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U�IVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
DEPARTAME�TO DE E�GE�HARIA CIVIL
Controle de Qualidade na execução do Contrapiso
Trabalho apresentado ao Departamento de
Engenharia Civil da Universidade Federal de
São Carlos como requisito para obtenção do
grau de Engenheiro Civil.
Marina Roque
Orientador: Prof. Dr. José Carlos Paliari
São Carlos
Novembro de 2008
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�DICE
1. I�TRODUÇÃO ....................................................................................................4
1.1. Justificativa.....................................................................................................4
1.2. Objetivo ..........................................................................................................7
1.3. Metodologia....................................................................................................7
2. A QUALIDADE �A CO�STRUÇÃO CIVIL ...................................................9
2.1. Conceito..........................................................................................................9
2.2. Normas Técnicas ..........................................................................................10
2.3. Modelos de Sistemas de Gestão Qualidade..................................................12
2.4. Implantação de Sistemas de Qualidade ........................................................17
3. O CO�TRAPISO ...............................................................................................20
3.1. Considerações Iniciais ..................................................................................20
3.2. Definição e funções do contrapiso................................................................22
3.3. Principais propriedades.................................................................................23
3.4. Classificação.................................................................................................25
3.5. Produção do contrapiso ................................................................................25
3.6. Técnicas de execução do Contrapiso............................................................27
4. ESTUDO DE CASO...........................................................................................34
4.1. A Empresa ....................................................................................................34
4.2. O Sistema de Gestão de Qualidade da Empresa...........................................35
3
4.3. A Obra ..........................................................................................................40
4.4. O Sistema de Gestão de Qualidade da obra..................................................46
4.5. O Contrapiso da obra....................................................................................48
5. RESULTADOS E CO�CLUSÃO.....................................................................54
REFERÊ�CIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................55
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1. I�TRODUÇÃO
1.1. Justificativa
Atualmente o mercado econômico brasileiro é de grande exigência e competitividade,
ou seja, para se sobreviver nesse novo cenário são necessárias transformações em busca dessa
nova realidade. No aspecto legal, entra em vigência o Código de Defesa do consumidor que
estabelece uma série de regras para as relações entre produtores e consumidores (BRASIL,
1990). Na Construção Civil, isso não é diferente, pois segundo Souza (1997), o Código impõe
sanções pesadas aos projetistas, fabricantes e construtores, no caso de o produto apresentar
falhas em uso ou vícios de construção e veta à colocação no mercado produtos e serviços em
desacordo com as normas técnicas brasileiras elaboradas pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas).
Neste contexto, de acordo com Santos (2003), a palavra competitividade tornou-se o
novo paradigma e a ela pode ser atribuído todo tipo de mudança de conceito sobre o lucro,
custo, prazos de desenvolvimento de produto e a gestão dos recursos humanos. Esta
reformulação de conceitos tem por objetivo garantir que o produto final atenda às exigências
expressas pelos consumidores, traduzida em especificações da qualidade.
Na primeira metade dos anos 90, surgem as primeiras empresas em busca pela
qualidade de forma mais organizada, iniciando a implantação de programas de Gestão de
Qualidade, que desde então vem se consolidando como estratégia para lidar com essa
competitividade. Uma das primeiras construtoras a ter uma postura nesse sentido de Sistema
de Qualidade foi a ENCOL, que serviu de estudo de caso para a tese de doutorado de Flávio
Picchi (1993).
O que diferencia uma empresa atual de uma antiga é a busca pela melhoria. Quando se
busca essa melhoria, a eliminação das perdas é de fundamental importância. Para tanto, é
preciso uma conscientização quanto ao trabalho contínuo de redução de perdas, substituindo o
tradicional acomodamento diante da situação existente pela incessante atividade de
racionalização da produção (OLIVEIRA, et al, 1998).
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Segundo Souza (1996) a qualidade na Construção Civil é dividida em dois tópicos
principais: Gestão de qualidade na aquisição de materiais de construção e Gestão de
Qualidade na execução dos serviços de obras. No primeiro tópico encontram-se os insumos,
que é uma boa parte do custo da obra, e que afeta a produtividade e o resultado do produto. O
segundo também afeta a produtividade e a qualidade do produto final.
Assim, as empresas de Construção Civil procuram implantar ações de qualidade
devidamente documentadas, garantindo que seus processos e produtos tenham a qualidade
assegurada por toda a empresa.
Num Sistema de Qualidade, vários processos são controlados sob a luz dos conceitos
de qualidade. No que diz respeito à execução de obras, destaca-se o processo de execução do
contrapiso, base necessária para receber os acabamentos decorativos especificados para o piso
da edificação.
Embora, muitas vezes, o contrapiso seja relegado segundo plano, esta camada de
revestimento tem significativa influência no desempenho técnico e econômico do edifício.
Este fato pode ser verificado ao se considerar o volume total de argamassa de revestimento
efetivamente incorporado ao edifício, que segundo Pinto (1989) é 80% superior ao volume
considerado para o orçamento, podendo atingir ao final da obra, cerca de 25% do peso total
do edifício (BARROS, 1991).
O piso de uma edificação faz parte da vedação horizontal da mesma, e tem como
principal função realizar a sustentação dos usuários e de sua mobília, equipamentos e
máquinas, fazendo com que a mesma ocorra com segurança e confortavelmente, e tenha o
acesso desimpedido. Além disso, o piso faz a proteção da laje contra agentes que possam
provocar sua degradação, permite a realização de desníveis entre ambientes quando
necessário e contribui para o isolamento termo-acústico do ambiente. Para que consiga
realizar suas funções, o piso é composto por diversas camadas, dentre elas, o contrapiso.
O contrapiso é a camada do piso que precede a camada de regularização (quando
existente) e a camada de acabamento. Ele é formado por uma ou mais camadas de argamassa
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colocadas sobre uma camada anterior de impermeabilização ou isolamento, ou sobre a própria
base (laje ou lastro de concreto).
Por vir antes da camada de acabamento, o contrapiso é de extrema importância para a
qualidade do produto final, já que o mesmo serve de suporte para os revestimentos de piso.
Apesar de existirem vários tipos de revestimentos, o contrapiso influencia em todos, pois,
para que estes apresentem uma planicidade, não possuam fissuras ou trincas, é necessária uma
boa execução do contrapiso. Alguns revestimentos como o pavifloor, por exemplo,
necessitam de um contrapiso próximo do perfeito, já que o revestimento em questão possui
apenas alguns milímetros de espessura e é colado no contrapiso, aparentando no produto final
as imperfeições do contrapiso.
O contrapiso influencia também na valorização da estética do edifício, pois a camada
de acabamento do piso influencia nas características estéticas e de qualidade do mesmo, o que
proporciona o acabamento desejado.
Devido às funções do contrapiso e o que ele influencia, é necessário um controle de
qualidade na execução do mesmo, já que a qualidade do mesmo é de extrema importância
para que o produto final piso esteja de acordo com as necessidades dos usuários. Dessa forma,
o controle de qualidade deve ser realizado durante todo o processo da execução do contrapiso,
ou seja, antes, durante e após a realização do mesmo. Além disso, esse controle ajuda a evitar
perdas de materiais. A noção de perda refere-se a toda falta de aproveitamento de
potencialidade da construção civil para atingir custos menores e maior satisfação do cliente.
Além das perdas, a implantação de um Sistema de Gestão de Qualidade nas construtoras
influencia na diminuição de patologias e redução dos custos no produto final e nas
assistências técnicas.
Segundo Barros (1991), verifica-se que os parâmetros utilizados para a definição do
orçamento dificilmente são reproduzidos ao se executar o contrapiso, sendo que isto decorre,
com certeza, da falta de planejamento desta atividade, da ausência de um projeto e das
especificações claramente definidas, o que impede que as atividades possam ser realmente
acompanhadas e verificadas.
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É neste contexto que se desenvolve este presente trabalho, na medida em que se
abordam as etapas da execução do contrapiso, sua classificação, materiais empregados e o
controle de qualidade relacionado a estes aspectos tendo-se como objeto de pesquisa uma
construtora atuante na execução de edificações comerciais, industriais e residenciais.Para
tanto, se realiza um estudo de caso em uma de suas obras.
