textos motivadores...solidariedade advém, etimologicamente, de “sólido e consistente”...

4
TEXTOS MOTIVADORES https://www.archdaily.com.br/br/786817/jane-jacobs-e-a-humanizacao-da-cidade o TEXTO I Cooperar, etimologicamente, significa operar/trabalhar juntamente, com outro, co-laborar, contribuir com o trabalho, o labor, de outro. Solidariedade advém, etimologicamente, de “sólido e consistente” (solidus, em latim). Do adjetivo derivam o substantivo solum (fundamento e apoio) e também os verbos solidare (consolidar, segurar, fazer sólido) e solidescere (fazer-se sólido, consolidar-se). Exercer a solidariedade implica fazer-se parte de algo maior, com vistas a solidificar, consolidar, tornar algo sólido. A partir dessas definições, podemos dizer que a solidariedade implica cooperação, mas a cooperação não necessariamente implica solidariedade. Quem é solidário coopera com o outro para consolidar algo maior do qual se sente parte. Trabalhar junto é cooperar. Cooperar para consolidar algo maior (uma meta, uma parceria, uma cultura...) é solidariedade. A solidariedade supõe compreender-se parte de um sistema. Cooperar sem a noção do todo do qual se participa é apenas trabalhar junto, colaborar. Entendemos, assim, a solidariedade a partir do seu significado etimológico, como algo que aprofunda a colaboração entre pessoas, visto que a solidariedade necessariamente abrange a cooperaçao, mas a cooperação não abrange necessariamente a solidariedade. O trabalho de cooperação, sinônimo de colaboração, presente, por exemplo, nas atividades do voluntariado social ou da avaliação por pares realizada na academia ou, ainda, em empresas, organizações sociais e famílias pode ser classificado de acordo com o sentido atribuído por seu agente. Podemos, assim, distinguir a cooperação pragmática da cooperação solidária. A primeira designa a atuação colaborativa que não é solidária. Seu agente busca trabalhar junto tendo em vista o benefício pragmático de sua atuação. A segunda, a cooperação solidária, implica a consciência do agente de que sua atuação contribui para a consolidação de algo que deseja solidificar, tornar sólido. Em ambos os sentidos, o trabalho é colaborativo, ou seja, implica a noção de contribuir com o outro. Quando feito de forma pragmática, o sujeito calcula racionalmente que o bem-estar do outro contribui para o seu próprio bem-estar, de forma concreta, prática. A cooperação pragmática tem como finalidade um benefício de curto prazo, uma utilidade, uma vantagem a ser conquistada. Para o trabalho colaborativo ganhar o adjetivo de solidário, ele tem algo além da mera cooperação pragmática. Este algo não é apenas a compreensão de cooperar com o outro, mas de saber que sua atuação consolida o todo do qual faz parte. A cooperação solidária abrange a percepção abstrata de que há um jeito de ser e de fazer que se deseja consolidar. Trabalha-se para a construção de um coletivo quando se é solidário, ao passo que a cooperação pragmática está restrita ao benefício para o agente da sua própria atuação. A cooperação solidária exige do agente uma filosofia de vida comunitária e uma firme disposição de contribuir para a construção do bem comum. TEXTO III Em 26 de março, Marina González Sánchez, de 89 anos, morreu em seu quarto, no primeiro andar de um edifício em Guayaquil, segunda cidade mais importante do Equador. Sua família a colocou em uma caixão, mas não encontraram quem pudesse levar seu corpo. “Tivemos que levar o cadáver para a garagem. Mesmo assim, até aqui sentimos o cheiro. Como se pode viver assim?”, pergunta sua neta. O pesadelo da família Gonzáles ganha contornos ainda mais tétricos para outras famílias que sequer conseguiram encontrar um caixão para guardar seus mortos. A Federação Nacional de Funerárias diz que os trabalhadores não têm mais matéria prima para confeccionar os ataúdes. E 80% das funerárias em Guayaquil estão fechadas. Luiggi Ponce, de 22 anos, também acredita que seu tio, morto esta semana, estava infectado pelo coronavírus: teve febre, pneumonia e não conseguia respirar. Seu corpo continua em casa, foi enrolado em um plástico. Até quarta-feira, pelo menos 500 famílias de Guayaquil, a maior cidade do Equador, guardavam os cadáveres de parentes em casa. A maioria já em decomposição sob um calor de até 38 graus na cidade. Enquanto outros países exibem imagens de ruas e cartões postais desertos, as fotos que retratam a epidemia no Equador parecem contar uma história de guerra: corpos estão há dias ao lado de estradas e em calçadas sem quem os recolha. Quayaquil tem 1.520 casos confirmados de covid-19 entre os 2.243 que o Equador tinha registrado até 2 de abril. Oficialmente, 120 pessoas morreram vitimadas pela pandemia, mas é provável que muitos mortos estejam fora da contagem por falta de testes. TEXTO II https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2020/03/18/solidariedade-ganha-espaco-durante-pandemia-de-coronavirus-conheca-pessoas-que-fazem-a-diferenca-no-df.ghtml https://epoca.globo.com/colunistas/coluna-equador-vivendo-com-os-mortos-24349278 EIXO TEMÁTICO - CIDADANIA + SAÚDE PUBLICA REDAÇÃO 3ª SÉRIE, SEMI E EXTENSIVOS Lista Nº Prof. Ademar e Prof. Beto Data: __/__/2020 ____

