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CARTOGRAFIA TÁTIL: O GRÁFICO COMO FORMA DE TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO E INCLUSÃO DO DEFICIENTE VISUAL. ESTUDO DE CASO: ALUNOS DA 5ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL DA CIDADE DE MARINGÁ-PR. Leia de Andrade (PIBIC/CNPq-FA UEM), Fernando Luiz de Paula Santil (Orientador), e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Maringá/Departamento de Geografia/Maringá, PR. Ciências Humanas/Geografia Palavras-chave: comunicação cartográfica, educação, geografia. Resumo É por meio da linguagem em Braille que o deficiente visual tem acesso à informação. A linguagem tátil é essencial para conhecimento do espaço geográfico e os recursos gráficos contribuem para a integração do deficiente visual na escola, no trabalho e junto à sociedade. A cartografia tátil auxilia na percepção do espaço, no conhecimento do meio e na compreensão da informação geográfica, pois os mapas, gráficos e imagens em alto relevo são os recursos disponíveis para partilharem com o deficiente visual esse conhecimento. No Brasil pouco tem se desenvolvido para superar a falta de recursos gráficos, enquanto que no cenário internacional, como é o caso atualmente da França, tem-se desenvolvido a criação de museu para os deficientes visuais e estes têm a oportunidade de conhecer a história da humanidade por meio das mãos. O objetivo deste projeto de pesquisa foi desenvolver gráficos táteis para estudantes de 5ª série de escolas estaduais da cidade de Maringá. Para isso, valeram-se das teorias de Piaget, que balizou o desenvolvimento cognitivo dos estudantes, e da semiologia gráfica, que ajudou no tratamento gráfico da informação para essa produção. Os resultados apontam que os gráficos construídos com EVA não somente instigam a exploração, bem como favorecem a percepção tátil em relação aos impressos em relevo. Por outro lado, é necessário respeitar o “espaço útil” do gráfico, no caso é indicado pela “distância entre as mãos”. Com relação leitura dos gráficos, as dificuldades detectadas foram à identificação de forma, as noções de escala e do sistema de coordenadas. Introdução No Brasil a educação dos deficientes visuais foi incluída no final dos anos 50 e inicio da década de 60. Anteriormente as iniciativas partiram de alguns órgãos oficiais e particulares, mas isolados; a partir de 1957 aconteceram às estruturações oficiais e de âmbito nacional. O marco inicial e histórico foi em 1854, quando D. Pedro II fundou o “Império dos Meninos Cegos” no Rio de Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.

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Page 1: TÍTULO DO RESUMO - anais.unicentro.branais.unicentro.br/xixeaic/pdf/2017.pdfLeia de Andrade (PIBIC/CNPq-FA UEM), Fernando Luiz de Paula Santil ... Resumo É por meio da linguagem

CARTOGRAFIA TÁTIL: O GRÁFICO COMO FORMA DE TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO E INCLUSÃO DO DEFICIENTE VISUAL. ESTUDO DE CASO: ALUNOS DA 5ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL DA CIDADE

DE MARINGÁ-PR.

Leia de Andrade (PIBIC/CNPq-FA UEM), Fernando Luiz de Paula Santil (Orientador), e-mail: [email protected]

Universidade Estadual de Maringá/Departamento de Geografia/Maringá, PR.

Ciências Humanas/Geografia

Palavras-chave: comunicação cartográfica, educação, geografia.

Resumo

É por meio da linguagem em Braille que o deficiente visual tem acesso à informação. A linguagem tátil é essencial para conhecimento do espaço geográfico e os recursos gráficos contribuem para a integração do deficiente visual na escola, no trabalho e junto à sociedade. A cartografia tátil auxilia na percepção do espaço, no conhecimento do meio e na compreensão da informação geográfica, pois os mapas, gráficos e imagens em alto relevo são os recursos disponíveis para partilharem com o deficiente visual esse conhecimento.

