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ULTRASSONOGRAFIA NA VALIDAÇÃO DO ESCORE
DE CONDIÇÃO CORPORAL EM VACAS HOLANDÊS-
ZEBU DURANTE O PERÍODO DE TRANSIÇÃO E FASE
INICIAL DA LACTAÇÃO
NARJARA RODRIGUES GENTIL
Mestrado 2016 PROZOOTEC - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E
PESQUISA
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
NARJARA RODRIGUES GENTIL
ULTRASSONOGRAFIA NA VALIDAÇÃO DO ESCORE
DE CONDIÇÃO CORPORAL EM VACAS HOLANDÊS-
ZEBU DURANTE O PERÍODO DE TRANSIÇÃO E FASE
INICIAL DA LACTAÇÃO
SÃO CRISTÓVÃO-SE
2016
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Sergipe como parte das
exigências para obtenção do título de
Mestre em Zootecnia.
Orientador:
Prof. Dr. Anselmo Domingos F. Santos
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
G338u
Gentil, Narjara Rodrigues. Ultrassonografia na validação do escore de condição corporal
em vacas holandês-zebu durante o período de transição e fase inicial da lactação / Narjara Rodrigues Gentil ; orientador Anselmo Domingos F. Santos. – São Cristóvão, 2016.
53 f.: il.
Dissertação (mestrado em Zootecnia)– Universidade Federal de Sergipe, 2016.
1. Vaca - Ultrassonografia. 2. Metabolismo. 3. Lactação. I.
Santos, Anselmo Domingos F., orient. II. Título.
CDU 636.291
NARJARA RODRIGUES GENTIL
ULTRASSONOGRAFIA NA VALIDAÇÃO DO ESCORE
DE CONDIÇÃO CORPORAL EM VACAS HOLANDÊS-
ZEBU DURANTE O PERÍODO DE TRANSIÇÃO E FASE
INICIAL DA LACTAÇÃO
SÃO CRISTÓVÃO-SE
2016
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Sergipe como parte das
exigências para obtenção do título de
Mestre em Zootecnia.
DEDICO
Primeiramente a Deus, sem ele nada disso seria possível... A minha mãe,
Por todo amor e esforço destinados a mim e por sonhar o meu sucesso. Mãe, esse título é nosso!
AGRADECIMENTOS
A Deus por me proteger e me guiar por esse longo caminho;
A minha mãe, pelos ensinamentos e pelas palavras de conforto nos momentos de
desânimo;
Ao meu pai e irmãos por torcerem e contribuírem para o meu sucesso;
Ao meu noivo por todo auxilio, amor, paciência e suporte emocional. Você foi
fundamental nesses 2 anos de mestrado e na minha vida.;
Aos meus familiares, principalmente minhas tias Sandra e Solange e minha avó
Lourdes, pelas orações e por me incentivarem á continuar.
Ao professor e orientador Anselmo Domingos, por toda paciência, dedicação e
ensinamentos destinados a mim durante o mestrado. Obrigada por ser mais que um
orientador, o êxito desse trabalho é consequência disto.
A equipe que me acompanhou nas colheitas de dados no campo: Mariana e Cláudio.
Sem a ajuda deles não teria conseguido;
A equipe do GEBOL pela colaboração nas análises laboratoriais, especialmente
Franciele, pelos feriados e domingos de trabalho.
Aos meus amigos que me motivaram nessa trajetória. Em especial: Diana, Maíse e
Jamilly. O carinho e apoio de vocês foram essenciais para essa conquista.
A equipe do PROZOOTEC, pelo suporte didático.
A FAPITEC pela bolsa concedida.
SUMÁRIO
Página
RESUMO .................................................................................................................................... 1
ABSTRACT ................................................................................................................................ 2
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 3
2. REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 4
2.1 Método de avalição por Escore de condição corporal (ECC) ............................................. 4
2.2 Relação entre ECC e tecido adiposo ................................................................................... 7
2.3 Efeito do ECC sobre a reprodução ...................................................................................... 9
2.4 Relação entre ECC e a produção de leite .......................................................................... 11
2.5 Uso de ultrassonografia na avaliação da condição corporal .............................................. 12
2.6 Período de transição .......................................................................................................... 15
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 18
Validação por ultrassonografia da condição corporal em vacas Holandês-Zebu em
diferentes fases fisiológicas e suas características produtivas e metabólicas ............................ 27
RESUMO .................................................................................................................................. 27
ABSTRACT .............................................................................................................................. 28
Introdução ................................................................................................................................. 29
Material e Métodos ................................................................................................................... 30
Resultados e Discussão ............................................................................................................. 34
Conclusões ................................................................................................................................ 50
Literatura Citada ........................................................................................................................ 51
1
RESUMO
Gentil, Narjara Rodrigues. Universidade Federal de Sergipe, Maio de 2016.
Ultrassonografia na validação do escore de condição corporal em vacas holandês-
zebu durante o período de transição e fase inicial da lactação Orientador: Anselmo
Domingos F. Santos.
O escore de condição corporal (ECC) é um método de avaliação das reservas energéticas
do animal e foi desenvolvido com base nas características de mobilização/deposição de
gordura de vacas com grau de sangue Holandês. Por isso, ainda não se sabe se essa
metodologia é apropriada para vacas mestiças. Desta forma, objetivou – se com esse
estudo verificar a relação entre a espessura de gordura subcutânea na garupa (EGG) e o
ECC de vacas mestiças (Holandês x Zebu) durante o período de transição e fase inicial de
lactação, e relacionar esses achados com parâmetros produtivos e metabólicos. Um total de
108 vacas leiteiras Holandês x Zebu pertencentes a seis propriedades rurais foram
escolhidas aleatoriamente e divididas em três grupos de acordo com sua fase de produção
naquele momento: grupo PP (0 a 4 semanas pré-parto; n=30 animais); grupo L4 (0 - 4
semanas pós-parto; n = 15 animais); grupo L+5 (5 - 14 semanas pós – parto; n=63
animais). Análises de correlação e regressão foram usadas para descrever a relação entre as
variáveis ECC, EGG, peso corporal (PC). Para avaliação produtiva e metabólica dos
animais foi feito uma análise multivariada de agrupamento visando à distribuição dos
mesmos em grupos de EGG homogêneos dentro de cada fase estudada. A análise de
variância mostrou que houve diferenças significativas (P<0,05) entre os três grupos para as
três variáveis ECC, EGG e PC. A variável PC apresentou uma fraca correlação com as
variáveis ECC e EGG, com r = 0,28 e r = 0,38, respectivamente. Nos grupos PP e L+5
houveram fortes e diretas correlações entre as variáveis EGG e ECC, com r = 0,78 e r =
0,71, respectivamente. O EGG foi sensível às mudanças dos metabólitos albumina,
colesterol total e proteína total. Além de ser um bom indicador da produção e densidade do
leite, como também das proporções de sólidos totais e lactose.
Palavras-chave: avaliação, mobilização, metabolismo, produção, reserva energética
2
ABSTRACT
Gentil, Narjara Rodrigues. Federal University of Sergipe, May – 2016.Ultrasonography
in the validation of body condition score in Holstein - zebu cows during the transition
period and early lactation. Advisor: Anselmo Domingos F. Santos.
The body condition score (BCS) is a method of assessment of the animal's energy reserves
and it was developed based on the characteristics of mobilization/ deposition of cow’s fat
cows with degree of Holstein blood Therefore, it is not known whether this methodology is
appropriate for crossbred cows. Thus, the objective with this study to investigate the
relationship between the back fat thickness (BFT) and the body condition score (BCS) in
crossbred cows (Holstein - Zebu) during the transition period and early lactation, and to
relate these findings with productive and metabolic parameters. A total of 108 Holstein -
Zebu dairy cows from six farms were randomly selected and divided into three groups
according to their production phase at the time: PP group (0 to 4 weeks antepartum; n = 30
animals); L4 group (0-4 weeks postpartum; n = 15 animals); L + 5 group (5-14 weeks
postpartum; n = 63 animals). Correlation and regression analysis were used to describe the
relationship between the BCS, BFT and body weight (BW) variables. For productive and
metabolic evaluation of the animals we made a multivariate cluster analysis to order the
distribution of these animals in homogeneous BFT groups within each study phase.
Analysis of variance showed significant differences (P <0.05) among the three groups for
the three variables BCS, BFT and BW. The BW variable showed a weak correlation with
the BCS and BFT variables r = 0.28 and r = 0.38, respectively. In groups PP and L + 5
there were strong and direct correlation between BFT and BCS variables, r = 0.78 and r =
0.71, respectively. The BFT was sensitive to changes in metabolites albumin, total
cholesterol and total protein. In addition to being a good indicator of the production of milk
and density, as well as proportions of total solids and lactose.
Keywords: evaluation, mobilization, metabolism, production, energy reserves
3
1. INTRODUÇÃO
Para controlar a intensidade e a magnitude da mobilização de reservas
corporais em bovinos de leite, foram elaboradas algumas técnicas, como o escore de
condição corporal (ECC) conforme Edmonson et al. (1989) e a mensuração da
gordura subcutânea monitorada por ultrassom (EGS; (STAUFENBIEL, 1992)).
O período de transição é compreendido entre as três semanas anteriores e as
três semanas posteriores ao parto, é um dos momentos mais críticos para vacas
leiteiras (GRUMMER, 1995). Neste período há um déficit de energia (Balanço
Energético Negativo - BEN) e proteína necessárias para atender as exigências
nutricionais para manutenção e produção de leite, com consequente mobilização das
suas reservas corporais (lipídeos e proteínas) (BAUMAN, 2000; LIMA et al., 2012).
O ECC é frequentemente utilizado nessa fase por ser uma forma prática de
avaliação das reservas corporais em bovinos leiteiros. Apesar do mesmo ter relação
direta com o estado nutricional dos animais, esse método tem implicação também na
produção de leite, saúde do rebanho, desempenho reprodutivo, bem-estar animal e
rentabilidade da atividade leiteira (BEWLEY e SCHUTZ, 2008). Entretanto, se essa
avaliação for feita de maneira errada pode resultar em efeitos negativos sobre a saúde
e a produtividade de vacas leiteiras (STENGÄRDE et al., 2008). Então, torna-se
necessário um profundo conhecimento dessa avaliação para que sua utilização seja
eficaz para ser feita em todos os animais, independente de raça, manejo, ambiente ou
fase produtiva.