Upload: others

Post on 26-Apr-2020

15 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: TEXTOS MOTIVADORES...Solidariedade advém, etimologicamente, de “sólido e consistente” (solidus, em latim). Do adjetivo derivam o substantivo solum (fundamento e apoio) e também

TEXTOS MOTIVADORES

https://www.archdaily.com.br/br/786817/jane-jacobs-e-a-humanizacao-da-cidade

o

TEXTO I

Cooperar, etimologicamente, significa operar/trabalhar juntamente, com outro, co-laborar, contribuir com o trabalho, o labor, de outro. Solidariedade advém, etimologicamente, de “sólido e consistente” (solidus, em latim). Do adjetivo derivam o substantivo solum (fundamento e apoio) e também os verbos solidare (consolidar, segurar, fazer sólido) e solidescere (fazer-se sólido, consolidar-se). Exercer a solidariedade implica fazer-se parte de algo maior, com vistas a solidificar, consolidar, tornar algo sólido. A partir dessas definições, podemos dizer que a solidariedade implica cooperação, mas a cooperação não necessariamente implica solidariedade. Quem é solidário coopera com o outro para consolidar algo maior do qual se sente parte. Trabalhar junto é cooperar. Cooperar para consolidar algo maior (uma meta, uma parceria, uma cultura...) é solidariedade. A solidariedade supõe compreender-se parte de um sistema. Cooperar sem a noção do todo do qual se participa é apenas trabalhar junto, colaborar. Entendemos, assim, a solidariedade a partir do seu significado etimológico, como algo que aprofunda a colaboração entre pessoas, visto que a solidariedade necessariamente abrange a cooperaçao, mas a cooperação não abrange necessariamente a solidariedade.O trabalho de cooperação, sinônimo de colaboração, presente, por exemplo, nas atividades do voluntariado social ou da avaliação por pares realizada na academia ou, ainda, em empresas, organizações sociais e famílias pode ser classificado de acordo com o sentido atribuído por seu agente. Podemos, assim, distinguir a cooperação pragmática da cooperação solidária. A primeira designa a atuação colaborativa que não é solidária. Seu agente busca trabalhar junto tendo em vista o benefício pragmático de sua atuação. A segunda, a cooperação solidária, implica a consciência do agente de que sua atuação contribui para a consolidação de algo que deseja solidificar, tornar sólido. Em ambos os sentidos, o trabalho é colaborativo, ou seja, implica a noção de contribuir com o outro. Quando feito de forma pragmática, o sujeito calcula racionalmente que o bem-estar do outro contribui para o seu próprio bem-estar, de forma concreta, prática. A cooperação pragmática tem como finalidade um benefício de curto prazo, uma utilidade, uma vantagem a ser conquistada.Para o trabalho colaborativo ganhar o adjetivo de solidário, ele tem algo além da mera cooperação pragmática. Este algo não é apenas a compreensão de cooperar com o outro, mas de saber que sua atuação consolida o todo do qual faz parte. A cooperação solidária abrange a percepção abstrata de que há um jeito de ser e de fazer que se deseja consolidar. Trabalha-se para a construção de um coletivo quando se é solidário, ao passo que a cooperação pragmática está restrita ao benefício para o agente da sua própria atuação. A cooperação solidária exige do agente uma filosofia de vida comunitária e uma firme disposição de contribuir para a construção do bem comum.

