tese sobre educação musical

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  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

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    EDUCAOMUSICALESCOLAR

    ISSN 1982 - 0283

    Ano XXI Boletim 08 - Junho 2011

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

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    Sumrio

    EducaomusicalEscolar

    Apesenta da se ................................................................................................. 3

    Rosa Helena Mendona

    intd: Eda sa esa ......................... ........................................... 5

    Srgio Luiz Ferreira de Figueiredo

    Tet 1: Eda sa e esa edana......................... ......................... 10

    Srgio Luiz Ferreira de Figueiredo

    Tet 2: Desdade sa e ensn de sa .............................................................. 17

    Luis Ricardo Silva Queiroz

    Tet 3: msa nas esas ......................... ............................................................. 24

    Luciana Marta Del-Ben

    Tet peenta: Fa d pfess de sa: deandas nas

    e eeentes ......................... ................................................................................... 34

    Cristiane Galdino

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    3

    EducaomusicalEscolar

    APrESENTAo DA SriEBatuque um privilgio

    Ningum aprende samba no colgio

    Sambar chorar de alegria

    sorrir de nostalgia

    Dentro da melodia1

    Sambar, cantar, danar, tocar um instrumen-to... Assim que o Brasil e o povo brasileiro

    so lembrados, pois nossos smbolos mais

    ortes, junto com o utebol, so justamente

    a msica e o carnaval. Essas trs maniesta-

    es culturais ajudam a identicar o Brasil

    em qualquer lugar do mundo. Paradoxal-

    mente, o espao do esporte, da cultura e da

    arte, nas escolas, ainda no est totalmente

    garantido, apesar de inmeras iniciativas ao

    longo do tempo.

    No caso do ensino da msica nas escolas,

    uma demanda uniu proessores, pesquisado-

    res e artistas que, juntos, propuseram uma

    alterao Lei de Diretrizes e Bases da Edu-cao Nacional. A srie Educao musical

    escolar, que a TV Escola apresenta, por meio

    do programa Salto para o Futuro, uma ini-

    ciativa que se alinha aos objetivos da Lei n.

    11.769/08, que torna obrigatrio o ensino da

    msica nas escolas, denindo o ano de 2011

    como a data limite para a sua implantao.

    Pedimos, ento, licena a Noel para trans-ormar as escolas em lugares de aprender

    no s o samba, mas os dierentes gneros

    musicais que temos o privilgio de chamar

    de brasileiros, sem deixar de considerar a

    vasta produo musical da humanidade.

    claro que a msica marca presena desde

    sempre nas escolas, se no nos currculos,

    certamente no cotidiano de alunos e pro-

    essores. No entanto, o acesso ormao

    musical escolar enseja no s a ruio que

    esta expresso artstica permite, mas uma

    ampliao das possibilidades existentes no

    campo da msica para a ormao dos es-

    tudantes.

    A srie, que conta com a consultoria de Sr-

    gio Luiz Ferreira de Figueiredo (UDESC), co-

    loca em pauta temas como a educao mu-

    sical e a legislao educacional brasileira; a

    diversidade musical e suas implicaes para

    o ensino de msica na escola; a msica nas

    1 Feitio de Orao (Noel Rosa).

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    escolas integrada ao currculo; e a ormao

    de proessores de educao musical.

    Nos textos que compem esta publicao enas entrevistas e reportagens dos programas

    televisivos, proessores e proessoras encon-

    traro possibilidades de refexo sobre a pr-

    tica da educao musical nas escolas.

    Anal, num pas em que a vocao musical

    reconhecidamente um privilgio, o cum-

    primento da Lei n. 11.769/08 deve soar como

    msica aos ouvidos de educadores compro-metidos com uma escola criativa e democr-

    tica.

    Rosa Helena Mendona2

    2 Supervisora pedaggica do programa Salto para o Futuro/TV ESCOLA (MEC).

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    A proposta da srie Educao musical escolar

    basicamente omentar a discusso sobre a

    msica na escola brasileira. A Lei n. 11.769/08

    estabelece que a msica contedo curricu-

    lar obrigatrio, o que implica uma srie de

    adaptaes por parte dos sistemas educacio-

    nais para que tal contedo seja devidamente

    incorporado ao conjunto de componentes j

    presentes nos currculos escolares. Neste

    sentido, a proposta desta srie Educao mu-

    sical escolar tambm discutir e undamen-

    tar a questo da msica na escola, alm de

    contribuir para a implementao da reerida

    legislao nas escolas brasileiras.

    A obrigatoriedade da msica como conte-

    do escolar representa a democratizao do

    acesso educao musical. A partir da Lei

    n. 11.769/08 todo o cidado brasileiro que

    passa pela escola ter oportunidade de vi-

    venciar experincias musicais como parte

    da sua ormao educacional. Este acesso

    ormao musical pretende ampliar a ex-

    perincia educacional na escola e, eventu-

    almente, tambm poder indicar caminhos

    prossionais para aqueles que desejarem

    assumir uma carreira no campo da msica.

    Mas o objetivo principal da msica na esco-

    la oportunizar a todos o contato com esta

    produo humana, que assume distintos

    signicados e unes, que se apresenta de

    maneira extremamente diversicada a par-

    tir dos contextos onde produzida.

    Historicamente, a msica j esteve presentena educao brasileira em vrios momentos

    com nalidades especcas. Uma brevssi-

    ma sntese poderia ser assim apresentada:

    1. As escolas mantidas pelos jesutas no

    Brasil at o sculo XVIII inseriam a

    prtica da msica no currculo, com

    nalidade religiosa;

    2. No sculo XIX havia legislao espec-

    ca sobre a msica para a aprendiza-

    gem do solejo e do canto, incluindo a

    questo da necessidade de preparao

    EducaomusicalEscolar

    iNTroDuo

    Srgio Luiz Ferreira de Figueiredo1

    1 Doutor em Educao Musical pelo Royal Melbourne Institute o Technology - RMIT University, Melbourne,Austrlia (2003). Atualmente proessor associado da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC nas reasde canto coral, regncia e educao musical. Consultor da srie.

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    de proessores especcos para o en-

    sino de tal prtica na escola (BRASIL,

    1854, 1890);

    3. Na primeira metade do sculo XX o Can-

    to Orenico organizado por Villa-Lo-

    bos tinha por objetivo o civismo, a

    disciplina e a educao artstica, sen-

    do que para o desenvolvimento desta

    atividade oram produzidos materiais

    especcos e oram ormados proes-

    sores de msica para a escola;

    4. A partir da dcada de 1970, a Lei n.

    5.692/71 trouxe a Educao Artstica

    para o currculo escolar, estabelecen-

    do a prtica da polivalncia para as

    artes um proessor responsvel por

    todas as reas artsticas, tendo, comouma de suas consequncias, a super-

    cializao de contedos artsticos na

    escola;

    5. Com a LDB de 1996 (BRASIL, 1996) o

    ensino de arte estabelecido como

    componente curricular obrigatrio,

    sem a indicao de que reas deve-

    riam ser incorporadas neste ensino,

    nem que tipo de prossional deveria

    ser responsvel pelo ensino das lin-

    guagens artsticas;

    6. Em 2008, a Lei n. 11.769/08 (BRASIL, 2008)

    trata da obrigatoriedade da msicacomo contedo curricular, alterando e

    completando o pargrao 2 da Lei n.

    9.394/96, onde o ensino de arte insere,

    obrigatoriamente, o ensino de msica.

    Nesta brevssima apresentao da msi-

    ca na escola brasileira ao longo do tempo,

    evidencia-se a diversidade de unes que

    tal atividade representou nos contextos es-

    colares. Em cada momento se concebeu

    uma proposta para a msica na escola, es-

    tabelecendo valores e conceitos que se com-

    pletam ou se contrapem. Assim, conceitos

    que ainda sobrevivem at hoje so, de certa

    orma, resultado de prticas educacionais

    anteriores que consolidaram ormas de

    pensar e agir sobre o currculo escolar. Por

    exemplo, no por acaso que, em muitos

    contextos, ainda se sustenta a ideia de que

    msica s pode ser aprendida por pessoascom talentos especiais; tambm no por

    acaso que em muitas escolas se deende a

    tradio erudita como a orma mais corre-

    ta de se ensinar msica; assim se congura

    um quadro amplamente diverso em termos

    de conceitos e valores que so atribudos

    msica na escola e na ormao dos indiv-

    duos, e parte destas questes ser tratada

    nos programas desta srie.

    Evidentemente, diversos aspectos contri-

    buem para a presena ou ausncia de certas

    reas do conhecimento no currculo escolar,

    e hoje no dierente. O ato de existir uma

    lei a Lei n. 11.769/08 que estabelece a m-sica como contedo curricular obrigatrio

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    na escola brasileira representa um avano

    no sentido de que todas as pessoas tero

    acesso s experincias musicais durante sua

    ormao escolar. Mas tais experincias es-taro amparadas em diversos entendimen-

    tos sobre msica, o que pode signicar uma

    variedade imensa de abordagens, com obje-

    tivos tambm diversos. Durante esta srie,

    estaremos discutindo alguns destes pontos

    que podem ser considerados undamentais

    para a implementao da msica no currcu-

    lo escolar de orma coerente e signicativa.

    importante destacar que, apesar de a Lei n.

    11.769/08 ser recente, muitas escolas brasilei-

    ras j incluam a msica em seus currculos.

    Isto possvel, pois a Lei n. 9.394/96 garan-

    tiu autonomia aos sistemas educacionais na

    organizao de seus currculos, ou seja, hcontedos obrigatrios, mas a organizao

    de tais contedos depende de cada sistema

    educacional. A msica uma das linguagens

    artsticas que poderia ser inserida na escola

    como parte da disciplina Arte, e esta oi a

    escolha de vrios sistemas educacionais, o

    que tambm ser, de certa orma, ilustrado

    durante os programas da srie. O que vale

    a pena destacar que a msica j est na

    escola, de orma curricular ou extracurri-cular em vrios contextos, e ao longo dos

    programas sero apresentadas alternativas

    de implementao da msica no currculo

    para aqueles contextos onde esta atividade

    no est ocialmente inserida.

    Alguns pontos merecero destaque por sua

    relevncia. Um destes pontos reere-se ao

    espao da msica no currculo, a sua inser-

    o na grade curricular vigente e as adapta-

    es necessrias. Outro ponto a questo

    do contedo a ser ensinado, oportunizando

    experincias musicais diversas no contexto

    escolar. H ainda a questo da ormao do

    proessor, que pauta undamental para queesta empreitada da insero de mais m-

    sica na escola seja realizada com critrio e

    consistncia. E os exemplos de experincias

    j existentes com a msica na escola sero

    undamentais para ilustrar a possibilidade

    de tal implementao.