1.2. Objetivo
O presente trabalho tem como objetivo principal acompanhar o controle da qualidade
da execução do contrapiso em uma obra dentro dos princípios e procedimentos de gestão de
qualidade da empresa.
1.3. Metodologia
O trabalho baseia-se na realização de uma revisão bibliográfica e em um estudo de
caso. O método de estudo de caso, de acordo com YIN (1994), tende-se a “preservar a visão
completa e as características mais significativas dos eventos da vida real”. Para TRIVIÑOS
(1987), e o estudo de caso é uma categoria de pesquisa cujo objeto de estudo é uma unidade
analisada profundamente, que deve gerar um relato de uma situação real.
A pesquisa inicia-se a partir de uma revisão bibliográfica como forma de identificação
das práticas empregadas nos sistemas de gestão de qualidade e no contrapiso. Caracteriza-se
como uma pesquisa do tipo exploratório-descritiva, trabalhando com um estudo de caso e com
duas fontes de evidência: observação e análise de documentos cedidos pela empresa. É
exploratório porque busca conhecer, estudar e aumentar o conhecimento do tema estudado, e
é descritivo porque procura entender e mostrar como funciona esse tipo de gestão.
A pesquisa bibliográfica realizada abrangerá principalmente dois temas: a “Gestão e
Implantação da Qualidade” e o “Contrapiso”. Em ambas as pesquisas, a revisão foca o setor
da Construção Civil.
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O estudo de caso compreende visita a uma obra da empresa escolhida, observando-se a
aplicação do Sistema de Gestão de Qualidade, e a execução do contrapiso na obra. As
ferramentas utilizadas são as planilhas e documentos fornecidos pela empresa, além de
fotografias.
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2. A QUALIDADE �A CO�STRUÇÃO CIVIL
2.1. Conceito
De acordo com o dicionário, qualidade é a propriedade, atributo ou condição das
coisas ou pessoas que se distingue das outras e lhes determina a natureza. É importante
observar que a qualidade não pode ser identificável e mensurável diretamente, sendo
identificada a partir de características que confiram qualidades às coisas. Assim, o conceito
“qualidade” é passível de diferentes interpretações conforme seu uso e dependendo dos
interesses de quem utiliza este conceito (FABRICIO, 2007).
A Gestão da Qualidade Total (em língua inglesa "Total Quality Management" ou
simplesmente “TQM”) consiste numa estratégia de administração orientada a criar
consciência da qualidade em todos os processos organizacionais. É referida como "Total",
pois o seu objetivo é a implicação não apenas de todos os departamentos de uma organização,
mas também da organização estendida, ou seja, seus fornecedores, distribuidores e demais
parceiros de negócios.
“Qualidade tem sido definida de forma cada vez mais ampla, desde conformidade
com requisitos” – Crosby (1990), passando por “adequação ao uso” – Juran; Gryna (1988),
chegando até concepções mais amplas, que levam em conta a economia do processo de
produção – Ishikawa (1986), os serviços agregados ao produto, a percepção e entusiasmo do
cliente em relação ao produto. Deming, Tagushi, e os autores citados anteriormente, são
considerados especialistas no assunto qualidade e contribuíram muito para o assunto.
Segundo Melhado (2008), a definição de qualidade é mostrada na figura 2.1, a seguir.
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Figura 2.1: Conceito de Qualidade segundo Melhado (2008)
Segundo a NBR ISO 9004 (ABNT, 2000), os princípios de gestão de qualidade são:
foco no cliente, liderança, envolvimento de pessoas, abordagem de processo, abordagem
sistêmica para a gestão, melhoria contínua, abordagem factual para tomada de decisões,
benefícios mútuos nas relações com fornecedores.
2.2. �ormas Técnicas
Os Sistemas da Qualidade têm como base no mundo todo, a série de normas ISO
9000. ISO é a sigla de uma organização internacional, não governamental, que elabora
normas e diretrizes internacionais para Sistemas de Gestão da Qualidade. Essa organização foi
fundada em 1947, com sede em Genebra, na Suíça, e hoje presente em cerca de 140 países.
Esta família de normas estabelece requisitos que auxiliam a melhoria dos processos internos,
a maior capacitação dos colaboradores, o monitoramento do ambiente de trabalho, a
verificação da satisfação dos clientes, colaboradores e fornecedores, num processo contínuo
de melhoria do sistema de gestão da qualidade. Aplicam-se a campos tão distintos quanto
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materiais, produtos, processos e serviços. A adoção das normas ISO é vantajosa para as
organizações uma vez que lhes confere maior organização, produtividade e credibilidade -
elementos facilmente identificáveis pelos clientes -, aumentando a sua competitividade nos
mercados nacional e internacional. Os processos organizacionais necessitam ser verificados
através de auditorias externas independentes.
O Brasil participa da ISO através da ABNT (Associação Brasileira de Normas
Técnicas), que é uma sociedade privada sem fins lucrativos, tendo como associados pessoas
físicas e jurídicas, e reconhecida pelo Governo brasileiro.
De acordo com a ABNT (1993), “As normas técnicas são um processo de
simplificação, pois reduzem a crescente variedade de procedimentos e produtos. Assim, elas
eliminam o desperdício, o retrabalho e facilitam a troca de informações entre fornecedor e
consumidor ou entre clientes internos. Outra finalidade importante de uma norma técnica é a
proteção ao consumidor, especificando critérios e requisitos que aferem o desempenho do
produto/serviço, protegendo assim também a vida e a saúde”.
Além da ISO 9000 o setor de Construção no Brasil dispõe de um Sistema normativo
próprio dado pelo Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras
da Construção Civil (SIAC) dado pelo Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade na
Habitação (PBQP-H). O PBQP-H foi criado em 1991 com a finalidade de difundir os novos
conceitos de qualidade, gestão e organização da produção de habitações, indispensável à
modernização e competitividade das organizações brasileiras de construção civil. O programa
foi reformulado a partir de 1996, para ganhar mais agilidade e abrangência setorial. Desde
então vem procurando descentralizar as suas ações e ampliar o número de parcerias,
sobretudo com o setor privado. Para fortalecer essa nova diretriz no âmbito do setor público, e
envolver também os Ministérios setoriais nessa cruzada, o Governo brasileiro delegou a
Presidência do Programa ao Ministério das Cidades.
A instituição do Programa QUALIHAB - Programa da Qualidade da Construção
Habitacional do Estado de São Paulo - pelo governo do estado de São Paulo, através da
Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano – CDHU, serviu como um elemento
a favor do avanço tecnológico. O programa QUALIHAB tem como objetivos:
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• Otimizar a qualidade da habitações, envolvendo os materiais e componentes
empregados, os projetos e obras realizadas, através de parcerias com os
segmentos do meio produtivo, firmando acordos setoriais.
• Otimizar o dispêndio de recursos humanos, materiais e energéticos (água,
energia) nas construções habitacionais, preservando o meio-ambiente.
2.3. Modelos de Sistemas de Gestão Qualidade
Diante do fato de a Gestão da Qualidade aparecer como um dos principais agentes de
modernização e causadores de mudança de paradigmas no setor da construção de edifícios,
alguns autores desenvolveram modelos para a implantação de Sistemas de Gestão da
Qualidade em empresas construtoras, sendo os mais difundidos aqueles apresentados por
Picchi (1993) e Souza (1997) (GAMEIRO, 2001).
Souza (1997) entende que a implantação de programas da qualidade envolve duas
vertentes: a gestão de processos e a gestão de pessoas. Estas devem ser desdobradas em ações
planejadas a serem conduzidas concomitantemente durante toda a implantação destes
programas nas empresas, no intuito de se obter a satisfação dos clientes internos e externos.
Picchi (1993) ressalta que os Sistemas de Qualidade são instrumentos que facilitam a
cooperação, coordenação, visão de conjunto, integração de setores etc. Segundo o autor, dada
sua complexidade na construção de edifícios, esses fatores são fundamentais não só
internamente na empresa (entre departamentos), como também entre esta e os demais
intervenientes (GAMEIRO, 2001). Este autor também ressalta que um Sistema da Qualidade
tem por objetivo abranger todas as etapas que afetam a qualidade do produto, que podem ser
representadas em um "cicio da qualidade". Este ciclo é apresentado para o caso de uma
empresa construtora e incorporadora, na qual se pode observar todas as etapas do processo.
