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UFRRJ
INSTITUTO TRÊS RIOS
A VALORAÇÃO AMBIENTAL
Um estudo de caso para a valoração de bens em processos de indenização.
Carlos Eduardo de Souza Vantine
2010
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO TRÊS RIOS
A VALORAÇÃO AMBIENTAL Um estudo de caso para a valoração de bens em processos de indenização.
CARLOS EDUARDO DE SOUZA VANTINE
Sob a orientação do professor
Cicero Augusto Prudencio Pimenteira
Três Rios, RJ.
Julho de 2010
Monografia submetida como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel no curso de Ciências
Econômicas da UFRRJ, Instituto Três Rios.
CARLOS EDUARDO DE SOUZA VANTINE
A VALORAÇÃO AMBIENTAL Um estudo de caso para a valoração de bens em processos de indenização.
Monografia submetida como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel no curso de Ciências
Econômicas da UFRRJ, Instituto Três Rios.
Sob a orientação do professor
Cicero Augusto Prudencio Pimenteira
COMISSÃO EXAMINADORA
Prof: Msc. Cicero Augusto Prudencio Pimenteira
UFRRJ
Prof: Msc. Joelson Gonçalves de Carvalho
UFRRJ
Prof: Dr. Nilo Américo Rodrigues Lima de Almeida
UFRRJ
As opiniões expressas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade do autor
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus por ter me proporcionado a
oportunidade e por ter me dado força e determinação para chegar até
aqui. Agradeço a todos que contribuíram para que esse sonho se tornasse
realidade, pois, para muitos esse é o fim de uma caminhada, mas pra mim
esse é só o início da minha jornada.
SÍMBOLOS, ABREVIATURAS, SIGLAS E CONVENÇÕES.
APP Área de Preservação Permanente
CFURH Compensação Financeira pela Utilização dos Recursos Hídricos
DAA Disposição a Aceitar
DAP Disposição a Pagar
DR Dose Resposta
LC Lucros Cessantes
MCV Método do Custo de Viagem
MVC Método da Valoração Contingente
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
PBA Projeto Básico Ambiental
VE Valor de Existência
VERA Valor Econômico dos Recursos Ambientais
VM Valor de Mercado
VNU Valor de Não-Uso
VO Valor de Opção
VU Valor de Uso
VUD Valor de Uso Direto
VUI Valor de Uso Indireto
RESUMO
A valoração dos recursos ambientais é um processo que une várias teorias econômicas, estatísticas e ambientais, este trabalho propõe tratar de forma teórica e aplicada a estimação do valor econômico dos recursos ambientais. Serão apresentados alguns dos métodos para a valoração dos recursos ambientais e com base nas teorias e nos métodos apresentados será feita a aplicação do método da valoração contingente para estimarmos a valoração de bens e recursos afetados na construção da barragem de Simplício-MG, obra administrada por Furnas S/A.
A partir disso, o trabalho busca mostrar o processo de indenização de benfeitorias, mostrando os conflitos e assimetrias de informação que são gerados ao longo do processo. Os efeitos desses problemas podem ser vistos de forma clara ao observarmos a população atingida, que se encontra em total desorientação e, com raras exceções, apresentam um nível de bem-estar menor do que se encontram antes do processo de indenização.
Os resultados obtidos com o exercício de valoração refletem a grande ineficiência em valorar bens e recursos afetados pelo empreendimento, o único fator utilizado para a valoração por Furnas S/A é o valor de mercado, enquanto, utilizando o MVC temos três fatores básicos para a valoração dos recursos, sendo, valor de mercado, valor de existência e lucros cessantes. O trabalho também visa apresentar os vieses estimativos de cada método de valoração, porém, com maior ênfase no MVC que é o método utilizado no exercício de valoração.
Palavras chave: Valoração, Indenização e MVC.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 10
CAPITULO I - A VALORAÇÃO AMBIENTAL .......................................................... 12
1.1 Relação do Sistema Econômico com o Meio Ambiente ....................................... 13
1.2 Classificação dos Valores Ambientais .................................................................. 14
1.3 Métodos para Valoração de Recursos Ambientais ............................................... 17
1.3.1 Métodos da função de produção ou métodos indiretos ................................. 18
1.3.2 Método da produtividade Marginal ............................................................... 19
1.3.3 Métodos de mercado de bens substitutos ...................................................... 20
1.3.4 Método do Custo de Oportunidade ................................................................ 25
1.3.4 Métodos Indiretos ou de Mercado para Bens Complementares .................... 26
1.3.5 Método dos Preços Hedônicos ...................................................................... 26
1.3.6 Método do Custo de Viagem (MCV) ............................................................ 29
1.3.7 Método da Valoração Contingente (MVC) ................................................... 32
CAPITULO II - A VALORAÇÃO DOS RECURSOS AMBIENTAIS E
BENFEITORIAS AFETADAS NA CRIÇÃO DE HIDROELÉTRICAS (UM
ESTUDO DE CASO PARA A HIDROELÉTRICA DE SIMPLÍCIO) ........................ 38
2.1 Algumas informações sobre o complexo hidrelétrico de Simplício. .................... 38
2.2 Critérios Para Avaliação de Indenizações (caso específico de uma das áreas
afetadas pelo complexo de Simplício) ............................................................................. 40
CAPÍTULO III – APLICAÇÃO DO MÉTODO DA VALORAÇÃO CONTIGENTE
............................................................................................................................................. 46
3.1 Elaboração do Questionário .................................................................................. 47
3.2 Formalização do método referendo ...................................................................... 49
3.3 2º Estágio: Cálculo e Estimação ........................................................................... 50
3.4 Exercício de Valoração ......................................................................................... 51
3.5 Agregação dos Resultados .................................................................................... 56
3.6 Vieses Estimativos Do Método De Valoração Contingente ................................. 56
3.7 Confiabilidade ....................................................................................................... 57
3.8 Validade ................................................................................................................ 59
3.9 Recomendações .................................................................................................... 60
CONCLUSÃO .................................................................................................................... 63
REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO .............................................................................. 64
ILUSTRAÇÕES
TABELAS
Tabela 1 - Índice Geral de Preços do Mercado - IGP-M ..................................................... 52
Tabela 2 - Taxa de Juros Referencial Selic de Maio/2009 a Junho/2009............................ 53
Tabela 3 - Reajuste dos valores com base no IGP-M. ......................................................... 54
Tabela 4 - Apuração dos Valores e Diferenças na Valoração ............................................. 56
GRÁFICOS
Gráfico 1 - Curvas de Preço e de Demanda por Preços Hedônicos .................................... 28
Gráfico 2 - Curva de demanda derivada da função de custo de viagem ∂F/∂CV ................ 30
FIGURAS
Figura 1 - Um esboço das relações do sistema econômico com o meio ambiente .............. 13
Figura 2 - Taxonomia Geral Do Valor Econômico Do Recurso Ambiental ....................... 14
Figura 3 - Exemplos De Valores Econômicos Dos Recursos Da Biodiversidade .............. 16
Figura 4 - Métodos para Valoração de Recursos Ambientais ............................................. 17
Figura 5 - Estimativa dos Custos de Reposição. ................................................................. 22
Figura 6 - Fluxograma da Estimativa da Despesa de Prevenção/Mitigação ....................... 23
Figura 7 - Fluxograma da Estimativa dos Custos de Proteção ............................................ 25
Figura 8 - Fluxograma da Estimativa do Valor Econômico Ambiental – Via Método de
Preço Hedônico ................................................................................................................... 28
Figura 9 - Fluxograma para Metodologia do Custo de Viagem .......................................... 31
Figura 10 - Fluxograma do Método de Valoração Contingente .......................................... 36
Figura 11 - Mapa de Extensão da Obra e Condução da água até a usina de Simplício-MG39
10
INTRODUÇÃO
Ouve-se muito sobre políticas ambientais para a redução dos níveis de poluição
emitidos pelos países ao redor do mundo. O meio ambiente é um dos fatores que tem
grande influência no bem-estar social. O desafio das ciências econômicas é mensurar os
danos ao meio ambiente e a diminuição da qualidade de vida da população devido aos
grandes níveis de degradação ambiental observados atualmente em razão ao grande
número de resíduos que são atirados na natureza.
O sistema econômico interage diretamente com seu meio externo, que é a base para
o seu funcionamento. O sistema econômico é totalmente dependente dos insumos providos
do meio ambiente, isto é, ao contrário do que se via o ecossistema é um dos mais
importantes fatores para o crescimento econômico.
Para que possamos administrar de forma correta e consciente os bens e recursos
naturais disponibilizados na economia devemos saber o valor que cada um desses recursos
representa no meio econômico e no bem-estar da população.
O presente estudo visa abordar os métodos de valoração econômica do meio
ambiente, mostrando a decomposição do valor econômico dos recursos ambientais e as
teorias e metodologias que fundamentam a valoração econômica do meio ambiente.
Partimos da premissa de que ao mensurarmos os valores econômicos ambientais podemos
utilizá-los de maneira menos prejudicial, uma vez que os custos ambientais seriam
computados ao sistema de preços corrente. Com a incorporação do valor ambiental e
também de outros valores nos preços correntes podemos avaliar economicamente os
impactos gerados no bem-estar da população, e verificar de uma forma econômica a
intensidade desse impacto e de que forma a valoração eficiente dos bens e recursos podem
mudar o cenário atual.
Será feito um estudo de caso para a valoração de bens em processo de indenização,
utilizando como base a indenização direcionada a mim pela empresa Furnas S/A devido ao
alagamento de benfeitorias de minha posse.
Este trabalho está divido em três capítulos. No capítulo I, será apresentada a
valoração ambiental, e os métodos que podem ser utilizados, destacando suas diferenças e
objetivos. No capítulo II, será apresentado o estudo de caso para a valoração dos recursos
ambientais e benfeitorias afetadas na criação de hidroelétricas. Também será apresentada a
11
forma de avaliação dos bens que é utilizada atualmente pela empresa responsável pelo
empreendimento, destacando os vieses do modelo utilizado atualmente.
No terceiro e último capítulo será feita a aplicação do método da valoração
contingente para a valoração dos bens afetados pela criação do complexo hidroelétrico de
Simplício-MG. Será utilizado como base um caso específico de indenização de benfeitorias
efetuado no primeiro semestre de 2009. Por fim, temos o exercício de valoração que
mostrará as divergências entre os valores encontrados no método de valoração utilizado
por Furnas S/A e o método da valoração contingente proposto neste trabalho.
12
CAPITULO I - A VALORAÇÃO AMBIENTAL
O processo de valoração de um bem ambiental pode ser apresentado de várias
formas e de vários métodos, nesse capítulo iremos abordar as relações entre o sistema
econômico e o meio ambiente e também serão apresentados os principais métodos para a
valoração ambiental e suas características. Ao final do capítulo teremos os conceitos
necessários para iniciarmos nosso grande objetivo que é o estudo de caso aplicado à
valoração de recursos ambientais danificados pela criação da hidroelétrica em Simplício-
MG.
Iniciaremos nosso estudo definindo o conceito de valoração ambiental e
apresentando a relação que a mesma tem o sistema econômico.
Segundo Motta (1997), a valoração ambiental é a forma de se atribuir um valor
monetário a um recurso ambiental em comparação aos outros bens e serviços que estão
disponíveis na economia. Para que possamos atribuir um valor monetário a um bem frente
a outro, devemos utilizar um denominador comum para que possamos expressar com mais
facilidade as vantagens e desvantagens entre o trade-off1 em análise. Ao valorarmos
corretamente um bem, o mesmo se torna mais evidente nas tomadas de decisões e fará com
que projetos, ou qualquer outro empreendimento público ou privado, sejam mais eficientes
em elevar o bem-estar da população.
Os recursos ambientais não têm valores predefinidos no mercado, mas o seu valor
pode ser visto através dos ganhos de bem-estar social ao se preservar ou aprimorar um
recurso ambiental, ou até, como é mais comum, a queda no bem-estar social resultante de
um dano causado ao meio ambiente ou um dano diretamente relacionado com o indivíduo.
Com a valoração ambiental obtêm-se um grande diferencial na análise e na tomada de
decisão em projetos privados ou governamentais, no qual se tem um impacto direto ao
meio ambiente. Com a valoração ambiental e uma eficiente normatização para utilização
dos recursos podemos diminuir as externalidades geradas pelos que degradam o sistema
ecológico e não compensam devidamente a terceiros.
