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jurisprudencia sobre prescriçãoTRANSCRIPT
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
1.0024.09.639463-0/001Número do 6394630-Númeração
Des.(a) Eduardo AndradeRelator:
Des.(a) Eduardo AndradeRelator do Acordão:
18/02/2014Data do Julgamento:
26/02/2014Data da Publicação:
EMENTA: AÇÃO DE ALIMENTOS - PEDIDO FORMULADO EM FACE DOSAVÓS PATERNOS - OBRIGAÇÃO ALIMENTAR DOS AVÓS - NATUREZASUCESSIVA E COMPLEMENTAR - PRESSUPOSTOS PARA A FIXAÇÃODO ENCARGO - NÃO CONFIGURAÇÃO - PEDIDO JULGADOIMPROCEDENTE - RECURSO DESPROVIDO.
- O legislador determinou uma ordem sucessiva do chamamento àresponsabilidade de prestar alimentos, obrigando-se primeiramente osparentes mais próximos em grau e, somente na falta ou na impossibilidadedestes de prestá-los, a obrigação recai sobre os parentes mais remotos,obedecendo-se a ordem legal. Nessa perspectiva, "a responsabilidade dosavós, na prestação de alimentos, é sucessiva e complementar a dos pais,devendo ser demonstrado, à primeira, que estes não possuem meios desuprir, satisfatoriamente, a necessidade dos alimentandos" (AgRg no Ag1010387), sem o que o pedido de alimentos formulado em face dos avósdeve ser julgado improcedente.
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.09.639463-0/001 - COMARCA DE BELOHORIZONTE - APELANTE(S): A.B.A.F. REPRESENTADO(A)(S) P/ MÃEM.D.B. - APELADO(A)(S): M.A. E OUTRO(A)(S), M.B.A.
A C Ó R D Ã O
(SEGREDO DE JUSTIÇA)
Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal deJustiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentosem NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.
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Tribunal de Justiça de Minas Gerais
DES. EDUARDO ANDRADE
RELATOR.
DES. EDUARDO ANDRADE (RELATOR)
V O T O
Trata-se de ação de alimentos ajuizada por A.B.A.F., representado pelagenitora, M.D.B., em face dos avós paternos, M.A. e M.B.A., objetivandoreceber alimentos no valor equivalente a 3 (três) salários mínimos, a título decomplementação à pensão alimentícia devida por seu genitor, fixadaigualmente em 3 (três) salários mínimos.
Adoto o relatório da sentença de origem, acrescentando-lhe que o pedidofoi julgado improcedente, com a condenação do autor ao pagamento dascustas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em 10% do valorda causa, suspensa a exigibilidade na forma da lei n. 1060/50. (fls. 141-143)
Inconformado, o autor interpôs o presente recurso, pretendendo a reformada sentença, para se julgar procedente o pedido, com a consequenteinversão dos ônus sucumbenciais, às seguintes alegações, em síntese: que,não obstante o seu genitor esteja obrigado, atualmente, ao pagamento dealimentos provisórios no valor de 5 (cinco) salários mínimos, por força dedecisão proferida no bojo da ação de divórcio, confirmada por esta e. Turmaem julgamento de agravo de instrumento, o devedor encontra-seinadimplente, já tendo sido necessária, inclusive, a propositura de ação deexecução em seu desfavor, o que gera uma insustentável situação deincerteza; que, ademais, as suas despesas aumentaram substancialmentedesde a época do ajuizamento da ação, em julho de 2009, sendo que ogenitor, ao seu turno, manteve inalterado seu alto padrão de vida,evidenciado pelos sinais de riqueza; que restou devidamente comprovadanos autos a sua necessidade ao recebimento dos alimentos e a capacidadedos apelados de provê-los,
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não podendo a provisoriedade do encargo atribuído ao seu genitor servir deentrave à apreciação do pedido formulado na presente demanda; que éperfeitamente possível o chamamentos dos avós para complementar apensão, quando provada pelo alimentando a insuficiência do que recebe; quea sua mãe aufere ínfima renda mensal como artesã, não tendo condições desuprir as suas necessidades básicas. (fls. 146/156)
Devidamente intimados, os apelados responderam ao recurso, pugnandopelo seu desprovimento (fls. 160/168).
Remetidos os autos à d. Procuradoria-Geral de Justiça, o ilustrerepresentante do Ministério Público, Dr. Darcy de Souza Filho, opinou pelodesprovimento do recurso (f. 178/184).
Conheço do recurso, presentes os pressupostos de admissibilidade.
Infere-se dos autos que o menor A.B.A.F., representado por sua genitora,M.D.B., ajuizou a presente ação de alimentos em face dos avós paternos,M.A. e M.B.A., objetivando receber pensão no valor equivalente a 3 (três)salários mínimos, em complementação à pensão devida por seu genitor,fixada igualmente em 3 (três) salários mínimos.
Na origem, o i. Magistrado a quo julgou o pedido improcedente, aosseguintes fundamentos:
"... compulsando os autos, verifico que o genitor do menor está obrigadoao pagamento de alimentos provisórios no valor de 5 (cinco) saláriosmínimos, fixados nos autos da ação de divórcio n. 0024.11.184.949-3.
