trailslqao eprdemtotóctca - início

16
TRAilslqAo EprDEmtotóctcA E tl{DtcADoREs DE SAúDE ATUAts Epidem¡0logical transit¡on and recent health indicators Letícia Legay Vermelhol, Mário F. G. Monteiro2, Antonio José Leal Costa3, Pauline Lorena Kale3 Rt-iulrr¡ A Transigáo Epidcmiológica no Br:sil cübe, rcgiona.lmcntc c mcsÍ¡o mic¡o¡.rcgionalmente, cstágios difcrcntes. Aspcctos importantes de um quano cstágio,já cvidcntes há muito cm paiscs dcscnvolvidos, sc associam a aspcctos do tcrcciro cstágio, quc ¿ o prcdominaltc cm nosso pais. .{r mudangas nos padrócs dcmognílico c cpidcmiológico quc ocomclam uo Brasil, ao longo do sóculo XX, indicam quc a expcctatir,a dc üda ao nasccr aumcntou! scndo quc, cm 2000, chcgou a uma vida módia dc 67,08 aoos. As pcrrlas para o scxo masculino ent¡c adultos c jovcns, cleito p¡incipalmente da violéncia, c o grandc dcclínio dos óbitrrs por causas marcmas, accnruam os aspectos positivos da transigáo para as mulhc¡¡s c os difc¡cnciais cnt¡c os scxos. Ocorrc o dcclínio das taxas dc fccu¡rdidadc que acompanharrrm a clcvada c rápida qucda da mortalidadc, scndo quc, no pcúodo 1980-2000, a fccundidade no pais passou de 4,02 filhos por mulhcr cm idadc fertil, para 2,06. Na atualidadc, com o dcclinio das mortcs inlántis, principalmcntc aquelas do peúodo pós-nconatal, ocorrc um dcstaque maior üs causas dc monaüdadc do pcriodo nconatal, tal como as anomalias congénitas c a prcmaturidade. Entrcta¡to, a freqüéncia impo¡lantc dcsta última, por cxcmplo, associada i pcmisténcia da morralidadc matcma no pais, mo¡tes em gande panc o,itár'cis at¡avós da assisréncia matcmo-infantil adcquada, indicam quc a transigáo ainda náo sc complctou. As mudangas de padráo com o predomínio das d<rclgas crónico-dcncgcrativas sigrificaram ganho dc aoos dc üda potcnciais, entretanto, as perdas rra cxpcctativa de vida dos jovens sob o impacto das üoléncias também conliguram o panorama atual. P¡l¡vtt¡s<:u¡r'l Transigáo cpidcmiológica, cstágios da tra¡¡sigáo, indicadores de saírdc, epidemiologia r Pt1le$)ra Adjunla de Ep¡den¡ol1g¡a Núcleo de Estudas de Saúde Coletiva DeparÍanento de Medicina Prevent¡va / Faculdade de Med¡cina - Un¡vers¡datle Fedenl do Rja de Jane¡ro Ptaless\r Ad|tnto - lnst¡lulo de Med¡c¡na S1cial , Un¡ve$¡dade Estadual do R¡a de Janeirc P.afesso4a) AdJunlo de Ep¡detniol1g¡a Núcle1 de Estudas de Saúde Coteliva Departanenta de Medic¡na Pteventiva / Faculdade de Med¡cina - Univers¡dade Federat do B¡0 de Jane¡ro Caotfi.¡os SartDE CorE¡tv¡, Rro DE Ja l¡0, I (2): 111 - 126, 2001 - 111

Upload: others

Post on 26-Apr-2022

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: TRAilslqAo EprDEmtotóctcA - Início

TRAilslqAo EprDEmtotóctcA E tl{DtcADoREs DE SAúDE ATUAts

Epidem¡0logical transit¡on and recent health indicators

Letícia Legay Vermelhol, Mário F. G. Monteiro2,Antonio José Leal Costa3, Pauline Lorena Kale3

Rt-iulrr¡A Transigáo Epidcmiológica no Br:sil cübe, rcgiona.lmcntc c mcsÍ¡o mic¡o¡.rcgionalmente,cstágios difcrcntes. Aspcctos importantes de um quano cstágio,já cvidcntes há muitocm paiscs dcscnvolvidos, sc associam a aspcctos do tcrcciro cstágio, quc ¿ oprcdominaltc cm nosso pais. .{r mudangas nos padrócs dcmognílico c cpidcmiológicoquc ocomclam uo Brasil, ao longo do sóculo XX, indicam quc a expcctatir,a dc üdaao nasccr aumcntou! scndo quc, cm 2000, chcgou a uma vida módia dc 67,08 aoos.As pcrrlas para o scxo masculino ent¡c adultos c jovcns, cleito p¡incipalmente davioléncia, c o grandc dcclínio dos óbitrrs por causas marcmas, accnruam os aspectospositivos da transigáo para as mulhc¡¡s c os difc¡cnciais cnt¡c os scxos. Ocorrc odcclínio das taxas dc fccu¡rdidadc que acompanharrrm a clcvada c rápida qucda damortalidadc, scndo quc, só no pcúodo 1980-2000, a fccundidade no pais passou de4,02 filhos por mulhcr cm idadc fertil, para 2,06. Na atualidadc, com o dcclinio dasmortcs inlántis, principalmcntc aquelas do peúodo pós-nconatal, ocorrc um dcstaquemaior üs causas dc monaüdadc do pcriodo nconatal, tal como as anomalias congénitasc a prcmaturidade. Entrcta¡to, a freqüéncia impo¡lantc dcsta última, por cxcmplo,associada i pcmisténcia da morralidadc matcma no pais, mo¡tes em gande panco,itár'cis at¡avós da assisréncia matcmo-infantil adcquada, indicam quc a transigáoainda náo sc complctou. As mudangas de padráo com o predomínio das d<rclgascrónico-dcncgcrativas sigrificaram ganho dc aoos dc üda potcnciais, entretanto, asperdas rra cxpcctativa de vida dos jovens sob o impacto das üoléncias tambémconliguram o panorama atual.