TEXTO III

Em 26 de março, Marina González Sánchez, de 89 anos, morreu em seu quarto, no primeiro andar de um edifício em Guayaquil, segunda cidade mais importante do Equador. Sua família a colocou em uma caixão, mas não encontraram quem pudesse levar seu corpo. “Tivemos que levar o cadáver para a garagem. Mesmo assim, até aqui sentimos o cheiro. Como se pode viver assim?”, pergunta sua neta.O pesadelo da família Gonzáles ganha contornos ainda mais tétricos para outras famílias que sequer conseguiram encontrar um caixão para guardar seus mortos. A Federação Nacional de Funerárias diz que os trabalhadores não têm mais matéria prima para confeccionar os ataúdes. E 80% das funerárias em Guayaquil estão fechadas.Luiggi Ponce, de 22 anos, também acredita que seu tio, morto esta semana, estava infectado pelo coronavírus: teve febre, pneumonia e não conseguia respirar. Seu corpo continua em casa, foi enrolado em um plástico.Até quarta-feira, pelo menos 500 famílias de Guayaquil, a maior cidade do Equador, guardavam os cadáveres de parentes em casa. A maioria já em decomposição sob um calor de até 38 graus na cidade.Enquanto outros países exibem imagens de ruas e cartões postais desertos, as fotos que retratam a epidemia no Equador parecem contar uma história de guerra: corpos estão há dias ao lado de estradas e em calçadas sem quem os recolha.Quayaquil tem 1.520 casos confirmados de covid-19 entre os 2.243 que o Equador tinha registrado até 2 de abril. Oficialmente, 120 pessoas morreram vitimadas pela pandemia, mas é provável que muitos mortos estejam fora da contagem por falta de testes.

TEXTO II

https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2020/03/18/solidariedade-ganha-espaco-durante-pandemia-de-coronavirus-conheca-pessoas-que-fazem-a-diferenca-no-df.ghtml

https://epoca.globo.com/colunistas/coluna-equador-vivendo-com-os-mortos-24349278

EIXO TEMÁTICO - CIDADANIA + SAÚDE PUBLICA

REDAÇÃO3ª SÉRIE, SEMI E EXTENSIVOS Lista Nº

Prof. Ademar e Prof. Beto Data: __/__/2020____

Page 2: TEXTOS MOTIVADORES...Solidariedade advém, etimologicamente, de “sólido e consistente” (solidus, em latim). Do adjetivo derivam o substantivo solum (fundamento e apoio) e também

https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/03/20/com-lupus-elas-temem-falta-de-cloroquina-dores-podem-voltar-mais-fortes.htm (Adaptado)

TEXTO IVApós Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, afirmar que a droga hidroxicloroquina, comumente usada no tratamento de lúpus e artrite reumatoide, pode ser efetiva para o combate à covid-19, foi dada a largada da busca desenfreada pelo medicamento nas farmácias brasileiras. O remédio tem mesmo se mostrado eficaz no combate à doença e já é alvo de mais de 20 pesquisas ao redor do mundo, mas são estudos muito limitados, com um número pequeno de pessoas, e o uso da droga não é recomendado pela Anvisa ou por médicos —pois a eficácia e a segurança não são garantidas. Além de não sabermos exatamente os efeitos que a substância teria no corpo de um paciente com o novo coronavírus, a compra sem indicação médica gera outro problema sério: a falta do medicamento para pacientes que realmente precisam dele. Abaixo, duas mulheres com lúpus compartilham o sentimento de angústia que sentem com a possibilidade de interromper o tratamento:

