tÓpicos emergentes e desafios metodolÓgicos em engenharia de … · a associação brasileira de...

160
TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO: CASOS, EXPERIÊNCIAS E PROPOSIÇÕES - Volume VI ORGANIZADORES Vanderli Fava de Oliveira Vagner Cavenaghi Francisco Soares Másculo AUTORES Márcia Elisa Echeveste Guilherme Petry Breier Sandra Rufino Rejane Frozza

Upload: vuongtram

Post on 01-Jan-2019

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOSMETODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO:

CASOS, EXPERIÊnCIAS E PROPOSIÇÕES - Volume VI

ORGANIZADORES

Vanderli Fava de Oliveira

Vagner Cavenaghi

Francisco Soares Másculo

AUTORES

Márcia Elisa Echeveste

Guilherme Petry Breier

Sandra Rufi no

Rejane Frozza

Page 2: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

© 2013 ABEPRO – Associação Brasileira de Engenharia de ProduçãoAv. Almirante Barroso, 63 - Sala 417 - Centro

Rio de Janeiro – RJ – CEP: 20031-003

Tópicos Emergentes e Desafios Metodológicos em Engenharia de Produção: Casos, Experiências e Proposições (Volume VI) / Vanderli F Oliveira, Vagner Cavenaghi & Francisco S Másculo : Organizadores – Rio de Janeiro: ABEPRO, 2013 160p

XXXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP 2012) – Bento Gonçalves, 15 a 18 de outubro de 2012

ISBN: 978-85-88478-46-6

1 – Engenharia de Produção; 2 – Engenharia do Produto; 3 – Eco-Inovação; 4 – Gestão do Conhecimento; 5 - Extensão

I. Título

CDU: 658.5

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da Abepro e dos autores, poderá ser repro-duzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados: Eletrônicos, mecânicos,

fotográficos, por gravação ou quaisquer outros.

Este livro foi editado a partir das Sessões Dirigidas realizadas noXXXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção

ENEGEP 2012 (Bento Gonçalves, 15 a 18 de outubro de 2012)

Page 3: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Diretoria da ABEPRO:

Vagner Cavenaghi (UNESP) | Diretor-presidente

Milton Vieira Júnior (UNINOVE) | Vice-presidente

Rui Francisco Martins Marçal (UTFPR) | Diretor Administrativo Financeiro

Francisco Soares Másculo (UFPB) | Diretor Científico

Luis Felipe R. R. Scavarda do Carmo (PUC-RIO) | Primeiro Suplente

Thiago Antonio de Souza (UEM) | ABEPRO Jovem

Núcleo Editorial da Abepro (NEA)

Francisco Soares Másculo (UFPB) | Coordenador

Helder Gomes Costa (UFF)

Enzo Frazzon (UFSC)

Linda Lee Ho (USP)

José Paulo Alves Fusco (UNESP)

Horácio Hideki Yanasse (UFLA)

Sérgio Gouvea (PUC-PR)

Page 4: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção
Page 5: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

SUMÁRIO

Prefácio _______________________________________________________________________ 9

Apresentação __________________________________________________________________ 13

Capítulo 1:SERVITIzAçãO, PRODUTIzAçãO E product service system: NOVAS ESTRATéGIAS DE INTEGRAçãO PRODUTO-SERVIçOMárcia Elisa Echeveste, Edson Pacheco Paladini, Ana Paula B. Barquet, Amanda Sória Buss, Cláudia Fabiana Gohr, Henrique Rozenfeld, Istefani Carísio de Paula, Luciano Costa Santos, Marly Monteiro de Carvalho, Roberto Gilioli Rotondaro e Veridiana Rotondaro Pereira

1. Introdução __________________________________________________________________ 17

2. Framework conceitual para pss _________________________________________________ 20

3. Conceito de valor e suas implicações sobre as estratégias inovadoras de negócio __________ 27

4. construção da teoria dos sistemas produto-serviço __________________________________ 33

5. Orientação de uso do produto e a importância relativa do serviço em Soluções produto-serviço ________________________________________________________ 40

6. Considerações finais __________________________________________________________ 46

7. Questões para discussão _______________________________________________________ 52

8. Referências bibliográficas ______________________________________________________ 53

Page 6: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2:ECO-INOVAçãO, FATOR DE SUCESSO PARA AS EMPRESAS SUSTENTÁVEISGuilherme Petry Breier, Lia Buarque de Macedo Guimarães, Camila Duarte Teles, Carla Schwengber ten Caten, Carlos Fernando Jung, Claudete Barbosa Ruschival, Eduardo Miguel Talmasky, Fernando Antonio Forcellini, José Luis Duarte Ribeiro, Karina Rossini, Maria Auxiliadora Cannarozzo Tinoco, Pio Campos Filho, Sheila Cordeiro Mota e Wladmir Henriques Motta

1. Introdução __________________________________________________________________ 63

2. Métodos para sustentabilidade: Uma síntese diferencial das finalidades e características para a eco-inovação ________________________________________________ 65

3. Uma sistemática para o redesign de produtos remanufaturáveis: Processo de desenvolvimento e avaliação da viabilidade _______________________________ 75

4. Cocriação de valor: eco-inovação como modelo de vantagem competitiva _______________ 82

5. Eco-inovação e a análise do ciclo de vida do produto ________________________________ 84

6. Práticas ambientais de empresas brasileiras que contribuem para a eco-inovação _________ 88

7. Considerações finais __________________________________________________________ 93

8. Referências _________________________________________________________________ 94

Page 7: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 3:Formação do engenheiro com responsabilidade social e ambientalCiliana Regina Colombo, Sandra Rufino, Maurício Dwek, Maria José Gazzi Salum, Ana Maria Coulon Grisa, Rosmary Nichele Brandalise, Ivete Ana Schmitz Booth, Valquíria Villas-Boas, Robson Arruda dos Santos e Ana Cristina Taigy

1. A sustentabilidade na formação dos engenheiros: Como vem sendo trabalhada? _________ 105

2. Possibilidades (ou caminhos) de uma formação crítica voltada à sustentabilidade ________ 107

3. Metodologias aplicadas para a formação de engenheiros socioambientalmente responsáveis _____________________________________ 113

4. Considerações finais _________________________________________________________ 124

5. Referências bibliográficas _____________________________________________________ 125

Page 8: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 4:GESTãO DO CONHECIMENTO COMO FERRAMENTA DE COMPETITIVIDADE NAS EMPRESASRejane Frozza, Daniela Duarte da Silva Bagatini, Alberto Bastos do Canto Filho, Dáila Elisa Dorfey, Eduardo Urnau, Jacqueline Nunes Cavalcante, José Manuel Cárdenas Medina, José Valdeni de Lima, Liane MahlmannKipper, Liane Margarida Rochenbach Tarouco , Maria de Lourdes Barreto Gomes e Mauro de Mesquita Spinola

1. Introdução _________________________________________________________________ 129

2. Fundamentos sobre gestão do conhecimento e processos ____________________________ 131

3. Ferramentas de apoio à gestão do conhecimento ___________________________________ 135

4. Cenários e práticas para gestão do conhecimento __________________________________ 148

5. Considerações Finais ________________________________________________________ 155

6. Referências ________________________________________________________________ 156

Page 9: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

9

PREFÁCIO

A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção o sexto volume da coleção Tópicos Emergentes e Desafios Metodo-lógicos em Engenharia de Produção: casos, experiências e proposições.

Este livro é uma coletânea elaborada a partir das Sessões Dirigidas apresentadas no XXXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção, ENEGEP 2012, realizado em Bento Gonçal-ves, entre os dias 15 e 18 de outubro de 2012. O resultado final desta atividade é publicado na forma de um livro multiautoral cujos capítulos representam a consolidação dos trabalhos apresentados e das discussões ocorridas em cada SD. Vale ressaltar que este é um espaço privi-legiado de discussão acadêmica para os pesquisadores seniores disponibilizado no ENEGEP.

O primeiro capítulo 1 tem como título: Servitização, produtização e product service sys-tem: novas estratégias de integração produto-serviço. Apresenta como autores: Márcia Elisa Echeveste (UFRGS), Edson Pacheco Paladini (UFSC), Ana Paula B. Barquet (EESC–USP), Amanda Sória Buss (UFRGS), Cláudia Fabiana Gohr (UFPB), Henrique Rozenfeld (EESC–USP), Istefani Carísio de Paula (UFRGS), Luciano Costa Santos (UFPB), Marly Monteiro de Carvalho (USP), Roberto Gilioli Rotondaro (USP) e Veridiana Rotondaro Pereira (USP).

Neste capítulo é abordada a diversificação das atividades como a gênese de novas estra-tégias competitivas nas empresas cujos processos de atuação estão focados na produção de bens industriais ou na prestação de serviços. São apresentados dois modelos: a servitização e a produtização. Estas opções envolvem atitudes inovadoras, na forma de agregação de valor aos produtos, seja por meio de serviços que são associados a bens físicos ou de ações concre-tas associadas a serviços. O capítulo apresenta pesquisas relativas aos temas de Servitização, Produtização e Product Service System (PSS), onde é apresentado o conceito de PSS, Product--services system, inicialmente definido como uma forma de prover uma infraestrutura para gerir produtos, desenvolver serviços e atentar para os stakeholders que interagem no siste-ma, com o objetivo de atender satisfatoriamente aos usuários e reduzir o impacto ambiental.

No segundo capítulo é abordado o tema da Eco-inovação como fator de sucesso para as empresas sustentáveis. Tem como autores: Guilherme Petry Breier (UniRitter), Lia Buarque de Macedo Guimarães (UFRGS), Camila Duarte Teles (IFRS), Carla Schwengber ten Caten (UFRGS), Carlos Fernando Jung (FACCAT), Claudete Barbosa Ruschival (UFAM), Edu-

Page 10: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

ardo Miguel Talmasky (UDESC), Fernando Antonio Forcellini (UFSC), José Luis Duarte Ribeiro ( UFRGS), Karina Rossini (UFRGS), Maria Auxiliadora Cannarozzo Tinoco (UFR-GS), Pio Campos Filho (UDESC), Sheila Cordeiro Mota (UFAM), e Wladmir Henriques Motta ( SENAI-CETIQT).

No bojo da realização da ECO 92, evento em que foram discutidas medidas para dimi-nuirmos o impacto ambiental causado pela atividade industrial, e da RIO+20 foram trata-das novas políticas de desenvolvimento voltadas para os parâmetros sociais e ambientais. Uma dessas políticas debatidas trata da questão da inovação focada na questão ambiental, a qual nesse capítulo recebe o nome de ECO-INOVAÇÃO.

O termo “eco-inovação” tem sido utilizado cada vez mais nas políticas de gestão am-biental das empresas e governos, embora em contextos e situações diversas e com variadas conotações que, infelizmente, resultam na redução do seu valor prático.

As definições de eco-inovação são bem generalistas e, por essa razão, muitos tipos de inovações podem ser consideradas como eco-inovações. Ao identificar as diferentes di-mensões da eco-inovação, mostrando sua diversidade e abordando o processo e os impac-tos dos resultados esperados, os autores pretendem mostrar a riqueza das formas que ela pode gerar nos processos de melhoria econômica, social e ambiental desempenhados pela indústria nacional.

O capítulo três trata do tema da formação do engenheiro com responsabilidade social e ambiental. São autores: Ciliana Regina Colombo (UFRN), Sandra Rufino (UFOP), Maurício Dwek (UFRJ), Maria José Gazzi Salum (UFMG), Ana Maria Coulon Grisa (UCS), Rosmary Nichele Brandalise (UCS), Ivete Ana Schmitz Booth (UCS), Valquíria Villas-Boas (UCS), Robson Arruda dos Santos (UFPB), Ana Cristina Taigy (UFPB).

O texto aborda o papel fundamental que a engenharia tem no desenvolvimento da socie-dade, tanto no que tange às dimensões técnica e econômica, que são bastante trabalhadas na formação destes profissionais. Ressalta que também são importantes as dimensões social, cultural, política e ambiental. Daí, a formação destes profissionais precisa ser transformada para atender a esses requisitos, bem como às diretrizes curriculares que já os incorporam. É enfatizado que a sustentabilidade está no discurso, ou na intenção, também da formação em engenharia, porém na prática ainda são poucas as ações, como é mostrado nas experiências que são apresentadas no decorrer do texto.

No quarto e último capítulo tem-se como tema gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas. Os autores são: Rejane Frozza (UNISC), Daniela Duarte da Silva Bagatini (FADERGS), Alberto Bastos do Canto Filho (UFRGS), Dáila Elisa Dor-fey (UNISC), Eduardo Urnau (UNISC), Jacqueline Nunes Cavalcante (UFPB), José Manuel Cárdenas Medina (USP), José Valdeni de Lima (UFRGS), Liane MahlmannKipper (UNISC), Liane Margarida Rochenbach Tarouco (UFRGS), Maria de Lourdes Barreto Gomes (UFPB), Mauro de Mesquita Spinola (USP).

10 Prefácio

Page 11: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Prefácio 11

O capítulo mostra a necessidade de disponibilizar o conhecimento de forma simples e de fácil compreensão aos diferentes colaboradores da organização, melhorando e auxiliando os processos de tomada de decisão nas suas atividades. Segundo o texto, a existência dessa cultura contribui para a gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas.

O capítulo trata da Gestão do Conhecimento como Ferramenta de Competitividade nas Empresas e está organizado em três linhas de discussão, que são: fundamentos sobre gestão do conhecimento e processos organizacionais, ferramentas de apoio à gestão do conheci-mento e, cenários e práticas para gestão do conhecimento.

Fora de dúvida que cada um dos capítulos desta obra trás uma grande contribuição para os temas abordados. São produtos do trabalho de pesquisa de professores experientes, ou sob suas orientações, e resultados de investigações e revisões bibliográficas profundas e atu-alizadas.

Desejo-lhes bom proveito!

Prof. Francisco Soares Másculo, PhDDiretor Científico da ABEPRO

Page 12: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção
Page 13: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

13

APRESENTAÇÃO

Este é o 6º volume da atual série de livros, “Tópicos emergentes e desafios metodológi-cos em engenharia de produção: casos, experiências e proposições”, produzidos a partir das Sessões Dirigidas (SDs) que ocorrem durante o ENEGEP (Encontro Nacional de En-genharia de Produção). Os cinco volumes anteriores foram produzidos nos ENEGEPs de 2007 (Foz do Iguaçu), 2008 (Rio de Janeiro), 2009 (Salvador), 2010 (São Carlos), 2011 (Belo Horizonte) e este foi desenvolvido no XXXII Encontro Nacional de Engenharia de Produ-ção – ENEGEP 2012, ocorrido em Bento Gonçalves, 15 a 18 de outubro de 2012.

As SDs são organizadas com o objetivo de dar oportunidade a grupos de pesquisadores de diferentes instituições que trabalham em temas de interesse comum para discutirem, debaterem, trocarem ideias e experiências acadêmicas e científicas de uma forma mais es-truturada e aprofundada do que em outras sessões do evento.

Cada SD dá origem a um capítulo do livro, e as Sessões são escolhidas entre propostas submetidas ao evento por um coordenador e um relator de instituições distintas. Após esco-lhidas as SDs, abrem-se inscrições de trabalhos, dentre os quais são escolhidos até seis para apresentação e composição das mesmas. Essa nova modalidade de Sessão teve excelente aceitação, o que pode ser atestado, entre outros, pelo grande número de artigos recebidos por pesquisadores seniores.

Uma Sessão Dirigida não se inicia nem termina no período de realização do evento. Os coordenadores e relatores das SDs iniciam a interação e discussão com os autores dos tra-balhos selecionados, pelo menos 30 dias antes do evento, com vistas à organização das mes-mas. Essa interação continua após a realização do ENEGEP quando são consolidados os trabalhos e incorporadas as discussões ocorridas durante as apresentações dos trabalhos, com o objetivo de composição final do capítulo do livro.

No seu conjunto, os capítulos constituem-se em importante material produzido por au-tores de diferentes instituições, que foram significativamente enriquecidos e validados pelas discussões presenciais com grupos afins em cada Sessão. Com isso, este livro representa não só a visão de seus coordenadores, mas também os resultados dos debates das ideias e das conclusões que os autores dos demais trabalhos levaram a cabo nas discussões ocorridas em suas respectivas SDs.

Page 14: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

O processo de construção dos capítulos deste livro a partir das ideias iniciais dos reno-mados pesquisadores que são os seus autores, passando pela discussão dessas ideias em um evento da envergadura do ENEGEP, faz com que essas ideias, as reflexões e as proposições constantes desta obra sejam significativamente consistentes e sedimentadas. Além disso, a temática geral do livro, aliada à diversidade de abordagens implementadas pelos diferentes autores, faz desta uma importante obra colocada à disposição de professores, estudantes, profissionais e demais interessados.

Vanderli Fava de OliveiraVagner Cavenaghi

Francisco Soares MásculoCoordenadores das Sessões Dirigidas

Apresentação14

Page 15: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Márcia Elisa Echeveste | UFRGS

Edson Pacheco Paladini | UFSC

Ana Paula B. Barquet | EESC – USP

Amanda Sória Buss | UFRGS

Cláudia Fabiana Gohr | UFPB

Henrique Rozenfeld | EESC – USP

Istefani Carísio de Paula | UFRGS

Luciano Costa Santos | UFPB

Marly Monteiro de Carvalho | USP

Roberto Gilioli Rotondaro | USP

Veridiana Rotondaro Pereira | USP

Servitização, produtização e product service system:

novas estratégias de integração produto-serviço

CAPÍTULO 1

Page 16: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção
Page 17: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

17

1. INTRODUÇÃO

Empresas cujos processos de atuação estão focados na produção de bens industriais ou na prestação de serviços têm encontrado na diversificação de suas atividades a gênese de novas estratégias competitivas. Dois modelos bem caracterizados nesse contexto são a servitização e a produtização (BAINES et al. 2009a). Ambas as opções envolvem atitudes inovadoras, na forma de agregação de valor aos produtos, seja por meio de serviços que são associados a bens físicos (logística particularizada, por exemplo) ou de ações concretas associadas a serviços (salas Vips de aeroportos, por exemplo). O processo mais usual, adotado por um grande número de empresas, tem sido o de criar soluções integradas de bens com serviços. Na percepção do consumidor, esses recursos geram maior valor agregado e, por isso, acabam por diferenciar ações institucionais das organizações e fortalecer marcas.

1.1. Serviços agregados como vantagem estratégica

Os serviços sempre foram agregados a bens como decorrência natural do processo de desenvolvimento. O que tem mudado, nos últimos tempos, é a percepção de que mais valor pode ser adicionado a bens e serviços quando necessidades, conveniências, preferências e expectativas do usuário são compreendidas de forma abrangente. A manufatura passou a abordar os serviços como um meio de elevar o valor estratégico de seu negócio, conferindo maior importância às soluções integradas de bens e serviços. Igual movimento se observa nas organizações prestadoras de serviços. Assim, por exemplo, o valor dos serviços é notado como um importante fator competitivo, passando os bens a representar uma parte do valor criado (GEBAUER et al., 2005). A partir de 1990, a mudança nessa visão de valor se tornou mais evidente quando muitas empresas passaram a oferecer bens e serviços de forma combinada. Em consequência disso, tem-se constatado o aumento do volume de estudos científicos e técnicos sobre o tema (BAINES et al., 2009a), a maioria deles com fundamentos práticos.

Os bons resultados do setor de serviços exercem papel importante no desempenho dos demais setores da economia (GRUBEL; WALKER, 1989; WOLFL, 2005). No setor industrial, os serviços vêm apoiando a criação de diferenciais competitivos, fornecendo suporte às atividades de manufatura e gerando novas fontes de lucros (CORRÊA; CAON, 2002). Cada vez mais, o sucesso das empresas de manufatura é dependente dos serviços agregados (LOVELOCK, 1996; RUST et al., 1996 ZEITHAML; BITNER, 1996; FITZSIMMONS; FITZSIMMONS, 2005). Os serviços podem aumentar a receita sobre a base instalada de bens (KNECHT et al., 1993), permitem maiores margens de lucros (ANDERSON et al., 1997) e são fontes de receita mais estáveis na economia (QUINN, 1992). De fato, bens e serviços estão sendo tratados de forma conjunta, compondo uma única unidade de estudo e gestão (CORRÊA et al., 2007).

Page 18: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

18 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

O PSS (Product-services system), por sua vez, foi inicialmente definido como uma forma de prover uma infraestrutura para gerir produtos, desenvolver serviços e atentar para os stakeholders que interagem no sistema, com o objetivo de atender satisfatoriamente aos usuários e reduzir o impacto ambiental (GOEDKOOP et al., 1999). O PSS surgiu como um conceito a partir do termo Material Intensity Per unit Service (MIPS) e o termo Intelligent Products System (IPS) com foco na “noção de utilização” e a redução da intensidade de material por unidade de serviço (aumento da performance de uso). Seu objetivo principal era a redução dos resíduos pós-consumo (MONT, 2002). Segundo Baines et al. (2007), a evolução do conceito de serviço parte da dissociação de bens e serviços, com a consideração paralela de serviços em bens e bens em serviços até o conceito de PSS com a total desmaterialização da posse por parte do usuário.

A gestão dos serviços, seja pela perspectiva da servitização, da produtização ou do PSS, passa a ser um desafio às organizações produtivas. Segundo alguns autores, as empresas de manufatura não têm know how suficiente para desenvolver os serviços ou a condução desses serviços, sem o desenvolvimento de parcerias, não é viável (OLIVA; KALLENBERG, 2003). Nesse caso, existe carência de conhecimento dos gestores de nível estratégico sobre como tomar decisões quanto ao desenvolvimento integrado bens e serviços e, sobretudo, desconhecimento de como incorporar os requisitos de serviços ao longo de todo o processo de desenvolvimento de bens. Alguns trabalhos mais recentes também recomendaram novas pesquisas destacando essa mesma problemática, como Almeida et al. (2008) e Baines et al. (2009a). Por outro lado, os gestores podem não ter clareza sobre como desenvolver integralmente um novo negócio na perspectiva do PSS.

Dessa forma, combinar bens e serviços é uma decisão gerencial que tem gerado significativos impactos na forma de direcionar os negócios, uma vez que os limites entre a manufatura e a geração de serviços estão sendo rompidos (NEELY, 2008). Martinez et al. (2010) têm como questão de pesquisa de seu estudo desvendar quais são as mudanças enfrentadas pelas empresas quando estas deixam de focar seus portfólios unicamente em bens para tornarem-se empresas servitizadas. Os autores concluem que não existe uma compreensão clara referente a esses desafios e suas consequências para a empresa. Entretanto, afirmam que as empresas precisam passar por um processo de integração de suas atividades de manufatura e de serviços para terem sucesso na nova estratégia.

Observa-se que é considerável o desafio da integração da gestão de bens com a gestão de serviços, duas grandes áreas de conhecimento. Essa visão estratégica é prática em muitas empresas e considerada tendência em diferentes setores, o que serve de motivação para a discussão acadêmica. Conforme Baines et al. (2007), sistema de inovação transfere o foco estratégico da aquisição de produtos para a utilização de um sistema que combina bens e serviços.

Empresas que adotam essas estratégias podem precisar alterar seus modelos de negócios e programarem novas formas para gerenciarem seus processos. Isso implica realizar mudanças

Page 19: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

19

internas. Entre as mudanças internas estão incluídas as novas capacidades de gestão e operação do processo de desenvolvimento da combinação entre bens e serviços (ROTH; MENOR, 2003; BAINES et al., 2009a), a integração dos requisitos, a avaliação da qualidade e as novas ferramentas aplicáveis ao desenvolvimento e à melhoria conjunta de características de bens e de serviços.

Este capítulo apresenta pesquisas relativas aos temas de Servitização, Produtização e Product Service System (PSS). As pesquisas são apresentadas em quatro seções. A seção 2 apresenta um framework conceitual para auxiliar as empresas no entendimento de quais características de PSS considerar ao criar um modelo de negócio que retrate à integração de produtos e serviços. Discutem-se aspectos a serem considerados na cadeia de valor visando menor impacto ambiental por meio da incorporação do PSS no modelo de negócio. A seção 3 apresenta a servitização como um processo de criação de valor por meio de uma discussão da evolução do conceito de valor em diferentes áreas de conhecimento e como o conceito de valor pode ser avaliado nas estratégias inovadoras de negócio, como o PSS, a Servitização e o Design Territorial.

A seção 4 discute a teoria dos sistemas produto-serviço sob a perspectiva de processos de manufatura, suscitando a questão da necessidade de distinguir ou não processos de produto e serviços. Os autores comparam a Teoria dos PSS com a Teoria Unificada de Serviços (UST - Unified Services Theory), proposta por Sampson e Froehle (2006). Finalmente, a seção 5 propõe um modelo para entender os processos de transformação por meio do grau de importância de acordo com o uso do produto. Nesta seção, avalia-se a importância relativa do serviço em empresas com diferentes focos em relação ao produto. Dois estudos de caso são analisados: uma empresa automotiva (orientada ao produto) e uma organização de TI (orientada ao uso) que adota o produto como um item adicional da solução oferecida ao cliente.

Page 20: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

20 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

2. FRAMEWORK CONCEITUAL PARA PSS

O aumento da competitividade e das exigências de mercado leva as empresas a buscarem novas formas de gerar e oferecer valor aos seus clientes. Especificamente em empresas de manufatura, desenvolver e oferecer produtos com qualidade e baixo custo já não são fatores suficientes para diferenciação e destaque. Outros fatores se mostram essenciais, como, por exemplo, a consideração dos aspectos de sustentabilidade e inovação nos negócios e a disponibilização de ofertas customizadas que satisfaçam as necessidades de cada cliente. Nesse sentido, a abordagem Product-Service System – PSS (Sistema Produto-Serviço) tem sido apontada como uma alternativa para empresas que visam considerar esses aspectos nos seus negócios.

No PSS, é necessário quebrar o paradigma de desenvolver soluções apenas na forma de produtos físicos que serão vendidos, pois o valor será fornecido por meio da funcionalidade ou resultado que o produto é capaz de gerar. Assim, as características consideradas para ofertar valor por meio de PSS diferem-se das características dos modelos de negócio tradicionais das empresas, voltado somente para o desenvolvimento e vendas de produtos físicos. Dessa forma, o desenvolvimento do PSS engloba características do desenvolvimento de produto, mas também características do negócio, como, por exemplo, relacionamento do provedor do PSS com o cliente (TAN, 2010).

Nesse contexto, o objetivo desse trabalho é propor um framework conceitual para PSS, que considere tanto características de desenvolvimento de produtos quanto características do negócio, com intuito de fornecer uma visão completa sobre PSS.

No PSS altera-se o foco do negócio de projetar e vender somente produtos físicos, para fornecer um sistema de produtos e serviços que, em conjunto, são capazes de suprir necessidades específicas dos clientes (MONT, 2004; MANZINI; VEZZOLI, 2003). É uma nova forma de abordar a cadeia de valor e de oferecer funcionalidades aos clientes, visando gerar um menor impacto ambiental do que os produtos e serviços ofertados separadamente (MONT, 2000).

PSS é uma estratégia de inovação no negócio, sendo que a inovação é baseada em uma nova interpretação do conceito de produto e nas novas formas de coprodução de valor, considerando assim o envolvimento de diferentes stakeholders e de parcerias entre eles. Ressalta-se que as características de PSS não estão focadas apenas nos produtos e serviços, mas também nas interações com clientes, atendimento de suas necessidades e relacionamentos e responsabilidades entre os diferentes atores que trabalham juntos para oferecer PSS (MANZINI; VEZZOLI, 2003).

As principais características para desenvolver ofertas de PSS, segundo Baines et al. (2007) são: mudança de pensamento de produto para sistema; maior envolvimento e proximidade entre o cliente e provedor, desde o início do desenvolvimento; aumento do envolvimento e da

Page 21: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

21

responsabilidade do provedor em todas as fases do ciclo de vida do produto, principalmente na fase de uso.

Dessa forma, para adotar PSS, são necessárias mudanças e uma nova mentalidade tanto do provedor do PSS como do cliente. O provedor deve envolver outros atores para dar suporte ao desenvolvimento de PSS. Já os clientes precisam estar preparados para lidar com o fato de não serem mais proprietários do produto tangível (TUKKER; TISCHNER, 2006).

2.1. Método de Pesquisa

Essa pesquisa conta com três etapas: (i) a identificação das características e atributos de PSS; (ii) a integração e sistematização dessas características e atributos e (iii) a proposição do framework conceitual para PSS. Para identificar as características e atributos, investigou-se a literatura de desenvolvimento de produtos e de PSS. Para tanto, realizou-se duas Revisões Bibliográficas Sistemáticas (RBS), uma delas sobre tipologias usadas para projetos de desenvolvimento de produtos e outra sobre tipologias e características de PSS. Optou-se por analisar tipologias, pois, além delas serem usadas para caracterizar projetos (ROSENØ, 2005; DANNEELS, 2002; SHENHAR, 2001; SHENHAR; DVIR, 2007), a busca por tipologias tem sido considerada uma forma sistemática de identificar características e atributos de projeto de produto e de PSS.

A revisão bibliográfica sistemática (RBS) é uma técnica usada para mapear trabalhos publicados sobre um tema específico, visando auxiliar na elaboração de sínteses sobre o conhecimento existente do tema (BIOLCHINI et al., 2007). A RBS atribui maior rigor e níveis de confiabilidade à revisão bibliográfica, devido a sua abordagem sistemática (CONFORTO et al., 2011), transparência e possibilidade de replicação (COOK et al., 1997)in ways that limit bias, to the assembly, critical appraisal, and synthesis of all relevant studies that address a specific clinical question. A meta-analysis is a type of systematic review that uses statistical methods to combine and summarize the results of several primary studies. Because the review process itself (like any other type of research.

Para apoiar a integração e sistematização das características e atributos, foi construído um mapa conceitual de PSS. Mapas conceituais mostram a representação de ideias, pensamentos e/ou conceitos, bem como a relação entre eles, de forma concreta e objetiva, por meio de uma figura ou um mapa. Por isso, são considerados processos estruturados de conceituação e usados como ferramenta de suporte em etapas de formação de teorias e conceitos (TROCHIM, 1989). O mapa conceitual também permite a visualização dos dados de maneira rápida e holística (VIANNA et al., 2012), de forma a aumentar a compreensão sobre o fenômeno e desenvolver um entendimento compartilhado (COUSIN; MACDONALD, 1998).

A partir das características e atributos representados pelo mapa conceitual, criou-se um framework conceitual para PSS. Para organizar as características e atributos do framework

Page 22: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

22 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

foram usadas as dimensões do modelo de negócios Canvas (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2009). Nesse trabalho, dimensões, características e atributos são denominados “itens”. A Figura 1 mostra a hierarquia entre os itens.

Figura 1 - Itens do Framework Conceitual de PSS

2.2. Framework para o PSS

Por meio das revisões bibliográfi cas sistemáticas, 110 atributos e 30 características de projetos de desenvolvimento de produto foram identifi cados. Foram observados, ainda, 52 atributos e 19 características de PSS. Essas características e atributos foram organizados em 9 dimensões. A Figura 2 mostra a identifi cação dos itens de projeto de desenvolvimento de produto e de PSS.

Page 23: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

23

Figura 2 - Itens de projeto de desenvolvimento de produto e de PSS

Com intuito de integrar os itens de projeto de desenvolvimento de produto e de PSS e criar o framework conceitual, foi construído um mapa conceitual. Esse mapa foi elaborado a partir da análise dos relacionamentos entre as características e atributos identifi cados nas revisões bibliográfi cas sistemáticas. O mapa foi elaborado no soft ware livre CmapLite e pode ser visualizado na Figura 3. A Figura 3 apresenta uma versão parcial. Ver versão completa em Barquet (2012).

Conforme a fi gura, as caixas que possuem uma pequena esfera em azul representam a característica inovação e as esferas em roxo representam a complexidade. Optou-se por mostrar inovação e complexidade dessa forma, pois, como ambos estão ligados a várias outras características e atributos do mapa, a representação delas na forma de caixas poluiria o mapa e difi cultaria sua leitura e compreensão.

Page 24: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

24 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

Figura 3 - Mapa Conceitual do PSS

As caixas que possuem uma pequena esfera em azul representam a característica inovação e as esferas em roxo representam a complexidade. Optou-se por mostrar inovação e complexidade dessa forma, pois, como ambos estão ligados a várias outras características e atributos do mapa, a representação delas na forma de caixas poluiria o mapa e dificultaria sua leitura e compreensão.

A análise do mapa conceitual permitiu a identificação das relações entre as características e entre os atributos, possibilitando a integração e criação de hierarquias entre as características e entre os atributos. Essa reorganização das características e atributos deu origem ao framework conceitual, mostrado na Figura 4. Em negrito, no lado direito da figura, estão as dimensões, adaptadas do modelo de negócios Canvas (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2009). Os autores consideram que as dimensões de modelos de negócio são: segmento de mercado, relacionamento com cliente, canal de distribuição, proposição de valor, recursos, atividades,

Page 25: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

25

parcerias, modelo de receita e estrutura de custo. Foram usadas as mesmas dimensões e adicionada a dimensão estratégia. Dentro de cada dimensão, estão as características relacionadas com ela.

Figura 4 - Framework conceitual para PSS

As linhas tracejadas representam características que transcendem várias dimensões e outras características e atributos de PSS. É o caso de inovação, questões ambientais e complexidade. Por exemplo, a complexidade pode ser em tecnologia, no produto ou no processo de fabricação.

Cada característica possui dois ou mais atributos, que não estão representados na Figura 4. Por exemplo, na dimensão “Relacionamento com o cliente”, característica “propriedade do produto” engloba o atributo “transferência da propriedade do produto”. Esse atributo possui três valores, ou seja, três diferentes opções. O Quadro 1 mostra esse exemplo.

Page 26: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

26 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

Quadro 1 - Exemplo de atributo da dimensão “Relacionamento com cliente”.Fonte: (TAN; MCALOONE, 2006)

Dimensão Característica Atributo Valores

Relacionamento com o cliente

Propriedade do Produto

Transferência da propriedade do produto

depois da entrega/ compra

volta a empresa no fim de vida

nunca é transferido - propriedade da empresa

O framework proposto é útil para organizar os conhecimentos sobre PSS, de forma a mostrar as dimensões do negócio e as características de cada dimensão. O framework pode ajudar as empresas a compreender os aspectos que elas devem considerar na adoção de PSS, servindo como um checklist no momento da criação de modelos de negócio para PSS.

O mapa conceitual de PSS, além de apoiar a criação do framework, pode ser considerado uma ferramenta por si. Ele pode ser usado para armazenar e disseminar conhecimentos sobre PSS para equipes de inovação e de desenvolvimento e ser atualizado conforme novos conhecimentos e experiências forem sendo adquiridos. Além disso, mostra a relação entre as características de PSS, fornecendo uma visão holística e compartilhada sobre essa abordagem.

Os próximos passos dessa pesquisa envolvem a avaliação do framework por especialistas, bem como a criação de um método para uso do framework, com intuito que ele possa ser usado como um configurador de modelos de negócio para PSS.

Page 27: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

27

3. CONCEITO DE VALOR E SUAS IMPLICAÇÕES SOBRE AS ESTRATÉGIAS INOVADORAS DE NEGÓCIO

O desvio da atenção de gestores da manufatura de um produto para a provisão de um

conjunto de soluções sistêmicas com alto conteúdo cultural e social tem tornado o projeto e desenvolvimento de novos produtos e serviços uma prioridade estratégica. Entre as estratégias adotadas, a Servitização é um processo de criação de valor que adiciona serviços a produtos (VANDERMERWE; RADA, 1988). Para Baines et al. (2009a), ela é um meio de criar capacidades inovadoras que agregam valor e que são distintas, sustentáveis e fáceis para se defender da concorrência baseada em economias de baixo custo, por meio da venda integrada de produtos-serviços que agregam valor em uso. Seguindo a mesma linha, o Product Service System (PSS) pode ser definido como um sistema que integra produto e serviço e cujo objetivo é entregar valor em uso (BAINES et al., 2007) devendo ser competitivo, satisfazer as necessidades dos clientes e ter um menor impacto ambiental do que os modelos de negócios tradicionais (MONT, 2002; ALIX; ZACHAREWICZ, 2012). O design territorial, por sua vez, é uma estratégia de negócio que contribui para a valorização de produtos locais ao promover o reconhecimento e a preservação de identidades e culturas regionais (KRUCKEN, 2009). Para isso, é necessário promover formas de intermediação inovadoras, sustentáveis e vantajosas que aproximem produtores e consumidores, estimulando o reconhecimento das qualidades e dos valores relacionados com a produção, a comercialização e o consumo.

Conforme se observa, as estratégias inovadoras de negócio que se relacionam com o processo de desenvolvimento de produtos, como a Servitização, o PSS e o Design Territorial, dentre outras, têm como base de sustentação agregar mais valor aos produtos por meio de serviços e outros benefícios, possibilitando, assim, aumentar a margem de lucro, a diversificação dos seus negócios e/ou a ampliação de seus mercados. O conceito de valor nem sempre está claramente definido em estudos sobre o assunto e um dos motivos para isso pode ser o fato dele ser tratado em diferentes áreas de conhecimento como a economia, o marketing, a engenharia, entre outras, se fazendo necessária a sua compreensão através da perspectiva de cada uma dessas áreas (CORSARO; SNEHOTA, 2010; SÁNCHEZ-FERNÁNDEZ; INIESTA-BONILLO, 2007).

O objetivo geral do trabalho é apresentar um estudo preliminar sobre a evolução do conceito de valor e discutir suas implicações sobre as estratégias inovadoras de negócio. Como objetivos específicos, têm-se a realização de um breve referencial sobre o conceito de valor dentro de diferentes áreas de conhecimento e sobre três estratégias de negócio.

Page 28: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

28 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

3.1. Método de pesquisa

Para responder às questões de pesquisa deste trabalho, procedeu-se um levantamento bibliográfico estruturado da seguinte forma: (a) determinação das palavras-chave para a realização da busca de artigos, que incluíram: value, value concept, perceived value, value management, value and marketing, servitization, product service system, PSS, territorial design, territory identity, design and territory, territorial development; (b) determinação da base de dados ISI Web of Knowledge para a busca de artigos; (c) seleção de artigos com base no título; (d) leitura dos resumos dos artigos pré-selecionados; (e) busca de novos trabalhos a partir das principais referências dos artigos lidos; e (f) leitura dos novos trabalhos selecionados. No processo de seleção de artigos e livros, centenas de publicações retornaram nas buscas, dependendo das palavras-chave utilizadas. Nas buscas sobre conceitos de valor e valor percebido, por exemplo, a delimitação dos temas nas áreas de business, management, economy, sociology, philosophy e psychology ajudaram no descarte da maioria dos artigos. Assim, os trabalhos resultantes somaram cerca de 70, passando-se, então, para eliminação por título e resumo. No final, 18 publicações fizeram parte do estudo, as quais em sua maioria foram as mais citadas na literatura das respectivas áreas investigadas. Destas, 16 são em formato de artigo, 1 em formato de livro e 1 em formato de norma.

