to neli priscila marques

177
i PRISCILA MARQUES TONELI A PALAVRA PROSÓDICA NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: O ESTATUTO PROSÓDICO DAS PALAVRAS FUNCIONAIS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Lingüística do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), como requisito para obtenção do título de Mestre em Lingüística. Orientador: Prof a . Dr a . Maria Bernadete Marques Abaurre Campinas 2009

Upload: mitosis-emite

Post on 28-Sep-2015

247 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

adquisición

TRANSCRIPT

  • i

    PRISCILA MARQUES TONELI

    A PALAVRA PROSDICA NO PORTUGUS BRASILEIRO:

    O ESTATUTO PROSDICO DAS PALAVRAS FUNCIONAIS

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Lingstica do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), como requisito para obteno do ttulo de Mestre em Lingstica. Orientador: Profa. Dra. Maria Bernadete Marques Abaurre

    Campinas

    2009

  • ii

    Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca do IEL - Unicamp

    T612p

    Toneli, Priscila Marques. A palavra prosdica em Portugus Brasileiro: o estatuto prosdico

    das palavras funcionais / Priscila Marques Toneli. -- Campinas, SP : [s.n.], 2009.

    Orientador : Maria Bernadete Marques Abaurre. Dissertao (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas,

    Instituto de Estudos da Linguagem.

    1. Fontica - Fonologia. 2. Anlise prosdica (Lingustica). 3. Gramtica comparada e geral Clticos. 4. Lngua portuguesa. I. Abaurre, Maria Bernadete Marques. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem. III. Ttulo.

    oe/iel

    Ttulo em ingls: The prosodic word in Brazilian Portuguese: the prosodic status of the functional words.

    Palavras-chaves em ingls (Keywords): Phonetic Phonology; Prosodic analysis (Linguistics); Comparative and general grammar Clitics; Portuguese language. rea de concentrao: Lingustica. Titulao: Mestre em Lingustica.

    Banca examinadora: Profa. Dra. Maria Bernadete Marques Abaurre (orientadora), Profa. Dra. Luciani Ester Tenani e Profa. Maria Filomena Spatti Sndalo. Suplentes: Prof. Dr. Luiz Carlos Schwindt e Profa. Dra. Charlotte Marie Chambelland Galves

    Data da defesa: 19/02/2009.

    Programa de Ps-Graduao: Programa de Ps-Graduao em Lingustica.

  • iii

  • v

    DEDICATRIA

    Dedico este trabalho a minha famlia, aos meus pais, Jair e Silvia, e aos meus irmos, Paula e Jair Henrique, que sempre confiaram em mim, e me

    incentivaram a correr atrs daquilo que eu sempre quis.

  • vii

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a Deus, por ter me ajudado a alcanar meus dois maiores sonhos, a faculdade e o mestrado, e por ter me presenteado com uma famlia e amigos, que me amassem e me apoiassem em todos os momentos. Essas pessoas maravilhosas tm me ajudado e me acompanhado ao longo do caminho da vida, comemorando comigo as minhas conquistas, e sem elas, provavelmente eu no estaria hoje concluindo o meu mestrado.

    Dentre essas pessoas, tenho algumas como exemplo: minha me, uma grande batalhadora, mostrou-me que nunca devemos desistir de nossos sonhos, mesmo que as dificuldades sejam grandes; meu pai, meu heri, mesmo sem ter nvel superior, sempre exigiu que estudssemos; e meus irmos, que me acompanharam e me incentivaram a continuar; por isso dedico todas as minhas conquistas a eles especialmente.

    Agradeo aos meus primos Luciana e Egdio, meus exemplos acadmicos de luta e conquista me provando que mesmo aqueles que saem da escola pblica so capazes de chegar universidade pblica. Sem contar o apoio moral de meus primos Rose, Luana, Luis, Vincius e Lucas que me levavam e me acomodavam em sua casa na poca do vestibular, Neuseli e Vilmar, que me ajudavam na digitao de trabalhos e idas na faculdade fora do horrio de aula.

    Agradeo aos meus amigos: Daniela, minha amiga de infncia e comadre; Marcinha, companheira de festas; Tatiane, minha advogada; Marcela-Paran, pronta para tudo; Charles, meu psiclogo; Machadinho e o seu div; meus avs, meus tios, tias, primos e primas, e todos aqueles que contriburam de algum modo e participaram da minha vida em Jos Bonifcio. Claro que no posso esquecer do Paulo, nosso bilogo, enfermeiro, mdico, um irmo pirado, que seguiu meu caminho e tambm veio para a universidade pblica, e do Zequinha, um garoto batalhador, meu massagista, fisioterapeuta, duas pessoas especiais que ainda hoje no me esquecem, e esto sempre me dando foras a continuar batalhando.

  • viii

    Agradeo, especialmente, ao Flvio, que tem me acompanhado desde a poca da faculdade, e que me levanta sempre quando caio e me sinto desanimada diante dos obstculos da vida, com seu carinho, ateno e amor.

    Agradeo novamente a Deus por me mostrar o caminho rumo a minha primeira conquista: entrar na faculdade. Nessa poca, fiz amigos para a vida toda, os quais tenho no meu corao para sempre, mas no posso deixar de agradecer a Lilian, minha amiga de todas as horas; Danbia, minha fiel colega de trabalhos da faculdade; Solange, nossa salva vidas; Serginho, meu amigo de cervejinha e parceiro; Marco, meu amigo fiel e companheiro; Ana Lcia, minha jovem me; Kelly, Fernando, Leandro, Patrcia, Priscila, Marcio, Grazielle, Marisa, Regiane, Anglica, Caio, Glauber, e Lvia.

    Alm dos amigos de graduao, agradeo aos professores do Ibilce/Unesp, por terem contribudo na minha formao acadmica, profissional e pessoal, especialmente ao professor Raul, o qual foi o primeiro a me encaminhar na carreira acadmica me auxiliando a decidir a rea que me atraa a pesquisa; Luciani Tenani, por ter despertado em mim o prazer em estudar fonologia, e quem me encaminhou durante a Iniciao Cientfica, alm de ter contribudo com a reta final desse trabalho ao participar de minha banca de defesa.

    J em Campinas, mais uma vez Deus me abriu as portas para a minha segunda conquista: o mestrado na Unicamp. Novamente a amizade foi um dos suportes que me apoiaram na nova etapa que iniciara, casa nova, cidade nova, e amigos novos, os quais se tornaram a minha segunda famlia, j que a minha estava to longe. Agradeo aos amigos que fiz aqui no IEL, Aquiles e Fbio, as duas pessoas que mais me ajudaram nos momentos difceis, como a saudade de casa, as dvidas das disciplinas, a falta de grana, as aulas de ingls, os almoos no Oggi, entre outras coisas; Aline, Rita, Adriana, Larissa, Renato, entre outros, que de algum modo participaram dessa nova fase.

    Alm dos amigos que fiz no IEL, sou imensamente grata minha famlia de Campinas: tia Laide, Carla, tio Ari, Aline, Jlia, Emerson; turma da casa das bonecas, Natlia, minha colega de quarto e confidente, Cntia, minha irm de Curitiba e nossos papilis Tia Vanda e Tio Valdemar; Vanessa, nossa mineirinha arretada; Karen, japinha mais linda; Giovana, pessoinha muito especial; Camilis, e para sempre com o Glauber; Julis Costa, Jav, Mateus, Thiago, Hber, Juliana Leite, Stella, Fabrizio, Juliana GO, amiga de

  • ix

    IEL e irmzinha na casa das bonecas, Trcio, Patrick, Gustavo, amigos com os quais convivo e sempre espero conviver.

    No posso esquecer de agradecer o carinho e ateno dos meus amigos de trabalho da escola Jornalista Roberto Marinho, professores, direo e funcionrios, especialmente Yacy, minha me diretora, Manoel, Genny, Meire, Mariana, Adriana, os quais me suportaram reclamar do cansao de acumular uma dupla funo, professora da rede pblica e pesquisadora.

    Agradeo especialmente Bernadete Abaurre, pela orientao desse trabalho e pelas discusses do mesmo; Flaviane Fernandes, minha amiga de discusses tericas e diversas orientaes na vida acadmica, profissional e pessoal; Filomena Sndalo e Charlotte Galves, agradeo a leitura e discusso de meu trabalho no exame de qualificao, e novamente agradeo a elas e a Lus Carlos Schwindt pela participao na banca de defesa. Agradeo tambm a Leda Bisol, Elisa Battisti, Luciene Brisolara pelas contribuies com textos, e a Marina Vigrio, pelas discusses e observaes desde o projeto at ao desenvolvimento dessa dissertao.

    Agradeo tambm as minhas informantes Juliana, Giovana, Carolina, Tbita e Vanessa, as quais contriburam na gravao do corpus de pesquisa, alm dos funcionrios dos IEL que me ajudaram to cuidadosamente, Carlos do setor de audiovisuais, Wilson, Carlos que antes era da secretaria de ps-graduao, Cludio, Rose, e todos os funcionrios do departamento e biblioteca que sempre me auxiliaram com muita dedicao e ateno.

    Sou grata FAPESP, por ter me concedido uma bolsa de pesquisa para o desenvolvimento do projeto, a qual, pelo fato de estar trabalhando no servio pblico, no pude usufruir.

    E enfim, agradeo a todos pelo carinho, ateno, otimismo, confiana, contribuio, amor, amizade, e a todos aqueles que passaram pela minha vida, e que de algum modo, contriburam diretamente e indiretamente com a realizao desse trabalho, principalmente a Deus, pois sem ele, nada disso seria possvel.

  • xi

    EPGRAFE

    O Lutador

    Lutar com palavras a luta mais v. Entanto lutamos mal rompe a manh. So muitas, eu pouco. Algumas, to fortes como o javali. No me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encant-las. Mas lcido e frio, apareo e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. [...]

    Insisto, solerte. Busco persuadi-las. Ser-lhes-ei escravo de rara humildade. Guardarei sigilo de nosso comrcio. Na voz, nenhum travo de zanga ou desgosto. Sem me ouvir deslizam, perpassam levssimas e viram-me o rosto. Lutar com palavras parece sem fruto. No tm carne e sangue Entretanto, luto.

    Palavra, palavra (digo exasperado), se me desafias, aceito o combate. [...]

    Luto corpo a corpo, luto todo o tempo, sem maior proveito que o da caa ao vento. [...]

    Iludo-me s vezes, pressinto que a entrega se consumar. J vejo palavras em coro submisso, esta me ofertando seu velho calor, outra sua glria feita de mistrio, outra seu desdm, outra seu cime, e um sapiente amor me ensina a fruir de cada palavra a essncia captada, o sutil queixume. [...]

    O ciclo do dia ora se consuma e o intil duelo jamais se resolve. [...]