"O remédio é essencial para minha vida""Após consultas com vários médicos diferentes, uma série de exames e muitas crises de dores fortes, finalmente recebi o diagnóstico de lúpus em 2018. Comecei tomando a hidroxicloroquina com outros dois medicamentos e já interrompi o uso de um deles. Hoje, depois de dois anos de tratamento, posso dizer que o remédio é essencial para minha vida, eu me sinto muito bem. Mas não sei até quando. Se os comprimidos faltarem, não sei o que pode acontecer comigo. As dores podem voltar mais fortes e a doença ficar pior, bem agora que estou a caminho da remissão" Saí para comprar uma nova caixa, como faço sempre um mês antes de acabar. Fui em mais de 15 farmácias em São Paulo e não encontrei, só depois vi as notícias. Não é uma medicação barata, custa cerca de R$ 80. Quem pode pagar comprou várias caixas e quem realmente precisa não tem. Só tenho remédio para mais 45 dias e não sei como serão os próximos meses"— Ana Claudia Palhas da Silva, 29 anos, residente de são Paulo, bairro Canindé.

"Não sei o tamanho do estrago que a falta da droga me faria" "Achei que com uma saída rápida conseguiria repor meu estoque de cloroquina, mas fui em cinco redes grandes de farmácias e não encontrei. Liguei e consegui reservar em um estabelecimento pequeno, mas quando cheguei, já tinham vendido. Fiquei angustiada porque só tinha remédio para mais três dias. Só encontrei uma caixa em um bairro bem afastado. Minha irmã faleceu de lúpus e eu descobri a doença há cerca de um ano. Apesar de estar em estágio precoce, eu não sei o tamanho do estrago que a falta da droga faria —em quanto tempo voltariam os sintomas dolorosos de dores nas juntas, fadiga extrema —em quanto tempo voltariam os sintomas dolorosos de dores nas juntas, fadiga extrema... Estou até tentando o contato particular de farmacêuticos para não ficar sem tomar." — Jaqueline Maria General Marques da Silva, 30 anos, moradora de Maringá, no Paraná.

TEXTO VQuarentena em São Paulo reduz dieta de crianças na periferia a arroz Famílias pobres fazem

refeições repetidas, em que faltam proteínas e frutas

A fome se espalhou antes que o coronavírus pela periferia de São Paulo.Crianças acostumadas com até cinco refeições por dia na escola - hoje paralisadas devido à quarentena- têm dietas pobres que podem se resumir a arroz puro.Ao mesmo tempo que as aulas pararam, os pais dessas crianças, muito autônomos sem carteira assinada, perderam renda. Agora, passam o dia ouvindo pedidos dos filhos que não conseguem atender, de iogurte a uma simples maçã.

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/04/quarentena-em-sao-paulo-reduz-dieta-de-criancas-na-periferia-a-arroz.shtml (Adaptado)

PROPOSTAS DE REDAÇÃO

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo na modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre tema A IMPORTÂNCIA DA SOLIDARIEDADE EM TEMPOS DE PANDEMIAS, apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

A fome se espalhou antes que o coronavírus pela periferia de São Paulo.Crianças acostumadas com até cinco refeições por dia na escola -hoje paralisadas devido à quarentena- têm dietas pobres que podem se resumir a arroz puro.Ao mesmo tempo que as aulas pararam, os pais dessas crianças, muito autônomos sem carteira assinada, perderam renda. Agora, passam o dia ouvindo pedidos dos filhos que não conseguem atender, de iogurte a uma simples maçã.As medidas de isolamento, indicadas por especialistas para diminuir a curva de transmissão do coronavírus, foram mais ágeis que as ações de ajuda aos pobres. A reportagem percorreu e conversou com moradores de todas as regiões da capital, e encontrou vários casos de pessoas que tiveram diminuição brusca na alimentação, afetando principalmente a dieta das crianças.