P¡l¡vtt¡s<:u¡r'lTransigáo cpidcmiológica, cstágios da tra¡¡sigáo, indicadores de saírdc, epidemiologia

r Pt1le$)ra Adjunla de Ep¡den¡ol1g¡a Núcleo de Estudas de Saúde Coletiva DeparÍanento de MedicinaPrevent¡va / Faculdade de Med¡cina - Un¡vers¡datle Fedenl do Rja de Jane¡ro

Ptaless\r Ad|tnto - lnst¡lulo de Med¡c¡na S1cial , Un¡ve$¡dade Estadual do R¡a de Janeirc

P.afesso4a) AdJunlo de Ep¡detniol1g¡a Núcle1 de Estudas de Saúde Coteliva Departanenta de Medic¡naPteventiva / Faculdade de Med¡cina - Univers¡dade Federat do B¡0 de Jane¡ro

Caotfi.¡os SartDE CorE¡tv¡, Rro DE Ja l¡0, I (2): 111 - 126, 2001 - 111

Page 2: TRAilslqAo EprDEmtotóctcA - Início

I IErfcra LEGAy VrnrrrH0, *l¡Rro F. G, MoN¡Ério, A r0xr0 J0sÉ LEAL C0sr^, P¡ou¡¡ [o¡r¡r¡ |(¡r¡

AtNtR (l'Thc Brazilian cpidcmiological h-a¡sition disclc¡scs. at lhc rcgion¡l lcrcl as uclll ¡s;rtthc microrcgional lcrcl, cliffc¡crrt stagcs. Important ¿rspccts ol'thc ft)ur'tll stagc arccüdclt in devclopcd cour)tlics, a¡¡d arc associfltcd rritl¡ thc thirrl stagc. irhich is

prcdominant in Brazil. Thc chanecs in thc dcmographic anrl cpidcmiologic pattcrrrsthat occurrcd in Bmzil ovcr thc last ccntlry, inclic;rtcs tlrat thc lifc cxpcctallq_ at I)ilthhas riscn, rcaching. in thc ycar of2.000, {i7.08 ycars. Thc losscs among }oudr ¡¡ralcs,

duc mainly to thc cflccts of thc violcncc, and thc Arat dcclirrc ill tl¡c dcaths dr¡c tomatcmal causcs, accclltlratc drc positirr aspccts of tlrc tmnsitio¡ lor lromcn ¡¡rd thcdilfcrcntials bct\^,ccn gcndc¡s. Togcthcr with thc iltcnsc arrrl m¡rid dcclinc in thcmortality also occurcd a dcclinc in thc fccunrlity. In thc l9B0s. fccurclity u'as.1.02clúldrcn pcr woman in thc lcrtilc agc, rtaching 2.06 by thc cr(l of thc l¿rst ccrtrrr1'.Torlay, uith thc rlccli¡c ir childhood rlcaths. mairrll thosc irr thc pos-lconatal pcriod.a grcatcr prcmincncc is givcn to thc dcaths occürrirg ir] thc ncon¡tal pcÍjod. such as

congcnital anonralics and prcmatu¡ity. Hor'r'cvcr, thc impoÍant ñcqltc¡rcy ofprcmaturity. for instancc. associ¡tcd ruith thc pcrsistcncc ofthc rlatcr-rral mor'tality inour country, most ofthcm prcvcDtablc throrrgh arr adcquantc prc-Iatal ¡nd dcli\cq'assistancc) indicatcs that drc t¡ansition is uot con¡rlctc<l yct.'Ihc changcs i¡r tl¡chcalth pattcrns, $'ith thc prcdominancc ofc¡ol¡ic and clcscDc¡?ti!c disordcls. dcrrotcrlgains in potcntial lifc ycan, ncvcrthclcss. thc losscs in thc lilc cspcctancv among thcyouth duc to \,iolcncc also charactcrizc thc ¡ctu¡l t¡ansitiorr sccuc.

Kcy wordsEpitlcmiologic trrlrsiti¡¡rr. tr'¡¡nriti¡¡¡¡ \t¡rqr\. Ir'¡rltlr irrrli,.rr,'r.. , ¡'i,i, rrri,'1,,1r

l. IN'l R()D( (r.\()

l. l. Tn¡rsr(:.\o Dr:\r()cR.in(:\ l. l.nt,t.\ ()t.'x;t(i\

O processo de transigáo demográfica reGre-se aos eleitos que as mudan-

gas nos níveis de Gcundidade, natalidade e morta.lidade pro\.ocam sobre o

ritmo de crescimento populacional e sobre a estn-ltura por idade e sexo.

Na primeira fase deste processo, ocorre o declínio da mortalidade de

crianEas e adultos jovens, como conseqiiencia, mais pessoas passam a \i\ermais tempo, ampliando o continsente daqueles que iráo enrrlhecer'. Na ljrse

seguinte, quando a natalidade diminui, o envclhecimento ó att'lt'rado ¡nlr¡u'há uma redugáo telatira no contingente de c¡'ianqas, ou seja, a pr'ol)orl¿io de

adultos e idosos aurnenta em relagáo á proporgáo de cüanqas.

Concomitante á transiqáo demográfica, ocorre a tmnsigáo epidemiológica,

assim denominadas as mudangas nos padróes de mortalidade e molbida-de de uma comunidade, relacionados a fatores sociais, económicos e

demográficos (Omran, l97l). A medida que os países atingem níveis de

112 - C¡o¡n¡os Srúo¡ Corrnvr, Rro DF Jailr¡o, I (2): 111 . 125,2001

Page 3: TRAilslqAo EprDEmtotóctcA - Início

TñristC¡0 EptDtMroLócrc^ E lrorcaooREs 0t s¡troE ^ru¡ts

I

desenvolvimento mais elevados, as melholias das condigóes sociais, eco-¡rómicas e de saúde causam a transigáo de um padráo de expectativa ouesperanga de vida baixa, com altas taxas de mortalidade por doengas

infecciosas e palasitilias em faixas de idade precoces, para um aumentoda sol¡revida em dileEáo ás idades mais avangadas e aumento das mortespor doengas náo tl¿¡¡rsmissír,cis.