Deste modo, recursos mais objetivos devem ser usados para aprimorar essa
técnica. A ultrassonografia vem sendo utilizada há algum tempo por diversos
profissionais como uma forma de avaliação da qualidade da carcaça de bovinos
(FISHER, 1997). Também, tem sido observado grande acurácia das medidas de
ultrassom para indicar quantidades de gordura subcutânea e gordura da carcaça em
vacas de leite (OTTO et al., 1991; GRESHAM et al., 1986). Medidas como
espessura de gordura subcutânea ou de cobertura, gordura intramuscular, área do
olho do lombo (AOL), espessura de gordura da garupa (EGG) são frequentemente
usadas no manejo geral de rebanhos bovinos com destaque para as duas ultimas
citadas, por serem aplicáveis ao monitoramento da condição corporal dos animais e
possibilitar o gerenciamento de fazendas produtoras de leite.
Os softwares de análises de imagens dispõe de diversas ferramentas úteis e
adequada para avaliar imagens de ultrassonografia podendo ser realizado medições
4
de espessuras, áreas ou volumes dos tecidos. Assim, esses programas proporcionam
uma maior exatidão nas medições o que mostra ser vantajoso na estimativa da
composição corporal. Além disso, é alcançada uma maior rapidez nos processos de
medição, proporcionando maior desenvolvimento da técnica de ultrassonografia
(SILVA et al., 2007; SILVA, 2010). Entretanto, as técnicas citadas nesse estudo
foram criadas e aperfeiçoadas para animais da raça Holandês (Bos taurus taurus),
sendo necessário verificar se as mesmas se adequam a animais mestiços (Bos taurus
taurus x Bos taurus indicus), por serem a base da produção de leite do Brasil.
Diante da relevância do acompanhamento das reservas corporais para o sucesso
da criação de bovinos de leite, esse trabalho teve como objetivo validar o método de
avaliação do escore de condição corporal a partir de medidas de espessura de gordura
subcutânea por meio de ultrassom em vacas mestiças Holandês - Zebu no período de
transição e inicio de lactação, levando em consideração o estágio produtivo e
metabólico.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Método de avalição por Escore de condição corporal (ECC)
A avaliação do ECC é uma estimativa subjetiva das reservas de energia do
corpo. Esse método é baseado em algumas avaliações da aparência exterior da vaca
que exerce interação com as suas reservas de gordura corporal sendo diretamente
influenciado pelo balanço energético. O ECC é uma ferramenta que permite verificar
o equilíbrio entre uma alimentação eficiente e o bem-estar. Deste modo, ele é
particularmente útil como auxilio para tomada de decisão no gerenciamento das fases
secas, pré e pós-parto. O ECC também está fortemente relacionado com a produção
de leite e a duração do anestro pós-parto (KADIVAR et al. 2014; ROCHE et al.
2013).
Corroborando com essas informações, vários autores têm documentado
significativa relações entre ECC e saúde (GILLUND et al. 2001; ROCHE e BERRY
2006; BERRY et al. 2007), a fertilidade (WALTNER, et al. 1993; BUCKLEY et al.
2003; ROCHE et al. 2007a) e produção de leite (WALTNER et al. 1993;
MARKUSFELD, et al. 1997), justificando assim a sua utilidade no manejo de vacas
leiteiras.
5
Até 1970, não havia um meio de medir as reservas energéticas ou condição de
uma vaca (STOCKDALE, 2001). O peso corporal por si só não era um bom
indicador de reservas corporais, pois as vacas de um peso específico poderiam ser
tanto altas e magras como baixas e gordas. Gibb et al. (1992) e Andrew et al. (1994)
constataram em seus estudos que a energia armazenada variou em até 40%, em vacas
de peso semelhante, destacando a insignificância e imprecisão de depender apenas do
peso corporal como um índice de condição em bovinos. Além disso, a mobilização
dos tecidos no início da lactação ocorre junto com o aumento do consumo de ração.
Portanto a redução do peso corporal pode ser mascarada pelo preenchimento
intestinal, de modo que alterações no peso não refletem mudanças no tecido adiposo
e nem no peso de tecido magro (NRC, 2001).
A princípio os métodos de avaliação do ECC foram desenvolvidos para
ovelhas (JEFFERIES, 1961), sendo mais tarde proposto um método adaptado para
bovinos de corte que utilizava uma escala de 0 a 5, com valores intermediários num
total de 11 possíveis escores (LOWMAN et al., 1976). Na mesma época,
pesquisadores da Austrália e da Nova Zelândia iniciaram o desenvolvimento de
métodos semelhantes de avaliação da condição corporal para bovinos (EDMONSON
et al., 1989). Atualmente, para vacas leiteiras, esses países utilizam as escalas de 8 e
10 pontos, respectivamente (ROCHE et al., 2004). O sistema de pontuação
dinamarquesa baseia-se numa escala de 9 pontos (LASSEN et al., 2003). Sistemas de
pontuação prevalecentes nos Estados Unidos e na Irlanda utilizam uma escala de 5
pontos na qual um ECC de 1 indica a condição de vaca muito magra e um ECC de 5
indica obesidade.
Na Nova Zelândia e Irlanda, o ECC é avaliado pela palpação individual de
partes do corpo, enquanto que na Austrália e Estados Unidos as mesmas partes do
corpo são visualmente avaliadas. Os locais de avaliação considerados mais
importantes incluem as costelas, processos espinhosos da coluna vertebral, processos
transversos da coluna vertebral, vazio, ponta do íleo, base da cauda, sacro e vértebras
lombares (EARLE, 1976; WILDMAN et al., 1982; MACDONALD e ROCHE,
2004).
No Brasil, para vacas leiteiras o método mais aplicado e conhecido é o que foi
proposto por Wildman et al. (1982) e desenvolvido por Edmonson et al. (1989),
sendo posteriormente validado por Otto et al. (1991), Waltner et al (1994),
Fergunson et al. (1994) e Andrew et al. (1994). Ele é fundamentado a partir de
6
avaliações visuais e táteis das reservas corporais em pontos específicos do corpo da
vaca (Figura 01), sendo desenvolvido a partir de uma escala biológica de 1 a 5, com
subunidades de 0,25 pontos. Esse método é independentemente do peso vivo ou do
tamanho (altura, perímetro torácico, comprimento) de vacas leiteiras da raça
holandesa (WILDMAN et al., 1982; EDMONSON et al., 1989).
FIGURA 01. Principais pontos de avaliação do escore de condição corporal em vacas
leiteiras. (Adaptado de Klopcic et al., 2011).
As relações entre os diferentes sistemas de pontuação foram descritos por
Roche et al. (2004), em que fortes relações lineares positivas foram encontradas (P
<0,001) entre a escala de 10 pontos da Nova Zelândia e os outros sistemas de
pontuação: EUA (escala de 5 pontos) , r² = 0,54; Irlanda (escala de 5 pontos), r² =
0,72; e a escala australiana (escala de 8 pontos), r² = 0,61.
Roche et al. (2009) consideram como ideal no momento do parto, um ECC
entre 3 e 3,25, considerando uma escala de 5 pontos, enquanto outros autores
(MULLIGAN et al., 2006; CROWE, 2008.) afirmam que o ideal seria se as vacas
leiteiras cheguem ao final da gestação com ECC entre 2,75 e 3,0 (Tabela 01).
7
TABELA 01. Condição corporal desejada nas várias etapas do ciclo de produção das vacas
leiteiras.
Período/etapa ECC ideal
Entrada no período seco
Parto
Época reprodutiva
150 dias de lactação
200 dias de lactação
250 dias de lactação
2,75
3,0
>2,5
2,75
2,75
2,75
(Adaptado de Mulligan et al., 2006)
No Brasil, os estudos que levam em consideração o ECC no manejo de bovinos
leiteiros têm como base a mesma escala usada para animais da raça holandesa, como
no trabalho de Freitas Júnior et al. (2008) o qual foi obtido um efeito significativo do
ECC ao parto sobre a produção de leite corrigida para 3,5% de gordura, em vacas
mestiças Holandês x Zebu com ECC acima de 3. Logo, se faz necessários estudos
que comprovem a eficiência dessa metodologia para animais mestiços assim como já
foi comprovada para animais de raças europeias.
2.2 Relação entre ECC e tecido adiposo
A mobilização ou reposição de tecidos corporais é uma forma de ajustamento
do organismo animal para enfrentar as mais diferentes situações ao longo da vida
produtiva e reprodutiva. O tecido adiposo representa o local de armazenamento das
reservas corporais de energia, sendo constituído por células repletas de triglicerídeos
(lipídeos) em seu interior, os adipócitos (FONSECA-ALANIZ, et al., 2007). Dentro
dos adipócitos os triglicerídeos são continuamente “quebrados” e novamente
sintetizados. Quando os triglicerídeos são “quebrados” ocorre à clivagem da ligação
éster, resultando na liberação dos ácidos graxos não esterificados (AGNE). O
processo de “quebra” dos triglicerídeos dos adipócitos é denominado de lipólise
(RENNÓ et al., 2011). O estabelecimento ou reestabelecimento da ligação éster,
resultando na síntese ou ressíntese dos triglicerídeos, denominada de lipogênese.
O ECC é usado para caracterizar a quantidade de reservas corporais
armazenadas no corpo do animal. Sua utilização no período de transição permite o
8
controle das perdas lipolíticas que são comuns nessa fase. Quanto maior o conteúdo
de tecido adiposo no corpo da vaca, maior será o ECC, como mostra a Tabela 02.
TABELA 02. Constituição do corpo de vacas leiteiras de acordo com escore de condição
corporal (ECC).
% do Peso corpo vazio¹
ECC Gordura Proteína Cinzas Água
1,0 3,77 19,42 7,46 69,35
1,5 7,54 18,75 7,02 66,69
2,0 11,30 18,09 6,58 64,03
2,5 15,07 17,42 6,15 61,36
3,0 18,84 16,75 5,71 58,70
3,5 22,61 16,08 5,27 56,04
4,0 26,38 15,42 4,83 53,37
4,5 30,15 14,75 4,43 50,71
5,0 33,91 14,08 3,96 48,05
O balanço energético negativo (BEN) pode ser definido como a diferença entre
a energia consumida e a necessária para atender os requisitos de mantença e
produção. Os animais em intenso BEN mobilizam mais energia a partir do tecido
adiposo e muscular, logo diminuem imediatamente o ECC após o parto
(FERGUSON et al., 2006). Ӧacas leiteiras mobilizam reservas corporais ou “perdem
condição corporal” por aproximadamente 40 a 100 dias pós-parto, iniciando a
recuperação após esse período (KOENEN et al., 2001; PRYCE e HARRIS, 2006;
RENNÓ et al., 2006; ROCHE et al., 2007b). Este fenômeno é exibido na Figura 02,
onde o ECC diminui entre o parto até a décima semana de lactação devido à
mobilização das reservas corporais, e a partir daí, se estabiliza e começa a aumentar
em torno da vigésima semana de lactação.