TEXTO VIResgate de humanidade pode vir de uma situação de crise como o coronavírus?

https://tab.uol.com.br/

Não se fala de outra coisa. Quarentena, isolamento social, álcool em gel, crise, crise e crise. Desde o dia 11 de março, quando a OMS declarou a pandemia do novo coronavírus, grande parte da população mundial passa pela situação extrema de ter de controlar as consequências imprevisíveis de uma nova doença. Enquanto não existe uma vacina, a sociedade conectada segue trocando informações em tempo real — e se une para compartilhar experiências e dicas de sobrevivência. O novo coronavírus poderia, afinal, restaurar a humanidade e a empatia em tempos de individualismo?

DISSERTAÇÃO E ARTIGO DE OPINIÃO — OUTROS VESTIBULARES

DISSERTAÇÃO - ENEM

Considerando as ideias apresentadas nos textos e também outras informações que julgar pertinentes, redija uma dissertação em prosa, na qual você exponha seu ponto de vista sobre o tema: EGOÍSMO: O VÍRUS SOCIAL QUE ALIMENTA AS PANDEMIAS .

Instruções: • Seu texto deve ser redigida de acordo com a norma padrão da língua portuguesa.• Escreva, no mínimo, 25 linhas, com letra legível e não ultrapasse o espaço de 35 linhas da folha de redação.• Dê um título a sua redação.

Page 3: TEXTOS MOTIVADORES...Solidariedade advém, etimologicamente, de “sólido e consistente” (solidus, em latim). Do adjetivo derivam o substantivo solum (fundamento e apoio) e também

FILME

REPERTÓRIO SOCIOCULTURAL

HISTÓRIA

REPERTÓRIO ESTÉTICO

A gripe suína de 2009 não é nem de longe tão virulenta, nem as reações que ela acarreta. Mas, como em outras pandemias da história da humanidade, alguém tem de levar a culpa.Primeiro, foram os mexicanos. Políticos dos EUA chegaram a propor o fechamento da fronteira com o México. Em maio, um jogador mexicano de futebol cuspiu em um adversário chileno que o teria chamado de “leproso”, e a imprensa chilena o acusou de guerra biológica. Mas, em junho, argentinos apedrejaram ônibus chilenos, dizendo que eles levavam a doença. Quando o número de casos na Argentina disparou, governos europeus aconselharam seus cidadãos a não visitar esse país.“Quando a doença ataca e os seres humanos sofrem, (…) infelizmente a identificação de um bode expiatório é às vezes inevitável”, disse Liise-Anne Pirofski, chefe do departamento de doenças infecciosas da Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova York.Uma recente exposição chamada “O Tesouro de Erfurt”, no Museu da Universidade Yeshiva, em Manhattan, apresentou uma lembrança oportuna e deprimente desse hábito demasiadamente humano. Uma arca com mais de 600 joias de ouro, inclusive uma magnífica aliança de casamento do século 14, foi achada em escavações no local onde existira um vibrante bairro judeu em Erfurt, na Alemanha. Ela continha também 3.141 moedas de prata, a maioria com retratos reais; o último rei retratado havia morrido em 1350.Isso, segundo Gabriel Goldstein, diretor-associado de exposições do museu, sugere fortemente que o material foi enterrado em 1349, o ano em que a peste chegou a Erfurt.“Por que colocar tamanha carteira de investimentos no chão e deixá-la ali por 700 anos?”, perguntou ele. “Havia uma grande revolta contra os judeus de Erfurt — os registros dizem que cem ou mil foram mortos. Aparentemente, quem escondeu isso morreu e nunca mais voltou.”Martin Blaser, historiador ligado à escola de medicina da Universidade de Nova York, oferece uma intrigante hipótese de por que os judeus se tornaram bodes expiatórios na Peste Negra: eles foram em grande parte poupados, em comparação a outros grupos, porque os grãos eram retirados das suas casas durante o Pessach (Páscoa judaica), desestimulando a entrada dos ratos, que difundiam a doença. O auge da peste foi na primavera, na época do Pessach.O fato é que as doenças são tão complexas que atribuir culpas é inútil, e simplesmente afastar a culpa pode ser mais eficiente.Durante a Peste Negra, o papa Clemente 6° baixou um édito dizendo que os judeus não eram culpados. Tampouco a culpa era dos pecados da humanidade —isso teria confortado os Flagelantes, uma seita que era o verdadeiro alvo da bula papal; eles costumavam comandar ataques de multidões aos judeus e à hierarquia corrupta da Igreja. Levaria 500 anos até que a “teoria dos germes” explicasse a doença.O papa atribuiu a culpa a um alvo que dificilmente revidaria as acusações: a um mau alinhamento entre Marte, Júpiter e Saturno.

