitura, de
escrita, de organização e de comunicação entre pesquisadores acadêmicos.
Portanto, antes de avaliar isoladamente as condições tecnológicas
instrumentais de produção de teses (uso do computador e da internet) através, por
exemplo, de questionários e obtenção de dados estatísticos (dominante quando
analisada a literatura a respeito desse tema), propomos aqui uma imersão em
variáveis sociais, acadêmicas, contextuais e familiares dos sujeitos, com possíveis
convergências em suas trajetórias e a consequente generalização analítica quando
possível.
6.1.1 Alguns apontamentos sobre limitações desta pesquisa
É sempre bom realizar uma reflexão sobre fatores limitantes da pesquisa, a
fim de esclarecer aquele que lê o texto e evitar a apreensão de resultados sem tais
avisos prévios. De maneira objetiva serão analisados aqui quais fatores foram
limitantes nesta pesquisa.
O primeiro fator seria o conjunto de casos obtidos para o estudo. Tivemos
plena consciência de que para realmente haver uma análise completa de cada
perfil, através das categorias temáticas obtidas na análise de conjunto inicial,
seriam necessárias entrevistas seriadas com o mesmo sujeito, ao modo das
Metodologia 206
histórias de vida, mais completas no conteúdo, porém com foco dirigido. Isso
porque o sujeito nunca se revela totalmente em uma primeira entrevista, ainda
mais quando não conhece o entrevistador, e segundo porque o entrevistador nunca
saberá perguntar tudo que necessita, justamente porque só o saberá quando a
análise dos dados estiver em andamento e as lacunas de informação e questões
surgirem por completo (e o completo nunca será completo de fato, exigindo outras
rodadas). Portanto, um quadro que mostre a fotografia de um caso nunca é o caso
completo em si, não reflete a totalidade de experiências do sujeito, mas aquilo que
foi permitido pelo sujeito ser mostrado naquele momento em que se realizou a
entrevista.
O segundo fator de limitação deste estudo se refere à própria limitação
imposta na amostra de sujeitos, ou seja, eles pertenciam a duas universidades
distintas (salvo alguns que tinham estado em outras universidades antes do
doutorado e os dois casos de exceção apresentados anteriormente). Além disso,
são sujeitos de duas regiões distintas e com culturas e histórias próprias, Rio de
Janeiro e Milão (ver o Capítulo 4 e 5). Dessa forma, foi possível esboçar alguns
fatores gerais, mas nunca saberemos se são gerais até um estudo de maior
amplitude ser realizado, preferencialmente de maneira quantitativa com aplicação
ampla de questionários buscando efetiva generalização estatística de fenômenos
apontados como tendências no próximo capítulo em que são analisados os dados.
O terceiro fator é o da abrangência bibliográfica. Reconhecemos que
nunca será possível saber quantos estudos de fato já foram feitos dentro dessa
temática, mesmo rastreando bases de dados recentes e integradas, em diversas
línguas, pois o número de periódicos, assim como de teses e dissertações é
verdadeiramente imenso. Dessa forma, este estudo sempre correrá o risco de dizer
o que já foi dito e investigado em outras partes do mundo, cabendo aqui sinceras
desculpas pela impossibilidade real, em plena era de expansão da atividade
científica em redes mundiais, de fazer a requisição de originalidade. A única
originalidade que podemos garantir é desta amostra de doutores obtida e de suas
experiências particulares relatadas.
Metodologia 207
6.2 Atores da pesquisa
Foram atores principais da pesquisa doutores formados entre os anos 2005 e
2010, com graus diferentes de disponibilidade e apropriação de recursos
comunicacionais digitais (entendidos aqui basicamente como uso do computador
e da internet) e diferenças culturais em seus usos, ligados a universidades de
origem católica (PUC-Rio e UCSC) e com histórico de ensino situado entre as
melhores universidades em cada país, uma no Brasil e outra na Itália.
Entre as características que os uniram quando classificados como sujeitos da
pesquisa estão: (1) serem doutores formados, entre os anos 2005 e 2010,
preferencialmente com doutorado pela PUC-Rio e na UCSC, admitindo-se
exceções a partir dos casos encontrados em campo, mas sempre com alguma
formação ligada a uma das duas universidades (graduação e pós-graduação lato
sensu ou algum trabalho desenvolvido dentro da universidade, por exemplo), (2)
terem pertencido a cursos de doutorado em Educação (maioria) ou com temas
ligados à Educação em outro curso de doutorado (minoria) e seus equivalentes no
sistema educacional italiano, (3) terem tido acesso ao computador e razoável
utilização da internet como uma das fontes de pesquisa e elaboração da tese
durante o doutoramento.
Quanto ao número de atores, inicialmente pretendia-se limitá-los ao ponto
de saturação da pesquisa, ou seja, quando os dados obtidos começassem a se
repetir com frequência e a realização de novas entrevistas pouco ou nada
acrescentaria de novidade ao estudo. Porém inúmeras contingências encontradas
na pesquisa de campo levaram ao número de 16 entrevistados como total para o
conjunto de casos e procuraremos indicar estes fatores limitantes a seguir. Cabe
assim evidenciar que esta limitação ao final do estudo não foi fator
comprometedor, visto que as recorrências encontradas foram satisfatórias, sendo
de igual importância as ausências e contrastes encontrados nos usos do
computador e da internet na construção das teses desses doutores.
Em primeiro lugar, procuramos um equilíbrio numérico entre os
entrevistados no Brasil e na Itália, para que a representatividade e o volume de
dados fossem aproximadamente iguais e consumissem tempo e esforços de análise
Metodologia 208
em igual proporção. Seguindo esta estratégia chegamos a um total de 8
entrevistados na Itália e 8 entrevistados no Brasil.
Na Itália, o contato com os entrevistados foi o tempo todo intermediado
pelo orientador de pesquisa no período de permanência por lá (outubro de 2010 a
maio de 2011), o coordenador do CREMIT e professor Pier Cesare Rivoltella,
pois, diferente dos brasileiros, entre os italianos (ao menos aqueles que habitam a
parte norte do país) não é comum o hábito de responder a solicitações de pessoas
desconhecidas.
É bom enfatizar que essa intermediação se alongava no tempo por dois
motivos principais. O primeiro era o agendamento de compromissos, algo
dificultoso no meio acadêmico italiano, levando a realização de entrevistas após
algumas semanas da realização do contato inicial e em alguns casos pela demora
em responder aos e-mails enviados. Somou-se a este processo a não
disponibilidade da maioria dos doutores em participar como sujeitos da pesquisa,
fato este evidenciado pela ausência de respostas ao convite enviado via e-mail
para 50 pessoas formadas no doutorado em Educação da UCSC entre 2005 e
2010.
Dessa forma, o total de 4 entrevistados ligados ao CREMIT e 4
entrevistados extra-CREMIT limitou a amostragem total a ser feita no Brasil,
seguindo o critério escolhido de existir uma equivalência numérica de casos. Cabe
enfatizar que, após o retorno ao Brasil, a fase de entrevistas extra-JER foi
extremamente facilitada pela disponibilidade dos sujeitos que responderam
prontamente à carta enviada a eles em nome da orientadora, com respostas
positivas ultrapassando o necessário para o estudo em pouco mais de 24 horas
após o envio (a diferença cultural de abertura a pessoas desconhecidas foi
marcante).
Os contatos no Brasil foram facilitados também pela vantagem de encontrar
os e-mails atuais dos pesquisadores através de buscas na plataforma Lattes do
CNPq e nos sites das universidades que pertenciam, algo difícil de obter na Itália
pela inexistência de plataforma online pública de currículos. Na Itália a
dependência da secretaria do curso de doutorado no envio dos contatos por e-mail,
mais a intermediação do orientador transformaram um processo a princípio
simples em algo que demandou longo período de espera e posterior ausência de
respostas.
Metodologia 209
Outro fator determinante na limitação de sujeitos foi o processo de
transcrição ser extremamente lento, mas que, por outro lado, oferecia em cada
entrevista transcrita, um caudal de dados que ultrapassava de muito as
expectativas.
O último fator limitante foi a questão do tempo disponível para realização
do estudo, pois cada entrevista, para ser realizada, consumia em média um mês de
trabalho, envolvendo as seguintes etapas: (1) a busca do sujeito, (2) o contato
inicial, (3) o agendamento em local pré-acordado, (4) a realização propriamente
dita da entrevista, (5) a transcrição, (6) a impressão para leitura, (7) a análise
inicial, (8) o fichamento da entrevista em tópicos e (9) a inserção da mesma no
corpo de dados geral. O período de realização de entrevistas se estendeu de maio
de 2010 a setembro de 2011, um total exato de 16 meses.
6.2.1 Critérios para escolha dos atores
A escolha dos doutores participantes deste estudo foi determinada pelos
seguintes critérios:
O primeiro critério foi o período em que a tese foi gestada. Os doutores
foram selecionados de acordo com sua formação entre os anos 2005 e 2010, por
um motivo bem definido: a segunda parte da década de 2000 se caracteriza pela
de expansão de ferramentas da Web 2.0 (O´Reilly, 2005), tais como a Wikipédia,
Orkut, Facebook, Twitter e Blogs automáticos, assim como o desenvolvimento de
mecanismos de buscas textuais avançados, tanto por empresas de busca como o
Google através dos serviços Google Books e o Google Acadêmico, quanto por
universidades que integraram seus bancos de dados e os disponibilizaram através
de buscadores de abrangência mundial, devidamente adaptados pelas bibliotecas
universitárias ou por portais de conteúdos abertos.
É um período em que o uso da Web 2.0 se consolida e a disponibilização
de textos pelos internautas cresce significativamente (blogs, wikis, redes sociais),
com a proliferação tanto de textos não-acadêmicos, como de textos acadêmicos a
partir do crescimento da disponibilidade de teses e dissertações on-line
(bibliotecas online universitárias) e de repositórios de revistas científicas (Scielo,
ERIC, JSTOR). É um período também marcado pela expansão da banda larga e
Meto
conse
produ
fenôm
nas
ocorr
perte
de cu
Univ
de do
regiã
Catto
ciênc
Tivem
realiz
inclu
orige
Figur
como
•Utiliescrpesq
•Nãouso (com
dologia
eqüentemen
uzidas pelo
menos de lo
duas últim
rido com po
O segun
encia a uma
ursos de pó
versidade Ca
outorado em
ão de Milão
olica del Sa
cias human
mos um ca
zado em ou
uídos na am
em do sujeit
ra 11 - Critér
Por fim,
o fonte de
izou a internet norita da tese para squisas
o é totalmente andos meios digitamputador e intern
Int
nte um m
os internau
ongo prazo
mas décadas
oucos anos d
ndo critério
a universida
ós-graduaçã
Católica do R
m Educação
o, onde o CR
acro Cuore,
nas e sociai
aso excepci
utra institui
mostragem
to o interess
rios de seleç
, um critéri
pesquisa e
o período de suas
ntagônico ao is net)
ernet
maior acess
utas. Cabe
e sim transf
s, sendo n
de defasage
o foi a ori
ade privada
o em ciênc
Rio de Jane
o. Outra par
CREMIT atu
, com ampl
s e em esp
onal no Br
ição, mas p
final, visto
se maior era
ção dos sujei
io crucial f
e construção
•Formentreda PU
•Sua foEducaequiv
so a arqu
enfatizar
formações r
necessário q
em do temp
igem do do
que ofereci
cias humana
eiro – PUC-
rte foi selec
ua com suas
la variedade
pecial o cur
rasil e outro
pela relevân
o que ante
a o processo
itos participa
foi a declar
o autoral d
mou‐se, preference 2005 e 2010 no UC‐Rio ou da UCS
ormação pertencação ou curso devalente na Itália
Períod
uivos e ap
que este
rápidas, pre
que os cas
o presente.
outor. Uma
ia grande qu
as e sociais
Rio, que tam
cionada em
s pesquisas,
e de cursos
rso de dou
o na Itália
ncia dos dep
es de valor
o de escrita
antes da pesq
ração de te
da tese de d
ialmente, doutorado SC
ce à área de e doutorado
o e área
plicações m
estudo não
esentes princ
sos relatado
a parte dos
uantidade e
, no caso a
mbém conté
uma unive
no caso a
de pós-grad
torado em
onde o dou
poimentos e
izar absolu
da tese.
quisa
er utilizado
doutorado,
•Declardo estuem sua
•ResideJaneiro
210
multimídia
o é sobre
cipalmente
os tenham
s doutores
e variedade
a Pontifícia
ém o curso
ersidade na
Università
duação em
Educação.
utorado foi
eles foram
utamente a
a internet
em algum
rou‐se favorável audo, disponibilizaa agenda
e nas proximidadeo ou de Milão
Disponi
a participar ando tempo
es do Rio de
bilidade
Metodologia 211
nível, mesmo que mínimo. Sem este uso a pesquisa seria inviável, pois seu objeto
de estudo não seria encontrado nos depoimentos obtidos nas entrevistas e mesmo
em sua realização as perguntas básicas do roteiro não poderiam ser respondidas
(fase 1).
É preciso enfatizar que não foi critério de seleção a pesquisa acadêmica
realizada pelo doutor propriamente dita, ou seja, não foi aplicado qualquer critério
referente à pertinência, originalidade, coerência e validade da tese defendida em
seu campo científico, visto que este trabalho foi realizado pelo orientador e pela
banca examinadora que concedeu a titulação ao doutor entrevistado. Procurou-se
chegar ao momento da entrevista com o mínimo de informação a respeito do
entrevistado, tendo em geral aquelas especificadas pelo orientador de pesquisa, no
caso italiano, e pela listagem de doutorandos, informações ditas pela orientadora
de pesquisa e temas da tese ou currículo Lattes no caso brasileiro. Optamos
sempre por descobrir os detalhes da trajetória de vida através da própria fala do
sujeito e não por meio de documentos que pudessem influenciar de modo
determinante a abordagem e seleção de perguntas.
Porém, a verificação de seus trabalhos acadêmicos e a continuidade no
desenvolvimento de artigos em novos projetos de pesquisa, após a conclusão do
doutorado, foi critério relevante para escolha, quando possível a sua obtenção,
visto que o desenvolvimento de uma carreira acadêmica e produtiva é forte sinal
de que houve interesse e motivação elevados na pesquisa realizada durante a fase
de doutoramento, aspecto este que poderia oferecer rica quantidade de dados
traduzidos em experiências vividas. No Brasil este acompanhamento pôde ser
feito via consulta breve ao currículo na Plataforma Lattes, porém na Itália
dependeu diretamente dos contatos e relacionamentos do co-orientador da
pesquisa, Pier Cesare Rivoltella, que fazia a seleção dos sujeitos a partir dos
critérios que eram informados a ele. Todos os 16 entrevistados para este estudo
tinham um vínculo universitário, mesmo que no momento fosse em atividades
administrativas institucionais, não-docentes, como administração de cursos junto a
professores ou participação em grupos/laboratórios de pesquisa.
Um critério amadurecido durante o decorrer das entrevistas foi dividir os
sujeitos em dois subgrupos numericamente proporcionais. O primeiro subgrupo
seria formado por 4 sujeitos ligados a cada um dos grupos de pesquisa parceiros
nas duas universidades, o JER na PUC-Rio e o CREMIT na UCSC. O segundo
Metodologia 212
subgrupo seria composto por 4 sujeitos fora do círculo de relações dos dois grupos
de pesquisa. Adotamos esse critério primeiro pela escassez de sujeitos disponíveis
para entrevista na Itália, levando à entrevista de pessoas próximas ao CREMIT e
em segundo lugar pelo rico material obtido nas 4 entrevistas iniciais feitas no
Brasil com 3 integrantes do JER e 1 por indicação de integrante do JER, que se
encaixavam nos critérios definidos para a pesquisa. Outro ponto a ser ponderado é
que a ligação a grupos de pesquisa que versam sobre TICs na Educação garantiria,
por hipótese, que ao menos metade dos entrevistados fossem sujeitos com certo
grau de uso acima da média das mídias digitais, mesmo que visando o tema de
pesquisa adotado e o trabalho acadêmico formal.
6.2.2 Exclusões de entrevistas e algumas exceções
Destacamos a existência de 3 sujeitos que foram exceção nos critérios de
seleção para este estudo, mas por apresentarem conteúdo relevante em suas
entrevistas foram incorporados na pesquisa. O primeiro foi na primeira fase de
estudo no Brasil (sujeito N4), uma doutora atuante em universidade particular e
outra pública no Rio de Janeiro e colega de uma das entrevistadas do JER,
trabalhando na mesma instituição que esta integrante do JER trabalha atualmente
como professora.
A segunda exceção ocorreu na Itália, com uma estudante do curso de
doutorado em fase avançada de pesquisa (sujeito N5), no terceiro ano e em vias de
se formar, apresentando dados relevantes sobre características do curso de
doutorado na UCSC recentemente modificadas pela direção do curso, impossíveis
de se obter com outros sujeitos formados em anos anteriores e com utilização
intensiva de mídias digitais em sua pesquisa.
O sujeito N8, embora não se caracterize totalmente como uma exceção ele
teve formação fora da UCSC, porém tem ligação direta e constante com os
trabalhos desenvolvidos pelo professor Pier Cesare Rivoltella no CREMIT, se
constituindo um sujeito atuante na área de Educação e valendo a pena ser incluído
na amostra. Nenhuma das três entrevistas prejudicou o entendimento do objeto de
pesquisa, pelo contrário, contribuíram para melhor entendimento dos usos da
Metodologia 213
internet e do computador na escrita da tese por diferentes ângulos e aspectos
detalhados no capítulo de análise de dados desta tese.
Foi necessário optar pela exclusão de duas entrevistas e cabe aqui explicar
os motivos. Uma delas foi realizada na Itália e a entrevistada não se mostrou
disponível a responder as perguntas, estava com pressa para uma reunião
agendada e não estava concentrada no que era perguntando, dando respostas vagas
e sem aprofundar-se nos temas questionados, pois estava sempre preocupada com
a chamada que ia receber no celular.
A segunda entrevista excluída se realizou no Brasil e a entrevistada relatou
que o processo dela de uso do computador e da internet na escrita da tese era bem
limitado, sendo boa parte das tarefas, como a formatação do material, realizadas
por suas secretárias, limitando o uso do computador a aspectos tão básicos que
não valeria a pena transcrever todo material, apresentando respostas muito mais
centradas em sua história de vida do que na escrita da tese propriamente dita. Em
ambos os casos a transcrição das entrevistas exigiria um esforço de trabalho com
retorno mínimo de dados relevantes.
Dessa forma, sinteticamente, apresentamos os sujeitos de acordo com a
tabela a seguir, em ordem cronológica de entrevistas:
Subgrupo Código do
Sujeito
Data da entrevista
(ordem cronológica)
Formação no
doutorado
Idioma
Ligados ao
JER
BR.N1 5 de maio de 2010 2005-2009 Português
Todas as entrevistas
foram realizadas no Rio
de Janeiro.
BR.N2 18 de maio de 2010 2003-2007
BR.N3 9 de set. de 2010 2004-2008
Indicação do
JER, formada
fora da PUC
BR.N4 23 de set. de 2010 2004-2009
Ligados ao
CREMIT
IT.N5 18 de nov. de 2010 2008-2011 Italiano
Período de pesquisa de
doutorado sanduíche
passado na Itália entre
outubro de 2010 e maio
de 2011.
Todas as entrevistas
foram realizadas e
transcritas durante a
estadia em Milão.
IT.N6 2 de dezembro de 2010 2003-2006
IT.N7 11 de janeiro de 2011 2002-2005
Formado fora
da UCSC
IT.N8 25 de janeiro de 2011 2004-2007
Fora do
CREMIT
IT.N9 21 de fevereiro de 2011 2004-2007
IT.N10 15 de março de 2011 2003-2007
IT.N11 04 de abril de 2011 2006-2008
IT.N12 06 de abril de 2011 2005-2008
Metodologia 214
Fora do JER BR.N13 11 de agosto de 2011 2004-2008 Português
Todas as entrevistas
foram realizadas no Rio
de Janeiro, com exceção
de uma entrevista em
Nova Iguaçu.
BR.N14 19 de agosto de 2011 2004-2008
BR.N15 5 de setembro de 2011 2007-2010
BR.N16 13 de set. de 2011 2006-2010
Quadro 11 - Resumo das entrevistas realizadas e procedência dos sujeitos.
6.3 Instrumentos utilizados na coleta de dados
Para a coleta de dados, foram utilizados os seguintes instrumentos:
entrevista semi-estruturada e o diário de campo.
6.3.1 A entrevista
As entrevistas se configuraram como semi-estruturadas e seguiram um
roteiro inicial que teve por objetivo não haver o afastamento de seu
desenvolvimento do foco da pesquisa. Assim sendo, construiu-se o roteiro
contendo questões que foram agrupadas por assuntos logo no início da
investigação, obedecendo em sua estrutura as questões problematizadas na fase do
projeto de pesquisa. O roteiro se encontra nos Anexos I (versão em italiano) e III
(versão em português).
Esse roteiro sofreu algumas modificações para seu aprimoramento, sem que,
contudo, comprometesse a qualidade e a sua fidedignidade aos propósitos iniciais,
pois alcançamos desde o começo os principais aspectos objetivados nas
entrevistas, embora menos estruturadas na sequência de perguntas feitas, mas não
nos assuntos abordados. Este fato pode ser comprovado na fase de análise do
material, quando as primeiras entrevistas forneceram trechos que preenchiam
quase todas as categorias de análise elencadas (nenhuma entrevista preencheu
todas as categorias criadas).
O roteiro foi dividido em 3 fases.
Na primeira fase, chamada “Aquecimento”, o objetivo era que o
entrevistado narrasse como foi sua formação acadêmica, que cursos escolheu, em
que época estudou e que temas teve interesse de explorar durante suas pesquisas
de especialização, mestrado e doutorado. Nessa fase, o entrevistado teve como
Metodologia 215
tendência contar detalhes de sua vida, como escolhas profissionais e acadêmicas,
ficando mais a vontade. Também nesta fase era perguntada a história pessoal
quanto ao uso do computador e da internet, visando resgatar memórias
relacionadas aos primeiros usos dos suportes digitais e como foram se
desenvolvendo esses usos ao longo do tempo. Além de servir de aquecimento,
nesta fase foi possível captar elementos que serviram de gancho nas etapas
seguintes, assim como preparar o terreno para as perguntas mais específicas,
deixando o entrevistado mais a vontade.
Chamamos a segunda fase do roteiro de “Construção da tese”. Nesse
momento, os objetivos de pesquisa eram materializados na forma de questões.
Essa fase envolvia o uso do computador e da internet durante o doutorado, na
escrita da tese; o uso de fontes de referência formais, impressas ou digitais, e o
modo como as buscou; o momento de escrita da tese; a organização do texto da
tese; a organização dos arquivos no computador e na internet; os modos de
comunicação com outros pesquisadores e sujeitos da pesquisa, como foram
realizados; a percepção sobre confiabilidade de fontes.
Denominamos a fase final de “Revisão e encerramento”, quando convidava-
se o entrevistado a refletir sobre o que mudou em seus usos do computador e da
internet nos últimos 10 anos, entre 2000 e 2010. O objetivo aqui era observar que
pontos o entrevistado levantava quanto ao seu uso da internet e do computador, as
percepções que possuía sobre a última década, marcada pelo aprofundamento e
expansão da Web 2.0 e dos serviços online. Questões mais gerais como excesso
de informações, velocidade das tecnologias e uso do tempo puderam ser feitas,
caso não tivessem sido mencionadas nas fases anteriores da entrevista. Essa parte
final me serviu de balanço e espaço para preenchimento de lacunas percebidas e
que poderia-se trazer à tona, deixando o entrevistado mais livre para mencionar
aspectos não evidenciados pelas perguntas iniciais aplicadas. Dependendo do
tempo que a entrevista havia consumido e dos sinais de cansaço do entrevistado
esta última fase era encurtada ou expandida.
É importante reafirmar que todas as entrevistas foram gravadas em áudio e
transcritas na íntegra.
Metodologia 216
6.3.2 Diário de campo
Durante a pesquisa, o diário de campo foi um instrumento fundamental para
acompanhar todo o processo de entrevistas e experiências em campo, visando a
composição da história de vida do entrevistado.
É evidente que a pesquisa nunca teve a pretensão etnográfica, porém o
princípio de utilização do diário de campo foi o mesmo, ou seja, como
instrumento de acúmulo de dados para posterior análise, reflexão e inserção, caso
necessário, no texto final do estudo.
O diário foi sendo preenchido logo após os encontros com os entrevistados,
detalhando-se os lugares visitados, as pessoas entrevistadas e seus hábitos,
acontecimentos extras e não previstos, complementando, por exemplo, gravações
em áudio. O diário de campo permite a formulação posterior de sínteses baseadas
em recorrências, ou seja, em padrões manifestos e somente percebidos com o
acúmulo de anotações, porém neste estudo teve papel bem menor em relação às
entrevistas transcritas.
As anotações realizadas nesse diário de campo e nas fichas resumidas das
entrevistas contiveram detalhes do ambiente onde se realizou a entrevista,
sensações e sentimentos surgidos durante a entrevista, impressões gerais sobre o
entrevistado, entre outros elementos essenciais para reflexões posteriores.
O uso mais intenso do diário ocorreu no período de estadia em Milão, pois
as anotações serviam para detalhar as experiências vividas no dia a dia da
universidade, notando-se diferenças marcantes. A participação em defesas (bancas
de mestrado e graduação), a observação de eventos com os alunos de doutorado e
a participação em aulas de mestrado foram os pontos principais das anotações,
permitindo entender melhor como o doutorando vai sendo formado no ambiente
da UCSC. Foram essas questões que levaram a buscar posteriormente os dados
que compuseram a seção intermediária da tese, quando procurou-se detalhar os
sistemas de ensino italiano e brasileiro (Capítulo 4).
Metodologia 217
6.4 Procedimentos para coleta de dados e preparação do material empírico
Serão descritos a seguir os procedimentos que foram adotados nas duas
fases da pesquisa, um voltado para a exploração do campo com a sondagem
inicial das apreensões e experiências dos sujeitos e outro para a realização do
estudo propriamente dito.
6.4.1 Entrevistas-piloto e entrevistas de ambientação
Foram realizadas na fase inicial do estudo 4 entrevistas com os sujeitos
ligados ao JER, que depois por recomendação do orientador de pesquisa na Itália,
Pier Cesare Rivoltella, acabou-se por incorporá-las ao material empírico de estudo
devido à riqueza de detalhes a respeito do processo autoral usando mídia digital,
mesmo que estivessem menos estruturadas devido à fase inicial de aprimoramento
do roteiro de entrevistas.
Na Itália também foi realizada uma entrevista inicial de ambientação com
uma das integrantes do CREMIT. Esta entrevista serviu para compreender
principalmente o modo em que o curso de doutorado da UCSC se estruturava, não
sendo posteriormente transcrita. Questões a respeito da escola de doutorado, o
novo modelo adotado na UCSC, puderam ser esclarecidas ou ao menos sondadas,
assim como a busca de livros e artigos a respeito do sistema universitário italiano.
Esta entrevista de ambientação também serviu como treino no uso da língua
italiana, de modo descompromissado e para identificação de expressões
idiomáticas comumente utilizadas.
6.4.2 Estudo de casos múltiplos com entrevistas semi-dirigidas
Sobre a narrativa de vida, faz-se importante evidenciar que nenhum relato
é neutro ou fiel ao ocorrido, pois é repleto de interpretações, cortes, seleções e
filtros do entrevistado. Não é a toa que boa parte das entrevistas continha trechos
de experiências não relacionadas diretamente às perguntas feitas ou ao que se
esperava ser respondido. Mesmo assim eram em sua maioria úteis, até certo
Metodologia 218
ponto, para abrir a mente sobre aspectos não pensados até aquele momento, que
surpreendiam por não fazerem parte do repertório estabelecido previamente.
Para amenizar tais ocorrências quando excessivamente fora do escopo da
pesquisa, procurou-se fazer perguntas que levassem o entrevistado a fornecer
dados mais objetivos de sua vivência e foi oferecido menos espaço a
considerações interpretativas a respeito dos temas em questão, embora nem
sempre fosse uma tarefa viável face aos imprevistos que uma entrevista oferece
(não podemos sempre prever o que o sujeito irá fazer ou que ideias serão
associadas por ele).
Não tivemos como objetivo neste estudo obter toda trajetória de vida do
sujeito (desde o nascimento até o momento atual, com todas suas relações
familiares, sociais, econômicas, políticas, tecnológicas etc), mas somente os
pontos significativos e relevantes de acordo com o foco da pesquisa.
No contexto deste estudo, decidiu-se por um encontro e uma entrevista
somente, pois optamos pela diversidade contida na variedade de experiências do
conjunto dos 16 casos e menos pelo aprofundamento em um caso específico, até
mesmo porque o objetivo era captar práticas emergentes, efetuar contrastes e
variações, e não necessariamente o aprofundamento minucioso de cada uma
destas práticas.
A consequência evidente de tal decisão é a ausência de certos detalhes,
vistos posteriormente quando no momento de análise de cada entrevista, porém
não comprometedores do conjunto, pois o objetivo foi a análise de práticas e
tendências da autoria dos acadêmicos usando suportes digitais e não o caso
específico de um deles.
Outro ponto que pudemos observar é que boa parte dos sujeitos não estaria
disposta a ser entrevistada novamente, especialmente no caso das entrevistas
realizadas na Itália onde a resistência era maior, assim como seria inviável a
massa de dados transcrita, o que forçosamente diminuiria o número de sujeitos e a
diversidade de experiências.
Dessa forma reafirmamos que o procedimento de gravação (registro em
áudio) das entrevistas foi muito importante, permitido por todos os entrevistados e
assumido como pré-requisito para a validade e incorporação da entrevista ao
conjunto de casos, assim como anotações realizadas em diário de campo e nas
fichas resumidas das entrevistas, contendo detalhes do ambiente onde se realizou
Metodologia 219
a entrevista, sensações e sentimentos surgidos, impressões gerais sobre o
entrevistado, entre outros elementos para reflexões posteriores.
Entre os diálogos e entrevistas de aculturação, destacamos a conversa
agendada com a coordenadora do programa de pós-graduação da UCSC a respeito
do curso de doutorado e da escola de doutorado recém-implantada, a conversa
informal com a coordenadora administrativa do CREMIT, as conversas informais
com alunos de mestrado e doutorado da UCSC e com o próprio orientador italiano
da pesquisa a respeito da universidade e do sistema italiano de ensino.
Outra estratégia de ambientação na UCSC foi a priorização de se trabalhar
sempre que possível dentro da universidade, na sala de atividades do CREMIT,
visando a observação diária dos trabalhos de doutorandos, pesquisadores,
funcionários e outros personagens presentes no dia a dia universitário. Quando
convidado ou permitido, foi possível também participar de eventos e solenidades
ao longo do ano letivo na universidade, como defesas de doutorado e mestrado e
seminários internos promovidos pelos alunos de doutorado em Educação.
Quanto à pesquisa documental, esta ocorreu em alguns momentos após a
realização das entrevistas, em que foi recolhido, por exemplo, entre muitos outros
tipos de documentos, as teses defendidas (quando disponíveis), os currículos
disponíveis na rede, o acesso a sites pessoais dos entrevistados na universidade ou
fora dela, assim como sua presença em redes sociais gerais (Facebook) e
específicas (Linkedin) e outras marcas deixadas pela internet.
Infelizmente, não houve viabilidade para a coleta ou mesmo observação
dos arquivos coletados pelos pesquisadores e armazenados em seus computadores
pessoais ou na rede, ao menos quando os mesmos faziam questão de exibi-los, o
que ocorreu em somente 2 dos 16 casos, pois se encontravam no ambiente de
trabalho dos mesmos. Entre os motivos, primeiro está (a) a questão delicada de
acesso a um dispositivo que, acima de tudo, é de uso pessoal, (b) depois pela
diversidade de formas de armazenamento e não-armazenamento, com a
desorganização de parte dos sujeitos com seus arquivos perdidos, (c) também pelo
caráter autoral da seleção de dados que podem servir para pesquisas futuras e que
demandaram certo tempo de trabalho em sua garimpagem e organização e (d) por
último o local escolhido pelos sujeitos para realização das entrevistas, quase todos
fora do ambiente e dos equipamentos onde foram produzidas as teses.
Metodologia 220
No caso italiano, houve a recusa, pela quase totalidade dos sujeitos
entrevistados, em enviar o arquivo de suas teses, devido a direitos autorais (no
caso europeu onde esse valor é bem mais forte que na filosofia de acesso livre
brasileira) e por muitos já a terem publicado em formato de livro.
Quadro 12 - Escolhas metodológicas para as entrevistas
6.4.3 Procedimentos quanto à transcrição das entrevistas e resumo dos pontos principais
Todas as 16 entrevistas realizadas foram transcritas e impressas, sendo
criados alguns recursos ao longo do processo que explicaremos brevemente, pois
serão visíveis quando os dados forem exemplificados no próximo capítulo.
O primeiro recurso utilizado veio a partir da necessidade de evidenciar
movimentos, sons e pausas que não poderiam ser registradas em áudio ou em
palavras. A solução encontrada foi colocar entre parênteses uma descrição do que
acontecia no contexto, ajudando a entender determinada fala ou determinado
ruído. Por isso foi importante a transcrição imediata de cada entrevista, para que
as memórias sobre estes pequenos ocorridos não fosse perdida, o que
comprometeria a compreensão posterior devido ao volume de dados ser extenso.
Exemplo:
Escolhasmetodológicas para asentrevistas
Roteiro semi‐estruturado sempre presente
Somente uma entrevista por sujeito
Entrevistador define o rumo e os assuntos da entrevista
Foco na variedade de casos e diversidade de experiências
Todas as entrevistas gravadas e transcritas pelo própriopesquisador
Documentação complementar quando disponível
Metodologia 221
É muito bacaninha esse sebo.. aí você põe lá e compra... eu tava... esse aqui não (ela aponta o livro que deixou sobre a mesa), mas eu tava querendo um livro português, do Augusto Santos Silva (Entrevista 16, p. 9)
Um segundo recurso utilizado foi indicar pequenas pausas através de
reticências ao final da última palavra dita, evidenciando as hesitações e trocas de
palavras, assim como repetições seguidas da mesma palavra pelo entrevistado,
mostrando em que momento estava construindo seu pensamento e onde vacilava
em seu raciocínio. Sons como “é...”, “hummm...” foram todos transcritos tais
como pronunciados, não havendo nenhuma interpretação ou omissão que visasse
somente a estética do texto. Fiz o mesmo com as palavras cortadas a exemplo de
“estud.. lia isso”, palavras estas que pudessem apontar para uma hesitação e troca
de palavras por parte do entrevistado.
O terceiro e último recurso que se lançou mão foi a utilização de um
parênteses com reticências, ao modo de “(...)” para indicar um som que não foi
entendido durante a gravação, orientando o leitor a respeito de uma frase que
possa ter ficado entrecortada pela ausência de uma ou mais palavras. O parêntese
com palavras dentro seguida de uma interrogação, ao modo de “(fornecia?)”
indicava uma suspeita sobre a(s) palavra(s) pronunciada(s), mas sem ter a certeza
exata e preferindo-se indicar esse fato ao leitor. Essa incerteza acontecia diante da
pronúncia fraca ou entrecortada do entrevistado ou pela própria qualidade da
gravação e ruídos de fundo.
Para ajudar a situar a transcrição no tempo e espaço, foi criado um
pequeno cabeçalho em cada arquivo contendo as seguintes entradas: (1) Data da
entrevista; (2) Local da entrevista; (3) Hora da entrevista; (4) Tempo total da
entrevista.
Mais tarde, depois das entrevistas impressas, também acrescentou-se o
número da entrevista em relação à ordem que foi feita no tempo, a exemplo de:
BR N01 para a primeira entrevista e que foi feita no Brasil e IT N07 para a sétima
entrevista e que havia sido feita na Itália.
Após a transcrição, o material era impresso para uma leitura flutuante
inicial (Bardin, 1977), destacando-se pontos interessantes, temáticas que surgiam
e eram recorrentes nas entrevistas, já preparando a fase seguinte de análise de
conteúdo. Fizemos então, para cada entrevista, uma redução com duas ou três
Meto
págin
conte
Figur
segui
que f
os po
ditos
dologia
nas conten
endo campo
ra 12 - Exem
Na variá
intes seções
foi criado a
ontos princ
s pelo entrev
ndo os pri
os, como mo
mplo de uma
ável “Ponto
s temáticas
a partir da le
cipais da en
vistado:
incipais po
ostra a figur
ficha com o
os principa
– também p
eitura flutua
ntrevista po
ontos encon
ra a seguir:
resumo dos
ais da entre
podendo se
ante feita in
or assuntos
ntrados, um
s pontos princ
evista”, o f
er chamados
ncialmente,
e não por
ma ficha
cipais da ent
fichamento
s de eixos te
ajudando a
ordem em
222
resumitiva
trevista.
seguia as
temáticos –
a subdividir
que foram
Metodologia 223
Quadro 13 - Síntese dos eixos temáticos surgidos a partir da leitura flutuante do material empírico.
Esta sequência seguia os principais temas tratados no roteiro de entrevistas
e também foi utilizada na criação posterior de uma tabela com as dimensões
detalhadas de análise (ver Anexo V), para obter então um quadro de categorias
temáticas. As fichas resumitivas, junto com o material impresso, serviram de base
para a fase seguinte, a análise dos dados propriamente dita.
6.5 Instrumentos e procedimentos para a análise de dados via criação de categorias temáticas
O campo de técnicas escolhido para a análise dos dados coletados (e
transcritos) foi a Análise de Conteúdo da comunicação, compilada em suas
diferentes fases, dimensões de aplicação, variações de métodos e campos
disciplinares de utilização por Laurance Bardin (1977).
Eixos temáticos
(I) Trajetória de vida acadêmica e digital
Com assuntos relacionados principalmente aos cursos que fez antes do doutorado e os trabalhos que esteve envolvido, assim os momentos iniciais de contato com o computador e a internet.
(II) Usos da tecnologia
Tudo relacionado ao uso cotidiano de recursos do computador e da internet, academicamente ou fora da academia.
(III) Modo de leitura
Usos da tecnologia envolvendo modos de se ler, tanto nos suportes impresso quando nos digitais.
(IV) Modo de escrita
Modos de se escrever, tanto nos suportes impressos como nos digitais.
(V) Uso de fontes Diversas posturas, estratégias e práticas na pesquisa e no uso de fontes para o desenvolvimento da tese acadêmica.
(VI) Modo de organização
Relação com as estratégias de organização dos materiais coletados durante a tese, tanto digitais quando impressos.
(VII) Modo de comunicação
Maneiras de se comunicar com sujeitos da pesquisa ou pesquisadores acadêmicos, caso tenham existido, tanto via suportes tradicionais quanto os mais recentes e emergentes.
Metodologia 224
A análise de conteúdo (seria melhor falar de análises de conteúdo), é um método muito empírico, dependente de tipo de “fala” a que se dedica e do tipo de interpretação que se pretende como objetivo. Não existe o pronto-a-vestir em análise de conteúdo, mas somente algumas regras de base, por vezes dificilmente transponíveis. (1977, p. 30-31)
Segundo Bardin (1977, p. 32), “qualquer comunicação, isto é, qualquer
transporte de significações de um emissor para um receptor controlado ou não por
este, deveria poder ser escrito, decifrado pelas técnicas de análise de conteúdo”.
Aqui se incluem as entrevistas transcritas, ou seja, uma transposição para a
linguagem escrita de uma conversa entre dois indivíduos, um relato oral
registrado, sendo todo processo guiado ou não por um roteiro.
Cabe lembrar que a análise de conteúdo não é uma análise linguística, não
está preocupada com as regras de funcionamento da língua, mas sim com a língua
sendo utilizada em ato, de forma prática, por emissores identificáveis. Não é
tampouco uma análise documental, mais preocupada em classificar e indexar
documentos, os representando de maneira condensada para consulta e
armazenagem do que com a criação de indicadores que permitam gerar inferências
sobre a comunicação em análise (1977, p. 43-46). Classificar e indexar em
categorias temáticas compõe parte das etapas da análise de conteúdo, mas não a
análise em si.
A técnica tanto pode servir a fins de medida quantitativa, por exemplo, o
número de incidências de determinada palavra ou conjunto de expressões
(indicadores), como também para classificar em categorias (temas, assuntos) o
conteúdo dos textos, agrupando-os por significação. Bardin (1977, p. 117) define
categorias como “rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos
(unidades de registro, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico,
agrupamento esse efectuado em razão dos caracteres comuns destes elementos”.
O que importa na análise de conteúdo é que sirva para a criação de
condições práticas para se ultrapassar a simples apreensão ingênua ou intuitiva
sobre os dados, ou seja, a ilusão de que os documentos são transparentes e falam
espontaneamente sobre si, evitando o risco de produzir conclusões que somente
reforçariam convicções pessoais. É, enfim, uma técnica de ruptura com as
primeiras impressões a respeito do objeto de pesquisa, ajudando a enriquecer a
Metodologia 225
leitura e dar maior subsídio na produção de generalizações sobre os textos que
possam ser compartilhadas por outros pesquisadores.
Esses aspectos devem servir para fazerem-se inferências, chegar-se a
deduções sobre as condições de produção de determinado fenômeno usando-se,
para tal finalidade, indicadores, que podem ser semânticos (frequência de termos
ou presença de temas a partir de seus significados), linguísticos (extensão de
frases, ordem dos elementos significantes) ou mesmo paralinguístico (entonação,
pausas).
A inferência é a etapa intermediária entre a fase de descrição do material,
resumida após tratamento em um conjunto de características do texto, e a
interpretação final quando se atribui a significação a estas características, ou seja,
novas significações atingidas depois da análise dos significantes e significados
iniciais. Sobre essa atividade do analista, Bardin (1977, p. 41) ensina que:
A tentativa do analista é dupla: compreender o sentido da comunicação (como se fosse o receptor normal), mas também e principalmente desviar o olhar para uma outra significação, uma outra mensagem entrevista através ou ao lado da mensagem primeira. A leitura efectuada pelo analista, do conteúdo das comunicações não é, ou não é unicamente, uma leitura “à letra”, mas antes o realçar de um sentido que se encontra em segundo plano.
Para isso, pode-se utilizar recursos informáticos, aplicados a partir dos
anos 60 e que se valem hoje de todo avanço de processamento e cálculo, com
programas que selecionam automaticamente expressões e palavras a partir de
dicionários já configurados para esse fim (foco quantitativo), ou então pela
simples separação manual em arquivos de computador de trechos correspondentes
– palavras, frases, parágrafos – a categorias pré-definidas pelo pesquisador (foco
qualitativo).
Como unidade básica de codificação (e sentido) para que se realize a
análise, escolhemos o tema (Bardin, 1977, p. 105), entendido como o destaque de
um conjunto de frases ou mesmo de uma única frase ou fragmento, pois dessa
forma a significação de tais blocos poderia expor facetas da autoria usando
suportes digitais contidas nas entrevistas transcritas e ao mesmo tempo servirem
como objetos de citação a serem evidenciados no relatório final de pesquisa.
A opção por selecionar fragmentos, frases e parágrafos temáticos como
unidade se deve a escolha por não priorizar a produção de estatísticas e
Metodologia 226
verificação numérica de recorrências, e sim explicitação qualitativa desta autoria,
suas características e tendências. Dessa forma abriu-se mão das vantagens que a
recorrência de determinadas palavras ou expressões poderia oferecer.
Quando possível, procurou-se explicitar a unidade de contexto, ou seja, o
parágrafo ou pequeno conjunto de frases em que a unidade temática se
encontrava, a fim de situar o leitor de maneira mais ampla no momento da
entrevista em que o trecho foi retirado. Já o trecho a qual o tema se manifestava
com maior intensidade foi destacado através de sublinhamentos.
Continuando a seguir as orientações de Bardin, adotamos o métido de
categorias, “rubricas significativas que permitem a classificação dos elementos de
significação constitutivas, da mensagem (...) um método taxionómico bem
concebido para satisfazer os colecionadores preocupados em introduzir uma
ordem, segundo certos critérios, na desordem aparente” (Bardin (1977, p.37)
A autora ainda complementa dizendo que é um método simples, porém
trabalhoso (ela diz exatamente “fastidioso”) quando feito manualmente,
comparando a caixas de sapato em que selecionamos objetos baseados em
características previamente definidas, o que depende de nosso problema de
pesquisa, e os distribuímos para cada caixa correspondente.
De fato o método consumiu dois meses de atividade, classificando cada
um dos 16 casos transcritos e selecionando os trechos que correspondiam a cada
uma das 45 categorias temáticas (variáveis) criadas. Procurou-se selecionar o
subitem correspondente ao que era dito pelo entrevistado, pelo primário recurso
do copiar e colar fornecido pelo editor de textos. Foram então, falando de maneira
metafórica, 720 “caixas” preenchidas com as centenas de falas (trechos
selecionados correspondentes ao tamanho de um parágrafo) dos entrevistados,
ajudando na montagem de perfis de uso para cada um deles.
Para a criação das 45 categorias temáticas (dimensões de análise autoral
ou variáveis de análise) que serviram de base para a análise de cada entrevista, foi
necessário primeiro uma releitura de todas as fichas resumitivas, estas resultantes
da leitura flutuante da entrevista bruta logo após sua transcrição, através de
sublinhamentos para destacar pontos principais e anotações na lateral das
entrevistas impressas, ainda de modo bastante artesanal.
O processo de criação das categorias foi, portanto, a partir do que emergia
dos discursos e não de categorias previamente criadas, embora as leituras de
Metodologia 227
teóricos a respeito das novas tecnologias de informação e comunicação, assim
como aqueles dedicados aos intelectuais e seus modos de fazer pesquisa tenham
influenciado decisivamente, desde o começo da pesquisa, aquilo que era
perguntado e, portanto, obtido nos depoimentos dos entrevistados. Dessa forma,
com as fichas resumitivas em mãos, realizou-se a comparação por atacado de cada
uma das 7 subdivisões (eixos temáticos) surgidas de cada uma das 16 fichas. Esta
foi a fase de pre-análise ou preparação do material, descrita de maneira mais
completa no tópico anterior quando foi relatada a fase da transcrição.
A criação das categorias temáticas foi um modo de organizar conteúdos
dispersos ao longo dos depoimentos obtidos em um total de 319 páginas. Não foi
um processo fácil, as categorias temáticas / variáveis foram sendo acrescidas
pouco a pouco, a partir da percepção que se tinha de recorrências, de processos
em comum, de aspectos que os entrevistados iam revelando ao longo de seus
depoimentos e que ficavam pouco a pouco mais claros durante a leitura flutuante.
Podemos dizer que a criação do quadro com as categorias temáticas, chamado de
“dimensões da análise autoral”, ocorreu ao modo de um quebra-cabeça montado
pouco a pouco de acordo com o desenvolvimento da leitura das transcrições.
Dessa forma, por exemplo, na subdivisão chamada de “Trajetória de vida
acadêmica e digital” tínhamos em mãos, ao final, 16 conjuntos de parágrafos
resumindo o que cada um dos 16 entrevistados falou a respeito desse tema,
resultando então em variações de usos, conjunto de práticas, diferentes graus e
tipologias que poderiam ser resumidas para cada uma das categorias temáticas
encontradas. Essa foi a forma escolhida para analisar em conjunto e que depois,
com as categorias criadas, foi possível a análise minuciosa de cada um dos 16
entrevistados, caso a caso, fala por fala.
A figura a seguir mostra, de maneira resumida, uma das 7 subdivisões
(Eixo temático I) contendo variáveis e cada uma das variáveis com as variações
internas generalizadas a partir da leitura dos resumos das 16 entrevistas.
Metodologia 228
Figura 13 - Exemplo de uma seção da ficha de análise de entrevista contendo 5 categorias temáticas no lado esquerdo e seus subitens.
O objetivo com a formação dessas variáveis foi obter de maneira mais
clara o perfil de cada caso exposto em cada uma das 16 entrevistas e com isso
permitir uma comparação interna dos casos, a partir de uma observação inicial por
generalizações representadas nas categorias temáticas.
Podemos complementar aqui que não foi objetivo somente a exibição
exemplificativa dos trechos das entrevistas. O primeiro objetivo da pesquisa foi a
criação das próprias categorias temáticas de análise, com seus graus e tipologias
(ver Anexo V), abstraindo sua complexidade a partir de todos os casos, visando
uma avaliação posterior do processo de escrita da tese por outros doutorandos em
um instrumento prático e objetivo (um questionário ou uma ficha avaliativa, por
exemplo). O segundo objetivo nesta análise foi obter tendências na escrita das
Metodologia 229
teses usando mídias digitais através da exemplificação contida nos perfis
encontrados, ou seja, produzir generalizações analíticas.
Cabe também esclarecer que a opção por não utilizar um software de
análise qualitativa dos dados deu-se pela limitação destes softwares de exibirem o
conjunto eixo-categria-subitem-conteúdo ao mesmo tempo, de modo visualmente
agradável e claro, tal como é permitido com as tabelas criadas no Microsoft Word.
Uma tentativa inicial com o software nVivo 8 foi feita, porém a exibição por
barras laterais das variáveis em relação ao texto não permitia sua visualização em
conjunto (45 variáveis simultaneamente e seus 204 subitens).
Na etapa final da análise, usamos um software para obter um “mapa”
visual do resultado final da aplicação de cada uma das 45 variáveis em cada
entrevista-caso (ver Anexo VI), o software MindManager 9.
O caminho percorrido pode, assim, ser visualizado pelo quadro abaixo:
Figura 14 - Resumo das etapas de pré-análise das entrevistas e análise de conteúdo.
1. Transcrição da entrevista no idioma original 9português ou
italiano)
2. Leitura flutuante com sublinhamentos e
destaque de assuntos recorrentes
3. Criação dos 7 eixos temáticos inspirados no roteiro de entrevista
4. Ficha resumitiva com parágrafos isolados para
cada eixo temático
5. Criação das 45 categorias temáticas
distribuídas em cada Eixo Temático
6. Criação dos subitens para cada uma das 45 categorias temáticas, totalizando 204 itens.
7. Aplicação das 45 categorias temáticas a cada entrevista, ou seja, em cada um dos 16 casos
8. Obtenção de 16 fichas analíticas com citações refletindo a categoria
temática correspondente
9. Criação do gráfico resumitivo contendo o perfil do entrevistado
10. Criação de 45 gráficos reunindo a frequência total para cada subitem de cada variável (próximo
capítulo)
11. Criação de um resumo textual com o perfil de
cada caso
III. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS COLETADOS
7 Análise dos dados coletados: a autoria acadêmica em uma década de transição midiática vista através dos sete eixos temáticos tomados separadamente
Com o objetivo de observar os pontos de convergência entre os dezesseis
casos analisados, reuni em 45 gráficos as variáveis de análise correspondentes,
utilizadas para compor o perfil de cada entrevistado. Surgiu, dessa forma, um
gráfico para cada uma das variáveis, que foram, por sua vez, agrupados em cada
um dos sete eixos temáticos criados durante a análise de conteúdo das entrevistas
(ver o resumo no Quadro a seguir). Cada gráfico representa a contagem dos itens
marcados a partir releitura da entrevista de cada um dos dezesseis casos.
Embora este tipo de pesquisa não permita generalizações estatísticas mais
amplas, consideramos possível esboçar algumas inferências por esta aproximação
numérica com os dados, mas, não temos dúvidas que o valor dos casos analisados
só se completa a partir das considerações feitas sobre os depoimentos dos
participantes e observações aprofundadas, separadas em cada um dos grandes
eixos temáticos. Pensando nessa complementariedade, os trechos contendo as
falas dos entrevistados serviram de exemplificação e também como forma de
evidenciar as convergências temáticas colhidas nos discursos de cada um deles.
Sobre a construção de cada uma das variáveis é bom esclarecer algumas
dúvidas possíveis que podem surgir ao longo da leitura deste capítulo. O primeiro
ponto é que existiram subitens dentro de algumas das variáveis / categorias que
ficaram em branco, pois foram, ao longo do processo, se completando por simples
inferência, ou por serem opostos (formando uma parte de extremos) ou
complementares (por serem intermediários em uma escala crescente) aos subitens
que foram criados através das respostas dos entrevistados.
Exemplo: o item “(4) Professor com destaque e carreira consolidada”
presente na variável “2. Posição universitária” representa o ápice da escala de
autoridade possível de ser exercida na academia, mas em nenhum dos casos
tivemos um entrevistado com esta característica.
Análise dos dados coletados 232
Dessa forma, ao longo do processo de criação das 45 categorias temáticas
foi possível visualizar, por exemplo, os extremos de possibilidades de respostas,
ou contrastes que eventualmente não apareceram naqueles dezesseis casos, mas
que podem aparecer em outros, deixando a escala mais completa e clara para ser
apreendida e aplicada em futuras pesquisas com outros grupos de sujeitos.
Aproveitei também para que através dos gráficos pudesse explicar alguns
assuntos e termos propostos, antes de utilizá-los no texto dissertativo, definindo-
os de modo sucinto para que fizessem sentido durante a análise estendida
contendo, como exemplos, as falas dos entrevistados. Abaixo de cada gráfico está
o resumo, em tópicos, sobre cada um dos itens presentes em cada gráfico de cada
variável / categoria, ajudando na leitura prévia antes da análise mais estendida.
Ao final de cada grande eixo temático, também foram criadas tabelas
resumitivas, facilitando a leitura através do resumo dos principais achados
empíricos, escalas criadas e conceitos propostos.
Análi
Quadcorre
E
Eix
Eixo
se dos dado
dro 14 - Eixosespondentes.
Eixo I. Trajeacadêmi
Eixo II. Usos
Eixo III. Mo
Eixo IV. Mo
Eixo V. Us
xo VI. Modo
o VII. Modo
os coletados
s temáticos c.
etória de vidica e digital
s da tecnolo
odo de leitu
odo de escri
so de fontes
o de organiz
o de comuni
com suas var
da
ogia
ura
ita
s
zação
icação
riáveis / cate
•1. Relação com
•2. Posição unive
•3. Momento (T
•4. Área de proc
•5. Uso de TICs (
•6. Interesse inic
•7. Período inicia
•8. Aprendizado
•9. Imersão (Pro
•10. Conhecime
•11. Objetivos d
•12. Análise dos
•13. Atividades (
•14. Suporte (M
•15. Local das an
•16. Compartilha
•17. Prestígio do
•18. Técnicas de
•19. Técnicas de
•20. Ordem (Sim
•21. Ambiência (
•22. Co‐autoria (
•23. Temática (T
•24. Autoria pró
•25. Instrumento
•26. Presença da
•27. Técnicas (Te
•28. Busca no te
•29. Local de bu
•30. Abrangênci
•31. Objetivo (F
•32. Tradição (D
•33. Origem no
•34. Suporte (M
•35. Posse dos m
•36. Produção d
•37. Tipos utiliza
•38. Sistematiza
•39. Suporte (M
•40. Classificaçã
•41. Local de arm
•42. Abrangênci
•43. Tradição (D
•44. Objetivo (Fi
•45. Ideias nova
egorias temá
a academia (Aca
ersitária (Autorid
emporalidade)
cedência (Anterio
(Tecnicidade)
cial (Causalidade)
al (Temporalidad
inicial (Formalid
ofundidade)
nto (Familiaridad
e uso (Finalidade
dados (Tecnicida
(Atividade)
aterialidade)
notações (Localid
amento (Coletivid
o autor (Autorida
e destaque (Recor
e confiabilidade (c
multaneidade)
(Localidade)
(Coletividade)
Tematicidade)
pria (Originalidad
o (Instrumentalid
a internet (Conec
ecnicidade)
empo (Acumulabi
usca (Localidade)
ia (Proximidade)
inalidade)
Durabilidade)
tempo (Antiguida
aterialidade)
materiais (Materi
da empiria (Verific
ados
ação (Sistematicid
aterialidade)
o (Tematicidade)
mazenamento (D
a (Proximidade)
Durabilidade)
inalidade)
s (Originalidade)
ticas de aná
ademicidade)
ade)
ridade)
)
e)
ade)
de)
e)
ade)
ade)
dade)
de)
rdabilidade)
confiabilidade)
de)
dade)
ctividade)
ilidade)
ade)
alidade)
cabilidade)
dade)
)
isponibilidade)
233
álise
Análise dos dados coletados 234
7.1 Trajetória de vida acadêmica e digital: de onde vêm e o que faziam antes
O primeiro eixo temático não serve necessariamente para revelar os modos
de apropriação dos suportes digitais no processo de feitura da tese, mas sim para
situar algumas particularidades do conjunto de sujeitos que compuseram o grupo
de dezesseis casos para este estudo. Este primeiro eixo é resultado do que os
sujeitos relatavam a respeito de seu passado com os suportes digitais, ajudando a
entender como se “formou digitalmente” essa geração de recém-doutores, ao
menos nos casos que compuseram este estudo.
Embora boa parte dos entrevistados atuasse na academia e tivesse mais de
5 anos de atuação como professores, ou mesmo tivessem sempre pertencido ao
meio universitário, eles não eram veteranos na carreira, pois tinham menos de 5
anos de formados no curso de doutorado e, portanto, não haviam construído
carreira acadêmica consolidada, com obras de relevância publicadas e grupos de
pesquisa próprios e consolidados.
Lembremos que nos últimos 15 anos houve um forte crescimento no
número de doutores formados tanto no Brasil quanto na Itália (ver Capítulo 4),
levando a obtenção do grau de doutor pré-requisito mínimo para a construção da
uma carreira acadêmica. No caso italiano o mestrado tem se incorporado como
formação complementar na graduação, tal como uma pós-graduação já acoplada
ao curso de graduação, sendo que a pós-graduação padrão e “de fato” atualmente
é o doutorado, na fórmula 3-2-3 instituída pelo processo de Bolonha.
Os gráficos 7 e 8 permitem uma visão melhor desse fenômeno:
Gráfico 7 - Variável “1. Relação com a Academia (Academicidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
(1) Sempre se dedicou
(2) Chegou recentemente (menos de 5 anos)
(3) Veterana na academia (mais de 5 anos)
(4) Nunca se dedicou
1. Relação com a Academia (Academicidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 235
(1) Sempre se dedicou
1. A pessoa fez o mestrado e doutorado e sempre trabalhou dentro da Universidade. 2. A pessoa nunca teve trabalho formal, foi bolsista.
(2) Chegou recentemente (menos de 5 anos)
1. A pessoa vem de uma carreira em que trabalhava em empresa ou instituição e recentemente entrou para a academia.
(3) Veterana na academia (mais de 5 anos)
1. A pessoa vem de uma carreira em que trabalhava em empresa ou instituição, mas entrou depois para a academia. 2. Trabalha há mais de 5 anos na academia.
(4) Nunca se dedicou
1. A pessoa fez o mestrado e o doutorado, mas trabalhou sempre em instituições e empresas fora da academia.
Tabela 2 - Descrição dos itens da Variável 1.
Gráfico 8 - Variável “2. Posição universitária (Autoridade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Professor sem influência alguma
1. Sem cargo de influência na instituição. 2. Sem publicações de destaque. 3. Sem grupo de pesquisa próprio. 4. Pouca ou nenhuma experiência profissional. 5. Rede de contatos pequena.
(2) Tinha somente contrato de pesquisador
1. Comum na Itália, onde o doutor se ocupa de pesquisa exclusivamente.
(3) Professor pouco influente e ainda sem ocupar função de destaque
1. Alguma influencia na instituição. 2. Desenvolvendo suas pesquisas ligadas a um professor de maior prestígio. 3. Sem grupo de pesquisa próprio ou com grupo de pesquisa recém iniciado. 4. Rede de contatos em expansão.
(4) Professor com destaque e carreira consolidada
1. Prestígio acadêmico. 2. Publicações significativas e referenciadas. 3. Grupo de pesquisa formado e consolidado. 4. Referência aos que iniciam a carreira. 5. Rede de contatos vasta e com ampla penetrabilidade no campo em que estuda e trabalha.
(5) Não era professor
1. Não ocupava nenhuma posição na academia, trabalhava em empresa ou era exclusivamente bolsista.
Tabela 3 - Descrição dos itens da Variável 2.
Dessa forma, é condizente que mais da metade dos entrevistados estivesse
acima de 35 anos e no meio de suas carreiras profissionais (11 casos), conforme
mostra o Gráfico 9. Dois casos extremos foram o N13, em que a entrevistada
estava prestes a se aposentar quando concluiu o doutorado (com 54 anos), já tendo
constituído carreira em escola do ensino técnico, e o caso N5 em que a
entrevistada estava se formando no doutorado (28 anos de idade) e se dedicava a
0 1 2 3 4 5 6 7 8
(1) Professor sem influência alguma
(2) Tinha somente contrato de pesquisador
(3) Professor pouco influente e ainda sem ocupar funçãode destaque
(4) Professor com destaque e carreira consolidada
(5) Não era professor
2. Posição universitária (Autoridade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 236
atividades de pesquisa desde a graduação, mas sem experiência acadêmica
docente.
Gráfico 9 - Variável “3. Momento (Temporalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Jovem
1. Com idade entre 20 e 35 anos. 2. Lecionando ou não.
(2) Meio de carreira
1. Entre 36 e 50 anos. 2. Lecionando há muitos anos, pesquisando há muitos anos ou reconstruindo carreira.
(3) Fim de carreira
1. Entre 51 e 70 anos. 2. Lecionando há muitos anos, pesquisando há muitos anos ou reconstruindo carreira.
Tabela 4 - Descrição dos itens da Variável 3.
Com relação à área de procedência, temos a seguinte distribuição no
Gráfico 10:
Gráfico 10 - Variável “4. Área de procedência (Anterioridade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Educação 1. Graduação em pedagogia ou ciências da educação.
2. Mestrado em educação. (2) Exatas em geral 1. Graduação em ciências exatas em geral.
2. Mestrado em educação ou em ciências exatas em geral. (3) Humanas em geral 1. Graduação em ciências humanas em geral.
2. Mestrado em educação ou em ciências humanas em geral. (4) Tecnológica em geral 1. Graduação em área tecnológica.
2. Mestrado em educação ou em área tecnológica em geral.
Tabela 5 - Descrição dos itens da Variável 4.
0 2 4 6 8 10 12
(1) Jovem
(2) Meio de carreira
(3) Fim de carreira
3. Momento (Temporalidade)
Total BR IT
0 2 4 6 8 10 12 14
(1) Educação
(2) Exatas em geral
(3) Humanas em geral
(4) Tecnológica em geral
4. Área de procedência (Anterioridade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 237
Como se pode notar, grande parte também provinha da própria área de
educação (13 casos), fazendo o curso de Graduação em Pedagogia / Ciências da
Educação e depois entrando para os cursos de mestrado e doutorado em Educação
para se aperfeiçoarem e crescer na carreira.
Há também os casos de transição de carreira, como o N16, em que a
entrevistada fez primeiro o curso de Direito, atuou em escritório de advocacia, e
depois optou por fazer o curso de Pedagogia, o N15 em que a entrevistada passou
mais de uma década trabalhando como psicóloga escolar até entrar para a área de
pesquisa e docência no ensino superior e se dedicar à educação somente; e N8 em
que o entrevistado disse ter iniciado, sem concluir, o curso de Informática e
depois optado pela Pedagogia.
Em menor número estavam quatro casos de “não pedagogos” em que uma
entrevistada provinha da área de Matemática (licenciatura), outra de Artes/Música
(licenciatura), outra da Psicologia (trabalhando com rede de escolas), outro da
área de Sociologia/Filosofia (licenciatura), todos com vínculos diretos com
escolas, a maior parte lecionando em Ensino Médio ou prestando serviços como o
de atendimento psicológico. É importante enfatizar que todos os entrevistados na
Itália fizeram sua formação em Pedagogia, mesmo tendo um caso em que o
entrevistado havia feito parte do curso de Informática (sem conclusão) antes de
mudar para a área de Educação.
Com relação ao uso das TICs, o grupo se distribuiu da seguinte forma
(Gráfico 11):
Gráfico 11 - Variável “5. Uso de TICs (Tecnicidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Forte dependência das TICs na profissão
1. O uso de TICs é fundamental para o trabalho. 2. O estudo contínuo das TICs é fundamental para a realização do trabalho.
(2) Média dependência das TICs na profissão
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
(1) Forte dependência das TICs na profissão
(2) Média dependência das TICs na profissão
(3) Baixa dependência das TICs na profissão
5. Uso de TICs (Tecnicidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 238
(3) Baixa dependência das TICs na profissão
1. O uso das TICs é superficial e não fundamental para o trabalho. 2. A atualização sobre as TICs é opcional, não influenciando o trabalho.
Tabela 6 - Descrição dos itens da Variável 5.
Apontando certo equilíbrio do grupo de casos, exatamente a metade
apresentava forte uso e dependência do computador e da internet em suas
carreiras, estando esses casos evidentemente ligados principalmente aos
participantes dos grupos de pesquisa JER e CREMIT, pois ingressaram nesses
grupos justamente pelo interesse nas tensões entre educação e tecnologias.
Um bom exemplo é o caso N7 em que a entrevistada já atuava com EAD
desde a segunda metade dos anos 90. O caso N14 é exceção, pois embora formado
em Sociologia/Filosofia, o forte contato com computadores em escola de elite nos
anos 80, através dos fortes investimentos dos diretores em tecnologia de ponta, o
levou ao aprendizado autodidata e depois à aplicação de multimeios mais simples
(TV, LP e VHS) em aulas que ministrava também na rede pública de ensino.
O contato inicial com os suportes digitais teve nos depoimentos alguma
diversificação de caminhos percorridos pelos entrevistados e que vale a pena um
comentário mais extenso, especialmente porque os entrevistados têm em comum a
passagem pela escassez inicial de acesso à computação nos anos 90 quando a
informática começava a se tornar pública e comercial e a internet dava seus
primeiros passos com o grande público. Somente em três casos, o N8, o N10 e o
N14 o contato com a informática se deu nos anos 80, principalmente pelo
autodidatismo (interesse pessoal) e a influência de pessoas próximas que tinham
entusiasmo com os primeiros modelos de computadores.
Análise dos dados coletados 239
Figura 15 - Formas de contato inicial com a internet presentes nos depoimentos.
O primeiro tipo de contato foi o local de trabalho, em especial com a
compra de computadores em escolas particulares antes que os próprios
profissionais os tivessem em casa, permitindo um aprendizado inicialmente
formal ou para funções formais dentro da escola, desde elaboração de materiais de
auxílio ao ensino até o ensino propriamente dito da informática para os alunos
(instrumental). Por local de trabalho também se entende a própria universidade,
como no caso N7, em que a entrevistada ainda na graduação, no meio dos anos
90, fazia uso dos computadores institucionais enquanto realizava um estudo fora
do país e precisava se comunicar com amigos e orientador.
Ainda fora do círculo familiar, outro modo, semi-formal, de ter contato
com os suportes digitais era através de cursos acadêmicos, nos quais alguns
colegas de turma já faziam seus trabalhos através de programas de edição de texto
e não em manuscritos. Em ambos os casos os usos começavam por pressão do
meio (contexto acadêmico) e só depois se tornavam mais incorporados ao dia a
dia, até a pessoa comprar um equipamento próprio.
A própria tarefa de fazer um trabalho acadêmico (monografia, dissertação,
tese) no início dos anos 2000 (boa parte fazia o mestrado ou estava concluindo a
graduação nesse período) foi um estimulante para o uso intenso do computador no
lugar da escrita mais demorada usando máquina de escrever, conforme foi visto
no caso N6 em que a entrevistada nunca tinha feito uso por não ter um PC em
Contato inicial com o
computador/internet
Interesse autodidata
Contato com Parentes e amigos
Demandas do Local da trabalho
Infra‐estrutura do Laboratório da
Universidade ou da Escola
Atividade do Curso acadêmico
Análise dos dados coletados 240
casa, mas se viu obrigada a fazê-lo. Caso similar foi o N3, em que a entrevistada
para poder concluir a dissertação a tempo começou a digitar todos os dados no
computador, abrindo mão do trabalho manuscrito. Na Itália o caso N11 evidencia
o mesmo padrão, pois em 1998 a entrevistada solicitara um notebook emprestado
para poder fazer a monografia de conclusão da graduação.
Outra forma de ter contato com os computadores era com amigos e
parentes que já os possuíam primeiro, aprendendo de maneira mais informal com
eles e depois expandindo o aprendizado para outros campos da vida, como o
trabalho formal até a aquisição de um computador próprio.
E por fim estão aqueles que tiveram contato com computadores por
interesse pessoal autodidata, antes do próprio local de trabalho, especialmente nos
casos em que eram provenientes ou tinham alguma influência da área de ciências
exatas nas quais os computadores eram um instrumento obrigatório para se
manterem no campo de trabalho. Todos os tipos de influência aqui expostos
podem ocorrer de maneira sobreposta na vida dos sujeitos, sendo uma categoria
por vezes mais marcante que outra.
Vale destacar que os entrevistados que sabiam detalhar com profundidade
seu contato inicial com o computador e com a internet eram também os que
possuíam maior interesse no tema, que de alguma forma estudam ou usam de
maneira mais intensiva a informática em suas vidas e trabalho. Do mesmo modo
aqueles que relataram um uso básico, até mesmo superficial, dos recursos
oferecidos pelos suportes digitais e pela internet foram os que tinham a lembrança
mais difusa do início de contato. O interesse intenso no uso dos suportes digitais
foi evidenciado pela memória precisa e detalhada ao longo do depoimento.
Análise dos dados coletados 241
Quadro 15 - Considerações resumitivas sobre as trajetórias de vida acadêmica e digital relatas pelos doutorandos.
7.2 Usos da tecnologia: quando e como os suportes digitais entraram na vida cotidiana
Este eixo apresentou características interessantes com relação ao momento
em que o computador entrou na vida dos entrevistados, como foi usado e de que
modo a internet se apresentava naquela época:
Gráfico 12 - Variável “7. Período inicial (Temporalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Computador isolado
1. Usado como máquina de escrever, de registros. 2. Centralidade do editor de textos. 3. Característico dos anos 80 e 90. 4. Provavelmente ainda sem interface gráfica ou em modo misto (DOS / Windows).
(2) Computador com internet lenta
1. Alto custo de acesso (discado) 2. Acesso aos dados e gravação para leitura posterior. 3. Característico da primeira metade dos anos 2000 e dos últimos anos da década de 90.
(3) Computador com internet 1. Usado como fonte mais ampla de pesquisa, de dados, de buscas.
Trajetória de vida acadêmica e digital (resumo)
Nenhum era veterano de carreira Recém‐formados e acompanhando o crescimento de formados dos últimos 15 anos
Maioria com mais de 35 anos de idade e no meio da carreira
Maioria vindo da área de educação Exceções: matemática, artes, psicologia, sociologia e filosofia feitos durante a graduação.
Metade com forte dependência dos suportes digitais na vida profisisonal
O maior interesse nos suportes digitais se relacionava com o maior grau de detalhamento do contato inicial
0 2 4 6 8 10 12
(1) Computador isolado
(2) Computador com internet lenta
(3) Computador com internet rápida
7. Período inicial (Temporalidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 242
rápida
2. Acesso contínuo aos dados. 3. Centralidade da Web. 4. Característico da segunda metade dos anos 2000.
Tabela 7 - Descrição dos itens da Variável 7.
O período inicial de uso da maioria dos entrevistados foi na segunda
metade da década de 90 com os computadores inicialmente desconectados da
internet ou com conexão muito lenta (acesso via linha discada), passando depois
para conexões de banda larga contínua. Ou seja, eles sofreram inicialmente com
as limitações de acesso (ter computador próprio) e velocidade, assim como a
precariedade inicial dos programas de computador para acesso à internet e à
comunicação pessoal, muito mais difíceis de utilizar e instáveis.