¹ Peso corpo vazio = peso vivo x 0,817. (Adaptado do NRC, 2001).
9
FIGURA 02. Alterações no ECC, produção de leite e consumo de Matéria Seca (CMS)
durante a lactação. (Adaptado de Klopcic et al., 2011).
Na Figura 02 ainda é possível constatar que poucos dias após o parto a
produção de leite e o consumo de MS aumentam em proporções diferentes, ou seja,
mesmo que o animal passe a consumir mais não será o suficiente para atender as
exigências de produção.
Além da mobilização de tecido adiposo, há situações em que as proteínas
corporais também são usadas para o fornecimento de energia, no entanto, a
capacidade de usar a proteína do corpo é limitada em quantidade e duração. Por
exemplo, o consumo estimado varia de 10 a 90 kg de gordura, e até 24 kg de proteína
(KOMARAGIRI e ERDMAN, 1997; CHIBISA et al., 2008). Segundo Komaragiri e
Erdman (1997), após cinco semanas de lactação não foi observado à mobilização de
proteínas, enquanto a utilização de gordura corporal continuou até, pelo menos, 12
semanas pós-parto. As informações sobre a mobilização de reservas corporais em
vacas com ECC extremos, ou seja, em animais extremamente magros ou obesos são
limitadas, pelo fato da maioria dos estudos se concentrarem em animais que recebem
dietas com alta energia durante a lactação e consequentemente possuem condição
corporal intermediária ou alta (BROSTER e BROSTER, 1998; ROCHE et al., 2009).
2.3 Efeito do ECC sobre a reprodução
A relação existente entre o ECC e a eficiência reprodutiva em vacas leiteira
tem grande relevância, visto que tanto o excesso quanto a carência de tecido adiposo
diminuem o sucesso reprodutivo. Vacas com excesso de gordura durante o período
seco estão mais sujeitas a distúrbios metabólicos, gastrointestinais e reprodutivos
(SCHRÖDER e STAUFENBIEL, 2006). No momento do parto, essa condição em
10
que a vaca está com alto ECC prejudica as contrações uterinas, podendo causar
distorcia, podendo provocar a liberação de diferentes hormônios e citocinas que
afetam a reprodução. Em casos mais extremos a retenção placentária como também
uma subsequente metrite pode acontecer devido à falta de tensão do músculo uterino,
causada pelo excesso de esforço realizado durante o parto (MCNAMARA, 2011).
A redução da fertilidade de vacas leiteiras geralmente é explicada como uma
consequência do aumento da produção de leite, no entanto, a causa desse declínio é a
seleção genética para essa maior produção (KHATIB et al., 2008). Mudanças na
atividade ovariana pós-parto geralmente são relacionadas ao BEN pelo fato de que
durante o início da lactação, a produção de leite é priorizada sobre a reprodução
(FERGUSON, 2001; BEAM e BUTLER, 1999). O grau de subnutrição pode alterar
os padrões típicos do crescimento folicular e ovulação. Quando as vacas leiteiras
recebem dietas inadequadas para o suas exigências nutricionais, o primeiro folículo
dominante não ovula o que faz aumentar o intervalo entre o parto e a primeira
ovulação (43 ± 5 dias) (JOLLY et al. 1995). Além disso, os mesmos autores sugerem
que a restrição de consumo de MS no pré ou no pós-parto, pode afetar o tamanho
máximo e a persistência dos folículos anovulatórios que se desenvolvem após o
parto. O atraso na ciclicidade está vinculado aos mecanismos fisiológicos pelos quais
o sistema hipotalâmico-hipófise é sensível ao estado energético dos animais, e que
envolve diversos metabólitos e hormônios, como o hormônio de crescimento (GH),
fator de crescimento semelhante à insulina I (IGF-I), insulina, hormônios da tireoide
e leptina (MEIKLE et al., 2004). Apesar do BEN, uma boa parte das vacas
conseguem ciclar nas primeiras oito semanas pós-parto (CÉRON, 2007), porém, essa
primeira ovulação geralmente é silenciosa (sem estro comportamental) e
normalmente (> 70% dos casos), seguida por um ciclo curto (CROWE, 2008).
Gillund et al. (2001) estudaram as correlações entre as modificações no ECC e
a performance reprodutiva. Nesse trabalho foi observado que vacas que
apresentavam uma unidade de ECC a mais do que a média do estudo (2,39), na
décima semana pós-parto, tiveram em relação às demais vacas do estudo, 5,4 dias a
menos para o primeiro estro, 14,6 dias a menos no intervalo de partos, 6,2 dias a
menos para a ocorrência do primeiro serviço, e uma taxa de concepção 9% maior. De
forma semelhante, a mobilização do ECC no início de lactação demonstrou que
vacas que mobilizaram menos quantidade de reservas corporais no início da lactação
apresentaram melhor desempenho reprodutivo. Estes autores também verificaram
11
que a magnitude da mobilização de reservas corporais no pós-parto afeta de forma
significativa a eficiência reprodutiva no início de lactação. Segundo os resultados, de
uma forma geral, vacas que apresentam extensa mobilização de reservas corporais
apresentam baixa taxa de concepção, prolongado intervalo entre parto - concepção e
um aumento no número de serviços por concepção.
Hattan et al. (2001) compararam a perda de condição corporal entre vacas de
alta e média produção leiteira, e constataram que as vacas de média produção perdem
cerca de 0,8 pontos de ECC nas primeiras cinco semanas de lactação e depois
recuperam a condição corporal, em comparação às de alta produção que continuaram
a perder ECC até às 11 semanas de lactação.
2.4 Relação entre ECC e a produção de leite
Conhecer as reais relações que existem entre o ECC e a produção de leite é
importante pelo fato das vacas leiteiras precisarem mobilizar suas reservas corporais
para sustentar altas produções de leite. Desta forma, é inevitável que o ECC sofra
alterações durante o período de transição. De acordo com Roche et al. (2006) e
McCarthy et al. (2007) existe uma consistente relação entre o ECC e a produção de
leite, de forma que essa avaliação das reservas corporais seja um reflexo da lactação.
Pedron et al. (1993) observaram que a curva de lactação foi influenciada pela
mobilização de reservas corporais em vacas com diferentes ECC ao parto. Vacas
com maior ECC ao parto (>3,0) apresentaram curvas de lactação com maior pico de
produção e persistência de lactação em comparação com vacas de menor ECC ao
parto. Corroborando, Rennó et al. (2006) verificaram que vacas com ECC ≥3,25 ao
parto, apresentaram curva de lactação com maior pico de lactação e maior
persistência de lactação em relação a vacas com ECC ≤ 3,00.
De acordo com Bell (1995) e Goff (2004), vacas com maior ECC ao parto
tendem a apresentar maior produção de leite em função da grande contribuição das
reservas corporais no fornecimento de nutrientes para a síntese de leite e de seus
componentes. Esta contribuição pode chegar a 33% da produção observada nas
primeiras quatro semanas de lactação (BAUMAN e CURRIE, 1980).
De acordo com Berry et al., (2007) e Roche et al., (2007b), uma relação direta
e positiva entre o ECC ao parto e a produção de leite é observada até determinada
quantidade de reservas corporais no corpo da vaca, onde a partir deste ECC (3,75) a
12
resposta produtiva começa a diminuir e essa relação passa a ser negativa. Desta
forma, devido a esse efeito não linear do ECC ao parto sobre a produção de leite, a
máxima resposta produtiva tem sido obtida quando o ECC ao parto está entre 3,25 e
3,50.
2.5 Uso de ultrassonografia na avaliação da condição corporal
Nos últimos anos a ultrassonografia tem sido cada vez mais utilizada nas
diversas áreas da ciência animal como, por exemplo, no diagnóstico de certas
patologias, detecção de gestação ou de desordens reprodutivas, transferência de
embriões e como alternativa inovadora para a mensuração das características de
carcaça dos animais in vivo. Várias vantagens são atribuídas á essa técnica dentre
elas destacam-se a rapidez, facilidade de execução e por ser um método não invasivo.
De acordo com Domecq et al.,(1995) e Ayers et al., (2009), de forma geral, a
técnica de ultrassonografia permite validar os métodos de ECC e explicar grande
parte da variação do ECC em animais sujeitos a diferentes regimes alimentares
(SCHWAGER-SUTER et al., 2000). A ultrassonografia tem sido utilizada como uma
ferramenta objetiva que proporciona a possibilidade de detectar pequenas variações
nas reservas de gordura.
Segundo Thwaites (1984), a ultrassonografia está disponível para avaliação de
carcaça e composição corporal de bovinos, suínos, ovinos, desde a década de 50.
Posteriormente, diversos trabalhos foram executados com o uso do ultrassom para
mensurar as características de composição corporal em animas vivos (SUGUISAWA
et al., 2006; SANTANA et al., 2012).
O aparelho de ultrassom basicamente mede a reflexão das ondas de alta
frequência que ocorre quando estas passam através dos tecidos. A produção dessas
ondas ultrassônicas se dá a partir de cristais presentes em transdutores que possuem
propriedade piezoelétrica, ou seja, possuem a propriedade de transformar energia
elétrica em energia mecânica e vice-versa. A absorção das mesmas pelos tecidos está
diretamente relacionada à sua densidade, o que é chamado de diferença de
impedância acústica, ou seja, a resistência que determinados tecidos oferecem à
passagem das ondas sonoras. Os tecidos mais densos (ósseo) oferecem maior
resistência e, portanto, refletem maiores quantidades de ondas que são captadas pelos
cristais e transformadas em impulsos elétricos, que por sua vez serão interpretados e
13
exibidos na tela do equipamento (THWAITES,1984; PERKINS et al., 1992;
POLIZEL NETO et al., 2009).
Diversos fatores contribuem para a imprecisão e variabilidade das medidas
obtidas por ultrassom. A maior parte desses aspectos apresentam implicações
negativas na qualidade das imagens. Alguns exemplos são a contenção dos animais,
tosquia ou corte do pelo no local de leitura, contato e pressão da sonda com a pele, a
variação da localização, identificação dos pontos de referência, nível de gordura,
análise das imagens e experiência do operador.