1.2. Iruol<:.uxln¡:s Dt.t s.\úit)rl

Os indicadoles de saúde clássicos tém permitido o acompanhamentodas Ilutuagóes e tendéncias históricas do padráo sanitár.io de diferentescoletividades consideladas á mesma época ou da mesma coletividade, em

diversos períodos de tempo. Tém sido tradicionalmente recomendados

como indicadores globais o coeficiente de mortalidade geral, a mortalida-de proporcional e a expectativa de vida; como i¡rdicadorcs especificos,

segundo sexo, idade e causa (agravo á saúde, doenEa ou morte), o coefici-ente de moltalidade infantil, mortalidade materna e o de mortalidade pordoengas ransmissíveis. A avaliaEáo destes quanto ao tempo, ritmo e velo-cidade de declínio permite a distingáo entre os diferentes estágios daTransigáo Epidemiológica em que os paises se encontram.

2. Slrr,rgÁo NO BRAstr-

No Brasil, a transiqáo comega com a queda da taxa de mortalidadena década de 19.10, devido á reduqáo das doengas infecciosas e parasitá-

rias como causas de óbitos, com a natalidade mantendo-se ainda em

niveis elevados até 1960, como pode-se ver no gráfico I (trés fases da

transigáo demográfica). Entretanro, para se chegar á populagáo idosa

numerosa de hoje, além da queda da mor.talidade, a redugáo da taxa de

lecundidade a partir de 1960 foi fator fundamenral (Monteiro, 1994).

I

CaornN0s SafJor CorÉlrva, Bro oE Ja¡Grno, 9 (2): 111 .126,200'| - 113

Page 4: TRAilslqAo EprDEmtotóctcA - Início

I| [Erlcra LEG¡v VE¡ÍEL o, M¡¡ro F. G. Moi¡rErFo, A roUo JosÉ [EAL Cosr¡, P¡!UtE IonE¡¡ KarE

Gráfico ITams dc nataüdadc c mortalidadc (por mil lrabitantcs)B¡asil dc 1900 a 1990

funte: IBGE - Anuário Estatílico do Brasil

Assinale-se que as mudangas registradas para este último indicador

desde a década de 1960 tém aspectos positivos e negativos. Entre os aspec-

tos positivos, a queda da fccundidade aumentou o interualo intergestacional,

resultando em riscos menores de mortalidade na inláncia, pois a máe pode

dar mais atengáo e cuidados a seus filhos (Monteiro, 1995).

Entre os aspectos negativos, associados com a saúde reprodutiva,

sáo citados (Monteilo, 1995):

l)A elevada prevaléncia de abortamento no Brasil (cerca de um

milháo e meio por ano), freqtientemente induzido por métodos que ex-

póem a mulher a elevados riscos de complicaqóes, principalmente na

populaEáo de baixa renda flhe Allan Guttmacher Institute, 1994).

2) A persisténcia de atenqáo pré-natal insuficiente e inadequada,

apesar de ter havido uma diminuigáo na demanda relativa por estes ser-

ügos com a queda da natalidade.

3) Contrariando a tendéncia dos outrr.¡s grupos etários, tem-se

observado um aumento da gravidez na adolescéncia, com maiores possi-

bilidades de complicagóes, associadas com a ocorréncia de riscos também

114 - C¡o¡n*os S¡rto¡ Corrrrvr, Bro oe J^¡Er¡o,9 (2): 'l1l - 126,2001

Page 5: TRAilslqAo EprDEmtotóctcA - Início

I

Tra¡sr0Á0 EproEMr0róGrca r l¡DrcAo0nEs oE s¡ú0E atu¡ts I

pala seus filhos, entle os quais sáo mais comuns o retardo de crescimentofetal e a prematuridade (United Nations, l9B9).

2.1. Expr:clr',r'uv,r n¡; vlnlr

Nos últimos 50 anos, a expectativa de vida ao nascer vem aumentan-do em todn o mundo. De.lB anos em 1950, ela aumentou para 65 anos

em 1990, e, para o ano 2000, ela é estimada em 67 anos. Ainda assim, as

disparidades legionais sár¡ evidentes. Em 1990, a expectativa de vida ao

nascer nos países da Áfica subsaariana, de 52 anos em média, era aindabem inferior áquela estimada para os paises desenvolvidos 40 anos antes,

em torno de 65 anos (lVorld Bank, 1993).

No Brasil, de 1970 a 1991, a expectativa de vida ao nascer passou de

ti I pala 69 anos ent¡'e as mulheres, e de 57 para 63 anos entre os homens(Gráfico 2). Tais valores sáo inlerioles aos obseryados nos países desenvol-

vidos em 1991, como oJapáo e a Suécia, porém, mais elevados do que

diversos países africanos, infelior a 50 anos (!Vor.ld Bank, 1993). Dados

mais atuais (IBGE, 2000) indicam 67,08 anos, sendo 63,,17 para os ho-mens e 70,87 para as mulheres, no ano 2000.

Gráfico 2

Expcctativa dc vicla ¿o nasccr- por scxo, scgundo dilcrcntcs paíscs. 1991

Japáo Suécia Bras¡l uganda Moqambk¡ue

For e: World Bank, 1993

2.2. Coulrc¡r:n lr D¡t \toR l\t.tDAr)¡t (.;ERAr. (CN{G)

Apesar de o uso do CN{G para fins comparativos ser questionável,já que

depende da composigáo da populagáo por sexo, idade e outros parámetros,

uma de suas vantagens é a capacidade de poder relacionar o nível de saúde de

difbrentes á¡eas no tempo através de dados mais fidedignos do que aqueles

que compóem r¡s coelicientes especificos, mais dificeis de serem obtidos. En-

tretanto, a qualidade dos dados nem sempre corrobora esta última afirmativa.

