túmulo de mahu (ta 9) -...
TRANSCRIPT
1
Túmulo de Mahu (TA 9)
Fachada
1, 2 − Entrada, ombreiras. Petições funerárias. Pls.
XXVII (dir. e esq.).
Entrada
3 − Espessura. Em cima: O casal régio diante do
altar de Aton. Em baixo: Mahu, ajoelhado, entoa
um hino a Aton. Pls. XV, XXIX (inf.), XL (esq.).
4 − Mahu entoa um hino a Aton. Pls. XXIX (sup.
esq.).
Sala exterior
5 − Em cima: Recompensa de Tutu. Pl. XXIX
(sup. dir.)
6 − Estela: O rei e a rainha diante do altar. Em
baixo: Mahu ajoelhado. Pl. XVI, XLII (inf. dir.),
XXIX (centro dir.).
7, 8 − Em baixo: Mahu e os seus guardas diante do
templo. Pls. XIX, XVIII, XLII (sup. e inf. esq.).
9, 10 − Em cima: O casal régio na sua biga
precedido pelo vizir e pelos guardas deixa o
palácio para inspeccionar um fortim. Pls. XII/c,
XX, XXI (sup. e inf. esq.), XXVIII (centro).
11 − Estela: O rei e a rainha diante do altar. Mahu
ajoelhado, em baixo. Pls. XXIII, XXVIII (centro).
11, (sup. dir.) e 12-13 − Em cima: Mahu aprovi-
sionando as sentinelas. Pls. XXIV-XXV (sup., inf.
dir.), XXVIII (centro).
Entrada da câmara interior
14, 15 − Entrada. Lintel: Mahu adora as cartelas de
Aton. Ombreiras: Mahu ajoelhado e hino a Aton.
Pl. XXVII:
Fig. 1 − Distribuição das cenas ao longo do túmulo. Equivalência entre a classificação usada (Porter e Moss,
TBAE, vol. IV, p. 220) e a classificação de Davies, RTEA, vol. IV, Pl. XIV-A.
1. Cargos
Hry MaDAw n Axt-Itn
Chefe1 dos Medjau2 de Akhetaton,
1 Normalmente escrito Hr(y), «chefe».
2 Normalmente escrito maDAy. Os Medjay constituíam o corpo de polícia de
Akhetaton.
2
2. Breves notas sobre o túmulo
O túmulo foi descoberto por Bouriant em 18833. Localiza-se nm lugar retirado onde o chão
é quase plano. Uma escada estreita desce até uma profundidade suficiente para dificultar a acção
dos saqueadores (fig. 2). Uma vez que cedo foi invadido pelas areias, conservou a brancura das
paredes e as cenas que nelas estavam4.
Fig. 2 − Secção vertical do túmulo de Mahu (TA 9). Davies, RTEA, vol. IV, Pl. XIV-C
O túmulo é do tipo de corredor cruzado, simples e com uma segunda câmara no eixo da entrada,
através da qual se atinge a câmara funerária. A câmara exterior foi grosseiramente escavada e o
altar, ao fundo, dotado de uma entrada não acabada. Desta câmara, uma escada tortuosa de 47
degraus conduz até à câmara funerária5.
Dois degraus levam-nos até uma pequena divisão e, descendo mais dois degraus, até uma
sala com largura dupla da primeira. Esta contém um poço funerário, cheio de calhaus6.
3. Iconografia
3.1.A família real fazendo oferendas a Aton.
Espessura das paredes (Pls. XV, XXIX)
Os lados da curta entrada passagem para o túmulo estão ornamentados da maneira habitual
nos túmulos do sul7: À esquerda, a família real oferece um sacrifício no altar de Aton (Pl. XV) e
num painel mais a baixo a figura do morto e a sua oração (Pl. XXIX-D).
3 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. IV, p. 12. 4 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. IV, p. 12. 5 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. IV, p. 12. 6 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. IV, p. 12.
3
Fig. 3 − A família real adorando Aton (Pl. XV).
A oração que é um duplicado da que está na parede oposta com uma ou duas variantes na
ortografia, tal como nos túmulos de Apy, Any, Tutu e Meriré no grupo norte8.
Os rostos do casal régio estão bem preservados (fig. 3). As proporções contudo são algo
bizarras, com um aumento exagerado no tamanho da cabeça, associado a umas diminutas coxas9. O
rei verte incenso ou óleo em recipientes a arder, enquanto a rainha agita um ceptro e parece ter na
outra mão uma lâmpada ou uma pequena tigela com incenso a arder. Os dois uraei da sua coroa
estão presos por fitas esvoaçantes. O saiote do rei exibe uma franja com pendentes vidrados.
