trecho do livro "dublin street"

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Page 1: Trecho do livro "Dublin street"
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Prólogo

Surry County, Virgínia

Eu estava entediada.Kyle Ramsey chutava a parte de trás da minha cadeira para

chamar minha atenção, mas ontem ele esteve fazendo o mesmo na cadeira da minha melhor amiga, Dru Troler, e eu não queria deixá--la chateada. Ela é bem apaixonada por Kyle. Então, fiquei olhando ela se sentar ao meu lado, desenhando um milhão de coraçõezi-nhos no canto do caderno enquanto o Sr. Evans rabiscava outra equação na lousa. Eu realmente deveria estar prestando atenção, porque eu vou mal em matemática. Mamãe e papai não ficariam felizes comigo se eu reprovasse nessa matéria no primeiro semestre do primeiro ano.

– Sr. Ramsey, você se importaria de vir até a lousa e responder a esta questão, ou será que você prefere continuar atrás da Jocelyn, para chutar a cadeira dela um pouco mais?

A sala inteira riu, e Dru olhou-me de maneira acusadora. Fiz uma careta e encarei com raiva o Sr. Evans.

– Eu vou ficar aqui, se não tiver problema, Sr. Evans. – res-pondeu Kyle, com uma arrogância descarada. Eu virei os meus

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olhos, recusando-me a me virar, ainda que pudesse sentir o calor de seu olhar na minha nuca.

– Na verdade, foi uma pergunta retórica, Kyle. Venha até aqui.Uma batida na porta fez parar o resmungo de consentimen-

to de Kyle. Ao ver nossa diretora, a Sra. Shaw, toda a classe ficou imóvel. O que a diretora estava fazendo em nossa sala? Aquilo só poderia significar problema.

– Uau! – murmurou Dru, baixinho, e eu olhei para ela, fran-zindo as sobrancelhas. Ela acenou em direção à porta. – Policiais.

Chocada, virei-me para olhar para a porta enquanto a Sra. Shaw murmurava qualquer coisa para o Sr. Evans e, sem dúvida, pude en-xergar, através do visor da porta, dois oficiais esperando no corredor.

– Srta. Butler. – A voz da Sra. Shaw fez meu olhar voltar-se bruscamente para ela, surpresa. Ela deu um passo na minha direção e eu senti meu coração saltar para a garganta. Seus olhos estavam cautelosos e compreensivos, e imediatamente eu quis me afastar dela e de qualquer coisa que ela estivesse prestes a me dizer. – Você poderia, por favor, me acompanhar? Traga suas coisas.

Geralmente, seria nesse momento em que a classe faria “ohh” e “ahh” a respeito de quanto eu estava em apuros. No entanto, as-sim como eu, eles sentiram que não era nada disso. Qualquer que fosse a notícia que estivesse ali fora, no corredor, eles não implica-riam comigo por conta dela.

– Srta. Butler?Eu estava tremendo com uma onda de adrenalina e mal con-

seguia escutar qualquer coisa além do sangue bombeando em meu ouvido. Acontecera alguma coisa com a mamãe? Ou com o papai? Ou com Beth, minha irmãzinha ainda bebê? Esta semana, meus pais tiraram uma folga do trabalho para desestressar, juntos, do ve-rão, que foi uma loucura. Hoje, eles deveriam ter levado Beth em um piquenique.

– Joss. – Dru me cutucou, e assim que seu cotovelo tocou meu braço, saí de trás da minha mesa, minha cadeira fazendo um

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barulho estridente sobre o piso de madeira. Sem olhar para nin-guém, eu me atrapalhei com a bolsa, deslizando tudo o que estava na minha mesa para dentro dela. Os sussurros tinham começado a sibilar pela sala, como o vento gelado passando pela fresta do vidro de uma janela. Embora não quisesse saber o que me esperava, eu realmente desejava sair daquele lugar.

Lembrando-me, não sei como, de colocar um pé na frente do outro, segui a diretora pelo corredor e ouvi a porta do Sr. Evan se fechar num leve baque atrás de mim. Eu não disse nada. Apenas olhei para a Sra. Shaw e depois para os dois oficiais, que me enca-raram com uma distanciada compaixão. De pé, perto da parede, es-tava uma mulher que eu não notara antes. Ela parecia séria, porém calma.