    2 Estes textos so complementares srie Educao musical escolar, com veiculao no programa Salto parao Futuro/TV Escola de 27/06/2011 a 01/07/2011.

    EDucAo muSicAl EScolAr2

    A srie tem como proposta omentar a discusso sobre a msica nas escolas, com base na im-

    plementao da Lei n. 11.769/08. Dierentes abordagens propostas para a educao musical, ao

    longo do tempo, sero analisadas, bem como ser enocada a diversidade musical e possveis

    metodologias de ensino da msica. Experincias musicais que j acontecem nas escolas bra-

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    sileiras sero apresentadas como base para refexo e subsdio para a incluso da msica nos

    currculos.

    TExTo 1: EDucAo muSicAl E lEgiSlAo EDucAcioNAl

    O primeiro texto da srie discute a Lei n. 11.769/08, que alterou a Lei n. 9.394/96 no que se reere

    obrigatoriedade do ensino de arte na escola. De acordo com a Lei n. 11.769/08, a msica con-

    tedo curricular obrigatrio, mas no exclusivo, do componente curricular Arte (BRASIL, 2008).

    O texto apresenta as aes pontuais que antecederam e ortaleceram o movimento nacional

    que culminou com a aprovao da citada lei. Discute, ainda, a questo da polivalncia no ensi-

    no das artes nas escolas, que contribuiu para a supercializao do ensino das disciplinas es-peccas da rea de Arte e para a diminuio de sua signicao na ormao dos estudantes.

    TExTo 2: DivErSiDADE muSicAl E ENSiNo DE mSicA

    O segundo texto da srie apresenta refexes e perspectivas para o ensino de msica, conside-

    rando a diversidade musical como elemento social de grande valor para a educao. Destaca

    que a diversidade na sala de aula abarca atores econmicos, tnicos, religiosos, sexuais, arts-

    ticos, entre tantos outros e que a conjuntura desses elementos que constitui a vida dos indi-

    vduos e que az da escola um lugar plural e complexo. O autor do texto analisa, ainda, que a

    diversidade musical se maniesta naturalmente na escola, j que distintas expresses musicais

    adentram cotidianamente o universo escolar, vindas na bagagem cultural dos alunos, a partir

    das experincias sociais que estabelecem em sua vida cotidiana.

    TExTo 3: mSicA NAS EScolAS

    O terceiro texto da srie apresenta exemplos de prticas de ensino de msica realizadas em

    escolas de educao bsica, desenvolvidas por alguns dos alunos do Curso de Licenciatura em

    Msica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, durante seu estgio supervisionado,

    orientado pela autora do texto. As prticas apresentadas aconteceram em dierentes semestres,

    entre os anos de 2005 e 2009 e oram orientadas pelos mesmos princpios: as concepes de

    ensino e de ensino de msica e a orma de organizar esse ensino. A autora destaca, ainda, que

    uma das estratgias que vem sendo discutida por diversos educadores para concretizar essesideais a chamada pedagogia de projetos (que tambm pode ser nomeada como aprendizagem

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    baseada em projetos, projetos de ensino, projetos pedaggicos ou projetos de aprendizagem),

    Os textos 1, 2 e 3 tambm so reerenciais para as entrevistas e debates do PGM 4: Outros olhares

    sobre Educao musical escolar e do PGM 5: Educao musical escolar em debate.

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    TExTo 1

    EducaomusicalElEgislaoEducacionalSrgio Luiz Ferreira de Figueiredo1

    rESumo

    Neste texto sero apresentados aspectos reerentes legislao educacional brasileira volta-

    dos educao musical. Um levantamento histrico pretende evidenciar dierentes aborda-

    gens j apresentadas como propostas para a educao musical brasileira ao longo do tempo,

    que sero brevemente analisadas no intuito de contribuir para a reexo sobre o momento

    atual e as propostas que podero ser apresentadas em resposta nova legislao Lei n.

    11.769/08.

    A educao musical no Brasil ganhou desta-

    que e muita discusso a partir de um grande

    movimento defagrado a partir de 2006 jun-

    to ao Congresso Nacional, com o objetivo

    de aprimorar a legislao educacional em

    termos de ensino de msica. Esse destaque

    deveu-se a uma srie de aes pontuais que

    ortaleceram um movimento nacional que

    culminou com a aprovao da Lei n.11.769

    em 2008. Esta lei estabelece que a msica

    contedo curricular obrigatrio, mas no

    exclusivo, do componente curricular Arte

    (BRASIL, 2008).

    Mas preciso compreender que o movimen-

    to pela msica na escola nasceu muito antes

    de 2006. Diversos prossionais da educao

    e da educao musical, msicos, administra-

    dores escolares e outros prossionais atua-

    ram em diversos momentos da histria da

    educao brasileira para que a msica zes-

    se parte da ormao dos estudantes. O ato

    de termos hoje uma lei que torna a msica

    contedo obrigatrio na escola brasileira ,

    portanto, o resultado de muitos esoros em

    dierentes tempos e lugares.

    O movimento pela msica na escola ganhou

    espao no Congresso Nacional a partir da

    ao do GAP Grupo de Articulao Parla-

    mentar Pr-Msica, em conjunto com ou-

    tras entidades, como a Associao Brasilei-

    ra de Educao Musical, alm da adeso demsicos, prossionais da educao e simpa-

    tizantes presena da msica na educao

    escolar. Este movimento buscou o aprimora-

    mento da legislao educacional brasileira,

    para que a presena da msica na ormao

    escolar osse garantida pela legislao.

    1 Doutor em Educao Musical pelo Royal Melbourne Institute o Technology - RMIT University, Melbourne,Austrlia (2003). Atualmente proessor associado da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC nas reasde canto coral, regncia e educao musical. Consultor da srie.

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    A necessidade de aprimoramento da legis-

    lao pode ser abordada a partir do resgate

    de alguns elementos que contriburam para

    que o ensino de artes na escola brasilei-ra se tornasse supercial, pouco relevante

    ou ausente do currculo escolar em muitos

    contextos educacionais. Numa retrospec-

    tiva recente, com o objetivo de compreen-

    der alguns dos elementos que contriburam

    para a desvalorizao da arte no currculo,

    podemos abordar questes do ensino da

    msica a partir da Lei n. 5.692, de 1971, que

    estabeleceu a Educao Artstica (BRASIL,

    1971). Aquela legislao previa a ormao

    em Educao Artstica contemplando as

    reas de Artes Cnicas, Artes Plsticas, De-

    senho Geomtrico e Msica. A ideia de di-

    versas reas artsticas no currculo muito

    positiva. No entanto, atrelada ao modeloda Educao Artstica, adotou-se a prtica

    da polivalncia para o ensino das artes, ou

    seja, um nico proessor deveria ser respon-

    svel pelo ensino de todas as artes na esco-

    la. compreensvel que as artes possuem

    entre si diversas conexes e que pertencem

    a uma grande rea do conhecimento. Mas,

    ao mesmo tempo, cada uma das linguagens

    artsticas possui particularidades que no

    pertencem a outras artes. Se algum estuda

    pintura, ele no aprender automaticamen-

    te a encenar, danar, ou cantar, assim como

    ao se estudar msica no se aprende auto-

    maticamente a desenhar ou encenar. Seria

    como se pensssemos que um proessor delngua estrangeira deveria ser capaz de ensi-

    nar todas as lnguas pelo ato de todas elas

    poderem ser localizadas numa grande rea

    chamada lnguas estrangeiras.

    A polivalncia contribuiu para a supercia-

    lizao do ensino das artes e, consequente-

    mente, para a diminuio de sua signicao

    na ormao dos estudantes. As artes assu-

    miram papis de entretenimento, alegrando

    as estas das escolas, sendo consideradas,

    em muitos contextos, como atividade peri-

    rica no currculo escolar. Um proessor de

    Educao Artstica, normalmente, no pos-

    sua ormao adequada para desenvolver

    trabalhos relevantes com todas as lingua-

    gens artsticas, alm de que o tempo de du-

    rao das aulas de Arte no era compatvel

    e ainda no , em muitos contextos com

    uma ormao adequada em termos artsti-cos, seja em qualquer uma das linguagens

    que se queira abordar. Por diversas razes,

    as artes plsticas tornaram-se predominan-

    tes nos sistemas educacionais brasileiros e,

    at hoje, para muitas pessoas, a aula de Arte

    sinnimo de aula de artes plsticas.

    O resultado da polivalncia tem sido discu-

    tido por diversos autores, que evidenciam a

    ragilidade deste modelo educacional para

    as artes. De um modo geral, estes auto-

    res armam que por mais que o proessor

    de arte inclua atividades diversas em suas

    aulas, no possvel estar preparado para

    atuar de orma consistente com todas aslinguagens artsticas na escola, a partir da

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    ormao em um curso superior de quatro

    anos de durao, em mdia. Esta situao

    tem contribudo para que as atividades de-

    senvolvidas, muitas vezes, sejam incon-sistentes, desestimulando a discusso e o

    entendimento sobre a importncia da or-

    mao em artes de orma qualicada. Hie-

    rarquicamente, as artes ocupam lugar de

    baixa relevncia nos currculos escolares e

    a qualidade das atividades, a alta de pro-

    undidade, a descontinuidade, o nmero

    reduzido de horas semanais, e tambm o

    despreparo de proessores tm contribudo

    para que esta situao da arte no currcu-

    lo permanea inalterada, mesmo quando a

    legislao propicia que se aa um trabalho

    mais consistente e relevante na ormao

    dos estudantes.

    Em 1996, a aprovao da Lei n. 9.394 LDBEN

    (BRASIL,1996) modicou a denominao da

    Educao Artstica para ensino de arte, no

    pargrao 2 do artigo 26: O ensino de arte

    componente curricular obrigatrio nos di-

    versos nveis da educao bsica (...). Esta

    nova redao sugere uma mudana para o

    ensino das artes na escola, e a expectativa

    de muitos educadores das diversas lingua-

    gens artsticas era que a polivalncia esta-

    ria encerrada com estes novos termos. No

    entanto, em nenhum momento a legislao

    educacional brasileira apresentou claramen-

    te a extino da polivalncia como uma das

    prticas possveis para o ensino de arte nasescolas, ou seja, mesmo quando a legislao

    sugeriu mudana, diversos sistemas educa-

    cionais mantiveram a prtica polivalente

    para o ensino das artes na escola.

    A mesma Lei n. 9.394/96 estabeleceu que os

    sistemas educacionais (municipais, esta-

    duais, ederais) tm liberdade e autonomia

    para estabelecer seus projetos polticos pe-

    daggicos, respeitando a legislao vigente.