Atualmente utiliza-se o capital natural como se fosse um bem infinito no sistema
econômico e não se contabiliza nenhuma mensuração da utilização ou da reserva que ainda
resta para utilização. O que se propõe com a valoração ambiental é a utilização eficiente
1 Trade-offs são escolhas que são feitas a todo momento pelos indivíduos, como exemplo podemos utilizar o trade-off entre produzir um determinado bem ou poupar o recurso que seria investido.
13
desse capital natural tapando todos os “vazamentos” que se observa em todo o ciclo
econômico.
Outra questão importante é o custo de oportunidade2 decorrente das atividades
econômicas em determinados setores, por exemplo, o custo de oportunidade da
preservação de uma determinada área é a receita que seria obtida com a formação de pastos
para criação de gado. Além disso, o custo de oportunidade é uma grande ferramenta para
determinarmos o valor econômico dos bens.
1.1 Relação do Sistema Econômico com o Meio Ambiente
Na figura 1 abaixo podemos observar as relações do sistema econômico com o
meio ambiente, que se inicia com a entrada dos recursos naturais como insumos na
economia. Na produção inicial já retorna para o meio ambiente os resíduos da produção e a
degradação gerada pelo processo produtivo. Entre a produção e o consumo dos bens
existem vários elos da cadeia do sistema econômico como o transporte e a distribuição dos
bens, outro elo importante é a reciclagem dos bens que fazem com que exista uma ligação
direta entre a produção e o consumo sem que haja a utilização de novos insumos oriundos
do meio ambiente.
2 Custo de oportunidade é o custo gerado por uma determinada ação em sacrifício de outra. Ex: o custo de oportunidade de um curso superior em tempo integral é a renda que seria obtida em um emprego.
Figura 1 - Um esboço das relações do sistema econômico com o meio ambiente
14
Através da reciclagem podemos eliminar dois pontos onde são registrados grandes
níveis de degradação do meio ambiente, na produção não são mais necessários à mesma
quantidade de insumos, reduzindo assim a devastação e o descarte de resíduos, no
consumo final os resíduos que seriam descartados são retornados e reaproveitados como
insumos, reduzindo assim o lixo e a poluição em geral.
1.2 Classificação dos Valores Ambientais
Para iniciarmos nossa análise será necessário apresentar alguns conceitos sobre o
valor econômico dos recursos ambientais (VERA) e os métodos de valoração econômica. O
valor econômico dos recursos ambientais pode ser decomposto em dois tipos de valores,
sendo eles valor de uso e valor de não-uso, ou seja, os atributos no qual o valor econômico
dos recursos ambientais se associam podem se realizar via uso e não-uso. O valor de uso
pode ser dividido em valor de uso direto, indireto e valor de opção. Na Figura 2 podemos
analisar melhor essa decomposição do valor econômico do recurso ambiental.
Figura 2 - Taxonomia Geral do Valor Econômico do Recurso Ambiental
Fonte: MOTTA, 1997.
Valor Econômico do Recurso Ambiental
Valor de Uso
Valor de Uso Direto
Bens e serviços ambientais apropriados
diretamente da exploração do
recurso e consumidos hoje.
Valor de Uso Indireto
Bens e serviços ambientais que são gerados de
funções ecossistêmicas e
apropriados e consumidos
indiretamente hoje.
Valor de Opção
Bens e serviços ambientais de usos diretos e
indiretos a serem apropriados e
consumidos no futuro.
Valor de Não-Uso
Valor de Existência
Valor não associado ao uso atual ou futuro e
que reflete questões morais, culturais, éticas ou altruísticas.
15
Segundo Motta (1997), os valores dos recursos ambientais podem ser classificados
da seguinte forma:
Valor de Uso Direto (VUD) – valor que é atribuído a um recurso ambiental por um
indivíduo devido a sua utilização no presente de forma direta, podendo ser em forma de
visitação, extração ou qualquer atividade de produção ou consumo direto.
Valor de Uso Indireto (VUI) – atribui-se um valor indireto quando o benefício atual
do recurso deriva-se das funções ecossistêmicas, como, por exemplo, a proteção do solo
contra erosão, reprodução de espécies marinhas pela conservação de florestas de mangue e
a estabilidade climática a partir da preservação das florestas;
Valor de Opção (VO) – valor que o indivíduo atribui em preservar recursos de uso
direto e indireto, que podem estar ameaçados, para uso no futuro próximo. Por exemplo, o
benefício advindo de terapias genéticas com base em propriedades de genes ainda não
descobertos de plantas em florestas tropicais (o benefício advindo de fármacos
desenvolvidos com base em propriedades medicinais, ainda não descobertas, de plantas de
florestas tropicais).
Valor de não-uso (VNU) – também chamado de valor intrínseco ou valor passivo,
representa o valor de existência (VE) que está dissociado do uso (embora represente
consumo ambiental) e deriva-se de uma posição moral, cultural, ética ou altruística em
relação aos direitos de existência de outras espécies que não a humana ou preservação de
outras riquezas naturais, mesmo que estas não representem uso atual ou futuro para
ninguém. Uma expressão simples deste valor é a grande atração da opinião pública para
salvamento de baleias e ursos ou sua preservação em regiões remotas do planeta, onde a
maioria das pessoas nunca visitarão.
No quadro a seguir são apresentados alguns exemplos de valores econômicos dos
recursos da biodiversidade atribuindo a cada recurso a sua classificação em valor de uso
direto ou indireto, valor de opção ou valor de existência.
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Figura 3 - Exemplos de Valores Econômicos dos Recursos da Biodiversidade
Fonte: MOTTA, 1997.
Após esses conceitos podemos apresentar a expressão que revela a decomposição
do VERA, e nos mostra como os valores ambientais classificados acima formam a equação
inicial da valoração.
VERA = (VUD + VUI + VO) + VE
Val
or d
e U
so
Valor Direto
Provisão de recursos básicos: alimentos, medicamentos e não-madeireiros, nutrientes, turismo.
Uso não-consumptivo: recreação, marketing.
Recursos genéticos de plantas.
Valor Indireto
Fornecimentos de suportes para as atividades econômicas e bem-estar humano: p.ex., proteção dos corpos d’água,
estocagem e reciclagem de lixo. Manutenção da diversidade genética e controle de erosão. Provisão de
recursos básicos: p.ex., oxigênio, água e recursos genéticos.
Provisão de benefícios associados à informação, como conhecimento científico.
Preservação de valores
de uso direto e indireto
Valor de Opção Preservação de Valores de uso direto e indireto.
Val
or P
assi
vo o
u V
alor
de
Não
-Uso
Valor de Existência
Florestas como objetos de valor intrínseco, como uma doação, um presente para outros, como uma responsabilidade. Inclui valores
culturais, religiosos e históricos.
17
Na determinação do VERA devemos observar os conflitos entre os valores de uso.
Isso se dá devido a um tipo de uso excluir outro tipo de uso, um exemplo claro é a
utilização do solo para agricultura que exclui o uso da mesma área como reserva florestal.
Utilizamos a teoria microeconômica do bem-estar para determinação dos custos e
benefícios sociais quando as decisões de investimentos públicos afetam o nível de bem-
estar da população. Podemos dizer que a valoração consiste basicamente em valorar
economicamente a variação do bem-estar social a partir de mudanças na quantidade de
bens e serviços ambientais.
1.3 Métodos para Valoração de Recursos Ambientais
Os métodos para valoração dos recursos são os diferentes caminhos que nos levam
até o valor estimado do recurso ambiental. Os métodos que iremos analisar podem ser
classificados da seguinte forma: métodos da função de produção (métodos indiretos) e
métodos da função de demanda (métodos diretos) como mostra a figura 4 abaixo:
Figura 4 - Métodos para Valoração de Recursos Ambientais
Fonte: TOLMASQUIM, 2000.
Métodos Indiretos (relações físicas/comportamento presumido)
Método da produtividade Marginal
Despesas de Reposição
Despesas de Re-localização
Despesas de Proteção
Despesas de Prevenção/Mitigação
Métodos Diretos (Comportamento Revelado)
Preferência revelada através de mercados reais:
- Preços Hedônicos
-Custo de Viagem
Preferência revelada através de mercados hipotéticos: Método
da Valoração Contingente
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1.3.1 Métodos da função de produção ou métodos indiretos
Duas grandes variantes podem ser consideradas na análise a partir do método
indireto, métodos da produtividade marginal e métodos de mercados de bens substitutos,
como reposição, gastos defensivos ou custos evitados e custos de controle. São os métodos
mais utilizados por apresentarem uma maior simplicidade, nesse método podemos calcular
o valor da contribuição de um determinado recurso R utilizado como insumo ou fator de
produção de um produto P em uma determinada atividade econômica.
Utilizando os preços de mercado de um insumo substituto de um bem ou serviço
privado podemos estimar o valor de um recurso ambiental e assim verificar os custos ou
benefícios ambientais devido a variações na quantidade desse recurso que está sendo
utilizado.
Observando a função de produção de P abaixo é possível verificar melhor as
premissas dos métodos com base em função de produção;
Sendo:
P = F (X,R)
Onde:
P = Produto analisado.
X= Conjunto de insumos composto por bens e serviços privados.
R= Bem ou serviço ambiental utilizado gratuitamente.
Através da função de produção de P temos a função lucro (π) na produção de P:
π = pP.P – pX.X – pR.R
Onde:
pP = Preço de mercado de P.
pX = Preço de mercado do conjunto de insumos X.
pR = Estimativa do preço de mercado do recurso ambiental R.
O produtor ajusta assim a utilização do seu insumo de forma a maximizar o seu lucro.
19
Analisaremos a seguir cada variante, porém, a avaliação será de modo conjunto.
1.3.2 Método da produtividade Marginal
Para estimarmos o preço de mercado de R é necessário conhecer a correlação de R
na função analisada e a variação do nível de estoque e de qualidade de R em razão da
produção de P.
Assumimos que pP é conhecido e assim o valor econômico de R (VEr) seria:
VEr = pR ∂F / ∂R
Onde:
VEr = Valor Econômico do Recurso ambiental em análise.
Observamos que nesses casos VEr representa apenas valores de uso, tanto direto
quanto indireto, relativo a bens e serviços ambientais que são utilizados na produção.
Existe então uma relação de dose-resposta (DR) entre a variação na quantidade de R e a
variação no produto P.
As funções Dose-resposta relacionam a variação do nível de estoque ou qualidade
do recurso ambiental R com o nível de danos físicos ambientais provocados com a
produção de P para identificar o decréscimo da disponibilidade de R para a produção de P
ou o efeito do dano físico em certo nível de produção específico. Pode-se dizer que VEr
corresponde à variação no valor total obtido com P comparado às variações em sua
produção provocadas pelas variações na quantidade ou qualidade de R.
Um exemplo claro que podemos utilizar é um estudo econômico sobre
produtividade agrícola, a "dose" seria a erosão do solo e a "resposta" seria a
correspondente perda de safra. Outro exemplo um pouco mais abrangente é quando a
indústria de produção de álcool A aumenta o nível de poluição da água Q que afeta a
qualidade da água R que por sua vez afeta a produção do setor pesqueiro P. Se a água é
utilizada para produzir P, determinada a DR da água pela produção de A e como se
conhecendo a função de produção de P, determina-se a perda em P.
Estimamos assim as funções de DR:
R = DR(x1,x2,...,Q)
20
Onde:
x1, x2,... = variáveis que junto com o nível de estoque ou qualidade Q do recurso natural
afetam a disponibilidade de R. Assim:
∂R = ∂DR / ∂Q
Uma observação válida é a frequente dificuldade em utilizar as funções de dano já
que a complexidade da dinâmica dos ecossistemas ainda não é suficientemente conhecida
para que se possam ser estabelecidas relações precisas de causa e efeito, tornando
complexa a estimação da função de dano.
1.3.3 Métodos de mercado de bens substitutos
Podem ser adotados outros métodos que utilizam preços de mercado, e na hipótese
de variações marginais de quantidade de P devido à variação de R. Estes métodos são
importantes para os casos no qual a variação de P, embora afetada por R, não oferece
preços observáveis de mercado ou são de difícil mensuração. Casos típicos seriam aqueles
em que P é também um bem ou serviço ambiental de consumo gratuito ou quando não é
possível estimar as funções de DR.