Nos casos N4, N11 e N13 as entrevistadas relatam o uso inicial como
“máquina de escrever”, pois eram computadores sem conexão com a internet,
servindo basicamente para a digitação de trabalhos em editor de texto e
armazenamento de arquivos.
e essa imagem ficou muito presente porque naquele momento as pessoas estavam começando a usar a internet.. e a minha história pessoal... o meu primeiro computador foi comprado na época da produção da dissertação de mestrado, mas naquele momento eu não usava a internet, eu tinha o computador e ele era para mim uma máquina de escrever, eu depositava lá os meus arquivos.. (N4, p. 2) Però si di inizio non… lo fatto solo per necessità, inizialmente, non c’era particolare interesse, anche perché poi con la volta non è che si parlava di suo blog, social network , cioè, quella volta l’utilizzo era strumentale, a scrivere un testo e basta, come in machina da scrivere. (N11, p. 4)73 em 93 que eu fui pra escola e, bom, a gente não tinha internet ainda.. é... eu usava o computador, como que eu usava? Hoje o computador é uma coisa tão diferente do que era naquela época que fica... Eu usava para, eu usava pra escrever texto.. é.. (N13, p. 6)
Alguns iniciaram o uso bem antes (anos 80) com computadores que mal
lembram os que utilizamos hoje, especialmente aqueles entrevistados que
trabalhavam diretamente com tecnologia, tinham alguém na família interessado
pela informática ou eletrônica, possuíam computador em casa, ou foram iniciados
73 Trad. livre: “Porém de início não... o fiz somente pela necessidade, inicialmente, não havia interesse particular, também porque então naquela época não é que se falava de blog, rede social, isto é, naquela época a utilização era instrumental, para escrever um texto e basta, como uma máquina de escrever.”
Análise dos dados coletados 243
no uso do computador dentro da profissão, seja através de cursos formais ou por
necessidade prática de trabalho.
No caso N10 o entrevistado cita o contato inicial através de videogames
quando tinha oito anos de idade, com jogos como o Pong, e somente depois na
adolescência começa com o uso de um computador Commodore e depois um IBM
PC. No Brasil, devido ao bloqueio de produtos de informática realizado nos anos
80, computadores menos avançados, de produção nacional, eram utilizados, como
no caso N14 em que o entrevistado narra a aquisição de um computador TK 2000
Color.
Figura 16 - Computador Commodore 64, lançado em 1982, ligava-se diretamente em aparelhos de televisão (Fonte: fotografia de Bill Bertram, Wikimedia Commons).
Análise dos dados coletados 244
Figura 17 - Computador TK 2000 Color, da empresa Microdigital, lançado em 1984, ligava-se diretamente em aparelhos de televisão (Fonte: Wikimedia Commons).
O caso N8 mostra claramente a influência familiar precoce quando o
entrevistado narra que quando criança ia junto com o pai a feiras de computação
para acompanhar a evolução dos equipamentos, se apaixonando pelos
computadores e se tornando precocemente um programador. Ele relata que primos
e amigos já tinham computadores que ele começa a utilizar antes de ter o próprio
em 1985. Depois dessa imersão na computação ele acaba indo fazer, em um
primeiro momento, de 1993 a 1996, o curso de graduação em Informática na
universidade, para depois escolher a Pedagogia. Essa formação inicial na
computação, incluindo o acesso na universidade à internet em seus primeiros
rudimentos, irá marcar as pesquisas dele na educação, que tratam do uso de
ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs).
Sigamos agora para a finalidade do uso do computador.
Análise dos dados coletados 245
Gráfico 13 - Variável “11. Objetivos de uso (Finalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Uso para trabalho+estudo
1. Aprende recursos para uso em atividades no trabalho principalmente.
(2) Uso para trabalho+estudo -> pessoal+comunicação
1. Aprende para usar no trabalho e também na vida pessoal, equilibrando os dois lados.
(3) Uso pessoal+comunicalção -> trabalho+estudo
1. Aprende a usar na vida pessoal e usa também no trabalho, de maneira equilibrada.
(4) Começou a utilizar para todas as finalidades ao mesmo tempo
1. Aprende a usar ao mesmo tempo o computador para o trabalho, estudo, comunicação e vida pessoal.
Tabela 8 - Descrição dos itens da Variável 11.
Como se pode observar, vemos que esses casos de uso mais precoces, em
geral, não eram somente educadores (pedagogos), mas que trabalhavam em locais
fora do ambiente escolar, a exemplo de universidades com laboratórios de
informática pioneiros e empresas privadas que tinham equipamentos de ponta.
Um dos casos apreciados foi o da ex-advogada (N16) que utilizava computadores
no escritório em que trabalhava no início dos anos 90, por necessidade de trabalho
da firma (escritório de advocacia), tendo o marido também acesso à tecnologia de
ponta por trabalhar em um banco.
Na Itália, o caso N9 é do atual professor universitário que aprendeu a usar
os programas básicos de escritório (Word, Excel, Access) no emprego que tinha
nos anos 90 em uma empresa de recursos humanos, embora já tivesse contato
inicial com o computador Macintosh da Apple que a irmã tinha em casa. Outro é o
da professora de matemática (N13) que realizava trabalhos estatísticos com seus
alunos na escola técnica e precisava ter computadores para a realização dos cursos
que envolviam cálculo.
E a gente usava pra fazer gráfico, pra trabalhar... com gráficos, com... gráficos matemáticos e enfim, a gente usava.. eu usava um dos.. eu usava com os alunos
0 1 2 3 4 5 6 7 8
(1) Uso para trabalho+estudo
(2) Uso para trabalho+estudo ‐>pessoal+comunicação
(3) Uso pessoal+comunicalção ‐>trabalho+estudo
(4) Começou a utilizar para todas as finalidadesao mesmo tempo
11. Objetivos de uso (Finalidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 246
esse material, sabe? Ou seja, computador pra isso, pra fazer gráfico, nos projetos que a gente fazia (N13, p. 6)
Mesmo no caso N3, em que a entrevistada é professora e trabalha com
ensino de Artes, foi o marido que a iniciou na informática, por observar nas
empresas que visitava o uso intenso do computador, decidindo pela compra de um
próprio a partir das vantagens de uso que observava. Isso nos leva a perceber que
a escola comum, não-técnica e fora do padrão de escola de elite favorecida
financeiramente, entra na computação um pouco mais tarde que empresas
privadas e escolas particulares, que dependem da atualização de equipamentos
para se manterem ativas no mercado e manterem seus clientes / alunos.
O caso N5, em que a entrevistada era aluna de um liceu italiano nos anos
90, evidencia esse problema do acesso dentro do ensino público: a escola manteve
até 1998 o sistema operacional DOS nos computadores, apesar das interfaces
gráficas estarem disponíveis há mais de 10 anos no mercado de softwares. Ela
então só pode ter contato com a internet e o sistema operacional Windows quando
os pais adquiriram o primeiro computador em casa e, com isso, teve a
oportunidade de aprender por conta própria.
No caso N14 fica evidente a migração dos usos e habilidades adquiridas
em um ambiente mais rico, em que o entrevistado era professor de uma escola de
elite da Zona Sul do Rio de Janeiro, com amplo acesso a equipamentos de ponta
junto aos alunos da instituição, e ao mesmo tempo de uma escola pública na Zona
Norte que carecia desses equipamentos, levando sua experiência com os suportes
analógicos e digitais para a escola mais pobre em recursos, incentivando a
aquisição de equipamentos junto aos outros professores.
agora o [NOME DA ESCOLA] me proporcionou um salto muito grande. Eu me lembro quando eu fui pedir pra fazer um curso de computação... para poder entender os meus filhos, que eu já tava com filho pequeno na época.. afinal “eles vão precisar do computador, eu nunca vou precisar do computador pra trabalhar” (risos) A coisa era na época da reserva ainda de software... (N14, p. 9) [NOME DA ESCOLA] estava muito a frente... É... eu me lembro, porque eu era muito ocupado né? Mas era superinteressado... e um grupo de alunos começou, era febre das BBS... né... então tinha que.. o.. o.. como é? É... cibercafé... não. Como é que eles chamavam? Kidcafe... kidcafe... era uma BBS em português, acho que era uma raridade, se eu não me engano foi o [B.] que descobriu essa coisa. (N14, p. 10)
Análise dos dados coletados 247
O mesmo caso ocorre na escola particular no caso N15, em que a
entrevistada relata ter começado seu uso do computador no início dos anos 90,
pois a escola particular que trabalhava tinha um diretor de informática que
incentivava o uso livre do computador entre os professores (incluindo
mensageiros instantâneos como o ICQ), conseguindo linha de crédito para
aquisição de equipamento e realização de cursos para quem tivesse dificuldade.
Muito cedo.. em... acho que em 94... a escola que eu trabalhava sempre investiu muito em informática e tinha um diretor de informática, assim, absolutamente genial (N15, p. 3) e ele tinha uma visão de que a informática devia ser algo amigável desde o início... então as primeiras coisas que ele fez foi liberar na época o ICQ, né... (N15, p. 3) e aí o colégio desenvolveu uma intranet muito bacana que na época... hoje eu não sei em que pé estão, mas na época era algo assim revolucionário em termos de intranet, especialmente em escolas que tem uma visão mais atrasada... então a vida da gente passou a ser informatizada desde aquela época e continuou.. (N15, p. 4)
Qual teria sido o interesse inicial pelo uso do computador pelos membros
do grupo observado?
Gráfico 14 - Variável “6. Interesse inicial (Causalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Interesse formal
1. Necessidade de trabalho. 2. Necessidade na escola, graduação ou pós-graduação. 3. Necessidade de docência. 4. Necessidade do trabalho acadêmico de escrita. 5. Participação em curso formal para aprender a usar o computador ou/e internet.
(2) Interesse informal
1. A partir de Amigos que usavam e despertaram a curiosidade. 2. A partir de parentes próximos como marido, irmãos, filhos, pais ou tios.
(3) Interesse misto 1. Necessidade formal (trabalho, escola, universidade) aliada ao mesmo tempo à ajuda informal de parentes ou amigos.
Tabela 9 - Descrição dos itens da Variável 6.
0 2 4 6 8 10 12
(1) Interesse formal
(2) Interesse informal
(3) Interesse misto
6. Interesse inicial (Causalidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 248
O interesse inicial dos entrevistados para o uso do computador em sua
maior parte foi formal, antes de ser um interesse pessoal, mesmo que depois as
habilidades adquiridas passassem para a vida pessoal. Era derivada, por exemplo,
da atividade profissional, como a necessidade de usar o computador com alunos
em escolas, fazer alguma pesquisa que envolvia as tecnologias como tema
principal ou simplesmente utilizar o computador para a digitação de um trabalho
acadêmico, como no caso N11 em que a entrevistada relata que pegou emprestado
um notebook para fazer o trabalho de conclusão de curso de graduação, em 1998.
A hipótese que podemos tecer é que nos anos 90 os computadores
entraram primeiro nos locais de trabalho, escolas particulares de áreas mais
favorecidas financieramente, tais como universidades e empresas, levando a um
uso formal e profissional antes do uso particular e mais livre em casa, até mesmo
porque eram muito mais custosos e difíceis de adquirir. Talvez hoje em dia os
casos tendam para o inverso, ou seja, o jovem adquire habilidades nos
computadores já presentes em casa e depois começa a utilizar funções ligadas à
vida profissional. Apesar disso foram relatados cinco casos em que os usos
começaram em casa para comunicação, pesquisa ou mesmo jogos e depois
passaram para o dia a dia do trabalho.
quando eu conheci eu achei fantástico, aí achei muito mais fácil pra você organizar e eu trouxe pra minha vida profissional também.. (N2, p. 13) piano piano lo ha diventato, prima di divertimento, ecco forse prima era solo un divertimento, poi… poi di studio, poi di lavoro… (N9, p. 3)74
Um exemplo de forte interesse é o caso N2, em que a entrevistada relata
todo o encanto inicial com o uso do computador e das antigas redes BBS do início
dos anos 90 (por conexão discada) na casa do irmão que já possuía um
computador, passando a noite toda lá para descobrir como funcionavam os
recursos que nunca havia entrado em contato antes.
É interessante porque o padrão de automotivação, com consulta de
materiais e guias para aprender a utilizar os recursos computacionais, se alastra
para o uso intenso dos suportes digitais nas pesquisas que fez (mestrado e
74 Trad. livre: “Aos poucos ele se tornou, primeiro para divertimento, então primeiro era somente um divertimento, depois.. depois de estudo, de trabalho...”
Análise dos dados coletados 249
doutorado), nos cursos a distância que realizou como aluna, e na própria opção
por trabalhar exclusivamente com EAD.
eu não tinha a menor idéia, de como era, aí uma noite eu fui pra casa dele, meu marido ficou com os filhos né, com os meninos né, ficou em casa... e eu fui dormir na casa do meu irmão, que a gente ia virar a noite, pra... eu me lembro assim até um pouco da emoção [pausa para desligar o ar condicionado] quando eu vi aquilo li [som de conexão dial-up] ... (N2, p. 1) aí eu tinha umas revistas que eu não vou lembrar o nome, que eu tenho até hoje lá guardadas (...) já é peça de museu, que fala sobre BBS, coisas que podia fazer ou usar na escola... (N2, p. 1) aí quando eu fui pra [NOME DA CIDADE]... minha cidade é [NOME DA CIDADE] né... acho que é interessante a data... noventa e... cinco... quando cheguei lá chegou uma pessoa que foi morar lá também que ela usava ... é... ela fazia, tinha terminado o curso de comunicação aqui na Federal... então ela começou a contar de rede, das comunicações que tinha.. e uma outra colega que tinha muito interesse em mexer... ela trabalhava muito com software e tal com a garotada... nós ficávamos assim curiosas né... (N2, p. 1)
O caso de N2 nos remete a outro item desta mesma categoria, qual seja,
como se deu a aprendizagem inicial: do autodidata ao formal.
Gráfico 15 - Variável “8. Aprendizado inicial (Formalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Autodidata solitário 1. Começou a usar os recursos digitais sozinho.
2. Consultava revistas, sites e manuais para se informar. (2) Autodidata assistido 1. Começou a usar os recursos sozinho e também com ajuda de amigos e cursos que
fez. (3) Educação formal 1. Fez curso formal para começar a usar os recursos digitais.
Tabela 10 - Descrição dos itens da Variável 8.
O padrão então apresentado foi de aprendizagem não formal, autodidata, a
partir de uma influência horizontal dos pares e com aprofundamento pessoal a
partir do interesse gerado pelas possibilidades apresentadas pelos novos meios.
0 1 2 3 4 5 6 7 8
(1) Autodidata solitário
(2) Autodidata assistido
(3) Educação formal
8. Aprendizado inicial (Formalidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 250
Onze dos dezesseis entrevistados não passaram por atividade formal para
aprender a usar o computador e a internet, a ida a cursos formais de informática,
sendo que sete receberam ajuda de amigos e familiares durante a aproximação
inicial com as tecnologias digitais.
Desse total, somente dois entrevistados tiveram receio de se aprofundar de
maneira rápida ou mesmo moderada nos suportes digitais, demonstrando o
predomínio do padrão de “encantamento” inicial que a informática exerceu na
maior parte das pessoas entrevistadas, através de seus novos recursos e
possibilidades de manipulação e edição da informação digital, as conduzindo para
uma adoção mais ou menos veloz.
E como estavam eles em matéria de uso do computador quando realizavam
seu mestrado / doutorado?
Gráfico 16 - Variável “10. Conhecimento (Familiaridade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Iniciante
1. Descoberta e uso básico da internet e do computador. 2. Pela descrição que faz dos usos percebe-se que a pessoa não se aprofundou na informática e computação. 3. Ainda na fase de aquisição de palavras novas utilizadas no ambiente informático.
(2) Familiarizado
1. Uso de alguns recursos de forma básica e apresentando conhecimento razoável em outros, sem aprofundar os detalhes e recursos mais sofisticados. 2. É o usuário que sabe instalar programas básicos e utiliza programas diversos, mas não sofisticados. 3. Usa alguns serviços na internet como banco, compras, pesquisas diversas, comunicação com outras pessoas.
(3) Avançado
1. Maior aprofundamento e uso de recursos mais avançados, pouco relatados em geral. 2. Possui desenvoltura com programas avançados e sabe a fundo o funcionamento da computação, da internet e da informática em geral. 3. Tem grande chance de ter vindo de uma área técnica / tecnológica.
Tabela 11 - Descrição dos itens da Variável 10.
Passados mais de 10 anos do contato inicial, a maioria deles começava a
usar o computador no fim dos anos 90. Nenhum entrevistado relatou se sentir
iniciante com os meios digitais, embora somente três tivessem atingido o nível de
experts, atribuição evidenciada através do uso de termos técnicos presentes em
0 2 4 6 8 10 12 14
(1) Iniciante
(2) Familiarizado
(3) Avançado
10. Conhecimento (Familiaridade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 251
seus discursos, dominando o conhecimento sobre a estrutura de funcionamento
dessas novas tecnologias, sabendo profundamente detalhes a respeito da técnica e
da manipulação avançada de dados (programação).
Dois casos italianos, o N8 e o N10, vinham desde os anos 80 utilizando a
informática no cotidiano, começando ainda criança a utilizar os primeiros
computadores disponíveis no mercado italiano, com alto nível de interesse em se
aprofundar na técnica e nos recursos disponíveis.
allora c’erano, non c’era neanche PC, c’erano sistemi tipo Comodore o Sinclair.. erano microcomputer, quelli che si utilizzavano allora e poi dopo ci stato diversi modelli fino alle… il primo computer, credo il primo PC a 14 anni, 1984.. uno 80, credo che sia stato un 8088 Intel credo, non ricordo più precisa… era un PC che aveva un disco fisso da 20 mega.. (N10, p. 3)75 Avevo computer, non era collegato a internet.. non aveva regolarmente…beh ma io ho cominciato a usare il computer a sei, sette anni… prime consolle per videogiochi, il Philips Videopack 2006 e poi mi sembra in quinta elementare o in prima media, adesso non mi ricordo bene ho comprato uno Spank una 48K sarà stato nel…beh adesso qui fa un po’ di calcoli allora… 94.. non, non, 84 scusa.. 84/85, ah occhio… (N8, p. 4)76
Desse modo, grande parte utilizava o computador e a internet para atingir
seus objetivos profissionais e pessoais cotidianos, comuns, e não como objeto
para aprofundamento técnico, ou seja, não tinha interesse em se aprofundar no
modo de funcionamento dos suportes digitais, preferindo mais aproveitar as
possibilidades práticas que o meio oferecia.
Um exemplo dessa postura está no caso N7 em que a entrevistada afirmava
que o aprendizado de recursos informáticos sempre serviu a alguma finalidade e
necessidade prática de trabalho e nunca meramente por curiosidade em aprender
algo novo, tarefa essa que deixava para os amigos que gostavam de explorar as
novidades que surgem na computação.
75 Trad. livre: “Então existiam, não existiam ao menos PC, existiam sistemas tipo Commodore ou Sinclair... eram computadores, aqueles que se utilizavam então e depois apareceram diversos modelos até... o primeiro computador, creio o primeiro PC foi quando tinha 14 anos, 1984... um 80, creio que tenha sido um 8088 Intel creio, não recordo precisamente... era um PC que havia um disco fixo de 20 megas...” 76 Trad. livre: “Eu tinha um computador, não era ligado à internet... não tinha regularmente... mas eu comecei a usar o computador com seis, sete anos de idade... primeiro um console de videogame, o Philips Videopack 2006 e depois me recordo que na quinta elementar ou na primeira série do médio, então não me recordo bem, eu comprei um Spank 48k que foi no ano... bem, agora faço um pouco de cálculo então... 94... não, não, 84 desculpe.. 84/85, de olho...”
Análise dos dados coletados 252
… non sono mai stata… é… tanto in curiosità, in poi io vedo alcuni colleghi che hanno più questa passione, alla sera si mettono scarica, lo provano programmi e mio approcci è più utilitaristico, mi serve questa cosa, chiedo a chi già carica, naviga, cerca, me indirizzino e vado (…) quello chi mi serve (risos). (N7, p. 4)77
Os usos cotidianos também ficaram evidentes no caso da entrevistada N13
que, ao sair para um período de doutorado sanduíche, teve que utilizar
intensamente sites de auxílio em viagens (passagens, roteiros, idiomas, redes de
aprendizagem) e programas para comunicação com familiares a distância (Skype),
algo semelhante ao caso N9 em que o entrevistado passou um período de 6 meses
fora da Itália e se viu na obrigação de utilizar a internet para se comunicar com
amigos, encontrar pessoas, se localizar na cidade, acessar serviços diversos e
encontrar recursos nos locais em que morou.
Esse uso cotidiano é evidenciado também no caso N5, em que a
entrevistada relata que hoje em dia faz tudo pela internet, como organizar viagens,
obter informações sobre uma cidade, controlar a conta do banco e procurar imóvel
para alugar, dizendo que a internet se tornou a primeira fonte de referência quando
precisa ir a algum lugar ou explorar algum serviço novo.
Si, anche, si, si, si... faccio praticamente... al momento faccio qualsiasi cosa in internet .. prenoto le vacanze, controllo il conto corrente, pago il bollette (risos)... Tutto.. si, si, tutto... vaso... cerco la casa, qualsiasi cosa, quando ho cercato a casa qui a Milano, cercato in internet, qualsiasi c’è la è diventata forse la mia prima fonte di riferimento. (N5, p. 11)78
Para a entrevistada N16, a maior mudança que teve em seu uso da
computação nos últimos 10 anos foi a entrada na rede social Facebook,
evidenciando um uso cotidiano e pouco aprofundado na natureza dos suportes
digitais, visto que muitas outras mudanças ocorreram na década de 2000, além do
surgimento da rede social.
Relacionado ao acima exposto, está a utilização dos softwares para a
análise dos dados pelos professores consultados:
77 Trad. livre: “Eu nunca estive... é... como curiosidade, então eu vejo alguns colegas que tem mais essa paixão, de noite vão baixar e testar programas e a minha aproximação é muito mais utilitária, se me serve esta coisa, pergunto a quem já carregou, navegou, procurou, me direciono a essa pessoa e vou (...) aquilo que me serve.” 78 Trad. livre: “Sim, também, sim, sim, sim... faço praticamente... no comento faço qualquer coisa na internet... agendo as férias, controlo a conta corrente, pago os boletos (risos)... Tudo... sim, sim, tudo... procuro uma casa, qualquer coisa, quando eu procurei uma casa aqui em Milão, procurei na internet, ela se tornou a minha primeira fonte de referência...”
Análise dos dados coletados 253
Gráfico 17 - Variável “12. Análise dos dados (Tecnicidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Utiliza software avançado para análise dos dados
1. SPSS. 2. nVivo. 3. Sphinx.
(2) Utiliza software básico de análise de dados
1. Tabelas e gráficos em Excel.
(3) Analisou os dados manualmente
Tabela 12 - Descrição dos itens da Variável 12.
Mesmo com toda aproximação e uso das tecnologiais digitais no cotidiano,
sete entrevistados relataram que o tratamento de dados de suas pesquisas não
envolvia software específico para essa finalidade, sendo analisados manualmente.
Esse dado não quer dizer que tenham sido tecnofóbicos ou não apresentassem
conhecimento técnico para realizar as análises digitalmente, mas sim pela própria
natureza dos dados que coletaram.
Ao que tudo indica, esse fato deriva do próprio modo de atuar dos
pesquisadores de ciências humanas, neste caso os do campo da Educação, em que
as análises interpretativa e qualidativa de dados e documentos se sobrepõem a
projetos que envolvem análise numérica e estatística em grande escala, para qual o
computador seria fundamental. Entretanto, isso não excluiu um menor número
entrevistados que utilizaram bases de dados que exigiam alto nível de
processamento automatizado.
Dois exemplos são os casos N14 e N16, em que os entrevistados usaram
programas para processar bases de dados disponibilizadas pelo governo federal,
com um volume de registros muito grande.
no doutorado onde eu tive mais ajuda da tecnologia foi na... na fundamentação teórica e estatística também, porque eu comecei a pensar assim: quantos professores trabalham em muitas escolas? Né... daí comecei a entrar no INEP. Eu tive uma fase ali de quase um meio ano de estatística mesmo. Pô, fui estudar
0 1 2 3 4 5 6 7 8
(1) Utiliza software avançado para análise dos…
(2) Utiliza software básico de análise de dados
(3) Analisou os dados manualmente
12. Análise dos dados (Tecnicidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 254
estatística pra dar conta de resolver, entender tudo que o INEP levantava de dados sobre a profissão docente, em números (N14, p. 15-16) Também com essas bases de dados, você tem que ter um bom computador, porque senão demora... do PISA... o processamento é lentíssimo né... e.. é... então eu peguei logo no início, logo no início... (N16, p. 8) e aí eu fiz uma comparação do Brasil, México, Argentina e Colômbia, peguei os 20% mais ricos da amostra dos estudantes e fiz uma regressão logística para ver se os brasileiros de fato tinham o mesmo... alunos de camada mais alta tinham mesmo chance de risco de reprovar, que nem as outras camadas. (N16, p. 2) Isso eu acho importante, agora eu tou vendo você com entrevista, eu usei o... pra entrevista eu usei muito no, no mestrado aquele nVivo... pô, fundamental o nVivo, fundamental... me ajudou muito o nVivo, muito, muito, muito... e, bom, e pra os dados de... eu usei o SPS né, o SPSS, eu usei muito, né... tanto o PISA como o censo. A própria base que eu montei da escola eu fiz em SPSS, que eu acho também um supersoftware, só que é difícil de conseguir, infelizmente a gente usa pirateado, eu odeio coisa pirata, mas... (N16, p. 21)
O caso N11 também é bem representativo, pois a entrevistada coletou
dados online, através de fóruns e discussões de grupos via internet, mas depois os
tratou manualmente, sem a ajuda de software específico. A decisão do modo de
tratamento independe se a coleta de dados foi ou não proveniente da internet,
estando mais ligado ao tipo de dado e à quantidade de respostas coletadas.
Quanto às atividades realizadas na internet, os grupos de Rio de Janeiro e
de Milão não se diferençaram.
Análise dos dados coletados 255
Gráfico 18 - Variável “13. Atividades (Atividade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Comunicação pessoal 1. Uso de e-mail e comunicadores instantâneos. (2) Comunicação coletiva 1. Newsgroups, listas de discussão. (3) Ferramentas de autopublicação
1. Blogs, fotologs.
(4) Redes sociais e relacionamento
1. Orkut, Facebook e outras redes em que se criam perfis públicos.
(5) Jogos online e offline 1. Jogos em rede, jogos off-line. (6) Comércio eletrônico e home banking
(7) Serviços de armazenamento online
1. Álbum de fotos e vídeos online, slides e textos online, compartilhamento de arquivos na nuvem.
(8) Serviços de download 1. Baixar músicas e filmes online. (9) Serviços de compartilhamento 1. Delicius.
a. Nobii. (10) Pesquisa em motores de busca
(11) Leitura de jornais eletrônicos (12) Serviços de orientação 1. Utilização de sites para se situar no local onde está (hospedagem, passagens,
mapas).
Tabela 13 - Descrição dos itens da Variável 13.
As duas atividades que mais se destacaram no uso do computador e da
internet foram a (a) comunicação pessoal e coletiva, seja por e-mail (a mais
frequente) e comunicadores instantâneos (MSN, Skype, ICQ) ou por listas de
discussão e redes sociais (Facebook, Orkut); assim como a (b) pesquisa através de
motores de busca, seja aqueles típicos do final dos anos 90, como o Yahoo!, o
Cadê e o Altavista e o contemporâneo Google.
Embora constando nos usos de maior frequência (10 dos entrevistados
relataram), quando muitos disseram estar inscritos nas redes sociais, uma parte
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
(1) Comunicação pessoal
(2) Comunicação coletiva
(3) Ferramentas de autopublicação
(4) Redes sociais e relacionamento
(5) Jogos online e offline
(6) Comércio eletrônico e home banking
(7) Serviços de armazenamento online
(8) Serviços de download
(9) Serviços de compartilhamento
(10) Pesquisa em motores de busca
(11) Leitura de jornais eletrônicos
(12) Serviços de orientação
13. Atividades (Atividade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 256
afirmou não ser participante ativo, associando as redes sociais a um simples
espaço de diversão e distração, dizendo que prefere se encontrar pessoalmente
com os amigos ou que não tem tempo para se manter presente nos sites de
relacionamento.
As entrevistadas N11, N12 e N7 utilizaram justificativas semelhantes para
este afastamento das redes sociais, ao menos as redes mais populares como o
Facebook e o Orkut.
a rispetto alla dimensione sociale io non sono 2.0, io non ho Facebook, non ho profilo, cioè, uso il profilo degli altri per fare la ricerca ma io non ho il mio profilo… (N7, p. 17)79 perché è comunque è… preferisco sentirmi meno spesso con i miei amici, ma sentirmi al telefono o vedermi, che dire tutti giorni so come stano, ecco… sono ancora vecchia, cioè sono in questa, questo aspetto, quindi questa cosa non.. del tenere la rete non c’è lo ancora, non mi appartiene, un po’ perché ho paura, perché non ho tempo per fare anche quella cosa li… (N7, p. 17)80 Io ho ad esempio su Facebook, ho aperto il profilo, però non, non lo sto coltivando molto perché da un lato non ho il tempo e dal altro, si soprattutto non ho il tempo, ti direi e poi appunto non servendomi adesso, è... capito il meccanismo, capito come funziona, io non le trovo più le utilità per me, in questo momento, non? E quindi non, non utilizzo semplicemente, però sicuramente se avessi altri interesse o mi interessasse contattare qualcuno, sicuramente quello sarebbe molto più interessante e utile che non, ha telefonata o comunque insomma (risos)… (N11, p. 15)81 Non, é… ma perché non è prettamente legato a… alle finalità di ricerca, ne senso che, é… non, non ho… moltissimo tempo per cui, é… non mi interessa fare parte nel social network per coltivare delle amicizia o per parlare… cosi… perché io ho pochissimo tempo, quindi quel tempo che io ho, preferisco parlare vis-a-vis… (N12, p. 15)82
79 Trad. livre: “no que diz respeito à dimensão social eu não sou 2.0, eu não tenho Facebook, não tenho perfil, isto é, uso o perfil dos outros para fazer pesquisa, mas eu não tenho o meu perfil...” 80 Trad. livre: “contudo... eu prefiro entrar em contato com os amigos com menos frequenência, mas contatar via telefone ou os ver, do que dizer todos os dias “como está?”, enfim... sou ainda velha, isto é, sou neste aspecto, então com esta coisa não... de ter em rede não tenho ainda, não pertenço, um pouco por medo, porque não tenho tempo também para aquela coisa lá...” 81 Trad. livre: “Eu, por exemplo, no Facebook, abri um perfil, porém não, não estou cultuvando muito porque de um lado não tenho tempo e de outro, sim sobretudo não tenho tempo, te direique não está me servindo agora, é... eu entendo o mecanismo, como funciona, eu não encontro uma utilidade para mim, neste momento, não? E então não, não utilizo simplesmente, mas com certeza se tivesse outros interesses ou me interessasse contatar alguém, com certeza aquilo me seria muito mais interessante e útil que, mas tem o telefonema (risos)...” 82 Trad. livre: “Não, é... mas porque não é estritamente ligado à.. à finalidade de pesquisa, no sentido que, é... não, não tenho... muitíssimo tempo para isso, é... não me interessa fazer parte em um rede social para cultivar a amizade ou falar... assim... porque eu tenho pouquíssimo tempo, então aquele tempo que eu tenho, prefiro falar face-a-face.”
Análise dos dados coletados 257
non avrei tempo di seguire un social network per puro piacere, quindi… faccio una selezione. (N12, p. 15)83
Redes sociais menores, mais específicas, como a de resenhas de livros
chamada aNobii citada pela entrevistada N12 ou o LinkedIn citado pelo
entrevistado N10, parecem atender melhor os objetivos do que as redes maiores e
menos focadas.
Ahh si, poi mi ero inscritta da aNobii, che è questo, questo social network per condividere libri, di condivisione praticamente di lettura… di libri… Si, si… praticamente una… una piattaforma, un social network in cui ogni uno… é… carica sugli scaffali la propria libreria e si discute sui libri… é…ti avvicinano a delle persone che hanno gli stessi gusti.. (N12, p. 14)84
Esses dados revelam o nível básico de uso dos suportes digitais pela
maioria dos entrevistados, basicamente como ferramenta de comunicação e como
fonte de informação através de buscadores online, mesmo que outros usos tenham
sido relatados por alguns dos entrevistados, evidenciando a plasticidade da
internet e do computador em substituir serviços antes acessados presencialmente.
As atividades tipicamente relacionadas ao lazer, como os jogos online,
estiveram praticamente ausentes do discurso dos entrevistados, assim como os
serviços de “computação na nuvem85” como o compartilhamento de arquivos e
armazenamento online de documentos, recursos ainda bem recentes e
desconhecidos pela maioria dos entrevistados.
Apesar dos usos básicos relatados pela maioria, o uso dos suportes digitais
tende a se tornar integrado com a vida cotidiana, se tornando mais móvel e
presente através de dispositivos como celulares, netbooks e tablets e de conexões
permanentes. A entrevistada N6 relatou a presença das conexões 24 horas à 83 Trad. livre: “não terei tempo de seguir uma rede social, por puro prazer, então... faço uma seleção...” 84 Trad. livre: “Ahh sim, então eu era inscrita na aNobii, que é essa, essa rede social para dividir livros, uma co-divisão de leitura... de livros... Sim, sim... praticamente uma... é... carrega na estante sua própria biblioteca e se discute sobre os livros... é.. você se aproxima das pessoas que possuem os mesmos gostos...” 85 Entende-se como computação na nuvem todo tipo de armazenamento e processamento de dados realizado fora do computador pessoal de quem utiliza o serviço, processado em redes de computadores (cloud computing) que retornam os dados processados ou os arquivam até que o usuário os solicite para uso local. Exmeplo de serviços do tipo são: e-mails online (Gmail), arquivamento de dados (DropBox, SkyDrive), armazenamento e visualização de vídeos (YouTube). A computação na nuvem tem relação direta com os serviços da Web 2.0, embora estes últimos tenham um caráter mais coletivo, de construção participativa, e não um mero serviço realizado automaticamente por redes de computadores.
Análise dos dados coletados 258
internet que existem hoje, levando-a ao acordar a já se conectar e só desligando os
dispositivos ao ir dormir, um tipo de onipresença da rede que a leva a procurar
qualquer informação assim que uma dúvida surge, comparando a rede a um “ruído
de fundo”, sempre presente.
io da fatto mi sveglio sono in rete, ne senso che io appena mi sveglio accendo il computer e lo spengo quando vado a dormire, sia chi se è a casa o che se è al lavoro, anche se sono a casa perché ho una connessione 24 per 24, quindi non sto a pagare ogni volta che mi conetto e quindi mi accendo il computer quando mi sveglio e lo spengo quando vado a letto e lo uso per tutto, dal lavoro alla, alle parte più ludiche (N6, p. 15)86
Curiosamente, no caso dela só começou a utilizar o computador a partir de
2001 por necessidade de estudo e trabalho, e a internet de banda larga somente
acessou em 2008, pois a universidade não oferecia conexão rápida, ou seja, em 10
anos ela passa do uso zero para um uso de conexão 24 horas por dia, sendo um
dos casos mais radicais de mudança de hábito através do contato e uso de suportes
digitais.
A entrevistada N15 relatou algo semelhante, ao dizer que somente nos
momentos em que se desloca não tem acesso imediato à internet, pois ainda
possui um celular que não permite o acesso à rede (3G), mas que no trabalho e em
casa está constantemente conectada, a ponto de não mais comprar aparelhos de
TV novos ou ler jornais impressos, pois passa a maior parte do tempo no
computador portátil, tendo cinco computadores em casa.
Aos poucos a substituição das mídias clássicas analógicas vem ocorrendo
com os suportes digitais cada vez mais presentes e flexíveis, começando com usos
específicos e pontuais para trabalho e estudo e aos poucos ocupando outras
funções como as compras (e-commerce), os serviços de informação e orientação e
o uso de bancos online.
Quanto aos perfis gerais de uso do computador e da internet temos dois
extremos que se destacaram, mas que não são proporcionalmente iguais em
quantidade. O primeiro é o uso através de uma forte imersão e diversidade de
86 Trad do autor: “Eu me levanto e estou na rede, no sentido que eu logo que me levanto ligo o computador e o desligo quando vou dormir, seja em casa ou no trabalho, também se estou em casa é porque eu tenho uma conexão 24 horas, então não estou pagando toda vez que me conecto e então ligo o computador quando me levanto e o desligo quando vou para a cama e o uso para tudo, de trabalho até a parte mais lúdica.”
Análise dos dados coletados 259
recursos utilizados, desde e-mails passando por redes sociais e e-commerce, a
exemplo dos casos N2, N3 e N13, até o outro extremo da pessoa que reduz suas
idas à internet ao mínimo possível, como a simples troca diária de e-mails.
Gráfico 19 - Variável “9. Imersão (Profundidade)”.
Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Lento / Restrito
1. Cuidadoso no uso. 2. Seletivo no uso. 3. Uso tardio de recursos já disseminados e comuns. 4. Medo de entrar e usar um recurso novo. 5. Medo de usar muitos recursos e não dar conta de responder. 6. Pessoa “não 2.0”.
(2) Rápido / Amplo
1. Abrangente, com adesão a muitas ferramentas. 2. Pouco criterioso nas escolhas, experimentando muitas novidades que vai encontrando. 3. Uso simultâneo ou quase simultâneo com o surgimento do recurso. 4. Incômodo pela não adesão de outras pessoas na mesma velocidade. 5. Encantamento com as novas tecnologias e entrega.
(3) Moderado / Seletivo
1. Uso de poucos recursos, porém contemporâneos e recentes. 2. Gestão das ferramentas que acessa, focando na necessidade que tem. 3. Não tem medo de novos recursos, mas analisa o que vai utilizar sem ter encantamento.
Tabela 14 - Descrição dos itens da Variável 9.
Os itens 2 dessa imersão (rápido/amplo) e 3 (moderado/seletivo) mostram
resultados inversamente proporcionais. Enquanto o grupo italiano tem maior
número de moderados/seletivos, o grupo brasileiro apresenta maior número de
rápidos/amplos.
No Brasil, o caso N4 foi exemplar para exemplificar este extremo do uso
controlado, em que a entrevistada procura medir todos os passos e serviços que
usa do computador, afirmando-se como “perfil peculiar”, pois a internet “nunca
foi algo que me fascinou”. O caso dela é de controle das possiblidades, um medo
de abrir outras frentes que novos sites ou programas poderiam criar e ela não dar
conta, um medo da aceleração trazida pela internet na vida das pessoas, no
0 1 2 3 4 5 6 7 8
(1) Lento / Restrito
(2) Rápido / Amplo
(3) Moderado / Seletivo
9. Imersão (Profundidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 260
aumento dos contatos online, de que haja uma perda das rédeas sobre o tempo e a
dedicação ao trabalho.
E é um caminho mesmo, é um processo que vai nos tomando né? Porque começa com as comunicações por e-mail, mas depois vai abrindo assim um universo de possibilidades de pesquisa, de acesso a textos e isso veio muito lentamente porque eu não sou uma pessoa ligada às novas tecnologias, elas vêm para mim para responder uma necessidade.. (N4, p. 3) eu penso assim, que eu vim num caminho mesmo muito lento... de aproximação da internet.. nunca foi algo que me fascinou.. como eu disse, não sou aquela pessoa muito ligada ao que é novo, ou a tecnologias.. (N4, p. 5) porque mesmo as pessoas da minha geração já são muito mais interessadas, né, e participam dessa rede de relacionamentos pela internet.. e eu não, eu tenho uma resistência (N4, p. 6)
Ao mesmo tempo esse cuidado e cautela reflete também uma ausência de
informações sobre o funcionamento dos computadores e seus programas, como no
momento em que a entrevistada N4 relata recopiar arquivos para diversos
computadores, ignorando a função de backups e o armazenamento de arquivos na
internet (armazenamento em nuvem), e também ao relatar que imprimia os e-
mails que enviava, guardando em arquivos no editor de textos.
Um ponto que se deve refletir é que mesmo na ausência de diversidade de
usos, o acadêmico típico, que trabalha com a escrita de artigos e a ida a eventos
científicos, ainda consegue viver perfeitamente à margem da maioria das
aplicações da internet, podendo se restringir ao uso de materiais na biblioteca, a
um editor de texto eletrônico e ao envio de e-mails.
Essa possibilidade de ser tradicional (mais conservador) nos usos dos
suportes digitais vem da própria estrutura universitária-acadêmica que vem
exigindo os mesmos produtos de pesquisa (artigos, livros, relatórios), iguais aos
exigidos antes da existência da computação e da rede internet. Mesmo com maior
dificuldade para efetuar correções e cópias, uma tese poderia ainda hoje ser feita
usando uma máquina de escrever, visto que o modo de editar e expor os
resultados de pesquisa continua o mesmo.
O caso italiano N9 evidenciou exatamente essa possibilidade, pois o
entrevistado reduzia suas atividades basicamente à checagem constante de e-
mails, à edição de textos e a visitas a sites de notícias, dizendo que às vezes
utilizava um mensageiro instantâneo, mas que nunca criou nenhuma página
Análise dos dados coletados 261
pessoal, seja um blog ou em rede social, a não ser a que a universidade cria para
os professores. Em sua pesquisa de doutorado ele narrou ter utilizado só os livros
e artigos impressos que buscou fisicamente em bibliotecas, tal como no caso da
entrevistada N4.
Mesmo assim a entrevistada N4 revelou ao final da entrevista que já se vê
fazendo pesquisa de artigos (revisão bibliográfica) diretamente em periódicos
online, o que demonstra que nos últimos anos a migração para o formato
eletrônico das publicações vem forçando o acadêmico a utilizar cada vez mais
materiais publicados exclusivamente em formato digital.
Exemplos são os repositórios abertos como o Scielo, que abriga boa parte
das revistas científicas nacionais de educação; ou então os serviços de busca em
repositórios fechados oferecidos pela própria universidade. Outros processos
acadêmicos vêm migrando também para o formato digital, como a inscrição e
acompanhamento de eventos e a submissão de trabalhos para revistas científicas,
embora a essência dessas atividades não tenha se modificado.
Análise dos dados coletados 262
Quadro 16 - Condiderações resumitivas sobre os usos da tecnologia relatados pelos doutorandos.
7.3 Modo de leitura: como os suportes digitais estão sendo apropriados na leitura
No que se refere aos suportes digitais, há pouca diferença entre os italianos
e os brasileiros ouvidos, como se pode comprovar no gráfico abaixo.
Dois períodos de uso inicial Anos 80 = computadores rudimentares
Anos 90 = internet discada e programas rudimentares (maioria)
"Máquina de escrever" e "Depósito de arquivos"
Financiamentos: acesso inicial diferenciados em escolas públicas e privadas.
Ambientes com maior orçamento tinham equipamentos mais atuais e acessíveis.
O acesso inicial que predomina é aquele em ambiente formal, por falta de acesso pessoal em casa.
Aprendizagem autodidata informal com ajuda amigos e parentes (sem cursos formais).
As atividades principais básicas: para comunicação e realização de buscas online.
Pouca adesão às redes sociais populares (associadas a diversão e distração).
Uso básico e para atividades cotidianas (compras, viagens, consultas em geral) e profissionais.
Análise de dados, em geral, não automatizada (qualitativa sem softwares).
Reflete as pesquisas nas ciências humanas.
Alguns relataram softwares especializados em análise de dados.
O uso mínimo de recursos ainda é aceito na academia: comunicação por e‐mail + visita à biblioteca.
Dois extremos no uso dos suportes digitais: lento e cuidadoso ou rápido e abrangente
Os produtos exigidos (artigos, livros, relatórios) permanecem os mesmos.
Estado atual Conhecimento técnico mediano e alguns experts.
Presença digital aumentada com as conexões 24hs.
Análise dos dados coletados 263
Gráfico 20 - Variável “14. Suporte (Materialidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Predomínio do Impresso 1. No papel, sublinhado e anotado a mão.
2. Em geral os textos mais longos. (2) Predomínio da Tela do computador
1. Na tela do computador, com ou sem anotações. 2. Na tela do tablet. 3. Em geral os textos mais curtos se for tela do desktop. 4. Exceção relatada eram textos de teses e dissertações, que por serem muito grandes não eram impressos e eram vistos na tela.
(3) Leitura equilibrada entra o impresso e a tela do computador
1. Uso dos dois modos de leitura de maneira equilibrada.
Tabela 15 - Descrição dos itens da Variável 14.
Analisando os suportes utilizados pelos pesquisadores entrevistados, pode-
se perceber claramente a transição para o uso da tela do computador na leitura de
documentos, sendo somente um entrevistado (N9) que utilizava de modo
predominante o suporte impresso, como livros e revistas científicas nas
bibliotecas onde fez o levantamento de dados para o doutorado ou documentos
que imprime quando a leitura exige um tempo mais prolongado, pois disse se
sentir cansado com a leitura em tela. Mesmo assim, afirmou que no cotidiano só lê
os jornais no computador, parando de comprar a versão impressa, pois são textos
mais curtos.
Sobre essa transição impresso-tela, é bom destacar a fala da entrevistada
N13 e do entrevistado N8.
e também por outro lado me habilitando a ler um texto que estava na tela, na tela do computador... e enquanto ia acontecendo isso eu estava, é.. a questão de ler no papel já tava ficando, tava me distanciando porque isso foi uma coisa que foi muito marcante pra mim... na hora de ler o texto, de ler, ou seja, de estudar eu precisava de ter o texto escrito. Hoje eu já consigo, estudar, ler o texto, mas eu tenho que escrever, mas eu escrevo esquematicamente o texto e essa foi uma mudança que pra mim foi bem interessante, bem interessante e... (N13, p. 9)
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
(1) Predomínio do Impresso
(2) Predomínio da Tela do computador
(3) Leitura equilibrada entra o impresso e a telado computador
14. Suporte (Materialidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 264
hoje eu já estudo um texto, é... na tela do computador... eu já faço isso.. e.. eu já grifo lá com aquele, aquele marcador do PDF, eu já... o que antes eu fazia no papel... (N13, p. 9) eu leio, eu marco na tela, como eu fazia quando eu... com os livros eu marcava de alguma maneira e depois num papel eu esquematizava, eu fazia um primeiro esquema assim, de idéias... essa, depois essa, mais ou menos.. no final não saía nada daquilo mas era minha, era o pontapé inicial. (N13, p. 17) Tendo a leggere su schermo e questo non, durante la tesi dottorato stampavo ancora abbastanza adesso ho preso un tablet e quindi leggo diretto su schermo e sottolineo su schermo, questo nell’ultimo anno. (N8, p. 11)87
Para a entrevistada N16, a impressão de textos foi escolhida quando o uso
de um material era exigido muitas vezes ao longo da escrita da tese (critério de
frequência), e caso fossem muitos longos, como dissertações e teses baixadas no
computador, ela optava por não imprimir, mantendo e consultando no
computador. O mesmo aconteceu no caso da entrevistada N6, que só imprimia os
materiais que ela considerava mais interessantes, caso contrário lia tudo na tela,
inclusive artigos.
A leitura em tela também se divide para alguns em textos curtos, fáceis de
ler no monitor do computador, e os textos mais longos, com conteúdos mais
complexos, que acabam sendo impressos pelo conforto exigido no longo período
de leitura e onde podem ser aplicadas também técnicas de destaque e anotações,
tal como narrado pela entrevistada N5 e N12:
Cartaceo poi o libri o alcuni articoli, perché magari quali articoli che io ho trovato in internet anche sono molto molto lunghi io stampati per comodità di lettura per potere prendere le (altri?) di reflessione. Quale che me ci sono un po’ più brevi che li posso tranquillamente leggere a video non, quelli non li ho... non li ho stampati.. (N5, p. 13-14)88 di solito quelli un po’ più pesante sa leggere a video, oppure perché hanno tanti contenuti e quindi a video non riuscirebbe, non riesce neanche a ver mi (...) magari strutturato il documento, allora me lo stampo così, anche solo sfogliando riesce avere una prima idea di come se organizzano i contenuti e magari a video
87 Trad. livre: “Eu tendo a ler na tela e neste não, durante a tese de doutorado imprimia ainda bastante, então eu adiquiri um tablet e aí leio direto na tela e sublinho na tela, neste último ano.” 88 Trad. livre: “Papel ou então livros ou alguns artigos, porque talvez aqueles artigos que eu encontrei na internet também são muito muito longos, eu os imprimia por comodidade de leitura, para poder realizar algumas reflexões. Aqueles que são um pouco mais breves, que eu posso tranquilamente ler no monitor, aqueles eu não... eu não os imprimia.”
Análise dos dados coletados 265
non subito te restituisce, anche per una pesantessa di leggere ottanta pagina a video.. (N5, p. 14)89 Allora… i materiali più interessante li stampavo… si, perché spesso erano scritto in lingua inglese e quindi avevo bisogno di un pochino più di tempo… é… poi, invece, non so… é… i post sui blog, piuttosto che li leggevo tranquillamente, però tanto materiale l’ho stampato, si… di articoli più lunghi, cosi… (N12, p. 9)90
Já a entrevistada N4, embora fosse extremamente controladora dos usos
que fazia do computador, reduzindo ao mínimo de recursos utilizados no dia a dia,
disse que se sentia muito a vontade com a leitura em tela, incluindo textos longos,
imprimindo textos somente quando era necessária a leitura nos deslocamentos em
transporte público que fazia:
pelo contrário, eu imprimo atualmente cada vez mais o mínimo, porque eu aprendi e ler no computador.. (N4, p. 8) tem pessoas que tem dificuldade né, preferem ler no papel, eu aprendi a ler, tenho facilidade na leitura direto ali no computador, então eu não preciso imprimir o texto que eu abro (...) né.. eu vou ler aquele capítulo da dissertação ali no computador mesmo e vou guardar... (N4, p. 8)
Encontrei casos mais radicais, em que a leitura se dá exclusivamente em
tela de computador quando o material está já em formato digital, como as
entrevistadas N7 e N11 e os entrevistados N8 e N10, que não imprimem mais
nenhum material baixado na rede.
No caso da entrevistada N7, ela prefere utilizar somente o computador
para que suas anotações de leituras sejam facilmente localizadas, usando o
notebook como unidade móvel para anotações e leituras no trem. Já para o
entrevistado N8, as anotações e leituras são no tablet. Ele relata que antes utilizava
caderno de anotações, mas o abandonou com o tempo, pois a comodidade do
digital com a cópia/colagem/busca a levou a passar tudo para o computador.
89 Trad. livre: “Normalmente aqueles um pouco mais pesados de se ler no monitor, ou porque possuem tanto conteúdo e então no monitor não se consegue, não se pode ao menos se ver... talvez o documento estruturado, então eu o imprimo assim, também só folheando pode-se ter uma primeira ideia de como se organizam os conteúdos e talvez no monitor imediatamente não se permite, também por ser pesado ler oitenta páginas no monitor...” 90 Trad. livre: “Então... os materiais mais interessantes eu imprimia... sim, porque frequentamente eram escritos em língua inglesa e portanto precisava de um pouco mais de tempo... é.. então, em vez, não sei... é... as postagens em blogs, uma vez que eu ali eu lia tranquilamente, mas muito material eu imprimia, sim... os artigos mais longos, assim...”
Análise dos dados coletados 266
Ma io la tendenza è sempre stata quella di usare il computer come aggregatore… per cui.. é… mi leggevo i libri e mi riassunti, le miei cosi, le miei annotazioni sempre sul computer in modo d’avere tutto li, poi non avrò più bisogno di libro, quello che di libro mi servivano, non è che trascrivevo tutto, trascrivevo l’idea, il concetto, il pensiero e averlo sul computer… (N7, p. 12)91 Allora diciamo che io già dalle superiori stavo cominciando ad utilizzare molto il computer al posto della carta quindi nel 2000 io ero già una persona che non utilizzava la carta e faceva tutto col computer (N8, p. 17)92
A tela do computador inclui também os tablets, mas como só entraram
efetivamente no mercado no ano de 2008, foi muito cedo para se entender o
impacto deles nos hábitos de leitura dos acadêmicos, sendo que somente um
entrevistado na Itália (N8) e dois entrevistados no Brasil (N14 e N16) relataram o
uso desse novo suporte. Muitos doutores haviam se formado antes dos tablets se
popularizarem, e não chegaram a ter esse suporte como facilitador de leituras de
textos em formato digital.
Para a entrevistada N16, embora o Kindle seja um bom suporte de leitura
de livros, ela não compra aqueles que usa na universidade, técnico-científicos, por
não ter como fotocopiar para seus alunos, porém outras categorias de livros ela lê
perfeitamente no tablet:
lê aí em Kindle é maravilhoso de ler também... eu gosto muito de ler em Kindle, porque não tem aquela tela brilhosa né? Pra viajar é a melhor coisa que tem, porque você não carrega... não sei como é que você é, mas quando eu viajo eu sempre levo três livros, sei lá qual que eu vou querer ler... no Kindle você leva todos os livros né?... Todos, aí você “pô, tou afim de ler qual? Ahh tá.” E cabe, é pequenininho, é show de bola, vai na bolsa, é leve né? (N16, p. 17) É muito bom, muito bom... muito bom, gosto muito, não tenho nenhum problema com isso, nenhum... essa coisa de ter o suporte, “ahh, eu preciso de ter o livro nas mãos”... (N16, p. 17)
No caso N14, o entrevistado diz que atualmente faz as leituras de PDFs
direto na tela no tablet ou na tela do notebook, usando o programa Kindle para
livros, assim como os códigos para o curso de graduação em Direito que está 91 Trad. livre: “mas eu sempre tive a tendência de usar o computador como um agregador... para o qual.. é... eu leio os livros e faço os resumos, as minhas coisas, as minhas anotações sempre no computador de modo que eu tenho tudo ali, e depois não terei mais a necessidade do livro, aquilo que me serve no livro, não é que eu transcreva tudo, transcrevo a ideia, o conceito, o pensamento e o tenho no computador.” 92 Trad. livre: “Mas digamos que já desde a graduação estava começando a utilizar muito o computador no lugar do papel, desde o ano 2000 eu era já uma pessoa que não utilizava papel e fazia tudo com o computador.”
Análise dos dados coletados 267
fazendo atualmente, mantendo todos no tablet, sendo um dos poucos que disse
não imprimir mais nada em papel. O caso é semelhante ao entrevistado N8 que lê
e anota na tela do tablet, mas critica, por outro lado, a falta de um formato
universal para se guardar as anotações que faz e as transportar a outros lugares,
uma limitação de software e não do suporte em si mesmo.
Eu faço tudo na tela até com muito mais conforto, né? E daí já faço a correção, geralmente se manda em Word, faço a correção no próprio texto e mando ali... olha os comentários... (N14, p. 18) Então eu pego o arquivo, com a modificação, salvo e mando junto... então o autor ele sabe exatamente que eu tou comentando. “esse parágrafo aqui tem um equívoco...” “esse autor não diz isso” Mas eu ponho ali, entendeu? (N14, p. 18) Stampavo e sottolineavo su carta, adesso sottolineo direttamente sullo schermo; è più comodo perché il cartaceo l’ho sempre…lo perdo alla fine e poi mi si accumula negli scaffali e si tende…invece io così mi salvo il pdf in un formato che posso sottolineare, lo sottolineo direttamente lì con gli appunti, lo salvo e ce l’ho già, i miei appunti sottolineati sul mio computer e il file rimane… (N8, p. 12)93
Dessa forma, percebemos a transição ocorrendo em três níveis, quando
encontramos casos em que se predomina a maioria da leitura em papel, em livros,
artigos e outros formatos impressos, passando por aqueles que dividem a leitura
entre a tela e o impresso, imprimindo materiais de acordo com algum critério
pessoal e aqueles que já usam totalmente a tela do computador para a leitura, indo
para o impresso somente quando não há outra opção disponível. Parece-nos que
essa transição está sendo possível porque cada vez mais se publicam artigos, teses,
dissertações, relatórios de pesquisa e documentos diretamente no formato digital,
tal como nos aponta o entrevistado N10:
Oltrafatto con università ha una banca dati sulle riviste internazionale che é tutto in digitale e per me le articolo compro in digitale… e non lo stampo neanche, lo leggo direttamente sul reader… Un e-bookreader si… (N10, p. 16)94
93 Trad. livre: “Imprimia e sublinhava no papel, agora sublinho diretamente na tela; é mais comodo porque o papel eu sempre... eu no final o perco e então o papel se acumula na estante e tende a... ao invés disso eu salvo em PDF em um formato que posso sublinhar, o sublinho diretamente com as anotações, salvo e tenho já os meus apontamentos sublinhados no meu computador e o arquivo permanece...” 94 Trad. livre: “com a universidade existe um banco de dados de revistas internacionais que está tudo em digital e eu compro para mim os artigos em digital... e não os imprimo, os leio diretamente no leitor... sim, um leitor de e-books.”
Análise dos dados coletados 268
Talvez com o tempo a leitura migre e predomine na tela dos
computadores, visto que cada vez mais temos suportes que permitem a leitura em
tela e que são facilmente transportáveis, como os tablets, que exercem outras
funções além da leitura de textos, e os e-books mais especializados como o
Kindle, produzido pela livreria online Amazon.
Consequentemente, o uso do computador para a realização de anotações
superou o uso do papel, como se pode ver no gráfico abaixo.
Gráfico 21 - Variável “15. Local das anotações (Localidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Produção de Anotações diretas no arquivo digital original
1. Anota-se diretamente no arquivo PDF ou no e-book. 2. Problemas em exportar as anotações em modelos de e-books com formatos fechados. 3. Problemas ainda em anotar em arquivos PDF.
(2) Produção de Anotações separadas no computador e/ou internet
1. Usa-se um editor de texto para anotar e copiar citações. 2. Pode-se ou não usar um programa específico para juntar as anotações, como o Biblos.
(3) Produção de Anotações separadas em papel
1. Usa-se um caderno para anotações.
(4) Produção de anotações diretas no material impresso
1. Anota-se diretamente no material impresso.
(5) Produziu pouca ou nenhuma anotação
Tabela 16 - Descrição dos itens da Variável 15.
Apesar da tendência de uso do computador de maneira predominante, os
que anotam no material impresso e anotam em folhas de papel separadas ainda
totalizam cinco entrevistados, cerca de um terço. Devemos ponderar e assumir que
boa parte dos materiais acadêmicos ainda está em suporte impresso,
principalmente os livros e alguns tipos de periódicos que não foram digitalizados.
Isso não impede a ocorrência de casos como o N11, em que a entrevistada
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
(1) Produção de Anotações diretas no arquivodigital original
(2) Produção de Anotações separadas nocomputador e/ou internet
(3) Produção de Anotações separadas em papel
(4) Produção de anotações diretas no materialimpresso
(5) Produziu pouca ou nenhuma anotação
15. Local das anotações (Localidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 269
procurava fazer todas as anotações diretamente no computador para não ter que
retornar aos materiais impressos que consultava, evitando manter registros em
papel.
Um caso interessante é o da entrevistada N6 que relata a impressão de
alguns materiais provenientes da internet para fazer os sublinhamentos, caso
fossem muito difíceis e longos, convertendo dessa forma o digital em impresso
para a leitura, retornando depois com os trechos de volta no computador durante
redação final da tese.
O mesmo ocorreu na fala do entrevistado N9, indicando que atualmente se
tornou inevitável o uso do computador ao menos na fase final da escrita mesmo
que se evite o uso da tela nas fases intermediárias com a impressão dos materiais,
não existindo, portanto, mais a possibilidade da escrita ser manual ao longo de
todo o processo de elaboração da tese, somente em alguns momentos.
passava molto via computer, ecco… ne senso che spesso gli appunti venivano buttati direttamente; io avevo sempre un computer con me… gli appunti venivano buttati direttamente di solito sul, sul computer, alcuni cose significative cercavo di… e… trasportare subito sul computer, già in qualche maniera confezionate… (N9, p. 8)95 normalmente gli appunti andavano subito sul computer si… e cercavo di farli già il più ordinati possibile già sapendo che poi magari sarebbero state cose dal utilizzare… (N9, p. 8)96
Dessa forma, nos processos intermediários, surgem diversas técnicas
manuais para a realização dessas marcações, como o uso de setas desenhadas
indicando categorias de anotações, escrita em post-its para depois passar para o
computador, destaque com dobras em folhas ou o uso de sublinhamentos em
diversas cores:
95 Trad. livre: “Passava para o computador, aqui... logo, muitas vezes as anotações eram colocadas diretamente; eu tinha sempre um computador comigo... as anotações eram colocadas diretamente, normalmente, no computador, algumas coisas significativas procurava... e... transportar direto para o computador, já de alguma maneira elaborados...” 96 Trad. livre: “normalmente as anotações andavam imediatamente para o computador sim... e procurava fazer já o mais ordenado possível, já sabendo que depois, talvez, seriam coisas para se utilizar...”
Análise dos dados coletados 270
Gráfico 22 - Variável “18. Técnicas de destaque (Recordabilidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Sublinhamentos diretos no material
(2) Post-its para marcação no material
(3) Post-it para passar ao computador posteriormente
(4) Anotações diretas no próprio material
(5) Anotações no computador 1. Durante a leitura. 2. Após a leitura. 3. Com bloco de notas.
(6) Anotações no papel ou no caderno
(7) Fichamentos dos materiais (8) Uso de diferentes cores para o destaque
(9) Não usa nenhuma técnica
Tabela 17 - Descrição dos itens da Variável 18.
Destaco aqui três exemplos dessas técnicas vindas das entrevistadas N15 e
N6 e do entrevistado N8:
eu me disperso muito fácil, então a cada vez que eu vou usar algum material, ou que eu preciso ler algum texto ou voltar nele, eu preciso fazer uma marcação nova sobre o que eu já fiz, aí eu trabalho com esquema de cores diferentes, então se antes eu usei uma caneta amarela, agora vai um lápis, pra poder sempre estar fazendo as anotações que tem muito mais a função de me prender ao texto do que qualquer outra... (N15, p. 12)
pra ter certeza que eu não ia perder o que era fundamental eu trabalhei com aquele sistema daquelas etiquetinhas coloridas, porque aí ali eu sabia que eu tinha que voltar pra pegar uma citação, alguma coisa assim, mas que de alguma maneira geral se eu achasse alguma coisa que ia ser útil como citação eu já
0 2 4 6 8 10 12
(1) Sublinhamentos diretos no material
(2) Post‐its para marcação no material
(3) Post‐it para passar ao computador…
(4) Anotações diretas no próprio material
(5) Anotações no computador
(6) Anotações no papel ou no caderno
(7) Fichamentos dos materiais
(8) Uso de diferentes cores para o destaque
(9) Não usa nenhuma técnica
18. Técnicas de destaque (Recordabilidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 271
puxava, eu já digitava, eu já botava com a referência completa pra não correr o risco de depois não me situar ou deixar passar... (N15, p. 12) ma sempre comunque leggevo, sottolineavo e poi é… tenevo a mente con un post-it ad esempio le citazione che poi copiavo al computer come citazione e poi scrivevo sempre a computer chiaramente.. (N6, p. 7) A volte disegno un post it e me lo tengo sul computer e lo tengo li finché la cosa non è stata fissata però passa molto tempo, generalmente poi viene, poi prendo powerpoint e creo lo schema direttamente. (N8, p. 14)97
A mesma entrevistada (N15) disse também que não produzia anotações
separadas a partir de suas leituras, escrevendo diretamente no material enquanto
lia, não voltando aos textos depois, algo que surpreende tal a padronização na fala
dos entrevistados do esquema leitura-fichamento-escrita:
pra poder sempre estar fazendo as anotações que tem muito mais a função de me prender ao texto do que qualquer outra... eu não volto nas minhas anotações necessariamente pra... pra retirar dali alguma coisa, o que eu quero eu já vou retirando e aí se tiver que entrar num texto, enfim, já tá ali retirado... (N15, p. 12)
Para o entrevistado N14, ao contrário, se ele lê um livro e não faz
anotações (no caso dele todas no computador) é como um trabalho perdido, tendo
que reler o livro. Já a entrevistada N3 relatou não anotar em arquivos PDF quando
lê na tela do computador, afirmando não ter esse recurso disponível e com isso
confiar na própria memória sobre os textos que já leu. A entrevistada demonstra
um desconhecimento técnico sobre as possibilidades oferecidas pelos softwares
que trabalham com esse formato:
Porque muitos são em PDF, quando é PDF você não consegue.. né.. quando é assim eu abro o texto, deixo o texto numa janela e vou trabalhando no meu.. como eu já dei uma lida superficial aquilo fica na minha cabeça. (N3, p. 21)
Apesar da desenvoltura com os tablets, a entrevistada N16 narra ainda sua
dúvida sobre se as anotações em caderno, em folhas de papel, a partir das leituras
que faz de materiais acadêmicos são mais ou menos eficientes que aquelas feitas
no computador.
97 Trad. livre: “As vezes desenho em um post-it e o coloco no computador e o tenho ali até porque a coisa não está fixada mas passa muito tempo, geralmente depois, depois uso o powerpoint e crio um esquema diretamente.”
Análise dos dados coletados 272
... aí o que acontece é o seguinte, quando eu faço.. é.. escrito, direto no computador, o que eu vejo é o seguinte: é que eu... não cheguei à conclusão do que que é melhor, esse é que é o lance, ainda não cheguei à conclusão, ainda tou... nas.. nas tese.. dissert... na dissertação... e no doutorado e no mestrado os dois eu fiz sempre no caderno (N16, p. 13) (...) digitando, mas eu não sei se é melhor, porque às vezes o computador conserta a palavra, você não reparou o que que você escreveu, se tá certo ou tá errado... mas é verdade também que eu escrevendo às vezes eu depois não entendo a minha própria letra, então (risos)... então eu ainda não cheguei à conclusão que que eu foco mais, porque eu já notei que quando eu transcrevo muitas vezes eu viajo, eu não sou uma pessoa muito focada... (N16, p. 13)
Houve o interesse em se saber se as anotações se davam para uso próprio
ou se eram compartilhas na web.
Gráfico 23 - Variável “16. Compartilhamento (Coletividade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Predomínio de Leituras e/ou anotações compartilhadas na web
1. Disponibiliza online os links de leituras que fez. 2. Comenta suas leituras em comunidade virtual de leitores (aNobii).
(2) Predomínio de Anotações armazenadas localmente no PC
1. Anota (passando ou não antes por algum meio analógico) e guarda em arquivo pessoal no computador. 2. Usa algum programa de organização de anotações como o Biblos.
(3) Predomínio de Anotações armazenadas em papel
1. Anota diretamente nos artigos e livros. 2. Mantém um caderno de anotações sem passar posteriormente para o computador.
Tabela 18 - Descrição dos itens da Variável 16.
Todos, sem exceção, disseram não colocar suas anotações ou referências
de leitura compartilhadas na web, preferindo ou guarda-las no próprio
computador, mais da metade deles, ou armazená-las em papel. Pode-se assim,
supor não haver ainda a ideia de uma produção mais coletiva e disponível a outros
autores.
A entrevistada N5 narra em detalhes como construiu sua ficha de
anotações para cada livro que lia, armazenando tudo no computador:
0 2 4 6 8 10 12 14
(1) Predomínio de Leituras e/ou anotaçõescompartilhadas na web
(2) Predomínio de Anotações armazenadaslocalmente no PC
(3) Predomínio de Anotações armazenadas empapel
16. Compartilhamento (Coletividade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 273
e, per i libri ho per ogni libro che io letto fatto una scheda.. una scheda in che io mi sono salvate digitalizzata in cui io ho scritto l’autore, l’anno, la casa editrici per quando mi servirà per fare indice bibliografico e una breve sintesi del libro che io letto e poi citazione del libro o punti, aspetti che in quel libro (sono affrontati?) che io ritengo interessante per il mio lavoro di tesi gli ho inseriti in questa scheda. Di modo che… con la pagina di riferimento… di modo che quando sto scrivendo il mio capitolo mi apro la scheda del libro di riferimento e prendo direttamente da li riflessione (N15, p. 13)98
O uso de caderno para anotações em papel foi relatado por duas
entrevistadas, N3 e N16, e brevemente pela entrevistada N7, embora as duas
primeiras também tivessem em transição para o armazenamento no computador
durante a realização e após o doutoramento e a outra já não usasse mais caderno.
O único entrevistado que narrou o uso de software específico para armazenar
anotações (fichamentos) no computador foi o N14, usando o programa Biblos,
inicialmente instalado por ele para catalogar CDs de música.
Quanto ao modo de consultar e citar a autoria, foi encontrada a seguinte
distribuição (Gráfico 24):
Gráfico 24 - Variável “17. Prestígio do autor (Autoridade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Leitura de autores acadêmicos consagrados
1. Autores acadêmicos reconhecidos. 2. Textos considerados científicos, que circulam já em estruturas reconhecidas. 3. Basicamente é padrão citá-los nas teses.
(2) Leitura de autores acadêmicos em geral
1. Autores acadêmicos sem prestígio ou consagração, não entraram ainda no rankings dos mais citados. 2. Textos considerados científicos, que circulam já em estruturas reconhecidas. 3. Basicamente é padrão citá-los nas teses.
98 Trad. livre: “e, para os livros, para cada livro que li eu fiz uma ficha... uma ficha que eu salvei digitalizada na qual eu escrevi o autor, o ano, a editora para quando me servirá fazer o índice bibliográfico e uma breve síntese do livro que eu li e depois a citação do livro ou os pontos, aspectos que são abordados naquele livro e que eu retenho de interessante para o meu trabalho de tese, os inserindo nessa ficha. De modo que... com a página de referência... de modo que quando estou escrevendo o meu capítulo eu abro a ficha do livro de referência e obtenho diretamente a reflexão.”
0 2 4 6 8 10 12 14 16
(1) Leitura de autores acadêmicos consagrados
(2) Leitura de autores acadêmicos em geral
(3) Leituras de autores marginais sem citação
(4) Leituras de autores marginais com citação
17. Prestígio do autor (Autoridade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 274
(3) Leituras de autores marginais sem citação
1. Textos de sujeitos não pertencentes ao mundo acadêmico. 2. Reflexões consideradas não científicas. 3. Exclusão da citação dos mesmos no corpo do texto da tese.
(4) Leituras de autores marginais com citação
1. Textos de sujeitos não pertencentes ao mundo acadêmico. 2. Reflexões consideradas não científicas. 3. Porém o escritor da tese chega a citar falas de fontes não reconhecidas academicamente.
Tabela 19 - Descrição dos itens da Variável 17.
Assim sendo, quanto ao modo de consultar e citar a autoria, dez
entrevistados disseram usar autores consagrados em seu campo de pesquisa e
quinze usavam autores acadêmicos em geral. Quanto a fontes extra-acadêmicas,
ou seja, marginais ao uso comum como textos coletivos (wikis), blogs e
comunicades virtuais, sete afirmaram que as consultavam, mas não relatavam seu
uso no texto final da tese, sendo que, nesse item, a maioria foi de entrevistados
italianos.
Para ilustrar como se dá essa preferência segundo o prestigio do autor, a
fala da entrevistada N2 deixa claro isso:
eu procuro ver textos que eu tenho uma mesma referência... por exemplo, eu sei que um artigo que tá lá no Scielo é um artigo que tá, né... ou então um site que você sabe que é de um autor, alguma coisa assim.. o que tem que ter muito cuidado é pra não pegar um blog de não sei quem que colocou qualquer coisa e você achar que aquilo é uma referência, isso eu acho que tem que ter cuidado... (N2, p. 18) uma coisa que você conhece melhor do que eu, que é a wikipedia e tal que eu também acho que tá sendo utilizada em excesso... todo mundo faz dela uma referência e coloca assim porque está lá.. só que hoje, amanhã pode não estar exatamente aquilo... eu acho que ela é um bom canal de entrada... quando eu tenho uma dúvida tum, vou lá.. é um ótimo canal de entrada, mas eu não posso ficar só nele.. acho que você tem que ir além disso, né.. agora ajuda um bocado... (N2, p. 19)
Dessa forma, percebe-se, a princípio, que a apreciação pelos pares das
fontes de consulta acaba por servir de agente inibidor do uso de informações
provenientes de blogs, wikis, fóruns e outros espaços que não são suficientemente
legítimos para serem referenciados, pois implicitamente haveria essa rejeição,
visto que ao publicar um trabalho acadêmico os seus futuros leitores realizarão a
mesma checagem, ou seja, consultarão as fontes que foram utilizadas.
Outro fator que se pode pensar, complementar à checagem pelos pares, é
que existe uma representação já consolidada de fontes aceitáveis e fontes não
Análise dos dados coletados 275
aceitáveis de pesquisa, ou seja, o valor que um livro, em formato impresso ou
disponibilizado na internet (e-book), uma tese ou dissertação, e um artigo de
revista científica carregam é muito mais forte e legitimado pelo grupo de
pesquisadores do que outras fontes emergentes e mais recentes em formato digital.