O CNÍG varia entre as rcgióes do Brasil, como se pode obsewar na tabela l.

h

I')

uganda Moqambk¡ue

CaorB 0s SaúDE CorÉ¡rva, Rro DE J¡ÍÉr¡o,9 (2): 111 - 126,2001 - 115

Page 6: TRAilslqAo EprDEmtotóctcA - Início

II LErtcra LEGAy VrnÍEUio, MÁnro t, 0, M0ilrErRo, A roilro Jos¿ tEAL Cosra, PaüLrlr Iosrr^ K^rE

Tabela ITaxas módias dc mortalirlarlc gcral. ¡xrl 1000 habitar¡tcs. Ittasil c rcsiax s. scqun(k) 1d¿nior.

cntrc 1979 c 1996

Begiáo 1979-1981 1984-1986 1989-1991 1994- | 996

Norte

Nordeste

Sudeste

Sul

C,ento-Oeste

4,3

5,4

7,2

4,8

4,4

5,4

7,4

6,4

5,4

4,6

6,9

6,2

4,8

3,7

4,7

4,3

5,85,66,46,2

Fonte: DATASUS, 2cl0l

Entretanto, sabe-se que o valor do coeficiente de mortalidade gelal,

para quaisquer locais, está entre 6 e l2 óbitos por mil habitantes ((;12

óbitos/1000 habitantes) (United Nations, 1993; OPAS,l9f)2). I'ara o Bla-

sil tem sido considerado como aceitável, pelo Nlinistór'io da Saírde, um

coeliciente de 6 pol mil habitantes (Brasil, NIS, l!)98). Abaixo destes

valores, del'e-se considerar a pouca fideclienidadc dr¡s d¿rdos ¡ ol<'trrdos.

2.3. Nlon t.rt.lnrll. st {;l \tx) \r.\(l

I)ifilengirs rtir Irtolt¡rIir|¡rrIt l),| \( \. r.rl¡ l.r I . ..r , ' . i . l r ' I r | . r I r | . r r | | | rr||'

obsctladas, trrnsi<ltt¡rt<l¡r-sr' ¡rrirrli¡l;rlrrrcrrtt r irl.rrl, , .r r.rr¡..r rl,r .lrit..As peldas para o sexo rlast'rrlino cntr'(' a(llrlros r' .jor crrs. ( l( ir() l)r ir( il)irl-mente da violéncia, e o glande declinio dos óbitos ¡rol causas matel rlas,

acentuam os aspectos positivos da transiqáo ¡rala as mulheles e os difclen-ciais entre os sexos.

'l'alnla 2

Cocficicntcs módios dc nrorr¡lidadc scguldo sc\o por 1.000 habitar¡tcs. Rrasil c rcgir)cs

triénios dc l9B4 a l9BO c il)all ¡ l!)!l{;1984-1986 1994-1996

Reg¡áo Masculino Masculino

Norte

Nordesle

Sudeste

Sul

Centfo-oeste

4,9

6,6

8,2

7,1

6,2

3,4

4,7

5,6

4,8

4,1

5,2

8,3

2.8

5,6

5,2

5,07,2 6,8 4,7

Fonte: DATASUS, 2001

1f6 - C¡o¡nros S¡¡Jo¡ CorETtv¡, Rro 0E Jatí¡o,9 (2)i 111 - 126,2001

Page 7: TRAilslqAo EprDEmtotóctcA - Início

i!¡

i

:

t

T¡¡rsrC¡0 rnDE{r0LóGrc¡ E r¡0¡c¡008ts 0E !¡t0€ ¡ruAtg I

2.4. trlon r',u¡o¡nFt slcuNDo IDADrl

Valores da taxa de motalidade infantil [IMI) inferiores a 20 óbitosinlántis pol 1.000 nascidos vivos sáo co¡rsiderados baixos; entre 20 e 49

óbitos, a TMI é considerada interrnediária e valores iguais ou acima de 50

sáo elevados (Peleira, 1995). Em 1991, a TN{I no Brasil foi semelhante ás

estimativas pala Portugal e Argentina 20 anos antes. Por sua vez, na india,a 'I-NII csti¡¡rada ¡:ara l99l alcangou valorcs próximr.rs aos obseryados nol}asil cm 1970. Em 1991, os paises considelados desenvolvidos apresenta-

l'am estimati\¡as da TIüI enn'e 5 e B óbitos pol 1.000 nascidos üvos (\{orldBank, 1993). Estimativas da mortalidade infantil para o Br.asil, ano 2000,

indicam 39,1 por cada 1000 nascidos vivos (IBGE, 1994).

No Blasil, a TN,II vem diminuindo há várias décadas, embora comflutuagóes, plint'\ralmente nos períodos de crises económicas, que atin-gem espccialmrnte os segmcntos mais vr:lneráveis, como as criangas.

(ir';ili¡r¡ ll| . . ¡ r r ¡ ¡ . r r r r . r , , | . , ¡'¡,,' r.,lr¡ l.¡ l, rrrl.rrrrrl ¡r,r I rNrr r.'r i(1, \ \ il,^. l}.¡sil c n.qiaxs. l!)ti5 ¡r l9!l l

657075f

Fonte: SMoÉs, | 996, &ud MErlo JoñcE & GorLM, 2000

O gr'áfico 3 mostra a tendencia da mortalidade infantil no Brasil e

suas maclonegióes, entre lS)65 e 1994, e suas dispalidades regionais. Atend€ncia ao declínio é nl>selvada em todas as legióes. Porém, nas regióes

Sudeste e Sul registraram-se as quedas mais expr.essivas. Nas legióes Nor-

---o.-- sll

----BEsil

65

CAorB¡os SAú0r CoLÉriva, Rro DE Jaillr¡o, I (2): 1 l1 . 126,2001 - 117

Page 8: TRAilslqAo EprDEmtotóctcA - Início

| [Erlcr¡ [rG¡t VEn rrÍ0, Mlsr0 F. G. Ito¡rEt8o, Arr0 o Jost LE¡r CosrÁ, PauLrilr IonEt¡ l(ALE

te e Nordeste verificaram-se as maiores TMI durante a década de 1980,

eüdenciando as disparidades regionais vigentes. Dilerengas estaduais e

municipais também devem ser consideradas.