SOLIDARIEDADE MECÂNICA E SOLIDARIEDADE ORGÂNICA Émile Durkheim ( sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filósofo francês)

Segundo Durkheim, a solidariedade mecânica corresponderia a sociedades ditas segmentárias, nas quais os indivíduos seriam semelhantes no que concerne à partilha dos elementos constitutivos da consciência comum. Em tais sociedades não haveria nem especialização de funções nem de indivíduos os quais se encontrariam amalgamados nos grupos por eles compostos. Sem entrar na discussão relativa ao “evolucionismo” na obra de Durkheim, cabe notar que tais sociedades seriam cronologicamente as primeiras. Por outro lado, a solidariedade orgânica corresponderia a sociedades caracterizadas pela diferenciação funcional, nas quais haveria uma divisão de funções e de indivíduos e a formação de subgrupos especializados que reforçariam a individualização, fazendo com que os indivíduos sejam considerados como fonte autônoma de pensamento e ação. Trata-se, portanto, de dois sistemas distintos de relações sociais.

A potência da mensagem de O Poço reside nos dilemas, em como eles apontam, simbolicamente, a uma constituição coletiva capitalista. Tudo se passa numa prisão vertical. Cada nível comporta duas pessoas. Não se sabe ao certo quantos andares existem nesse prédio bizarro, apenas que os residentes dos superiores são privilegiados por desfrutarem da possibilidade de saciar diária e plenamente suas necessidades imediatas. Consequentemente, quanto mais para baixo, menos oportunidades de sobrevivência e, em semelhante medida, de manter-se civilizado. O protagonista é Goreng (Ivan Massagué), sujeito que escolheu levar ao cárcere um exemplar de Dom Quixote, quando muitos preferem carregar objetos mais práticos, como uma faca que se auto-amola, por exemplo. Trimagasi (Zorion Eguileor) lhe explica de modo quase pedagógico o funcionamento do lugar, didaticamente facilitando a ambientação concomitante do espectador ao valer-se das explanações.Esse expediente não serve somente para evitar enganos, porque é entremeado por um discurso pujante. As questões principais passam inexoravelmente pela comida ofertada por meio de uma plataforma móvel que permanece dois minutos em cada nível. Obviamente, os de cima pegam as travessas e taças ainda cheias, enquanto resta uma crescente penúria na medida em que há a descida do banquete. O comportamento inicial de Goreng é idealista, de alguém que acredita na possibilidade de criar mecanismos para diminuir as desigualdades. Segundo ele, basta conscientizar os sortudos no sentido de que eles naturalizem um consumo sustentável, pegando das bandejas o estritamente necessário. É justamente Trimagasi que lhe abre os olhos quanto à dificuldade para fazer o humano ser razoável, especialmente porque há um revezamento mensal, ou seja, num dia você pode estar no sexto andar, fartando-se, e no outro bem para embaixo, passando fome.O Poço, então, é uma metáfora incisiva desse mundo regido por uma economia neoliberal, em que o mercado aparentemente deixa à disposição as benesses de suas engrenagens, criando mecanismos para que a população, sobretudo a mais vulnerável, não tenha, sequer, tempo de teorizar acerca das ferramentas necessárias para equilibrar a balança. Em determinados momentos, é como se o cineasta Galder Gaztelu-Urrutia proferisse que o humano é essencialmente ruim ou fadado a atos atrozes, vide a transformação de atitude de Goreng. O protagonista gradativamente vai aderindo aos protocolos, encaixando-se em padrões até então por ele abominados, ao ponto de se alimentar de carne humana para não sucumbir de inanição. Todavia, habilmente, são atribuídas

