Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita FilhoCampus de So Jos do Rio PretoCurso: Bacharelado em Letras com Habilitao em TradutorDisciplina: Literatura de Expresso Francesa IDocente: Maria Cludia RodriguesDiscente: Yasmin Alexandra de Sales Teles da Fonseca

1. Matire de Rome uma das trs temticas da literatura medieval do sculo XI e XII. Esse termo foi cunhado por Jean Bodel (1165-1210), um poeta da Frana medieval, que tambm classificou os demais ciclos literrios de sua poca. Nesse conjunto temtico, incluem-se obras literrias, principalmente de origem francesa, que se baseiam na mitologia grega e romana, e em personagens histricos da antiguidade clssica, sobretudo Alexandre, o Grande, e Jlio Csar. Desse modo, essas figuras histricas se tornaram lendas no imaginrio medieval, misturando-se aos mitos. Nestas obras literrias predominava a reescritura de romances originais, aos quais foram acrescentados torneios, batalhas e histrias de amor. Suas narativas continham elementos de tradies externas e passagens burlescas. H tambm elementos anacrnicos como, por exemplo, soldados romanos e gregos que eram representados como irmandades que seguiam a conduta do amor corts medieval, sendo muito parecidos com os cavaleiros descritos nas chansons de geste. Os principais e mais conhecidos romances do Matire de Rome so: Le roman d'Alexandre, sobre as conquistas de Alexandre, o Grande; Le roman de Thbes, reescritura do mito de Etocles e Polinices; Le roman d'nas, reescritura da histria de Eneias, com base em Eneida de Virgilio; Le roman de Troie.

2. Matire de France, tambm conhecido como Ciclo Carolngio, um conjunto de lendas de carter pico-cavaleiresco, primeiramente transmitidas de forma oral e depois escritas em francs antigo, que tem sua origem nas chanson de geste da literatura medieval. Sua temtica centrada na figura de Carlos Magno e de seus fiis paladinos. Tambm se incluem figuras de outros reis, seus antecessores e sucessores, de modo a constituem uma espcie de grande histria potica do Imprio Carolngio. O resultado uma srie de canes que exaltam os feitos extraordinrios do imperador Carlos Magno e os paladinos da Frana, principalmente Roland (Chanson de Roland), que lutam por ideais grandiosos, tais como a religio, a ptria, o rei e a honra. Originalmente, continha histrias de guerras e proezas militares, concentrando-se em conflitos entre os francos e os sarracenos (ou mouros). Durante o desenvolvimento do gnero, passou-se a acrescentar s histrias elementos fantsticos e mgicos. Bayard, o cavalo mgico, por exemplo, algo que est presente em muitas outras histrias. Bruxos e bruxas aparecem com freqncia como viles, enquanto que os prprios heris eram muitas vezes ajudados por poderes msticos de relquias crists ou por aliados com poderes mgicos. As epopias do Matire de France so divididas em trs ciclos ou gestas, cada um com seus prprios temas e personagens, que dizem respeito s trs famlias de heris. Esta diviso tem suas origens na chanson de geste Girart Viena, de Bertrand de Bar-sur-Aube. Tradicionalmente, classifica-se em: Geste du Roi, que narra os feitos extraordinrios dos personagens da famlia real da Frana, principalmente de Carlos Magno. Chanson de Roland, Mainet, Aspremont e Fierabras fazem parte deste ciclo. Geste de Guillaume d'Orange, ou Cycle de Guillaume de Gellone, tambm chamado de Monglane, que narra as aventuras da linhagem de heris, cujo personagem mais famoso Guilherme de Orange. As epopias desse ciclo se desenvolvem principalmente durante o reinado de Lus I, o Piedoso, retratado como um monarca fraco e covarde que no consegue defender seu reino sem a ajuda de bravos guerreiros da famlia de Guilherme. Neste ciclo, incluem-se Aliscans, La Prise d'Orange, Le Charroi de Nmes, Le Couronnement de Louis e Les Enfances Guillaume. Geste de Doon de Mayence, ou dos bares rebeldes, que narra uma famlia de nobres que muitas vezes enfrentam a ira do rei, com o qual esto em conflito. As chansons mais famosas deste ciclo so Girart de Roussillon, Renaut de Montauban e la Chevalerie Ogier de Danemarche.