    Poesia Contemplada Carlos Drummond de Andrade

  • xiii

    RESUMO

    Nas lnguas, h vrios elementos que so difceis de classificar, principalmente no que se refere ao seu estatuto prosdico, e as palavras funcionais so

    um desses elementos, pois enquanto as palavras lexicais so sempre Palavras Prosdicas, j formadas no componente lexical, recebendo acento lexical, as palavras funcionais exibem um padro varivel entre as lnguas, podendo se apresentar como clticas ou como Palavras Prosdicas (cf. Selkirk 1984, 1995; Inkelas & Zec 1993, Peperkamp 1997; Zec 2005, Bisol 2005, entre outros). No caso do Portugus Brasileiro, no parece ser diferente, pois as palavras funcionais monossilbicas no formam um p

    na maioria dos casos, no recebendo acento primrio. Entretanto h palavras funcionais dissilbicas e at trissilbicas que preenchem essa condio e, portanto recebem acento

    primrio.

    Segundo Selkirk (1995), as palavras funcionais do ingls podem ser prosodizadas como palavras prosdicas independentes em trs situaes: (i) pronunciadas isoladamente; (ii) em posio final de sintagma; e (iii) esto focalizadas, pois recebem pitch accent nesses casos. Para Vigrio (1999), no Portugus Europeu, somente os complementizadores podem ser Palavras Prosdicas independentes, quando em posio final de sintagma entoacional, pois recebem a proeminncia desse domnio.

    Nos demais casos, as palavras funcionais sero formas fracas, portanto, clticos. Este trabalho prope investigar as diferentes prosodizaes das palavras

    funcionais (preposies, artigos, conjunes e pronomes clticos) e o modo como so integradas estrutura prosdica do PB, em um corpus de fala experimental, considerando a hiptese de que dependendo da posio em I e do contexto discursivo, podem ser prosodizadas como cltico, ou como Palavra Prosdica independente,

    formando, no caso de serem clticos, o Grupo de Palavra Prosdica, de acordo com a proposta de Vigrio (2007). Esse trabalho tem o objetivo maior de contribuir com os estudos do domnio da Palavra Prosdica no PB.

    PALAVRAS-CHAVE: Fontica Fonologia; Anlise Prosdica; Gramtica Comparada e Geral Clticos; Lngua Portuguesa.

  • xv

    ABSTRACT

    In the language there are several elements that are difficult to organize, mainly to make reference to prosodic status, and the functional words are one of these

    elements, because while the lexical words are always Prosodic Word, they have already been formed in the lexical component, as they receive lexical stress the functional words show a variable standard between the language, they can show many things as clitics or prosodic words(cf. Selkirk 1984, 1995; Inkelas & Zec 1993, Peperkamp 1997; Zec 2005, Bisol 2005, between others). In the case of Brazilian Portuguese, it doesnt seem be different, because the monosyllabic words dont constitute a foot in the majority of the cases and they dont receive primary stress. However there are disyllabics functional words and trisyllabics words that fill this condition, so they receive primary stress.

    According to Selkirk (1995) the functional words in English can be prosodized like independent prosodic words in three situations: (i) they are pronounced isolately; (ii) they are in the ending of the phrase; and (iii) they are focalized, because they receive pitch accent in these cases. According Vigrio (1999) in European Portuguese, only the complementizers can be prosodic words, when they are in the ending of the intonational phrase, because they receive a prominence of these domain. In both languages, in the other cases, the functional words will be weak forms, so

    clitics.

    This paper proposes investigate the different prosodizations of the functional

    words (prepositions, articles, conjunctions and clitics pronouns) and the way like are integrated to the prosodic structure of BP, in particular in the spoken variety at a Campinas s region in a corpus of experimental speech considering the hypothesis that depending of the position in intonational phrase, they can be prosodized like Clitics, or

    like Independent Prosodic Words. If they are clitics, they will form with the host the Minimal Prosodic Word proposed by Vigrio (2007). This paper has the mayor goal to contribute with the studies to domain Prosodic Word in BP.

    Key-words: Phonetics Phonology; Prosodic Analysis; Comparative and General Grammar Clitics; Portuguese Language.

  • xvii

    LISTAS DE TABELAS E FIGURAS

    CAPTULO 3

    QUADRO 1: Palavras funcionais investigadas............................................................ 42 FIGURA 1: Artigo um produzido entre pausas em contexto de focalizao............ 47

    CAPTULO 4

    QUADRO 2: Palavras funcionais investigadas............................................................ 51 TABELA 1: Durao em contexto neutro (incio, meio e fim de I) e em contexto de focalizao..................................................................................................................... 54 FIGURA 2: Preposio na em posio final e medial de I em contexto neutro........ 55 FIGURA 3: Preposio a em posio final e inicial de I em contexto neutro........... 56 FIGURA 4: Preposio de em posio medial de I em contexto de focalizao....... 57 FIGURA 5: Preposio de em posio final e medial de I em contexto de neutro............................................................................................................................ 57 FIGURA 6: Preposio de produzida entre pausas em contexto de focalizao....... 58 TABELA 2: Evento tonal em posio inicial de I em contexto

    neutro............................................................................................................................ 60 FIGURA 7: Artigo a em posio inicial de I em contexto neutro............................. 61 FIGURA 8: Artigo a em posio inicial de I em contexto neutro............................. 61 FIGURA 9: Preposio sem em posio medial de I em contexto neutro................ 63 FIGURA 10: Preposio sob em posio medial de I em contexto neutro................ 63 TABELA 3: Evento tonal em posio final de I em contexto de focalizao............... 64 FIGURA 11: Preposio com em posio final de I em contexto neutro................... 65 FIGURA 12: Preposio para em posio final de I em contexto neutro................... 65 TABELA 4: Evento tonal em contexto de focalizao................................................ 67 FIGURA 13: Pronome nos em posio medial de I em contexto de focalizao ...... 68 FIGURA 14: Preposio para em posio medial de I em contexto neutro............... 73 TABELA 5: Reduo da vogal e posies em I em contexto neutro........................... 74

  • xviii

    TABELA 6: Reduo da vogal em contexto de focalizao........................................ 81 FIGURA 15: Pronome me em posio medial de I contexto de focalizao com vogal reduzida........................................................................................................................ 80 FIGURA 16: Artigo a em contexto de focalizao produzido entre pausas.............. 81 TABELA 7: DG e posies em I em contexto neutro.................................................. 84 FIGURA 17: DG entre a conjuno porque em posio medial de I em contexto neutro e a vogal seguinte............................................................................................... 86 TABELA 8: DG e contexto de focalizao.................................................................. 87 TABELA 9: DT e posies em I em contexto de neutro.............................................. 89 FIGURA 18: DT entre a preposio de em posio medial e final em contexto

    neutro............................................................................................................................ 93 TABELA 10: DT em contexto de focalizao............................................................. 93 TABELA 11: EL e posies em I em contexto neutro................................................. 96 TABELA 12: EL em contexto de focalizao.............................................................. 97 TABELA 13: Vozeamento da fricativa e posies em I em contexto de neutro.......... 99 FIGURA 19: Vozeamento em posio inicial e final de I em contexto neutro........................................................................................................................... 100 TABELA 14: Vozeamento em contexto de focalizao............................................ 100 FIGURA 20: Vozeamento da fricativa na conjuno mas em posio inicial de I em contexto de focalizao.............................................................................................. 101 TABELA 15: Tapping e posies em I em contexto de neutro.................................. 103 FIGURA 21: Tapping na preposio por em posio medial de I em contexto neutro.......................................................................................................................... 103

    TABELA 16: Tapping em contexto de focalizao................................................... 104 FIGURA 22: Artigo um produzido entre pausas em contexto de focalizao........ 107 FIGURA 23: Preposio para em posio inicial de I em contexto neutro............. 109

    CAPTULO 5

    FIGURA 24: (a) Adjuno de proclticos a palavra seguinte e (b) Incorporao de enclticos a palavra precedente no PE, segundo proposta de Vigrio 2003............... 127 FIGURA 25: Conjuno nem em posio final de I em contexto de neutro............ 130

  • xix

    FIGURA 26: Estrutura prosdica denominada Grupo de Palavra Prosdica, nos termos de Vigrio (2003), formada por uma palavra funcional cltica mais uma palavra lexical que funciona como hospedeiro................................................................................... 133 FIGURA 27: Estrutura Prosdica formada pela palavra funcional prosodizada como

    Palavra Prosdica em contexto de focalizao........................................................... 13

  • xxi

    ABREVIAES E SMBOLOS UTILIZADOS

    SMBOLOS UTILIZADOS

    Slaba

    P

    / PW Palavra Prosdica

    /PPh Sintagma Fonolgico I/ IP Sintagma Entoacional

    U/ Utt Enunciado Fonolgico W Palavra Morfolgica

    L Tom Baixo

    H Tom Alto

    * Acento Tonal

    L+H/LH/H+L/HL Evento Bitonal

    ABREVIATURAS

    CPL Complementizador GPW Grupo de Palavra Prosdica PWmax Palavra Prosdica Mxima

    PWmin Palavra Prosdica Mnima Caixa Alta Acento De Palavra

    PE Portugus Europeu

    PB Portugus Brasileiro

    DG Degeminao

    DT Ditongao

    EL Eliso

    Lex Palavra Lexical

    Func Palavra Funcional

    Voz Vozeamento

  • xxiii

    SUMRIO

    1. INTRODUO........................................................................................................ 01 2. REFERENCIAL TERICO 2.0. Introduo.................................................................................................. 07 2.1. Teorias da Fonologia Prosdica................................................................. 07 2.1.1. Nespor & Vogel (1986).......................................................................... 07 2.1.2. Selkirk (1984, 1986)............................................................................... 09 2.2. A Palavra Prosdica e o Grupo Cltico...................................................... 11

    2.2.1. O domnio da Palavra Prosdica............................................................. 11

    2.2.2. O Grupo Cltico...................................................................................... 17 2.3. A prosodizao de palavras 19

    2.3.1. Diagnstico para a Palavra Prosdica..................................................... 19 2.3.2. A prosodizao dos Clticos.... 22

    2.4. A prosodizao das palavras funcionais na literatura............................... 23 2.4.1. Selkirk (1995)........................................................................................ 23 2.4.2. Vigrio (1999)....................................................................................... 26 2.5. O estatuto prosdico dos clticos no PB................................................... 30 2.5.1. Bisol (2000, 2005)................................................................................. 30 2.5.2. Brisolara (2004), (2008)......................................................................... 34

    2.6. Consideraes finais................................................................................. 37 3. METODOLOGIA

    3.0. Introduo................................................................................................. 39 3.1. O experimento.......................................................................................... 39 3.2. O Corpus e as variveis analisadas.......................................................... 41

    3.3. Forma de anlise dos dados...................................................................... 46 3.4. Consideraes finais................................................................................. 48

    4. DESCRIO E DISCUSSO DOS RESULTADOS 4.0. Introduo................................................................................................. 49 4.1. Descrio dos dados.................................................................................. 50

    4.1.1. Correlatos acsticos do acento............................................................... 51

  • xxiv

    4.1.1.1. A durao das palavras funcionais em contexto neutro e em contexto de foco............................................................................................................... 52

    4.1.1.2. Descrio dos eventos tonais............................................................... 59 4.1.2. Processos fonolgicos............................................................................. 69 4.1.2.1. Reduo da vogal: neutralizao das tonas........................................ 70