A queda da TMI foi atribuída ao componente tardio, ou pós-neonatal.

No triénio entre 1979 e l9Bl os óbitos ocorridos no periodo pós-neonatal

corresponderam a 57,0% dos óbitos infantis registrados no Brasil. Entle1993 e 1995 esta proporgáo caiu para 47 ,lo/o- Somente na legiáo Nordes-

te obserwou-se o predomínio dos óbitos pós-neonatais ainda no triénio

1993/95, os quais corresponderam á cerca de 600/o dos ól¡itos infantis

registrados. As causas que determinaram a taxa de moralidade infantilpós-neonatal fbram as causas infecciosas, particularmente as dialr'éias,

pneumonias e doengas imunopreveníveis. Ressalta-se o sub-registro dos

óbitos devidos a deficiFncias nutriciorrais.

A medida que estas causas decrescem, assumem maiol importáncia as

patologias infantis que exigem assisténcia de nraiol complexidade, pol exem-

plo, aquelas relacionadas á gravidez, parto e puer¡:erio, do período neonatal,

como ocorre nos países desenvolvidos. Ainda assim, é impot'tante mencio-

nar qlre as causas da mortalidade neonatal diGrem entre países; enquanto

as anomalias congénitas se destacam nos países desenl'ohidos, causas evitá-

veis, como a prematuridade, ocupam este espago nos países com niveis

inferiores de desenvolvimento. É o que vem ocorrendo no Brasil.

Ainda relativamente d idade, a mortalidade propolcional de menores

de I ano no Brasil, que representava em l9B0 cerca de 25?o de todos os

óbitos, em 1995 cai pala cerca de 100/o $4ello Jorge & Godieb, 2000),

enquanto nas idades de 80e mais anos, passaram de cerca de l0o/o a l7olo.

2.5. N{on l,r.ro,,rou slcuNDo o\us^s

A mortalidade por causas é a que melhor caracteriza a transig-áo

epidemiológica, emlua sejam de impoltáncia as al;ordagcns ¡nl idade e

sexo. No Brasil, obserlando-sc a elolugáo da nroltalidade ¡lopolcional ¡xu'quatro causas de óbito, pode-sc tc¡-uma idéia da nrudanga na estlutula de

mortalidade que ocorreu entre 1930 e 1990 (Gráñco 4) (Fiocmz, 198,t).

118 - C¡o¡nros S¡úoe CoLETT!^, Rro oE Ja flRo,9 (2)t 111 - 126,2001

Page 9: TRAilslqAo EprDEmtotóctcA - Início

ITR¡¡isrq¡0 €prDEr¡ro!óGrcA E ||¡Drc¡Don!s oE s¡rtoE aruars I

Gráfico 4

Nfo¡tali<iaclc ptoporcioual Por qt¡atro causas dc óbito sclccio¡adas Capitais brasilciras -

1930 a 1990

50,o%

37,5"/.

25,O"/o

12,5v.

Q'O/. ¡-1930 1940 1960 1970 1990

l rro

32,O%

1930

1950

lr5o35,970

5,7.Á

3,3%

3,99.

14,5%

1960

DIPNeoplasrasCirculalórioExtetnas

25,97"

21,51"

Fonte: Dr Má¡0 Magalháes in Dad0s TRad¡s - FIOCRUZ, 1 984

O compot'tamento das doenqas infecciosas e parasitárias (DIP) vem

mudando ao longo das décadas em decorréncia do avanqo téclico princi-

palmente na ár'ea da saítde, medidas de controle do meio ambiente e

progressos na assisténcia á saÍrde. A tendéncia dos coeficientes de morta-

iidud" por. estas calrsas é taml*m Lltilizada como critério básico para

classificagáo dos países nos modelos de transigáo epidemiológica'

O declínio destas mortes é mosrado pelo gráfico'l' Em 1930 elas

representavam cerca de 47,5o/o de todos r¡s óbitos no pais, em 1960'

25,9o/o e em 1990, solnente 6,30/o.

Nos últimos per'íodos, as DIP se evidenciam novamente como lmpor-

tante ploblema de saírde pública, pelo ressurgimento da cólera, dengue e

da emergéncia da AIDS (Sabroza, Kawa & Campos, 1995)'

linquanto as doengas inlbcciosas declinam, as doengas crdnico-

degenerativas se destacam, sendo que as doenEas do aparelho circulatório

em 1990 já representavam 32olo de todos os óbitos'

Para os jovens e adultos, as causas exterllas ocupam o primeiro posto

como callsa de mortalidade. Até 1960, as causas externas, embora já

estivessem entre os cinco principais grupos de causas de mortalidade

(Organizagáo l\{undial de Saírde, 1979), entle os jovens do sexo mascu-

c^DEnilos SailDE CoL¡rrv¡, Bro ot J¡t¡ttno,9 {2)i 111 - 126, 2001 - 119

Page 10: TRAilslqAo EprDEmtotóctcA - Início

I

I L¡¡lcl¡ [¡e¡v V¿nn¡r¡0, MÁnt0 F, G. M0 rEt¡0, Ail¡0 t0 JosÉ LEAL Co!¡Á, p¡ü!t¡t LoREía l(arE

lino, exibiam taxas baixas. O aumento das taxas de mortalidade porcausas externas (acidentes e violéncias), entre os jovens (15 a 24 anos), ficaevidente, quando se analisa o gráfico 5, com dados da cidade d<¡ Rio deJaneiro (Vermelho & MelloJorge, 1996).

Esta mudanga ocorreu, na realidade, ás custas do aumento da morta-lidade no sexo masculino. Entre os homens, principalmente, as grandesentaemil de DIP foram ao longo do tempo sendo substituídas por outra,a de violéncias, responsável pela grande perda de vidas de fovens.