Um bom exemplo que podemos utilizar é o decréscimo do nível de qualidade da
água Q das praias que resulta em um decréscimo de uma amenidade R que é um serviço
ambiental de recreação cuja cobrança pelo seu uso não existe ou é limitada. Dessa forma
existe um aumento de demanda de outros bens substitutos perfeitos para suprir o
decréscimo no consumo de R.
Então:
P = F(X,R+S)
Onde:
S = Bem que é considerado substituto perfeito de R.
Caso haja uma redução na utilização do insumo R será necessária à utilização do
recurso S na mesma quantidade para que a produção P se mantenha constante. A partir daí
podemos valorar o recurso R (Pr) a partir do preço de mercado do insumo S (Ps). O próprio
P, sendo um bem ou serviço ambiental sem preço de mercado, poderia ser substituído por
S caso não houvesse função de produção ou dose-resposta disponível.
21
Com a substituição na utilização dos insumos os usuários incorrem em um custo
privado no consumo do bem substituto. Sendo:
Cs = Ps.ΔR ou Cs = Ps.Qs
Onde:
Cs = Custo pela Utilização do insumo substituto.
Ps = Preço de mercado do insumo substituto.
ΔR = Variação na utilização do recurso ambiental.
Qs = Quantidade utilizada do insumo substituto.
Considerando uma empresa usuária de R, existirá na função de lucro um custo Cs
que será igual ao valor da produtividade marginal de R. Dessa forma, o custo Cs refletiria o
valor de uso para firma derivado do recurso R.
Segundo MOTTA (1997), os custos ou despesas gerados pela utilização do insumo
R são classificados como custos ou despesas de reposição, relocalização,
prevenção/mitigação, controle, proteção e custos evitados. Veremos agora cada um deles e
a que casos se aplicam.
Custos ou Despesas de Reposição: quando o custo de S representa os gastos
incorridos pelo consumidor para garantir que será mantido o nível desejado de P ou R.
Nesta categoria são representados os gastos incorridos pelo consumidor ou usuário para
que sejam substituídos os ativos produtivos danificados pela poluição ou por mau
gerenciamento. Por exemplo, custos de reflorestamento em áreas desmatadas para garantir
o nível de produção madeireira, custos de construção de muros de contenção em encostas
para evitar desabamentos provocados por desmatamentos ou queimadas e também os
custos de adubação para manter a produtividade agrícola em um nível eficiente.
Para analisarmos as despesas de reposição, devemos observar os seguintes pontos:
ü A magnitude do dano deve ser mensurável;
22
ü Se os custos de reposição forem calculados e esses forem inferiores ao valor do bem
produzido é economicamente viável fazer a reposição;
ü Não existem benefícios secundários associados a despesas preventivas. Se os custos de
medidas preventivas forem menores que os custos de reposição, adota-se a prevenção.
No Fluxograma a seguir é apresentada uma estimativa dos custos de reposição:
Figura 5 - Estimativa dos Custos de Reposição.
Fonte: TOLMASQUIM, 2000.
É importante destacar que a validade do resultado obtido depende da observação de
todos os custos considerados relevantes e de todos os fatores envolvidos na reposição de
um recurso ambiental, caso haja a falta ou uma estimativa errada de algum fator importante
todos os resultados do estudo podem ser prejudicados. Este método não busca resgatar o
valor de todas espécies animais e vegetais afetadas, o que seria praticamente impossível. O
método serve somente para restabelecer os valores de uso, pois a existência das espécies
está associada com a própria preservação do habitat natural.
Identificação do ativo ou do bem danificado
Estimativa dos custos para a reposiçao do ativo danificado
Verificar se os custos de reposição garantem um nível desejado para o ativo danificado
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Custos ou Despesas de Relocalização: este método é uma variante das despesas de
reposição. As despesas atuais de relocalização de uma atividade física, em decorrência da
mudança de qualidade do meio ambiente, são utilizadas para avaliar os benefícios
potenciais (e custos associados) para prevenir esta mudança. Um bom exemplo que
podemos utilizar é o abastecimento de água de uma cidade que utiliza o rio como fonte de
coleta, o rio tem sido poluído por resíduos industriais e esgoto. As opções seriam o
controle dos efluentes industriais e o tratamento do esgoto ou a relocalização do ponto de
coleta de água ou do lançamento de despejos.
Custos ou Despesas de Prevenção/Mitigação: são as despesas decorrentes da
tentativa de evitar um dano ambiental ou outras atividades ofensivas ao bem-estar humano
e ao meio ambiente que são utilizadas como uma maneira de valorar o dano. Um exemplo
é a analise das técnicas alternativas de gerenciamento do solo visando o aumento da
produtividade agrícola ou de qualquer outra atividade relacionada. O valor investido na
prevenção da erosão do solo e as perdas produtivas devem ser, no mínimo, maiores que os
custos incorridos para a construção de diques a fim de reparar um dano já ocasionado.
Figura 6 - Fluxograma da Estimativa da Despesa de Prevenção/Mitigação
Fonte: TOLMASQUIM, 2000.
Identificação dos danos ambientais.
Mensuração dos custos necessários para a prevenção do dano ambiental.
Benefícios gerados pela implementação de uma ação.
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Custos de Controle: parte-se da ideia de que o dano ambiental pode ser também
valorado pelos custos de controle devido à tentativa de evitar a perda de qualidade ou
quantidade de R, ou as despesas decorrentes da tentativa de evitar um dano ambiental ou
qualquer outro dano que seja ofensivo ao bem–estar humano ou ao meio ambiente. Esta
metodologia analisa as atuais despesas para determinar a importância que o indivíduo
atribui ao meio ambiente e impactos à saúde humana. Indiretamente, avalia as despesas
para mitigar o dano ambiental. Por exemplo, gastos com disposição adequada de lixo
industrial para evitar a degradação dos corpos hídricos.
Despesas de Proteção: como o mercado não permite uma avaliação “espontânea”
dos valores ambientais, procura-se identificar os comportamentos econômicos que reflitam
indiretamente o valor pago para se proteger de algum dano. Enquadram-se nessa descrição
os indivíduos que realizam despesas para se proteger de algum dano ambiental ou para o
melhoramento de seu meio ambiente
Um indivíduo escolhe adquirir um dispositivo de proteção se o custo de controle for
menor que um determinado nível de incomodo permitido pelo indivíduo. Pela escolha na
aquisição do equipamento de proteção as vantagens devem ser superiores ao custo do
equipamento. Logo, aceita-se gastar pelo controle (C) até um certo nível, o que é
reproduzido na equação:
∆N – ∆N’ = ∆C
Onde:
C = Custo do controle ou quantia gasta para proteção.
N = Avaliaçao subjetiva do incomodo.
N’ = Avaliaçao subjetiva após o controle.
∆ = Variações (Nível inicial – Nível final).
25
Figura 7 - Fluxograma da Estimativa dos Custos de Proteção
Fonte: TOLMASQUIM, 2000.
Este método é interessante devido a sua simplicidade, porém há desvantagens já
que a despesa de proteção não é a única opção para se fugir ao dano ambiental, por
exemplo, a mudança de localização, mas que também iria incorrer em custos de
relocalização.
Custos Evitados: quando o custo de S representa os gastos incorridos pelo
consumidor ou usuário para não alterar o produto P que depende diretamente de um
insumo R. Por exemplo, gastos referentes à compra de produtos químicos para tratamento
da água quando há despejos de esgotos em recursos hídricos ou em pontos de coleta para
utilização da água ou também gastos da população com reposição de bens danificados em
situações de enchentes provocadas por assoreamento dos rios devido a desmatamentos às
suas margens.
Devemos destacar que o método de mercados de bens substitutos assume a
existência de substitutos perfeitos, que na realidade tratando-se de um recurso ambiental,
podem ser difíceis de serem encontrados. Essa dificuldade pode levar a uma subvaloração
do recurso natural e fazer com que a pesquisa retorne estimativas de valoração que não são
o valor real do recurso ambiental em análise.
1.3.4 Método do Custo de Oportunidade
O método do custo de oportunidade não valora diretamente o recurso ambiental,
este método apenas mensura as perdas de renda nas restrições da produção e consumo de
Identificação dos danos ambientais.
Mensuração dos custos com equipamentos de proteção desde que ∆N – ∆N’ = ∆C.
26
bens e serviços privados devido às ações para conservar ou preservar os recursos
ambientais. Podemos observar que este método simplesmente indica o custo econômico de
oportunidade para mantê-lo no seu nível atual.
O método do custo de oportunidade também é muito usado para estimar a renda
sacrificada em termos de atividades econômicas restringidas pelas atividades de proteção
ambiental e, assim, permitir uma comparação destes custos de oportunidade com os
benefícios ambientais numa análise de custo-benefício. Um exemplo é a inundação de uma
área de floresta para a geração de energia hidroelétrica, que significa sacrificar a utilização
desta floresta como recurso ambiental, ou criar uma reserva biológica significa sacrificar a
renda que poderia ser gerada por usos agrícolas ou pastagens nesta área.
1.3.5 Métodos Indiretos ou de Mercado para Bens Complementares
Assim como os métodos da função de produção os métodos de mercado para bens
complementares estimam o valor dos recursos ambientais através do valor de outros bens e
serviços com preços disponíveis no mercado. O diferencial está na utilização do valor dos
bens complementares, que são aqueles consumidos em proporções constantes entre si.
Sendo apresentada a seguinte função de utilidade:
U = f(R,X)
Onde:
R = Recurso natural sem valor de mercado, complementar a X que é um vetor de
quantidades de bens que estão no mercado, R influi na demanda de X e R poderá ser
calculado a partir da estimativa da demanda de X para vários níveis de R.
A partir daqui podemos utilizar dois métodos, o Método dos Preços Hedônicos e
Método do Custo de Viagem.
Os Métodos diretos utilizam mercados substitutos ou mercados hipotéticos para
medir diretamente a demanda pela qualidade ambiental. Procuram revelar as preferências
por meio de situações reais (Métodos de Preços Hedônicos e de Custo de Viagem) ou via
situações hipotéticas (Método de Valoração Contingente).
1.3.6 Método dos Preços Hedônicos
Este método parte do pressuposto de que há bens privados A cujo valor varia em
função do valor de outros bens ou serviços B, complementares a A. Identificando-se a
27
variação de valor de um bem privado A em função dos atributos de outro bem ou serviço
B, fica identificado assim o valor deste outro bem ou serviço B. Dessa forma o método dos
preços hedônicos baseia-se na identificação de atributos ambientais que podem ser
captados no preço de bens e serviços.
Em geral podemos utilizar a seguinte linha de pensamento para explicar as
variações de preços dos bens, suponha que um bem composto privado X tenha uma oferta
perfeitamente inelástica, ou seja, a oferta não varia quando o preço varia. Se a demanda por
R, que é um bem ou serviço ambiental complementar a X, aumenta então aumentará
também a demanda por X. A partir daí, como a oferta é perfeitamente inelástica, todo
aumento de oferta será capitalizado no preço de X. Isto é, alterações de R alteram preços e
não quantidades.
No caso da valoração ambiental, o exemplo mais encontrado na literatura está
relacionado aos preços de propriedades. Distintas propriedades de mesmas características
apresentam diferentes preços de mercado em função de seus atributos ambientais. Como
exemplo pode-se citar a proximidade da praia ou o nível de ruído de um determinado local
como diferenciais de preço de uma propriedade em relação à outra de mesmas
características. A quantificação deste diferencial nos indica a disposição a pagar dos
indivíduos pelo valor dos atributos ambientais.
Através da função hedônica de preço podemos estimar o valor dos atributos de um
ou vários bens e serviços ambientais R implícitos no valor de um bem privado. Se P é o
preço de uma propriedade, a função hedônica de seus atributos ambientais será dada por:
Pz = F (az1,az2,az3,...,Rz)
Onde;
az = Atributos da propriedade Z.
Rz = Nível do bem ou serviço ambiental R da propriedade z.
O preço de R será então dado por ∂F/∂E e PR a disposição a pagar por uma variação de R.
28
Fonte: TOLMASQUIM, 2000.
Figura 8 - Fluxograma da Estimativa do Valor Econômico Ambiental – Via Método de Preço Hedônico
Fonte: TOLMASQUIM, 2000.