    A legislao inclui o ensino de arte, mas no

    indica que artes deveriam azer parte desta

    prtica e, em muitos contextos brasileiros,

    ainda hoje se pratica a polivalncia para o

    ensino da arte, perpetuando um modelo que

    no tem contribudo para a presena signi-

    cativa da ormao artstica no currculo es-

    colar. Exercendo sua autonomia e liberdade,

    diversos sistemas educacionais ainda requi-

    sitam proessores ormados em EducaoArtstica para atuarem de orma polivalente

    nas escolas, ignorando, inclusive, que no

    existe mais a licenciatura em educao ar-

    tstica nas universidades brasileiras. As Dire-

    trizes Curriculares Nacionais para cada uma

    das linguagens artsticas (BRASIL, 2004a,

    2004b, 2004c, 2009) estabelecem que a or-

    mao do proessor direcionada para uma

    linguagem artstica, no havendo diretrizes

    para a ormao do proessor polivalente,

    como nos tempos da Educao Artstica.

    Diante desta situao de indenio da le-

    gislao sobre as reas artsticas que deve-

    riam compor eetivamente a ormao cur-ricular, cada sistema educacional estabelece

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    13

    aquilo que deseja, muitas vezes motivado

    apenas pelo hbito de ensinar as artes de

    orma polivalente, ou ainda motivado pela

    questo econmica: um proessor maisbarato do que vrios proessores de vrias

    linguagens artsticas. Cabe destacar que os

    Parmetros Curriculares Nacionais PCN

    (BRASIL, 1997, 1998) apresentam um volu-

    me dedicado Arte, contendo orientaes

    para Artes Visuais, Dana, Msica e Teatro.

    No entanto os PCN no so documentos

    obrigatrios, ou seja, so orientaes gerais

    que podem ser ou no utilizadas pelos sis-

    temas educacionais.

    Assim, mesmo com

    a ausncia do termo

    Educao Artstica

    nos documentos le-

    gais a partir de 1996,a prtica da poliva-

    lncia permaneceu

    em diversos sistemas

    educacionais.

    A indenio da legislao, a alta de clareza e

    a possibilidade de mltiplas interpretaes do

    texto legal oram consideradas como tpicos

    da mais alta relevncia para serem tratados de

    orma eetiva para o aprimoramento da legis-

    lao brasileira para o ensino das artes. Assim,

    o movimento pela msica na escola estabele-

    ceu uma pauta nica que oi a alterao da

    legislao com relao ao ensino de msica

    na escola. A Lei n. 11.769/08 indica claramen-te que a msica deve azer parte do currculo

    escolar, no podendo ser substituda ou supri-

    mida da ormao escolar.

    A Lei n. 11.769/08 representa, em algum n-vel, um avano no texto legal. Ela alterou a

    Lei n. 9.394/96, que traz a obrigatoriedade

    do ensino de arte na escola. Sendo assim,

    a msica dever ser contedo indiscutvel

    no currculo, cumprindo aquilo que est

    estabelecido no artigo 26 da LDB de 1996.

    Note-se que a Lei n. 11.769/08 apresenta, em

    seu texto, a no exclusividade do ensino da

    msica: a msica contedo obrigatrio,

    mas no exclusivo, ou

    seja, o currculo esco-

    lar deve estabelecer

    um espao para a

    msica, sem prejuzo

    das outras linguagensartsticas. Em suma,

    a ormao em artes

    ganha, com a Lei n.

    11.769/08, um reoro

    para os argumentos

    que se podem construir para a ampliao da

    presena do ensino das artes e da msica

    no currculo escolar.

    No entanto, a Lei n. 9.394/96 ainda continua

    ativa, e isto signica que a obrigatoriedade

    da msica est estabelecida, mas os siste-

    mas educacionais continuam livres e aut-

    nomos para estabelecerem de que orma

    esta rea ser contemplada no currculo.Evidentemente o que se espera um ensino

    A Lei n. 11.769/08 indica

    claramente que a msica

    deve azer parte do

    currculo escolar, no

    podendo ser substituda

    ou suprimida da ormao

    escolar.

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

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    14

    de msica com qualidade, consistente, que

    aa sentido para a ormao do cidado que

    passa pela escola. E para que isto acontea

    diversos desaos precisam ser vencidos:

    1. Os proessores que atuaro na educa-

    o bsica ensinando msica preci-

    sam ser licenciados, e o nmero de

    licenciados em msica atuando nas

    escolas de educao bsica peque-

    no, como mostram algumas pesquisas

    no Brasil. Dados do INEP, do Censo Es-

    colar de 2008,

    por exemplo,

    mostram que

    o Brasil possui

    32.000 proes-

    sores de Arte.

    No se sabeao certo quan-

    tos destes pro-

    essores so

    habilitados

    e trabalham com msica na escola.

    Mas, de qualquer orma, este nmero

    muito pequeno. Ainda levar algum

    tempo para que todas as escolas bra-

    sileiras possam contar com a presen-

    a de licenciados em msica atuando

    em seus quadros docentes. Por esta

    razo, preciso compreender a tran-

    sitoriedade deste perodo, assumindo

    a necessidade de mais prossionais li-

    cenciados em msica na escola, masentendendo que projetos temporrios

    podero construir gradativamente o

    espao da msica no currculo, at

    que haja licenciados em nmero su-

    ciente para as escolas.

    2. A reviso dos projetos polticos pe-

    daggicos das escolas necessria

    para que a msica seja contemplada,

    cumprindo a legislao vigente. Os

    sistemas educacionais estabelecero

    de que orma a msica ar parte do

    currculo, e exemplos em diversas par-

    tes do pas podem

    ser observados para

    esta eetiva imple-

    mentao. H sis-

    temas educacionais

    que estabeleceram a

    msica em algumassries da escola, al-

    ternando com ou-

    tras linguagens ar-

    tsticas; h sistemas

    que incluram a disciplina msica em

    seus currculos.

    3. Considerando que os anos iniciais da

    escolarizao esto sob a responsabi-

    lidade de proessores pedagogos, que

    atuam em todas as reas do conhe-

    cimento escolar, seria undamental

    que estes proessores ossem tambm

    preparados para contriburem com o

    processo de educao musical escolar.No se trata de substituir o proessor

    Projetos extracurriculares

    com a msica so sempre

    bem-vindos na escola, mas

    preciso reconhecer que a

    legislao trata da msicano currculo.

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

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    15

    especialista na rea de msica na es-

    cola, mas estimular experincias mu-

    sicais diversas na escola que possam

    ser compartilhadas entre proessoresespecialistas e pedagogos.

    4. Projetos extracurriculares com a msica

    so sempre bem-vindos na escola, mas

    preciso reconhecer que a legislao

    trata da msica no currculo. O obje-

    tivo garantir democraticamente o

    acesso educao musical para todos.

    A importncia de projetos escolares

    que envolvem bandas, corais, grupos

    de rap, dentre outros, inegvel e am-

    plia a experincia escolar, e tais proje-

    tos deveriam ser estimulados e desen-

    volvidos em vrios contextos escolares.

    Mas ao lado do projeto extracurricular,a proposta curricular da escola deve

    propiciar que todos os estudantes vi-

    venciem experincias musicais de or-

    ma consistente e signicativa.

    FiNAlizANDo

    A legislao para a educao brasileira atu-

    al avorece a presena da msica na escola

    como parte do currculo. Desde 1996, com

    a Lei n. 9.394/96, a msica poderia ter sido

    includa no currculo escolar a partir da

    obrigatoriedade do ensino de arte. Sendo a

    msica uma das artes, tal rea poderia azer

    parte do currculo desde a promulgao daLDB de 1996.

    Diversos sistemas educacionais incluram a

    msica em seu currculo a partir daquela le-

    gislao de 1996, de orma a contemplarem

    a ormao musical dos estudantes. Ao mes-mo tempo, diversos sistemas educacionais

    preeriram manter a prtica polivalente, em

    que a msica esteve e ainda est pouco

    presente no currculo escolar por diversas

    razes.

    A Lei n. 11.769/08 traz mais elementos para

    garantir a presena da msica no currcu-

    lo escolar. Depende de cada sistema educa-

    cional a implementao da msica em seus

    currculos, assim como depende de cada sis-

    tema a abordagem a ser empregada nesta

    implementao. O que se pretendeu com

    esta nova legislao oi a garantia de uma

    educao musical com qualidade, acessvela todos os estudantes brasileiros. Evidente-

    mente, os educadores musicais desejam que

    tal ormao escolar seja eita com muita

    qualidade, garantindo que a experincia mu-

    sical no currculo ser consistente e signi-

    cativa.

    Por todos os elementos apresentados neste

    texto, espera-se que se amplie o espao de

    atuao dos licenciados em msica na esco-

    la brasileira, seja atravs da abertura de con-

    cursos que contemplem a rea de msica,

    seja pelo compromisso dos licenciados em

    msica com a educao bsica brasileira.

    Por isso, entendemos que estamos em pe-

    rodo transitrio, onde projetos alternativos

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

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    16

    podero ser implementados para a constru-

    o gradativa e consistente do espao da

    msica no currculo escolar em todas as es-

    colas brasileiras.

    A educao musical escolar assunto que

    deveria ser assumido por toda a comunidade

    escolar. A qualidade da educao como um

    todo depende undamentalmente da qualida-

    de dos componentes curriculares, e a msica

    parte deste processo que pretende contri-

    buir para um currculo amplo, que cumpra

    sua uno de ormar cidados cada vez mais

    preparados para lidarem com as diversas

    nuances da experincia humana. E o acesso

    democrtico educao musical parte inte-

    grante neste processo de construo de uma

    sociedade mais justa e mais humana.

    rEFErNciAS

    BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educao

    Nacional. Lei 5.692, de 11 de agosto de 1971.

    Braslia, 1971. Disponvel em

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/

    leis/5692.htm

    BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educao

    Nacional, LDB: Lei 9.394/96. Braslia: Di-

    rio Ocial da Unio, Ano CXXXIV, n. 248, de

    23/12/1996, pp. 27.833-27.841.

    BRASIL. Parmetros Curriculares Nacionais

    (Introduo). Braslia: Ministrio da Educa-

    o/ Secretaria de Educao Fundamental,

    1997.

    BRASIL. Parmetros Curriculares Nacionais

    (5 a 8). Braslia: Ministrio da Educao/

    Secretaria de Educao Fundamental, 1998.

    BRASIL. Resoluo n. 2, de 8 de maro de 2004.

    Aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais

    do Curso de Graduao em Msica e d outrasprovidncias. Braslia: CNE/CES, 2004a.