    4.1.2.2. Sndi voclico...................................................................................... 82

    4.1.2.2.1. Degeminao.................................................................................... 83 4.1.2.2.2. Ditongao........................................................................................ 88 4.1.2.2.3. Eliso................................................................................................ 94 4.1.2.3. Vozeamento da fricativa...................................................................... 98 4.1.2.4. Tapping.............................................................................................. 102 4.2. Discusso dos resultados......................................................................... 104

    4.3. Consideraes finais................................................................................ 113 5. O ESTATUTO PROSDICO DAS PALAVRAS FUNCIONAIS NO PB

    5.0.Introduo................................................................................................. 117 5.1. O comportamento prosdico das palavras funcionais no PB.................. 118 5.2. Evidncias da insero ps-lexical das palavras funcionais na estrutura prosdica......................................................................................................... 122 5.3. Uma proposta para a estrutura prosdica das palavras funcionais no PB ......................................................................................................................... 126 5.4. Consideraes finais................................................................................ 134

    6. CONSIDERAES FINAIS................................................................................. 137 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS....................................................................... 141 ANEXOS.................................................................................................................... 147

    1. Sentenas do corpus experimental................................................................. 148

  • 1

    1. INTRODUO

    Nas lnguas em geral, h vrios elementos que so difceis de classificar,

    principalmente no que se refere ao seu estatuto prosdico, e as palavras funcionais so um desses elementos, pois enquanto as palavras lexicais so sempre Palavras Prosdicas

    independentes, j formadas no componente lexical, dado que recebem acento lexical, as palavras funcionais exibem um padro varivel entre as lnguas, podendo se apresentar como clticas ou como Palavras Prosdicas (cf. Selkirk 1984, 1995; Inkelas & Zec 1993, Peperkamp 1997; Zec 2005, Bisol 2005, entre outros).

    No caso do Portugus Brasileiro (doravante PB), no parece ser diferente, pois as palavras funcionais monossilbicas no formam um p1, no recebendo acento

    primrio, logo, no so prosodizadas como Palavras Prosdicas. Entretanto h palavras funcionais dissilbicas e at trissilbicas que preenchem essa condio e, portanto recebem acento primrio, sendo prosodizadas como Palavras Prosdicas. Apesar das palavras funcionais dissilbicas formarem um p e receberem acento lexical, veremos no decorrer deste trabalho que algumas se tornam facilmente cliticizveis, como por exemplo, a preposio para e a conjuno porque por sofrerem processos de reduo voclica na slaba candidata a receber acento primrio.

    Segundo Cook & Newson (1996, p. 187)2, as palavras lexicais so definidas como ncleos de classes abertas; fonologicamente independentes; potencialmente

    acentuadas; tm um ou mais complementos; complemento separvel; contedo descritivo, ligadas ao mundo real; no tm traos gramaticais; e no so ligadas a

    parmetros. No PB, adjetivos, verbos e substantivos pertencem classe aberta ou categoria lexical.

    Para Mioto et al (2004), uma classe lexical caracteriza-se por ter um nmero indefinido de membros no dicionrio mental e por permitir a criao pelos falantes de

    novas expresses. Isso significa que novos adjetivos, verbos e substantivos podem ser

    1 importante ressaltar que h excees, pois algumas palavras funcionais monossilbicas so

    consideradas como tnicas, como por exemplo, os pronomes pessoais do caso reto, eu, tu, ele (a), ns, vs, eles (a). 2 O trecho original de Cook & Newson (1996): palavras lexicais so open class of heads; phonologically

    independent; potentially stressed; have one or more complements; separable complement; descriptive content, linked to 'real' world; do not have grammatical features; not linked to parameters (p. 187).

  • 2

    criados livremente pelos falantes, a partir de um item lexical j existente na lngua, como os neologismos3 e as palavras derivadas4, alm de ser sempre prosodizada como Palavra Prosdica, pois forma um p e recebe acento primrio no componente lexical.

    Ao contrrio das palavras lexicais, as palavras funcionais5, segundo Cook &

    Newson (1996, p. 187), so definidas como ncleos de classes fechadas; fonologicamente dependentes; normalmente no acentuadas; tm um nico

    complemento, no tem um argumento e o complemento inseparvel; no tm

    contedo descritvel; tm traos gramaticais; ligadas a parmetros. De acordo com Mioto et al (2004), as preposies, os artigos, as conjunes,

    e os pronomes pertencem classe fechada ou categoria funcional, pois no derivam de

    um radical que pode originar outra categoria como o verbo, substantivo e adjetivo, ou seja, no permitem a criao de novos termos pelos falantes.

    Isso quer dizer que as palavras da categoria funcional no formam novas palavras na lngua, alm do que, algumas delas, no caso as palavras monossilbicas, nem sempre formam um p e recebem acento primrio no componente lexical, como o caso das preposies monossilbicas, dos artigos definidos, dos pronomes pessoais tonos (caso oblquo) e algumas conjunes monossilbicas. H ainda, como dito anteriormente algumas palavras funcionais dissilbicas que sofrem algum processo fonolgico caracterstico de slabas tonas, o qual as torna facilmente cliticizvel, pois a ocorrncia do processo evidncia de que tal slaba no porta acento lexical.

    As consideraes de Cook & Newson (1996) e Mioto et al (2004) se remetem aos aspectos sintticos e morfolgicos tanto das palavras lexicais quanto das palavras funcionais do PB. Quanto ao estatuto prosdico, podemos afirmar que as palavras lexicais so sempre prosodizadas como Palavras Prosdicas, pois formam um p e recebem acento primrio, requisito mnimo para a formao de uma Palavra Prosdica segundo Nespor & Vogel (1986).

    3 Um exemplo de neologismo criado a partir do verbo complicar outro verbo complicabilizar. No

    texto Complicabilizando, de Ricardo Freire, publicado na Revista poca em 25 de setembro de 2003, todos os verbos so criados a partir da derivao de um verbo na sua forma infinitiva, mais o sufixo ilizar. 4 Um exemplo semelhante de formao de palavra derivada no portugus o verbo hospitalizar criado a

    partir do substantivo hospital. 5 Trecho original de Cook & Newson (1996): palavras funcionais so closed class of heads; dependent

    phonologically; usually unstressed; have a single complement, not an argument; inseparable complement; no 'descriptive content', not linked to 'real' world; have grammatical features; linked to parameters (p. 187).

  • 3

    Considerando que as palavras funcionais monossilbicas do PB so palavras tonas, esperamos que sejam prosodizadas como clticos prosdicos, enquanto que as palavras dissilbicas e trissilbicas por formarem um p e receberem acento lexical, sejam prosodizadas como Palavra Prosdica, se caso no sofrerem processos fonolgicos caractersticos de slabas tonas.

    Diante dessas consideraes, o nosso objetivo investigar o estatuto prosdico das palavras funcionais do PB, como clticos ou como Palavras Prosdicas, e o modo como so integradas estrutura prosdica, ou seja, qual o domnio prosdico do qual fazem parte. Para alcanar tal objetivo, partimos da hiptese de que, dependendo da posio dentro do sintagma entoacional (I) e do contexto discursivo (neutro e focalizao), elas podem ser prosodizadas de diferentes modos, como cltico ou como Palavra Prosdica. Nossa hiptese parte das afirmaes feitas por Selkirk (1995) para o ingls, e Vigrio (1999 e 2003) para o PE.

    Segundo Selkirk (1995), as diferenas prosdicas da categoria funcional so analisadas por uma srie de restries ranqueadas, ou seja, diferentes prosodizaes dos elementos funcionais vm de diferenas nas propriedades morfossintticas e no ranqueamento de restries especficas de cada lngua. Para a autora, as palavras funcionais podem ser prosodizadas como Palavras Prosdicas independentes em trs situaes: (i) pronunciadas isoladamente; (ii) em posio final de sintagma; e (iii) esto focalizadas, pois recebem acento tonal (pitch accent) nesse contexto. Nos demais casos, elas sero formas fracas, portanto, clticos.

    Em Vigrio (1999), somente complementizadores podem ser prosodizados como Palavras Prosdicas independentes em posio final de I em contexto neutro.

    Vigrio (2003) tambm afirma que algumas palavras lexicalmente inertes podem formar Palavras Prosdicas independentes quando sozinhas formam um I, sendo o ncleo desse domnio (p. 195).

    No que se refere ao estatuto prosdico das palavras funcionais no PB, Bisol

    (2005, p. 164) afirma que os clticos so palavras funcionais que no pertencem a uma classe morfolgica especfica. A autora ressalta que, devido ao seu carter tono, os

    clticos se apiam no acento de uma palavra vizinha, e raramente se tornam o ncleo de um domnio fonolgico, exceto nos casos em que, por razoes mtricas motivadas por I, o cltico recebe o acento principal de I. Nesse caso, as palavras funcionais clticas so

  • 4

    integradas na estrutura prosdica do PB junto a uma Palavra Prosdica pronta, formando um constituinte prosdico, o Grupo Cltico ou Palavra Prosdica Ps-lexical.

    Com relao ao estatuto prosdico dos clticos, Brisolara (2008) tambm argumenta que os clticos vo se adjungir a um hospedeiro no nvel ps-lexical e formar uma estrutura recursiva.

    Embora haja algumas discusses sobre os clticos no PB, at o momento no encontramos trabalhos que tratem sistematicamente do comportamento prosdico das palavras funcionais a partir da anlise de dados empricos.

    Partindo do princpio de que as palavras funcionais monossilbicas do PB so clticos, e que as palavras dissilbicas e trissilbicas so Palavras Prosdicas (por serem lexicalmente acentuadas), exceto as que demonstram ser cliticizveis, o presente trabalho prope tambm, alm de definir o estatuto prosdico de tais palavras

    funcionais, considerando as posies em I e o contexto discursivo, discutir em que nvel da hierarquia prosdica as palavras funcionais vo ser integradas estrutura prosdica (Grupo Cltico, Palavra Prosdica ou Sintagma Fonolgico).

    Para analisar essas questes, optamos por trabalhar com um corpus experimental a fim de obter dados controlados para que no houvesse uma distoro dos resultados ao observar as variveis selecionadas. A variedade de portugus a ser analisada a falada na regio de Campinas-SP.

    Nossa anlise observar as seguintes variveis: (i) o contexto discursivo (neutro e de focalizao); (ii) posio da palavra funcional dentro de I (incio, meio ou fim); (iii) a constituio particular (formao de ps) para a atribuio de acento primrio; (iv) os correlatos acsticos do acento; e (v) a ocorrncia de processos fonolgicos que atingem as palavras funcionais.

    A anlise do contexto discursivo, neutro e foco, e da posio em I so relevantes, pois, segundo Selkirk (1995), as palavras funcionais sob focalizao e em posio final de I so prosodizadas como Palavra Prosdica.

