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UFRN – UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SEDIS-SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA – EaD
POLO – PARNAMIRIM – RN
AS EXPRESSÕES DA VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE
PARNAMIRIM/RN: UMA ANÁLISE A PARTIR DA VISÃO DOS GESTORES
ESCOLARES
VALÉRIA REGINA C. DE OLIVEIRA
PARNAMIRIM
2016
VALÉRIA REGINA C. DE OLIVEIRA
AS EXPRESSÕES DA VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE
PARNAMIRIM/RN: UMA ANÁLISE A PARTIR DA VISÃO DOS GESTORES
ESCOLARES
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Departamento de Educação da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte como requisito
parcial para obtenção do grau de Pedagogo.
Orientadora: Profa. Ms. Fernanda Mayara
Aquino.
Parnamirim
2016
VALÉRIA REGINA C. DE OLIVEIRA
AS EXPRESSÕES DA VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE
PARNAMIRIM/RN: UMA ANÁLISE A PARTIR DA VISÃO DOS GESTORES
ESCOLARES
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
curso de Pedagogia - EAD da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como requisito
parcial para obtenção do título de licenciada em
Pedagogia, sob orientação da Profa. Ms.
Fernanda Mayara Sales de Aquino.
Aprovado em
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________
Profa. Ms. Fernanda Mayara Sales de Aquino- UFRN (Orientadora)
__________________________________________________________
Profa. Ms. Ivone Priscilla de Castro Ramalho – UFRN
Membro Titular Interno
____________________________________________________________
Profa. Ms. Louize Gabriela Silva de Souza – UFRN
Membro Titular Interno
AGRADECIMENTOS
À DEUS,
À minha família: Lourdes (minha mãe), Zenóbio Filho e Louise Sofia (filhos),
Vantuil, Vantiê e Valéssia (irmãos) e todos e todas que direta ou indiretamente completam a
minha família, como também à todos os familiares, que (in memoriam); continuam orando e
torcendo por nós que aqui ainda estamos na busca da evolução
Ao meu namorado e companheiro (Augusto), que muito me impulsionou para o
término de mais esta graduação e que com todo carinho me auxiliou na construção deste
trabalho.
Às tutoras Cristyane e Dalva, que nunca me deixaram desistir de mais este desafio.
Aos companheiros Priscila e Rafael, por partilharem as angústias e alegrias
juntamente comigo nestes anos de graduação e que juntos formamos o grupo dos
desenrolados;
À professora Fernanda Mayara que prontamente me acolheu e aceitou o desafio de
me orientar.
Às professoras Ivone e Louize que prontamente aceitaram o convite para compor a
minha banca e assim, enriquecerem ainda mais este trabalho. A vocês desde já o meu muito
obrigada.
Como iniciei termino, agradecendo a Deus esta força suprema que me concedeu mais
esta realização.
Valéria Regina Carvalho de Oliveira
OLIVEIRA. Valéria Regina Carvalho De. As Expressões da Violência nas Escolas
Municipais de Parnamirim/RN: uma análise a partir da visão dos gestores escolares.
Trabalho de Conclusão de Curso. Graduação em Pedagogia. Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. NATAL-RN
RESUMO
Com vistas a analisar as expressões da violência nas escolas municipais de
Parnamirim/RN, a partir da visão dos gestores escolares, este artigo foi construído. Assim,
apresenta os resultados de uma pesquisa qualitativa que analisou as expressões da violência e
a frequência em que estas ocorrem em oito (8) escolas que atendem ao público de Ensino
Fundamental I e II no diurno e ao público de EJA no turno noturno, com destaque para o I
semestre do ano de 2016. Para tanto, reflete sobre a violência e as suas diversas expressões e o
papel do gestor escolar. Por fim, constata que as análises demonstram a desconstrução da
ideia partilhada por uma parte considerável da equipe escolar de que a juvenilização da EJA
seja uma determinante para a violência sofrida pelas escolas e aponta como sendo algumas
formas de atuar junto a temática da violência no contexto escolar com vistas a preveni-la: a
necessidade do gestor escolar buscar desenvolver um trato para com as situações que
requerem o respeito a heterogeneidade, considerando a existência de diferentes padrões
culturais e também a adoção de ações que busquem mediar conflitos que potencialmente
podem vir a ser situações materializadas em alguma expressão das diversas formas assumidas
pela violência.
Palavras-Chave: Violência Escolar. Gestor Escolar. Parnamirim-RN
ABSTRACT
In order to analyze the expressions of violence in public schools in Parnamirim/RN,
from the perspective of school management, this article was built. Thus, it presents the results
of a qualitative study that analyzed the expressions of violence and the frequency in which
they occur in eight (8) schools serving the Elementary School I and II public during the day
and EJA public on night shift, especially the first semester of 2016. Therefore, this paper
reflects about violence and its various expressions and the role of the school manager. Finally,
notes up that the analysis shows the deconstruction of the idea shared by a considerable part
of the school team that the EJA juvenilisation is decisive for the violence suffered by schools,
and points out how some forms of violence prevention: the need for school manager seek to
develop a way to deal with situations that require respect for heterogeneity, considering the
different cultural patterns and also the adoption of actions that seek to mediate conflicts that
which may materialize in some expression of the various forms taken by violence.