A proposta desta pesquisa é apresentar um levantamento preliminar sobre a evolução do conceito de valor em diferentes áreas do conhecimento, partindo-se da ideia de que quanto maior o seu entendimento por parte dos envolvidos nas estratégias inovadoras de negócio, como o PSS, a Servitização e o Design Territorial, maior também será a qualidade dos projetos.

3.2. O Conceito de Valor

Na base da definição do conceito de valor podem ser colocados os estudos da microeconomia que tratam das escolhas econômicas de cada indivíduo e a sua evolução no tempo motivadas pela alteração dos preços relativos, do rendimento, das necessidades (gostos e preferências), da tecnologia, da informação, e outros. A Teoria do Consumidor e a Teoria de Empresa são desdobramentos da microeconomia que merecem destaque. O primeiro porque lida com as curvas de oferta e procura; equilíbrio de mercado e a teoria da utilidade. O segundo porque as firmas trabalham com os produtos que vão oferecer aos consumidores, como bens e serviços produzidos. Elas reúnem o capital e o trabalho para realizar a produção e são as responsáveis por agregar valor às matérias-primas utilizadas nesse processo, com uso de tecnologia (FARBER et al., 2002).

O conceito de valor apresentado pela área de marketing tem influência da teoria do consumidor (ZEITHAML, 1988; FLINT et al. 1997). Entretanto, SÁNCHEZ-FERNÁNDEZ;

Page 29: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

29

INIESTA-BONILLO (2007) apresentam uma revisão sistemática que propõe a visão de constructos uni e multidimensionais para o conceito de valor percebido. A visão de valor como construto unidimensional é aquele que pode ser medido através de um item ou conjunto de itens que avaliam a percepção de valor. Tem suas raízes na teoria econômica, na percepção utilitarista e na psicologia cognitiva. A visão de valor percebido como construto multidimensional, por sua vez, consiste em vários atributos inter-relacionados ou dimensões que formam uma representação holística de um fenômeno complexo. A perspectiva de valor percebido, nesse caso, se assemelha àquela apresentada por Krucken (2009) que considera como sendo um julgamento avaliativo que depende da interação entre consumidor e o produto/serviço. Valor percebido é mais abrangente, além de ser fruto da interação entre sujeito e objeto, é preferencial, cognitivo-afetivo e depende do indivíduo e da situação.

Na área da engenharia, a definição do termo “valor” foi buscada na descrição da Association Française de Normalisation (AFNOR, 2000). Nesse caso, para possibilitar a criação de valor, é necessário se basear na combinação adequada de rede humana, capital social, capital intelectual e ativos de tecnologia, facilitados por uma cultura de mudança (VORAKULPIPAT e REZGUI, 2008). Percebe-se nessa definição a influência da visão tradicional da economia, na qual o valor é criado a partir da cadeia de suprimentos (ALLEE, 2000; FJELDSTAD; KETELS, 2006) que posteriormente evoluiu para cadeia de valor. Na perspectiva da engenharia é possível adotar um estilo de gestão, a Gestão de Valor, que é dedicado a motivar as pessoas, desenvolver habilidades e promover sinergias e inovação, com o objetivo de maximizar o desempenho global da organização: no nível corporativo, reside na adoção de cultura organizacional baseada em como o valor é considerado tanto pelos clientes quanto pelos stakeholders; no nível operacional, implica no uso apropriado de métodos e ferramentas de análise de valor e engenharia de valor.

Ao se analisarem as características das estratégias PSS e Servitização é possível verificar que elas apresentam características comuns em suas descrições são inclusive utilizadas como sinônimos na literatura, entretanto geralmente o aspecto da sustentabilidade é associado ao conceito de PSS. Segundo Alix e Zacharewicz (2012) as variantes de PSS são: serviços orientados a produtos; serviços orientados ao uso; e serviços orientados aos resultados, dependendo da natureza do objeto que está sendo entregue ao consumidor. As variações também estão associadas ao potencial de sustentabilidade do sistema, nesse caso podendo se relacionar ao atendimento de demandas ambientais, sociais, políticas, culturais, econômico-financeiras ou outras. Por fim, no que diz respeito à operacionalização do PSS, quatro elementos devem ser considerados: os produtos, os serviços, a infraestrutura privada ou pública necessária no sistema e a rede de atores necessária à criação do sistema (YOON et al., 2012).

A Servitização, por sua vez, consiste na estratégia de aglutinar serviços aos produtos existentes em uma organização, fato que causa impacto sobre distintas áreas de operação como: instalações, tecnologias de comunicação e informação, sistemas de medição de

Page 30: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

30 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

desempenho, processos organizacionais e recursos humanos. Baines et al. (2011) argumentam que os conceitos de Servitização e integração vertical estão fortemente relacionados. A integração vertical em manufaturas tradicionais está arranjada em torno das operações de projeto e produção. Serviços básicos, como a venda de partes avulsas, são realizadas por distribuidores e concessionárias. Empresas como a Rolls-Royce Aeroespace, por exemplo, apresentam verticalização mais intensa visto que se concentram tanto em manufatura quanto em serviços de manutenção, reparo e inspeção. A prática da integração vertical é impulsionada por pressões quanto ao preenchimento de obrigações contratuais de clientes, combinadas com pressões internas de dispensá-las ao menor custo possível. Assim, a integração vertical visa atender a dois propósitos: maximizar a velocidade e efetividade da resposta e minimizar os custos de resposta. No contexto da Servitização, observa-se que os objetivos da produção são atender demandas de custo, qualidade e entrega, ao passo que os objetivos dos serviços relacionados são atender demandas de desempenho, disponibilidade, confiabilidade e custo.

O Design Territorial é uma estratégia de intervenção que visa atrair o olhar e as riquezas de volta aos lugares desterritorializados, a partir do diagnóstico de seus potenciais e respeito aos valores históricos e culturais. A ação do Design Territorial se ocupa do reconhecimento de valores internos de uma comunidade ou território, da revalorização do patrimônio material e imaterial; da transformação do território em produto, da possibilidade de comunicá-lo externamente e; do potencial de atratividade que o território passa a ter. O conceito de valor percebido está estreitamente ligado ao do Design Territorial e a proposição de valor deve considerar no projeto as seguintes dimensões propostas por Krucken (2009): funcional (qualidades intrínsecas do produto, sua composição, origem e propriedades, segurança de consumo e aspectos ergonômicos); econômico-financeira (relação de custo/benefício em termos monetários); ambiental (prestação de serviços ambientais por meio do uso sustentável dos recursos naturais como as florestas); emocional (motivações afetivas ligadas às percepções sensoriais que compreendem componentes táteis, visíveis, olfativos e gustativos e o sentimento relacionado a compra e consumo; lembranças de acontecimentos passados); social (aspectos sociais que permeiam os processos de produção, comercialização e consumo); simbólico e cultural (importância do produto nos sistemas de produção e consumo, das tradições, origem histórica; desejo de manifestar identidade social, posicionamento político; contexto sociocultural). Sob o ponto de vista operacional, Krucken (2009) sugere um ciclo iterativo de (i) reconhecimento das qualidades do produto e território; (ii) ativação das competências situadas no mesmo; (iii) meios de comunicação do produto e território; (iv) proteção da identidade local e do patrimônio material e imaterial; (v) apoio à produção local; (vi) promoção de sistema de produção e consumo sustentáveis; (vii) desenvolvimento de novos produtos e serviços relacionados que respeitem a vocação e valorizem o território; e a (viii) consolidação de redes de atores necessários à construção do sistema-produto.

A perspectiva de valor pela visão da engenharia, que tem caráter unidimensional, com

Page 31: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

31

ênfase em valor econômico e cognitivo, parece se adequar bem aos propósitos da Servitização. Na Servitização o projeto se baseia na relação entre a satisfação de muitas necessidades distintas e os recursos utilizados para tal. Quanto menos recursos são utilizados ou quanto maior a satisfação das necessidades, maior é o valor. Stakeholders, clientes internos e externos das organizações podem ter pontos de vistas distintos sobre o que representa valor. O objetivo da área de Gestão de Valor é reconciliar essas diferenças e habilitar a organização a alcançar o maior progresso em direção aos seus objetivos com o uso de um mínimo de recursos.

A perspectiva multidimensional de valor percebido, advinda da área de marketing, se adapta completamente à estratégia do Design Territorial. Tendo suas raízes na psicologia comportamental do consumidor, ela traz uma abordagem cognitivo-afetiva, é preferencial e depende das características do indivíduo e da situação criada. Valor percebido é um tipo de variável latente ou constructo, que não pode ser medido diretamente. Embora os autores ainda não tenham consenso sobre as componentes desse construto, Krucken (2009) defende pelo menos a existência de seis dimensões na proposição de valor, como mencionado anteriormente.

Dadas as variantes um projeto PSS, (serviços orientados a produtos; serviços orientados ao uso; e serviços orientados aos resultados) a construção de valor poderá estar mais ou menos suportada pela visão multidimensional de valor percebido. Na verdade, as dimensões que farão parte da avaliação de valor dependerão da natureza do projeto, podendo ser mais ou menos complexas. De qualquer forma, a perspectiva multidimensional parece ser abrangente e flexível para atender às três estratégias, ao passo que as demais definições não o são.

Modelos de negócios funcionam como o “meio de campo” entre a análise e o planejamento da alta direção em nível estratégico e os processos de negócio em nível operacional. A definição do modelo de negócio está associada com a questão básica da Estratégia: como construir uma vantagem competitiva sustentável? Ele pode ser organizado a partir de quatro dimensões: proposição de valor, criação de valor, entrega de valor e apropriação de valor. A proposição de valor é a oferta efetiva na forma de produtos e/ou serviços que criam valor para o usuário. Inclui seleção de clientes, segmentação de clientes, estratégia de aquisição de clientes, identificação de necessidades dos clientes e adequação das funcionalidades técnicas dos produtos e/ou serviços às necessidades dos clientes. A criação de valor reflete as variáveis referentes à organização interna e características organizacionais únicas que determinam a abordagem estratégica ao mercado: recursos internos, competências, capacidades, processos e atividades. A dimensão de entrega de valor reflete o modo em que a proposição de valor é articulada para alcançar os clientes e parceiros. A dimensão de apropriação de valor considera como o negócio captura o valor criado e gera lucro. Nessa dimensão, podem ser pensados os modelos de geração de receitas, mecanismos de compartilhamento de receitas com parceiros, modelos de investimentos e modelos de custos (TEECE, 2009).

Page 32: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

32 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

3.3. Estratégias inovadoras de negócio e percepção de valor

Nesta seção as estratégias inovadoras PSS, Servitização e Design Territorial têm relação direta com a dimensão de proposição de valor de um modelo de negócios. E nesse contexto, sugere-se como hipótese: quanto maior o grau de consciência dos gestores sobre o conceito de valor que norteia a tomada de decisão (se é multidimensional, unidimensional, quais variáveis de valor que compõem esses constructos), melhor será a qualidade dos projetos realizados através dessas estratégias. Quanto mais os gestores se apropriarem das dimensões que compõem o constructo de valor que caracteriza a estratégia de inovação que está sendo adotada, ofertarão com mais precisão os benefícios esperados pelo usuário.

Embora o PSS e o Design Territorial enfatizem a formação de redes, tipos de parcerias chave, canais de comunicação e estratégias de relação com os clientes e parceiros de negócio, independente da estratégia escolhida a dimensão de entrega de valor parece ser também relevante para todas. Combinações distintas desses elementos juntamente com as dimensões de criação e apropriação de valor comporão os diferentes modelos de negócio que definirão o caráter inovador e de diferenciação de produtos/serviços frente aos concorrentes. Em síntese, estratégias inovadoras de negócio exigem uma percepção abrangente de valor e a elaboração de novos modelos de negócio para sua operacionalização. Devido ao caráter exploratório e teórico deste trabalho observa-se a necessidade futura de verificação das relações e implicações do conceito de valor sobre as estratégias PSS, Servitização e Design Territorial, através de casos reais.

Page 33: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

33

4. CONSTRUÇÃO DA TEORIA DOS SISTEMAS PRODUTO-SERVIÇO

Em geral, pesquisadores e intelectuais tendem a defender teorias consolidadas. Ao contrário do que parece, a resistência à inovação no meio acadêmico é muito maior do que se pensa. Teorias que hoje são amplamente aceitas foram duramente criticadas pela comunidade científica em suas primeiras publicações. Isso aconteceu com Albert Einstein e continua acontecendo com diferentes pesquisadores de diferentes ramos da ciência.

A resistência a novas ideias não é necessariamente ruim, é uma consequência natural do prudente ceticismo científico. De fato, esse comportamento é muito comum e, como é de se esperar, acontece também na Engenharia de Produção. A ressalva é que essa área apresenta uma peculiaridade perigosa: está constantemente sujeita ao risco dos modismos que, na maioria das vezes, dão uma roupagem nova para velhos conceitos. Esse risco chama a atenção dos pesquisadores dessas áreas para o cuidado e o dever de questionar sempre, de forma a garantir o desenvolvimento de teorias robustas, que quando colocadas à prova se sustentam nos critérios do rigor científico.

Em meio ao surgimento de modismos e de novas teorias em Engenharia de Produção, surge o conceito dos sistemas produto-serviço (PSS - Product-Service Systems). Os sistemas produto-serviço são uma consequência do movimento que vem sendo denominado de “servitização” (BAINES et al., 2009c), no qual as empresas de manufatura buscam agregar serviços aos bens que produzem como alternativa para obter um diferencial competitivo. Um PSS representa uma oferta integrada de bens e serviços em um único pacote de valor (CORRÊA et al., 2007). Com esse conceito, a distinção tradicional entre bens e serviços passa a ser irrelevante, uma vez que o objetivo de uma empresa passa a ser a oferta de soluções integradas para seus clientes (BRAX; JONSSON, 2009).

A ideia dos PSS pode constituir, na verdade, o início de uma teoria em construção, ao invés de representar apenas um conceito isolado. Uma teoria é caracterizada por um conjunto de conceitos inter-relacionados que formam a base para o entendimento de eventos e problemas do mundo real (AMUNDSON, 1998; WACKER, 1998). Os conceitos subjacentes à teoria dos sistemas produto-serviço alteram a perspectiva de análise dos pesquisadores de Engenharia de Produção e, além disso, têm o potencial de mudar a maneira de abordar problemas típicos da área, tais como a gestão do desenvolvimento de produtos e a avaliação da qualidade em serviços.

De acordo com Wacker (1998), uma teoria é formada por quatro componentes principais: (1) definições de termos ou variáveis; (2) um domínio em que a teoria se aplica; (3) um conjunto de relações entre variáveis; (4) predições específicas. Considerando que a teoria dos sistemas produto-serviço ainda está em desenvolvimento, este texto se propõe a discutir aspectos que caracterizam o domínio no qual essa teoria se aplica, o segundo componente formador de

Page 34: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

34 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

uma teoria na visão de Wacker (1998). A questão do domínio geralmente levanta perguntas do tipo: Para quais tipos de sistemas de produção essa teoria se aplica? Quais são as suas contingências? Quais instâncias podem ser generalizadas? A quais assuntos a teoria se refere?

Especificamente, esta seção tem o foco na discussão sobre a aplicabilidade da teoria dos sistemas produto-serviço aos processos de produção, e não aos resultados (outputs) desses processos, que já representam elementos intrínsecos ao próprio conceito de PSS. Em relação à delimitação do domínio da teoria, é necessário questionar: Se a teoria dos sistemas produto-serviço torna irrelevante a distinção entre bens e serviços, é necessário manter a distinção entre processos de serviços e processos de manufatura? Em busca de uma resposta, a emergente Teoria dos PSS encontra contraposição com a consolidada Teoria Unificada de Serviços (UST - Unified Services Theory), proposta por Sampson e Froehle (2006). Ao formular a UST, os autores analisaram as diferenças entre serviços e “não serviços” do ponto de vista do processo, e não do produto.

Parece um exagero promover o conceito PSS para a condição de teoria. No entanto, para efeitos de análise, esse texto sugere o tratamento do assunto como teoria, com todas as limitações e implicações que essa opção traz.

O texto apresentado está estruturado em quatro subseções. Após essa introdução, são discutidos os conceitos que antecederam a noção de sistemas produto-serviço e os desdobramentos que levaram à definição dos PSS. A terceira subseção se propõe a iniciar o debate para a delimitação de domínio da Teoria dos PSS. Para isso, adota como base de comparação a Teoria Unificada de Serviços (UST) e seus pressupostos adjacentes.

4.1. Antecedentes da teoria dos sistemas produto-serviço

Um dos conceitos que antecederam a ideia atual de PSS foi o de “fábrica de serviços”, disseminado inicialmente por Chase e Garvin (1989). O conceito de fábrica de serviços chamou a atenção para o fato de que as empresas de manufatura poderiam extrair vantagens competitivas por meio de serviços associados aos bens que produziam e vendiam. De acordo com Chase (1991), uma fábrica de serviços tem pelo menos duas características que a definem: oferece uma ampla variedade de serviços, além de bens, e é gerenciada de modo que os serviços são o seu foco principal.

Em paralelo à noção de fábrica de serviços, surge o conceito de “servitização”, termo cunhado por Vandermerwe e Rada (1988) que se refere ao processo de agregação de valor por meio da agregação de serviços aos bens que são produzidos por empresas de manufatura. O conceito de servitização gerou um grande interesse acadêmico sobre o tema. Em uma ampla revisão de literatura, Baines et al. (2009b) encontraram, dentre as publicações do período compreendido entre 1988 e 2008, aproximadamente 60 artigos sobre o conceito de servitização e mais 90 artigos diretamente relacionados.

Page 35: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

35

Embora o fenômeno da servitização (e da fábrica de serviços, sua forma análoga) tenha despertado um interesse relativamente recente por parte dos pesquisadores, Schmenner (2009) destaca, estudando o tema por uma perspectiva histórica, que algumas indústrias americanas já adotavam estratégias de servitização há mais de 150 anos atrás. Do ponto de vista do vendedor, a separação entre bens e serviços talvez nunca tenha sido relevante, uma vez que a empresa é guiada por oportunidades de negócios com potencial de maximizar seus lucros. Se essas oportunidades incluem aproximar-se de seus clientes agregando serviços aos seus bens, a servitização pode ser vista como uma consequência natural do processo empreendedor.

A discussão sobre servitização suscitou o debate sobre a validade ou não do paradigma IHIP, um acrônimo que descreve as iniciais das características específicas dos serviços frequentemente divulgadas na literatura da área de marketing: intangibilidade, heterogeneidade, inseparabilidade e perecibilidade. Sob a alegação de que a fronteira entre bens e serviços tem sido cada vez mais difusa, alguns pesquisadores de marketing têm rejeitado as definições de serviços que se apoiam mais em suas diferenças com os bens (vistos da forma tradicional) do que nos aspectos comuns a ambos (LOVELOCK; GUMMESSON, 2004; VARGO; LUSCH, 2004b). A discussão iniciada por pesquisadores de marketing encontra suporte nos pesquisadores de gestão de operações por meio do conceito de pacote de valor (CORRÊA et al., 2007).

Em meio a esse debate, ganha força o conceito de sistemas produto-serviço. De acordo com Tukker e Tischner (2006, p. 1552), um PSS pode ser definido como “um mix de bens e serviços projetados e combinados para em conjunto serem capazes de satisfazer as necessidades dos clientes finais”. As justificativas para a adoção de PSS podem estar ligadas a, pelo menos, três fatores:

- Fatores econômicos: ao agregar serviços aos bens, as empresas buscam vantagens competitivas que resultam em uma maior lucratividade.

- Fatores tecnológicos: as inovações tecnológicas geram bens cada vez mais complexos, que demandam uma ampla rede de serviços de suporte.

- Fatores ambientais: os serviços podem substituir bens, satisfazendo as mesmas necessidades, mas consumindo menos recursos naturais e reduzindo a produção de resíduos ao longo do ciclo de vida do produto. Um exemplo dessa substituição é o serviço de compartilhamento de veículos (car-sharing), um serviço no qual os clientes utilizam veículos públicos, distribuídos em vários pontos da cidade, e pagam pelo uso do automóvel de acordo com a distância percorrida. Com isso os clientes compram a “função mobilidade”, ao invés de um carro.

À medida que a ideia dos PSS vai moldando a forma de pensar de pessoas que desenvolvem ou aplicam o conhecimento relacionado, essa ideia vai ganhando status de teoria. Porém,

Page 36: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

36 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

conforme foi mencionado anteriormente, um dos componentes de uma teoria é o domínio no qual essa teoria se aplica. Portanto, a construção de uma boa teoria demanda, juntamente com os demais procedimentos de desenvolvimento científico, um esforço de delimitação de domínio.

4.2. Delimitação de domínio da teoria dos sistemas produto-serviço

A definição de serviços tem sido objeto de análise de muitos pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento (BOWEN; FORD, 2002; JOHNS, 1999). Grande parte das definições deriva da clássica comparação entre bens e serviços. A questão que a emergente Teoria dos PSS coloca é capaz de contestar a própria relevância de se definir serviços: Por que distinguir serviços de bens manufaturados se um sistema produto-serviço propõe soluções integradas?

Ao discutir a validade e o domínio de uma teoria, é sempre recomendável examinar outras teorias que explicam o mesmo fenômeno. Nesse sentido, a Teoria Unificada de Serviços (UST - Unified Services Theory), proposta por Sampson e Froehle (2006), surge como uma alternativa para a compreensão da definição de serviços e de suas implicações para a gestão de operações. Nesse caso, é importante ressaltar que “teoria alternativa” não é o mesmo que “teoria concorrente”, uma vez que a UST e a Teoria dos PSS adotam unidades de análise diferentes. Enquanto a Teoria dos PSS enfoca o produto, a UST enfoca o processo.

A UST se preocupa com a distinção entre processos de serviços e processos de manufatura. Para essa teoria, os processos de serviços se distinguem exclusivamente pelo fato de os clientes fornecerem inputs significativos para o processo de produção. Nos processos de manufatura, as principais entradas do sistema de transformação (inputs) são provenientes de fornecedores externos. Já nos processos de serviços, os próprios clientes também podem ser vistos como entradas, participando da operação.

Sampson e Froehle (2006) se referem aos inputs do cliente como a maneira singular de participação do cliente nos processos de serviços. Em serviços, o cliente participa do processo de produção, podendo não somente atuar passivamente, mas também como coprodutor do serviço. Mesmo nos serviços em que o cliente não precisa estar presente durante toda a operação, pelo fato de processarem bens ou informações de sua propriedade, pode-se afirmar que os inputs provenientes do cliente são uma condição necessária para que o processo exista. Na manufatura, grupos de clientes podem contribuir com ideias para o projeto do produto (inputs de informação), mas a participação de clientes individuais é limitada à seleção e ao consumo dos bens (outputs). Assim, o cliente não participa dos processos de manufatura e não fornece entradas para o mesmo.

Ao estabelecer a UST, Sampson e Froehle (2006) não pretenderam iniciar uma discussão teórica com um fim em si mesma. Na verdade, os autores se preocuparam com as implicações decorrentes da conclusão que processos de serviços são diferentes de processos

Page 37: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

37

de manufatura. As características singulares dos processos de serviços trazem desafios peculiares ao gerenciamento de processos produtivos, algo que a Teoria dos PSS não se preocupa diretamente.

O gerenciamento de processos produtivos é uma atividade inerente à Engenharia de Produção. A aplicação da Teoria Geral de Sistemas (TGS) no contexto da Engenharia de Produção se traduz na visualização do clássico modelo de transformação, no qual um sistema de produção é responsável por converter entradas (inputs) em saídas (outputs) por meio de processos de transformação. O modelo de transformação evidencia o fato de que gerenciar operações é, na verdade, gerenciar processos produtivos e seus fluxos (SILVER, 2004). A UST aborda esse assunto de forma inequívoca, ao destacar que gestão dos processos de serviços inclui a gestão do fluxo de clientes no sistema de produção.

O modelo de transformação coloca à prova a própria nomenclatura da Teoria dos PSS. Do ponto de vista do sistema de produção, o termo “produto” se refere ao resultado (output) de um processo de transformação, podendo representar um bem, um serviço ou um composto dos dois. Por essa perspectiva, produto já é um termo suficientemente abrangente, sendo sinônimo de PSS, ou melhor, de “sistema bem-serviço”.

Ao comparar a UST com a Teoria dos PSS, é possível concluir que as duas têm propostas diferentes. Com isso, já é possível ter indícios de delimitação do domínio de ambas. O Quadro 2 apresenta uma comparação entre as duas teorias, em relação aos aspectos que podem sinalizar a delimitação de domínio das mesmas.

A Teoria dos PSS traz contribuições fundamentais para o gerenciamento de produtos, mas não é suficientemente robusta para ser utilizada como um framework válido de gerenciamento de processos. Embora a literatura já apresente pesquisas que se propõem à modelagem de processos de PSS (BIEGE; LAY; BUSCHAK, 2012; GEUM; PARK, 2011; MORELLI, 2006), nenhum desses trabalhos traz uma perspectiva realmente diferente para a gestão de operações. Pelo contrário, eles reforçam ainda mais a necessidade de distinção entre processos de serviços e processos de manufatura, pois apresentam os dois tipos de modo interligado, de maneira semelhante à tradicional definição de relações entre linha de frente e retaguarda nos sistemas de operações de serviços (PONSIGNON; SMART; MAULL, 2011).

Page 38: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

38 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

Quadro 2 - Comparação entre teorias.Fonte: Elaborado pelos autores

Aspectos PSS UST

Unidade de análise Produto Processo

Termos-chaveSoluções integradasPacote de valor

Participação do clienteInputs do cliente

Premissa básica“Bens e serviços devem ser tratados conjuntamente, como uma solução integrada para o cliente.”

“Processos de serviços são diferentes de processos de manufatura e devem ser gerenciados de acordo com suas peculiaridades.”

Enfoque no modelode transformação

Saídas (outputs) Entradas (inputs) Processos de transformação

Principais áreas de contribuição

Engenharia do ProdutoGestão AmbientalGestão da Qualidade

Gestão da ProduçãoGestão da Qualidade

As diferenças entre a UST e a Teoria dos PSS não invalidam as mesmas, mas apenas chamam a atenção para a afirmação de que uma teoria não se aplica a todas as situações. As duas são válidas, porém, dentro de seus domínios.

4.3. Teoria dos PSS e Teoria Unificada de Serviços: Uma visão integrada

Este texto procurou levantar o debate sobre a delimitação de domínio para a construção de uma teoria emergente: a teoria dos sistemas produto-serviço. Embora uma teoria se proponha a generalizações, essas generalizações acontecem dentro de um escopo de aplicação. Ao passo que a Teoria dos PSS adota o produto como unidade de análise, a Teoria Unificada de Serviços de Sampson e Froehle (2006) adota o processo como unidade de análise. Essa constatação evidencia que essas duas teorias não são concorrentes, mas sim, complementares.

Uma das implicações de se considerar as duas teorias em conjunto é que o debate acadêmico sobre a validade das diferenças entre bens e serviços perde importância e dá lugar a necessidade de distinguir processos de serviços de processos de manufatura. Falando informalmente, não há mal nenhum que produtos integrados tenham processos diferentes para produzi-los.

A Teoria Unificada de Serviços não descarta a possibilidade de ocorrerem processos de serviços e processos de manufatura em um mesmo sistema de produção, situação cada vez mais comum no mercado e corriqueira para empresas que produzem PSS. À medida que os PSS tornam-se realidade em diferentes setores, as duas teorias (PSS e UST) poderão ser demandadas conjuntamente para descrições mais detalhadas desse fenômeno.

Porém, essa discussão segue com a formação de uma agenda de pesquisa que aborde essas questões. Uma boa teoria se alimenta da prática e deve ser validada pela pesquisa científica.

Page 39: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

39

Um possível caminho para a pesquisa nessa área segue com a validação dessas teorias em diferentes setores. Essa validação ajudaria na continuidade da delimitação de domínio que, embora seja destacada neste texto em função de sua lógica conceitual, ainda carece de base empírica para afirmações mais contundentes.

Além disso, é importante ressaltar que a delimitação de domínio é um dos quatro componentes de uma teoria, segundo Wacker (1998). Nesse sentido, os outros três componentes devem ser abordados, caso se queira formar uma teoria suficientemente robusta. Assim, é necessário que sejam definidos os termos ou variáveis com mais precisão, e que as relações entre as variáveis sejam compreendidas para que possam ser feitas predições específicas sobre a Teoria dos PSS.

De um modo geral, a continuidade da pesquisa sobre a construção da teoria dos sistemas produto-serviço indica que o estudo dos PSS está em constante evolução. Originados de uma oportunidade revelada no meio empresarial, os PSS passam a ser estudados no meio acadêmico. Este, por sua vez, sistematiza os conceitos subjacentes à teoria e os dissemina novamente no meio empresarial, fechando assim, o ciclo de desenvolvimento do conhecimento.

Page 40: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

40 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

5. ORIENTAÇÃO DE USO DO PRODUTO E A IMPORTâNCIA RELATIVA DO SERVIÇO EM SOLUÇÕES PRODUTO-SERVIÇO

Atualmente, grande parte dos empregos nas economias industrializadas encontra-se no setor de serviços, que concentra cerca de 70% das vagas disponíveis (NEELY, 2007; MAGLIO et al., 2009). No entanto, o crescimento dos serviços, não se limita apenas ao desempenho do próprio setor. Nas últimas décadas, tem se observado que empresas tradicionalmente de manufatura têm agregado serviços a seus produtos, como uma forma de sobreviver às novas tendências das economias desenvolvidas (OLIVA; KALLENBERG, 2003; BAINES et al., 2007).

Essa transição também é influenciada por questões relacionadas à dinâmica entre clientes, produtores, prestadores de serviços e governos. Os desenvolvimentos sobre esse tema podem ser divididos em duas áreas de interesse, sendo uma com foco no esquema estratégico adotado pelas empresas de manufatura (OLIVA; KALLENBERG, 2003; BAINES et al., 2007b) e outra que visa os possíveis benefícios ambientais associados à oferta de um sistema único de solução, Product-service system – PSS ou Integrated Product-service system – IPS2 (GOEDKOOP et al., 1999; MORELLI, 2002; MANZINI; VEZZOLI, 2003; MONT, 2003; BAINES et al., 2007b).

No primeiro caso, as empresas adotam essa transição por uma série de motivos como, por exemplo, como forma de criar barreiras de entrada, ou uma maneira de estarem mais próximas de seus clientes (SCHMENNER, 2009) ou ainda para atender à demanda de seus consumidores que optam por ter um fornecedor único de produtos e serviços, facilitando o controle e gerenciamento de seus negócios. No que se refere ao foco ambiental, o fator motivador consiste no potencial de diminuição do montante total de bens produzidos através da introdução de novos conceitos de uso do produto como esquemas de empréstimo, aluguel e leasing, o que acaba por influenciar os padrões de consumo.

Como consequência os limites entre empresas de manufatura e serviço estão se tornando mais tênue em todo o mundo (VANDERMERWE; RADA, 1988; NEELY, 2007). Assim surgiram os conceitos de servitização e mais recentemente o PSS.

Mais que simplesmente agregar serviços a produtos, a servitização vem mudando as dinâmicas de competitividade, num processo de transição problemático para empresas de manufatura (SLACK et al., 2004; JOHNSON; MENA, 2008). A servitização implica importantes desafios para as empresas tradicionalmente manufatureiras, pois pode exigir aumento de investimentos, mudanças do perfil de risco ou, ainda, a quebra do paradigma de que prover serviços esteja além de suas competências (MATHIEU, 2001). A reestruturação acontece em vários níveis dentro da organização, onde novas métricas e incentivos tornam-se necessários. A ênfase do negócio passa de uma simples transação de venda de produto para um relacionamento mais complexo com o cliente (OLIVA; KALLENBERG, 2003; NEELY, 2007).

Page 41: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

41

Considerado um caso especial da servitização, o PSS possui uma visão mais abrangente, que tem por objetivo a oferta de uma solução completa ao cliente, através de um sistema de produtos, serviços, redes de apoio e infraestrutura. Seu conceito está frequentemente associado à mudança na estrutura de posse do bem o que permite uma classificação de acordo com a orientação de uso do produto – PSS orientado a produto, PSS orientado ao uso e PSS orientado a resultado. Alguns estudos tratam das características e classificações das organizações que buscam a traspor a posição de simples produtora para prestadora de serviços, como o continuum de produto-serviço de Oliva e Kallenberg (2003), os focos de atuação do Marketing ao longo de seu desenvolvimento (LUSCH et al., 2007) e as lógicas de transição de Vargo e Lusch (2004a).

Cada vez mais as empresas buscam oferecer soluções completas a seus clientes, integrando produtos e serviços. No entanto, o grau de importância que cada uma dá a componente serviço varia de acordo com a orientação de uso do produto no PSS. Assim, este trabalho teve como objetivo avaliar a importância relativa do serviço em empresas com diferentes focos em relação ao produto.

5.1. Síntese das proposições para o processo de transição produto-serviço

Como discutido anteriormente, a transição entre produção de bens de consumo para a provisão de serviço tem sido discutida por vários autores e com ênfases diferentes (VANDERMERWE; RADA, 1988; OLIVA; KALLENBERG, 2003; VARGO; LUSCH, 2004a; LUSCH et al., 2007), desse modo é possível fazer um paralelo entre eles e os diferentes conceitos de uso do produto que considera o foco de desempenho do bem, mais do que sua propriedade em si. Para isso, serão utilizadas três diferentes proposições, o continuum de produto-serviço de Oliva e Kallenberg (2003), os focos de atuação do Marketing ao longo de seu desenvolvimento (LUSCH et al., 2007) e as lógicas de transição de Vargo e Lusch (2004a) (Figura 5).

Page 42: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

42 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

Conceitos de uso do produto Orientado ao produto Orientado ao uso Orientado a resultado

A evolução do Marketing Para o marcado Do mercado para Com o mercado

Lógica baseada em Produto (G-D) Lógica baseada em serviço (S-D) Se

rviç

os c

omo

com

plem

ento

Bens de consum

o como

complem

ento

Caso A

Importância relativa do serviço

Caso B (unidade de negócios de serviços) Caso B (unidade de negócios de produtos)

Figura 5 - Os diferentes conceitos de uso do produto Fonte: elaborada pelos autores

5.2. Método de pesquisa

Este estudo propõe um modelo, que sintetiza as propostas existentes sobre a transição produto-serviço disponíveis na literatura (Figura 5) o qual é usado como base para a análise das atividades das empresas pesquisadas e seus respectivos graus de maturidade no processo de transição de manufatureiras para prestadoras de serviço. Outro ponto discutido é a participação do cliente no ciclo de vida do produto, considerando as fases “Projeto por encomenda (MTO)”, manutenção e revalorização.

A fim de compreender profundamente as relações entre as variáveis do modelo, a abordagem metodológica selecionada foi uma pesquisa baseada em casos. Os estudos de caso foram realizados em duas empresas multinacionais de diferentes setores, classificados de acordo com sua orientação de uso do produto (Figura 6), seguindo as orientações da literatura (VOSS et al., 2002; EISENHARDT; GRAEBNER, 2007). Os critérios para seleção dos casos foram a classificação das empresas de acordo com a orientação de uso de produto e a importância relativa do serviço dentro da organização. Para fins de confidencialidade, as empresas serão denominadas como A e B e suas principais características estão resumidas no Quadro 3 Para a coleta de dados, selecionaram-se profissionais da área de serviço e de produção e as entrevistas foram realizadas utilizando um roteiro semiestruturado.

Page 43: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

43

A B

Automotiva Tecnologia da Informação

Número de empregados (Brasil) 3.500 17.400

Origem Japonesa Americana

Receita anual (US$) (Brasil) 1.5 bi 22 bi

Continuum PSS Orientada a produto Orientada a resultado

Quadro 3 - Características dos casos

Apresenta-se a seguir uma descrição das empresas analisadas neste estudo.Caso A: A empresa A é uma empresa multinacional do setor automotivo, um tradicional

fabricante de produtos. A entrevista foi realizada com um representante do departamento de Serviço a Cliente (Customer Service) o qual é responsável pelas atividades de pós-vendas considerado o braço de serviços da companhia.

Caso B: A empresa analisada é uma multinacional da área de TI, que começou sua história vendendo hardware, como um fabricante de produtos tradicional, e com o tempo teve que criar um braço de serviços como forma de evitar a perda de mercado, hoje essa nova área representa mais da metade de seu faturamento mundial. A pessoa de contato selecionada para o estudo pertence ao setor de pesquisas alocado dentro da área de serviços.

5.3. Análise cruzada dos dados

A Figura 6 apresenta a classificação das empresas pesquisadas de acordo suas estratégias de negócio. Quanto à participação do cliente no ciclo de vida do produto, o Quadro 4 apresenta uma análise comparativa entre as duas empresas analisadas.

Conceitos de uso do produto Orientado ao produto Orientado ao uso Orientado a resultado

A evolução do Marketing Para o marcado Do mercado para Com o mercado

Serv

iços

com

o co

mpl

emen

to

Importância relativa do

serviço

Lógica baseada em Produto (G-D) Lógica baseada em Serviço (S-D)

Bens de consum

o como

complem

ento

Figura 6 - Posicionamento das empresas de acordo com a orientação do produto

Page 44: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

44 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

Fases do ciclo de vida do produto

Orientação de uso do produto

Projeto por encomenda (MTO) Manutenção Revalorização

Empresa Cliente Empresa Cliente Empresa Cliente

Caso A Sim Não Não Sim Não Sim

Caso B (unidade negócios produtos)

Sim Não Não Sim Não Sim

Caso B (unidade negócios serviços)

Sim Sim * Sim * Sim * Sim * Sim

Quadro 4 - Análise da participação do cliente no ciclo de vida do produto

Quanto ao grau de maturidade das empresas no processo de transição de transição de produtores de bens para prestadores de serviço, o Quadro 5 apresenta uma análise cruzada das atividades, processos e foco das empresas entrevistadas, considerando-se os modelos propostos na literatura por Vargo e Lusch (2004a); Lusch et al. (2007).

Unidade de análise Empresa AutomotivaEmpresa de TI

Unidade de negócios de produtos

Unidade de negócios de serviços

Unidade básica de troca Carro Hardware Serviço

Papel dos serviçosSuporte a venda de carros(Manutenção de veículo)

Suporte a venda de hardware (Vendas técnicas e manutenção)

Unidade principal de troca

ProcessosPadronizado Padronizado Customizado

(Onde o cliente quer estar?)