A opção pelo uso de fontes tradicionais e seu modo de anotar e destacar trechos
fica claro na fala da entrevistada N15:
eu fui criada numa cultura de papel, né, a minha idade é a idade de uma pessoa de cultura de papel e eu sempre fui leitora, desde muito cedo, então a minha relação com o livro tem... eu tenho uma relação carinhosa com o livro de papel... (N15, p. 12) eu ainda gosto bastante do livro de papel porque eu rabisco muito o que eu tou lendo (N15, p. 6) Porque lá eu não consigo rabiscar, vou ter que copiar, colar, nããã.... e aí dá muito trabalho, eu prefiro, eu gosto muito de ler rabiscando, anotando, porque eu sou muito dispersa... (N15, p. 6)
Percebe-se a força dos materiais acadêmicos “pra pesquisa”, um
contrapondo com os materiais que não são para a pesquisa, nas falas das
entrevistadas N6, N11, N13 e N16 e do entrevistado N8:
se il materiale che scarico viene scaricato ad esempio al interno di sito delle università o di centro di ricerca non rifiuto affidabili perché chi lo mette a disposizione sa un po’ di… lo ha valutato non.. lo ha letto, lo ha valutato il prodotto.. é.. bisogno vedere un po’ chi la scritto, é... se è una rivista ufficiale o invece non è una rivista ufficiale, dipende un po’ di cerca sempre di capire chi lo pubblica e chi lo scrive, non? Quindi se sono siti certificati, siti di università e sito di centro di ricerca e sito della rivista, é… tendenzialmente c’è più affidabilità perché sai che stato selezionato no? (N6, p. 13)99 Mas essa parte das dissertações e das teses, que eu acho que tem que procurar, sabe assim, eu acho que você vai escrever uma tese de doutorado, uma dissertação, você tem que procurar o que seus colegas escreveram sobre isso... não só os autores consagrados, mas quem fez dissertação mesmo sobre o tema. (N16, p. 13)
99 Trad. livre: “Se o material que baixo vem, por exmpelo, de um site universitário ou de um centro de pesquisa, não questiono sua confiabilidade porque quem o disponibiliza sabe um pouco de... o avaliou... o leu e avaliou o produto... é... preciso ver um pouco quem o escreveu, é... se é uma revista oficial ou ao contrário não é uma revista oficial, depende um pouco de procurar sempre entender quem publica e quem escreve, não? Então se são sites certificados, sites de universidades e sites de centros de pesquisa, ou site de revistas, é... tendenciosamente tem mais confiabilidade porque sabe-se que foi selecionado, não?”
Análise dos dados coletados 276
eu falo isso site confiável, e pra pesquisa, pra estudar.. né? Aí o que que é, eu tenho esses sites, eu tenho a minha base de dados, eu tenho os periódicos.. é.. então, sabe, são sites que eu chamo, sites de várias universidades e nesse sentido... (N13, p. 25) Intanto solo di autori conosciuti e quindi non ho mai dato credibilità a cosa scritte da singolo, se non come spunto di riflessione, però non.. cioè, tutto quello che ha riportavo, io ho riportato nella tesi come diciamo citazione, erano tutti citazione di libri o comunque di articoli, pubblicazione scientifiche. (N11, p. 13)100 Un articolo recuperato su internet se è all’interno di una rivista scientifica o un comitato scientifico e tutti i sacri crismi vale quanto un concetto che ho trovato su un libro, per me non c’è differenza al cartaceo, tanto per dare l’idea perché quello che io valuto è la referenza scientifica della fonte no? (N8, p. 18)101
Mesmo assim a entrevistada N7 narrou a utilidade dessas fontes não
reconhecidas, não certificadas pela academia ou não levadas ao público
oficialmente, especialmente os pequenos pesquisadores, mas que são úteis na
elaboração de ideias para o próprio trabalho, embora ela não relate a citação
dessas “fontes subterrâneas”, fazendo do mesmo modo que os outros
entrevistados fizeram quando não explicitaram o uso. O entrevistado N8 também
narrou a ida a comunidades virtuais para encontrar temas emergentes nos debates
informais dos participantes, mas sem usar esses fóruns como referência em seus
trabalhos.
Poi tendenzialmente comunque in rete trovano spazio, una serie di materiali… più (…) ricercatore che appunto non sono ancora stati pubblicati, documentati, etc… che secondo me sono materiali prezioso… (N7, p. 16)102 internet ti restituisce anche tutti quei piccoli ricercatori… che comunque non sono ancora quel livelli, non hanno ancora degli spazi così codificati ma risultano interessante (N7, p. 16)103
100 Trad. livre: “Entretanto somente autores conhecidos e assim nunca dei credibilidade a coisas escritas independentemente, senão como inspiração para reflexão, porém não... tudo aquilo que eu reportava, reportava na tese como, digamos, citação, eram todas citações de livros ou então artigos, publicações científicas.” 101 Trad. livre: “Um artigo obtido na internet se é dentro de uma revista científica ou um comitê científico com todas as “bênçãos” vale quanto um conceito que eu encontrei em um livro, para mim não há diferença em relação ao papel, tanto que para se ter uma ideiai aquilo que eu avalio é a referência científica da fonte, não?” 102 Trad. livre: “então tendencialmente se encontra espaço na rede, uma série de materiais... mais... pesquisadores que digo que não foram ainda publicados, documentados, etc... que no meu ponto de vista são materiais preciosos...” 103 Trad. livre: “a internet te oferece também todos aqueles pequenos pesquisadores... que não são ainda daquele nível, não possuem ainda os espaços assim codificados, mas são interessantes.”
Análise dos dados coletados 277
alcuni sperimentazione, alcuni prove, alcuni ogetti che sono stati presentati in maniera quasi sotterranea, mi sembra che internet consenta sia di ricuperare (…) grossi pensieri, ma soprattutto di raccogliere questo, questi aspetti più, più piccoli ma ben fatti insomma, che poi sono quelli che ti aprono idea diversi… (N7, p. 16)104
Já as técnicas de leitura foram bem variadas, mas houve maior incidência
de três delas. Em primeiro lugar os fichamentos de materiais lidos, técnica citada
por dez entrevistados, vindo depois as anotações no computador, com nove
relatos, e os sublinhamentos diretos no material, com sete entrevistados lançando
mão da técnica, seja em meio digital ou no meio impresso. O uso de ferramentas
inerentes ao meio digital não apareceu aqui, sendo reproduzidas as mesmas
técnicas utilizadas e aprendidas com os materiais impressos, agora transpostas
para o computador.
E por fim, quanto à credibilidade dos materiais consultados, o maior
destaque foi dado ao prestígio da fonte e do autor, com onze e sete entrevistados
as relatando respectivamente.
104 Trad. livre: “alguma experimentação, alguma evidência, algum objeto que foi apresentado de maneira quase subterrânea, me parece que a internet permite que seja recuperado (...) seja o grande pensamento, mas sobretudo de recolher este, estes aspectos menores, mas bem feitos, que depois são aqueles que te permitem ter ideias diferentes”.
Análise dos dados coletados 278
Gráfico 25 - Variável “19. Técnicas de confiabilidade (Confiabilidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Checagem da qualidade das referências citadas pelo autor
(2) Checagem em outras fontes para autores não conhecidos
Ida ao google, ao site da universidade ou ao Lattes para ver quem é o autor.
(3) Checagem com outros pesquisadores sobre quem é o autor
Consulta outros colegas na temática que estuda para confirmar a reputação do autor.
(4) Checagem da produção anterior do autor
Ida a sites que mostrem o histórico de obras do autor, como o Lattes e os sites de universidades.
(5) Prestígio do local de publicação do autor
1. Revista científica consolidada. 2. Sociedade científica consolidada. 3. Livraria consolidada. a. Amazon. b. Cultura.
(6) Prestígio do autor da fonte
1. Se conhece a pessoa e a produção anterior dela, seja como acadêmico seja como especialista no assunto (Ex: jornalista de tecnologia, professor de escola).
(7) Conteúdo ter sido escrito a partir de uma experimentação que prove a hipótese
Exemplo dos escritores de blog sem ter pesquisas por trás.
(8) Conteúdo ser útil para o objetivo da pesquisa
(9) Conteúdo estar discrepante com tudo que foi dito até o momento
(10) Conteúdo ser confrontado com a produção de outros autores
(11) Tipo do arquivo em que o conteúdo foi publicado
1. Se o arquivo está, por exemplo, em PDF ou em DOC.
(12) Exclusão, a priori, de um tipo de fonte suspeita
1. A não utilização de blogs ou wikis, por exemplo.
(13) Consulta a pessoas de referência que validam fontes principais
(14) Consulta às principais publicações no tema de pesquisa para se orientar
Tabela 20 - Descrição dos itens da Variável 19.
0 2 4 6 8 10 12
(1) Checagem da qualidade das referências citadas pelo autor
(2) Checagem em outras fontes para autores não conhecidos
(3) Checagem com outros pesquisadores sobre quem é o autor
(4) Checagem da produção anterior do autor
(5) Prestígio do local de publicação do autor
(6) Prestígio do autor da fonte
(7) Conteúdo ter sido escrito a partir de uma experimentação…
(8) Conteúdo ser útil para o objetivo da pesquisa
(9) Conteúdo estar discrepante com tudo que foi dito até o…
(10) Conteúdo ser confrontado com a produção de outros…
(11) Tipo do arquivo em que o conteúdo foi publicado
(12) Exclusão, a priori, de um tipo de fonte suspeita
(13) Consulta a pessoas de referência que validam fontes…
(14) Consulta às principais publicações no tema de pesquisa…
19. Técnicas de confiabilidade (Confiabilidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 279
Um tipo de fonte de prestígio são as revistas científicas, citadas, por
exemplo, pela entrevistada N1 que afirma confiar no Scielo por acreditar que a
informação contida ali passou por um crivo formado por pareceristas.
O mesmo é afirmado pela entrevistada N5, que cita os locais que considera
mais confiáveis para a sua pesquisa, e a entrevistada N12 que expressa a
confiança na força dos autores que consulta, sabendo sua origem, sua profissão,
ou seja, que vínculos e prestígio possuía:
quando trovo un testo in internet.. humm.. cerco sempre di verificare l'attendibilità della contenitore, quindi se è studio nella biblioteca, se è un articolo di una rivista scientifica, se è il sito del’autore che pubblica i propri testi, quindi già questi sono alcuni criteri che ti dicono questo articolo è attendibile, una fonte sicura..(N5, p. 15)105 poi dipendi dai contenuti.. ne senso nel mio caso per il mio tipo di ricerca saranno (...) le banche dati (...) sistemi bibliotecari generici saranno (...) di riviste e siti degli enti scolastici o degli enti di formazione (N5, p. 17)106 Non mi sono posta problema della validità, comunque erano tutte informazione… é… autografate, quindi, sapevo qual era l’autore, dove scriveva, etc… hummm… (N12, p. 12)107 o anche chi aveva un blog personale era magari un scrittore o un giornalista, o un professionista, quindi un docente che non avrebbe avuto motivo di… é… riportare informazione errate… non… più di tanto non mi sono posta al problema… non… (N12, p. 12)108
Esse resultado está de acordo com o processo de citação de fontes, no qual
as “fontes marginais”, de autores desconhecidos ou sem prestígio acadêmico, não
são efetivamente utilizadas. Se forem utilizadas, elas no fim não aparecem em
destaque como fonte de referência, mas como parte, por exemplo, dos dados
empíricos.
105 Trad. livre: “quando encontro um texto na internet... humm... procuro sempre verificar a credibilidade de quem o hospeda, se é um estudo na biblioteca, se é um artigo de uma revista científica, se é um site de um autor que publica seus próprios textos, então esses já são alguns critérios que te dizem se um artigo é confiável, uma fonte segura...” 106 Trad. livre: “então depende dos conteúdos... no meu caso, para o meu tipo de pesquisa serão... os bancos de dados... os sistemas bibliotecários genéricos serão... de revista científica ou sites de instituições escolares ou das instituições de formação” 107 Trad. livre: “Não tive problema com a validade, já que eram todas informações... é... autografadas, eu sabia qual era o autor, onde escrevia, etc...” 108 Trad. livre: “ou que também tinha um blog pessoal era talvez um escritor ou um jornalista, ou um professor, então um docente que não teria tido motivo de... é... reportar informação errada... não... não tive esse problema... não...”
Análise dos dados coletados 280
Exemplo foram os fóruns de discussão que serviram de base para a
pesquisa da entrevistada N7; os blogs de autores consultados para se situar no
campo de pesquisa pela entrevistada N12; ou as comunidades virtuais de
programadores e utilizadores de softwares abertos, consultadas pelo entrevistado
N10 por terem, na visão dele, alto nível de confiabilidade, pois o público era
seleto (nível universitário) e contribuíram com informações para o tema de
pesquisa dele.
Outra forma de utilizar as fontes marginais, não oficializadas, é partir delas
para a leitura dos autores acadêmicos indicados, utilizando o texto de pouco
prestígio como ponte de ligação para outros com maior visibilidade e autoridade,
mas sem citar a fonte inicial, tal como narrado pelas entrevistadas N3, N5, N6 e
N11:
Tem textos que você vê que são resenhas e essas resenhas elas não ficam agregadas a revistas confiáveis, vamos dizer assim: Caderno de Pesquisa, Caderno CEDES... (N3, p. 15) magare in vece c’è la riflessione di un dottorando di un altro paese che ha scritto una propria riflessione personale sul concetto di competenza... non dico che lo cito come fonte diretta, però magare me può essere un spunto di riflessione comunque in ogni caso.. (N5, p. 16)109
e se capito in un blog che parla di un argomento che me interessa cerco di capire quell’autore. (N6, p. 13)110 Se trovo invece online un simpatico concetto espresso in un blog vado a tentare di verificare l’accuratezza di quanto viene descritto se è citato qualche cosa, se ci sono delle altre fonti più autorevoli o comunque il tipo di fonte se l’autore è comunque una persona che lavora in ambito di ricerca, se è all’interno di una società che fa ricerca quindi quello che viene è scritto è fonte di un lavoro descrittivo di un’esperienza di ricerca. (N8, p. 18)111
109 Trad. livre: “as vezes existe uma reflexão de um doutorando de um outro local que escreveu sua própria reflexão pessoal sobre o conceito de competência... não digo que vou citá-lo como fonte direta, mas talvez possa ser um ponto de partida para reflexão, no entanto, em qualquer caso..” 110 Trad. livre: “e se obtenho de um blog que fala de um assunto que me interessa eu trato de procurar sobre aquele autor”. 111 Trad. livre: “Se encontro online um simpático conceito expresso em um blog vou tentar verificar a acuidade do que vem escrito, se foi citada alguma coisa, se existem outras fontes mais oficiais ou então o tipo de fonte se é o autor uma pessoa que trabalha no ãmbito da pesquisa, se está dentro de uma sociedade que faz pesquisa, então aquilo que vem escrito é uma fonte de um trabalho descritivo, de uma experiência de pesquisa.”
Análise dos dados coletados 281
Tutto resto che leggevo, lo leggevo solo per, per farmi delle idea (…)ive, però non era riportato e non era argomento di… non era argomento di teoria per me. (N11, p. 13)112
Checar a qualidade das referências utilizadas pelo autor e o histórico de
sua produção anterior estavam em terceiro lugar, relatada por três entrevistados
cada uma, o que evidencia que existe um caminho seguido pelo doutorando em
observar a rede de relações acadêmicas, simbolizada pelos autores citados, e o
prestígio acumulado pelos autores que consulta, simbolizado pelas citações e
obras que publicou.
Essa checagem visava certirficar-se antes de inserir a referência em seu
próprio texto, algo que se aprende no dia a dia, uma forma de se integrar a uma
rede de produção sem correr o risco de utilizar autores que não são aceitos como
válidos pela comunidade científica do seu campo de pesquisa. Isso fica explícito
nas falas das entrevistadas N3, N6, N13 e N15:
eu indico sempre as fontes que a gente aprende que são confiáveis.. que é o Scielo, que tem todos os cadernos de pesquisa, né.. porque é a pesquisa mais recente.. a Anped, outros sites que eu tenho até linkado lá nos meus favoritos... alguns grupos de pesquisa de universidades também.. (N3, p. 17) vá buscar a fonte.. confie mas não aceite tudo na internet, tenha cuidado e veja sempre quem é que esse povo tá usando, tá falando da onde? E conversando com quem? (N3, p. 16) o que que eu coloco como confiável ou não, é justamente buscar a fonte daquele que está ali me dando aquele discurso, da onde essa gente fala? Quem tá acompanhando? (N3, p. 17) e aí como que eu tiro a prova? Vamos ver quem essa gente tá usando.. né, até pra ver a linha teórica daquele grupo.. (N3, p. 17) se non lo conoscesse cercherei di vedere chi é.. e come potrei fare? Vedendo ad esempio la lista di sua pubblicazione. Se vedo che autore ha 90 pubblicazione sui tema, magari lui sa qualcosa non? Del tema. Se è conosciuto, cerco di capire che cosa scrive e di vedere se potrebbe avere fondamento, insomma cerco di capire che è l’autore (N6, p. 13)113
112 Trad. livre: “Todo resto que lia, lia somente para ter uma ideia (...), mas não era reportado e não era assunto de... não era assunto teórico para mim.” 113 Trad. livre: “se não o conheço procurarei ver quem é... e como poderei fazer? Vendo, por exemplo, a lista de suas publicações. Se vejo que o autor tem 90 publicações sobre o tema, talvez ele saiba alguma coisa não? Do tema. Se é conhecido, procuro entender que coisa escreve e ver se existe fundamento, enfim procuro entender quem é o autor.”
Análise dos dados coletados 282
os temas do meu interesse, os assuntos do meu interesse, eu digo em estudo, interesses mais pessoais, eu... eu já tenho mais ou menos uma rede... (N13, p. 25) nesse nível de confiabilidade, no nível de confiabilidade teórica, você vai buscar a afiliação do cara, você vai buscar os caras que ele tá citando, você vai... enfim, você vai situar em relação à produção dele, se ele parecer interessante... se ele não parecer interessante deixa pra lá, nem vai adiante... (N15, p. 14)
Observar rede e prestígio é um tipo de técnica implícita e aprendida na
rotina da pesquisa, antes feita através da consulta a pessoas que dominavam um
tema e com isso orientavam o novato no campo de pesquisa, técnica utilizada, por
exemplo, pelo entrevistado N9 quando pediu a alguns pesquisadores indicações
dos principais livros no para o tema de sua pesquisa:
Se devi fare un lavoro rigoroso allora, é… bisogna… bisogna stare attenti a quello che si consulta, bisogna crearsi appunto una base di orientamento prima, é… bisogna parlare prima con qualcuno (N9, p. 18)114
Agora esta busca é facilitada pela internet que permite checagens
instantâneas através da busca do nome do autor em sites como o Google, nos sites
de universidades e grupos de pesquisa vinculados, e no caso do Brasil e ida direta
ao currículo Lattes e no banco de dados da CAPES em que a produção toda fica
exposta, indicando a linha de pesquisa e as referências utilizadas pelo autor. Mais
uma vez vemos a entrevistada N3 classificando o site de currículos Lattes como a
“bibliografia de gente”:
já que eu não tenho bibliografia, né, de títulos, eu tenho bibliografia de gente, e o Lattes pra mim é bibliografia de gente.. Referência né, referência bibliográfica de gente. (N3, p. 18) Estaria a internet reforçando rotinas acadêmicas preexistentes? Ou seria
uma forma de se lidar com a grande quantidade de informação existente hoje na
rede, produzida por uma massa de autores antes impedida de se expressar? Talvez
estejam em jogo os dois motivos, pois o discurso dos entrevistados se mostrou
pouco vanguardista no uso de autores fora do meio acadêmico, mantendo um jogo
interno de referenciação. Apesar desse conservadorismo, alguns se demonstraram
114 Trad. livre: “Deve-se fazer um trabalho rigoroso então, é... precisa... precisa estar atento àquilo que se consulta, precisa criar uma base de orientação primeiro, é.. precisa falar primeiro com alguém”.
Análise dos dados coletados 283
indiferentes quanto ao excesso de informações ou confiam na capacidade dos
sujeitos em selecionar as fontes, aproveitando-se do excesso:
Quindi, secondo me se c’è un eccesso di informazione, ma è un eccesso se uno non ha o non sa crearsi dei criteri per selezionare le informazione in torno di questo eccesso. Quindi, se poi non hai criteri, non è più eccesso di informazione, perché tu esce a selezionare quello che ti serve. (N5, p. 17)115 se sei capace di selezionarle è tutto vantaggio perché hai a disposizione tantissimi informazione e tu poi selezionare. Se invece acesse tutto senza nessun tipo di discriminazione è un problema perché hai troppi stimoli, hai tanti stimoli non? Se riesce a selezionare, a capire qual è il tipo di informazione che può funzionare e quale non, c’è un vantaggio… (N6, p. 16)116 è ovvio che ci vuole dalla parte di chi legge l’internet o libro, ma consapevolezze alta, cioè, chiunque poi magari vai in rete non ha gli strumenti per valutare… se un pensiero è buono o non è buono, come se (…) ma un libro non valuta se è un libro da buttare nel cestino o è un libro valido, e ne li è il lettore in la sua consapevolezze critica che fa la differenza (N7, p. 15)117 tem muito mesmo, mas esse excesso de informação via internet não me achaca não, não me... eu, eu... essa informação que a gente fica lendo andando pela cidade, acho que ela é mais assustadora, ou via televisão, ou via jornal... não... internet num... eu acho excelente esse excesso de informação (N16, p. 16)
Essa capacidade de selecionar, a “sabedoria” que o sujeito desenvolve ou
deve desenvolver, obtida com o tempo e a leitura de materiais diversos, é refletida
na fala da entrevistada N7, que utiliza como técnica de confiabilidade não o
suporte em que o texto está, mas sim se existe uma experimentação científica que
sustente as afirmações que o autor diz, a mesma estratégia relatada pelo
entrevistado N8. Esse critério associa claramente a validade de um texto ao modo
acadêmico de produção discursiva, ou seja, a produção de uma empiria
115 Trad. livre:“Então, na minha opinião se existe um excesso de informação, é um excesso se alguém não tem ou não sabe criar os critérios para selecionar a informação em torno desse excesso. Então, se não existem critérios, não é mais o excesso de informação, porque permite que você selecione aquilo que te serve.” 116 Trad. livre: “se você é capaz de selecionar, é tudo vantagem, porque você tem a disposição tantas informações e pode selecionar. Se ao contrário acessa tudo sem nenhum tipo de discriminação é um problema porque existe tanto estímulo, tem tanto estímulo não? Se consegue selecionar, entender qual tipo de informação que pode funcionar e qual que não, é uma vantagem...” 117 Trad. livre: “é óbvio que se deseja da parte de quem lê na internet ou em um livro, uma sabedoria elevada, isto é, então talvez nem todos que vão na rede possuem as ferramentas para avaliar... se um pensamento é bom ou não é bom, como se.. (...) mas um livro não se avalia se é um livro de se jogar na lixeira ou é um livro váliado, e ali é o leitor em sua sabedoria crítica que faz a diferença.”
Análise dos dados coletados 284
documentada e referenciada é aquilo que validará a fonte para ser reutilizada pelo
outro pesquisador.
dove vedi che c’è dietro una… una sperimentazione, quindi una documentazione di quello che la persona ti sta dicendo è un buon indicatore che… anche se non è riuscito a pubblicarlo e lo mete in rete sul suo sito è garanzia di affidabilità. (N7, p. 15)118 Poi magari potrebbe anche essere il miglior pensiero del mondo, quello bisogna sempre valutarlo però ad essere sincero generalmente se non c’è dietro una ricerca o un qualche cosa tutti questi pensieri sono abbastanza sterili. Cioè si vede, una volta che approfondisci la tematica ti accorgi che non stava dicendo cose poi così validabili, ecco direi cosi. (N8, p. 18)119 nell’esposizione non ci sono dei dati di ricerca né dei riferimenti ad altri la probabilità che queste siano delle elucubrazioni, delle buone intuizioni che rimangono tali è piuttosto elevata. (N8, p. 8)120
Uma curiosidade sobre as técnicas de confiabilidade está no modo de
seleção de fontes pelo tipo de arquivo em que é disponibilizada, valorizando-se o
formato PDF, o mais utilizado hoje em dia para a disponibilização de relatórios,
teses, dissertações e artigos científicos, no lugar do original que pode ser editado e
adulterado. Se as bases de dados reproduzem a lógica do formato impresso,
transformando textos em arquivos PDF, sem a interação mútua com os autores,
esse modo de disponibilização parece que já foi absorvido e normalizado entre os
acadêmicos. Vejamos a fala da entrevistada N2:
uma outra mania que eu tenho é que a maior parte dos documentos interessantes estão em PDF... então quando eu tou com pouco tempo, aí eu já coloco assim: seleção é só arquivos apresentados em PDF... que a maior parte dos textos , bons, que vale a pena, estão em PDF.. aí quando eu tou com mais tempo eu jogo DOCs, também... se é válido eu não sei, mas tem funcionado.. (N2, p. 25) Eu acho que tem funcionado... o pessoal fecha né o PDF... muita gente aí prefere publicar em PDF.. acho que por isso.. essa é a questão de evitar o negócio do plágio na internet, eu acho que é um problema muito sério ... (N2, p. 25)
118 Trad. livre: “onde se vê que há por trás uma... uma experimentação, ou seja, uma documentação daquilo que a pessoa está dizendo, é um bom indicador que... também se não conseguiu publicar-lo e o colocou na rede no seu site, isso é uma garantia de confiabilidade”. 119 Trad. livre: “Então talvez poderia ser o melhor pensemento do mundo, mas necessita sempre avalia-lo, mas para ser sincero geralmente se não existe uma pesquisa por trás ou alguma coisa, todos esses pensamentos serão bastante estéreis. Então se vê, uma vez que você se aprofunda em uma temática você percebe que não estava dizendo coisas assim não válidas, eu diria assim.” 120 Trad. livre: “Na exposição não existem os dados de pesquisa nem as referências, então é alta a probabilidade que sejam elucubrações, boas intuições que permanecem assim bastante elevadas.”
Análise dos dados coletados 285
Quadro 17 - Considerações resumitivas sobre os usos da tecnologia pelos doutorandos.
7.4 Modo de escrita: como os suportes digitais estão sendo apropriados na escrita.
O modo de escrita se mostrou equilibrado com entrevistados adotando
sistemas diferentes de organização da escrita e seus capítulos ao longo do
doutorado, uns se aproximando mais do modelo sequencial, linear, e outros
tendendo para a escrita simultânea de diversas partes da tese.
Três níveis de leitura Leitura predominante em tela.
Leitura em tela e impressos.
Leitura predominante em papel.
Existe uma transição para a leitura em tela.
Alguns leem somente em tela (tablets, monitores).
Outros preferem imprimir documentos mais densos, maiores ou mais frequentemnte usados.
Migração para o digital Existem agora publicações que são exclusivas em suporte digital.
O impresso ainda "resiste" Obras exclusivamente em formato impresso.
Anotações em folha impressa ou em fichamentos no computador.
Anotações e reflexões pessoais a partir das leituras não foram compartilhadas online.
Todos armazenavam no próprio computador e não em sites e serviço disponíveis na internet.
Predomínio das leituras individuais, não‐compartilhadas.
O esquema padrão de leitura e destaque foram mantidos
leitura‐fichamento‐escrita.
Mesmas técnicas de destaque e anotação usadas no impresso.
As citações são feitas, em sua maioria, pelo prestígio do local e a consagração dos autores.
As fontes extra‐acadêmicas tem a tendência de serem ocultadas, não citadas, embora sejam usadas, sendo menos valorizadas (certificadas) pelos pares.
Atribuição a certos locais como propícios a encontrar fontes confiáveis (repositórios de revistas científicas).
Análise dos dados coletados 286
Gráfico 26 - Variável “20. Ordem (Simultaneidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Linear 1. Um capítulo por vez, escrito de forma separada.
2. Medo de se perder na escrita. (2) Simultânea controlada 1. Vários capítulos editados ao mesmo tempo, com recortes e colagens sucessivos.
2. Concentração em um ou dois capítulos por vez, mesmo que editando outros. (3) Simultânea radical
1. Todos os capítulos editados ao mesmo tempo, com recortes e colagens sucessivos. 2. Sem início, meio e fim, não obedecendo uma ordem cronológica de escrita.
Tabela 21 - Descrição dos itens da Variável 20.
No geral vemos que atualmente o modo de escrita deles está tendendo para
a escrita simultânea de capítulos, embora para 5 entrevistados ela tenha ocorrido
parte por parte, iniciando e completando cada uma antes de iniciar a seguinte, um
jeito mais conservador para quem acredita que pode se perder e não saber
adminstrar múltiplas frentes de escrita.
Dessa forma o caminho adotado pelos mais conservadores era primeiro a
coleta bibliográfica, depois a esquematização dos pontos principais e por fim a
escrita linear dos capítulos, cada um por vez.
por capítulos, eu preciso por capítulo, senão não dá, aí eu... eu não dou conta... escrever dois capítulos ao mesmo tempo, não... toda energia tá numa coisa, depois toda... senão não... aí a minha desorganização ia tomar conta... aí não dá... (N15, p. 13) Lineare, cioè dal primo all’ultimo… non ho fatto salti, né senso. Ho scritto prima la parte teorica, poi la parte più di analisi e poi le conclusione, il finale (N6, p. 8)121 quindi, capitolo di modello, capitolo di ricerca e poi sono tornato indietro fatto il capitolo di… è… che per me era più semplice da una parte… e… perché era quella parte più di… teorico non? (N7, p. 12)122
121 Trad. livre: “Linear, isto é, do primeiro ao últim... não fiz saltos, nesse sentido. Eu escrevi primeiro a parte teórica, depois a parte mais de análise e depois a conclusão, o final.” 122 Trad. livre: “Então, capítulo de modelo, capítulo de pesquisa e depois retornei e fiz o capítulo de.. é.. que para mim era mais simples de uma parte.. e.. porque era aquela parte mais.. teórica não?”
0 1 2 3 4 5 6 7
(1) Linear
(2) Simultânea controlada
(3) Simultânea radical
20. Ordem (Simultaneidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 287
e di fatti non ci sono, non sono riuscita a stare a passo con i tempi perché poi io avevo raccolto molto materiale e non riuscivo più ad organizzarmelo, dividendo in capitoli poi mi sono concentrata a secondo dei mesi che io avevo a disposizione su un capitolo, un altro e un altro e quindi sono andata un po’ avanti cosi. (N11, p. 14)123
Saber sobre essa linearidade ou não-linearidade é importante a partir do
momento que o computador desestabiliza um modo de escrita que tendia a ser
linear pelas próprias limitações do suporte impresso, que não facilitava a inserção
de texto em uma folha de papel após a composição básica ser formulada.
Podemos então inferir que o modo de escrita linear é uma herança do
suporte impresso, que não permitia inserções aleatórias no texto e condicionava o
escritor a seguir uma ordem do tipo “passo-a-passo de autoria”, com detalhes e
esquemas previamente planejados, não somente na escrita, mas também com as
diversas fases da pesquisa. O que se observou foram relatos em que os
entrevistados usavam o computador o tempo todo durante a escrita, incluindo
notebooks, e inseriam trechos e novos parágrafos em locais diferentes, copiando e
colando internamente os minitextos e abrindo várias frentes de escrita
simultaneamente.
Apesar de no momento da impressão o texto corresponder a qualquer tese
que se encontrava antes da existência do computador (índices, páginas numeradas,
folhas do mesmo tamanho, capítulos e subtítulos), no momento da escrita foi
exercida plenamente a melabilidade que o formato digital permite no tratamento
da informação, levando-se trechos de um lugar para outro sem dificuldades. A
linearidade de alguns dos entrevistados é mais uma opção, uma forma de entender
como se deve escrever um texto, do que um condicionamento exercido pelo
suporte.
Um capítulo que vai surgindo aos poucos, com inserções de parágrafos à
medida da necessidade e do aparecimento de novas ideias não seria um relato
muito comum para um autor utilizado folhas de papel, em que acréscimos surgiam
nas margens ou entre as linhas; hábito esse que mantemos até hoje em nossos
livros impressos e mesmo em e-books, com sublinhamentos e anotações diversas,
123 Trad. livre: “E de fato não, não pude estar em sintonia com o tempo porque eu recolhi muito material e não pude mais organiza-lo, dividindo em capítulos e depois fiquei concentrada segundo os meses que eu tinha a disposição sobre um capítulo, um outro e um outro e então andei um pouco adiante assim.”
Análise dos dados coletados 288
embora elas não sirvam para compor edições futuras de uma obra na qual não
somos autores.
Apesar de utilizar o modo não linear de escrita, comparando a um quebra-
cabeça que aos poucos vai se montando, o entrevistado N9 relatou ainda se sentir
incomodado com esse modo de escrita, em que o resultado final não lhe agrada
tanto quando um texto escrito linearmente, que na sua visão se torna mais coeso
do que um texto realizado com “colagens”. Vejamos alguns trechos em que os
entrevistados comentam a não-linearidade de sua escrita.
a estrutura né... ela foi surgindo.. o que que precisa... a própria ordem foi modificada algumas vezes né, e alguns capítulos tiveram que ser subdivididos, porque ficariam grandes demais.. então, a verdade a estrutura final foi final mesmo, foi no fim.. né.. no início eu fui escrevendo , fui reunindo o material que eu tinha.. um provisório, tinha nenhuma ordem.. depois eu fechei no final.. (N2, p. 17) ... antes eu era obrigada a trabalhar mais um capítulo de cada vez, como não tinha recursos... as vezes não é só a internet, é o próprio computador, tinha que trabalhar um capítulo de cada vez, fechar, senão ia enlouquecer né.. e agora não, você pode trabalhar tudo ao mesmo tempo... (N2, p. 18) Você lê mais no início né? Mas você continua lendo, porque pelo movimento de pesquisa é um movimento de vai e volta, né, a gente nunca termina... “ahh, agora essa etapa está concluída, agora vou passar pra próxima etapa”, não funciona assim né Alexandre? (N16, p. 13) perché quando fai ricerca scrivi, scrivi e fai ricerca le due cose vanno insieme e continui a ristrutturare; fermo restando che l’impianto base rimane cioè se tu devi seguire un percorso dove inizialmente uno due e tre sono i punti che voglio trattare, un due e tre sono i punti che tratto…è la loro collocazione interna e il loro rimando che continuo a…scrive in un modo un po’ intertestuale, decisamente non sequenziale; quindi potrei anche a volte scrivo una parte di un terzo capitolo senza aver cominciato il secondo perché ad un certo punto del primo faccio un riferimento al terzo, mi serve scrivere subito quel punto lì, lo tengo poi lì e poi dopo vado avanti tanto per riempire…non sono sequenziale assolutamente. (N8, p. 9)124
124 Trad. livre: “Porque quando você faz pesquisa escreve, escreve e faz pesquisa e as duas coisas vão juntas e você continua a refazer; paro e deixo que a planta de base permaneça, isto é, se você deve seguir um percurso onde inicialmente um, dois e três são os pontos que deseja tratar, um, dois e três são os pontos que eu trato... é a colocação interna deles e as suas referências que continuo a... escrever de um modo um pouco intertextual, decisivamente não sequencial; então poderei também as vezes escrever uma parte de um terceiro capítulo sem haver começado o secundo porque a um certo ponto o primeiro faço uma referência ao terceiro, me serve escrever imediatamente aquele ponto ali, o tenho e depois vou apenas para preencher... não sou sequencial absolutamente.”
Análise dos dados coletados 289
Figura 18 - Notas resgatadas do arquivo de David Foster Wallace, romancista norte-americano, a partir da leitura do livro Carrie de Stephen King (Fonte: http://io9.com/)
Este processo é radicalmente diferente daquele existente com a máquina de
escrever ou com o texto manuscrito, uma modificação profunda na lógica de
produção, mesmo que a lógica do formato ainda esteja intimamente ligada, senão
totalmente baseada, nos elementos acordados como válidos para uma obra escrita.
primeira monografia que eu fiz pro curso de especialização.. suplício... porque eu escrevia muita coisa à mão, datilografava, entregava pra orientadora, ela rabiscava tudo, aí eu datilografava tudo de novo com aquelas coisas... aí quando eu fechei tudo, não acredito... valeu uma tendinite também né... quando eu terminei aquilo tudo, aí eu contratei uma pessoa, que tinha uma máquina elétrica, pra poder apresentar tudo de uma forma que... a minha era uma maquininha simples né... arrumado, perfeito pra apresentação... (N2, p. 18)
Dessa forma, chama a atenção que somente quatro entrevistados estejam
utilizando plenamente a potencialidade permitida pelo formato digital de edição
simultânea total do texto, ou seja, trabalhar o início, meio e fim sem apresentar
uma ordem pré-definida. No caso da entrevistada N5, ela até admite uma escrita
de capítulos fora de ordem, mas prefere manter o foco sempre em cada um deles
Análise dos dados coletados 290
de cada vez, coisa que a entrevistada N12 não fazia, pois procurava envolver a
empiria com a escrita teórica e os dados provenientes dos contatos que fazia com
pessoas em eventos e pela internet.
Non ha una ordine di scrittura, ne senso che... che si adesso sto scrivendo il capitolo tre e non scriverò il capitolo quattro contemporaneamente, però non scrivo consequenzialmente, ho scritto l’uno e due io scriverò (...) Adesso sto scrivendo il terzo... a seconda anche delle materiale che ho a disposizione decido quali capitoli lavorare. (N5, p.12)125 Era tutto, tutto insomma collegato… ricerca sperimentale, sia la ricerca teorica che quella pratica collegati, contatti, ricerca in internet, vicinato di blog, libri, libri rimandi a articoli, etc… quindi sono… tutto insieme (risos). (N12, p. 8)126 E poi andavo a riempire paragrafi, se nella, nella stesura di paragrafi, mi veniva a mente qualcosa altro, oppure trovavo altre, altre risorse le andavo a inserire… e le versione però dei capitoli non erano mai definitive, cioè non sono mai stati definitive fino al ultimo (N12, p. 11)127
Podemos assim perceber que o modo intermediário então predominou com
seis entrevistados, mas ainda assim indica um equilíbrio entre as gradações e
confirma a hipótese de que o formato digital trouxe uma fase de transição de
hábitos de autoria que está em andamento, de modalidades de escrita, não se
podendo ainda definir plenamente um padrão dominante.
A entrevistada N13 relata esse momento de passagem entre duas lógicas,
procurando ancorar sua descrição de escrita com o computador ao modo como
utilizava os livros impressos:
aí eu já estava, eu ganhei né, cada vez mais ganhando habilidade de construir o texto já sem escrever, eu já não escrevia mais.. mais o texto... O que eu escrevo até hoje, é... eu leio, eu marco na tela, como eu fazia quando eu... com os livros eu marcava de alguma maneira e depois num papel eu esquematizava, eu fazia um primeiro esquema assim, de idéias... essa, depois essa, mais ou menos.. no final não saía nada daquilo mas era minha, era o pontapé inicial. E isso foi
125 Trad. Livre: “Não existe uma ordem de escrita, no sentido que... que se agora estou escrevendo o capítulo três não escreverei o quatro ao mesmo tempo, mas não escrevo um depois do outro, eu escrevi o um e o dois eu escreverei (...) Agora estou escrevendo o terceiro... também dependendo do material que tenho a disposição decido quais capítulos vou trabalhar.” 126 Trad. livre: “Era tudo, tudo enfim conectado... pesquisa experimental, seja a pesquisa teórica que aquela prática conectada, contatos, pesquisa na internet, junto aos blogs, livros, livros referindo a artigos, etc... então foram... todos juntos (risos).” 127 Trad. livre: “E então eu ia preencher os parágrafos, se na, se na escrita dos parágrafos, me vinha a mente alguma outra coisa, ou então encontrava outras, outras fontes eu ia inserir... e a versão dos capítulos não eram nunca definitivas, isto é não foram nunca definitivas até o último.”
Análise dos dados coletados 291
importante, essa forma de criar o texto que é bem diferente. Hoje eu vejo que é bem diferente que eu já faço com uma, uma tranquilidade grande... (N13, p. 17)
Um exemplo de escrita intermediária é a da entrevistada N1, que elaborou
um sumário e o foi seguindo em sua escrita. A elaboração de um sumário serve
como um guia frente a um editor de texto que poderia deixa-la sem a noção total
de sua obra, sem o encadeamento desejado de sua argumentação e informações
utilizadas.
pra eu chegar naquele capítulo... então eu peguei esses materiais que eu já havia organizado em arquivos e categorizado de alguma maneira, e eu inseri nesse sumário, nesse esquema que eu havia, é.. fechado, amadurecido e lapidado com a minha orientadora, e aí justamente naquele momento é que eu comecei a fazer as articulações dentro do capítulo, né, já dentro da estrutura da tese que havia sido, é... elaborada, enfim, pensada... (N1, p. 9)
Como veremos adiante, o uso de técnicas auxiliares na escrita, como mapa
conceitual ou sumário, técnicas semelhantes, mas que dispõe os elementos de
maneiras diferenciadas, evidencia o quanto ainda é necessário para a autoria a
redução dos assuntos em tópicos para o controle da produção escrita, para se
realizar a visão de conjunto de uma obra em andamento. Seria uma forma de
organização paralela da escrita que serve enquanto a obra está sendo elaborada,
perdendo o sentido quando se decreta a sua conclusão.
Eu fiz um sumário, não ficou bom, aí eu fiz outro sumário e aí ficou bacana... fiz alguns esqueletos tipo um mapa conceitualzinho de que que eu iria trabalhar e submeti aquilo a um determinado conceito que poderia se remeter ao outro e isso poderia estar num determinado capítulo... é... e aí, depois de várias tentativas e de um refinamento que foi acontecendo nesse processo que eu cheguei a uma... um sumário, né... e paralelo ao sumário fiz um esqueleto do meu trabalho, que conceitos eu ia trabalhar e que relações eles tinham, como se fosse um mapa conceitual... um esquema... um esquema da minha tese, do meu trabalho... me reportando a esses conceitos... (N1, p. 8)
Quanto aos locais em que escreviam, a grande maioria preferia trabalhar
em casa, onde se sentiam mais a vontade e relaxados sem as formalidades
exigidas em outros locais, com os materiais necessários a disposição e usando
técnicas particulares que poderiam ser executadas plenamente.
Análise dos dados coletados 292
Gráfico 27 - Variável “21. Ambiência (Localidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Durante viagens 1. Trem.
2. Quarto de hotel. (2) Em casa 1. Escritório em casa. (3) No local de trabalho (4) Local isolado 1. Um período hospedado em convento ou instituição similar de isolamento. (5) Na universidade
Tabela 22 - Descrição dos itens da Variável 21.
Um bom exemplo é o da entrevistada N11 que relatou utilizar dois
monitores em sua escrita, um para o editor de texto e outro com os documentos
abertos que utilizava para referências e citações, processo que depois
implementou em seu próprio escritório de trabalho.
Já no caso da entrevistada N6, ela recorria à universidade para consultas de
materiais disponíveis na internet por não ter conexão banda larga em casa, uma
condição circunstancial, mas depois montava seus arquivos e escrevia em casa,
com suas pastas devidamente organizadas e parte dos materiais impressos para
análise mais aprofundada.
fora isso geralmente eu sentava pra escrever com a cervejinha do lado... isso que não pode entrar (risos)... (N15, p. 8)
O caso mais radical de escrita foi aquele em que o entrevistado N14 se
isolou por uma semana em uma instituição religiosa por certo período, para poder
concluir sua fase final de escrita, evitando estímulos e interrupções externas,
apesar de utilizar os suportes digitais com alto grau de apropriação e
conhecimento técnico dos mesmos.
Eu me lembro que eu peguei uma semana, me internei no convento, lá no mosteiro [NOME DO LOCAL], minha mulher trabalha lá, conversei lá com o
0 2 4 6 8 10 12
(1) Durante viagens
(2) Em casa
(3) No local de trabalho
(4) Local isolado
(5) Na universidade
21. Ambiência (Localidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 293
diretor e disse: “olha, preciso me isolar, onde não tem nem internet. Eu vou com meus arquivos...” E sentava... ali no mosteiro eu chegava a escrever 14 horas por dia. E depois eu fui.. o resto do tempo em casa também produzindo assim aos montes, mas pegava coisa que eu já tinha aqui, daí eu tinha que... ia arrumando né, daí submetia o capítulo pra... pra orientadora.. né.. tinha orientação, vinha pra lá... então em três meses eu resolvi tudo.. (N14, p. 19)
Esse caso demonstra que, para alguns entrevistados, mesmo com os
computadores e a internet, o momento da escrita exige certo isolamento físico e
mental, incluindo o corte da própria rede internet e seus meios de comunicação e
relacionamento. Caso semelhante é o da entrevistada N16, que ficou uma semana,
no período de carnaval em imersão escrevendo a tese em casa, longe da família
que viajava e do caso N8 em que o entrevistado realizava pequenas imersões em
finais de semana, levando consigo os materiais necessários ao trecho que estava
trabalhando, tanto em formato digital quanto impresso.
por exemplo, eu me lembro que no carnaval, logo antes de eu entregar minha tese, minha dissertação, eu trabalhava 12 horas por dia e nem me ligava, entendeu, assim... meu ex-marido levou os nossos filhos pra, pra viajar pra me deixar em paz para eu terminar minha tese, minha dissertação, e eu fiquei escrevendo... (N16, p. 10) con il computer, libri intorno più o meno posizionati secondo una certa logica per recuperare facilmente le… le informazione e é… se possibile tendo addirittura a volte con la musica a volte senza, comunque senza musica se lavora in modo più approfondito e si riesce… a volte stacco il telefono perché se non… (N8, p. 10)128
Esses períodos de imersão, de concentração exclusiva na escrita da tese,
não são incomuns e também foram expressos na fala da entrevistada italiana N5,
que alternava as imersões com pequenas correções e ajustes posteriores feitas no
local de trabalho quando havia menor demanda e algum tempo livre. Tais
imersões são formas de conciliar trabalho, cuidados com a família e a atividade de
pesquisa, quando não existe uma dedicação total à escrita e esta é dividida com
outras frentes de atuação, o que leva a exigir certos períodos mais intensos de
recuperação ou adiantamento de partes da tese.
128 Trad. livre: “com o computador, livros em torno mais ou menos posicionados, segundo uma certa lógica para recuperar facilmente a... a informação e.. se possível tendo, as vezes, música e as vezes sem, contudo sem música se trabalha de modo mais aprofundado e se pode... as vezes tiro o telefone do gancho, porque senão...”
Análise dos dados coletados 294
E... la scrittura della tesi procede a periodi.. non ci dedico tempo tutti giorni, perché avendo anche lavoro presso il centro non mi è possibile.. per esempio queste state mi sono presa una settimana in cui io ho lavorato solo esclusivamente alla tesi e non ero collegato in internet, non ero riferibile a nessuno e quindi in quella settimana tutti giorni della mattina alla sera ho scritto... (N5, p. 12)129
Por trabalho em casa entendemos também a escrita em residência
temporária durante os longos períodos de um doutorado sanduíche, como no caso
da entrevistada N4 que narra a escrita em um ambiente em que se sente totalmente
a vontade, mesmo estando fora do país de origem:
E o lugar que eu tinha pra escrever era um lugar muito confortável... o escritório, uma janela bem assim, com uma varanda em frente né, e eu tinha toda a vista da cidade... então, também foi.. tudo isso foi propício.. eu tinha um espaço, um tempo, completamente dedicados a essa escrita né. (N4, p. 10)
A falta de portabilidade do computador, no caso da entrevistada N3, a
levou a trabalhar em sua varanda no período de verão, utilizando folhas de papel
para as anotações. Comparando-se aos que já liam em tablets e os que não
conseguiam ler textos longos em tela por utilizarem um desktop, nota-se a
crescente liberação dos usos móveis através dos equipamentos portáteis. Escrever
durante viagens, como no caso do entrevistado N8, evidencia que o notebook
permitiu a liberação da escrita em formato digital para ambientes que antes se
tornaria muito mais limitada ou mesmo inviável.
era uma época de muito calor e eu não ficava dentro de casa, o computador ficava desligado, então eu lia na varanda.. (N3, p. 20) Quindi il mio testo è sul portatile, a quel punto io che sia sul treno, che sia a casa che sia in vacanza che sia…apro il mio portatile e vado avanti a scrivere. (N8, p. 9)130
Quanto à co-autoria, e aqui falamos sobre a escrita de artigos e não sobre a
tese (ninguém escreveu ou poderia escrever a tese conjuntamente), para a maioria,
129 Trad. livre: “E... a escrita da tese acontece em períodos... não dedico tempo a ela todos os dias, porque havendo também trabalho no centro de pesquisa não é possível... por exemplo, neste verão dediquei uma semana na qual eu trabalhei exclusivamente na tese e não era conectada à internet, não era disponível a ninguém e então naquela semana todos os dias, da manhã até a tarde, eu escrevi...” 130 Trad. livre: “Então o meu texto é no portátil, a tal ponto que seja no trem, seja em casa ou seja em férias... abro o meu portátil e vou adiante escrevendo.”
Análise dos dados coletados 295
a escrita com parceiros ou era de projetos e relatórios de pesquisa, instrumentos de
pesquisa, documentos de trabalho e outros materiais não-científicos, ou era de
material científico distribuído em partes, sem que os “co-autores” interferissem na
parte destinada a cada um.
Gráfico 28 - Variável “22. Co-autoria (Coletividade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Texto inteiro em co-autoria 1. Os autores escrevem um texto inteiriço em co-autoria (2) Partes do texto distribuídas para cada autor
1. Os autores dividem em partes e cada um escreve a sua isoladamente. 2. Todos terminam por juntar o resultado em um texto final.
(3) Co-autoria de materiais não publicados
1. Projetos de pesquisa. 2. Instrumentos de pesquisa.
(4) Não escreve em co-autoria
Tabela 23 - Descrição dos itens da Variável 22.
Logicamente, somente três dos entrevistados relataram o modo de escrita
usando a internet como meio. Na verdade, naquela época já se podia utilizar
algum programa de auxílio à escrita colaborativa, como o Google Docs ou alguma
plataforma interna universitária como a relatada pela entrevistada N12 ao escrever
um artigo para um congresso com autores a distância. Apesar dos programas de
co-autoria estarem facilmente acessíveis, também houve relatos a respeito de uma
simples troca de e-mails com versões atualizadas do documento com o texto
sendo trabalhado.
di solito quando scrivo qualche articolo o capitolo con qualcuno ci dividiamo le parti e quindi io scrivo la mia, invio, l’altro legge e scrive la sua.. è capitato forse… ma non su articoli, è capitato di usare il Google Docs, ma non per articoli scientifiche, solo per documento di lavoro, progetti, magare qualche tipo, anche progetto, qualche documento ma non articoli scientifiche che vanno poi in riviste
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5
(1) Texto inteiro em co‐autoria
(2) Partes do texto distribuídas para cada autor
(3) Co‐autoria de materiais não publicados
(4) Não escreve em co‐autoria
22. Co‐autoria (Coletividade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 296
o in testi.. sul quello abbiamo sempre usato la mail, ogni uno scriveva la sua parte. (N6, p. 10)131 generalmente si trovi persona, inizialmente si stabiliscono queste regole interne di scrittura, poi ogni uno scrive la sua parte ce la rimanda e poi ci si trova di persona ancora per metterla posto, correggerla e.. fare le ultime revisioni, controllare la bibliografia comune… diciamo che le fasi decisionale di persona, sempre… e fasi più operative, che sono state incanalate, organizzate ognuno le fa per conto suo… (N8, p. 16)132 ho scritto degli articoli, dei saggi in volume insieme dal altra persone… a me di solito mi piace scrivere individualmente… in fatti mi piace quando, ma si scrivi in due si dice: ok, prima facciamo ideazione comune, poi ciascuno fanno sua parte… (N9, p. 11)133
O entrevistado N8 declarou que a escrita a muitas mãos, com muitos
autores discutindo o tema, pode se tornar trabalhosa demais; então ele procurava
sair das discussões e desenvolver a parte que lhe cabe sozinho. Já para o
entrevistado N9 o problema estava na escrita fisicamente próxima a outra pessoa,
ele não conseguia desenvolver um texto com alguém o observando, mas a
distância conseguia dividir uma tarefa de escrita e executar a parte que lhe cabe,
enviando para a outra pessoa.
se lavori con persone che lavorano… organizzate diversamente da te, la cosa diventa più complessa… li tendo a cercare di chiudermi dentro il mio ricinto perché.. è… perché mi da molto fastidio e io ho difficoltà passare una giornata intera a dover negoziare o definire con persone che non hanno le idee chiaro, oppure che hanno diverse dalle mie e lì diventa problematico perché o cerchi e allora la lasci andare oppure devi combattere, ma non mi paice combattere per le idee , perché preferisco arrivare alla serata a casa tranquillo. (N8, p. 17)134
131 Trad. livre: “Normalmente quando escrevo qualquer artigo ou capítulo com alguém nós dividimos as parte e então eu escrevo a minha, envio, o outro lê e escreve a sua... talvez... mas não de artigos, aconteceu de usar o GoogleDocs, mas não para artigos científicos, somente para documentos de trabalho, projetos, talvez algum tipo, também projeto, qualquer documento mas não artigos científicos que vão depois para revistas ou textos.. nesses usamos sempre e-mail, cada um escrevia a sua parte.” 132 Trad. livre: “Geralmente se encontra a pessoa, inicialmente se estabelece estas regras internas de escrita, depois cada um escreve a sua parte, a envia de volta e depois se encontra uma pessoa para por em ordem, corrigir o texto e... fazer a última revisão, controlar a bibliografia em comum... digamos que a fase de tomada de decisão com as pessoas, sempre... e a fase mais operativa, que foram canalizadas, organizadas para cada um fazer por conta própria...” 133 Trad. livre: “Eu escrevi os artigos, o ensaio em um volume junto com outra pessoa... a mim me agrada as vezes escrever individualmente... de fato me agrada quando, mas se escreve com duas pessoas se diz: ok, primeiro façamos a idealização comum, depois cada um faz a sua parte...” 134 Trad. livre: “Se você trabalha com pessoas que trabalham... organizadas diferentemente de você, a coisa se torna mais complexa... ali tendo a procurar fechar-me dentro do meu recinto porque... é.. porque me dá muito cansaço e eu tenho dificuldade de passar uma tarde inteira a ter que negociar ou definir com pessoas que não têm as ideais claras, ou então que tenham ideais
Análise dos dados coletados 297
E… io non riuscirei mai, questo è interessante perchè io non riuscirei mai, invece a mettermi di fianco una persona e dire scriviamo insieme, per me è impossibile.. .. invece, però se lo si fa con il computer io riesco (risos)… (N9, p. 11)135
Vemos aqui que o padrão individualista ou de escrita-colagem predomina
no hábito destes acadêmicos que se vêem pouco dispostos a um debate coletivo
visando a elaboração textual, optando por desenvolver isoladamente suas partes e
procurando verificar a coerência de cada uma ao final.
Também se percebeu nos depoimentos que a co-autoria se realiza, em
geral, com pessoas mais próximas no convívio, conhecidas da vida acadêmica do
doutorando e facilmente acessíveis. Os entrevistados N14 e N15 relataram que os
orientadores restringiam o recebimento da escrita em modo impresso, limitando
com isso a interação e a co-autoria online.
Olha só, eu já... isso... mas com as pessoas já conhecidas que tem convívio físico, além do virtual... com alguém só virtual nunca escrevi... tá, mas assim, eu tenho publicação com [NOME DA PROFESSORA], eu tenho publicação com outras pessoas do grupo de pesquisa da [PROFESSORA].. [NOME DAS COLEGAS].. eu tenho... e o... não.. o resto é sozinha, o resto é sozinha, não tenho. É, manda pra lá, manda pra cá... quando a gente publica junto é assim... (N15, p. 17)
E a respeito da tamática? Em verdade, optamos por não detalhar os temas
de pesquisa dos entrevistados para evitar a identificação dos mesmos, não sendo
pertinente para a resolução das questões propostas para esta tese. Apenas os
situamos a seguir em relação à presença ou não das novas tecnologias de
informação e comunicação (os suportes digitais) como temática em suas teses.
diferentes das minhas e se torna problemático porque ou procura deixar andar ou deve combate-las, mas não me agrada combater por ideais, porque prefiro chegar de noite em casa tranquilo.” 135 Trad. livre: “E... eu não poderei nunca, isto é interessante porque eu não poderei nunca, ao invés disso me meter em frente a uma pessoa e dizer para escrevermos juntos, para mim é impossível... ao invés disso, se eu faço com o computador eu consigo (risos)...”
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
(1) Temática da tese centrada em TICs
(2) Temática da tese não centrada em TICs
(3) Temática da tese mista
23. Temática (Tematicidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 298
Gráfico 29 - Variável “23. Temática (Tematicidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Temática da tese centrada em TICs
1. O assunto desenvolvido trata diretamente de tecnologias digitais.
(2) Temática da tese não centrada em TICs
1. O assunto não envolve nenhuma dimensão das TICs.
(3) Temática da tese mista 1. O assunto envolve as TICs, mas sendo estas usadas de maneira secundária.
Tabela 24 - Descrição dos itens da Variável 23.
Exatamente 50% dos entrevistados tinham temas ligados às TICs em suas
pesquisas e outros 50% não tinham, sendo que alguns estavam completamente
imersos no uso do computador e da internet desde cedo em suas vidas, como foi o
caso do entrevistado N10, que apresentava um alto domínio técnico do campo de
estudo.
Essa proporção de certa forma veio ao encontro do que desejava para a
minha pesquisa, pois interessava não ter todos os entrevistados ligados à área de
tecnologias na educação, para evitar que os padrões de autoria encontrados fossem
somente representativos deste grupo, em geral muito mais imerso e familiarizado
com as recentes tecnologias digitais.
Aqui não contamos com a realização de pesquisas com a temática das
TICs antes do doutorado, como no caso da entrevistada N2 que embora esteja
imersa nesta temática resolveu trabalhar com outra durante o doutorado, levando
sua experiência com o uso do computador e internet para a sua nova pesquisa,
encontrando materiais importantes através da rede como em comunidades virtuais,
contato com sujeitos e visualização de repositórios de imagens via buscador
online.
mas meu tema de doutorado, [TEMA DE PESQUISA] né.. e aí a internet, cadê a internet? e no entanto a internet foi muito interessante.. eu acho que muito mais que no (...), porque também tem pessoas que as vezes podem ter temas que até tem muito material na internet, mas que elas num.. não usam porque não gostam, não se sentem a vontade, acham que é complicado (N2, p. 20)
Pesquisando sobre a inovação na autoria, encontramos a seguinte
distribuição:
Análise dos dados coletados 299
Gráfico 30 - Variável “24. Autoria própria (Originalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Autoria compilativa 1. O autor expõe uma síntese compilativa de textos escolhidos em sua temática.
2. Mais comum acontecer na Itália nas teses exclusivamente teóricas. (2) Autoria compilativa + acréscimos pessoais
1. O autor compila textos, mas acrescenta sua visão pessoal da temática. 2. É a escrita a partir dos outros e acrescentando algo do pensamento próprio.
(3) Autoria inovadora 1. O autor compila textos, mas seu acréscimo é considerado inédito dentro da temática escolhida.
Tabela 25 - Descrição dos itens da Variável 24.
Ve-se que somente um entrevistado assumiu que sua tese foi bastante
original em seu campo (N10), sem trabalho previamente feito em seu país, e com
a maioria das referências vindas dos EUA. O tema por ser muito específico não
era tratado em língua italiana, havendo, segundo o entrevistado, apenas
aproximações.
Os outros relataram o apoio e o uso de autores consagrados e acadêmicos
para ir compondo o texto e inserir os pontos de vista pessoais, processo esse que
podia demorar mais ou menos tempo para acontecer, podendo ou não ter realizado
anotações prévias na composição de sua escrita.
depois eu tinha na minha frente os fichamentos disponíveis e ia no computador e fazendo a costura, o entrelaçamento do que precisava pegar, precisava do outro né... teve uma hora que não deu mais para ficar nesse escritório, eu tive que ir para uma sala de jantar, que tinha uma mesa enorme.. e aí eu tirei tudo de cima daquela mesa e era fichamento na mesa inteira, né.. e eu, o computador do lado, e eu ia mesmo literalmente levantando, pegando os fichamentos e ia lá, escrevia e voltava pra fazer outras costuras.. (N4, p. 10)
Mas no final assim os livros mais assim referência mesmo, eu trabalhei com essas marcações pra... pra me levar de volta se eu precisasse, né... Do contrário assim, quando eu me aproprio eu me aproprio, mas o problema é até me apropriar, isso é que leva um tempo. (N15, p. 12) la prima fase era sicuramente la lettura dei materiali, quindi, lettura… seconda fase schedatura, che vuol dire schedava o libro o la risorsa, terza fase
0 2 4 6 8 10 12 14 16
(1) Autoria compilativa
(2) Autoria compilativa + acréscimos pessoais
(3) Autoria inovadora
24. Autoria própria (Originalidade)
IT BR Total
Análise dos dados coletados 300
rielaborazione personale a computer, quarta fase citazione che mettevo, quinta fase a rilettura (N6, p. 8)136 … quindi un po’ diciamo, gli step son stati questi, prima da ipotesi da ricerca bibliografica grossa, il… insomma, iniziare un po’ a spendere, come dire, dei… anche dei moduli in qualche maniera di scrittura o comunque appunti è cosi e poi, la scrittura, la scrittura vere propria… (N9, p. 7)137
No caso do entrevistado N9, a tese foi totalmente teórica, única em todos
os depoimentos, se baseando em um conjunto de autores para ir compondo o seu
texto, sem se embasar em dados coletados empiricamente, sendo a linha de
pensamento própria o fator inovador no texto. Para ele, uma tese deve ter algo de
novo para valer a pena ser escrita, mostrando o valor da originalidade para aqueles
que estão praticando sua autoria no campo acadêmico.
deve essere rischiosa anche, perché università è un posto in cui… bisogna anche mettersi in gioco, inventare, non fa sempre cosa ripetitive, non fa sempre, non scrivere per scrivere, ma in qualche maniera sempre, fare un passettino avanti, non? (N9, p. 18)138
Já a entrevistada N1 relata até certa dificuldade de se posicionar perante o
que os outros acadêmidos diziam, tornando sua escrita inicial uma costura de
textos, próximo ao que foi dito pela entrevistada N7, ambas procurando manter a
fidelidade ao original e aos poucos se posicionarem diante do campo de pesquisa
que estavam se inserindo. Para manter essa fidelidade ao original, o entrevistado
N8 diz que mantinha a internet ligada enquanto escrevia para conferir a origem
exata das referências e citações que encontra, antes de as por em sua tese,
primando pela precisão da origem da fala e de seu autor.
Esse relato não é incomum nos entrevistados, denotando que, aos poucos,
o doutorando vai tomando maior conhecimento do tema e com isso consegue
formar uma concepção mais própria do assunto focado, assumindo uma maior
136 Trad. livre: “A primeira fase era certamente a leitura dos materiais, então, leitura... segunda fase o arquivamento, que significa que arquivava ou o livro ou recurso, terceira fase a reelaboração pessoal no computador, quarta fase a citação que colocava, quinta fase a releitura.” 137 Trad. livre: “... então um pouco, digamos, os passos foram estes, primeiro a hipótese da pesquisa bibliográfica grossa, o... enfim, iniciar um pouco a gastar, como dizer, os... também os módulos de alguma maneira escrever ou então as anotações assim e depois, a escrita, a escrita propriamente dita...” 138 Trad. livre: “Deve ser arriscada também, porque universidade é um lugar em que... precisa também colocar-se em jogo, inventar, não fazer sempre a mesma coisa, não fazer sempre, não escrever por escrever, mas de alguma maneira sempre, fazer sempre um passo avente, não?”
Análise dos dados coletados 301
segurança em sua escrita e com isso se autorizando a inserir posições próprias, se
inserindo na rede de textos produzidos até aquele momento.
e poi gli ultimi sono venuti quasi da sole e si vedeva anche nel processo che era un altro tipo, di una altra qualità di scrittura, si cresce molto durante, durante una tesi… (N9, p. 6)139 Quindi io ho cercato di, di inserire molti miei parti, cioè, quelli che erano i miei commenti, a quella… insomma, l’argomento, le discussione, però poi, è… tutto parte da, invece una ricerca sugli autori di riferimento… (N11, p. 13)140
O computador auxiliava esse processo à medida que servia de ponto
aglutinador das anotações realizadas a partir das leituras feitas, pois tudo que se
lia era passado como fichamento para o computador, um conjunto de arquivos que
permite a rápida visualização e o exercício da “costura”.
pegava todo material que eu havia garimpado que estava organizado na rede em arquivos, no computador, por arquivos, e aí eu ia fazendo, estabelecendo esses diálogos, fazendo essas posturas, mas já tecendo algum comentário... tecendo algum.. fazendo algo.. é... fazendo alguma apreciação, mas já me posicionando.. já expondo o que eu achava.. onde havia algum ponto de convergência entre esses autores, onde eu percebia lacunas, que me inspiravam uma análise mais adensada daquele ponto, daquele tópico. (N1, p. 5) allora, lo scrivevo con una doppia attenzione, da una parte.. è… mantenendo fede a quello che era ai pensiero delle autore, e quindi dicevo: allora, questo libro dice tan tan tan… magari anche già mettendo la citazione che me interessava perché la… rispondeva quello che mi ha serviva… e poi c’era una parte invece che era il mio.. quindi di questo che, cosa posto distorcere, manipolare, cosa me interessa per seguire che lo mettevo a parte, così, questa parte mi sarebbe comunque servita, poi nel percorso di scrittura a reale, per avere già pronto il mio capitolo… (N7, p. 11)141
Mas esse processo de crescente apropriação do tema não é algo isento de
tensão, sendo descrito pela entrevistada N16 como gerador de sofrimento e pela
139 Trad. livre: “E depois os últimos [capítulos] vieram quase sozinhos e se via também no processo que era de um outro tipo, de uma outra qualidade de escrita, se cresce muito durante, durante uma tese...” 140 Trad. livre: “Então eu procurei, inserir muitas partes minhas, isto é, aquelas que eram os meus comentários, aquelas... enfim, o assunto, a discussão, mas depois, é... começou como, com uma pesquisa com os autores de referência.” 141 Trad. livre: “Então, o escrevia com uma dupla atenção, de uma parte... é... mantendo fiel àquilo que era o pensamento do autor, e então dizia: então, este livro diz tan tan tan... talvez também já inserindo citações que me interessavam porque.. respondia àquilo que me servia... e depois tinha uma parte que era o meu... então o lugar para distorcer, manipular, que coisa me interessa seguir eu as colocava a parte, assim, esta parte me será útil, então no percurso de escrita real, para ter já pronto o meu capítulo...”
Análise dos dados coletados 302
entrevistada N7 como uma dificuldade de criar um pensamento próprio, dizer
aquilo que não foi ainda dito pelos outros autores que foram lidos e sintetizados
por ela. A tensão então estaria inserida no momento em que o pesquisador deve se
situar nessa rede de autores, fazer sua abordagem pessoal do tema e com isso
evidenciar suas afiliações teóricas, traduzida pela entrevistada N16 como uma
“exposição enorme”.
ahh, era muito sofrido, nossa, eu sofri muito... nossa senhora... não, porque o negócio é o seguinte (pausa) (risos) ai, ai... essa coisa de escrever... na dissertação do mestrado, etc... você se expõe muito né Alexandre? É uma exposição... é... enorme, né... quando você escreve uma tese... bom... tem gente que não liga pra isso, eu sou superligada nisso, então eu ficava muito nervosa... (N16, p. 10) ovviamente quello più difficile è stato in terzo, quello di creare un modello perché li i materiali non avevano una organizzazione, mentre per li altri, mi facevo guidare da una parte sul quello chi trovavo sul campo, negli altri due da.. dei teorici che già avevano detto dalle cose, nella parte (…) più creativa non c’era un modello che mi aiutava, quindi creavo, spostavo continuamente li… (N7, p. 13)142
E que usavam os entrevistados na produção escrita: caneta/lápis ou
computador?
Gráfico 31 - Variável “25. Instrumento (Instrumentalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Predomínio do uso do lápis e/ou caneta na produção de textos
1. Aqui são os meios analógicos de escrita. 2. Alguns podem ter experimentado também a escrita em máquina de escrever. 3. A escrita é feita em versões consecutivas e com alto índice de reescrita e cópia.
(2) Predomínio do uso do 1. O texto desde o seu esboço já é feito no computador, sem passar antes pelo papel e
142 Trad. livre: “Obviamente o mais difícil foi o terceiro, aquele de criar um modelo porque os materiais não tinham uma organização, enquanto que para os outros, me fazia guiar em parte por aquilo que encontrava no campo, nos outros dois.. dos teóricos que já haviam dito as coisas, na parte (...) mais criativa não existia um modelo que me ajudasse, então criava, movia constantemente ali...”
0 2 4 6 8 10 12 14 16
(1) Predomínio do uso do lápis e/ou caneta naprodução de textos
(2) Predomínio do uso do computador na produçãode textos
(3) Uso equilibrado dos instrumentos na produçãoda escrita
25. Instrumento (Instrumentalidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 303
computador na produção de textos
pela escrita a mão.
(3) Uso equilibrado dos instrumentos na produção da escrita
Tabela 26 - Descrição dos itens da Variável 25.
Quinze dos dezesseis entrevistados usaram o computador exclusivamente
em sua escrita da tese, sendo que os modos de escrita ainda possuem herança de
hábitos adquiridos e observados de quem utilizava (ou ainda utiliza) a escrita em
papel, conforme citamos a respeito da escrita linear ainda ser significativa e do
próprio conjunto de elementos que devem compor o texto.
Na prática, observando os depoimentos dos entrevistados, percebemos que
o computador, mesmo com as heranças do impresso, se tornou um aglutinador da
pesquisa, senão de todo, ao menos de parte do trabalho de busca, armazenamento
e escrita de textos.
E questo è…non riuscirei a farlo su carta, non so più scrivere su carta devo essere sincero…scrivo direttamente su file in questo modo. Poi per quanto riguarda, poi ho preso questa abitudine da súbito (N8, p. 9)143
Apesar de tais heranças, consolidadas pela rica história dos suportes
impressos, especialmente a partir da difusão da tipografia no século XV, esse
dado nos revela uma plena inserção do computador no cotidiano de escrita dos
entrevistados, algo que contrasta com o eixo “Modo de leitura” em que o
computador ainda aparece dividindo espaço com os suportes impressos por vários
motivos. Entre os motivos talvez esteja a persistência da editoração de uma obra
somente no formato impresso, em papel, ou a própria dificuldade de ler em tela de
computadores de mesa (desktops) e, por fim, os problemas com a fixação de
anotações pessoais no texto.
Um exemplo de que o computador se tornou habitual para a escrita é a
dificuldade, que hoje se apresenta para muitos, de se escrever a mão, de se
concatenar pensamentos no suporte papel depois de se utilizar a escrita digital,
pois contrasta com as facilidades de cópia e colagem, de mover livremente
pedaços de texto na tela, de se inserir elementos a qualquer hora que se desejar. 143 Trad. livre: “E esta é... não poderei faze-lo no papel, não sei mais escrever no papel devo ser sincero... escrevo diretamente no arquivo deste modo. Então no que diz respeito a isso, eu adquiri esse hábito de imediato”
Análise dos dados coletados 304
Essa consolidação do computador fica evidente na fala das entrevistadas N2, N3,
N14 e N15:
eu hoje em dia tenho maior dificuldade de escrever à mão muita.. muita... porque acho que a questão é de pensamento, de aquele pensamento ser hipertextual... você não vai escrever em ordem.. introdução... na hora que eu for apresentar vai ter início, meio e fim, não é? introdução, aquele conteúdo no meio e a conclusão, mas na hora de escrever não precisa fazer isso.. eu ponho lá, vou pra cá, vai, vem... pra mim foi uma coisa.. (N2, p. 17) Mas escrever tá muito difícil... até porque fico pensando numa economia de tempo.. falo “Meu Deus, que idiotice fazer tudo na mão para depois passar pro computador?”... Então eu só uso manuscrever quando não tem o mesmo recurso por perto. (N3, p. 3) Eu não consigo pensar com caneta, não consigo mais. Eu só consigo escrever digitando... (N14, p. 18) e aí a minha escrita era direta no computador, eu não escrevo no papel, tenho dificuldade de escrever no papel hoje em dia, eu fiz prova pra cá foi um inferno escrever a responder aquilo tudo a mão... dá até tendinite, porque antes dava o computador e esse dá... (N15, p. 8)
O computador inaugura outra forma de escrever que se torna claramente
contrastável com a escrita manual, outra forma de se pensar o texto através de
uma maleabilidade não existente com a tinta e o papel, assim como a inserção de
elementos complementares ao texto, em especial imagens, gráficos e tabelas. Ao
contrário da leitura nos suportes digitais que ainda apresenta obstáculos,
especialmente no período pré-tablets, seja para realização de anotações ou
portabilidade dos aparelhos, a escrita no computador se tornou mais cômoda e
vantajosa que aquela realizada no papel, se consolidando no cotidiano dos
entrevistados.
però di solito sempre scrivevo al computer, sempre ho scritto a computer perché è decisamente più comodo, quindi non ho fatto passato in carta al computer, direttamente al computer. (N6, p. 7)144 qualcosa che mi colpiva durante la ricerca me lo annotavo in digitale, quindi, sintesi del libro, delle, degli aspetti che a me interessavano di quel libro, di quel articolo.. (N7, p. 11)145
144 Trad. livre: “Mas normalmente sempre escrevia no computador, sempre escrevi no computador porque é decisivamente mais cômodo, então não passei do papel ao computador, era diretamente no computador.” 145 Trad. livre: “Algo que me chamasse atenção durante a pesquisa eu anotava em digital, então, síntese de livro, dos aspectos que me interessavam daquele livro, dawuele artigo.”