Keywords: Scholl Violence; Scholl Manager; Parnamirim-RN
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Violência sofrida em espaço temporal .......................................................... 20
QUADRO 2 - Tipo de violência ocorrida no interior da escola ......................................... 21
QUADRO 3 - Tipo de violência ocorrida no interior da escola ......................................... 22
QUADRO 4 - Tipo de providências ...................................................................................... 22
QUADRO 5 - Turno em que a violência ocorre com maior frequência ............................ 23
LISTA DE SIGLAS
EJA – Educação de Jovens de Adultos
GAVIN – Gabinete Civil
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
NASE – Núcleo de Ações Socioeducativas
SEARH – Secretaria de Administração e de Recursos Humanos
SEHAB – Secretaria Municipal de Habitação e Regularização Fundiária
SELIM – Secretaria Municipal de Limpeza e Urbanismo
SEMAS – Secretaria Municipal de Assistência Social
SEMEC – Secretaria Municipal de Educação e Cultura
SEMOP – Secretaria Municipal de Obras Públicas e Saneamento
SEMUT – Secretaria Municipal de Tributação
SEMUR – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano
SESAD – Secretaria Municipal de Saúde
SETEL – Secretaria Municipal de Turismo, Esporte e Lazer
SETRA - Secretaria Municipal de Turismo de Trânsito e Transporte
SEPLAF – Secretaria Municipal de Planejamento e Finanças
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 10
2. PROBLEMATIZAÇÃO.................................................................................................... 12
3. METODOLOGIA ............................................................................................................. 16
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................................... 20
5. APROXIMAÇÕES CONCLUSIVAS .............................................................................. 26
6. REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 29
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA APLICADA AOS PROFISSIONAIS DA
ESCOLA ................................................................................................................................... 31
10
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo é resultado de uma observação desenvolvida por esta profissional
que encontra-se desenvolvendo um trabalho de acompanhamento, através do Núcleo
Psicossocial às escolas municipais de Parnamirim-RN, que atendem ao público de Jovens e
Adultos, com o intuito de observar, encaminhar e/ou orientar a comunidade intra e extra
escolar; esta pesquisa é ainda, fruto das observações desenvolvidas enquanto estive como
estagiária do curso de Pedagogia da UFRN.
Para tanto, a referida pesquisa objetiva analisar as expressões da violência nas escolas
municipais de Parnamirim/RN, a partir da visão dos gestores escolares e aponta como
indagações: Quais os tipos de violência que mais são percebidas pelo público investigado?
Quais mecanismos são acionados por estes, para o trato com a violência? E em que turnos e
ou períodos os atos violentos ocorrem, com maior frequência? Com este intuito, a referida
pesquisa será de cunho qualitativa e tomará por base análise de ações e/ou atos de violência
ocorridas nas escolas, que tenham sido registradas e/ou relatadas no município de
Parnamirim/RN.
Destaco que o município de Parnamirim, neste ano de 2016, conta com 8 (oito)
escolas que atendem ao público da Educação de Jovens e Adultos e estas atualmente tendem a
concentrar a demanda existente para tal modalidade de ensino que é advinda de todos os
bairros. No entanto, cabe ressaltar que estas mesmas escolas também atendem no período
diurno a alunos do Ensino Fundamental I e II, que também cabe ser analisado quanto à
existência ou não de ações que expressem violência na escola, durante estes horários.
Dessa forma, cabe ressaltar que a escolha dessas escolas também se deve a ação que a
SEMEC desenvolve através do núcleo Psicossocial, acompanhando as atividades escolares no
turno noturno, buscando desenvolver dentre outras ações: orientações, encaminhamentos e
mediação de conflitos e, por último, acrescenta-se ainda o interesse por esta área de atuação
do Pedagogo.
Desse modo, metodologicamente busquei investigar o período do 1º semestre de 2016,
tendo em vista que está sendo um semestre em que com frequência as equipes escolares, vem
buscando a SEMEC, local em que atuo, especificamente no setor Psicossocial, para
manifestarem suas angústias, expressando o temor pela onda de violência que vem
acontecendo frequentemente tanto no interior como nos arredores das escolas e ainda
deixando subentendido a ideia partilhada por uma parte considerável da equipe escolar de que
11
a presença do público jovem na EJA1 seja uma determinante para a violência sofrida pelas
escolas.
Assim, a metodologia aqui adotada corresponde a uma pesquisa qualitativa, tendo em
vista que esse tipo de pesquisa nasce da percepção da dificuldade nas Ciências Sociais de
decompor os fenômenos em variáveis isoladas, quantificá-las e determiná-las, constatando-se
assim, ser inviável a percepção de um fenômeno separando-o de seus múltiplos
determinantes.
Ressalta-se que o assunto violência vem tornando-se um problema em um contexto
geral, no RN e particularmente, em Parnamirim, apresenta-se ainda como um grande desafio a
ser encontrado estratégias, especificamente pelas escolas que na atualidade buscam novas
alternativas no trato desta questão.
E é nesta perspectiva, que será realizada a discussão sobre as várias concepções de
violência, destacando que a violência de certa forma, se reproduz na escola, visto ser esta
instituição responsável por formar o cidadão e aliado a este contexto a percepção do gestor
escolar sobre tal problemática.
1A EJA surge de um histórico de lutas pelo direito à educação de pessoas jovens, adultas e
idosas das classes populares e constitui-se em um conjunto de processos e práticas formais e
informais que se voltam à aquisição ou ampliação de conhecimentos básicos, de competências
técnicas e profissionais ou de habilidades socioculturais.
12
2. PROBLEMATIZAÇÃO
Diante do exposto, e considerando que as escolas já referenciadas vem enfrentando
dificuldades para lidar com essa questão e conforme já relatado, buscam auxílio extra escolar
para consecução de seus objetivos, no que se refere ao oferecimento de seus serviços sem que
haja as constantes quebras do ritmo destas atividades, pelas ações de violência. Porém,
percebe-se que ainda assim; algumas escolas vem conseguindo executar ações, através de
procedimentos interdisciplinares, nas dimensões educativas e sociais.
Portanto, se faz necessário a que sejam destacados os conceitos, tipos e formas de
violência, bem como uma rápida incursão sobre os gestores escolares, tendo em vista que são
estes profissionais que acompanham diariamente a ação educativa no cotidiano da escola,
chegando à eles os problemas que ocorrem, bem como a busca por soluções.