    As evidncias consideradas para que a palavra funcional seja uma Palavra Prosdica ao considerar o contexto discursivo e posio dentro de I sero a atribuio de

    (i) acento prosdico lexical quando h a formao de ps e (ii) acento ps-lexical (de foco ou de proeminncia principal de ou I); a ocorrncia de processos fonolgicos

  • 5

    caractersticos de slabas tonas; e o bloqueio de processos fonolgicos como o sndi voclico devido ao fato de portar acento lexical ou prosdico.

    Com relao ao acento, para verificar se determinada palavra funcional portadora de acento lexical ou ps-lexical, analisaremos algumas evidncias acsticas,

    tal como a durao e a atribuio de evento tonal LHL, evento tonal caracterstico de slabas tnicas de palavra lexicais, pois somente palavras acentuadas recebem acento

    tonal (cf. Selkirk 1995 e Vigrio 1999). Alm de ser uma pista importante para a prosodizao das palavras

    funcionais, o acento tambm bloqueia a ocorrncia de alguns processos fonolgicos, como a regra de reduo da vogal, a qual s ocorre em vogais tonas, e os processos de

    sndi externo tal como degeminao (DG), ditongao (DT) e eliso (EL). O acento e os processos fonolgicos tambm podem fornecer pistas sobre o nvel em que a integrao

    prosdica das palavras funcionais ocorre: lexical ou ps-lexical. importante destacar que as palavras funcionais prosodizadas como clticos

    prosdicos precisam se apoiar em um hospedeiro acentuado, pois a principal caracterstica dos clticos no portar acento primrio. Assim ser necessrio discutirmos a qual domnio da hierarquia prosdica o cltico se une para ser prosodizado.

    Segundo Nespor & Vogel (1986), o cltico se une a Palavra Prosdica, e juntos formam o Grupo Cltico. Bisol (2005) afirma que o constituinte prosdico ao qual o cltico se une no PB o Grupo Cltico ou a Palavra Prosdica ps-lexical. No

    entanto, segundo Selkirk (1984, 1986), Peperkamp (1997), Vigrio (2003, 2007), Brisolara (2004, 2008), entre outros, esse constituinte no faz parte da hierarquia prosdica.

    Com base nessas consideraes, nos resultados e na anlise das variveis apontadas, faremos uma breve discusso sobre a existncia do Grupo Cltico na hierarquia prosdica do PB, e o sobre o domnio ao qual os clticos se unem para

    integrar a estrutura prosdica. Para alcanarmos nossos objetivos baseamo-nos nas fundamentaes

    tericas propostas em Nespor & Vogel (1986) e Selkirk (1984, 1986), para a anlise dos domnios prosdicos; e para a anlise das palavras funcionais, Selkirk (1995) e Vigrio (1999, 2003), entre outros.

  • 6

    Assim, esse trabalho est organizado da forma que se segue. No captulo 2, apresentamos o arcabouo terico revisado, tal como (i) as

    teorias prosdicas de Nespor & Vogel (1986) e Selkirk (1984, 1986); (ii) os algoritmos de construo da Palavra Prosdica (Nespor & Vogel 1986; Selkirk 1984, 1986; Vigrio 2003); (iii) alguns trabalhos sobre a Palavra Prosdica no PB (Bisol 2004; Leiria 2000); (iv) uma breve discusso sobre o Grupo Cltico; (v) propostas de prosodizao das palavras funcionais na literatura(Selkirk 1995; Vigrio 1999); (vi) estudos j realizados sobre os clticos do PB (Bisol 2000, 2005; Brisolara 2004, 2008).

    No captulo 3, apresentamos a metodologia de trabalho a ser seguida, como por exemplo, experimento realizado, o corpus elaborado para a pesquisa, as variveis

    analisadas, e por fim, a forma de anlise dos dados. No captulo 4, apresentamos a descrio e discusso dos resultados,

    enfocando a anlise dos correlatos acsticos do acento (durao e evento tonal) e da ocorrncia de processos fonolgicos (reduo da vogal, sndi voclico, etc).

    No captulo 5, apresentamos (i) o comportamento prosdico das palavras funcionais do PB; (ii) evidncias da insero ps-lexical das palavras funcionais; (iii) uma proposta de prosodizao das palavras funcionais no PB.

    Por fim, no captulo 6, apresentamos nossas consideraes finais sobre o estatuto prosdico das palavras funcionais, e possveis desdobramentos futuros de nossa pesquisa.

    Alm de alcanar os objetivos propostos e investigar as questes levantadas, buscaremos, com a realizao deste trabalho, trazer contribuies para o estudo da Palavra Prosdica no PB, levando em conta quais fenmenos se referem a esse

    domnio.

  • 7

    2. ARCABOUO TERICO

    2.0. Introduo

    O objetivo desta dissertao investigar o estatuto prosdico das palavras funcionais no PB e o modo como so integradas estrutura prosdica, considerando a hiptese de que, dependendo da posio em I e do contexto discursivo, as palavras funcionais podem ser prosodizadas como clticos ou Palavras Prosdicas independentes.

    Para sustentar a pesquisa aqui proposta, neste captulo, apresentamos uma

    reviso terica dos trabalhos fundamentais dentro do quadro da Fonologia Prosdica

    que auxiliaram na anlise e reflexo das questes levantadas. Entre eles, apresentamos: na seo 2.1, as teorias prosdicas propostas por Nespor & Vogel (1986) e Selkirk (1984, 1986). Na seo 2.2., apresentamos uma reviso de trabalhos que tratam da Palavra Prosdica (2.2.1.) e do Grupo Cltico (2.2.2.). Na seo 2.3., apresentamos a prosodizao de palavras, como os diagnsticos para a identificao de Palavras Prosdicas (2.3.1.) e de clticos (2.3.2). Na seo 2.4, apresentamos trabalhos que dizem respeito prosodizao de palavras funcionais nas lnguas, tais como Selkirk (1995) para o ingls e Vigrio (1999) para o PE. Na seo 2.5, revisamos os trabalhos j realizados no PB sobre o estatuto prosdico dos clticos, Bisol (2000, 2005), e Brisolara (2004, 2008). Na seo 2.6, apresentamos nossas consideraes finais sobre o captulo.

    2.1. Teorias da Fonologia Prosdica

    As teorias prosdicas aqui revisadas so as desenvolvidas por Nespor & Vogel (1986) e por Selkirk (1984, 1986), as quais estudam a estrutura prosdica e o seu funcionamento nas lnguas, propondo os constituintes prosdicos, os quais servem de domnio para a aplicao de regras fonolgicas especficas. Tais teorias fazem o

    mapeamento entre a sintaxe e a fonologia. A seguir apresentamos as propostas

    mencionadas.

    2.1.1. Nespor & Vogel (1986)

  • 8

    A teoria prosdica, proposta por Nespor & Vogel, conhecida como relation based, por basear-se em diversos tipos de relaes entre os constituintes sintticos, e a que aborda, como questo central, a interao entre a fonologia e o resto da gramtica.

    A relao sintaxe-fonologia definida a partir do mapeamento sinttico-fonolgico, o qual fornece uma representao prosdica, sendo que o output do componente sinttico

    constitui o input do componente fonolgico, com a possvel interveno de regras fonolgicas. importante acrescentar que a estrutura fonolgica no isomrfica estrutura sinttica.

    De acordo com a teoria dessas autoras, a representao mental da fala

    dividida em constituintes arranjados hierarquicamente, os quais so os constituintes prosdicos da gramtica e que esto dispostos hierarquicamente como o indicado

    abaixo:

    (1) U Enunciado fonolgico (Phonological Utterance)

    I Sintagma entoacional (Intonational Phrase) Sintagma fonolgico (Phonological Phrase)

    C Grupo Cltico (Clitic Group) Palavra fonolgica (Phonological Word)

    P (Foot) Slaba (Syllable)

    Os constituintes apresentado em (1) so regulados por princpios da hierarquia prosdica para satisfazer a Strict Layer Hypothesis (SLH), tais como:

    (2) Princpio 1: uma dada unidade no terminal da hierarquia prosdica, Xp, composta de uma ou mais unidades da categoria imediatamente mais baixa, Xp-1. Princpio 2: uma unidade de uma dado nvel da hierarquia exaustivamente contida em uma unidade de um nvel superior da qual ela uma parte. Princpio 3: as estruturas hierrquicas da fonologia prosdica so de ramificao n-rias. Princpio 4: a proeminncia relativa definida para os ns irmos tal que a um n marcado o valor forte(s) e a todos os outros ns marcado o valor fraco(w)6.

    6 Trecho original de Nespor & Vogel (1986): Principle 1. A given nonterminal unit of the prosodic

    hierarchy, Xp, is composed of one or more units of the immediately lower category, Xp-1. Principle 2. A unit of a given level of the hierarchy is exhaustively contained in the superordinate unit of which it is a part. Principle 3. The hierarchical structures of prosodic phonology are n-ary branching. Principle 4. The relative prominence relation defined for sister nodes is such that one node is assigned the value strong (s) and all the other node are assigned the value weak (w). (cf. Nespor & Vogel, 1986: 7)

  • 9

    Tais princpios so caracterizados por uma configurao geomtrica, que a mesma para a construo de cada constituinte da hierarquia prosdica. A seguir apresentamos os princpios de formulao da configurao geomtrica referida (3) 7.

    (3) Construo do constituinte prosdico: junte em um Xp de ramificao n-ria todos os Xp-1 includos em uma seqncia delimitada pela definio do domnio de Xp.

    Com base na regra acima apresentada, as autoras do tambm as regras de construo de cada um dos constituintes da hierarquia prosdica apresentados em (1). Ainda na regra em (3), Xp representa um constituinte qualquer da hierarquia (p, palavra fonolgica, grupo cltico, sintagma fonolgico, sintagma entoacional, ou enunciado fonolgico), e Xp-1 representa o constituinte imediatamente inferior a Xp. Tais constituintes criam-se por meio da relao forte/fraco ou vice-versa, que se estabelece

    entre uma cabea lexical. Para as autoras, a menor unidade da hierarquia a slaba, mas isso no quer

    dizer que a slaba no divisvel em unidades menores, no entanto os segmentos que compem a slaba, tais como onsets (ataques) e rimas, no servem como domnio de aplicao de regras, e por isso, no so considerados pelas autoras como constituintes da hierarquia.

    2.1.2. Selkirk (1984, 1986)

    A teoria proposta por Selkirk conhecida por end-based, por ser baseada em bordas demarcadas da direita esquerda de determinados constituintes sintticos, e consiste em categorias prosdicas de diferentes tipos, as quais so organizadas hierarquicamente, assim como proposto tambm por Nespor & Vogel (1986). De acordo com a teoria proposta pela autora, em algumas lnguas, as categorias prosdicas so

    organizadas na seguinte hierarquia prosdica (Selkirk 1978):

    (4) Utt (Utterance) Enunciado IP (Intonational Phrase) Sintagma Entoacional

    7 Trecho original de Nespor & Vogel (1986): Join into an n-ary branching Xp all Xp-1 included in a string

    delimited by the definition of the domain of Xp. (cf. Nespor & Vogel, 1986: 7)

  • 10

    PPh (Phonological Phrase) Sintagma Fonolgico PWd (Prosodical Word) Palavra Prosdica Ft (Foot) P (Syllable) Slaba

    Cada uma dessas unidades apresenta estrutura interna organizada hierarquicamente e serve como domnio de aplicao de regras fonolgicas, e os fenmenos fonticos e fonolgicos que ocorrem so definidos em termos de unidades

    da estrutura prosdica, no da estrutura morfossinttica. Em termos dessa hierarquia proposta em (4), Selkirk (1986) define certas

    restries fundamentais na estrutura prosdica, que esto apresentadas em (5).