Levando-se em conta este ciclo da qualidade, as particularidades do setor, e as recomendações
da norma ISO/NB 9004 (ABNT, 1990), se apresenta a estrutura de Sistema da Qualidade
(Tabela 2.1). Esta estrutura é organizada conforme as etapas do processo, atendendo a todos
os requisitos estabelecidos na norma ISO/NB 9004 - ABNT (1990), conforme se pode
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observar na Tabela 2.2 (PICCHI, 1993). Embora a norma tenha sido atualizada, como se pode
observar em outros relatos desse trabalho, para as tabelas 2.1 e 2.2, foi mantida a norma
ABNT de 1990.
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Tabela 2.1: Proposta de estrutura de Sistema de Qualidade para empresa construtora e incorporadora de edifícios (PICCHI, 1993)
Capítulo Item 1. Política e Organização 1.1 Política de Qualidade 1.2 Organização 1.3 Documentação do Sistema e controle de documentos 1.4 Arquivo Técnico 1.5 Custos indicadores da Qualidade 1.6 tratamento de não conformidade 1.7 Auditoria Interna 1.8 Avaliação do Sistema 2. Recursos Humanos 2.1 Integração dos recursos humanos na empresa 2.2 Fixação dos recursos humanos na empresa 2.3 Treinamento 2.4 Motivação e participação 2.5 Segurança do trabalho 3. Planejamento do 3.1 Análise do mercado
empreendimento 3.2 Estudo da viabilidade do empreendimento e vendas 3.3 Programa do produto 3.4 Documentação para lançamento 3.5 Vendas e retroalimentação 4. Projeto 4.1 Qualificação de Produto e Processos 4.2 Coordenação de Projetos 4.3 Análise crítica de projetos 4.4 Qualificação de Projetos 4.5 Projetos de produção 4.6 Planejamento de Projetos 4.7 Controle de qualidade e de Projetos 4.8 Controle de revisões 4.9 Controle de modificações durante a execução 4.10 Projetos em computador (CAD) 5. Suprimentos 5.1 Critérios para especificações de materiais 5.2 Qualificação de fornecedores e produtos 5.3 Controle de documentos de compra 5.4 Planejamento e controle de suprimentos 5.5 Controle de qualidade de material recebido 5.6 Recursos para realização de medições e ensaios 5.7 Controle de manuseio e armazenamento 6. Execução 6.1 Qualificação de Procedimentos 6.2 Planejamento e Controle da obra 6.3 Análise da unidade-protótipo 6.4 Procedimentos de execução e programação de serviços 6.5 Controle de pré-montagens 6.6 Controle de qualidade dos serviços 6.7 Qualificação de sub-empreiteiros 6.8 Planejamento e controle de equipamentos
6.9 Controle da qualidade do produto final e da manutenção da qualidade até a entrega ao cliente
7. Serviços ao cliente e 7.1 Atendimento ao cliente Assistência Técnica 7.2 Vistoria de entrega da unidade 7.3 Manual do proprietário e do condomínio 7.4 Setor de assistência técnica 7.5 Retroalimentação
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Tabela 2.2: Correlação entre a estrutura de Sistema proposta ( Tabela 2.1) e os itens da norma ISO/NB 9004 (ABNT, 1990) segundo PICCHI (1993).
Itens da ISO/NB 9004
1. Política e organização
2. Recursos Humanos
3. Planejamento
do empreendi-
mento
4. Projeto 5.
Suprimentos 6. Execução
7. Serviços ao cliente e assistência técnica
4. Responsabilidade da administração X 5. Princípios do sistema de qualidade X 6.Economia-considerações sobre custos relacionados com a qualidade X 7. Qualidade em "Marketing" X 8. Qualidade na especificação e projeto X 9. Qualidade na aquisição X 10. Qualidade na produção X 11. Controle de produção X 12. Verificação do produto X 13. Controle de equipamentos de medições e ensaios X 14. Não conformidade X 15. Ação corretiva X 16. Funções de manuseio e pós-produção X X 17. Documentação e registros da qualidade X 18. Pessoal X 19. Segurança e responsabilidade civil pelo fato do produto X X X 20. Uso de método estatístico X X
Segundo GARVIN (1990), existem cinco abordagens da qualidade: a transcendental,
que embora exista não pode ser definida com precisão, a centrada no produto, em que a
qualidade pode ser mensurada pela quantidade de elementos ou atributos que possuem, a
centrada no valor, em que a qualidade é estabelecida pelo valor do produto no mercado; a
centrada na fabricação, em que a qualidade é sinônimo de especificação, isto é, há
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obrigatoriedade de seguir rigorosamente o projeto e a centrada no cliente, em que a
qualidade de um produto fica condicionada ao atendimento dos desejos e necessidades dos
clientes.
A Gestão da Qualidade, entretanto, não se resume a uma ferramenta para a busca do
aumento de eficiência produtiva pelas empresas. De fato, existe a expectativa de que a
implementação de sistemas de gestão da qualidade resultem em ganhos de eficiência
organizacional por parte das empresas, à medida que deve ser padronizada e continuamente
buscada a melhoria de todos os processos empresariais relacionados à produção. Estes
modelos preconizam ações envolvendo praticamente os mesmos elementos, com pequenas
diferenças. (GAMEIRO, 2001).
Adaptando-se os trabalhos de PICCHI (1993) e de SOUZA (1997), chega-se a um
conjunto de elementos que devem ser abordados por uma empresa em seu sistema de Gestão
da Qualidade:
• Política e organização do sistema da qualidade;
• Qualidade em recursos humanos e administração;
• Qualidade no planejamento do empreendimento e vendas9;
• Qualidade no projeto;
• Qualidade em suprimentos;
• Qualidade no gerenciamento e execução de obras; e
• Qualidade na operação e assistência técnica pós-ocupação.
A inter-relação entre esses elementos é apresentada na Figura 2.2.
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Figura 2.2: Representação das inter-relações entre os elementos do sistema de gestão da qualidade (adptada de PICCHI, 1993 e SOUZA, 1997) - Fonte GAMEIRO (2001)
2.4. Implantação de Sistemas de Qualidade
REIS (1998) apresenta em seu trabalho os resultados de pesquisa pioneira onde avalia
as alterações nos processos de produção de pequenas e médias empresas de construção de
edifícios decorrentes da implementação de Sistemas de Gestão da Qualidade. Os principais
resultados desta investigação são apresentados na Tabela 2.3 (GAMEIRO, 2001).
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Tabela 2.3: Ações e posturas das empresas construtoras que resultaram da implementação dos sistemas de gestão de qualidade observados por REIS(1998) - Fonte GAMEIRO (2001)
Para PICCHI (1993), o primeiro passo para implantação de um Sistema da Qualidade
é a formalização, pela alta direção, de sua Política da Qualidade, ou seja, a definição da
qualidade adotada pela empresa, os objetivos etc. Na construção de edifícios, esta
formalização é particularmente importante, para que todos os funcionários saibam da
prioridade que está sendo dada pela alta direção à qualidade, uma vez que a cultura
predominante no setor é a de enfatizar aspectos como custo e prazo, em detrimento da
qualidade. Além disso, a documentação do Sistema é fundamental para definição de
procedimentos e compreensão de papéis por todos os funcionários. A definição de políticas e
descrição geral do Sistema é feita em um Manual da Qualidade; cada obra deve possuir um
Plano da Qualidade, estabelecendo a organização, planos de controle, procedimentos de
execução e listas de verificação específicos dessa obra. A base da documentação é um
Sistema de normas da empresa, abrangendo procedimentos administrativos, técnicos e de
controle da qualidade. A elaboração e distribuição de toda esta documentação devem ser
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controladas, de forma a garantir que estejam nos locais em que se faça necessária, na versão
mais atual (PICCHI, 1993).