Em bovinos as regiões avaliadas pelo ultrassom são zona da garupa e do lombo
(músculo Longissimus dorsi, entre a 12ª e 13ª costelas) por serem locais adequados e
de fácil mensuração além dos tecidos presentes estarem bem relacionados com a
composição da carcaça (AYERS et al., 2009; TROXEL, 2011).
Para avaliação do músculo Longissimus dorsi as imagens são capturadas ao
nível da 12ª vértebra torácica em posição perpendicular (posição B) ou em posição
longitudinal (posição C) como está descrito na Figura 03 (TROXEL, 2011).
FIGURA 03. Áreas usadas para avaliar a ECC com o ultrassom. (Adaptado de
Troxel, 2011).
A medida realizada para determinar a espessura de gordura na garupa (EGG),
mais precisamente na intersecção dos músculos Gluteus medius e Bíceps femoris,
entre os ossos ílio e ísquio (Figura 04), foi reconhecida por Staufenbiel (1992) e
Klawuhn (1992) como a mais adequada para estimar o teor de gordura corporal,
pelas altas correlações (r = 0,90) encontradas entre essas duas variáveis. Vários
estudos investigaram a correlação entre a medida real de espessura da camada de
gordura (ECG) na carcaça e aquele medido por ultrassom. Os coeficientes de
14
correlação variaram entre 0,72 e 0,92 (ROBINSON et al., 1992; GREINER et al.,
2003).
FIGURA 04. Vista lateral e superior da localização da área para medição da espessura de
gordura na garupa. (Adaptado de Schröder e Staufenbiel, 2006).
Os valores de repetibilidade estimados para as mensurações de EGG obtida
pela técnica de ultrassonografia, entre várias observações de um mesmo técnico em
um animal e também entre medidas de técnicos diferentes no mesmo animal, têm
sido altos, demonstrando que em geral as medidas são relativamente fáceis de serem
obtidas e que podem ser bastante confiáveis (PERKINS et al., 1992; HERRING et
al., 1994; BERGEN et al., 1997; HASSEN et al., 1998).
A ultrassonografia tem sido utilizada como uma ferramenta objetiva que
proporciona a possibilidade de detectar pequenas variações nas reservas de gordura.
A maioria dos trabalhos com bovinos em que se utiliza a técnica de ultrassonografia
têm sido orientados para as vacas leiteiras (SCHWAGER-SUTER et al., 2000;
SCHR DER e STAUFENBIEL, 2006).
Schr der e Staufenbiel (2006) demonstraram a eficácia de medir a ECG com
ultrassom como um meio de avaliação de reservas corporais. Segundo os autores,
essa região tem maior depósito de tecido adiposo e uma alta correlação (r = 0,90)
com teor de gordura total do corpo de modo que uma variação de 1 mm de EGG
equivale a 5 kg de total de gordura corporal e uma unidade de ECC correlaciona-se a
cerca de 10 mm EGG.
15
2.6 Período de transição
Durante a vida produtiva de uma vaca leiteira, o período de transição é o que
mais requer atenção dos produtores de leite, por ser um momento de alta demanda de
nutrientes e energia, podendo causar grandes prejuízos produtivos e econômicos à
criação. Essa fase é caracterizada por diversas alterações fisiológicas, como
diminuição da ingestão de alimentos, balanço negativo de energia, lipólise,
resistência à insulina, perda de peso no início da lactação; hipocalcemia nos dias
após o parto e redução na função imunológica (LEBLANC, 2010). Todos esses
prejuízos são consequências do ajuste metabólico que ocorre no organismo das
fêmeas, para suprir o aumento severo das necessidades de energia e nutrientes e
ainda garantir a produção de leite. O principal agravante é a lacuna que existe entre a
demanda de nutrientes e a ingestão de alimentos nas primeiras semanas do período
de transição, podendo coincidir com variações substanciais na quantidade de
nutrientes da dieta (SUNDRUM, 2015). Independentemente da densidade de energia
e do teor de proteína da dieta, a ingestão de matéria seca diminui cerca de 30%
durante as três semanas que antecedem o parto, podendo chegar a cerca de 90%
durante a última semana (DOEPEL et al., 2002; HAYIRLI et al., 2002).
Quando a lactação está estabelecida e a produção não é tão alta, as exigências
nutricionais são atendidas fazendo com que o metabolismo passe a ficar constante.
Na fase seca não há exigência para a produção de leite, mas ocorre o crescimento do
feto. Ao final da gestação seu tamanho pode ser grande o suficiente para influenciar
o metabolismo da vaca, em particular, nas necessidades de energia. O parto em si,
implica numa série de variações endócrinas, muitas vezes em conjunto com outras
alterações (mudanças de grupo e dieta, ambiente diferente) na vida desses animais
(TREVISSI et al., 2011).
Em função dessas modificações, as vacas leiteiras normalmente passam pelo
BEN, no final da gestação e início da lactação (BELL, 1995). Além disso, a glicose
é exigida em maior quantidade imediatamente após o parto principalmente devido à
produção de lactose na glândula mamária. De acordo com Trevissi et al. (2011) o
organismo tenta preencher essa carência através do aumento da gliconeogênese,
utilizando como substrato aminoácidos e principalmente glicerol de reservas
corporais ao mesmo tempo que há economia na utilização de glicose (energia) por
alguns tecidos corporais, principalmente tecidos periféricos como a musculatura
esquelética (HERDT, 2000).
16
A mobilização das reservas corporais causadas pelo BEN faz com que as
concentrações plasmáticas de ácidos graxos não esterificados (AGNE) aumentem à
medida que se aproxima o parto. Deste modo, os AGNE são considerados um
biomarcador do BEN, uma vez que indicam quebra de gordura corporal (lipólise),
em resposta à crescente demanda de energia, onde o suprimento de glicose é
insuficiente para satisfazer as necessidades energéticas (ARTUNDUAGA et al.,
2011).
LeBlanc et al. (2005) demonstraram que a alta concentração de AGNE antes do
parto está fortemente relacionada a infecções no pós-parto imediato. Para Ospina et
al. (2010), as concentrações de AGNE de 0,29 mmol/L no pré- parto e 0,57 mmol/L
no pós-parto são o limite crítico para o desenvolvimento de doenças no período de
transição. Segundo Leblanc et al. (2006), aproximadamente 75% das doenças de
vacas de leite ocorrem tipicamente no primeiro mês após o parto. Outros
pesquisadores observaram que a ocorrência de mastites clínicas acontece
frequentemente em vacas que possuem maior concentração de AGNE no plasma
durante as três primeiras semanas pós-parto (HOLTENIUS et al., 2004). Hammon et
al. (2006) relataram que AGNE ≥ 0,4 mmol/L antes do parto (uma a duas semanas)
foi associada com a redução da função de neutrófilos do sangue periférico e maior
risco de metrite ou endometrite.
Simultaneamente aos eventos anteriores, fêmeas bovinas passam por uma
redução da atividade do sistema imune (imunossupressão). A imunossupressão é
caracterizada pela diminuição e/ou disfunção da resposta imunológica, é
primariamente causada pelo aumento na produção e secreção fetal de
corticosteróides durante o último mês de gestação, que por sua vez são necessárias
para desencadear as alterações hormonais uterinas, resultando na expulsão do feto
(KNICKERBOCKER et al., 1986; GRIFFIN, 1989). O BEN e a ocorrência do fígado
gorduroso agravam a imunossupressão do parto, propiciando as vacas de leite a
apresentarem metrites (BOBE et al., 2004; HAMMON et al. 2006). Goff e Horst
(1997), concluíram que mudanças nos níveis de hormônios no plasma
(principalmente progesterona) podem alterar a função de leucócitos e que tal efeito
ocorre apenas um dia antes e um dia depois do parto, quando a progesterona é
marcadamente reduzida.
No período pós-parto as concentrações de insulina e fator de crescimento
semelhante à insulina I (IGF-I) circulantes decrescem rapidamente e, em vacas com
17
BEN acentuado, mantêm-se baixas, afetando a secreção de hormônio liberador de
gonadotrofina (GnRH) e hormônio luteinizante (LH), e consequentemente aumentam
o intervalo entre o parto e o início da atividade luteal cíclica (KAWASHIMA et al.,
2007; FENWICK et al., 2008;WHATES et al., 2011).