    BRASIL. Resoluo n. 3, de 8 de maro de 2004.

    Aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais

    do Curso de Graduao em Dana e d outras

    providncias. Braslia: CNE/CES, 2004b.

    BRASIL. Resoluo n. 4, de 8 de maro de 2004.Aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais

    do Curso de Graduao em Teatro e d outras

    providncias. Braslia: CNE/CES, 2004c.

    BRASIL. Lei n. 11.769, de 18 de agosto de 2008.

    Braslia: Dirio Ocial da Unio, ano CXLV, n.

    159, de 19/08/2008, Seo 1, pgina 1.

    BRASIL. Resoluo n. 1, de 16 de janeiro de 2009.

    Aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais do

    Curso de Graduao em Artes Visuais e d ou-

    tras providncias. Braslia: CNE/CES, 2009.

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    17

    TExTo 2

    divErsidadEmusicalEEnsinodEmsicaLuis Ricardo Silva Queiroz 1

    rESumo

    Neste texto, o objetivo discutir a diversidade musical e possveis metodologias de ensino de

    msica. Aproximaes com o campo da etnomusicologia sero apresentadas como possibili-

    dades de ampliao do entendimento e das concepes de msica que poderiam azer parte

    do currculo escolar. Sero tambm discutidas questes didticas para o ensino de msica,

    tratando da incluso de experincias diversifcadas com a msica no contexto escolar.

    5 Doutor em Etnomusicologia pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente proessor adjunto doDepartamento de Educao Musical e do Programa de Ps-Graduao em Msica da Universidade Federal daParaba e Coordenador do Programa de Ps-Graduao em Msica da UFPB.

    Nas ltimas dcadas, temos aproundado

    signicativamente o debate acerca de ques-

    tes emergentes na sociedade que, por die-

    rentes perspectivas, so undamentais para

    as denies da educao. Assim, cada vezmais, tm sido reconhecidas a necessidade

    e a importncia de trazermos para o mbi-

    to educacional temas que permeiam a vida

    humana e as relaes sociais na atualidade.

    Nesse universo, tem-se entendido que:

    (...) a educao no pode separar-se,

    nos debates, de questes como desen-

    volvimento ecologicamente sustentvel,

    gnero e orientao sexual, direitos hu-

    manos, justia e democracia, qualifca-

    o profssional e mundo do trabalho,

    etnia, tolerncia e paz mundial. Ao mes-

    mo tempo a compreenso e o respeito

    pelo diferente e pela diversidade so

    dimenses fundamentais do processo

    educativo (BRAGA; SILVEIRA, 2007, gri-

    os meus).

    Com eeito, a diversidade, em suas dieren-

    tes acetas, tem sido oco de debates em dis-

    tintas reas de conhecimento, evidenciando

    as implicaes do tema para a sociedade. O

    que se percebe que, no mundo atual, no

    possvel pensar em denies, proposi-

    es e aes de cunho social, entre as quais

    a educao, sem considerar a diversidade

    como elemento intrnseco ao homem, que

    tem impacto direto em suas relaes com a

    natureza e com a cultura. Temos, portanto,

    caminhado na direo de uma poltica edu-

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

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    18

    cacional e uma ao pedaggica orientadas

    pelos valores da diversidade e do direito

    dierena (HENRIQUES, 2007).

    Com vistas a contribuir para este debate,

    mais especicamente no campo da educa-

    o musical, este trabalho apresenta refe-

    xes e perspectivas para o ensino de msica,

    considerando a diversidade musical como

    elemento social de grande valor para a edu-

    cao, tanto no que se reere s especici-

    dades dos contedos musicais quanto no

    que tange a dimen-

    ses educativas mais

    abrangentes.

    DivErSiDADE

    NA SAlA DE

    AulA

    Ao considerarmos a

    diversidade na sala de

    aula, importante ter

    em mente que no se

    trata de considerar unicamente a diversidade

    musical, mesmo para o proessor de msica.Na sala de aula, se maniestam muitos aspec-

    tos relacionados s dierenas, que esto im-

    bricados em todas as reas e nos contedos

    trabalhados. Nesse sentido, a diversidade na

    sala de aula, independente do componente

    curricular trabalhado, abarca atores econ-

    micos, tnicos, religiosos, sexuais, artsticos,

    entre tantos outros. a conjuntura desses

    elementos que constitui a vida dos indivduos

    e que az da escola um lugar plural e comple-

    xo. Um lugar de conrontos e disputas, mas

    tambm de dilogos e interaes.

    Essa multiplicidade que constitui a escola na

    atualidade retratada nas palavras de Cali-

    man, quando arma que:

    (...) agora quem requenta a escola so

    jovens de extraes sociais diversas,

    cada um deles com uma histria pesso-

    al que para alguns regular, mas para

    outros marcada por

    racassos, desvanta-

    gens, mal-estar e so-

    rimentos dos mais

    dierentes tipos (CALI-

    MAN, 2006, p. 385).

    Cientes dessa reali-

    dade, os prossio-

    nais que atuam em

    dierentes reas do

    conhecimento preci-

    sam considerar que as ronteiras entre disci-

    plinas e contedos so diludas na convivn-

    cia social e na inter-relao que estabelecem

    no contexto cultural dos indivduos. Precisa-

    mos pensar que cada rea tem suas especi-

    cidades no processo de ormao escolar,

    mas que todas elas lidam com pessoas; pes-

    soas de naturezas distintas, pensamentos e

    objetivos diversicados, vivncias e acessos

    singulares etc.

    Na sala de aula, se

    maniestam muitos

    aspectos relacionados

    s dierenas, que esto

    imbricados em todas asreas e nos contedos

    trabalhados.

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    19

    Considerando as diversidades que se mani-

    estam na escola, me atenho a discutir, a se-

    guir, aspectos relacionados a uma delas, a

    diversidade musical, que no se separa das

    demais, mas que tem implicaes espec-

    cas prtica educacional escolar.

    A mSicA como FENmENo

    SociAl

    A msica constitui uma rica e diversicada

    expresso do homem, sendo resultado de vi-

    vncias, crenas e valores que permeiam a

    sua vida na sociedade.

    Como prtica social, a

    msica agrega, em sua

    constituio, aspectos

    que transcendem suasdimenses estruturais

    estticas, caracteri-

    zando-se, sobretudo,

    como um complexo

    sistema cultural que

    congrega aspectos estabelecidos e compar-

    tilhados pelos seus praticantes, individual e/

    ou coletivamente. De tal maneira, a orte e

    determinante relao com a cultura estabe-

    lece para a msica, dentro de cada contexto

    social, um importante espao com carac-

    tersticas simblicas, usos e unes que a

    particularizam, de acordo com as especici-

    dades do universo que a rodeia (MERRIAM,

    1964; BLACKING, 1973; NETTL, 1992; QUEI-ROZ, 2005).

    Como expresso cultural, a msica pode ser

    considerada veculo universal de comunica-

    o, pois no se tem registro de qualquer

    grupo humano que no realize experincias

    musicais como meio de contato, apreen-

    so, expresso e representao de aspectos

    simblicos culturais. Todavia, o ato de ser

    utilizada universalmente no az da prtica

    musical uma linguagem universal, tendo

    em vista que cada cultura tem ormas par-

    ticulares de elaborar, transmitir e compre-

    ender a sua prpria msica, (des)organizan-

    do, idiossincraticamente, os elementos que

    a constituem (QUEI-

    ROZ, 2004, p. 101).

    Dessa orma, a m-

    sica como cultura

    cria mundos diver-sicados, mundos

    musicais que se es-

    tabelecem no como

    universos e territ-

    rios dierenciados pelas linhas geogrcas,

    mas como mundos distintos dentro de um

    mesmo territrio, de uma mesma sociedade

    e/ou at dentro de um mesmo grupo. Com-

    partilhando do pensamento de Finnegan, en-

    tendo que os mundos musicais so distintos

    no apenas por seus estilos dierentes, mas

    tambm por outras convenes sociais: as

    pessoas que tomam parte deles, seus valores,

    suas compreenses e prticas compartilha-

    das, modos de produo e distribuio, e aorganizao social de suas atividades musi-

    A msica constitui uma rica

    e diversicada expresso do

    homem, sendo resultado de

    vivncias, crenas e valoresque permeiam a sua vida

    na sociedade.

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    20

    cais (FINNEGAN, 1989, p. 31).

    A DivErSiDADE DE mSicAS DA

    EScolA E A DivErSiDADE DE

    mSicAS PArA A EScolA

    A diversidade musical se maniesta natural-

    mente na escola, j que distintas expresses

    musicais adentram cotidianamente o uni-

    verso escolar, vindas na bagagem cultural

    dos alunos, a partir das experincias sociaisque estabelecem em sua vida cotidiana. As-

    sim, de orma individual ou coletiva, seja

    ouvindo rdio, assistindo televiso, nave-

    gando pela internet, brincando com amigos

    etc. o ato que a msica est no nosso dia

    a dia e, de orma mais ou menos conscien-

    te, todos estabelecem algum tipo de relao

    como essa expresso cultural.

    Para o proessor, h pelo menos duas ver-

    tentes centrais para lidar com a diversidade

    musical: a primeira est relacionada ao uni-

    verso musical trazido pelos alunos, o que ca-

    racteriza a desdade de sas da es-

    a. Assim, msicas que os alunos ouvem em

    casa, que compartilham em suas relaes

    sociais, que assimilam a partir da veiculao

    miditica, entre outras, devem ter lugar ga-

    rantido na prtica docente. Essas msicas,

    alm de terem signicados culturais para os

    estudantes, possibilitam diversos trabalhos

    relacionados linguagem musical, exploran-

    do aspectos como: sonoridades e timbre dos

    instrumentos, ormas de cantar, padres rt-

    micos, estruturas meldicas etc.

    A segunda vertente do trabalho com a di-

    versidade est relacionada insero, naprtica escolar, de msicas de dierentes

    contextos culturais, visando ampliao e/

    ou transormao do universo musical dos

    alunos, a partir da descoberta e da incorpo-

    rao de estticas e experincias musicais

    variadas. Trata-se de planejar e estruturar

    uma desdade de sas paa a esa.

    Nessa categoria podem ser includas m-

    sicas locais, que no tm veiculao midi-

    tica e que, muitas vezes, so desconheci-

    das pelos estudantes; msicas singulares

    de outras cidades, estados, regies, pases

    etc. O objetivo no , simplesmente, levar

    para a escola um amontoado de expresses

    musicais desvinculadas de suas realidadessociais, mas sim, possibilitar que os alunos

    reconheam vrios sotaques, para que,

    assim, possam reconhecer melhor, inclusi-

    ve, o seu prprio sotaque e, a partir da, a

    seu critrio, (re)signic-lo, ampli-lo e/ou

    transorm-lo.