Meritaton é a única princesa representada. O motivo para tal não é claro; Davies aventa a hipótese
de que o artista não ter mais lugar para as outras princesas, além da herdeira que tem agora a idade
suficiente para aparecer em público junto dos pais10.
Protocolo de Aton
1
anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m Itn di anx
Dt (n)HH
7 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. IV, p. 13.
8 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. IV, p. 13. 9 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. IV, p. 13. 10 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. IV, p. 14.
4
«Viva Ré, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu nome de “A luz que
vem do disco solar”», dotado de vida eternamente e para sempre.
2
Itn anx wr nb Hb-sd nb Snw nb Itn nb pt nb tA
Aton vivo e poderoso, senhor de tudo (o que está contido) no circuito de Aton. Senhor do céu,
senhor da terra
m pr-Itn m Axt-Itn
na casa de Aton em Akhetaton11
À esquerda: extremidade da parede Norte, estela. À direita: extremidade da parede Sul,
falsa porta, Pls. XVI, XXII, (fig. 4).
Fig. 4 − À esquerda: extremidade da parede Norte, estela. À direita: extremidade da parede Sul, falsa porta.
Túmulo de Mahu (TA 9). Davies, RTEA, vol. IV, Pls. XVI, XXII.
11 No original, está apenas nb pt nb tA m Axt-Itn. Pareceu-nos erro do copista, pelo que se usou o
protocolo habitual.
5
Estela, (Pl. XVI) - Pequeno Hino a Aton
3.2.Recompensa de Mahu
No túmulo de Mahu (TA 9) somos confrontados com uma cena que por estar
degradada é de difícil interpretação (fig. 5). Talvez fosse mais uma cena de recompensa,
junto à Janela das Aparições. O rei estaria representado no extremo direito da figura e
Mahu, Hry MaDAw n Axt-Itn, «Chefe dos Medjau de Akhetaton»12, num plano
inferior, receberia, como outros oficiais, os presentes do rei com os quais se iria pavonear
diante de colegas e inferiores. O texto que acompanha a figura parece-se mais com uma
resposta do que com o início de uma eulogia:
Registo inferior
3
Hry MaDAw n Axt-Itn M(a)Hw Dd.f
O chefe dos Medjau de Akhetaton, Mahu, ele diz:
4
Sxpr.k m wDA m DAmw m DAmw pA HqA n Itn iw.k nHH
Tu fizeste-te grande, de geração em geração, ó soberano de Aton, tu existes para sempre!
12 Normalmente escrito maDAy. Os Medjay constituíam o corpo de polícia de
Akhetaton.
6
Fig. 5 − Mahu e a sua comitiva diante do palácio. Túmulo de Mahu, TA 9, parede traseira, lado
norte. (Pl. XVII).
Todavia, Mahu não está a ser agraciado com os habituais colares de ouro; nada
possui para exibir aos seus soldados e receber as habituais congratulações.
Fig. 6 − Mahu visita o templo, (Pl. XVIII). Enverga traje de cerimónia e usa um cone de perfume.
Segue-o um batalhão de polícias.
Isto não impede de, tal como o vizir Ramose, se dirigir ao templo (fig. 6) para rezar
pelo rei:
5
7
Snb pr-aA anx wDA snb pA Itn im-ma sw r (n)HH wa-n-ra qd m kA.f
Dá saúde ao faraó − vida, prosperidade, saúde − ó Aton , (que exista) para sempre o único de Ré,
feito como o seu ka (de Ré)
Dizem (os medjau): “ Ó meu belo senhor … os medjau, de Akhetaton”. Palavras
dos medjau que guardam o carro do comandante:
6
pA HqA nfr ir mnw it.f wHm.f st r nHH
O soberano perfeito que fez monumentos para o seu pai, possa ele fazer isto repetida-mente, para
sempre.
7
Dt pAy nb nfr nfr pA … … … … … m(a)DAw n Axt-Itn
Dizem (os medjau): Ó meu belo senhor … os medjau, de Akhetaton
Palavras dos medjau que guardam o carro do comandante:
8
Sxpr.n.f HH n wDA m DAmw m DAmw iw.f (n)HH mi Itn
Ele criou um milhão de gerações, ele existe para sempre, como Aton!