CONCEITOS, TIPOS E FORMAS DE VIOLÊNCIA
A multidimensionalidade da violência é um aspecto especialmente tratado por
Schilling (2004) tendo em vista que a violência pode acontecer nos mais diversos tipos de
relações e se expressar de diferentes maneiras: nas paixões, na família- contra a mulher, a
criança, o idoso, o portador de necessidades especiais, contra aquele (a) que tem uma
orientação sexual diferente -, no desemprego, na fome, na falta de acesso e de oportunidades,
na falta de justiça, na miséria, nas instituições- dentre elas: nas escolas, nas prisões, na polícia,
na corrupção, no preconceito, no racismo, na discriminação, dos crimes do ódio-; entre tribos,
entre aqueles que se juntam e consideram o outro um inimigo a ser aniquilado, na
criminalidade.
Tendo em vista essa multidimensionalidade da violência e considerando que elas
dialogam de maneiras diferentes e peculiares entre si, tomaremos aqui como referência dois
conceitos de violência.
Para Michaud (1989) ocorre violência quando, numa situação de interação, um ou
vários atores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou
várias pessoas, seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses,
ou em suas participações simbólicas e culturais. Em sua definição, Michaud amplia a
concepção das formas de violência, abrangendo os âmbitos social e psicológico.
Dando sequência à ampliação das formas de violência, destacamos também o conceito
de Chauí (1999), que realiza um contraponto entre violência e ética, destacando violência
como sendo um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico ou psíquico contra alguém e
13
caracterizando relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo
medo e pelo terror. A violência se opõe à ética porque trata seres racionais e sensíveis,
dotados de linguagem e de liberdade, como se fossem coisas, isto é, irracionais, insensíveis,
mudos, inertes ou passivos.
As duas definições aqui utilizadas são, portanto, complementares, dando suporte para
que possamos compreender que a violência ultrapassa a forma física, abarcando também a
dimensão estrutural própria da sociedade.
Realizadas essas incursões, pontuaremos as adjetivações que tipificam os casos de
violência mais presentes em nossa sociedade:
Violência Doméstica: É qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause morte,
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial contra a mulher
(Lei nº 11.340 de 07 de agosto de 2006-Lei Maria da Penha);
Violência Física: Qualquer ato que cause em alguém um dano físico ou a sua saúde
corporal;
Violência Psicológica: Qualquer ato que cause em alguém um dano emocional,
diminuição da autoestima ou que tente controlar as ações, comportamentos crenças e
decisões, usando ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância
e perseguição constantes, insultos, chantagens, ridicularização, exploração, limitação do
direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à saúde psicológica de outrem e
ao seu direito de tomar decisões;
Violência Sexual: Qualquer conduta que faça alguém presenciar, manter ou participar
de relação sexual não desejada, através de ameaça, coação ou uso da força. No que se refere à
mulher, tal violência abarca também quaisquer atos que, de alguma forma, a force à gravidez,
aborto, casamento, prostituição, a impeça ou dificulte evitar uma gravidez;
Violência Patrimonial: Qualquer conduta que retenha, se aproprie, destrua objetos,
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou quaisquer recursos
econômicos da vítima ou que pertença a ambos (agressor e vítima);
Violência Moral: Qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria
Violência nas Escolas: Qualquer conduta que esteja relacionada com a disseminação do uso
de drogas, formação de gangues, ligações com narcotráfico porte de armas, inclusive as de
fogo, todas incorporadas à violência ocorrida corriqueiramente no espaço urbano.
Diante de tantas facetas da violência e das diversas formas que estas adentram no
espaço escolar, destaca-se que desde a década de 1950, a violência no cenário escolar já vinha
sendo temática de estudos e pesquisas e, sendo assim, analisa-se agora a importância do
gestor escolar neste contexto.
14
O GESTOR ESCOLAR E A VIOLÊNCIA NO ÂMBITO DAS ESCOLAS
Cientes de que a violência tem afetado a educação e, por conseguinte, os docentes e
principalmente a gestão escolar, que é formada, em sua grande maioria, pelo diretor, vice-
diretor, coordenadores e orientadores, tendo em vista que são estes profissionais que
acompanham diariamente a ação educativa no cotidiano da escola, chegando a eles os
problemas que ocorrem, bem como a busca por soluções, aqui cabe relembrar que dentre as
competências de fundamentação da educação e do diretor enquanto gestão escolar, conforme
Luck (2009) temos: - Promove e mantém na escola a integração, coerência e consistência
entre todas as dimensões e ações do trabalho educacional, com foco na realização do papel
social da escola e qualidade das ações educacionais voltadas para seu principal objetivo: a
aprendizagem e formação dos alunos.
Aliado a essa ação soma-se a concepção de Melo (2011), quando afirma que uma das
atribuições do coordenador enquanto gestor é: articular ações de modo a oferecer condições
para que os professores trabalhem coletivamente as propostas curriculares, em função de sua
realidade e que assim, toda a comunidade escolar imbuída deste mesmo entendimento
contribua para o êxito dos trabalhos voltados para o trato com as temáticas da realidade.
E considerando que as mudanças ocorridas na atualidade que rebatem na economia,
tecnologia, educação, cultura, dentre outras, vem requerendo que o gestor educacional passe a
desempenhar ações que estejam conectadas com as necessidades. Desse modo, o trato para
com as situações de violência ocorridas no contexto escolar se apresenta como imprescindível
no atual quadro educacional. Desta feita, a escola de hoje pressupõe mudanças, com vistas ao
trato com a diversidade.
Como já fora visto, as manifestações da violência assumem diversas formas, desde a
delicadeza até então expressando-se como ato propriamente materializado. Deste modo,
refletir sobre as relações sociais na atualidade requer ter também a ciência de que algumas
vezes o que a priori parece violento em certas culturas, chega a tornar-se natural em outras
formas de organização social. E esta reflexão serve também como analogia para que a escola
possa pensar sobre as diversas realidades a que seus alunos se encontram inseridos.