Análise dos dados coletados 305
questo credo, da quello che mi ricordo è stato un po’ il mio utilizzo delle tecnologie ovviamente per… per la scrittura avevo il mio computer portatile che portavo da per tutto… (N9, p. 4)146
Torna-se um privilégio acompanhar doutores, que 10 ou 15 anos antes só
possuíam a tecnologia da escrita manual, refletirem sobre como atualmente
desenvolvem suas criações, falando inclusive de um novo modo de pensar, de
conceber a escrita, a partir das capacidades novas aprendidas com o computador e
a internet e daquelas capacidades “atrofiadas” a partir do pouco uso da escrita à
mão:
Ainda tava... quer dizer, eu fazia poucas coisas, não fazia muito não, mas eu fazia nesse sistema que eu tou te falando.. eu fazia, eu escrevia, aí depois digitava.. parece que meu pensamento só funcionava com a minha mão.. (N3, p. 4) Mas é como eu te falei, eu acho que essa transcrição foi realmente a porta pra eu entender que eu podia fazer direto, que eu tinha condição de expressar minhas ideias também diretamente na tela do computador... aí dali pra frente, cada vez mais.. (N3, p. 4) e eu vejo que hoje eu já penso no que eu posso produzir ou o que eu já produzi esse fato da... de uma ilustração, é... poder estar, eu poder incluir, inserir essa ilustração, isso já muda a minha forma de conceber o meu texto... [...] é claro que antes eu nunca produzi artigo como eu produzo hoje, mas a gente escrevi..., a gente escrevia projetos, a gente tinha uma produção escrita... e... a ilustração não tava ali, ela não tava naquele texto... (N13, p. 22)
Gráfico 32 - Variável “26. Presença da internet (Conectividade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável
146 Trad. livre: “Este acredito, daquilo que me recordo foi um pouco a minha utilização da tecnologia obviamente para... para a escrita tinha o meu computador portátil que levava para tudo...”
0 1 2 3 4 5 6 7 8
(1) Uso da internet no momento da escrita
(2) Uso do computador desconectado no momentoda escrita
(3) Alternância de uso e não uso da internet nomomento da escrita
26. Presença da internet (Conectividade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 306
(1) Uso da internet no momento da escrita
1. Escreve-se o tempo todo com a internet ligada para consultas a fontes. 2. Busca-se diretamente na internet as citações e fontes para confirmar os argumentos e a origem.
(2) Uso do computador desconectado no momento da escrita
1. Desconecta-se completamente da internet quando vai escrever seu texto
(3) Alternância de uso e não uso da internet no momento da escrita
1. Relata-se tanto situações onde a internet era usada como as que se isolava e desconectava-se.
Tabela 27 - Descrição dos itens da Variável 26.
Se dois dos entrevistados relataram desligar a internet durante a escrita
para evitar dispersão, sete fizeram o oposto, pois usavam o computador conectado
para complementar os escritos e verificar dados em tempo real através de
buscadores como o Google ou GoogleBooks, evidenciando que a internet alterou a
lógica temporal de acesso às fontes e de checagem da fala ou da origem dos dados
citados por um autor, servindo como uma gigantesca memória auxiliar e
facilmente acessível.
foi muito interessante, que as vezes eu tava escrevendo... me ajudou né? que as vezes eu tava escrevendo alguma coisa e tal, eu tinha uma dúvida , eu podia recorrer a uma pesquisa né? ali na hora, você não tem que pensar... acho que facilita a questão de vou na biblioteca.. as vezes você encontrava um texto e queria ter um acesso, pedia pra biblioteca, quando eu achava né? (N2, p. 16) eu tou lá com a internet e tou com um bolo de livros aqui, então coisa que eu não achava nesse livro, por conta desse limite físico, eu complementava com o uso da internet. (N3, p. 8) o que eu vejo também na forma de escrever é que o uso do livro, da consulta, do material impresso, foi sendo, esse uso foi sendo substituído pela consulta material digitalizada. (N13, p. 23) Quindi tendenzialmente io anche quando scrivo ogni mezz’ora ho appuntato sul browser a fare una serie di ricerche interne; avere la conferma di un particolare argomento di una particolare citazione o comunque che qualcuno, qualcun altro, qualche altro autore aveva o no quello stesso idea rispetto ad un concetto esposto da un altro per poter confermare o disconfermare una visione per dire. (N8, p. 10)147 Quindi, si, su questo mi sono dovuta affidare per forza al online perché altrimenti non avrai potuto trovare i nuovi cose in libreria o biblioteca. (N11, p. 18)148
147 Trad. livre: “Então tendencialmente eu também quando escrevo a cada meia hora uso o navegador para fazer uma série de pesquisas na internet; ter a confirmação de um assunto particular ou de uma citação ou então o que alguém, algum outro, algum outro autor tenha ou não aquela mesma ideia a respeito de um conceito exposto por um outro para poder confirmar ou não confirmar uma visão para dizer.” 148 Trad. livre: “Então, sim, eu tive que contar necessariamente com o que está online porque de outra forma não poderia encontrar as novidades na livraria ou na biblioteca.”
Análise dos dados coletados 307
O entrevistado N8, forte utilizador da internet para verificação de fontes,
relata que o único momento que não utitilizou a internet foi em um local na Suíça
em que esteve e que não havia conexão disponível, tendo que anotar tudo que
precisaria verificar posteriormente. De certa forma a internet acaba por servir para
a realização de buscas tanto por confirmações a respeito de pesquisas e teóricos,
quanto para se traçar de maneira facilitada as redes de autores aos quais estão
ligados.
A entrevistada N4 foi um caso “fora da curva”, pois relatou um uso bem
estanque, divididos em etapas sequenciais, na realização da escrita. Dessa forma
as etapas não se limitaram à escrita de um capítulo por vez, mas também na
presença do computador para a coleta de fontes, utilizando na etapa inicial e
depois estancando o uso da internet no momento da escrita, utilizando somente as
fontes coletadas durante a fase inicial de busca, refletindo um medo de se
dispersar caso acessasse e fizesse uso de novas fontes.
Finalmente, quanto às técnicas de escrita, encontramos a seguinte
distribuição:
Gráfico 33 - Variável “27. Técnicas (Tecnicidade)”.
0 1 2 3 4 5 6 7 8
(1) Construção de mapa conceitual
(2) Construção de índices
(3) Escrita em camadas
(4) Escrita com 2 monitores
(5) Idéias por parágrafos
(6) Escrever já no formato final
(7) Escrever textos logo após a leitura
(8) Retiros de escrita
(9) Arquivos abertos ao mesmo tempo
(10) Empiria integrada à escrita
(11) Escrever em várias cores
(12) Escrever em editor online
(13) Montar um banco de referências
(14) Guardar a referência bibliográfica
27. Técnicas (Tecnicidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 308
Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Construção de mapa conceitual
1. Faz-se o mapa conceitual com os tópicos do futuro texto e da inter-relação das idéias. 2. Onenote, Mindmap, Powerpoint para esquematizar os mapas.
(2) Construção de índices 1. Parecido com o mapa conceitual, só que apresentado em forma estruturada linearmente.
(3) Escrita em camadas 1. Começa com uma idéia-base e vai confeccionando o texto em camadas, aos poucos, acrescentando novas informações no entorno.
(4) Escrita com 2 monitores 1. Ampliar a área de escrita com dois monitores instalados no menos computador. (5) Idéias por parágrafos 1. Cada parágrafo contém um idéia central, sendo mais fácil trabalhar em algo coeso e
autossuficiente caso desloque-se o texto para outro local. (6) Escrever já no formato final 1. Respeitar as regras de escrita da tese desde o começo, evitando retrabalho. (7) Escrever textos logo após a leitura
1. Articular em pequenos textos as leituras feitas. 2. Não é o mesmo que fichar resumindo a leitura.
(8) Retiros de escrita 1. Pegar um período, como de uma semana, e se dedicar a escrever intensamente uma parte da tese.
(9) Arquivos abertos ao mesmo tempo
1. Ter várias janelas com textos abertos de artigos e materiais utilizados no momento da escrita. Como se fosse uma mesa com vários materiais sobre ela.
(10) Empiria integrada à escrita 1. Na fase de coleta de dados já ir escrevendo como parte da tese. (11) Escrever em várias cores 1. Uma cor para cada etapa ou tipo de texto escrito, classificando visualmente a
escrita. (12) Escrever em editor online 1. Assim a pessoa acessa e edita em qualquer lugar, como o Google Docs. (13) Montar um banco de referências
1. Cria bancos de referências com sites e outros tipos de mídia.
(14) Guardar a referência bibliográfica
1. Os sites e livros podem se perder, então é bom anotar sempre a referência completa.
Tabela 28 - Descrição dos itens da Variável 27.
A principal técnica de escrita foi usar de um planejamento através da
construção de um sumário (índice), totalizando sete relatos, que era seguido junto
com o orientador e com maior frequência entre os entrevistados italianos. Depois
veio a escrita em camadas (cinco relatos), em que o autor ia acrescentando no
computador novos trechos, citações e idéias ao texto que estava naquele momento
trabalhando, algo que somente a escrita no computador permite, visto que no
papel para se realizar novos acréscimos deve-se realizar uma reescrita de todo
material, fundindo anotações realizadas nas margens.
então daquelas, daquelas... daqueles miniparágrafos, eu dali ia pegando, ia desenvolvendo, ia colocando a citação, ia crescendo aquele texto.. e foi assim que, que eu faço até hoje e é assim que eu faço... (N3, p. 20) mas eu sou muito... é... esquemática, eu tenho uma capacidade.. assim, eu monto os roteiros do que eu pretendo fazer, eu visualizo o que vai acontecer e depois eu vou recheando com as informações que eu já sei que quero buscar... então isso de alguma maneira ajuda na minha organização interna e talvez na própria organização do texto... porque eu tinha uma idéia já, então o que eu abria já tava ali com o propósito daquela parte que eu tava trabalhando naquele momento.. né... (N15, p. 8) poi traccio una mappa, un elenco degli argomenti che voglio trattare e il mio indice non è mai definitivo, il mio indice è work in progress continuo perché
Análise dos dados coletados 309
mentre approfondisco e faccio il mio indice viene continuamente modificato (N8, p. 9)149 A fa.. a scrivere un po’ utilizzando un… facendo una specie di puzzle, non so come dire non? quindi tu stai magari hai un centro di discorso che mette li e comincia poi a confezionare attorno… (N9, p. 6)150 E quindi sono andata sempre più scremando, come se avessi fatto una cosa grezza, e poi mano a mano tutte le volte che la rivedevo, cercavo di riorganizzarla, facendo attenzione appunto. Alle fonti, alle citazione a questi aspetti qua… (N11, p. 14)151 E quindi è stato un lavoro proprio paragrafo per paragrafo. Diciamo che la struttura, la progettazione era stata questa: io scrivevo su un foglio le… i titoli dei paragrafi e cercavo di ricostruire per ogni titolo scrivevo le risorse principali… (N12, p. 11)152
A escrita em camadas, junto com a capacidade de se deslocar com
extrema facilidade pedaços de texto, oferece a vantagem de se construir
parágrafos com sentido próprio que vão se complementando e formando os
capítulos, podendo-se modificar o local dos mesmos, caso apresentem certa
autossuficiência de sentido. É exatamente esta percepção do entrevistado N8, que
relata o processo a seguir com a escrita visando futuramemente tais
deslocamentos:
tanto è vero che terminata la tesi io addirittura ho cambiato il mio modo di scrivere sulla base dell’evidenza che ho riscontrato, dove tendo a parcellizzare i paragrafi in unità non dico auto consistenti ma tento di tenerli più auto consistenti possibili, indipendenti uno dall’altra al massimo con riferimenti che tanto poi si fanno, dei rimandi per poter facilmente spostare i paragrafi all’interno del testo. (N8, p. 9)153
149 Trad. livre: “Então traço um mapa, um elenco dos assuntos que desejo tratar e o meu índice não é nunca definitivo, o meu índice é um trabalho em andamento contínuo, porque enquanto eu aprofundo eu faço o meu índice ser continuamento modificado.” 150 Trad. livre: “A faz.. a escrever um pouco utilizando um... fazendo uma espécie de quebra-cabeças, não sei como dizer ok? Então você talvez tenha um centro de discurso que os coloca e começa depois a confeccionar ao redor...” 151 Trad. livre: “E então fui sempre melhorando mais, como se tivesse feito uma coisa bruta, e depois mão a mão todas as vezes que revia, procurava... reorganiza-la, me certificando. Às fontes, às citações, a estes aspectos aqui...” 152 Trad. livre: “E então era um trabalho de parágrafo por parágrafo. Digamos que a estrutura, o projeto era esse: eu escrevia em uma folha os... os títulos dos parágrafos e procurava reconstruir para cada título que escrevia as fontes principais...” 153 Trad. livre: “Tanto é verdade que terminada a tese eu mudei o meu modo de escrever com base nas evidências que encontrei, onde eu tendo a parcelar os parágrafos em unidades, não digo auto-consistentes, mas tento as ter o mais consistente possível, independente uma da outra ao máximo com referências que então você faz, referências utilizadas para se deslocar facilmente os parágrafos no interior do texto.”
Análise dos dados coletados 310
Semelhante à elaboração de índice houve a elaboração de mapa conceitual
por quatro dos entrevistados, um modo diferente de representar os temas e o
planejamento da escrita, com possibilidade de associações dos temas graficamente
reunidos em uma mesma folha que depois se tornam um índice para organizar a
escrita.
prima di tutto costruito una mappa, non proprio.. una mappa, una mappa concettuale dei vari argomenti che avevo avuto affrontare. (N5, p. 12)154 È, ho iniziato a costruirla usando software che crea una mappa concettuale… é… prima usato mind manager per gestire questo processo… E organiz… cerca di mappare certi tipi di struttura, soprattutto certi tipi di area di contenuto perché erano complesse, perché si intersecavano.. (N10, p. 8)155
Cinco deles procuravam guardar as referências já no momento em que as
liam, afim de não perder a origem do texto quando fosse escrever o relatório final,
decorrência essa do modo convencionado da escrita científica de sempre apontar
com precisão a origem das fontes.
Um problema mais recente nesse caso, relatado por alguns, são as fontes
que rapidamente mudam de lugar ou somem na internet, sendo necessária uma
dupla atenção para textos extraídos de websites, sendo citadas na entrevista N8 as
vantagens de sistemas automatizados e que guardam os dados da referência como
o DOI, Digital Object Identifier. Guardar a origem das fontes, fichando suas
informações principais, também foi exemplificado como recurso pelo entrevistado
N9 que utilizou a maioria dos textos provenientes das bibliotecas que consultou,
não os possuindo para consulta posterior.
sempre me preocupava em colocar a referência né.. da onde eu tinha pescado ela, porque se eu precisasse de usa-la, eu tinha que ter essa referência e depois eu não ia saber qual a palavra que eu coloquei.. (N3, p. 9)
154 Trad. Livre: “Antes de tudo eu contruí um mapa... um mapa, um mapa conceitual dos vários tópicos que eu teria que abordar.” 155 Trad. livre: “É, eu comecei a construí-la usando um programa que cria um mapa conceitual... é... primeiro usei o mindmanager para gerir este processo... E organiz... procurar mapear certos tipos de estrutura, sobretudo certos tipos de áreas de conteúdo porque eram complexas, porque se entrecruzavam.”
Análise dos dados coletados 311
Scrivevo sempre l’indirizzo. Quando gli stampi non sempre si compare sotto. Se tu fai una selezione e copy su word non sai poi da dove l’hai.. e ho lo copiavo anche l’URL.. (N6, p. 9)156 e citazione subito inserivo il riferimento bibliografico, cioè la bibliografia evolve mentre scrivo, mentre scrivo il testo, mentre scrivo la tesi...la bibliografia… Finita la tesi avevo già la bibliografia fatta, non ho dovuto fare niente se non magari apposto le posizioni degli anni…queste cose qui…cioè la normativa che si vuole seguire. (N8, p. 9)157
Se a construção de índices e mapas para guiar e controlar uma escrita
potencialmente anárquica foi relatado por alguns como técnica de contenção, para
outros o desktop (mesa de trabalho) foi utilizado ao pé da letra e nele se abriam
vários documentos simultaneamente para visualização, próximo ao que foi
relatado pela entrevistada N4 ao dizer que dispunha sobre a mesa da sala suas
anotações em papel lado a lado para construir seus capítulos da tese. A
entrevistada N11 chega a relatar o uso de dois monitores para expandir a sua área
de trabalho e com isso conseguir abrir e manter o tempo todo a vista os
documentos de referências que utilizava para a escrita. Vejamos os relatos dos
entrevistados N13, N15 e N11:
nessa escrita uma coisa que foi importante, pra mim, quando eu penso agora assim, o fato de tá, né, lá digitando o texto é que eu abria não sei quantas janelas, sabe? E eu podia, eu podia já na tela do computador, eu acessava as coisas, várias coisas.. é... é como você ter vários livros e você... ou seja, o que eu fazia manualmente, eu estava fazendo, é a mesma coisa, ou seja, me servia.. é... estava atendendo à mesma necessidade de eu ter cinco livros abertos e ou tá lá escrevendo meu texto e com seis arquivos abertos, eu minimizava e... sabe, isso foi uma coisa muito interessante.. (N13, p. 17) Eu ia minimizando e abrindo em função da necessidade... não tinha... por exemplo, eu não gosto de trabalhar com janela paralela, me atrapalha.. eu preciso ter alguma janelona aberta na minha frente e aí quando eu sinto que preciso de alguma outra coisa eu vou buscar... (N15, p. 8) poi io a casa ho due monitor praticamente, non? Quindi io lavoro molto meglio con due monitor, anche al mio ufficio c’è lo, perché comunque mi è proprio più funzionale e quindi da una parte tutte le rielaborazione che avevo fatto, dal altra
156 Trad. livre: “Escrevia sempre o endereço. Quanto os imprimia nem sempre se acha [o endereço] embaixo da folha. Se você faz uma seleção e copia no Word não sabe depois de onde tirou... e eu copiava também o endereço de internet...” 157 Trad. livre: “E citação eu imediatamente as inseria como referência bibliográfica, isto é, a bibliografia enquanto escrevo, enquanto escrevo o texto, enquanto escrevo a tese... a bibliografia... Finalizada a tese eu tinha já a bibliografia feita, não tive que fazer nada a não ser fixar a posição dos anos... esta coisa aqui... isto é, as normas que se deve seguir.”
Análise dos dados coletados 312
foglio bianco e cercavo proprio di scrivere le cose che mi, che mi sembravano interessante ecco, facendo riferimenti, le citazione… (N11, p. 14)158
O uso de ferramentas de editoração na própria web (nuvem) foi relatado
por somente dois dos entrevistados, um baixo índice de utilização para um recurso
que permite o acesso ao texto em qualquer lugar que o autor esteja conectado, sem
necessidade de transportar fisicamente os arquivos, mas que se justifica pelo
caráter recente desse tipo de serviço, a exemplo do GoogleDocs, surgido em 2005,
e o Microsoft Office Online.
É, isso aqui tudo eu leio ali, porque... porque eu posso criar aqui, isso aqui não precisa ter nada instalado... já tenho o Word, tudo isso aqui eu tenho... tenho no online. Então isso aqui eu.. é da Microsoft né, então... não tenho muita confiança, não ponho muita coisa aí, mas são as coisas que eu posso (risos). (N14, p. 21)
Algumas formas mais peculiares de escrita, relatadas por um ou alguns
entrevistados valem a pena serem citadas. Um exemplo é o da entrevistada N2 que
utiliza plenamente a possibilidade oferecida pelo editor de textos do computador
para colorir trechos, dizendo “eu escrevo colorido”, diferenciando em cores
estágios de sua escrita, classificando dessa forma trechos de autoria externa,
trechos de sua própria autoria e já consolidados, trechos que merecem atenção e
trechos que estão em andamento. É uma forma de mapear visualmente estágios de
várias partes de sua tese.
Outro exemplo é o entrevistado N8 que procura já deixar seu texto na
forma final utilizando diretamente o computador, inserindo referências assim que
as utiliza, colocando os elementos do texto, como tabelas e figuras já na
formatação exigida, assim como o corpo do texto. Essa é uma técnica que
somente a editoração eletrônica permite, pois nela podemos unir diversas funções
antes dispersas nas diversas etapas que estavam entre o autor e o leitor: autoria
propriamente dita, cortes e revisão de texto, editoração gráfica, impressão, entre
outras. Esse acúmulo de funções em um só programa de edição de texto permite
esse total domínio do autor sobre sua produção e como ela chegará ao leitor.
158 Trad. livre: “Depois eu em casa tenho dois monitores praticamente, ok? Então eu trabalho muito melhor com dois monitores, também no meu escritório eu tenho, porque contudo me é mais funcional e então de uma parte toda a reelaboração que fiz, e da outra folha em branco e procurava escrever as coisas que me, que me pareciam interessantes, fazendo referências, as citações...”
Análise dos dados coletados 313
Quadro 18 - Considerações resumitivas sobre os modos de escrita relatados pelos doutorandos.
Três níveis de escrita, com tendência para a escrita simultânea de diversas partes do texto.
Escrita linear (um capítulo por vez).
Escrita simultânea (com controle) .
Escrita simultânea radical (tudo ao mesmo tempo).
A escrita se mantém ainda conservadora frente às novas possibilidades dos suportes digitais
Modelo da busca de fontes‐esquematização‐escrita linear como opção.
A escrita simultânea não linear é uma possibilidade que não existe no suporte impresso, mas o produto final é semelhante ao anterior.
A escrita no computador se tornou padrão, e não estamos mais em transição como no caso da leitura.
Alguns relataram que a capacidade de escrita a mão "atrofiou".
A obra escrita permanece, mesmo no computador, com seus elementos básicos importados do modelo impresso.
A numeração de página, índice, notas de rodapé, bibliografia ao final.
Mobilizam‐se técnicas auxiliares para controle da escrita.
Mapa conceitual (esquematização visual).
Sumário previsto (esquematização em tópicos).
Algumas técnicas emergiram a partir dos suportes digitais.
Escrita em camadas, Parágrafos ao modo de blocos com sentido próprio, Uso de dois monitores, Escrita "colorida", Escrita na formatação final, Escrita em editores de texto online, Consulta online em tempo real a fontes citadas.
Colagem e costura: os tipos de escrita predominantes.
A escrita‐colagem, individualista, com pessoas mais próximas.
A escrita costurada a partir dos textos lidos em um processo gradual de posicionamento no campo de pesquisa.
O computador se tornou um aglutinador da produção escrita com sua portabilidade.
Anotações em um só suporte e lugar.
Busca de fontes (memória auxiliar via internet).
Escrita final do texto da tese.
Análise dos dados coletados 314
7.5 Uso de fontes: os usos, os locais de acesso e os tipos de fontes.
A maioria dos entrevistados, tanto no Brasil como na Itália, relatou buscar
de maneira circular, indo de um suporte e de uma referência a outra, de maneira
contínua ao longo do tempo de elaboração da tese.
Gráfico 34 - Variável “28. Busca no tempo (Acumulabilidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Busca Linear Limitada (BLL)
1. Primeiro a busca de fontes e depois a escrita do texto. 2. Não se volta a buscar novas fontes ou com pouco incremento depois da busca inicial.
(2) Busca Circular Contínua (BCC)
1. Em cascata, ampliando a rede de textos, indo e voltando nas fontes e usando a internet junto. 2. Com aprofundamentos sucessivos nas bibliografias durante a escrita da tese. 3. Tendência ao confronto de fontes e autores em mídias diversas, buscando cruzar conceitos e dados.
(3) Busca por Aprofundamento em Camadas (BAC)
1. Pode ocorrer na busca linear limitada e na circular contínua, em que o sujeito vai adquirindo novos termos e novas referências conforme vai acessando as fontes que pesquisa, em aprofundamentos sucessivos.
Tabela 29 - Descrição dos itens da Variável 28.
Utilizo aqui a metáfora do círculo para evidenciar que o movimento é
contínuo e que uma fonte tem a potencialidade de indicar outras, em uma rede
contínua de associações, facilitada agora pela internet na complementação de
informações. É com esse movimento que o doutorando, ao menos os que
relataram esse tipo de busca, vai se situando no campo de estudo e tecendo o
refencial que utilizará em seu próprio texto, um hábito adquirido na prática de
pesquisa e traduzido como “vício em bibliografia” pela entrevistada N3.
Na escrita científica é a bibliografia que evidencia as conexões evocadas
por cada um dos autores e se tornam assim um dos principais pontos de partida
para a busca de novas referências, mas não os únicos. Um nome de autor ou de
um grupo de pesquisa citado em uma conferência ou em um blog pode ser o
0 2 4 6 8 10 12 14
(1) Busca Linear Limitada (BLL)
(2) Busca Circular Contínua (BCC)
(3) Busca por Aprofundamento em Camadas (BAC)
28. Busca no tempo (Acumulabilidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 315
disparador para que o pesquisador busque através da internet novas produções e
materiais, em atos sucessivos de busca contínua.
Então isso ajuda muito, porque você vai numa tese, só olha a bibliografia que tá atrás e você vê: não conheço esse, não conheço esse, não conheço esse... Daí você começa a centrar, né? Então pra atualizar a leitura eu acho fundamental... é isso que a tecnologia, as bibliotecas hoje todas permitem... (N14, p. 17) muitas vezes né, você vai pela bibliografia dos livros, aí você põe direto no Google, mas sem dúvida que o Google foi o grande... não, o Google, o Google, o Scielo, Capes e... bibliografia de artigos, né? Que aí você vai através de outros e acha... (N16, p. 6) quindi magari ritrovavo sul libro di testo la citazione di un articolo presente online... allora in internet cercava l’autore e andava a vedere tutti gli articoli che lui aveva scritto sul quel argomento.. ok... mi scaricavo, mi stampavo... (N5, p. 9)159 Si, articoli su Google… é… per vedere appunti gli articoli caricate in rete e poi legge le bibliografie di libri.. legge la bibliografia e cerchi tutti gli altri libri.. Classico.. in fondo a libro c’è tutta la bibliografia e sono andata un po’ internet e un po’ in biblioteca.. (N6, p. 7)160 e quindi dopo, dopo aver sottolineato andava su internet e ricercavo quella, quella stessa fonte e quindi partiva un altro, un altro filone di ricerca… Anche per tenere tracia appunto del filone di ricerca che seguivo… (N12, p. 9)161
A busca circular e por aprofundamentos sucessivos em camadas envolve
inúmeras estratégias práticas de busca, além da observação das referências
bibliográficas. Entre os relatos está a busca por autores “primários”, ou seja, que
embasam o campo de pesquisa investigado pelo doutorando, ou então a análise de
título-resumo-bibliografia conforme relatado pela entrevistada N3 e o
entrevistado N14 para uma aproximação inicial com os textos, e ainda a leitura de
resenhas que resumem e ajudam a aproximação inicial com a temática, para
depois se partir para sites específicos.
Entre as técnicas utilizadas que chama a atenção pelo automatismo é a do
uso de bots (robôs) que avisam sobre novas publicações através de palavras-chave 159 Trad. livre: “então poderia encontrar no livre de texto a citação de um artigo que está presente online... então na internet procurava o autor e ia ver todos os artigos que ele tinha escrito sobre aquele assunto.. ok.. baixava e os imprimia...” 160 Trad. livre: “Sim, artigos no Google... é... para ver as anotações, os artigos baixados da rede e depois ler a bibliografia dos livros... ler a bibliografia e procurar todos os outros livros... Classico... no fim do livro está toda a bibliografia e fui um pouco na internet e um pouco na biblioteca...” 161 Trad. livre: “e então depois, depois de ter sublinhado ia na internet e pesquisava aquela, aquela mesma fonte e então partia para uma outra, uma outra linha de pesquisa... Também tomava nota do percurso da linha de pesquisa que seguia...”
Análise dos dados coletados 316
pré-configuradas, utilizados pelo entrevistado N10, junto com os RSS Feeds que
advertem sobre novas postagens em sites cadastrados pelo internauta. É como se
um bibliotecário estivesse sempre atento para indicar ao pesquisador todas as
novas publicações surgidas em determinada área de interesse.
A entrevistada N15 relatou a visita aos resultados mais afastados do motor
de busca, para encontrar novas informações além do que está habituada a ver. Já o
entrevistado N9 relatou que ao realizar a busca física, estante por estante, na
biblioteca que esteve por alguns meses durante o doutoramento, permitiu que
achasse referências que não encontraria de outra forma, uma maneira de se
surpreender com materiais que nunca pensaria em procurar. Ambos os modos de
buscar materiais permitem o surgimento e temas e autores inéditos, que não
estavam ainda presentes nas intenções de busca dos pesquisadores.
às vezes eu leio o título, falo “talvez isso me interesse”, aí dou uma lida no resumo, às vezes não esclarece muito, aí eu já ponho lá encima, se é PDF a última página, vou pra bibliografia.. aí eu menos se por aquela bibliografia eu consigo mais ou menos mapear qual é o assunto que ele tá falando dentro do texto.. Aí eu vejo: me serve.. não, tá muito distante, eu faço outro caminho, eu tou procurando alguma coisa de Educação, ele vai lá de psicologia, nesse momento não me interessa, aí eu deleto.. (N3, p. 15) E às vezes até acho textos simplinhos , mas que num primeiro momento de aproximação, eles me servem pra eu já ir arrumando a minha cabeça, pra depois buscar alguma coisa mais .. (N3, p. 15) então isso eu acho um pouco complicado porque eu sou meio obrigada a concordar que se eu só olhar o que eu tou habituada a ver eu não vou encontrar muitas opiniões discordantes e tal.. então isso é meio chatinho, mas tendo consciência disso, então a gente vai buscar as páginas mais pra frente, as mais longínquas também, enfim, vai procurar por outras vias né... (N15, p. 14) non solo motore ma anche spybot per la informazione, quindi ricerche con software che… fanno, sono specializzati nel information research che fanno ricerche multipiattaforma e multimotore che agiscono non solo su quel in web ma ti fascono anche su gopher, database e questi tipi di informazione.. (N10, p. 5)162
Todos esses processos vão criando a rede de associações necessárias para
compor a própria bibliografia do doutorando, que não deixa de ser uma busca de
inserção no campo de pesquisa almejado. A entrevistada N15 deixa muito clara
162 Trad. livre: “não somente motores de busca, mas também spybot para a informação, então pesquisa com software que... que fazem, são especialistas em pesquisa de informações que fazem pesquisa em múltiplas plataformas e múltiplos motores de buscas, que atuam não somente na web, mas fazem também pesquisa no gopher, bancos de dados e estes tipos de informações...”
Análise dos dados coletados 317
essa intenção, pois em sua busca era prioridade entender quais autores estavam
dialogando com os principais pesquisadores em sua temática, visando se situar
mais próxima ou mais afastada deles.
O mesmo é relatado pela entrevistada N5 que chama sua busca inicial de
um assunto, feita no Google através de palavras-chave, de “pesquisa preventiva”,
para ter a panorâmica do que está sendo dito no campo de estudo pretendido.
Segue a mesma linha de pensamento a entrevistada N7, evidenciando que a fase
inicial da busca é aquela em que o foco está menos ajustado, sendo que os
buscadores generalistas exercem hoje uma ajuda fundamental e à medida que o
processo avança vão sendo refinadas as palavras-chave utilizadas.
Dessa forma, vão surgindo locais mais específicos para se procurar as
fontes (sites de grupos de pesquisa, bases de dados oficiais, sites de universidades,
entre outros) e que irão constituir a bibliografia mais refinada do tema estudado. A
entrevistada N7 relatou que ao acessar em sua busca, através de leituras de artigos,
palavras-chave pertencentes ao jargão da área estudada (no caso dela a
Psicologia), é que podia então voltar aos motores de busca gerais e realizar nova
pesquisa com a terminologia utilizada pela comunidade científica. Esse
aprendizado de novos termos ao longo da pesquisa alimenta a própria
circularidade das buscas, incentivando novas investidas em ramos de
conhecimento ainda desconhecidos.
As buscas de fontes bibliográficas não são somente um ato de curiosidade,
de interesse temático visando a satisfação intelectual do doutorando, ou seja, não
são buscas totalmente desinteressadas, mas visam um maior ajuste e tomada de
posição frente ao que outros autores dizem.
Eu buscava o que as pessoas tavam falando sobre esses autores e sobre a minha temática, pra ver se o que eu tava, né, levantando... primeiro se era muito batido... não era, o que foi bom... e segundo assim, se de repente a minha leitura tá mais ou menos coerente com a leitura que algumas pessoas... que aí você começa meio a perceber quem são as pessoas que se destacam na tua área e vai ali procurar o que que elas tão colocando e tal.. então era um pouco um pé no chão pra mim em relação ao que eu tava fazendo na minha produção.. né... se eu ia ao encontro ou de encontro a essa galera pra me situar e tomar minhas decisões teóricas sabendo ou que eu estava indo junto com a grande maioria ou que eu tava indo contra e o que que isso podia me acarretar pra eu me fundamentar um pouco mais pra sustentar aquela posição.. (N15, p. 5)
Análise dos dados coletados 318
quindi prima di cercare direttamente competenze in generale, faccio una ricerca preventiva che me circoscrive il campo di ricerca, poi in internet vado mirata a prendere quello che mi serve. (N5, p. 17)163 la fase iniziale più di mappatura mia in cui anch’io non avevo ben focalizzato, era più una ricerca, diciamo tradizionale random, quindi usando i motori di ricerca e mia parole chiave… sto cercando di ricostruire, il raffinamento della ricerca. (N7, p. 6)164
Do ponto de vista dos suportes digitais utilizados, esse movimento
contínuo entre fontes é potencializado pela rapidez que a internet permite para se
encontrar textos, materiais adicionais que complementem a pesquisa, fazer
contatos com autores e pessoas de referência via e-mail, fóruns e listas de
discussão, de modo que é possível encontrar itens de maneira quase imediata
quando comparamos com as buscas em suporte impresso.
Essa rapidez permite atender a vontade de encontrar um novo item assim
que se acessa a referência, o nome de autor, o grupo de pesquisa ou qualquer outro
elemento que seja uma “pista” para se localizar a fonte citada.
então às vezes o caminho era ao contrário... de repente surgia um autor, me despertava a curiosidade e aí eu ia confrontando, eu fazia muito essa... eu tentava estabelecer alguns nexos entre os textos, sempre analisando as referências bibliográficas, o que os pesquisadores estavam consultando, né, os autores que eles estavam investigando. (N1, p. 6) ... mas você tá falando da rede, então eu vou muito assim, autor que citou tal autor, citou tal autor e vou vendo.. as vezes eu chego e não, não tem nada a ver , mas outras vezes eu descubro, coisas que eu não teria a menor idéia, né.. acho bom... tanto no livro papel quanto em artigo, e tal... (N2, p. 20) Então essa fome da bibliografia, você saber onde está o início do que você tá lendo ali naquela ponta... e pra isso a internet me ajudou muito, porque era assim que eu fazia: comprava o livro, me chamava atenção o título, eu ia lá e ia na bibliografia.. então me interessa, comprava... a partir dali fui observando que tinha alguns textos que eu poderia usá-los como fonte primária que estavam disponíveis na internet.. então eu abandonava aquela leitura do livro momentaneamente e pegava aqueles textos e ia pra internet e daqueles textos eu ia pra outros que às vezes também eram referenciados pela própria internet. Então eu usava como uma busca, né... até chegar nessa fonte primária, entre aspas aí, se existe isso.. (N3, p. 9)
163 Trad. livre: “então antes de buscar diretamente compatência em geral, faço uma pesquisa preventiva que me circunscreve o campo de pesquisa, depois na internet vou direcionada a obter aquilo que me serve” 164 Trad. livre: “A fase inicial era mais de mapeamento no qual eu também não estava focada, era mais uma pesquisas, digamos, tradicional aleatória, então usando os moteres de pesquisa e minhas palavras-chave... estou procurando reconstruir, o refinamento da pesquisa.”
Análise dos dados coletados 319
Seis dos entrevistados também relataram buscar referência em
aprofundamentos sucessivos, em camadas, ao modo de ondas de novas buscas a
partir da abertura de novas frentes e questões de estudo, ampliando a visão a
respeito da produção textual sobre o tema. O aprofundamento em camadas pode
ser pensado como uma ampliação do alcance dos nós na rede de citações entre os
autores, seja em suporte impresso levando ao digital ou seja o digital levando para
o impresso.
Você lê mais no início né? Mas você continua lendo, porque pelo movimento de pesquisa é um movimento de vai e volta, né, a gente nunca termina... “ahh, agora essa etapa está concluída, agora vou passar pra próxima etapa”, não funciona assim né Alexandre? (N16, p. 13) che consentivano una analisi, una lettura più quando mi serviva, quindi mi portavo a casa in digitali una serie di articoli, me le guardavo, me annotavo chi concetti o qui gli autori chi mi sembravano interessante per il mio pensiero e usavo questi come parole chiave per la ricerca in rete, andando a cercare o il sito delle università di riferimento, delle università etc, che alcuni poi erano psicologi che avevano dei centri di ricerca sul tema… non tanto magari della comunicazione mediata da computer, ma sul tema della socialità in rete e quindi mi collegavo a loro sito del centro di ricerca o al sito della persona seconda, per vedere appunto che tipo di percorso di ricerca stavano facendo, quali pubblicazione avevano a disposizione dove erano in digitali e accessibili… o invece è rimandando a delle pubblicazione in cartacce tornavo alla biblioteca. (N7, p. 7)165
Somente dois separaram o momento de busca com o momento de escrita, o
que evidencia que etapas antes mais bem definidas pela distância com os meios
físicos onde as referências se encontravam (os prédios das livrarias, mudeus,
acervos e bibliotecas) agora vem se mesclando com os momentos de escrita, pois
tanto a editoração quando a busca de fontes pode se realizar no mesmo suporte, o
computador, e ao mesmo tempo.
Um modelo muito próximo da busca linear também foi relatado pela
entrevistada N5, concentrando a maior parte das buscas no primeiro ano do
165 Trad. livre: “que permitiam uma análise, uma leitura mais quando me servia, então levava para casa em formato digital uma série de artigos, os guardava, anotava os conceitos ou quais autores que me pareciam interessantes para o meu pensamento e usava estes como palavra-chave para a pesquisa na rede, procurando ou indo no site da universidade de referência, da universidade, etc... que alguns então eram psicólogos que tinham seus centros de pesquisa no tema... não tanto da comunicação mediada por computador, mas sobre o tema da sociedade em rede e então me conectava ao site do centro de pesquisa ou ao site pessoal para ver que tipo de percurso de pesquisa estavam fazendo, quais publicações tinham a disposição e quais eram em digital e acessíveis... ou então ia nas publicações em papel retornando à biblioteca.”
Análise dos dados coletados 320
doutorado, embora tenha continuado depois a se atualizar e a agregar novas
fontes, com intensidade menor, através do monitoramento de autores e pesquisas
em andamento via internet.
No processo da escrita eu já tinha fechado aquela etapa da busca, e aí é a mesma forma (...) naqueles textos ali da produção... [...] nos momentos de busca a internet teve um papel importante, e aí aqueles textos que estavam ali também eram resultado de uma pesquisa prévia que eu já tinha feito, né.. (N4, p. 11)
c’è continua a cercare.. io ho fatto 80 percento da ricerca bibliografica nel primo anno, però continuo a cercare materiale e risorse... anzitutto perché sono passati due anni e qualcosa di nuovo magare uscita o stato pubblicato.. sia biblioteca, i libri che... in rete... e secondo perché magari allora non trovato qualcosa che c’era in altre volte... non c’è secondo me un momento di dire basta o concluso la ricerca delle fonti, posso ritenermi sodisfatta. (N5, p. 16)166
Já a entrevistada N6 e o entrevistado N8 relataram que na primeira etapa
de suas pesquisas os livros impressos, tradicionais, predominaram, para um
levantamento mais histórico do campo que estava investigando e um maior
aprofundamento teórico. Fato este semelhante à entrevistada N11 que mesmo
utilizando a maior parte dos materiais em formato digital apontou o uso do
impresso para a formação inicial do quadro teórico. Somente com o
desenvolvimento da pesquisa surgiram os documentos online, mais atuais, como
os relatórios de agências governamentais e os documentos empíricos.
Este relato evidencia que os textos de base teórica mais densos
(“clássicos”) não estão, pelos menos em sua maioria, disponíveis
predominantemente no formato digital, necessitando da aquisição ou do
empréstimo bibliotecário de cópia impressa; o que acaba por gerar uma
circularidade nas buscas, em que documentos online podem se referir a textos de
base teórica que estão em suporte impresso. O entrevistado N8 relatou que uma
vez ao mês necessitava ir à biblioteca pegar emprestados livros que não tinha
acesso online, sendo que alguns já conseguia realizar buscas gratuitas através do
Google Books.
166 Trad. livre: “é uma busca contínua... eu fiz 80 porcento da pesquisa bibliográfica no primeiro ano, mas continuo a procurar materiais e recursos... primeiro porque já se passaram dois anos e alguma coisa nova talvez tenha sido publicada... seja na biblioteca, os livros que... em rede... e segundo porque talvez eu não tenha achado alguma coisa que existia antes... não existe na minha opinião um momento de dizer basta ou concluída a pesquisa de fontes, que posso me sentir satisfeita.”
Análise dos dados coletados 321
Si si, libri fisiche, testi, materiali... poi, i documenti del Unesco che sono online, sul il sito. É… e poi come prima parte teorica... sulla seconda parte tutti i documenti in rete, che vuol dire: report di ricerca, homepage, é… descrizione, è… progetti, é.. tutte le page in rete. Se non quelli dei (…) di caso, che erano anche cartacce... (N6, p. 6)167 generalmente io parto sempre dai libri e poi faccio continue ricerche come ho detto prima delicious, Google e molto le fonti elettroniche, nel senso elettroniche, metto un po’ tutto insieme ecco però il criterio è sostanzialmente la validità scientifica della fonte. (N8, p. 18)168 c’erano dei libri storici, erano tutte riviste, pubblicazione, quindi, si, (…) la alcuni libri che io avevo, perché comunque erano.. facevano la storia delle tecnologie, però poi le cose più recenti non erano ricuperabile cosi e quindi… non utilizzavo la biblioteca… (N11, p. 7)169
Correlacionado com a busca de fontes, acha-se o local em que se realizou
essas buscas.
Gráfico 35 - Variável “Local de busca”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Busca física 1. Em estantes de bibliotecas.
2. Em índices de revistas impressas. 3. Em banco de imagens impressas.
(2) Busca online em buscadores generalistas
1. Google. 2. Altavista.
(3) Busca online em bancos de dados especializados
1. Bancos de revistas científicas. 2. Bancos de teses e dissertações. 3. Busca em cadastros de currículos acadêmicos.
167 Trad. livre: “Sim, sim, livros físicos, textos, materiais... depois, os documentos da Unesco que estão online, no site... É... e depois como a primeira parte teórica... na segunda parte todos os documentos em rede, que quer dizer: relatórios de pesquisa, homepage, é... descrição, é... projetos, é... todas as páginas na rede. A não ser aquelas dos casos, que eram todas em papel...” 168 Trad. livre: “geralmente eu parto sempre dos livros e depois faço continuamente pesquisa como eu disse antes no Delisius, Google e muito as fontes eletrônicas, no sentido eletrônico, coloco tudo junto mas o critério é substancialmente a validade científica da fonte.” 169 Trad. livre: “eram os livros históricos, eram todas revistas, publicações, então, sim (...) alguns livros que eu tinha, porque contudo eram... fazia a história das tecnologias, mas então as coisas mais recentes não eram obtidas dessa maneira e então... não utilizava a biblioteca...”
0 2 4 6 8 10 12 14 16
(1) Busca física
(2) Busca online em buscadores generalistas
(3) Busca online em bancos de dadosespecializados
29. Local de busca (Localidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 322
4. Pesquisa integrada da biblioteca. 5. Arquivos de grupos de pesquisa. 6. Arquivos de institutos de pesquisa.
Tabela 30 - Descrição dos itens da Variável 29.
No uso do computador com internet, grande parte dos entrevistados
acessou os bancos de dados online oferecidos por bibliotecas e por sites de fontes
abertas (open access), com 15 ocorrências, enquanto o uso de buscadores
generalistas, como o Google, foi relatado por 14 entrevistados.
O entrevistado N8 relatou usar mecanismos de busca criados por ele
mesmo, através de sites da Web 2.0, como o site Delicius, um site em que se
criam listas de endereços favoritos da internet (social bookmarking), podendo ser
compartilhadas para que outras pessoas as acessem. São listas de endereços que,
quando agrupadas por temas, se tornam valiosas para reduzir o tempo de busca
dos outros internautas, evitando o retrabalho.
O entrevistado N10 destacou o uso de bots e de RSS Feeds, uma categoria
que não envolve necessariamente a criação coletiva de bancos de dados com
referências compartilhadas, mas automatiza os caminhos de busca com as
palavras-chave frequentemente utilizadas pelo pesquisador, ganhando tempo ao
receber periodicamente novas publicações lançadas na internet.
Já os novos portais de busca oferecidos pelas universidades reúnem um
conjunto de bancos de dados internacionais que facilitam a pesquisa por atacado
do tema de interesse do pesquisador, assim como o acesso imediato aos
documentos (artigos, teses, dissertações), em geral no formato PDF, tal como
narrado pelo entrevistado N8, que se lembra do período em que o acesso tinha que
ser feito em cada base de dados individualmente.
Logo, os motores de busca generalistas e os indexadores produzidos pelos
internautas servem como filtros iniciais para buscas mais refinadas em acervos
especializados, geralmente ligados a universidades e associações de pesquisa.
Google... google é a minha fonte primária aí nesse ponto.. aí depois eu vou, aí eu vou mais específico.. vou pro Scielo, dentro das revistas, eu vou pra Anped.. vou para um outro site de psicopedagogia on-line que também é bem legal, tem algumas coisas interessantes.. (N3, p. 15)
Análise dos dados coletados 323
Allora, la rete prima di tutto, quindi, ricerca in Google… Google non c’è ancora Google libri, Google Book… (N6, p. 6)170 naturalmente poi utilizzo ricerche in rete generali, ma anche semplicemente con Google per andare a scovare alcuni sito o comunità che parlano di alcuni tematiche… (N8, p. 5)171 Quella li.. é… moltissimo motore di ricerca Google come tutti… è questo di fatto… (N9, p. 13)172
A internet, ao menos na fase de busca de fontes, está plenamente
incorporada ao cotidiano dos pesquisadores, uns com maior e outros com menor
intensidade. A tendência geral deles é tornar suas buscas mais diversificadas
quanto aos locais, e mais independentes da presença física na biblioteca ou em
outros tipos de acervos agora acessíveis tanto pelos processos de digitalização de
documentos quanto pelo aumento da largura de banda para obtenção de fontes
multimídia (fotografias, livros antigos, sons e músicas).
claro que na rede você também consegue fazer esse tipo de busca.. coloca a palavra-chave por exemplo no Google ou então em algum portal, em alguma biblioteca digital e você consegue garimpar alguns textos bem interessantes.. (N1, p. 5) joga as palavras e acha o link... antes eu ficava neurótica , agora não... [risos] agora não, ponho lá no Google, ele acha tudo... (N2, p. 14) E invariavelmente eu achava tudo.. achava tudo.. é só você colocar a palavra certa que você acha.. e esse recurso da imagem, no meu caso foi muito precioso, porque se eu tou propondo, né, eu propus uma narrativa visual e uso a fotografia como texto, então eu tinha que achar referências visuais também e achei muita coisa, muita coisa.. (N3, p. 8) Si, beh, utilizzo… sicuramente le, le… siti di biblioteche, l’OPAC, sistema nazionale di.. é… database di, di, volume… é… dove so magari che ci possono essere delle, delle riviste… articoli online che mi possono servire (N9, p. 13)173 cioè il fatto che io posso a ricercare, usare motori sempre più raffinati o software sempre più raffinati per la ricerca, posso accedere a librerie, banche dati in digitale con sempre maggior facilità… é… posso avere preview, anteprime,
170 Trad. livre: “Então, a rede antes de tudo, então, pesquisa no Google... Google pois não havia ainda o Google livros, o Google Books...” 171 Trad. livre: “naturalmente utilizo então a pesquisa geral na rede, mas também simplesmente com o Google para encontrar alguns sites ou comunidades que falam de algumas temáticas...” 172 Trad. livre: “Aquele.. é... muitíssimo buscador de pesquisa na internet Google como todos.. é... este de fato...” 173 Trad. livre: “Sim, bem, utilizo... seguramente o... sites das bibliotecas, o OPAC, o sistema nacional de... é... banco de dados, dos volumes... é... onde talvez possam ter as, as revistas... artigos online que possam me servir.”
Análise dos dados coletados 324
lettura, novanta percento del testo già in formato digitale e per e-book reader, quindi cosa che posso tranquillamente trasferirmi… (N10, p. 15)174
Três deles relataram que a busca predominante foi de material impresso
em bibliotecas, mas isso não impedia que em determinados momentos buscas
online fossem realizadas em bancos de dados online oferecidos pela universidade.
O entrevistado N9 concentrou suas buscas em duas cidades em que residiu
durante o doutoramento, Genebra e Grenoble, aproveitando o vasto acervo das
bibliotecas nas duas cidades, sendo que em uma deles teve que realizar buscas
manuais por não haver ainda um sistema eficaz digitalizado de buscas, indo de
estante em estante e folheando os materiais um a um. Para ele as duas bibliotecas
foram o suficiente para sua pesquisa.
a Grenoble mi ricordo quando sono stato io era 2004, 2005, c’era ancora un sistema bibliotecario abbastanza tradizionale con la scheda in cartacce per cui si andavo proprio… e anche a Ginevra dove c’era un belle, una bella banca dati informatica, di tutti libri… in realtà però la biblioteca era molto grande (…) Ginevra e si andava a scaffale, era devi veramente sfogliare il libro per libro, tutto quello che c’era, quindi in realtà dal punto di vista della ricerca bibliografia abbastanza tradizionale dal punto di vista dell’impostazione. (N9, p. 4)175
Assim sendo, a biblioteca mantém seu papel crucial na busca de materiais
acadêmicos, mesmo que seja oferecendo a busca e acesso online através dos
bancos de dados especializados que assina para os alunos da universidade,
permitindo o download de documentos provenientes de revistas científicas de
diversas partes do mundo. A entrevistada N6 relatou também o fato de que para
ela, como aluna, os artigos podiam ser baixados gratuitamente.
ma il sistema bibliotecario dell’università offre anche la possibilità di collegarsi ad altre banchi dati di altri università o di altri sistemi bibliotecari… quindi (...)
174 Trad. livre: “isto é, o fato que posso pesquisar, usar motores sempre mais refinados ou softwares sempre mais refinados para a pesquisa, posso acessar livrarias, bancos de dados em digital com facilidade crescente... é... posso ter a previsão, leitura, noventa porcento dos textos já em formato digital e para leitor e-book, então é uma coisa que posso tranquilamente baixar...” 175 Trad. livre: “Em Grenoble me recordo quando estive em 2004, 2005, existia ainda um sistema bibliotecário bastante tradicional com ficha em papel para o qual... e também em Genebra onde existia um bom, um bom banco de dados informatizado, de todos os livros... na verdade a biblioteca era muito grande (...) Genebra e se andava pelas estantes, e deveria folhear livro por livro, tudo aquilo que tinha, então na realidade do ponto de vista da pesquisa bibliográfica bastante tradicional do ponto de vista da configuração.”
Análise dos dados coletados 325
utilizzare il sistema bibliotecario interno, ho utilizzato anche questi banchi dati online di altre biblioteche, di altri sistemi bibliotecari.. (N5, p. 9)176 quando potevo passava a andare in biblioteca perché sono gratis.. é… non mai se per due siti, due riviste.. non mai ha raccolto materiale a pagamento… tutto resto era gratuito, oppure se non era gratuito provavo tramite Google magare c’era qualche strato se non internet. (N16, p. 12)177
Com o processo de desintermediação, ou seja, de não haver mais
empecilhos entre o pesquisador e a busca e aquisição de determinado item
bibliográfico, poucos depoimentos falam de recorrer à ajuda de um bibliotecário, a
exemplo da entrevistada N2 que solicitava artigos ou textos mais difíceis de obter
ou que precisavam ser comprados pela biblioteca.
O entrevistado N10 critica a biblioteca universitária que usava, por não
conseguir acompanhar os lançamentos de livros impressos, tendo ele mesmo que
indicar a compra de novas obras para os bibliotecários, afirmando que a grande
maioria dos materiais que adiquiriu já estava em formato digital, seja através de
downloads gratuitos ou via e-books, não dependendo tanto da biblioteca para a
sua pesquisa.
A mesma situação se repetiu com a entrevistada N11, que afirmou que,
para o tipo de tema de pesquisa que escolheu, não havia materiais na biblioteca e
nem os saberiam ajudar, sendo que os livros impressos ela teve que adiquirir em
livrarias ou via internet e o resto dos materiais diretamente em formato digital.
Não tão extremo, mas próximo aos entrevistados N10 e N11, a entrevistada N12
relatou o uso de poucos livros e que noventa porcento dos materiais que obteve
foram online, especialmente pelo tema de pesquisa que escolheu.
noi qua siamo abbonati a parecchie riviste elettroniche quindi riusciamo a scaricarci direttamente il PDF delle.. delle… degli articoli… e questo devo dire
176 Trad. livre: “Mas o sistema bibliotecário da universidade oferece também a possibilidade de conectar-se a outros bancos de dados de outras universidades ou de outros sistemas bibliotecários... então (...) utilizar o sistema bibliotecário interno, utilizei também estes bancos de dados online de outras bibliotecas, de outros sistemas bibliotecários...” 177 Trad. livre: “Quando podia passava na biblioteca porque são grátis... é.. nunca se não fosse por dois sites, duas revistas... nunca tinha obtido materiais por pagamento... todo resto era gratuito, ou se não era gratuito eu tentei através do Google, talvez houvesse alguma parte ao menos na internet.”
Análise dos dados coletados 326
ha decisamente semplificato e potenziato le miei possibilità di ricerca… (N8, p. 5)178
In biblioteca il materiale non c’è niente.. (N10, p. 11)179 cioè io devo dire che la biblioteca da subito non lo considerata una fonte privilegiata perché ho pensato subito al online, quindi mi sono proprio… ho iniziato a fare le mie ricerche… e devo dire che, ti dico, io in biblioteca non ci sono mai andata… mai… e i libri che avevo a disposizione, li ho consultati ne senso che li ho comprati, acquistati e poi… e quindi quelli che mi interessavano li avevo, quelli che é… dovevo acquistare, li acquistavo, però non… devo dire che ecco, per il tipo della mia… di ricerca che ho svolto io non… in biblioteca non… secondo me non l’avrebbero neanche saputo aiutarmi… (N11, p. 18)180
Continuando a analisar o eixo Uso de Fontes, afigura-se a Abrangência
quanto a locais e línguas.
Gráfico 36 - Variável “30. Abrangência (Proximidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Restrita quanto a locais e línguas
1. Busca de fontes nacionais, em bases de dados monolinguísticas. 2. Predomínio de bases de dados digitais open access e nacionais. 3. Pouco uso de bases restritas fornecidas pela biblioteca.
(2) Ampla quanto a locais e línguas
1. Busca de fontes internacionais, em bases diversas interligadas por sistema de busca, abrangendo muitas línguas. 2. Bases de dados digitais de acesso restrito via biblioteca da universidade como fonte principal e pouco uso de fontes abertas na internet. 3. Maior dependência da biblioteca.
(3) Intermediária
1. Busca de fontes nacionais e internacionais, em bases diversas interligadas por sistema de busca. Porém restrita a poucos países ou línguas. 2. Bases de dados digitais de acesso restrito via biblioteca da universidade e uso de bases abertas via buscadores e sites livres. 3. Uso das bases da biblioteca e dos sites abertos da internet como fontes.
178 Trad. livre: “nós aqui estamos inscritos em várias revistas científicas e podemos baixar diretamente o PDF delas... os artigos... e isto devo dizer decisivamente simplificou e potencializou as minhas possibilidades de pesquisa...” 179 Trad. livre: “na biblioteca os materiais não existiam”. 180 Trad. livre: “isto é, devo dizer que a biblioteca de imediato não era considerada uma fonte privilegiada porque pensava imediatamente no online, então... eu iniciei a minha pesquisa... e devo dizer que, digo a você, eu na biblioteca nunca estive... nunca... e os livros que tinha a disposição, os consultei no sentido que os comprei, os adiquiri e depois... e então aqueles que me interessavam os obtia, aqueles que... devia adiquirir, os adiquiria, mas não... devo dizer que então, para o tipo da minha... da minha pesquisa que eu desenvolvi não... na biblioteca não... na minha opinião os saberiam nem me ajudar...”
0 2 4 6 8 10 12
(1) Restrita quanto a locais e línguas
(2) Ampla quanto a locais e línguas
(3) Intermediária
30. Abrangência (Proximidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 327
Tabela 31 - Descrição dos itens da Variável 30.
Gráfico 37 - Variável “31. Objetivo (Finalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Internet para recursos empíricos
1. Usa a internet como parte empírica dos dados da tese.
(2) Internet para recursos acadêmicos
1. Usa a internet como fonte de dados acadêmicos para sustentar sua argumentação na tese (artigos, livros, estatísticas, relatórios).
(3) Misto 1. Usa tanto como fonte empírica quanto fonte de materiais acadêmicos.
Tabela 32 - Descrição dos itens da Variável 31.
A busca em bases de dados online parece também ter ampliado o leque de
abrangência de fontes quanto a locais de origem e línguas, assim como as livrarias
online que facilitam a busca e aquisição de livros editados fora do país de origem
do pesquisador.
Para temas de pesquisa em que as fontes internacionais são fundamentais,
como no caso do entrevistado N10 que trabalha com a investigação da cultura
nascida com os informatas norte-americanos, a digitalização crescente dos
materiais favorece a realização da pesquisa sem a necessidade de sair do país de
origem, sendo no caso dele a maior parte dos materiais utilizados em língua
inglesa.
e às vezes eu vou muito pelas referências dessas pessoas, né... então muitos desses textos que eu peço na biblioteca... é... eu pego as vezes num livro que foi traduzido, mas a referência dele não foi traduzida, aí eu procuro aqui e eu não acho, não tem na nossa biblioteca, procuro na internet livro e as vezes não tem, artigo de uma revista que eu não sei... é... ou então que tem que ser comprado aquele artigo, mas tem que comprar lá.. é uma coisa mais complicada... aí eu ponho a biblioteca em ação, né.. (N2, p. 19)
Onze dos entrevistados relataram em algum momento fazer buscas amplas.
Somente uma entrevistada (N15) fez buscas circunscritas a um idioma e bases de
dados abertas locais (Scielo) ou disponibilizadas pela própria universidade,
0 2 4 6 8 10 12
(1) Internet para recursos empíricos
(2) Internet para recursos acadêmicos
(3) Misto
31. Objetivo (Finalidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 328
evidenciando uma opção dela em não procurar outros sites e tipos de fontes a
partir das dificuldades que encontrou durante o acesso. Mesmo assim, o uso de
tais bases já revela um universo amplo de fontes para acesso e leitura, além dos
livros impressos que a entrevistada relatou comprar.
a biblioteca virtual da PUC na época que eu era aluna usei bastante também... e outras bibliotecas virtuais eu não uso... com franqueza, porque nunca fui buscar pra descobrir como é que é... eu sei que existem, mas assim, banco de teses da Capes eu já acessei, aí tive ali uma primeira dificuldade, porque você acessa o resumo, mas não conseguia acessar a tese inteira logo de cara... parei de olhar, e talvez até tenha como acessar, eu é que não continuei futucando, né... (N15, p. 5)
A tendência de amplitude nas buscas reflete a própria rede internet que
coloca à disposição, de maneira facilitada, o acesso a documentos (e também
pessoas) provenientes de diversos países e em diversos formatos e línguas.
Podemos incluir nesse conjunto de fontes a mídia jornalística internacional e os
textos escritos por autores amadores (blogs, wikis, fóruns, redes sociais),
extrapolando a produção voltada para o público local, que se torna disponível
mundialmente.
Aí aqui na PUC eu já comecei a usar.. via a PUC, tá? Eu conheci por exemplo Eric, várias bases de dados... Eric, é.. é.. Jisto, outras bases de dados que são... tem... mas, conheci sites superinteressantes de várias universidades, tem universidades portuguesas na área de Matemática... a Universidade de Coimbra disponibiliza livros... muito interessante, sobre Filosofia, tipo eles têm agora um material que é uma tradução das obras de Platão... é... e eles disponibilizam, que são livros assim, é um trabalho muito interessante. (N13, p. 8) ele tem o site da França, é francês, do [NOME DO GRUPO] que disponibiliza textos, é um material bem interessante na área de Educação Matemática. E tem... esse autor Balacheuf ele tem, eu estudei, eu usei bastante no doutorado, estudei textos dele que eu peguei nesse site do [NOME DO GRUPO] e texto dele em livros que também comprei... (N13, p. 10) Hoje em dia você entra no Banco Interamericano de Desenvolvimento, no Banco Mundial, ali você tem várias formas de você entrar, então você se aproximar de um problema, você mapear uma situação... a tecnologia hoje facilitaria muito... (N14, p. 24) Mas no doutorado eu descobri que nas bibliotecas da PUC a gente tinha acesso a revistas internacionais, a teses... pô, então... eu consegui teses nos EUA sobre o tema, né... consegui material da... da França, que tinha acabado de ser defendida... (N14, p. 17) os sites dos grupos de pesquisa que ficam dentro das próprias universidades e que aí também tem algum material interessante... então Portugal, da Universidade
Análise dos dados coletados 329
do Minho, o site do Sarmento, do Manuel Sarmento... aqui do Brasil o site da Heloísa Candau Rocha, da Federal de Santa Catarina... assim, aí de já ir em busca mesmo dos grupos de pesquisa e das suas produções mais recentes que eventualmente não conseguiram uma publicação mais de peso, mas não deixam de ser legais. (N15, p. 6) Sono in italiano, in inglese, in francese, si... forse si non, qualcune in... un paio anche in spagnolo mi sembra... chi non parlo spagnolo, non le conosco però cercato di capire... (N5, p. 10)181 tutti i siti di centri di ricerca dove c’erano i pubblicazione: biblioteca, libreria, siti. O… é… é… sito di Unesco ancora, e in Google non so cercava degli articoli mettendo l’autore. (N6, p. 7)182
Tanto o grau de internacionalização das pesquisas quanto o uso da
internet como fonte empírica, em estudos que permitiam a coleta de dados online,
marcaram este conjunto de casos, podendo ser feita através de questionários,
entrevistas por voz ou texto e coleta de registros em fóruns e listas de discussão.
A entrevistada N16, porém, alerta de forma breve sobre as restrições
encontradas no acesso a certas bases de dados, que exigem assinatura, viável hoje
somente para as grandes bibliotecas que possuem recursos para mantê-las,
diminuindo o leque de opções para aqueles que se encontram fora da academia. O
conflito entre acesso fechado e aberto vem marcando as campanhas para o acesso
livre de documentos acadêmicos (open access), favoráveis à livre e irrestrita
circulação das informações científicas.
porque você tem um acesso enorme a uma monte de coisa, né? Se você fala outras línguas então, aí mesmo que você vai... acessa base... é verdade que os dados americanos, em língua inglesa muitas vezes, JStor, não sei o quê, você não consegue acessar porque você tem que ser associado né? (N16, p. 5)
Na produção da empiria, a coleta de dados mostrou um perfil interessante.
181 Trad. livre: “São em italiano, em inglês, em francês, sim... talvez se não, alguns.. uns poucos também em espanhol se não me engano... eu não falo espanhol, não conheço, mas procurei entender...” 182 Trad. livre: “Todos os sites de centros de pesquisa onde existiam publicações: biblioteca, livraria, sites. O.. é.. é... site da Unesco ainda, e no Google procurava os autores colocando o nome do autor.”
Análise dos dados coletados 330
Gráfico 38 - Variável “36. Produção da empiria (Verificabilidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Coleta de dados já disponíveis online
1. Ida a Blogs, Wikis, Foruns, redes sociais, sites institucionais e outros espaços onde os sujeitos deixaram suas “marcas” disponíveis para acesso do pesquisador. 2. Uso de bases de dados compiladas por órgãos do governo e instituições como MEC, INEP, Censo.
(2) Criação de instrumentos para análise dos dados brutos disponíveis online
1. A pessoa baixa uma base de dados bruta e produz em programa próprio as estatísticas e análises.
(3) Criação de instrumentos de coleta online
1. Criação de plataforma ou criação de site para o sujeito ir lá e deixar suas “marcas” (discussões, opiniões, respostas). 2. Questionários e entrevistas online, fóruns e blogs criados pelo pesquisador, observação etnográfica online. 3. Itens de pesquisa criados pelo pesquisador dentro de outra pesquisa maior em andamento.
(4) Não usa a internet para empiria
1. O pesquisador usa instrumentos tradicionais para coleta de dados (questionários impressos, entrevistas pessoais, observação presencial).
(5) Não produziu empiria 1. O pesquisador realizou uma pesquisa totalmente baseada em fontes existentes (teórica), sem produzir nenhum dado novo em campo.
Tabela 33 - Descrição dos itens da Variável 36.
Com a ascensão da Web 2.0, dos sites que permitem participação direta de
seus visitantes, as pessoas estão deixando marcas pessoais online ou sendo
solicitadas pelos pesquisadores a deixa-las, não surpreendendo que metade dos
entrevistados tenha relatado que coletou dados já prontos (sem precisar criar um
instrumento de coleta) e outros seis tenham criado instrumentos para realizar
coleta através de sujeitos que acessavam espaços online. O entrevistado N9
relatou ter feito uma pesquisa puramente teórica e com isso não teve como utilizar
a internet para coleta empírica, somente de materiais acadêmicos, não sendo dessa
forma uma opção de qual meio teria que utilizar, mas sim uma ausência de
necessidade de uso.
Entre os espaços acessados, estavam as discussões nos fóruns, os debates
em comunidades virtuais, os blogs, o acesso a redes sociais, espaços para
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
(1) Coleta de dados já disponíveis online
(2) Criação de instrumentos para análise dos dadosbrutos disponíveis online
(3) Criação de instrumentos de coleta online
(4) Não usa a internet para empiria
(5) Não produziu empiria
36. Produção da empiria (Verificabilidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 331
postagem de fotografias, relatos, documentos de eventos. Todos esses espaços na
internet reúnem pessoas com interesses em comum, sem precisar que o
pesquisador as reúna artificialmente ou presencialmente para que as discussões
aconteçam, embora também facilite esse processo quando cria espaços em comum
para pessoas distantes fisicamente.
Este foi o caso da entrevistada N11 que criou via internet um ambiente
para promover debates guiados por ela com professores e alunos a respeito da
didática e o uso de tecnologias, ao modo de um grupo focal, não tendo nunca as
encontrado presencialmente.
Já a entrevistada N12 relatou que ao ter sido negado seu pedido de envio
de questionário a professores pelo canal oficial do governo, optou por entrar nas
principais comunidades virtuais de blogs didáticos e solicitar o envio através de
seus coordenadores. Com isso conseguiu os dados empíricos que necessitava
através da reunião espontânea de pessoas em tais comunidades de interesses
comuns, evidenciando o potencial da internet para o contato de sujeitos em uma
pesquisa.
A entrevistada N7 utilizou discussões em fóruns online para recolher
dados empíricos para a sua pesquisa, e o entrevistado N8 relatou o acesso a uma
comunidade sobre tecnologias na educação para captar discussões e temas
emergentes nesse campo de estudo para com isso abrir novas frentes de pesquisa.
A consulta a arquivos de comunidades virtuais já fechadas também fez parte da
pesquisa do entrevistado N10, em seu levantamento sobre a cultura dos
informatas, assim como os ambientes de discussão atualmente abertos e ativos
envolvendo programadores e usuários de plataformas de ensino a distância de
diversos países.
e internet in questo mi serviva perché facendo dal altra parte il lavoro di valutatore, comunque a volte di tutor… dentro i percorsi io raccoglievo quel scambi script in forum che mi sembravano significative per esemplificare alcuni questione, quindi era il mio campo di ricerca dal una parte. (N7, p. 6)183 che erano bene o male tutti siti web o ambienti, comunità anche molte volte non più esistente cioè che rimanevano presenti in rete perché ormai… vecchie
183 Trad. livre: “A internet nisto me servia porque fazendo de uma parte o trabalho de avaliador, no entanto as vezes de tutor... dentro dos percursos eu recolhia a troca de falas no fórum que me pareciam significativas para exemplificar algumas questões, então era o meu campo de pesquisa por um lado.”
Análise dos dados coletados 332
comunità di humm… fine metà anni 90, fini anni 90 che non esistono più… (N10, p. 7)184 È semplicemente ho lavorato con Google, utilizzando Google e scambiando con i partecipanti di focus group una serie di documenti in un gruppo… e cercando di aprire dei forum per discutere di questi documenti insomma… E quindi io ho lavorato cosi con loro, e si, questo. (N11, p. 5)185 cosa hanno fatto? Hanno creato questa piattaforma per creare blog, abilitando tutti, cioè praticamente un servizio offerto a tutti docenti statali, delle scuole statali. Quindi era una cosa ad ampio raggio, una cosa a livello nazionale… quindi, ho cercato di mantenermi in contatti con questi tre community e io ho deciso di mandare i… é… i questionari a queste tre community… (N12, p. 6)186
A comunicação também poderia ser direta com os sujeitos via mensageiros
instantâneos, como o Skype ou o MSN, e e-mails quando a ida aos locais de
residência se tornava muito custosa, devido às distâncias a serem percorridas.
Desse modo se enquadra a entrevistada N5 e o entrevistado N10 que entraram em
contato e entrevistaram sujeitos em outras regiões da Itália via voz na internet.
consegui muito material também on-line, conversei com algumas pessoas que eu fiz contato por ali.. mas aí comecei a ver blog e fotolog né... e o pessoal começava a disponibilizar fotos... [...] de repente o pessoal começou a aparecer muito blog e o pessoal começava a colocar as fotos.. é.. [...] e eu comecei a observar a comunicação entre eles.. [...] É.. então eles colocam por exemplo: regulamento.. aí tem um concurso.. colocam o regulamento, a inscrição é on-line.. Então eu tinha a cesso ao regulamento, depois eu via as fotos .. Dos eventos... eles colocavam.. as notícias mesmo, o que tava acontecendo.. e ali tive acesso ao Brasil inteiro.. (N2, p. 10-11) mio dottorato era basato solo, quasi solo esclusivamente sulla base di documentireperite dalla rete, quindi avuto imparare a fare un po’ di ricerca perché non poteva andare in tutti paese europei, in tutte università europei, dovevo scaricare (…) fare analisi del sito web delle università e raccogliere tutta documentazione (N6, p. 3)187
184 Trad. livre: “que eram bem ou mau todos os sites web ou ambiente, comunidades também muitas vezes não mais existentes, isto é, que permaneciam presentes na rede... velhas comunidades de... do final dos anos 90, final dos anos 90 que não existiam mais...” 185 Trad. livre: “e simplesmente eu trabalhei com o Google, utilizando Google e trocando com os participantes do grupo focal uma série de documentos em grupo... e procurando abrir os fóruns para discutir estes documentos, enfim... e então eu trabalhei assim com eles, e sim, isto.” 186 Trad. livre: “que coisa fizeram? Criaram esta plataforma para criar blogs, habilitando todos, isto é, praticamente um serviço oferecido a todos os docentes do Estado, da escola Estatal. Então era uma coisa ampla, uma coisa a nível nacional... então, eu procurei me manter em contato com estas três comunidades e decidi mandar os... é.. os questionários a estas três comunidades...” 187 Trad. livre: “Meu doutorado foi baseado somente, quase exclusivamente, sobre uma base de documentos recuperados na rede, então tive que aprender a dazer um pouco de pesquisa porque não podia andar em todos os países europeus, em todas as universidades europeias, tinha que baixar (...) fazer análise dos sites das universidades na internet e recolher toda a documentação.”