No registo superior, os medjau mostram-se em formatura e cantam um hino feito por
alguém não especificado, talvez o próprio Mahu:
9
MaHw n Axt-Itn xn n nh(m) ir.i r.f Dt n sxpr.f … …
8
Os medjau de Akhetaton cantam um canto de júbilo, que eu fiz para ele (o rei) dizendo: “Ele faz
nascer …
Ao lado encontram-se várias mulheres e uma criança, talvez a família do nosso
comandante. Pensamos que Mahu não foi recompensado, mas procurou dar este sentido à
cena.
3.3. Um funcionário no exercício do seu cargo: Mahu
Os funcionários akhenatonianos aparecem no desempenho da sua função em quase
todas as cenas anteriores sejam eles copeiros, sacerdotes, guerreiros ou artesãos. Trata-se,
no entanto, de personagens secundárias. Este não é o caso de Mahu, comandante da polícia
de Akhetaton, que nas paredes do túmulo (TA 9) conta as suas aventuras através de uma
perfeita banda desenhada da qual obviamente é o herói. Divide-se em vários episódios, cuja
análise e interpretação, faremos seguidamente.
3.1. Mahu acompanha o rei na inspecção das defesas de Akhetaton
O estabelecimento do Atonismo e a retirada da corte para Akhetaton causaram,
como vimos, reacções desfavoráveis, principalmente entre o clero de Amon. Nada leva a
crer que houvesse ameaças de tal modo sérias à segurança do rei, que tornassem necessário
o aparato militar que acompanha todas as suas deslocações. Deve, no entanto, ser levado
em conta o facto de a nova cidade estar em construção, com várias casas isoladas e grande
quantidade de bens preciosos a ser constantemente descarregados para integrar os novos
templos e palácios. O deserto, onde todos os fora-da-lei se acolhiam estava muito próximo
e é plausível que gente da cidade pudesse transmitir perigosas informações.
Houve, certamente desde muito cedo, a necessidade de, à falta de muralhas,
estabelecer uma linha de protecção que Akhenaton vai neste momento inspeccionar13.
Vêmo-lo abandonar o templo na sua biga, escoltado por Mahu e os seus quinze guardas
(figs. 7-8). O vizir Nakhtpaaton e o seu adjunto vêem-se obrigados a correr diante do seu
amo, numa atitude constrangida e que contrasta com a dos ginasticados Medjau14.
13 Túmulo de Mahu, TA 9, Davies, Norman de G., RTEA, vol. IV, pp. 15-16 14 Ibidem, p. 16. Como já referimos, os medjau eram uma antiga e aguerrida tribo que vivia nos desertos
orientais da Núbia. Alguns dos seus membros passaram ao serviço do Egipto, logo a partir do Segundo
9
Fig. 7 – Akhenaton abandona o templo para ir inspeccionar as defesas da cidade.
Túmulo de Mahu, TA 9, parede traseira, lado sul, Pls. XX-XXI.
Fig. 8 – Akhenaton abandona o templo para ir inspeccionar as defesas da cidade (conclusão).
Túmulo de Mahu, TA 9, extremidade da parede sul, Pls. XXI.
O objectivo da excursão é o pequeno fortim mostrado no extremo direito da fig.7. É
meramente uma torre sem janelas, com entrada por uma porta ao nível do solo e baluartes
salientes, guarnecidos de ameias. Como protecção para ataques nocturnos, tem uma linha
Período Intermediário como soldados e polícias, tal como aparecem no túmulo de Mahu. Ver «Medjay» em
SHAW, Ian and NICHOLSON, Paul, The Dictionnary of Ancient Egypt, p. 178.
10
quádrupla de abrigos de sentinela ligados por cordas, sistema que provocaria a confusão
dos possíveis atacantes e o consequente alarme dos defensores15.
A biga real corre ao longo das guaritas (fig. 9) onde se alinham sentinelas curvadas.
Em frente do carro, Mahu faz uma saudação, gesto que repete no registo médio.
Aparentemente alheio a estas demonstrações, Akhenaton beija Nefertiti, enquanto
Meritaton usa uma varinha como se fosse a condutora. No registo mais à direita e atrás da
biga real, o vizir saúda o rei. O omnipresente Hry MaDAw n Axt-Itn, «Comandante
dos Medjau de Akhetaton»16 aproveita para se fazer representar (e com a mesma altura!)
clamando:
10
Wa-n-Ra n iw.k r nHH pA qd Axt-Itn ir Ra Ds.f
Uaenré, tu existirás para sempre, ó construtor de Akhetaton, actuando como o próprio Ré.