    (5) Restries na dominncia prosdica (onde Cn = alguma categoria prosdica)8 (i) Camada: nenhum nvel Ci domina um Cj, j > i.

    Exemplo: Nenhum domina um Ft. (ii) Ncleo: algum Ci deve dominar Cj-i, exceto se Cj = .

    Exemplo: Uma PW imediatamente domina uma . (iii) Exaustividade: nenhum Ci imediatamente domina um Cj, pois j < i-1.

    Exemplo: Nenhuma PW imediatamente domina uma . (iv) No recursividade: nenhum Ci domina Cj, pois j = i.

    Exemplo: Nenhum Ft domina um Ft.

    Trabalhando com a relao de fronteiras, Selkirk (1986) afirma que a relao entre estrutura sinttica e estrutura prosdica capturada pelas restries de

    alinhamento de fronteiras de constituintes. Para a autora, a relao entre a estrutura prosdica e a estrutura sinttica para ser capturada por restries no alinhamento das

    duas estruturas, as quais requerem que, para algum constituinte de categoria na

    estrutura sinttica, a sua fronteira direita (ou esquerda) coincida com a fronteira direita (ou esquerda) de um constituinte de categoria na estrutura prosdica, ou seja, os domnios prosdicos so construdos com base nos limites dos constituintes sintticos, no entanto, no so isomrficos a eles.

    (6) A teoria edge-based da interface sintaxe-prosdia (Selkirk 1986 et seq.) 9

    8 Trecho original de Selkirk (1995): Constraints on prosodic domination (where Cn = some prosodic

    category). (i) Layredness: No Ci dominates a Cj, j > i. e.g. A dominates a Ft. (ii) Headness: Any Ci must dominates a Ci-1 (except if Ci = ). E.g. A PW must dominate a Ft. (iii) Exhaustivity: No Ci immediately dominates a constituent Cj, j < i-1. e.g. No PWd immediately dominates a . (iv) Nonrecursivity: No Ci dominates Cj, j = i. e.g. No Ft dominates a Ft (cf. Selkirk 1995, p. 443).

  • 11

    Fronteira direita/esquerda de = = = > fronteira de uma categoria sinttica, uma categoria prosdica.

    Selkirk ressalta que as restries de alinhamento das fronteiras dos constituintes tm mostrado caracterizar a influncia da estrutura do sintagma sentencial

    na estrutura prosdica em um amplo nmero de lnguas. Assim, a autora fundamenta sua proposta terica, justificando a relevncia da delimitao dos domnios prosdicos com base nas restries de alinhamento.

    Apresentada as noes gerais da construo de domnios prosdicos segundo

    a perspectiva de duas teorias, enfocamos na seo seguinte a construo de dois domnios prosdicos, a Palavra Prosdica e o Grupo Cltico.

    2.2. A Palavra Prosdica e o Grupo Cltico

    Como um de nossos objetivos discutir o estatuto prosdico das palavras funcionais no PB, como clticos ou Palavras Prosdicas, necessrio revermos as propostas de construo do domnio prosdico da Palavra Prosdica e do Grupo Cltico

    de acordo com literatura. Para isso, apresentamos a seguir as propostas de Nespor & Vogel (1986), Selkirk (1984, 1986), e Vigrio (2003), alm de discusses j realizadas no PB por Leiria (2000) e Bisol (2004).

    2.2.1. O domnio da Palavra Prosdica

    De acordo com Nespor & Vogel (1986), a Palavra Prosdica 10 um dos menores constituintes da hierarquia, e construda com base em regras de mapeamento

    que fazem uso de noes no fonolgicas. Dentro do domnio de Palavra Prosdica, podem se reajustar as slabas e os ps, quando necessrio ou constru-los de acordo com os princpios universais e restries especficas da lngua.

    Embora se tenha afirmado que no h isomorfismo entre a estrutura

    prosdica e a estrutura morfossinttica, nota-se que, em algumas lnguas, Palavra

    9 Trecho original de Selkirk (1995): The edge-based theory of the syntax-prosody interface (Selkirk 1986

    et seq.). Right/Left edge of = = = > edge of , is a syntactic category, is a prosodic category (cf. Selkirk 1995, p. 444). 10

    Nespor & Vogel (1986) utilizam o termo Palavra Fonolgica para referir-se a esse domnio prosdico.

  • 12

    Prosdica e unidade morfolgica podem ser isomrficas, como por exemplo, no PB, [[casa]W] PW11.

    Como j fora mencionado pelas autoras, a Palavra Prosdica representa o mapeamento ente os componentes fonolgicos e morfolgicos da gramtica, no entanto,

    as noes morfolgicas usadas para discutir a formao de Palavra Prosdica no so as mesmas para todas as lnguas, e, por isso, vrias opes esto disponveis para a

    definio desse constituinte. Por conta disso, as autoras reuniram todas as possibilidades j apresentadas e formularam a definio geral dada abaixo:

    (7) Domnio de Palavra Prosdica () 12 A. O domnio de Q (Q = n sinttico terminal). ou

    B. I. O domnio de consiste de: (a) uma raiz; (b) algum elemento identificado por critrios morfolgicos e/ou fonolgicos; (c) algum elemento marcado com o diacrtico [+W]. II. Qualquer elemento solto dentro de Q faz parte da adjacente mais prxima da raiz. Se nenhuma palavra existir, eles formam uma por conta prpria.

    Apesar da definio em (7) permitir um nmero considervel de opes de formao de Palavra Prosdica, previsto que no h lnguas em que existam palavras

    maiores que o elemento terminal de uma rvore sinttica, sendo igual ou menor que este.

    A definio ainda prev que no haver mais que uma Palavra Prosdica em uma nica raiz, e, em lnguas nas quais a Palavra Prosdica inclui ambos membros de um

    composto, no haver afixos ou seqncias de afixos que formam uma Palavra Prosdica independente. Tal definio ainda oferece a possibilidade de reagrupar elementos

    morfolgicos de modo a confirmar a no isomorfia entre a estrutura prosdica e estrutura morfossinttica. Uma vez definida a Palavra Prosdica, possvel processar sua construo como em (8):

    (8) Construo de Palavra Prosdica13

    11 Os smbolos utilizados referem-se s iniciais das respectivas palavras em ingls. O primeiro W

    Palavra Morfolgica (Word) e o segundo PW Palavra Prosdica (Prosodic Word). 12

    Trecho original (Nespor & Vogel, 1986, p. 141): domain. A. The domain of is Q. Or. B. I. The domain of consists of: a stem; b. any element identified by specific phonological and/or morphological criteria; c. any element marked with the diacritic [+W]. II. Any unattached elements within Q form part of the adjacent closest to the stem; if no such exists, they form a on their own.

  • 13

    Unir em ramificaes n-rias toda Palavra Prosdica includa dentro de uma seqncia delimitada pela definio do domnio de Palavra Prosdica.

    Apesar de a regra de construo de Palavra Prosdica agrupar ps e Palavras

    Prosdicas, claro que a estrutura fonolgica abaixo do nvel da Palavra Prosdica deve estar presente no momento em que so criadas. A slaba de uma Palavra Prosdica deve

    estar unida a um p n-rio ramificado pela regra geral de construo do constituinte prosdico, e, assim, por possuir apenas um elemento proeminente, no pode apresentar mais do que um acento primrio. Uma Palavra Prosdica inclui um radical mais todos

    os afixos adjacentes, assim como os membros de compostos. Diferentemente de Nespor & Vogel (1986), Selkirk (1986) prope que o

    domnio da Palavra Prosdica definido com base nas bordas de determinados constituintes sintticos. O parmetro ]w seleciona as bordas direitas das palavras lexicais, agrupando juntamente a elas, palavras funcionais imediatamente adjacentes, neste caso, localizadas esquerda da palavra lexical, pois as palavras funcionais so

    invisveis para o mapeamento sintaxe-fonologia.

    (9) Estrutura sinttica (PFun) + (PLex)

    Estrutura prosdica [[PFunc[PLex]PW]PW

    Essa combinao de palavra funcional (cltico) mais palavra lexical (hospedeiro) constitui um caso em que a Palavra Prosdica extrapola os limites do n sinttico terminal (cf. Booij 1996). Para resolver essa questo Nespor & Vogel (1986) haviam proposto um constituinte que envolvesse esse tipo de seqncia, o Grupo

    Cltico. No entanto esse constituinte tambm tem sido discutido e questionado, e at mesmo excludo da hierarquia prosdica, como propem Booij (1996), Perperkamp (1997) e Vigrio (1999, 2003) 14.

    De acordo com Vigrio (2003), os clticos tem sido alvo de muitas discusses e atrado grande ateno dos pesquisadores no que se refere prosodizao e o modo de integrao na estrutura prosdica, principalmente por ser independente

    13 Trecho original (Nespor & Vogel, 1986, p. 142): construction: Join into an n-ary branching all

    included within a string delimited by the definition of the domain of . 14

    Ver seo 2.2.2 sobre o constituinte Grupo Cltico.

  • 14

    morfologicamente e tambm pelo fato de possuir mobilidade na sentena. Entretanto, a principal caracterstica prosdica dos clticos ser destitudo de acento primrio. Por esse motivo, o cltico precisa se unir a um item que corresponde a algum domnio prosdico para integrar-se estrutura prosdica.

    Vigrio (2003), ao investigar as propriedades fonolgicas que definem a Palavra Prosdica no PE, prope que algumas unidades morfossintticas so agrupadas

    juntas para formar uma Palavra Prosdica Mnima, a qual dotada de apenas um acento primrio, e composta por estruturas incorporadas (palavras com sufixos ou hospedeiros mais enclticos), ou estruturas adjungidas (palavras com prefixos ou hospedeiros mais proclticos). A autora tambm prope a construo de uma Palavra Prosdica Mxima ou Composta, a qual formada por duas Palavras Prosdicas (caso das palavras compostas que no formam um sintagma fonolgico), entretanto tem apenas um elemento proeminente que carrega a proeminncia principal desse domnio.