Identificação dos atributos que influenciam o preço da propriedade (Os compradores devem ter conhecimento do mercado de propriedades para avaliar as opções de compra)
Determinação da disposição a pagar – preço da propriedade – em funcão dos atributos escolhidos
Determinação do valor econômico da variação da disponibilidade do recurso ambiental – via excedente doconsumidor
Disposição a pagar
por R
f’ (R)
Dz’(R) Dz’(R)
Gráfico 1 - Curvas de Preço e de Demanda por Preços Hedônicos
Disposição a pagar
por R
f’ (R)
Dz’(R) Dz’(R)
Gráfico 1 - Curvas de Preço e de Demanda por Preços Hedônicos
29
Devemos observar que este método requer um levantamento de dados minuciosos,
como informações sobre os atributos referentes à propriedade, além dos ambientais, que
influenciam o preço. E também é de difícil utilização, pois, os preços não internalizam as
futuras melhoras (ou pioras) ambientais.
1.3.7 Método do Custo de Viagem (MCV)
O método do custo de viagem estima a demanda por um recurso natural R com base
na demanda de atividades recreacionais, associadas complementarmente ao uso de R.
Como exemplo podemos utilizar um sítio natural onde o recurso natural R é oferecido, a
curva de demanda destas atividades pode ser construída com base nos custos de viagem ao
sítio natural. Basicamente, o custo de viagem representará, assim, o custo de visitação do
sítio natural, este custo pode também ser considerado a máxima disposição a pagar do
usuário pelos serviços ambientais de R.
O valor recreacional do sítio em análise pode ser calculado através de
procedimentos econométricos, Por intermédio de uma pesquisa de questionários realizada
no próprio sítio natural são identificados, por amostragem, seus visitantes, frequência e
custo de viagem, a zona residencial onde mora e outras informações socioeconômicas
(renda, idade, educação, etc.).
A partir do levantamento de campo estima-se a taxa de visitação de cada zona i (Vi)
da amostra (por exemplo, visitas por cada mil habitantes) que pode ser correlacionada
estatisticamente com os dados amostrais do custo médio de viagem da zona (CV) e outras
variáveis socioeconômicas zonais (Xi) usadas como proxis para indicar preferências,
conforme vemos na expressão abaixo:
Vi = f (CV, X1, X2, ..., Xn)
Onde:
Vi = Taxa de Visitação de cada zona.
CV = Custo médio de viagem da zona.
Xi = Outras variáveis socioeconômicas zonais.
Derivando-se f em relação à variação de CV para cada zona, estima-se a curva de
demanda f' pelas atividades recreacionais do sítio natural, medindo-se o aumento (ou
redução) do número de visitantes quando se aumenta (ou diminui) CV. f’ é, portanto, a
30
disposição a pagar pelos serviços ambientais de R, conforme o gráfico abaixo, onde a área
abaixo da curva f' é a medida do excedente do consumidor.
Gráfico 2 - Curva de demanda derivada da função de custo de viagem ∂F/∂CV
Disposição a pagar
por visitas
D = f’
Número de Visitas
Fonte: TOLMASQUIM, 2000.
Pode-se dizer, então, que o valor monetário agregado à recreação proporcionada
por um recurso natural é estimado a partir de uma curva de demanda em função das
atividades recreacionais do sítio natural. Vale também observar que f’ representa uma
curva de demanda (D) pelo sítio natural. Dessa forma, podemos estimar, a partir dela, a
variação no número de visitantes quando se altera o preço cobrado pela utilização do sítio
natural.
31
Figura 9 - Fluxograma para Metodologia do Custo de Viagem
Fonte: TOLMASQUIM, 2000.
Este método também pode ser aplicado em casos de degradação ambiental, como
por exemplo, a contaminação de praias que podem trazer perda de receitas turísticas.
É importante ressaltar alguns vieses referentes a este método:
ü Captação de valores de uso direto e indireto;
ü Não considera os valores de opção e existência daquelas pessoas que não frequentam o
sitio;
ü Metodologia prática em locais onde há controle do fluxo turístico;
Apesar das restrições o método é um instrumento valioso para definir e justificar as
ações de investimentos em sítios naturais, principalmente, para definir as taxas de
admissão ao sítio e outras formas de contribuição para utilização de serviços recreacionais
específicos.
Análise da frequência de visitação ao sítio:
Determinar o número de visitantes em um determinado período.
Taxa de visitaçao ao sítio:
Deteminar o número de visitantes a partir da populaçãoresidente nas diferentes regiões.
Custos de Viagem:
Determinar o custo de locomoção do visitante e o custo do tempo gasto na viagem.
Determinação da curva de demanda por atividades recreacionais.
Valor recreacional do sítio.
32
1.3.8 Método da Valoração Contingente (MVC)
Método direto denominado Método de Valoração Contingente que, de acordo com
Campos & Passos, “... o MVC procura mensurar monetariamente qual foi o impacto
causado, pela mudança no nível de bem-estar dos indivíduos, decorrente de variações
qualitativas ou quantitativas dos bens ambientais. Tal método teria como vantagem sobre
os outros métodos o fato de poder estimar valores que não poderiam ser obtidos por outros
meios, como o valor de existência. Assim, há como se estimar a preservação de espécies,
estética ambiental ou diversidade genética.” 3
O Método de Valoração Contingente é utilizado para estimar os valores da
Disposição a Pagar (DAP) e os valores da Disposição a Aceitar (DAA) tendo como base
mercados hipotéticos. Esta estimativa é feita por meio de simulações em pesquisas de
campo, com uso de questionários que verificam a disponibilidade do entrevistado a pagar
ou a aceitar alterações nos recursos ambientais. A simulação destes mercados hipotéticos é
realizada em pesquisas de campo, com questionários que indagam ao entrevistado sua
valoração contingente (DAA ou DAP) face às alterações na disponibilidade de recursos
ambientais (R).
A ideia de encontrar um “preço” para um bem que não existe no mercado não é
nova. Este tipo de método é muito utilizado quando empresas lançam novos produtos no
mercado, obtendo-se, assim, o seu “preço”. No caso ambiental, ao se utilizar tal
metodologia, tenta-se obter o valor monetário do recurso (R) por meio das respostas
fornecidas pelos entrevistados sobre o quanto estariam dispostos a pagar para garantir a
existência ou a melhoria do bem-estar, ou quanto estariam dispostos a receber, como
compensação, para suportar a perda total, parcial ou na qualidade de um determinado
recurso ambiental.
A grande vantagem do MVC, em relação a qualquer outro método de valoração, é
sua aplicação em um espectro de bens ambientais mais amplos. Entretanto a grande crítica
ao MVC é a sua limitação em captar valores ambientais de difícil compreensão por parte
dos indivíduos.
Etapas de Aplicação do Método de Valoração Contingente
3 TOLMASQUIM. In: CAMPOS, Christiano Pires de & PASSOS, Paulo Roberto de Assis. Valoração
Contingente & Valor de Mercado – Estudo de Caso: Programa de Arborização para Cidade Universitária.
Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, Dezembro de 1999. (Trabalho elaborado para a disciplina Tópicos Especiais em Custos Ambientais). p. 17.
33
Segundo Tolmasquim (2000), o Método de Valoração Contingente possui dois
estágios subdivididos em etapas. O primeiro estágio é compreendido pela definição da
pesquisa e o segundo estágio é compreendido pela definição do questionário. Descreve-se
a seguir os estágios e as etapas:
Estágio 1: Definição da Pesquisa
Etapa 1: Determinar o Objeto de Valoração
Deve-se determinar o recurso ambiental a ser valorado, é importante fazer uma
descrição detalhada do bem ou do serviço a ser valorado, o nível de disponibilidade do
bem a ser valorado (qualitativa e quantitativa), quem utiliza o recurso, quem deve pagar ou
ser compensado e qual será o método de pagamento.
Etapa 2: Determinar o Mecanismo de Valoração
Nesta etapa devemos decidir a forma de valorização, ou seja, devemos utilizar a
DAP em caso de variação positiva ou DAA em caso de compensação por uma variação
negativa.
Etapa 3: Definir a Forma de Pagamento ou de Compensação
DAP: criação de novos impostos; tarifas ou taxas; cobrança direta pelo uso;
doações para fundos de caridade ou organizações não governamentais.
DAA: criação de novos subsídios ou aumento no número dos já existentes;
compensações financeiras diretas; aumento de patrimônio via obras ou reposição.
Etapa 4: Escolher a Forma de Resposta para Valorar a DAP ou a DAA
Existem várias formas para se obter o valor de um bem ou serviço, estas podem ser:
Lances Livres ou Forma Aberta (“Open-Ended”) – São apresentadas ao
entrevistado as seguintes perguntas: “quanto você está disposto a pagar?” ou “quanto você
está disposto a receber?” por uma determinada alteração na quantidade ou na qualidade de
um determinado bem ou serviço ambiental. Com estas perguntas é gerada uma variável
contínua de lances (“bids”) e o valor esperado da DAA ou DAP pode ser estimado através
da sua média. Podem ser usadas, também, técnicas econométricas de regressão.
34
Artifício de Jogos de Ofertas (“Bidding Games”) – Nesta opção, inicia-se
fornecendo ao entrevistado um valor pré-estabelecido para o bem ou serviço e ele, assim,
dirá se tal valor é exorbitante ou não. O experimento deverá ser repetido, aumentado ou
diminuindo o valor inicial, até o consenso entre entrevistador e entrevistado.
Referendo (Escolha Dicotômica) – Nesta opção, é apresentada ao entrevistado a
seguinte questão: “Você está disposto a pagar um valor X?” Este valor é alterado ao longo
da amostra para avaliar a frequência das respostas dadas diante de diferentes níveis de
lances. Nesta opção também se observa uma menor ocorrência de lances estratégicos por
parte dos entrevistados, já que esses procuram defender seus interesses ou beneficiam-se
da provisão gratuita do bem, como também é chamado de “problema do carona”.
Referendo com Acompanhamento (Mais de um Valor) – esta é uma opção mais
sofisticada de escolha dicotômica. Caso o entrevistado tenha concordado em pagar o valor
X fornecido na primeira pergunta, aumenta-se a quantia para 2X, caso não tenha
concordado diminui-se o valor inicial para 0,5X até que o entrevistador possa encontrar a
disposição máxima a pagar ou a mínima a receber do entrevistado. Um dos problemas
apresentados nesse processo é a tendência a influir nas respostas, já o entrevistado pode se
sentir obrigado a aceitar os valores subsequentes (viés de obediência) ou até negá-los por
admitir que o primeiro valor seja o “correto” (viés do ponto de partida).
Etapa 5: Construção da Função de Demanda
A construção da função de demanda irá possibilitar a obtenção das medidas de
DAP ou de DAA dos indivíduos dadas às variações de disponibilidade do recurso
ambiental. Através destas medidas, podemos calcular as variações do nível de bem-estar
pelo excesso de satisfação que o consumidor obtém quando paga por um bem que estaria
disposto a pagar. Segundo Tolmasquim (2000), estas variações são denominadas de
variações do excedente do consumidor frente às variações de disponibilidade do recurso
ambiental. O valor econômico do recurso ambiental será dado pelo excedente do
consumidor frente às disponibilidades desse recurso.
Estágio 2: Definição do Questionário
Etapa 6: Definir a Amostra da População que será entrevistada
35
Devemos levar em consideração os procedimentos estatísticos padrões, tornando,
assim, a amostra representativa.
Etapa 7: Definir a forma de Aplicação do Questionário
Para garantir uma fiel compreensão do questionário e, principalmente, para a
obtenção do melhor nível de respostas possível, sugere-se que as entrevistas sejam feitas
pessoalmente pelos entrevistadores. Apesar de serem mais custosas, as entrevistas
domiciliares revelam uma melhor qualidade das informações.
Etapa 8: Determinar a melhor forma de Apresentação do Questionário
Primeiramente se deve apresentar o recurso ambiental a ser valorado, o
entrevistador deve ler um pequeno texto que seja direto e de fácil entendimento. A
utilização de fotos e/ou desenhos ilustrativos pode ser uma boa forma de demonstrar o
recurso ambiental e as alterações sofridas por tais recursos. O questionário deve ser breve,
contendo, no máximo, 30 questões, devem ser abordados os dados socioeconômicos e
demográficos dos entrevistados (principalmente, o sexo, a idade, a ocupação, o grau de
instrução e a renda do entrevistado); as informações sobre o conhecimento dos
entrevistados a respeito da questão ambiental; e a disposição dos entrevistados de pagar ou
aceitar a alteração. A seguir, temos a sequência de utilização do Método de Valoração
Contingente:
36
Figura 10 - Fluxograma do Método de Valoração Contingente
Fonte: TOLMASQUIM, 2000.