Com base nessas afirmações, a violência no contexto escolar requer que os gestores, que
são os envolvidos diretamente na ação educativa, reconheçam e reaprendam a lidar com essa
questão, ampliando o conhecimento acerca do assunto. Ainda conforme os relatos dos
gestores (público investigado), corriqueiramente as ações empreendidas para o trato com os
atos violentos não surtem efeito, visto que advertências ou expulsões são medidas que não
15
combatem a violência e por vezes se tornam tão agressivas quanto, o que na prática boa parte
das vezes só adia a questão e um possível encaminhamento mais eficaz.
Com essas reflexões, chega-se à conclusão de que na atualidade não mais há espaço para
a atuação de uma gestão escolar fechada em ações estanques, desconsiderando a realidade do
entrono escolar. É, portanto, necessário assumir este novo desafio e refletir sobre o problema,
considerando o que Waiselfsz (1998) reflete sobre o aumento da violência cotidiana,
configura-se como aspecto representativo e problemático da atual organização da vida social
nos grandes centros urbanos, manifestando-se nas várias esferas da sociedade e constituindo-
se como um dos principais problemas do momento.
16
3. METODOLOGIA
O recorte empírico deste estudo objetiva analisar as expressões da violência nas
escolas municipais de Parnamirim/RN, a partir da visão dos gestores escolares, tomando
como parâmetro o 1º semestre de 2016.
Parnamirim é uma palavra que em tupi guarani significa "rio pequeno", constitui-se
em um município brasileiro localizado no estado do Rio Grande do Norte que pertencente à
Região Metropolitana de Natal, à mesorregião do Leste Potiguar e à microrregião de Natal.
Localiza-se ao sul da capital estadual, distando desta doze quilômetros. Ocupa uma Área de
123,471 km2, tendo uma população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística no ano de 2012 em 214 199 habitantes, constituindo-se assim como o terceiro
município mais populoso do estado.
No que se refere ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do município,
conforme dados do IBGE 2014, é de 0,684, considerado "alto", estando na primeira posição
entre os municípios potiguares, à frente, inclusive, da capital, Natal, que se encontra em
segundo lugar. Isso faz com que o Rio Grande do Norte seja o único estado da Região
Nordeste no qual a capital não é o município com o melhor IDH, ainda de acordo com os
dados de 2014.
No aspecto econômico, em 2012, o PIB parnamirinense alcançou R$ 2,96 bilhões, o
que o mantém na terceira posição do ranking estadual, à frente de Guamaré e atrás de Natal e
Mossoró. Neste município, o Produto Interno Bruto é formado pelos seguintes segmentos da
economia brasileira: agropecuária, indústria e serviços.
E em se falando em serviços públicos, atualmente a composição deste município no
que se refere a existência de secretarias tem a seguinte conformidade: Gabinete Civil
(GAVIN), Secretaria de Administração e dos Recursos Humanos (SEARH), Secretaria de
Tributação (SEMUT), Saúde (SESAD), Limpeza Urbana (SELIM), Trânsito e Transporte
(SETRA), Planejamento e Finanças (SEPLAF), Assistência Social (SEMAS), Turismo,
Esporte e Lazer (SETEL), Serviços Urbanos (SEMSUR), Meio Ambiente e Desenvolvimento
Urbano (SEMUR), Obras Públicas e Saneamento (SEMOP), Educação e Cultura (SEMEC),
Habitação e Regularização Fundiária ( SEHAB).
Como o recorte empírico deste estudo consiste em analisar as expressões da violência
nas escolas municipais de Parnamirim/RN, a partir da visão dos gestores escolares, das
secretarias supracitadas para facilitar uma melhor aproximação do leitor com o município em
questão, focaremos a SEMEC, visto ser a secretaria que dá o suporte às escolas municipais.
17
Dentre as várias atribuições que são delegadas à referida secretaria, destacam-se:
Educação em geral, organizar, administrar, supervisionar, controlar e avaliar a ação municipal
na área de educação, administrar, avaliar e controlar o sistema de ensino municipal,
promovendo sua expansão e atualização; propor e executar medidas que assegurem o
processo contínuo de renovação e aperfeiçoamento dos métodos e técnicas de ensino; orientar,
controlar e acompanhar o funcionamento dos estabelecimentos de ensino fundamental, regular
e supletivo, e de educação especial da rede pública e particular; dentre outras.
E no que se refere às escolas municipais existentes no referido município, tem-se na
atualidade 46 escolas que ofertam o Ensino Fundamental I e II, no turno matutino e 20
Centros Infantis. Do universo das 46 escolas, 8 destas ofertam a Educação de Jovens e
Adultos no turno noturno.
A partir de tais constatações e objetivando não perder o foco da pesquisa, foi adotado
como requisito para a amostra o fato de que as escolas a serem entrevistadas teriam em
comum não só o fato de terem se deparado com a violência, mas também experimentado uma
ou mais forma de violência e em turnos diversos, fato este que pode ter conferido certa
homogeneidade na forma de como os sujeitos encararam a violência.
Desta feita, a metodologia aqui adotada corresponde a uma pesquisa qualitativa, pois
esse tipo de pesquisa nasce da percepção da dificuldade nas Ciências Sociais de decompor os
fenômenos em variáveis isoladas, quantificá-las e determiná-las, constatando-se assim, ser
inviável a percepção de um fenômeno separando-o de seus múltiplos determinantes.
Como já fora dito anteriormente, as aproximações iniciais a partir da pesquisa
documental a serem aqui destacadas pretendem traduzir a situação das 8 escolas no município
de Parnamirim-RN. Acrescentamos que, desse universo de oito escolas, uma não se fez
presente no momento da aplicação da entrevista, que foi conduzida também por uma mesa
redonda sobre a violência nas escolas e a necessidade de um trabalho de parceria entre a rede
municipal, tendo estado presentes: a Promotora da Infância e Adolescência, o Secretário de
Educação, um representante da Polícia Militar e uma representante do Núcleo de Ações
Socioeducativas (NASE).