No Brasil pouco tem se desenvolvido para superar a falta de recursos gráficos, enquanto que no cenário internacional, como é o caso atualmente da França, tem-se desenvolvido a criação de museu para os deficientes visuais e estes têm a oportunidade de conhecer a história da humanidade por meio das mãos. O objetivo deste projeto de pesquisa foi desenvolver gráficos táteis para estudantes de 5ª série de escolas estaduais da cidade de Maringá. Para isso, valeram-se das teorias de Piaget, que balizou o desenvolvimento cognitivo dos estudantes, e da semiologia gráfica, que ajudou no tratamento gráfico da informação para essa produção.

Os resultados apontam que os gráficos construídos com EVA não somente instigam a exploração, bem como favorecem a percepção tátil em relação aos impressos em relevo. Por outro lado, é necessário respeitar o “espaço útil” do gráfico, no caso é indicado pela “distância entre as mãos”. Com relação leitura dos gráficos, as dificuldades detectadas foram à identificação de forma, as noções de escala e do sistema de coordenadas.

Introdução

No Brasil a educação dos deficientes visuais foi incluída no final dos anos 50 e inicio da década de 60. Anteriormente as iniciativas partiram de alguns órgãos oficiais e particulares, mas isolados; a partir de 1957 aconteceram às estruturações oficiais e de âmbito nacional. O marco inicial e histórico foi em 1854, quando D. Pedro II fundou o “Império dos Meninos Cegos” no Rio de

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.

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Janeiro. Em 1890, mudou de nome para “Instituto Nacional dos Cegos” e para Instituto Benjamin Constant (IBC), em 1891.

Em 1961, com a homologação da Lei de Diretrizes e Bases 4024/61 a educação das pessoas com deficiência passou a ser integrada ao sistema regular de ensino (Mazzotta, 1996).

A educação do município de Maringá-PR tem contado com o Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual (CAP). Inaugurado em 24 de agosto de 2001, foi o primeiro do interior do Paraná e o 19º do Brasil.

Na educação dos deficientes visuais na cidade de Maringá, há carência de material tátil e falta de profissionais qualificados para orientar crianças e adultos na alfabetização tátil. O maior bem está na informação e, para tanto, a pessoa que a detêm possui liberdade e autonomia. Partindo-se deste princípio, a questão da acessibilidade do conhecimento das pessoas com necessidades especiais torna-se uma exigência de respeito aos direitos humanos.

Os gráficos e mapas táteis, como aponta Loch (2008, p. 35), “podem funcionar como recursos educativos, quanto como facilitadores de mobilidade”, pois auxiliam o deficiente visual na aprendizagem escolar e formação social.

A percepção permite captar os estímulos e instigar o nosso pensamento por meio dos objetos, das pessoas, da leitura, entre outras. A percepção do deficiente visual é desenvolvida por intermédio de outros sentidos, que supera a falta da visão.

O objetivo dessa pesquisa é produzir, analisar e discutir gráficos táteis e a leitura desses materiais pelos deficientes visuais do ensino regular de Maringá.

Material e métodos

Material

Foram identificados dois alunos regularmente matriculados, no caso um aluno da 5ª série (11anos) e, o outro, da 6ª série (12anos). Esse levantamento foi obtido junto ao CAP. Pode-se mencionar ainda que esses alunos apresentam cegueira total.

Foi utilizado o livro didático, denominado Projeto Araribá Geografia 5º série, que é adotado no Colégio Estadual Presidente Kennedy no qual os alunos estão matriculados. Quanto a produção do material tátil, valeu-se do EVA, papel Paraná, barbante e da máquina para impressão em relevo ZY – Fuse heater, como ilustra a Figura 1.

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Figura 1 – Produtos táteis: EVA e a impressão em alto relevo. Foto: Obtida por Leia de Andrade (2010).

Métodos

Para que o deficiente visual consiga efetuar a leitura do gráfico tátil é necessário adaptá-lo as suas especificidades, e também considerar o seu nível de conhecimento. Mas para ocorrer a comunicação entre quem produz e quem lê é indispensável considerar dois sentidos: “visão usada pelo cartógrafo (ou geógrafo) e o sentido tátil usado para a leitura do gráfico” pelo deficiente visual (Andrews, 1988 p.183).