    Todavia, preciso ter em mente que, em

    ambas as vertentes, considerar a diversida-

    de signica reconhecer as vrias msicas

    como legtimas, havia vista que no poss-

    vel armar, segundo determinados critrios

    estticos, que uma msica melhor que

    outra. Em hiptese alguma, deve-se traba-

    lhar a diversidade para se chegar homo-geneidade, como ainda sinalizam algumas

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

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    21

    propostas na rea de educao musical. As-

    sim, seria como, por exemplo, trabalharmos

    maracatu, congadas, bumba-meu-boi, cava-

    lhadas, andango, rock, samba, entre outrasprticas da cultura popular para, a partir da,

    chegar msica de Mozart, Beethoven, Bach

    etc., como se um tipo de msica osse me-

    lhor e/ou superior ao outro. O que precisa-

    mos e que essas diversas msicas dialoguem

    na sala de aula e, dessa orma, convivam de-

    mocraticamente, trabalhando as dierenas

    e os seus distintos valores e signicados que

    permeiam cada ex-

    presso musical.

    PErSPEcTivAS

    PrTicAS PArA

    o ENSiNo DE

    mSicA DiANTE

    DA DivErSiDADE

    No que se reere es-

    pecicamente ao

    trabalho de educao musical, lidar com

    dierentes expresses culturais permite

    contemplar uma srie de objetivos unda-mentais para o ensino de msica nas esco-

    las, como: desenvolver prticas integradas

    com os temas transversais, contemplando

    a pluralidade cultural de mltiplos con-

    textos sociais; compreender dierentes ex-

    presses culturais (do bairro, da cidade,

    do estado, da regio, do pas e do mundo),

    conorme enatizado na proposta para a

    rea de msica dos Parmetros Curriculares

    Nacionais (BRASIL, 1997; 1998); pesquisar e

    descobrir diversicados aspectos musicais

    de distintas culturas (instrumentos, ritmos,

    melodias, estticas vocais etc.); conhecer evivenciar a diversidade do patrimnio cul-

    tural imaterial do mundo, caracterizado

    pela msica de dierentes etnias, entre ou-

    tros (QUEIROZ; MARINHO, 2009).

    Todavia, um trabalho dessa natureza exige

    do proessor habilidades para lidar com as

    dierenas e para estabelecer dilogos entre

    dierentes universos

    musicais, pois todo

    trabalho, independen-

    te do tipo de msica

    que contemple, deve

    propiciar uma expe-

    rincia signicativa ereveladora de desco-

    bertas musicais. Ao

    lidar com vrias ma-

    niestaes culturais,

    no se pode cair, simploriamente, na repro-

    duo de msicas exticas, desprovidas de

    valor simblico para os alunos.

    Assim, ao contemplar a diversidade musical

    da sala de aula, e para a sala de aula, poss-

    vel planejar, elaborar e realizar atividades de

    interpretao, apreciao e criao musical

    trabalhando elementos como:

    Pesquisa de aspectos organolgicos: vi-

    sando a descobertas de instrumentos mu-

    Em hiptese alguma,

    deve-se trabalhar a

    diversidade para se chegar

    homogeneidade, como

    ainda sinalizam algumaspropostas na rea de

    educao musical.

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

    22/41

    22

    sicais de vrias culturas musicais, suas

    sonoridades, ormas de execuo etc.

    Explorao e descoberta de elementos re-

    lacionados esttica vocal: trabalhando

    mltiplas ormas de colocao da voz,

    timbres utilizados, eeitos vocais, alturas,

    tcnicas de canto coletivo e individuais,

    entre outros aspectos.

    Desenvolvimento rtmico: conhecendo

    e explorando singularidades do ritmo de

    maniestaes musicais diversas.

    Compreenso e prticas de estruturas so-

    noras em geral: alturas, melodia, harm-

    nica etc.

    Essas so apenas algumas possibilidades,

    entre as inmeras possveis, que o um tra-

    balho que lide com a variedade de msicas

    do mundo pode possibilitar no contexto es-

    colar. O ato que, se realizado com objeti-

    vos e propostas consistentes, um trabalho

    inter-relacionado diversidade musical po-

    der ser rico de descobertas estticas, tc-

    nicas, perceptivas e culturais no mbito da

    msica e, portanto, da sociedade.

    Entendo que para concretizar aes educa-

    tivas abrangentes, que contemplem a msi-

    ca em suas distintas acetas, preciso mais

    que a incluso de repertrios e de ativida-

    des relacionadas diversidade musical.

    importante ter em mente que, em qualquer

    processo educativo-musical, preciso ex-

    pandir os conhecimentos do alunado, mas,

    undamentalmente, necessrio reconhe-

    cer as suas vivncias, os seus anseios e as

    suas (inter)relaes com a msica.

    Assim, possvel pensar num ensino da m-

    sica democrtico e inclusivo, que respeite a

    dierena, no para utiliz-la como base para

    a ormao de iguais, mas principalmente

    para, por meio dela, construir saberes con-

    textualizados com o universo particular de

    cada indivduo e de cada grupo social.

    O reconhecimento diversidade nos ez per-

    ceber que no existe uma nica msica e/

    ou sistema musical e que, portanto, no po-

    demos ter uma educao musical restritiva

    e unilateral. Essa perspectiva nos conduz a

    novos direcionamentos pedaggicos e nos

    leva a caminhos abrangentes, reconhecen-

    do a variedade de msicas e suas diversas

    possibilidades educacionais. Em ace dos ru-

    mos das msicas do mundo na atualidade,

    nos vemos diante do desao de estabelecer

    direcionamentos coerentes para o ensino

    de msica na escola. Ensino este que preci-

    sa ser abrangente e diversicado, contem-

    plando, principalmente, propostas e aeseducativas contextualizadas com contextos

    escolares das mltiplas realidades sociocul-

    turais do pas.

    rEFErNciAS

    BLACKING, John. How musical is man?Lon-

    don: University o Washington Press, 1973.

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    Maria Helena Vargas da (orgs.). O ProgramaDiversidade na Universidade e a construo de

    uma poltica educacional anti-racista. Bras-

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    o das Naes Unidas para a Educao, a

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    BRAGA, Maria Lcia de Santana; SILVEIRA,

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    Diversidade na Universidade e a construo de

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  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

    24/41

    24

    TExTo 3

    msicanasEscolasLuciana Marta Del-Ben1

    rESumo

    Neste texto sero discutidas e apresentadas propostas de experincias musicais que j acon-

    tecem em escolas brasileiras. Tais experincias podem estar no currculo ou como atividade

    extraclasse, dependendo do contexto. Em ambos os casos, as propostas educacionais com

    msica oerecem o acesso a experincias que contribuem para a ormao dos estudantes, e

    tais contribuies sero tambm aqui tratadas.

    1 Doutora em Msica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente proessora associada daUniversidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenadora do Programa de Ps-Graduao em Msica da UFRGS.

    Este texto tem como objetivo apresentar

    exemplos de prticas de ensino de msica

    realizadas em escolas de educao bsica.

    Trata-se de prticas desenvolvidas por al-

    guns dos alunos do Curso de Licenciatura

    em Msica da Universidade Federal do Rio

    Grande do Sul, durante seu estgio super-

    visionado, e por mim orientadas. O estgio

    supervisionado, em que tiveram origem as

    prticas de ensino a serem apresentadas,

    compreende um conjunto de atividades para

    a atuao do proessor, envolvendo desde a

    aproximao e interao com o contextoeducativo at o planejamento, a execuo e

    a avaliao das atividades docentes em m-

    sica em contextos especcos. So realiza-

    dos encontros semanais, em grupo, quando

    so discutidos coletivamente os projetos de

    ensino, bem como os planos e relatrios de

    aula. Cada licenciando desenvolve seu proje-

    to individualmente, em uma escola ou outro

    espao educativo. As prticas apresentadas

    neste texto aconteceram em dierentes se-

    mestres, entre os anos de 2005 e 2009. No

    entanto, oram orientadas pelos mesmos

    princpios, dentre os quais destaco as con-

    cepes de ensino e de ensino de msica e a

    orma de organizar o ensino com que vimos

    trabalhando.

    Para Basabe e Colls (2010), educadoras ar-

    gentinas, ensinar uma ao orientada aoutros e realizada com o outro (p. 144), o

    que envolve um processo de comunicao

    e, tambm, dedicao, zelo, cuidado em

    relao ao aluno, uma preocupao pela

    pessoa do aluno e pelo que ele pode chegar

    a ser (p. 146). O ensino envolve, pois, um

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

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    25

    encontro humano. Porque ensinar , em de-

    nitivo, participar no processo de ormao

    de outra pessoa, tarea que s pode ser eita

    em um sentido pleno com esse outro (p.146).

    Nesse encontro, cabe ao proessor desem-

    penhar um papel de mediador entre os es-

    tudantes e determinados saberes (Basabe;

    Colls, 2010, p. 147). A tarea do proessor

    consiste em ajudar [os alunos] a introduzir-

    se numa comunidade de conhecimento e de

    capacidades, em proporcionar-lhes algo que

    outros j possuem

    (Stenhouse, 1987,

    apud Basabe; Colls,

    2010, p. 147). Nos

    processos de ensino,

    portanto, o aspectocentral a pessoa, e

    no o objeto em si; a

    relao com o saber,

    e no o saber; e a relao sempre depende

    do sujeito (ver DAmore, 2005).

    Ensinar msica mediar as relaes das

    pessoas com a msica, visando acilitar e

    promover aprendizagens musicais. Essa

    mediao marcada tanto pelas caracte-

    rsticas do conhecimento a transmitir como

    pelas caractersticas de seus destinatrios

    (Basabe; Colls, 2010, p. 126). Em contextos

    ormais, como a escola, ela deve ser eita de

    modo organizado, a partir de certas inten-es, com o propsito de alcanar determi-

    nadas nalidades, sejam aquelas denidas

    pelo prprio proessor, sejam aquelas de-

    nidas pela escola, pelos governos ou demais

    mbitos da sociedade.

    H vrias ormas de organizar o ensino de

    msica nas escolas. Uma delas aquela que

    parte de uma listagem prvia de contedos.

    So denidos os elementos que constituem

    a msica (como timbre, melodia, inten-

    sidade, por exemplo) e, a partir deles, so

    propostas atividades diversas, com seus res-

    pectivos objetivos. Outro caminho denir

    objetivos de apren-

    dizagem e, a partir

    deles, os contedos

    a serem ensinados.