A entrevista trabalhada caracterizou-se por ser semiestruturada, tendo em vista a nossa
pretensão em oportunizar aos entrevistados (Gestores e Coordenadores Pedagógicos e/ou
disciplinar) a possibilidade em desenvolver mais livremente seu pensamento. Elaboramos um
roteiro de entrevista com perguntas claras, abertas e fechadas (ver apêndice A).
Portanto, o período do 1º semestre de 2016 justifica-se por estar sendo um semestre
em que as equipes escolares vêm buscando a SEMEC, local em que atuo, especificamente no
setor Psicossocial, para manifestarem suas angústias e ainda expressando o temor pela onda
18
de violência que vem acontecendo frequentemente tanto no interior como nos arredores das
escolas.
Desta feita, a violência escolar, vem sendo aqui compreendida conforme CHARLOT
apud ABROMOVAY (2002, p. 69):
Violência: golpes, ferimentos, violência sexual, roubos, crimes, vandalismo.
- incivilidades: humilhações, palavras grosseiras, falta de respeito; -
violência simbólica ou institucional: compreendida como a falta de sentido
de permanecer na escola por tantos anos; o ensino como um desprazer, que
obriga o jovem a aprender matérias e conteúdos alheios aos seus interesses;
as imposições de uma sociedade que não sabe acolher os seus jovens no
mercado de trabalho; a violência das relações de poder entre professores e
alunos. Também o é a negação da identidade e satisfação profissional aos
professores, a sua obrigação de suportar o absenteísmo e a indiferença dos
alunos.
Nessa perspectiva, destaca-se, conforme o entendimento da autora, que presentes no
cotidiano das escolas estão diferentes formas de violência, que atingem a todos que convivem
nesse ambiente e fora dele.
Sendo assim, o assunto violência vem se tornando um problema em um contexto geral,
no RN e particularmente em Parnamirim. Apresenta-se ainda como um grande desafio a
serem encontradas estratégias específicas pelas escolas que na atualidade buscam novas
alternativas no trato da questão.
Tendo por base a situação já apresentada, este estudo se deterá a 8 escolas municipais,
a saber: Augusto Nunes, Augusto Severo, Erivan de França, Francisca Fernandes, Luís
Maranhão, Maria Francinete, Manoel Machado e Nestor Lima.
Portanto, visando problematizar teoricamente o objeto a ser investigado, é necessário
realizar os seguintes procedimentos:
Revisão da literatura que aborda especificamente a questão da violência; que
propicie aprofundar o conhecimento sobre a temática;
Pesquisa e análise documental, a fim de produzir a caracterização das ações
voltadas para o universo pesquisado, bem como visando traçar o tipo de violência que mais
incide sobre as escolas;
Coletar dados através de observação sistemática e assistemática – registrado no
diário de campo – e entrevistas semi-estruturadas com os profissionais (gestores,
coordenadores) atuantes nas escolas que ofertam a EJA, para identificar o horário de maior
incidência das ações violentas ocorridas nas escolas, como também os tipos de expressões da
violência que mais são identificados pelos gestores;
Análise dos dados coletados tanto na pesquisa documental como nas entrevistas;
19
Para atender a tal proposta, será definido o universo de 8 escolas municipais, sendo
estas as que na atualidade atendem a Educação de Jovens e Adultos em Parnamirim-RN.
Tais procedimentos utilizados na metodologia deste estudo têm a pretensão de responder aos
objetivos delimitados.
20
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Na atualidade o homem tem buscado meios para conhecer e compreender o fenômeno
da violência, para que assim possa desenvolver as alternativas para o seu enfrentamento no
convívio social.
Nesta seção, serão expostos os dados coletados junto aos profissionais das escolas, que
foram entrevistados tendo como referência o roteiro de entrevista desta pesquisa (apêndice A),
visto que este nos forneceu elementos essenciais no subsídio para a compreensão do modo
como vivem e pensam os sujeitos que compõem a equipe de gestão das escolas que atuam nas
escolas municipais já referendadas.
Cabe ressaltar que as apreensões que foram aqui captadas representam parte de uma
realidade que é complexa e que assim sendo, existem detalhes que com certeza não foram
captados pelas observações e registros que serão pontuados.
Desta forma, busquei elencar neste subitem tanto os dados coletados a partir de fontes
secundárias, se a escola sofreu algum tipo de violência anteriormente e que tipo de violência
quanto aos dados atuais: horário das ocorrências, quantidade das ocorrências e se houve
registro dessas junto aos órgãos competentes.
Nesse sentido, será apresentado e analisado a seguir o quadro que se refere aos dados
sobre a escola ter sofrido algum tipo de violência, considerando um determinado espaço
temporal.
QUADRO 1 - Violência sofrida em espaço temporal
Nos últimos 4 anos 6 Escolas assinalaram que sim
No decorrer de 2016 6 Escolas assinalaram que sim
Fonte: Pesquisa de campo/2016
O resultado da entrevista revela que das sete escolas presentes e entrevistadas, seis
afirmam que os episódios de violência não são recentes, o que necessariamente não faz
referência ao período em que parte destas passaram a ofertar a EJA, com estas afirmações já
inicia-se a desconstrução da ideia partilhada por uma parte considerável da equipe escolar de
que a juvenilização2 da EJA seja uma determinante para a violência sofrida pelas escolas.