18
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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27
ARTIGO APRESENTADO SEGUNDO AS NORMAS DA REVISTA 1
BRASILEIRA DE ZOOTECNIA 2
3
Validação por ultrassonografia da condição corporal em vacas Holandês-4
Zebu em diferentes fases fisiológicas e suas características produtivas e 5
metabólicas 6
Narjara Rodrigues Gentil¹, Anselmo Domingos Ferreira dos Santos² 7
¹ Aluna de pós – graduação da Universidade Federal de Sergipe. Bolsista FAPITEC/SE. 8
² Professor do departamento de medicina veterinária da Universidade Federal de Sergipe. 9 10
RESUMO - Objetivou-se verificar por meio da espessura de gordura subcutânea 11
na garupa (EGG) se o método de avaliação visual de escore de condição corporal 12
(ECC) é apropriado para indicar a condição nutricional de vacas leiteiras mestiças 13
Holandês x Zebu (H-Z) no período de transição e fase inicial de lactação. Os 14
animais foram selecionados de acordo com estágio de lactação e foram divididos 15
em três grupos: grupo PP (0 a 4 semanas pré-parto; n=30 animais); grupo L4 (0 - 16
4 semanas pós-parto; n = 15 animais); grupo L+5 (5 - 14 semanas pós-parto; n=63 17
animais). As relações entre EGG, ECC e peso corporal (PC) foram investigadas, 18
utilizando-se análise de correlação e modelos de regressão. Para associar a EGG 19
aos perfis produtivo e metabólico foi realizada uma análise multivariada de 20
agrupamentos com objetivo de separar dentro de cada grupo animais com EGG 21
semelhantes. As variáveis ECC, EGG e PC variaram entre os três grupos (P< 22
0,05) e com comportamentos diferentes (quadrático e linear). As correlações entre 23
ECC e EGG foram maiores nos grupos PP e L+5, com r = 0,78 e r = 0,71, 24
respectivamente. O grupo L4 apresentou fraca correlação com r = -0,04. Os 25
modelos de regressão foram capazes de explicar o quanto da variação de EGG é 26
devido à variação de ECC, com resultados de coeficientes de determinação igual a 27
0,61 para o grupo PP e 0,51 para o grupo L+5. Para os animais do pré-parto e do 28
pós-parto com mais de 5 semanas de lactação o ECC pode ser considerado um 29
bom preditor da EGG. A partir de diferentes EGG foram detectadas diferenças 30
metabólicas e produtivas entre os animais dentro de cada fase fisiológica 31
estudada. 32
Palavras-chave: pré-parto, pós-parto, reserva de energia, vacas leiteiras 33
28
Validation by ultrasound body condition in Holstein-Zebu cows in different 34
physiological stages and their productive and metabolic characteristics 35
36
ABSTRACT - we aim with this work verify through the back fat thickness (BFT) 37
if the visual method of evaluation of body condition score (BCS) is appropriate to 38
indicate the body condition of crossbred dairy cows Holstein x Zebu in the 39
transition period and early lactation. The animals were selected according to stage 40
of lactation and it were divided into three groups: PP group (0 to 4 weeks 41
antepartum; n = 30 animals); L4 group (0-4 weeks postpartum; n = 15 animals); L 42
+ 5 group (5-14 weeks postpartum; n = 63 animals). The relationship between 43
BFT, BCS and body weight (BW) were investigated using correlation analysis 44
and regression models. To associate the BFT to productive and metabolic profiles 45
was conducted a Cluster in order to separate within each animal group with 46
similar BFT. The BCS, BFT and BW variables, varied among the three groups (P 47
<0.05) and with different behaviors (quadratic and linear). Correlations between 48
BCS and BFT were higher in groups PP and L + 5, r = 0.78 and r = 0.71 49
respectively. The L4 group showed weak correlation with r = -0.04. Regression 50
models were able to explain how the BFT variation is due to changes in BCS, 51
with coefficients of determination results equal to 0.61 for the PP group and 0.51 52
for the L + 5 group. For the animals of antepartum and postpartum over 5 weeks 53
of lactation the BCS can be considered a good predictor of BFT. From different 54
BFT metabolic and productive differences were detected among animals within 55
each physiological stage studied. 56
Keywords: antepartum, postpartum, energy reserve, dairy cows 57
58
59
60
61
29
Introdução 62
A avaliação do escore da condição corporal (ECC), por ser um método 63
confiável, não invasivo, rápido e economicamente acessível, é aceita 64
universalmente na avaliação do estado nutricional e mudanças nas reservas de 65
energia em bovinos (SHELDON et al, 2006;). No entanto, não há uma 66
metodologia definida para animais mestiços Holandês x Zebu, predominante no 67
Brasil, bem como não se sabe se a técnica de avaliação elaborada por Edmonson 68
et al., (1989) e que atualmente tem sido utiliza é adequada para avaliar a condição 69
corporal destes animais. 70
Com o advento da ultrassonografia mensurações da espessura de gordura 71
subcutânea em algumas áreas do corpo podem ser realizadas para avaliar o status 72
energético de vacas leiteiras em conjunto com o ECC (HUSSEIN et al., 2013), 73
possibilitando maior precisão na avaliação visual da condição corporal. 74
O intervalo de três semanas, antes e após o parto compreende o período de 75
transição (GRUMMER, 1995). Mudanças fisiológicas, hormonais, metabólicas e 76
anatômicas ocorrem nesse intervalo são acompanhadas pela redução na ingestão e 77
aumento na demanda de energia devido às necessidades de nutrientes do útero 78
grávido e da glândula (GOFF & HORST, 1997; HUZZEY et al., 2007).. 79
Consequentemente, as vacas leiteiras tendem a mobilizar reservas corporais para 80
superar o déficit de energia. A avaliação da condição corporal desses animais 81
durante o período de transição é fundamental, pois a lipólise intensa pode provocar 82
distúrbios metabólicos como cetose e hipoglicemia. (MULLIGAN et al., 2006). 83
Assim, a avaliação do perfil metabólico tem a função de mostrar se os mecanismos 84
de homeostase são capazes de manter parâmetros sanguíneos dentro da faixa 85
fisiológica desejável. 86
30
A relação entre a condição corporal e a produção de leite é verdadeira 87
segundo Roche et al. (2007) e McCarthy et al. (2007). Ambos admitem a 88
produção de leite como reflexo do status energético das fêmeas bovinas. 89
Embora estudos sobre ECC, EGG e o peso corporal (PC) tenham sido feitos 90
anteriormente, faltam trabalhos que avaliem o relacionamento entre essas 91
características em vacas Holandês x Zebu (H-Z) no período de transição e inicio 92
da lactação. Portanto, o objetivo deste estudo foi verificar por meio da 93
ultrassonografia a espessura de gordura subcutânea na garupa se o ECC é 94
apropriado para avaliação de vacas mestiças durante período de transição e fase 95
inicial de lactação e a relação entre a EGG com as características produtivas e 96
metabólicas dos animais. 97
98
Material e Métodos 99
Este trabalho foi aprovado pelo comitê de ética de pesquisa em animais de 100
produção (CEPAP) da Universidade Federal de Sergipe. Número protocolo: 10/15 101
O experimento foi realizado em seis propriedades rurais localizadas nas 102
regiões do alto e baixo sertão, baixo São Francisco e sul do estado de Sergipe. As 103
médias de temperatura máxima e mínima são de 26,5 ± 1 C° e 22,2 ± 1,12 C°, 104
respectivamente, com pluviosidade média de 1120,3 ± 276,45 mm. (CLIMATE-105
DATA.ORG, 2016). Todas as propriedades que participaram do estudo possuíam 106
manejo semelhante com sistema de criação semi-intensivo e dietas calculadas de 107
acordo com as características produtivas dos animais, conforme NRC (2001). As 108
dietas formuladas eram constituídas basicamente por silagem de milho, e 109
concentrado contendo milho, soja e núcleo mineral. 110
31
Foram usados dados de 108 vacas leiteiras mestiças Holandês x Zebu com 111
produção média diária de leite de 15,4 ± 9,5 kg/dia.. Todas as vacas foram 112
selecionadas aleatoriamente e classificados de acordo com suas fases de lactação 113
em três diferentes grupos: grupo PP (0 a 4 semanas pré-parto; n=30 animais); 114
grupo L4 (0 - 4 semanas pós-parto; n = 15 animais); grupo L+5 (5 - 14 semanas 115
pós-parto; n=63 animais). 116
Cada animal foi avaliado uma vez pela mesma pessoa. A rotina de colheita 117
de dados iniciou sempre após a primeira ordenha, quando os animais foram 118
alocados em bretes de contenção, de forma que o avaliador tivesse a visão 119
completa do corpo dos mesmos. O peso corporal (PC) foi obtido por meio de fita 120
de pesagem apropriada para bovinos. 121
A avaliação do escore de condição corporal (ECC) foi realizada segundo 122
metodologia proposta por Wildman et al. (1982), validada por Edmonson et al. 123
(1989). Este método baseia-se em avaliações visuais e táteis das reservas 124
corporais em algumas partes do corpo do animal como processos transversos, 125
ligamento sacral, articulação coxo-lateral, íleos e ísquios. Dessa forma, as vacas 126
foram classificadas em escala variando de 1 (magra) a 5 (extremamente gorda), 127
com incrementos de um quarto de ponto (0,25). 128
A mensuração da EGG foi feita conforme metodologia descrita por 129
Schröder e Staufenbiel (2006), com um aparelho de ultrassom portátil, da marca 130
Pie Medical, acoplado a um transdutor linear de 6 MHz. As medições foram 131
realizadas com o transdutor posicionado verticalmente a uma linha imaginária 132
entre as extremidades óssea do ílio e o ísquio. O contato da pele com o transdutor 133
foi feita utilizando-se gel condutor incolor, apropriado para ultrassom. No 134
momento em que se obteve a imagem que melhor caracterizasse a EGG, a mesma 135
32
foi congelada e arquivada para posterior medição pelo software IMAGEJ®. Essa 136
medida compreende a distância (milímetros) entre a pele e a fáscia profunda, 137
localizado acima do glúteo médio. A área da garupa foi escolhida para avaliação 138
da espessura de gordura por possuir alta repetibilidade e ser adequado para medir 139