Gráfico 5Cocficicntcs* dc monalirlarlc, por rlocngas infccciosas c parasitárias c causas cxrcrnas.faita ctária dc 15 a 24 anos, no N{unicipio do Rio rlc.lanciro, 1930-199i

"'

45()

400

360

300

¿wN150

100

50

0

'por cem mil habihntesCapítu|ol - Doen0as Infecci0sas e hrasitárias{9 Beviseo da CID}

rff¡o 1940 1950 1960 1970 1S0

Capítulo XVll - Causas Extenas

2.5.l. Mont.,t.ln¡DE poR cAUSAs u DtrflRuNe^s Rl;croN,\rs

2.5. l. l. As Dor-tN(:AS rNlucctos,ls r: r,ln,ts¡ ¡..,in¡,rs lDIp)A medida que melhora o nivel de saúde de uma populagáo, a taxa de

mortalidade por DIP (causas em geral evitái,eis) tende a diminuir. .I.al

redugáo deve-se tanto ás mediclas de controle específicas, pr.óprias da áreada saúde, como a imunizagáo, a ter.apia de reidlatagáo orui g.nO¡ . otratamento dos casos, como as intervengdes sociais mais amplas nos ámbitos da educagáo, nutrigáo, saneamento básico e renda, po. .*ar.rp,o.

Embora venha sendo apontada a tendéncia geral de rcdugao dos riscosde mortalidade por doengas infecciosas e parasitarias (DIp), tanto no Brasilcomo no mundo, existem importantes diferenqas r.egionais e entre as popula_

120 - C¡o¡¡¡os S¡ooe ColEÍv¡, f,¡o Dr Jaxr|¡o,9 {Z): lll _ 126,2001

+ Cap | - RJ Total

+ Cap XVtt - RJ Totd

Page 11: TRAilslqAo EprDEmtotóctcA - Início

1

tI

(

I

T¡¡¡srC¡0 EprDEMroró6tca E |[0tc¡Dof,Es oE s¡(toE AruAts I

góes masculina e feminina. Em nosso país, os riscos no Nordeste continuam

mais elevados que no Sudeste, e os homens apresentam taxas maiores que as

mulheres, apesar de haver uma tendéncia á convergéncia destes riscos.

Além disso, as taxas de mortalidade por DIP, observadas em 1994 noBlasil (gráfico 6) e em suas legióes, sáo consider.adas elevadas quandocom¡raladas ás de países ellropeus e norte-americanos.

(i r'álitr.¡ (i'l ¡xas rlc ¡rr¡ralitl¡rlt'por-Docngas lrrfccciosas c Parasitárias, por.scxo Nordcstc c Sudcstc- l1)80 ¡ l!)!)5 rl¡iir¡iosr

+ sude5|e ñ!rheres

190-¡/85 1986/47

r0r 8.¡

52 .r5

36 30

73

55

52

57

37

24

60

12

1988/89 r990¡9r 1992,¡93 1994/95

28

54

38

24

4A

36

37

24

2.5.1.2. I)or:N(:,rs DO ,\p.\Rt¡.Ho (irRc:ul-,\'t óRto

Em l99B folam legisrados 929.023 óbitos no pais. Destes, 256.355devidos ás doenq:as do apalelho circulatório (DAC), correspondendo a

aproximadamente 2Jo/o de todos os óbitos, Em outras palavras, cerca de

uma entre cada 4 moltes registmdas foram devidas ás DAC.A moltalidade causada ¡x)r doenqas crónicodegenerativas, em destaque

as do aparelho circulatório, responsável pelo maior número de mortes, vem

sofiendo mudanqas impoftantes principalmente a partir da década de 1960

no país. Sua prc.ponderáncia sobre as demais causas, demonstrada pelas taxas

mais elevadas, é fato que ocor-re paria os dois sexos, em todas as regióes doBrasil, á exceqáo da regiáo Centro-Oeste paIa o sexo masculino, em que sua

fi'eqiiéncia é semelhante a das causas violentas, e da regiáo Nofe, onde

ocorre uma soblemoltalidade também das mortes üolentas, provavelmente

pol ser em ár eas de grande migr aqáo masculina (NfelloJorge & Godieb, 2000).

As dilelengas uas taxas de mortalidade entrc as regióes Nordeste e

Sndeste, mostradas no gr'áñco 7, apontam que, embora ambas sejam

C^o.nilos SÁú08 Corrrva, firo 0. Ja¡Erso, I {2)¡ 111 - 126,2001 - 121

Page 12: TRAilslqAo EprDEmtotóctcA - Início

¡

I LÉrlcra IE6ay VER ELBo, MlBro F. G. Mo¡]Erno, Airof¡ro JosÉ L€ar Cosr¡, PauLrilE LoREl¡a KÁLr

elevadas, na regiño Sudeste o diferencial entre os sexos é maior, com uma

sobremortalidade masculina, sendo as taxas médias de mortalidade para

este grupo de patologias muito mais elevadas em ambos os sexos, o qlre

indica diferentes estágios de Transiqáo Epidemiológica para estas regióes.

Gráfico 7

Taxas dc mortalidadc por Docngas do Apalclho Cir-culatório. ¡rr scxoNordcstc c Sudcstc - l9B0 a 1995 flriónios)

250

200

150

100

50

0

-Í-

- ¡ . ---- ¡ -----..

rgEo/Ei r98a/8s I rsalrcs I rseelaz I reeelas I rssoivr 1992/93 I r9s4/95

+ norde$6 mfnáns 140 1¿6 16r I rso rsz I l¡o 15? 146

--r- nordesie mulhofe f35 135 146 142 r41 134 r39 140

268 263 273 265 273 255 255 247

+ sudests mulheros 230 221 224 224 217 216 215

Portanto, considerando-se estes dois grupos importantes de causas de

mortalidade, apesar de o Brasil ainda exibir elevada proporgáo de ól¡itos

por causas mal definidas, pode ser observada uma queda acentuada das

taxas de mortalidade por doenqas infecciosas e parasitárias (maiol que

50%) ao longo do tempo, em todas as regióes. Embora, na comparaqáo

entre as duas regióes Nordeste e Sudeste exibidas no gráfico 6, as maro-

res taxas estejam na regiáo Noldeste, esta também apresenta os matores

declinios. Entretanto, na comparagáo com os países desenr,olvidos, nossas

taxas ainda sáo muito elevadas, sendo ás vezes até quatro vezes maiores(Laurenti, 1990).