    O proessor pode

    estabelecer, porexemplo, que os

    alunos devero ser

    capazes de execu-

    tar padres rtmicos e meldicos simples

    e cantar em grupo canes diversas. Com

    base nesses objetivos, planeja e desenvolve

    um conjunto de atividades, que ajudaro os

    alunos a atingir esses padres.

    Outra orma de organizar o ensino de msi-

    ca denir atividades ou eixos que devero

    nortear as aes do proessor e dos alunos.

    Essa orma pode ser identicada nos Par-

    metros Curriculares Nacionais para o Ensi-

    no Fundamental, elaborados pelo Ministrioda Educao, em 1997, que estabelecem trs

    Ensinar msica mediar as

    relaes das pessoas com

    a msica, visando acilitar

    e promover aprendizagensmusicais.

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    26

    eixos norteadores das prticas de ensino e

    aprendizagem: a produo, a ruio e a re-

    fexo. So esses eixos que norteiam a de-

    nio dos contedos do ensino das artes.

    No h nada de errado com os contedos,

    objetivos ou eixos propostos. O que parece

    problemtico que, nos casos acima, o ensi-

    no pensado e organizado somente a partir

    da msica como rea ou disciplina. O oco

    est no objeto, e no na pessoa ou nas pes-

    soas a quem se destina o ensino. Nesses ca-

    sos, a mediao entre aluno e msica (que

    caracteriza o papel do proessor) organi-

    zada tomando como eixo apenas um desses

    elementos a msica. A relao entre aluno

    e msica objeto central do ensino no

    explicitada.

    De modo geral, a crtica a essas ormas de

    organizar o ensino no so recentes, embora,

    nos ltimos anos, possam ser mais requen-

    tes e contundentes. Num texto publicado em

    2000, a educadora Maria Luisa Xavier obser-

    vava:

    As discusses atuais acerca da organi-

    zao do ensino vm propondo que o

    planejamento seja desenvolvido atra-

    vs de temticas signifcativas que se-

    jam objeto de desejo de conhecimento

    de proessoras, estagirias e ou alunos

    e alunas. Temticas capazes de abarcar

    as disciplinas curriculares ressignif-

    cando-as e capazes de dar conta dos

    chamados saberes no escolares repre-

    sentativos das culturas inantil e juve-

    nil, to negligenciadas pela escola. Para

    Miguel Arroyo (1994), a proposta que

    este currculo seja construdo a partir

    da defnio coletiva de temas chama-

    dos pelo autor de temas transversais

    que representem as questes e os pro-

    blemas colocados pela atualidade para

    os homens, mulheres e crianas de nosso

    tempo (Xavier, 2000, p. 5).

    Essa citao deixa claro que a proposta no

    abandonar as disciplinas curriculares

    isto , os saberes sistematizados, acumula-

    dos pela humanidade, que so exemplica-

    dos nos contedos e atividades que vimos

    nos exemplos anteriores, especcos da rea

    de msica. Tambm no se deende que os

    objetivos sejam banidos da escolarizao.Trata-se, isto sim, de buscar abordagens que

    permitam aproximar a escola e a vida, em

    que se ensine e se aprenda pelas experin-

    cias proporcionadas, pelos problemas cria-

    dos, pela ao desencadeada (Xavier, 2000,

    p. 11-12).

    Uma das estratgias que vem sendo discu-

    tida por diversos educadores para concreti-

    zar esses ideais a chamada pedagogia de

    projetos (que tambm pode ser nomeada

    como aprendizagem baseada em projetos,

    projetos de ensino, projetos pedaggicos ou

    projetos de aprendizagem), perspectiva de-

    senvolvida por diversos autores, entre eles,Ovide Decroly, John Dewey, Willian Kilpa-

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

    27/41

    27

    trick, Lawrence Stenhouse, Jerome Bruner,

    Fernando Hernndez, Jurjo Torres Santom,

    Josette Jolibert e Miguel Arroyo. Como expli-

    ca Burnier (2001),

    A ideia central da Pedagogia de Projetos

    articular os saberes escolares com os

    saberes sociais de maneira que, ao estu-

    dar, o aluno no sinta que aprende algo

    abstrato ou ragmentado. O aluno que

    compreende o valor do que est apren-

    dendo desenvolve uma postura indispen-

    svel: a necessidade de aprendizagem.

    Assim, o proessor planeja as atividades

    educativas a partir de propostas de de-

    senvolvimento de projetos com carter

    de aes ou realizaes com objetivos

    concretos e reais ().

    Os contedos () seriam trabalhados

    no mais a partir de uma organizao

    prvia, sequenciada e controlada pelo

    proessor, mas iriam sendo pesquisados

    e incorporados medida que ossem

    demandados pela realizao dos proje-

    tos. Isso exige do proessor um acom-

    panhamento cuidadoso dos projetos

    dos alunos, de orma a prover os co-

    nhecimentos necessrios relativos tan-

    to aos contedos disciplinares (saber),

    aos saberes e competncias relativos

    vida social e subjetividade (saber ser)

    quanto ao domnio de mtodos e tcni-

    cas diversos, relativos () s competn-cias de aprendizagem autnoma ().

    Esse acompanhamento undamental

    porque um dos alertas que alguns que j

    implementaram a Pedagogia de Projetos

    azem para o risco de aligeiramento doensino, com reduo ou superfcialidade

    das inormaes acessadas pelos alunos

    ou com oco principal no desenvolvimen-

    to de competncias (saber azer) sem a

    necessria undamentao cientfca

    (). (Burnier, 2001).

    Jolibert (1994, apud Xavier, 2000, p. 22) iden-

    tica trs tipos de projetos:

    projetos reerentes vida cotidiana or-

    ganizao da sala de aula, diviso do tem-

    po, organizao do espao, elaborao

    das normas de convivncia, seleo de

    atividades, diviso de responsabilidades...

    projetos de empreendimento organiza-

    o do ptio da escola, da biblioteca da

    sala de aula e/ou da escola, criao de

    animais, organizao de uma exposio

    de pintura...

    projetos de aprendizagem ocinas de li-

    teratura, de ortograa, de teatro, de desa-

    os matemticos....

    A autora sugere trs etapas para sua imple-

    mentao: a) problematizao: que corres-

    ponde escolha do tema ou do problema a

    ser investigado, que deve ser assumido por

    todos os participantes (proessor e alunos);b) desenvolvimento: o momento onde se

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

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    28

    criam as estratgias para buscar as respos-

    tas s questes e hipteses levantadas na

    problematizao (Xavier, 2000, p. 23); o

    planejamento do caminho a ser percorrido,denindo-se as ontes a serem investiga-

    das, os recursos necessrios, o cronograma

    do trabalho e, se or o caso, a atividade de

    culminncia do projeto (Burnier, 2001); e

    c) sntese: o momento de organizao dos

    dados, avaliao (por parte do proessor e

    dos alunos), divulgao dos resultados (para

    pais, colegas, escola etc.) sob dierentes or-

    mas: relato oral, mural, mostra, jornal, pai-

    nel, apresentao etc.

    Apresento, a seguir, trs projetos planejados

    e executados de acordo com os princpios

    acima mencionados. A apresentao, pela

    dimenso deste texto, resumida, procu-rando destacar as atividades realizadas bem

    como a articulao entre as mesmas.

    O primeiro projeto de ensino oi desenvolvido

    por Carolina Wiethlter com uma turma de

    cerca de 25 alunos, de 5 a 6 anos de idade,

    em uma escola de Educao Inantil. O proje-

    to oi construdo a partir da ideia de elaborar

    um Programa de rdio, caracterizando-se,

    portanto, como um projeto de empreendi-

    mento. Foi desenvolvido ao longo de quatro

    aulas. Essa ideia surgiu a partir de uma ati-

    vidade em que os alunos eram solicitados a

    explorar e produzir dierentes sons corporais

    para a sonorizao de uma rdio-novela, cujahistria oi criada pela proessora.

    A rdio-novela passou a ser uma das atraes

    do Programa de Rdio, que tambm incluiu

    um dilogo entre proessora e uma aluna,

    simulando uma ouvinte pedindo msicas,as quais oram escolhidas e executadas por

    todo o grupo; um show de calouros, em

    que duas alunas executaram canes tam-

    bm escolhidas por elas; e um Concurso Jo-

    vens Solistas, com gravaes de alunos ex-

    plorando individualmente o teclado levado

    pela proessora. Receosa de que, pela pouca

    experincia ormal com msica, os alunos

    no conseguissem compor em pouco tempo

    uma vinheta para a rdio, a proessora pe-

    diu que os alunos escolhessem uma cano

    conhecida que identicasse a Rdio, a ser

    cantada por todo o grupo. Tambm sugeriu

    outra cano a ser executada na abertura

    da rdio-novela. As crianas escolheram onome da novela e a proessora regente da

    turma sugeriu o nome da emissora de rdio

    que transmitiria a rdio-novela.

    A proessora elaborou uma espcie de texto-

    roteiro, como se ela osse a radialista, que

    oi lido durante toda a programao, nesta

    sequncia: vinheta da Rdio; conversa com

    o ouvinte; execuo das canes pedidas

    pelo ouvinte pelo grupo; show de calouros

    com duas cantoras; rdio-novela, denida

    pela proessora como o momento mais es-

    perado de nossos ouvintes, e introduzida

    por uma cano de abertura; a nalssima

    do Concurso Jovens Solistas, com cincoalunos-candidatos tocando teclado; e, para

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

    29/41

    29

    encerrar a programao, a vinheta da Rdio.

    Ao nal de quatro aulas, a programao oi

    ensaiada, gravada em udio e apreciada pe-

    los alunos. O tema possibilitou que as crian-

    as cantassem, explorassem e executassem

    sons corporais e apreciassem a prpria pro-

    duo. Alm disso, oram elas que escolhe-

    ram o repertrio a ser trabalhado nas aulas.

    O segundo projeto, intitulado Que som

    esse?, oi desenvolvido por Elaine Martha

    Daenecke com uma turma dos anos iniciais

    do Ensino Fundamental, numa classe com

    cerca de 25 alunos, a maioria com 7 anos

    de idade, e teve a durao de 13 aulas. Mais

    uma vez, o tema escolhido pela proessora

    surgiu da observao do grande interesse

    das crianas pelos instrumentos presentes

    nas msicas ouvidas.