camada de gordura subcutânea segundo Stouffer & Cross (1985). Além disso, a 140
EGG é uma região que possui maior sensibilidade às variações da condição 141
corporal (SCHWAGER-SUTER et al., 2000), pois apresenta maior velocidade de 142
mobilização em comparação a região dorsal. 143
A produção de leite foi medida por meio de balança digital nas duas 144
ordenhas e registrada em quilos. Amostras de leite correspondentes a cada animal 145
foram colhidas durante a ordenha da manhã e da tarde, acondicionadas em 146
pequenos frascos esterilizados de 50 ml, identificados, refrigerados e 147
encaminhados para a realização de análise da composição do leite (teor de 148
gordura, proteína, lactose, sólidos não gordurosos e densidade) em analisador 149
ultrassônico de leite da marca Lactoscan LA. 150
Para a realização da dosagem de metabólitos sanguíneos, o sangue foi 151
colhido por punção da veia/artéria coccígea, em tubos de coleta a vácuo (10 mL). 152
Foram colhidos dois tubos para cada animal, um contendo ativador de coágulo 153
para dosagem de proteína total, colesterol total e albumina e o segundo contendo 154
fluoreto de sódio para dosagem de glicose no plasma. Após a colheita as amostras 155
foram centrifugadas 1.000 x G, por 15 minutos, para separação do soro ou plasma, 156
acondicionado em micro tubo de plástico (Eppendorf), identificadas e 157
armazenadas a -18°C. As análises bioquímicas foram realizadas a partir da 158
utilização de kits comerciais específicos para cada constituinte sanguíneo da 159
marca Labtest Diagnóstica S.A. os quais foram adaptados para serem utilizados 160
33
em placas de microtítulação e posterior leitura em aparelho do tipo “ELISA” da 161
marca Thermo Plate. 162
As análises estatísticas para verificar a relação entre o escore de condição 163
corporal visual (ECC), o peso corporal (PC) e a espessura de gordura subcutânea 164
da região glútea (ECG) foram executadas pelo software SAS, versão 9.3 (SAS 165
INSTITUTE, 2003), adotando-se nível de significância de 5% O delineamento 166
utilizado foi o inteiramente casualizado (DIC), de acordo com o período (-4 – 0 167
semana pré–parto; 0 – 4 semanas pós-parto; 5 - 14 semanas pós – parto) em que 168
os animais se encontravam. Para verificação das premissas estatísticas 169
(homogeneidade das variâncias e normalidade dos resíduos) foi utilizado a 170
ferramenta PROC UNIVARIATE. Análise de variância foi realizada (PROC 171
MIXED) para cada variável (PC, ECC e EGG) com finalidade de verificar se 172
houve diferença estatística (P<0,05) em função dos três grupos A partir dessa 173
análise foi feita uma regressão polinomial para obtenção de melhor efeito para 174
cada uma das variáveis analisadas. Após a escolha do melhor modelo 175
(determinada pelo p- valor dos efeitos) foi feita análise de regressão (PROC 176
REG). Modelo de regressão geral foi realizado levando em consideração todos os 177
animais do experimento sem distinguir as fases de lactação, onde a EGG foi a 178
variável dependente e o ECC a variável independente. O procedimento correlação 179
de Pearson (PROC CORR) também foi usado para verificar o relacionamento 180
entre as variáveis PC, ECC e EGG levando em consideração o total de 181
observações e dentro de cada grupo para as vaiáveis ECC e EGG. Para analisar a 182
relação dos resultados verificados na mensuração da espessura de gordura 183
subcutânea da região glútea (ECG) e os parâmetros metabólicos e produtivos, 184
utilizou-se o software computacional Action - R 2.8 (ESTATCAMP, 2014). 185
34
Foram realizadas análises multivariadas de agrupamentos pelo método de 186
dissimilaridade hierárquica baseado na distância euclidiana dentro de cada grupo 187
de período (-4 – 0 semana pré–parto; 0 – 4 semanas pós-parto; 5 - 14 semanas pós 188
– parto). Para tanto, foram considerados os valores obtidos pela ECG e a 189
consistência do padrão de agrupamento foi verificada por meio do coeficiente de 190
correlação cofenética calculado entre os valores de similaridade da matriz original 191
e da matriz resultante da simplificação do dendrograma. No grupo pré-parto, a 192
partir dessa análise foram gerados três subgrupos: grupo 1 ( n =14; EGG méd. = 193
0,60 mm), 2 (n = 5; EGG méd. = 1,17 mm ) e 3 (n=8; EGG méd. = 2,02). O grupo 194
L4 deu origem a dois subgrupos: grupo 1 (n=8; EGG méd. = 0,62 mm) e grupo 2 195
(n=4; EGG méd. = 1,03). Igualmente, o grupo L+5 deu originou dois subgrupos 196
de EGG: grupo 1 (n=19; EGG méd. = 0,55 mm) e grupo 2 (n=3; EGG méd. = 197
0,83). Dentro de cada agrupamento obtido em cada período avaliado foram 198
realizadas análises de variância (ANOVA) para todas as variáveis metabólicas 199
(glicose, colesterol total, proteína total e albumina) e produtivas (produção de 200
leite, produção de leite corrigido para 4% de gordura, teor de gordura, densidade, 201
sólidos, lactose e proteína), e as diferenças observadas foram analisadas por meio 202
teste de Tukey em nível de 5% de probabilidade. 203
204
Resultados e Discussão 205
A análise de variância mostrou diferenças (P<0,05) para as variáveis 206
estudadas (PC, ECC e EGG) levando em consideração os três grupos. Os valores 207
de ECC variaram de 1,75 a 4,00 com maior valor médio 2,81 em vacas de -4 a 0 208
semana pré – parto, e o menor valor médio de 2,50 nos animais com mais de 4 209
semanas pós - parto. A variação da EGG ficou entre 4,05 mm a 25,6 mm, com 210
35
maior valor médio de 9,62 mm no grupo 1 e menor valor médio de 5,82 mm no 211
grupo 3. Na Tabela 01 estão representadas as médias encontradas para ECC, 212
EGG e PC nos três grupos. 213
214
Tabela 01- Médias e erros padrão das médias (EPM) do ECC, EGG e PC de vacas 215 mestiças H-Z em diferentes fases fisiológicas 216
217
218
219 220 221 222 *Escore de Condição Corporal 223 **Espessura de gordura subcutânea na garupa 224 ***Peso corporal 225 R²: coeficiente de determinação 226
227
Hussen et al. (2013) encontraram resultados semelhantes, onde os maiores 228
valores médios de ECC (3,5) e EGG (24,4 mm) foram observados na fase de 1 a 3 229
semanas pré–parto. No mesmo trabalho, os menores valores de ECC (2,3) e EGG 230
(13,7 mm) foram observados em animais que se encontravam no pós-parto. No 231
presente trabalho a diferença de ECC e EGG entre os animais dos três grupos é 232
justificada pela mobilização de tecido adiposo como forma de atender a demanda 233
em energia para a produção de leite. Como este é um processo fisiológico normal 234
que ocorre em todos os mamíferos, deve-se esperar que todas as vacas mobilizem 235
gordura corporal no início da lactação (NRC, 2001). 236
O peso corporal (PC) variou entre 332 a 709 kg, com menor peso médio no 237
grupo L4 e maior peso médio no grupo PP. Esses resultados estão de acordo com 238
os encontrados por Weber et al., (2013) ao avaliarem vacas holandesas durante o 239
período de 8 semanas antes do parto até 9 semanas pós-parto. Os autores 240
verificaram que o PC diminuiu rapidamente (P<0,001) após o parto até a quinta 241
Variável Grupo PP Grupo L4 Grupo L+5
P - valor Média EPM Média EPM Média EPM
ECC* 2.81 0.08 2.64 0.08 2.50 0.06 0.01
EGG (mm)** 9.62 0.07 8.51 0.07 5.82 0.06 0.03
PC (kg)*** 507.50 11.15 473.34 11.43 488.54 9.39 0.02
36
semana de lactação e manteve-se constante até ao final do estudo. O 242
comportamento diferente da varável PC em relação às demais, possivelmente está 243
relacionado ao fato do mesmo ser influenciado por diversos fatores como o 244
conteúdo do trato gastrointestinal e mudança do peso uterino (SCHRÖDER &. 245
STAUFENBIEL, 2006). Conforme a ingestão de alimento aumenta, o conteúdo 246
gastrointestinal (preenchimento do intestino) também aumenta. O preenchimento 247
do intestino em vacas leiteiras equivale à aproximadamente 15% do PC (NRC, 248
2001). Chillard et al. (1991) sugerem acréscimo de 4 kg em preenchimento de 249
intestino para o aumento de cada 1kg em consumo de matéria seca (CMS). 250
Mudanças no PC de vacas podem não refletir as verdadeiras mudanças nas 251
reservas de energia dos tecidos. 252
A Tabela 02 é possível observar que as variações do PC e da EGG se deram 253
de forma curvilínea onde o menor peso, segundo as equações de regressão foi 254
encontrado aos 42 dias após o parto e a menor EGG aos 109 dias. 255
256
Tabela 02- Equações de regressão em função do tempo 257
Variável Equação de Regressão R²
P - valor
PC* y = 454.35278 - 1.47864 x + 0.01741 x² 0,15 < 0,01
EGG** y = 0.88412 - 0.00556 x + 0.00002545 x² 0,23 < 0,01
ECC*** Y= 2.78325 – 0.00259x 0,08 < 0,01 *Peso corporal 258 **Espessura de gordura subcutânea na garupa 259 ***Escore de Condição Corporal 260 R²: coeficiente de determinação 261
262
A variação do PC, EGG e ECC entre os grupos avaliados está de acordo 263
com o esperado fisiologicamente, em que ocorrem alterações na composição 264
corporal desses animais ao longo do período de transição e início de lactação. 265
37
Estas alterações refletem em diminuição do PC, EGG e ECC como forma de 266
atender as altas exigências em energia que é comum nessa fase. 267
Apesar das variáveis PC, ECC e EGG terem apresentado diferenças 268
(P<0,05) entre os grupos estudados, os coeficientes de determinação baixos 269
mostram que os dados observados não se ajustam aos dados estimados, 270
provavelmente pela heterogeneidade encontrada no conjunto de observações. 271
Nesse estudo, correlações moderadas (r = 0,57) foram encontradas entre o 272
ECC e a EGG, quando foram levados em consideração todos os animais do 273
experimento, sem discriminação das fases. Corroborando com esses resultados, 274
Vargas et al. (2003) demonstraram uma correlação entre ECC e EGG igual a 0,50 275
para vacas Nelore. O PC apresentou fraca correlação (r = 0,28) com o ECC e 276
média correlação (r = 0,38) com EGG. Ayres et al. (2009) também avaliaram 277