Papel dos clientesRecursos Operadores(destinatário dos bens)

Recursos Operadores(destinatário dos bens)

Recursos Operantes(coprodutor do serviço)

Interação empresa-cliente

Distante(Recurso a ser trabalhado)

Distante(Recurso a ser trabalhado)

Parceria colaborativa(Cultivar relacionamento)

Orientação de mercado Orientada ao cliente Orientada ao cliente Centrada no cliente

Determinação do valorO valor é determinado pelo produtor

O valor é determinado pelo produtor

O valor é percebido e determinado pelo cliente

Fonte do crescimento econômico

Venda de carro Venda de hardwareAplicação e troca de conhecimento especializado e habilidades

Quadro 5 - Análise cruzada dos estudos

Page 45: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

45

5.4. Análise geral do modelo

Os resultados mostraram que apesar do serviço ser considerado importante para ambas as empresas, a classificação dada previamente mostrou-se válida. A empresa automotiva (orientada ao produto) tem no carro seu foco principal e usa o serviço como uma ferramenta para maximizar o valor de seu produto. Por outro lado, a organização de TI (orientada ao uso) adota o produto como um item adicional da solução oferecida ao cliente, o que muda completamente o foco do negócio dessas empresas, bem como a participação do cliente no ciclo de vida do produto. No entanto é importante colocar que a empresa de TI foi levada pelo mercado a agregar serviços a seus produtos e apesar de ter um extenso portfólio de serviços, ela ainda possui uma unidade de negócio dedicada exclusivamente à venda de hardware (orientada ao produto).

O modelo proposto tornou possível a compreensão do nível de maturidade das empresas no processo servitização, no entanto para negócios complexos, como o da empresa de TI que fornece produtos, serviços e soluções complexas, o modelo exigiria o estabelecimento de métricas, a fim de torná-lo mais objetivo.

No entanto, mais dados empíricos seriam necessários para validar os resultados atuais e o modelo proposto.

Page 46: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

46 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O aumento da competitividade e as crescentes exigências de mercado levam as empresas a buscarem novas formas de gerar e oferecer valor aos seus clientes. Em empresas de manufatura, por exemplo, desenvolver e oferecer produtos com qualidade e baixo custo já não são fatores suficientes para diferenciação e destaque. Outros fatores essenciais tornam-se necessários hoje. Em um ambiente mais abrangente, requer-se sustentabilidade e inserção social; em um ambiente mais direcionado, buscam-se inovação nos negócios e disponibilização de ofertas direcionadas a faixas cada vez mais específicas de mercado.

A prestação de serviços insere-se nesse contexto. Tanto pelas características que lhe são próprias quanto pela sua importância no ambiente macroeconômico.

De fato, os serviços apresentam peso crescente no modelo econômico da maioria dos países. Em 2004, por exemplo, no Brasil, a participação dos serviços no PIB foi de 63%. Nesse mesmo ano, a participação da indústria no PIB foi de 30,1%. Hoje, no Brasil, 69% do PIB vêm de serviços. Os serviços são responsáveis por até 70% dos empregos nas economias industrializadas. No Brasil, em 2012, 72% da mão-de-obra empregada estavam no setor de serviços.

O peso crescente dos serviços no cenário macroeconômico não se deve apenas ao desempenho do setor em si. Mas, também, à tendência crescente das empresas tradicionais de manufatura, que têm agregado serviços aos bens produzidos, como uma forma de criar diferencial competitivo.

De fato: as empresas de manufatura estão se voltando cada vez mais para aspectos de serviços relacionados às suas operações e aos seus produtos. É visível o esforço das organizações em investir nas oportunidades de oferecer serviços agregados aos seus produtos sem que se torne descaracterizado seu foco principal de negócio. Observa-se que o movimento das manufaturas em oferecer serviços agregados a seus produtos nasce como uma oportunidade de incremento nas receitas. Entretanto, não basta por si só o objetivo das empresas em desenvolver serviços agregados aos seus produtos. É importante entender os requisitos de qualidade para justificar o esforço na concepção dos mesmos.

Assim, são muitos os desafios que essa nova realidade impõe às organizações produtivas. A integração de bens e serviços traz desafios com relação ao projeto do produto, por exemplo, que passa a ser considerado como um pacote ou a oferta de soluções. Já os processos produtivos, agora de bens e serviços, também precisam ser repensados. Da mesma forma, a logística do produto apresenta escopo ampliado. O ciclo de vida do produto também pode ser modificado, considerando-se que o produto passa a englobar serviços associados. Além desses aspectos, é necessário o desenvolvimento de novas competências e de novos modelos de gestão com uma visão integrada de produtos e serviços.

Por todos esses componentes, o debate sobre as estratégias empresariais para buscar a

Page 47: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

47

servitização se tornou um tópico de interesse nas empresas e logo se incorporou às prioridades da academia. Entretanto, a quantidade de estudos que focam o processo de transição de empresas de manufatura para empresas de serviços ainda é muito limitada.

De forma geral, pode-se constatar que estratégias inovadoras de negócio que se relacionam com o processo de desenvolvimento de produtos, como a servitização e o PSS, visam a agregar mais valor aos produtos por meio de serviços e outros benefícios. Esse processo possibilita, assim, a diversificação dos negócios da empresa e a ampliação de seus mercados.

De forma conceitual, pode-se introduzir a servitização como um processo de criação de valor ao adicionar serviços a produtos. É, também, a tendência de agregar valor aos produtos por meio dos serviços; o esforço para adicionar componentes de serviço extra para produtos principais e o empenho para aumentar a variedade de serviços oferecidos por um fabricante. Mais em geral, trata-se de qualquer estratégia que visa mudar a maneira pelam qual a funcionalidade do produto é entregue aos seus mercados.

A servitização envolve um pacote integrado de bens e serviços. É, também, um sistema que integra bens e serviços e cujo objetivo é entregar valor em uso. São, de forma prática, pacotes de mercado ou pacotes de combinações focadas nos clientes de bens, serviços, suporte, autoatendimento e conhecimento, a fim de agregar valor à oferta de produtos essenciais, ou seja, uma oferta integrada de bens e serviços em um único pacote de valor.

Pode-se considerar a servitização como um meio de criar capacidades inovadoras que agregam valor e que são distintas, sustentáveis e fáceis para se defender da concorrência, baseada em economias de baixo custo, por meio da venda integrada de bens e serviços que agregam valor em termos de uso.

A servitização contempla uma tendência das empresas de manufatura em adotar mais e mais componentes de serviço em suas ofertas. É o surgimento de produtos baseados em serviços que dificultam a distinção entre manufaturas e as atividades do setor tradicional de serviços. Assim, o contexto da servitização sugere um processo de mudança em que as empresas de manufatura adotam a orientação ao serviço e/ou desenvolvem mais e melhores serviços, com o objetivo de satisfazer as necessidades dos clientes, de alcançar vantagens competitivas e de aumentar o desempenho da empresa.

A servitização, como se pode observar nos relatos descritos neste capítulo, tem estreita relação com a inovação. Por isso, pode ser mesmo definida como a inovação das capacidades e dos processos da organização em mudar a venda de produtos para a venda integrada de produtos e serviços que agregam valor em uso. Ou a evolução da identidade do produto baseada no material para uma posição onde o componente tangível é inseparável de um sistema de serviço.

Por seu turno, a produtização é a evolução dos componentes de serviços pela inclusão de um produto ou um novo componente de serviço comercializado como um produto.

Page 48: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

48 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

E o que se pode concluir que seja o PSS (Product-Service System)? Em termos de características gerais, o PSS sai do modelo tradicional de negócios, buscando

quebrar o paradigma de desenvolver soluções apenas na forma de produtos físicos. O valor será fornecido por meio da funcionalidade ou do resultado que o produto é capaz de gerar. Altera-se o foco do negócio de projetar e vender somente produtos físicos, para fornecer sistemas de produtos e serviços que, em conjunto, são capazes de suprir necessidades específicas dos clientes. Geram-se novos processos de interação com faixas específicas do mercado.

Conceitualmente, é a mudança na estrutura de posse do bem - o que permite uma classificação de acordo com a orientação de uso do produto (PSS orientado a produto, PSS orientado ao uso e PSS orientado a resultado). Pode também ser visto como um mix de bens e serviços projetados e combinados para, em conjunto, serem capazes de satisfazer as necessidades dos clientes finais. Suas características e conceitos indicam que o PSS é um modelo competitivo, que satisfaz as necessidades dos clientes e tem menor impacto ambiental do que os modelos de negócios tradicionais. Além disso, oferece produtos e serviços coerentes com as perspectivas da sustentabilidade; é socialmente aceitável e promove modificações culturais e comportamentais dos consumidores. Em termos inovadores, o PSS gera nova interpretação do conceito de produto e de novas formas de coprodução de valor e nova forma de abordar a cadeia de valor.

São características para desenvolver ofertas de PSS:

• Mudança de pensamento de produto para sistema.• Maior envolvimento e proximidade entre o cliente e provedor.• Ampliação do desenvolvimento básico do produto.• Aumento do envolvimento e da responsabilidade do provedor em todas as fases do ciclo

de vida do produto, principalmente na fase de uso.• Novas relações com fornecedores, que incluem outros atores para dar suporte ao

desenvolvimento de PSS. • Novas relações com clientes, que precisam estar preparados para lidar com o fato de não

serem mais proprietários do produto tangível.

O PSS costuma gerar vantagens competitivas que resultam em maior lucratividade e investe em inovações tecnológicas que determinam bens cada vez mais complexos, que demandam uma ampla rede de serviços de suporte. Os serviços podem substituir bens, satisfazendo as mesmas necessidades, mas consumindo menos recursos naturais e reduzindo a produção de resíduos ao longo do ciclo de vida do produto. Um exemplo sempre citado é o serviço de compartilhamento de veículos (car-sharing), um serviço no qual os clientes utilizam veículos públicos, distribuídos em vários pontos da cidade, e pagam pelo uso do automóvel de acordo com a distância percorrida. Com isso os clientes compram a “função mobilidade”, ao invés de um carro.

Page 49: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

49

São muitas as razões para investir no PSS:

• Cenários que sugerem a falta de alternativas. • A necessidade de criar barreiras de entrada.• A prioridade em aproximar a organização produtiva do consumidor.• A urgência em criar um novo tipo de consumidor: os que investem em um fornecedor

único de bens e serviços, facilitando o controle e gerenciamento de seus negócios. • O impacto ambiental positivo: diminuição do montante total de bens produzidos por

meio da introdução de novos conceitos de uso do produto como esquemas de empréstimo, aluguel e leasing, o que acaba por influenciar os padrões de consumo.

Pelo que se observa no que foi descrito neste capítulo, investir em PSS não é tão simples quanto parece. De fato: Há aumento de investimentos; as ações refletem o ato de pisar em terreno até então desconhecido, fora do usual; ocorrem mudanças do perfil de risco; gerar serviços talvez esteja além do padrão de competência da organização; há a mudança na ênfase do negócio (de uma simples transação de venda de produto para um relacionamento mais complexo com o cliente).

Por outro lado, pode-se concluir que há diversos fatores condicionantes para o emprego da servitização. Deve-se considerar que a produção e os sistemas de entrega não devem estar separados e que os sistemas de medição devem ser alterados para auxiliar os serviços. As operações se tornar mais expostas aos clientes, sendo que o foco está mais no processo do que na entrega final. Gerar incentivos e dar ênfase nas mudanças de um modelo de negócios baseado em transações para um modelo baseado em relacionamentos nem sempre são tarefas fáceis. Por essas razões, esse processo deve ser gradual, iniciando pela provisão de sistemas integrados e atingindo o fornecimento de soluções integradas.

Há vários elementos associados ao PSS que requerem cuidadosos processos gerenciais. A busca de novos modelos de negócio faz sentido em muitos casos, mas não em qualquer um, por exemplo. Por isso, a avaliação básica a desenvolver é avaliar a atratividade do mercado consumidor, entendendo alguns indicadores. Há que se considerar, ainda, a atividade econômica do ciclo de vida do produto relacionada ao seu custo; a diferença entre a margem dos serviços agregados e a margem do produto; a representação do produto baseado em diferenciação; o peso dos cinco maiores clientes na participação de mercado e própria representatividade nos lucros de 20% dos maiores clientes.

A visão gerencial do PSS comporta elementos estratégicos, táticos e operacionais, como se observa na Figura 7.

Page 50: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

50 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

Dimensão estratégica Dimensão tática Dimensão Operacional

Estratégias de atuação;Seleção dos segmentos de mercado;Modelos de relacionamento com cliente;Proposição de valor;Modelo de receita;Suporte tecnológico;Principal x agregadoSustentabilidade;

Recursos humanos Modelo gerencial ampliado;Gestão de projetos Parcerias;Suporte logísticoProcessos de certificação;

Recursos;Atividades;Estrutura de custo;Processo produtivo redimensionado.

Figura 7 - Visão geral do PSS

Por se tratar de assunto relativamente novo, há interessantes lacunas de pesquisa no tema. Considere-se, por exemplo, que a servitização possui caráter similar a visão de inovação, em que a necessidade de gerir processos novos e desconhecidos confere uma busca por ferramentas de apoio. Já os relacionamentos entre o tema Servitização e a área de conhecimento da Inovação foram pouco observados na literatura. De outra parte, constata-se que muitos obstáculos foram identificados em relação às dificuldades das manufaturas na adequação da gestão de processos de serviço. A perspectiva da inovação está caracterizada: agregar ganhos a esse processo por meio de ferramentas de identificação de oportunidades.

Contudo, o assunto requer maiores ref lexões. É preciso ampliar o entendimento de capacidades disponíveis e dos gaps de conhecimento para o desenvolvimento de novas soluções integradas. Torna-se necessário desenvolver indicadores que podem orientar no processo decisório das organizações industriais ao adotarem a estratégia da Servitização e definir quais fatores representam condições para a adoção da servitização e quais são as diretrizes para essa implementação nas empresas de manufatura.

Em seu estágio atual, a servitização é um processo em evolução, ou seja, um estado transitório nas estratégias das empresas de manufatura. Aqui, deixa-se o modelo tradicional, no qual os bens são separados dos serviços, criando-se nova filosofia de atuação para a organização produtiva.

Hoje os conceitos de servitização dos bens e produtização dos serviços têm sido muito discutidos. Há algumas tendências em convergência: oferta única de um produto e um serviço (PSS). Sempre é relevante evidenciar que o PSS investe em temas em sustentabilidade e inserção social, questões de altíssima aceitação. Trata-se de um processo cuja tendência efetiva é de alta.

Cinco dificuldades essenciais se colocam no caminho da plena viabilização do PSS: 1. Questão cultural: os consumidores preferem ter a posse do produto. 2. Questão econômica: dificuldade para fixar preços aos serviços (o que cada parte con-

sidera justa).

Page 51: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

51

3. Questão operacional: produzir serviços é mais difícil do que produzir bens. 4. Questão gerencial: o modelo gerencial das fábricas é muito diverso do modelo gerencial

das empresas prestadoras de serviços, que lidam muito com recursos humanos.5. Questão da natureza do negócio: as empresas têm dificuldade de absorver riscos.

Essas questões, como se observou ao longo do presente capítulo, estão sendo discutidas e já pode observar soluções efetivas para viabilizar a minimização dessas dificuldades.

Page 52: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

52 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

7. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

• Partindo-se da premissa de que para implementar estratégias de negócio como a Servitização, o PSS e o Design Territorial, faz-se necessário que profissionais e pesquisadores compreendam o que é valor. Por consequência, as questões de pesquisa que norteiam este trabalho são: Como evoluiu o conceito de valor? De que forma o entendimento do conceito de valor e a sua evolução podem facilitar a implementação dessas estratégias?

• Partindo-se da premissa de que para implementar estratégias de negócio como a Servitização, o PSS e o Design Territorial, faz-se necessário que profissionais e pesquisadores compreendam o que é valor. Por consequência, as questões de pesquisa que norteiam este trabalho são: Como evoluiu o conceito de valor? De que forma o entendimento do conceito de valor e a sua evolução podem facilitar a implementação dessas estratégias?

• A orientação de uso do produto no PSS influencia a importância dos serviços para a organização?

• Porque a coprodução se intensifica em empresas orientadas a resultado? • Uma organização pode ser classificada em mais de um tipo de PSS? Por quê?

Page 53: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

53

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AFNOR (Association Française de Normatisation). NF EN 12973, juin 2000.

ALIX, T., ZACHAREWICZ, G., Product-service systems scenarios simulation based on G-DEVS/HLA: Generalized discrete event specification/high level architecture. Computers in Industry, v.63, p.370–378, 2012.

ALLEE, V. Reconfiguring the value network. Journal of Business Strategy, v. 21, n. 4, 2000.

ALMEIDA, L.F.; MIGUEL, P.A.C.; SILVA, M.T. A Literature Review on Servitization: A Preliminary Analysis. In: 19th Annual Conference on Production and Operations Management, 2008, SanDiego. 19th Annual Conference on Production and Operations Management Society. San Diego : POMS, 2008.

AMUNDSON, S. D. Relationships between theory-driven empirical research in operations management and other disciplines. Journal of Operations Management, v. 16, n. 4, p. 341-359, 1998.

ANDERSON, E.W., FORNELL, C., RUST, R.T. Customer satisfaction, productivity, and profitability: differences between goods and services. Marketing Science, v.16, n.2, p.129-45, 1997.

BAINES, T. S.; LIGHTFOOT, H. W.; EVANS, S. NEELY, A.; GREENOUGH, R.; PEPPARD, J.; ROY, R.; SHEHAB, E.; BRAGANZA, A.; TIWARI, A.; ALCOCK, J R.; ANGUS, J. P.; BASTL, M.; COUSENS, A.; IRVING, P.; JOHNSON, M.; KINGSTON, J.; LOCKETT, H.; MARTINEZ, V.; MICHELE, P.; TRANFIELD, D.; WALTON, I. M.; WILSON, H. State-of-the-art in product-service systems. Proceedings of the Institution of Mechanical Engineers, Part B: Journal of Engineering Manufacture, v. 221, n. 10, p. 1543-1552 2007.

BAINES, T. et al. Towards an operations strategy for product-centric servitization. International Journal of Operations & Production Management, v. 29, n. 5, p. 494-519, 2009a.

BAINES, T. S.; LIGHTFOOT, H. W.; BENEDETTINI, O.; KAY, J. M. The servitization of manufacturing: a review of literature and reflection on future challenges. Journal of Manufacturing Technology Management, v. 20, n. 5, p. 547-567, 2009b.

Page 54: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

54 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

BAINES, T.; LIGHTFOOT, H. W.; PEPPARD, J.; JOHNSON, M.; TIWARI, A; SHEHAB, E. Towards an operations strategy for product-centric servitization. International Journal of Operations & Production Management, v. 29, n. 5, p. 494-519, 2009c.

BAINES, T.;LIGHTFOOT, H., SMART, P. Servitization within manufacturing: Exploring the provision of advanced services and their impact on vertical integration. Journal of Technology Management, v. 22, n. 7, p. 947-954, 2011.

BARQUET, A. P. B. Elaboração de propostas de PSS no Planejamento da Inovação. (Qualificação de Doutorado em Engenharia de Produção), Universidade de São Paulo, 2012.

BIEGE, S.; LAY, G.; BUSCHAK, D. Mapping service processes in manufacturing companies: industrial service blueprinting. International Journal of Operations & Production Management, v. 32, n. 8, p. 932-957, 2012.

BIOLCHINI, J. C. DE A.; MIAN, P. G.; NATALI, A. C. C.; CONTE, T. U.; TRAVASSOS, G. H. Scientific research ontology to support systematic review in software engineering. Advanced Engineering Informatics, v. 21, n. 2, p. 133-151, abr. 2007.

BOWEN, J.; FORD, R. C. Managing service organizations: does having a “thing” make a difference? Journal of Management, v. 28, n. 3, p. 447-469, 2002.

BRAX, S. A.; JONSSON, K. Developing integrated solution offerings for remote diagnostics: a comparative case study of two. International Journal of Operations & Production Management, v. 29, n. 5, p. 539-560, 2009.

CHASE, R. B.; GARVIN, D. A. The service factory. Harvard Business Review, v. 67, n. 4, p. 61-69, 1989.

CHASE, R. B. The service factory: a future vision. International Journal of Service Industry Management, v. 2, n. 3, p. 60-70, 1991.

CONFORTO, E. C.; CAPALDO, D.; SILVA, S. L. Roteiro para revisão bibliográfica sistemática : aplicação no desenvolvimento de produtos e gerenciamento de projetos. XIII Congresso Brasileiro de Gestão de Desenvolvimento de Produto (CBGDP). Anais. Porto Alegre, RS: [s.n.], 2011

Page 55: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

55

COOK, D. J.; MULROW, C. D.; HAYNES, R. B. Systematic reviews: synthesis of best evidence for clinical decisions. Annals of Internal Medicine, v. 126, n. 5, p. 376-80, 1 mar. 1997.

CORRÊA, H. L.; CAON, M. Gestão de Serviços. São Paulo: Atlas, 2002.

CORRÊA, H. L.; ELLRAM, L. M.; SCAVARDA, A. J.; COOPER, M. C. An operations management view of the services and goods offering mix. International Journal of Operations & Production Management, v. 27, n. 5, p. 444-463, 2007.

CORSARO, D.; SNEHOTA, I. Searching for Relationship Value in Business Markets: Are We Missing Something? Industrial Marketing Management, v. 39, p. 986–995, 2010.

COUSIN, J. B.; MACDONALD, C. J. Conceptualizing the successful product development project as a basis for evaluating management training in technology-based companies: a participatory concept mapping application. Evaluation and Program Planning, v. 21, n. 3, p. 333-344, ago 1998.

DANNEELS, E. The dynamics of product innovation and firm competences. Strategic Management Journal, v. 23, n. 12, p. 1095-1121, dez 2002.

EISENHARDT, K. M.; GRAEBNER, M. E. Theory building from cases: Opportunities and challenges. Academy of Management Journal [S.I.], v. 50, n. 1, p. 25-32, Feb 2007.

FARBER, S. C., COSTANZA, R., WILSON, M. A. Economic and ecological concepts for valuing ecosystem services. Ecological Economics, v. 41, p. 375–392, 2002.

FITZSIMMONS, J.A.; FITZSIMMONS M.J. Administração de Serviços: operações, estratégias e tecnologia da informação. 4 ed., Porto Alegre: Bookman, 2005.

FJELDSTAD, O. D.; KETELS, C. H. M. Competitive Advantage and the Value Network Configuration: Making Decisions at a Swedish Life Insurance Company. Long Range Planning, v.39, p. 109-131, 2006.

FLINT, D. J.; WOODRUFF, R. B.; GARDIAL, S. F. Customer Value Change in Industrial Marketing Relationships - A Call for New Strategies and Research. Industrial Marketing Management, v.26, p.163-175, 1997.

Page 56: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

56 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

GEUM, Y.; PARK, Y. Designing the sustainable product-service integration: a product-service blueprint approach. Journal of Cleaner Production, v. 19, n. 14, p. 1601-1614, 2011.

GEBAUER, H.; FLEISCH, E; FRIEDLI, T. Overcoming the Service Paradox in Manufacturing Companies. European Management Journal, v.23, n.1, 14–26, 2005.

GOEDKOOP, M.J.; VAN HALEN, C.J.G.; TE RIELE, H.R.M.; ROMMENS, P.J. M. Product Service Systems. Ecological and Economic Basics, v. ?, n. ?, 1999.

GRUBEL, H. G.; WALKER, M. A. Service Industry Growth: Causes and Effects. Vancouver: The Fraser Institute, 1989.

JOHNS, N. What is this thing called service? European Journal of Marketing, v. 33, n. 9-10, p. 958-973, 1999.

JOHNSON, M.; MENA, C. Supply chain management for servitized products: A multi-industry case study. International Journal of Production Economics [S.I.], v. 114, n. 1, p. 27-39, Jul 2008.

KNECHT, T.; LESZINSKI, R.; WEBER, F. Memo to a CEO. The McKinsey Quarterly, v.4, p.79-86, 1993.

KRUCKEN, L. Design e território: valorização de identidades e produtos locais. São Paulo: Nobel, 2009.

LOVELOCK, C. H. Services Marketing. Upper Saddle River: Prentice-Hall, 1996.

LOVELOCK, C.; GUMMESSON, E. Whither services marketing? In search of a new paradigm and fresh perspectives. Journal of Service Research, v. 7, n. 1, p. 20-41, 2004.

LUSCH, R. F. VARGO, S.L.; BRIEN, M. Competing through service: Insights from service-dominant logic. Journal of Retailing [S.I.], v. 83, n. 1, p. 5-18, 2007.

MAGLIO, P; VARGO, S.; CASWELL, N; SPOHRER, J. The service system is the basic abstraction of the service science. Information Systems and e-business Management [S.I.], v. 7, n. 4, p. 395-406, 2009.

Page 57: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

57

MANZINI, E.; VEZZOLI, C. A strategic design approach to develop sustainable product service systems: examples taken from the “environmentally friendly innovation” Italian prize. Journal of Cleaner Production, v. 11, n. 8, p. 851-857, dez 2003.

MARTINEZ, V.; BASTL, M.; KINGSTON, J.; EVANS, S. Challenges in transforming manufacturing organizations into product-service providers. Journal of Manufacturing Technology Management, v.21, n.4, p.449-469, DOI 10.1108/17410381011046571, 2010.

MATHIEU, V. Services strategies within the manufacturing sector: benefits, costs and partnership. International Journal of Service Industry Management [S.I.], v. 12, n. 5, p. 451-475, 2001.

MONT, O. Product-Service Systems Final Report. The International Institute of Industrial Environmental. [S.l: s.n.]. , 2000

MONT, O. K. Clarifying the concept of product-service system. Journal of Cleaner Production, v. 10, p. 237–245, 2002.

MONT, O. Drivers and barriers for shifting towards more service-oriented businesses: Analysis of the PSS field and contributions from Sweden. The Journal of Sustainable Product Design [S.I.], v. 2, p. 89-103, 2003.

MONT, O. Product-Service Systems: Panacea or Myth ? [S.l.]: Lund University, 2004.

MORELLI, N. Designing Product/Service Systems: A methodological exploration. Design Issues [S.I.], v. 18, n. 3, p. 3-17, Sum 2002.

MORELLI, N. Developing new product service systems (PSS): methodologies and operational tools. Journal of Cleaner Production, v. 14, n. 17, p. 1495-1501, 2006.

NEELY, A. The servitization of manufacturing: an analysis of global trends. POMS College Of Service Operations and EurOMA Conference. London: London Business School, 2007.

NEELY, A. Exploring the financial consequences of the servitization of manufacturing. Management Research, v.1, n.2, p.103-118, 2008.

Page 58: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

58 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

OLIVA, R.; KALLENBERG, R. Managing the transition from products to services. International Journal of Service Industry Management [S.I.], v. 14, n. 2, p. 160-172, 2003.

OSTERWALDER, A.; PIGNEUR, Y. Business Model Generation. Amsterdam: Self Published, p. 278, 2009.

PONSIGNON, F.; SMART, P. A.; MAULL, R. S. Service delivery system design: characteristics and contingencies. International Journal of Operations & Production Management, v. 31, n. 3, p. 324-349, 2011.

QUINN, J.B. Intelligent Enterprise. Free Press, New York, NY, 1992.

ROSENØ, A. A Four-Dimensional Product Innovativeness Typology: Introducing Seven New Product Project Types for the Study of Innovation Management Business. 2005.

ROTH A.V.; MENOR L.J. Insights into Service Operations Management: A Research Agenda. Production and Operations Management, v.12, n.2, p.145-163, 2003.

RUST, R.T.; ZAHORIK, A.J; KEININGHAM, T.L. Service Marketing. New York: HarperCollins, 1996.

SAMPSON, S. E.; FROEHLE, C. M. Foundations and implications of a proposed unified services theory. Production and Operations Management, v. 15, n. 2, p. 329-343, 2006.

SÁNCHEZ-FERNÁNDEZ, R., INIESTA-BONILLO, M. A., The concept of perceived value: a systematic review of the research. Marketing Theory, v. 7(4), p. 427–451, 2007.

SCHMENNER, R. W. Manufacturing, service, and their integration: some history and theory. International Journal of Operations & Production Management, v. 29, n. 5, p. 431-443, 2009.

SHENHAR, A. J. Contingent management in temporary , dynamic organizations : The comparative analysis of projects. Journal of High Technology Management Research, v. 12, p. 239-271, 2001.

SHENHAR, A. J.; DVIR, D. Reinventing project management: the diamond approach to successful growth and innovation. Boston: Harvard Business Press, 2007. p. 276

Page 59: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 1 | Servitização, produtização e product service system: novas estratégias de integração produto-serviço

59

SILVER, E. A. Process management instead of operations management. Manufacturing & Service Operations Management, v. 6, n. 4, p. 273-279, 2004.

SLACK, N.; LEWIS, M.;BATES, H. The two worlds of operations management research and practice - Can they meet, should they meet? International Journal of Operations & Production Management [S.I.], v. 24, n. 3-4, p. 372-387, 2004.

TAN, A. R.; MCALOONE, T. C. Characteristics of Strategies in Product-Service-System Development. Proceedings of the 8th International Design Conference. Anais. Dubrovnik, Croatia: [s.n.]. , 2006

TAN, A. R. Service-oriented product development strategies. PhD thesis. Technical University of Denmark (DTU), 2010.

TEECE, D.J. Business Models, business strategy and innovation. Long Range Planning, v. 43, p.172-194, 2009.

TROCHIM, W. M. R. An Introduction for Planning to Concept Mapping. Evaluation and Program Planning, v. 12, p. 1-16, 1989.

TUKKER, A.; TISCHNER, U. Product-services as a research field: past, present and future. Reflections from a decade of research. Journal of Cleaner Production, v. 14, p. 1552-1556, 2006.

VANDERMERWE, S.; RADA, J. Servitization of business: adding value by adding services. European Management Journal, v. 6, n. 4, 1988, p. 314-24.

VARGO, S. L.; LUSCH, R. F. Evolving to a new dominant logic for marketing. Journal of Marketing [S.I.], v. 68, n. 1, p. 1-17, 2004a.

VARGO, S. L.; LUSCH, R. F. The four service marketing myths: remnants of a goods-based, manufacturing model. Journal of Service Research, v. 6, n. 4, p. 324-335, 2004b.

VIANNA, M.; VIANNA, Y.; ADLER, I. K.; LUCENA, B.; RUSSO, B. Desing Thinking - Inovação em Negócios. Rio de Janeiro: MJV Press, 2012. p. 162

VORAKULPIPAT, C.; REZGUI Y. Value creation: the future of knowledge management. The Knowledge Engineering Review, v. 23, n. 3, p. 283–294, 2008.

Page 60: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

60 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

VOSS, C. TSIKRIKTSIS, N.; FROHLICH, M.. Case research in operations management. International Journal of Operations & Production Management [S.I.], v. 22, n. 2, p. 195-219, 2002.

WACKER, J. G. A definition of theory: research guidelines for different theory-building research methods in operations management. Journal of Operations Management, v. 16, p. 361-385, 1998.

WOLFL, A. The service economy in OECD countries. STI Working Paper Series, Organization for Economic Co-operation and Development, 2005.

YOON, B; KIM, S; RHEE, J. An evaluation method for designing a new product-service system. Expert Systems with Application, v. 39, p. 3100-3108, 2012.

ZEITHAML, V. A., Consumer perceptions of price quality and value: a means-end model and synthesis of evidence. Journal of Marketing, v.52, p. 2-22, 1988

ZEITHAML, V.A., BITNER, M.J. Services Marketing. McGraw-Hill, New York, NY, 1996.

Page 61: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Guilherme Petry Breier | UniRitter

Lia Buarque de Macedo Guimarães | UFRGS

Camila Duarte Teles | IFRS

Carla Schwengber ten Caten | UFRGS

Carlos Fernando Jung | FACCAT

Claudete Barbosa Ruschival | UFAM

Eduardo Miguel Talmasky | UDESC

Fernando Antonio Forcellini | UFSC

José Luis Duarte Ribeiro | UFRGS

Karina Rossini | UFRGS

Maria Auxiliadora Cannarozzo Tinoco | UFRGS

Pio Campos Filho | UDESC

Sheila Cordeiro Mota | UFAM

Wladmir Henriques Motta | SENAI-CETIQT

Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis

CAPÍTULO 2

Page 62: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção
Page 63: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 63

1. INTRODUÇÃO

Em 2012 completamos vinte anos da realização da ECO 92, evento em que foram discutidas medidas para diminuirmos o impacto ambiental causado pela atividade industrial. Nesse mesmo ano, outro evento, denominado RIO+20, se realiza com o objetivo de avaliar os resultados alcançados desde 1992 até o momento. Também foram tratadas novas políticas de desenvolvimento voltadas para os parâmetros sociais e ambientais. Uma dessas políticas debatidas trata da questão da inovação focada na questão ambiental, a qual dá nome a esse capítulo, a ECO-INOVAÇÃO.

O termo “eco-inovação” tem sido utilizado cada vez mais nas políticas de gestão ambiental das empresas e governos, embora em contextos e situações diversas e com variadas conotações que, infelizmente, resultam na redução do seu valor prático (CARRILLO-HERMOSILLA et al., 2009).

As definições de eco-inovação são bem generalistas e, por essa razão, muitos tipos de inovações podem ser consideradas como eco-inovações (FALK e RYAN, 2006). Essa situação resulta numa importante questão de como se pode classificar a eco-inovação a fim de compreender melhor suas características e transformá-las em diferenciais de sucesso para a indústria sustentável (CARRILLO-HERMOSILLA et al., 2009).

A eco-inovação pode ser uma ferramenta relevante para o sucesso do sistema de inovação. Ela pode auxiliar na renovação do sistema em geral considerando aspectos locais, sociais, culturais, ecológicos e econômicos (PUJARI, 2004). A sobrevivência em longo prazo do sistema econômico depende da sua capacidade de criação e manutenção de processos econômicos sustentáveis, os quais não envolvem, em curto prazo, a criação de valor em detrimento da riqueza em longo prazo.

Ao identificar as diferentes dimensões da eco-inovação, mostrando sua diversidade e abordando o processo e os impactos dos resultados esperados, pretende-se mostrar a riqueza das formas que ela pode gerar nos processos de melhoria econômica, social e ambiental desempenhados pela indústria nacional.

Comumente, as definições enfatizam que eco-inovações reduzem o impacto ambiental causado pelas atividades de produção e consumo, considerando ou não o meio-ambiente como a principal motivação para o seu desenvolvimento e implantação (CARRILLO-HERMOSILLA et al., 2009).

Ao focar no impacto ambiental da eco-inovação, observam-se características prós e contras. Há problemas com as definições que incidem sobre a intenção dos inovadores (PUJARI, 2004). À medida que a indústria adota uma metodologia de produtos do tipo “end-of-pipe” de soluções integradas para tecnologias e inovações de produtos, a motivação ambiental para a inovação pode se envolver com outras motivações (JÄNICKE, 2006). Ainda pode ser difícil

Page 64: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

64 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

estabelecer a relação entre as atividades ambientais específicas das empresas e do desempenho ambiental da indústria. Em suma, é certamente mais difícil verificar uma motivação ambiental do que um resultado ambiental, embora este último também deva ser um desafio. Isso não exclui o fato de que podem existir tecnologias destinadas à redução do impacto ambiental nas atividades de produção e consumo, além de tecnologias que produzam ganhos ambientais como um efeito adjuvante. Como informado pela OECD (OECD, 2009), eco-inovação pode ser ambientalmente motivada, mas também pode ser consequência de outras metas, como a redução dos custos de produção.

A eco-inovação é definida como uma inovação que melhora o desempenho ambiental (CARRILLO-HERMOSILLA et al., 2009), em consonância com a ideia de que a redução de impactos ambientais (intencional ou não) é a sua principal característica. Basicamente, inovação refere-se à mudança na forma como algo é feito. Portanto, para fins de caracterização da inovação, incluindo a eco-inovação, o ato de enfrentar a mudança é considerado um ponto de partida útil (CARRILLO-HERMOSILLA et al., 2009). Nesse contexto, a distinção entre mudanças radicais e incrementais que são proporcionadas pela eco-inovação se faz necessária:

(i) Mudanças incrementais referem-se à gradual e contínua melhoria de competência e modificações que preservam sistemas de produção existentes e mantêm as redes atuais, criando valor pelo acréscimo e adição nesse sistema no qual as inovações estão enraizadas (COENEN e LÓPEZ, 2010).

(ii) Mudanças radicais, ao contrário, são substituidoras de competência, são mudanças descontínuas que buscam a substituição de componentes e sistemas existentes e/ou a criação de novas redes (COENEN e LÓPEZ, 2010).

A distinção entre inovação radical e incremental também pode ser relacionada às funções ambientais. É cada vez mais compreendido que um foco em inovação incremental ao longo de caminhos estabelecidos não é suficiente para alcançar metas exigentes de sustentabilidade ambiental. A necessidade de mudança tecnológica radical ou mesmo inovação do sistema tem sido apontada como a solução (TUKKER e MANTEIGA, 2007; SMITH et al., 2005; NILL e KEMP, 2009). Entretanto, mudanças sistêmicas geralmente incorporam maiores benefícios potenciais que a modificação radical (OECD, 2009). Iniciativas de produção integrada sustentável, como circuito fechado de produção, podem produzir melhores resultados ambientais a médio e longo prazo, com simples modificações em processos e produtos.

A tentativa de conceituar eco-inovação baseia-se em uma perspectiva evolutiva da inovação (DOSI et al., 1988; ARTHUR, 1994; NELSON e WINTER, 2002; WITT, 2009), segundo a qual a inovação surge através de um processo sistêmico que se refere à inter-relação e interação dinâmica entre diferentes atores e fatores internos e externos que influenciam o processo de inovação. Essas premissas motivam a exploração do vasto leque da eco-inovação e análise das mudanças ocorridas em várias dimensões da eco-inovação, que consistem dos aspectos de design, do usuário, dos produtos, dos serviços e da governança (CARRILLO-HERMOSILLA et al., 2009).

Page 65: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 65

Nesse contexto, iniciamos especificando cada método de avaliação de sustentabilidade para a aplicação da eco-inovação. A necessidade de se pensar no ciclo de vida do produto faz com que essa técnica seja aplicada para cada produto que surge no mercado. É uma ótima oportunidade para começarmos a pensar na remanufatura de produtos como modo de recriarmos novas necessidades para o consumidor. Quando tocamos na questão do consumidor é importante trazermos ele para esse processo de desenvolvimento tornando-o um cocriador desse produto. E por fim trazemos uma análise do panorama brasileiro com relação às práticas de nossa indústria com foco na eco-inovação.

2. MÉTODOS PARA SUSTENTABILIDADE: UMA SíNTESE DIFERENCIAL DAS FINALIDADES E CARACTERíSTICAS PARA A ECO-INOVAÇÃO

Existem propostas, modelos e métodos para a sustentabilidade e solução de problemas ambientais desde o tratamento da poluição (políticas end-of-pipe) que visam neutralizar os efeitos ambientais negativos gerados pelas atividades industriais, à atuação nos processos de produção que geram a poluição (utilização de tecnologias limpas), e para o projeto e reprojeto de produtos (produtos limpos) (MANZINI e VEZZOLI, 2008). A conscientização ambiental levou à discussão e proposição de novos métodos e abordagens para minimizar ou até mesmo “zerar” a degradação ambiental.