    O projeto caracterizou-se como um proje-

    to de aprendizagem e teve como atividades

    centrais a apreciao musical e atividades

    de percepo e explorao de timbres, tanto

    de instrumentos musicais quanto de sons

    vocais, corporais e de objetos diversos. Es-

    sas atividades oram integradas a outras de

    execuo, principalmente de canes, para

    que as crianas exercitassem a voz (seu

    prprio instrumento), e de composio em

    grande grupo e pequenos grupos. Tambm

    oram planejados alguns jogos e brincadei-

    ras: trilha musical, um jogo de tabuleiro

    com chas com provas musicais, um dado epeas para caracterizar cada criana; as pro-

    vas solicitavam que as crianas imitassem

    sons de instrumentos, animais ou objetos;

    orca musical, utilizando nomes de instru-

    mentos; e bingo de timbres, em que as car-

    telas deveriam ser preenchidas a partir da

    identicao de gravaes de instrumentos.

    Dentre as atividades desenvolvidas pela pro-

    essora, estavam aquelas de explorao da

    voz, em que as crianas oram convidadas

    a identicar o timbre de voz de cada pes-

    soa e a buscar dierentes maneiras de usar a

    prpria voz, por exemplo, imitando sons de

    animais, de objetos e aes diversas ou mu-

    dando a altura e a intensidade da sua voz.

    As atividades de apreciao, visando a iden-

    ticar o timbre dos instrumentos, utilizaram

    repertrio com ormaes instrumentaisvariadas e de dierentes tradies, incluindo

    as chamadas msica olclrica, popular e de

    concerto (ou erudita). Audies compara-

    das de dierentes arranjos para uma mesma

    msica auxiliaram os alunos a ampliar seu

    repertrio de timbres, alm de discutir algu-

    mas estratgias de composio. Os alunos

    tambm puderam apreciar msica ao vivo,

    assistindo proessora tocar dierentes fau-

    tas doces e, tambm, o grupo instrumental

    da escola. Desenhar os instrumentos que as

    crianas viam e ouviam e criar partituras

    com graa no convencional para suas pro-

    dues oram outras estratgias adotadas

    pela proessora.

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

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    30

    Os alunos tambm puderam conhecer as

    dierentes amlias de instrumentos de or-

    questra, com o auxlio do livro A orquestra

    tintim por tintim (Hentschke et al., 2005) eassistiram ao vdeo de Pedro e o Lobo, pea

    composta por Sergei Prokoev. A partir da a-

    miliarizao dos alunos com uma orquestra

    sinnica, a proessora tambm realizou uma

    atividade de composio em grande grupo.

    Organizando os instrumentos de percusso

    por naipes, convidou os alunos a ormarem

    uma orquestra de percusso. Nas orienta-

    es para o desenvolvimento da composio,

    a proessora solicitou que cada naipe tivesse

    um destaque em alguma parte da msica, in-

    tercalando solos com tutti, isto , o grande

    grupo. A organizao das ideias musicais dos

    alunos (ou a sequncia de apresentao des-

    sas ideias) oi denida por um regente: pri-

    meiramente, a proessora, que apresentou os

    sinais a serem utilizados para entrada, corte,

    solo e tutti, e, depois, os prprios alunos.

    Para explorar a intensidade da voz durante a

    execuo de algumas canes, a proessora

    coneccionou cartes coloridos com indi-

    caes de dinmica, utilizando os smbolos

    convencionais (pp = pianssimo ou muito su-

    ave;p = piano ou suave; m= meio orte; e =

    orte). A empolgao dos alunos em cantar

    orte levou a proessora a trabalhar os cuida-

    dos com a voz e a maneira mais adequada de

    procurar emitir os sons.

    Os cartes de intensidade tambm oramutilizados como ponto de partida para uma

    atividade de composio em pequenos gru-

    pos, em que os alunos oram solicitados a

    compor uma msica, utilizando instrumen-

    tos de percusso, com duas partes distintas

    caracterizadas por dierentes intensidades,

    que deveriam ser escolhidas pelos grupos.

    Ao nal do projeto, a proessora entregou a

    cada aluno, e tambm direo da escola,

    um CD com gravaes de msicas apreciadas

    ou executadas durante as aulas, incluindo

    produes dos alunos. Tambm lhes oi en-

    tregue uma pasta com dierentes materiais

    das aulas, como letras de canes, partitu-

    ras, alm de desenhos, registros e partituras

    eitos pelos alunos. As capas do CD oram

    coneccionadas pelos prprios alunos.

    Por m, o projeto Msicas de propagandade televiso caracterizou-se como um pro-

    jeto reerente vida cotidiana. Foi desen-

    volvido por Juliana Rigon Pedrini, em uma

    escola privada de Ensino Fundamental, com

    uma turma de 5 srie (atual 6 ano), com 19

    alunos, ao longo de 11 aulas. O tema oi es-

    colhido pela proessora a partir do interesse

    dos alunos por uma msica de um comer-

    cial de televiso.

    O projeto oi iniciado com a execuo da

    cano em grande grupo, com acompa-

    nhamento ao violo eito pela proessora.

    Logo em seguida, a proessora pediu que

    os alunos, em pequenos grupos, tentassemtirar uma parte da msica de ouvido, utili-

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

    31/41

    31

    zando a fauta doce. Para auxiliar os alunos,

    a proessora indicou as notas das melodias

    de algumas slabas das palavras da cano.

    A partitura da melodia oi posteriormentetrabalhada com os alunos, destacando gu-

    ras e padres rtmicos. A proessora tambm

    criou um arranjo para a cano. A cano oi

    executada pelos alunos em vrias aulas no

    decorrer da realizao do projeto, intercala-

    da a outras atividades. Em uma dessas aulas,

    alunos e proessora discutiram e experimen-

    taram como pode-

    riam mudar o carter

    expressivo da cano,

    modicando inten-

    sidade, andamento

    e instrumentos, por

    exemplo.

    Os alunos tambm

    oram solicitados a

    azer um levanta-

    mento de suas propa-

    gandas preeridas, veiculadas na TV, em que

    a msica estivesse presente. Foi a oportuni-

    dade para discutir as dierenas entrejingle

    e trilha sonora. Outra tarea solicitada aos

    alunos oi escolher msicas que lhes ossem

    pouco amiliares ou consideradas estranhas

    a eles. As gravaes dessas msicas oram

    apreciadas em aula, quando os alunos dis-

    cutiram caractersticas como instrumenta-

    o, andamento e carter expressivo. Eles

    tambm oram convidados a imaginar co-merciais relacionados s caractersticas das

    msicas ouvidas, oportunidade para gerar

    uma discusso sobre as unes da msica

    na vida das pessoas.

    A apreciao musical serviu de base para a

    atividade seguinte, em que a proessora le-

    vou msicas instrumentais pouco conheci-

    das pelos alunos para que, em grupos, eles

    criassem um comercial para um produto,

    que combinasse com a msica ouvida.

    Cada grupo apresentou seu comercial para

    os demais colegas,

    e o grande grupo

    discutiu a adequa-

    o de cada msica

    em relao aos co-

    merciais criados.

    O encerramento e/ou culminncia do

    projeto, em que os

    alunos puderam

    mobilizar aquilo

    que aprenderam nas atividades anteriores,

    consistiu em escolher um produto e criar

    um comercial com trilha sonora, atividade

    que oi realizada em pequenos grupos. As

    produes oram apresentadas e discutidas

    coletivamente. Por m, os alunos avaliaram

    o projeto individualmente.

    Acredito que esses projetos, realizados com

    grupos distintos e em contextos tambm dis-

    tintos, exemplicam possibilidades de azermsica com os alunos na escola e de propi-

    O tema do projeto auxilia

    a denir um o condutor

    para nossas aulas, pois

    permite estabelecer

    ligaes entre as vrias

    atividades a seremdesenvolvidas.

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

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    32

    ciar-lhes aprendizagens musicais signicati-

    vas, porque construdas a partir de suas pr-

    prias experincias, procurando acolher suas

    vivncias cotidianas e seus saberes prvios.

    O tema possibilita que as vrias atividades a

    serem realizadas em sala de aula tenham re-

    lao entre si. Assim, evitamos que as aulas

    de msica se transormem em uma sequn-

    cia de atividades desconectadas e sem um

    sentido de direo em termos de aprendiza-

    gens. Isso ocorre, geralmente, quando aze-

    mos o planejamento para cada aula individu-

    almente. Ao contrrio, quando partimos de

    um tema, garantimos a continuidade entre

    as vrias atividades. O tema do projeto auxi-

    lia a denir um o condutor para nossas au-

    las, pois permite estabelecer ligaes entre

    as vrias atividades a serem desenvolvidas.Uma mesma msica pode ser trabalhada de

    diversas ormas (apreciando e depois execu-

    tando-a, por exemplo) e uma atividade pode

    dar origem a novas atividades. O o condu-

    tor auxilia o aluno a perceber o porqu das

    diversas atividades que acontecem na sala

    de aula e para onde ele est caminhando.

    Alm disso, um mesmo contedo, conceito

    ou habilidade pode ser trabalhado por meio

    de dierentes atividades.

    Concluindo, o propsito deste texto no oi

    apresentar um modelo a ser seguido por ou-

    tros proessores, mas partilhar experincias

    reais de ensino, incluindo os princpios que

    as undamentam e que ajudam a organiz-

    las, para que, a partir delas, seja possvel re-

    fetir sobre outras ormas de ensinar msica

    nas escolas.

    rEFErNciAS

    BASABE, Laura; COLS, Estela. La enseanza.

    In: CAMILlONI, Alicia. (Comp.). E sabe d-

    dt. Buenos Aires: Paids, 2010. p. 125-

    161.

    BURNIER, Suzana. Pedagogia das competn-

    cias: contedos e mtodos. Bet Tn-

    d SENAc, Rio de Janeiro, v. 27, n.3, set./

    dez., 2001. Disponvel em: Acesso em:

    20 set. 2010

    DAMORE, Bruno. Epstea e ddta

    da ateta. So Paulo: Editora Escritu-

    ras, 2005.

    HENTSCHKE, Liane et al. A esta tn-

    t p tnt. So Paulo: Editora Moderna,

    2005. (Acompanha CD-udio.)

    XAVIER, Maria Luisa M. Introduzindo a ques-

    to do planejamento: globalizao, inter-

    disciplinaridade e integrao curricular. In:

    XAVIER, Maria Luisa M.; DALLA ZEN, Maria

    Isabel (org.). Panejaent e destae:

    anlises menos convencionais. Porto Alegre:

    Mediao: 2000. p. 5-26.

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

    33/41

    33

    BiBliogrAFiA comPlEmENTAr

    MSICA NA EDUCAO BSICA. Revista pu-

    blicada pela Associao Brasileira de Educa-o Musical (Abem) com o objetivo de discu-

    tir e divulgar dierentes propostas de ensino

    de msica para todos os nveis da educao

    bsica. As revistas podem ser adquiridas no

    site da Abem (www.abemeducacaomusical.

    org.br ).