Q¡anto ás taxas de moltalidade pol doenEas do aparelho cilcr:latírio,sua importancia ent¡e as causas de mortalidadc (moltalidade ¡rropor-cio-nal) é muito maior em países desenvolvidos. trIcsmo assim e apesal das

grandes disparidades regionais e mesmo por estlatos populacionais, t,Brasil vem acompanhando as mudangas de perfil nosológico anterior--

mente ocorrida naqueles países, com o aumento proporcional da morta-lidade por doengas c16nico-degenerat itas.

122 - Cro¡n¡os Srúo¡ Col¡rrva, Rro DE JaiE¡Ro,9 t2)r 111 - 126,200'l

,

¿

Page 13: TRAilslqAo EprDEmtotóctcA - Início

TnÁilst!¡o rptDEHl0Lóctc¡ E ll¡DtcaD0¡És DE s¡úDE ¡ru¡¡s I

Entretanto, a valiatáo tr.ansacional/quartn estágio do modelo de tmn-sigño retaldada (modelo em que o Blasil é classificado) se ajusta á nossasituaEáo de strbstituigáo do padr.áo de doenEas inlécciosas e parasitár.ias,tamlÉm pelo dc vir¡lóncias. Os ganhos r.elacionadc¡s á sobrevicla e á saúdeque ocorrem ao longo da tr.ansigáo náo r,ém sendo eqiiitativamente distri-buídos pelas idacles c scxt¡s. () cluc vem scndo ol¡ser.r'ado é que o risco de¡T¡orrer para os lromens,.jot cns e adultos, pcr.mancce elevado, enquanto olist:o pala as mt hercs sr: apr.oximou daqucles obscr.vados nos países de-senvr¡lvidos.

2.6. AIoR I At.rD,\Dl-l \tA ttRNr\

As moltes matel'nas também como as DIP sáo consideradas evitáveis,e a taxa de mortalidade tnaterna, um excelente indicador de saúde. NoBlasil, a mortalidade mater.na, embor.a venha apresentando tendéncia dedeclínio, ainda aplesenta nír'eis considerados elevados (Gráfico 8). Segun-do estimativas da Olganizaqáo Pan-Ame cana de Saúde (1996), no Br.a-

sil, a taxa dc mortalidade materna situa-se entre 50 e 149 óbitos por1.000 nascidos r.ivos. Enrre 1993 e 1995 a estimativa oficial foi de 6B,lóbitos pol 1.000 nascidos vivr¡s.

Gr'áfico BTaxas rlc monalid¡dc matcnra 1l)or 100.000 nascidos vi.r.os) por triótios, Brasil, 1979 a 1995

1983/85 '1993¡95

Fonte I MELLo Jo¡GE & GorLEs,2000

Os dadt¡s dc¡ sistema de informagóes sobre mortalidade mostrarn que,entre 1979 e 1991, celca de 5,10/o dos ól¡itos entr.e mulheres em idadelí:r-til lolam devidos a causas maternas, proporgáo esta que dimirruru para2,80/o entle 1993 e 1995. As discrepáncias r.egionais sáo bastante eviden-tes. Nestes mesmos tliénios, a proporyáo de óbitos maternos atingiu 1.t,3%

1979t81

C¡oEi 0s SAúo€ Colrlv¡, Rro DE Ja Etno, I (2)r l l t - 126, ZOO| - 123

Page 14: TRAilslqAo EprDEmtotóctcA - Início

I

I L¡rlcr¡ Lre¡v V¡¡reuo, MlBro F. G. Mo[tErBo, Ai¡roÍto J0st LE¡t CosIÁ, PautlilE [0BEla KaLt

e 4,5o/o na regiáo Norte, e 4,0o/o e 2,10/o na regiáo Sudeste. Nos Estados

Unidos, este valor girava ao redor de 0,50/0, e em comunidades rur¿is da

fndia chegava a 450/o.

3. CoNcr.us^o

As mudanEas nos padróes demográfico e epidemiológico que ocorreram

no Brasil, ao longo do século XX, indicam que a esperanga de üda ou

expectativa de vida ao nascer aurnentou, sendo que, em 2000, chegou a uma

üda média de 67,08 anos. Os ganhos foram maiores para o sexo feminino.

O declinio das taxas de mortalidade ocorreram principalmente a par-

tir da quarta década do século, sendo acompanhado pela queda da

fecundidade algumas décadas depois, tendo como conseqüéncia o enve-

lhecimento populacional. Só no período 1980-2000 a fecundidade no pais

passou de 4,02 filhos por mulher em idade fertil, para 2,06.

A taxa de mortalidade infantil, considerada como um dos indicadores de

maior importáncia na avaliagáo das condigóes de sairde de uma coletividade,

foi sempre decrescente, passando de 79,9 para 39,1 por 1.000 nascidos ür'os,

no periodo 1980-2000, embora tenha sofrido llutuagóes periódicas, decorren-

tes principalmente das graves crises económicas que ocorreram no pais.

Na atualidade, com o declínio das mortes no período pós-neonatal,

ocorre um destaque maior das causas de mortalidade do período neonatal,

tal como as anomalias congénitas e a prematuridad€. Entretanto, a lie-

qüéncia importante desta írltima, por exemplo, associada á persisténcia

da mortalidade materna no país, causas taml¡ém em grande parte evitá-

veis através da assisténcia materno-infantil adequada, indicam que a tlan-

siqáo ainda náo se completou.