A Sra. Shaw tocou meu braço e eu olhei para sua mão re-pousando sobre meu suéter. Eu sequer trocara duas palavras com a diretora antes, e agora ela estava tocando meu braço?

– Jocelyn... esses são os oficiais Wilson e Michaels. E essa é Alicia Nugent, do DSS.

Olhei para ela de maneira questionadora.A Sra. Shaw empalideceu.– Departamento de Serviço Social.O medo apertou firme o meu peito e lutei para respirar.– Jocelyn – continuou a diretora –, lamento muito que eu

precise lhe dizer isso... mas seus pais e sua irmã, Elizabeth, se envol-veram num acidente de carro.

Eu esperei, sentindo meu peito ser ainda mais apertado.– Os três morreram instantaneamente, Jocelyn. Eu sinto mui-

tíssimo.A mulher do DSS veio na minha direção e começou a falar.

Eu olhei para ela, mas tudo o que conseguia enxergar eram as cores de que ela era feita. Tudo o que podia ouvir era o som abafado de sua fala, como se alguém tivesse aberto uma torneira ao lado dela.

Eu não conseguia respirar.

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Entrando em pânico, procurei por algo, qualquer coisa que me ajudasse a respirar. Senti mãos sobre mim. Palavras calmas, mur-muradas. Umidade em minhas bochechas. Sal em minha língua. E meu coração... parecia que ia explodir, estava batendo muito forte.

Eu estava morrendo.– Respire, Jocelyn.Aquelas palavras foram repetidas várias vezes nos meus ou-

vidos até que eu me concentrasse nas instruções. Depois de um tempo, minha pulsação diminuiu e meus pulmões se abriram. As manchas na minha visão começaram a desaparecer.

– Isso mesmo – murmurava a Sra. Shaw, uma mão calorosa massageava suaves círculos nas minhas costas. – Isso mesmo.

– Nós precisamos ir. – A voz da mulher do DSS rompeu mi-nha névoa.

– Certo, Jocelyn, você está pronta? – perguntou a Sra. Shaw, tranquilamente.

– Eles morreram – respondi, precisando sentir como as pala-vras soavam. Não poderia ser verdade.

– Sinto muito, querida.Um suor frio irrompeu na minha pele, na palma das minhas

mãos, sob meus braços, em toda a minha nuca. Fiquei completa-mente arrepiada e não conseguia parar de tremer. Uma onda de tontura me balançou para a esquerda e, sem aviso, o vômito emer-giu das minhas entranhas agitadas. Dobrei-me, devolvendo meu café da manhã bem em cima dos sapatos da mulher do DSS.

– Ela está em choque.Eu estava?Ou aquilo era enjoo por ter andado de carro?Há um minuto, eu estava sentada lá. Lá, onde era quente e

seguro. E em questão de segundos, no retorcer do metal...... eu estava num lugar completamente diferente.

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1Escócia

Oito anos depois

Era um lindo dia para encontrar uma nova casa. E um novo companheiro de apartamento.

Desci as escadarias úmidas e velhas do meu prédio no estilo georgiano e entrei num impressionante dia quente em Edimburgo. Dei uma olhada para baixo, para os shorts de brim listrado de verde e branco que eu comprara algumas semanas atrás na Topshop. Esteve chovendo sem parar desde então, e eu já tinha perdido a esperança de algum dia poder usá-los. Mas o sol havia saído, espreitando por sobre o topo da torre da ponta da Igreja Evangélica de Bruntsfield, destruindo minha melancolia e devolvendo-me um pouquinho de esperança. Para alguém que empacotou sua vida inteira nos Estados Unidos e deixou sua terra natal quando tinha apenas 18 anos, eu realmente não era boa com mudanças. Não mais, quero dizer. Eu me acostumei com meu imenso apartamento e seu interminável problema de ratos. Sentia falta da minha melhor amiga, Rhian, com quem vivi desde o primeiro ano na Universidade de Edimburgo. Nós nos conhecemos no alojamento estudantil e demos o fora dali. Éramos pessoas muito reservadas e ficávamos confortáveis uma com a outra pelo simples fato de que nunca nos pressionávamos a falar sobre o passado. Nós ficamos muito próximas quando éramos calou-