Fig. 9 − O casal régio acompanhado pela princesa Meritaton passa pelos abrigos das sentinelas na
sua biga. À direita: Saudação de Mahu, do vizir, dos oficiais e dos guardas.
Túmulo de Mahu, TA 9, parede traseira, lado sul, Pls. XXI-XXII.
À esquerda, desarmados e abrindo caminho à biga real correm «os Medjau de
Akhetaton». À retaguarda, uma personagem ajoelhada saúda o rei, é Mahu que rapidamente
se desloca para a frente do carro e (pasme-se!) tem praticamente a mesma altura que o rei e
a rainha.
15 Túmulo de Mahu, TA 9, Davies, Norman de G., RTEA, vol. IV, p. 16
16 Normalmente escrito maDAy. Os Medjay constituíam o corpo de polícia de
Akhetaton.
11
3.4. Mahu, agente da lei e da ordem
A extremidade sul da parede da frente do túmulo de Mahu contém uma grande
quantidade de cenas relativas à sua profissão, que a ausência de texto torna a interpretação
algo ambígua. Norman de G. Davies começou por admitir que as cenas superiores
representassem a recepção de tributos ou direitos de passagem relativos a caravanas ou aos
camponeses que estivessem a entrar na cidade com os seus produtos. Acabou, no entanto,
por decidir-se por um episódio bem mais saboroso e digno de um ego tão inflacionado
como o de Mahu17. Apresentamo-lo de seguida.
3.4.1. Mahu e um armazenista demasiado zeloso, de Akhetaton
Acima da falsa porta que termina a parede sul (fig. 10) vemos Mahu que, um belo
dia, se dirigiu com a sua escolta a um armazém da cidade18 para requisitar determinados
bens. Indiferente a tão eminente figura, o encarregado recusou, terminantemente, fornecê-
los.
Fig. 10 − Mahu e o chefe do armazém.
Túmulo de Mahu, TA 9, moldura da direita sobre a falsa porta, Pl. XXV.
Sem perder tempo, Mahu foi procurar o TAt(y) n Axt-Itn, «Vizir de
Akhetaton» (sic), reconhecível pelo seu traje, mas com o nome ilegível. Encontrou-o na
companhia de um oficial, nb tAwy Hs.f ¡qA-nfr, «do senhor das Duas Terras, o
17 DAVIES, Norman de G., The Rock Tombs of El-Amarna, vol. IV, pp. 16-18. 18 Trata-se sem dúvida de um armazém militar, dirigido por um soldado como se verifica pelo uniforme que
usa, nomeadamente pela característica protecção ventral em forma de coração.
12
seu amado, Heqqenefer», junto de uma braseira (fig.11). Com a devida indignação, Mahu
relatou o vexame por que passara19.
O vizir deu-lhe razão e eis que o problema do fornecimento é imediatamente
resolvido.
,
Fig. 11 − Mahu participa a ocorrência aos seus superiores. Túmulo de Mahu, TA 9, parede da frente, lado sul, metade superior, região direita, Pl. XXIV.
Mahu regressa em glória, como executante de uma ordem superior, e é recebido de
maneira muito diferente. O miserável armazenista diminuiu de tamanho20, tem agora
metade da altura do chefe da polícia, e todo ele se desfaz em cumprimentos (fig. 12).
Fig. 12 − Mahu volta a encontrar-se com o chefe do armazém. Túmulo de Mahu, TA 9, parede da frente, lado sul, metade superior, região esquerda, Pls. XXIV.
19 DAVIES, Norman de G., The Rock Tombs of El-Amarna, vol. IV, p. 17. 20 Repare-se que Mahu agora já não é recebido por um simples soldado mas por alguém que, pelo seu traje
deve ser um superior do pobre militar, talvez um dos dois que estão no registo superior, humildemente
curvados
13
Mahu conseguiu os bens que solicitara, armas, tecidos (?) e provisões frescas,
trazidas pelos aldeões até ao posto, (fig. 13). Mulheres e crianças trazem pão, peixe, vinho,
bilhas de água e frutos, tudo transportado em burros ou às suas costas. São recebidos no na
casa da guarda. O fortim é semelhante ao que já foi descrito mas aqui o seu interior é
mostrado. Tem aparentemente três andares, o rés-do-chão é usado como armazém de
alimentos, o primeiro andar como sala da guarda, onde estão penduradas as sandálias da
guarnição, e o segundo como armaria.