A temática da sustentabilidade tem motivado, ao longo do tempo, várias organizações e autores a propor modelos para o desenvolvimento de novas tecnologias, produtos e processos para esse fim. Essa seção tem por finalidade apresentar conceitos, finalidades e caracterís-ticas dos modelos para sustentabilidade obtidas a partir da análise de referências teóricas pesquisadas.

Uma síntese dos principais métodos empregados em processos sustentáveis é importante para o surgimento de eco-inovações em diferentes partes do processo ou produto. Nesse tópico foram analisados os modelos: Produção Mais Limpa (Cleaner Production); Produção Limpa (Clean Production); Tecnologias Mais Limpas (Cleaner Technologies); Eco-eficiência (Eco-Efficiency); Ecodesign; Projeto para a Sustentabilidade (Design for Sustainability); Projeto para o Meio-Ambiente (Design for Environment); Prevenção da Poluição (Pollution Prevention); Análise de Ciclo de Vida (Life Cycle Assessment); Engenharia Verde (Green En-gineering); Berço ao Berço (Cradle to Cradle Design); Zero Emissões (ZERI – Zero Emissions Research Initiative).

Como sustentação teórica à identificação e classificação dos termos e definições aplicadas aos métodos foram adotados os princípios metodológicos propostos no trabalho “Review of Sustainability: terms and their definitions” de Glavic e Lukman, 2007.

Page 66: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

66 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

2.1. Produção Mais Limpa (Cleaner Production, P+L)

É uma estratégia que integra aspectos técnicos, econômicos e ambientais e é aplicável à melhoria de processos e produtos (Van BERKEL, 2000). Também pode ser entendida como a aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva que integra processos, produtos e serviços para aumentar a eco-eficiência e reduzir riscos aos seres humanos e ao meio-ambiente. Eco-eficiência e Produção Mais Limpa são conceitos complementares: a Eco-eficiência está fo-cada na estratégia dos negócios, enquanto a Produção Mais Limpa enfatiza a operacionalidade dos negócios e o sistema de produção (GUIMARÃES, 2006; GLAVIC e LUKMAN, 2007).

Tem como finalidade aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e energia, objetivando a não geração, minimização ou reciclagem dos resíduos e emissões nocivos e a redução dos riscos para os seres humanos e o meio-ambiente (Van BERKEL, 2000; CNTL, 2003; GIANNETTI e ALMEIDA, 2006).

Os princípios que fundamentam a Produção Mais Limpa consistem em: (i) substituir matérias-primas, considerando a preservação dos recursos ambientais e a não utilização de matérias-primas não renováveis; (ii) desenvolver o produto visando à possibilidade de ser reutilizado ou reciclado ao final do seu ciclo de vida; (iii) reduzir os custos globais através do emprego eficiente de matérias-primas, energia e água; (iv) melhorar a qualidade no local de trabalho; (v) comprometer-se com a legislação ambiental vigente; (vi) melhorar o processo de manufatura definindo a real necessidade de insumos e estabelecendo a viabilidade de reutilização e/ou reciclabilidade de subprodutos; (vii) considerar as implicações ambientais de embalagem e distribuição do produto; (viii) não considerar como parte da Produção Mais Limpa o tratamento de efluentes, a incineração e até a reciclagem de resíduos fora do processo de produção, já que não implicam em diminuição da quantidade de resíduos ou poluentes na fonte geradora, mas atuam somente de forma corretiva sobre o impacto causado pelo resíduo gerado (GUIMARÃES, 2006; GIANNETTI e ALMEIDA, 2006; VALLE, 1995; SCHNITZER, 1998; UNEP, 2007).

2.2. Produção Limpa (Clean Production, PL)

Foi proposta pela organização ambientalista não governamental Greenpeace, em 1990, para representar o sistema de produção industrial que levasse em conta a autossustentabilidade de fontes renováveis de matérias-primas. Conceitualmente, a “Produção Limpa” é mais limpa do que a “Produção Mais Limpa”, ou seja, o conceito proposto pelo Greenpeace (Produção Limpa) é mais restritivo do que o conceito utilizado pela UNIDO/UNEP de Produção Mais Limpa (MELLO e NASCIMENTO, 2007).

Enquanto a Produção Limpa propõe produtos atóxicos e o uso de fontes de energia renová-veis, a Produção Mais Limpa estimula a redução da toxidade e o uso mais eficiente da energia

Page 67: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 67

(ROBERT, 2002). Os princípios da Produção Limpa são: (i) desenvolver processos e produtos atóxicos; (ii) obter eficiência no uso da energia nos processos produtivos; (iii) utilizar materiais renováveis nos processos; (iv) desenvolver produtos para serem duráveis e reutilizáveis; (v) projetar produtos fáceis de montar e desmontar; (vi) utilizar o mínimo de embalagem em um produto; e (vii) utilizar materiais reciclados e recicláveis no desenvolvimento dos produtos (MELLO e NASCIMENTO, 2007; ROBERT, 2002).

2.3. Tecnologias Mais Limpas (Cleaner Technologies)

São tecnologias desenvolvidas para reduzir a produção de efluentes ou outros resídu-os, maximizar a qualidade do processo e produto, bem como o uso de matérias-primas e energia (GIANNETTI e ALMEIDA, 2006). Essas tecnologias aplicam-se individualmente a determinados processos de manufatura (MELLO e NASCIMENTO, 2007). As atividades da Produção Mais Limpa se aplicam aos processos de projeto e manufatura considerando a melhor integração entre os subsistemas de produção com relação à utilização de insumos e à produção de resíduos. Visam proteger e conservar o meio-ambiente, evitando o desperdício de recursos e a degradação ambiental, almejando o desenvolvimento sustentável (MELLO e NASCIMENTO, 2007).

As Tecnologias Mais Limpas têm por finalidades: (i) prevenir para evitar futuros problemas de geração de resíduos poluentes; (ii) serem aplicáveis a determinado processo, ou conjunto de processos, de uma determinada empresa; (ii) serem escolhidas em termos comparativos, ou seja, devem ser melhores e mais adequadas que as tecnologias já utilizadas ou existentes (GIANNETTI e ALMEIDA, 2006; MELLO e NASCIMENTO, 2007).

2.4. Eco-eficiência (Eco-Efficiency)

É a geração de bens e serviços a preços competitivos que satisfaçam as necessidades hu-manas e possibilitem melhor qualidade de vida, reduzindo progressivamente os impactos ambientais e o uso de recursos naturais ao longo do ciclo de vida dos produtos e serviços (WB-CDS, 2002). A UNEP (United Nations Environment Program) não diferencia Eco-eficiência de Produção Mais Limpa. Entretanto, o WBCSD (World Business Council for Sustainable Development) utiliza o conceito de Eco-eficiência de modo fortemente associado ao impacto dos negócios no ambiente. Assim, Eco-eficiência se define pelo trabalho direcionado a reduzir impactos ambientais devido ao uso minimizado de matérias-primas: “produzir mais com menos” (GIANNETTI e ALMEIDA, 2006).

O modelo da Eco-eficiência tem por finalidade reduzir progressivamente o impacto ambien-tal e a exploração de reservas naturais para um nível suportável pela capacidade estimada do planeta, através da produção de bens e serviços de forma eficiente e a preços competitivos (WB-

Page 68: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

68 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

CDS, 2002). Na prática isso significa: (i) reduzir a quantidade de matéria em bens e serviços; (ii) reduzir a quantidade de energia em bens e serviços; (iii) reduzir a dispersão de material tóxico; (iv) aumentar a reciclagem de material; (v) maximizar o uso de fontes renováveis; (vi) aumen-tar a durabilidade dos produtos; (vii) aumentar a quantidade de bens e serviços (EPA, 2001).

2.5. Ecodesign

Leva em consideração uma sistemática para obter o máximo desempenho do projeto, com respeito aos objetivos ambientais, de saúde e segurança ao longo de todo o ciclo de vida de um produto ou processo, tornando-os eco-eficientes (GUIMARÃES, 2006; EPA, 2001).

Os princípios residem em: (i) minimizar o material utilizado e reduzir o leque de materiais utilizados; (ii) evitar substâncias nocivas; (iii) utilizar materiais renováveis, reciclados e reci-cláveis, com tecnologias não poluentes; (iv) reduzir as sobras de materiais na produção com a reutilização de material e reavaliação de peças defeituosas; (v) projetar e produzir produtos duráveis, ou seja, aumentar a vida útil do produto através do reuso ou reciclagem; (v) utilizar técnica de montagem em módulos; (vi) projetar produtos facilmente reparáveis e passíveis de upgrade; (vii) economizar recursos durante a utilização de produtos, não subestimando a energia consumida durante a vida útil do produto; (viii) facilitar a reciclagem do produto por meio da facilidade de desmontagem e identificação dos materiais recicláveis utilizados; (ix) reduzir o consumo de energia na reutilização; (x) facilitar o desaparecimento no final do ciclo de vida; (xi) utilizar serviços em vez de produtos (BREZET e van HEMEL, 1997).

2.6. Projeto para Sustentabilidade (Design for Sustainability – DFS)

Consiste no projeto e planejamento com foco na redução de materiais através da escolha adequada das fontes de energia e matérias-primas, objetivando obter uma maior longevidade dos bens (BREZET e VAN HEMEL, 1997). O design sustentável apoia-se nas três grandes dimensões da sustentabilidade: a social, a ambiental e a econômica, as quais guiam tanto o desenvolvimento de produtos e serviços quanto à criação de cenários sustentáveis (SAMPAIO, MURARO, e ZANINI, 2007; COSTA, 2007). O Projeto para Sustentabilidade baseia-se em: (i) reprojetar produtos existentes; (ii) readaptar, atualizar – fazer upgrading dos produtos; (iii) estabelecer novos padrões de consumo; (iv) objetivar a sustentabilidade (MANZINI e VEZZOLI, 2008; COSTA, 2007).

2.7. Projeto para o Meio-Ambiente (Design for Environment – DFE)

Fundamenta-se no desenvolvimento de produtos totalmente reutilizáveis e/ou recicláveis e que não produzam resíduos durante o uso (BILLATOS e BASALY, 1997). É um processo

Page 69: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 69

de concepção de produtos que leva em conta o desempenho ambiental (ou seja, produzir sem danificar) desde o início do projeto, com foco na otimização dos fluxos de massa e energia durante o ciclo de vida da matéria e, especialmente, caracterizando uma utilização eficiente dos materiais, técnicas e processos de fabricação a fim de alcançar os objetivos de mercado e, ao mesmo tempo, minimizar os danos e resíduos negativos sobre a sociedade humana e natureza (ALLENBY, 1999).

O Design for Environment – DFE é um processo de desenvolvimento de produtos que leva em conta o ciclo de vida completo de um produto e considera os aspectos ambientais em todas as fases do processo, tendo por finalidade obter o menor impacto ambiental possível durante todo o ciclo de vida (BREZET e VAN HEMEL, 1997). O conceito do Projeto para o Ambiente (DFE) abrange projetos para: reuso de materiais e componentes; para manufatura; maior eficiência energética; reciclagem e por fim para desmontagem (BITENCOURT, 2001). A partir da concepção do Design for Environment – DFE foram geradas as propostas de Design for Assembly – DFA e Design for Disassembly – DFD (GUIMARÃES, 2006).

O Design for Assembly – DFA é uma técnica para redução de custo na interface projeto/produção que leva em consideração o número de peças do produto, a facilidade de manu-seamento e também de montagem dessas peças (BITENCOURT, 2001). Os métodos de Projeto para Montagem (Design for Assembly – DFA) e Projeto para Manufatura – DFM visam otimizar o projeto ainda na fase de definição de processos e formas finais, buscando--se menores tempos e custos.

Esses métodos foram desenvolvidos e, inicialmente, eram utilizados em conjunto (DFMA) (BEITZ, 1993). No entanto, devido à importância de cada um dos processos e a possibilidade de serem aplicados separadamente conforme o caso, eles foram divididos em dois métodos: DFM e DFA (ANDRADE e FORCELLINI, 2004).

O DFA baseia-se em: (i) eliminar a necessidade de tomar decisões para adaptações no produto durante a produção; (ii) garantir acessibilidade e visibilidade; (iii) eliminar a neces-sidade de montagem e ajustes por ferramentas e calibres; (iv) minimizar o número de partes diferentes – utilização “normal” de peças; (v) minimizar o número de peças; (vi) evitar ou minimizar o número de orientações durante a montagem; (vii) manipular facilmente as partes (ANDRADE e FORCELLINI, 2004; BEITZ, 1993).

O Design for Disassembly – DFD é uma técnica que tem por princípios: (i) projetar visan-do facilitar a desmontagem, a fim de permitir a remoção de peças sem danos; (ii) projetar o produto para facilitar a reciclagem e o menor descarte de resíduos, a fim de garantir que o processo de produção não danifique o meio-ambiente; (iii) projetar para facilitar processos de testes e classificação, para deixar bem claro a condição e quais peças que poderão ser reutilizadas, e para permitir a fácil classificação e marcação adequada das peças; (iv) projetar para facilitar o recondicionamento, considerando a possibilidade de reprocessamento de peças, fornecendo material adicional para novos produtos; (v) projetar a montagem com a

Page 70: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

70 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

finalidade de proporcionar uma rápida e fácil desmontagem no fim da vida útil do produto principal (BEITZ, 1993).

2.8. Prevenção da Poluição (Pollution Prevention)

É qualquer prática anterior à reciclagem, tratamento e deposição que reduza a quantidade de qualquer substância perigosa, poluente ou contaminante entrando em fluxos de resíduos ou então lançada para o meio-ambiente de forma a reduzir o perigo para a saúde pública e o meio-ambiente (EPA, 2001; U.S. CONGRESS, 1990).

Os princípios da Prevenção da Poluição são: (i) eliminar e/ou reduzir a geração de resíduos sólidos, emissões atmosféricas e efluentes líquidos; (ii) prevenir vazamentos, perdas acidentais e perdas de produtos; (iii) gerar ações normativas focalizadas na prevenção da poluição; (iv) prever a redução ou total eliminação de materiais tóxicos pela substituição de materiais nos processos, pela reformulação do produto e/ou pela instalação ou modificação de equipamentos destinados a processos de produção; (v) implantar ciclos fechados de reciclagem (EPA, 2001).

2.9. Análise do Ciclo de Vida (Life Cycle Assessment)

Foi proposta pela Society of Environmental Toxicology and Chemistry e consiste em uma técnica para avaliação dos aspectos ambientais e dos impactos associados a um produto, com-preendendo etapas que vão desde a retirada das matérias-primas até a disposição do produto final (CHEHEBE, 1988). Tem por finalidade avaliar os potenciais impactos ambientais de um produto, examinando todos os materiais e componentes energéticos desde as entradas até as saídas em cada fase do ciclo de vida (EHRENFELD, 1997).

A Análise do Ciclo de Vida é uma ferramenta utilizada para caracterizar o metabolismo industrial de cadeias de produção e avaliar como os fluxos de energia e materiais estão or-ganizados entre os componentes do sistema e do ambiente. Permite verificar os efeitos do lançamento de rejeitos através de metodologias que normalizam os poluentes e encontram índices de impacto ambiental.

A Análise do Ciclo de Vida consiste em: (i) identificar os processos, materiais e sistemas que mais contribuem para o impacto ambiental; (ii) comparar as diversas opções, em processo parti-cular, para minimizar o impacto ambiental e fornecer um guia que permita traçar uma estratégia de longo prazo que leve em conta o projeto e a utilização de materiais de um produto; (iii) desen-volver políticas de longo prazo para regulamentação do uso de materiais, para conservação de reservas, redução de impactos ambientais causados por materiais e processos durante o ciclo de vida de um produto; (iv) avaliar a redução de reservas e implementar tecnologias alternativas para utilização de resíduos; (v) fornecer informações ao público sobre as características de produtos e processos (GUIMARÃES, 2006; EPA, 2001; U.S. CONGRESS, 1990; EHRENFELD, 1997).

Page 71: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 71

2.10. Engenharia Verde (Green Engineering)

Trata da concepção, elaboração, projeto, operação e utilização de técnicas economicamente viáveis para o desenvolvimento de produtos e processos que possam contribuir para mini-mizar a geração da poluição e os riscos para a saúde humana e o meio-ambiente (EPA, 2001).

Os princípios da Engenharia Verde são: (i) ser inerente e não circunstancial; (ii) prevenir antes de tratar; (iii) projetar a separação dos materiais; (iv) maximizar massa, energia, espaço, tempo e eficiência; (v) produzir de forma “puxada” ao invés de produzir de forma “empurrada”; (vi) conservar a complexidade; (vii) ser durável e não “imortal”; (viii) conhecer as necessi-dades e minimizar excessos; (ix) minimizar a diversidade de materiais; (x) integrar locais de fluxo de materiais e energia; (xi) desenvolver produtos, processos e sistemas destinados à comercialização úteis à “vida”; (xii) utilizar materiais e energias renováveis e não esgotáveis (ANASTAS e ZIMMERMAN, 2003).

2.11. Berço ao Berço (Cradle to Cradle Design)

Essa abordagem incide especificamente sobre o conceito de metabolismos biológicos e tecnológicos como um método para fechar em loops os processos. No metabolismo biológico, os nutrientes que suportam a vida na Terra, como a água, oxigênio e o dióxido de carbono, realizam um fluxo regenerativo de ciclos de crescimento, decadência e renascimento, de forma que passam de alimentos para resíduos e novamente para alimentos.

O método propõe que o metabolismo tecnológico pode ser concebido por analogia com os ciclos dos nutrientes naturais, como um sistema de ciclo fechado em que se agrega valor a produtos sintéticos de alta tecnologia e recursos minerais quando circulam em um interminá-vel ciclo de produção, valorização e remanufatura (McDONOUGH e BRAUNGART, 2002a). A proposta fundamenta-se no redesenho da indústria baseado na convicção de que o design deve ser fundamentado na segurança e produtividade regeneradora da natureza (McDO-NOUGH e BRAUNGART, 2002a). A proposta é criar uma indústria que está sustentando e não apenas é sustentável (McDONOUGH e BRAUNGART, 2002a). Em suma, o Cradle to Cradle tem a finalidade, através da integração da economia, ecologia e sociedade, de obter o valor máximo de um produto através da prática do design inteligente (GUIMARÃES, 2006).

O conceito Creadle to Creadle vai além da conformidade das normas regulatórias, re-alizando uma avaliação rigorosa do design dos novos produtos, tendo em vista três áreas fundamentais: (i) química dos materiais e segurança dos insumos (quais são as substâncias presentes nas nossas especificações de materiais? São efetivamente as mais seguras que po-demos dispor?); (ii) desmontagem (os produtos podem ser desmontados ao final da sua vida útil para reciclagem de material?); (iii) reciclabilidade (os materiais contêm itens reciclados, e acima de tudo, podem ser reciclados ao final da vida útil dos produtos?) (MBDC, 2002).

Page 72: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

72 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

Os três princípios que fundamentam o Berço ao Berço (Cradle to Cradle) são: (i) resíduos = matéria-prima (alimentos), (ii) utilizar a energia solar; (iii) utilizar a diversidade natural. O método propõe que a indústria deve preservar e enriquecer os ecossistemas, valorizar a natureza biológica do metabolismo e ao mesmo tempo desenvolver e aplicar técnicas produ-tivas para o metabolismo de alta qualidade e utilizar materiais orgânicos sintéticos, e outros materiais (GUIMARÃES, 2006; McDONOUGH e BRAUNGART, 2002a; McDONOUGH e BRAUNGART, 2002b).

2.12. Zero Emissões (ZERI – Zero Emissions Research Initiative)

O método ZERI engloba uma análise sistêmica de cadeias produtivas. Visa obter uma forma sustentável de suprir as necessidades dos seres humanos, como água, alimentação, vestuário, energia, empregos e habitação (PAULI, 1998). A finalidade é propor que sejam revistos pro-cessos e tecnologias aceitas como terminadas e motivar os empresários e centros de pesquisa a conceberem tecnologias, tendo como exemplo o que ocorre nos processos dinâmicos da natureza. Inclui as questões ambientais antes esquecidas pelas empresas, como também visa estimular e possibilitar a criação de empregos e a redução da pobreza (JERôNIMO, 2003).

As finalidades do ZERI são: (i) evitar a geração de resíduos líquidos, gasosos e sólidos; (ii) utilizar todos os inputs na produção; (iii) destinar os resíduos gerados, quando inevitáveis, a outras indústrias para produzir valor agregado. O método ou programa ZERI – Zero Emissions Research Initiative é fundamentado na ideia de ser obtido um rendimento total dos insumos e na identificação e formação de conglomerados industriais que possam utili-zar seus próprios resíduos para a fabricação de outros produtos (PAULI, 1998). A proposta consiste em criar um elo entre empresas para transformar as saídas (outputs) de um processo em entradas (inputs) de outro, dessa forma a cadeia alcançaria a emissão zero (PAULI, 1996). Nesse contexto, surge a proposta do Upsizing, que significa a tomada de decisão de uma organização industrial por procurar a Emissão Zero. A Emissão Zero é o objetivo final, o Upsizing é o resultado direto (PAULI, 1998; PAULI, 1996).

2.13. Síntese dos Métodos de Sustentabilidade para a Eco-Inovação

Na Tabela 2.1 é apresentada uma síntese a partir das diferenças observadas a partir da revisão e análise conceitual. Para cada método são demonstradas as principais finalidades e características para que seja possível diferenciar as propostas existentes.

Page 73: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 73

Tabela 2.1. Síntese diferencial das finalidades e características dos métodos para sustentabilidade

MéTODOS FInAlIDADES CARACTERíSTICAS

ProduçãoMais limpa

Minimizar ou reciclar os resíduos e emissões em pro-cessos industriais; Reduzir o risco para os seres huma-nos (redução da toxidade).

Reutilização de materiais; Melhoraria da qualidade de vida no local de trabalho; Não considera como parte do método o tratamento e reciclagem de resíduos fora do processo de produção.

Produçãolimpa

Utilizar somente fontes renováveis de matérias-pri-mas; Desenvolver produtos e processos totalmente não tóxicos.

Obtenção de produtos atóxicos, duráveis, reutilizá-veis, fáceis de montar e desmontar com embalagem mínima.

TecnologiasMais limpas

Ser específica a determinado processo.Serem melhores do que as atuais tecnologias já em utilização no processo.

Eco-eficiência

Produzir mais com menos.Maximizar o uso de fontes renováveis; Aumentar a durabilidade dos produtos.

EcodesignMaximizar os benefícios ambientais e de saúde aos seres humanos ao longo de todo o ciclo de vida de um produto tornando-os eco-eficientes.

Produtos fáceis de montar e desmontar; Facilitar o de-saparecimento dos resíduos no final do ciclo de vida; Utilizar serviços ao invés de produtos.

Projeto para a Sustentabi-

lidade

Priorizar as dimensões da sustentabilidade como: o social, a ambiental e a econômica para criar cenários sustentáveis.

Reprojetar, readaptar, atualizar – fazer upgrading de produtos; Estabelecer novos padrões de consumo.

Projetopara o Meio-

Ambiente

Conceber produtos considerando o desempenho am-biental – produzir sem danificar – desde o início do projeto.

Utilização das técnicas de design for Assembly e design for disassembly; Simplificar a estrutura e a forma do produto para reduzir o uso de materiais.

Prevençãoda Poluição

Utilizar qualquer prática anterior à reciclagem, tra-tamento e deposição, e que reduza a quantidade de qualquer substância poluente ou contaminante.

Redução de resíduos sólidos, emissões atmosféricas e efluentes líquidos; Prevenção de vazamentos e aci-dentes ambientais.

Análise do Ciclo de Vida

Avaliar os aspectos ambientais e os impactos associa-dos a um produto desde a extração e transformação da matéria-prima até a disposição do produto final.

Identificação de processos e materiais que possam causar impacto ambiental; Comparar opções para minimizar o impacto ambiental.

Engenharia Verde

Utilizar técnicas economicamente viáveis para desen-volver produtos e processos que possam contribuir para minimizar a poluição e riscos à saúde.

Ser inerente e não circunstancial; Prevenir antes de tratar; Maximizar massa, energia, espaço, tempo e eficiência.

Berço ao Berço Realizar um metabolismo tecnológico por analogia com os ciclos de nutrientes naturais.

Resíduos = matéria-prima; Utilizar o rendimento da energia solar; Utilizar a diversidade natural.

Zero Emissões – ZERI

Obter zero resíduo, onde cada dejeto de uma indústria é utilizado como matéria-prima de outra indústria.

Utilizar todos inputs na produção buscando rendi-mento total; Formar conglomerados industriais (in--out-in).

Page 74: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

74 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

A análise e síntese permitem entender que os diferenciais das propostas existentes para sus-tentabilidade têm sido dependentes da maneira como os problemas vêm sendo interpretados pelos autores em função de suas visões e posições ideológicas a respeito do tema. Assim, as teorias que sustentam os vários métodos podem ser resultantes dos diferentes entendimen-tos sobre a problemática que, por consequência, têm produzido efeitos quando planejados e implantados métodos aplicados à sustentabilidade.

Page 75: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 75

3. UMA SISTEMÁTICA PARA O REDESIGn DE PRODUTOS REMANUFATURÁVEIS: PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE

A remanufatura é uma estratégia para o fim de ciclo de vida dos produtos que promove tanto a extensão da vida útil dos mesmos quanto à reutilização de peças, na qual proporciona ao mesmo tempo a prevenção de resíduos e a gestão de materiais. Remanufatura é o processo pelo qual produtos usados são levados a um novo ciclo de vida por meio da reutilização, recuperação e substituição de peças e componentes, com garantia e qualidade de funcionamento equivalente a de um produto novo, e de acordo com as especificações do fabricante original (IJOMAH et al., 2007).

Entretanto, existe pouco interesse em se projetar para a remanufatura (HAMMOND et al., 1998). Grande parte dos produtos são remanufaturados mais por descobertas felizes do que por sua concepção (AZMEQUITA et al., 1995). Isso porque: (i) os projetos de produtos têm foco tipicamente na funcionalidade e custo em detrimento das questões ambientais; (ii) os profissionais de desenvolvimento de produtos geralmente possuem pouco ou nenhum conhecimento sobre remanufatura; (iii) existe uma escassez de conhecimento e pesquisa sobre esse assunto (SUNDIN; LINDAHL; IJOMAH, 2009).

Este tópico apresenta o processo de desenvolvimento e avaliação de uma sistemática para o redesign de produtos para remanufatura, que tem por objetivo apoiar as atividades das equipes de projeto quanto à obtenção de produtos remanufaturáveis, colaborando para a Eco-Inovação. A sistemática proposta também se destina às empresas chamadas Fabricantes de Produtos Originais ou àquelas que têm acesso a informações técnicas de fabricação do produto original.

O processo de redesign de um produto consiste na criação de melhorias de um sistema físico para atender às necessidades do cliente, cujas mudanças no projeto original devem satisfazer e preservar os requisitos funcionais, para melhor gerar alternativas que atendam as necessidades detectadas (HASHIM, JUSTER e PENNINGTON, 1993).

O Design orientado para a Remanufatura (Design for Remanufacture – DFRem) ou Design para Remanufatura é a atividade de conceber e analisar um produto a partir de uma perspectiva de remanufaturabilidade (AMACOST et al., 1999; ZWOLINSKI e BRISSAUD, 2008). Remanufaturabilidade é a característica que um produto possui que representa o grau em que ele pode ser facilmente remanufaturado (AMACOST et al., 1999). Portanto, é a prática que enfatiza as questões relacionadas com o processo de remanufatura ao longo de todo o processo de desenvolvimento de produtos.

A seguir, apresenta-se o processo utilizado para o desenvolvimento da sistemática.

Page 76: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

76 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

3.1. A Sistemática de Redesign para Remanufatura

Para a modelagem da sistemática de Redesign para Remanufatura se considerou como base de desenvolvimento o princípio da técnica IDEF0, apresentada por Ijomah, Childe, McMahon (2004), na qual se procurou ilustrar os componentes e os fluxos existentes no sistema, identificando as atividades principais executadas.

A descrição da sistemática está assim composta: (i) entrada – produto avaliado e apto para ser adaptado para remanufatura; (ii) controle – trata-se das restrições ou regras que regem as condições do redesign, nesse caso composto pelas diretrizes e recomendações do DFRem provenientes das características técnicas do produto e das atividades realizadas durante o processo de remanufatura, além das informações de especificações do produto original; (iii) mecanismos – meios pelos quais a atividade é realizada que são as ferramentas do DFE (conceito do ciclo de vida), e o processo de redesign em si relacionado às atividades de desenvolvimento; (iv) saída – produto redesenhado para remanufatura ou produto remanufaturável.

As fases do processo ficaram assim definidas (Figura 2.1): (i) Fase 1 – Requisitos de Redesign para Remanufatura, em que se define uma nova lista das especificações de redesign para remanufatura; (ii) Fase 2 – Estrutura Funcional de Remanufatura, momento que se determina uma nova estrutura funcional do produto a fim de torná-lo remanufaturável; (iii) Fase 3 – Redesign Conceitual Remanufaturável, se desenvolvem soluções para as funções parciais de remanufatura, definindo qual das soluções propostas apresenta a melhor concepção de redesign para remanufatura, e desdobram-se os princípios de solução em sistemas, subsistemas e componentes para se definir a arquitetura do produto; (iv) Fase 4 – Redesign Detalhado Remanufaturável, especificam-se componentes, capacidades, dimensões e desgaste, detalham-se as peças e se estabelecem tolerâncias, materiais, acabamentos, processos de fabricação, montagem e transporte.

3.2. Metodologia do Redesign para Remanufatura

O método da lógica consistente, de acordo com Rocha et al. (2010), consiste em estabelecer proposições (hipóteses) e definir parâmetros a fim de isolar os fatores de maior influência para as decisões e, por meio de consulta a especialistas, obter anotações (opiniões) para esses fatores, atribuindo-lhes um grau de crença (μ1) e um grau de descrença (μ2). Nesse método supõe-se que (LEMES NETO; VENSON, 2002: ROCHA et al., 2010): (i) Se existir um alto grau de contradição, não existe consistência quanto ao achado, portanto, devem-se buscar novas evidências; (ii) Se existir um baixo grau de contradição, pode-se formular a conclusão desde que se tenha um alto grau de certeza.

Essa lógica é aferida por meio de dois valores para pontuar o julgamento ou pareceres (μ1; μ2) pertencente ao intervalo fechado [0;1], em que μ1 representa o grau de crença e μ2

Page 77: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 77

o grau de descrença. Tais estados lógicos são representados em um sistema de coordenadas cartesianas, chamado de Quadrado Unitário de Plano Cartesiano – QUPC (CARVALHO; BRUNSTEIN; ABE, 2003). Dependendo da localização em que se encontram os valores de crença e de descrença no QUPC é possível realizar decisões ou avaliar o consenso das opiniões dadas pelos especialistas. O QUPC é dividido em doze regiões que permitem análises para tomadas de decisão. Por esse motivo, ele é chamado dispositivo ou algoritmo para-analisador.

Figura 2.1. Sistemática de redesign para Remanufatura. Após elaboração gráfica da proposta, esta foi submetida à avaliação de especialistas.

Os graus de crença e de descrença dos fatores (ou das questões que avaliaram a sistemática) são obtidos por meio da aplicação das técnicas de maximização (OR) e de minimização (AND) que permitem, pela aplicação da regra de decisão ou do dispositivo para-analisador (o QUPC), verificar como é a influência de cada fator na decisão (ROCHA et al., 2010). Os valores de OR (maximização) e AND (minimização) correspondem, respectivamente:

a) (μ1; μ2) OR (_1; _2) = (Máx {μ1, _1}; Máx {μ2, _2})b) (μ1; μ2) AND (_1; _2) = (Mín {μ1, _1}; Mín {μ2, _2})

Ao fazer o cruzamento dos pareceres dados pelos especialistas, mediante a aplicação de OR e AND, o resultado é analisado com base na região do QUPC em que se localiza, logo,

Page 78: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

78 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

pode-se tomar uma decisão favorável ou desfavorável se um resultado ocorrer em um ponto da região que indique uma definição como, por exemplo, próximo a (1,0) ou (0,1).

3.3. Síntese dos Resultados Alcançados através da Metodologia de Redesign para Remanufatura

Os resultados dos valores de crença e descrença atribuídos pelos especialistas a cada questão que avaliou a sistemática estão localizados no QUPC, agrupadas nos critérios de Aplicabilidade, Adequacidade e Estrutura. Assim, analisando o critério Aplicabilidade, a localização de seus pontos no QUCP (Figura 2.2) mostra que as questões Q1.2, Q1.5, Q1.6, Q1.9 e Q1.10 pertencem à região de verdade, com nível de exigência de 70% de concordância das opiniões dos especialistas, indicando que a sistemática satisfaz o critério nessas questões avaliadas. A questão Q1.4 localiza-se na região de quase verdade tendendo a inconsistente, indicando que a sistemática não deixa muito claro a necessidade do uso de um guia para a desmontagem de produtos, sugerindo que novas análises sejam feitas para que Q1.4 se torne mais clara.

Figura 2.2. Análise dos resultados do critério Aplicabilidade pelo dispositivo para-analisador

Page 79: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 79

Na análise final do critério Aplicabilidade, cinco questões obtiveram avaliação favorável, uma sem evidência clara, uma contraditória e duas não conclusivas. Todavia, o cálculo do baricentro localiza os pontos na região de verdade no QUCP, o que atesta a Aplicabilidade da sistemática para o redesign de produtos remanufaturáveis. No critério Adequacidade, todos os pontos das questões que avaliaram a sistemática se concentram na região de verdade do QUCP, indicando que a sistemática considera as limitações e propriedades do produto e do processo de remanufatura para o redesign (Figura 2.3).

O critério Estrutura apresenta quatro questões localizadas na região de verdade, ou totalmente verdadeiro, Q3.2, Q3.3, Q3.4 e Q3.5, enquanto Q3.1 se localiza na região de quase verdade, tendendo a inconsistente (Figura 2.4). As quatro primeiras questões indicam que na opinião dos especialistas a sistemática contém as indicações e orientações das fases, tarefas e atividades necessárias para orientar o redesign de produtos, no entanto, não deixa claro se sua estrutura é simples, fácil de usar, sugerindo a realização de novas análises.

Ao localizar o baricentro do critério Estrutura no QUCP verifica-se, no entanto, que seus pontos estão na região de verdade, indicando que os especialistas se mostram favoráveis quanto aos itens avaliados.

Figura 2.3. Análise dos resultados do critério Adequacidade pelo dispositivo para-analisador

Page 80: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

80 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

Figura 2.4. Análise dos resultados do critério estrutura pelo dispositivo para-analisador

Na avaliação final, que considera a influência de todos os itens analisados para a verificação da viabilidade do uso da sistemática para realizar o redesign de produtos remanufaturáveis, pode-se afirmar que a mesma atende a todos os critérios avaliados, tendo em vista que a região de localização dos baricentros que determina a consistência do processo de redesign encontra-se na região de verdade. É, portanto, um instrumento viável, que integra considerações ambientais para a concepção de produtos industriais.

Na análise desses elementos, foram identificadas como questões chaves dos aspectos técnicos principais do produto remanufaturável: (i) limpeza; (ii) necessidade de identificação das peças; (iii) orientações sobre desmontagem, tendo os fixadores como questão central nesse processo; (iv) inspeção e testes; (v) materiais, formas e princípios modulares apropriados para repetitivas remanufaturas. Essas questões aparecem na sistemática como restrições ou atividades básicas que norteiam as atividades do projeto, portanto, são critérios essenciais que orientam o processo de redesign do produto remanufaturável.

Na sistemática são ilustradas as entradas, as saídas e as atividades que transformam as entradas em saídas. São ilustradas também as restrições que regem as condições da transformação das informações e/ou especificações, assim como os meios (métodos e ferramentas) que ajudarão na realização dessas atividades para garantir a efetivação de todas as fases do processo de redesign.

Page 81: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 81

No entanto, considerando os pareceres dos especialistas, é necessário simplificar sua estrutura gráfica, assim como: Simplificar textos (informações); Eliminar elementos transitórios; Eliminar representações desnecessárias; Evidenciar atividades e tarefas; Evidenciar o f luxo das atividades e tarefas; Evidenciar uso de guias de desmontagem do produto; Evidenciar considerações ambientais sobre o ciclo de vida do produto. Tais considerações são relevantes para a próxima etapa desta pesquisa, que consiste na reestruturação da sistemática e posterior validação por meio de um estudo de caso.

Assim, conclui-se que o sistema de modelagem utilizado para a elaboração da sistemática foi adequado para o seu desenvolvimento, tendo em vista que na percepção dos especialistas propiciou a construção de uma estrutura do processo de redesign de produtos para a remanufatura que, após ajustes e aplicação, poderá ser utilizado pelas equipes desenvolvedoras para prolongar a vida útil dos produtos quanto à reutilização de peças e materiais.

Page 82: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

82 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

4. COCRIAÇÃO DE VALOR: ECO-INOVAÇÃO COMO MODELO DE VANTAGEM COMPETITIVA

As duas últimas décadas têm sido percebidas como uma era de aceleração sem precedentes na velocidade de evolução da economia. Essa aceleração foi produzida por um conjunto de eventos, dentre os quais os mais importantes são a globalização, a desregulamentação dos mercados e a evolução tecnológica.

A ruptura das barreiras existentes entre os países aumentou a complexidade do ambiente, no qual estão insertas as organizações, por possibilitar o aumento da quantidade de competidores e fornecedores, ampliar o mercado, e levar a organização a enfrentar diferentes culturas e legislações.

Nesse cenário, a forte competição obriga as empresas a estarem constantemente em busca de inovações tecnológicas que possibilitem a obtenção de vantagens competitivas, que são cada vez mais temporárias. As empresas se organizam em busca de inovação tecnológica das mais diversas formas, através de desenvolvimento interno, de aquisições e alianças com outras empresas ou simplesmente confiando nas forças do mercado e atuando fora de suas fronteiras.

Diante desse novo cenário, a sociedade globalizada defronta-se numa complexidade e incerteza, constituindo-se numa “mudança paradigmática”. Conforme Thomas Kuhn (2001) permite compreender a atividade científica e o processo do conhecimento a partir de uma descontinuidade. Ou seja, sofre descontinuidades e revoluções que permitem a passagem qualitativa de um paradigma a outro.