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ras e decidimos alugar um apartamento (ou um “flat”, como Rhian o chamava) no segundo ano. Agora que já nos formamos, Rhian foi para Londres para começar seu PhD e eu fiquei sem ter com quem dividir o apartamento. A cobertura do bolo foi ter perdido meu ou-tro amigo próximo, James, o namorado de Rhian. Ele se mandara para Londres (um lugar que ele detestava, devo acrescentar) para ficar com ela. E a cereja no topo? Meu senhorio estava se divorcian-do e precisava do apartamento de volta.

Passei as últimas duas semanas respondendo aos anúncios de moças que procuravam alguém do sexo feminino para dividir um apartamento. O que tinha sido um fracasso até agora. Uma garota não queria dividir a casa com uma norte-americana. Saca a minha cara de que porcaria é essa? Três dos apartamentos eram só... repug-nantes. Tenho certeza absoluta de que uma garota era traficante de crack, e o último apartamento parecia que era mais usado que um bordel. Eu esperava, de verdade, que meu encontro de hoje com Ellie Carmichael acontecesse do meu jeito. Era o apartamen-to mais caro que eu marcara para ver e ele ficava do outro lado do centro da cidade.

Eu era econômica quando se tratava da minha herança, como se gastando o mínimo possível eu diminuísse, de alguma maneira, o amargor da minha “boa” fortuna. Mas eu estava ficando desesperada.

Se eu quisesse ser escritora, precisaria do apartamento e do colega certos.

Morar sozinha era uma opção, é claro. Eu poderia pagar por isso. No entanto, a mais pura verdade era que eu não gostava da ideia da solidão completa. Apesar da minha tendência a guardar oitenta por cento de mim mesma para mim mesma, eu gostava de estar rodeada de gente. Quando as pessoas conversavam comigo so-bre algo que eu não entedia, isso me permitia ver as coisas a partir do ponto de vista delas, e eu acreditava que todos os melhores escri-tores precisavam de uma gama bem ampla de perspectivas. Embora não precisasse, eu trabalhava em um bar na George Street nas noi-

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tes de quinta e sexta-feira. O velho clichê era verdadeiro: garçons escutavam, sem querer, as melhores histórias.

Eu era amiga de dois dos meus colegas de trabalho, Jo e Craig, mas só nos encontrávamos quando estávamos trabalhando. Se eu quisesse um pouco de vida ao meu redor, precisava ter alguém para dividir comigo o apartamento. O lado bom desse apartamento era que ele ficava a poucas ruas do meu trabalho.

Enquanto tentava superar a ansiedade de procurar um novo lugar, fiquei de olhos abertos para encontrar um táxi com o sinal lu-minoso aceso. Vi a sorveteria, pensando que eu gostaria de ter tem-po para parar e entrar, e quase perdi o táxi que vinha vindo na mi-nha direção do outro lado da rua. Esticando minha mão e olhando o trânsito do lado em que eu estava, fiquei satisfeita pelo motorista ter me visto e encostado junto ao meio-fio. Corri pela avenida larga, tentando não ser esmagada feito um inseto verde e branco contra o para-brisa de uma pobre pessoa, e andei rapidamente em direção ao táxi com a determinação obstinada de alcançar a maçaneta.

Em vez de segurar a maçaneta, agarrei uma mão.Perplexa, segui aquela mão masculina e bronzeada por um

braço comprido até ombros largos e um rosto obscurecido pelo sol radiante por detrás da sua cabeça. Alto, tendo mais de 1,80 m, o cara se erguia acima de mim. Eu era bem pequena com meu 1,68 m.

Foquei minha atenção no seu suéter caro, pensando por que aquele cara estava com a mão no meu táxi.