Segundo SOUZA (1997), a Gestão de Qualidade de uma empresa deve possuir os
seguintes itens:
• Política de qualidade: documento de caráter sintético que deve refletir o
compromisso da alta administração com a qualidade e servir como guia
filosófico para as ações gerenciais, técnicas, operacionais e administrativas,
assim como para explicitar aos clientes externos o comprometimento da
empresa com a qualidade.
• Comitê de qualidade: deve ser constituído pelo representante(s) da diretoria;
representante(s) das gerências técnicas e administrativas; representante(s) das
obras, consultoria externa (se necessário), e deve gerenciar todo o processo e
implantação de sistema de gestão de qualidade, definir a qualidade a ser
implantada, definir métodos de treinamento e sensibilização de funcionários,
definir os times de qualidade, definir a documentação de qualidade, avaliar os
resultados do trabalho dos times de qualidade.
• Ciclo de Qualidade: permite uma clara visualização dos seus clientes externos
e de suas necessidades, além de possibilitar a identificação dos processos
empresariais que a partir dos clientes externos, formam a cadeia de
fornecedores e clientes internos, que paulatinamente ao agregando valor aos
serviços e produtos intermediários até a entrega do produto final ao cliente.
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3. O CO�TRAPISO
3.1. Considerações Iniciais
De modo geral, a vedação horizontal exterior está em contato direto com o meio
ambiente, seja através de sua base ou pela sua superfície ou ainda, por ambas. A vedação
interna, por sua vez, encontra-se protegida do meio ambiente por estar suspensa do solo, ou
porque está sob uma cobertura. Além disso, fica, de modo geral, sujeita somente ao tráfego de
pedestres e a cargas devido ao mobiliário. As diferentes ações a que estão submetidas às
vedações horizontais exigem-lhes específicas propriedades, implicando em distintas camadas
e, portanto em sistemas de piso diferenciados. Porém, independente das características que o
piso deva apresentar para atender às condições de solicitação impostas, suas funções no
conjunto das vedações são as mesmas (BARROS, 2001).
Segundo Barry (1980)1 apud Barros (1991), o piso, como parte constituinte da
vedação horizontal dos edifícios, tem como função principal ser suporte dos usuários; de sua
1 BARRY, Robin, The construction of building, 4 Ed. London, Granada, 1980
21
mobília; de veículos, equipamentos e máquinas, devendo permitir que o trânsito sobre a sua
superfície ocorra de maneira segura e confortável. Além disto, ainda que de modo secundário,
outras funções podem ser atribuídas ao piso, como as abordadas por Elder; Vandenberg
(1977)2 apud Barros (1991) e destacadas a seguir:
• a proteção da estrutura (laje) contra a ação de agentes agressivos, evitando sua
degradação precoce e, conseqüentemente, aumentando a sua durabilidade e
diminuindo os custos de manutenção dos edifícios;
• proporcionar os desníveis necessários entre ambientes contíguos,
principalmente quando se trata de áreas secas e molháveis;
• permitir o embutimento de componentes de instalações tais como tubulações e
pontos de utilização;
• auxiliar no comportamento global da vedação horizontal, contribuindo para: o
isolamento termo-acústico; a absorção dos sons de impacto; a estanqueidade
2 ELDER, A. J.; VANDERBERG, M., Construcción: manuals AJ., Madrid H. Blume, 1977.
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aos gases e à água tanto na sua forma líquida como de vapor e a segurança
contra o fogo;
• valorizar esteticamente o edifício, pois o piso, em especial sua camada
superficial, exerce influência significativa na determinação das características
estéticas e de qualidade daquele, proporcionando o padrão de acabamento
desejado.
A vedação horizontal é constituída por três componentes principais: forro do
pavimento inferior, laje estrutural e o piso do pavimento superior.
O piso, através de suas várias camadas deve cumprir suas funções, como um todo. O
conjunto piso deve possuir propriedades para atender os requisitos de desempenho que são
exigidos, bem qual a base na qual será executado.
A Figura 3.1, abaixo, representa as diversas camadas que podem formar o piso.
Figura 3.1: Ilustração das camadas de um sistema de vedação horizontal interno ao edifício [SAARIMAA; SNECK & WAANANEM, 1972]- Fonte Barros, 2001.
3.2. Definição e funções do contrapiso
O contrapiso é a camada de piso produzida a partir de uma ou mais camadas de
argamassa lançada diretamente sobre a base (laje estrutural ou lastro de concreto) ou sobre
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uma camada intermediária (de impermeabilização ou de isolamento térmico e acústico).
(SALES; PALIARI, 2004).
São diversas as funções do contrapiso, sendo que Barros (1991) apresenta como
principais: possibilitar desníveis entre ambientes; proporcionar declividades para escoamento
de água; regularizar a base para o revestimento de piso; ser suporte e fixação de revestimentos
de piso e seus componentes de instalações, podendo ter ainda outras funções como: barreira
estanque ou impermeável e isolante térmico e acústico. Uma importante observação a ser feita
é que para esses autores, em nenhum momento o piso tem como função ser corretivo da base
sobre a qual o mesmo será lançado.
3.3. Principais propriedades
O contrapiso deve apresentar algumas características e propriedades pra que o mesmo
desempenhe suas funções. Para Barros (1991), as principais dessas características e
propriedades são:
• condições superficiais: responsável pela aderência piso-revestimento de piso;
• aderência: capacidade que as interfaces piso-contrapiso e base-contrapiso têm
em absolver deformações decorrentes das solicitações de uso;
• resistência mecânica: refere-se à capacidade de manutenção da integridade
física do
• contrapiso quando solicitado por ações durante as fases de execução e
utilização;
• capacidade de absorver deformações: é a capacidade que o contrapiso deve
apresentar em se deformar sem apresentar fissuras que comprometam o seu
desempenho;
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• compacidade: determina a capacidade do contrapiso em resistir ao
esmagamento. É definida pela relação entre o volume de vazios da argamassa e
o seu volume total;
• durabilidade: função das condições de exposição do contrapiso e da
compatibilidade entre ele e o revestimento de piso.
Além desses parâmetros, Barros (2001) acredita que outros também devam ser
considerados para a definição do contrapiso, dentre os quais:
• características da base: é determinante para se ter a definição do tipo de
contrapiso a ser projetado, devendo-se conhecer a resistência, a deformidade, o
acabamento superficial e o nivelamento da base;
• características dos materiais constituintes: são fundamentais para a definição
de uma argamassa racional, devendo-se considerar a granulometria, o teor de
finos e a natureza do inerte e do aglomerante;
• solicitações de obra: é necessário que se conheça a época de execução do
contrapiso e como se relaciona às demais etapas da obra, verificando-se o
tempo e o grau de exposição a que o contrapiso estará submetido, a fim de se
determinar a resistência superficial necessária e, conseqüentemente, a técnica
de execução a ser empregada;
• características do revestimento de piso: os revestimentos de piso a serem
utilizados determinam: os desníveis entre os contrapisos dos diversos
ambientes, interferindo, assim, nas suas espessuras; e as condições superficiais
e de aderência que devem apresentar os contrapisos, em função da fixação
prevista para o revestimento.
25
3.4. Classificação
O contrapiso pode ser classificado através da sua interação com a base, que se
fundamentando nas definições de Barros (1991) destacam-se três tipos de contrapiso:
• Contrapiso aderido: apresenta total aderência com a base; podendo-se ter nesse
caso, contrapisos de pequenas espessuras – 20 e 40 mm, pois se trabalha em
conjunto com a laje;
• Contrapiso não aderido: neste tipo a característica de aderência com a base
não é essencial no desempenho do contrapiso, não sendo necessário o preparo
e a limpeza da base. Quando não há a aderência a espessura da camada de
contrapiso deve ser superior a 35 mm.
• Contrapiso flutuante: caracteriza-se pela presença de camada(s)
intermediária(s) de isolamento ou impermeáveis, entre a camada de contrapiso
e a base, impedindo totalmente a sua aderência. Neste caso, a espessura da
camada de argamassa de contrapiso varia de 40 mm a 70 mm.