    As construes formadas por duas ou mais Palavras Prosdicas esto agrupadas em: (i) compostos morfossintticos e algum composto sinttico (palavra + palavra), como por exemplo15, salto alto [[salto]W[alto]W]PWMAX, verde-gua [[verde]W[gua]W]PWMAX; (ii) palavras derivadas com sufixos que constituem domnios de acento independentes de sua base, como francamente [[franca]W[mente]W]PWMAX; (iii) palavras derivadas com prefixos acentuados, como em pr-estria [[pr]W[estria]W]PWMAX; (iv) composto morfolgicos (raiz+raiz), como socioeconmico [[scio]W[econmico]W]PWMAX; (v) estruturas mesoclticas, como falar-te-ei [[falar-te]W[ei]W]PWMAX; (vi) abreviaes, como em CD [[se]W[de]W]PWMAX; e por fim, (vii) seqncia de Palavras Prosdicas consistindo de (a) pares de nomes de letras, como em RN [[erre]W[ene]W]PWMAX; (b) nome de letras seguidas por numerais, como em P-dois [[pe]W[dois]W]PWMAX; e (c) alguns numerais seguidos por palavras freqentes horas e anos, como em onze horas [[onze]W[horas]W]PWMAX.

    J em Vigrio (2007), a autora prope a Palavra Prosdica Mnima/ Menor (Minimal/ Minor PW) e Palavra Prosdica Mxima/ Maior/Composta (Maximal/ Major PW, Compound PW) formam um nico domnio prosdico, o qual ela denomina de

    15 Exemplos de Vigrio (2003).

  • 15

    Grupo de Palavra Prosdica (Prosodic Word Group). Tal grupo, segundo a autora, o antigo Grupo Cltico de Nespor & Vogel (1986) reciclado e no um constituinte novo.

    No que se refere ao domnio da Palavra Prosdica no PB, Leiria (2000) afirma que esse constituinte faz parte da hierarquia prosdica dessa variedade de portugus, e

    prope que a Palavra Prosdica o domnio de aplicao da regra de apagamento da vogal com conseqente alongamento das obstruintes, em ambiente C1V1C2V2, a qual

    apaga a C1V1 e alonga a C2, como por exemplo, canto tonal ~ can[t:]onal. Segundo Leiria, em contextos que envolvem palavras funcionais, a regra no se aplica, como em

    aula d[e] didtica, pois se a vogal for apagada, a regra de palatalizao no ocorre aula *[d:]idtica16.

    Leiria ressalta que, em contextos que envolvem duas Palavras Prosdicas, a regra se aplica, como em grande domador ~ grand[o:]mador, entretanto a regra no aplicada dentro de uma Palavra Prosdica como em tato ~ *t:o. Assim a autora justifica a existncia desse domnio da Palavra Prosdica no PB, pois segundo Booij (1996), o requisito bsico para se ter uma categoria prosdica o fato de ela ser domnio para a ocorrncia de regras fonolgicas, e no caso analisado, a Palavra Prosdica no PB o domnio para a aplicao do apagamento da primeira vogal em posio de final de palavra seguida por slaba semelhante.

    J Bisol (2004) afirma que, no portugus, h varias regras que ocorrem no domnio de Palavra Prosdica, como por exemplo, a neutralizao das vogais tonas, e a harmonia voclica (cf. Bisol 2000). Observe os exemplos 17 a seguir.

    (10) i) Neutralizao das vogais tonas caf[] > caf [e]teira s[]l > s[o]lao bolo > bol[u] [verde > verd[i]

    ii) Harmonia voclica coruja > c[u]ruja menino > m[i]nino peregrino > p[i]r[i]grino

    16 Em trabalhos recentes, foram mostrados os contextos em que possvel o apagamento de slabas

    semelhantes, o qual, de acordo com a literatura denominado como haplologia. Como foge de nosso objetivo discutir tais questes, indicamos a leitura de Leal (2006) para mais informaes sobre a ocorrncia desse processo de apagamento silbico em contexto que envolve palavra funcional e palavra lexical. 17

    Exemplos de Bisol (1999).

  • 16

    A partir da descrio do sistema fonolgico do Portugus Brasileiro feita por Cmara Jr. (1970), na qual ele coloca a necessidade de distinguir palavra morfolgica de palavra prosdica18, Bisol desenvolve um estudo firmado na distino e na discusso da interao entre palavra morfolgica de palavra prosdica19, cujos limites nem sempre coincidem. Baseando-se nos algoritmos de construo de constituintes prosdicos propostos por Nespor & Vogel (1986), Bisol afirma que a condio mnima para se estabelecer uma palavra fonolgica, tambm no PB, ser dotada de apenas um acento primrio.

    Quanto ao tamanho de uma palavra fonolgica, no PB, a isomorfia entre palavra morfolgica e palavra fonolgica no se mantm, pois dados do PB mostram

    que um mesmo prefixo se comporta ora como uma palavra independente, ora no, e isso depende do grau de coerncia20. Quando ocorre a prefixao do prefixo pr mais a raiz fixo, temos a formao de apenas um vocbulo fonolgico prefixo, pois, no PB, no

    h vogais mdias baixas // na posio pretnica, porque so neutralizadas em favor da

    vogal no-alta /e/. No entanto, quando h justaposio, como em pr+estria, o prefixo pr um vocbulo fonolgico independente, pois mantm seu acento primrio durante

    o processo morfolgico de justaposio. Esse caso evidncia de que a palavra fonolgica menor que o elemento terminal de uma rvore sinttica.

    Entretanto Palavras Prosdicas maiores do que sua contraparte tambm podem ser encontradas no PB quando h a ressilabificao, aps a ocorrncia de algum processo fonolgico, como em lpis azul, por exemplo. Nesse contexto ocorre a regra

    de vozeamento da fricativa, na qual a fricativa surda /s/ ao entrar em contato com a vogal da palavra seguinte assimila o trao [+voz] da vogal, e ressilabificada com a vogal, /la.pi.za.zul/.

    Com base na discusso de Booij (1983), Bisol diz que a Palavra Prosdica em PB tem trs funes: (i) portadora de proeminncia relativa, ou seja, a Palavra Prosdica tem apenas uma slaba proeminente; (ii) domnio de aplicao de regras fonolgicas, como por exemplo a regra de neutralizao das tonas finais, a harmonia voclica e o abaixamento datlico, entre outras; e (iii) o domnio de restries

    18 No texto original, o autor utiliza o termo palavra fonolgica.

    19 No texto original, o autor utiliza o termo palavra fonolgica.

    20 Para saber mais sobre o comportamento dos prefixos nos PB, ver Schwindt (2000).

  • 17

    fonotticas, como por exemplo consoantes palatais como // no podem iniciar Palavra

    Prosdica.

    Em suma, o que se pode concluir, de acordo com Bisol, sem esgotar o assunto no PB, que no h isomorfia entre Palavra Prosdica e Palavra Morfolgica,

    pois assim como h Palavras Prosdicas menores do que as morfolgicas correspondentes, h tambm maiores, principalmente quando a ocorrncia da ressilabificao aps processo de juntura entre palavras, como por exemplo, o sndi externo21. Apresentados os trabalhos que tratam da Palavra Prosdica nas lnguas e no PB, apresentamos uma breve discusso sobre o constituinte Grupo Cltico.

    2.2.2. O Grupo Cltico

    O constituinte denominado como Grupo cltico foi proposto inicialmente por Hayes (1984), mas publicado em (1989), e alm de Hayes, Nespor & Vogel (1986) tambm argumentam em favor da sua existncia. Segundo tais autores, esse constituinte

    fica entre o Sintagma Fonolgico e a Palavra Prosdica, e constitudo por um cltico (formas tonas) e uma palavra de contedo (forma que carrega um acento primrio). Como os outros domnios da hierarquia, o Grupo Cltico domnio para a ocorrncia de regras fonolgicas, segundo Nespor & Vogel (1986), como por exemplo, a atribuio de acento no Latim. Ento, quando uma palavra como vrum seguida por um encltico como que, formando virmque, tem seu acento mudado de lugar22.

    H dois tipos de clticos, de acordo com as autoras: aqueles que so dependentes da Palavra Prosdica, formando junto com ela uma unidade fonolgica, como os afixos; e aqueles que revelam certa independncia, alm de sofrer as mesmas regras fonolgicas, como as palavras funcionais, as quais no portam acento primrio.

    Nespor & Vogel (1986) argumentam que no possvel classificar os clticos como parte de uma Palavra Prosdica ou do Sintagma Fonolgico devido ao seu

    carter hbrido, e comprovam isso com a anlise de vrias lnguas.

    21 Diante das consideraes feitas por Bisol, refora-se a necessidade de um estudo sistemtico da palavra

    prosdica (ou fonolgica, como tratada por Bisol) no PB, assim como j feito para o Portugus Europeu, por Vigrio (2003). Este trabalho contribuir ao estudo da palavra prosdica na medida em que define o estatuto prosdico das palavras funcionais. 22

    Conferir outros exemplos em Nespor & Vogel (1986).

  • 18

    Zwicky (apud Nespor & Vogel, 1986) menciona que os clticos pronominais no afetam de qualquer forma a localizao do acento no Espanhol, e isso evidncia do seu estatuto independente palavra hospedeira. Assim o verbo dndo mantm a posio de seu acento principal, mesmo quando seguido por dois clticos, como em

    dndonoslos [[dando][nos]C [los]C]GC. O Grupo Cltico seria o nvel da hierarquia que mapeia os componentes

    sintticos e fonolgicos, conforme o algoritmo proposto em (11).

    (11) Formao do Grupo Cltico23: I. Domnio de C: O domnio de C consiste de uma Palavra Prosdica que seja independente (no-cltico) mais todas as Palavras Prosdicas adjacentes, que sejam a. um Cltico derivacional (que determina o lado em que se une ao hospedeiro, direito ou esquerdo), ou b. um cltico (que pode encontrar seu hospedeiro tanto do lado direito, quanto do lado esquerdo), tal que no haja hospedeiro possvel com o qual compartilhe mais categorias comuns. II. Construo de C: Reunir em uma ramificao n-ria C todas as PWs includas em uma seqncia delimitada pela definio do domnio de C.

    Embora alguns autores afirmem a existncia desse constituinte nas lnguas, Selkirk (1984, 1986), Selkirk & Shen (1990), Peperkamp (1997), Vigrio (2003, 2007), entre outros vo contra essa posio, pois afirmam que os clticos algumas vezes se

    comportam como afixos e se juntam palavra vizinha, e ambos so prosodizados como um nico constituinte, a Palavra Prosdica. Em outras se comportam como palavra independente, pertencendo ao Sintagma Fonolgico.

    O ponto mais discutido com relao definio de Grupo Cltico conforme proposto por Nespor & Vogel (1986) o fato dos clticos formarem Palavras Prosdicas independentes, visto que a principal caracterstica do cltico ser acentualmente inerte, propriedade bsica de uma Palavra Prosdica. Vigrio (2007) afirma que essa assuno contra-intuitiva e teoricamente problemtica.

    Inkelas (1990), utilizando o Princpio da Economia, sugere que o Grupo Cltico pode ser reinterpretado em Palavra Prosdica lexical e regras lexicais versus Palavra Prosdica ps-lexical (que podem incluir clticos) e regras ps-lexicais.

    23 Trecho original de (Nespor & Vogel, 1986, p. 154): Clitic group formation. I. C domain. The domain of

    C consists of a PW containing na independent (i.e. nonclitic) word plus any adjacent PWs containing a. a DCL, or b. a CL such that is no possible host with which it shares more category memberships. II. C construction. Join into n-ary branching C all PWs included in a string delimited by the definition of the domain of C.