Fig. 13 − Abastecimento da guarnição. Túmulo de Mahu, TA 9, parede da frente, lado sul, metade
inferior, região esquerda (Pl. XXIV).
Quando a quota está completa, o escriba faz o relatório a Mahu que está
acompanhado pelo seu cão (fig. 14)21.
21 Os soldados são muitas vezes acompanhados de cães, especialmente treinados para procurar prisioneiros
foragidos. É possível que este animal tenha colaborado na captura dos dois fugitivos da fig. III.47. Ver MC
DERMOTT, Bridget, Warfare in Ancient Egypt, p. 113.
14
Fig. 14 − Um escriba dá conta ao comandante da polícia que as suas ordens foram cumpridas.
Túmulo de Mahu, TA 9, região direita da falsa porta, Pl. XXV.
3.4.2. Mahu, terror dos criminosos de Akhetaton
As cenas inferiores da parede da frente, lado sul têm um significado mais óbvio e
também elas contam mais um episódio da gesta heróica de Mahu. De manhã cedo, é
visitado em sua casa por três guardas que lhe transmitem um relatório de ocorrências. Está
frio e uma braseira foi trazida para fora de casa e está a ser espevitada por um servo, (fig.
15).
Fig. 15 − Mahu, apoiado num bordão ouve o relatório dos seus subordinados. Túmulo de Mahu,
TA 9, parede da frente, lado sul, metade superior, região esquerda, Pl. XXVI.
As notícias são boas: o paradeiro de alguns malfeitores foi descoberto. Exigem-se
medidas rápidas e imediatamente todos entram em estado de alerta. O carro aguarda já o
intendente e um destacamento de seis homens acorre ao seu chamamento. Estão armados de
bastões, curiosos paus bifurcados, e uma azagaia (fig. 16).
15
Fig. 16 − O carro de Mahu, e a sua escolta vão partir em busca de criminosos. Túmulo de Mahu,
TA 9, parede da frente, lado sul, metade superior, região direita, Pl. XXVI.
Na sequência de uma luta que, certamente, foi heróica mas não está representada,
Mahu e a sua escolta dominam os bandidos que são imediatamente capturados e todos
regressam à cidade (fig. 17).
Fig17 − Mahu regressa no seu carro, depois de capturar os criminosos.
Túmulo de Mahu, TA 9, parede da frente, lado sul, metade inferior, região esquerda, Pl. XXVI.
Resta agora levar os criminosos diante do vizir, para julgamento (fig. 18).
18 − Mahu conduz três fugitivos à presença do vizir.
16
Túmulo de Mahu, TA 9, parede da frente, lado sul, metade inferior, região direita, Pl. XXVI.
O vizir está de pé, junto de um pórtico, acompanhado pelos oficiais superiores do
faraó e pelos srw aA n pr-aA anx wDA snb HAtw n mSaw aHaty m-bAH
Hmt.f, «Os oficiais do faraó − vida, prosperidade, saúde − os que estão à frente do
exército que está diante de Sua Majestade». Enquanto os soldados arrastam os seus
prisioneiros, devidamente curvados e manietados, o comandante Mahu relata os
acontecimentos:
11
Hry MaDAw n Axt-Itn M(a)Hw Dd.f
O chefe dos Medjau de Akhetaton, Mahu ele diz:
12
sDm nAy srw rmT Tsi n nA(y) n xAswt
Que estes oficiais oiçam (esta) gente que queria subir22 a estas terras montanhosas
Palavras do vizir:
13
wAH pA Itn wAH pA HqA TAt(y) Dd.f
“Tal como Aton perdura, assim perdure o soberano!”, diz o vizir
Atrás do vizir estão quatro funcionários designados por:
14
srw aA n pr-aA anx wDA snb HAtw n mSaw aHaty m-bAH Hmt.f
22 Tsi, «subir». O texto dá ideia de que se trata de trabalhadores fugitivos, capturados pela polícia.
17
Os oficiais do faraó − vida, prosperidade, saúde − os que estão à frente do exército que está diante
de Sua Majestade
Os três infelizes fugitivos, já devidamente algemados sob suspeita de serem espiões
ou assassinos, têm diferentes nacionalidades, um pode ser egípcio e os outros
possivelmente beduínos. A admiração do vizir dá conta da importância da captura.