REPERTÓRIOS CONCEITUAL

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/ny1409200913.htm

Segundo Durkheim, a solidariedade mecânica corresponderia a sociedades ditas segmentárias, nas quais os indivíduos seriam semelhantes no que concerne à partilha dos elementos constitutivos da consciência comum. Em tais sociedades não haveria nem especialização de funções nem de indivíduos os quais se encontrariam amalgamados nos grupos por eles compostos. Sem entrar na discussão relativa ao “evolucionismo” na obra de Durkheim, cabe notar que tais sociedades seriam cronologicamente as primeiras. Por outro lado, a solidariedade orgânica corresponderia a sociedades caracterizadas pela diferenciação funcional, nas quais haveria uma divisão de funções e de indivíduos e a formação de subgrupos especializados que reforçariam a individualização, fazendo com que os indivíduos sejam considerados como fonte autônoma de pensamento e ação. Trata-se, portanto, de dois sistemas distintos de relações sociais.Ao contrastar essas duas formas de solidariedade, Durkheim enfatiza, sobretudo, os seguintes aspectos: a) enquanto na solidariedade mecânica a relação entre indivíduo e sociedade ocorre sem que haja nenhuma intermediação, na solidariedade orgânica tal relação é intermediada ela pertença a grupos especializados; b) enquanto na solidariedade mecânica a sociedade é vista como um conjunto mais ou menos organizado de crenças e sentimentos comuns a todos os membros do grupo, nas sociedades em que vige a solidariedade orgânica verifica-se a presença de um sistema de funções diferentes e especializadas unidas por relações definidas; c) a intensidade da solidariedade mecânica é inversamente proporcional à da personalidade individual, ou seja, atinge seu apogeu quando a consciência coletiva recobre exatamente nossa consciência total e coincide em todos os pontos com ela. Contrariamente, a solidariedade orgânica,

personalidade e a esfera de ação própria dos indivíduos. Assim, é preciso que a consciência individual não fique integralmente produzida pela recoberta pela consciência coletiva.divisão do trabalho social, pressupõe a Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/140/edicao-1/emile-durkheim Adaptado.

responsabilidades nesse disgnóstico cortante do sistema como responsável por suscitar o pior das pessoas. Não à toa, diante de uma proposta humanitária, alguém diz: “você é comunista?”.Galder Gaztelu-Urrutia aproveita muito bem os espaços e as personalidades a serviço da potente alegoria. A troca de colegas faz Goreng entender melhor seu lugar nesse cárcere alimentado pela avareza e pelo sofrimento. A vocação por exposições não chega a incomodar, até porque a clareza da verbalização auxilia a sustentação de sutilezas em outras esferas, especialmente as comportamentais. A recorrência de figuras como a mulher em trânsito por conta da busca do filho igualmente enjaulado auxilia nesse processo de compreensão da conjuntura por perspectivas complexas. O Poço é um filme violento, que não poupa o espectador do espetáculo degradante motivado pelos dispositivos cruéis desse local delineado como um repugnante microcosmo social. Mesmo as fantasmagorias que perseguem o protagonista desempenham papel importante, por serem vozes da consciência, mesmo distorcidas, num lugar praticamente destituído de escrúpulos.

As epidemias e seus bodes expiatórios Por DONALD G. McNEIL Jr.

