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Revista Vento e Movimento FACOS/CNEC OsrioN 1, Vol. 1, ABR/2012
TREINAMENTO FUNCIONAL: O EFEITO DA ESTABILIZAO DOCORE SOBRE O EQUILBRIO E PROPRIOCEPO DE MULHERES
ADULTAS SAUDVEIS E FISICAMENTE ATIVAS
Michele Tas de Andrades1Ricardo Pedrozo Saldanha2
Resumo: O tema deste estudo foi o efeito do treinamento funcional, com nfase na estabilizao doCore, sobre o equilbrio e propriocepo de mulheres adultas saudveis e fisicamente ativas. Oobjetivo principal da pesquisa foi verificar o efeito dos treinamentos (funcional e musculao) sobre oequilbrio e propriocepo das mesmas. Foram utilizados dois grupos, controle e experimental,divididos aleatoriamente entre todas as mulheres adultas, saudveis, praticantes de musculao daacademia Pr Corpo em Cidreira no ano de 2009. Os grupos realizaram um treinamento durante seissemanas, sendo cada treino com durao de uma hora, trs vezes na semana. O grupo controlerealizou exerccios em maquinas de musculao e o grupo experimental realizou exercciosfuncionais com nfase na estabilizao do Core. Foi realizado o teste parada da cegonha com os
olhos abertos e olhos fechados antes e aps o treinamento. O grupo controle no obteve melhorasignificativa nos nveis de equilbrio e propriocepo. O grupo experimental melhorou 294% com osolhos abertos e 275% com os olhos fechados. O treinamento funcional melhora os nveis de equilbrioe propriocepo de mulheres adultas saudveis e fisicamente ativas, enquanto que a musculaono apresenta melhora significativa nesses aspectos.
Palavras-chave: equilbrio; propriocepo; treinamento funcional.
Abstract: The theme of this study was the effect of functional training, with emphasis on corestabilization, balance and proprioception on the adult women healthy and physically active. The mainobjective of this research was to evaluate the effect of training (functional and strength training) on thesame balance and proprioception. We used two groups, experimental and control was divided amongall adult women, healthy bodybuilders in the gym Cidreira Pro Body in 2009. The groups held a
training for six weeks, with each workout lasting one hour, three times a week. The control groupperformed exercises in the weight machines and exercise group trained with an emphasis onfunctional stabilization of the Core. Test was performed stork standing with eyes open and eyesclosed before and after training. The control group received no significant improvement in levels ofbalance and proprioception. The experimental group improved 294% with eyes open and 275% withyour eyes closed. Functional training improves balance and proprioception levels of adult womenhealthy and physically active, while the weight has no significant improvement in these aspects.
Keywords: balance; proprioception; functional training.
Introduo
A busca pela esttica, pela sade e por um bom condicionamento fsico tem se
destacado em academias e clubes a fim de satisfazer demandas e exigncias
intrnsecas e/ou extrnsecas de jovens e adultos (BALBINOTTI; CAPOZOLLI, 2008).
Hoje em dia, o excesso de informaes acerca dos inmeros treinamentos utilizados
em academias e por atletas em todo o mundo torna o praticante de exerccio fsico
cada vez mais exigente. Este busca, no somente o ganho de sade e de boa forma
1Graduada em EFI/FACOSPs Graduanda em Cincias do Esporte/FACOS.2Prof. da FACOSDdo. em Cincias do Movimento Humano/UFRGS.
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fsica, mas principalmente a melhora na performance das atividades que
desenvolve, tanto de lazer quanto esportivas.
Um dos treinamentos, ainda incipiente no Brasil o Treinamento Funcional (TF). No
mbito nacional, poucas pesquisas (FERREIRA et al, 2007; GOULART et al, 2003,
RIBEIRO, 2006) foram realizadas acerca do tema, porm na mdia, esta modalidade
vem aparecendo como um mtodo inovador, que traz uma nova forma de
condicionamento, que prioriza a capacidade funcional do individuo, seja no
desempenho das atividades dirias, seja nas esportivas.
O TF tem uma abordagem dinmica, motivante, desafiadora e complexa. Nestaperspectiva, o treino construdo tendo como base movimentos do cotidiano ou
movimentos especficos esportivos a fim de treinar o indivduo a partir da
funcionalidade dos movimentos. O homem sempre precisou desempenhar com
eficincia as tarefas do dia-a-dia, garantindo assim a sobrevivncia em situaes
muitas vezes adversas. Porm com a evoluo tecnolgica, com a facilidade e o
conforto para a realizao de aes que antes eram essencialmente fsicas tornaram
o homem menos funcional (RIBEIRO, 2006).