O método de Valoração Contingente possui alguns vieses que podem reduzir seu
grau de confiabilidade e sua validade. Uma boa alternativa para minimizar os vieses do
método é a boa elaboração do questionário e uma amostra bem escolhida. É válido
observar que, tais vieses ocorrem quando os entrevistados não apresentam sua verdadeira
disposição a pagar (DAP)/disposição a aceitar (DAA), quando o questionário induz a
determinadas respostas ou quando há compreensão equivocada dos cenários apresentados.
Objeto de Valoração
Determinar qual recurso ambiental a ser valorado.
Medida de Valoração
Determinar o processo e função de valoração.
Instrumento ou Veículo de Pagamento ou Compensação
Forma de Eliciação
Escolher a forma de eliciação para valorar a disposição a pagar ou a aceitar.
Lances livres ou forma aberta
Valor Econômico do Recusro Ambiental
DAP
Artifício de jogos de Oferta
Referendo (Escolha
Dicotômica)
DDA
Cartões ou opções de Pagamento
Referendo com Acompanhamento
37
Nesse capítulo obtivemos a teoria e conceituação sobre a valoração ambiental
necessária prosseguirmos com nossa análise. Através dos métodos que vimos nesse
capítulo podemos encontrar um valor de referência para o recurso ambiental tendo como
base o preço de outros bens existentes na economia, ou até utilizando ferramentas para se
valorar a partir de pesquisas ou questionários. A partir dessa teoria iremos aplicar um dos
métodos de valoração ambiental a um estudo de caso, nesse estudo iremos analisar os
impactos gerados na construção de hidroelétricas e a valoração dos recursos ambientais
atingidos, daremos também uma ênfase ao valor de não-uso ou valor de existência que é de
grande importância em uma questão social e cultural.
38
CAPITULO II - A VALORAÇÃO DOS RECURSOS AMBIENTAIS E
BENFEITORIAS AFETADAS NA CRIAÇÃO DE HIDROELÉTRICAS (UM
ESTUDO DE CASO PARA A HIDROELÉTRICA DE SIMPLÍCIO)
Os grandes empreendimentos para geração de hidroeletricidade é um dos projetos
do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) criado em 2007 pelo governo federal.
A construção de grandes usinas hidrelétricas mobiliza volumosos investimentos e gera
grandes impactos ambientais e sociais, afetando diretamente o bem-estar social da
população que vive na área a ser afetada pelo empreendimento.
Segundo Daniel (2009), o número de pessoas que foram retiradas de suas moradias
em função do alagamento de suas terras chegava a 200 mil, já na primeira década do
século XXI, o número de deslocados por barragens no Brasil já passa de um milhão de
pessoas.
A ampliação da capacidade produtiva industrial, os custos ambientais dela
proveniente e a ocorrência de desastres, como o acidente nuclear de Chernobyl em 1986,
despertaram a opinião pública sobre os riscos atrelados à expansão da produção, que
começou questionar o papel da ciência e do avanço tecnológico na modernidade (Daniel,
2009).
Tem-se como base que em sociedades desiguais, como podemos considerar a
sociedade capitalista, os custos resultantes das atividades produtivas são distribuídos em
grande desigualdade. Dessa forma, os mais ricos e privilegiados teriam chances de escolher
residir e circular por locais onde os custos ambientais seriam menos presentes, menos
severos ou até menos perceptíveis (Daniel, 2009).
O impacto gerado pela construção de uma grande usina vai muito além da área
afetada pelo reservatório ou pelas obras, a perda ambiental, cultural e principalmente o
desgaste emocional que é causado na população atingida não é valorado ou nem ao menos
recompensado por parte das empresas que administram o empreendimento.
2.1 Algumas informações sobre o complexo hidrelétrico de Simplício.
A UHE Simplício, como é denominado o complexo hidrelétrico que será o objeto
central do nosso estudo de caso, está localizado na bacia do rio Paraíba do Sul, no seu
curso médio, à jusante da confluência dos rios Piabanha e Paraibuna, na divisa dos
municípios de Três Rios e Sapucaia no estado do Rio de Janeiro e também Chiador e Além
Paraíba localizados no estado de Minas Gerais.
39
No mapa abaixo podemos ver a grande extensão da obra e os vários estágios do
processo de condução da água até a usina de Simplício-MG.
Figura 11 - Mapa de Extensão da Obra e Condução da água até a usina de Simplício-MG
Fonte: Furnas S/A
O investimento total é de aproximadamente 2,2 bilhões de reais, financiado pelo
BNDES através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal.
A empresa responsável por gerenciar o empreendimento é a estatal FURNAS
Centrais Elétricas S/A, o Complexo de Simplício será formado por duas hidrelétricas: a de
Anta no município de Sapucaia-RJ, que é onde está sendo construída a barragem para a
formação do reservatório principal, e a de Simplício-MG. As obras, que se distribuem ao
longo de cerca de 30 km, foram iniciadas no primeiro semestre de 2007, mais precisamente
em janeiro que foi quando o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) concedeu a Licença de Instalação à empresa, permitindo o
início das obras e respectivos programas ambientais associados. A conclusão da obra era
prevista para este ano de 2010, porém devido a atrasos o novo prazo é o primeiro semestre
de 2011.
40
No fim das obras e início de operação o complexo deverá gerar 333,7 MW de
energia através de cinco turbinas, energia essa suficiente para abastecer 800 mil habitantes,
esta será a segunda maior usina hidrelétrica no estado do Rio de Janeiro a capacidade
geradora do estado será aumentada em 28%. Desde que começou a ser construído o
empreendimento já repassou mais de R$ 14,5 milhões para os municípios abrangidos pela
obra, e quando entrar em operação a usina continuará contribuindo para a receita das
cidades pelo recolhimento da Compensação Financeira pela Utilização dos Recursos
Hídricos (CFURH), o royalty da água, que também é repassado para estados e órgãos da
União.
A área total a ser desapropriada é de 2.900 hectares, considerando áreas inundadas
e área de preservação permanente (APP). A população que será remanejada é de cerca de
140 famílias, no estado do Rio de Janeiro, e de 60, em Minas Gerais.
O processo de reflorestamento será feito através de 38 programas e subprogramas
previstos no Projeto Básico Ambiental (PBA). Dentre estes programas estão inclusas ações
como o monitoramento e resgate da fauna, o monitoramento da ictiofauna (peixes,
moluscos e plâncton), a conservação da flora e recomposição da vegetação (1.200 hectares
serão reflorestados, contra 300 que terão sua vegetação suprimida) e também a recuperação
de áreas degradadas e a recuperação do patrimônio arqueológico.
2.2 Critérios Para Avaliação de Indenizações (caso específico de uma das áreas
afetadas pelo complexo de Simplício)
No que diz respeito às indenizações de terras e afins o texto original retirado do
sítio na internet da empresa Furnas S/A nos mostra inicialmente o ponto chave de nossa
pesquisa.
“Como em todos os empreendimentos em que está à frente, a Furnas segue
um padrão de procedimentos para liberar as áreas necessárias à instalação do
canteiro de obras, vias de acesso, áreas de empréstimo, bota-fora,
reservatório e relocação de estradas. As indenizações são pagas em dinheiro
aos proprietários (terras, culturas e construções) e na forma de compensação
social - processos de autorrelocação e de reassentamentos monitorados - a
populações desamparadas.” (Furnas, 2010).
41
Em nenhum momento é avaliado a questão do proprietário ser obrigado a sair de
sua residência e abandonar o seu trabalho, onde por ser uma zona rural e a população
humilde, o trabalho é em grande parte braçal na agricultura manufatureira. Uma
readaptação dessa população em outra forma de vida é um processo demorado e que
apresenta um grande desgaste emocional para o indivíduo.
Em um processo de avaliação é feito um levantamento de todos os bens materiais
existentes no local a ser indenizado, todas as construções são listadas com suas medidas e
padrões de construção, como popular, médio luxo ou luxo, toda a avaliação é feita com
base nos “preços de mercado”, ou seja, eles pagam por uma construção o valor que se gasta
em média para construir as mesmas instalações no mesmo local. Nesse instante já se inicia
um grande problema já que o nível de preços dos imóveis na região tem um grande
aumento com a demanda aquecida devido ao grande número de desapropriados. Em alguns
casos notou-se uma diferença de até 100% no preço dos imóveis em apenas um ano.
Outra opção para os atingidos seria a compra de terrenos e a construção de novas
instalações, porém, com a grande demanda de mão-de-obra na região, ocasionada
principalmente devido ao grande volume de contratações por parte das empresas
envolvidas no processo de construção da barragem e relocação das estradas, a mão-de-obra
qualificada para construções em alvenaria se tornou potencialmente escassa e em um nível
de preços extremamente alto, o que inviabilizava qualquer tentativa de reconstrução do
patrimônio pelo antigo proprietário.
Em todo processo de indenização e de reassentamento o proprietário não tem outra,
opção a não ser, por conta própria procurar outra propriedade que se equipare ao valor
pago pela indenização, e assumir todos os riscos quanto à documentação do imóvel ou
qualquer outro problema que possa ocorrer na negociação. Não é feito nenhum tipo de
amparo como acompanhamento jurídico ou técnico ao antigo proprietário na sua
reconstrução patrimonial.
Qualquer tentativa de auxílio judicial na indenização é automaticamente
considerada inviável por ser demorado e devido ao grande aparato jurídico que tem uma
empresa no porte de Furnas S/A. Em caso de disputa judicial o valor proposto pela
empresa é depositado judicialmente e o proprietário recebe uma ordem de despejo para
desocupar a área sem ao menos ter recebido a indenização. É por esse e outros motivos que
o proprietário se vê em uma situação na qual não tem outra opção a não ser acatar o valor
42
indenizatório por maior que seja a dificuldade em reconstruir o patrimônio ou a grande
perda de valor.
O problema é ainda maior quando a área é ocupada por familiares, onde, quase
sempre, as terras pertencem a um só integrante da família e as construções foram feitas
pelos demais como filhos e netos. Nesses casos o valor das terras é destinado ao
proprietário legal e as construções a quem lhe é direito, porém, quem tem as construções
não recebe nenhum valor referente ao terreno e qualquer outro imóvel que este indivíduo
pretenda comprar estará embutido em seu preço o valor do terreno onde ele está localizado
ou se ele optar por reconstruir a construção ele irá necessitar de um novo terreno. E aqui
fica a questão, como o indivíduo irá adquirir um novo terreno se o terreno onde abrigava
sua construção não lhe foi pago?
Não podemos dizer que o proprietário da propriedade atingida irá adquirir uma
nova propriedade em condições de abrigar todos os que antes construíram na sua
propriedade, ou tão pouco podemos dizer que essa pessoa ira ceder novamente o terreno
para novas construções. O que se apresenta nesse caso é a impossibilidade do proprietário
de uma construção erguida em terrenos de familiares se reestabelecer nas mesmas
condições que se encontrava antes do processo de indenização.
Esse é só um dos muitos vieses que existem no processo de avaliação de
propriedades atingidas pelo projeto. O cenário que se observa após a indenização é um
misto de dúvida, desorientação e medo por parte de quem ainda não conseguiu encontrar
uma nova propriedade. Após o pagamento, imediatamente são estipulados prazos para a
desocupação da área, independente do proprietário ter encontrado ou não uma nova
propriedade.
Na maioria dos casos um dos pontos que dificultam a localização de uma nova área
é a necessidade da mesma em atender não só a questão habitacional mais também a de
prover nesta mesma área recursos financeiros equivalentes aos que eram obtidos
anteriormente com a agricultura ou outra forma de cultivo da terra.
O esgotamento emocional causado por esse processo é tão intenso que alguns
proprietários chegam a dizer que esse é o fim de uma história, um modo de vida que vem
sendo passado a várias gerações, um elo cultural e familiar que se perde ao ser obrigado a
se afastar das terras onde sempre viveu.
43
No caso dos moradores que são inquilinos, ou seja, alugam um imóvel residencial,
comercial ou até mesmo arrendamento de terras para a criação de gado ou cultivo de
plantações, o critério para indenização é bastante diferenciado.
Primeiramente, é importante esclarecer que não é o objetivo do trabalho diminuir
ou menosprezar de forma alguma os danos e o grande transtorno causado aos arrendatários
que foram atingidos naquela ou em qualquer outra situação semelhante. O que se pretende
é mostrar a grande diferença em valores contábeis quanto às verbas indenizatórias.