Análise dos dados coletados 333
per diciamo una ricerca di tipo quantitativo… é… in digitale, io ho usato sistemi di inter… software per invece fare interviste tipo qualitativo perché non riuscivo a girare tutta Italia per intervistare e contattare persone… Maggior parte via voce.. (N10, p. 6)188
Além da postagem realizada por pessoas comuns em atividades sociais ou
através da exposição de material produzido de maneira amadora, temos o acesso a
dados produzidos por órgãos governamentais e agências de pesquisa que aplicam
instrumentos a grandes amostras da população, com equipes profissionais,
gerando dados como o PISA, ENEM, IDEB, Censo escolar.
Na Itália, a entrevistada N5 relatou o uso de uma plataforma
governamental da agência INDIRE que reunia em comunidade virtual professores
que registravam suas experiências, se tornando um rico banco de dados para a
pesquisadora. Já a entrevistada N6 comenta que acessava sites governamentais,
como o Ministério da Educação de outros países, para obter dados oficiais sobre o
sistema de ensino deles, além dos dados estatísticos do CENSIS, que gerava
relatórios estatísticos sobre a população italiana.
nasce come piattaforma di formazione per gli insegnante ma anche come repositori delle esperienza, degli insegnante, quindi a me servito per dar me un po’, una idea sul quello chi si sta attualmente facendo nella scuola, a che punto siamo arrivati con la formazione degli insegnanti sulle tecnologie.. (N5, p. 10)189 nel caso della… Portogallo e della Finlandia tutti i siti dedicati alle istruzione… della pubblica istruzione, il sito del Ministero della Istruzione.. perché? Perché dovevo anche raccontare il sistema educativo del paese.. [...] E così ho fatto, quindi il sito dei Ministeri, Ministero della Istruzione e della Educazione.. é.. e poi qualche sito... humm… che raccontava i dati economiche e prodotto interno lordo per capire anche un po’ investimento educativo (N6, p. 11)190
A união da internet com os computadores pessoais de grande capacidade
para processamento de dados gerou uma nova configuração que permite aos
188 Trad. livre: “para digamos, uma pesquisa de tipo quantitativo.. é.. em digital, eu usei sistemas da inter... software ao invés de fazer entrevistas tipo qualitativa porque não poderia percorrer toda a Itália para entrevistar e contatar pessoas... maior parte por voz...” 189 Trad. livre: “Nasce como plataforma de formação para os professores mas também como repositório de experiência, dos professores, então para mim serviu para dar um pouco, uma ideia sobre aquilo que atualmente se está fazendo na escola, a que ponto chegamos com a formação dos professores a respeito da tecnologia.” 190 Trad. livre: “no caso de... Portugal e da Finlândia todos os sistemas dedicados à instrução... de instrução pública, o site do Ministério da Educação... porque? Porque devia também descrever o sistema educacional daqueles países... [...] E assim eu fiz, então os sites dos Ministérios, Ministério da Educação.. é.. e depois alguns sites... hummm... que descreviam os dados econômicos e o produto interno bruto para entender um pouco o investimento em educação.”
Análise dos dados coletados 334
pesquisadores processarem e obterem resultados estatísticos personalizados de
acordo com suas questões de pesquisa. Esse modo de lidar com as fontes de dados
com alto número de registros inaugura uma fase em que estão sendo feitas
inúmeras releituras de informações que antes eram apresentadas processadas e já
discutidas nos relatórios oficiais, permitindo que o pesquisador se aproprie da
etapa de análise de dados da pesquisa assim como já vem se apropriando da etapa
de busca com a desintermediação das fontes.
até explico isso na minha tese.. né.. que eu tive que fazer uma ginástica computacional para chegar a esses valores, perdi muito tempo... mas pra mim foi um exercício muito interessante... mas o acesso ao INEP com dados estatísticos... sempre atualizado... é... do censo escolar mesmo, eu como... mesmo estando aqui eu ainda respondia por uma escola, então eu tinha acesso aos resultados do censo escolar... é... acompanhava matrículas de alunos, então isso tudo me ajudou a entender muito mais essa evolução da escola, né? (N14, p. 17) então fui estudar, a primeira parte da minha tese eu usei os dados do PISA.... aí os dados do PISA é show de pegar, porque você baixa da internet, não tem problema nenhum, funciona super bem... (N16, p. 2) Tanto o PISA como o ENEM, né, o ENEM eu também usei, fiz toda a composição dos anos e o censo escolar... (N16, p. 5)
Consideramos que, ao mesmo tempo em que são obtidas bases de alta
capacidade de fontes oficiais, os pesquisadores passam a também gerar
instrumentos de pesquisa na internet para a obtenção de grande número de dados a
partir de um contingente significativo de respostas, tal como o questionário online
gerado para a pesquisa do entrevistado N10 que abrangia sujeitos de diversas
universidades italianas e do questionário distribuído a docentes pela entrevistada
N12.
Este processo se torna viável frente ao que antes demandaria um alto custo
de aplicação via questionários impressos e entrevistas presenciais, a exemplo de
amostras que se encontram espalhadas por todo um país. Existem diversos sites
atualmente que ajudam a gerar questionários com o link direto para o formulário a
ser preenchido pelo respondente.
Uma curiosidade na geração de questionário foi relatada pela entrevistada
N7, que durante seu doutorado, prestando serviços de pesquisa a um cliente
externo através do centro de pesquisas que trabalhava, inseriu algumas questões
relativas à própria pesquisa que realizava. São artifícios criados na geração de
Análise dos dados coletados 335
dados acadêmicos utilizados quando o custo de realização da coleta de dados é
muito alto.
Quindi ho anzitutto su ministrato, fatto compilare un questionario, un questionario a gli insegnante, e questionario lo su ministrato online.. che non cartaceo, non spedito, ma è online, attraverso un software open source ho inserito questo questionario ho inviato a la mia mailing list, link per la compilazione e gli insegnante hanno compilato il questionario. (N5, p. 8)191 ti faccio la mia parte standard, da interessante sul quello che tu mi chiede, la (…) satisfaction, queli aspetti di apprendimento che tu mi chiede come committente di restituirti, dentro li una piccola parte vado un po’ altre, faccio del lavoro in più, diciamo, però mentre sto facendo una analisi raccolgo anche alcuni dati in più che interessano a me come ricerca perché penso che a tè comunque sono utile. (N7, p. 9)192 ho raccolto un po’ di esperienze, un centinaio di esperienze e io ho mandato i questionari… mandato i questionari, ho ricevuto i questionari ho aperto una casella di posta elettronica, apposta per le… per ricevere tutti questionari e io ho fatto un lavoro di analisi per ogni item, ho analizzato… una analisi statistica… (N12, p. 6)193
O único caso de limitação quanto à empiria online, inviabilizada, foi o
relato da entrevistada N15 que tinha como tema as relações sociais de crianças da
educação infantil, que evidentemente não deixam marcas próprias na internet por
ainda não a acessarem e não terem autonomia no uso da escrita. Dessa forma, a
opção da entrevistada foi pelo diário de campo (observações) e pelo uso da
internet somente para obtenção de recursos acadêmicos.
até porque meu campo é infância e as crianças menores, especialmente, não tão ainda tão conectadas, até porque não escrevem, não leem e são mais supervisionadas né, de uma maneira geral. Difícil uma criança de 5 anos chegar no computador sozinha, ligar e fazer tudo sem ter pelo menos um adulto do lado
191 Trad. livre: “Então antes de tudo eu ministrei, fiz preencherem um questionário, um questionário para os professores, e o ministrei online... não em papel, não o enviei, mas é online, através de um programa open source eu inseri esse questionário e enviei a minha lista de e-mails, o link para o preenchimento e os professores preencheram o questionário.” 192 Trad. livre: “faço a minha parte padrão, de interesse sobre aquilo que você me perguntou, a satisfação, aqueles aspectos de aprendizagem que me perguntou como cliente para responder, e dentro de uma pequena parte faço um trabalho a mais, digamos, mas enquanto estou fazendo uma análise recolho também alguns dados a mais que interessam a mim como pesquisa porque penso que a você também são úteis.” 193 Trad. livre: “eu recolhi algumas experiências, uma centena de experiências e mandei os questionários... mandei os questionários, recebi os questionários pela caixa de e-mails que abri, para... para receber todos os questionários e fiz um trabalho de análise para cada item, analisei... uma análise estatística...”
Análise dos dados coletados 336
ligando o computador pra ela né? Então em termo de pesquisas nem tanto... (N15, p. 13)
De maneira geral, posso dizer que certos tipos de pesquisas realizadas
pelos entrevistados com a ajuda da internet seriam inviáveis em períodos pré-
internet, simplesmente pelos altos custos envolvidos, uma vez que um doutorando
em ciências humanas raramente tem um patrocínio externo, e também pela
abrangência de sujeitos ou documentos necessários para compor a empiria. Dessa
forma, a internet muda a própria lógica de abrangência das pesquisas e coloca a
disposição um enorme campo empírico gerado espontaneamente com registros de
milhões de pessoas que deixam suas marcas nos bancos de dados dos websites da
Web 2.0.
A representação que uma fonte tem (tradicional ou não) e a época em que
foram escritas também foram mais um fator de análise quanto á realização de um
trabalho acadêmico. Expressaram-se por dois fatores: a tradição e a origem no
tempo.
Gráfico 39 - Variável “32. Tradição (Durabilidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Tradicional
1. Predomínio de fontes formais ou estabelecidas como livros e revistas científicas como referências. 2. A fonte tradicional também pode estar em formato digital. 3. Escolha baseada na tradição e antiguidade do suporte.
(2) Não tradicional
1. Predomínio de fontes informais ou emergentes como blogs, wikis, foruns, comunidades virtuais, redes sociais, como referências. 2. Escolha baseada na temática, na empiria ou na necessidade de dados.
(3) Mista
1. Uso de fontes tradicionais e fontes não tradicionais em proporção semelhante.
Tabela 34 - Descrição dos itens da Variável 32.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
(1) Tradicional
(2) Não tradicional
(3) Mista
32. Tradição (Durabilidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 337
Gráfico 40 - Variável “33. Origem no tempo (Antiguidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Utilização de Fontes muito antigas (antes do séc. XX)
1. Fontes de caráter histórico impressas ou digitalizadas. 2. Consulta aos “museus” digitais. 3. Materiais editados antes do séc XX.
(2) Utilização de Fontes contemporâneas (séc. XX)
1. Fontes produzidas no séc. XX no suporte impresso ou digitalizadas. 2. Poucas fontes teriam sido editadas originalmente no formato digital (anos 90). 3. Muitas fontes já teriam sido digitalizadas para buscas na internet e download.
(3) Utilização de Fontes contemporâneas recentes (séc. XXI)
1. Fontes produzidas na última década e editadas em formato impresso e digital ou somente em formato digital. 2. Aqui se localizam os entrevistados que afirmaram utilizar praticamente todo material em formato digital.
Tabela 35 - Descrição dos itens da Variável 33.
A maioria usou fontes contemporâneas ou muito contemporâneas,
justificadas pelo tema ser recente ou ter a maioria dos materiais publicados ao
longo do século XX e início do XXI. Sendo que as fontes mais antigas, antes do
início do século XX, foram relatadas por pesquisadores que trabalharam com
temas de história da educação e com isso reuniram documentos para dar suporte
as suas teses, como é o caso N11.
poi per la mia ricerca era abbastanza importante anche la, l’aggiornamento, quindi erano tutti testi molto recenti perché poi sui questi tematiche non è che trovavi cose molto storiche e quindi io ho cercato insomma di, di seguire un po’ questo criterio… (N11, p. 7)194
Interessante notar que mesmo assim, parte das fontes obtidas pelas
pesquisadoras N3 e N13 veio de acervos de imagens e livros já digitalizados e
disponíveis na internet, tendência provável de conversão de acervos antes
localmente restritos para acesso agora universalizado. Exemplo é o projeto
Google Books que pretende digitalizar grande parte dos livros presentes hoje
194 Trad. livre: “então para a minha pesquisa era muito importante também a, a atualização, então eram todos textos muito recentes porque sobre esta temática não é que se encontram coisas históricas e então eu procurei, enfim, de seguir um pouco este critério...”
0 2 4 6 8 10 12
(1) Utilização de Fontes muito antigas (antes doséc. XX)
(2) Utilização de Fontes contemporâneas (séc. XX)
(3) Utilização de Fontes contemporâneas recentes(séc. XXI)
33. Origem no tempo (Antiguidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 338
localmente em bibliotecas, incluindo os acervos históricos e que permite um
rápido acesso via palavras-chave.
porque como eu trabalho com fotografia, por exemplo, no [INSTITUIÇÃO] tem um acervo enorme digitalizado, então eu tive que buscar, além das minhas referências físicas, né, eu tive que buscar arquivos digitais, até pra complementar algumas referências que eu colocava na Tese. (p. 8) (N3, p. 10) Teve livro que eu peguei na década de... dos anos.. do séc. XIX ao séc. XX. Teve livros do séc. XIX que eu baixei, porque estavam disponíveis.. (N13, p. 8) mas eles disponibilizam a digitalização, lá eu peguei a digitalização desse livro, de livro do Legandre, peguei... Lacroa, que são livros didáticos franceses de 1700... tem alguma coisa assim... peguei o livro de.. é... Volf, que é um autor, que é um autor alemão também, digitalizado. (N13, p. 19)
Nenhum dos entrevistados relatou o acesso predominante a fontes não
tradicionais, embora nove as acessem junto com as tradicionais, o que não
surpreende, visto que a atividade acadêmica pressupõe um diálogo mais estreito
com os pares e seus textos tradicionais, formais, visando manter a rede de relações
com os pesquisadores do campo temático investigado. A entrevistada N16 deixa
clara a opção pelos textos acadêmicos tradicionais quando realiza sua revisão
bibliográfica, e o depoimento do entrevistado N8 evidencia a opção dele pelos
textos que possuem uma pesquisa científica, nos moldes acadêmicos, por trás do
que é afirmado.
quando eu fiz a minha revisão bibliográfica, é... eu fiz, eu sempre faço assim, eu acho que é importante, tanto na dissertação como na tese eu fui muito pela Capes, as teses de mestrado, porque acho que as teses você tem acesso a estudos aprofundados né, que... sobre assuntos específicos, coisa que você não tem nos artigos... os artigos são muito condensados, você não sabe como é que a pessoa fez, como é que ela escolheu os dados, como é que ela... (N16, p. 5)
fui muito pelo lado acadêmico mesmo, até porque meu tema era muito acadêmico né? [...] era megaacadêmico né? Megaescolar... eu fiz uma coisa muito... pedagógica (risos), sempre pelo viés sociológico, mas muito pedagógica, né.. não fiz cinema, não fiz não... não, não... todos os sites muito.. muito convencionais... (N16, p. 7)
A entrevistada N1 relatou o uso de sites escritos coletivamente, como a
Wikipédia, mas mesmo assim como um ponto de partida para a consulta das
fontes tradicionais a que o site faz referência; ao mesmo tempo em seu
depoimento disse não acessar os blogs para pesquisa. Já a entrevistada N6 relatou
Análise dos dados coletados 339
o uso de um site não acadêmico, voltado para informações de ajuda a jovens, para
a obtenção da lista de universidades da Europa, fonte que não necessariamente fez
parte de sua bibliografia, mas lhe forneceu pistas para ir à procura de documentos
oficiais.
Hoje em dia eu consulto.. ela é.. é.. engraçado que uma vez eu vi uma colega falando isso... é o site que eu vou lá e investigo no conceito.. eu vou lá e investigo.. é um ponto de partida para outros sites, que as vezes ele dá sugestões de outros sites que eu posso investigar e aprofundar a minha leitura e o meu entendimento... (N1, p. 14) Informa Giovani è un sito dedicato ai giovani che vogliono studiare a l’estero.. c’è una parte proprio dedicata a lo studio a l’estero dove si dice che fare elenco di università e dove visitato anche quello. (N6, p. 11)195
Vejamos agora a materialidade das fontes consultadas. Eram escritos,
digitalizados ou os dois? Qual era a escolha predominate dentre os entrevistados?
Gráfico 41 - Variável “34. Suporte (Materialidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Impresso
1. Predomínio de fontes originalmente já impressas. 2. Ida a bibliotecas para consulta a livros e revistas científicas.
(2) Digital
1. Predomínio de fontes originalmente digitais. 2. Pouca ou nenhuma impressão dessas fontes. 3. A biblioteca físicas não teria materiais sobre o tema pesquisado.
(3) Digital impresso 1. Predomínio do uso de fontes digitais, porém impressas pelo pesquisador. (4) Misto 1. Uso de fontes digitais e impressas de modo equilibrado.
Tabela 36 - Descrição dos itens da Variável 34.
195 Trad. livre: “Informa Giovani é um site dedicado aos jovens que desejam estudar no exterior... existe uma parte dedicada ao estudo no exterior onde se diz o elenco de universidades e onde também as visitar.”
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
(1) Impresso
(2) Digital
(3) Digital impresso
(4) Misto
34. Suporte (Materialidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 340
Gráfico 42 - Variável “35. Posse dos materiais (Materialidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Maioria dos materiais comprados / xeroxados / baixados
1. Aquisição em livraria. 2. Aquisição via fotocópia. 3. Aquisição via download na internet.
(2) Maioria dos materiais emprestados
1. Acesso e uso na biblioteca de instituição. 2. Acesso via empréstimo de materiais da biblioteca da universidade. 3. Acesso e uso de materiais do orientador / professores.
(3) Equilíbrio na posse dos materiais
Tabela 37 - Descrição dos itens da Variável 35.
O uso de suportes vem sofrendo uma hibridização, embora possa
predominar tanto o impresso quanto o digital, ou mesmo o digital impresso, mais
da metade dos entrevistados (nove) relataram um uso equilibrado, misto, de
suportes, visto que uma parte significativa dos materiais ainda se encontra
exclusivamente em suporte impresso ou parte dos entrevistados se sentem mais a
vontade imprimindo parte dos materiais em formato digital.
O uso de e-books é uma tendência emergente e, por isso mesmo, não é
predominante no discurso dos entrevistados. Entretanto, o caso mais acentuado a
esse respeito é o N10, afirmando ter noventa porcento dos materiais já em suporte
digital e estar fazendo uso de e-books sem maiores problemas. Porém ele é um
caso de exceção, de vanguarda, sendo um informata com nível técnico avançado e
trabalhando diretamente com as problemáticas das tecnologias na educação,
precisando para isso se manter sempre atualizado em tecnologias digitais
emergentes.
Os entrevistados N16 e N8 relataram o uso de leitores de e-books, mas sem
assumir um papel central em suas consultas a fontes acadêmicas. O Google Books
é um modelo alternativo de leitura em tela de livros, relatado por alguns como
instrumento de consulta a livros, mas sem depender do uso de tablets.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
(1) Maioria dos materiais comprados / xeroxados /baixados
(2) Maioria dos materiais emprestados
(3) Equilíbrio na posse dos materiais
35. Posse dos materiais (Materialidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 341
per andare a cercare miei libri o andare leggermeli perché fondamentalmente li cerco usando anche libri testuale già digitalizzati.. usando dal Google Books a i sistemi degli università americane che puoi accedere direttamente ai dati o ai libri già in digitale, per consultazione riesci a farlo, quindi usando questi sistemi qua… (N10, p. 6)196
Somente uma entrevistada (N15) relatou abertamente o uso de materiais
impressos digitalizados e disponibilizados sem autorização em repositórios online,
como livros escaneados, uma prática que vem se ampliando e é paralela aos
processos oficiais de digitalização de obras, semelhante à prática de fotocópias de
obras impressas nas universidades. Mesmo assim relata que servem para verificar
se comprará ou não a versão em papel.
eu boto no Google “baixar tal” e boto o título, se tiver eu baixo... (N15, p. 6) Se bem que aí eu preciso ser franca, no livro, eu ainda gosto bastante do livro de papel porque eu rabisco muito o que eu tou lendo, e o livro da internet é muito mais pra eu olhar e ver em que medida eu vou querer o livro de papel ou não... (N15, p. 6)
A internet em alguns casos pode até potencializar a busca e aquisição de
materiais impressos ao invés de inibir o uso, sendo exemplo os livros adquiridos
em sebos online ou livrarias com grandes acervos como Amazon, Estante Virtual
(sebos) e Cultura, permitindo inclusive a visualização prévia de partes ou da
totalidade do livro. Os documentos baixados na rede, cada vez em maior
quantidade e diversidade, também podem aumentar a quantidade de impressos
caso o pesquisador prefira ter parte ou a totalidade deles em suporte impresso.
o que me interessava e jogava na internet e daquele que já tava na internet eu via que tinha mais coisa ainda, aí eu ia buscar. Quando aquele da internet me voltava pro livro, então eu anotava e ia buscar o livro, mas até isso usando a internet... que eu compro muito livro na Estante Virtual.. (N3, p. 9-10) ho comprato anche dei libri… é… online.. é… perché erano in lingua straniera e quindi non riuscivo a ricuperare facilmente (N11, p. 7)197
196 Trad. livre: “para procurar os meus livros ou os ler porque fundamentalmente os procuro usando também livros textuais já digitalizados... usando o Google Books e os sistemas das universidades americanas que pode acessar diretamente os dados ou os livros já em formato digital, para consulta pode faze-lo, então usando estes sistemas...” 197 Trad. livre: “eu comprei também os livros... é... online.. é.. porque eram em língua estrangeira e então não poderia os obter facilmente.”
Análise dos dados coletados 342
Por outro lado, vem diminuindo rapidamente a edição em suporte impresso
de revistas científicas e anais de eventos, que migram para sites de conteúdo
aberto ou integram-se nos acervos disponibilizados pelas bibliotecas
universitárias, fato este relatado pelo entrevistado N10 que utilizou na quase
totalidade documentos em formato digital e em língua inglesa para investigar o
seu tema de pesquisa. Também se mostrou consolidada a busca de teses e
dissertações em bases de dados online nas universidades brasileiras, não sendo
mais necessária a aquisição de cópia impressa.
ou então eu olho aquele livro e vejo se eu consigo comprar, porque também hoje em dia a gente pode comprar livros de outros lugares, facilita pra caramba né... é... não só por livrarias daqui.. (N2, p. 19) que eu compro muito livro na Estante Virtual.. Muito, muito, muito mesmo. Eu não vou mentir pra você não, já comprei uns 250 livros.. (N3, p. 10) porque eu usei alguns teóricos que você não tem como pegar no Scielo.. o Vygotsky, o Bakhtin, o Sacristã, Foucault, o Certeau, e aí você tem que ir aos livros, não tem conversa né? (N15, p. 5) aqui eu tenho assinatura.. é... online de revistas francesas... então ela é.. é... ainda existe a revista impressa, mas eu não tenho mais ela impressa... demorava.. é.. mais de um mês pra chegar a revista aqui. (N14, p. 17) Quando potevo in internet, perché è più comodo… e se non, biblioteca o libreria per li acquisti. Però diciamo, a parte i libri, diciamo così, i testi classici, quali per la teoria che compravo o prendevo in uma affitto, tutto resto era sui internet, perché era materiali appunto in continua evoluzione, non… (N6, p. 7)198 biblioteca ne senso di quello tutto che era cartaceo: libri, articoli specifiche, riviste… questo si, specifiche legata a il mio tema è stato appunto.. io fatto un continuo a passare dal una cosa all’altra (N7, p. 8)199 o meglio esistano solo in digitale… quindi, se poi voglio stamparlo su carta è un conto… ma il fatto che non esista sulla carta… c’erano un paio di testi io ho comprati negli Stati Uniti e mi sono fati mandare o però io trovo già il testo in digitale…carta in formato pdf o pab però non è cosi standard… word standard così… (N10, p. 12)200
198 Trad. livre: “Quando podia era na internet, porque é mais comodo... e caso contrário, na biblioteca ou livraria para a aquisição. Mas digamos, para além dos livros, digamos assim, os textos clássicos, aqueles para a teoria que comprava ou pegava emprestado, todo resto era na internet, porque eram materiais justamente em contínua evolução...” 199 Trad. livre: “biblioteca no sentido de que aquilo tudo era em papel: livros, artigos específicos, revistas... estes sim, específicos ligados ao meu tema... eu fiz um contínuo caminho de uma coisa a outra.” 200 Trad. livre: “ou melhor, existiam somente em digital... então, se quero imprimi-los em papel é uma coisa... mas o fato que não existe em papel.. existiram alguns textos que eu comprei nos
Análise dos dados coletados 343
A circularidade entre os suportes e o uso das referências para se chegar a
novos materiais facilitam esse acúmulo tanto em formato digital quanto impresso,
dependendo da disponibilidade da fonte e do modo de leitura adotado pelo
doutorando, seja na tela ou no papel.
O computador funciona como aglutinador da escrita é o ponto principal de
convergência das anotações, sendo que o material impresso vai sendo depurado e
citado através da redigitação, e os materiais já no formato digital podem ser
analisados diretamente em tela ou impressos para uma leitura separada. Alguns
entrevistados (N5, N9 e N14) relatam que vão armazenando suas anotações em
fichamentos no computador, devolvendo os livros para a biblioteca.
Sim, fiz muito esse trabalho de copy/cola... algumas obras permitiam o copy/cola, outras não né. Aí eu imprimia e digitava, né? Tem obras que você pode fazer esse trabalho de copiar e colar, algumas impedem esse processo... (N1, p. 4) cada vez mais eu vou transferindo pro computador aquilo que eu quero guardar e eu não vou imprimindo tudo.. (N4, p. 8) tá meio a meio, impresso e digital... tá meio a meio, tem artigo que eu nem imprimo, eu já leio digitalizado, já faço alguma anotação já também... usando o computador direto. E tem material que às vezes a gente recebe e já recebe impresso, alguns eu imprimo quando são mais complexos, eu ainda imprimo... e... (N13, p. 23) ... você vê, a Anped, aqueles três volumes lá (ele aponta para a estante dele na sala) de uma única... são os anais... aqueles azuis lá do canto. São uma única Anped. [...] mesmo não indo na Anped, baixa aqui, eu sei todos os trabalhos que tão lá e eu posso agrupar do jeito que eu quero, tem várias entradas de... pra gente fazer filtros mais avançados... (N14, p. 25) e muito livro, muito e-book, tudo que você consegue baixar é bom de baixar né? (N15, p. 5) poi se ho bisogno posso andare a ricuperare il libro, ma se non c’è lo perché (...) la biblioteca e lo ho restituito comunque la mia scheda in cui ho proprio anche a volte ha ricopiato le parte del testo e le ho organizzate per temi o ho fatto delle annotazione delle riflessione personale di modo che poi le riporto all’interno del capitolo... (N5, p. 13)201
Estados Unidos e me enviaram, ou então encontro o texto já em digital... em formato pdf ou pab mas não é um padrão... padrão word assim...” 201 Trad. livre: “Depois se eu preciso posso andar a recuperar o livro, mas se não o tenho porque (...) a biblioteca e eu retorno assim à minha ficha de anotações na qual eu também por vezes copiei parte do texto e organizei por temas e fiz as anotações das reflexões pessoais de modo que depois levo para dentro do capítulo...”
Análise dos dados coletados 344
quindi sia vi fossero, non so, puntiamo, citazione o sintesi cercavo di non perdere di viste la fonte perché qua il computer che rimaneva… il libro se poi io lo lasciavo in biblioteca a Ginevrapoi il libro non lo ribeccavo più, quindi cercavo di essere più… (N9, p. 8)202
Dois casos extremos, como o uso intenso de duas bibliotecas físicas por
um dos pesquisadores (N9) e o uso quase exclusivo de arquivos digitais por outra
pesquisadora que não acessou nada na biblioteca física (N11) mostram que ainda
pode existir uma radicalização de acesso a fontes e uma ideia de contraposição
dos suportes, vistos como concorrentes ou não complementares.
Mesmo assim, tanto o entrevistado N9 quanto a entrevistada N11
utilizaram os dois tipos de suportes, sendo que um deles predominou quase
absolutamente sobre o outro. Ambos justificaram a escolha pelo tipo de temática
trabalhada na tese, afirmando que condicionava o local de busca e os tipos de
fontes a serem buscadas.
Por outro lado, o caso N10 também justificou o uso da maioria das fontes
em formato digital pela própria disponibilidade das mesmas, quase todas
disponíveis para download ou compra diretamente nesse formato, embora tenha
procurado e adquirido em menor número fontes no suporte impresso.
Perché non, non riuscivo a trovare, poi secondo me dipende molto dal tema. Però ad esempio tanti articoli che a me interessavano erano solo online, consultabile online, quindi non c’era… (N11, p. 7)203
Apesar dos três casos acima, no geral o que a empiria mostra é a
convivência em maior ou menor grau dos suportes, ao menos por enquanto, visto
que o processo de digitalização de materiais impressos e o surgimento de
equipamentos eletrônicos específicos para a leitura (tablets) são ocorrências muito
recentes na “ecologia dos suportes”.
A seguir nos perguntamos sobre quais tipos de fontes, se acadêmica
tradicional ou emergente, governamental, midiática, humana ou de comunicação
pessoal, foram mais usada no grupo estudado.
202 Trad. livre: “então se havia, não sei, vejamos, citações ou sínteses procurava não perder de vista a fonte porque aqui o computador que restava... o livro se depois eu o deixava na biblioteca de Genebra então o livro não o recuperava mais, então procurava ser mais...” 203 Trad. livre: “porque não, não podia encontrar, pois no meu ponto de vista depende muito do tema. Mas por exemplo, tantos artigos que me interessavam estavam somente na internet, consultáveis online, então não tinha...”
Análise dos dados coletados 345
Gráfico 43 - Variável “37. Tipo utilizados”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Fontes acadêmicas tradicionais (conteúdos)
1. Livraria física para compra e busca de livros. 2. Banco físico de imagens. 3. Livros na biblioteca física das universidades. 4. Teses e dissertações na biblioteca física dasuniversidades. 5. Artigos de revistas impressas e Anais de eventos presentes em bibliotecas universitárias.
(2) Fontes acadêmicas emergentes (conteúdos)
1. Sites de livrarias (a. Amazon. b. Cultura.) 2. Site de Repositório online de teses e dissertações. (a. USP b. Unicamp c. PUC-Rio (Maxwell)) 3. Site de Repositório online de revistas científicas. (a. Scielo b. OPAC c. First Monday.) 4. Site de busca de acervo da Biblioteca da universidade. 5. Sites de grupos de pesquisa universitários. 6. Sites com Anais de eventos. 7. Materiais acadêmicos antigos na biblioteca e digitalizados. 8. Download de livros escaneados em sites de compartilhamento
(3) Fontes midiáticas (conteúdos)
1. Jornais e revistas. 2. Sites de jornais e revistas. 3. Peças publicitárias. 4. Sites de download de filmes e músicas
(4) Fontes governamentais (conteúdos)
1. Sites ou documentos governamentais. (a. MEC. b. CAPES. c. Lattes. d. Domínio público. e. Secretaria de Educação.) 2. Sites ou documentos de instituições de pesquisa. (a. INEP. b. PISA. c. ABED. d. ANPED. e. Censis. f. Indire. g. Esfol? h. MIT. i. Banco Mundial.) 3. Sites ou documentos de instituições em geral. (a. Federações. b. Corpo de bombeiros. c. Amigos da escola.)
(5) Fontes emergentes (conteúdos)
1. Motores de busca (a. Google, Altavista. b. Imagens, Vídeos, Textos: Goole imagens e Google books.) 2. Motores de busca automatizados (a. Spybot b. RSS) 3. Sites de autoria coletiva (a. Wikis.) 4. Sites de autoria pessoal (a. Blogs.) 5. Redes de relacionamento. (a. Orkut, Facebook.) 6. Redes de relacionamento segmentadas (a. aNobii.) 7. Comunidades virtuais. (a. Fóruns atuais e antigos. b. Newsgroups. c. Classi 2.0.) 8. Ambientes virtuais de aprendizagem. (a. Moodle.) 9. Newsletter 10. Vídeos online.
(6) Fontes humanas (pessoas)
1. Professores e pesquisadores acadêmicos especialistas no tema. 2. Colegas do grupo de pesquisa próximo. 3. Colegas de grupos de pesquisas em outras universidades. 4. Colegas de disciplina que cursou. 5. Pessoas encontradas em eventos acadêmicos a. Congressos, encontros, simpósios.
(7) Fontes empíricas (pessoas)
1. Conversa com sujeitos da própria pesquisa. ( a. Presencial. b. Por e-mail. c. Online em Skype e MSN.)
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
(1) Fontes acadêmicas tradicionais (conteúdos)
(2) Fontes acadêmicas emergentes (conteúdos)
(3) Fontes midiáticas (conteúdos)
(4) Fontes governamentais (conteúdos)
(5) Fontes emergentes (conteúdos)
(6) Fontes humanas (pessoas)
(7) Fontes empíricas (pessoas)
(8) Fontes cinzas (conteúdos)
37. Tipos utilizados
Total BR IT
Análise dos dados coletados 346
2. Aplicação de questionário online ou presencial. 3. Realização de grupo focal online ou presencial. 4. Filmagem dos sujeitos. 5. Observação de campo.
(8) Fontes cinzas (conteúdos)
1. Relatórios de discussões. 2. Artigos de pesquisas em andamento.
Tabela 38 - Descrição dos itens da Variável 37.
Em maior ou menor grau todos acabaram por utilizar em algum momento
fontes acadêmicas emergentes, mesmo que fossem buscas de livros e artigos via
palavras-chave online no site da biblioteca para acesso posterior ao impresso. No
caso da entrevistada N4, ela utilizou praticamente só os documentos obtidos em
bibliotecas físicas, mas os encontrava antes através da busca disponibilizada
online, e no caso do entrevistado N9 ele acessava alguns artigos científicos online
para complementar o uso dos poucos livros impressos que consultou como fonte
principal.
Aí eu lembro que, por exemplo, Biblioteca de Lisboa, estava lá em Portugal.. mas antes de ir à biblioteca eu fazia pesquisa em casa. Entrava no site da biblioteca, no acervo e fazia em casa uma pesquisa intensa, intensa desse acervo e ia passando para o Word tudo que me interessava e ia à biblioteca depois. (N4, p. 4) o li prendevo in biblioteca, però sai benne che qua in università per andare in biblioteca deve fare la richiesta in rete. (N6, p. 6)204 queste le fonti principale, poi in realtà ho consultato biblioteche anche di altri università ma questi sono di quattro o cinque fonti principale che me andato credo il novanta percento di materiale… non no fatto grande, in realtà sono stato all’estero ma, non ho.. non ho fatto grandi, come dire? Mi sono basato su pochi, pochi fonti, pochi soggetti, però molto significative, veramente io a Ginevra ho trovato quasi tutto (N9, p. 5)205
A internet entra como auxílio no acesso a catálogos ou diretamente aos
arquivos com os conteúdos digitalizados, que ficam situados em inúmeras
plataformas e websites, nos quais se destacam aqueles que aglutinam grande
quantidade de conteúdos produzidos na academia, como o Scielo e o catálogo de
teses e dissertações da CAPES, comum a grande parte dos pesquisadores da área
de Educação no Brasil. Os sites das universidades, com seus catálogos próprios,
204 Trad. livre: “Eu os obtia na biblioteca, mas você sabe bem que aqui na universidade para ir na biblioteca deve fazer um pedido pela internet.” 205 Trad. livre: “estas são as fontes principais, então na realidade consultei bibliotecas de outras universidades, mas estes são de quatro ou cinco fontes principais que fora, acredito, noventa porcento do material... não fiz grande, na realidade estive no exterior mas, não.. não fiz grande, como dizer? Me baseei em poucas, poucas fontes, poucos sujeitos, mas muito significativos, com certeza em Genebra encontrei quase tudo.”
Análise dos dados coletados 347
os de eventos e dos grupos de pesquisa, um pouco mais restritos que os catálogos
gerais, complementam as buscas dos doutorandos por materiais acadêmicos.
Muito Scielo.. quer dizer, até por indicação dos professores na época a gente percebeu que o Scielo era um centro ali aglutinador especializado de informações de qualidade, então o Scielo foi sempre muito útil pra mim... depois virou objeto de desejo de publicação e agora é onde tem algumas. Então, eu que assim... em termos de artigos você tem ali o grosso do que se está se produzindo atualmente né... pelo menos... quer dizer, com certeza na nossa área de Educação. (N15, p. 4) desses outros grupos a gente acessava e acessava inclusive a dissertação, as teses, além de estar na biblioteca da universidade, tava também no site do grupo de pesquisa e você podia ver... (N15, p. 7) Então indo pela Capes, Google, sem dúvida Google, mas Scielo também, muito Scielo, muito Scielo... muito, é, as bibliotecas das universidades, né... muitas bibliotecas da universidade, então você vai na USP, na biblioteca da USP e você, né? Tem acesso às teses, tem acesso à um monte de coisa que talvez pela Capes, fica... não tem tudo, eu não sei nem se a minha tá na Capes, eu não sei como é que é esse percurso, como é que a minha tese chega até a Capes? Nem sei como é que é, né, mas tá no Lambda do Maxwell, Lambda né? Mas... É, então nas universidades... (p. 6)
Além dos sites acadêmicos existem os sites de grandes livrarias que
permitem a pesquisa e a compra direta com entrega via correio, facilitando as
buscas e levantamentos bibliográficos.
eu tinha que ir na biblioteca direto pra conseguir as revistas... aquelas revistas determinadas, periódicos e tal.. aí tava emprestado, e só ia devolver depois que eu já tinha que ter lido pra fazer o trabalho.. então era uma dificuldade... quando foi na época do doutorado.. nós temos agora o Scielo, fora outros né.. aí todas as revistas, Educação e sociedade, Cadernos de Pesquisa... todas as que eu procurava na biblioteca e que era uma loucura né, assim... fácil, agora a gente abre ali e tá tudo né... você não precisa sair da.. (N2, p. 8)
A habilidade do pesquisador está em conseguir acessar espaços online que
sejam pertinentes para a temática de pesquisa, websites que aglutinem conteúdos
relevantes para serem baixados ou atualizar o pesquisador sobre os novos
lançamentos, entrando nessa modalidade os sites de associações de pesquisa
(ANPED, ABED), os anais de congressos realizados, os grupos de pesquisa
universitários, as livrarias, assim como a grande mídia jornalística.
A entrevistada N7 narra que a internet possibilitou inclusive o acesso a
fontes em desenvolvimento, não oficializadas na comunicação formal acadêmica
Análise dos dados coletados 348
através de artigos em revistas científicas, mas que mesmo assim informam sobre
pesquisas em desenvolvimento, as chamadas “fontes cinzas”, incompletas. O
entrevistado N10 relatou o acesso a vídeos de palestras disponíveis na internet,
indicando a tendência de ampliação do acesso online até mesmo para conferências
e eventos acadêmicos, um tipo de fonte cinza, só que aberta para um público
geral, além do presencial, através do formato de áudio e vídeo.
A entrevistada N1 relata essa habilidade (de mobilizar diferentes tipos de
fontes) em ação, apelidada por ela de “garimpagem de material”, se destacando
em seu perfil a circularidade entre os diferentes suportes e formatos:
eu tive que naturalmente.. é... pesquisar em... eu usei jornais, revistas, cadernos de informática de jornais, eu utilizei também livros naturalmente, consultei alguns livros... participei muito de congressos assim para poder me inteirar sobre trabalhos.. [...] a internet foi utilizada também como um ambiente pra pesquisa... a biblioteca digital né, que ela disponibiliza, a partir dos sites, eu procurei consultar alguns desses sites... Eu usei o Scielo, eu usei Wikipédia pra consulta também, a Wikipédia né... eu usei site da ABED, site... alguns portais também que eu não estou me lembrando agora os nomes... é... consultei Domínio Público também... (N1, p. 3) Nessa época eu conheci sites super interessantes pra qualquer área como a Galica que é da França, da Biblioteca Nacional da França que disponibiliza livros, documentos assim, em todas as áreas, um site super rico. (N13, p. 8)
Existem hoje conteúdos que só podem ser encontrados online, produzidos
e disponibilizados exclusivamente em formato digital, incluindo livros, artigos
científicos e veículos midiáticos (jornais, revistas) sem versão impressa, sejam
nacionais ou estrangeiros. Esse fato “obriga” o pesquisador a acessar essa
modalidade de fontes, tal como relatado pela entrevistada N4 quando diz que
atualmente está indo ao Scielo consultar artigos na área de Educação, pois de
outro modo não conseguiria acesso aos mesmos, visto que são revistas não mais
editadas em suporte impresso.
então é novo pra mim, buscar o texto e trabalhar com textos que eu tenho acesso só a partir da internet.. (N4, p. 17)
Surpreende que as fontes humanas, professores e colegas de pesquisa, por
exemplo, tenham superado as fontes oficiais governamentais no relato dos
pesquisadores, com oito ocorrências.
Análise dos dados coletados 349
Esta tendência está de acordo com a revisão de estudos empíricos
(Capítulo 3) na qual vimos que as pessoas especialistas em um tema encurtam o
caminho de filtro e seleção dos pesquisadores mais novatos, indicando as fontes
centrais em um campo de saber, já mapeadas a partir de leituras e avaliações
prévias, seja em ambientes próximos como grupos de pesquisa e com professores
em salas de aula, em encontros mais formais como congressos e eventos ou dentro
das bibliotecas com os bibliotecários especializados em buscar referências.
Até certo ponto, podemos incluir as comunidades virtuais como fontes
humanas que oferecem dicas a respeito de um assunto desejado. A entrevistada
N11 narra o acesso a sites com fóruns sobre publicações em que se trocavam
informações a respeito de obras lidas, a respeito dos temas tratados. Não chegam a
ser fontes cinzas porque não envolvem pesquisas, mas ajudam na avaliação de
determinadas fontes bibliográficas. A entrevistada N12, além de participar de uma
plataforma de resenhas de livros chamada aNobii, acessava diretamente pessoas
que dirigiam comunidades virtuais para obter referências a respeito do tema de
pesquisa dela, os blogs, assim como professores, jornalistas e pesquisadores que
mantinham sites a respeito da temática.
No caso do entrevistado N9, a ajuda de um professor que conhecia bem a
literatura sobre avaliação em língua francesa foi fundamental para evitar todo um
retrabalho de busca de fontes, além de outros docentes que o ajudaram ao longo
do doutorado, indicando livros fundamentais para a pesquisa dele.
avevo questo professore… in realtà pensa che mi faceva un po’ da mentore, da… mi dava una grossa mano in ricerca bibliografica, professore che stava a Grenoble, ma poi i libri andava a cercarlia Ginevra perché la li trovavo tutti… (N9, p. 5)206 praticamente una… una piattaforma, un social network in cui ogni uno… é… carica sugli scaffali la propria libreria e si discute sui libri… é…ti avvicinano a delle persone che hanno gli stessi gusti.. é… in fatto di letture, e quindi anche li avevo… avevo conosciuto delle persone che erano interessati al blog perché appunto avendo messo nella loro libreria gli stessi testi che avevo messo io… (N12, p. 14)207
206 Trad. livre: “tinha este professor... na realidade penso que me fazia um pouco o papel de mentor, de... me dava uma grande ajuda na pesquisa bibliográfica, professor que estaba em Grenoble, mas então os livros eu ia procurar em Genebra porque lá eu encontrava tudo...” 207 Trad. livre: “praticamente uma... uma plataforma, uma rede social na qual cada um... é... coloca nas estantes a própria livraria e se discute os livros... é... se aproximando das pessoas que possuem os mesmos gostos... é.. de leitura, e também tinha ali... eu conheci pessoas que eram interessadas
Análise dos dados coletados 350
O ambiente de aula universitária serve também para a obtenção de fontes a
partir da bibliografia indicada e discutida pelos professores em disciplinas de pós-
graduação.
o que me ajudou muito foi justamente todo o processo assim do doutorado, as disciplinas que eu cursei, as sugestões dos professores, dos colegas de trabalho, o grupo de pesquisa que eu trabalhava né, logo depois que eu entrei no doutorado.. [...] acho que grande parte das obras que eu consegui consultar e foram bastante valiosas no meu trabalho.. eu consegui a partir das interlocuções.. é.. do contato com colegas de trabalho, de estudo né.. (N1, p. 5)
Altra cosa, seguivo a bastanza il discorso della convegnistica, c’è convegni specifiche sul questi temi, quindi dove potevo, riuscivo per seguivo poi convegno in presenza, dove invece erano convegni vecchi commettevano a disposizione tutti i paper presentati durante convegni, quindi andavo sui convegni a cercare le evento quindi, o la persona perché è l’esperto di, o centro di ricerca perché, oppure eventi e li convegni… (N7, p. 7)208
A consulta a fontes humanas, especialistas, bibliotecários, a anais de
congressos e outros tipos de “catálogos” que permitam atalhos na busca de fontes
reflete o aumento da quantidade e diversidade de materiais existentes, e da
sensação do excesso e mesmo impotência para se abarcar tudo que é produzido
pelos pares, uma crise do modo de seleção.
Por um lado, a internet facilitou o acesso e a realização de buscas, gerando
como efeito a ampliação do volume de referências disponíveis, sendo que, por
outro lado, a capacidade de leitura do pesquisador permaneceu a mesma. Torna-se
então necessário o desenvolvimento de estratégias de seleção e organização. A
entrevistada N13 fala a respeito do modo como ia guardando os links dos sites que
ia visitanto, para não se perder, e como ia refinando as palavras-chave durante a
busca de um determinado tema.
e uma procura intensiva, e tem que ser organizada também, porque aí eu criei uma página e já ia vendo, botando alguns links porque acaba que é muita coisa e
em blogs precisamente porque tendo colocado na livraria deles os mesmos textos que eu havia colocado...” 208 Trad. livre: “Outra coisa, seguia bastante o discurso das conferências, existem conferências específicas sobre estes temas, então onde podia, conseguia seguir a conferência presencialmente, ou então as conferências antigas que tinham a disposição todos os trabalhos apresentados durante, então eu fui nas conferências, buscar o evento, ou a perssoa porque era especialista do, ou o centro de pesquisa porque, ou então eventos e as conferências.”
Análise dos dados coletados 351
eu já ia, é... botando links que eu já podia, porque eu já nem guardava mais, que tinha uns que eu já nem abria. (N13, p. 26) a gente vai testando palavras e aí a gente vai selecionando as que vão sendo mais adquadas, eu acho que é um processo assim... e aí a gente vai chegando onde a gente quer... (N13, p. 26)
A entrevistada N2 além de falar do desespero com o excesso de fontes,
comenta posteriormente que sempre fica em dúvida quando realiza buscas na
internet se realmente os primeiros itens exibidos nos resultados são os mais
importantes.
uma coisa que as vezes eu me sinto.. isso eu interessante, muitas vezes você deve sentir, também é o excesso de informação... as vezes eu me sinto meio sufocada, meio desesperada, que eu vejo tanta coisa, aí você quer abraçar tudo e não pode, isso é difícil de solucionar.. (N2, p. 24)
Diferente da tendência alarmista e “sufocante” do excesso de informações,
alguns entrevistados veem como positiva a presença de grande quantidade de
fontes e não se sentem inseguros.
Eu acho ótimo que tenha muita, eu tenho pena que seja tanta repetida, se você faz uma chamada no Google, por exemplo, você vai ter um milhão de coisas que vão te levar pro mesmo lugar. Então eu acho ótimo, quanto mais fontes melhor, não tenho problema... (p. 14)
Análise dos dados coletados 352
Quadro 19 - Condiderações resumitivas sobre os uso de fontes relatados pelos doutorandos.
Três tipos de busca quanto ao tempo
Busca Linear Limitada (minoria): divisão marcada das etapas.
Busca Circular Contínua (maioria): em cascata, indo de um suporte a outro e de um tipo de referência a outra.
Busca por Aprofundamento em Camadas: pode ocorrer nas duas modalidades anteriores, com aquisição de novos termos e veios de pesquisa.
Busca inicial menos focada, com o pesquisador se situando na rede de associações
É quando a busca está menos ajustada, focada, com o pesquisador se situando na rede de associações.
O movimento de busca reflete o quanto o pesquisador quer se aproximar ou se afastar de um determinado conjunto de autores e abordagens.
Buscas e a internet incorporada ao cotidiano do pesquisador
Mias usados: os motores de busca generalistas (Google, Altavista) e os portais especializados oferecidos pelas universidades e entidades de pesquisa, mesclando os dois tipos de consultas.
Tornou a checagem e expansão das referências um ato contínuo quase‐imediato ao desejo do pesquisador.
Aos motores de busca na internet se juntam aqueles criados na Web 2.0 (social bookmarks) e os automatizados (RSS Feeds e spybots).
Algumas tendências encontradas nas buscas e bases de dados consultadas
Equilíbrio entre o uso dos suportes impresso e digital (tablets, e‐books, portais científicos).
Tendência para a digitalização crescente dos acervos multimídia (fotos, audios e vídeos).
Internacionalização das pesquisas: os bancos de dados integrados de locais diferentes e multilíngues, embora parte deles esteja restrito ao acesso pago por instituições acadêmicas.
Já existem conteúdos somente em formato digital, sem o impresso, obrigando a migração do pesquisador.
Atores emergentes
Novos produtores: sites de produção individual (blogs), coletivos (wikis, comunidades virtuais, fóruns, redes sociais) ou midiáticos são novos atores que produzem conteúdos e os disponibilizam.Novas fontes empíricas: nvos produtores permitem novos campos empíricos, com menor custo de aplicação.
Novas fontes humanas: junto com os colegas de pesquisa e professores estão as pessoas de comunidades virtuais, fóruns e redes sociais indicando referências.
Buscas e realização da Empiria: o pesquisador autônomo na geração e reinterpretação dos dados
Dados oficiais abertos: utilização de bases de dados amplas e oficiais (agências de pesquisa, governo) com novas análises do pesquisador.
Os novos acervos multimídia presentes em sites na internet permitem a realização de pesquisas com maior agilidade (dados disponíveis) e menor perda de tempo com deslocamentos sucessivos.
Impresso versus digital: a questão permanece?
Incentivo aos impressos: sites de vendas de livros e impressão de arquivos digitais incentivam a manutenção do suporte impresso, dependendo do modo de leitura. Os grandes autores teóricos ("clássicos") em sua maioria ainda estão no formato impresso.
Impresso versus digital? Equívoco de usar somente fontes impressas ou somente fontes online, pressupondo a não existência de materiais no outro suporte (complementariedade).
Desafio ao pesquisador: acessar os espaços e os tipos de fontes pertinentes ao tema de pesquisa diante da explosão de modalidades e de volume de conteúdos nos últimos 15 anos (“garimpagem de materiais”).
Buscas sem compromisso? Os interesses em jogo
As buscas são desinteressadas? As buscas não são atos desinteressados, puramente intelectuais, mas formas de se situar no campo de estudo e realizar conexões e tomadas de posição frente a outros autores.
Fontes não‐tradicionais como atalhos: usadas para se chegar a fontes tradicionais (resenhas, verbetes da wikipédia, blogs) – mais aceitas pela comunidade acadêmica –, e raramente citadas.
Análise dos dados coletados 353
7.6 Modo de organização: os suportes digitais na sistematização dos materiais coletados
A organização do trabalho de tese ou dissertação também foi objeto de
análise em meu trabalho. Pode-se ter uma ideia de como ficaram distribuídos os
meus entrevistados, classificando-os segundo o grau de sistemática adotada, ou
seja, os usos são delineados através das opções e percepções que os entrevistados
apresentavam tanto sobre o suporte impresso quanto pelo suporte digital e as
possibilidades de ambos.
Gráfico 44 - Variável “38. Sistematização (Sistematicidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Ultrassistemático
1. Guarda arquivos através de classificação detalhada. 2. O hábito é apresentado também na organização física dos materiais. 3. Pessoa que planeja tarefas, que tem lista organizada de afazeres. 4. Medo da perda dos arquivos, da memória representada pelos arquivos. 5. Execução de backups e preservação dos materiais, mantidos no longo prazo.
(2) Sistemático
1. Classifica em eixos temáticos ou em partes do trabalho, representado por subpastas com nomes específicos. 2. Pode ou não fazer backups de preservação dos dados.
(3) Não sistemático
1. Perdas de arquivos por falta de backup. 2. Se faz backups, ainda são parciais e dispersos. (a. Múltiplos Pendrives. b. E-mails.) 3. Pouca classificação dos materiais, as vezes sem classificação alguma (1 pasta com tudo dentro). 4. Dispersão física dos materiais na própria mesa. 5. Dependência do modo como o computador classifica os arquivos, baseado nas extensões. 6. Mistura de arquivos e pouco critério e subdivisão e agrupamento. 7. Possível dispersão através do uso de múltiplos e-mails.
Tabela 39 - Descrição dos itens da Variável 38.
Nas entrevistas realizadas, uma quantidade significativa de estratégias de
organização de materiais coletados foi adotada, de acordo com as necessidades do
pesquisador, modos de se organizar na vida pessoal e nível de conhecimento
técnico de cada um deles, e não simplesmente pelas propriedades supostamente
inerentes do suporte digital.
0 2 4 6 8 10 12 14
(1) Ultrassistemático
(2) Sistemático
(3) Não sistemático
38. Sistematização (Sistematicidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 354
Sabe-se que o computador permitiu outro modo de organizar (e
desorganizar) os materiais de pesquisa, outra forma de armazenar, manipular e
transportar grandes quantidades de informação que em suporte impresso se
tornaria muito mais difícil, devido ao volume e peso do material transportado.
Por outro lado, com o aumento da quantidade de materiais disponíveis, são
adotadas estratégias para gerenciar aquilo que vai se coletando e armazenando ao
longo do tempo, seja em formato impresso e agora também em formato digital,
assim como os critérios de classificação que se multiplicam.
Nessa primeira variável chamada Sistematização foram elencados três
níveis de organização, desde o ultrassistemático com alto nível de detalhes e
precaução na organização, passando pelo sistemático intermediário e, por fim, o
não sistemático, que apresentava nenhum (ou praticamente nenhum) critério para
armazenar e classificar os materiais que coletava ao longo da pesquisa.
A maioria, 12 dos pesquisadores, demonstrou ser sistemático com seus
materiais coletados, mas sem apresentar comportamentos extremos. Apenas três
entrevistados admitiram não conseguir organizar bem seus arquivos no
computador, colocando todos os materiais juntos ou os agrupando por critérios
pouco claros, valendo-se mais das ferramentas de busca nativas do computador do
que da atribuição pessoal de categorias.
Aí eu tascava tudo lá dentro... tudo que achava interessante.. é o que eu falava: “de repente vou precisar” Aí jogava lá dentro.. então tem muita coisa mesmo.. algumas eu usei, outras não usei.. mas eu ia pegando, achando pelo título.. achava que era interessante e jogava lá dentro. [...] aí depois meu filho me ensinou como é que eu organizava os ícones, isso também foi uma maravilha pra minha vida, porque antes ficava só naquela arrumação de ordem alfabética, então eu me perdia um pouco.. (N3, p. 13-14) Eu tenho uma pasta “Artigos”, o que é um caos, porque na verdade não classifica nada, nada, nada... (N15, p. 9) come si dice, il… si alcuni cartelle, però non avevano una organizzazione specifica… (N10, p. 13)209
Um caso de organização ambígua foi com a entrevistada italiana N11, que
relatou a sua desorganização relativa ao tempo, deixando sua escrita para o final
(terceiro ano), o que gerou uma carga de trabalho acima da média, porém se 209 Trad. livre: “como se diz, o... sim algumas pastas, mas, eu não tinha uma organização específica...”
Análise dos dados coletados 355
valendo da organização prévia que realizou com os materiais e com as anotações
feitas a partir dos textos consultados.
Vale também citar a entrevistada N4 como um caso à parte, pois tinha
atenção extrema à forma de armazenamento e classificação dos materiais,
estendendo o padrão para todos os setores da vida pessoal, a partir da observação
desde cedo do mesmo padrão em um dos membros da família que costumava
classificar os objetos que utilizava em seu trabalho profissional.
Foi um hábito construído, segundo ela, pela observação desse familiar e
também a partir de objetos que classificava fisicamente desde criança, se
estendendo, dessa forma, mais tarde aos arquivos que criava no computador e ao
modo de planejar as atividades ao longo do tempo. A organização então se
instaura como instrumento de controle das atividades e dos objetos, uma forma de
lidar com as demandas externas.
Da mesma forma vemos essa aproximação – dos modos de organização
em formato digital com os outros setores da vida –, com o entrevistado N14, que
procura manter o mesmo nível de organização e controle que exerce em sua vida
profissional sobre os arquivos que armazena em seu computador, integrando a
gestão de pessoas à gestão dos arquivos.
Logo, percebe-se que o modo de organização no suporte digital não é
isolado do modo de organização geral de vida do pesquisador, ocorrendo o
mesmo, só que de modo contrário, com a entrevistada N15 que, além de ser
desorganizada no computador, armazenando tudo em uma só pasta, é também
assim em sua vida cotidiana.
então desde a infância, as minhas bonecas, a minha roupa, tudo tinha que tá muito detalhadamente arrumado e guardado né... então, eu tenho por exemplo hoje os meus arquivos escolares.. tenho lá os cadernos, os livros... tenho essa dinâmica de guarda dos arquivos físicos e eu acabei transportando pros arquivos do computador... (N4, p. 8) mas eu faço esse controle de.. usa a questão das tarefas que eu tenho pra me gerenciar também, então as pessoas perguntam como é que eu dou conta de fazer tudo isso... é que eu divido o meu tempo... (N14, p. 27) bem desorganizado como é minha mesa, como são as minhas coisas. (N15, p. 8)
Para os sistemáticos e ultrassistemáticos, as técnicas de armazenagem e
classificação relatadas foram muitas. A entrevistada N1 relatou utilizar “bancos de
Análise dos dados coletados 356
links”, ou seja, arquivos de texto contendo links de páginas que visita na internet,
assim como “banco de múltiplas linguagens” com imagens, vídeos, fotografias, ou
seja, fazendo uso dos arquivos multimídia permitidos pelo formato digital.
Semelhante a ela, só que utilizando a ferramenta de marcação de sites
favoritos presente no navegador, o entrevistado N9 relatou o medo de perder
referências quando a quantidade de estímulos ao redor pode fazê-lo esquecer de
algum site importante encontrado durante suas buscas. O modo de guardar aquilo
que se encontra no caminho é, em si, um ato de organização, independente dos
critérios utilizados para a classificação ou do suporte que contém os materiais.
io se in quel momento sono furbo e sveglio lo metto tra i preferiti molto semplicemente… non sempre, però in fatti poi mi perdo… sai poi dipende quanto una cosa diventa, in qualche maniera si… si cementifica perché dici questa qui proprio una cosa che mi serve, oppure magari mille stimoli, magari ti arrivano otto e-mail, persone dicono: potremo fare questo? Tu vai a vedere e poi il giorno dopo ti sei dimenticato… (N9, p. 13)210
Já alguns dos entrevistados na Itália, como no caso N5, relataram o uso de
mapas conceituais e índices de temas que refletiam o seu modo de organização de
pastas e arquivos no computador, um modo de esquematizar a co-relação dos
assuntos buscados e agrupados.
As estratégias de organização também passavam pelo próprio modo de
gerenciamento do arquivo no qual era escrita a tese, como no caso N8, em que a
formatação do texto já seguia as normas de editoração exigidas pela universidade,
estando desde o início pronto para a publicação. Sempre é bom lembrar que esse
controle da produção textual foi possibilitado pelos suportes digitais, que agrupam
as funções de editoração eletrônica de textos as convergindo até o ponto do
próprio autor ser também aquele que prepara o layout final para impressão da
obra.
Uma curiosidade no depoimento das entrevistadas N2 e N3 foi o uso de
múltiplos e-mails para diferentes finalidades, filtrando dessa forma os contatos
(pessoas próximas ou de convívio eventual) e os tipos de mensagens recebidas,
210 Trad. livre: “Eu se naquele momento estou atento e acordado o coloco nos favoritos simplesmente... não sempre, mas caso contrário me perco... sabe depois depende quando uma coisa acontece, de qualquer modo sim.. porque você diz esta aqui é uma coisa que preciso, ou então milhares de estímulos, talvez cheguem oito e-mails, pessoas dizem: podemos fazer isto? Você vai ver e depois no dia seguinte esquece...”
Análise dos dados coletados 357
visto que o volume de informações aumentou e a capacidade de atenção e tempo
continuam as mesmas. Ambas não relataram utilizar ou conhecer os filtros de
mensagens existentes nos serviços de e-mails.
eu tenho vários e-mails.. então eu tenho umas amigas, como essa, que elas não sabem meus outros e-mails, só conhecem esse e não quero que elas descubram nenhum outro, porque eu tenho e-mail dos amigos que mandam excesso de powerpoint.. quer dizer, no dia que manda alguma coisa importante corre o risco de eu não ver... (N2, p. 23)
Intimamente relacionada á sistemática de organização, encontra-se o tipo
de suporte que serve como repositório das leituras armazenadas pelos
entrevistados.
Gráfico 45 - Variável “39. Suporte (Materialidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Físicos
1. Predomínio de materiais impressos, organizados ou não em temáticas. 2. Uso de pastas físicas, podendo ou não estarem subdivididas.
(2) Digitais
1. Predomínio de materiais digitalizados, organizados ou não em temáticas. 2. Uso de favoritos do navegador, sites da web 2.0, armazenagem na nuvem.
(3) Físicos e digitais
1. Equilíbrio e correspondência de materiais impressos e digitais, organizados ou não em temáticas.
Tabela 40 - Descrição dos itens da Variável 39.
O suporte utilizado para o armazenamento das fontes foi equilibrado,
sendo parte na forma impressa e parte da forma digital, embora havendo casos
como o N8, N10 e N11, nos quais o pesquisador transportava em pendrive ou no
notebook todo material pesquisado, evitando o uso de impressos. Talvez, com o
passar do tempo, esse seja o padrão, com a crescente digitalização dos materiais e
o aumento do mercado de livros e textos eletrônicos e seus suportes de leitura
(tablets).
0 2 4 6 8 10 12 14
(1) Físicos
(2) Digitais
(3) Físicos e digitais
39. Suporte (Materialidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 358
e li tengo tutti i dati anche tutte le mie vecchie ricerche, è tutto lì e in ogni momento io devo poter andare a fare ricerca dentro le mie ricerche per poter portare avanti le parti che sto scrivendo. (N8, p. 11)211
Porém, nesse momento, boa parte dos entrevistados relatou a aquisição de
obras impressas, salvo casos em que a disponibilidade de documentos, livros e
revistas científicas, devido ao tema pesquisado, era muito menor que a de
materiais digitalizados, concentrando mais o uso e a organização em formato
digital. Para alguns entrevistados, a impressão de materiais se tornou
desnecessária, como no caso N8 que relata sempre perder as cópias impressas, o
que ajuda ainda mais a convergir os arquivos para o suporte digital, evitando a
constante circulação entre fontes contidas em suportes diferentes.
Então já nos anos 2000, por aí, eu me lembro que eu... eu parei de imprimir papel, eu já não imprimia papel. Eu ia para as reuniões... eu participava de todos os conselhos de classe e eu ia tudo objetivamente... eu simplesmente pegava nos dados de secretaria, transformava em... em txt... (N14, p. 13) è più comodo perché il cartaceo l’ho sempre…lo perdo alla fine e poi mi si accumula negli scaffali e si tende… (N8, p. 12)212
O tablet foi relatado por um dos entrevistados como meio confortável para
armazenagem e leitura de artigos e por outra entrevistada para a leitura de livros.
Junto com os arquivos já em formato digital, existe também a
armazenagem de citações, fragmentos e resumos de obras impressas em arquivos
no computador através de cópia ou de redigitação, mais fácil de trabalhar,
localizar e transportar, apontando para uma digitalização maior feita pelos
próprios pesquisadores, como relatado pela entrevistada N1.
Essa armazenagem pode ser realizada com programas específicos para
essa finalidade ou com editores de texto simples, dependendo do grau de
refinamento exigido pelo pesquisador e do seu conhecimento técnico para acessar
programas mais refinados e segmentados.
Alguns entrevistados, como no caso da N4, relataram a transposição dos
padrões de armazenamento físico, em pastas físicas divididas por temas e
211 Trad. livre: “e ali tenho todos os dados também da minha pesquisa antiga, é tudo ali e a qualquer momento eu posso fazer uma busca na minha pesquisa para levar adiante a parte que eu estou escrevendo.” 212 Trad. livre: “É mais cômodo, porque o papel eu tenho sempre... perco no final, e depois se acumulam nas estantes e tendem a...”
Análise dos dados coletados 359
assuntos, para a organização em formato digital, reproduzindo hábitos já
adquiridos antes. O computador, de certa forma, copia os modos de organização
dos suportes físicos e com isso permite essa reprodução por analogia,
especialmente depois do surgimento das interfaces gráficas e do conceito de
desktop (mesa de trabalho) com seus ícones e pastas digitalmente simuladas.
sempre fiz muitas pastas, sempre abri muitos arquivos de pastas... e como faço isso fisicamente com os meus documentos.. aquelas caixas box, pastinhas com tudo separado, com etiquetas né, eu comecei a fazer isso no computador. Criei pastas específicas para cada disciplina, para guardar os meus documentos.. (N4, p. 3)
Outra forma de transposição da lógica de um suporte a outro foi relatada
pela entrevistada N6, que manteve durante o doutorado parte dos materiais que
tinha em formato digital, coletados na internet e copiados para o computador
pessoal, impressos em pastas físicas correspondentes. O mesmo tipo de
correspondência foi mencionado pela entrevistada N7, juntando as temáticas e
materiais dos capítulos em pastas com impressos.
Quindi, diciamo così: cartella, folder in computer, cartella in computer con i centri di ricerca, con tutti i documenti e uguale cartella fisica con tutte le singole cartellatine, una per centro, perché immagine in Italia cartella… (N6, p. 8)213
213 Trad. livre: “Então, digamos assim: pasta, pasta no computador, pasta no computador com os centros de pesquisa, com todos os documentos e do mesom modo pastas [físicas] com cada uma das pastinhas, uma por centro de pesquisa, porque imagina na Itália pasta...”
Análise dos dados coletados 360
Gráfico 46 - Variável “40. Classificação (Tematicidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Por capítulos da tese 1. Divisão em pastas de acordo com cada capítulo que está escrevendo.
2. Materiais diversos como artigos, livros, imagens, fichamentos. (2) Por temáticas da tese 1. Divisão em pastas por temas relacionados à tese. (3) Por instrumentos de pesquisa 1. Instrumentos e materiais de pesquisa empíricos coletados. (4) Por local de origem do material
1. Local onde o material foi coletado, podendo ser origem física (cidade, centro de pesquisa, universidade) ou de origem digital (site).
(5) Por autor do material (6) Por eventos 1. Arquivos de participação em eventos acadêmicos, com anotações e textos próprios. (7) Por cursos que ministrou 1. Visando não refazer materiais quando ministrar novamente cursos semelhantes. (8) Por diferentes áreas de atuação
1. Divisão dos materiais por áreas de atuação como o trabalho, docência na academia, vida pessoal.
(9) Sem classificação 1. Uma pasta contendo todo material recolhido ou ausência de critério para classificação.
(10) Material coletado, mas não utilizado
1. A pessoa recolhe com a intenção de usar mas depois vira um resíduo nunca mais acessado.
Tabela 41 - Descrição dos itens da Variável 40.
O critério predominante de organização dos materiais coletados foi por
temáticas da tese, ou seja, pelos assuntos e conceitos abordados durante a
pesquisa, assim como pelos capítulos que iam sendo escritos, colocando-se os
arquivos em pastas por afinidade.
A organização por capítulos, segundo a entrevistada N7, ajudava no
momento da escrita da tese, sendo pensada a estrutura de organização junto com o
planejamento de escrita. A entrevistada N11 narrou algo semelhante, em que os
assuntos tratados e agrupados iam servindo de base para a elaboração de um
índice de escrita da tese, ou seja, de capítulos.
0 2 4 6 8 10 12 14
(1) Por capítulos da tese
(2) Por temáticas da tese
(3) Por instrumentos de pesquisa
(4) Por local de origem do material
(5) Por autor do material
(6) Por eventos
(7) Por cursos que ministrou
(8) Por diferentes áreas de atuação
(9) Sem classificação
(10) Material coletado, mas não utilizado
40. Classificação (Tematicidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 361
é assim: a pasta “Doutorado”, aí tem a parte, a pasta “Tese”, a pasta “Base de dados”, né, tinha a pasta “Artigos sobre repetência” e “Artigos em geral”, mais ou menos isso... não tou me lembrando exatamente a organização, mas é mais ou menos isso... e aí a escrita dos capítulos ficava dentro da escrita da tese, dentro dessa pasta, dentro dessa subpasta “Tese”, né? E aí “Capítulo 1”, “Capítulo 2”, “Capítulo 3”, é, acho que é isso... (N16, p. 11) ed sempre stato un po’ aggregato per tipologie… humm… ne senso che l’idea della struttura della mia tesi c’era già a monte, anche se io sono partita con quello che detto ai capitolo tre de mettere a modello, era già il mio percorso, il mio percorso prevedeva analisi degli strumenti scelta di uno, analisi specifica comunicativa di questo strumento, modello, sperimentazione, che sono diventati poi nei quattro capitoli, questo era il percorso. (N7, p. 12)214 Nella cartella precedente quella dove io metto tutte le risorse che trovo sono divise per tematiche, nel tempo quando trovo un articolo particolare scarico il pdf e lo inserisco lì e inserisco, aggiorno un file dove c’è la citazione in modo che quando riprendo in mano un argomento io primo scorro le mie ricerche precedenti, con tutti i file già scaricati, già pronti (N8, p. 11)215 normalmente un computer, una cartella con tanti sottocartelle.. è… divisa prima per argomenti, poi sono dei capitoli… (N9, p. 9)216 Si, io lavoravo gli argomenti praticamente, cioè… argomenti… cercavo i temi e poi sul tema praticamente andavo di inserire tutti contenuti che trovavo e che mi interessavano, in modo tale da cercare di, di avere materiale suddiviso in questo modo (N11, p. 10)217 allora, facevo delle cartelle… facevo delle cartelle e nominando le cartelle con parole chiave… [...] queste, queste cartelle qua, in modo che mettevo al interno, scaricavo il materiale e li mettevo un pochino cosi… Poi dopo… per lavorarci sopra passavo da una cartella al altra… (N12, p. 10)218
A entrevistada N2 relatou a respeito das reclassificações dos materiais,
algo semelhante com a escrita em camadas, em que se retorna ao material
constantemente para a criação de novos subtemas e o remanejamento dos arquivos
214 Trad. livre: “Sempre esteve um pouco agregado por tipologia... humm.. no sentido de que a ideia da estrutura da minha tese era já montada, também se eu partia com aquilo que disse no capítulo três de fazer o modelo, era já o meu percurso, o meu percurso previa a análise dos instrumentos escolhidos, análise comunicativa específica desse instrumento, modelo, experimentação, que se tornaram depois os quatro capítulos, este era o percurso.” 215 Trad. livre: “Na pasta anterior, aquela onde coloco todos os recursos que encontro divididos por temáticas, no momento quando encontro um artigo particular eu baixo o pdf e o insiro, atualizo um arquivo no qual tem as citações de modo que quando tenho em mãos um assunto eu primeiro consulto a minha pesquisa precedente, com todos os arquivos já baixados, já prontos.” 216 Trad. livre: “normalmente um computador, uma pasta com as subpastas... é... divididas primeiro por assuntos, depois são os capítulos...” 217 Trad. livre: “sim, eu trabalhava os temas praticamente, isto é... temas.. procurava os temas e depois sobre o tema praticamente andava a inserir todos os conteúdos que encontrava e que me interessavam, de modo tal que procurava ter o material subdividido dessa forma.” 218 Trad. livre: “então, fazia as pastas... fazia as pastas dando nome a elas com palavras-chave... [...] estes, estas pastas aqui, de modo que colocava dentro, baixava os materiais e os colocava um pouco dessa maneira... depois... para trabalhar com eles passava de uma pasta a outra...”