Tabela 2.2. Mudanças no paradigma tecnológico. Fonte: Nakano (1994)

VElHO PARADIGMA nOVO PARADIGMA

Intensivo em energia Intensivo em informações e conhecimento

Grandes unidades de produção e número de trabalhadores

Redução no tamanho da produção e no número de trabalhadores

Produto homogêneo de uma unidade de produção Diversidade de produtos

PadronizaçãoMix estável de produtos

Customised (dirigida ao cliente)Mudanças rápidas no mix de produtos

Plantas e equipamentos especializados Sistemas de produção flexível

AutomaçãoHabilidades especializadas

SistematizaçãoMulti-habilidades interdisciplinares

Conforme a Tabela 2.2, observa-se que o atual paradigma caracteriza-se pela inovação (MATTOS et al. 2005). Assim, as mudanças são as mais variadas possíveis, desde a própria

Page 83: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 83

tecnologia até a estrutura da empresa, por questões legais passando por mudanças no comportamento de funcionários e equipes encarregadas de desenvolver novos produtos ou tecnologias limpas, nas próprias questões legais e nas políticas e diretrizes da empresa.

Logo, todo o processo de planejamento estratégico da empresa começa também a ter outro enfoque, onde a análise das ameaças e oportunidades e do ambiente externo tem uma conotação muito mais forte com a solidariedade ecológica do planeta.

Se, durante muitos anos, a mão de obra e o capital foram considerados os únicos fatores diretamente ligados ao crescimento econômico, nos dias de hoje, conforme Reis (2004), o principal agente de mudanças no mundo corporativo é a inovação tecnológica.

Assim, a inovação, origem maior da geração de valor, deve ser pautada pelos desafios conceituais do desenvolvimento sustentável. Ou seja, associar aos ganhos econômicos, atitudes e ações que considerem a preservação ambiental e a responsabilidade social.

Por enfoque da inovação, o Manual de Oslo (2011) define quatro tipos de inovação: de produto, de processo, de marketing e organizacionais – ou no modelo de negócio. As duas primeiras estão relacionadas à inovação tecnológica, enquanto que as duas restantes são mais amplas. Nesse sentido, a atual complexidade das ofertas, com grande variedade de produtos e serviços, nem sempre resulta em melhores experiências de consumo (PRAHALAD, RAMASWAMY, 2004).

Percebe-se, assim, que o sucesso das organizações depende da eficiência e da eficácia com que o conhecimento tecno-científico é produzido, transferido, difundido e incorporado aos produtos e serviços com características socioambientais.

Nesse contexto, o produto eco-eficiente apresenta requisitos especiais, que o diferenciam de outros, ao ser fabricado, estocado, transportado, utilizado, descartado, coletado e reaproveitado no processo produtivo por meio das estratégias de fim ciclo de vida de produtos, minimizando assim o impacto ambiental tanto na disposição quanto no consumo de novos recursos reciclados.

Segundo Porter (2003), o posicionamento de mercado é uma estratégia que a empresa busca para se diferenciar de outras empresas. Nesse sentido, Tapscott e Williams (2007) afirmam que os prosumers, ou seja, consumidores que interagem com as empresas, buscam, na realidade, produtos e experiências melhores. A cocriação é direcionada a um público que busca exclusividade e personalização.

Entretanto, a inovação é comumente vista como a implementação de novos produtos ou serviços. Porém, pode-se inferir que as inovações em produto, ou até mesmo em processo, são restritas, diante do que se faz necessário um comportamento inovador que envolva toda a organização, até sua maneira de gestão.

Porém, a inovação só terá importância se criar valor para os clientes e para a empresa; dessa forma, a criação de um novo produto ou serviço não basta, ela deve ter valor para o consumidor. Esse “valor percebido pelo cliente” é conceituado por Hamel e Prahalad (2002) como os benefícios que o cliente vê ao usufruir do produto/serviço adquirido.

Page 84: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

84 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

5. ECO-INOVAÇÃO E A ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DO PRODUTO

O capitalismo industrial, baseado na produção e consumo em massa, se fortalece a partir do desenvolvimento contínuo e cumulativo de novos produtos, em que as perspectivas de sustentabilidade são altamente prejudicadas, predominando, dessa forma, o desperdício de produtos e de matérias-primas primárias e secundárias. De outro lado, tem-se a realidade apresentada quanto à finitude da capacidade do planeta de prover recursos e absorver os bens pelo homem.

Na atualidade, existe ainda a urgência quanto ao desenvolvimento sustentável, no qual a ideia de uma conciliação entre os interesses econômicos, ecológicos e sociais ocupa papel central. Tal urgência vem pontuando cada vez mais ações de governos, empresas e pesquisadores. O conceito de desenvolvimento sustentável é decorrente de um longo processo histórico que propôs uma reavaliação da relação até então existente entre a sociedade e o meio-ambiente. O termo, embora anterior à Conferência das Nações Unidas para o Meio-Ambiente realizada no Rio de Janeiro em 1992, só começou a se tornar mais popular após esse evento. Segundo Motta (2012), a proposta do desenvolvimento sustentável é a busca de uma produção industrial sem prejuízos ao meio-ambiente.

Como reflexos do movimento pró-meio-ambiente, foram criados mecanismos de incentivo das boas práticas empresariais para estimular a responsabilidade socioambiental. Dentre os instrumentos certificadores que surgiram, destaca-se a ISO 14000, criada pela International Organization for Standardization (ISO). Segundo Soledade et al. (2007), as normas que a compõem têm como referência os aspectos ambientais que a organização identifica como aqueles que podem ser controlados e influenciados pelos seus processos.

Soledade et al., (2007) informa ainda que a série ISO 14000 tem por objetivo um Sistema de Gestão Ambiental que auxilie as empresas a cumprirem suas responsabilidades em relação ao meio-ambiente. Dentro desse contexto, tem-se na eco-inovação uma das formas de se solucionar esse problema central, através da convergência do crescimento econômico, da elevação do bem-estar e da proteção ambiental.

O papel das empresas nesse processo tem sua importância relevante e validada, já que suas atividades têm impacto direto no meio-ambiente, tendo as eco-inovações como uma das maiores contribuições destas empresas ao meio-ambiente. Tais inovações podem ocorrer através de diferentes formas de combinar materiais e força de trabalho, gerando novos produtos ou inserindo um novo atributo a um produto já existente, em um novo método produtivo, na descoberta de novas fontes de matérias-primas, na mudança, na composição de um produto, dentre outros.

Dentre as novas propostas para o desenvolvimento sustentável, a Análise do Ciclo de Vida (ACV) é uma das propostas mais completas, já que avalia toda a cadeia de suprimentos,

Page 85: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 85

buscando apresentar as melhores alternativas quanto à preservação ambiental. Na série ISO 14000, há a ISO 14040, que trata exclusivamente da Avaliação do Ciclo de Vida, especificando sua estrutura geral e direcionando o desenvolvimento de cada uma de suas fases. Tal proposta pode solucionar ou ao menos reduzir os problemas ambientais existentes, minimizando o impacto ambiental decorrente de uma atividade produtiva e dos processos diretamente relacionados a essas atividades.

Dentro desse contexto, percebe-se que a eco-inovação, assim como a Análise do Ciclo de Vida (ACV), são elementos de suma importância no desenvolvimento sustentável. Sendo assim, o propósito deste trabalho é de apresentar, através de um estudo descritivo e exploratório, o surgimento e as principais definições da eco-inovação, tendo ainda o objetivo de apresentar as inter-relações entre a eco-inovação e a ACV.

5.1. Aspectos Teórico-Metodológicos de Análise do Ciclo de Vida

A metodologia de Análise do Ciclo de Vida (ACV) teve origem em estudos de análise de consumo de energia na década de 1970 e foi desenvolvida pela Society for Enviromental Toxicology and Chemistry (SETAC) e posteriormente na década de 1990, pela International Organization for Standardisation (ISO). A construção de cenários promovida pelo uso da ACV implica em contrapor as perspectivas do produtor e do consumidor, avaliando as escolhas de cada um desses grupos. Tal confrontação, baseada em atributos de produto e processo, inegavelmente amplia e aprofunda o conhecimento da empresa a respeito da essência de sua atividade.

Novos atores, novas percepções e competências emergiram da preocupação contemporânea quanto ao meio-ambiente, elevando a capacidade das indústrias para adotar inovações tecnológicas em resposta às demandas ecológicas e ambientais.

A inovação pode ser definida como a exploração com êxito de novas ideias, sendo entendida como um novo produto ou processo, que tem um impacto positivo no mercado. Diversas áreas do conhecimento têm estudado a inovação, logo, suas definições têm distintos conceitos. Uma das definições mais difundidas é a proposta pela Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Econômica (OECD): “A inovação é a implementação de um produto (ou serviço), significantemente novo ou melhorado, ou de um processo ou nova forma de marketing, ou ainda de um novo método de práticas organizacionais.” (OECD, 2005, p.46).

Existem diversas classificações para a inovação: inovação em produto; inovação de processo; inovação organizacional; inovação de marketing; inovação incremental; inovação radical e inovação aberta.

No Brasil, os dados apresentados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), através de sua pesquisa de inovação PINTEC (Pesquisa de Inovação Tecnológica) (2008), indicam que, considerando as inovações em processo e produto, a quantidade de empresas que inovou,

Page 86: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

86 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

no período entre 2003 e 2005, foi de 34,3% das pesquisadas. Na última pesquisa, de 2006 a 2008, esse número passou para 38,6%. Outro item revelado pela pesquisa foi que, entre 2003 e 2005, 18,8% das empresas tiveram suporte do governo e que esse número subiu para 22,3% entre 2006 e 2008, indicando uma grande participação do governo brasileiro no processo inovativo.

Após essa breve apresentação das diversas classificações da inovação, a introdução ao assunto eco-inovação fica, segundo evidenciado por Motta (2012), de certa forma facilitada, já que se deve imaginar que tal inovação deveria ser a implementação de um novo produto ou processo produtivo, que além de ser inovador iria gerar também benefícios ambientais. Na realidade, a definição de eco-inovação (inovação ambiental) não difere muito do que foi exposto anteriormente. Motta (2012) aponta a eco-inovação como sendo a atividade cujo foco é melhorar a performance ambiental de uma empresa, através da redução dos danos ambientais ou da eliminação dos mesmos, trazendo tanto benefícios ambientais como financeiros. Essas mudanças podem ocorrer através de melhorias nos processos, produtos e modelos de negócio, desde que o produto final seja menos prejudicial ao meio-ambiente do que a proposta anterior.

Alguns exemplos de eco-inovação são dados pelo WBCSD (World Council of Sustainable Development), quando é explicada como sendo a redução do consumo energético, redução do uso de materiais, otimização do uso de materiais renováveis, redução da geração de substâncias tóxicas, incremento da reciclagem e prolongamento do ciclo de vida dos produtos. De acordo com Horbach (2007), a eco-inovação em contraste com outras inovações deve levar a uma situação ganha-ganha, já que traz benefícios econômicos e ambientais.

Kemp et al. (2007) define eco-inovação como a produção ou exploração de um produto, processo produtivo, serviço ou método de gestão de negócios que é novo para a firma ou usuário final e que resulta, através de sua vida útil, em uma redução do risco ambiental, da poluição e de outros impactos negativos quanto ao uso de recursos naturais. Segundo Nidumolu et al. (2009), as empresas inteligentes estão tratando a sustentabilidade como uma nova fronteira de inovação, nesse caso, eco-inovação.

Tendo como base a pesquisa de Inovação Tecnológica realizada no Brasil (PINTEC, 2008), na qual, da amostragem de indústrias pesquisadas, 38,6% destas haviam implementado inovações em produtos e/ou processo, Queiroz (2011) avaliou o crescimento de empresas que desenvolveram a eco-inovação, usando variáveis do PINTEC 2003, 2005 e 2008, referentes a questões ambientais.

Das variáveis selecionadas do questionário do PINTEC, as relacionadas foram: redução do consumo de matérias-primas, redução no consumo de energia, redução no consumo de água e implementação de técnicas de gestão ambiental. Um dado apontado por Queiroz (2011) foi o crescimento da importância dada aos assuntos relacionados à sustentabilidade ambiental, que, segundo a PINTEC, apresentou um crescimento entre as pesquisas de 2003 e 2008, passando de 4,5% para 10,8%.

Page 87: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 87

Frente a esse cenário, têm surgido algumas propostas voltadas para o desenvolvimento sustentável das empresas. Dentre elas, uma das principais é a Análise do Ciclo de Vida (ACV). A ACV, segundo Valt (2004), estuda a complexa interação entre um produto e o ambiente, levando em conta a avaliação dos aspectos ambientais associados ao ciclo de vida do produto, considerando, na análise, toda a cadeia de suprimentos desse produto. Essa ferramenta analisa como o produto pode interferir no meio-ambiente durante seus processos de fabricação, seu uso e também no seu descarte, sendo uma ferramenta de apoio ao Sistema de Gestão Ambiental.

Outra definição da análise do ciclo de vida é dada por Hinz et al. (2006), apontando que a ACV surgiu da necessidade de se criar uma metodologia para análise dos impactos ambientais decorrentes dos processos e produtos das empresas. A SETAC (Society of Environmental Toxicology and Chemistry) aponta a avaliação do ciclo de vida como um processo objetivo de avaliar as cargas ambientais associadas a um produto ou processo, identificando e quantificando os impactos gerados quanto ao uso de energia, matéria-prima e emissões ambientais, apresentando oportunidades de melhoria ambiental. A ACV pode interferir na concepção, no desenvolvimento e na fabricação do produto.

5.2. Síntese dos Resultados da Análise do Ciclo de Vida para a Eco-Inovação

Buscou-se esclarecer a relação entre sustentabilidade e inovação, no intuito de se apontar o surgimento do termo e da prática da eco-inovação.

Mostrou-se que a ACV pode colaborar na opção pela produção de um produto ou pela utilização de um processo que resulte em um menor impacto para o meio-ambiente. A ACV é uma ferramenta de fomento às eco-inovações, já que aponta as mudanças necessárias nos produtos e processos industriais para que estes não degradem o meio-ambiente, gerando assim novas tecnologias e processos (eco-inovações).

Este tópico buscou, por fim, apresentar a ferramenta ACV como uma proposta vantajosa por analisar o ciclo de vida do produto como um todo, não se restringindo apenas a uma ou outra fase do processo produtivo, como ocorre com outras propostas. Outro objetivo proposto foi o de relacionar a ACV com a eco-inovação, objetivo este alcançado ao se mostrar que para que as possibilidades apontadas pela ACV sejam colocadas em prática, seriam necessárias inovações ambientais (eco-inovações), apontando, assim, a inter-relação existente. Espera-se que o presente estudo possa colaborar para que novos estudos venham a consolidar e esclarecer melhor a eco-inovação e as práticas da ACV.

Page 88: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

88 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

6. PRÁTICAS AMBIENTAIS DE EMPRESAS BRASILEIRAS QUE CONTRIBUEM PARA A ECO--INOVAÇÃO

Nas últimas décadas, a expansão da atividade econômica tem sido acompanhada por crescentes preocupações ambientais globais, como as alterações climáticas, de segurança energética e a crescente escassez de recursos. Nesse sentido, a eco-inovação, definida por AHMED; KAMRUZZAMAN (2010) como as inovações ou mudanças em produtos, processos, técnicas, práticas, organizações, mercados e sistemas para evitar ou reduzir danos ambientais, apresenta-se como alternativa aos processos organizacionais tradicionais, favorecendo a redução dos impactos ambientais.

Ainda no contexto organizacional, muitas empresas multinacionais vêm introduzindo novas práticas e programas para o meio-ambiente visando à redução de potenciais impactos ambientais de suas plantas, instalações e operações, além de envolver ativamente todos os interessados na melhoria das condições ambientais e sociais através da cooperação e parceria (RONDINELLI; BERRY, 2000; MORROW; RONDINELLI, 2002).

Dados de uma pesquisa sobre gestão ambiental realizada com 412 das 1000 maiores empresas do Brasil indicam que as mesmas estão preocupadas com as questões ambientais, havendo um intenso movimento no meio empresarial na busca da eco-eficiência nos seus processos produtivos (ANÁLISE, 2008).

A maioria dessas empresas atua de forma proativa quando percebem os benefícios comerciais como resultado de uma imagem de responsabilidade ambiental. Dentre os principais benefícios percebidos pelas empresas com a introdução de práticas ambientais nos seus processos produtivos encontram-se a diminuição de custos, de riscos e de impactos ambientais e os processos mais eficientes. Outros retornos de longo prazo incluem aumento de vantagem competitiva, preservação de recursos e matérias-primas críticas, imagem corporativa favorável e oportunidades de desenvolvimento de novos produtos (RONDINELLI; BERRY, 2000; DAILY; HUANG, 2001; CARY; ROBERTS, 2011). Um comportamento ambiental incorreto representa custos adicionais para prevenir e controlar a poluição ou reparar os danos causados pelos acidentes ambientais (SARMENTO et al., 2007).

Podem ser destacadas como práticas ambientais implementadas por muitas empresas multinacionais que contribuem para a eco-inovação dos processos produtivos e de novos produtos: (i) aprimoramento da conformidade regulatória para reduzir os impactos ambientais negativos das emissões perigosas das corporações; (ii) adoção de práticas de manufatura limpa e de prevenção de poluição; (iii) redesenho de produtos e processos para gerar impactos ambientais mais benéficos para os clientes e para a sociedade; (iv) redução de materiais, reciclagem e reuso; (v) conservação de recursos (RONDINELLI; BERRY, 2000). Algumas políticas detalhadas em relação às práticas ambientais organizacionais relatadas na literatura e que contribuem para o processo de eco-inovação são apresentadas na Tabela 2.3.

Page 89: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 89

Tabela 2.3. Práticas ambientais organizacionais que contribuem para a eco-inovação

Práticas Ambientais Autores

Políticas para uso de recursos e tratamento de resíduosAhmed; Kamruzzaman (2010); Arundel et al. (2009); Horbach et al. (2012); Jones et al. (2001)

Políticas para o uso da águaAhmed; Kamruzzaman (2010); Rehfeld et al. (2007); Horbach et al. (2012); Arundel et al. (2009)

Certificação de Sistemas de Gestão Ambiental (ISSO 14001, EMAS, etc.)

Rehfeld et al. (2007); Wagner (2008); Rennings et al. (2006); Ramus (2002)

Capacitação relativa à gestão ambiental Horbach (2008); Ramus (2002)

Desenvolvimento de competências eco-inovativas Hermosilla et al. (2010); Ramus (2002)

Capacidade tecnológica para inovação Triebswetter; Wackerbauer (2008)

Estabelecimento de um departamento especializado em P&D Rennings et al. (2006)

Atividades de network para disseminação de práticas ambientais Mazzanti; zoboli (2006)

Integração de políticas para toda cadeia zhu et al. (2010)

Políticas para o retorno dos produtos à cadeiaRehfeld et al. (2007); Arundel et al. (2009); Horbach et al. (2012)

Políticas ambientais escritas Ramus (2002)

Metas específicas para melhoria do desempenho ambiental Ramus (2002)

Publicação de relatórios ambientais Ramus (2002)

Políticas de compra ambiental Ramus (2002)

Responsabilidade dos empregados para o desempenho ambiental Ramus (2002)

Políticas para análise e avaliação do ciclo de vida Ramus (2002)

Conhecimento da Administração sobre desenvolvimento sustentável Ramus (2002)

Políticas para uso de combustível fóssil Ramus (2002)

Políticas para uso de químicos tóxicos Ramus (2002); Horbach et al. (2012)

Políticas para uso de produtos não renováveis Ramus (2002)

Disseminação da informação e comunicação das ações ambientais Ramus (2002)

Gestão de metas e responsabilidade ambiental Ramus (2002)

Políticas para o consumo de energia Horbach et al. (2012)

Redução de emissões de CO2 Horbach et al. (2012)

Redução das emissões de poluição do ar Horbach et al. (2012); Arundel et al. (2009)

Poluição do solo Horbach et al. (2012); Arundel et al. (2009)

Redução da poluição sonora Horbach et al. (2012); Arundel et al. (2009)

Análise, monitoramento e avaliação ambiental Arundel et al. (2009)

Page 90: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

90 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

Diversos conceitos têm surgido para sistematizar a gestão e monitoramento das práticas e do desempenho ambiental das empresas. Exemplos desses conceitos são os Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) – do inglês EMSs (Environmental Management Systems), aplicados para melhorar o desempenho ambiental das empresas, sendo os mais amplamente aceitos a ISO 14001 e o EMAS, sistema correspondente ao lançado pela União Europeia (ROBERT, 2000; MORROW; RONDINELLI, 2002).

Os SGA constituem um dos fatores importantes que induzem a eco-inovação (WAGNER, 2008). Os SGA são amplamente desenvolvidos na comunidade empresarial global e no campo da proteção ambiental. As políticas ambientais das corporações podem ser visíveis e considerados instrumentos eficazes para atingir melhorias ambientais, especialmente quando seus SGA são certificados e seus relatórios de desempenho são auditados externamente (RONDINELLI; BERRY, 2000).

Um SGA constitui um conjunto de esforços organizacionais internos para a elaboração de políticas, avaliação, planejamento e implementação de um sistema de gestão ambiental. SGA são sistemas de processos de gestão que permitem às organizações continuamente reduzir o seu impacto ao meio-ambiente natural. SGA consiste de uma política ambiental, bem como de um conjunto de processos de avaliação que exige das organizações a avaliação de seus impactos ambientais, estabelecimento de objetivos, implementação de metas ambientais, monitoramento do alcance de objetivos e submissão a um processo de revisão da gestão (PATHAK; WANG, 2011).

A adoção de SGA pode induzir à eco-inovação, permitindo a redução de custos e melhorando a imagem ambiental positiva da empresa. A implementação de um SGA pode aumentar a conscientização dentro da empresa em relação aos aspectos ambientais (REHFELD et al., 2007). Estudos indicam que a implementação de um SGA está mais vinculada à introdução de inovações nos processos produtivos do que nos produtos da empresa (WAGNER, 2008).

Observa-se que a gestão ambiental ainda é um tema amplamente discutido atualmente em função de ser um dos postos-chaves para viabilização de uma forma sustentável de desenvolvimento. É crescente o número de trabalhos que estudam as características das empresas ou setores que adotam sistemas de gestão ambiental, políticas e práticas de proteção ambientais implementadas pelas empresas, motivações para a adoção e resultados obtidos (MORROW; RONDINELLI, 2002; SARMENTO et al., 2007; ZENG et al., 2008).

Os dados utilizados foram obtidos através da Revista Análise – Gestão Ambiental – Anuário 2008. As empresas alvo da pesquisa foram as maiores empresas do Brasil, consideradas como aquelas cuja receita líquida anual fosse superior a R$192 milhões. Para identificação das empresas com essa característica, a Revista Análise utilizou as seguintes publicações: Valor 1000 (Jornal Valor Econômico); Melhores e Maiores de 2007 (Revista Exame); Balanço Anual (Jornal Gazeta Mercantil). Foram identificadas 1.673 empresas no Brasil com essa característica, das quais 643 fizeram parte do estudo. As empresas pesquisadas representam

Page 91: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 91

os seguintes setores econômicos: agroindústria, comércio, indústria e serviços. Cabe salientar que as respostas fornecidas pelas empresas são referentes a uma unidade de negócio específica.

6.1. Síntese da Avaliação das Práticas Aplicadas para a Eco-Inovação nas Empresas Brasileiras

A Tabela 2.4 explicita os resultados obtidos pela pesquisa em relação às principais práticas adotadas pelas empresas brasileiras pesquisadas. As práticas foram agrupadas em 6 temas para facilitar a análise: (i) organização da gestão ambiental; (ii) procedimentos adotados; (iii) políticas de informação; (iv) consumo de recursos naturais; (v) tratamento de resíduos; (vi) ações ambientais adicionais.

Analisando a Tabela 2.4, pode-se concluir que de forma geral a grande maioria das práticas ambientais avaliadas são implementadas por mais de 50% das empresas pesquisadas. Adicionalmente, verifica-se que as práticas ambientais utilizadas pelas empresas brasileiras convergem com as apontadas na literatura (Tabela 2.3) como facilitadoras do processo de eco-inovação.

Dentre as políticas ambientais de menor representatividade entre as empresas se encontram: “possuir Selo Verde para neutralização do carbono” e “possuir práticas para reduzir emissões de CO2 para obter créditos de carbono”. Isso pode ser explicado pela falta de políticas no país que incentivem a mitigação das emissões de dióxido de carbono geradas pelas empresas. Além disso, não existem exigências legais nem comportamentais (dos consumidores) para o desenvolvimento de produtos com rótulos ambientais (como o Selo Verde), justificando a baixa implementação dessas práticas pelas empresas brasileiras.

Embora as empresas brasileiras apresentem um bom desempenho em relação ao desenvolvimento de práticas e política ambientais, existem outras iniciativas a serem incorporadas para promover um desenvolvimento mais sustentável. Entre elas podem ser citadas: (i) estabelecimento de políticas para análise e avaliação do ciclo de vida; (ii) integração de políticas ao longo de toda a cadeia produtiva; (iii) desenvolvimento de políticas para o retorno dos produtos à cadeia; (iv) fomento de políticas ambientais adicionais como desenvolvimento de produtos com rótulos ambientais e projetos para a obtenção de créditos de carbono.

Page 92: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

92 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

Tabela 2.4. Práticas ambientais adotadas pelas empresas brasileiras pesquisadas

Práticas ambientais Empresas (%)

Organização da gestão ambiental

Possuem política ambiental 86,5

Possuem ISO 14001 47,9

Possuem definição clara dos responsáveis pela gestão ambiental 97,1

Adotam regras da série ISO 14000 85,8

Procedimentosadotados

A administração conhece os impactos ambientais das atividades 98,6

Possuem treinamento relativo à gestão ambiental 90,4

Os fornecedores comprovam práticas de gestão ambiental 80,0

Possuem programa de gestão para melhorar as metas ambientais 96,6

Políticas de informação

Realizam comunicação das ações ambientais 80,4

Publicam informações sobre sua gestão ambiental 68,3

Lançam passivos ambientais no balanço publicado 28,4

Promovem projetos de meio-ambiente para o público externo 63,4

Consumo de recursos naturais

Possuem práticas referentes à utilização da água 92,9

Possuem práticas referentes à utilização da energia elétrica 94,0

Possuem práticas referentes à utilização de combustíveis 69,8

Tratamento de resíduos

Possuem práticas para tratar os resíduos sólidos 97,4

Tratam seus efluentes 89,5

Tratam suas emissões atmosféricas 67,2

Avaliam e tratam seus ruídos e vibrações 65,9

Ações ambientais adicionais

Utilizam fontes renováveis de energia 42,5

Possuem práticas para reduzir emissões de CO2 para obter créditos de carbono 4,8

Possuem programa de plantio de árvores 55,8

Possuem Selo Verde para neutralização do carbono 2,9

Utilizam papel reciclado 84,3

Possuem política corporativa voltada à mudança climática 21,7

Page 93: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 93

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mesmo ainda não chegando a um consenso sobre a definição de eco-inovação, percebe-se que sem ela muitas empresas não terão sucesso na questão de atender as expectativas de seus clientes. As definições enfatizam que eco-inovações reduzem o impacto ambiental causado pelas atividades de produção e consumo, considerando ou não o meio-ambiente como a principal motivação para o seu desenvolvimento e implantação. Uma importante técnica para mudar o panorama do emprego de técnicas de preservação ambiental por parte da indústria brasileira é o emprego da análise do ciclo de vida para todos os produtos em produção ou a serem criados através da inovação. Uma técnica que demandará muito mais criatividade de nossos departamentos de desenvolvimento de produtos é a remanufatura, que permite a criação de novos produtos com a utilização de produtos já não têm mais uso. Esse tipo de técnica é fundamental para outro parâmetro da cadeia: o social, amplamente favorecido pelo uso dessa prática, pois muitas pessoas sobrevivem graças à reciclagem de produtos e componentes. Além de gerar emprego e renda, pode-se ainda favorecer o surgimento de novas eco-inovações através das necessidades dessas pessoas, lembrando que quanto mais incluirmos as pessoas na cocriação dos produtos, mais apego e maior ligação os consumidores terão com a empresa ou marca que fornece tais produtos.

Page 94: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

94 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

8. REFERÊNCIAS

AHMED, S.; KAMRUZZAMAN, M. Drivers of eco-innovation. Master’s Thesis. Master of Science in Business Administration, Strategy and Management in International Organizations (SMIO), Linköping University (LiU), Linköping, Sweden, 2010.

ALLENBY, B. R. Industrial ecology: policy framework and implementation. New Jersey: Prentice-Hall, 1999.

AMACOST, ROBERT L.; BALAKRISHNAN, DEIVANAYAK; PET-ARMACOST, JULIA. Design for remanufacturability using QFD. Orlando, USA: Department of Industrial Engineering and Management Systems University of Central Florida, 1999.

AMEZQUITA, T; HAMMOND, R.; SALAZAR, M.; BRAS, B. Characterizing the remanufacturability of engineering systems. ASME Advances in Design Automation Conference, Boston. Massachusetts. V. 82, p. 271-278, 1995.

ANASTAS, P., ZIMMERMAN, J. B. Through the 12 principles Green Engineering. Environmental Science & Technology. 2003, n. 3, 95-101.

ANDRADE, L. F. S.; FORCELLINI, F. A. Estudo da viabilidade de utilização do DFA, DFM e FMEA na fase de projeto conceitual. Proc. of III Congresso Nacional de Engenharia Mecânica. Belém. 2004.

ARTHUR, W.B. Increasing Returns and Path Dependence in the Economy. University of Michigan Press, Ann Arbor. 1994.

ARUNDEL, A.; KEMP, R. Measuring eco-innovation. UNU-MERIT Working Papers, 2009.

BEITZ, W. Designing for ease of recycling, Journal of Engineering Design, 1, 2-7. 1993.

BILLATOS, S. B.; BASALY, N. A. Green technology and design for the environment. Washington: Taylor & Francis, 1997.

BITENCOURT, A. C. P. Desenvolvimento de uma metodologia de reprojeto para o meio-ambiente. Florianópolis, Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica, UFSC, 2001.

Page 95: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 95

BREZET, H.; VAN HEMEL, C. Ecodesign: a promising approach to sustainable production and consumption. Paris: UNEP, 1997.

CARRILLO-HERMOSILLA, J.; DEL RÍO, P.; KÖNNOLA, T. Eco-innovation. When Sustainability and Competitiveness Shake Hands. Palgrave, London. 2009.

CARVALHO, FÁBIO R.; BRUNSTEIN, ISRAEL; ABE, JAIR M. Um Estudo de Tomada de Decisão Baseado em Lógica Paraconsistente Anotada: Avaliação do Projeto de uma Fábrica. Revista Pesquisa e Desenvolvimento Engenharia de Produção, n.1, p. 47-62, 2003.

CARY, JOHN; ROBERTS, ANNA. The limitations of environmental management systems in Australian agriculture. Journal of Environmental Management, v. 92, p. 878-885, 2011.

CHEHEBE, J. B. R. Análise do ciclo de vida de produtos: ferramenta gerencial da ISO 14000. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1988.

CHRISTENSEN, C. The Innovator’s Dilemma. HBS Press, Boston. 1997.

CNTL – CENTRO NACIONAL DE TECNOLOGIAS LIMPAS. Implementação de Programas de Produção Mais Limpa. Porto Alegre: SENAI, 2003.

COHEN-ROSENTHAL, E., Making sense out of industrial ecology: a framework for analysis and action. Journal of Cleaner Production 12, 1111e1123. 2004.

COSTA, J. J. Design e sustentabilidade: do diferencial a característica essencial no desenvolvimento de novos produtos. Proc. of. Encontro de Sustentabilidade em Projeto do Vale do Itajaí. 2007.

DAILY, BONNIE; HUANG, SU-CHUN. Achieving Sustainability through attention to human resource factors in environmental management. International Journal of Operations & Production Management, v. 21, n. 12, p. 1539-1552, 2001.

DOSI, G.; FREEMAN, C.; NELSON, R.; SILVERBERG, G.; SOETE, L. (Eds.) Technical Change and Economic Theory. Pinter, London. 1988.

DRUCKER, PETER FERDINAND. Inovação e espírito empreendedor (entrepreneurship): prática e princípios. São Paulo: Pioneira, 2003.

Page 96: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

96 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

EHRENFELD, J. R. Industrial ecology: a framework for product and process design. Journal of Cleaner Production, 5, 1-2. 1997.

EPA – U.S. Environmental Protection Agency. An Organizational Guide to Polution Prevention. Cincinnati: EPA, 2001.

FRANKFORT-NACHIMARANKFORT-NACHIMAS, C; NACHIMAS, D. Reseach Methods in the social Sciences, London: Ed. Arnold, 1996.

GIANNETTI, B. F.; ALMEIDA, C. M. V. B. Ecologia Industrial: conceitos, ferramentas e aplicações. São Paulo: Edgard Blücher, 2006.

GLAVIC, P.; LUKMAN, R. Review of sustainability: terms and their definitions. Journal of Cleaner Production. 2007, 15, 1875-1885.

GUIMARÃES, L. B. M. A ecologia no projeto de produtos: design sustentável, design verde, ecodesign. In: Ergonomia de produto (Org.) Guimarães, L. B. V. Porto Alegre: FEENG, 2006.

HAMEL, GARY; PRAHALAD, C. K. Competindo pelo futuro: estratégias inovadoras para obter o controle do seu setor e criar os mercados de amanhã. 15. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

HAMMOND, R.; AMEZQUITA, T.; BRAS, B. A. Issues in the automotive parts remanufacturing industry: discussion of results from surveys performed among remanufacturers. International Journal of Engineering Design and Automation. v. 4, n.1, p. 27-46, 1998.

HASHIM, M.; JUSTER P.; PENNINGTON A. Generating Design Variants Based on Functional Reasoning. In: International Conference on Engineering design. ICED ‘93.The Hague, 1993.

HERMOSILLA, C. J.; RIO, P.; KONNOLA, T. Diversity of eco-innovations: Reflections from selected case studies. Journal of Cleaner Production, 18, 1073-1083, 2010.

HINZ, R.T.P.; VALENTINA, L.V.D.; FRANCO, A.C. Sustentabilidade ambiental das organizações através da produção mais limpa ou pela avaliação do ciclo de vida. Estudos tecnológicos, vol. 2, 2006.

Page 97: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 97

HORBACH, J. Determinants of environmental innovation-New evidence from German panel data sources. Research Policy, 37, 163-173, 2008.

HORBACH, J.; RAMMER, C.; RENNINGS, K. Determinants of eco-innovations by type of environmental impact – The role of regulatory push/pull, technology push and market pull. Ecological Economics, v.78, p.112-122, 2012.

IJOMAH, WINIFRED L.; CHILDE, STEVE; MCMAHON, CHRISTOPHER A. Remanufacturing: a key strategy for sustainable development. Bath, United Kingdom: Department of Mechanical Engineering, University of Bath, 2004.

IJOMAH, WINIFRED L; MCMAHON, CHRISTOPHER A.; HAMMOND, GEOFFREY P.; NEWMAN, STEPHEN T. Development of design for remanufacturing guidelines to support sustainable manufacturing. Robotics and Computer Integrated Manufacturing. p. 712-719, 2007.

JERôNIMO, A. C. Do porco ao camarão: gestão circular de resíduos integrando agricultura e pesca. Cadernos CEIFA, 2, Lisboa: ISCTE, 2003.

JONES, E.; STANTON, N.A.; HARRISON, D. Applying structured methods to Eco-innovation. An evaluation of the Product Ideas Tree diagram. Design Studies, v. 22, n. 6, p. 519-542, 2001.

KEMP, R.; PONTOGLIO, S. Methods for analyzing eco-innovation, Report of the second MEI workshop, June 21-22, Brussels, 2007.

KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. 6 ed. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2001.

LEMES NETO Maurício C.; VENSON, Nério. Lógica Paraconsistente. Mestrado em Ciência da Computação. Departamento de Informática e Estatística – INE. Universidade Federal de Santa Catarina. 2002. Disponível em: www.inf.ufsc.br/~barreto/trabaluno/TC_Nerio_Mauricio.pdf. Acesso em: 02.03.2010.

MANUAL DE OSLO. Proposta de Diretrizes para Coleta e Interpretação de Dados sobre Inovação Tecnológica. OECD, 1997. Rio de Janeiro: FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos, 2004. Disponível em: <http://www.institutoinovacao.com.br/ links.php>. Acesso em: Julho 2011.

Page 98: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

98 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

MANZINI, E.; VEZZOLI, C. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: EDUSP, 2008.

MATTOS, J.R.L.; GUIMARÃES, L.S. Gestão da Tecnologia e Inovação: Uma abordagem prática. São Paulo: Ed. Saraiva, 2005.

MAZZANTI, M.; ZOBOLI, R. Examining the factors influencing environmental innovations, FEEM working paper series, 20. 2006.

MBDC. EPEA. Introduction to the Cradle to Cradle Design. Framework. Version 7.02, 1-5, 2002.

MCDONOUGH, W.; BRAUNGART, M. Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make Things. New York: North Point Press, 2002a.

_____. Design for the Triple Top Line: New Tools for Sustainable Commerce. Corporate Environmental Strategy, 2002b.

MELLO, M. C. A.; NASCIMENTO, L. F. Produção Mais Limpa: um impulso para a inovação e a obtenção de vantagens competitivas. Proc. of XXII ENEGEP, Curitiba, PR. 2007.

MOREIRA, W. Revisão de literatura e desenvolvimento científico: conceito e estratégias para confecção. Janus., 1. 2004

MORROW, D.; RONDINELLI, D. Adopting Corporate Environmental Management Systems: Motivations and Results of ISO 14001 and EMAS Certification. European Management Journal, v. 20, n. 2, p. 159-171, 2002.

MOTTA, W.H. Eco-innovation in Production Processes, ICIEOM, Portugal, 2012.

NAKANO, YOHIGAKI. Globalização, competitividade e novas regras de comércio mundial. Revista de Economia Política, v.14, n.4, out/dez. 1994.

NELSON, R.R.; WINTER, S.G., Evolutionary theorizing in economics. Journal of Economic Perspectives 16 (2), 23e46. 2002.

NIDUMOLU, R.; PRAHALAD, C. K.; RANGASWAMI, M. R. Why Sustainability is Now the Key Driver for Innovation. Harvard Business Review, September, 2009.

Page 99: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 99

OECD, Oslo Manual: Guidelines for Collecting and Interpreting Innovation Data, third ed. OECD, Paris 2005.

OECD, Sustainable manufacturing and eco-innovation: towards a Green economy. Policy Brief June 2009.

PATHAK, M.; WANG, X. Predicting Carbon Emission in an Environment Management System. Lecture Notes in Computer Science, v. 6677, p. 450-459, 2011.

PAULI, G. Emissão Zero. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996.

_____. Upsizing: Como gerar mais renda e criar mais postos de trabalho e eliminar a poluição, 3, Porto Alegre: Fundação Zeri Brasil – L&PM, 1998.

PINTEC Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica. Rio de Janeiro: IBGE. Obtido em 01 de 11 de 2011, IBGE: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/industria/pintec/2008/Pintec2008.pdf 2008.

PORTER, Michael E. Competição: on competition: estratégias competitivas essenciais. 10. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

PRAHALAD, C. K.; RAMASWAMY, Venkatram. O futuro da competição: como desenvolver diferenciais inovadores em parceria com os clientes. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

PUJARI, D. Eco-innovation and new product development: understanding the influences on market performance. Technovation 26 (1), 76e85. 2006.