  • 19

    H ainda outras propostas de substituio ou eliminao desse domnio prosdico, mas o fato de que, em vrias lnguas os clticos se ligam a nveis superiores na hierarquia prosdica, tambm indicativo de que no existe um constituinte responsvel pela organizao dos clticos, visto que os clticos no podem variar, de

    lngua para lngua, o domnio ao qual se unem. Vigrio (2007) ressalta que a eliminao do Grupo Cltico cria novos

    problemas, como por exemplo, a prosodizao dos compostos como guarda-chuva que possuem mais de uma Palavra Prosdica, por isso a autora prope estruturas recursivas em que um n Palavra Prosdica domina outros ns do mesmo nvel, como em [[guarda]PW[chuva]PW]PW.

    Para suprir a problemtica criada com a extino do Grupo Cltico, Vigrio (2007) prope um constituinte do mesmo nvel, o qual recebe a designao de Grupo de Palavra Prosdica. Assim, a hiptese formulada por Vigrio a de que o constituinte intermedirio entre Palavra Prosdica e Sintagma Fonolgico, agrupa Palavras Prosdicas. A autora ressalta que este termo intuitivo e transparente, uma vez que reflete o tipo de constituinte que se agrupa no seu interior, preservando a coerncia terminolgica da hierarquia prosdica, alm de ser conservador por manter a expresso Grupo. Como dito na seo anterior, o Grupo de Palavra Prosdica inclui outras designaes como Palavra Prosdica Mxima/Maior ou Palavra Prosdica Composta e Mnima/Menor, j propostas em Vigrio (2003).

    Concluda a apresentao da definio do domnio de Palavra Prosdica,

    com base nas propostas tericas e a discusso do constituinte Grupo Cltico na hierarquia prosdica, passamos prosodizao de palavras na seo seguinte. Vale

    ressaltar que dentre as propostas apresentadas a que melhor engloba os fatos a serem investigados neste trabalho e parece mais coerente, a proposta de Vigrio (2007), principalmente pelo modo com que lida com os clticos em relao ao seu hospedeiro.

    2.3. A prosodizao de palavras

    2.3.1. Diagnsticos para a Palavra Prosdica

  • 20

    Considerando que dependendo da posio dentro de I e do contexto discursivo, as palavras funcionais podem ser prosodizadas de modos diferentes, apresentaremos nesta seo quais os principais modos de se diagnosticar uma Palavra Prosdica. Se as palavras funcionais no forem Palavras Prosdicas na representao

    fonolgica, elas sero clticos prosdicos. Segundo Vigrio (2003), os mais comuns diagnsticos para a Palavra

    Prosdica so: atribuio de acento primrio; fenmenos fonolgicos que se referem ao domnio da Palavra Prosdica; generalizaes fonotticas; apagamento sob identidade24; clipping25; requerimento de palavra mnima; e silabificao. No caso do PE, a autora ressalva que nem todos esses fenmenos so diagnsticos confiveis para o domnio da

    Palavra Prosdica. No caso do PB, discutiremos apenas os fenmenos que forem importantes para a prosodizao das palavras funcionais quando Palavras Prosdicas,

    pois estudar amplamente o domnio da Palavra Prosdica na variedade brasileira foge ao objetivo deste trabalho. Por hora, restringir-nos-emos s palavras funcionais.

    O domnio da Palavra Prosdica deve aceitar apenas um acento, logo a atribuio de acento primrio um dos principais diagnsticos para analisar nossos dados. Considerando que as palavras funcionais investigadas so monossilbicas e destitudas de acento primrio por no formarem um p, somente sero prosodizadas como Palavras Prosdicas se receberem algum tipo de proeminncia ps-lexical, tal

    como proeminncia principal de I ou . Assim como outros domnios, o domnio da Palavra Prosdica um domnio

    de aplicao de regras fonolgicas (cf. Nespor & Vogel 1986). As palavras funcionais do PB sofrem alguns processos fonolgicos tal como reduo da vogal, sndi externo entre outros. Entretanto, somente a ocorrncia desses processos em seqncias que

    envolvem palavras funcionais no suficiente para diagnostic-las como Palavras Prosdicas. Mesmo porque, por no haver muitos trabalhos que tratam desse assunto, necessrio investigar quais fenmenos fonolgicos referem-se somente ao domnio da Palavra Prosdica em PB.

    Alm desses dois diagnsticos, como afirmado por Vigrio, a Palavra Prosdica o domnio para generalizaes fonotticas, como por exemplo, no italiano,

    24 Deletion under identity.

    25 Por no termos encontrados um termo referente a esse processo no PB, vamos us-lo em ingls.

  • 21

    palavras prosdicas no iniciam com consoantes palatais como [] (cf. Peperkamp 1997). Segundo Bisol (2005) e Vigrio (1999), o portugus aceita que os clticos pronominais como o lhe iniciem por consoante palatal [], o que seria inaceitvel se fosse uma Palavra Prosdica, exceto em casos de emprstimos como nhoque e lhama.

    H tambm o apagamento sob identidade. Autores como Booij (1985, 1988), Wiese (1993, 1996), e Kleinhenz (1994) propem que no holands e no alemo o apagamento de um elemento dentro de palavras complexas em estruturas coordenadas

    depende no somente de informaes morfossintticas, mas tambm do estatuto prosdico do elemento a ser omitido na seqncia, ou seja, esse elemento deve ser uma Palavra Prosdica independente. No caso do PB, o apagamento entre termos coordenados parece ser bastante produtivo, como em pr-avaliao e ps-avaliao> pr e ps avaliao, no entanto, no parece o ser quando um dos termos uma palavra funcional por amor e pelo dio > *por e pelo dio.

    Alm dos fenmenos mencionados acima, algumas lnguas tm mostrado ter

    a sndrome da palavra mnima, isto , uma Palavra Prosdica tem que ter um tamanho mnimo, como por exemplo, tem que ser dissilbica ou bimoraica. Em lnguas como o

    PE e o PB, uma Palavra Prosdica pode consistir em um monosslabo tnico, como d, ou tono de. Logo esse requerimento no serve para identificar uma Palavra Prosdica no PB.

    Outro processo que serve como evidncia do domnio da Palavra Prosdica

    o clipping (truncation). Em algumas lnguas, operaes morfolgicas consistem no encurtamento de palavras, das quais as formas de output formam uma Palavra Prosdica

    (mnima), como por exemplo, no italiano, amplificatore > ampli. O mesmo acontece no PB, como por exemplo faculdade > facul, e alguns at j so fossilizados como motocicleta > moto. No entanto, o mesmo no notado quando a palavra a ser encurtada uma palavra funcional, pois no uma palavra de contedo.

    Um ltimo diagnstico o domnio da silabificao. Em lnguas romnicas, segundo Vigrio (2003), esse critrio no claro devido existncia da silabificao no nvel da palavra e a ressilabificao entre palavras, logo no adequado para diagnosticar uma Palavra Prosdica em portugus.

  • 22

    Vrios fenmenos podem ser pistas do domnio de Palavra Prosdica, de acordo com Vigrio (2003), entretanto somente alguns podem identificar Palavras Prosdicas em determinadas lnguas. No caso do PB, veremos nos captulos a seguir, a discusso dos fenmenos relevantes para a prosodizao das palavras funcionais.

    2.3.2. A prosodizao dos clticos

    Nos casos em que as palavras funcionais no so prosodizadas como Palavras Prosdicas, elas sero clticos, os quais iro se apoiar em algum hospedeiro. De acordo com as propostas encontradas na literatura, e excluindo o Grupo Cltico da

    hierarquia prosdica, os clticos podem ser integrados a estrutura prosdica de modos diferentes: (i) ser diretamente ligado ao Sintagma Fonolgico; (ii) ser adjungido Palavra Prosdica; ou (iii) ser incorporado Palavra Prosdica.

    Selkirk (1995) afirma que os clticos funcionais podem ser prosodizados de trs modos diferentes: clticos livres, clticos afixais e clticos internos. A diferena entre um e outro est no tipo de configurao prosdica em que o cltico aparece em relao Palavra Prosdica. A autora assume que as diferentes prosodizaes das palavras funcionais deve-se ao fato dos critrios de no-recursividade e exaustividade serem violveis, pois ambos ferem a Strict Layer Hypothesis, o que impediria tais prosodizaes.

    Para Vigrio (2003), necessrio usar como diagnstico alguns processos fonolgicos para estabelecer qual modo com que o cltico ser integrado estrutura prosdica, tal como a regra de atribuio de acento primrio. No caso do PB, palavras

    funcionais monossilbicas no formam um p, logo no recebem acento primrio, sendo prosodizadas como clticos.

    Quanto prosodizao dos clticos, Vigrio (2003, p. 28-29) afirma que pode haver variao, e isso depende da direo de cliticizao de cada lngua, ou

    tambm da seqncia segmental que resultar a combinao entre palavra lexical e palavra cltica. No holands, por exemplo, os proclticos so adjungidos Palavra Prosdica seguinte, enquanto que os enclticos so incorporados Palavra Prosdica antecedente (cf. Booij 1996). No caso do PB, segundo Bisol (2005) e Brisolara (2008),

  • 23

    os clticos so adjungidos Palavra Prosdica no ps-lxico, independentemente de serem proclticos ou enclticos.

    Brisolara (2008, p. 154) argumenta que se a seqncia cltico+hospedeiro fosse inserida no nvel do sintagma (fonolgico ou entoacional), isso implicaria mudar o domnio de aplicao de regras da lngua, como a neutralizao das tonas finais e a palatalizao das plosivas coronais.

    No decorrer desse trabalho, discutiremos novamente tais questes sobre o PB.

    2.4. A prosodizao das palavras funcionais na literatura

    Para iniciar a discusso sobre o estatuto prosdico das palavras funcionais no

    PB, enfatizando o modo como so prosodizadas, faz-se necessrio apresentar o que j se tem afirmado sobre o estatuto prosdico destas palavras nas lnguas em geral, como por exemplo, os trabalhos de Selkirk (1995) para o ingls, Vigrio (1999) para o PE, os quais serviram de base para nossa reflexo inicial e levantamento das hipteses sobre o PB. A seguir apresentamos os trabalhos referidos.

    2.4.1. Selkirk (1995)

    As palavras funcionais tm propriedades fonolgicas diferentes das palavras

    lexicais em qualquer lngua, e estruturas que contm palavras funcionais (Func) podem ser prosodizadas de vrias maneiras, como afirmado por Selkirk (1995).

    Com base nessa considerao, a autora apresenta evidncias de que as palavras funcionais em ingls podem ser prosodizadas como Palavras Prosdicas independentes ou como um dos trs diferentes tipos de cltico prosdico apresentados em (12) 26 e, como j apresentado na seo anterior, infere que a prosodizao das palavras funcionais reflete a maneira como so organizadas em Palavras Prosdicas na sentena.