Quem foi o culpado pela Peste Negra? Na Europa medieval, a culpa era atribuída aos judeus com tamanha frequência e brutalidade que é até surpreendente que a doença não tenha sido chamada de Peste Judaica. No auge da pandemia no continente, entre 1348 e 1351, mais de 200 comunidades judaicas foram erradicadas, sendo seus habitantes acusados de difundir a doença ou envenenar poços.

Page 4: TEXTOS MOTIVADORES...Solidariedade advém, etimologicamente, de “sólido e consistente” (solidus, em latim). Do adjetivo derivam o substantivo solum (fundamento e apoio) e também

+ leitura

O vírus do individualismo

Chegou em nós a pandemia, me disseram. Por nós, presumo que seja os 10% mais ricos do país (R$ 5.000 por mês ou mais). Ouço rumores de guerras por papel higiênico nos Jardins.

Não tem Lollapalooza. Não tem Disney. Não tem Broadway. Não tem Veneza, não tem Barcelona. Não tem real que pague o dólar a R$ 5. Caos.

Façamos todos home-office. Restou a nós viver dentro dos nossos Macbooks vendo a vida lá fora por meio das reuniões virtuais tediosas. Torcendo, ao lado do cinismo guedesiano, para que as reformas estruturais nos salvem da pandemia. Sem precisarmos rever meta fiscal, ou solicitar créditos extraordinários, ou rever o novo regime fiscal que tende à redução do financiamento do SUS (em 2019 foram R$ 9 bilhões a menos) por conta da mudança do cálculo.

Restou a nós o isolamento. Menos para a empregada doméstica. Ela, se não tiver ido pra Disney, ela, que é praticamente de casa, segue trabalhando mesmo para o casal em quarentena. Ela, cujos filhos estão agora sozinhos em casa sem ter com quem deixar.

Aglomerações no transporte público? Jamais. Ainda há motoristas de Uber, entregadores de Rappi. Ainda há quem nos sirva. Ainda há uma festa de formatura e protestos anti-Congresso com centenas, milhares de pessoas. Ainda há a desigualdade e a insensatez —ambas abismais.

Esforços coletivos padecem sempre do mesmo dilema clássico: limitação informacional. Cada indivíduo possui informações incompletas da realidade. Permitir que a soma das vontades individuais dite como reagir a uma pandemia que, por definição, exige coordenação, expõe a doença do nosso individualismo.

O beabá econômico nos diz: a culpa da escassez é justamente sua, ávido comprador de papel higiênico. Combater pandemia requer o que mais nos falta: solidariedade. E é baseado nela que progressistas construíram sistemas públicos —de saúde, previdência e educação. O Fórum Econômico Mundial de Davos alertou que a pandemia em países sem sistema universal, como os EUA, pode gerar ainda mais pobreza. or aqui, a ausência de leitos no SUS requer de nós solidariedade e cautela: sistema de saúde colapsará se todos, em especial os assintomáticos, a ele recorrerem ao mesmo tempo.

Condições subumanas estruturais —como metade da população sem saneamento básico— atingem em especial os mais pobres, tornando-os mais vulneráveis à pandemia.

Cidades desiguais e sem mobilidade urbana adequada impõem a muitas pessoas longas viagens diárias e, portanto, maior exposição.

Desmantelar os sistemas de solidariedade construídos a tanto custo —como por meio da uberização sem garantias trabalhistas— significa que para muitos não trabalhar em tempos de pandemia significa também não receber.

Coronavírus é sério e requer cuidados imediatos. Quanto ao indivíduo, responsabilidade nas escolhas que fazemos: seja nas interações sociais com os mais velhos, seja nas compras no supermercado, seja na higiene pessoal, seja ao evitar aglomerações. Requer, ainda, um olhar atento para além dos nossos umbigos: quais são as condições estruturais que colocam outros em situação mais vulnerável?

Para responder a esta pergunta, sem a parcela competente e a técnica do funcionalismo que temos na área da saúde, estaríamos à mercê de terraplanistas não-vacinados. Não estamos.

Individualismo não é o remédio para a pandemia que o coronavírus nos impõe.

Retirado de: xerpa.com.br