No ano de 2008 Furnas S/A fez um cadastro de todos que se encontravam em
situação de arrendamento de imóveis ou terras. Após isso houve várias especulações sobre
o assunto, no qual a grande questão era: Quem é inquilino irá “ganhar” uma propriedade
equivalente a que aluga no momento da indenização? Essa questão foi abordada em várias
reuniões que eram feitas com a população da localidade, reuniões que na maioria me
encontrava presente por ser um dos atingidos, e a pergunta sempre era respondida com
meias palavras ou de forma indireta, sendo que era impossível se chegar a uma resposta
concreta sobre a questão. Em uma das reuniões essa pergunta foi feita de forma direta e por
parte dos inquilinos foi exigida uma resposta direta e que esclarecesse de vez a questão dos
mesmos. A resposta que os mesmos obtiveram foi que eles não iriam “ganhar” nada e que
todos ficariam na mesma situação que estão, podendo até melhorar, mas nunca piorar.
Dessa forma se estavam na situação de inquilinos não iriam receber nenhum tipo de
indenização pela propriedade e que a mesma cabia somente ao proprietário.
Com essas palavras os proprietários ficaram um pouco mais tranquilos já que havia
rumores de que suas propriedades poderiam ser pagas aos inquilinos e não aos donos por
direito. Continuaram as especulações quanto a valores e como seria a forma de indenização
já que todos se encontravam em total desorientação, mas de forma cautelosa sempre era
dito aos proprietários que cada caso era um caso diferente e que nada poderia ser tratado
em coletivo quando se tratava de indenizações. Todos concordavam que esse tipo de
informação, que tratava de valores, não devia ser tratada em público, mas o que se
esperava era que cada caso fosse esclarecido em sua individualidade a quem lhe era de
direito.
No primeiro semestre de 2009, uma equipe contratada por Furnas S/A contatou aos
inquilinos que alugavam imóveis residenciais da região deveriam procurar por
propriedades a venda que se enquadrassem em um “padrão” estrutural e que atingissem um
valor máximo de R$ 71.500,00 e os que alugavam imóveis onde além da residência
44
também houvesse terras para cultivo ou criação de animais deveriam procurar
propriedades, também com um determinado “padrão” estrutural, mas que se
caracterizassem como sítio e com um valor igual ou inferior a R$ 120.000,00.
Novamente foi criado um grande clima de desorientação aos proprietários, que
nesse momento não sabiam mais o que seria feito ou o critério que estava sendo adotado.
Logo após o anúncio aos inquilinos foi dito aos proprietários que o que lhes era de direito
seria pago com base no valor de mercado.
Como foi dito, o valor de R$ 71.500,00 foi obtido por uma pesquisa de mercado e
segundo a pesquisa esse é o valor médio de uma propriedade no padrão popular na região.
Por acreditar que o critério de avalição seria o mesmo, os proprietários acreditaram que
receberiam um valor aproximado por suas propriedades.
Como já era de se esperar, a procura por imóveis na região cresceu rapidamente
fazendo com que os preços se elevassem na mesma rapidez, à medida que o tempo passava
se tornava mais difícil a procura por imóveis já que a oferta não era suficiente para a
demanda.
Após todos os inquilinos estarem já informados de sua situação e alguns até já
estarem em suas novas propriedades foi iniciada a negociação com os proprietários. O que
se observa na proposta inicial é uma grande desproporção de valores se comparados aos
que foram obtidos pelos valores da pesquisa de mercado. Residências com padrão popular
no qual o inquilino que nela residia acabara de receber um imóvel de R$ 71.500,00 foram
avaliadas em aproximadamente R$ 30.000,00. Um valor que representa somente 42% do
anunciado pela pesquisa.
A contestação dos valores foi imediata e foram feitos “recálculos” para se verificar
o que poderia ser feito. A Segunda proposta foi apresentada após três meses e revelavam
valores pouco maiores do que o apresentado anteriormente, em média valores 15%
maiores, mas que ainda configuravam uma grande diferença do valor de mercado na
região. O prazo para o início das obras de relocação da BR que passa as margens do rio
Paraíba do Sul já estava se esgotando e de forma que não era possível uma reavaliação dos
valores indenizatórios e que uma possível alteração só seria feita de forma judicial.
Totalmente desorientada e por outro lado sabendo o quanto pode ser difícil e
demorada uma ação judicial a população não encontra alternativa, a não ser aceitar a
proposta que lhes foi apresentada.
45
No próximo capítulo apresentaremos uma adequação de uma das formas de
valoração ambiental as áreas afetadas pelo complexo hidrelétrico de Simplício e as etapas
para que se estime um valor monetário para os recursos atingidos.
46
CAPÍTULO III – APLICAÇÃO DO MÉTODO DA VALORAÇÃO CONTIGENTE
Nesse capítulo iremos aplicar o método da valoração contingente na valoração dos
recursos atingidos na construção do complexo de Simplício e também será feito uma
avaliação dos métodos utilizados nos cálculos de indenizações de benfeitorias.
O método da valoração contingente (MVC) é o mais adequado nesse caso por
estimar, além do valor de mercado dos bens, o valor de existência do objeto em estudo. O
objetivo do capítulo é estimar além do valor de mercado, o valor de existência e o valor de
não-uso dos recursos ambientais e dos bens afetados.
Para iniciarmos o processo de valoração através do MVC teremos que,
primeiramente, avaliar quais os objetos que iremos valorar e definir alguns valores como a
Disposição a Pagar (DAP) e a Disposição a Aceitar (DAA). Para introduzir a DAP e a
DAA no processo de valoração utilizaremos a função abaixo.
U(R0,Y0) = U(R-,Y+) = U(R+,Y-) = U(R-,Y+DAA) = U(R+,Y-DAP)
Fonte: MOTTA, 1997.
Onde:
U – Utilidade.
R – Quantidade de um determinado recurso ambiental ou bem.
Y – Renda.
O que se apresenta nessa função é um conjunto de diferentes pontos na mesma
curva de indiferença4, ou seja, a utilidade do indivíduo não se altera em qualquer uma das
funções apresentadas acima.
Na primeira função os níveis iniciais são nulos ou estão em uma posição em que
revelam um determinado nível de utilidade U, na segunda função a quantidade do bem R
foi reduzida e para que não se alterasse o nível de utilidade a renda do indivíduo sofreu
uma alteração positiva. O inverso ocorreu na terceira equação já na quarta e na quinta
equação introduzimos a DAA e a DAP que entram como uma compensação em Y pela
redução de R (no caso da DAP) ou como ônus em Y pelo aumento de R (no caso da DAP).
4 Curva que revela infinitos pontos onde estão combinados dois ou mais bens, cada ponto localizado na mesma curva de indiferença irá proporcionar o mesmo nível de utilidade ao indivíduo.
47
Para se obter os valores da DAA e da DAP é necessária uma pesquisa de campo,
apresentando claramente quais são as mudanças que estão ocorrendo e assim obtendo em
valores quais são a sua DAA e DAP. Iremos traçar os passos para a elaboração da pesquisa
e obtenção dos valores que serão utilizados no processo de valoração. Utilizaremos como
base teoria da estimação do MVC de Motta, 1997.
3.1 Elaboração do Questionário
A elaboração do questionário deve ser feita com grande cautela e tomar como foco
central o objeto de pesquisa para que não haja influências de fatores externos ao analisado.
Deve-se considerar que o indivíduo pode não entender claramente as mudanças que
ocorrerão ou até mesmo não conseguir mensurar exatamente os valores da DAA ou DAP
que lhe manteriam na mesma curva de indiferença. Para isso deve ser feita também uma
série de questões para avaliar a capacidade de cada indivíduo em valorar a utilidade do
bem em análise.
Um exemplo aplicado que podemos utilizar é a população humilde que habita as
zonas rurais atingidas pelo empreendimento de Simplício, nesse caso a maioria da
população não consegue estimar corretamente a utilidade de suas propriedades, e ao
tentarem mensurar a mesma se apegam a valores de venda ou até mesmo a rentabilidade
proporcionada pela terra, não levando em conta o valor dos recursos naturais ali presentes
que lhe proporcionam um elevado bem-estar ou até mesmo o valor de existência dos bens.
Para tentarmos de alguma forma minimizar essa assimetria de informação deve ser
elaborado um pequeno texto que apresente de forma breve e clara todos os valores que de
alguma forma podem estar ligados ao bem em análise. Além disso, o pesquisador deve ser
totalmente neutro na decisão do indivíduo, procurando não influenciar de forma alguma na
estimação da DAA.
Outro ponto que deve ser observado é a possível supervalorização do bem em
análise, já que os indivíduos seriam beneficiados com essa supervalorização, a ideia nesse
caso é fazer a pesquisa em áreas com o mesmo padrão econômico-social que não possam
obter nenhum tipo de benefício com a distorção de valores obtidos pela pesquisa.
O que deve ficar bem claro no momento da abordagem é a importância do bem que
está sendo valorado, não estamos falando somente de uma venda de propriedades ou de
produtos, mas sim de uma mudança no modo de vida. Não existe nenhuma garantia para
quem está deixando o local de trabalho ou sua residência, não há como saber se ele se
48
habituará no novo local ou até se o seu trabalho lhe dará o mesmo retorno já que muitos
tiram da terra o próprio sustento.
Forma de Eliciação
A forma de eliciação que melhor condiz com a nossa análise é o referendo com
acompanhamento. Nesse método, o pesquisador irá propor um valor R$ X para a DAA e a
partir da resposta do indivíduo será proposto para o mesmo o valor 2X ou 1/2X até que se
encontre um valor que seja aceitável pelo entrevistado.
Como em todos os métodos de eliciação, este também apresenta alguns vieses. O
que se deve observar com cautela é o chamado viés do ponto de partida que pode induzir o
indivíduo a admitir que o primeiro valor seja o “correto” e também o viés de obediência
que faz com que o entrevistado se sinta na obrigação de aceitar um dos valores
subsequentes.
Forma de Entrevista
A forma de entrevista para a aplicação do questionário deve ser pessoal, já que
envolve questões de um determinado nível de complexidade e também admite-se que o
público a quem se destina o questionário pode não compreender corretamente o propósito
da pesquisa, o que poderia acarretar em resultados destorcidos.
Nível de Informação
O conteúdo das informações prestadas no questionário deve transferir de forma real
a magnitude das alterações no seu modo de vida e de trabalho, as informações podem ser
transmitidas não só por textos, mas também por desenhos ou vídeos ilustrativos que
retratem de forma rápida e objetiva as mudanças que serão realizadas.
Lances Iniciais
Nesta fase serão determinados os valores monetários que variem do máximo ao
mínimo da DAA. Por exemplo, a DAA máxima, na qual 100% dos entrevistados
aceitariam, e a DAA mínima, na qual 100% rejeitariam. Estes são os pontos extremos da
curva de demanda e os valores utilizados na pesquisa estariam entre o máximo e o mínimo.
Deve-se formar uma amostra contendo alguns grupos de valores que estejam dentro da
49
curva de demanda e cada um é questionado com um desses valores e inclusive os dois
extremos.
Pesquisas Focais
As pesquisas focais são feitas para definirmos os pontos extremos da curva de
demanda, ou seja, os pontos máximo e mínimo da DAA. O modo mais prático é a adoção
de pequenas pesquisas de eliciação abertas, que podem ser realizadas em alguns grupos
focais que representem uma parcela do universo a ser questionado. Esta também é uma boa
forma de testar o questionário e verificar o grau de conhecimento da população a ser
entrevistada.
Desenho da Amostra
Ao se definir uma amostra deve-se obedecer a certos procedimentos estatísticos
padrões que possam garantir a representatividade da pesquisa.
3.2 Formalização do método referendo
No método referendo aos entrevistados é imposta uma mudança no modo de vida e
trabalho em troca de um pagamento (ou compensação) no valor de S. Não é possível a não
aceitação da proposta, a única forma de negociação será o valor do pagamento.
ΔU = u (Y - S, Z1) - u (Y, Z0) + η > 0
Onde:
ΔU = variação de utilidade.
Z0 = Quantidade inicial do bem-estar.
Z1 = Quantidade final do bem-estar.
Y = Renda do indivíduo.
η = Uma variável aleatória cujo valor esperado é igual à zero.
Esta formulação conta com a hipótese de que os indivíduos conhecem sua função
de utilidade, mas para o pesquisador esta função contém elementos não observáveis, ou
seja, na média, o pesquisador está correto ao assumir U = u (Y,Z) dado que = 0.