O treinamento funcional visto hoje como uma nova forma de condicionamento, que
vem sendo baseado pelas leis do treinamento, fundamentado nas pesquisas
bibliogrficas e testado em salas de treinamento, determinando suas linhas bsicas
(RIBEIRO, 2006). Este treinamento caracterizado como um exerccio contnuo que
envolve equilbrio e propriocepo atravs da estabilizao do Core3.
Todo movimento eficiente observado com mais ateno tm um ponto em comum: o
equilbrio, que a capacidade que uma pessoa tem de manter seu centro de
gravidade sobre sua base apoio, neutralizando as foras externas que poderiam
prejudicar o desempenho de determinado movimento (CAMPOS; NETO, 2004;
DELIA, 2009).
3A expresso Core utilizada, segundo Dlia (2009) para especificar o centro de produo de fora,gerao de estabilidade e absoro de impacto do corpo; aes estas que so realizadas em 360quando o corpo est em movimento.
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Manter o corpo em equilbrio, ou seja, neutralizar as foras externas que agem sobre
o corpo fundamental para o ser humano, tanto nas atividades de vida diria quanto
para movimentos desportivos (REIS et al, 2005). O equilbrio e a postura de uma
pessoa esto diretamente relacionados com a qualidade do movimento que esta ir
realizar. Para que uma pessoa possa realizar seus movimentos, seja nas atividades
de vida diria quanto em determinado esporte, de uma maneira eficiente
necessrio que ela possua equilbrio e estabilidade (DELIA, 2009).
Este trabalho pretende trazer resultados que ilustrem o efeito deste tipo de
treinamento, principalmente em um dos principais objetivos do mesmo, que o
equilbrio, atravs da estabilizao do Core, tendo como objetivo verificar a eficciado TF nos resultados do teste de equilbrio da Cegonha. Com este estudo
experimental o TF poder ser discutido e analisado pelos profissionais da rea
quanto relevncia de se treinar o corpo de uma forma integrada e idealizando a
funcionalidade dos indivduos, visto que at o presente momento pouco se tem
comprovado da eficcia deste mtodo.
Materiais e Mtodos
Amostra
A amostra foi composta por 30 mulheres na faixa etria entre 20 e 58 anos,
saudveis, fisicamente ativas, de estatura entre 1,53m e 1,70m, peso entre 47kg e
86kg, e IMC entre 20kg/m e 30kg/m, praticantes de musculao da academia Pr
Corpo em Cidreira/RS em 2009.
Instrumentos
Como instrumentos de coleta de dados para a realizao desta pesquisa foi
realizada uma avaliao fsica nas mulheres, onde foi verificado o peso e a estatura,
calculado o IMC e verificado o equilbrio das mesmas.
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O peso e estatura foram medidos atravs da Balana Antropomtrica Mecnica
Adulta da marca Cauduro. Atravs das medidas citadas, calculado ndice de
Massa Corprea (IMC). O clculo realizado a partir de uma equao simples em
que se deve dividir o peso corporal (em Kg) pela altura (estatura em metros) ao
quadrado (ACMS, 2003).
Para verificar o nvel de equilbrio em que se encontram as mulheres, foi aplicado o
teste denominado parada da cegonha por TRITSCHLER (2003 apud Pereira;
Domingues Filho, 2009). O avaliado permanece sobre o p de apoio, no qual sente
maior confiana (aps duas tentativas de verificao), com as mos apoiadas na
altura da cintura e com o outro p apoiado, com a face plantar, na parte interna dojoelho da perna dominante. Aps comando do avaliador, o avaliado eleva o
calcanhar e permanece em apoio sobre os artelhos at perder o equilbrio, tocando
os calcanhares no cho ou tirando as mos da cintura, o que caracteriza motivo para
interrupo do teste. Sero realizadas seis tentativas consecutivas com 15 segundos
de descanso entre cada uma, sendo trs tentativas com os olhos abertos e trs
tentativas com os olhos fechados (neste a abertura dos olhos tambm interrompe o
teste). Com o cronmetro, o resultado aferido em segundos (em nmero inteiro),sendo que h arredondamento dos decimais para mais ou menos, dependendo da
frao decimal se aproximar at 0,5 ou maior que 0,5 respectivamente.
considerado o valor da melhor tentativa executada nas trs repeties, como o
resultado do teste.