    Assim, um sintagma formado por uma seqncia de palavras lexicais (Lex) na representao morfossinttica (S-estrutura) prosodizado como uma seqncia de

    26 Para a autora, o termo cltico prosdico considerado uma palavra morfossinttica, mas no uma

    Palavra Prosdica independente.

  • 24

    Palavras Prosdicas em uma representao fonolgica (P-estrutura). No entanto, quando o sintagma composto por palavras funcionais, a prosodizao variada, pois, ora podem ser Palavras Prosdicas, ora um dos trs diferentes tipos de clticos prosdicos (ver (12)). Diante da sequncia formada por uma palavra funcional e uma palavra lexical, [Func Lex], por exemplo, quatro diferentes organizaes em Palavras Prosdicas esto, em princpio, disponveis:

    (12) 27 S-estrutura [Func Lex] P- estrutura28 (i) (( func)PW (lex)PW )PPh Palavra prosdica

    Cltico prosdico: (ii) (func (lex)PW )PPh cltico livre (iii) ((func lex)PW)PW)PPh cltico interno (iv) ((func(lex)PW)PW)PPh cltico afixal29

    Em (ii), a palavra funcional irm de uma Palavra Prosdica e filha de um Sintagma Fonolgico, e classificada por Selkirk como cltico livre (free clitic). Em (iii), a palavra funcional classificada pela mesma autora como cltico interno (internal clitic) e dominada pela mesma Palavra Prosdica que domina a palavra lexical (sua palavra irm). Em (iv), a palavra funcional irm de Palavra Prosdica e dominada por Palavra Prosdica, e classificada por Selkirk como cltico afixal

    (affixal clitic). 30 A classificao quanto ao tipo de cltico prosdico, no qual a palavra

    funcional consiste, depende da interao de vrios tipos de restries na estrutura prosdica, entre elas, as restries de dominncia prosdica e as restries de

    alinhamento das fronteiras dos constituintes.

    27 Trecho original (Selkirk, 1995, p. 441):

    S-structure [Func Lex] P- strucuture (i) ( ( func)PW (lex)PW )PPh Prosodic word Prosodic Clitics: (ii) (func (lex)pwd )pph free clitic (iii) ((func lex)pwd)pwd)pph internal clitic (iv) ((func(lex)pwd)pwd)pph affixal clitic 28

    Mantivemos as siglas propostas por Selkirk (1995) para a Palavra Prosdica (PW) e para o Sintagma Fonolgico (PPh) em (12). 29

    O cltico prosdico usado por Selkirk (1995) diz respeito Palavra Prosdica, pois todos os clticos prosdicos so definidos pela autora em termos da relao de dominncia e irmandade em relao Palavra Prosdica. 30

    Tais definies para palavra funcional so motivadas nas duas lnguas estudadas pela autora, o Ingls e Servo-Croata.

  • 25

    As restries existentes na interface entre estrutura morfossinttica e

    estrutura prosdica no fazem referncia s categorias funcionais, sendo restritas somente s categorias lexicais, as quais sero responsveis pela disponibilidade de analisar as palavras funcionais como clticos prosdicos ou no e quanto ao tipo de

    cltico prosdico que constituem.

    (13) Restries de alinhamento de Palavra Prosdica (PWCont)31 (i) Alinhe (PWd, L; Lex, L) (= PWd ConL) (ii) Alinhe (PWd, R; Lex, R) (= PWd ConR)

    Segundo a teoria do alinhamento generalizado apresentada em (13), para delimitar uma Palavra Prosdica na representao, sua fronteira esquerda (L) deve coincidir com a fronteira esquerda de alguma palavra lexical (Lex). Se todas as condies forem respeitadas, as palavras funcionais sozinhas no teriam o estatuto de Palavra Prosdica. O modo preciso em que as restries de dominncia e alinhamento

    so hierarquizadas na gramtica de uma lngua particular fornece a base para explicar qual das variedades de prosodizao, ou seja, sob quais tipos de clticos prosdicos, palavras funcionais so realizadas em uma configurao morfossinttica particular de uma dada lngua.

    No Ingls, as palavras funcionais so preposies, artigos, verbos auxiliares, complementizadores, e pronomes pessoais, as quais podem ser ou fracas, isto , sem

    acento e reduzidas, ou fortes, acentuadas e no reduzidas. Segundo a autora, as palavras funcionais do ingls aparecem como formas

    fortes quando (i) forem pronunciadas isoladamente, sendo acentuadas e com uma vogal de qualidade igual de monosslabos da categoria lexical; (ii) aparecerem focalizadas; e (iii) estarem em posio final de sintagma. Nos casos (i) e (ii), as palavras funcionais so formas fortes, pois recebem um acento tonal (pitch accent) ou um acento frasal (phrasal accent), os quais so associados respectivamente s slabas acentuadas e ao final de um sintagma. No caso (iii), a posio final de sintagma forte porque acento tonal ou acento frasal.

    31 Trecho original (Selkirk, 1995, p. 445): The prosodic Word alignment constraints (PWdCont)

    (i) Align (PWd, L; Lex, L) (= PWd ConL) (ii) Align (PWd, R; Lex, R) (= PWd ConR)

  • 26

    Nos demais casos, as palavras funcionais sero formas fracas, apresentando propriedades de slabas sem acento, propensas a sofrer reduo da vogal entre outros processos fonolgicos (cf. Selkirk, 1995, p. 447). Quando em posio no final, as funcionais no recebem a marcao de acento tonal ou frasal, e na ausncia destes, a

    estrutura prosdica da palavra funcional depende da posio em que est encaixada na sentena. Se seguida por uma palavra lexical dentro de um sintagma, a palavra

    funcional aparece como fraca.

    Em suma, para Selkirk (1995), a diferena entre uma palavra lexical e uma palavra funcional que as palavras funcionais no tm o estatuto de Palavra Prosdica na representao fonolgica e que podem aparecer como uma variedade de clticos

    prosdicos em uma mesma lngua e em outras. Isto porque as fronteiras das palavras funcionais no esto alinhadas com as fronteiras das Palavras Prosdicas, assim como

    as fronteiras das palavras lexicais esto alinhadas com as fronteiras das Palavras Prosdicas, estando as palavras funcionais livres para serem organizadas de outro modo, tais como os apresentados em (12).

    2.4.2. Vigrio (1999)

    Na tentativa de definir quais palavras funcionais no so acentuadas no PE, Vigrio (1999) discute que tais palavras so prosodizadas, fazendo uso de estruturas de incorporao e de adjuno, assim como proposto por Selkirk (1995), Booij (1996) e Peperkamp (1996, 1997).

    A autora analisa palavras funcionais monossilbicas, tais como preposio,

    artigos, pronomes pessoais, conjunes e complementizadores. Tais palavras so prosodicamente deficientes no sentido de que no so prosodizados no lxico como palavras de contedo (semntico), segundo Anderson (1992) e Booij (1996).

    As pistas iniciais que distinguem tais palavras no PE so a reduo da vogal

    e o acento. A regra de reduo voclica um processo que ala uma vogal no-alta sem acento e centraliza a vogal no posterior. Embora essa regra no se aplique a todas as

    vogais no acentuadas, somente pode ocorrer com vogais em posio tona. Esse argumento serve para as formas contradas envolvendo preposio mais artigo, como

  • 27

    da e pelo, pronomes pessoais e tambm palavras dissilbicas como para e cada,

    desde que tenham todas as vogais reduzidas como // e //.

    No entanto, a reduo da vogal no pode ser usada para demonstrar que

    todas as palavras funcionais no so acentuadas, pois vogais altas, ditongos, e vogais nasais no sofrem reduo. No que se refere s vogais altas, Vigrio afirma que elas

    podem semivocalizar quando seguidas por uma vogal, como em a blusa azul e a

    amarela [ja] ou em queria ver o animal [wa]. Para as palavras funcionais restantes, como por exemplo, palavras funcionais

    com vogal nasal como com, a autora afirma que as vogais nasais podem reduzir, como

    em com+a [k], perdendo a vogal nasal e se contraindo com a vogal seguinte.

    Alm dos processos fonolgicos de reduo, as palavras funcionais do PE

    no podem (i) receber proeminncia de , nem ser elementos proeminentes de I, pois essa possibilidade disponvel apenas para itens lexicais acentuados, como o marcador

    de negao no; (ii) no podem ser o elemento proeminente de I por atribuio de acento de foco, pois essa possibilidade disponvel apenas a itens lexicais; (iii) no podem ser marcadas com acento tonal, apesar de que no PE possvel que recebam

    acento tonal, mesmo que no sejam ncleo de , e isso possvel pela posio que a palavra funcional ocupa na sentena e no pelo acento que portam, ou seja, quando a fronteira de I ocorrer direita de uma palavra funcional, como no caso de complementizadores como o que que introduzem uma sentena encaixada (cf. Ladd 1996 e Frota 1997).

    Dentre as classes gramaticais das palavras funcionais consideradas como

    fracas, h algumas poucas formas pertencentes a algumas dessas classes gramaticais que no foram consideradas por falta de argumentos claros que mostrassem que so lexicalmente sem acento, tais como as conjunes quer, pois e nem; a preposio sem; o artigo indefinido um e o pronome relativo ou interrogativo que, o qual,

    funcionando como pronome interrogativo, tem forma forte em alguns contextos, sendo um dos exemplos de varincia entre forte e fraco no PE.

    Assim, dentre as palavras funcionais observadas, Vigrio notou que elas so prosodizadas no lxico como slabas, mas no como ps ou Palavras Prosdicas32, e que

    32 No texto de Vigrio (1999), a autora utiliza o termo Palavra Fonolgica.

  • 28

    esses elementos so afetados por processos fonolgicos que se aplicam no lxico e, como so prosodicamente deficientes, precisam de um hospedeiro para se apoiar, porm, esse processo de unio das palavras funcionais a um hospedeiro ocorre no ps-lxico.

    No nvel ps-lexical, os enclticos so incorporados Palavra Prosdica precedente, pois segundo Vigrio, alguns processos segmentais mostram que a

    seqncia de verbo + cltico pronominal tratada como uma nica Palavra Prosdica, como por exemplo, a regra de apagamento de vogal no-posterior que tem como domnio a Palavra Prosdica. Tal regra apaga a vogal final de uma Palavra Prosdica quando seguida por outra vogal e obrigatria entre Palavras Prosdicas, como

    podemos observar em pede azeitonas [p.da.ze.to.nas]. No entanto, quando a primeira palavra seguida por um encltico, a regra no se aplica na palavra lexical, podendo ocorrer na prpria palavra funcional, como em peo-te azeitonas

    [p.su.ta.ze.to.nas], pois a fronteira final do encltico coincide com a fronteira final de Palavra Prosdica.

    Outras duas regras que corroboram a anlise sobre a incorporao do

    encltico so o processo de semivocalizao das vogais altas quando precedidas por

    outra vogal, como em esse livro, vi-o na sala [i/ iw], todavia no se aplica entre

    Palavra Prosdica, como em a velha usou a amiga *[w], e a regra de apagamento da vogal posterior final em Palavra Prosdica, pois a regra s ocorre em final de Palavra

    Prosdica e quando uma palavra es