50
Porém, ao analisarmos individualmente está incorreto porque existem elementos
não observáveis e aleatórios que podem representar, por exemplo, variações nas estruturas
de preferências.
3.3 2º Estágio: Cálculo e Estimação
Pesquisa-Piloto e Pesquisa Final
É recomendável que se faça, sempre que possível, uma pesquisa-piloto antes da
pesquisa final para testar o questionário desenvolvido. Sugere-se, que nesta pesquisa sejam
testadas algumas alternativas que dependem, significativamente, da percepção dos
entrevistados (por exemplo: conteúdo e apresentação de informação, instrumento de
pagamento, etc.).
Na pesquisa final, todo cuidado deve ser tomado no treinamento dos
entrevistadores, visando à obtenção de um procedimento comum e uniforme de entrevistas.
A conferência dos questionários e o controle das amostras são obviamente essenciais.
Cálculo da Medida Monetária
Como o nosso experimento é baseado na escolha dicotômica, a média é obtida
através do cálculo do valor esperado da variável dependente, no nosso caso a DAA.
Podemos agora expressar em uma função a DAA e alguns fatores determinantes
para o cálculo, como o valor de mercado do bem, valor de existência, lucros cessantes5 e
também outros fatores específicos.
Dessa forma temos:
DAA = f(VM,VE,LC,X)
Onde:
VM = Valor de Mercado
VE = Valor de Existência
LC = Lucros Cessantes
5 Lucros Cessantes são prejuízos causados a pessoa física ou jurídica, por um determinado período ou continuamente.
51
X = Outros Fatores (como exemplo, a pressão sobre o nível de preços imobiliário na
região).
Não há uma forma teórica correta para esta função, as variáveis podem mudar de
acordo com a necessidade de cada pesquisa.
3.4 Exercício de Valoração
Utilizaremos como exemplo para exercício de valoração o processo de indenização
de benfeitorias de minha posse, que foi realizado no primeiro semestre de 2009 para
pagamento de bens existentes na área onde será criado o lago para o funcionamento da
usina.
O bem indenizado foi uma casa construída em alvenaria simples onde a indenização
foi feita abrangendo somente as construções e não a área em que a mesma estava
construída, já que a área era cedida por meus avós.
A avaliação efetuada por Furnas S/A foi feita com base no valor de mercado
considerando o tipo, tamanho e o padrão de luxo da construção, não foi considerado
nenhum outro fator como valor de existência ou lucros cessantes, dessa forma, as
construções foram avaliadas em R$ 38.891,00.
Utilizaremos o valor da indenização como o valor de mercado do bem, já que
podemos julgar correta a avaliação do valor de mercado (desconsiderando a pressão pelo
excesso de demanda), dessa forma:
VM = R$ 38.891,00.
O valor de existência será calculado com base no tempo de posse do bem e também
pelo fato do imóvel ser um patrimônio familiar adquirido a mais de cem anos.
Atribuiremos um valor de 5% do valor de mercado para cada dez anos de propriedade do
imóvel, e mais 2% para cada vinte anos que o imóvel é caracterizado como propriedade
familiar. No caso em análise a posse do imóvel é de cinco anos e a propriedade familiar de
cem anos. Esses percentuais foram estimados com base no valor de existência do imóvel
em análise, não tendo nenhuma relação com o método utilizado ou com qualquer índice de
preços.
Então temos:
VE = (38.891,00 x 0,05 x 0,5) + (38.891,00 x 0,02 x 5)
VE = 972,28 + 3.889,10
52
Data
Índice Geral de Preços do Mercado - IGP-M (Variação
Percentual em Relação ao Período Anterior)
Índice Geral de Preços do Mercado - IGP-M (Variação
Percentual em Relação a Igual Período do Ano
Anterior) 06/2009 -0,10 1,52 07/2009 -0,43 -0,67 08/2009 -0,36 -0,71 09/2009 0,42 -0,40 10/2009 0,05 -1,31 11/2009 0,10 -1,59 12/2009 -0,26 -1,72 01/2010 0,63 -0,67 02/2010 1,18 0,24 03/2010 0,94 1,94 04/2010 0,77 2,88 05/2010 1,19 4,18 06/2010 0,85 5,17
Média 0,68%
VE = R$ 4.861,38
Para o cálculo dos lucros cessantes utilizaremos a projeção da rentabilidade do
imóvel pelos próximos 20 anos, considerando que no momento da indenização o imóvel
encontrava-se alugado a um valor anual de R$ 1440,00, reajustado anualmente no mês de
junho de cada ano utilizando o índice IGP-M divulgado pela FGV como se pode verificar
na tabela a seguir:
Fonte: FGV, 2010.
Tabela 1 - Índice Geral de Preços do Mercado - IGP-M
53
A atualização dos lucros cessantes será feita pelo fluxo de caixa descontado que
trará o valor para o presente (VPL) utilizando como taxa de desconto a média da taxa Selic
verificada no período de 07/2009 a 06/2010 que foi de 0,71% como mostra a tabela 2
abaixo:
Fonte: Receita Federal do Brasil, 2010
A média do IGP-M verificado no período de junho de 2009 a junho de 2010 nos
fornece a seguinte tabela de reajustes:
Mês Selic mai/09 0,77% jun/09 0,76% jul/09 0,79% ago/09 0,69% set/09 0,69% out/09 0,69% nov/09 0,66% dez/09 0,73% jan/10 0,66% fev/10 0,59% mar/10 0,76% abr/10 0,67% mai/10 0,75% jun/10 0,79%
Média 0,71%
Tabela 2 - Taxa de Juros Referencial Selic de Maio/2009 a Junho/2009
54
Encontramos o valor de R$ 30.710,50 no final do período, dessa forma utilizaremos
o VPL para expressar esse valor no presente.
Utilizando os valores da tabela 1 e a taxa de juros Selic de 0,71% temos o seguinte:
VPL = R$ 14.438,03 *
* O cálculo foi realizado com auxílio de planilha eletrônica devido a grande extensão da formulação.
Ano Valor Anual Valor Mensal 2009 R$ 720,00 R$ 120,00 2010 R$ 1.449,81 R$ 120,82 2011 R$ 1.459,70 R$ 121,64 2012 R$ 1.469,64 R$ 122,47 2013 R$ 1.479,66 R$ 123,30 2014 R$ 1.489,74 R$ 124,15 2015 R$ 1.499,90 R$ 124,99 2016 R$ 1.510,12 R$ 125,84 2017 R$ 1.520,41 R$ 126,70 2018 R$ 1.530,77 R$ 127,56 2019 R$ 1.541,21 R$ 128,43 2020 R$ 1.551,71 R$ 129,31 2021 R$ 1.562,29 R$ 130,19 2022 R$ 1.572,93 R$ 131,08 2023 R$ 1.583,65 R$ 131,97 2024 R$ 1.594,45 R$ 132,87 2025 R$ 1.605,31 R$ 133,78 2026 R$ 1.616,25 R$ 134,69 2027 R$ 1.627,27 R$ 135,61 2028 R$ 1.638,36 R$ 136,53 2029 R$ 687,30 R$ 137,46
Total R$ 30.710,50
Tabela 3 - Reajuste dos valores com base no IGP-M.
55
O valor encontrado no VPL é então o valor do lucro que seria obtido com o imóvel
no período de 20 anos. Então:
LC = R$ 14.438,03
A pressão do excesso de demanda foi um dos fatores chave para o grande aumento
no nível de preço dos imóveis na região, o valor dos imóveis, que antes eram inferiores a
R$ 71.600,00, sofreram uma espécie de reajuste automático para esse valor, já que havia
uma grande procura de imóveis para pagamento com a carta de crédito fornecida por
Furnas S/A para os indivíduos que eram arrendatários de imóveis na região afetada pelo
empreendimento.
Considerando que o valor dos imóveis foi reajustado para R$ 71.600,00 o valor de
X será a diferença entre o valor reajustado dos imóveis e o valor efetivamente pago.
X = 71.600,00 – 38.891,00
X = R$ 32.709,00
Inserindo os valores na função DAA temos:
DAA = VM+VE+LC+X
DAA = 38.891,00 + 4.861,38 + 14.438,03 + 32.709,00
DAA = R$ 90.906,41
A valoração dos bens atingiu o valor total de R$ 90.906,41, um aumento de
aproximadamente 133% a partir do valor pago na indenização. Na tabela abaixo temos
uma análise dos valores encontrados:
56
Esse exercício de valoração nos mostra claramente a ineficiência em valorar os
bens para fins de indenização por parte de Furnas S/A, o que se observa também é a
questão do grande benefício que a empresa Furnas S/A tem em valorar os bens de forma
minimalista, já que o caso tratado nesse estudo representa apenas uma parte de uma das
140 famílias que foram incluídas no processo indenizatório pelo empreendimento de
Simplício-MG.
3.5 Agregação dos Resultados
Utilizando a média (ou mediana) da DAA, o valor econômico total é estimado
multiplicando esta média pela população afetada pelo aproveitamento hidrelétrico de
Simplício. Os dados podem ser agrupados por família ou individuais e a população
relevante deve ser distinguida para o valor total das indenizações.
3.6 Vieses Estimativos do Método de Valoração Contingente
Segundo MOTTA a avaliação de aceitabilidade e da confiança das estimativas de
DAA está concentrada nas questões teóricas e metodológicas do MVC. Estas questões
podem ser divididas nas categorias Confiabilidade, Validade e Vieses.
“A Validade refere-se ao grau em que os resultados obtidos no MVC indicam o “verdadeiro” valor do bem que está sendo investigado, enquanto a confiabilidade analisa a consistência das estimativas. É importante ter em mente que validade e confiabilidade não são sinônimos. Existem casos em que o MVC alcança estimativas consistentes, mas sujeitas a presença de vieses. Nesta hipótese, os resultados são julgados não válidos.” MOTTA, 2006.
Item a ser valorado Tipo de Valoração
Valoração de Furnas S/A Valoração por VERA Valor de Mercado R$ 38.891,00 R$ 38.891,00 Valor de Existência --- R$ 4.861,38 Lucros Cessantes --- R$ 14.438,03 Outros Fatores --- R$ 32.709,00
Total R$ 38.891,00 R$ 90.899,41
Diferença: R$ 52.008,41 133,73%
Tabela 4 - Apuração dos Valores e Diferenças na Valoração
57
Considerando um modelo linear geral, podemos expressar a validade e a
confiabilidade da seguinte forma:
y = ax + b + η
onde: y = Valor observado da variável x = Valor verdadeiro da variável a e b = Constantes η = Erro residual
3.7 Confiabilidade
A confiabilidade está associada ao grau em que a variância das respostas DAA
pode ser atribuída ao erro aleatório. Dessa forma, quanto menos aleatória for a amostra,
menor será o grau de confiabilidade da pesquisa. O erro aleatório pode ser minimizado
com a utilização de uma amostra estatisticamente grande.
Podem ser identificados alguns vieses importantes que afetam a confiabilidade e que ao
elaborar o questionário os mesmos devem ser minimizados, são eles:
Viés Estratégico – Este é um dos maiores problemas que podemos enfrentar na
valoração utilizando o MVC, o viés estratégico está relacionado à percepção dos
entrevistados sobre o recebimento das indenizações. Partindo do pressuposto que ele
receberia o valor que ele respondesse no questionário o indivíduo responderia valores
acima do valor real ou o valor máximo estipulado na pesquisa para que haja um ganho no
bem-estar ou até uma compensação maior.
Para minimizar esse tipo de ocorrência deve-se redobrar atenção com a estrutura
das perguntas do questionário para que o indivíduo não seja induzido a esse tipo de
comportamento. Podem ser utilizadas algumas estratégias para diminuir esse
comportamento, por exemplo, a utilização de cenários distintos como: somente n
entrevistados que apresentarem uma DAA até um determinado valor serão indenizados em
caráter primário, os demais serão feitas análises mais complexas ou judiciais.
Viés Hipotético – Como o MVC está baseado em mercados hipotéticos, essa
característica pode levar a valores que não refletem as verdadeiras preferências. Como nem
todos os itens passíveis de indenização fazem parte de um mercado real, os indivíduos
podem ver que não sofrerão perdas quanto a isso, pois se tratam de valores hipotéticos,
diferentemente de quando o indivíduo erra o valor dado a um bem num mercado real o que
58
acarretará em prejuízos. As pesquisas elaboradas sobre o viés hipotético demostram que
este tipo de problema é bastante significativo em estudos baseados na DAA. Alguns
pesquisadores colocam que o viés hipotético induz a um aumento da variância e,
consequentemente, a uma baixa confiabilidade do modelo.