Para que essa comunicação seja eficiente, segundo Robbi (2008), o proponente do gráfico e o usuário devem possuir a mesma base de conhecimento. Caso contrário, ocorrerá um desencontro entre a proposta criada e a mensagem elaborada pelo usuário.

A partir da semiologia gráfica, que visa transcrever a relação observada nos dados à percepção visual (e tátil) e se vale de variáveis visuais que efetuam essa passagem (Bertin, 1981). Isso permitiu a elaboração dos gráficos táteis. A avaliação da leitura desses gráficos pelo deficiente visual foi balizada pelas proposições de Piaget e Inhelder (1993). De acordo com estágios (ou fases) do desenvolvimento mental, a fase característica de crianças de7 a 12 anos é tida como operatório concreto, no qual a criança adquire princípios de conservação e operação inversa, inicia-se a assimilação racional, e as operações são construídas através de elementos solidários, não isolados.

Resultados e Discussão

A avaliação dos materiais táteis definiu-se pelos conhecimentos primários, que antecedem a séries em que os alunos entrevistados se encontram, foram estabelecidas em três etapas: as formas geométricas, escala e sistema de coordenadas. As principais dificuldades encontradas foram: (a) as figuras geométricas “relativamente pouco diferenciadas” se tornaram confusas, permitindo a identificação do quadrado e do retângulo, contribuindo em vários momentos para o não reconhecimento dessas

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figuras. Isso assinala que na produção do gráfico é necessária a manutenção da forma, abrindo-se mão da proporcionalidade; (b) das formas geométricas utilizadas para construção dos gráficos e a comparação entre eles, percebeu-se dificuldades de leitura nos gráficos circulares, isto é, a identificação das repartições não é apurada (estimativa angular); (c) a alfabetização matemática e geográfica não foram identificadas com os alunos, ou seja, o conhecimento que antecede o estudo não está consolidado e (d) os progressos do pensamento em relação a assimilação racional, princípios de conservação, reversibilidade, ainda não foram identificados nos processos cognitivos.

Conclusões

Para a construção dos gráficos táteis foram utilizados materiais de baixo custo (EVA, papel Paraná, entre outros). Apesar disso, o seu uso não faz parte do ensino formal. Esse fato ficou demonstrado nas avaliações realizadas com os alunos, pois estes desconheciam tal produto. Como está previsto no artigo 59 da LDB, haverá recursos educativos para atender as necessidades dos deficientes visuais ou de baixa visão. Os mapas, os gráficos, as fotografias e as maquetes táteis podem ser indicados como esses recursos, como facilitadores à informação de um bairro, de uma cidade, entre outros. Esses recursos são denominados de tecnologia assistiva que corresponde, segundo Almeida & Loch (2005, p.41), “todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com restrições sensório-motoras e, conseqüentemente, promover vida independente e inclusão”.

Referências

Almeida, L. C.; Loch, R. E. N. Mapa tátil: passaporte para a inclusão. Revista eletrônica de extensão, 2005, n.3, p. 03-36.

Andrews, S. K.; Applications of a Cartographic Communication Model to tactual Map Design. The American Cartographer.Journal of American congress on surveying and mapping. 1988, V15, nº2

Bertin, J. Graphics and graphic information processing. Berlin: Walter de Gruyter, 1981.

Loch, Ruth E. N. Cartografia Tátil: mapas para deficientes visuais. Portal da Cartografia. 2008, v.1, n.1, p. 35-58.

Mazzotta, M. J. S.; Educação especial no Brasil: História e Políticas Públicas. Ed.: Cortez (Ed. 5). São Paulo, 2005.

Piaget, J.; Inhelder, B. A representação do espaço na criança. Ed.: Artes Médicas, Porto Alegre. 1993.

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