Desta feita, a realidade posta a esses jovens já se configura como uma violência
estrutural, visto que esta é aqui entendida, conforme Arrazola (1999), enquanto uma das
2 Historicamente, a Educação de Jovens e Adultos – EJA –atravessa um processo de renovação na faixa etária de
seu alunado, tal fenômeno é conhecido por alguns autores tais como: Vera Masagão Ribeiro (2001) e Sérgio
Haddad (2007), como sendo um processo de juvenilização, que vem ocorrendo desde a década de 1990, sendo
atribuído a dinâmica escolar brasileira e ao mercado do trabalho.
21
condições que dão sustento às sociedades contemporâneas que se estruturam como
capitalistas, racistas e patriarcais, organizadas por relações de exploração, desigualdades e de
discriminação, segundo a história particular de cada uma delas.
E assim sendo, considera-se que a violência em qualquer âmbito é uma condição de
desestruturação da pessoa, do espaço e das relações e, desta feita, objetivou-se junto as
escolas entrevistadas identificar o tipo de violência ocorrida no interior desses
estabelecimentos. Como resultado, exporei as respostas demonstradas com relação aos bens
materiais, no quadro a seguir:
QUADRO 2 - Tipo de violência ocorrida no interior da escola
COM RELAÇÃO A BENS MATERIAIS RESPONDERAM SIM
1-Depredação 7 ( Escolas)
2-Pichação 7 ( Escolas)
3-Arrombamentos 7 ( Escolas)
4-Dano a veículos 5 ( Escolas)
5-Furto 7 (Escolas)
6-Explosão de bombas 2 ( Escolas)
7-Outos 0 ( Escola) Fonte: Pesquisa de campo/2016
Os dados expostos no quadro 2 apresentam que os tipos de violência ocorrida no
interior das escolas são bem variáveis, porém, a maioria das entrevistadas passaram por
situações de: depredação, pichação, arrombamentos e furto, sendo o sentimento de angustia,
insatisfação e desproteção partilhado pelas mesmas. Ainda com base na análise desses dados,
cabe destacar que a maioria das entrevistadas não registraram outros tipos de violência sofrida
contra os bens materiais, fato este que pode demostrar que o público não se deteve a pensar
em outras situações ou que até, não reconhece outras ações que possam ser caracterizadas
também como violência.
Assim, cabe ressaltar que a violência vai além do aparente, visível ou perceptível. Este
fato chama a atenção para a necessidade de que gestores educacionais e demais profissionais
da escola despertem para estudar o tema, ampliando assim seus conhecimentos para as
diversas características e expressões da violência, buscando ainda conciliar esta ampliação do
conhecimento com a discussão sobre a existência do preconceito envolvido nesta
problemática.
E como ampliação desta temática, serão expostas no quadro a seguir as respostas
demonstradas com relação à violência ocorrida no interior da escola, com relação a pessoas:
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QUADRO 3 - Tipo de violência ocorrida no interior da escola
COM RELAÇÃO A PESSOAS RESPONDERAM SIM
1-Briga 5( Escolas)
2-Desacato a funcionários 7 ( Escolas)
3-Porte ou consumo de bebidas alcoólicas 5( Escolas)
4-Tráfico/porte ou consumo de drogas 7( Escolas)
5-Invasão de estranhos 2 (Escolas)
6-Ameaça de morte (a aluno ou funcionários) 6( Escolas)
7-Porte/uso de armas por alunos 3 ( Escola)
8-Outros 0 ( Escola) Fonte: Pesquisa de campo/2016
O quadro 3, a partir das análises dos dados, apresenta que os tipos de violência
ocorrida no interior das escolas contra as pessoas são variados, com destaque para situações
de: desacato a funcionários, tráfico/porte ou consumo de bebidas alcoólicas e ameaças de
morte o que de algum modo justifica a sensação de insegurança que frequentemente é relatada
pelos profissionais que prestam seus serviços nas escolas. E assim como nas análises
anteriores, cabe destacar que a maioria das entrevistadas não registraram outros tipos de
violência sofrida com relação as pessoas, fato este que pode demostrar que o público se sentiu
contemplado com as opções apresentadas ou que não reconhece outras ações que possam ser
caracterizadas também como violência e que possam estar acontecendo não só no interior,
mas também no entorno das escolas.
Nesse sentido, cabe relembrar aqui que se compreende para efeito desta análise a
violência enquanto sendo tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de algum ser
(desnaturar), atos de coação, violação ou, em conformidade com Chauí (1999), todo ato de
transgressão contra o que alguém ou uma sociedade define como justo e como um direito.
Assim, como para toda ação há uma reação correspondente, serão expostas no quadro
seguinte as respostas ao que se refere ao tipo de providência tomada pelas escolas aos casos
de violência sofrida:
QUADRO 4 - Tipo de providências
PROVIDÊNCIA TOMADA RESPONDERAM SIM
1-Boletim de Ocorrência 7 ( Escolas)
2-Acionou a Ronda Escolar 3 ( Escolas) Fonte: Pesquisa de campo/2016
Com base no quadro 4, a análise advinda das entrevistas acerca das providências
realizadas pelas escolas, como forma de reação e precaução aos casos de violência, mostrou
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que as entrevistadas avaliam como positivo o registro de Boletim de Ocorrência, tendo em
vista que 7 escolas apontam terem realizado os referidos registros. Acredita-se ainda que esses
profissionais, ao buscarem as Delegacias, sentem apoio e obtêm explicações de como
proceder junto à situação vivenciada.
Assim, não se trata aqui de conferir irrelevância à existência dos direitos na sociedade
capitalista, mas “no contexto da sociedade capitalista, o ideal (o dever ser) e o real (o que é),
diluem-se [....] fazendo com que estas leis[....] adquiram a forma de recomendações e códigos
morais” (SALES, 2007. p.41).