3.5. Parede traseira. Passagem para a sala interior, (Pl. XXVII)
No topo e ao centro, os protocolos de Aton e dos reis. À esquerda e à direita, Mahu está
representado, de joelho em terra, na posição de orante. Só é possível ler parcialmente a legenda da
direita.
15
… w n pA Itn … … … … n … … Wa-n-Ra
… de Aton … … … … de … … Uaenré
16
in pA Hry MaDAy n Axt-Itn M(a)Hw mAa-xrw
pelo chefe dos Medjau de Akhetaton, Mahu, justificado.
Umbrais interiores
Esquerda.
1ª Coluna
17
18
Anx it.i anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m
Itn
Viva meu pai, «Ré vivo, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu nome de
“A luz que vem do disco solar”,
Di anx Dt (n)HH nsw-bit(y) nb-tAwy
dotado de vida eternamente e para sempre». O rei do Alto e do Baixo Egipto, senhor das
Duas Terras
18
Nb-tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra di anx nb Xaw Ax-n-Itn aA m aHaw.f
(Viva o) senhor das Duas Terras Neferkheperuré Uaenré, filho de Ré, senhor das coroas,
Akhenaton, grande no seu tempo de vida
19
Hmt-nsw wrt Nfr-nfrw-Itn Nfrt-iti anxt Dt (n)HH
(e a) grande esposa real, viva eternamente e para sempre23
2ª Coluna
20
iAw n kA.k pa Itn anx nb stwt sHD (.k) tAwy
Louvores ao teu ka, ó Aton vivo, senhor dos raios, quando iluminas as Duas Terras
23 Sentido de leitura: direita para a esquerda.
19
21
n stwt.k n tA nb htp.k m Axt imntt
com os teus raios, toda a terra e quando repousas no horizonte ocidental.
22
n kA n Hry MaDAw n Axt-Itn M(a)Hw mAa-H(rw)
Pelo ka do chefe dos Medjau de Akhetaton, Mahu, justificado24
3ª Coluna
23
iAw n kA.k … … … … (Itn) anx … Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra pAy
(.i) nTr nsw
Louvores ao teu ka … … (Aton) vivo … e a Nerferkheperuré Uaenré, meu deus e soberano …
24
… … m ? xrw ir.f Hsswt it.f pA Itn
… … ? justificado que seu pai, Aton, cumulou de favores
25
n kA n Hry MaDAw n Axt-Itn M(a)Hw mAa-H(rw)
Pelo ka do chefe dos Medjau de Akhetaton, Mahu, justificado.
4ª Coluna
24 Repare-se nesta forma abstrusa e errada de escrever mAa-xrw…
20
26
iAw n kA.k n stwt.k wbn
Louvores ao teu ka e aos teus raios! Quando nasces
27
m Axt iAbtt n pt (sic)
no horizonte oriental do céu
28
Awy.sn m iAw n kA.k anx HAtyw
as mãos deles (erguem-se) em adoração ao teu ka e os (seus) corações vivem.
29
n kA n Hry MaDAw n Axt-Itn M(a)Hw mAa-H(rw)
Pelo ka do chefe dos Medjau de Akhetaton, Mahu, justificado.
5ª Coluna − Idêntica à primeira
6ª Coluna
30
iAw n kA.k tAy.k nfr(w) pA I(t)n anx nb (n)HH
Louvores ao teu ka e à tua beleza, ó Aton vivo, senhor da continuidade
31
21
di.k n.i qrst nfrt m-xt m iAw(t)
Concede-me uma bela sepultura depois da velhice.
32
n kA n Hry MaDAw n Axt-Itn M(a)Hw mAa-H(rw)
Pelo ka do chefe dos Medjau de Akhetaton, Mahu, justificado.
7ª Coluna
33
iAw n kA.k pA Itn anx … … Itn anx nb (n)HH
Louvores ao teu ka, ó Aton vivo! … … … … Aton vivo, senhor da continuidade.
34
di.f iw.k THn di n iri ti wsr
Ele garante que tu (o rei) existas, resplandecente, e mandou conceder-te o poder.
35
Di T(t) r Hry MaDAw n Axt-Itn M(a)Hw mAa-H(rw)
Seja dada uma mesa de oferendas25 ao chefe dos Medjau de Akhetaton, Mahu, justificado.