QUEIROZ, J.M. Determinantes da inovação ambiental: uma análise das estratégias das firmas da indústria de transformação Brasileira. Universidade Federal do Rio de Janeiro: Dissertação de mestrado apresentada ao programa de Pós-Graduação de Economia, 2011.

RAMUS, C. Encouraging innovative environmental actions: what companies and managers must do. Journal of World Business, 37, 151-164, 2002.

REHFELD, K.-M., RENNINGS, K., ZIEGLER, A. Integrated product policy and environmental product innovations: An empirical analysis. Ecological Economics, 61, 91-100, 2007.

REIS, D. R. Gestão da Inovação Tecnológica. Barueri: Manole, 2004.

Page 100: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

100 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

RENNINGS, K.; ZIEGLER, A.; ANKELE, K.; HOFFMANN, E.; NILL, J. The influence of different characteristics of the EU environmental management and auditing scheme on technical environmental innovations and economic performance. Ecological Economics 57, 45-59, 2006.

RIGGS, W.; VON HIPPEL, E. Incentives to innovate and the sources of innovation: The case of scientific instruments. Research Policy 23 (4), 459e469. 1994

ROBERT K. H.; SCHMIDT-BLEEK, B.; ALOISI L. J.; BASILE, G.; JANSEN J. L.; KUEHR, R. Strategic sustainable developmenteselection, designand synergies of applied tools. Journal of Cleaner Production, 10, 197 – 214 2002.

ROBERT, K. Tools and concepts for sustainable development, how do they relate to a general framework for sustainable development, and to each other? Journal of Cleaner Production, v.8, p.243-254, 2000.

ROCHA HENRIQUE M.; DELAMARO, MAURÍCIO C.; HEITOR M. QUINTELLA, LUIZ M.; AFFONSO, LIGIA MARIA F. O uso da lógica paraconsistente junto ao método Delphi em pesquisa de opinião sobre fatores críticos de sucesso em desenvolvimento de produtos. VII SEGeT – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia – 2010.

RONDINELLI, DENNIS; BERRY, MICHAEL A. Environmental Citizenship in Multinational Corporations: Social Responsibility and Sustainable Development. European Management Journal, v. 18, n. 1, February 2000.

SAMPAIO, C. P.; MURARO, G.; ZANINI, A. B. Appliability of D4S methodology for development of sustainable services – sustainable coffe shop. Proc. of International Symposium on Sustainable Design. Curitiba. 2007.

SARMENTO, M.; DURÃO, D.; DUARTE, M. Evaluation of company effectiveness in implementing environmental strategies for a sustainable development. Energy, v. 32, p. 920-926, 2007.

SCHNITZER, H. Die auf eine Stoffstromanalyse basierende Implementierung von vorsorgendem integrierten Umweltschutz. Chemie Ingenieur Technik. Wiley – VCH: Verlag GmbH, 1998.

Page 101: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 2 | Eco-inovação, fator de sucesso para as empresas sustentáveis 101

SILVEIRA, R. C. P. A organização textual do discurso científico de revisão. Revista Tema, 1992, 16, 99 – 111.

Society of Envirommental Toxicology and Chemistry – SETAC. Disponível em: <http://www.setac.org/>. Acesso em: 10 de Março de 2012.

SOLEDADE, M.G.M.; NAPRAVNIK FILHO, L. A. F.; SANTOS, J.N.; SILVA, M.A.M. ISO 14000 e a Gestão Ambiental: uma reflexão das práticas ambientais corporativas. IX ENGEMA, Curtiba – PR, 2007.

SUNDIN, ERIK; LINDAHL, MATTIAS; IJOMAH, WINIFRED. Product design for product/service systems design: experiences from swedish industry. Journal of Manufacturing Technology Management.v.20, n.5, p. 723-753, 2009.

TAPSCOTT, DON; WILLIAMS, ANTHONY D. Wikinomics: como a colaboração em massa pode mudar o seu negócio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

TRIEBSWETTER, U.; WACKERBAUER, J. Integrated environmental product innovation in the region of Munich and its impact on company competitiveness. Journal of Cleaner Production, 16, 1484-1493, 2008.

TUKKER, A.; BUTTER, M. Governance of sustainable transitions: about the 4(0) ways to change the world. Journal of Cleaner Production 15 (1), 94e103 2007.

U.S. CONGRESS. Pollution Prevention Act of 1990, USC 42, Section 13106. Washington, D.C., 1990.

UNEP – United Nations Environment Programme; DELFT UNIVERSITY OF TECHNOLOGY. Un enfoque práctico para economias em vias de desarrolo diseño para la sostenibilidad: um enfoque práctico para economías em vias de desarrolo. Manual. Francia, 2007.

VALLE, C. E. Qualidade Ambiental: O desafio de ser competitivo protegendo o meio-ambiente. São Paulo: Pioneira, 1995.

VALT, R.B.G. Análise do Ciclo de Vida de Embalagens de Pet, de Alumínio e de Vidro para refrigerantes no Brasil Variando a Taxa de Reciclagem dos Materiais. Dissertação de mestrado apresentada ao programa de pós-graduação em Engenharia de Processos Térmicos e Químicos, UFPR, Curitiba, 2004.

Page 102: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

102 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

VAN BERKEL, R. Cleaner production for process industries: overview of the cleaner production concept and relation with other environmental management strategies. Perth: Curtin University of Technology, 2007.

VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 2004.

WAGNER, M. Empirical influence of environmental management on innovation: Evidence from Europe. Ecological Economics, 66, 392-402, 2008.

WBCDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável. Visão Estratégica Empresarial. Rio de Janeiro: CEBDS, 2002.

WITT, U. What is specific about evolutionary economics? Journal of Evolutionary Economics. doi:10.1007/s00191-008-0107-7. 2009

WBCSD – World Business Council for Sustainable Disponível em: http://www.wbcsd.org/home.aspx/>. Acesso em: 15 de Janeiro de 2012.

ZENG, S. X.; LIU, H. C.; TAM, C. M.; SHAO, Y. K. Cluster analysis for studying industrial sustainability: an empirical study in Shanghai. Journal of Cleaner Production, v. 16, p.1090-1097, 2008.

ZHU, Q; GENG, Y; LAI, K. Circular economy practices among Chinese manufacturers varying in environmental-oriented supply chain cooperation and the performance implications. Journal of Environmental Management, 91, 1324-1331, 2010.

ZWOLINSKI, PEGGY; BRISSAUD, DANIEL. Remanufacturing strategies to support product design and redesign. Journal of Engineering Design. v. 19, n. 4, ago. p.321-335, 2008.

Page 103: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Ciliana Regina Colombo | UFRN

Sandra Rufino | UFOP

Maurício Dwek | UFRJ

Maria José Gazzi Salum | UFMG

Ana Maria Coulon Grisa | UCS

Rosmary Nichele Brandalise | UCS

Ivete Ana Schmitz Booth | UCS

Valquíria Villas-Boas | UCS

Robson Arruda dos Santos | UFPB

Ana Cristina Taigy | UFPB

Formação do engenheiro com responsabilidade

social e ambiental

CAPÍTULO 3

Page 104: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção
Page 105: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 3 | Formação do engenheiro com responsabilidade social e ambiental 105

1. A SUSTENTABILIDADE NA FORMAÇÃO DOS ENGENHEIROS: COMO VEM SENDO TRA-BALHADA?

“Sustentabilidade” virou palavra da moda, mas no sentido estatístico. É um termo que se encontra facilmente em quase tudo nos dias atuais: nas empresas, instituições financeiras e governo, inclusive nos perfis dos egressos dos projetos pedagógicos de cursos de todas as áreas e, evidentemente, das engenharias. Mas a sustentabilidade real (em uma amplitude completa desse conceito, considerando as dimensões territorial, social, ecológica, cultural, política, técnica, econômica, etc.), que requer uma forma de viver que visa minimizar as mudanças irreversíveis, deixando abertas as possibilidades para o presente e o futuro, numa escala de tempo bastante ampla, tem, de fato, se efetivado em ações dos profissionais de engenharia e destas organizações?

Como vem sendo trabalhada a Sustentabilidade na formação dos engenheiros, considerando sua atuação na sociedade com vistas ao desenvolvimento sustentável, que, ainda não sendo a maior exigência do presente, já desponta como um dos requisitos esperados dos profissionais para um futuro próximo, segundo mostram os discursos de nossa sociedade. Nossas escolas de engenharia estão formando profissionais que tenham a sustentabilidade na base de seu fazer profissional e não apenas no discurso? Como deve ser esta formação para se chegar a este profissional esperado?

A engenharia tem um papel fundamental no desenvolvimento da sociedade, tanto no que tange às dimensões técnica e econômica, bastante trabalhadas na formação destes profissionais, mas, também, nas dimensões social, cultural, política e ambiental. Portanto, a formação destes profissionais precisa ser transformada para atender a esses requisitos, bem como às diretrizes curriculares que já os incorporam. Mais uma vez, podemos dizer que a sustentabilidade está no discurso, ou na intenção, também da formação em engenharia, porém na prática ainda são poucas as ações, como podemos ver nas experiências que serão apresentadas no decorrer deste texto.

Como nos mostra Salum, mais adiante, ainda que a Assembleia Geral das Nações Unidas tenha proclamado os anos compreendidos entre 2005 e 2014 como a Década da Educação das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, e que as diretrizes curriculares dos cursos de engenharia no Brasil tenham base conceitual e flexibilidade suficientes para absorvê-la, as ações ainda deixam a desejar para sua efetivação.

Portanto, temos um longo caminho a trilhar na reflexão e ação no sentido de formar profissionais que na proposição de suas soluções levem em consideração os fatores sociais que inf luenciam o desenvolvimento e se responsabilizem pelas implicações sociais, ambientais e mesmo éticas de suas proposições. Não podemos mais formar engenheiros tecnicistas, fechados em seu mundo e que ignorem tanto o ambiente natural quanto o social e culturalmente construído.

Page 106: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

106 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

Após vivermos durante séculos sem nos preocupar com o esgotamento dos recursos naturais do planeta, temos que aprender, agora, a viver de forma sustentável. E a maior parte deste desafio é estimular mudanças de atitude e comportamento na sociedade mundial, uma vez que nossas capacidades intelectuais, morais e culturais impõem responsabilidades para com todos os seres vivos e para com a natureza como um todo.

Entendemos que o engenheiro necessita balizar suas ações em um novo paradigma (Holístico-Ecológico, da Sustentabilidade) e agir de forma mais holística, sistêmica, complexa e contextualizada (COLOMBO, 2004) e que para obter essa forma de pensamento é importante o papel da universidade, especialmente dos docentes, em trabalhar o ensino usando o pensamento complexo ou espiral (MORIN; LE MOIGNE, 2000) nas disciplinas e no conhecimento do curso com os alunos. Portando, consoante Colombo (2004) e Dwek (2008), se faz necessário desenvolver processos de ensino-aprendizagem com modelo próximo ao do desenvolvimento das atividades cotidianas (atividades de extensão e pesquisa). Porém, não são apenas metodologias ativas ou atividades extra-universidade suficientes; é necessário, nesse processo, reforçar a interdisciplinaridade para que os alunos vejam as disciplinas como ações de um projeto maior, compreendendo seus elos, bem como, de acordo com Silva; Laricchia e Rufino (2011), a multidisciplinariedade, a qual precisa ser estimulada, permitindo a interação das engenharias com as outras áreas do saber, permitindo assim descobrir onde há elos comuns e onde os mesmos se complementam.

Somente através de novas estratégias de ensino-aprendizagem será possível formar profissionais de engenharia que tenham em conta a necessidade de que alcançar a sustentabilidade só será possível com o desenvolvimento de tecnologias que consideram todas as dimensões, e não apenas a técnica e a econômica, e com novos comportamentos e paradigmas para não comprometer as necessidades das gerações futuras.

Neste processo o engenheiro professor precisa proporcionar momentos de questionamentos e atividades que possibilitem que os futuros engenheiros desenvolvam habilidades para lidar com o novo, com a incerteza, e que interfiram de forma significativa em questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável em seu campo de atuação.

A questão que está posta, então, é quais aspectos teóricos e metodológicos de ensino devem ser propostos. Ou seja, o que e como ensinar nas escolas de engenharia para alcançar o objetivo de formar engenheiros voltados à ética da sustentabilidade nas suas diversas dimensões, assumindo assim o papel-chave previsto no plano de implementação da “Década da Educação das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável”.

O que este texto se propõe, portanto, é, a partir do aprofundamento e amadurecimento da reflexão, buscar alternativas para as necessárias mudanças da formação de engenheiros, destacando possibilidades sugeridas por diversos autores, bem como experiências que vêm sendo desenvolvidas em algumas universidades de nosso país e fora dele que demonstram a importância da relação do ensino com a realidade social de onde provêm os educandos e onde os mesmos atuarão.

Page 107: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 3 | Formação do engenheiro com responsabilidade social e ambiental 107

2. POSSIBILIDADES (OU CAMINHOS) DE UMA FORMAÇÃO CRíTICA VOLTADA À SUSTEN-TABILIDADE

2.1 O Olhar Freireano

Em entrevistas com professores da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, feitas em pesquisa realizada por Dwek (2012), obteve-se informações sobre o estado atual, as lacunas, os instrumentos, os entraves e as prioridades para a renovação da formação em engenharia. Da síntese desses relatos docentes foram extraídos sete temas para investigações, cada qual com seus desdobramentos para o currículo do curso e seus aspectos pedagógicos. Dentre eles, se destaca a noção de leitura do mundo, retomada do educador Paulo Freire (1921-1997) e que resume a preocupação de diversos professores com a ampliação da capacidade de análise dos problemas de engenharia. Hoje, os professores consideram que desenvolver uma percepção das implicações sociais, econômicas, ecológicas e políticas do trabalho do engenheiro seja tão importante quanto adquirir conhecimentos técnicos.

Segundo o professor Luiz Bevilacqua (BEVILACQUA, 2011), que já foi presidente da Agência Espacial Brasileira, secretário-geral do Ministério da Ciência e da Tecnologia e reitor da UFABC, é necessária uma formação humana e social nos cursos de engenharia, com o objetivo de apresentar ao estudante diferentes sistemas sociais, humanos e políticos. Essa afirmação é compartilhada pelo professor Ericksson Rocha e Almendra (ALMENDRA, 2011), diretor da Escola Politécnica da UFRJ, que ressalta a importância de uma visão crítica de questões globais, históricas e geopolíticas.

Mas esse tipo de aprendizado só se efetiva pelo contato com diferentes realidades e contextos sociais. Não é possível, por exemplo, querer incorporar as expectativas das partes envolvidas — ou stakeholders — sem conhecer as mesmas e buscar compreender sua cultura, seus hábitos e seu modo de pensar. A observação do mundo requer convívio, aplicação e cotejamento do conhecimento teórico a problemas reais, levando em conta suas particularidades regionais e simbólicas.

Não havendo estímulo para a aquisição de concepções mais profundas do mundo e de uma observação mais crítica da realidade, os estudantes e os professores entram e saem com a mesma formação social de suas origens. Além disso, o ensino superior permanece ainda um privilégio de poucos brasileiros e não há tanta diversidade no perfil social dos alunos nas escolas de engenharia, por mais que hoje existam alguns mecanismos voltados para a inclusão social no acesso às universidades.

Como sugerido por diversos professores entrevistados, o engenheiro precisa ser capaz de compreender como seu conhecimento se insere no mundo à sua volta e situar-se no momento histórico em que vive. Embora acrescentem elementos importantes à formação, aulas de

Page 108: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

108 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

humanidades e ciências sociais não bastam para preencher essa lacuna. Sobretudo se, como visto anteriormente, não for feita a conexão entre o saber técnico-científico da engenharia e os fatores do contexto socioambiental e geopolítico. Em geral, os cursos se contentam em transmitir uma ideia do tipo de problema que o engenheiro enfrentará no mundo do trabalho, considerando quase que exclusivamente um perfil limitado e conservador da atuação do engenheiro, restrita às empresas e à indústria.

O papel do educador é o de sensibilizar o estudante para a interpretação das especificidades de cada realidade e em especial da sua própria. Dessa forma, o estudante torna-se capaz de situar o que aprendeu dentro do contexto no qual está inserido enquanto cidadão. Nesse sentido, a pedagogia proposta por Paulo Freire desde a década de 1960, com o seu conceito de leitura do mundo, é uma ferramenta poderosa para os professores.

Um dos maiores pensadores da educação do século XX, Paulo Freire, ao longo dos discursos e livros que compõem a sua obra, propôs uma concepção pedagógica radicalmente distinta daquela que domina os centros de instrução programada. Nela, o educador é um profissional do sentido e a escola é um espaço de conhecimento. O professor é coordenador, animador e organizador do trabalho de leitura do mundo, que consiste em aproximar-se da realidade, retirar-lhe o mito e identificar o que é útil através da curiosidade epistemológica do estudante. Segundo Freitas (2008, p. 118):

[...] a curiosidade é concebida por Paulo Freire como necessidade ontológica que caracteriza o processo de criação e recriação da existência humana. Todavia, é quando ultrapassa os limites peculiares do domínio vital que a curiosidade se torna fundante da produção do conhecimento.

A curiosidade epistemológica é o antídoto das certezas. Está ligada ao difícil, mas prazeroso ato de estudar, e é própria de uma consciência que investiga e critica a realidade. Ela deve ser estimulada para gerar um ciclo de pesquisas sucessivas, com rigorosidade metódica e sustentada, uma nova informação puxando a próxima. A centelha parte sempre da observação do entorno. Assim se desenvolve o processo de conscientização e é fomentada a autonomia intelectual (FREIRE, 2010).

Embora tenha evitado insistentemente qualquer sistematização de seu pensamento e enrijecimento de suas propostas em dogmas pedagógicos, há uma grande coerência e unidade no conjunto da obra de Paulo Freire, que se materializa na forma de um procedimento de ensino voltado para a apreensão crítica da realidade e a aquisição de liberdade e autonomia de pensar dos indivíduos. Este processo, a leitura do mundo, começa por um levantamento de temas oriundos dos contextos dos educandos, das necessidades populares e dos projetos de vida de cada um. É a fase da “investigação temática”. O professor em seguida organiza essas informações, confrontando-as entre si e com o acervo do conhecimento de que dispõe: tal etapa é chamada de “tematização”. Por fim, retorna aos educandos com as diferentes

Page 109: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 3 | Formação do engenheiro com responsabilidade social e ambiental 109

problemáticas ligadas a cada tema, no momento da “problematização”. O diálogo aparece para compartilhar o conhecimento e verificar a validade da leitura do mundo. Assim, “o educador não poderá se omitir de, também ele, comunicar sua leitura do mundo; tornando claro que não existe uma única leitura possível. Há tantos mundos quanto leituras possíveis dele. Leitura alguma, entretanto, é definitiva, terminal” (PASSOS, 2008, p. 242).

Portanto, entende-se fundamental incorporar a Pedagogia Freireana aos cursos de engenharia para desenvolver as capacidades críticas que são requeridas dos engenheiros atualmente. Assim, seria fomentada a capacidade de problematização da realidade, que passa longe do pensamento de qualquer engenheiro, muito mais focado na resolução do que na definição dos problemas. Nesse sentido, é necessária uma reforma profunda da concepção bancária da educação, na qual o aluno apenas recebe passivamente o conteúdo transmitido pelo professor, substituindo-a por uma concepção problematizadora e libertadora.

2.2. Década da Educação das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável

Em dezembro de 2002, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a Resolução nº 57/254, na qual proclama a Década da Educação das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, cuja duração será de 2005 a 2014.

A Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (Década da EDS) possui em sua essência uma ideia simples com implicações complexas: após vivermos durante séculos sem nos preocupar com o esgotamento dos recursos naturais do planeta, temos que aprender, agora, a viver de forma sustentável, e o grande desafio é o de estimular mudanças de atitude e comportamento na sociedade mundial, uma vez que nossas capacidades intelectuais, morais e culturais impõem responsabilidades para com todos os seres vivos e a natureza como um todo.

A UNESCO foi escolhida para liderar a Década e elaborar um plano internacional para sua implementação.

O Plano Internacional de Implementação, divulgado em outubro de 2004, constitui um marco geral de orientações para parceiros (governos, organizações internacionais, sociedade civil, setor privado e comunidades locais) que venham a aderir ao Programa possam dar as suas contribuições. O Plano não é prescritivo, fornecendo de modo global orientações e conselhos, mostrando por que, como, quando e onde parceiros do programa podem desenvolver suas contribuições, com base em seus próprios interesses e preocupações.

De acordo com o documento (UNESCO, 2005), o objetivo global da Década é integrar os valores inerentes ao desenvolvimento sustentável em todos os aspectos da aprendizagem com o intuito de fomentar mudanças de comportamento que permitam criar uma sociedade sustentável e mais justa para todos. Fundamenta-se na visão de um mundo onde todos tenham a oportunidade de se beneficiar da educação e de aprender os valores, comportamentos e modos de vida exigidos para um futuro sustentável e para uma transformação positiva da sociedade.

Page 110: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

110 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

Nesse cenário, a educação assumiria os seguintes papéis-chave no desenvolvimento sustentável:

• inspirar a crença que cada um de nós tem o poder e a responsabilidade de introduzir mudanças positivas em escala global;

• ser o principal agente de transformação para o desenvolvimento sustentável, aumentando a capacidade das pessoas de transformar sua visão de sociedade em realidade;

• incentivar os valores, comportamento e estilos de vida necessários para um futuro sustentável.

• ser um processo em que se aprende a tomar decisões que levem em consideração o futuro em longo prazo de igualdade, economia e ecologia de todas as comunidades;

• fortalecer a capacidade de reflexão orientada para o futuro.

O programa apresenta três áreas principais: sociedade, meio ambiente e economia, tendo a cultura como dimensão de base, além de sete estratégias de implementação: mobilização e prospecções; consulta e responsabilização; parceria e redes; capacitação e treinamento; pesquisa e inovação; tecnologias de informática e comunicação; monitoramento e avaliação.

A consecução destas estratégias está estruturada em centros, grupos e comitês, assim formatados:

• um Centro de Coordenação do Programa Educação para o Desenvolvimento Sustentável, pequeno, porém ativo, integrado por personalidades eminentes de cada país, com o objetivo de dinamizar as atividades de promoção e implementação;

• Grupo Consultivo do Programa Educação para o Desenvolvimento Sustentável composto de numerosos interessados, com o objetivo de dar apoio periódico ao Centro de Coordenação;

• nos níveis regional e nacional, um comitê sobre EDS e um Comitê Interinstitucional sobre a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, cujo papel será o de impulsionar a agenda da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, por meio de reuniões e eventos dedicados a questões específicas;

• um grupo internacional de alto nível: os Defensores da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, personalidades de prestígio e dedicadas, que servirá de ponta de lança do movimento.

Esta estrutura proposta para a implementação do programa é complexa e, a princípio, não está diretamente vinculada ou sob a gestão de governos. Questiona-se aqui, entretanto, se esta ausência formal do Estado não dificulta a viabilidade da sua implementação e do seu funcionamento.

Page 111: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 3 | Formação do engenheiro com responsabilidade social e ambiental 111

No caso brasileiro, não existe a estruturação prevista no Plano de Implementação da Década para a EDS, conforme elaborado pela UNESCO. As maiores informações sobre o tema estão disponíveis no site do Ministério do Meio Ambiente, uma vez que no Brasil ele é o órgão gestor oficial do Programa de Educação Ambiental, e é dentro deste programa que a EDS é absorvida (Ministério do Meio Ambiente, 2012).

De certa forma, o formato brasileiro não atende a um dos princípios da EDS que é o de diferenciar educação ambiental de educação para o desenvolvimento sustentável. De acordo com o documento da UNESCO, educação ambiental não deve ser confundida com educação para o desenvolvimento sustentável, pois a primeira enfatiza a relação dos homens com o ambiente natural, as formas de conservá-lo, preservá-lo e de administrar seus recursos adequadamente, enquanto a segunda é mais ampla, envolvendo questões socioculturais, políticas, pobreza e qualidade de vida.

Outros países, entretanto, já têm formatada a sua rede para a Década da EDS, em formato semelhante ao proposto pelo Plano Internacional de Implementação da EDS, como, por exemplo, os países asiáticos. Suas estruturas seguem a formatação proposta de constituição de comitês, centros e grupos, mas traz uma diferença significativa em relação àquela da UNESCO: a presença do Estado, orientando, apoiando e organizando a rede formada por educadores para o desenvolvimento sustentável. Essa posição dos países asiáticos, independentemente de configurações políticas de cada país envolvido na rede, corrobora para a análise feita anteriormente de que, pelo menos em um primeiro momento, seria necessário o braço do Estado para, de fato, implementar o programa de educação para o desenvolvimento sustentável.

A engenharia, em todas as suas modalidades, é o pilar do desenvolvimento econômico de um país e, portanto, quando os documentos relacionados à Década para a EDS questionam o modelo de desenvolvimento econômico que vem sendo adotado, principalmente pelos países desenvolvidos, eles estão questionando, indiretamente, o papel das engenharias neste contexto.

Entretanto, no documento da UNESCO sobre o Plano Internacional de Implementação da Década da Educação Para o Desenvolvimento Sustentável (UNESCO, 2005), a engenharia é citada explicitamente apenas uma vez, mesmo assim, apenas na modalidade engenharia ambiental.

A engenharia, contudo, está contemplada não apenas nos questionamentos sobre o modelo de desenvolvimento econômico que orientou o mundo nos últimos anos, mas, também, nos conceitos elaborados para uma ciência e tecnologia voltadas para o desenvolvimento sustentável.

O documento considera que a ciência fornece às pessoas os meios para entender o mundo e seu papel nele, e a tecnologia o meio que proporciona às pessoas as ferramentas necessárias para que as mesmas sejam capazes de mudar sua situação, e que a EDS deve fornecer uma

Page 112: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

112 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

compreensão científica do que seja sustentabilidade, junto com a compreensão dos valores, princípios e estilos de vida que conduzirão ao processo de transição para o desenvolvimento sustentável. O documento alerta, ainda, para o fato de que a ação errônea da ciência e tecnologia pode anular os esforços simultâneos de proteger o meio ambiente e prover as necessidades pessoais e econômicas da população. O documento conclui a sua incursão sobre a ciência e tecnologia dizendo que a educação que dá acesso à ciência e tecnologia é uma área onde deve haver uma causa comum a ser alcançada, defendendo firmemente o papel dos critérios locais na determinação de como ciência e tecnologia devem ser usadas.

Considerando estes conceitos, foram definidas as principais características que uma educação para o desenvolvimento sustentável deve ter, quais sejam:

• ser interdisciplinar e holística: aprendizado voltado para o desenvolvimento sustentável como parte integrante do currículo como um todo, não como uma matéria separada;

• ter valores direcionados: é imprescindível que as normas assumidas, os valores e princípios compartilhados que servem de base para o desenvolvimento sustentável, sejam explícitas de modo que possam ser analisadas, debatidas, testadas e aplicadas;

• favorecer o pensamento crítico e as soluções de problemas: que gere confiança para enfrentar os dilemas e desafios em relação ao desenvolvimento sustentável;

• recorrer a múltiplos métodos: palavra, arte, teatro, debate, experiência, pedagogias diferentes que deem forma aos processos. É preciso passar do ensino destinado unicamente a transmitir conhecimento para um enfoque em que professores e alunos trabalhem juntos para adquirir conhecimentos e transformar o espírito das instituições educacionais do entorno;

• participar do processo de tomada de decisões: alunos participam das decisões relativas ao modo como devem aprender;

• ser aplicável: as experiências de aprendizagem oferecidas estão integradas no cotidiano tanto pessoal quanto profissional;

• ser localmente relevante: tratar as questões locais assim como as globais, usando a linguagem que os alunos usam mais comumente.

Diante destas premissas, faz-se necessário analisar as convergências da educação em engenharia no Brasil com a educação para a sustentabilidade, o que passa, necessariamente, pela análise das Diretrizes Curriculares Para o Ensino de Engenharia (CNE/CES, 2012), uma vez que é ela quem norteia seus princípios e sua estrutura pedagógica.

Page 113: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 3 | Formação do engenheiro com responsabilidade social e ambiental 113

3. METODOLOGIAS APLICADAS PARA A FORMAÇÃO DE ENGENHEIROS SOCIOAMBIEN-TALMENTE RESPONSAVEIS

Para uma formação do engenheiro com base no paradigma da sustentabilidade é preciso repensar as práticas atuais de ensino, pesquisa e extensão. Essas funções básicas formam o tripé que serão o eixo fundamental da universidade brasileira e que não pode ser compartimentado ou indissociável.

A extensão acadêmica ou universitária é uma ação de prolongamento (extensão) da universidade à comunidade. Entretanto, esta função tem sido ainda pouco explorada (até mesmo negligenciada) pelos cursos de engenharia e tecnologia. Quando muito, se restringe a uma percepção da extensão como disseminação verticalizada e unilateral do conhecimento científico (cursos, conferências, seminários), prestação de serviços (assistências, assessorias e consultorias) e difusão cultural (realização de eventos ou produtos artísticos e culturais).

A extensão é isso também, mas é, principalmente, uma ação para e com a comunidade, ou seja, bidirecional, voltada para transformação social e desenvolvimento sustentável. Com interação de saberes e conhecimentos originalmente distintos que, em diálogo, transforma e (retro)alimenta os sujeitos da ação.

O Plano Nacional de Extensão (FORPROEX, 1999) considera que esta interação (fluxo) estabelece a troca de saberes sistematizados, acadêmico e popular, tendo como consequências: a produção do conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional; e a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da Universidade. Além de instrumentalizadora deste processo dialético de teoria/prática, a Extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão integrada do social.

A Extensão Universitária é possível estratégia política pedagógica para os cursos de Engenharia por ser o espaço dentro da academia para se cumprir o papel social da universidade, proporcionando o elo de interlocução e retroalimentação do ensino, da pesquisa junto à sociedade, elemento fundamental de uma política e concepção de universidade cidadã.

Segundo Dwek (2012), os problemas de engenharia tornam-se cada vez mais complexos e exigem soluções socioambientais sustentáveis. Não é mais possível ter somente a técnica como preocupação, mas também os resultados de seus impactos na sociedade. Os conceitos, metodologias, modelos e ferramentas propostos construídos na formação técnico-científica do engenheiro não respondem mais às diversidades heurísticas atuais, pondo em questão a separação atualmente existente entre a prática exigida dos engenheiros e o que sua formação lhe confere.

A formação mais crítica e plural propiciada pela prática da extensão universitária e de metodologias ativas que nada mais são do que ações integradas de ensino-pesquisa-extensão se origina de um conflito epistemológico que muitas vezes os estudantes (e também os

Page 114: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

114 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

docentes e técnicos administrativos) vivenciam: a realidade se manifesta mais complexa do que presumem as estruturas curriculares acadêmicas, transcendendo as possibilidades de análise das dinâmicas tradicionais de aprendizado restritas às salas de aula e aos laboratórios.

A extensão permite a produção e a partilha dos conhecimentos, propiciando ao estudante estabelecer uma comunicação mais próxima com comunidades e sujeitos diversos e, neste contato, realizar trocas e vivências. O aprendizado é simultâneo e integrado para a universidade e para as comunidades.

A Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável, possibilitando uma relação transformadora entre universidade e sociedade. Permite, através do diálogo e interação com a sociedade, oportunidades de elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à Universidade, docentes e discentes trazem um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, reconstruirá conhecimentos acadêmicos anteriores.

A prática da extensão tem formado profissionais com repertório mais sofisticado e amplo de competências; mais sensíveis e comprometidos com processos de mudanças sociais, na medida em que oportuniza a práxis de:

• conciliar (e/ou confrontar) a teoria e a prática; • compreender que o conhecimento é um processo sempre em construção e que não há

uma única verdade ou neutralidade;• realizar a autocrítica, reflexões e proposições mais efetivas para a sociedade.

Quando o estudante de engenharia atua com ações extensionistas em comunidades e se insere nestes contextos sociais, ele precisa considerar componentes antropológicos. Para Morin (2004) o aluno neste meio é instigado a sugerir, explicar e aplicar-se em processos de deliberação, discussão e conscientização que contribuem para a construção de seu juízo crítico. Esta crítica acontece no plano das ideias sob dogmas vigentes, das práticas cotidianas e, também, das práticas profissionais (muitas vezes excludentes) na busca da transformação social (THIOLLENT, 2002).

A seguir, apresentamos experiências das universidades que concatenaram as ações de ensino com extensão, ou pesquisa com extensão, ou mesmo a ação associada entre as três funções na busca de uma formação diferenciada para os educandos. Apresentamos três experiências dos cursos de engenharia; uma no sul (engenharia química), outra no nordeste (engenharia civil) e por fim no sudeste (escola politécnica):

Page 115: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 3 | Formação do engenheiro com responsabilidade social e ambiental 115

3.1. Aprendizagem significativa com responsabilidade social e ambiental: A experiência da UCS

O Engenheiro Químico tem como objeto de estudo a geração e aperfeiçoamento do uso de tecnologias e de processos para a transformação física e química de materiais em produtos de uso industrial e comercial. Amparada na necessidade de aliar o fazer acadêmico com o profissional, esta proposta teve como objetivo identificar a importância dos polímeros no cotidiano de estudantes de engenharia química no fazer profissional com vistas ao desenvolvimento sustentável. Mais especificamente, os estudantes de Engenharia Química do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade de Caxias do Sul/RS foram desafiados a desenvolver uma atividade, na disciplina de Química Orgânica, para aprender a elaborar por si mesmos ações comprometidas com aspectos sociais, ambientais e técnicos.

A estratégia de ensino-aprendizagem utilizada nessa disciplina foi a aprendizagem orientada por projetos, que tem como dinâmica o desenvolvimento de habilidades procedimentais e transversais, tais como: operações mentais com diferentes níveis de complexidade; trabalho em equipe; trabalho com um problema real, contextualizado e novo. Esta atividade é propícia para o desenvolvimento de novos comportamentos, atitudes e posturas próximas às da futura atividade profissional. Entende-se, também, que é neste contexto que surge a interdisciplinaridade, pois o projeto e seus problemas não nascem, via de regra, de disciplinas. As disciplinas são “recursos” para que problemas sejam estudados, resolvidos ou minimizados pelo diálogo entre diferentes áreas do conhecimento.

O trabalho propiciou de forma contínua a retomada do problema, a revisão ou a identificação sobre o que o aluno sabe e o que necessita aprender. Para isso, os estudantes foram orientados pelo professor para a busca e seleção de informações em diferentes fontes.

O contexto de aprendizagem foi composto por nove percursos estruturadores, os quais compuseram as quatro etapas de desenvolvimento do projeto proposto. Foi dado um prazo de oito semanas para a conclusão do projeto. Contudo, cada etapa teve de ser concluída em um período pré-determinado. Para garantir que as etapas estavam sendo cumpridas, o professor reservou um espaço no final de algumas aulas para acompanhar o desenvolvimento do cronograma.

1ª Etapa – Por meio de uma mostra de situações, os estudantes identificaram quais polímeros estão presentes em seu dia a dia. A mostra de situações consistiu na apresentação de imagens de estruturas poliméricas em diferentes formas de aplicação (eletrodomésticos, produtos encontrados no banheiro, vestuário, meios de transporte, embalagens, etc.) e de vídeos de ambientes de utilização e de ambientes de descarte (lixões). Para caracterizar os diferentes tipos de polímeros, os alunos elaboraram uma tabela utilizando o “triângulo da reciclagem”. Na sequência, os estudantes tiveram de escolher um tipo de material polimérico para o desenvolvimento do projeto.

Page 116: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

116 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

2ª Etapa – Por meio de pesquisas realizadas, os estudantes elaboraram e sistematizaram seu conhecimento sobre conceito de desenvolvimento sustentável e sobre o material polimérico escolhido. Nesta etapa, um trabalho sobre “como pesquisar em fontes confiáveis” foi realizado com os estudantes. Na aprendizagem orientada por projetos, os futuros engenheiros da disciplina de Química Orgânica, diante do reconhecimento do tema, deram início à etapa do levantamento bibliográfico. Diferentes fontes de consulta foram apresentadas aos alunos, tais como Web of Science, Portal de periódicos da CAPES, Google Acadêmico e bases de dados e livros disponíveis na biblioteca da instituição. O objetivo foi capacitar os estudantes a acessar, compreender e sintetizar a informação científica nas diferentes formas em que os resultados de pesquisa são expressos, a fim de que estes estudantes pudessem organizar o conhecimento existente sobre o seu objeto de estudo.

3ª Etapa – Os estudantes tiveram de representar para o material polimérico selecionado o seguinte: fórmula estrutural, método de obtenção, propriedades, aplicações de modo geral, aplicação na indústria, formas de recuperação, de reciclagem, de reemprego e de reutilização.

4ª Etapa – Os resultados obtidos foram apresentados ao grande grupo através de uma apresentação oral realizada por todos os estudantes do grupo.

O cumprimento de cada etapa na data correta foi um dos critérios importantes na avaliação e muito enfatizado junto aos estudantes, uma vez que contribui para o desenvolvimento de habilidades técnicas e transversais imprescindíveis para qualquer profissional.

A seguir, no Quadro 3.1, estão descritos as fases de cada etapa, as características das sucessivas situações de aprendizagem e os objetivos dos professores envolvidos na proposta durante as quatro etapas de desenvolvimento do projeto.

Page 117: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 3 | Formação do engenheiro com responsabilidade social e ambiental 117

Quadro 3.1

EtapaCaracterísticas das Sucessivas Situações de Apren-dizagens durante as 4 etapas de desenvolvimento

do projeto

Objetivo dos Professores envolvidos na proposta

1.1.Mostra de situações (imagens de estruturas poliméricas em diferentes formas de aplicação, vídeos de ambientes de utilização e de ambientes de descarte (=lixões), etc.).

Sensibilização – Mobilização

1.2.

De acordo com o contexto inicial da sensibilização, a partir da Mostra de situações, ocorreu a seleção dos polímeros pelos estudantes. Os estudantes expressaram suas ques-tões, relataram notícias e curiosidades relacionadas ao tema, compartilharam experiências e dúvidas.

Sondagem\Relação do tema com questões de sustentabi-lidade, questões ambientais, questões econômicas, etc.. Envolvimento do grupo e operacionalização de questões.Definição do problema.

1.3.

Análise e ampliação das questões levantadas. Composição do grupo de trabalho e caracterização dos estudos e esco-lha do tipo de material polimérico para desenvolvimento do projeto.

Identificação sobre o que se quer aprender – objeto de aprendizagem, não centralidade no livro texto.

2

O grupo define o que e como irão realizar a pesquisa sobre o material polimérico selecionado. Os estudantes apren-dem a realizar consultas bibliográficas em fontes confiá-veis, interagem com outros professores e profissionais da indústria na busca de informações.

Interação com o conhecimento existente. Grupo como perceptor e construtor de significados.