Segundo Barros, Sabbatini (1991), o contrapiso é deixado ao domínio do operário que
na maioria das vezes não considera nenhuma das variáveis intervenientes no processo de
produção de um contrapiso, como por exemplo: suas funções, o tipo de revestimento que irá
receber, os materiais disponíveis para a sua execução, a base sobre a qual será executado e as
solicitações de uso.
3.5. Produção do contrapiso
• Preparo da argamassa
A produção da argamassa para contrapiso no Brasil é um item que deixa a desejar,
pois não se têm muitos conhecimentos tecnológicos a respeito de sua dosagem e composição,
além do pouco cuidado que se toma em relação às técnicas e controles aplicados. Como
resultado, obtém-se um produto de qualidade ruim e de grandes perdas, elevando-se assim o
custo do contrapiso.
26
De extrema importância para o contrapiso, a argamassa deve ser bem preparada,
observando-se assim a sua composição (materiais constituintes e suas características). A
dosagem, proporção adequada dos materiais na mistura (BARROS, 1991) contribuem para
um bom desempenho de argamassa. Mas, para isso, é importante conhecer os tipos de
argamassa usualmente empregada. Barros (1991) apresenta dois tipos de argamassa: a de
consistência plástica (argamassa plástica, e a de consistência seca (argamassa seca).
A argamassa plástica apresenta consistência semelhante à das argamassas de
revestimentos de alvenarias, isto é, com um teor de umidade na ordem de 20 a 25%. Seu uso
na execução de contrapisos, no entanto, tem sido limitado, pois exige específicos
procedimentos de adensamento e cura (BARROS, 1991), pois há um elevado risco de
aparecimento de fissuras.
A argamassa seca tem seu emprego generalizado nos ambientes internos de edifícios,
sendo também amplamente utilizada nas áreas externas que receberão revestimentos.
Apresenta a mesma composição da argamassa plástica, alterando-se apenas o seu teor de
umidade, que geralmente é cerca de 50% inferior. Em função desse baixo teor de umidade é,
muitas vezes, denominada de “argamassa tipo farofa”, ou simplesmente “farofa”,
principalmente no vocabulário usual da obra (BARROS, 1991).
Segundo Barros (1991), a argamassa de contrapiso é constituída basicamente por
aglomerantes e agregados e, eventualmente, podem ser acrescentados aditivos a fim de
melhorar suas características, seja no estado fresco, durante o endurecimento ou após
endurecida.
Para a produção de argamassas de contrapiso podem-se usar diferentes tipos de
agregados, destacando-se areias naturais, lavadas ou não, areias artificiais, as pedras de
pequena granulometria, e alguns tipos de solos, como o areno-siltoso ou areno-argiloso, por
vezes denominado areia de “cava”, areia de “goma” ou saibro (BARROS, 1991).
O uso de aditivos não é comum no Brasil devido ao pouco conhecimento tecnológico
para o emprego dos mesmos. A utilização de aditivos, segundo Barros (1991), pode propiciar
27
melhorias no desempenho do produto final a partir da modificação de algumas propriedades
da argamassa nos seus diversos estados (fresco, endurecendo e endurecida).
No que se diz respeito a dosagem racional de argamassas para contrapisos, no Brasil
não existe uma metodologia, apenas se fazem alguns traços empíricos em bibliografias como
a NBR 9817 (1987), e o TCPO 13 (2008) que não levam em consideração as características
dos materiais e suas condições para utilização. A argamassa apresentada pela NBR 9817 (que
apesar de ser de 1987, não possui nenhuma atualização) define, por exemplo, para um
contrapiso para revestimento cerâmico, um traço de 1:4 em volume, com agregado seco, já
para o TCPO 13 (2008), o traço deve ser 1:5 também em volume de agregado seco.
• Controle de Produção de Argamassa
O controle de produção de argamassa deve passar por uma série de itens para que se
tenha um produto de qualidade, iniciando-se pelo controle do recebimento de matérias-
primas, chegando-se ao comportamento mecânico da argamassa, através de ensaios realizados
em corpos de prova. Na bibliografia pesquisada não foi encontrado um programa de controle,
e sim apenas algumas recomendações a serem seguidas.
3.6. Técnicas de execução do Contrapiso
As técnicas de execução de contrapiso que serão apresentadas a seguir são
fundamentadas nas proposições de Barros, Sabbatini (1991). Elas variam de acordo com os
diversos tipos de contrapiso (visto anteriormente), mas a metodologia proposta parte de um
mesmo princípio, a da produção de um contrapiso aderido, sendo os seus principais
procedimentos de execução mostrados na seqüência.
• Levantamento para Avaliação das Condições da Base
Essa atividade é essencial para o controle da produção, para que se possa redefinir o
projeto e contrapiso, determinando os níveis reais da laje acabada. Esta atividade, a ser
realizada antes a execução do contrapiso, é parte integrante do controle da produção.
28
• Marcação e Lançamento dos �íveis do Contrapiso
Para essa etapa, normalmente utilizam-se os “níveis de mangueira” em que são
transferidos de um cômodo a outro as diversas cotas. Outros procedimentos podem ser
utilizados, assim como o aparelho de nível, apresentado na Figura 3.2, o qual permite a
demarcação da espessura do contrapiso, utilizando-se um único operário e em uma única
operação, como mostra a Figura 3.3.
Figuras 3.2 e 3.3: Aparelho de nível, e assentamento da talisca utilizando-se o aparelho de nível - BARROS, SABBATINI (1991)
• Execução de contrapiso
Os procedimentos apresentados, a seguir, referem-se à execução do contrapiso
aderido, utilizando-se a chamada “farofa” que é o mais utilizado no Brasil. Tem como
característica principal a necessidade de aderência à base.
Preparação da base
29
A base deve estar totalmente livre de resíduos e detritos de argamassa ou outros
materiais, removendo-se óleos, graxas, colas, tintas ou produtos químicos presentes Picão,
vanga ou ponteira e marreta podem auxiliar na remoção de resíduos aderidos. A superfície da
base deve ser molhada abundantemente antes da aplicação da argamassa removendo-se toda a
água empoçada. Antes da confecção das mestras, deverá ser executada uma camada de
polvilhamento de cimento com uma peneira numa quantidade de 0,5 kg/m2, espalhando-se
com a vassoura até obter uma fina película de nata de cimento, para garantir a aderência do
contrapiso à base (imprescindível nos casos de utilização de argamassa “farofa”). Esses
procedimentos são representados nas figuras 3.4 , 3.5, e 3.6, a seguir.
Figuras 3.4 e 3.5: Remoção de resíduos e detritos aderidos à laje utilizando-se esguicho de água e uma vanga, respectivamente. (MATTOS, SORA – Revista Téchne, edição 125).
30
Figura 3.6: Polvilhamento de cimento com peneira (MATTOS, SORA – Revista Téchne, edição 125).
Após a limpeza da base, o ambiente receberá as taliscas, que regularizam os níveis que
o contrapiso terá, como mostram as figuras 3.7 e 3.8, a seguir.
Figuras 3.7 e 3.8: Execução das taliscas (MATTOS, SORA – Revista Téchne, edição 125).
31
Construção das Mestras
A execução das mestras é realizada imediatamente antes da aplicação da argamassa de
contrapiso. Preenche-se a faixa entre taliscas, efetuando um trabalho enérgico de compactação
da argamassa. Em seguida é feito o sarrafeamento dessas faixas, que constituem as mestras.
Retiram-se as taliscas, preenchendo o espaço vazio com argamassa, nivelando-a com régua
(Figura 3.9).
Figura 3.9: Execução das mestras (MATTOS, SORA – Revista Téchne, edição 125).
Aplicação da Argamassa do Contrapiso
Deve-se distribuir a argamassa do contrapiso sobre a base preparada compactando-a
com soquete manual constituído, por exemplo, de uma base de 30 x 30 cm, com peso mínimo
de 10,0 kg, fixada em uma das extremidades de um pontalete de 1,50 metros altura. A
compactação deverá ser feita em camadas com no máximo 50 mm de espessura. Acima destes
valores, a compactação deverá ser realizada em duas camadas, após o que, deve-se sarrafear a
32
superfície com uma régua de alumínio a partir dos níveis estipulados pelas mestras, estando
este procedimento ilustrado nas figuras 3.10 e 3.11, a seguir.