Ocorre que a obrigação alimentar estipulada provisoriamente não érevestida de definitividade, pelo que impossibilita a complementação dapensão alimentícia mediante a fixação de alimentos avoengos.
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Assim, entendo com razão o i. Representante do Ministério Público, oqual, em seu parecer de fls. 130/133, opina pela improcedência da ação antea impossibilidade de saber, nesta oportunidade, o valor da pensão a sercomplementada."
Em que pese o esforço argumentativo do procurador do apelante, aquestão colocada pelo douto Sentenciante me parece intransponível, demodo que as alegações contidas nas razões recursais, em torno do binômionecessidade-possibilidade, não são hábeis a modificar o desfecho dado àcontrovérsia, data venia.
E assim me parece porque, do compulsar dos autos, verifico que osubstrato fático que amparava a formulação do pedido de complementaçãode pensão em face dos avós, isto é, o fato jurídico que compunha a causa depedir remota do autor, não mais subsiste, vez que o encargo outrora devidopelo genitor do menor, no valor de 3 salários mínimos, foi substituído poroutra obrigação, agora no importe de 5 salários mínimos, por força dedecisão proferida em ação de divórcio.
É dizer: o fato que motivou o ajuizamento da presente ação, qual seja, ainsuficiência do valor da pensão devida pelo genitor, deixou de existir,esvaziando-se, com isso, a juridicidade e a relevância da pretensão inicial.Não há justificativa, data venia, a que o autor persista no pedido decomplementação da pensão pelos avós nos mesmos 3 salários mínimospedidos na inicial, depois que os alimentos devidos pelo genitor passaram dopatamar de 3 para 5 salários mínimos!
Não fosse por isso, tem-se, outrossim, que a pensão devida pelo genitordo apelante é, até o momento, de natureza provisória, encontrando-se emtrâmite a ação de divórcio que a originou. Logo, ainda pendente deacertamento a questão da obrigação alimentar do genitor - cujo dever éprimário, indesviável, inerente ao próprio poder familiar -, é nitidamenteprecipitada a pretensão ora deduzida em face dos avós paternos, pois não sepode concluir, com segurança, que o pai não dispõe de meios para suprir,satisfatoriamente, a necessidade
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do filho.
E, nos termos do artigo 1.696, do Código Civil de 2002, "o direito àprestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos osascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em faltade outros."
Ao que se vê, o legislador determinou uma ordem sucessiva dechamamento à responsabilidade de prestar alimentos, obrigando-seprimeiramente os parentes mais próximos em grau e, apenas na falta ou naimpossibilidade destes de prestá-los, a obrigação deve recair sobre osparentes mais remotos, obedecendo-se a ordem legal, obviamente.
Destarte, é premissa incontornável para a fixação de encargo alimentar emdesfavor dos avós que os pais sejam ausentes ou não tenham,comprovadamente, condição financeira de suprir todas as demandas dosfilhos. Fala-se, assim, que a responsabilidade dos avós de prestar alimentosaos netos é de natureza subsidiária e complementar à dos pais.
Sobre o tema, colhe-se o seguinte entendimento doutrinário:
"Assim, duas circunstâncias abrem oportunidade para a convocação doascendente mais remoto à prestação alimentícia: a falta de ascendente emgrau mais próximo ou a falta de condição econômica deste para fazê-lo; ograu mais próximo exclui aquele mais remoto, sendo o primeiro lugar naescala dos obrigados ocupado pelos genitores; apenas se faltam osgenitores, ou se estes se encontram impossibilitados financeiramente de fazê-lo, estende-se a obrigação de alimentos aos ulteriores ascendentes,respeitada a ordem de proximidade." (Dos Alimentos, YUSSEF SAIDCAHALI, 2ª ed., Revista dos Tribunais, São Paulo, 1994, p. 517).
Nessa perspectiva, é claro que, ainda não definida a questão dos alimentosdevidos pelo genitor em razão do poder familiar, não se pode avançar àaferição da responsabilidade dos avós, sob pena de se
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atropelar a ordem sucessiva de chamamento prevista na lei civil (acima).
Convém frisar, por relevante, que os argumentos do apelante referentes àdefasagem do valor da pensão, em virtude de já contar, atualmente, comnove anos de idade, bem como em relação à suposta inadimplência dogenitor no cumprimento da obrigação alimentar, trata-se de questões quedesafiam ações próprias, de nada modificando, portanto, o entendimentoaqui esposado.
Fato é que - e quanto a isso não há dúvida -, no momento, ainda é cedo parase cogitar de complementação de pensão por avós, pois não é possível obterelementos seguros acerca da presença dos pressupostos legais para aimposição de tal responsabilidade.
Irrepreensível, assim, a r. sentença.
Com essas considerações, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO.
DES. GERALDO AUGUSTO (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a).
DESA. VANESSA VERDOLIM HUDSON ANDRADE - De acordo com o(a)Relator(a).
SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO"
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