3.1

O grupo relaciona o problema com outros materiais e/ou situações encontrados no dia a dia (por exemplo, processos químicos industriais) e realiza novas pesquisas – estudos e tarefas individuais.

Conhecimento como linguagem científica. Compreen-dendo o processo/problema.

3.2Momento do grupo focar nas unidades de estudo – con-teúdos conceituais. Discussão em grupo do andamento do trabalho extraclasse.

Compreensão dos conteúdos conceituais. Construção de significados pela interação com objetos de aprendiza-gem.

3.3Elaboração de registros dos aspectos relevantes. Revisão das etapas para o estudo individual e coletivo.

Identificação do que foi aprendido. A construção de signi-ficado está no envolvimento do grupo.

3.4Retomada ou aprofundamento de algumas questões. Mo-mentos de decisão sobre o que ressignificar. Definição de novas ações para ampliar seus estudos e desempenhos.

Questões para avaliar a construção das aprendizagens estruturadoras.Aprendizagem como processo contínuo.

3.5Socialização das propostas de intervenção no pequeno grupo sobre o problema. Síntese argumentativa de conte-údos conceituais e procedimentais.

Construção de argumentos e ampliação de aprendiza-gens.

4Apresentação do projeto e ampliação de possibilidades de intervenção sobre o problema pelas contribuições do grande coletivo.

Revisão e análise das intervenções propostas como fonte de novas situações – possibilidades de retomar o proces-so

Page 118: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

118 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

A Química Orgânica tem como objetivo fornecer uma formação básica sólida para os engenheiros químicos desempenharem sua atividade profissional futura comprometidos com a responsabilidade social e ambiental. As estratégicas usadas no desenvolvimento da proposta de trabalho permitiram a busca ativa para a situação problema e a valorização do trabalho em grupo.

A investigação no desenvolvimento das atividades propostas foi fundamentada e baseada na proposta Freireana de Educação (FREIRE, 1996) caracterizada pelo que tem sido denominado de “momentos pedagógicos”, a saber: problematização inicial, organização do conhecimento e aplicação do conhecimento. Isto contribui para o processo de ensino-aprendizagem, no qual ocorre uma aproximação entre os saberes e a realidade dos aprendizes.

Acredita-se que, com o desenvolvimento desta atividade, a conclusão de cada etapa contribuiu para que os estudantes tenham iniciado o desenvolvimento de várias habilidades e competências que muito contribuirão para uma formação holística do profissional de engenharia. Algumas destas habilidades e competências estão listadas a seguir: capacidade para apropriar-se de novos conhecimentos de forma autônoma e independente; espírito de pesquisa para acompanhar e contribuir com o desenvolvimento científico e tecnológico do país; habilidade para trabalhar em equipe; conhecimento de temas da atualidade; argumentação e síntese associada à expressão em língua portuguesa; leitura e interpretação de textos técnicos e científicos; pesquisas, obtenção de resultados, análises e elaboração de conclusões; senso de responsabilidade ética e profissional; compreensão do impacto das soluções de engenharia em um contexto global e social.

Nesse sentido este trabalho buscou contribuir, através do uso de uma metodologia não-tradicional e de situações significativas que envolvem o tema ambiental, polímeros e o desenvolvimento sustentável, para o desenvolvimento de habilidades e competências indispensáveis para o futuro profissional da área de engenharia.

3.2 Escola Politécnica da UFRJ: questões pedagógicas e curriculares

A pesquisa de Dwek (2012) realizada na Escola Politécnica da UFRJ aponta para a necessidade de um ensino de engenharia com perspectiva crítica e humanística da sociedade, de forma que o futuro engenheiro perceba os atuais desserviços sociais e segmentos de recursos mal distribuídos, para que possa organizar melhor a sociedade em seu desenvolvimento. Uma formação que englobe estudos sociais, isto é, que transmita o conhecimento de diferentes sociedades, com disciplinas de humanas ligadas a questões sociais e à gestão de recursos humanos e ambientais, é importante para trabalhar com gente, pois a mesma permite ver como a sociedade funciona e quais os impactos da engenharia sobre ela.

Hoje, um engenheiro precisa possuir uma vasta cultura científica, devendo associar ao seu saber técnico conhecimentos sobre os sistemas social, humano e político nos quais irá

Page 119: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 3 | Formação do engenheiro com responsabilidade social e ambiental 119

atuar, reconhecendo a história da formação das sociedades, suas relações sociais, evolução e política. Como todo cientista, deve fazer perguntas de cunho filosófico e epistemológico: o que nós somos, qual nossa relação com o conhecimento prático, teórico, metafísico, com a psicologia e a religião. É preciso que o mesmo reflita sobre o seu papel, especialmente no que diz respeito à preservação da qualidade de vida das pessoas e da própria vida no planeta. Não pode tampouco excluir a arte como vetor transversal e precursor de outra forma de conhecimento (BEVILACQUA, 2011).

No entanto, estes elementos são amplamente ignorados pelos cursos. A universidade não pode desprezar esta formação e, como visto nas entrevistas, seus professores reconhecem a importância de um aprendizado multidisciplinar que abranja ética, relacionamento interpessoal e interação em grupos interdisciplinares. Há, mesmo assim, uma oposição à ampliação da abrangência das formações em engenharia devido ao volume de aulas dos alunos, notoriamente alto. Já falta tempo aos estudantes. Existem, no entanto, novas práticas que permitem ensinar mais com menos tempo em sala de aula, colocando o aluno em outros ambientes pedagógicos, propícios para observar, debater e pensar sobre questões mais amplas: oficinas, laboratórios e projetos, por exemplo. O aluno receberia uma formação básica e deveria aprender o que lhe faltasse por conta própria. E com a internet e os novos meios de comunicação, os professores e alunos têm virtualmente acesso às mesmas informações (MACULAN FILHO, 2011).

Se houver espaço para o aprendizado colaborativo professor-aluno, aluno-professor e aluno-aluno, haverá inovação. O espaço educativo deve servir para a interação entre teoria e prática através da aplicação do conteúdo. Quando inseridos em um espaço de construção de um projeto de engenharia, com todas as suas etapas, professor e aluno aprendem a buscar respostas.

Mesmo sem um mecanismo formal que os estimule e sem grandes investimentos, os alunos realizam atividades extracurriculares que complementam a sua formação e lhes trazem experiências consideradas ricas para seu exercício profissional. Dentre elas, as atividades de extensão permitem a aquisição de uma percepção cidadã ao engenheiro, enquanto a mobilidade acadêmica e as trocas culturais e geográficas os abrem para a diversidade cultural e social do mundo.

Sobre a relação entre formação científica e formação geral, parece ser um consenso de que ambas são necessárias. A técnica é importante, mas não é possível trabalhar na área científica sem a área humana e cultural: o mundo do trabalho hoje clama por isso. É preciso formar gente aberta, disposta a ouvir outras formações e com a capacidade de análise da realidade dada pelas ciências sociais. Há inclusive uma crise desta classificação, até mesmo no plano pedagógico. Soluções técnicas que não contemplam diversas áreas são subótimas. Os problemas atuais são mais complexos e essa nova dimensão precisa ser introduzida de maneira a gerar mais dúvidas do que certezas nos futuros profissionais: eles devem saber

Page 120: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

120 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

que o conhecimento científico exato está em crise, assim a complexidade do humano pode ser facilmente apreendida (ZAMBERLAN, 2011).

A separação que existe entre disciplinas técnicas e humanas forma um engenheiro desligado do mundo à sua volta: o grande desafio hoje não é a acumulação de conhecimento, mas justamente saber o que fazer com toda essa bagagem técnica. Assim, além de sólidos conhecimentos técnicos, é preciso uma formação geral que envolva a aplicação do conhecimento científico a contextos sociais humanos, suas implicações éticas e as expectativas dos diferentes stakeholders. A universidade deveria dar também ao aluno a possibilidade de desenvolver outras habilidades pessoais, sem que haja necessariamente uma aplicação ao mercado, na forma de disciplinas de escolha livre, favorecendo assim a troca entre a engenharia e outras profissões.

Idealmente, o professor de ciência básica deve mostrar a aplicação e importância do conhecimento ensinado para a área de atuação, mas poucos o fazem, atendo-se a um trabalho puramente numérico. Apresentar as aplicações mais cedo no curso também é vantajoso, pois dá uma visão da profissão ao aluno. Por outro lado, tanto aluno como professor são beneficiados se problemas específicos vierem acompanhados de questões mais gerais e holísticas. O ciclo básico só é reconhecido pelo aluno quando aplicado e atualmente falta estímulo tanto ao corpo docente como discente para melhorá-lo. A solução talvez seja dar aos ingressantes uma perspectiva do curso no 1º período, para que compreendam o encadeamento da proposta curricular como um todo, trabalhando as ciências básicas e aplicadas em paralelo ao longo do curso (SOUSA, 2011).

Em última instância, a ligação entre conhecimento geral e específico é feita pelo docente e depende da sua motivação. Contudo, será sempre melhor realizar a prática que corresponde a determinado aprendizado teórico. A prática deveria normalmente servir de referência para a análise teórica: o aprendizado conceitual se dá na aplicação a problemas reais, pois antes disso trata-se apenas de conhecimento ferramental. Isso é possível com disciplinas teóricas unidas a disciplinas práticas ou atividades que aproximem algum problema mais acadêmico de hipótese ou comprovação teórica a soluções concretas com base na sua aplicabilidade real. O ensino “hands-on” , ou “mão-na-massa”, forma bons engenheiros, transmite senso do real e pode até influenciar a evasão dos alunos (ALMENDRA, 2011). Os alunos de engenharia geralmente gostam de poder modelar os seus problemas, “enxergá-los” e simulá-los, mas é preciso ter contato com o processo fora da tela do computador. A iniciação científica já se consagrou como meio para esse fim e alguns advogam que a mesma deveria ser incentivada desde o primeiro ano do curso. Mas existem diversas modalidades de aprendizado ativo, com base em atividades práticas.

As disciplinas de projeto ou baseadas em problemas têm essa característica de confrontar o aluno a questões específicas da prática profissional. Na POLI/UFRJ, há uma disciplina de projeto que discute todos os aspectos e impactos da construção de um robô, trabalhando

Page 121: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 3 | Formação do engenheiro com responsabilidade social e ambiental 121

também a gestão de uma equipe (SOUSA, 2011). No entanto, há uma resistência por parte dos professores em geral perante essas iniciativas que fogem da simples reprodução do conhecimento adquirido e da transmissão e recepção passiva em sala de aula.

Por outro lado, as atividades de extensão universitária proporcionam aos alunos o contato com a sociedade, seja em trabalhos de divulgação e comunicação científica, em projetos solicitados à universidade por agentes sociais externos, ou na mediação de cursos. Elas trazem os benefícios exclusivos do contato direto com os destinatários de um projeto. Na POLI/UFRJ, estas atividades são creditadas pela disciplina “Projetos de Extensão em Engenharia”. Contudo, a oferta ainda é pequena, e a participação dos alunos, relativamente baixa (SOUSA, 2011).

Os estágios também permitem desenvolver os conhecimentos teóricos aplicando-os na atuação profissional, mas, ainda assim, costuma faltar aos alunos uma visão prática do mundo do trabalho. As visitas técnicas talvez pudessem ser multiplicadas, e o engajamento entre indústria e universidade, aprofundado. É preciso que os alunos tenham contato com profissionais da área, por meio de palestras ou através de professores em regime parcial, embora a tendência de contratação atual das universidades federais seja contrária a essa última sugestão.

3.3 Empresa junior como atividade facilitadora de aprendizagem: estudo no curso de Engenharia Civil da UFPB

A Empresa Junior/EJ caracteriza-se como pessoa jurídica, de direito privado, uma associação civil sem finalidades econômicas e com fins educacionais, com obrigações tributárias e sociais, constituída e gerida exclusivamente por alunos de graduação de instituições de ensino superior, que prestam serviços e desenvolvem projetos para empresas, entidades e sociedade em geral, nas suas áreas de atuação, sob a orientação de professores e profissionais especializados.

O estudo seguinte foi realizado com base na relação das disciplinas do currículo do curso com o trabalho na EJ, no edital de seleção de novos membros, e no estatuto social da EJ.

Com relação aos aspectos gerais do curso, bem como aos alunos de engenharia civil, foi aplicado um questionário que versou sobre: projetos acadêmicos, origem dos alunos (UF e escola pública/privada), pretensões profissionais dos alunos, dentre outros. O questionário foi aplicado durante o primeiro período de 2011, pessoalmente, nos ambientes de vivência do Centro de Tecnologia, e através da disponibilização pela internet, com preenchimento on-line.

O Quadro 3.2 mostra todas as disciplinas profissionais do currículo do curso que são contempladas com a participação na EJ. Os conhecimentos requeridos pelos trabalhos fazem com que os estudantes que já cursaram as disciplinas relacionadas a complementem, aprofundando-se nos estudos, e os que ainda estão cursando têm a oportunidade de visualizar

Page 122: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

122 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

a aplicação dos conteúdos ministrados, podendo até contribuir com os demais colegas de turma ao mostrar suas experiências na EJ.

Quadro 3.2 – Disciplinas destacadas

Disciplinas relacionadas com o trabalho na EJ

Desenho técnico

Resistência dos materiais I

Resistência dos materiais II

Construção de edifícios

Estabilidade de taludes

Materiais de Construção

Desenho arquitetônico,

Instalações hidráulicas e sanitárias

Eletrotécnica

Física Experimental II

Instalações elétricas prediais

Mecânica dos solos

Grande parte das disciplinas elencadas acima permanecia apenas em teorias, no máximo

com conhecimentos em laboratórios. Na empresa, estas disciplinas ganham sentido para os estudantes quando os mesmos dizem “agora vejo para que serve isso que vimos”.

A gerência das EJs é orientada por um regimento geral, no qual requisitos legais têm de ser atendidos. Sendo assim, existe um perfil básico para os empresários juniores. Com base no último edital de seleção dos novos membros da ENGEOTEC Jr., e nas diretrizes do Movimento de Empresas Juniores, buscou-se identificar qual o perfil do estudante para ingresso na EJ. Assim, o perfil destes estudantes é marcado por características como: empreendedorismo, comprometimento, afinidade com trabalho em equipe e proatividade.

Mais importante do que traçar esse perfil é ver a mudança de postura do aluno depois que o mesmo deixa a EJ. Os entrevistados declaram passar a “enxergar outros horizontes dentro da engenharia” e a tomar “gosto pelo curso”.

É notória a procura dos estudantes com interesse em saber como funciona a EJ, pois estes buscam meios para preencher a lacuna que há na aplicação do que se aprende no curso, porque os discentes já esperam que, mesmo durante a graduação, já se tenha uma base da vivência do profissional em engenharia. Verifica-se, também, no público participante da empresa, estudantes que desejam seguir carreira acadêmica, que buscam em sua participação na EJ o contato com a realidade profissional e aplicação das teorias vistas nas disciplinas, também importante na docência em engenharia.

No questionário, as opiniões a respeito da atuação da empresa júnior no curso foram unânimes, quando perguntado sobre a mesma como facilitadora de aprendizagem e inserção no mercado de trabalho.

A EJ é um forte instrumento de integralização das disciplinas do currículo do curso,

Page 123: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 3 | Formação do engenheiro com responsabilidade social e ambiental 123

pois, na prática, os conhecimentos são coordenados e, ao atuar ativamente nos serviços da empresa, o empresário júnior adquire as atitudes profissionais para o “mundo real” e os conhecimentos da academia.

O aluno, ao constituir e gerir a EJ, agrega conteúdos relacionados com a área comercial, jurídica, financeira, tributária e fiscal, bem como aspectos organizacionais e de empreendedorismo, ética e relações humanas (empresa-cliente, empresa-instituições, e relações entre colegas de trabalho e comunidade externa).

Com isso, nota-se que a Empresa Júnior pode ser uma ferramenta a ser explorada pelos professores e alunos para promover a extensão do conhecimento para fora dos limites da sala de aula, como visto na avaliação positiva dos impactos da EJ no curso de engenharia civil da UFPB.

Page 124: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

124 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como discutido desde a problematização e, também, na apresentação das diversas propostas e experiências de métodos de ensino-aprendizagem que desenvolvam nos estudantes de engenharia a capacidade crítica e criativa com visão das repercussões socioambientais da sua atividade profissional, percebe-se o quanto tais habilidades e competências são indispensáveis para o futuro profissional da área de engenharia, e que a práxis que se alcança por meio de atividades de extensão ou outras metodologias ativas, como a aprendizagem baseada em projetos (lembrando que são projetos reais), permite um avanço nessas habilidades.

Cada uma das experiências apresentadas (bastante distintas entre si, porém comuns em seu objetivo, que é o de aproximação entre o que se estuda durante a formação profissional e o que é a realidade profissional) mostra a possibilidade de desenvolvimento de habilidades e competências que vem sendo, cada dia mais, requeridas aos profissionais de todas as engenharias, os quais sabe-se são bastante responsáveis pelo desenvolvimento , o qual se requer sustentável.

São habilidades e competências resultantes de métodos ativos de ensino-aprendizagem: capacidade para apropriar-se de novos conhecimentos de forma autônoma e independente; espírito de pesquisa para acompanhar e contribuir com o desenvolvimento científico e tecnológico do país; habilidade para trabalhar em equipe; conhecimento de temas da atualidade; argumentação e síntese associada à expressão em língua portuguesa; leitura e interpretação de textos técnicos e científicos; pesquisas, obtenção de resultados, análises e elaboração de conclusões; senso de responsabilidade ética e profissional; compreensão do impacto das soluções de engenharia em um contexto socioambiental global.

Page 125: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 3 | Formação do engenheiro com responsabilidade social e ambiental 125

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMENDRA, E. R. Ericksson Rocha e Almendra: depoimento [out. 2011]. Entrevistador: M. Dwek. Rio de Janeiro: UFRJ, 2011. Gravação digital. Entrevista concedida para pesquisa de mestrado.

BEVILACQUA, L. Luiz Bevilacqua: depoimento [set. 2011]. Entrevistador: M. Dwek. Rio de Janeiro: UFRJ, 2011. Gravação digital. Entrevista concedida para pesquisa de mestrado.

COLOMBO, Ciliana R. Princípios teórico-práticos para formação de engenheiros civis: em perspectiva de uma construção civil voltada à sustentabilidade. 2004. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) - Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.

CNE/CES - CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO/ CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR. RESOLUÇÃO CNE/CES 11, DE 11 DE MARÇO DE 2002, Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia.

DWEK, M. Por uma renovação da formação em engenharia: questões pedagógicas e curriculares do atual modelo brasileiro de educação em engenharia. 2012, 149f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.

DWEK, Mauricio. Perspectivas para a formação em engenharia: o papel formador e integrador do engenheiro e o engenheiro educador. 2008. Monografia (Graduação em Engenharia Metalúrgica). Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2010.

_____. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 36 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREITAS, A. L. S. Curiosidade epistemológica. In: STRECK, D. R. et al. (org.) Dicionário Paulo Freire. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008.

MACULAN FILHO, N. Nelson Maculan Filho: depoimento [out. 2011]. Entrevistador: M.

Page 126: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

126 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

Dwek. Rio de Janeiro: UFRJ, 2011. Gravação digital. Entrevista concedida para pesquisa de mestrado.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (2012). Educação Para a Sustentabilidade. Disponível em: <https://www.mma.gov.br/ educação-ambiental>. Acesso em: 12 jul. 2012.

MORIN, A. Pesquisa-ação integral e sistêmica: uma antropopedagogia renovada. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.

MORIN, Edgar; LE MOIGNE, Jean-Louis. A inteligência da complexidade. Trad. N. M. Falci. São Paulo: Peirópolis, 2000.

PASSOS, L. A. Leitura do mundo. In: STRECK, D. R. et al. (org.) Dicionário Paulo Freire. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008.

SILVA, Bruno L. C.; LARICHHIA, Camila R.; RUFINO, Sandra. Aportes da Engenharia de Produção para o Desenvolvimento da Economia Solidária. In: I SIMPÓSIO TRABALHADORES E A PRODUÇÃO SOCIAL, Sumaré. SP: 2011.

SOUSA, A. C. G. Antônio Cláudio Gomez de Sousa: depoimento [set. 2011]. Entrevistador: M. Dwek. Rio de Janeiro: UFRJ, 2011. Gravação digital. Entrevista concedida para pesquisa de mestrado.

THIOLLENT, Michel. Construção do Conhecimento e Metodologia da Extensão. In: I CBEU, Congresso Brasileiro de Extensão Universitária. João Pessoa: 2002.

UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. Década da educação das nações unidas para um desenvolvimento sustentável, 2005-2014: documento final do esquema internacional de implementação. Brasília: UNESCO, 2005. 120p.

ZAMBERLAN, F. L. Fábio Luiz Zamberlan: depoimento [out. 2011]. Entrevistador: M. Dwek. Rio de Janeiro: UFRJ, 2011. Gravação digital. Entrevista concedida para pesquisa de mestrado.

Page 127: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Rejane Frozza | UNISC

Daniela Duarte da Silva Bagatini | FADERGS

Alberto Bastos do Canto Filho | UFRGS

Dáila Elisa Dorfey | UNISC

Eduardo Urnau | UNISC

Jacqueline Nunes Cavalcante | UFPB

José Manuel Cárdenas Medina | USP

José Valdeni de Lima | UFRGS

Liane MahlmannKipper | UNISC

Liane Margarida Rochenbach Tarouco | UFRGS

Maria de Lourdes Barreto Gomes | UFPB

Mauro de Mesquita Spinola | USP

Gestão do conhecimentocomo ferramenta de

competitividade nas empresas

CAPÍTULO 4

Page 128: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção
Page 129: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 4 | Gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas 129

1. INTRODUÇÃO

Saber administrar o conhecimento é importante para o êxito e sobrevivência do negócio, assim o conhecimento cada vez mais se torna um recurso sustentável às organizações. A maioria delas gerencia, de um modo ou de outro, seus mecanismos de memória, de registro e de compartilhamento de práticas e conhecimentos. Apesar disso, é comum que o conhecimento criado e absorvido fique disponível apenas aos envolvidos nas atividades específicas. Dessa forma, a gestão do conhecimento tem o propósito tanto de organizar e disseminar o conhecimento quanto de auxiliar na aquisição de novos conhecimentos.

Toda organização, à medida que evolui, acumula uma série de experiências, casos e aprendizados associados à expertisedas equipes e líderes no desenvolvimento de projetos. Um dos grandes desafios é transformar o conhecimento que está na mente das pessoas (tácito) em conhecimento explícito manipulável, e que possa ser representado por algum mecanismo ou método para uso posterior.

O conhecimento tácito é o resultado de experiências vividas pelo indivíduo como elemento observador de seu mundo em diversos cenários. Esse tipo de conhecimento é difícil de registrar, documentar ou ensinar a outras pessoas, já que está implícito na sua mente e nas suas ações.

O conhecimento explícito pode ser resumido como sendo toda a carga de informação digerida e analisada por um indivíduo que, por meio de técnicas estruturadas, permite a sua disseminação. Esse tipo de conhecimento pode ser transformado, por exemplo, em documento, roteiro e plano de treinamento.

É necessário disponibilizar o conhecimento de forma simples e de fácil compreensão aos diferentes colaboradores da organização, melhorando e auxiliando os processos de tomada de decisão nas suas atividades. A existência dessa cultura contribui para a gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas.

Este capítulo trata da Gestão do Conhecimento como Ferramenta de Competitividade nas Empresas e está organizado em três linhas de discussão, que são: fundamentos sobre gestão do conhecimento e processos organizacionais, ferramentas de apoio à gestão do conhecimento e, cenários e práticas para gestão do conhecimento.

A primeira linha, apresentada na seção 2, aborda os fundamentos sobre gestão do conhecimento e processos, referentes à socialização do conhecimento, a fim de torná-lo explícito para possibilitar uma memória organizacional e consolidar uma cultura de compartilhamento do conhecimento entre os envolvidos nos processos. Essa linha visa demonstrar a relação do uso da gestão do conhecimento como estratégia para tornar a organização competitiva.

A segunda linha, ferramentas de apoio à gestão do conhecimento, na seção 3, demonstra a importância das ferramentas como suporte à aquisição, organização, manipulação e

Page 130: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

130 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

disseminação do conhecimento. Para as etapas de aquisição, organização e manipulação, será apresentada uma ferramenta que se baseia na forma como as pessoas usam informações passadas para resolver problemas atuais. Já para as etapas manipulação e disseminação do conhecimento, será expostoum método que se fundamenta na forma como as pessoas compartilham experiências com o ato de contar histórias. Essa linha visa auxiliar o trabalho dos gestores das empresas para a tomada de decisão com apoio de ferramentas.

A seção 4 apresenta a linhacenários e práticas para gestão do conhecimento, trazendo práticas para promover o compartilhamento de conhecimentos entre colaboradores da organização. Os recursos multimídia apresentados nessa linha exploram as dimensões cognitiva, afetiva e psicomotora, necessárias para o desenvolvimento das habilidades referentes às atividades de cada colaborador. A partir do conhecimento disseminado e motivando-se a cultura de participação e troca, pode-se emergir para a inovação, ou seja, a criação de novos conhecimentos. A inovação permite um novo ou melhorado processo organizacional e torna-se aliada para a competitividade nas empresas.Por fim, as considerações do capítulo.

Page 131: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 4 | Gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas 131

2. FUNDAMENTOS SOBRE GESTÃO DO CONHECIMENTO E PROCESSOS

A gestão do conhecimento dentro das organizações ocorre em ciclos de forma que o conhecimento é criado por pessoas ou adquirido de fontes externas, internalizado na organização e, posteriormente, modificado, utilizado ou compartilhado.

Os estudos do conhecimento envolvem: transferência do conhecimento tácito para explícito por meio de mecanismos de socialização earmazenamento de informações na memória organizacional. Referente à socialização, a comunicação entre pessoas viabiliza o compartilhamento do conhecimento. Quanto à memória organizacional, esta encontra em repositóriosuma forma de manter as informações como fonte do conhecimento, que pode auxiliar em decisões futuras.

O ciclo de transformação de conhecimento mais conhecido é o de Nonaka e Takeuchi (1997) que consideram que o conhecimento é transformado por ciclos, de explícito para tácito e vice-versa. A partir de Nonaka e Takeuchi outros modelos de transformação de conhecimento são originados, considerando a área de inteligência artificial como coadjuvante no processo de transferência de conhecimento.

Por exemplo, na Figura 1 o modelo de King et al. (2008) apresentaum ciclo que inicia pela aquisição e criação do conhecimento, passando pelos processos de refinamento, estocagem, transferência, compartilhamento e finaliza com a utilização, para aconversão de conhecimento tácito em explícito (e vice-versa).

Figura 1. Modelo de ciclo de conhecimento.Fonte:adaptado de King et al. (2008).

Page 132: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

132 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

É possível separar o processo de gestão de conhecimento nas empresas em: momento de criação e aquisição, através da interação entre pessoas, no intuito de gerar conhecimento; momento de refinamento e estocagem do conhecimento útil para desenvolver as atividades que dependam das habilidades, experiência e expertise dos membros da organização; mecanismos de transferência e compartilhamento do conhecimento gerado e armazenado.

Os processos de criação e aquisição têm sua iniciativa em pessoas e dependem delas. Os processos de refinamento e estocagem não dependem apenas de pessoas, mas também de mecanismos que colaborem para armazenar e disponibilizar informação. A eficiência desses mecanismos dependerá das decisões estratégicas dos tomadores de decisões e do compartilhamento do conhecimento dentro da organização.

Outro exemplo é o modelo sociotécnico de Nevo (2003), apresentado na Figura 2.

Figura 2. Canais para transferência de conhecimento nas organizações.Fonte: adaptado de (NEVO, 2003).

No processo de socialização (Canal 1), aexternalização e a internalização permitem tornar explícito o conhecimento, que pode ser convertido em dados e informações. O conhecimento que procede das pessoas e de outras fontes pode ser codificado para ser armazenado e disseminado para a organização.A necessidade de externalizar o conhecimento admite a possibilidade de mostrar que o conhecimento que é apreendido pode ser verbalizado e, portanto, pode ser compartilhado. Internalizar faz parte de um processo individual, que finaliza o ciclo de transferência de conhecimento.

Na formulação da memória organizacional (Canal 2), o conhecimento explícito codificadotorna-se disponível para ser recuperado quando necessário. Já na codificação do conhecimento tácitoesse processo é mais complexo, uma vez que o conhecimento faz parte do valor agregado das pessoas para desenvolver atividades. Embora a tecnologia forneça meios para melhorar o desempenho da gestão do conhecimento, o processo é amplamente baseado em pessoas.

Page 133: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 4 | Gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas 133

O conhecimento tácito é sempre reutilizável, entretanto, a informação pode ter significados distintos, tanto para quem a detém como para quem a recebe. Segundo Rus e Lindvall (2002): “O grande problema com o capital intelectual é que tem pernas e caminha para casa todos os dias. Na mesma taxa, a experiência sai pela porta, e a inexperiência entra pela porta”.

O conhecimento explícito, codificado e armazenado na memória organizacional, é recuperado para ser convertido em tácito (internalização).

2.1. Socialização

A socialização é um processo de interação entre membros de uma comunidade social (grupo de pessoas com os mesmos interesses)que desenvolvem atividades em comum. Tal interação envolve não apenas um processo formal de comunicação, mas encontra também em espaços de informalidade canais para a socialização e o aprendizado. A Tabela 1 mostra como pode ocorrer a transferência de conhecimento tácito entre as pessoas em uma comunidade social.

Tabela 1. Tipologia de aprendizagem

Processos de trabalho comaprendizado como subproduto

Atividades de aprendizagem localizadas no trabalho ou

no processo de aprendizado

Processos de aprendizadonas comunidades sociais

Participar em processos de grupoTrabalhar em conjuntoConsultar/conversarResponder a tarefas e papeisSolucionar problemasBuscar alternativasConsolidar, estender e refinar habilidadesTrabalhar com clientes

Fazer perguntasObter informaçõesLocalizar pessoasEscutar e observarRefletirAprender com os erros

Ser treinado (couching) com um mentor (mentoring)Aprender por observação (shadowing)Conhecer outros ambientesParticipar de conferências e cursosTrabalhar para obter qualificaçãoEstudar

Fonte: adaptado de Eraut (2007).

2.2. Memória Organizacional

A memória organizacional é similarà memória dos indivíduos, no sentido de que o processo de armazenamento de informação acontece a todo o momento. No entanto, a capacidade de aprendizado não é compatível com o processo de armazenamento na memória organizacional, uma vez que uma memória organizacional não acompanha os processos humanos de decisão.

Page 134: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

134 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

As informações armazenadas são produto de decisões e a sua utilização é individual ou coletiva (WALSH; UNGSON, 1991). Conforme Walsh e Ungson, a memória organizacional envolve três premissas:

1. Descrição das organizações como sistemas que processam informações sobre o ambiente eexibem memória similar à memória dos indivíduos.

2. A organização, além de um sistema de informação, também é um sistema interpretativo, o qual lida com as variações do ambiente em termos de incerteza e complexidade, sendo necessários mecanismos para rastrear, interpretar e diagnosticar essas variações.

3. Supõe que a organização, vista como sistema interpretativo, é uma rede de significados compartilhados intersubjetivamente, sustentada através do desenvolvimento de uma linguagem comum e das interações sociais do dia a dia.

Para a formulação da memória organizacional, a tecnologia da informação fornece ferramentas para suportar os processos de aprendizagem em sistemas de gestão do conhecimento, que são tecnologias empregadas para melhor conservar, utilizar e compartilhar o conhecimento organizacional (ALAVI e LEIDNER, 2001).

Um sistema de gestão do conhecimentopossui ferramentas e processos utilizados para identificar e transmitir conhecimento para a memória organizacional. Posteriormente esse conhecimento pode ser recuperado para gerar novos conhecimentos e para contribuir na formação de uma cultura organizacional.

Segundo o modelo da Figura 2, os canais de socialização e memória organizacional seguem de forma paralela, porém o modelo não indica se um processo influencia no comportamento do outro e não existe um caminho que vincule esses dois canais. Pode-se observar que, também,há um distanciamento entre as pessoas no entendimento do conhecimento tácito.

As ferramentas de inteligência artificial oferecem suporte a esse tipo de situação. Por exemplo: simulando, através de sistemas computacionais, o comportamento de um especialista frente a determinadas situações de tomada de decisão. Entretanto não significa que tenham a capacidade de adquirir diretamente o conhecimento tácito, uma vez que esse processo ocorre na socialização e no compartilhamento de experiências.

Page 135: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 4 | Gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas 135

3. FERRAMENTAS DE APOIO À GESTÃO DO CONHECIMENTO

Desenvolver ferramentas de apoio à gestão do conhecimento para integrar diversos saberes, é fator crucial para a efetiva gestão do conhecimento.

A maioria das organizações gerencia, de um modo ou de outro, seus mecanismos de memória organizacional, de registro e de compartilhamento de práticas e conhecimentos.A gestão do conhecimento tem o propósito tanto de organizar e disseminar o conhecimento existente para o maior número possível de integrantes da organização, quanto de adquirir novos conhecimentos. Nesse sentido esta seção apresenta dois estudos de casos desenvolvidos que visam aplicação de duas técnicas de storytelling e de raciocínio baseado em casos, e o desenvolvimento de duas ferramentas de apoio à Gestão do Conhecimento, KnowFlowing: Software de gestão do conhecimento organizacional e um Sistema de Raciocínio Baseado em Casos.

3.1 KnowFlowing: Software de gestão do conhecimento organizacional

Geralmente o conhecimento é armazenado em forma de manuais, relatórios, dados e informações; de uma forma estática, dificultando o entendimento dos processos pelas equipes. Uma técnica utilizada pelo ser humano através dos séculos para transmitir o conhecimento, tanto individual como em grupo, de uma cultura inteira, é o storytelling, que é compreendido como o ato de contar histórias, é um recurso simples e natural de transmitir conhecimento. Os seres humanos contam histórias para compartilhar experiências e casos. De forma similar, as organizações têm utilizado esse recurso para possibilitar o compartilhamento do conhecimento entre sua equipe organizacional.

A técnica destorytelling tem sido utilizada pela humanidade através dos séculos para transmitir o conhecimento, tanto individual como de uma cultura inteira (ASSIS; PIETROBON, 2009). O ato de contar histórias se faz eficiente à medida que envolve elementos emocionais que aproximam as histórias contadas do conhecimento tácito.

Dessa forma, o objetivo do caso que será apresentado é gerenciar e disseminar o conhecimento, usando a técnica de storytelling na modelagem de fluxos de trabalho, e desenvolver uma ferramenta Web para possibilitar o acesso ao conhecimento sobre os fluxos modelados, a fim de melhorar e auxiliar os processos de tomada de decisão envolvidos nas atividades de uma organização. Tal estudo de caso foi realizado no Departamento de Informática de uma Universidade, visando atender atividades como: encaminhamento dos projetos de pesquisa, aquisição de referencial bibliográfico e compra de materiais e equipamentos.

Com relação aos aspectos metodológicos, Santos (2000) expõe três critérios como forma de identificar a natureza metodológica: objetivos, procedimentos de coleta e fontes utilizadas na

Page 136: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

136 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

coleta de dados. A familiarização com os fluxos escolhidos para a modelagem caracterizou-se, segundo os objetivos, como uma pesquisa exploratória com conversas e consulta a manuais. Para esse estudo foram realizadas conversas com os professores do Departamento de Informática e funcionários da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPPG), buscando o conhecimento e a compreensão do funcionamento global dos fluxos. Em simultâneo, foram realizadas pesquisas bibliográficas.

O levantamento de dados foi o primeiro procedimento utilizado para entendimento dos fluxos. Após o conhecimento e a compreensão do funcionamento dos fluxos, foi estudada a melhor maneira de representá-los usando a técnica de storytelling. Para tal, foi realizada uma pesquisa de imagens, figuras, balões, setas, que pudessem ser utilizados para descrição do fluxo, a fim de facilitar a sua compreensão.

A seguir, apresenta-se uma síntese dos procedimentos metodológicos utilizados: pesquisa bibliográfica; levantamento dos requisitos para desenvolvimento da ferramenta; conversa com pessoas do setor da PROPPG e do Departamento de Informática para esclarecimentos sobre os fluxos que foram modelados; desenvolvimento dos fluxos modelados a partir da técnica de storytelling; desenvolvimento da ferramenta e validação.

Os fluxos modelados utilizam os elementos emocionais apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Elementos usados para modelagem dos fluxos.

Ilustração Elementos Objetivo

Imagens Ilustrar os personagens envolvidos nos fluxos.

Balão Narrar o fluxo, facilitando o entendimento do usuário.

Balão Destacar a finalização de um fluxo.

Seta Mostrar a sequência lógica dos fluxos.

Hiperlink Hiperlink Complementar informação sobre determinado assunto para os usuários.

Gifs AnimadosIlustrar o meio pelo qual está sendo realizada uma atividade

(e-mail, Internet).

Fonte: DORFEY (2009).

A seguir apresenta-se uma descrição dos fluxos modelados.O Fluxo de Encaminhamento dos Projetos de Pesquisa inicia com o professor preenchendo

Page 137: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 4 | Gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas 137

no sistema workflow da Instituição o formulário para encaminhamento do projeto de pesquisa. Após, as seguintes opções são acessadas em sequência: “Encaminhar ou Alterar Projetos de Pesquisa ou Extensão”, e “Criar nova atividade/projeto”, onde é disponibilizado o formulário a ser preenchido (Figura 3a). O formulário é enviado pelo sistema workflow ao setor de orçamento, que realiza o orçamento e o retorna ao professor. Se o professor não concordar com o orçamento enviado, poderá refazê-lo e reenviá-lo pelo sistema workflow. Se o professor aprovar o orçamento, o projeto é enviado (via workflow) ao chefe de departamento, que também realiza a análise e o aprova (Figura 3b). Após, o fluxo é enviado (via workflow) à Coordenação de Pesquisa na PROPPG. Após ser analisado pela Coordenação de Pesquisa, o projeto é encaminhado ao Comitê Assessor de Avaliação e, em seguida, é validado em reunião do Conselho de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Relações Comunitárias (CONPPEX) (Figura 3c). Se reprovado na reunião do CONPPEX, ele retornará para o chefe de departamento que irá repassá-lo ao professor proponente do projeto para que possa ser reelaborado e encaminhado novamente pelo sistema workflow(Figura 3d).

Figura 3a.Fluxo Modelado com a técnica de storytelling.Fonte: DORFEY (2009).

Page 138: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

138 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

Figura 3b.Fluxo Modelado com a técnica de storytelling.Fonte: DORFEY (2009).

Figura 3c.Fluxo Modelado com a técnica de storytelling.Fonte: DORFEY (2009).

Page 139: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 4 | Gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas 139

Figura 3d.Fluxo Modelado com a técnica de storytelling.Fonte: DORFEY (2009).