correlações entre as variáveis PC, ECC e espessura da gordura subcutânea na 278
garupa (EGG) mensurada por ultrassonografia em vacas zebuínas no período 279
compreendido entre o terço final da gestação e 16 semanas pós - parto. Os autores 280
encontraram correlação média ente o PC e o ECC com r = 0,37, e entre o PC e a 281
EGG a correlação também foi maior com r = 0,50. A baixa correlação entre o PC 282
e as demais variáveis desse estudo (EGG e ECC) também pode ser explicada pela 283
característica dessa variável não ser um bom indicador das reservas energéticas de 284
vacas durante o período de transição (NRC, 2001). 285
Para cada grupo foi feita uma análise de correlação entre as variáveis EGG e 286
ECC (Tabela 03) 287
288
289
290
38
Tabela 03 - Coeficientes de correlação de Pearson (r) para as ECC e EGG em três 291 diferentes fases do ciclo de lactação de vacas leiteiras mestiças 292
293
294
295
296
Na Tabela 03, verifica – se que os maiores coeficientes de correlação foram 297
encontrados nos grupos PP e L+5. Já no grupo L4 a correlação foi nula e inversa. 298
Como possível explicação para esse resultado está no fato desse grupo ter sido 299
representado por um número reduzido de animais, visto que esse trabalho foi 300
realizado em propriedades rurais as quais tinham poucas fêmeas nesse estágio de 301
lactação. 302
Singh et al. (2015) avaliaram o efeito do período de transição para o escore 303
de condição corporal (ECC) e espessura de gordura subcutânea na garupa (EGG) 304
em vacas mestiças durante as fases: mais de 30 dias pré–parto, entre 21 e 3 dias 305
pré–parto e de 3 a 30 dias pós–parto. Nessas fases, os coeficientes de correlação 306
entre o ECC e a EGG encontrados foram iguais a r = 0,84, r = 0,79 e r = 0,75, 307
respectivamente. Para vacas holandesas, Hussein (2013) encontrou altas 308
correlações em animais nas fases compreendidas entre 1 a 3 semanas dias pré–309
parto (r = 0,96) e 15 a 18 semanas pós – parto (r = 0,96). Em vacas zebuínas, 310
altas correlações foram verificadas no período próximo ao parto (r = 0,93) e após 311
11 semanas pós–parto (r = 0,93) (AYRES et al., 2009). 312
Segundo Chagas et al. (2007), a correlação entre ECC e gordura corporal 313
pode ser mais fraca na extremidade inferior da escala de ECC, quando a perda 314
acentuada de ECC chega a causar uma mobilização muscular, tornando 315
inexistente a quantidade de tecido adiposo subcutâneo. No trabalho de Macdonald 316
Grupo Número r P-valor
PP 33 0.78 <0.01
L4 15 -0.046 <0.01
L+5 62 0.71 <0.01
39
et al. (1999) as menores correlações (r=0,26) para essas varáveis foram registradas 317
no animais com ECC<4,5 (escala de 10 pontos). Os autores ainda observaram que 318
conforme foi aumentando a espessura de gordura subcutânea e o ECC, as 319
correlações se tornaram mais fortes (r=0,82). 320
No estudo de Maciel et al. (2006) ao avaliarem a relação entre EGG e ECC 321
em vacas Holandesas e Nelore não encontraram correlação para vacas Holandesas 322
com ECC menor que 3,17. A maior correlação foi achada a partir de EGG > 2 mm 323
e EGG < 7 mm com r = 0,79. Nesse trabalho a amplitude dos dados observados 324
também influenciaram os resultados de modo que os maiores coeficientes de 325
correlação foram obtidos para as vacas holandesas em relação aos observados nas 326
vacas nelores, os autores concluíram que isso se deu devido a maior amplitude de 327
ECC encontrada na raça zebuína, enquanto a amplitude para outro grupo racial foi 328
menor, resultando numa menor dispersão. 329
O coeficiente de determinação da regressão geral foi igual a 0,33. Os 330
modelos significativos foram os dos grupos PP e L+5 (P<0,05) em que os 331
coeficientes de determinação foram iguais a 0,61 e 0,51 respectivamente. No 332
grupo L4 provavelmente pelas constantes modificações metabólicas dessa fase, o 333
ECC não foi eficaz em detectar as reais mudanças na mobilização de tecido 334
adiposo nesses animais, acarretando R² = 0,0021. Os modelos estão representados 335
pelas Figuras 01, 02, 03 e 04. 336
337
40
338
Figura 01 – Regressão linear entre EGG e ECC em vacas mestiças H-Z no período de 339
transição e inicio de lactação ( 4 semanas pré-parto a 14 semanas pós-parto ) 340
341
342
343 Figura 02 – Regressão linear entre EGG e ECC em vacas mestiças H-Z entre 0 – 4 344 semanas pré-parto 345
346
41
347 Figura 03 - Regressão linear entre EGG e ECC em vacas mestiças H-Z entre 0 – 4 348 semanas pós-parto 349 350
351
352 Figura 04 - Regressão linear entre EGG e ECC em vacas mestiças H-Z entre 5 – 14 353 semanas pós-parto 354 355
De acordo com a Figura 01 as duas variáveis se relacionam de forma linear 356
durante o período de transição e fase inicial de lactação. Nos modelos de 357
regressão do grupo PP e L+5 o comportamento das variáveis foi semelhante ao 358
modelo geral, porém os coeficientes de determinação foram maiores mostrando 359
que os modelos propostos explica melhor a variação da EGG. Estes resultados 360
42
podem ser considerados positivos quanto à relação entre ECC e medições de EGG 361
em animais mestiços, uma vez que Domecq et al, (1995) validaram ECC com 362
medições de gordura subcutânea com o uso da ultrassonografia em alguns locais 363
do corpo de vacas leiteiras Holandês como a região lombar, a garupa e a inserção 364
da cauda. Segundo os autores, na região da garupa o ECC foi significativamente 365
associado às medições ultrassonográficas com coeficiente de determinação para o 366
modelo igual a 0,65. Os autores concluíram que o ECC é tão apropriado quanto às 367
medidas feitas por ultrassonografia para estimar a quantidade de gordura 368
subcutânea, em vacas leiteiras. 369
Quando são comparados os coeficientes de determinação desse estudo com 370
os encontrados pela literatura em que os animais estudados eram de raça pura, é 371
perceptível que os atuais resultados são menores. Como possível explicação para 372
esses achados são os diferentes graus de sangue dos animais avaliados. De acordo 373
com alguns autores o ECC por ser um método subjetivo é facilmente influenciado 374
por fatores como raça ou mérito genético, padrão de mobilização de tecido 375
adiposo, tamanho dos adipócitos e idade (DECHOW et al., 2004; PRYCE e 376
HARRIS, 2006; WALSH et al., 2008). 377
Nas Tabelas 04 e 05 estão representadas as analises de variâncias em que foi 378
levado em consideração os grupos de animais e suas médias metabólicas e 379
produtivas respectivamente. 380
Quanto ao perfil metabólico dos animais, de acordo com a análise de 381
variância não houve diferença estatística (P<0,05) para os metabólitos estudados. 382
Para a produção de leite os animais dos grupos L4 e L+5 não deferiram 383
estatisticamente (P<0,05). A densidade foi o único constituinte que apresentou 384
diferença entre os grupos mencionados. 385
43
386
Tabela 04 – Metabólitos sanguíneos em vacas mestiças H-Z no período de 387 transição e inicio de lactação 388
389 390 391 392 393 394 395 396 397 398
399 Grupo PP– -4 a 0 semana pré–parto; Grupo L4 – 0 a 4 semanas pós-parto; Grupo L+5 – 5 a 14 semanas 400 pós – parto; EPM- erro padrão da média; 401
402 Tabela 05 – Produção e constituintes do leite em vacas mestiças H-Z no pós-parto 403 404
405 406 407 408 409 410 411 412 413 414
415 416 417 418 419
Grupo L4 – 0 a 4 semanas pós-parto; Grupo L+5 – 5 a 14 semanas pós – parto; EPM- erro padrão da média; 420 LCG4 - produção de leite corrigida para 4% de gordura. Médias diferentes na mesma linha diferem 421 estatisticamente P <0,05. 422
423
De acordo com esses resultados, metabolicamente não foi perceptível 424
diferenças com base no período fisiológico, ou seja, quando são consideradas 425
apenas a fases (pré ou pós – parto), para esses animais e nas condições estudadas. 426
As variáveis produtivas se comportaram da mesma forma, pois as vacas que 427
estavam no começo da lactação, mais precisamente no período de transição 428
estavam produzindo a mesma quantidade de leite daquelas que se encontravam 429
fora do período crítico, ou seja, estavam com mais de 30 dias pós-parto. Deste 430
modo, apesar dos animais do grupo L4 estarem passando por ajustes fisiológicos 431
Variável Grupo PP Grupo L4 Grupo L+5 EPM p-Valor
Glicose (mg/dL) 78.50 75.51 78.85 0.93 0.48
Colesterol Total (mg/dL) 146.35 110.83 124.84 7.70 0.40
Proteína Total (g/dL) 7.45 8.07 7.97 0.12 0.13
Albumina (g/dL) 5.62 6.08 5.53 0.15 0.38
Variável Grupo L4 Grupo L+5 EPM p-Valor
Prod. Leite (kg) 14.70 14.50 1.18 0.81
LCG4(kg) 12.32 13.10 1.05 0.53
Gordura no leite (%) 2.83 3.53 0.14 0.05
Densidade (g/ml) 1.03a 1.02b 0.25 0.01
Lactose (%) 4.60 4.53 0.03 0.33
Proteína (%) 3.06 3.03 0.02 0.51
Sólidos totais (%) 8.09 7.98 0.06 0.39
44
característicos dessa fase, a produção e qualidade do leite foram semelhantes à 432
dos animais com a produção estabelecida há mais tempo. 433
A densidade do leite é entendida como a relação entre seu peso e volume 434
quando normalmente é medida a 15 °C ou corrigida para essa temperatura. Para o 435
leite de vaca, a densidade considerada normal é em torno de 1,032 g/ml, podendo 436
variar entre 1,023 e 1,040 g/ml (OLIVEIRA et al., 2010). O teor de gordura do 437
leite influencia diretamente na densidade, de modo que quanto maior o teor de 438
gordura menor é a densidade. Isso explica o comportamento dessa variável nesse 439
estudo, já que mesmo que a gordura não tenha apresentado diferenças estatisticas 440
entre os grupos L4 e L+5, os animais com mais de 5 semanas após o parto 441
apresentaram visivelmente mais gordura no leite, mas o conjunto de dados não 442
permitiu mostrar a significância. Dessa forma, o grupo L4 teve maior densidade 443
possivelmente porque a porcentagem de gordura no leite desses animais tende a 444
ser menor. 445
Apesar desses resultados descritos acima, foram encontradas diferenças 446
significativas (P<0,05) em algumas variáveis produtivas e metabólicas quando os 447