Procedimentos
Foram convidadas todas as alunas adultas que praticam musculao na academia
Pr Corpo em Cidreira para participarem da pesquisa. As mulheres que aceitaram
participar assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
preencheram uma ficha de anamnese, um questionrio PAR-Q e um RISKO (ACMS,
2003). Estes procedimentos foram necessrios para cumprir as exigncias ticas do
trabalho e para avaliar as condies de sade das mulheres que iriam se submeter
ao treinamento. A primeira avaliao consistia nas medidas de estatura, peso e o
teste de equilbrio (Parada da Cegonha).
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As 30 mulheres foram divididas aleatoriamente em dois grupos. No primeiro grupo,
chamado de grupo controle, as mulheres continuaram realizando exerccios de
musculao na academia. O segundo grupo, chamado grupo experimental, realizou
um treinamento de estabilizao do core, treinamento funcional. Os dois grupos
realizaram uma semana de adaptao dos respectivos treinos. O treinamento
descrito neste estudo foi realizado durante seis semanas. Ao final do treinamento
foram aplicados as mesmas medidas de peso e altura e teste de equilbrio.
Durante as seis semanas de treinamento, cada treino se caracterizou por exerccios
gerais a fim de treinar resistncia muscular localizada. A durao do treino foi de,
aproximadamente, uma hora/treino, durante trs vezes na semana, em diasalternados. Os grupos realizaram 3 series de 12 a 15 repeties mximas, com 60s
de intervalo (KRAEMER;FLECK, 1999). A escolha do peso foi realizada calculando o
peso correto de RM para certo numero de repeties, no caso, 15RM, pela tentativa
e erro (FLECK, 2003). No inicio de cada aula as alunas realizavam um aquecimento,
caminhando durante 10 minutos na esteira, para facilitar a transio do repouso para
o exerccio (ACMS, 2003).
As alunas do grupo controle realizaram treinamento seguindo os exerccios
baseados no Guia dos Movimentos de Musculao (DALAVIER, 2000). Foram
prescritos os seguintes exerccios:
Treino A: leg press inclinado, agachamento hack, leg extension, supino,
abduo/aduo em aparelho especfico (peitoral), trceps com polia alta mos em
pronao, abdominal cho com aparelho especifico;
Treino B: aduo sentado com aparelho especifico, agachamento hack com ps
afastados, leg presscom ps afastados, remada aparelho especifico, puxada frente
com polia alta, flexo dos antebraos no banco scott, flexo lateral do tronco com
halter;
Treino C: leg curl, glteo quatro apoios com aparelho especifico, abduo sentado
com aparelho especifico, elevao lateral dos braos com halter, desenvolvimento
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aparelho especifica, trceps com polia alta mos em pronao, abdominal infra.
O grupo experimental realizou exerccios dentro da proposta do Treinamento
Funcional, com nfase na estabilizao do Core. Os exerccios foram realizados com
pesos livres, barra livre, bola sua, step, elsticos e jump. Os exerccios foram
baseados no manual Tcnico Core 360 Treinamento Funcional (DLIA, 2009) e
Treinamento Funcional Resistido (CAMPOS; NETO, 2004). Alm dos exerccios que
tinham por objetivo trabalhar a resistncia muscular do corpo de uma forma geral,
foram includos exerccios especficos para a estabilizao do Core, o equilbrio e
estimulao do sistema proprioceptivo, atravs de exerccios que exigiam
manuteno de posturas, exerccios com olhos fechados e com instabilidade.Exerccios estes, que utilizam movimentos em cadeia cintica fechada e que fazem
com que um indivduo melhore a sua capacidade de manter seu centro de gravidade
dentro da base de suporte, enquanto o mesmo utiliza um ou dois membros sobre
uma superfcie estvel ou mvel, de olhos abertos ou fechados (CAMPOS; NETO,
2004).
Eram realizados os movimentos bsicos do treinamento funcional baseando-se empadres de movimento: levantar, abaixar, agachar, empurrar, puxar, girar e avanar,
conforme figuras abaixo. Divididos em: treino A: agachar, avanar e empurrar; treino
B: levantar, puxar e rotar; treino C: levantar, agachar, puxar, empurrar. Em cada
treino eram realizados exerccios de estabilizao do core atravs dos exerccios de
prancha, flexo, extenso e rotao do tronco. Tambm eram realizados exerccios
de equilbrio com a bola sua atravs de manuteno de posturas na bola.