O Fluxo de Aquisição de Referencial Bibliográfico inicia com uma solicitação do professor para a secretária, com o nome da obra a ser adquirida e o número de exemplares. Após, a secretária envia a solicitação da compra para aprovação do chefe de departamento. Caso reprovado, é informado ao professor o porquê da reprovação. Se a solicitação for aprovada, a secretária preenche um formulário em duas vias com a solicitação e encaminha para a biblioteca. A biblioteca direciona a solicitação para a livraria, que retorna a segunda via do formulário para o departamento para ser arquivada pela secretária. A livraria realiza a compra do livro e o envia para a biblioteca para que seja realizado o registro, caso o livro permaneça na biblioteca para empréstimo aos alunos. Se o livro for enviado ao departamento, a biblioteca realiza o contato com a secretária, que entrega o livro para o professor.

O Fluxo de Compra de Materiais e Equipamentos inicia quando o professor deseja comprar materiais ou equipamentos que serão utilizados em suas aulas. A solicitação da compra deve ser feita para a secretária ou para o coordenador do curso. Se for feita à secretária, esta encaminha a solicitação para o coordenador. Quando a solicitação chegar ao coordenador, esta é apresentada em reunião do grupo de professores que atua no curso. Caso a solicitação não seja aprovada, um retorno da não-aprovação é dado ao professor. Quando aprovada, a secretária inicia o processo de compra no sistema workflow. Após a solicitação da compra ser aprovada no sistema workflow, o setor de compras adquire o material ou equipamento.

Page 140: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

140 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

O prazo de entrega depende do produto e da disponibilidade de entrega do fornecedor local; caso o produto não esteja disponível, será adquirido em outros fornecedores. Além disso, o material ou produto ainda pode ser importado, o que demanda um tempo maior para sua entrega. Após a chegada do material ou equipamento, este é entregue ao departamento onde o professor trabalha.

Para o desenvolvimento do Know Flowing foi feita a análise de requisitos, com o objetivo de identificar a necessidade dos usuários da ferramenta. Dessa forma, inciou-se o levantamento de informações referentes às funcionalidades e restrições do sistema.

Após a análise, definiu-se como módulos do Know Flowing o cadastro de usuários que terão acesso à ferramenta; o cadastro de fluxos de trabalho modelados; a busca de fluxos cadastrados; o login de usuários; a identificação do tipo de usuário cadastrado e atualizações de maneira geral. O objetivo da ferramenta é apoiar o processo de armazenamento e socialização do conhecimento, contribuindo no processo de gestão do conhecimento organizacional.

Na Figura 4, é ilustrada a lista de fluxos já cadastrados pelo administrador no software e as possibilidades de criar, alterar, excluir e visualizar fluxos.

Figura 4. Tela da Lista de Fluxos.Fonte: DORFEY (2009).

Page 141: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 4 | Gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas 141

Na Figura 5, é possível visualizar a lista dos tipos de usuários que têm acesso ao sistema. O administrador tem a possibilidade de criar novos tipos usuários, bem como excluir e alterar informações de tipos de usuários já cadastrados.

Figura 5. Tela de Tipos de Usuários.Fonte: DORFEY (2009).

Para avaliar o KnowFlowing e os fluxos disponibilizados, elaborou-se um questionário que foi aplicado com os usuários. Com base nas respostas concluiu-se que: os usuários concordam que a linguagem utilizada na descrição dos fluxos é adequada; concordam que auxilia na aquisição do conhecimento, o que caracteriza a transformação do conhecimento tácito em explícito, melhorando a compreensão do processo; avaliam que os fluxos descritos são fiéis ao que é efetivamente praticado e que facilita a compreensão das atividades modeladas.

3.2. Sistema de apoio à decisão com o uso da técnica de raciocínio baseado em casos

Os sistemas baseados em conhecimento inspiram-se na inteligência humana para realizar tarefas que envolvam raciocínio para a tomada de decisões. Nesse contexto encontram-se os sistemas de raciocínio baseado em casos (RBC). O RBC armazena o conhecimento na forma de casos (estrutura formal) que são usados para inferir resultados, a partir de casos

Page 142: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

142 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

anteriormente ocorridos e armazenados em uma base de conhecimento. O levantamento de casos ocorridos e sua análise devem ser feitospor especialistas humanos da área.

A motivação para a modelagem e o desenvolvimento de aplicações com o uso da técnica de raciocínio baseado em casos é solucionar novos problemas pela adaptação de soluções que foram utilizadas em problemas similares.

Dessa forma, o objetivo deste estudo de casoé modelar e desenvolver um sistema de gestão do conhecimento para analisar as informações decorrentes do planejamento estratégico de uma empresa, com a finalidade de melhorar a estratégia para tomada de decisão dos gestores.

Segundo Kolodner (1993) e outros autores os elementos básicos de um sistema de raciocínio baseado em casos são:

• Representação do conhecimento: o conhecimento é representado em forma de casos que descrevem experiências concretas.

• Medida de similaridade: um caso será similar a outro quando o seu conteúdo e o seu contexto forem semelhantes (QUEL, 2006). Para Wangenheim e Wangenheim (2003), a similaridade pode ser definida também como utilidade, sendo que o caso recuperado que apresentar maior similaridade, provavelmente será útil para um problema atual.

• Adaptação: processo de adaptar soluções passadas para solucionar novos problemas (GANASCIA, 1997).

• Aprendizado: acrescentar e indexar novos casos na base de casos do sistema (GANASCIA, 1997).

As etapas que envolvem o ciclo do sistema de raciocínio baseado em casos compreendem os processos de recuperação, reutilização, revisão, e retenção, que selecionaquais informações serão relevantes, conforme apresentado na Figura 6.

A etapa de recuperação inicia com uma descrição do problema e termina com a recuperação de casos similares. A busca por casos é feita através de algoritmos que selecionam os casos de acordo com a sua similaridade em relação ao problema descrito na entrada do ciclo.

Na etapa de reutilização, a adaptação pode ser uma complexa modificação na estrutura da solução, ou uma simples substituição de um atributo da solução por outro. É possível perguntar ao usuário se ele deseja que o sistema faça adaptação. Caso a resposta seja afirmativa, a adaptação deve ser feita de modo que o usuário possa interagir com as modificações, decidindo por sua aplicação.

Page 143: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 4 | Gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas 143

Figura 6. Ciclo do Raciocínio Baseado em Casos.Fonte: adaptado de Wangenheim e Wangenheim (2003).

Com relação à etapa de revisão, o primeiro passo é a detecção de falhas nas soluções atribuídas pelo sistema. A etapa de revisão confirma a escolha do caso e avalia suas diferenças com o problema de entrada, orientando a adaptação. A medida de similaridade também poderá ser revisada, de forma que possa sugerir outro caso para a solução do problema de entrada.

Na etapa de retenção, o sistema incorpora ao caso tudo o que foi útil na resolução do problema. A retenção envolve selecionar qual informação é relevante, a forma de retê-la, como organizar o caso para posterior utilização e integrá-lona base de casos. O armazenamento de um caso cuja solução foi confirmada como útil é o processo de retenção. A incorporação desse novo caso é a formação continuada do conhecimento armazenado no sistema.

O teste ou avaliação de um sistema de raciocínio baseado em casos envolve dois processos, denominados verificação e validação. A verificação avalia o grau de precisão na realização das tarefas propostas, já a validação avalia a sua eficiência (GANASCIA, 1997).

A avaliação deve ser feita com especialistas humanos em dois momentos: primeiro, um especialista ou vários avaliam as respostas dadas pelo sistema; segundo, o especialista utiliza o sistema com um colega ou um assistente técnico. Nessa etapa, calculam-se os percentuais com que o especialista utilizou as sugestões oferecidas pelo sistema. Se o sistema atingir um determinadopercentual de respostas certas, o especialista pode considerar o sistema satisfatório.

Para a representação dos casos fez-seuma análise do contexto comercial da empresa com atributos que permitiram identificar a situação descrita em casos.

Page 144: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

144 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

A definição dos valores de similaridade, realizada na etapa de recuperação, tem um papel importante nos sistemas de RBC, pois representa o processo de raciocínio do sistema. Os valores foram definidos de zero (0) a dez (10), sendo dez o valor de maior similaridade e zero o valor sem similaridade. Os valores entre zero e dez também podem ser indicados em percentual (de 0% a 100%).

Para a determinação da tabela de similaridade local, Tabela 3, os especialistas debateram sobre os grupos de assunto (produto, cliente, crediário e metas) analisando suas características para estabelecer os valores de similaridade local.

Tabela 3. Valores da similaridade local.

Valor da similaridade Produto Cliente Crediário Metas

Produto 10 5 2 0

Cliente 5 10 2 0

Crediário 2 2 10 5

Metas 0 0 5 10Fonte: URNAU (2011).

Conforme valores atribuídos na Tabela 3, é possível demonstrar que existe uma similaridade maior entre os casos com valor de Produto e Cliente do que os casos com valor de Produto e Crediário e nenhuma similaridade entre os casos com valor Produto e Metas. Quando os assuntos são os mesmos, o valor atribuído é dez, que é o valor máximo para a similaridade. Assim a Tabela 3pode ser definida como uma matriz simétrica.

A Tabela 3 com a similaridade entre os principais assuntos relacionados à execução do planejamento estratégico necessita estar integrada num processo cognitivo. Entende-se como processo cognitivo o princípio de aprender com os casos anteriores, avaliando as similaridades. Valorar a tabela de similaridade é um contexto difícil. Associar a similaridade de um caso já existente para solucionar um problema ainda desconhecido exige que os especialistas humanos possam construir novas soluções hipotéticas, levando em consideração suas experiências, o curso das ações e possíveis consequências.

Para encontrar casos similares na base de casos é preciso definir quais atributos são necessários para realizar a comparação entre um caso armazenado e a situação do problema atual (caso atual). Na Tabela 4 apresenta-se a definição dos atributos utilizados para a determinação de casos adequados para comparação, denominados índices. Os índices de um caso são os conjuntos de seus atributos que permitem diferenciar um caso dos demais, e identificar casos úteis para um problema. O atributo cujo valoré Não definidoindica a inexistência de valor. Dessa forma, o sistema ignora esse atributo para a definição do conjunto de índices que representa o caso.

Page 145: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 4 | Gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas 145

Tabela 4. Definição dos valores por atributos.

nome do Atributo Valores

Produto Não definido/Produtos/Clientes

Marca Não definido/Amanco/Brastemp/Cadence

Sazonalidade Não definido/Sim/Não

Venda a Crediário Não definido/Sim/Não

Forma de Pagamento Não definido/À Vista/A Prazo

Atingiu Metas Não definido/Sim/NãoFonte: URNAU (2011).

O processo de recuperação dos casos utiliza a métrica do vizinho mais próximo. Para cada atributo pode-se obter um resultado de medida da distância entre o novo problema e os casos já registrados, possibilitando a cada atributo possuir um peso diferenciado, deter-minando a importância do atributo para os resultados. O cálculo da função de similaridade corresponde ao somatório (de 1 a n, sendo n o número de atributos) da multiplicação entre a similaridade dos atributos (i)do novo caso (N) com os armazenados na base (F) e o seu peso (W). A normalização do resultado calculado é determinada através da divisão do valor total da similaridade pelosomatório dos pesos dos atributos. Esses pesos são determinados pelo usuário no momento da consulta. Dessa forma, utilizou-se a métrica de similaridade do vizinho mais próximo ponderado (QUEL, 2006), conforme é apresentada na Equação 1.

A partir da modelagem dos casos, a ferramenta de RBC foi desenvolvida, conforme a Figura 7.

(Equação 1)

Page 146: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

146 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

Figura 7. Tela principal - Sistema de RBC.Fonte: URNAU (2011).

A Figura 7 apresenta a tela principal do sistema que permite ao usuário ter acesso às opções de cadastrar os casos, realizar a recuperação dos casos, obter informações sobre os recursos do software e visualizar/imprimir relatórios de controle. Essas opções se encontram nos botões situados na barra superior da tela.

Ao selecionar a opção “Problema (novo caso)” é apresentada ao usuário a tela “Rodar o Sistema em Busca de Casos”, apresentada na Figura 8. As opções de seleção desta tela estão divididas nos seguintes grupos, “Lista de Atributos”, “Peso dos Atributos”, um grupo de botões com possibilidade de criar novos casos e adaptar casos já criados.

Os atributos no grupo “Lista dos Atributos” referem-se aos campos definidos nos casos, os valores que cada atributo pode assumir também correspondem aos valores previamente cadastrados nos casos. A escolha por atribuir um valor ou não a um atributo é relativo ao interesse de busca que o usuário pretende fazer. Somente o campo “Quantidade de Casos a Recuperar” é definido pelo usuário para que o sistema retorne a quantidade de casos do seu interesse.

Page 147: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 4 | Gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas 147

Figura 8. Tela de consulta de casos.Fonte: URNAU (2011).

No grupo “Peso dos Atributos”, o usuário pode utilizar esses campos para atribuir um valor entre zero (0) e dez (10) para determinar um grau de importância para determinado atributo. Sendo zero o valor sem importância e dez o valor de maior importância.

Na Figura 8, o botão “Similaridade” equivale ao processo de recuperação. Nesse momento, o sistema utiliza as informações selecionadas para apresentar os casos de maior similaridade.

A descrição dos casos, juntamente com as soluções ou resultados alcançados, permite aos gestores analisarem o problema descrito no momento da sua ocorrência através das consultas realizadas no sistema. Nesse ato da consulta, os gestores estão deparando-se com certas dificuldades perante um determinado problema do seu dia a dia, esse confronto pode fazer fluir a análise para a solução de problemas. A ferramenta desenvolvida permite um ambiente de trabalho que requer interatividade, conhecimento, compartilhamento, competitividade e excelência, quebrando o paradigma do individualismo antes existente, e demonstrando na prática a ideia de que todos devem incentivar o reuso do conhecimento disponível.

Page 148: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

148 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

4. CENÁRIOS E PRÁTICAS PARA GESTÃO DO CONHECIMENTO

A ideia de transformar o conhecimento em ativos intelectuais e conectar as pessoas aos conhecimentos necessários pode ser explorada de diversas formas (KIDWELL, VANDER LINDE e JOHNSON, 2000). Esta seção apresenta na prática duas formas de se benefi ciar da gestão do conhecimento. A primeira descreve um cenário que analisa os processos de gestão de conhecimento propostos por Probstet al. (2002) segundo a percepção de gestores de uma empresa do setor calçadista. A segunda corresponde à prática que investiga a utilização de objetos de aprendizagem como recurso capaz de dar suporte à disseminação e retenção do conhecimento.

4.1. Um a análise sobre processos de gestão do conhecimento presentes em uma empresa do setor calçadista segundo a percepção dos gestores

A análise do processo de gestão do conhecimento na empresa do setor calçadista baseou-se no modelo descrito em Probstet al. (2002), que propõemoito processos essenciais para a gestão do conhecimento: Identifi cação, Aquisição, Desenvolvimento, Partilha/Distribuição, Utilização e Retenção, que devem ser associados a metas e avaliação de conhecimento, conforme Figura 9.

Figura 9. Processos essenciais à gestão do conhecimento.Fonte: adaptado de Probst et al. (2002).

Page 149: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 4 | Gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas 149

A análise iniciou pela aplicação de um questionário a 38 pessoas que ocupam cargos de gestão na empresa do setor calçadista. Utilizou-se a escala de Likert para demarcar os processos de gestão do conhecimento, com as alternativas: “concordam totalmente”, “concordam parcialmente”, “não concordam nem discordam”, “discordam parcialmente” e “discordam totalmente”.

Tal modelo foi escolhido em virtude de ser possível entender os processos que envolvem a gestão do conhecimento, apresentando a ideia de continuidade do processo através da avaliação das metas ou objetivos alcançados.

No processo de Identificação, buscou-se verificar se em casos de dúvidas, queixas e sugestões o funcionário sabe a quem se dirigir. Os resultados foram: 58% concordaram totalmente; 21,1% concordaram parcialmente; 5,3% não concordaram nem discordaram; 10,3% discordaram parcialmente e 5,3% discordaram totalmente. Isso demonstra que a maioria das pessoas que exerce cargo de gerência possui uma percepção plausível sobre quem conhece internamente a empresa.

Para a gestão do conhecimento esse fator é fundamental, pois tão importante quanto ter conhecimento é saber onde encontrá-lo. Davenport e Prusak (2003, p.47) alegam que o interesse na gestão do conhecimento decorre do fato de que as organizações carecem de informações sobre onde está o conhecimento e, portanto, têm dificuldade de chegar até ele e usá-lo. Saber a quem se dirigir no sentido de esclarecer eventuais dúvidas pode contribuir para potencializar as pessoas em busca de questionamentos, otimizandoo tempo para adquirir a informação e conhecimento almejados.

Relacionado ao processo de Aquisição, foi investigado se pessoas contratadas por tempo limitado enriquecem o ambiente de conhecimentos da empresa. Os dados demonstraram que: 10,5% concordaram totalmente; 36,8% concordaram parcialmente; 36,8% não concordaram nem discordaram; 10,5 discordaram parcialmente e 5,4% discordaram totalmente. Percebe-se que os gestores da organização ainda não enxergam nas pessoas que são contratadas por tempo limitado uma abertura para novas ideias e entrantes positivos para a empresa. Assim, é preciso esclarecer que pessoas externas à organização não representam ameaça e devem ser encaradas como fontes de novas perspectivas de conhecimento.

Referente ao processo de Desenvolvimento, o objetivo foi analisar a existência de uma forte integração e comunicação na equipe de trabalho. Os resultados apontaram que 26,3% concordaram totalmente; 39,5% concordaram parcialmente; 7,9% não concordaram nem discordaram; 15,8% discordaram parcialmente e 10,5% discordaram totalmente. A predominância de 65,8% de concordância na existência de integração e comunicação entre os membros de um grupo afetadiretamente o desenvolvimento das atividades, favorecendo consequentemente a discussão e troca de experiências entre a equipe.

Nesseprocesso, Probstet al. (2002, p.120) salientam que somente onde existe interação e comunicação, transparência e integração pode-se fazer o conhecimento individual tornar-

Page 150: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

150 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

se conhecimento coletivo, que por sua vez tem efeitos sobre o conhecimento individual. A aproximação, traduzida em comunicação e interação, é que possibilita à empresa em análise a transformação entre os conhecimentos.

Quanto ao processo de Partilha e Distribuição, foi questionado se a missão e a visão são do conhecimento de todos: 55,1% concordaram totalmente; 29% concordaram parcialmente; 5,3% não concordaram nem discordaram; 5,3% discordaram parcialmente e 5,3% discordaram totalmente. Assim pode-se inferir que a empresa tem consciência do poder que conferem à missão e à visão quando são do conhecimento de todos os gestores. Tal conhecimento garante aos gestores que ao tomarem decisões privilegiem as principais diretrizes que a organização estabeleceu.

Nesse contexto, Nonaka e Takeuchi (2008) evidenciam que em uma empresa criadora do conhecimento cabe à alta hierarquia formular critérios de justificativa de acordo com a intenção organizacional expressa em termos de estratégia ou visão. Dessa forma, a missão e a visão deverão funcionar como norteadores para que os gestores possam enxergar na empresa em que trabalham seus principais valores e ideais.

Referente ao processo de Utilização foi abordada a questão dos relatórios serem simples, concisos e fáceis de entender: 15,8% concordaram totalmente; 52,6% concordaram parcialmente; 13,2% não concordaram nem discordaram; 3,2% discordaram parcialmente e 5,2% discordaram totalmente. Observa-se que em geral atendem às expectativas daqueles que se utilizam desse instrumento.

A respeito desse processo, Probstet al. (2002) comenta que os sistemas de informação da gerência não são usados ou os relatórios não são lidos porque são mal planejados para atender às necessidades dos usuários, sendo longos ou não suficientemente práticos. Assim, a própria forma como os relatórios são apresentados para os usuários tem um impacto no que se refere ao interesse ou desinteresse para leitura e até mesmo entendimento.

Quanto ao processo de Retenção, foi questionado se a demissão ou saída voluntária de um funcionário traz uma perda de memória para a empresa: 21% concordaram totalmente; 31,6% concordaram parcialmente; 13,2% não concordaram nem discordaram; 21% discordaram parcialmente e 13,2% discordaram totalmente. O percentual de 52,6% de concordância para a sensação de perda com a saída de um funcionário revela que novas alternativas devem ser traçadas no sentido de evitá-la ou torná-la menos pesarosa. Isso acontece porque todo o investimento em capacitação e convívio social é também perdido com a saída de um funcionário, gerando a perda de conhecimentos.

Probstet al. (2002) revelam que muitas organizações perdem know-how valioso ao subestimar os funcionários por meio de uma política de gestão enxuta. A saída inesperada pode levar parte da memória da empresa, deixando um vazio em funções e atividades que antes eram de responsabilidade de um único funcionário, restando à organização medidas para que o conhecimento não fique retido a este.

Page 151: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 4 | Gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas 151

No processo de Metas foi investigado se há convergência de interesses entre funcionários e alta administração: 18,4% concordaram totalmente; 26,3% concordaram parcialmente; 34,2% não concordaram nem discordaram; 13,2% discordaram parcialmente e 7,9% discordaram totalmente. A ausência do interesse em se identificar pontos comuns a funcionários e gestores estabelece barreiras à criação do conhecimento entre as pessoas, influenciando no possível aparecimento de conflitos internos.

Nesseprocesso, Probstet al. (2002, p.58) argumentam que os objetivos de conhecimento dos indivíduos sempre têm algum significado no equilíbrio de poder entre o funcionário e a organização, pois os interesses dos dois nem sempre são compatíveis. Deve-se buscar a compatibilização e a unificaçãodos interesses dos funcionários e da alta administração.

Já no processo de Avaliação, buscou-se elencar se as prioridades estratégicas são cumpridas: 10,5% concordaram totalmente; 63,2% concordaram parcialmente; 18,4% não concordaram nem discordaram e 7,9% discordaram parcialmente. Percebe-se que a taxa de cumprimento das atividades estratégicas da empresa pode ser melhorada.

Para Probstet al. (2002), se as decisões estratégicas forem tomadas sem considerar seus efeitos sobre o conhecimento, poderá haver uma indecisão no desenvolvimento de novo conhecimento técnico, acarretando possivelmente a perda de habilidades e conhecimentos existentes. A fim de evitar esse acontecimento, Davenport e Prusak (2003) alertam para a consciência compartilhada dos objetivos e estratégias da empresa que orientam os indivíduos a focarem seus esforços em um objetivo corporativo, fazendo com que eles se sintam parte de um objetivo maior.

Para efeito de ilustração apresentam-se no Gráfico 1 as médias para cada processo abordado na empresa, com base no modelo de Probstet al. (2002).

Gráfico 1. Média dos Itens abordados com base no processo de Probst et al. (2002).

Page 152: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

152 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

Observa-se que o processo de identificação obteve a maior média (4,39), indicando que os gestores sabem elencar onde se encontra o conhecimento necessário à organização. Por outro lado, o processo de retenção obteve a menor média, (3,26), significando que os gestores precisam rever meios para retenção do conhecimento na organização. A média de todos os processos foi maior que 2,5 sinalizando como aspecto positivo para a gestão do conhecimento a análise dos processos conforme modelo estudado.

4.2. Uso de Objetos de Aprendizagem na Gestão do Conhecimento

O uso de objetos de aprendizagem pode ser uma prática eficaz de gestão do conhecimento, capaz de disseminar técnicas e procedimentos, possibilitando que colaboradores aprendam “a qualquer hora, em qualquer lugar”.

Diferentes definições de objetos de aprendizagem têm sido adotadas por instituições ou autores, como mostra a Tabela 5. A def inição proposta pelo IEEE (2002) (InstituteofElectricalandElectronicsEngineers) no padrão IEEE Standard for Learning ObjectMetadata (1484.12.1-2002) é genérica, como criticam Johnson e Hall (2007), que apresentaram sua própria definição, um pouco mais restritiva no sentido de utilização de objetos digitais com potencial de reutilização, mas ainda genérica. Dessa forma, adota-se uma definição própria (CANTO et al., 2011), baseada na definição de Meyer (2008): Objeto de Aprendizagem é qualquer recurso digital utilizado nos processos de ensino-aprendizagem suportado por TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação).

Tabela 5.Conceitos de Objetos de Aprendizagem.

Autor Definição

IEEE (2002)Objeto de aprendizagem é qualquer entidade, digital ou não digital, que possa ser utilizada, reutilizada ou referenciada durante a aprendizagem suportada por tecnologia.

Johnson e Hall (2007) Objeto de Aprendizado é qualquer Recurso Digital de Aprendizado que possa ser Reutilizado.

Meyer (2008) Recurso de Aprendizado é um recurso digital utilizado para fins de e-learning.

A utilização de objetos de aprendizagem para fins de disseminação do conhecimento necessita que se adotem práticas de projeto associadas ao uso de TICs nas áreas de educação e capacitação de pessoal. Como em qualquer projeto, a clara definição do escopo é um pré-requisito para as demais etapas e corresponde à especificação de Metas do Conhecimento, conforme o modelo de Probstet al.(2002). Bloom (1956) propõe uma taxonomia de objetivos educacionais considerando três domínios: Cognitivo, Psicomotor e Afetivo, que se referem a conhecimentos, habilidades e atitudes, respectivamente.

Page 153: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 4 | Gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas 153

Geralmente os objetivos educacionais contemplam os três domínios, mas frequentemente há um foco principal. Por exemplo, quando se deseja desenvolver uma determinada habilidade operacional, os objetivos educacionais estão centrados no domínio psicomotor; nesse caso os objetos de aprendizagem poderão ser simuladores ou laboratórios virtuais.

Objetos de aprendizagem que tenham por objetivo desenvolver atitudes encontram-se no domínio afetivo e deverão trabalhar com um sistema de recompensas que pondere o fato das emoções possuírem uma forte base cultural (BOEHNER et al., 2007), definindo processos de gestão de mudanças que podem variar de região para região, tendendo a ser mais eficazes quando sua especificação contemplar as culturas locais.

No domínio cognitivo deve-se ter presente a necessidade de um aprendizado significativo (AUSUBEL, 2003), respeitando não apenas as boas práticas de projetos de objetos de aprendizagem, mas também a motivação para o aprendizado.

O estudo de caso apresentado nesta seção foi realizado no curso de Engenharia Elétrica de uma instituição de ensino superior com o objetivo de comparar a eficácia de objetos de aprendizado autônomos com aulas teóricas expositivas no domínio cognitivo, para capacitar estudantes para desenvolver algoritmos que envolvam sistemas numéricos.

O objeto de aprendizagem foi baseado no roteiro avaliado e melhorado dessas aulas teóricas, a partir da observação de que alguns conteúdos não foram adequadamente explicados (cognitivo) eda ocorrência de situações em que houve queda na motivação dos estudantes (afetivo).

Tão importante quanto à qualidade do roteiro, são as técnicas e práticas utilizadas: não basta replicar o roteiro da aula teórica; é preciso conhecer os potenciais e limitações da tecnologia de informação para obter eficácia educacional. Por exemplo, a adoção de princípios de projeto multimodal (MAYER, 2005; MORENO e MAYER, 2007) permite que se explorem os recursos multimídia de forma coerente com a arquitetura humana, que possui canais independentes para aquisição e processamento de informações verbais e não verbais (VAN MERRIENBOER; SWELLER, 2010), atendendo a estudantes que possuam diferentes estilos de aprendizagem (FELDER, 2005; RIDING et al., 1999).

O uso de objetos de aprendizagem possui ainda algumas possibilidades peculiares, para as quais não há equivalente em apresentações presenciais expositivas ministradas para turmas grandes: existe a possibilidade de condicionar a continuidade do conteúdo à execução de testes, que são corrigidos instantaneamente. Trata-se de um recurso motivacional no contexto do público alvo para o qual o objeto foi desenvolvido. Outra funcionalidade peculiar dos objetos de aprendizagem é a possibilidade de ajustar o ritmo de apresentação dos conteúdos ao ritmo de aprendizagem de cada estudante, minimizando as possibilidades de sobrecarga cognitiva.

O estudo de caso envolveu 66 alunos dos cursos de Engenharia Elétrica e Engenharia de Controle e Automação, que foram divididos aleatoriamente entre dois grupos:

Page 154: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

154 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

• Grupo OBJ: aprendizado com uso do objeto de aprendizagem, sem comparecimento à aula presencial;

• Grupo PRS: aprendizado na aula presencial expositiva, sem acesso ao objeto de aprendizagem.

Após a apresentação do conteúdo para os dois grupos, realizou-se uma avaliação sobre o tema. A Tabela 6 mostra os resultados obtidos, considerando-se uma segunda segmentação em dois grupos, realizada conforme o desempenho do estudante no curso:

• ADJ: estudantes que possuam, no curso, conceito médio ‘B’ ou superior;• NADJ: estudantes que possuam, no curso, conceito médio ‘C’ ou inferior.

Tabela 6. Valores de Desempenho.

Modalidade

OBJ PRS

Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão

AjusteADJ 9,3 0,9 8,4 1,5

NADJ 7,8 2,9 5,0 3,7

Constatou-se que o uso do objeto de aprendizagem em substituição à aula presencial proporcionou um melhor desempenho aos estudantes. Embora os resultados não possam ser generalizados, eles sinalizam que o uso de objetos de aprendizagem pode ser uma alternativa eficaz em termos educacionais, mas também em termos de retenção e disseminação do conhecimento.

Nesta seção, o cenário e prática apresentados investigaram diferentes questões relacionadas à gestão do conhecimento. No primeiro, dos oito processos de gestão do conhecimento propostosno modelo, três foram considerados merecedores de maior atenção, aquisição, retenção e metas. No processo de aquisição, a adaptação contribui para fusão e criação de novos conhecimentos. No processo de retenção, devem-se buscar alternativas para armazenar o conhecimento internamente gerado. No processo de metas, o estreitamento de relações contribui para minimização de conflitos internos.

No segundo, a prática apresentadainvestigou o potencial de uso de objetos de aprendizagem para disseminação e retenção do conhecimento. Os resultados obtidos mostraram que estudantes que utilizaram o objeto de aprendizagem tiveram um desempenho superior àqueles que assistiram aulas presenciais expositivas. A investigação realizada no contexto universitário pode seradaptada para o ambiente empresarial, de forma queobjetos de aprendizagem possam ser utilizados como uma alternativa de transformação do conhecimento tácito em conhecimento explícito e como um recurso para a memória organizacional.

Page 155: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 4 | Gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas 155

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma forma de minimizar o distanciamento entre o conhecimento tácito e explícito, foco de discussão deste capítulo, é utilizar ferramentas computacionais e métodos para socialização e representação das experiências, e criação da memória organizacional.Compartilhar experiências requer interatividade, conhecimento ecooperação, de forma que todos possam contribuir para a memória organizacional. Paraamenizar esse desafio, foi propostoo uso de ferramentas de apoio, cenários e práticas para gestão do conhecimento.

Uma ferramenta para a representação e a criação de memória organizacional apresentada neste capítulo é a de raciocínio baseado em casos, que possibilita aos gestores analisarem o problema descrito através dos casos, auxiliando na tomada de decisão.Ao compartilhar casos, os gestores fazem associações futuras às possíveis situações que possam ocorrer, permitindo uma ágil lembrança de cenários passados. Para socialização, o método de storytelling permite que os envolvidos representem e avaliem a compreensão dos processos da organização, a fim de melhorar a capacidade de gestão do conhecimento.

A partir de ações que visem estimular a gestão do conhecimento, foramdiscutidaspráticas que permitem identificar áreas em que o conhecimento não é devidamente percebido, nem propagado.Como exemplo apresentou-se o uso de modelo de gestão do conhecimento, que valoriza as ações do dia a dia da empresa, e os objetos de aprendizagem, como recurso eficaz para compartilhamento de conhecimentos entre colaboradores.

Em relação à gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas é importante ressaltar que para além de ferramentas e práticas, outros aspectosdevem ser considerados: familiarização com as atividades desenvolvidas (conversas e consulta a materiais na forma de manuais); envolvimento das pessoas que conhecem o desenvolvimento das atividades (experiência); modelagem do conhecimento para compreensão das atividades (uso de técnicas de inteligência artificial); desenvolvimento de sistemas computacionais para a disseminação do conhecimento a setores e pessoas da empresa.

Agradecimento

Coordenadora e relatora agradecema presença e participação de todos na Sessão Dirigida Gestão do Conhecimento como Ferramenta de Competitividade nas Empresas, em especial Cintia Blaskovsky (mestranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção na Escola de Engenharia de São Carlos – USP) e Sandra Miranda Neves (Professora da Engenharia de Produção da Unifei – Universidade Federal de Itajubá, Campus Itabira). Também agradecemas instituições representadas pelos autores, coordenação e relatora: UNISC, FADERGS, USP, UFPB, UFRGS.

Page 156: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

156 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

6. REFERÊNCIAS

ALAVI, M.; LEIDNER, D. E. Review: Knowledge Management and Knowledge Management Systems: Conceptual Foundations and Research Issues. MIS Quarterly, v.25, n.1, p.107, mar 2001.

ASSIS, L. F.; PIETROBON, C. A. M. Representação do Conhecimento gerado no Processo de Desenvolvimento de Software através de Storytelling. In: V SBSI (Simpósio Brasileiro de Sistemas de Informação). Brasília, 2009.

AUSUBEL, D. P. Aquisição e retenção de conhecimento: uma perspectiva cognitiva. Lisboa: Plátano, 2003.

BLOOM, B.S. Taxonomy of educational objectives: the classification of educational goals: New York: Longman, 1956. 207 p. Handbook I, cognitive domain.

BOEHNER, K et al. How emotion is made and measured. In: International Journal of Human-Computer Studies, v.65, n.4, p.275-291, abr 2007.

CANTO, A. B.; TAROUCO, L. M. R.; LIMA, J. V.: Metaobjetos de Aprendizagem. RENOTE – Revista Novas Tecnologias na Educação. Porto Alegre: Centro Interdisciplinar de Novas Tecnologias na Educação (CINTED - UFRGS), v.9, n.2, 2011. Disponível em: < http://seer.ufrgs.br/renote/article/view/25107>. Acesso em 23/06/2012.

DAVENPORT, T. H.; PRUSAK, L. Conhecimento empresarial. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

DORFEY, D. E. Gestão do Conhecimento Aplicada à Disponibilização de Fluxos de Trabalho com a Técnica de Storytelling, Santa Cruz do Sul, 2009. Relatório de Estágio para Conclusão de Curso (Secretariado Executivo). Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, 2009.

ERAUT, M. Learning from other people in the workplace. Oxford Review of Education, v.33, n.4, p. 403-422, set 2007.

FELDER, R. M.; BRENT, R. Understanding student differences.Journal of Engineering Education, [s.l.], n.94, v.1, p.57-72, 2005.

Page 157: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Capítulo 4 | Gestão do conhecimento como ferramenta de competitividade nas empresas 157

GANASCIA, J. G. Inteligência Artificial. São Paulo: Editora Ática, 1997.

IEEE.Standard for Learning Object Metadata, 2002.Disponível em:<http://ltsc.ieee.org/wg12/>. Acessoem 27/7/2012.

JOHNSON, K.; HALL, T. Granularity, Reusability and Learning Objects. In: KOOHANG, Alex; KIDWELL, J.J., VANDER LINDE, K. M., JOHNSON, L.S. Applying Corporate Knowledge Management Practices in higher education. EducauseQuartery.n.4, p.28- 33, 2000.

KING, W.; CHUNG, T.; HANEY, M. Knowledge Management and Organizational Learning. Omega, v.36, n.2, p.167-172, abr 2008.

KOLODNER, J. Case-based reasoning. San Mateo: Morgan Kaufmann Publishers, 1993.

MAYER, R. E. Introduction to Multimedia Learning. In: MAYER, R. E. (Ed.). The Cambridge Handbook of Multimedia Learning. New York: Cambridge University Press, p.1-18, 2005.

MEYER, M. Modularization and Multi-Granularity Reuse of Learning Resources. 2008. p.19-23. Disponível em: <http://tuprints.ulb.tu-darmstadt.de/1156/1/Marek_Meyer_genehmigte_Dissertation.pdf>. Acessoem 31/3/2011.

MORENO, R.; MAYER R. Interactive multimodal learning environments. Educational Psychology Review,[n.l.], v.19, p.309–326, 2007.

NEVO, D. Developing effective knowledge management system. [S.l.]: University of British Columbia, 2003.

NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de Conhecimento na Empresa. São Paulo: Campus, 1997. p.385

NONAKA, l.; TAKEUCHI, H. A empresa criadora de conhecimento: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. 16 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

PROBST, G.; RAUB, S.; ROMHARDT, K. Gestão do conhecimento: os elementos construtivos do sucesso. Porto Alegre: Bookman, 2002.

QUEL, L. F. Gestão de conhecimentos e os desafios da complexidade nas organizações. São Paulo: Saraiva, 2006.

Page 158: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

158 Tópicos emergentes e desafios metodológicos em Engenharia de Produção:Casos, experiências e proposições - volume vi

RIDING, R.; SMITD, E. S. Cognitive style and instructional preferences.Instructional Science.n.27, p.355–371, 1999.Disponível em: <http://www.ncu.edu.tw/~ncume_ee/nsc88cre.ee/nscdsg/nscdsg96-sadler_smith-riding-cognitive_style_instructuctional_preference.pdf>. Acessoem 17/4/2012.

RUS, I.; LINDVALL, M. Knowledge management in software engineering.IEEE Software, v.19, n.3, p.26-38, mai 2002.

SANTOS, A.R. dos. Metodologia Científica: a construção do conhecimento. Rio de Janeiro: DP&A editora, 2000.

VAN MERRIENBOER, JJG; SWELLER, J: Cognitive load theory in health professional education: design principles and strategies. Medical Education, 44:85-93, 2010. Disponível em: http://studmed.unibe.ch/infos/files/mme_11_CLandHealthEducation.pdf. Acesso em 9/12/2012.

URNAU, E. Sistema de Raciocínio Baseado em Casos como Auxílio ao Processo de Tomada de Decisão Estratégica. Universidade de Santa Cruz do Sul, 2011. (Trabalho de Dissertação)

WALSH, J.; UNGSON, G. OrganizationalMemory. The Academy of Management Review, v.16, n.1, p.57, jan 1991.

WANGENHEIM, C. G.von WANGENHEIM, A. von. Raciocínio Baseado em Casos. São Paulo: Manole Ltda., 2003.

Page 159: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção
Page 160: TÓPICOS EMERGENTES E DESAFIOS METODOLÓGICOS EM ENGENHARIA DE … · A Associação Brasileira de Engenharia de Produção, ABEPRO, entrega à comunidade de engenharia de produção

Ficha técnica

Organizadores: Vanderlí Fava de Oliveira Vagner Cavenaghi Francisco Soares Másculo

Criação da capa: Ducom

Projeto Gráfico e diagramação: Renato Valderramas

Revisão: Júlia de Lucca

Impressão: Gráfica Joarte (Bauru - SP)

Tiragem: 1.000 exemplares