Figuras 3.10 e 3.11: O soquete que é utilizado na compactação das camadas de argamassa e a utilização do mesmo, respectivamente (MATTOS, SORA – Revista Téchne, edição 125).
Acabamento Final
Deve ser dado ao longo após o sarrafeamento e varia com o revestimento de piso
utilizado:
• Sarrafeado: acabamento tosco e que se busca somente um simples
nivelamento. É obtido pelo sarrafeamento com régua de alumínio.
• Desempenado: é obtido alisamento da superfície com desempenadeira de
madeira, sendo recomendado quando da aplicação de revestimentos fixados
com argamassas adesivas ou com dispositivos do tipo parafusos e buchas;
33
• Alisado: a partir de um acabamento desempenado, utilizando-se colher de
pedreiro (ou desempenadeira de aço) procede-se ao alisamento da superfície
até que apresente textura homogênea e lisa, sendo recomendado quando da
utilização de revestimentos fixados com colas à base de resinas;
• Reforçado: consiste no polvilhamento superficial de cimento (da ordem de 0,5
Kg/m²) após o sarrafeamento, passando-se a seguir a desempenadeira de
madeira, sendo então denominado reforçado desempenado ou a de madeira e
em seguida a de aço, denominado reforçado alisado. Possibilita maior
resistência a camada superficial.
Figura 3.12: Execução do acabamento superficial do tipo sarrafeado (MATTOS, SORA – Revista Téchne, edição 125).
34
4. ESTUDO DE CASO
4.1. A Empresa
Para se realizar um estudo de caso do assunto tratado neste trabalho, escolheu-se a
empresa Rio Verde Engenharia e Construções Ltda.
A Rio Verde Engenharia encontra-se na Avenida Carlos Kunts Busch, no 601, na
cidade de Limeira/SP. O acesso é feito pelo quilômetro 148 da Rodovia Anhanguera, como se
pode observar na Figura 4.1, a seguir.
Figura 4.1: Localização da empresa
A empresa, que está no mercado desde 1983, tem como missão “Pesquisa e
desenvolvimento das necessidades dos clientes, buscando soluções e inovações tecnológicas
voltadas para a construção de edificações e para a qualidade de vida de seus usuários”. Tendo
em vista o objetivo de oferecer ao cliente um custo otimizado de suas obras, sem abrir mão da
excelência no que faz, a Rio Verde empenhou-se na implantação do seu programa de
Qualidade Total.
35
Segundo a empresa, “construir é mais que colocar um tijolo sobre o outro; não basta
focar produtos e processos”. Assim, considerando a importância das pessoas, a Rio Verde
investe em treinamento e se preocupa com a qualidade de vida de seus colaboradores.
Alguns clientes recentes da empresa: Oxiteno, Unicamp, Valeo, Unilever, Ouro fino,
Guardian, UNIP, Liotécnica e Metalúrgica Nova Americana.
4.2. O Sistema de Gestão de Qualidade da Empresa
A Rio Verde Engenharia possui um departamento de Sistema de Gestão de Qualidade
(SGQ) que é formado por uma célula técnica e pelos representantes da qualidade em cada
obra da empresa. Essa célula técnica é composta pelo coordenador do SGQ, Flávio
Ragonezzi, auxiliado pela Niandra Castro. O Flávio, coordenador, possui as seguintes
funções:
• Coordenar que os processos necessários para o sistema de Gestão de Qualidade
estejam estabelecidos, implantados e mantidos conforme Norma ISO 9001.
• Coordenar as alterações e atualizações dos procedimentos, formulários,
Instruções de Trabalho, e/ou qualquer documentação referente ao SGQ junto
com os demais colaboradores envolvidos;
• Garantir a evolução e aperfeiçoamento contínuo do Sistema de Gestão da
Qualidade;
• Monitorar e relatar periodicamente à Direção o desempenho do Sistema de
Gestão de Qualidade e a eventual necessidade de ação de
melhoria/aperfeiçoamento do SGQ;
• Coordenar a promoção de conscientização, treinamentos entre os
colaboradores da organização, sobre as necessidades e expectativas atuais e
futuras (preventivas);
36
• Verificar periodicamente a posição dos cronogramas pré-estabelecidos e
divulgação de estatísticas aplicadas;
• Registrar na Ata de Reunião a pauta da discussão da Reunião de Análise
Crítica com a Alta direção da Empresa;
• Realizar inspeções em geral nas obras para avaliação e acompanhamento para
análise das ações necessárias;
• Coordenar todo o Sistema de Gestão de Qualidade.
Já a tecnóloga Niandra tem como funções:
• Assegurar que os processos necessários para o Sistema de Gestão de Qualidade
estejam estabelecidos, implantados e mantidos conforme Norma ISO 9001;
• Redigir, alterar e atualizar, quando necessário, os Procedimentos, Formulários,
Instruções de Trabalho e/ou qualquer documentação referente ao SGQ junto
com os demais colaboradores envolvidos;
• Realizar treinamentos específicos relacionados à implantação e padronização
de documentos, procedimentos, formulários, registros e controles na SGQ da
Rio Verde, com toda equipe administrativa da obra, de acordo com as
responsabilidades e atribuições definidas pelo gestor da obra através do PGO;
• Comunicação e implantação de qualquer alteração, quando aplicável, de toda
documentação existente no SGQ;
• Responsável pelo controle de documentos e registros (padronização, fácil
localização e rastreabilidade dos documentos arquivados internamente. Ex
ART’s, Atestado de Capacidade Técnica, Registros, Normas etc.;
• Monitorar a qualidade de organização e padronização de documentos
arquivados e localizados na obra;
37
• Apoio ao Departamento do Sistema de Gestão de Qualidade;
• Visitas Técnicas nas obras;
• Realizar relatório de visita referente aos assuntos abordados em visitas técnicas
nas obras.
Como dito anteriormente, o sistema de Gestão de Qualidade também é formado por
representantes da Qualidade em cada obra da empresa. Essa(s) pessoa(s) tem como função
realizar a qualidade da obra de acordo com o SGQ da empresa.
O Sistema de Gestão de Qualidade da Rio Verde é exemplificado a seguir.
No início de uma obra, o Gestor da mesma faz o PGO da obra, ou seja, o Plano de
Gerenciamento da Obra, onde estão todas as informações necessárias para que se conheça a
obra. Nesse PGO estão itens importantes como prazo da obra, forma de contrato e preço da
mesma, além da função de cada um dos administrativos da mesma. Portanto, através do PGO
pode-se conhecer detalhes importantes da obra, assim como quem é cada pessoa e sua função,
observando-se o Organograma da mesma. Na realização do PGO decide-se quem será(ão) o(s)
responsável(is) pelo Sistema de Qualidade da obra. Essa(s) pessoa(s) fiscaliza(m) os itens da
qualidade, além de preencher(em) os formulários exigidos pela célula técnica.
A célula técnica realiza uma apresentação do Sistema de Gestão de Qualidade da
empresa para os administrativos da obra, além de fornecer um treinamento mostrando os
documentos da qualidade. Um treinamento mais específico é dado ao(s) responsável(eis) pela
qualidade na obra. Frequentemente esta célula técnica visita a obra para verificar se o Sistema
de Qualidade está sendo executado com êxito, ajudando, tirando dúvidas e mostrando o que
está sendo executado corretamente e o que não está. O resultado aparece na Avaliação Mensal
das obras, que é realizado em todas as obras da empresa, em uma espécie de competição entre
as mesmas, pois quem tiver as melhores notas nas questões de Qualidade da Avaliação é a
obra vencedora do mês. Como prêmio, a obra recebe certa quantidade de cestas básicas para
serem dadas ao pessoal da produção que contribuiu para os bons resultados da obra. Uma obra
que vence por três meses seguidos ganha um churrasco para todos os trabalhadores da mesma.
38
O Sistema de Gestão de Qualidade da Rio Verde Engenharia segue os padrões da ISO
9001. Atualmente a empresa passa por um processo de consultoria para adquirir o ISO 9001 e
o PBQP-H. Esse período de consultoria serve de preparação para a auditoria, que ocorrerá no
começo de junho de 2009, certificando, então, a empresa.