Figura 1: Posio inicial e final do exerccio Empurrar
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Figura 2: Posio inicial e final do exerccio Levantar
Figura 3: Posio inicial e final do exerccio Puxar
Figura 4: Posies de contrao isomtrica para Estabilizao do Core
Figura 5: Posio inicial e final do exerccio Rotar
Figura 6: Posio inicial e final do exerccio Agachar
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Resultados
Para essa pesquisa foi realizado o teste parada de cegonha TRITSCHLER (2003,
apud Pereira, Domingues Filho, 2009) com os olhos abertos e fechados, antes e
aps um treinamento curto de seis semanas, onde o grupo experimental realizou
exerccios de musculao e o grupo experimental exerccios funcionais.
O grfico 1 mostra o valor em tempo (segundos) de equilbrio com olhos abertos
(EOA) e fechados (EOF) no teste parada da cegonha realizado pelo grupo controle
antes e depois de seis semanas de treinamento com exerccios de musculao.
A mdia de tempo em que as alunas deste grupo permaneceram em equilbrio naposio parada da cegonha com os olhos abertos foi de 6,90 segundos no primeiro
teste e de 7,13 segundos aps o treinamento, o que no significa uma melhora
significativa no equilbrio das mesmas. Com os olhos fechados a mdia de tempo foi
de 1,93 minutos antes do treinamento e de 1,90 minutos depois das seis semanas, o
que no caracteriza diferena no nvel de equilbrio do grupo.
Grupo Controle
6,907,13
1,93 1,90
EOA ANTES EOA DEPOIS EOF ANTES EOF DEPOIS
Grfico 1- Valor em tempo (seg.) de equilbrio no teste Parada da Cegonha do grupo Controle
O grfico 2 mostra o valor em tempo (segundos) de equilbrio com olhos abertos(EOA) e fechados (EOF) no teste parada da cegonha realizado pelo grupo
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experimental antes e depois de seis semanas de treinamento com exerccios
funcionais com nfase na estabilizao do Core.
A mdia de tempo em que as alunas deste grupo permaneceram em equilbrio na
posio parada da cegonha com os olhos abertos foi de 12,75 segundos no
primeiro teste e de 37,58 segundos aps o treinamento, o que significa uma melhora
significativa no equilbrio das mesmas. Com os olhos fechados a mdia de tempo foi
de 1,50 segundos antes do treinamento e de 4,13 segundos depois das seis
semanas, o que caracteriza uma melhora significativa no nvel de equilbrio do
grupo.
Grupo Experimental
12,75
37,58
1,504,13
EOA ANTES EOA DEPOIS EOF ANTES EOF DEPOIS
Grfico 2- Valor em tempo (seg.) de equilbrio no teste Parada da Cegonha do grupo Experimental
Portanto, a melhora de equilbrio no teste do grupo experimental foi de 294% com osolhos abertos e 275% com os olhos fechados. Com estes resultados podemos dizer
que o treinamento funcional melhora o equilbrio e a propriocepo de mulheres
adultas saudveis e fisicamente ativas.
A fim de esgotar as comparaes das mdias obtidas nos resultados testes EOA e
EOF, conduziu-se o teste de Mauchly (p < 0,01) o qual a homogeneidade da
varincia foi rejeitada pelo teste. Sendo assim, conduziu-se um teste tpareado como intuito de verificar as diferenas existentes entre as mdias, em segundos,
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encontradas no pr e ps-teste. A tabela 3 apresenta estes resultados do grupo
controle e a 4 os do grupo experimental.
Dimenses Pareadas T gl P
EOAantesEOAdepois -0,343 14 0,736
EOFantesEOFdepois O,151 14 0,882Tabela 3: Comparaes entre os escores pr e ps-teste do grupo controle (EOA e
EOF)
Dimenses Pareadas T gl P
EOAantesEOAdepois -6,786 11 0,000EOFantesEOFdepois -7,096 11 0,000
Tabela 4: Comparaes entre os escores pr e ps-teste do grupo experimental(EOA e EOF)
Os resultados do teste tpareado da Tabela 3 mostra que no existem diferenas
estatisticamente significativas (p > 0,05) entre os resultados pr e ps-teste do EOA
e EOF. Em relao a comparao do pr e ps-teste do grupo experimental,
percebe-se que tanto no teste EOA e quanto no EOF a diferena foi significativa (p . Acesso em 13/04/2012.
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