Um suspiro escapou de seu rosto sob as sombras.– Para onde está indo? – perguntou ele com uma voz retum-

bante e grave. Fazia quatro anos que eu morava aqui, mas um suave sotaque escocês ainda conseguia me causar um arrepio na espinha. E, definitivamente, aquele homem causou tal reação em mim, ape-sar da pergunta sucinta.

– Dublin Street – respondi automaticamente, torcendo para que a distância que eu precisaria percorrer fosse maior, de modo que, então, ele me cedesse o táxi.

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– Que bom. – Ele abriu a porta. – Estou indo nessa direção e, como já estou ficando atrasado, eu poderia sugerir que dividíssemos o táxi em vez de perdermos dez minutos decidindo quem precisa mais dele?

Uma mão cálida tocou a parte de baixo das minhas costas e, gentilmente, me empurrou para frente. Confusa, de algum jeito eu me deixei ser conduzida para dentro do táxi, deslizando no banco e afivelando o cinto de segurança enquanto me perguntava, em silên-cio, se eu havia concordado com aquilo. Eu achava que não.

Ouvindo o Engravatado indicar a Dublin Street como destino para o taxista, franzi o cenho e murmurei:

– Obrigada. Eu acho.– Você é americana?Diante da pergunta gentil, finalmente eu dei uma olhada no

passageiro ao meu lado. Oh, certo.Uau.Talvez com vinte e muitos ou trinta e poucos anos, o Engra-

vatado não possuía uma beleza clássica, mas havia um brilho nos seus olhos e uma ondulação até o canto de sua boca sensual que, juntamente com o restante do pacote, transbordava sensualidade. Eu poderia, a partir das linhas do terno cinza prateado extremamente bem cortado e caro que ele vestia, dizer que ele malhava. Ele se sen-tou com a facilidade de um cara que estava em forma, sua barriga chapada por debaixo do colete e da camisa branca. Seus olhos azuis--claros pareciam perplexos sob seus longos cílios e, de jeito nenhum, eu conseguia deixar de lado o fato de que ele tinha cabelos escuros.

Eu preferia loiros. Sempre preferira.Ainda que nenhum deles nunca tenha feito minha barriga se

contrair de desejo à primeira vista. Um rosto robusto, másculo, encarou o meu – a linha do maxilar pronunciada, uma covinha no queixo, ma-çãs do rosto largas e um nariz aquilino. Uma barba por fazer e escura sombreava suas bochechas, e seu cabelo era meio bagunçado. De um modo geral, seu desleixo grosseiro parecia esquisito com o terno de grife.

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O Engravatado levantou uma sobrancelha diante do meu exame descarado e o desejo que eu estava sentindo quadruplicou, pegando-me completamente de surpresa. Eu nunca senti atração instantânea por homens. E desde meus tempos selvagens de adoles-cente, eu não tinha sequer cogitado levar adiante a proposta sexual de um cara.

No entanto, não tenho certeza se eu poderia recusar uma oferta feita por ele.

Assim que o pensamento passou pela minha cabeça, eu en-rijeci, surpresa e nervosa. Minhas defesas imediatamente se ergue-ram e eu mudei minha expressão para uma polidez vazia.

– Sim, sou americana – respondi, enfim me lembrando de que o Engravatado me fizera uma pergunta. Desviei o olhar de seu sorrisinho astuto, fingindo tédio e agradecendo aos céus que minha pele morena não externou o rubor.

– Apenas de visita? – murmurou ele.Irritada como eu estava por causa da minha reação ao En-

gravatado, decidi que quanto menos conversássemos, melhor seria. Quem sabe que coisa idiota eu poderia falar ou fazer?

– Não.– Então, você é estudante.Não gostei do tom. Então, você é estudante. Isso foi dito acom-

panhado por um metafórico virar de olhos. Como se estudantes fos-sem vagabundos na parte mais baixa da cadeia alimentar sem qual-quer propósito real na vida. Eu virei minha cabeça para censurá-lo de maneira mordaz, apenas para flagrá-lo olhando com interesse para minhas pernas. Dessa vez, eu ergui minha sobrancelha para ele e esperei que ele desgrudasse seus lindos olhos de minha pele nua. Sen-tindo meu olhar, o Engravatado voltou-se para o meu rosto e perce-beu minha expressão. Esperei que ele fingisse que não estava me co-biçando ou que olhasse rapidamente para fora ou qualquer coisa. Eu não esperava que ele apenas desse de ombros e então me oferecesse o mais lento, perverso e sensual sorriso que já tinham me oferecido.