• Evidências do Sistema de Gestão de Qualidade
Cada obra da empresa possui os seguintes documentos da qualidade:
• ITM’s: Instrução de Trabalho de Materiais, mostrando como deve ser feito o
recebimento e a inspeção de alguns materiais controlados, como por exemplo,
madeira serrada, brita e areia;
• ITS’s: Instrução de Trabalho Serviço, que mostra como deve ser executado
determinado serviço, o responsável pelo mesmo, os equipamentos utilizados,
os itens que serão inspecionados e as referências do mesmo. Como exemplos
de ITS têm-se execução de alvenaria de Bloco de Concreto e execução de
Contrapiso;
• Material de treinamento: cartazes de divulgação do 5S, manual de resíduos
sólidos do Sinduscon, noções básicas de concretagem, entre outros;
• Modelo de PGO, e o PGO da obra;
• Modelo de organograma, e o organograma da obra;
• Procedimentos: ensaio de abatimento do concreto, avaliação de desempenho
dos fornecedores, qualificação de fornecedores, aquisição de produtos,
materiais ou serviços, entre outros;
• Registros da Qualidade: ata de reunião, diário de obra, rastreabilidade do
concreto, registro reclamação cliente, entre outros. Nesses registros também
estão as fichas de verificação de serviços como concretagem de peça estrutural
39
e execução de contrapiso. Os registros de inspeção de recebimento como, por
exemplo, inspeção de recebimento de cimento/cal, também se encontram nesse
item;
• Tabelas de traços, tanto para argamassa quanto para concreto.
Esses documentos podem ser modificados e adicionados novos de acordo com a obra,
ou seja, cada obra possui documentos específicos de acordo com a necessidade do cliente e da
própria obra. Cada um dos documentos da qualidade é impresso e encadernado, ficando
exposto na obra no chamado “Canto da qualidade”, onde os mesmo podem ser consultados.
Como dito anteriormente, todo mês as obras da empresa passam por uma avaliação da
Qualidade feita pela célula técnica, na qual são avaliados seis itens:
• Qualidade da Disciplina: verificam-se itens como divulgação da política de
qualidade e resultados, preenchimento adequado de diário de obra, se os
controles e registros são de fácil localização, realização da avaliação de
fornecedores, inspeção dos serviços executados através do preenchimento das
fichas de inspeção de serviço (evidência), entre outros;
• Qualidade do Produto: avaliam-se visualmente itens como Concreto Armado
(isento de bicheiras, e fissuras, uniformidade), Contrapiso (homogeneidade e
planicidade aparente), alvenaria de blocos de concreto (bom alinhamento das
juntas, prumo e nível), entre outros;
• Qualidade do ambiente: verificam-se itens como a entrada da obra
(organizada e limpa), placas de identificação do canteiro, localização da placa
da obra, organização de sanitários, refeitório e vestiários, localização de
bebedouros, uso de uniformes, entre outros;
• Qualidade em segurança: avaliam-se ocorrência de acidentes, uso de EPI’s,
realização de integração, áreas de perigo demarcadas, entre outros;
40
• Questionário de satisfação do Cliente: como o próprio nome já diz, é a
avaliação do cliente da obra, onde o mesmo analisa o prazo da obra, o canteiro
de obras, a equipe técnica administrativa, o produto, a segurança e o
atendimento da sede da Rio Verde;
• Qualidade em prazo: o prazo da obra é avaliado.
4.3. A Obra
O estudo de caso foi realizado na construção da 1ª fase do campus da UNIP -
Universidade Paulista, em Limeira SP, no período de janeiro a abril de 2008.
Figura 4.2: Indicação da obra UNIP
O empreendimento é composto por duas etapas, sendo que o presente estudo foi
realizado sobre a 1º. A segunda etapa, na cor verde da Figura 4.3, não tem previsão para
início.
41
.
Figura 4.3: Planta do Bloco A
A obra é composta pelo Bloco A (direito, esquerdo e central), portaria, cabines de
força, caixa d’água, barriletes, casa de máquinas e pavimentação. A área de construção é de
13.705,04 m2 e a área de pavimentação de 13.000,00 m2.
Conforme acordo firmado entre as empresas UNIP e Rio Verde, esta ficou com a total
responsabilidade pela construção do prédio (fundação, estrutura, fechamentos e vedações,
instalações hidráulicas e elétricas, estrutura metálica, pavimentação e paisagismo). A obra
teve início no primeiro dia de agosto do ano de dois mil e sete, e previsão para o final de
Fevereiro de 2008. Mas devido à mudança de escopo e incremento de novos serviços, esse
prazo foi adiado para o final de Maio de 2008.
O fornecimento dos projetos, bem como a responsabilidade por eles, é do cliente –
UNIP, a qual elaborou o arquitetônico e terceirizou o hidráulico, o elétrico, o metálico e o
estrutural. Esses projetos seguem o padrão UNIP.
A macroestrutura é composta da seguinte forma:
• Cliente: UNIP – João Carlos Di Genio.
• Fiscalização: Eng° Sérgio Lopes – (UNIP).
• Projetos: Fornecidos pelo Cliente.
• Contratada: Rio Verde Engenharia e Construções Ltda.
• Responsável: Eng. Nelson Peres.
42
• Gestor de Contrato: Eng. João Ridinaldo de Moraes.
A microestrutura é composta pelo Gestor da obra, Gestor de recursos, Eng. de
Produção, Técnico de Segurança, Departamento de R.H, Gestores de Insumos, Estagiário de
Qualidade, Estagiário de Produção e Almoxarifado. As responsabilidades e funções de cada
um foram decididas e listadas no PGO. Desta forma, definiu-se o organograma da obra.
Figura 4.4: Organograma da obra
A obra possui um escritório administrativo composto de quatro salas (Gestor da Obra,
Mestre de Obra, Administração e Fiscal), além de R.H., almoxarifado, vestiários, refeitório e
banheiros.
As técnicas para obtenção de dados e informações são baseadas na análise entre
projeto e campo. Essa análise determina o material que é utilizado e ele determina a logística
de execução da obra. Após esse procedimento dá-se início a construção da parte física que
43
inclui: estrutura, fechamentos, instalações, acabamentos – piso, pintura, revestimento, louças,
metais, detalhes elétricos, etc.
No decorrer da obra foi avaliada a qualidade dos serviços e se estão compatíveis com
o projeto.
O Sistema estrutural da maioria do empreendimento é o concreto armado moldado in
loco. Devido ao grande vão do anfiteatro do Bloco AC, as vigas do Térreo Alto foram de
concreto protendido. Para as coberturas foram utilizadas estruturas metálicas de dois tipos, a
normal e a espacial.
Como dito anteriormente, o Bloco A é segmentado e três partes. O Bloco A direito é
denominado como AD, e o mesmo ocorre com o central (AC) e o Bloco A esquerdo (AE). Os
três blocos possuem 4 pavimentos, que são denominados Térreo Baixo, Térreo Alto, 1o
pavimento e 2o pavimento, respectivamente. Os Blocos AD e AE são simétricos,
diferenciando-se apenas a existência de um elevador no Bloco AD, sendo esta posição uma
dispensa no Bloco AE. O Bloco AC liga os outros dois blocos.
Figura 4.5: Fachada frontal do Bloco AE em março de 2008
44
Figura 4.6: Fachada frontal do Bloco AD em março de 2008
Figura 4.7: Fachada frontal do Bloco AC em abril de 2008
O Bloco AC é composto por 4 pavimentos, sendo o Térreo Baixo uma recepção e um
anfiteatro com camarim, o Térreo Alto uma área de convivência e lanchonetes, e o 1º e 2º
pavimentos apenas uma circulação que liga os Blocos AD e AE; estes são compostos por
salas de aula, sanitários e laboratórios diversos.
Inicialmente foram previstas estacas tipo hélice contínua, em função das
características do solo, da presença de água e do nível do lençol freático ser alto (segundo
ensaios de SPT), porém decidiu-se fazer um estudo com furos modelos com estacas escavadas
para analisar o comportamento do solo e também analisar a presença de água. Dessa forma,
após as análises, foi possível optar por estaca escavada; esta tem maior produtividade (melhor
45
para curtos prazos) e um menor custo. Essa medida é considerada uma reengenharia, e através
da mesma, pode-se perceber o fator gerenciamento da obra visando a melhoria de contrato.
