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  • APELAO CVEL N 132030-4/188 (200803966347) DE GOINIAAPELANTES COOPERATIVA DOS PRODUTORES RURAIS DE

    QUIRINPOLIS E REGIO COOPERLAQUI EOUTRA

    APELADA CELG DISTRIBUIO S/A CELG DRELATOR DESEMBARGADOR CARLOS ESCHERCMARA 4 CVEL

    RELATRIO

    Trata-se de recurso de apelao cvel, interposto pela COOPERATIVA DOS PRODUTORES RURAIS DE QUIRINPOLIS E REGIO COOPERLAQUI e OUTRA (fls.263/270), qualificadas e representadas, em face da sentena de fls. 256/261, proferida pela MM Juza Substituta em exerccio na 5 Vara Cvel desta Capital, Dr. Lidia de Assis e Souza Branco, pela qual, nos autos da ao de repetio de indbito em que pleitea a autora a devoluo, em dobro, do valor cobrado a maior pela parte requerida CELG DISTRIBUIO S/A GELG D, julgou o feito nos seguintes termos:

    ...Ante o exposto, julgo improcedente o pedido formulado pela parte autora, face ausncia de previso legal que autorize a devoluo de valores cobrados a maior em

    1

  • perodo anterior modificao de classe de consumo.Destarte, condeno a parte autora, sucumbente, ao pagamento das custas e despesas processuais, bem como, aos honorrios advocatcios, que fixo em R$ 1.000,00 (um mil reais), conforme regra do art. 20, 4, do Cdigo de Processo Civil.

    Em suas razes, expe a recorrente que merece reforma a sentena atacada, vez que ...JULGOU IMPROCEDENTE os pedidos formulados na inicial,

    entendendo que a devoluo em dobro no devida,

    essencialmente pelo fato de que a requerente era a

    responsvel por prestar as informaes supervenientes

    que importassem em reclassificao, conforme previso do

    art. 106, II, da Resoluo 456/2000 da ANEEL, tendo a

    mesma se omitido nessa sua obrigao....

    Argumenta que, em primeiro lugar, a resoluo acima referida prev em seu art. 18, caput e 1, que a concessionria deve classificar a unidade consumidora de acordo com a atividade nela exercida, aplicando a tarifa mais vantajosa a que o consumidor tiver direito.

    Em segundo lugar, o citado artigo no prev a responsabilidade do consumidor por informaes acerca da mudana das atividades na unidade consumidora, e sim, que o consumidor no

    2

  • ter direito devoluo de diferenas pagas a maior, porm, quando constatado pela concessionria a ocorrncia dos fatos constantes dos incisos I e II, quais sejam, declarao falsa de informao referente a natureza da atividade desenvolvida na unidade consumidora ou a finalidade real da utilizao da energia eltrica (inciso I) e omisso das alteraes supervenientes que importarem em reclassificao (inciso II).

    Assim sendo, entende que ...esse preceito serve para punir o consumidor que dolosamente

    firma declarao falsa acerca da atividade em sua

    unidade consumidora ou omite informaes

    supervenientes que importarem em reclassificao.

    evidente que se a declarao do apelante de que sua

    atividade rural e poderia ser enquadrado em uma

    tarifa 40% menor que a outra, ele no faria uma

    declarao falsa para poder pagar mais do que

    realmente teria direito e caso soubesse que, estando

    enquadrado na tarifa Industrial Rural, reduzindo em

    40% os seus custos com esse insumo, o consumidor no

    teria omitido essas informaes. Isso um absurdo,

    pois ningum quer pagar mais do que aquilo que

    efetivamente tenha que pagar. A concessionria se

    aproveita do fato de o consumidor ser leigo no assunto

    e hipossuficiente. E isso vem corroborado pelo artigo

    3

  • 5 da Resoluo 456/2000 da ANEEL, que prev que a

    concessionria tem a obrigao de comunicar, por

    escrito, quando da efetivao do pedido de

    fornecimento, as opes disponveis para faturamento

    ou mudana de grupo tarifrio, e isso, de forma dolosa

    ou culposa, ela no fez.

    Sustentam que ...est mais do que provado que o banco, ora apelado, USA ACINTOSAMENTE

    EXPEDIENTE NO SENTIDO DE FUGIR DA MULTA PREVISTA NO

    ART. 475.j, e, malandramente (VERDADEIRA LITIGNCIA DE

    M-F), afronta a Lei, apresentando impugnao

    extempornea, com o fito de induzir o Poder Judicirio

    a erro, cuja manobra est causando, em especial, aos

    Apelantes grande prejuzo, pois o primeiro est a

    vrios anos litigando com essa truste internacional, e

    na hora de receber o que lhe devido, de forma

    abruta, atravs de uma deciso totalmente contrria a

    lei, preterido do seu impostergvel direito.