Análise dos dados coletados 362
para outros assuntos devido ao crescimento do acervo. Já a entrevistada N4 revisa
periodicamente seus materiais para excluir o que não serve mais, uma forma de
lidar com esse crescimento e acúmulo constante.
fazendo essa garimpagem e pegando textos, fragmentos, trechos que dialogavam com a minha pesquisa e colocando num arquivo por temas. (N1, p. 4) Aí depois eu comecei a organizar.. Tema de vez em quando tem que rearrumar, porque.. o tema você começa a por muito subtema, muita coisa, fica uma coisa complicada.. [...] mas procuro colocar... é.. em pasta... tou procurando cada vez mais me organizar.. acho que cada vez a gente tem mais informação.. você tem que por, subdividir (N2, p. 13) mas eu guardo, mas periodicamente eu faço uma revisão, alguma coisa eu descarto e eu vou guardando aquilo que eu penso que tem um peso... de documento, ou peso afetivo, uma representação afetiva forte né, então vou guardando... (N4, p. 8)
A classificação por autores, por local de origem da fonte, por instrumento
de pesquisa, por dados da empiria coletada, por eventos acadêmicos frequentados,
por cursos ministrados e por áreas de atuação foram citadas, mas não foram
critérios predominantes entre os pesquisadores. Eles funcionavam mais como
classificações acessórias, acompanhando, por exemplo, as classificações
principais em temas ou capítulos. Eram materiais que não apresentavam temas em
si mesmo, mas eram resultados de atividades desenvolvidas pelo pesquisador ou
mesmo atividades paralelas à pesquisa, mas ligadas a sua vida cotidiana de
trabalho e estudo.
O sistema de pastas e subpastas ajudava na convivência de múltiplos
critérios de classificação, no qual as pastas em primeiro nível abrangiam, por
exemplo, as temáticas da tese, e as subpastas eram classificadas pelos tipos de
arquivos contidos ou pela origem dos mesmos. Outros critérios de classificação
foram adotados para materiais que não eram necessariamente fonte de pesquisa
para citação, como materiais de eventos e instrumentos de pesquisa, exigindo
pastas à parte, fora da classificação principal, como no caso do entrevistado N8.
A classificação maior por áreas da vida, como a relatada pela entrevistada
N4 que fala dos âmbitos acadêmico, de trabalho e pessoal surgidos a partir das
demandas cotidianas, não impede a classificação também por temáticas em cada
um desses âmbitos, em subpastas. Da mesma forma, as classificações relatadas
pela entrevistada N13 revelam uma sobreposição de critérios, em que, ao mesmo
Análise dos dados coletados 363
tempo que dividia por temáticas ela criava subpastas a partir do local de origem da
fonte, no caso o nome das revistas científicas ou simplesmente agrupando os
livros digitalizados em um mesmo local. A mesma sobreposição de critérios foi
encontrada no depoimento do entrevistado N14, que divide as pastas por projetos
que está envolvido e dentro deles divide os arquivos por temas.
periódicos, tipo “história matemática”, eu tenho lá meus artigos lá de História matemática, eu ponho por... por ano, eu ponho porque são quatro fascículos por ano, eu ponho por número e ano, porque aí vai organizando aquilo que... (N13, p. 19)
Um caso interessante é o da entrevistada N5, que ao mesmo tempo que
reclassificou os materiais em capítulos da tese, abandona a classificação por
temáticas presente na fase de coleta de fontes de pesquisa, do mesmo modo que a
entrevistada N12 relatou. Dessa forma ela faz um rearranjo de acordo com as
novas necessidades que teve na fase final do processo de escrita, sendo algo
próximo (mas não totalmente igual) ao que o entrevistado N8 relatou, ao dizer que
criou subpastas dentro de uma pasta principal da tese para poder agregar as fontes
consultadas dentro do trabalho que escrevia.
O processo de organização se mostra dessa forma “vivo”, mutante de
acordo com o momento de escrita e as atividades desenvolvidas pelo autor, não
podendo ser aplicada uma classificação rígida e constante, mas contextual e
direcionada pelas tarefas e fases da pesquisa em andamento.
E poi c’è un altro, una altra sessione che è invece dedicata ai capitoli della tesi e quindi sono a mano riprendendo tutti i materiali che avevo prima diviso per argomento e dico questo materiale mi serve per il capitolo uno... si... allora mi credo una cartella “Materiali Capitolo Uno” e metto li tutti gli articoli che so mi serviranno per quel capitolo.. (N5, p. 13)219 Se poi sto lavorando in modo specifico a un testo, come la tesi per dire, di dottorato a volte creo delle cartelle, sottocartelle dentro la cartella di lavoro della tesi dove inserisco le fonti che mi servono in modo particolare (N8, p. 11)220
219 Trad. livre: “E depois tem uma outra, uma outra sessão que é dedicada aos capítulos da tese e então tenho a mão, recuperando todos os materiais que tinha primeiro dividido por assunto e digo este material me serve para o capítulo um... sim.. então eu crio uma pasta “materiais capítulo um” e coloco ali todos os artigos que me servirão para aquele capítulo...” 220 Trad. livre: “Se então estou trabalhando de maneira específica um texto, como a tese de doutorado, então crio uma pasta, uma subpasta dentro da pasta de trabalho da tese na qual insiro as fontes que me servem de maneira particular.”
Análise dos dados coletados 364
nel affrontare un capitolo raccoglievo tutte in una unica cartella tutte quelle risorse che me servivano per lo sviluppo di quel capitolo addirittura paragrafo per paragrafo, quindi scegliemmo una serie di ricerca… di risorse che mi potevano servire per stendere quel paragrafo, le elencavo, le prendevo o le stampavo o guardavo online e scrivevo. (N12, p. 11)221
No caso da entrevistada N3, por não ter sistematização em sua
armazenagem, agrupando todos os arquivos em um só lugar, o critério era
praticamente inexistente, tendo que localizar os materiais baseando-se na memória
(lembranças a respeito dos textos baixados) e no tipo de arquivo (se eram em PDF
ou em DOC).
O mesmo tipo de desorganização, por ausência de categorias criadas, foi
relatado no depoimento da entrevistada N15, que teve que lançar mão do buscador
padrão do computador e também da memória pessoal, tendo uma ideia geral, mas
pouco precisa, de onde estariam os materiais que coletou. Já o entrevistado N10
disse também que utilizava a memória, pois sabia já onde estavam os textos que
precisava e o que deveria perguntar para as pessoas que contatava (entrevistas),
sem adotar uma organização rigorosa dos materiais que coletava.
é uma organização meio desorganizada. Eu sei onde estão as coisas, mas eu não tenho como uma biblioteca, por índices, por temas ou por autores, eu não tenho essa organização... não consigo ter... e também no procurar do computador você bota duas palavras do nome do texto, ele te acha, então não preciso disso também tão organizado... (N15, p. 9) però sui alcuni usavo semplicemente quello che mi ricordavo perché alcuni sapevo già quali erano argomenti posto, quindi io contato le persone sapendo cosa per cosa poteva servirmi o essermi utile il contatto con questa persona… (N10, p. 13)222
221 Trad. livre: “ao abordar um capítulo recolhia tudo em uma única pasta, todos aqueles recursos que me serviam para o desenvolvimento daquele capítulo, parágrafo por parágrafo, então escolhia uma série de pesquisas... de recursos que me podiam servir para estender aquele parágrafo, os elencava, os pegava e imprimia ou guardava online e escrevia.” 222 Trad. livre: “mas em alguns eu usava simplesmente aquilo que me recordava porque alguns eu já sabia quais eram os assuntos postos, então eu contato as pessoas sabendo coisa por coisa que podia me servir ou ser útil o contato com essa pessoa.”
Análise dos dados coletados 365
Gráfico 47 - Variável “41. Local de armazenamento (Disponibilidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Armazenamento predominantemente no computador pessoal
1. Uso de mídia de armazenamento local como HD externo, HD interno e Pendrive. 2. Divisão em pastas e subpastas no computador pessoal.
(2) Armazenamento predominantemente na nuvem
1. Uso de serviços online como Dropbox e Skyfrive. 2. Forte dependência de conexões móveis para poder trabalhar.
(3) Equilíbrio do Armazenamento na nuvem e no computador pessoal
1. Fase de transição do computador pessoal para o armazenamento na nuvem.
Tabela 42 - Descrição dos itens da Variável 41.
E, por fim, a quase totalidade dos entrevistados relatou que armazenava os
arquivos de pesquisa no próprio computador pessoal. Somente dois usavam a
armazenagem na internet com programas que permitem o acesso em qualquer
local, uma tendência para os próximos anos com o aumento da banda larga e a
difusão desse tipo de serviço. Percebemos a ascensão e uso mais difundido dos
sites da Web 2.0, como o Google Docs que permite a armazenagem e edição
direta de documentos online e o Delicius que permite a armazenagem de links
para sites de interesse pessoal, classificados com etiquetas temáticas (tags).
online generalmente tendo ad usare Delicius per i bookmarks, mio personale anzi per segnalazione di articoli o fonti con tutti i particolari quindi io rientro nel mio delicious che vado a scorrere le mie ricerche precedenti (N8, p. 11)223
No caso do entrevistado N14 o uso de plataformas online e
armazenamento na nuvem está presente em seu cotidiano como gestor e se reflete
no armazenamento de arquivos utilizados em sua pesquisa, e conta com a ajuda de
um HD externo pois nem sempre o sinal de internet 3G está disponível nos locais
223 Trad. livre: “Online tendo geralmente a usar o Delicius para os favoritos, o meu pessoal, para assinalar os artigos ou as fontes, então eu volto ao meu Delicius e vou verificar as minhas pesquisas precedentes.”
0 2 4 6 8 10 12 14 16
(1) Armazenamento predominantemente nocomputador pessoal
(2) Armazenamento predominantemente nanuvem
(3) Equilíbrio do Armazenamento na nuvem e nocomputador pessoal
41. Local de armazenamento (Disponibilidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 366
que frequenta. Dessa forma a limitação apresentada em seu comportamento com
os arquivos digitais é de ordem técnica, semelhante ao caso da entrevisatada N2.
A entrevistada N2 lembrou que na primeira fase da internet, nos anos 90,
precisava armazenar as páginas que visitava devido às quedas de conexão discada,
copiando os conteúdos em arquivos no próprio computador. Esse relato evidencia
a relação direta entre as formas de organização (e armazenamento) e o tipo de
recurso disponível no suporte, que de alguma forma pode limitar as ações pelos
recursos oferecidos a quem os utiliza, mas o que não implica na total
determinação dos modos de uso.
eu acho que veio muito da época que a minha conexão caía, que foi o início, aí você quer salvar rapidamente tudo pra num perder que pode cair daqui a pouco, então isso é uma coisa que eu tive que ir cada vez mais me aprimorando né, porque eu salvava tudo e de repente eu disse "pra que é que eu tou salvando?" porque... tanta coisa... eu não preciso salvar tanta coisa, eu posso ler primeiro, ver se vale a pena e guardar... (N2, p. 12-13) se eu tivesse totalmente na nuvem, quer dizer, o que atualmente me impede migrar totalmente pra nuvem, é a falta de conectividade que a gente tem no Brasil. Tenho, mas não tem... eu tenho 3G mas não tem a pancada que eu preciso né? É uma vergonha o 3G aqui. (N14, p. 21-22)
Sobre a realização de backups, nem todos conseguiram manter a disciplina
de guardar cópias em um local seguro e em um tipo de mídia apropriada, sendo
que a entrevistada N4 foi o caso mais disciplinado ao relatar que mantém backups
sem perdas de arquivos desde os anos 90, passando por disquetes e CD-ROMs,
guardando inclusive mensagens de e-mails em documentos de texto no próprio
computador.
Revela-se então a própria fragilidade do armazenamento particular de
arquivos digitais, que em cerca de 20 anos mudaram de formato, tipo de mídia e
capacidade de memória diversas vezes, levando a perdas constantes de materiais
digitalizados, ou por incompatibilidade dos novos equipamentos ou pelos novos
programas que já não fazem a leitura dos arquivos criados nos programas antigos.
O entrevistado N8 relatou a preocupação com o formato que salva seus arquivos,
para garantir a possibilidade de recuperá-los no futuro.
mas, fui guardando, primeiro os disquetes, depois os outros computadores já CD, agora com pendrive e sempre, eu ainda tenho lá, na caixa primeira dos disquetes, assim, não sei o que eu vou fazer com eles... (N4, p. 8)
Análise dos dados coletados 367
tem umas pastinhas dentro dos e-mails, eu não confio muito.. por isso que eu tenho as pastas no Word com os arquivos, com os textos enviados.. eu guardo ali alguns e-mails especiais eu guardo.. eu tenho uma pasta para cada categoria também.. pro trabalho, pro estudo, pra pesquisa, correspondência com os alunos, mensagens dos alunos... (N4, p. 16) ogni tanto lo faccio, quindi io comincio a prendere confidenza con il sistema però valuto sempre che formato sto salvando cioè la possibilità in futuro di riottenere quel file lì in modo semplice, di poterlo leggere in modo semplice e non c’è un sistema intorno al sistema tradizionale. (N8, p. 12)224
Dessa forma locais não recomendados para esta finalidade, como
pendrives (que se deterioram com rapidez e facilmente se perdem) e contas de e-
mails (que não foram feitas para armazenas arquivos e sim para enviá-los) foram
citados por alguns dos entrevistados, a exemplo da N3 e da N15. Alguns mais
conscientes a respeito dos objetos técnicos da informática, como os entrevistados
N10 e N14, relatram o uso de mídias mais adequadas e duradouras, como HDs
externos ou mesmo computadores em casa com dedicação exclusiva para cópias
de backup.
Ia colocando tudo guardadinho lá e as fotos também, mas chegou uma hora que eu fiquei muito nervosa. “Caraca, se der um troço aqui nesse computador eu perco tudo”, aí eu comprei um pendrive.. um pendrive de 512 né.. só que aí eu fiquei muito nervosa mesmo porque eu falei “se queimar também eu tou frita” aí eu comprei um outro pendrive , aí de um giga.. aliás, de dois gigas.. aí eu trabalhava, fazendo assim: todas as cópias de segurança (???)... eu colocava na máquina, colocava no pendrive de 512, tirava ele, colocava no de dois gigas e ficava às vezes meia hora esperando porque eu mandava pra mim por e-mail.. eu falei “o arquivo mais seguro que a gente tem é o e-mail, porque nunca vai explodir um e-mail”.. o pendrive queima, a máquina queima, mas o e-mail eu vou abrir de qualquer lugar.. (N3, p. 14) É, no e-mail mesmo... e aí eu mando pra lá tudo que eu acho que é importante eu ter possibilidade se der alguma zebra... minha casa pegou fogo, queimou, queimaram os pendrives, queimou tudo, eu vou ter isso, o que é importante em algum outro lugar que eu possa acessar.. né.. (N15, p. 9) Já a entrevistada N16 relatou a ajuda de um amigo técnico em informática
que costuma organizar o backup automático dela em HD externo, tecnologia que
não domina por conta própria. Embora não se revelasse um conhecedor
224 Trad. livre: “De vez em quanto faço, então eu começo a tomar confiança com o sistema mas avalio sempre o formato que estou salvando, isto é, a possibilidade de no futuro recuperar aquele arquivo de maneira simples, de poder lê-lo de modo simples e que não é um sistema a parte do tradicional.”
Análise dos dados coletados 368
especialista em informática, o entrevistado N9 também relatou o uso de um HD
externo, principalmente porque se diz um “destruidor” de computadores portáteis,
ficando com receio de perder toda a pesquisa que carrega consigo, visto que seu
perfil é de uma pessoa que preza pela classificação, armazenamento e manutenção
dos arquivos que coleta e cria, os mantendo tanto em pastas no computador
quanto em pastas impressas.
Eu fazia backup com disco rígido externo, aí eu tinha... eu tenho um... um... um amigo.... que ele é quem é o responsável por isso... e ele que organizava isso pra mim, e antigamente eu tinha esse disco externo que eu só clicava e blãblã, entendeu? Funcionava. (N16, p. 14) tutto rigorosamente salvato mille volte sul memoria esterni, anche perché io sono in distruttore di computer eccezionale, ne ho spaccati tantissimo (N9, p. 9)225
225 Trad. livre: “tudo rigorosamente salvo várias vezes em memória externa, também porque eu sou um destruidor de computadores excepcional, eu quebrei vários.”
Análise dos dados coletados 369
Quadro 20 - Condiderações resumitivas sobre os modos de organização relatados pelos doutorandos.
Fatores envolvidos na forma de organização
Necessidades do pesquisador de acordo com as tarefas que executa.
Modos de se organizar na vida pessoal: o modo de organização no suporte digital não é isolado do modo de organização geral de vida do pesquisador.
Nível de conhecimento técnico a partir dos interesses e conhecimento na operação dos recursos disponíveis no computador e na internet.
Três níveis de organização
Ultrassistemático com alto nível de detalhes e precaução na organização: um caso extremo fazendo parte do perfil da entrevistada antes mesmo de possuir um computador.
Sistemático intermediário: a maioria se situa nesta categoria.
Não sistemático, que apresentava nenhum (ou praticamente nenhum) critério para armazenar e classificar os materiais, usando os recursos de busca geral do próprio computador.
As técnicas utilizadas são muitas, visando organizar a grande quantidade de informação digital
Bancos de referências: no editor de textos, nos favoritos do navegador ou em sites na internet.
Redigitação e fichamentos direto no computador pessoal para facilitar as buscas.
Mapas conceituais e índices com temas.
Múltiplos e‐mails para gerenciar atividades e públicos diferentes.
Algumas tendências encontradas nos modos de organização
Agrupamento e controle da produção no computador pessoal, permitindo a editoração do texto já no formato final.
O computador como aglutinador do armazenamento dos arquivos e futuramente das leituras direto em tela (tablets).
No momento prevalece o equilíbrio no uso dos suportes, com alguns casos extremos.
O computador copia os modos de organização dos arquivos físicos, como o agrupamento em pastas e o uso da analogia com a mesa de trabalho.
Critérios predominantes de organização dos materiais da tese
Os principais foram pela temática da tese e pelos capítulos que a compunham, agrupando os materiais em pastas.
Classificações acessórias: por autores, por local de origem da fonte, por instrumento de pesquisa, por dados da empiria coletada, por eventos acadêmicos frequentados, por cursos ministrados e por áreas de atuação.
Classificações "sem classificação": usar como critério o tipo de arquivo salvo, se foi em PDF ou em DOC, por exemplo.
Os processos de reclassificação são "vivos" ao longo do processo de construção da tese
Foi relatado o uso do computador para as reclassificações dos materiais coletados e criação de novas categorias a partir de certo momento.
Sobreposição e convivências de critérios: os critérios de classificação podiam conviver juntos, em diferentes pastas ou em pastas e subpastas.
A organização dos materiais é "viva", contextual de acordo com as tarefas, mudando‐se agrupamentos e critérios ao longo do processo.
O local de armazenagem principal é o computador pessoal
O relato sobre armazenagem de arquivos na "nuvem", em sites e serviços na internet, ainda é raro.
Backups e fragilidade no armazenamento dos arquivos: nem todos conseguiram manter a disciplina de guardar cópias em um local seguro e em um tipo de mídia apropriada.
Locais não apropriados, como pendrives e e‐mails, ainda são utilizados para armazenamento precário.
Análise dos dados coletados 370
7.7 Modo de comunicação: os suportes digitais no contato cotidiano com pesquisadores e outros sujeitos
Gráfico 48 - Variável “42. Abrangência (Proximidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Restrita: troca com pessoas mais próximas
1. Poucos contatos com outros pesquisadores distantes ou desconhecidos. 2. Valorização do contato pessoal, com as pessoas mais próximas. 3. Cultivo do círculo de amizades acadêmicas próximas. 4. Valorização do acesso à publicação e não à pessoa.
(2) Intermediária: troca mais intensa com pessoas próximas + troca com algumas pessoas distantes
1. Valorização do contato com outros professores e pesquisadores distantes. 2. Maior contato com aqueles que conhece pessoalmente, mas não somente. 3. Cultivo do círculo de amizades acadêmicas próximas e algumas distantes. 4. Ida a eventos para trocas com outros pesquisadores desconhecidos, mesmo acessando publicações.
(3) Ampla: troca intensa com pessoas próximas e distantes
1. Busca de contato com autores de referência (“medalhões”) distantes. 2. Contato pessoal ou via internet simultaneamente com pesquisadores antes desconhecidos. 3. Ida a eventos para trocas com outros pesquisadores e ampliação do círculo de amizades acadêmicas. 4. Troca intensa com professores e colegas de trabalho acadêmicos próximos.
Tabela 43 - Descrição dos itens da Variável 42.
É interessante notar que apesar dos discursos que evidenciam a capacidade
de comunicação global que a internet oferece através de seus programas,
aplicações e redes ligando pessoas próximas e distantes, assim como o potencial
favorecimento do desenvolvimento das pesquisas através das trocas de
informações entre os pares acadêmicos, os relatos dos pesquisadores mostraram
que a comunicação ainda é restrita, em sua maior parte, aos pares mais próximos e
conhecidos e, em alguns casos, aos sujeitos contatados para compor o campo
empírico durante a pesquisa.
Através do contato com os pares mais próximos, pertencentes ao círculo de
amizades acadêmicas, que as trocas mais intensas de informações, os conselhos e
as revisões de textos ainda na fase de rascunho são realizados, evidenciando a
0 1 2 3 4 5 6 7
(1) Restrita: troca com pessoas mais próximas
(2) Intermediária: troca mais intensa com pessoaspróximas + troca com algumas pessoas distantes
(3) Ampla: troca intensa com pessoas próximas edistantes
42. Abrangência (Proximidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 371
maior confiança naqueles que estão presentes no cotidiano do pesquisador do que
em contatos realizados exclusivamente em comunidades via internet.
eu me relacionava com pesquisadores que eu já conhecia ou que eu conheci em Portugal ou até que me indicaram, mas sempre por e-mail, não aquela busca direta de grupos. (N4, p. 11) até porque como comecei a carreira acadêmica bem tarde proporcionalmente, as minhas relações... e fiz essa carreira toda na PUC, as minhas relações tavam mais lá... agora que eu acho que elas tão abrindo pra outros lugares, mas naquele momento ainda tava ali meu mundinho acadêmico tava quase todo lá, o que eu conhecia das outras instituições era basicamente o que eu conhecia através do grupo de pesquisa, através dos encontros em congressos.... (N15, p. 11) Onde eu tinha muita discussão sobre meu próprio trabalho era no grupo de pesquisa, né, do [NOME DO GRUPO]... a própria [NOME DA PROFESSORA], né, obviamente, que era minha orientadora e colegas de mestrado e doutorado.. né... a [NOME DA AMIGA] foi uma pessoa muito importante no meu doutorado, foi uma interlocutora durante um bom tempo excepcional... e foi com eles que discuti. Pela internet não. (N16, p. 15) i principali contati li ho all’interno del centro di ricerca e soprattutto magari con… o con i miei colleghi (N5, p. 14)226 ci sono alcuni persone con cui, appunto da tempo collaboriamo, abbiamo lavorato insieme per dei… e ci conosciamo bene, che me funzionano proprio un po’ da referee… io mando magari delle cose, dei pezzi, una idea se non ho tempo di vederla e… o mi torna, spesso magari mi torna indietro e me dice “guarda, che però in questa parte manca una cosa”, oppure via skype, quindi in sincrono e venuta questa idea, dobbiamo sperimentare, provare a fare una ricerca insieme sul questi aspetti e sono nati poi delle cose interessante… (N7, p. 9)227 Si, io ho soprattutto delle persone a cui faccio ricerca con cui mi confronto, non dico quotidianamente però spesso…e oppure [NOME DA AMIGA] che conoscerai sicuramente con lei, insomma…in passato ero quasi quotidianamente in contatto sulle nostre ricerche e lavoravo moltissimo con lei. (N8, p. 13)228
A participação, ao menos durante a pesquisa de doutorado, em grupos na
internet, em fóruns para trocas de informação e outros tipos de redes online,
226 Trad. livre: “Os principais contatos eu tinha dentro do centro de pesquisa e sobreturo talvez com... com os meus colegas.” 227 Trad. livre: “tem algumas pessoas com as quais, digo, faz tempo que colaboramos, trabalhos juntos por... e nos conhecemos bem, que funciona um pouco como um revisor... eu mando as coisas, uma ideia se não tenho tempo de ve-la e... ou me retorna, as vezes me retorna e me diz “olha, mas nesta parte falta uma coisa”, ou então via Skype, então sincronicamente vinha esta ideia, devemos experimentar, tentar fazer uma pesquisa juntos sobre estes aspectos e nascem então as coisas interessantes...” 228 Trad. livre: “Sim, eu tenho especialmente aquelas pessoas com as quais faço pesquisa e me confronto, não digo todos os dias, mas muitas vezes... e mesmo a [nome da amiga] que com certeza conhecerá, enfim... no passado era quase cotidianamente em contato a respeito da nossa pesquisa e trabalhava muitíssimo com ela.”
Análise dos dados coletados 372
visando a intercomunicação de pesquisadores acadêmicos geograficamente
distantes, não foi citada com a frequência que se esperava. Ao que tudo indica, são
poucas as comunidades virtuais interuniversitárias e interdepartamentais de
pesquisadores acadêmicos, fora dos grupos de discussão online criados
internamente pelos integrantes de grupos de pesquisa universitários, ou pessoas de
um mesmo departamento, que se conhecem e convivem pessoalmente.
Alguns relataram, por exemplo, a participação em listas de discussão do
grupo de pesquisa ao qual pertencem, porém refere-se a grupos que se encontram
frequentemente de maneira presencial, sendo a internet uma forma de continuar as
atividades iniciadas durante as reuniões realizadas, uma espécie de suporte
auxiliar para a manutenção do trabalho acadêmico e não um espaço privilegiado
de trocas intelectuais visando a produção autoral.
Um exemplo de abertura para contatos acadêmicos, fora do círculo mais
próximo, foi o caso da entrevistada N7, embora ela enfatize que usa a lista de
discussão de pesquisadores via e-mails principalmente para obtenção de pontos de
vista diferentes a partir de seus especialistas, para se atualizar no estado da arte em
seu tema de pesquisa, e menos para sua própria participação autoral no grupo.
Postura semelhante foi relatada pelo entrevistado N8, que é mais observador do
que os outros escrevem nas comunidades virtuais nas quais está inscrito do que
produtor de informações novas dentro das mesmas.
Com uma postura um pouco mais ativa em comunidades virtuais (fóruns) e
comunicação direta (chat e e-mail), a entrevistada N11 relatou manter contato
com outros pesquisadores, incluindo a obtenção de mais informações com autores
que havia lido os livros. Também a entrevistada N12 relatou encontrar outros
pesquisadores a respeito de sua temática dentro de blogs que reuniam pessoas
interessadas em discutir o assunto que pesquisava (blogs didáticos). Mas esses
casos não representaram o padrão geral apresentado nas outras entrevistas, e estão
também ligados fortemente ao campo temático da pesquisa de ambas, fortemente
dependente do uso e imersão em ambientes da internet.
mi ero inserita in questo gruppo che si chiama [NOME DO GRUPO], mi sembra che ancora adesso ricevo newsletter che sono proprio un po’ dei… sono più di taglio psicologico, lo premetto… però questo gruppo di psicologi che affrontano
Análise dos dados coletados 373
proprio il tema della comunicazione mediata dal computer è che hanno un evento al anno, convegnistico, e poi hanno magari dei seminari ristretti… (N7, p. 7)229 mi ero messi in contato fra altro con altra persone che facevano questo stesso tipo di ricerca e anche online e quindi chattavo con loro, partecipavo dei forum, facevo delle cose online per la mia ricerca… quindi durante, per il dottorato lo usato parecchio, molto devo dire. (N11, p. 5)230 quindi in alcuni casi io ho contattato anche gli autori dei libri per cercare di capire di più delle ricerche che erano state fatte (N11, p. 7)231 E appunto ho cominciato a stabilire contatti con alcuni docenti che utilizzavano questi, con alcuni ricercatore che avevano… stavano facendo tesi e magari io ho anche tesisti che stavano facendo tesi in Italia su questo, su questo tema… (N12, p. 5)232 Mi hanno contattato attraverso il blog. Siccome io appunto sono entrata in contatto con quella community, allora su la community hanno messo che io stavo facendo questa ricerca, hanno messo questo posting, qui appunto si diceva che io stava facendo una ricerca e quindi io avevo bisogno di raccogliere delle esperienze, se qualcuno le fosse a conoscenza ne poteva parlare. (N12, p. 5)233
Talvez a natureza do trabalho do doutorando em ciências humanas
(especialmente a área de Educação abordada neste estudo), prioritariamente
solitária e com temáticas que, em geral, não envolvem grandes projetos de
pesquisa com financiamentos vultosos e dependência de colaboração externa, seja
a razão para este padrão apresentado, não levando à necessidade de buscar
contatos que sejam relevantes, além daqueles dentro do próprio círculo de
amizade e convivência profissional.
O entrevistado N9 fez questão de reforçar o caráter solitário de sua
pesquisa, não contou com uma parte empírica, sendo focada em obras que
229 Trad. livre: “eu estava dentro desse grupo que se chama [nome do grupo], eu acho que ainda hoje recebo a newsletter que são precisamente um pouco... são mais um recorte psicológico, digamos... mas este grupo de psicólogos que abordam o tema da comunicação mediada por computador é que possuem um evento anual, uma reunião, e então possuem também os seminários restritos...” 230 Trad. livre: “eu entrava em contato com outros, com outras pessoas que faziam este mesmo tipo de pesquisa e também online e então conversava via chat com elas, participava dos fóruns, fazia as coisas online para a minha pesquisa... então durante, para o doutorado a utilizei muito, muito devo dizer...” 231 Trad. livre: “então em alguns casos eu contatei também os autores dos livros para procurar entender mais das pesquisas que estavam sendo feitas.” 232 Trad. livre: “E eu comecei a fazer contato com alguns professores que utilizavam estes, com alguns pesquisadores que tinham... estavam fazendo sua tese e eu também contatei alguns doutorandos que estavam fazendo a tese na Itália sobre este, sobre este tema...” 233 Trad. livre: “Me contataram através do blog, desde que eu entrei em contato com aquela comunidade, então dentro da comunidade eu disse que estava fazendo esta pesquisa, escrevi esta postagem, dizendo que eu estava fazendo uma pesquisa e então eu tinha necessidade de recolher as experiências, se alguém tivesse conhecimento e me pudesse falar.”
Análise dos dados coletados 374
utilizava dentro das bibliotecas que visitou. Já para o entrevistado N10 a falta de
contato com outros pesquisadores era devido à originalidade de sua temática,
afirmando que existiam poucos interlocutores possíveis dentro da Itália,
recorrendo à literatura norte-americana e a contatos com sujeitos via internet para
compor sua empiria, mas não para discutir o seu trabalho de pesquisa.
In Europa non ci sono, ci sono in qualcuno... fanno uno in Scandinavia… é… ne fanno, lo fanno più in California, più li una radice, però li abbiamo… non ho potuto partecipare, ho parlato con un paio di persone in Italia… che… che sono tre maggiori esperti in ambiente open source e ambiente hacking, però anche loro, qua in Italia non ci sono convegni… fanno si, fanno in qualcosa ma non… non a livello academico, non ci sono… questi convegni qua… (N10, p. 15)234
O entrevistado N8, por exemplo, relatou que após o contato inicial com
outros pesquisadores e discutido os objetivos e assuntos que irão compor o texto
coletivo, ele vai para casa e começa a redigir o texto sem abri-lo para discussões
adicionais, preferindo a autoria solitária de sua parte, juntando somente ao final
com os escritos dos colegas. A escrita-colagem, que parte de uma comunicação
muito mais restrita, pouco negociada entre os pares, se torna a forma muito mais
comum de autoria, em contraste com a escrita colaborativa, conjunta e mais
intensamente negociada presencialmente ou em plataformas de autoria coletiva.
Na Itália, o programa de doutorado da UCSC implantou uma atividade
anual em que os doutorandos apresentam o andamento de suas pesquisas em
seminários internos, cada um preparando uma apresentação com média de trinta
minutos. O objetivo é ampliar a troca entre os doutorandos a partir do
conhecimento sobre o que cada um deles está investigando, procurando evitar o
isolamento dos pesquisadores. Segundo a entrevistada N5, estas atividades
ultrapassam a simples apresentação formal e permite uma troca mais efetiva entre
os pares acadêmicos, ao menos durante o dia reservado para as apresentações.
Também se pode pensar, a partir desse diagnóstico de relativo (mas não
total) isolamento do pesquisador, no próprio momento acadêmico do doutorando,
ainda formando suas afiliações teóricas e grupos de referência, pouco integrado à
234 Trad. livre: “na Europa não existe, existem alguns... fizeram um na Escandinávia... é... fizeram, os fazem mais na Califórnia, mais ali por ser a origem, mas nós temos... não pude participar, falei com uma meia dúzia de pessoas na Itália... que... que são os três maiores especialistas em ambiente de código aberto e ambiente hacking, mas também eles, aqui na Itália non existem congressos... os fazem, fazem alguma coisa mas não.. não a nível acadêmico, não existem... estes congressos aqui não...”
Análise dos dados coletados 375
rede de eventos e trocas acadêmicas interinstitucionais, trocas estas muito mais
características dos professores universitários com carreira já estabelecida. O
entrevistado N9 relata o crescimento e consolidação dessa rede de pessoas de
referência ao longo e após o término do seu doutorado, enfatizando em sua
entrevista as relações que desenvolveu por ter começado a trabalhar cedo como
professor universitário, antes mesmo de completar sua formação.
oltretutto poi al di la di internet sono, si sono moltiplicate tantissimo le miei possibilità di avere informazione da persone, perché adesso ho una rete di persone… è, guarda, molte volte è più che internet, io ho bisogno, non so, di approfondire o di capire una cosa, un certo argomento, non vado neanche più su internet, so che la mia collega (...) lei si occupa di quello.. é… e chiede informazione a me, come si avesse non? conoscenza distribuita e anche tra le persone concentrate tra … e questo anche una volta non c’è tutta questa rete di persone… (N9, p. 15)235
Esse modo mais tímido de proceder, com pouca diversificação dos
contatos externos, fica evidente ao se perceber que o objetivo mais relatado da
comunicação via internet pelos entrevistados foi a simples troca de materiais
acadêmicos, como referências bibliográficas, arquivos com artigos digitalizados e
em algumas ocasiões o envio de textos produzidos para colegas próximos lerem e
sugerirem modificações.
A comunicação com os pares, tanto os próximos quanto (mais raramente)
os distantes, faz parte do tipo que chamei de fontes humanas, ou seja, modos do
autor ir formando sua rede de contatos e referências através da consulta com
pessoas que possuem um conhecimento mais especializado em determinada
temática. A internet entra como facilitador dessa localização, embora a tendência
seja que os contatos estejam mais voltados aos objetivos e modos de proceder que
o meio acadêmico, a especialidade de pesquisa e o assunto da tese do doutorando
apresentam como mais adequado.
235 Trad. livre: “mas além da internet, se multiplicaram tanto as minhas possibilidades de ter informação de pessoas, porque agora eu tenho uma rede de pessoas... é, veja, muitas vezes é mais que a internet, eu preciso, não sei, de me aprofundar ou entender alguma coisa, um certo assunto, não vou nem mesmo na internet, sei que uma colega minha (...) se ocupa daquilo... é.. e pergunto para mim a informação, como se existisse não? Como se existisse um conhecimento distribuído e também concentrado entre pessoas... e isto também, há um tempo não existia toda est rede de pessoas...”
Análise dos dados coletados 376
... já a professora, a colega pesquisadora da UFMG , foi diferente... eu consegui, encontrei a tese dela, baixei tranquilamente pela UFMG, pelo site da universidade e aí eu entrei em contato com ela, ela foi super.. é... acessível, qualquer coisa que eu precisasse ela poderia... alguma referência, tava querendo conhecer outros autores que estavam na referência bibliográfica dela, aí ela falou que podia encaminhar pra mim (...) ... com ela eu estabeleci um contato bem... é... amistoso e de parceria mesmo né.. (N1, p. 10) hoje em dia eu até tenho feito menos isso, mas eu pegava e escrevia... eu via, tinha lá o autor.. tinha até um que eu tinha conhecido num evento em Brasília.. aí eu descobri o e-mail dele, escrevi pra ele, perguntando sobre uns textos, aí ele falou: "pô, esses textos eu já nem sei se eu tenho"... na verdade muitos textos foi antes, então o pessoal não tem uma versão digital né.. "aí vou te mandar esse que é mais novo.. e tal"...isso eu também acho interessante, esse contato né.. (N2, p. 7) e já no mestrado eu fiz contatos também com outras universidades, eu tinha contato com professor da Alemanha que veio a ser meu co-orientador no doutorado que é o professor que há anos é professor visitante no Brasil. [...] eu fiz contato com professores da França, por exemplo e eu, professores... é... um professor francês me mandou o material dele que eu li, que... não tava disponibilizado e me mandou... (N13, p. 9) o Google que me ajudava, o Google é que eu botava o nome da pessoa e aí achava onde que ela tava e entrava no site da Universidade, aí no site da Universidade normalmente tem os e-mails dos professores, né? E aí mandava o e-mail, era assim, era assim, com nome e sobrenome... (N16, p. 15) durante la tesi avevo scritto a uno che aveva fatto un articolo perché volevo chiedere una specifica, di uno strumento, di una cosa che avevo utilizzato e lui mi aveva risposto in modo molto blando, ma aveva risposto. (N8, p. 13)236 le tecnologie hanno loro ruolo di mediazione significativa, non sempre, però c’è sempre la persona che te dice: dami un consiglio, si vai a vedere quel sito… qualche maniera torni sempre li, qualche maniera torni sempre… li… oppure la persona… (N9, p. 16)237
Mesmo a comunicação direta com os sujeitos participantes da empiria da
pesquisa não foi muito relatada, somente em casos de excessão como o N2 e o
N10. O entrevistado N10 mobilizou questionários e plataforma online de
pesquisa, entrevistas via internet e contatos via e-mail com sujeitos de diversas
partes da Itália. Ambos tinham como característica um forte interesse e
conhecimento sobre o que havia de mais recente (de ponta) nos ambientes criados
236 Trad. Livre: “durante a tese escrevi a um que tinha feito um artigo porque queria perguntar uma coisa específica, sobre um instrumento, de uma coisa que tinha utilizado e ele me respondeu de modo muito brando, mas respondeu.” 237 Trad. livre: “as tecnologias tem o seu papel de mediação significativa, não sempre, mas sempre existe uma pessoa que te diz: me dê um conselho, se você vai ver aquele site... de qualquer maneira volta sempre ali, volta sempre ali... ou a pessoa...”
Análise dos dados coletados 377
na internet, ao contrário de outros sujeitos que demonstraram um interesse
compatível com o usuário mediano da internet, com menor diversificação nos
usos e nas práticas com os suportes digitais.
O caso N2, portanto, foi uma das exceções observadas pela diversidade de
meios utilizados para o contato com sujeitos distantes. A pesquisadora desde os
anos 90 já tinha interesse em juntar pessoas de outras cidades através da internet e
dos cursos a distância que participava, assim como teve a necessidade de se
comunicar com a orientadora via internet enquanto passou um período fora do
país durante seu mestrado no início dos anos 2000.
Esse hábito foi adotado para sua prática de pesquisa, através do contato
com outros pesquisadores via e-mail ou pessoalmente em eventos, evidenciando
um perfil mais aberto para a comunicação via internet. Apesar disso, os outros
meios emergentes de comunicação foram mais utilizados para a obtenção de
dados empíricos, como a visita a comunidades virtuais em rede social para captar
o que acontecia no campo de estudo dela e a comunicação com alguns sujeitos via
softwarer de mensagens instantâneas. A busca de fontes acadêmicas e de autores,
dessa forma, continuava convencional.
Essa forma de lidar com a comunicação nos espaços emergentes da web
foi parecida com a da entrevistada N6, que embora tenha coletado dados em
diversos sites na internet e entrado em contato com dois centros de pesquisa fora
da Itália, que depois foi visitar pessoalmente (inovação dos espaços de empiria),
quando perguntada sobre os contatos acadêmicos com outros pesquisadores em
sua temática foi taxativa em dizer que não fez trocas com ninguém, nem via e-
mail. Ela alegou que as trocas que tentou foram infrutíferas, sem retorno e
aprofundamento, e que não havia ninguém naquele momento fazendo uma
pesquisa semelhante à dela, bastando então somente a consulta aos livros escritos
por eles.
Con altri tipi di soggetti... sto pensando…non... nessuno, perché... avevo forse provato scrivere a un autore un testo ma non ho ricevuto risposta. (N6, p. 10)238 io non ho visitato comunità perché nessuna mi interessava dal punto di vista del tema.. [...] E poi non ho usato, non c’erano forum che me interessavano sul tema..
238 Trad. livre: “Com outros tipos de sujeitos.. estou pensando... não.. ninguém, porque... tentei escrever um texto para um autor, mas não recebi resposta.”
Análise dos dados coletados 378
hai tempi, siamo in 2003 e neanche più (…) di ricercatori sul questo tema non ne ho trovati. (N6, p. 9)239
Gráfico 49 - Variável “43. Tradição (Durabilidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Tradicionais estabelecidos na web
1. Uso predominantemente de meios mais antigos e estabelecidos como o e-mail pessoal e os newsgroups.
(2) Tradicionais estabelecidos na academia
1. Ida a eventos científicos. 2. Contatos pessoais. 3. Contatos com autores. 4. Seminários internos no doutorado.
(3) Recentemente estabelecidos na web
1. Uso de blogs e fotologs. 2. Uso de comunidades virtuais tradicionais: a. Listas de discussão via e-mail. b. Canais de chat textual. c. Fóruns. 3. Uso de instant messengers estabelecidos como o MSN e ICQ.
(4) Novos e emergentes na web
1. Uso de redes sociais como Facebook e Orkut 2. Uso de chat de voz como o Skype. 3. Uso de tradutores instantâneos online como o Google Tradutor e o Tradukka para manter comunicação em outros idiomas.
Tabela 44 - Descrição dos itens da Variável 43.
Quanto à tradição dos meios utilizados, os entrevistados tenderam mais
aos padrões acadêmicos estabelecidos para a comunicação científica,
predominando tanto os canais de comunicação presencial representado pelos
eventos científicos (congressos, conferências, seminários), os contatos presenciais
com outros autores e pesquisadores em grupo de pesquisa, quanto os canais mais
antigos da internet e semelhantes às comunicações por carta, agora substituídas
pelos e-mails pessoais e pelas listas de discussão coletiva.
às vezes o próprio grupo participava ou mandava representantes pros fóruns de educação infantil que se encontravam uma vez por mês na [UNIVERSIDADE], isso era uma maneira da gente se manter alimentados.. os congressos, lógico, que
239 Trad. livre: “eu não visitei comunidade porque nenhuma me interessava do ponto de vista do meu tema.. [...] e depois não usei, não existiam fóruns que me interessavam sobre o tema... faz tempo, estamos em 2003 e ainda mais (...) de pesquisadores sobre este tema no encontrei..”
0 2 4 6 8 10 12 14 16
(1) Tradicionais estabelecidos na web
(2) Tradicionais estabelecidos na academia
(3) Recentemente estabelecidos na web
(4) Novos e emergentes na web
43. Tradição (Durabilidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 379
a gente nunca para de ir e nesses momentos você troca com todo mundo e vê o que que a galera tá produzindo (N15, p. 11) altrimenti può accadere, questa è un’altra occasione, qualche seminario o conferenza incontri la persona di cui hai letto quest’articolo, di questo capitolo e magari lì attui lo scambio di confronti…con l’autore. (N8, p. 13)240
poi io ho anche partecipato a… a dei convegni, e… partecipando ai convegni io ho conosciuto le persone e ho raccolto anche materiali, quindi, non soltanto appunto partecipando come… é… persone che esponeva qualcosa, ma anche come uditrice, quindi ho cercato di raccogliere più possibile, poi anche attraverso i contatti con le persone, sono riuscita a intessere delle relazione… (N12, p. 8)241
O caso da entrevistada N4 é bem radical, relatando o uso exclusivo do e-
mail para se comunicar com amigos, alunos e para trabalho, tendo medo do
excesso de comunicação e demandas das pessoas, restringindo ao máximo o
número de pessoas com o qual troca mensagens. Para ela, o uso de redes sociais
só aumentaria a demanda por atenção, preferindo se manter fora desses novos
espaços da web. Não muito diferente do entrevistado N9, que relata um uso
intenso da comunicação via e-mal, mas pouco uso, por exemplo, dos instant
messengers e outras formas de comunicação surgidas mais recentemente, não
tendo perfil em nenhum site de rede social, somente na página de perfis de
professores no site de sua universidade.
eu criei uma dinâmica, inclusive de responder sempre, de não deixar acumular.. então eu recebo trabalhos né.. mensagens dos alunos, questões acadêmicas da universidade o tempo todo.. Então e-mail é tornou assim um espaço de trabalho que inclusive nos invade, porque aí não tem mais sábado, domingo, não tem feriado.. e eu fico muito naquela ansiedade de estar com a caixa limpa.. (N4, p. 6) poco il instant Messaging perché poi (…) professore [NOME DO PROFESSOR] non lo utilizzava, insomma, si utilizzava li mail con scambio di file, quindi mi ricordo che, quattro, cinque volta al giorno andavo a vedere il mail, scrive… (N9, p. 4)242
240 Trad. livre: “caso contrário pode acontecer, em uma outra oportunidade, em algum seminário ou conferência encontrar a pessoa que você leu o artigo ou capítulo e talvez inicie uma troca com o autor.” 241 Trad. livre: “então eu também participei dos... dos congressos, e... participando dos congressos eu conheci as pessoas e recolhi também materiais, então, não apenas participando como... é... pessoa que apresentava alguma coisa, mas também como auditora, então eu procureu recolher o máximo possível, e também através do contato com as pessoas, eu pude tecer relações...” 242 Trad. livre: “pouco o instant messenging porque então (...) o professor [nome do professor] não o utilizava, enfim, se utilizava o e-mail para troca de arquivo, então me recordo que, quatro, cinco vezes ao dia andava a chear o e-mail, escrever...”
Análise dos dados coletados 380
Como era de se esperar, os meios de comunicação novos (emergentes)
surgidos nos últimos anos, como as redes sociais (Facebook, Orkut, Google Plus),
os serviços da Web 2.0 colaborativa, e os serviços multimídia, que dependem de
uma banda larga estável, como o Skype e MSN, não foram utilizados (ou
relatados) com tanta frequência para fins de comunicação acadêmica. Talvez até
porque são meios de comunicação muitas vezes associados ao lazer, a atividades
para passar o tempo, o que contrariaria, talvez, a representação estabelecida a
respeito do que é ser um intelectual e de quais meios de comunicação deve
utilizar.
Houve também o caso do medo da perda da privacidade, visto que muitos
sites da Web 2.0 permitem a comunicação pública tanto de dados da vida pessoal
quanto de discussões e debates em comunidades virtuais.
muitas pessoas também tinham medo de ficar muito público né.. ainda tem muita gente .. aparecer muito.. o cara vai saber de toda minha vida.. vai saber o que você colocar também... porque da sua vida vai saber um monte de coisa.. se você jogar o seu nome lá vou descobrir um monte de coisa que eu não sei da sua vida.. né.. também se você jogar meu nome também vai descobrir .. (N2, p. 12) Não tenho Orkut, não tenho Facebook.. (N4, p. 6)
Entretanto, existem exceções, como foi o caso N7 em que a entrevistada
participava de lista de discussão composta pelos pares acadêmicos que
investigavam sua temática. O caso N12 também mostra que a entrevistada para se
inserir no campo pretendido da pesquisa, lança mão de comunidades virtuais
presentes ao redor de blogs na internet. Dessa forma, ela constrói a empiria
necessária para sua tese através de questionários e entrevistas, pois trabalhava
justamente com a didática presente nos blogs.
Mesmo assim, a mesma entrevistada não abriu mão da ida a eventos
científicos para criar novos laços, presencialmente, com outros pesquisadores,
evidenciando uma circularidade entre as novas mídias digitais, as mídias
tradicionais e os encontros formais acadêmicos. O caso N12 é semelhante aos
usos relatados pela entrevistada N2, quando disse que navegava nas redes sociais
para se inserir no universo das comunidades formadas pelo sujeitos pesquisados.
Análise dos dados coletados 381
Outro subitem do eixo temático que estudou os modos de comunicação
usados pelos entrevistados foi a finalidade com que eles usaram esses contatos
firmados.
Gráfico 50 - Variável “44. Objetivo (Finalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Obtenção de novos materiais
1. Com colegas de grupo de pesquisa. 2. Com autores, professores e pesquisadores. 3. Com especialistas no tema. 4. Com outros doutorandos.
(2) Manter contato informal com pessoas para alívio da solidão da pesquisa
(3) Manter contato com amigos e parentes quando está no exterior
(4) Consulta a respeito de fontes e temas
1. Com colegas de grupo de pesquisa. 2. Com autores, professores e pesquisadores. 3. Com especialistas no tema. 4. Com outros doutorandos.
(5) Envio para revisão de texto 1. Com orientador da pesquisa. 2. Com colegas do mesmo campo de pesquisa.
(6) Obtenção de dados com os sujeitos da pesquisa
(7) Criar laços para trocas mais duradouras
1. Com outros pesquisadores e autores. 2. Com especialistas no tema. 3. Com outros doutorandos.
(8) Marcar encontros presenciais
Tabela 45 - Descrição dos itens da Variável 44.
O objetivo principal da comunicação feita durante o processo de escrita da
tese era a obtenção de materiais, de referências, de fontes novas para a escrita,
fosse com pessoas do círculo próximo de amizades ou com pessoas mais distantes
0 2 4 6 8 10 12
(1) Obtenção de novos materiais
(2) Manter contato informal com pessoas paraalívio da solidão da pesquisa
(3) Manter contato com amigos e parentes quandoestá no exterior
(4) Consulta a respeito de fontes e temas
(5) Envio para revisão de texto
(6) Obtenção de dados com os sujeitos da pesquisa
(7) Criar laços para trocas mais duradouras
(8) Marcar encontros presenciais
44. Objetivo (Finalidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 382
(autores, integrantes de comunidades virtuais). Mobilizavam-se então buscas via
internet e contatos por e-mail diretos com o pesquisador-autor da fonte, sendo
facilitado também o contato quando estavam fora do país de origem do
doutorando.
Como dito anteriormente, esse contato era em sua maioria com pessoas do
círculo mais próximo de convivência, embora solicitações eventuais a
pesquisadores desconhecidos ocorressem, mas sem o mesmo diálogo e troca
relatada a respeito dos contatos conhecidos e presentes no cotidiano dos
pesquisadores.
Mas eu fiquei direto aqui, e aí, bom, fazendo contato com bastante pessoas, é.. é... adquirindo material pra... de pesquisa (N13, p. 9) Me comuniquei com muita gente, inclusive do exterior... então, mandaram até algumas coisas que tavam inéditas, ainda não tinham sido publicadas, eu já tava fazendo, já tinha síntese do artigo e não tinha como citar... (N14, p. 24) ... a gente criou aqui um grupo de pesquisa que é nosso e a gente se apóia muito, envia arquivo uma pra outra, então... (N15, p. 13) aí foi super interessante porque assim, aconteceu isso também no mestrado, algumas teses eu não tive acesso mas aí eu consegui o e-mail da pessoa e teve uma menina que mandou o livro que ela fez, a outra me mandou a tese pela internet. Teve um ainda na dissertação, eu usei, eu... eu usei uma bibliografia mas eu não tinha o... me deram uma cópia da cópia, eu não tinha o nome... não tinha o livro da onde tinha saído, aí eu consegui... eu consegui falar com o autor em Israel... (N16, p. 6) però ci si sono stati sicuramente scambi di materiale qualche volta io lo chiesto, magari qualcuno, ero stato ad un convegno se per favore poteva girarmi qualcosa che aveva trovato… è… qualche volta qualcun sapendo che io stavo facendo un certo tipo di ricerca mi chiedevano: tu sai si per caso mi sai consiliare un certo libro, un certo articolo e allora c’era questo scambi… (N9, p. 10)243 Si, aveva un contato online, quindi via mail e ci scambiavamo le informazione via mail. Tra nel caso appunto di questi interviste in cui andavo personalmente, però negli altri casi… si trattava di scambio online, quindi di informazione via mail e cioè scambio di risposta insomma… un po’ cosi. (N11, p. 12)244
243 Trad. livre: “mas existiram seguramente as trocas de materiais em algumas ocasiões que pedi, talvez a alguém que esteve em um congresso se, por favor, poderia circular algo que tivesse encontrado... é.. alguma vez alguém sabendo que eu estava fazendo um certo tipo de pesquisa me perguntava: você sabe por acaso me indicar um certo livro, um certo artigo e então existia essa troca...” 244 Trad. livre: “sim, tinha um contato online, então via e-mail e trocávamos as informações via e-mail. Entre os casos enfatizo as entrevistas nas quais andava pessoalmente, mas em outros casos... se tratava de trocar online, informações via e-mail e, isto é, trocas de respostas, bem... um pouco assim.”
Análise dos dados coletados 383
Somente no caso dos pesquisadores que estiveram um período maior fora
do país de origem, o doutorado sanduíche, é que a internet teve significativamente
maior utilidade na comunicação com amigos e parentes, ou via texto (e-mails) ou
via voz (comunicadores instantâneos por voz). A entrevistada N16 também
relatou a solidão dela como pesquisadora e como a internet preenchia essa
necessidade de conversar, utilizando para isso comunicadores via texto e voz,
assim como as redes sociais.
eu ficava muito em casa. Então a internet passou a ser além de um fonte de informação, um lugar de encontro com as pessoas... né, o MSN nossa senhora.. e o Skype, caraca... (N16, p. 18) quindi non solo per la ricerca e soprattutto perché durante il dottorato in Portogallo era un modo per mantenere contati con tutti gli amici. Sia quando era in Portogallo verso l’Italia che poi quando sono tornato in Italia verso tutti gli amici nuovi in Portogallo (N6, p. 3)245 ho fatto un periodo di Erasmus ad Amsterdam e li ho.. per necessità ho incrociato le tecnologie per comunicare e stare in connessione con mio mondo (N7, p. 1)246
Nesses casos, surgiram usos pouco comuns, a exemplo da entrevistada
N13 que relatou o uso intenso da internet para acessar sites que promoviam o
aprendizado de línguas, pois precisava exercitar o idioma alemão para o período
que passou fora do país, aproveitando dessa forma o potencial de comunicação e
interligação através de interesses comuns que a rede proporciona, criando
inclusive amizades de longa duração com pessoas no país em que passaria uma
temporada como estudante.
agora texto, realmente acho que foi o mais forte, de pegar material .. não tem muita coisa no Rio, não tem muita coisa.. (N2, p. 11) alemão, fui pra sites que sabe? Cursos de alemão e comecei assim.. e procurar exaustivamente e eu cheguei num site Tanden que é um site muito interessante que põe em contato pessoas que tem interesse em outros idiomas... aí eu peguei, disponibilizei lá, criei um perfil nesse site, disponibilizei e... eu acabei me correspondendo com quatro pessoas.. é... três da Alemanha e uma pessoa da Áustria... (N13, p. 11)
245 Trad. livre: “então não somente para a pesquisa e sobretudo porque durante o doutorado em Portugal era um modo para manter contato com todos os amigos. Seja quando era em Portugal para a Itália que depois quando retornei na Itália para todos os novos amigos em Portugal.” 246 Trad. livre: “Fiz um período de Erasmus em Amsterdã e ali eu tive... por necessidade eu usei a tecnologia para me comunicar e estar em conexão com o meu mundo.”
Análise dos dados coletados 384
Chama atenção o fato de somente seis entrevistados, em um total de
dezesseis, comentarem que mantinham comunicação para revisão de textos via
internet, seja com colegas de pesquisa ou com orientadores, a exemplo da
entrevistada N7 que manteve uma rede de pesquisadores conhecidos para os quais
enviava seus rascunhos para que os mesmos dessem seus pareceres a respeito dos
rumos que ela estava tomando em sua pesquisa.
É importante enfatizar que ainda existem orientadores acadêmicos que
resistem à troca de materiais via internet, mantendo a comunicação formal da
escrita somente via materiais impressos, preferindo também a comunicação
presencial, como relatado pelo entrevistado N14, uma pessoa muito ativa no uso
dos suportes digitais.
Dessa forma, nem sempre a restrição comunicacional era da parte do
próprio pesquisador, mas também daqueles que eram seus interlocutores e que
determinavam quais canais de comunicação deveriam ser utilizados. A seguir, três
casos que mostram os extremos tanto da facilidade para a revisão e recebimento
de respostas quanto das barreiras criadas por orientadores.
trabalhei muito usando a internet, diariamente e também pra fazer contato, eu sempre mantive contato com professor [NOME DO PROFESSOR], aqui, que ele tava na PUC na época, então assim, isso foi uma coisa, é... quase que cotidiana, a gente fazia muito contato... (N13, p. 14) o resto foi, ela escrevia as sugestões, eu trabalhava em cima, quando eu tinha alguma idéia eu mandava por e-mail “ó, eu tou pensando em mudar tal e tal coisa”, ela me respondia... as dúvidas mesmo eram todas por e-mail, porque era bem mais fácil do que eu ficar esperando uma hora para ela me atender eu acho um inferno... (N15, p. 17) E tive muito problema com a minha orientadora nesse sentido porque ela queria que eu imprimisse, entregasse na mão dela, ela fizesse as observações por escrito e me desse isso... então eu tinha que ler no papel e com anotação à lápis e conversar presencialmente... não fiz nem, nenhuma vez usei o Skype com ela, nada. (N14, p. 23)
O depoimento do entrevistado N14 é bem significativo, pois relata a falta
de resposta via e-mail dos pesquisadores mais conhecidos e de referência,
geralmente mais velhos e com pouca aproximação com as novas tecnologias
digitais para sustentar uma troca de e-mails. Apesar disso, ele relata que
conseguiu marcar encontros presenciais em eventos acadêmicos graças às buscas
realizados e os contatos conseguidos.
Análise dos dados coletados 385
procurei no Lattes essa pessoa e mandei e-mail, né... São péssimos... não funciona isso.. é.. não tem, eles não tem como... põe no Lattes um coisa, eu acho que é pra responder quem é chefe deles, mas quem tá querendo opinião muito difícil, a não ser os que me conheciam. Nesse aspecto a tecnologia foi muito impessoal, o que aconteceu foi.. Quase ninguém responde, quase ninguém reponde e-mail. (N14, p. 23) eu passei a encontrar muito mais, usei a tecnologia pra marcar encontro em algum evento, de Anped, de reunião em São Paulo... da Anped daqui... pra encontrar pessoalmente. (N14, p. 23)
Vale destacar também o baixo número de pesquisadores que mobilizaram
a internet para sua empiria, somente três. O caso do entrevistado N10 é paradoxal,
pois enquanto afirmava que contatar outros pesquisadores ou ir a eventos não
valeria a pena devido à extrema originalidade de sua pesquisa (em sua própria
visão), ele mobilizou, por outro lado, vários recursos, como a troca de e-mails,
conversas por comunicadores de voz, plataforma online para coletar respostas a
questionários, observação de discussões dentro de fóruns em comunidades
virtuais, visando compor seus dados a respeito do uso de plataformas online na
educação a distância.
Percebe-se assim que variaram os modos de comunicação quanto aos
públicos mobilizados pelo pesquisador ao longo do doutorado, a partir da temática
buscada e de como se enxergava as oportunidades disponíveis para complementar
e compor a pesquisa, não sendo uniforme os meios mobilizados e a intensidade
dos contatos mantidos pelo pesquisador com grupos de características diferentes.
E como foram discutidas na internet as ideias novas que emergiam durante
a escrita da tese ou mesmo os resultados das pesquisas? De forma informal ou
convencional? A seguir a última categoria analisado no eixo Modos de
Comunicação.
0 2 4 6 8 10 12 14
(1) Informal despreocupado
(2) Informal precavido
(3) Formal convencional
45. Idéias novas (Originalidade)
Total BR IT
Análise dos dados coletados 386
Gráfico 51 - Variável “45. Ideias novas (Originalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Informal despreocupado 1. Comenta com amigos e pesquisadores as novas idéias antes de publicá-las.
2. Usa espaços informais como encontros em bares e restaurantes, fórum em internet, comunidades virtuais.
(2) Informal precavido 1. Comenta em espaços informais, porém com registros autorais ou sobre temas não acadêmicos. 2. Usa meios como Blogs, que vinculam a escrita no tempo e com autoria identificada. 3. Preocupação moderada com direitos de autor.
(3) Formal convencional 1. Comunica a idéia nova através de escrita acadêmica convencional. 2. Espera um evento formal, usando congressos, simpósios, encontros e seminários, onde o registro do artigo é garantido.
Tabela 46 - Descrição dos itens da Variável 45.
De modo geral, o potencial de comunicação oferecido pela internet
apresentou subutilização na maioria dos casos que compuseram o grupo de
entrevistados desta pesquisa. Esta postura mais conservadora na comunicação se
refletiu na própria forma de compartilhar os achados de pesquisa, sendo que treze
pesquisadores disseram recorrer a canais formais consagrados na academia para
divulgar os resultados de suas pesquisas (congressos, seminários, revistas
acadêmicas), evitando os canais informais hoje presentes na internet (chats,
fóruns, redes sociais).
Somente no caso da entrevistada N7, houve uma comunicação informal
mais despreocupada com as consequências de estar expondo suas ideias e sua
pesquisa, pois havia em seu perfil uma grande vontade de receber feedbacks dos
outros pesquisadores, até mesmo por estar insegura a respeito da validade de suas
descobertas e proposições teóricas. Para essa entrevistada, os eventos formais não
a satisfaziam, visto que os comentários são muito gerais e com poucas sugestões
efetivas da parte dos especialistas.
fatto di potermi discutere in internet con esperti o con dei collaboratori interessati in lo stesso tema mi ha consentito di passare alla parte anche applicativa. (N7, p. 9)247 ad esempio nel suo caso è stato un… ci vediamo nel stesso convegno, lei presentava un paper e io un altro, però poi abbiamo avuto un modo di discutere in modo meno formale a rispetto alle cose che abbiamo presentato… (N7, p. 10)248
247 Trad. livre: “o fato de poder discutir na internet com especialistas ou com os colaboradores interessados no mesmo tema me permitiu passar também para a parte aplicada.” 248 Trad. livre: “por exemplo no caso dela foi um... nos vemos no mesmo evento, ela apresentava um artigo e eu um outro, mas então tivemos depois um modo de discutir de maneira menos formal a respeito das coisas que apresentamos.”
Análise dos dados coletados 387
Provavelmente este movimento mais conservador, que enfoca a autoria
individual e o uso de canais “certificados”, esteja refletindo a própria estrutura de
avaliação e atribuição de valor e hierarquia aos pesquisadores, conforme vimos na
primeira parte da tese quando analisamos as agências de regulação públicas e
como os financiamentos são direcionados de acordo com a publicação nesses
canais formais.
A competição por posições e maior destaque no campo de pesquisa
almejado incentivam a autoria textual prioritariamente individual, ou com alguns
co-autores, sendo a tendência nas agências de regulação e financiamento,
infelizmente, a contagem por números de publicações e não pela qualidade do
conteúdo da produção.
Os processos institucionais estabelecidos, a partir da metodologia de
análise e avaliação do trabalho implementadas, incentivam a competição entre
pesquisadores, o que desestimula o compartilhamento da autoria, por medo do
plágio (roubo intelectual) e perda do esforço de originalidade feito (e de outros
privilégios visados), cortando trocas acadêmicas que poderiam ser enriquecedoras
para o campo de pesquisa como um todo.
Dessa forma, sem eliminar o a questão sobre o nível de conhecimento e
uso dos suportes digitais, não podemos atribuir o conservadorismo no uso dos
meios digitais, com alguns pesquisadores evitando atitudes pioneiras de troca via
canais informais na internet, simplesmente atribuindo a uma rejeição ou simples
falta de conhecimento sobre os novos suportes de característica digital e
conectados em rede.
Falemos então de outros níveis de interesse em jogo que podem determinar
esses usos, razões que envolvem também as disputas derivadas e construídas pela
naturalização das regras a que os sujeitos do campo acadêmico estão envolvidos e
compartilham.
já tinha naturalmente escrito várias coisas.. sobre determinados conceitos... trabalhado e até apresentado em alguns eventos... (N1, p. 8) participar dos congressos, e mandar os resumos e isso e aquilo. (N4, p. 13) Isso eu não consegui, uma discussão... uma discussão mais, eu senti as pessoas muito solícitas em me passar o que elas tinham feito, mas um bate-bola sobre o que que eu tava fazendo... Nadica de nadica... (N16, p. 15)
Análise dos dados coletados 388
Quem mais evidenciou essa precaução com o compartilhamento de ideias
de maneira informal foi o entrevistado N8, que relatou um caso em que ao expor
suas opiniões e ideias de pesquisa durante uma conversa de bar, as teve plagiadas
por uma colega no livro que publicou logo em seguida. Após essa ocorrência ele
adota uma postura de evitar falar demais o que está pensando e pesquisando,
procurando os publicar primeiro em canais formais para depois poder comentar
em público. A mesma postura relata ter em comunidades virtuais, pois considera
que ali qualquer um pode as ler e não existem mecanismos legais e oficiais para
citar a origem da mensagem, permitindo que alguns a publiquem depois como se
fosse da própria autoria.
quello se entra nel campo della ricerca, é.. sono un po’ più schivo, divento più un larker, divento più uno che legge… ma c’è una legge non scritta, se tu continui a scrivere nel forum le cose che pensi, qualche un altro scriverà l’articolo prima di te… E quindi devi stare attento… a quando ti esponi in queste community (N8, p. 14)249 se io passassi ogni ora al giorno, ogni giorno un ora a discutere con colleghi ricercatori di questione continuamente aperto, senza avere terminato la ricerca, senza avere, io non, io cederei continuamente idee o opinione ad altri, prima di poterlo scrivere certificare un articolo… dovrei farlo dopo… (N8, p. 15)250 me li devo anche tenere buone non portarle fuori al momento giusto perché purtroppo vige la legge che è il primo che scrive quello che viene citato o quello che io ha detto per prima (N8, p. 15)251
Para finalizar a análise deste eixo temático, enumero a seguir os pontos
principais encontrados:
249 Trad. livre: “aquilo que entra no campo da pesquisa, é... eu sou um pouco esquivo, me torno um observador, me torno mais um que lê... mas tem uma lei não escrita, se você continua a escrever no fórum aquilo que pensa, algum outro escreverá um artigo primeiro que você... E então deve estar atento... o quanto você se expõe nestas comunidades.” 250 Trad. livre: “Se eu passasse todas as horas do dia, todos os dias por uma hora a discutir com colegas pesquisadores sbre assuntos continuamente abertos, sem hver terminado a pesquisa, sem ter, eu não, eu cederei continuamente ideias ou opiniões a outros, antes de poder as ter escrito e certificado em um artigo... tenho então que fazer depois...” 251 Trad. livre: “mas devo também as manter e não as colocar fora antes do momento adequado porque, infeliezmente, a lei que se aplica é a do que primeiro escreve que vem a ser citado e não o que eu disse antes de todos.”
Análise dos dados coletados 389
Quadro 21 - Condiderações resumitivas sobre os modos de comunicação relatados pelos doutorandos.
A comunicação ainda é restrita aos pares mais próximos
É no contato com os pares mais próximos que as trocas mais intensas de informações, os conselhos e as revisões de textos ainda na fase de rascunho são realizados.
Pouco ou nenhum relato de contato com outros pesquisadores via comunidades virtuais, salvo dois casos em que as entrevistadas eram mais ativas online .
Quando os contatos existem, são mais para observação daquilo que é dito pelos outros do que para participação direta em comunidades virtuais.
A internet é utilizada para a comunicação interna de grupos de pesquisa, conhecidos do próprio departamento na universidade, como suporte auxiliar ao trabalho presencial.
Algumas razções alegadas para o isolamento do pesquisador
Trabalho essencialmente solitário da pesquisa, sem projetos de autoria coletiva ou participação externa.
Em geral as pesquisas em ciências humanas não são patrocinadas por terceiros, sendo resultado do trabalho de uma só pessoa.
Afiliações acadêmicas ainda estão sendo contruídas, assim como as posições teóricas.
Falta de trabalhos semelhantes sendo realizados (originalidade), impedindo o contato por ausência de interlocutores, relatado em dois casos.
Falta de resposta dos autores contatados, ou respostas simples e sem maiores aprofundamentos.
A opção mais comum é pela escrita‐colagem quando são feitos textos em grupo.
Atividades de comunicação: entre a troca de materiais e o uso tímido dos meios emergentes
Objetivo principal era a troca de materiais acadêmicos: referências bibliográficas, arquivos com artigos digitalizados e em algumas ocasiões o envio de textos produzidos para colegas próximos lerem e sugerirem modificações.
Forte presença de fontes humanas como atalhos para o pesquisador encontrar os materiais que necessita, ao modo de uma consulta aos "catálogos humanos" mais próximos.
Pouco uso dos meios de comunicação emergentes surgidos com a Web 2.0 e com o aumento da largura de banda, em especial a rejeição das redes sociais por grande parte dos entrevistados.
Canais "certificados": a comunicação mais tímida também reflete o receio de expor ideias originais, inéditas, em comunidades virtuais abertas, antes de uma formalização através de eventos científicos.
Comunicação e a tradição acadêmica
Tendência que os contatos estejam mais voltados aos objetivos e modos de proceder que o meio acadêmico, a especialidade de pesquisa e o assunto da tese do doutorando apresentam como mais adequados.
A busca de fontes acadêmicas e de autores continuava convencional (eventos científicos, contatos presenciais, grupos de pesquisa), com o uso tímido dos novos meios de comunicação digital, predominando aqueles da primira fase, especialmente o e‐mail.
Alguns casos utilizaram a internet para o contato com os sujeitos participantes da empiria através de formas emergentes ou recentemente estabelecidas de comunicação, como redes sociais, fóruns e comunicadores por voz.
Ainda existem orientadores acadêmicos que resistem à troca de materiais via internet, mantendo a comunicação formal da escrita somente via materiais impressos, não sendo então uma restrição do pesquisador, mas daqueles com quem se comunica.
8 Considerações conclusivas
No momento de conclusão deste trabalho, faço, em verdade, um confronto
entre as principais tendências (e permanências) encontradas no uso de suportes
digitais pelo grupo de acadêmicos ouvidos – suas trajetórias no processo de escrita
de suas teses – e os dados coletados nas obras de autores destacados por mim nos
capítulos 2 e 3.
Para tal, retomo as discussões sobre os eixos temáticos apresentados
anteriormente (Capítulo 7), como uma forma de oferecer ao leitor a síntese dos
principais pontos a que cheguei, em um total de nove.
8.1 As transições em múltiplos níveis: principais tendências e permanências detectadas a partir da análise crítica da empiria
1. Presença cotidiana: os suportes digitais, antes acessados via instituições
formais, agora estão presentes no cotidiano de maneira informal.
Podemos dividir os usos dos suportes digitais em três grandes períodos,
conforme vimos no capítulo 3: (1) os anos 90 (1990-1999), (2) a primeira metade
da década de 2000 (2000-2005) e (3) a parte final da década até os diais atuais
(2006-...).
Na década de 90, os usos ainda estavam restritos a programas com funções
mais limitadas, acessados no próprio computador sem depender de uma conexão
contínua com a internet, ainda com custo muito elevado por consumir
continuamente pulsos telefônicos. Poucos eram os espaços de acesso e ainda
muito concentrados nas mãos de experts com competência para operar programas
com interfaces obscuras de acesso a manipulação de dados. As dificuldades de
ordem técnica eram acentuadas, sendo que além da interface existia o obstáculo da
velocidade e da intermitência de acesso aos dados, mesmo os mais simples como
Considerações conclusivas 391
textos e pequenas fotos, e a ausência de buscas integradas, conforme levantados
no estudo de Bane & Milheim (1995).
A Itália não passou pelo bloqueio da indústria da informática tal como o
que foi imposto pelo governo brasileiro nos anos 80 e nem estava no conjunto de
países subdesenvolvidos sem recursos para aquisição de equipamentos, como os
casos estudados por Fidzani (1998). Logo, ela saiu na frente em relação à
precocidade dos usos, com alguns entrevistados relatando o contato inicial bem
cedo com os primeiros modelos de computadores pessoais lançados pela indústria.