No que se refere ao acionamento da Ronda Escolar, só 2 escolas pontuaram tal
procedimento. Acredita-se que esse encaminhamento ainda não é um dos mais realizados,
visto a Polícia Militar ainda ser uma instituição que popularmente traz um caráter repressivo e
a atuação educativa por parte desta instituição ainda é algo novo tanto para os profissionais da
própria polícia, quanto para a sociedade. Aliado a isso, registra-se ainda as dificuldades que a
polícia enfrenta no que se refere à quantidade de viaturas e de pessoal, para o
desenvolvimento das ações da Ronda Escolar.
Tendo sido realizadas as análises dos tipos de violência, espaço temporal em que estas
ocorrem e seus encaminhamentos, darei agora sequência à análise dos turnos em que estas
mais ocorrem, objetivando aprofundar a análise da ideia que é partilhada por uma parte
considerável da equipe escolar de que a juvenilização da EJA seja uma determinante para a
violência sofrida pelas escolas, o que poderá ser melhor visibilizado no quadro abaixo:
QUADRO 5 - Turno em que a violência ocorre com maior frequência
TURNO RESPONDERAM SIM
1-Manhã 1 ( Escolas)
2-Tarde 7 ( Escolas)
3-Noite 7( Escolas)
4-Fins de semana e feriado 7( Escolas) Fonte: Pesquisa de campo/2016
O quadro 5, explicita que não existe um único turno em que as ações violentas
ocorrem nas escolas, pois, ficou claro que estas ocorrem em todos os turnos, mas que os
turnos tarde, noite e finais de semana e feriado (ocorrendo neste dois últimos, a violência
contra o patrimônio, como sendo mais recorrente), são os que apresentam a maior frequência
de ocorrência das ações violentas. O que mais uma vez demonstra não necessariamente ser
um público específico o que propicia a ocorrência da violência na escola, visto que as oito
escolas analisadas atendem ao público de Ensino Fundamental I e II no diurno e ao público de
EJA no turno noturno.
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A esse respeito, cabe ressaltar que o público noturno busca a escola por motivos
diversos, entre eles o que mais destaca-se é a inserção no mercado de trabalho. Em reforço a
este fato como sendo uma das necessidades da existência de vagas nas escolas no turno
noturno, Rodriguez e Héran (2000) destacam, que 57% dos estudantes que estudam à noite,
ou já trabalham, ou estão em busca de trabalho; vão para a escola para encontrar seu grupo
social; ou, como dizem, para buscar algo melhor na vida.
Aliado à questão do mercado de trabalho, historicamente a Educação de Jovens e
Adultos atravessa um processo de renovação na faixa etária de seu alunado. Tal fenômeno é
conhecido por alguns autores tais como Vera Masagão Ribeiro (2001) e Sergio Haddad
(2007), como sendo um processo de juvenilização, que vem ocorrendo desde a década de
1990, sendo atribuído à dinâmica escolar brasileira e ao mercado do trabalho. Os estudos
realizados também apontam alguns fatores que contribuem para que o fenômeno de
juvenilização venha a se tornar uma categoria permanente na EJA, dentre eles, destacam-se: o
fenômeno da evasão, repetência como resultantes das deficiências do ensino regular público
ocasionando a defasagem entre a idade/série, a possibilidade de concluir em menor tempo o
Ensino Fundamental e Médio, a necessidade do emprego e algumas situações de conflito com
a lei contribuem para a migração dos jovens à EJA.
Como é possível percebermos através das leituras e observações, na atualidade não é
unicamente o ingresso cada vez mais antecipado dos jovens no mercado de trabalho que tem
provocado uma grande demanda na EJA, inicialmente destinados e frequentados em sua
grande maioria pelos adultos.
Cabe destacar também que ao mesmo tempo em que muitas pesquisas têm evidenciado
jovens e adultos que apresentam carências escolares, sendo assim, alvo para uma nova
oportunidade de escolarização por meio da EJA, também existem correntes que visualizam
jovens e adultos sob o estereótipo de aluno-problema que, ao não se ajustar ao ensino regular,
consequentemente é demanda para a EJA; deste modo, torna-se pertinente refletir o que
demanda na atualidade a presença cada vez mais frequente daqueles que não conseguiram
concluir e/ou prosseguir o seu percurso na escola regular, especialmente os alunos e alunas
jovens, que ao mesmo tempo em que lhe é imputado o direito a estudar e as demais
características culturalmente e legalmente atribuídas a esta idade, requer contrariamente na
atualidade que esses mesmos jovens assumam um lugar, cada vez mais cedo, na disputa pelo
mercado de trabalho.
Diante de tais constatações, acredito que a ideia que é partilhada por uma parte
considerável da equipe escolar de que a juvenilização da EJA seja uma determinante para a
violência sofrida pelas escolas, deixa de ter sentido e assim, nos remete a pensarmos sobre a
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necessidade de ampliarmos momentos de diálogos, estudos e planejamentos juntamente com
os gestores para pensarmos estratégias de prevenção à violência nas escolas, visualizando
estas em sua plenitude. Não focando, portanto, as ações em um turno específico.
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5. APROXIMAÇÕES CONCLUSIVAS
Com base nas análises dos resultados, existe a constatação de que os gestores apontaram
haver diversas formas de expressões da violência no ambiente escolar, com destaque ,dentre
os tipos de violências questionados, para os tipos que ocorrem contra os bens materiais e
contra as pessoas, tais como: depredação, arrombamento, desacato a funcionários,
tráfico/porte ou consumo de drogas.
Valendo retomar que violências menos explícitas, as que são de difícil identificação,
entre elas as agressões, pequenos conflitos, bullying, não chegaram a ser pontuados quando
havia um questionamento que deixava aberto, intitulado outros; isso já aponta a necessidade
de um trabalho educativo com vistas a uma educação que tenha também como base uma boa
convivência, a alteridade e a diversidade.