    COLEO MSICAS. Com o propsito de con-tribuir para a ormao de proessores e para

    a melhoria do ensino de msica, os livros da

    Coleo apresentam ideias e propostas pr-

    ticas que podem ser desenvolvidas em di-

    versos espaos educativos, como escolas de

    educao bsica, escolas de msica e proje-

    tos sociais. As publicaes podem ser adqui-

    ridas no site da Editora Sulina (http://www.

    editorasulina.com.br).

    KRIEGER, Elisabeth. Desbnd a sa:

    das paa a saa de aa. Porto Alegre: Su-

    lina, 2005.

    PONSO, Caroline Cao. msa e d:

    aes ntedspnaes na eda nfan-

    t. Porto Alegre: Sulina, 2008.

    SOUZA, Jusamara; FIALHO, Vnia Malagutti;

    ARALDI, Juciane. Hp hp: da a paa a es-

    a. Porto Alegre: Sulina, 2005.

    - HENTSCHKE, Liane et al. E sntna a

    sa. So Paulo: Moderna, 2006. (Acompa-

    nha CD-udio.)

    O livro apresenta um repertrio bastante

    variado, convidando o leitor a explorar so-

    noridades e sentidos diversos, por meio de

    descries e anlises das msicas gravadas

    no CD que acompanha o livro. A publicao

    pode ser adquirida no site da Editora Moder-

    na (http://www.moderna.com.br).

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

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    34

    TExTo comPlEmENTAr

    FormaodoproFEssordEmsica:dEmandasnovasEEmErgEntEs

    Cristiane Galdino1

    rESumo

    Para ser proessor da educao bsica preciso possuir um diploma de curso superior de licen-

    ciatura. Neste texto sero discutidas questes reerentes aos profssionais que atuam com o

    ensino de msica na escola e os processos de ormao nos cursos de licenciatura em msica.

    Sero analisados aspectos curriculares e a ormao do proessor de msica, discutindo impas-

    ses e desafos a serem vencidos para que se amplie signifcativamente o nmero de proessores

    de msica atuantes na educao bsica brasileira.

    Ao ser aprovada, em 2008, a Lei n. 11.769,

    que trata sobre a obrigatoriedade do ensino

    da msica na edu-

    cao bsica, teve o

    Art. 2 vetado, o que

    causou, e ainda cau-

    sa, polmica entre

    os seus leitores. O

    texto original desig-

    nava que o ensinode msica deveria

    ser ministrado por

    proessores com

    ormao especca na rea, que oi vetado

    sob a justicativa de ser a msica uma pr-

    tica social, vivenciada por prossionais sem

    ormao acadmica em msica, que esta-

    riam impossibilita-

    dos de ministrar tal

    contedo e tambm

    porque no h exi-

    gncia semelhante

    para qualquer rea

    do currculo escolar.

    Tendo como pano

    de undo esse cen-

    rio, desejo refetir

    sobre a ormao do proessor de msica a

    partir de duas questes: Quem o pros-

    1 Doutora em Msica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente Proessora adjunto daUniversidade Federal de Pernambuco e coordenadora do Curso de Licenciatura em Msica.

    Quem o prossional que

    deve ensinar msica na

    escola e quem o habilita

    a estar em sala de aula?

    O que deve integrar a sua

    ormao?

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

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    35

    sional que deve ensinar msica na escola e

    quem o habilita a estar em sala de aula? O

    que deve integrar a sua ormao?

    ProFESSor DE mSicA: quE

    ProFiSSioNAl vAi EScolA?

    Para responder a essa pergunta, iremos nos

    ocar no ambiente que est a delimitado: a

    escola. A legislao educacional brasileira

    aponta o curso de licenciatura plena como

    exigncia para a ormao dos docentes que

    atuaro na educao bsica (BRASIL, 1996) e,

    como orma de valorizao desses prossio-

    nais, apresenta o ingresso exclusivamente

    por concurso pblico de provas e ttulos

    (BRASIL, 1996, p. 48). Seguindo essas indica-

    es, a resposta se torna bvia: ensina msicana escola o licenciado concursado.

    No entanto, essa a resposta correta para

    o contexto de atuao do prossional res-

    ponsvel por ministrar a disciplina Arte ou

    qualquer disciplina, na matriz curricular. Se

    pensarmos em outras situaes, as respos-tas podero ser variadas e incluir os pros-

    sionais que so mencionados no texto do

    veto acima mencionado. Dessa orma, em

    projetos desenvolvidos no ambiente escolar,

    como o caso da Escola Aberta, possvel

    encontrar msicos prossionais e amado-

    res, alm de outros prossionais, atuando,

    muitas vezes de orma voluntria, junto s

    comunidades.

    O grande problema, entretanto, na tentati-

    va de responder a essa questo, tem sido a

    presena /ausncia do licenciado em Msi-

    ca nas escolas da educao bsica. Em pes-quisa realizada por Maura Penna, em Joo

    Pessoa PB, oram encontrados, dentre os

    186 proessores entrevistados responsveis

    pelas aulas de Arte nas 5 e 8 sries do en-

    sino undamental, apenas 9 com habilitao

    em msica: 4,8% do total (PENNA, 2002, p.

    10). Essa situao se repete em outras regi-

    es do pas, mesmo em municpios onde o

    ensino de msica ocorre de orma sistem-

    tica, como o caso do Rio de Janeiro RJ.

    Conorme depoimento da direo da Direto-

    ria de Educao Fundamental, da Secretaria

    Municipal de Educao, a msica no est

    em todas as turmas e sries, na grade cur-

    ricular, porque no temos proessores emnmero suciente (SANTOS, 2005, p. 50,

    grio da autora). Na Regio Sul, encontra-

    mos um quadro semelhante. Ao escrever so-

    bre o ensino de msica nas escolas estadu-

    ais de educao bsica de Porto Alegre RS,

    Del-Ben arma que

    (...) 86,2% do total de proessores que

    atuam com msica nas escolas possuem

    ormao em nvel superior, mas so-

    mente 60,34% deles possuem ormao

    especfca para atuar na rea de artes

    (todos licenciados em educao artsti-

    ca) e apenas 13,79% dos docentes inor-

    maram serem licenciados em educao

    artstica com habilitao em msica

    (DEL-BEN, 2006, p. 115).

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

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    36

    Quais as razes, ento, para que os pros-

    sionais habilitados no sejam encontrados

    nas escolas? Dentre as possveis indicaes

    est a exigncia de ormao polivalentenos editais de concurso para a disciplina

    Arte, ainda em vigor, como ocorreu em Bra-

    slia. Grossi (2007, p. 41), ao relatar o ato,

    comenta que os contedos apresentados

    sob a denominao genrica de Arte e

    produes artsticas, no especica[vam]

    qual arte (msica, artes visuais ou cnicas)

    e consequentemente a que conhecimento

    especco az-se reerncia e exigncia para

    a prova.

    A polivalncia,

    herana da Lei n.

    5.692/71, na pr-

    tica, nunca oieetivada e a qua-

    se totalidade dos

    proessores de

    educao artstica

    nas escolas pbli-

    cas vem desenvolvendo trabalhos somente

    na rea de artes visuais (GROSSI, 2007, p.

    41). Talvez, por isso, a disciplina Arte pas-

    sou, pouco a pouco, a ser sinnimo de ar-

    tes plsticas ou visuais. E isso persiste at os

    dias de hoje (PENNA, 2004, p. 22).

    A ormao especca em cada linguagem

    artstica assegurada pelas Diretrizes Cur-

    riculares de cada um dos cursos ligados rea artstica. Os cursos anteriormente cha-

    mados de Educao Artstica, caractersticos

    do perodo de vigncia da Lei n. 5.692/71, so

    substitudos pelas licenciaturas em Artes Vi-

    suais, Dana, Msica e Teatro. a partir des-se contexto que proponho pensarmos sobre

    o que deve integrar a ormao do proessor

    de msica.

    FormAo Do ProFESSor DE

    mSicA: o quE NEcESSrio?

    A ormao inicial do proessor de msica,

    como dito anteriormente, ocorrer em um

    curso de licenciatura

    plena. Por ser um dos

    cursos de graduao

    em msica, a licen-

    ciatura necessita con-

    siderar as DiretrizesCurriculares Nacio-

    nais do Curso de Gra-

    duao em Msica

    (BRASIL, 2004) na or-

    mulao de seu proje-

    to pedaggico. Nas Diretrizes, a ormao

    prevista a partir de trs tpicos de estudo:

    os contedos bsicos, os contedos espe-

    ccos e os contedos terico-prticos. Os

    contedos bsicos so relacionados com

    a Cultura e as Artes, envolvendo tambm

    as Cincias Humanas e Sociais, com nase

    em Antropologia e Psicopedagogia (BRASIL,

    2004, p. 2), enquanto os contedos espec-

    cos so caracterizados como aqueles queparticularizam e do consistncia rea de

    A ormao especca em

    cada linguagem artstica

    assegurada pelas Diretrizes

    Curriculares de cada umdos cursos ligados rea

    artstica.

  • 7/31/2019 Tese sobre Educao Musical

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    37

    Msica, abrangendo os relacionados com o

    Conhecimento Instrumental, Composicio-

    nal, Esttico e de Regncia (BRASIL, 2004, p.

    2). Por sua vez, os contedos terico-prti-

    cos so aqueles que permitem a integrao

    teoria/prtica relacionada com o exerccio

    da arte musical e do desempenho prossio-

    nal, incluindo tambm Estgio Curricular

    Supervisionado, Prtica de Ensino, Iniciao

    Cientca e utilizao de novas Tecnologias

    (BRASIL, 2004, p. 2).

    Essas Diretrizes apontam, tambm, em seu

    Artigo 12, para a necessidade de os cursos de

    licenciatura plena observar[em] as normas

    especcas relacionadas com essa modali-

    dade de oerta (BRASIL, 2004, p. 3), dispo-

    nveis nas Diretrizes Curriculares Nacionais

    para a Formao de Proessores da Educa-o Bsica. Destaco, nesse documento, al-

    guns aspectos que se tornam essenciais nos

    cursos de ormao desse prossional:

    I o ensino visando aprendizagem do alu-

    no;

    II o acolhimento e o trato da diversidade;

    III o exerccio de atividades de enriqueci-

    mento cultural;

    IV o aprimoramento em prticas investi-

    gativas;

    V a elaborao e a execuo de projetos de

    desenvolvimento dos contedos curri-culares;

    VI o uso de tecnologias da inormao e

    da comunicao e de metodologias,

    estratgias e materiais