Para dois entrevistados, o contato inicial com a internet ocorreu até mesmo antes
de sua interface gráfica ser lançada através dos programas navegadores (web
browsers). Ambos tinham o perfil do nicho de veteranos da informática estudados
por Bane & Milheim (1995) e, em parte, por Pinheiro (2003) quando aborda
pesquisadores brasileiros com longo período de acesso via universidade.
Dessa forma, para aqueles que já possuíam computador em casa ou no
trabalho, os recursos se limitavam ao armazenamento de arquivos, acessos
eventuais a websites estáticos e a editores de texto que transformavam o
computador em uma sofisticada “máquina de escrever” e “arquivo de dados”. Nos
anos 90, as aplicações multimídia mais sofisticadas eram fornecidas em CD-
ROMs e disquetes e a produção caseira de imagens, áudios e vídeos era
praticamente inexistente. Vale lembrar que o acesso comercial à internet só é
liberado a partir da metade dos anos 90, sendo antes a internet utilizada somente
através dos centros especializados em tecnologia da informação, os órgãos de
governo e em departamento de universidades.
Nos depoimentos coletados, fica evidente que boa parte da “geração 90”
iniciou seu contato com os suportes digitais fora de casa, por motivos de estudo
ou profissionais, embora o aprendizado tenha se dado através do auxílio informal
de amigos, familiares e colegas. O acesso inicial em casa, com um computador
próprio, não foi o padrão apresentado, dependendo-se do investimento de
instituições na aquisição e incentivo ao uso dos novos suportes, especialmente as
mais ricas e propensas à inovação.
Porém, atualmente, a tendência é que, cada vez mais, o contato inicial com
os suportes digitais aconteça em casa, de maneira informal e cotidiana e sem a
sensação de transição entre tipos de suportes ocorrida ao longo dos anos noventa,
em especial a transição máquina de escrever-computador pessoal. A
Considerações conclusivas 392
multiplicação dos suportes digitais além do computador pessoal e sua conexão
contínua, como no caso dos telefones celulares e tablets, acaba por gerar novas
possibilidades de acesso, escrita e leitura, processo que foi insinuado, mas pouco
desenvolvido nos depoimentos coletados, justamente por serem fenômenos muito
recentes.
Importante lembrar que a carência inicial de infraestrutura e equipamentos
(redes, computadores) nos departamentos de ciências humanas, tal como
detectado no estudo de Lazinger, Ba-Ilan & Peritz (1997) e de modo mais geral
por Aqil & Ahmad (2011) e Khan & Ahmad (2009), não existe mais nas
universidades participantes desse estudo (PUC-Rio e UCSC Milano). Ambas já
apresentavam amplo acesso a computadores, com internet Wi-Fi por todo campus,
e os pesquisadores já tinham seus laptops e outras modalidades de equipamentos
pessoais. Somente em casos em que o início do doutorado se situou por volta do
ano de 2005 (minoria) que alguns problemas de acesso à internet ainda foram
relatados, mas sendo corrigidos com a instalação de equipamentos e acesso ao
longo do doutoramento.
2. Uso mediano predomina: o uso dos suportes digitais se mantém no nível
intermediário e, em alguns casos, básico.
Mesmo que os usos tenham se banalizado através dos suportes digitais
difundidos no cotidiano dos pesquisadores e estes os utilizando com maior
frequência de acesso, a tendência é que se mantenham no nível intermediário e
básico, com o uso de aplicações mais simples, não sendo tão sofisticado como em
alguns relatos encontrados junto aos experts. Nem todos se dedicam em
profundidade a aprender sobre recursos mais sofisticados potencialmente
aplicáveis às atividades de pesquisador.
Essa constatação vai contra a expectativa de que quanto mais se sofisticam
os programas de computador e quanto mais recursos oferecem (novos programas,
banda larga de acesso), mais sofisticados se tornariam os seus usuários com o
passar do tempo. Talvez esta ideia persista porque muitos estudos, como o de
Uddin (2003) evidenciavam o contrário, ou seja, que a falta ou a precariedade de
acesso e de recursos disponíveis, assim como a curta experiência com
computadores, limitava a sofisticação de uso por parte dos acadêmicos.
Considerações conclusivas 393
Estudos como o de Fidzani (1998) e Junni (2007) já mostravam que a falta
de uma formação específica de pós-graduandos sobre os recursos digitais
oferecidos pelas bibliotecas e seus mecanismos de busca podia gerar a
subutilização ou não-utilização dos mesmos, devido a conhecimentos que os
professores esperavam que tivessem e que, na realidade, boa parte dos alunos de
pós-graduação não tinha. George et al. (2006) relatavam em seu estudo a
dificuldade de quase metade dos pós-graduandos entrevistados por eles com a
interface dos sites das plataformas e a confusão para se encontrar bancos de dados
que fossem relevantes ao estudo. Esse padrão podemos também estender para a
área de análise de dados empíricos, sendo ainda manual para muitos dos
entrevistados participantes no estudo desta tese.
Dessa forma, o acesso a e-mails, sites de busca de informação (generalistas
ou especializados), comércio eletrônico, redes sociais, portais de notícias e
programas de editoração de texto e planilha eletrônica predominam muito mais do
que o uso de aplicações específicas de busca automatizada de fontes, programas
de tratamento avançado de dados e aplicações para armazenamento “na nuvem”.
Os recursos liberados pela banda larga, como vídeos e acesso a acervos
multimídia e a comunicação por voz e vídeo, também foram pouco relatados pelos
entrevistados, apesar de estarem disponíveis desde a segunda metade da década de
2000.
O maior tempo dedicado ao uso dos suportes digitais não implica maior
sofisticação de recursos utilizados, pois se repetem as mesmas atividades. Importa
a forma como o sujeito situa suas atividades e como concebe quais recursos
precisará utilizar em sua realização. Com estes critérios em mente, é determinado
então o grau de imersão e sofisticação de uso, que exige maior investimento de
tempo para aprendizado e familiarização, variando entre o perfil de rápida e ampla
imersão ao que prefere ser lento e seletivo.
No estudo de Chang & Perng (2001), apesar do alto investimento do
governo de Taiwan no acesso a equipamentos e redes de computadores junto a
toda população do país, os universitários ainda alegavam desconhecimento ou
baixo uso dos bancos de dados de revistas científicas online. Seyal, Rahman &
Rahim (2002) perceberam um padrão semelhante com a subutilização da internet
pelos acadêmicos de escolas técnicas e profissionais em Brunei, apesar dos altos
investimentos do governo.
Considerações conclusivas 394
Percebe-se que formação auxiliar, com bibliotecários e professores
experientes, incentivada pelos programas de pós-graduação, na área de Educação
e nas ciências humanas em geral, seria de grande valia para aprimorar as
modalidades de uso, as tornando mais sofisticadas a partir da maior
conscientização sobre a existência de modalidades de programas de computador e
recursos online antes desconhecidos.
Essa formação seria, na linguagem utilizada por Seyal, Rahman & Rahim
(2002), uma forma de provocar o aumento da utilidade percebida e da facilidade
de uso percebida dos recursos informáticos pelos alunos de pós-graduação. A
mesma recomendação, valorizando a existência e o conhecimento dos
bibliotecários, foi feita por Lopes & Silva (2007), e de modo mais geral Khan &
Ahmad (2009), quando detectaram a falta de conhecimento técnico mais apurado
e de treinamento no uso de periódicos científicos pelos pós-graduandos.
O fato é que na vida acadêmica, em geral, o perfil de uso básico (e-mails e
buscas na internet), no campo das ciências humanas, permanece como permitido e
viável, visto que as atividades principais continuam sendo a elaboração de textos
através da consulta principalmente a fontes acadêmicas textuais (PDFs e
impressos na biblioteca e livraria), exigindo-se um baixo grau de sofisticação
técnica e, consequentemente, de uso de novos recursos presentes nos suportes
digitais.
Alguns sinais de mudança estão ocorrendo a partir da migração intensa dos
artigos e outros materiais acadêmicos para repositórios de dados na internet. Esse
movimento exige do acadêmico a adesão e o uso do suporte digital na busca e
envio de seus escritos para análise e seleção em periódicos. Apesar disso, o uso da
internet como fonte empírica e para comunicação com outros pesquisadores ainda
se apresentou bem tímido, com alguns casos sendo pioneiros e fazendo uso das
novas possibilidades abertas pelo ciberespaço.
3. Leitura em transição, escrita consolidada: a escrita no computador se
estabilizou e a leitura se mantém dividida.
Os modos de leitura se mostraram divididos entre os entrevistados, alguns
tendendo a ler somente em tela, seja do desktop ou, em menor número, de um
tablet, e outros tendendo a ler em papel, seja em materiais já adquiridos nesse
Considerações conclusivas 395
formato ou impressos a partir de arquivos digitais. Exatamente a metade dos
entrevistados se dividiu entre a tela e o papel, os utilizando simultaneamente sem
privilegiar nenhum dos dois suportes.
Dessa forma, existe nos modos de leitura um claro indício de transição
entre os suportes, sendo que o digital ainda não se consolidou como opção viável
de leitura permanente, especialmente diante de telas de computadores de mesa
quando são exigidos grandes períodos para leitura de documentos. Também é bom
lembrar que boa parte das obras ainda é publicada somente em formato impresso.
Quanto aos tablets, as dificuldades de compartilhamento dos arquivos e das
anotações ainda pesavam como barreiras para sua plena adoção, o que atualmente
já foi tecnicamente superado em relação às primeiras gerações dessa modalidade
de suporte digital.
Mesmo assim o computador se tornou o principal aglutinador de leituras
feitas, através da facilidade de se anotar e agrupar informações em arquivos para
posterior consulta, sendo menos expressivos os relatos de anotações feitas
separadamente em papel. Mesmo quando a leitura é feita em impressos, os pontos
principais são passados diretamente para o computador, seja na fase de leitura,
através de fragmentos ainda dispersos, ou no momento final de elaboração do
texto.
É bom enfatizar que o esquema básico de leitura-fichamento-escrita se
manteve, sendo que a escrita simultânea, seja mais controlada ou a radical,
desestabiliza a linearidade dessas etapas, as mesclando em diferentes momentos
no processo de elaboração da tese ao modo de sucessivas camadas acrescidas ao
longo do tempo. Esses novos processos não-lineares exigem maior planificação e
controle dos temas-assuntos em esquematizações tais como sumários e mapas
conceituais, assim como maior controle da origem das referências consultadas.
Em geral, as anotações são guardadas localmente, não compartilhadas, indicando
a autoria individualizada como padrão entre os acadêmicos, visto que o produto
final exigido baseia-se nesse modelo de autoria.
Se os modos de leitura demonstraram ainda a transição e simultaneidade
de suportes, a escrita já mostra o fim dessa transição, sendo totalmente executada
no computador, especialmente pela facilidade trazida pela edição eletrônica, muito
mais ágil e maleável que a escrita em papel ou em máquina de escrever. Alguns
entrevistados relataram não conseguir mais escrever a mão, tendo dificuldade
Considerações conclusivas 396
quando uma tarefa do tipo é exigida, a exemplo de provas universitárias e
concursos, assim como relataram a enorme dificuldade que havia para se compor
um obra impressa através da máquina de escrever, que exigia múltiplas
redigitações.
Se quanto ao suporte utilizado, a escrita já completou a transição, quanto
ao desenvolvimento no tempo ela ainda se mostra bastante equilibrada entre a
linearidade herdada dos suportes impressos e analógicos e a simultaneidade
permitida na edição de múltiplos lugares (maleabilidade) no suporte digital. A
escolha vem basicamente do modo como o doutorando visualiza a sua escrita e
não mais como uma limitação derivada do suporte. O suporte digital permite a
execução das duas modalidades de escrita, sendo alguns mais conservadores e
outros mais ousados na aplicação de seus recursos.
4. Autoria individual ou semi-coletiva: permanece a tradição acadêmica da
autoria individual e baseada em referências de prestígio.
A tradição acadêmica da autoria individual, que busca a originalidade de
ideias dentro de uma rede de associações (e posições) no espaço universitário,
permeou a maioria dos usos de suportes digitais relatados pelos entrevistados.
Embora os novos suportes tragam uma estrutura de conexões em rede ágeis e que
possibilitam o trabalho coletivo, em grupo, negociado, a muitas mãos e distribuído
em tempo real aos demais, não foi esse o padrão observado entre os autores
acadêmicos.
De forma provocadora e ao mesmo tempo consciente da problematização
trazida para esta tese, a princípio podemos dizer que a interação permitida pelos
suportes digitais – com todas as partes componentes de uma rede podendo
potencialmente se comunicarem e interferirem na criação das outras partes
envolvidas nesta mesma rede, a possibilidade de co-criar e colaborar em projetos
coletivos dentro da rede internet –, vem sendo pouco aproveitada pelos
acadêmicos durante a elaboração de seus textos, que acabam por utilizar mais a
internet como fonte de informações (acesso a bases de dados) e meio de
comunicação eventual, como local de extração de conteúdos e local de
publicização de sua própria produção autoral, essencialmente individual.
Considerações conclusivas 397
Na prática, a co-autoria aconteceu em documentos periféricos, semi-
acadêmicos, como os relatórios de trabalho, ou em artigos científicos a poucas
mãos, através da escrita-colagem, cada um fazendo a sua parte separadamente e
as juntando em um único documento ao final. Essa escrita “coletiva” acontecia
com os pares mais próximos, através da comunicação direta com os mais
conhecidos, e raramente com pessoas distantes, como é comum se encontrar nos
processos emergentes de autoria coletiva na Web 2.0, indo de acordo com os
resultados encontrados por George et al. (2006).
É bom enfatizar que alguns orientadores ainda rejeitam o recebimento via
internet de textos produzidos pelos orientandos, exigindo o encontro presencial e a
análise em suporte impresso. Vale lembrar que, em nosso estudo, estamos falando
de pesquisadores em início de carreira, que concluíram o doutorado há pouco
tempo e, portanto, não possuem uma rede de contatos e parcerias desenvolvida,
tendo que trabalhar com aqueles que estão mais próximos fisicamente. No estudo
de Pinheiro (2003) com pesquisadores brasileiros veteranos, o padrão de
comunicação com os pares via internet, incluindo os de outras áreas, era bem alto,
assim como o compartilhamento de pre-prints, indicando que os padrões mudam
de acordo com o momento da carreira.
Quanto à modalidade dos interlocutores, entre os casos analisados para
esta tese, verificamos que a citação de autores continua sendo a partir do prestígio
acadêmico e local de publicação dos mesmos, sendo que a produção aberta e
informal presente na internet (Web 2.0), as “fontes subterrâneas”, extraoficiais ou
“marginais”, servem como ponto de partida, como um caminho que deve levar a
esses autores reconhecidos.
O estudo de Junni (2007) já constatava que apesar do crescimento do
acesso a fontes cinza na internet, eles não tiveram seu uso aumentado entre os
período de 1985 e 2003, devido à percepção dos acadêmicos de falta de qualidade
das mesmas. No estudo de Kai-Wah Chu & Law (2007), os doutorandos
relataram, em primeiro lugar, o uso de fontes formais e humanas como revistas
científicas, livros, autores e especialistas externos, publicações de eventos,
conferências, teses, ida à biblioteca, e nas últimas posições constava o uso de
fontes “marginais”.
Dessa forma, a consulta aos produtos publicados pelos novos autores não-
formais em blogs, wikis e comunidades virtuais serviram como atalhos que não
Considerações conclusivas 398
são explicitados oficialmente nas referências listadas, da mesma forma que as
pessoas ao redor poderiam servir como “fontes humanas” para indicar de maneira
mais rápida autores que demandariam mais tempo para serem mapeados e
encontrados, não sendo necessariamente citadas ao final do estudo. Os
acadêmicos, em geral, optam pela segurança dos repositórios acadêmicos
tradicionalmente certificados pelos pares.
A forma como essa produção paralela recebeu legitimidade pelos
acadêmicos entrevistados foi através do seu uso como fonte empírica, ou seja,
através do uso das falas dos sujeitos, suas manifestações e marcas deixadas online,
visando complementar o tema de pesquisa escolhido. Nesse caso, entram as
pesquisas em que a própria internet serve como campo empírico para a resolução
de temáticas contemporâneas, como o uso de fóruns por estudantes ou a criação
de blogs com fins didáticos. Logo, a agilidade para localizar e obter dados, seja
por instrumentos ou por observação de registros deixados pelos seus integrantes,
torna a internet um manancial valioso para a coleta de dados.
5. Ampliação do escopo de fontes: os suportes digitais ajudam a
internacionalizar, “desintermediar” e diversificar os tipos de fontes
coletadas.
Talvez o setor que mais tenha recebido impacto com a introdução dos
suportes digitais seja o de disponibilização e busca de fontes de informação,
aumentando-se o número de fontes citadas e diminuindo-se a idade das mesmas
(Junni, 2007) assim como a frequência de acesso e uso cada vez mais altos (Khan
& Ahmad, 2009). Dessa forma, aumentou-se a velocidade e a instantaneidade de
busca e acesso aos materiais, com o entrelaçamento da vontade de se obter uma
informação e o acesso instantâneo ao conteúdo desejado, através dos buscadores
presentes na internet (especializados ou generalistas).
Essa velocidade (facilidade de acesso) entra em contraste com o
deslocamento e espera necessária para se obter material em bibliotecas e
instituições físicas (Lopes & Silva, 2007), criticadas por alguns de nossos
entrevistados, por não conter acervo tão atualizado quanto a internet, que os
publica instantaneamente. Ao mesmo tempo, diversificaram-se, também, as
modalidades desses materiais, que agora além de serem textuais são também
Considerações conclusivas 399
audiovisuais (multimídia) ou mesmo numéricos puros (bases de dados
institucionais compartilhadas).
A partir do processo de digitalização crescente de fotografias, vídeos,
ilustrações e obras impressas, a entrada do acadêmico nas redes de referenciações
se tornou mais ágil, embora tenha também aumentado o número de fontes e
autores disponíveis, exigindo-se estratégias mais elaboradas de busca e seleção de
materiais. A união de diversas bases de dados em buscadores integrados, além de
trazer uma sobrecarga de materiais disponíveis (excesso de dados e informações),
também trouxe a possibilidade de internacionalização dos estudos, porque, ao
estarem na internet, estão potencialmente disponíveis a todos, em qualquer parte
do planeta.
O desafio então é conseguir circular entre tipos de fontes e modalidades de
suportes de modo gerenciado e com um critério ajustado na escolha dos materiais,
sendo essa a tônica encontrada nos depoimentos em que parte dos entrevistados
confia no desenvolvimento de uma espécie de “sabedoria” para a realização das
escolhas; sabedoria essa que cresce à medida que se ganha experiência acadêmica
e se passa pelo curso de graduação, pós-graduação e depois a docência
universitária (Barret, 2005).
Entre os caminhos comentados pelos entrevistados durante seu
doutoramento, esteve o acesso ao conhecimento de pessoas de referência, as
fontes humanas, como professores experientes e colegas de curso, que indicam
leituras, autores, locais de referência, facilitando o acesso a fontes que os
buscadores online não são capazes de filtrar com tanta precisão. Da mesma forma
que os entrevistados participantes desta tese, no estudo de Lopes & Silva (2007),
os pesquisadores relataram que na busca da informação os colegas e membros do
grupo de pesquisa foram indicados como primeira opção de mediadores, seguidos
por colegas de outras universidades.
Uma consequência da diversificação de fontes, da instantaneidade de
acesso e da introdução do suporte digital, foi a detecção das buscas cada vez mais
sendo efetuadas em modo circular, tanto entre materiais impressos e multimídia
analógicos, quanto em materiais digitais, utilizando-se para isso diversos
disparadores: local, autor, grupo, publicação.
Seguir as referências bibliográficas, saltando de um estudo a outro ao
modo de uma trilha ou rastro sendo seguido, é chamado em língua inglesa de
Considerações conclusivas 400
citation chaining ou citation chasing (Barret, 2005), uma forma de encurtar
caminho e de se lidar com o excesso de informações. Na pesquisa de George et al.
(2006), constatou-se que o pós-graduando vai dos sistemas de busca generalistas
para os bancos de dados especializados, em um movimento de aprofundamento na
pesquisa, algo que também constatamos em nosso estudo quando percebemos que
o doutorando vai aos poucos entrando na rede de associações e referências
pertencentes ao seu campo de pesquisa.
Junni (2007) já constatava que parte dos materiais “clássicos”, textos de
grandes autores, ainda e em formato impresso, o que exige a circulação entre os
suportes. É esse movimento que parte dos pesquisadores entrevistados relatou em
seus discursos, sendo a materialização do modo como eles se situavam no campo
de referências e discursos presentes em sua área de pesquisa. Dessa forma, o nível
de aprofundamento em camadas só depende do tempo investido, do interesse na
temática e do “fôlego” do pesquisador.
Bases abertas e restritas? O impasse continua sem uma solução definitiva
e a biblioteca mantém-se parcialmente como intermediária.
Quanto à modalidade de acesso às fontes, ainda não se chegou a uma
solução majoritária para se resolver o impasse dos que defendem o acesso
totalmente aberto e gratuito e os partidários do acesso fechado via assinaturas. No
caso de pesquisas internacionais, para se ter acesso depende-se da assinatura de
bases de dados feita periodicamente pela biblioteca da universidade, um forma das
mesmas intermediarem o processo quando a presença física do pesquisador se
torna dispensável.
No caso italiano, observou-se a dependência acentuada da biblioteca para a
obtenção de artigos e outras modalidades de textos acadêmicos, visto que os
arquivos abertos ainda não são o padrão adotado pelo país, exigindo-se a
assinatura de revistas mediadas pelos bibliotecários. Apesar dessa limitação, o
acesso remoto a artigos acadêmicos via internet permitia que a intermediação da
biblioteca não exigisse necessariamente a presença física do pesquisador.
Processo semelhante foi detectado por Khan & Ahmad (2009) em universidades
indianas, com a 90% dos acadêmicos que compuseram o estudo acessando
periódicos eletrônicos mediados pela biblioteca.
Considerações conclusivas 401
No Brasil, embora também sejam assinadas bases internacionais pelas
bibliotecas universitárias, o padrão apresentado foi de buscas em bases abertas,
especialmente o Scielo e os bancos de teses e dissertações criados pelas agências
públicas de fomento à pesquisa, que aglutinam a produção nacional em portais
especializados. Se por um lado o acesso livre beneficia e facilita a imediaticidade
das buscas sem o contato com as bibliotecas, por outro pode levar ao
desconhecimento dos bancos de dados de acesso restrito, bases que permitem
nesse momento a internacionalização das pesquisas acadêmicas. Alguns
entrevistados não acessavam tais bases e não pediam auxílio aos bibliotecários
para orientação nas buscas de fontes.
A migração para as bases online já era evidente no estudo de Pinheiro
(2003), quando somente 19% dos pesquisadores veteranos afirmaram acessar
exclusivamente fontes impressas e 61% privilegiavam o acesso aos documentos
eletrônicos. Os estudos de Lopes & Silva (2007) e de Aqil & Ahmad (2011),
também apontavam uma divisão meio a meio entre a preferência por documentos
em formato eletrônico ou por documentos impressos. A questão que fica em
aberto, portanto, é o quanto o acesso livre aos documentos se aprofundará nas
políticas promovidas pelas universidades, tanto no Brasil quanto em outros países,
a partir da facilidade de publicação e difusão trazida pelos suportes digitais.
Dados extra ou semi-oficiais: os novos produtores de conteúdo além dos
canais academicamente certificados.
As redes abertas e a facilidade de publicação de conteúdos em suportes
digital permitiu a ascensão de novos tipos de repositórios além dos universitários
e certificados no ambiente acadêmico. São bases de dados e arquivos coletivos
que passam a servir de fonte para acadêmicos durante as suas buscas. Embora não
sejam bases de dados “certificadas” pelos acadêmicos em suas citações, mesmo
assim são acessadas e utilizadas por eles, especialmente como fonte empírica e de
documentação complementar. Entram nesse conjunto as comunidades virtuais, as
wikis e blogs, os fóruns de ajuda mútua, as redes sociais mais amplas e os portais
de notícias jornalísticas.
Compõe esse grupo também as fontes não acadêmicas, mas que são
certificadas por instituições, ou seja, que não são “amadoras”, mas produzidas por
Considerações conclusivas 402
especialistas. São exemplos, os bancos de imagens digitalizadas, os repositórios
de livros e documentos escaneados (com ou sem autorização dos autores), os
acervos disponibilizados pelas livrarias, os bancos de vídeos com seminários e
entrevistas ocorridas em eventos científicos e as redes sociais especializadas em
resenhas de livros. São materiais que antes eram buscados presencialmente e
agora são acessíveis on-line, promovendo o acesso a fontes disponíveis em outros
países que nem mesmo as bibliotecas universitárias teriam condições de importar
e manter em seu acervo local.
Através dessas fontes extra-oficiais que muitos pesquisadores relataram a
obtenção de ajuda via comunidades virtuais, incluindo a aplicação de
questionários e a realização de entrevistas. Como são comunidades que reúnem
pessoas interessadas em uma mesma temática, mas geograficamente distantes,
torna-se um local precioso para a obtenção de dados, uma coleta que antes poderia
ser impossível devido ao alto custo de aplicação e mobilização de pessoas.
6. Complementariedade entre suportes: os suportes analógicos são
complementares em parte das atividades acadêmicas.
Em diversas das atividades relatadas, seja na leitura, na busca de fontes, na
organização dos materiais ou na empiria, os suportes acabam por ser
complementares, mesmo com a ascensão do uso dos suportes digitais e a
tendência de predomínio para os próximos anos com a crescente digitalização dos
acervos.
O computador, por enquanto, predominou na atividade de escrita,
superando o trabalho manuscrito em agilidade devido à maleabilidade do formato
digital. Também predominou na atividade de comunicação, com o envio de e-
mails e eventualmente com o uso de mensageiros instantâneos de texto, voz e
vídeo e a participação em listas de discussão. Quanto à busca de informação, Aqil
& Ahmad (2011) apontaram que na Índia cerca de metade dos pós-graduandos
participantes do estudo consideravam que a internet era a fonte que mais os
satisfazia, evidenciando ainda um equilíbrio de uso entre os suportes com
simultaneidade de uso, embora a tendência, de acordo com Khan & Ahmad
(2009), seja que o digital predomine gradualmente com o passar do tempo.
Considerações conclusivas 403
A complementaridade não excluiu, em alguns dos casos analisados, a
adesão mais forte de uma ou outra das modalidades de suportes. A ida quase
exclusiva a bibliotecas físicas para a busca de materiais acadêmicos ou o uso
quase exclusivo de fontes em formato digital armazenadas no computador pessoal
foram atitudes mais extremas encontradas em nosso estudo e ligadas à temática e
às inclinações pessoais quanto ao uso de uma das modalidades de suportes.
A “disputa” entre os suportes pode fazer surgir binômios como leitura em
tela-leitura em papel, escrita linear-escrita simultânea, comunicação presencial-
comunicação virtual, embora, na prática, a maioria dos entrevistados as tenha
utilizado de maneira equilibrada e complementar.
No caso específico das fontes de informação, Lopes & Silva (2007)
chamaram de biblioteca híbrida esse novo espaço com “dupla face” em que se
pode acessar tanto dados em suporte digital quanto em suporte impresso.
Teríamos então também um processo de leitura híbrida, comunicação híbrida e em
menor escala a escrita híbrida? Ao que tudo indica sim, sendo que nos próximos
anos veremos se a tendência será a supremacia do digital ou a manutenção dessa
hibridização.
7. Convergência para o computador: o computador permitiu a aglutinação
das etapas de produção do trabalho acadêmico em um só lugar.
De maneira geral, percebemos que o computador agregou todas as etapas
que compõe a produção de um material acadêmico, sem excluir o uso
complementar dos suportes analógicos: a escrita, a leitura, a busca de fontes, o
armazenamento dos materiais coletados, a editoração do texto e a impressão final
do documento.
Nem sempre todas essas etapas são aglutinadas de maneira harmônica,
sendo que para alguns dos entrevistados parte ou a totalidade de algumas delas
foram feitas em suporte material, analógico, impresso.
Partindo da ideia de que exista o pesquisador que tenha realizado
plenamente essa convergência de usos, a partir da reunião de estratégias dos casos
estudados, podemos falar em seis pilares ideais de utilização da internet e do
computador na vida do doutorando, porém sem ser uma fórmula prescritiva ou
valorativa do uso, pois sabemos que a temática da pesquisa e o objeto de estudo
Considerações conclusivas 404
determinam, em parte, a presença maior ou menor dos suportes digitais, estando
além das preferências pessoais do doutorando, embora estas também sejam
determinantes nas escolhas.
Então, para fins gerais de referência, este doutorando “ideal” usaria os
meios digitais como:
(1) fonte acadêmica através do uso de dados provenientes de bibliotecas
digitais, bases de dados oficiais produzidas por entidades do governo e centros de
pesquisa, e-books e artigos de revistas científicas online, sites oficiais do governo
e entidades, postagens não acadêmicas, extraoficiais, e toda sorte de informação
disponível em formato digital.
(2) campo empírico para realização de coleta de dados de pesquisa com
sujeitos participantes online através de fóruns, questionários, grupo focal,
produzidos ou não de forma original pelo pesquisador.
(3) espaço de análise dos dados coletados através do uso de softwares de
análise estatística e/ou análise qualitativa, formando bases de dados próprias
através do campo empírico escolhido e tratadas em seu computador pessoal.
(4) espaço de comunicação com outros pesquisadores, sujeitos
investigados e demais públicos participantes de sua pesquisa.
(5) espaço de organização e armazenamento dos dados coletados,
concentrando as fontes e as anotações, assim como gráficos e esquemas de leitura,
no computador pessoal ou mesmo em serviços de armazenamento na nuvem.
(6) local de escrita e leitura, quando essas duas atividades se realizam
totalmente no computador e na internet, caracterizando a independência total do
uso do impresso, sendo o espaço digital o meio utilizado para a elaboração do
texto da tese e a leitura dos materiais coletados já neste formato.
Cabe destacar que a presença destes pilares “ideais” é quase sempre
incompleta entre os entrevistados, devido a questões diversas derivadas da
multideterminação dos usos, incluindo a temática escolhida e a disponibilidade de
dados de campo em formato digital. Destaco como exemplo de uso abrangente o
caso N7 (ver Anexo VI) em que a pesquisadora, embora privilegiada pela sua
temática, soube mesclar bem todos esses usos sem privilegiar suportes ou tipos de
fontes em sua pesquisa.
Considerações conclusivas 405
Quadro 22 - Indícios de transição, encontrados nos depoimentos, que merecem destaque.
8. Heranças analógicas presentes no digital: as heranças deixadas pelo
suporte analógico nesse momento de transição.
Os suportes analógicos, embora estejam sendo substituídos pelos de
configuração digital, não somem completamente, mesmo quando deixam de
existir fisicamente, pois uma série de hábitos de uso e características construídas
Indícios de transição, encontrados nos depoimentos, que merecem destaque.
Busca Busca circular contínua entre os suportes e modalidades de fontes.
Busca por aprofundamento em camadas.
Escrita Escrita por aprofundamento em camadas.
Escrita simultânea controlada ou radical.
Escrita‐colagem como hábito em construções "coletivas".
Co‐autoria online possível, mas ainda incipiente.
Manutenção da escrita linear em alguns casos.
Elementos exigidos na escrita ainda são os mesmos.
Leitura Novos suportes para leitura e marcação de textos.
Dificuldade no uso do computador (desktop) para leitura prolongada.
Ainda é grande a impressão de materiais para leitura.
Fontes Bancos de dados generalistas facilmente acessíveis.
Bancos de dados semi ou extra‐oficiais.
Sofisticação e integração dos bancos de dados especializados.
Bases de dados oficiais disponíveis (governo e centros de pesquisa).
O problema do acesso por assinatura bibliotecária versus o acesso livre.
Empiria Novos produtores de conteúdos online (blogs, wikis, redes sociais).
Facilidade de reunir sujeitos por afinidade de interesses em comunidades virtuais.
Coleta de dados produzidos e compartilhados de maneira espontânea em espaços públicos.
Comunicação Comunicação online com pesquisadores é tímida.
Comunicação online com sujeitos para aplicação de instrumentos de pesquisa.
Comunicação online das pesquisas é timída, especialmente pelo medo de disponibilizar achados (plágio e direitos autorais).
Considerações conclusivas 406
ao longo dos séculos de existência e tradição são mantidas na rotina dos
acadêmicos ao se apropriarem dos novos suportes.
O caso das bases de dados digitais e online é representativo desse
movimento. Primeiro porque tais bases são repositórios que lembram as estantes
de uma biblioteca, com obras estáticas, seriadas, fixadas no tempo, embora
possam ser editadas e atualizadas a qualquer momento. Essa necessidade de
historicidade das obras, de fixa-las no tempo quando os novos suportes
dispensariam essa limitação é uma clara herança de um modo de construir
conhecimento baseado no acúmulo crescente, temporal, da informação.
De modo prático, vemos essa herança nos atuais downloads de PDFs, seja
em formato de livro ou de artigo científico, formando por analogia a biblioteca
virtual do acadêmico, que continua acompanhando a produção dos pares através
das edições seriadas das revistas científicas. Nos suportes digitais utilizados
atualmente para a leitura, os tablets simulam as estantes de uma biblioteca e
procuram simular inclusive o ato de folhear as páginas das obras, como se fossem
livros impressos.
Não é a toa que a produção informal, aberta, coletiva da Web 2.0 causa
certo temor nos que esperam que uma obra seja estável e fisicamente situada. Os
novos espaços de produção são tão dinâmicos que se tornam difíceis de serem
referenciados, de terem seus conteúdos resgatados, tal é a velocidade de mutação
que tais comunidades virtuais sofrem com a participação de seus integrantes. No
caso da entrevistada que pesquisava blogs didáticos (N12), foi preciso “congelar”
a produção através da cópia para um documento fixo no editor de textos, assim
como a entrevistada que precisou capturar materiais presentes nos sites de centros
de pesquisa europeus e os imprimir para fixar em pastas físicas em sua mesa de
trabalho (N6).
Já no campo da leitura e da escrita, as permanências são muitas e
representadas pelo próprio produto acadêmico exigido, que permanece
praticamente o mesmo: a tese. Uma tese, no final de seu processo, vira um livro
impresso, e para se tornar um livro deve ter os elementos próprios dos mesmos:
capa, sumário, capítulos, folhas numeradas, notas de rodapé, citações, referências.
São elementos típicos do suporte impresso e que agora são construídos mais
rapidamente e de forma maleável no suporte digital, mas apesar disso
permanecem os mesmos.
Considerações conclusivas 407
Com isso, a produção linear também acaba permanecendo em alguns
casos, com a consulta a fontes, a esquematização dos pontos principais lidos e a
escrita estanque de capítulos representando etapas muito bem delimitadas,
consecutivas. É um tipo de limitação que não teria razão de existir com o suporte
digital, mas que permanece como hábito, quando se acredita que a simultaneidade
pode resultar em uma perda de controle na administração de múltiplas frentes de
escrita.
Quanto à organização dos materiais, o computador já fornece as metáforas
provenientes da cultura do impresso, como desktop (mesa de trabalho), pastas,
arquivos, tags (etiquetas), que condicionam uma utilização por analogia com o
espaço físico. Não foi incomum encontrar pesquisadores que armazenavam seus
dados da mesma forma no espaço físico, dos impressos, e no espaço digital em
seus computadores. Conclui-se então que o suporte digital reforça a herança do
impresso quando mantém presentes elementos gestados em períodos anteriores,
aumentando o desempenho em velocidade e abrangência, e introduzindo somente
alguns elementos inovadores.
Para melhor visualização da síntese proposto, coloco aqui os principais
modelos derivados da mútua influência dos suportes digitais e analógicos no
processo de elaboração do trabalho acadêmico, detectados tanto na empiria desse
estudo quanto na revisão de estudos empíricos anteriores e de conceitos presente
na primeira parte da tese. A mistura entre tradicionais (trad.), emergentes (emerg.)
e mistos foi proposital, privilegiando-se a aproximação temática.
Considerações conclusivas 408
Quadro 23 - Síntese dos modelos tradicionais e emergentes detectados na pesquisa (binômios e trinômios).
9. Multideterminação nos usos: embora os suportes digitais tenham
propriedades novas, as práticas são multideterminadas.
Ao longo dos depoimentos que fizeram parte desta tese e da revisão de
estudos semelhantes nas duas últimas décadas, ficou evidente que outros fatores
estavam em jogo, além das propriedades inerentes aos novos suportes digitais,
relatadas especialmente no Capítulo 2 deste trabalho quando o hipertexto, sua
maleabilidade e possibilidade de conexão em rede foram detalhados.
A multideterminação não é uma constatação nova, tendo sido explicitada
no estudo de Walsh & Bayma (1996) através da verificação de fatores extra-
tecnológicos que envolviam e diferenciavam usos do computador entre diferentes
áreas de pesquisa universitárias, o que não impede a atualização desses fatores.
Não foi por acaso a escolha de um modelo com entrevistas, qualitativo,
visto que a partir dos depoimentos, a rigor imprevisíveis quando se trabalha com
Síntese dos modelos tradicionais e emergentes detectados na pesquisa (binômios e trinômios) a partir da díade suporte analógico‐suporte digital
Trad: artigos‐revistas periódicas‐volumes anuais (classificação)
Trad: dissertações‐teses‐livros (classificação)
Emerg: wikis‐blogs‐fóruns (espaços)
Misto: fonte humana‐fonte impressa‐fonte digital (classificação)
Misto: acesso restrito pago‐acesso livre gratuito (modalidade)
Misto: busca linear‐busca circular‐busca em camadas (modalidade)
Misto: fontes certificadas‐fontes semi‐oficiais‐fontes extra‐oficiais (classificação)
Misto: leitura em tela‐leitura em papel (modalidade)
Trad: leitor‐espectador‐usuário (classificação)
Emerg: leitor‐navegador‐autor (classificação)
Emerg: co‐criador‐interagente‐interventor (classificação)
Trad: emissão‐canal‐mensagem‐recepção (processo)
Misto: escrita linear‐escrita controlada‐escrita simultânea (modalidade)
Emerg: hipertexto potencial‐hipertexto colagem‐hipertexto cooperativo (classificação)
Misto: comunicação presencial‐comunicação online (modalidade)
Trad: comunicação formal‐comunicação informal (classificação)
Trad: uso profissional‐uso acadêmico‐uso pessoal (modalidades)
Emerg: e‐mail‐motor de busca‐editor de texto (espaços)
Considerações conclusivas 409
roteiros de entrevista mais abertos, é que surgem fatores que até o momento não
haviam sido levados em conta pelos pesquisadores, relacionados especialmente à
biografia particular de cada entrevistado.
Dessa forma, procuro sintetizar, na listagem a seguir, os principais fatores
encontrados na empiria desta tese, o que possibilita uma visão de conjunto maior
sobre os casos e mais próxima do campo da Educação e das ciências humanas:
Quadro 24 - Multideterminação dos usos: principais fatores encontrados na empiria.
8.2 Novos suportes, novos produtos? O que fazer quando se exige mais do mesmo?
A primeira e mais importante das conclusões deste estudo está relacionada
ao tipo de produto que os acadêmicos geram em suas atividades de estudo e
pesquisa. É uma constatação, aparentemente simplória, que os acadêmicos
recebem como tarefa principal em seus cursos de pós-graduação a elaboração de
um produto final de pesquisa que chamam de tese acadêmica, sendo que todas as
suas atividades convergem para a elaboração desse produto, seja em períodos
maiores como no caso dos quatro anos no Brasil ou em períodos encurtados como
Multidetermina‐ção dos usos: principais fatores encontrados na empiria
Necessidades do pesquisador para a realização da investigação.
Momento da carreira e tipo de atividade exercida, paralela à acadêmica.
Aprendizado dos suportes digitais a partir de necessidades de trabalho.
Área de procedência: sempre esteve em humanas ou migrou de exatas.
Tema de pesquisa investigado: voltado ou não para suportes digitais.
Tipos de fontes, e consequentemente de suportes, que servem à pesquisa.
Tipo de empiria, através do contato com sujeitos geograficamente dispersos.
Modos de se organizar na vida pessoal, mais organizado ou não organizado.
Infraestrutura: acesso aos suportes em casa, no trabalho, na universidade.
Vivências prévias com os suportes digitais junto a amigos e familiares.
Nível de conhecimento técnico adquirido formal ou informalmente.
Tempo dedicado à imersão no uso de recursos básicos e avançados.
Modo de conceber as possibilidades oferecidas pelos suportes digitais.
Hábitos construídos e herdados com o uso dos suportes analógicos.
Avaliações, regulações e normas acadêmicas e governamentais.
Considerações conclusivas 410
nos três anos estipulados na Itália através do Processo de Bolonha (Azevedo,
2007).
Sobre este produto final, como já disse anteriormente, a tese é apresentada
no formato tradicional criado com os instrumentos de escrita e impressão
clássicos, na segunda fase das tecnologias da inteligência de acordo com a
classificação de Lévy (1993), visto que durante a oralidade primária não havia a
possibilidade de registros escritos coerentes e acessíveis de uma geração para a
outra. A tese acadêmica é, em síntese, um livro, tem o formato e todas as técnicas
e elementos utilizados para compor um livro impresso, e, por isso, a elaboração
desse produto requer, de modo parcial (mas não fundamental), a utilização dos
instrumentos criados contemporaneamente pelos suportes digitais.
Para a elaboração de uma tese pode-se, inclusive, rejeitar o uso dos
suportes digitais em algumas das etapas de produção, conforme foi possível
detectar em alguns casos de sujeitos entrevistados, a exemplo dos que rejeitaram o
uso de livros e artigos digitalizados, indo diretamente às bibliotecas, os que
preferiram realizar sua empiria presencialmente e os que se comunicavam com
outros pesquisadores através de eventos acadêmicos como congressos e
seminários. Podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, através dos estudos
históricos das primeiras universidades e dos grupos intelectuais
institucionalizados, que a tese acadêmica é, em todos os aspectos, uma herança
analógica, linear em sua estrutura e com seus elementos surgidos a partir dos usos
do suporte papel tanto na modalidade manuscrita quanto depois na modalidade
impressa (Le Goff, 2010; Verger, 1999).
Sem o suporte impresso, a tese acadêmica não existiria, pois exige o
acúmulo de saberes, registrado no tempo-espaço, e o posterior debate entre os
autores envolvidos na produção dos textos. Já o contrário não é verdadeiro, visto
que os elementos essenciais presentes no suporte digital, como a não-linearidade,
os links e nós, que formam a rede hipertextual com o acesso instantâneo aos
módulos que a compõe não estão presentes nas teses que hoje são geradas, visto
que devem ser entregues em suporte impresso. De acordo com a classificação de
Ribeiro (2006), uma tese pode ser, no máximo, uma das modalidades de
hipertexto impresso.
Indo um pouco mais longe, a rigor, uma tese acadêmica pode dispensar
todo aparato oferecido pelos computadores e pela internet, todas as
Considerações conclusivas 411
potencialidades permitidas pelo hipertexto e pelos instrumentos criados pelos
integrantes da cibercultura e do ciberespaço, sendo que os acadêmicos, para
imprimirem um ritmo mais veloz ao processo de elaboração de suas teses, mais
fáceis de serem produzidas através do suporte digital, lançam mão perifericamente
desses novos instrumentos de autoria, especialmente na aceleração das buscas de
materiais semelhantes (artigos, dissertações, teses e documentos em geral), na
editoração do texto através de editores eletrônicos, na realização da coleta de
dados em ambientes online, no uso de softwares de análise de dados automatizada
e, eventualmente, na comunicação com os pares.
Podemos então, a princípio, afirmar que o autor acadêmico, na maior parte
do tempo isolado – especialmente no campo das ciências humanas, sem os
grandes financiamentos, equipes de pesquisa e parcerias com objetivos de lucro –,
utiliza o suporte digital em determinados processos que não alteram a essência de
sua atividade, ou seja, em brechas nas quais são permitidas a entrada e uso dos
suportes digitais (vide síntese ao final do Capítulo 2), embora o modelo clássico
de emissão-canal-mensagem-recepção de documentos textuais no formato de
documentos científicos seja mantido como a essência das trocas científicas.
Evidencia-se esse processo quando analisamos, no Capítulo 2, a essência das
bases de dados digitais acadêmicas como repositórios de documentos em formato
PDF, reproduzindo a lógica dos documentos impressos.
De maneira até certo ponto irônica, podemos concluir que os acadêmicos
“visitam” o ciberespaço, mas não o habitam completamente no que se refere ao
uso de suas potencialidades máximas, pois não fazem a completa imersão no
espaço digital proposta na classificação de Santaella (2004) quando cria categorias
para os antigos (contemplativos, moventes) e novos leitores (imersivos), visto que
a lógica de escrita e de leitura permanece condicionada ao produto requisitado. Os
novos suportes não estão servindo para a elaboração de novos produtos, embora
estejam acelerando algumas de suas características de produção, simulando e
atendendo com seus softwares o processo antes realizado com o suporte impresso.
O problema central então que aponto aqui, como legado deste meu
trabalho, é a necessidade de solicitar novos produtos diferentes de uma tese
acadêmica clássica, que estejam mais em sintonia com as possibilidades abertas
pelos suportes digitais e pela cibercultura contemporânea (Macek, 2005), em que
Considerações conclusivas 412
os computadores e a internet não representam mais a cultura de um nicho de
experts, mas se encontram espalhados e adotados amplamente pela sociedade.
Digo isto, porque somente com a elaboração de projetos de pesquisa
inovadores (atividade central do acadêmico), com objetivos que exijam o trabalho
com as novas linguagens surgidas a partir do suporte digital, com a apresentação
de outros resultados (produtos) em outros formatos, a partir do tratamento teórico
inicial e ao longo da elaboração do trabalho acadêmico, mantendo sempre contato
com outros estudos e outros pesquisadores, é que o suporte digital poderá ser
utilizado em sua plenitude de possibilidades.
Por enquanto, a autoria coletiva como método de produção intelectual vem
florescendo em espaços não-acadêmicos, em comunidades virtuais cuja produção
recebe destaque, a exemplo dos softwares livres e dos textos da Wikipédia, mas
não o mesmo prestígio e reconhecimento depositados historicamente nos produtos
derivados da pesquisa universitária, sendo chamada de maneira depreciativa, por
alguns autores, de produtos derivados de atividade amadora (Keen, 2009).
A tese acadêmica é um produto essencialmente individual, institucional e
com sua produção requisitada para ser feita dessa maneira. A entrada do
acadêmico nas redes formadas no ciberespaço se torna muito mais uma atividade
de extração de conteúdos do que de produção compartilhada, pois nem mesmo os
resultados de suas leituras (anotações) são divididos e discutidos no ciberespaço,
guardados e protegidos em seus computadores pessoais para uso pessoal
exclusivo. A abordagem teórica de Foucault (2006) a respeito do que é um autor e
da noção construída sobre os elementos que constituem uma obra, ainda seria
válida para se analisar a atual produção dos acadêmicos, visto que a atividade
continua produzindo uma série de textos com a assinatura e as marcas de estilo
individuais.
Penso que três fatores, tratados ao longo dos capítulos desta tese – ela
mesma em formato linear tradicional devido a limitações culturais e, portanto,
institucionais –, impedem ou dificultam a emergência de novas possibilidades de
elaborar e concretizar pesquisas acadêmicas usando suportes digitais em sua
plenitude, em todas as etapas do trabalho acadêmico desde o início até a sua
conclusão.
O primeiro deles é a estrutura acadêmica como um todo, – a rede de
universidades e centros de pesquisa e a forma como operam, a forma como os
Considerações conclusivas 413
cursos de mestrado e doutorado solicitam os produtos finais aos seus alunos e
como demonstram, através dos produtos antecedentes, os padrões que devem ser
seguidos. Ao longo do processo de formação do pesquisador acadêmico, ele inicia
o contato com produtos feitos antes dele, em modelo construído previamente
mediante negociações resultantes de outros espaços e tempos (herança cultural e
histórica dos suportes e práticas anteriores), tendendo a aderir à tradição para
poder se situar na rede de relações acadêmicas existente. Não é a toa que na
revisão de estudos no Capítulo 3 e também no estudo empírico desta tese ao longo
do Capítulo 7 foi detectado um padrão conservador de acesso e uso dos suportes,
especialmente aqueles certificados pelo prestígio do autor e do local de
publicação.
O segundo fator, relacionado com o nível micro dos cursos de pós-
graduação, é composto pelas regulações oficiais, as diretrizes governamentais,
para que os cursos se mantenham. O processo de avaliação dos cursos de pós-
graduação inclui em seus itens a produção de dissertações e teses no formato
livro, e dessa forma os cursos os apresentam como único resultado possível de
conclusão acadêmica.
Nos capítulos 4 e 5, mostrei que a construção histórica das agências e
modelos de avaliação deixou claro que através da atuação dessas instituições
condicionam-se modelos de produtos de pesquisa que visam atender aos itens
elencados pelos avaliadores. A tendência não é somente brasileira, com a agência
CAPES, mas também vem se fortalecendo na Itália através da ANVUR, sendo
ausente no caso italiano a regularidade e a força construída pela agência brasileira
na condução dos cursos de pós-graduação desde a década de 1970.
O terceiro fator é a cultura acadêmica histórica herdada pelas
universidades (Le Goff, 2010; Verger, 1999). Essa cultura nasceu junto com a
ampliação e difusão das obras impressas, embora sua fase de gestão ao longo dos
séculos XII e XIII tenha sido realizada ainda com a cópia de manuscritos que já
seguiam os elementos básicos do formato códex.
Questionar e propor a mudança de todo um aparato criado, voltado para a
construção de teses em formato final de livro, enviados para aprovação em cursos
de pós-graduação como hoje são, é um tanto ingênuo, quando se reconhece os
séculos de história e de estruturas criadas para manter esse modelo, a construção
de uma identidade acadêmica e dos acadêmicos (Bauman, 2010; Said, 2005). A
Considerações conclusivas 414
ingenuidade de ruptura total pode ser substituída por um conjunto de propostas
que, aos poucos, colaborem para a modificação de hábitos culturais consolidados
e instaurem outros modelos de ação de pesquisa.
Dessa forma, longe de tentar propor rupturas radicais e inconciliáveis,
reconheço que podem ser abertas novas brechas no modelo existente de autoria
científica acadêmica seguindo aquelas já iniciadas no tempo presente, propostos
outros formatos que convivam com a criação do texto formal (seja teórico ou
teórico-empírico) hoje exigido universalmente aos pós-graduandos.
Não podemos cair na armadilha de que a tecnologia dos suportes digitais
inerentemente deve ditar novas regras e formas de criação e concepção de
produtos acadêmicos (determinismo tecnológico primário), mas por outro lado
não podemos ficar alheios e indiferentes às possibilidades que as mesmas
oferecem quando detectamos no Capítulo 2 as brechas já abertas, confirmadas ao
longo da empiria desse estudo. Pensar a respeito dos produtos atualmente gerados
já se torna um bom começo.
Podemos pensar em novos produtos que agreguem a produção coletiva
emergente com a Web 2.0, não sendo, portanto, totalmente fechados e acabados
como aqueles presentes na indústria cultural de massa. Produtos que invistam na
criação de obras contendo links e nós a outras obras, processo esse viabilizado
pelas redes digitais, e que usem com eficiência o vídeo, a imagem e o áudio de
maneira mesclada (autoria multimídia), são perspectivas que se vislumbram para a
produção acadêmica mais aberta à participação e intervenção de seus públicos-
alvo.
Compartilho com visão de Silva (2006) quando propõe, para o campo da
educação, o estudo e a aplicação do conceito de interatividade, usando como
analogia a participação do público na obra aberta Parangolé, de Hélio Oiticica.
Talvez com esse modelo o pesquisador não se torne tão distanciado de seu
público, tanto o acadêmico quanto o empírico, tornando sua obra mais viva,
constantemente aberta a intervenções, e com conclusões que superem aquelas a
que ele sozinho chegou ou que foram apresentadas de maneira congelada em um
texto final no forma de livro. De alguma maneira, os ideais da cultura hacker, ao
conceber a informação e a sua produção como bem coletivo e compartilhado,
estão presentes nessa proposta de intervenção coletiva.
Considerações conclusivas 415
Algumas destas brechas foram encontradas na empiria deste estudo, em
cada um dos 16 casos analisados, com alguns eixos sofrendo maior alteração (eixo
da escrita e da busca de fontes) e outros se mantendo mais próximos da tradição
(eixo da comunicação) de acordo com cada perfil de entrevistado. Não estou
defendendo aqui a simples concepção de que em certos casos o sujeito tende mais
à inovação no uso dos suportes digitais que outros por simples iniciativa pessoal,
até mesmo porque a autoria e uso de suportes é multideterminada por fatores
diversos, alguns externos ao autor e outros direcionados por ele próprio, como a
escolha do tema de pesquisa e dos sujeitos que farão parte de sua empiria.
É justamente a análise desse perfil autoral, usando novos suportes de
característica digital, que permite o direcionamento didático dos cursos de pós-
graduação para o auxílio e orientação visando a realização de produtos que sejam
alternativos ao formato acadêmico clássico da tese linear. Para que esse processo
de concretize, os orientadores, os professores e a própria burocracia institucional
materializada em normas e documentos de orientação precisam de atualizações
que favoreçam e estimulem esses novos produtos.
Por outro lado, é preciso também ter consciência de que os novos recursos
e possibilidades permitidos pelos suportes de característica digital nem sempre são
conhecidos e fazem parte dos usos cotidianos dos pesquisadores pós-graduandos,
especialmente aqueles menos experientes em pesquisa e nas fontes usualmente
acessadas pelos pesquisadores mais antigos. É preciso então investir em um
acompanhamento e formação permanente, visto que os próprios recursos mudam
com grande velocidade a cada ano.
A área de Educação, em particular, é plena de necessidade de novos
métodos de ensino, novos objetos de cunho educativo, de produtos que
enriqueçam o ambiente escolar e acadêmico. Não podemos restringir essas
recomendações voltadas à inovação somente ao ensino fundamental, médio e de
graduação, mas também aos cursos de pós-graduação e seus modelos de produção
cristalizados, promovendo uma releitura de si para que seja feita a transformação
dos outros níveis de ensino.
9 Referências bibliográficas
ALVES-MAZZOTTI, A. J. Usos e abusos dos estudos de caso. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, SP, v. 36, n. 129, p. 637-651, set./dez. 2006. ANVUR. VQR 2004-2010 - Frequently Asked Questions (FAQ). Disponível em: < http://www.anvur.org/?q=it/content/frequently-asked-questions-faq-0>. Acesso em: 16 mar. 2012. AQIL, M. & AHMAD, P. Use of the internet by research scholars and post-graduate students of the science faculty of Aligarh Muslim University. Library Philosophy and Practice, p. 1-8, jun. 2011. Disponível em: < http://www.webpages.uidaho.edu/ ~mbolin/lpp.htm>. Acesso em: 29 fev. 2012. AZEVEDO, M. L. N. de. A integração dos sistemas de educação superior na Europa: de Roma a Bolonha ou da integração econômica à integração acadêmica. ETD – Educação Temática Digital, v. 9; n. esp., p. 133-149, dez. 2007. BANE, A. F.; MILHEIM, W. D. Internet insights: how academics are using the internet. Computers in Libraries, v. 15, n. 2, p. 32-36, fev. 1995. BARAN, P. On distributed communications: I. Introduction to distributed communications networks. Memorandum RM-3420-PR, Ago. 1964. Santa Mônica: The Rand Corporation, 1964. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. 230 p. BARRETT, A. The information-seeking habits of graduate student researchers in the humanities. The Journal of Academic Librarianship, v. 31, n. 4, p. 324-331, jul. 2005. BARTHES, R. A morte do autor. In: _________. O Rumor da Língua. São Paulo: Martins Fontes, 2004. BASILICATA, P. La valutazione per il governo dell´Università. Educational, Cultural and Psychological Studies, v. 1, n. 1, p. 181-195, jun. 2010. BAUMAN, Z. Legisladores e intérpretes: sobre modernidade, pós-modernidade e intelectuais. Trad. Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. BELL, T. W. Trend of Maximum U.S. General Copyright Term. 2008. Disponível em: < http://www.tomwbell.com/writings/(C)_Term.html>. Acesso em 26 mai. 2012.
Referências bibliográficas 417
BITTAR, M. A pesquisa em educação no Brasil e a constituição do campo científico. Revista HISTEDBR On-line, n. 33, p. 3-22, mar. 2009. BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, M. M.; AMADO, J. Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1996. BRASIL. Parecer CFE nº 977/65. Definição dos cursos de pós-graduação. Revista Brasileira de Educação, v. 10, n. 30, p. 162-173, set./dez. 2005. BRETON, P. Le culte de l´Internet: uma menace pour le lien social? Paris: La Découverte, 2000. BURKE, P. Uma história social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003. BUSH, V. Como podemos pensar. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., v. 14, n. 1, p. 14-32, mar. 2011. CAMPOS, F. C. A. et al. Cooperação e aprendizagem on-line. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. 168 p. 21 cm. CENSIS. I media tra crisi e metamorfose. Ottavo rapporto Censis/Uesi sulla comunicazione. Roma. 19 nov. 2009. 17 p. CGEE. Doutores 2010: estudos da demografia da base técnico-científica brasileira. Brasília, DF: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2010. 508 p. Disponível em: < http://www.cgee.org.br/publicacoes/doutores.php>. Acesso em 01 fev. 2012. CGI BR. Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação no Brasil: TIC Domicílios e TIC Empresas 2010. São Paulo: Comitê Gestor da Internet no Brasil, 2011. 584 p. Disponível em: < http://www.cgi.br/publicacoes/pesquisas/index.htm>. Acesso em: 02 fev. 2012. CHANG, N. C. & PERG, J. H. Information search habits of graduate students at Tatung University. The International Information & Library Review, v. 33, n. 4, p. 341-346, dez. 2001. CHARTIER, R. Inscrever & Apagar: cultura escrita e literatura, séculos XI-XVIII. Trad. Luzmara Curcino Ferreira. São Paulo: Editora UNESP, 2007. _____________. Os desafios da escrita. Trad. Fulvia M. L. Moretto. São Paulo: Ed. UNESP, 2002. DARNTON, R. A questão dos livros: passado, presente e futuro. Trad. Daniel Pellizzari. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. ECO, U. & CARRIÈRE, J. C. Não contem com o fim do livro. Rio de Janeiro: Record, 2010.
Referências bibliográficas 418
FÁVERO, M. L. A. Durmeval Trigueiro Mendes e sua contribuição à pós-graduação em educação. Revista Brasileira de Educação, n. 30, p. 36-46, set./dez. 2005. FERNANDEZ, M. A. Percursos e estratégias de leitura-navegação de jovens universitários. 163 p. Tese (Doutorado em Educação) – Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2009. FIDZANI, B. T. Information needs and information-seeking behaviour of graduate students at the University of Botswana. Library Review, v. 47, n. 7, p. 329-340, 1998. FOUCAULT, M. O que é um autor? 6ª ed. Lisboa: Nova Veja, 2006. FRANCO, A. Topologias de Rede. Carta Rede social, n. 168, jul 2008. Disponível em: <http://augustodefranco.locaweb.com.br/cartas_comments.php? id=249_0_2_0_C>. Acesso em: 25 abr. 2012. GEMMA, C. Il dottorato di ricerca: per uma teorizzazione delle pratiche formative. Roma, Itália: Carocci editore, 2006. GEOCAPES. Sistema de dados estatísticos da Capes. Disponível em <http://geocapes.capes.gov.br/geocapesds/>. Acesso em: 01 mar. 2010. GEORGE, C. et al. Scholarly use of information: graduate students’ information seeking behavior. Information Research, v. 11, n. 4, jul. 2006. GOOGLE. The 1000 most-visited sites on the web. Mountain View, EUA, jul. 2011. Disponível em: < http://www.google.com/adplanner/static/top1000/>. Acesso em: 30 mar. 2012. HUMAN DEVELOPMENT REPORTS. Human Development Index and its components. Disponível em: < http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2011_EN_Table1.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2012. INEP. Resumo técnico - censo da educação superior de 2003. Brasília, DF: MEC, 2010. 46 p. disponível em: < http://download.inep.gov.br/download/superior/censo/ 2004/resumo_tecnico_050105.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2012. INEP. Resumo técnico - censo da educação superior de 2009. Brasília, DF: MEC, 2010. 37 p. disponível em: <http://download.inep.gov.br/download/superior/censo/ 2009/resumo_tecnico 2009.pdf>. Acesso em: 01 fev. 2012. ISTAT. Rapporto Annuale - La situazione del Paese nel 2010. Roma: Istituto nazionale di statistica, 2011. 434 p. Disponível em: < http://www3.istat.it/dati/catalogo/20110523_00/ rapporto_2011.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2012.
Referências bibliográficas 419
ITALIA. Decreto del Presidente della Repubblica, nº 76, de 01 de fevereiro de 2010. Regolamento concernente la struttura ed il funzionamento dell´Agenzia nazionale di valutazione del sistema universitario e della ricerca (ANVUR). Gazzetta Ufficiale, Roma, 27 mai. 2010. ITALIA. Legge nº 286, de 24 de novembro de 2006. Conversione in legge, con modificazioni, del decreto-legge 3 ottobre 2006, n. 262, recante disposizioni urgenti in materia tributaria e finanziaria. Gazzetta Ufficiale, Roma, 28 nov. 2006. JUNNI, P. Students seeking information for their Masters´ theses: the effect of the internet. Information Research, v. 12, n. 2, p. 1-24, 2007. KAI-WAH CHU, S.; LAW, N. Development of information search expertise: research students´ knowledge of source types. Journal of Librarianship and Information Science, v. 39, n. 1, p. 27-40, mar. 2007. KEEN, A. O culto do amador. Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2009. KERCKHOVE, D. A pele da cultura. São Paulo: Annablume, 2009. KHAN, A. M.; AHMAD, N. Use of e-journals by research scholars at Aligarh Muslim University and Banaras Hindu University. The Eletronic Library, v. 27, n. 4, p. 708-717, 2009. KOSTORIS, F. L´esperienza del CIVR e le prospettive dell´ANVUR nella valutazione della ricerca in Italia. Statistica & Società, v. 6, n. especial, p. 5-14, 2008. KUENZER, A. Z. & MORAES, M. C. M. Temas e tramas na pós-graduação em educação. Educação e Sociedade, v. 26, n. 93, p. 1341-1362, set./dez. 2005. LANDOW, G. P. Hipertext 3.0: critical theory and new media in an era of globalization. Baltimore, Maryland: The Johns Hopkings Press, 2006. LATOUR, B. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: editor UNESP, 2000. ___________. A esperança de Pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos. Bauru, SP: EDUSC, 2001. LAZINGER, S. S.; BAR-ILAN, J.; PERITZ, B. C. Internet use by faculty members in various disciplines: a comparative case study. Jornal of the American Society for Information Science, v. 48, n. 6, p. 508-518, jun. 1997. LE GOFF, J. Os intelectuais na Idade Média. Trad. Marcos de Castro. 3ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010.
Referências bibliográficas 420
LEITE, F. C. L. & COSTA, S. Repositórios institucionais como ferramentas de gestão do conhecimento científico no ambiente acadêmico. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 11, n. 2, p. 206-219, mai./ago. 2006. LEMOS, A. Cibercultura: alguns pontos para compreender a nossa época. In: LEMOS, A.; CUNHA, P. (orgs.). Olhares sobre a Cibercultura. Porto alegre: Sulina, 2003. p. 11-23. _________. Cibercultura, Cultura e Identidade: em direção a uma cultura do copyleft? Revista de Comunicação e Cultura, v. 2, n. 2, p. 9-22, dez. 2004. _________. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. 3 ed. Porto Alegre: Sulina, 2007. LEVY, M. S. F. O papel da migração internacional na evolução da população brasileira (1872 a 1972). Revista de Saúde Pública. , v. 8, suppl., p. 49-90, 1974. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsp/v8s0/03.pdf>. Acesso em: 29 jan. 2012. LÉVY, P. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. Tradução: Luiz Paulo Rouanet. São Paulo, SP: Edições Loyola, 2003. 4ª ed. 216 p. Tradução de: L´intelligence collective. Pour une anthropologie du cyberspace. ________. As tecnologias da inteligência. Tradução: Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro, RJ: Editora 34, 1993. 208 p. 21 cm (Coleção TRANS). Tradução de: Les technologies de l’intelligence. ________. Cibercultura. Tradução Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro, RJ: Editora 34, 1999. 264 p. (Coleção TRANS). Tradução de: Cyberculture. LIMA, C. M.; SANTINI, R. M. Copyleft e licenças criativas de uso de informação na sociedade da informação. Ciência da Informação, v. 37, n. 1, p. 121-128, jan./abr. 2008. LOGAN, R. K. O que é informação?: a propagação da informação na biosfera, na simbolosfera e na econosfera. Tradução Adriana Braga. Rio de Janeiro, RJ: Contraponto / PUC-Rio, 2012. LOPES, M. I.; SILVA, E. L. A internet e a busca da informação em comunidades científicas: um estudo focado nos pesquisadores da UFSC. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 12, n. 3, p. 21-40, set./dez. 2007. MACEK, J. Defining cyberculture. Jul. 2005. Disponível em: < http://macek.czechian.net/defining_cyberculture.htm>. Acesso em: 07 abr. 2012. MACHIONI, J. A. O doutor acadêmico é diferente do doutor profissional. [2009]. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2009-set-15/doutor-academico-nao-nada-ver-doutor-profissional>. Acesso em: 01 mar. 2010.
Referências bibliográficas 421
MALINOWSKI, B. K. Argonautas do Pacífico ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos antivos nos arquipélagos da Nova Guiné melanésia. Pref. Sir James George Frazer. Trad Anton P. Carr; Lígia Aparecida Cardieri. Ver. Eunice Ribeiro Durham. 2 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. MAMEDE-NEVES, M. A. C. Mestres na Web: representação e significação da Internet por professores de Ensino Médio. Projeto integrado de pesquisa CNPQ: PUC-Rio, 2008. MANTOVANI, O.; DIAS, M. H. P.; LIESENBERG, H. Conteúdos abertos e compartilhados: novas perspectivas para a educação. Educação e Sociedade, v. 27, n. 94, p. 257-276, jan./abr. 2006. MEADOWS, A. J. Trad. Antonio Agenor Briquet de Lemos. A comunicação científica. Brasília, DF: Briquet de Lemos, 1999. MEC. História do MEC. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/index.php?option= com_content&view=article&id=2&Itemid=171>. Acesso em: 22 mar. 2012. MIUR. Decreto Ministeriale nº 224, de 30 de abril de 1999. Regolamento in matéria di dottorato di ricerca. Gazzetta Ufficiale, Roma, 13 jul. 1999. Disponível em: < http://attiministeriali.miur.it/anno-1999/aprile/dm-30041999-n-224.aspx>. Acesso em: 28 jan. 2012. MIUR. Decreto Ministeriale nº 509, de 3 de novembro de 1999. Regolamento recante norme concernenti l´autonomia didattica degli atenei. Gazzetta Ufficiale, Roma, 4 jan. 2000. Disponível em: < http://www.ipasvi.it/archivio_news/leggi/276/ DM031199n509.pdf>. Acesso em: 28 jan. 2012. MIUR. La università in cifre 2005. Roma: MIUR, jul. 2005. Disponível em: < http://statistica.miur.it/normal.aspx?link=pubblicazioni>. Acesso em: 28 jan. 2012. MIUR. La università in cifre 2009-2010. Roma: MIUR, set. 2011. Disponível em: < http://statistica.miur.it/normal.aspx?link=pubblicazioni>. Acesso em: 28 jan. 2012. MIUR CNVSU. Undicesimo Rapporto sullo Stato del Sistema Universitario. MIUR, jan. 2011. Disponível em: < http://www.cnvsu.it/_library/downloadfile.asp?id=11778>. Acesso em: 15 mar. 2012. MOREIRA, A. F. A cultura da performatividade e a avaliação da pós-graduação em educação no Brasil. Educação em Revista, v. 25, n. 3, p. 23-42, dez. 2009. MOREIRA, M. L.; VELHO, L. Pós-graduação no Brasil: da concepção “ofertista linear” para “novos modos de produção do conhecimento” implicações para avaliação. Avaliação, v. 13, n. 3, p. 625-645, nov. 2008.
Referências bibliográficas 422
MOREIRA, W. Os colégios invisíveis e a nova configuração da comunicação científica. Ciência da Informação, v. 34; n. 1, p. 57-63, jan./abr. 2005. NICOLACI-DA-COSTA, A. M. O campo da pesquisa qualitativa e o método de explicitação do discurso subjacente (MEDS). Psicologia Reflexão e Crítica, v. 20, n. 1, p. 65-73, 2007. __________________________; ROMÃO-DIAS, D; DI LUCCIO, F. Uso de Entrevistas On-Line no Método de Explicitaçãodo Discurso Subjacente (MEDS). Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 22, n. 1, p. 36-43, 2009. OCDE. Education at a Glance 2009. Paris: OCDE Publishing, 2009. 472 p. Disponível em: < http://www.oecd.org/document/0/0,3746,en_2649_39263238_43630976 _1_1_1_1,00.html>. Acesso em: 25 jan. 2012. O´REILLY, T. What is web 2.0. Design Patterns and Business Models for the Next Generation of Software. Disponível em <http://oreilly.com/web2/archive/what-is-web-20.html>. Acesso em: 25 ago. 2009. OLIVEIRA, E. B. P. M.; NORONHA, D. P. A comunicação científica e o meio digital. Informação & Sociedade: estudos, João Pessoa, v. 15, n. 1, p. 1-15, 2005. Disponível em: <http://www.ies.ufpb.br/ojs2 /index.php/ies/article/view/53/1523>. Acesso em: 20 fev. 2010. OLIVEIRA, T. Origem e memória das universidades medievais: a preservação de uma instituição educacional. Varia Historia, v. 23, n. 37, p. 113-129, jan./jun. 2007. PAVAN, C. et al. Connotea: site para a comunicação científica e compartilhamento de informações na internet. Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, v. 5, n. 1, p. 77-94, jul./dez. 2007. PIMENTEL, M. T. R.; CARNIELLO, M. F.; SANTOS, M. J. O uso da Internet como fonte de pesquisa entre universitários: um estudo de caso. In: CELACOM - Colóquio Internacional sobre a Escola Latino-Americana de Comunicação, 13., 2009, Marília, SP. Disponível em: < http://www2.metodista.br/unesco/ 1_Celacom%202009/arquivos/Trabalhos/Marcelo_UsoInternet.pdf>. Acesso em: 22 fev. 2012. PINHEIRO, L. V. B. Comunidades científicas e infra-estrutura tecnológica no Brasil para uso de recursos eletrônicos de comunicação e informação na pesquisa. Ciência da Informação, v. 32, n. 3, p. 62-73, set./dez. 2003. PRIMO, A. F. T. Interação mútua e interação reativa: uma proposta de estudo. Revista da Famecos, v. 1, n. 12, p. 81-92, jun. 2000.
Referências bibliográficas 423
______________. Quão interativo é o hipertexto? : Da interface potencial à escrita coletiva. Revista Fronteira (UNISINOS), São Leopoldo, v. 5, n. 2, p. 125-142, 2003. _____________.; RECUERO, R. C. Hipertexto Cooperativo: uma análise da escrita coletiva a partir dos blogs e da wikipédia. In: Seminário Internacional da Comunicação, 7., 2003, Porto Alegre, RS. Disponível em: <http://www6.ufrgs.br/limc/PDFs/hipertexto_cooperativo.pdf>. Acesso em 22 jan. 2010. PUC-RIO. História, Missão e Marco Referencial. Disponível em: <http://www.puc-rio.br/sobrepuc/historia/index.html>. Acesso em 22 fev. 2010. QUEIROZ, M. I. P. Relatos orais: do indizível ao dizível. In: VON SIMSON, O. M. (Org.). Experimentos com histórias de vida (Itália-Brasil). São Paulo: Vértice, Editora Revista dos Tribunais, 1988. Enciclopédia Aberta de Ciências Sociais, v. 5. p. 14-43. RECUERO, R. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre, Sulina, 2009. RIBEIRO, A. E. Texto e leitura hipertextual: novos produtos, velhos processos. Linguagem & Ensino, v. 9, n. 2, p. 15-32, jul./dez. 2006. RIZZINI, I. et al; Pesquisando: guia de metodologias de pesquisa para programas sociais; Rio de Janeiro: USU Editora Universitária, 1999. 144 p. 30 cm. ROSADO, L. A. S. Autoria textual coletiva fora do âmbito acadêmico e institucional: análise da comunidade virtual Wikipédia e suas contribuições para a educação. 303 p. Dissertação (Mestrado em Educação) – Departamento de Educação, Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, 2008. SAID, E. Representações do intelectual: as Conferências Reith de 1993. Trad. Milton Hatoum. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. SANTAELLA, L. A aprendizagem ubíqua substitui a educação formal? ReCeT - Revista de Computação e Tecnologia da PUC-SP, v. 2, n. 1, p. p. 17-22, 2010. ______________. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. 4ª ed. São Paulo: Paulus, 2004. SANTOS, C. M. Tradições e contradições da pós-graduação no Brasil. Educação e Sociedade, v. 24, n. 83, p. 627-641, ago. 2003. SAVIANI, D. A pós-graduação em educação no Brasil: trajetória, situação atual e perspectivas. Revista Diálogo Educacional, v. 1, n. 1, p. 1-19, jan./jun. 2000. SENA, M. K. Open archives: caminho alternativo para a comunicação científica. Ciência da Informação, v. 29, n. 3, p. 71-18, set./dez. 2000.