    Aduz que a fundamentao legal que regula o caso em comento, prev no art. 76, II, da Resoluo da ANEEL, j referida, que caso a concessionria tenha faturado valores incorretos por motivo de sua responsabilidade, dever providenciar a devoluo ao consumidor das quantias recebidas indevidamente, bem como que os artigos

    4

  • 77, II e 78, 4, da mesma Resoluo, corroborados pelo art. 42, pargrafo nico, do Cdigo de Defesa do Consumidor, prevem a forma de realizao do clculo para a devoluo dos valores.

    Diz que de se notar que j pacificado nos tribunais que a matria referente a energia eltrica observa a prescrio vintenria, e que a recorrente nunca omitiu os seus dados, tendo, inclusive, informado a recorrida sobre as suas atividades desde a ligao da energia eltrica.

    Alega que ...desde a ligao da energia eltrica na unidade consumidora da apelante, a

    mesma forneceu seus dados, sendo que as faturas de

    energia eltrica acostadas a inicial eram emitidas em

    nome da apelante, mostrando que a apelada sempre soube

    das atividades ali exercidas, no tendo adequado a

    mesma na menor tarifa desde o incio das atividades

    por m-f de sua parte.

    Afirma, ainda, que ...a m-f por parte da requerida est comprovada nos autos,

    motivador da sano da dobra legal, conforme previso

    do art. 42, pargrafo nico do CDC. Ocorre que, mesmo

    que no houvesse sido comprovado a m-f por parte da

    mesma, vedado o enriquecimento ilcito, devendo ser

    5

  • devolvido o valor cobrado a maior, conforme previso

    legal dos arts. 876 e 884 do Novo CC..., colacionando julgados que corroboram sua tese.

    Ao final, requer seja dado provimento ao presente recurso, para reformar integralmente a sentena atacada, reconhecendo o direito da apelante, determinando que a concessionria-apelada devolva em dobro os valores cobrados a maior no perodo pleiteado.

    As contra-razes ao recurso foram apresentadas s fls. 274/278, tendo a recorrida afastado todas as alegativas da apelante, pugnando pela manuteno da sentena conforme proferida.

    , em sntese, o relatrio, que submeto ao ilustre Revisor.

    Goinia, 25 de novembro de 2008.

    Desembargador CARLOS ESCHER RELATOR

    9/A

    6

  • APELAO CVEL N 132030-4/188 (200803966347) DE GOINIAAPELANTES COOPERATIVA DOS PRODUTORES RURAIS DE

    QUIRINPOLIS E REGIO COOPERLAQUI EOUTRA

    APELADA CELG DISTRIBUIO S/A CELG DRELATOR DR. FAUSTO MOREIRA DINIZ (EM SUBSTITUIO)CMARA 4 CVEL

    VOTO

    Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheo o recurso.

    Conforme relatado, cuida-se de ao de repetio de indbito, objetivando a devoluo de quantias que teriam sido pagas a maior referentes a consumo de energia eltrica por consumidora reclassificada como indstria rural (resfriamento de leite), no perodo de 01/08/2000 30/07/2004.

    A irresignao da apelante, COOPERATIVA DOS PRODUTORES RURAIS DE QUIRINPOLIS E REGIO COOPERLAQUI e OUTRA, cingi-se ao argumento de que ausente a previso legal que autorize a devoluo de valores cobrados a maior em perodo anterior modificao da classe de consumo.

    7

  • Depreende-se dos autos que a citada Portaria 466, de 12 de novembro de 1997, a qual substituiu a Portaria 222/87, ambas do DENAEE, estabelecia que o fornecimento de energia eltrica devia classificar a unidade consumidora de acordo com a atividade nela exercida.

    No presente caso, a ora apelante tem como atividade o resfriamento de leite, considerada atividade industrial rural, consoante disposio inserta no art. 19, IV, a, da Resoluo n 222/87 do DNAEE e art. 17, IV, c, da Portaria 466/97, do referido rgo.

    Infere-se dos autos que a apelante se enquadra como consumidora da subclasse indstria rural, tendo, inclusive, seu pedido deferido a partir da fatura de julho/2004, a qual admitiu em sua correspondncia datada de 19/12/2003, analisada e concedida em 21/07/2004, conforme se depreende do documento de fl. 105.

    Ademais, sobreleva registrar que o referido documento de fl. 105, que nada mais do que uma informao da alterao da classe de consumo de 'Industrial' para 'Indstria Rural',

    8

  • efetuada pela concessionria, alterao esta, que foi corroborada pelos documentos de fls. 66 e 67.

    Referidos documentos comprovam que a concessionria/apelada vinha mantendo a autora/apelante em tarifa diversa daquela a que teria direito e s naquela data vinha a ser corrigida, em conformidade com os preceitos da legislao do setor eltrico.

    Nesse contexto, totalmente inconsistente o argumento da requerida/apelada no que tange a ausncia de requisito da autora/apelante em seu enquadramento, contradizendo todo o conjunto probatrio constante dos autos, inclusive sua prpria deciso de reclassificao da ora apelante, que se deu em 2004.

    Neste sentido:

    ... dever da parte promover sua defesa colacionando provas que corroboram com sua tese, principalmente quando o conjunto probatrio favorece a autora/apelada...