As estacas escavadas possuíam diâmetros de 45 e 55 cm, e profundidade de 14m.
A estrutura do edifício é reticulada e constituída de pilares, vigas e lajes. Para as vigas
e pilares, as fôrmas eram de chapas de madeira reutilizáveis em até 15 vezes. Como os
prédios estavam sendo construídos simultaneamente, foram comprados 3 jogos de fôrmas
devido ao curto prazo de entrega da obra. Para diferenciá-las, cada jogo de fôrmas possuía
uma cor diferente (azul, verde e vermelho). Esses jogos foram comprados prontos conforme
especificação do projeto e reutilizados por 4 vezes. Esse tipo de fôrma também foi escolhido
devido ao acabamento considerado melhor que o de fôrmas comuns. O escoramento era
metálico.
Os blocos e as vigas baldrame eram moldados em fôrmas metálicas. Já as lajes eram
compostas por vigotas pré-moldadas treliçadas com 15 e 12 cm de altura, não sendo
necessária a utilização de fôrmas, apenas de escoramento.
Figuras 4.8 e 4.9: Vigotas pré-moldadas em estoque e as mesmas formando a laje, respectivamente.
Para confecção da armadura, utilizava-se aço, previamente dobrado e cortado de
acordo com o projeto de armação. Eram utilizados espaçadores de material polimérico.
A concretagem dos elementos do edifício foi realizada com concreto usinado e com o
auxílio de caminhão bomba.
46
As vedações externas e internas do edifício são feitas com bloco de concreto comuns
com aplicação de argamassa nas juntas verticais e horizontais.
4.4. O Sistema de Gestão de Qualidade da obra
Na obra da Unip, devido a uma rotatividade de administrativos, os responsáveis pela
Qualidade na obra variaram de período em período, sendo que Leandro Ferraz, Luis Eduardo
de Almeida e Marina Roque alternaram na função.
Alguns itens da qualidade estavam sempre de acordo com o exigido pelo SGQ, como
os preenchimentos das fichas e documentos da qualidade, mas outros itens como a divulgação
da qualidade através de placas não ocorria, já que a obra ficou sem placas de qualidade e
segurança durante um período considerável, além de não possuir técnico de segurança durante
o mesmo período.
O coordenador do Sistema de Gestão de Qualidade, Flávio Ragonezzi, realizava
visitas técnicas freqüentes na obra, auxiliando e analisando o SGQ na obra.
Para o controle de execução do contrapiso, a obra apresentava a ficha de Instrução de
Trabalho de Serviço no 11- Execução de Contrapiso -, e a ficha de Verificação de Serviço no
11- Execução de Contrapiso. As mesmas são apresentadas nas figuras 4.10 e 4.11.
47
Figura 4.10: Ficha de Instrução de Trabalho de Serviço no 11.
Figura 4.11: Ficha de Verificação de Serviço no 11
48
4.5. O Contrapiso da obra
No estudo de caso realizado foi analisado o serviço de contrapiso em todo o Bloco A.
Este era executado sobre a laje acabada que, como dito anteriormente, era formada por
vigotas pré-moldadas que recebiam armadura negativa e o concreto sob as mesmas.
Segundo a definição dos tipos de contrapiso dada anteriormente por Bottura (1991), o
contrapiso da obra da Unip pode ser considerado do tipo aderido, utilizando-se a argamassa
seca, popularmente conhecida como “farofa”. Essa farofa era usinada, que segundo
informações da Nota Fiscal, possuía um traço de cimento e areia de 1:4. Não existia nenhum
projeto de contrapiso na obra.
O contrapiso da Unip era realizado da seguinte forma: inicialmente era marcado o
nível do contrapiso utilizando-se os níveis de mangueira. A base era limpa e os resíduos eram
retirados. As taliscas eram colocadas com sobras de cerâmicas e com argamassa produzida em
obra. Momentos antes da “farofa” chegar na obra, a base era molhada. As mestras eram feitas
a seguir com a argamassa usinada. Imediatamente, a argamassa “farofa” era distribuída entre
as mestras, utilizando-se o soquete para compactá-la. Para o acabamento final, a camada de
contrapiso era sarrafeada com régua metálica. O procedimento relatado é exemplificado nas
figuras a seguir.
49
Figura 4.12 e 4.13: Talisca das salas de aula do Bloco AD e da área de convivência do Bloco AC.
Figura 4.14: Base que receberá o contrapiso após ser molhada
50
Figura 4.15 e 4.16: Execução das mestras e espalhamento da “farofa” entre as mestras..
Figura 4.17 e 4.18: Soquete utilizado para compactar o contrapiso e a compactação do mesmo.
51
Figura 4.19: Sarrafeamento do contrapiso
Uma observação importante a ser feita é que o contrapiso, segundo informações do
gestor da obra e do mestre, deveria possuir entre 3 e 4 cm. Mas, como se pode observar na
figura 31 abaixo, muitas vezes esse valor foi bem mais alto, em torno de 7 cm.
Figura 4.20: Altura da talisca em relação a base, tomando-se como referência uma lapiseira
Como dito anteriormente, para o controle de qualidade da execução do contrapiso,
preenche-se a Ficha de Inspeção de Serviço no 11. Coletou-se na obra uma dessas fichas
preenchidas, a qual se encontra na Figura 4.21, abaixo.
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Figura 4.21: Ficha de Verificação de Serviço- Execução de contrapiso- preenchida na obra.
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As diferenças de níveis entre os ambientes, em sua maioria, foram bem executadas,
mas constatou-se que, inicialmente, o banheiro do camarim do Bloco AC foi executado e não
possuía diferença de nível para o corredor. Dessa forma, o contrapiso do banheiro teve que ser
retirado, e o piso quebrado para que se pudesse fazer um novo piso com o contrapiso na altura
ideal.
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5. RESULTADOS E CO�CLUSÃO
Analisando-se a obra do estudo de caso, pode-se observar que a mesma estava de
acordo com o Sistema de Gestão de Qualidade da empresa em questão, apenas alguns itens
não seguiam o padrão da empresa, como a divulgação das placas de qualidade e segurança
pela obra, o que ocorre na outras obras da empresa. O fato de ocorrer uma rotatividade da
pessoa responsável pela qualidade da obra também é um ponto negativo, pois não se teve um
trabalho contínuo na GSQ da obra. As fichas da qualidade eram preenchidas corretamente,
sendo analisadas pelo coordenador do departamento da Qualidade, e as evidências e os
documentos também eram sempre utilizados.
Sobre o controle do contrapiso, a inspeção era realizada e evidenciada de acordo com
a ficha de inspeção no 11, que pode mostrar que, apesar do contrapiso ser executado de acordo
com o apresentado na bibliografia, o mesmo não apresentava projeto. Além disso, em muitas
situações, como se pode ver na Figura 4.20, devido a uma base mal preparada, o contrapiso
apresentava uma espessura de 7 cm, o que acarreta em perda de material, já que para o
mesmo estava previsto uma espessura de no máximo 4 cm. Esta perda de argamassa pode ser
de grande valor, citando-se um exemplo ocorrido na obra, na área de convivência do Bloco
AC, na qual o contrapiso foi realizado com espessura entre 6 e 7cm (Figura 4.13).
Considerando-se uma média de espessura 6,5 cm, ou seja, 2,5 cm a mais que o planejado, para
uma área de 800 m2, ocorre uma perda de 800 x 0,025= 20 m3 de “farofa”. Se for considerado
que um caminhão betoneira tem capacidade de 5 m3 de “farofa”, perderam-se 4 caminhões.
O presente trabalho mostrou também a importância de um projeto de contrapiso, pois
o problema de diferença de nível relatado no estudo de caso não aconteceria se a obra
possuísse projeto.
Dessa forma, pode-se concluir que, apesar da execução do contrapiso não ser, muitas
vezes, considerada importante, a qualidade do processo é essencial para que se tenha um
produto final compatível com a utilização do edifício.
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