Referências bibliográficas 424
SEYAL, A. H., RAHMAN, M. N. A.; RAHIM, M. M. Determinants of academic use of the Internet: A structural equation model. Behaviour & Information Technology, v. 21, n. 1, p. 71-86, jan. 2002. SHANNON, C. E. A Mathematical Theory of Communication. The Bell System Technical Journal, v. 27, p. 379–423, 623–656, jul./oct. 1948. SHIRKY, C. Lá vem todo mundo: o poder de organizer sem organizações. Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2012. __________. A cultura da participação: criatividade e generosidade no mundo conectado. Trad. Celina Portocarrero. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. SILVA, A. O. A sua revista tem Qualis? Mediações, v. 14, n. 1, p. 117-124, jan./jun. 2009. SILVA, M. Sala de aula interativa. Rio de Janeiro, Quartet, 4ª ed., 2006. STALLMAN, R. O projeto GNU. DataGramaZero, v. 1, n. 1, fev. 2000. Disponível em: < http://www.dgz.org.br/fev00/F_I_art.htm>. Acesso em: 17 mai. 2012. STEINER, J. E. Qualidade e diversidade institucional na pós-graduação brasileira. Estudos Avançados, v. 19, n. 54, p. 341-365, mai./ago. 2005. TAPSCOTT, D. & WILLIAMS, A. D. Wikinomics: como a colaboração em massa pode mudar o seu negócio. Trad. Marcello Lino. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007. TARGINO, M. G. Comunicação científica: uma revisão de seus elementos básicos. Informação & Sociedade. v. 10, n. 2, 2000. Disponível em: < http://www.ies.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/326/248>. Acesso em: 20 fev. 2010. ________________. O óbvio da informação científica: acesso e uso. TransInformação, v. 19, n. 2, p. 95-105, mai./ago. 2007. TURATO, E. R. Tratado da Metodologia da Pesquisa Clínico-qualitativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. UCSC. La storia dell’Università Cattolica del Sacro Cuore. Disponível em < http://www.unicattolica.it/Storia_UCSC.pdf#googtrans/auto/pt>. Acesso em: 25 fev. 2010. UDDIN, M. N. Internet use by university academics: a bipartite study of information and communication needs. Online Information Review, v. 27, n. 4, p. 225-237, 2003. UNIVERSIA. Declaração conjunta dos ministros da educação europeus, assinada em Bolonha. Disponível em:
Referências bibliográficas 425
<http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2006/08/11/ 435613/ratado-bolonha-integra.html>. Acesso em 19 jan. 2012. VERGER, J. Homens e saber na Idade Média. Trad. Carlota Boto. Bauru, SP: EDUSC, 1999. VIEIRA, M. F. V. A Wikipédia é confiável? Credibilidade, utilização e aceitação de uma enciclopédia online no ambiente escolar. 157 p. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Mestrado Acadêmico em Educação (PMAE), Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, SC, 2008. WALSH, J. P; BAYMA, T. Computer networks and scientific work. Social Studies of Science, v. 26, n. 3, p. 661-703, ago. 1996. WIKIMEDIA COMMONS. The Age Frontpage. [Jun. 2011]. Disponível em: < http://commons.wikimedia.org/wiki/File%3ATheAgeFrontPage110606.jpg>. Acesso em 27 mai. 2012. WIKIPÉDIA. Verbete “Companhia de Jesus”. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_de_Jesus>. Acesso em 20 fev. 2010. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Trad. Daniel Grassi. 2 ed. Porto Alegre, Bookman, 2001.
10 Anexos
I. Roteiro de entrevista utilizado na Itália (versão 5 – bilíngue)
Itens para Roteiro de Entrevista (Português e Italiano)
FASE 1 – Aquecimento - Um pouco sobre a formação acadêmica, cursos que fez, onde e quando (perfil científico). - Dimmi un po 'del tuo background nei corsi che hanno fatto, dove e quando lo ha fatto (profilo scientifico). - Início de uso do computador e da Internet (quando, onde e como). - Quando ha cominciato il suo uso del computer e di Internet (quando, dove e come). Começou em que época a usar internet? E 'iniziato a che ora di usare internet? Em casa, na faculdade ou na escola? A casa, al collegio o scuola? Pessoas que influenciaram no uso da internet e do computador. Quali sono state le persone che ti hanno influenzato nell'uso di Internet e il computer.
FASE 2 – Construção da tese - Internet e uso no doutorado. - Dimmi un po 'su come è utilizzato Internet per il suo dottorato. Qual foi o tema da sua tese? Conte um pouco sobre ela. Qual è stato il tema della sua tesi? Raccontaci un po 'su di esso. - Como chegou nas fontes de referência. - Come ha fatto le fonti di riferimento. Como foi a sua seleção de fontes e autores? Come è stata la selezione delle fonti e autori? Quais lugares que costumava buscar suas fontes? Quali luoghi che utilizzate per ottenere le loro fonti? - Fontes de pesquisa usadas (USAR SE O ANTERIOR FOR VAGO). - Quali sono state le tue fonti di ricerca utilizzate per il dottorato? O que acha dos livros? Cosa ne pensi dei libri?
Anexos 427
O que acha dos Periódicos científicos? Cosa ne pensi di riviste scientifiche? O que acha das teses e dissertações? Cosa ne pensi di tesi e dissertazioni? Costuma visitar bases de dados ou alguma em específico na internet? Di solito visitare alcuni database o su Internet in particolare? Que outros tipos de fontes de dados utilizou? Quali altri tipi di fonti di dati utilizzate? O que acha dos blogs? E das redes sociais? E das wikis? Cosa ne pensi dei blog? E il social networking? E wiki? - Processo de construção do texto da tese. Parlami del tuo processo di costruzione del testo della tesi per il dottorato. Descreva o seu processo de escrita da tese. Descrivi il tuo processo di scrittura della tesi. Você acha que houve fases? O que aconteceu durante cada etapa da escrita? Credi che ci fasi? Cosa è successo durante ogni fase di scrittura? Você usava mais o papel ou computador para escrever sua tese? Hai usato più carta o il computer per scrivere la tua tesi? - Processo de organização do texto da tese até a forma final Ditemi come è stato il tuo processo di organizzazione del testo della tesi fino alla forma finale. Você construiu sumários e esboços? È costruito sintesi e schizzi? Como foi sua construção de capítulos da tese? Come è stata la loro costruzione di capitoli della tesi? - Organização dos arquivos no computador e em sites. Vorrei conoscere un po 'la loro organizzazione di materiali di ricerca sul computer e sui siti Internet. Você usa atualmente arquivos que coletou durante a tese? Attualmente si utilizzano i materiali raccolti durante la tesi? Como estão organizado esses arquivos? Quais são os seus conteúdos? Come sono organizzati questi file? Quali sono i suoi contenuti? Você utiliza alguma classificação ou critérios nessa organização? Hai usato alcuna classificazione o criteri in questa organizzazione? - Comunicação com outros pesquisadores via internet. Com'è stata la tua comunicazione con altri ricercatori via Internet? Que meios são mais usados para se comunicar? Quali media sono stati più utilizzati per comunicare con questi ricercatori? Participa de comunidades virtuais / Listas de discussão / Redes sociais? Quais? Partecipa a comunità virtuali / mailing list / social network? Cosa? Já escreveu textos científicos com outros autores? Utilizou a internet para esta escrita? Ha scritto lavori scientifici con altri autori? Utilizzato Internet per questa scrittura?
Anexos 428
- Comunicação com os sujeitos participantes do estudo via internet (se houve ou não houve e como foi). Se è successo, come le venne in mente la comunicazione con i partecipanti allo studio tramite Internet? (oppure se non ci fosse e come è stato). - A questão da confiabilidade das fontes Qual è il vostro parere sulla questione di affidabilità delle fonti? Você faz uso do recurso de cópia e colagem de textos? Di solito si utilizza il copia e incolla il testo digitale su Internet? Você possui algum opinião sobre o plágio na internet? Avete qualche opinione sul plagio in Internet?
FASE 3 – Revisão e encerramento - Percepção das mudanças nos últimos 10 anos com a entrada da internet (comparativo) - Qual è la vostra percezione di cambiamenti nel corso degli ultimi 10 anni con l'ingresso di Internet nelle loro giorno per giorno (facendo un paragone)? Compare a sua época do doutorado, mestrado, de especializações e hoje. Confronta i tuoi tempi di dottorato, master, specializzazione e di oggi. Considera que houve mudanças na tecnologia e velocidade da internet? Como as percebe? Ritiene che ci sono stati cambiamenti nella tecnologia e la velocità di internet? Come si fa a vedere? Você tem alguma opinião sobre a existência de excesso de informações? Avere un parere circa l'esistenza di un eccesso di informazioni? Como é o uso do seu tempo? Come è l'uso del tuo tempo? Qual a sua opinião sobre privacidade e internet? Qual è la sua opinione sulla privacy e internet? - Desenvoltura com a internet - Resourcefulness con internet Você acha que alguém influenciou você a usar a internet? Pensi che qualcuno influenzato di usare internet? Se tem a ver com o tema que escolheu. Se avete a che fare con il tema scelto. Se tem a ver com a vida acadêmica. Se avete a che fare con la vita accademica. Se tem a ver com os familiares e amigos. Se si ha a che fare con la famiglia e gli amici.
Anexos 429
II. Carta aos doutores formados na UCSC entre 2005 e 2010
Gentilissimo/a ….., In qualità di professore ordinario di Didattica presso l'Università Cattolica di Milano (dove dirigo il Cremit – Centro di Ricerca per l’Educazione ai Media, all’informazione e alla tecnologia, http://www.cremit.it/) sto seguendo come tutor Luiz Alexandre da Silva Rosado, dottorando dell'Università Cattolica di Rio de Janeiro che sta trascorrendo in Italia sotto la mia direzione un periodo di studio finanziato da una borsa del Centro Nazionale di Ricerca del Governo brasiliano (CNPQ - Ministério da Ciência e da Tecnologia). La ricerca di Rosado ha come obiettivo lo studio delle forme d'uso dei media digitali da parte dei dottorandi durante la attività di ricerca sviluppata per la loro tesi di dottorato. Ci piacerebbe inserirti nel campione di interviste che stiamo conducendo, tra Italia e Brasile, com dottori di ricerca che abbiano conseguito il loro titolo tra il 2004 e il 2009. L'intervista sarà realizzata da Alexandre Rosado nel luogo che tu vorrai indicare. Se lo ritenessi opportuno si potrebbe approfittare dei locali del Dipartimento di Pedagogia (in Largo Agostino Gemelli, 1 Milano). Ti saremmo grati se vorrai segnalare la tua disponibilità rispondendo a questa e-mail (inviando la risposta a questo indirizzo: [email protected]). Ringraziandoti in anticipo per la collaborazione che speriamo vorrai garantire restiamo a tua disposizione per qualsiasi dubbio o chiarimento. Pier Cesare Rivoltella
Anexos 430
III. Roteiro de entrevista utilizado no Brasil (versão 5)
Itens para Roteiro de Entrevista
FASE 1 – Aquecimento - Um pouco sobre a formação acadêmica, cursos que fez, onde e quando (perfil científico). - Início de uso do computador e da Internet (quando, onde e como). Começou em que época a usar internet? Em casa, na faculdade ou na escola? Pessoas que influenciaram no uso da internet e do computador.
FASE 2 – Construção da tese - Internet e uso no doutorado. Qual foi o tema da sua tese? Conte um pouco sobre ela. - Como chegou nas fontes de referência. Como foi a sua seleção de fontes e autores? Quais lugares que costumava buscar suas fontes? - Fontes de pesquisa usadas (USAR SE O ANTERIOR FOR VAGO). O que acha dos livros? O que acha dos Periódicos científicos? O que acha das teses e dissertações? Costuma visitar bases de dados ou alguma em específico na internet? Que outros tipos de fontes de dados utilizou? O que acha dos blogs? E das redes sociais? E das wikis? - Processo de construção do texto da tese. Descreva o seu processo de escrita da tese. Você acha que houve fases? O que aconteceu durante cada etapa da escrita? Você usava mais o papel ou computador para escrever sua tese? - Processo de organização do texto da tese até a forma final Você construiu sumários e esboços? Como foi sua construção de capítulos da tese? - Organização dos arquivos no computador e em sites. Você usa atualmente arquivos que coletou durante a tese? Como estão organizado esses arquivos? Quais são os seus conteúdos? Você utiliza alguma classificação ou critérios nessa organização? - Comunicação com outros pesquisadores via internet. Que meios são mais usados para se comunicar?
Anexos 431
Participa de comunidades virtuais / Listas de discussão / Redes sociais? Quais? Já escreveu textos científicos com outros autores? Utilizou a internet para esta escrita? - Comunicação com os sujeitos participantes do estudo via internet (se houve ou não houve e como foi). - A questão da confiabilidade das fontes Você faz uso do recurso de cópia e colagem de textos? Você possui algum opinião sobre o plágio na internet?
FASE 3 – Revisão e encerramento - Percepção das mudanças nos últimos 10 anos com a entrada da internet (comparativo) Compare a sua época do doutorado, mestrado, de especializações e hoje. Considera que houve mudanças na tecnologia e velocidade da internet? Como as percebe? Você tem alguma opinião sobre a existência de excesso de informações? Como é o uso do seu tempo? Qual a sua opinião sobre privacidade e internet? - Desenvoltura com a internet Você acha que alguém influenciou você a usar a internet? Se tem a ver com o tema que escolheu. Se tem a ver com a vida acadêmica. Se tem a ver com os familiares e amigos.
Anexos 432
IV. Carta aos doutores formados na PUC-Rio entre 2005 e 2010
Assunto: Convite para entrevista Prezado Dr. Fulano, Como Professora Emérita do Departamento de Educação da PUC-Rio, tenho sob minha orientação de doutorado Luiz Alexandre da Silva Rosado que também é membro pesquisador do Diretório de Pesquisa apoiado pelo CNPq Jovens em Rede (http://jovensemrede.wordpress.com ) do qual sou a Coordenadora Geral. A pesquisa que dá suporte à tese de Luiz Alexandre tem como objetivo estudar as possíveis formas de uso de mídias digitais adotadas por doutorandos durante a investigação e escrita de suas teses. Para poder construir o conjunto de dados empíricos, Alexandre pesquisou, com a devida autorização, no banco de dados da Pós-Graduação do Departamento de Educação da PUC-Rio a lista de doutores que defenderam suas teses e se formaram entre os anos de 2005 e 2010 inclusive. Foi desse modo que chegamos até sua pessoa, uma vez que seu nome e e-mail constam dessa lista. Assim sendo, o que desejamos imensamente é contar com sua participação nesta investigação em andamento, através de seu depoimento sobre o tema numa pequena entrevista com Alexandre, em local e hora a ser combinado. Lembro-lhe que posso oferecer o meu espaço na PUC, se considerar oportuno e combinar previamente com Alexandre. Tenho certeza de que, sabendo das agruras que os doutorandos passam para obter seus dados, você estará entre os que vão aceitar. Por isso, já estou contando com sua participação e retorno breve deste e-mail, desde já agradecendo sua colaboração. Se tiver qualquer dúvida ou necessitar mais esclarecimentos pode nos contatar por este mesmo e-mail pelo qual estou enviando a minha mensagem ([email protected]). Um abraço da
Apparecida Mamede [email protected]
Anexos 433
V. Descrição das 45 categorias-dimensões da atividade autoral
Este conjunto de 45 categorias temáticas (também chamado de dimensões da atividade autoral ou variáveis de análise) e 7 eixos temáticos, com suas respectivas delimitações definidoras, serviram de guia para compor a avaliação das estratégias, práticas e percursos dos doutores durante a pesquisa e composição da tese, ajudando a formar os 16 casos e perfis de uso dos suportes digitais.
I. Trajetória de vida acadêmica e digital 1. Carreira e relação com a Academia (Academicidade) Grau em que a pessoa participa de atividades acadêmicas. (1) Sempre se dedicou 1. A pessoa fez o mestrado e doutorado e sempre trabalhou dentro da Universidade. 2. A pessoa nunca teve trabalho formal, foi bolsista.
(2) Chegou recentemente (menos de 5 anos) 1. A pessoa vem de uma carreira em que trabalhava em empresa ou instituição e recentemente entrou para a academia.
(3) Veterana na academia (mais de 5 anos) 1. A pessoa vem de uma carreira em que trabalhava em empresa ou instituição, mas entrou depois para a academia. 2. Trabalha há mais de 5 anos na academia.
(4) Nunca se dedicou 1. A pessoa fez o mestrado e o doutorado, mas trabalhou sempre em instituições e empresas fora da academia.
2. Carreira e posição universitária (Autoridade) Que cargo ou posição acadêmica se encontrava o doutor no momento da tese. (1) Professor sem influência alguma 1. Sem cargo de influência na instituição. 2. Sem publicações de destaque. 3. Sem grupo de pesquisa próprio. 4. Pouca ou nenhuma experiência profissional. 5. Rede de contatos pequena.
(2) Tinha somente contrato de pesquisador 1. Comum na Itália, onde o doutor se ocupa de pesquisa exclusivamente.
(3) Professor pouco influente e ainda sem ocupar função de destaque 1. Alguma influencia na instituição. 2. Desenvolvendo suas pesquisas ligadas a um professor de maior prestígio. 3. Sem grupo de pesquisa próprio ou com grupo de pesquisa recém iniciado. 4. Rede de contatos em expansão.
(4) Professor com destaque e carreira consolidada 1. Prestígio acadêmico. 2. Publicações significativas e referenciadas. 3. Grupo de pesquisa formado e consolidado. 4. Referência aos que iniciam a carreira. 5. Rede de contatos vasta e com ampla penetrabilidade no campo em que estuda e trabalha.
Anexos 434
(5) Não era professor 1. Não ocupava nenhuma posição na academia, trabalhava em empresa ou era exclusivamente bolsista.
3. Carreira e momento (Temporalidade) Que momento de vida o doutor foi formado (1) Jovem 1. Com idade entre 20 e 35 anos. 2. Lecionando ou não.
(2) Meio de carreira 1. Entre 36 e 50 anos. 2. Lecionando há muitos anos, pesquisando há muitos anos ou reconstruindo carreira.
(3) Fim de carreira 1. Entre 51 e 70 anos. 2. Lecionando há muitos anos, pesquisando há muitos anos ou reconstruindo carreira.
4. Carreira e área de procedência (Anterioridade) Que área do saber o doutor estava ligado antes do doutorado (1) Educação 1. Graduação em pedagogia ou ciências da educação. 2. Mestrado em educação.
(2) Exatas em geral 1. Graduação em ciências exatas em geral. 2. Mestrado em educação ou em ciências exatas em geral.
(3) Humanas em geral 1. Graduação em ciências humanas em geral. 2. Mestrado em educação ou em ciências humanas em geral.
(4) Tecnológica em geral 1. Graduação em área tecnológica. 2. Mestrado em educação ou em área tecnológica em geral.
5. Carreira e uso de TICs (Tecnicidade) Grau de dependência das TICs para realização do trabalho formal (1) Forte dependência das TICs na profissão 1. O uso de TICs é fundamental para o trabalho. 2. O estudo contínuo das TICs é fundamental para a realização do trabalho.
(2) Média dependência das TICs na profissão (3) Baixa dependência das TICs na profissão 1. O uso das TICs é superficial e não fundamental para o trabalho. 2. A atualização sobre as TICs é opcional, não influenciando o trabalho.
II. Usos da tecnologia
6. Tecnologia e interesse inicial (Causalidade) Agente inicial motivador para uso do computador e/ou internet (1) Interesse formal
Anexos 435
1. Necessidade de trabalho. 2. Necessidade na escola, graduação ou pós-graduação. 3. Necessidade de docência. 4. Necessidade do trabalho acadêmico de escrita. 5. Participação em curso formal para aprender a usar o computador ou/e internet.
(2) Interesse informal 1. A partir de Amigos que usavam e despertaram a curiosidade. 2. A partir de parentes próximos como marido, irmãos, filhos, pais ou tios.
(3) Interesse misto 1. Necessidade formal (trabalho, escola, universidade) aliada ao mesmo tempo à ajuda informal de parentes ou amigos.
7. Tecnologia e período inicial (Temporalidade) Usos da tecnologia no tempo para avaliar que fases a pessoa viveu (1) Computador isolado 1. Usado como máquina de escrever, de registros. 2. Centralidade do editor de textos. 3. Característico dos anos 80 e 90. 4. Provavelmente ainda sem interface gráfica ou em modo misto (DOS / Windows).
(2) Computador com internet lenta 1. Alto custo de acesso (discado) 2. Acesso aos dados e gravação para leitura posterior. 3. Característico da primeira metade dos anos 2000 e dos últimos anos da década de 90.
(3) Computador com internet rápida 1. Usado como fonte mais ampla de pesquisa, de dados, de buscas. 2. Acesso contínuo aos dados. 3. Centralidade da Web. 4. Característico da segunda metade dos anos 2000.
8. Tecnologia e aprendizado inicial (Formalidade) Desenvoltura com o computador e a internet a partir da educação ou do autodidatismo (1) Autodidata solitário 1. Começou a usar os recursos digitais sozinho.
2. Consultava revistas, sites e manuais para se informar. (2) Autodidata assistido 1. Começou a usar os recursos sozinho e também com ajuda de amigos e cursos que fez. (3) Educação formal 1. Fez curso formal para começar a usar os recursos digitais.
9. Tecnologia e imersão (Profundidade) Grau de imersão na internet (1) Lento / Restrito 1. Cuidadoso no uso. 2. Seletivo no uso. 3. Uso tardio de recursos já disseminados e comuns. 4. Medo de entrar e usar um recurso novo. 5. Medo de usar muitos recursos e não dar conta de responder. 6. Pessoa “não 2.0”.
Anexos 436
(2) Rápido / Amplo 1. Abrangente, com adesão a muitas ferramentas. 2. Pouco criterioso nas escolhas, experimentando muitas novidades que vai encontrando. 3. Uso simultâneo ou quase simultâneo com o surgimento do recurso. 4. Incômodo pela não adesão de outras pessoas na mesma velocidade. 5. Encantamento com as novas tecnologias e entrega.
(3) Moderado / Seletivo 1. Uso de poucos recursos, porém contemporâneos e recentes. 2. Gestão das ferramentas que acessa, focando na necessidade que tem. 3. Não tem medo de novos recursos, mas analisa o que vai utilizar sem ter encantamento.
10. Tecnologia e conhecimento (Familiaridade) Quanto ao estágio de uso (1) Iniciante 1. Descoberta e uso básico da internet e do computador. 2. Pela descrição que faz dos usos percebe-se que a pessoa não se aprofundou na informática e computação. 3. Ainda na fase de aquisição de palavras novas utilizadas no ambiente informático.
(2) Familiarizado 1. Uso de alguns recursos de forma básica e apresentando conhecimento razoável em outros, sem aprofundar os detalhes e recursos mais sofisticados. 2. É o usuário que sabe instalar programas básicos e utiliza programas diversos, mas não sofisticados. 3. Usa alguns serviços na internet como banco, compras, pesquisas diversas, comunicação com outras pessoas.
(3) Avançado 1. Maior aprofundamento e uso de recursos mais avançados, pouco relatados em geral. 2. Possui desenvoltura com programas avançados e sabe a fundo o funcionamento da computação, da internet e da informática em geral. 3. Tem grande chance de ter vindo de uma área técnica / tecnológica.
11. Tecnologia e objetivos de uso (Finalidade) Transposição de usos no tempo a partir de atividades desenvolvidas com o computador e a internet (1) Uso para trabalho+estudo 1. Aprende recursos para uso em atividades no trabalho principalmente.
(2) Uso para trabalho+estudo -> pessoal+comunicação 1. Aprende para usar no trabalho e também na vida pessoal, equilibrando os dois lados.
(3) Uso pessoal+comunicalção -> trabalho+estudo 1. Aprende a usar na vida pessoal e usa também no trabalho, de maneira equilibrada.
(4) Começou a utilizar para todas as finalidades ao mesmo tempo 1. Aprende a usar ao mesmo tempo o computador para o trabalho, estudo, comunicação e vida pessoal.
12. Tecnologia e análise dos dados (Tecnicidade) Grau de utilização do computador e da internet na análise dos dados coletados. (1) Utiliza software avançado para análise dos dados 1. SPSS. 2. nVivo. 3. Sphinx.
(2) Utiliza software básico de análise de dados 1. Tabelas e gráficos em Excel.
Anexos 437
(3) Analisou os dados manualmente 13. Tecnologia e atividades (Atividade) Tipos de atividades que a pessoa faz usando o computador e a internet (1) Comunicação pessoal 1. Uso de e-mail e comunicadores instantâneos.
(2) Comunicação coletiva 1. Newsgroups, listas de discussão.
(3) Ferramentas de autopublicação 1. Blogs, fotologs.
(4) Redes sociais e relacionamento 1. Orkut, Facebook e outras redes em que se criam perfis públicos.
(5) Jogos online e offline 1. Jogos em rede, jogos off-line.
(6) Comércio eletrônico e home banking (7) Serviços de armazenamento online 1. Álbum de fotos e vídeos online, slides e textos online, compartilhamento de arquivos na nuvem.
(8) Serviços de download 1. Baixar músicas e filmes online.
(9) Serviços de compartilhamento 1. Delicius. 1. aNobii.
(10) Pesquisa em motores de busca (11) Leitura de jornais eletrônicos (12) Serviços de orientação 1. Utilização de sites para se situar no local onde está (hospedagem, passagens, mapas).
III. Modo de leitura
14. Leitura e suporte (Materialidade) Modo de leitura de acordo com o suporte mais usado (1) Predomínio do Impresso 1. No papel, sublinhado e anotado a mão. 2. Em geral os textos mais longos.
(2) Predomínio da Tela do computador 1. Na tela do computador, com ou sem anotações. 2. Na tela do tablet. 3. Em geral os textos mais curtos se for tela do desktop. 4. Exceção relatada eram textos de teses e dissertações, que por serem muito grandes não eram impressos e eram vistos na tela.
Anexos 438
(3) Leitura equilibrada entra o impresso e a tela do computador 1. Uso dos dois modos de leitura de maneira equilibrada.
15. Leitura e local das anotações (Localidade) Modo de fazer anotações sobre leituras que faz (1) Produção de Anotações diretas no arquivo digital original 1. Anota-se diretamente no arquivo PDF ou no e-book. 2. Problemas em exportar as anotações em modelos de e-books com formatos fechados. 3. Problemas ainda em anotar em arquivos PDF.
(2) Produção de Anotações separadas no computador e/ou internet 1. Usa-se um editor de texto para anotar e copiar citações. 2. Pode-se ou não usar um programa específico para juntar as anotações, como o Biblos.
(3) Produção de Anotações separadas em papel 1. Usa-se um caderno para anotações.
(4) Produção de anotações diretas no material impresso 1. Anota-se diretamente no material impresso.
(5) Produziu pouca ou nenhuma anotação 16. Leitura e compartilhamento (Coletividade) Modo de compartilhamento das leituras que faz. (1) Predomínio de Leituras e/ou anotações compartilhadas na web 1. Disponibiliza online os links de leituras que fez. 2. Comenta suas leituras em comunidade virtual de leitores (aNobii).
(2) Predomínio de Anotações armazenadas localmente no PC 1. Anota (passando ou não antes por algum meio analógico) e guarda em arquivo pessoal no computador. 2. Usa algum programa de organização de anotações como o Biblos.
(3) Predomínio de Anotações armazenadas em papel 1. Anota diretamente nos artigos e livros. 2. Mantém um caderno de anotações sem passar posteriormente para o computador.
17. Leitura e prestígio do autor (Autoridade) Modo de atribuição de crédito ao texto com base no prestígio do autor (1) Leitura de autores acadêmicos consagrados 1. Autores acadêmicos reconhecidos. 2. Textos considerados científicos, que circulam já em estruturas reconhecidas. 3. Basicamente é padrão citá-los nas teses. (2) Leitura de autores acadêmicos em geral 1. Autores acadêmicos sem prestígio ou consagração, não entraram ainda no rankings dos mais citados. 2. Textos considerados científicos, que circulam já em estruturas reconhecidas. 3. Basicamente é padrão citá-los nas teses.
(3) Leituras de autores marginais sem citação 1. Textos de sujeitos não pertencentes ao mundo acadêmico. 2. Reflexões consideradas não científicas. 3. Exclusão da citação dos mesmos no corpo do texto da tese.
Anexos 439
(4) Leituras de autores marginais com citação 1. Textos de sujeitos não pertencentes ao mundo acadêmico. 2. Reflexões consideradas não científicas. 3. Porém o escritor da tese chega a citar falas de fontes não reconhecidas academicamente.
18. Leitura e técnicas de destaque (Recordabilidade) Técnicas utilizadas durante a leitura para destaque e memorização (1) Sublinhamentos diretos no material (2) Post-its para marcação no material (3) Post-it para passar ao computador posteriormente (4) Anotações diretas no próprio material (5) Anotações no computador 1. Durante a leitura. 2. Após a leitura. 3. Com bloco de notas.
(6) Anotações no papel ou no caderno (7) Fichamentos dos materiais (8) Uso de diferentes cores para o destaque (9) Não usa nenhuma técnica 19. Leitura e técnicas de confiabilidade (Confiabilidade) Técnica usada para a atribuição de crédito ao texto. (1) Checagem da qualidade das referências citadas pelo autor (2) Checagem em outras fontes para autores não conhecidos Ida ao google, ao site da universidade ou ao Lattes para ver quem é o autor.
(3) Checagem com outros pesquisadores sobre quem é o autor Consulta outros colegas na temática que estuda para confirmar a reputação do autor.
(4) Checagem da produção anterior do autor Ida a sites que mostrem o histórico de obras do autor, como o Lattes e os sites de universidades.
(5) Prestígio do local de publicação do autor 1. Revista científica consolidada. 2. Sociedade científica consolidada. 3. Livraria consolidada. a. Amazon. b. Cultura.
(6) Prestígio do autor da fonte 1. Se conhece a pessoa e a produção anterior dela, seja como acadêmico seja como especialista no assunto (Ex: jornalista de tecnologia, professor de escola).
Anexos 440
(7) Conteúdo ter sido escrito a partir de uma experimentação que prove a hipótese Exemplo dos escritores de blog sem ter pesquisas por trás.
(8) Conteúdo ser útil para o objetivo da pesquisa (9) Conteúdo estar discrepante com tudo que foi dito até o momento (10) Conteúdo ser confrontado com a produção de outros autores (11) Tipo do arquivo em que o conteúdo foi publicado 1. Se o arquivo está, por exemplo, em PDF ou em DOC.
(12) Exclusão, a priori, de um tipo de fonte suspeita 1. A não utilização de blogs ou wikis, por exemplo.
(13) Consulta a pessoas de referência que validam fontes principais (14) Consulta às principais publicações no tema de pesquisa para se orientar
IV. Modo de escrita 20. Escrita e ordem (Simultaneidade) Ordem do processo de escrita. (1) Linear 1. Um capítulo por vez, escrito de forma separada. 2. Medo de se perder na escrita.
(2) Simultânea controlada 1. Vários capítulos editados ao mesmo tempo, com recortes e colagens sucessivos. 2. Concentração em um ou dois capítulos por vez, mesmo que editando outros.
(3) Simultânea radical 1. Todos os capítulos editados ao mesmo tempo, com recortes e colagens sucessivos. 2. Sem início, meio e fim, não obedecendo uma ordem cronológica de escrita.
21. Escrita e ambiência (Localidade) Locais onde a pessoa escrevia a tese. (1) Durante viagens 1. Trem. 2. Quarto de hotel.
(2) Em casa 1. Escritório em casa.
(3) No local de trabalho (4) Local isolado 1. Um período hospedado em convento ou instituição similar de isolamento.
(5) Na universidade
Anexos 441
22. Escrita e co-autoria (Coletividade) Modo de escrita quando trabalha textos em co-autoria. (1) Texto inteiro em co-autoria 1. Os autores escrevem um texto inteiriço em co-autoria
(2) Partes do texto distribuídas para cada autor 1. Os autores dividem em partes e cada um escreve a sua isoladamente. 2. Todos terminam por juntar o resultado em um texto final.
(3) Co-autoria de materiais não publicados 1. Projetos de pesquisa. 2. Instrumentos de pesquisa.
(4) Não escreve em co-autoria 23. Escrita e temática (Tematicidade) Centralidade das TICs na temática da escrita. (1) Temática da tese centrada em TICs 1. O assunto desenvolvido trata diretamente de tecnologias digitais.
(2) Temática da tese não centrada em TICs 1. O assunto não envolve nenhuma dimensão das TICs.
(3) Temática da tese mista 1. O assunto envolve as TICs, mas sendo estas usadas de maneira secundária.
24. Escrita e autoria própria (Originalidade) Grau de autoria própria, pessoal, no texto escrito na tese. (1) Autoria compilativa 1. O autor expõe uma síntese compilativa de textos escolhidos em sua temática. 2. Mais comum acontecer na Itália nas teses exclusivamente teóricas.
(2) Autoria compilativa + acréscimos pessoais 1. O autor compila textos, mas acrescenta sua visão pessoal da temática. 2. É a escrita a partir dos outros e acrescentando algo do pensamento próprio.
(3) Autoria inovadora 1. O autor compila textos, mas seu acréscimo é considerado inédito dentro da temática escolhida.
25. Escrita e instrumento (Instrumentalidade) Modo de produção dos textos referente ao instrumento utilizado na escrita. (1) Predomínio do uso do lápis e/ou caneta na produção de textos 1. Aqui são os meios analógicos de escrita. 2. Alguns podem ter experimentado também a escrita em máquina de escrever. 3. A escrita é feita em versões consecutivas e com alto índice de reescrita e cópia.
(2) Predomínio do uso do computador na produção de textos 1. O texto desde o seu esboço já é feito no computador, sem passar antes pelo papel e pela escrita a mão.
(3) Uso equilibrado dos instrumentos na produção da escrita
Anexos 442
26. Escrita e presença da internet (Conectividade) Escrita e uso simultâneo da internet para consultas. (1) Uso da internet no momento da escrita 1. Escreve-se o tempo todo com a internet ligada para consultas a fontes. 2. Busca-se diretamente na internet as citações e fontes para confirmar os argumentos e a origem.
(2) Uso do computador desconectado no momento da escrita 1. Desconecta-se completamente da internet quando vai escrever seu texto
(3) Alternância de uso e não uso da internet no momento da escrita 1. Relata-se tanto situações onde a internet era usada como as que se isolava e desconectava-se.
27. Escrita e técnicas (Tecnicidade) Técnicas utilizadas durante a escrita para organização do texto. (1) Construção de mapa conceitual 1. Faz-se o mapa conceitual com os tópicos do futuro texto e da inter-relação das idéias. 2. Onenote, Mindmap, Powerpoint para esquematizar os mapas.
(2) Construção de índices 1. Parecido com o mapa conceitual, só que apresentado em forma estruturada linearmente.
(3) Escrita em camadas 1. Começa com uma idéia-base e vai confeccionando o texto em camadas, aos poucos, acrescentando novas informações no entorno.
(4) Escrita com 2 monitores 1. Ampliar a área de escrita com dois monitores instalados no menos computador.
(5) Idéias por parágrafos 1. Cada parágrafo contém um idéia central, sendo mais fácil trabalhar em algo coeso e autossuficiente caso desloque-se o texto para outro local.
(6) Escrever já no formato final 1. Respeitar as regras de escrita da tese desde o começo, evitando retrabalho.
(7) Escrever textos logo após a leitura 1. Articular em pequenos textos as leituras feitas. 2. Não é o mesmo que fichar resumindo a leitura.
(8) Retiros de escrita 1. Pegar um período, como de uma semana, e se dedicar a escrever intensamente uma parte da tese.
(9) Arquivos abertos ao mesmo tempo 1. Ter várias janelas com textos abertos de artigos e materiais utilizados no momento da escrita. Como se fosse uma mesa com vários materiais sobre ela.
(10) Empiria integrada à escrita 1. Na fase de coleta de dados já ir escrevendo como parte da tese.
(11) Escrever em várias cores 1. Uma cor para cada etapa ou tipo de texto escrito, classificando visualmente a escrita.
(12) Escrever em editor online 1. Assim a pessoa acessa e edita em qualquer lugar, como o Google Docs.
Anexos 443
(13) Montar um banco de referências 1. Cria bancos de referências com sites e outros tipos de mídia.
(14) Guardar a referência bibliográfica 1. Os sites e livros podem se perder, então é bom anotar sempre a referência completa.
V. Uso de fontes
28. Fontes e busca no tempo (Acumulabilidade) Modo de busca de fontes ao longo de toda a pesquisa. (1) Busca Linear Limitada (BLL) 1. Primeiro a busca de fontes e depois a escrita do texto. 2. Não se volta a buscar novas fontes ou com pouco incremento depois da busca inicial.
(2) Busca Circular Contínua (BCC) 1. Em cascata, ampliando a rede de textos, indo e voltando nas fontes e usando a internet junto. 2. Com aprofundamentos sucessivos nas bibliografias durante a escrita da tese. 3. Tendência ao confronto de fontes e autores em mídias diversas, buscando cruzar conceitos e dados.
(3) Busca por Aprofundamento em Camadas (BAC) 1. Pode ocorrer na busca linear limitada e na circular contínua, em que o sujeito vai adquirindo novos termos e novas referências conforme vai acessando as fontes que pesquisa, em aprofundamentos sucessivos.
29. Fontes e local de busca (Localidade) Modo de busca de fontes ao longo da pesquisa (1) Busca física 1. Em estantes de bibliotecas. 2. Em índices de revistas impressas. 3. Em banco de imagens impressas.
(2) Busca online em buscadores generalistas 1. Google. 2. Altavista.
(3) Busca online em bancos de dados especializados 1. Bancos de revistas científicas. 2. Bancos de teses e dissertações. 3. Busca em cadastros de currículos acadêmicos. 4. Pesquisa integrada da biblioteca. 5. Arquivos de grupos de pesquisa. 6. Arquivos de institutos de pesquisa.
30. Fontes e abrangência (Proximidade) Abrangência da busca de fontes. (1) Restrita quanto a locais e línguas 1. Busca de fontes nacionais, em bases de dados monolinguísticas. 2. Predomínio de bases de dados digitais open access e nacionais. 3. Pouco uso de bases restritas fornecidas pela biblioteca.
(2) Ampla quanto a locais e línguas 1. Busca de fontes internacionais, em bases diversas interligadas por sistema de busca, abrangendo muitas línguas. 2. Bases de dados digitais de acesso restrito via biblioteca da universidade como fonte principal e pouco uso de fontes abertas na internet. 3. Maior dependência da biblioteca.
Anexos 444
(3) Intermediária 1. Busca de fontes nacionais e internacionais, em bases diversas interligadas por sistema de busca. Porém restrita a poucos países ou línguas. 2. Bases de dados digitais de acesso restrito via biblioteca da universidade e uso de bases abertas via buscadores e sites livres. 3. Uso das bases da biblioteca e dos sites abertos da internet como fontes.
31. Fontes e objetivo (Finalidade) Com que objetivo o doutor busca fontes na internet para sua tese. (1) Internet para recursos empíricos 1. Usa a internet como parte empírica dos dados da tese.
(2) Internet para recursos acadêmicos 1. Usa a internet como fonte de dados acadêmicos para sustentar sua argumentação na tese (artigos, livros, estatísticas, relatórios).
(3) Misto 1. Usa tanto como fonte empírica quanto fonte de materiais acadêmicos.
32. Fontes e tradição (Durabilidade) Tradição dos tipos de fontes buscadas. (1) Tradicional 1. Predomínio de fontes formais ou estabelecidas como livros e revistas científicas como referências. 2. A fonte tradicional também pode estar em formato digital. 3. Escolha baseada na tradição e antiguidade do suporte.
(2) Não tradicional 1. Predomínio de fontes informais ou emergentes como blogs, wikis, foruns, comunidades virtuais, redes sociais, como referências. 2. Escolha baseada na temática, na empiria ou na necessidade de dados.
(3) Mista 1. Uso de fontes tradicionais e fontes não tradicionais em proporção semelhante.
33. Fontes e origem no tempo (Antiguidade) Época de produção das fontes buscadas. (1) Utilização de Fontes muito antigas (antes do séc. XX) 1. Fontes de caráter histórico impressas ou digitalizadas. 2. Consulta aos “museus” digitais. 3. Materiais editados antes do séc XX.
(2) Utilização de Fontes contemporâneas (séc. XX) 1. Fontes produzidas no séc. XX no suporte impresso ou digitalizadas. 2. Poucas fontes teriam sido editadas originalmente no formato digital (anos 90). 3. Muitas fontes já teriam sido digitalizadas para buscas na internet e download.
(3) Utilização de Fontes contemporâneas recentes (séc. XXI) 1. Fontes produzidas na última década e editadas em formato impresso e digital ou somente em formato digital. 2. Aqui se localizam os entrevistados que afirmaram utilizar praticamente todo material em formato digital.
34. Fontes e suporte (Materialidade) Predomínio do suporte das fontes utilizadas.
Anexos 445
(1) Impresso 1. Predomínio de fontes originalmente já impressas. 2. Ida a bibliotecas para consulta a livros e revistas científicas.
(2) Digital 1. Predomínio de fontes originalmente digitais. 2. Pouca ou nenhuma impressão dessas fontes. 3. A biblioteca físicas não teria materiais sobre o tema pesquisado.
(3) Digital impresso 1. Predomínio do uso de fontes digitais, porém impressas pelo pesquisador.
(4) Misto 1. Uso de fontes digitais e impressas de modo equilibrado.
35. Fontes e posse dos materiais (Materialidade) Local de pertencimento dos materiais. (1) Maioria dos materiais comprados / xeroxados / baixados 1. Aquisição em livraria. 2. Aquisição via fotocópia. 3. Aquisição via download na internet.
(2) Maioria dos materiais emprestados 1. Acesso e uso na biblioteca de instituição. 2. Acesso via empréstimo de materiais da biblioteca da universidade. 3. Acesso e uso de materiais do orientador / professores.
(3) Equilíbrio na posse dos materiais 36. Produção da empiria (Verificabilidade) Produção de empiria própria usando a internet (1) Coleta de dados já disponíveis online 1. Ida a Blogs, Wikis, Foruns, redes sociais, sites institucionais e outros espaços onde os sujeitos deixaram suas “marcas” disponíveis para acesso do pesquisador. 2. Uso de bases de dados compiladas por órgãos do governo e instituições como MEC, INEP, Censo.
(2) Criação de instrumentos para análise dos dados brutos disponíveis online 1. A pessoa baixa uma base de dados bruta e produz em programa próprio as estatísticas e análises.
(3) Criação de instrumentos de coleta online 1. Criação de plataforma ou criação de site para o sujeito ir lá e deixar suas “marcas” (discussões, opiniões, respostas). 2. Questionários e entrevistas online, fóruns e blogs criados pelo pesquisador, observação etnográfica online. 3. Itens de pesquisa criados pelo pesquisador dentro de outra pesquisa maior em andamento.
(4) Não usa a internet para empiria 1. O pesquisador usa instrumentos tradicionais para coleta de dados (questionários impressos, entrevistas pessoais, observação presencial).
(5) Não produziu empiria 1. O pesquisador realizou uma pesquisa totalmente baseada em fontes existentes (teórica), sem produzir nenhum dado novo em campo.
37. Fontes e tipos utilizados Discriminação detalhada dos tipos concretos de fontes utilizadas sem discriminar o suporte (impresso ou digital)
Anexos 446
(1) Fontes acadêmicas tradicionais (conteúdos) 1. Livraria física para compra e busca de livros. 2. Banco físico de imagens. 3. Livros na biblioteca física das universidades. 4. Teses e dissertações na biblioteca física dasuniversidades. 5. Artigos de revistas impressas e Anais de eventos presentes em bibliotecas universitárias.
(2) Fontes acadêmicas emergentes (conteúdos) 1. Sites de livrarias a. Amazon. b. Cultura. 2. Site de Repositório online de teses e dissertações. a. USP b. Unicamp c. PUC-Rio (Maxwell) 3. Site de Repositório online de revistas científicas. a. Scielo b. OPAC c. First Monday. 4. Site de busca de acervo da Biblioteca da universidade. 5. Sites de grupos de pesquisa universitários. 6. Sites com Anais de eventos. 7. Materiais acadêmicos antigos na biblioteca e digitalizados. 8. Download de livros escaneados em sites de compartilhamenrto
(3) Fontes midiáticas (conteúdos) 1. Jornais e revistas. 2. Sites de jornais e revistas. 3. Peças publicitárias. 4. Sites de download de filmes e músicas
(4) Fontes governamentais (conteúdos) 1. Sites ou documentos governamentais. a. MEC. b. CAPES. c. Lattes. d. Domínio público. e. Secretaria de Educação. 2. Sites ou documentos de instituições de pesquisa. a. INEP. b. PISA. c. ABED. d. ANPED. e. Censis. f. Indire. g. Esfol? h. MIT. i. Banco Mundial. 3. Sites ou documentos de instituições em geral. a. Federações. b. Corpo de bombeiros. c. Amigos da escola.
(5) Fontes emergentes (conteúdos) 1. Motores de busca a. Google, Altavista. b. Imagens, Vídeos, Textos: Goole imagens e Google books. 2. Motores de busca automatizados a. Spybot b. RSS 3. Sites de autoria coletiva a. Wikis. 4. Sites de autoria pessoal a. Blogs.
Anexos 447
5. Redes de relacionamento. a. Orkut, Facebook. 6. Redes de relacionamento segmentadas a. aNobii. 7. Comunidades virtuais. a. Fóruns atuais e antigos. b. Newsgroups. c. Classi 2.0. 8. Ambientes virtuais de aprendizagem. a. Moodle. 9. Newsletter 10. Vídeos online.
(6) Fontes humanas (pessoas) 1. Professores e pesquisadores acadêmicos especialistas no tema. 2. Colegas do grupo de pesquisa próximo. 3. Colegas de grupos de pesquisas em outras universidades. 4. Colegas de disciplina que cursou. 5. Pessoas encontradas em eventos acadêmicos a. Congressos, encontros, simpósios.
(7) Fontes empíricas (pessoas) 1. Conversa com sujeitos da própria pesquisa. a. Presencial. b. Por e-mail. c. Online em Skype e MSN. 2. Aplicação de questionário online ou presencial. 3. Realização de grupo focal online ou presencial. 4. Filmagem dos sujeitos. 5. Observação de campo.
(8) Fontes cinzas (conteúdos) 1. Relatórios de discussões. 2. Artigos de pesquisas em andamento.
VI. Modo de organização
38. Organização e sistematização (Sistematicidade) Nível de organização dos materiais. (1) Ultrassistemático 1. Guarda arquivos através de classificação detalhada. 2. O hábito é apresentado também na organização física dos materiais. 3. Pessoa que planeja tarefas, que tem lista organizada de afazeres. 4. Medo da perda dos arquivos, da memória representada pelos arquivos. 5. Execução de backups e preservação dos materiais, mantidos no longo prazo.
(2) Sistemático 1. Classifica em eixos temáticos ou em partes do trabalho, representado por subpastas com nomes específicos. 2. Pode ou não fazer backups de preservação dos dados.
(3) Não sistemático 1. Perdas de arquivos por falta de backup. 2. Se faz backups, ainda são parciais e dispersos. a. Múltiplos Pendrives. b. E-mails. 3. Pouca classificação dos materiais, as vezes sem classificação alguma (1 pasta com tudo dentro). 4. Dispersão física dos materiais na própria mesa. 5. Dependência do modo como o computador classifica os arquivos, baseado nas extensões. 6. Mistura de arquivos e pouco critério e subdivisão e agrupamento. 7. Possível dispersão através do uso de múltiplos e-mails.
Anexos 448
39. Organização e suporte (Materialidade) Tipo de suportes usados para armazenagem dos materiais. (1) Físicos 1. Predomínio de materiais impressos, organizados ou não em temáticas. 2. Uso de pastas físicas, podendo ou não estarem subdivididas.
(2) Digitais 1. Predomínio de materiais digitalizados, organizados ou não em temáticas. 2. Uso de favoritos do navegador, sites da web 2.0, armazenagem na nuvem.
(3) Físicos e digitais 1. Equilíbrio e correspondência de materiais impressos e digitais, organizados ou não em temáticas.
40. Organização e classificação (Tematicidade) Tipos de classificações usadas para organização dos arquivos. (1) Por capítulos da tese 1. Divisão em pastas de acordo com cada capítulo que está escrevendo. 2. Materiais diversos como artigos, livros, imagens, fichamentos.
(2) Por temáticas da tese 1. Divisão em pastas por temas relacionados à tese.
(3) Por instrumentos de pesquisa 1. Instrumentos e materiais de pesquisa empíricos coletados.
(4) Por local de origem do material 1. Local onde o material foi coletado, podendo ser origem física (cidade, centro de pesquisa, universidade) ou de origem digital (site).
(5) Por autor do material (6) Por eventos 1. Arquivos de participação em eventos acadêmicos, com anotações e textos próprios.
(7) Por cursos que ministrou 1. Visando não refazer materiais quando ministrar novamente cursos semelhantes.
(8) Por diferentes áreas de atuação 1. Divisão dos materiais por áreas de atuação como o trabalho, docência na academia, vida pessoal.
(9) Sem classificação 1. Uma pasta contendo todo material recolhido ou ausência de critério para classificação.
(10) Material coletado, mas não utilizado 1. A pessoa recolhe com a intenção de usar mas depois vira um resíduo nunca mais acessado. 41. Organização e local de armazenamento (Disponibilidade) Local onde armazena os arquivos. (1) Armazenamento predominantemente no computador pessoal 1. Uso de mídia de armazenamento local como HD externo, HD interno e Pendrive. 2. Divisão em pastas e subpastas no computador pessoal.
(2) Armazenamento predominantemente na nuvem
Anexos 449
1. Uso de serviços online como Dropbox e Skyfrive. 2. Forte dependência de conexões móveis para poder trabalhar.
(3) Equilíbrio do Armazenamento na nuvem e no computador pessoal 1. Fase de transição do computador pessoal para o armazenamento na nuvem.
VII. Modo de comunicação
42. Comunicação e abrangência (Proximidade) Amplitude da comunicação com outros pesquisadores e colegas. (1) Restrita: troca com pessoas mais próximas 1. Poucos contatos com outros pesquisadores distantes ou desconhecidos. 2. Valorização do contato pessoal, com as pessoas mais próximas. 3. Cultivo do círculo de amizades acadêmicas próximas.
4. Valorização do acesso à publicação e não à pessoa. (2) Intermediária: troca mais intensa com pessoas próximas + troca com algumas pessoas distantes 1. Valorização do contato com outros professores e pesquisadores distantes. 2. Maior contato com aqueles que conhece pessoalmente, mas não somente. 3. Cultivo do círculo de amizades acadêmicas próximas e algumas distantes. 4. Ida a eventos para trocas com outros pesquisadores desconhecidos, mesmo acessando publicações.
(3) Ampla: troca intensa com pessoas próximas e distantes 1. Busca de contato com autores de referência (“medalhões”) distantes. 2. Contato pessoal ou via internet simultaneamente com pesquisadores antes desconhecidos. 3. Ida a eventos para trocas com outros pesquisadores e ampliação do círculo de amizades acadêmicas. 4. Troca intensa com professores e colegas de trabalho acadêmicos próximos.
43. Comunicação e tradição (Durabilidade) Tipos de meios usados para se comunicar segundo a tradição e a novidade. (1) Tradicionais estabelecidos na web 1. Uso predominantemente de meios mais antigos e estabelecidos como o e-mail pessoal e os newsgroups.
(2) Tradicionais estabelecidos na academia 1. Ida a eventos científicos. 2. Contatos pessoais. 3. Contatos com autores. 4. Seminários internos no doutorado.
(3) Recentemente estabelecidos na web 1. Uso de blogs e fotologs. 2. Uso de comunidades virtuais tradicionais: a. Listas de discussão via e-mail. b. canais de chat textual. c. Fóruns. 3. Uso de instant messengers estabelecidos como o MSN e ICQ.
(4) Novos e emergentes na web 1. Uso de redes sociais como Facebook e Orkut 2. Uso de chat de voz como o Skype. 3. Uso de tradutores instantâneos online como o Google Tradutor e o Tradukka para manter comunicação em outros idiomas.
44. Comunicação e objetivo (Finalidade) Quais os tipos de objetivos para se comunicar.
Anexos 450
(1) Obtenção de novos materiais 1. Com colegas de grupo de pesquisa. 2. Com autores, professores e pesquisadores. 3. Com especialistas no tema.
4. Com outros doutorandos. (2) Manter contato informal com pessoas para alívio da solidão da pesquisa (3) Manter contato com amigos e parentes quando está no exterior (4) Consulta a respeito de fontes e temas 1. Com colegas de grupo de pesquisa. 2. Com autores, professores e pesquisadores. 3. Com especialistas no tema. 4. Com outros doutorandos.
(5) Envio para revisão de texto 1. Com orientador da pesquisa. 2. Com colegas do mesmo campo de pesquisa.
(6) Obtenção de dados com os sujeitos da pesquisa (7) Criar laços para trocas mais duradouras 1. Com outros pesquisadores e autores. 2. Com especialistas no tema. 3. Com outros doutorandos.
(8) Marcar encontros presenciais 45. Comunicação e ideias novas (Originalidade) Modo de comunicar uma ideia original. (1) Informal despreocupado 1. Comenta com amigos e pesquisadores as novas idéias antes de publicá-las. 2. Usa espaços informais como encontros em bares e restaurantes, fórum em internet, comunidades virtuais.
(2) Informal precavido 1. Comenta em espaços informais, porém com registros autorais ou sobre temas não acadêmicos. 2. Usa meios como Blogs, que vinculam a escrita no tempo e com autoria identificada. 3. Preocupação moderada com direitos de autor.
(3) Formal convencional 1. Comunica a idéia nova através de escrita acadêmica convencional. 2. Espera um evento formal, usando congressos, simpósios, encontros e seminários, onde o registro do artigo é garantido.
Anex
VI.
xos
Gráficoaplicad
os com asdas a cada
s 45 catega um dos
gorias-dim16 casos
mensões daa atividadde autoral
451
Anexxos 452
Anexxos 453
Anexxos 454
Anexxos 455
Anexxos 456
Anexxos 457
Anexxos 458
Anexxos 459
Anexxos 460
Anexxos 461
Anexxos 462
Anexxos 463
Anexxos 464
Anexxos 465
Anex
xos 466
Anexos 467
VII. Dados detalhados que deram origems aos gráficos de cada um dos 16 casos
Dimensão de Análise de Perfil
N1
N2
N3
N4
N5
N6
N7
N8
N9
N10
N11
N12
N13
N14
N15
N16
Total BR IT
I. Trajetória de vida acadêmica e digital
1. Relação com a Academia (Academicidade)
Total BR IT
(1) Sempre se dedicou1 1 1 1 4 0 4
(2) Chegou recentemente (menos de 5 anos)
1 1 1 0
(3) Veterana na academia (mais de 5 anos)
1 1 1 1 1 1 1 1 8 5 3
(4) Nunca se dedicou 1 1 1 3 2 1
2. Posição universitária (Autoridade) Total BR IT
(1) Professor sem influência alguma 1 1 1 3 2 1
(2) Tinha somente contrato de pesquisador
1 1 1 3 0 3
(3) Professor pouco influente e ainda sem ocupar função de destaque
1 1 1 1 1 1 1 7 4 3
(4) Professor com destaque e carreira consolidada
0 0 0
(5) Não era professor1 1 1 1 4 2 2
3. Momento (Temporalidade) Total BR IT
(1) Jovem 1 1 1 1 4 0 4
(2) Meio de carreira 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 11 7 4
(3) Fim de carreira 1 1 1 0
4. Área de procedência (Anterioridade)
Total BR IT
(1) Educação 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 13 5 8
(2) Exatas em geral 1 1 2 1 1
(3) Humanas em geral1 1 1 3 3 0
(4) Tecnológica em geral 0 0 0
5. Uso de TICs (Tecnicidade) Total BR IT
(1) Forte dependência das TICs na profissão
1 1 1 1 1 1 1 1 8 2 6
(2) Média dependência das TICs na 1 1 1 1 4 3 1
Anexos 468
profissão
(3) Baixa dependência das TICs na profissão
1 1 1 1 4 3 1
Anexos 469
II. Usos da tecnologia
6. Interesse inicial (Causalidade) Total BR IT
(1) Interesse formal 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 11 5 6
(2) Interesse informal1 1 1 1 4 2 2
(3) Interesse misto 1 1 1 0
7. Período inicial (Temporalidade) Total BR IT
(1) Computador isolado 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 11 5 6
(2) Computador com internet lenta 1 1 1 1 1 5 3 2
(3) Computador com internet rápida
0 0 0
8. Aprendizado inicial (Formalidade) Total BR IT
(1) Autodidata solitário1 1 1 1 4 1 3
(2) Autodidata assistido 1 1 1 1 1 1 1 7 4 3
(3) Educação formal 1 1 1 1 1 5 3 2
9. Imersão (Profundidade) Total BR IT
(1) Lento / Restrito 1 1 2 1 1
(2) Rápido / Amplo 1 1 1 1 1 1 1 7 5 2
(3) Moderado / Seletivo 1 1 1 1 1 1 1 7 2 5
10. Conhecimento (Familiaridade) Total BR IT
(1) Iniciante 0 0 0
(2) Familiarizado 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 13 7 6
(3) Avançado 1 1 1 3 1 2
11. Objetivos de uso (Finalidade) Total BR IT
(1) Uso para trabalho+estudo 1 1 1 3 2 1
(2) Uso para trabalho+estudo ‐> pessoal+comunicação
1 1 1 1 1 1 1 7 3 4
(3) Uso pessoal+comunicalção ‐> trabalho+estudo
1 1 1 1 1 5 2 3
(4) Começou a utilizar para todas as finalidades ao mesmo tempo
1 1 1 0
12. Análise dos dados (Tecnicidade) Total BR IT
(1) Utiliza software avançado para análise dos dados
1 1 1 1 4 2 2
(2) Utiliza software básico de análise de dados
0 0 0
(3) Analisou os dados manualmente 1 1 1 1 1 1 1 7 3 4
13. Atividades (Atividade) Total BR IT
(1) Comunicação pessoal 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 16 8 8
(2) Comunicação coletiva 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10 4 6
Anexos 470
(3) Ferramentas de autopublicação 1 1 1 1 1 5 0 5
(4) Redes sociais e relacionamento 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10 5 5
(5) Jogos online e offline 1 1 1 0
(6) Comércio eletrônico e home banking
1 1 1 1 1 1 6 4 2
(7) Serviços de armazenamento online
1 1 1 1 1 1 6 3 3
(8) Serviços de download 1 1 1 3 2 1
(9) Serviços de compartilhamento 1 1 1 3 1 2
(10) Pesquisa em motores de busca 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 15 7 8
(11) Leitura de jornais eletrônicos 1 1 1 1 4 1 3
(12) Serviços de orientação 1 1 1 1 4 1 3
Anexos 471
III. Modo de leitura
14. Suporte (Materialidade) Total BR IT
(1) Predomínio do Impresso 1 1 0 1
(2) Predomínio da Tela do computador
1 1 1 1 1 1 1 7 3 4
(3) Leitura equilibrada entra o impresso e a tela do computador
1 1 1 1 1 1 1 1 8 5 3
15. Local das anotações (Localidade) Total BR IT
(1) Produção de Anotações diretas no arquivo digital original
1 1 2 1 1
(2) Produção de Anotações separadas no computador e/ou internet
1 1 1 1 1 1 1 1 1 9 3 6
(3) Produção de Anotações separadas em papel
1 1 1 3 2 1
(4) Produção de anotações diretas no material impresso
1 1 2 1 1
(5) Produziu pouca ou nenhuma anotação
1 1 0 1
16. Compartilhamento (Coletividade)
Total BR IT
(1) Predomínio de Leituras e/ou anotações compartilhadas na web
0 0 0
(2) Predomínio de Anotações armazenadas localmente no PC
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 12 4 8
(3) Predomínio de Anotações armazenadas em papel
1 1 2 2 0
17. Prestígio do autor (Autoridade) Total BR IT
(1) Leitura de autores acadêmicos consagrados
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10 4 6
(2) Leitura de autores acadêmicos em geral
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 15 7 8
(3) Leituras de autores marginais sem citação
1 1 1 1 1 1 1 7 1 6
(4) Leituras de autores marginais com citação
0 0 0
18. Técnicas de destaque (Recordabilidade)
Total BR IT
(1) Sublinhamentos diretos no material
1 1 1 1 1 1 1 7 3 4
(2) Post‐its para marcação no material
1 1 1 0
(3) Post‐it para passar ao computador posteriormente
1 1 1 3 1 2
Anexos 472
(4) Anotações diretas no próprio material
1 1 2 2 0
(5) Anotações no computador 1 1 1 1 1 1 1 1 1 9 2 7
(6) Anotações no papel ou no caderno
1 1 1 1 4 3 1
(7) Fichamentos dos materiais 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10 4 6
(8) Uso de diferentes cores para o destaque
1 1 1 0
(9) Não usa nenhuma técnica 1 1 0 1
19. Técnicas de confiabilidade (Confiabilidade)
Total BR IT
(1) Checagem da qualidade das referências citadas pelo autor
1 1 1 3 2 1
(2) Checagem em outras fontes para autores não conhecidos
1 1 1 0
(3) Checagem com outros pesquisadores sobre quem é o autor
1 1 1 0
(4) Checagem da produção anterior do autor
1 1 1 3 2 1
(5) Prestígio do local de publicação do autor
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 11 6 5
(6) Prestígio do autor da fonte 1 1 1 1 1 1 1 7 2 5
(7) Conteúdo ter sido escrito a partir de uma experimentação que prove a hipótese
1 1 2 0 2
(8) Conteúdo ser útil para o objetivo da pesquisa
1 1 1 3 0 3
(9) Conteúdo estar discrepante com tudo que foi dito até o momento
1 1 0 1
(10) Conteúdo ser confrontado com a produção de outros autores
1 1 1 0
(11) Tipo do arquivo em que o conteúdo foi publicado
1 1 2 2 0
(12) Exclusão, a priori, de um tipo de fonte suspeita
1 1 0 1
(13) Consulta a pessoas de referência que validam fontes principais
1 1 0 1
(14) Consulta às principais publicações no tema de pesquisa para se orientar
1 1 0 1
Anexos 473
IV. Modo de escrita
20. Ordem (Simultaneidade) Total BR IT
(1) Linear 1 1 1 1 1 5 2 3
(2) Simultânea controlada 1 1 1 1 1 1 6 3 3
(3) Simultânea radical1 1 1 1 4 2 2
21. Ambiência (Localidade) Total BR IT
(1) Durante viagens 1 1 0 1
(2) Em casa 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 11 7 4
(3) No local de trabalho 1 1 0 1
(4) Local isolado 1 1 2 2 0
(5) Na universidade 1 1 2 1 1
22. Co‐autoria (Coletividade) Total BR IT
(1) Texto inteiro em co‐autoria 1 1 1 3 2 1
(2) Partes do texto distribuídas para cada autor
1 1 1 1 4 1 3
(3) Co‐autoria de materiais não publicados
1 1 1 1 4 1 3
(4) Não escreve em co‐autoria 0 0 0
23. Temática (Tematicidade) Total BR IT
(1) Temática da tese centrada em TICs
1 1 1 1 1 1 1 1 8 1 7
(2) Temática da tese não centrada em TICs
1 1 1 1 1 1 1 1 8 7 1
(3) Temática da tese mista 0 0 0
24. Autoria própria (Originalidade) Total BR IT
(1) Autoria compilativa0 0 0
(2) Autoria compilativa + acréscimos pessoais
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 15 8 7
(3) Autoria inovadora1 1 2 0 2
25. Instrumento (Instrumentalidade) Total BR IT
(1) Predomínio do uso do lápis e/ou caneta na produção de textos
0 0 0
(2) Predomínio do uso do computador na produção de textos
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 15 7 8
(3) Uso equilibrado dos instrumentos na produção da escrita
1 1 1 0
26. Presença da internet (Conectividade)
Total BR IT
(1) Uso da internet no momento da escrita
1 1 1 1 1 1 1 7 3 4
(2) Uso do computador 1 1 2 1 1
Anexos 474
desconectado no momento da escrita
(3) Alternância de uso e não uso da internet no momento da escrita
1 1 1 0
27. Técnicas (Tecnicidade) Total BR IT
(1) Construção de mapa conceitual 1 1 1 1 4 1 3
(2) Construção de índices 1 1 1 1 1 1 1 7 2 5
(3) Escrita em camadas1 1 1 1 1 5 2 3
(4) Escrita com 2 monitores 1 1 0 1
(5) Idéias por parágrafos 1 1 2 0 2
(6) Escrever já no formato final 1 1 0 1
(7) Escrever textos logo após a leitura
1 1 1 3 2 1
(8) Retiros de escrita 1 1 1 3 2 1
(9) Arquivos abertos ao mesmo tempo
1 1 1 1 4 4 0
(10) Empiria integrada à escrita 1 1 1 3 2 1
(11) Escrever em várias cores 1 1 1 0
(12) Escrever em editor online 1 1 2 2 0
(13) Montar um banco de referências
1 1 1 0
(14) Guardar a referência bibliográfica
1 1 1 1 1 5 2 3
Anexos 475
V. Uso de fontes
28. Busca no tempo (Acumulabilidade)
Total BR IT
(1) Busca Linear Limitada (BLL) 1 1 2 1 1
(2) Busca Circular Contínua (BCC) 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 13 7 6
(3) Busca por Aprofundamento em Camadas (BAC)
1 1 1 1 1 1 6 1 5
29. Local de busca (Localidade) Total BR IT
(1) Busca física 1 1 1 3 2 1
(2) Busca online em buscadores generalistas
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 14 7 7
(3) Busca online em bancos de dados especializados
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 15 8 7
30. Abrangência (Proximidade) Total BR IT
(1) Restrita quanto a locais e línguas 1 1 1 0
(2) Ampla quanto a locais e línguas 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 11 5 6
(3) Intermediária 1 1 1 3 1 2
31. Objetivo (Finalidade) Total BR IT
(1) Internet para recursos empíricos 0 0 0
(2) Internet para recursos acadêmicos
1 1 1 1 1 1 6 4 2
(3) Misto 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10 4 6
32. Tradição (Durabilidade) Total BR IT
(1) Tradicional 1 1 1 1 1 1 1 7 5 2
(2) Não tradicional 0 0 0
(3) Mista 1 1 1 1 1 1 1 1 1 9 3 6
33. Origem no tempo (Antiguidade) Total BR IT
(1) Utilização de Fontes muito antigas (antes do séc. XX)
1 1 2 2 0
(2) Utilização de Fontes contemporâneas (séc. XX)
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10 4 6
(3) Utilização de Fontes contemporâneas recentes (séc. XXI)
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10 2 8
34. Suporte (Materialidade) Total BR IT
(1) Impresso 1 1 1 1 1 1 1 7 3 4
(2) Digital 1 1 1 1 1 1 6 3 3
(3) Digital impresso 1 1 1 1 1 1 1 7 3 4
(4) Misto 1 1 1 1 1 1 1 1 1 9 5 4
35. Posse dos materiais (Materialidade)
Total BR IT
Anexos 476
(1) Maioria dos materiais comprados / xeroxados / baixados
1 1 1 1 1 1 1 1 1 9 5 4
(2) Maioria dos materiais emprestados
0 0 0
(3) Equilíbrio na posse dos materiais 1 1 1 1 1 5 1 4
36. Produção da empiria (Verificabilidade)
Total BR IT
(1) Coleta de dados já disponíveis online
1 1 1 1 1 1 1 1 8 4 4
(2) Criação de instrumentos para análise dos dados brutos disponíveis online
1 1 2 1 1
(3) Criação de instrumentos de coleta online
1 1 1 1 1 1 6 1 5
(4) Não usa a internet para empiria 1 1 1 3 3 0
(5) Não produziu empiria 1 1 0 1
37. Tipos utilizados Total BR IT
(1) Fontes acadêmicas tradicionais (conteúdos)
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 16 8 8
(2) Fontes acadêmicas emergentes (conteúdos)
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 16 8 8
(3) Fontes midiáticas (conteúdos) 1 1 1 3 2 1
(4) Fontes governamentais (conteúdos)
1 1 1 1 4 2 2
(5) Fontes emergentes (conteúdos) 1 1 1 1 1 1 1 1 1 9 2 7
(6) Fontes humanas (pessoas) 1 1 1 1 1 1 1 1 8 3 5
(7) Fontes empíricas (pessoas) 1 1 1 1 1 1 1 7 2 5
(8) Fontes cinzas (conteúdos) 1 1 1 1 1 5 1 4
Anexos 477
VI. Modo de organização
38. Sistematização (Sistematicidade) Total BR IT
(1) Ultrassistemático 1 1 1 0
(2) Sistemático 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 12 5 7
(3) Não sistemático 1 1 1 3 2 1
39. Suporte (Materialidade) Total BR IT
(1) Físicos 0 0 0
(2) Digitais 1 1 1 3 1 2
(3) Físicos e digitais 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 13 7 6
40. Classificação (Tematicidade) Total BR IT
(1) Por capítulos da tese 1 1 1 1 1 1 6 2 4
(2) Por temáticas da tese 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 12 6 6
(3) Por instrumentos de pesquisa 1 1 2 0 2
(4) Por local de origem do material 1 1 2 1 1
(5) Por autor do material 1 1 1 3 3 0
(6) Por eventos 1 1 0 1
(7) Por cursos que ministrou 1 1 0 1
(8) Por diferentes áreas de atuação 1 1 1 3 3 0
(9) Sem classificação 1 1 2 2 0
(10) Material coletado, mas não utilizado
1 1 1 3 0 3
41. Local de armazenamento (Disponibilidade)
Total BR IT
(1) Armazenamento predominantemente no computador pessoal
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 14 6 8
(2) Armazenamento predominantemente na nuvem
0 0 0
(3) Equilíbrio do Armazenamento na nuvem e no computador pessoal
1 1 2 2 0
Anexos 478
VII. Modo de comunicação
42. Abrangência (Proximidade) Total BR IT
(1) Restrita: troca com pessoas mais próximas
1 1 1 1 1 1 6 2 4
(2) Intermediária: troca mais intensa com pessoas próximas + troca com algumas pessoas distantes
1 1 1 1 4 3 1
(3) Ampla: troca intensa com pessoas próximas e distantes
1 1 1 1 1 5 2 3
43. Tradição (Durabilidade) Total BR IT
(1) Tradicionais estabelecidos na web
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 15 8 7
(2) Tradicionais estabelecidos na academia
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 13 7 6
(3) Recentemente estabelecidos na web
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10 4 6
(4) Novos e emergentes na web 1 1 1 1 1 1 6 4 2
44. Objetivo (Finalidade) Total BR IT
(1) Obtenção de novos materiais 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10 6 4
(2) Manter contato informal com pessoas para alívio da solidão da pesquisa
1 1 1 0
(3) Manter contato com amigos e parentes quando está no exterior
1 1 1 1 1 1 6 3 3
(4) Consulta a respeito de fontes e temas
1 1 1 1 1 1 6 1 5
(5) Envio para revisão de texto 1 1 1 1 1 1 6 4 2
(6) Obtenção de dados com os sujeitos da pesquisa
1 1 1 3 1 2
(7) Criar laços para trocas mais duradouras
1 1 1 3 1 2
(8) Marcar encontros presenciais 1 1 2 2 0
45. Idéias novas (Originalidade) Total BR IT
(1) Informal despreocupado 1 1 0 1
(2) Informal precavido1 1 0 1
(3) Formal convencional 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 13 5 8