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REGIME JURÍDICO DOS CREDORES DO FALIDO
1. CREDORES ADMITIDOS
A falência, sendo processo de execução concursal de devedor empresário, compreende
todos os credores do falido, civis ou comerciais. A lei, no entanto, afasta da falência
alguns dos credores, tendo em vista os interesses do conjunto deles. Essas exceções
estão previstas no art. 5º, da LF, e dizem respeito aos seguintes casos:
a) Credor por obrigações a título gratuito (inc. I); e
b) Crédito por despesas individualmente feitas para ingresso na massa falida
subjetiva, salvo custas em litígio com esta (inc. II).
Os credores terão os seus créditos verificados, na forma e prazo já examinados. A partir
do início da verificação dos créditos e até o fim do processo falimentar, ou antes se
houver decisão judicial que não o admita na massa (julgamento de declaração ou
impugnação de crédito) ou dela o exclua (julgamento de ação rescisória do art. 19 da
LF), tem o credor o direito de:
a) Intervir, como assistente, em qualquer ação ou incidente em que a massa seja
parte ou interessada;
b) Fiscalizar a administração da massa;
c) Requerer e promover, no processo de falência, o que for do interesse dos
credores, sendo indenizado, pela massa, pelas despesas que fizer na defesa
deste interesse geral se ela auferiu vantagem e até o limite desta;
d)Examinar, sempre que desejar e independentemente de autorização judicial,
os livros e demais documentos da massa.
Os credores podem constituir procurador para representa-los na falência. Se o
mandatário for advogado, basta a outorga de procuração com a cláusula ad judicia. A
procuração com a cláusula ad negotia também habilita o outorgado a representar o
credor. Este, no entanto, somente poderá praticar diretamente os atos que o outorgante
poderia também, como a declaração tempestiva de crédito. Não poderá, evidentemente,
praticar os atos privativos de advogado, como peticionar, recorrer, impugnar os créditos
etc. Os credores debenturistas serão representados pelo agente fiduciário (LSA, art. 68,
§ 3º, d). Caso este não exista, os debenturistas se reunirão em assembleia para eleger o
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seu representante. São estes os únicos credores que podem fazer a declaração coletiva
de crédito, dispensando o seu representante da apresentação de todos os títulos originais.
2. EFEITO S DA FALÊNCIA QUANTO AOS CREDORES
A sentença declaratória da falência produz quatro efeitos principais em relação aos
credores: a) formação da massa falida subjetiva; b) suspensão das ações individuais
contra o falido (art. 6º); c) vencimento antecipado dos créditos (art. 77); d) suspensão da
fluência dos juros (art. 124). A massa falida subjetiva é o sujeito de direito
despersonalizado voltado à defesa dos interesses gerais dos credores de um empresário
falido.
A massa falida objetiva é o conjunto de bens arrecadados do falido. Não se confunde
com a comunhão de interesses dos credores (massa falida subjetiva), embora a lei
chame está e aquele, simplesmente, por massa falida. A suspensão das ações individuais
dos credores contra o falido é consequência da sentença declaratória da falência, que,
como já acentuado, dá início ao processo de execução concursal do devedor empresário.
Nesse sentido, seria despropositado que os credores pudessem exercer individualmente
os seus créditos.
Ações ou execuções que não se suspendem com o advento da sentença de quebra. São
as seguintes:
a) As ações que versem sobre quantia ilíquida, coisa certa, prestação ou
abstenção de fato (art. 6º, § 1º), inclusive reclamações trabalhistas; e
b) As execuções fiscais fundadas em certidão da dívida ativa para cobrança de
crédito tributário, não tributário ou para fiscal (CTN, art. 187).
3. CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS
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Os credores do falido não são tratados igualmente. Classificam-se, portanto, os créditos,
segundo a ordem de pagamento na falência, nas seguintes categorias:
a) Os créditos extra concursais, que compreendem os definidos no art. 84 da
LF, por exemplo, a remuneração do administrador judicial, as despesas com
a arrecadação e administração dos bens do falido, as custas judiciais, bem
como os correspondentes às restituições em dinheiro alicerçadas no art. 86
da LF;
b) Créditos por acidentes de trabalho e créditos trabalhistas, compreendendo
toda a sorte de pagamentos devidos pelo empresário aos seus empregados,
sendo irrelevante alguma distinção que se lhes faça para os fins de direito do
trabalho (CLT, art. 449, § 1º); nessa mesma ordem de classificação,
enquadrou o legislador os créditos dos representantes comerciais (Lei n.
4.886/65, art. 44, incluído pela Lei n. 8.420/92);
c) Créditos com garantia real, até o limite do valor do bem gravado (art. 83, II);
d) Dívida ativa, de natureza tributária ou não tributária, excetuadas as multas
(artigos. 186 do CTN e 4º, § 4º, da Lei n. 6.830/80; LF, art. 83, III);
e) Créditos com privilégio especial (art. 83, IV);
f) Créditos com privilégio geral (art. 83, V);
g) Créditos quirografários (art. 83, VI);
h) As multas contratuais e penas pecuniárias por infração à legislação penal ou
administrativa, incluindo as tributárias (art. 83, VII); e
i) Créditos subordinados (art. 83, VIII).
A preferência dos créditos trabalhistas (derivados da relação empregatícia) está limitada
ao valor de 150 salários mínimos por credor.
Os chamados créditos para fiscais, ou seja, as contribuições para entidades privadas que
desempenham serviço de interesse social, como o SESC, SESI etc., ou para programa
social administrado por órgão do governo, como o PIS e o FGTS, gozam da mesma
prioridade da dívida ativa federal. São de credores com privilégio especial: a) o credor
por benfeitorias necessárias ou úteis sobre a coisa beneficiada (CC, art. 964, III); b) o
autor da obra, pelos direitos do contrato de edição, sobre os exemplares dela na massa
do editor (CC, art. 964, VII); c) os credores titulares de direito de retenção sobre a coisa
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retida (LF, art. 83, IV, c); d) os subscritores ou candidatos à aquisição de unidade
condominial sobre as quantias pagas ao incorporador falido
(Lei n. 4.591/64, art. 43, III); e) o credor titular de Nota de Crédito Industrial sobre os
bens referidos pelo art. 17 do Dec.-lei n. 413/69; f) crédito do comissário (CC, art. 707);
g) os segurados e beneficiários credores de indenização ajustada ou a ajustar sobre as
reservas técnicas, fundos especiais ou provisões da seguradora ou resseguradora falidas
(Dec.-lei n. 73/66, com a redação dada pela LC n. 126/2007) e outros.
Os créditos quirografários correspondem à grande massa das obrigações do falido. São
dessa categoria os credores por títulos de crédito, indenização por ato ilícito (salvo
acidente de trabalho), contratos mercantis em geral etc. Após o pagamento desses
créditos, restando ainda recursos na massa, deve o administrador judicial atender às
multas contratuais e penas pecuniárias por infração à lei, inclusive multas tributárias.
Por crédito subordinado (ou “subquirografário”) entende-se aquele que é pago somente
após a satisfação dos credores sem qualquer garantia, prevendo a lei duas hipóteses: a)
os créditos dos sócios ou administradores sem vínculo empregatício (LF, art. 83, VIII,
b); b) crédito por debêntures subordinadas emitidas pela sociedade anônima falida
(LSA, art. 58, § 4º). Quando o falido for sociedade de crédito imobiliário, os titulares de
letras imobiliárias de sua emissão têm direito de preferência inclusive sobre a dívida
ativa, por força de regra excepcional constante do art. 44, § 2º, da Lei n. 4.380, de 1964.
Por força das exceções ao princípio da universalidade do juízo falimentar, ou das
referentes à suspensão das ações individuais contra o falido, pode ocorrer de um credor
ser satisfeito com inobservância da ordem estabelecida. Nesta hipótese, terá o preterido
um direito creditício contra aquele que recebeu indevidamente, no valor do que lhe
caberia, segundo a natureza de seu crédito e as forças da massa.