8ª Coluna
36
25 Tradução de um verbo com sujeito indeterminado. O signo a inserir é R3p que não existe no programa
utilizado. Ver BONNAMY et SADEK, op. cit., p. 971.
22
iwA n kA.k (pA nsw-bity)anx m MAat nb-tAwy
Louvores ao teu ka (ó rei do Alto e do Baixo Egipto) que vive em Maet, senhor das Duas Terras
Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra di anx di.f Hsw r-a
Neferkheperuré Uaenré, dotado de vida. Possa ele conceder favores ao (ka de Mahu).
37
n kA n Hry MaDAw n Axt-Itn M(a)Hw mAa-H(rw) imAx
Pelo ka do chefe dos Medjau de Akhetaton, Mahu, justificado e venerável
Todas estas orações estão assinadas por:
M(a)Hw wHm anx
Mahu, que vive de novo.
Umbrais exteriores da porta, (Pl. XXVIII)
1ª Coluna
38
(iAw n.k) Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m Itn
(Louvores a ti), «Ré vivo, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu
nome de “A luz que vem do disco solar”,
Di anx Dt (n)HH nsw-bit(y) nb-tAwy
23
dotado de vida eternamente e para sempre», ao rei do Alto e do Baixo Egipto,
senhor das Duas Terras
39
Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra di anx nb Xaw Ax-n-Itn aA m aHaw.f
Neferkheperuré Uaenré, filho de Ré, senhor das coroas, Akhenaton, grande no seu tempo de vida
40
Hmt-nsw wrt Nfr-nfrw-Itn Nfrt-iti anxt Dt (n)HH
(e à) grande esposa real, viva eternamente e para sempre26
2ª Coluna
41
iAw n.k pA Itn anx wbnw r sAnx Tni.n.k
Louvor a ti, ó Aton vivo, quando nasces para dar vida aos que favoreceste.
42
Anx.sn n mAA stwt.k
Eles vivem ao ver os teus raios,
43
Hr di tw aHaw.k m rnpwt n nsw-bit(y) anx m mAat nb tAwy
enquanto concedes o teu tempo de vida, em anos, ao rei do Alto e do Baixo Egipto, que vive em
maet, o senhor das Duas Terras
26 Sentido de leitura: direita para a esquerda.
24
Nfr-xprw-Ra di anx Dt (Ma)Hw mAa-xrw
Neferkheperuré, dotado de vida eternamente. (Ma)hu, justificado.
3ª Coluna
44
iAw n.k pA Itn anx nTr wsr mryty
Louvor a ti, ó Aton vivo, deus augusto e amado
45
qmA sw msi sw Ds.f
que se criou e engendrou ele próprio
46
(di).k rsy mHtt n sA.k pri m Haw.k
(Concede) o sul e o norte ao teu filho27 que saiu do teu corpo
47
sA Ra anx m mAat nb Haw Ax-n-Itn aA m aHa(w).f
o filho de Ré, que vive em maet, o senhor das coroas, Akhenaton, grande
27 Na verdade, o que está escrito é «filha». Deve tratar-se de um erro.
25
no seu tempo de vida
(Ma)Hw mAa-xrw
(Ma)hu, justificado
4ª Coluna − Idêntica à primeira
5ª Coluna
48
iAw n.k pA Itn anx sn ta n Wa-n-Ra
Louvor a ti, ó Aton vivo, beijando a terra (diante) de Uaenré,
49
pA nTr qd rmT sanx tAwy
o deus que faz as pessoas e dá vida às Duas Terras.
50
di.k n.i qrst nfrt m-xt m iAwt
Concede-me uma bela sepultura, depois da velhice.
51
n kA n Hry MaDAw n Axt-Itn M(a)Hw mAa-H(rw)
Pelo ka do chefe dos Medjau de Akhetaton, Mahu, justificado.
26
6ª Coluna
52
iAw n.k pA Itn anx
Louvor a ti, ó Aton vivo,
53
nb (n)HH iw.k tHnT an n ti wsr
senhor da continuidade! Tu és brilhante, belo e poderoso
54
dit mrwt wrt
dotado de um amor grandioso.
55
n kA n Hry MaDAw n Axt-Itn M(a)Hw mAa-H(rw)
(Pelo ka do chefe dos Medjau de Akhetaton, Mahu, justificado.)
Vão do norte, (Pl. XXIX) - Pequeno Hino a Aton
27