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Virei os meus olhos, lutando com a onda de calor entre mi-nhas pernas.

– Eu era estudante – respondi, apenas com um toque de sarcasmo. – Moro aqui. Dupla cidadania. – Por que eu estava me explicando?

– Você é parte escocesa?Eu mal assenti, secretamente adorando o modo como ele di-

zia “escocesa”, com o sotaque acentuado.– O que você faz agora que se formou?Por que ele queria saber? Lancei para ele um olhar de rabo de

olho. O valor do terno que ele estava usando dava para alimentar a mim e a Rhian das porcarias que estudantes comem ao longo de todos os quatro anos da faculdade.

– O que você faz? Quero dizer, quando não está empurrando mulheres para dentro de táxis?

Um pequeno sorrisinho foi sua única reação ao meu sarcasmo.– O que você acha que eu faço?– Acho que é advogado. Respondendo perguntas com outras

perguntas, manipulando, dando sorrisinhos...Ele riu uma risada sonora e profunda, que vibrou através do

meu peito. Seus olhos cintilaram em mim.– Eu não sou advogado. Mas você poderia ser. Eu me lembro

de ter havido uma pergunta respondida com outra pergunta. E isso – ele fez um gesto em direção à minha boca, seus olhos se tornando uma sombra escura à medida que, visualmente, acariciavam a curva dos meus lábios –, isso é, definitivamente, um sorrisinho. – Sua voz tinha surgido rouca.

Minha pulsação disparou quando nossos olhos se encontraram, nossos olhares se sustentando por mais tempo que dois estranhos edu-cados poderiam fazê-lo. Senti minhas bochechas esquentarem... as-sim como outros lugares. Eu estava ficando mais e mais excitada por causa dele e com a silenciosa conversa entre nossos corpos. Quando meus mamilos endureceram debaixo do meu sutiã, eu estava cho-

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cada demais para cair de volta na realidade. Puxando meus olhos dos deles, voltei meu olhar para fora, em direção ao trânsito ao nosso redor, e rezei para que aquela corrida de táxi acabasse ontem.

Conforme nos aproximamos da Princes Street e de outro des-vio que havia sido feito por causa do projeto de bonde elétrico que a junta administrativa estava dirigindo, eu comecei a pensar se eu escaparia do táxi sem precisar falar com ele novamente.

– Você é tímida? – perguntou o Engravatado, partindo mi-nhas esperanças em pedacinhos.

Eu não podia evitar. As perguntas dele me faziam virar na sua direção com um sorriso confuso.

– Como?Ele inclinou a cabeça, examinando-me através das fendas es-

treitas de seus olhos. Ele olhava como um tigre preguiçoso, obser-vando-me com cuidado, como se estivesse decidindo se eu era ou não uma caça que valesse a pena. Eu estremeci quando ele repetiu:

– Você é tímida?Eu era tímida? Não. Tímida, não. Em geral, apenas felizmen-

te indiferente. E gostava de ser assim. Era mais seguro.– Por que você acha isso? – Eu não emitia vibrações tímidas,

certo? Fiz uma careta ao pensar nisso.O Engravatado deu de ombros de novo.– A maioria das mulheres tiraria vantagem do fato de eu estar

aprisionado com elas em um táxi... encheriam minhas orelhas, en-fiariam o número de telefone na minha cara... entre outras coisas. – Seus olhos se lançaram para o meu peito antes de, rapidamente, retornarem ao meu rosto. O sangue sob minhas bochechas parecia quente. Eu não conseguia me lembrar da última vez que alguém conseguira me deixar constrangida. Desacostumada a me sentir in-timidada, tentei dar de ombros mentalmente.

Impressionada com sua autoconfiança, sorri para ele, surpresa com o prazer que se agitou em mim quando seus olhos se abriram ligeiramente ao verem meu sorriso.

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