Ressalta-se que o assunto violência vem se tornando um problema em um contexto
geral, no RN e particularmente, em Parnamirim, apresenta-se ainda como um grande desafio a
ser desenvoldidas estratégias, especificamente pelas escolas que na atualidade buscam novas
alternativas no trato desta questão; o que não difere do contexto nacional, tendo em vista que
se antes a formação dos educadores era voltada para lidar com estruturas de ensino com base
na transmissão de conteúdos e fazendo uso de medidas punitivas e coercitivas, hoje vivemos
um contexto em que a educação requer novas competências e habilidades e, dentre estas,
situa-se a de lidar com as diferenças.
Diante de tal constatação tem-se pistas de que existe uma necessidade de se
potencializar a escola através, inicialmente, dos gestores para que estes possam passar a
visualizar as relações conflituosas, quando possível, também como uma maneira de se
perceber como potencial para a convivência com as diferenças. Do contrário, essas diferenças
se potencializam ao ponto de gerarem fatos violentos.
E para o trato desses conflitos que na maioria das vezes tornam-se atos violentos, os
entrevistados apontam que o Boletim de Ocorrência é o mecanismo mais utilizado, o que
demonstra o quão as escolas estão incomodadas e, por conseguinte, todo um trabalho
pedagógico encontra-se também sofrendo rebatimentos.
Portanto, acredito que os parágrafos anteriores reforçam a importância do trabalho da
gestão escolar, aqui retomando as concepções já trabalhadas neste artigo: que dentre as
competências de fundamentação da educação e do diretor enquanto gestão escolar, conforme
Luck (2009) temos: - Promove e mantém na escola a integração, coerência e consistência
entre todas as dimensões e ações do trabalho educacional, com foco na realização do papel
social da escola e qualidade das ações educacionais voltadas para seu principal objetivo: a
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aprendizagem e formação dos alunos; - e aliado a esta ação soma-se a concepção de Melo
(2011), quando afirma que uma das atribuições do coordenador enquanto gestor é: articular
ações de modo a oferecer condições para que os professores trabalhem coletivamente as
propostas curriculares, em função de sua realidade e que assim, toda a comunidade escolar
imbuída desse mesmo entendimento contribua para o êxito dos trabalhos voltados para o trato
com as temáticas da realidade, reforçando portanto, que na atualidade não se concebe mais a
escola fechar-se em ações centralizadoras, e sim, abrir-se para a participação dos atores
internos e externos que podem contribuir no processo educativo e na tomada de decisões que
os mesmos também estão inseridos, tanto como sujeitos ativos como passivos.
Há que se considerar que o trabalho da gestão é construído diariamente e que cada
realidade escolar é uma, pois, o seu público, o entorno, a rede de atendimento que a cerca na
comunidade na qual está inserida e os parceiros que esta possa contar são importantes nesse
processo que será conduzido pela gestão e assim, conforme a sua prioridade, a gestão também
poderá focar as atividades da rotina escolar com vistas à prevenção de fatos e/ou ações
violentas.
Deste modo, cabe relembrar que a violência é uma questão multicausal e complexa
requerendo constantes estudos e análises. Fatos como a vulnerabilidade econômica e social,
dentre outras, aliados à falta de oportunidades para os jovens e as insuficientes políticas
sociais contribuem para aumentar as manifestações de violência no âmbito mais global e, por
conseguinte, nas escolas e independente dos turnos em que estas funcionem na tentativa de
oferecer uma educação de qualidade.
Portanto, considerando e reafirmando a importância do papel da gestão para lidar com
questões violentas, elencarei algumas estratégias que precisam ser implantadas ou recriadas
nas escolas lócus de investigação, em busca de mediar conflitos que porventura em sua grande
maioria possa vir a tornar-se situação de violência.
Conhecer ou reconhecer estratégias exitosas que venham sendo adotadas por outras escolas
que também vivenciam esta problemática;
Desenvolver estratégias tanto coletivas junto aos demais gestores, mas também individuais
(por escola, conforme a sua realidade), na busca de estabelecer ações de prevenção a
violência;
Buscar associar as ações da escola, através dos diversos atores sociais às ações de outras
instituições municipais que podem tornar-se parceiras neste processo, tais como:
Secretaria de Assistência, Secretaria de Saúde, Conselho Tutelar e Ministério Público.
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Promover momentos coletivos de análises das ações da escola com o intuito de avaliar o
processo, a implementação das ações e seus resultados, buscando enquanto equipe ter uma
postura reflexiva com vistas ao ajuste das ações em conformidade com o real.
Estar aberto para aproximar-se e/ou aplicar (para os coordenadores que já conhecem a
sistemática), o trabalho de Mediação de Conflitos que vem sendo implementado pela
SEMEC, através do núcleo Psicossocial que tem como estratégia: sensibilizar a
comunidade escolar para a necessidade de se refletir sobre o assunto; repensar a maneira
como a escola trata o assunto, e aplicar ações como o ciclo de diálogo, como mais uma
estratégia de diminuir os conflitos e reduzir a violência escolar.
Assim, tendo em vista que o gestor é mediador por excelência na lide das
necessidades que surgem para que a ação educativa se concretize é que por fim, reafirma-se
que o aprendizado e, por conseguinte, a aplicação da metodologia da mediação de conflito na
escola, conforme Silva e Sousa ( 2006) é mais uma estratégia com vistas a contribuir para que
se construa a cultura do diálogo e a negociação de tomada de decisões, se antecipando para
que não ocorra, em boa parte dos casos, situações dos mais diversos tipos de violência.
Acrescento como também sendo de importância, que junto às temáticas trabalhadas
nos momentos de formação pedagógicas para os gestores, podem ser acrescidas temáticas
como: “violência escolar”, “mediação de conflitos” e “educação para a paz”, visto serem
temas que vêm sendo estrategicamente estudados e desenvolvidos para fazer frente ao atual
contexto nacional e, por conseguinte, educacional.
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APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA APLICADA AOS
PROFISSIONAIS DA ESCOLA
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