A substituigáo do padráo epidemiológico atrar'és da glande diminui-

qáo das mortes por doengas infecciosas, que determinou quedas drásticas

dos coeficientes de mortalidade por todas as causas, pelo padráo de mor-

tes por doengas crónico-denegerativas, em especial doengas cardiovasculares,

e neoplasias, significou ganho de anos de vida potenciais, que persistem.

Entr€tanto, para osjovens e adultos do sexo masculino, a transiqáo náo se

deu da mesma forma. As grandes epidemias de DIP - ressalte-se aqui a

exceqáo daquela causada por HIV/AIDS e de seus impactos sobre a

expectativa de üda - foram ao longo do tempo substituídas por outra, a

de violéncias, responsável pela grande perda de vidas.

124 - C¡0Enros Saú¡r CoLrív^, Rro DE J^{crno, I {2)r 111 - 126, 2001

Page 15: TRAilslqAo EprDEmtotóctcA - Início

T¡¡¡src¡0 EProÉr¡ro!oGrca E tDtcÁDonEs 0! $Áú0¿ Aruats I

R¡r¡nErcr¡s BtBLtocRÁFtcAs

Bn,lsrr., Mrr'lrs'r'r:nto D S^úDu. Fundagáo Nacional de Saúde/Cenepi.Esl,atkücas de Morlalilade: Brasil, 1980. Brasilia: Centro de Documentagáodo Ministério da Saúde, 1988.

D^r'^sus. MtNtstÍ.tRro DA S^úDc. TABNET. [prr.ograma de computador].Brasília: D,r'r'¡sus. 2000. Disponível em <http:,//www.datasus.gov.br>

[200] Abr l0], [2000 Ago 17]

Funuqricr IBGE. Indicadoru Sociais: utta análise fui dhada tle 1980. Flio de

Janeiro: Fundagáo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1994.

Fuun¡e^o IBCE. Anunrio utaththo do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1989.

FuND^(lAo Osrv,rt.oo Cnuz. Mortalidade nas capitais brasileiras 1930-

1980. Dados Radis (ago.) 1984.

Mn.f .oJoRcr:, M. H. P & Gor r.r¡;n , S. L. D. As conli4des de saúd¿ no

Brasil. R,io deJaneiro: Editora Frocnuz, 2000.

L,tunrntr, R. Transiqáo demográfica e transigáo epidemiológica. In:Concnrsscr Bn,lsll.l-:'lno Ds Epltr:llol.ocr,r, 1", Campinas, Anais, p.143-65, t990.

N{on t uno, C. A. & N,\zÁRro. C. L. Declínio da mortalidade infantil eeqüidade social: o caso da cidade de Sáo Paulo enre lg73 e 1993. In:Mon t r:tno, C. Velhos e noaos mal¿s d¿ saúdt no Brasil: a woluqdn tlo país e de

suas doen{a;. Sáo Paulo: HUCITEC, 1995

Motttltno, M. F. G. A mortalidade no contexto da TransigáoEpidemiológica. In: IBGE - Indicadores Sociais: uma análise da dhada de

1980. RJo deJaneiro: Fundagáo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística, 1994.

Ortn,tN, A. R. The epidemiologic transition: a theory of theepidemiology of population ransition. Milbank Mem. Fund. Q,, 49:509-538, 1971.

OPAS/OMS. ORGANlzAe^o P¡¡v-Arlr:,nrcr,r¡.¡¡ Dn SAúDH. ORGANrz^c.Ao

N¡Iu¡lor,t. D^ S^úDr:. Eualuación del Plan de Acción Regional para la retlución tle

la moftalidad mat¿ma. ll/ashington, 1996 apud, Mello Jorge M. H. P.,

CÁormos SÁúoE Cor[lva, Rto 0r J^xErno, I (2): 111 - 126, 2001 - 125

Page 16: TRAilslqAo EprDEmtotóctcA - Início

I LE¡lfl¡ Lr¡rr l¡¡ft1Í0, llr¡ro F, G. U0trrn0, l¡rono JosÉ IE¡L C0$¡^, P^0r r Losri¡ lhrE

Gotlieb S. L. D. As conligdes de saúfu w Brasil. F':io deJaneiro: Editora

Frocnuz. 2000.

Oncm¡¡z.rqÁo Munol¡t, DA S^úDn. Manual da classifuagdo ¿statkti¡a int¿mn-

cinnnl de dmgu, lada e eausas d¿ óbito: Chssfuaqdo Intatucional de hn¡tgús-

9'Reüsáo - 1975, Seo Paulo, Centro da OMS para a Classificagáo de

Doengas em Portugués, v.l,1979.

Prtana, M. G. EPtn¿nblnein. Teorü e Prá¿i¡a. Rio de Janeiro: EditoraGuanabara Koogan S. A., 1995.

Snnnoz,r, P. C; Krwq H. & CANrpos, W. S. q Doengas transmissíveis;

ainda um desafio. In: Mtnnvo, M. C. S. Os maitas Brasis: ntide da ppuln-gdo na dnada de 80. Sáo Paulo: HUCITEC, 1995.

Tnrl Ar.t¡n Gutt lt¡tcHt:n l¡'¡sttt ut ¡;. Aborta clmdestino. uma real lade

hlircamnirana. New York: The Allan Guttmacher Institute, 1994.

UxtlEn N,a.rroxs. Danogaphie Tear Book, 1990. Nova York, 1993.

UN¡r'rn Nnuot¡s. Ihnagraphic har Book, 1989.

Vnnrtu,uo, L. L. & lrln.tr r.lonr;r:. \1. Il. \l¡rrrirli¡l;rrl.rI'.lorr.rr.:Anáfise do periodo rk' lllllll a llllll. lltr. .\uith l1il .. .ltt l' llrr-.t1.1996.

Wonm B¡nx. Wonl.n n¡;t r:t.r,¡¡lr[:N't Rl:rr-lt{ | lllll}. lntnting in hea h.

WaA danl4nmt indimtnrs. New York, 1993.

126 - C¡o¡nro¡ Srtor Coürvr, Rro 0E J^ffr¡0, I (2): I 11 - 126, 2001