animais passaram a ser divididos dentro de cada grupo (PP, L4 e L+5) em 448
subgrupos de EGG (1, 2 e 3) através do método da análise de clusters. 449
A seguir, estão apresentadas na tabela 06 as médias e os desvios - padrões 450
referentes à dosagem de alguns metabólitos nos animais pertencentes ao grupo 451
pré-parto (PP) 452
453
454
455
456
45
457
458 Tabela 06 – Médias e desvios-padrão de metabólitos sanguíneos dosados em 459 vacas mestiças H-Z no pré-parto de acordo com espessura de EGG 460
461 462 463 464 465 466 467 468 469 470 471 472 473 474 475 476 477 478 479 480 481
482 483
EGG – Espessura de gordura subcutânea na garupa; Grupo 1, 2 e 3 – Grupos de EGG; DPP – dias pré-484 parto Letras diferentes na mesma linha diferem estatisticamente P <0,05 pelo teste de Tukey. 485
486
De acordo com a tabela 06, os grupos de EGG gerados foram diferentes 487
estatisticamente (P<0,05) inclusive em relação aos dias pré-parto. Assim, em 488
função da EGG, os animais que se encontravam em torno de 21 e 12 dias antes do 489
parto manifestaram variações. O EGG se comportou de forma diferente, já que o 490
maior valor foi observado nos dias mais próximos ao parto quando deveria ser ao 491
contrário, pois à medida que se aproxima do parto os animais mobilizam tecido 492
adiposo. Isso pode ser explicado pela variação da mobilização de tecido corporal 493
em vacas mestiças, uma vez que nesse estudo foi avaliada a mensuração de tecido 494
adiposo apenas em um local do corpo dos animais. Assim, não é possível concluir 495
que essas fêmeas passaram ou não a mobiliar mais tecido próximo ao parto já que 496
a mobilização de tecido adiposo pode ter acontecido em outro local. 497
Grupo PP
Variáveis Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 P-valor
EGG (mm) 6.0 a ±1.5 11.7b±4.5 20.2c±5.8 >0,01
ECC 2.52 a ±0.42 2.64 a ±0.68 3.69 b ±0.18 >0,01
DPP (dias) 21.29a±7.32 12.13b±4.67 13.4ab±5.27 >0,01
Glic. ( mg/dL) 79.71a±8.44 74.45a±14,79 75.97a±7.47 0,61
Coles. Tot (mg/dL) 175.89 a ±106,39 69.77b±31.27 79.79ab±28.98 0,01
Prot. Tot. (g/dL) 7.74a±1.40 6.91a±0.38 7.64a±0.96 0,30
Albu. (g/dL) 6.25a±1,07 3.52b±0,36 3.55b±0,29 >0,01
46
Os valores de colesterol diferiram entre os grupos 1 e 2. As médias 498
encontradas (175,89 mg/dL e 69,77 mg/dL, respectivamente ) estão fora do 499
intervalo de referência de 80 à 120 mg/dL (KANEKO et al., 2008). Além disso, é 500
possível observar que os animais com menor espessura de tecido adiposo foram os 501
que apresentaram maior valor de colesterol no soro sanguíneo. Isso condiz com o 502
que já foi afirmado por González e Rocha (1998) que valores elevados de 503
colesterol em vacas sugerem que este metabólito possa ser um indicador da 504
habilidade da vaca em produzir leite, como reflexo da mobilização lipídica das 505
reservas corporais para lactogênese. Deste modo, os animais com menor EGG 506
possivelmente estavam com maior quantidade de colesterol devido à mobilização 507
que normalmente acontece como uma preparação para a lactação. 508
A albumina sérica foi maior no grupo 1 quando comparado aos grupo 2 e 509
grupo 3. Como possível justificativa para esse comportamento esta no fato dos 510
animais do grupo 1 estarem mais distante (-21dias) do parto, ao passo que, os dos 511
grupos 2 e 3 se aproximavam mais do parto, -12 e -13 dias respectivamente. Isso 512
pode ter fundamento, pois o nível de albumina sofre uma diminuição no início da 513
lactação, a qual começa a se restabelecer desde que o aporte de proteínas na dieta 514
seja adequado. Isso se dá pela alta demanda de aminoácidos necessários para a 515
síntese de proteínas do leite (CONTRERAS, 2000). No trabalho de Oliveira, et al 516
(2014) os autores avaliaram o perfil metabólico energético, proteico e enzimático 517
em vacas mestiças leiteiras com baixo escore de condição corporal (ECC) no 518
período de transição. Eles observaram baixas concentrações de albumina 519
(2,82g/dL) nos animais aos 7 dias pré-parto, continuando baixo até 28 dias pós-520
parto. Nas Tabelas 07 e 08 estão representadas as médias relacionadas aos 521
47
parâmetros metabólicos e produtivos dos animais pertencentes aos Grupos L4 e 522
L+5. 523
524
Tabela 07 - Média e desvios-padrões de metabólitos sanguíneos dosados em vacas 525 mestiças H-Z no após o parto de acordo com espessura de EGG 526
527 528 529 530 531 532 533 534 535 536 537 538 539 540 541 542 543 544 545 546 547 548
549 550 551 552 553 554
555 EGG – Espessura de gordura subcutânea na garupa; Grupo 1, 2 e 3 – Grupos de EGG; LCG4 – 556 Produção de leite corrigido a 4% de gordura. Nas linhas, médias diferem estatisticamente P 557 <0,05 pelo teste de Tukey. 558
559 560 561 562 563 564 565 566 567 568 569 570 571 572
L4
Variável Grupo 1 Grupo 2 P-valor
EGG (mm) 6.24±2.3 10.3±3.9 0.04
ECC 2.84±0.64 2.30±0.22 0.14
DL (dias) 25.62±5.15 18±3.37 0.02
Glic. (mg/d) 70.23±17.57 70.49±5.20 0.97
Coles. Tot (mg/dL) 71.46±58.42 93.80±34.56 0.50
Prot. Tot. (g/dL) 8.34±1.25 4.48±3.51 0.01
Album.(g/L) 6.99±2.08 6.04±3.17 0.54
L+5
EGG (mm) 5.5±0.8 8.3±0.9 >0.01
ECC 2.42±0.34 3.87±0.32 >0.01
DL (dias) 71.69±27.15 51±12.22 0.14
Glic. (mg/d) 79.81±10.10 72.48±5.47 0.16
Coles. Tot (mg/dL) 122.48±76.98 74.86±53.01 0.24
Prot. Tot. (g/dL) 7.92±1.59 8.85±1.59 0.27
Album.(g/L) 5.99±1.45 6.15±1.57 0.83
48
573 Tabela 08 – Médias e desvios padrões de características produtivas e constituintes 574 do leite de vacas mestiças H-Z durante o pós-parto de acordo com espessura de 575 EGG 576 577 578 579 580 581 582 583 584 585 586 587 588 589 590 591 592 593 594 595 596 597 598 599 600 601 602 603 604 605 606 607 608 609 610 611 612 613
614 EGG – Espessura de gordura subcutânea na garupa; Grupo 1, 2 e 3 – Grupos de EGG; DL – dias 615 de lactação. Nas linhas, médias diferem estatisticamente P <0,05 pelo teste de Tukey. 616
617
Conforme as tabelas acima os animais com até 4 semanas pós-parto foram 618
divididos em dois grupos de EGG: 1 e 2, com médias de espessura de gordura 619
iguais à 62mm e 10,3mm na mesma ordem (Tabela 07). 620
Na Tabela 07 é perceptível que os animais com maior EGG (10,3mm) 621
foram aqueles com menos dias pós – parto, ou seja, segundo essa análise, as vacas 622
com mais tecido adiposo foram as que estavam no inicio da lactação (18 dias). 623
Isso reafirma o conceito de que os animais tendem a mobilizar tecido adiposo com 624
L4
Variável Grupo 1 Grupo 2 P-valor
EGG (mm) 6.2±0.23 10.3±0.39 0.04
Prod. (kg) 9.54±1.16 17.45 ±2.79 >0,01
LCG4 (kg) 8.18±1.52 15.48 ±1.58 >0,01
Gord. (%) 3.11 ±1.24 3.29 ±0.78 0.80
Dens. (g/ml) 1.02 ±1.70 1.03 ±1.50 >0,01
Sóli. Tot. (%) 7,.2 ±0.30 8.65 ±0.39 >0,01
Prot. Tot (%) 2.97±0.08 4.06±1.72 0.08
Lactose (%) 4.43±0.12 4.84±0.28 >0,01
L+5
EGG (mm) 5.5±0.8 8.3±0.9 >0,01
Prod. (kg) 15.05a ±9.54 9.65a ±3.78 0.27
LCG4 (kg) 14.28a ±9.57 8.45a ±2.81 0.24
Gord. (%) 3.78a ±1.65 3.41a ±1.60 0.68
Dens. (g/ml) 1.02a ±5.18 1.031a ±6.81 0.35
Sóli. Tot. (%) 8.11a ±1.59 8.88a ±2.20 0.39
Prot. (%) 3.10a ±0.57 3.32a ±0.59 0.48
Lactose (%) 4.62a ±0.83 4.94a ±1.16 0.50
49
o avançar da lactação, para atender as exigências energéticas e diminuir os efeitos 625
do BEN (BELL, 1995). Com exceção da proteína total, nenhum metabólito 626
apresentou diferença estatística entre os grupos 1 e 2. A proteína total sérica foi 627
menor nos animais com 18 dias pós-parto quando comparando aos animais do 628
grupo 2 (25dias), refletindo a mobilização de proteínas para a glândula mamaria 629
principalmente para a secreção de imunoglobulina no colostro. Feitosa e Birgel 630
(2000) determinaram a dinâmica do proteinograma sanguínea e da atividade 631
enzimática da gamaglutamiltransferase (GGT) sérica de vacas antes e após o 632
parto, e encontraram uma diminuição gradativa das concentrações de proteína 633
total nos animais após o parto. Aos 9 dias pós-parto a concentração era de 7,63 634
g/dL aumentando para 7,84 g/dL aos 30 dias. 635
Em relação à produção e constituintes do leite, para os animais com até 4 636
semanas pós-parto (Grupo L4) as médias se comportaram de maneira que aqueles 637
com maior EGG (Grupo 2) e consequentemente menos dias de parição (18 dias) 638
produziram mais que os que estavam com menor EGG. Esse fato quer dizer que 639
provavelmente a quantidade de tecido adiposo pode ser considerada um bom 640
indicativo da eficiência produtiva em animais mestiços. Além disto, houve 641
interferência na densidade, bem como na quantidade de sólidos totais e também 642
na porcentagem de lactose, de maneira que esses mesmos animais além de 643
produzirem mais leite, a qualidade também foi melhor. Provavelmente essa 644
melhor produtividade foi pela maior quantidade de energia retida em forma de 645
tecido adiposo, fazendo com que os mesmos tenham uma melhor eficiência. 646
De forma semelhante, os animais com 5 a 14 semanas pós-parto também 647
foram divididos em dois grupos de EGG, em que a media do grupo 1 foi igual a 648
5,5mm e do grupo 2 foi 8,3mm. Nesse grupo a análise estatística não mostrou 649
50
diferença entre característica metabólicas e produtivas avaliadas nesse estudo, 650
possivelmente porque as fêmeas nessa fase produtiva entraram no estado de 651
homeorrese, fazendo com que a demanda e a mobilização de energia tenham sido 652
atenuados. 653
Conclusões 654
Os resultados encontrados nesse estudo apontam que o método de avaliação 655
do ECC utilizado para animais puros da raça Holandês pode ser considerado um 656
bom preditor da condição corporal de vacas mestiças Holandês x Zebu no período 657
compreendido entre 4 a 0 semana pré–parto e 5 a 14 semanas pós-parto. 658
Além de revelar que a EGG é sensível em indicar diferenças significativas 659
de alguns parâmetros metabólicos e produtivos no período de transição (4 - 0 660
semana pré–parto e 0 - 4 semanas pós-parto). 661
662
663
664
665
666
667
668
669
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