3. Matire de Bretagne, ou Ciclo Arturiano, se refere ao conjunto de lendas e obras literrias medievais relacionadas histria da Bretanha e das Ilhas Britnicas. Esses textos tm sua origem temtica nas lendas celtas, sendo caracterizados pela presena de temas maravilhosos com um fundo pago e um misticismo propriamente celta. As histrias mais conhecidas so aquelas centradas no rei Artur e seus Cavaleiros da Tvola Redonda, tema abordado por muitos autores a partir do sculo XII. A maioria dos autores franceses que reescreveram essas lendas se inspiraram em fontes escritas, todas mais ou menos derivadas da Historia Regum Britaniae, escrito em 1138 por Geoffrey de Monmouth. Esse conjunto de lendas sobre Artur e seus cavaleiros apresenta muitos temas cristos que envolvem a destruio da virtude pelas falhas morais de seus personagens, como pode ser observado quando se faz referncia Camelot, geralmente imaginada como uma utopia de virtude cavalheiresca condenada pelas falhas e conflitos de Artur, Sir Lancelot e Mordred, e a busca de uma importante relquia crist, o Santo Graal. H tambm o relacionamento entre os personagens que se baseam na tradio do amor corts, tais como Lancelot e Guinevere ou Tristo e Isolda. Apesar de o Rei Artur ser o foco da Matire de Bretagne, existem relatos de outras figuras menos conhecidas da histria lendria da Gr-Bretanha, que incluem Brutus da Bretanha, Coel Hen, Leir da Bretanha, e Gogue e Magogue. Alguns autores desse ciclo so: Chrtien de Troyes, autor dos romances Le roi Marc et d'Ysalt la blonde (Tristan et Iseult, obra perdida), rec et nide (1170, primeiro romance conservado do autor), Cligs ou la Fausse morte (1176), Lancelot ou le Chevalier de la charrette (1175-1181, concludo por Godefrois de Lagny), Yvain ou le Chevalier au lion (1175-1181), e Perceval ou le Conte du Graal (1182-1190, obra inacabada). Devido a essas produes, Chrtien ganhou os ttulos de "pai do romance arturiano" e "inventor do romance medieval". Marie de France, poeta que escreveu Les Lais (1160-1175) constitudo de doze contos em octossilbicos de rimas planas. O tema principal da obra o amor proibido, como representado em Lai du Chvrefeuille, associado a Tristo e Isolda. Outros contos so: Lai de Yonec, Lai de Frne, Lai du Chaitivel (Le Malheureux), Lai de Lanval (um dos contos estritamente arturiano), Lai de Milun, Lai des deux Amants, Lai dEliduc, Lai du Bisclavret, Lai de Guigemar, Lai dEquitan, e Lai du Laostic (ou Lai de leostic). Broul, poeta do sculo XII e autor de Tristan et Iseult, um dos primeiros escritos sobre a lenda de Tristo e Isolda. Sua verso cruel e violenta, mais prxima da verso oral popular da poca, e muito pouco influenciada pelo amor corts, porm possui recursos literrios herdados das chansons de geste. Thomas d'Angleterre, poeta conhecido por seu poema Tristan, uma das verses da histria de Tristo e Isolda. Sua obra se conservou na forma de dez fragmentos de seis manuscritos. Dos 12.000 versos originais, apenas um sexto sobreviveu, sendo o poema reconstrudo a partir de uma traduo em nrdico antigo, a Saga de Tristan (1226). Para escrever Tristan, Thomas optou por no aproveitar as muitas outras verses j existentes, mas escrev-la segundo a sua prpria inspirao. Wace, poeta que escreveu Roman de Brut (ou Brut d'Angleterre), concludo em 1155, obra que inspirou muitos escritores como Chrtien de Troyes, sendo a mais antiga crnica existente em francs sobre os velhos reis da Gr-Bretanha cuja linhagem remonta ao lendrio Brutus da Bretanha. Robert de Boron, escritor francs do sculo XII que escreveu Estoire dou Graal ou Joseph dArimathie, um romance em verso sobre o Graal. Sua obra, baseada em Chrtien de Troyes e Wace, marca uma evoluo do mito do Rei Artur, principalmente, pela sua cristianizao, introduzindo o Graal como relquia crist.