    Infere-se dos autos que a requerida/apelada no trouxe qualquer documento

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  • que pudesse anular aqueles apresentados pela autora/apelante, defendendo sua tese com meras alegaes.

    Neste contexto, tem a apelante direito a restituio em dobro do que foi pago a maior, conforme mandamento inserto no art. 78, 4, da Resoluo 456/2000, da ANEEL, j transcrito a fl. 06 dos autos.

    Nesse sentido j decidiu esta Corte de Justia ao analisar questo idntica a dos presentes autos, seno vejamos:

    APELAO CVEL. AO DE REPETIO DE INDBITO. JUNTADA DE DOCUMENTO. CERCEAMENTO DE DEFESA. CONSUMO ENERGIA ELTRICA. SUBCLASSE. INDSTRIA RURAL. COMPROVAO. PAGAMENTO A MAIOR. DEVOLUO EM DOBRO. I - NO H QUE SE FALAR EM CERCEAMENTO DE DEFESA FACE A JUNTADA DE DOCUMENTO NOVO, QUANDO O CONJUNTO PROBATRIO DOS AUTOS DEMONSTRA CLARAMENTE O DIREITO DA AUTORA/APELADA, SENDO INCUA A APRECIAO DE DOCUMENTO QUE EM NADA CONTRIBUIU AO DESLINDE DA QUESTO. II - COMPROVADA NOS AUTOS QUE A UNIDADE CONSUMIDORA DE ENERGIA ELTRICA (APELADA) SE ENQUADRA PERFEITAMENTE COMO CONSUMIDORA DA SUBCLASSE INDSTRIA RURAL, TENDO INCLUSIVE SEU PEDIDO DEFERIDO EM JANEIRO/2001 PELA APELANTE NAS CONTAS APRESENTADAS, TEM A AUTORA/APELADA DIREITO A DEVOLUO EM DOBRO DO VALOR PAGO A MAIOR, CONFORME DISPOSIO INSERTA NO ART. 78, PARGRAFO QUARTO DA RESOLUO 456/2000 DA ANEEL. APELAO

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  • CONHECIDA E IMPROVIDA." (TJGO, 1 Cmara Cvel, DJ 106 de 10/06/2008, Ap. Cvel n 111355-7/188, Apelante: COMPANHIA ENERGTICA DO ESTADO DE GOIS CELG; Apelada: COOPERATIVA MISTA DOS PRODUTORES RURAIS DO VALE DO PARANABA LTDA - AGROVALE, Rel. Des. Luiz Eduardo de Sousa).

    Destarte, merece reforma a sentena monocrtica, devendo a apelada devolver em dobro os valores cobrados maior durante o perodo em que houve erro no enquadramento das tarifas de energia eltrica.

    Ante ao exposto, conheo do apelo e dou-lhe provimento para, reformando a sentena atacada, julgar procedente o pedido inicial, determinando que a empresa apelada CELG DISTRIBUIO S/A CELG D, devolva, em dobro, os valores cobrados a maior no perodo pleiteado na inicial, por ser de direito, na forma supra reconhecida.

    o voto.

    Goinia, 12 de fevereiro de 2009.

    DR. FAUSTO MOREIRA DINIZ Relator em substituio

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  • APELAO CVEL N 132030-4/188 (200803966347) DE GOINIAAPELANTES COOPERATIVA DOS PRODUTORES RURAIS DE

    QUIRINPOLIS E REGIO COOPERLAQUI EOUTRA

    APELADA CELG DISTRIBUIO S/A CELG DRELATOR DR. FAUSTO MOREIRA DINIZ (EM SUBSTITUIO)CMARA 4 CVEL

    EMENTA: APELAO CVEL. AO DE REPETIO DE INDBITO. CONSUMO DE ENERGIA ELTRICA. ALTERAO DE CLASSIFICAO. RURAL E INDSTRIA RURAL. REDUO DE VALOR NAS TARIFAS. PAGAMENTO A MAIOR. DEVOLUO EM DOBRO.Uma vez provado que a unidade consumidora de energia eltrica se encaixa como consumidora da classe rural e subclasse indstria rural, tendo, inclusive, seu pedido deferido em julho de 2004 pela apelada, tem a autora/apelante direito a devoluo em dobro do valor pago a maior, nos termos do art. 78, 4, da Resoluo 456/2000 da ANEEL.RECURSO PROVIDO.

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  • ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que so partes as retro indicadas.

    ACORDAM os componentes da 3 Turma Julgadora da 4 Cmara Cvel do egrgio Tribunal de Justia do Estado de Gois, unanimidade de votos, em conhecer do apelo e prov-lo, nos termos do voto do Relator.

    Votaram com o Relator, o Desembargador Stenka I. Neto e o Dr. Srgio Mendona de Arajo (subst. do Des. Kisleu Dias Maciel Filho). Presidiu a sesso o Desembargador Carlos Escher.

    Presente a ilustre Procuradora de Justia Dra. Dilene Carneiro Freire.

    Goinia, 12 de fevereiro de 2009.

    DES. CARLOS ESCHER Presidente

    DR. FAUSTO MOREIRA DINIZ Relator em substituio

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