Problema da Parte-Todo (“embedding/mental account”) - as questões relacionadas
ao bem-estar e principalmente ao modo de vida dos indivíduos são capazes de sensibilizar,
profundamente, às pessoas cuja visão adquirida sobre a cultura está associada a raízes
morais, filosóficas e ligadas a terra6. Esta característica faz com que surja o chamado
problema da Parte-Todo, onde o entrevistado tende a interpretar a oferta hipotética de um
bem específico, apresentado na pesquisa, como algo mais abrangente. Trata-se da
dificuldade de distinguir o bem específico (“parte”) de um conjunto mais amplo de bens
(“todo”).
Viés da Informação – Podemos afirmar que a qualidade da informação fornecida
nos cenários dos mercados hipotéticos afeta a resposta recebida. O fato é que a informação
atinge praticamente todos os bens, não apenas a DAA pelos bens, então as informações
devem ser claras e não induzir de forma alguma o indivíduo.
Viés do Entrevistador e do Entrevistado - a forma como o entrevistador se
apresenta, se comporta, ou aborda o entrevistado pode influenciar as respostas. Por
exemplo, se o entrevistador descreve o bem a ser indenizado como algo de extrema
necessidade para o empreendimento, ou se o entrevistador é extremamente bem educado
ou até atraente, então a pessoa que está sendo entrevistada pode se sentir inibida a declarar
um lance de baixo valor. Uma das formas de minimizar este tipo de problema é usar
pesquisas por telefone ou pelo correio, ao invés de entrevistas pessoalmente. Por outro lado
este procedimento tende a causar uma perda na qualidade da informação e, talvez, a um
aumento do viés hipotético. Outro fator negativo é que pesquisas pelo correio apresentam
taxas médias de respostas menores. Uma solução possível é a utilização de entrevistadores
profissionais que transmitam a informação exatamente como está apresentada nos
questionários, bem como adotar respostas preparadas anteriormente para serem escolhidas
pelos entrevistados (escolha dicotômica).
Viés do Ponto Inicial (ou “ancoramento”) – ao sugerirmos um valor inicial nos
questionários do tipo jogos de leilão (bidding games) o lance final pode ser
significativamente influenciado. Observa-se que os questionários com um baixo (alto)
6 Refere-se ao local onde se vive há vários anos e que vem sendo habitado por várias gerações.
59
ponto inicial levam a uma baixa (alta) média da DAA. Apesar da utilização de pontos
iniciais reduzir o número de perguntas sem resposta e a variância nos questionários tipo
aberto, existe um consenso de que o ponto inicial acaba por desestimular o entrevistado a
pensar seriamente sobre sua “verdadeira” DAA. Uma alternativa para fugir deste problema
é a utilização de cartões de pagamento, onde o entrevistado escolhe um lance, entre vários
apresentados, numa escala de valores. Infelizmente, este caminho cria um “ancoramento”
(vinculação a priori) dos lances à escala sugerida no cartão de pagamento, fazendo com
que a maioria dos entrevistados julgue que aquela escala contém o valor “correto”. Este
problema também se manifesta no método referendo com acompanhamento, no qual se
apresenta valores subsequentes a um valor inicial que o entrevistado acaba julgando o
correto, tendendo a rejeitar outros valores. Ainda não existe uma solução para este
problema, a não ser o cuidado de observar tal viés e tentar reduzi-lo por meio de
estimações mais precisas sobre os pontos máximos e mínimos da DAA.
Viés da Obediência ou Caridade (“warm glow”) - este viés se manifesta pelo
constrangimento do entrevistado em manifestar uma posição contrária para uma ação
considerada socialmente correta, embora não o fizessem se a situação fosse real. No
método referendo com acompanhamento, por exemplo, o entrevistado tende a aceitar os
valores subsequentes para manter uma posição anteriormente manifestada. Uma solução é
criar mecanismos que de alguma forma forjem um comprometimento real do entrevistado
com os valores da DAA declarados, por exemplo, um termo de compromisso assinado.
3.8 Validade
Em estudos do MVC existem três categorias de teste de validade: do conteúdo, do
critério e do construto, a seguir descrevemos cada uma delas:
Validade do Conteúdo - analisa se a medida da DAA estimada na aplicação do
MVC corresponde precisamente ao objeto que está sendo investigado (o construto). Não
existe uma regra pré-determinada para verificarmos se um questionário MCV foi
formulado da forma apropriada e se a medida da DAA expressa realmente o quanto o
entrevistado receberia pelo bem.
Validade do Critério - neste caso, as estimativas obtidas no MVC são comparadas
com o “verdadeiro” valor (o critério) do bem em questão. Experimentos comparando a
DAA hipotética e a “verdadeira” DAA — obtida pela simulação de mercados com a
utilização de pagamentos reais em dinheiro — mostram que a DAA hipotética é válida
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como estimativa da “verdadeira” DAA. Além disso, a razão para a aplicação do MVC é
justamente quando esta comparação não é possível.
Validade do Construto – uma das formas de se testar a validade consiste em
examinar se o valor encontrado na valoração contingente está intimamente correlacionado
com os valores obtidos para o mesmo bem utilizando outras técnicas de valoração. Existem
dois tipos básicos de validade do construto: a validade teórica e a validade de
convergência.
Para testar a validade teórica, concentra-se na análise da função da curva de lances
para verificar se atendem às expectativas teóricas, observando, por exemplo, como se
manifesta o sinal e a significância estatística das variáveis explicativas nas funções de
distribuição ou de regressão da DAA.
A validade de convergência, compara as medidas do MVC com outras técnicas de
preferência revelada, como custo de viagem e preço hedônico. Um problema relevante para
esta abordagem é que os métodos de valoração em comparação normalmente mensuram
coisas (construtos) diferentes. Enquanto o MVC é capaz, do ponto de vista teórico, de
mensurar valores de uso e não-uso. Os outros métodos captam apenas os valores de uso.
3.9 Recomendações
Segundo MOTTA (1997), embora o MVC seja capaz de medir o valor de
existência, a aplicação do MVC não é trivial e pode gerar resultados enviesados caso
alguns importantes procedimentos não sejam seguidos corretamente. Dessa forma, para
que se obtenha um bom e confiável trabalho é preciso uma boa pesquisa de campo e
tratamento econométrico.
Para concluirmos esta parte referente ao MVC apresentamos as principais
recomendações do Painel do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA)7,
órgão americano designado para definir critérios e procedimentos para mensuração dos
danos ambientais causados por derramamento de óleo. Este Painel foi uma consequência
imediata da necessidade de se definir judicialmente a compensação dos danos causados no
Alaska pelo derramamento do petroleiro Exxon Valdez em 1989.
7 Este painel foi liderado por dois Prêmios Nobel de Economia, Robert Solow and Keneth Arrow. Ver Arrow et al. (1993).
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O Painel reconheceu a validade do MVC como o único método capaz de captar
valores de existência, mas incluiu diversas recomendações para sua elaboração. As mais
importantes estão abaixo relacionadas8:
“1. Amostra probabilística é essencial. 2. Evitar respostas nulas. 3. Usar entrevistas pessoais. 4. Treinar o entrevistador para ser neutro. 5. Os resultados devem ser apresentados por completo com desenho da amostra, questionário, método estimativo e base de dados disponível. 6. Realizar pesquisas-piloto para testar questionário. 7. Ser conservador adotando opções que subestimem a medida monetária a ser estimada. 8. Devido a recomendação anterior, usar DAP ao invés de DAA. 9. Usar método referendo. 10. Oferecer informação adequada sobre o que está se medindo. 11. Testar o impacto de fotografias para avaliar se não estão gerando impactos emocionais que possam enviesar respostas. 12. Identificar os possíveis recursos ambientais substitutos que permanecem inalterados. 13. Identificar com clareza a alteração de disponibilidade do recurso. 14. Administrar tempo de pesquisa para evitar perda de acuidade das respostas. 15. Incluir qualificações para respostas sim ou não. 16. Incluir outras variáveis explicativas relacionadas com o uso do recurso. 17. Checar se as informações do questionário são aceitas como verdadeiras pelos entrevistados. 18. Entrevistados devem ser lembrados da sua restrição orçamentária, i.e., que sua DAP resulta em menor consumo de outros bens. 19. O veículo de pagamento deve ser realista e apropriado as condições culturais e econômicas. 20. Questões específicas devem ser incluídas para minimizar o problema da Parte-Todo. 21. Evitar o uso do ponto inicial em jogos de leilão e no cartão de pagamento. 22. Nos questionários com formato do tipo escolha dicotômica, o lance mais alto deve alcançar 100% de rejeição e o lance mais baixo deve ser aceito por todos (100% de aceitação). 23. Ter cuidado no processo de agregação para considerar população relevante. Conforme podemos observar, estas recomendações requerem um esforço de pesquisa significativo. Entretanto, advoga-se também que uma pesquisa realizada adequadamente para um certo benefício em uma certa região pode ser transferida para outra região, caso o benefício a ser medido seja idêntico. Dado que no MVC utilizam-se funções com variáveis socioeconômicas, então é possível captar as particularidades regionais ao introduzirem-se estas variáveis relativas à outra região. Com isso, estima-se a DAP ou DAA média da região com base na função transferida. Vale enfatizar que tal procedimento somente é válido quando o benefício a ser medido reflete exatamente aquele que já foi medido, na função que se está transportando. No caso de valores de existência,
8 De acordo com Willis (1995) e Arrow et al. (1993).
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tal equivalência é quase teoricamente impossível, daí a transferência de funções ser mais apropriada para valores de uso.”
O método MVC deve ser bem elaborado para que haja uma valoração que se
aproxime ao máximo dos valores reais. As regras de utilização devem ser seguidas e cada
caso deve ser analisado para que sejam minimizados os vieses. O modelo aqui presente foi
adaptado para a valoração da DAA, apesar de ser uma forma estatisticamente menos
aconselhável que a DAP, a DAA é a única forma, utilizando o MVC, para valorarmos os
valores de existência nas indenizações devido ao aproveitamento hidrelétrico de Simplício-
MG.
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CONCLUSÃO
Com a valoração adequada dos bens e recursos da economia o que se observa é
uma grande mudança no bem-estar social, revelado não só pela eficiência na relação entre
a economia e o ecossistema que a sustenta, mas também pela melhor administração dos
bens e recursos da economia que estão, a todo o momento, sofrendo algum tipo de
alteração ou sendo utilizados para a manutenção do crescimento econômico.
Os métodos para estimação do VERA tem várias particularidades que podem gerar
uma grande variação do valor encontrado, por isso, é necessária a utilização do modelo que
mais se adequada ao bem que está sendo valorado. A aplicação dos métodos de valoração
ambiental requer uma grande e minuciosa análise dos bens a serem valorados. Um dos
pontos mais importantes para se obter o VERA mais próximo do valor real é a definição e
seleção correta dos dados adquiridos através de pesquisas. A amostra é um dos fatores
mais importantes na valoração, e requer uma atenção especial na sua utilização.
A questão da valoração de recursos ambientais ainda é ignorada em vários cenários
em que a mesma seria de grande impacto. O que restringe o seu uso é a falta de
normatizações para que se apliquem de forma correta as sanções ou até mesmo as
recompensas a quem lhe é de direito.
A grande contribuição da valoração eficiente está ligada a mensuração correta do
crescimento econômico, não basta valorarmos apenas aquilo está sendo produzido, mas
sim tudo aquilo que foi gasto ou até deteriorado para que se tornasse possível à produção.
Os grandes empreendimentos, como complexo hidroelétrico de Simplício-MG que
foi utilizado como base para esse trabalho, envolvem muito mais bens e recursos do que se
pode valorar utilizando somente as ferramentas do mercado, como, por exemplo, nível de
preços. Algumas questões devem ser tratadas visando não só a viabilidade econômica do
empreendimento, mas principalmente a condição sustentável do ecossistema que o
mantem, e que de nada adianta promover o crescimento econômico se não há o
desenvolvimento econômico9.
9 Desenvolvimento econômico está relacionado diretamente ao bem-estar e a qualidade de vida da população, por outro lado o crescimento econômico está voltado para o crescimento da atividade e da produção.
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